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Caminhos para a Missão

Fazendo Missiologia contextual

C
oletânea de artigos organizado pelos padres Guy
Labonté e Joachim Andrade, publicada pelo Centro
Cultural Missionário da CNBB de Brasília. O livro é
uma colaboração na reflexão teológica e mission-
ária. Durante o ano, o Centro Cultural Missionário
- CCM recebe missionários(as) que se preparam
para a Missão, tanto nas Igrejas-irmãs dos diversos
continentes, quanto na nossa Igreja do Brasil. Recebemos a as-
sessoria de vários professores, pastores, educadores e peritos. A
maioria dos artigos no livro foi escrita por esses colaboradores. É
um instrumento para as pessoas que atuam nas comunidades, que
formam grupos de reflexão e também que têm sede de aprofundar
alguns temas relacionados à espiritualidade, teologia e antropologia
da Missão. É um convite aos leitores para cumprir melhor o seu
compromisso de discípulos missionários. A imagem dos discípulos
de Emaús (capa) nos inspira a discernir o que o Senhor nos fala
pelas pessoas e pela realidade, na busca de novos caminhos no
horizonte da missão.

Preço: R$ 40,00
Pedidos
Centro Cultural Missionário – CCM
SGAN 905 – Conjunto B – 70790-050 – Brasília, DF

Tel.: (61) 3274.3009


E-mail: ccm@ccm.org.br www.ccm.org.br

Lançamentos das Pontifícias Obras Missionárias


Mensagens Pontifícias Mensagens, Conferências e
Dia Mundial das Missões Conclusões do CAM 3 – Comla 8
Este livro contém todas as Men- Este livro de 92 páginas traz a mensa-
sagens Pontifícias para o Dia gem do papa, a homilia de abertura,
Mundial das Missões, de Paulo as principais conferências, a declara-
VI a Bento XVI (1963-2008). Os ção final e os delegados do Brasil no
conteúdos continuam atuais CAM 3 – Comla 8. Um subsídio impor-
e de grande utilidade para a tante para aprofundar os conteúdos
formação e aprofundamento deste Congresso Missionário, no qual
missionário. foi lançada a Missão Continental.
Com 244 páginas, contém ex-
celente índice remissivo. Preço: R$ 5,00

Preço: 10,00

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Tel.: (61) 3340.4494
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EDITORIAL
Entre sonhos e conquistas
SUMÁRIO
março 2009/02

A
crise mundial e a resistência dos Povos Indígenas estive-
ram no centro dos debates da 9ª edição do Fórum Social
Mundial (FSM), em Belém, Pará. Apesar dos problemas na
organização, o saldo final foi positivo. Desta vez, o Fórum
aconteceu em um momento único, quando a globalização
neoliberal dominada pelas finanças fora de qualquer controle
público está em crise e vai perdendo sua hegemonia. Ao mesmo 1 - Membro da Crítica Radical ao
tempo, em Davos, na Suíça, o Fórum Econômico Mundial reconhecia Capitalismo durante manifestação no
FSM, Belém, PA.
o fracasso e a descrença nos principais pilares do sistema, dando Foto: Jaime C.Patias
assim maior confiança ao processo do FSM. 2 - Dom José Luís Azcona.
Um consenso parecia atravessar a maior parte das discussões: Foto: Paolo Moiola
a crise financeira global deve ser pensada conjuntamente às crises
energética, climática e alimentar. As consequências do projeto hege-
 Mural-----------------------------------------------------04
mônico geraram uma crise de sustentabilidade. O mais importante Cartas
de tudo é que, na atualidade, o FSM segue como uma das únicas
propostas multissetoriais e internacionais com um projeto alternativo  OPINIÃO--------------------------------------------------05
"Se é pra ir pra luta, eu vou..."
emergente. Para um mundo carente de iniciativas, esse é um fato Célia Aparecida Leme
extraordinário. Outro consenso: a necessidade urgente de definir
 África----------------------------------------------------06
estratégias de luta social e política para a superação da sociedade Madagáscar: a Missão no além-mar
do capital se faz mais urgente. É importante notar que muitas das Michael Mutinda
reflexões realizadas nas reuniões do Fórum, vêm sendo transfor-
 PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
madas em decisões políticas. Felicidade em crise?
Processo semelhante ocorreu no dia Rosa Clara Franzoi
Jaime C. Patias

8 de março de 1857, em Nova Iorque, em  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08


que reivindicações feitas por um grupo Notícias do Mundo
de 130 mulheres resultou na reprimenda Fides / POM Equador/ ZENIT
de serem trancafiadas e queimadas  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
vivas dentro de uma fábrica. A coragem Falar de Deus a partir da vida
daquelas heroínas desencadeou em lutas Gianfranco Graziola
que conquistaram melhorias trabalhistas  TESTEMUNHO-------------------------------------------12
ao longo dos anos. Restam ainda muitas Na construção do Reino
lutas a serem travadas. Hoje em dia, Joana Barbosa de Oliveira
pouquíssimas mulheres aproveitam o  FÉ E POLÍTICA -------------------------------------------14
dia 8 de março para receberem homenagens e participarem das Eleições x Democracia
Humberto Dantas
comemorações do Dia Internacional da Mulher celebrado desde 1910.
Beneditas, marias, manuelas, antônias ou joanas, estejam essas  FORMAÇÃO MISSIONÁRIA ---------------------------15
na lida do campo, nos escritórios, lares, indústrias e olarias, em sua Fórum Social Mundial: uma ideia genial
Jaime Carlos Patias
maioria vivem rotinas que não são modificadas por homenagens,
manifestações ou dia de descanso. Algumas defendem ideias, vão à  Juventude missionária ----------------------------19
luta, angariam conquistas sociais, tornam-se empresárias, recebem Construindo um outro mundo
Patrick Gomes Silva
prêmios e constroem uma carreira de especialidades. À maioria, resta
a construção das rugas e das dores do sofrimento causado pela vio-  DESTAQUE DO MÊS -----------------------------------20
Evangelização e preservação de povos e culturas
lência urbana, pelo machismo, por um filho que se perdeu nas drogas Karla Maria e Jaime Carlos Patias
ou no crime, pela falta da terra, moradia, educação, respeito... Mães
e irmãs da violência, dos filhos das gangues urbanas, do assassino  especial -------------------------------------------------22
Mutirão de Comunicação
de vidas, e também dos mutilados, dos sequestrados, dos assalta- José Mármol
dos e violentados. Mães e irmãs de sem-terra, quilombolas e índios
sem pátria, de favelados e catadores na periferia. Mulheres de um  IGREJA ----------------------------------------------------23
12º Intereclesial das CEBs
cotidiano vivido amargamente, nas enchentes de Santa Catarina ou Adital
na falta de água do sertão. Vivenciamos um tempo em que homens
 infância missionária ------------------------------24
e mulheres provocam sofrimentos para o outro e para si mesmo, Somos a Infância Missionária
porém, somos também uma maioria de construtores de uma Pátria Roseane de Araújo Silva
cheia de reivindicações capazes de abrir novos caminhos.
 ENTREVISTA DOM JOSÉ LUÍS AZCONA-------------26
No Fórum de Belém, as mulheres enfatizaram a relação entre a Denúncia e ameaça de morte em Marajó
crise mundial e o modo como as sociedades patriarcais lhes sonegam Jaime Carlos Patias
direitos. A Assembleia final rejeitou a continuidade do atual modelo  ATUALIDADE----------------------------------------------28
produtivo e as tentativas de manter o sistema às suas custas. De fato, FSM: presidentes e Acampamento da Juventude
no século 21, as mulheres conquistaram a condição de tecer uma Jaime Carlos Patias e Karla Maria
nova história. Uma história de sonhos, esperanças e conquistas.   volta ao brasil---------------------------------------30
Agência Brasil / Agência Chasque / Notícias do Planalto

- Março 2009 3
Mural do Leitor

Benjamin Martìnez
Jornada Mundial dos
Ano XXXVI - Nº 02 Março 2009 Hansenianos
No último domingo de janeiro come-
Diretor: Jaime Carlos Patias mora-se a Jornada Mundial dos Hanse-
nianos ou Doentes de Lepra. Por que
Editor: Maria Emerenciana Raia nos subsídios litúrgicos não se fala nada,
nem sequer uma oração? Muitas pessoas
Equipe de Redação: Patrick Gomes que atuam nos grandes centros de cura
Silva, Rosa Clara Franzoi, Júlio César são irmãs, padres, religiosas e religiosos, Leigos Missionários da
Caldeira, Cristina Ribeiro Silva e Mi- inclusive no Brasil. Vários países fazem Consolata - LMC
um dia de coleta para esse fim. Em nosso Nós missionários e missionárias da
chael Mutinda
país, há um grande silêncio! Não é uma Consolata nos encontramos de 21 de janei-
grave omissão? ro a 2 de fevereiro deste ano, em Belém,
Colaboradores: José Tolfo, Vitor
Penso que os hansenianos e todos os "na casa do pão", na terra do carimbó e
Hugo Gerhard, Roseane de Araújo Silva,
voluntários que no Brasil trabalham ao redor do açaí, para participar da construção de
Humberto Dantas, Karla Maria, Dirceu
dessa doença tão antiga quanto o mundo, "um outro mundo possível". Discussões e
Benincá, Gianfranco Graziola, Ricardo
mereceriam mais atenção. Atrás da Índia, reflexões dos Fóruns Mundial de Teologia
Castro e Cecília Soares de Paiva
o Brasil é o segundo país em número de e Social Mundial, serviram como fermento
hansenianos. Está entre os países que para a caminhada dos grupos de leigos e
Agências: Adital, Adista, CIMI,
mais recebem recursos do exterior para leigas missionárias que seguem o carisma
CNBB, Fides, IPS, MISNA, Radioagência os centros de cura. Não ouvir um convite, herdado do Pai Allamano. Durante estes
Notícias do Planalto e Vaticano uma campanha nas revistas católicas dias na capital do Pará compartilhamos
que facilite a obra de amor dos que se com os demais missionários vindos de 28
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires dedicam aos hansenianos causa tristeza. países da Europa, África e América Latina,
O Centro Maria Imaculada de Teresina, todas as alegrias, projetos, dificuldades
Jornalista responsável: Piauí, um dos maiores do Nordeste, corre e sonhos que contextualizam o trabalho
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) o risco de fechar por falta de recursos. missionário. O convívio intenso com as
No dia 21 de fevereiro foi canonizado o religiosas, padres e leigos missionários e
Administração: Luiz Andriolo padre Damião de Molokai (Apóstolo dos a partilha de suas experiências fortalece
Leprosos). Que ele, melhor que as minhas o nosso desejo de, junto aos nossos
Sociedade responsável: palavras, possa nos ensinar a não excluir grupos em formação, continuar a cami-
Instituto Missões Consolata os hansenianos do nosso Brasil, mas a nhada, superando nossas inseguranças
(CNPJ 60.915.477/0001-29) lhes dar uma atenção especial, como e, confiando em Maria, sermos Discípulos
Jesus fez em sua vida. Missionários de Jesus Cristo.
Impressão: Edições Loyola
Fone: (11) 2914.1922 Pe. Giovanni Bruno Battaglia, Conselho Missionário Diocesano Jeanice Maria G. Menezes, LMC – Rio de Janeiro
– COMIDI Ourinhos – SP. Karla Maria, LMC - São Paulo
Colaboração anual: R$ 50,00
BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2
Instituto Missões Consolata
Criada nova Paróquia em São Manuel - SP
(a publicação anual de Missões é de 10 números) No dia 8 de fevereiro, pela manhã, no São Manuel, foi transferido para Jaguarari,
Santuário Santa Terezinha, na cidade de na Bahia. Na tarde do mesmo dia ocorreu
Missões é produzida pelos São Manuel, SP, padre Durvalino Condi- a cerimônia de instalação da Paróquia
Missionários e Missionárias da Consolata celli, imc, tomou posse como pároco da Nossa Senhora Consolata, a primeira que
Fone: (11) 2256.7599 - São Paulo/SP Paróquia São Manuel. A missa foi presidida nasce da paróquia de São Manuel. Na
(11) 2231.0500 - São Paulo/SP pelo Vigário Geral da Arquidiocese de mesma celebração, padre Adauto José
(95) 3224.4109 - Boa Vista/RR Botucatu, Mons. Edmilson José Zanin, Martins, tomou posse como o seu primeiro
representando o então arcebispo metro- pároco. A celebração foi presidida pelo
Membro da PREMLA (Federação de Imprensa politano dom Aloísio José Leal Penna. Mons. Edmilson José Zanin. Prestigiaram
Missionária Latino-Americana) e da UCBC Aos 66 anos de idade, padre Durvalino é a cerimônia o vice-provincial do Instituto
(União Cristã Brasileira de Comunicação Social) o primeiro sacerdote são-manuelense a Missão Consolata, padre Jaime C. Patias,
ocupar esse cargo na cidade que conta o chanceler arquidiocesano padre Joenvile
Redação com a assistência dos missionários da Arruda e diversos sacerdotes, diáconos,
Rua Dom Domingos de Silos, 110 Consolata há 72 anos. Participaram da religiosas, além de seminaristas e uma
02526-030 - São Paulo celebração, além de grande número de grande quantidade de pessoas de São
Fone/Fax: (11) 2256.8820 paroquianos, diáconos, dom Servilio Conti, Manuel e de Lençóis Paulista, inclusive
Site: www.revistamissoes.org.br os padres Adauto José Martins, Jaime C. os respectivos prefeitos Tharcilio Baroni
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br Patias e Sabino Mariga, que depois de Junior e Bel Lorenzetti, além de outras
trabalhar por quatro anos como pároco em autoridades.

4 Março 2009 -
“Se é pra ir pra luta, eu vou...”

OPINIÃO
Homenagem às mulheres que lutam por dignidade, respeito e cidadania.

