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Achados e Perdidos
© 2005 Bernardo Almeida
É permitida a reprodução parcial ou
total desta obra, desde que citada a fonte.
Foto (capa): Bernardo Almeida
Editoração eletrônica: Bernardo Almeida
Edição e Distribuição: Bernardo Almeida
Contato: almeida.bernardo@gmail.com
www.bernardoalmeida.jor.br
Em um mundo onde tudo vira produto e o ser humano é visto, na
maioria das vezes, como mero consumidor, é importante que algumas
coisas sejam oferecidas sem preço, taxa ou imposto. Que este pequeno
gesto seja entendido como um sinal de resistência, uma prova de que o
desenvolvimento de novos valores, assentados em bases mais sólidas e
humanas, ainda é possível.

Bernardo Almeida
1. Devoção

Se com mil toques pudesse agraciar a sua beleza


Se com mil palavras pudesse definir suas curvas
Se com mil passos pudesse percorrer entre seus mistérios
Se entre mil pessoas o seu olhar fosse somente meu
Se com mil orgasmos pudesse presenteá-la
Se de mil paixões pudesse abastar seu peito
Se mil amores eu pudesse renunciar
Se com mil sons, pudesse cantar sua carne
Se ao meu amor terno estivesse tu entregue
Beberia mil jarras do seu sorriso
Se em mil versos pudesse ler a sua alma
Se em mil encarnações pudesse entregar-lhe a minha
Se com mil destinos tivesse escolha
Minha rota seria seu caminho
Se em mil sonhos, apenas você
Se em mil sensações, suas mãos
Se em mil delírios, seus lábios
Se em mil crenças, devoção a você
Se em mil desejos, suas fantasias a realizar
Se em mil perfumes, seu aroma
Se em mil tentações, a sua presença
Que inebria e irradia vida
Que ilumina e salva
Desperta e liberta
Amém, amém!

2. Sem sentidos

Lampejos de alegria
Minutos de mágoa
Quando não dói
Apenas machuca

Rios sem correnteza


Uma maré mansa
Uma lágrima que cai
Em fundo raso descansa

Personalidade sem cadência


Outra máscara de demência
Grandiosa inteligência
Não disfarça a soturna carência

Esconder a sua vergonha


O seu caráter frágil em vida fútil
O extremo entre a aprovação e a não aceitação
Uma ordem sem pedido de cancelamento

Vil é a disputa
Que acirra entre os homens
Seus caminhos absurdos
Suas glórias e suas posturas
3. Carne, osso e memórias

Diluiu em pecados
O que um dia foi santo
Sacrificado o eterno em prol do agora
Mundano e estreito
Externo e profano
Corpo exposto
Alma fraca
Lágrimas e silêncios
Novos prantos
Gritos de sinceridade
Uma história mal contada
Difícil de decifrar
Um passado de fugas
Um presente omisso
Você não se reconhece
Nem que apodreça em frente ao espelho
Admire suas falhas
Bem de perto, profundamente
Você ainda consegue se questionar sem se sentir vazio?
Anos luz separam você de você mesmo
E não há nada além disso
Carne, osso e memórias
4. Perda

As lâminas da paixão
Fatiaram o meu coração
Que sangra e pára
Não bate, não vibra, não late

Assumirei os suspiros
Os erros e os acertos
Assumirei meus rumos
Os corretos e os falsos

As mudanças em minha mão


Ela leu, mentiu e descumpriu a missão
As promessas desse verão
Foram todas abandonadas no porão

Vítima sem súplicas e sem deslizes


Primários sentimentos e algumas cicatrizes
Uma vez ferido, sempre em fuga
Uma vez pecador, sempre culpa

Mais temido do que desejado


Mais esquecido do que lembrado
Naquele dia em que te conheci
Olhei para os lados e nunca mais te vi
5. Anônimo

Brincadeiras à parte
Em parto de meia luz
Banheiras secas e chão molhado
Taco e vestido velho
Trapos e lembranças
Lágrimas, manchas de sangue e inocência

Contrações despidas de sentido


Lanterna sem lâmpada e em curto
Circuito de mentiras e despejos
Limites exaustivos e defeitos irreparáveis

Nas sombras da sua crença


O tempo perdeu sua face
Uma máscara e uma criança
Lado a lado com a avareza e o egoísmo

Este e não outro é o mundo


Esta e aquela são as qualidades
Desqualificadas como tal
Impregnadas de miséria
Você, você, mil vezes você

Condicionado e obediente
Marcha soldado, sempre em frente
Brinquedos de uma armadilha maior
Controle, remoto, controle, remorso

Radares, pontes e lanternas


Ao menos uma brilha, pisca e some
Um sinal de vida
Um vestígio de raiva
Suas prioridades e falta de compaixão

Sem evidências de respeito


Some com pesos no peito
Em agonia fala sobre escolhas
Sexo, drogas e gatilho

Pinta um mapa de liberdade


Mal criado pelo ódio
Orientado pela televisão
Um retrato da deformidade

Um sonho informal de excesso de informação


Um projeto fracassado
De um tiro que saiu pela culatra
Um final sem cura, paz ou grandes méritos

De joelhos pelo próprio orgulho


Seu fim, enfim, sem palavras
Sem adeus nem preces
Às pressas fecham-se as cortinas
Desse ato falho final

6. Fruto apodrecido
A maturidade é cômica
Uma piada mal contada
Estranhamente sem graça
Corrupta e absurda

A maturidade é uma armadilha


Quando passa do ponto
Põe um rei em cada barriga
E atira pedra em cada diferença

A maturidade dá frutos podres


Transmite o vírus da hipocrisia
Que limita a visão propositadamente
Para criticar imprudentemente

A maturidade sentir não consegue


Seu próprio cheiro
Que a nada agrada
Além do seu próprio nariz

A maturidade tem o seu caminho


Que julga único e correto
De horizonte estreito e anacrônico
Que a tudo desdenha em tom irônico

Mas não confunda a maturidade


Com a sua prima sapiência
Que não vira as costas para o seu oposto
Nem se incomoda diante da diferença

Não confunda a sabedoria


Com a unilateral maturidade
Que tudo sabe para si
Em sinônimo de perniciosa vaidade

7. Deveras, homem!

Ah, como difícil é ser um homem


Em um mundo tão machista e feminista
Ah, como é difícil sorrir sem ser julgado
Como é difícil chorar sem ser censurado
Ah, como difícil é ser um homem
Em um mundo tão feminino e masculino
Onde os contrários se igualam
E as verdades se anulam
Ah, como é difícil
E você nem sabe do meu esforço
Você nem quer saber
Como é difícil sobreviver entre seus preconceitos de homem
Como é difícil não padecer aos seus padrões tão femininos
Como difícil é ser um macho
Daqueles com M maiúsculo
Que chora, ama e pede colo

8. À venda

Comercialize o sexo
Seu corpo, sua nudez
Exponha o seu personagem
Três, duas ou uma vez
Seja uma garota perversa
Rime comigo
Na cavalgada viril
Revele-me o destino
Massageando o seu corpo quente
Apresento-lhe o prazer
Venha comigo de uma vez
Você sabe o que fazer
Sua imagem sedutora
Neste ritmo veloz
Não tema a pureza
O prazer é libertino e feroz
Pode virar paixão
Que pode virar amor
Sentimento de puta não dá nó
É direto e cumpre o que promete
A felicidade já pregava
Amor de puta não degrada
Eleva e consagra

9. Atemporal

Diluo o tempo
Torno-o esparso
Vago e disperso
Fragmento meus pensamentos
Em milhares de partículas
Sopro-as e as lanço ao vento
Sem direção
Numa frequência não linear
Tão caótica e deformada
Quanto o meu próprio ego
Sem chegar a lugar algum
Toca o nada
Percebe a sua existência
E ultrapassa essa barreira
Descobre a verdade
Além das fronteiras
Que a mente humana impõe

10. Segredos

E esse indigesto sentimento


Que invade a minha alma
Abala o meu corpo julgando a vida
E joga fora o que é mel
E transforma a água em rocha
E corrói, corrói
Por dentro o que era casca
Agora apenas é pesadelo
Cenas fortes de um filme
Sem censura
Você está no papel principal
Mas não desce do muro
O medo fala mais alto
Então foges da verdade
Mas que outra haveria de ser senão a sua (própria)?
Uma mentira torna-se verdade desde que seja acreditada (será?)
As coisas mudam de lugar tão rapidamente
Não há mais tempo para acompanhar
Os seus passos ficaram tão tristes, lentos e confusos
Na indecisão você encontrou o alívio
Mas tudo passa, passa
Mas tudo volta, volta
Mesmo que não seja para ficar
Entre mais um segredo
Confiado a mim
Confinado em você

11. Novo de novo

Da cópia
Surge a cópia da cópia
Cada vez mais distante do original
O atual é o antigo esquecido
A fonte não mais traduz o novo
Apenas reproduz
Cria o que já existe
Como um ciclo
Torna-se repetitivo
E quando parece ter mudado
Apenas alternou de lugar
O novo é a idéia que ainda não foi publicada
A sua majestosa novidade
Já foi concebida em alguma cabeça abastada
Mas você não sabe
E forjará o novo
De novo
Como se houvesse criatividade
Em falar o que já foi dito
E em pensar o que já foi pensado

12. O escolhido

O lenço caiu das suas mãos pela última vez


O sol se pôs
A vida escureceu
Os lamentos ficaram para trás
Seis ou sete anos de penúrias
Azares de um espelho quebrado
Amparos momentâneos
Maior parte sente teu beijo
Ainda doce, mesmo que já amargo
Em minha boca escorre
O seu mel
Minha alma entreguei a ti
Pobre de mim
Fiz da sua ferida, minha cicatriz
Só por que lamentei?
A fúria dos deuses pode ser muito mais feroz
Suas leis, muito mais severas
Mas eu?
Pobre de mim
Por que escolhido dentre tantos?
Nunca tive aptidão para a dor
Mas serei a sua personificação
Sua imagem e semelhança resplandece em um semblante triste
Banhado de sangue
Derramado impiedosamente
Por um Cristo que cala
Diante da mentira
Por um Cristo que fala
Diante da esperança

13. Retorno

Na sombra ensurdecedora
De um quarto de cabaré
Meia noite é a hora dos anjos libertinos
Das camélias e das mudanças de destino
É a hora do alerta
É a hora da vida
As prostitutas esperam por dinheiro
Esperamos pelo retorno das nossas vidas
O que a rotina não dá e o amor esconde
O puteiro aponta
Sem pudor, sem vergonha
Nossas carnes, nosso sexo
Puro e simples
Manda quem pode
Obedece quem tem juízo
Ou dá ou desce
Nesse jogo de andarilhos
O zelo vem do gozo
Do prazer e da luxúria
A lascívia e a malícia
Ela grita e grita
Mesmo em farsa
O que há muito sentia-se morto, agora reanima

14. Dez integrado no infinito

Por um descuido acreditei


Que não estava mais aqui
Pensei ter desintegrado
Nem do resto, nem do pó
Flutuei e sumi
Não havia tempo
Não havia nada
Nem o tudo, nem o talvez
A certeza também falta não fazia
E não havia ninguém
Não havia som, nem silêncio
Nem pressão, nem volume
Apenas eu
Destituído de sentidos
Desnudo da matéria
Apenas o ser
Solto no infinito
Também extinto
E como que com a força de uma explosão
Na velocidade de um momento
Pisquei de novo e retornei
Em carne e pensamento

15. Crença e aparência

Quem crê no amor e nunca chorou


Dificilmente amou
Quem crê no amor e nunca sofreu
Dificilmente amou
Quem crê no amor e nunca perdoou
Dificilmente amou
Mas quem ainda crê no amor?
O amor foi reduzido a desejo
Passageiro, ligeiro
Um sem número de parceiros
Companheirismo é piegas
Amar alguém é tão brega
A sinceridade está de braços cruzados
A cumplicidade tirou férias
E o compromisso se aposentou
Mas quem ainda crê no amor?
Livre de interesses materiais
Repleto de saudades e lembranças
Os corações estão trancados
Protegidos contra danos
Todo mundo é tão sério e prudente
Falta coragem para amar
É mais fácil possuir do que se entregar
Mas quem ainda crê no amor romântico?
O que era sentimento verdadeiro
Não passa hoje de um jogo entre parceiros
A morte já não separa os casais
O amor morre muito antes
O vinho é transformado em água
Sem sabor, gosto ou cheiro
Sem emoções e sem feições
Quem veio ao mundo e nunca amou
Falar sobre a vida não pode
Porque nada sabe
Porque nada aprendeu além de futilidades
Porque nada sentiu além do trivial
Porque nada entendeu além do óbvio
Porque, ainda que vivo, nunca viveu

16. A chuva e o absurdo

E eu que sou tão pobre, fraco e envergonhado


Sou aquele que tem medo do espelho
Mas nunca admite
E eu que sou tão baixo e retrógrado
Tão louco, difuso e passional
Se fosses minha, saberia...

Eu sou o absurdo mais inconcebível da humanidade


Sou cinzas e tristezas
Sou frustrações e decepções
Sou noites em claro
Sou a ferida que não cura
Sou aquele que ama calado
Sou a décima xícara de café

E eu que sou tão parvo


Que choro escondido e peço segredo
Que sofro as decepções da humanidade
Ainda que tente firme esquivar-me

E eu que sou tão medonho


Em meio a este sonho insólito e enfadonho
Que durmo de luzes acesas
Não quero ser a sombra de ninguém

Mas como viverei daqui adiante?


A sobrevivência guarda para mim o fracasso?
Não quero saber o que me reservam os dias
Por meio tempo sou a vida que nunca quis
Sou o ano mais longo
A aventura menos fantástica
O livro mais chato
A solidão e o infortúnio de um canto de parede
Sujo e mal iluminado

E eu que me encontro neste dia de chuva


Cubro meu corpo nu
Enquanto escuto calmo a chuva cair

17. Leito

Em terreno árido, o homem padece.


Em disputas vãs, o homem se degrada.
Em dias cinzas, o homem perde a graça.
Em seu sorriso ameno, o homem encontra a paz.
Em vozes autoritárias, o homem perde a compaixão.
Em mãos agressivas, o homem perde o amor.
Em dogmas, o homem perde a liberdade.
Em seus seios, o homem conquista o direito de existir.

18. Despretensão

A esperança morreu primeiro


Que este corpo, calado e penoso
Incrédulo, descontente e desdenhoso

Contemplo a incerteza
Do próximo segundo, da mesa farta
Da vida longa e do perdão

O amor a mim destinado, escapou


Entre os dedos, ao menos resta o seu perfume
A lembrança de que já sorri um dia

Ainda assim, vivo do momento presente


Empurro longe a saudade de tempos outros
Que não voltarão, nem deveriam

Na despreocupada busca por nada em especial


Chego, ao acaso, em qualquer lugar
E, sem pestanejar, faço aí nova morada

19. Amor perdido

O amor não fez sentido


Nesse mundo mesquinho e sem graça
Talvez porque seja ele a presa e não o predador
Não vale um latão

O amor está fora de moda


Quase ninguém o veste mais
O amor não é incentivado
E quem ama vive a ser crucificado

Quem ama é taxado de besta, otário


Sofredor, masoquista, palhaço
Muito mais fácil é não envolver-se
Usar maquiagens para disfarçar-se
O amor que falta no mundo
Sobra em mim, sobrecarga
Mas o que isso importa
Se não encontro outros corações para reparti-lo?

O amor está velho, impotente


Está cansado e carente
O amor sente falta dos encontros
Do descompromisso nunca omisso e dos sonhos a dois

O amor sente falta do romantismo


O amor sente falta da paixão
O amor sente falta da saudade
O amor sente falta da falta que ele faz

O amor anda sozinho e chuta latas


Frequenta diariamente os becos escuros e as ruas sem saída
Esconde a sua esperança no bolso
E transita sem chamar atenção

O amor embriaga-se para esquecer a rejeição


O amor não chora para mostrar que ainda é forte
O amor está rouco e evita expressar-se
O amor está louco, a ponto de suicidar-se

20. Cuspe

Cuspo sim
Sete vezes no prato em que comi
Importa-me apenas o alimento
Da próxima vez, comerei de mão
E não dar-te-ei o prazer de humilhar-me
A sua caridade foi desmascarada

Subitamente, um olhar malicioso se forma


Sobrancelhas capciosas
Usastes da minha fraqueza para se fortalecer

Mas em seu nutriente egoísta


Encontrarás o veneno que te espera
E sentirás a dor, mesmo que inconsciente

Como uma peste sem cura


Esta é a minha praga
Por sete gerações

E não verás a luz


Mesmo que enxergue
E sentirás a cruz

Não terás alegrias


Mesmo que insistas em sorrir
E não encontrarás a felicidade

Não terás conhecimento


Mesmo que tenhas informação
Serás um eterno ignorante

Não se sentirás acompanhado


Mesmo que cercado de centenas de pessoas
Serás a solidão e o esquecimento

Desejo-te agora boa sorte


E cuspo mais sete vezes no prato em que comi
Para que mantenha o mesmo nojo
E não volte a repetir este maldito erro

21. Abalo Sísmico

Deixei-me abater
Foram quinhentos quilos de tristezas
E mil dias de incertezas e agonias

Ofereci a ti o que me cabia


Alma, corpo e vida
Vento fresco, mimos e alegrias

Quando jurei amor eterno, fui sincero


E nas manhãs seguintes
Confirmava com beijos e suspiros tal despautério

Mas olhando para trás


Vejo o quão fui inocente
Apaixonado, tolo e inconsequente

Entreguei-me sem as cautelas e os medos


Que separam o peito dos sentimentos
Sem conserto, sou um amante de berço

Mas continuo a vagar


Desligado, sofrendo, desolado
Sozinho, à caça de um coração para habitar

Porém o que encontro são novas desilusões


Pessoas machucadas, que agora se guardam
Para que não repitam o erro de amar

Por que se apoderar de tamanho desapego?


A indiferença e a superficialidade
Roubaram o espaço dos grandes sentimentos

Como sobreviverei se vivo de amores e poesias?


Se bato na sua porta, não me deixas entrar!
E, ao deixar, pouco tempo depois estás a me despejar

22. Desagrado

Seus lábios têm poder de fogo


E, seu peito, poder de fuga
Um gostar cínico e ardente
Despropositado e inconsequente

“As emoções são controláveis”, você me diz


Sem carinho, sem consideração
Sinto-me impuro, infiel
Incapaz de manter-te comigo
23. Despedida

A beleza traz o gosto da felicidade passageira


Deixa saudades ao partir rumo à lembrança
Tão cruel e tão mundana, fugaz

Um dia sou
Outro, gostaria de ainda ser
Um dia tenho
Outro, gostaria de ainda ter

