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Textos Da China Antiga Vol.1
Textos Da China Antiga Vol.1
Textos Da China Antiga Vol.1
Ebook987 pages13 hours

Textos Da China Antiga Vol.1

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About this ebook

Textos da China Antiga apresenta uma seleção de fragmentos traduzidos dos mais antigos clássicos dessa civilização, desde suas origens até o período da dinastia Han. Nosso objetivo é ajudar na difusão desse conhecimento, e familiarizar o leitor com fontes pouco conhecidas em língua portuguesa. No Volume 1, trazemos o plano da obra e os textos do período pré--Qin.
LanguagePortuguês
Release dateAug 10, 2023
Textos Da China Antiga Vol.1

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    Textos Da China Antiga Vol.1 - André Bueno

    Introdução

    Textos da China Antiga reúne fragmentos dos mais diversos textos produzidos na antiguidade chinesa, desde os primórdios da escrita até ao período Han. A coleção foi lançada atendendo as demandas do Projeto Prodocência da UERJ, que visa promover ações educativas e produção de materiais didáticos para o ensino de História. Como base documental, usamos as traduções disponíveis em português [de domínio público] e as traduções realizadas pelo próprio Projeto.

    Escopo do Projeto

    A literatura da China antiga desde o início até a Dinastia Han [206 aec a 220 ec] é caracterizada por um corpo rico e diversificado de obras, que lançou as bases para as tradições literárias chinesas. Durante este período, várias formas de textos surgiram, contemplando os mais diversos campos e temas. Em nossa coleção, buscamos apresentar fragmentos desses escritos, informando suas funções e objetivos. Não nos detivemos em explorar uma apresentação pormenorizada de autores e textos, o que geraria um volume significativo de notas, comentários e bibliografia auxiliar. O contexto histórico, bem como a caracterização da autoria e a importância dessas obras em suas épocas pode ser contemplada em manuais de história ou pensamento da China antiga. Nesse sentido, boas referências podem ser encontradas na Página do Projeto Orientalismo, na webgrafia sobre Sinologia.

    Grande parte das traduções empregou materiais disponíveis em português ou traduções abalizadas; contudo, tornou-se necessário realizar traduções diretas do chinês, tendo em vista o caráter inédito de alguns textos. Por essa razão, alguns dos materiais que disponibilizamos nessa coleção têm suas primeiras versões em nossa língua.

    A Textualidade

    O início da coleção funda-se nos primórdios da história escrita chinesa. Inicialmente, abordamos as Inscrições Oraculares e as Inscrições em Vasos de Bronze [Jiagu甲骨 e Jinwen金文]. As inscrições oraculares são a forma mais antiga de escrita conhecida na cultura chinesa, e foi encontrada em inscrições de ossos de oráculos que datam da Dinastia Shang [1600-1046aec]. Essas inscrições foram esculpidas em ossos de animais ou cascos de tartaruga e foram usadas para fins de adivinhação. Elas fornecem informações valiosas sobre a cultura e as crenças da China antiga. O mesmo pode ser dito das Inscrições em vasos de bronze do período Zhou [1046-221aec], que nos proporcionam fragmentos da cultura material e intelectual desse período. Há registros, leis e passagens históricas que compõe um quadro rico sobre a vida dessa época.

    Junto a esses textos fundadores, materiais como o Chuci 楚辭 e o Zhushu jinian 竹書紀年 nos trazem novas luzes sobre a antiguidade chinesa. O Chuci revela o início da tradição poética chinesa, e de suas especulações sobre a natureza e a estética; quanto aos ‘Anais de Bambu’[Zhushu jinian], trata-se de uma das primeiras crônicas históricas dessa civilização.

    Mas o corpo fundamental da escrita chinesa, e que se tornou o manancial de referências do imaginário chinês está contido nos conhecidos clássicos chineses, coligidos na época Zhou e reeditados por Confúcio no século 6aec. São eles o Shijing 詩經 [poesias], Shujing 書經 [histórias], Liji 禮記 [ritos], Yijing 易經 [mutações], Chunqiu 春秋左傳 [Anais das Primaveras e Outonos], Yuejing 樂經 [música], Yili 儀禮 [Cerimonial] e Zhouli 周禮 [ritos de Zhou]. Esse corpo de obras formou o centro da mentalidade chinesa por séculos, e ajudou a construir e definir os elementos de sinidade da cultura chinesa.

    Eles abrangem uma ampla gama de tópicos, incluindo ciência, história, sentimentos, natureza, vida social e rituais. No geral, essas obras seguem esquemas textuais diferentes, mas foram usados fundamentalmente como meio de expressão moral e política.

    Na sequência, a produção literária chinesa dirigiu-se aos problemas políticos e intelectuais do conturbado período final de Zhou, cuja decadência começou lentamente no século 6 aec. É o momento em que surgiram as Cem Escolas de Pensamento Chinesas, e sua busca incessante por fórmulas que pudessem restaurar – ou quem sabe, estabelecer – uma nova ordem.

    A ênfase na educação e na cultura funda-se no trabalho de Confúcio e seus continuadores, em obras como Lunyu 論語, Daxue 大學, Zhong Yong 中庸 e Xiaojing 孝經, Mêncio 孟子 e Xunzi 荀子. Novos e pouco conhecidos textos dessa escola surgiram nos textos escavados de Guodian [Guodian Chujian 郭店楚簡], revelando-nos uma intensa tradição histórica de debates e formação de ideias.

    O contraponto ao movimento de Confúcio foi o Daoísmo, representado por um conjunto de obras antipolíticas e contraculturais do Daodejing 道德經 de Laozi 老子, Liezi 列子, Zhuangzi 莊子. A elas, soma-se o pouco conhecido texto do Guanyinzi 闕尹子.

    Enquanto isso, outros pensadores conceberam que a formação de leis e de um sistema político rígido seria a única solução para a continuação da civilização chinesa. Eram os legalistas, representados por Hanfeizi 韓非子, Shenzi 慎子 e Shang Yang 商鞅.

    No jogo de disputas que se desenrolava, surgiram ainda vários pensadores com propostas mais ecléticas. Mozi 墨子, Gongsun Longzi 公孫龍子 e o Nominalismo [Mingjia 名家], junto com Huizi惠子 [Huishi 惠施] e Dengxi 鄧析, assim como a escola dos Agricultores [Nongjia 農家] com Chen Xiang 陳相 representaram alternativas a essas grandes linhas de pensamento, e imprimiram contribuições diversas na mentalidade chinesa.

    Em um contexto político conturbado, e marcado pela guerra, a estratégia foi gradualmente supervalorizada, e os tratados nesse sentido surgiram em profusão. Os textos de Liu Tao 六韜 de Taigong 太公, Sunzi Bingfa 孫子兵法, Wuzi 吳子 de Wuqi 吳起, Sima Fa司馬法 de Sima Rangju 司馬穰苴, Wei Liao zi 尉繚子, Sun Bin Bingfa 孫臏兵法, Sanlue 三略 de Zhang Liang 張良 e o Sushu 素書 de Zhang Liang 張良 formam um vultoso corpo literário de debates sobre a guerra e seu papel político e social.

    Em sentido similar, uma linha de pensamento conhecida como Escola da Diplomacia legou algumas obras históricas e filosóficas que revelam o panorama político da época. Guiguzi 鬼谷子, Guanzi 管子, Guoyu 國語 de Zuo Qiuming 左丘明, Zhanguo Zongheng jiashu 戰國縱橫家書, Gai Lu 蓋廬 e o Xinlun 新論 nos contam muito sobre as movimentações e os bastidores do complexo período dos reinos combatentes entre 481-221 aec.

    O fim desse período é marcado pelo surgimento de alternativas de síntese, promovidas por pensadores cujas abordagens transitavam por entre essas escolas citadas. Shizi 尸子, Yinwenzi 尹文子de Yin Wen 尹文, Yanzi chunqiu 晏子春秋 por Yan Ying 晏嬰 e o Lüshi chunqiu 呂氏春秋 de Lü Buwei 呂不韋 são obras menos conhecidas do público, mas cruciais para compreender a transição para o período Qin. Lü Buwei foi, incluso, um dos artífices da vitória Qin junto som cós legalistas, e seus textos são importantes para conhecermos mais sobre essa época, cuja produção literária foi bastante limitada. Porém, o Qin Lü 秦律 é um texto revelador sobre as leis de Qin e processo investigativos, mostrando que os agentes pensantes desse período estavam longe de serem estáticos.

