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No art. 342 encontra-se o tipo penal: “fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a
verdade, como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial ou em juízo arbitral (Redação dada pela Lei nº 10.268, de
28 de agosto de 2001). A pena é reclusão, de um a três anos, e multa.
121.2 TIPICIDADE
A segunda é negar a verdade, é dizer que não é verdade aquilo que é, declarando o
agente que não conhece o fato do qual teve percepção. É a falsidade negativa. É a negação
da verdade.
“o Código Penal não exclui da prática do crime de falso testemunho a pessoa que,
embora impedida, venha a falsear em depoimento que preste, negando,
afirmando ou calando a verdade. Tampouco o dever de dizer a verdade foi
condicionado pelo legislador à prestação de compromisso”1.
1 DJ de 16-2-90. p. 209.
2 DJ de7-4-2003, p. 209.
3 DJ de 7-4-2003, p. 302.
4 – Direito Penal III – Ney Moura Teles
O tipo não exige nenhum outro elemento subjetivo, senão a vontade livre e
consciente de fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade.
O falso testemunho e a falsa perícia são crimes de mão própria. Só podem ser
realizados pela testemunha, perito, tradutor, contador e intérprete. Não se admite, por
isso, a co-autoria no falso testemunho. Se duas testemunhas no mesmo processo
combinam prestarem ambas depoimentos falsos, cada uma estará cometendo um delito
autônomo. Serão dois crimes, cada qual praticado por uma, sem nenhuma concorrência
delituosa.
E se terceira pessoa apenas induz, ou instiga, ou presta qualquer auxílio para que o
agente pratique o falso testemunho ou falsa perícia, não oferecendo, prometendo ou dando
qualquer vantagem? Será partícipe, com certeza, do delito em comento.
6 – Direito Penal III – Ney Moura Teles
“Os crimes de mão própria não admitem a autoria mediata. A participação, via
induzimento ou instigação, no entanto, é, ressalvadas exceções, plenamente
admissível. A comparação entre os conteúdos dos injustos previstos nos arts. 342
e 343 do Código Penal não conduz à lacuna intencional quanto à participação no
delito de falso testemunho. O delito de suborno (art. 343 do Código Penal) tem
momento consumativo diverso, anterior, quando, então, a eventual instigação,
sem maiores conseqüências, se mostra, aí, inócua e penalmente destituída de
relevante desvalor de ação. Cometido o falso testemunho (art. 342 do Código
Penal), a participação se coloca no mesmo patamar das condutas de consumação
antecipada (art. 343 do Código Penal), merecendo, também, a censura criminal
(art. 29, caput, do CP)”4.
Igual aumento haverá quando o crime é cometido “com o fim de obter prova
destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte
entidade da administração pública direta ou indireta”. Alcança, portanto, o falso
testemunho e a falsa perícia produzidos em processo penal ou no civil em que for parte um
ente público. Se o agente é funcionário público titular de cargo de perito, contador,
tradutor ou intérprete e, em razão da função, recebe ou aceita promessa de vantagem para
elaborar laudo falso, cometerá apenas o crime de corrupção passiva, respondendo por
corrupção ativa (art. 333, CP) aquele que lhe entregar a vantagem ou prometê-la.
121.2.6 Retratação
4 DJ de 21-8-2000, p. 159.
Falso Testemunho ou Falsa Perícia - 7
Estabelece o § 2º do art. 342 que “o fato deixa de ser punível se, antes da sentença
no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade” (Redação
dada pela Lei nº 10.268/01).
Além disso, deve ser levada aos autos do processo ou do procedimento no qual o
crime fora praticado. Ou seja, deve o agente prestar novo depoimento no qual declara a
verdade ou se retrata, ou elaborar nova perícia ou novo parecer contendo a retratação.
Deve ser feita antes da sentença proferida no processo no qual foi cometido o delito
e não no processo instaurado contra o agente pela prática do delito do art. 342. Sentença é
a decisão do juiz que põe fim ao processo. A norma refere-se, portanto, à sentença de
primeiro grau, a qual, nos processos de competência do tribunal do júri, é aquela proferida
pelo juiz presidente e não a decisão de pronúncia.
A retratação do agente extingue a punibilidade nos termos do que dispõe o art. 107,
VI, do Código Penal, comunicando-se ao partícipe que o induziu ou instigou, mas não ao
agente do crime do art. 343.