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O sistema bancário português - bancos com pernas de barro

1- Um negócio de excepção, a banca

Os bancos têm estado sob os holofotes da atenção geral pois, afinal


as poderosas e intratáveis instituições andam sobre pernas de barro.

Os governos até há pouco acreditavam ou queriam que se


acreditasse que os bancos e as instituições financeiras eram
modelares na solidez (elogiada pelo Teixeira dos Santos) e na
qualidade da sua gestão (desmentida pelos casos BCP, BPN, BPP…).
Afinal não são sólidos quanto à sua estrutura financeira, nem as
traficâncias que protagonizam se inserem no modelo puritano do
capitalismo teórico do século XVIII. Afinal vão à falência como
qualquer empresa, a sua gestão confunde-se com fraude e vigarice e,
têm meios para ser muito mais rapaces que os capitalistas de
qualquer outro sector de actividade.

Por outro lado, os governos, quando gritavam, como verdades


absolutas para todos, pessoas e empresas, os dogmas da
liberalização, do Estado mínimo, da sua não intervenção na economia
(sempre distorcedora do mercado) e demais parvoíces, parece que
não incluiam o sector financeiro, detentor de regras próprias.

Essas regras próprias incluem:

• uma influência impar nos governos, com capacidade para ditar


as normas da política fiscal, enformar as políticas sectoriais ou
transversais, financiar o Estado e as autarquias;
• a utilização de normas de contabilização específicas e
francamente falsificadoras da realidade patrimonial;
• o domínio de toda a actividade especulativa nas bolsas e no
imobiliário;
• a possibilidade efectiva de criar meios financeiros, muito para
além do que a prudência aconselha;
• a absorção ou a manipulação da quase totalidade da poupança
das populações;
• a actuação como incentivadores de um facilitismo no crédito
que alimenta consumismos, bastas vezes patológicos;
• uma efectiva escravização de trabalhadores e empresas através
de uma dívida eterna cujos juros os vão engordando,
engordando…

No capitalismo, o sistema financeiro é um primus (mesmo muito


primus) inter (uma multiplicidade de) pares. E assim vai continuar a
ser pois, os Estados, contra tudo e todos, vão ajudá-los a curar a
indigestão; é que fazer dieta, para os bancos equivale a eutanásia.
Alguém conhece algo que não paninhos quentes receitados pelas
eminências dos G-8 (que passaram a 20), pelos FMI, pelas Comissões
Europeias, BCE, FED… para obviar à crise que está instalada? Ah, já
nos esquecíamos… agora temos o Sant’Obama para nos valer e ele
até jurou com a mão na bíblia do patriarca Abraão (não é esse, é o
outro, de apelido Lincoln)…

Os Estados sabem bem como distribuir sopa aos pobres e mimar com
iguarias os ricos, publicitando sempre o “indómito” esforço financeiro
com os primeiros e procurando ocultar o muito que é dado aos
segundos. E, os Estados e o sistema financeiro sabem bem que não
podem alterar essas regras, baseadas numa filosofia de imprudência
máxima e inteligência mínima, que redunda num género de “todos ao
molho e fé em Deus”.

2 - As contas do sistema bancário

Procedemos de seguida à exposição de alguns elementos recolhidos


na informação pública prestada pelo Banco de Portugal e pela
Associação Portuguesa de Bancos e que, a despeito de uma ou outra
descontinuidade estatistica, permitem aquilatar o carácter
privilegiado dos bancos.