Arquivo Missões
Manifestação no Dia Internacional da Mulher 2007, Avenida Paulista, São Paulo, SP.

de Célia Aparecida Leme CEBs. A primeira é a CEB João XXIII. Nasceu da organização
de mulheres devido à falta de água no bairro onde moravam.
Construíram em grande mutirão um poço artesiano e tanques

A
comunitários para lavarem as roupas. Na organização em torno
luta das mulheres por igualdade e vida transcende a da necessidade da água, conquistaram ônibus, creche, escola
herança das Mulheres de Nova Iorque, mortas em 1857, municipal, asfalto, esgoto.
por estarem reivindicando melhoria nas condições de Outra CEB que nasceu nessa época é a de São Paulo
trabalho e dignidade. Os anos se passaram e mudaram Apóstolo. As mulheres estão à frente dos conselhos de saúde,
as relações sociais, econômicas e políticas. O modelo Pastoral da Criança e outros movimentos sociais. Já são 35
familiar também foi se modificando e hoje, muitas anos de caminhada. E ainda têm gente que diz que as CEBs
mulheres exercem o papel de responsável pelas famílias. morreram, acabaram. Quem pensa assim, venha para a peri-
As lutas diversas se multiplicam no campo e na cidade. E feria de São Paulo! Venha a Perus! Conheça essas mulheres
as mulheres multiplicam sua força e presença. Estão presentes e suas lutas.
na luta pela reforma agrária, por exemplo. São mulheres como O bairro de Perus fica na região noroeste da cidade de São
Lurdinha, de Promissão, que dedicam suas vidas à causa da Paulo. Viveu a luta da fábrica de cimento e da poluição causada
terra. Mas também estão presentes na cidade, na luta por mo- por ela. O bairro convive há 27 anos com um aterro sanitário,
radia, emprego, saúde e educação. lixão, para os moradores. Os governos estaduais e municipais
tentaram instalar ainda incinerador, usina de compostagem e dois
Exemplo de união novos aterros. Na última tentativa de instalar o aterro, o povo do
Pensando no exemplo de mulheres de luta, lembro com campo e o da cidade se juntou e nasceu o primeiro acampamen-
orgulho de minha mãe, Lourdes. Mulher lavradora, analfabeta to do Movimento dos Sem-Terra em terras urbanas. Hoje este
e migrante. Dentro da comunidade, despertou para o seu valor, acampamento já virou assentamento: Assentamento Irmã Alberta,
sua sabedoria, sua contribuição para um mundo melhor. Na em homenagem a essa mulher religiosa trabalhadora.
comunidade aprendeu a falar, a não ter medo de pensar. Junto À frente destas e muitas outras lutas estão as mulheres.
às outras mulheres de luta, participou da mais longa greve do Lembramos de alguns nomes: Maria Oliveira, Janete, Madalena,
sindicalismo brasileiro, a Greve dos Queixadas de Perus, que Ana Rosa, Jandira, Orlanda, Roseli, Irmã Alberta, e tantas outras,
depois de sete anos conquistou o direito de retorno ao trabalho anônimas, mas não menos importantes.
e os salários corrigidos dos anos parados. Junto à organização São mulheres que tecem a nova história. Uma história de
dos operários, as mulheres, mães, esposas e filhas deram sonhos, esperanças, sangue, estiagem. Mas também história
sustentação para a vitória acontecer. Algumas dessas mulhe- de semeadura. Semeadura de um “outro mundo possível”.
res ainda estão vivas e presentes, como por exemplo, Zinha, Tecemos novas relações onde homem e mulher possam viver
esposa do líder operário João Breno. Mulher lutadora que criou em paz, com justiça e solidariedade. São mulheres dispostas e
sete filhos praticamente sozinha, pois o marido foi preso muitas presentes na luta. Com o poeta Zé Vicente, dizemos: “se é pra
vezes durante a ditadura militar. Ela continua presente e atuante ir pra luta, nós vamos”! 
na Comunidade Eclesial de Base - CEB Monte das Oliveiras. No
berço dessas lutas todas que aconteceram em Perus estão as Célia Aparecida Leme, membro do Colegiado das CEBs, Sub-Região de São Paulo 1.

- Março 2009 5
Curiosidade
Em Madagáscar o rebanho bovino é o mais numeroso. Das matas, que cobrem a quarta parte
do país, ainda se extraem madeiras. Para melhor aproveitamento da pesca, em 1973 a Ilha es-
tendeu suas águas territoriais a 200 milhas, mas o setor ainda é pouco desenvolvido. O país é
deficitário em combustíveis e a indústria só participa em pequena proporção do Produto Interno
Bruto. A balança comercial é, em geral, desfavorável.

Madagáscar
a Missão no além-mar
Francis Kaumbulo

As formas artísticas predominantes em todo


o país são a música e a dança. A literatura
popular compõe-se de narrativas e poemas.
A cultura é basicamente indonésia, com
algumas contribuições árabes e muçulmanas,
sobretudo no norte.
tem seguido uma política de privatização e liberalização orientada
pelo Banco Mundial (Bird) e Fundo Monetário Internacional (FMI).
Isto colocou o país numa trajetória de crescimento lento e cons-
tante. No entanto, 70% dos Malgaxes vivem uma vida simples e
o rendimento médio per capita é U$ 255. O país é líder mundial
na exportação de baunilha. A agricultura, a pesca e o extrativismo
Crianças em Antananarivo, capital de Madagáscar. são responsáveis por mais de um quarto do PIB e empregam 80%
da população. Alguns dos principais produtos agrícolas da ilha
de Michael Mutinda são: café, cana de açúcar, cravo, cacau e arroz.
Cerca de 47% da população segue religiões tradicionais,

M
enquanto 51% são cristãos (católicos 26%, protestantes 22,8%,
adagáscar é uma ilha situada no Oceano Índico que outros 2,2%). Existe uma minoria muçulmana que constitui menos
pertence ao continente africano. Está localizada no de 2% da população.
Sudeste da África e a Leste de Moçambique, a uns
400 quilômetros da costa oriental do continente. É a A Missão na ilha
quarta maior ilha do mundo e a maior da África. Foi Algumas congregações missionárias atuam em Madagáscar,
um reino independente até 1895, quando se tornou principalmente os da Congregação do Sagrado Coração de Jesus
uma colônia francesa. Hoje, Madagáscar é uma república parla- (dehonianos). Outras duas congregações presentes são os verbitas
mentarista, sendo a cidade de Antananarivo sua capital. Com uma e os religiosos portugueses. Os principais desafios missionários
área total de 587.000 km², o país consiste numa região central de de hoje são a juventude e a mobilidade humana. A região é uma
terras altas que se elevam de forma acentuada a partir de uma área de imigrantes, com grandes extensões pouco habitadas,
faixa costeira estreita a Oeste. O clima é geralmente tropical ao exigindo por parte da Igreja uma boa assistência espiritual e hu-
longo da costa, temperado no interior e árido no Sul. Existem duas mana. Madagáscar é um país com muitas vocações, sobretudo
estações em Madagáscar - quente e chuvosa entre novembro e femininas, embora a educação seja uma área muito carente, outra
abril e mais fresca e seca entre maio e outubro. prioridade missionária. A formação de seminaristas, catequistas e
A população de Madagáscar é estimada em 20.042.551 habitan- agentes de pastoral precisa de muito comprometimento e atenção.
tes. Malgaxes de origem afro-asiática, que falam a mesma língua, Não obstante todos os problemas, a Missão além-mar é sempre
compõem a maioria étnica responsável por 99% da população. de vida, estímulo e esperança. 
Estrangeiros, incluindo de Comores, China e Índia, constituem o
restante. Os idiomas oficiais são Malgaxe, Francês e Inglês. Desde Michael Mutinda, seminarista imc, queniano, estudando teologia no ITESP,
o abandono do socialismo em meados dos anos 90, Madagáscar Ipiranga, São Paulo.

6 Março 2009 -
pró-vocações
Felicidade em crise?
Dificuldade ou oportunidade.

Divulgação
de Rosa Clara Franzoi

C
onta uma lenda que havia um rei infeliz. Sua doença
fora diagnosticada pelos médicos da corte. A cura só
aconteceria quando o monarca vestisse a camisa de
um homem feliz. Ao saberem disso, seus cavaleiros
percorreram todo o reino em busca de tal homem que
estivesse disposto a emprestar ao rei sua camisa.
Mas foi em vão! Todos os homens abordados se diziam infeli-
zes e cada qual por uma razão diferente. Um porque os juros
eram muito elevados, outro porque tinha um familiar doente,
um terceiro porque havia batido o carro e estava sem dinheiro
para o conserto... Já cansados de tanto procurar, os cavaleiros
empreenderam o caminho de volta carregando o pesado fardo
do insucesso. Foi então que cruzaram com um homem seminu
vergado sob um enorme feixe de lenha. Numa última tentativa,
fizeram-lhe a pergunta. E qual não foi o espanto quando a res-
posta veio positiva. E o homem começou a desfilar uma porção
de razões para sua felicidade. Disse: “Como não deveria eu
ser feliz, quando lá em casa tenho uma mulher que me ama e
cuida dos meus filhos? A esta hora todos já devem estar me
esperando. Irei deixá-los muito felizes porque com esta lenha
vamos acender a lareira, aquecer a nossa casinha e, contentes,
dormir em paz”. E concluiu: ‘Eu sou o homem mais feliz do existe e o bolso é o primeiro que percebe sua presença. Porém,
mundo’. Os cavaleiros viam alegria e satisfação estampadas não podemos culpá-la por tudo, principalmente se as coisas
no seu sorriso. Um deles perguntou: “O senhor poderia nos dar não vão bem conosco. Ademais, ela não é a única, estamos
sua camisa para o rei?” E ele: “Eu não tenho camisa”. imersos em tantas outras crises: a do atendimento na saúde,
na educação e, se quisermos, também a crise existencial que
O que nos leva a pensar? nos rodeia. Não seria melhor desligarmos em nossas mentes
Nossos olhos e ouvidos estão cheios de imagens e notícias esses alarmes todos, e procurarmos com todas as forças o
alertando sobre os perigos da crise econômica que acometeu que realmente pode ser feito para o combate desta e de todas
o mundo. E tem muita gente se apavorando. Não estamos nós as demais crises?
equivocados quando insistimos em crer que posse e poder
são as únicas ferramentas que nos podem trazer bem-estar, Dificuldade e oportunidade
felicidade? O homem da lenda não tinha nem uma, nem a outra A palavra ‘crise’ na língua chinesa é composta por dois
e se julgava feliz. O rei tinha posses e poder e era infeliz. Não ideogramas cujos significados são: dificuldade, oportunidade.
estou dizendo que a crise financeira não exista. Claro que A conceituada sabedoria dos chineses olha para uma situação
difícil percebendo nela a oportunidade de superação. Não acha
uma ótima dica? Quanto stress seria evitado, especialmente
para os mais jovens que estão se projetando para o futuro,
Quer ser um missionário/a? decidindo a sua vida... Alguém escreveu: “Existe só uma idade
para a gente ser feliz a despeito de todos os obstáculos”. E
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli qual seria esta idade? “O presente”. 
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui - 02611-001 - São Paulo - SP
Tel. (11) 2231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br
Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.
Centro Missionário “José Allamano” - padre Patrick Gomes Silva
Rua Itá, 381 - Pedra Branca - 02636-030 - São Paulo - SP Para refletir:
Tel. (11) 2232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br

Missionários da Consolata - padre César Avellaneda 1. Qual mensagem podemos tirar desta lenda?
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 - 69072-970 - Manaus - AM 2. Como costumamos reagir diante do sofrimento?
Tel. (92) 3624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br 3. Se o presente é a única época para a gente se realizar, não
seria este o momento?

- Março 2009 7
asiático na Tailândia em 2006. O Comitê organizador
faz referência às Pontifícias Obras Missionárias da
Índia, que sensibilizaram todos os escritórios dioce-
sanos para obter uma resposta imediata de todo o
território nacional. Para financiar o Congresso, será
promovida durante a Quaresma uma arrecadação em
todas as paróquias, escolas, associações, instituições
e congregações religiosas.

Equador
Seis meses do Cam 3 - Comla 8
Há seis meses, em Quito, Equador, viveu-se
intensa experiência missionária, única por seu con-
teúdo e significado e um momento de graça em que,
congressistas e párocos, famílias de acolhimento
e paróquias partilharam seu ser missionário com
pessoas próximas e longínquas. Para lembrar os
seis meses do CAM 3 - Comla 8 em Quito, a Direção
Nacional das Obras Pontifícias Missionárias, sediou
Vaticano uma reunião com os coordenadores das comissões
VOLTA AO MUNDO

Sínodo da África parlamentares que ajudaram na preparação e na


Bento XVI nomeou quatro cardeais africanos como celebração do Congresso. Foi um momento de muita
presidentes delegados e relator-geral do 2º Sínodo fraternidade em que se compartilharam experiências,
dos Bispos da África, que será realizado no Vaticano histórias, e acima de tudo, uma oportunidade para dar
de 4 a 25 de outubro. Os três presidentes delegados graças a Deus pela experiência única vivida pela Igreja
do Sínodo - o presidente de fato é o papa - são o americana entre os dias 12 e 17 de agosto de 2008.
cardeal nigeriano Francis Arinze, prefeito emérito No encontro, o bispo auxiliar de Quito, René Coba
da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina Galarza expressou a cada um dos participantes seu
dos Sacramentos; o cardeal Théodore-Adrien Sarr, agradecimento por toda a dedicação e colaboração
bispo de Dakar, Senegal; e o cardeal Wilfrid Fox demonstradas durante a preparação e realização
Napier, O.F.M., bispo de Durban, África do Sul. O do CAM 3 - Comla 8. Ao mesmo tempo, destacou
relator-geral, que tem um papel decisivo na assem- o trabalho incansável do cardeal Antonio González
bleia, pois a ele corresponde expor os temas para Zumárraga, exaltando-o com palavras de gratidão e
o debate e recolher as conclusões, será o cardeal admiração pelo frutífero trabalho missionário realizado
Peter Kodwo Appiah Turkson, bispo de Cape Coast, como presidente da Comissão Central do evento. Ao
Gana. Os secretários especiais do Sínodo serão dom final, cada um dos participantes recebeu uma revista
Damião António Franklin, bispo de Luanda, Angola, comemorativa do Congresso, o Documento Conclusivo
e dom Edmond Djitangar, bispo de Sarh, Chade. O e o vídeo “Missão para a Humanidade”.
Sínodo terá como tema “A Igreja na África a serviço
da reconciliação, da justiça e da paz: Vós sois o sal Itália
da terra... Vós sois a luz do mundo (Mt 5, 13.14)”. Ano Paulino e Congresso Missionário
O papa entregará em Iaundé, Camarões, no dia 19 No ano em que se comemora o segundo milênio
de março, o documento de trabalho (Instrumentum do nascimento do Apóstolo dos Gentios, o Movimento
laboris) dessa assembleia. Nesta capital, João Paulo Juvenil Missionário promove um Congresso Missionário
II, em 1995, entregou Ecclesia in Africa, a exortação Juvenil que será celebrado de 30 de abril a 3 de maio
apostólica pós-sinodal conclusiva do primeiro Sínodo em Assis, organizado com a Fundação de Religião
africano, realizado no ano anterior, no Vaticano. Missio, as Pontifícias Obras Missionárias, os Centros
Missionários Diocesanos, os Institutos Missionários,
Índia as Comunidades e Associações Missionárias. Como
Congresso Missionário escreve Rocco Negri, Secretário do Movimento Ju-
Continua a preparação para o primeiro Congresso venil Missionário, “através dos momentos de oração,
Missionário Indiano que se realizará em Mumbai de 14 as relações, os grupos de estudo, o encontro com
a 18 de outubro. No caminho preparatório, todas as testemunhas do mundo, nós jovens, nas palavras
dioceses estão empenhadas a disseminar reflexões, do Apóstolo Paulo, seremos convidados a descobrir
sugestões e projetos a serem incluídos no documento que Cristo é o critério de avaliação dos eventos e das
preparatório, que definirá os desafios e as propostas coisas, o fim de todo esforço realizado para anunciar
para a missão na ampla nação indiana. Em cada diocese, o Evangelho, a grande paixão que apoia os nossos
reúne-se a Comissão para as Missões, examinando passos pelas estradas do mundo”. Meninos, Missio-
a relação entre o clero e missão, religiosos e missão, nários como Paulo é mais um compromisso do Ano
leigos e missão. A iniciativa se chamará “Yesu Mahot- Paulino promovido pelo Secretariado Internacional e
sav - Let your light shine” (Festival de Jesus - Deixa a pela Pontifícia Obra da Infância Missionária, que tem
tua luz brilhar). O evento foi organizado no âmbito do o objetivo de incentivar todos os meninos ao empenho
Congresso Missionário Asiático e pretende atualizar concreto no anúncio do Evangelho. 
e contextualizar as indicações e os desafios surgidos
no Congresso celebrado pelas Igrejas do continente Fonte: Fides, POM Equador, ZENIT.
8 Março 2009 -
Intenção Missionária
Para que os bispos, os presbíteros, as pessoas consagradas e os fiéis leigos da Igreja
Católica na República Popular da China, à luz da carta que lhes foi endereçada pelo papa
Bento XVI, comprometam-se a ser sinal e instrumento de unidade, de comunhão e de paz.
de Patrick Gomes Silva

