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ALBEKTO VIEIKA
nic(pios/~abildos;estes serão mais um parceiro na adminisiraqãti e justiça a li- ciativa de pariiculares, logo nos alvurcs do skculo XY, 56 drrntiveram O em-
penho da Coroa nas tr&s Jkcadas finais desse stculo, altura em que sc trirniiu
gurar ao lado do capirâotsenhorio ou governador -corno zcprescniantes da pu-
pulação em geral. A sua criação anuncia-se como o despontar dr: uma nova era prissivel a pacifiçaqão do\ ahririgencs e que permitiu a posse plrna diis rnrsmah.
As periptcias que demarcaram esse dcmoradri proccsw de conquista rni
para a Histhria e vida das populaçóes e m causa. Destes os mais antigos sãci o i
rnadeirenses pois a tradição aponta a data de 1150 com a do seu inkiri na sede
ccinsonbncia com o inicial empenharncnio de particulares definiram para eqas
das, capitanias do Funchal, Machice e Portr~Santa. Todavia as primeiras dtca- ilhas uma forma diversa de afirmaçáo da realidade insriiucionul, adequada u es-
sa realidade; ai, ao ctinirArio do que sucedeu nas ilhas PiirtnRucsas. t i compro-
das, de vida não permitiram a expressáo plena destas instituiqõcs pois a afirma-
qão hegemOnica dos capitàes do drinatária impediram csse processo. E sh zrn metimento da coroa com esse priicessti 6 tardio ii quc pcrrniiiu dii particuIarc5
1463 em face da reclamação dos rnciradores do Funchal, a infante D. Fernando
que o iniciaram conseguirem uma posiçáci de privilepii) c uhufruto da jurisdic;áii
como Senhor da ilha, permite essa plena afirmaqáo do munici~ioretirando-o da
de algumas ilhas. Tal siluíqàci çunduziu h nrcessiriu alirmac;ái\ de duai turma5
alçada do capitão. de dornfnio jurisdicional: ci realengo c o senhorial. Ao primeirti ficaram as\o-
Nos Açores a insli~uiçãomunicipal desponta apenas nas i r & ultima de- ciadas as ilhas de (iran Canaria, Tençrifc e La Piiirna. snquantci ao seyunciii r e i -
cadas do stculo XV. altura em que este arquiptlago stiírc i) niicewíiriii arranque iaram as ilhas dr Lan/arrite, Fuerieveotura, La (Jiimrrd c. Hirrrii.
A cnntinuidsde desse prucessli Jr ctinquistli nds illias C ' a n i r i ~ i i,i\siici,t-
sacio-econbmico. Tal como na Madeira a ç r iaqao desta nova in\tiiuiqãci faz-se
de acordo com o progrehso social e econbmico das ilhas c lugares; primeiro sur- da ao inicial envcilvimento d z pariicularri definiram para c\tas ilha\ a rc'afirnia-
gem 0 5 municipios ctlm uma jurisdição ahrangentc do cspaqo da capitania, fun- çãv das instituiçhcs tardil-rncdicvaih da pznín\ulu - r i içnhi~riiir 11 adcliinrdii
cionando no lugar-sede da mesma, depois a vatorizaçào dos diversos assenta- Deste modo t opinião assentc da historiugrafia que o rcpimc juridicii desias il-
mentos populacianais conduriu a criação de novos nunicípios dzniro dcsia ju- has não 6 específico mas apenas uma çxtenhaii do rnt*dcli>1ci;iniinii t. , i n d a l u ~
risdiçáo, desmemhsandu assim essa unicidade. O grande arranque da insiituiçáu (1). Tamhtrn aqui a exemplo dci que sucedeu com a liadeir&LI direitii Iilcal c5-
municipal nos Açores &-se na primeira metadz do siculo XVI crim o apareci- tá aparentado com a regiáo que lhe serviu de refcrinciii t. dr dpoio a cshr: intcn-
mento de ncivos rnunicfpios abrangendii a (otalidade d t i arquip6llrgu. Aqui dcs- to de conquista no stculo X V - Andaluzia. A estas ilhai chegaram 01, fueríis de
tacn-se a ilha de S.Miguel que, de um município e sede em Vilri Franca, se IL- Baza ou Niebla, as mais recentes crimpilaqóes dc dirriiu Iciclil aqwndii da arir-
vantaram outros cinco - Ribeira Grande( l,507), Nordeb!r ( 15 14). Agua dc Pau maçio plena da soberania castelhana nestas parapen\; enquanto ti primciru l;iz
(l515), Lagoa (15223, Ponta Delgada (1%). Drste rnrido a ilha dc S. Vigucl concedido a Gran Canaria (20 De7 1494) içndo influenciado o regime dds ilha>
materialira em pleno essa realidade municipal pcir ter sido dc todas que mais de Tenerife e La Palma, o segundo foi dado apenas a Furrtevent ura. Tudavia
usufruiu dessa necessiria descentralitaqãu do poder Iiical. em Ciran Canaria estamos perante um fenómeno particular pois ai, rnqtianrciii
Noie-se que nem a Madeira permitiu cssa ncccsshria desrnultiplicaçào regime instituciunal, nomeadamenie o municipal, é defindo pzliis fuerus dr Ba-
institucional, pois a tendencia hegembnica dos capitães de ambas as capitanias za (1494) e Granada (1497) a fiscalidade adequar-se-i ao csiahcl<c.idii pard Iie-
apenas permitiu uma brecha em Machico com a criaçio do municipici de Santa vilha com o Suero d e 15 11 (2).