Quadro 1
Resumo das contas do sistema bancário em Portugal Milhões de euros
1.998 2.002 2.003 2.004 2.005 2.006 2.007
Activos 190.527 282.996 303.965 272.411 305.989 372.674 418.659
Crédito bruto sobre
clientes 103.525 194.219 199.377 194.873 199.873 239.028 275.676
% do Activo 54,3 68,6 65,6 71,5 65,3 64,1 65,8
Passivos 178.729 267.166 286.378 258.386 288.208 349.543 392.684
Recursos de clientes e
empréstimos 116.729 152.136 157.236 142.784 149.139 166.678 181.815
% do Passivo 65,3 56,9 54,9 55,3 51,7 47,7 46,3
Responsabilidades
represent por títulos 6.606 38.686 49.714 55.694 63.807 82.774 96.875
% do Passivo 3,7 14,5 17,4 21,6 22,1 23,7 24,7
Recursos de outras instit
credito 41.748 54.503 54.546 33.315 38.840 60.862 66.671
% do Passivo 23,4 20,4 19,0 12,9 13,5 17,4 17,0
Recursos do banco
central 1.690 1.284 3.147 3.542 6.215 1.901 5.550
% do Passivo 0,9 0,5 1,1 1,4 2,2 0,5 1,4
Capitais próprios 11.798 15.830 17.587 14.025 17.782 23.131 25.975
Fonte: Banco de Portugal

Ressalta do quadro acima:

• A estabilidade do peso do crédito concedido no total do activo,


nos últimos seis anos;
• A recuo do peso relativo dos recursos de clientes e empréstimos
(essencialmente depósitos);
• Grande crescimento da emissão de títulos nos mercados de
capitais, nomeadamente estrangeiros; em 1998 correspondiam
a 5,6% dos depósitos e em 2007 a 53,2%; em 1998 equivaliam
a 56% dos capitais próprios e em 2007 a 3,7 vezes o valor
daqueles.

A evolução de algumas daquelas grandezas tomando o ano de 1998


como base revela que:

• Os Recursos de clientes e empréstimos (+56%) e os Recursos


de outras instituições de crédito (+60%) apresentam um
crescimento próximo do observado para o PIB nominal (+53%);
• O Crédito bruto sobre clientes aumenta 166% e engloba o
crédito à habitação dos particulares e o crédito às empresas,
que têm uma dimensão semelhante. Daí ressalta a grande
dependência dos bancos face ao endividamento para a compra
de casa. O apoio da banca a actividades especulativas é
evidente quando se observa ter o financiamento da construção
e do imobiliário representado 55,5% dos saldos do crédito às
empresas em 2006, contra 35,4% em 1998 (ver Quadro 3, mas
adiante). Esse dinamismo do crédito contrasta portanto, com a
estagnação económica dos últimos anos e demonstra que, de
facto, a actividade dos bancos, não visa o desenvolvimento
económico, como o governo pretende agora impor, com ares de
moralizador, como condição para o apoio estatal aos bancos;
• Os Capitais próprios crescem 120%, não se sabendo qual a
parcela que corresponde efectivamente a um reforço de capital
e o que resulta de critérios contabilísticos pouco consistentes
na avaliação dos activos, de acordo com os valores de mercado,
denominado por “justo valor” pelas normas internacionais NIC,
concebidas por um conjunto de 14 indivíduos fiéis às
conveniências da especulação financeira. Assim, que
estranheza causa que o valor dos títulos cotados na bolsa de
Lisboa, tenha caído 50% com o recente estatelar dos mercados
financeiros? E, imagine-se os casos daqueles que se
endividaram para a compra de activos que entretanto passaram
a valer metade…
• Finalmente, as Responsabilidades representadas por títulos
correspondem ao elemento mais dinâmico do passivo dos
bancos, crescendo face a 1998, 1367%! Em finais de 1998, o
seu quantitativo valia 17% do stock do crédito concedido às
empresas; em 2006 já correspondia a 90%! Em resumo, são os
capitais alheios titulados que financiam as empresas, sendo os
bancos lusos simples adicionadores da seu “spread” sobre
capitais emprestados por outras entidades.