A
China, com os seus 1,3 bilhões de habitantes, ocupa
hoje um lugar fundamental entre os países do mundo.
Tendo se tornado um gigante econômico, continua
com algumas dificuldades no campo dos direitos hu-
manos. Também no campo religioso a situação não é
das melhores. Em junho de 2007, o papa Bento XVI
se dirigiu aos católicos chineses apelando à unidade da Igreja
no país e à reconciliação com as suas autoridades. Consciente
das dificuldades que os cristãos atravessam naquele país, o
papa desejou escrever um novo capítulo das relações entre
os cristãos e as autoridades religiosas. A carta assegura a
disponibilidade ao diálogo com as autoridades civis e sublinha
que não quer provocar interferências em assuntos políticos. Ao
mesmo tempo, confirma a posição da Igreja sobre a liberdade
religiosa. “A solução dos problemas não pode ser buscada
através de um permanente conflito com as legítimas autorida-
des civis”, reconhece. Contudo, não é possível render-se às
mesmas quando interferem de maneira indevida em matérias
que afetam a fé e a disciplina da Igreja”, segue dizendo. Por
este motivo, deseja a abertura do diálogo com as autoridades de
Pequim para que, superadas as incompreensões do passado,
seja possível colaborar pelo bem do povo chinês, ainda que
reconhece que a normalização das relações levará tempo.
Pelo que se refere aos aspectos da vida da Igreja, a carta
reconhece a “situação de fortes contrastes que afetam os leigos
e pastores”, ocasionada, sobretudo, pelo papel da Associação
Patriótica Católica Chinesa, organismo criado pelas autoridades
comunistas que não reconhecem o papel do papa. “A Igreja
que está na China está chamada a viver e a manifestar esta
unidade, em uma mais rica espiritualidade de comunhão”, in-
dica. “A pretensão de alguns organismos criados pelo Estado
e alheios à estrutura da Igreja de pôr-se acima dos próprios
bispos e de guiar a vida da comunidade eclesial não corres-
ponde à doutrina católica”, sublinha.
“Ainda que não estejam em comunhão com o papa, exercem
validamente seus ministérios na administração dos sacramen-
tos, ainda que seja de uma maneira ilegítima”, assegura. “Que
riqueza espiritual se derivaria para a Igreja na China se, com as
necessárias condições, estes pastores também alcançassem a
comunhão com o sucessor de Pedro e com todo o episcopado
católico!”, reconhece a carta. Por este motivo, promove um
acordo com o governo para resolver algumas questões ligadas
à nomeação de bispos.
Os cristãos da China são chamados, assim como todos
nós, a ser sinais e instrumentos de unidade, de comunhão e
paz. Rezemos por este povo milenar que perante os desafios
Divulgação

que neste momento histórico enfrenta, consiga ser verdadeira


testemunha de Jesus. 

Patrick Gomes Silva, imc, é diretor do Centro Missionário José Allamano, em São Paulo. Muralha da China.

- Março 2009 9
espiritualidade

Falar de Deus
a partir da vida
Entre os dias 21 e 25 de janeiro de 2009, Belém, a capital do estado do Pará
acolheu o III Fórum Mundial de Teologia e Libertação.
Fotos: Jaime C. Patias

Organizadores
O Fórum Mundial de Teologia e
Libertação é promovido por entidades
e organismos como a Associação
Ecumênica de Teólogos/as do Ter-
ceiro Mundo - ASETT, Ameríndia,
Sociedade de Teologia e Ciências
da Religião - SOTER, Centre de
Théologie et d'Éthique, Contextuelles
Québécoises - CETECQ, Centro
Ecumênico de Serviço à Evangeli-
zação e Educação - CESEP, Cen-
tro Ecumênico de Evangelização,
Capacitação e Assessoria - CECA,
Comunidad de Educación Teológica
Ecuménica Latino Americana y Ca-
ribeña - CETELA, Faculdades EST,
Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul - PUCRS e Instituto
O respeito à Palavra de Deus durante trabalhos no Fórum de Teologia e Libertação. Humanitas Unisinos - IHU.

de Gianfranco Graziola O FMTL se propôs a fazer teologia, falar


de Deus a partir da realidade sofrida e muitas

V
vezes controversa dos seres vivos, de suas passando para o corpo e suas manifesta-
árias iniciativas precederam o situações concretas, de suas inquietações, ções afetivas, colocando-se num universo
9º Fórum Social Mundial, em da ecologia e elementos vitais, deixando de de ecossistema do qual o ser humano é
Belém, durante o mês de janeiro. ser mero produto do pensamento humano parte, mudando o paradigma de dominação
Dentre elas o III Fórum Mundial e dos teoremas construídos nos gabinetes, em participação, onde também o outro ser
de Teologia e Libertação - FMTL. para se tornar fruto da experiência de tem direito e vez.
Realizado no Centro Cultural uma presença do divino e do sagrado no Debater essa nova visão, essa nova
Tancredo Neves - CENTUR, região central cotidiano, nas inquietações, nos desafios perspectiva para falar de Deus, foi o que os
da cidade, o Fórum contou com a partici- da vida, tornando-se fonte de inspiração e teólogos vindos dos continentes americano,
pação de teólogos, teólogas, estudantes sopro de vida para enfrentar as realidades africano e asiático procuraram transmitir
e professores, além de pessoas ligadas de um universo cada vez mais complexo aos mais de 900 participantes do evento.
aos movimentos populares, pastorais e e questionador. “Nossa teologia encarnou Deus no homem
educação popular para refletir a partir do e na mulher, envolvendo o nosso ser, o
tema “Água, Terra, Teologia: para outro Nova metodologia nosso coração, o nosso existir”, afirmava
mundo possível”. Na palestra inaugural, As intervenções dos vários especia- Ernestina Lopez, teóloga indígena Maya
Leonardo Boff, dando continuidade às listas evidenciaram claramente como o Guatemalteca, uma das principais articu-
duas edições anteriores em Porto Alegre, sujeito teológico é cada vez mais o “ser” e ladora da teologia índia. Na mesma linha
RS, (2005) e Nairóbi, no Quênia (2007), o “viver”, num universo de pensar científico de pensamento, o padre mexicano Eliezer
falou sobre o tema “Água, Terra, Teologia: que interpela o ser humano em todas as Lopez, indígena Zapoteca, outro renomado
rumo a um paradigma ecológico”. suas dimensões, da intelectual à sensitiva, pensador da teologia índia na América Lati-

10 Março 2009 -
Participantes em conferência no Auditório do CENTUR, Belém, PA.

na, argumentava: “na experiência teológica dor de discursos acadêmicos e de teorias coração do céu e o coração da terra, para
indígena, a terra ocupa um lugar central e filosófico-teológicas mais ou menos aceitas, poder voar como os indígenas mexicanos
indispensável porque toda a vida tem origem nas quais Deus é um ser abstrato e alheio à totonacos, entre o céu e a terra, para dançar
nela, que é o maior sacramento de Deus. vida humana. Neste contexto, o ser humano como os indígenas tarahumaras sobre a
E como não reconhecer na vegetação a existiria apenas para corresponder aos terra. Deus sozinho não pode criar e manter
sua pele, o seu vestido, nos bosques seu seus desígnios. A partir dessa maneira de a harmonia da vida, como humanos fomos
ventre, nos rios seus cabelos, e nas suas entender e perceber Deus, o pensamento formados para sermos os colaboradores
diferentes partes os braços com os quais teológico e o próprio debate assumem uma de Deus nesta tarefa”, concluiu.
nos acaricia, nos protege como filhas e conotação de participação, de abertura
filhos? Eis a razão da fraternidade, ideal às diferentes maneiras de fazer teologia, Novo jeito de evangelizar
dos Povos Indígenas e resultado do fato valorizando as experiências de um Deus A partir desse contexto, dessa manei-
de que todos somos parentes por termos que se coloca dentro de um ecossistema, ra diferente de entender e se relacionar
origem da mesma mãe que é a terra; par- faz-se carne no hoje dos povos e das com Deus, nasce uma nova metodologia
tilharmos a vida com as pedras, as plantas culturas, deixando de ser um estereótipo de evangelizar. Nela o encontro com o
e os animais”, explicou. ou um mero conceito filosófico. diferente, com sua cultura, maneira de
Um dos fatos relevantes das interven- “Deus é o Coração do Céu e o Coração interpretar e entender o universo se torna
ções foi entender que o próprio teólogo é da Terra”, afirmou Eliezer Lopéz, “e também Boa Nova e ao mesmo tempo anúncio
parte deste debate e não um mero repeti- nós, os humanos somos chamados a ser o de vida e do Reino. Nessa nova visão,
evangelizador e evangelizado são partes
do mesmo processo que se vai constan-
temente renovando e enriquecendo com
os novos aportes vindos das diversas
realidades. Juntam-se experiências de
vida e elementos culturais para construir
comunitariamente o sonho e o projeto de
Deus em nossa história. De tudo isso, uma
questão fica no ar para nós: quando deixa-
remos de nos preocupar com os números,
a institucionalização e o proselitismo ainda
presentes em nossas ações e atitudes
missionárias? Talvez quando passarmos a
encarnar em nossas vidas o ser e o respiro
aprendidos na Amazônia conseguiremos
aceitar com maior abertura e docilidade a
novidade vinda das teologias construídas
na diversidade da criação de Deus. 

Gianfranco Graziola, imc, é mestre em Missiologia e coordenador


Momento de oração com símbolos da natureza. diocesano das Pastorais Sociais, Boa Vista, RR.

- Março 2009 11
Na construção
testemunho

do Reino
"Senguila azo ti centrafrique".
Obrigada, povo da República
Centro Africana.

Arquivo pessoal
As principais línguas são o San-
gho (língua materna para 17% da
população) e o Manza (11%). A
língua oficial é o francês.
Irmã Joana durante viagem pastoral na República Centro Africana.

de Joana Barbosa de Oliveira de Jesus e faziam o bem a todos. Fui a República Centro Africana me esperava.
percebendo que a vida missionária era Lá fui trabalhar no Hospital Anita Costa

N
uma aventura que me fascinava. Ir aos de Santo Anastácio. Eu tinha algum co-
a minha infância tudo foi muito povos de outras culturas devia ser algo nhecimento sobre a cultura daquele país,
simples e comum. Salto Grande interessante para quem se aventurasse contado pelas primeiras irmãs brasileiras
é uma pequena cidade interiora- por esse caminho. O interesse aumentava que lá trabalhavam, mas era muito pouco
na do Estado de São Paulo. Ali e eu procurava saber mais sobre elas, para quem agora devia encarar aquela
eu nasci numa família de quatro até chegar a entender que aquele era um realidade, um contexto novo. O desafio
irmãos, sendo a única menina. chamado que só Deus faz. era grande. Pensei na proposta que Deus
Aos cinco anos de idade, no Jardim de fez a Josué: “Sê firme e corajoso, não
Infância, tive o primeiro contato com as Rumo ao coração da África tenhas medo, porque eu, o Senhor teu
religiosas “Filhas de Maria Missionária”. Em 1966, após um tempo de orientação Deus, estarei sempre contigo” (cfr Js 1,
Elas estavam chegando da Itália para dar vocacional, comecei a fazer parte dessa 8-9). Isto me ajudou na renovação do meu
assistência ao Seminário Josefino de Ouri- família, seguindo os passos da formação “sim” à sua Vontade.
nhos e ao Hospital São Sebastião, de Salto. exigidos pela Congregação até chegar a
Embora pequena, eu pude acompanhar professar os votos. Eu estava contente O país
o esforço que as irmãs recém-chegadas com a opção feita. Um dia a irmã provincial A República Centro Africana localiza-
faziam para aprender a nossa língua e fez-me a proposta de trabalhar no campo se no coração do continente e por isso
se inserir na nova cultura. Fui crescendo da Enfermagem em vista da missão. Fiquei é chamada também de África Central.
e aquele tipo de vida começou a chamar muito emocionada e me senti pequena Ao norte faz fronteira com Camarões e
minha atenção. Quando comecei a en- ante um objetivo tão grande, mas aceitei. Chade, ao sul com a República Demo-
tender mais as coisas, fui descobrindo o Cursei Enfermagem na Santa Casa de crática do Congo, antigo Zaire, a leste
que significava ser religiosa e missionária. Presidente Prudente, SP, entre os anos com o Congo-Brasa e a oeste com o
As irmãs vinham de muito longe e aqui, de 1971 e 1972. Finalizada a preparação Sudão. Tem uma superfície de 622.436
numa pátria que não era a delas, falavam chegou também para mim o dia da partida; quilômetros quadrados e sua população é

