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Capítulo 112
Quando pensar em tumor vesical?
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Capítulo 113
Marcadores tumorais em
câncer de bexiga
Responsável por cerca de 54 mil novos casos diag- vantes à cistoscopia e citologia, convencionalmente
nosticados anualmente e por uma taxa de mortalidade empregados no diagnóstico e seguimento de porta-
de 12 mil/ano nos EUA, o carcinoma de células tran- dores de câncer de bexiga superficial. Tais testes, basea-
sicionais de bexiga é, após o tumor de próstata, a dos em ensaios imunoenzimáticos, realizados em exa-
segunda neoplasia maligna mais comum do trato mes de urina, levariam a um aumento na sensibilidade
geniturinário, com 70% a 80% dos casos se apresen- relativa à citologia para doença de baixo grau, sabida-
tando como doença superficial e o restante 20% a mente de pobre sensibilidade (cerca de 6% a 38%
30% como músculo-invasiva. A recorrência dessa para G1). Embora isto possa ser verdadeiro, a sensi-
malignidade é comum em doença superficial, sendo bilidade de tais testes para doença de baixo grau está
que até 15% dessa recorrência irá progredir para inva- muito longe da alcançada com a cistoscopia, enquanto
são muscular. Esses dados mostram claramente a que, para doença de alto grau, não há evidência clínica
necessidade de se diagnosticar doença precoce, bem de benefício desses testes não-invasivos em compa-
como a importância de um seguimento em longo ração à citologia convencional (sensibilidade de 79% a
prazo que todos os pacientes portadores da doença 90% para G3).
irão requerer. Dentro desse aspecto, um grande
Os principais marcadores até hoje pesquisados po-
número de pesquisas tem sido empregadas no estudo
dem ser agrupados de acordo com sua categoria em
de marcadores tumorais para o câncer de bexiga.
antígenos associados ao tumor ou marcadores teciduais.
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dificulta a análise comparativa de sensibilidade e especi- demonstrou suprimir a transformação celular por
ficidade do teste, variando de acordo com alguns au- oncogenes e inibir seu crescimento. A forma mutante,
tores entre 63% e 74% para um cut-off de 8 U/mL, alterada do p53 e sua hiperexpressão, pode ser detec-
sendo superior à citologia; enquanto que outros tada por imunoistoquímica e está presente em cerca
demonstraram uma sensibilidade de apenas 38%, não de metade das neoplasias malignas no homem. O p53
apresentando qualquer vantagem sobre a citologia integra a resposta celular ao estresse, incluindo dano
convencional. Em recente estudo, Atsu e colegas ao DNA e hipóxia. Simplificando, o p53 age como
analisaram os resultados desse teste na vigência de “guardião do genoma”. No câncer de bexiga, sua
hematúria e piúria, obtendo alta taxa de falso-positivo detecção está diretamente relacionada a mau prog-
com baixo valor preditivo positivo, concluindo que a nóstico, podendo ser útil em selecionar pacientes para
cistoscopia permanece como padrão ouro para o tratamentos mais agressivos ao prever recorrências e
diagnóstico do tumor de bexiga. falha terapêutica inicial.
Marcadores teciduais
(p53; p21; pRB) Leitura recomendada
Imunistoquímica é um método fácil de avaliação 1. Atsu N, Ekici S, Oge OO, Ergen A, Hascelik G, Ozen H.
do produto de um gene através da expressão de uma False-positive results o f the NMP22 test due to hematuria.
proteína e tem sido usado extensivamente nas últimas J Urol 2002; 167 (2 Pt 1): 555-8.
duas décadas para avaliação de marcadores. As pro- 2. Boman H, Hedelin H, Holmang S. Four bladder tumor
markers have a disappointingly low sensitivity for small size
teínas p53, p21 e pRB (supressora do retinoblastoma)
and low grade recurrence. J Urol 2002; 167 (1): 80-3.
são genes supressores de tumor, envolvidos no câncer 3. Oge O, Kozaci D, Gemalmaz H. The BTA stat test is
de bexiga, vistos mais freqüentemente associados a nonspecific for hematuria: an experimental hematuria model.
tumores de alto grau e invasivos. Tais proteínas (genes) J Urol 2002; 167 (3): 1318-9; discussion, 1319-20.
têm um papel de reguladores do ciclo celular e pos- 4. Poulakis V, Witzsch U, De Vries R, Altmannsberger HM,
Manyak MJ, Becht E. A comparison of urinary nuclear matrix
suem funções diversas e complexas, entre elas: a regu- protein-22 and bladder tumour antigen tests with voided
lação da angiogênese e a promoção de apoptose (mor- urinary cytology in detecting and following bladder cancer:
te celular programada). Desses, o mais promissor estu- the prognostic value of false-positive results. BJU Int. 2001;
dado é o p53. 88 (7): 692-701.
5. Smith ND, Rubenstein JN, Eggener SE, Kozlowski JM. The
Descoberto em 1979, e então classificado como p53 tumor suppressor gene and nuclear protein: basic science
antígeno tumoral, foi percebido como gene supressor review and relevance in the management of bladder cancer.
de tumor em 1989, quando, em sua forma natural, J Urol 2003; 169 (4): 1219-28.
