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A Democracia Política De Base

Libertária
international | the left | opinion/analysis Thursday March 05, 2009 21:33 by B. L.
Rocha
Esse modelo, aplicado em países onde o Estado existe e não está em guerra com o povo
mas, é alvo de disputa de blocos de poder (como acontece neste momento em
Venezuela), entra em funcionamento quando as organizações políticas e movimentos
populares disputam as parcelas de poder não-estatal através de conselhos comunais,
mesas técnicas (para temas como água, luz, saneamento, saúde e etc.) ou território
auto-organizados (de forma total ou parcial).

A DEMOCRACIA POLÍTICA DE BASE


LIBERTÁRIA
É comum escutarmos que a democracia representativa está em crise e ao mesmo tempo
o sentido de democracia política está cada vez mais em alta. Concluindo o final da
primeira década do século XXI e observando a luta anti-globalização na emergência de
novos agentes sociais, chegamos a algumas conclusões. Um, que os valores
democráticos de liberdade de expressão, reunião, manifestação, crença e difusão de
idéias são essenciais a uma sociedade igualitária. Dois, que a idéia de democracia como
igualdade jurídica é válida e necessária para evitar qualquer tipo de sociedade elitizada.
Três, que o ritual democrático com desigualdade econômica e injustiça social é uma
casca vazia e não leva a lugar algum.

Nada do que estamos escrevendo aqui é novidade para a matriz de pensamento


libertário. Esta teoria na forma de Poder Popular anti-estatista recobra valor e força a
partir da última década do século XX. As esquerdas existentes no mundo hoje se vêem
na obrigação de dialogar com um conjunto de movimentos, identidades, defesa de
interesses e autonomias pouco influentes até os anos ’80 e essenciais após o início da
luta contra a globalização do capitalismo de tipo financeiro e telemático. O tema da
liberdade como valor essencial ao socialismo, e do protagonismo do povo podendo
decidir por sua conta sem a tutela de uma combinação de tipo Partido-Estado torna-se o
pilar de uma esquerda social que hoje está na primeira linha da luta popular no mundo
todo.
Para concretizar essas vontades em um sistema de idéias que possa se tornar teoria
política, falta pouco, mas ainda resta um trecho a percorrer. O foco da disputa no campo
dos conceitos (ou seja, das ferramentas de análise e interpretação das realidades) é justo
na forma de um sistema político de base plural e igualitária. Ou seja, necessitamos
reconhecer o direito a existência da diversidade dentro da justiça social. Isto implica
pensar em formas de organização social onde a dimensão política (de organizações e
partidos de esquerda); religiosa (sem proselitismo nem controle da educação ou dos
meios de comunicação); de identidades (sejam étnicas, sexuais, culturais, etc.);
territorialidades (como os controles comunais); do mundo do trabalho (na gestão direta
e coordenada com as maiorias) e dos mais variados grupos de interesse estejam
contemplados nas decisões fundamentais da sociedade.

Para formalizar estas idéias é preciso um passo anterior, que é simples. As esquerdas de
intenção revolucionária necessitam compartilhar da idéia da liberdade política
funcionando sobre uma base de justiça social. O que nos divide, é saber se essa base
societária será estatal ou não. O que nos une é afirmar esta liberdade política dentro da
multiplicidade de agentes e sem a disputa estéril por direcionamentos e vanguardas. A
política tem regras duras e é um jogo para gente grande. A hegemonia, a referência e a
gravitação se dão pelo peso relativo de cada força atuando no tabuleiro de
possibilidades. Mas ter gravitação não implica necessariamente em ter conduta visando
hegemonismo ou direção total de uma luta. É possível avançar na horizontalidade e uma
experiência político-social serve de exemplo.

Ainda na década de ’80, o Peru vivia uma situação de guerra revolucionária onde duas
forças políticas atuavam. Uma, a mais conhecida e de linha maoísta, era o Partido
Comunista do Peru / Sendero Luminoso Outra, que ganhou relevância internacional
com a ação do seqüestro e toma da Embaixada do Japão em Lima (1996-1997), era o
Movimento Revolucionário Tupac Amaru / Exército Revolucionário Tupacamarista
(MRTA). Para os fins deste artigo, a experiência de controle territorial do MRTA na
Frente San Martin é sem dúvida a mais interessante.

Trata-se de um território onde se mescla selva e montanha e fica distante 886 kms de
Lima, capital do país. Nesse terreno, nos municípios onde o MRTA operava, era a força
hegemônica em armas e na maioria das vezes tinha o monopólio da força. Mas,
sabiamente, isso não implicou o monopólio da representação política. A estrutura da
sociedade foi dividida em Assembléias Regionais Populares, onde todos os grupos de
interesse, sindicatos, movimentos populares, delegados de micro-regiões e organizações
de esquerda tinham seus delegados com voz e voto. O MRTA era uma força a mais
nesse universo de decisão política, com o mesmo peso de voto dos demais. Das
Assembléias Regionais saíam delegados para a Assembléia Nacional, que era,
logicamente, o conjunto de representações e territórios onde os tupacamaristas tinham
hegemonia. Esta Assembléia não contava com delegados regionais de zonas onde o
Sendero era hegemônico e menos ainda de lugares onde a democracia representativa
burguesa e estatal se fazia presente. Por fim, é desta instância mais ampla de delegação
de base e regionalizada de onde saíam linhas e demandas para a política geral nos
lugares onde o MRTA atuava.

Que lições e exemplos podem ser tirados da experiência de San Martín? Primeiro, que
mesmo nas condições mais adversas é possível a organização de base e o estímulo a
participação política. Segundo, que a diversidade dentro da igualdade de direitos e
justiça social é perfeitamente aplicável. Isto se dá se a hegemonia da força e a
gravitação política têm as condições de exercer este tipo de democracia. Terceiro, que se
no caso, não fosse apenas o MRTA no uso da força, mas uma série de organizações
políticas compartilhando o mesmo plano de trabalho das Assembléias (Regionais e
Nacional) seriam perfeitamente executável. Quarto, que qualquer organização social de
protagonismo popular sempre se verá confrontada com o status quo e a estrutura de
poderes das classes dominantes. A variável é o tipo e forma de confrontação, podendo
ser desde uma luta avançada e dura como a dos tupacamaristas peruanos dos anos ’80 e
’90 até a luta de massas e popular exercida pelos movimentos indígenas e comunitários
em algumas cidades e regiões latino-americanas a partir do ano 2000.
Quinto e por fim, é essencial compreender que o conceito aplicado pelo MRTA à
organização social em San Martín é o de PODER POPULAR. Isto significa uma
estrutura de delegação política aos militantes votados diretamente pelos segmentos do
povo organizado, que constroem instâncias de regulação social e é de onde vem a
soberania popular por excelência. Esse modelo, aplicado em países onde o Estado existe
e não está em guerra com o povo mas, é alvo de disputa de blocos de poder (como
acontece neste momento em Venezuela), entra em funcionamento quando as
organizações políticas e movimentos populares disputam as parcelas de poder não-
estatal através de conselhos comunais, mesas técnicas (para temas como água, luz,
saneamento, saúde e etc.) ou território auto-organizados (de forma total ou parcial). Por
fim, um sistema político semelhante poderia ter sido aplicado na Catalunha de 1936 a
partir do Comitê Central das Milícias, no caso, sob hegemonia e controle social quase
total da CNT/FAI. O mesmo se deu na Frente de Aragón e em outras regiões do planeta
com ou sem hegemonia integral dos anarquistas organizados.

BL Rocha é cientista político e militante da FAG (blrocha@autistici.org)


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