Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Construindo a Ciência
O Trabalho Científico
Parte 1
Devemos tomar cuidado para extrair de uma experiência apenas o conhecimento que ela fornece --- e parar aí;
senão seremos como o gato que se senta na chapa quente de um fogão.
Ele nunca mais se sentará de novo na chapa quente de um fogão --- e isto está bem;
mas ele também nunca mais se sentará em uma chapa fria.
MARK TWAIN
O trabalho dos cientistas se caracteriza por ser um trabalho muito bem planejado, com
alguns objetivos iniciais e algumas fases ou etapas que habitualmente, porém não
sempre, ocorrem em certa ordem, uma em continuação de outras. O trabalho planejado
permite aos cientistas abordar problemas, explicar fenômenos, realizar descobrimentos e
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
Reconhecida pela Portaria Nº 821/MEC D. O. U. de 01/06/1994
IDEPA _ Instituto de Desenvolvimento Educacional do Pará S/S LTDA
A razão pela qual um cientista decide estudar um determinado fenômeno e não outro,
prende-se ao pessoal interesse que esse fenômeno lhe desperta e com a preparação
acadêmica que tem, ainda que, as vezes, também é influenciado pela real necessidade
da sociedade, uma vez que, um certo trabalho científico tem, em determinadas ocasiões,
um marcante caráter social. assim, por exemplo, o médico britânico Edward Jenner (1749-
1823) investigou a forma de combater a varíola e descobriu uma vacina contra ela,
solucionando assim graves problemas que essa enfermidade produzia na sociedade de
sua época.
Para realizar seu trabalho, os cientistas não partem de 'zero'. Suas investigações
aproveitam os conhecimentos já consolidados que existem sobre o objeto de seu estudo.
Devido a isso, se diz que a Ciência é acumulativa, quer dizer, que os novos
conhecimentos se constroem sobre os anteriores e, dessa forma, tais conhecimentos vão
se ampliando.
Assim, ainda que Jenner tenha obtido uma vacina para a varíola, não conseguiu
estabelecer a origem para esse mal, e tivemos que esperar até que o francês Louis
Pasteur (1822-1895), baseando-se nos trabalhos de Jenner, descobriu a causa da
enfermidade.
O cientista, em seu trabalho, realiza observações do tipo qualitativo apenas naquelas nas
quais não é necessário tomar medidas. Nestas observações se analisa um determinado
fenômeno, procurando-se estabelecer por que motivo ele acontece, que fatores intervêm
nele, que relação tem com outros fenômenos etc. Em geral, esse é um primeiro
procedimento entre o fato observado e a tentativa de descrevê-lo.
Porém, sempre que pode, o cientista efetua também medições rigorosas e precisas
naquelas que quantifica e, se possível, formula matematicamente suas observações e
conclusões. Isso ocorre, sobre tudo, nas ciências experimentais como o são a Física e a
Química. Matemática é ferramenta forte na estruturação das ciências.
Quando um trabalho científico termina, os resultados a que chegou têm valor universal, ou
seja, baseando-se neles poderemos predizer que, sempre que se tomem as mesmas
condições em que foi feito o trabalho, se produzirá o mesmo fenômeno que foi observado
e explicado.
Para que uma teoria científica tenha esse valor universal deverá ser comprovada
repetidas vezes nos laboratórios e na realidade, mas, ainda assim, nunca poderemos
estar seguros de que no futuro não possa ocorrer uma dessas experiências na qual a
citada teoria não se confirme. Basta que, apenas em um caso, uma experiência
contradiga uma teoria para que esta torne-se inválida. O histórico da ciência mostra-nos
diversas dessas 'quedas de teorias'e suas substituições por novas. Todas as teorias
científicas têm um caráter provisório, e podem modificar-se quando se encontram outras
que explicam de uma forma mais completa o fenômeno ou fenômenos que pretendiam
explicar.
Construindo a Ciência
Fases do Método Científico
Parte 2
Introdução
A observação do fenômeno
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
Reconhecida pela Portaria Nº 821/MEC D. O. U. de 01/06/1994
IDEPA _ Instituto de Desenvolvimento Educacional do Pará S/S LTDA
Observação do arco-íris
Uma vez definido o fenômeno de estudo, a primeira coisa a fazer é observar seu
acontecimento, as circunstâncias em que se produz e suas características.
Esta observação deve ser reiterada (deve ser realizada várias vezes; deve ser
repetida), minuciosa (deve-se tentar apreciar o maior número possível de
detalhes), rigorosa (deve ser realizada com a maior precisão possível) e sistemática (deve
ser efetuada de forma ordenada).
