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Toda e qualquer lei existe para ser aplicada aos fatos praticados pelos indivíduos,
em determinado tempo, num Estado.
Há mais de uma centena de Estados no planeta, cada qual com sua sociedade e
com seu direito. Os homens relacionam-se internacionalmente e daí advêm problemas
e conflitos de aplicação das leis.
É preciso verificar as normas que regem a aplicação das leis penais no tempo, no
espaço e em relação a algumas pessoas que, pelas funções que exercem, recebem
tratamento especial, como se verá.
As leis penais, regra geral, são feitas para se aplicarem apenas aos fatos ocorridos
após sua vigência, que é o momento em que elas adquirem força obrigatória. Pela regra
da Lei de Introdução ao Código Civil, a lei brasileira começa a vigorar, salvo disposição
expressa em contrário, 45 dias após sua publicação no Diário Oficial da União.
Na prática, todavia, as leis entram em vigor na data de sua publicação, por força de
disposição expressa nesse sentido.
Em vigor, a lei passa a ser aplicada a todos os fatos que ocorrem daí em diante.
Acontece, todavia, que as leis podem ser modificadas por outras, que lhes sucedem,
umas mais severas, outras mais brandas, como já visto.
O primeiro ponto a ser esclarecido quanto à eficácia da lei no tempo é o que diz
2 – Direito Penal – Ney Moura Teles
Quando ação e resultado ocorrem no mesmo dia, não há problemas, mas pode
acontecer que a ação de João ocorra num dia e a morte de Pedro só se dê dias ou até
meses depois. De se perguntar quando ocorreu o homicídio: no dia em que João
disparou os tiros ou no momento em que Pedro morreu?
A solução deste problema é importante, por exemplo, nessa hipótese: João tem
17 anos, 11 meses e 20 dias no dia em que disparou os tiros, e 18 anos e 10 dias no dia
da morte de Pedro. Se se considerar como dia do crime a data da ação, João não será
punido, porque, menor de 18 anos, não tem capacidade penal. Se, entretanto, entender-
se como dia do crime a data da morte de Pedro, então João será punido.
Outra situação. No dia em que alguém comete a ação, está em vigor uma Lei X,
e no dia em que ocorre o resultado, vigora a Lei Y, que dá tratamento diferenciado ao
crime. Quando este aconteceu?
Sem comportamento, não existe resultado, ao passo que, se é certo que o Direito
Penal busca proteger os bens jurídicos mais importantes das lesões mais graves, não
menos exato é que podem existir lesões sem que haja, necessariamente, resultado,
conseqüência da conduta definida como crime.
Aplicação da Lei Penal - 3
Pode ocorrer que uma lei que define certo fato como crime venha a ser revogada
por outra lei, em atenção ao desejo da sociedade de não mais punir aquele
comportamento humano. Desaparece, assim, do ordenamento penal aquela figura de
crime. É claro que essa lei posterior vem beneficiar todo aquele que tiver praticado o tal
fato antes considerado criminoso.
É possível que haja pessoas sendo processadas, outras até cumprindo penas,
quando entra em vigor a lei nova abolindo o crime. Esta lei vai retroagir, vai aplicar-se a
todos os fatos ocorridos antes de sua vigência. Extingue-se o processo que estiver em
curso. Liberta-se o sentenciado que estiver cumprindo sua pena.
Pode ocorrer que uma lei posterior venha a dar tratamento mais brando a um
crime, por exemplo, diminuindo o grau máximo da pena cominada, ou criando uma
circunstância atenuante, eliminando uma agravante, enfim, beneficiando, de qualquer
modo, o infrator da norma penal.
Essa lei, igualmente, vai retroagir, consoante bem esclarece o parágrafo único
do mesmo art. 2º do Código Penal:
“A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em
julgado.”
O contrário também ocorre; aliás, nos últimos anos, é o que mais tem ocorrido
no Brasil, pois o legislador vem, equivocadamente, utilizando-se do Direito Penal como
fosse ele instrumento de combate ao crime, e não têm sido poucas as propostas de
endurecimento do Direito Penal.
Somente serão aplicadas aos fatos ocorridos após sua vigência. A lei anterior, a
lei do fato, deve, pois, ser aplicada, por ser a mais favorável. É essa, portanto, ultra-
ativa.
Pode acontecer uma situação peculiar. Um fato ocorre sob a égide de uma Lei X,
que para ele comina uma pena de, por exemplo, reclusão de quatro a oito anos. Iniciado
o processo, antes de sua conclusão, entra em vigor a Lei Y, com pena entre dois e seis
anos; portanto, mais favorável ao acusado. Esta Lei Y, contudo, acaba por ser revogada,
pouco tempo depois, pela Lei Z, que comina pena de cinco a 12 anos de reclusão.
está mais em vigor? Pode ser aplicada uma lei revogada, que não seja a lei do fato?
