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FALSO TESTEMUNHO OU FALSA


PERÍCIA

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121.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS


DO CRIME

No art. 342 encontra-se o tipo penal: “fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a
verdade, como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial ou em juízo arbitral (Redação dada pela Lei nº 10.268, de
28 de agosto de 2001). A pena é reclusão, de um a três anos, e multa.

A proteção da norma recai sobre a administração da justiça, o interesse estatal na


preservação da verdade sobre os fatos levados à apreciação das autoridades incumbidas da
direção dos processos judiciais, administrativos, do inquérito policial e do juízo arbitral.
Busca proteger a seriedade na produção das provas.

Sujeito ativo é a testemunha, o perito, o contador, o tradutor e o intérprete. Sujeito


passivo é o Estado. Será sujeito passivo também, secundariamente, a pessoa que vier a ser
prejudicada.

121.2 TIPICIDADE

O caput contém o tipo. O § 1º descreve a forma qualificada, o § 2º contém causa de


aumento de pena e o § 3º cuida da retratação.

121.2.1 Conduta, elementos objetivos e normativos

São três as condutas incriminadas. A primeira é fazer afirmação falsa. O agente


realiza uma conduta positiva fazendo uma declaração diversa ou contrária à que
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

corresponde ao seu conhecimento acerca dos fatos. É a falsidade positiva. É a afirmação de


uma mentira.

A segunda é negar a verdade, é dizer que não é verdade aquilo que é, declarando o
agente que não conhece o fato do qual teve percepção. É a falsidade negativa. É a negação
da verdade.

A última é calar a verdade. É omitir, deixar de dizer a verdade, ocultá-la. Esconder o


que sabe. Recusar-se a contar o que está na esfera de seu conhecimento. É a reticência. O
silêncio acerca da verdade, sua ocultação.

As três condutas são equiparadas e a falsidade constitui, sempre, a não-


correspondência entre a manifestação do agente e seu conhecimento, o que viu, percebeu
ou ouviu. Prevalece, assim, a teoria subjetiva, segundo a qual a falsidade está no
antagonismo entre o que a testemunha sabe e seu relato, e não entre este e a verdade.

Testemunha é a pessoa chamada a depor em processo judicial, administrativo ou


inquérito policial. O art. 202 do Código de Processo Penal dispõe que toda pessoa poderá
ser testemunha, a qual prestará o compromisso legal de “dizer a verdade do que souber e
lhe for perguntado (...) e relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência
ou as circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua credibilidade” (art. 203, CPP).

O ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que


desquitado, o irmão e o pai, a mãe ou o filho adotivo do acusado poderão recusar-se a
depor (art. 206, CPP), todavia, se aceitarem prestar seu depoimento, abrindo mão do
direito de recusa, estarão obrigados a dizer a verdade, cometendo o delito, se faltarem com
ela.

Já as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam


guardar segredo, a não ser quando, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar seu
testemunho, poderão cometer o delito de violação de segredo profissional, definido no art.
154 do Código Penal. Se, desobrigadas pela parte interessada, aceitarem prestar depoimento,
estarão obrigadas a dizer a verdade.

Doutrina e jurisprudência divergem acerca da necessidade, para o reconhecimento


da tipicidade do falso testemunho, de que a testemunha tenha prestado o compromisso
legal de dizer a verdade. Uma corrente entende que o compromisso legal é elementar do
tipo, outra considera que o informante – a testemunha não compromissada – também
pode cometer o delito em comento.
Falso Testemunho ou Falsa Perícia - 3

Julgando o HC nº 66.511-0, em 16-2-90, o Supremo Tribunal Federal decidiu que

“o Código Penal não exclui da prática do crime de falso testemunho a pessoa que,
embora impedida, venha a falsear em depoimento que preste, negando,
afirmando ou calando a verdade. Tampouco o dever de dizer a verdade foi
condicionado pelo legislador à prestação de compromisso”1.

Também o Superior Tribunal de Justiça decidiu no mesmo sentido, recentemente,


ao decidir o Habeas Corpus nº 20.9242. Assim, pela compreensão dada pelos Tribunais
Superiores, o tipo em comento não exige, como elementar, a prévia tomada do
compromisso legal da pessoa que presta seu depoimento.

Todavia, também como entendem os Tribunais Superiores, a testemunha não estará


obrigada e, portanto, não cometerá o crime de falso testemunho, quando se recusar a depor
sobre fatos que possam incriminá-la, porque neste caso estaria produzindo prova contra si:

“Nos termos de recente precedente do STF, o crime de falso testemunho não se


configura quando com a declaração da verdade o depoente assume o risco de ser
incriminado (HC nº 73.035/DF, in DJ de 19.12.96, p. 51.766)”3.