Poderás observar (apenas usando seus olhos) que existe sete cores diferentes no arco-
íris e que são, de dentro para fora do arco: violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja e
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
Reconhecida pela Portaria Nº 821/MEC D. O. U. de 01/06/1994
IDEPA _ Instituto de Desenvolvimento Educacional do Pará S/S LTDA
vermelho.
Em busca de informações
Você não é a primeira pessoa a observar um arco-íris, com certeza. Assim, como passo
seguinte e com o objetivo de confirmar e reafirmar as observações efetuadas, deve-se
consultar livros, enciclopédias ou revistas científicas que já descrevem algo sobre o
fenômeno que está sendo, mais uma vez, estudado. Não esqueça que nos livros
encontram-se os conhecimentos científicos acumulados através da história. Por esse
motivo, a busca de informações e a utilização dos conhecimentos existentes são
imprescindíveis em todo trabalho científico.
A consulta de qualquer livro de Física Elementar lhe confirmará que as conclusões a que
chegou através de suas observações são corretas. Ou seja:
a) O arco-íris só aparece e pode ser visto quando chove e, além disso, há sol.
b) O arco-íris sempre apresenta as mesmas cores e essas se sucedem na mesma ordem.
Atende para o fato de que esse livro texto elementar não deu resposta ás suas dúvidas
anotadas em seu caderno de campo; talvez outros livros as dêem.
A consulta de livros e revistas poderão lhe informar que, por exemplo, por vezes,
aparecem dois arcos-íris, se bem que um deles é bem mais tênue que o outro e, portanto,
mais difícil de se ver.
A formulação de hipóteses
Parece que sim, posto que só se produz quando existe uma fonte luminosa (o Sol).
A comprovação experimental
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
Reconhecida pela Portaria Nº 821/MEC D. O. U. de 01/06/1994
IDEPA _ Instituto de Desenvolvimento Educacional do Pará S/S LTDA
Uma vez formulada a hipótese, o cientista deve comprovar que esta é válida em todos os
casos e, para tanto, deve realizar experiências nas quais se reproduzam o mais fielmente
possível as condições naturais nas quais se verifique o fenômeno estudado. Se sob tais
condições o fenômeno acontece, a hipótese terá validade, ou seja, será uma proposição
verdadeira nas condições estipuladas.
Comecemos por simular uma chuva e, para tanto devemos ter água caindo em gotas.
Não é difícil fazer isso, basta pegar uma mangueira de regar o jardim e apertar a
extremidade de saída com as mãos de modo a fazer um jato fino e largo. Máquinas de
lavar, elétricas, permitem o ajuste desse fluxo com facilidade. Dirija o jato para cima e dê
suas costas para o Sol. Pronto, você reproduziu com fidelidade os requisitos
indispensáveis para o aparecimento do arco-íris; simulou uma chuva, há sol e você se
colocou entre ambos.
Tudo indica que sim, porque com as mesmas condições que se dão na Natureza, porém
em escala reduzida (tudo de tamanho menor), conseguimos obter um arco-íris.
Simulação do arco-íris.
Trabalhando no laboratório
serem medidas.
Se nos prendermos ao experimento descrito acima dificilmente você poderá tirar alguma
medida, por isso, é conveniente repetir a experiência em um lugar adequado onde isso
possa ser feito, ou seja, num laboratório. Estas experiências realizadas nos laboratórios
se denominam 'experiências científicas' e devem cumprir os seguintes requisitos:
a) Devem permitir realizar uma observação sobre a qual possa-se extrair dados.
b) Devem permitir que os distintos fatores que intervêm no fenômeno (luminosidade, temperatura
etc.)
possam ser individualmente controlados.
c) Devem permitir que se possam realizar (repetir) tantas vezes quanto necessárias e por distintos
operadores.
Com a ajuda de seu professor você poderá realizar sem muita dificuldade uma
experiência sobre o arco-íris. Para tanto deverá preparar um modelo no qual se verifique
as seguintes equivalências:
na Natureza no Laboratório
O Sol se substitui poruma fonte de luz (projetor)
um estreito feixe de luz
os raios de Sol se substitui por
procedente da fonte
uma gota de chuvase substitui porum balão cheio de água
o fundo do céu se substitui poruma tela na qual se recolhe a luz
Quando o estreito feixe de luz branca atinge a região [A] do balão e penetra na água ele
muda de direção ampliando a abertura do feixe (observe a região interna de [A] para [B]).