Se, entre o fato e aplicação concreta da lei, se sucederem mais de duas leis,
regulando o mesmo fato, e uma delas, que não a do fato, nem a do tempo da aplicação,
for a mais benéfica, será, mesmo assim, aplicada ao caso. Será ultra-ativa e retroativa,
pois vai ser aplicada, mesmo não estando em vigor, a fato ocorrido antes de sua
vigência.
É que o acusado do crime adquiriu o direito de ser punido pela lei mais favorável,
a intermediária, no exato momento em que ela entrou em vigor, não podendo ser
prejudicado em razão da demora na conclusão do processo.
A lei do tempo da sentença – mais severa – não pode ser aplicada, pois, se assim
fosse, estaria retroagindo, o que, por ser mais dura, não se admite, em nenhuma
hipótese.
Outra situação bastante interessante. Imagine-se que vigore no país a Lei A, que
define certo fato-crime e comina, para seu cometimento, uma pena de reclusão de
quatro a 10 anos, e estabelece o regime fechado para o início de cumprimento da pena,
qualquer que seja a quantidade fixada. Se o agente daquele crime vier a ser condenado
à pena mínima, ainda assim iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.
Sob a égide desta lei ocorre o fato por ela considerado crime, iniciando-se o
processo, quando entra em vigor a Lei B, que estabelece, para o mesmo fato, a pena de
seis a 12 anos, todavia, manda o juiz observar, no que diz respeito à fixação do regime, a
norma do Código Penal, que diz:
Se o juiz for condenar o infrator à pena mínima, como deverá proceder? Aplicará
quatro anos em regime fechado, de acordo com a lei do fato, ou seis anos em regime
semi-aberto, de acordo com a lei da sentença?
6 – Direito Penal – Ney Moura Teles
Diverge a doutrina sobre ser possível combinar dispositivos legais de mais de uma
lei, extraindo de ambas o que, em cada uma, for mais favorável ao agente do fato. Para
os que combatem esta possibilidade, se assim fizesse o juiz, estaria criando uma
terceira lei, inexistente e, por isso, invadindo a esfera do Poder Legislativo, o que não se
pode admitir.
Mas, se a Constituição Federal manda a lei penal mais benéfica retroagir sempre, o
que se pode afirmar é que apenas o dispositivo benéfico retroage, irretroativo o mais
severo. O desejo da lei maior é que retroaja a norma mais benéfica, e não o texto legal
integral, a não ser que fosse ele, integralmente, mais favorável. Se num mesmo texto há
vários dispositivos, uns benéficos, outros prejudiciais, é claro que só aqueles retroagem.
Ao combinar os dispositivos de duas leis, o juiz não cria uma terceira lei, mas
apenas obedece ao preceito constitucional, maior, que não manda a lei retroagir por
inteiro, mas determina a retroatividade de todo e qualquer dispositivo legal que vier
favorecer o réu.
A conclusão é de que o juiz não só pode, como também tem o dever de aplicar os
dispositivos mais benéficos ao acusado, não importa se estiverem contidos em duas,
três ou quantas leis diferentes.
Algumas leis existem para vigorar por certo tempo, dependendo da ocorrência de
certa condição ou de certo termo. Em determinadas situações, pode o legislador criar
leis para ter vigência por um prazo determinado (90 dias, um semestre, um mês, um
ano, uma semana), ou, enquanto perdurar certa situação (uma guerra, uma epidemia
etc.).
Não podia ser diferente. Se se pensasse que tais leis só seriam aplicadas enquanto
estivessem em vigor, nenhum de seus destinatários, nenhuma das pessoas evitaria a
prática dos fatos por elas coibidos, na certeza de que, mais cedo ou mais tarde, a lei não
mais vigoraria, e, nesse tempo, nenhum processo chegaria a seu termo, pelo que não
Aplicação da Lei Penal - 7
“o conceito de lei mais favorável é relativo. Há de haver pelo menos duas para
confronto. (...) Cessação de vigência não se confunde com revogação. Esta
retira a lei do ordenamento jurídico. Aquela, apesar de expirado o prazo legal,
permanece no Direito, evidentemente apenas quanto às relações jurídicas
constituídas durante a vigência e ainda não desconstituídas por outro fato”1.
5.1.9 Síntese
A conclusão a que se deve chegar é que a lei penal mais benéfica, o dispositivo
penal mais brando, mais favorável ao acusado da prática de um crime, deve ser
aplicado sempre.