Perito é o técnico designado pela autoridade dirigente do processo ou do inquérito


para emitir parecer acerca de uma questão relativa a sua aptidão ou seus conhecimentos,
produzindo uma prova acerca de um fato juridicamente relevante.

Contador é o expert em assuntos contábeis, muitas vezes também chamado a prestar


sua contribuição para a apuração da verdade no inquérito ou em processo judicial ou
administrativo. Tradutor é a pessoa encarregada de verter, para o idioma nacional, texto de
língua estrangeira. Intérprete é aquele que, com seus conhecimentos, permitirá a
comunicação entre pessoas que falam idiomas diversos.

Ao atuarem, também essas pessoas estão obrigadas a afirmar a verdade, realizando,


quando não o fazem, o tipo denominado falsa perícia.

O falso testemunho ou a falsa perícia será realizado no âmbito de processo judicial


ou administrativo, de inquérito policial ou de juízo arbitral. Alcança a norma, portanto,

1 DJ de 16-2-90. p. 209.
2 DJ de7-4-2003, p. 209.
3 DJ de 7-4-2003, p. 302.
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todo e qualquer processo, de natureza penal, civil, trabalhista, eleitoral e também o


processo administrativo, cujo fim é a apuração de violações de normas administrativas ou
disciplinares, instaurados no âmbito de qualquer dos poderes na esfera municipal,
estadual ou federal. Além do inquérito policial, o crime será cometido também perante
comissão parlamentar de inquérito, por força do que dispõe o art. 4º, II, da Lei nº
1.579/52: “constitui crime: (...) II – fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade
como testemunha, perito, tradutor ou intérprete, perante a Comissão Parlamentar de
Inquérito”.

Juízo arbitral é o procedimento estabelecido pela Lei nº 9.307, de 23 de setembro


de 1996, do qual as pessoas capazes de contratar poderão valer-se para dirimir litígios
relativos a direitos patrimoniais disponíveis.

É necessário que o fato sobre o qual é prestado o testemunho ou realizada a perícia


seja juridicamente relevante, tendo, pelo menos, potencialidade para causar um prejuízo
para o interesse da justiça na apuração da verdade.

121.2.2 Elementos subjetivos

O falso testemunho e a falsa perícia são crimes dolosos. É indispensável que o


agente esteja consciente da falsidade da afirmação que faz ou da verdade que nega ou cala
e atuar com vontade livre de cometer a falsidade. Necessário, portanto, que ele tenha
perfeita consciência de que falta com a verdade.

Não é suficiente que o depoimento ou a perícia seja desconforme com a verdade,


pois prevalece a teoria subjetiva, devendo a desconformidade ser entre a afirmação do
agente e seu conhecimento pessoal, aquilo que apreendeu da realidade.

Se o agente percebeu erroneamente a realidade e, por isso, afirmou uma inverdade,


não terá cometido crime algum, por não ter consciência real dos fatos verdadeiros.

Se o agente presenciou os fatos, mas, por exemplo, confundiu-se sobre a identidade


de um de seus concorrentes, afirmando a participação inexistente do sósia de um deles,
não cometerá falso testemunho, por inexistência de dolo.

O tipo não exige nenhum outro elemento subjetivo, senão a vontade livre e
consciente de fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade.

121.2.3 Consumação e tentativa


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O falso testemunho consuma-se no instante em que é encerrado o depoimento do


agente, uma vez que, enquanto está sendo prestado, poderá a testemunha desdizer-se
afirmando a verdade. Assim, só há consumação com o encerramento de seu depoimento,
quando não mais poderá voltar atrás.

A tentativa é, tecnicamente, possível se, por qualquer razão, o depoimento não é


encerrado.

A falsa perícia é consumada no momento em que o laudo do perito, contendo seu


parecer, a tradução ou a manifestação do contador, é entregue à autoridade dirigente do
processo ou do procedimento. Tratando-se de intérprete, no instante em que verte
falsamente a afirmação de um dos interlocutores.

A tentativa é, também, possível tecnicamente, quando o laudo falso é interceptado


ou não chega, por qualquer razão alheia à vontade do agente, ao conhecimento da
autoridade dirigente do feito em que é produzido.

121.2.4 Concurso de pessoas e conflito aparente de normas

O falso testemunho e a falsa perícia são crimes de mão própria. Só podem ser
realizados pela testemunha, perito, tradutor, contador e intérprete. Não se admite, por
isso, a co-autoria no falso testemunho. Se duas testemunhas no mesmo processo
combinam prestarem ambas depoimentos falsos, cada uma estará cometendo um delito
autônomo. Serão dois crimes, cada qual praticado por uma, sem nenhuma concorrência
delituosa.

