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Até há uns dez anos, o muro de Berlim simbolizava a divisão do mundo. Caiu.
Estará o mundo mais unido agora? Tem condições para isso. Os progressos
técnicos, sobretudo no campo das telecomunicações, tornaram o longe perto
e a Terra transformou-se naquilo a que alguns gostam de chamar a "aldeia
global". Mas a esta dita aldeia outros preferem chamar a "sociedade dos dois
décimos". Porquê? Porque as forças económicas mundiais estão a pôr em
prática a ideia de que num futuro próximo bastará dar emprego a 2% da mão
de obra para que se produzam todos os bens necessários. E ainda porque, já
agora, nesta dita aldeia, só duas em cada dez pessoas têm condições para
uma vida humanamente digna. A globalização está a dar em concentração.
Concentração do poder económico, das empresas, dos bancos, das agências
noticiosas. A ditadura do capital está a ocupar o lugar da "ditadura do
proletariado".
Tudo isto mostra que há outros muros, que resistem mais a ser derrubados
que o muro de Berlim. Estão na nossa sociedade, estão até dentro de nós. As
suas pedras e cimento são o egoísmo, a ganância, a soberba e avidez do
poder, etc., numa palavra, aquilo a que se chama "pecados capitais", raízes
de todos os outros. São eles que nos dividem e fragilizam. Mas também
estes muros hão de cair.
Cada vez mais a Igreja, lendo e relendo aquilo que o Espírito Santo no
Concilio Vaticano II lhe fez ver acerca de si mesma, se descobre como
mistério de comunhão. Ela é por desígnio de Deus, e deve sê4o cada vez
mais pela vida dos seus membros, espelho que reflecte Deus, imagem de
Deus Amor. É por isso e para isso que a Eucaristia é centro da vida da Igreja.
Não se vai ou se está sozinho na Missa. Missa bem vivida é aquela para a
qual cada um se preparou ao longo da semana praticando a caridade, na
qual cada um entra pedindo perdão a Deus e aos irmãos por ter sido egoísta,
na qual cada um carrega consigo as alegrias e esperanças mas também as
angústias e tristezas dos outros, e da qual todos saem mais unidos para
cumprirem no mundo a ordem de Jesus: "fazei isto em minha memória". Isto
é o que Jesus fez: a sua entrega por nós. "Isto" é entregam-nos também,
fazendo-nos o próximo de quem quer que precise de nós.
Há uma outra palavra para dizer comunhão; essa palavra é "solidariedade".
É uma palavra constantemente repetida, ao longo dos últimos trinta e tantos
anos, desde o Concilio, no ensinamento oficial da Igreja, sobretudo quando
se trata de problemas sociais.
4. Ou solidários ou solitários