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Capítulo 114
Epidemiologia e história natural
O câncer de bexiga é a segunda neoplasia maligna lular, ao nível de comprometimento das camadas da
mais freqüente do trato urinário. No homem, é a quarta bexiga, ao envolvimento de linfonodos e à presença
neoplasia mais comum, após os tumores da próstata, de metástases. Em cerca de 70% dos casos, quando
pulmão e colos, excetuando-se o câncer de pele. Apre- do diagnóstico inicial, são classificados como super-
senta incidência predominante no sexo masculino, com ficiais. Somente 15% destes apresentam progressão,
uma proporção de 3:1 para o feminino. com risco de metástases. Dos 30% que são inicial-
Nos EUA, verificou-se uma incidência de 50 mil mente invasivos, mais da metade desenvolve metás-
novos casos no ano de 2000, com a ocorrência de 12 tases e será causa de óbito.
mil óbitos. No Brasil, a estimativa é de que 40 mil novos O modelo da gênese tumoral tradicional sugere
casos devam ser diagnosticados no ano de 2003. A uma seqüência de estágios que implicam progressão
incidência aumenta progressivamente, de acordo com de tumores superficiais para invasivos. Todavia, as
o grupo etário, sendo especialmente mais elevada após diversas formas de apresentação da doença sugerem
os 60 anos de idade. um espectro variado de condições, com diferentes
Pode acometer também adulto jovem e nestes potenciais de evolução, conforme demonstrado na
apresenta uma evolução semelhante aos pacientes de Figura 1.
idade mais avançada, especialmente quando invasivos. A história natural do câncer de bexiga está relacio-
O câncer de bexiga, em sua grande maioria, tem nada a diversos fatores, como o grau histológico, a
origem no urotélio. Noventa por cento são carci- invasão ou não das camadas vesicais, a existência de
nomas de células transicionais, 6% a 7% são carci- invasão vascular ou linfática e a presença de carcinoma
nomas epidermóides e 1% a 2% adenocarcinomas, in situ (CIS). Embora estes fatores prognósticos sejam
primários ou secundários. Um número muito pe- bem conhecidos, o comportamento da doença mui-
queno de casos, menos de 0,4%, são representados tas vezes não segue os padrões previstos. Assim, tu-
por sarcomas. O carcinoma de células transicionais mores com histologia favorável, eventualmente se
pode apresentar um padrão de crescimento exofítico mostram agressivos, a despeito do tratamento insti-
e papilar, infiltrante ou, ainda, papilar e infiltrante. O tuído, enquanto outros, com histologia desfavorável,
aumento do grau histológico está relacionado com podem se mostrar não muito agressivos.
uma menor incidência do padrão papilar e um maior Cerca de 2% das neoplasias da bexiga são constituídas
número de tumores invasivos. pelos carcinomas indiferenciados, também chamados
De acordo com a diferenciação celular, são classi- de carcinoma anaplásico small cell e se caracterizam pela
ficados em graus 1 a 3 (Organização Mundial da alta agressividade, invadindo estruturas adjacentes e
Saúde). O estadiamento relaciona-se ao padrão ce- produzindo metástases precocemente.
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Figura 1: Adaptada de Lee R & Droller MJ, Urol Clin North Am 2000; 27(1) pp. 1-13
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Capítulo 115
Fatores prognósticos no
tumor superficial
O p53 é o gene supressor de tumor mais comu- pacientes com Tis, encontraram uma forte associação
mente alterado no câncer (cerca de 50%) e com fre- entre o aumento da expressão nuclear de p53 (usando
qüência também está alterado no câncer de bexiga. um valor de positividade nuclear de p53 de 20%) e
É considerado o guardião do DNA, sendo res- progressão tumoral (p < 0,01).
ponsável pela checagem do DNA na passagem da Palastrias observou que em cinco de sete pacientes
fase G1 para S no ciclo celular, interagindo com di- com p53 positivos (expressão nuclear de p53 >
versas outras proteínas celulares. Neste mecanismo que 10%), em seu grupo de pacientes que apresen-
de checagem do ciclo celular, quando ocorre um da- tavam tumor superficial e que progrediram para
no no DNA, os níveis de p53 aumentam, impedindo invasivos, não se encontravam vivos devido à morte
a progressão do ciclo celular. Isto permite o reparo por tumor em um acompanhamento médio de 52
do DNA e previne a propagação do defeito. A meses, o que não ocorreu nos 12 pacientes de seu
mutação do gene p53 resulta na produção de uma estudo que progrediram para tumor invasivo, e
proteína anor mal, per mitindo que um DNA tinham expressão do p53 negativo, submetidos à
danificado continue no ciclo celular. cistoprostatectomia radical. Estes achados, segundo
O p53 mutante tem uma meia-vida prolongada, o autor, justificariam um tratamento mais agressivo
maior que a proteína sem mutação, permitindo sua nos pacientes p53 positivos. Serth e colegas também
detecção com a técnica standard de imunistoquímica. encontraram em 69 pacientes com tumor de bexiga
Foi por este motivo que, através dos vários estudos Ta e T1, e acompanhamento médio de 45,8 meses,
com imunistoquímica, a alteração no p53 se uma alta porcentagem de progressão (85,7%) para
mostrou um importante fator no prognóstico e na tumor músculo-invasivo nos pacientes com p53
progressão tumoral. O aumento da reação nuclear positivo (p < 0,01).
de p53 tem sido um achado freqüente em paci- O estudo da biologia molecular tem trazido
entes com tumores de bexiga de alto grau e estádio informações adicionais de fundamental importância
avançado. Pacientes com a expressão aumentada na análise da progressão e recorrência dos tumores
do p53, detectada na imunoistoquímica (indicando de um modo geral. O p53 tem se mostrado um
a possível mutação do gene), aparentemente grande aliado na análise do prognóstico destes
apresentam um risco aumentado de recorrência do pacientes, principalmente nos pacientes com tumor
tumor e sobrevida menor se comparados a paci- de bexiga.
entes com expressão nuclear do p53 normal. Ainda é necessário um número maior de estudos
Sarkis, Dalbagni e Cordon-Cardo, em uma análise para que possamos utilizar estes conhecimentos na
de 43 pacientes com T1, 54 pacientes com Ta e 33 prática clínica diária.