3 - Comparações com outros sectores de actividade

Em seguida, ir-se-á proceder à comparação entre o sistema bancário


e alguns sectores representativos da economia portuguesa tendo
como base dois indicadores. Um é o da autonomia financeira
calculado como percentagem do volume dos capitais próprios em
relação ao activo indicando, complementarmente, a sua diferença
para 100%, a relevância dos capitais alheios como financiadores dos
bens e direitos presentes no activo dos bancos. O outro, é a taxa de
endividamento que relaciona percentualmente o total do passivo, isto
é, das responsabilidades face a terceiros, com a soma dos capitais
próprios e do valor contabilizado a título de amortizações do
imobilizado e provisões, por exemplo, face ao incumprimento de
devedores.

Esses indicadores, para o sistema bancário português, calculados


para os anos revelados no quadro acima mostram-se relativamente
estáveis e cifram-se (2007), em:

autonomia financeira – 6,2%


taxa de endividamento – 1141%

Esta situação para qualquer outra empresa ou particular é


inconcebível e revela o carácter de excepção de que goza o sistema
bancário e que, de facto, a sua credibilidade se baseia em factores
como a entreajuda e coesão existente entre o capital financeiro; a
garantia de que o Estado está por detrás, para o que der e vier; e na
presunção de que os cidadãos confiam na segurança dos bancos. Dito
de outro modo, nada há de mecanismos de mercado mas, tão
somente factores de ordem psicológica, política e legislativa para que
o sistema se mantenha. Todos verificamos, na presente crise, o
cuidado dos Estados em trazer os bancos ao colo, em os financiar e
sabe-se também que, em caso particular de crise de confiança dos
cidadãos, o Estado veda o acesso das pessoas às poupanças que têm
depositadas, para evitar a falência dos bancos, como aconteceu na
Argentina em Abril de 2002, durante 10 dias.

Se algum cidadão, por exemplo, mesmo com um projecto credível de


investimento no valor de 1 M euros se apresentar junto de um banco
com 60 000 euros seus e pedir 940 000 emprestados (autonomia
financeira idêntica à dos bancos) o mais normal é que o mandem dar
uma volta. E, se o financiarem, exigem-lhe garantias reais
(hipotecas), fianças, avales, cartas de recomendação e uma taxa de
juro, naturalmente, muito superior à paga pelos bancos, pela
totalidade dos capitais alheios, onde preponderam os depósitos.

Observem-se, em seguida, aqueles dois indicadores para alguns dos


principais sectores de actividade em Portugal, em 2007 e fornecidos
pelo Banco de Portugal, para se ajuizar a excepcionalidade do negócio
bancário, as suas altas concentração e cartelização.

Quadro 2
Autonomi
Taxa de en-
a
dividamento
financeira
INDUSTRIAS TRANSFORMADORAS 24.72 50.52
INDUSTRIAS ALIMENTARES, DAS BEBIDAS E DO TABACO 27.72 45.92
INDUSTRIA TEXTIL 22.78 48.88
INDUSTRIA DO CALCADO 23.78 44.81
INDUSTRIAS DA MADEIRA E DA CORTICA 22.35 62.97
INDUSTRIAS DE PASTA, DE PAPEL E DE CARTAO 22.52 46.61
FABRICACAO DE PRODUTOS QUIMICOS 30.99 44.45
FABRICACAO DE EQUIPAMENTO ELECTRICO 32.70 43.00
FABRICACAO DE MATERIAL DE TRANSPORTE 27.74 43.00
FABRICACAO DE VEICULOS AUTOMOVEIS 30.70 34.94
PRODUCAO E DISTRIBUICAO DE ELECTRICIDADE, DE GAS E DE AGUA 20.68 109.14
CONSTRUCAO 22.15 84.00
COMERCIO POR GROSSO (EXCEPTO DE VEICULOS) 22.21 67.11
COMERCIO A RETALHO (EXCEPTO DE VEICULOS) 21.22 66.72
COMERCIO A RETALHO EM SUPERMERCADOS E HIPERMERCADOS 24.67 52.00
RESTAURANTES 17.89 53.84
TELECOMUNICACOES 22.35 73.69
ACTIVIDADES IMOBILIARIAS 22.58 124.61

