E STA D O D E M I N A S
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MATÉRIA DE CAPA
Polícia investiga contradições nos homicídios do tenente e do sargento executados.
Oficial teria sido morto com tiro no peito depois de reconhecer e perseguir traficante
Crimes com várias versões
A Divisão de Crimes contra a
Vida já investiga os assassinatos
dos dois policiais militares e ten-
ta esclarecer contradições e deta-
lhes ainda sem explicação. A
morte do tenente Alisson Cabral
de Freitas tem pelo menos mais
duas versões. De acordo com a
ocorrência registrada na Polícia
Civil, o oficial estava de férias e à
paisana, no carro de um amigo,
quando reconheceu Anderson
Souza Tourinho, de 23, o Bidu,
acusado de tráfico e que havia si-
do preso pelo próprio militar
mais de uma vez. Bidu seguia nu-
ma moto, acompanhado de um
homem identificado até agora
como Nego, que está sendo pro-
curado pela polícia. O oficial e Bi-
du, que tem passagens por assal-
to, tráfico e roubo de carros, tro-
caram tiros até o bairro Goiânia,
na vila onde o criminoso mora.
Ferido com tiro no peito, o mi-
litar foi socorrido e chegou mor-
to ao Hospital João XXIII. Bidu foi
preso horas depois por policiais
militares, que voltaram à favela
para prendê-lo. Ele levou um tiro
no pescoço, um nas costas e dois
no peito. Mesmo baleado, sobre-
viveu e foi autuado em flagrante
pelo delegado Wanderson Gomes
da Silva. Permanecia internado
no João XXIII, sob escolta da PM,
até o início da noite de ontem.
O delegado revelou que Bidu
responde na Justiça por diferentes
tipos de crimes e que há provas da
participação dele na morte do ofi-
cial, com a ajuda de comparsas. “O
dono de um bar na favela viu Bidu
atirando no policial. As filhas dele
também presenciaram o tiroteio”,
afima o comandante-geral da PM,
coronel Socrates Edgard dos An-
jos. A PM procura agora o homem
identificado apenas como Nego.
Mas a família e vizinhos de Bidu
alegam que ele foi vítima da tru-
culência dos policiais e que não
participou do tiroteio. O militar
teria sido atingido por integrantes
de uma gangue da favela.
Eduardo estava envolvido em 50 homicídios, segundo a polícia
● S E G U N D A - F E I R A ,
De acordo com policiais civis, a
versão que consta nos autos foi
elaborada a partir do depoimento
de Renan de Almeida Chaves Jú-
nior, de 28, amigo do oficial, que
presenciou o tiroteio e foi baleado
na mão. “Esperei para ver se o Alis-
son entraria no carro, mas como
isso não aconteceu, fui em busca
de ajuda. Achei uma viatura, volta-
mos e achamos meu amigo caído,
com um tiro no peito. Ele deu en-
trada sem vida no HPS”, relatou.
Ainda segundo o relatório dos po-
liciais civis, após o episódio, Bidu
passou a ser procurado por milita-
res pelos becos, até ser encontrado
e novamente trocar tiros com os
policiais. Mais de 100 homens da
corporação participaram da ope-
ração. “Bidu reagiu e foi baleado e
imediatamente socorrido”, conta o
coronel Sócrates Edgard dos Anjos,
comandante-geral da PM.
MISTÉRIO A família do sargento
Valdir, morto com um tiro no
peito no bairro Glória, diz que ele
era um homem pacato e tranqüi-
lo. “Não sabemos por que mor-
reu, não tinha inimigos”, afirma
Vicente Duarte, cunhado do poli-
cial. A hipótese de latrocínio (ma-
tar para roubar) está, a princípio,
descartada.
A carteira e a arma do policial
não foram levadas pelo crimino-
so. Mas há pelo menos três ver-
sões para o assassinato. Ele teria
sido atacado por um desconheci-
do, que fez um único disparo e fu-
giu. O militar teria testemunhado
um assalto a padaria na rua Gali-
leu, bairro Ipanema, na região No-
roeste de BH, por volta das 21h de
sábado e foi morto pelos ladrões.
E a polícia trabalha também com
hipótese de vingança, uma vez
que o sargento, de acordo com
testemunhas, estava jurado de
morte por um criminoso do bair-
ro onde morava. Uma testemu-
nha disse ter ouvido um disparo
e alguém gritando “morra desgra-
çado”, conforme a PM.
MARIA TEREZA CORREIA
2 7 D E S E T E M B R O D E
GERAIS
Militar reformado Manoel de Freitas põe as mãos no rosto e chora durante o velório o filho assassinado
Um dia de ânimos acirrados
De um lado, a revolta de pa-
rentes e policiais amigos dos dois
militares executados. Do outro, a
indignação dos vizinhos e fami-
liares de Bidu, o principal suspei-
to de ter matado o tenente Alis-
son Cabral de Freitas. Nas versões
do crime, apresentada por conhe-
cidos de Bidu, ele surge como ví-
tima de abuso de poder dos PMs,
que teriam invadido seu barra-
cão, ateado fogo no imóvel e dado
os tiros. E, durante o enterro do te-
nente, militares defendiam a polí-
tica “dente por dente, olho por
olho” para acabar com a ousadia
e inibir a ação dos criminosos.
