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Complexo arquitetônico
do Ver-o-Peso ,
principal cartão-postal
de Belém do Pará,
declarado patrimônio
cultural pela Unesco.
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BEM ANTES DO NASCER DO SOL, os barcos já chamar de contributiva. É ação prazerosa de pre-
estão percorrendo os igarapés e furos, passando servação de cultura. É bem diferente, por exem-
de casa em casa em busca de sua carga. Aos plo, das carvoeiras, em que as crianças trabalham
poucos, ficam lotados de cestos abarrotados de em troca de comida e dinheiro”. Segundo ele, a
frutos do açaizeiro. Depois chegam a portos de presença das crianças acaba por se tornar um ele-
pequenos municípios e são descarregados. Mas a mento de união familiar, parte do legado indígena.
viagem ainda não acabou. Serão ainda mais algu- Mulheres e adultos também interagem com a
mas horas em outros barcos antes que o produto “panha” dos frutos, debulha dos bagos e seleção.
chegue a outro porto, a outra feira. Dessa vez, o O baldeador de açaí Manuel Lobato da Fonseca
número de embarcações ancoradas e descarre- Trindade, conhecido como BG, conta que ainda
gando é muito, muito maior, assim como o movi- de madrugada passa de casa em casa para bus-
mento de trabalhadores e compradores. A singu- car a produção dos sítios e levá-la até o porto de
lar feira do açaí divide espaço com as incontáveis Abaeté, em Abaetetuba. De lá o açaí segue por
barraquinhas que vendem ervas milagrosas do poucas horas até chegar a Belém. Tudo deve ser
outro lado do cais, com o artesanato, o mercado feito “rapidola” – como ele explica –, já que o pro-
de ferro, da carne, o mercado de peixe e um sem- duto é perecível e deve chegar ao seu destino em
fim de outros produtos. Nascido no alto de uma até 24 horas. O transporte por definição é o bar-
palmeira, em uma mata preservada à beira de al- co, que segue por furos e igarapés até alcançar
gum rio amazônico, o miúdo e escuro açaí agora os grandes rios que desembocam na capital,
está numa cidade grande e populosa, enfrentan- num emaranhado de caminhos fluviais. “O rio é a
do o susto do movimento frenético do Mercado nossa rua. O pão chega por ele, eu levo os meni-
Ver-o-Peso, principal entreposto da fruta. Ele che- nos pra escola da vila por ele.” Depois do trabalho
gou a Belém. E aí é preciso abrir um parêntese: o duro de ribeirinho é a hora de provar o fruto do
açaí é uma das mais importantes referências da trabalho diário. Claro, como base de qualquer re-
cultura paraense. Esqueça aquela mistura de pol- feição é o próprio açaí que faz a diferença. O po-
pa congelada e xarope de guaraná que se vende deroso ouro negro, batido ou amassado na hora,
nas lanchonetes de academias de outras capi- pode vir acompanhado de peixe, carne, camarão
tais. Famoso no resto do país por seu alto teor de e arroz. Se for apenas uma merenda, com um
vitaminas e minerais, açaí, por aqui, é uma poten- pouco de açúcar. O que nunca pode faltar para
te história na várzea do estuário amazônico. acompanhá-lo é a farinha, de preferência de tapio-
São séculos de tradição no extrativismo e no ca. Só na capital são consumidas mais de 700 to-
consumo desse fruto, que é colhido no alto de neladas de açaí por mês, e o estado é responsá-
uma elegante palmeira, nativa da mata amazôni- vel por 92% da produção nacional.
ca. Tarefa que muitas vezes cabe às crianças. Há quem defina a capital paraense como exóti-
Ágeis e leves, elas se enroscam no tronco do açai- ca, quem a chame de portal da Amazônia, há
zeiro em busca dos cachos, sem que isso signifi- quem lembre da chuva que cai quase diariamen-
que trabalho infantil. Pode-se dizer que é a ma- te nos finais de tarde. O fato é que se trata da
nutenção de um modo de vida familiar, em que principal cidade do estado mais desenvolvido de
crianças e adultos estão integrados numa mesma todo o Norte e palco das mais importantes passa-
atividade. Quem explica é Mario Jardim, coorde- gens históricas que marcaram a região, desde
nador do núcleo de Botânica do Museu Emílio que foi fundada, em 1616, quando portugueses ti-
Goeldi. “Temos no açaí um diferencial, pois mes- veram a intenção de proteger a foz do rio Amazo-
mo a presença das crianças na coleta não pode nas. Em face da grande multiplicidade indígena
ser tida como trabalho infantil, tão combatido no da região, esse encontro só poderia ter gerado
Brasil, mas sim uma atividade que eu costumo uma herança rica e única.
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Seu Santana, baldeador de açaí, no Igarapé Miri, levando cestos com a fruta para o porto de Abaeté.
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Comércio de ervas
que segue antiga
tradição indígena,
no Mercado Ver-o-Peso;
vista do interior
do Theatro da Paz.
