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As ortografias anteriores
No século XII, o português começa a se separar do idioma galego. Sua
ortografia era fonética, ou seja, de acordo com a pronúncia. Mas os fonemas
eram livremente utilizados, sem uma convenção que uniformizava a ortografia.
Era comum vermos letras usadas para certos fonemas que seriam hoje um tanto
estranhos àquelas letras. Aqui vão alguns exemplos:
OS LVSIADAS
de Luis de Camoẽs
COM PRIVILEGIO REAL
Seguimos o nosso guia pelo jardim, se assim se póde chamar uma enorme
cupula de vidro sob a qual crescem as mais variadas especies de arvores e flôres
dos tropicos. Além, a terra está coberta de neve; aqui, os convidados tomam
refrescos á sombra de arvores floridas. A atmosphera suave é artificial: lava-se,
humedece-se, oxigena-se, aquece-se no inverno e esfria-se no verão, tudo por
meio de engenhosas machinas “climatericas”. As portas se abrem por si mesmo,
quando nos vêem com seu invisivel olho electrico. […] Mais adiante estão
machinas de moer e picar vegetaes. O assado vae se fazendo de vagar, em frente
de um apparelho electrico, cujo calor diminue á proporção que vae ficando
prompto. E claro, está que todos os utensilios, roupas e vasilhames se lavam
automaticamente e electricamente.
Trecho de A vida no anno 2000, publicada na Folha da Noite em 12 de dezembro de 1933.
Veja agora um exemplo de frase na ortografia antiga:
Antes da reforma:
Em Nictheroy elle poude estudar as sciencias naturaes como a chimica e a
physica.
Após a reforma:
Em Niterói êle pôde estudar as ciências naturais como a química e a física.
Sequências consonânticas
Nas sequências consonânticas cc, cç, ct, pc, pç e pt, a primeira letra (c ou p)
se mantém na escrita sempre que for pronunciada na fala. Do contrário, é
eliminada.
Mantém-se em: compactar, ficção, pacto, núpcias, opção, raptar.
Elimina-se em: acionar, direção, objeto, exceção, Egito, ótimo; em vez de
accionar, direcção, objecto, excepção, Egipto, óptimo.
Em casos onde a letra c ou p pode ou não ser pronunciada, admite-se
dupla grafia, ainda seguindo a regra anterior: aspecto, aspeto; caractere, caratere;
facto, fato; sector, setor; recepção, receção; óptica, ótica; lácteo, láteo.
Nas sequências bd, bt, gd, mn e tm, a primeira letra pode ou não ser
eliminada, ainda seguindo a regra de ser mantida somente quando pronunciada:
súbdito, súdito; subtil, sutil; amígdala, amídala; amnistia, anistia; aritmética,
arimética.
Vogais átonas
Os sufixos -iano e -iense mantêm o i em substantivos e adjetivos derivados,
mesmo que a forma primitiva possua e: acriano (Acre), torriense (Torres).
Substantivos que são variações de outros terminados por vogal devem ser
grafados com final -io e -ia (nunca -eo e -ea): veste, véstia; haste, hástia; rosa,
rósio (neste caso, a forma “róseo” também é aceita).
Maiúsculas e minúsculas
Usa-se minúsculas em nomes de dias da semana, meses, estações do ano,
pontos cardeais e derivados (não em suas abreviaturas) e nas palavras “fulano”,
“sicrano” e “beltrano”: sábado, março, primavera, sul, sudeste (mas S, SE).
Em formas de tratamento, expressões de reverência e títulos honoríficos, o
uso de maiúscula é facultativo: senhor doutor Joaquim da Silva, Senhor Doutor
Joaquim da Silva; bacharel Mário Abrantes, Bacharel Mário Abrantes; santa
Filomena; Santa Filomena.
Apóstrofo
Usa-se apóstrofo para indicar contração das preposições em, de e por com
nomes de obras, filmes e etc.: gosto d’Os lusíadas; li isso n’Os sertões. Nada
impede que as preposições não sejam contraídas: de Os lusíadas, em Os sertões.
Usa-se também para marcar contrações entre uma preposição com uma
forma pronominal maiúscula (referente a Deus, Jesus, ou outras entidades
religiosas): Eu creio em Deus e confio n’Ele.
