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INDÍCE GERAL 542
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO 25
1 CONSIDERAÇÕES GERAIS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES 6
2 PRINCÍPIOS ORIENTADORES E DE CONTEXTO 4
3 ENQUADRAMENTO JURÍDICO GERAL 3
4 OBJECTO E ÂMBITO TERRITORIAL 6
5 OBJECTIVOS E LINHAS DE ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA 4
6 ARTICULAÇÃO E HARMONIZAÇÃO COM OS PBH 2
INDÍCE DETALHADO
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO............................................................................................................... 1
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES ................................................................... 1
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSIDERAÇÕES GERAIS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Contempla, de acordo com o DL nº. 45/94, a convergência e articulação entre PBH e compreende um
conjunto de medidas e acções próprias, optimizadando as suas propostas numa perspectiva de conjunto.
Assim, o PNA não se limita a um repositório dos PBH, adquirindo personalidade própria a um nível que não
substitui a essência destes.
Recordam-se as grandes linhas de orientação que nortearam a elaboração dos PBH e que não poderão deixar
de pautar a estruturação deste PNA:
• Aumento da produtividade da água e promoção do seu uso racional, com o máximo respeito pela
integridade territorial das bacias hidrográficas
• Protecção, conservação e requalificação dos meios hídricos e dos ecossistemas associados
• Satisfação das necessidades das populações e do desenvolvimento económico e social do país
• Respeito pela legislação nacional e comunitária relevante e satisfação dos compromissos internacionais
assumidos pelo Estado português
• Acesso à informação e participação dos cidadãos na gestão dos recursos hídricos
Estamos pois perante o primeiro Plano Nacional da Água que se pretende que seja orientado por objectivos
de natureza sectorial e de incidência transversal perante políticas de outros sectores de actividades, razão
pela qual deverá centrar-se em questões cuja relevância e/ou disseminação territorial constituem prioridades
de resolução a médio prazo, por poderem vir a hipotecar o futuro das gerações vindouras.
Sendo um instrumento de política, com a validade máxima de uma década, devendo ser obrigatoriamente
revisto no prazo de oito anos, o seu conteúdo deverá prevalecer e resistir às eventuais erosões das
conjunturas de menor duração, face à dinâmica e evolução por vezes imprevisível do quadro de gestão dos
recursos hídricos
Apesar da sua natureza transversal, o PNA encontra-se subordinado e enquadrado, entre outros, pelos
seguintes instrumentos: i) a Constituição da República Portuguesa (CRP); ii) a Lei de Bases do Ambiente
(LBA) iii) o Plano Nacional de Política do Ambiente (PNPA); iv) o Plano Nacional de Desenvolvimento
Económico e Social (PNDES); v) o Decreto-Lei 45/94 (Regime de Planeamento); vi) o Tratado da União
1
Europeia (Tratado de Amsterdão); vii) a Directiva-Quadro da Água( ) (DQA); viii) a Convenção sobre
Cooperação para o Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas.
Tendo em conta que cerca de 64% do território continental de Portugal está integrado nas bacias
hidrográficas dos rios internacionais e que, por consequência, a nossa dependência em termos de recursos
hídricos potencialmente gerados na parte espanhola daquelas bacias fortemente condicionada em termos de
quantidade, qualidade e de condições ambientais, a problemática das relações luso espanholas e da gestão e
acompanhamento dos acordos existentes entre os dois países é matéria que merece especial atenção neste
PNA.
O planeamento e gestão dos recursos hídricos em Portugal não pode, pois, deixar de ser articulado com o
planeamento e gestão dos recursos hídricos da parte espanhola das bacias partilhadas, no quadro do direito
internacional (com destaque para a Convenção sobre a Protecção e a Utilização dos Cursos de Água
Transfronteiriços e Lagos Internacionais – Convenção de Helsínquia), comunitário (com destaque para a
Directiva Quadro da Água) e bilateral (Convénios de 1964 e 1968 e a “Convenção sobre Cooperação para o
Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas”, adiante designada por
Convenção de Albufeira)
Assim, a aplicação e implementação da Convenção de Albufeira, cuja Comissão para a Aplicação e o
Desenvolvimento da Convenção (CADC) já se encontra em funções e tem desenvolvido amplo e profícuo
trabalho, é matéria que, de constituir uma das prioridades deste PNA.
Não cabe ao PNA definir metas e objectivos para a implementação desta Convenção, já que a CADC
encontra-se plenamente mandatada para esse efeito e no essencial é esse o objecto e o motivo da sua
existência. Ao PNA compete, prever os mecanismos de acompanhamento e vigilância da sua aplicação, de
modo a poder fazer repercutir perante a CADC os objectivos que nos propomos atingir em território nacional
1
() Na medida do possível procurou ter-se em conta as indicações da DQA, embora assumindo a impossibilidade de lhe dar desde já real
cumprimento.
e os condicionamentos que possam advir para a política nacional de gestão dos recursos hídricos, na
decorrência de uma partilha de interesses com o Estado de montante.
A recente adopção da Directiva 2000/60/CE que estabelece um quadro de acção comunitária no domínio da
política da água, adiante designada por Directiva Quadro da Água (DQA), define objectivos de protecção e
de gestão dos usos da águas, de certo modo já estão integrados na Convenção de Albufeira.
O presente PNA propõe a definição das regiões hidrográficas, passo fundamental para que possam ser
atingidos os objectivos fundamentais da Convenção de Albufeira e da DQA, sobretudo se tivermos em conta
a sua inserção no contexto das bacias compartilhadas, e que a sua futura gestão seja, num futuro próximo,
realizada por regiões ou conjuntos de regiões hidrográficas
Em consequência, torna-se inevitável a efectivação da já anunciada intenção de reforma do actual quadro
institucional de gestão dos recursos hídricos, cuja proposta de novo modelo se encontra em elaboração na
sequência do Despacho nº 13799/2000 de 6 de Julho, do Senhor Ministro do Ambiente e do Ordenamento do
Território, que para o efeito constituiu um Grupo de Trabalho.
Assim, e de acordo com o calendário da DQA, Portugal irá assegurar, em conjunto com Espanha, a
elaboração de planos de gestão coordenados e dos consequentes programas de medidas para prevenir a
degradação e assegurar a protecção da qualidade das águas, acção que, obviamente, também deverá ser
estendida às bacias nacionais.
Por outro lado, a abordagem integrada às questões relacionadas com a prevenção e controlo da poluição com
origem em descargas tópicas e difusas amplamente consignada na Directiva IPPC (Directiva 96/61/CE),
transposta para o direito interno nacional pelo Decreto Lei nº 194/2000 de 21 de Agosto, não deixa de
constituir uma obrigação dos dois estados ibéricos, sendo indispensável o estabelecimento de uma actuação
coordenada.
Ainda no contexto da gestão dos rios internacionais, existem outras questões que assumem particular
relevância, das quais destacamos:
• Fixação de caudais ecológicos decorrentes da necessidade de se proceder à definição do regime de
caudais necessário para garantir o bom estado das águas, no sentido de minimizar os impactes sobre os
ecossistemas dulçaquícolas a jusante dos aproveitamentos hidráulicos que condicionam as secções de
fronteira nos rios internacionais, tendo em vista quantificar os caudais mínimos a manter nos cursos de
água, ao longo do ano, que permitam assegurar a conservação e manutenção dos ecossistemas aquáticos
naturais, a reprodução das espécies, assim como a conservação e manutenção dos ecossistemas ripícolas
e os aspectos estéticos da paisagem ou outros de interesse científico e cultural.
Os estudos a desenvolver deverão abranger toda a bacia hidrográfica e avaliar os impactes decorrentes da
sua artificialização.
Durante a elaboração dos PBH (quer nos rios nacionais, quer nos rios internacionais) não foi possível
proceder ao estabelecimento destes caudais, já que o estado de conhecimento e as perspectivas de
aquisição do mesmo não se coadunavam com os objectivos temporais da conclusão dos PBH, daí que a
“Síntese dos Planos de Bacia Hidrográfica dos Rios Luso-Espanhóis, tenha avançado com a fixação de
valores em cinco secções de fronteira nos cinco rios internacionais, muito embora com a noção de que
esta matéria requer ser aprofundada e, nos termos da Convenção de Albufeira, deverá ser conduzida
através da CADC.
• Estabelecimento de redes homogéneas de monitorização, que nos termos da permuta de informação
prevista na Convenção de Albufeira e nos objectivos da DQA, terão de ser estabelecidas e intercalibradas
pelos dois estados ibéricos.
• Articulação entre Portugal e Espanha para a preparação da implementação da DQA o que, obviamente,
deverá estar inserido na estratégia comum da União Europeia.
Portugal é um dos países que, no contexto europeu, apresenta responsabilidades significativas em matéria de
gestão de águas, sobretudo se tivermos em conta os objectivos de protecção e preservação das águas
marinhas.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSIDERAÇÕES GERAIS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Com uma área terrestre de 92 600 km2, Portugal tem responsabilidades de gestão de recursos hídricos numa
área de 1.834.600 km2 se atendermos às áreas das Zonas Económicas Exclusivas, ou seja, uma área cerca de
20 vezes superior à sua área terrestre, como se pode observar na Figura 1.1.
Figura 1.1 – Espaços Hídricos e Territoriais de Gestão de Recursos sob a Responsabilidade de Portugal
As responsabilidades nacionais inserem-se num contexto global de gestão do ambiente onde a terra, a água e
o ar são os principais vértices. Segundo os dados da FAO, o quadro global onde os recursos hídricos se
insere é apresentado na Figura 1.2.
Embora a água cubra 75% do globo terrestre, a sua disponibilidade e a sua distribuição inspiram permanentes
cuidados a nível do planeamento e da racionalidade dos seus diversos usos.
Em Portugal, os três espaços territoriais, Continente, Açores e Madeira, com áreas de 89.290 km2, 2.490
km2 e 820 km2, respectivamente, têm associadas as zonas marítimas económicas exclusivas, de 314.000
km2, 973.000 km2 e 455.000 km2, respectivamente.
A quantidade de água doce que é gerada pela precipitação nestes espaços é cerca de 91 Km3 médios anuais.
Estes recursos evoluem para recursos hídricos superficiais e subterrâneos que atingem os valores médios
anuais totais cerca de 33 Km3, e 8 Km3, respectivamente com a repartição pelo Continente, Açores e
Madeira expressa no Quadro 1.1.
Calotes
Oceanos
Polares e
97,5%
Zonas
Geladas 79%
Humidade do
Lagos 52% S olo 38%
Quadro 1.1 - Espaços Nacionais de Gestão de Recursos Hídricos (Km2) e Recursos Médios Anuais (Km3)
Para que este PNA tenha uma base comum a todos os leitores importa aqui reter algumas definições
fundamentais, tais como:
- Plano Nacional da Água: Documento que define orientações de âmbito nacional para a gestão integrada
dos recursos hídricos fundamentadas em diagnóstico actualizado da situação e na definição de
objectivos a alcançar através de medidas e acções, elaborado de acordo com o Decreto-Lei nº45/94 de
22 de Fevereiro.
- Plano de Bacia Hidrográfica: Definição idêntica à anterior com o âmbito territorial de uma bacia
hidrográfica ou da agregação de pequenas bacias hidrográficas de acordo com o despacho ministerial de
98.12.31 que recaiu sobre a informação nº 280/DSP/98.
- Recursos Hídricos Superficiais: Águas interiores que não sejam subterrâneas.
- Recursos Hídricos Subterrâneos: Águas que se encontram abaixo da superfície do solo na zona de
saturação e com contacto directo com as substâncias que constituem o solo ou o subsolo.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSIDERAÇÕES GERAIS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES
- Águas Interiores: Todas as águas lênticas ou correntes à superfície do solo e todas as águas subterrâneas
existentes até à linha de base a partir da qual são marcadas as águas territoriais.
- Bacia Hidrográfica: Superfície terrestre na qual todas as águas fluem, através de uma sequência de
ribeiros, rios e eventualmente lagos e lagoas para o mar, desembocando uma única foz, estuário ou delta
- Águas Transfronteiriças: Águas superficiais e subterrâneas que definem as fronteiras entre dois ou mais
Estados, que os atravessam ou se encontrem situados nestas fronteiras.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
PRINCÍPIOS ORIENTADORES E DE CONTEXTO
A par dos princípios gerais de direito do ambiente referidos são ainda relevantes os vectores que enformam a
organização da Administração do Ambiente. De entre estes são especialmente importantes os seguintes:
− Gestão integrada de regiões hidrográficas que, como princípio específico da gestão dos recursos
hídricos, condiciona a actividade administrativa. Embora se deva sublinhar que a região hidrográfica
enquanto unidade operativa de acção e planeamento pode não coincidir com o conceito de bacia
hidrográfica.
− Coordenação e da cooperação internacionais, no sentido de que o planeamento dos recursos hídricos
deve procurar, por um lado, articular e compatibilizar a protecção do recurso água com as demais
políticas sectoriais com incidência territorial, operando uma adequada ponderação dos diversos
interesses públicos e privados entre si e uns com os outros; e, por outro lado, não podendo esquecer as
situações de partilha do recurso com Espanha;
− Subsidiariedade ou do nível mais adequado de acção, no sentido de que deverá ser privilegiado o nível
decisório que, em função da natureza dos problemas e da consequência das decisões, seja o que se
encontre em melhores condições (técnicas, de proximidade com os destinatários etc) para o fazer.
Por seu lado, o Plano Nacional de Política do Ambiente refere como princípio que as intervenções não
podem limitar-se a encarar as linhas de água, as albufeiras e os aquíferos como meras fontes de captação ou
locais de rejeição. É necessário atender aos seus múltiplos valores ambientais e patrimoniais,
designadamente ao seu papel na conservação dos ecossistemas.
Nos termos do artigo 174 do tratado da União Europeia a Política Comunitária no âmbito do
ambiente deve basear-se nos princípios da precaução e da acção preventiva, da correcção, prioritariamente na
fonte dos danos causados ao ambiente, e do poluidor pagador.
− Estratégia, no sentido de que deve ser privilegiado o nível decisório mais próximo da população.
Na abordagem estratégica da Comissão Europeia (Maio 1999) para a gestão sustentável dos recursos hídricos
avançam-se princípios de gestão e institucionais, sendo de realçar: i) o envolvimento de organizações de
utilizadores e do sector privado deve ser encorajado; ii) a formação de competência contínua é necessária nas
instituições e nos grupos participantes a todos os níveis e iii) os sistemas de gestão devem ser transparentes e
responsáveis e devem ser estabelecidos sistemas de informação de gestão apropriados, para a aplicação dos
quais este PNA deve contribuir.
A Directiva-Quadro da Água (2000/60/CE) (DQA) encontra o seu fundamento num conjunto de princípios
gerais, de que merece destaque o da cooperação e de acção coerente a todos os níveis suportados na
informação, consulta e participação do público. A DQA estabelece um sistema integrado de medidas com
vista à protecção das águas, de modo a prevenir a deterioração do seu “estado”, proteger e melhorar o estado
dos ecossistemas aquáticos e dos ecossistemas terrestres e zonas húmidas directamente dependentes, no que
respeita às necessidades de água. A DQA constitui o desenvolvimento da Política Comunitária para o
Ambiente que visa a prevenção, protecção e melhoria da qualidade do ambiente, a protecção da saúde
humana e a utilização racional e prudente dos recursos naturais, de acordo com o Artigo 174 do Tratado.
Esta Política assenta nos princípios da precaução e da acção preventiva, da correcção prioritariamente na
fonte dos danos causados ao ambiente e do poluidor-pagador.
Este PNA não poderá deixar de ter em conta as novas terminologias e definições constantes do Artº 2º da
DQA.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
PRINCÍPIOS ORIENTADORES E DE CONTEXTO
11/25 (3 - I)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
ENQUADRAMENTO JURÍDICO GERAL
vigor no início do ano 2000 da “Convenção sobre Cooperação para a Protecção e o Aproveitamento
Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas”.
A entrada em vigor da DQA também não deixará de ter profundos reflexos nas relações Luso-Espanholas.
As Convenções internacionais com especificidades transfronteiriças: Convenção sobre o Direito dos Usos
não Navegacionais dos Cursos de Água Internacionais (97/03/21), a Convenção sobre Protecção e Utilização
dos Cursos de Águas Transfronteiriços e Lagos Internacionais (92/03/17), a Convenção sobre a Avaliação de
Impactes Ambientais num Contexto Transfronteiriço e a Convenção OSPAR trouxeram para o âmbito das
relações bilaterais a necessidade do estabelecimento de plataformas técnicas e científicas e diplomáticas que
impõem harmonização nacional em matéria de recursos hídricos, assumindo-se o PNA como uma das traves
mestras.
A DQA é explicita nesta última matéria, exigindo a articulação e a coordenação do planeamento das bacias
transfronteiriças para que as medidas e as acções a estabelecer conduzam ao cumprimento dos objectivos
nela previstos.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
OBJECTO E ÂMBITO TERRITORIAL
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
OBJECTO E ÂMBITO TERRITORIAL
b) O PNA é susceptível de aplicação às regiões autónomas ou, nestas, cabe a aplicação de planos
regionais próprios, emitidos ao abrigo do interesse específico regional?
Quanto à primeira questão deve notar-se que o objecto do PNA é constituído pelas águas integradas nas
bacias hidrográficas. E estas são as águas interiores e as águas (marítimas interiores) estuarinas.
Assim, resulta claro que, em termos espaciais, nem todas as águas marítimas integradas no território nacional
(as águas do mar territorial, nos termos do art. 5º da Constituição) se incluem no objecto do PNA.
Deste modo, a ideia de que o PNA cobre a totalidade do território nacional tem de ser confrontada com esta
restrição à parte do território nacional abrangida por bacias hidrográficas.
Por outro lado, há que saber se essas bacias hidrográficas, tal como estão definidas no art. 4º/1, b) do DL
45/95, delimitam o âmbito espacial do PNA, em termos de excluir a sua aplicação às áreas não integradas em
nenhuma daquelas bacias.
Ora, não parece que tal suceda. Designadamente, nada parece obstar a que se delimitem as bacias
hidrográficas das Regiões Autónomas, o que viria reforçar a ideia da correspondência espacial entre o PNA e
a totalidade do território nacional, abrangido por bacias hidrográficas.
A segunda questão diz respeito ao confronto entre o âmbito espacial do PNA, como plano de nível estadual
(v. art.. 5º/3 do DL 45/94), com o princípio da autonomia regional.
Nos termos do disposto no art. 228º, alínea f) da Constituição, a gestão dos recursos hídricos é uma das
matérias de interesse específico regional, sujeita, no âmbito do exercício dos poderes legislativos, à
competência exclusiva das Assembleias Legislativas Regionais (art. 232º/1 da CRP).
Todavia, o que decorre do designado interesse específico é, essencialmente, a faculdade de exercício dos
poderes legislativo e regulamentar.
Nomeadamente, para, em função do interesse específico, emitir legislação originária, para desenvolver leis
de bases nacionais e regulamentar leis gerais da república (art. 227º/1, alíneas a.- c. e d., respectivamente, da
CRP). Assim, o facto de a matéria em causa ser de interesse específico para as Regiões Autónomas não
impede que uma lei geral da república, nessa matéria, vigore nas Regiões Autónomas. Apenas significa que
estas últimas possuem o poder de a adaptar ao seu interesse específico regional ou de emitir legislação
própria nessa matéria, desde que respeitados os princípios essenciais da lei em causa (art. 27º/1, a., da CRP).
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
OBJECTO E ÂMBITO TERRITORIAL
Deste modo, partindo do interior para o mar, encontram-se os seguintes tipos jurídicos de águas:
Nos cursos de água:
− Até ao limite das águas doces, as águas são águas interiores (superficiais);
− A partir desse limite e até à foz, as águas são águas (marítimas interiores) estuarinas;
− Entre a foz e a batimétrica 30 (o que não sucede nas zonas em que os estuários tenham profundidade
superior a essa), as águas são águas (marítimas territoriais) costeiras (faixa marítima de protecção);
Na costa:
− Entre a linha da preia-mar e a linha de base (linha de base normal – linha da baixa-mar), as águas são
águas marítimas interiores;
− Entre a linha de base normal e a batimétrica 30 (nas zonas em que a profundidade na linha de base
normal já não seja igual ou superior a 30 m.), as águas são águas (marítimas territoriais) costeiras (faixa
marítima de protecção).
Em todos os casos, a partir da linha de base e até à distância de 12 milhas a contar desta em todos os pontos,
iniciam-se as águas marítimas territoriais.
Todavia, e como já referimos, este PNA não pode deixar de ter em conta as novas terminologias e definições
constantes do Artº 2º da DQA, nomeadamente no que se refere a águas de transição e águas costeiras.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
OBJECTIVOS E LINHAS DE ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA
21/25 (5 - I)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
OBJECTIVOS E LINHAS DE ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA
hídricos. Para além do insuficiente conhecimento sobre as características e usos actuais dos recursos hídricos
nacionais, a qual é condição liminar para fundamentar análises e decisões com rigor suficiente, são as
carências básicas e fragilidade de infra-estruturas de abastecimento de água às populações e às actividades
económicas e, sobretudo, as de recolha e tratamento de águas residuais, indissociáveis da qualidade da gestão
dos sistemas, que mais toca a atenção dos cidadãos em geral.
Porém, são as disfunções ambientais graves e as situações de risco que mais preocupações e responsabilidade
representam para as autoridades nacionais.
Também o 6º Programa comunitário de acção em matéria de ambiente 2001-2010 avança como objectivos
estratégicos:
- Maior progresso na implementação de legislação ambiental;
- Melhorar e aprofundar a integração do ambiente nas políticas económicas e sociais que exercem
pressões sobre o ambiente;
- Os interessados e os cidadãos tomarem em mãos a protecção do ambiente;
- Novo ímpeto às medidas destinadas a resolver vários problemas ambientais sérios e persistentes a uma
série de novas questões preocupantes;
- Novas formas de trabalho em mais estreita colaboração com o mercado, através das empresas e dos
consumidores .
e como objectivos específicos:
- Atacar o problema das alterações climáticas:
- Proteger e restabelecer o funcionamento dos sistemas naturais e pôr fim à perda da biodiversidade;
- Proteger os solos da erosão e da poluição;
- Atingir uma qualidade ambiental em que os resíduos de origem humana não produzam efeitos negativos
nem apresentem riscos para a saúde humana
- Garantir que o consumo dos recursos renováveis e não renováveis não ultrapasse a capacidade do
ambiente;
- Estabelecer políticas com base na participação e em conhecimentos científicos e avaliações económicas
sólidas e dados e informações fiáveis e actualizadas sobre o ambiente e nas fases de elaboração
implementação e avaliação.
O Plano Nacional da Água, como instrumento de acção, persegue objectivos que:
(i) Permitam estabelecer procedimentos regulares de articulação entre as diferentes actividades sócio-
económicas face às disponibilidades; (ii) contribuam para a definição de um regime económico e financeiro
baseado na internalização de todos os custos, incluindo os ambientais; (iii) possibilitem uma articulação com
outros planos, com vista à adequada integração dos recursos hídricos; (iv) possibilitem o estabelecimento de
um quadro jurídico e administrativo mais consentâneo com a utilização eficiente dos recursos e a redução na
fonte das cargas poluentes; (v) permitam identificar situações potenciais de risco (poluição, cheias etc) e
estabeleçam medidas de prevenção e de intervenção em situações de emergência; (vi) contribuam para uma
maior eficácia e transparência no processo de licenciamento; (vii) impliquem maior capacidade institucional
na gestão do domínio público hídrico e melhoria da interface com os utilizadores; (viii) assegurem a
coordenação intersectorial no planeamento e utilizações da água e no ordenamento e ocupação dos meios
hídricos; (ix) promovam a monitorização da água nas suas múltiplas vertentes, designadamente hidrológicas
e ecológicas; (x) adeqúem as acções de sistematização fluvial e de conservação da rede hidrográfica,
encaradas numa perspectiva simultaneamente hidráulica e ecossistémica; (xi) contribuam para o
ordenamento e a fiscalização das ocupações e dos usos do domínio hídrico; (xii) e assegurem a oportuna
disponibilização de informação associada à consulta e participação do público.
As problemáticas gerais a que o PNA procura dar resposta resultam obviamente do diagnóstico da situação
actual objecto do capítulo seguinte, no qual aparecem evidenciadas as que à partida são de maior vulto e bem
conhecidas, designadamente:
23/25 (5 - I)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
ARTICULAÇÃO E HARMONIZAÇÃO COM OS PBH
De acordo com o referido normativo são instrumentos de desenvolvimento territorial, o programa nacional
da política do ordenamento do território (PNPOT); os planos regionais de ordenamento do território (PROT)
e os planos intermunicipais de ordenamento do território (PIMOT). Constituem instrumentos de planeamento
territorial, os planos municipais de ordenamento do território (planos directores municipais, planos de
urbanização e planos de pormenor). Integram a classificação de instrumentos de política sectorial, os planos
com incidência territorial da responsabilidade dos diversos sectores da administração central (planos
sectoriais). São instrumentos de natureza especial os planos especiais de ordenamento do território, a saber,
os planos de ordenamento das albufeiras classificadas, os planos de ordenamento das áreas protegidas e os
planos de ordenamento da orla costeira.
O regime jurídico de cada um dos instrumentos de gestão territorial veio, posteriormente, a ser desenvolvido
pelo Decreto-Lei nº. 380/99, de 22 de Setembro.
Constituindo o PNA um instrumento de planeamento ambiental e atenta a perspectiva dual da sua natureza
importa apurar, muito sumariamente, que relações se estabelecem entre ele e as diferentes espécies de
instrumentos de gestão do território.
Entre o PNA e o PNPOT, dado que são instrumentos de idêntica natureza - de carácter geral, programáticos,
que estabelecem as grandes linhas de orientação a serem integradas pelos instrumentos de desenvolvimento-
as suas relações devem reger-se pelo princípio da articulação. Isto significa que, embora não se encontrem
numa relação de hierarquia, não podem conter disposições contraditórias, devendo traduzir um compromisso
recíproco de integração e compatibilização das respectivas opções.
Entre o PNA e os PROT parece vigorar alguma hierarquia. Não só pelo carácter orientador do PNA em
matéria de recursos hídricos, mas também na medida em que o próprio normativo do Decreto-Lei nº. 45/94,
de 22 de Fevereiro assim o determina (artigo 13º). Assim, os PROT, instrumentos que estabelecem as
orientações para o ordenamento do território regional e definem as redes regionais de infra-estruturas e
transportes, devem integrar, se for caso disso, as medidas e acções constantes do PNA.
De igual modo, a relação que se estabelece entre o PNA e os outros planos sectoriais rege-se pelo princípio
da hierarquia, no que se refere à matéria dos recursos hídricos.
No que respeita aos planos especiais de ordenamento do território - planos de ordenamento da orla costeira;
planos de ordenamento de albufeiras classificadas e planos de ordenamento de áreas protegidas na estrita
matéria do planeamento de recursos hídricos, o PNA prevalece sobre os instrumentos especiais de gestão
territorial. Apenas não terá essa prerrogativa nas matérias em que a expressão territorial substancialmente
extravasa o mero planeamento do recurso.
Por último, quanto aos planos municipais de ordenamento do território é manifesto que a relação entre os
mesmos se rege pelo princípio da hierarquia, na medida em que estes instrumentos de planeamento devem
integrar e respeitar as medidas e acções relativas aos recursos hídricos propostas e previstas no PNA (artigo
13º do decreto-lei nº 45/94, de 22 de Fevereiro).
25/25 (6 - I)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO
1.1. Introdução
Na primeira parte deste capítulo caracteriza-se sumariamente o território de Portugal Continental sob os
pontos de vista geomorfológico, climático, hidrológico e hidrogeológico, bem como a utilização agrícola e
florestal do solo de modo a obter-se uma visão globalizada das principais componentes que modelam a
ocorrência dos recursos hídricos no território nacional. Na segunda parte do texto caracterizam-se os
principais aspectos socio-económicos do território que condicionam a gestão dos recursos hídricos e que são
responsáveis pelas principais pressões que as actividades humanas exercem sobre os recursos hídricos.
A ocorrência de precipitação sob a forma sólida é um fenómeno muito localizado em Portugal Continental.
16
14
12
10
8
6
4
2
Rib. Algarve
Rib. Oeste
Continente
Guadiana
0
Mondego
Cßvado
Tejo
Minho
Mira
Douro
Lis
Vouga
Leþa
Lima
Sado
Ave
Figura 1.2.3 - Distribuição Espacial da Temperatura Anual Média em Portugal Continental no Período 1941/42
a 1990/91
Figura 1.2.4 - Distribuição Espacial da Evapotranspiração Potencial Anual Média em Portugal Continental no
Período 1941/42 a 1990/91
da Rocha, onde predomina o vento de sudoeste, devido à persistência do regime de brisa do mar que ali se
faz sentir durante a tarde, principalmente nos meses de Abril a Outubro.
A distribuição espacial da humidade relativa do ar não apresenta tendências claras, apesar de se verificar que
os valores mais elevados ocorrem junto ao litoral. Os valores mais baixos da humidade relativa ocorrem em
Julho e Agosto e variam entre os 50% e 65% na bacia hidrográfica do rio Guadiana e os 80% na bacia
hidrográfica do rio Lima. Os valores mais elevados registam-se nos meses de Dezembro e Janeiro, variando
entre os 70% e 90% na bacia hidrográfica do rio Guadiana e 90% na área da bacia hidrográfica do rio Lima.
A nebulosidade, à semelhança das demais variáveis climáticas, apresenta uma relação estreita com a latitude
e com a exposição das vertentes. Em Portugal Continental a nebulosidade tende a diminuir da estação
húmida para a estação seca, apresentando os meses de Julho e Agosto céu limpo em cerca de 50% dos dias.
1.2.1.5. Classificação Climática
De acordo com o índice hídrico de Thornthwaite, que conjuga os índices de aridez e humidade, os quais por
sua vez relacionam a precipitação, a temperatura e a evapotranspiração, o clima em Portugal Continental
varia desde o super húmido (Ih≥100), na cabeceira do rio Lima e nos principais maciços montanhosos a
norte do Tejo, como é o caso da Serra da Estrela, até ao semi-árido (- 40 ≤ Ih <- 20), na faixa litoral do
Algarve. Em linhas gerais, o rio Tejo marca a fronteira entre o Portugal húmido e o Portugal seco.
Figura 1.2.5 - Relação entre Valores Anuais Médios da Precipitação e a Evapotranspiração Potencial
A relação entre a precipitação e a evapotranspiração potencial pode tendencialmente dar indicações de uma
repartição climática do país. Observando a Figura 1.2.5 destacam-se três grandes áreas. Uma primeira, que se
pode considerar húmida, em que a precipitação excede claramente a EVP, corresponde sensivelmente às
áreas situadas a norte do rio Tejo, excluindo a área do planalto mirandês. Uma segunda área, que se pode
considerar sub-húmida, a que corresponde à quase totalidade do planalto mirandês, orla ocidental a sul do rio
Tejo e barrocal. Uma terceira área, que se pode considerar árida, em que a relação entre a precipitação e a
EVP é inferior a 0.5, que corresponde à quase a totalidade da bacia hidrográfica do rio Guadiana, este da
bacia hidrográfica do rio Sado, orla meridional e áreas localizadas na parte jusante do vale do rio Sabor.
Figura 1.2.6 - Altitude entre os 0m e os 50m e Áreas com Declive Superior a 10%
1.2.3. Geologia
Podem considerar-se quatro grandes unidades geológicas bem marcadas: a parte ocidental do Maciço
Hespérico (também designado Maciço Antigo ou Meseta Ibérica), a Bordadura Ocidental, a Bordadura
Meridional e a Bacia Sedimentar do Tejo e Sado.
O Maciço Hespérico é uma grande unidade que ocupa a parte central e ocidental da Península Ibérica; tem
grosseiramente a forma de um triângulo cujos vértices se situam a noroeste da Galiza (Espanha), perto do
Cabo de São Vicente (no Algarve) e na parte oriental da Serra Morena (Espanha). No final do Paleozóico
este Maciço estendia-se mais para Ocidente, como testemunham os ilhéus das Berlengas e Farilhões.
Os seus limites, no território continental português, são: da foz do rio Minho até norte de Ovar, o Oceano;
daqui uma linha que passa por Estarreja e Coimbra e vai até Tomar, inflectindo depois para leste, deixando a
oeste a grande bacia sedimentar do Tejo e Sado; a sul deste rio e desde as proximidades de Santiago do
Cacém até perto do Cabo de São Vicente, contacta de novo com o Atlântico; no Sul do País a linha limítrofe
tem uma forma ondulada, passando por Silves, S. Bartolomeu de Messines, Alportel e Castro Marim.
O Maciço Hespérico é constituído por formações antigas - precâmbricas (1000 a 570 milhões de anos) e
paleozóicas (570 a 245 milhões de anos) - que foram afectadas por fenómenos de metamorfismo, associados
a diversas fases tectónicas da orogenia hercínica.
Morfologicamente, o Maciço Hespérico apresenta, a norte, um relevo acentuado, com vales encaixados,
contrastando com a sua parte sul onde ocorre uma superfície aplanada, interrompida, por vezes, por alguns
relevos pouco acentuados.
Na extensa fossa tectónica, que se prolonga de Espinho a Sines, depositou-se espessa série de sedimentos,
cuja espessura alcança os 3000 metros (dados confirmados por perfurações realizadas para pesquisas
petrolíferas).
As formações calcárias do Jurássico médio apresentam frequentemente intensa carsificação, constituindo
importantes aquíferos.
Na Bordadura Meridional, repetem-se as características assinaladas para a Orla Ocidental. Podem observar-
se igualmente grandes massas de rochas vulcânicas (em chaminés, escoadas, diques, etc.), constituídas por
basaltos doleríticos, tufos, brechas, etc., em afloramento quase contínuo, de um extremo ao outro do Algarve,
próximo do contacto com os terrenos do Carbónico. Também se encontram nesta região estruturas diapíricas.
Em Albufeira ocorrem afloramentos de gesso e sal-gema e Loulé constitui, hoje em dia, um importante
centro de exploração de sal-gema, em galerias subterrâneas. De forma análoga à Orla Ocidental, as
formações do Jurássico médio apresentam intensa carsificação, constituindo o aquífero mais importante da
bordadura meridional.
A Bacia de sedimentação dos rios Tejo e Sado constitui um conjunto de terrenos que vão do Paleogénico à
Actualidade e localiza-se na parte final das bacias hidrográficas dos rios referidos. As formações cenozóicas
são essencialmente constituídas por calcários, arenitos, siltitos, argilitos e margas, enquanto que os terrenos
mais recentes são predominantemente arenosos e areno-argilosos, de origem aluvionar.
As formações desta região estão praticamente horizontais tendo sofrido reduzida actividade tectónica. A
ocorrência de algumas falhas ao longo dos limites da Bacia sugere que a estrutura seja de tipo “graben”. Os
níveis detríticos apresentam relevante significado hidrogeológico, constituindo o aquífero mais importante
do País.
As culturas arbóreas, apresentam a sua maior expansão no Algarve, especialmente no Barrocal e no litoral,
compreendendo as fruteiras de sequeiro e citrinos. No sector leste da Serra Algarvia, nas vertentes do rio
Guadiana, surgem manchas dispersas de olival, figueiral e amendoal, em plantação estreme. Segue-se uma
zona, também de grande expansão, na região do Ribatejo-Oeste, de Tomar a Santarém, a leste da serra dos
Candeeiros, em que se destacam os olivais, surgindo, na área de Torres Novas, além dos olivais, os
figueirais.
As culturas arbóreas estão representadas em Trás-os-Montes e Alto Douro, por olivais e amendoais,
especialmente nas encostas de Freixo de Espada à Cinta até Barca d'Alva. Na Beira Baixa - Fundão,
Penamacor, Idanha-a-Nova e Castelo Branco.
Numa larga faixa de Cantanhede a Coimbra, a norte, e Constância, a sul, as culturas arbóreas (olivais e
pomares) formam mosaico com povoamentos de folhosas (sobrais ou sobreirais) e povoamentos de resinosas
(pinhais).
Na Alto Alentejo, os olivais encontram-se dispersos formando mosaico com as culturas arvenses e arbóreo-
arvenses (montados de azinho) destacando-se as manchas de Nisa, Castelo de Vide, Portalegre, Campo
Maior e Elvas. As mais extensas aparecem entre Avis e Vila Viçosa, em faixa contínua a partir de Sousel e,
mais acentuadamente, em Estremoz e Borba. No Baixo Alentejo as maiores extensões de olival registam-se
nos concelhos de Moura e Serpa.
Os sobreirais são formações dominantes no litoral da Estremadura e no Ribatejo a sul do rio Tejo, bem como
no litoral do Alentejo em substrato silicioso. Surgem ainda no norte alguns núcleos nos vales dos tributários
fronteiriços do rio Lima (Laboreiro e Lindoso), na serra do Gerês e nas serranias de Trás-os-Montes (de
Valpaços a Carrazeda de Ansiães) e no sul, nas zonas serranas do Algarve (Monchique e Caldeirão).
Os azinhais distribuem-se, já muito retalhados, pela Beira Baixa, Alto e Baixo Alentejo, estando limitados, a
poente, "grosso modo", pelos vales dos rios Ponsul, Sorraia, Sado e Mira.
Os eucaliptais, em crescente expansão, distribuem-se mais pelo litoral oeste desde o Minho ao Algarve,
embora ocupem já vastas áreas em serranias do interior.
Os acaciais estão mais ligados às formações arenosas costeiras, para fixação das dunas, impedindo o avanço
das areias eólicas para as áreas contíguas, agricultadas ou habitadas: as manchas maiores encontram-se entre
Espinho e Mira.
Povoamentos de resinosas. Têm a sua maior expansão a norte do rio Tejo, quer ocupando as vertentes das
colinas cismontanas e as próprias faldas da zona montanha, formando mosaico alveolado, por vezes muito
retalhado, com as culturas arvenses e a vinha, quer ocupando a faixa sedimentar arenosa do litoral, em
formações estremes de grande extensão.
Entre os povoamentos de resinosas destacam-se, pela sua extensão, os pinhais bravos, dominantes na larga
faixa que se estende, nas vertentes da meseta, do rio Minho ao rio Tejo, formando o referido mosaico.
Também na orla sedimentar, saibrosa ou arenosa, sobretudo ao longo da costa desde Espinho à Nazaré, na
península de Setúbal e na costa da Galé, de Tróia a Sines, o pinhal bravo assume a sua maior expressão como
formação estreme contínua, de que é exemplo o pinhal de Leiria.
Seguem-se os pinhais mansos que ocupam principalmente substratos saibrosos e arenosos, mas também
calcários, da orla sedimentar, com maior extensão a sul do rio Tejo.
De entre outras utilizações cabe destacar os sapais que englobados na mesma mancha com as salinas, podem
ser igualmente considerados áreas não cultivadas, embora providos de recursos aproveitáveis, tal como os
baldios serranos.
Os sapais e as salinas estão representados com maior extensão nos estuários do Tejo e do Sado e nas rias de
Aveiro, Faro e Alvor. Os sapais surgem ainda, embora em áreas mais pequenas, nos estuários dos rios Lima,
Mondego, Mira, Aljezur, Arade e Guadiana (Castro Marim) e, ainda, em lagoas, como a de Óbidos.
A vegetação dos sapais contém uma elevada biomassa morta cuja decomposição regular produz
continuamente ácidos húmicos que desempenham um papel relevante na eliminação de certos iões metálicos
potencialmente tóxicos, o que lhe confere um efeito descontaminador bastante positivo e justifica desde logo
a sua protecção.
português ou cerquinho (… Quercus faginea) que perde as folhas tarde e as recupera cedo. Distribui-se nos
vales orientais do Douro e entre o Mondego e o Tejo, sendo especialmente abundante nos relevos da orla
atlântica, ligado como anda a moderado grau de humidade e a solos calcários.” Também outro Quercus,
geralmente arbustivo,o carrasco (Q. coccifera) está bastante associado aos solos calcários.
Nas zonas naturais e agricultadas do continente, cerca de duas dezenas de espécies de anfíbios e outras tantas
de répteis, quase três centenas de aves um pouco mais de meia centena de mamíferos foram identificados,
indicando-se em 7.1.3.3 as mais dependentes do meio aquático dulçaquícola.
Nas águas dulçaquícolas, vivem algumas dezenas de espécies vegetais, flutuantes, submersas ou enraízadas;
nas zonas húmidas ribeirinhas, além de espécies lenhosas, acima referidas (vidoeiro e bordo, no norte, e
folhado no sul) e outras, como os freixos e os amieiros (Alnus glutinosa) e várias espécies de salgueiros
(Salix spp.), que vegetam, por todo o país, encontram-se algumas centenas de espécies herbáceas (7.1.3.2).
Nestes habitats aquáticos e húmidos, associados à vegetação, um complexo sistema biótico estabelece-se,
com o seu fitoplâncton e zooplâncton e macroinvertebrados permitindo a sobrevivência de cerca de duas
dezenas de espécies de peixes (7.1.3.4) e numerosos animais tetrápodes associados ao meio aquático, um
pouco menos de uma vintena de espécies de anfíbios, de meia dezena de répteis, de quase uma centena de
aves e de mais de duas dezenas de mamíferos.
Na zona litoral, um conjunto de peixes e outros animais depende dos estuários, com as algas (macrófitas,
fitoplâncton e microfitobentos), o zooplâncton e os macroinvertebrados próprios, pertencentes a uma rica teia
trófica, e um grande número, em especial de aves, depende ainda das dunas e dos alcantilados.
1.3.1. Introdução
A caracterização sócio-económica do território, no quadro do planeamento dos recursos hídricos, em especial
no caso concreto do Plano Nacional da Água, tem especialmente em consideração os efeitos consumptivos
ou de utilização actuais e potenciais, sejam eles positivos ou negativos, que a actual e previsível estrutura
sócio-económica é susceptível de gerar sobre o recurso água.
A caracterização sócio-económica neste contexto, procura ser objectiva e reflectir, de forma clara e
inequívoca, o que é relevante e estruturante para o planeamento e gestão do recurso água, incluindo a
componente de formação do seu preço, sendo certo que no quadro relativamente indeterminado de relações
de interdependência que caracterizam os processos produtivos, económicos e sociais.
No quadro da caracterização sócio-económica actual e tendo em conta as condicionantes decorrentes do
sistema estatístico nacional e regional, serão focados os seguintes aspectos, de forma interligada:
a) a evolução territorializada recente da população (residente e flutuante) e das famílias, enquanto
consumidores e utilizadores domésticos/urbanos, e a evolução dos factores que condicionaram essa
evolução, como base para a construção dos cenários de evolução demográfica;
b) povoamento e os estabelecimentos humanos (em dimensão e funcionalidade), como suporte da estrutura
territorial que no futuro irá comandar a evolução da população e o desenvolvimento das suas actividades
e como estrutura base dos cenários de desenvolvimento territorial;
c) a evolução da economia, dos seus sectores e sub-sectores de actividade e dos grandes agregados macro-
económicos como base para a construção dos cenários territorializados de evolução sócio-económica e
para o estabelecimento de princípios que irão reger o estabelecimento do preço da água;
d) a evolução territorializada das actividades económicas por sector de actividade, tendo em atenção os sub-
sectores e ramos de actividade que maiores impactes geram sobre a gestão do recurso água e como
complemento indispensável à caracterização da base para construção dos cenários de desenvolvimento
territorial.
10000000
9800000
9600000
9400000
9200000
1980 1985 1990 1995 2000
4000000
3500000
3000000
2500000
2000000
1500000
1000000
500000
0
1980 1985 1990 1995 2000
As Sub Regiões Entre Douro e Vouga, Cávado, Ave, Pinhal Litoral e a Península de Setubal são as que
apresentam maiores valores de taxas de crescimento e o Alentejo, Pinhal Interior (Sul e Norte), Beiras e Alto
Trás-os-Montes são as que se caracterizam por terem um maior decréscimo, nos períodos em análise, das
suas populações residentes.
A distribuição territorial da população residente e das taxas de crescimento populacional no período 81 – 91
evidenciam de forma clara uma litoralização, em geral, da população e um esvaziamento das Sub regiões do
interior do Continente, com especial relevância no Alentejo.
Relativamente ao período compreendido entre 1991 e 1998 verificou-se, em termos de evolução
populacional, um ritmo de crescimento menos acentuado, comparativamente com o do período 81-91 o que
configura uma tendência para a estagnação. Nesses sete anos a população cresceu a uma taxa média anual de
0,162%, o que significa um crescimento de apenas 1,14%, isto é, cerca de menos quatro pontos percentuais
que no período anterior.
A evolução da população ao longo deste período fundamenta a perspectiva de que se continuou a verificar a
deslocação da população do interior para o litoral.
Complementarmente verifica-se também que a zona periférica da área metropolitana do Porto se foi
progressivamente expandindo para as áreas dos distritos de Viana do Castelo e Braga, provocando um
crescimento da população residente nesta área em paralelo com movimento de migração do interior para o
litoral e ao “esvaziamento” populacional do concelho do Porto, que provoca o deslocamento da população
para os concelhos limítrofes.
A tendência de desertificação populacional observada no período anterior na região do Alentejo manteve-se
neste período de sete anos, com excepção para os concelhos de Sines e Castro Verde, que apresentam taxas
de crescimento positivas.
No litoral algarvio, o concelho de Tavira vê a sua população diminuir, o que não aconteceu na década
anterior e o concelho de Monchique é o que apresenta um maior decréscimo populacional, de cerca de –
18,32%.
A Península de Setúbal cresce neste período apenas 4% (contra os 9% da década anterior) e a Grande Lisboa
diminui o ritmo de perda ao mesmo tempo que o concelho de Lisboa vai perdendo a sua população para os
concelhos de periferia, explicando também o forte crescimento populacional do concelho de Sintra
A evolução populacional ao longo dos anos de 1981 e 1998 permite concluir:
Em termos gerais, o crescimento populacional português é cada vez mais lento e tende para um crescimento
ainda mais lento .
Em termos espaciais constata-se que a população está claramente a deslocar-se para o litoral, nomeadamente
para os concelhos periféricos das grandes áreas metropolitanas e dos concelhos correspondentes às cidades
médias do litoral, que se caracterizam por serem grandes pólos de emprego, como por exemplo Setúbal,
Entroncamento, Leiria, Aveiro, Viana do Castelo e Faro, acentuando continuamente o despovoamento de
todo o interior.
Entre os anos de 1991 e 1998 a maioria das bacias registou aumentos populacionais, sendo que apenas 6 do
total das 15 observaram um decréscimo populacional. Neste período são novamente as bacias do Leça e do
Mira as que se destacam por terem o maior crescimento populacional e o maior decréscimo populacional, se
bem que com taxas mais baixas. A bacia do Leça cresceu cerca de 10,73%, enquanto que a bacia do Mira
registou um decréscimo de –9,34%. As bacias do rio Lima e do rio Douro destacam-se por registarem
crescimentos populacionais neste período, quando no período anterior haviam registado decréscimos que
rondavam os 1,96% e 1,75%, respectivamente.
No que concerne à população por bacia hidrográficas, os valores observados permitem concluir:
Em termos gerais as Bacias hidrográficas cuja área se situa maioritariamente no litoral são as que
apresentam maiores taxas de crescimento populacional, com excepção das do Sado e do Mira que apesar de
serem bacias do litoral reflectem a dinâmica demográfica negativa do Alentejo.
A bacia hidrográfica do Guadiana apresenta no período 81 – 98 taxas significativas de crescimento negativo
da população residente claramente resultantes de a maioria da sua área territorial se situar no Alentejo
interior que em termos demográficos tem evidenciado das maiores taxas de crescimento negativo do País.
As bacias hidrográficas do Tejo e do Douro apesar de integrarem parte das Áreas Metropolitanas de Lisboa e
do Porto apresentam taxas de crescimento populacional negativas ou de crescimento reduzido (Douro –
91/81), devido ao facto de a grande maioria das áreas respectivas não se situar no litoral e consequentemente
reflectirem a dinâmica de evolução populacional negativa do interior que se verificou nas últimas duas
décadas.
A tendência natural da população nos últimos anos foi para um crescimento moderado, crescimento esse que
tem vindo progressivamente a diminuir. O envelhecimento da população e a diminuição da taxa de
natalidade, levam a prever um decréscimo populacional a prazo. Contudo o aumento do número de
imigrantes e diminuição de número de emigrantes podem vir a atenuar um pouco esta tendência.
1.3.2.2. Povoamento
Densidade Populacional
A densidade populacional (habitantes/km2) era de 108habitantes/km2, sendo de salientar que a média não
evidencia de forma clara a distribuição da população e da natureza do povoamento do território continental.
Com efeito se considerarmos que em termos de concelho uma densidade inferior a 200 habitantes/km2
permite classificar esse conselho como de baixa densidade e consequentemente como rural, então cerca de
80%de Portugal Continental caracteriza-se por ser um meio rural, isto é com uma muito baixa densidade
populacional concelhia.
Os casos de excepção a esta situação são os concelhos de Lisboa e Porto e os concelhos envolventes, bem
como outros concelhos no país e que se caracterizam por serem zonas de turismo, piscatórias, capitais de
Distrito ou concelhos localizados muito perto destas últimas.
Os concelhos de Lisboa, Porto e Amadora são os que apresentam uma maior densidade populacional,
enquadrando-se nas áreas urbanas de média densidade, sendo “seguidos” dos seus concelhos circundantes, os
quais se caracterizam por ser áreas urbanas e para-urbanas de média e baixa densidade.
Baixo Alentejo
Alto Alentejo
Lezíria do Tejo
Península de Setúbal
Oeste
Beira Interior Sul
Serra da Estrela
Dão Lafões
Pinhal Litoral
Baixo Vouga
Douro
Tâmega
Ave
Minho Lima
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
O emprego em Portugal diminuiu entre 1991 e 1995 cerca de -4,8%, sendo que o maior decréscimo se
registou no ano de 1993, com uma diminuição de -2,05%, facto que se deveu à crise económica mundial dos
anos 90, que afectou também o Continente.
Em termos de criação de valor acrescentado (VAB), este não parou de crescer entre 1990 e 1997, se bem que
nos últimos anos, 1995 a 1997, se cresceu cerca de menos dois pontos percentuais do que nos anos
anteriores. O crescimento foi superior nas bacias do Norte e Centro, onde se registaram crescimentos
superiores a 70%, do que no Sul.
A realidade do Continente aponta para a predominância da actividade económica na faixa litoral, a qual se
caracteriza por ter melhores acessibilidades e grandes centros urbanos; e para a existência de pouca
actividade económica no interior, sendo muito comum a predominância de uma agricultura de subsistência.
Para além da diferença interior-litoral, o facto é que o Norte e Centro do País são as regiões onde predomina
a actividade no sector secundário, enquanto, que nas regiões do Sul predomina o sector terciário e nas zonas
mais rurais a agricultura continua a ser uma forma de complemento de rendimentos.
Indústria
O sector secundário tem vindo ao longo dos anos a perder o seu peso relativo, quer em temos de VAB, quer
em termos de estabelecimentos, contudo, de uma forma geral tem vindo a aumentar o número de pessoal ao
serviço.
A indústria encontra-se fortemente enraizada no Norte e Centro do país, nomeadamente a indústria têxtil,
indústria extractiva e indústria alimentar. Tendo em consideração as indústrias que mais consumos de água
efectuam, pode-se concluir que a indústria têxtil, no que respeita ao branqueamento, tingimento e lavagem
dos tecidos, tem a sua localização nas bacias do Ave e do Douro. A bacia do Tejo é a que reúne uma maior
concentração de indústrias transformadoras que se caracterizam por grandes consumos de água e por serem
muito poluidoras, é o caso das indústrias químicas, das indústrias metalúrgicas e das fábricas de pasta e
papel.
Agricultura
A Agricultura, Silvicultura, Caça e Pecuária ao longo da última década registaram um decréscimo da sua
contribuição para a totalidade do VAB, bem como a actividade piscatória. O mesmo se passa em termos de
emprego. A Agricultura diminuiu a sua mão-de-obra agrícola, quer em termos de número de produtores, quer
Emprego e Qualificação
Portugal é um dos países mais mal remunerados da Europa, um dos que detém as mais baixas qualificações
da sua população, um dos que tem a maior percentagem de população activa e embora se destaque pela sua
baixa taxa de desemprego, mais de 50% destes são desempregados de longa duração. É o país da Europa que
menos emprego detém em grandes empresas e nas actividades sem assalariados. Situa-se abaixo da média
europeia no que toca ao emprego nas médias empresas, e é o país que mais emprego gera nas muito
pequenas e pequenas empresas, situando-nos nestes casos muito acima da média europeia.
Espaços Urbanos
Espaços Indústrais
Espaços Turísticos
Esta evolução resultou, entre outros, dos efeitos conjugados seguintes e que tiveram um impacte muito forte
no processo de urbanização do território do Continente e na estruturação da sua rede urbana:
execução dos projectos de infra-estruturas de transporte e comunicações, realizados segundo os
respectivos planos (PRN 1985 e 2000, e Plano de Modernização e Reconversão da CP, 1987);
desconcentração e descentralização, efectuada no quadro de políticas sectoriais como a saúde, a
educação e formação profissional, a cultura, etc.;
apoios e incentivos concedidos às actividades económicas, e à mobilização dos recursos locais e
regionais;
oferta de espaços infra-estruturados e equipados, adequados à instalação de actividades produtivas,
tanto de transformação como de distribuição;
alargamento do mercado interno e externo, quer pela via da integração territorial, quer pela expansão da
procura, tanto interna como externa, e pelo incremento da mobilidade em geral;
aumento da especialização produtiva, seja com base em vantagens comparativas relacionadas com a
centralidade e a acessibilidade a infra-estruturas de transporte, na exploração de recursos naturais locais
ou regionais, em sistemas produtivos locais especializados e com “saber fazer”, em mão-de-obra
abundante e barata, etc..
A evolução da rede urbana e da hierarquia e especialização dos seus nós (Figura 1.3.2), não será apenas
determinada pelo nível de infra-estruturação, equipamentos e qualidade da paisagem e do ambiente, mas
também pela dinâmica económica dos espaços territoriais que polarizam. Neste sentido, o litoral do
Continente tem vindo a afirmar-se como claramente mais dinâmico.
A terceirização dos áreas urbanas centrais remete para a periferia o crescimento da habitação e conduz à
relocalização de actividades para as quais a acessibilidade regional e o menor valor do solo prevalecem como
critérios de localização face uma localização urbana e metropolitana mais central (indústria, armazenagem,
distribuição, logística, etc.). Mas também se assiste a um reforço em equipamentos, comércio e até
escritórios de serviços nas periferias urbanas, bem como da exploração das novas acessibilidades e de
amenidades regionais e locais, ou apenas acompanhando o crescimento da população na periferia (procura e
oferta do mercado de trabalho e procura de bens e serviços por via da expansão do consumo).
Do ponto de vista do uso e ocupação do solo, esta evolução traduz-se num aumento da pressão para a
expansão de áreas urbanizadas e na redução dos espaços agrícolas e florestais ou de regeneração natural, com
graves implicações do ponto de vista da gestão dos recursos hídricos, seja pelo impacte que gera através do
aumento dos consumos de água ( procura, em quantidade e qualidade, requerendo origens cada vez mais
distantes) e do aumento dos volumes de água rejeitada (mais caudais a requerer tratamento,
reaproveitamento ou simples lançamento nos cursos de água), seja ainda pela diminuição da capacidade de
recarga dos aquíferos subterrâneos por modelação e impermeabilização das áreas urbanizadas e das
implicações que daí decorrem, nomeadamente riscos ambientais.
Do ponto de vista funcional, é possível distinguir as seguintes situações: clusters territoriais multipolares que
assentam em eixos de transporte rodo e ferroviário e em centros urbanos de nível concelhio e supra-
concelhio ou sub-regional (Guarda-Covilhã-Fundão-Castelo Branco; Vila Real-Régua-Lamego e Viseu-
Mangualde); centros urbanos unipolares de nível intermédio com alguma dinâmica económica e importância
demográfica (Chaves, Mirandela, Bragança, Portalegre, Elvas, Évora e Beja), e; centros concelhios que, em
geral, coincidem com as sedes de concelho onde são oferecidas funções básicas de apoio às populações e as
actividades económicas. Existe ainda um grande número de aglomerados rurais, muitos dos quais sedes de
freguesia, quase todos em situação de regressão económica e populacional, salvo algumas excepções em que
a proximidade aos centros urbanos mais importantes permite ainda a fixação de população e de algumas
actividade económicas de apoio.
Em termos de uso e ocupação do solo, é importante referir que estes fenómenos de urbanização e de
concentração da população e das actividades acontece segundo modelos distintos:
em espaços urbanos e urbanizáveis compactos, a que normalmente estão associadas zonas ou
loteamentos industriais, quando a situação é unipolar como Évora, Beja, Portalegre e Elvas;
Bragança
Chaves
Viana do Castelo
Barcelos Braga
Mirandela
Guimarães Fafe
Famalicão Felgueiras
Santo Tirso Amarante Vila Real
Paredes
Penafiel Régua
AM Porto
Lamego
Torres Vedras
Campo Maior
Elvas
Estremoz
Vendas Novas
Montemor-o-Novo
AM Lisboa Évora
Setúbal
Loulé
Lagos Portimão Albufeira Tavira
Olhão
Faro
o abandono dos campos não compensado pela sua vigilância pode favorecer a ocorrência e a extensão dos
incêndios, e a reflorestação descuidada de vastas áreas aumenta a erosão dos solos, com consequências
negativas para os recursos hídricos. Por outro lado, o equilíbrio da paisagem – dependente de práticas,
atitudes, culturas, espécies, técnicas, etc.- ao romper-se, põe em causa a sustentabilidade dos sistemas de
produção que eram vantajosos para a gestão do recurso água, pelo tipo de actividades que lhe estavam
associadas (manutenção de sistemas de depuração natural, trabalho de solos, sementeiras, etc.).
Finalmente, a concentração de populações e actividades favorece a viabilidade e facilita a construção e a
manutenção de sistemas de abastecimento de água e de sistemas de recolha e tratamento de águas residuais e
de resíduos sólidos, que anteriormente interferiam na qualidade dos recursos hídricos subterrâneos e de
superfície. Pelo contrário, a rarefacção da população e das actividades e a existência de um número elevado
de aglomerados rurais, sem procura que viabilize a instalação e funcionamento daqueles sistemas, terá um
impacte negativo sobre os recursos hídricos, ao serem lançadas no solos e na rede de drenagem natural
águas e substâncias ou materiais rejeitadas pelo consumo urbano e pela actividade industrial, sejam eles
sólidos ou líquidos.
Ordenamento do Território
Uma política de protecção da água e uma boa gestão dos recursos hídricos, englobando as águas de
superfície e as águas subterrâneas, requer uma estreita articulação com as políticas de ordenamento do
território com vista à sua gestão integrada.
Merecem, ainda, especial destaque os espaços silvestres que ocupam dois terços da superfície de Portugal,
segundo dados do último inventário florestal nacional (DGF, 1997). Incluem-se nesta classe de espaços as
superfícies dedicadas à silvopastorícia, à produção de madeira e cortiça, à conservação da Natureza, ou ainda
terrenos simplesmente incultos, geralmente revestidos por vegetação arbustiva espontânea.
Numa perspectiva integrada de ordenamento do território e de gestão dos recursos hídricos em geral, será
fundamental a estabilização da estrutura do povoamento e a contenção das formas de povoamento dispersas,
que deverão ser objecto de medidas de ordenamento do território especificas para áreas para-urbanas.
A protecção dos recursos hídricos implica uma gestão equilibrada e eficiente dos espaços agrícolas e
florestais que ocupam, respectivamente, 47% e 43% do território de Portugal Continental, o que no total,
corresponde a 90% da sua superfície. Reconhece-se, no entanto, que a gestão destes espaços passa,
necessariamente, pela satisfação da oferta de áreas urbanas programadas de acordo com as necessidade das
diferentes actividades humanas e devidamente infra-estruturadas.
Refere-se, em particular, o papel determinante que os espaços florestais e os espaços silvestres, em geral, têm
na conservação e manutenção da qualidade dos solos e das águas. Enquanto espaços unicamente ocupados
por florestas, matos ou prados, os espaços silvestres estão livres de fontes emissoras de poluentes e de infra-
estruturas consumidoras de água, pelo que não afectam a qualidade dos recursos hídricos nacionais. No
entanto, a ausência de uma política de ordenamento florestal, associada a fenómenos de pressão urbanística
tem determinado o abandono e a degradação biofísica de extensas superfícies vocacionadas para este uso, o
que acaba por afectar negativamente a qualidade do recurso água.
conduz à relocalização de actividades para as quais a acessibilidade regional e o menor valor do solo
prevalecem como critérios de localização. Contudo, os elevados níveis de construção, que se têm verificado
em todo o país, devem-se principalmente à procura de segundas residências e de melhores condições
habitacionais e têm uma maior incidência no litoral. O crescimento da procura de alojamento turístico, de
turismo rural e de turismo informal reforçam esta tendência de litoralização.
A importância do sector terciário na economia do país é dominante e continua a aumentar. Esta evolução
localiza-se predominantemente no litoral, em especial nas áreas metropolitanas, reforçando-se aí tanto a
concentração populacional como a produção de rendimentos. Os centros urbanos do interior têm uma
importância relativa reduzida face ao litoral, traduzindo a acentuação das assimetrias económicas e de
oportunidades entre estes dois espaços.
A indústria transformadora tem, em alguns sub-sectores, uma vantagem competitiva com os outros países da
União face ao uso intensivo de mão-de-obra barata. No entanto, terá inevitavelmente perdas importantes de
emprego nestes sub-sectores, na medida que se forem modernizando ou não tecnologicamente, como é o
caso dos têxteis e do calçado. Localizam-se nas zonas litorais, na periferia dos centros urbanos.
A expansão e dispersão das áreas urbanas e urbanizáveis para as zonas rurais tem levado à redução dos
espaços agrícolas e florestais ou de regeneração natural.
Também a modernização da Agricultura e as novas orientações da PAC para o incentivo da Agricultura
Biológica, retirando incentivos à Agricultura “industrial”, irá ter fortes impactes (positivos) no sector, bem
como nas indústrias agro-alimentares, que constituem a base de especialização da maioria das sub-regiões do
interior. Da conjugação das políticas de preços e de comercialização, seus apoios e gestão poderão resultar
cenários distintos.
Também na pesca, a redução global da frota e do volume das capturas tem-se vindo a traduzir numa redução
do emprego. No entanto, a progressiva modernização do sector e a opção por espécies mais valorizadas
permitirá a sua estabilização a prazo, ainda que condicionada pelas políticas de conservação dos stocks,
dentro e fora do espaço da União Europeia.
Tendo em conta que a tendência actual é que geograficamente as actividades se localizem no litoral pode-se
concluir que a tendência de desenvolvimento:
- Indústria - Perda de emprego nos sub-sectores de mão-de-obra intensiva que se modernizarem; uma
crescente diminuição dos estabelecimentos, quer por falências, quer por fusões e uma perda relativa de
importância no conjunto global da economia, exceptuando os sectores da nova economia e sociedade da
informação;
- Agricultura – Diminuição da superfície agrícola, modernização do sector, investimento na Agricultura
Biológica reduzindo a Agricultura “industrial”, e eventual perda de efectivos, quer em número, quer em
tempo de trabalho;
- Turismo - Aumento da capacidade hoteleira e do número de dormidas, nomeadamente nas regiões da
faixa litoral ocidental e da faixa litoral algarvia. Aposta crescente no Turismo em espaço rural;
- Energia - Aumento da produção de energia eléctrica com a substituição progressiva da energia térmica
por energias alternativas, mantendo a energia hidroeléctrica a sua importância, ainda que condicionada
pelas flutuações de produção entre anos muito secos e muito húmidos;
- Outras - A construção expande-se para a periferia dos centros urbanos e a predominância dos serviços é
cada vez mais acentuada nas zonas centrais desses mesmos centros.
Tendo em conta os três principais objectivos do PNDES, - colmatar o atraso estrutural, caminhar para uma
sociedade da informação e apostar numa estratégia de Ordenamento do Território interligada com o
Ambiente, - pode concluir-se que as tendências actuais de desenvolvimento não se irão modificar.
De facto, “colmatar o atraso estrutural apostando na qualificação das pessoas e descentralizando as
competências do Estado”, vai beneficiar os centros urbanos do litoral que se encontram mais bem infra-
estruturados para essas modificações.
Este processo de concentração de populações e actividades no litoral, tem outra pressão sobre os recursos, é
que favorece a viabilidade e facilita a construção e a manutenção de sistemas de abastecimento de água e de
sistemas de recolha e tratamento de águas residuais e de resíduos sólidos, que anteriormente interferiam na
qualidade dos recursos hídricos subterrâneos e de superfície. Mas, por outro lado, a rarefacção da população
e das actividades no interior, conjuntamente com a existência de um úmero elevado de aglomerados rurais,
sem procura que viabilize a instalação e funcionamento daqueles sistemas, terá um impacte negativo sobre os
recursos hídricos, ao serem lançadas nos solos e na rede de drenagem natural, água e substâncias ou
materiais rejeitados pelo consumo urbano e pela actividade industrial, sejam eles sólidos ou líquidos. Por
outro lado a dispersão de actividades, como a habitação, turismo e industria, sem ligação à rede pública,
terão um impacte sempre negativo no recurso água.
A pressão das actividades humanas sobre os recursos hídricos, segundo a espacialização que hoje ocupam,
obriga a dois tipos de sistemas um para o litoral e outro para o interior, com a agravante de que actividades e
fontes de qualidade não se encontram no mesmo sítio.
2.1.1. Introdução
Nesta introdução apresentam-se os aspectos de natureza geral e introdutória, delimitando-se os fins e o
objecto do direito de protecção da água e recorta-se o âmbito do Plano Nacional da Água. No mesmo
contexto, procura-se, por um lado, enquadrar o direito de protecção da água como parte integrante do direito
do ambiente, e por outro, distingui-lo de ramos do direito afins. Um segundo momento da introdução,
descreve sumariamente e hierarquiza as fontes (internas, internacionais e comunitárias) deste subsistema
jurídico do direito do ambiente. Um último ponto da introdução sintetiza as principais condicionantes
provenientes do direito internacional e do direito europeu.
Uma segunda parte agrupa os capítulos onde se realiza uma análise do direito da protecção da água por
forma a identificar as sua disfunções e patologias mais relevantes.
Por fim, um último capítulo proporá uma síntese dos problemas jurídicos identificados. Nesse momento
procurar-se-á sintetizar e sistematizar tais problemas jurídicos em torno de algumas ideias fundamentais que
revelem de algum modo as patologias que consideramos serem estruturais e que servem de ponto de partida
para a identificação de objectivos e medidas.
2.1.1.1. Aspectos Gerais
Os Fins do Direito de Protecção da Água
Pode caracterizar-se o direito de protecção da água como o conjunto de normas jurídicas que, no quadro do
direito do ambiente, disciplinam a actuação da Administração Pública e dos particulares com vista a
preservar e melhorar a qualidade da água e a garantir o seu uso sustentado.
O direito de protecção da água tem, assim, dois fins fundamentais. Visa, por um lado, proteger a água
contra a poluição por forma a assegurar as suas capacidade funcional ecológica e capacidade de uso
humano (cfr. alínea a) e b) do art. 10º da LBA e alínea a) do nº 2 do art 66º da CRP). Mas, também, está
funcionalmente orientado para promover, independentemente da sua contaminação, numa perspectiva de
equidade intergeracional, a sua utilização racional (cfr. alínea d) do art. 10º da LBA e alínea d) do nº 2 do
art 66º da CRP).
Em qualquer caso, trata-se de compatibilizar a capacidade de aproveitamento humano da água para os seus
múltiplos fins (consumo humano, industrial, recreativo, agrícola, piscícola, inter alia) com a necessária
preservação da sua capacidade funcional ecológica e com a existência de reservas suficientes para usos
futuros com respeito pelo princípio da solidariedade entre gerações .
Complementarmente o direito de protecção da água visa, ainda:
− Proteger a saúde pública;
− Contribuir para mitigar os efeitos das cheias e das inundações.
O Objecto do Direito de Protecção da Água
Nos termos do nº 1 do art. 10º da LBA a protecção jurídico-ambiental da água estende-se às águas interiores
(de superfície e subterrâneas) e às águas marítimas (interiores, territoriais e da zona económica exclusiva).
Tal protecção abrange, ainda, um conjunto de terrenos delimitados no nº 2 do art 10º da LBA e legislação
complementar (leitos e margens dos cursos de água de superfície, fundos e margens de lagoas, zonas de
infiltrações, à orla costeira, aos fundos marinhos). O conjunto das águas e dos terrenos conexos pode ser
designado como domínio hídrico.
As águas e os terrenos conexos, objecto do direito de protecção da água podem ser do domínio público –
incluindo, assim, o domínio público hídrico – ou ser propriedade privada.
Note-se, por fim, que o objecto do direito de protecção da água não coincide com o objecto do PNA. Na
realidade, como se notou o PNA não abrange as águas marítimas territoriais e da ZEE.
2.1.1.2. Direito de Protecção da Água e Direito do Ambiente
A água é como se sabe um componente natural do ambiente (Cfr. art 7º da LBA). A sua protecção visa
directamente assegurar a sua qualidade e quantidade mas, indirectamente, assegurar a qualidade do
ambiente. Dir-se-á mesmo que, em grande parte, a razão da autonomização da água e da sua protecção
jurídica específica se deve, precisamente, à sua especial aptidão para potenciar um ambiente globalmente
adequado, ou, inversamente, na sua capacidade para, quando deteriorada, causar a perturbação global dos
sistemas ecológicos.
O direito de protecção da água é, assim, uma parte do direito do ambiente. Pode mesmo dizer-se que forma
parte do núcleo essencial do sistema jurídico-ambiental. A sua matriz axiológica é tipicamente jurídico-
ambiental e encontra suporte último na protecção constitucional do ambiente (cfr. art 9º alínea e) e art 66º da
CRP).
Este enquadramento dogmático tem uma clara expressão institucional na Lei Orgânica do Ministério do
Ambiente e do Ordenamento do Território (cfr. alínea c) do nº 2 do art. 1º do DL 120/2000, 8 de Novembro),
bem como na Lei Orgânica do INAG (cfr. art. 2º do DL 191/93, de 24 de Maio) onde indica ser atribuição
deste instituto «promover a conservação dos recursos hídricos nacionais do ponto de vista da quantidade e
da qualidade, nos seus aspectos físicos e ecológicos».
Note-se, também, que os planos de recursos hídricos são um instrumento de planeamento do direito do
ambiente. Isto significa que devem prosseguir fins jurídico-ambientais: a valorização, a protecção e a gestão
equilibrada dos recursos hídricos nacionais assegurando a sua harmonização com o desenvolvimento
regional e sectorial através da economia do seu emprego e racionalização dos seus usos (cfr. art. 2º do DL nº
45/94, de 22 de Fevereiro).
Uma última consequência dogmática da inclusão do direito da protecção da água no direito do direito do
ambiente é a relevância no primeiro dos princípios jurídicos gerais que enformam o segundo. O que, como é
óbvio, não prejudica a existência de vectores axiológicos sectoriais próprios do direito da protecção da água.
2.1.1.3. O Direito de Protecção da Água e Ramos do Direito Afins
Há um conjunto de normas jurídicas que têm por objecto o domínio hídrico e que não prosseguem fins
jurídico-ambientais. Trata-se, desde logo, da maior parte das regras de direito privado que regulamentam
direitos subjectivos de natureza real sobre a água (cfr. os arts. 1385º e ss. do Código Civil).
Há, por outro lado, um outro conjunto de normas de natureza jurídico-pública que definem o estatuto do
domínio público hídrico. De entre estas algumas normas prosseguem objectivos de natureza jurídico-
ambiental, como por exemplo, as que visam mitigar os efeitos das cheias e das inundações.
Mas há, também, algumas normas que não explicitam valores jus-ecolócicos. É o caso de algumas regras
que disciplinam o uso de terrenos do domínio hídrico, alguns aspectos associados à navegação e à flutuação
e que estabelecem determinadas servidões legais. É claro que tais regras não se incluem no direito de
protecção da água que, como vimos, é uma parte do direito do ambiente.
Há, ainda, um conjunto de normas de natureza jurídico-pública que regulamentam a prestação do serviço de
abastecimento de água para consumo público ou o serviço de recolha e tratamento de águas residuais ou a
produção e comercialização de energia eléctrica. Em tais normativos, também, é possível delimitar dois tipos
de regras. Uma zona normativa que – complementando o regime jurídico do aproveitamento do domínio
hídrico – regula o uso da água desde um ângulo jurídico-ambiental. E uma outra onde , desde a perspectiva
do direito público da economia, se visa, exclusivamente, assegurar a prestação de um serviço de modo
eficiente e adequado.
2.1.1.4. Fontes do Direito de Protecção da Água
A análise das fontes do direito de protecção da água visa identificar os vários tipos de actos normativos
relevantes neste domínio, de acordo com o âmbito de política a que correspondem (internacional,
comunitário, nacional, regional e autárquico) e com a sua natureza (convenções internacionais, actos de
direito comunitário originário e derivado, normas constitucionais, leis de valor reforçado, legislação
ordinária e actos normativos de natureza administrativa).
Não se pretende, porém, proceder a uma descrição exaustiva dos diplomas em causa, nem à análise do seu
conteúdo (matéria a propósito da qual se remete para a análise instrumental, procedimental e institucional),
trata-se de identificar os tipos de fontes específicas do direito de protecção da água, da sua relevância e das
suas relações.
medidas programáticas (ao contrário dos tratados clássicos que estabelecem normas vinculativas, baseadas
em relações de reciprocidade), pelas medidas de aplicação que devem ser tomadas pelas Partes, pela
instituição de mecanismos de controle, e pela criação de mecanismos de cooperação ou de utilização dos já
existentes.
Por último, quanto ao possível incumprimento dos tratados, ou é estabelecida a submissão de possíveis
litígios a um tribunal arbitral, mediante prévia aceitação das partes, ou é atribuída jurisdição obrigatória ao
Tribunal Internacional de Justiça.
Para enquadrar o regime jurídico das águas internacionais ao nível do Direito Internacional que obriga o
Estado Português, optou-se por analisar duas convenções-quadro multilaterais que poderão contribuir para
uma melhor compreensão daquilo que é considerado hoje, ao nível da comunidade internacional, o garante
mínimo da sua protecção e gestão.
A primeira convenção-quadro que suscitará a análise é a Convenção sobre a Protecção e a Utilização dos
Cursos de Água Transfronteiriços e dos Lagos Internacionais, adoptada a 17 de Março de 1992 em
Helsínquia, elaborada no quadro da Comissão Económica para a Europa das Nações Unidas, e que se
encontra em vigor desde 6 de Outubro de 1996 (D.R. nº219, Iª Série-A, de 22.09.98), tendo já sido ratificada
pelo Estado Português em 8 de Junho de 1994.
Esta Convenção tem por objectivo promover o reforço das medidas nacionais e internacionais relativas à
protecção ecológica e à gestão das águas superficiais e subterrâneas transfronteiriças, bem como melhorar a
aplicação efectiva dos tratados bilaterais e multilaterais concluídos entre os Estados ribeirinhos sobre essas
águas transfronteiriças. Esta convenção-quadro tem ainda a particularidade de ser o primeiro tratado
multilateral a regular as utilizações das águas internacionais desde a pouca conseguida Convenção de
Genebra de 1923, relativa ao desenvolvimento da energia hidroeléctrica afectando mais de um Estado. Por
último é de referir, o aditamento a esta convenção de um Protocolo sobre Água e Saúde, adoptado a 24 de
Março de 1999, que entrará em vigor após o depósito da décima sexta assinatura.
A segunda convenção-quadro multilateral - Convenção sobre o Direito dos Usos dos Cursos de Água
Internacionais para Fins Distintos dos da Navegação -, foi adoptada em Nova Iorque a 21 de Maio de 1997.
Os trabalhos desta convenção-quadro tiveram início há mais de vinte anos na Comissão de Direito
Internacional, tendo sido somente adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 24 de Maio de
1997. Esta Convenção tem como principal objectivo codificar as normas de direito consuetudinário pelas
quais os Estados se devem pautar nas negociações futuras sobre os cursos de água transfronteiriços. Assim,
retomando em grande parte as Regras de Helsínquia de 1966, e inspirada na teoria da soberania limitada
sobre os recursos em água transfronteiriços, vem regular nomeadamente sobre a unidade dos recursos, e
estipular como princípios gerais a obrigação de não causar danos significativos a outros Estados decorrentes
da utilização das águas transfronteiriças, a troca mútua de informação, o uso equitativo e razoável dos
recursos em água, entre outros. Porém, necessitando de trinta e cinco instrumentos de ratificação e não tendo
obtido mais do que dezasseis assinaturas e oito ratificações, à data de 13 de Setembro de 2000, não entrou
ainda em vigor. Assim, embora Portugal tenha assinado esta Convenção a 11 de Novembro de 1997, ela não
produz efeitos jurídicos de qualquer ordem. Não obstante, consideramos tratar-se de um elemento importante
para a análise daquilo que à escala europeia e mundial se entende relevante em matéria de gestão de águas
internacionais.
A necessidade de gerir de forma integrada os recursos em água, tendo em conta a sua unidade física, bem
como a necessidade de preservação dos ecossistemas, tem levado a que progressivamente os Estados
entendam as águas internacionais como um bem jurídico a partilhar, baseado em mecanismos de cooperação,
e já não como um curso de água internacional sobre o qual os Estados gozavam do direito de soberania
absoluta sobre os mesmos, numa perspectiva utilitarista e económica. A bacia hidrográfica como unidade de
gestão fundamental parece ser, por outro lado, a unidade mais viável de luta contra a poluição de forma
integrada, à qual se tende actualmente a agregar ainda parcelas cada vez mais importantes de águas costeiras
e marítimas.
Na Convenção de Helsínquia, segue aquilo que vem de se expor, adoptando-se a bacia hidrográfica ou parte
dela, enquanto unidade de gestão para fixar os objectivos de prevenção, controlo e redução do impacto
transfronteiriço, a protecção do ambiente das águas transfronteiriças, ou do ambiente no qual estas águas
exerçam influência, nomeadamente ao nível do ambiente marinho. Já na Convenção de Nova Iorque, a noção
de bacia hidrográfica ou de gestão integrada é esquecida, fazendo-se antes referência aos cursos de água
internacionais.
Na Convenção de Helsínquia, os objectivos de qualidade são estabelecidos numa óptica de luta contra a
poluição de forma integrada, isto é, não isolando a protecção das águas transfronteiriças do resto das outras
massas de água e dos outros componentes ambientais, nomeadamente o solo, entendendo que para alcançar
este fim, será necessário ter em conta os níveis de eutrofização e acidificação das águas, assim como a
poluição de origem telúrica do meio marinho, principalmente das zonas costeiras. É respeitada portanto, a
inter-relação entre águas continentais, águas marinhas e costeiras. Alguns dos objectivos preconizados pela
Convenção são: a gestão racional e ecologicamente equilibrada; a conservação dos recursos hídricos e a
protecção ambiental; o reforço das medidas tomadas a nível nacional e internacional em matéria de
prevenção, controle e redução da quantidade de substâncias perigosas lançadas no meio aquático,
nomeadamente nos casos em que possam vir a ter um impacto transfronteiriço. Medidas essas que devem
ser efectuadas, de preferência, na fonte.
A Convenção fixa ainda algumas medidas que devem ser tomadas ao nível nacional com vista a consolidar
os objectivos acima citados:
- evitar, controlar e reduzir na fonte, a emissão de poluentes, através da aplicação de tecnologias pouco
poluentes ou limpas para reduzir as descargas de nutrientes provenientes de fontes industriais, urbanas,
e fontes difusas
- proteger as águas transfronteiriças contra a poluição proveniente de fontes pontuais através de um
sistema de licenciamento prévio das descargas de águas residuais da responsabilidade das autoridades
nacionais competentes, e que as descargas autorizadas sejam monitorizadas e controladas, e que sejam
postos em funcionamento planos de contingência;
- aplicar a avaliação de impacto ambiental e outros meios de avaliação.