Um dia espelhos
Outro, distância deles
Um dia convites
Outro, esquecimento

Um dia excesso de exposição


Outro, clausura
Um dia rouba a atenção
Outro, repele olhares

Um dia orgulho
Outro, vergonha
Um dia exuberante
Outro, não mais
24. Devassa

Devassa e carinhosa
Será esse o motivo pelo qual amo-te tanto?
Se para uns causas espanto, para mim, este é o seu encanto

Meus valores definharam


Mas em que eram baseados?
Para te ter, esqueço o que é certo e faço tudo errado

Sua boca sabe por onde descer


Sua língua bem sabe o que fazer
Corpo em chamas, tem doutorado em prazer

Seu ser exala a paixão pelo que é


E, sendo, mantém a fórmula em segredo
Para não vulgarizar-se

A luz que sai de ti


É sábia e profana, rica e artística
Preenche o meu vazio

Do amor és o verdadeiro caminho


E quem carrega coragem para trilhá-lo
Mesmo sob olhares de reprovação
Não se arrepende, nem conhece tristezas
25. É

Vontade é não morrer


Desejo é amar
Pressa é não chegar
Preguiça é trabalhar

Tempo é inovar
Trilha é desviar
Velho é reciclar
Vento é navegar

Conhecer é renascer
Partilhar é cooperar
Amizade é confiar
Surpresa é desafiar

Sono é sonhar
Acordar é realizar
Tentar é persistir
Conseguir é acreditar

26. Envolva-me

Envolva-me mais uma vez


Suas mentiras me adormece
Como uma cantiga suave
Como um conto infantil
Preciso do seu bem
Necessito do seu mal
Faço parte daquela que tenta partir
E faz das minhas alegrias, prantos

Não reclamo, fique comigo


Suplico que não me abandone
Troco de lado, cozinho e lavo
Mas não me deixe

Os seus erros não precisam de perdão


Acolho todos, com graça
Seja na abundância, seja na desgraça
Rogo que fique, por favor! Não me maltrate mais

27. Perdedor

Eu perdi
E perco quase sempre
Por opção

Mas o fracasso traz um gosto


Ao qual me familiarizo facilmente
A perda é ridícula perto da lição

Do erro faço novas escolhas


E das escolhas, encontro novas opções
Toda correção exige tempo

Não tenho pressa


A persistência é o aprendizado
O aperfeiçoamento é constante

Sem desanimar
Vejo o quanto tudo é fútil
Sutilmente apressado e finito, solitário

28. Falibilidade

Senta só este pobre


Ainda sonha, ilude-se
Vive desta crença e melhora

Um coitado aos olhos elitistas


Um forte, um bravo
Vigoroso em seus ideais

O soco contra a covardia


O arroto diante da boa educação
A revolta, a espontaneidade, a graça

Um papel, só um bilhete
Anunciando o próximo encontro
Já não será tão breve

Está de pé, ainda


Inabalado e coerente
O tal quebra-correntes

Corre a todo o tempo


Do tempo que lhe foi imposto
E não desiste
Queimando panos e papéis
Jamais se curva, jamais entoa hinos
E à autoridade oferece seu repúdio

Andarilho livre
Que se nega a aceitar presentes, suborno
E bebe da fonte, não do copo

Vejam, estão limpos


Mas fazem questão em rolar na lama
Gostam de emporcalhar-se

Espíritos asfaltados
Nu e cru, vasto e fértil
Um dia falecerão todos de fome

A ganância de uns
A ambição de outros
E a morte da maioria

Em resposta, a disposição em dizer não


Bater sem as mãos
E ainda assim agredir

Ferir, desagradar e continuar a sorrir


Violar, destruir, destronar
Para distribuir felicidade entre os injustiçados
29. Imundo

Mundo vil
Cheio de seres não menos desprezíveis
Sob o comando do Imperador Egoísmo
Estão todos os condenados à existência

Mundo degradante
Extremamente frustrante é ver
As desigualdades tão frequentes
Na mão de quem pede e no bolso de quem paga

Mundo fétido
Corrompido pela ambição e pela disputa
Onde cresce a violência e o ódio
E a vida bela e pura pede para perder a inocência

Mundo catastrófico
Em que a vingança anda solta pelas ruas
E tudo é permitido desde que seja comercializável
Financeiramente multiplicável, rentável

Mundo decadente
Espera teu futuro um tanto óbvio
Da abundância à precariedade
Da vida à extinção da humanidade

30. Ladrão de percevejos

Sou o palhaço
Que beija os seus lábios no escuro
Sou o mistério que invade o seu mundo
O mascarado, o descarado
Desconfiado e afiado
Que desafia e desperta ilusões

Atrás do muro deixo as malas


Para viagens futuras
Mas não derreto ao sol

Corro seguro de mim


Malabarista, circense e arredio
Roubo sorrateiro as maçãs do pé
E fujo sem tomar um tiro, sem dar um pio

