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Ed Motta – As Segundas Intenções do Manual Prático

Túnel do Tempo por André Luiz Mello e Sólon do Va Amparado Por Técnicas e
Teclados Antigos, Ed Motta dá Aula de Como se Gravava Há 30 Anos no Novo CD
foto: Marcos Amorim
Ed Motta acaba de chegar ao AR Studios
(RJ) e faz questão de falar com todos: o
dono do estúdio, onde semanas antes
acabara de gravar e mixar seu novo disco
("As Segundas Intenções do Manual
Prático", lançado em agosto, o sexto em 12
anos), a gerente, técnicos, assistentes e a
turma da cantina. Como o "gancho" desta
entrevista é o novo trabalho, nos
deslocamos para o estúdio "R" (ou "B")
para escutarmos as 14 faixas. Para quem já
ouviu material dos anos 60 e 70 ou tem
mais de 40 anos, é uma volta no tempo: um
desfile de instrumentos antigos como
Rhodes, Mini Moog, Hohner Clavinet,
Hammond, ARP, Wurlitzer etc, misturados
com pitadas de soul, jazz, funk, blues,
standards do cancioneiro americano, música brasileira e o pop do grupo Steely Dan, a
sua maior referência neste CD. Ed vibra, balança o corpo e se entusiasma a cada canção
tocando teclado e percussão imaginários, no ar (todo mundo que gosta de música já fez
isso algum dia diante da televisão ou do som imaginando ser um Eddie Van Halen, um
Jimmy Page ou um Eric Clapton).
Como artista dedicado e minucioso que é, ele sabe onde cada synth, piano e órgão se
encaixam nos intrincados arranjos. Também comenta: "'Pisca Alerta' tem letra do Lulu
Santos e arranjo do Jessé Sadoc, inspirado no maestro Moacir Santos, o nosso Gil
Evans", diz. "Em 'Jóia de Mágoa' tem uma zabumba do Renato Massa, eco de fita,
Moog e ARP. É um Azymuth com chapéu de nordestino". Ed é uma usina sonora: toca
vários instrumentos, é compositor, arranjador, produtor, pesquisador musical etc,
embora em "As Segundas..." ele tenha direcionado sua energia para os arranjos.
"Eu estou vivo para gravar disco. Se pudesse, eu só gravaria", expressa a sua maior
paixão, compartilhada por vinhos, discos raros e - claro - a esposa Edna. Falando em
gravação, o artista fez questão de que Marcelo Sabóia, técnico que gravou e mixou o
CD, participasse da entrevista. "Colombina" é a faixa de trabalho e repete a dobradinha
vitoriosa Ed/ Rita Lee no hit "Fora da Lei" (do disco anterior, "Manual Prático Para
Festas, Bailes e Afins", que vendeu mais de 300 mil cópias). "Outono no Rio" começa
com vibrafone e tem letra de Ronaldo Bastos. "Tijuca em Cinemascope" fecha o CD e
é uma gostosa fusão de gêneros: praticamente toda gravada ao vivo, tem a participação
de percussão, baixo, piano, metais, a voz de Ed harmonizando e uma cantora lírica
fazendo intervenções. As parcerias se seguem com Nelson Motta, Doc Comparato,
Zélia Duncan e Chico Amaral. Participam os músicos Fábio Fonseca, Jota Moraes e
Glauton Campelo (teclados), Renato Massa (bateria), Marcelo Mariano (baixo) e
Paulinho Guitarra.

Aproveitando o Ambiente
M&T: O que me impressionou de imediato foi a sonoridade do disco. Vocês
conseguiram um som de 77/ 78, época da disco music. Queria saber do Sabóia quais os
macetes, o que usou para gravar, como é que ele conseguiu aquela bateria tão "gorda".

Marcelo Sabóia: A sala daqui (estúdio "R") é muito boa para instrumentos acústicos.
Eu tinha ido à casa do Ed para conversar sobre o som do disco. Ele me mostrou umas
coisas e eu vi que o ambiente era mais importante do que a própria peça individual da
bateria. Na hora da mixagem eu timbrava o ambiente da sala e depois ia chegando com
as peças da bateria, dando uma presença aonde precisava.

M&T: Ao contrário do que se faz quase sempre na música pop, a bateria tem pouco
reverb. Isso também acrescentou um pouco mais de presença e corpo.

