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VIEIRA, Alberto (1998),

Dados para a História da alimentação


na Madeira,

in Folclore, 1998, pp.34-36

COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO:

VIEIRA, Alberto (1998), Dados para a História da alimentação na Madeira, in Folclore, 1998,
pp.34-36, Funchal, CEHA-Biblioteca Digital, disponível em: http://www.madeira-
edu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/avieira/1998-alimentaçãomadeira.pdf, data da visita: / /

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No mundo actual a culinária adquiriu elevado Como a prova disso, a documentação permite
requinte. A sociedade chamada de consumo uni- estabelecer a ementa diitria do convento e do
versalizou os nossos habitas gastronómicos. Os nível das raqões diárias de carne e peixe.
hiperrnercados, os restaurantes são a expressão Tambkm aqui é evidente uma diferenciação
disso e ninguém os dispensa. O acto de comer social forte na mesa. Enquanto as freiras se deli-
deixou de ser uma necessidade fisiológica para ciam com as carnes de vaca e galinha, o peixe
se tornar um prazer. O requinte da cozinha, a nos dias de jejuns e as diversas guloseimas da
arte e mestria dos cozinheiros assim o demon- doçaria, aos servos e trabalhadores da cerca do
stram. convento apenas chega o milho e o centeio. Na
A mesa transformou-se num espaço impor- verdade, a diferenciqão social, que marcou de
tante*A mesa selam-se contratos, decidem-se os forma evidente estas históricas sociedades, teve
destinos de um país, ou celebra-se um evento na mesa uma expressão muito evidente.
particular. Ainda há bem pouco tempo a inaugu- Os forasteiros, de passagem ou em busca de
ração da Ponte Vasco da Gama fez-se com uma cura para a tísica pulmonar, isto nos séculos
monumental feijoada. XVIII e XIX, são os criadores e apreciadores da
A nossa culinária não está aIheia a esta reali- nossa gastronornia. Habituados 5s lautas mesas,
dade. Ela é fruto duma herança europeia dos reprovam a frugalidade da mesa rural. O gáudio
colonos que lançaram a semente no séc. XV e está no Funchal, nos salões das quintas ou do
dos demais que foram atraídos pela sua magia e Palácio do Governador,. Assim, em 1793, saiu
beleza. Os ingleses são os segundos descobri- da ilha agradado com a mesa do governador da
dores da ilha e aqueles que mais influência nos ilha, D. Diogo Pereira Forjaz Coutinho "A sua
legaram. A mesa toma-se variada, ajusta-se ao mesa é uma das mais variadas e delicadas e em
paladar dos convivas e à disponibilidade dos poucas partes do mundo se poderia apresentar
produtos. A posição da ilha, o seu protagonismo cousa semelhante.
histórico contribuíram para a sua

