Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Há alguns anos, num encontro sobre Liturgia promovido pelo Instituto de Estudos em
Religião (ISER/RJ), fui convidado para dar uma oficina sobre Poesia. Naquela ocasião, falei sobre
a descoberta que tinha feito a respeito de duas maneiras pelas quais os poetas se aproximavam de
Deus.Lembrando os monges e sua oração contemplativa, chamei de sensibilidade apofática e
catafática essas formas de falar o encontro com o sagrado. A via apofática era, para os monges,
uma maneira de chegar a Deus se afastando do mundo, dos símbolos, das coisas, das pessoas,
em solidão e contrição. Era preciso encontrar Deus reconhecendo tudo o que Ele não era. O
incognoscível, o indizível, o inefável, o Outro. Este poema representa bem a maneira apofática:
Os monges franciscanos também se aproximavam de Deus louvando tudo o que existe, vendo um
pedaço de divino em cada coisa. A via catafática era uma sensibilidade cósmica, extrovertida,
comungante:
A idéia de nomear duas sensibilidades estéticas diferentes para a poesia que se aproxima
do sagrado me veio de um estudo realizado pelo poeta, crítico, professor da UFRS, doutor em
filosofia, Armindo Trevisan. Neste estudo, chamado ‘Notas sobre o Cântico do Sol’3, Armindo dizia
entrever duas sensibilidades numa mesma fé cristã – a sensibilidade católica e a sensibilidade
protestante. Preferi nomear as sensibilidades de maneira neutra, fazendo um esforço de
comunhão. Inclusive porque, nos poetas modernos e contemporâneos cristãos ou não, as
maneiras apofática e catafática se misturam, por vezes, num mesmo poema. Assim é com os
modernos Murilo Mendes, Jorge de Lima, Cecília Meireles. Ou com os próprios poemas de
Armindo, de Carlos Nejar, Adélia Prado, para falar dos brasileiros vivos e produzindo.
Quem ainda acredita em Deus – e talvez mais ainda quem não acredita - precisa conhecer estes
novos salmos e cânticos, que expressam a busca/encontro de Deus neste tempo que se chama
hoje.
1
Ângelus Silesius O Peregrino Querubínico pg 139 Loyola SP 1996
2
Rainer Maria Rilke O Livro de Horas pg 107 Civilização Brasileira RJ 1993
3
Armindo Trevisan A Sombra Luminosa Ensaios de Estética Cristã pg 25-35 Vozes Petrópolis 1994