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DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Turma C
Niterói
2007
Sombras - a política imperial” / José Murilo de Carvalho - Civilização Brasileira, RJ. 2003,
4ª edição
Em sua jornada pelo Inferno, Dante e Virgílio, encontram no Nono Círculo aqueles
que atraiçoaram seu próprio sangue, a pátria, seus amigos, seus chefes e benfeitores. Era o
último círculo antes do Purgatório, permitindo uma analogia sobre a elite brasileira - ou
fração dominante da mesma - que mesmo construindo uma coesão sob o Império, acomodou-
Morais, Afonso Pena e Campos Sales, militares e civis, entre outros, ascenderam à
presidência da mesma.
José Murilo começa por uma dúvida inicial ao debruçar-se sobre uma questão básica:
fragmentação espacial, enquanto o Brasil preservou - bem ou mal - sua unidade territorial.
para explicar o problema, chegando-se a sua tese central, qual seja a de que a preservação de
centralização dos tributos, frutificaram a partir de determinadas escolhas feitas não por uma
genérica elite, mas sim por parte dela. A distinção não é preciosismo, mas destina-se a
Ele destaca que seu objeto de estudo é a abordagem de frações infra-elite que
nacional brasileiro. Não que só isso seja suficiente, ele bem faz questão de afirmar,
reconhecendo que os elementos envolvidos são por demais complexos “...como os que se
entender como a classe política - ou parte dela - constituiu-se como elite estudando os vários
mecanismos de persuasão e força das burocracias civis e militares, à luz de Weber, Pareto,
que Prússia, Japão ou Brasil tem em comum ou em particular quando formaram-se como
Estados nacionais?
homogeneizada por formação intelectual e ideológica, pelo treinamento governativo nas suas
No capítulo 2 temos A elite política nacional: definições, onde ele vai delimitar mais
objetivamente sua análise, distinguindo as pessoas com capacidade e poder para agir, em
relação àquelas portadoras do poder de decidir. Tarefa que para o autor foi facilitada em
parlamentares, a imprensa mais como fórum alternativo, a influência relativa das associações
de classe, o predomínio civil em detrimento dos militares - extensivo a Igreja -, etc, reduziu a
forneceram uma unidade ideológica), d’o domínio dos magistrados (com a homogeneização
das burocracias e a circulação geográfica e funcional consolidaram uma certa coesão desta
elite.
Em A burocracia, vocação de todos, tema do capítulo 6º ele distingue por sua vez a
que por possuírem limites mais rígidos, ganharam seu próprio capítulo: Juízes, padres e
soldados.
simplistas acerca da unidade dos mesmos, ele aponta que existiam sim diferenças, mas as
mesmas eram insuficientes para produzir fraturas mais profundas entre eles. Os vínculos com
o Estado e sua origem social contribuíam para prover certos rearranjos de interesses grupais,
que produziram uma “unidade não monolítica”, que se não eliminava o conflito, permitia
das sombras - a política imperial, o autor viaja por várias das revoltas ocorridas entre a
necessidade de manter sob controle a população pobre e a escravaria, também era necessário
enfrentar o dissenso da própria elite: a coesão pelo Regresso, o manejo dos instrumentos da
“ditadura conservadora”.
distribuição de recursos serve para analisar a distribuição do próprio poder. Assim, pela
Receita do governo [que cresceu 8 vezes em comparação aos EUA entre 1829/87] é possível
auferir a capacidade estatal de extrair recursos e de quem. Já pela Despesa, a distribuição dos
Sendo relevante analisar o orçamento pois à época quase todo gasto era
máquina burocrática para ampliar suas rendas e as pressões contra os tributos e onde investir,
barões, título dos 2º e 3º capítulos temos exemplos práticos de como a coesão podia revelar-
estímulos à imigração, etc. Nesta trajetória ele detêm-se no chamado Gabinete Rio Branco
para pontuar o momento em que a crise entre o trono e os proprietários apontou no horizonte.
O resultado foi que aqueles “...que não se fizeram republicanos tornaram-se indiferentes à
sorte da monarquia”.
das Eleições e partidos: o erro de sintaxe política. No primeiro ele pondera que mesmo
não sendo um 5º poder, conforme José H. Rodrigues o via, já que as consultas pelo imperador
não eram obrigatórias, o esprit de corps, a vitaliciedade e noção de franqueza com o monarca
conferiam-lhe uma certa margem de atuação. No seguinte, cujo subtítulo emprestou-o Sérgio
políticas e a verdade eleitoral- falseada àquela época devido a interferência do governo, que
passou de invariavelmente derrotado no 1º reinado e Regência, para a de sempre vencedor no
2º império.
Nesta nova apresentação, o autor optou por manter nas suas linhas gerais o texto
como ele foi apresentado então. As ressalvas de correção que ele faz são pontuais, embora
talvez fosse necessária amplia-las, como quando ele refere-se a d. João VI como imperador,
ao lado dos pedros I e II (p. 54), ou na p. 294, quando afirma que a Revolta dos Malês de
1835 não tinha caráter abolicionista, ou ainda quando denomina de pedestre a tarefa de copiar
as atas do Conselho [basta olhar no Dicionário Aurélio para ver que o termo é usado de forma
inapropriada], ou quando cita a ampliação do referido Conselho, cujo nº foi fornecido 304
páginas antes1. Na ausência de uma nota, só a memória ou sorte para localizar a informação
para o leitor, e ainda assim, sem o complemento de a quantos eventualmente iriam, ficando
Porém tais reparos estão muito distantes de reduzir a qualidade do trabalho, suas
conclusões e importância de sua análise, neste que é um dos clássicos da análise política,
Círculo, e sob “A luz das quatro estrelas”2 (o Cruzeiro do Sul), Dante e Virgílio entram no