O fato definido como crime é o ponto de partida. Verifica-se a lei então vigente e as
leis posteriores, para descobrir qual delas é a mais benéfica.
Se a mais benéfica é a lei do tempo do fato, apesar de revogada, vai ser aplicada, e,
nesse caso, estará sendo ultra-ativa. Será aplicada mesmo já não estando em vigor.
Não há segredo, nem dificuldade: a lei mais benéfica sempre será aplicada. Ela
será, pois, retroativa ou ultrativa, numa palavra: extra-ativa.
1 CERRNICCHIARO, Luiz Vicente; COSTA JR., Paulo José. Direito penal na constituição. São Paulo:
As leis são elaboradas para ser aplicadas no território do Estado que as elaborou. A
lei brasileira, no Brasil, a japonesa, no Japão.
Uma única ação realizada num ponto do planeta, num Estado, vai produzir efeito
noutro, importando na lesão de bens cujos titulares são nacionais de quatro outros
Estados distintos.
A primeira tarefa é definir onde ocorreu o crime. No lugar onde a conduta foi
realizada, ou onde o resultado aconteceu?
ou cá? A hipótese, bastante simples, torna-se cada vez mais comum e sofisticada, com o
uso do computador e das comunicações telefônicas e por satélite, pela Internet,
especialmente com o tráfico internacional de entorpecentes, e outros crimes que
envolvem o sistema financeiro internacional.
Apesar de Cláudio ter agido com vontade de matar e de Antônio ter morrido em
conseqüência do comportamento daquele, o crime não terá acontecido em nenhum
lugar, o que equivale a dizer que não houve crime, o que é um absurdo.
Por isso, o Código Penal brasileiro adota a teoria da ubiqüidade, que é a correta,
no art. 6º, assim:
É certo que ninguém será punido duas vezes, em dois países distintos, por um
único fato, uma vez que há um princípio geral de Direito – escrito em alguns
10 – Direito Penal – Ney Moura Teles
ordenamentos, inclusive no Código Penal (art. 8º) – que proíbe a dupla punição pelo
mesmo fato, vedando o chamado bis in idem.
Diz o princípio da nacionalidade que a lei penal do Estado será aplicada a seus
cidadãos, onde quer que eles se encontrem. A razão do princípio é que o cidadão deve
obediência à lei de seu país, ainda que fora dele se encontre.
Por ele, a lei brasileira seria aplicada ao crime cometido contra bem jurídico
nacional, ou cujo titular fosse nacional, qualquer que fosse o lugar do crime. Se o
automóvel de João, brasileiro, viesse a ser furtado na Argentina, por um argentino,
equatoriano ou canadense, a lei brasileira seria aplicada.
12 – Direito Penal – Ney Moura Teles
Pelo princípio da justiça penal, cada Estado poderia punir qualquer crime, seja
qual fosse a nacionalidade de seus sujeitos ou o lugar de sua prática, bastando que o
delinqüente ingressasse no território desse Estado.
Este princípio, para melhor compreensão do leitor, será estudado no item 5.2.4.2.
5.2.3 Territorialidade
Para a resolução dos conflitos espaciais das leis penais, o Código Penal Brasileiro
encontrou a fórmula mais utilizada entre todos os povos modernos. Adota o princípio
da territorialidade como regra, e os demais princípios como exceção.
Diz-se, por isso, que entre nós vigora a territorialidade temperada. Dispõe o art. 5º
do Código Penal: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e
regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.”
Esta é a regra: a lei brasileira será aplicada aos crimes que forem cometidos dentro
do território nacional. Excepcionalmente, poderá ser aplicada a crimes cometidos fora
de nosso território. A propósito, importa, em primeiro lugar, conceituar, juridicamente,
território.
quer seja compreendido entre os limites que o separam dos Estados vizinhos, ou do
mar livre, quer esteja destacado do corpo territorial principal ou não. Esta é a definição
que NELSON HUNGRIA2 apresenta, de acordo com MANZINI.
5.2.4 Extraterritorialidade
Excepcionalmente, a lei penal brasileira poderá ser aplicada a fatos ocorridos fora
do território nacional. Pelas mais diferentes razões, em algumas situações particulares,
torna-se indispensável que a lei brasileira seja aplicada a fatos ocorridos no estrangeiro.