Caberá ainda aos Estados Parte, baseando-se na melhor tecnologia possível, fixar limites de emissão para as
descargas de fontes pontuais em águas de superfície, aplicáveis em particular aos diferentes sectores
industriais, bem como proibirem total ou parcialmente a produção ou emprego de tais substâncias.
Na Convenção de Nova Iorque os objectivos estabelecidos em matéria de qualidade da água traduzem-se
num dever geral de, individual ou conjuntamente, prevenir, reduzir e controlar a poluição das águas
partilhadas, nomeadamente quando esta possa causar dano significativo a outros Estados ribeirinhos ou ao
seu ambiente, incluindo dano para a saúde pública ou segurança, ou para a utilização das águas para qualquer
fim benéfico, ou ainda para os recursos vivos do curso de água internacional. Nesse sentido, a convenção
estabelece um dever geral para os Estados Parte em harmonizar as suas políticas tendo em conta este fim,
prevendo, por mecanismo de consulta a pedido de uma das partes, o estabelecimento conjunto de objectivos
e critérios de qualidade da água, de técnicas e práticas para responder à poluição de origem pontual e difusa,
e listagem de substâncias cuja introdução nas águas seja proibida, limitada, investigada ou monitorizada.
No que diz respeito às utilizações preexistentes, as duas convenções em análise dispõem sobre o assunto de
forma diametralmente oposta. Enquanto que a Convenção de Helsínquia estabelece um dever de adaptação
dos acordos bilaterais ou multilaterais, ou outras disposições, aos princípios fundamentais da convenção, a
Convenção de Nova Iorque, em nada afecta os direitos e obrigações de um Estado ribeirinho que advenham
de acordos preexistentes à data em que este se torna parte desta convenção.
Na Convenção de Helsínquia, é estabelecido o dever de as partes fixarem, ao nível nacional, um sistema de
licenciamento prévio das descargas de águas residuais com vista a assegurarem a protecção das águas
transfronteiriças contra a poluição proveniente de fontes pontuais.
Quanto aos deveres de recolha e tratamento de informação sobre o estado das águas transfronteiriças, a
Convenção de Helsínquia estipula que os órgãos conjuntos criados no âmbito de acordos ou disposições,
devem ter entre as suas atribuições, nomeadamente: recolher, compilar e avaliar dados a fim de identificar as
fontes de poluição passíveis de causar um impacto transfronteiriço; estabelecer formas de alerta e de alarme;
fazer inventários e troca de informações sobre as fontes de poluição passíveis de causar um impacto
transfronteiriço; elaborar programas conjuntos de monitorização da água do ponto de vista qualitativo e
quantitativo; concretizar programas de acção concertados para redução das cargas de poluição, tanto a partir
de fontes pontuais como de fontes difusas; definir objectivos e critérios conjuntos de qualidade das águas;
servir de enquadramento para o intercâmbio de informações sobre as utilizações das águas actuais e previstas
e das respectivas instalações, que ameacem ter um impacto transfronteiriço. Para estes efeitos, e a fim de
harmonizarem os limites de emissão de poluentes, devem as Partes ribeirinhas trocar informações sobre as
suas regulamentações nacionais. Ainda neste espírito de acesso à informação entre as Partes ribeirinhas,
sempre que uma parte solicitar à outra parte dados ou informações que não estejam disponíveis, deverá esta
esforçar-se nesse sentido, podendo, contudo, condicionar essa informação ao pagamento dos encargos
correspondentes à recolha, ou processamento da informação pretendida. Este dever de informação, sofre no
entanto algumas derrogações quando estejam em causa informações relacionadas com o segredo industrial e
comercial e também da propriedade intelectual ou da segurança de um Estado.
Decorrente da obrigação geral de cooperação, a Convenção de Nova Iorque estabelece um dever de troca de
informação regular de dados e informação sobre as condições do curso de água internacional, em particular
aquelas que dizem respeito à sua natureza hidrológica, meteorológica, hidrogeológica e ecológica, assim
como aquela relacionada com a qualidade da água. Tal como a Convenção de Helsínquia, também esta
convenção prevê que para a informação que não esteja disponível, o Estado deve fazer o seu melhor para
satisfazer o pedido, mas pode condicioná-lo ao pagamento dos encargos correspondentes à recolha, ou
processamento da informação pretendida. Este dever de informação regular sofre derrogação quando
estiverem em causa informações vitais para a defesa nacional ou segurança nacional.
A Convenção de Helsínquia de 1992, estabelece que as Partes ribeirinhas deverão assegurar que as
informações relativas às águas transfronteiriças, bem como as medidas tomadas ou previstas para prevenir,
controlar e reduzir o impacto transfronteiriço e a eficácia destas, sejam acessíveis ao público, em qualquer
momento oportuno, e que se possa tomar conhecimento delas gratuitamente.
Do regime das águas instituídos nos instrumentos convencionais em apreço, pode-se concluir que daí
resultam obrigações precisas para Portugal. Falamos naturalmente das obrigações decorrentes da Convenção
de Helsínquia em particular, pois da Convenção de Nova Iorque não resultam ainda quaisquer tipo de
obrigações para Portugal, uma vez que esta não se encontra ainda em vigor. Abandonadas as disposições
convencionais que reconheciam aos Estados o direito de soberania absoluta sobre as suas águas
internacionais, numa perspectiva sobretudo económica e utilitarista dos recursos (atinente aos usos da
navegação e da exploração hidroeléctrica das águas internacionais), os instrumentos convencionais mais
recentes analisados neste estudo, orientam-se para uma abordagem holística e integrada associadas à ideia de
desenvolvimento sustentável das águas internacionais, através da qual são estabelecidos novos deveres para
os Estados, nomeadamente no que diz respeito ao estabelecimento de critérios ecológicos para a qualidade
das águas e de preservação dos ecossistemas. Deveres que passam a ser enquadrados ao nível de políticas,
estratégias e programas de forma concertada, acarretando ao mesmo tempo a responsabilidade de assegurar
que as actividades desenvolvidas no espaço jurisdicional de cada Estado ribeirinho não causem dano
ambiental a outro Estado(s) ribeirinho(s), bem como a possíveis Estado(s) costeiro(s). Ora, todo este
conjunto de deveres que estes instrumentos internacionais consubstanciam, bem como as restrições neles
impostas, devem ser estabelecidos numa plataforma da cooperação, de forma a harmonizar utilizações
passíveis de causar dano ao ambiente com vista a uma gestão sustentável dos recursos. Esta, por sua vez,
deverá ser feita independentemente das fronteiras administrativas dos Estados, respeitando antes a unidade
física dos recursos em água, enquanto componente ambiental e, por outro lado, deverá integrar os efeitos
adversos da actividade humana com repercussões pontuais ou difusas sobre as águas costeiras e marítimas.
Esta visão holística ou integradora carece, não tanto de definições jurídicas precisas - pela própria evolução
científica e técnica destas matérias - mas sim da vontade política dos Estados (como se pode constatar das
negociações da Convenção de 1997) em assumir a bacia hidrográfica, como unidade fundamental de gestão e
de precaução, para um desenvolvimento sustentável dos seus recursos em água.
2.1.2.3. Evolução do Direito Internacional
A regulamentação das águas internacionais partilhadas ou transfronteiriças tem-se tornado cada vez mais
uma necessidade premente, sobretudo, e na medida em que os reservatórios em água a serem partilhados por
dois ou mais países, se têm vindo a caracterizar cada vez mais pela sua escassez e pela sua falta de qualidade.
Também os conflitos sobre as utilizações deste recurso, são por vezes difíceis de superar atendendo a que
metade das bacias hidrográficas são partilhadas. Mais especificamente, existem no mundo 240 bacias
internacionais e um número indeterminado de cursos de água partilhados entre dois ou mais Estados
ribeirinhos.
É neste sentido que a procura de modalidades de partilha e de protecção do recurso entre Estados ribeirinhos
constitui um desafio para o direito internacional, que pretende responder a esta missão através de disposições
regulando a partilha do recurso, a regulamentação dos usos, a fiscalização e controle da qualidade das águas,
bem como a definição de princípios de gestão a serem aplicados conjuntamente pelas autoridades
competentes.
Até metade do séc. XX, o Direito Internacional dos recursos hídricos limitou-se a regular a partilha e
exploração dos rios para usos bastante específicos (a utilização para fins de navegação e a exploração
hidroeléctrica) e a tentar, embora com algumas dificuldades, a sua utilização com fins adversos à sua
preservação.
Foi sobretudo nos últimos 50 anos que outros usos das águas internacionais se começaram a desenvolver, em
particular para fins de irrigação e abastecimento de água; que levaram por sua vez à adopção de numerosos
tratados relativos às águas internacionais ou partilhadas, mas em que as questões de protecção e preservação
dos recursos hídricos (de superfície e subterrâneos) foram sido preteridas pelos Estados ribeirinhos, mais
atraídos pelo carácter utilitário destes recursos.
De facto, não obstante este processo de regulamentação dos usos das águas internacionais partilhadas, se ter
iniciado a partir do séc. XIX (tendo em conta a multiplicação de formação de Estados na época), dos 286
tratados actualmente em vigor, apenas 61 dizem respeito a bacias internacionais, exactamente pelas
dificuldades que acima enunciámos quanto às dificuldades de desenvolver modalidades de partilha e de
protecção dos recursos hídricos. Pelo que o número e o objecto destes tratados resta ainda limitado e tão
pouco é respeitado na íntegra pelos respectivos Estados signatários.
Apesar deste cenário um pouco nebuloso, foram desenvolvidos importantes princípios gerais de direito
internacional (a maior parte de origem consuetudinária) em matéria de utilização partilhada dos recursos
hídricos (utilização equitativa e razoável dos recursos partilhados; obrigação de não causar dano
significativo; obrigação de cooperar, entre outros).
Se as convenções acima referidas faziam jus à primazia de preocupações económicas sobre a protecção e
preservação dos recursos hídricos, as convenções de carácter mais geral, visam a protecção e a utilização das
águas doces na sua globalidade, nomeadamente através da definição de alguns princípios de integração
quanto à gestão dos recursos hídricos.
Essa gestão integrada deverá exprimir particularmente a ideia de que os recursos hídricos devem ser geridos
de um modo holístico, coordenando e integrando todos os aspectos e funções da extracção de água, controlo
de água e prestação de serviços relacionados com a água, de forma a trazer benefícios sustentáveis e
equitativos para todos os que dependem deste recurso.
Esta ideia tem de facto uma aplicação muito concreta ao nível das bacias hidrográficas internacionais, na
medida em que esta gestão integrada implica uma tentativa concertada de moderação das exigências
competitivas ou conflituosas entre utilizadores. Implicando um processo dinâmico e interactivo que envolva
uma consultoria em todos os sectores, um nível elevado de comunicação, e uma estruturação institucional,
legal e financeira apropriada.
Por sua vez, esta gestão integrada dos recursos hídricos, tem levado à promoção da bacia hidrográfica
internacional como unidade primordial de gestão.
Neste tipo de convenções a bacia hidrográfica internacional é entendida como a unidade mais viável de luta
contra a poluição de forma integrada, à qual se tende ainda a agregar parcelas cada vez mais importantes de
águas costeiras e marítimas.
A Convenção para Prevenção da Poluição Marítima Causada por Operações de Imersão Efectuadas por
Navios e Aeronaves, concluída em Oslo em 15 de Fevereiro de 1972 (D.L. 491/72 de 6/12), em vista de se
“(...) lutar contra a poluição dos mares por substâncias susceptíveis de colocar em perigo a saúde do
homem, de afectar os recursos biológicos, a fauna e a flora marinhas, de prejudicar as possibilidades de
recreio ou dificultar quaisquer outras utilizações legítimas do mar (...)” (artº 1º).
Com a Convenção de Oslo criou-se uma Comissão, composta por representantes de cada uma das Partes
Contratantes, tendo por atribuições a aplicação e o desenvolvimento das disposições acordadas. O Decreto
os
do Governo nº 20/87, de 13 de Maio, e os Decretos n 4/90, de 16 de Janeiro, e 13/92, de 20 de Fevereiro,
aprovaram, para ratificação, sucessivas emendas a essa Convenção.
O Decreto nº 1/78, de 7 de Janeiro, aprovou, para ratificação, a Convenção para a Prevenção da Poluição
Marinha de Origem Telúrica, concluída em Paris em 4 de Junho de 1974, tendo por objecto evitar-se a
poluição do mar “(...) o que significa a introdução pelo homem, directa ou indirectamente, de substâncias ou
de energia no meio marinho, nele se compreendendo os estuários, conduzindo a consequências tais a pôr em
perigo a saúde humana, a afectar os recursos biológicos e o ecossistema marinho, a prejudicar as
possibilidades de recreio ou dificultar quaisquer outros usos legítimos do mar (...)” (artº 1º).
Semelhantemente à Convenção de Oslo, também com esta se criou uma Comissão para efeitos da aplicação e
desenvolvimento das disposições nela contidas. O Decreto nº 25/88, de 2 de Setembro, aprovou, para
ratificação, emendas à Convenção de Paris.
Da fusão das duas Convenções celebrada em Paris em 22 de Setembro de 1992, resultou uma outra,
designada por Convenção para a Protecção do Meio Marinho do Atlântico Nordeste abreviadamente
Convenção OSPAR, que foi aprovada, para ratificação, pelo Decreto nº 59/97, de 31 de Outubro. A
Convenção OSPAR criou uma Comissão com atribuições da mesma natureza das atribuídas por aquelas
Convenções às respectivas Comissões.
Das Convenções celebradas relativamente à natureza (Ramsar, Washington, Berna e Bona), a que tem por
âmbito as Zonas Húmidas de Importância Internacional Especialmente como “Habitat” de Aves Aquáticas,
concluída em Ramsar, no Irão, em 2 de Fevereiro de 1971, será a que implica mais considerações
relativamente aos recursos hídricos. A Convenção Ramsar foi aprovada, para ratificação, pelo Decreto
nº 101/80, de 9 de Outubro, tendo sido igualmente aprovadas, para ratificação, várias emendas pelo Decreto
do Governo nº 33/84, de 10 de Julho, e pelo Decreto nº 34/91, de 30 de Abril. No nº 1 do seu artº 1º as zonas
húmidas são definidas como “(...) áreas de pântano, charco, turfa ou água, natural ou artificial, permanente
ou temporária, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo áreas de água
marítima com menos de seis metros de profundidade na maré baixa. (...)”. Nos termos do nº 1 do artº 8º “(...)
a União Internacional para a Conservação da Natureza e Recursos Naturais assegurará as funções do
bureau permanente ao abrigo desta Convenção, até que seja nomeada outra organização ou outro Governo
pela maioria de dois terços de todas as Partes Contratantes. (...)”. Segundo o nº 2 do artº 9º “(...) qualquer
membro das Nações Unidas ou de uma das suas instituições especializadas ou da Agência Internacional da
Energia Atómica ou partidário do estatuto do Tribunal Internacional de Justiça pode tornar-se membro
desta Convenção (...)”, sendo explicitados, em continuação, os modos de tal concretização.
no plano comunitário, o mesmo sentimento tem envolvido os trabalhos da União Europeia, nomeadamente
pelas mãos das suas principais instituições: Parlamento Europeu, Comissão, e Conselho.
Se no Tratado de Roma não se faz menção às questões relacionadas com o ambiente, enquanto um dos
objectivos a desenvolver pelas Comunidade Económica Europeia, já na década de 70 a mesma questão
começa a ser enfatizada, cedo aparecendo as preocupações ligadas à protecção das águas. É no entanto com o
Acto Único Europeu de 1986 que a questão é relançada, sendo oficialmente inscrita nos Artigos 130 R e T
do Tratado, enquanto uma das acções a desenvolver pela UE. Na mesma senda dispõe o Tratado da União
Europeia (Tratado de Maastricht) no seu Artº130 R (Título XVI "Ambiente"), quando determina que a
política da Comunidade em matéria de ambiente se deve pautar pelos princípios abaixo enunciados.
2.1.3.1. Direito Comunitário Derivado
Quanto ao Direito Comunitário Derivado (constituído pelas normas e actos emanados dos órgãos
comunitários) o seu sistema de aplicação na ordem jurídica interna é o da aplicabilidade directa dos
regulamentos e o do efeito directo das directivas, embora a CRP seja omissa quanto às últimas.
Os regulamentos, enquanto fonte principal de Direito Comunitário, constituem normas vinculativas para os
Estados em todos os seus elementos, e são directamente aplicáveis na ordem jurídica interna. Não precisam
por isso de obedecer aos pressupostos de recepção no direito interno, tal como acontece relativamente às
convenções internacionais. Já as directivas obrigam o Estado quanto a um determinado resultado a alcançar,
mas deixam às autoridades nacionais a liberdade quanto à forma e quanto aos meios de acção para chegar a
esse resultado.
Para que este Direito Comunitário entre em vigor a nível nacional, é muitas vezes necessário que o Estado
adapte a legislação, as estruturas e procedimentos administrativos, a fim de serem conformes aos
regulamentos e directivas emanados da ordem jurídica internacional. Para assegurar o cumprimento destas
normas comunitárias, a Comissão da União Europeia supervisiona a sua execução pelos Estados, quer
através de meios mais informais quer através do recurso ao Tribunal de Justiça, o qual assegura em última
instância o cumprimento do Direito Comunitário.
Quanto à hierarquia na ordem jurídica interna deste direito, entende-se que o Direito Comunitário -
originário e derivado - prevalece sobre o direito interno, e portanto, é-lhe atribuído valor supraconstitucional.
2.1.3.2. Evolução do Direito Comunitário dos Recursos Hídricos
O normativo comunitário sobre os recursos hídricos, embora não seja tão extensível, quer ao nível espacial
quer ao nível temporal, como é o caso do Direito Internacional congénere, tem produzido desde a década de
70 um conjunto de disposições de importância substancial para a melhoria das águas "partilhadas" dentro das
fronteiras comunitárias.
Dentro deste acervo comunitário, é usual distinguirem-se três gerações, correspondentes aos vários estádios
de evolução do direito comunitário nesta matéria. Assim, vejamos:
Para cada uma das substâncias perigosas, que as directivas acima citadas visam regulamentar, apontam-se as
seguintes características comuns: definição de cada uma dessas substâncias; valores-limite para as normas de
emissão; objectivos de qualidade para o meio aquático: enumerados no Anexo III de cada uma das directivas,
e devendo ser respeitados na região afectada pelas descargas das substâncias que visam regulamentar;
estabelecimento pelos Estados-membros de programas específicos para as descargas de algumas destas
substâncias, tendo como objectivo comum evitar ou eliminar a poluição, nomeadamente através de medidas
e técnicas mais apropriadas para assegurar a substituição, a retenção e a reciclagem desse tipo de substâncias;
prazos para o cumprimento das condições previstas pelas autorizações concedidas pelas autoridades
competentes dos Estados-membros, para as descargas existentes; métodos padrão de medição que permitam
determinar o teor para cada uma das substâncias em causa nas descargas e no meio aquático; colaboração
entre os Estados-membros, no caso de as descargas afectarem as águas de diversos Estados-membros; os
Estados-membros devem ainda comunicar à Comissão o texto das disposições de direito nacional adoptadas
no domínio das presentes directivas.
No que se refere às normas de emissão ou normas combinadas, também elas receberam uma fraca aceitação
pelos Estados-membros. De facto, o volume de programas enviados à Comissão foi escasso, e muitos dos
objectivos de qualidade para essas substâncias não foram estabelecidos. Acrescem, ainda, a este quadro,
dificuldades quanto à fixação de valores-limite, de compatibilidade entre as normas de emissão com os
objectivos de qualidade, de controlo sobre o cumprimento das disposições estabelecidas e das autorizações
acordadas, bem como quanto aos métodos de medição fixados pelos Estados-membros.
Directivas de Segunda Geração
As directivas que passamos a analisar, são consideradas normas de segunda geração pelo acréscimo de
sensibilidade ambiental que apresentam relativamente às normas de qualidade, e pela abordagem mais
imparcial dos conteúdos que visam legislar, no sentido de não se tratar separadamente problemas
relacionados com o ecossistema no seu todo.
Verifica-se também, uma maior consolidação dos princípios orientadores da política comunitária em matéria
de água. São elas: a Directiva 91/271/CEE do Conselho de 21 de Maio de 1991, relativa ao tratamento de
águas residuais urbanas, pela qual cabe aos Estados-membros estabelecer uma lista das zonas sensíveis e das
zonas menos sensíveis que recebem águas tratadas); a Directiva 91/676/CEE do Conselho de 12 de
Setembro de 1991, sobre a protecção das águas contra a poluição causada por nitratos de origem agrícola,
particularmente importante pela criação de programas de acção para as zonas vulneráveis, entendidas como
as que drenam para águas poluídas ou susceptíveis de serem poluídas; e a Directiva 96/61/CE do Conselho
de 24 de Setembro de 1996, relativa à prevenção e controlo integrados da poluição , que prevê medidas
destinadas a evitar e/ou reduzir as emissões dessas actividades para o ar, a água e o solo, incluindo medidas
relativas aos resíduos, de modo a alcançar-se um nível elevado de protecção do ambiente considerado no seu
todo.
Para além de disposições relativas a certas zonas especiais de protecção para determinados meios aquáticos,
de sistemas de regulamentação e/ou de autorização prévia, de um controlo acrescido da Comissão (quer ao
nível substancial, quer quanto à periodicidade das informações) sobre a aplicação destas directivas pelos
Estados-membros, e de uma maior concertação quanto ao cumprimento dos objectivos preconizados ao nível
transfronteiriço, e do acesso ao público a determinadas informações pertinentes quanto à aplicação efectiva
dessas disposições (Directiva 96/61/CE ), não existem outros pontos relevantes a salientar.
Quanto à aplicação destas directivas pelos Estados-membros, também aqui surgiram dificuldades. É o caso
da Directiva 91/676/CEE e da Directiva 91/271/CEE, cujos disposições por elas fixadas, ficaram bastante
aquém da aplicação pelos Estados-membros, devido à estipulação de objectivos e medidas, e prazos
demasiadamente ambiciosos e financeiramente difíceis de concretizar.
Relativamente à Directiva 96/61/CE, ela teve o mérito de introduzir ao nível comunitário uma abordagem
integrada da poluição de origem industrial.
para que os consumidores utilizem eficazmente a água, e assim contribuam para os objectivos ambientais
desta directiva.
Finalmente, a Directiva-Quadro da Água, ao proceder a uma avaliação da legislação comunitária
preexistente, e ao introduzir este programa ambicioso, mas esperado, de medidas adequadas a uma
verdadeira política de gestão global dos recursos hídricos, conduz a uma revisão das directivas analisadas,
em especial as de primeira geração, primando pela revogação de umas, e pela subsistência de outras.
atendendo-se sempre a uma lógica economicista e egoísta dos recursos, pois o que primava nesta abordagem
era a satisfação dos interesses dos Estados ribeirinhos.
É neste contexto que surge a Convenção sobre Cooperação para a Protecção e o Aproveitamento
Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas, assinada em Albufeira em 30 de
Novembro de 1998.
Não obstante a continuação em vigor dos Convénios de 1964 e 1968, a Convenção enquanto instrumento
bilateral de cooperação entre Portugal e Espanha, constitui um inestimável avanço em relação aos anteriores
convénios, pela sua maior sensibilidade às questões ambientais e por um "aproveitamento sustentável" dos
recursos hídricos. Neste sentido, são desenvolvidas na Convenção de 1998, as disposições constantes quer no
direito internacional mais recente - Convenção sobre a Protecção e o Uso dos Rios Transfronteiriços e a
Convenção sobre a Avaliação de Impacto Ambiental num Contexto Transfronteiriço - quer no direito
comunitário - em que são seguidos de perto os objectivos da Directiva-Quadro da Água.
É neste espírito que a convenção estende o seu objecto, quer quanto às massas de água a serem protegidas,
quer quanto às utilizações a regulamentar. Para o efeito, são previstos mecanismos específicos de
cooperação, que abrangem as águas superficiais e subterrâneas, bem como os ecossistemas aquáticos e
terrestres que deles directamente dependem, assim como todas as actividades de aproveitamento dos recursos
hídricos, em curso ou projectadas, em especial aquelas que sejam susceptíveis de causar “impactos
transfronteiriços”.
Esta protecção das águas internacionais partilhadas luso-espanholas é desenvolvida por um lado, com base
no respeito pelos mais modernos princípios do Direito Internacional dos recursos hídricos, nomeadamente
através da adopção do princípio do aproveitamento sustentável dos recursos hídricos, do princípio da
precaução e do princípio da prevenção; e por outro por uma "abordagem combinada" dos aspectos
qualitativos e quantitativos dos recursos ao nível das bacias hidrográficas luso-espanholas.
Em suma, já não se trata de dividir em termos equitativos e quantitativos os troços fronteiriços de forma
contemplar a sua exploração para a produção hidroeléctrica por Portugal e Espanha, mas de preservar os
mesmos - através de uma abordagem combinada entre componente qualitativa e quantitativa.
Quanto aos aspectos qualitativos, tem-se em conta, sobretudo, critérios ecológicos de qualidade das águas
(de superfície e subterrâneas), bem como a coordenação de procedimentos para a prevenção e controlo da
poluição produzida pelas descargas tópicas e difusas nas águas transfronteiriças, e quando pertinente, a
extensão desta medidas à poluição de origem terrestre dos estuários e águas territoriais e marinhas. De
realçar ainda que a fixação destes objectivos de qualidade é combinada com a fixação de valores limite de
emissão.
Quanto aos aspectos quantitativos, a Convenção trata de definir o regime de caudais necessário para garantir
os níveis de qualidade requeridos, com vista a garantir os usos actuais e previsíveis, continuando-se a aplicar
na matéria, o regime fixado nos Convénios de 1964 e 1968. As Partes devem ainda assegurar que no seu
território, a gestão das infra-estruturas hidráulicas seja feita de modo a garantir o cumprimento dos caudais
fixados. Também em situações excepcionais - incidentes de poluição acidental, cheias, secas e escassez de
recursos- são fixadas medidas para prevenir e mitigar os efeitos dessas situações.
Estas medidas são asseguradas através de obrigações concretas ao nível procedimental, nomeadamente
através da permuta de informação, consulta sobre impactos transfronteiriços, e avaliação de impactos
transfronteiriços.
2.1.4.2. Carácter mais amplo do Objecto da Convenção de 1998
Tal como era desejável, a Convenção de 1998 reveste-se de um carácter mais alargado, quer ao nível das
massas de águas protegidas, quer ao nível das utilizações que regulam. O quadro de cooperação por ela
instituído, abrange as águas superficiais e subterrâneas, bem como os ecossistemas aquáticos e terrestres
deles directamente dependentes, bem como todas as actividades de aproveitamento dos recursos hídricos,
em curso ou projectadas, em especial aquelas que sejam susceptíveis de causar “impactos transfronteiriços”.
Esta preocupação com o impacto transfronteriço de determinadas actividades, é idêntico ao previsto na
Convenção de Espoo e na Convenção de Helsínquia. Este estudo dos impactos transfronteiriços das
actividades transfronteiriças luso-espanholas, é de extrema importância para Portugal.
determinação das normas de descarga aplicável deve ser feita pela Administração através da identificação da
tecnologia mais eficaz e eficiente utilizada no mesmo sector económico.
Este recurso ao conceito de «melhores técnicas disponíveis» traduz uma relativa inovação no direito da água
português e representa, de alguma forma, o afloramento de uma tendência que depois se veio a consolidar
com a publicação do DL n.º 194/2000, de 21 de Agosto, sobre prevenção e controlo integrado de poluição
Todavia, o conceito previsto é demasiado vago e impreciso visto que não há qualquer densificação da
cláusula geral. Actualmente, parece que a norma em causa deve ser concretizada tendo em conta o disposto
no DL n.º 194/2000, de 21 de Agosto.
ae) Normas de descarga sectoriais previstas em contratos de promoção ou de adaptação ambiental
O actual sistema de gestão de recursos hídricos português permite que as normas de descarga gerais sejam
derrogadas mediante a celebração de contratos entre a Administração e Associações representativas de um
determinado sector de actividade económica. Tais contratos podem ter por objecto a definição de normas de
descarga mais exigentes ou de normas de descarga menos exigentes. No primeiro caso denominam-se
contratos de promoção ambiental (art. 68º do DL n.º 236/98, de 1 de Agosto), no segundo de adaptação
ambiental (art. 78º do DL n.º 236/98, de 1 de Agosto).
Tais normas são aprovadas por Portaria conjunta do Ministro do Ambiente e Ordenamento do Território e do
ministro responsável pelo sector de actividade económica em causa.
Até hoje não se recorreu à figura do contrato de promoção ambiental. A utilização dos contratos de
adaptação ambiental tem, pelo contrário, caracterizado o direito da protecção da água, abrangendo um
número muito significativo de sectores económicos.
Contudo, como não se prevêem sanções efectivas para o incumprimento do contrato mais graves do que
aquelas que são aplicáveis para as infracções não enquadradas pelo contrato, tais instrumentos têm servido
na prática como forma de concessão de uma moratória, de eficácia e justificação axiológica questionáveis
que acarreta uma forte erosão do princípio da legalidade.
b) Normas de qualidade e de descarga (definição dos estado de qualidade) previstas em instrumentos
normativos de planeamento.
A definição do estado de qualidade da água pode resultar complementarmente da aplicação de um conjunto
de normas de qualidade e de descarga cujo âmbito de aplicação é circunscrito a uma determinada zona
espacial. Tais regras visam normalmente fixar parâmetros de qualidade da água mais exigentes do que os
que resultam da aplicação do sistema geral, em função das características específicas de um bem jurídico
especialmente delimitado.
Trata-se por exemplo das regras que podem estar contidas nos regulamentos de áreas protegidas relativas à
fixação da qualidade da água e à delimitação de parâmetros de descarga (cfr. DL n.º 19/93, de 22 de
Setembro na versão do DL 227/98, de 17 de Agosto).
Note-se, por fim, que os PBH podem prever normas de qualidade e de descarga, embora o seu âmbito
temporal e a sua forma (Decreto Regulamentar) possam fazer suscitar algumas dúvidas sobre tal função.
Os Instrumentos de Tutela
Como vimos nos pontos anteriores o sistema de protecção e gestão de recursos hídricos recorre, para
assegurar o seu objectivo fundamental, a um conjunto de normas cuja função é, precisamente, a de delimitar
qual o estado de qualidade adequado da água enquanto bem jurídico-ambiental. Tais regras - ao precisar os
contornos de um bem jurídico já esboçado no texto constitucional - conferem positividade a um determinado
desígnio axiológico-ambiental e impõem adopção de determinadas condutas conformes com esse estado,
mas não asseguram, só por si a sua efectividade.
É, assim, necessário que tais comandos normativos sejam complementados com um outro conjunto de
normas funcionalmente dirigidas a assegurar a sua efectividade. Essas normas configuram meios de tutela
jurídico-pública e podem talvez ser designados como meios ou instrumentos de tutela. Uma possível
classificação tende a distinguir:
− Instrumentos de tutela preventivos, funcionalmente concebidos para evitar a ocorrência de disfunções
ambientais;
− Instrumentos de tutela repressivos, que actuam depois de se verificar a ocorrência de uma infracção de
modo a punir o responsável, a indemnizar o dano e fazer cessar a actividade ilícita;
− Instrumentos de recolha e tratamento de informação sobre a gestão de recursos hídricos.
Nos instrumentos de tutela preventivos incluem-se:
a) Licenciamento de usos de recursos hídricos
O meio de tutela preventiva mais comum do direito do ambiente e consequentemente do sub-sistema de
gestão dos recurso hídricos é o licenciamento de actividades que convoquem um risco de perturbação do
estado de qualidade da água.
No actual sistema, são sujeitos a licenciamento os usos do domínio hídrico elencados no art. 3º do DL n.º
46/94, de 22 de Fevereiro e legislação complementar. Trata-se, assim, de uma metodologia ancorada no
licenciamento do uso e não da actividade económica que lhe está subjacente.
b) Avaliação de impacto ambiental e prevenção e controlo integrado da poluição
No que respeita a algumas actividades económicas que podem exigir a utilização de recursos hídricos, a
avaliação preventiva dos efeitos ambientais é realizada através de um sub-procedimento de avaliação de
impacto ambiental – nos termos previstos no DL n.º 69/2000, de 3 de Maio - ou do sub-procedimento de
prevenção e controlo integrado de poluição – de acordo com o disposto no DL n.º 194/2000, de 21 de
Agosto - que se insere no procedimento administrativo de licenciamento dessa mesma actividade .
c) Normas injuntivas
O conjunto de meios de tutela preventivos é complementado com normas jurídicas que impõem directamente
determinadas condutas aos particulares com vista a assegurar a qualidade dos recursos hídricos.
Tais regras podem ter um âmbito de aplicação geral ou ser circunscritas a um determinado local no espaço
(trata-se por exemplo das restrições e condicionamentos previstos nos planos de bacia hidrográfica (PBH)
planos de ordenamento da áreas protegidas (POAP), planos de ordenamento das albufeiras de águas públicas
(POAAP), planos de ordenamento da orla costeira (POOC), entre outros).
ca) Normas proibitivas
Uma primeira categoria de regras deste tipo proíbe aos utilizadores da água determinados actos ou
actividades que perturbem ou criem um risco desrazoável de perturbação de um estado de qualidade jurídico-
ambiental.
Trata-se, por exemplo, da norma prevista no art. 67º do DL nº 236/98 que proíbe a introdução nas águas
subterrâneas e no solo de determinadas substâncias perigosas, ou do art. 10º n.º 2 do DL n.º 152/97, de 19 de
Julho que impede a descarga de lamas em águas de superfície.
Ou de um conjunto muito diversificado de regras que constam dos planos de ordenamento das albufeiras
classificadas (proibições e restrições de pesca, navegação e outros usos do domínio hídrico- cfr. DDR n.º
2/88, de 20 de Janeiro) ou dos planos de ordenamento da orla costeira (cfr. DL n.º 309/93, de 2 de
Setembro).
Devem, por outro lado, referir-se as servidões administrativas que condicionam o uso do solo no domínio
público hídrico proibindo determinado tipo de construções e condicionando outras (cfr. Decreto-Lei n.º
468/71, de 5 de Novembro). Trata-se, todavia, de um dos pontos do sistema que revela maior grau de
desadequação aos objectivos do direito de protecção da água, sendo evidentes problemas de desarticulação
com o regime jurídico da Reserva Ecológica Nacional, problemas institucionais e problemas procedimentais
(ex: a dificuldade de delimitação da propriedade dos terrenos do domínio hídrico) que têm impossibilitado
uma gestão correcta de tais zonas.
Note-se, também, que o recurso a normas proibitivas é necessário quando as actividades em causa não
podem ser objecto de licenciamento de modo eficiente e eficaz. É justamente o que sucede, em grande
medida, com a poluição proveniente de algumas fontes difusas (ex: nitratos utilizados nas explorações
agrícolas).
cb) Normas preceptivas
A par das normas que impõem uma conduta negativa, integram o sistema jurídico normas que determinam a
prática de uma conduta positiva: normas preceptivas. Tal tipo de regra está normalmente associado ao
procedimento de licenciamento de utilizações do domínio hídrico, impondo a obrigação de recorrer a
determinados meios técnicos (utilização da melhor tecnologia disponível, por exemplo) como forma de
controlo adequado da poluição.
Também são comuns, no actual sistema jurídico, normas que impõem determinadas condutas às autoridades
jurídico-públicas com competência na gestão de recursos hídricos, configurando assim normas tarefa para a
Administração. Em regra tais comandos constam de instrumentos de planeamento, mas também integram
comandos normativos incluídos em instrumentos não programáticos, como por exemplo o DL n.º 152/97, de
19 de Julho onde se prevê a obrigação de garantir o pleno funcionamento do sistema de drenagem de águas
residuais urbanas num determinado calendário (art. 4º).
Instrumentos de Tutela Repressivos
a) Responsabilidade administrativa
O Estado é, como se notou, por meio de organismos próprios e com o envolvimento e a participação dos
cidadãos, responsável pela defesa e prossecução do interesse público ambiental (arts. 9º alíneas d) e e) e 66º
n.º 1 da CRP). Para realizar tal tarefa, a Administração pública dispõe, não só instrumentos jurídicos de
natureza essencialmente preventiva mas também instrumentos jurídicos de natureza repressiva.
Deste modo, a Administração pública tem o poder/dever de praticar determinados actos administrativos de
natureza sancionatória que visam solucionar uma situação jurídico ambiental de natureza patológica,
provocada pela inobservância ou violação de normas ambientais.
No que respeita à protecção e gestão de recursos hídricos, são relevantes, as sanções administrativas gerais
do direito do ambiente, embora algumas mereçam por parte do legislador uma configuração especial.
Assumem particular importância as seguintes:
− A redução ou suspensão da laboração das actividades geradoras de poluição (alínea i) do n.º 1 do art.
27º e n.º 1 do art. 35º da LBA);
− A transferência de estabelecimentos (art. 36º da LBA);
− A declaração de zonas críticas e situações de emergência (art. 34º da LBA);
− A indemnização administrativa de danos ao ambiente (art. 48º da LBA);
− As contra-ordenações ambientais (art. 47º da LBA).
b) Responsabilidade contra-ordenacional
Deve, contudo, notar-se que o ilícito de mera ordenação social é o instrumento sancionatório de natureza
repressiva com maior expressão prática no actual sistema de gestão dos recurso hídricos.
Poderá mesmo afirmar-se que é actualmente o único meio sancionatório com uma aplicação significativa no
que respeita à tutela de bens ambientais públicos e colectivos, visto que os casos de responsabilidade civil e
penal são ainda pouco expressivos. Sucede, todavia, que as contra-ordenações ambientais ainda revelam
algumas disfunções que afectam claramente a sua eficácia sancionatória. Referimo-nos, em especial,:
− À desadequação do montante de algumas coimas, que em muitos casos são inferiores ao benefício
económico resultante da infracção;
− A dificuldades em matéria de prova causadas pelas características do meio receptor;
− À não utilização e à desadequação das sanções acessórias,
− À violação do princípio da legalidade por parte das entidades competentes que não aplicam as sanções a
que estão obrigadas;
− A disfunções institucionais resultantes de competências sancionatórias concorrentes.
c) Responsabilidade civil
O princípio geral de que os danos ecológicos e os danos ambientais são reparáveis tem no direito português
dignidade constitucional. Na realidade, o artigo 52º, nº3, da Constituição consagra, no âmbito do direito de
acção popular, o direito de requerer para o lesado ou lesados a indemnização dos danos ao ambiente. A
norma constitucional encontra-se hoje concretizada na legislação ordinária, desde logo no regime jurídico
da participação procedimental e da acção popular aprovado pela Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto (LAP),
enquanto prevê, nos artigos 22º e 23º, situações de responsabilidade por danos ao ambiente.
Sucede, todavia, que, no caso português, a estrutura de imputação indicada - apesar de ser das mais
completas do nosso direito do ambiente - não soluciona alguns problemas fundamentais como:
− A prova do nexo de causalidade,;
− O concurso de imputações;
− A delimitação da eficácia espacial e temporal das normas,
− O acesso à informação sobre as circunstâncias do dano pelos lesados;
− O concurso entre pretensões indemnizatórias, entre outros,
não dando assim uma resposta adequada aos problemas fundamentais da responsabilidade por danos à
qualidade da água.
Acresce que se não define um círculo de responsáveis adequado e se vem a basear a responsabilidade na
culpa, contrariando de modo injustificado o princípio geral da responsabilidade pelo risco em matéria de
danos ecológicos, previsto no art. 41º da LBA e na generalidade dos textos internacionais.
d) Responsabilidade penal
A revisão de 1995 do Código Penal veio criar o crime de danos contra a natureza (art. 278º do Código
Penal) e o crime de poluição (art. 279º do Código Penal), os quais constituem verdadeiros crimes ecológicos
por protegerem a qualidade do ambiente de forma directa.
Assim, ao contrário do que sucedia até então, o ambiente é agora tutelado em si mesmo, independentemente
da existência de qualquer perigo ou lesão para bens pessoais ou patrimoniais do homem. Em ambos os tipos
de crime, o legislador exige que o dano ou o risco da sua verificação ocorra em consequência da violação de
normas ambientais que integram os conceitos indeterminados previstos no tipo.
De entre os dois tipos de crime o de poluição é inquestionavelmente aquele que oferece maior interesse em
matéria de protecção de recursos hídricos, visto que possibilita a determinação pela administração de
determinadas condutas sob cominação de responsabilidade penal.
Instrumentos de Recolha e Tratamento de Informação
a) Obrigações de auto-controlo
Como se sabe, o instrumento paradigmático utilizado para tal fim no direito do ambiente traduz-se em
obrigar o próprio utilizador a se auto-controlar, de acordo com determinada metodologia imposta pela lei,
impondo depois o envio da informação para a Administração. É justamente este o instrumento mais
utilizado no direito português (cfr. art. 22º, 69º do DL nº 236/98, de 1 de Agosto e art. 12º do DL nº 152/97
de 19 de Junho).
b) Direitos e deveres de inspecção, controlo e monitorização da Administração
Complementarmente, prevêem-se direitos e deveres de inspecção e controlo pela Administração (artº 8º, 16º
do DL n.º 236/98 sobre o modo e frequência da amostragem de águas doces superficiais destinadas à
produção de água para consumo humano) .
c) Deveres de informação dos utilizadores
Um outro exemplo de norma cuja função é permitir a recolha de informação consta do art. 11º do DL n.º
47/94, de 22 de Fevereiro
d) Obrigação de tratamento, sistematização e comunicação interna da informação pela
Administração Pública
Normalmente as regras sobre o tratamento da informação estão associadas a normas sobre a publicitação de
relatórios não existindo um coerente de princípios sobre esta matéria.
As regras sobre circulação da informação entre instituições da Administração Pública são relativamente
escassas no direito de protecção da água português. Um exemplo consiste na obrigação de comunicação
pelas DRAOT ao INAG das licenças de descarga de águas residuais (cfr. n.º 9 do art. 65º do DL n.º 236/98,
de 1 de Agosto)
e) Obrigações de publicitação da informação pela Administração Pública
A lei prevê determinadas normas que obrigam a Administração a sistematizar e publicitar a informação
recolhida, como por exemplo, a obrigação de realizar os Relatórios sobre a aplicação do DL n.º 236/98, de 1
de Agosto previstos nos arts. 11º, 19º, 37º, 46º e 56º do mesmo diploma. Ou a obrigação da entidade
gestora do sistema de publicitar os resultados obtidos com as análises da água para consumo humano através
de editais e publicação na imprensa regional (art. 22º, n.º 6 do DL n.º 236/98).
Instrumentos Indirectos de Regulamentação
a) Instrumentos financeiros e fiscais
De entre os instrumentos indirectos assumem particular relevância os financeiros e fiscais, como as taxas
ambientais e os impostos ambientais (v. alínea r) do n.º 2 do art. 27º da LBA), os subsídios (v. alínea j) do
n.º 2 do art.. 27º da LBA), os benefícios fiscais, os empréstimos a fundo perdido e os empréstimos com taxas
bonificadas.
No actual sistema de gestão dos recursos hídricos pode notar-se um recurso a mecanismos financeiros (os
empréstimos a fundo perdido e os empréstimos com taxas bonificadas) muitas vezes difícil de compatibilizar
com o princípio do poluidor pagador, a par de uma muito escassa utilização de mecanismos de natureza
fiscal (como as taxas e os impostos).
Na verdade, ao contrário do que sucede em vários países europeus não está implementado (apesar estar de
nominalmente previsto no DL n.º 47/94, de 22 de Fevereiro qualquer sistema funcionalmente dirigido à
internalização dos custos da utilização e da protecção dos recursos, incluindo os custos de oportunidade
gerados pela escassez.
Acresce que alguns pontos do sistema desenhado na lei são objecto de críticas pertinentes. Trata-se por
exemplo da:
− Falta de clarificação da função da taxa de rejeição e da sua articulação com as normas de qualidade e de
descarga;
− Definição do domínio público hídrico e não do domínio hídrico como objecto do regime jurídico;
− Complexidade e impraticabilidade actual do método utilizado para calcular a taxa de rejeição de cargas
poluentes, resultante da determinação de todas as taxas em função da melhor tecnologia disponível, o
que pode não ser possível em alguns sectores;
− Falta de previsão de isenções para pequenos utilizadores quando o custo da determinação da taxa seja
superior ao ganho de eficiência do sistema;
− Limitação do objecto da taxa de regularização aos benefícios resultantes de obras hidráulicas do
Estado, excluindo assim as obras privadas;
− Desarticulação entre a determinação da taxa de rejeição e o processo de auto-controlo de descargas,
entre outras.
b) Mercados de transação de quotas de poluição hídrica
A criação de mercados de transacção de direitos de emissão de poluentes hídricos tem sido objecto de análise
doutrinal desde há cerca duas décadas, existindo algumas experiências com sucesso relativo nos Estados
Unidos da América . Trata-se todavia de uma metodologia que não é utilizada no actual direito português.
c) Certificação ambiental e organização empresarial
No actual direito português assumem maior relevância instrumentos de economia de mercado, como, por
exemplo, a certificação ambiental de empresas ou produtos (cfr. o Decreto Lei n.º 259/92, de 20 de
Novembro) que exigem uma abordagem integrada do controlo da poluição.
d) Os instrumentos de planeamento
No direito de protecção da água são relevantes um conjunto muito significativo de instrumentos de
planeamento. Entre os quais podemos identificar como mais importantes:
− Os instrumentos de planeamento ambiental de carácter geral – como o Plano Nacional da Política do
Ambiente e a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza (Cfr. art. 27º da LBA).
− Os instrumentos de planeamento ambiental de recorte sectorial, como os Planos de Bacia Hidrográfica
e o Plano Nacional da Água regulamentados pelo DL n.º 45/94, de 22 de Fevereiro;
− Os instrumentos de planeamento dos recursos hídricos especiais para uma determinada zona do sistema
de protecção dos recursos hídricos, como por exemplo:
− O plano de acção para redução da poluição das águas piscícolas previsto no art. 36º do DL n.º
236/98 de 1 de Agosto;
− O programa de acção para redução da poluição as águas do litoral e salobras para fins aquícolas,
previsto no art. 44º do DL n.º 236/98 , de 1 de Agosto;
− O programa de acção para melhoria das qualidade das águas balneares, previsto no art. 44º do
DL n.º 236/98 de 1 de Agosto;
− Os planos de acção em matéria de águas de rega, previstos no art. 62º do DL n.º 236/98 de 1 de
Agosto,
− Os programas de redução de substâncias perigosas, previstos no art. 66º, n.º 4 do DL n.º 236/98,
de 1 de Agosto e no
− Os Programas de redução de substâncias perigosas, previstos nos DL n.º 52/99, 53/99, e 54/99
todos de 20 de Fevereiro e DL n.º 56/99, de 22 de Fevereiro;
− Os programas de controlo da concentração de nitratos e programas de acção, previstos nos arts.
5º e 7º do DL n.º 235/97, de 3 de Setembro.
Há, por fim, que referir a necessidade de articulação dos instrumentos de planeamento dos recursos hídricos
com outros instrumentos de planeamento, (como, por exemplo, os instrumentos de planeamento territorial).
Essa hierarquização é, antes de mais, necessária para resolver os conflitos entre pedidos de utilização de
água para fins diversos ou com níveis de aproveitamento diferenciados. O artigo 18º do Decreto-Lei n.º
46/94 determina que, caso se verifiquem “pedidos de utilização do domínio hídrico conflituosos, deve
considerar-se que a prioridade de utilização de água é, sempre que possível, a seguinte: 1º) consumo
humano; 2º) agricultura; 3º) indústria; 4º) produção de energia; 5º) turismo; 6º) outros”.
As regras de hierarquização entre pedidos de utilização de água para fins diversos acabadas de enunciar não
pressupõem, necessariamente, a existência de um conflito actual entre pretensões de utilização do domínio
hídrico incompatíveis. Nos termos do artigo 20º do Decreto-Lei n.º 46/94, qualquer que seja a finalidade da
captação de água, a admissibilidade de utilização da água depende das disponibilidades hídricas e da
inexistência de incompatibilidades com outras utilizações prioritárias, quer estas já estejam licenciadas ou
em vias de licenciamento, quer se encontrem apenas previstas em instrumentos de planeamento.
Integram também o regime comum aos dois títulos de utilização do domínio hídrico legalmente previstos as
disposições do Decreto-Lei n.º 46/94 que se referem à revogação e revisão dos títulos de utilização, bem
como aquelas que respeitam à sua transmissibilidade e caducidade.
Refira-se ainda que apesar do regime geral do licenciamento constar do Decreto-Lei n.º 46/94, o Decreto-Lei
n.º 194/2000, de 21 de Agosto, que transpôs para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 96/61/CE, do
Conselho, de 24 de Setembro, relativa à prevenção e controlo integrados da poluição, no seu artigo 32.º,
dispõe que o procedimento para a emissão de licença de utilização do domínio hídrico, regulado pelo
Decreto-Lei n.º 46/94, e a que estão sujeitas as actividades constantes do anexo I, para efeitos da captação de
águas ou de rejeição de águas residuais, é integrado no procedimento de licença ambiental previsto neste
diploma. Assim, impõe-se uma articulação dos dois regimes jurídicos referidos.
Esta solução merece alguma crítica na medida em que estamos perante uma matéria de grande
complexidade, desde logo no que concerne à compreensão do regime jurídico aplicável. Melhor seria, depois
de transposta a directiva comunitária, proceder a uma revisão global da legislação com ela conexa, evitando
assim o carácter fragmentário do normativo aplicável, que é precisamente uma das críticas recorrentemente
apontadas à produção legislativa em matéria ambiental.
Conforme anunciámos supra, não sendo possível tratar exaustivamente de todas as especificidades que
podemos encontrar relativamente a cada aproveitamento do domínio hídrico, optou-se por dar conta, num
pequeno apontamento, de alguns aspectos do regime jurídico da utilização do domínio hídrico para
aproveitamento hidroeléctrico. Já sabemos que uma das utilizações do domínio hídrico que, nos termos do
Decreto-Lei nº 46/94, carece de título de utilização é a captação de águas. De entre as finalidades que essa
captação pode assumir, destaca-se a produção de energia hidroeléctrica. A complexa legislação específica
que se lhe aplica mostra bem a relevância desta utilização do domínio hídrico.
Começando pelo normativo que releva nesta matéria, o Decreto-Lei n.º 182/95, embora estabeleça as bases
da organização do Sistema Eléctrico Nacional e os princípios que enquadram o exercício das actividades de
produção, transporte e distribuição de energia eléctrica, não se aplica a todas as actividades de produção de
energia eléctrica. O n.º 2 do artigo 1º exclui expressamente do seu âmbito de aplicação o exercício da
actividade de produção de energia eléctrica, seja a partir de energias renováveis em geral ou em instalações
de cogeração, seja em aproveitamentos hidroeléctricos até 10 MVA de potência aparente instalada.
Em conformidade, também os diplomas que, complementando as bases fixadas no Decreto-Lei 182/95,
disciplinam o exercício da actividade de produção e distribuição de energia eléctrica só se aplicam no
âmbito do Sistema Eléctrico de Serviço Público e, quanto ao Sistema Eléctrico Independente, no domínio do
Subsistema Eléctrico não Vinculado (Decretos-Leis n.º 183/95 e 184/95, ambos publicados no dia 27 de
Julho e alterados pelo já citado Decreto-Lei n.º 56/97).
A regulação da actividade de produção de energia eléctrica, no âmbito do Sistema Eléctrico Independente,
em aproveitamentos hidroeléctricos até 10 MVA de potência aparente instalada consta, essencialmente, do
Decreto-Lei n.º 189/88, de 27 de Maio. Este diploma foi, entretanto, objecto de diversas alterações (Decreto-
Lei n.º 46/94, de 22 de Fevereiro, Decreto-Lei n.º 313/95, de 24 de Novembro, Decreto-Lei n.º 56/97, de 14
de Março e Decreto-Lei n.º 168/99, de 18 de Maio). Não basta, portanto, atender ao disposto no Decreto-Lei
n.º 46/94, de 22 de Fevereiro. É certo que neste último diploma se estabelece, entre outras coisas, que a
actividade de captação de águas para produção de energia hidroeléctrica e o estabelecimento de infra-
estruturas hidráulicas estão sujeitas a título de utilização. Só que não pode deixar de se atender ao regime
especial que consta do citado Decreto-Lei n.º 189/88. Acresce que o regime específico dos procedimentos
administrativos em vista à obtenção de autorização de utilização de água para aproveitamento hidroeléctrico
consta da Portaria n.º 445/88, de 8 de Julho, alterada pela Portaria n.º 958/89, de 28 de Outubro, a qual
estabelece ainda as regras e os critérios a observar em caso de coexistência de mais de um pretendente à
utilização de um mesmo local.
Naturalmente, embora o n.º 2 do artigo 91º do Decreto-Lei n.º 46/94 mantenha em vigor a Portaria n.º
445/88, este preceito só admite a sua aplicação na medida em que ela não seja contrária ao disposto no
referido diploma.
No que toca ao título a que se sujeita a utilização do domínio hídrico para aproveitamento hidroeléctrico,
mais concretamente à captação de água para produção de energia hidroeléctrica, vimos que o n.º 1 do artigo
31º do Decreto-Lei n.º 46/94 sujeita a licença os aproveitamentos em que a potência instalada seja até 10
MVA, só admitindo o contrato de concessão nos casos em que a potência instalada exceda esse limite.
Depois de traçar, em termos gerais, qual a prioridade de utilização de água em caso de pedidos de utilização
do domínio hídrico conflituosos (artigo 18º do Decreto-Lei n.º 46/94), o legislador, no que concerne a esta
utilização do domínio hídrico, determina, no n.º 7.5. da Portaria n.º 445/88, alterada pela Portaria n.º 958/89,
que “em todos os casos, a prioridade concedida aos fins de abastecimento de água às populações ou de rega e
uso agrícola limita-se à utilização das quantidades de água estritamente necessárias para a realização
destes fins”.
A liberalização da produção de energia eléctrica em aproveitamentos hidroeléctricos pode, também, conduzir
a um afluxo de pedidos de utilização de água para o mesmo fim e com níveis próximos de rentabilidade. A
Portaria n.º 445/88, alterada pela Portaria n.º 958/89, vem, justamente, estabelecer as regras e os critérios a
observar em caso de coexistência de mais de um pretendente à utilização de um mesmo local.
O Decreto-Lei n.º 90/90, de 16 de Março, estabeleceu o regime jurídico das actividades de prospecção,
pesquisa e exploração dos recursos geológicos, integrados ou não no domínio público.
Este diploma, no seu artigo 51º, remete para regulamentação própria cada uma das categorias de recursos
geológicos. Assim, os Decretos-Lei nºs. 84/90, 85/90, 86/90, 87/90, 88/90 e 89/90, todos de 16 de Março,
regulamentam, respectivamente, os aproveitamentos de águas de nascente, das águas mineroindustriais, de
águas minerais naturais, de recursos geotérmicos, de depósitos minerais naturais e das massas naturais.
Naturalmente, interessam-nos em particular os três primeiros aproveitamentos.
Nos termos do artigo 10º do Decreto-Lei n.º 90/90, a exploração dos recursos que não se integram no
domínio público do Estado depende da prévia obtenção de licença de estabelecimento, a qual só pode ser
concedida ao proprietário do prédio ou a terceiro, se tiver celebrado contrato de exploração com o
proprietário. O diploma citado não desenvolve o regime de atribuição daquele licença, dedicando, com
efeito, quase todas as suas disposições aos direitos sobre recursos do domínio público. Assim, quanto ao
licenciamento da exploração de recursos que não se integrem no domínio público, há que observar aquilo
que dispõe a regulamentação específica que se lhes aplica.
Concretamente, o Decreto-Lei n.º 84/90, de 16 de Março, aplica-se ao aproveitamento de águas de nascente,
precisamente um dos recursos geológicos que, nos termos do n.º 3 do artigo 1º do Decreto-Lei n.º 90/90, não
se integra no domínio público do Estado.
Nos termos do Decreto-lei n.º 84/90 a qualificação de um água como água de nascente compete à Direcção-
Geral de Geologia e Minas, a qual verifica a conformidade das características do recurso com a definição
constante do artigo 6º do Decreto-Lei n.º 90/90, após emissão de parecer da Direcção-Geral dos Cuidados de
Saúde Primários.
Procedimento de Delimitação do Domínio Privado dentro do Domínio Hídrico
O Decreto-Lei n.º 468/71, de 5 de Novembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 89/87, de 26 de Fevereiro,
consagra o regime jurídico dos terrenos do domínio público hídrico, no qual se incluem os leitos, as margens
e as zonas adjacentes das águas do mar, correntes de água, lagos e lagoas. Ou seja, este diploma não se dirige
às águas integradas no domínio público, mas sim aos terrenos públicos conexos com essas águas.
O artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 468/71 trata da “condição jurídica dos leitos, margens e zonas adjacentes”. De
acordo com este preceito, consideram-se do domínio público do Estado os leitos e margens das águas do mar
e de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis, “sempre que tais leitos e margens lhe pertençam, e bem assim
os leitos e margens das águas não navegáveis nem flutuáveis que atravessem terrenos públicos do Estado”.
Como se repara, estamos perante uma redacção complexa, definindo-se o domínio público do Estado de
forma tautológica.
Os leitos e margens das águas não navegáveis nem flutuáveis que atravessem terrenos particulares, bem
como as parcelas dos leitos e margens das águas do mar e de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis que
forem objecto de desafectação ou reconhecidas como privadas consideram-se objecto de propriedade
privada, o mesmo se verificando relativamente às zonas adjacentes, estando estas sujeitas a restrições de
utilidade pública.
No que toca ao necessário reconhecimento da propriedade privada sobre parcelas de leitos ou margens
públicos, o artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 468/71 sujeita os particulares interessados nesse reconhecimento a
um complexo procedimento probatório, de que é sintomático a exigência de apresentação de documentos que
demonstrem que os terrenos em causa eram, por título legítimo, objecto de propriedade particular ou comum
antes de 31 de Dezembro de 1864, ou, tratando-se de arribas alcantiladas, antes de 22 de Março de 1868. Na
falta destes documentos, os terrenos em relação aos quais se prove que, naquelas datas, estavam na posse, em
nome próprio de particulares ou na fruição conjunta de indivíduos compreendidos em certa circunscrição
administrativa presumem-se particulares.
Finalmente, também a delimitação dos leitos e margens dominiais confinantes com terrenos de outra
natureza se apresenta bastante complexa. Com efeito, essa delimitação implica a constituição de comissões,
que integram representantes dos proprietários dos terrenos confinantes com os leitos ou margens a delimitar.
A delimitação é feita pelo Estado, oficiosamente ou a requerimento dos interessados. Mas note-se que a
delimitação por via administrativa não preclude a competência dos tribunais comuns para decidir da
propriedade ou da posse dos leitos e margens, ou das suas parcelas.
Inexistência de uma Lei de Águas
O Decreto nº 5 787-4I, de 10 de Maio de 1919, dito “Lei de Águas” foi, à época, promulgado para valer
como lei na sequência dos seguintes considerandos expressos no seu curto preâmbulo redigido com
linguagem de grande elegância:
“(...) Sendo as águas das correntes, dos lagos e lagoas, bem como as pluviais e subterrâneas, um dos mais
importantes factores da riqueza nacional, cujo desenvolvimento ao Governo cumpre auxiliar e fomentar;
Atendendo a que a legislação reguladora do uso das mesmas águas se encontra dispersa por vários
diplomas, alguns dos quais, baseados em princípios que os progressos da ciência moderna condenam,
carecem de ser reformados, e outros mais recentes incluem disposições cujos inconvenientes, revelados pela
prática, importa prover de eficaz remédio;
O Decreto nº 5 787-4I foi sendo completado ou alterado, conforme os casos:
- pelo Decreto nº 13 112, de 24 de Janeiro de 1927, que regulamentou os requerimentos de pedidos de
aproveitamento das águas públicas previstos no artigo 38º do Decreto nº 5 787-4I;
- pelo Decreto nº 15 193, de 13 de Março de 1928, [derrogado pelo Decreto-Lei nº 23 925, de 29 de
Maio de 1934, e revogado pelo Decreto-Lei nº 33 236, de 16 de Novembro de 1943], que alterou o § 2º
do artº 17º da “Lei de Águas” revogando a legislação em contrário;
- pelo Decreto nº 18 163, de 28 de Março de 1930, que continha disposições acerca de concessões de
utilidade pública para aproveitamento da energia das águas requeridas por um município ou municípios
federados, na sequência do Decreto nº 5 787-4I, revogando a legislação em contrário;
- pelo Decreto-Lei nº 23 925, de 29 de Maio de 1934, [alterado pelo Decreto-Lei nº 468/71, de 5 de
Novembro e derrogado pelo Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro], que prorrogou, até à revisão da
“Lei de Águas”, o prazo de 10 anos estabelecido no § 1º do seu artº 17º, revogando o Decreto nº 15
193, de 13 de Março de 1928, na parte aplicável, e o artº 27º do Decreto 5 787-4I;
- pelo Decreto-Lei nº 24 859, de 7 de Janeiro de 1935, que regulou a expropriação de águas e terrenos
particulares destinados ao abastecimento de povoações, e bem assim a utilização de águas públicas
para o mesmo fim, revogando disposições do Decreto nº 5 787-4I e do respectivo regulamento que ao
assunto se referem;
- pelo Decreto-Lei nº 33 236, de 16 de Novembro de 1943, [derrogado pelo Decreto-Lei nº 46/94, de 22
de Fevereiro], que reviu o regime de utilização de águas públicas, quer mediante licença, quer
mediante concessão, revogando o § 2º do artº 17º do Decreto nº 5 787-4I e o Decreto nº 15 193;
- pelo Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro, [alterado pelo Decreto-Lei nº 234/98, de 22 de Julho],
que estabelece o regime de licenciamento da utilização do domínio hídrico, sob jurisdição do Instituto
da Água, o qual mantém da “Lei de Águas” apenas o seu artº 1.
Não é possível assegurar que os sete diplomas que ficaram referidos tenham sido os únicos que completaram
ou alteraram o Decreto nº 5 787-4I, isto é, a “Lei de Águas” de 1919, o que significa que, em rigor, é difícil
ter-se a certeza de quais as suas disposições que ainda possam ter, indubitavelmente, força de lei.
Esta dificuldade resulta, de modo especial, do emprego, em vários diplomas, de fórmulas evasivas de
derrogação e mesmo de revogação, dos tipos “fica revogada a legislação em contrário” ou “fica revogado na
parte aplicável”, e que deve ter sido, seguramente, sentida pelo legislador do Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de
Fevereiro, quando adopta, no artº 91º (Norma derrogatória), a seguinte fórmula introdutória “(...) Não se
aplicam na matéria respeitante ao presente diploma: (...)”. Quer então dizer, por exemplo, que as
disposições do Decreto nº 5 787-4I, de 10 de Maio de 1919, com excepção do seu artº 1º cujas disposições
não são das que não se aplicam na matéria respeitante ao Decreto-Lei nº 46/94, serão ainda válidas para
outras matérias que não respeitem ao mesmo diploma.
Em meados dos anos 70, cerca de 60 anos decorridos da promulgação da “Lei de Águas”, a legislação
vigente sobre a posse, uso e regime das águas continuava a assentar, fundamentalmente, no Decreto nº 5 787-
4I, completado e actualizado por diplomas, entre os quais:
- o Decreto-Lei nº 48 483, de 11 de Julho de 1968, onde se esboça a aplicação dos princípios do
utilizador-pagador e poluidor-pagador;
- o Decreto-Lei nº 468/71, de 5 de Novembro, que unificou o regime jurídico dos terrenos do domínio
público hídrico;
- o Decreto-Lei nº 605/72, de 30 de Dezembro, que estabeleceu o princípio de que “a luta contra a
poluição deve inserir-se na própria política dos recursos hídricos, a qual, para ser eficaz, tem de ser
unificada e exercer-se no quadro natural das bacias hidrográficas”;
- o Decreto-Lei nº 117-D/76, de 10 de Fevereiro, que criou na Secretaria de Estado dos Recursos Hídricos
e do Saneamento Básico, o Conselho Nacional da Água e as Direcções-Gerais dos Recursos e
Aproveitamentos Hidráulicos e do Saneamento Básico;
- o Decreto-Lei nº 383/77, de 10 de Setembro, que aprovou a Lei Orgânica da Direcção-Geral dos
Recursos e Aproveitamentos Hidráulicos;
- o Decreto-Lei nº 376/77, de 5 de Setembro, que sujeitou a licenciamento prévio a abertura de poços e
furos para captação e extracção de águas subterrâneas em alguns concelhos dos distritos de Coimbra,
Leiria e Setúbal, mantendo as águas subterrâneas, em regra, privadas mas submetendo a sua captação e
a sua utilização a determinadas regras de interesse público.
Àparte tais actuações, a “Lei de Águas” de 1919 nunca foi objecto de uma revisão e actualização global, não
obstante ter havido uma iniciativa governamental de revisão da legislação da água.
Chegados aos finais do século, um pouco mais de 80 anos decorridos sobre a promulgação da “Lei de
Águas” de então, a legislação sobre a posse, uso e regime das águas continua contida numa enorme dispersão
de diplomas, e do Decreto 5 787-4I parecerá subsistir apenas o artº 1º, expressamente validado, como já
referido, pelo Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro.
Um quadro apresentado em seguida está organizado de tal modo a poderem-se sublinhar as atribuições e
competências concretas de serviços e organismos do MAOT relativamente às descargas de águas residuais e
à qualidade da água, estando contemplados nesse quadro os seguintes diplomas:
− Portaria nº 809/90, de 10 de Setembro (matadouros e unidades de processamento de carnes);
− Portaria nº 810/90, de 10 de Setembro (suinicultura);
− Portaria nº 505/92, de 19 de Junho (pasta de papel e papel kraft liner);
− Portaria nº 512/92, de 22 de Junho (curtumes);
− Portaria nº 1 030/93, de 14 de Outubro (tratamentos de superfície);
− Portaria nº 1 033/93, de 15 de Outubro (mercúrio na electrólise dos cloretos alcalinos);
− Portaria nº 1 049/93, de 19 de Outubro (amianto);
− Portaria nº 895/94, de 3 de Outubro (EDC, TRI, PER e TCB);
− Portaria nº 1 147/94, de 26 de Dezembro (dióxido de titânio);
− Decreto-Lei nº 52/99, de 20 de Fevereiro (mercúrio que não o da electrólise dos cloretos alcalinos);
− Decreto-Lei nº 53/99, de 20 de Fevereiro (cádmio);
− Decreto-Lei nº 54/99, de 20 de Fevereiro (HCH);
− Decreto-Lei nº 56/99, de 26 de Fevereiro (tetracloreto de carbono, DDT, PCF, drinas, HCB, HCBD e
CHCl3).
P 1 030/93
P 1 033/93
P 1 049/93
P 1 147/94
DL 52/99
DL 53/99
DL 54/99
DL 56/99
P 809/90
P 810/90
P 505/92
P 512/92
P 895/94
Serviços /
Actuações
/ Organismos
Licenciamento /
Requisitos do DRAOT
licenciamento
INAG
Inventário e relatórios /
Relatórios anuais
DRAOT
INAG
Programas de redução
de poluição
DRAOT
Derrogações INAG
INAG
Comunicação à
Comissão Europeia
GRI
Serviços /
Artigos do DL 152/97 Artigos do DL 236/98
/ Organismos
6º, 7º, 9º, 10º, 11º, 12º , 14º, 15º, 17º, 18º, 19º, 33º, 35º, 36º,
INAG 3º, 7º, 12º e 15º 37º, 38º, 39º, 41º, 42º, 44º, 45º, 46º, 47º, 48º, 50º, 51º, 54º,
55º, 56º, 57º, 62º, 65º, 66º, 68º, 71º, 72º, 78º e 81º
6º, 7º, 8º, 9º, 10º, 11º, 12º, 14º, 15º, 16º, 17º, 18º, 19º, 21º,
4º, 5º, 6º, 7º, 8º, 12º, 23º, 24º, 28º, 29º, 33º, 34º, 35º, 36º, 37º, 38º, 41º, 42º, 43º,
DRAOT
13º e 17º 44º, 45º, 46º, 47º, 50º, 51º, 52º, 53º, 54º, 55º, 56º, 58º, 59º,
60º, 61º, 62º, 64º, 65º, 66º, 67º, 69º, 70º, 71º, 77º e 78º
Comissão de
16º
acompanhamento
Serviços /
Artigos do DL 45/94 Artigos do DL 46/94 Artigos do DL 47/94
/ Organismos
CNA 10º
às DRAOT:
Constituem-se como organismos de tutela as regiões de turismo, às quais compete “(...) a valorização
turística das respectivas áreas de intervenção no quadro da política do turismo (...)”.
No Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas (MADRP) as atribuições relativas aos
sectores agrícola, das pescas e aquicultura põem em evidência, em parte delas, implicações com os recursos
hídricos.
Os serviços do MADRP envolvidos, de forma mais relevante, nessas implicações são os seguintes (Decreto-
Lei nº 74/96, de 18 de Junho, que publicou a respectiva lei orgânica, com as alterações introduzidas pelo
Decreto-Lei nº 128/97, de 24 de Maio):
− a Direcção-Geral de Hidráulica, Engenharia Rural e Ambiente, entretanto transformada em instituto,
IHERA, cuja lei orgânica consta do Decreto-Lei nº 136/97, de 31 de Maio;
− a Direcção-Geral das Florestas, de que o Decreto Regulamentar nº 11/97, de 30 de Abril, contempla a
sua lei orgânica;
− as direcções regionais de agricultura (DRA), cuja lei quadro consta do Decreto-Lei nº 75/96, de 18 de
Junho.
Ressaltam, quanto ao IHERA, na sua lei orgânica, as seguintes competências (no artº 2º):
“(...)
− desenvolver sistemas de informação sobre as necessidades e utilização actual dos recursos hídricos na
agricultura;
(...)
− assegurar a participação e garantir a articulação, como representante do MADRP, no planeamento
nacional dos recursos hídricos efectuado pela Instituto da Água (INAG) e apoiar as direcções regionais
de agricultura (DRA) em idêntica missão a nível do planeamento integrado das bacias hidrográficas.
(...)”.
A Direcção-Geral de Floresta tem a seu cargo a coordenação e o apoio da execução da política florestal, nos
domínios, entre outros, dos recursos aquícolas das águas interiores, dispondo de uma Divisão de Pesca nas
Águas Interiores, numa Direcção de Serviços de Caça e Pesca nas Águas Interiores, a quem competem
actuações de ordenamento e gestão dos recursos aquícolas, em particular “(...) proceder à execução e apoiar
a implementação de planos de gestão dos recursos aquícolas nas bacias hidrográficas e garantir a sua
integração e articulação com os planos de bacia hidrográfica e com o plano nacional da água (...)” (artº 23º
do Decreto Regulamentar nº 11/97, de 30 de Abril).
As DRA dispõem de serviços operativos que asseguram a execução nas respectivas regiões da política
nacional nos domínios em que se exercem as atribuições do MADRP e, em particular, naqueles com
implicações nos recursos hídricos.
Levando em conta, da lista constante do nº 1 do artº 3º do Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro, as
utilizações do domínio hídrico pertinentes a:
− captação de água;
− rejeição de águas residuais;
− infraestruturas hidráulicas;
para além das câmaras municipais, enquanto gestoras de sistemas de abastecimento de água e de saneamento
de águas residuais, das concessionárias dos mesmos tipos de sistemas e dos referidos utilizadores autónomos,
há ainda que fazer referência às utilizações associadas à rega, à produção de energia e à navegação.
Com o Decreto-Lei nº 269/82, de 10 de Julho, completado pelo Decreto-Lei nº 69/92, de 27 de Abril, foi
revista a legislação sobre política de fomento agrícola e, em consequência, normalizada a vida das
associações de regantes e beneficiários, com o Decreto Regulamentar nº 84/82, de 4 de Novembro, que
estabeleceu o Regulamento das Associações de Beneficiários, e regulamentada novas associações de
agricultores, com o Decreto Regulamentar nº 86/82, de 12 de Novembro, que definiu o Regulamento das
Juntas de Agricultores, estas entendidas como “(...) entidades encarregadas de assegurar a administração, a
exploração e conservação das obras do grupo III [obras de interesse local, com impacte colectivo, conforme
classificação constante do artº 6º do decreto-lei atrás referido] em representação de todos os seus
beneficiários (...)”.
Ultrapassando 110 000 ha de área beneficiada, as associações de beneficiários existentes, distribuídas por
bacias hidrográficas, respectivas áreas e número de beneficiários, constam de quadro apresentado na página
seguinte.
Na utilização da água para a produção de energia destacam-se os aproveitamentos hidroeléctricos do SEP -
Sistema Eléctrico de Serviço Público, a cargo da EDP - Electricidade de Portugal, S.A. (Holding), do sistema
eléctrico não-vinculado e do SEI - sistema eléctrico independente (mini-hídricas) de que se apresentam
listagens dos existentes em quadros próprios adiante apresentados
Quanto às Juntas de Agricultores, até final de 1998 as que se encontravam constituídas, distribuídas por
direcções regionais de agricultura (DRA), respectivas áreas beneficiadas e número de beneficiários, constam
do quadro seguinte:
Na utilização de água na produção de energia é de destacar, ainda, a que respeita a circuitos de refrigeração
de centrais termoeléctricas (águas interiores), como são os casos das seguintes do SEP:
a que acresce, do sistema eléctrico não-vinculado, a Central Termoeléctrica do Pego, em que o Tejo é a linha
3
de água solicitada para refrigeração, com 2,2 m /s.
Na navegação é de salientar a criação, pelo Decreto-Lei nº 138-A/97, de 3 de Junho, do Instituto de
Navegabilidade do Douro, que sucedeu ao Gabinete de Navegabilidade do Douro, criado pelo Decreto-Lei nº
127/85, de 26 de Abril, e extinto pelo Decreto-Lei nº 45/94, de 22 de Fevereiro. Das competências que lhe
foram atribuídas são de sublinhar as seguintes com especiais implicações nos recursos hídricos (artº 6º):
“(...)
− decidir sobre todos os actos que por lei estão sujeitos a autorização ou licenciamento na área definida
como canal navegável e nas infra-estruturas de apoio que lhe estejam afectas (...);
(...)
− dar parecer sobre todos os actos que, incidindo na via navegável ou respectivas margens, possam
interferir com a navegabilidade, nomeadamente extracção de inertes, obras hidráulicas, colocação de
jangadas, construção de marinas e cais de acostagem (...);
(...)
− efectuar ou adjudicar as dragagens que se demonstrem necessárias à manutenção do canal navegável;
(...)
− assegurar o cumprimento do protocolo e subsequentes contratos a estabelecer com a CPPE -
Companhia Portuguesa de Produção de Electricidade, S. A., em matéria de funcionamento e
manutenção das eclusas; (...)”
tal como este se encontra definido no art. 228º da Constituição e nos respectivos Estatutos Político-
-Administrativos.
De entre as matérias de interesse específico definidas (a título exemplificativo) na Constituição, destacam-se,
em função da sua relevância para o direito de protecção da água: a defesa do ambiente e equilíbrio ecológico;
a protecção da natureza e dos recursos naturais, bem como da sanidade pública animal e vegetal; os recursos
hídricos, minerais e termais e energia de produção local; (alíneas c., d. e f., respectivamente, do art. 228º da
CRP).
No quadro destas matérias (e em especial, da água) a estrutura da organização administrativa das regiões
autónomas é a seguinte:
a) Região Autónoma dos Açores
aa) Administração directa da RAA
A estrutura da administração pública da Região Autónoma dos Açores (RAA), no domínio da água, assenta
na administração directa. Nomeadamente, na Secretaria Regional do Ambiente, criada pelo Decreto
Regulamentar Regional n.º 12/2000/A, de 18 de Abril.
A Secretaria Regional do Ambiente compreende duas Direcções Regionais, ambas dotadas de competências
no domínio da água:
A Direcção Regional do Ambiente (DRA), com competências na área da inspecção e controlo da qualidade
do ambiente desempenhadas pela Direcção de Serviços da Qualidade do Ambiente (DSQA) exercendo, na
Região, as competências da Direcção-Geral do Ambiente;
A Direcção Regional de Ordenamento do Território e dos Recursos Hídricos (DROTRH), à qual estão
conferidas as competências relativas às atribuições da DRA na área do ordenamento do território e da
política de gestão dos recursos hídricos, a qual, através da Direcção de serviços dos Recursos Hídricos
(DSRH), possui competências na área do planeamento e gestão da água (das quais se destacam as relativas
ao planeamento integrado dos recursos hídricos e da orla costeira, a utlização de todo o domínio hídrico e o
planeamento e execução de infraestruturas hidráulicas), exercendo, na Região, as competências do INAG e
as que foram transferidas para a Região no âmbito do domínio público marítimo.
ab) Administração indirecta da RAA
Uma vez que todas as competências relevantes no domínio da protecção da água se encontram concentradas
na SRA, não existem, ao nível da administração regional da RAA, entidades autónomas neste domínio.
b) Região Autónoma da Madeira
ba) Administração directa da RAM
Ao nível da administração directa regional destacam-se os seguintes organismos:
A Secretaria regional do Equipamento Social e do Ambiente (SRESA), que, nos termos da respectiva lei
orgânica (Decreto Regulamentar Regional n.º 4-A/93/M, de 2 de Fevereiro, é dotada de atribuições nos
domínios do ambiente, planeamento e das obras públicas. Na SRESA, destaca-se a Direcção Regional do
Ambiente (DRA), que exerce competências nos domínios da qualidade do ambiente e da definição da
respectiva política de protecção. Parte substancial atribuições e competências da SRESA relativas à definição
e implementação da política de gestão dos recursos hídricos, à utilização do domínio hídrico, às infra-
estruturas hidráulicas e à actividade de distribuição de água para consumo público e de recolha e tratamento
de águas residuais, foi objecto de transferência para o Instituto de Gestão da Água, ao nível da administração
regional indirecta (art. 4 do Decreto Legislativo Regional n.º 9/91/M, de 30 de Julho).
A Secretaria Regional da Agricultura, Florestas e Pescas (SRAFP), exerce competências na área das infra-
estruturas de rega (art. 2º/1, h., e 15º, do Decreto Regulamentar Regional n.º 7/94/M, de30 de Agosto). Este
domínio é da maior importância para a gestão dos recursos hídricos da RAM, uma vez que muitas dessas
infra-estruturas (as levadas) constituem um elemento fundamental do respectivo sistema de aproveitamento
hidráulico.
l) Assegurar a gestão e garantir a limpeza e a boa manutenção das praias e das zonas balneares;
m) Licenciar e fiscalizar a extracção de materiais inertes.
Em matéria de competências dos órgãos municipais (assembleia municipal, câmara municipal e presidente
da câmara municipal) deve atender-se a dois regimes a saber, o fixado pela Lei n.º 169/99, de 18 de
Setembro, a qual estabelece o quadro de competências, assim como o regime jurídico de funcionamento dos
órgãos dos municípios e das freguesias, e o regime instituído pela Lei n.º 159/99, de 14 de Setembro, a qual
vem elencar os poderes dos órgãos municipais que serão transferidos progressivamente para os municípios
nos próximos quatro anos(artigo 4º, n.º 1). Por outro lado, verifica-se que diplomas avulsos vêm consagrar
novas competências municipais em matéria de recursos hídricos ou proceder à densificação e
desenvolvimento das já consagradas.
c) Atribuições e competências das freguesias e dos seus órgãos
No âmbito da matéria em análise foram conferidas às freguesias atribuições em matéria de abastecimento
público (artigo 14º, 1 alínea b) da lei nº 159/99, de 14 de Setembro) e de ambiente e salubridade (artigo 14º,
1 alínea h) do mesmo diploma).