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Capítulo 116
Carcinoma in situ
O Ca in situ (Cis), ou seja, a neoplasia intra-epitelial e colegas compararam 26 tumores com estas caracte-
de alto grau (Figuras 1), constitui fator de mau prog- rísticas a Cis unifocal assintomático. Enquanto 58% dos
nóstico encontrado em 10% a 20% dos indivíduos pacientes que apresentavam Cis difuso progrediram com
idosos com sintomas de cistite abacteriana e entre metástases, esta evolução ocorreu em apenas 8% com
20% a 40% dos pacientes portadores de tumores doença focal. Althausen e colegas relataram 83% de
vesicais superficiais. subseqüente invasão muscular em Cis, associada a
A ocorrência de Cis tem grande significado, consi- tumores papilares de baixo grau. Lamm, revisando lite-
derando-se que este tem comportamento imprevisível ratura a respeito, mostra que a média de incidência de
e alto potencial de apresentar recidiva e/ou progressão. progressão para invasão muscular é de 54%. A análise
Sob o ponto de vista clínico, pode apresentar-se destes fatos define ser o Cis uma modalidade neoplásica
de maneiras variáveis, o que confere diferentes pre- com alto significado de agressão biológica e que deve
visões prognósticas. ser tratada de maneira intensa e por vezes radical.
O Cis pode ser difuso ou focal, sintomático ou não, Claramente, de todos os tumores superficiais de
podendo ainda apresentar-se isolado ou em associações bexiga, o Cis tem o comportamento biológico mais
com tumores superficiais e invasivos. Os difusos, particu- agressivo em termos de progressão e desenvolvimento
larmente quando sintomáticos e acompanhados de de tumores em outros sítios do trato urinário.
tumores, têm prognóstico bastante desfavorável. Riddle O diagnóstico histopatológico é estabelecido por
biópsia de áreas anormais da mucosa vesical, em geral,
encontradas durante tratamento endoscópico de tu-
mores de bexiga. Sintomas irritativos vesicais com cul-
turas negativas, como já referido, em idosos, sugerem a
presença de Cis, que deve ser avaliada por cistoscopia.
Quanto ao tratamento, estudos comparativos
empregando-se agentes quimioterápicos e imuno-
terapia tópica mostram que o BCG, em instilações
intravesicais, constitui a terapia com melhores resul-
tados (Tabela 1), não havendo, contudo, consenso
quanto ao melhor regime sob o ponto de vista de
duração, intervalos e doses.
Havendo associações com tumores superficiais, a
Figura 1: Ca in situ terapia deve ter início um mês após a ressecção transu-
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retral do tumor. A tendência atual é o emprego de es- Se houver associação do Cis com tumores invasivos,
quemas semanais de indução por quatro a seis semanas, além de significar um fator de agressividade biológica,
seguidos por instilações mensais ou semestrais (três pode ocorrer alteração à reconstrução do trato urinário,
vezes/semana) por períodos, segundo a literatura, de uma vez que a sua multifocalidade com componente
um a três anos. Herr e colegas reportaram um estudo uretral contra-indica neobexigas ortotópicas.
randomizado comparando resultados terapêuticos de
BCG + TUR versus ressecção apenas em tumores vesicais
+ Cis difuso. No grupo controle (sem BCG), 71% Leitura recomendada
progrediram e desenvolveram infiltração muscular que
1. Althausen F, Prout GR, Daly JJ. Non Invasive papilary
necessitaram cistectomia. O BCG teve efeito significativo
carcinoma of the bladder associated with carcinoma in situ.
na prevenção da progressão tumoral. Os casos de alto J Urol 116: 575, 1976.
risco (PT1G3 + Cis) merecem atenção especial, uma 2. Herr HW, Wartinger DD, Fair WF, Oettgen HF. Bacillus
vez que é comum o subestadiamento (20% a 30%) o Calmette-Guérin therapy for superficial bladder cancer: a
que, segundo alguns autores, define a necessidade de 10-year follow-up. J Urol 147:1020-3, 1992.
uma outra ressecção da área após 30 a 60 dias, visando 3. Lamm DL. Carcinoma in situ. Urol Clin North Am 19:
499, 1992.
monitorização terapêutica. Segundo outros, estes casos
4. Riddle PR, Chrishom GD, Trott PA, Pugh RCB. Flat
merecem tratamento mais agressivo (cistectomia) nessa carcinoma in situ of bladder. Br J Urol 47:829-833, 1976.
fase em que o tumor tem ainda grande potencial de 5. Van der Meije APM. Is intravesical BCG superior to
cura. A participação do paciente na decisão terapêutica chemotherapy? In: Paciou V. New York, The Parthenon
é de grande importância nessas condições. Publishing Group Inc., 1998: 227-32.
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Capítulo 117
Tumor superficial –
tratamento adjuvante pós-RTU
Sami Arap
José Roberto Colombo Jr.