Sabóia: Nem precisou, foi por causa da sala. O reverb que a gente usou foi muito
pouco, não tinha nem 0,35 segundos.
As peças foram gravadas sem gate e sem compressor, soltas mesmo.

M&T: E o contrabaixo acústico?

Sabóia: Foi com o Neumann U-47 FET, para pegar o corpo do instrumento, e a linha,
para dar uma presença. A voz foi gravada pelo meu irmão, Marquinhos, no Nas Nuvens.
Levamos o microfone Neumann 149 e um pré-amp Neve, e ele nem comprimiu.

Ed Motta: Tem umas três ou quatro músicas que gravei com o Telenfunken/ Neumann
U-47.

M&T: Um efeito muito interessante neste disco é a utilização do estéreo para efeitos de
voz. Há muitos pedaços em que interage um duo - um em cada canal - e eles dialogam
muito com a voz principal no centro. Como você conseguiu aquela sonoridade das
vozes laterais, mais para trás do que a voz central?

Sabóia: A gente tem o RSS Sound Space Processor, da Roland, que dá uma presença na
voz, desloca o som da caixa mais para o lado. Só aquilo já dá uma diferença na voz
dele, já solta mais. E essa idéia veio dos discos que o Ed tem.
Ed: Foram (idéias) daquelas produções antigas do Quincy Jones.

M&T: A influência da disco music é muito forte no timbre e na espacialidade do som.


Vocês atingiram o equilíbrio daquela época e não aquele som mais "oco" que está se
usando hoje. É mais "massudo" do que o pop atual.

Sabóia: É que a gente tentou usar tudo da época, principalmente os reverbs. Eu simulei
um eco de mola, trabalhamos com eco de fita. Então não tem muita coisa processada
por SPX, por Lexicon, por nada... Eu trabalho desde os 15 anos, então a gente tentou
buscar o que tinha na época, eu via o meu pai (o organista Ed Lincoln) gravando.

"O Disco 'Samba Raro', do Max de Castro, me Influenciou"

M&T: Fale sobre a microfonação de bateria.


Sabóia: Eu tentei captar tudo como se gravava tempos atrás. Shure SM-57 na caixa, nos
ton-tons e no surdo. No bumbo foi um D-12 (AKG) e o Neumann KM-100 nos pratos.
Ambiente foi com dois Earthworks TC-40K bem no alto e um Neumann U-47 FET no
chão.

M&T: A bateria do Renato Massa chegou pronta, com esse som de bateria antiga?
Sabemos que, por ser tão perfeccionista, você acaba trocando idéias com os músicos
sobre os instrumentos mais indicados para cada música.

Ed: Ele usou uma Gretsch antiga. Uma coisa que a gente ficava exaustivamente
conversando era sobre pele e baqueta, porque a baqueta tem timbre também (o baterista
usou baquetas Vic Firth modelos "5-A" e "Peter Erskine", peles Evans "G-2" e Remo
"CS-DOT" nos tons e surdo, e peles Remo "Ambassador" na caixa e no bumbo).

M&T: O som de bumbo caracteriza muito uma época. Usaram o bumbo da Gretsch
mesmo?

Sabóia: Usamos também um bumbo da Yamaha de 22", mas a maioria foi gravado com
um bumbo de 20" da Gretsch.

Ed: O Yamaha de 22" foi em "Drive me Crazy" e "Mágica de um Charlatão", aquelas


mais disco.

M&T: Como é o seu relacionamento com o técnico de gravação? Deve haver alguma
afinidade musical com ele?

Ed: É super importante. Afinidade não só do mesmo tipo de música, mas no gosto da
estética sonora. Se eu omitir o que eu gostaria de falar, eu estaria mentindo e a gente
tem que falar a verdade: o Sabóia foi a pessoa que entendeu aquilo que eu sempre quis
fazer há dez anos atrás. Em 1988, no meu primeiro disco, eu queria ter tirado esse som.
Principalmente essa coisa da batera, que é uma das coisas que mais me incomodam na
sonoridade atual. E toda a concepção de mixagem, que é muito importante. Não
adiantava a gente ter gravado tudo em fita (2") e na mixagem "apertar tudo", você pode
mudar totalmente. Foi a vez que fui mais bem interpretado no estúdio, sem dúvida
nenhuma. Eu escuto o disco e me dá até medo. Porque será que eu vou conseguir fazer
um outro? Tanto que quando eu fui na masterização o Carlinhos (Freitas, Classic
Master) falou que eu fui a primeira pessoa que ficou satisfeita com todas as músicas da
mixagem. Eu só queria botar volume, não queria mexer em nada.