Acentuação gráfica
A segunda vogal tônica de um hiato não é acentuada quando precedido de
um ditongo: feiura, baiuca, Sauipe.
Este acento permanece em oxítonas (tuiuiú, Piauí) e a regra se mantém
nos demais casos: caímos, saí, baú, país, raízes; rainha, ruim, raiz.
Acento diferencial
As seguintes palavras perdem seus acentos diferenciais:
côa (verbo coar), coa (antigo com + a) → coa
pára (verbo parar), para (preposição) → para
péla (verbo pelar), pela (por + a) → pela
pélas (verbo pelar), pelas (por + as) → pelas
pêlo (substantivo), pélo (verbo pelar), pelo (por + o) → pelo
pêlos (substantivo), pelos (por + os) → pelos
pêra (substantivo), pera (antigo per + a) → pera
pólo (substantivo), polo (antigo por + lo) → polo
pólos (substantivo), polos (antigo por + los) → polos
Hífen
Regra principal
Sempre há hífen antes de h: anti-higiênico, quilo-hertz, sobre-humano,
mal-humorado.
Há hífen quando a primeira letra da palavra for igual à última letra do
prefixo: micro-ônibus, mega-ampère, super-requintado, hiper-resistente,
contra-ataque, circum-murado, anti-inflamatório, mal-lavado.
Do contrário, não se usa hífen: autoestrada, miligrama, hiperativo,
antiaéreo, hidroelétrica, coeditar, ultravioleta, videoclipe, radioatividade,
cardiorrespiratório.
Caso o segundo elemento comece por r ou s, essa letra deve ser dobrada:
antissocial, autossustentável, contrarregra, autorretrato, ultrassom, cosseno.
Os prefixos além-, aquém-, ex-, recém-, sem-, sota-, soto-, vice- e vizo-
sempre requerem hífen: além-terra, ex-marido, recém-nascido, sem-terra,
vice-presidente.
Nomes de lugares iniciados por grão ou grã, por verbo ou que contenha
artigo entre os elementos recebe hífen: Grão-Pará, Grã-Bretanha, Passa-Quatro,
Baía de Todos-os-Santos.
Outros nomes de lugares não levam hífen: Coreia do Sul, Rio de Janeiro,
Boa Vista, Timor Leste.
Exceção: Guiné-Bissau.
Palavras compostas que indicam espécies botânicas e zoológicas usam
hífen: batata-inglesa, cana-de-açúcar, bem-te-vi, onça-pintada, couve-flor,
pimenta-do-reino.
Palavras referentes a derivados dessas espécies também recebem hífen:
água-de-coco, azeite-de-dendê.
Caso essas palavras não sejam empregadas no sentido das tais espécies,
elimina-se o hífen, como em “bico de papagaio” (nariz grande ou saliência
óssea).
Fontes
Azeredo, José Carlos de. Escrevendo pela nova ortografia. 2ª edição. Rio de Janeiro:
Publifolha. 2008.
Academia Brasileira de Letras. Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. 5ª
edição. Rio de Janeiro: Editora Global. 2009.
Acordo Ortográfico de 1990 (Wikipédia), web site:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_Ortogr%C3%A1fico_de_1990. Acesso em 15 de
maio de 2009.
Os lusídas, versão de 1572, web site: http://purl.pt/1/1/P5.html. Acesso em 15 de maio
de 2009.
A vida no anno 2000, publicado na Folha da Noite em 12 de dezembro de 1933, web
site: http://almanaque.folha.uol.com.br/mundo_12dez1933.htm. Acesso em 15 de
maio de 2009.
Ortografia da língua portuguesa (Wikipédia), web site:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ortografia_da_l%C3%ADngua_portuguesa. Acesso em
15 de maio de 2009.
ß (Wikipedia in English), web site: http://en.wikipedia.org/wiki/%C3%9F. Acesso em
15 de maio de 2009.
& (Wikipédia), web site: http://pt.wikipedia.org/wiki/%26. Acesso em 15 de maio de
2009.
História da ortografia do Português no Brasil, web site:
http://www.portuguesfacil.net/historia-da-ortografia-do-portugues-no-brasil. Acesso
em 15 de maio de 2009.