Cruz e m 1515 e duas n o Funçhal com os da Ponia de Sul ( 150t ) I:Calhe~a( I 502); Nute-se que em similar circunstância a Macicira tsvc um fora1 prcípsiii,
nova subdivisão sh surgirá tardiamente e m Machico, ciim ac.ti1.d rcsistEncia dah primeiro concedidu pelo infantç D. Henriquc, quc s r pcrdru, a quc \r: sçpi!iu sm
gentes da vila-sede, aguando da criaqgii em 1744 da vila Jr. S. Viçznie. 1472 outro pelo monarca D.Afonso V, seguindo-se e m 144') niwii ftiral lilira $3
Nas CanArias a instituição municipal assumira iiutra dirnensáii, pois a ca- alrnoxiirifado e rrn 1 1 5 para 0% municípios du Funchal, Piinra de isid c C'alht
da ilha correspondera apenas um cahildo, sediado no lugar-sede dn inicial e mais ta (3). Estes regimrntus e forais friram por sua v e l trcsladadcis para o s Aqiirt
importanle assentamento. Essa diferente pcrspectivat;ão da realidade municipal (Terceira, S. Miguel) onde foram adaptados à condiçiirs clu weiii (4).E\zc pai
conduziu a uma mais fdcil çcnrrali7açáo desse pcidçr nos principais povoadores ticular revela que a preocupação dominante das autoridade3 portuguesas que ru -
- governadores, senhorio - e tarnhtrn condicionou c i nrceshrici e rápido progres- telavam a Madeira no século X V terem procurado desdi: ri inícici inlnar ah ins-
so desta forma de descentra1iiar;âti do pode r. A par, disw o factii dc estas ilhas tituições, adequando-as hs crindiçks das nrwas Areas e nunca transplantar li-
se encontrarem habitadas aquando da chegada dcis pcninsularri, ciindu7iu a uma niarmente o sistema comum do rcinu. Deste modo Madeira. porque foi -a pri-
diversa forma de ocupa~ãodas sete ilhas que se expressar6 numa continuidade meira a merecer uma plena ocupaçào efectiva. demarca-ie climci a mairir quc
das iasrituiçóes de fronteira e m uso no processo de recrinquista peninsular; ri ini- serviu de rnodelri h dinhmica in~tiiucionallanqada pctiis piirtugueseh ni) espaqu
ARQUEOLOGIA DO ESTADO
atlintico; daqui salram os necessãricis ensinamcntcis para a ctin3tituic;ãci dos ali- nargpissfvel o mesmti jh não se dever8 dizer a o nfvel de estrutura, alçada e evo-
cerces institucionais dos Açores, Cabo Vçrdz, S. TomC c Brasil. lução dessa iostit uição no coniexto das dinhmicas polftico-instir ucionais das co-
Todavia o regime municipal imp!antaclu naa ilhas por portugueses e ciis- roas peninsulares.
telhanos apresenta-se, n o início como uma çbpia Fiel d o sistrma peninsular; as- A situação anteriormcntr aludida revela pelo lado porluguh o empenho
sim enquanto e m Canárias esse regime cstabclcce-sc de acordo com 0 fuero de da coroa e m avanqar com uma adequada poliiiça de dcsccntrali~at;áo &$tas ins-
Baza, o qual estipulava a forma de eleição dos diversos ufiçiais - alcaldes, regi- tituições de puder local; em qualquer momento o monarca deferiti a prctcnsáti
dores, personero, alguaçil, mayordomo - bem comti o modo do 5t.u tuncirinii- dos vizinhos dos lugares que reclamavam esse estatuto, s6 se vergando aos mo-
rnento (51, para a Madeira essa mesma estrurura dependera da dc Lisboa, donde tivos irnponderáveis das auioridades locais como succdeu com S. Vicentc: nri rk-
se fez o treslado cio necessdrio regimento, mas apcnas e m 15118 (6). çulo XY111.