M&T: Teria sido possível fazer esse disco usando gravadores digitais?

Ed: Isso é uma coisa difícil, porque apesar de ser um cara ligado em som, eu não tenho
o tecnicismo. Para mim só em olhar a máquina já tem uma aura, uma atmosfera, uma
emoção que o computador nunca vai ter. Mesmo que o som seja igual, o play, o ruído
da fita... E o ruído é uma coisa que eu adoro, talvez por ter sido por muito tempo um
ouvinte de fita cassete.

M&T: Você escuta gente nova? Porque as suas referências ultimamente têm sido
gravações dos anos 50, 60 e 70. Como é essa pesquisa sonora?
Ed: Não teve uma pesquisa. Na verdade é um retrato de tudo aquilo que eu escuto o
tempo todo em casa, que eu saio para comprar na loja de disco. Sempre tem coisas
novas que a gente acaba gostando. Por exemplo: um disco que influenciou um pouco o
meu disco em termos de orquestração, de como conduzir os arranjos, foi o disco
"Samba Raro", do Max de Castro, o filho do Simonal. Foi o melhor d isco de música
eletrônica que já ouvi na minha vida, melhor do que gringo, do que tudo. A idéia do
meu disco era ter muitas cordas - e que tem realmente -, mas muito dessa coisa do
sintetizador, depois que eu ouvi o disco do Max eu falei: "puxa, eu queria orquestrar
esses arranjos de outra maneira". É a idéia do Max mas com a sonoridade mais para o
Azymuth. Você usar os teclados de maneira orquestral.

M&T: Os arranjos são seus?

Ed: Os de base, sim.

M&T: Como passar as informações para o músico se você não escreve música?

Ed: Geralmente é assim: eu faço uma fita. A gente se encontra, discute a


instrumentação, a formação da música, frases e alguns voicings. Naquele fox, "Outono
no Rio", o arranjo todo é do Jotinha (Moraes). É a única música em que arranjo não é
meu. Eu tenho os instrumentos e gravo num gravadorzinho cassete. Primeiro eu faço
uma cópia com a base do que a gente está trabalhando no estúdio, cantando em cima. E
depois uma com voz e piano. Cada caso é um caso. Nos outros discos eu estive muito
mais preocupado em "ah! eu vou gravar tudo, tocar tudo!". E nesse eu me preocupei
menos com o lado instrumentista, eu toco algumas coisas, mas estou mais pleno como
arranjador.

M&T: Isso seria alguma forma de amadurecimento artístico ou apenas uma muda nça de
hábito?
Ed: Tomara que seja uma maturidade. É como eu disse: tem o lado do instrumentista,
mas eu fiquei muito mais aberto a criar na medida que não era eu que tinha que tocar,
porque muitas vezes a idéia já vinha adaptada àquilo que eu consigo tocar, então não
vinha uma coisa liberta do que se consegue. O som fica muito mais rico porque você dá
vazão às frases que estão na cabeça e à outras que você não consegue tocar, mas que
concebe.

"Eu Funciono Melhor Produzindo Sozinho"

M&T: Os créditos de produção do próximo disco serão divididos com outra pessoa?

Ed: Esse é o primeiro disco que eu produzo sozinho. O "Manual..." foi com o Liminha e
os outros foram com o Bombom. Isso é muito relativo, mas a verdade é que o vinho de
um tempo para cá virou a minha grande válvula de escape. Eu estudo exaustivamente,
fiquei totalmente dentro do tecnicismo do vinho. A partir do momento que a gente
começou a gravar, eu não tomei nenhuma gota de vinho durante cinco meses. No outro
disco eu tomava vinho toda hora. A maneira que eu estava aqui era muito plena e eu
diria com certeza: eu funciono muito melhor produzindo sozinho. Eu não consigo
admitir criar uma frase e ter uma pessoa dizendo que ela vai entrar ou não, ou que ela
vai ser cortada ao meio.
M&T: Você entrou de corpo inteiro na gravação e isso transparece para quem ouve.
Parece que você não estava ligado em mais nada naquele momento.

