ESTADO DE MINAS - QUARTA-FEIRA, 22 DE OUTUBRO DE 2003 PÁGINA 5

POLÍTICA

❚ PERIGO NAS ESTRADAS

BISPO DE DUQUE DE CAXIAS VAI À JUSTIÇA COBRAR DO GOVERNO MAIS CUIDADO COM RODOVIAS,
APÓS TER SOFRIDO ACIDENTE, EM JULHO, NUM TRECHO EM OBRAS DA BR-381, NO SUL DE MINAS
c

União será processada

m
y
k

MARIA TEREZA CORREIA

por dom Mauro Morelli
DE VOLTA
Dom Mauro Morelli (e) reza missa na capela do Palácio dos Despachos LUIZ CASTRO SILVA

A União será processada por

Bispo prega mudança
urgente do Fome Zero
Dom Mauro Morelli, presi-
dente do Conselho de Seguran-
ça Alimentar e Nutricional de
Minas Gerais (Consea-MG), de-
fendeu ontem a mudança drás-
tica do programa Fome Zero,
vitrine do governo Luiz Inácio
Lula da Silva. “Estão tratando o
programa como uma ação de
solidariedade”, advertiu o bis-
po de Duque de Caxias e São
João de Meriti.
“O governo federal insiste
lata d’água nas costas”.
Em Belo Horizonte, Frei Bet-
to, assessor especial do presi-
dente Luiz Inácio Lula da Silva,
evitou comentar as críticas.
“Não discuto com irmão em pú-
blico. Respeito a opinião do
dom Mauro, mas não vejo como
salvar um País sem parceria en-
tre a sociedade civil, os sindica-
tos e os empresários da inicia-
tiva privada”, argumentou.
dom Mauro Morelli, bispo de
Duque de Caxias e São João de
Meriti, que sofreu grave aciden-
te de carro, em julho, num tre-
cho em obras da Rodovia Fer-
não Dias, no Sul de Minas. Dom
Mauro disse ontem que, se não
tomar esta providência, estará
dando a todos os brasileiros um
mau exemplo de cidadania.
“Aqui no Brasil, você tem
panes elétricas que queimam
todos os eletrodomésticos de
uma casa e ninguém responde
por isso. O povo nem vai atrás,
porque diz que é complicado”,
afirmou. Advertiu que o poder
público não pode brincar com
a vida das pessoas, ao citar de-
sastres de trânsito e o mau es- LÍVIA STABILE/21/7/03

muito na solidariedade, no ape-
lo aos empresários. Acho que
os empresários têm é de ter
condições para ajudar o País a
crescer, abrir postos de traba-
lho, pagar impostos”, defendeu.
Para ele, o papel do empresa-
riado não é fazer doações.
O problema do Brasil, segun-
do dom Mauro Morelli, não é
falta de alimento, mas de di-
nheiro para comprá-lo e plan-
tá-lo. Ele também criticou a
atuação do Fome Zero no semi-
árido, lamentando o fato de o
programa não ter se compro-
metido a construir um milhão
de cisternas e a levar outras
tecnologias para a região. “Se
isso fosse executado, seria o
MISSA
Dom Mauro Morelli voltou a
assumir a presidência do Con-
sea-MG, após se restabelecer de
acidente automobilístico sofrido
em julho. Ontem, ele e o gover-
nador Aécio Neves assinaram
convênio para promover a inclu-
são social das comunidades re-
manescentes de quilombos loca-
lizadas nos vales do Jequitinho-
nha, Mucuri e Norte de Minas.
O bispo celebrou, pela ma-
nhã, missa na Capela de Santa-
na, no Palácio dos Despachos.
“Estamos comemorando o re-
torno de dom Mauro, que tem
um compromisso com o Brasil
e um compromisso muito espe-
cífico com Minas Gerais”, afir-
tado das estradas. Dom Mauro
observou que Cléber Fernan-
des, o seminarista que dirigia
o veículo que o transportava,
foi prudente e não pode ser
culpado pelo acidente. “Fomos
lesados, física e moralmente.
Então, vamos cuidar de nossos
direitos e processar o órgão
responsável”, anunciou.
MORTES
De acordo com o bispo, a si-
nalização no local do acidente
era péssima. O governo usou de
“má-fé”, segundo ele, ao tentar
mascarar sua irresponsabilida-
de administrativa. “As coisas
não estavam bem-equacionadas
no trecho do acidente”, garantiu.
ALERTA
Trecho em obras da BR-381, perto de Campanha, quase tirou a vida de dom Mauro Morelli, em julho
com dom Mauro Morelli, em
19 de julho, haviam sido regis-
tradas 31 mortes, só este ano,
em trechos em obras da Rodo-
via Fernão Dias, que liga Belo
Horizonte a São Paulo. A dupli-
cação da estrada, a BR-381,
arrasta-se desde 1993.
O carro em que viajavam
dom Mauro Morelli e o semina-
rista Cléber Fernandes caiu nu-
ma vala que separava a pista in-
terditada da rodovia de uma
ponte, no km 765, perto da cida-
de de Campanha. Fernandes,
que dirigia o Ford Mondeo, foi
podia ser vista. Por causa disso,
ele seguiu pelo trecho interdita-
do até o local do desastre.
Após o acidente sofrido por
dom Mauro Morelli, que teve re-
percussão nacional, homens fo-
ram deslocados para fazer a
“emenda” entre a pista e a cabe-
ça da ponte. Na época, José An-
tônio Alves, proprietário do res-
taurante Alvorada, localizado
entre a estrada de terra e a pis-
ta interditada, revelou ao ESTA-
DO DE MINAS que acidentes e
motoristas perdidos se tornaram
uma rotina naquele trecho. “Até
conseguiram resolver o proble-
ma, mas precisou uma pessoa
importante se ferir gravemente
para o governo tomar providên-
cias”, lamentou José Antônio.
Dom Mauro Morelli ficou inter-
nado cerca de um mês e passou
vários dias na Unidade de Tra-
tamento Intensivo do Hospital
das Clínicas, em São Paulo. Te-
ve pulmões perfurados, lesões
nas mãos e pulsos e fraturou
costelas. Ontem, durante a mis-
sa que comemorou sua volta ao
comando do Consea-MG, o bis-
po pediu, delicadamente, às

maior programa mundial de
melhoria de qualidade de vida
da mulher. Um milhão de mu-
lheres deixariam de carregar a
mou Aécio Neves, ressaltando
a energia, o idealismo e a ins-
piração do bispo à frente do
Consea-MG. (LCS)
Cuidar das estradas não é um fa-
vor, mas obrigação de todos os
governantes, completou.
Quando ocorreu o acidente
induzido ao erro pela péssima
sinalização do local. A placa que
indicava o desvio, por uma es-
trada de terra, estava torta e mal
criança vi morrer aqui”, contou.
O problema só foi minimiza-
do depois do desastre com o bis-
po de Caxias. “Em uma semana,
PRETO
pessoas que o cumprimenta-
vam para que não lhe apertas-
sem as mãos com força, pois
ainda estão doloridas.

AMARELO
MAGENTA
CYAN

c
m
y
k

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO