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Recebido para publicação em 21.3.2006 e na forma revisada em 4.8.2006.
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Eng.-Agr., Ph.D., Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Caixa Postal 15.100, 90000-970 Porto
Alegre-RS, bolsista do CNPq, <ribas.vidal@pesquisador.cnpq.br>; 3 Eng.-Agr., M.S., doutorando do Programa de Pós-Graduação
em Fitotecnia da UFRGS, bolsista do CNPq, <fabilamego@yahoo.com.br>; 4 Eng.-Agr., Dr., Prof. da Universidade Federal
Tecnológica do Paraná, Caixa Postal 571, 85503-390 Pato Branco-PR, <trezzi@pb.cefetpr.br>.
daninhas, para que sejam garantidos elevados sementes são semeadas em vasos e cultivadas
níveis de produtividade, a falha deste pode em casa de vegetação; após a emergência das
comprometer drasticamente a produção dos plantas, elas serão tratadas com diferentes
cultivos agrícolas, além de proporcionar doses, sendo comparado o desempenho do her-
aumento nos custos de produção. Dessa forma, bicida nas populações sob teste (Gazziero et al.,
a resistência de plantas daninhas aos herbi- 1998; Vidal & Merotto Jr., 1999; Beckie et al.,
cidas assume grande importância, principal- 2000).
mente em razão do limitado, ou inexistente,
Em experimento conduzido por R yan
número de herbicidas alternativos para serem
(1970), sementes de Senecio vulgaris foram
usados no controle dos biótipos resistentes. O
coletadas em duas áreas: uma suspeita de
número de ingredientes ativos disponíveis para
resistência e outra nunca antes aspergida com
controle de algumas espécies daninhas é
herbicidas. Posteriormente, as sementes foram
bastante restrito, e o desenvolvimento de novas
conduzidas à casa de vegetação, onde foi
moléculas é difícil e oneroso. Portanto, diag-
desenvolvido protocolo para comprovação
nosticar a resistência em uma população de
científica da resistência ao herbicida triazina.
plantas daninhas de forma rápida, eficaz e
Através de aplicações de doses crescentes do
precisa ajuda a prevenir a disseminação de
herbicida, constatou-se a ausência de controle
sementes resistentes na área, evitando proble-
das plantas de Senecio por triazina. Também,
mas futuros.
sementes de Brachiaria plantaginea suspeitas
Mundialmente, têm sido desenvolvidos de resistência foram colhidas no Paraná e
diversos métodos para diagnosticar a testadas em casa de vegetação, sendo compro-
resistência em várias espécies daninhas vada sua resistência aos herbicidas inibidores
(Vidal & Merotto Jr., 1999; Boutsalis, 1999; de ACCase (Gazziero et al., 2000). Em outro
Eleftherohorinos et al., 2000; Tuesca & tipo de ensaio in vivo, foi avaliado o acúmulo
Nisensohn, 2001; Delye et al., 2002; Siminszky de chiquimato em tecido foliar de plantas,
et al., 2005). Alguns métodos mostram-se mais visando detectar de forma rápida a resistência a
vantajosos para determinadas situações em glyphosate, uma vez, que após aplicação deste
que, por exemplo, há limitação de recursos; já herbicida, ocorre o acúmulo de chiquimato pela
outros são mais sofisticados e requerem mão- inibição da enzima 5-enolpiruvilchiquimato-3-
de-obra especializada. O importante é que fosfato sintase (EPSPS) (Shaner et al., 2005).
sejam precisos e garantam a certificação de
resistência ou não a determinado grupo herbi- Testes in vivo realizados em diversos
cida. Esta revisão tem por objetivo discutir os locais no Brasil (Gazziero et al., 1998; Vidal &
métodos diagnósticos para a resistência em Trezzi, 1999; Gazziero et al., 2000) e no mundo
plantas daninhas aos herbicidas relatados pela (Pratley et al., 1999; Eleftherohorinos et al.,
literatura, apresentando suas vantagens e 2000; Tuesca & Nisensohn, 2001; Shaner
desvantagens e abordando possibilidades de et al., 2005) têm sido eficazes na constatação
sua aplicação. de resistência aos herbicidas. Além da possi-
bilidade de teste de um grande número de
ESTUDOS DE DIAGNÓSTICO plantas, não é necessário o uso de mão-de-
obra especializada na instalação dos testes
O diagnóstico de resistência de plantas envolvendo avaliações de dose-resposta aos
daninhas aos herbicidas pode ser feito a herbicidas. Ensaios envolvendo o acúmulo de
partir de duas formas de estudo: in vivo ou substratos como chiquimato na detecção de
in vitro. Os testes in vivo podem ser realizados resistência a glyphosate, por exemplo, já exi-
diretamente no campo ou em casa de vege- gem equipamentos sofisticados de laboratório,
tação. No campo, existe a desvantagem de não o que os tornam muitas vezes inviáveis. Como
se ter testemunha suscetível e de não ser pru- desvantagens destes testes in vivo destacam-
dente utilizar doses muito além das indicadas se a demora na obtenção dos resultados, a
em rótulo. Já para os testes em casa de vegeta- necessidade de as sementes não estarem dor-
ção, coletam-se no campo sementes de plantas mentes e a elevada utilização de mão-de-obra
suspeitas de resistência e também daquelas e de material (Saari et al., 1994). Apesar disso,
conhecidamente não-resistentes. Estas a metodologia de teste em casa de vegetação
tem sido utilizada de forma indispensável planta, o que implica a utilização de poucos
na comprovação científica da resistência, indivíduos, limitando o escopo do resultado
complementando resultados de campo e de obtido (Saari et al., 1994; Beckie et al., 2000).
laboratório.