E m síntese poder-se-&afirmar que a estrutura municipal lançada ali lon- Ao invks, em Canbrias somos confrontados com uma iendencia centrali-
go do século XV pelos peninsulares nas ilhas atlâ;n!icas prcfigura o rntidzlo pe- adora desias instiiuiçóes que cundr17iu, inevitavelmenic a uma mais arnpia ex-
ninsular sendo poucas uu quase nulas as inovaqhes; ptir partc du europeu apc- pressão da estrutura municipal e dci número de intewznicnics na piivernaçiiu,
nas houve necessidade de montar localrncnte esta estrutura institucional caben- nomeadamente regideres, conhecidos como "Jielrs ejjt.r*~rt~re.i", que eram elei-
do aos insulares, ao !cinge do skculo XVl, a missão cie incivar, airav6s de su- tos por dois meses; na ilha de Teneriiz havia rrgidorrs crn L a Laguna. tu O r o -
gest6es e reclamaçóes apresentadas B coroa e que mereceram aprovaçáo. Dai lava, Içod r Ciarachico (7).Estc regidor diputado crn C'aniiria5 a~srmrlhava-
que as peculiaridades do sistema institucionnal insular se situam apcnas na in- se ao nosso juir pedáneii iiu dii lugar. Tudiivia aqui e\ia tiirma Jc descenrrali-
sthcia de governo intermtdio, que assumiu e m cada um dos arquipélagos uma ração governativa era mais expressiva pois ao j u í ~pcd;inro sc luntíivam c) nl-
forma diversa; foram o senhorio e as capitanias de Madeira e Aqorcs que apre- caide e os locais ou bairros du hurgo surgiam os quadrilhr iros riu ~ i n t a n ~ i r o s .
sentaram os traços mais inovadores, pois o adelankado ou senhorio canários e m No Funchal do século XV deparamo-nos com joízeh do lupar no Ciiniçu, Ribzi-
nada inovaram em relação a idèntiça situação peninsular. ra Brava, Câmara de Liihris, Ponta do Sol e Calheta e numa rase postrritir us
quadrilheiros distribuiarn-se pelos lugares sob a hua alqacla (C'ârnara de Lutios,
3. Se 6 certo que na sua origem ambas as estruturas dc poder loca! im- Ribeira Brava, S. Roque, S. Martinho, S. Anionio), bairros (Cabo dii Calhau.
plantadas nas ilhas de Castela e Portugal apontam para a tradição peninsular, Bairro das Moinhos) e ruas (Ferreiros, Canavial, Caminhu do hflinrc) da cidade
tambern não t menos certo que a sua forma de implantação se expressou de for- 18). Situação identicrr sucede nos Açores onde, pcir exemplo, t i pequcno muni-
ma diversa; da sua transplantaçáo liminar passa-se h necessária adaptaçãri As cipio das Velas havia juií.es para os lugarcs de Manadas ( 1559), Norte ( 15'11 ),
condições socio-econbrnjcas do novo meio. Assim em Candrias notar-se-áo di- Urzelina (1649), Rosais (1700) (9).
ferenças significativas entre o cabildo das ilhas realengas e senhoriais, situação Num e noutro sistema insiiruciunal o rnunicípiii'cdtiildii 6 cornpoito dc
muito semelhante h que sucedeu na Madeira no período de afirmação de Sen- um conjuniii variado de funcion$rios com competèncias especificas:
horio (1434-1497), nomeadamente no governo do infante D. Henrique (1433- t . Oficiais de nrimeaçéii regia
1460). 2. Oficiais eleitos por sulr8gio indirecto, pelos v i i n hos. pcner nadcircs iiu
De uma forma gcnkrica t patente a diferenqa entre o cahildo de CanArias regedrires
e o municipio da Madeira e Açores, pois enquanto no primeiro arquiptlago a 3. Funcitinários administrativos de pruvimentu régici.