12 Março 2009 -
de quatro milhões de habitantes - a capital As crenças

Arquivo pessoal
é Bangui. O país foi colônia da França e Algumas crenças chamam a atenção.
a língua nacional é o Sango. As etnias Por exemplo: a crença no likundú e fio-
mais numerosas são: Bayaas, Banda, boro. O likundú é quando uma pessoa é
Sara, Yacomam, Tali, Kare, Mandjas e acusada de fazer mal a outra pelo “mau
outras menores. Há também os povos olhado”. O fioboro é quando alguém morre
pigmeus, nativos de estatura mediana e e o seu espírito fica pairando no local.
nômades. Quase todo o comércio está nas Então os mamiotá, que são as forças que
mãos dos franceses, libaneses e árabes. vivem na água e na floresta, e o kwa, o
As escolas são poucas e precárias. A lugar da morte, vêm para o desagravo.
alfabetização ainda é feita com peque- São organizadas festas com muita dança
nas lousas (escrevendo e apagando). O para que o espírito do morto possa ir
material didático é quase inexistente. Os morar com os antepassados. A Igreja se
hospitais têm pouquíssimos recursos. A esforça para entender a religiosidade local
gente faz o que pode, mas as dificuldades e ser uma presença que partilha a vida
neste campo são imensas. A agricultura é ajudando o povo a descobrir o rosto do
de subsistência e no tempo da seca, para Pai-Mãe que os ama como filhos e filhas.
facilitar a caça, a floresta é queimada. É muito lindo quando se percebe algum
Embora a terra seja produtiva, não há passo deles nesse sentido; e para nós
políticas de incentivo para a produção e o cujos pais são vítimas da malária, da febre missionários e missionárias é motivo de
desenvolvimento. A base da alimentação tifóide e da AIDS. A poligamia faz parte encorajamento. A gente não desanima,
é a mandioca; mas na época das chuvas da cultura local e quando reforçada pelo mas o processo é muito lento. A Igreja é
encontram-se também amendoim, milho machismo faz crescer a desigualdade de um constante convite ao diálogo, à incul-
e batata doce. O período das chuvas se gêneros. Outro grande desafio que causa turação, à fraternidade e à solidariedade
prolonga por seis meses, nos demais a muito sofrimento e mais pobreza são os uns com os outros. Em 2008, o lema do
seca é muito grande. ataques dos rebeldes, os frequentes golpes trabalho foi: “Começar a caminhar com
militares, que destroem o pouco que as as próprias pernas, para não depender
As mulheres e as crianças pessoas têm. Nas estradas acontecem financeiramente da Europa”. Acontece
A mulher aos poucos vai tomando muitos assaltos, roubos e mortes, provo- que, em países como a República Centro
consciência da sua importância e do seu cados por bandidos, sobretudo, vindos do Africana quase tudo depende da ajuda
papel na família, no mercado de trabalho, Sudão e do Chade, em busca dos recursos externa, também na Igreja.
na sociedade; mas esse é um processo naturais: diamantes, urânio, petróleo...
muito lento. O nosso esforço é no sentido Estes grupos se escondem na floresta Filhas de Maria Missionária
de fazê-la descobrir o grande valor do seu e quando os veículos passam, atacam, Nossa Congregação está presente
ser como mãe e a necessidade de lutar roubam e matam. Nessas emboscadas em vários lugares: Bangui, a capital, onde
pelos seus direitos. Também a situação das já perdemos missionários, médicos e temos a casa da Delegação e Noviciado e
crianças preocupa. Os pais não entendem enfermeiros. A República Centro Africana em Bouar, Boucá e Mbaiki. Desenvolvemos
o valor da educação escolar. Aumenta deverá trabalhar muito para avançar na nosso trabalho apostólico-missionário nas
assustadoramente o número de órfãos, construção da própria história. escolas, nos postos de saúde e centros
nutricionais, nos centros pastorais paro-
quiais, sempre no sentido de ajudar as
Divulgação

pessoas a se sentirem Igreja e constru-


toras do Reino.
Depois de 22 anos de presença nes-
sa realidade posso afirmar que aprendi
muito com o povo. Muitas vezes pude
sentir que Deus caminha conosco. Eu me
lembro das palavras do Livro do Êxodo:
“Eu vi o sofrimento do meu povo, escutei
o seu clamor e desci para libertá-lo” (cfr
Ex 3, 7-8). Ser missionária é entender
a mensagem de amor de Jesus, que se
entregou para salvar a humanidade. Ele
não quer que ninguém se perca. Finali-
zando, lembro as palavras do saudoso
dom Hélder Câmara no centenário de
seu nascimento: “Ser missionário não é
dar voltas em torno de si mesmo, mas
em torno do mundo”. Sou muito grata
ao Deus da vida, pela oportunidade de
partilhar a minha fé e a minha vida com
esse povo. 

Joana Barbosa de Oliveira é religiosa da congregação das


Comércio nas ruas de Bangui, capital da República Centro Africana. Filhas de Maria Missionária.

- Março 2009 13
fé e política

Eleições x democracia
Tudo permanece absolutamente da mesma
forma como sempre foi.
de Humberto Dantas entre os partidos. No Senado, os dois candidatos representavam
o que podemos chamar de base governista, ou seja, dentro de
um mesmo agrupamento de sustentação ao Executivo emergem

E
dois nomes. O primeiro do partido do próprio presidente, o acre-
leições são utilizadas comumente como sinônimo de demo- ano Tião Viana (PT), o segundo um velho conhecido do cenário
cracia. Tal forma de escolhermos um líder ou o ocupante político brasileiro: o “amapamaranhense” José Sarney (PMDB).
de um determinado posto indica comprometimento com Envolto num ambiente de traição e jogadas pouco compreensíveis
a vontade de uma coletividade diretamente interessada aos cidadãos comuns, como por exemplo, o apoio declarado do
naquela disputa ou posição. É assim que determinamos PSDB ao nome petista, José Sarney foi conduzido pela terceira
nossos prefeitos, governadores, presidentes e os ocupantes vez ao posto máximo do Senado.
do Poder Legislativo. No interior das esferas municipais, estaduais
e federais do Parlamento, nossos escolhidos se organizam para Câmara Federal
a escolha de seus próprios líderes. Está em jogo a Presidência Na Câmara, quem venceu com relativa tranquilidade foi o depu-
do Congresso Nacional e os cargos do que chamamos de Mesa tado paulista Michel Temer (PMDB), conduzido novamente ao cargo
Diretora. A responsabilidade desse pequeno grupo de cidadãos, que já ocupara. Em seus primeiros discursos e ao longo de sua
escolhidos por seus pares, é imensa. O orçamento do Legislativo campanha ficou absolutamente claro o seu compromisso essencial
federal, por exemplo, é semelhante ao montante arrecadado na com o bem-estar dos parlamentares e seus infindáveis benefícios
cidade do Rio de Janeiro, e supera os R$ 6,5 bilhões anuais. Além eleitoreiros e paroquiais. O resultado das eleições no Congresso
disso, senadores e deputados federais são responsáveis pela nos transmite uma certeza: TUDO permanecerá absolutamente da
aprovação de leis, fiscalização do Poder Executivo e decisões mesma forma como sempre foi. Nosso Legislativo, tradicionalmente
absolutamente estratégicas para o país. submisso aos interesses do Executivo manterá sua posição. A
lentidão com as questões de interesse público, o distanciamento
Eleições no Senado em relação à realidade social, o descaso com aspectos relevantes
Diante desse cenário de responsabilidades, seria absolutamente e a preocupação com privilégios e favores se manterão em alta.
esperável que a escolha da presidência do Senado e da Câmara Quem perde com isso é nossa frágil democracia, que dá sinais de
dos Deputados ocorresse em torno de discussões transparentes, sua convalescência no próprio formato de escolha de seus líde-
acordos compromissados com o interesse da sociedade e critérios res. Voltamos, nesse caso, à discussão sobre o voto secreto dos
claros de formação de bases de sustentação de candidaturas. parlamentares. Ficamos sem compreender porque aqueles que
O que assistimos no último mês, no entanto, passa longe desse respondem por nós, porque os indivíduos que são nossas vozes
cenário. Não existe ordem no que diz respeito ao relacionamento no mais democrático dos poderes - o Legislativo - têm o direito de
se esconder no segredo de
suas posições.Avoz, a atitude,
Néo Monteiro

o gesto e o comportamento de
um deputado federal e de um
senador carregam consigo o
desejo de milhões de repre-
sentados. Nesse sentido, refor-
çamos a distância e a falta de
transparência, assistindo uma
eleição pautada em acordos
apodrecidos na mesmice e na
falta de capacidade de renova-
ção de um poder que parece
fazer questão de se manter
apartado da sociedade, apesar
de teoricamente ser aquele que
melhor a representa. 

Humberto Dantas é cientista político, coor-


denador de cursos na Assembleia Legislativa
de São Paulo e apresentador do programa
Despertar da Cidadania na rede Canção
Grito dos Excluídos 2004, Parque do Ipiranga, São Paulo, SP. Nova de Rádio.

14 Março 2009 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Fórum Social Mundial


uma ideia genial
A crise mundial e a resistência dos Povos Indígenas estiveram no centro dos
debates do 9º. Fórum Social Mundial - FSM.

Jaime C. Patias
Caminhada de abertura do Fórum Social Mundial 2009, Belém, PA.

de Jaime Carlos Patias realização do FSM na Amazônia co- o que já vem sendo proposto desde
locou em evidência a importância vital 2001, na primeira edição do evento. Em

O
dos recursos naturais ainda existentes síntese, os diversos grupos de trabalho
s campus das universidades naquela região, hoje ameaçados pelo denunciaram a crescente privatização
federais do Pará - UFPA e modelo político-econômico. Por outro e a mercantilização de elementos vitais
Rural da Amazônia - UFRA, lado, contra o pensamento único e he- para a humanidade e o planeta. O projeto
às margens do Rio Guamá, gemônico, valorizou a resistência dos de sociedade capitalista neoliberal, um
em Belém do Pará, tornaram- Povos Indígenas, ribeirinhos, quilom- processo cada vez mais voraz, abarca
se, de 27 de janeiro a 1º de bolas, trabalhadores e trabalhadoras, os recursos naturais, o trabalho huma-
fevereiro, os territórios do 9º Fórum entre outros à dominação e exploração no, os conhecimentos, as culturas, a
Social Mundial - FSM. A Caminhada dos seus recursos e saberes. educação, as comunicações, os seres
de Abertura, no dia 27, já sinalizava Após cinco dias de intensa progra- vivos, o patrimônio genético e suas
mais um evento pluricultural, reunindo mação, com cerca de 2.500 atividades, modificações. O bem-estar de todos e
povos de todo o planeta, que com seus reunidos em Assembleia no estádio da a preservação da Terra são sacrificados
símbolos de resistência e de anseios UFRA na tarde de 1º de fevereiro, os ao lucro de poucos que concentram
por “outro mundo possível”, coloria as 30 grupos de trabalhos temáticos apre- sempre mais poder e riqueza.
ruas da capital paraense. sentaram os resultados, suas receitas O Fórum foi claro em afirmar o que
Situada no coração da Amazônia, anticrise e as prioridades para prosse- já é visível há muito tempo: as conse-
com mais de dois milhões de habitantes, guir o processo, divulgando também quências do projeto hegemônico em
Belém, a “casa do pão”, recebeu 133 mil uma densa agenda de mobilizações curso são nefastas. Elas são conhecidas
participantes do Fórum, provenientes para 2009. por todos: sofrimento e morte dos que
de 142 países, com calor humano e As proposições anunciadas na gran- padecem com doenças negligenciadas
muita chuva que, nos dias do evento, de Assembleia estão em plena sintonia pelo mercado sem acesso aos remé-
regou as sementes da esperança. A com os princípios do Fórum e reforçam dios que permitiriam seu tratamento,

- Março 2009 15
impacto do consumismo, destruição a colaboração no centro da vida. As
do meio ambiente e da biodiversidade,
aquecimento global, empobrecimento
da diversidade cultural, dependência
alternativas apresentadas pelo FSM já
estão se desenvolvendo em numerosos
domínios para defender a água e os
Histórico
Depois de Porto Alegre ter sido
alimentar, limitações de acesso ao rios, a terra, as sementes, as florestas, a sede em 2001, 2002 e 2003,
conhecimento e à educação, ditadu- os mares, o vento, o conhecimento, o Fórum Social Mundial migrou
ras, machismo, patriarcalismo, tortura, as ciências, a soberania dos povos, para Mumbai, na Índia, em 2004,
trabalho escravo, violação dos direitos a moeda, a comunicação e as inter- retornando à capital gaúcha em
humanos, modificação dos seres vivos comunicações, a cultura, a música e 2005. No ano seguinte, o evento
e outras barbaridades. outras artes, as tecnologias abertas e foi descentralizado e se realizou
os softwares livres, a biodiversidade, os em três lugares: Bamako, em Mali,
Momento histórico saberes ancestrais, os serviços públicos Caracas, na Venezuela e Karachi,
A 9ª edição do FSM aconteceu em de educação, saúde, saneamento e no Paquistão. Já a sua sétima
um momento único quando a globaliza- previdência. Os resultados mostram edição, em 2007 foi realizada em
ção neoliberal, dominada pelas finanças um caminho possível. Nairóbi, no Quênia. Em 2008 o
fora de qualquer controle público e em Em meio a diversidade de assuntos Fórum promoveu, de forma coor-
crise, vai perdendo sua hegemonia. Ao abordados e discutidos, um consenso denada, em todo mundo, jornadas
mesmo tempo, em Davos, nos Alpes parecia atravessar a maior parte das de mobilização conhecidas como
suíços, o Fórum Econômico Mundial, discussões: a grande crise financeira Dia de Ação Global. A 9ª edição
que reunia representantes dos principais deve ser pensada conjuntamente às aconteceu em Belém do Pará.
responsáveis pela crise mundial, reco- crises energética, climática e alimentar. Em 2010 o FSM volta a promover
nhecia o fracasso e a descrença nos Trata-se antes de tudo de uma crise de jornadas de mobilizações em
principais pilares do sistema que sempre sustentabilidade. Hoje já consumimos nível mundial, para em 2011,
defendeu como único capaz de governar 30% a mais do que o planeta é capaz concentrar-se novamente em um
a humanidade. Agora buscam socorro de suprir. Conforme lembrou Leonar- grande evento a realizar-se em
do Estado que sempre desprezaram. do Boff nesse contexto, a noção de um país africano.
O cenário de pessimismo de Davos “desenvolvimento sustentável” é uma
deu maior confiança ao processo do trama do sistema, que se reapropria O que é o FSM
FSM. O evento de Belém veio confirmar do discurso ecológico para continuar Conforme sua Carta de Princí-
uma tomada de consciência de que a sua expansão devastadora. pios, o FSM, não é uma entidade,
natureza e os bens de uso comum a No espírito do FSM, um pouco da nem uma organização, mas um
todos os seres humanos não podem incrível diversidade humana e cultural espaço de debate democrático
ser privatizados ou considerados como da região pode ser apreciada em Belém: de ideias, aprofundamento da re-
mercadoria. 1.900 indígenas de 50 paí­ses partici- flexão, formulação de propostas,
Esta tomada de consciência se param do evento, propondo atividades trocas de experiências e articula-
apoia em uma visão de sociedade ligadas às suas culturas e interagindo ção de movimentos sociais, redes,
que coloca o respeito aos direitos hu- com os participantes para pensar co- ONGs e outras organizações da
manos, a participação democrática e letivamente a construção de um outro sociedade civil que trabalham
para “outro mundo possível”.
Após sua 1ª edição em 2001,
o FSM tornou-se um processo
Aldenir Wapichana

mundial permanente, de busca


e construção de alternativas às
políticas neoliberais em contra-
posição ao Fórum Econômico
Mundial. O evento se caracteriza
também pela pluralidade e pela
diversidade, tendo um caráter não
confessional, não governamental
e não partidário.

mundo. A sabedoria e a riqueza dos


povos originários dessa terra não pode
mais ser menosprezada se de fato, a
humanidade deseja mudar de rumo
para salvar o planeta.