Ed: Mesmo no outro eu tendo co-produzido, eu estava também o tempo todo, porque ali
(no "Manual Prático...") 80% dos arranjos são meus, porque que as músicas já surgem
com tudo, com levada de batera, com baixo, contraponto... E eu vou guardando as
informações num gravador como esse aqui e da música tal eu tenho fita cassete dela,
voz e violão, ou voz e piano, e aí as coberturas imagináveis estão todas em cassete.

M&T: Você disse certa vez que "Não podemos trabalhar relaxados, tem que ter
obsessão. Pra mim, equilíbrio é sinônimo de mediocridade".

Ed: Se você tentar buscar a perfeição, o estômago vai chiar. Porque se a gente re laxar,
as coisas ficam boas também, mas se você botar aquele foco gigantesco em tudo, você
naturalmente vai ficar mais tenso. A tensão que eu passei foi nada.

M&T: Foi uma tensão saudável...

Ed: ...E feliz. Me lembro que quando gravamos as bases eu ligue i para o Sabóia e disse:
"estou estressadão, fico nervoso quando acontece uma coisa muito boa também".
Porque o som da batera sempre foi um problema a vida inteira, então quando botei o
minidisc eu falei: "a gente conseguiu, meu Deus".

M&T: Como funciona a sua pré-produção?

Ed: Esse disco foi feito da mesma maneira - em termos de pré-produção - que fiz o meu
primeiro disco. Marcamos três semanas e ficamos ensaiando num estúdio
exaustivamente as passagens e frases, trabalhando como antigamente.

M&T: Isso refletiu no resultado. Foi feito de forma mais natural do vem sendo feito
atualmente, que é tudo eletrônico, pois a eletrônica dá a mão ao cara mas tira alguma
coisa em troca.

Ed: Essa foi a grande idéia da gente fazer ao vivo, todo mundo tocando junto, mesmo
que não vá valer exatamente na hora em que o cara está tocando.

Dupla Perfeita: Pré-amp Neve e 2"

M&T: Como você avalia essa evolução maluca da tecnologia? A tecnologia está
evoluindo muito rapidamente e a impressão que nos causa é que está se deixando a
sensibilidade para trás. Antes, se dava valor e havia a tradição do equipamento de áudio.
Hoje existe uma corrida maluca por preço, performance e por números lindos que
aparecem nas especificações. Isso é natural? Reversível?

Ed:Eu sou um pouco suspeito para falar sobre isso, na medida que a minha predileção
sonora está muito mais para o EMT (marca de reverbs de placa, antigos) do que para o
novo aparelho que a Lexicon vai lançar. Eu não acho que a gente tem que ficar parado
no EMT e no reverb de mola, no Hammond e no Mini Moog. Eu só acho que quem quer
ficar parado deveria ter essa opção. É evidente a facilidade de um Pro Tools numa
edição, eu sou fã total apesar de haver uma mudança de timbre. Isso veio para ajudar
todo mundo. E ao vivo é muito difícil reproduzir o que o Sabóia fez aqui.

M&T: Como você vai resolver isso ao vivo? Porque você não tem sido um dos artistas
mais constantes em palcos. Afinal, o público quer te assistir ao vivo.

Ed: O show de trio tinha uma sonoridade que rolava. O problema é volume. Ao vivo eu
sou uma pessoa bem maleável. Eu sei da necessidade de se fazer o show, porque
também eu preciso fazer show. Hoje em dia eu raramente passo o som. Chega na hora
está tudo diferente. Se eu estiver ouvindo piano e minha voz, já tá bom.

M&T: Você tem uma postura de se cercar com excelentes músicos. Isso vem dessa sua
vontade de chegar à excelência musical?

Ed: O lema desse disco é: "Serious Musicianship". Todo mundo está tocando bem e eu
tenho prazer de ver o cara solar bem. Isso é um presente que eu ganhei. Parecia uma luz
divina.

M&T: A temporada nos Estados Unidos o modificou muito? Certa vez você disse que
lá no meio dos gringos você acordou para a qualidade da música brasileira. E realmente
houve uma modificação no seu estilo - e para melhor.