cada ilha corresponde um cabildo, nos dois últimos essa unicidade não se veri- Todavia nas, ilhas portuguesas o principio da subcrania aberta iinhd ex-
fica, n5o obstante no inicio da sua ocupação persistir essa tendência ao nivel das pressão mais evidente no segundo grupo, pois a maioria dehtei eram r.1eit.n~pe-
capitanias e, havendo ai ilhas com duas capitanias (Madeira, Terceira), essa cor- los e de entre ris homens-bons do concelho, enquanto nas C'anAri.r 0 1 vilinhrts
respondencia não se tornou posstvel. Apenas na capitania de Machico essa po- elegiam apenas o procurador do comum e, em algumas ithas. (i sindico persci-
litica centralizadora teve eco na aristocracia local que semprc se manifestou nero, ficando os principais FuncionArios dependentes dii arhitriii dus regcdoreh
contra a criaçno de novos munidpios; expresso e m face da primeira solicitaçio que eram tarnbtm nomeados pelo governador e desde I5t7 pela coroa. Nas il-
por paric de Santa Cruz (1515) e na reclamação da nova estrutura para a ver- has de Senhorio, a exemplo d o que sucedeu nti Madcira ate 1497, rbsa intenlen-
tente norte com sede em S Vicente (1744). ção estava a cargrii do Senhorici o u do seu representante - lenicnte - que detinha
Todavia se em termos de Area jutlsdicionat essa comparação não se tor- p i e r e h para nomear cis oficiais e funcifinhrios que adquiriam aqui um cardcter
ARQUEOLOGIA DO ESTADO
62 A DIN~MICAM U N I C I P A LNO A T L ~ T I C O
INSUMR
vitalício e por veles heredithsio (10). A par disso o pcrioda estival demarcado pelas colheitas de crreal c \.in-
Com o decorrcr dos anos o rei reforçou a sua capacidade de intervenção ho, era dcfinido por uma pausa n e h u iisciduidude dos oficiaii c a m a r a r j ~ çgs
no cabitdo senhorial, tornando obrigatbria a rectificação dc alguns cargos, cu- sessocs camaririas. A\sim, ertds pa%ianid reuiirus-\c quin/enajrncrilt. de modo
mo o d e alcalde magur que deveria ser confirmado pela A u d i c n c i a ou pelo re- a que o s funcionhrius possam reali/dr a s s u : i ~c.tilhcitas. Aliás ii peririrlti dt: maicir
gedor que passou a ser de nomeação regia. Situaqão idèntica se passava na Ma- actividade da vereação situava-se nus ires primcirtis mese5 para as necessárias
deira do skculo XV onde o senhor da ilha detinha poderes plenipciienciAricn so- deliberaçóes de ordem administrativa, relacionados com ti inicio du rnrind;ino.
bre o municipio. Mas a partir de 1460 com a morte dessc, ri infante D.Hcnri- Nas Canarias as sessõcs realiravain-se três veles pcjr \emana em Tcne-
que, inaugura-se uma nova era na vida municipit! madeircnsc, puis u nuvo sen- rire, enquanio c m Fuerteientura rcalizaird-\c apzna+ uma \ c / par RICS (13), O
hor, o infante D.Sernando, em 1461, defere favoravelmente as rcclamaç6es dos mesmo sucedendo em Lanzarote, tendo a scssào lugar na casa do gwcrnador
vizinhos da Funchal ( E 1). O município liberta-se assim das do capitão, repre- (14),. Mas aqui icirna-\c neccs\árici distinguir, nas illias rcalencas, ds sesiõcs rir-
sentante do Senhor na ilha, merct da eleiqáo dos juircs vcrcndi>rzs, procurador dinhriaa, que apcnas uprcscniavarn ii finalidade atrás aniinciadit, e aa "gcn r r u l c l "
e escrivão a que se juntaram o selu, bandeira, simbrilos dessa cii~tciniiniia;o par- que se realizavam c m Janciru c 30 de Novembro p r a cliiiq'rio dos diversos car-
tir de entào O capitão ficari apenas com o direito de apreientitr iirnii Iista cir ires gcis, ou acidentais para debaic de q u c s l i í z s dt: grande intzres\c parri » vi/inh»s,
i
nomes donde a vereaçiio fazia a escolha do alcaide e carczrciro. enquantci para a5 s e n h o r i u i ~sr. dilcrenciam as hzshòes cirdinhrias t. as abertas
Todavia os litígios entre a vereaçãu e o capitáu tiverani continuidade nas e m prac;a publica para debate dc assunkus de iriteresse cr)rnum (15)
centlirias seguintes, uma vez que esre nunca reconheceu essa restriqáo cle po- Nos t r è ~arquipklasiis 0 mandaiu iniciava-se em Janeiro, apenas nos
deres. Esra situaçâo expressa-se dc forma evidente na ilha de L. hliguel onde o Açores, mais prciprianiente nos municípios de Vila Franca do Campu (1577) e
capitão teima em manter os seus privilegias insliiucionais na goternac;ãii clc Vi- Ponta Delgada ( 1 6 0 ) , para mais eficácia da sua acqáo huuvc neccçsidade de
Ea Franca do Campo, Ribeira Grande e Ponta Delgada (1 2). ajustar o ano administrativo ao calcndáriu agrícola, passando a vereação a ini-
0 s regedores e os vereadores eram os funcionários maih irnpclrtantes ao ciar as sua actividade pelo dia de S. Juáo (16).