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tece em outubro. É nada menos que a maior pro- um conjunto de construções históricas que fo-
cissão do país. No ano passado, o número de ram integradas para se tornar um único ponto de
fiéis beirou os 2 milhões. A tradição começou em atração. Lá estão o Forte do Castelo, que abriga
1700, quando um pescador chamado Plácido en- um bem cuidado museu de arqueologia e histó-
controu a imagem da santa nas margens de um ria, a Casa das Onze Janelas, com exposição de
igarapé e, em sua homenagem, uma capela foi arte moderna e contemporânea, e a Igreja de
construída. Nos primórdios da procissão, a ima- Santo Alexandre, erguida no século 18 e restaura-
gem era levada por um carro de boi. Até o dia em da para se tornar o Museu de Arte Sacra. Outra
que o carro atolou e, para livrá-la do atoleiro, foi parada indispensável é o complexo São José Li-
preciso usar uma corda, puxada por muitos ho- berto. A construção de 1749 era inicialmente um
mens. Os fiéis gostaram tanto da idéia que o car- convento franciscano, depois transformado em
ro de boi foi aposentado e, em seu lugar, a corda depósito de pólvora, quartel, olaria, hospital e pre-
virou símbolo da procissão. São 400 metros de sídio, que esteve em atividade até o ano 2000. Hoje,
corda, que os devotos se esforçam para tocar to- abriga o Museu de Gemas, a Oficina de Jóias e a
dos os anos, à espera de serem agraciados pelo Casa do Artesão, com exposições permanentes
gesto. A festa continua nas casas belenenses, da produção atual de artesanato e ourivesaria,
pois o Círio representa uma comemoração fami- com destaque para a confecção de jóias com de-
liar tão ou mais importante que o Natal. No lugar senhos inspirados no próprio Pará.
do peru e do leitão, a mesa é ocupada pelas comi- O ápice de todo este processo é, indubitavel-
das típicas do cardápio paraense. Sabores que mente, o imponente Theatro da Paz. Construído
podem parecer até extravagantes, como o do durante o auge do ciclo da borracha, no século
pato no tucupi, feito à base de mandioca e jambu, 19, o primeiro teatro de ópera da região Norte
uma erva que provoca dormência na boca. Há passou por uma completa restauração em 2001 e
também a maniçoba, um cozido de carne de por- se mantém em intensa atividade. A programação
co e folhas de mandioca-brava, que começam a inclui espetáculos de dança, teatro e festivais de
ser preparadas com uma semana de antecedên- ópera que se realizam regularmente. Judie Kris-
cia, para tirar o “veneno”. tie, que há alguns anos se mudou para São Pau-
Mas, se até agora se falou na Belém secular, de lo para estudar piano, lembra com saudades do
tradições tão arraigadas no gosto popular, vale festival de música de câmara. “Uma das melho-
lembrar que nos últimos anos a capital passa por res coisas do Theatro da Paz é que ele é acessível
um processo de revitalização turística. Se em ou- a qualquer pessoa. No festival, além de gente do
tros lugares a expressão lembra guias recitando mundo todo, vão os moradores de Belém de to-
textos decorados e lojas de lembrancinhas, em das as camadas sociais, que fazem até torcida
Belém esse processo procura valorizar a cultura para os grupos locais.” Talvez este seja mais um
contemporânea, como na Estação das Docas. O diferencial de Belém: uma cidade onde o que é
antigo armazém foi reformado e transformado popular agrada ao gosto erudito, enquanto o eru-
em um conjunto de bares e restaurantes. Longe dito, por sua vez, não deixa de ser popular.
de se resumir a um bom lugar para tomar uma Tão cativante, que soa atual o poema “Belém Complexo Ver-o-Peso ao amanhecer;
cerveja gelada ao refresco da brisa que sopra do do Pará”, escrito por Manuel Bandeira em 1928, réplica de cerâmica marajoara;
rio Guamá, tornou-se uma espécie de centro cul- que termina dizendo: “Nunca mais me esquece- festividade de Círio de Nazaré.
tural. Na Estação das Docas acontecem freqüen- rei/ Das velas encarnadas/ Verdes Azuis/ Da
temente mostras de cinema, espetáculos tea- doca de Ver-o-Pêso/ Nunca mais/ E foi pra me
trais, apresentações musicais e de grupos para- consolar mais tarde/ Que inventei esta cantiga:/
folclóricos, além de exposições de artes visuais. Bembelelém/ Viva Belém!/ Nortista gostosa/ Eu
O mesmo ocorre com a Feliz Lusitânia. A área é te quero bem”.
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BELÉM, PARÁ
ONDE FICAR
Hotel Hilton de Belém
Av. Presidente Vargas, 882 – Campina - Tel.: (91) 4006-7000
ONDE COMER
Lá em Casa - comida regional
Av. Gov. José Malcher, 247 – Nazaré – Tel.: (91) 3242-4222 (há também uma filial
na Estação das Docas, com bufê no almoço)
Sorveteria Cairu
Travessa Catorze de Março, 1570 - Nazaré
ATRAÇÕES
Estação das Docas
Boulevard Castilho França, s/nº - Campina - Tel.: (91) 3212-5525
Theatro da Paz
Praça da República, s/n – Centro – Tel.: (91) 4009-8750
Basílica de Nazaré
Praça Justo Chermont, s/n – Nazaré – Tel.:(91) 4009-8400
MAIS INFORMAÇÕES
Site oficial da Secretaria de Turismo
www.paratur.pa.gov.br
Coordenadoria Municipal de Turismo
www.belemtur.com.br
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