Ed: Antes eu não ouvia música brasileira, só americana. Eu entrei na música brasileira
pelo jazz. Inclusive por uma gravação histórica do Bill Evans tocando "Minha", do
Francis Hime. "Ih! O Bill Evans tocando Francis Hime? Então Francis Hime é bom!".
Aí eu comecei a pesquisar a música brasileira com o mesmo afinco que eu sempre
pesquisei a música americana. Aí um pouquinho antes de viajar eu separei discos do
Hermeto, Edu, Guinga, Chico, Tom Jobim. Lá eu só queria ouvir isso o tempo inte iro,
porque no rádio e na TV era só esse R&B moderno. Os táxis escutam muito aquela
rádio 101,9 que é a JB FM de lá. De vez em quando pintava um Toninho Horta, aí eu
chorava... Quando eu voltei já mergulhei nos sebos, comprando tudo. Harmonicamente
mudou muita coisa, as cadências...

M&T: Qual o seu equipamento favorito?

Ed: Os prés da Neve. Eu tenho um Avalon VT-737 e os sintetizadores analógicos foram


todos gravados em ADAT num pequeno estúdio. Quem gravou foi o Mário Léo, é
primeiro disco que ele grava como técnico. E é promissor, tirou um bom som de muita
coisa. Nesse disco as bases foram gravadas em 2", nós fizemos uns slaves para ADAT e
eu trabalhei com ADAT no pequeno estúdio fazendo guitarra na linha, os analógicos
que a gente gravou em direct box e Avalon, tudo flat. Para o meu estilo a linha tem um
efeito legal, os guitarristas de funk usavam tudo na linha.
<
Marcelo Sabóia: "Foi um trabalho minucioso: utilizamos mais os ambientes, sem
muito reverb"

M&T: Quais instrumentos você possui?

Ed: Tenho um Hohner D-6 Clavinet, um Wurlitzer Electric Piano, que só foi usado em
"Uma Vida Inteira Para Mim", um ARP Odissey e um ARP String Ensemble, que é o
primeiro teclado polifônico do mundo, um Oberheim OBX-A, um Prophet 5... Neste
disco eu não gravei com o meu Rhodes. Foi gravado com o melhor Rhodes em que eu já
toquei na minha vida, que é o do estúdio Joá. O melhor Rhodes que eu tinha tocado (até
então) era o do Donald Fagen (vocalista e tecladista do Steely Dan), no estúdio dele
(River Sound, em NY).

M&T: Qual é o segredo? O martelo?

Ed: O Rhodes é uma coisa que eu adoro, então pesquisei pra caramba. Ele tem várias
séries. Esse com que eu gravei (o do estúdio Joá) tem o ideal: martelo de madeira e
bobininha metálica. Usamos um órgão Hammond C-3 e um B-3, com a participação
especial do Ed Lincoln. O Fábio Fonseca foi muito importante nesse disco. Foi o nosso
reencontro, não trabalhávamos juntos há mais de dez anos. Foi do Fábio que eu peguei
esse gosto desses instrumentos. E eu nunca tinha usado tanto o sintetizador quanto nesse
disco. Na hora da mix dá uma trabalheira danada... Ele tem um ARP 2600 que foi usado
exaustivamente no disco, que é um teclado que hoje custa U$S 20 mil, eu vi na Internet.
É o som de monofônico mais doce. O fato da maioria dos teclados que usei serem
monofônicos me obrigou a construir contrapontos para as melodias. Me exigiu mais do
lado melódico. É a tal "melodia que anda dentro".
Nas horas vagas, Ed Motta faz trilhas para cinema

Trabalho Minucioso

M&T: O que você pôde aprender e absorver trabalhando com o Ed Motta?

Sabóia: Com o Ed foi um trabalho muito minucioso. Como a gente trabalha com todo
mundo, tem que ter ouvido para todos. Esse trabalho foi bem perto do que eu fiz com a
Cássia (Eller). Gravar mais sequinho, sem muito reverb, trabalhar mais com os
ambientes. Foi um laboratório, não tem nada a ver com o que está acontecendo por aí.

M&T: Costuma-se dizer que um disco você não acaba, você é obrigado a entregar
porque o prazo se esgotou. Isso se confirmou? A mixagem sempre é dolorosa?

Ed: Na hora a gente está sempre apreensivo...

M&T: São os prazos da indústria do disco, aos quais você tem se submeter...