    Qin [221-206aec] foi um período relativamente curto, mas significativo na história chinesa. Foi marcado por mudanças políticas dramáticas e pelo estabelecimento do primeiro estado imperial centralizado na China. Qin não produziu uma quantidade substancial de literatura em comparação com outros períodos; e como parte de seu projeto político, visando controlar o pensamento intelectual, ainda listou uma série de livros e documentos considerados contrários à ideologia imperial, que foram queimados. Além disso, os estudiosos que se opunham ao regime foram executados. Este ato levou à destruição de inúmeras obras históricas e literárias de períodos anteriores.

    Por outro lado, os Qin investiram na padronização da escrita, o que contribuiu para a uniformidade e eficiência da comunicação em todo o império e ajudou [indiretamente] a ampliar o acesso aos textos, através de uma edição mais uniformizada e lida universalmente. Essa renovação, porém, surgiria somente no período seguinte, a dinastia Han.

    A Dinastia Han [206aec a 220ec] é amplamente considerada como uma idade de ouro da literatura chinesa. Durante este período, houve um notável florescimento de obras literárias em vários gêneros, incluindo poesia, registros históricos, tratados filosóficos e narrativas ficcionais. Foi também um período de grande síntese intelectual, no qual os autores buscavam permutar ideias de escolas diferentes em seus escritos.

    A escola acadêmica fundada por Confúcio foi crucial nos momentos de transição. Buscando aliviar as pressões do período Qin, mas buscando manter a unidade política alcançada, os estudiosos confucionistas lançaram um grande conjunto de obras sobre governança, tais como Gongyangzhuan 公羊傳 por Gongyang Gao 公羊高 e o Guliangzhuan 穀梁傳 por Guliang Chi 穀梁赤 [comentários das Primaveras e Outonos], Xinyu  新語 por Lu Jia 陸賈, Xinshu 新書 por Jia Yi 賈誼 e o Chunqiu Fanlu 春秋繁露 por Dong Zhongshu 董仲舒. Esses textos foram fundadores para a nova dinastia. O texto Hanshi Waizhuan 韓詩外傳 por Han Ying  韓嬰 trazia ainda um comentário sobre os poemas com uma reflexão moral. Nesse período, somente o Huainanzi 淮南子 de Liu An 劉安 representaria uma alternativa legitimamente daoísta ao problema do governo e das questões filosóficas.

    O período Han foi profícuo na produção de registros históricos, que reorganizaram por completo a cronologia do passado chinês. ‘Memórias Históricas’ [Shiji 史記] de Sima Qian 司馬遷 foi o primeiro e mais abrangente trabalho sobre a história da China desde os tempos lendários até o reinado do imperador Wu. A narrativa magistral de Sima Qian e a inclusão de biografias, anedotas e relatos detalhados de eventos históricos estabeleceram o padrão para a escrita histórica na China. Algum tempo depois, o bibliotecário imperial Liu Xiang 劉向 iria investir em uma nova forma de escrita histórica episódica, que se traduziu em um amplo conjunto de obras, algumas autorais, outras resgatadas do passado. Liu editou os livros Yizhoushu 逸周書, Guanzi 管子, Zhanguoce 戰國策, as biografias Lienüzhuan 列女傳, Liexianzhuan 列仙傳, a enciclopédia de mitologia Shanhaijing 山海經 e os textos político-sapienciais Shuoyuan 說苑 e Xinxu 新序.

    Os registros históricos foram continuados pela família Ban [Ban Biao 班彪 , seu filho Ban Gu 班固 e sua filha Ban Zhao 班昭] que escreveram o Hanshu 漢書 [História de Han]. Ban Gu ainda produziu os textos Baihutong 白虎通 [unificando os cânones educacionais chineses] e a crônica histórica Dongguan Hanji 東觀漢記. Já Ban Zhao produziu importantes livros osbre a história das mulheres na China, como o Nüjie 女誡 e algumas biografias femininas no Xu Lienuzhuan 續列女傳.

    Essa época foi igualmente importante pelos inúmeros avanços científicos. Textos de medicina e sexologia como Fang Zhongshu 房中術, Sunüjing 素女經, Huangdi Sijing 黃帝四經, Huangdi Neijing 黃帝內經, Huangdi Bashiyi Nanjing 黃帝八十一難經 e o Shen Nong Bencaojing 神農本草經 apresentam-nos muitos dos conceitos científicos vigentes no momento. Destaca-se ainda a obra de Zhang Heng 張衡 [78–139ec], polímata, cientista e escritor. Inventor do sismógrafo e da clepsidra, estudioso de matemática e astronomia, Zhang foi dono de uma vasta obra, da qual apresentamos alguns fragmentos neste volume. Primeiramente, temos o Huntian渾天 [Esfera Armilar]; na sequência, o texto sobre cosmologia intitulado Ling Xian 靈憲 [Modelo Sublime] e seleções das rapsódias Xijingfu 西京賦 [Rapsódia da Capital Ocidental], Sixuanfu 思玄賦 [Rapsódia da contemplação do mistério] e Guitianfu 歸田賦 [Rapsódia do retorno ao campo].

    Cumpre salientar a retomada da poesia como um elemento central de expressão literária nesse período. Com base no desenvolvimento da poesia fu durante as dinastias Zhou e Qin anteriores, a Dinastia Han testemunhou um maior refinamento e expansão deste gênero. A poesia Fu tornou-se uma forma popular de expressão caracterizada por descrições elaboradas, imagens vívidas e recursos retóricos. Zhang Heng foi um destacado poeta também, junto com Sima Xiangru 司馬相如. Uma seleção de poemas antigos foi publicada nesse período com o título Gushi Shijiushou 古詩十九首.

    Textos de matizes mais complexos surgiram juntos com os problemas próprios da vida política e intelectual. Produções como Yantielun 鹽鐵論 de Huan Kuan 桓寬, Taixuangjing 太玄經 e Fayan 法言 de Yang Xiong 揚雄, Yueling 月令 de Zou Yan 鄒衍 e DaDai Liji大戴禮記 de Dai De 戴德 discutem vários aspectos da vida política, da cosmologia e da ritualidade, buscando sempre uma concepção de preservação da ordem. Essa consideração seria fundamental nos períodos de decadência da dinastia Han.

    Obras como Zhongjing 忠經, Wu Yue Chunqiu 吳越春秋, Kongcongzi 孔叢子, Lunheng 論衡, Qianfulun潛夫論, Zhonglun中論, Shenjian申鋻, Kongzi Jiayu 孔子家語, Cuishi Zhenglun 崔氏政論 e Changyan 昌言 trazem, todas elas, críticas aos costumes, às ideias e ao pensamento político da sociedade Han nos séculos 1-3ec. É uma nota comum nessas obras a busca de preservação da unidade política, a valorização da moral e da educação, e de como se poderia aperfeiçoar a governança.

    Contudo, no início do século 3, a dinastia Han já estava em avançado processo de ruptura. O surgimento de uma literatura daoísta alternativa ao discurso oficial, expressa em obras como Wenzi文子, Taipingjing 太平經 e o Cantongqi 參同契 anunciavam o nascimento de uma nova era, repleta de crenças mágicas, alquímicas e de um renovado interesse por mudanças na esfera social e cultural.

    Shijing

    O ‘Shijing’, ou ‘Livro das Poesias’ apresenta os mais diversos tipos de poesias (musicadas ou não) de origem popular e nobre. A tradição costuma dizer que os cânticos eram recolhidos por funcionários do governo em ambientes populares para que o soberano pudesse avaliar o impacto de suas políticas no cotidiano. Confúcio recompilou uma série de 305 poesias tidas por ele como principais pelos seu caráter moral e exemplar.Esse volume é uma versão do texto Shijing 詩經 [séc. 12 aec] por Confúcio 孔子[551-479 aec] extraída de Lin Yutang,‘A Sabedoria da China e da Índia’. Rio de Janeiro: Pongetti, 1945.

    Poemas

    1.

    A abóbora ainda está com as folhas amargas,

    É profundo o vau no cruzamento.

    Espero meu senhor.

    O vau está cheio até às bordas;

    O faisão grita pela companheira.

    Meu senhor demora.

    O barqueiro ainda chama com acenos,

    E outros chegam ao fim da jornada.

    Espero meu amigo.

    2.

    Oh, deixá-lo vogar, aquele barco de madeira de cipreste,

    Lá no meio do Ho.

    Ele era meu companheiro,

    E até a morte continuarei desolada.

    Ó Mãe! Ó Deus!

    Por que é que não quereis compreender?