serviço, respectivamente, do cahildo e município; a eles çornpc~iaa puvernaçáo As compettncias do cabildo ou município eram esiabelccidas pelas orde-
da Brea sob a sua jurisdiçãa por meio dos acordios c posturas apruvados nas naçóes e fueros concedidos pelas coroa5 peninsulares; ai estavam çxaradas náo
sessóes semanais. Alem dissn estava sob a sua alçada a nomeação, no primciro s6 as normas de funcionamento destas instituiçóes mas também a alçada que dc-
caso dos fieles ejecutures, alcaIdes, alguacil, persrinero, muyurdumo e dipu- finia o seu espaço de manobra no contexto da dinâmica institucicinal de eniio.
tados d e mesa, enquanto, no segundo, essc poder abrangia 05 almtitacéis, gulir- Num e nout ru caso a jurisdiçáci ehiahelecida para estas instituições focais
da-mores, qiiadriiheiros, julzes pedâneos, rneirinbos da serra e cidadt; al- era Identica, diferenciando-se apenas na sua forma de aplicação ou activa inter-
caides da cidade e dos Iiigares. venção nos diversos aspcctos do d o burgo e área limitrofe abrangi-
A presidencia do rnunicipio era atribuida ao Juíz mais velho dos eleizos e da pela sua jurisdição. Tendo em considerat;áo que estas tinham como finali-
só apenas no acto de eleiçáo irienal e na abertura anual dos pclouros essa prcsi- dade assegurar o bem-comum de acordo com as solicirii~iicsdos locais ondr: se
dkncia era assumida pelo corregedor, ouvidor rtgiii, capitão do doaat8rio ou seu implantam, teremos uma activa intervenção no quotidiano das gentes, abrangtn-
ouvidor, Nas Canfirias essa variava de acordo ciim a condição de cada ilha; as- do a moral, os usos e costumes, a sanidade, as actividades ecunlirnicas (produ-
sim nas senhoriais tal posição 6 atribuída ao alctilde miayur nomeado pelo ben- tivas, transformadoras e comerciais (17). Esta acção que abrange o dorninio fis-
hor, para as realengas mesma ficou atribuída atC 1535 aos adclantados e desdc cal, econbmico, social, sanithrio. das obras públicas e de defesa, fazia-se
essa data aos governadiires letrados de nomeação rtgia. conforme o estipulado nas compet&nciasemanadas pelas orden;iim.cs do reino;
O funcienamcnio desta estrutura de poder adequava-se As ordcnaqóes, re- a expressão dessa realidade encontra-se lavrada nos acordáos do Senado c nas
gimentos e fueros e As soiicitaçbes da grea que ela abrangia. Assim no caso por- posturas que, em separado, são as peças legislativas mais importantes do poder
tugues a obrigatoriedade de duas sessões semanais do Senado da CAmara sb se local em que se expressam as especificidades de cada hrea com as necessAria5
torna necessgria nos municfpioç mais importantes, como Funchal, Ponta Delga- adaptaçóes das norma gerais do reino (18).