I
Por outro lado não é fácil conhecer
a culinária madeirense de outros tem-
pos, Carecemos de tratados de
culinária e de textos que retratem as
ambiências quotidianas, e acima de
tudo, caseiras, até meados do séc.
XVII. Perante isto, poderá optar-se
por soluções alternativas, como o
recurso aos livros de despesa com os
doentes do hospital da Misericórdia
do Funchal ou dos conventos. Neste
último caso, temos o livro de
Eduarda de Sousa Gomes sobre o
Convento da Encamaçiio do Funchal. L
Travessas esplêndidas sustentam animais Depois, o calendário religioso e o ano agrícoia
inteiros; ali deparei com um parquinho rechea- estabeleciam o resto. Na Sexta-feira Santa é
do, rodeado de laranjas, uma lebre armando um tradição o inharne cozido com bacalhau, no S.
salto, faisões tentando levantar voo, ornados Martinho o atum salpresado. Hoje, todavia este
com a sua vistosa e flamejante plumagem". calendário gastronómico perdeu algumas das
Esta opulência contrastava com a frugalidade suas raz6es de ser. As actuais técnicas de con-
da alimentação do povo, Diz-nos George Forster servação dos produtos, a actual sociedade de
que "os camponeses são excepcionalmente consumo permitem que a disponibilidade dos
sóbrios e frugais; a alimentqão consiste em pão, produtos e o seu consumo percam a sazonali-
cebolas, vários tubérculos e pouca carne". dade.
Na verdade, a mesa madeirense foi sempre A tradição estabeleceu a matriz, mas os diver-
muito frugal, situação que era quebrada nos sos contactos e a presença & forasteiros vieram
momentos festivos, nomeadamente no Natal, quebrar a monotonia da ementa diária e transfor-
Espírito Santo e festividades em honra dos mar o acto de comer. A ilha, terra de passagem
diversos oragos das paróquias da ilha. É em de gentes, assistiu também à movimentação e
tomo do calendário religioso que o rnadeirense descoberta do mundo animal e vegetal. A ilha
estabelece os vários momentos que marcam a foi, na verdade, o espaço de passagem das plan-
sua gastronomia. Para ele, o Natal# a festa, isto tas do continente Europeu para o novo mundo e
é, o momento mais importante do ano da vivên- vice-versa. Da Europa chegaram á ilha os
cia festiva quotidiana. A devoção religiosa mis- cereais, a vinha e a cana de açiicar. Os dois
tura-se com os folguedos e as delícias da mesa. primeiros por exigência da cultura cristã. A
A tradição anota mesmo um calendário para este América e a África revelaram-se aos europeus
ritual. A 8 de Dezembro faz-se o bolo de mel. A pela sua peculiaridade e variedade dos frutos. Os
15 de Dezembro mata-se o porco de modo a que descobrimentos peninsulares foram também a
as linguiças e a carne de vinho e alhos estejam descoberta disso,
prontas para o Natal. Neste dia no regresso da Aos poucos a mesa europeia torna-se rica e
Missa do Galo, prova-se a carne. A mesa man- variada, Cedo o ocidental assimilou aquilo que
tém-se farta de licores, doces e bolos para gáu- foi encontrado. A aventura marítima dos home-
dio dos que estão e dos visitantes. O caldo de ns foi acompanhada de perto pela das plantas.
galinha caseira e a carne assada completavam o Pirnentos, feijão, mandioca, amendoim, choco-
repasto natalício. late, café, chá, baunilha, ananás, banana, milho e
Em 1842 o mildio atacou a batata
irlandesa, provocando uma das maiores
mortandades na população, que se
repercutiu noutros espaços europeus. A
Madeira foi vítima dessa situação entre
1846 e 1847. A fome vitimou milhares
de madeirenses e forçou outros tantos à
emigração. Note-se que esta situação
conduzirá inevitavelmente a uma outra
revolução alimentar com a plena afir-
mação do milho na dieta popular. Este,
sob a forma de pão ou de farinha,
transformou-se rapidamente na base da
mesa madeirense na primeira metade
do nosso século, apenas as guerras
mundiais condicionaram o seu con-
sumo e conduziram a novas crises de
fome.
Hoje a nossa culinária é resultado
dessa herança cultural dos colonos
europeus, das aportações dos
forasteiros e rotas marítimas. Os
- cereais perduram soba forma de pão
batata chegam á mesa europeia. A nossa va- ou diferentes formas de cozinhado. O
riedade de frutos é resultado disso. A viagem de milho conhece-se hoje mais como frito do que
Vasco da Gama (1497- 1499) veio contribuir como papas. A batata persiste na mesa. E a
para a generalização do consumo das especia- sobremesa é hoje a mais requintada e rica, quer
rias, já conhecidas dos europeus, mas só agora em aromas e sabores. Tudo isto obra da
com uma rota segura da sua divulgação. Assim Natureza e do Homem.
ao tradicional agafrão, a mesa apura-se com as
pimentas orientais. Bibliografia
Por muito tempo alguns produtos foram iden-
tificados com determinadas regiões, A ma@
apela-nos à grande metrópole de Nova Iorque,
AMORIM. Roby, Da máo B boca. Para uma história I
da Alimentapão em Portugal, Lisboa, 1987.
enquanto o ananás nos recria as paradisíacas
ilhas do Havai. Mas tudo terá mudado a partir ARNAUT, Salvador Dias, A arte de comer em
do séc. XVIII. A alimentação progrediu e as Portugal na Idade Média, Lisboa, 1986
ementas universalizaram-se. os produtos perder- Cousas e Lousas das cozinhas madeirensas,
Funchal, 1987
am o selo de identidade de origem e entraram
definitivamente no quotidiano. A mesa do GOMES, Eduarda de Sousa, O Convento da
mundo ocidental uniformiza-se. As divergências Encarnaçáo do funchal, Subsídios para a sua
e o exotismo sucedem no confronto com outras históría, 1660, 1777, Funchal, 1995 , - . -,
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culturas, como o mundo árabe e as regiões ori- ':"h ,;,"*?
A

entais. PORTO DA CRUZ, Visconde do, A "cblTnClria


Madsirense, in Das Arfes e da história da
fi neste longo processo de transformação que
Madeira,n"3, 1963
se enquadra a afirmação da batata, que teve ma
Irlanda o principal centro difusor do tubérculo RITCHIE, Larson, I. A. A Comida s civilização de
descoberto no novo mundo. Entre n6s, a sua
generalização aconteceu em princípios do d c .
XiX, mas de imediato se transformou no produ-
como a História foi ínfluenciada pelos gostas
humanos, Lisboa, 1995 I
to preferido d a mesa de subsistência SARMENTO, Alberto A., A sobremesa, três frutos I
exóticos, Funchal, 194E
madeirense, retirando lugar aos cereais.

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