    Oh, deixá-lo vogar, aquele barco de madeira de cipreste,

    Lá no meio do Ho.

    Ele era meu rei.

    Juro que não farei essa maldade. Ó Mãe! Ó Deus!

    Por que é que não quereis compreender?

    3.

    O orvalho cai espesso sobre a relva.

    O sol se pôs, finalmente.

    Encha, encha até as bordas as taças de jade,

    Ainda temos a noite diante de nós!

    A noite inteira o orvalho ficará cobrindo

    A relva e o trevo.

    Em breve, bem breve, o orvalho secará,

    Muito em breve a noite estará terminada!

    4.

    A luz gloriosa da manhã cai sobre minha cabeça,

    Pálidas flores brancas e púrpuras, azuis e vermelhas.

    Estou inquieta.

    No meio da relva seca algo se agita,

    Pensei ouvir seus passos.

    Depois um grilo cantou.

    Subi a colina até que a nova lua surgiu,

    Vi-o chegando pela estrada do sul.

    Meu coração abandonou toda preocupação.

    5.

    Saí pelo Portão Oriental,

    Vi as jovens nas flores,

    Eram bem como nuvens, radiantes e delicadas,

    Mas ao olhá-las

    Pensava na jovem que é a minha luz,

    Reclinada e lânguida, suave como o crepúsculo cinza;

    Ela é minha companheira.

    Saí pela Torre que fica nas Muralhas,

    Vi as jovens nas flores,

    Como os juncos em flores curvavam-se e ondulavam,

    Mas naquela hora

    Pensei na donzela que é meu amor,

    Em seus vestidos brancos tão leves e em suas cores desmaiadas;

    Ela é tudo para mim

    6.

    O vento sopra do norte.

    Ele olha e os olhos são frios.

    Ele olha e sorri e depois passa adiante,

    Meu coração sofre.

    O vento sopra sobre a poeira.

    Ele jurou que amanhã virá.

    As palavras foram doces, mas ele não as cumpriu,

    Meu coração está entorpecido.

    O dia inteiro o vento soprou forte,

    Há muito o sol mergulhou no horizonte.

    Pensei nele tanto tempo e tanto

    Que não posso dormir.

    As nuvens estão negras como a noite;

    O trovão não trouxe a chuva.

    Levanto-me e não tenho esperança

    Sofro sozinha a minha dor.

    7.

    O vestido amarelo é sinal de distinção,

    O verde, da desgraça.

    Uso o verde e não o dourado,

    E escondo o meu rosto.

    Uso o verde do desprezo

    Depois de tanto tempo usar o amarelo.

    Medito nos ensinamentos dos Sábios,

    Com medo de julgá-los errados.

    Foi por ela que ele me cobriu de vergonha.

    Sento-me e penso solitária.

    Fico pensando se os Sábios conhecem

    O coração de uma mulher.

    8.

    Os salgueiros que crescem ao lado do Portão Oriental

    Tem folhagens bem densas que abrigam.

    Você disse - Antes que anoiteça -

    E já se ouve chilreio nas beiras dos telhados.

    Os salgueiros ao lado do Portão Oriental

    A noite inteira banharam-se nas sombras.

    Você disse - Antes que anoiteça –

    E eis que brilha a estrela da manhã.

    9.

    Não posso ir a teu encontro. Tenho medo.

    Não irei a teu encontro. Eis tudo, já disse.

    Embora a noite inteira eu fique desperta e saiba

    Que tu também estás deitado e desperto.

    Embora, dia a dia, tu sigas a estrada, solitário,

    E voltes, ao cair a noite, para um lar sombrio.

    Contudo mesmo assim és meu amigo, na verdade,

    Depois, no fim,

    Há uma estrada, uma estrada que eu nunca percorri.

    E por essa estrada não passarás sozinho.

    E lá, certa noite, encontrar-me-ás a teu lado.

    A noite em que me disserem que morreste.

    10.

    Os juncos dos pântanos estão verdes

    E curvam-se ao vento.

    Vi uma mulher andando por ali

    Já quase ao anoitecer.

    Sobre as águas escuras do pântano,

    Os botões do lótus bóiam muito brancos.

    Vi-a de pé sobre a margem,

    Ao cair da noite.

    A noite inteira fiquei acordado

    E não pude encontrar descanso.

    Via-a delgada como os juncos

    Curvando-se ao vento.

    Fechei os olhos e vi novamente

    A brancura de seu colo

    Sobressaindo nas águas escuras da noite

    Tal como o lótus ao flutuar.

    11.

    O K'e ainda se lança com ímpeto contra as margens

    A galinhola grita.

    Meu cabelo estava preso num nó,

    E você apareceu.

    Você vendia sedas a um rapaz

    Que não era de nossa classe;

    Você passou ao por do sol na estrada

    Vindo lá da distante Ts'in.

    As rãs estavam coaxando ao lusco-fusco

    A relva estava úmida.

    Conversamos e eu ri;

    Ouço ainda o que você disse..

    Pensei que seria sua esposa;

    Você me prometeu.

    Assim segui a estrada com você

    E atravessamos o vau.

    Não sei bem quando pela primeira vez

    Seus olhos ficaram indiferentes.

    Mas tudo o que se passou foi apenas há três anos

    E já me sinto velha.

    12.

    O meu senhor partiu para servir ao rei.

    As pombas voltam ao por do sol

    Estão ao lado uma das outras sobre o muro do pátio,

    E de lá bem distante ouço o pastor chamar

    As cabras que estão pela colina, quando o dia termina.

    Mas eu, não sei quando ele voltará para casa.

    Passo os dias sozinha.

    O meu senhor partiu para ir servir ao rei.

    Ouço uma das pombas que se ajeita no ninho.

    E no campo um faisão grita ainda.

    - Daqui a pouco estará perto da companheira.

    Há uma saudade que não me deixa descansar.

    Os dias formaram meses e os meses formaram anos,

    E não tenho mais lágrimas.

    13.

    Eu devia ter ido ao encontro de meu senhor quando ele precisasse

    Devia galopar até lá o dia inteiro,

    Mas isso é assunto que diz respeito ao Estado,

    E eu, sendo mulher, devo ficar.

    Vi-os abandonando o pátio do palácio,

    De carruagem e com as vestes oficiais.

    Devia ter ido por colinas e vaus

    Pois sei que chegarão tarde demais.

    Posso andar pelo jardim e colher

    Lírios de madrepérola.

    Tinha um plano que teria salvo o Estado.

    - Mas minhas idéias são as de uma mulher.

    Os Estadistas Mais Velhos sentam-se em coxins,

    E disputam metade do dia:

    Mais de cem planos fizeram e abandonaram.

    E o meu era o único certo.

    14.

    Vejo no alto a Via-Láctea,

    Mas aqui o caminho é mais áspero.

    Os Bois Sagrados brilham parados;

    Eles não nos tiram os fardos da vida.

    A Peneira cintila ao sul,

    Mas o bem e o mal vêm através sua luz.

    A Pá abre bem a boca

    E nada espalha sobre você.

    Pela madrugada as Irmãs Tecelãs adormecem.

    Ao escurecer erguem-se novamente;

    Mas embora a Brilhante Lançadeira voe,

    Elas não tecem nenhuma roupa para os homens.

    15.

    Nos pântanos crescem as ervas rasteiras,

    Tostadas, ansiosas pelo orvalho,

    E sobre elas as andorinhas mergulham e passam

    Durante o verão, que é toda sua vida.

    Cheguei ao por do sol, coberto de suor.

    Procurando não sei que com pés descuidados.

    Sobre o pântano cresce a relva rasteira,

    Profundamente mergulhada no orvalho,

    E sobre ela as andorinhas abaixam o voo e passam

    Durante todo o verão, que é a sua vida.

    Você chegou ao por do sol, antes que o orvalho secasse.

    E estou satisfeita.

    16.

    Não entre, senhor, por favor!

    Não quebre os ramos de meu salgueiro!

    Não que isso me entristeça muito;

    Mas, pobre de mim! O que dirão meus pais?

    E embora eu o ame como posso amar,

    Não posso suportar o que seria tal coisa.

    Não passe para o lado de cá do meu muro, senhor, por favor!

    Não estrague minhas amoreiras!

    Não que isso me entristeça muito;

    Mas, ai de mim! O que dirão meus irmãos?

    E embora eu o ame como posso amar,

    Nem quero pensar em tal coisa.

    Fique do lado de fora, senhor, por favor!

    Não quebre os ramos do Sândalo!

    Não que isso me entristeça muito;

    Mas, ai de mim! O que dirá o mundo?