No que respeita às competências, verifica-se que a lei trata de forma mais completa e exaustiva a
transferência de competências entre o município e a freguesia (artigo 15º do decreto-lei nº 159/99, de 14 de
Setembro e artigo 66º do decreto-lei nº 169/99, de 18 de Setembro). O enunciado das competências dos
órgãos paroquiais consta, por seu lado, dos artigos 17º e 34º do decreto-lei nº 169/99, de 18 de Setembro. Na
matéria que ora nos interessa são de sublinhar as seguintes competências:
− Deliberar sobre a administração das águas públicas que, por lei, estejam sob titularidade da freguesia
(assembleia de freguesia);
− Autorizar a freguesia a participar em empresas de capitais públicos de âmbito municipal, para
prossecução de actividades de interesse público ou de desenvolvimento local, cujo objecto se contenha
nas atribuições da freguesia (assembleia municipal);
− Conservar e promover a reparação de chafarizes e fontanários de acordo com o parecer prévio das
entidades competentes, quando exigido por lei (junta de freguesia);
− Praticar os actos necessários à participação da freguesia em empresas de capitais públicos de âmbito
municipal, na sequência de autorização da assembleia de freguesia.
d) Sistemas multimunicipais de captação, tratamento e distribuição de água
Trata-se, inevitavelmente, de uma área de estratégia futura, pois pela mesma passará o designado mercado da
água, ou seja a lógica de dinâmica empresarial, ainda que condicionada à prossecução do serviço público,
mas obviamente a introdução de um novo conceito na gestão da água.
No fundo, trata-se de um vector, por excelência, para a experimentação do conceito de "responsabilidade
partilhada", tão do agrado das instâncias comunitárias, lançado aliás pelo 5º Programa de Política e Acção
Comunitária em Matéria de Ambiente, que obviamente tem tido dificuldade em conseguir a adesão do
2ºgrupo, ou seja dos agentes económicos,
A Lei n.º 46/77, de 8 de Julho, foi alterada pelo Decreto-Lei n.º 372/93, de 29 de Outubro, no sentido de
permitir tal alteração de quadro de gestão, cabendo posteriormente ao Decreto-Lei n.º 379/93, de 5 de
Novembro, desenvolver tal regime e clarificando desde logo os conceitos de sistemas multimunicipais e de
sistemas municipais.
Ficou igualmente claro, tanto para os sistemas multimunicipais como para os municipais, há um conjunto de
princípios a observar e respeitar e que são:
- Princípio da prossecução do interesse público;
- Principio do carácter integrado dos sistemas;
- Princípio da eficiência;
- Princípio da prevalência da gestão empresarial.
extensão, reparação, renovação, manutenção de obras e equipamentos, bem como a respectiva melhoria
(artigo 9º, 1 e 2).
Com a celebração do contrato de concessão, a concessionária passa a deter, entre outros, os direitos a
explorar a concessão por sua conta e risco, fixar, liquidar e cobrar taxas aos utentes pela utilização do
serviço, estabelecer o regime da respectiva utilização.
Do mesmo modo lhe são atribuídas as competências que a lei confere às entidades gestoras dos sistemas
municipais, designadamente as competências para definir, para a recolha de águas residuais industriais, os
parâmetros de poluição suportáveis pelo sistema (artigo 4º, 3, alínea i) do decreto-lei nº 207/94, de 6 de
Agosto); para garantir que a água distribuída para consumo doméstico, em qualquer momento, possua as
características que a definam como água potável, tal como são fixadas na legislação aplicável (artigo 4º, 3,
alínea e) do decreto-lei nº 207/94, de 6 de Agosto; para promover a elaboração de um plano geral de
distribuição de água e de drenagem de águas residuais (artigo 4º, 3, alínea a) do decreto-lei nº 207/94, de 6 de
Agosto; para tomar as medidas necessárias para assegurar a melhoria contínua da qualidade da água que
fornece, etc.
constituídas por pessoas singulares ou colectivas, para efeitos de utilização do domínio público hídrico (…)”
(nº 5 do mesmo artigo) que “(…) gozam de preferência na outorga de licenças de utilização do domínio
público hídrico, bem como na celebração de contratos-programa para apoio técnico ou financeiro às acções
de fomento hidráulico (…)” (nº 3 do artº 18º )), à luz das quais se pretendia a participação de todos os
interessados na gestão da água e, ainda, dos utilizadores em particular na promoção e realização de acções de
fomento hidráulico.
O Decreto-Lei nº 45/94, de 22 de Fevereiro, considera como um dos requisitos a observar pelo planeamento
de recursos hídricos a “(…) participação, envolvendo agentes económicos e as populações directamente
interessadas e visando o alargamento de consensos (…)” (alínea d) do nº 3 do artº 2º) criou, como órgãos
consultivos de planeamento regional, os conselhos de bacia “(…) em que estão representados os organismos
do Estado relacionados com o uso da água e os utilizadores (…)” (nº 1 do artº 11º) competindo-lhes (nº 1 do
artº 12º):
“(…)
a) Acompanhar a elaboração do PBH e informar o projecto do PBH antes da sua aprovação e
suas posteriores revisões;
b) Estabelecer o montante da taxa de regularização;
c) Informar e formular propostas de interesse geral para a bacia;
d) Propor objectivos de qualidade da água na bacia hidrográfica de acordo com os diversos
usos actuais e futuros;
e) Propor a realização de estudos hidrológicos relevantes para a bacia;
f) Dar parecer sobre esquemas e obras de aproveitamentos hidráulicos;
g) Dar parecer sobre todas as questões relativas à repartição das águas e às mediadas a tomar
contra a poluição;
h) Elaborar e aprovar o seu orçamento e relatório de contas;
i)Elaborar o plano de actividades;
(…)”
e tendo como vogais, para além de representantes de Ministérios com tutela na agricultura, ambiente,
administração do território, indústria, energia, saúde, comércio e turismo (nº 5 do mesmo artigo):
“(…)
h) 16 representantes dos utilizadores que assegurem a representatividade dos distintos sectores
em relação aos interesses pelo uso da água, 8 dos quais nomeados pela Associação Nacional de Municípios
Portugueses;
i) 2 representantes de organizações não governamentais no domínio do ambiente.
(...)”
Em 16 de Maio de 1938, pelo Decreto-Lei nº 28 653, haviam sido criadas, com o fim de promover a
administração das grandes obras de fomento hidroagrícola executadas pelo Estado, as associações de
regantes e beneficiários integrando “(...) proprietários, usufrutuários, enfiteutas, fiduciários, arrendatários e
parceiros dos terrenos beneficiados pelos aproveitamentos hidro-agrícolas (...)” (artº 1º) constituindo-se
como “(...) associações agrícolas, dotadas de personalidade jurídica, com sede no lugar ou freguesia do
aproveitamento, de funcionamento e administração autónomos (...)” (artº 2º), devendo incluir “(...) dez
agricultores, pelo menos, podendo também formar-se com número inferior mediante autorização do
Ministro da Agricultura (...)” (artº 3º) e podendo denominar-se “(...) associações de regantes e beneficiários
do lugar ou freguesia do aproveitamento, ou só associações de regantes, com a denominação do referido
lugar ou freguesia (...)” (§ 1º do artº 3º).
O artº 6º do mesmo diploma fixou as competências destas associações, já na linha do que viria a ser
estabelecido no Regulamento do Decreto nº 47 153, de 18 de Agosto de 1966, com o qual foi promulgado o
do Tejo, do Alentejo e do Algarve), com o objectivo, claramente expresso no artº 3º daquele diploma, de
exercer a coordenação e compatibilização das acções de apoio técnico, financeiro e administrativo às
autarquias locais e de executar as medidas de interesse para o desenvolvimento da respectiva região, visando
a institucionalização de formas de cooperação e diálogo entre as autarquias locais e a administração central.
O Decreto-Lei nº 130/86, de 7 de Junho, que aprovou a orgânica do Ministério do Plano e da Administração
do Território, introduziu algumas alterações na estrutura das CCR, que se traduziram, essencialmente, na
atribuição de competências nos domínios do ordenamento do território e do ambiente e na consequente
criação das respectivas unidades orgânicas, as Direcções Regionais do Ordenamento do Território e do
Ambiente e Recursos Naturais, ao nível de direcções de serviços.
O Decreto-Lei nº 190/93, de 24 de Maio, estabeleceu a orgânica das cinco direcções regionais do ambiente e
recursos naturais (DRARN) na sequência da aprovação da Lei Orgânica do Ministério do Ambiente e
Recursos Naturais, e dispôs, em particular, sobre a respectiva natureza, a estrutura geral, a competências
relativas à gestão dos recursos hídricos e à sua condição de sucessoras das direcções regionais do ambiente e
recursos naturais das CCR.
Com o Decreto-Lei nº 70/90, de 2 de Março, tentou-se a criação de ARH - administrações de recursos
hídricos, como ficou estabelecido no artº 5º, em particular na alínea a) do seu nº 1 e no seu nº 3, e como é
referido na seguinte passagem do preâmbulo:
“Para promover o planeamento e a gestão dos recursos hídricos de uma forma racional optou-se por definir
como unidade de gestão a bacia hidrográfica, conjuntos de bacias hidrográficas ou zonas consideradas
afins numa óptica de utilização da água, criando para o efeito administrações de recursos hídricos
(ARHs).”;
e, de seguida, ainda no preambulo é dito:
“A articulação das ARHs e a responsabilidade de uma política nacional dos recursos hídricos,
nomeadamente de planeamento e gestão integrada, cabe ao Instituto Nacional da Água (INAG), que
superintende financeira e tecnicamente nas ARHs, razão que, aliada à necessidade da sua operacionalidade
e eficácia, levou à sua estruturação como instituto público.”
As ARH nunca foram concretizadas e o Decreto-Lei nº 70/90 acabou por vir a ser derrogado pelo
Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro.
Confrontando os limites territoriais de jurisdição das DRARN com os das bacias hidrográficas, conforme
figura da página seguinte, ressalta de forma patente o que, no “relatório vertical” de Portugal do projecto
EUROWATER, é apontado como constituindo o aspecto mais negativo do novo (ainda actual) sistema de
gestão da água: o abandono do modelo baseado nas autoridades de bacia hidrográfica.
A mesma figura revela os limites das sucessivas circumcripções hydrographicas, divisões hidráulicas,
direcções hidráulicas, direcções externas e, de novo, direcções hidráulicas da organização administrativa que
foi constituindo a base da gestão dos recursos hídricos de 1892 a 1986.
Os aproveitamentos hidroeléctricos titulados por concessões, quer de utilidade pública, quer de interesse
privado, atribuídas ao abrigo da legislação vigente até meados da década de noventa, encontra-se
presentemente perante um quadro legal incompleto, quer do ponto de vista do sector eléctrico, quer do ponto
de vista do sector da água . Estas são claramente as conclusões de um G.T, que procedeu à análise global dos
empreendimentos hidroeléctricos, com o objectivo de clarificar as situações e propor soluções.
Apesar do Art.º 90 do Decreto- Lei 46/94 conter disposições transitórias para os utilizadores do domínio
hídrico, na prática este artigo nunca foi aplicado, sendo por isso para os empreendimentos existentes ser
necessário a conversão dos títulos existentes, por alvarás de licença de utilização da água. A questão é mais
complexa quando já ocorreu a caducidade dos alvarás, ou abandono, em que foram “cedidos”, a outras
entidades que presentemente os exploram, com contratos de fornecimento de energia à EDP, e “ legalizados
“ pela DGE ao abrigo da legislação dos produtores independentes ( DL. 189/88 ) sem título de utilização do
domínio hídrico válido. Sendo evidente a desarticulação legal e institucional , e mesmo havendo forma de
desencadear os procedimentos na atribuição de novo título de utilização do domínio hídrico, o processo
esbarra na forma como poderá ser autorizada a utilização de bens que são propriedade do Estado, bem como
à cobrança de eventuais rendas, e quais as entidades beneficiadas. No sector hidroagrícola , que atinge uma
cota de utilização da água na ordem dos 80%, (para não falar na ausência de consumos reais de água, de
planeamento, de eficiência de gestão, segurança estrutural , do regime económico – financeiro etc.) que tem
o seu enquadramento no DL 269/82, as disfunções são as mesmas, não se encontrando ajustamentos no
quadro legal duma autoridade da água, em concreto relativas a empreendimentos de fins múltiplos.
Quando se pretende proceder à “entrega da obra” que os conceitos jurídicos relativos a “ concessionária” do
46/94, de “dono da obra” do Regulamento de Segurança, e “ entidade responsável pela exploração “ do DL
21/98 de 3/2, fica claro que tem de haver no mínimo uma harmonização, do quadro legal que está
completamente desfasado das realidades actuais, para não referir outras obrigações de ordenamento,
ambientais ( caudais ecológicos, caudais reservados, medidas de minimização ambiental ) regime
económico-financeiro etc.
2.3. Diagnóstico
− Divulgação desadequada de normas jurídicas (ex: publicação de actos normativos da II Série do Diário
da Répública);
− A falta de acções pedagógicas de informação dos agentes (ex: guias práticos de actuação dirigidos à
Administração e aos particulares).
d) Fundamento para as normas de definição do estado de qualidade da água
Um momento essencial do actual sistema jurídico de protecção dos recursos hídricos consiste na
determinação do estado de qualidade adequado da água.
Sabe-se, também, que tal delimitação visa, essencialmente, compatibilizar a capacidade de aproveitamento
humano do recurso com a protecção da sua capacidade funcional ecológica, concretizando, desse modo, um
paradigma de desenvolvimento sustentado.
É claro, por outro lado, que essa protecção jurídico-ambiental exige, normalmente, o sacrifício ou a restrição
mútua dos bens jurídicos em confronto. Tal delimitação/compatibilização deve, assim, ser baseada numa
ponderação proporcional e justificada dos bens e interesses em presença (cfr. art. 7º da LBA), e ancorada
num único critério valorativo ou num conjunto integrado de critérios coerentes.
Sucede, contudo, que no actual sistema português o fundamento das normas que definem o estado de
qualidade da água não é claro. Na verdade, parecem (co)existir, de modo, vários tipos de fundamentação –
como, por exemplo, a análise custo/benefício, a análise quantitativa de risco e a melhor tecnologia
disponível - sem que o âmbito e a justificação da adopção de cada uma seja adequada.
Esta disfunção - que poderá vir a ser ultrapassada em grande medida com a transposição da Directiva Quadro
- é particularmente notória na deficiente articulação funcional entre normas de qualidade e as normas de
descarga.
É, por outro lado, fundamental que a ponderação seja, não só justificada, mas também transparente para
todos os agentes - públicos e privados - que intervêm no sistema. Na verdade, é com base em tal
determinação que a Administração actua de forma preventiva e repressiva. Assim, a legitimidade e a
potencialidade comunicativa do sistema jurídico dependem, em grande medida, da capacidade deste em
tornar inteligível o fundamento das normas de definição do estado de qualidade da água.
Sucede todavia que tal fundamento não é acessível para grande parte dos agentes públicos e privados.
e) Uma compatibilização deficiente da dimensão garantística do direito com a necessária dimensão
público-ingerente característica do direito do ambiente
O direito do ambiente é um direito de “reacção:” é uma “resposta da ordem jurídica a várias problemáticas
ambientais e ecológicas geradas pela civilização tecno-industrial dos tempos modernos.”. Tal resposta é
ditada por um conjunto de regras de carácter predominantemente jurídico-público que restringem,
condicionam e orientam a actividade da Administração e dos utilizadores do património natural e que vêm a
redesenhar modelos de decisão pré-existentes, convocando assim dificuldades dogmáticas.
Trata-se, como se sabe, de encontrar uma forma constitucionalmente adequada de acomodar a tensão entre
uma dimensão garantística – que se exprime, por exemplo, na necessidade de protecção da confiança – e a
necessária dimensão público-ingerente característica do direito do ambiente.
Este problema coloca-se a vários níveis, sendo de referir, brevemente, os seguintes:
− A delimitação das consequências que a protecção jurídico ambiental acarreta para os direitos de uso dos
recursos hídricos (incluindo os direitos reais como o direito de propriedade) atribuídos antes do
aparecimento da nova axiologia ambiental;
− A delimitação da esfera de eficácia temporal das novas normas jurídico-ambientais que definem o
estado de qualidade dos recursos hídricos;
− A delimitação do perfil funcional dos direitos de uso dos recursos que tenham sido concedidos ao
abrigo do sistema jurídico ambiental.
transição se arrisca a permanecer por longo tempo já que não se detecta qualquer esforço no sentido da
descentralização;
− a aplicação prática da actual legislação é bastante difícil e exigente em termos da administração pública,
o que se revela particularmente preocupante pela fraqueza estrutural da administração pública em
Portugal, já que os novos sistemas de licenciamento, de colecta de taxas e de implementação dos
Conselhos de Bacia e de preparação dos planos de bacia hidrográfica são algo pesados e complexos em
termos administrativos;
− a gradual intervenção do sector privado nos serviços de abastecimento de água e de saneamento de
águas residuais exige a preparação de normas para a regulação da construção e da operação dos sistemas
respectivos.
O abandono do sistema baseado nas autoridades de bacia hidrográfica não constitui o aspecto mais negativo
do novo sistema e que existem algumas questões fundamentais cuja evolução será determinante para o
planeamento e a gestão dos recursos hídricos na próxima década:
− a eliminação das autoridades de bacia hidrográfica não é uma opção irreversível A preparação dos
planos de bacia hidrográfica, a implementação do princípio do poluidor-pagador e do
utilizador-pagador, a criação de conselhos de bacia e a necessidade crescente de gestão das bacias
hidrográficas poderão levar a ajustamentos no futuro;
− o papel destinado ao sector público e ao sector privado nos domínios da água. Sendo desde sempre parte
integrante das actividades do sector público, ainda não está suficientemente perspectivado como, nesses
domínios, se poderão harmonizar os interesses público e privado;
− fragilidades nas estruturas existentes e até em certas funções-chave como, por exemplo, na colecta de
dados hidrológicos, estando a credibilidade das novas políticas dependente de se atingir uma etapa
essencial traduzida pela melhoria das capacidades e pelo desempenho qualificado das instâncias
responsáveis pela administração da água.
b) Inexistência de uma autoridade da água
Em cerca de 80 anos, desde a criação da Administração Geral dos Serviços Hidráulicos, das sucessivas
Direcções Gerais dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, dos Serviços Hidráulicos, dos Recursos e
Aproveitamentos Hidráulicos e dos Recursos Naturais e de um primeiro INAG que, de facto, acabou por
nunca existir, até ao actual INAG, Instituto da Água, com tutelas de ministérios tão distintos como os do
Comércio e Comunicações, da Economia, das Obras Públicas, do Equipamento Social, do Plano e da
Administração do Território e de todos os que se foram reclamando do Ambiente - foram várias as tentativas
no sentido de se dotar a Administração dos meios mais adequados para se assegurar a gestão dos recursos
hídricos.
Nas atribuições dos sucessivos ministérios com a tutela do ambiente a partir do Ministério do Ambiente e
dos Recursos Naturais a primeira vez que a água, enquanto recurso, é contemplada de forma expressa e
autónoma quanto a tais atribuições genéricas relativas ao ambiente, é com a criação do Ministério do
Ambiente (alínea e) do artº 2º do Decreto-Lei nº 230/97, de 30 de Agosto):
“(...) Definir e executar uma política nacional para a água nos seus aspectos de disponibilização do recurso,
em termos de qualidade e quantidade e de controlo da poluição, tendo em atenção o quadro institucional
vigente e os instrumentos adequados para a sua gestão integrada e sustentável (...)”.
Ao Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território estão cometidas atribuições equivalentes mas
definidas de modo mais amplo (alínea c) do nº 2 do artº 1º do Decreto-Lei nº 120/2000, de 4 de Julho):
“(...) Gerir de forma global e integrada os recursos hídricos nacionais, permitindo adequar os perfis
temporais de disponibilidade e procura, nomeadamente através da definição de níveis apropriados para os
serviços de abastecimento de água e de drenagem de águas residuais, da utilização criteriosa da água para
outras finalidades, do controlo da poluição e da salvaguarda dos meios hídricos (...)”.
O INAG e as DRA (direcções regionais do ambiente, agora DRAOT - direcções regionais do ambiente e do
ordenamento do território, com o Decreto-Lei nº 120/2000, de 4 de Julho), aquele enquanto organismo sob
tutela e estas enquanto serviços regionais do Ministério, partilhavam, em termos genéricos das disposições
legais, atribuições relativamente à água não obstante às do INAG se conotarem os recursos hídricos e o
saneamento básico (Cf. nº 1 do artº 2º do Decreto-Lei nº 191/93, de 24 de Maio) e às das DRA, de forma
ampla, o ambiente e os recursos naturais (Cf. alínea a) do artº 2º do Decreto-Lei nº 190/93, de 24 de Maio).
Nenhum relacionamento transversal entre o INAG e as DRA foi previsto na Lei Orgânica daquele
Ministério, nem transparece do referido organograma; mas desde que o INAG foi criado, com o Decreto-Lei
nº 70/90, de 2 de Março, pré-existindo as DRARN desde 1986, que, na prática, quase todos os diplomas que
respeitam ao “sector água” fazem intervir um e outras.
os
Naturalmente que se poderão invocar passagens dos Decretos-Lei n 190/93 e 191/93, já atrás referidos, para
se afirmar que as leis orgânicas das DRA e do INAG contemplaram, expressamente, articulações entre os
serviços desconcentrados a nível regional e o Instituto da Água, e vice-versa; e, seguidamente, acrescentar
que não é tanto a inexistência de uma autoridade da água que deve ser posta em causa mas a não
concretização, na prática, das referidas articulações. A ser assim, a responsabilidade de tal não concretização
recairia directa, e integralmente, nas competências consagradas nas alíneas a), e) e f) do nº 3 do artº 4º do
Decreto-Lei nº 190/93.
Parecendo que o INAG disporia de um estatuto de cúpula em algumas das atribuições das DRA, o certo é
que a não definição de qualquer relacionamento transversal entre ele e as DRA tornava, na prática,
impossível concluir pela existência de uma autoridade da água que, naturalmente sob tutela do Ministro,
exercesse, de facto, as atribuições do INAG enquanto “(…) instituto responsável pela prossecução das
políticas nacionais do domínio dos recursos hídricos (…)” (Cf. nº 1 do artº 2º do Decreto-Lei nº 191/93, de
24 de Maio).
A impossibilidade que fica referida de se poder concluir pela existência de uma autoridade da água quando
se confrontam as atribuições dos órgãos, organismos e serviços do próprio Ministério com a tutela dos
recursos hídricos não diminui, antes acresce, quando se passam em revista competências de outros
ministérios com incidências directas, ou indirectas, nos recursos hídricos.
Quanto ao Ministério com a tutela da agricultura e das pescas, no Decreto-Lei nº 269/82, de 10 de Julho, com
o qual se procedeu, para além da revisão da legislação sobre política de fomento agrícola a que se já fez
referência atrás, à transferência de atribuições, relativas à execução da referida política, do Ministério com
tutela das obras públicas para o Ministério com tutela na agricultura, a então Direcção-Geral dos Recursos e
Aproveitamentos Hidráulicos passou a intervir apenas nas competências de elaboração dos estudos de
viabilidade dos projectos das obras e da construção das obras dos Grupos I (obras de interesse nacional) e II
os
(obras de interesse regional) (Cf. art 6º, 11º e 28º): isto é, na mera perspectiva da obra pública. No Decreto
Regulamentar nº 84/82, de 4 de Novembro, com o qual se fez publicar o Regulamento das Associações de
Beneficiários, aquela Direcção-Geral não é sequer citada.
No Decreto Regulamentar nº 11/97, de 30 de Abril, da lei orgânica da Direcção-Geral das Florestas (DGF), é
ao nível de uma divisão, de uma Direcção de Serviços de Caça e Pesca das Águas Interiores, que recaem as
competências da DGF na interface com os recursos hídricos.
Com o Decreto-Lei nº 136/97, de 31 de Maio, da lei orgânica do IHERA - Instituto de Hidráulica,
Engenharia Rural e Ambiente apesar do reconhecimento das competências que sobre o “(…) planeamento
nacional dos recursos hídricos (…)” recaem sobre o INAG, o mesmo diploma remete para o nível de divisão
os
as únicas referências expressas de ligação com o INAG, nos seus art 23º e 25º. E, ainda: o mesmo IHERA
elaborou o Plano Nacional de Regadios 2000-2006 e apresentou-o no CNA sem conhecimento prévio do
INAG.
Organograma
Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território
Conselho Nacional
do Ambiente e do
Ministro do Ambiente e do Conselho
Ordenamento do Território Nacional
Desenvolvimento da Água
Sustentável MAOT CNA
CNADS
Secretaria de Estado
Secretaria de Estado
do Ordenamento do Território e
do Ambiente
Instituto Conservação da Natureza
SEA Regulador de SEOTCN
Águas e Resíduos
IRAR
Direcção Geral do
Instituto de Ordenamento do Gabinete de Instituto da Centro Nacional Instituto Português
Secretaria- Direcção-Geral Inspecção-
Promoção Território Relações Gabinete Conservação de Informação de Cartografia e
-Geral do Ambiente -Geral do Ambiente
Ambiental e Desenvolvimento Internacionais Júridico da Natureza Geográfica Cadastro
SG DGA IGA
IPAMB Urbano GRI GJ INC CNIG IPPC
DGOTDU
Instituto Instituto
da dos
Água Resíduos
INAG INR
Direcção Regional do
Direcção Regional do Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento Direcção Regional do Direcção Regional do
Ambiente e Ordenamento Ambiente e Ordenamento do Território - Lisboa e Ambiente e Ordenamento Ambiente e Ordenamento
do Território - Norte do Território - Centro Vale do Tejo do Território - Alentejo do Território - Algarve
DRAOT-N DRAOT-C DRAOT-LVT DRAOT-ALT DRAOT-ALG
legitimável posição face a declarações do tipo “(...) Toda e qualquer intervenção no litoral deve enquadrar-
se numa política de protecção e valorização do ambiente, assente em princípios adequados de ordenamento
do território (...)” constantes do preâmbulo do Decreto-Lei nº 201/92, de 29 de Setembro. A extensão das
atribuições do INAG de “(...) requalificação e conservação da orla costeira (...)” com a alínea c) do nº 2 do
artº 14º do Decreto-Lei nº 120/2000, de 4 de Julho, tem necessariamente que conduzir a uma reformulação
das competências de âmbito portuário e daquelas assumidas pelo INAG para que, num contexto de coerência
e de abordagem integral, se possam vir a criar as regiões hidrográficas conforme previsto na nova Directiva-
Quadro da Água.
d) Inexistência de gestão integrada dos empreendimentos de fins múltiplos
A questão prende-se com a clarificação e articulação de responsabilidades das entidades gestoras dos
recursos hídricos, nomeadamente na gestão de empreendimentos de fins múltiplos.
Do ponto de vista legal e institucional a gestão dos empreendimentos de fins múltiplos estão completamente
omissos, sendo necessário equacionar a clarificação do regime de concessões.
e) Incipiente participação da sociedade civil
Do que ficou referido haverá de se concluir que a participação da sociedade civil é, ainda, muito incipiente,
podendo vir a revelar-se intempestiva se não se conceberem formas institucionalmente apropriadas, aliás na
sequência do que se encontra previsto na Lei das Associações de Defesa do Ambiente, Lei nº 10/87, de 4 de
Abril, já atrás referida, em que o tema água ganhe o relevo merecido no contexto do conceito amalgamante
de ambiente.
f) Limitação das acções de polícia e fiscalização
O Decreto nº 8, de 1 de Dezembro de 1892, da organização dos serviços hidráulicos e do respectivo pessoal,
ao tratar da organização dos serviços (Titulo III), estipulou, as disposições e atribuições operacionais sobre
(14)
recursos hídricos.
O Regulamento dos Serviços Hidráulicos, de 22 de Dezembro de 1892, dedica numerosos artigos ao pessoal
e, em particular, aos mestres e guardas nos termos dos quais se dá conta de que eles prestavam juramento
perante o juiz de direito da comarca onde estivessem situados os lanços ou cantões onde devessem servir, e
como tal eram, também, guardas campestres e de polícia, com o carácter de força pública, podendo andar
armados e prender em flagrante delito.
Em 1935, com a publicação do Decreto-Lei nº 26 117, em 23 de Novembro, que organizou os serviços do
Ministério das Obras Públicas e Comunicações, é introduzida a designação de guarda-
-rios (e, também, de mestres de valas) na sequência das sucessivas designações a que os mestres e os guardas
de 1892 foram sendo sujeitos.
À categoria de mestres de valas passou a corresponder a de chefe de lanço com o Decreto-Lei nº 36 315, de
31 de Maio de 1947, que reviu a orgânica interna da Direcção Geral dos Serviços Hidráulicos definida
naquele diploma de 1935.
A criação da Direcção-Geral dos Recursos e Aproveitamentos Hidráulicos pelo Decreto-Lei nº 117-D/76, de
10 de Fevereiro, em substituição da Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, que é extinta pelo mesmo
diploma, a sua integração no Ministério da Habitação, Obras Públicas e Transportes e, em seguida, pelo
Decreto-Lei nº 344-A/83, de 25 de Julho, (Lei Orgânica do IX Governo Constitucional) no Ministério do
Equipamento Social e, pelo Decreto-Lei nº 497/85, de 17 de Dezembro, (Lei Orgânica do X Governo
Constitucional) no Ministério do Planeamento e Administração do Território; a criação da Direcção-Geral
dos Recursos Naturais pelo Decreto-Lei nº 130/86, de 7 de Junho, a sua extinção no prazo máximo de um
ano contado da publicação do mesmo diploma, (Lei Orgânica do Ministério do Planeamento e Administração
do Território), a sua efectiva extinção pelo Decreto-Lei nº 246/87, de 17 de Junho e a criação do INAG pelo
Decreto-Lei nº 70/90, de 2 de março - constituiu um processo assaz complexo ao longo do qual as
referências às acções de polícia se foram desvanecendo e hoje se encontram completamente eliminadas.
Em grande número dos diplomas que respeitam ao “sector água”, em particular aqueles que estabelecem
valores limite para normas de emissão e objectivos de qualidade dos meios receptores. bem como o regime
de utilização do domínio hídrico e o respectivo regime económico e financeiro, contemplam-se acções de
fiscalização cuja execução recai, como regra, sobre o INAG e as, agora, DRAOT.
A desconformidade dos resultados obtidos com as disposições legais aplicáveis aos valores limite de normas
de emissão e objectivos de qualidade dos meios receptores, e a não generalização, se não mesmo as
excepções que constituem os casos de aplicação, dos procedimentos de autocontrole, por um lado, e o
número restrito de títulos de utilização atribuídos em conformidade com as pertinentes disposições do
Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro, e a não aplicação do respectivo regime económico e financeiro,
por outro, constituem factos que põem em evidência as limitações das acções de fiscalização.
Os quadros de pessoal ainda em vigor do INAG e das DRAOT, constantes, respectivamente, do Decreto-Lei
nº 383/77, de 10 de Setembro (quadro de pessoal da extinta Direcção-Geral dos Recursos e Aproveitamentos
Hidráulicos que se manteve, sem alterações, para a extinta Direcção-Geral dos Recursos Naturais e, por sua
vez, também sem alterações, para o INAG) e da Portaria nº 1031/95, de 23 de Agosto (quadros de pessoal
das extintas Direcções Regionais do Ambiente e Recursos Naturais que se mantiveram, sem alterações, para
as extintas Direcções Regionais do Ambiente) prevêem os seguintes números de lugares:
- para o INAG (isto é, para a extinta DGRAH e, também, para a extinta DGRN) 67 chefes de lanço (o
diploma que anteriormente havia fixado o quadro de pessoal da Direcção-Geral dos Serviços
Hidráulicos, Decreto-Lei nº 605/72, de 30 de Dezembro, extinta pelo Decreto-Lei nº 117-D/76, de 10 de
Fevereiro, contemplava 60 chefes de lanço);
- para as DRA (isto é, para as extintas DRARN), consideradas no seu conjunto, na área funcional de
fiscalização e vigilância nos domínios do ambiente, recursos naturais e património natural:
• vigilantes da natureza................................... 83
• guardas da natureza ...................................... 334
destes últimos sendo 270 expressamente a extinguir quando vagarem.
Fica patente uma opção que foi adoptada, em 1977, de não se reforçarem as capacidades de fiscalização e de
polícia no contexto dos serviços hidráulicos e, em 1995, de se reduzirem drasticamente os lugares de quadro
das direcções regionais do ambiente com funções de fiscalização.
g) Insuficiências em meios humanos
As atribuições e competências específicas de alguns serviços e organismos do Ministério com tutela do
ambiente, muito em particular das DRAOT e do INAG são vastíssimas e multi-facetadas, conforme se
referiu. A sua concretização eficiente e a tempo implicariam meios humanos e materiais mais poderosos dos
que têm vindo a dispor tais serviços e organismos desde há anos (provavelmente desde as respectivas
criações).
Àparte a dimensão de tais meios seria necessário que a própria concepção de alguns diplomas fosse menos
complicada no que respeita à articulação entre as atribuições conferidas aos mesmos serviços e organismos
do ministério e até de outros ministérios.
Em conformidade com o Anuário 98 do Ministério do Ambiente os recursos humanos do INAG e das
direcções regionais do ambiente mais de 50% de todo o pessoal não tinha mais do que o 9º ano, ou
equivalente, de habilitações escolares e apenas cerca de 1/4 tinha habilitações iguais ou superiores a bacharel.
Confrontando os efectivos com os lugares previstos nos quadros de pessoal das mesmas entidades, revela-se
que estão preenchidos apenas em parte: não mais do que, no total, 45%, sendo a situação mais gravosa a da
DRA Algarve com apenas 39%.
O que fica referido não constitui mais do que um conjunto de indicadores, importando, sobremaneira, apurar
o seu significado, da insuficiência dos recursos humanos.
3. RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS
3.1. Introdução
Tomemos as palavras que iniciam o capítulo do Libro Blanco del Agua1 de Espanha (LBAE) sobre a
cooperação com Portugal e que expressam “... de fundamental importância para Espanha são as relações
com Portugal em matéria de recursos hídricos, relações que se vêm desenvolvendo num contexto de
coordenação e colaboração mútua, compatível com a defesa dos legítimos interesses respectivos.
O desenvolvimento destas relações está condicionado, obviamente, pelo quadro geográfico, as
características hidrológicas das bacias fluviais partilhadas – bacias hidrográficas dos rios Minho, Lima,
Douro, Tejo e Guadiana –, do direito comunitário e internacional vigente entre as partes, e os acordos
bilaterais específicos”.
Subscrevendo estas palavras, neste capítulo concluímos que só através da cooperação luso-espanhola é
possível obter eficácia das medidas que o processo de planeamento de que este Plano Nacional da Água é
parte integrante, venha a propôr.
As relações formais entre Portugal e Espanha sobre matérias relativas aos recursos hídricos são suportadas
por diversos documentos de inquestionável mérito que percorrem os dois últimos séculos. O conteúdo e
alcance destes documentos correspondem a problemáticas de distinta natureza e reflectem com muita
aproximação o tipo de preocupações bilaterais em cada época.
Podem, assim, ser identificados três períodos em torno das datas dos documentos de referenciação e que são:
o Tratado dos Limites de 1864; os Convénios de 1927, 1964 e 1968 e a Convenção de 98.
Para além da análise do conteúdo, alcance e concretização dos desígnios destes documentos, serão ainda
diagnosticados os problemas remanescentes, as dificuldades da sua aplicação, bem como os desafios que
ainda colocam, procurando relacionar os problemas identificados com as respectivas causas.
Todavia, as relações luso-espanholas não se esgotam nos eventos formais ao abrigo das Convenções e
Tratados, elas têm evoluído em trocas e interlocuções mais ou menos informais protagonizadas pelos
organismos homólogos de ambos os países e pela participação em iniciativas técnico-científicas e projectos
promovidos de ambos os lados da fronteira, muitas vezes patrocinados pelos mecanismos financeiros da
União Europeia e ao que se fará referência na medida do conhecimento das problemáticas dos recursos
hídricos que potenciam.
1
Libro Blanco del Agua em España, Ministerio de Medio Ambiente. Dezembro de 1998.
1/24 (3 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS
Em termos relativos, as superfícies das bacias hidrográficas luso-espanholas representam 64% e 42% dos
territórios peninsulares de cada um dos países, considerando para estes as áreas de 89.000 km2 e 492.000
km2. Estas percentagens assumem todo o seu significado se tivermos em conta que bastantes actuações
significativas no território destas bacias hidrográficas tem implicações nos recursos hídricos e que estes
pertencem a bacias hidrográficas internacionais cuja disciplina de gestão não se confina apenas às políticas
de recursos hídricos internas de cada país, estando, por isso, disciplinadas por Convenções internacionais,
europeias e bilaterais.
3.3. Recursos Hídricos Naturais e Utilizações das Bacias e dos Aquíferos Internacionais
A água tem tido ao longo dos tempos um papel determinante na dinâmica de povoamento da Península
Ibérica, não fosse ela um recurso essencial à vida e às actividades humanas. Por isso, a disponibilidade de
recursos naturais em abundância está desde sempre associada à presença humana e, no caso especial da água,
à sua utilização para diversos fins. A medida da abundância ou escassez determinam a necessidade de
apropriação e disciplina do acesso ao recurso, quer se trate de populações próximas quer distantes. É a
necessidade de disciplina no processo concorrencial de apropriação e acesso aos recursos hídricos, no
passado e presente e de precaução em relação ao futuro, que justificam a existência das Administrações dos
recursos hídricos que, para o exercício da sua acção, devem avaliar as disponibilidades e as utilizações
compatíveis com a natureza renovável e funções dos recursos hídricos.
No âmbito das relações luso-espanholas faria sentido caracterizar e analisar apenas o que acontece nas bacias
hidrográficas partilhadas se e só os fluxos hídricos nelas se confinassem. Porém, tanto em Espanha como em
Portugal estes fluxos extravasam os limites das bacias hidrográficas, tornando-se, por isso, necessário
perceber o que se passa nas bacias hidrográficas conexas com as bacias partilhadas e que justificam estas
relações.
No que se refere aos recursos em regime natural, dada a natureza do presente documento, interessa
sobretudo, conhecer os seus valores em termos médios anuais e as características dos episódios extremos que
têm implicações nas comunidades que com eles interactuam.
Os recursos hídricos superficiais, em valor médio anual, gerados nas bacias hidrográficas luso-espanholas
ascendem a 63.100 hm3 e representam cerca de 45% dos recursos hídricos superficiais gerados na Península
Ibérica e que atingem os 140.500 hm3, conforme Quadro 3.3.1.
Tendo presente os valores da precipitação média anual em Portugal e Espanha, que atingem valores de
77.500 hm3 e 341.400 hm3, respectivamente, num total de 418.900 hm3, facilmente se conclui que apenas
33%, ou seja um terço, da água com origem nas chuvas se escoa pelas linhas de água dos dois países,
conduzindo as relações escoamento/precipitação a valores de 39% e 32% em Portugal e Espanha,
respectivamente. A quantidade restante incorpora-se nas disponibilidades subterrâneas ou no ciclo da
evapotranspiração das plantas ou é evaporada pelas massas de água superficiais, quer armazenada, quer em
circulação.
No conjunto das cinco bacias luso-espanholas os valores da precipitação média anual atingem os 192.900
hm3, dos quais 52.000 hm3 em Portugal e 140.900 hm3 em Espanha. As relações entre os escoamentos e as
precipitações médias anuais conduzem a valores de 33% no conjunto das cinco bacias luso-espanholas,
sendo de 39% na parte portuguesa e 30% na parte espanhola.
Quadro 3.3.1 - Recursos Hídricos Superficiais e Subterrâneos Gerados nas Bacias Hidrográficas
Luso-Espanholas e Totais Nacionais (Valores médios anuais)
Bacia Totais (hm3)
Portugal (hm3) Espanha (hm3)
Hidrográfica Portugal + Espanha
Subterrâneas Superficiais Subterrâneas Total Total
Luso-Espanholas Superficiais (1)
(2) Total (3) (4)
Superficiais Subterrâneas
Portugal – B. Hidrog.
10.100 1.800 11.900 - - - - - 11.900
Internas
Espanha – B. Hidrog.
- - - 67.300 19.700 87.000 - - 87.000
Internas
TOTAL Península 30.400 6.000 36.400 110.100 28.700 138.800 140.500 34.700 175.200
(1) Avaliação de base mensal para o período de 1940/41 a 1990/91.
(2) Valores da Síntese dos PBH Internacionais – Outubro 2000.
(3) Valores do Livro Branco da Água de Espanha. Avaliação de base mensal para o período de 1940/41 a 1995/96.
Os recursos hídricos subterrâneos nas bacias luso-espanholas atingem, em média anual, os 13.200 hm3, não
existindo sistemas aquíferos significativos repartidos pelos dois países. As disponibilidades naturais nos
aquíferos portugueses e espanhóis, que de algum modo se consideram afectos às bacias hidrográficas
3/24 (3 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS
luso-espanholas, atingem valores médios anuais de 4.200 hm3 e 9.000 hm3, respectivamente. Adicionados
estes valores aos dos recursos superficiais atingem-se os valores totais no conjunto das áreas das bacias
hidrográficas luso-espanholas de 76.300 hm3.
Os valores médios anuais das disponibilidades dos recursos hídricos naturais, no conjunto de águas
superficiais e subterrâneas, em Portugal e Espanha na totalidade das respectivas áreas territoriais, atingem os
36.400 hm3 e 138.800 hm3, num total de 175.200 hm3.
Resumidamente, as utilizações mais penalizantes do regime natural dos sistemas hidrográficos e aquíferos
podem considerar-se as que se destinam à agricultura, indústria, produção de energia e abastecimento às
populações, quer em termos de consumo, quer em termos de alterações do regime de caudais.
Para estas quatro utilizações apresentam-se no Quadro 3.3.2 os valores correspondentes aos consumos
médios anuais, em que à designação por “Outras” correspondem utilizações associadas às transferências,
uma vez que estas são em muitos casos de fins múltiplos.
Na Figura 3.3.1 apresentam-se de forma agregada as disponibilidades em regime natural e utilizações em
cada uma das partes das bacias hidrográficas luso-espanholas em valores médios anuais.
Quadro 3.3.2 - Utilizações de Água Médias Anuais Actuais nas Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas e Totais
Nacionais (m3)
Utilizações
Bacias Total 1 Total 2
Produção (3) Abastecimento Outras (5) Incluindo Excluindo
Hidrográficas Regadio (1) Indústria (2)
Urbano (4)
Energia Eléctrica Perdas/Ganhos Produção Produção
Hidroeléctrica Hidroeléctrica
Portugal 80 0 (0,1) (190)-0 4 (a) 0 274 84
Minho Espanha 430 30 (?)-30 80 0 (?) 570
Total 560 30 (?)-30 84 0 (?) 1.460
Portugal 160 10 (2.555)-0 7 (b) 0 367 177
Lima Espanha 50 (?) (?) -0 (?) 0 (?) (?)
Total 160 10 (?)-0 (?) 0 (?) (?)
Portugal 1.370 40 (65.640)-90 100 (c) - 90/+0 4.110 1.690
Douro Espanha 3.600 10 (?) –30 210 -10/+0 (?) 3.860
Total 4.970 50 (?)-120 310 -100/+0 (?) 5.550
Portugal 2.020 140 (8.470)-480 190 (d) -40/+100 3.270 2.810
Tejo Espanha 1.880 30 (?)-1.400 770 -320/+0 (?) 4.400
Total 3.900 170 (?)-1880 960 -360/+100 (?) 7.210
Portugal 400 0 (3,2) (0)-0 12 (e) -30/+2 415 440
(6)
Guadiana Espanha 2.280 50 (?)-5 120 -230 /+20 (?) 2.685
Total 2.680 50 (?)-5 130 -280/+22 (?) 3.120
Portugal 4.030 190 (76.855)-570 310 -160/+102 8.430 5.200
TOTAL Espanha 8.240 120 (?)-1.470 1.180 -560/+20 (?) 11.570
Total 12.270 310 (?)-2.040 1.490 -720/+122 (?) 16.770
Da análise conjugada dos valores globais e nacionais dos quadros 3.2 e 3.3 concluir-se-á que as utilizações
3 3
actuais (excluindo a produção de energia hidroeléctrica) em valores médios anuais de 43.440 hm , 8.850 hm
3
e 34.590 hm , respectivamente, do conjunto dos dois países ibéricos, de Portugal e de Espanha, representam
cerca de 25%, 24% e 25% dos recursos superficiais e subterrâneas totais não regularizados.
Todavia, esta situação, aparentemente confortável, deve ser observada com prudência uma vez que as
maiores utilizações em Portugal se concentram nas bacias hidrográfica internacionais, representando no
Douro 16%, no Tejo 32% e no Guadiana 20% das respectivas disponibilidades médias anuais.
5/24 (3 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS
Portugal - B.H.
6.490 18.800 1.990 8.070 - - - - - - - -
Internas
Espanha - B.H.
- - - - (?) (?) (?) (?) - - - -
Internas
TOTAL
20.700 56.800 6.500 23.900 (?) (?) (?) (?) (?) (?) (?) (?)
PENINSULAR
(1) LBAE; (2) PHNE 1993; (3), (6) Secção do rio Caia; (4) Secção de Frieira; (5) Secção Pt. Pino.
Idêntica análise poder-se-ia efectuar para a parte espanhola e para a totalidade das bacias hidrográficas se
estivessem disponíveis idênticos valores para esses âmbitos territoriais.
A irregularidade temporal das disponibilidades de recursos hídricas, tem motivado em ambos os lados da
fronteira o recurso à solução de construir barragens que permitam armazenar águas na época de chuvas e nos
anos húmidos para utilizar nas épocas estivais e para suprir os déficites da sucessão de anos secos.
É por isso que, para responder às necessidades decorrentes do modelo de desenvolvimento e povoamento das
últimas décadas, se tem assistido ao crescimento exponencial na construção de barragens e consequente
subida da capacidade de armazenamento, implicando a consequente modificação do regime natural dos rios
das bacias luso-espanholas, como é bem expressivo na Figura 3.4.1.
O número de barragens e respectivas albufeiras aumentou de 25 para 147, ou seja cerca de 6 vezes, em
Portugal e de 270 para 1.130, ou seja cerca de 4,2 vezes, em Espanha nos últimos 50 anos, no que se refere a
barragens de dimensão e capacidade de armazenamento significativas.
Em termos de capacidade de armazenamento a evolução homologa foi de 370 hm3 para 7.710 hm3 em
Portugal (≈ 20,8 vezes) e de 6.600 hm3 para 56.060 hm3 (≈ 9,3 vezes).
Além dos efeitos das albufeiras deve-se ter em atenção a amplificação que as transferências de água
introduzem no regime de caudais, entre outros aspectos. As transferências de água entre unidades territoriais
naturais diferentes, não sendo novidade em ambos os países, assumem já uma significativa expressão,
conforme o Quadro 3.3.2 e a Figura 3.4.2.
Portugal Espan ha
9000 160
60000 1200
40
2000
10000 200
1000 20
0 0 0 0
1 90 0 1910 1 92 0 1930 1 94 0 1950 1 96 0 1970 1 98 0 1 9 90 20 0 0 1 9 00 19 1 0 1 9 20 19 3 0 1 9 40 19 5 0 1 9 60 19 7 0 1 9 80 1990
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS
Quadro 3.4.2 – Número de Albufeiras e Capacidade de Armazenamento Instalada nas Bacias Hidrográficas
Luso-Espanholas (hm3)
Estes valores revelam uma realidade que, para além dos efeitos sócio-económicos, tem repercussões
ambientais significativas ainda por quantificar. Os benefícios que a grande capacidade de armazenamento
pode trazer, quando localizada a montante de grandes utilizações e de valores ambientais importantes, como
é o caso do rio Tejo, em que a gestão coordenada das albufeiras espanholas e portuguesas realizada durante a
ocorrência de cheias em Portugal em Dezembro de 1995 e Janeiro de 1996, é um bom exemplo, reduzindo
significativamente os fluxos das inundações e os respectivos danos que poderiam ter ocorrido em Portugal
em circunstâncias naturais, podem estar longe de compensar o agravamento do número de anos sucessivos
de seca e da sua severidade, como aconteceu no rio Guadiana na primeira metade da década de 90.
60000
50000
Capacidade de Armazenamento (hm )
3
40000 P ortugal
Espa nha
30000
20000
10000
0
M in ho Lim a D o ur o T e jo G ua d ia n a B a c ia s Lu s o - To t al
E s p a nho la s N a c io n a l
B aci as Lu s o-Espan h ol as
Figura 3.4.3 - Capacidade de Armazenamento nas Albufeiras das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas e
Totais Nacionais (hm3)
O aumento da regulação dos fluxos naturais dos rios luso-espanhóis, nos quais se integram algumas das
maiores transferências de água entre bacias hidrográficas, tem como consequências: i) redução global dos
caudais dos rios; ii) modificação do regime natural dos rios; iii) aumento da severidade e frequência de anos
de seca e de duração da sucessão de anos de seca; iv) alteração da qualidade natural das águas; v) retenção de
sedimentos e redução da distribuição de sedimentos.
A realidade está bem patente na Figura 3.4.4 e no Quadro 3.4.3, e demonstram que a frequência da sucessão
de anos secos tem vindo a aumentar no caso do Guadiana, a que não é alheio o facto da taxa de regularização
instalada em Espanha ser a mais elevada das cinco bacias hidrográficas Luso-Espanholas.
Quadro 3.4.3 - Recursos Hídricos Superficiais Médios Anuais e Capacidade de Armazenamento em Albufeiras
Instaladas nas Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas e Totais Nacionais (hm3)
Capacidade de Armazenamento
Escoamentos Médios Anuais
Bacias Hidrográficas em Albufeiras
(hm3)
Luso-Espanholas (hm3)
Portugal Espanha Total Portugal Espanha Total
Minho 1.000 11.100 12.100 0,20 2.880 2.880
Lima 2.000 1.600 3.600 400 170 570
Douro 9.200 13.700 22.900 1.080 7.670 8.750
Tejo 6.200 10.900 17.100 2.750 11.140 13.890
Guadiana 1.900 5.500 7.200 460 9.220 9.680
Total 20.300 42.800 62.900 4.690 31.080 35.770
0.3 0.4
0.35
0.25
0.3
0.2
0.25
Frequência Frequência
0.15 0.2
0.15
0.1
0.1
0.05
0.05
0 0
600 1800 3000 4200 5400 600 1800 3000 4200 5400
Figura 3.4.4 - Regime Modificado dos Caudais Médios Anuais no Rio Guadiana à entrada em Portugal
Estes dados permitem concluir que existe uma capacidade específica de armazenamento no conjunto dos
dois países de 0,11 hm3/km2, em Portugal de 0,09 hm3/km2 e em Espanha de 0.11 hm3/km2. Nas bacias
hidrográficas luso-espanholas essa capacidade é de 0,14 hm3/km2, com 0,08 hm3/km2 na parte portuguesa e
0,15 hm3/km2 na parte espanhola, com destaque para o rio Guadiana com 0,17 hm3/km2 na parte espanhola da
bacia hidrográfica.
No que se refere à qualidade das águas nas bacias hidrográficas luso-espanholas, a avaliação das cargas
poluentes que afluem às águas superficiais e subterrâneas, encontra-se ainda muito incompleta. Na parte
portuguesa das bacias hidrográficas luso-espanholas os dados disponíveis permitem-nos preencher apenas
parte do Quadro 3.4.4, referente a um conjunto de parâmetros significativos. Na parte espanhola das bacias
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS
os documentos actuais disponíveis (PHNE 1993, Planos de Cuenca, Plan Nacional de Depuration 1996,
Libro Blanco del Agua 1998, PHNE 2000) não apresentam os correspondentes valores. Os dados obtidos nas
estações de fronteira da Rede de Qualidade da Água apresentados não são comparáveis aos das cargas
geradas e afluentes na totalidade das bacias hidrográficas dado que resultam de processos de depuração
natural dos meios hídricos.
Quadro 3.4.4 - Cargas Geradas e Afluentes Médias Anuais nas
Bacias Hidrográficas Luso-espanholas e Totais Nacionais (ton/ano)
CBO5
CBO5
SST
SST
SST
N
N
P
P
CBO5 SST N P
-Espanholas
Minho 1930 2790 280 80 1420 2030 280 80 8910 55660 5320 880
Douro 54560 84460 6720 2020 44250 63810 6710 2010 19340 44670 270 980
Tejo 120560 166300 11160 3350 60560 58750 11160 3350 11350 567700 1820 730
Guadiana 13600 18140 760 230 5220 7340 750 220 14900 45410 2820 740
Estas cargas são responsáveis pelo estado actual da qualidade das massas de água das bacias luso-espanholas
que, sendo preocupante, constitui um problema que urge resolver. As causas deste estado de qualidade têm
três grandes origens de natureza pontual: águas residuais urbanas; águas residuais industriais e águas
residuais agro-pecuárias. Além disso, a poluição de origem difusa constitui outra causa não menos
importante, mais difícil de controlar e exigindo outro tipo de medidas.
Recursos Hídricos do Algarve e do Baixo Mondego, aos quais se deve juntar o planeamento hidroeléctrico
levado a cabo pela Electricidade de Portugal.
Contudo, a natureza do planeamento destes estudos foi muito marcada pela necessidade do fomento e por
uma perspectiva de desenvolvimento sócio-económico de base territorial assente nos recursos naturais
disponíveis.
As preocupações de planeamento de natureza integrada emergem com maior destaque no final da década dos
anos 80, início da década de 90, acompanhadas de alterações institucionais profundas que ainda hoje marcam
o funcionamento da administração dos recursos hídricos em Portugal. Emergem desta nova situação a
elaboração de Planos de Recursos Hídricos dos Rios Vouga e Lima e a inclusão no quadro jurídico nacional
do conceito de bacia hidrográfica como unidade de gestão dos recursos hídricos por excelência, abrangendo
todas as suas vertentes sócio-económicas, culturais e internacionais, e a obrigatoriedade de elaboração de
Planos de Bacia Hidrográfica e de um Plano Nacional da Água.
O actual quadro legal de elaboração e aprovação dos Planos de Bacia Hidrográfica (PBH) e do Plano
Nacional da Água (PNA) está definido no DL 45/94 de 22 de Fevereiro no qual é estabelecido que compete
ao Instituto da Água a elaboração dos PBH dos rios Minho, Douro, Tejo e Guadiana e do PNA e às DRAOT
a elaboração dos restantes PBH. Nos termos deste diploma competirá ao Governo a aprovação dos PBH e
PNA depois de apreciados nos Conselhos de Bacia e no Conselho Nacional da Água.
Em Espanha a actividade de planeamento há muito que faz parte das práticas da administração dos recursos
hídricos. Embora o Plano Nacional de Obras Hidráulicas de 1902 possa ser classificado, por alguns, como
um mero rol de obras hidráulicas no qual o conceito de integração não é preocupação, já o mesmo não se
poderá referir a propósito do Plano de 1933, ao qual está associado o nome de Lorenzo Pardo, onde é patente
uma visão global de todo o território espanhol e dos seus desequilíbrios naturais em termos de recursos
hídrico
Em termos jurídicos o enquadramento da actividade de planeamento nos moldes actuais tem os seus
primeiros avanços no RD 3029/1979 de 7 de Dezembro e mais recentemente na Lei de Águas de 1985. Nela
é fixado o actual quadro legal de elaboração e aprovação dos planos de bacia elaborados pelas
Confederações Hidrográficas e aprovados pelo Governo e do Plano Hidrológico Nacional elaborado pela
Direcção Geral de Obras Hidráulicas e Qualidade das Águas e aprovado pelas Cortes depois de ouvido o
Conselho Nacional da Água de Espanha.
Apesar das diferenças entre os percursos que os dois países ibéricos tem seguido quanto à estrutura
administrativa de planeamento e gestão dos recursos hídricos, os avanços técnicos e científicos de tratamento
das matérias sobre os recursos hídricos tem caminhado em grande sintonia. Contudo, e pese embora a grande
diferença de extensão territorial dos dois países, em ambos quase coincide o número de espaços territoriais
de planeamento de recursos hídricos, 17 em Portugal (15 no Continente, Açores e Madeira) e 16 em Espanha
(14 no Continente, Baleares e Canárias). A maior diversidade do espaço português e o maior número de
bacias hidrográficas de média dimensão parece ter estado na opção por um número tão elevado de unidades
de planeamento mas o que de facto pesou nessa opção foi o desígnio de acentuar a necessidade do respeito
pelos limites de bacia hidrográfica como o espaço a que, por princípio, deveria estar sujeito o planeamento
de recursos hídricos.
Assim, o DL 45/94 de 22 de Fevereiro estabelece a elaboração de 15 Planos de Bacia Hidrográfica (PBH) e
do Plano Nacional da Água (PNA).
Como as competências em matérias de assuntos internacionais relativos aos recursos hídricos estão
atribuídos ao Instituto da Água (INAG) foi-lhe cometida a tarefa de elaboração dos PBH das bacias
hidrográficas internacionais e do PNA. No caso do rio Lima, essa incumbência foi cometida à DRAOT.
Na Figura 3.5.1 pode observar-se como os limites das unidades de planeamento se afastam bastante dos
limites das áreas territoriais de intervenção da DRAOT.
Nos termos do DL 45/94 o PNA conterá uma proposta de medidas e acções que incluirá entre outras, "as
medidas necessárias à articulação com Espanha do planeamento e gestão dos cursos de água
internacionais".
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS
No que a Espanha se refere o processo de planeamento é uma actividade permanente desde há muitos anos,
como atrás se apresentou, e é exercida na produção dos Planos de Bacia em duas etapas: primeiro são
elaborados e aprovadas Directrizes dos Planos e só depois são elaborados e aprovados os Planos de Bacia
seguindo os preceitos estabelecidos na primeira etapa.
Os Planos de Bacia espanhóis apesar de iniciados nos finais dos anos 80 apenas ficaram concluídos em 1997
com a apresentação pelo meio do Plano Hidrológico Nacional de Espanha (PHNE) em 1993 que suscitou
duras reacções, não apenas da parte de Portugal, como internamente em Espanha.
Na sequência das alterações políticas em Espanha ocorridas em 1996 a proposta de 1993 do PHNE foi
abandonada tendo sido decidido elaborar um Livro Branco da Água de Espanha de modo a recolocar
algumas questões centrais que não tinham sido suficientemente aprofundadas até então, designadamente as
questões relativas aos regadios, às águas subterrâneas, aos aspectos económicos, ambientais e à
disponibilização de informações e dados de base ao público em geral.
A etapa mais recente de planeamento, para além da conclusão e divulgação do Livro Branco da Água, foi a
apresentação de novo PHNE quase exclusivamente dedicado às transferências de água entre bacias
hidrográficas e seus impactes económicos e ambientais. Para além das transferências é dada uma atenção
muito particular aos sistemas aquíferos e seus recursos.
Pelo exposto se compreende que as propostas emergentes do exercício do planeamento devem reflectir os
resultados do processo de participação e de auscultação da opinião pública e das populações sobre as quais,
em última instância, para o bem e para o mal, incidirão as medidas programadas.
Como a maior parte do território nacional português (64%) está abrangido por bacias hidrográficas
luso-espanholas é evidente a necessidade de coordenação das propostas de ambos os lados da fronteira, tendo
em consideração os termos da Convenção de 98 e dos Convénios de 1964 e 1968 e o Tratado de Limites de
1864 cujo anexo versa exclusivamente sobre matérias de recursos hídricos, os quais se passam analisar nos
capítulos seguintes.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS
Porém, a simplicidade desta extensão do Tratado não foi seguida nos Convénios posteriores que
abandonaram o principio da repartição de caudais e passaram para a repartição de desníveis com as
consequências que daí advieram quando se instalaram os sistemas hidráulicos reversíveis.
A questão mais controversa deste Convénio é precisamente a relativa às derivações previstas na alínea m) do
artigo 2º no que se refere ao troço internacional do rio Douro, nela se estipulando as limitações prevista no
Convénio de 1927 acrescida da condição “...salvo quando essas derivações sejam praticadas por um dos
Estados na zona que lhe está atribuída e respeitem os caudais disponíveis,..., com restituição na própria
zona em que a derivação se leva a efeito, ou quando aquelas derivações respeitem os caudais, sobrantes...”.
A alínea b) do Protocolo Adicional procura definir o que são caudais disponíveis e caudais sobrantes e
regime temporal das derivações e restituições.
No final da alínea m) do artigo 2º ficou convencionado que “Não haverá lugar a compensação alguma para
Portugal pelos caudais que se retirem à bacia do Tua por derivação que a Espanha efectue dentro do seu
território”. Sabemos hoje que o projecto espanhol pretende desviar por meio de túnel as águas das cabeceiras
dos rios Tuela e Rabaçal para a albufeira de Las Portas existente nas cabeceiras do rio Minho.
Os mecanismos de avaliação e troca de informação foi uma matéria que ficou em aberta e que tornou
controversa a avaliação dos incumprimentos, sobretudo em períodos longos de caudais reduzidos. Note-se
que no leito principal do rio Douro em território português se encontra instalada o maior parque
hidroeléctrico português.
Neste Convénio são reforçados e consolidados os âmbitos de actuação da Comissão Internacional que se
passou a designar por Comissão Internacional Luso-Espanhola para Regular o Aproveitamento
Hidroeléctrico dos Troços e corrige a questão dos limites de jurisdição nas áreas das albufeiras que o
Convénio de 1927 tinha estabelecido como equidistante das margens contrariando o princípio do artigo 18º
do Tratado de 1864. Esta comissão também adquiriu poderes para propor a revisão do Convénio.
Porque os restantes troços fronteiriços dos afluentes do Douro não apresentavam na altura interesse
hidroeléctrico ficou o seu uso por disciplinar, designadamente as cabeceiras dos troços fronteiriços dos rios
Tâmega, Maçãs, Sabor e Angueira, tendo, contudo, os problemas relativos aos recursos hídricos vindo a ser
tratadas pela mesma Comissão, embora suscitando algumas dúvidas quanto à sua competência sobre
assuntos referentes a troços não expressamente convencionados.
O direito de Portugal utilizar um desnível de 50 m do rio Arzoá a partir da sua foz no troço internacional do
rio Mente, que era válido por 15 anos e que fora prorrogado por outros 15 em 1987 em sede de Comissão,
caducou em 1994.
O interesse no alargamento do aproveitamento mútuo dos troços fronteiriços de rios luso-espanhóis veio a
regularizar-se em 1968 com a assinatura do novo Convénio em que mais uma vez são repartidos os
potenciais hidroeléctricos com excepção do troço do rio Guadiana atribuído a Portugal e do rio Chança
atribuído a Espanha. Neste é estabelecido que “para a execução de planos oficiais de regadios ou de
abastecimento de água a povoações, cada Estado terá direito a desviar os caudais que corram pelos troços
cujo o aproveitamento lhe é atribuído...”.
São apenas contemplados alguns dos troços dos rios Tejo, Lima, Minho e Guadiana que englobam não só os
troços fronteiriços mas também os troços nacionais dos afluentes necessários à instalação das albufeiras
criadas pelas barragens a construir nos leitos fronteiriços ou em território de cada país (caso de Alqueva).
Neste Convénio o potencial hidroeléctrico do rio Minho foi utilizado para o fecho equilibrado da repartição.
O maior problema deste Convénio é gerado pelo facto das avaliações técnicas do potencial hidroeléctrico não
fazerem parte integrante do seu texto e não terem sido repartidos os potenciais hidroeléctricos troço a troço o
que vincularia o aproveitamento de cada troço aos dois países e assim ficariam sujeitos às mesmas vantagens
e inconvenientes das alterações de caudais que a montante se viessem a realizar.
Outro problema é o facto da repartição se basear em series de caudais anuais registados num período
relativamente curto e não ter sido estabelecido a obrigatoriedade de avaliação periódica desses valores e os
limites dos volume das utilizações a montante não terem ficado fixados.
Deste Convénio ainda não foram concluídos os aproveitamentos de Alqueva, no rio Guadiana, e de Sela, no
rio Minho. Este aproveitamento foi sujeito a processo de Avaliação de Impacto Ambiental que ainda está
pendente de decisão bilateral, mas tudo indica que o troço fronteiriço do rio Minho se mantém como reserva
integral, o que de natural ainda lhe resta para fins ambientais e ecológicos.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS
Ao mesmo tempo a Convenção fixa um quadro de referência com o qual são confrontados os projectos de
novas utilizações de toda a natureza situadas a montante das secções especificadas, com vantagens para
ambas as Partes, deixando no entanto às Administrações Hidráulicas grande latitude para o exercício
independente das suas competências. Esse regime parece de fácil verificação, o que se considera essencial
para a boa gestão futura do Direito convencionado, sem no entanto desvalorizar:
i) A necessidade de coordenação entre as duas Partes contratantes a nível do planeamento de
recursos hídricos para as bacias compartilhadas, na linha do proposto na directiva que
estabelece um quadro de acção comunitária no domínio da política da água;
ii) A necessidade de consulta prévia entre as Partes para os projectos de alguma envergadura a
realizar nas bacias compartilhadas;
iii) A necessidade de avaliação das incidências ambientais dos grandes projectos com possíveis
impactes transfronteiriços.
Relativamente a outras matérias, como sejam as da coordenação das actuações em situações hidrológicas
extremas e em caso de incidentes de poluição ambiental, do instituto da consulta e da informação, criou-se
um quadro operacional que, sem ficar aquém do mais moderno Direito internacional nesta matéria, incorpora
a experiência mais recente da colaboração bilateral já referida.
A Convenção prevê uma solução institucional diferente para as questões de natureza política e diplomática e
para as questões de natureza técnica (jurídicas e de engenharia) que se colocam na cooperação entre as duas
Partes. Neste sentido, a Convenção prevê, para as primeiras, a figura de Conferência das Partes e, para as
segundas, a figura da Comissão Internacional, que sucede nas competências à Comissão dos Rios
Internacionais.
A Convenção de 98 veio extinguir a anterior Comissão e criar a nova Comissão para a Aplicação e o
Desenvolvimento da Convenção (CADC), mas não substitui os anteriores Convénios de 1964 e 1968 na
medida em que estes não colidam com a aplicação da nova Convenção.
A vigência desta Convenção é de sete anos e prorrogável automaticamente por períodos de três anos. No seu
Anexo I são estabelecidas as matérias sobre as quais, devem ser permutados registos, bases de dados e
estudos, que num prazo de cinco anos devem ser homogéneos e comparáveis, e identificados as substâncias
poluentes prioritárias.
No seu anexo II são definidas as condições que determinam a necessidade de avaliação de impacte
transfronteiriço e as acções consequentes.
O nº 5 do artigo 16º da Convenção define o carácter provisório do regime de caudais a que ficam sujeitos os
rios Minho, Douro, Tejo e Guadiana remetendo para o seu Protocolo Adicional a determinação deste regime
e o seu anexo remete para revisão destes regimes: no caso do Douro quando estejam esclarecidas as
discrepâncias observadas nos registos de caudais nas secções de Miranda, Sernancelhe e Pocinho; no
Guadiana quadro estejam disponíveis os estudos sobre a situação ambiental do estuário do Guadiana e para
todos os restantes rios internacionais antes da aprovação de qualquer novo projecto de aproveitamento dos
seus troços fronteiriços, ou troços fronteiriços dos seus afluentes. Neste anexo é dada prioridade ao estudo do
troço internacional dos rios Guadiana a jusante da secção do Pomarão e do rio Erges. Nos termos do artigo
28º da Convenção é definido um prazo de dois anos prorrogável para realizar os estudos necessários ao
aproveitamento sustentável dos recursos hídricos dos troços fronteiriços não contemplados nos Convénios de
1964 e 1968.
Também os valores médios considerados, que se referem ao período de registos compreendidos entre
1945/46 e 1996/97, serão actualizados cada cinco anos.
A cooperação visada pela Convenção de 98 é assegurada pelos seguintes orgãos:
Conferência das Partes – Composta por representantes indicados pelos Governos
– Presidida por Ministro de cada Estado ou substituto
– Competência para resolver questões de desacordo na Comissão
Comissão – Composição – Delegações composta por nº de delegados a decidir
– Competências - As previstas na Convenção
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS
de Helsínquia. É assim que se evolui para modelos conceptuais integrando a noção de que as regiões de
jusante são mais vulneráveis que as de montante dentro de uma mesma bacia hidrográfica.
No quadro seguinte apresentam-se os acordos bilaterais celebrados entre Portugal e Espanha em matéria de
recursos hídricos onde é patente a evolução dos conceitos e fundamentos em que foram baseados.
Tratado de Limites 1864 Fronteira internacional Define a fronteira entre Portugal e Espanha desde a foz do
rio Minho até à confluência do rio Caia com o Guadiana.
Regulamento relativo aos rios 1866 Rios que fazem Estabelece que os rios servem de fronteira pertencem a
fronteiriços (Anexo I do fronteira entre Portugal ambas as Nações pela metade das respectivas correntes. As
Tratado de Limites) e Espanha obras a realizar nesses rios estão sujeitas a licença de ambos
os países.
Notas trocadas entre os 1912 Aproveitamento Estabelece que Portugal e Espanha têm os mesmos direitos
Governos de Espanha e industrial das águas dos nos lanços dos rios fronteiriços e, em consequência,
Portugal rios limítrofes poderem dispor de metade do caudal de água nas diversas
épocas do ano.
Convénio dos Limites 1926 Fronteira internacional Define a fronteira entre Portugal e Espanha, desde a
confluência da ribeira de Cuncos com o rio Guadiana e a foz
do Guadiana.
Convénio para regular o 1927 Aproveitamento Define o aproveitamento hidroeléctrico do troço
aproveitamento hidroeléctrico hidroeléctrico do troço internacional do rio Douro em benefício das suas nações
do troço internacional do internacional do rio fronteiriças em harmonia com o Acordo de 1912. Estabelece
Douro Douro a repartição do troço fronteiriço em dois lanços, com
desníveis aproximadamente iguais, respectivamente a
montante e a jusante da confluência do rio Tormes.
Decreto-Lei nº 39252 1953 Troço internacional do Aprova o Estatuto de funcionamento da Comissão
rio Douro Luso-Espanhola para o aproveitamento do troço
internacional do rio Douro.
Convénio entre Portugal e 1964 Troços internacionais Substitui o Convénio de 1927, referindo-se também apenas
Espanha para regular o do rio Douro e dos ao objectivo restrito da produção de energia, mas alargando
aproveitamento hidroeléctrico afluentes Águeda, o âmbito geográfico do anterior Convénio, incluindo além
dos troços internacionais do Tourões e Mente dos troços internacionais do rio Douro, os troços
rio Douro e dos seus afluentes internacionais dos afluentes Águeda, Tourões e Mente.
Convénio entre Portugal e 1968 Troços internacionais Define a repartição dos troços internacionais dos rios Minho,
Espanha para regular o uso e dos rios Minho, Lima, Lima, Tejo e Guadiana e Chança e de troços nacionais
aproveitamento hidráulico dos Tejo, Guadiana e adjacentes, segundo a energia produtível anual média em
troços internacionais dos rios Chança, respectivos cada troço, calculada considerando os caudais afluentes a
Minho, Lima, Tejo, Guadiana afluentes e de troços montante dos troços internacionais, descontando os desvios
e Chança nacionais adjacentes de água para outras utilizações a montante. Além dos
desvios de caudais a realizar em Espanha, prevê também o
desvio dos caudais do Guadiana, em Portugal, para executar
o Plano de Rega do Alentejo.
Convenção sobre Cooperação 1998 Territórios das Bacias Define o quadro de cooperação destinada à promoção e
para a Protecção e o Hidrográficas Luso- protecção do bom estado das águas superficiais e
Aproveitamento Sustentável -Espanholas subterrâneas de bacias hidrográficas Luso-Espanholas e o
das Águas das Bacias aproveitamento sustentável dessas águas e a mitigação dos
Hidrográficas Luso- efeitos das cheias e das situações de seca e escassez.
-Espanholas
Por seu lado, a União Europeia tem vindo a desempenhar um relevante e pioneiro papel na evolução do
direito internacional do ambiente. Em Outubro de 1972 foi decidido na Cimeira de Chefes de Estado que o
ambiente passou a ser assunto de discussão na Comunidade Europeia tendo-se chegado à conclusão que”... é
conveniente impedir que actividades desenvolvidas por um país possam causar prejuízos ambientais noutro”,
consequência do espírito que presidiu à Conferência de Estocolmo sobre ambiente em Junho de 1972.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS
Em Julho de 1977 o Conselho Europeu rectificou a Convenção de Bona de 1976 para a protecção do Reno
contra a poluição química e, igualmente em Agosto de 1980, o Conselho autorizou a Comissão a envolver-se
nas questões do Danúbio que conduz à aprovação em 1997 da Convenção sobre Cooperação para a
Protecção e Utilização Sustentável do Danúbio.
A protecção do Mar do Norte contra a poluição transportada pelos rios é objecto da Declaração de Bremen
em Novembro de 1984 assinada pela Comissão Europeia.
A Directiva 85/337/CEE prevê explicitamente o caso de impactes transfronteiriços causados por
aproveitamentos hidráulicos tornando obrigatório o estudo de impacte ambiental nos vários países afectados.
O Acto Único Europeu, assinado em 1987, refere-se explicitamente nos seus artigos 100A e 130R ao
ambiente e à gestão dos recursos hídricos com áreas relevantes quanto à jurisdição da Comunidade e defende
alguns princípios avançados como o da utilização prudente e racional dos recursos e o princípio do poluidor
pagador.
A adesão de Portugal e da Espanha em 1985, bem como da Grécia anteriormente, como países do sul
Europeu trouxeram para primeiro plano os problemas quantitativos que até então quase não eram
considerados no espaço comunitário, e veio contribuir para pôr em evidência a necessidade de uma gestão
integrada e de uma visão estratégica em matéria de recursos hídricos.
O Tratado de Maastrich ou Tratado da União Europeia, assinado em 1992, para além de reforçar os
princípios já consagrados no Acto Único, introduziu os princípios da precaução e do desenvolvimento
sustentado como princípios fundamentais a que as políticas comunitárias devem obedecer. Este tratado
estabelece, ainda, que a generalidade das decisões sobre ambiente são adoptadas por maioria qualificada,
excepção feita às decisões sobre recursos hídricos que, por proposta de Espanha, requerem a unanimidade.
Finalmente a Directiva-Quadro veio fortalecer a política comunitária sobre gestão da água.
Apesar deste contexto jurídico político, em Espanha foi desenvolvido um Plano Hidrológico Nacional,
tornado público em 1993, e Planos de Bacia que não tiveram em consideração a especificidade das bacias
internacionais partilhadas com Portugal e onde os interesses do país de jusante, dos estuários e da orla
costeira foram completamente omitidos. Em matéria de caudais ambientais, nos termos referenciados
anteriormente, estes planos não satisfazem os requisitos mínimos exigidos nos tempos que correm.
O processo negocial desencadeado desde então tem permitido constatar haver de parte da Espanha uma total
transparência de objectivos em matéria de recursos hídricos e uma grande consistência das posições
espanholas ao longo do tempo, sendo de realçar o elevado espírito de colaboração entre as administrações de
ambos os países.
As crescentes dificuldades das negociações entre Portugal e Espanha em relação a anteriores negociações
que conduziram a um importante conjunto de convénios em vigor advêm do facto da agudizarão dos
problemas em matéria de recursos hídricos tornar mais difícil negociar numa base justa e equitativa.
É por isso que a matéria tem sido debatida ao mais alto nível político entre os dois países em Cimeiras
Luso-Espanholas de Chefes de Governo, que no final da realizada no Porto deu lugar a uma Declaração
Comum reconhecendo a necessidade de coordenação em matéria de planeamento e de gestão dos recursos
hídricos das bacias hidrográficas internacionais partilhadas numa perspectiva da sua utilização sustentada
por ambos os estados.
Com a assinatura em 30 de Novembro de 1998 da Comissão sobre Cooperação para a Protecção e
Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas parece ter sido dado o
maior salto na história das relações luso-espanholas em matéria de recursos hídricos.
A este facto não é alheia a situação adversa que se tem vivido na península ibérica e a crescente procura de
água nos últimos anos, que em Espanha motivaram a elaboração do Plano Hidrológico Espanhol datado de
1993, o Livro Branco da Água em 1998 e o novo PHNE em 2000 e em Portugal a inclusão no quadro legal a
obrigatoriedade de elaboração dos Planos de Bacia Hidrográfica e do Plano Nacional da Água.
Em matéria de recursos hídricos, as relações Luso-Espanholas tem sido marcados por uma aproximação
sucessiva e progressivamente densificada que se tem traduzido por:
- Troca intensa e regular de informação sobre caudais, qualidade das águas, situação das albufeiras
e sobre os planos e projectos de novos aproveitamentos hidráulicos nas bacias compartilhadas;
- Coordenação dos actos de gestão nas situações hidrológicas extremas, de cheias e de secas, com
especial incidência na bacia do Tejo, no que concerne às primeiras, e do Guadiana para as
segundas;
- Elaboração de estudos conjuntos, de que são exemplos os Estudos sobre a situação Ambiental do
Estuário do rio Guadiana, os Estudos para a salvaguarda das condições Ambientais do Troço
Internacional do Rio Minho e o Programa para a Melhoria e Controlo da Qualidade das Águas da
bacia do Guadiana, todos em curso;
- Avaliação dos impactes transfronteiriços dos novos projectos nas bacias compartilhadas
precedendo a sua aprovação, de que são exemplo os projectos do Alqueva, do Xévora, de Cela e
dos transvases nas cabeceiras do Tua;
- Participação conjunta em programas e projectos comunitários de interesse comum (Centro Focal
da Água, da Agência Europeia do Ambiente, projecto SEMIDE no âmbito da Conferência Euro
– Mediterrânica, ASTIMWR, Avaliação Hidrológica Portugal/Espanha - DGXVI-UE;
Disponibilidades de Água em Situações Extremas na Península Ibérica - DGXVI-UE, etc.).
Não são apenas os valores ambientais dos rios e dos estuários as razões para o fortalecimento das relações
luso-espanholas. Também os interesses sócio-económicos importantes instalados nos leitos principais dos
rios luso-espanhóis, designadamente:
- No rio Tejo dependem dos seus recursos aglomerados urbanos de grande importância onde se
inclui a área metropolitana de Lisboa e uma vasta área agrícola de regadio que é o vale do Tejo
onde se inclui a Lezíria Grande de Vila Franca de Xira;
- No rio Douro está instalado o maior parque nacional de produção de energia hidroeléctrica e
dependem directamente das águas do leito principal importantes aglomerados urbanos onde se
inclui o Porto, Gaia, Régua, etc e de uma expressiva actividades turística e comercial fluviais;
- No rio Guadiana muito em breve entrará em exploração o empreendimento de Alqueva de
importância estratégica para o sul de Portugal;
- No rio Lima está instalada uma grande capacidade de produção hidroeléctrica nos
aproveitamentos do Alto Lindoso e Touvedo e directamente dependente das águas do rio
aglomerados urbanos de inegável importância, Viana do Castelo, Ponte de Lima e Ponte da
Barca, bem como uma actividade agrícola de regadio de relevo regional e diversas indústrias;
- No Minho dispõe-se de um valioso património natural dependente das águas do rio bem como de
actividades de pesca e abastecimento a populações de importância regional;
exigem o permanente reforço dessas relações.
O mais recente documento espanhol sobre o aproveitamento de recursos hídricos, o Plano Hidrológico
Nacional de Espanha (PHNE), formalmente apresentado à parte portuguesa em Setembro de 2000, foi
objecto de apreciação interna, cujo relatório datado de Janeiro de 2001 vai no sentido de considerar esta
versão distante positivamente da versão de 1993, pois faz uma análise económica e dos impactes ambientais
das várias soluções e adopta uma estratégia de gestão da procura.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS
4.1. Introdução
A importância e o aprofundamento do conhecimento sobre os usos, consumos e necessidades de água é
proporcional ao rigor com que se pretendam definir as políticas de utilização dos recursos hídricos,
designadamente nas vertentes da garantia de volumes de água, da qualidade da água, do ordenamento do
domínio hídrico, da economia da água e da segurança de pessoas e bens.
Para os fins que este Plano Nacional da Água pretende alcançar procuram-se caracterizar neste capítulo as
mais importantes utilizações da água, designadamente, urbana, industrial, regadio, turismo, produção de
energia eléctrica, aquaculturas, e outras, nestas englobando a extracção de inertes e a navegação comercial e
recreativa.
Os usos e consumos de água existentes são direitos titulados, em princípio, por alvará de licença ou
concessão de utilização do domínio hídrico.
