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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO DE ESTUDOS GERAIS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU - HISTÓRIA DO BRASIL

TRABALHO PARCIAL 2 - MÓDULO IMPÉRIO - LIVRO 1

O IMPÉRIO NO “NONO CÍRCULO”

TRAJETÓRIAS DE UMA ELITE E DE UM PAÍS.

por Cláudio de Almeida

Turma C

Niterói

2007

Resenha crítica sobre “A Construção da Ordem - a elite política imperial/Teatro das

Sombras - a política imperial” / José Murilo de Carvalho - Civilização Brasileira, RJ. 2003,

4ª edição
Em sua jornada pelo Inferno, Dante e Virgílio, encontram no Nono Círculo aqueles

que atraiçoaram seu próprio sangue, a pátria, seus amigos, seus chefes e benfeitores. Era o

último círculo antes do Purgatório, permitindo uma analogia sobre a elite brasileira - ou

fração dominante da mesma - que mesmo construindo uma coesão sob o Império, acomodou-

se no “berço da República”, e de onde Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Prudente de

Morais, Afonso Pena e Campos Sales, militares e civis, entre outros, ascenderam à

presidência da mesma.

José Murilo começa por uma dúvida inicial ao debruçar-se sobre uma questão básica:

na hispano-América pós-independência emergiram 17 países oriundos de um processo de

fragmentação espacial, enquanto o Brasil preservou - bem ou mal - sua unidade territorial.

Por qual dinâmica específica, as diferentes frações de território permaneceram atreladas a um

centro decisório político-administrativo?

Questionando as explicações tradicionais políticas e econômicas ele vai revelando que

as mesmas, ao embutirem elementos tanto integradores como dissociativos, são insuficientes

para explicar o problema, chegando-se a sua tese central, qual seja a de que a preservação de

nossa unidade, o modelo monárquico representativo, o predomínio civil sobre o militar e a

centralização dos tributos, frutificaram a partir de determinadas escolhas feitas não por uma

genérica elite, mas sim por parte dela. A distinção não é preciosismo, mas destina-se a

rechaçar uma crítica imediata e redundante de elitismo.

Ele destaca que seu objeto de estudo é a abordagem de frações infra-elite que

posicionadas e agindo de forma concertada, puderam construir a moldura do nascente Estado

nacional brasileiro. Não que só isso seja suficiente, ele bem faz questão de afirmar,

reconhecendo que os elementos envolvidos são por demais complexos “...como os que se

referem à formação de Estados nacionais.”

No 1º capítulo, denominado Elites políticas e a construção do Estado, a primeira


questão refere-se a “quem governa?”. É a partir desta indagação que se abre a porta para

entender como a classe política - ou parte dela - constituiu-se como elite estudando os vários

mecanismos de persuasão e força das burocracias civis e militares, à luz de Weber, Pareto,

Mosca, etc, cujas diferentes análises produziram diferentes combinações comparativas. O

que Prússia, Japão ou Brasil tem em comum ou em particular quando formaram-se como

Estados nacionais?

Para o Brasil consolidou-se um fenômeno sobre uma elite burocrática,

homogeneizada por formação intelectual e ideológica, pelo treinamento governativo nas suas

trajetórias burocráticas dentro da administração e que abrangia, também, a transmissão de

valores e de interesses determinados.

No capítulo 2 temos A elite política nacional: definições, onde ele vai delimitar mais

objetivamente sua análise, distinguindo as pessoas com capacidade e poder para agir, em

relação àquelas portadoras do poder de decidir. Tarefa que para o autor foi facilitada em

função da simplicidade das estruturas imperiais.

Sociedades políticas de vida curta, partidos e lideranças eminentemente

parlamentares, a imprensa mais como fórum alternativo, a influência relativa das associações

de classe, o predomínio civil em detrimento dos militares - extensivo a Igreja -, etc, reduziu a

um grupo a tomada de decisões: os ministros ou o presidente do Conselho de Estado que

representavam o Imperador, além dos senadores e deputados, por exemplo.

Nos 3 capítulos seguintes, ele dedica-se a unificação da elite, observada por

intermédio da formação de uma elite de letrados (onde a identidade coimbrana e a educação

forneceram uma unidade ideológica), d’o domínio dos magistrados (com a homogeneização

ocupacional, treinamento e interesses) e em a caminho do clube, como a estabilidade dentro

das burocracias e a circulação geográfica e funcional consolidaram uma certa coesão desta

elite.
Em A burocracia, vocação de todos, tema do capítulo 6º ele distingue por sua vez a

existência de múltiplas burocracias: verticais (funcionais) e horizontais (diferenciadas pelos

níveis de remuneração). Também trata de três específicas - a militar, a judicial e a eclesial -

que por possuírem limites mais rígidos, ganharam seu próprio capítulo: Juízes, padres e

soldados.

No último capítulo da 1ª parte de sua tese, Os partidos políticos imperiais:

composição e ideologia ele aborda a trajetória de evolução e rearrumações dos mesmos ao

longo dos 67 anos do Império. E neste, conflitando com as análises excessivamente

simplistas acerca da unidade dos mesmos, ele aponta que existiam sim diferenças, mas as

mesmas eram insuficientes para produzir fraturas mais profundas entre eles. Os vínculos com

o Estado e sua origem social contribuíam para prover certos rearranjos de interesses grupais,

que produziram uma “unidade não monolítica”, que se não eliminava o conflito, permitia

uma certa contenção dos mesmos.