“Tudo o que acontece de erra-
do no Goiânia é atribuído ao Bi-
du. O tenente, na verdade, foi ba-
leado por um traficante do bair-
VINGANÇA
Traficante morto com 40 tiros
O corpo de Eduardo Gonçal-
ves Agostinho, de 20 anos, conhe-
cido como “Dentinho”, acusado
de chefiar o tráfico de drogas no
trecho da rua Guapé, na favela
Pedreira Prado Lopes, bairro São
Cristóvão, Noroeste de Belo Hori-
zonte, foi encontrado crivado de
balas, na manhã de ontem, na es-
quina das ruas Brás e Eleotério,
no aglomerado do Morro das Pe-
2 0 0 4
ro Guanabara, que está em guer-
ra com a gangue do Goiânia. O Bi-
du não tem moto e sequer sabe
pilotar. Ele acabou sendo usado
como bode expiatório”, desaba-
fou um parente, que pediu para
não ser identificado. Ainda de
acordo com testemunhas, a casa
de uma irmã do acusado tam-
bém chegou a ser arrombada e
teve fogo ateado pelos militares.
A casa da mãe de Bidu teve os vi-
dros quebrados, foi invadida pe-
los policiais e os dois irmãos mais
novos dele sofreram agressões,
para confirmar a participação do
acusado na morte do tenente.
O comandante geral da PM, co-
ronel Sócrates Edgard dos Anjos,
diz que essas denúncias de trucu-
lência e de abuso dos militares so-
dras, Oeste da capital.
Acusado de envolvimento em
vários dos 50 homicídios regis-
trados só este ano na pedreira,
“Dentinho” havia ido ao Morro
das Pedras para participar de
uma festa. Os peritos do Institu-
to de Criminalística contaram
mais de 40 perfurações a tiro na
cabeça da vítima, que tinha ain-
da o pescoço envolto com arame
farpado. A polícia investigava a
participação da vítima em um
duplo homicídio recente na pe-
dreira, motivado pela disputa por
terreno de venda de drogas. Ape-
sar da quantidade de tiros, ne-
nhum morador do Morro das Pe-
dras se dispôs a informar sequer
a hora em que ocorreu a execu-
ção. O corpo foi reconhecido por
FOTOS AUREMAR DE CASTRO
mente serão investigadas se hou-
ver uma denúncia formal. “Quem
está do lado do bem não precisa
ter medo”, diz, lembrando que no
ano passado todos os 28 assassina-
tos de militares em Minas foram
esclarecidos. Já o presidente da As-
sociação dos Oficiais da PM, major
Zoe Ferreira Santos, afirma categó-
rico que criminosos como Bidu
precisam ficar atrás das grades.
Já o militar reformado Manoel
de Freitas, pai do tenente, estava
emocionado e disse que não há
arrependimento: “Eu e meus três
filhos escolhemos a Polícia Militar
para dedicar as nossas vidas. Ne-
nhum de nós se arrepende disso,
mesmo sabendo dos riscos. Por is-
so meu filho Alisson estava sem-
pre disponível, mesmo em férias.”
duas mulheres, a partir de uma
tatuagem tribal que a vítima ti-
nha no antebraço.
A Polícia Militar registrou, do
início da noite de sexta-feira até
a noite de ontem, 15 homicídios
na Região Metropolitana de BH.
No Barreiro, um duplo homicídio
aconteceu na noite de sábado, na
rua Joana D’Arc. Os dois homens
morreram na hora. Em outra
ocorrência, um homem identifi-
cado como Adilson de Souza, de
37 anos, foi morto com 12 tiros
no rosto, no bairro Cachoeirinha,
Nordeste de BH, na manhã de sá-
bado. A polícia não tem pistas do
autor e nem o motivo do crime.
CAMINHONEIRO Já o corpo do ca-
minhoneiro Geraldo César Ribei-
ro, de 39, foi encontrado na ma-
nhã de ontem, por um motorista
que passava por uma estrada de
terra, conhecida como Alto Mara-
vilha, que liga Santa Luzia e Ves-
pasiano, na Grande BH.
Geraldo César estava desapa-
recido desde quarta-feira passa-
da, após deixar a cidade de Mar-
tinho Campos, Centro-Oeste do
Estado, com o caminhão Merce-
des Benz L1113, azul, placa GPR-
2663. Seu destino era Belo Hori-
zonte, onde eles fez duas entre-
Tenente
Alisson
Cabral de
Freitas
Toda vez que
morrer um PM
vamos partir pra
cima, até localizar
o assassino. Não
vamos morrer e
ficar sem reagir
■ Coronel Sócrates Edgard dos Anjos,
comandante-geral da PM
gas de tábuas de eucalipto nos
bairros Céu Azul e São Francisco.
A terceira entrega programada,
que seria em Nova Contagem,
não chegou a ser feita, o que des-
pertou a atenção da família de
Geraldo, que acionou a polícia.
Segundo a Polícia Militar, a
identificação só foi possível devi-
do aos documentos pessoais en-
contrados próximo ao corpo. A
perícia não soube informar co-
mo ele foi morto. Apenas com
exames feito no Instituto Médi-
co Legal (IML) será possível saber
a causa da morte. O adiantado es-
tado de decomposição leva a po-
lícia a crer que Geraldo foi execu-
tado no mesmo dia em que desa-
pareceu.
Além dos documentos pes-
soais, foi encontrada no local
uma bolsa com os documentos
do caminhão e fichas de abaste-
cimento em nome da Cooperati-
va Agropecuária de Bom Despa-
cho, que tinha filial em Martinho
Campos, para onde Geraldo pres-
tava serviço. O caminhão não foi
localizado e a polícia ainda não
tem pista dos criminosos.
ACIDENTES Um acidente no km
27 da BR-381, em BH, provocou a
morte de um rapaz, ainda não-
identificado pela polícia. Ele diri-
gia o Passat placa GVR-5085, que
se chocou com o Omega, placa
HZB-3918. E no fim da tarde, Ge-
raldino Antônio Martins de
Abreu, de 33 anos, morreu ao
perder o controle da moto Hon-
da vermelha, placa HBB-4751,
que bateu num barranco na MG-
020, km 40.