Avaliando o processo
Apesar dos problemas na organi-
zação, o saldo final foi positivo. O mais
´Participação dos povos indígenas no FSM, Belém, PA. importante de tudo é que, na atualidade,

16 Março 2009 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
o FSM segue sendo uma das únicas

Números do Fórum
propostas multissetoriais e interna-
cionais com um projeto alternativo
emergente. Para um mundo carente de
iniciativas, esse é um fato extraordiná- 133 mil participantes, de 142 países, sendo
rio. Em relação às primeiras edições, o 15 mil no Acampamento da Juventude
evento de Belém foi marcado por uma 3 mil crianças em barraquinhas
maior radicalidade e contundência nas 5.808 associações (489 da África, 119 da América Central, 155 da América
análises, uma maior articulação entre do Norte, 4.193 da América do Sul, 334 da Ásia, 491 da Europa, 27 da
movimentos e também por um senso Oceania)
de urgência. A definição de estratégias 1.900 indígenas de 120 etinias
de luta social e política para a supe- 2.310 atividades
ração da sociedade do capital se faz Além dos participantes, somaram-se os trabalhadores a 150 mil pessoas,
mais urgente. Não se trata mais de sendo que 4.830 eram voluntários, tradutores, técnicos e gestores.
salvar o sistema, mas de resolver os 5.200 expositores nas lojas, na solidariedade dos espaços de exposições
problemas da humanidade, que che- e restaurantes
gou a um impasse: ou se ­coordenam 200 eventos culturais
forças para sairmos da grave situação 1.000 artistas que organizaram atividades
ou possivelmente não teremos futuro. 800 jornais de 30 países foram credenciados
Fica cada vez mais claro que a solução 4.500 jornalistas, profissionais da comunicação e mídia livres sendo que
não é uma versão mais verde, mais 2.500 trabalharam nas salas da Universidade de Belém e 2 mil à distância,
civilizada, mais ética e regulada do com o apoio da assessoria de comunicação do Fórum.
modo de produção capitalista. A nova 7.000 policiais, entre segurança pública e privada.
sociedade deve se fundar sobre um
melhoramento da qualidade de vida,
que se mede por parâmetros e valores cas para que povos diversos possam
Genti Qafzezi

não capitalistas, como moradia, saúde, estar mais fortalecidos para enfrentar
alimentação de qualidade, educação problemas como a crise econômica
conscientizadora, tempo de cultura e mundial", destacou. O FSM contou com
lazer, espaços públicos diversificados. a participação de várias organizações
O Fórum passa a ser um espaço no do Movimento Social Negro Brasileiro
seio do qual, mulheres e homens de e algumas organizações de países
todas as partes do mundo geram uma africanos. Cada uma dentro da sua
expressão política de seus interesses área de intervenção debateu e refletiu
e aspirações existenciais. com os participantes os problemas que
dizem respeito às relações raciais locais
Mulheres e conflitos internacionais que a cada dia
Este foi o Fórum em que as mulheres ganham maior visibilidade. Questões
mais enfatizaram a relação entre a crise de gênero, educação, saúde, trabalho,
mundial e o modo como as sociedades criança e juventude foram alguns dos
patriarcais lhes sonegam direitos. A pontos discutidos nas oficinas.
Assembleia final das Mulheres rejeitou a O Fórum de Belém teve como um
continuidade do atual modelo produtivo dos pontos altos a maior participação
e as tentativas de manter o sistema às de indígenas, negros e quilombolas
suas custas. “As demissões em massa, em comparação às edições anteriores
o corte de gastos públicos nas áreas realizadas no Brasil. Para o assessor
sociais e a reafirmação desse modelo técnico da Coordenadoria Andina das
produtivo afeta diretamente nossas Organizações Indígenas, Roberto Espi-
vidas”, afirmou o comunicado lido por noza, o principal resultado do Fórum da
Participação das mulheres no FSM.
Graça Costa, em nome de todas. Outra Amazônia foi a popularização do evento,
preocupação está na situação das mu- do evento por si só já apresentava um possibilitando, inclusive, a maior partici-
lheres que vivem em regiões de conflito. grande apelo por se tratar de uma região pação de indígenas. Espinoza participou
Elas se solidarizaram especialmente de interesse mundial, pelo seu meio das três edições anteriores e representou
com as palestinas e pediram o fim da ambiente e povos”, afirmou. “O saldo indígenas do Peru, Colômbia, Argentina,
guerra no Oriente Médio. deste Fórum é altamente positivo. Esse Chile e Bolívia. “As lutas dos Povos
Na avaliação de Salete Camba, foi um dos fóruns que possibilitou a me- Indígenas, hoje, estremecem em todo
integrante do Conselho Internacional do lhor integração entre diferentes povos. mundo porque existe uma pressão muito
Fórum que reúne representantes de 126 Só da América Latina foram mais de grande pelo consumo e uma busca sem
organizações, a Amazônia como sede quatro mil organizações. Isso sem falar fim pelas riquezas naturais, que em
em 2009 foi elemento chave. “O evento de quilombolas, ribeirinhos, indígenas, muitos casos estão em terras indígenas.
em si é a culminância de um processo que totalizaram quase dez mil pessoas. É por isso que os indígenas estão no
de discussões. AAmazônia como sede Daqui sairão articulações estratégi- centro das contradições mundiais e da

- Março 2009 17
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
sobrevivência humana”, afirmou. Fórum nos Estados Unidos, mas as

Jaime C. Patias
Na opinião de Oded Grajew, outro dificuldades impostas pelo governo
membro do Conselho Internacional na obtenção de vistos, prejudicaria a
do Fórum e um dos idealizadores do participação.
evento, a edição centralizada em Belém Whitaker evitou fazer comparações
avançou no processo de incentivo da entre as várias edições do Fórum.
democracia participativa. “Foi um su- “Cada evento tem sua particularidade.
cesso quantitativo, qualitativo e político. Na Índia (2004) foi o grande momento
Tivemos ainda alguns problemas de co- do povo Dalit. Em Belém foi a vez
municação e logísticos, algumas vezes dos Povos Indígenas se destacarem.
na tradução... Sabemos que temos que Normalmente, 80% dos participantes
dar mais atenção aos deficientes físicos são oriundos da região. Os povos do
e à questão do lixo”, avaliou. Apesar mundo estão olhando para a Amazônia
de apontar falhas, Grajew afirmou que, e a sua problemática”, concluiu.
mesmo assim, as limitações não com-
prometem a avaliação final positiva. A comunicação
“O que queríamos muito e acho que Um dos maiores desafios enfrenta-
conseguimos em parte é levantar a dos pelo Fórum é a sua comunicação
consciência sobre a questão ambiental. com o mundo. Participar de um Fórum
A crise financeira é prenúncio da crise é uma coisa. Ouvir falar dele por outros
Chico Whitaker
ambiental, parte do mesmo processo, ou pelos grandes meios de comunicação
com uma competição sem limite, num que este pensamento é “extremamente de massa é outra. A contradição é a de
modelo econômico que privilegia o lucro danoso para o meio ambiente”. não se conseguir “comunicar” o que
sem qualquer regulação, ou participação Ainda segundo Grajew, a esperança realmente acontece no evento, mesmo
da sociedade”, realçou, acrescentando a partir de agora é que existem pers- porque o próprio Fórum surgiu como
pectivas de uma grande mudança de uma operação de “contra-comunicação”
valores. “Se há uma novidade é que frente ao Fórum Econômico de Davos.
Jaime C. Patias

o nosso problema já não é mais de “Um outro mundo é possível” e não


recursos. Hoje já se sabe quais são os somente o do pensamento único de
riscos, os problemas, o que tem que ser Davos. Apesar da presença de grande
feito e temos os recursos, é a vontade quantidade de jornalistas (4.500), o
política que falta”, arrematou. FSM é cada vez menos “relatado” pelos
Na organização, algumas ativida- grandes meios de comunicação, que
des não coincidiam com o anunciado quando o fazem, não contam o que
na programação. Francisco Whitaker, precisaria ser contado, mas ficam no
outro idealizador do Fórum e membro lado folclórico que o evento propor-
do Conselho Internacional explicou ciona. É cada vez mais evidente que
que a confusão se deu devido às os grandes meios de comunicação
mudanças que algumas organizações não são as melhores referências para
fizeram na programação, depois da a informação e o conhecimento. A
sua divulgação. “Trabalhamos para ter saída é valorizar a mídia alternativa e
o programa impresso 15 dias antes, a comunicação que cada participante
conforme nos pediram, e conseguimos. faz no seu círculo de atuação. 
Divulgamos sete erratas e ainda assim
não evitamos a confusão”, justificou. Jaime Carlos Patias, imc, é mestre em comunicação e
Oded Grajew A organização já pensou em fazer um diretor da revista Missões.

Agenda de mobilizações 2009


8 de março - Dia dos Direitos da Mulher
14-22 de março - Mobilização e Fórum paralelo ao Fórum Mundial da Água em Istambul
28 de março - Começa em Londres a semana de Ação G-20
30 de março - Mobilização contra a guerra e a crise
30 de março - Dia da Solidariedade aos palestinos e boicote dos produtos e investimentos israelitas.
4 de abril - Dia de Ação no 60º aniversário da NATO
17 de abril - Dia Internacional para a Soberania Alimentar
1º. de maio - Dia Internacional dos Trabalhadores
Julho - Dias de Ação do G-8 na Itália
12 de outubro - Dia Mundial de Ação para a Proteção da Mãe Terra, contra a mercantilização da vida.
12 de dezembro - Dia de Ação Global sobre a Justiça Climática em Conferência sobre o Clima.

18 Março 2009 -
Roteiro de Encontro
Tema do mês: Construindo um outro mundo
a) Acolhida
b) Invocação do Espírito Santo
c) Dinâmica
d) Apresentação do tema,
questionamentos e debate
e) Compromisso mensal
f ) Oração conclusiva
Jovens no estande da Consolata, FSM, Belém.
Foto: Jaime C. Patias

de Patrick Gomes Silva

A
9ª edição do Fórum Social Mundial - FSM chegou ao fim. Aque-
les que tiveram a oportunidade de participar in loco e os que
acompanharam o evento pela mídia, tiveram a possibilidade
de tirar suas próprias conclusões. Não é fácil definir o que é o
Fórum e o que esse processo representa para a sociedade hoje,
ainda assim, depois de haver participado do evento em Belém, partilho
algumas impressões com um olhar na juventude.

Maioria
O primeiro e mais importante destaque foi a presença expressiva
da juventude. Era a maioria dos participantes! Fica claro que existe
em muitos jovens o desejo de construir um outro mundo. Em outras
palavras, o mundo em que vivemos não satisfaz a juventude. O
Acampamento da Juventude armado no Território do Fórum era um
espetáculo de cores e diversidade, onde tudo parecia ser possível.
Correu tudo bem? Não, mas o fato de mais de 20 mil jovens aceitarem
ficar num acampamento em precárias condições, mostra claramente
que eles querem ocupar espaço e participar na construção de um
outro mundo possível. Equivocam-se aqueles que pensam que a
juventude, hoje, não tem mais ideais. Na atualidade, os jovens con-
tinuam lutando e defendendo ideais para melhorar a humanidade
e cuidar melhor do planeta.

Contradições
Várias pessoas me confrontaram com a questão de que o FSM
é muito utópico e que não consegue concretizar as propostas
que faz. Admitimos que o Fórum tem muitas contradições. Por
exemplo, quem esteve em Belém durante os dias do evento
terá ficado assustado com o lixo, com o desperdício e outros
exageros. No entanto, o Fórum apresenta duas realidades
distintas e ao mesmo tempo, complementares. Por um lado, a
presença de uma enorme variedade de organizações, grupos
e movimentos, com projetos que demonstram, a concretização
já agora de alternativas para um outro mundo. Do outro lado,

Construindo
estão as utopias, também elas necessárias na atualidade.
A utopia é o que move... O desejo é o que sustenta a
busca... As certezas podem ser incertas, mas nada se com-
para à teimosia de continuar buscando! A busca de um outro
mundo possível e necessário é a certeza de que ele já está
acontecendo em nós!.

um outro mundo

Patrick Gomes Silva, imc, é diretor do Centro Missionário José Allamano, em São Paulo.

Para refletir:
1. Você gosta do mundo em que vive? O que mais lhe agrada Proposta:
e o que mais lhe desagrada? Refletir sobre um outro mundo possível...
2. Acredita que um outro mundo é possível? O que você mudaria
nesse outro mundo?