Sendo, entretanto, dois os peritos ou tradutores, elaborando um mesmo laudo ou


parecer, haverá co-autoria se ambos estão conscientes de que faltam com a verdade acerca
dos fatos.

Aquele que dá, oferece ou promete dinheiro ou qualquer vantagem à testemunha,


perito, contador, tradutor ou intérprete, para que este faça afirmação falsa, negue ou cale a
verdade, cometerá o delito do art. 343 do Código Penal, adiante comentado, não sendo co-
autor ou partícipe do falso testemunho ou falsa perícia.

E se terceira pessoa apenas induz, ou instiga, ou presta qualquer auxílio para que o
agente pratique o falso testemunho ou falsa perícia, não oferecendo, prometendo ou dando
qualquer vantagem? Será partícipe, com certeza, do delito em comento.
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Assim, o advogado que orienta a testemunha a faltar com a verdade, mentindo,


negando ou calando-a, será partícipe do crime.

Nesse sentido é a recente decisão do Superior Tribunal de Justiça:

“Os crimes de mão própria não admitem a autoria mediata. A participação, via
induzimento ou instigação, no entanto, é, ressalvadas exceções, plenamente
admissível. A comparação entre os conteúdos dos injustos previstos nos arts. 342
e 343 do Código Penal não conduz à lacuna intencional quanto à participação no
delito de falso testemunho. O delito de suborno (art. 343 do Código Penal) tem
momento consumativo diverso, anterior, quando, então, a eventual instigação,
sem maiores conseqüências, se mostra, aí, inócua e penalmente destituída de
relevante desvalor de ação. Cometido o falso testemunho (art. 342 do Código
Penal), a participação se coloca no mesmo patamar das condutas de consumação
antecipada (art. 343 do Código Penal), merecendo, também, a censura criminal
(art. 29, caput, do CP)”4.

121.2.5 Aumento de pena

Quando o agente realiza a conduta típica “mediante suborno”, isto é, tendo


recebido dinheiro, ou qualquer vantagem, ou sua promessa, a pena será aumentada de um
sexto a um terço.

Igual aumento haverá quando o crime é cometido “com o fim de obter prova
destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte
entidade da administração pública direta ou indireta”. Alcança, portanto, o falso
testemunho e a falsa perícia produzidos em processo penal ou no civil em que for parte um
ente público. Se o agente é funcionário público titular de cargo de perito, contador,
tradutor ou intérprete e, em razão da função, recebe ou aceita promessa de vantagem para
elaborar laudo falso, cometerá apenas o crime de corrupção passiva, respondendo por
corrupção ativa (art. 333, CP) aquele que lhe entregar a vantagem ou prometê-la.

121.2.6 Retratação

4 DJ de 21-8-2000, p. 159.
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Estabelece o § 2º do art. 342 que “o fato deixa de ser punível se, antes da sentença
no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade” (Redação
dada pela Lei nº 10.268/01).

A retratação é a afirmação da verdade que tenha sido falseada, arrependendo-se


eficazmente o agente depois de prestado o falso testemunho ou realizada a falsa perícia.
Deve ser voluntária, não precisando ser espontânea, mas deve ser plena e cabal, isto é,
completa e capaz de expungir toda e qualquer dúvida sobre os fatos anteriormente objeto
do depoimento ou perícia.

Além disso, deve ser levada aos autos do processo ou do procedimento no qual o
crime fora praticado. Ou seja, deve o agente prestar novo depoimento no qual declara a
verdade ou se retrata, ou elaborar nova perícia ou novo parecer contendo a retratação.

Deve ser feita antes da sentença proferida no processo no qual foi cometido o delito
e não no processo instaurado contra o agente pela prática do delito do art. 342. Sentença é
a decisão do juiz que põe fim ao processo. A norma refere-se, portanto, à sentença de
primeiro grau, a qual, nos processos de competência do tribunal do júri, é aquela proferida
pelo juiz presidente e não a decisão de pronúncia.

A retratação do agente extingue a punibilidade nos termos do que dispõe o art. 107,
VI, do Código Penal, comunicando-se ao partícipe que o induziu ou instigou, mas não ao
agente do crime do art. 343.

121.3 AÇÃO PENAL

A ação penal é de iniciativa pública incondicionada, possível a suspensão


condicional do processo penal apenas no fato praticado sem incidência de uma das causas
de aumento de pena previstas no § 1º do art. 342.

O julgamento da ação penal deverá ser proferido somente após o julgamento do


processo no qual foi realizado o falso testemunho ou a falsa perícia, a fim de que não haja
decisões conflitantes, pois o depoimento ou a perícia pode, no processo onde foi realizado,
ser tido como verdadeiro.

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