Os tumores vesicais são responsáveis por 2,9% dade clínica definitiva. Vários ensaios como: BTA,
dos óbitos por tumores em homens e 1,5% em mu- BTA-STAT, BTA-TRAK, NMP-22 e pesquisa de
lheres, é 2,5 vezes mais freqüente em homens e duas telomerase demonstraram apresentar sensibilidade
vezes mais em brancos. Estão intimamente relacio- superior à citologia urinária na detecção precoce de
nados a fatores externos e ocupacionais como taba- neoplasias vesicais em estudos clínicos prospectivos.
gismo, aminas aromáticas, infecção de repetição, irra- Esses testes já estão disponíveis na prática clínica com
diação pélvica, sondagem vesical crônica e tratamento sensibilidade ao redor de 80%, no entanto, somente
prévio com ciclofosfamida. testados em populações com tumor de alto grau.
Seu tratamento depende basicamente da presença Atualmente, do ponto de vista do diagnóstico e
da invasão da musculatura detrusora, grau de dife- seguimento dos tumores vesicais, a citologia urinária
renciação, presença de carcinoma in situ (Cis), tamanho e permanece como exame-padrão a ser utilizado em
número de focos tumorais presentes no órgão. nosso meio, apesar da sua importância estar muito
Os tumores superficiais representam 85% dos tu- mais relacionada aos tumores de alto grau.
mores inicialmente diagnosticados, e seu tratamento Quanto a marcadores de prognóstico, o p53 parece
ainda é um problema importante para os urologistas, ser o mais promissor, sendo a presença deste mutante
já que a ressecção transuretral (RTU) utilizada como um marcador importante de mau prognóstico. Estudos
tratamento único apresenta taxas de recorrência de estão sendo realizados no sentido de utilizar este gene
60% e 80%, em cinco e dez anos respectivamente, na indicação da necessidade de tratamento mais
tornando necessária a complementação do tratamento, agressivo, como cistectomia radical ou terapia adjuvante.
que pode ser através da instilação intravesical de agentes No atual estado de conhecimento, contudo, não se
quimio e imunoterápicos, ou até mesmo cirurgia radical recomenda o uso rotineiro desse marcador.
em pacientes selecionados. Aproximadamente 25% A primeira etapa para o estadiamento e o tratamento
dos pacientes com este tipo de lesão apresentarão pro- dos tumores vesicais é a realização da ressecção da
gressão da doença, tornando o tratamento mais agres- lesão. A cistoscopia inicial pode ser realizada com
sivo e piorando seu prognóstico, com variação de acor- preparo vesical com ácido aminolevulínico (5-ALA) e
do com a característica histológica: tumores de baixo luz fluorescente para maior sensibilidade. Após a
grau e Ta progridem em 5% dos casos, enquanto tu- ressecção completa da lesão, o fundo da mesma deve
mores de maior indiferenciação (GIII) progridem em ser biopsiado sem o uso do eletrocautério, para avaliar
até 50% das vezes. a presença de células tumorais na musculatura detrusora.
A maior parte dos marcadores relacionados aos A uretra prostática em homens e região do colo-
tumores de bexiga ainda não encontrou aplicabili- vesical nas mulheres devem também ser biopsiadas,
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assim como áreas suspeitas para avaliar a presença mente 25%. Existem várias cepas disponíveis no
de carcinoma in situ; e programar o tratamento mais mercado mundial (Moreau, Tice, Glaxo, Pasteur,
adequado. Biópsias aleatórias devem ser realizadas Connaught, Armand Frappier e Tokyo) com utili-
em casos de citologia oncótica positiva sem lesões zação variando de acordo com a disponibilidade de
visíveis, ou com lesões papilíferas, pela elevada uma delas.
incidência de Cis associado na presença de citologia No Brasil, é utilizada a cepa Moreau, com esquemas
positiva. Na indicação de cistectomia parcial, faz-se variados de aplicação. A forma preconizada pela disci-
necessária a realização de biópsias aleatórias. A perfu- plina de Urologia do Hospital de Clínicas da Facul-
ração vesical é a principal complicação do procedi- dade de Medicina da Universidade de São Paulo
mento, devendo ser tratada de acordo com o tama- (HC-FMUSP) é administrada de 20 a 30 dias após a
nho e sítio da lesão (intra ou extravesical). O uso de RTU, com ressecção completa das lesões, na posologia
neodymium YAG laser vem sendo utilizado como de 400 mg em 50 mL de SF, com uma aplicação
terapia para os tumores superficiais, com coagulação semanal por quatro semanas, repetindo a aplicação
das lesões sem contato direto, obtendo resultados mensalmente por seis meses. Alguns autores advogam
iniciais promissores. um tratamento alternativo com infusões seqüenciais
Particularmente nos tumores extensos e em tumo- por três semanas, repetindo no terceiro e sexto mês, e
res T1 de alto grau, alguns estudos demonstraram que então semestralmente por três anos, com resposta
até 30% desses tumores são subestadiados, além do completa de 68% a 84% para carcinoma in situ em
elevado número de tumor residual no leito ressecado. seis meses de seguimento.