da, Angra, pois nos mais pequenos apenas a reuniáo semanal de saibado era su- A par disso a esta estrutura de poder local rambCm estava acometida ju-
ficiente para atender As qucsrões que a vivencia municipal colocava; estão neste risdição no dominio da jusriça que corria a cargo de alguns fiinciiin8rios indigi-
Iiltimo caso os municfpios das VeIas (S. Jorge), Ponta de Sol e Calhcta. tados pelos vereadores, regidores ou governador/s¢nhor; para as ilhas pcirtugue-
64 A DINAMICA MUNICIPAL NO A T ~ N T I C O
INSWiAR ARQUEOLOGIA 00 ESTADO
sas essa acçãu estava acometida ao alcaide apoiado pelo carcereiro, quadrilhei- deira o 'jpmll e superentendenle das cousos dri girem", que se perpetua post
ro, meirinho da serra e cidade, guardas mores, enquanto nas Canarias essa tare- 1640, com ampla jurisdiqão sobre e administração e provimento dos cargos (21).
fa estava atribuida ao alguacil mayor e tilcaldes ordjn8rios com íi apoio dos di- Todavia nos Açores que encontramos mais semelhanças pois ai ao cargo de
putados de mesa. A o lado destes actuavam alguns funcioohrios que tinham ca- governador, que surgue a partir de 1581, estava, ligadus o pcider militar e de su-
mo missáo garantir e fiscalidar o cumprimente das posturas e ordcnaçóes regias; perintender a administração, A este sucedeu na Terceira em 1640 o governador
680 os aimotacts que na Madeira e Açores eram eleitos trimestralmente da lis- do Castelo de S. Filipe e das ilhas dos Açores como autoridade suprema (22).
ta de homens-bons. Noutro Ambito o policiamento das ruas e lugares era asse- Aqui este encontra-se ao mesmo uive1 do governador letrado (1535) das CanA-
gurado pelos quadrilheirosldiputados da mesa nomeados mensalnrcnte nos trks rias, cargo que desde 1570 szrh preenchido militares, designados desde 1589 de
arquipblagos. capitão-general de Ias isias (23).
4. A evolução da est ruiura municipal adequa-se ao progresso económico 5 . As posturas destacam-se neste domfnio da vida municipal como a mais
e social das Areas onde se implanta e a intcrvenqáo da coroa. Deste modo num lidima expressio da sua actividade e capacidade dc intervenção. dai que a sua
e noutro caso, constata-se que o skculo X V é definido como o momento de am- referençia, aqui e agora, se torna oportuna.
pla autonomia em relaçaio 6 coroa mas de excessiva vinçu1at;ão iintervenqáii Confxon~adasas posturas das ilhas portuguesas ccim as das Canarias sur-
personalizada do capitão, senhorio ou governador. E m arnbas as situações a gem algumas diferenqas pontuais neste domínio, pois u direitci municipal nau
usurpaçáo dos poderes por parte desrcs tornou inevitavel essa vinculaçiu do po- se adequa à relativa autonomia dcfinida pelos alvaras e regimentos skgici.s. Aa-
der municipal As estruturas do poder régio; assim enquanto na Madeira desde a sim na Madeira e nos Açores onde o poder local disfruia de amplos puderes e a
dtcada de sessenta do seculo XV são cerceados os poderes discriciunários do 1
I
sua capacidade iegislativa cstSi entravada pela insisténcia das orrienaqfies rigias
capitâo e a partir de I497 com o advento da nova realidade instirucional com o e regimentos, o legislador açoriano-madeirense t Forçado a afirar pelo mesmo
fim do senhorio o rei coloca sob a sua alçada tais dominios. A par disso na st- diapasão peninsular, submetendo-se ao articulado das, posruras de Lisboa. Ao
cala XVI, mais propriamente em 1503, emerge a figura do corregedor como invks nas GanArias os municipes disfrutam de ampla capacidade iegislativa, ela-
representante da coroa. borando o cbdigo de posturas de acordo com as solicitaç0es da mundividzncia
Situação idtatica sucedera! nas Canhsias onde nas ilhas realengas os gu- do burgo: esse rasgo de originalidade acentua-se e m todos o3 municípios ape-
vernadores, e nas senhoriais o senhor ou reprzsentanic, abusavam da delegação nas no domínio socio-econbmico. Deste modo o direito local canário poderá scr
regia de poderes pelo que o rei se viu forçado a inrervir. Assim o governador definido como auibnomo e multiforme enquanto o madeirense e açoriano sur-
que até 1512 tinha a faculdade de nomear os principais furiciondrios do cabildo girão coma uniformes e arreigados as directrizes monopotizadoras e intewen-
perde-a em favor da coroa, o mesmo sucedendo com a presidência do cabildo cionisias da coroa portuguesa.