Ao chegar na região [B], ao sair da água, novamente ocorre outra mudança de direção e
nova ampliação da abertura do feixe --- é o fenômeno da refração que se faz acompanhar
da decomposição da luz branca. As luzes coloridas provenientes dessa decomposição
atingem a tela. Cada gota da chuva, nas condições citadas, tem esse comportamento.
Devida a essas milhares gotas de chuva que participam dessa decomposição é que se
torna possível ver o arco-íris no horizonte.
Além dessa importante observação, o experimento permite medir os diferentes ângulos de
desvio de cada uma das cores em relação ao estreito feixe incidente inicial. É um
experimento científico, preenchendo os requisitos básicos.
Assim, se comprova que a formação do arco-íris pode ser explicada pelas leis que regem
a refração da luz.
2
Relação 'parabólica' (y = k.x ) e Relação 'hiperbólica' (x.y = k).
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
Reconhecida pela Portaria Nº 821/MEC D. O. U. de 01/06/1994
IDEPA _ Instituto de Desenvolvimento Educacional do Pará S/S LTDA
A análise dos dados e a comprovação das hipóteses levam os cientistas a emitirem suas
conclusões, que podem ser empíricas, ou seja, baseadas na experimentação
ou dedutivas, ou seja, obtidas mediante um processo de raciocínio do qual se parte de
uma verdade conhecida (premissa verdadeira) até chegar á explicação do fenômeno.
Uma vez bem solidifica essas conclusões, estas devem ser comunicadas e divulgadas
para o restante da comunidade científica para que sirvam de ponto de partida para outros
descobrimentos ou como fundamento de uma aplicação tecnológica prática.
O primeiro cientista que estudou de forma rigorosa a decomposição da luz foi Isaac
Newton (1642 - 1727) e suas publicações serviram para que, posteriormente, a formação
do arco-íris pudesse ser bem explicada. Mais adiante ainda, a tecnologia aproveitou o
fenômeno da refração da luz e foram inventados numerosos instrumentos ópticos, como
máquinas fotográficas, projetores etc. em cujo funcionamento intervêm esse fenômeno.
Assim, por exemplo, a hipótese comprovada de que o arco-íris se forma devido á refração
que a luz branca (solar) experimenta ao atravessar as gotas de chuva, é uma lei
integrante de um conjunto de leis que regem outros fenômenos luminosos (reflexão,
dispersão, difração etc.). Esse conjunto é conhecido como a Teoria sobre a luz.
Tanto as leis como as teorias devem cumprir os seguintes requisitos:
a) Devem ser gerais, ou seja, não devem explicar apenas casos particulares de um fenômeno.
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
Reconhecida pela Portaria Nº 821/MEC D. O. U. de 01/06/1994
IDEPA _ Instituto de Desenvolvimento Educacional do Pará S/S LTDA
As teorias científicas têm validade até que sejam incapazes de explicar determinados
fatos ou fenômenos, ou até que algum descobrimento novo comprovado se oponha a
elas. A partir de então, os cientistas começam a elaborar outra teoria que possa explicar
esses novos descobrimentos. A Ciência é conhecimento evolutivo e não estacionário.
A que conclusão você chegaria se viesse a ver um arco-íris em um dia sem chuva?
De acordo com o que até agora foi estudado, a teoria da luz exige que, para que se
produza o arco-íris é preciso que chova, para que as gotas de água possam decompor a
luz solar em suas sete cores. Se no ambiente não houver água, teremos que repensar
sobre a mencionada teoria e tentar completá-la com outros argumentos (novas hipóteses,
novas comprovações) que passem a explicar o fenômeno observado. Se tal não for
possível toda teoria cairá por terra.
Trabalhos Escolares
(Exemplos de relatórios)
Relatório 1
Título do Projeto
Germinação do feijão
Trabalho de Investigação do Aluno
...
Escola | Série
... | .6.
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
Reconhecida pela Portaria Nº 821/MEC D. O. U. de 01/06/1994
IDEPA _ Instituto de Desenvolvimento Educacional do Pará S/S LTDA
Professor
...
I. PROPÓSITO DO PROJETO E HIPÓTESE
II. METODOLOGIA
Como o feijão embebido em algodão com chá ganhou a parada, tendo brotado em
primeiro lugar em dois dos três ensaios, eu rejeito minha hipótese na qual havia declarado
que o feijão embebido em água de torneira brotaria em primeiro lugar. Feijão regado a chá
brota mais rapidamente que o regado com água de torneira ou com água salgada.