Houve um avanço importante nas últimas três Após sua aplicação, a maioria dos pacientes apre-
décadas nas drogas utilizadas para uso intravesical, senta sintomas irritativos (disúria, hematúria e pola-
que incluem agentes alcalinizantes (thiotepa), antra- ciúria), com início geralmente acontecendo duas a
cíclicos (adriamicina, apirrubicina, valrubicina) e quatro horas após sua aplicação. Apenas 5% apre-
mitomicina C, com resultados de estudos clínicos sentam uma toxicidade maior, incluindo febre. A
mostrando uma queda na recorrência de até 15% infecção à distância acontece em 0,4% dos casos, de-
dos casos, em relação à RTU como tratamento único, vendo ser diagnosticada e tratada prontamente. As
mas não demonstrando impacto quanto à prevenção contra-indicações absolutas para seu uso são imunos-
de progressão da doença. supressão e hematúria franca, e as relativas são idade
Atualmente, acredita-se que a instilação de mito- avançada e performance status ruim. A utilização asso-
micina C, com exposição de 30 a 60 minutos ciada à quimioterapia intravesical não se mostrou
imediatamente após a ressecção completa do tumor, superior ao uso único do BCG.
tem eficiência comparável ao ciclo semanal por seis O interferon α-2β vem sendo utilizado também
a oito semanas quanto à recorrência tumoral. na terapia intravesical, na posologia de 50 a 100 mi-
A partir das duas últimas décadas, com o apareci- lhões de unidades, com resultados piores ao BCG
mento de BCG para uso intravesical, houve uma quando utilizado isoladamente, mas com possibilidade
melhora significativa no tratamento de tumores super- de bons resultados quando da associação entre ambos,
ficiais da bexiga, devendo ser utilizado em caso de com chances de diminuição da dosagem do BCG.
carcinoma in situ, tumor residual não passível de O controle dos pacientes com tumor vesical super-
ressecção e lesões T1 e Ta recidivantes. Apesar de ainda ficial deve ser realizado no primeiro ano, com cistos-
seu modo de ação não estar totalmente esclarecido, copia a cada três meses e citologia oncótica mensal. A
acredita-se na indução da produção de células cistoscopia convencional com luz branca pode não
citotóxicas imunocompetentes na estroma suburotelial visualizar as lesões em até um terço dos casos, devendo
(células T com resposta Th 1), aumentando a interação ser substituída, quando possível, pela cistoscopia com
da fibronectina com as células tumorais e a expressão luz fluorescente, aumentando a sensibilidade principal-
de interleucina-2 e interferon-γ. Há ainda um efeito de mente das lesões mais difíceis de serem detectadas
elevação local de óxido nítrico, que pode inibir o pela cistoscopia normal, como lesões pequenas e pla-
crescimento tumoral. nas. A partir do segundo ano, a cistoscopia é realizada
Estudos mostram que sua utilização reduziu em semestralmente, associada à ultra-sonografia e citologia,
30% a recorrência tumoral e também foi eficiente na que tem boa sensibilidade para tumores de alto grau,
redução da progressão tumoral, em aproximada- mas com sensibilidade em torno de 25% para as lesões
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de baixo grau. Devemos investigar também o trato o tratamento de exceção para pacientes que não acei-
urinário alto, devido ao risco de lesões nessa topografia, tam ou não estão em condições clínicas ideais para a
através de urografia excretora e tomografia de boa cistectomia radical.
resolução anualmente.
A recorrência tumoral é mais freqüente nos cinco
primeiros anos, após o tratamento da lesão inicial, Leitura recomendada
sendo mais freqüente em pacientes categorizados
1. AUA Update Series – New therapeutic strategies for non-
como alto risco: alto grau, lesões múltiplas, carcinoma muscle invasive (superficial) bladder cancer – Lesson 2, Vol
in situ, lesões grandes e com recorrência prévia. O XXII, 2002.
tratamento das lesões recidivantes deve ser individua- 2. Management of Superficial Bladder Cancer. In: Campbell´s
lizado para cada paciente, devendo-se ressecar a lesão Urology 8th edition, Editora Saunders, 2002.
para se certificar que não se trata de progressão da 3. Lamm DL, Blumenstein BA, Crissman JD, Montie JE,
Gottesman JE, Lowe BA, Sarosdy MF, Bohl RD, Grossman
lesão. Um novo ciclo de terapia intravesical é utilizado HB, Beck TM, Leimert JT, Crawford ED. Maintenance
na maioria das vezes. Para tumores recidivantes, de Bacillus Calmette-Guerin immunotherapy for recurrent Ta,
alto grau, múltiplos, com falha da terapia intravesical T1 and carcinoma in situ transitional cell carcinoma of the
e em pacientes em condições clínicas razoáveis a bladder: a randomized southwest oncology group study. J
Urol 163, 1124-9: 2000.
cistectomia radical está indicada, pelo alto risco de
4. Davis JW, Sheth SI, Doviak MJ, Schellhammer PF. Superficial
progressão do tumor. A cistectomia precoce pode bladder carcinoma treated with Bacillus Calmette-Guerin:
ser realizada em tumores grandes, múltiplos e com progression-free and disease specific survival with minimum
carcinoma in situ, mas a literatura é controversa e a 10-year followup. J Urol 167, 494-501: 2002.
discussão direta com o paciente é primordial para 5. Sylvester RJ, van der Meijden APM, Lamm DL. Intravesical
Bacillus Calmette-Guerin reduces the risk of progression in
chegarmos à decisão definitiva de realizá-la. patients with superficial bladder cancer: a meta-analysis of
A radioterapia externa não é padronizada de rotina the published results of randomized clinical trials. J Urol
para os tumores superficiais de bexiga, devendo ser 168, 1964-70: 2002.