A caracterização dos usos, consumos e necessidades de água é fundamental para a determinação das
situações de escassez, através do balanço hídrico, para a análise económica das utilizações da água, para a
determinação das causas do estado da qualidade da água e da adequação desta aos usos actuais, para a análise
do ordenamento do território no que se refere à protecção dos recursos hídricos e à segurança de pessoas e
bens em relação às situações hidrológicas extremas e aos acidentes de poluição, entre outros.
Tal como o título do capítulo sugere, no tratamento desta matéria assume-se uma distinção entre Usos,
Consumos e Necessidades.
Aqui, o termo Usos é considerado como o termo mais genérico onde se incorporam a utilização de
superfícies e de volumes de água, a alteração das características das águas e dos regimes naturais dos seus
fluxos e de produtos gerados pelos recursos hídricos.
Os Consumos a que nos referiremos são os volumes efectivamente retirados dos meios hídricos e que,
embora gerando retornos, são os utilizados nas actividades humanas, tais como consumo doméstico e
industrial, regadio, refrigeração, incluindo neles as perdas (fugas e consumos não contabilizados) associados
aos sistemas de captação, tratamento, transporte, armazenamento e distribuição.
As Necessidades de água actuais são entendidas como sendo os volumes que deveriam estar disponíveis
quando e onde necessários para satisfazer a procura actual e certa, os quais também podem assumir a
natureza de factor de produção com restituição integral aos meios hídricos. São, portanto, iguais à soma dos
Consumos e da procura, traduzindo-se esta pelos valores dos consumos que se registariam se a água estivesse
disponível em condições idênticas à que hoje é consumida.
As quantidades disponíveis de recursos hídricos superficiais são hoje relativamente bem determinadas e
conhecidas graças a uma razoável rede de monitorização pluviométrica e hidrométrica. Já o mesmo não é tão
seguro quanto às águas subterrâneas por falta de uma rede com o mesmo desenvolvimento. Em relação à
qualidade da água, para além da situação ser também de insuficiência, acresce o facto de exigir meios e
procedimentos mais complexos e dispendiosos que tem conduzido a que o estado da qualidade da água não
seja tão conhecido quanto é desejável e necessário.
Se a situação não é óptima no campo da avaliação das disponibilidades, então no domínio da avaliação dos
usos, consumos e necessidades de água a situação é muito deficiente. Para além de não existirem medidores
de caudal na maioria das origens, a verdade é que os métodos e os procedimentos utilizados pelas entidades
que promovem a recolha de dados tem caracter esporádico ou visam outros fins que não propriamente o
planeamento de recursos hídricos.
Esta questão é abordada com maior detalhe no ponto 4.3.5 para cuja leitura prévia à análise de cada um dos
pontos seguintes se remete.
A Directiva-Quadro da Água (2000/60/CE) estabelece um sistema integrado de medidas com vista à protecção
das águas de modo a prevenir a deterioração do seu “estado”, proteger e melhorar o estado dos ecossistemas
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
aquáticos e dos ecossistemas terrestres e zonas húmidas directamente dependentes. No que respeita às
necessidades de água, esta directiva estabelece uma gestão ao nível da região hidrográfica com o objectivo de
alcançar a condição de "bom estado" para todas as águas de superfície e subterrâneas até ao ano 2015.
Nesse sentido, a gestão integrada dos recursos hídricos não passa apenas pelo controlo das descargas de
águas residuais nos meios hídricos e pela satisfação dos múltiplos usos, havendo também que considerar
aspectos de quantidade e de qualidade da água necessários para a manutenção da estrutura e funcionamento
dos ecossistemas.
2/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
A legislação existente permite, desde 1989, incluir no licenciamento de novos aproveitamentos hidráulicos a
obrigação de manter um caudal mínimo no curso de água a jusante das barragens para a minimização dos
impactes negativos nos ecossistemas aquáticos. O valor deste caudal é independente do caudal reservado,
que tem de ser sempre garantido a jusante dos aproveitamentos hidráulicos, para a manutenção de usos já
existentes como sejam a rega e o abastecimento público e outros usos.
A definição de caudais ecológicos em Portugal tem merecido, até ao presente, diferentes abordagens em
resultado das diferenças existentes ao nível dos sistemas hídricos localizados a Sul e a Norte do rio Tejo, e
em função do tipo de aproveitamentos hidráulicos.
Devendo o PNA traduzir princípios e práticas coerentes com os valores das sociedades modernas, os caudais
ecológicos deverão ser assumidos como água que pertence à Natureza, que corresponde às necessidades dos
ecossistemas aquáticos e dos agrupamentos bióticos que neles se inserem, e relativamente aos quais não
deverá haver pretensões de uso, exceptuando situações críticas em que possa estar em causa o abastecimento
às populações.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Y
# Bragança Y
# Bragança
Y
# Viana do Castelo Y
# Viana do Castelo
Y
# Braga Y
# Braga
Y
# Vila Real Y
# Vila Real
Y
# Porto Y
# Porto
Y
# Aveiro
Y
# Viseu
Y
# Aveiro
Y
# Viseu
Y
# Guarda Y
# Guarda
Y
# Coimbra Y
# Coimbra
Y
# Castelo Branco Y
# Castelo Branco
Y
# Leiria Y
# Leiria
Y
# Portalegre Y
# Portalegre
Y
# Santarém Y
# Santarém
Y
# Lisboa Y
# Lisboa
Y
# Évora Y
# Évora
Y
# Setúbal Y
# Setúbal
Y
# Beja Y
# Beja
Y
# Faro Y
# Faro
Nesta matéria os modelos de gestão dos sistemas artificiais e/ou construídos que se aplicam aos serviços de
águas das zonas urbanas podem resumir-se a:
- Gestão Municipal
- Gestão Municipalizada
- Gestão Empresarial - Empresas Concessionárias (Gestão Delegada)
Concessão do Estado - Grupo IPE - Águas de Portugal
Sistemas multimunicipais
Concessão dos Municípios ou suas Associações
Sistemas municipais
Sistemas intermunicipais
Empresas Municipais ou Intermunicipais
4/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Apesar do baixo valor relativo do volume de água utilizada no abastecimento urbano, este serviço é um dos
paradigmas da qualidade de vida das populações e fundamental à saúde pública, à alimentação, à higiene e a
algumas actividades económicas. Por isso, além de ser uma preocupação e obrigação, é um desafio para as
autoridades da administração conseguir uma elevada taxa de cobertura e um elevado nível de serviço em
qualidade, pressão, permanência e atendimento.
População Residente e Flutuante Servidas, Capitações e Perdas
Um dos indicadores de qualidade de vida das populações, usado internacionalmente, é o correspondente à
taxa de população servida por sistemas e serviços públicos domiciliários de abastecimento de água.
Entende-se por população servida a que dispõe de um sistema colectivo público de serviço domiciliário cuja
responsabilidade de exploração e conservação está determinada por lei e que, desse modo, atribui direitos e
obrigações a quem dele se serve e a quem dele deve cuidar em termos de condições normais de
funcionamento. Quanto à qualidade da água para consumo humano e respectivo controlo, a matéria está
regulada no DL 236/98, de 1 de Agosto, que transpõe as directivas comunitárias correspondentes. Quanto à
quantidade, pressão, permanência e qualidade do serviço prestado, as referências são estabelecidas no D.L.
nº 207/94, de 6 de Agosto, e pelo Regulamento Geral dos Sistemas Públicos Prediais de Distribuição de
Água e Drenagem de Águas Residuais, aprovado pelo D.R. nº 23/95, de 23 de Agosto.
A população servida por sistema público de abastecimento de água compõe-se de população residente e
população flutuante. Entende-se por população residente a definida pelo INE. A população flutuante é
composta por duas parcelas: a população turística e não turística. Como esta última, para efeito de balanço
hídrico e de pressão sobre os recursos, é contabilizada no local de residência, considera-se, no âmbito do
PNA, integrada na população residente, sendo apenas a turística considerada como população flutuante.
Da análise do Quadro 4.3.1 conclui-se que em Portugal Continental dispõem de sistema público de
abastecimento de água ao domicílio cerca de 8,1 milhões de habitantes, ou seja, 85 % da população residente
e as instalações hoteleiras para cerca de 27 milhões dormidas (1998), o que exige a disponibilização média
anual nos sistemas hídricos de 560×106 m3 para a população residente e 10×106 m3 para a população
turística.
Capitação
População População Consumo População Consumo
População População
Bacia Residente Residente População Turística População Perdas
Residente Residente
Hidrográfica Servida Servida Residente Servida Turística
Servida
(hab.) (hab.) (%) (×103 m3 /ano) (dormidas) (×103 m3 /ano) (l/dia.hab.) (%)
Minho 75 400 67 480 90 3 880 88 370 20 157 29
Lima 203 330 135 750 67 7 140 168 720 60 144 33
Cávado 321 670 222 830 69 12 980 365 310 110 160 30
Ave 661 440 368 580 56 20 100 361 810 120 149 33
Leça 396 250 383 920 97 25 560 367 600 100 182 23
Douro 1 841 100 1 451 720 79 87 270 1 500 990 530 165 30
Vouga 663 240 491 750 74 32 130 516 380 160 179 35
Mondego 679 200 581 810 86 35 910 826 510 240 169 30
Lis 173 780 153 820 89 8 970 269 740 80 160 20
Rib. Oeste 572 680 541 900 95 45 510 1 828 760 820 230 35
Tejo 3 058 190 2 978 400 97 220 750 6 223 600 2 190 203 37
Sado 274 190 258 530 97 24 340 718 140 210 258 32
Mira 21 040 12 190 58 880 33 040 10 197 30
Guadiana 206 380 173 910 84 14 480 720 480 530 228 35
Rib. Algarve 326 430 267 650 82 21 840 13 081 450 5 090 224 35
Total 9 474 320 8 090 240 85 561 740 27 070 900 10 370 190 33
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Y
# Bragança Y
# Bragança
Y
# Viana do Castelo Y
# Viana do Castelo
Y
# Braga Y
# Braga
Y
# Vila Real Y
# Vila Real
Y
# Porto Y
# Porto
Y
# Aveiro
Y
# Viseu Y
# Aveiro
Y
# Viseu
Y
# Guarda Y
# Guarda
Y
# Coimbra Y
# Coimbra
Y
# Castelo Branco Y
# Castelo Branco
Y
# Leiria Y
# Leiria
Y
# Portalegre Y
# Portalegre
Y
# Santarém Y
# Santarém
Y
# Lisboa Y
# Lisboa
Y
# Évora Y
# Évora
Y
# Setúbal Y
# Setúbal
Y
# Beja Y
# Beja
Y
# Capital de Distrito Y
# Capital de Distrito
Limites de Plano de Bacia Limites de Plano de Bacia
Índice de Atendimento (%) Capitação Doméstica (l/hab*dia)
0 - 44 0 - 75
45 - 59 76 - 125
60 - 74 126 - 200
75 - 84 201 - 250
85 - 89 251 - 300
90 - 94 301 - 350
95 - 100 > 350
Y
# Faro Y
# Faro
Da análise dos valores das capitações, obtidas pela desagregação espacial de base concelhia, conclui-se que
os valores extremos se situam nos 530 l/dia.hab. e 130 l/dia.hab. correspondentes às bacias hidrográficas das
ribeiras do Algarve e do rio Lis (Figura 4.3.2).
No que se refere a perdas nos sistemas de abastecimento de água, não se dispõe de dados com a fiabilidade
suficiente para a sua avaliação rigorosa, devido à frequente falta de medição sistemática dos valores captados
no domínio hídrico, no início e no fim dos sistemas adutores gravíticos e elevatórios, nas saídas dos
reservatórios principais e secundários, na generalidade dos sistemas simples ou complexos.
Com os dados disponíveis estima-se que o valor médio nacional dos volumes que se perdem entre a captação
e o consumidor final rondará os 35%. Nesta taxa poderão estar incluídos, nalguns casos, volumes que,
embora medidos, não são facturados por razões de diversa natureza.
Origens, Captações e Sistemas de Abastecimento Urbano
Na perspectiva da administração dos recursos hídricos qualquer sistema de abastecimento de água tem o
seu início numa captação no domínio hídrico público ou privado e termina nos consumidores finais,
passando ou não por reservatórios, a montante dos quais podem existir sistemas adutores gravíticos ou
elevatórios e a jusante redes de distribuição.
Entrou em uso nesta área a divisão dos sistemas em duas partes: i) Desde a captação até aos
reservatórios de distribuição passou a designar-se esta parte dos sistemas “em alta” e ii) a jusante destes
“em baixa” correspondente à rede de distribuição, incluindo nuns casos os reservatórios noutros não.
À administração dos recursos hídricos compete, em consequência do licenciamento de captação de água
no domínio hídrico, garantir a quantidade e qualidade da água associadas ao título de licença. Se bem
6/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
que não se verificando esta condição, a responsabilidade não deixa de existir, reforçada pelas obrigações
do Estado em relação ao recurso água e pelas disposições legais que disciplinam estas utilizações -
Decreto-Lei 46/94, Decreto-Lei 236/98.
Portanto, à administração dos recursos hídricos compete assegurar o bom desempenho das captações e
origens de água para abastecimento urbano sem prejuízo das obrigações de outras entidades. Para esse
exercício é indispensável um conhecimento rigoroso das características das utilizações e da procura de
água pelos sistemas de abastecimento e se os recursos são utilizados de forma eficiente de maneira que
não sejam transferidos para o domínio hídrico as ineficiências que são da responsabilidade das
entidades gestoras dos sistemas.
Retemos como definição de Captação o local onde é tomada a água por meio de sucção, impulsão ou
derivação. Por origem consideramos os aquíferos e as massas de água superficiais onde podem estar
instaladas várias captações, o que nos aquíferos é muito frequente e nas albufeiras de maior dimensão
bastante vulgar.
3500
3000
2500
Nº Captações
2000
1500
1000
500
0
Subterrânea Superficial Não Classificada
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Subterrânea Subterrânea
37% 40%
Superficial Superficial
63% 60%
Com base nos PBH foram identificadas 4.384 captações no Continente, 267 das quais em águas
superficiais e 3.394 em águas subterrâneas. Para as restantes 724 captações não foi possível caracterizar
o tipo de origem.
Refira-se que o número de captações de água subterrânea não traduz a importância desta origem de água
nos sistemas de abastecimento públicos. Em Portugal Continental, as águas subterrâneas servem 37% da
população e fornecem cerca de 40% da água consumida pelos Sistemas Públicos de Abastecimento de
Água. Este facto traduz as fragilidades da maioria dos sistemas baseados neste tipo de origem.
O que de maior relevância importa destacar é o facto de não se dispor de uma base de dados nacional de
licenciamento onde constem todas as captações que abastecem as populações públicas e privadas.
A situação actual no que respeita a captações para abastecimento urbano, para além do evidente significado
dos números apresentados no Quadro 4.3.2, quanto à dificuldade de controlo permanente da qualidade da
água exigida pelo Decreto-Lei 236/98 e Decreto-Lei 152/97, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei
348/98, leva-nos a questionar o estado de aplicação e eficácia dos instrumentos de protecção das captações
superficiais (albufeiras, cursos de águas e lagoas) e subterrâneas. Também a protecção perseguida pelos
Planos de Ordenamento das Albufeiras de Águas Públicas (POAAP), objecto dos Decreto-Lei 502/71 e
Decretos Regulamentar 2/88, 37/91 e 33/92, sendo limitado às margens das albufeiras, quando as causas
podem encontra-se em áreas de muitos km2 fora destes perímetros ou a longa distância das albufeiras, não
garantem a segurança plena em relação à protecção de origens e captações.
Tanto o controlo das origens e captações como dos sistemas exige capacidade técnica e científica
apropriados. A multiplicidade destas dificulta a sua sustentabilidade económica-financeira.
Se o panorama, no que respeita às origens e captações, exige profunda reflexão, o mesmo se passa em
relação ao número de sistemas tendo em conta que mais de 65% dos sistemas de abastecimento servem
menos de 500 habitantes num universo de 3.324 sistemas inventariados no Relatório sobre o Controlo da
Qualidade das Águas de Abastecimento para Consumo Humano em 1998 (Figura 4.3.5).
Nestas condições, é económica e financeiramente insustentável garantir a fiabilidade de origens e captações e
de gestão de sistemas com elevados padrões de qualidade de serviço.
No sentido de resolver esta questão têm sido desenvolvidos nos últimos anos políticas para dar dimensão física e
territorial aos sistemas que garantam a sustentabilidade referida. Incluindo o sistema da EPAL, tem sido apoiada a
execução e integração de diversos sistemas de média e grande dimensão à escala nacional, designadamente os
sistemas do Carvoeiro, Alvito, Sotavento Algarvio e Barlavento Algarvio, Cávado, Douro - Paiva, Planalto
Beirão, Portalegre - Castelo de Vide - Marvão, interligação das levadas da Madeira, e de origens multimunicipais
tais como Foz Côa - S. João da Pesqueira - Meda, Viseu - Mangualde - Nelas, Reguengos - Redondo, Figueira da
Foz - Montemor-o-Velho, etc..
No mesmo sentido está em pleno desenvolvimento o Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de
Saneamento de Águas Residuais (2000-2006) — PEASAR, de iniciativa do MAOT.
8/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
1600
1431
1400
1200
1000
número de sistemas
800
600
520
443
400
284
233
200 162
57 45 45 38
34
0 9 10 12
0
0-20
20-50
50-100
100-500
500-1000
1000-2500
2500-5000
5000-7500
7500-10000
10000-15000
15000-20000
20000-25000
25000-50000
50000-100000
Mais de 100000
População servida
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Quadro 4.3.3 - Níveis de Tratamento e Prazos (Directiva 91/271/CEE, Decreto-Lei 152/97, de 19 de Junho)
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Y
# Bragança Y
# Bragança
Y
# Viana do Castelo Y
# Viana do Castelo
Y
# Braga Y
# Braga
Y
# Vila Real Y
# Vila Real
Y
# Porto Y
# Porto
Y
# Aveiro
Y
# Viseu
Y
# Aveiro
Y
# Viseu
Y
# Guarda Y
# Guarda
Y
# Coimbra Y
# Coimbra
Y
# Castelo Branco Y
# Castelo Branco
Y
# Leiria Y
# Leiria
Y
# Portalegre Y
# Portalegre
Y
# Santarém Y
# Santarém
Y
# Lisboa Y
# Lisboa
Y
# Évora Y
# Évora
Y
# Setúbal Y
# Setúbal
Y
# Beja Y
# Beja
Y
# Faro Y
# Faro
Figura 4.3.6 - Tipo de Entidades Gestoras dos Sistemas de Drenagem “em Baixa” e “em Alta”
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
3 500 e.p.
Sistema
colector •1 aglomeração ETAR ETAR
ETAR •1 sistema
•1 ETAR
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Figura 4.3.8 - Distribuição Espacial das Aglomerações por Classes de Dimensão Populacional
Quadro 4.3.5 – Aglomerações – Situação referida a 31.12.1998
ZONAS DE DESCARGA
Nº EP Nº EP Nº EP Nº EP Nº EP
2 000 ≤ EP < 10 000 169 695 500 0 0 74 354 450 0 0 243 1 049 950
10 000 ≤ EP < 15 000 30 349 728 1 13 000 6 77 500 1 13 000 38 453 228
15 000 ≤ EP < 150 000 60 2 822 686 3 179 000 19 861 017 8 361 662 90 4 224 365
EP > 10 000 8 2 773 521 0 0 2 394 767 4 1 522 000 14 4 690 288
TOTAL 267 6 641 435 4 192 000 101 1 687 734 13 1 896 662 385 10 417 831
Da interpretação da mesma Directiva resulta que, para além das Zonas Sensíveis aprovadas pelo Decreto-
Lei n.º 152/97, devem também ser consideradas as respectivas bacias hidrográficas, ficando as descargas
de águas residuais urbanas provenientes de aglomerações com um e.p. superior a 10 000 nelas efectuadas
sujeitas aos mesmos condicionalismos das descargas directas em Zonas Sensíveis. Daí que se possa falar
no conceito de “bacia sensível”. Neste sentido foram identificadas as bacias drenantes das zonas sensíveis
no Continente que se apresentam na Figura 4.3.9.
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Na óptica do Decreto-Lei 152/97 a dimensão da aglomeração e o meio receptor das águas residuais
tratadas é condição para o estabelecimento do grau de tratamento. Na Figura 4.3.10 apresenta-se a
distribuição das aglomerações por tipo de tratamento a que se refere o Quadro 4.3.6.
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Figura 4.3.10 - Aglomerações com mais de 2000 e.p. e Tipo de Tratamento de Águas Residuais Urbanas
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
a) b)
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Quadro 4.3.7 – Indicadores de Drenagem e Tratamento de Águas Residuais Domésticas
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
No Quadro 4.3.7 apresentam-se alguns indicadores sobre o serviço de drenagem e tratamento de águas
residuais domésticas com destaque para os 42% de taxa de atendimento por sistemas de tratamento superior
a preliminar, para além dos já mencionados 64% de população drenada associada ou não a qualquer forma de
tratamento. Separou-se os 9% da população atendida com exutores submarinos para distinguir entre sistemas
de tratamento e rejeição em meios com elevada capacidade de auto-depuração. Como expressão da eficiência
dos sistemas de tratamento destaca-se a taxa de 30% de remoção de carga em CBO5 (ton/ano) separada dos
11% de carga rejeitada nas águas costeiras.
Volumes Rejeitados
Interessa conhecer os volumes rejeitados de águas residuais para avaliar as potencialidades de reutilização e
para introduzir no balanço hídrico o rigor necessário.
Assim, importa avaliar os volumes de águas residuais domésticos produzidos e respectivo grau de
tratamento. No Quadro 4.3.8 apresentam-se estes volumes por tipo de tratamento.
O ciclo urbano de água apenas se completa com a rejeição de águas residuais tratadas nos meios receptores e
com a remoção, tratamento e deposição das lamas resultantes do tratamento de águas residuais domésticas.
Estima-se que os volumes e massa dessas lamas atinjam os 6.600 m3/ano e 132.000 ton/ano, respectivamente
(Quadro 4.3.9).
A análise da situação actual sobre a drenagem e tratamento de águas residuais urbanas conduz ao destaque
dos seguintes aspectos:
• São inúmeros os sistemas de drenagem de águas residuais urbanas de pequena dimensão com soluções
de tratamento, não estando, na totalidade, identificados nem caracterizados quanto ao tipo e eficiência
de tratamento das respectivas águas residuais drenadas;
• As soluções integradas, por sectores utilizadores e por soluções físicas, são em reduzido número,
sendo predominantemente as Câmaras Municipais e os Serviços Municipalizados as entidades gestoras
para os sistemas “em baixa” e “em alta”;
• Não existe, de forma sistemática, o controlo e a fiscalização da eficiência dos sistemas de tratamento
com relação às exigências dos meios receptores;
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Quadro 4.3.9 - Estimativa da Produção de Lamas resultantes do Tratamento de Águas Residuais Domésticas
Carga
LAMAS
Plano de Bacia Hidrográfica VOLUME DE LAMAS (1) específica
Conteúdo em Sólidos
(mm)
Secundárias
Secundárias
(103 m3/ano)
(103 m3/ano)
(103 m3/ano)
População
Vol./ Área
Primárias
Primárias
(ton/ano)
(ton/ano)
(ton/ano)
residente
do PBH
Globais
Global
(1998)
(km2)
Área
Nome
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
140 000
120 000
100 000
hm3
80 000
60 000
40 000
20 000
CAE 15 CAE 17 CAE 19 CAE 21 CAE 23 CAE 24 CAE 26 CAE 27 CAE 28 CAE 29 CAE 31 Outros
Indústrias Fabricação de Curtimenta e Fabricação de pasta, Fabricação do Fabricação de Fabricação de Indústrias Fabricação de Fabricação de Fabricação de
alimentares e das têxteis acabamento de peles de papele cartão coque, pro dutos produto s químicos outros produtos metalúrgicas de produtos metálicos máquinas e máquinas e
bebidas sem pêlo (...) (...) petrolífero s (...) minerais não base (...) equipamentos aparelhos (...)
metálicos
Figura 4.3.12 - Principais Sectores de Actividade Industrial Consumidoras de Águas (hm3 médios anuais)
Os valores médios anuais dos consumos estão dependentes do nº de dias de laboração: onde se utilizam as
dotações diárias foram considerados 250 dias de laboração anual para todas as unidades industriais de todos os
sectores da CAE, com excepção de três: produção de azeite e indústria do vinho, 60 dias e fabricação de pasta de
papel e cartão, excepto canelado, 350 dias.
Os coeficientes utilizados como dotações para cada sector industrial da CAE encontram-se em Anexo.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
160
140
Consumos Industriais (hm3/ano)
120
100
80
60
40
20
0
Douro
Minho
Cávado
Vouga
Mondego
Sado
Mira
Rib. Algarve
Madeira
Açores
Ave
Leça
Tejo
Guadiana
Lis
Lima
Rib. Oeste
Figura 4.3.13 - Distribuição Espacial dos Consumos Médios Anuais de Água da Indústria
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
No Quadro 4.3.11 apresentam-se os valores estimados para os consumos do sector industrial por tipo de origem
de abastecimento. Verifica-se que dos 385 hm3 médios anuais consumidos pela indústria cerca de 323 hm3
provêem de origens próprias e apenas 62 hm3 da rede pública e que há uma repartição em partes quase iguais
entre águas de origem superficial e subterrânea.
A distribuição espacial das necessidades de água para a indústria é apresentada nas figuras 4.3.14 e 4.3.15.
Figura 4.3.14 - Distribuição Espacial dos Consumos Médios Anuais da Indústria por Concelho
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Da análise dos elementos disponíveis concluiu-se que, em termos nacionais, o sector de actividade mais
consumidor de água é a produção de pasta de papel e cartão com 150 hm3 médios anuais e que apenas quatro
sectores de actividade industrial consomem 80% do valor total, que 8 atingem os 90% e que 11 deles, com
um consumo total de 370 hm3, atingem os 96% do consumo total nacional.
Estes consumos localizam-se sobretudo nas bacias hidrográficas dos rios Tejo, Mondego, Sado, Douro,
Vouga e Leça, dos quais se destacam o Tejo com 147 hm3 e o Mondego com 71 hm3 médios anuais.
Rejeição de Águas Residuais Industriais
Drenagem de Águas Residuais Industriais
Os sistemas de drenagem de águas residuais industriais consideram-se divididos em três tipos:
• Sistema Próprio - Unidades industriais que possuem sistemas de tratamento próprio e
descarregam os efluentes nas linhas de água, solo ou mar.
• Sistema Público - Unidades industriais sem tratamento próprio e que estão ligadas a colectores
municipais e ETAR municipais e unidades industriais com sistema de tratamento próprio mas
que descarrega o efluente final em colectores e/ou ETAR municipal.
• Descarga Livre - Unidades industriais que não possuem sistemas de tratamento de efluentes
próprio e que descarregam os efluentes nas linhas de água, terrenos próprios, mar, etc., e as
unidades industriais sem qualquer tipo de informação quanto ao sistema de drenagem utilizado.
No Quadro 4.3.12 apresenta-se o número de empresas por tipo de sistemas de drenagem, por Bacia
Hidrográfica e por CAE.
Público
1,680
2,760
300
Livre
Próprio
Realça-se o facto, expresso na Figura 4.3.15, de disporem de sistema próprio cerca de 300 unidades
industriais contrastando com as cerca de 2.800 unidades com descarga livre num universo de 4.740
unidades identificadas. Os sistemas públicos são utilizados por 1.680 unidades industriais.
A distribuição espacial observável na Figura 4.3.16 revela que é nas bacias hidrográficas dos rios Ave e
Leça onde se registam maior número de casos em que as unidades industriais descarregam livremente
para os meios hídricos ou para os solos. Nas bacias hidrográficas dos rios Vouga, Lis e Sado verifica-se
uma maior utilização dos sistemas públicos para a drenagem das águas residuais industriais.
Com base nos mesmos dados, estão identificados, por bacia hidrográfica e por tipo de sistema de
drenagem, as Classes de Actividade Económica que são responsáveis pela maior carga poluente gerada e
afluente às linhas de água. Naqueles quadros estão consideradas as unidades industriais que totalizam
80% da carga gerada e afluente às linhas de água em função dos parâmetros CBO5, CQO e SST.
A metodologia de cálculo para as cargas geradas e afluentes às linhas de água é apresentada ponto
6.3.1. Cargas Geradas e Afluentes aos Meios Hídricos, sendo que para a maior parte das indústrias o
cálculo das cargas foi feito em função da CAE e do número de trabalhadores.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
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Figura 4.3.16.- Número de Unidades Industriais e Tipo de Sistema de Drenagem por Concelho
a) Sistema Próprio, b) Sistema Público, c) Descarga Livre
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Quadro 4.3.12 – Número de Unidades Industriais por Tipo de Sistema de Drenagem e CAE
Bacia Hidrográfica
CAE R. Total
Minho Lima Cávado Ave Leça Douro Vouga Mondego Lis R Oeste Tejo Sado Mira Guadiana
Algarve
15 18 3 3 2 18 42 56 7 149
17 9 2 2 2 15
18 0
19 0
20 1 1 2 1 5
21 2 6 8
22 0
Sistema Próprio
24 5 4 8 17
25 0
26 2 1 4 47 11 65
27 2 10 12
28 4 1 3 1 9
29 3 1 2 6
31 5 5
34 2 1 2 5
35 1 1
36 0
Sub total 0 22 12 14 14 30 0 0 0 0 83 0 0 103 19 297
15 4 2 3 2 23 79 30 142 27 84 1 31 15 443
17 2 5 2 5 5 4 1 24
18 1 1
19 1 5 1 1 8
20 6 11 1 18 4 9 49
21 16 1 2 1 2 0 22
22 5 1 2 5 3 57 13 15 101
Sistema Público
24 2 3 2 39 12 1 18 11 1 89
25 0
26 7 126 38 178 1 26 2 12 6 396
27 2 14 2 5 5 28
28 13 1 3 4 68 1 37 5 146 7 43 2 330
29 1 2 1 1 28 4 31 22 1 91
31 2 1 10 3 14 3 33
34 1 16 4 14 4 39
35 1 13 6 20
36 2 1 1 2 6
Sub total 34 2 6 12 14 44 419 88 360 0 74 422 12 145 48 1 680
15 10 29 38 46 28 146 51 63 7 80 86 19 108 52 763
17 1 35 93 39 2 1 13 1 13 1 3 202
18 1 0 1
19 4 4 2 1 0 11
20 15 2 13 8 38
21 4 2 10 3 1 3 1 1 0 25
22 3 1 19 43 65 3 25 159
Descarga Livre
24 6 2 3 19 16 6 11 33 23 9 7 7 142
25 2 4 1 0 7
26 13 3 56 12 12 11 15 65 60 10 14 10 4 32 317
27 1 2 1 10 10 2 2 2 2 32
28 26 12 33 132 117 4 44 10 99 6 52 7 6 48 596
29 3 37 102 95 11 6 3 14 2 27 300
31 2 2 12 24 1 1 4 1 12 59
34 2 2 2 19 19 2 5 4 5 7 2 69
35 1 2 4 3 3 1 2 16 32
36 6 1 0 7
Sub total 68 58 231 500 435 211 133 189 195 0 137 207 39 123 234 2 760
Total 102 82 249 526 463 285 552 277 555 0 294 629 51 371 301 4 737
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Limites PBH’s
Indústria - Efluente
Gerado (dam3/ano)
30 - 1 150
1 150 - 3 880
3 880 - 11 200
11 200 - 23 700
23 700 - 55 800
Figura 4.3.17 - Distribuição Espacial dos Volumes Médios Anuais de Águas Residuais Industriais
As águas residuais das suiniculturas e dos lagares de azeite são dois casos bem paradigmáticos desta questão.
A distribuição espacial de base concelhia apresenta-se na Figura 4.3.17 assumindo maior expressão os valores das
manchas industriais do Vale do Tejo e nas zonas litorais, designadamente entre Viana do Castelo e Aveiro.
A análise foi efectuada para os parâmetros CBO5, CQO e SST e encontra-se apresentada com desagregação por
bacia hidrográfica em relatórios de base de apoio ao PNA.
Tendo em vista o balanço hídrico, no Quadro 4.3.13 apresentam-se os volumes de águas residuais rejeitados pelas
unidades industriais por bacia hidrográfica com base nos volumes utilizados.
Em resumo, a análise da situação actual a nível nacional dos usos, consumos e necessidades de água do sector
industrial, conduz-nos a destacar o seguinte:
• A actividade industrial utiliza recursos hídricos como origem e destino final para suprir as suas
necessidades incorporando ou não parte desses recursos nos seus produtos;
• A esmagadora maioria das unidades industriais, ao localizar-se na malha urbana, utiliza água da rede
pública com a qualidade correspondente à do consumo humano, que exige elevados padrões de qualidade,
garantia de quantidade e protecção de origens que as utilizações industriais não carecem. Contudo, são
apenas 11 os sectores de actividade industrial que consomem 96% da totalidade da água utilizada pela
indústria, destacando-se as indústrias de fabricação de pasta de papel e cartão e as unidades alimentares e
das bebidas.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
• A localização das actividades industriais, grandes consumidoras de água, tem um ajustamento problemático
em relação à garantia de água para a sua laboração e à capacidade do meio receptor para a rejeição de águas
residuais, com destaque para locais na região do Vale do Tejo e no litoral Norte, neste caso os rios Ave e
Leça;
• São em número elevado, ainda, as unidades industriais identificadas com descarga livre para os meios
hídricos e solos com relevância para as bacias hidrográficas dos rios Ave e Leça;
• Tanto a avaliação das causas da qualidade da água e da análise económica das utilizações da água como a
determinação das garantias das origens de água, através do balanço hídrico, tornam-se pouco precisas, na
medida em que se desconhece, de forma sistemática e rigorosa, a sazonalidade dos consumos e
necessidades de água da indústria bem como das substâncias que rejeitam nos meios receptores, ou, ainda,
dos custos de investimentos, exploração e manutenção relativos aos recursos hídricos na actividade
industrial.
Total 326 851 98 9 228 2 397 7 142 13 940 30 305 22 707 56 831 329 3 073 125 587 2 803 50 275 57 2 079
4.3.2.2. Rega
Dado não existir um controlo sistemático da água utilizada pelos diferentes sectores, a estimativa das
necessidades e consumos de água para rega só pode ser efectuada a partir de métodos indirectos: balanços
hidrológicos do solo relativos às culturas a beneficiar. Para realizar esta avaliação é necessário um
levantamento, à escala nacional, das áreas de regadio existentes, dos tipos de culturas nelas praticados, dos
sistemas de rega existentes e respectivas eficiências e das origens da água utilizada.
Numa perspectiva de enquadramento geral, apresenta-se no Quadro 4.3.14 uma síntese da ocupação do solo
no território continental português.
A partir dos dados de base fornecidos pelas entidades produtoras: Instituto Nacional de Estatística (INE),
para os dados referentes ao Recenseamento Geral da Agricultura – 1989, e Instituto de Hidráulica,
Engenharia Rural e Ambiente (IHERA) para os outros dados relativos à agricultura em Portugal.
Os dados do INE estão discretizados por concelho e os do IHERA são apresentados por concelho ou por
“Regiões Agrárias”.
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Quadro 4.3.15 - Áreas com Aptidão para Regadio e Áreas Equipadas por Região Agrária
ÁREAS EQUIPADAS
ÁREAS
REGIÃO AGRÁRIA COM QCA II: QCA II:
APTIDÃO QCA II: Novos
RGA 89 PEDAP (89/94) Pequenos Beneficiação TOTAL
Reg. Colectivos
Regadios Reg. Trad.
Entre Douro e Minho 315 020 225 510 940 0 1 240 3 020 230 720
Trás-os-Montes 208 570 87 750 4 950 2 820 2 040 1 010 98 570
Beira Interior 216 250 112 730 5 940 350 2 800 540 122 360
Beira Litoral 385 980 155 930 350 3 020 2 350 1 040 162 690
Ribatejo e Oeste 555 590 144 700 5 160 110 14 610 210 164 790
Alentejo 995 760 110 750 4 980 400 45 620 20 161 770
Algarve 128 860 34 220 1 140 8 160 3 010 10 46 540
Total do Continente 2 806 030 871 590 23 460 14 860 71 670 5 850 987 440
As estimativas das áreas equipadas para o regadio foram feitas na unidade geográfica do concelho, pois é a
esse nível que a quase totalidade dos dados se encontra disponível. Para a sua determinação, considerou-se
que a situação actual corresponde à soma das áreas regadas, por concelho, constantes nos dados fornecidos
pelo Recenseamento Geral Agrícola de 1989 (RGA/89), às quais se acrescentaram as áreas equipadas no
Programa Específico de Desenvolvimento Agrícola de Portugal (PEDAP) no período 89-94, e as áreas
equipadas no 2º Quadro Comunitário de Apoio, decorrente entre 1994 e 1999.
Definiu-se “área irrigável” com a área para a qual: a) existem infraestruturas de rega, b) o terreno está
convenientemente adaptado ao regadio, c) existe água suficiente (LEAL, G., 1995). Para evitar possíveis
confusões entre as designações “área irrigável” e “área regada”, optou-se no presente documento pela
designação “área equipada”.
A análise destes valores globais mostra que actualmente estão equipados e susceptíveis de serem regados
cerca de 988.000 ha, ou seja, menos de 35% dos áreas com aptidão para o regadio. Quando se analisam os
valores a nível de região agrária torna-se evidente que esta percentagem decresce de Norte para Sul.
O regadio em Portugal é essencialmente de natureza privada tendo presente que dos 988.000 ha identificados
apenas 124.000 ha são perímetros de rega cuja beneficiação foi promovida pelo Estado e, por isso, também
considerados por perímetros públicos ou do Estado, embora os proprietários das terras sejam quase
exclusivamente privados.
No Quadro 4.3.16, apresentam-se estes mesmos valores, agregados por bacias hidrográficas, onde se
evidencia um maior aproveitamento dos solos com aptidão ao regadio nas zonas do país onde ocorre uma
maior abundância de recursos hídricos. As bacias hidrográficas onde se registe menor aproveitamento dos
solos com aptidão ao regadio são as dos rios Guadiana, Sado e ribeiras do Oeste.
Após a realização da estimativa irrigáveis, foram tornados públicos pelo Instituto Nacional de Estatística, em
Junho de 2001, os dados referentes ao Recenseamento Geral Agrícola de 1999 e disponibilizados pelo
MADRP novos valores de necessidades de água para rega que são inferiores aos apresentados. Dado que
todo o trabalho do Capítulo - II Caracterização e Diagnóstico da Situação actual dos Recursos Hídricos já se
encontrava concluído, optou-se por manter inalterada esta avaliação e proceder a ajustamento no Tema 5 –
Recursos Hídricos ao nível dos balanços por bacia hidrográfica e usado a informação mais actualizada no
Capítulo III - Cenários de Evolução Sócio-Económica e Principais Pressões sobre os Recursos Hídricos.
29/58 (4 - II)
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Quadro 4.3.16 - Áreas com Aptidão para Regadio e Áreas Equipadas, por Bacia Hidrográfica
a) b)
Figura 4.3.19 - Zonas Agro-Ecológicas Consideradas para o Cálculo das Necessidades Reais de Água para Rega.
a) Relação Precipitação/Evapotranspiração; b) Regiões Analisadas
(Adaptado de LEAL, 1995)
30/58 (4 - II)
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Quadro 4.3.17 - Ocupação Cultural da Área Regada por Região Agro-Ecológica (%)
CULTURAS
FORRAGEM
CULTURAS
POMAR DE
REGIÃO
POMARES
CITRINOS
BATATA
OUTROS
OUTRAS
TOTAL
OLIVAL
PRADO
MILHO
AGRO-ECOLÓGICA
1 Noroeste 39 8 16 11 26 100
2 Terra Fria 14 21 8 52 1 5 100
3 Alto Douro 20 25 11 12 13 4 16 100
4 Beira Alta 30 21 15 13 6 15 100
5 Beira Litoral 40 15 13 3 3 27 100
6 Beira Interior 29 9 27 7 14 14 100
7 Ribatejo 27 2 10 6 14 41 100
8 Oeste 22 4 7 5 28 36 100
9 Alentejo 20 12 6 11 2 49 100
10 Algarve 8 60 10 23 100
31/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Quadro 4.3.18 – Eficiências Globais de Rega por Tipo de Rega e Transporte e Distribuição
Quadro 4.3.20 - Áreas Equipadas e Áreas Regadas, em 1989, por Região Agrária
Área Área
Região Agrária Percentagem
Equipada Regada
Entre Douro e Minho 225 510 178 440 79%
Trás-os-Montes 87 750 59 610 68%
Beira Interior 112 730 70 720 63%
Beira Litoral 155 930 125 770 81%
Ribatejo e Oeste 143 480 103 450 72%
Alentejo 111 980 63 500 57%
Algarve 34 220 24 500 72%
Continente 871 600 625 990 72%
Fonte: RGA/89.
32/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Os únicos dados encontrados relativos a esta análise são os que constam do RGA/89. No Quadro 4.3.20 são
apresentadas os valores relativos a 1989 das áreas equipadas e efectivamente regadas, agrupados por Regiões
Agrárias. Não dispondo de valores mais actualizados, para efeitos de planeamento optou-se por considerar
que, são regadas 75% das áreas equipadas. Este valor foi utilizado para calcular os consumos de água na
agricultura para o ano em análise (1999).
Numa tentativa de definir a distribuição espacial das áreas regadas elaborou-se, a partir de cartas de
ocupação do solo, o mapa das áreas regadas que se apresenta na Figura 4.3.20.
Leal. G (1995) calculou as necessidades úteis de água de rega (“quantitativos de água a aplicar no somatório
de todas as regas durante o período vegetativo, destinados a compensar apenas as perdas por
evapotranspiração”). Os resultados encontram-se sumariados no Quadro 4.3.21.
33/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Quadro 4.3.21 - Necessidades Úteis de Água das Culturas em Ano Médio (m3/ha.ano)
CULTURAS
FORRAGEM
CULTURAS
REGIÃO
POMAR DE
POMARES
CITRINOS
TOTAL
BATATA
OUTROS
OUTRAS
OLIVAL
PRADO
MILHO
AGRO-ECOLÓGICA
Áreas de Eficiência
Região Agrária Dotação Necessidades Consumos Retornos
Regadio Global
3 3 3
(ha) (m /ha) (%) (hm /ano) (hm /ano) (hm3/ano)
Entre Douro e Minho 230 720 4 120 60% 1 585 1 190 240
Trás-os-Montes 98 570 5 775 60% 950 710 145
Beira Litoral 162 685 4 990 60% 1 355 1 015 205
Beira Interior 122 355 5 100 60% 1 040 780 155
Ribatejo e Oeste 164 790 6 160 63% 1 625 1 220 245
Alentejo 161 770 6 725 65% 1 675 1 255 250
Algarve 46 540 8 210 75% 510 380 75
TOTAL 987 430 5 510 62% 8 740 6 550 1 315
34/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
No cálculo das necessidades de água para rega considerou-se que toda a área equipada é regada com as
dotações e eficiências actuais, anteriormente definidas. Na avaliação dos consumos, assumiu-se que somente
75% da área equipada é efectivamente regada.
Os resultados estão resumidos, por bacia hidrográfica e por região agrária, no Quadro 4.3.22.
Os valores referentes ao sector agricultura não reflectem os resultados mais actuais decorrentes do RGA 99
por estes terem sido disponibilizados pelo MADRP depois de concluídos os trabalhos de avaliação deste
tema embora tenham sido tidos em conta nos balanços apresentados no tema 5 - Recursos Hídricos.
Áreas de Regadio por Tipo de Origem
Para avaliar a situação actual quanto à garantia de origens de água para regadio estimaram-se as áreas
regadas por águas superficiais e subterrâneas, sendo os volumes respectivos os que se apresentam no Quadro
4.3.23 e que permitem proceder à sua inclusão no balanço hídrico.
Na Figura 4.3.21 apresentam-se as origens de água reais e agregadas para regadio utilizadas para fins de
balanço hídrico.
Quadro 4.3.23 - Áreas de Regadio por Tipo de Recurso Utilizado
A rega é a actividade de maior consumo de água em Portugal e que maior extensão de território ocupa.
De um modo geral, a actividade agrícola de regadio transfere para a gestão dos recursos hídricos pressões e
problemas de diversa natureza dos quais se destacam:
• Cerca de 88% da área de regadio em Portugal é de natureza privada, sendo o conhecimento da
utilização da água nessas áreas obtido com periodicidade de 10 anos através do Recenseamento Geral
da Agricultura;
• Indeterminação generalizada da relação entre os consumos da rega, as respectivas origens de água e a
variabilidade temporal;
• Contabilização muito reduzida dos consumos e sua relação com a eficiência da rega e produtividade
das culturas;
35/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
• Actividade de regadio intensivo com forte adubação sobre zonas de elevada vulnerabilidade de
aquíferos;
• Elevado desajustamento temporal natural entre necessidades de água para rega e as disponibilidades
nos sistemas hídricos;
• Exigência de infraestruturas de regularização interanual de vulto com reprodutividade económica
directa limitada;
• Reduzido conhecimento das correctas dotações e das eficiências globais dos sistemas de regadio.
Figura 4.3.21 - Localização das Origens de Água para Regadio e Balanço Hídrico
4.3.2.3. Turismo
Neste capítulo trata-se a vertente do Turismo associada aos usos e consumos de água com base em dois grandes
indicadores: o número de dormidas registadas na actividade hoteleira e respectivas necessidades de água e as
infraestruturas associadas à prática do golfe, actividade que se destaca pelos consumos necessários à manutenção
dos respectivos campos.
Principais Zonas e Actividades Turísticas
A actividade turística pode desenvolver-se segundo as mais diversificadas vertentes. Para cada concelho
identificaram-se os tipos de turismo predominante agrupados nos seguintes tipos:
• Praia: Desenvolvido em exclusividade no litoral, relacionado com a actividade balnear, sol,
navegação, vela, etc.;
• Cultural: Turismo relacionado com a admiração do panorama arquitectónico, grandes eventos
culturais, mostras de arte, etc.;
36/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Minho
o
Lim
a vad
Y Bragança
#
Y
#
Lima Ca Y Bragança
#
Y Viana do Castelo
# Y Viana do Castelo Cávado
# Y
#
Y Braga
# Y Braga
#
A ve
Ave Douro
Y
#
ça
Le
uro
Y Vila Real
# Y Vila Real
#
Leça Y
#
Do
ro
Y Porto
# Y Porto
#
Dou
Y
#
Y
#
go
nde
Y Viseu
# Y Viseu
#
Y Aveiro
# Y Aveiro
# Vouga
Mo
Y
#
Vouga
Y Guarda
# Y Guarda
#
Mondego
Y Coimbra
# Y Coimbra
#
Y Castelo Branco
# Y Castelo Branco
#
Y Leiria
# Lis
Y
# Leiria
Tejo
o
Tej
Y
#
Y
#
Y
# Y
#
Y Portalegre
# Tejo Y Portalegre
#
Y Santarém
#
Ribeiras do Oeste Y Santarém
#
Y
#
Ca
ia
Sorraia
jo
Te
Y
#
Y
# ##
YY
Y Lisboa
# Y#
# Y Y Lisboa
#
Y Évora
# Y
# Y
# Y Évora
#
Y Setúbal
# ##
YY Setúbal
Y
#
Sado
Guadiana
Y
# Capital de Distrito Sado
Limites de Plano de Bacia Y Beja
#
Y Beja
#
Tipo de Actividade Turística Predominante Y
# Campos de Golfe
Praia Y
# Capital de Distrito
Natureza Rede Hidrográfica
Actividades Económicas Limites de Plano de Bacia Rio Guadian
Cultural Mira
Mi
Desportivo
ra
Religioso
a
b)
a)
Figura 4.3.22 - Turismo
a) Actividade Turística Predominante por Concelho
b) Localização dos Campos de Golfe em Portugal Continental
A figura 4.3.22 reflecte a distribuição por concelho, do tipo de actividade turística predominante e a
localização, por bacia, dos respectivos campos em Portugal Continental.
População Turística e Dotações para Turismo
A análise e o cálculo dos consumos e necessidades de água para a população turística relacionada com a
actividade hoteleira é feita com base no número de dormidas nos diferentes tipos de estabelecimento
fornecidas pela Direcção Geral do Turismo.
Tendo em conta estes factores, no Quadro 4.3.24 apresentam-se as dotações médias anuais, em litros por
dia, adoptadas e aplicadas a cada tipo de estabelecimento hoteleiro. As capitações em zona de praia
apenas se aplicam aos meses de Junho, Julho e Agosto, adoptando-se os valores da coluna (2) para os
restantes meses.
37/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
600 300 250
400 250 200
Pensões
300 200 150
250 150 100
Quadro 4.3.25 - Dormidas Registadas na Actividade Hoteleira de 1993 a 1998 (em milhares)
38/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Y Bragança
#
Y Viana do Castelo
#
Y Braga
#
Y Vila Real
#
Y Porto
#
Y Viseu
#
Y Aveiro
#
Y Guarda
#
Y Coimbra
#
Y Castelo Branco
#
Y Leiria
#
Y Portalegre
#
Y Santarém
#
Y Lisboa
#
Y Évora
#
Y Setúbal
#
Y
# Capital de Distrito
Limites de Plano de Bacia
Y Beja
#
Dormidas na hotelaria em 1998
Sem actividade registada em 1998
1 - 1000
1001 - 10000
10001 - 50000
50001 - 100000
100001 - 500000
500001 - 1000000
1000001 - 2000000
Y Faro
# > 2000000
Nos últimos seis anos verificou-se um aumento gradual da actividade turística sob a forma da ocupação
hoteleira. Sendo a bacia das Ribeiras do Algarve a zona por excelência mais procurada, registou no entanto
uma quebra da procura em 1996, tendo a tendência de crescimento sido retomada no ano seguinte.
Origens de Água das Actividades Turísticas
Salvo os campos de golfe e outras raras excepções, as actividades turísticas têm os consumos assegurados pela
rede urbana onde os equipamentos se localizam, utilizando, por isso, as mesmas origens de água que os sistemas
urbanos, matéria que foi abordada no capítulo 4.3.1.1. No que se refere aos campos de golfe, a regra geral é a
utilização de águas subterrâneas, quando localizados sobre aquíferos, e de águas superficiais nos outros casos,
existindo algumas situações mistas por razões das características intrínsecas destas práticas desportivas.
Consumos, Necessidades de Água e Retornos das Actividades Turísticas
Para o cálculo dos consumos de água para a actividade hoteleira, utilizaram-se as capitações constantes no
Quadro 4.3.26, com o seguinte procedimento:
i) Para as dormidas nos concelhos situados em zona de praia, para os meses de Junho, Julho e Agosto,
aplica-se a capitação [1].
ii) Para os restantes meses aplicam-se as capitações [2] ou [3], conforme o estabelecimento esteja ou
não, situado em cidade de média e grande dimensão.
iii) Para as dormidas em concelhos não situados em zona de praia, aplica-se apenas o ponto ii).
Os consumos de água para os campos de golfe são dados da Federação Portuguesa de Golfe.
39/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
No Quadro 4.3.26 e Figura 4.3.24 apresentam-se e expressam-se os consumos de água por bacia e por
concelho para as diferentes actividades turísticas.
Y Bragança
#
Y
#
Y Viana do Castelo
# Y
#
Y Braga
#
Y
#
Y Vila Real
#
Y
#
Y Porto
#
#
Y
Y Viseu
#
Y Aveiro
#
Y
#
Y Guarda
#
Y Coimbra
#
Y Castelo Branco
#
Y Leiria
#
Y
#
Y
#
Y
# Y
#
Y Portalegre
#
Y Santarém
#
Y
#
Y
# #
Y
##
YY Y Lisboa
#
Y
# Y
# Y Évora
#
##
YY Setúbal
Y
#
Y
# Capital de Distrito
Y
# Campos de Golfe
Y Beja
# Limites de Plano de Bacia
Consumos de Água na Actividade Hoteleira [m3]
Sem actividade registada em 1998
1 - 1000
1001 - 5000
5001 - 10000
10001 - 50000
50001 - 100000
100001 - 500000
500001 - 1000000
Y
# Y
#
Y#
# Y Y
# ##
YY#
1000001 - 2000000
Y
Y
#
Y Faro
# > 2000000
40/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Quadro 4.3.27 - Evolução dos Consumos de Água para o Turismo (103 m3)
Retorno
Bacia Consumo de Água na Actividade Hoteleira Consumo Retorno
Act. Hot.
Hidrográfica Golf Golf
1998 1998 1997 1996 1995 1994 1993
Minho 20 22 14 13 13 14 12 0 0
Lima 55 62 62 56 51 52 45 64 51
Cávado 115 128 124 121 109 112 85 70 56
Ave 99 110 88 86 75 76 69 43 35
Leça 131 145 133 124 115 112 108 21 17
Douro 518 576 488 480 445 430 410 232 185
Vouga 141 156 143 139 137 142 132 24 19
Mondego 216 240 218 193 165 170 157 40 32
Lis 73 81 75 70 73 77 84 0 0
Rib. do Oeste 734 816 667 637 566 550 493 1 030 824
Tejo 1 963 2 181 1 712 1 634 1 579 1 561 1 336 742 593
Sado 224 248 202 206 174 191 186 348 279
Mira 10 11 10 6 6 6 6 0 0
Guadiana 216 241 249 236 249 223 176 1 132 905
Rib. do Algarve 4 815 5 350 5 192 4 978 5 215 4 707 4 147 5 593 4 475
Total 9 330 10 367 9 377 8 979 8 972 8 423 7 446 9 339 7 471
A actividade turística, por se concentrar em poucos meses do ano em períodos muito limitados, introduz
exigências extremas de dimensionamento dos equipamentos de transporte, armazenamento e
regularização. Em alguns aglomerados urbanos a procura, nos meses de Verão ou em ocasiões de
eventos festivos, desportivos ou religiosos, exige o sobredimensionamento de todos os sistemas e cria
necessidades que coincidem com os períodos de menores recursos hídricos em regime natural. O
turismo é uma actividade económica muito sensível e exigente em relação à escassez ou falhas nos
abastecimentos de água exigindo, por isso, uma grande fiabilidade dos sistemas.
Em relação à evolução dos consumos de água de 1993 a 1998, consideraram-se constantes os valores
respeitantes aos campos de golfe, apenas variando os consumos da actividade hoteleira, sendo de notar
para esta última, um acréscimo de 40% de 1993 para 1998, como expressam os valores do Quadro
4.3.27.
Para efeitos de balanço hídrico calcularam-se os retornos das utilizações de água na hotelaria
considerando ser 90% dos consumos e nos campos de golfe idênticos à actividade agrícola, isto é, 80%
dos consumos.
Em resumo, dos principais aspectos a realçar sobre a pressão da actividade turística sobre os recursos
hídricos destaca-se:
• Os consumos da actividade turística têm pouca expressão volumétrica, mas podem ser o principal
condicionamento do dimensionamento dos sistemas de abastecimento e da capacidade de
regularização por se concentrarem em poucos meses do ano;
• Aos sistemas de abastecimento de água para actividades turísticas é exigida grande fiabilidade quanto
à permanência de serviço e qualidade da água;
• Por não se dispor de registos sistemáticos sobre os consumos e custos de investimentos, exploração e
manutenção desta actividade, a avaliação económica das utilizações de água no turismo só é possível
ser efectuada de forma indirecta.
41/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Ave 4 70 24 55,7
Leça 0 0 0 0
Lis 0 0 0 0
Ribeiras do Oeste 0 0 0 0
Sado 2 160 3 5
Mira 0 0 0 0
Guadiana 1 - - -
Ribeiras do Algarve 0 0 0 0
Fonte: CPPE.
42/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Minho
$
Z
Z
$
Z
$
o
vad
Y
#
a #Y Y #
# Y
Lim
Z
$
Ca #Y
Z
$ Y$
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Y Viana do Castelo
# Y #
# Y #Y Z
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Y
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# Y Z
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# Y Braga#Y Z
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Z#Y
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# Y Y#
Y#
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Y Castelo Branco
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$ Y Y
#
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$ Y
# Y
#
Y Portalegre
#
Y Santarém
#
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ê Sorraia Z
$ Z
$
jo
Z
$
Te
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ê
Y Évora
#
ê
Y Setúbal
#
Sado Y
#
Y
#
Y Beja
#
ê
Y
# Centrais Hidroeléctricas - Grupo EDP
Z
$ Centrais Hidroeléctricas - Outras
Rio Guadian
ê Centrais Termoeléctricas
Capital de Distrito
Mi
Y
#
ra
Z
$
Z
$
ê
Y Faro
#
43/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Na produção termoeléctrica os volumes captados com ou sem estruturas de armazenamento nos leitos dos rios,
estuários ou zonas costeiras, são restituídos aos meios hídricos diminuídos dos volumes evaporados e com
aumento de temperatura da água.
$
Z
Z
$
Z
$
Y
#
Z
$ Y #
# Y
Y
# Z
$ Y$
# ZBragança
Y
#
Y Viana do Castelo
# Y #
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Y Vila Real
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Y$Z #Y#Y
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ZZ
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YZ #Y
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Y Aveiro
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$ Y Viseu$
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Y
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YY Y Guarda
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Y $$
ZZ
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Y
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ZZ
Y Coimbra
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Y
# Y
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Z
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Z
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Y
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Y
#
Y Castelo Branco
#
Y Leiria
#
Y
#
##
YY
Z
$ Y
# Y
#
Z
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ê Y
# Y
#
Y Portalegre
#
Y Santarém
#
Z
$
ê Z
$
Z
$ Z
$
ê #Y Lisboa
ê Centrais Hidroeléctricas - Grupo EDP
Y
#
Y Évora
#
ê
Y Setúbal
# Z
$Centrais Hidroeléctricas - Outras
Y
#
ê Centrais Termoeléctricas
Y
#
Y
# Capital de Distrito
Limites de Plano de Bacia
Volumes Médios Anuais Utilizados *
Y Beja
#
Desconhecido
ê 0
1 - 500
501 - 1000
1001 - 3000
3001 - 5000
5001 - 10000
Z
$ 10001 - 17000
Z
$
ê (*) Não inclui os volumes médios anuais
Y Faro
# das centrais hidroeléctricas - outras
por serem desconhecidos
Figura 4.3.26 - Distribuição Espacial por Sub-Bacia das Utilizações Médias Anuais Hidroeléctricas e
Termoeléctricas
A utilização de água na produção hidroeléctrica também deve ser encarada em duas ópticas distintas: como
matéria prima ou como acessória. A primeira condição verifica-se nos aproveitamentos hidroeléctricos e a
segunda nos termoeléctricos em que a água é usada como condutor de calor no arrefecimento. Nos primeiros são
utilizados 5.970 hm3 médios anuais e nos segundos 1.250 hm3 (Quadro 4.3.29).
A avaliação dos volumes e regime de utilização dos recursos hídricos na produção de energia é
importante do ponto de vista do balanço hídrico e da análise económica das utilizações de água, cuja
distribuição espacial se apresenta na Figura 4.3.26.
De entre as maiores pressões que os aproveitamentos hidroeléctricos exercem sobre os recursos hídricos e
que constituem de algum modo problema em relação à sua função natural e à sua gestão, poder-se-ão
apontar:
• Elevada perturbação no funcionamento natural dos sistemas hídricos em resultado da sua grande
capacidade de regularização inter-estacional e inter-anual ou pelo elevado número de infra-estruturas
localizadas em linhas de água de valor ambiental e paisagístico elevado;
• Forte perturbação no transporte de sedimentos e na alteração morfológica dos leitos dos rios e do
acesso de areias à zona costeira;
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Relativamente aos sectores consumidores de água (excluindo portanto a produção de energia), a rega é o sector
dominante, sendo responsável por cerca de 75% dos consumos de água. Tais consumos de água associam-se
maioritariamente a origens subterrâneas 64% (4210 hm3). Tal conclusão decorre de um facto poucas vezes
mencionado e relativo à importância do regadio privado no cômputo da área total equipada com infra-estruturas
de rega no país. Na verdade, apenas 12% da área equipada com regadio está afecta a perímetros públicos, esses
sim, maioritariamente supridos com origens superficiais de água (albufeiras, frequentemente de fins-múltiplos).
No que concerne às origens de água para abastecimento de água à indústria, a repartição dos consumos de água
em origens subterrâneas e superficiais faz-se de forma sensivelmente equitativa. Das origens superficiais de
água, importa salientar pela sua representatividade em volume, as que se associam ao sector 21 da CAE
(produção de pasta de papel), responsáveis por cerca de 39% das necessidades de água para a indústria. Estão
em causa origens maioritariamente superficiais, captando directamente nas linhas de água (casos do Tejo, em
Vila Velha de Rodão e em Constância, no Mondego em Açude da Ponte de Coimbra, no Lima a jusante de
Ponte de Lima, etc).
Cerca de 62% dos consumos de água para o sector urbano são de origem subterrâneo.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
O sector do turismo diz respeito às necessidades de água que decorrem da ocupação dos equipamentos
hoteleiros e da manutenção de campos de golfe, sendo responsável por um consumo de 19 706 dam3/ano no
continente.
Ha bita nte s
S e rvido s
(1) Na orla ocidental as formações cretássicas são as mais produtivas (até 50 l/s). Na orla Meridional as produtividades médias são aproximadamente
20 l/s, ocorrendo caudais de até 50 l/s em calcários dolomíticos jurássicos.
(2) Nos aquíferos carbonatados do Alto Alentejo já foram medidos caudais instantâneos de 80 l/s.
(3) As formações miocénicas atingem produtividades instantâneas de até 80 l/s e as formações pliocénicas de até 20 l/s.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Finalmente, a ligação entre as albufeiras de Odeleite (bacia hidrográfica do rio Guadiana) e de Beliche (zona
relativa ao PBH das ribeiras do Algarve), promovem o contacto de duas entidades hidrográficas que são
diferentes, materializando por isso uma transferência interbacias hidrográficas.
A uma escala mais detalhada, ao nível dos concelhos, já se podem identificar um conjunto maior de
transferências, ilustradas na Figura 4.3.31. A Figura 4.3.32. representa os principais sistemas
multimunicipais de abastecimento urbano de água, alguns já referenciados anteriormente
Quadro 4.3.32 – Transferências de Água entre as Áreas Correspondentes aos PBH no Continente Português
Bacia Hidrográfica Bacia Hidrográfica Volume transferido
Uso de água
de Origem de Destino (hm3)
Cávado Ave 2 Abast. Urbano
Cávado Leça 8 Abast. Urbano
Douro Leça 40 Abast. Urbano
Douro Tejo 50 Abast. Rega
Mondego Tejo 50 Abast. Rega
Tejo Rib. Oeste 40 Abast. Urbano
Sado Guadiana 2 Abast. Urbano
Sado Rib. Costa Alentejo 10 Abast. Industrial
Guadiana Rib. Algarve 30 Múltiplo
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
4.3.3.3. Retornos
Uma parte do volume de água captado volta o meio hídrico sobre a forma de retorno. Na ausência de
avaliações sistemáticas e fidedignas dessa percentagem de retorno, utilizaram-se para efeitos de cálculo os
valores padrão: 80% do consumo urbano, 20% do consumo para rega e percentagens variáveis de emissão de
efluentes para cada actividade industrial segundo o sector da CAE em que laboram e que são muitas vezes
superiores a 80% (os sectores mais consumptivos são também dos que possuem taxas de emissão mais
elevadas).
Quadro 4.3.33 – Retorno dos Sectores Utilizadores de Água do Continente (dam3/ano)
Retorno dos Sectores Utilizadores de Água
Urbano Industrial Turismo Rega Energia
Minho 6 110 100 20 16 200
Lima 8 490 9 230 110 32 200
Cávado 14 280 2 400 170 47 500
Ave 29 430 7 140 130 54 700
Leça 20 780 13 940 150 5 800
Douro 81 720 30 310 700 269 000 56 960
Vouga 31 570 22 710 160 71 200
Mondego 33 280 56 830 250 124 900
Lis 8 080 330 70 10 300
Rib. Oeste 38 170 3 070 1 560 31 100
Tejo 180 580 125 590 2 560 398 300 310 040
Sado 21 560 50 280 500 88 200 437 030
Mira 1 210 60 10 18 900
Guadiana 13 840 2 800 1 120 80 400
Rib. Algarve 21 730 2 080 9 290 61 500
TOTAL 510 830 326 870 16 800 1 310 200 804 030
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
A Figura 4.3.34 apresenta a relação aproximada entre o escoamento anual garantido e o escoamento anual
afluente, assumindo que este último segue uma distribuição log-normal. Observa-se que, se o escoamento
anual apresentar um coeficiente de variação entre 0,5 e 1,5, é necessário uma capacidade de armazenamento
da ordem do dobro do escoamento anual afluente para garantir em 70% dos anos cerca de 90% do
escoamento anual médio. Também se constata que sem capacidade de armazenamento a parcela das
afluências anuais que é garantida em 70% dos anos varia entre os 40% e os 70%.
As necessidades de capacidade de armazenamento sobem com o incremento da variabilidade das afluências,
do valor de escoamento garantido ou ainda com o aumento da fiabilidade (ou garantia de escoamento)
(Figura 4.3.35).
Da análise destas relações ressalta a necessidade significativas de armazenamento para fazer face à
variabilidade do escoamento em Portugal, que apresenta valores de CV entre 0,4 e 1,0. Às necessidades de
armazenamento para regularizar as variações interanuais do escoamento, é necessário adicionar as
necessidades para regularizar as variações sazonais do escoamento.
Minho 2 2 2 0 0.2
Lima 1 2 2 0 400
Cávado 4 7 8 0 1180
Ave 12 12 12 0 100
Leça 0 0 0 0 0
Douro 53 58 58 0 1078
Vouga 17 17 17 0 1
Mondego 25 26 26 0 540
Lis 0 0 0 0 0
Rib. Oeste 2 2 2 0 1
Tejo 40 44 45 1 2750
Sado 20 22 22 0 771
Mira 2 3 3 0 486
Guadiana 24 26 26 0 460
Rib. Algarve 5 5 5 0 63
Continente 207 226 228 1 7830.2
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
12 0
Esc. anual regularizado (Fiab.=70%)
(% Esc. anual em regime natural)
10 0
80
60
40
20
0
0 50 100 150 200 250 3 00 3 50
C ap acid ade útil da a lbuf eira
(% Es c an ual em regim e n atural )
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
100
0
0 50 10 0 15 0 200 250 30 0
C apac ida de út il d a albufeira
(% Esc. a nual em reg im e natura l)
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
A esta lista deveria ainda ser acrescentado outro tipo de informação relativa à ocupação e utilização do solo,
à temperatura, ventos, insolação, actividades potenciadoras de riscos e conflitos, etc., mas que não cabe aqui
ilustrar.
Como se tem apontado nos capítulos anteriores, a caracterização e diagnóstico deste Plano Nacional da Água
está bastante penalizada por falta de um conhecimento rigoroso da evolução de algumas das principais
variáveis que entram na avaliação da situação actual, porque os dados existentes não estão acessíveis ou
mesmo não existem.
É notória a falta de uma base de dados nacional de licenciamento onde constem as características das
utilizações e direitos instalados que usam os recursos hídricos para qualquer fim.
Nos últimos anos o Instituto da Água tem realizado investimentos significativos no desenvolvimento do
Sistema Nacional de Recursos Hídricos – SNIRH que pode ser acedido no endereço www.inag.pt onde
constam muitos dados e informações sobre recursos hídricos.
A correcta gestão dos recursos hídricos exige um planeamento rigoroso, um licenciamento nele apoiado
e uma fiscalização confiante. Todas estas actividades estão dependentes de dados e informações de fácil
acesso e actualizados que permitem, em cada momento, a avaliação integrada e tão abrangente quanto
necessária dos problemas e, em compensação, de soluções alternativas e de apoio à decisão. Para isso, e
para além das modernas ferramentas informáticas, é indispensável dados que só a monitorização permite
fornecer e que é a base do sucesso de qualquer administração e da protecção eficaz dos recursos
hídricos.
No ponto 10 encontra-se tratado o tema da monitorização e onde se retoma esta matéria.
Onde mais se faz sentir a falta de dados e informações para o planeamento de recursos hídricos é nos
domínios dos usos e consumos instalados e sua variabilidade temporal, nas vertentes quantitativa e
qualitativa (onde?, quanto?, quando?, para quê?, porquê?, quem?, desde quando?, até quando?), das
rejeições de água residuais nos meios hídricos e solos e suas características espaciais, temporais e
composição, das características das comunidades biológicas dependentes dos recursos hídricos e dos
custos de investimento, exploração e manutenção dos sistemas de utilização e gestão, entre outros.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
ficando-se nos 420 hm3/ano em contraste com a bacia do rio Sado que, tendo menos 1/3 da área da bacia do
Guadiana, tem cerca de 3 vezes mais consumos. Esta diferença resulta do elevado volume de água
mobilizado na bacia do Sado para produção termoeléctrica.
A análise por sectores utilizadores conduz-nos ao evidente destaque da agricultura de regadio como a
actividade responsável pelos maiores volumes de água de consumos e necessidades, como bem demonstra a
Figura 4.3.37.
Os maiores consumos e necessidades da agricultura em ano médio localizam-se sobretudo nas bacias
hidrográficas dos rios Tejo e Douro com 1.990 hm3/ano e 1.350 hm3/ano, seguidos do Mondego, Sado e
Guadiana. Onde se verifica maior procura potencial de água anual média é nas bacias hidrográficas do Tejo e
Douro com cerca de 670 hm3/ano e 460 hm3/ano, sendo a agricultura o sector responsável por cerca de
660 hm3/ano no Tejo e 450 hm3/ano no Douro. As actividades agrícolas de regadio nas bacias dos rios
Mondego, Sado e Guadiana são potenciais utilizadoras em mais 210 hm3/ano, 150 hm3/ano e 130 hm3/ano
em relação aos consumos actuais que se situa nos 630 hm3/ano, 440 hm3/ano e 400 hm3/ano,
respectivamente.
Minho
Lima
ado Y Bragança
#
Cav
Y Viana do Castelo
#
A ve
Y Braga
#
ça
Y Vila Real
#
Le
uro
Y Porto
# Do
ur o
Do
Paiv
a
V oug a
Y Aveiro
# Y Viseu
#
o
n deg
Mo
Y Guarda
#
C ôa
Y Coimbra
# ere
Zêz
Lis
Y Castelo Branco
#
Y Leiria
#
Tejo
Te jo
[ x103 m3 ]
Y Portalegre
# 4000000
Y Santarém
#
Ca
ia
Sorraia
3000000
jo
Te
Y Lisboa
# 2000000
Y Évora
#
Y Setúbal
#
Sado
1000000
0
Y Beja
#
Y
# Capital de Distrito
Rede Hidrográfica
Limites de Plano de Bacia
3 3
Consumos [ x 10 m ]
Mira Necessidades [ x 103 m3 ]
3 3
Rio Gua diana
Retornos [ x 10 m ]
20 0 20 Km
Y Faro
#
56/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Quadro 4.3.36 - Consumos, Necessidades de Água e Retornos - Quadro Síntese (x103m3)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
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Nota: Os valores referentes ao sector agricultura não reflectem os resultados mais actuais decorrentes do RGA 99 por estes terem sido disponibilizados pelo MADRP depois de concluídos os
trabalhos de avaliação deste tema embora tenham sido tidos em conta nos balanços apresentados no tema 5 - Recursos Hídricos.
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
9.000.000
Consumos
8.000.000 Necessidades
7.000.000 Retornos
[ x10 3 m 3 ] 6.000.000
5.000.000
4.000.000
3.000.000
2.000.000
1.000.000
A análise dos valores dos volumes anuais médios dos consumos permite as seguintes conclusões:
– Os consumos médios totais actuais atingem os 8.750 hm3/ano e as necessidades actuais são de
11.000 hm3/ano no Continente e de 8.820 hm3/ano e 11.100 hm3/ano, respectivamente, em todo o
território nacional;
– Dos consumos retornam em média aos meios hídricos actualmente 2.970 hm3/ano no Continente e
no âmbito nacional 3.020 hm3/ano;
– O consumo do sector agrícola de 6.560 hm3/ano na rega representa 74% do consumo total nacional
do qual retorna aos meios hídricos 1.320 hm3/ano ou seja- 44% do retorno nacional;
– O consumo do abastecimento às populações não chega aos 7% do consumo nacional embora o
retorno signifique cerca de 18% do retorno total nacional;
– A indústria mobiliza cerca de 4% do consumo médio nacional em ano médio embora os seus
retornos atinjam os 11% do total dos retornos;
– O consumo do sector do turismo não tem expressão percentual no compute geral, mas é muito
exigente em termos de garantia e qualidade de serviço a par de ser altamente penalizador no
dimensionamento das diversas componentes dos sistemas de abastecimento e na taxa de
regularização das origens.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RECURSOS HÍDRICOS
5. RECURSOS HÍDRICOS
5.1. Introdução
Qualquer política de gestão de recursos hídricos deve assentar no conhecimento da distribuição espacial
e temporal do recurso água. A descrição quantitativa deste recurso é essencial para responder a questões
sobre a quantidade de água disponível e qual o seu padrão de distribuição espacial e temporal. Só com
base nessa informação é que é possível identificar as regiões onde a escassez de água é um fenómeno
crónico, caracterizar as manifestações dessas situações e conceber os meios para a sua solução. Por
outro lado, as questões relativas à qualidade da água não podem ficar dissociadas do aspecto da
quantidade, pois só a integração destas duas valências permite responder a questões associadas às
variações de concentrações de substâncias e traduzem a segurança em relação à potabilidade e
compatibilidade com os usos.
Este tema encontra-se dividido em 5 grandes áreas. Na área 5.2 caracterizam-se as disponibilidades
hídricas do continente e, em particular os recursos hídricos de superfície. Os recursos hídricos
subterrâneos são analisados na área 5.3 e na área 5.4 apresenta-se o balanço disponibilidades versus
necessidades e identificam-se as situações de sobre-exploração de aquíferos. A área 5.5 analisa as
situações hidrológicas extremas. Finalmente a área 5.6 aborda a questão das alterações climáticas.
A área dos recursos hídricos de superfície caracteriza as principais variáveis meteorológicas que
condicionam o escoamento, fornecendo uma descrição dos contrastes anuais e sazonais da precipitação e
evapotranspiração potencial. No ponto 5.2.2.3. é caracterizada a variabilidade anual e sazonal do regime
de escoamento superficial em regime natural tendo por base um modelo matemático. No ponto 5.2.2.4.
analisam-se as séries de recarga obtidas através do modelo e justifica-se porque é que não podem ser
utilizadas na caracterização da recarga de aquíferos. No último ponto são abordados os problemas
identificados ao longo do processo de execução da avaliação dos recursos hídricos superficiais.
A área dos recursos hídricos subterrâneos tem como objectivo caracterizar a hidrodinâmica dos sistemas
aquíferos aquíferos, avaliar as disponibilidades hídricas subterrâneas e analisar as situações de
sobre-exploração a que os aquíferos estão sujeitos.
No ponto 5.3.1.1 são caracterizados os principais mecanismos que regem o funcionamento hidráulico
dos sistemas, com especial realce para os fenómenos de drenância quer natural, quer induzida. Neste
mesmo capítulo é realçada a importância que a heterogeneidade tem na análise da variabilidade espacial
das produtividades sendo esta caracterizada para cada aquífero com base em valores de transmissividade
e de caudal específico.
No ponto 5.3.1.2 são avaliadas por sistema aquífero ou formação hidrogeológica indiferenciada as taxas
de recarga médias.
No ponto 5.3.1.3 é apresentada simulação por modelo numérico, do escoamento da água subterrânea
num sistema aquífero com o objectivo de mostrar a importância que este tipo de ferramenta possui na
análise detalhada do funcionamento hidráulico ou na previsão de cenários de exploração desse sistema.
No ponto 5.3.1.4 são avaliadas para Portugal as disponibilidades hídricas subterrâneas.
Finalmente no ponto 5.3.2 são referidos os problemas identificados ao longo do processo de avaliação
dos recursos hídricos subterrâneos.
Na área 5.4 apresenta o balanço entre disponibilidades e necessidades e identifica as situações de
sobre-exploração de aquíferos.
A área 5.5 analisa as situações hidrológicas extremas, a área 5.6 aborda o tema das alterações climáticas
e a área 5.7 sintetiza os conhecimentos em termos da sedimentologia e erosão.
Regiões hidrográficas
Meses
Figura 5.2.3 - Gráfico Box-Whiskers Para a Precipitação Média Mensal em Portugal Continental
Os valores elevados de precipitação obtidos para a bacia do rio Lima (que pontualmente chegam a
ultrapassar os 4000 mm) chamam à atenção para a influência que a utilização de postos virtuais tem na
estimativa das superfícies de precipitação. A utilização de postos virtuais para colmatar as falhas de
monitorização em regiões de maior altitude é uma medida que visa obter uma melhor descrição da
variabilidade espacial e altimétrica da precipitação. É natural que as estimativas obtidas com inclusão de
postos virtuais sejam mais elevadas que os valores estimados sem esses postos. No entanto, a diferença entre
as estimativas obtidas, com e sem postos virtuais, é em certos locais da região noroeste muito significativa,
pelo que se justificam algumas reservas aos valores apresentados.
À irregularidade da distribuição espacial junta-se também uma elevada irregularidade sazonal. De acordo
com a Figura 5.2.3 e Quadro 5.2.1. os máximos de precipitação observam-se entre os meses de Dezembro e
Janeiro, concentrando-se no mês de Fevereiro a maior dispersão de valores. Por outro lado, os valores
mínimos verificam-se entre os meses de Julho e Agosto e cerca de 70% da precipitação concentra-se durante
o semestre húmido. Esta sazonalidade tende a ser mais acentuada a sul da bacia do rio Tejo onde cerca de
80% da precipitação se concentra nos meses do semestre húmido (Outubro a Março), contra os 73% nas
bacias hidrográficas situados a norte dessa bacia.
Quadro 5.2.1 - Distribuição da Precipitação Mensal Média por Região Hidrográfica
1600
1400
Precipitação (mm)
1200
1000
800
600
400
200
0
1941
1944
1947
1950
1953
1956
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
Anos
Figura 5.2.4 - Série de Precipitação Anual Média em Portugal Continental no Período 1941/42 a 1990/91
A irregularidade temporal da precipitação é outro dos traços marcantes do clima em Portugal Continental.
Verifica-se que a precipitação anual média para o período dos anos hidrológicos de 1941/42 a 1990/91
variou entre os 564 mm (1944/45) e os 1466 mm (1965/66). A década de 40 foi particularmente seca,
contrastando com a década de 60 que correspondeu a um período mais húmido (Figura 5.2.4).
Apesar da precipitação média no Continente ser de 960 mm, cerca de 25% dos anos tem precipitação abaixo
dos 800 mm ou acima dos 1100 mm. A variabilidade da precipitação aumenta de Norte para Sul como
mostra a razão G10/G90 apresentada no Quadro 5.2.2, em que G90 e G10 são os valores de precipitação
correspondentes aos percentis de 90 e 10%, respectivamente.
Precipitação (mm)
Região Hidrográfica Garantia G90/G10
5% 10% 20% 50% 80% 90%
Minho 2825 2392 2048 1695 1496 1311 1.9
Lima 3185 2931 2300 1851 1727 1577 1.8
Cávado 2963 2642 2029 1677 1532 1416 1.9
Ave 2602 2209 1758 1467 1323 1264 2.0
Leça 1946 1603 1298 1045 880 865 2.2
Douro 1476 1261 998 783 674 641 2.2
Vouga 2231 1889 1475 1203 922 889 2.4
Mondego 1597 1302 1105 874 731 703 2.2
Lis 1320 1214 915 723 674 630 2.0
Tejo 1077 991 788 647 564 531 1.9
Rib. Oeste 1181 1034 822 650 607 569 1.9
Sado 831 786 589 483 406 341 2.0
Mira 926 849 663 518 419 354 2.2
Guadiana 767 717 541 419 383 304 2.0
Rib. Algarve 1190 1053 815 651 497 461 2.4
Continente 1368 1181 925 729 674 651 2.0
A caracterização do regime de evapotranspiração potencial aqui apresentada foi determinada de acordo com
o valor mensal de temperatura média diária, insolação, velocidade do vento e humidade registados em 66
estações climatológicas (Figura 5.2.5).