V. APLICAÇÃO
Considerando que agora eu tenho essa nova informação, poderei orientar melhor quem
precisar dela. Os japoneses, por exemplo, que cultivam muito o broto de feijão poderão se
utilizar dessa informação.
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
Reconhecida pela Portaria Nº 821/MEC D. O. U. de 01/06/1994
IDEPA _ Instituto de Desenvolvimento Educacional do Pará S/S LTDA
Relatório 2
Título do Projeto
Descongelamento de substâncias Diferentes
Trabalho de Investigação do Aluno
...
Escola | Série
... | .6.
Professor
...
II. METODOLOGIA
Eu apresentei meu propósito, indiquei minha hipótese e dei uma revisada nesse texto que
levei ao professor.
Para desenvolver o projeto separei: uma forma plástica para fazer cubos de gelo, água,
vinagre, xampú, suco de laranja e óleo de milho. No próximo passo, derramei
cuidadosamente os líquidos nos casulos da forma plástica, enchendo 3 casulos com
água, 3 com vinagre etc. Coloquei os líquidos para congelarem e deixei por 24 horas.
Depois de 24 horas, tirei a forma do congelador, coloquei sobre uma mesa e passei a
observar e registrar os tempos para descongelarem totalmente. Os resultados foram
colocados numa tabela pré preparada assim:
Substância cubo 1 cubo 2 cubo 3
O gelo derreteu no tempo de ... minutos, ... minutos e ... minutos, para uma média de ...
minutos.
O vinagre derreteu no tempo de ... minutos, ... minutos e ... minutos, para uma média de
... minutos.
O suco derreteu no tempo de ... minutos, ... minutos e ... minutos, para uma média de ...
minutos.
O xampu derreteu no tempo de ... minutos, ... minutos e ... minutos, para uma média de
... minutos.
Só a gordura no óleo de milho congelou e em todas as tentativas derreteu em ... minutos.
(menor tempo!)
Eu rejeito minha hipótese, pois afirmei que o gelo derreteria mais rapidamente que os
outros sólidos e, entretanto, o óleo de milho derreteu mais rapidamente. Deve-se notar
que não foi necessário incluir nos experimentos nenhum detalhe sobre as condições do
tempo, local de degelo, temperatura do dia, umidade relativa etc., pois trata-se
de comparações. Em locais mais quentes do que aquele onde fiz os experimentos os
tempos de derretimento devem diminuir todos numa mesma proporção (espero que essa
minha hipótese seja verdadeira ¾ mas, vale a pena investigar!).
V. APLICAÇÃO
Se uma pessoa gorda faz regime e vai preparar alguma receita que contenha óleo de
milho, ela poderá extrair a gordura desse óleo, separando-a dos outros ingredientes,
porque a gordura congela e os outros ingredientes do óleo continuam no estado líquido.
Relatório 3
Título do Projeto
Planos Inclinados e Bola de Pingue-Pongue
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
Reconhecida pela Portaria Nº 821/MEC D. O. U. de 01/06/1994
IDEPA _ Instituto de Desenvolvimento Educacional do Pará S/S LTDA
II. METODOLOGIA
Primeiro, eu escrevi o que pretendia, fiz uma revisão de ortografia e gramática e coloquei
minha hipótese(aquilo que eu acho que vai acontecer). Tudo conforme o professor
explicou para a classe toda.
Para fazer os experimentos, fui até a marcenaria de minha rua e consegui, de graça, 3
pedaços de tábua, todos de mesma largura (15 cm): um de 90 cm de comprimento, outro
de 60 cm e o terceiro de 30 cm. Comprei uma bola de pingue-pongue.
Cada uma dessas tábuas foram usadas como planos inclinados, os quais eu levantei uma
das extremidades de 20 cm do piso da varanda (usei caixa vazia para isso). Então, eu
soltei (sem empurrar) a bola do alto do plano inclinado e deixei a bola rolar até parar. Com
uma trena medi a distância da bola até a parte de baixo do plano inclinado. Fiz isso com
cada um dos planos, 6 vezes. Anotei tudo numa tabela.
Depois de tudo anotado, escrevi meu resumo e conclusão, procurando descobrir onde
isso que conclui pudesse ser útil do uso do dia a dia.
A bola rolou mais longe, depois de sair do plano inclinado de maior comprimento, o que
mostrou que minha hipótese está correta.
V. APLICAÇÃO
Eu poderia indicar esses resultados para uso prático dizendo que, se alguém quiser
construir escorregadores inclinados em seu quintal, aqueles feitos para crianças mais
jovens devem ser mais curtos que aqueles feitos para crianças mais velhas.