2 HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1955. v. 1, t. 1, p. 155.
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Dispõe o art. 7º, I, do Código Penal, que ficarão sujeitos à lei brasileira, embora
cometidos no estrangeiro, os seguintes crimes:
c)os crimes contra a administração pública, por quem estiver a seu serviço, como, por
exemplo, o peculato (art. 312, CP) e a concussão (art. 316, CP);
Para evitar, nesses casos, o bis in idem, que é a possibilidade de vir alguém a
Aplicação da Lei Penal - 15
sofrer punição duas vezes pelo mesmo fato, o art. 8º do Código Penal determina que a
pena que tiver sido cumprida no estrangeiro vai atenuar aquela a ser imposta no Brasil,
se for diferente. Se for idêntica, será computada na pena a ser aplicada no Brasil.
Os crimes estão relacionados no art. 7º, II, Código Penal, entre eles os que, por
tratado ou convenção, o Brasil tiver-se obrigado a reprimir. Incide o princípio da justiça
universal. Por razões de interesse político de todos os Estados, eles celebram tratados
de cooperação internacional também no campo do Direito Penal, para combater, por
exemplo, o tráfico ilícito de entorpecentes.
Não, porque segundo manda a Constituição Federal, art. 5º, LI, o Brasil não
extradita nacionais. Assim, diz a Carta Magna:
Se o Brasil não extradita seus nacionais, deverá, então, julgá-los aqui, segundo a
lei brasileira, pois, se não o fizesse, estaria consagrando a impunidade para seus
cidadãos que delinqüissem fora do Brasil e conseguissem aqui se homiziar. Por isso, a
alínea b do inciso II do art. 7º do Código Penal inclui, entre os casos de
extraterritorialidade condicionada, os crimes praticados, no estrangeiro, por brasileiro,
incidente, aí, o princípio da personalidade ativa.
Para que a lei brasileira seja aplicada nessas hipóteses, é necessário o concurso
das seguintes condições (art. 7º, § 2º):
2ª ser o fato punível também no país em que foi praticado. É indispensável que o fato
praticado seja definido como crime no país estrangeiro e no Brasil. Por exemplo, se
Maria, brasileira, realiza aborto consentido na França e retorna ao Brasil, não poderá
ser punida aqui, apesar de o aborto aqui ser proibido;
3ª estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição;
4º não ter sido o agente absolvido no exterior ou não ter aí cumprido pena. Se ele já
tiver sido julgado e absolvido ou cumprido a pena, não poderá a lei brasileira ser
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aplicada;
5º não ter sido o agente perdoado no estrangeiro, ou não estar extinta a punibilidade,
segundo a lei mais favorável.
A lei penal brasileira ainda poderá ser aplicada ao crime praticado fora de nosso
território por estrangeiro contra brasileiro se – além das condições previstas no § 2º do
art. 7º – não tiver sido pedida ou tiver sido negada sua extradição e houver requisição
do Ministro da Justiça (art. 7º, § 3º, CP).
A lei penal existe para ser aplicada a todas as pessoas; vale, portanto, erga omnes,
alcançando a todos, sem distinção, até porque todos são iguais perante a lei.
Como bem ressalvou o caput do art. 5º do Código Penal, a lei brasileira aplica-
se ao crime cometido no território brasileiro, “sem prejuízo de convenções, tratados e
regras de direito internacional...”
Árabes e judeus ainda não encontraram a solução para seus problemas. Rabin,
chefe do Governo israelense, foi morto por um jovem judeu, lamentavelmente
estudante de Direito.
Para que o parlamentar possa exercer, com plena liberdade, seu mandato, a
Constituição Federal estabelece as imunidades parlamentares, que são absolutas ou
relativas.
Dispõe o art. 53, caput, da Constituição Federal: “Os deputados e senadores são
invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.”
É evidente que são imunes às leis penais que definem tais crimes, quando
praticarem os fatos respectivos durante e em razão do exercício do mandato
parlamentar. Se um deputado ofender a reputação de sua mulher, por questões
meramente pessoais, particulares, não estará imune à lei, mas como simples cidadão, a
ela estará sujeito.
b) acabou de cometê-lo;
c) é perseguido, logo após, em situação que faça presumir ser ele o infrator da
norma; ou
O parlamentar não pode ser preso em flagrante, se tiver praticado fato definido
como crime afiançável.
“decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e
maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político
representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa”.
Ora, essa norma só tinha sentido no regime anterior, quando a casa legislativa
Aplicação da Lei Penal - 23
Agora, quando a casa legislativa não pode impedir a ação penal por crime
cometido antes da diplomação, poderá ela impedir a perda do mandato decorrente de
condenação criminal transitada em julgado? A meu sentir, é uma incoerência.
Por que o advogado não goza da imunidade em relação ao crime de calúnia? E por
que também não quanto ao crime de desacato, como decidiu, em liminar, o Supremo
Tribunal Federal?