- Março 2009 19
Destaque do mês

Evangelização e preservação
Retratos de sabedoria
de povos e culturas
como garantia para a
sobrevivência do planeta
e da humanidade.
de Karla Maria e Jaime Carlos Patias

A
participação dos missionários e
missionárias da Consolata nos
Fóruns Mundial de Teologia e
Libertação - FMTL e Social Mun-
dial - FSM, em Belém, PA, foi uma
oportunidade para partilhar seu
Carisma: a evangelização dos povos em
plena sintonia com a promoção humana.
Já no Fórum de Nairóbi, em 2007, as
duas congregações haviam reunido um
grupo de missionários e missionárias para
participar do II FMTL e das atividades do
FSM. Este ano, os dois Institutos levaram
a Belém 62 pessoas, entre religiosas, pa- Grupo de leigos, leigas, missionários e missionárias da Consolata, casa de retiro Santa Rosa, Icoaraci, Belém, PA.
dres, leigos e leigas ligados aos trabalhos
de evangelização e promoção humana. padre Antônio Fernandes, conselheiro comunidades dos povos Macuxi, Taure-
Outras comunidades de Vida Consagrada geral do IMC. Para irmã Renata Conti, pang, Patamona, Ingaricó e Wapichana.
também estiveram em Belém partilhando conselheira geral das missionárias da O governo federal iniciou o processo de
a missão que desempenham no mundo, Consolata, “a nossa participação ajuda a regularização em 1977, concluindo o rela-
sinal de que a Igreja em sua ação evan- caminhar com a Igreja e com as demais tório de identificação da terra em 1992. No
gelizadora também procura caminhar e organizações e movimentos. Queremos entanto, as invasões se intensificaram com
contribuir com as demais forças atuantes enfrentar os desafios do mundo atual, a chegada dos rizicultores. Em 15 de abril
por um mundo melhor. somando forças com os que acreditam de 2005, através do decreto presidencial
Além de participar nas atividades dos num outro mundo possível”. Fundadas em de homologação, a demarcação da RSS
dois eventos, a família Consolata organi- Turim, Itália, pelo Bem-aventurado José foi ratificada: os povos indígenas tiveram
zou um estande no espaço reservado à Allamano em 1901 e 1910 respectivamente, o reconhecimento formal de seus direitos
exposição de projetos e promoveu o painel as duas Congregações religiosas reúnem originários e a garantia de uso exclusivo
“Retratos de sabedoria de povos e cultu- cerca de 1.800 membros entre padres, sobre a terra. Segundo informou Aldenir, a
ras como garantia para a sobrevivência irmãos, irmãs, leigos e leigas oriundos das portaria ministerial instituiu o prazo de um
do planeta e da humanidade”, dentro da mais diversas nacionalidades e culturas, ano para a saída total dos ocupantes não-
programação oficial do Fórum. A atividade atuando em 25 países da África, Ásia, índios da área. A maioria saiu devidamente
que aconteceu na UFPA - Universidade Europa e América. indenizada, mas seis invasores, liderados
Federal do Pará, destacou a cultura e a vida por Paulo César Quartiero, insistem em
do povo Macua-Xirima de Moçambique, a Raposa Serra do Sol permanecer. “Cometem atos de violência
organização dos Povos Indígenas Nasa Aldenir Cadeti de Lima e Gregório contra indígenas, queimam casas e pon-
Paez do Cauca, Colômbia, e a resistência Alexandre de Lima, lideranças da terra tes, destroem escolas, fazem ameaças
dos indígenas da Raposa Serra do Sol, indígena Raposa Serra do Sol - RSS, abri- e provocam devastação ambiental”, de-
em Roraima, Brasil. ram os trabalhos do painel falando sobre nunciou. Ao todo, na RSS, já ocorreram
“O painel teve por objetivo mostrar a a organização e resistência indígena para 21 homicídios, 86 ameaças de morte, 57
contribuição dos missionários e missioná- garantir a terra e a cultura. Aldenir explicou agressões físicas, 10 casos de violência
rias nos processos de evangelização, tendo que a população na RSS é de 19 mil indíge- sexual, 84 invasões de comunidades com
em conta a preservação e a valorização nas que vivem conforme sua organização a destruição de 90 casas, oito roças, três
dos povos e suas culturas”, explicou o social, usos, costumes e tradições em 194 escolas, pontes e estradas.

20 Março 2009 -
o de povos e culturas
esforços para garantir os direitos dos respeito mútuo e se colocar à disposição

Jaime C. Patias
seus povos. para o serviço”. Padre Frizzi encerrou sua
exposição com o provérbio da sabedoria
Inculturação Macua-Xirima: “Embora o caminho seja
A seguir, padre José Frizzi e irmã tortuoso, se o coração o deseja, chegará
Simona Brambilla apresentaram a história ao destino”.
do Centro de Estudos da Cultura Macua-
Xirima, uma iniciativa dos missionários “Minga”: união de forças
da Consolata em Maúa, na Província do “Não mais terror e cobiça. Propomos um
Niassa, região norte de Moçambique. Eles caminho dos povos para um mundo novo”.
falaram sobre as atividades do Centro e Com essas palavras os representantes do
dos resultados dos estudos realizados com povo Nasa Paez, Rafael Coicué, autoridade
a participação do povo local. Na exposi- tradicional, e Dora Muñoz, comunicadora
ção, deixaram claro que a evangelização indígena do Cauca na Colômbia resumiram
inculturada é garantia de que a sabedoria os anseios dos indígenas da Colômbia.
e a cultura de um povo são respeitadas e “Queremos reiterar nossa palavra ao
valorizadas. Citando provérbios Macua- mundo. O que propomos foi concebido
Xirima, irmã Simona que é psicóloga e em setembro de 2004, no Primeiro Con-
trabalhou por dois anos em Maúa, partilhou gresso Indígena e Popular na Colômbia”,
sua experiência de pesquisa feita com a explicou Rafael que está empenhado em
participação do povo. “Trata-se de um orientar “a Minga”, o processo de unidade
estudo antropológico e psicológico do entre todas as forças em torno de cinco
processo de evangelização inculturada”, objetivos: 1. dizer não aos Tratados de
disse. “O estudo é, de fato, uma viagem Livre Comércio; 2. denunciar, resistir e
junto com aquele povo”, explicou a religiosa, exigir as reformas constitucionais e da
hoje conselheira geral da Congregação, legislação; 3. rejeitar o terror e a guerra
em Roma, de onde segue apoiando a imposta pelo “Plano Colômbia”, que afeta
obra de Maúa. “Na visão Xirima, toda os territórios semeando a morte. A guerra
vida é um processo educativo: a pessoa não é o caminho; 4. exigir o cumprimento
Em março de 2008 deu-se início à vive aprendendo, acolhendo a revelação e o respeito dos acordos e convênios
Operação UPATAKON 3, organizada pelo do mundo visível e do mundo invisível”, conquistados, como a Convenção 169 da
governo federal, visando a retirada dos explicou e citou mais um provérbio: “não OIT e Declaração da ONU sobre os Direitos
invasores, mas os atos de violência foram se educa a cabeça, educa-se o coração. dos Povos Indígenas de 2007; 5. trabalhar
usados como artifícios para suspender a Na verdade, a pessoa é o seu coração”. para a construção de uma agenda comum
Operação. O caso foi parar no Supremo Doutorado em Teologia Bíblica e vi- a todos os povos, que busque a unidade
Tribunal Federal - STF, onde em duas vendo há 33 anos em Moçambique, padre e a coordenação.
sessões em 2008, dos 11 ministros, oito José Frizzi, explicou que o Centro de In- “Arriscamos e oferecemos a vida pela
votaram favoráveis à manutenção da vestigação, tem por objetivo desvendar a vida. Lutamos com toda a nossa capacidade
homologação em área contínua. Agora origem e cultura do povo. O trabalho tem contra a propaganda sofisticada que não
as comunidades indígenas aguardam o três grandes diretrizes: a evangelização, o passa de mentiras bem apresentadas.
desfecho final do julgamento e exigem conhecimento da língua e a ação educa- Convocamos a sabedoria, a serenidade,
o cumprimento da Constituição Federal. tiva. Por meio de estudos antropológicos o respeito e o diálogo”, afirmou Rafael.
Aldenir espera que “o poder econômico é possível conhecer e valorizar a cultura As três realidades apresentadas no
e político não prevaleça e que os direitos local criando uma identidade coletiva entre painel têm em comum a resistência e a
dos Povos Indígenas sejam tratados com os vários grupos, para que se firmem na autodeterminação dos povos em pre-
respeito. Os invasores devem ser consi- sociedade, como sujeitos autônomos e servar sua identidade cultural em busca
derados nocivos e perigosos à população protagonistas de seus destinos. É neste de um projeto alternativo de vida. Esse
indígena, uma vez que cometem atos sentido que a metodologia de trabalho projeto, em muito se identifica com os
terroristas nas suas terras”, concluiu. nas pesquisas envolveu a população valores do Evangelho onde se encontra
Por sua vez o líder Gregório de Lima local e resultou em publicações, como enraizado o Carisma dos missionários e
destacou a importância da atitude da Igreja um dicionário com 15 mil terminologias, missionárias da Consolata em sua obra
que, ao longo dos anos, foi fundamental uma obra de antropologia e gramática, a evangelizadora. 
para as conquistas, e por isso, agradeceu. Bíblia e diversos livros litúrgicos e didáticos
Dionito José de Sousa, coordenador do para o ensino. Sobre as dificuldades no Karla Maria, LMC, estudante de jornalismo e
Conselho Indígena de Roraima - CIR, processo de inculturação, o missionário colaboradora da revista Missões.
visitou o painel, agradeceu aos missio- explicou que “a primeira atitude é respeitar Jaime Carlos Patias, imc, mestre em comunicação e
nários e reforçou a necessidade de unir a cultura local, construir uma relação de diretor da revista Missões.

- Março 2009 21
Mutirão de Comunicação
Promover espaços de diálogo sobre os processos de comunicação à luz da
cultura solidária, na construção de uma sociedade comprometida com a justiça, a
liberdade e a paz é o objetivo do Muticom.
de José Mármol Mutirão de 25 a 27 de março com o tema “Ética na era digital”.
O mesmo vem acontecendo no Peru, na Colômbia, em Cuba,

C
na Costa Rica, Venezuela e Argentina, onde o Mutirão acontece
omunicadoras e comunicadores, profissionais da mídia, em diferentes atividades e eventos.
estudantes, docentes e pesquisadores da América
Latina e do Caribe estão se preparando para participar Espaço de intercâmbio
do grande Mutirão de Comunicação - Muticom que vai Toda a América Latina está debatendo sobre a necessidade
se realizar em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, de de promover uma comunicação geradora de esperança, que seja
12 a 17 de julho de 2009. O tema central do evento uma ponte de encontro, de participação, de construção coletiva
é: “Processos de Comunicação e Cultura Solidária”. solidária de homens e mulheres que procuram um outro mundo
O Mutirão está sendo promovido nos diversos países do possível de paz e fraternidade.
nosso “continente da esperança e do amor”, como disse o papa O Mutirão de Comunicação é isso: um espaço de intercâmbio,
Bento XVI. No Equador, por exemplo, a Associação Católica de atualização, reflexão e aprofundamento dos temas da comuni-
Comunicação (SIGNIS-Ecuador) realizou, em dezembro de 2008, cação e da sociedade, na perspectiva da busca permanente de
a “Minga de la Comunicación” (Mutirão de Comunicação) para estratégias e caminhos para se estabelecer uma sociedade mais
analisar o direito à comunicação na nova carta constitucional, justa e comprometida com a liberdade e a paz.
propondo subsídios para a nova lei da comunicação. Além disso, O Mutirão de Comunicação é uma iniciativa que se realiza
nas várias atividades que estão sendo realizadas em praticamente no Brasil desde 1998, de dois em dois anos. Por outro lado,
todos os países da América Latina se promove o Mutirão. desde 2001, a Organização Católica Latino-Americana e Cari-
Assim, na República Dominicana, a Associação Católica de benha de Comunicação - OCLACC tem realizado três edições
Comunicação (SIGNIS-RD) está organizando encontros para do Congresso Latino-Americano e Caribenho de Comunicação,
refletir sobre os temas do Mutirão de Comunicação de Porto com objetivos similares ao Mutirão brasileiro. Para o Mutirão
Alegre. No México, os comunicadores católicos terão o seu de Porto Alegre, as organizações católicas de comunicação
no Brasil, as 18 dioceses do Rio Grande do Sul, a CNBB, o
Conselho Episcopal Latino-Americano - CELAM, a OCLACC e
outras instituições ligadas à comunicação decidiram organizar
o Mutirão Latino-Americano e Caribenho de Comunicação para
alimentar a reflexão, a investigação e o intercâmbio de expe­
riências e compromissos que procuram a renovação de valores
para a sociedade.

A crise e o desafio dos comunicadores


Conforme o Documento de Aparecida já tinha alertado, a
globalização “comporta o risco dos grandes monopólios e de
converter o lucro em valor supremo” (DA 60). O mundo vive,
atualmente, a maior crise do sistema capitalista e que, como diz
o papa Bento XVI, coloca à prova o futuro da globalização. Na
realidade, a crise atual não é resultado de dificuldades financeiras
imediatas, mas é uma consequência do estado de saúde eco-
lógica do planeta e, sobretudo, da crise cultural e moral que se
vive, cujos sintomas são evidentes há bastante tempo em todo
o mundo (cf. Bento XVI, homilia de 1º de janeiro de 2009).
Esta crise exige dos comunicadores um grande compromisso
para promover “uma globalização diferente da vigente e que es-
teja marcada pela solidariedade, pela justiça e pelo respeito aos
Informação: www.muticom.org direitos humanos”, para fazer “da América Latina e do Caribe não
somente o continente da esperança, mas, também, o continente
do amor”, como disse o papa Bento XVI em Aparecida. 

José Mármol é editor do Portal OCLACC – Organização Católica Latino-Americana e Caribenha


de Comunicação.

22 Março 2009 -
12º Intereclesial Histórico

das CEBs
Os Encontros Intereclesiais das CEBs mostram a caminha-
da das comunidades e seus temas mostram como elas se
inserem na realidade da vida do povo. Revelam também
as conquistas das CEBs, nas últimas décadas.

Os temas dos encontros:


I - 1975 - Vitória-ES - Uma Igreja que nasce do Povo
pelo Espírito de Deus.
II - 1976 - Vitória-ES - Igreja, Povo que caminha.
Ecologia e Missão: do Ventre da Terra, III - 1978 - João Pessoa-PB - Igreja, Povo que se liber-
ta.
o grito que vem da Amazônia. IV - 1981 - Itaici-Indaiatuba-SP - Igreja, Povo oprimido
que se organiza para a libertação.

E
V - 1983 - Canindé-CE - Igreja, Povo unido, semente
ntre os dias 21 e 25 de julho, a cidade de Porto Velho, de uma nova sociedade.
em Rondônia, sediará o 12° Intereclesial das Comuni- VI - 1986 - Trindade-GO - CEBs, Povo de Deus em busca
dades Eclesiais de Base - CEBs. O encontro que, nesta da Terra Prometida
edição, terá como tema “CEBs: Ecologia e Missão” e VII - 1989 - Duque de Caxias-RJ - CEBs, Povo de Deus
lema “Do Ventre da Terra, o grito que vem da Amazônia” na América Latina a caminho da libertação.
reunirá cerca de três mil representantes de todo o Brasil, VIII - 1992 - Santa Maria-RS - CEBs, Povo de Deus re-
América Latina e Caribe. nascendo das culturas oprimidas.
Segundo o coordenador do evento, padre Luis Ceppi, o IX - 1997 - São Luís-MA - CEBs, Vida e Esperança nas
encontro tem como objetivo dar continuidade às experiências massas.
das CEBs e fortalecer sua caminhada. Será a primeira edição X - 2000 - Ilhéus-BA - CEBs, Povo de Deus, 2000 anos
do evento a acontecer na Região Norte, o que faz com que os de caminhada.
participantes vivenciem ainda mais o tema proposto e tenham XI - 2005 - Ipatinga-MG - CEBs, espiritualidade liberta-
contato com a realidade vivida pelas populações locais. dora: Seguir Jesus no compromisso com os
Padre Ceppi explica que o tema deste ano gira em torno excluídos.
de dois eixos: Ecologia e Missão. O coordenador comenta que, XII - 2009 - Porto Velho - RO - CEBs: Ecologia e Missão
na Ecologia há a harmonia do homem e da mulher com a natu- (em preparação)
Arquivo CEBs

reza, criação de Deus. Ele explica que essa união manifesta a


presença de Deus. No segundo eixo, o padre considera que a
ideia é “descobrir que a Missão é olhar para o outro”. Para ele,
o evento pretende ser um grito de alerta para a atual situação
social, na qual a desigualdade é cada vez maior.
O 12° Intereclesial na Amazônia é a oportunidade para dis-
cutir a importância daquela região para a humanidade e tentar
estabelecer entre as igrejas das comunidades que vivem nas
proximidades, um modelo de desenvolvimento que privilegie
os pobres e sirva aos interesses de todos e todas. Para padre
Ceppi, é de fundamental importância que o evento aconteça na
Amazônia, pois a região vive uma realidade de devastação e
desigualdade social que precisa ser mudada.
De acordo com Ceppi, o encontro vai ajudar a fortalecer o
“grito de alerta e de basta” ao que está acontecendo na região.
“Esperamos que o grito da Amazônia seja ouvido de maneira
correta pelo Estado e pela Igreja”, comenta. Para ele, tal cons-
Equipe Nacional das CEBs prepara o 12º Intereclesial, Porto Velho, RO.
cientização fará com que as pessoas percebam que é possível
mudar a realidade atual. “A Amazônia será o símbolo de que é

Sobre o encontro possível crescer sem destruir, e de construir civilizações sem


escravos do consumo”, afirma.
Os Encontros Intereclesiais têm como objetivo mostrar a
Informações: www.cebs12.org.br caminhada das CEBs. Cada edição apresenta um tema espe-
Texto Base para 12º Intereclesial - Paulus Editora cífico, relacionando o trabalho das comunidades e a realidade
Secretaria da vida do povo. O primeiro encontro aconteceu em 1975, em
Rua Carlos Gomes, 964 - Centro Vitória, Espírito Santo, com o tema: “Uma Igreja que nasce do
CEP: 78.900-030 - Porto Velho - RO Povo pelo Espírito de Deus”. 
Telefone: (69) 3229-8162 / 3221-1319
E-mail: decimosegundointereclesialpvh@yahoo.com.br Fonte: Adital e Secretaria para o 12º Intereclesial.