É a referida confiança das pessoas no sistema bancário que permite


tais disparidades. Nenhum sector de actividade mantém uma
estrutura de financiamento tão assente em capitais alheios e isso, na
banca, só é possível porque esses capitais alheios têm um baixo
preço, os juros pagos aos depositantes e, porque estes, no seu
conjunto, não exigem um prazo para o reembolso. Também nessa
questão, o Estado dá uma mãozinha, obrigando todos os seus
trabalhadores a receber os salários em conta bancária; não contente
com isso, a banca pretende, há anos, cobrar pela utilização do
multibanco quando algum trabalhador (depositante forçado) quiser
aceder ao rendimento do seu trabalho.

Como se viu atrás, vem diminuindo a parcela dos depósitos no total


dos recursos à disposição dos bancos. Essa redução tem duas
consequências; uma é que o custo desses recursos vem aumentando
na exacta medida da acrescida utilização dos mercados de capitais; a
segunda, é a fragilização que daí resulta para os bancos face aos seus
mutuantes pois, uma coisa é estes serem os seus depositantes, outra
é serem consórcios internacionais, grandes bancos ou detentores de
títulos de dívida.

Quanto ao primeiro aspecto, o do aumento dos custos globais dos


recursos financeiros, como se trata de uma tendência sistémica (e
apesar da concorrência entre si), os banqueiros dormem descansados
pois, naturalmente, esses custos são repercutidos nas condições do
crédito concedido a empresas e particulares. Quanto ao segundo
aspecto, se as coisas se tornarem complicadas, os Estados intervêm,
como se viu, com garantias, nacionalizações e financiamentos e o
BCE injecta dinheiro nos mercados financeiros para segurar o sistema.
Em diversas situações podem fundir-se uns quantos bancos,
enxotando-se uns milharzitos dessas peças descartáveis a que alguns
insistem em designar por trabalhadores. Garantido, garantido está o
caviar na mesa dos banqueiros.

4 - Como a banca não serve o desenvolvimento económico

O crédito concedido pelos bancos acha-se grandemente garantido por


hipotecas, avales e seguros e o seu risco não é o da sua não
recuperação mas, que dessa recuperação, em caso de incumprimento
do devedor, o crédito não resulte, rapidamente, em liquidez. O risco
existe, sobretudo em casos de conjunturas negativas ou crises
sectoriais em que não é fácil realizar dinheiro com a apropriação de
uma instalação fabril, por exemplo.

Dados os riscos aí presentes, num contexto de desindustrialização


acelerada, de uma globalização que precariza a existência das
empresas na sua generalidade, em tempos de estagnação
económica, a banca dirige o crédito que concede para sectores com
maior rendabilidade e mais assegurada, ligados ao imobiliário.

Quadro 3
Saldos do crédito 1998 2006
Crédito às empresas - total (M euros) 39.036 91.856
Construção (%) 16,0 19,8
Imobiliário (%) 19,3 35,6
(soma) (%) 35,4 55,5
Crédito aos particulares - total (M euros) 44.490 114.977
Habitação (%) 72,9 79,7
Total geral (M euros) 83.526 206.833
Crédito às empresas (%) 46,7 44,4
Crédito aos particulares (%) 53,3 55,6
Fonte: Banco de Portugal

Vejamos alguns elementos que comparam a situação em 1998 com a


observada em 2006:

• Entre aqueles dois anos, o saldo do crédito aos particulares


passa de 53,3% do total para 55,6%, reduzindo-se, portanto, a
parcela destinada às empresas;
• No saldo do crédito prestado às empresas, o binómio
imobiliário-construção passou a representar 55,5% do total
contra 35,4% e, se em 1998, os valores destinados aqueles dois
subsectores eram relativamente próximos, recentemente o
imobiliário absorve perto cerca de 80% mais do que a
construção;
• O crédito à habitação pesa 79,7% do total concedido aos
particulares, contra 72,9% em 1998;
• A totalidade dos saldos do crédito entre os dois anos
considerados cresce 147% mas, os empréstimos ao imobiliário
aumentam 333,7%. Note-se que em 1998/2006 o PIB nominal
cresceu somente 45,6%.