As séries de observações foram completadas e avaliadas pelo recurso a técnicas estatísticas de modo a obter
registos completos no período entre os anos hidrológicos de 1941/42 a 1990/91.
As características gerais espaciais desta variável climática foi apresentada no ponto 1.2.1.3. Observando a
Figura 5.2.6. destacam-se de um modo geral três grandes regiões com configuração diferente da observada
na precipitação. Um primeira região corresponde às áreas situadas a sul da bacia hidrográfica do rio Sorraia e
ribeiras de costa entre Setúbal e Óbidos com valores da EVP superiores a 1100 mm. A segunda região
corresponde às áreas litorais da bacia dos rios Sado e Mira com valores de EVP semelhantes ao da terceira
região, que corresponde à área a norte da bacia hidrográfica do rio Tejo, onde o valor anual médio da EVP é
inferior a 1000 mm.
Figura 5.2.6 - Gráfico Box-Whiskers Para a Evapotranspiração Potencial por Região Hidrográfica
Quadro 5.2.3 - Distribuição da Evapotranspiração Potencial Mensal Média por Região Hidrográfica
Evapotranspiração potencial (mm)
Região hidrográfica
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Ano
Minho 70 40 29 30 40 65 92 129 150 172 159 105 1081
Lima 68 40 29 30 40 66 93 124 144 164 150 102 1050
Cávado 62 35 25 25 35 61 86 113 135 156 141 97 971
Ave 62 36 26 26 35 62 87 111 131 149 134 95 954
Leça 62 37 29 29 37 62 86 107 125 140 127 91 932
Douro 64 35 24 24 34 62 88 117 144 172 156 105 1025
Vouga 71 42 31 31 44 66 89 116 139 162 150 106 1047
Mondego 75 46 34 33 45 63 84 111 135 162 154 110 1052
Lis 109 80 58 48 95 49 65 83 115 144 153 130 1129
Tejo 80 48 34 33 43 65 88 120 146 181 167 119 1124
Rib Oeste 104 73 53 45 52 54 71 94 125 163 161 131 1126
Sado 74 40 29 31 42 71 98 133 158 184 168 117 1145
Mira 76 44 33 35 44 72 97 129 151 177 159 117 1134
Guadiana 80 43 29 32 42 74 103 142 174 206 187 130 1242
Rib Algarve 85 51 40 40 49 79 104 137 158 186 174 126 1229
Continente 72 40 29 30 40 69 94 126 151 177 162 112 1102
Tal como a precipitação, a evapotranspiração potencial é também caracterizada por uma acentuada
variabilidade sazonal. Verifica-se que o valor da evapotranspiração potencial é mínimo nos meses de
Dezembro a Janeiro e é máximo entre os meses de Julho a Agosto (Quadro 5.2.3).
De acordo com a Figura 5.2.7., verifica-se que a variabilidade interanual da evapotranspiração potencial é
menor que a da precipitação. A razão G10 e G90 ronda 1.1, valor francamente inferior ao valor obtido para a
precipitação (2.0). No período de referência a década de 40 foi aquela que apresentou um maior valor de
evapotranspiração potencial, contrastando com as décadas de 70 e 80 que apresentaram valores
sistematicamente inferiores à média.
1250
Evapotranspiração potencial anual
1200
1150
1100
(mm)
1050
1000
950
900
1941
1944
1947
1950
1953
1956
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
Anos
avaliação definidas no âmbito dos trabalhos dos PBH. As áreas das bacias hidrográficas próprias1 dessas secções
2 2
de avaliação variam entre os 2 km (albufeira da Estevinha) e os 2280 km (albufeira de Cabril). Procedeu-se à
agregação dos resultados da simulação determinados para as 500 secções de avaliação dos PBH para estimar
séries de escoamento em 196 secções de avaliação de recursos hídricos (Figura 5.2.8). Os critérios de selecção das
196 secções de avaliação foram os seguintes:
• Confluência de linhas de água importantes;
• Existência de albufeiras construídas que constituem reservas estratégicas de água;
• Secções de monitorização previstas no âmbito da Convenção Luso-Espanhola, assinada em Albufeira em
Novembro de 1998;
• Locais importantes sobre o ponto de vista da aplicação do Decreto Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto que
estabelece normas, critérios e objectivos de qualidade com a finalidade de proteger o meio aquático e
melhorar a qualidade das águas em função dos principais usos.
O modelo hidrológico utilizado é designado por modelo de Temez, um modelo conceptual e espacialmente
agregado, pelo que apenas necessita de séries de tempo de valores médios sobre toda a bacia hidrográfica a
simular. A escala temporal adoptada é o mês.
O modelo de Temez possui 4 parâmetros cujos valores é necessário obter por um processo de calibração e os
resultados do modelo são ajustados aos valores observados de escoamento. No conjunto dos 15 PBH procedeu-se
à calibração de 119 bacias hidrográficas a partir das quais foi possível estimar os parâmetros do modelo para as
secções de avaliação.
Figura 5.2.8 - Localização das Secções de Avaliação dos Recursos Hídricos Superficiais do PNA
( 1) Define-se bacia hidrográfica própria de uma secção de avaliação aquela que contendo outras secções de avaliação
a montante exclui a área drenada apenas por essas secções.
O regime de escoamento é fortemente influenciado pela variabilidade espacial e temporal das principais variáveis
climáticas, sobretudo da precipitação, que conduz necessariamente a um regime de escoamento com elevada
irregularidade, muito característica do sul da Europa. Em termos gerais no território continental, o litoral norte
húmido contrasta com o interior sul mais seco, concentrando-se o escoamento nos meses de Inverno a que se
seguem longos períodos de caudal mais reduzido. A variabilidade interanual é também muito acentuada.
3
O escoamento anual médio em Portugal Continental é de 385 mm/ano, equivalente a um volume de 30.7 km . De
acordo com a Figura 5.2.9 verifica-se que os 962 mm/ano de precipitação que ocorrem sobre Portugal continental
dividem-se em 577 mm/ano de evapotranspiração real e 385 mm/ano de escoamento.
E v a p o tr a n s p ir a ç ã o
P r e c ip ita ç ã o (577 m m )
(9 6 2 m m )
E s c o a m e n to
385 m m
A Figura 5.2.10 mostra a variação média ao longo do ano das várias componentes do balanço hidrológico. É
interessante verificar que o máximo da precipitação ocorre em Dezembro e que o máximo do escoamento ocorre
em Fevereiro. No início do ano hidrológico o baixo teor de humidade dos solos faz com que as primeiras chuvas
do ano contribuam substancialmente para a recarga. Com a saturação dos solos a precipitação tende a provocar
um maior escoamento superficial, em detrimento da recarga, dando origem ao desfasamento de picos observados.
É também possível constatar que a evapotranspiração real tem o seu máximo em Maio, dois meses antes do
máximo da evapotranspiração potencial. Apesar das condições climatéricas de Julho conduzirem a valores
elevados de evapotranspiração potencial, a ausência de água no solo faz com que essa capacidade
evaporativa não seja aproveitada.
200
150
(mm)
100
50
0
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Meses
Figura 5.2.10 - Síntese do Balanço Hídrico à Escala Mensal para Portugal Continental
O Quadro 5.2.5 resume os resultados obtidos na modelação matemática dos processos hidrológicos que
ocorrem em cada bacia hidrográfica. De um modo geral as bacias hidrográficas que apresentam valores
extremos são as bacias hidrográficas do rio Lima com altos valores de precipitação e de escoamento anual
médio e a bacia hidrográfica do rio Guadiana com baixos valores de precipitação e de escoamento anual médio.
Em consequência do efeito da variabilidade climática, o escoamento segue de um modo geral um
comportamento semelhante ao da precipitação, mas com uma variabilidade regional mais acentuada.
( 2) As áreas não abrangidas pela avaliação correspondem a áreas que drenam directamente para estuários ou áreas de
pequenas ribeiras de costa, que por falta de registos não é possível a calibração do modelo de cálculo.
Da Figura 5.2.11 destaca-se o contraste dos rios do norte em relação aos rios do sul, apresentando os rios a
norte da bacia hidrográfica do rio Tejo disponibilidades anuais médias superiores à média do Continente. Na
bacia hidrográfica do rio Tejo é claro o contraste entre a margem norte, com mais disponibilidade de
recursos hídricos em regime natural, e a margem sul, mais pobre em recursos hídricos. Também é assinalável
a escassez de recursos no interior da bacia hidrográfica do rio Douro.
A bacia hidrográfica que dispõe mais recursos superficiais anuais médios por unidade de área é a bacia
hidrográfica do rio Lima, com cerca de 1400 mm, enquanto que a bacia hidrográfica do rio Douro é a que
apresenta o maior valor de escoamento na sua foz em termos de volume (Quadro 5.2.6). A bacia hidrográfica
do rio Sado, com cerca de 150 mm, é que dispõe menos recursos superficiais anuais médios por unidade de
área.
O escoamento total dos rios internacionais tem forte dependência dos escoamentos provenientes de Espanha,
o que é também visível no Quadro 5.2.6. Com efeito o escoamento em regime natural dos rios Douro, Tejo e
Guadiana nas secções de fronteira é cerca de 68% do seu escoamento na foz. Esta percentagem não engloba
os escoamentos afluentes através dos outros dois rios internacionais, o Lima e o Minho, e de um conjunto de
afluentes importantes provenientes de Espanha como o Águeda, no Douro, o Erges e o Sever no Tejo, o
Chança e o Ardila, no Guadiana. O escoamento médio produzido em Espanha por unidade de área nas bacias
hidrográficas internacionais é, no entanto, inferior ao escoamento produzido em território português.
O escoamento em Portugal Continental é caracterizado por uma acentuada sazonalidade, com cerca de 60%
do escoamento anual médio a concentrar-se no semestre húmido (Quadro 5.2.7). Este valor é ligeiramente
mais baixo que a percentagem da precipitação anual que ocorre no mesmo período, o que pode ser explicado
pelo efeito atenuador das descargas dos aquíferos que garantem o escoamento superficial durante os meses
de Verão.
A irregularidade temporal da precipitação exerce uma clara influência sobre a evolução temporal do
escoamento, exibindo ambas as variáveis um comportamento temporal semelhante. Durante o período de
1941/42 a 1990/91, 25% dos anos têm escoamento anual superior a 550 mm ou inferior a 250 mm (Figura
5.2.12). O ano mais seco ocorreu em 1975/76, com cerca de 77 mm, e o ano mais húmido em 1965/66, com
cerca de 882 mm.
A Figura 5.2.13 apresenta a curva de distribuição empírica do escoamento anual em regime natural definido
para Portugal Continental.
Verifica-se que embora a variabilidade do escoamento anual nas bacias hidrográficas a norte do rio Tejo seja
maior que a das bacias hidrográfica situadas a sul do referido rio (Figura 5.2.14), em termos relativos a
irregularidade do escoamento anual aumenta de norte para sul (Quadro 5.2.8). As bacias do Sado, Mira e das
ribeiras do Algarve têm os valores de G10/G90 mais elevados, existindo anos em que o escoamento
apresenta valores próximos de zero.
1000
Escoamento (mm)
800
600
400
200
0
1941
1944
1947
1950
1953
1956
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
Anos
Figura 5.2.12 - Série de Escoamento Anual Médio em Portugal Continental no Período 1941/42 a 1990/91
1
Probabilidade de não excendência
0.9
0.8
0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
Escoamento anual (mm)
Figura 5.2.14 - Gráfico Box-Whiskers Para o Escoamento Anual Médio em Portugal Continental
Para avaliar as disponibilidades hídricas regularizadas de cada bacia apresenta-se no Quadro 5.2.13
estimativas do seu valor na foz de cada bacia, assumindo que a capacidade de armazenamento da bacia se
concentra num único ponto localizado foz da bacia hidrográfica. A determinação do escoamento em regime
regularizado nas bacias hidrográficas dos rios internacionais teve em linha de conta as afluências geradas em
regime modificado nas secções de fronteira, de acordo com os dados dos planos de bacia hidrográfica
espanhóis. Os valores apresentados constituem, portanto, aproximações dos reais valores regularizados.
5.2.4. Problemas de Conhecimento dos Recursos Hídricos de Superfície e
Necessidade de Investigação
A apresentação de resultados sob a forma de quadros, esquemas ou gráficos pode, também, dar a sensação
que não existem erros associados aos valores obtidos e que confiamos inteiramente nas estimativas
apresentadas.
Ambas estas ideias estão longe de estarem correctas. Existem lacunas de conhecimento e incerteza associada
aos valores apresentados que, embora não impeçam a definição de uma política de gestão dos recursos
hídricos, convém que sejam melhoradas de modo a fundamentar com mais rigor as opções de planeamento.
A falta de dados ou a existência de erros são sempre apontadas como obstáculos a uma correcta avaliação
dos recursos hídricos. Embora estes problemas sejam, por vezes, abusivamente utilizados para justificar
trabalhos menos aprofundados, também é verdade que eles existem e que não podem ser ignorados. O tema
10 faz um diagnóstico dos problemas de monitorização existentes em Portugal e apresenta os programas em
curso ou previstos para ultrapassar a presente situação. Em particular, é importante ultrapassar as lacunas de
informação pluviométrica em zonas de altitude, principalmente no Noroeste onde a consideração de postos
virtuais tornou evidente a escassez de dados de altitude.
A determinação da evapotranspiração potencial tem associada duas causas que lhe conferem um elevado
grau de incerteza. Estas causas são a baixa densidade de estações climatológicas existente em Portugal e a
ausência de medição da radiação solar.
No que respeita a dados hidrométricos é fundamental retomar o esforço de obtenção de medições de caudal
que permitam manter curvas de vazão rigorosas e actualizadas. A situação geográfica de Portugal aconselha
também um especial cuidado na monitorização das afluências provenientes de Espanha.
A monitorização não pode ser dissociada da disponibilização dos dados. A existência de dados em locais de
difícil acesso ou em forma de papel desencoraja a sua utilização pela comunidade técnico-científica. O
esforço que o INAG tem realizado no campo da digitalização e disponibilização de dados, sendo assinalável,
não está concluído.
O PNA apoiou-se nos relatórios dos PBH de modo a garantir a compatibilização entre os resultados de
ambos os Planos. Embora a metodologia geral seguida nos vários PBH tenha sida a mesma, estes estudos
divergem em algumas hipóteses assumidas ou nas opções tomadas, o que eventualmente pode conduzir a
resultados inconsistentes. Tendo presente que não seria possível refazer grande parte dos trabalhos de modo
a obter a consistência pretendida, com a análise realizada tentou-se averiguar se as diferenças detectadas
conduzem a resultados significativamente diferentes. A esmagadora maioria dos resultados foram aceites
como consistentes tendo em conta os objectivos pretendidos. Foram, no entanto, detectados alguns
problemas que devem ser destacados para que possam ser corrigidos quando para tal houver condições.
É importante realizar um esforço de modelação padronizado a nível nacional que permita sugerir
metodologias e modelos e indicar valores padrão de possam ser utilizados em estudos expeditos ou em
situações de faltas de dados. O esforço de modelação hidrológica deve incidir sobre os seguintes vectores
fundamentais:
• Regionalização prévia do parâmetro Imax com base nas características hidrogeológicas das bacias em
análise;
• Incorporar dados relativos a anos hidrológicos recentes, que permita a validação da calibração
efectuada, dando maior consistência matemática ao processo de calibração do modelo;
• Utilização de várias escalas temporais, nomeadamente a escala diária;
• Integração das componentes superficiais e subterrâneas do ciclo hidrológico, dando uma maior
consistência física ao complexo processo de transformação da precipitação em escoamento,
incorporando no processo de calibração do modelo a variabilidade hidrogeológica;
• Modelação da totalidade da área das bacias hidrográficas partilhadas com Espanha, permitindo uma
base de entendimento comum sobre as disponibilidade existentes em regime natural nas secções de
fronteiras e foz dos rios internacionais.
No tratamento desta matéria deparou-se com algumas dificuldades na caracterização da variabilidade
espacial das variáveis climáticas que no futuro podem vir a ser superadas com a utilização de técnicas de
detecção remota, nomeadamente radares meteorológicos e de satélites. Estas técnicas permitem obter a
custos razoáveis boas descrições da variabilidade espacial da precipitação ou da humidade no solo,
permitindo a implementação de modelos apoiados em sistemas de informação geográfica.
No Maciço Antigo predominam as rochas ígneas e metamórficas onde estão delimitados e caracterizados 10
sistemas aquíferos dos quais 9 se situam no Alentejo. Deve aqui referir-se que no âmbito do Estudo dos
Recursos Hídricos Subterrâneos do Alentejo (ERHSA) e fruto de uma campanha de inventariação, recolha e
análise de dados hidrogeológicos foi possível identificar na região alentejana do Maciço Antigo novas
formações aquíferas em áreas constituídas por rochas metamórficas e ígneas que modificaram
significativamente a paisagem hidrogeológica desta área. Deve referir-se que o aquífero A8 Bacia de
Alvalade foi integrado no sistema da bacia do Tejo-Sado/Margem Esquerda após estudos hidrogeológicos
mais aprofundados no âmbito do ERHSA.
Na Orla Ocidental existe uma grande variedade de formações que constituem o suporte de 30 sistemas
aquíferos: unidades detríticas de idade terciária e quaternária; arenitos e calcários do Cretácico e calcários do
Jurássico. Estas circunstâncias tornam a Orla Ocidental uma paisagem hidrogeológica única no País.
Por sua vez a Orla Meridional é constituída por formações detríticas e carbonatadas de um modo geral muito
produtivas na qual foram delimitados 17 sistemas aquíferos de características cársicas ou parcialmente
cársicas.
Finalmente, a Bacia do Tejo e Sado é constituída por formações detríticas de idade terciária e quaternária. É
aqui que se situa o mais extenso sistema aquífero da Península Ibérica: o sistema da bacia do Tejo e do
Sado-Margem Esquerda. Para além deste foram identificados mais 4 sistemas aquíferos todos eles de
características porosas, contribuindo pela sua extensão, espessura e produtividade para tornar a Bacia do
Tejo e Sado a mais importante unidade hidrogeológica do País.
Como foi referido, a diversidade hidrogeológica do País representada na variedade das formações litológicas
onde ocorrem os aquíferos é seguramente responsável pela existência de vários tipos de funcionamento
hidráulico, pela multiplicidade de conexões hidráulicas com outros subsistemas, pela variabilidade das
produtividades observadas e pela variedade dos sentidos de fluxo.
Da totalidade dos sistemas aquíferos, cerca de metade funcionam como aquíferos mono-camada em regime
livre ou confinado enquanto que os restantes são sistemas multicamada apresentando muito deles
importantes conexões hidráulicas entre as unidades aquíferas que os compõem (Quadro 5.3.2).
Como é óbvio os mecanismos de drenância desempenham um papel fulcral no escoamento da água
subterrânea sendo por esse motivo uma componente de modo nenhum negligenciável nos balanços hídricos
desses sistemas. Apesar de em muitos casos ser difícil a estimação dos valores desses caudais é possível
identificar os casos onde aquele fenómeno natural é relevante (Quadro 5.3.2). Nesse contexto deve-se
enfatizar o papel que a drenância tem no funcionamento hidráulico quer em regime natural quer induzida por
exploração intensiva, em aquíferos como o sistema da Bacia do Tejo-Sado (Margem Esquerda) ou o
subsistema Cretácico do Aveiro.
As unidades aquíferas com carácter confinante ou semi-confinante apresentavam por vezes artesianismo
repuxante em períodos que antecederam o início de da sua exploração como é o caso dos sistemas O23, T4,
M15, M7, O12, O5, O10 e O2 (ver Quadro 5.3.2). Alguns desses aquíferos apresentam presentemente esse
fenómeno como é o caso do sistema O15, o que pode ser indicador de sub-exploração desses sistemas.
Pela sua importância no funcionamento hidráulico há a referir alguns aspectos hidrodinâmicos relativamente
aos sistemas cársicos e aluvionares.
No primeiro caso há que enfatizar o papel relevante das nascentes no funcionamento hidráulico daqueles
sistemas. Esses pontos de descarga naturais debitam em geral caudais apreciáveis desempenhando um papel
crucial no balanço hídrico do sistema hidrogeológico.
É na unidade hidrogeológica da Orla Ocidental que ocorrem as exsurgências mais importantes, associadas
aos sistemas cársicos do Liásico a Norte do Mondego (O3) de Ançã-Cantanhede (O4), do Liásico Penela-
Tomar (O9), de Sicó-Alvaiázere (O11) e do Maciço Calcário Estremenho (O20).
De uma ordem de magnitude menor estão as nascentes do sistema Querença-Silves (M5) da Orla Meridional.
Na figura 5.3.1 está representado um gráfico que pretende dar conta da importância relativa, em termos de
caudal, das mais importantes nascentes de sistemas cársicos em 3 unidades hidrogeológicas. A nascente do
sistema O20 é a de Alviela que debita um caudal médio de 3800 l/s.
Quanto aos sistemas aluvionares há a referir a importante dependência destes com os cursos de água com os
quais estão conectados, revelando características efluentes ou influentes tendo em conta o funcionamento
hidráulico sazonal daqueles sistemas hidrológicos. No Quadro 5.3.1 estão identificados os casos mais
relevantes. De entre estes salientam-se o sistema O6 em dependência directa com o rio Mondego e os
sistemas T2, T4 e T5 com o rio Tejo.
nascentes
4000
3000
litros / seg
2000 caudal
1000
O20
O11
A10
O4
O3
O9
M5
A2
sistemas aquiferos
Intervalo de transmissividades
2
Cod SISTEMA AQUÍFERO (m /dia)
Min Max
O26 Ota – Alenquer 1000 a 14700
O15 Ourém 3 a 527
O23 Paços 22 a 1250
O16 Pataias 8 a 3000
O28 Pisões – Atrozela s/ dados
O14 Pousos – Caranguejeira 84 a 3080
O11 Sicó – Alvaiázere 4 a 570
O2 Subsistema Cretácico de Aveiro 6 a 800
O1 Subsistema Quaternário de Aveiro 2 a 1200
O5 Tentúgal 1 a 1200
O25 Torres Vedras 2.5 a 400
O27 Vale de Lobos 8.25
O21 Vale Tifónico das Caldas da Rainha 30 a 450
O8 Verride s/ dados
O12 Vieira de Leiria - Marinha Grande 38 a 1000
O13 Louriçal (ex- Vermoíl) 8 a 40
O29 Condeixa-Alfarelos 2 a 347
O30 Viso_Queridas 11 a 241
Bacia do Tejo – Sado
T4 Aluviões de Abrantes 14 a 3430
T5 Aluviões de Constância 1925 a 4762
T2 Aluviões do Tejo 6 a 5794
T1 Bacia do Tejo-Sado / Margem Direita 0.1 a 4100
T2 Bacia do Tejo-Sado / Margem Esquerda 19 a 4100
Maciço Antigo
A8 Bacia de Alvalade 1 a 200
A5 Elvas - Vila Boim 1 a 171
A2 Escusa 6 a 776
A4 Estremoz – Cano 600 a 800
A9 Gabros de Beja 5 a 450
A3 Monforte 65 a 540
A10 Moura – Ficalho 617 a 3514
A7 Sines 1 a 7407
A1 Veiga de Chaves 1 a 3000
A6 Viana do Alentejo – Alvito 2.5 a 30300
caudais de ensaio foram escolhidos em detrimento da transmissividade de mais difícil estimação. A realidade
crua do conhecimento hidrogeológico em Portugal mostra que infelizmente, valores de transmissividade
estão ausentes em muitos sistemas aquíferos o que inviabiliza uma comparação em termos de avaliação da
sua variabilidade espacial.
Não obstante apresenta-se no Quadro 5.3.3 o intervalo de valores de transmissividade encontrado para os
sistemas aquíferos onde foram realizados ensaios de caudal ou de bombagem. De notar a grande
variabilidade de valores em alguns sistemas reflexo da heterogeneidade existente. Deve por exemplo
enfatizar-se o grande intervalo de valores encontrado para os sistemas M5:Querença-Silves, O26:Ota-
Alenquer e A10:Moura-Ficalho típico de sistemas altamente heterogéneos como são os sistemas cársicos.
Por insuficiência de dados não foi possível apresentar uma tabela semelhante com valores de coeficiente de
armazenamento.
Por sua vez a análise variográfica do caudal específico em alguns sistemas aquíferos mostra igualmente
funções exibindo padrões de estrutura espacial bastante diversos, reflectindo uma grande variedade de graus
de heterogeneidade presente naqueles sistemas, entre exemplos de grande continuidade espacial como é o
caso do sistema O15 (Figura 5.3.3) e casos de aleatoridade pura como aquele que caracteriza o sistema M6
(Figura 5.3.4).
Figura 5.3.3 – Variograma do Caudal Específico (Valores em l/s/m) do Sistema Aquífero O15: Ourém
Para uma caracterização estatística das produtividades dos sistemas aquíferos foram utilizados caudais de
exploração quer obtidos directamente quer estimados a partir de outras variáveis (rebaixamentos, posição de
ralos,…).
Nas figuras 5.3.5 a 5.3.9 apresentam-se por unidade hidrogeológica, gráficos onde se pode observar a
mediana e o grau de dispersão (a partir dos respectivos quartis 25% e 75%) dos valores de produtividade. Por
insuficiência de dados só é possível apresentar em alguns sistemas a mediana desses valores.
Deve referir-se que os sistemas T1 e T3 foram divididos respectivamente em 2 e 3 grupos de forma a
considerar os diferentes níveis produtivos correspondentes a unidades litológicas diferenciadas. Os
subsistemas são: T1a – Calcários de Almoster ; T1b – Grés da Ota; T3a – Pliocénico; T3b – Grés da Ota e
T3c – Miocénico.
35
30
25
q75
20
q25
15 med
10
0
M10
M11
M12
M13
M14
M15
M16
M17
M1
M2
M3
M4
M5
M6
M7
M8
M9
Figura 5.3.5 – Valores Estatísticos das Produtividades (em l/s ) dos Sistemas Aquíferos da Orla Meridional
25
20
15 q75
q25
10 med
0
A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 A10
Figura 5.3.6 – Valores Estatísticos das Produtividades (em l/s) dos Sistemas Aquíferos do Maciço Antigo
80
70
60
50 q75
q25
40
med
30
20
10
0
O1 O2 O3 O4 O5 O6 O7 O8 O9 O10 O11 O12 O13 O14
Figura 5.3.7- Valores Estatísticos das Produtividades (em l/s) dos Sistemas Aquíferos da Orla Ocidental (I)
20
15
q75
q25
10
med
0
O15 O16 O17 O18 O19 O20 O21 O22 O23 O24 O25 O28 O29 O30
Figura 5.3.8 – Valores Estatísticos das Produtividades (em l/s) dos Sistemas Aquíferos da Orla Ocidental (II)
60
50
40
q75
30 q25
med
20
10
0
T1a T1b T2 T3a T3b T3c T4 T5
Figura 5.3.9 – Valores Estatísticos das Produtividades (em l/s) dos Sistemas Aquíferos da Bacia Tejo-Sado
sistemas aquiferos
14
12
10
8
6
4
2 caudal
0
CAFI
POFI
PORO
CARS
POCA
litologias
Figura 5.3.10 - Mediana dos Valores de Produtividade (em l/s) dos Sistemas
Aquíferos Agrupados por Tipos Litológicos
5.3.1.2. Recarga Efectiva dos Sistemas Aquíferos ou Formações Hidrogeológicas
A estimação da recarga revela-se regra geral de grande dificuldade já que não existe uma metodologia segura
para a sua correcta avaliação.
A recarga pode-se definir como a água infiltrada que escoando verticalmente vai atingir a superfície freática.
Trata-se da parcela de água infiltrada que resta depois de deduzida a quantidade evapotranspirada.
Identificam-se em geral as seguintes fontes de recarga num sistema hidrogeológico:
a) precipitação
b) cursos de água e lagos
c) fluxos inter-aquíferos incluindo fenómenos de drenância
d) retornos por regas
e) urbanas
Em virtude da escassez de dados e de informação disponível só é possível estimar valores médios de recarga
efectiva por precipitação. Para esse efeito foram utilizadas valores que foram calculados utilizando
metodologias muito díspares tais como o de balanços hídricos a nível do solo, o de balanços geoquímicos
como o de cloretos, o de decomposição de hidrogramas e ainda métodos expeditos baseados em critérios
puramente litológicos.
É portanto necessário um conjunto muito completo de dados hidrológicos e hidrogeológicos que na maioria
dos casos não se encontra disponível para efeitos de modelação de um sistema aquífero.
Como ferramenta privilegiada na simulação do escoamento subterrâneo a 2D ou a 3D os modelos
apresentam uma flexibilidade para analisar sistemas aquíferos com fronteiras complexas, heterogeneidades e
taxas de bombagem e de recarga altamente variáveis. A simulação numérica utiliza não só representações
equi-prováveis da realidade desconhecida como igualmente cenários plausíveis de situações de exploração
do sistema.
Uma das etapas incontornáveis neste processo é o estabelecimento do modelo conceptual da situação
hidrogeológica a simular que inclui todo o nosso conhecimento do aquífero, os principais mecanismos de
funcionamento hidráulico (leis físicas), as principais opções de simulação sugeridas nesta etapa pré-
modelação.
No decurso da elaboração do PNA foi desenvolvida modelação numérica de escoamento em 3 sistemas
aquíferos de Portugal: O sistema multiaquífero Cretácico de Aveiro, o sistema multiaquífero da Bacia do
Tejo-Sado e o sistema aquífero de Escusa, cujos recursos hídricos subterrâneos desempenham um papel
fundamental no balanço hídrico das bacias hidrográficas a que pertencem sendo os 2 últimos importantes
origens de água subterrânea para abastecimento público. Estes sistemas representam muito bem a
diversidade hidrogeológica existente no País, quer do ponto de vista litológico ( poroso, cársico), quer dos
tipos de funcionamento hidráulico (sistemas mono e multicamada), quer nas características de interacção
com outros subsistemas ( rio, mar, estuário). Em seguida apresentam-se sinteticamente as principais etapas
em que se desenvolveu a modelação do Sistema Multiaquífero do Cretácico de Aveiro
A modelação numérica do sistema multiaquífero do Cretácico de Aveiro foi realizada por Maria Teresa
Condesso de Melo no âmbito da sua tese de doutoramento.
Na figura 5.3.12 está representado o modelo conceptual adoptado para o sistema multiaquífero do Cretácico
de Aveiro sugerido pelo conhecimento geológico e a hidrodinâmica do sistema.
Da definição das unidades hidroestratigráficas do aquífero Cretácico de Aveiro resultou um modelo
conceptual formado por oito camadas, das quais cinco correspondem a níveis aquíferos, duas a aquitardos e
uma, que devido à sua reduzida permeabilidade, se pode considerar como tendo um comportamento
confinante. Aquelas unidades hidroestratigráficas são entendidas aqui como unidades estratigráficas com
propriedades hidrogeológicas semelhantes.
Oceano
Atlântico Camada 1
Camada 2
Camada 3+4
Camada 5
Camada 6
Camada 7+8
Para a definição da geometria dos sistema e da disposição tridimensional destas camadas na área de estudo
recorreu-se à informação contida em logs litológicos de 183 furos que exploram o aquífero Cretácico de
Aveiro, e sempre que disponíveis, às correspondentes diagrafias (potencial espontâneo, resistividade e
radiação gamma natural). Para cada um dos logs procedeu-se à definição da cota da base de cada uma das
camadas que constituem o sistema aquífero (Figura 5.3.13).
Figura 5.3.13 - Secção Transversal W-E do Modelo do Sistema Multiaquífero Cretácico de Aveiro
Na etapa de desenho do modelo começou por se definir a malha e as zonas inactivas da área a modelar, zonas
essas onde o fluxo de água subterrânea não é simulado. A malha definida é uma malha quadrada de 75
colunas x 158 linhas e onde cada célula tem uma área de 500 m x 500 m (Figura 5.3.14).
Z
0.1
Figura 5.3.15 - Resultados da Simulação do Fluxo Subterrâneo em Regime Estacionário (t= 14 Dias, Ano
1955, Anterior ao Início da Exploração do Aquífero) no Principal Nível Aquífero (C3) Com
Indicação da Direcção de Fluxo (Sobreelevação: 30x).
Figura 5.3.16 - Resultados da Simulação do Fluxo Subterrâneo em Regime Transitório (t= 17155 Dias, Ano
2000) no Principal Nível Aquífero (C3) Com Indicação da Direcção de Fluxo
(Sobreelevação: 30x). Os Círculos a Vermelho Representam os Furos de Bombagem
Considerados, Enquanto os Círculos a Verde Correspondem aos Piezómetros de Observação
de Níveis Piezométricos
ignora as situações de escassez hídricas derivadas da variabilidade sazonal dos recursos hídricos ou da
desadequação dos sistemas de abastecimento às disponibilidades e necessidades de água. As bacias que aqui
forem identificadas como deficitárias ou quase deficitárias deverão ser objecto de estudos mais
pormenorizados com um enfoque especial nestes aspectos.
O balanço aqui apresentado tem por base os valores de necessidades a satisfazer por águas de superfície
apresentados no tema 4 – Usos, Consumos e Necessidades de Água e os das disponibilidades apresentadas
no início do tema 5 – Recursos Hídricos. No entanto, tal como se referiu os valores referentes à utilização da
água no sector agrícola foram corrigidos de modo a reflectir as necessidades para o sector agrícola estimados
pelo IHERA.
A inventariação das necessidades de água foi realizada ao nível do concelho, pelo que a afectação das
necessidades para os vários sectores utilizadores de recursos hídricos a cada uma das bacias de avaliação de
recursos hídricos foi determinada de acordo com os seguintes critérios apresentados.
Agricultura – Através de metodologias de SIG, cruzou-se a informação referente às necessidades de água
para o sector agrícola à escala do concelho, e as bacias de avaliação de recursos hídricos superficiais,
obtendo-se a distribuição das necessidades de água por bacia de avaliação para o sector agrícola. As
transferências de água entre as sub-bacias de avaliação para abastecer a agricultura foram determinadas a
partir do inventário das origens de água para abastecimento da agricultura e do inventário das áreas.
Considerou-se que os retornos gerados pela agricultura constituem 20% das necessidades de água, sendo
devolvidos na secção de avaliação de recursos hídricos.
Urbano, Indústria e Turismo - Considerou-se que as necessidades para estes sectores utilizadores estão
concentradas nas sedes de freguesia. Assim, tendo por base os valores à escala do concelho das necessidades
de água para os diferentes sectores utilizadores, procedeu-se à afectação dessas necessidades às sedes de
freguesia multiplicando as necessidades do concelho pelo ratio entre a população da freguesia e a população
do concelho. A determinação das transferências de água para consumo urbano, turismo e indústria, baseou-se
na análise das origens de água que abastecem mais de 10000 habitantes de acordo com o Inventário Nacional
de Saneamento Básico de 1994, que define os concelhos abastecidos por cada origem. Assumiu-se que os
retornos gerados pelas necessidades urbanas, do turismo e da indústria constituem 80% das necessidades de
avaliação.
Numa primeira análise comparou-se os valores de escoamento gerados em cada bacia de avaliação com os
valores de necessidades. A fim de simular o efeito regularizador das albufeiras estimaram-se os valores de
escoamento anual garantido, assumindo que a capacidade de armazenamento das albufeiras se concentrava
na foz da bacia hidrográfica (quadro 5.4.1). O incremento de volume garantido é maior nos níveis mais
elevados de garantia que estão associados aos valores mais reduzidos de disponibilidades. É nesta gama de
valores que a existência de capacidade de armazenamento permite atenuar assimetrias e elevar o valor de
disponibilidades dos anos mais secos. Esse efeito é particularmente evidente nas bacias hidrográficas dos rios
Sado, Mira e Ribeiras do Algarve onde o coeficiente de regularização das albufeiras é maior. O Quadro 5.4.1
compara as necessidades de água nas diferentes bacias com vários quantis de disponibilidades em regime
regularizado. Os valores do ratio disponibilidades/necessidades inferiores à unidade sugerem situações em
que os recursos disponíveis anualmente não são suficientes para garantir a satisfação da totalidade das
necessidades. A bacia das ribeiras do Algarve está nessa situação em 10% dos anos. Existe, no entanto, um
conjunto de outras bacias que apresenta valores próximos da unidade, o que sugere que, embora não haja
situações de escassez à escala anual, poderá haver situações de escassez de água devido à variabilidade
sazonal das disponibilidades. As bacias dos rios Leça, Sado, Mira e Guadiana e das ribeiras do Oeste estão
nessa situação. Na determinação das necessidades tomou-se em linha de conta as transferências actualmente
existentes e excluiu-se as necessidades para o sector da energia, por se considerar que é um sector
predominantemente não consumptivo.
O balanço à escala anual e à escala da bacia hidrográfica confirma que as bacias sujeitas a maior stress
hídrico são as bacia do Leça, Lis, Ribeiras do Oeste e Ribeiras do Algarve (Quadro 5.4.2).
Garantia 90% Garantia 80% Garantia 50% (hm3) Percentil 10 Percentil 20 Percentil 50
Minho 5931 6693 8465 89 66.63 75.19 95.10
Lima 2110 2462 3065 228 9.28 10.82 13.47
Cávado 1769 1960 2099 310 5.70 6.32 6.77
Ave 612 794 1048 370 1.65 2.15 2.83
Leça 38 60 94 31 1.25 1.96 3.08
Douro 9112 11920 17841 1 224 7.44 9.74 14.57
Vouga 721 1108 1732 447 1.61 2.48 3.87
Mondego 1452 2324 3430 869 1.67 2.67 3.95
Lis 63 121 225 73 0.85 1.65 3.07
Rib. Oeste 131 163 267 193 0.68 0.85 1.38
Tejo 6398 8878 14021 2 096 3.05 4.24 6.69
Sado 612 716 918 655 0.79 0.94 1.40
Mira 268 289 291 90 2.99 3.21 3.23
Guadiana 962 1476 3156 358 2.69 4.18 8.81
Rib. Algarve 105 160 327 256 0.40 0.67 1.28
A Figura 5.4.1 apresenta os resultados obtidos em termos de percentil abaixo dos qual o ratio disponibilidade
versus necessidades é inferior a 1. Apesar de não considerar a variação sazonal das disponibilidades nem a
capacidade de regularização interanual proporcionada por algumas albufeiras, é interessante analisar a Figura
5.4.1 para avaliar a distribuição espacial das situações de escassez hídrica.
As zonas a norte do Tejo apresentam valores inferiores a 5%, o que significa que apenas em anos
extremamente secos (com períodos de retorno superiores a 20 anos) é que podem vir a ocorrer situações de
escassez de água. Exceptua-se a zona a cabeceira da bacia do Mondego, que reflecte o efeito do
abastecimento a partir da albufeira da Aguieira. Contudo, parece subsistirem algumas dúvidas, que não ´s
possível ainda esclarecer sobre o resultado a que se chegou nesta zona.
A sul do Tejo, a situação é bastante diferente, com vastas áreas indicando situações de escassez de água para
percentis entre os 10 e os 20%, o que corresponde a períodos retorno da ordem dos 5 a 10 anos. Algumas
áreas das cabeceiras do Sado, Mira, Caia e ribeiras do Algarve apresentam valores que sugerem situações de
escassez de água com períodos de retorno da ordem entre os 2 e os 5 anos. A maioria das situações de
escassez de água identificadas na Figura 5.4.1 resultam da necessidade de satisfazer consumos agrícolas
significativos em relação à dimensão das respectivas.
Por exemplo, a diminuição dos caudais das nascentes ou do escoamento de base podem não ser indicadores
de sobre-exploração, já que a exploração dos recursos hídricos subterrâneos desses sistemas particulares
implica uma diminuição da descarga natural podendo em última análise implicar a cessação total daquela.
A manutenção das descargas naturais constitui uma opção de gestão devendo ser condicionada por
constrangimentos de ordem ambiental (manutenção de caudais ecológicos, manutenção de zonas húmidas),
económica, legal, etc. Assim, o aproveitamento total, ou parcial, dessas descargas naturais, através da
captação de águas subterrâneas, deverá estar sujeito aos referidos constrangimentos, não sendo a diminuição
do caudal, até aos valores impostos, uma indicação de sobre-exploração.
A evolução dos níveis piezométricos constitui porventura o melhor indicador de sobre-exploração, contudo
na análise da sua evolução devem ser considerados alguns aspectos.
Em primeiro lugar deve ser tido em conta que se existir um aumento das extracções haverá
concomitantemente uma diminuição dos níveis, como resposta dinâmica do sistema, sem que tal implique
necessariamente uma situação de sobre-exploração. Esta pode ser indicada por uma descida geral dos níveis,
em termos médios, sem ser acompanhada de aumento das extracções. Não deverão ser confundidas variações
de período curto, por exemplo numa situação de seca, com uma verdadeira tendência generalizada. Esta só
poderá ser detectada dispondo-se de uma série suficientemente longa de observações. No entanto, deve-se ter
em conta que aquíferos muito extensos, poderão ser caracterizados por uma inércia elevada, pelo que a
adaptação a mudanças no padrão de exploração faz-se através de um período de regime transitório, que
poderá ser muito longo, dependendo da distância dos pólos de extracção às zonas de recarga, da
condutividade hidráulica, etc. Esse período, em que se verificam descidas dos níveis piezométricos, pode ter
uma duração de dezenas ou mesmo centenas de anos, mesmo numa situação em que as extracções não
ultrapassem os recursos renováveis.
Isto não significa que não se verifiquem carências de abastecimento a partir das águas subterrâneas em
alguns sistemas. Essas carências são no entanto devidas na maioria dos casos à fraca capacidade de alguns
dos reservatórios subterrâneos nomeadamente os que têm por suporte rochas cristalinas não carbonatadas
(rochas ácidas, básicas e metassedimentares). Nestes casos, dá-se o que se pode considerar como uma sobre-
-exploração temporária, nalguns casos de tipo sazonal.
5.4.2.2. Análise das Tendências de Evolução dos Níveis Piezométricos
De modo a analisar de forma adequada a evolução das séries piezométricas de alguns aquíferos das 4
unidades hidrogeológicas foi utilizado um teste estatístico não paramétrico de Mann-Kendall que possui a
capacidade de medir o grau de significância da tendência detectada, com correcção de sazonalidade, com
base num conjunto de valores representativo.
Tendo em conta a disponibilidade de séries piezométricas nos sistemas aquíferos de Portugal, só foi possível
analisar a evolução temporal da piezometria em 16 sistemas da Orla Meridional e 10 da Orla Ocidental.
Refira-se que as séries analisadas correspondem a períodos de monitorização distintos. Em alguns casos
essas estações pelo seu número reduzido e pela sua distribuição espacial, podem não ser representativas do
estado piezométrico do sistema.
Regra geral o período estende-se desde os meados da década de 70 até meados do ano 2000.
Nas Figuras 5.4.2 e 5.4.3 encontram-se expressos os resultados finais deste estudo e a sua repartição espacial
pelas duas unidades hidrogeológicas.
Orla Meridional
Registaram-se no período em análise tendências significativas de descida de níveis piezométricos na maior
parte dos pontos dos sistemas aquíferos Almádena – Odeáxere, Mexilhoeira Grande – Portimão, Ferragudo-
Albufeira, Albufeira-Ribeira da Quarteira, Quarteira, Campina de Faro, São Bartolomeu e Monte Gordo.
Tendo em conta a localização destas estações de monitorização, perto da costa associado aos problemas de
salinização causados pela intrusão marinha detectados aí, leva-nos a concluir que aqueles sistemas se
encontravam numa situação de sobre-exploração no período em análise resultado da utilização intensiva dos
seus recursos hídricos.
Figura 5.4.2 - Tendências dos Níveis Piezométricos nos Sistemas Aquíferos da Orla Meridional
Orla Ocidental
É reduzido o número de sistemas aquíferos estudados para os quais existe informação piezométrica com
representatividade espaço-temporal relevante.
O sistema aquífero Cretácico de Aveiro é o único onde se registou um número significativo de tendências de
sinal negativo (90%) para o período que decorreu entre Janeiro de 1981 e Dezembro de 1998. Nesse período
as descidas do nível piezométrico oscilaram entre os 0.5 cm/mês e os 7.2 cm/mês, fruto das bombagens
intensivas que ocorreram nesse tempo. Esta situação associada ao facto de haver indícios de intrusão salina
localizada leva-nos a concluir que o aquífero se encontrava em situação de sobre-exploração, facto que já
tinha sido detectado no processo de modelação numérica (ver ponto 5.3.1.3). Uma situação idêntica foi
detectada no mesmo período para o sistema aquífero do Liásico a Norte do Mondego (50% de tendências
negativas).
Nos outros sistemas analisados observou-se em geral uma subida generalizada de níveis como é o caso do
sistema Leirosa-Monte Real (67% de tendências de sinal positivo).
Figura 5.4.3 - Tendências dos Níveis Piezométricos nos Sistemas Aquíferos da Orla Ocidental
O Subsistema Quaternário de Aveiro revelou por sua vez no período em análise, tendências diferentes
conforme os sectores monitorizados, com o predomínio de uma situação de equilíbrio (cerca de 50% das
séries piezométricas não revelaram tendência).
5.5.1. Secas
As secas são um fenómeno natural, ciclicamente sentido em muitas regiões do Globo, que, infelizmente, se
têm tornado mais frequentes devido ao aumento das necessidades de água resultantes do crescimento da
população e da sua qualidade de vida. O conceito de seca tem uma definição lata que designa situações de
escassez de água de longa duração que abrangem áreas extensas e tem repercussões negativas nas actividades
sócio-económicas e nos ecossistemas. As consequências sociais e económicas dos períodos de escassez de
água são enormes, o que justifica a sua caracterização com o objectivo de obter dados que permitam adoptar
medidas de redução dos seus efeitos negativos.
A variabilidade climatérica do nosso país induz com alguma frequência situações de seca. No período de
1940/41 a 1994/95 destaca-se a seca de 1943/44-1944/45, a que está associado um período de retorno de 50
anos no norte do país e de 400 anos no sul (Santos 1998). Outros períodos de seca incluem 1974/75-1975/76
e o final da década de 80 e início da década de 90. Em Portugal existe uma tradição já com 20 anos de
estudos de secas que incluem Santos (1981), Cunha (1982), Santos et al. (1983), Correia et al. (1988),
Rodrigues et al. (1993), Vaz (1993), Santos (1996, 1998) e Pimenta e Cristo (1998). Os PBH vieram
aumentar este conhecimento com estudos regionais que fazem utilização de metodologias comuns. No tema
9 - Situações de Risco e Protecção Civil retoma-se o tratamento desta matéria.
5.5.2. Cheias
5.5.2.1. Enquadramento
A irregularidade climatérica em Portugal provoca situações de pluviosidade intensa que dão origem a
problemas de cheias e de inundações quando a capacidade de escoamento dos leitos menores dos cursos de
água é insuficiente para drenar o volume de água afluente, forçando ao seu extravasamento para áreas
ribeirinhas, infelizmente ocupadas por actividades humanas. Os problemas de cheias e de inundação estão,
portanto, associados a fenómenos climatéricos extremos que ocorrem de forma natural, a uma deficiente
capacidade de vazão dos cursos de água, por vezes originada por construções junto a linhas de água, e
também à ocupação das zonas de inundação natural dos cursos de água.
Dependendo da dimensão da bacia, as situações de cheia desenrolam-se no espaço de algumas horas ou de
vários dias ou semanas. Uma chuvada intensa concentrada sobre uma bacia de pequena dimensão pode
provocar um aumento repentino de caudal, conduzindo a situações de inundação em uma ou duas horas.
Dada a dimensão destas bacias, os valores de caudal específico são extremamente elevados. A título de
3 2 3 2
exemplo refira-se os valores associados a cheias centenárias de 9 m /s/km e 4 m /s/km , para bacias
2 2
hidrográficas da região de Lisboa com 10 km e 100 km , respectivamente (INAG, Síntese do Planos
Internacionais).
Em contrapartida, as cheias do vale do Tejo e do Douro são gerados por períodos mais longos de
precipitação abrangendo áreas mais vastas. A sucessão de episódios de precipitação que ocorrem no Inverno
provoca um aumento do teor de água no solo, a que se associa uma diminuição da sua capacidade de
infiltração e um incremento do volume armazenado nas albufeiras existentes, com redução da sua capacidade
de regularização do escoamento. Quando este tipo de situação perdura por várias semanas, o caudal aumenta
lentamente para valores próximos da capacidade de vazão dos cursos de água, e, neste estádio, um evento
pluvioso mais intenso dá origem ao transbordamento do leito dos cursos de água. Pela dimensão das bacias
3
em causa os valores de caudal máximo de cheia são bastantes elevados, podendo ultrapassar os 15000 m /s
3
na foz do Douro e do Tejo e os 10000 m /s Guadiana, na foz do Guadiana (INAG, Síntese do Planos
Internacionais). Os valores de caudal específico são, todavia, bem menores.
Para além da precipitação e da área da bacia, outros factores condicionam a ocorrência de cheias. A origem
dos eventos pluviosos, que pode ser a passagem de sistemas frontais pelo território nacional ou a ocorrência
de fenómenos convectivos, é um desses factores. As características destes fenómenos meteorológicos são
bem diversas assim como a capacidade de previsão da sua ocorrência. A altitude é um outro factor que
condiciona a distribuição da precipitação.
As características fisiográficas da bacia, como a forma, relevo e densidade de drenagem, determinam a forma
do hidrograma de cheia, e as características físicas, como a geologia, solo e coberto vegetal, condicionam os
processos de retenção de água na bacia, e sobretudo no solo. Finalmente, as características geométricas e
físicas da secção transversal dos cursos de água, o transporte sólido e a proximidade de zonas com influência
de maré determinam a velocidade de escoamento e o nível da água.
A ocorrência de cheias é assim um processo complexo, condicionado por diversos factores, muitos deles com
características locais. A sua caracterização para todo o território nacional não pode, portanto, deixar de ter
uma caracter genérico e de enquadramento. É fundamental completar e actualizar os estudos existentes a
uma escala maior, tendo por objectivo a estimativa de valores de caudal de cheia e a delimitação das zonas
de inundação. Com base nesses resultados será possível actuar no campo da prevenção e mitigação das
consequências das cheias.
Figura 5.5.1 - Precipitação Máxima em 30 Minutos para um Período de Retorno de 100 anos
Figura 5.5.2 - Precipitação Máxima Diária Para um Período de Retorno de 100 anos
Figura 5.5.3 - Caudal de Cheia Específico Para um Período de Retorno de 100 anos
Os trabalhos dos PBH avançaram com um conjunto de estimativas de caudal de ponta para cerca de 130
pontos, espalhados pelo território continental (Figura 5.5.3). Embora não seja possível garantir a consistência
dos valores apresentados, a sua análise permite caracterizar a ordem de grandeza dos fenómenos de cheia. Os
valores de caudal de cheia específicos associados a um período de retorno de 10 anos variam entre 0,1
3 2 3 2
m /s/km e os 4 m /s/km , valores que correspondem a cerca de 0,4 mm/hora e os 16 mm/hora. Já os valores
3 2
de caudal de cheia específicos associados a um período de retorno de 100 anos variam entre 0,1 m /s/km e
3 2
os 10 m /s/km , valores que correspondem a cerca de 0,4 mm/hora e os 40 mm/hora.
O caudal específico depende de forma significativa da dimensão da bacia. A Figura 5.5.4 mostra que os
3 2 2
valores acima de 2 m /s/km só ocorrem em bacias com áreas inferiores a 2000 km . É também evidente a
enorme dispersão das estimativas resultantes da variabilidade de outros factores que não são realçados pela
figura. A localização geográfica é um desses factores, mas é interessante verificar que na Figura 5.5.4 apenas
se destacam as estimativas das bacias do Noroeste.
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000
Figura 5.5.4-A – Caudais Máximos de Cheia por Unidade de Área (T=10 Anos)
4 Noroeste
Douro
3 Guadiana
Lis
Minho
2
Sado+Mira
Mondego+Vouga
1 Tejo
0
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Área da bacia (km2)
Figura 5.5.4.B – Caudais Máximos de Cheia por Unidade de Área (T=10 Anos)
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000
Área da bacia (km2)
Figura 5.5.5.A - Caudais Máximos de Cheia por Unidade de Área (T=100 Anos)
6 Noroeste
para T=100 anos (m3/s/km2)
Caudal específico de cheia
Douro
5
Guadiana
4 Lis
Minho
3
Sado+Mira
2 Mondego+Vouga
Tejo
1
0
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Área da bacia (km2)
Figura 5.5.5.B - Caudais Máximos de Cheia por Unidade de Área (T=100 Anos)
curtos, a definição de hietogramas de projecto, a análise das medições existentes de caudal, a definição de
curvas de vazão, o levantamento topográfico das zonas de cheia e a modelação hidrológica e hidráulica.
Merece uma referência particular a necessidade de prosseguir e de alargar o âmbito da monitorização de
valores elevados de caudal que suportem o estabelecimento de curvas de vazão, passíveis de ser utilizadas
em estudos de cheia. Em simultâneo, será necessário continuar o esforço de digitalização das medições
existentes de caudal e de re-análise das curvas de vazão em utilização.
5.6.1. Introdução
As alterações climáticas constituem um dos maiores desafios científicos da época actual; a comprová-lo
estão os grandes programas e projectos de investigação internacionais promovidos e patrocinados pela
organização meteorológica mundial e o conselho internacional das uniões científicas, como o programa
sobre variabilidade e predictabilidade do clima (clivar), e outros instrumentos como a convenção quadro para
as alterações climáticas das nações unidas (unfccc) e o painel intergovernamental para as alterações
climáticas (ipcc), cujos relatórios periódicos, apoiados na investigação da comunidade científica, constituem
o estado da arte da ciência das alterações climáticas, e servem de base às negociações de escala global para a
protecção do ambiente à escala global.
A ciência das alterações climáticas, não sendo embora uma ciência exacta, assenta em conceitos e métodos
que importa conhecer com rigor e que se baseiam na física, química e matemática. alguns daqueles conceitos
e métodos são apresentados, de forma breve, nas próximas secções.
5.6.1.1. Conceitos de Sistema Climático e de Clima
O sistema climático, que compreende a atmosfera, a hidrosfera, a criosfera, a litosfera e a biosfera, é
demasiado complexo para poder ser descrito em pormenor, i.e. através da caracterização temporal dos
estados instantâneos dos seus cinco componentes; há, assim, que caracterizá-lo por diferentes estatísticas
(e.g. Valores médios, desvios padrão, momentos de ordem mais elevada, valores extremos) relativas a
determinado período temporal, as quais, em conjunto, definem o clima desse período.
O sistema climático não é isolado e interactua com o universo exterior por meio de transferências radiativas,
sendo a radiação solar a principal fonte de energia para o sistema.
O conceito de clima como conjunto de estatísticas do sistema climático é, no entanto, desnecessariamente
amplo e pouco prático, ainda mais porque os subsistemas do sistema climático são caracterizados por escalas
temporais muito diferentes (e.g. Dias para os movimentos de larga escala da atmosfera e centenas de
milhares de anos para a litosfera). Nestas condições, e tendo em conta que o meio ambiente directo da
espécie humana é a atmosfera, pode considerar-se o clima como definido por um conjunto de estatísticas da
atmosfera global ou limitada a determinada região, calculadas sobre a colectividade de estados instantâneos
(estado de tempo) ocorridos num determinado período (com duração de cerca de 30 anos), sobre a região
considerada; assim, por exemplo, pode falar-se do clima da Europa no período 1931-60 ou no triénio 1961-
90. No período considerado, os estado de tempo constituem anomalias de maior ou menor amplitude, as
quais se vão reflectir não nos valores médios mas sim na variância (e outros momentos) e nos valores
extremos; por exemplo, o fenómeno enso (“el-niño-southern oscillation”), que provoca anomalias
significativas de tempo em várias regiões do globo, faz parte do clima, embora se reflicta nas medidas de
variabilidade interna da atmosfera no período considerado.
Nesta concepção mais restrita de clima diz-se que os restantes componentes do sistema climático exercem
sobre a atmosfera um efeito forçador, resultante de processos de interacção mútua que têm lugar nas
fronteiras comuns com a atmosfera; por ex: o oceano pode forçar a atmosfera através de fluxos de calor
(fluxos de calor sensível ou de entalpia) e da evaporação de água (fluxos de calor latente).
Outros mecanismos forçadores do clima podem estar associados a alterações de parâmetros orbitais da terra
ou a variações da actividade solar.
Os AOGCMs têm uma resolução horizontal típica de poucas centenas de quilómetros, uma resolução vertical
da ordem de um quilómetro e possuem representações mais ou menos elaboradas de processos físicos como
sejam, por exemplo, os associados à radiação (solar e terrestre), à física das nuvens, à convecção e à
turbulência na camada limite planetária.
As simulações do clima actual produzidas por AOGCMs são razoavelmente aceitáveis, no que respeita a
algumas variáveis termohidrodinâmicas características do movimento e de processos de larga-escala. No que
respeita a fenómenos de pequena escala e a certos elementos de clima, por ex: à precipitação, já a capacidade
de representação da realidade observada é mais reduzida.
Outro aspecto de importância crucial é o que decorre do facto de a ciência das alterações climáticas não ser
uma ciência exacta; nestas condições, nas representações do clima actual e nas projecções do clima futuro
provenientes de diferentes modelos globais há incertezas, por vezes ainda inaceitavelmente grandes. Um
esforço considerável de investigação está presentemente em curso no sentido de reduzir incertezas, sabendo-
se no entanto que não será possível reduzi-las a zero, uma vez que nos processos que condicionam o clima
existe sempre um elemento de aleatoridade (estocástico).
estação chuvosa; num ano, o número médio de dias com precipitação superior ou igual a 10 mm varia de
entre 15-25 nas regiões costeiras a 50-65 nas regiões montanhosas.
No que respeita à evolução da precipitação de Inverno (Dezembro a Fevereiro) no último século, verifica-se
a existência de uma tendência negativa sobre a Península Ibérica, em particular a partir de 1980; secas de
inverno, relativamente rigorosas, observaram-se em 1988/89, 1991/92 e 1992/93; a referida tendência
negativa observa-se também nas restantes estações do ano.
Em Portugal continental, é notável o decréscimo pronunciado da precipitação, no mês de Março, o qual está
associado a uma redução acentuada da frequência de ocorrência, em Março, de sistemas de tempo com
precipitação; esta redução está, por sua vez, muito bem anticorrelacionada com o índice da Oscilação do
Atlântico Norte (NAO), sendo o coeficiente de correlação de -0.6 ao nível de confiança de 99%.
Deve acentuar-se que as tendências observadas não podem ainda considerar-se como sendo consequência
exclusiva da actividade humana; por outras palavras, as anomalias referidas podem ser parcialmente devidas
à variabilidade natural do clima da Península Ibérica.
Às variações observadas da temperatura e precipitação estão associadas alterações no ciclo hidrológico, quer
na Península Ibérica como um todo, quer em Portugal em particular; aquelas alterações resultam de
anomalias verificadas no ciclo anual da precipitação (manifestadas na forma como os totais anuais se
distribuem pelos doze meses do ano, nas quantidades de precipitação mensal, nos números de dias com
precipitação em cada mês e na intensidade da precipitação), e de anomalias térmicas condicionantes da
evaporação e, consequentemente da humidade do solo; estas variações vão, por seu turno, reflectir-se no
escoamento superficial e na recarga dos aquíferos subterrâneos.
5.7.1. Introdução
Os sedimentos constituem uma fonte valiosa de informação ecológica sobre um sistema aquático, permitindo
a detecção de fontes poluidoras esporádicas e uma maior exactidão na análise de poluentes metálicos, cujos
teores nos sedimentos são muito superiores aos da água. Permitem ainda uma caracterização cronológica da
poluição hídrica pela análise comparativa da concentração de poluentes nas diferentes camadas dos
sedimentos recolhidos em tubo (Gonçalves, 1987).
Como substrato dos ecossistemas aquáticos, as características dos sedimentos podem condicionar o
desaparecimento ou aparecimento e crescimento de determinadas espécies vegetais e animais, pelo que há,
neste domínio, uma ponte com a monitorização ecológica e a utilização de indicadores biológicos. Se por um
lado, os volumes e qualidade da água e sedimentos afluentes a uma albufeira fazem variar o seu ecossistema,
a acumulação de sedimentos nas albufeiras, principalmente naquelas com capacidade de retenção anual ou
interanual, provoca erosões a jusante das barragens por libertação de água mais limpa e com maior
capacidade de transporte. Esta alteração dos regimes de transporte sólido, leva obviamente a uma
modificação da dinâmica natural destes ecossistemas aquáticos e ribeirinhos, por vezes bastante profunda.
Para o conhecimento destes processos a monitorização sedimentológica terá que incluir não só a
determinação dos volumes de sedimentos transportados e depositados e a caracterização granulométrica,
química e biológica dos sedimentos, como deve também ser acompanhada de uma caracterização ecológica
dos ecossistemas.
Com efeito, esta preocupação de monitorização física, química e biológica do leito dos meios lóticos e
lênticos, para caracterização dos ecossistemas que vem contemplada na recente Directiva Quadro da
Água, concretamente no Anexo V com o objectivo de fornecer dados da geometria, estrutura e substrato dos
fundos, que permitam classificar os estados ecológicos e fixar normas de protecção das comunidades bióticas
aquáticas nos sedimentos está presente na restruturação das redes de monitorização de recursos hídricos
que o Instituto da Água vem a empreender desde 1996. A revitalização da rede sedimentológica nela
proposta incidiu primeiro a Sul do rio Tejo (1998), região mais seca e vulnerável à erosão, e foi
complementada em 2000 com a região a Norte do Douro. Para dar resposta à crescente necessidade de
informação batimétrica de albufeiras e cursos de água, bem como de dados de transporte sólido e das
características físicas, químicas e biológicas do leito dos ecossistemas de água interiores, a rede
3 500
3 000
2 500
Caudal (m3/s)
2 000
1 500
1 000
500
0
01-10-87
20-11-87
09-01-88
28-02-88
18-04-88
07-06-88
27-07-88
15-09-88
04-11-88
24-12-88
12-02-89
03-04-89
23-05-89
12-07-89
31-08-89
20-10-89
09-12-89
28-01-90
19-03-90
08-05-90
27-06-90
16-08-90
Q.méd.diário Q.liq.inst. Qmdd médio Ql inst. médio Dias
100000
Caudal sólido em suspensão
10000
Qss = 0,0188Q1,0543
1000 R2 = 0,799
100
10
(kg/s)
1 Qss = 0,0352Q0,9362
0.1 R2 = 0,7582
0.01
0.001 Qss = 0,0052Q1,4434
0.0001 R2 = 0,7838
0.00001
1 10 100 1000 10000 100000
100000
Caudal sólido em suspensão
2
1 R = 0.9643
0.1
0.01
0.001 Qss = 0.1745Q1.3319
0.0001 R2 = 0.8721
0.00001
0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000 10000
Figura 5.7.3 - Curvas de Caudal Sólido em Suspensão - Estações da Bacia do Rio Guadiana
Como se pode observar, o material aluvionar das secções de medição da bacia do rio Guadiana é bastante
mais grosseiro, apresentando também uma maior variabilidade de valores dos diâmetros característicos, o que
se explica pela maior torrencialidade dos regimes de escoamento nos cursos de água desta bacia.
100 100
90 90
80 80
Tramagal
% de material que p
% de Material que p
70 70
(17-11-1988)
60 60
50 50
40 Almourol 40 Pt.Mourão
(18-11-1988) (12-11-1980)
30 30
20 Pulo Lobo
20
(17-11-1981)
10 Ómnias 10
(02-12-1988) Mt.Arregota
0 0 (03-04-1984)
0.0 0.1 1.0 10.0 100.0 0.0 0.1 1.0 10.0 100.0
DiâmetroEquivalente dasPartículas(mm) DiâmetroEquivalente dasPartículas(mm)
Quadro 5.7.2 - Diâmetros Característicos do Material de Fundo nas Estações da Bacia do Rio Guadiana
Com base na manipulação em SIG da informação de base relevante para o fenómeno erosivo (precipitações
extremas com intensidades em 30 minutos associadas a um período de retorno centenário, tipo pedológico,
coberto vegetal e declividade do relevo Fig. 5.7.6) foi possível mapear a classificar a vulnerabilidade à
erosão, onde sobressai o sul do País e, neste, a bacia do Guadiana (Fig. 5.7.7).
A inexistência de recolha de amostras de transporte sólido por arrastamento e, muitas vezes, dos parâmetros
hidráulicos necessários ao cálculo desta forma de transporte ou para determinação do transporte total introduz
erros significativos no cálculo dos volumes de sedimentos transportados pelo que é imperativo que uma rede
de monitorização sedimentológica.
Os relatórios publicados pelo LNEC nos anos 70 e 80 incluem também perfis transversais efectuados na
década de 70 no troço do rio Douro: entre a Central Térmica da Tapada do Outeiro e a Foz do rio Sousa
(LNEC, 1984); nas secções das estações do rio Tejo: Tramagal, Almourol e Ómnias (LNEC, 1982), e em
várias secções da bacia do rio Mondego: de algumas estações de medição de caudal sólido (LNEC, 1975), e
do troço entre os açudes da Raiva e de Coimbra (LNEC, 1985). Mais recentemente, em 1998, foram
efectuados alguns perfis transversais no rio Tejo para avaliação das alterações na morfologia do leito do rio.
Figura 5.7.6 – Informação de Base para Cálculo do Índice de Susceptibilidade à Erosão: Erosividade da Precipitação; Erodibilidade dos Solos; Coberto Vegetal
e Declives (PIMENTA et al, 1997)
53/55 (5 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RECURSOS HÍDRICOS
Relativamente à vertente de batimetria em albufeiras foram efectuados até 1998 levantamentos batimétricos
em apenas 10 albufeiras. Em algumas destas albufeiras existem dados de batimetria para vários anos. Os
relatórios elaborados após a realização destes levantamentos incluem o cálculo dos volumes de sedimentos
depositados na albufeira desde o levantamento anterior, que para alguns casos é o levantamento topográfico
anterior à construção da barragem. Os trabalhos efectuados não foram acompanhados de recolhas de
amostras de fundo, não existindo por isso dados de granulometria dos sedimentos depositados nas albufeiras.
regimes de transporte sólido e dos processos de sedimentação uma vez que grande parte dos dados existentes
apresentam bastantes deficiências relativamente à frequência das recolhas e qualidade da informação.
No domínio das redes específicas para águas interiores, nomeadamente, em acções de apoio à segurança de
estruturas hidráulicas e para monitorização e fiscalização de extracções de inertes, é necessário serem
efectuadas medições de caudal sólido e recolha de amostras de fundo, bem como a execução simultânea de
levantamentos batimétricos.
A compreensão e caracterização dos processos de transporte em águas interiores e a dinâmica costeira passa
pelo cruzamento e análise de toda a informação recolhida, sendo que a influência dos volumes de sedimentos
provenientes das grandes bacias internacionais é a mais condicionante.
6.1. Introdução
A problemática da qualidade da água é em geral abordada sob duas vertentes principais. A primeira prende-
se com a qualidade da água no meio natural, ou seja, nas diferentes massas de água superficiais e
subterrâneas, sejam interiores, de transição ou costeiras. A segunda vertente de análise diz respeito às várias
utilizações que se fazem dos recursos hídricos, e à avaliação da adequação da qualidade da água para essas
mesmas utilizações.
Um elemento fundamental para a avaliação dos recursos hídricos do ponto de vista qualitativo, passa
necessariamente pelo conhecimento das cargas poluentes que são geradas nas bacias hidrográficas, e que
traduzem as pressões que se exercem sobre as massas de água em resultado das diferentes actividades sócio-
económicas que existem no território. A par das condições naturais existentes nas bacias, são estas pressões
que determinam o estado da qualidade das massas de água, e do consequente impacto que esse estado pode
causar, como por exemplo na saúde pública ou nos ecossistemas.
A definição de um conjunto adequado de programas e de medidas para compatibilizar a qualidade da água
com os diferentes usos terá de passar ainda pelo entendimento das relações entre causas e efeitos, por forma
a que se possam conhecer as respostas do meio a alterações das pressões sobre o mesmo. É para este
conhecimento que é fundamental o recurso a certos instrumentos como os modelos matemáticos, cujo
desempenho será tanto mais positivo quanto melhor for a informação sobre as cargas poluentes e o estado da
qualidade da água.
A contaminação das águas superficiais pode ter várias origens. Tomando como referência o tipo de
substâncias poluentes, os riscos de contaminação nas águas superficiais podem genericamente ser divididos
nas seguintes categorias:
• Nutrientes provenientes de fontes tópicas e difusas
• Metais pesados e outras substâncias perigosas
• Micropoluentes orgânicos
• Radioactividade
• Salinização
A concentração de nutrientes provenientes de fontes tópicas e difusas teve um forte crescimento durante as
décadas de acentuado crescimento económico na Europa do pós-guerra. Desde o final dos anos setenta a
concentração de matéria orgânica diminuiu em muitos rios e lagos europeus, principalmente devido à
intensificação da construção de estações de tratamento de águas residuais.
A melhoria observada nas concentrações de fósforo e azoto foi mais acentuada nos rios da Europa ocidental,
apesar de ser menos evidente nos países mediterrâneos. Pelo contrário, os níveis de fósforo aumentaram em
muitos países do leste europeu nas últimas décadas.
Com a aplicação da Directiva 91/271/EEC relativa ao Tratamento de Águas Residuais Urbanas, espera-se
que a situação venha a melhorar significativamente, pelo menos com a entrada em funcionamento da
exploração de sistemas de tratamento em todas as áreas urbanas com mais de 15000 equivalentes de
população, até 31.12.2000
Em contraste com a melhoria verificada nas concentrações de azoto e fósforo provenientes de fontes tópicas,
a concentração de nutrientes com origem em fontes difusas aumentou em geral nos últimos 10 ou 15 anos,
em parte devido ao uso crescente de fertilizantes e à intensificação do tráfego rodoviário.
Embora a protecção das águas contra a poluição causada por nitratos de origem agrícola tenha sido
contemplada na Directiva 91/676/EEC, há ainda um grande caminho a percorrer para que os efeitos positivos
da sua aplicação possam ser sentidos. Assim na Europa, se se atender a que os níveis de fertilizantes
utilizados no Leste e no Sul estão abaixo dos níveis dos outros países do Centro e Norte, receia-se que se
possa verificar naquelas regiões um aumento de fertilizantes por questões de concorrência na produção
agrícola, embora as condições geoclimáticas possam determinar situações bem diferenciadas. Em Portugal
foi publicado o Código de Boas Práticas Agrícolas, foram designadas algumas zonas vulneráveis e foram
publicados os respectivos programas.
O problema da acidificação é especialmente grave quando existe uma forte deposição ácida e os solos da
bacia hidrográfica são relativamente pobres em calcário ou outros minerais facilmente alteráveis e que
protegem contra a chuva ácida. Embora haja vastas regiões mais sensíveis à acidificação das águas
superficiais, as zonas mais afectadas situam-se nos países nórdicos, tais como a Finlândia, a Suécia ou a
Noruega, sendo pouco conhecido o seu eventual efeito em território nacional.
A concentração de metais pesados nas águas superficiais atingiu níveis máximos no espaço europeu durante
os anos setenta. Tendo em vista a redução de metais pesados na fonte foi publicada diversa regulamentação,
destacando-se a Directiva 76/464/EEC relativa a substâncias perigosas, e as respectivas directivas
subsequentes, conhecidas por directivas-filhas, que conduziu à redução dos níveis de substâncias perigosas
em muitos rios europeus. Em Portugal, a aplicação destas directivas não atingiu ainda um número
significativo de fontes poluentes, sendo necessário um esforço na revisão das condições de licenciamento de
um grande número dessas fontes.
Alguns micropoluentes orgânicos, como por exemplo os pesticidas, o DDT e os PCB, são bem conhecidos,
incluindo o seu impacto no ambiente. No entanto, o risco destas substâncias é extremamente difícil de
quantificar pois os efeitos biológicos da maioria deles são ainda mal conhecidos e a sua presença ocorre em
geral a níveis tão baixos que torna difícil a sua determinação analítica. Para além disso, o seu comportamento
no meio aquático em termos de adsorsão, degradação e bio-acumulação é também mal conhecido.
Muitos dos micropoluentes orgânicos foram sujeitos a restrições ou mesmo banidos em muitos países
europeus nos últimos vinte ou trinta anos. É o caso do DDT que foi banido em Portugal como na maioria dos
países, e do PCBs em alguns países. Embora os efeitos da sua aplicação possam ainda estar presentes, o facto
é que os níveis de concentração destas substâncias diminuíram substancialmente nas águas superficiais.
A salinização constitui um sério problema em vários rios europeus, em particular devido à intensidade da
actividade mineira, o que não sucede em Portugal. A salinização pode em alguns casos ser agravada pelo
crescente uso de água para rega.
No essencial, aquele diploma legal estabelece níveis mínimos de rendimento admissíveis (ou concentrações
1
máximas nos efluentes( ) para as descargas precedidas de tratamento primário ou secundário, bem como para
as descargas precedidas de tratamento terciário para redução de nutrientes, quando efectuadas em "zonas
sensíveis" sujeitas a eutrofização, definindo prazos para a operacionalidade dos sistemas de drenagem e das
estações de tratamento de águas residuais urbanas.
Foram, também, tidos em consideração nesta análise os seguintes diplomas legais:
- Decreto-Lei n.º 46/94, de 22 de Fevereiro, que estabelece o regime de licenciamento do domínio hídrico,
sob jurisdição do Instituto da Água;
- Decreto-Lei n.º 235/97, de 3 de Setembro, com as alterações que lhe foram introduzidas pelo Decreto-
Lei n.º 68/99, de 11 de Março, que transpõe a Directiva n.º 91/676/CEE do Conselho, de 12 de
Dezembro, e cujos objectivos são a redução da poluição das águas causada ou induzida por nitratos de
origem agrícola, bem como impedir a propagação desta poluição, através da aplicação de um Código de
Boas Práticas Agrícolas;
- Portaria n.º 1037/97, de 1 de Outubro, que aprova a lista e a carta que identificam as águas poluídas por
nitratos e as áreas designadas por "zonas vulneráveis";
- Decreto-Lei n.º 56/99, de 26 de Fevereiro, que transpõe para o direito interno a Directiva n.º
86/280/CEE, do Conselho, de 12 de Junho, relativa aos valores limite e aos objectivos de qualidade para
a descarga de certas substâncias perigosas;
- Decreto-Lei n.º 382/99, de 22 de Setembro, que estabelece perímetros de protecção para captações de
águas subterrâneas destinadas ao abastecimento público;
- Portaria n.º 462/2000, de 25 de Março, que aprova o Plano Nacional Orgânico para a melhoria das
Origens Superficiais de Água destinadas à produção de Água Potável;
- Decreto-Lei n.º 194/2000, de 21 de Agosto que transpõe a Directiva n.º 96/61/CE, relativa à prevenção e
controlo integrados da poluição, conhecida por Directiva IPPC..
O DL 194/2000, para além de introduzir o princípio da "abordagem integrada", instituindo um novo quadro
procedimental - a licença ambiental - decisão escrita que estabelece as medidas destinadas a evitar, ou se tal
não for possível, a reduzir as emissões para o ar, a água e o solo, a produção de resíduos e a poluição sonora,
visando garantir a prevenção e o controlo integrados da poluição proveniente de determinadas instalações
industriais, institui, também, o conceito de "melhores técnicas disponíveis" (MTDS) - técnicas mais eficazes,
desenvolvidas a uma escala que possibilite a sua aplicação em condições económicas e tecnicamente viáveis,
para alcançar um nível geral elevado de protecção do ambiente no seu todo.
A todas estas disposições legais nacionais e comunitárias acresce a recente aprovação da Directiva
2000/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho que estabelece um Quadro de Acção Comunitária no
Domínio da Política da Água, conhecida por Directiva-Quadro, cujo objectivo é estabelecer um
enquadramento para a protecção das águas de superfície, de transição, costeiras e subterrâneas que evite a
continuação da degradação e proteja e melhore o estado dos ecossistemas aquáticos e terrestres associados,
promova um consumo de água sustentável, reforce a protecção do ambiente aquático, nomeadamente através
da redução gradual das descargas, das emissões e perdas de substâncias prioritárias e contribua para mitigar
os efeitos das inundações e secas.
(1) As concentrações máximas nos efluentes a descarregar constantes deste diploma têm precedência legal sobre os valores-limite especificados
nas normas gerais de descarga (vd. Anexo XVIII do Decreto- Lei n.º 236/98) para os mesmos parâmetros - CBO5, CQO, SST e também azoto
total e fósforo total)
A análise do quadro legal em vigor conduziu à identificação de diversos problemas dos quais os principais
podem sistematizar-se da seguinte forma:
- insuficiências no cumprimento do Decreto-Lei n.º 46/94, de 22 de Fevereiro - ausência de licenças de
utilização do domínio hídrico para grande número quer de captações (superficiais e subterrâneas) de
água para consumo humano quer de rejeição de águas residuais urbanas e industriais, sobretudo no caso
de utilizações anteriores à aplicação dos fundos comunitários. Este facto resulta não só da insuficiência
de meios da Administração para o efeito como também duma ausência de estratégia por parte das
2
DRAOT para fazer cumprir o Artigo 90º( ) daquele decreto- lei;
- atrasos no cumprimento de algumas exigências do Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto,
nomeadamente quanto ao inventário e classificação de alguns usos - origens de águas superficiais e
subterrâneas, destinadas à produção de água para consumo humano, águas conquícolas e águas de rega;
- insuficiências no cumprimento relativamente às exigências de tratamento de águas superficiais e
subterrâneas utilizadas para produção de água para consumo humano face à qualidade da água bruta;
- inexistência, inadequação ou insuficiência de programas de monitorização no contexto da avaliação
da aptidão para usos qualitativamente exigentes, facto que poderá ser a curto prazo debelado face ao
Programa de Reestruturação das Redes de Monitorização de Recursos Hídricos, em curso;
- necessidade de concretizar o pedido de derrogação do parâmetro temperatura previsto no DL
236/98, sobretudo para a região a sul do Tejo;
- atrasos no cumprimento do Decreto-Lei n.º 382/99, de 22 de Setembro - não tendo sido, ainda,
delimitados os perímetros de protecção de captações de águas subterrâneas destinadas ao abastecimento
público;
- atrasos no cumprimento do Decreto-Lei n.º 152/97, de 19 de Junho - ausência de sistemas de
tratamento de águas residuais urbanas e existência de ETAR com níveis de tratamento não adequados ao
meio receptor, em aglomerações com população equivalente superior a 10 000 habitantes, drenando para
"zonas sensíveis", de acordo com a classificação em vigor; segundo o documento "Directiva 91/271/CEE
- Tratamento de Águas Residuais Urbanas - INAG, Janeiro de 2000", à data de 31 de Dezembro de
1998, das 27 aglomerações identificadas nesta situação, apenas 5 cumpriam com o estipulado naquela
directiva e no DL 152/97 que a transpõe);
- insuficiências no cumprimento do Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto e restantes diplomas legais
posteriores que o revogam e alteram, no que respeita à descarga de águas residuais industriais e
substâncias perigosas;
- ausência generalizada de sistemas de auto-controlo por parte das entidades responsáveis pelos
sistemas de tratamento de águas residuais urbanas e industriais;
- insuficiências a nível de acções de fiscalização e de inspecção, no sentido da verificação quer da
existência de sistemas de tratamento quer do cumprimento das normas de descarga impostas nas
respectivas licenças;
- dificuldades de avaliação do nível de cumprimento das normas de descarga de águas residuais
urbanas e industriais, impostas nas respectivas licenças de descarga, devido às insuficiências verificadas
quer em termos de auto-controlo quer em termos de fiscalização e de inspecção.
2
( ) Obrigava os utilizadores não titulados a obterem o alvará de licença e os titulares de licença, à data da entrada em vigor do DL
46/94 e no prazo de seis meses, a actualizarem a mesma, de forma a cumprirem com a legislação aplicável.