    E embora eu o ame como posso amar,

    Nem quero pensar em tal coisa.

    17.

    Você me parece um jovem bem ingênuo,

    Oferecendo em troca de seda seus tecidos;

    Mas não é a seda o que você deseja:

    Eu sou a seda que você tem em mente.

    Com você atravessei o vau e enquanto

    Caminhamos por mais de uma milha

    Eu disse - Não quero delongas

    Mas, é preciso que os amigos fixem a data de nosso casamento...

    Oh, não se aflija com minhas palavras,

    Mas volte com o outono.

    E então passei a esperar e a ficar olhando

    Para ver você passar pelo portão;

    E algumas vezes quando observava em vão.

    Minhas lágrimas corriam como grossas gotas de chuva;

    Mas quando vi meu querido,

    Ri e chorei alto de alegria.

    Os videntes, disse você,

    Todos declararam que éramos feitos um para o outro;

    - Tragam então uma carruagem, repliquei,

    E serei sua esposa para sempre.

    As folhas da amoreira, ainda não arrebatadas,

    Pelo vento frio do outono, brilham ao sol.

    Ó doce pomba, eu devia aconselhar,

    Acautela-te contra o fruto que tenta teus olhos!

    Ó linda donzela, ainda não esposada,

    Não ouça, alegremente, as promessas do amado!

    Um homem pode fazê-las de má fé e o tempo

    Se encarregará de obscurecer seu crime;

    Uma mulher que perdeu o nome

    Está condenada a uma vergonha eterna.

    A amoreira sobre o solo que a cerca

    Agora espalha as folhas amarelas.

    Três anos Já se passaram,

    Desde que eu partilhei sua pobreza;

    E agora novamente, dia amargo!

    Atravessei o vau de volta.

    Meu coração ainda não mudou, mas você

    Pronunciou palavras que agora provaram ter sido falsas;

    E abandonou-me para lamentar

    Um amor que não mais pode ser meu.

    Durante três longos anos fui sua esposa,

    E levei, na verdade, uma vida de tristeza;

    Cedo me erguia da cama e ia tarde descansar,

    Todos os dias se passaram assim para mim.

    Honestamente cumpri a minha parte.

    E você...você despedaçou meu coração.

    A verdade meus irmãos não a saberão,

    Do contrário me crivariam de sarcasmos.

    Sofro em silencio e só lamento

    Ter sido meu um tal destino infeliz.

    Ah, quem dera que de mãos dadas enfrentássemos a velhice!

    Em vez disso volto uma página amarga.

    Oh, pelas margens do rio, há muito tempo;

    Oh, pelas muito queridas praias pantanosas;

    As horas da meninice, com meus cabelos

    Soltos, como eu as esperava!

    As Juras que trocamos pareciam tão sinceras,

    Nunca pensei que teria que arrepender-me delas;

    Nunca pensei que as promessas que trocamos

    Por que falar mais sobre isso

    18.

    Surge a Torre Nova, linda e brilhante,

    Onde o volumoso Ho corre;

    É palácio raro construído para uma noiva.

    Ela foi a Wei para encontrar marido;

    Procurava um marido jovem e bom,

    Mas encontrou esse urso desajeitado.

    Lá está a Torre Nova alta e grandiosa,

    Onde calmamente o Ho corre;

    É um palácio raro construído para uma noiva.

    Ela veio a Wei para encontrar um companheiro;

    Procurava um marido jovem e bom,

    Mas encontrou esse urso desajeitado.

    Como quando lançam a rede para apanhar peixes,

    E, ora! recolhem um ganso nas malhas,

    Batem os pés com cólera súbita;

    Assim ela podia bater os pés, pois veio para casar-se

    Com o filho genial e em vez dele

    Só encontrou o pai corcunda.

    19.

    Meu marido está fora, pois foi para o estrangeiro,

    E quando voltará, oh! Meu coração não pode dizer.

    As galinhas vão para os poleiros e os animais para as manjedouras

    Quando se dirigem para casa após pastarem nas montanhas.

    Mas, como posso eu, abandonada,

    Deixar de pensar em meu homem que partiu?

    Meu marido está fora, foi para o estrangeiro,

    E passar-se-á muito tempo antes que reveja nossa lareira.

    As galinhas vão para os poleiros e os animais para as manjedouras

    Assim que os últimos raios de sal atravessam as folhagens da floresta.

    Só os Céus sabem as coisas que penso assim solitária

    Os Céus alimentam e acalmam a sede de meu coração!

    20.

    Disse a mulher - O galo está cantando.

    Falou o marido - O dia está começando.

    - Levante-se, marido, e vá ficar à espreita

    Veja como a estrela da manhã está alta no céu,

    O sol daqui a pouco estará brilhando sobre todas as coisas

    E há uma porção de patos e de gansos para caçar.

    Atire quando estiverem voando e traga-os para casa, para mim,

    E farei um prato como você gosta.

    No futuro, quando

    Você cabecear com sono,

    Sem cuidados, sem receios,

    Nós teremos envelhecido dignamente com os anos.

    E quando estivermos com os amigos que apreciamos,

    A cada um darei um pouco de peixe por você pescado,

    Deixá-los-ei apreciarem as contas de aldeã, presas às correntes,

    E outras antiguidades encantadoras.

    Algumas mãos fúteis, mas adoráveis, hão de descobrir

    O amor que elas representam.

    21.

    Ó querido! Aquele rapaz astucioso

    Não quer dar-me uma palavra!

    Mas, senhor, apreciarei

    Minha refeição, embora você se mostre absurdo!

    Ó querido! Aquele rapaz astucioso

    Não se sentará em minha mesa!

    Mas, senhor, apreciarei

    Meu descanso, embora você aqui não esteja!

    22.

    No portão oriental, o solo é fértil

    E a garança cresce nos declives.

    No entanto, o terreno que cerca a casa de minha amada é áspero;

    Ele me conserva à distância e zomba de minha esperança.

    Onde crescem as castanheiras, perto do portão oriental,

    Elas erguem-se em filas, é lá que fica tua casa.

    Meu coração procura o teu, como o seu companheiro,

    Mas, ah! tu nunca vens a meu encontro!

    23.

    Você, estudante, de colarinho azul,

    Há muito dilacera meu coração com uma ansiedade dolorosa.

    Embora eu não corra para você,

    Por que você foge de todo o mundo?

    Ó você, com roupas debruadas de azul,

    Os meus pensamentos para sempre correram para você!

    Embora eu não o persiga,

    Por que você não vem a meu encontro?

    Como você é despreocupado, como se mostra alegre e volúvel

    Lá perto da torre que encima a muralha!

    Um dia, longe de sua presença

    Durante três meses, considerei-me exilada.

    24.

    No pântano onde mais exuberante cresce

    A relva rasteira, curvada com o peso do orvalho,

    Ali um belo rapaz aproximou-se,

    Sob cuja testa, alta e larga,

    Brilhavam os olhos límpidos e vivos.

    Foi por acaso que nos encontramos;

    Fiquei satisfeita por alcançar o que desejara.

    Onde a relva cresce rastejante no pântano, Toda coberta pelo orvalho,

    Ali encontrei o mais belo rapaz,

    Sobre cujos olhos límpidos e vivos,

    Erguia-se a testa, larga e alta.

    O acaso fez-nos que nos encontrássemos, coisa rara,

    E ambos nos sentimos felizes.

    25.

    Aproxima-se sua carruagem, barulhenta e apressada,

    Com coberta de bambus finalmente entrelaçados,

    E o couro brilhante, avermelhado...

    A filha de Ts'e corre para os braços de um amor ilegal. Para isso, desde Lu, a estrada é suave e plana;

    Foi na noite passada que ela partiu com sua comitiva.

    Os quatro corcéis negros são lindos;

    Macias são as rédeas que o cocheiro tem nas mãos.

    A estrada que parte de Lu é suave e plana.

    O coração da filha de Ts'e não esconde a alegria.

    Está cheia de complacência; nem a vergonha a confunde,

    nem o receio de manchar o nome.

    As águas do Wen fluem largamente,

    E multidões de viajantes passavam.

    A estrada que vem de Lu é suave e plana.

    Ela olha em volta de si com olhos despreocupados.

    Que muitas pessoas a estejam vendo não lhe causa o menor embaraço;

    Nem pensa nos seus caprichos licenciosos.

    E correm as águas do Wen;

    São mais numerosos os transeuntes agora.

    A estrada que vem de Lu é suave e plana.

    A filha de Ts'e mostra o rosto descaradamente.