que passar8 para os governadores letrados de nomeaçio regia. Tambem os re- A diferente fundamentaçáo dos cbdigas de posturas insulares cunduziu a
gedores serão desde 1544 nomeados pela coroa (19). Mas sem dúvida o golpe uma diversa valorização e empenho do legislador local, Nos arquiptlagos da
mais forie contra essa autoridade çanAria foi a criaqáo em F 526 da real Audien- Madeira e Açores essa permanente e excessiva intervenção da coroa conduziu
cia de CenArias com sede em Las Palmas que, desde 1589, com a nomeação do a um paulatino descrkdito e esvaziar da capacidade legislaiiva do município.
capltfio general de Canhrias ficou com a supcrinrcndencia militar e civil, Deste modo, coarciada a possibilidade de intervenção plena dos municfpios na
canseguinda assim a corria kdircir a ias isla~,e iiiia roia persona" (20). Deste rtgulamentaçáo da vivencia do burgo, o cbdigo de posturas i, em certa medida,
moda poderh dizer-se que o advento do çtculo XVI se apresentou, num e nou- marginalizado. Dai o relativa menosprezo das autoridades municipais e a ten-
tro arquipdagu, como o infcio de uma nova era para a dinâmica instiruciunal d&ncia para o carkter avulso desta legislaç50 que, segundo as ordenações do
destas ilhas definida pela paulatina centralização do pader real com a conse- reino, deveria ser compilada e divulgada junto dos municipes. Note-se que na
quente quebra da autonomia das insiituições locais. Madeira essa ordem sb Foi cumprida em 1572 e 1587, enquanto nos Açules as
O momento de 1580 a 16;U) assume particular significado na compura- primeiras compilações datam de 1655 (Angra) e 1670 (Ponta Delgada): Enrre-
çãri dessas mesmas estruturas pois o facin de eskarrnos ~ r i b alqacfa da mesma tanto nas Canhrias, não nhstante a sua tardia pacificação o ocupaçio, as referi-
coroa conduziu necessariamente a uma tentativa, ainda qite frustrada, de unifor- das compilações surgem em Ciran Canaria e Tenerife em princlpius de skcu10
mizar as ditas instituiçoes. Assim a cxemplti de CizinBrias surge em 1585 na Ma- XVI, maniendci-se uma permanente act ualização e cornpilat;ão nos seculos se-
ARQUEOLOGIA 0 0 ESTADO 67
o articulado das posturas frumentárias ia assim ao encontro da conjuntu ção da estrutura institucional e as evidentes influências madeirenses na reali
ra particular de cada município e no geral do mundo insular. Aí definiam-se me dade social e económica de Canárias levar-nas-iam a concluir, à partida, dessa
didas compatíveis com as reservas de cereal existentes no!>granéis públicos e inevitável intervenção da Madeira nesse domínio, mas aqui, corno vimos, a pro
privados, dando-se particular atenção ao preço, peso do pão e contingentes pa cedência é outra, pois a coroa castelhana não abdicou das suas prerrogativas de
ra exportação. finidoras dessa realidade institucional, que tal como nas ilhas portuguesas se ex
O vinho faz parte desse grupo de culturas ou produtos atingidos por este pressou por uma adequada transplantação das instituições peninsulares. Deste
tipo de medidas proteccionistas, mercê da sua importãncia na dieta e sistema de modo as semelhanças detectadas corresponderão necessariamente a uma idên
trocas insulares. As posturas estipulam medidas de protecção da cultura em face tica necessidade de atacar as questões pela mesma via.
da depredação do gado e frutos, bem como o modo de venda do vinho ataver
nado. No primeiro caso proibia-se em Ponta Delgada, Funchal e Angra a ven
NOTAS
da de uvas sem indicação ou licença do dono. Entretanto, no segundo caso, pro
cura-se evitar os precessos fraudulentos da sua venda com a fuga ao pagamen
l)JesusLalindeAbadia, "EI derecho casre//anoem Canários",in Anuário de
to da imposição e à baleação de vinhos de diferentes qualidades. Assim cada ta Estudos Atlânticos , n!!16, 1979, 13-35.
berna só poderia dispor de duas pipas de vinho (branco e tinto), abertas por um 2) Eduardo Aznar Valejo, La integración de las islas Canárias en la corona
oficial concelhio após serem almotaçadas. deCastilla (1478-1526) ,La Laguna, 1983,47,61.
