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Abstract: The present work analises the right of property, considering the influence of
economic power over the legal institutes that protects the individual property in Modern
society. It aproaches the right of property in a Humanitarian way, through Human
Rights Laws and Constitutional Laws that protects housing right and land rights as
property rights as well. It tries to face a liberal paradigma, moving from individual
rights of property to social rights, asking where the constitucional principal of social
function of property stands, which roles it has in protection of the property .
Keywords: Human dignity. Human habitation right. Land rights. Property privy.
Disventiture of property.
1. Introdução
*
Aluno da Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC).
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Revista dos Estudantes da Faculdade de Direito da UFC (on-line). a. 2, v. 6, mai./jul. 2008.
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Disponível em: http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2006/10/15/materia.2006-10-
15.5097663057/view. Último acesso em 05/10/2008.
2
Cf. MAGALHÃES FILHO, Glauco Barreira. Hermenêutica e Unidade Axiológica da Constituição.
Belo Horizonte: Mandamentos, 2003.
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2. Direito e Ideologia
O Direito é imposto ao povo sob o formato de lei, a qual não é discutida pelos
seus destinatários. A lei assim expressa compõe uma forma de dominação que
desconsidera a construção e constituição social cotidiana, pois não emerge do seio
comunitário, ou não acompanha a dinâmica da realidade social. Torna-se distante do
povo. O Estado só se faz presente na hora de punir3 ao menos abastados
economicamente ou privilegiar aqueles que já gozam de privilégios4.
Essa prática de Direito é distante do povo e permeia caráter de exclusão/inclusão
classista. Maria Eliane Menezes de Farias5 afirma que:
Implica dizer que o Estado inclui (melhor dizer mantém) uma classe
numericamente minoritária no poder e exclui outra, no processo de formação do Direito
e efetivação de suas garantias constitucionais. Não se afirma o mesmo, entretanto, em
relação ao sistema penal, dado o caráter classista desse direito, que tem ênfase na
proteção do patrimônio, propriedade privada. O Direito expresso apenas de forma
dogmática é distante da realidade da maioria do povo, afastam-se os juristas dos
conflitos sociais postos ao negarem a dominação ideológica, mantendo,
conseqüentemente, o status de dominação.
Vejamos o que diz Antônio Carlos Wolkmer6 a respeito do indivíduo, da
sociedade e do Estado:
3
Cf. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis, Vozes, 1987.
4
Ver relatório de Pesquisa sobre Defesa Técnica de Adolescentes em Conflito com a Lei, elaborado pelo
Leboratório de Estudos da Vilência (LEV), da Universidade Federal do Ceará, 2007.
5
FARIAS, Maria Eliane Menezes. As Ideologias e o Direito: “O Direito Achado na Rua”. Brasíla: Unb,
1988, p.15.
6
WOLKMER, Antônio Carlos. Ideologia, estado e direito. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1995, p.61.
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3. Propriedade Privada
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
(...)
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“Como inexistem direitos fixos e universais – a propriedade foi declarada sagrada em 1789 e, nos dias
de hoje, a sua socialização é questão superada – a utilização de do Direito Natural evoluiu para a função
de arma de combate (...)”. FARIAS, Maria Eliane Menezes de. As ideologias e o direito: enfim o que é
direito?, Brasília, Universidade de Brasília, 1990, p.16.
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O caráter absoluto se refere a forma de dispor da coisa, do jeito que quiser; o de exclusividade reporta-se
cabe somente ao direito do proprietário, pelo menos em tese; o perpétuo por não perecer com a morte do
proprietário, apenas ocorrendo a sucessão, ou seja, não há limitação temporal.
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SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 19 ed. São Paulo: Malheiros, 2000.
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Essa expressão constitui-se como conceito indeterminado, principalmente quando analisado
factualmente, uma vez que até hoje o trabalho escravo não é motivo que enseje perda de propriedade,
mesmo com clara restrição ao exercício de direito à liberdade do outro. Veja-se o PEC 438, em tramitação
no Congresso Nacional.
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5. Do Direito à Desapropriação
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SILVA, José Afonso. Op. cit.
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12
HERKENHOFF, João Batista. Movimentos Sociais e Direito. Livraria do Advogado, 2004.
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BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 490.
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6. Conclusão
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Entendemos organizações autônomas e independentes do povo as referentes a movimentos populares e
sociais que não sejam cooptados pelo poder público, independente de constituírem, ou não, pessoa
jurídica.
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WOLKMER, Antônio Carlos. Pluralismo Jurídico. Fundamentos de uma nova cultura no Direito. 3
ed. São Paulo: Alfa Omega, 2001.
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Como nos referimos na Introdução do presente artigo, o déficit habitacional de Fortaleza beira a 2,5
milhões.
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O respeito à propriedade privada não é absoluto, pois muitas são as ações que exigem direitos através
da ocupação, por exemplo.
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Ressalta-se que não há, entretanto, que se dar ênfase à indenização, visto que existem
aberrantes casos em que o valor indenizado é extremamente superior ao avaliado – fato
que permite a inferir que a máquina estatal ainda pertence à elite18.
Cabe aos movimentos populares, em articulação com o movimento social e os
militantes do direito, quebrar o paradigma da desapropriação. Tem-se em vista um
grande desafio dentro da disputa do Estado, qual seja o de inverter a proteção do direito
para a maioria do povo que é desprovida de propriedade privada. Tornando regra a
garantia da dignidade da pessoa humana, da moradia e da terra, diante de conflitos
fundiários que envolvem toda uma coletividade.
7. Referências
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro:
Campus, 1992.
FREIRE, Paulo. A educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 38 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.
18
Vide caso de desapropriação para a construção de uma escola na Praia do Futuro em Fortaleza, que a
indenização paga foi em torno de 2 milhões de reais, num área em região de desvalorização imobiliária.
Ressalta-se que a família a que pertencia o terreno imobiliário tem forte influência econômica.
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ROCHA, José de Albuquerque. Teoria Geral do Processo, 4 ed. São Paulo: Malheiros,
2000.
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo, 19 ed. São Paulo:
Malheiros, 2000.
WOLKMER, Antônio Carlos. Ideologia, estado e direito, 2 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1995.
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