    Com orgulho e imprudência prossegue em seu caminho,

    Sem importar-se com o que pensem sobre sua ostentação.

    26.

    Vou até o alto daquela colina coberta de árvores,

    E olharei em direção à casa paterna,

    Até que com os olhos do espírito possa divisá-la,

    E com os ouvidos do espírito possa ouvir meu pai dizer:

    - Pobre de meu filho que está em serviço fora de nossa terra!

    Ele não descansa de manhã até o anoitecer.

    Possa ele ser cuidadoso e voltar para meus braços!

    Enquanto está longe, como eu sofro!

    Subo até o alto daquela colina estéril,

    E olho pensando em minha mãe,

    Até que com os olhos do espírito diviso suas feições

    E com os ouvidos do espírito ouço o que ela diz:

    - Ai! o meu pobre filho está em serviço longe de mim!

    Ele nunca fecha os olhos num bom sono.

    Que ele tenha cuidado consigo e que volte a meus braços!

    Que seu corpo não fique no meio das selvas!

    As mais altas cadeias de montanhas eu, com esforço, subo,

    E olhei pensando em meu irmão.

    Até que com os olhos do espírito divisei sua silhueta,

    E com os ouvidos do espírito ouço o que ele diz:

    - Ai de mim! Meu irmão mais novo está servindo fora do país. O dia inteiro deve vaguear com seus camaradas.

    Que ele tenha cuidado consigo e que volte para perto de mim

    E que não morra longe de nosso lar!

    27.

    K'an-k'an nas árvores de sândalo

    Ressoam os golpes do lenhador.

    Depois na margem do rio ele joga os troncos

    Que seu machado derruba;

    Enquanto a corrente corre impetuosamente

    Com suas águas frias e límpidas.

    Você nada semeia; de nenhuma colheita

    Suas mãos macias tomam conta;

    E contudo se gaba de trezentas fazendas

    E há abundância de produções.

    Você nunca se junta ao grito de caça,

    Nem ousa partilhar sua lida;

    Cheio de peles de texugo postas para secar.

    Aquele gentil-homem!

    Ele não come o pão da indolência, na verdade!

    K'an-k'an na madeira do sândalo

    Os golpes do lenhador ressoam,

    Depois nas margens do rio ele deixa

    O que só serve para raios de roda;

    Enquanto o rio corre para diante,

    Com suas águas límpidas e doces.

    Você não semeou nada; de nenhuma tarefa de colheita

    Seus dedos delicados tem as manchas;

    E no entanto se gaba de três milhões de molhos;

    De onde recolhe ele todo esse grão?

    Você nunca se junta ao grito da caça,

    Nem se arrisca a seus perigos;

    Contudo, olhe! Seu enorme pátio mostra

    Aqueles porcos de três anos de idade.

    Aquele gentil-homem!

    Ele não come o pão da indolência, na verdade!

    K'an-k'an ressoam os golpes do lenhador

    Na madeira do sândalo;

    Depois bem na beira do rio ele deposita

    O que serve para as rodas;

    Enquanto o rio corre para diante,

    Docemente ondeado pelo vento.

    Você não planta nada; nenhuma tarefa de colheita

    Ocupa suas mãos suaves;

    No entanto, gaba-se de ter trezentas medidas de grão;

    Como lhe foi ter às mãos tanto grão?

    Você nunca se junta ao grito da caça;

    Sua coragem falha o impede;

    Contudo, olhe! Seu enorme pátio mostra

    Extensas enfiadas de perdizes mortas.

    Aquele gentil-homem!

    Ele não come o pão da indolência, na verdade!

    27.

    Ratos grandes, ratos grandes, deixem-nos pedir

    Que não roam nosso milho.

    Mas os ratos grandes a que nos referimos são vocês,

    Com quem tratamos durante três anos,

    E todo esse tempo nunca conhecemos

    Um olhar de bondade para conosco.

    Despedimo-nos de Wei e de vocês;

    Há muito ansiamos por uma terra mais feliz.

    Ali, em ambiente mais adequado, tranqüilos nos sentiremos.

    Ratos grandes, ratos grandes, deixem-nos pedir

    Que não devorem nossas colheitas de trigo.

    Mas os ratos grandes a que nos referimos são vocês

    Com quem há três anos vimos convivendo;

    E durante todo esse tempo vocês nunca fizeram

    Um só ato bondoso que alegrasse nosso destino.

    A vocês e a Wei damos adeus,

    Em breve iremos para aquele Estado mais feliz.

    Ó feliz Estado! Ó feliz Estado!

    Lá aprenderemos a bendizer nossa vida.

    Ratos grandes, ratos grandes, deixem-nos pedir

    Que não comam os rebentos de nossos cereais.

    Mas os ratos grandes a que nos referimos são vocês,

    Com quem convivemos durante três anos.

    De vocês não nos veio, nesse tempo todo,

    Uma só palavra de conforto no meio de nossas tristezas.

    Despedimo-nos de vocês e de Wei;

    E vamos voando para outras paragens mais felizes.

    Ó paragens felizes, dirigimos os passos para lá!

    Lá nossos gemidos e nossos pesares terminarão.

    28.

    Coruja, ó Coruja, ouça minha súplica,

    E não destrua meu ninho, coruja.

    Você já me arrebatou meus filhotes,

    Embora eu deles cuidasse

    Com todo amor e carinho.

    Tenha pena de mim, tenha pena de mim!

    Ouça minha prece.

    Antes que as nuvens obscureçam os céus,

    Protejo as raízes da amoreira.

    Ao redor da porta e da janela,

    Eu me agarro firmemente a elas,

    E, lançando os olhos para baixo,

    - Quem ousa, dentre vocês, desprezar minha casa?

    Puxei com minhas unhas e despedacei-as

    E minha boca e meus dedos ficaram feridos.

    Reuni toda minha força

    Para defender-me,

    Pois estou decidido a manter a casa perfeita,

    E não receio nenhum trabalho com essa intenção.

    Minhas asas estão deploravelmente feridas

    E minha cauda muito maltratada e fatigada.

    Sacudida pelo vento

    Enquanto a chuva bate sem piedade,

    Oh! minha casa está em perigo

    E escrevo esta nota num grito de alarme.

    29.

    Bons homens são baluartes; enquanto as multidões

    São muros que circundam a terra; grandes estados são telas;

    Cada família um contraforte; a busca da justiça assegura o repouso; como torres

    De forte defesa, os parentes reais ficam imunes ao perigo. Que eles ainda permaneçam

    Nem deixem o rei, uma cidadela solitária

    Abandonada aos seus inimigos.

    Dê atenção à ira do céu!

    Não presuma ser ocioso; mas reverencie os humores celestiais, por mais efêmeros que pareçam.

    Não seja daqueles que vagam ao acaso. O céu compreende

    E acompanha todos os caminhos que percorremos,

    E vê todas as coisas claramente...

    30.

    A rola mora no ninho da pega.

    Uma vem como uma noiva para ser acariciada;

    Cem carruagens foram em busca.

    A casa da pega a jovem pomba possuiu.

    Esta senhora vem como hóspede para toda a vida;

    Cem carruagens na estrada avançaram.

    A rola encherá o ninho da pega.

    Ela viaja para longe de casa para amar e descansar;

    Cem carruagens atestam sua posição.

    31.

    Se o seu coração for bondoso e verdadeiro,

    atravessarei o riacho com você.

    Se seus pensamentos inconstantes se perderem,

    Venha comigo não mais.

    Oh, seu tolo, tolo!

    Homens melhores do que você permanecem.

    Se você me ama, querido meu senhor,

    dê-me um lance e eu cruzarei o vau.

    Se seus pensamentos errantes me abandonarem,

    Pensamentos mais gentis me tornarão cativo.

    Oh, seu tolo, tolo!

    Homens melhores do que você permanecem.

    32.

    Na cidade de Hou ele construiu seu salão,

    Com águas circulando ao redor da parede:

    De norte a sul, de leste a oeste

    Nunca houve uma língua que não o chamasse de bem-aventurado.

    O Grande Rei Wu era um verdadeiro monarca.

    Com adivinhação profunda, as mutações,

    Assim ele procurou a visão de Hou.

    Com casco de tartaruga o local que ele escolheu,

    E degrau por degrau a cidade se ergueu.

    O Grande Rei Wu era um verdadeiro monarca.

    Pelas águas de Fong, milho branco cresceu.

    Estadistas sábios foram a escolha de Wu,

    O futuro colheu o que ele planejou;

    Seu filho era senhor de uma terra agradecida.