- Inexistência de documentos de fundamentação e de justificação sobre o teor dos diplomas que vão sendo
publicados com vista ao seu integral entendimento e uniforme interpretação pelas várias instâncias a que
dizem respeito.
Quanto aos atrasos no cumprimento do DL 152/97, resultam, sobretudo, do facto de não terem sido
estabelecidos critérios de prioridade na atribuição de fundos comunitários, que privilegiassem o apoio
financeiro à construção e reabilitação dos sistemas de drenagem e tratamento de águas residuais urbanas em
incumprimento, em detrimento de outros financiamentos, considerando que, nos últimos anos, a grande
maioria dos sistemas têm sido construídos com aqueles apoios.
Idênticas razões se podem aplicar aos incumprimentos relativos às exigências de tratamento de águas
superficiais e subterrâneas destinadas à produção de água para consumo humano, já que também a
construção e reabilitação das instalações de tratamento de água para consumo humano deveriam estar
incluídas num quadro de prioridades dos sucessivos quadros comunitários de apoio.
A ausência destas medidas associada a uma deficiente fiscalização e inspecção representam as principais
causas inerentes a tão diminuto grau de cumprimento, não obstante as verbas que têm vindo a ser
disponibilizadas, não só pela União Europeia (UE) mas também pela Administração Central, através da
celebração de Contratos Programa.
Relativamente aos incumprimentos identificados no âmbito das descargas de águas residuais industriais e
substâncias perigosas, para além do conjunto de causas já identificadas, verifica-se que houve alguma
dificuldade no cumprimento dos prazos preconizados nos Contratos de Adaptação Ambiental, por razões que
se prendem com a entrega dos documentos por parte das empresas numa primeira fase e, numa segunda fase
com o atraso na sua avaliação, por parte das comissões de acompanhamento respectivas.
terrestres delas directamente dependentes e para o aproveitamento sustentável das águas, determinando um
vasto programa de cooperação entre as autoridades dos dois Estados para a gestão coordenada dos recursos
hídricos das bacias hidrográficas compartilhadas.
Quanto à Convenção OSPAR, a coordenação da aplicação em Portugal é da responsabilidade da Direcção
Geral do Ambiente, com a colaboração de vários organismos oficiais, nomeadamente o INAG e o Instituto
de Investigação das Pescas e do Mar (IPIMAR). Esta Convenção foi tida em consideração apenas no âmbito
dos estudos relativos aos estuários dos principais rios, já que as águas costeiras não foram integradas nos
planos de bacia hidrográfica.
Quadro 6.3.1 - Cargas Poluentes de Origem Doméstica Geradas, Removidas por Tratamento e Afluentes ao
Meio Hídrico, por Plano de Bacia Hidrográfica (CBO, CQO e SST)
Quadro 6.3.2 - Cargas Poluentes de Origem Doméstica Geradas, Removidas por Tratamento e Afluentes ao Meio
Hídrico, por Plano de Bacia Hidrográfica (Azoto, Fósforo e Coliformes Totais)
Densidade de P Densidade de
Plano de Bacia Hidrográfica
Cargas em Fósforo Total - P P total Cargas em Azoto Total - N - N total COLIFORMES
total N total
(ton/ano) (%) (ton/ano) (%) TOTAIS
(ton/ano/km2) (ton/ano/km2)
Densidade ( nº/km2)
Carga removida (%)
águas costeiras
águas costeiras
Carga Gerada
Carga Gerada
Carga Gerada
Carga Gerada
tratamento)
tratamento)
tratamento)
tratamento)
interiores
interiores
interiores
interiores
Minho 85 81 80 0 80 2,0% 0% 0,10 0,10 0,10 280 260 0 264 260 4% 0% 0,3 0,3 0,3 5,E+16 6,E+13
Lima 220 221 220 55 170 0,6% 25% 0,14 0,14 0,11 740 730 180 552 550 1% 25% 0,5 0,5 0,4 1,E+17 9,E+13
Cávado 350 347 350 0 310 1,6% 10% 0,21 0,21 0,19 1200 1150 110 1022 1000 3% 10% 0,7 0,7 0,6 2,E+17 1,E+14
Ave 720 713 710 0 680 1,6% 4% 0,50 0,49 0,47 2400 2350 95 2242 2250 3% 4% 1,7 1,6 1,6 4,E+17 3,E+14
Leça 440 427 430 180 250 1,8% 43% 1,9 1,9 1,1 1450 1400 610 789 790 4% 44% 6 6 3 3,E+17 1,E+15
Douro 2000 1989 2000 0 1950 1,3% 2,1% 0,11 0,11 0,10 6700 6550 130 6414 6400 3% 1,9% 0,4 0,3 0,3 1,E+18 6,E+13
Vouga 730 709 710 0 710 2,3% 0% 0,20 0,20 0,20 2400 2300 0 2310 2300 5% 0% 0,7 0,6 0,6 4,E+17 1,E+14
Mondego 740 721 720 0 720 3,1% 0% 0,11 0,10 0,10 2500 2350 0 2326 2350 6% 0% 0,4 0,3 0,3 4,E+17 6,E+13
Lis 190 185 190 0 190 2,9% 0% 0,18 0,18 0,18 640 600 0 599 600 6% 0% 0,6 0,6 0,6 1,E+17 1,E+14
Ribeiras do
630 616 620 190 420 1,7% 32% 0,26 0,25 0,17 2100 2000 640 1379 1400 3% 32% 0,9 0,8 0,6 4,E+17 2,E+14
Oeste
Tejo 3350 3279 3300 380 2900 2,1% 12% 0,14 0,13 0,12 11200 10700 1250 9427 9450 4% 12% 0,5 0,4 0,4 2,E+18 8,E+13
Sado 300 289 290 <50 280 3,9% 4,4% 0,04 0,04 0,03 1000 920 0 885 890 8% 4,2% 0,1 0,1 0,1 2,E+17 2,E+13
Mira <50 23 <50 0 <50 2,9% 12% 0,01 0,01 0,01 75 75 0 64 65 6% 12% 0,0 0,0 0,0 1,E+16 8,E+12
Guadiana 230 216 220 0 220 4,3% 0% 0,02 0,02 0,02 750 690 0 687 690 9% 0% 0,1 0,1 0,1 1,E+17 1,E+13
Ribeiras do
360 340 340 0 320 5,0% 5% 0,09 0,09 0,09 1200 1050 55 1016 1000 10% 5% 0,3 0,3 0,3 2,E+17 6,E+13
Algarve
Portugal
10400 10154 10200 950 9200 2,1% 9% 0,12 0,11 0,10 34600 33100 3150 29977 30000 4% 9% 0,4 0,4 0,3 6,E+18 7,E+13
Continental
d) Uma redução significativa dos volumes totais de poluição só é possível garantindo tratamentos com
taxas de remoção elevadas às zonas de mais alta densidade populacional; sob o ponto de vista da
protecção dos recursos hídricos, as metas a estabelecer e sistemas de indicadores deverão privilegiar o
balanço entre quantidade de carga removida e capacidade de suporte do meio receptor, ao invés de
"níveis de atendimento", que tendem a camuflar a assimetria dos problemas ambientais com esta origem
(compare-se, por exemplo, a bacia do rio Lima com a do rio Leça).
e) As águas costeiras são actualmente o meio receptor de cerca de 9% da descarga de águas residuais do
Continente e 11% da matéria orgânica biodegradável, tendendo esta percentagem a aumentar com
empreendimentos em curso. Dada a concentração no litoral não só das zonas mais densamente povoadas
como da pressão turística, este tipo de solução tem vindo a ter crescente atractivo como alternativa de
meio receptor. Haverá que ter em conta, não só os impactes na qualidade destas águas e das praias, mas
também a inviabilização de reutilização dos volumes rejeitados e os seus efeitos no balanço hídrico das
águas interiores, sobretudo na estação seca.
f) O tratamento e destino final das lamas constitui uma incógnita relevante na avaliação da poluição com
origem nas águas residuais domésticas. Este problema, assim como o das lamas das ETA, são
componentes indissociáveis do ciclo urbano da água que tendem a ser descuradas nas análises do sector.
Figura 6.3.1. - Carga Doméstica Gerada Figura 6.3.2 - Carga Doméstica Removida
Nas Figuras 6.3.1. a 6.3.3. apresenta-se a distribuição espacial respectivamente da carga específica gerada, e
da carga removida nos tratamentos e da carga específica afluente às águas. O parâmetro representado é a
matéria orgânica biodegradável, expressa pela carência bioquímica de oxigénio aos 5 dias (CBO5), em
2
toneladas de oxigénio por ano e por km . Apresenta-se ainda a Figura 6.3.4.que representa as taxas teóricas
de remoção de matéria orgânica biodegradável correspondentes aos sistemas de tratamento instalados, em
percentagem da carga afluente.
Esta discretização espacial realça as zonas de maior pressão que, naturalmente, têm o padrão das densidades
populacionais. É evidente o agravamento do interior para o litoral, evidenciando a pressão poluente das
fortes concentrações populacionais, sobretudo das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, incidindo nos
estuários do Tejo e do Douro, o Trancão, o médio e baixo Leça e as ribeiras costeiras adjacentes. Estas zonas
constituem, com a zona litoral do PBH do Cávado, as de mais alta intensidade de geração de poluição, com
2
valores acima de 15 ton de CBO5 por ano e por km .
Figura 6.3.3. - Carga Doméstica Afluente Figura 6.3.4. - Taxa de Remoção da Carga Doméstica
A área de pressão mais intensa, na Região do Norte, abrange a bacia do Douro, sobretudo a jusante de
Crestuma, toda a bacia do Leça, a bacia do Ave a jusante de Guilhofrei, a bacia do Cávado a jusante da foz
do Homem, atenuando-se, em extensão e intensidade, nas bacias do Lima, Âncora e Neiva.
Uma larga faixa litoral, entre as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto é também sujeita a forte pressão
antropogénica, destacando-se a Ria de Aveiro, o baixo Mondego e a bacia do Brada, a bacia hidrográfica do
Liz e as Ribeiras do Oeste.
Sublinha-se que esta representação dá uma imagem muito atenuada de todas as zonas em que é relevante a
componente de população flutuante, especialmente todo o litoral, com realce para o litoral algarvio.
6.3.1.2. Cargas Poluentes Geradas e Afluentes aos Meios Hídricos com Origem na
Indústria Transformadora e Suiniculturas
A avaliação da poluição de origem industrial em Portugal Continental foi feita tendo em conta a
determinação das cargas poluentes geradas e das respectivas cargas afluentes às linhas de água. Os resultados
obtidos são agrupados tanto pelas principais bacias hidrográficas, como pelos principais sectores de
actividade económica, de acordo com as Classes de Actividade Económica (CAE).
Foi feita uma distinção entre as instalações que descarregam directamente os seus efluentes para o meio
receptor (com ou sem tratamento prévio) das que são servidas por sistemas colectivos de recolha e
tratamento de efluentes.
Pertencem ao primeiro grupo todas as unidades que não podendo ou não pretendendo recorrer a sistemas
colectivos, descarregam directamente os seus efluentes no meio receptor, estando, neste caso, sujeitas a um
licenciamento específico, nos termos do Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro, sendo a emissão da
respectiva licença responsabilidade da Direcção Regional do Ambiente e do Ordenamento do Território
respectiva.
No segundo grupo inserem-se as actividades situadas nas malhas urbanas ou parques industriais e que
podendo recorrer a infra-estruturas colectivas existentes, não afectam directamente o meio receptor, mas sim
por intermédio dos sistemas colectivos que utilizam.
Para o cálculo das cargas poluentes gerada e afluente foi efectuada a análise para as principais Classes de
Actividade Económica (CAE), abrangendo a indústria pecuária e os sectores da indústria transformadora
potencialmente com maior importância em termos de efluentes líquidos. Através desta análise caracterizou-
se globalmente as fontes de poluição industrial, podendo assim, identificar qual a região que gera a maior
carga poluente industrial.
É de salientar que os valores correspondem a estimativas. O que se pretende ressalvar é que os valores das
cargas afluentes às linhas de água representem apenas a poluição afluente directamente às linhas de água,
não considerando infiltrações no solo e utilizações para rega. É também preciso ter em conta que parte destes
valores correspondem à carga estimada bruta, o que apesar de tudo não se deve traduzir num erro
significativo, uma vez que em muitas das situações identificadas não existem sistemas de tratamento de
efluentes e que, quando existentes, nem sempre são os mais adequados.
O universo industrial estudado teve em consideração as orientações constantes nas seguintes disposições:
• Classificação das actividades económicas para fins de licenciamento industrial, de acordo com a Portaria
n.º 744-B/93, que regulamenta as actividades industriais, tendo em conta o grau de risco para o homem e
para o ambiente inerente ao seu exercício. As actividades industriais são classificadas como classes A, B,
C ou D, por grau decrescente de risco.
• Directiva 96/61/CE do Conselho relativa à Prevenção e Controlo Integrado da Poluição (IPPC).
Para a caracterização por sector industrial (CAE) foram seleccionadas, as actividades industriais com
maiores consumos de água e os sectores industriais comuns a todas as bacias hidrográficas. Desta maneira
identifica-se qual a actividade económica capaz de gerar a maior carga poluente em cada bacia e estimar qual
a carga afluente às linhas de água.
Na indústria pecuária tratou-se exclusivamente os dados relativos a suínos, uma vez que as explorações
avícolas não têm efluentes líquidos, conforme o demonstrado nos inquéritos efectuados pelos planos de
bacia. Os efectivos pecuários de outras espécies, por não estarem normalmente estabulados, são considerados
no âmbito da poluição difusa.
Os Quadros 6.3.3. e 6.3.4. mostram as cargas poluentes geradas e afluentes às linhas de água por actividade
económica em cada bacia Hidrográfica. A partir da análise efectuada, obteve-se uma caracterização de
Portugal Continental, que é apresentada nas Figuras 6.3.5. a 6.3.8. sendo possível observar as regiões do país
com maior carga poluente gerada e afluente às linhas de água em Portugal Continental.
6.3.1.3. Cargas poluentes de Origem Difusa
A contaminação proveniente de fontes não pontuais ou difusas caracteriza-se, por um lado, pelo elevado
número de pontos de descarga no terreno e, por outro, pela dificuldade de localização precisa das zonas onde
se produzem essas mesmas descargas. As medidas de controlo associadas a estas fontes apresentam maiores
dificuldades.
A contaminação difusa das águas superficiais e subterrâneas tende a adquirir uma importância crescente, já
que quanto maior for o grau de depuração e de limitação das descargas tópicas ou pontuais, maior será o
peso relativo das descargas de carácter difuso.
As principais fontes de contaminação difusa estão relacionadas com uma série de actividades,
fundamentalmente agro-pecuárias, que se desenvolvem sobre grandes extensões do território e que provocam
a contaminação das águas através dos escoamentos que escoam à superfície e que arrastam e dissolvem as
substâncias que foram depositadas no solo. As escorrências superficiais provenientes da rede rodoviária e das
zonas urbanas constitui também uma importante fonte de contaminação, em particular no que respeita a
certas substâncias perigosas.
Figura 6.3.5 - Carga Industrial Gerada (SST) Figura 6.3.6 - Carga Industrial Afluente (SST)
Figura 6.3.7 - Carga Industrial Gerada (CQO) Figura 6.3.8 - Carga Industrial Afluente (CQO)
Azeite Vinho Suinos CAE 15(excepto CAE 17 CAE 18 CAE 19 CAE 20 CAE 21 CAE 22
Azeite e Vinho)
PBH
SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO
Minho 48 35 105 0 0 0 4 0 48 1 1 1 0 0 5 0 0 0 0 0 0 0 13 16 0 0 0
Lima 9 46 93 0 0 0 12 0 30 0 0 0 0 0 5 0 25 30 0 98 115 0 0 0 0 18 21
Cávado 6 21 25 0 1 1
Ave 982 534 1361 1 2 8 24 0 259 46 35 88 88 221 258 12 14 46 81 237 267 687
Leça 1185 412 1251 0 14 16
Douro 1471 706 2223 19 22
Vouga 806 572 2103 0 0 0 231 0 541 31 39 30 15 0 94 0 392 457 0 26 30 205 239 0 0 0 0
Mondego 185 248 645 0 0 0 54 0 165 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Lis 117 110 375 0 0 0 140 0 754 0 0 0 0 0 25 0 0 0 0 0 0 0 3 3 0 0 0
Rib. do Oeste 789 2439 5257 337 86 11 14 17 63 505 589 22 26 9 10 20 23
Tejo 15008 18133 48192 0 0 0 418 0 484 10796 128 54619 0 0 480 0 583 681 128 469 636 4 517 728 0 0 0
Sado 606 684 2067 0 0 0 14 0 40 8 9 11 0 0 52 0 62 73 0 1 2 0 171 199 0 18 21
Mira 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0
Guadiana 1 2 2 0 1 1
Rib do Algarve 5 14 26 0 0 0 19 0 48 1 1 1 0 0 1081 0 0 5 0 0 1 0 0 0 0 5 6
Total 21217 23956 63725 1 2 8 916 337 2457 10894 228 54767 15 0 1894 0 1789 2093 128 628 823 209 998 1037 237 362 798
Quadro 6.3.4. - Carga Poluente Industrial Afluente às Linhas de Água em Portugal Continental
Azeite Vinho Suinos CAE 15(excepto CAE 17 CAE 18 CAE 19 CAE 20 CAE 21 CAE 22
Azeite e Vinho)
PBH
SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO
Minho 2 3 5 3 8 16 94 56 141 10 40 67 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Lima 1 12 22 48 123 233 167 140 350 14 34 72 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 621 1221 3473 0 0 0
Cávado 0 2 5 7 53 89 274 230 575 84 222 393 1106 2739 9785 0 0 0 0 0 0 0 0 0 743 429 1231 0 2 3
Ave 0 2 6 15 108 180 46 39 97 951 1316 5065 1342 2802 6906 0 0 0 112 75 186 0 0 0 503 164 487 0 5 7
Leça 0 0 0 1 9 15 90 52 142 1651 1844 4419 111 232 441 73 49 123 184 128 362 0 0 0 1143 73 294 0 12 14
Douro 23 938 2825 177 1142 1936 1587 1139 2849 1227 2881 4880 637 464 913 0 0 0 670 446 1116 281 225 790 7450 478 1914 0 25 29
Vouga 44 88 132 42 127 254 552 331 828 385 1022 1950 2 8 12 0 0 0 0 0 0 0 1 6 41 152 295 0 0 0
Mondego 2 4 6 7 21 42 1863 1118 2795 600 1225 2250 14 25 42 0 0 0 33 22 54 0 0 0 15272 982 3927 0 0 0
Lis 0 0 0 0 8 17 17449 10469 26173 38 140 253 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2955 190 759 0 0 0
Rib. do Oeste
Tejo 3 141 418 4 27 45 5887 3755 9221 1906 6401 11088 317 1411 5967 608 532 1441 0 0 0 252 384 777 4022 1408 7495 0 1 1
Sado 35 1508 4456 8 63 105 5604 3363 7258 799 1015 1897 0 0 0 0 0 0 2 2 5 8 7 29 12637 878 3484 0 2 2
Mira 6 229 687 0 0 0 1416 850 2124 1 2 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Guadiana 81 3351 9983 0 0 0 3899 3289 8224 71 191 315 1 1 2 16 13 32 0 0 0 1 0 2 0 0 0 0 1 2
Rib do Algarve 4 135 453 0 0 1 872 523 1308 590 255 1377 2 3 5 0 0 0 0 0 0 10 15 54 0 0 0 0 4 12
Total 201 6413 18999 312 1690 2932 98615 60643 150306 8327 16588 34029 3531 7684 24073 697 594 1596 999 673 1724 552 632 1658 45387 5973 23358 0 53 71
Minho 33 21 78 0 0 0 107 0 11 1 1 1 0 0 4 0 0 0 0 0 0 0 11 13 0 0 0
Lima 9 46 93 0 0 0 12 0 30 0 0 0 0 0 5 0 25 30 0 98 115 0 0 0 0 18 21
Cávado 6 21 25 0 0 0 57 0 157 5 7 9 0 0 12 0 52 62 0 0 0 0 10 11 0 1 1
Ave 976 514 1339 0 0 0 24 0 259 33 35 64 0 0 75 60 224 180 0 12 14 25 50 52 237 267 687
Leça 2437 682 3220 1 1 3 11 0 53 55 41 112 0 0 63 0 84 274 0 19 36 0 52 61 0 14 16
Douro 1405 694 2128 1 3 12 76 0 300 46 59 70 0 0 306 0 270 332 0 99 114 0 73 84 0 13 15
Vouga 162 154 619 0 0 0 25 0 97 1 3 3 0 0 28 0 186 212 0 16 19 0 55 63 0 0 0
Mondego 160 184 529 0 0 0 31 0 91 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Lis 117 90 336 0 0 0 41 0 372 0 0 0 0 0 21 0 0 0 0 0 0 0 3 3 0 0 0
Rib. do Algarve
Tejo 11165 16510 31072 0 0 0 299 0 494 4343 111 32818 0 0 129 0 584 684 134 301 409 0 0 0 0 0 0
Sado 603 659 2017 0 0 0 5 0 22 6 8 9 0 0 43 0 54 62 0 1 1 0 138 159 0 14 16
Mira 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Guadiana 0 1 1 0 0 0 1 0 4 0 1 1 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1
Rib do Oeste 1 5 10 0 0 0 12 0 30 0 0 0 0 0 1081 0 0 5 0 0 1 0 0 0 0 6 7
Total 17073 19583 41467 2 4 15 700 0 1921 4490 266 33087 0 0 1768 60 1481 1841 134 547 709 25 391 447 237 333 764
As substâncias mais comuns que se encontram nas água associadas com a contaminação difusa pertencem ao
grupo dos fertilizantes e dos pesticidas empregues na agricultura, à matéria orgânica e substâncias tóxicas
ligadas tanto às actividades pecuárias como aos efluentes urbanos ou a determinadas actividades industriais.
A utilização excessiva dos fertilizantes provoca a contaminação das águas por nitratos. Os pesticidas são
quase sempre consideradas substâncias tóxicas e perigosas, e como tal necessitam de uma monitorização
cuidada e sistemática.
A sua estimativa foi feita para alguns dos planos de bacia hidrográfica recorrendo a abordagens que
contemplam a utilização de taxas de exportação de nutrientes. Estas taxas são retiradas da bibliografia
especializada, para casos tão semelhantes quanto possível com as bacias em estudo.
Noutros casos, a estimativa foi feita com base em modelos conceptualmente bem suportados que
incorporam, entre outras, as características dos solos, as características das culturas, as quantidades de
aplicação de fertilizantes, as capacidades de retenção de fertilizantes pelas culturas e as características
climáticas.
Para a avaliação das cargas provenientes da poluição difusa foram seleccionados o azoto total e o fósforo
total, como substâncias mais representativas da contribuição deste tipo de contaminação para a qualidade das
águas superficiais.
N N
Y Bragança
# Y Bragança
#
Y Viana do Castelo
# Y Viana do Castelo
#
Y Braga
# Y Braga
#
Y Vila Real
# Y Vila Real
#
Y Porto
# Y Porto
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# Y Viseu
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Y Aveiro
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Y Guarda
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Y Coimbra
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Y Leiria
# Y Leiria
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Y Portalegre
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Y Santarém
# Y Santarém
#
Y Lisboa
# Y Lisboa
#
Y Évora
# Y Évora
#
Y Setúbal
# Y Setúbal
#
Y
# Capital de Distrito Y
# Capital de Distrito
Limites de Plano de Bacia Limites de Plano de Bacia
Azoto [Kg/ano/ha] Fósforo [Kg/ano/ha]
Sem valores Sem valores
Y Beja
# 0 - 1.0 Y Beja
# 0 - 0.3
1.0 - 2.0 0.3 - 0.6
2.0 - 3.5 0.6 - 1.0
3.5 - 5.0 1.0 - 1.5
5.0 - 10.0 1.5 - 2.0
>10.0 > 2.0
0 20 40 60 Km 0 20 40 60 Km
Y Faro
# Y Faro
#
Figura 6.3.9 – Carga Poluente de Origem Difusa (Azoto) Figura 6.3.10 - Carga Poluente Origem Difusa (Fósforo)
Na avaliação da poluição difusa foram consideradas as actividades agrícola, pecuária e florestal. Para além
disso, avaliaram-se ainda as cargas poluentes de natureza difusa provenientes do grande número de
suiniculturas dispersas.
Na avaliação das cargas difusas teve-se em conta o trabalho desenvolvido nos planos de bacia hidrográfica,
mas também a aplicação de taxas de exportação de nutrientes, que foram aplicadas, para cada concelho, e
para cada bacia, às áreas agrícolas e florestais.
Em Portugal, à semelhança dos países mediterrânicos, a utilização da água na agricultura tem uma expressão
de grande importância, comparada com outros usos sectoriais.
Em alguns casos, recorreu-se ainda aos dados que foram utilizados nos modelos de simulação da qualidade
da água dos principais rios, no âmbito dos PBH, e que possibilitaram uma avaliação da grandeza da poluição
difusa afluente aos mesmos.
No Quadro 6.3.5. apresentam-se os valores de cargas de poluição difusa estimadas para as quinze bacias
hidrográficas e para a totalidade do território de Portugal Continental. Nas Figuras 6.3.9. e 6.3.10. apresenta-
se a distribuição espacial da poluição difusa em Portugal Continental.
Na Figura 6.3.11 apresenta-se a distribuição do total das cargas poluentes estimadas (doméstica, industrial e
difusa) afluentes aos meios hídricos, por área de Plano de Bacia Hidrográfica, em termos de CBO5, CQO,
SST, Ptotal e Ntotal.
6.3.1.4. Outras Origens de Poluição
Indústria Extractiva (Minas)
Para a identificação da indústria extractiva procedeu-se à consulta dos planos de bacia, ao contacto directo
com o Instituto Geológico e Mineiro e com a empresa responsável pela aplicação do programa ambiental de
áreas mineiras abandonadas. A informação disponibilizada permitiu geo-referenciar as explorações mineiras
activas e suspensas nas áreas dos planos de bacia hidrográfica que se apresenta na Figura 6.3.12..
As explorações mineiras exigem um acompanhamento técnico, uma actualização tecnológica constante e um
desenvolvimento controlado, de modo a mitigar os possíveis perigos para o meio envolvente. Um dos
principais perigos é a existência de concentrações elevadas de elementos químicos de reconhecida
agressividade e perigosidade em termos ambientais, que revelam a necessidade de uma investigação mais
aprofundada para uma monitorização e tomada de medidas mitigadoras.
O modo de exploração e as características dos detritos rejeitados do tratamento do minérios constituem, em
princípio, um factor de agressividade para o ambiente.
Portanto, é importante que a exploração das minas seja feita de forma controlada, respeitando as diversas
componentes ambientais potencialmente afectáveis, de modo a garantir um minimização dos potenciais
impactes negativos dessas actividade produtiva.
Resíduos Sólidos Urbanos
A deposição desordenada de resíduos, constitui actualmente, um problema ambiental grave, dado ser uma
fonte importante de contaminação de solos, linhas de água e reservas aquíferas importantes. Esta realidade,
conjuntamente com a alteração dos hábitos das populações e com a consciencialização por parte do governo
da situação deu origem a uma estratégia nacional para os resíduos.
Minho
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#
Y
# Capital de Distrito
Rede Hidrográfica
Limites de Plano de Bacia
SST
Mira
CBO5
CQO
Rio Gua diana
N
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20 0 20 Km
Y Faro
#
• Avaliar os níveis existentes de contaminação aquática, tendo em conta a concentração dos contaminantes
em mexilhões, sedimentos e água (interiores, estuarinas e costeiras);
• Avaliar a eficiência das medidas que possam a vir a ser tomadas com vista à redução da contaminação
aquática.
tendo já sido produzido um Relatório da situação actual.
A maioria das substâncias perigosas encontradas na zona costeira devem-se à actividade antrópica e são
transportadas através dos rios para os estuários e lagunas costeiras, ou aí lançadas directamente.
Dado que a concentração destes contaminantes no meio marinho depende de vários factores relacionados
com as suas propriedades físico-químicas, os processos de transporte e as características do ecossistema, a
estratégia de amostragem inclui os seguintes aspectos:
i. Caracterizar a qualidade da água em frente às embocaduras dos estuários e lagunas costeiras durante a
vazante, quando o transporte de contaminantes para as zonas adjacentes é maior;
ii. Caracterizar os níveis de contaminantes acumulados no plâncton destas zonas, avaliando o papel destes
organismos na transferência destas substâncias através das cadeias tróficas;
iii. Determinar, sempre que possível, os níveis de contaminantes em sedimentos lodosos depositados à
saída dos estuários, que correspondem ao material particulado exportado que incorpora maior
quantidade de contaminantes orgânicos e inorgânicos;
iv. Comparar os valores obtidos com os de zonas afastadas das embocaduras e consideradas de referência.
O Quadro 6.3.6. apresenta 24 dos 74 compostos orgânicos semivoláteis detectados, níveis de concentração e
número de amostras. Salienta-se que o irgarol, a desetilatrazina (produto de transformação da atrazina) e a
terbutilazina, apesar de não constarem da directiva, foram incluídos no programa de monitorização e
detectados em alguns pontos.
Quanto aos compostos orgânicos voláteis (VOC), o composto mais frequentemente detectado foi o
clorofórmio. Os níveis de VOC encontrados estão sempre abaixo dos valores máximos admissíveis
estabelecidos pela União Europeia (10 `g/l).
Os compostos organoestanosos não foram detectados nas amostras de águas interiores. Os compostos
organometálicos (TBT + DBT) em água, foram apenas detectados com teores acima do limite de detecção
nas estações da costa do Tejo e do Sado.
Os teores em metais nas águas superficiais são, de um modo geral, pouco significativos, com excepção de
alguns casos que podem ser explicados pela localização das diferentes áreas de actividade
agrícola/industrial/urbana. As concentrações de metais em água cumprem os objectivos de qualidade
referidos na legislação.
Apenas nas estações influenciadas por actividades industriais foram encontrados valores significativos de
fósforo e cianetos (Ponte de Aranha). Os nitritos foram sistematicamente detectados, embora dos valores
quantificáveis apenas 38% sejam superiores a 0,1 mg.
Quadro 6.3.6 - Número de Amostras com Resultados Quantificáveis Detectadas de Abril de 1999 até Janeiro de
2000
A "carga removida" ilustra a redução bruta de poluição, enquanto que a "taxa de remoção" - que combina os
níveis de atendimento com o grau de tratamento instalado - mostra a redução percentual obtida.
Na classe dos mais altas massas removidas, destacam-se duas zonas críticas, em termos de carga poluente
gerada: a bacia do Trancão, com uma taxa de remoção relativamente elevada (62%) para uma densidade de
2 2
carga removida de 27 ton / ano/km , e a zona jusante da bacia do Leça, onde são removidas 30,6 ton/ano/km
com uma taxa de remoção de 48%. Note-se, no entanto, que outros factores levam a que estas situações não
sejam equivalentes – a bacia do Trancão "importa", de facto, águas residuais de outras unidades
hidrográficas, o que não é contabilizado nesta análise e sobrecarrega o meio receptor, apesar das elevadas
taxas de remoção instaladas. Pelo contrário, a bacia do Leça "exporta" para as águas costeiras uma parte
significativa das águas residuais, o que lhe atenua a pressão como meio receptor.
As mais altas taxas de remoção encontram-se nas pequenas bacias do Bufo (91%) e do Ardila (87%), cujas
albufeiras são origem de água para consumo humano, correspondendo-lhes quantidades relativamente baixas
2
de matéria removida – inferiores a 300 kg/ano/km . Infelizmente, a qualidade da água destas albufeiras
continua a apresentar problemas, que serão devidos essencialmente à poluição transfronteiriça.
As bacias do Alentejo, sobretudo na faixa central, destacam-se pelas taxas mais altas de remoção; as massas
removidas não têm, no entanto, praticamente expressão à escala nacional representada.
Em contraponto, e com as duas excepções já mencionadas, as taxas de remoção instaladas nas zonas mais
críticas de pressão são, em geral, francamente baixas face a um máximo teórico de viabilidade técnica da
ordem dos 90%.
A análise comparativa da "carga gerada", da "carga removida" e das "taxas de remoção" evidencia que não
há qualquer correspondência entre o grau de poluição gerado e os sistemas de águas residuais instalados.
3
A informação analisada com mais pormenor, se bem que insuficiente para proporcionar uma avaliação
quantitativa, de diversos factores relevantes à caracterização deste tema, permite uma descrição qualitativa
desses factores. As análises apresentadas no âmbito de alguns PBH demonstram que as concentrações à
entrada dos órgãos de tratamento de águas residuais urbanas apresentam grandes variações, não só de
sistema para sistema, como entre amostras colhidas ao longo do tempo no mesmo sistema.
Obtiveram-se, em muitos casos, resultados de concentrações no esgoto bruto incompatíveis com a escala de
variação natural de composição de esgotos domésticos. Estas concentrações só são explicáveis pela mistura
com águas residuais de outras proveniências, cuja quantidade e composição determina a composição final do
efluente bruto; verificando-se casos de extrema diluição em paralelo com outros de concentrações muito
altas. O Quadro 6.3.7. referente ao conjunto de análises de efluentes brutos à entrada de 115 ETAR na bacia
hidrográfica do Tejo, ilustra esta variação.
Nota-se também que os valores centrais (os 50% mais próximos da mediana) têm, em geral, concentrações
significativamente inferiores aos valores padrão, que se referem a uma composição teórica considerada
normal para esgoto doméstico.
O conceito de "nível de atendimento" aqui utilizado, e que serviu de suporte ao cálculo das taxas de remoção,
baseia-se na "população residente total em 1998", incluindo os "isolados" e excluindo a população flutuante
e todas as outras fontes poluidoras eventualmente englobadas no conceito de "habitantes equivalentes".
A grande variabilidade da composição das águas brutas atrás referida indicia que bastante mais de metade
das ETAR observadas estarão a funcionar "fora dos limites de projecto", isto é, são alimentadas com águas
residuais cuja composição é muito diversa daquela para que foram dimensionadas; embora a predominância
do desvio da norma seja na zona das concentrações baixas, o que parecerá favorável, é de ter em conta que
quase todos os tratamentos instalados são biológicos, sendo, por isso, muito vulneráveis a alterações de
composição do seu meio ambiente, ou a ambientes significativamente diferentes do "ambiente de projecto".
3
() Essencialmente os resultados dos trabalhos "Avaliação de funcionamento de ETA e ETAR" (PBH Tejo e Douro) e
"Avaliação preliminar do funcionamento de ETA e ETAR" (PBH Guadiana)
Quadro 6.3.7 - Concentrações das Águas Residuais Brutas (Plano de Bacia do Tejo)
CONCENTRAÇÕES EM Nº DE VALORES VALORES MÉDIA Coef MÍN. 1º Quartil 2º Quartil 3º Quartil MÁX.
ÁGUAS RESIDUAIS ANÁLISES PADRÃO CENTRAIS Var.
BRUTAS (Plano de Bacia (capitação vol. da amostra 1º
do Tejo) de 100 a 200 - 3º Quartis
(em 115 l/hab/dia) (%)
ETAR)
CBO5 (mg/l) 309 300-600 125-485 349 92% 10,0 125 285 485 2200
CQO(mg/l) 351 600-1200 355-934 777 105% 35,0 355 639 934 10957
SST (mg/l) 350 450-900 121-335 331 230% 8,0 121 214 335 9893
Um segundo aspecto relevante num diagnóstico, são as ETAR com parte ou a totalidade dos órgãos de
tratamento fora de funcionamento, a maior parte das quais, por óbvia desactivação, não foram objecto de
controlo analítico.
Realça-se ainda que, exceptuando os casos de órgãos desactivados, não existe qualquer tipo de relação entre
a classificação qualitativa sobre o funcionamento obtida através de inquéritos, e as taxas de remoção
calculadas através de resultados analíticos referentes às mesmas ETAR. Há indícios que a generalidade das
classificações qualitativas se baseiam numa expectativa da entidade gestora, que é subjectiva e extremamente
variável, incidindo essencialmente nos parâmetros organoléticos, com destaque para o cheiro.
Exceptuam-se os casos de afluentes brutos anómalos, que têm uma incidência significativa, e os casos de
avaria de equipamentos. Um estudo aprofundado incidindo na correcção destes dois tipos de causas poderá
ter um impacto muito relevante na eficácia dos empreendimentos.
Num contexto técnico e legislativo muito orientado para a optimização das taxas de remoção da matéria
orgânica, do fósforo e do azoto e, já em muitos casos, para a desinfecção, há que realçar a importância dos
parâmetros organoléticos, sobretudo o cheiro, e ainda da selecção da localização - não só pela sua
importância ambiental, mas também porque constituem factores fundamentais à aceitação e viabilidade da
exploração adequada dos sistemas de águas residuais.
Na
SAR =
Ca + Mg
2
sendo as concentrações expressas em miliequivalentes por litro (meq/L).
Figura 6.3.14 - Avaliação da Qualidade das Águas Subterrâneas para Consumo Humano
5- Os mapas de vulnerabilidade produzidos são regra geral ‘’vulneráveis’’ ao tipo de poluentes que
caracterizam os diversos casos de contaminação.
6- O modelo DRASTIC não estima todos os factores determinantes para a susceptibilidade de uma região à
contaminação das águas subterrâneas, tais como a proporção e a persistência do contaminante.
Optou-se então por utilizar uma abordagem de divisão em classes de vulnerabilidade que fizesse
corresponder estas, a classes de permeabilidade dos aquíferos ou das formações hidrogeológicas de maneira
a reflectir a maior ou menor potencialidade daqueles em atenuar uma possível contaminação.
Pretendeu-se de igual modo que esta tivesse um carácter abrangente tendo em conta os diferentes tipos de
abordagem utilizados pelas equipas técnicas que elaboraram os planos de bacia. Desta forma só uma divisão
baseada num critério litológico poderá ser o denominador comum.
No Quadro 6.3.8. estão descritas as classes de vulnerabilidade utilizadas e na Figura 6.3.16. o mapa de
vulnerabilidade de Portugal construído segundo esse critério.
As fácies hidroquímicas são distintas zonas que contem uma concentração de aniões e catiões principais
descritíveis dentro de grupos de composição definidos. Os descritores são o sódio, o potássio, o cloreto, o
magnésio, o cálcio, o sulfato, o bicarbonato cuja maior ou menor ocorrência no aquífero vai determinar o
tipo de água subterrânea naquele meio.
A caracterização da fácies hidrogeoquímica em cada aquífero ou formação hidrogeológica indiferenciada foi
realizada, sempre que os dados assim o permitiram, com base em diagramas hidroquímicos de Piper e Stiff.
Em síntese podemos dizer que no universo de 62 aquíferos analisados (Figura 6.3.17.), 44% possui fácies
bicarbonatada cálcica , 12% cloretada sódica e 16% bicarbonatada calco-magnesiana. De notar que cerca de
10% de aquíferos não tem dados suficientes para a determinação da sua fácies (verFigura 6.3.18.).
Fácies
Sem Dados
Bicarbonatada Calco- 10%
Cloretada Sódica
magnesiana
12%
16%
Bicarbonatada Cálcica
Cloretada-Bicarbonatada 44%
Sódica
3%
Bicarbonatada Mista
7%
Mista
Cloretada Cálcica 7%
1%
Figura 6.3.17 – Repartição dos Tipos de Fácies Hidroquímica nos Sistemas Aquíferos
A aplicação de estrumes contribui igualmente para o aumento de nitratos, devido à nitrificação do amónio
resultante da fermentação de compostos orgânicos azotados, e outros compostos inorgânicos, além de
provocar contaminação microbiológica.
Também propiciadoras do aumento dos nitratos, embora obviamente em menor grau, são as práticas
resultantes da má construção, conservação ou implementação em locais pouco adequados de fossas. O tipo
de poluição resultante é sobretudo microbiológica, mas também se traduz por aumento de nitratos e de outros
compostos.
Identificação das Áreas Sensíveis aos Nitratos de Origem Agrícola
De modo a identificar os sistemas aquíferos mais susceptíveis à contaminação por nitratos de origem agrícola
utilizou-se uma metodologia expedita cujos principais passos foram os seguintes:
1) Identificação das áreas regadas
2) Identificação da área do aquífero com regadio
3) Identificação das áreas mais vulneráveis do aquífero que contém regadio
4) Identificação das zonas de risco à poluição por nitratos
Assim com base na área regada e tendo em conta a delimitação dos sistemas aquíferos que compõem as 4
unidades hidrogeológicas é possível calcular a percentagem de cada aquífero com área regada. Utilizando
agora o mapa de vulnerabilidade é possível identificar as áreas de aquífero de vulnerabilidade alta (classes
V1, V2 e V3) e que contêm regadio.
Essas áreas serão aquelas com maior susceptibilidade de as águas subterrâneas virem a ser contaminadas por
nitratos de origem agrícola, isto se praticarem aí utilizações intensivas de fertilizantes ou de outro tipo de
produtos (ver Figura 6.3.19.).
A Figura 6.3.20. é um gráfico de barras que indica os sistemas aquíferos com maior percentagem de área
susceptível à poluição por nitratos.
Esta figura mostra que 14 dos 17 sistemas aquíferos da Orla Meridional possuem risco de poluição por
nitratos se ocorrerem nas áreas agrícolas utilizações intensivas de fertilizantes ou práticas irracionais de
irrigação. O mesmo sucede nos sistemas aluvionares da bacia do Tejo-Sado (Tejo, Abrantes e Constância),
no sistema Quaternário de Aveiro, nos aluviões do Mondego e no sistema do Vale Tifónico das Caldas da
Rainha situados na Orla Ocidental e nos aquíferos de Escusa e de Elvas-Campo Maior.
Finalmente com base nos dados observados de teor em nitratos na rede de monitorização do Algarve é
possível identificar numa 1ª análise aqueles aquíferos onde essa poluição difusa originada por actividades
agrícolas é já uma realidade.
Estão nessa situação os seguintes sistemas:
Na Orla Meridional:
M12 – Campina de Faro; M15– Luz de Tavira; M10 – S. João da Venda – Quelfes; M5 – Querença-Silves;
M6 – Albufeira-Quarteira
Na Bacia do Tejo e do Sado;
T2 –Aluviões do Tejo; T5 – Aluviões de Constância; T4 – Aluviões de Abrantes T3– Bacia do Tejo–
Margem Esquerda
Na Orla Ocidental:
O6 – Aluviões do Mondego; O10 – Leirosa Monte Real; O1 – Quaternário de Aveiro
80
70
60
50
40
30
20
10
0
M2
M3
M4
M5
M6
M7
M8
M9
A2
M10
M11
M12
M13
M15
M16
A11
O1
O6
O21
T2
T4
T5
Figura 6.3.20 – Sistemas Aquíferos com Maior Risco de Poluição por Actividades Agrícolas
No Maciço Antigo:
A5 – Elvas VilaBoim; A4 – Estremoz-Cano; A2 – Escusa; A9 – Gabros de Beja
A análise das únicas séries de evolução temporal do teor de nitratos existentes e localizadas em alguns
sistemas aquíferos da Orla Meridional vêm confirmar o que atrás se disse.
Com efeito têm sido detectadas aumentos significativos do teor em NO3 nas águas subterrâneas nos seguintes
aquíferos:
Querença-Silves - 2.5 mg/ l / ano desde 1992.
Albufeira-Ribeira da Quarteira -7.5 mg/l/ ano desde 1996
Campina de Faro – 7 mg/l/ ano desde 1991 atingindo valores actuais que podem ultrapassar os 500 mg/l.
Luz de Tavira – A partir de 1995 um aumento brusco de 30 para 40 mg/l atingindo actualmente valores da
ordem dos 100 mg/l.
Chão de Cevada-Quinta de S.João de Ourém: 2mg/l/ano a partir dos anos 80.
6.3.6.4. Riscos de Intrusão Salina
A intensa exploração de água subterrânea em aquíferos costeiros pode induzir fenómenos de intrusão da água
do mar quer locais quer regionais reflectindo-se no aumento do teor em cloretos, inviabilizando desta forma
a sua utilização para consumo humano.
Em condições naturais de não perturbação, o aquífero costeiro mantém um estado de equilíbrio, com uma
interface estacionária, havendo sobre esta um fluxo de água doce em direcção ao mar. A exploração de um
aquífero costeiro, na proximidade da costa, provoca um rebaixamento da cota da água (ou da superfície
piezométrica num aquífero confinado).
A exploração intensa dos aquíferos provoca uma descida do nível piezométrico relativamente ao nível
inicial, caso não haja uma compensação desse rebaixamento, por recarga natural ou artificial do aquífero,
podendo desenvolver-se um fenómeno de intrusão marinha.
A inexistência de uma rede de controlo da movimentação da interface água doce/água salgada com um
mínimo de representatividade espaço-temporal inviabiliza uma análise mais detalhada deste fenómeno sendo
unicamente possível identificar alguns casos pontuais onde aquele fenómeno parece evidente, principalmente
quando se correlaciona este facto com os caudais de exploração efectuados.
O fenómeno de contaminação salina por intrusão marinha ocorre com maior ou menor magnitude na maior
parte dos aquíferos costeiros da Orla Meridional onde por vezes o avanço da cunha salina se efectua a partir
de cursos de água preferenciais (caso da rio Arade ou da ribeira do Farelo no sistema Mexilhoeira Grande-
Portimão) e no aquífero Quaternário de Aveiro: nas zonas próximas da ria, em zonas localizadas entre Ovar e
Torreira e entre a Barra e a Costa Nova.
Os valores observados na rede de monitorização de cloretos em alguns sistemas aquíferos costeiros da Orla
Meridional vêm testemunhar esse facto: Nos aquíferos da Mexilhoeira Grande – Portimão e Ferragudo
Albufeira, os cloretos apresentam valores da ordem dos 500 mg/l, isto é muito acima do VMA o que
confirma a ocorrência ainda que por vezes sazonal de um fenómeno de intrusão salina.
Por sua vez a simulação por modelo numérico de escoamento realizada em alguns aquíferos costeiros com
base em cenários de exploração mostrou claramente o avanço da interface água doce - água salgada em
situações de sobre-exploração: É o caso dos sistemas Ferragudo-Albufeira, Mexilhoeira Grande– Portimão e
do sistema Cretácico de No caso do sistema aquífero da Bacia do Tejo-Sado/Margem Esquerda a intrusão
salina pode advir através da drenância entre camadas induzida pela bombagem excessiva do aquífero
confinado em áreas perto da costa ou do estuário. O mesmo fenómeno foi detectado na simulação do modelo
numérico do Cretácico de Aveiro: a contaminação salina proveniente da mistura com águas de outras
camadas aquíferas, umas mais profundas, outras mais superficiais, mas com elevado grau de mineralização e
que actualmente apresentam potenciais hidráulicos superiores às principais camadas aquíferas exploradas.
6.4.1. Introdução
No presente capítulo identificam-se e localizam-se as massas de água classificadas para usos
qualitativamente exigentes, tendo presente a terminologia da Directiva - Quadro, nomeadamente no que se
refere a algumas definições, de forma a que, no âmbito do PNA, o tema "Qualidade da Água" apresenta uma
aproximação aos conceitos daquela directiva, tendo, no entanto, em consideração que este capítulo se
encontra, enquadrado, sobretudo, pelo Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto.
Para além das massas de água classificadas para usos qualitativamente exigentes foram, ainda, consideradas
as "zonas sensíveis" (cf. DL 152/97, de 19 de Junho), as "zonas vulneráveis" (cf. DL 235/97, de 3 de
Setembro e Portaria 1037/97, de 1 de Outubro).
6.5. Estado da Qualidade das Massas de Água Superficiais e Subterrâneas para Usos
Qualitativamente Exigentes
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Sado
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# Capital de Distrito
(X Limite de Plano de Bacia
(X (
X
(X Limite de País
(*) Relatório (Nov. 1999) relativo à
Faro Directiva 75/440/CEE
Y
#
35
30
25
20 A1
15 A2
10
A3
5
0
A1 A2 A3
Classificação das Origens
superficiais destinadas à produção de água para consumo humano que servem mais de 10 000 habitantes e
cumprir com exigências da Directiva 75/440/CEE. Este plano sucedeu a um programa de protecção das
origens de água para abastecimento que havia sido iniciado em 1996.
Mais recentemente, foi apresentado o Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de Saneamento de
Águas Residuais (2000-2006)" que define as orientações políticas do Ministério do Ambiente e do
Ordenamento do Território (MAOT) relativamente às intervenções indispensáveis para completar e melhorar
a cobertura do País (excluindo as Regiões Autónomas) em abastecimento de água e saneamento de águas
residuais urbanas, e para proporcionar aos diferentes responsáveis políticos um conjunto fundamentado de
sugestões que os possam apoiar na tomada de decisões mais correctas para se atingir, com qualidade, níveis
de atendimento da população de 95% em água ao domicílio e de 90% em drenagem e tratamento de águas
residuais.
6.5.1.5. Lacunas de Conhecimento
Existem ainda no país algumas origens de água superficiais para produção de água potável que não têm
monitorização regular que permita a sua classificação. Esta situação tem especial incidência nas captações
destinadas a populações de reduzida dimensão. No entanto, está em curso uma alteração das redes de
monitorização que vai permitir modificar esta situação, que não poderá continuar a verificar-se face às
exigências legais em vigor.
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Rio Guadiana
# Qualidade
## # Boa - Cumpre os VMA e VMR
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# Má - Não cumpre os VMA
# Troços da Rede Hidrográfica Principal
Rio Guadiana
# não Classificados
## Albufeiras
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#
# Limite de País
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## Limite de Plano de Bacia
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Rio Guadian
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Trocos de Salmonídeos - Qualidade
Rio Guadiana
Sem Informação
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# Capital de Distrito
Rio Guadiana
Em Portugal continental encontram-se já classificados alguns meios hídricos superficiais, quer como águas
de salmonídeos quer como águas de ciprinídeos - Aviso n.º 12677/2000, publicado no Diário da República
n.º 194, II Série, de 23 de Agosto tendo, em sequência, as DRAOT iniciado em Janeiro de 2000 o processo
de determinação da qualidade destas águas, aumentando, para o efeito, o número de locais de colheita de
amostras de água para análise.
Nas Figuras 6.5.5. e 6.5.6., encontram-se assinalados os meios hídricos classificados - águas de salmonídeos
e de ciprinídeos, respectivamente. Os novos troços encontram-se impressos a cinzento por não haver
informação referente a 1998.
A classificação da água quanto ao estado de qualidade em Boa (troços a verde), Aceitável (troços a amarelo)
ou Má (troços a vermelho) foi feita com base na avaliação de conformidade constante no Relatório Trianual
Referente à Directiva 78/659/CEE, - Período 1996-1998. A água é Boa quando cumpre os VMR (valores
máximos recomendados) para todos os parâmetros analisados, Aceitável, quando cumpre os VMA para todos
esses parâmetros e não cumpre os VMR para pelo menos um deles, e Má quando não cumpre os VMA para
pelo menos um.
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Viana do Castelo
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Rio Guadian
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Trocos de Ciprinídeos - Qualidade
Rio Guadiana
Sem Informação
a
Y
# Capital de Distrito
Rio Guadia
O inventário e a classificação das águas de rega deverão encontrar-se concluídos no prazo de três anos a
contar da data de publicação do DL 236/98, ou seja até 1 de Agosto de 2001.
Biomassa clorofilina
<2.5 2.5 – 15.0 >15.0
média mg/m3
Os respectivos programas de acção para a redução da poluição agrícola, os quais se encontram descritos nos
seguintes diplomas: Portaria nº 546/98 de 18 de Agosto para a Zona Vulnerável nº1, Portaria nº 622/98 de 28
de Agosto para a Zona Vulnerável nº2 e Portaria nº 683/98 de 1 de Setembro para a Zona Vulnerável nº3.
- O Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria - EMAS, instituído pelo Regulamento CEE 1836/93,
do Conselho de 29 de Junho e a norma internacional EN ISO 14001, são dois exemplos de instrumentos
voluntários que possibilitam a uma organização evidenciar, perante terceiros e de acordo com os
respectivos referenciais, a credibilidade do seu sistema de gestão ambiental e do seu desempenho
ambiental;
- O Sistema Comunitário de Atribuição do Rótulo, instituído pelo Regulamento CEE n.º 880/92 de 23 de
Março, é outro instrumento de gestão ambiental, neste caso dirigido ao produto e tendo por objectivo
reduzir ou minimizar o impacte do consumo sobre o ambiente, promovendo métodos de produção e de
consumo sustentáveis, bem como orientar o cidadão comum, através de informação consistente, para a
aquisição de produtos menos nocivos sob o ponto de vista ambiental;
- Os Contratos de Melhoria Contínua do Desempenho Ambiental, que têm por base o estabelecimento de
medidas específicas ou metas sectoriais a assumir pelos sectores económicos aderentes, visam o
desenvolvimento de esforços no sentido da redução do impacte ambiental das actividades poluidoras
para além do mero cumprimento das disposições legais em matéria de ambiente.
7.1.1. Introdução
A caracterização e diagnóstico da situação biológica e ecológica das águas interiores superficiais, entendidas
como o conjunto de águas lênticas e lóticas à superfície do solo, que se encontram até à linha de base a partir
da qual são marcadas as águas territoriais, constituem o primeiro passo para a elaboração das estratégias e
programas de acções referentes a ecossistemas dulçaquícolas, a integrar no planeamento e gestão da água a
nível nacional.
A conservação de ecossistemas aquáticos, salientados em quase todos os documentos legais e
administrativos da última década, elaborados no âmbito do planeamento e gestão dos recursos hídricos,
apresenta como características uma larga variabilidade na profundidade de conhecimentos das várias áreas
temáticas que engloba, e a necessidade de uma abordagem holística integrada para os ecossistemas e
respectivas bacias de drenagem.
Os objectivos gerais da conservação e gestão de sistemas dulçaquícolas incluem a manutenção dos processos
ecológicos essenciais, a preservação da qualidade e diversidades genética, biológica e ecológica, e a
utilização sustentável de espécies e de ecossistemas aquáticos. De facto, os ecossistemas aquáticos
constituem importantes recursos biológicos geradores de bens e serviços, cuja gestão deve ser realizada de
forma concertada e em função dos seus utilizadores, tendo por base fundamental a sustentabilidade ecológica
e a conservação dos ecossistemas. Conservação, recuperação e utilização dos recursos naturais aquáticos
podem ser encarados como componentes de uma equação mais alargada de gestão.
Os sistemas aquáticos formam unidades indissociáveis das suas bacias hidrográficas, de que dependem e a
partir das quais resultam muitas das alterações ecológicas em curso. Muito embora a caracterização, o
planeamento e a gestão de sistemas ecológicos de águas interiores deva ter em conta o ambiente terrestre
envolvente e associado, considerou-se que estas acções deveriam ser centradas no corredor e canal fluvial.
Por outro lado, as formas e os objectivos da gestão de recursos biológicos podem referir-se a diferentes
escalas espaciais – habitat, troço, segmento fluvial e bacia hidrográfica (Frissel et al., 1996)1. A componente
ecológica do PNA deve reportar-se ao nível espacial de grandes áreas de bacias ou conjuntos de bacias, mas
cuja caracterização depende da qualidade de informação a nível do troço e do segmento fluvial.
Em muitas bacias hidrográficas portuguesas, o conhecimento das comunidades biológicas é ainda incipiente,
nomeadamente sobre as espécies aí existentes, a sua distribuição geográfica e a evolução das suas
populações nos últimos anos. Várias áreas de conhecimento e gestão dulçaquícolas nunca foram iniciadas ou
desenvolvidas, nem implementada uma monitorização de rotina da qualidade biológica da água de sistemas
fluviais ou um rastreio alargado do estado trófico das albufeiras portuguesas. A caracterização e diagnóstico
a nível nacional baseou-se, assim, nas informações de campo, mas também em grande parte nas informações
bibliográficas recolhidas no âmbito dos PBH, e ainda no conhecimento pericial ou de campo da própria
equipa de consultores do PNA. Estas informações revelam no seu conjunto grandes assimetrias para os
diferentes grupos taxonómicos, áreas geográficas e áreas temáticas. Apesar disto procurou-se uma visão
integrada, embora necessariamente aproximativa, do estado de conservação dos ecossistemas dulçaquícolas.
No âmbito da componente ecológica do PNA, elaboraram-se sete documentos de caracterização, análise e
diagnóstico das águas interiores superficiais (Enquadramento Temático, Flora e Vegetação, Fauna Associada
ao Meio Aquático, Ictiofauna e Recursos Haliêuticos, Biologia e Ecologia de Albufeiras, Biologia e
Qualidade Biológica Fluvial, Estado de Conservação de Sistemas Fluviais), bases do presente texto.
(1) Frissell, C.A., W.J. Liss, C.E. Warren & M.D. Hurley, 1986. A hierarchical framework for stream classification: viewing streams in a watershed
context. Environmental Management, 10:199-214
O Decreto-Lei 140/99 de 24 de Abril reviu a transposição da Directiva Habitats para a ordem jurídica
interna. a proposta portuguesa inclui uma lista total de 60 sítios (31 na 1ª fase e 29 na 2ª). Uma parte das
áreas propostas como sítios pertenciam já a zonas designadas, propostas ou legalmente protegidas, embora os
seus limites tenham sofrido ajustamentos, devido aos estudos entretanto realizados. Ao todo, foram propostas
1 572 899 ha de sítios em território continental, ou seja, 17.7% deste (Figura 7.1.1).
Destacam-se ainda outras áreas protegidas: oito Reservas Biogenéticas, criadas com o objectivo de preservar
exemplos representativos da flora, fauna e zonas naturais europeias, caracterizadas pela existência de um ou
mais habitats, biocenoses ou ecossistemas típicos, únicos, raros ou em perigo; o Paul do Boquilobo, Reserva
da Biosfera do Programa “Homem e Biosfera” da UNESCO (Figura 7.1.2).
(2) Leitão, A. & C. Ferreira (coordenadores), 2000. Pareceres e reflexões. Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável. Série
Estudos, Pareceres e Reflexões. 148 p.
2/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Figura 7.1.2 - Reservas Biogénicas e Reservas da Biosfera, Sítios RAMSAR, Inventário de Zonas Húmidas e
Áreas com Interesse Potencial para a Conservação
Com base na compilação de elementos oriundos dos PBH e bibliográficos, foi ainda elaborada uma lista de
áreas mencionadas como sendo de interesse potencial para a conservação de espécies e comunidades,
florísticas e/ou faunísticas, incluindo rios, ribeiras ou partes de sistemas fluviais, lagoas, covões, pateiras,
4/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
pauis, açudes, alvercas e poldjes. O valor efectivo destas zonas húmidas para a conservação encontra-se por
avaliar, através dos indicadores biológicos e ecológicos adequados.
(3) Costa, J.C., C. Aguiar, J. Capelo, M. Lousã & C. Neto, 1998. Biogeografia de Portugal Continental. Quercetea 0:5-56.
registos constantes nos vários herbários do país. Tão pouco é possível indicar, para a generalidade dos casos,
as condições abióticas específicas em que dada espécie ocorre.
Não existe diferenciação muito marcada entre a flora das zonas lênticas, lóticas ou das paludosas. De facto,
as espécies distribuem-se de acordo com gradientes de humectação e com as características específicas de
cada massa de água (maior ou menor desenvolvimento da margem, tempo de permanência da água e
velocidade da corrente).
Infestantes e Invasoras
As principais espécies infestantes são (aquáticas) macroalgas, jacinto-aquático, pinheirinha-de-água e azola,
(emergentes) canas e, em certas situações, caniço e tabúas e (ribeirinhas) acácias. Com base numa consulta
por inquérito, a nível nacional, dos organismos implicados ou com interesses na gestão de recursos hídricos
(incluindo Câmaras Municipais), foi possível traçar um quadro geral de infestações e prejuízos.
A maior parte das infestações concentram-se em zonas intensamente agricultadas, nos vales dos cursos
fluviais médios e finais. Prejudicam o uso dos sistemas hídricos para rega e drenagem, suscitam problemas
de segurança pública, de utilização da água para pesca e lazer e podem provocar desequilíbrios ambientais,
com alteração da composição florística e da estrutura da vegetação natural. Algumas das áreas consideradas
como apresentando elevado valor conservacionista estão profundamente infestadas por espécies exóticas ou
invadidas por autóctones, como por exemplo, os Pauis de Boquilobo, Agolada, Tornada e Madriz, e
bastantes lagoas, como Braças, Esmoriz e Pateira de Fermentelos. As zonas lênticas e as valas de terra são os
sistemas mais infestados, mas também ocorrem infestações em canais, albufeiras e sistemas fluviais. Entre as
causas principais apontadas para as infestações, encontram-se a modificação do regime natural de caudais, a
poluição por efluentes domésticos e industriais e o aumento da carga de nutrientes oriunda de fontes difusas.
Nas galerias ribeirinhas, para além do seu estado de degradação que resulta da forma desadequada como são
muitas vezes realizadas as limpezas, desmatações e outras actividades humanas de intervenção no corredor
fluvial, verificam-se plantações e crescimentos subespontâneos de espécies exóticas em extensões
apreciáveis, nomeadamente de acácias, ailantos, plátanos, choupos e eucaliptos, como, referenciado pelos
PBH, nos corredores fluviais das bacias do Minho, Vouga, Mondego, Lis e Guadiana,.
Flora e Vegetação de Interesse para a Conservação
As espécies autóctones com interesse para a conservação têm sido classificadas em termos de categorias de
ameaça, com base em parâmetros pré-estabelecidos e definidos pela IUCN, International Union for
Conservation of Nature e que serão utilizados no “Livro Vermelho da Flora Portuguesa”, cuja elaboração
está em curso no ICN. Entretanto, as espécies consideradas de interesse têm sido englobadas num grupo
designado por RELAPE (Raras, Endémicas, Localizadas, Ameaçadas, ou em Perigo de Extinção). Também
nos PBH e noutras fontes bibliográficas há indicação de espécies florísticas consideradas com particular
interesse para a conservação. Após pesquisa aturada de todas estas fontes, foi elaborada uma lista de espécies
aquáticas e ribeirinhas com valor para a conservação, num total de 156 espécies (com referência à legislação
aplicável e um esboço de distribuição por bacias). Contudo para a sua conservação é necessário um
conhecimento adequado da sua distribuição, bioecologia e factores de ameaça. Salienta-se, com base na
bibliografia disponível, não ser possível verificar a distribuição de briófitos aquáticos raros em ecossistemas
de águas interiores, apesar da sua importância.
Foi ainda realizada uma tentativa de sistematização dos habitats mencionados na Directiva Habitats
92/43/CEE, e respectivas associações fitossociológicas, com um esboço de distribuição por bacia
hidrográfica, tendo-se verificado que em Portugal, existem 31 habitats aquáticos e ribeirinhos com estatuto
de protecção. Contudo, é necessária uma análise mais aprofundada do enquadramento de algumas
comunidades vegetais nos habitats contemplados pela Directiva, nomeadamente algumas ribeirinhas raras,
como os azeredos, buxais, vidoais e comunidades de zonas calcárias, para complemento deste inventário.
Comunidades Vegetais
6/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Com base na dominância relativa dos estratos arbóreo, arbustivo e herbáceo, e respectivas espécies,
identificaram-se 13 tipos de vegetação evoluídos associadas ao meio aquático: (a) dominadas por elementos
arbóreos - olmedos, freixiais, choupais, amiais e salgueirais (as mais frequentes), carvalhais de carvalho-
cerquinho, azeredos, buxais e vidoais (mais raras) -; (b) dominadas por espécies arbustivas - loendrais,
tamargais, tamujais e urzais -.
Foi realizada a compilação sistemática das associações fitossociológicas de zonas ribeirinhas, tanto de
sistemas fluviais como lacustres, agrupadas por tipo estrutural de vegetação - arbóreas e arbustivas (num
total de 32), herbáceas (num total de 84) e pseudo-lenhosas (três) - bem como a compilação bibliográfica das
suas preferências ecológicas, para os parâmetros edafo-climáticos mais comuns. As informações sobre as
preferências ecológicas evidenciam muitas lacunas, cujo preenchimento futuro, traria vantagens para o
delineamento das devidas medidas de conservação e recuperação e, talvez, indicações sobre as necessidades
desta vegetação em termos de caudais de manutenção ecológica, sobretudo para o centro e sul do país.
No meio aquático propriamente dito, a diversidade estrutural é menor, já que as comunidades são dominadas
por espécies herbáceas, embora de diversos tipos (submersas, flutuantes, emersas). Identificaram-se 20
associações fitossociológicas e recolheu-se informação bibliográfica sobre as suas preferências ecológicas.
Esta listagem de comunidades aquáticas e sua ecologia encontra-se particularmente incompleta (bastante
mais que as de associações ribeirinhas), uma vez que os estudos nestes habitats, para além de pouco
numerosos, não incluem muitas vezes o enquadramento fitossociológico das comunidades presentes e muito
menos os elementos edafo-climáticos necessários para a sua caracterização.
O conhecimento da componente vegetal dos sistemas lagunares e paludosos do país é particularmente
reduzido, com algumas excepções de trabalhos pontuais, por exemplo, sobre o Açude da Murta, alguns pauis
naturais (Boquilobo e Arzila), os amiais paludosos ribatejanos e os cervunais e lameiros de zonas
montanhosas. O ICN realiza presentemente um levantamento sistemático destas zonas, e sua caracterização
relativamente à fauna e à vegetação, com uma previsão de conclusão a médio/longo prazo.
Figura 7.1.3 - Distribuição Aproximada das Geosséries Ripícolas Mediterrânicas, com Base em Aguiar et al.
4
(1995) e J.C. Costa (Comunicação Pessoal)
Geosséries Ripícolas
(4) Aguiar, C, J. Capelo, J.C. Costa, M.D. Espírito Santo & M. Lousã, 1995. Tipologia das geoséries ripícolas mediterrânicas de Portugal continental.
Congresso Nacional de Conservação da Natureza, Lisboa. p. 25-32.
Foram sistematizadas as geosséries ripícolas portuguesas existentes, que evidenciam enormes lacunas de
conhecimento, nomeadamente a nível da escala espacial, tendo sido proposta uma primeira zonagem para o
país, com exclusão do noroeste, de maior influência atlântica, (Figura 7.1.3): 1 - supramediterrânicas de
meios lóticos de caudal regular com estiagem pouco acentuada, silicícolas, lusitano-durienses e orensano-
sanabrienses; 2 - mesomediterrânicas de meios lóticos com estiagem pouco acentuada, silicícolas, lusitano-
durienses; 3 - meso-supramediterrânicas de meios lóticos com estiagem pouco acentuada, silicícolas
beirense-litorais e estrelenses; 4 - meso-eutróficas de meios lênticos com estiagem pouco acentuada, termo-
mesomediterrânicas, silicícolas, da bacia do Tejo; 5 - termo-mesomediterrânicas de meios lóticos com
estiagem pouco acentuada, silicícolas, luso-estremadurenses e gaditano-onudo-algarvienses; 6 - termo-
mesomediterrânicas de meios lóticos com estiagem muito acentuada, silicícolas, luso- estremadurenses; 7 -
sobre calcários.
Estado das Galerias Ribeirinhas
O estado de conservação das galerias ribeirinhas, pelo menos dos cursos principais dos sistemas fluviais, foi
verificado através da observação de fotografia aérea ou ortofotomapas, com base em 5 classes de
continuidade e integridade da galeria ribeirinha, desde ausência total de galeria (classe 1 - mau estado de
conservação) a galeria bem desenvolvida em ambas as margens (classe 5), conforme Saraiva et al., (1996)5.
Esta classificação do estado de conservação assume que a galeria ribeirinha, quando não alterada por
actividades humanas, tende a ser contínua em ambas as margens. Contudo, em muitas situações, como por
exemplo na maior parte das cabeceiras fluviais, em rios temporários, em vales muito encaixados ou em zonas
muito rochosas, mesmo em situações de bom estado de conservação da vegetação natural, não haverá lugar
para o desenvolvimento deste tipo de galeria. Esta classificação apresenta também limitações derivadas da
impossibilidade de distinção de espécies exóticas, como acácias ou eucaliptos, que podem ocupar grandes
extensões fluviais. Em termos metodológicos, depende igualmente da data das fotografias aéreas em análise,
que pode ser desajustada em relação à situação actual.
Apesar destas limitações, os resultados fornecem uma primeira imagem da integridade da galeria ribeirinha
(em grande parte associada a bom estado de conservação) numa grande parte dos rios principais (Figura
7.1.4, de escala simplificada em 3 níveis). É notória a aparente degradação da maioria das ribeiras do
Algarve e do Oeste, de grandes zonas do rio Tejo e afluentes, contrastando em valores médios com o melhor
estado de conservação das galerias das bacias do Douro e Minho, embora também com extensões apreciáveis
em mau estado, apresentando o Vouga e Mondego um estado de conservação intermédio.
Qualidade da Vegetação
No âmbito dos PBH, foram propostos e aplicados outros índices de valor ou estado de conservação das
comunidades vegetais ribeirinhas com base nos inventários efectuados, embora não tenha havido uma
uniformização destes índices entre bacias. O Índice de Valor Paisagístico (ribeiras do Algarve) baseou-se na
vegetação ribeirinha potencial da aproximação fitossociológica; o Estado da Comunidade Vegetal (Minho,
Vouga, Mondego e Lis) e o Índice de Valor Macrofítico (Tejo, Douro e Sado), baseados na composição,
riqueza e cobertura florísticas das várias categorias da vegetação ribeirinha, procurando uma avaliação global
do equilíbrio da vegetação; finalmente, o QBR (“Índice de Bosque de Ribera”) (Lima, Cávado e Ave)
avaliando a integridade na composição e cobertura da galeria ribeirinha, com inclusão das características das
margens e habitats fluviais. Estes índices merecem estudos que permitam avaliar a sua aplicabilidade e
fiabilidade. Os resultados da aplicação destes índices apontam para uma degradação mais acentuada das
comunidades das bacias hidrográficas do centro e sul do país - Tejo, Sado e ribeiras do Algarve (Figura 5).
Com as devidas reservas, as bacias melhor conservadas parecem ser as do Minho, Douro e Mondego. No
entanto, assinalam-se em todas as bacias troços com elevada degradação das comunidades.
Para a avaliação de estado ecológico da componente vegetal dos ecossistemas aquáticos e das zonas
adjacentes, foi apresentada uma proposta metodológica, aplicada à bacia do Guadiana. É necessário verificar
(5) Saraiva, M.G., I. Moreira & I. Ramos, 1996. Bandas Ripícolas no Ordenamento do Espaço Rural e da Paisagem. In: 2º Congresso Nacional de
Economistas Agrícolas - Évora
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
se esta proposta metodológica pode ser extrapolada em termos nacionais, e compatível com a avaliação do
estado ecológico efectuado a partir das outras comunidades, nomeadamente animais.
As várias espécies da fauna não piscícola têm diferentes graus de dependência das massas de água e da faixa
ripária envolvente, como fonte de alimento, local de descanso temporário (espécies migrantes) ou
permanente (espécies residentes), local de reprodução ou de protecção contra predadores.
Para alguns taxa ou grupos mais ameaçados (por exemplo, quirópteros cavernícolas, toupeira-de-água, lobo,
lince-ibérico, lontra, salamandra-lusitânica, cágados), foram recentemente realizados ou estão a decorrer
estudos sobre a sua biologia numa óptica de conservação. Contudo, para a maioria das outras espécies é
evidente a escassez de informação de base, o que cria problemas na avaliação e selecção de espécies e áreas
com interesse para a conservação.
Espécies Associadas a Meios Aquáticos, Ribeirinhos e Húmidos (Espécies Alvo)
No âmbito do PNA, foram identificadas as espécies de vertebrados associados aos sistemas hídricos.
Utilizou-se como base de trabalho todas as espécies de herpetofauna, avifauna e mamofauna terrestres
associadas a zonas húmidas dulçaquícolas que se sabe ocorrerem regularmente. A inventariação da fauna
ICN. Foram depois seleccionadas todas as espécies que se considerou estarem dependentes da estrutura feita
pelos PBH foi completada com dados mais recentes entretanto publicados ou gentilmente cedidos pelo
aquática/ripícola, por motivos biológicos e ecológicos, e aquelas que, embora não dependendo desta,
apresentassem uma preferência por zonas húmidas (por exemplo, lince ibérico e alguns morcegos).
Para se determinar o nível de dependência da água das espécies consideradas na lista inicial, procedeu-se a
uma avaliação de cada espécie tendo em conta o habitat, alimento e reprodução, tendo-se seleccionado as
espécies de grande dependência, dependência média e preferência, em relação ao meio hídrico, excluindo-se
as de ocorrência acidental.
Estado da comunidade Índice de "bosque de Índice de valor Valor paisagístico Estado ecológico
vegetal ribera" macrofítico florístico
Lis
100
80
60
40
20 Figura 7.1.5 - Classes de Qualidade da Vegetação (Ordem Crescente de
0
1 2 3 4 5
Qualidade) Obtidas com os Vários Indices Utilizados nos PBH. Para a
Bacia do Mira não foi indicada informação
As espécies de vertebrados portugueses que apresentaram algum tipo de dependência em relação à água, e
que se encontram ameaçadas, constituíram a lista de espécies alvo. A Figura 7.1.6 mostra a relação entre o
número de espécies alvo muito dependentes e as dependentes/preferenciais, constatando-se que o número das
primeiras é superior às dependentes/preferenciais nos anfíbios, répteis e aves enquanto que nos mamíferos é
inferior. Tendo em conta o número total de espécies existentes em Portugal Continental para cada grupo, a
percentagem de espécies alvo é a seguinte: Anfíbios (65%), Aves (19%), Répteis e Mamíferos (ambos 7%).
Relativamente a critérios de conservação, classificou-se ainda cada espécie associada à água com base nas
seguintes Convenções ou Directivas: CITES, Bona, Berna, Directiva Habitats, Directiva Aves, Livro
Vermelho dos Vertebrados de Portugal, Livro Vermelho dos Vertebrados de Espanha, Lista de Espécies
Ameaçadas da IUCN, 1990 e Lista de Espécies Ameaçadas da IUCN, 2000. Nesta análise, foram ainda
incluídos, sempre que possível, dados sobre a abundância conhecida de cada espécie, a evolução das suas
populações em Portugal e a sua distribuição tendo em conta unicamente a Europa e Norte de África.
Relativamente à avifauna, contudo, não se apresentou a sua distribuição indicando-se antes a fenologia de
cada espécie.
10/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
30
Nº de espécies
20
Muito dependente
10
Dependente/preferencial
0
Anfíb. Répt. Aves Mamíf.
Figura 7.1.6 - Grau de Dependência das Espécies Alvo Identificadas em Relação à Água
Todas as espécies de anfíbios inventariadas em Portugal continental (17) são muito dependentes da água,
uma vez que aí decorre o seu desenvolvimento larvar. Destas espécies, 11 (65%) têm estatuto de ameaça
segundo a Directiva Habitats e o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Relativamente aos répteis
foram inventariadas 26 espécies alvo, sendo 4 muito dependentes e dependente/preferencial; destas espécies
alvo de répteis, três têm estatuto de ameaça. Foram inventariadas 270 espécies de aves das quais 83 (31%)
foram consideradas como estando de alguma forma associadas ao meio aquático (55 muito dependentes e 28
dependentes/preferenciais) e estando 40 (48%) abrangidas por estatuto de ameaça. Quanto à mamofauna
foram inventariadas 58 espécies, estando 26 (45%) mais ou menos associadas ao meio aquático (5 muito
dependentes da água e 21 menos dependentes/preferenciais) e 16 (28%) com estatuto de ameaça.
Espécies e Sistemas Aquáticos e Ribeirinhos Prioritários
As espécies alvo foram avaliadas em relação a um conjunto de parâmetros de forma a se poderem calcular
índices que permitissem a identificação de um subconjunto de espécies prioritárias.
Os índices aplicados resultam da adaptação para o território continental das metodologias descritas e
aplicadas por Palmeirim et al (1994)6. Esta metodologia permitiu definir vários tipos de índices: SB – índice
de sensibilidade biológica (calculado a partir de variáveis biológicas relacionadas com a vulnerabilidade das
populações); R – índice de relevância (reflectindo a importância das populações no contexto nacional e
internacional); IPC – índice de prioridade de conservação (resultante da média aritmética do SB e R, e que dá
uma ideia das características intrínsecas de uma espécie reflectindo quer a fragilidade biológica das espécies
quer a importância relativa que têm as populações de uma determinada área); IEA – estatuto actual de
ameaça (com base no estatuto atribuído às espécies nos livros vermelho português, espanhol e internacional);
IRP – índice de responsabilidade política (calculado com base no estatuto das espécies em convenções
internacionais – Convenção de Berna e Directivas Aves e Habitats).
Cada índice exprime-se em função de vários parâmetros, divididos em categorias, cujo valor final
correspondente a uma pontuação entre 0 e 10. Estes indicadores/índices foram conjugados num Índice
Global de Prioridade de Conservação - IGPC. Consideram-se como espécies prioritárias aquelas que, sendo
espécies alvo, tinham um IGPC igual ou superior a 5.0 (Quadro 7.1.1).
A definição e distribuição das espécies prioritárias permitiram a determinação de áreas com prioridade de
conservação elevada, utilizando como base quadrículas UTM de 100x100 km, para o território do continente,
em função da riqueza específica e número total de espécies prioritárias. Deve sublinhar-se que a metodologia
seguida se refere a espécies associadas ao meio aquático e portanto, por áreas de prioridade identificadas
entende-se especificamente os corredores fluviais, áreas lênticas e pantanosas e zonas terrestres adjacentes.
Verificou-se que as áreas mais importantes incluem já áreas protegidas classificadas ou propostas para
classificação. Contudo, desconhece-se em muitos casos a qualidade da água e dos troços fluviais das redes
6
Palmeirim, J.M., F. Moreira & P. Beja, 1994. Estabelecimento de prioridades de conservação de vertebrados terrestres a nível regional: o
caso da costa sudoeste portuguesa. Museu Nacional de História Natural e Museu e Laboratório Zoológico e Antropológico (Museu Bocage),
Lisboa, pp.167-199.
hidrográficas e massas de água destas áreas prioritárias, embora em muitas os PBH tenham identificado
evidentes sinais de maior ou menor degradação.
Quadro 7.1.1 - Lista das Espécies Prioritárias Ordenadas por Ordem Decrescente do IGPC
Espécies Indicadoras
Com base em pesquisa bibliográfica, foi possível identificar algumas espécies associadas ao meio aquático,
com características de potenciais bioindicadoras de qualidade da água e da integridade estrutural dos troços
fluviais e classificadas como importantes do ponto de vista da conservação. Estas espécies são a salamandra-
lusitânica, o cágado-de-carapaça-estriada, o melro-d’água e a toupeira-de-água. No PBH do Douro, por
exemplo, foi utilizada a distribuição da toupeira-de-água como parâmetro classificativo do estado de
conservação dos corredores fluviais desta bacia.
Até ao momento, os descritores de mais-valia para a conservação utilizados para as espécies aquáticas ou
associadas ao meio aquático salientam sobretudo a sua presença mas raramente a sua abundância, com
excepção dos trabalhos desenvolvidos para a toupeira-de-água. Nas áreas de distribuição destas espécies de
elevado valor, ocorrem frequentemente zonas muito degradadas, em termos ambientais, desconhecendo-se
na maior parte dos casos o estado de conservação das populações biológicas. A degradação dos ecossistemas
aquáticos, em maior ou menor grau, foi detectada nos PBH em muitas áreas consideradas de elevado
valor,como por exemplo, no troço principal do rio Lima, nos Paúis do Boquilobo, de Arzila e da Madriz, no
Douro e Tejo internacionais, ou no Caia e Guadiana (Juromenha).
12/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
bacias hidrográficas a sul do Tejo, exceptuando o caso do Guadiana. De uma forma geral, todas as bacias
hidrográficas apresentam uma importante componente de espécies periféricas, excepção feita ao Ave, Lis e
ribeiras do Oeste e do Algarve (Fig. 7.1.7).