Estes indicadores, extraidos a partir das bases de dados públicas do


Banco de Portugal revelam o distanciamento entre a política de
crédito dos bancos (aceite pelos governos como fazendo parte das
regras de mercado) e as necessidades de desenvolvimento da
economia. E revelam também as ligações profundas de conivência
entre o sistema financeiro, a especulação imobiliária e a economia
mafiosa, como adiante se referirá.

Os bancos têm razões para a preferência pela actividade imobiliária


em relação a outros sectores de actividade pois, no primeiro, para
além da rendabilidade associada a um negócio especulativo, existem
bens materiais de mais fácil tradução em liquidez, dada a sua pouca
especialização, comparativamente a instalações industriais.

Financiando a construção e o imobiliário, os bancos num curto prazo


transferem a dívida dos promotores para uma dívida (muito maior)
dos compradores, as famílias que pretendem ter uma casa,
garantindo assim, uma quase perenidade na aplicação dos seus
recursos. E com a vantagem de essas famílias só em casos extremos
deixarem de pagar as prestações do crédito à sua própria habitação.
Para os bancos, trata-se de uma aplicação de capital a longo prazo,
estável, segura, sem grandes custos de manutenção e com outros
negócios no bojo, como o pagamento automático de serviços (da
electricidade, por exemplo) e o estudo permanente das preferências
dos depositantes, como consumidores, através do movimento das
contas,

Por outro lado, sabe-se que o imobiliário e a hotelaria são os


principais elos de branqueamento, de integração dos capitais
provenientes da corrupção e diversos tráfegos (droga, armas,
imigrantes clandestinos, prostituição, órgãos humanos…). O dinheiro
proveniente da economia mafiosa precisa de entrar nos circuitos
“legais” do capital e são os bancos os lídimos intervenientes nessas
operações, mormente através da profusão de bancos “off-shore” onde
o dinheiro de proveniênca mafiosa aflui, livremente, para surgir a
qualquer momento do lado de cá, “on-shore”, pronto para o
investimento. Naturalmente, o sistema bancário não poderia deixar
de estar presente nessa florescente actividade de captação de
“poupanças” quer no apoio à sua transformação em imobiliário quer
na sua integração nos mercados especulativos, na bolsa, etc.

A apetência pela construção e o imobiliário e a reciclagem dos


rendimentos mafiosos liga os bancos aos partidos políticos, com
cruzamentos de homens de mão. Citamos, por exemplo, o caso do
ministro Manuel Pinho (do BES) ou do antigo director-geral dos
impostos, Paulo Macedo (do BCP); e, em sentido inverso, a inserção
de mandarins em lugares de topo na banca, como o Vara, o Alípio
Dias, o Faria de Oliveira. E têm vindo à ribalta as facilidades
concedidas a mandarins de meteórica transformação em novos-ricos,
convertidos ao empresariato.

Podemos também referir um outro factor de evidente contradição


entre a prática atrás desenhada e o discurso político do PS/PSD
quanto à consideração da exportação como motor do crescimento
económico. Como se sabe, não se exporta imobiliário e, mesmo que
se considere que parte da construção de casas visa a procura
turística, esse modelo não é susceptível de gerar desenvolvimento
dilatado no tempo, por razões que sumariamente se indicarão;
Portugal não é um destino turístico de riqueza impar, a organização
da captação e estadia de turistas pertence a empresas não
portuguesas, o turismo tende a atrofiar as restantes actividades nas
economias débeis, como se observa no Algarve e na Madeira e o
esmagamento dos preços das viagens aéreas torna competitivos
destinos exóticos a milhares de quilómetros de distância da Europa.
Recentemente, até a fixação de cidadãos reformados em busca de
sossego e clima ameno evidencia alguma retracção devido a factores
como a má qualidade dos serviços de saúde em Portugal. Em suma, o
crédito bancário não está ao serviço dos exportadores e despreza os
conselhos do governo com as orelhas a doer perante as queixas de
empresários que desesperam de ver chegar a si o apoio do governo
concedido aos bancos para financiarem a economia.

