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Achados e Perdidos
© 2005 Bernardo Almeida
É permitida a reprodução parcial ou
total desta obra, desde que citada a fonte.
Foto (capa): Bernardo Almeida
Editoração eletrônica: Bernardo Almeida
Edição e Distribuição: Bernardo Almeida
Contato: almeida.bernardo@gmail.com
www.bernardoalmeida.jor.br
Em um mundo onde tudo vira produto e o ser humano é visto, na
maioria das vezes, como mero consumidor, é importante que algumas
coisas sejam oferecidas sem preço, taxa ou imposto. Que este pequeno
gesto seja entendido como um sinal de resistência, uma prova de que o
desenvolvimento de novos valores, assentados em bases mais sólidas e
humanas, ainda é possível.
Bernardo Almeida
1. Devoção
2. Sem sentidos
Lampejos de alegria
Minutos de mágoa
Quando não dói
Apenas machuca
Vil é a disputa
Que acirra entre os homens
Seus caminhos absurdos
Suas glórias e suas posturas
3. Carne, osso e memórias
Diluiu em pecados
O que um dia foi santo
Sacrificado o eterno em prol do agora
Mundano e estreito
Externo e profano
Corpo exposto
Alma fraca
Lágrimas e silêncios
Novos prantos
Gritos de sinceridade
Uma história mal contada
Difícil de decifrar
Um passado de fugas
Um presente omisso
Você não se reconhece
Nem que apodreça em frente ao espelho
Admire suas falhas
Bem de perto, profundamente
Você ainda consegue se questionar sem se sentir vazio?
Anos luz separam você de você mesmo
E não há nada além disso
Carne, osso e memórias
4. Perda
As lâminas da paixão
Fatiaram o meu coração
Que sangra e pára
Não bate, não vibra, não late
Assumirei os suspiros
Os erros e os acertos
Assumirei meus rumos
Os corretos e os falsos
Brincadeiras à parte
Em parto de meia luz
Banheiras secas e chão molhado
Taco e vestido velho
Trapos e lembranças
Lágrimas, manchas de sangue e inocência
Condicionado e obediente
Marcha soldado, sempre em frente
Brinquedos de uma armadilha maior
Controle, remoto, controle, remorso
6. Fruto apodrecido
A maturidade é cômica
Uma piada mal contada
Estranhamente sem graça
Corrupta e absurda
7. Deveras, homem!
8. À venda
Comercialize o sexo
Seu corpo, sua nudez
Exponha o seu personagem
Três, duas ou uma vez
Seja uma garota perversa
Rime comigo
Na cavalgada viril
Revele-me o destino
Massageando o seu corpo quente
Apresento-lhe o prazer
Venha comigo de uma vez
Você sabe o que fazer
Sua imagem sedutora
Neste ritmo veloz
Não tema a pureza
O prazer é libertino e feroz
Pode virar paixão
Que pode virar amor
Sentimento de puta não dá nó
É direto e cumpre o que promete
A felicidade já pregava
Amor de puta não degrada
Eleva e consagra
9. Atemporal
Diluo o tempo
Torno-o esparso
Vago e disperso
Fragmento meus pensamentos
Em milhares de partículas
Sopro-as e as lanço ao vento
Sem direção
Numa frequência não linear
Tão caótica e deformada
Quanto o meu próprio ego
Sem chegar a lugar algum
Toca o nada
Percebe a sua existência
E ultrapassa essa barreira
Descobre a verdade
Além das fronteiras
Que a mente humana impõe
10. Segredos
Da cópia
Surge a cópia da cópia
Cada vez mais distante do original
O atual é o antigo esquecido
A fonte não mais traduz o novo
Apenas reproduz
Cria o que já existe
Como um ciclo
Torna-se repetitivo
E quando parece ter mudado
Apenas alternou de lugar
O novo é a idéia que ainda não foi publicada
A sua majestosa novidade
Já foi concebida em alguma cabeça abastada
Mas você não sabe
E forjará o novo
De novo
Como se houvesse criatividade
Em falar o que já foi dito
E em pensar o que já foi pensado
12. O escolhido
13. Retorno
Na sombra ensurdecedora
De um quarto de cabaré
Meia noite é a hora dos anjos libertinos
Das camélias e das mudanças de destino
É a hora do alerta
É a hora da vida
As prostitutas esperam por dinheiro
Esperamos pelo retorno das nossas vidas
O que a rotina não dá e o amor esconde
O puteiro aponta
Sem pudor, sem vergonha
Nossas carnes, nosso sexo
Puro e simples
Manda quem pode
Obedece quem tem juízo
Ou dá ou desce
Nesse jogo de andarilhos
O zelo vem do gozo
Do prazer e da luxúria
A lascívia e a malícia
Ela grita e grita
Mesmo em farsa
O que há muito sentia-se morto, agora reanima
17. Leito
18. Despretensão
Contemplo a incerteza
Do próximo segundo, da mesa farta
Da vida longa e do perdão
20. Cuspe
Cuspo sim
Sete vezes no prato em que comi
Importa-me apenas o alimento
Da próxima vez, comerei de mão
E não dar-te-ei o prazer de humilhar-me
A sua caridade foi desmascarada
Deixei-me abater
Foram quinhentos quilos de tristezas
E mil dias de incertezas e agonias
22. Desagrado
Um dia sou
Outro, gostaria de ainda ser
Um dia tenho
Outro, gostaria de ainda ter
Um dia espelhos
Outro, distância deles
Um dia convites
Outro, esquecimento
Um dia orgulho
Outro, vergonha
Um dia exuberante
Outro, não mais
24. Devassa
Devassa e carinhosa
Será esse o motivo pelo qual amo-te tanto?
