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A CONTAGEM DO TEMPO
Wilson A. Ribeiro Jr.
http://greciantiga.org/re/1/v1n1002.pdf
A necessidade de contar o tempo surgiu durante o Neolítico, quando os primei
ros agricultores notaram a importância do exato conhecimento das estações do ano
para o sucesso de suas plantações.
Os diversos sistemas de contagem do tempo, fundamentados em maior ou
menor grau em diferentes fenômenos astronômicos, são chamados de 'calendários'. O
calendário moderno é do tipo solar e baseiase no movimento descrito pela Terra em
torno do Sol.
Unidades de tempo
O calendário atual, estabelecido em 1582, incorporou unidades de tempo de
diferentes origens históricas. A mais antiga divisão do tempo, o dia, definida pela al
ternância cíclica da luz solar e da escuridão da noite é, provavelmente, anterior a 8000
a.C.
Mais tarde surgiram os meses, definidos originalmente pelas fases da lua, e
depois o ano, baseado no movimento aparente do sol e no ciclo das estações. O mais
antigo calendário solar foi desenvolvido no Egito por volta de 2773 a.C.
A divisão do mês em 4 semanas de 7 dias, invenção babilônica baseado em
conceitos astrológicos e desenvolvida no século VII a.C., foi adotada pelos romanos na
época do Império, provavelmente no século I d.C.
O calendário juliano
Os romanos utilizavam primitivamente um calendário lunar, com adição perió
dica de um mês suplementar para compensar o atraso em relação às estações do ano,
dependentes do ano solar. O método, extremamente rudimentar, acumulou em 47
a.C. uma diferença de 80 dias, gerando enorme confusão na vida civil e religiosa.
No ano seguinte, 46 a.C., o ditador romano Júlio César (10044 a.C.) instituiu
o calendário juliano, conforme as recomendações do astrônomo Sosígenes de Alexan
dria (séc. I a.C.):
o ano de 46 a.C. teve a duração prolongada: 445 dias;
•
o ano passou a ser calculado em 365,25 dias;
•
os doze meses passaram a ter a duração diferente, quase igual à que têm
•
até hoje;
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o primeiro dia do ano, antes situado em 15 de março, foi fixado em 1º de
•
janeiro;
a cada quatro anos, para compensar a fração anual excedente (0,25 dias),
•
foi instituído o ano de 366 dias, chamado de ano bissexto até hoje.
Foi um trabalho soberbo para a época. No entanto, como outros calendários,
havia ainda pequena defasagem entre o real número de dias do ano astronômico e os
intervalos básicos de tempo (dias, meses, ano). A Terra completa uma revolução em
torno do Sol a cada 365,2422 dias; como o ano havia sido fixado em 365,25 dias, essa
pequena diferença foi se acumulando, e a cada 128 anos atingia 1 dia.
Em 1582, tornouse necessário um pequeno ajuste, instituído pelo Papa Gre
gório III (15021585 d.C.), conforme as recomendações do astrônomo bávaro Christo
ph Clavius (15371612 d.C.):
10 dias do ano de 1582 foram suprimidos (o dia 4 de outubro foi seguido
•
do dia 15 de outubro);
os anos terminados em "00" e não divisíveis por 400 deixaram de ser con
•
siderados bissextos (1700, 1800 e 1900 d.C., não foram; 2000 d.C., sim).
O calendário juliano "corrigido", chamado de gregoriano em homenagem ao
Papa, também não é perfeito, pois há um excesso de 0,0003 dias em relação ao ano
astronômico. A diferença, porém, é de apenas 1,13 dias a cada 4000 anos, e novo a
juste será necessário somente em 5582 d.C., daqui a 3582 anos...
A Era Cristã
Para computar tempo superior a um ano, as antigas civilizaçõe utilizavam em
geral a duração de reinados (Egito), a sucessão de magistrados (Roma Republicana), a
enumeração das gerações (Grécia Arcaica), ou então um fato memorável, como por
exemplo a fundação de Roma.
1
Jesus Cristo viveu entre 7/6 e 29/30. Detalhe
da pintura Os Discípulos de Emaús, de Rem
brandt. Data: 1648. Paris, Musée du Louvre. ©
Christus Rex.
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Durante o Império Romano, contavase o tempo conforme a sucessão dos
1
Cônsules e também Ab Vrbe Condita (AVC), isto é, "desde a fundação da cidade de
Roma". Mais tarde, a referência passou a ser o ano 284 d.C., data da posse do Impe
rador romano Diocleciano (240313 d.C.).
Em 523 o monge católico Dionísio, o Pequeno, decidiu efetuar a contagem a
partir do nascimento de Jesus Cristo. Ele calculou que o nascimento de Cristo havia
ocorrido em 753 AVC, no dia 25 de dezembro, e fixou o início da "nova era" no dia 1º
de janeiro do ano seguinte, o 754º da fundação de Roma.