    O bom rei Wu era um verdadeiro monarca.

    33.

    Peço -te, querida, que vás embora da minha pequena aldeia,

    Nem quebres os meus ramos de salgueiro;

    Não é que eu deva sofrer,

    Mas temo que meu senhor desperte.

    O amor implora com a paixão desordenada:

    As ordens de um senhor devem ser obedecidas.

    Peço-te, querida,

    Não saltes sobre a minha parede,

    Nem quebres os meus ramos de amoreira;

    Não que eu tema sua queda,

    Mas, para que a ira de meu irmão não desperte,

    O amor implora com paixão desordenada:

    As palavras de um irmão devem ser obedecidas.

    Peço-te, querida,

    Não roubes o meu jardim,

    Nem quebres os meus sândalos;

    Não que eu me importe com isso,

    Mas, oh! Eu temo a conversa da cidade.

    Os amantes deveriam seguir seu caminho obstinado,

    O que diriam os vizinhos?

    34.

    A zona pantanosa abriga a carambola;

    Suaves e flexíveis sejam seus galhos.

    Com sua beleza descuidada e brilho terno,

    A vida de uma árvore é a vida para mim.

    A zona pantanosa ergue a carambola;

    Todas roxas e vermelhas são suas flores.

    Em beleza descuidada e brilho terno,

    Eu não teria filhos e sem graça como você.

    A zona pantanosa adora a carambola;

    Macias e doces são as frutas que vejo.

    Vestido com beleza e brilho ensolarado,

    A vida sem teto e sem teto para mim.

    35.

    Todos os homens de Ch'ing em Peng mentem ociosos.

    A carruagem do general com sua equipe de cota de malha

    Move-se incansavelmente e, saindo dela, brilham

    As lanças com borlas, uma acima da outra.

    Tão sem rumo vagam as tropas sobre o Ho!

    Os homens de Ch'ing estão espalhados por toda a volta de Hsiao,

    Embora a carruagem, com sua equipe de cota de malha,

    Parece marcial, e, saindo dela, brilham

    As lanças em gancho, uma alta e outra baixa;

    No entanto, sem rumo, todos eles olham para o Ho!

    Os homens de Ch'ing mudaram-se para Chou. Ritmo orgulhoso

    A equipe de cota de malha, cujo condutor à esquerda

    Roda a carruagem, e o lanceiro hábil

    Mostra sua lança; entre eles o rosto do general parece satisfeito.

    36.

    Que admirável! Que completo! Aqui estão ajustados nossos pandeiros e tambores. Os tambores ressoam harmoniosos e altos, Para deleitar nosso meritório ancestral.

    O descendente de Tang o convida com esta música, Para que ele possa nos acalmar com a realização de nossos pensamentos. Profundo é o som de nossos pandeiros e tambores; Som estridentes as flautas; Tudo harmonioso e mesclado, De acordo com as notas da gema sonora. Oh! majestoso é o descendente de Tang; Muito admirável é a sua música.

    Os grandes sinos e tambores enchem o ouvido; As várias danças são grandiosamente executadas; Temos os visitantes admiráveis, que estão satisfeitos e encantados.

    Desde os tempos antigos, antes do nosso tempo, Os antigos homens nos deram o exemplo: - Como ser manso e humilde de manhã à noite, E ser reverente no cumprimento do serviço.

    Que ele considere nossos sacrifícios de inverno e outono. (Assim) oferecido pelo descendente de Tang!

    37.

    Ah! ah! nosso antepassado meritório! Permanentes são as bênçãos vindas dele, Repetidamente conferidas sem fim; -- Elas vieram a você neste lugar.

    Os espíritos claros estão em nossos vasos, E nos é concedida a realização de nossos pensamentos. Há também as sopas bem temperadas, preparadas de antemão, com os ingredientes na proporção certa. Por essas oferendas convidamos sua presença, sem uma palavra, Sem (indecorosa) contenda (entre os adoradores). Ele nos abençoará com as sobrancelhas da longevidade, Com os cabelos grisalhos e o rosto enrugado em grau ilimitado.

    Com os raios de suas rodas amarradas com couro, e seus jugos ornamentados, Com os oito sinos em seus freios de cavalos todos tilintando, (Os príncipes) vêm ajudar nas oferendas. Recebemos a nomeação em toda a sua grandeza, E do Céu é enviada a nossa prosperidade, Anos frutíferos de grande abundância. (Nosso ancestral) virá e desfrutará (nossas oferendas), E nos conferirá felicidade sem limites.

    Que ele considere nossos sacrifícios de inverno e outono, (Assim) oferecidos pelo descendente de Tang!

    38.

    As ordenanças do Céu, quão profundas são e ininterruptas!

    E ah! quão ilustre foi a singeleza da virtude do rei Wen!

    Como ele (agora) mostra sua bondade?

    Nós o receberemos,

    Esforçando-nos para estar de acordo com ele, nosso rei Wen;

    E que seu descendente mais remoto seja abundantemente o mesmo!

    39.

    O céu fez sua nomeação determinada, que nossos dois soberanos receberam,

    O rei Cheng não se atreveu a descansar ocioso nele,

    Mas a noite e o dia aumentaram seus fundamentos por sua virtude profunda e silenciosa.

    Como ele continuou e glorificou (sua herança),

    Exercendo todo o seu coração,

    E assim assegurando sua tranquilidade!

    40.

    Eu trouxe minhas ofertas, um carneiro e um touro.

    Que o céu os aceite!

    Eu imito e sigo e observo os estatutos do rei Wen,

    Procurando diariamente assegurar a tranquilidade do reino.

    Rei Wen, o Abençoador,

    Desceu à direita e aceitou (as oferendas).

    Eu não, noite e dia, reverencio a majestade do céu,

    Para assim preservar (seu favor).

    Shujing

    Essa é uma versão do texto Shujing 書經 [séc. 12 aec] de Confúcio 孔子[551-479 aec], recolha dos principais discursos, acontecimentos políticos e eventos das dinastias Xia, Shang e Zhou. A versão confucionista terminou por conceder uma importância maior aos capítulos éticos e ilustrativos. Versão por Alfredo Doeblin, extraída de ‘O Pensamento vivo de Confúcio’. São Paulo: Martins, 1945.

    O Cânone de Yao

    Examinando a Antiguidade verificamos que o Ti Yao era intitulado Fang-xun. Era respeitoso, inteligente, culto e meditativo, de modo natural e sem esforço. Era sinceramente cortês e capaz de toda complacência. A brilhante influência dessas qualidades era sentida nas quatro partes da terra e chegava ao Céu por cima e, por baixo, a terra.

    Fez com que se distinguissem o capaz e o virtuoso. E daí seguiu-se ao amor de todos nas nove classes de sua casta, que tornou harmoniosa. Também ordenava e educava os habitantes do seu domínio, tornando-se todos brilhantemente inteligentes. Finalmente uniu e harmonizou milhares de Estados e assim se transformam as gentes de barrete negro. O resultado foi a concórdia universal.

    Determinou a Xi e He, em respeitoso acordo com sua observação dos vastos céus que calculassem e delineassem os movimentos e aspectos do Sol, da Lua, das estrelas e dos espaços zodiacais, entregando desse modo as estações à observação do povo.

    Determinou ao segundo irmão Xi, especialmente, que residisse em Yu-i, no chamado Vale Claro, e ali recebesse respeitosamente, como a um hóspede, o Sol nascente, e ajustasse e organizasse os trabalhos da Primavera. O dia – disse – é de extensão média e a estrela está em Niao. Assim poderás determinar exatamente a Primavera média. As criaturas distantes nos campos e os pássaros e animais concebem e se juntam.

    A seguir ordenou ao terceiro irmão Xi que residisse em Nan-Kiao, na chamada Capital Brilhante, aí ajustando e organizando a transformação do Verão e observando respeitosamente o limite exato da sombra. O dia – disse – está em sua maior duração e a estrela está em Huo; assim poderás determinar exatamente o Verão médio. As criaturas estão mais dispersas e os pássaros e animais têm curtas penas e pelos e mudam suas penugens.

    Ordenou separadamente ao segundo irmão He que residisse no oeste, no chamado Vale Escuro, e ali convocasse respeitosamente o Sol poente a fim de ajustar e organizar os trabalhos completos do Outono. A noite – disse – é de duração média e a estrela está em Xu. As criaturas sentem-se cansadas e os pássaros e animais têm suas penugens em bom estado.