31. Menina

A essa boca juvenil ofereci o pecado


A esse corpo pueril dei o prazer
A esses olhos carentes trouxe vida
A esse peito vazio apresentei o amor

A cada olhar, um novo convite


A cada dia, um novo mundo
A cada ida, um novo retorno
A cada volta, uma nova saudade

Toques libidinosos, uma sinfonia


Poesia recitada, excitação e euforia
Calafrios, tremedeiras e sonhos
Outra vez, cama, mesa e banho
O que guardava até de mim
Já não faz mistério a ninguém
E já não sou o mistério, subcutâneo
Trago na face a tradução do meu coração

32. Adeus

Minha inspiração
Deita morta à sete palmos do chão
Junta aos vermes que aceleram minha decomposição

O corpo, um dia célebre


Agora fede, apodrece
Não fala, não pensa, perece

Sirvo-me da companhia das criaturas subterrâneas


Que sobrevivem da fatalidade alheia
Tal qual o invejoso, de caráter desfalcado

Funesta realidade, triste sinceridade


Guarda a conclusão angustiante de um ciclo
Que se basta sem desejar mais tempo

33. Beijo amargo

Não me esquecerei de você


Mesmo que implore
No entanto, não te seguirei

Devo continuar a minha vida


Por mais dolorida e irremediável
Que seja esta ferida

Abaixei a guarda
Joguei fora as minhas armas
Indefeso, tornei-me presa dos seus abusos

Suas mentiras bateram em meus ouvidos


Mais uma vez você poderia ver-me de joelhos
Com os olhos vermelhos e o peito cansado

Mas tenho que prosseguir


Duvido não poder conseguir
Procuro a volta dos dias claros e vibrantes

Aos frangalhos, ainda resta-me uma esperança


A desforra, a vingança
O reencontro futuro

E, nesse momento infame


Ao beijar a sua cautelosa mão
Sentirei o cheiro azedo e o sabor amargo do arrependimento
34. Dez encontros

Nossos encontros renderam-me quinze poesias


Mas isso é tudo, preciso ir-me sem titubear
Se queres que suma, assim o farei

Pude escolher entre dizer adeus por bem ou por mal


Entre sair amando triste ou com raiva
Chorando de ódio ou de alegria
Vi o amor começar a surgir em seu olhar
Nem tinha pedido, nem tinha forçado
Percebi seu esforço inútil para tentar controlá-lo

Então a noite chegou, não para nos acolher


E as estrelas atestaram muito bem suas palavras
Nem motivos, nem nada, apenas “Não quero mais ver-te”

Fui julgado, injustamente visto como culpado


Minhas emoções foram menosprezadas
Ao rastejar, perdi a última coisa que me sobrava

Volta e meia penso em escrever-te algo


Sei que nunca estarei completamente curado
Do infortúnio do esquecimento, duro fardo da separação

Perseguirei sem fim o seu cheiro


Em qualquer mecha loira que cruzar-me a vista
Tornar-me-ei um ser mesquinho, não oferecerei além do mínimo

E quando, ao acaso, acreditar sentir a sua presença


Ainda que não faça mais diferença
Estou certo de que passarei uma semana sem dormir

A vida, então, não valerá a pena


Até que a sua voz serena volte a massagear-me
Fazendo ecoar notas sublimes em musicalidade e amor

35. Incógnita

O que tenta dizer-me esse olhar


Profundamente misterioso
Que se esconde por detrás
Dessa placa de gelo e vidro

Talvez diga que me ama


Mas poderia também zombar
Dos meus elogios óbvios
Da minha solicitude exagerada

Quero dar o que te falta


Mas, afinal, o que te falta?
Seus olhos saltam de espanto
Escondem respostas e choram

Quem dera tivesse eu desenvolvido


Os dons espirituais da mediunidade
Atravessaria seus pensamentos
E, em meio ao veneno, encontraria o antídoto

Mas tudo o que me cabe


É sentar ao seu lado
E partilhar o silêncio cúmplice
Da incógnita dos seus sentimentos

36. O resto

Dias tristes
Seguem-se um após o outro
Noites chuvosas e manhãs secas
No bar, deposito as minhas incertezas amorosas
Atrás de ti, não me reconheço
Ao seu lado sou completo
Mas meus versos não rimam com o seu nome

Sou andarilho, sou permissivo


Vejo seu corpo e cobiço-o
Mesmo que finja não enxergar-me

Em punho, outro poema


Para cantar a desilusão
Os desencontros e as armadilhas

Em princípio, sou o fim


E coloco-me a sua disposição
Sempre alheio aos acontecimentos

Bata em minha face


Derrame sobre mim a mais fria água
E desperte-me deste sonho inoportuno

37. Sem destino

O vento é frio e a noite tão acolhedora


Solitária e nublada como minha sorte
Leste, oeste, sul e norte
Uma bússola quebrada, desvairada

Aponta para o nada e diz tudo


Envia-me ao caminho menos oportuno
Como um beijo derradeiro inalcançado
Ou a cartada que precede a derrota
Fora de contato, escondo segredos
Que anuncio apenas à minha sombra
E nem mesmo dela guardo confiança
Quantas vezes não me traiu com certezas dúbias?