Se para uns causas espanto, para mim, este é o seu encanto
Tempo é inovar
Trilha é desviar
Velho é reciclar
Vento é navegar
Conhecer é renascer
Partilhar é cooperar
Amizade é confiar
Surpresa é desafiar
Sono é sonhar
Acordar é realizar
Tentar é persistir
Conseguir é acreditar
26. Envolva-me
27. Perdedor
Eu perdi
E perco quase sempre
Por opção
Sem desanimar
Vejo o quanto tudo é fútil
Sutilmente apressado e finito, solitário
28. Falibilidade
Um papel, só um bilhete
Anunciando o próximo encontro
Já não será tão breve
Andarilho livre
Que se nega a aceitar presentes, suborno
E bebe da fonte, não do copo
Espíritos asfaltados
Nu e cru, vasto e fértil
Um dia falecerão todos de fome
A ganância de uns
A ambição de outros
E a morte da maioria
Mundo vil
Cheio de seres não menos desprezíveis
Sob o comando do Imperador Egoísmo
Estão todos os condenados à existência
Mundo degradante
Extremamente frustrante é ver
As desigualdades tão frequentes
Na mão de quem pede e no bolso de quem paga
Mundo fétido
Corrompido pela ambição e pela disputa
Onde cresce a violência e o ódio
E a vida bela e pura pede para perder a inocência
Mundo catastrófico
Em que a vingança anda solta pelas ruas
E tudo é permitido desde que seja comercializável
Financeiramente multiplicável, rentável
Mundo decadente
Espera teu futuro um tanto óbvio
Da abundância à precariedade
Da vida à extinção da humanidade
Sou o palhaço
Que beija os seus lábios no escuro
Sou o mistério que invade o seu mundo
O mascarado, o descarado
Desconfiado e afiado
Que desafia e desperta ilusões
31. Menina
32. Adeus
Minha inspiração
Deita morta à sete palmos do chão
Junta aos vermes que aceleram minha decomposição
Abaixei a guarda
Joguei fora as minhas armas
Indefeso, tornei-me presa dos seus abusos
35. Incógnita
36. O resto
Dias tristes
Seguem-se um após o outro
Noites chuvosas e manhãs secas
No bar, deposito as minhas incertezas amorosas
Atrás de ti, não me reconheço
Ao seu lado sou completo
Mas meus versos não rimam com o seu nome
38. Pacífico
Dei as coordenadas
Para que navegasse pelo Pacífico
No entanto, preferistes a rota alternativa
Marcada por tormentas e aflições
Ondas fortes, aventuras e naufrágios
Enquanto brincas, meu peito falece de amor
40. Precipício
41. Recolher
Comes a carniça
E a vida que conhece e prova
Vem da morte alheia
Permita-me dizer
Que não mereço tal desprazer
Mesmo assim ainda desejo você
Olhe-me de frente
Estou lhe pedindo perdão
Mas que erro cometi?
Estou me humilhando
Matando sem dó o orgulho
Residente neste ser vaidoso
43. Sensibilidade
44. Aquele
45. Descoberta
47. Inadequado
48. Palavra