    Mais tarde determinou ao terceiro irmão He que residisse na região do norte, na chamada Capital Sombria, e ali ajustasse e organizasse as mudanças do Inverno. O dia – disse – está em sua menor duração e a estrela está em Mao. Assim poderás determinar exatamente o Inverno médio. As criaturas ficam em casa e a penugem dos pássaros e animais é então abundante e espessa.

    Os Conselhos de Da Yu

    Examinando a Antiguidade verificamos que o Grande Yu era intitulado Wang-ming. Depois de ajustar e dividir a terra, dentro dos quatro mares, sem reverente resposta a Ti, disse: Se o soberano pode compreender as dificuldades de tua soberania e o ministro a dificuldade do seu ministério, o governo será bem ordenado e o povo de cabelos negros tratará diligentemente de ser virtuoso.

    Disse Ti: Sim, se realmente for esse o caso, as boas palavras não permanecerão ocultas em parte nenhuma, os homens virtuosos e de talento não serão abandonados fora da corte e os milhares de Estados gozarão descanso. Mas obter as opiniões de todos, abandonar a própria opinião para seguir a dos outros, não oprimir os indefesos e não abandonar o vivente, na angústia de sua pobreza, são coisas que só aquele Ti poderia conseguir.

    Disse Yu: Tua virtude, ó Ti, é grande e incessante! Sábia, espiritual, infunde temor e está adornada com todas as perfeições. O Grande Céu concedeu-te seu favor e fez de ti o seu eleito. Possuíste desde logo tudo o que existe dentro dos quatro mares e te converteste em governante de tudo o que existe sob o Céu.

    Yu disse: A conformidade com a retidão leva à boa fortuna. Seguir ao que se lhe opõe, leva à má fortuna. A sombra e o eco. Disse Yi: Ah, sê prudente! Aconselha-te a ti mesmo a prudência, quando parece não haver motivo para ansiedade. Não deixeis de observar as leis e ordenações. Não encontres prazer na ociosidade. Não chegues ao excesso no prazer. Em tua utilização dos homens dignos não deixeis que ninguém se interponha entre tu e eles. Põe de lado o mal, sem hesitações. Não traces planos de cuja sabedoria tenha dúvidas. Estuda todos os teus propósitos à luz da razão. Não fiques contra o justo para conseguir o elogio do povo. Não te oponhas aos desejos do povo para seguir teus próprios desejos. Atende a essas coisas sem indolência nem omissão e as tribos bárbaras dos arredores virão e reconhecerão tua soberania.

    Os Conselhos de Kao Yao

    Examinando a Antiguidade verificamos que Kao-Yao disse: Se o soberano segue sinceramente o caminho da virtude, os conselhos que se lhe dão serão inteligentes e as exortações que recebe serão harmoniosas. Disse Yu: Sim, mas explica-te. Kao Yao disse: Oh! Mostre-se cuidadoso acerca do seu cultivo pessoal, com pensamentos de amplo alcance, e assim conseguirá a generosa bondade e uma exata observância das distinções entre os novos ramos de sua casta. Todos os homens inteligentes também se colocarão a seu serviço e deste modo chegará desde o próximo até o distante. Yu rendeu homenagem a essas excelentes palavras e disse: Sim. Kao-Yao continuou: Oh! Isso se baseia em conhecer os homens e dar tranquilidade ao povo. Yu disse: Ah! Conseguir essas duas coisas pode ser difícil até para o Ti. Quando o soberano conhece os homens é sábio e pode colocar cada um deles no posto para o qual está apto. Quando dá tranquilidade ao povo, sente-se sua bondade e a raça de cabelos negros o aprecia por seu coração. Quando pode ser assim sábio e bondoso, que motivo de inquietação poderá ter acerca de um Huan-tao? Que temor de ser deposto como senhor de Miao? Que motivo para temer alguém de palavras suaves, aparência insinuante, rematada astúcia?

    Kao-Yao disse: Oh! Há em conjunto nove virtudes que devem descobrir-se na conduta e quando dizemos que um homem possui alguma virtude é o mesmo que dizer que faz tais ou quais coisas. Yu perguntou: Quais são as nove virtudes? Kao-Yao respondeu: A afabilidade combinada com a dignidade. A suavidade combinada com a prudência reverente. A docilidade combinada com a audácia. A retidão combinada com a urbanidade. Uma negligente condescendência combinada com a discriminação. A audácia combinada com a sinceridade. O valor combinado com a retidão. Quando essas qualidades se evidenciam de modo continuado, não temos então um bom funcionário? Quando diariamente se mostram três dessas virtudes, seu possuidor podia, a princípio, e mais tarde, regular e melhorar o clã do qual se tinha feito chefe. Quando havia diariamente um cultivo severo e reverente de seis dessas virtudes, seu possuidor conduzia brilhantemente os negócios do Estado com os quais fora investido. Quando semelhantes homens são homenageados e elevados, os possuidores dessas nove virtudes serão empregados no serviço público. Os homens de um milheiro e os homens de uma centena estarão em seu posto. Os diversos. Ministros emular-se-ão uns aos outros. Todos os funcionários cumprirão seus deveres em tempo devido, observando as cinco estações assim como os diversos elementos que nelas predominam e assim terão cumprido inteiramente os diversos deveres. Que o Filho do Sol não dê aos possuidores de Estados um exemplo de indolência e dissolução. Que seja prudente e temeroso, recordando que em um ou dois dias podem ocorrer dez mil mudanças nas coisas. Que seus diversos funcionários não estorvem em seus postos. A obra pertence ao Céu. Os homens devem agir para ele".

    A Canção dos Cinco filhos

    Tai Kang ocupou o trono fazendo-se passar pelo rei morto. Mediante indolência e dissipação extinguiu sua virtude até que o povo de cabelos negros vacilou em sua lealdade. Ele, no entanto, continuou a se entregar aos prazeres e desvarios sem nenhuma restrição. Saiu à caça além de Lo e transcorreram cem dias sem que ele voltasse. A vista disso YI, príncipe de Kung, aproveitando-se do descontenta-mento do povo, opôs-se à sua volta ao sul de Ho. Os cinco irmãos do rei haviam seguido o desejo de sua mãe de seguir a este e o esperavam no norte de Ho. E quando tiveram noticia do movimento de Yi, muito desgostosos, mencionaram as admoestações do grande Yu em forma de canções.

    Disse o primeiro:

    Tal foi a lição de nosso grande antepassado

    O povo deve ser amado

    E não desprezado.

    O povo é a raiz de uma pátria.

    Se a raiz é firme, o povo está tranquilo.

    Quando contemplo tudo o que está sob o céu

    Qualquer dos homens ou das mulheres comuns

    Pode superar-me.

    Se o homem Único erra repetidamente,

    Deve-se esperar até que apareça o descontentamento?

    Antes que este apareça é preciso defender-se contra ele.

    Em minhas relações com os milhões de súditos

    Deveria sentir tanta inquietação quanto se conduzisse seis cavalos, com rédeas podres

    O governante dos homens

    Como pode ser, senão respeitador de seus deveres?

    Disse o segundo:

    Nas Lições ficou dito:

    Quando o palácio é um centro de luxúria

    E o país um campo de caça;

    Quando os espíritos são amados e a música deleita;

    Quando há tetos altos e paredes talhadas,

    A existência de qualquer dessas coisas

    Nunca foi senão prelúdio da ruína.

    Disse o terceiro:

    Existiu o senhor de Dao e Dang

    Que possuía esta região de Qi

    Agora abandonamos seus métodos

    E arrojamos à confusão suas regras e suas leis

    A consequência é a extinção e a ruína.

    Disse o quarto:

    Nosso antecessor era brilhantemente inteligente.

    Soberano de milhares de regiões.

    Tinha cânones, modelos,

    Que transmitiu à posteridade.

    O padrão de medida e o peso igualador

    Estavam no tesouro real.

    Perdemos desvairadamente o guia que nos deu

    Derrubando nosso tempo e suprimindo nossos sacrifícios.

    Disse o quinto:

    Oh! Para onde nos voltaremos?

    Entristece-me meu pensamento

    Todo o povo nos é hostil.

    Em quem podemos confiar?

    Cresce a ansiedade em nossos corações.

    Ainda que sejam pálidos, nossos rostos estão cobertos de rubor.

    Não cuidamos da nossa virtude

    E ainda que nos arrependamos não podemos volver ao passado.