Serei o penúltimo cavalheiro


Aquele que leva as flores
Mas nunca termina com a dama
Estou fadado às despedidas e prêmios de consolação

Serei então os restos do perdão


Os ossos por trás de qualquer beleza
A segunda-feira, a ressaca, as súplicas
A humilhação, a tristeza, o medo de perder-te

Mas diziam que o amor eleva?


Conheci do paraíso às trevas
E resido na instabilidade sem prescrição
Tão perigosa quanto a própria vida

38. Pacífico

Explode dentro de mim


A necessidade de encontrar-te
Fraco e fértil, eis minha condição

Dei as coordenadas
Para que navegasse pelo Pacífico
No entanto, preferistes a rota alternativa
Marcada por tormentas e aflições
Ondas fortes, aventuras e naufrágios
Enquanto brincas, meu peito falece de amor

Estou entre a corda, o medo e a queda


A embarcação ameaça partir
Dessa vez, de vez

Mas sou um teimoso risonho


Medonho e apaixonado
Atracado sem grandes ambições no cais da vida

39. Plyocte Rhar

Desacordado, fui raptado


Viajei pelo tempo através do espaço
Conheci novas formas e dimensões
Fiz contato com outras civilizações

Deixava um rastro por onde passava


A comunicação era telepática
Não se podia esconder intenções
Não se podia esconder pensamentos

Não fui bem recebido em algumas áreas


Por ter nascido no planeta Terra
Muitos o taxavam de agressivo, banal
De evolução lenta, por vezes, retrógrado e negativo

Indaguei sobre o futuro


Não obtive respostas
“Eu sou a resposta”, pensei
Fui deportado

E quando retomei esta consciência


O dia ainda não tinha raiado
E não estava cansado
Como se poderia supor

40. Precipício

Fui impedido de amar-te pela razão


Esta deformidade fria e obtusa
Que faz com que carregues o peito na cabeça
E anule sentimentos e desejos

Tens medo do inexplicável


E isto é o que faz de ti ser vulnerável
Mesmo com este denso envoltório
Que promove tamanha impermeabilidade sensorial

Queres dinheiro, queres prestígio


Pusestes uma meta limite
E até lá estarás correndo em direção ao precipício
Achando que acharás, enfim, a chave da felicidade
Renegas o abstrato pelo mensurável
Mas um dia a verdade estará ao alcance dos seus belos olhos
Aí, talvez, será tarde para perceber
Que aquilo que ofereço-te é amorfo e infinito
Porém o que buscas, é regrado, insípido e mesquinho

41. Recolher

Sonhar tornou-se pecado


Deita-te sob a lama que se forma
E conforma, resignação que me traz ânsia

Enojo-me dos seus beijos


Seu hálito é fétido
Diz-me que a vida é assim

Não quero entender seus propósitos


Você não tem alma
E ainda resta-me o direito de manter a minha

Abaixo da terra, sua dignidade


Acima dela, suas futilidades
Faço parte daquilo que foges
Imagens de pedaços de nada
Que juntas sem porquê
No entanto, continuas a recolher

Papéis aos montes


Como um catador de lixo
Abutre mórbido

Comes a carniça
E a vida que conhece e prova
Vem da morte alheia

Seu corpo está deformado


E ainda consegues sentir-se belo
A soberba é a bala que carregas na testa

42. Vira folha

Se soubesses da minha dor


Falarias de forma suave
Sua voz aguda é uma gafe

Permita-me dizer
Que não mereço tal desprazer
Mesmo assim ainda desejo você

Olhe-me de frente
Estou lhe pedindo perdão
Mas que erro cometi?

Estou me humilhando
Matando sem dó o orgulho
Residente neste ser vaidoso

Coloque-se no meu lugar


E deixe os velhos pecados para trás
Vivo em busca de femininos lábios, prazer voraz

Penteie os fios do ciúme tecidos em lã


E não mais traga a sua irmã
Senão desse amor outra vez me apoderarei

43. Sensibilidade

Sinto um certo cansaço


Estou opaco, denso e exausto
Por buscar e não encontrar
A sensibilidade do mundo

Mas ao seu lado


Passo a crer que tudo é possível
E desisto de desistir
Mesmo quando dói prosseguir

Seu brilho me transmite


A esperança que um dia carreguei
Os sonhos que abandonei
E as vitórias que não alcancei