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Capítulo 118
Quando fazer cistectomia no
câncer vesical superficial
O tumor vesical superficial é, por definição, o A recidiva do tumor superficial é de 70% nos pri-
tumor urotelial que respeita a camada muscular pro- meiros cinco anos e a invasão (do músculo vesical) é
funda. O tumor superficial pode ser só de mucosa de 15%. Sendo que de 3% a 5%, quando o tumor é
ou penetrar a lâmina própria. um Ta, e 30% a 50%, quando é um T1.
Dentro dos tumores que chegam na lâmina A cistectomia para tumores superficiais foi e
própria, podemos dividi-los entre os que passam continua sendo uma estreita ponte: por um lado, uma
da muscularis mucosae ou não. É importante que cistectomia precoce ou desnecessária e, por outro,
tenhamos a classificação TNM sempre presente. uma cistectomia já com tumor avançado e poucas
Sendo assim, o nosso alvo neste capítulo são os chances de cura. Com o aparecimento das derivações
tumores Ta, restritos à mucosa, e os tumores T1, continentes, a aceitação da cirurgia radical ficou
que chegam na lâmina própria, e a sub-divisão T1a, melhor para o paciente e também para o médico.
aqueles que respeitam a muscularis mucosae, e T1b, os Os tumores superficiais Ta recidivam, porém
que a ultrapassam. dificilmente (3% a 5%) invadem; a cistectomia nesses
A muscularis mucosae é um músculo delgado, nem casos seria indicada em recidivas muito seguidas,
sempre identificado nas amostras histopatológicas, grandes massas tumorais, em lugares de difícil ressec-
que fica dentro da lâmina própria. ção, total falta de resultados com medicação intra-
De todos os tumores vesicais, 70% são superficiais vesical. Podemos afirmar que esta situação pode
e, dentro desses, 30% são T1 e 70%, Ta. Para que existir, porém é rara, e a nossa sugestão é ser o mais
possamos estabelecer o tipo de tratamento para tu- cauteloso e conservador possível com este tipo de
mores superficiais, é necessário conhecermos algumas paciente. Mesmo revisões freqüentes, revisões que
características do tumor superficial e o que elas podem em determinadas situações são apenas para pequenas
nos ajudar para prever o comportamento futuro. cauterizações, devem ser toleradas. Paciência nestes
Temos que saber a existência das seguintes entidades: casos, lembremos das estatísticas – pouquíssimos inva-
displasia e CIS (carcinoma in situ), que comporão a dem –, mantenha um diálogo estreito com seu pato-
equação que nos levará a indicar uma cistectomia em logista e seu paciente.
tumor superficial. Introduzimos agora uma nova incógnita na nossa
A displasia é caracterizada por uma desorganização equação, o grau do tumor. Sabemos que ele pode
do terço inferior e médio da mucosa e não tão evidente ser de baixo grau ou alto grau. Os de baixo grau
no terço superficial. O CIS já mostra um desarranjo dificilmente progridem e os de alto grau freqüente-
de toda a espessura da mucosa, porém respeita a mente invadem. Podemos dizer que a maioria dos
mucosa e não chega à lâmina própria. T1 são de alto grau e, conseqüentemente, com alto
395
poder de invasão. Estes pacientes deverão ficar em 3) Tumores T1 de alto grau (T1G3), tomando vá-
permanente cuidado e o urologista, sempre atento rias paredes vesicais, cúpula, parede anterior,
para o momento de indicar a cistectomia. Seria nas junto à próstata. A concomitância de displasia
seguintes situações: ou CIS faz o quadro do paciente em que a
1) Tumores T1 que encontramos recidiva na cistectomia está indicada;
primeira cistocopia de controle são comuns 4) CIS primário, ou seja, bexiga sem tumor visível,
recorrerem outras vezes. Sendo um tumor de CIS em biópsias aleatórias ou em locais sus-
baixo grau, a cistectomia deve ser substituída peitos por modificação na cor e aspecto da mu-
por medicação intravesical e controles perió- cosa vesical. No CIS primário, sendo ele único,
dicos. Em que situação este tumor pode neces- a terapêutica com BCG (a grande indicação para
sitar cistectomia? Apesar das drogas intravesicais, BCG) deverá ser tentada. No CIS universal da
recidivas freqüentes, grandes volumes de tumor bexiga com a não resposta ao BCG ou drogas
e localização inacessível para o ressectoscópio, de segunda linha, a cistectomia se impõe.
presença de displasia e CIS; A cistectomia no tumor superficial vai exigir do
2) Tumores T1 de alto grau (T1G3), esses sempre urologista alguns ingredientes:
merecem uma segunda RTU, dias depois da 1) Paciência;
primeira. Caso tumor presente, sendo de fácil 2) Discutir com o patologista a histologia do tumor;
acesso, único, podemos tentar o BCG. Neste 3) Presença de músculo livre na peça de RTU;
ponto, alguns autores indicam a cistectomia, 4) Correta interpretação de baixo e alto grau;
baseados na literatura que mostra 20% já ser 5) Presença de displasia e CIS;
músculo invasivo; 6) Arte para decidir.
Leitura recomendada
2. MacLennan G, Resnick MI, Bostwick DG (eds.): Pathology
1. Holzbeierlein JM, Smith Jr, J. Surgical Manafement of for Urologists. Philadelphia, Saunders, 2003: pp. 33-79.
Noninvasive Bladder Cancer: Stages Ta/T1/CIS. Urol Clin 3. Impact of a second Transurethral resection on the staging of
N Am. 2000; 27: 15-24. T1 bladder cancer, Herr, Urology, 2002.