Os métodos descritos até então, in vivo e
Testes realizados in vitro envolvem a in vitro, apresentam como desvantagem o
extração da enzima-alvo da ação do herbicida elevado tempo para na sua realização. Por
(Ponchio, 1997), a avaliação do RNA ou DNA exemplo, no método in vivo realizado a partir
desta (Saari et al., 1994) ou, ainda, a avaliação de sementes, há necessidade de pelo menos
de enzimas que fazem parte da rota de ação 40 dias entre a semeadura e a determinação
da enzima-alvo da ação dos herbicidas de resistência. No caso de o resultado ser nega-
(Gerwick et al., 1993; Singh & Shaner, 1998). tivo, ou seja, de não se confirmar resistência
Um exemplo a ser citado é o do uso do ácido ao herbicida testado, o teste deve ser repetido
ciclopropanodicarboxílico (CPCA), inibidor da para assegurar ao agricultor a inexistência
enzima cetoácido reductoisomerase (KARI), que de resultado “falso-negativo”. Com isso, são
catalisa a reação seguinte à da enzima mais 40 dias de espera para confirmação do
acetolactato sintase (ALS) na rota de síntese resultado final. A morosidade da diagnose
de aminoácidos. Na ausência de CPCA, KARI acarreta prejuízos à cultura devido à inter-
converte os substratos acetolactato e acetoidro- ferência das plantas daninhas resistentes,
xibutirato, resultantes da reação com a ALS, que não são controladas, e devido ao custo de
em 2,3-di-hydroxi-3-isovalerate e 2,3-di- herbicidas erradamente aspergidos na área
hydroxy-3-methylvalerate, respectivamente. (Boutsalis, 2001).
Em plantas suscetíveis aos inibidores de ALS,
Para acelerar o processo de confirmação
quando CPCA é aplicado juntamente com o
da resistência e obter resultado já na própria
inibidor de ALS, não é observado o acúmulo
estação de crescimento da planta cultivada,
de acetolactato, uma vez que a ALS é inibida
Boutsalis (2001) desenvolveu um método teori-
pelo herbicida. No entanto, em plantas resis-
camente mais rápido. Esse método consiste
tentes, a ALS insensível promove a síntese de
em coletar plantas suspeitas de resistência,
acetolactato, que, por sua vez, acumula-se
desfolhá-las, podar drasticamente as raízes e
devido à inibição de KARI pelo CPCA
enviá-las ao local onde serão plantadas em
(Christoffoleti, 2001).
vaso. Após período de aclimatação e desenvol-
Bioensaios in vitro com a enzima aceto- vimento de novas raízes e folhas, aproxima-
lactato sintase (ALS) extraída de biótipos damente 20 dias, aplicam-se os herbicidas de
resistentes e suscetíveis de Bidens pilosa interesse e aguarda-se período de cerca de
demonstraram a insensibilidade de enzimas 15 dias para confirmação da resistência.
provenientes das plantas resistentes (Ponchio, A grande vantagem desse método é que a
1997). Esse método tem como vantagem maior confirmação da resistência poderá ser realizada
precisão no diagnóstico da resistência, porém já na própria estação de crescimento em que
apresenta a desvantagem de ser específico ao se coletaram as plantas. Contudo, note-se que
mecanismo de resistência sob análise. o intervalo de tempo requerido para confir-
mação da resistência não é drasticamente
Outros testes in vitro promovem a quan-
afetado em relação ao procedimento antes
tificação de enzimas metabolizadoras, quando descrito – cerca de 35 dias.
o mecanismo de resistência envolver metabo-
lização do herbicida (Reade & Cobb, 2002), ou, Outro método desenvolvido para diag-
ainda, marcadores moleculares são selecio- nóstico da resistência aos herbicidas com
nados com o fim específico de indicar a experimentos de resposta à dose foi realizado
resistência (SariGorla et al., 1996; Rutledge com plântulas, as quais, posteriormente, após
et al., 2000). No geral, esses testes normal- imersão na solução herbicida, foram colocadas
mente são complexos e envolvem muitos em água (Portes, 2005). Quatro dias foi período
reagentes ou equipamentos especializados, o suficiente para identificar sintomas em plantas
que limita sua realização por público leigo. suscetíveis aos inibidores de ALS e ACCase.
Como desvantagem adicional, eles são reali- As espécies avaliadas foram Eleusine indica,
zados com pouca quantidade de tecidos da para resistência aos inibidores de ACCase, e
Outro método desenvolvido para econo- Um dos métodos mais simples para
mizar tempo e espaço em casa de vegetação/ detectar a ação dos herbicidas envolve a
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