Ed: Aqui, tudo aquilo que eu imaginei ficou melhor. Deu tempo para botar todos os
playbacks que estavam e que não estavam na cabeça.

M&T: Na última música tem uma cantora lírica. De onde surgiu essa idéia de colocar
aquela resposta lírica?

Ed: Essa idéia basicamente veio porque nas aberturas de cinema se usava muito o canto
lírico junto com o Theremin, aquele aparelho eletromagnético, usado nos filmes de
terror (e imortalizado por Jimmy Page, do Led Zeppelin, em "Whole Lotta Love", no
filme/ disco "The Song Remains The Same"). O (Henry) Mancini usou muito o canto
lírico como instrumento. Um caso famosíssimo da música pop é "What's Goin' On", do
Marvin Gaye, que no final tem uma cantora. Usamos muitos elementos que mesmo a
rapaziada vintage, como o Lenny Kravitz, não usa muito como o bells. Pontua a música
de uma maneira linda e quase nunca é usada. Isso é informação de música de trilha de
cinema, que faço nas minhas horas vagas (Ed dividiu com o músico João Nabuco a
trilha sonora do sucesso cinematográfico "Pequeno Dicionário Amoroso".
Recentemente conquistou prêmios por "De Janela Para o Cinema" e "Ninó", filmes de
animação com massa).

M&T: Você falou em influência. O Tim Maia tinha uma ligação sangüínea com você
(era tio do compositor). Você o admite como influência, já que ele bebeu quase na
mesma fonte que a sua?

Ed: Sim, o meu primeiro disco é mais influenciado por ele, até o meu jeito de cantar.
Hoje tem o Tim Maia, como tem o Ed Lincoln, o Azymuth, o Tom Jobim, o Steely
Dan. Tudo que eu escuto, eu acabo "me engravidando de música", como diz o Guinga.
É um mosaico de influências. Se eu tiver que citar, sem medo nenhum, uma influência
direta é o Steely Dan, descaradamente.

Agradecimentos: André Rafael e Fatinha (AR Studios).

As "Novidades" Utilizadas no Disco


- Hammond B-3
- Hammond C-3 (ambos com caixa Leslie)
- Wurlitzer Electric Piano
- Rhodes Mark II
- Hohner D-6 Clavinet
- ARP String Ensemble
- ARP 2600
- ARP Omni
- Oberheim Matrix 1000
- Sequential Pro One

Os "Top 30" de Ed
"TEXTINHO": O cantor e compositor listou para a gente os discos que mais o
influenciaram na produção de "As Segundas Intenções do Manual Prático", o novo CD.
Ed Motta ainda dá uma dica para quem procura por raridades (CD's, LP's etc.): visite <
www.gemm.com >. E claro, < www.edmotta.com.br >.

1) João Donato - "Quem é Quem"


2) Lonnie Liston Smith - "Expansions"
3) Dom Salvador e Abolição - "Som, Sangue e Raça"
4) Azymuth - "Águia Não Come Mosca"
5) Steely Dan - "Aja"
6) The Salsoul Classics
7) Cal Tjader & Eddie Palmieri - "El Sonido Nuevo"
8) Doug Carn - "Addam's Apple"
9) Moacir Santos - "Coisas"
10) Incognito - "Beneath The Surface"
11) Henry Mancini - "Days of Wine and Roses"
12) Edu Lobo - "Cantiga de Longe"
13) Banda Black Rio - "Maria Fumaça"
14) Herbie Hancock - "Thrust"
15) Marcos Valle - "Previsão do Tempo"
16) Marku Ribas - "Barrankeiro"
17) Robson Jorge e Lincoln Olivetti - idem
18) Donny Hathaway - "Extension of a Man"
19) Little Feat - "Dixie Chicken"
20) Cassiano - "Cuban Soul"
21) Gil Scott Heron - "Bridges"
22) Norman Connors - "Slewfoot"
23) Archie Bell & the Drells - "Dance Your Troubles Away"
24) Ecstasy, Passion & Pain - idem
25) Meirelles e Copa Cinco - idem
26) Hummingbird - "We Can't Go On Meeting Like This"
27) Crusaders - "Southern Confort"
28) Kool & the Gang - "Open Sesame"
29) Heatwave - "Too Hot To Handle"
30) Tom Jobim - "Stone Flower"

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