    A Grande Declaração

    Na primavera do décimo terceiro ano houve uma grande assembleia em Mang-Qing. Disse o rei: Ah, vós, governantes hereditários de meus Estados amigos! E vós, todos os meus funcionários, administradores de meus interesses: ouvi atentamente a minha declaração:

    O Céu e a Terra são pais de todas as criaturas e entre todas as criaturas o homem é o mais altamente dotado. Entre os homens, aquele que é sinceramente inteligente chega a ser o grande soberano. E o grande soberano é o pai do povo. Pois bem: Chou, rei de Shang, não venera o Céu e inflige calamidades ao povo. Entregue à embriaguez e à luxúria, atreveu-se a exercer uma opressão cruel. Estendeu o castigo dos ofensores a todos os seus parentes. Colocou os homens nos postos administrativos de acordo com o princípio hereditário. Utiliza-o para possuir palácios, torres, pavilhões, diques, lagos e todas as outras extravagâncias, para mais penoso prejuízo vosso, milhares de criaturas do povo. Queimou e chacinou os leais e os bons. Violou mulheres prenhes. O Grande Céu indignou-se e encarregou meu falecido pai Wen de desencadear o seu terror. Mas este morreu antes de terminar sua tarefa.

    Por isto, eu, Fa, o moço, por vosso intermédio, governantes hereditários de meus Estados amigos, contemplei o governo de Shang. Mas Chou não têm um coração arrependido. Senta-se de cócoras, não serve a Deus nem aos espíritos do Céu e da Terra, abandona o templo dos seus antepassados e não sacrifica nele. Todas as vitimas e os vasos de painço se convertem em presa dos malvados ladrões, e ele diz: O povo é meu; a dignidade celestial é minha". E nunca trata de corrigir sua mente desdenhosa.

    Para ajudar a gente humilde deu-lhe o céu governantes e instrutores, para que possam ajudar a Deus a assegurar a tranquilidade das quatro partes do reino. Acerca dos que são e dos que não são criminosos, como me atrevo a fazer concessão aos meus próprios desejos?

    Quando o poder é o mesmo, medi a virtude das partes. Quando a virtude é a mesma, medi sua retidão. Chou possui centenas de milhares e milhares de funcionários, mas estes têm centenas e milhares de opiniões. Eu não tenho mais do que três mil funcionários, mas têm todos uma só opinião. A iniquidade de Shang é completa. O Céu ordena que ela seja destruída. Se eu não obedecesse ao Céu, minha iniquidade seria igualmente grande.

    Eu, o jovem, estou repleto de apreensões de princípio a fim. Recebi a ordem de meu falecido pai Wen. Ofereci sacrifícios especiais a Deus. Cumpri os serviços à grande terra e conduzo a vossa multidão para executar o castigo indicado pelo Céu. O Céu se compadece do povo. O Céu realiza aquilo que o povo deseja. Ajudai-me, eu que sou o único, à purificar para sempre tudo o que está dentro dos quatro mares. Agora é o tempo! Não se deve perde-lo.

    Afortunado fim da Guerra

    No primeiro mês, o dia Zankhan seguiu-se imediatamente ao final da lua minguante. O dia imediato seria quando o rei de Zhou iria, pela manhã, sair para atacar e castigar Shang. No quarto mês, à primeira aparição da lua, o rei chegou de Shang à Fang, finalizou todos os movimentos guerreiros e pôs-se a cultivar as artes da paz. Enviou novamente seus cavalos ao sul do monte Hua e deixou em liberdade seus bois na região aberta de Shaolin, mostrando a todos sob o céu que não queria utilizá-los novamente.

    No dia Ting-wei sacrificou no templo ancestral de Zhou, quando os príncipes do domínio real e dos domínios de Tien acudiram pressurosos levando os utensílios do sacrifício. O terceiro dia depois era Kang-xu, quando ofereceu um holocausto ao Céu e se inclinou, em adoração, para as colinas e os rios, anunciando solenemente o afortunado término da guerra.

    Depois que a luz começou a minguar, os príncipes hereditários dos diversos Estados e todos os funcionários receberam suas nomeações de Zhou.

    O rei assim falou: Ó vós, multidão de príncipes. O primeiro de nossos reis fundou seu Estado e começou a ampliar seu território. Kung Liu foi capaz de consolidar os serviços de seu predecessor. Mas foi o rei Tai que lançou as bases do patrimônio real. O rei Qi era diligente para a Casa Real. E meu falecido pai, o rei Wen, completou seu mérito e recebeu generosamente os dons do Céu para apaziguar as regiões do nosso grande país. Os grandes Estados temeram seu poder, os pequenos Estados estimaram afetuosamente sua virtude. Em nove anos, no entanto, não pode unir-se todo o reino sob seu governo e ficou a meu cargo realizar seu desejo.

    Detestando os crimes de Shang, anunciei ao grande Céu, à Terra soberana, à famosa colina e ao grande rio pelos quais passei: Eu, Fa, o probo, rei de Zhou por grande ascendência, estou na iminência de administrar grande corretivo à Shang. Chou, o atual rei de Shang, carece de princípios, é cruel e destruidor com as criaturas do Céu, daninho e tirânico com as multidões, senhor de todos os vagabundos sob o Céu, que se reúnem à sua volta como os peixes nas águas profundas, como os animais na campina. Eu, o jovem, tendo obtido a ajuda de homens virtuosos, proponho-me reverentemente cumprir a vontade de Deus e pôr fim à sua conduta desordenada. Nossa terra florescente é grande e as tribos do sul e do norte igualmente me seguem e estão de acordo comigo. Obedecendo reverentemente ao conselho do Céu, realizo minha tarefa punitiva no leste, para dar tranquilidade aos seus homens e mulheres. Saem-me ao encontro com seus cestos cheios de sedas escuras e amarelas, mostrando com isso as virtudes, as nossas virtudes de reis de Zhou. Os favores do Céu os estimulam a oferecer sua lealdade ao grande Estado de Zhou. E agora vós, concedei-me vossa ajuda para que eu possa socorrer milhões de pessoas e não fazer nada que as envergonhe".

    No dia Wuwu o exército cruzou o rio Meng, e no Yuehai formou em ordem de batalha nos limites de Shang, esperando a decisão do Céu. No Xiazi, ao amanhecer, Chou avançou com suas tropas, semelhando um bosque, e reuniu-as no deserto de Mu. Mas não ofereceram resistência ao nosso exército. Os que estavam na primeira fileira voltaram suas lanças e atacaram os que estavam atrás, até que fugiram e o sangue fluiu até submergir os monteiros. Assim o rei Wu vestiu a armadura e o reino ficou em completa desordem. Derrubou o rei de Shang e fez com que o governo retomasse o antigo curso. Libertou o conde Qi da prisão e levantou uma pedra tumular sobre a sepultura de Ganbi. Inclinou-se no seu palanque à porta da aldeia de Shang Yang. Dispersou os tesouros da torre e distribuiu o cereal de Zhao, outorgando assim grandes bens a todos, dentro dos quatro mares, de tal modo que o povo de bom grado submeteu-se.

    Os Conselhos de Yue

    O rei Wuding passou a fase de tristeza na cabana de prantear durante três anos; terminado o período de luto, não pronunciou palavra alguma, para transmitir qualquer ordem. Todos os ministros o censuraram, dizendo: Oh! Nós proclamamos inteligente aquele que é o primeiro a conceber; e o homem inteligente é o modelo dos outros. O Filho do Céu governa inúmeras regiões e todas as autoridades o veneram e reverenciam. As palavras do rei são ordens para elas. Diante disso, redigiu o rei um escrito para esclarecê-las, nos seguintes termos: Competindo a mim ser governador dos quatro quadrantes do reino, tenho estado receoso de que a minha virtude não seja igual à dos meus predecessores; por conseguinte, abstive-me de falar. Mas, enquanto estava reverente e silenciosamente a pensar nos retos caminhos, sonhei que Deus me concedera um bom auxiliar, que falaria por mim. Então evocou minuciosamente a aparência da pessoa que tinha visto e determinou fosse procurada por toda a parte, mediante um retrato. Yue, um construtor da região de Fuyen, foi julgado parecido com esse retrato.

    Diante disso, o rei se ergueu e fez Yue o seu primeiro-ministro, conservando-o também ao seu lado.

    Deu - lhe instruções, dizendo: "Apresentai, de manhã e à noite, as vossas advertências, para auxílio da minha virtude. Imaginai que eu seja uma arma de aço; - eu vos utilizarei como pedra de amolar. Imaginai que eu atravesse um grande curso d'água; eu vos utilizarei como barco a remos. Imaginai que eu esteja vivendo um ano de grandes secas; eu vos utilizarei como copiosa chuva. Abri

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