Na segunda parte de sua tese, originalmente publicada a parte, denominada O teatro

das sombras - a política imperial, o autor viaja por várias das revoltas ocorridas entre a

abdicação do imperador Pedro I e a Praieira, com o fito de demonstrar que paralelo à

necessidade de manter sob controle a população pobre e a escravaria, também era necessário

enfrentar o dissenso da própria elite: a coesão pelo Regresso, o manejo dos instrumentos da

Coroa, a cooptação/compensação dos grandes proprietários, aliados ao impedimento de uma

“ditadura conservadora”.

No 1º capítulo seu foco é O orçamento imperial: os limites do governo, onde a

distribuição de recursos serve para analisar a distribuição do próprio poder. Assim, pela

Receita do governo [que cresceu 8 vezes em comparação aos EUA entre 1829/87] é possível

auferir a capacidade estatal de extrair recursos e de quem. Já pela Despesa, a distribuição dos

benefícios e prioridades: infra-estrutura, imigração, colonização, saúde, educação, gastos


militares, etc.

Sendo relevante analisar o orçamento pois à época quase todo gasto era

governamental, cabe ressalvar alguns limites, como os interesses ingleses, a ineficiência da

máquina burocrática para ampliar suas rendas e as pressões contra os tributos e onde investir,

oriundas de grupos melhor posicionados para implementar seus “pontos de vista”.

Em A política da abolição: o rei contra os barões e A política de terras: o veto dos

barões, título dos 2º e 3º capítulos temos exemplos práticos de como a coesão podia revelar-

se confronto e fratura de interesses. São estudados então os tratados diplomáticos, as

pressões inglesas, as alianças móveis que alinhavam ou realinhavam interesses, o debate

sobre os custos do escravismo ou de sua substituição pelo imigrante (gradualismo ao

catastrofismo?), o fim do tráfico e as leis de supressão da escravidão, a Lei de Terras e os

estímulos à imigração, etc. Nesta trajetória ele detêm-se no chamado Gabinete Rio Branco

para pontuar o momento em que a crise entre o trono e os proprietários apontou no horizonte.

A Lei do Ventre Livre, de 1871, “...descolou o governo de suas bases sócio-

econômicas”. Pari passu a Guarda Nacional é praticamente desmobilizada e implementa-se

outra reforma do Código de Processo Criminal, reduzindo a interferência do governo central.

O resultado foi que aqueles “...que não se fizeram republicanos tornaram-se indiferentes à

sorte da monarquia”.

Seu trabalho conclui-se na análise do Conselho de Estado: a cabeça do governo e

das Eleições e partidos: o erro de sintaxe política. No primeiro ele pondera que mesmo

não sendo um 5º poder, conforme José H. Rodrigues o via, já que as consultas pelo imperador

não eram obrigatórias, o esprit de corps, a vitaliciedade e noção de franqueza com o monarca

conferiam-lhe uma certa margem de atuação. No seguinte, cujo subtítulo emprestou-o Sérgio

B. de Holanda, três pontos destacam-se: a definição de cidadão, a questão as minorias

políticas e a verdade eleitoral- falseada àquela época devido a interferência do governo, que
passou de invariavelmente derrotado no 1º reinado e Regência, para a de sempre vencedor no

2º império.

Nesta nova apresentação, o autor optou por manter nas suas linhas gerais o texto

como ele foi apresentado então. As ressalvas de correção que ele faz são pontuais, embora

talvez fosse necessária amplia-las, como quando ele refere-se a d. João VI como imperador,

ao lado dos pedros I e II (p. 54), ou na p. 294, quando afirma que a Revolta dos Malês de

1835 não tinha caráter abolicionista, ou ainda quando denomina de pedestre a tarefa de copiar

as atas do Conselho [basta olhar no Dicionário Aurélio para ver que o termo é usado de forma

inapropriada], ou quando cita a ampliação do referido Conselho, cujo nº foi fornecido 304

páginas antes1. Na ausência de uma nota, só a memória ou sorte para localizar a informação

para o leitor, e ainda assim, sem o complemento de a quantos eventualmente iriam, ficando

difícil parametrizar a questão - ambas na p. 362.

Porém tais reparos estão muito distantes de reduzir a qualidade do trabalho, suas

conclusões e importância de sua análise, neste que é um dos clássicos da análise política,

institucional e organizativa do Brasil imperial.

Findo o texto, o Império se fora e a República...era uma aposta. Ultrapassado o Nono

Círculo, e sob “A luz das quatro estrelas”2 (o Cruzeiro do Sul), Dante e Virgílio entram no

Purgatório - etapa de uma viagem ainda inconclusa.

1Na pág. 58 é dito que eram 12 ordinários e mais 12 extraordinários.


2ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia; integralmente traduzida, anotada e
comentada por Cristiano Martins. 2ªed. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia; São Paulo, Ed. Da
Universidade de São Paulo, 1979. 2º volume, pág. 14 verso 37 do Canto I.

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