16 40
14 35
10 25
N.º Esp écies
8 20
6 15
4 10
2 5
0 0
Lim a
V ouga
Lis
Mira
Guadiana
Minho
Cáv ado
Douro
M onde go
Te jo
Sado
Av e
Rib. Oe ste
Rib. Algarv e
A u tó c to n e s n ã o d iá d r o m a s D iá d r o m a s
E x ó tic a s P r o p o r ç ã o d e e x ó tic a s
Figura 7.1.7 – Estrutura da Comunidade Ictíica Presente nas Principais Bacias Hidrográficas Nacionais e Grau
de Incidência de Espécies Exóticas
0.8
0.7 Classe A
0.6 Cávado
Minho
Guadiana
0.5
Lima Tejo
IQI
0.4
Classe B Vouga Mondego
0.3 Douro
Classe C Lis
0.1 Rib. Algarve
Rib. Oeste
Leça
0
Figura 7.1.8 - Índice de Qualidade Ictíica (IQI) Obtido nas Principais Bacias Hidrográficas Nacionais
80
70
N = 14
N = 13
N = 14
N = 18
N = 29
N = 25
N = 24
60
N = 24
N = 13
N = 22
N=9
N = 21
N = 19
50
40
30
20
10
0
Guadiana
Minho
Lim a
Cáv ado
Av e
Vouga
Rib. Algarv e
Douro
Mondego
Lis
Rib. Oeste
Tejo
Sado
Mira
Figura 7.1.9 - Proporção de Espécies Ictíicas com Diferente Valor Comercial Presentes nas Principais Bacias
Hidrográficas Nacionais. N – Número Total de Espécies
Actualmente são concedidas anualmente mais de 270 000 licenças de pesca, das quais menos de 2000 são
licenças profissionais. Por outro lado, as licenças desportivas predominantes são cada vez mais do tipo
nacional, indicando um crescendo de mobilidade e de pescadores oriundos de centros urbanos.
14/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Com o objectivo de ordenar a pesca nas águas interiores a Direcção-Geral das Florestas definiu um conjunto
de zonas sujeitas a uma regulamentação especial. Presentemente estão classificadas 46 zonas de abrigo, 14
zonas de desova, 34 zonas de pesca reservada, 77 concessões de pesca desportiva e 10 zonas de pesca
profissional.
Ainda no capítulo da exploração de recursos haliêuticos, as informações obtidas revelam a existência de 27
aquiculturas de águas doces em funcionamento, responsáveis pela produção de mais de 1 500 toneladas
anuais de peixe, na sua maioria truta arco-íris.
7.1.3.5. Qualidade Biológica de Sistemas Fluviais
Há cerca de cem anos, começou a reconhecer-se que as actividades humanas degradavam os sistemas
aquáticos, tendo, em consequência, surgido uma primeira tentativa de monitorização biológica. Contudo, esta
linha inicial de carácter biológico manteve-se marginal e a avaliação da qualidade da água tornou-se, ao
longo do século XX, essencialmente numa avaliação de contaminantes químicos e orgânicos, oriundos de
fontes pontuais ou difusas, presumindo-se que estes se relacionavam directamente com a qualidade biológica
dos ecossistemas.
Nem o fluxo do ciclo da água era visto como limitante da quantidade das reservas de água, nem o biota
existente era tido em conta nas acções de planeamento. Nas duas últimas décadas deste século, contudo,
recuperou-se a noção da vida como cerne do planeamento hídrico, e a monitorização biológica regressou aos
instrumentos de trabalho dos gestores de recursos hídricos.
O biota é o elemento integrador de todas as alterações que ocorrem nos ecossistemas e suas bacias de
drenagem, incluindo as físico-químicas, mas também as estruturais, por exemplo, alterações do regime de
caudais, da geomorfologia do canal e dos usos da bacia, de tal forma que adoptar critérios exclusivamente
físico-químicos para avaliar a qualidade da água não apresenta qualquer relação consistente com a qualidade
biológica e do ecossistema.
As modernas definições de qualidade da água e de poluição já contemplam a conservação do biota e do seu
bom ‘estado’, baseando-se estruturalmente: a) na ideia da entrada de substâncias ou energia no sistema
aquático; b) na garantia da saúde humana; c) na garantia da sustentabilidade dos usos futuros da água.
Presentemente, existem cinco tipos correntemente utilizados de sistemas de bioavaliação da qualidade da
água e dos ecossistemas aquáticos, nomeadamente fluviais (bioavaliação da qualidade da água por
indicadores e índices biológicos; bioavaliação físico-ecológica; bioavaliação do estatuto de conservação;
bioavaliação por métodos multivariados; bioavaliação por índices multimétricos), havendo outros em estudo.
Existem alguns casos de aplicação de índices biológicos para avaliar a qualidade das águas portuguesas,
sendo os mais relevantes a aplicação do sistema de sapróbios (indicadores: microalgas e
microinvertebrados), pela DGRAH entre 1978 e 1984, e o de índices bióticos utilizados em estudos
ambientais e mais recentemente nos PBH, especialmente o BMWP’ (indicadores: macroinvertebrados). A
aplicação de outros índices e indicadores biológicos utilizando microalgas, microcrustáceos, macrófitos e
ictiofauna e ainda de outros tipos de bioavaliação, nomeadamente físico-ecológica, multivariada e
multimétrica, tem sido realizada apenas em estudos universitários.
A imagem da qualidade biológica da água de sistemas fluviais, obtida com a aplicação do índice biótico de
macroinvertebrados BMWP´, encontra-se na Figura 7.1.10. Trata-se de um conjunto de 326 troços fluviais,
com resultados obtidos no âmbito dos PBH, mas acrescidos de dados de outros estudos, embora respeitantes,
normalmente, a uma só colheita. Salvo algumas assimetrias, como a maior densidade de locais nas ribeiras
do Oeste e bacia do Lima e apenas dois pontos de cabeceira do Mira, é possível uma primeira imagem geral
da qualidade biológica da água de sistemas fluviais. Verifica-se, a nível nacional que 56% dos locais
amostrados apresentaram sinais de pouco ou nenhuma contaminação orgânica (Classes I e II), 8%
encontram-se contaminados (classe III), 17% muito contaminados (IV) e 18% fortemente contaminados (V).
A distribuição espacial destas classes de qualidade da água não é homogénea por todo o continente (Figura
7.1.10). O maior número de locais não contaminados situam-se a Norte da margem direita do Tejo, o que
pode decorrer duma maior disponibilidade hídrica e consequente mais elevada capacidade de autodepuração,
tornando os cursos de água dessas regiões menos vulneráveis à contaminação. Verifica-se que os rios do
Norte, à excepção do Cávado apresentam sempre pelo menos um quarto dos locais não contaminados,
situação que é inversa nos rios do Sul onde, excluindo as ribeiras do Algarve (cabeceiras do Seixe e do
Aljezur) não se encontram locais não contaminados. Esta dicotomia poderá reflectir também, a necessidade
de ajustar o índice utilizado, de origem inglesa embora adaptado por investigadores espanhóis em 1989, a
situações fluviais naturais em que ocorre maior stress hídrico natural.
No âmbito dos PBH do Guadiana e das ribeiras do Algarve foram realizados estudos de campo sobre as
comunidades de algas unicelulares de sistemas fluviais (nomeadamente fitoplâncton e perifiton), existindo,
também, estudos anteriores mais localizados, nas bacias do Lima, Cávado, Ave, Vouga, Tejo, e Guadiana.
Analisando os resultados referentes ao Guadiana, verifica-se que o caudal é um factor determinante na
composição das comunidades de algas unicelulares, e que situações de baixo caudal resultam na proliferação
de cianofíceas, algumas delas potenciais produtoras de toxinas, cujos efeitos foram já reportados, sobretudo
na região de Mértola. Tornam-se, por isso, preocupantes os valores bastante elevados de cianofíceas para
alguns locais amostrados no âmbito do PBH do Guadiana, sendo provável que existam outras situações deste
tipo não recenseadas nesta e outras bacias.
No PBH das ribeiras do Algarve evidenciou-se que as situações mais eutróficas ocorrem fundamentalmente
nas regiões litorais, não se verificando no entanto uma acentuada predominância de cianobactérias. Em
ambos os casos, as diatomáceas tendem a dominar quer as comunidades de fitoplâncton quer as de perifiton.
O uso de índices bióticos baseados em diatomáceas ou perifiton, para avaliar a qualidade da água, é muito
frequente na Europa e nos E.U.A., havendo vantagens em melhor conhecer estas comunidades no país e
utilizá-las na determinação da qualidade biológica da água
Contudo, em Portugal, ainda não se encontra implementado um sistema de avaliação da qualidade biológica
da água complementar da físico-química, ao contrário do que acontece na generalidade dos países europeus,
onde um ou mais dos vários tipos de sistemas de bioavaliação acima descritos, são utilizados em rotina,
nalguns casos desde o início do século XX. Demonstrada a necessidade de utilizar indicadores biológicos
16/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Os poucos estudos disponíveis indicam que as comunidades de plantas das margens de albufeiras podem
apresentar alguma riqueza e importância, muito embora dependentes do tipo da albufeira. Apesar de
genericamente esparsas, desempenham um papel ecológico crucial como zonas de abrigo e desova para as
populações piscícolas e no estabelecimento das populações de macroinvertebrados de que estas se
alimentam. Só um rastreio geral destas comunidades permitiria obter uma imagem adequada da sua
composição, ecologia e variantes tipológicas, extremamente útil para as actividades de gestão das zonas
marginais de albufeiras.
Não existem estudos sobre o perifiton de albufeiras portuguesas.
O macrobentos de albufeiras ibéricas apresenta pouca complexidade e densidade baixa, sendo constituído
por um conjunto de menos de uma centena de organismos conhecidos, de taxonomia complicada, em
especial bivalves, anelídeos oligoquetas e dípteros quironomídeos. Não existem praticamente estudos sobre a
composição e ecologia dos macroinvertebrados de albufeiras portuguesas.
Ictiofauna
A larga maioria das espécies piscícolas nativas fluviais não encontra condições de reprodução ou
sobrevivência nas albufeiras, onde não existem zonas de pouca profundidade, com velocidade da corrente
moderada e com habitats diversificados, com abundância de detritos vegetais e animais, perifiton e
macroinvertebrados de que se alimentam. O efeito barreira provocado pelas albufeiras (entre outras causas)
impede a maior parte das espécies diádromas de aí existirem.
Foram encontradas até ao momento 28 espécies piscícolas, pertencentes a 10 famílias, das quais nove são
exóticas. As espécies nativas mais típicas e abundante – barbos e bogas - realizam migrações reprodutoras
para os afluentes, utilizando as albufeiras sobretudo para se alimentarem durante os períodos não
reprodutivos. Três das cinco espécies mais frequentes são exóticas - a carpa, o achigã e a perca-sol - bem
adaptadas a sistemas lacustres nos seus países de origem. Estas espécies dominam frequentemente as
populações piscícolas, quer em número quer em biomassa.
Numa análise à escala nacional, baseada na composição piscícola de um conjunto de 35 albufeiras para as
quais existia informação recente, publicada ou inédita, detectaram-se quatro tipos de associações
estatisticamente distintos. Cada um destes tipos apresenta variáveis ambientais significativamente
associadas. O modelo de ocupação ictíica assim criado permite prever as associações piscícolas
potencialmente dominantes em albufeiras de composição específica desconhecida (Figura 7.1.11).
Verifica-se um predomínio de albufeiras do tipo C (grandes, situadas nos cursos médios, geralmente
hidroeléctricas, tendencialmente oligo-mesotróficas, com associações piscícolas complexas dominadas por
boga, bordalo e barbo) no Norte do país e de albufeiras do tipo B (grandes, igualmente situadas nos cursos
médios, geralmente de rega, tendencialmente meso-eutróficas, com associações piscícolas complexas
dominadas por carpa, achigã e perca sol) no Centro e Sul. Existe ainda o grupo D (pequenas, de altitude,
perto da nascente, com associações piscícolas simples de bordalo e truta, tendencialmente oligotróficas) e o
grupo A (pequenas, de rega, de baixa altitude, perto da nascente, com associações piscícolas simples de
carpa e perca-sol, tendencialmente eutróficas). Dentro de cada grupo ocorrem variações que potenciam a
existência de desvios ecológicos associados a diferentes graus de degradação, nomeadamente progressão
trófica.
As populações piscícolas de albufeiras constituem um recurso importante e, no centro e sul do país, a pesca
desportiva de competição é centrada nessas massas de água, com as actividades de lazer e de comércio
associadas. Os problemas de eutrofização que afectam as albufeiras e o regime de utilização a que estas estão
sujeitas, penaliza fortemente as populações piscícolas, nomeadamente criando situações de forte
desoxigenação em partes da massa de água e um ambiente quimicamente inadequado, pondo a seco os leitos
de desova ou impedindo as migrações reprodutoras durante a Primavera.
Por outro lado, ao representarem uma barreira à livre movimentação das espécies e materiais que
naturalmente se deslocam ou são deslocados ao longo do sistema fluvial, entre as cabeceiras e a foz, as
barragens constituem importantes factores de alteração, e frequentemente de degradação, tendo o
desaparecimento, de espécies piscícolas de grande interesse económico (por exemplo a lampreia, o esturjão,
18/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
o salmão e o sável), suscitado o interesse pela construção de dispositivos de transposição para peixes, em
barragens.
Nos cursos de água principais, existem presentemente 10 passagens para peixes instaladas, e pertencentes a
três tipos: um ascensor em Touvedo (Lima), passagens por bacias sucessivas em Penide (Cávado), Coimbra
(Mondego) e Grela (Vouga) e eclusas de Borland em Crestuma-Lever, Carrapatelo, Régua, Valeira, Pocinho
(Douro) e Belver (Tejo). Contudo, o conhecimento incipiente em relação à ecologia e movimentos de muitas
espécies e sobretudo à sua relação eco-hidráulica com o sistema de passagem escolhido, deu origem à
instalação de dispositivos de eficácia desconhecida ou comprovadamente ineficazes. Citam-se, a título de
exemplo, os casos estudados das eclusas de Crestuma-Lever e Belver, e do ascensor de Touvedo,
respectivamente nos rios Douro, Tejo e Lima.
EstadoTtrófico
No âmbito dos PBH o estado trófico foi determinado com base: a) em diferentes indicadores, desde a
variação de oxigénio dissolvido em profundidade até à biomassa clorofilina; b) em diferentes critérios
qualitativos ou quantitativos (abundâncias planctónicas, limiares considerados internacionalmente, índices
tróficos, informações bibliográficas); c) em fontes de informação provenientes de períodos e instituições
diferentes, com métodos de colheita e análises diferentes. As classes tróficas referidas nos PBH não são
coincidentes nas divisões efectuadas. Não existe uma metodologia normalizada e comum para determinação
do estado trófico ou sequer uma amostragem directamente vocacionada para a sua determinação.
Face às limitações enunciadas, para a determinação do estado trófico de albufeiras, no âmbito do PNA,
seleccionaram-se como indicadores do estado trófico, o fósforo total na coluna de água (Pt, em mg/m3), na
generalidade dos casos doseado apenas à superfície, enquanto elemento determinante do estado trófico, e a
biomassa clorofilina (clorofila a, em mg/m3), enquanto elemento indicador da resposta do ecossistema, para
dado nível trófico. Estes são os parâmetros mais ubíquos, em termos de determinações no tempo, no espaço e
para os laboratórios onde se realizam as análises, além da sua metodologia corresponder a normas
estabelecidas.
Os dados obtidos para a determinação do estado trófico foram recolhidos no SNIRH, a partir de informações
das DRAOT, para o ano 1997 e seguintes e da DGA para o período 1989-1993, e nos PBH. Ao todo, foi
possível obter valores para 83 (52%) albufeiras do universo original de 162 albufeiras consideradas, embora
nem sempre para ambos os parâmetros.
O potencial predito obtido na regressão entre o fósforo total médio encontrado nas albufeiras (em mg/m3) e a
biomassa clorofilina (mg/m3 de clorofila a) confirma que o fósforo é o elemento determinante da
eutrofização de albufeiras portuguesas e que a regressão do estado trófico passará sobretudo e
necessariamente pelo controle das cargas afluentes deste elemento.
Para a atribuição do estado trófico, foram utilizados os limiares da OCDE, mas ajustados no limite entre a
mesotrofia e eutrofia, em função de conhecimento bibliográfico e pericial da equipa. Considerou-se que
aqueles tinham apenas um carácter indicativo, porque se tratam de valores cujos critérios de origem radicam
essencialmente em lagos naturais e albufeiras temperadas do norte, não tendo em conta a especificidade de
massas de água ibéricas, de características limnológicas muito particulares. Foram considerados apenas três
níveis tróficos, na classificação final, devendo ser entendidos como provisórios.
Verificou-se que existem informações para apenas 55% das albufeiras de maiores dimensões. Das albufeiras
com estado trófico conhecido, apenas 4% se revelaram oligotróficas, enquanto 28% são mesotróficas e 23%
eutróficas. Refira-se que em qualquer das duas últimas classes se considera existirem variações substanciais
inter-anuais, que devem ser rapidamente estudadas, nomeadamente para avaliar a progressão trófica em
curso e para actuar atempadamente sobre esta. Por outro lado, é possível que os resultados estejam de certo
modo enviesados na direcção das albufeiras eutróficas, uma vez que será nessas que ocorrem os maiores
problemas de saúde pública, relacionados com a qualidade da água de abastecimento e com o seu uso
múltiplo, e por conseguinte nessas se concentram as análises da qualidade da água das DRAOT.
Encontraram-se albufeiras oligotróficas nas bacias do Douro, Minho, Lima, Cávado, Ave, Vouga, Mondego,
Tejo e Oeste, mas não nas do Guadiana, Sado, Mira e Algarve (Figura 7.1.12).
A imagem obtida é condicionada pela insuficiência de conhecimento, nomeadamente de massas de água
potencialmente oligotróficas; por exemplo, quase não existem dados para as albufeiras da zona da Serra da
Estrela.
20/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
tro
ro
a
o
te
e
an
d
st
es
ou
Oligotrófico
en
Sa
oe
di
C
ua
or
le
e
Mesotrófico
N
G
Su
jo
Te
Eutrófico
Figura 7.1.12 - Proporção das Classes Tróficas para as Albufeiras do Continente com Estado Trófico Conhecido
(n=83), por Bacias Hidrográficas ou Conjuntos destas
Metodologia
O sistema fluvial forma com a sua bacia hidrográfica uma unidade indissociável, de tal forma que o
processamento de materiais físicos, químicos e biológicos em curso nesta, nomeadamente resultantes de
actividades humanas, se reflecte no corredor fluvial. As formas de perturbação do meio aquático por
actividades humanas podem ser indirectas, ocorrendo na bacia hidrográfica e no vale de cheia, ou directas,
afectando o corredor fluvial ou o meio líquido. A sua magnitude espacial é também muito variável, podendo
afectar a bacia, sub-bacia, segmento, troço, habitats ou micro-habitats fluviais. Quando decresce a magnitude
e localização espacial das intervenções e perturbações (e.g. a criação de uma praia fluvial), passa-se a níveis
mais direccionados e localizados de acções de gestão, com maior necessidade de um conhecimento biológico
e ecológico de pormenor.
O troço fluvial pode ser considerado a unidade base do sistema fluvial, apresentando características
hidromórficas e geoquímicas próprias. Os troços fluviais podem ser agrupados em tipos (ou conjuntos de
troços de características semelhantes), aos quais correspondem comunidades ou tipos biológicos afins. A
definição de uma tipologia para os troços fluviais da rede hidrográfica portuguesa, permite-nos obter uma
visão holística de carácter bioecológico dos sistemas fluviais, estruturada e hierarquizada a diferentes escalas
espaciais, com possibilidade de planeamento e actuação igualmente nas diferentes escalas.
Uma vez obtida esta tipologia, os troços fluviais (e respectivos tipos identificados), podem ser classificados
em termos do seu estado de conservação. O estado de conservação de um troço fluvial é a medida da sua
integridade biológica, face às alterações provocadas por actividades humanas. Assim, a medida do estado de
conservação de um troço integra dois conjuntos de componentes, o primeiro constituído pelos indicadores
das várias facetas da qualidade biológica, o segundo constituído pelas várias facetas da intervenção humana
(entenda-se degradação) dos ecossistemas aquáticos.
Tal como foi evidenciado, a informação existente sobre as espécies e os ecossistemas aquáticos fluviais é
fragmentária em termos espaciais e taxonómicos e espacialmente heterogénea.
A metodologia agora apresentada foi proposta e desenvolvida nos PBH do Douro e Tejo. No âmbito do
PNA, houve um aprofundamento na definição dos sectores tipológicos e uma redefinição de variáveis (ex:
indicadores biológicos), por forma a estender a caracterização de modo uniforme a todo o território nacional.
O resultado final é uma tipologia ecológica de cursos de água à escala nacional e respectiva classificação do
estado de conservação.
Com efeito, podemos estabelecer relações e implicações evidentes entre as variáveis seleccionadas e as
características do meio aquático: hierarquização da rede de drenagem, geologia, declives e precipitação A
geologia influencia marcadamente as características físico-químicas em termos de concentração em
nutrientes, capacidade tamponizante e transporte sólido e, consequentemente, a produtividade primária e
secundária. Os declives estão directamente associados com a altitude e topografia, reflectem a forma do vale,
e contribuem para a definição da heterogeneidade do segmento e das características morfométricas do troço.
A heterogeneidade do habitat desempenha um papel evidente no incremento da biodiversidade. A
hierarquização da rede fluvial é função da distância à nascente, relacionando-se com o padrão hidrológico ao
longo da bacia. Em termos biológicos liga-se com a sucessão longitudinal das comunidades. A precipitação
determina as condições hidrológicas e as categorias de caudal, influenciando especificamente a biotipologia.
Os agrupamentos tipológicos de troços obtidos pelo cruzamento destas 4 variáveis foram designados por
Unidades Fisiográficas Homogéneas (UFH). As UFH pretendem realizar um zonagem dos ecossistemas
lóticos tendo em conta os factores ambientais dominantes na definição da composição e estrutura das
comunidades aquáticas. Após eliminação de unidades de comprimento inferior a 2 km, obteve-se, numa
primeira aproximação, um total de 227 UFH (Figura 7.1.13). O resultado final evidencia uma
heterogeneidade ambiental superior no Norte e Centro interior, ligada à orografia, o que vai ter reflexos, para
além da densidade de drenagem e declives, também a nível de variabilidade de precipitação, muito embora a
heterogeneidade geológica no Alto Alentejo contribua aqui para uma fragmentação destas unidades.
Para a classificação do estado de perturbação das UFH, foram seleccionadas variáveis relacionadas com
caracterização do meio ambiente, e integrando-se em dois grupos: o conjunto das variáveis que contribuem
para a definição da integridade biótica dos troços, incluindo: a avaliação biológica da água; a estrutura da
22/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
vegetação ripária; o número de espécies piscícolas exóticas; e o número de espécies piscícolas autóctones, e
o conjunto das variáveis que contribuem para a quantificação da magnitude do stress ambiental incidente no
meio aquático, incluindo a qualidade físico-química da água; a carga urbana afluente ao meio hídrico; e a
carga industrial afluente ao meio hídrico.
Para a qualidade biológica da água, utilizou-se o índice biótico BMWP’ como indicador do grau de
perturbação antropogénica nos sistemas aquáticos. No que respeita a espécies piscícolas exóticas, os dados
existentes (informação discreta por estação de amostragem a partir da fauna aquática) reflectem a sua
presença com maior frequência nos troços inferiores dos cursos de água e a tendência a apresentarem
quantitativos mais elevados relativamente às populações autóctones em águas contaminadas e/ou sujeitas a
alterações mais ou menos acentuadas do meio físico. No que concerne às espécies piscícolas endémicas não
diádromas, a sua utilização baseia-se no princípio de que um aumento da biodiversidade piscícola em
espécies anfíbias é o resultado do aumento da heterogeneidade física do habitat sem perda de qualidade da
água. A classificação do estado de conservação das galerias ribeirinhas permite não só avaliar a situação
actual dos corredores fluviais da bacia como definir os troços das linhas de água com diferentes estágios de
artificialização.
Por sua vez, no que se refere aos parâmetros inseridos no segundo conjunto, foram incluídas as variáveis
cargas poluentes de origem urbana, cargas poluentes de origem industrial e qualidade físico-química da água.
No que se refere ás cargas poluentes, os dados dizem respeito a estimativas realizadas a partir das densidades
populacionais (dados demográficos de 1998) e de actividades agro-industriais estimadas com base nas
características de cada empresa (ex: nº de animais/exploração). Estas cargas geradas foram afectadas por
coeficientes relativos ao nível de atendimento e tipo de tratamento das águas residuais, pelo que os valores
efectivamente utilizados dizem respeito a cargas afluentes. Dado que as informações sobre poluição difusa
foram muito parcelares, não foram incluídas.
As variáveis relacionadas com a caracterização do meio ambiente assumem então valores distintos em cada
situação; a definição da classificação final procura quantificar o estado de conservação de cada UFH,
designado por KT.
O resultado final da aplicação dos critérios enunciados torna nítida a percepção relativa à degradação dos
cursos de água do interior para o litoral, estendo-se a perturbação ao longo duma extensão considerável dos
rios de maiores dimensões. Este panorama coaduna-se naturalmente com a situação esperada, o que permite
sustentar a metodologia envolvida (Figura 7.1.14). No entanto, verificam-se situações de relativamente
elevada magnitude de perturbação em algumas áreas do interior. É o caso dos sectores médios e inferiores
das Bacias do Tâmega, Corgo e trechos superiores das Bacias dos rios Alva e Zêzere. Por sua vez o rio Sado
e alguns dos seus afluentes reflectem também um baixo valor de KT (classe I), o que é um indicador de
profunda degradação ambiental.
No que se refere aos rios internacionais (excepto o Minho), encontra-se genericamente ao longo de todo o
comprimento um estado de degradação que oscila entre o moderado a elevado (KT nas classes I e II). A
situação é aparentemente mais grave nos rios Lima, Douro e Tejo, quando comparados com o Guadiana. Em
parte tal explica-se pela qualidade da água, mas principalmente pela superior alteração nos corredores
ribeirinhos devido á regularização.
Não obstante, estes resultados necessitam de ser analisados com alguma precaução e comparados com a
informação respeitante a cada variável. Com efeito, no caso dos rios Tâmega e Corgo verifica-se existir uma
consonância entre várias variáveis que simultaneamente indicam a existência de factores de degradação (ex:
qualidade da água, comunidades piscícolas...), e em muitos casos um déficit de informação que conduz a um
valor de KT excessivamente dependente da estimativa de cargas urbanas e industriais, havendo assim
ausência sobre as suas consequências a nível do biota.
O preenchimento das lacunas nas variáveis utilizadas, poderá permitir um aperfeiçoamento progressivo na
eficácia de avaliação obtida pelo KT. Verifica-se que esta técnica é claramente transbacias, permitindo uma
comparação em todo o território nacional ao nível do estado de conservação dos ecossistemas, e a inserção
de novas variáveis descritoras das condições ambientais.
Figura 7.1.13 - Mapa das UFH de Sistemas Fluviais Portugueses (A Cada Uma das 227 Unidades Foi Atribuída
Aleatoriamente Uma Cor)
Saliente-se a capacidade desta metodologia em ser um instrumento em acções de planeamento e gestão a
nível nacional como é o caso actual, a nível da bacia hidrográfica ou no planeamento de acções de
intervenção e recuperação de troços fluviais a uma escala inferior.
Os resultados apresentados neste primeiro exercício são preliminares, e necessitam de um investimento na
construção do resultado final deste sistema classificativo, com uma maior resolução nos limites exactos dos
troços classificados, e melhoria de informações oriundas das variáveis integradas no modelo.
24/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Interessará agora analisar a melhoria de classificação final do estado de conservação das UFH tendo em
conta outras variáveis, por exemplo, relacionadas com a alteração do regime de caudais e com as alterações
da estrutura física do canal fluvial.
A validação e aferição deste sistema metodológico consiste simplesmente na amostragem dos vários
parâmetros em utilização e de outros potencialmente interessantes, comparação dos valores obtidos in situ do
estado de conservação com os valores esperados em termos do modelo proposto, e finalmente reajustamento
do modelo.
Figura 7.1.14 - KT para cada UFH: Estado de Conservação dos Sistemas Fluviais Portugueses Classes de KT:
I- Segmento Fluvial Muito Degradado; II- Degradado; III- Com Alterações Moderadas; IV- Pouco ou
Nada Alterado
Em paralelo com a escala integrativa da bioavaliação, que evoluiu para uma eco-avaliação (espécies ⇒
comunidades ⇒ ecossistemas), é reconhecida a necessidade de estabelecer compartimentos regionais por se
ter verificado que: a) os tipos e características dos ecossistemas variam regionalmente; b) as espécies,
comunidades e funções e processos ecossistémicos variam em conformidade e c) é necessário que a
avaliação tenha em conta esta variação. Ou seja, não é possível aplicar o mesmo referencial de qualidade
ecológica num rio de cabeceiras e num de planície, ou num rio alentejano e num transmontano.
No quadro do conceito de ecorregião (grandes áreas consideradas ecologicamente homogéneas do ponto de
vista das condições climáticas, geomorfológicas e frequentemente das formações vegetais e animais) vem
sendo demonstrado, na Europa e nos EUA, que as ecorregiões terrestres não coincidem frequentemente com
as aquáticas, e que o uso de ecorregiões terrestres na selecção dos locais de referência enviesa os resultados
da qualidade ecológica dos ecossistemas aquáticos regionais.
A tipologia de distribuição das comunidades aquáticas oriunda da maior parte dos tratamentos multivariados,
nomeadamente os realizados em Portugal, indica que não existe necessariamente uma afiliação geográfica,
mas antes ecotipológica, isto é, as comunidades estão associadas a um dado conjunto de características
geomorfológicas e climáticas, que podem ocorrer de uma forma espacialmente descontínua, por exemplo, o
conjunto de todos os pequenos rios intermitentes portugueses, ou mesmo ibéricos. Quando este conjunto de
características ocorre (ecótopo), as comunidades são semelhantes no tipo e estrutura, e os ecossistemas nos
respectivos processos e funções (ecótipo).
Orientações da Directiva-Quadro da Água para a Definição do Estado Ecológico
O objectivo da Directiva 2000/60/CE (DQA), que estabelece um quadro de acção comunitário no domínio da
política da água é “estabelecer um enquadramento para a protecção das águas de superfície interiores, das
águas de transição, das águas costeiras e das águas subterrâneas” que, entre outros (Artº 1º) “evite a
continuação da degradação, e proteja e melhore o estado dos ecossistemas aquáticos e também dos
ecossistemas terrestres e zonas húmidas directamente dependentes dos ecossistemas aquáticos”. Dada a
actualidade do tema, e bem assim a importância estratégica e conservacionista da DQA, realiza-se, para o
PNA, a análise da situação actual e de uma possível metodologia de implementação.
Os objectivos ambientais da DQA (Artº 4º) para as águas de superfície, obrigam os Estados-membros a
aplicar as medidas necessárias para evitar a deterioração do estado de todas as massas de água de superfície;
e ainda a proteger, melhorar e recuperar todas as massas de água de superfície com o objectivo de alcançar
um bom estado ecológico e químico, bem como as massas de água artificiais ou fortemente modificadas a
fim de alcançar um bom potencial ecológico e bom estado químico.
O Anexo II da DQA apresenta a caracterização dos tipos de massas de água de superfície dentro de
categorias (como base de trabalho, dá-se aqui particular atenção à categoria de rios). Dentro de cada
categoria, as massas de água fluviais serão diferenciadas por tipos, de acordo com um de dois sistemas:
a) Sistema A. Neste caso são definidas ecorregiões no Anexo XI, verificando-se que Portugal se
encontra incluído totalmente na ecorregião Ibérico-Macaronésia. Os tipos de massas de água são
definidos com base em classes pré-estabelecidas de altitude, dimensão e geologia.
b) Sistema B. Os tipos são diferenciados utilizando os valores de factores físico-químicos obrigatórios
(altitude, latitude, longitude, geologia e dimensão) e outros facultativos.
Os Estados-membros devem desenvolver uma rede de referência incluindo vários locais com condições
biológicas de referência específica para cada tipo de massa de água, nos quais se incluam um número
suficiente de locais de estado excelente, por forma a facultar um nível de confiança adequado aos resultados,
dada a variabilidade intrínseca dos valores dos elementos biológicos de qualidade.
Quando não for possível estabelecer com fiabilidade as condições de referência específicas para dado
elemento de qualidade, devido à variabilidade natural desse elemento e não simplesmente a variações
sazonais, esse elemento poderá ser excluído da avaliação do estado ecológico.
Implementação da Componente Ecológica da DQA
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Como se pode constatar, a bioavaliação proposta na DQA utiliza um modelo ecocêntrico e muito actual,
baseado na saúde ecossistémica e na gestão integrada de bacias hidrográficas, considerando o biota como o
elemento chave da qualidade ecológica, coadjuvado pelo cenário morfogeoquímico e hidrológico.
Representa, portanto, um avanço extraordinário da bioavaliação da qualidade da água em termos legislativos,
administrativos e enquanto instrumento para a conservação.
Repare-se que o estado de referência de dado tipo de massa de água não é um conceito subjectivo, ao
contrário da escolha do método para o caracterizar. De facto, a DQA permite praticamente todas as opções e
modelos conhecidos, para a determinação dos tipos de massas de água, das condições de referência e do
sistema de monitorização.
Contudo, a implementação da DQA é um processo manifestamente complexo em termos de metodologia
ecológica (ou mais exactamente limnológica), mesmo considerando a experiência acumulada nos dois
sistemas de bioavaliação mais sofisticados actualmente utilizados – o multimétrico e o multivariado, sendo
que os princípios de ambos se enquadram nos da DQA.
O processo inicia-se com a definição de tipos de massas de água, uma abordagem da linhagem multimétrica.
A DQA sugere duas formas de efectuar esta definição, uma delas aparentemente mais simples, considerando
as ecorregiões aquáticas de Illiés (1967)7 no Anexo XI, que remetem a Península Ibérica para uma única
região homogénea. Considerar uma única ecorregião na Península Ibérica parece manifestamente simplista
face à sua diversidade limnológica8. Acresce que as regiões aquáticas de Illiés são baseadas na fauna, só
secundariamente nas características geomorfológicas e não incluem a flora.
Os tipos de massas de água e dos locais de referência podem ser obtidos a partir de classes pré-definidas de
factores físico-químicos (inseridos no sistema de ecorregiões), ou por utilização dos valores reais dos
mesmos factores físico-químicos, acrescidos de outros. O sistema A parece ser neste momento pouco
defensável para as condições ecológicas portuguesas, porque há poucos elementos sobre a distribuição das
comunidades biológicas que permitam confirmar se as divisões pré-estabelecidas são ecologicamente
correctas, ou mesmo se os factores físico-químicos considerados neste sistema são os determinantes. As
zonagens evidenciadas nos PBH por várias comunidades aquáticas fluviais (por exemplo no Tejo, Douro,
Vouga, Mondego, Lis, Guadiana e Sado), indicam não existir coincidência destas com a zonagem obtida a
partir das classes de factores pré-estabelecidas no sistema A. O sistema A é hierárquico e univariado, o que
lhe confere como vantagem uma grande solidez no caso dos factores e classes considerados serem
ecologicamente correctos, mas como desvantagem uma grande rigidez face a uma situação ecologicamente
diferente da de zonas temperadas e com poucos elementos biológicos conhecidos.
As comunidades biológicas apresentam diferentes expressões a diferentes níveis espaciais, nomeadamente
em termos de distribuição e na forma de reagir à perturbação humana. O facto da DQA considerar cinco
comunidades biológicas, dificulta de imediato a adopção da aproximação multivariada como base de
trabalho, porque conduz inevitavelmente a cinco zonagens biológicas diferentes. Por outro lado, no texto da
DQA não parece estar excluída a possibilidade da utilização de índices multimétricos (até agora utilizados
sobretudo nos EUA), para obter uma única imagem global do ecossistema.
Para além disso, a degradação das comunidades de cada ecótopo expressa-se naturalmente em termos
biológicos de formas diferentes. Segue-se que, para a definição do EQR (Ecological Quality Ratio) de locais
que não sejam de referência, é também necessário ter uma boa representatividade de informação da variação
biológica entre o estado excelente e o estado mau, representando um contínuo de degradação dentro de cada
tipo de massa de água.
Assim, para a implementação imediata da parte ecológica da DQA, será necessário um conhecimento
razoável dos elementos biológicos dos ecossistemas aquáticos portugueses (e respectivas características
hidrométricas e físico-químicas), que permita, desde já, a análise e validação dos tipos de massas de água
obtidos em função dos factores físico-químicos, e a selecção de locais de referência em cada um dos tipos,
com base nos elementos biológicos.
7
Illiés, J., 1967. Limnofauna Europea. Gustav Fisher. Verlag. Stuttgart, 474 p
8
c.f. Limnology in Spain, nº 8 da revista Limnetica, 1992, editada pela Associação Espanhola de Limnologia
Presentemente, o conhecimento das comunidades biológicas encontra-se localizado em dadas áreas ou sub-
bacias, sendo o conhecimento generalizado muito escasso e pouco recente. Nunca foi feito qualquer
exercício de biotipologia aquática a nível nacional, existindo apenas exemplos a nível da bacia ou sub-bacia,
e para uma ou outra comunidade, pelo que a validação dos tipos de massas de água portugueses é
particularmente difícil. De facto, o conhecimento das comunidades biológicas e sua variação temporal
(incluindo amostragem e tratamento laboratorial e estatístico), numa rede alargada de locais de amostragem,
representa um elevado esforço de técnicos especializados, de tempo, com repercussões financeiras.
No âmbito do PNA, foram reunidos inventários de dados biológicos compatíveis com a DQA por junção de
informações dos PBH e de outras fontes que se espera poderem ser utilizados como auxiliares numa primeira
separação dos diferentes tipos existentes de massas de água. Para albufeiras, pode-se dizer que não existe
praticamente informação actualizada, em termos biológicos.
A DQA coloca, de facto, três questões metodológicas que devem ser resolvidas sequencialmente: a definição
dos tipos de massas de água; a definição dos locais de referência para cada tipo de massa de água; a
definição dos EQR.
Preconiza-se ainda que a implementação da DQA obedeça aos três seguintes pressupostos essenciais:
A - Os locais de referência de cada tipo de massa de água não teriam obrigatoriamente que ser
geograficamente mas sim ecologicamente próximos, ou seja, o tipo de rios de cabeceira de zonas
montanhosas e graníticas poderá eventualmente incluir as cabeceiras dos rios Mondego, Vouga, Zêzere
e Côa, e se for esse o caso, um local de referência do Mondego sê-lo-á também do Vouga ou Douro.
B - A tipologia de massas de água (ou agrupamento de locais ecologicamente homogéneos) definida a partir
dos parâmetros físico-químicos ou outros, têm de coincidir com a tipologia obtida a partir dos elementos
biológicos.
C - Os locais de referência de cada ecótopo têm que o ser para todos os elementos biológicos, embora não
necessariamente com a mesma magnitude de EQR para cada um destes.
Com base na caracterização e diagnóstico efectuada no âmbito do PNA, preconiza-se que a implementação
da DQA em Portugal conjugue os dois sistemas de bioavaliação referidos, ou seja, um modelo
multicomunitário e multimétrico envolvendo várias escalas (espécies, comunidades, ecossistemas),
estruturado e validado por métodos estatísticos univariados e multivariados.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Causas – Construção de barragens e açudes que submergem os leitos de desova e constituem uma barreira às
migrações devido à inexistência de passagens para peixes ou à sua inoperância, ineficiência ou falta de
manutenção; sobre-exploração, de adultos ou de juvenis migradores (p.ex meixão), quer nas águas interiores,
quer nos estuários e zonas costeiras; utilização de artes de pesca ilegais tanto nas águas interiores como
estuarinas ou costeiras; poluição da água e destruição dos habitats de migração, de desova e dos juvenis.
Espacialização – Existem 162 grandes albufeiras de uso público e milhares de pequenas represas e açudes,
constituindo uma malha generalizada de obstáculos interferindo nas principais rotas migratórias nos rios e
afluentes principais. As rotas migratórias estão reduzidas a menos de um terço da sua extensão original nos
rios portugueses.
Quantificação – Não existe uma quantificação efectiva, adequada ou eficaz da redução das capturas de
peixes migradores diádromos, quer nas águas interiores quer nos estuários e zonas costeiras.
Relevância – Algumas espécies apresentam já os efectivos muito diminuídos ou praticamente inexistentes,
caso do esturjão, truta marisca e salmão; outras espécies evidenciam um declínio generalizado das suas
populações, em especial o sável, a savelha e a lampreia.
VI - Muitas Associações ou Populações Piscícolas de Águas Interiores apresentam sinais evidentes de
stresse ambiental, desequilíbrios e má condição biológica
Causas – Represamentos, causando rupturas sucessivas no contínuo fluvial e introduzindo alterações radicais
dos habitats a jusante e a montante das barragens ou açudes; alteração do regime natural de caudais líquido e
sólido; o regime de caudais ecológicos praticado em Portugal é ainda deficiente, apenas garantindo
percentagens mínimas de caudais modulares, muitos deles sem registo que permita a fiscalização; alterações
dos habitats devidas a artificialização das margens e dos leitos, canalizações, reperfilamentos, dragagens,
cortes excessivos de vegetação nos leitos e nos taludes; alterações locais das características dos habitats no
âmbito de actividades humanas como a instalação de zonas de lazer, limpezas fluviais e extracção de inertes;
degradação da qualidade da água por fontes de poluição pontuais e difusas, biodegradáveis ou não;
introdução acidental ou deliberada de espécies exóticas; interrupção das deslocações de muitas espécies de
águas interiores para fins reprodutivos ou outros; desconhece-se o sucesso das acções de repovoamentos
piscícolas correntemente efectuados e possíveis problemas associados; inexistência, inoperacionalidade,
ineficácia ou falta de manutenção das passagens para peixes.
Espacialização – Mais de um terço do país apresenta troços fluviais classificados como I e II de estado de
conservação (ou seja, muito a fortemente alterados).
Quantificação – Nos dois índices de integridade biótica (senso qualidade piscícola) desenvolvidos até ao
momento para associações ictíicas portuguesas (bacias do Tejo e Guadiana), mais de 50% dos locais
amostrados apresentavam valores correspondendo a integridade biótica média a muito baixa. Muito poucas
barragens possuem passagens para peixes e nas grandes barragens, praticamente todas são inoperacionais ou
de baixa eficácia. Das 24 passagens para peixes instaladas em pequenos aproveitamentos hidroeléctricos,
apenas cerca de um terço são adequadas e se encontram em boas condições de funcionamento.
Relevância – Perda da integridade biótica das populações e espécies piscícolas. Problemas do foro sanitário e
de qualidade de produtos de pesca. Regressão de espécies de interesse económico ou conservacionista.
VII - Ocorrem com frequência infestações de Plantas Aquáticas e Ribeirinhas
Causas – Eutrofização por fontes pontuais e difusas; introdução indevida ou acidental de espécies exóticas;
alteração do regime natural de caudais; falta de acções de gestão e de controlo adequado e continuado das
populações de plantas infestantes.
Espacialização – Generalidade dos cursos médios e inferiores de sistemas fluviais e associados (albufeiras,
valas de terra, pegos e pauis) e dos perímetros de rega, com ênfase para as bacias do Mondego, Tejo e Sado.
Quantificação – 25% de prejuízos graves para o regime hidráulico, 40% para actividades recreativas e 40%
de natureza conservacionista, de acordo com estimativa de prejuízos para os casos de infestações
identificados por entidades gestoras municipais, agrícolas e florestais de recursos hídricos e ambientais, num
inquérito a nível nacional.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
7.2.1. Introdução
O Valor dos Estuários
Os estuários são ecossistemas complexos e insuficientemente conhecidos que se tem vindo a compreender
desempenharem um papel fundamental no equilíbrio global da Biosfera.
Na transição entre as águas interiores e o Mar asseguram a reciclagem biogeoquímica de solutos e compostos
e, também, equílibrios mais delicados, como os relacionados com a produção de gases controladores do
clima. Além do mais, são importantes zonas de depuração, fornecendo os seus sapais "tratamento"
alternativo e gratuito de muitas substâncias indesejáveis.
São também sistemas altamente produtivos que, em muitos casos, exportam essa produtividade (outwelling)
e proporcionam condições óptimas de reprodução e viveiro a cerca de 70% dos stocks de espécies piscícolas
marinhas, contribuindo decisivamente para o repovoamento das zonas costeiras. A importância biológica dos
estuários reflecte-se ainda nas imensas populações de aves de invernada ou nidificantes, e na função que
desempenham para inúmeras espécies com valor comercial.
As excelentes condições que oferecem, no entanto, levam à concentração de populações humanas e de
actividades económicas nas suas margens, agravando as pressões que se exercem sobre os seus ecossistemas.
Modelo Adoptado
Uma dificuldade inicial que decorre da malha do mosaico geomorfológico e biogeográfico que constitui o
território nacional é o número e variedade dos sistemas estuarinos e a desproporção entre a importância dos
problemas a considerar e a necessidade do seu aprofundamento que resultaria de uma aproximação
exaustiva, que eventualmente se adoptasse, num âmbito do PNA.
Assim, o essencial do esforço produzido incidiu apenas nos estuários de maior relevância nomeadamente o
Minho, o Douro, a Ria de Aveiro, o Tejo, o Sado, a Ria Formosa e o Guadiana, apresentando-se no Quadro
7.2.1 de um modo sintético, uma comparação entre este conjunto de sistemas estuarinos tratados com maior
profundidade, e o conjunto dos restantes.
Considera-se, com efeito, que os estuários do Minho e do Douro são em grande medida representativos dos
outros estuários do Norte (Lima, Cávado e Ave), sendo além disso, pelas bacias internacionais que drenam e
pelos recursos naturais que suportam, certamente os mais importantes.
O mesmo se passa com o Guadiana que será em grande medida representativo dos estuários do Sul (Mira,
Ribeira de Seixe, Odeáxere e Arade) sendo também, pela bacia internacional que drena e pelos recursos
naturais que suporta, indiscutivelmente o sistema mais importante.
Por outro lado a Ria de Aveiro e a Ria Formosa são as formações lagunares mais importantes da costa
portuguesa.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Quadro 7.2.1- Comparação dos Sete Principais Estuários Portugueses com o Conjunto dos Restantes
Sistema/ Rec. Hídricos Área Tot. do Área Tot. da Área Classif. Popul. Bacia/ e Outros Critérios
Critério Sup. (hm3) Sistema (ha) Bacia (km2) (ha) Marginal*
Principais Estuários
e Lagoas Costeiras
Minho 14 458 2 500 17 081 4 017 1 000 000/ 130 000 Bacia Internacional
Douro 22 635 980 97 682 --- 4 123 300/700 000 Bacia Internacional
Ria de Aveiro 2 500 11 300 3 635 30 000 680 000/400 000
Tejo 16 678 32 000 80 500 45 071 9 030 000/2 500 000 Bacia Internacional
Maior estuár. europeu
Sado 1 320 23 560 7 672 30 200 270 000/ 660 000 Maior bacia hid. port.
Ria Formosa 79 11 - 14 800 4 048 18 400 85 – 330 000
Guadiana 7 295 2 200 66 800 48+2 089 1 900 000/60 000 Bacia Internacional
Sub-total 64 645 8 340 277 418 129 825 /4 780 000
Outros Estuários e
Lagoas Costeiras
Lima 3 349 100 2 480 1 600 80 000 Bacia Internacional
Cávado 2 124 < 100 1589 30 000
Ave 1 295 < 100 63 000
Esmoriz 90 74 210
Mondego 2 678 6 644 760 61 000 Maior rio português
Lis 259
S. Martinho do Porto 90
Lagoa de Óbidos 600 440 2 600 55 000
Lagoa de Albufeira 160 106
Mira 328 26 000 Estuário dito pristino
Odeáxere 32/0,9
Ria do Alvor 400 250 66 000
Arade 110/1,1
St. André 230 140
Melides 40 56
O Estuário do Tejo, considerado o melhor porto natural da Europa, é um dos maiores estuários europeus e,
neste conjunto, um caso único que deverá sempre ser incluído na análise de qualquer PNA. Associado ao
Tejo, quer em termos de história geológica e ecologia quer em termos de gestão e planeamento, está
naturalmente o Sado, o único estuário português que tem directamente associada uma reserva natural
submarina.
A população na envolvente dos sete sistemas considerados é actualmente de 4 780 000, ou seja, cerca de
50% da população do Continente. Os recursos hídricos superficiais que os alimentam perfazem por outro
lado de cerca de 64 645 hm3 ou seja 89% dos recursos superficiais do Continente. Finalmente as áreas
classificadas, com estatuto de conservação especial, que os integram representam 129 825 ha num total de
690 536 ha em Portugal continental, ou seja 19%.
Critérios que, pela importância dos investimentos que implicam e pela extensão das áreas de intervenção,
necessariamente consideradas nas futuras soluções de Planeamento, parecem razoáveis para justificar a
selecção adoptada.
A localização aproximada dos sete principais sistemas estuarinos e lagunares portugueses apresenta-se na
Figura 7.2.1. As áreas das respectiva bacias e o conjunto dos caudais em regime natural, caudais de ponta,
caudais e recursos médios anuais actuais apresentam-se no Quadro 7.2.2.
Estes sistemas recebem o escoamento de bacias hidrográficas muito diferentes com áreas que vão de 3 635 a
97 582 km2 e das quais 4 são internacionais. Essas bacias internacionais juntamente com a do Lima
representam no seu conjunto 46 % da área total da Península Ibérica e 45% dos seus recursos hídricos de
superfície (INAG, 2001).
Por outro lado, os caudais médios afluentes variam actualmente de 2,5 m3s-1 na Ria Formosa a 541 m3s-1 no
Douro.
Os caudais de ponta podem ir de algumas dezenas de m3s-1 (Ria Formosa) até aos 18 000 m3s-1 no rio Douro
(Régua). O conjunto destes escoamentos apresenta irregularidade interanual significativa no conjunto da
bacia, que aumenta, naturalmente, para Sul, mas que, na bacia do Douro, é superior à do Vouga.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
No estuário do Sado a circulação produzida sobretudo pela maré, é mais intensa no canal sul do que no canal
norte determinando, os bancos de areia que os separam, a forma dos perfis temporais de velocidade no canal
norte. A velocidade máxima (superior a 1 m s-1) foi medida na zona da Califórnia (canal sul).
As marés na costa da Ria Formosa propagam-se de Oeste para Leste, variando os níveis máximos de preia-
mar entre 3,66 e 3,87 m e os mínimos de baixa-mar entre 0,29 e 0,42 m. Em marés mortas a velocidade das
correntes é de 1,5 m s-1 na vazante e de 1 m s-1 na enchente, aumentando para 2,5 a 3 m s-1 na barra de
Faro-Olhão, em vazante de águas vivas.
No Guadiana o atraso médio da maré entre Vila Real de Santo António e o Pomarão é da ordem de 2 horas e
meia, excedendo as vazantes, no Pomarão, as enchentes, em quase 1 hora. As correntes máximas
(observações de 1989/1990) são da ordem de 1 – 1,5 m s-1, sendo superiores no Inverno.
A sistematização dos dados referidos encontra-se no Quadro 7.2.4.
Quadro 7.2.4 - Amplitudes, Correntes e Excursão de Maré
Salinidade e Estratificação
O Número de Estuário (Q/Tp, em que Q é o caudal durante um ciclo de maré e Tp o respectivo prisma de
maré), permite obter indicações sobre se o estuário será estratificado (Q/Tp >1), parcialmente misturado,
(Q/Tp ≅0,25-0,45), ou homogéneo, (Q/Tp <0,1) (Hansen & Ratray, 1966; Bowden, 1980).
Os resultados apresentam-se no Quadro 7.2.5.
A análise destes sistemas sugere que há três sistemas estratificados e claramente dominados pelo rio - Minho,
Douro e Guadiana- dois sistemas permanentemente misturados e claramente dominados pela maré - Sado e
Ria Formosa - e dois sistemas intermédios, Ria de Aveiro e Tejo, parcialmente estratificados, com influência
importante quer do rio quer da maré. Tratam-se naturalmente de condições médias o que significa que,
devido à irregularidade dos regimes hidrológicos portugueses, a informação empírica disponível pode,
contrariar estas previsões.
No Minho a influência da água do mar faz-se sentir até 35 km a montante da embocadura, ou seja, até
Valença. A estratificação, não muito acentuada em baixa-mar, será mais clara em preia-mar. Em marés
vivas, a maré domina, tendendo-se para um estuário do tipo C, ou verticalmente homogéneo. De Dezembro a
Março, o estuário será, em todo o caso, do tipo A ou em cunha salina, e, a maior parte do ano, parcialmente
estratificado com um gradiente horizontal importante.
No Douro a intrusão salina varia ao longo do ano, fortemente condicionada pelo caudal fluvial e pela
amplitude da maré. A extensão desta intrusão tem vindo a aumentar agravando-se a partir de 1981 e pondo
em causa as antigas captações de água de Zebreiros. Num ano com caudais da ordem de 438 ± 80 m s , é
3 -1
9
possível detectar água polialina (> 18 psu ) junto à barragem de Crestuma-Lever, durante o Verão. Em
situações de cheia o fluxo de água doce é dominante e forma-se uma nítida cunha salina. No entanto para
3 -1
caudais fluviais de > 3 000 m s , a intrusão salina no interior do estuário, em preia-mar, não progride para
além da envolvente à barra (700 m da barra).
O processo de mistura, no Douro, não é suficiente para eliminar a circulação tipicamente estuarina,
3 -1
mantendo-se a estratificação, durante a enchente. Mesmo para caudais do rio de 100 m s , verifica-se
estratificação, variando a salinidade entre < 0,5 psu à superfície e > 30 psu no fundo (PBH, 1999).
9
psu – “practical salinity units”
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Na Ria de Aveiro a salinidade próximo da barra varia entre 20 e 35 psu, enquanto nas regiões onde confluem
os afluentes, nomeadamente no rio Vouga e no rio Antuã, se registam valores médios entre 2,8 e 9 psu e
entre 9,7 e 34 psu, respectivamente. Como em outros sistemas costeiros portugueses, o efeito fluvial só se faz
sentir em períodos de cheia.
No estuário do Tejo a intrusão salina pode ultrapassar Vila Franca de Xira em estiagens prolongadas. É
parcialmente estratificado para a gama corrente de caudais fluviais, podendo no entanto exceder um pouco os
limites desta classificação e aproximar-se da situações de "verticalmente homogéneo" e "cunha salina" para
3 -1 3 -1
caudais inferiores a 100 m s e superiores a 1 000 m s respectivamente. Da análise de Hansen & Rattray
(1966), por outro lado, resulta um estuário preferencialmente "estratificado" em águas mortas (2b), e
"moderadamente estratificado" em águas vivas (2a), o que confirma a influência da força da maré no seu
comportamento hidrodinâmico.
O estuário do Sado é praticamente homogéneo na vertical, a maior parte do tempo, à excepção do Canal de
Alcácer. Pode no entanto estratificar em baixa-mar, em situação de cheia. Pode também apresentar um
gradiente transversal de salinidade que vai até 2 psu.
No interior da Ria Formosa o clima local e balanço hídrico permitem, no Verão, a ocorrência de situações de
sobressalinidade. Lima & Vale, (1977) mediram, com efeito, em Julho de 1976, 38,3 psu "em zonas
interiores" e 37,6 psu na barra, nas estofas. Esta sobressalinidade baixa quando chove. Nos termos desta
análise não fará sentido em geral falar de estratificação da coluna de água. Contudo, para maiores caudais do
rio Gilão (Março/Abril de 1977) é referida uma influência detectável de água doce junto à sua foz, com
variações da salinidade entre 33 psu e 37,2 psu, na barra de Tavira.
No Guadiana, em condições médias, a salinidade à superfície vai desde 25,7 psu registados no baixo estuário
até 0,01 psu no limite da intrusão salina. Nos termos do Número de Estuário, o Guadiana deverá ser bem
misturado para Q ≅ 170 m3 s-1, parcialmente misturado (Q/Tp ≅ 0,2-0,45) para Q ≅ 400 m3 s-1; e estratificado,
excepto em marés vivas, para Q ≥1 000 m3 s-1. Este estuário deveria portanto comportar-se como bem
misturado (rf = 3,1) ou como parcialmente misturado a maior parte do tempo. A estratificação no entanto
será quase permanente e mais pronunciada a jusante; no baixo estuário verificam-se com efeito diferenças de
salinidade de 15 psu entre superfície e fundo na Primavera e Verão.
Tempo de Residência da Água Doce, Tr
Dispõe-se de estimativas rigorosas dos tempos de residência da água doce, Tr, para uma gama variada de
condições hidrográficas no Tejo e no Guadiana, o que não acontece no caso do Minho, Douro, Ria de
Aveiro, Sado e Ria Formosa.
Pela importância das indicações que dá sobre o escoamento de poluentes e seston, apresentam-se estimativas
aproximadas para este parâmetro nestes cinco sistemas. Pode dizer-se que os Tr, extremamente variáveis,
variam de aproximadamente 1,1 dias no Douro a 112 dias no Sado e que, de um modo geral, aumentam
também para o Sul. O conjunto apresenta-se no Quadro 7.2.6.
Quadro 7.2.6 - Tempo de Residência da Água Doce
Parâmetro /Sistema Minho Douro Ria de Tejo Sado Ria Formosa Guadiana
Aveiro
2-60
Tempo de Residência 2,0 1,1 3,7 8-40 112 20 -75 (5.2)
(dias) 3 -1
(100 m s )
Parâmetro Minho Douro Ria de Aveiro Tejo Sado Ria Formosa Guadiana
/Sistema
Renovação
Tp/V0 2,0 0,30 1,5 0,38 0,58 1,0-3,7 0,21
Dispersão e 100-2000
Difusibilidade
2 -1
(m s ) 83
Dinâmica Sedimentar
O caudal sólido transportado pelo rio Minho, estimado em 806 000 m3 /ano (ou cerca de 2 100 000 ton/ano),
dos quais cerca de 15% são areias, contribuirá certamente para o assoreamento que se verifica nos troços
finais do estuário, com uma profundidade máxima de apenas -11 m Z.H.
O caudal sólido médio afluente ao estuário do Douro foi estimado, em condições de reduzida artificialização
da bacia, em 1-2 x106 m3 /ano. Este caudal (areias) foi reduzido acentuadamente nas últimas décadas pela
intercepção por aproveitamentos hidroeléctricos e pela extracção de sedimentos, podendo actualmente, ser
inexpressivo ou atingir valores da ordem de algumas centenas de milhar de m3.
O caudal sólido médio afluente à laguna de Aveiro foi estimado em 240 000 m3 /ano, sem que praticamente
as estruturas hidráulicas existentes interfiram com o seu transporte. O rio Vouga contribui com cerca de 75%
deste caudal. A análise comparativa de dois levantamentos hidrográficos gerais da Ria (1952-53 e 1987-88)
estimou, neste período, um aprofundamento médio de 0,4 m, em grande parte explicado pelas dragagens
efectuadas para a abertura e manutenção da barra.
38/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Do ponto de vista sedimentar o estuário do Tejo parece depender sobretudo de temporais e cheias, tendo
estas uma contribuição determinante, calculada em 1-77× 106 t /ano. As taxas médias de sedimentação
calculadas no período de 1983-1984, apontam para valores de 1,1 a 1,5 cm /ano. Entre 1928 e 1986, 65% do
material depositado terá permanecido no sistema sem ser remobilizado. Observa-se intenso assoreamento na
zona montante do estuário, devido à perda de competência do sistema fluvial, e por constituir uma área
preferencial de retenção de sedimentos.
No estuário do Sado o processo sedimentar é complexo registando-se numerosas instâncias de erosão da
frente do sapal, mas também de acreção, função do coberto vegetal, da acção da fauna e das características
sedimentológicas do sapal. Estima-se uma entrada de 15 000 t de sólidos suspensos por ano (SPM). O
processo de recessão das frentes do sapal é máximo nas zonas expostas à nortada, mas tem um valor médio
geral (1978-1983) de 17/ano. No entanto, em muitos pontos o balanço sedimentar é favorável à acreção,
atingindo valores de 1,0 m/ano de progradação na Mitrena e Monte do Pinheiro, e valores de 0,8-3,3 mm
ano-1 de acreção vertical nos sapais, em resultado de contribuições sedimentares variadas, incluindo a fluvial.
Na Ria Formosa a dinâmica das partes laterais do sistema, sobretudo a Península do Ancão, será dominada
por processos relacionados com a ondulação. Nas ilhas, compridas e estreitas, de cordão dunar único, os
galgamentos oceânicos são frequentes. As ilhas da parte central do sistema (parte E da Ilha da Barreta e
Ilhas da Culatra, Armona e Tavira) são muito largas, constituídas por vários cordões dunares, sendo os
galgamentos oceânicos menos frequentes e a morfologia profundamente influenciada por uma complexa rede
de esteiros. Os processos relacionados com as marés dominam o comportamento sedimentar. O corpo
lagunar definido por este sistema de ilhas barreira, encontra-se preenchido, em grande parte, por sedimentos
finos, constituindo designadamente sapais e planícies intertidais. O assoreamento da laguna continua
actualmente.
No Guadiana as taxas de exportação de material sólido de 1,3 – 2,6x106 t/ano estimadas para Alqueva.
convergem com um transporte sólido estimado a jusante, de 0,01 – 2,9x106 t/ano, em ano médio de 1x106 t
ano-1 e com medições recentes em Sanlúcar de Guadiana de 7,2x105 t/ano. A sua embocadura caracteriza-se
pela transposição da barra por areias em ambos os sentidos, não constituindo os molhes Este e Oeste,
actualmente, barragens efectivas ao transporte aluvionar litoral (INAG, 1998).
No quadro 7.2.8 estão sintetizados os dados referidos.
Quadro 7.2.8 - Dinâmica Sedimentar
Input de SST 2 100 000 630 000 8 000 000 15 000 N.A. 1 000 000
Input de areias 300 000 2 300 000- 1 200 000
-1
( t ano ) 4 700 000
Zonas de acreção* xxxx xx xxx x xxx
taxa de sedimentação N.A. N.A
-1
(cm ano ) +1,7 0,8 –1,5 0,08-10,6
Zonas de Erosão* x xxxx xxxx x xxx xxxx
-1
taxa de erosão -3,7 -17 cm ano
-1
(cm ano ) (recessão)
* Maior (xxxx) para menor (x) número de zonas
(montante) por acção da agitação. Para caudais de cheia a tendência verifica-se no sentido Oeste (jusante).
Cessando o período de cheia essa protuberância tende a ser progressivamente erodida pela agitação.
O comportamento da onda de maré no interior da Ria de Aveiro mudou, como referido, substancialmente
com a abertura e fixação da sua embocadura em 1808. O prisma de maré varia entre 22×106 m3 e 92×106 m3,
com caudais de fluxo e refluxo que atingem 1 700 m3s-1 e 6 000 m3 s-1, respectivamente.
Na barra do Tejo, entre 1939 e 1985, o banco do Bugio ou Cachopo Sul avançou cerca de 700 m para norte
sofrendo uma erosão generalizada e o Cachopo Norte ou Bico do Pato evoluiu cerca de 800 m para sudeste.
Na Ria Formosa 70% das trocas de água entre a laguna e o mar dão-se através das barras de Faro-Olhão e
Armona. Parece haver um encaminhamento do escoamento da barra de Armona para a de Faro-Olhão, que se
traduz em volumes diferenciados de enchente e de vazante nas duas barras. O fluxo resultante, em maré
viva, atinge um volume de 17x106 m3, gerando-se intensas velocidades residuais em sentido Leste-Oeste no
canal que liga as duas barras.
Interacções com as Águas Costeiras Adjacentes
Na zona de influência da pluma do Minho na plataforma costeira, existe um importante depósito sedimentar.
A taxa de sedimentação medida é no entanto baixa, variando entre 0,1 cm/ano e 0,23 cm/ano.
No estuário do rio Douro, a configuração em vale encaixado, a topografia muito irregular do leito e o caudal
muito significativo do rio, favorecem o escoamento da água estuarina para fora dos limites do estuário, quer
durante a vazante, quer durante a enchente, se o fluxo de montante for elevado. Em regime natural, e antes da
construção das barragens em 1930, o transporte litoral total de areias na costa portuguesa a norte da 41EN
era da ordem de 2x 106 m3 /ano, com o rio Douro a assegurar sozinho cerca de 90% deste total.
Na zona de influência da pluma deste estuário na plataforma costeira, existe um importante depósito
sedimentar cuja espessura da camada superficial varia de 2 a 5 m. A composição dos sedimentos é
fundamentalmente de origem terrígena. A taxa de sedimentação varia de 0,17 a mais de 0,4 cm/ano.
O Estuário do Tejo, que recebe de 1-77 x 106 t/ano de sedimentos da bacia, descarregará no mar, em anos
relativamente secos, 0,4-1 x 106 t de SPM. Corresponde esta descarga ao mais importante depósito
sedimentar fluvial na plataforma ocidental portuguesa, com 25 m de espessura e uma extenção de 560 km2.
No Sado os teores de SPM na barra são 4 vezes inferiores aos do Tejo, o que traduz a proporção relativa das
duas contribuições.
A carga média de sedimento em suspensão, transportada anualmente para o mar pelo Guadiana, será da
ordem de 106 toneladas, ordem de grandeza que é atingida em regime de cheia, numa semana. As cheias são
consequentemente um factor dominante no transporte sedimentar do Guadiana (PBH Guadiana,1998)
Estudos sobre o padrão de distribuição de matéria particulada em suspensão na plataforma continental
adjacente ao rio Guadiana, apontam para que o valor mais elevado ocorrerá na sua embocadura, o que
confirma a importância deste rio para o fornecimento de sedimentos para a costa adjacente.
7.2.2.2. Comportamento Biogeoquímico
Oxigénio Dissolvido
As gamas de concentração de oxigénio dissolvido (OD) observadas nos estuários e lagoas costeiras em
apreço é, em geral, elevada (Quadro 7.2.9).
Observam-se, porém, pontualmente, concentrações que revelam situações de hipóxia. É o que se verifica no
estuário do Minho, na região da confluência do rio Louro, (mediana de 40% saturação de OD), e no estuário
do Douro, em que na camada mais profunda a concentração em oxigénio pode descer para valores da ordem
de 20-30% de saturação. Na Ria de Aveiro foram observadas concentrações de oxigénio próximas da anoxia
(9,4%). No Tejo, a influência das cargas poluentes pode ser localmente significativa, nomeadamente em
frente à cidade de Lisboa, na Cala do Norte junto à foz do Trancão, e na cala do Montijo. Para o estuário do
Sado foram também referidas situações de deplecção de oxigénio em regiões localizadas (SAPEC).
40/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Observam-se teores de sobresaturação de oxigénio na Ria de Aveiro (172%), no Tejo e no Sado, podendo,
nestes dois últimos sistemas, esses teores estarem relacionados com produções primárias elevadas.
As observações disponíveis para a Ria Formosa revelam que as concentrações de oxigénio têm uma
variabilidade sazonal marcada, com máximas no Inverno e mínimas no Verão, sendo estes mínimos mais
acentuados nas regiões interiores daquele sistema lagunar. A variabilidade com a maré é também relatada,
sendo os mínimos coincidentes, em geral, com a baixa-mar. No estuário do Guadiana os níveis de OD são,
em geral, de 60-120 %.
Nutrientes, Clorofila a e Produtividade Primária
As gamas dos valores disponíveis apresentam-se no Quadro 7.2.9.
O nutrientes (compostos inorgânicos de azoto, fósforo e sílica) no estuário do Minho variam com a maré, em
sobreposição do ciclo sazonal típico. Os teores em baixa-mar das forma de azoto inorgânico dissolvido são,
em geral, os mais elevados, sendo observável o acréscimo de ortofosfato nas observações de Outono.
No estuário do Douro, observam-se, em correlação com carga urbanas, concentrações de nitrato e nitrito da
ordem de 120 µmol l-1 NO3 e 2,8 µmol l-1 NO2. No entanto, os valores de fosfato não são elevados (0,7 a 2,7
µmol l-1 PO4).
Na Ria de Aveiro observam-se máximos de nitrato e de fosfato (da ordem de 104 µmol l-1 e de 5,6 µmol l-1
PO4), nas zonas a jusante dos afluentes, nomeadamente no Laranjo, Anjeja, Boco (Vista Alegre) e no Largo
da Coroa. As concentrações no corpo central da Ria não excedem 14 µmol l-1 NO3 e 1,29 µmol l-1 PO4.
No Tejo o nitrato e o silicato apresentam uma variação linear com a salinidade, embora sejam evidentes as
contribuições marginais (e.g. da cidade de Lisboa e de fontes industriais). Apresentam mínimos no Verão e
máximos no Inverno e Primavera. Os mínimos podem correlacionar, a montante, com sobressaturação de
oxigénio (125-149%), pH altos (8,5-9,4) e biomassa fitoplanctónica elevada (75mg m-3 clorofila a).
A concentração de fosfato é quase constante ao longo do estuário, o que sugere a presença de um mecanismo
regulador.
Os valores máximos observados no estuário do Sado e a correspondente gama de variação são semelhantes
aos observados nos sistemas anteriormente referidos (110 µmol l-1 NO3, 7,5 µmol l-1 PO4).
A Ria Formosa e o estuário do Guadiana são, os sistemas que apresentam os menores máximos de nitrato e
de fosfato (da ordem de 10 µmol l-1 para NO3 e 3 µmol l-1 para o PO4). Na Ria Formosa observa-se
variabilidade sazonal, com máximos no Inverno e mínimos no Verão, e espacial, com gradientes no sentido
das menores concentrações dos canais mais interiores da Ria para as barras. No estuário do Guadiana o
acréscimo das concentrações de fosfato (e também de amónia) no Verão, a jusante, será proveniente das
águas residuais urbanas de Vila Real de Santo António e Ayamonte.
As razões N/P (razão de Redfield), apresentadas no Quadro 7.2.7 sugerem que apenas no estuário do Douro e
em situações específicas, como será o caso da situação de Inverno no estuário do Minho, haverá uma
limitação potencial pelo P, sendo no entanto de um modo geral o N o limitante potencial nos outros sistemas.
Com a eventual excepção dos estuário do Sul (Ria Formosa e Guadiana), a informação obtida sugere que a
limitação da produção primária por nutrientes, sendo certamente mais dependente de processos de
sedimentação, diluição, grazing e redução da transparência da coluna de água.
Os valores os valores clorofila a, máximos, são uma ordem de grandeza superior nos estuários do Tejo,
Guadiana, Sado e Ria de Aveiro (Quadro 7.2.9). Identificam-se ainda máximos em geral na Baixa mar, e
variabilidade espaciais marcadas, por exemplo no Minho, no Sado e no Tejo, com picos de clorofila a no
limite de intrusão salina. Observam-se também picos na Primavera e no Outono.
A produtividade primária fitoplanctónica parece ser semelhante no Douro e Tejo e ter valores inferiores
(cerca de metade) na Ria Formosa (Quadro 7.2.9). No Douro a produtividade do microfitobentos intertidal
(600 g C m-2 /ano) demonstra a sua importância num estuário praticamente desprovido de vegetação
superior. No Tejo a produção primária do fitoplâncton é dominante (39 360 t C/ano), seguindo-se-lhe o sapal
(8 895 t C/ ano), as macroalgas (5 000 t C/ano) e o microfitobentos (4 265 t C/ano).
Águas Costeiras
Nas estações na zona costeira de Portugal, entre a foz dos rios Minho e Lima, (e em transeptos na região do
Douro, do Tejo e do Algarve) as concentrações de oxigénio dissolvidos são sempre próximas da saturação.
As concentrações de nitrato variam numa gama de <0,02 µmol l-1 a cerca de 20 µmol l-1, enquanto o fosfato
varia de 0,02 µmol l-1 a cerca de 2 µmol l-1, com clara variação sazonal e máximos no Inverno.
Os valores máximos de clorofila a, (6,5 mg m-3) foram observados em Agosto, na região da costa
Portuguesa entre o Minho e o Lima, sendo que nas restantes observações os valores mais elevados não
ultrapassam, em geral, os 3 mg m-3. Os valores mínimos no Inverno, são geralmente inferiores a 0,3 mg m-3.
Inwelling/Outwelling
As plumas fluviais podem fornecer volumes consideráveis de água doce e nutrientes e estimular a
produtividade primária nas águas costeiras. Na nossa costa só o Minho e o Douro formarão plumas mais ou
menos permanentes que dão lugar a camadas de água de salinidade inferior, ricas em fitoplâncton.
O estuário do Minho descarrega nas águas costeiras adjacentes, em ano médio, cerca de 9 700 t de N-NO3 e 1
700 t de P-PO4 , o estuário do Douro 22 300 t N-NO3 e 5 300 t P-PO4 e o Estuário do Tejo cerca de 17 700
ton de N-NO3 e 1 700 ton de P-PO4. Este outwelling será da maior importância em termos de produção
secundária, uma vez que se demonstra uma forte correlação entre as capturas nas águas costeiras e o caudal
dulçaquícola.
Também os ciclos anuais do zooplâncton e do microzooplâncton na Ria de Aveiro, respondem ao ciclo de
maré e parecem associados às variações sazonais de clorofila a, cuja biomassa fitoplanctónica desempenhará
assim um papel fundamental para as espécies marinhas que se vêm alimentar no interior da Ria.
A produção de amónia, ureia e silicatos na Ria Formosa é superior ao consumo, e exportada para a zona
costeira ao longo de todo o ano; os nitratos são importados do mar nos meses de Inverno/Primavera, e
exportados no Outono; os fosfatos são exportados da Ria para a zona costeira nos meses de Inverno/Outono.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
O estuário do Guadiana exporta nutrientes para as águas adjacentes, fazendo-se sentir a influência máxima
desta descarga numa área de cerca de 90 km2, onde se observam concentrações de amónia, silicatos e
fosfatos semelhantes, e cujos máximos coincidem com mínimos de salinidade.
7.2.2.3. Ecologia e Biodiversidade
Biodiversidade e Espécies Dominantes
Os sapais ocupam uma área particularmente importante nos estuários do Tejo, Sado e Guadiana e nas rias
Formosa e de Aveiro, variando as espécies que os constituem em termos geográficos, e com as
características e história do substrato. Em Castro Marim, no Guadiana, destaca-se a ocorrência de uma das
poucas formações europeias da exótica sul-americana Spartina densiflora. Os campos de plantas vasculares
submersas, como Zostera marina e Zostera noltii, são especialmente importantes nas rias Formosa e de
Aveiro e no estuário do Sado.
Nos estuários do Douro e do Tejo e nas rias de Aveiro e Formosa, as macroalgas dominantes pertencem aos
géneros Ulva, Enteromorpha e Fucus. Na Ria de Aveiro destacam-se ainda os representantes dos géneros
Chara, e as espécies que fazem parte integrante do moliço.
As comunidades zooplânctónicas dos estuários para os quais existe informação são normalmente dominadas
pelos copépodes. No Tejo os cladóceros são também muito abundantes, enquanto que no Guadiana, as larvas
de crustáceos decápodes constituem o grupo mais abundante junto à foz.
A meiofauna bentónica no estuário do Tejo é constituída sobretudo por nemátodes, copépodes e tardígrados.
Conhecem-se cerca de 50 espécies e cerca de 129 taxa diferentes de macroinvertebrados bentónicos no
estuário do Minho, e Ria de Aveiro, respectivamente. No Tejo e no Sado os poliquetas são o grupo mais
representativo. A fauna bentónica da Ria Formosa conta 318 espécies inventariadas.
No Minho apenas 18 em 26 taxa piscícolas têm afinidades marinhas, sendo os restantes migradores
diádromos ou peixes dulçaquícolas. Na parte superior do estuário do Douro abundam espécies como o barbo
e a boga (Chondrostoma polylepis), enquanto na zona inferior pontificam peixes como os mugilídeos,
Pomatoschistus spp., Trigla lucerna, Platichthys flesus e Dicentrarchus labrax. Ocorrem ainda a lampreia-
de-mar, o sável, a savelha, o salmão (Salmo salar) , a truta marisca (Salmo trutta trutta) e a enguia. Na Ria
de Aveiro, estão assinaladas 57 espécies ictíicas, sendo 70% da abundância deste grupo devida apenas a
Atherina boyeri, Atherina presbyter, Liza aurata, Liza ramada, Dicentrarchus labrax e Anguilla anguilla.
Há mais de 100 espécies piscícolas assinaladas no estuário do Tejo, fundamentalmente singnatídeos e
gobídeos. Ocorrem ainda a Lampetra fluviatilis, a lampreia-de-mar, o sável e a savelha. Actualmente, apenas
o robalo-legítimo, o Solea solea e o Solea senegalensis utilizam este estuário como área de viveiro
preferencial. O biqueirão (Engraulis encrasicolus), é a espécie mais abundante no estuário do Sado. Entre as
espécies residentes destacam-se os signatídeos, gobídeos, blenídeos e o xarroco, e das espécies marinhas
migradoras a Solea solea e Solea senegalensis, a solha-das-pedras, o robalo-legítimo, Diplodus sargus e
Diplodus vulgaris, que usam este sistema como viveiro. A Ria Formosa será relevante para quinze espécies
com interesse comercial, dez sparídeos e três mugilídeos, e ainda Mullus surmuletus e Sardina pilchardus.
No estuário do Guadiana, para além do xarroco, particularmente abundante, ocorrem muitas espécies
marinhas que utilizam o sistema como viveiro. É importante para lampreia-de-mar, sável, savelha e enguia,
ocorrendo ainda aqui, esporadicamente, exemplares de esturjão (Acipenser sturio)
No estuário do Minho existe um total de 184 espécies de aves, muitas das quais, nesta região, ocorrem
exclusivamente neste local e que incluem Anas platyrhyncos, Anas crecca e Aythya fuligula, e concentrações
bastante elevadas de Calidris alpina, Calidris canutus e Numenius arquata. No sector médio e inferior do
estuário do Douro surgem comunidades de aves aquáticas relativamente importantes, como Charadrius spp.,
Calidris alpina, Sterna albifrons e Ardea cinerea. Estão inventariadas 173 espécies de aves na Ria de
Aveiro, entre as quais 19 espécies de patos e 31 espécies de limícolas. Destacam-se migrações outonais de
passeriformes trans-saharianos e a reprodução de espécies ameaçadas (e.g. Ardea purpurea e Himantopus
himantopus). Suporta ainda mais de 1% dos efectivos populacionais europeus de Recurvirostra avosetta e
Charadrius hiaticula.
O estuário do Tejo alberga regularmente mais de 75 000 exemplares de Avifauna, sobretudo Ardeidae,
Anatidae, Laridae, Recurvirostridae (e.g. Himantopus himantopus e Recurvirostra avosetta), Charadriidae e
Scolopacidae. Larus ridibundus e Limosa limosa, têm ambas populações superiores a 35 000 indivíduos. Na
Ria Formosa ocorrem de 20 000 a 30 000 limícolas, destacando-se os patos, com mais de 4 000 indivíduos, e
Porphyrio porphyrio, uma das mais raras aves da Europa. No Guadiana, a Reserva Natural de Castro
Marim, um dos sapais mais importantes do país, destaca-se como local de reprodução para Charadius
alexandrinus, Sterna albifrons e Caladrella leucorodia, local de alimentação em período pós-reprodutor para
a Platalea leucorodia e Phoenicopterus ruber, local de passagem (Sterna caspia, Gelochelidon nilotica e C.
niger) e local de invernada.
No que concerne à mamofauna assinala-se a presença frequente no Sado de Tursiops truncatus.
Áreas de Desova, Viveiro e Migração
O estuário do Minho, pouco importante como viveiro de ictiofauna, é o sistema português mais importante
para migradores, com 5 anádromos e 2 catádromos, e o único onde ainda penetram o Salmo salar e Salmo
trutta trutta. É também o local mais importante do norte de Portugal para aves aquáticas.
O Douro, apenas será importante para reprodução do género Pomatoschistus. São também raras as espécies
que o usam como viveiro. Outrora abundantes, ocorrem aqui ainda a savelha, a enguia e a lampreia.