396
Capítulo 119
Tumor invasivo –
opções terapêuticas
397
398
taxel, carboplatina, gencitabina entre outros) têm A radioterapia externa pode ser empregada nos casos
levado ao estudo de vários protocolos empregando de tumores pequenos (T2) e com ausência de CIS. A
quimioterapia neo-adjuvante e adjuvante na tentativa associação de agentes quimioterápicos radiossensi-
de esterilizar focos tumorais pequenos e ocultos, bilizantes (cisplatina, 5-fluoracil, taxol) pode aumentar
após cistectomia radical, RTU de bexiga ou cistecto- as taxas de resposta, quando comparadas à radioterapia
mia parcial. isoladamente. O paciente deve ser advertido sobre a
Ainda não há estudos definitivos sobre os resultados impossibilidade da realização de reservatórios ortotó-
e devem ser empregadas em pacientes selecionados. picos após RTx.
Literatura recomendada cancer. J Clin Oncol, 2001. 19(18 Suppl): pp. 21S-26S.
4. Studer UE, EJ Zingg. Ileal orthotopic bladder substitutes.
1. Herr HW. Transurethral resection of muscle-invasive bladder What we have learned from 12 years’ experience with 200
cancer: 10-year outcome. J Clin Oncol, 2001. 19(1): pp. 89-93. patients. Urol Clin North Am, 1997, 24 (4): pp. 781-93.
2. McDougal WS. Use of intestinal segments and urinary 5. von der Maase H., et al. Gemcitabine and cisplatin versus
diversion, in Campbell’s Urology, Walsh PC, et al. Editors. methotrexate, vinblastine doxorubicin, and cisplatin in
1997, W.B. Saunders: Philadelphia. pp. 3121-3161. advanced or metastatic bladder cancer: results of a large,
3. Sternberg CN, Parmar MK. Neoadjuvant chemotherapy is randomized, multinational, multicenter, phase III study. J.
not (yet) standard treatment for muscle-invasive bladder Clin Oncol, 2000. 18(17): pp. 3068-77.
399
400
Capítulo 120
Tratamentos neoadjuvante
e adjuvante no câncer de
bexiga invasivo
Wladimir Alfer Jr.
Oren Smaletz
401
da ressecção transuretral, geralmente subestimado. Nos pacientes que a QT perioperatória foi indi-
Sabendo-se o verdadeiro estadiamento do paciente, cada, esta deve ser feita com a combinação de dois
temos uma melhor análise do risco de recidiva do ou três agentes que incluam gencitabina, platinas (GC)
paciente definindo melhor aquele que se beneficiará e eventualmente taxanos.
de um tratamento complementar. As micrometástases
eventualmente presentes seriam tratadas ainda com
pequeno volume. Quando indicar a QT
perioperatória?
Dados de literatura – como É da opinião dos autores que a QT perioperatória
usar a literatura para seja indicada para os pacientes com alto risco de recor-
aconselhar o paciente? rência, ou seja, aqueles com doença que atinge tecidos
extravesicais (T3 ou T4) e aqueles pacientes com doença
Quanto à QT neoadjuvante, dois estudos recentes metastática para linfonodos. Pacientes com tumor
– o estudo INT-0080, do South Western Oncology Group invadindo músculo (T2), mas com histologia de alto
(SWOG), que testou MVAC (metotrexato, vimblas- grau, invasão transmural, invasão vascular também são
tina, doxorrubicina e cisplatina) neoadjuvante, e um candidatos à QT perioperatória. A análise do p53 e
estudo europeu (EORTC), que testou CMV (cispla- outros marcadores moleculares permanece ainda
tina, metotrexato e vimblastina) neoadjuvante – fo- investigável para a decisão de QT.
ram positivos para uma melhora de sobrevida. No
estudo do SWOG, a sobrevida mediana dos paci-
entes que receberam três ciclos de MVAC pré-cistec- Qual a melhor seqüência?
tomia teve um ganho de dois anos.
Um estudo do MD Anderson mostrou que para
No momento, a literatura dispõe de alguns estudos
pacientes com tumor de bexiga invasivo que receberam
randomizados que utilizaram QT adjuvante à base de
QT perioperatória, tanto o esquema de neoadjuvância
cisplatina. Estes estudos são muito criticados por vários
como o de adjuvância tiveram sobrevida semelhante,
defeitos, incluindo um número baixo de pacientes,
o que já foi demonstrado em outras patologias que
metodologia, interrupção precoce do estudo, análises
classicamente se beneficiam de quimoterapia periope-
estatísticas e conclusões controversas; o papel da QT
ratória, como o câncer de mama.
adjuvante é ainda muito discutível. Um estudo europeu
Para pacientes com apresentação inicial de um
(EORTC 30994), randomizado fase III, está compa-
tumor de difícil ressecção, pode-se optar pela QT
rando quatro ciclos de QT imediatamente após a
neoadjuvante. Caso contrário, após a cistectomia, se
cistectomia versus seis ciclos na recaída.
houver algumas das características de alto risco acima
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Capítulo 121
Preservação da bexiga –
fato ou ficção?
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Figura 1: Algoritmo mostrando como os pacientes podem ser selecionados para tratamento conservador com preservação da bexiga.