O novo sistema cronológico não foi aceito de imediato, nem mesmo pela Igreja
Católica. Finalmente admitido no século X d.C. pela Cúria Romana, foi gradualmente
adotado pelas nações cristãs, assim como o calendário gregoriano.
Devido à adoção do calendário gregoriano e da Era Cristã pela maioria das na
ções nãocristãs a partir do século XIX d.C., muitos eruditos preferem empregar o ter
mo "Era Comum" no lugar de "Era Cristã".
a.C. e d.C.
Sabese, hoje, que Dionísio, o Pequeno, cometeu um pequeno erro de cálculo:
Jesus Cristo, na verdade, nasceu pouco antes de 749 AVC, quatro a oito anos antes da
data "oficial". No entanto, por tradição, até hoje o ano 754 AVC continua sendo o "Ano
1" da Era Cristã.
Com a adoção quase universal do calendário gregoriano e da Era Cristã no O
cidente, os anos posteriores à data tradicional do nascimento de Cristo (assinalado
com um "X" na linha do tempo abaixo) passaram a ser contados em ordem crescente,
e os anos anteriores em ordem decrescente.
a.C. d.C.
É costume, principalmente entre os historiadores, utilizar as abreviações a.C.,
"antes de Cristo", e d.C., "depois de Cristo", para especificar se a data se refere à Era
Cristã ou ao período anterior. Os países de língua inglesa também utilizam, para a Era
Cristã, a sigla AD 2 antes do número: AD 1997. Eis mais alguns conceitos úteis:
não existiu o "ano zero"; o dia 31 de dezembro de 1 a.C. foi seguido pelo
•
dia 1º de janeiro de 1 d.C.
Alguém nascido em março de 10 a.C. e morto em abril de 20 d.C. terá vivido, por
tanto, não 30 anos, e sim 29. Regra: 10 + 20 1 (subtraise, naturalmente, o ine
xistente ano zero).
o século compreende um período de 100 anos e é habitualmente represen
•
tado por um algarismo romano; como não houve ano zero, o último ano de
cada século d.C. termina sempre em "00", assim como o primeiro ano de
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cada século a.C.
a.C. d.C.
SÉC. ANO INICIAL ANO FINAL SÉC. ANO INICIAL ANO FINAL
(...)
III 300 a.C. 201 a.C. I 1 d.C. 100 d.C.
II 200 a.C. 101 a.C. II 101 d.C. 200 d.C.
I 100 a.C. 1 a.C. III 201 d.C. 300 d.C.
(...)
XX 1901 d.C. 2000 d.C.
o milênio compreende um período de 1000 anos (o primeiro e o último ano
•
são calculados como no caso do século).
Desse modo, o 2º milênio da Era Cristã termina em 31 de dezembro de 2000; o 3º
milênio começa, portanto, em 1º de janeiro de 2001.
Convenções utilizadas
Adoto, em minhas páginas, uma variação do sistema usado pelos astrônomos
para as datas anteriores à Era Cristã (ou Era Comum): números negativos. Você en
contrará o ano 753 a.C., por exemplo, escrito deste modo: 753.
Os matemáticos acham desnecessário colocar o sinal "+" quando utilizam nú
meros posivos; do mesmo modo, não utilizo a notação "d.C." ou "AD" para datas pos
teriores à Era Cristã ou Comum. O ano 284 d.C., por exemplo, fica simplesmente as
sim: 284.
Algumas datas situadas na PréHistória são eventualmente referidas segundo a
notação arqueológica "AP" (antes do presente, tradução do inglês "BP", before pre
sent). O ponto de partida desse método é, convencionalmente, o ano 1950 de nossa
Era. Assim, 46 é o mesmo que 1996 AP.
Para assinalar nascimentos, mortes ou, simplesmente, um intervalo de tempo,
utilizo uma barra: "Júlio César (100/44)"; "Idade do Bronze, 3000/1100"; etc.
Quando as datas são um tanto imprecisas, coloco apenas uma única referência tempo
ral: "Sosígenes de Alexandria (séc. I)".
NOTAS
1. O cônsul era um magistrado romano eleito pela Comitia Centuriata, assembléia
constituída por todos os cidadãos romanos, mas que na prática era dominada pe
los patrícios. Eram eleitos anualmente dois cônsules e, durante a República
(509/31), tinham poder civil e militar (imperium) quase ilimitado. Assumiam su
as funções no dia 1º de janeiro, e era costume dar seu nom e ao ano: "próximo às
calendas de junho, pois, sendo cônsules Lucius Caesar e Caius Figulus..." (Salús
tio, Catilina 17). Na época imperial (após 31), passaram a ser nomeados pelo Im
perador e, embora o cargo ainda tivesse muito prestígio, o imperium eram exerci
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do pelo próprio Imperador.
2. "AD" é a abreviatura habitual da expressão latina Anno Domini, "no ano do Se
nhor". Usase, em geral, antes do número: AD 1500 = "no ano do senhor de
1500".
BIBLIOGRAFIA
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© Wilson A. Ribeiro Jr. Portal Graecia Antiqua (greciantiga.org), artigo 0002.