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17.08.

07 - MUNDO

Capitalismo, pecado estrutural e a luta espiritual

Jung Mo Sung *

Adital -
No artigo anterior, "Pecado estrutural e as boas intenções", vimos que na dinâmica
social nem tudo depende de boas ou más intenções, na medida em que as
estruturas sociais, econômicas, culturais e de outros tipos têm um papel
significativo nos resultados das ações de indivíduos e de grupos sociais. Quando a
Teologia da Libertação (TL) utiliza a noção de "pecado estrutural" para criticar o
capitalismo está mostrando que as boas intenções não são suficientes para
solucionar os graves problemas sociais e ecológicos que enfrentamos. É preciso
modificar profundamente as estruturas do capitalismo; em outras palavras, é
preciso construir uma sociedade alternativa ao capitalismo.
Nesta crítica ao capitalismo, precisamos tomar cuidado para não cairmos na
tentação de uma crítica "absoluta" a todos elementos econômicos e sociais que
fazem parte do capitalismo. Por exemplo, relações comerciais, sistema de crédito,
mercados financeiros e a propriedade privada são partes importantes no sistema
capitalista, mas isto não quer dizer que em uma sociedade alternativa devamos
acabar com tudo isso só porque estão presentes no capitalismo. O que caracteriza
o capitalismo (como todo qualquer sistema) não é as suas partes, mas sim a
forma específica como as partes estão organizadas no sistema. As partes por si
não nos dizem se um sistema é ou não uma estrutura de pecado, mas a lógica
que rege a organização do sistema e o espírito que o move.
O objetivo fundamental que norteia toda a lógica capitalista é a acumulação
de mais capital. O resto é resto! Se preciso for, provoca guerras civis em países,
como na África, para controlar e expropriar riquezas minerais; ou então, provoca
desemprego em massa em certas regiões do mundo porque consegue explorar
mais os trabalhadores em outras partes. O pior é que neste sistema econômico
atual, empresas que fogem desta lógica têm muita dificuldade em sobreviver.

Mas, o que move todo este sistema não é só a parte mais visível do sistema. Há
também um espírito que o move. Pois, sem um espírito que dá sentido e energia,
nenhum sistema social se reproduz e desenvolve. E o espírito que move o
capitalismo, o "espírito capitalista" (Weber), é o desejo de acumulação infinita
riqueza e a ostentação do consumo como o sentido último da vida. Não se busca
bens econômicos (materiais ou imateriais) para viver; mas, se vive para alcançar
mais riqueza. Nesta cultura, uma pessoa se afirma como pessoa na medida em
que consome mais e "melhor" (mercadorias de marcas famosas).
Este espírito capitalista está "colonizando" as mentes e corações de quase todas
as pessoas e povos do mundo. Até jovens chineses educados no comunismo ou
asiáticos de tradições budistas têm como um dos seus desejos mais ardentes
comprar carros novos e equipamentos eletrônicos, assim como fazem norte-
americanos e europeus. Uma grande parte de experiências de fascinação e de
sagrado que ocorre no mundo se dá hoje no âmbito do consumo. Podemos
perceber a força disso também nas igrejas cristãs e em outras religiões: cristãos
que escolhem a igreja de acordo com o seu "poder" para aumentar o padrão de
consumo; ou então, padres, pastores e ministros religiosos mais preocupados com
salários altos e consumo do que em servir a Deus e ao seu povo que sofre de
mais diversas formas.
A expansão deste espírito capitalista para todos os cantos do mundo é uma
exigência da própria dinâmica econômica capitalista globalizada. A acumulação
"infinita" do capital exige um mercado mundial - que, por sua vez, exige a
homogeneização dos desejos -, assim como a imposição de um único sentido de
vida.
Esta é a razão pela qual não basta somente exigirmos boas intenções ou
pequenas reformas econômicas e sociais, deixando de lado as questões
estruturais (a lógica e o espírito) do sistema capitalista. Precisamos lutar nestes
dois âmbitos: (a) reformas e de iniciativas concretas para melhorar as condições
de vida dos pobres no curto prazo e; (b) profundas mudanças estruturais. E nesta
luta, eu penso que as religiões em geral e o cristianismo em particular têm a
grande tarefa de desvelar e criticar o espírito que move o capitalismo e de
apresentar um sentido mais humano para as nossas vidas. Esse sentido humano
pressupõe resgatar o sentido original da vida: o trabalho é mais importante do que
o capital; e a economia deve estar em função da vida digna para todos e todas.

Sem esta luta espiritual contra o espírito do capitalismo, não poderemos superar o
pecado estrutural em que vivemos. A reconciliação com Deus e com a
comunidade humana exige um novo espírito movendo a humanidade. Exige que
criemos novos tipos de relações humanas e sociais e um novo sentido de vida que
testemunhem a presença do Espírito entre nós. Por isso, a tarefa fundamental do
cristianismo hoje é espiritual. Lutar pela vida dos mais pobres e, por isso, por uma
sociedade alternativa ao capitalismo não é apenas um "compromisso social" ou
uma articulação entre a "fé e política", mas é viver a "vida no Espírito" contra o
espírito do "mundo".
Por tudo isso, eu penso que uma das tarefas e contribuições fundamentais do
cristianismo hoje se dá no campo espiritual: no testemunho da experiência da
graça no reconhecimento mútuo entre pessoas - independente do seu nível de
consumo, da sua religião, etnia ou...-; e da vivência da "fé agindo na caridade"
(Gal 5,6) - lutando por uma outra sociedade.

• Professor de pós-graduação em Ciências da Religião

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=29076 acessado em
23/02/2009 às 13:24 h.

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