- Março 2009 23
Somos a Infância Missionária!
Infância “Senhor, tenho ardor missionário. Conduza-me à terra
Missionária
que tenha sede de Ti!”

Divulgação
de Roseane de Araújo Silva

N
o dia 21 de março comemoramos o Dia Mundial da
Infância em diversos países, por essa razão enfatiza-
remos algumas das ações desenvolvidas em defesa
das crianças e adolescentes. Destacamos o trabalho
do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)
que desde o ano de 1950 desenvolve no Brasil, através
de parcerias com diferentes instituições, governo e sociedade civil
de um modo geral, programas em defesa dos direitos das meninas
e dos meninos brasileiros. São eles: sobreviver e se desenvolver,
aprender, proteger e ser protegido do HIV/Aids, crescer sem violência
e ser prioridade absoluta nas políticas públicas, com um esforço
maior nas regiões do semi-árido brasileiro, na Amazônia e nas

Sugestão para o grupo


Crianças da Escola Internacional das Nações em Sri Lanka.
Acolhida (destacar o continente asiático, preparar o ambiente com
os símbolos missionários, as cores dos continentes e Bíblia).
Motivação: refletir com o grupo o direito de ser criança ou ado- comunidades populares dos grandes centros urbanos. Importante
lescente e o amor familiar. também recordar que no artigo 3º do nosso Estatuto da Criança e
Oração espontânea pelas crianças e adolescentes vítimas dos do Adolescente (ECA) são asseguradas todas as oportunidades e
conflitos na Ásia. facilidades às crianças e adolescentes, com a finalidade de lhes
Partilha dos compromissos semanais. proporcionar “o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e
Leitura da Palavra de Deus (sugestões para os 4 encontros): social, em condições de liberdade e dignidade”. Como ser humano
Realidade Missionária: Atos 3, 1-10. Pedro e João nos mostram
em desenvolvimento, a criança e o adolescente têm o direito por
que Jesus está presente em nossa vida, nos libertando de todo
mal; que não é pela submissão à riqueza, nem por outros inte- lei à proteção integral de suas vidas e essa tarefa não é assim tão
resses, mas pelo amor Dele em nossa vida, nos transformando. fácil. Assistimos quase diariamente na mídia inúmeras situações
Em que esta leitura nos faz pensar? de negação desse direito, com diferentes atrocidades cometidas
Espiritualidade Missionária: Atos 1, 12-14. A nossa primeira contra estes pequeninos. Estamos falando da violência física,
comunidade é a nossa família e o exemplo da comunidade dos da indiferença e até mesmo do excesso de zelo, impactando no
amigos de Jesus nos fortalece porque onde todos têm os mesmos bem-estar das crianças e adolescentes.
sentimentos, buscam juntos o sentido da sua missão: construir
o Reino de Deus no mundo. Gostamos de rezar sozinhos ou
em família? Nossa missão é evangelizar!
Compromisso missionário: Jo 20, 19-21. O medo impedia que Na Infância e Adolescência Missionária somos chamados
os amigos de Jesus anunciassem a Boa Nova, mas Jesus os desde criança, entendendo que “a criança é o grande tesouro que
libertou. Hoje Ele nos convida a sermos seus amigos, conti­nuando Deus confiou à humanidade porque é uma vida a ser desenvolvi-
sua atividade. Muitos missionários brasileiros deixaram sua terra da. É sempre o símbolo vivo de uma nova criação” (Diretrizes e
e partiram em missão para lugares onde Jesus ainda não é co- Orientações da IM). Como obra missionária junto às crianças e
nhecido. Nosso gesto concreto será organizar um mural sobre a
adolescentes, apresentamos a missão de Jesus e o Reino de Deus
Ásia, sua cultura, religiões, quantos missionários brasileiros vivem
por lá e os desafios da evangelização. Nosso sacrifício desse para que cada membro do grupo procure se tornar outro amigo
mês será feito pelos pequeninos que cresceram com a guerra de Jesus, em solidariedade com outras crianças e adolescentes
civil no Sri Lanka, na Ásia. nos cinco continentes. Esta obra missionária é composta por
Vida de Grupo: Lc 4, 16-19. O programa da atividade de Jesus crianças, a serviço da evangelização e animação missionária junto
nos convida a compreender porque somos chamados ao serviço às demais crianças e adolescentes da comunidade e da paróquia.
do Reino de Deus Pai. Ele nos fala de um Deus fraterno, que É criança evangelizando criança! Assim como fez com a filha de
nos ama e agiu na história para nos libertar. Vamos refletir sobre
esta leitura? Neste mês a sugestão da vida de grupo é a visita
Jairo, Jesus nos ordena: “– Levante-se!” (Lc 8, 52-55). Esse é o
a um missionário que esteve em missão além-fronteiras. Caso convite que a IAM faz para você juntar-se a nós, tornando outras
não seja possível, enviar correspondência para um missionário crianças e adolescentes amigas de Jesus, construtoras do Reino
ou missionária. do Pai aqui na terra. De todas as crianças do mundo – sempre
Momento de agradecimento (preces espontâneas a partir do amigas! 
tema e da reflexão do Evangelho).
Canto e despedida. Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.

24 Março 2009 -
- Março 2009 25
Denúncia e ameaça
Entrevista

de morte em Marajó
Ameaçado de morte pelas revelações sobre a exploração sexual e o
tráfico de drogas em Marajó, Pará, dom José Luís Azcona Hermoso faz
sérias críticas às instituições responsáveis.

Paolo Moiola
de Jaime Carlos Patias

"N
ão há vontade nem uma política
decididamente empenhada em
concreto para a solução des-
te problema”, desabafou Dom
Azcona, bispo da Prelazia de
Marajó, durante o III Fórum Mun-
dial de Teologia e Libertação e no 9º Fórum
Social Mundial, realizados em janeiro,
na capital do estado do Pará. Depois de
trabalhar em países como Alemanha e
Colômbia, dom Azcona chegou ao Brasil
em 1985 e desde 1987 é bispo da Prelazia
de Marajó. Juntamente com dom Azcona
estão ameaçados de morte os bispos Ervin
Kräutler e Flávio Giovenale e outras 200
lideranças da região leste da Amazônia.
Em tom profético, dom José Luiz lançou
um desafio ao Fórum: fazer um manifesto
mundial a ser entregue às autoridades
para chamar a atenção sobre a gravidade
do problema. Em meio às atividades do
evento, o missionário espanhol da ordem
dos Agostinianos Recoletos concedeu
entrevista à revista Missões, falando sobre
a dura realidade no Arquipélago.

“Na região, ao longo de


300 quilômetros, do Pará
ao Amapá, a vigilância Dom Azcona no Fórum Mundial de Teologia e Libertação.

centralizar o nosso diálogo teológico na especificamente aquela da Amazônia. Foi


da Marinha brasileira é América Latina ou somente no Brasil. significativa a palestra de Leonardo Boff,
inexistente”. Esta abertura mundial é verdadeiramente
fecunda e promissora. Enquanto libertação,
mas ele não tem experiência da Região. A
teologia dele está construída sobre livros.
Qual a importância de se realizar a a palavra tem muitos sentidos e creio que Outros que falaram, com certeza, podem
terceira edição do Fórum Mundial de também pode ajudar. A pergunta talvez fazê-lo escrevendo artigos em Frankfurt,
Teologia e Libertação em Belém, na seria: em que o Brasil poderia contribuir Chicago ou Milão. Creio que não houve
Região Amazônica? neste Fórum? Sobre isso, faria uma ob- essa mútua colaboração em diálogo com
A importância para a Igreja do Brasil servação de amigo. A programação não uma teologia que se faz no Brasil e que
é grande, por se tratar de um aconteci- teve em conta, de modo suficiente, a deseja abrir novos caminhos, fecundando,
mento mundial. Nós corremos o risco de ­realidade da teologia que se faz no Brasil e de alguma maneira, outras teologias.

26 Março 2009 -
Jaime C. Patias
“O Estado não tem feito
absolutamente nada para
investigar quem está por
trás destas ameaças. Eu
denuncio e peço que este
grito chegue até o fim
do mundo porque isso é
um tapa na cara do FSM,
uma vergonha para a
humanidade”.

Dom Azcona faz denúncias corajosas na tenda de Direitos Humanos, 9º FSM, Belém, PA.

No seu trabalho, o senhor e ou- desprovidas de políticas públicas. Essa uma lista de 15 pessoas marcadas para
tras lideranças receberam ameaças ideia vai trazer a guerra em todo o Marajó. morrer, entre as quais três bispos do
de morte. O que está acontecendo na O narcotráfico vai dominar e será muito Regional e dois padres. Hoje, somente
Região? mais difícil erradicá-lo do que nos morros no Pará, temos 200 pessoas marcadas
A problemática na Amazônia, em geral do Rio de Janeiro ou em Medellín, na Co- para morrer por causa do Evangelho que
é estrutural. O Arquipélago de Marajó é lômbia. Isso pela configuração geográfica se confunde com a defesa dos Direitos
uma região abandonada pelas autoridades. de grandes ilhas, rios e selva. Foi nesse Humanos.
Esse abandono secular está aparecen- contexto que surgiu a ameaça.
do agora de um modo ameaçador. Por A Grande Missão Continental lança-
exemplo, a presença do narcotráfico, de Concretamente, quais denúncias da em Quito, durante o CAM 3 - Comla
modo acelerado, está levando a popula- foram feitas? 8, deverá acontecer também no Brasil.
ção a uma crise social e ética que coloca Fizemos denúncias de exploração Como desenvolver essa Missão no
em risco sua própria sobrevivência. Por sexual de menores e adolescentes e de Marajó?
outro lado, o abandono econômico inside tráfico humano para a Europa, especial- Na nossa Região, creio que essa Mis-
diretamente na proliferação de problemas mente através da rota Breves, Macapá, são Continental tem seus limites humanos,
como a exploração sexual de menores, Guiana Francesa e de lá para a Europa. sociológicos e eclesiais. Diante das proble-
de jovens, o tráfico de seres humanos, E também de Marajó, Belém, Guarulhos máticas gravíssimas que atravessamos,
sobretudo através da Guiana Francesa. em São Paulo, para Madri na Espanha a contribuição que pode fazer Aparecida
Eu chamaria essa política de descaso, e de lá para todo o continente europeu. no que diz respeito à Missão Continental
de imobilismo criminoso. Uma região É uma vergonha o turismo sexual que é bastante reduzida. Nós devemos criar
sem lei está contribuindo para que gru- se pratica na Europa, que compra em nossa própria reflexão, partindo da realida-
pos criminosos organizados construam o euros a dignidade de crianças, adoles- de e também da orientação de Aparecida,
seu império. Mais tarde será muito difícil centes e jovens. Estamos diante de uma com nossos próprios posicionamentos e
erradicá-lo. Além disso, o Marajó virou crise mundial em que a cobiça sexual se encaminhamentos pastorais. Sem dúvida,
questão de segurança nacional. Na região, desenvolve de modo brutal e violento, nós precisamos dessa conversão pastoral
ao longo de 300 quilômetros, do Pará ao desrespeitando os valores mínimos da a partir de uma conversão pessoal, mas
Amapá, a vigilância da Marinha brasileira é dignidade humana e social dos menores. concretizada na nossa situação. Marajó
inexistente. Se a segurança nacional não Diante dessas denúncias eu recebi uma tem linhas pastorais específicas que não
funciona, por esse caminho pode se dar comunicação da Comissão de Direitos podem ser confundidas com as do resto
o tráfico de armas, o tráfico humano e a Humanos de Brasília, que tinha colabo- do continente. A Igreja Católica está bem
biopirataria. Toda essa situação cria um rado na investigação, dizendo que pelos presente contudo, faltam sacerdotes e
ambiente de alto risco humano, eclesial contatos que tinha em Belém, tanto eu religiosas, além de mais leigos prepara-
e evangelizador. As afirmações que se quanto o assessor da Comissão estaría- dos adequadamente para esse desafio.
fazem, em alguns lugares da Ilha, de que mos correndo risco de morte. Disseram-me Não é por eu ser católico, mas por ser
“o narcotráfico é bom”, “que não é mais que tivesse muito cuidado por se tratar um observador que posso afirmar: sem a
como era antes, quando era ruim”, criam de grupos perigosos. O assessor já foi presença da Igreja Católica a sociedade
a mentalidade de que essa atividade é assassinado, e eu estou em pé. No dia 23 marajoara já teria acabado. 
boa porque está ajudando as famílias, de dezembro de 2007 o jornal “O Globo”
está entregando medicamento às crianças publicou o meu nome, juntamente com Jaime Carlos Patias, imc, é diretor da revista Missões.

- Março 2009 27
Encontro dos presidentes
Atualidade

Presidentes Evo Morales, Fernando Lugo, Hugo Chávez e Rafael Correa durante encontro na Universidade Estadual do Pará - UEPA.