Este algoritmo não deve ser interpretado como recomendação terapêutica. (Adaptado de Feneley MR, Urology 2000;56:549-60)
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Capítulo 122
Câncer de bexiga –
derivações urinárias
Diagrama 1: Tratamento dos carcinomas superficiais da bexiga Diagrama 2: Tratamento dos carcinomas infiltrativos e metastáticos
(R-RTU = segunda ressecção transuretral) da bexiga
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eletrólitos urinários – se comparado com outros seg- de acordo com as recomendações de cada técnica
mentos – é reduzida. O colo ou, mais raramente, o descrita. Se utilizada a técnica anti-refluxo, o risco de
estômago podem também ser empregados. estenose da anastomose é, no mínimo, duas vezes maior
A observação da conformação da neobexiga, respei- do que para a anastomose simples.
tando-se o princípio de baixa pressão, é fundamental. A micção se dá por meio de manobra de aumento
A prevenção do refluxo neovesicureteral é menos da pressão abdominal. A continência é mantida
importante que na bexiga normal. Assim, a anastomose através do esfíncter externo.
ureteral pode ou não ser realizada com mecanismo anti- As neobexigas mais recomendáveis são apresen-
refluxo, desde que não comprometa o aspecto funcional tadas na Tabela 3.
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413
414
Leitura recomendada 3. Mills RD, Studer U. Guide to patient selection and follow-
up for orthotopic bladder substitution. Contemporary
Urol. V. 13, nr.2: 35-40, 2001.
1. Bendhack ML. Câncer da Bexiga. In: Bendhack DA, Damião
4. Rübben H. Uro-Onkologie. 2a edição, 1997. Berlin,
R. Guia Prático de Urologia, 1 ed. Ed. BG Cultural, Rio
Alemanha.
de Janeiro, pp. 177-85, 1999.
5. Walsh PC, Retik AB, Vaughan Jr ED, Wein, AJ. Campbell’s
2. Hautmann RE. Urinary diversion: ileal conduit to neobladder.
Urology. Sétima edição, Philadelphia, 1998.
J Urol, 169 (3): 834-42, 2003.
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Capítulo 123
Derivação urinária e
distúrbios hidroeletrolíticos
417
Distúrbios da consciência
Infecção
Ocorrem na deficiência de magnésio, intoxicação por
drogas ou anormalidades no metabolismo da amônia. Bacteriúria, bacteremia e sepse ocorrem, com maior
Pacientes que desenvolvem deficiência de magnésio, freqüência, nos pacientes derivados. A incidência de
o fazem por depleção do magnésio, através do rim, bacteremia é conseqüência da menor capacidade, do
pelo mesmo mecanismo que causa perda de cálcio. epitélio da alça de derivação, em inibir o crescimento
Coma por hipomagnesemia pode ocorrer em paci- bacteriano quando comparado com o urotélio. Aten-
entes com derivação urinária e cirrose. O que implica ção maior deve ser dada aos pacientes que apresentam
sempre a avaliação da função hepática nos pacientes cultura positiva para proteus ou pseudomonas, porque
candidatos à derivação urinária. nestes casos é muito mais freqüente a deterioração do
trato urinário alto como conseqüência da infecção.
Osteomalacia
Problemas de ritmo e trânsito
Ocorre quando a mineralização óssea é reduzida. intestinal
As causas são multifatoriais, mas a acidose sempre
está envolvida. A correção da acidose crônica resta- Problemas nutricionais podem ocorrer devido à
belece a mineralização óssea. diminuição de área de absorção do intestino em
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decorrência da ressecção de alça para confecção da sempre considerar as extensões de alças utilizadas e a
derivação urinária. Anemia e alterações neurológicas facilidade de drenagem de urina, prevenindo-se resí-
(polirradiculoneurite) ocorrem por deficiência de vita- duos urinários, o que é possível com técnicas e táticas
mina B12, quando parte significativa do íleo é resse- cirúrgicas apropriadas.
cada. Da mesma forma, pode ocorrer má-absor-
ção de sais biliares e, como conseqüência, freqüentes
diarréias devido à irritabilidade da mucosa do colo. Leitura recomendada
A ressecção da válvula ileocecal provoca refluxo de
1. Pannek J, Senge T. History of Urinary Diversion. Urol Int
conteúdo colônico para o íleo, causando colonização
1998; 60: pp. 1-10.
bacteriana anormal do intestino delgado e, conse- 2. Mills RD, Studer UE. Metabolic consequenes of continent
qüentemente, síndromes de má-absorção, diarréia, urinary diversion. J Urol 1999, 161: pp. 1057-66.
carência de vitaminas A e D e absorção diminuída 3. Gerharz EW, Turner WH, Kalble T, Woodhouse CRJ:
do cálcio. Recomenda-se reconstrução cirúrgica do Metabolic and function consequeces of urinary reconstruction
mecanismo valvar com uso de íleo e ceco para pre- with bowel. BJU International, 91: pp. 143-9.
4. Webster C, Bukkapatnam R, Seigne JD, Pow-Sang S, Hoffman
venção destas alterações.
M, Helal M, et al: Continent colonic urinary reservoir (Florida
Podemos concluir que as alterações metabólicas Pouch): Long-term surgical complications (greater than 11
que se estabelecem em derivações são proporcionais years). J Urol, 169: pp. 174-6.
ao tempo de permanência da urina em contato com 5. PC Walsh, AB Retik, ED Vaughan Jr, AJ Wein. Campbell’s
a porção intestinal utilizada e, assim sendo, deve-se Urology, 8th ed, Philadelphia, 2002.
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