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Por conta disso, o Rio de Janeiro vem sendo palco de seguidas políticas de
limpeza e segregação social, como mostram os choques de ordem e agora o
levantamento de muros no entorno de favelas, levados a cabo por prefeitura e
governo do estado, respectivamente.
O Rio de Janeiro talvez esteja passando pelo seu pior momento desde Lacerda.
Parece uma volta com força total da UDN, terrível.
CC: O que pensa do fato de as favelas escolhidas para receberem os
primeiros muros se localizarem em bairros mais nobres ou de classe
média, mesmo com a expansão recente de tais favelas estando abaixo
de índices considerados preocupantes, inclusive em comparação com
outras?
É tão chocante, tão óbvia, essa mistura de truculência fascista com Parcerias
Público-Privadas sinistras! Estou sendo enfática, mas é que chegamos num
ponto... Ontem mesmo houve o assassinato pela polícia de um menino da
Maré, a população tentava protestar e era reprimida da pior forma possível
pela mesma polícia. E tudo sempre sob a desculpa do tráfico.
Acho que o fim do brizolismo no Rio foi muito ruim. Para exemplificar, uma das
coisas que O Globo fez para comemorar os 45 anos do golpe militar foram
acusações levianas sobre o Brizola, ao mesmo tempo em que o associava ao
crescimento das favelas. O vazio criado por sua morte, junto ao
estraçalhamento das forças de esquerda, deixou o fascismo ocupar a cidade.
CC: Ao se juntar tal ação com a também recente medida dos choques
de ordem, vemos que as políticas de higienização nas grandes cidades
têm sido levadas ao paroxismo, não?
VM: Claro, isso não vai dar certo. Durante um tempo, algumas forças
progressistas do Rio aceitaram a pauta criminal da direita, e assim o fascismo
encontrou sua brecha, sendo que acaba se alastrando para a questão
habitacional, ambiental, onde muitas vezes se refugia, como neste caso dos
muros, aliás.
Uma vereadora do PV foi uma das que mais defenderam os muros, sempre fala
em remoções nas favelas da zona sul, como a dos Tabajaras, uma vez que as
áreas verdes na cidade se concentram mais na zona sul e posto 9.
Tais equívocos abrem o caminho para o fascismo mais explícito, que vemos
nessa mistura de truculência contra os pobres e grandes negócios (com
ilegalidades) particulares.
VM: Acho que vai emparedar os pobres e produzir outros efeitos, intra e
extramuros. É mais uma grande violência, portanto, entrará nesse moinho
gerador de ódios.
Espero que isso possa ser barrado, apesar de todo o esforço da grande
imprensa. Fazem pesquisas dizendo que os favelados são favoráveis à
remoção, pesquisas para legitimar tais ações... Não deve faltar sociólogo para
fazer esse tipo de trabalho e dizer que os pobres estão doidos para serem
emparedados e removidos da cidade.
CC: Diante do quadro atual, quais medidas seriam efetivas a seu ver,
tanto a curto como a longo prazos?
VM: O inverso disso tudo, uma outra maneira de olhar a cidade. Construir
políticas habitacionais democráticas, projetos em que as classes populares
sejam protagonistas.
Não bastam bons projetos para os pobres, é preciso que esses setores estejam
no centro, que a juventude, ao invés de ser criminalizada, seja participante
central dos projetos que a libertem dessa concepção de muros, cadeias,
extermínio. Temos de produzir outro projeto brasileiro, que não contenha essas
conjugações.