Caluniar é atribuir, falsamente, a alguém, um fato definido como crime (art. 138,
Aplicação da Lei Penal - 25
CP). Para haver este crime, o caluniador deve saber que o fato que atribui a outro é
falso. É óbvio, portanto, que não se poderia conferir ao advogado o direito de falsear a
verdade. Se, no processo instaurado perante o poder judiciário, se busca a verdade, não
se pode legitimar a conduta do advogado que, para defender o interesse de seu cliente,
usa da falsidade.
O Presidente da República não goza da imunidade absoluta, não está imune à lei
penal, mas só poderá ser processado, após licença da Câmara dos Deputados, mediante
o voto de, pelo menos, dois terços de seus membros, em votação aberta, e somente
poderá ser preso depois de sentença condenatória.
Tratando-se de fato definido como crime comum, o Presidente será julgado pelo
Supremo Tribunal Federal e, se definido como crime de responsabilidade, pelo Senado
Federal, devendo ser afastado das funções, por 180 dias, quando da instauração do
processo no Supremo, pelo recebimento da denúncia ou da queixa, ou no Senado
Federal (art. 86, CF).
O Supremo Tribunal Federal, todavia, tem decidido que esses dois dispositivos
das constituições estaduais são inconstitucionais, porque tais prerrogativas são
compatíveis apenas com a condição de Chefe de Estado, exclusivas do Presidente da
República, em face do princípio republicano.
Por força do que dispõe o art. 27, § 1º, da Constituição Federal, também os
deputados estaduais e distritais gozam das imunidades parlamentares, absoluta e
relativa. Não cometem os delitos de palavra e só podem ser presos em flagrante de
crime inafiançável, e mantidos na prisão se a Casa legislativa não a relaxar. Quanto ao
processo penal, o tratamento a eles conferido é o mesmo dado ao parlamentar federal
(item 5.3.2).
Por isso, o dispositivo constitucional é da mais alta importância, uma vez que os
membros do Tribunal estadual, além de infensos às influências políticas, realizarão
julgamento técnico.
A Constituição, no art. 95, trata das garantias e prerrogativas dos juízes, e no art.
128, § 5°, I, as garantias dos membros do Ministério Público, e, em nenhum preceito,
há qualquer menção à prisão cautelar. Logo, se a Constituição Federal não conferiu a
eles, qualquer imunidade à prisão, não pode a Lei Complementar ou a Lei Ordinária
fazê-lo, daí porque penso que são inconstitucionais os dispositivos que asseguram aos
juízes e membros do Ministério Público imunidade à prisão em flagrante de crime
afiançável.
O Código Penal estabelece nos arts. 9º, 10, 11 e 12 outras disposições pertinentes à
aplicação da lei penal, relativas à eficácia da sentença penal estrangeira no Brasil, às
contagens de prazo, frações não computáveis na pena e sobre a chamada legislação
especial, que devem, nesta oportunidade, ser analisadas.
Sentença penal, como já se falou, é a decisão final do juiz acerca do fato definido
como crime atribuído a alguém. A sentença prolatada em país estrangeiro pode
produzir efeitos aqui no Brasil.
Em algumas hipóteses, não é necessária nenhuma condição, bastando que seja ela,
por documento autêntico e idôneo, apresentada ao Presidente do Supremo Tribunal
Federal, para ter eficácia em nosso país. Isto ocorre, por exemplo, quando certo agente
de fato definido como crime praticado no estrangeiro que se encontra no território
brasileiro, para evitar a aplicação da lei penal brasileira, apresenta a sentença
estrangeira provando ter sido absolvido ou perdoado no estrangeiro (art. 7º, § 2º, d e e,
30 – Direito Penal – Ney Moura Teles
CP).
As penas estabelecidas no Código Penal são fixadas e devem ser aplicadas por
certo lapso temporal: por exemplo: cinco anos, seis meses etc.
A segunda parte da norma manda que os dias, meses e anos sejam contados
segundo o calendário comum, o gregoriano. O dia é o período de tempo compreendido
entre a meia-noite e a meia-noite seguinte. O mês é contado de acordo com o número
de dias que cada um tem, 28 ou 29 (fevereiro), 30 (abril, junho, setembro e novembro),
e 31 os demais. O ano terá 365 ou 366 dias.
Manda o art. 11 do Código Penal que as horas, que são as frações de dia, sejam
desprezadas nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direito, e, na de
multa, as frações de cruzeiro, hoje real, os centavos.
Ninguém será condenado, por exemplo, a uma pena de 30 dias e doze horas.