Texto e foto de Jaime Carlos Patias Lula teria abandonado o projeto popular
As mudanças políticas que o levou ao poder para privilegiar o
capital na versão neoliberal, explicou Nalu
na América Latina,

O
Faria, da Marcha Mundial das Mulheres
Fórum Social é um evento da e que integrava a mesa de debates. O
sociedade civil, no entanto, vem demonstradas pela certo é que, se Lula tivesse participado
recebendo uma crescente parti- desta reunião, criaria uma situação de
cipação de governos, partidos e presença em Belém de desconforto.
empresas que procuram ocupar
espaço no seu território demo- cinco presidentes, são Lula x bolivarianos
crático. Foi o que se observou na última
edição em Belém, Pará. Por outro lado, fruto também do Fórum Mais tarde, porém, o mandatário brasi-
leiro recebeu os quatro colegas no Centro
o espaço do Fórum também oferece a
possibilidade de estabelecer diálogos
Social Mundial. de Exposição Hangar para debater sobre os
desafios impostos pela crise internacional;
entre movimentos sociais e membros o encontro reuniu cerca de 10 mil pessoas
de governos, em todos os níveis. É uma um encontro com quatro chefes de Estado, e foi promovido pela Central Única dos
oportunidade para cobrar deles políticas simpatizantes da Alternativa Bolivariana, Trabalhadores - CUT, Instituto Brasileiro
mais eficazes, em sintonia com os prin- Evo Morales, Rafael Correa, Fernando de Análise Sociais e Econômicas - Ibase
cípios do evento. Alguns presidentes da Lugo e Hugo Chávez, colocando-os frente e o Instituto Paulo Freire – IPF. Nunca
América Latina, como Fernando Lugo, do a frente com representantes de movimen- antes o Fórum conseguiu juntar tantos
Paraguai, e Evo Morales, da Bolívia, che- tos sociais e cerca de 100 jornalistas. chefes de Estado num único evento. Em
garam ao poder apoiados pelos mesmos Desse encontro, realizado no Ginásio da suas perspectivas diante da crise, ficou
ideais defendidos no FSM. Universidade Estadual do Pará - UEPA, o nítida a discrepância entre Lula e os qua-
Nesse sentido, a Via Campesina e o pragmático presidente Lula ficou de fora, tro colegas. Enquanto estes afirmaram
Movimento de Trabalhadores Sem-Terra, por não se encaixar mais no projeto de estar “construindo o socialismo do século
MST, promoveram, no dia 29 de janeiro, mudanças em curso na América Latina. XXI, como única solução para a crise,

28 Março 2009 -
condenando o capitalismo, o presidente O veterano Hugo Chávez anunciou o Latina” e poderá avançar muito com a
brasileiro defendeu acordos comerciais sepultamento da Área de Livre Comércio integração regional.
para aumentar as exportações, ajustes das Américas - ALCA e elogiou o surgi- No encontro da UEPA, o líder da Via
financeiros e investimentos estatais para mento da Alternativa Bolivariana para as Campesina e do MST, João Pedro Stédile,
evitar a recessão e o desemprego. Estava Américas - ALBA, ainda sem a adesão do falando em nome dos movimentos, elogiou
demarcada a linha entre a utopia do bloco Brasil. “Um outro mundo está nascendo na os avanços e a coragem dos quatro pre-
bolivariano e o pragmatismo de Lula que, América Latina”, que em décadas passadas sidentes bolivarianos, mas, cobrou uma
ao mesmo tempo, defendeu a regulação foi o “laboratório que levou a receita do atuação mais vigorosa para fazer frente
dos bancos e uma “nova ordem econômica capitalismo neoliberal mais a fundo que às armadilhas do sistema, que embora em
internacional”. outras regiões”, explicou. crise, continua forte. “Esperamos mais de
Entre os bolivarianos, Fernando Lugo “Se uma alternativa não for construída, vocês, queremos mudanças estruturais,
falou na promoção das potencialidades da o capitalismo destruirá o mundo”, afirmou o não remédios para o capital”, disse Stédi-
América Latina, em integração das nações indígena Evo Morales que propôs campa- le, o principal articulador do encontro dos
e não de comércio, saudando o FSM nhas mundiais por “justiça e paz”, por uma movimentos sociais com os presidentes.
como o difusor de ideais que o ajudaram nova ordem econômica, e para “salvar a “A luta de classes depende da força que
a chegar à presidência de seu país, derro- Mãe Terra” do capitalismo e seus padrões os movimentos conseguem aglutinar, não
tando um regime autoritário que já durava de consumo. Rafael Correa, por sua vez, de discursos”. Os movimentos defenderam
60 anos. “Não descansaremos em paz, afirmou que o socialismo deste século “já programa mínimo para derrotar a crise,
e nossa alma não descansará enquanto existe”, e reconheceu a supremacia do com medidas como o rompimento com a
não atingirmos este objetivo”, disse Lugo, trabalho humano, defendeu a vida e o valor dependência externa, a nacionalização dos
referindo-se a um preço melhor e à “livre social dos ecossistemas, como a floresta bancos e uma moeda regional própria. 
disponibilidade” da energia de Itaipu, que amazônica, um pulmão do planeta. Um
o Paraguai vende ao Brasil. “modelo alternativo já existe na América Jaime Carlos Patias, imc, é diretor da revista Missões.

Acampamento da Juventude
O discurso colocado em
prática no FSM.
Texto e foto de Karla Maria

A
s ruas da Universidade Federal
Rural do Pará - UFRA tomaram
outra cor e vida durante os dias
de realização do Fórum Social
Mundial em Belém. Cerca de
15 mil jovens ali acamparam,
para juntos participarem das atividades ao
longo dos seis dias de intenso convívio,
debates e reflexões.
Acampamento da Juventude no 9º FSM, Belém, PA.
O colorido das milhares de barracas,
bandeiras e camisetas irradiava debaixo Segundo sua organização, o Acampa- a construir um espaço melhor para se
de um sol de 30°C e todos se encharca- mento é um núcleo de construção simbólica, viver”. Orações, rituais, manifestações
vam diariamente com a chuva pontual de reflexão, resistência e mobilização de artísticas culturais, alongamentos, apelos
das 15h00. Longe da comodidade de jovens e estudantes, que materializam os pela paz, práticas conscientes em favor
suas casas, a quilômetros de distância, debates do FSM em ações que reafirmam ao meio ambiente, idiomas, sotaques,
os jovens enfrentaram mosquitos, mato, a urgência de "um outro mundo possível". sorrisos e histórias eram observados nos
lama e banheiros coletivos em busca Desde a primeira edição realizada em 2001, corredores entre as barracas da UFRA;
de “outro mundo possível”. Terminado o em Porto Alegre, o Acampamento acolhe tradução da pluralidade encontrada no
Fórum, muitos se questionavam sobre os a juventude de todo o mundo. FSM, num contexto onde pessoas de
resultados de tanto esforço, as conclusões Em 2009 o Acampamento de Belém diferentes origens se encontraram para
e objetivos deste grande encontro. Certa- contou com a ajuda de 600 voluntários, pensar e construir outras possibilidades
mente o Acampamento Intercontinental da também jovens. Bruno Cristian, um deles, de vida mais justa e digna, para homens
Juventude colocou em prática parte dos tem 18 anos é paraense e falou da im- e mulheres de todas as etnias, credos,
discursos que soavam durante o evento: portância de participar do FSM: “o Fórum gêneros, graças e cores. 
tolerância às diferenças culturais, respei- é o momento de incentivar a juventude
to às manifestações religiosas, político- acomodada a participar da vida política da Karla Maria, LMC, estudante de jornalismo e colaboradora da
partidárias e diversidade sexual. cidade e do país, é o momento de ajudar revista Missões.

- Março 2009 29
Dourados - MS fortalecer a cultura na região. A educadora popular e
Julgamento de acusados de integrante do grupo, Vera Lucia Macedo, salienta a
assassinar Marcos Veron importância de resgatar e valorizar a “negritude”. Vera,
AJustiça Federal que tem 52 anos e é descendente de quilombolas,

Divulgação
transferiu o local do ajudou na formação do grupo, onde trabalha até hoje.
julgamento de qua- “Quando se fala na questão da negritude, as pessoas
tro réus acusados logo pensam que a gente quer separar os brancos dos
de assassinar o ca- negros. E não é. A gente quer ter os mesmos direitos
cique guarani-kaio- de emprego, de ter casa, moradia”, afirma. Somente
wá Marcos Veron, em São Lourenço do Sul existem sete comunidades
liderança indígena remanescentes de quilombos. Uma delas, a Comuni-
de Mato Grosso do dade do Torrão, está em processo de reconhecimento
Sul, em janeiro de pelo governo federal via Fundação Cultural Palmares.
2003. O julgamento Para Vera, a principal dificuldade enfrentada hoje é
será realizado em um fazer com que a sociedade reconheça a contribuição
tribunal da cidade de dos negros na formação tanto do Rio Grande do Sul
São Paulo, confor- quanto do país. Outro problema grave é o preconceito
me decisão unânime racial. “O preconceito e a discriminação a gente vê nas
do Tribunal Regional lojas, se você vai a algum banco o negro não está, na
Federal - TRF da 3ª faculdade também não. Falta de reconhecimento. O
Região. De acordo negro trabalhou nas construções, no canavial, no cafezal,
com comunicado enviado pelo Ministério Público Fe- aqui nas charqueadas do RS”, diz. As comunidades
VOLTA AO BRASIL

deral - MPF, todos os desembargadores acataram o quilombolas na Região Sul foram criadas por negros
pedido de transferência do júri feito pelo próprio órgão. que trabalhavam como escravos nas charqueadas e
Para o MPF, o julgamento não poderia ser realizado na estâncias.
comarca de Dourados, no sul do estado, pois ali estaria
suscetível à parcialidade dos jurados e sob influência Breu Branco - PA
econômica e social dos produtores rurais da região. Violência no campo
Marcos Veron morreu a caminho do hospital, após ser Ainda não foram tomadas providências cabíveis
vítima de espancamento e ferimentos à bala. À época com relação à morte de Manoel Francisco Silva Souza,
com 72 anos, o líder indígena estava acampado, junto o “Chico Dente de Ouro”, como era conhecido. O tra-
com outros índios, na Terra Indígena Takuara quando foi balhador foi assassinado no dia 1º de fevereiro, por um
atacado por quatro homens supostamente contratados grupo de sete pistoleiros que invadiu o assentamento
por produtores rurais da região para retirá-los de lá. Alcobaça, no município de Breu Branco. Manoel foi
Segundo o MPF, é sabido que parte da população sul- atingido por um tiro na cabeça. Os capangas também
mato-grossense e até de políticos e dos magistrados jogaram gasolina e atearam fogo em pelo menos dez
do estado discrimina os índios e, por isso, o julgamento casas do assentamento. As 58 famílias foram forçadas
dos réus seria parcial em Dourados. O preconceito pelos pistoleiros a abandonarem o local com a ameaça
contra os índios foi comprovado em nota técnica de de nunca mais retornarem. Os possíveis mandantes
um antropólogo e anexada pelo MPF no pedido en- deste ato violento são os fazendeiros Vandeir e Gildásio,
caminhado à Justiça Federal. Ainda de acordo com ambos residentes no município de Breu Branco. Outras
o MPF, um dos fazendeiros de Mato Grosso do Sul lideranças continuam sendo ameaçadas de morte,
estaria negociando com índios, que são testemunhas entre elas o trabalhador conhecido como Sr. Domingos.
do caso, algumas mudanças em seus depoimentos à Segundo testemunhas, um pistoleiro já foi contratado
Justiça. Este produtor teria tentado, inclusive, oferecer por R$ 12 mil para matá-lo. Em 1998, o Instituto Na-
ao filho do cacique Veron bens materiais em troca da cional de Colonização e Reforma Agrária - Incra criou
assinatura de um depoimento já redigido. Os réus o Projeto de Assentamento Alcobaça. Como a área
acusados do assassinato do cacique respondem ao do assentamento não comportava todas as famílias,
processo em liberdade. Eles haviam sido presos, mas a sua complementação foi feita com duas outras áre-
foram soltos depois de receberem um habeas corpus as, que mesmo depois de desapropriadas pelo Incra,
concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal foram compradas por Vandeir e Gildásio. As famílias
- STF, Gilmar Mendes. assentadas nestas duas áreas foram expulsas. A morte
de Manoel Francisco se deu no momento em que as
São Lourenço do Sul - RS famílias tentavam retomar a posse das áreas.
Quilombolas geram renda Enquanto isso, no dia 4 de fevereiro, no município
Comunidades quilombolas da cidade de São Lou- de Casa Nova, sertão baiano o trabalhador rural José
renço do Sul encontraram no trabalho coletivo a forma Campos Braga, 56 anos, foi assassinado, na área de
de gerar renda e preservar a cultura negra. O grupo uso coletivo conhecida como Fundo de Pasto de Areia
Consciência Negra Kizumbi é um dos que atuam no Grande. José foi morto com um tiro de espingarda,
município. Criado em 1983 a partir das Comunidades segundo laudo divulgado. As quase 400 famílias das
Eclesiais de Base - CEBs, o grupo promove oficinas comunidades em Areia Grande exigem agilidade na
e atividades de geração de renda, como costura e investigação e punição dos responsáveis. 
artesanato, e ações de educação popular. Aliados ao
grupo, jovens negros formaram coletivos de dança,
entre eles o hip hop e a capoeira, com o objetivo de Fontes: Agência Brasil, Agência Chasque e Notícias do Planalto.
30 Março 2009 -
Tenha o mundo
Hoje, mais do que nunca precisamos comunicar para informar os cidadãos
na sua capacidade de refletir e entender a realidade.
Quando falamos de comunicação na Igreja não devemos pensar apenas
nos meios. Entendemos de maneira especial o processo de comunicação
em suas mãos!
nos espaços de reflexão para as comunidades, as pastorais, os grupos, os
movimentos, nas diversas iniciativas que criam interação entre pessoas
movidas pelos valores do Evangelho.
A revista MISSÕES, editada pelos missionários e missionárias da Consolata
no Brasil, é um meio de informação e formação que visa contribuir com a
construção de um mundo mais justo e solidário através de subsídios pas-
torais, espirituais, sociais e culturais. Seu público alvo são as lideranças e
os cidadãos em geral, as famílias, os jovens e os agentes de pastoral das
comunidades cristãs. Neste sentido, MISSÕES apresenta matérias sobre:

• Atualidade da sociedade e movimentos sociais


• Espiritualidade e temas pastorais
• Articulação de projetos sociais e ambientais
• Estudos sobre os desafios para a missão da Igreja
• Subsídios para uma pastoral missionária
• Testemunhos de vida e de experiência
• Reflexões para a juventude
• Trabalhos didáticos para as crianças, e muito mais.

Com isso, a revista MISSÕES deseja ajudar os seus leitores a


olhar para fora do próprio mundo, além das próprias fronteiras
eclesiais, culturais e geográficas.
A solidariedade em vista do bem comum é fruto da participação
de todos. Faça parte desse projeto!


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