A carne e peixe, produtos cuja venda e manuseio exigiam especiais cui 3)ManuelJ.Ferreira, O arquipélago da Madeira terra do Senhor Infante,
dados, ocupam lugar de destaque nas posturas insulare!>.Aí !>eestabelecem nor- Funcha~ 1959,271,confronte-se Alvaro Rodrigues de Azevedo, "Nolas", in Saudades
mas reguladoras de todo o processo de circulação e venda. Assim não era per . da Terra, Funchal, 1873,494.
mitida a sua venda fora da praça e mesmo aí deveria !>erfeita por agentes habi 4) Urbano de Mendonça Dias, Avida de nossos avós, vaI. llI, Vila Franca do
litados pela vereação. Deste modo aos proprietários de barcos, arrais ou pesca Campo, 1944, 11-56.
dores estava vedado o comércio de retalho. Ambos os produto!>deveriam ser al 5)Antonio Malpica Cuello, "EI fuero 1IIleVOen el reino de Granada y el fuero
de Gran Canaria(noraspara el estudiodeIa adminslraciónmunicipal)", in lU Colo
motaçados pelo almotacel ou diputados. A carne para além do seu corte obriga
quio de Historia Canario-Americana (1979), Las Palmas, 1980,319-42.
tório no açougue municipal pelo marchante era vigiada por oficial concelhio.
6) Por alvará de 17 de Agosto de 1508, publicado por Alvaro R. de Azevedo,
A venda por peso ou medida facilitava o dolo dos vendedores pouco ho ob. cit.,491-92;confronte-se '~. R. M.", C. M. F., n!!400, 401.
nestos que falsificam os referidos meios de medição. Deste modo o município 7)A.Cioranescu, Historia de Santa Cruz de Tenerife , vaI. I, 1977, 157.
era obrigado a redobrar a sua vigilância sobre o retalhista, sendo o seu alvo prin 8)AIberto Vieiraeoutros, "Omunicipio do Funchal (1550-1650J",in Coloquio
cipal as vendeiras. Daí o estipular-se o uso obrigatório de pesos e medidas afe Internacional de História da Madeira, Funchal, 1988.
ridos pelo padrão municipal, em todas as ilhas, sendo anual a respectiva confe 9)AntonioSantosPereira,A ilha de S. Jorge (Séculos XV-XVII),Ponta Del
rência que estava a cargo do almotacel ou fiel ejecutor. gada, 1987, 99.
10)Juan Ignacio Bermejo Girónes, Los Cabildos Insulares de Canárias, San- .
6. Concluído este rastreio comparativo das instituições municipais dos ar ta Cruz de Tenerife, 1952, 23-25.
11) A. R. M., C. M. F. - Registo Geral, t. I, fl. 202-209; veja-se ManuelJuve
quilélagos do Mediterrãneo Atlântico fica-nos a ideia de que afinal estas ilhas
nalPitaFerreira, O arquipélago da Madeira Terra do Senhor Infante, Funchal, 1959,
mantiveram uma relativa proximidade das suas dinâmicas económico-social 301-303.
institucionais, resultado de semelhante resposta às comuns solicitações do quo 12)Veja-seVictorRodrigues "AAdminstraçáodo ConcelhodePomoDelga
tidiano. Daí as inevitáveis similitudes, que se tornam mais expressivas ao nível da... ", in Os Açores e o Atlântico séculos XIV.XVII ,1984; M. Margarida de Sá No
das questões atendidas pelo Senado e legisladas sob a forma de posturas. gueira, "AdministraçlJo do Concelho de Vila Franca do Campo... ", in ibidem.
Ao nível da estrutura desta instituição e da sua evolução a identificação 13) Acuerdos dei Cabildo de Fuerteventura, La Laguna, 1970, 15.
de situações não deverá ser encarada como o resultado de uma política concer 14)Juan Ignacio Bermejo Gironés, LosCabildos Insulares de Canárlas, San
tada dos insulares e coroas peninsulares, mas apenas como uma coincidência de ta Cruz de Tenerife, 1952,23.
conjunturas e respostas necessárias às questões que as mesmas colocavam. O 15) Ulpiano Perez Barrios Buenavista..., Santa Cruz de Tenerlfe, 1986,24;
Acuerdosdel cablldode Tenerlfe, t. 1,1949,XVI, 11LaLaguna, 1952,XXVI-XXVIII.
facto de na Madeira se ter iniciado muito mais cedo este processo de constitui-
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