Se sou mil, inconstante


Serei um, em amor
Se fujo demais, ligeiro
Lançarei uma âncora em seu peito

Traga-me o que perdi


Demais não é pedir
A quem não conhece o impossível
E concentra a sensibilidade que o mundo esqueceu

44. Aquele

Não sou do físico e estático degrau


Não sou da terra e do superficial
Sou sim dos sonhos e das ilusões
Sou dos encantos e das paixões

Vagueio simples entre caminhos


Que não levam a lugares concretos
Entre rumos e rumores sigo sincero
Obedecendo à vontades próprias
Sentindo o fogo queimar
Dentro de um peito que ama e relaxa
Que deságua e goza

Não sou das normas cretinas


Não sou das velhas rotinas
Sou mais das estrelas que perambulam em um céu infinito
Sou mais das ruas com seus segredos distintos

Não sou do vento que bate


Sou do ar que acaricia
Não sou do sol que queima
Mas da luz que irradia
Não sou da lua que, por ser de prata
Desperta a ganância dos egos vorazes
Mas sim do seu brilho
Que alimenta paixões e
Estremece corações

45. Descoberta

Hoje não é um dia qualquer


Poderia ser o último
Poderia ser o único
Poderia eu chorar
Sofrer a perda de alguém
Ou clamar por clemência
Mas hoje pode ser uma oportunidade
Nova demais para ser certa
E velha demais se houver demora
Porque tudo é passageiro
Basta estar vivo
Para mudar
De sangue para vinho
Na ceia do pecado
No seio da perdição
Ou no cálice caloroso do amor
Que um dia me visitou
E fez-me descobrir
O que é viver
46. Imperceptível

Era tão bom quando tudo era simples


Percebo que era mais fácil e sincero
Mais louco, intenso e incerto
Hoje vejo todos os meus amigos crescerem
E tenho que aceitar esse fardo na minha vida também
Tento crescer pela metade
Manter o peito aberto
A alma viva
Mas rapidamente percebo
As pessoas já não são as mesmas
Há muita maldade
Salve-se quem puder
Tento agarrar-me em algo
Não posso desesperar-me
Mas tudo o que encontro são paredes longínquas
Tão distantes que o meu braço
Não as consegue alcançar
Olho e fico perdido, atônito
Como se o tempo fosse o mesmo de antes
Como se não tivesse nada a perder
Como se tempo não fosse dinheiro
Tudo está resumido à rentabilidade
Egoísmo e, se deixar
Falta de sensibilidade
Sofro sem limites
Quando percebo as limitações
Que a vida adulta trouxe para o meu coração
Sei que sempre estarei novo demais para lamentar-me
Mas o que fazer se conheci cedo a dor?
Urgentemente preciso descobrir como esse feitiço se desfaz
Estou em lágrimas
Escrevo em prantos
Nem por isso ganho prêmios
Nem por isso magnânimo
Apenas continuo tentando sobreviver ao próximo segundo
Em um mundo que faz de tudo para que você sucumba
Sei das falhas
Mas sei dos acertos
Fiz a pólvora
Hoje sou a explosão
Resultado único de uma tentação
Mau correspondida
Sim, aparento decadente
Mas posso afirmar
Que mesmo em meio à desgraça
Persisto
Apesar de não entender o sentido
Mantenho-me aqui

47. Inadequado

Eu não nasci para essa vida banal


Uma rotina e um emprego convencional
Isso me soa marasmo
Faz tudo que é belo
Se tornar igual e chato
Nada é mais estático
Do que esse pobre padrão
Que cria a cada dia um novo lunático
Ou um perigoso ladrão
Sou volátil como o álcool que bebo
Sou daqui e dali
Posso querer ser o mar
E, em segundos, desistir
Sou da vida
Sou da natureza
Sou sem pudor
Sou no frio, o calor
Sou do amor
Sou do amor

48. Palavra

Uma palavra pode ser proferida


E esquecida com o tempo
Outra pode ser aquecida e sentida
Além da eternidade
Uma palavra pode ser mantida
Pode ser vencida
Pode ser transformada
Pode ser omitida
Pode ser deturpada
Pode ser lembrada
Uma palavra
Afasta o homem da ignorância
Aponta a saída do labirinto
Fantasiosa ou realista
Carrega vida em seu sentido
Uma palavra
Quando lançada
Não tem rumo
Não tem caminho certo
Trilha ao impulso do vento
E na velocidade do pensamento
Segue firme, vaga e veloz
Como uma flecha
Pode destronar uma certeza
E como uma chama
Pode transformar corações em brasa
Uma palavra
Simples e inútil
Pode mudar o mundo
Pode ultrapassar uma crença
Pode desatar nós e preconceitos
Pode vencer uma guerra
Aquela mesma palavra
Esquecida em meio a tantas outras
Na página amarelada de um livro qualquer
Pode ser a salvação
Ou a perdição
Na vida de alguém
Uma simples e imperfeita
Palavra

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