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Contra a escola-armazém
Merece toda a atenção a proposta de escola a tempo inteiro (das 7h30 às 19h30?), formulada
pela Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap). Percebe-se o ponto de vista
dos proponentes: como ambos os progenitores trabalham o dia inteiro, será melhor deixar as
crianças na escola do que sozinhas em casa ou sem controlo na rua, porque a escola ainda é
um território com relativa segurança. Compreende-se também a dificuldade de muitos pais
em assegurarem um transporte dos filhos a horas convenientes, sobretudo nas zonas
urbanas: com o trânsito caótico e o patrão a pressionar para que não saiam cedo, será melhor
trabalhar um pouco mais e ir buscar os filhos mais tarde.
A nível da família, constato muitas vezes uma diminuição do prazer dos adultos no convívio
com as crianças: vejo pais exaustos, desejosos de que os filhos se deitem depressa, ou pelo
menos com esperança de que as diversas amas electrónicas os mantenham em sossego
durante muito tempo. Também aqui se impõe uma reflexão sobre o significado actual da vida
em família: para mim, ensinado pela Psicologia e Psiquiatria de que é fundamental a
vinculação de uma criança a um adulto seguro e disponível, não faz sentido aceitar que esse
desígnio possa alguma vez ser bem substituído por uma instituição como a escola, por
melhor que ela seja. Gostaria, pois, que os pais se unissem para reivindicar mais tempo junto
dos filhos depois do seu nascimento, que fizessem pressão nas autarquias para a organização
de uma rede eficiente de transportes escolares, ou que sensibilizassem o mundo empresarial
para horários com a necessária rentabilidade, mas mais compatíveis com a educação dos
filhos e com a vida em família.
Aos professores, depois de um ano de grande desgaste emocional, conviria que não
aceitassem mais esta "proletarização" do seu desempenho: é que passar filmes para os
meninos depois de tantas aulas dadas - como foi sugerido pelos autores da proposta que
agora comento - não parece muito gratificante e contribuirá, mais uma vez, para a sua
sobrecarga e para a desresponsabilização dos pais.