Voltando um pouco atrás, os interesses coligados do sector imobiliário


(que investe ou constrói), da economia mafiosa (que financia
encapotadamente), incluindo nela o mandarinato político (que cobra
pelos licenciamentos e pelos PIN’s) e os bancos (que lavam o dinheiro
mafioso e o emprestam de seguida às claras) geram um sistema que
acorrenta a população durante grande parte da vida com a compra de
imobiliário. E o Estado ajuda, de modo muito particular, com as
deduções das prestações no IRS, “esquecendo-se” de ter uma política
social de habitação, com preços não especulativos, como fizeram os
asiáticos na fase de desenvolvimento das suas economias ou
investindo, por exemplo, as reservas da Segurança Social em
habitação, furtando-as assim, aos prejuizos recentemente
concretizados com o seu investimento nos mercados financeiros.

A continuidade desta actuação nas útimas décadas faz com que


ninguém deva estranhar, que, para uma população de 10,4 M em
2001, haja 5,05 milhões de habitações, das quais 27,3% eram
segundas casas ou casas desocupadas; ou, que em 2006 o parque
habitacional seja suficiente para albergar as famílias que existirão
em… 2050, de acordo com a tese de mestrado de Fátima Moreira
que foi notícia no Público de 5 de Janeiro último.

Com a recessão e o desemprego, a venda de casas entrou em crise


pois a população em geral não está muito capacitada para continuar
a suportar estas opções de “desenvolvimento”. Nessa sequência, a
banca, de braço dado com os maiores empreiteiros das obras
públicas, manipula o Estado e o partido socratóide (com a inveja
surda dos apaniguados da Balela Ferreira Leite) para as grandes obras
(TGV…), a financiar pelos bancos. É claro que estes têm interesses
mais diversificados, incentivando o governo a prosseguir com a
degradação do sistema público de saúde para que possam viabilizar,
os seus próprios negócios nessa área, com o apoio entusiástico da
chamada “indústria” dos seguros, muito solícitos, todos, a tratar da
saúde aos que que lhes possam pagar, entre os 10,4 M de habitantes
da paróquia.

5 - Garantias aos depositantes

Para terminar, umas linhas sobre as garantias existentes para os


depositantes.

Uma grande preocupação dos Estados é a garantia que os


depositantes possam ter de que os seus haveres estarão sempre a
salvo. E por isso instituiu-se um tipo especial de seguradoras – os
fundos de garantias de depósitos para o qual os bancos pagam um
prémio.

Logo em princípios de Outubro, no dealbar da crise os ministros das


finanças da UE, para sossegar a plebe, aumentaram para 50000 euros
a garantia dos depósitos num banco, em caso de falência dessa
impoluta instituição. Ainda pensaram num limite de 100000 euros
mas os Estados membros mais a leste discordaram; no entanto,
alguns países, como a Espanha subiram mesmo a fasquia até aquele
valor.

Acontece que, pelo menos no caso da paróquia lusa, o Fundo de


Garantia de Depósitos é uma paródia pois os seus recursos (1283 M
euros) apenas cobrem 0,7% dos depósitos na banca. E porque assim
é, tem por detrás o almofadão do Banco de Portugal para lhe abonar
o que for preciso, se necessário.

Nos casos do BPN ou do BPP o Fundo talvez tivesse meios para pagar
aos pequenos e médios depositantes mas, não aos campeões
envolvidos nas traficâncias, com milhões entregues às mãos dos
Oliveiras e Costas, Rendeiros e quejandos. A existência de
“investidores” com ligações ao PS/PSD com depósitos muito
superiores aos 50000 euros foi também uma razão para o governo
impedir a falência daqueles banquinhos, sem relevância no sistema.

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