A Ria de Aveiro, é importante para reprodução de Atherina boyeri e Atherina presbyter e suporta uma
importante fracção da ictiofauna marinha que a usa como viveiro. Os migradores são os mesmas que no
Douro, mas mais numerosos. É a terceira mais importante zona húmida portuguesa para limícolas.
O Tejo é uma importante área de reprodução para Engraulis encrasicolus, Syngnathus abaster e
Pomatoschistus minutus, e o corpo salobro mais importante de Portugal como viveiro de ictiofauna marinha.
Ocorrem aqui apenas 4 espécies de migradores anádromas (e.g.Lamretra fluviatilis) e duas catádromas. É um
dos mais importantes estuários para a avifauna que usa a "rota migratória do Atlântico Leste".
No estuário do Sado, os ovos e larvas de Engraulius encrasicolus representam cerca de 90% do total das
capturas efectuadas. São inúmeras as espécies ictíicas que o usam como viveiro. A sua importância relativa
para migradores anádromos é, no entanto, reduzida.
A Ria Formosa, juntamente com o Tejo, o Sado e a Ria de Aveiro é um dos mais importantes viveiros para
as comunidades piscícolas marinhas. É, no entanto, pouco relevante para migradores anádromos. É a
segunda área de invernada mais importante do País, com mais de 20 a 30 000 limícolas.
O estuário do Guadiana será particularmente importante para a reprodução e crescimento de Pomatoschistus
spp. e Engraulis encrasicolus. Será menos importante do que a Ria Formosa para as migrações de aves.
O xarroco é muito abundante e residente nos estuários do Tejo, Sado, Guadiana e Ria Formosa, sendo as
referidas áreas igualmente importantes para a sua reprodução. Merece ainda destaque o facto de Sepia
officinalis se reproduzir nos estuários do Tejo e do Sado e nas rias Formosa e de Aveiro.
Limites Biogeográficos
Entre o Minho e o Tejo um grupo coerente de cerca de 40 espécies macrofitobentos apresenta afinidades
florísticas com as formações das costas centro-europeias e têm o seu limite europeu sul em Portugal.
O Tejo assume um papel particularmente importante como limite biogeográfico, situado numa zona de
transição biogeográfica, onde se misturam floras e faunas de climas mais quentes (Mediterrâneo e Atlântico
sub-tropical) com outras de zonas relativamente frias (Atlântico norte). Apresenta, por isso, naturalmente,
uma elevada diversidade biológica.
Estatuto Conservacionista
O estuário do Minho é importante para a conservação da avifauna aquática e dos peixes diádromos. Para a
primeira é particularmente importante a ilha de Ínsua e o sapal do Coura, para os segundos as regiões
superiores do estuário e as porções inferiores dos seus afluentes. Está parcialmente incluído na ZPE dos
“Estuários dos rios Minho e Coura”, integrando também a 1ª fase da Lista Nacional de Sítios da futura Rede
Natura 2000.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
A Ria de Aveiro é um sistema salobro muito importante sob o ponto de vista ecológico encerrando a ZPE
“Ria de Aveiro”, e existindo nas suas imediações outros locais com estatuto de protecção especial.
O estuário do Tejo é a zona húmida mais extensa de Portugal e uma das mais importantes da Europa. A
grande área intertidal desempenha funções essenciais para a manutenção dos ecossistemas estuarinos e do
litoral adjacente. Inclui igualmente as maiores extensões contínuas e significativas de sapal no nosso País. É,
aliás, o único corpo salobro português que consegue desempenhar um papel determinante como corredor de
passagem ou zona de crescimento para importantes populações de peixes diádromos e, em simultâneo, ser
fundamental como área de viveiro para um número apreciável de espécies marinhas. Constitui em Portugal a
principal área de invernada, recebendo cerca de 38% do total das aves aquáticas. Inclui a Reserva Natural do
Estuário do Tejo, ZPE do “Estuário do Tejo”, Lista Nacional de Sítios - 1ª Fase “Estuário do Tejo”, e Sítio
Ramsar nº 211 “Estuário do Tejo”.
O Sado constitui, juntamente com o estuário do Tejo e as Rias de Aveiro e Formosa, um dos mais
importantes sistemas salobros da costa portuguesa, para as comunidades aquáticas. Alberga uma comunidade
de aves aquáticas bastante numerosa, que engloba 16 espécies incluídas no Anexo I da Directiva das Aves.
Notável ainda, a presença de uma população residente de roaz-corvineiro neste local, sendo o único estuário
do País onde os mamíferos cetáceos ocorrem de modo regular.
Inclui a Reserva Natural do Estuário do Sado, ZPE “Estuário do Sado”, ZPE “Açude da Murta”, Lista
Nacional de Sítios – 1ª fase “Estuário do Sado” e Sítio Ramsar nº 826 “Estuário do Sado”.
A Ria Formosa de entre os mais importantes viveiros de espécies piscícolas marinhas de Portugal, é o que
apresenta maiores afinidades mediterrânicas. É também o segundo mais importante sistema salobro do país
para as aves aquáticas. Integra o Parque Natural da Ria Formosa, a ZPE “Ria Formosa”, a Lista Nacional de
Sítios 1ª fase “Ria Formosa-Castro Marim”, e o Sítio Ramsar nº 212 “Ria Formosa”.
O estuário do Guadiana é particularmente importante para espécies diádromas e anádromas. É também
relevante para a avifauna aquática, sendo a Reserva de Castro Marim classificada como Important Bird Area
in Europe. Integra ainda o Parque Natural do Vale do Guadiana, a ZPE “Vale do Guadiana”, a ZPE “Sapais
de Castro Marim”, a Lista Nacional de Sítios 1ª fase “Guadiana”, a Lista Nacional de Sítios 1ª fase “Ria
Formosa-Castro Marim”, e o Sítio Ramsar nº 829 “Sapais de Castro Marim”.
7.2.2.4. Usos e Ocupação Humana
Nos Quadros 7.2.10 e 7.2.11 apresentam-se a população humana residente das bacias e na envolvente
marginal dos sete sistemas estuarinos aqui considerados e sistematizam-se os principais usos que lhe são
dados por essas populações. Faz-se notar que constituem uso comum, a um nível de intensidade idêntico,
apenas a utilização dos estuários como meio receptor de efluentes, a pesca e o turismo.
Aquicultura x xxxxxx
xx xx
Salinicultura xxxxx xx xxx xxxxx xxxx
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
A alteração do regime do rio traduz-se na alteração do seu regime de transporte de caudal sólido, quer por
arrastamento quer em suspensão. Não se dispõe de números rigorosos para o transporte sólido em suspensão,
mas a sua dimensão - em Ómnias, 8 016 060 ton/ano - e as indicações obtidas sobre as alterações do padrão
sedimentar da pluma do Tejo na plataforma, sugerem que elas sejam importantes
Por outro lado a avaliação do transporte sólido por arrastamento e da sua alteração em função da
regularização, sugerem uma passagem de 1 200 000 m3/ano para 350 000 m3/ano no ano 2000. No estuário
do Sado as descargas controladas das barragens, causam cheias artificiais, importantes pela quantidade de
material sólido que transportam.
Na Ria Formosa a artificialização da bacia e do regime hidrológico - impermeabilização das áreas
circundantes, com aumento da escorrência superficial e transporte de materiais "urbanos", tem um papel
aparentemente significativo no progressivo assoreamento da Ria.
Sistematiza-se esta informação no Quadro 7.2.13.
Quadro 7.2.13 - Artificialização da Bacia e do Ciclo Hidrológico. Alterações Hidrodinâmicas
Na Ria de Aveiro para além do aprofundamento médio de 0.4 m em grande parte explicado pelas dragagens
efectuadas, as obras realizadas na década de 50 na construção do Molhe Sul e prolongamento do Molhe
Norte, terão originado uma erosão generalizada que se cifra em 6,5 × 106 m3 entre 1952 e 1960; 4,9 × 106 m3
entre 1961 e 1970 e 2,3 × 106 m3 entre 1971 e 1977.
Observações recentes confirmam no estuário do Tejo um forte assoreamento dos esteiros a montante,
sobretudo no triângulo de Pancas e também dos bancos de lama associados. Apesar da crescente colmatação
do sapal alto, aparentemente decorrente da ausência de pisoteio na Reserva Integral, e da progressão das
formações vegetais em zonas em assoreamento, verifica-se também no Tejo a erosão das frentes do sapal.
Durante a construção da Ponte Vasco da Gama dragaram-se no Tejo cerca de 2,5 x 106 t, parte das quais
constituída por material contaminado. Entre Alverca e Vila Franca de Xira, o volume de inertes extraído será
de cerca de 2 x 106 m3/ano nos últimos dois anos.
No estuário do Sado as cheias artificiais acima referidas, resultantes das descargas controladas das albufeiras,
contribuem significativamente para o presente balanço sedimentar no estuário. Os ecótonos marginais
encontram-se profundamente artificializados restando apenas, no corpo principal do estuário, o contacto com
a restinga de Tróia e alguns pequenos troços em Arrábidas-Pinheiro. O processo de recessão das frentes do
sapal é acelerado nalguns pontos pela destruição antropogénica do coberto, como é o caso da zona do porto
de pesca da Carrasqueira. A exploração desregulada dos recursos bentónicos do Estuário (e.g. Marphysea
sanginea), provoca ainda perturbação física do sedimento, com aumento da turbidez na coluna de água.
Na Ria Formosa verifica-se que, nas últimas décadas, os canais foram sendo progressivamente assoreados.
As causas deste assoreamento são em parte causas naturais ou antropo-globais (p.ex.: elevação do nível do
mar). Todavia, a maior parte é devida a causas antrópicas locais. Os episódios de galgamento oceânico
constituem, também, factor de assoreamento de grande importância.
A crescente pressão antrópica exercida sobre o sistema, designadamente para fins lúdicos e balneares, com
intenso pisoteio dos corpos dunares, tem conduzido ao aparecimento de cortes eólicos cujo número tem
aumentado exponencialmente, e conduzindo, frequentemente, em períodos de agitação marítima mais
energética, à ocorrência de galgamentos oceânicos. Acresce que, na frente oceânica, a deriva litoral sofreu os
impactes negativos da construção dos molhes da marina de Vilamoura e do campo de esporões de Quarteira,
e da fixação artificial das barras de Tavira e de Faro-Olhão.
Procurou compensar-se estes fenómenos com o Projecto de Requalificação do Sistema Lagunar, 1999/2000,
que repulsou para a barreira da Ria Formosa cerca de 2 650 000 m3 de dragados. As dragagens efectuadas no
leito da ria têm também efeitos nefastos nas comunidades aquáticas, sobretudo quando ocorrem em
povoamentos de fanerogâmicas submersas.
No Guadiana uma consequência da redução de caudais, induzida pela perda hidrológica e regularização
decorrente do enorme armazenamento instalado (70,4% da bacia dominada em 1990), é a diminuição do
fornecimento sedimentar, também às zonas costeiras adjacentes, com todas as suas consequências.
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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
necessariamente acompanhada de uma carga orgânica e fecal muito significativa quanto mais não seja dos
4 000 000 de habitantes residentes na bacia e dos 700 000 residentes na envolvente marginal do estuário.
O estuário do Tejo serve como meio receptor de pelo menos 400 - 500 000 m3 de águas residuais domésticas,
equivalentes a cerca de 24 000 t/ano de CBO5, 77 276 t/ano de CQO, 31 484 t/ano de SST, 3 000 t/ano de N
e 908 t/ano de P. O rio Tejo constitui também uma origem significativa de cargas poluentes estimadas em
100 000 t /ano de CBO5 e 8 000 000 t/ano de SST. Estas cargas podem ser localmente significativas,
nomeadamente junto à margem direita (Trancão 3 916 t/ano de CBO), em frente à cidade de Lisboa, na Cala
do Norte, e na Cala do Montijo. No entanto o estuário parece não acusar significativamente o esforço de
autodepuração.
A inexistência de soluções tratamento/disposição final adequadas às águas residuais urbanas de Lisboa faz
com que águas do estuário continuem a apresentar índices de contaminação bacteriana superiores a 100 000
CF/100 ml. Os valores mínimos, da ordem das centenas, observam-se nas estações da secção da Barra e na
zona média do estuário. Esta situação traduz-se também na contaminação de bivalves para consumo humano
como Scrobicularia plana (lambujinha).
O estuário do Sado recebe cargas poluentes de origem industrial (fábricas de tomate, lagares de azeite) e
poluição térmica (Central, Fábrica de Celulose) originária sobretudo da zona industrial de Setúbal e ainda a
carga orgânica correspondente á entrada calculado de 2 000 ton de N e 330-400 t de P por ano.
Estudos efectuados revelam níveis elevados de poluição microbiológica no canal do Norte, em locais
próximos das descargas dos efluentes industriais da PROPLAN e ainda das descargas de águas residuais de
origem urbana.
Estimaram-se para a Ria Formosa cargas tópicas e difusas de 456 t/ano e 607 t/ano de N, respectivamente, e
também de cargas tópicas e difusas de 61 t/ano e 81 t/ano de P, respectivamente. A Ria revela alguma
contaminação orgânica, associada aos aglomerados urbanos da sua orla costeira nomeadamente Faro, Olhão,
Fuzeta e Tavira que embora possuam ETAR, estas apresentam um funcionamento deficiente ou
simplesmente não estão dimensionadas para os caudais dos meses de Verão. Este problema é com efeito
consideravelmente agravado por uma população que adiciona aos 85 000 hab. residentes cerca de 260 000
hab. na época estival.
Estima-se que o Estuário do Guadiana recebe cerca de 20 000 ton/ano de CBO5 em ano médio. Quanto à
contaminação fecal, devido sobretudo à descarga dos esgotos não tratados, é significativa.
No Quadro 7.2.14 apresentam-se as cargas totais anuais que se estimaram ou compilaram da literatura para N
e P, como afluentes aos sete sistemas considerados.
Quadro 7.2.14 - Cargas Poluentes
No estuário do Douro a carga de P parece ser excessiva para um estuário normal. No caso vertente a razão
N/P poderá, em todo o caso, ser contrariada pela turbidez e pelo curtíssimo tempo de residência da água
doce. Ocorrem em todo o caso blooms de dinoflagelados cuja abundância depende do caudal do rio no
período estival, assim como da existência de florescência na zona costeira. Algumas destas espécies são
tóxicas e, com frequência, é interdita a apanha de bivalves no estuário e zona envolvente. Ocorrem também
cianobactérias (e.g. Microcystis) na albufeira de Crestuma-Lever, que acabam por ser transportadas para o
estuário. Ocasionalmente desenvolvem hepatoxinas, perigosas do ponto de vista da saúde pública.
Os braços mais remotos da ria de Aveiro, na confluência com os seus tributários, apresentam sinais de
avançada eutrofização. Admite-se no entanto que essa eutrofização pode ser devida também à progressiva
acumulação natural de nutrientes pelo sistema lagunar.
Não há sintomas claros de eutrofização do sistema estuarino do Tejo embora se registem blooms de
fitoplâncton quer a montante quer a jusante da zona mais túrbida.
Também o estuário do Sado não parece constituir problema nesta matéria. Na zona superior do estuário, a
turbidez parece funcionar como limitante da produtividade primária, não tendo sido detectados blooms de
algas. Está classificado como estuário mesotrófico para a amónia e oligotrófico para os restantes parâmetros.
Os estuários do Tejo e do Sado estão no entanto sujeitos, esporadicamente, a biotoxinas produzidas por
algumas espécies fitoplânctónicas como Dinophysis spp. e Prorocentrum lima que provocam DSP
(Diarrhetic Shellfish Poisoning) e como Gymnodinum catenatum ou Alexandrium spp., que provocam PSP
(Paralytic Shellfish Poisoning). Essas toxinas podem atingir valores muito altos nos bivalves tendo a
conquilha da zona da Caparica chegado a atingir 8 000 µg 100 g-1, em 1993.
No Guadiana, registam-se no alto estuário (Mértola) blooms de Cianofíceas e também do simbionte Azolla
spp..
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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Quadro 7.2.15 - Valores de Níveis de Efeito Provável (PEL) em Sedimentos Marinhos, Concentrações de
Referência em Peixes e Bivalves, e Níveis de Preocupação (LOC), e Níveis de Acção (AL) em Peixes e Bivalves
(Adaptado de Ferreira, 2000)
*1
PEL Concentração de
-1 Concentração de *4
Metais em mg kg , *2 referência em AL ou LOC
Parâmetro referência em moluscos *3 -1
organoclorados em `g -1 peixes (mg kg )
-1 (mg kg ) -1
kg (mg kg )
*5
Arsénio 41,6 1,5 (ostras) 3,34 86
*5
Cádmio 4,2 0,067 (amêijoas) 0,01 4
*5
Chumbo 112 0,09 (ostras) 0,01 1,7
*6
Mercúrio 0,70 0,02 (berbigão, mexilhão 0,06 1
& vieiras)
*6
DDT 4,77 0.002 0,01 5
(não-especificado)
*7
PCBs 189 0,02 0,02 2
(não-especificado)
*1
- Environment Canada 1995;27 MacDonald et al. 1996.13
*2
- USFDA 1984;30 USFDA 1993a;31 USFDA 1993b;32 USFDA 1993c;33 MAFF 1997;34 MAFF 1998.35
*3
– Metais: mediana de 110 amostras de bacalhau, arenque, cavala, patruça, redfish e outros. MAFF 1998.35 Compostos organoclorados: mediana de
16 amostras peixes de água profunda MAFF 1997.34
*4
- USFDA 1984;30 USFDA 1993a;31 USFDA 1993b;32 USFDA 1993c;33 USFDA 1998.36
*5
- LOC
*6
– AL
*7
– Tolerância
Os sete sistemas podem portanto ser seriados em termos relativos, de mais contaminado para menos
contaminado, na ordem: Estuários do Douro, Tejo, Sado, Ria de Aveiro, estuário do Guadiana, estuário do
Minho e Ria Formosa. Em termos absolutos, só os valores máximos agregados no Douro e no Tejo excedem
os Níveis de Efeito Provável em sedimentos e os Níveis de Preocupação ou Níveis de Acção no biota.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Quadro 7.2.17 - Classificação e Seriação dos Sete Sistemas com Base no Grau de Contaminação Relativo e Grau
de Contaminação Absoluto. São Utilizados os Valores Máximos Observados em cada Sistema
ecossistema. A sobrepesca e a pesca ilegal são, assim, factores importantes que têm contribuído para a
quebra dos rendimentos piscatórios da região.
Não tem havido um cumprimento das áreas licenciadas para a exploração de ganso, assim como dos
instrumentos admitidos para a recolha destes poliquetas. Este processo conduz a um conjunto de graves
consequências para o ecossistema estuarino.
A degradação da qualidade da água na Ria Formosa, põe em perigo as suas explorações aquícolas e recursos
haliêuticos naturais. Por outro lado, os viveiros de bivalves e as pisciculturas são, eles próprios, factores de
poluição adicional do meio hídrico. A pesca com artes ilegais e a sobrepesca são outros problemas
igualmente a ter em conta neste sistema, assim como as dragagens efectuadas no leito da ria, sobretudo
quando ocorrem em povoamentos de fanerogâmicas submersas.
Pressões Marginais
No Minho as dragagens, a reconversão de práticas agrícolas tradicionais, a abertura de estradas, a construção
de paredões e o aterro de zonas palustres (e.g. sapal do Coura) são problemas significativos. No Douro
verifica-se uma quase contínua ocupação urbana das margens do baixo e médio estuário, (freguesias de
Oliveira do Douro, Mafamude, e Santa Marinha, na margem esquerda, e Campanhã, Ribeira, Miragaia e
Lordelo, na margem direita) e uma intensa pressão no sentido da expansão dessa urbanização em direcção ao
plano de água e zonas ainda não edificadas. Verifica-se um intenso tráfego e procura de estacionamento nas
vias rodoviárias marginais.
A artificialização e destruição das zonas ribeirinhas é outra disfunção ambiental a ter em conta, estando as
áreas de sapal reduzidas a apenas cinco manchas. O sapal de Avintes terá sido bastante danificado por
terraplanagem no verão de 1998, (praia fluvial); e o sapal do Areinho nunca foi recuperado após ter sido
utilizado como estaleiro durante a construção da ponte do Freixo.
A área global dos sapais da Ria de Aveiro tem sofrido reduções significativas, em resultado de aterros para
fins agrícolas, construção de acessos e edificação de infraestruturas portuárias, nomeadamente na margem
poente do canal de Ovar, na zona da Murtosa, em ambas as margens dos canais de Mira e de Ílhavo e no
canal de navegação. Algumas das grandes manchas de caniço existentes na Ria de Aveiro, tal como os
sapais, estão também ameaçadas por projectos de conversão agrícola e de construção de infra-estruturas. O
aumento da pressão turística e o crescimento dos núcleos populacionais existentes e a construção de novas
redes viárias ocupando áreas da Ria (Dique Aveiro - Murtosa) são também significativos, neste contexto.
A expansão urbanística, com proliferação de empreendimentos nas margens do estuário do Tejo, e o
crescimento da rede viária, inclusivamente sobre o próprio sistema, conduzem a uma crescente destruição de
habitats naturais e à introdução de novos contaminantes no meio hídrico. São particularmente evidentes as
pressões actualmente exercidas sobre a Margem Sul, nomeadamente junto ao Samouco, pelo surto de
construção habitacional que se seguiu à entrada em funcionamento da Ponte Vaco da Gama.
Outros factores de perturbação do sistema são também a queima de caniço, a realização de drenagens na
lezíria e canais interiores e o aumento da extensão de culturas de regadio.
No Sado verificam-se grandes projectos de desenvolvimento industrial (Setúbal) e turístico (Troia);
construção clandestina em algumas áreas e alteração das margens. A superfície dos sapais tem com efeito
vindo a decrescer devido a progressiva "reclamação dos salgados" e desenvolvimento nas margens com
destruição daquelas formações vegetais (Esteiro do Carvão). Verifica-se também a conversão das Salinas em
aquaculturas o que pode ter impactes previsíveis, sobre a Avifauna aquática ou imprevisíveis como os
relacionados com o uso concentrado de antibióticos.
7.2.3.7. Afectação de Valores Conservacionistas e Recreativos
Tendo em conta que os migradores anádromos são espécies com um estatuto de conservação muito elevado,
a sua afectação pelos motivos referidos anteriormente constitui um constrangimento de singular relevância
na bacia do Minho.
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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
A destruição da generalidade das manchas de sapal que existiam no estuário do Douro e a regressão dos
efectivos populacionais das espécies migradoras diádromas são os principais constrangimentos deste
ecossistema em termos conservacionistas.
Nas últimas décadas a área global dos sapais da Ria de Aveiro tem sofrido reduções significativas,
nomeadamente na margem poente do canal de Ovar, na zona da Murtosa, em ambas as margens dos canais
de Mira e de Ílhavo e no canal de navegação. Na margem nascente do canal de Ovar verifica-se ainda uma
progressiva degradação do sapal por causas indirectas, degradação que se manifesta através de
descontinuidades na comunidade de junco, que, para além disso, apresenta um crescimento atrofiado e
sintomas de apodrecimento. Estes factos não podem deixar de afectar a capacidade do sapal funcionar como
habitat para a avifauna migradora e residente.
A caça ilegal e o abate de espécies protegidas continua a ocorrer na região mais a montante do estuário do
Tejo, mormente no interior de áreas que gozam de estatuto de protecção. As acções de protecção e
conservação levadas a cabo nos últimos anos no Tejo, nomeadamente a constituição da sua Reserva Natural
e zonas de protecção associadas, compensam, no entanto, largamente esta situação.
A reconversão de salinas para tanques de cultivo de espécies piscícolas é igualmente um aspecto que afecta a
avifauna aquática, já que, na sua forma original, têm um valor muito maior para este grupo animal. As
dificuldades que se colocam à migração das espécies piscícolas diádromas para os troços mais a montante do
curso de água, constituem um dos principais factores de afectação dos valores conservacionistas do Tejo, já
que são globalmente peixes com elevado estatuto de ameaça.
A utilização balnear das praias interiores do estuário e da região estuarina inferior, para a prática de
actividades náuticas, como o remo e a vela, é evidentemente afectada pela má qualidade da água
nomeadamente em termos de contaminação fecal.
A afectação dos valores conservacionistas no estuário do Sado ainda não é particularmente elevada,
sobretudo em comparação com outros sistemas salobros.
Tendo em conta que as espécies mais importantes sob o ponto de vista da conservação da natureza na Ria
Formosa são as aves aquáticas, os aspectos que afectam directamente este grupo são os de maior gravidade.
A poluição e as alterações provocadas nas margens e nas zonas intertidais, muitas das quais determinadas
pela proliferação de estabelecimentos aquícolas, são factores fundamentais de afectação destas populações.
A destruição dos campos de Zostera é também muito gravosa, não só pela afectação desta componente
vegetal, mas também pelo impacto provocado nas comunidades animais que dela dependem.
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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
por exemplo não se obteve informação aceitável sobre a profundidade média do estuário. Subsistem as
dúvidas que se referiram em termos de áreas e volumes. Verifica-se também que a distribuição da salinidade
é mal conhecida, no Minho, Douro, Ria de Aveiro e Ria Formosa.
Tratam-se, em todo o caso, de aspectos básicos que não são conhecidos com o detalhe essencial à
interpretação do seu comportamento e à compreensão do funcionamento dos sistemas.
Hidrodinâmica
Não se dispõe também de análises suficientemente detalhadas do comportamento da onda de maré no interior
de vários destes sistemas. Aliás a falta de informação no que diz respeito à sua hidrodinâmica não permite
analisar com rigor parâmetros que permitiriam uma melhor compreensão do funcionamento do sistema.
Sedimentologia
Permanecem lacunas de informação relativas quer a elementos básicos (e.g. dragados) quer a elementos
mais elaborados da sedimentologia estuarina e costeira, essenciais à compreensão da reciclagem de metais
pesados e xenobióticos. Referimo-nos à sedimentologia de siltes, argilas e colóides.
Conhecimento Básico das Biocenoses
No estuário do Minho a informação disponível, não permite avaliar até onde a influência marinha condiciona
a actividade biológica, nem definir os limites do estuário. Não se dispõe de estudos acerca do fitoplâncton,
zooplâncton e ictioplâncton. Nem sobre o fitobentos ou sobre a composição florística e faunística dos seus
sapais. Também no Douro e Guadiana a informação disponível é insuficiente.
Funcionamento Ecológico
A compreensão das ligações funcionais dos ecossistemas estuarinos são questões determinantes da sua
gestão cientificamente suportada. Assim a compreensão ciclo do Carbono, os níveis da produtividade
primária dos diferentes grupos produtores e a identificação da cadeia trófica dominante são questões
fundamentais.
Nos estuários do Douro e do Tejo por exemplo a produção do microfitobentos pode representar uma fracção
muito significativa da produção global, e, na Ria de Aveiro, a cadeia detrítica poderá ser dominante.
Subsistem grandes dúvidas sobre o carácter importador ou exportador (inwelling/outwelling) dos sapais e
formações similares dos estuários portugueses em relação ao seu corpo central e águas adjacentes.
Dada a importância das interacções e das entradas de água, nutrientes e sedimentos dos estuários do Minho,
Douro, Tejo e Guadiana para a plataforma continental e águas costeiras associadas, a artificialização das
respectivas bacias e regularização do correspondente ciclo hidrológico tem muito provavelmente um impacte
significativo sobre o efeito de outwelling nas águas costeiras adjacentes. Esta questão, requer uma
investigação específica articulada com a definição de caudais ecológicos para os estuários portugueses.
Impactes das Alterações Climáticas
As presentes e futuras Alterações Climáticas de origem global implicam o forçamento do ciclo hídrico e
afectam directamente o regime dos recursos hídricos, pelo que parece essencial adoptar metodologias de
previsão relativas ao comportamento de estuários e lagoas costeiras.
Neste contexto as alterações dos padrões hidrodinâmicos que resultem da alteração da propagação da maré
ou do regime de agitação em função da verificada subida do NMM, estimada em 10 a 20 cm nos últimos 100
anos e que se prevê aumentar entre 13 a 94 cm no decurso deste século, afectarão necessariamente todos os
estuários e zonas costeiras portugueses.
Portugal e o Tejo em particular, funcionam como limite biogeográfico entre espécies típicas de regiões mais
quentes e outras de regiões mais frias e o aumento da temperatura global estará a alterar já estes limites. Por
exemplo a espécie Sphoeroides spengleri referida em 1973 só para o sul de Espanha e Cabo Verde é agora
frequentemente detectada na costa portuguesa. É urgente esclarecer estes factos e as suas causas.
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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Fontes Difusas
Não se obteve, uma distinção precisa entre a componente tópica e a componente difusa das cargas totais de
poluentes afluentes aos principais estuários portugueses. Questão que, no entanto, é essencial esclarecer, em
termos de gestão pela administração pública portuguesa e em termos de relações internacionais, para N e P, e
também para os xenobióticos correntemente usados na agricultura de regadio como Simazina e Atrazina.
Fontes Ocultas e Desconhecidos
A contaminação de estuários como o do Guadiana e a Ria de Aveiro por metais pesados a partir de fontes
ocultas, por exemplo a partir de obras de arte e tráfego urbano, tráfego naval e/ou de escorrências de minas
abandonadas, pode ser particularmente relevante.
Sabe-se também pouco sobre a metalóides e orgânicos persistentes (POPs) nomeadamente sobre compostos
que estão no centro das preocupações actuais, como Dioxinas e Furanos ou Xenoestrogénios que ocorrem
frequentemente nos efluentes das ETAR.
Enteropatogénios
A análise corrente da qualidade das águas estuarinas em termos de contaminação fecal procede à contagem
de indicadores bacterianos (Coliformes Totais, Coliformes Fecais e Estreptococus fecais) e à identificação de
alguns agentes de maior potencial patogénico (e.g. Salmonella). Parece essencial, no entanto, pela
importância que tem na etiologia das doenças de origem hídrica e pelas crescentes preocupações que suscita,
adquirir capacidade para detectar directamente vírus entéricos em águas naturais.
7.2.7. Conclusões
Seriação/Hierarquização dos Sistemas
Procedeu-se, em qualquer caso, à seriação dos principais estuários e sistemas costeiros portugueses, com
base na quantidade de informação existente e em critérios que decorrem da análise que se produziu, como a
população humana e no valor dos seus recursos, nas pressões sobre eles exercidas, na perda de recursos ou
evidente disfunção do sistema, no estatuto conservacionista e sua importância no contexto das relações Luso-
Espanholas.
Cada um destes critérios agrega por sua vez os resultado da avaliação mais detalhada a que se procedeu nos
capítulos precedentes com base em toda a informação que se compilou e analisou. A utilização conjugada
destes factores permite estabelecer um “ranking” nacional dos sistemas estuarinos e costeiros a integrar no
PNA, quer em termos de importância, quer em termos de gravidade dos problemas que os afectam.
Adoptam-se os pesos indicados na 2ª coluna do Quadros 26 e 27.
Hierarquia dos Estuários em Termos de Importância
Os resultados da análise relativa à hierarquia da importância dos sistemas estuarinos e costeiros apresenta-se
no Quadro 26.
Resulta desta análise que, em função dos critérios adoptados, os principais sistemas estuarinos e costeiros
portugueses se hierarquizam como segue:
Tejo > Douro > Minho> Sado = Ria Formosa = Guadiana > Ria de Aveiro
Hierarquia dos Estuários em termos da Gravidade dos Problemas
Da análise precedente retira-se também uma hierarquia do estado dos sistemas e dos seus problemas, ranking
esse que pode ser considerado agregado no seu conjunto ou desagregado para efeitos de análise sectorial.
Apresenta-se no Quadro 7.2.18.
60/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Em qualquer caso, considerado agregado, o estado dos principais estuários portugueses será por ordem
decrescente de qualidade:
Ria Formosa > Guadiana > Sado> Minho >Ria de Aveiro > Tejo> Douro
ou em temos de urgência de intervenção:
Douro > Tejo > Ria de Aveiro >Minho> Sado >Guadiana > Ria Formosa
Importa mencionar que, além das grandes barragens, existem numerosos pequenos aproveitamentos de
interesse particular no Alentejo sobretudo destinados a rega, nomeadamente e a título de exemplo só na bacia
portuguesa do Guadiana foram inventariados no âmbito do Plano de Bacia do Guadiana (2000) cerca de
1800 pequenos aproveitamentos hidráulicos. Por outro lado, no Norte do país existem antigas mini-hídricas e
pequenos açudes associados a levadas que também não estão identificados na Figura 7.3.1. Tal permite
afirmar que a extensão de cursos de água cujo regime hidrológico foi alterado está subavaliada.
Figura 7.3.1 - Troços dos Cursos com Regimes mais Fortemente Alterados devido a Barragens com Capacidade
de Armazenamento Superior a 0,1 hm3, já Existentes ou em Construção, e Mini-Hídricas Construídas desde 1989
62/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
O estabelecimento de um regime de caudais ecológicos apenas com base nas necessidade das espécie
piscícolas ou outras pode resultar na degradação do leito, alteração dos processos geomorfológicos, redução
ou alteração da vegetação ripícola e alteração das funções da planície aluvial. Assim, a recomendação de um
regime de caudais ecológicos deve envolver também caudais de limpeza (flushing flows, na terminologia
anglo-saxónica) para remoção de materiais finos depositados e prevenção do crescimento da vegetação,
caudais para a manutenção da estrutura do leito e da capacidade de transporte, caudais para manutenção da
zona ripária, leito de cheia, características do vale e manutenção do nível freático, assim como caudais de
manutenção dos ecossistemas associados aos cursos de água, tais como zonas húmidas e estuários.
O regime de caudais ecológicos é constituído por valores de caudal que variam ao longo do ano para atender
às necessidades das espécies (agrupamentos ou comunidades), e é flexível em função das condições
hidrológicas naturais que se verificam Esta legislação constitui a base legal que tem permitido desde 1989
incluir no licenciamento de novos aproveitamentos hidráulicos, a obrigação de manter um caudal mínimo no
curso de água a jusante da barragem para a minimização dos impactes negativos nos ecossistemas aquáticos.
O valor deste caudal é independente do caudal reservado, que tem de ser sempre garantido a jusante dos
aproveitamentos hidráulicos, para a manutenção de usos já existentes, como sejam a rega e o abastecimento
público ou outros usos. Para a generalidade dos aproveitamentos licenciados antes desta data, 91 à data do
Decreto Regulamentar n.º 2/88 de 20 de Janeiro, não existe a obrigação de manter o caudal ecológico, apenas
se verificando para alguns aproveitamentos a obrigação de manter o caudal reservado.em cada ano, em
particular em anos secos.
Aproveitamentos Hidroagrícolas a Sul do rio Tejo: valor igual ou superior a 5% do módulo, em ano
médio, sempre e só se esse valor for inferior ou igual ao caudal médio mensal, caso contrário deverá
manter-se o caudal médio nesse mês, podendo o caudal ser nulo nos meses de estiagem.
Quadro 7.3.1 - Regime de Caudal Ecológico no Rio Guadiana, Troço Pedrogão - Pulo do Lobo, em Ano Médio,
Proposto no 2º Estudo de Impacte Ambiental do Aproveitamento de Fins Múltiplos de Alqueva
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Caudal ((m3/s) 4.0 19.0- 25.0 19.0 - 25.0 19.0 19.0 11.0 13.0 13.0 6.3 - 13.0 3.0 - 4.0 2.6 - 4.0 3.8 - 4.0
Afluência ((hm3) 11.0 49.0 - 65.0 51.0 - 67.0 49.0 46.0 30.0 34.0 35.0 16.0 - 34.0 8.0 - 11.0 8.0 - 11.0 10.0
64/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
Planos de Bacia Hidrográfica dos Rios Internacionais: foram incluídas na Síntese dos Planos das Bacias
Hidrográficas dos rios Luso-Espanhóis, de Outubro de 2000, propostas de regimes de caudais
ecológicos para as secções internacionais dos rios Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana, calculados
com base em métodos baseados em registos de caudais, adequados ao planeamento de recursos hídricos
à escala da bacia hidrográfica, tendo-se em conta algumas das principais características ecológicas
destes rios, como por exemplo a época de reprodução das espécies piscícolas (Quadro 7.3.2). No
entanto, segundo a “Convenção sobre Cooperação para a Protecção e o Aproveitamento Sustentável das
águas das bacias Luso Espanholas”, estes regimes deverão ser submetidos à “Comissão para a aplicação
e o Desenvolvimento da Convenção” e aprovado pela “Conferência das Partes”. Até à definição de um
regime definitivo de caudais, aplica-se o regime provisório constante do Protocolo Adicional a esta
Convenção.
Quadro 7.3.22 - Propostas de Regimes de Caudais Ecológicos para as Secções Internacionais dos Rios Minho,
Lima, Douro, Tejo e Guadiana, Propostas na Síntese dos Planos das Bacias Hidrográficas dos Rios Luso-Espanhóis
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Ano
Minho Caudal (m3/s) 5,6 19,3 42,2 55,6 324,5 243,4 178,2 124,7 12,7 6 3,7 3,1 83,3
Afluência (hm3) 15,0 50,0 113,0 149,0 785,0 652,0 462,0 334.0 33,0 16,0 10,0 8,0 2627
Lima Caudal (m3/s) 3,0 4,0 8,0 10,0 45,0 44,0 32,0 25,0 15,0 3,0 3,0 3,0 16
Afluência (hm3) 8,0 10,4 21,4 26,8 108,9 117,8 82,9 67,0 38,9 8,0 8,0 7,8 506
Douro Caudal (m3/s) 23,9 52,5 84,4 103 298,4 244,9 185,6 133,7 35,1 14,2 5,2 7,3 97,7
Afluência (hm3) 64,0 136,0 226,0 276,0 722,0 656,0 481,0 358,0 91,0 38,0 14,0 19,0 3081
Tejo Caudal (m3/s) 11,6 27,4 41,8 50,8 324,5 261,4 232,6 146,7 63,3 5,2 3,7 5 96,1
Afluência (hm3) 31,0 71,0 112,0 136,0 785,0 700,0 603,0 393,0 164,0 14,0 10,0 13,0 3032
Guadiana Caudal (m3/s) 10,1 23,1 104,2 104,2 104,2 104,2 104,2 66,8 15,8 16,1 10,1 10 56
Afluência (hm3) 10,1 60,0 279,0 279,0 252,0 279,0 270,0 179,0 41,0 43,0 27,0 26,0 1766
Na Figura 2 estão representados os troços das linhas de água a jusante de grandes barragens com capacidade
de armazenamento superior a 0,1 hm3 licenciadas antes de 1989 e para os quais não está estabelecido nenhum
regime de caudal ecológico, de aproveitamentos mini-hídricos e aproveitamentos hidroagrícolas licenciados
em data posterior a 1989 e com regimes de caudais ecológicos provisórios, e de grandes barragens para as
quais foram ou serão brevemente estabelecidos regimes de caudais ecológicos (Enxoé, Alto Lindoso e
Touvedo).
A extensão de cursos de água para que estão, ou estarão em breve, definidos regimes de caudais ecológicos
representa unicamente 7,0% da extensão total considerada como afectada devido aos aproveitamentos
hidráulicos..
7.3.5. Diagnóstico
A actual situação em Portugal Continental caracteriza-se pela existência de um número elevado de
aproveitamentos hidráulicos (cerca de 150 grandes barragens) que continuará a aumentar no futuro, por um
número muito elevado e sempre crescente de pequenas barragens para rega em particular no Sul do país e,
em menor escala, por um número crescente de aproveitamentos mini-hídricos, em especial no Norte do País.
Ao mesmo tempo, constata-se que algumas das grandes barragens estão situadas em áreas da Rede NATURA
2000, como sejam o Parque Natural da Serra da Estrela e o Parque Natural de Montezinho, ou que estão em
análise novos aproveitamentos hidráulicos para essas mesmas áreas, como por exemplo para o Sítio da Rede
Natura 2000 “Rio Sabor e Maçãs” ou para o Sítio da Rede Natura 2000 “Alto Côa”. As consequências
significativas no grau de integridade e no estado de conservação dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos.
A percentagem da extensão afectada relativamente à totalidade da rede hídrica é de 15,8%. Considerando
unicamente os cursos principais das bacias hidrográficas com área superior a 1000 km2 o grau de afectação
ultrapassa 90% o que, por si só traduz a dimensão das alterações provocadas nos maiores cursos.
Os impactos efectivos dos aproveitamentos hidráulicos nos ecossistemas lóticos e ribeirinhos são, no entanto,
difíceis de caracterizar e quantificar, não só porque não têm sido feitos esforços concertados nesse sentido,
mas porque, apesar de algum trabalho desenvolvido nas 2 últimas décadas, há ainda lacunas evidentes de
conhecimento sobre os sistemas ecológicos em território nacional em geral, e, em particular, sobre a
compreensão dos processos relevantes a eles associados (cf. Lacunas de conhecimento).
A protecção e a conservação dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos no processo de planeamento,
administração e utilização dos recursos hídricos está consignada no direito português. No entanto, para
atingir este objectivo é essencial a manutenção de regimes de caudais ecológicos. Na legislação existente não
estão, no entanto, definidos valores ou métodos para a sua determinação, como seria desejável.
Contudo, a legislação existente tem garantido que seja incluído na licença dos aproveitamentos mini-
-hídricos, desde 1989, e dos novos aproveitamentos hidráulicos sujeitos ao Processo de Avaliação de
Impacte Ambiental, desde 1990, a exigência de manter um regime de caudais ecológicos.
Na generalidade dos casos, e com excepção dos Aproveitamentos de Alqueva, do Enxoé, e do Alto Lindoso
e Touvedo, os regimes de caudais ecológicos têm sido estabelecidos com base em registos históricos de
caudais, que garantem, em princípio, um certo grau de integridade dos ecossistema lóticos e ribeirinhos.
Contudo, persiste a inexistência de monitorização, motivada pela ausência de definição de Programas de
Monitorização, frequentemente propostos no âmbito dos processos de Avaliação de Impacte Ambiental, ou
pela impossibilidade de concretização por ausência de financiamento, como no caso do Aproveitamento
Hidráulico do Enxoé. Este teria contribuído para compreender as relações entre caudais e variáveis bióticas,
esclarecendo processos de natureza complexa, e ainda teria permitido avaliar a eficácia do regime de caudais
ecológicos implementados, e consequentemente possibilitado o seu posterior ajustamento.
Por outro lado, a falta de fiscalização por parte das entidades competentes, as actuais Direcções Regionais de
Ambiente e Ordenamento do Território, leva a um desconhecimento sobre o actual grau de cumprimento da
condição de licenciamento que constitui a manutenção de caudais ecológicos.
Tendo em conta a situação descrita há, pois, que salientar os seguintes aspectos:
1) A actual inexistência de métodos e critérios para o estabelecimento de regimes de caudais ecológicos que
permitam cumprir o estabelecido no direito português relativamente a conservação dos ecossistemas;
marinhas no estuário e zona costeira adjacente
2) A resolução da questão do ponto anterior passa, inevitavelmente, por:
a) Conhecimento dos sistemas aquáticos e ribeirinhos em território nacional e compreender os
processos relevantes a eles associados,
b) Definição de objectivos precisos quanto à conservação dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos,
c) Inserção no novo quadro institucional e normativo nacional dos métodos e critérios a utilizar, tendo
em conta a especificidade dos ecossistemas e os diferentes tipos de aproveitamentos hidráulicos;
3) Os programas de monitorização constituem um instrumento fundamental para aumentar o conhecimento
relativamente aos processos naturais dependentes do caudal e aferir e melhorar os métodos estabelecidos,
devendo ser contemplados no novo quadro institucional e normativo nacional;
4) O novo quadro institucional e normativo nacional no que se refere aos regimes de caudais ecológicos
deverá considerar quatro tipos de situações: aproveitamentos anteriores a 1989/90, aproveitamentos
66/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA
licenciados em data posterior para os quais foram definidos caudais ecológicos de forma expedita e
agora considerada provisória, aproveitamentos licenciados em data posterior a este Plano e caudais
ecológicos dos rios internacionais, Lima, Minho, Douro, Tejo e Guadiana, que segundo a “Convenção
sobre Cooperação para a Protecção e o Aproveitamento Sustentável das águas das bacias Luso
Espanholas deverão ser propostos à “Comissão para a aplicação e o Desenvolvimento da Convenção” e
aprovados pela “Conferência das Partes”. Para cada uma destas situações serão estabelecidas estratégias
de implementação de regimes de caudais ecológicos;
5) Os aproveitamentos de Alqueva, e do Alto Lindoso e Touvedo, e outros a considerar, poderão ser
seleccionados como projectos piloto para aferição e validação dos métodos estabelecidos neste Plano;
6) A necessidade de implementar regimes de caudais ecológicos em aproveitamentos hidráulicos já
construídos obriga a que sejam estudadas soluções técnicas viáveis que permitam a descarga controlada
destes caudais, o que deverá ser alvo de estudo específico.
1/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
d) Os lagos e lagoas não navegáveis nem flutuáveis formados pela natureza em terrenos públicos
(Dec. n.º 5787-4 I, art. 1º n.º 4);
e) Os lagos e lagoas não navegáveis nem flutuáveis circundados por diversos prédios particulares
(Dec. n.º 5787-4 I, art. 1º n.º 4).
• Outros bens:
a) Os canais e valas navegáveis ou flutuáveis, com os respectivos leitos e margens (Dec. n.º 5787-
4 I, art. 1º, n.º 2);
b) As valas abertas pelo Estado com os respectivos leitos e margens (Constituição de 1933, art. 49º
n.º 4 e Dec.-Lei n.º 468/71);
c) Os pântanos formados pela natureza em terrenos públicos (Dec. n.º 5787-4 I, art. 10º n.º 4);
d) Os pântanos circundados por diversos prédios particulares (ibidem);
e) As águas nativas que brotarem em terrenos públicos, municipais ou de freguesia (Dec. n.º
5787-4 I, art. 10º n.º 5);
f) As águas pluviais que caírem em terrenos públicos, municipais ou de freguesia (ibidem);
g) As águas que correrem pelos terrenos públicos, municipais ou de freguesia (ibidem);
h) As águas subterrâneas que existam em terrenos públicos, municipais ou de freguesia (ibidem);
i) As águas de fontes públicas (Dec. n.º 5787-4 I, art. 1º n.º 6);
j) As águas dos poços e reservatórios construídos à custa dos concelhos e das freguesias (ibidem);
l) As águas que tenham início em qualquer prédio particular, do Estado ou dos corpos
administrativos, logo que umas e outras transpuserem abandonadas os limites dos respectivos
prédios ou forem lançar-se em outras águas públicas ou no mar (Dec. n.º 5787-4 I, art. 1º n.º 6).
Domínio hídrico pertença de particulares, é o que se encontra definido nos artigos 1385º e seguintes do Código
Civil, nomeadamente:
• artigo n.º 1386º n.º 1 - são particulares:
a) As águas que nasceram em prédio particular e as pluviais que nele caírem, enquanto não
transpuserem, abandonadas, os limites do mesmo prédio ou daquele para onde o dono dele as
tiver conduzido e, ainda, as que, ultrapassando esses limites e correndo por prédios particulares,
forem consumidas antes de se lançarem em outra água pública ou no mar;
b) As águas subterrâneas existentes em prédios particulares;
c) Os lagos e lagoas existentes dentro de prédios particulares, quando não sejam alimentados por
corrente pública;
d) As águas originariamente públicas que tenham entrado no domínio privado até 21 de Março de
1868, por preocupação, doação ou concessão;
e) As águas públicas concedidas perpetuamente para regas ou melhoramentos agrícolas;
f) As águas subterrâneas existentes em terrenos públicos, municipais ou de freguesia, explorados
mediante licença e destinadas a regas ou melhoramentos agrícolas.
• artigo n.º 1387º - são ainda particulares:
a) Os poços, galerias, canais, levadas, aquedutos, reservatórios, albufeiras e demais obras
destinadas à captação, derivação ou armazenamento de águas públicas ou particulares;
b) O leito das correntes não navegáveis que atravessem terrenos particulares (idem, para as
respectivas margens)
O domínio hídrico quer na sua componente pública, quer na que pertence aos particulares, nos termos da lei,
está sempre sob jurisdição de uma entidade pública, vulgarmente designada por entidade administrante do
domínio hídrico.
Em razão das funções que lhes estão cometidas, tais entidades são:
- As entidades portuárias, que exercem a sua jurisdição nas zonas com interesse portuário. Actualmente
abrangem cinco administrações portuárias que, recentemente, passaram a constituir sociedade anónimas
de capitais exclusivamente públicos e três institutos portuários, institutos públicos dotados de
personalidade jurídica, autonomia administrativa e financeira e património próprio, dependentes do
Ministério do Equipamento Social,.
- O Instituto de Navegabilidade do Douro (IND), pessoa colectiva pública, com personalidade jurídica,
dotado de autonomia administrativa e financeira e património próprio, dependente do Ministério do
Equipamento Social, que exerce jurisdição sobre o canal navegável e via navegável do rio Douro
definidos nos Decretos-Lei nºs 138-A/97 e 344-A/98, respectivamente de 3 de Junho e 6 de Novembro,
no troço nacional deste rio a montante da área sob jurisdição da APDL-AS.
- O Instituto da Água (INAG), pessoa colectiva pública dotada de autonomia administrativa, organismo
do Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território, que detém jurisdição no restante domínio
hídrico, isto é e genericamente, no domínio marítimo sem interesse portuário e em todo o domínio
fluvial e lacustre com excepção do que se encontra afecto à jurisdição restrita do IND. Neste mesmo
espaço, às Direcções Regionais do Ambiente e do Ordenamento do Território, serviços desconcentrados
do Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território, dotados de autonomia administrativa, estão
cometidas, entre outras, atribuições na área da fiscalização e do licenciamento de usos privativos do
domínio hídrico, com a excepção prevista no n.º 5 do artigo 1º do Decreto-Lei n.º 201/92, de 29 de
Setembro, a qual estipula que, nas áreas do domínio (público) marítimo transferidas por este diploma
para a jurisdição do INAG e que se encontrem classificadas como áreas protegidas, as competências do
INAG são exercidas pelo Instituto da Conservação da Natureza (ICN), pessoa colectiva pública dotada
de autonomia administrativa e financeira, organismo do Ministério do Ambiente e do Ordenamento do
Território.
O INAG é a entidade que detém jurisdição sobre a mais vasta área do domínio hídrico, nomeadamente a nível do
domínio público marítimo. O conjunto de bens sob sua jurisdição encontra-se definido no artigo 2º do Decreto-Lei
n.º 46/94, de 22 de Fevereiro (que estabeleceu o regime de utilização do domínio hídrico sob jurisdição deste
Instituto). As áreas de intervenção das DRAOT estão estabelecidas no Decreto-Lei nº127/2001, de 17 de Abril.
Em razão do lugar, as entidades administrantes do domínio hídrico distribuem-se da seguinte forma:
- Na faixa costeira, os troços com interesse portuário estão submetidos à jurisdição das entidades
portuárias e os restantes estão sob jurisdição do INAG; uns e outros, e respectivas entidades de tutela,
encontram-se definidos no Decreto-Lei n.º 201/92, de 29 de Setembro, em articulação com o Decreto-
Lei n.º 379/89, de 27 de Outubro.
- Nos cursos de água, os troços com interesse portuário estão sob jurisdição da respectiva entidade
portuária e estendem-se, por via de regra, até ao limite interior da área de jurisdição da correspondente
capitania de porto, limite que está estabelecido no Decreto-Lei n.º 265/72, de 31 de Julho –
Regulamento Geral das Capitanias (mas há excepções como é o caso, por exemplo, dos rios Douro,
Sado e Guadiana); a montante destes limites o domínio hídrico está sob jurisdição do INAG, com a
excepção da especificidade do rio Douro atribuída ao IND.
Independentemente de se tratar de entidade portuária ou do INAG, a jurisdição sobre o domínio hídrico que está
atribuída a estas entidades resulta não só do facto do Estado ser titular de uma parte dos bens (os bens que
compõem o domínio público hídrico) que o integram, mas também do facto do Estado deter um conjunto de
poderes sobre os bens do domínio hídrico pertença de particulares. Assim:
- O Estado é titular dos bens que compõem o domínio público hídrico pelo que sobre eles detém plenos
poderes, sendo, por isso, usual designá-los por bens dominiais. Pode o Estado permitir, através da
respectiva entidade administrante, que determinadas parcelas do domínio público hídrico possam ser
3/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
lodeiros (acumulação de lodos que emergem dos rios) e areais (acumulação de areias que emergem dos rios)
nele formados por deposição aluvial.
O leito das águas do mar, bem como das demais águas sujeitas à influência das marés, é limitado pela linha
da máxima preia-mar de águas vivas equinociais, habitualmente designada por LMPAVE. Esta linha é
definida, para cada local, em função do espraiamento das vagas, em condições médias de agitação do mar,
no primeiro caso, e em condições de cheias médias, no segundo.
O leito das restantes águas é limitado pela linha que corresponder à estrema dos terrenos que as águas
cobrem em condições de cheias médias, sem transbordar para o solo natural, habitualmente enxuto. Esta
linha é definida, conforme os casos, pela aresta ou crista superior do talude marginal ou pelo alinhamento da
aresta ou crista do talude molhado das motas, cômoros, valados, tapadas ou muros marginais
8.1.2.3. Conceito de Margem e sua Largura
Entende-se por margem uma faixa de terreno contígua ao leito ou sobranceira à linha que limita o leito das
águas. A margem das águas do mar, bem como a das águas navegáveis ou flutuáveis sujeita à jurisdição das
autoridades marítimas ou portuárias, tem a largura de 50 metros; a margem das restantes águas navegáveis
ou flutuáveis tem a largura de 30 metros; a margem das águas não navegáveis nem flutuáveis,
nomeadamente torrentes, barrancos e córregos de caudal descontínuo, tem a largura de 10 metros.
MAR TERRITORIAL
I NT E R I O R
CORRENTE DA ÁGUA
MAR
MAR
ÁGUAS SUJEITAS À INFLUÊNCIA DAS MARÉS ÁGUAS NÃO SUJEITAS À INFLUÊNCIA DAS MARÉS
(ÁGUAS DOCES)
LM BM AV
LM PM AV
5/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
50 m
2 3
IL
ANT
ALC
1 - LINHA LIMITE DO LEITO
50 m
3
2
IL
ANT
ALC
7/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
edificações carecem de parecer vinculativo do INAG, quando estejam dentro daquele limite ou numa faixa
de 100 metros para cada lado da linha de margem do curso de água, quando se desconheça aquele limite.
• Consideram-se, ainda, objecto de propriedade privada na Madeira e nos Açores, os terrenos
tradicionalmente ocupados junto à crista das arribas alcantiladas das respectivas ilhas (excepção que se
explica pela situação tradicionalmente admitida e existente desde tempos imemoriais e que está
associada à exígua disponibilidade de terras em muitas ilhas).
Ainda quanto à condição jurídica dos terrenos do domínio hídrico, há que ter em atenção as implicações
decorrentes do recuo ou do avanço das águas, natural ou artificial, aspecto particularmente importante para a
componente marítima (da ocorrência de qualquer uma destas situações, como claramente a lei refere, não
beneficiam os particulares). Assim:
• Recuo das águas - os leitos dominiais que forem abandonados pelas águas, ou lhes forem conquistados,
não acrescem às parcelas privadas da margem que porventura lhes sejam contíguas, continuando
integrados no domínio público se não excederem as larguras fixadas para as margens que integram o
domínio público hídrico, e entrando automaticamente no domínio privado do Estado, no caso contrário;
• Avanço das águas - quando haja parcelas privadas contíguas a leitos dominiais, as porções de terreno
corroídas lenta e sucessivamente pelas águas consideram-se automaticamente integradas no domínio
público, sem que por isso haja lugar a qualquer indemnização; se as parcelas privadas contíguas a leitos
dominiais forem invadidas pelas águas que nelas permaneçam sem que haja corrosão dos terrenos, os
respectivos proprietários conservam o seu direito de propriedade, mas o Estado pode expropriar essas
parcelas.
Relativamente às parcelas de terreno que constituem o domínio público hídrico (genericamente, os leitos e margens
das águas do mar e de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis), a lei dá aos particulares a possibilidade de
poderem afastar, através de prova documental, a presunção dessa dominialidade sobre determinadas áreas (prédios)
o que, uma vez cumpridas as formalidades legais para o efeito exigidas, faz ingressar esses prédios na propriedade
de particulares, sem, contudo, os retirar do domínio hídrico (tão só passam a constituir parcelas privadas do
domínio hídrico). Para tanto, torna-se necessário que os particulares que se arrogam proprietários desses prédios
requeiram, junto da competente entidade administrante, a delimitação do domínio público hídrico na confrontação
com esses prédios, instruindo o respectivo pedido nos precisos termos do artigo 8º do Decreto-Lei n.º 468/71, de 5
de Novembro, cabendo salientar o registo de elevada incidência deste procedimento sobre o domínio público
marítimo.
Especificando, as pessoas que pretendam obter o reconhecimento da sua propriedade sobre parcelas de leitos ou
margens das águas do mar ou de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis devem provar documentalmente que tais
terrenos eram, por título legítimo, objecto de propriedade particular ou comum antes de 31 de Dezembro de 1864
(data da publicação do Decreto que declarou (art.º 2º) “do domínio público imprescritível, os portos de mar e
praias e rios navegáveis e flutuáveis, com as suas margens, os canais e valas …”) ou, se se tratar de arribas
alcantiladas, antes de 22 de Março de 1868 (data da entrada em vigor do Código Civil de 1867 que declarou
dominiais as arribas alcantiladas).
Face às exigências da lei, os processos de delimitação do domínio público hídrico da iniciativa dos
particulares são, por via de regra, complexos, pela antiguidade dos documentos que os integram, e extensos,
face ao longo período que abrangem, pelo que a sua apreciação requer da Administração um enorme treino
na leitura, interpretação e interligação dos numerosos documentos que os compõem e, consequentemente,
uma grande disponibilidade de tempo.
A delimitação do domínio público hídrico pode, também, competir ao Estado que a ela procederá
oficiosamente, quando necessário.
Em cada processo de delimitação é constituída uma “Comissão de Delimitação” na qual os proprietários dos
terrenos confinantes com os leitos ou margens dominiais a delimitar se farão sempre representar.
Sobre as parcelas de leitos ou margens das águas do mar ou de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis que
tenham sido reconhecidas como propriedade de particulares, para além da já citada servidão administrativa a
que estão sujeitas, a lei impõe, também, outras limitações as quais têm por objectivo facilitar, se tal se
mostrar necessário, o seu retorno ao domínio público do Estado. Assim:
• Em caso de alienação, voluntária ou forçada, por acto entre vivos, de quaisquer destas parcelas privadas
de leitos ou margens, o Estado goza do direito de preferência, podendo a preferência exercer-se, sendo
caso disso, apenas sobre a fracção do prédio que se integre no leito ou na margem;
• O Estado pode proceder, nos termos da lei geral, a expropriação por utilidade pública de quaisquer
destas parcelas privadas de leitos ou margens sempre que isso se mostre necessário para submeter ao
regime da dominialidade pública todas as parcelas privadas existentes numa certa zona;
• Os terrenos adquiridos pelo Estado nos termos que antecedem ficam automaticamente integrados no seu
domínio público.
À desafectação de terrenos do domínio público hídrico aplicam-se os seguintes diplomas legais: Decreto n.º
48784, de 21 de Dezembro de 1968, para as áreas sob jurisdição do INAG, e Decreto-Lei n.º 450/83, de 26
de Dezembro, para as áreas sob jurisdição das administrações portuárias.
Os terrenos do domínio público hídrico (marítimo, fluvial ou lacustre) estão, como já referido, fora do
comércio, não podendo ser objecto de actos e contratos de direito privado daqui resultando que a alienação
de quaisquer parcelas nesta situação só será possível se precedida da sua desafectação daquela categoria de
bens.
Dada a estreita interligação entre a desafectação e a alienação do património desafectado, a opção pela
desafectação só deverá verificar-se quando aconselhada por fortes razões de interesse geral (interesse
público) que devam prevalecer sobre os fins justificativos da integração desses terrenos no domínio público.
Tratando-se de terrenos do domínio público marítimo, a desafectação depende de parecer favorável da
Comissão do Domínio Público Marítimo.
9/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
- As acções deverão ser desenvolvidas de jusante para montante, actuando em troços limitados e
faseados, executando os trabalhos alternadamente numa margem e noutra;
- Evitar retirar a vegetação que fixa as margens, exceptuando as infestantes exóticas;
- O corte de arvores e arbustos só deverá ser completo, se tal se justificar pela afectação negativa do
escoamento. Na maioria dos casos o corte parcial de ramos é suficiente;
- Deverá ser efectuada a remoção de material depositado no leito menor – ramos, troncos, vegetação
infestante e lixo – que provoquem a obstrução à circulação de água. Esses materiais deverão ser
transportados e depositados em locais adequados, consoante a sua natureza.
Numa perspectiva global e integrada, os cursos de água têm um papel fundamental no território, constituindo
ecossistemas complexos, diversificados e dinâmicos. Do ponto de vista hidráulico a rede hidrográfica tem
como função conduzir as águas da respectiva bacia hidrográfica, através de processos de drenagem, para as
zonas costeiras. Contudo, sendo os cursos de água meios naturais, para além desta “função hidráulica”,
enquanto colectores das águas da bacia hidrográfica, estes desempenham também uma “função ecológica”,
enquanto suporte das biocenoses aquáticas, uma “função biofísica”, em que é determinante o papel da
vegetação na estabilização das margens, uma “função paisagística”, como elemento estruturante e de
valorização da paisagem, para além da “função económica”, representada pela utilização dos seus recursos
pelos diversos agentes.
A necessidade de assegurar a perenidade e diversidade de situações e características que lhe são próprias,
exige que as intervenções ao nível da conservação e da reabilitação da rede hidrográfica tenham em
consideração a coexistência e interactividade entre todas estas funções.
Numa perspectiva duma utilização sustentável das zonas fluviais e em particular da rede hidrográfica, o
conceito de conservação e reabilitação das linhas de água deverá ser complementada com a noção de
valorização através da identificação de um conjunto de actividades compatíveis com as características destas
áreas. A ligação desejada e necessária entre as zonas de cabeceira da bacia hidrográfica e os ecossistemas
litorais, que se justifica pelas suas interdependências e inter-relações, poderá ser alcançada através da rede
hidrográfica, entendida nas suas múltiplas funções, constituindo esta rede o suporte para a definição de uma
estrutura ecológica do território, esquematicamente apresentada na figura 8.1.3.
Corredor ecológico
litoral
Linhas de água
Linha de costa
Áreas urbanas
A eficiência deste processo é condicionada pelas mudanças de sentido e da velocidade de variação do nível
relativo do mar. A longo prazo, a resultante actual de tais variações é no sentido de elevação do nível do
mar. Este é, provavelmente, um dos factores que inibe o fornecimento actual de partículas grosseiras.
A maior parte do material debitado por via fluvial é transferido durante os períodos de cheia, que, por via de
regra, coincidem com o inverno. No entanto, mesmo em condições menos propícias, a transferência de
materiais finos é elevada, como é comprovado, por exemplo, pela turbidez das águas na adjacência das
embocaduras dos rios mais importantes.
Os presumíveis valores, estimados pelo método de Langbein & Schumm (1958) e expressos em 10³ m³/ano,
da totalidade do material transportado (Sed. T.), junto ao fundo (T.F.) e em suspensão (T.S.), constam do
quadro 8.1.1, evidenciando a existência de um acentuado contraste na magnitude da carga sedimentar
transportada pelos rios de Portugal Continental.
Quadro 8.1.1– Estimativas do Material Presumivelmente Transportado na Totalidade (Sed. T.), Junto ao Fundo
(T.F.) e em Suspensão (T.S.) pelos Principais Rios de Portugal Continental, em Regime Natural. (Adaptado de
Magalhães, 1999)
O forte abastecimento da região setentrional encontra-se relacionado, entre outros factores, com a grande
área das bacias para aí drenantes (superior a 120 000 km²), com a elevada pluviosidade média (superior a 1
000 mm/ano e ultrapassando 2 000 mm/ano nalgumas bacias hidrográficas), com o perfil relativamente
jovem da maior parte dos rios que aí afluem e com as litologias dominantes nessas bacias (em que avultam
rochas granitóides e formações xisto-grauváquicas). Estas características contrastam fortemente com as do
Alentejo e Algarve, cujas áreas drenantes são significativamente inferiores, em que a pluviosidade média é
bastante inferior a 1 000 mm/ano, o pendor médio dos pequenos rios existentes é muito moderado, e as
litologias dominantes são essencialmente constituídas por rochas carbonatadas e xisto-grauváquicas.
A precipitação que ocorre na área cuja drenagem se efectua para a plataforma provoca aumento dos caudais
dos rios e da sua competência transportadora, o que induz grande transporte de carga sedimentar. No entanto,
actualmente, devido à existência de numerosas barragens, o caudal destes rios encontra-se mais regularizado,
sendo menos frequentes as grandes cheias, menores os caudais médios de Inverno e maiores os de Verão, o
que, certamente, tem repercussões profundas ao nível do transporte sedimentar. Por outro lado, o efeito de
retenção dos sedimentos pelas barragens repercute-se ainda nos quantitativos sedimentares debitados pelos
rios para a plataforma.
A construção de barragens induz a diminuição drástica da área das bacias hidrográficas que efectuam a
drenagem directamente para a plataforma. Como estes aproveitamentos são, em geral, construídos no sector
superior dos rios, em que o respectivo perfil se encontra ainda muito afastado do de equilíbrio, as suas
albufeiras acabam por se converter em áreas de deposição correspondentes aos troços dos rios com maior
capacidade erosiva e transportadora. Contudo, da sua construção não resulta a imediata redução da carga
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
sólida que aflui ao litoral, uma vez que a concomitante alteração do regime hidráulico tende a remobilizar os
sedimentos fluviais acumulados a jusante da obra, retardando o déficit sedimentar na foz.
As estimativas da quantidade de material transportado por via fluvial após a construção da maior parte das
barragens existentes nas bacias hidrográficas que drenam para os rios portugueses constam do Quadro 8.1.2.
Quadro 8.1.2. – Estimativa do Material Presumivelmente Transportado na Totalidade (Sed. T.), Junto ao Fundo
(T.F.) e em Suspensão (T.S.) pelos Principais Rios de Portugal Continental, após a Construção de Barragens.
(Adaptado de Magalhães, 1999)
Na transição do séc. XIX para o séc. XX o comportamento regressivo do litoral foi subitamente
interrompido, quando o nível tecnológico humano se revelou capaz de intervir em grande escala,
modificando as características ambientais. O incremento do efeito de estufa (e consequente subida do nível
relativo do mar), a construção de grandes barragens e de portos com grandes molhes de protecção, as
explorações de inertes fluviais, as dragagens intensivas nas zonas portuárias e respectivos canais de acesso,
entre outras acções, induzem presentemente no litoral um comportamento transgressivo. Indícios vários
parecem apontar para o facto de os estuários actuais funcionarem mais como zonas colectoras de sedimentos
do que como exportadoras de materiais arenosos para a plataforma.
A deficiência sedimentar assim criada é, em parte, compensada pela erosão do litoral. Algumas das
estruturas implantadas no litoral desde os anos 50 favorecem um desvio dos trânsitos sedimentares do litoral
para o largo, o que terá provocado um aumento muito significativo dos sedimentos depositados na
plataforma.
A importância da erosão das arribas como processo de fornecimento de partículas encontra-se relacionada
com a maior ou menor extensão relativa que apresentam e com o estado de consolidação e/ou fracturação
das rochas em que normalmente se encontram talhadas. Como seria lógico pressupor, este processo, que se
encontra relacionado com o nível atingido pelo mar na base das arribas e com os mecanismos de erosão
subaérea, é bastante importante no caso de arribas talhadas em formação fracamente consolidadas,
apresentando reduzida importância no caso contrário.
Por razões de natureza científica, continua também a ser muito limitada a capacidade de previsão da
evolução a médio e longo prazo das praias, dunas e ilhas – barreira. É internacionalmente reconhecida a
importância das dunas, em particular do cordão primário, como uma das mais importantes fontes
aluvionares, pelo efeito de barreira adaptativa que proporcionam aos espraiamentos e galgamentos do mar.
Contudo, face à dimensão do desequilíbrio hidromorfológico que se verifica na faixa costeira portuguesa e à
elevada energia presente, as acções de conservação, reconstrução e estabilização dunar, por si só, não
introduzirão uma estabilização ou mesmo uma inversão da situação de erosão. Constituirão, apesar de tudo,
um contributo importante não só em termos de retardar o avanço do mar como em termos de outros valores
naturais a proteger.
Em termos globais, e tal como estão publicados por diversas fontes, existem dados demonstrativos de que na
orla costeira se verifica um recuo generalizado da “linha de costa”.
É hoje uma certeza de que se perderam muitos anos de caracterizações hidromorfológicas essenciais à
quantificação, compreensão e previsão dos fenómenos sedimentares na orla costeira. O Plano Geral de
Monitorização da Fisiografia Costeira, em fase de elaboração, ao permitir definir uma estratégia de
monitorização da costa a longo prazo e o enquadramento e elementos técnicos necessários ao planeamento e
execução das actividades de monitorização da evolução global da fisiografia a curto e médio prazo, deverá
vir a constituir um marco importante no fornecimento de informação que facilite a implementação de uma
estratégia integrada para a gestão da zona costeira.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
Esta ferramenta legislativa permite, deste modo, proteger as captações de abastecimento público, bem como
áreas dos sistemas aquíferos (zonas de recarga e aquíferos costeiros), da degradação da qualidade natural da
água, em resultado de actividades antrópicas.
No que se refere a albufeira, a sua protecção próxima é visada, entre outros objectivos, pelos Planos de
Ordenamento de Albufeiras de Águas Públicas (POAAP), disciplinando a ocupação e as actividades no seu
plano de água e na sua envolvente.
As origens de água superficiais, designadamente albufeiras e cursos de água, são alimentadas pelas águas
geradas em toda a bacia hidrográfica que poderão transportar substâncias susceptíveis de alterar a qualidade
e torná-la incompatível com os usos ou exigir o reforço do tratamento.
Por outro lado,, a alimentação dos aquíferos também se poderá realizar por águas infiltradas ou transferidas
entre aquíferos em zonas que podem localizar-se muito para além dos limites das zonas de protecção
alargada das captações.
Portanto, a protecção duradoura das captações e origens de água requer o contributo do ordenamento do
território como medida de maior eficácia.
8.2. Utilizações do Domínio Hídrico
No quadro das utilizações do domínio hídrico, para além das actividades consumptivas, existe um conjunto
de outras utilizações que ocorrem em áreas do domínio hídrico e que por conseguinte se encontram sujeitas a
licenciamento e demais regras gerais de utilização. Assim, neste contexto faz-se referência a actividades
como a navegação, recreio e lazer, pesca, culturas biogenéticas e extracção de inertes.
8.2.1. Navegação, Recreio, Lazer
A utilização do Domínio Hídrico por actividades de recreio e lazer tem vindo a sofrer uma crescente procura,
devido em grande parte às alterações de hábitos da sociedade actual, onde os períodos de ócio têm cada vez
maior expressão e importância.
Por excelência a zona litoral é suporte de diversas actividades desta natureza, apresentando um elevado
numero da zonas balneares e de recreio náutico ao longo de toda a costa.
Contudo, dada a grande pressão a que as zonas costeiras estão sujeitas, sobretudo na época balnear, tem-se
verificado um aumento na procura de locais alternativos, nomeadamente na envolvente dos cursos de água e
noutros planos de água, pelas condições de amenidade e o conforto climático que a presença de água
propicia, bem como pela riqueza paisagística e ambiental que normalmente lhes está associada.
É assim que na envolvência dos cursos de água surgem zonas a que se deu a denominação de “zonas de
recreio e lazer em zonas fluviais” independentemente de se estar ou não em presença de “zonas balneares” e
consequentemente de haver ou não o controle da qualidade da água. A denominação de “Praia Fluvial” só é
utilizada quando se entende que determinado local reúne as adequadas condições de segurança, se encontra
equipado e apresenta controlo da qualidade da água.
As albufeiras de águas públicas, a par de outras situações de represamento de águas através de açudes de
pequenas dimensões, são os locais mais procurados para a prática de actividades de recreio e lazer,
nomeadamente de banhos, natação, navegação e pesca.
Estas actividades tem vindo a ser ordenadas e disciplinadas quer por intervenções pontuais, quer por via de
acções articuladas consubstanciadas em planos de ordenamento.
Com base na legislação que suporta o ordenamento das albufeiras e dos estudos que estiveram na origem da
sua classificação para utilizações secundárias, poder-se-á concluir que terá sido no final da década de 60,
princípios da década de 70, que as albufeiras começaram a ser procuradas, com uma maior intensidade, para
fins recreativos.
As próprias actividades secundárias praticadas foram sendo cada vez mais diversificadas. Em 1973, nos
estudos realizados para classificação das albufeiras, são identificadas como actividades praticadas com maior
intensidade na totalidade das albufeiras, a pesca e os banhos.
Em 1989, quando da elaboração do plano de ordenamento da Albufeira do Caia, respeitando o estabelecido
na legislação relativamente às actividades secundárias das albufeiras (Decreto Regulamentar n.º 2/88, de 20
de Janeiro), teve lugar um levantamento exaustivo de todas as actividades na albufeira, assim como de outras
que potencialmente seriam susceptíveis de ocorrer. Foram então inventariadas 21 actividades consideradas
recreativas, distinguindo-se entre as que poderiam ocorrer no plano de água ou nas margens e ainda as que se
poderiam considerar incluídas em actividades de recreio activo ou passivo ou quando organizadas sob a
forma de competições desportivas.
Mais recentemente aparecem actividades como o Jet Ski e Hovercraft, o que perfaz um total de 23
actividades recreativas passíveis de serem praticadas nas albufeiras portuguesas.
Por outro lado os cursos de água e suas áreas envolventes para além da prática balnear são cada vez mais
procurados para outras utilizações tais como navegação, canoagem, remo e, quando as condições naturais do
curso de água o propiciam, rafting.
A navegação enquadra-se nos usos de ocupação de superfícies de água, podendo assumir o carácter
recreativo, comercial ou de segurança. Em Portugal, o rio Douro assume particular relevância em matéria da
navegação, sendo o único rio dotado de infra-estruturas de apoio à navegação com dimensão significativa,
nomeadamente barragens equipadas com eclusas que permitem a sua transposição por embarcações de
grande porte, um canal de navegação e um conjunto de cais e fluvinas de apoio à navegação. Nos restantes
cursos de água naturalmente navegáveis, aparecem pontualmente algumas infra-estruturas de apoio, sendo a
navegação de recreio e a associada à pesca as que têm maior expressão. Na Figura 8.2.1 apresentam-se os
locais e troços de maior significado em termos de navegação.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
O Decreto-Lei nº 46/94 define extracção de inertes como a intervenção de desassoreamento das zonas de
escoamento e de expansão das águas de superfície, quer corrente, quer fechadas, bem como da faixa costeira,
da qual resulta a retirada de materiais tais como areia, areão, burgau, godo ou cascalho. Define ainda os
requisitos gerais a que a extracção de inertes deve obedecer, bem como as condições para atribuição da
respectiva licença, quer para a extracção em áreas do domínio público, quer para áreas do domínio privado.
Relativamente às demais áreas do domínio hídrico compete à respectiva entidade administrante definir as
condições de licenciamento caso a caso.
Quanto a requisitos gerais exige o Decreto-Lei nº 46/94 que a extracção de inertes só seja permitida quando
existam planos específicos que definem os locais potenciais de extracção e quanto não sejam afectados:
a) As condições de funcionamento das correntes, a navegação e flutuação, o escoamento e espraiamento
das cheias;
b) O equilíbrio das praias e da faixa litoral;
c) O equilíbrio dos ecossistemas lagunares;
d) Os lençóis subterrâneos;
e) As áreas agrícolas envolventes;
f) O uso das águas para diversos fins, incluindo obras de captação, represamento, derivação e bombagem;
g) A integridade dos leitos e margens;
h) A segurança de obras marginais ou de transposição dos leitos;
i) A fauna e a flora.
Na falta daqueles planos, a extracção de inertes só deve ser autorizada quando justificada por razões de
ordem técnica, ambiental e paisagística e em locais cujo desassoreamento seja imprescíndivel e possa
conduzir à existência de melhores condições de funcionalidade, quer das correntes, quer da orla costeira.
Em função da dimensão da extracção, é obrigatória a realização de um estudo de impacte ambiental ou de
incidência ambiental, confinando-se o prazo de validade da licença ao período estritamente necessário à
remoção dos materiais considerados em excesso e exigido-se a prestação de uma caução que,
nomeadamente, garanta a execução do projecto de extracção e a recuperação do local para além das demais
condições impostas na licença
Os dados dos vários Planos de Bacia Hidrográfica, complementados com informação posterior fornecida pelas
DRAOT, apresentam-se no Quadro .8.2.1 e na Figura 8.2.4.
Quadro 8.2. 1 - Extracção de Inertes
3
Nº Instalações e Volumes Médios Extraídos, por Classes de Volume Extraído (m /amo)
PBH < 500 500 – 50 000 50 000 – 100 000 > 100 000 Total
Nº Volume Nº Volume Nº Volume Nº Volume Nº Volume
3 3 3 3 3
Instalações (m /ano) Instalações (m /ano) Instalações (m /ano) Instalações (m /ano) Instalações (m /ano)
Douro 1 5 000 3 627 000 4 632 000
Vouga 2 < 500 7 61 500 9 62 500
Mondego 1 < 500 15 242 000 16 242 500
Tejo 2 528 13 169 070 8 584 810 5 612 927 28 1 367 335
Guadiana 1 300 8 73 400 13* 73 700
Sado 1 2 000 1 2 000
Rib. Algarve 6** 7 500
Continente 6 2 328 48 560 470 8 584 810 5 612 927 77*** 2 387 535
*quatro das quais sem informação
** – três das quais sem informação
*** – sete das quais sem informação
Douro
26,5%
Mondego
10,2%
Guadiana
3,1%
Outros
6,1% Vouga
2,6%
Ribeiras do
Algarve
0,3%
Sado
Tejo 0,1%
57,3%
19/54 (8 - II)
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Observando o Quadro 8.3.1 verifica-se que das cerca de 6000 captações cadastradas 90% são captações
subterrâneas e cerca de 40% dessas captações se concentram a norte da bacia hidrográfica do rio Vouga. De um
modo geral não existe informação relativa ao volume da água captado, bem como elementos relativos às
características hidráulicas das captações, e nas bacias hidrográficas dos rios Vouga, Mondego e Lis a grande
maioria das captações não estão georeferenciadas. O tipo de adução mais utilizado é a bombagem.
No âmbito dos trabalhos dos Planos de Bacia Hidrográfica foram cadastradas em Portugal Continental 1840
Estações de Tratamento de Águas / Postos de Cloragem inseridas nos Sistemas de Abastecimento.
Comparativamente às infra-estruturas inventariadas pelo Inventário Nacional de Saneamento Básico de 1994,
regista-se um aumento de 57% (1170 em 1994).
Não foi possível identificar o tipo de infra-estrutura em 66 casos, e a respectiva localização em aproximadamente
30 casos, sendo que destes, 18 se registam no Plano de Bacia das Ribeiras do Oeste.
21/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
A figura 8.3.2 reflecte a distribuição espacial das ETA/PC em Portugal Continental, exceptuando as
situações referidas em que não foi possível determinar a sua localização exacta.
O numero total de reservatórios cadastrados permite a obtenção de um volume de armazenamento na ordem
3
dos 3,5 hm e o número de reservatórios por cada 1000 hab. é superior à média na área do PBH do rio Minho
e inferior na área do PBH do rio Leça.
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PBH Nº de infra-estruturas
Minho -
Lima 63
Cávado 72
Ave 139
Leça 9
Douro 1023
Vouga 91
Mondego 252
Lis 38
Rib. Oeste 182
Tejo 1367
Sado 80
Mira 6
Guadiana 54
Rib. Algarve 300
Total 3676
(-)- Informação não disponível
25/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
Na figura 8.3.7 localizam-se os principais valores patrimoniais e socioculturais identificados, que são
bastante numerosos e se distribuem por todo o país. A sua relevância e o facto de existir legislação de
protecção para estes locais, faz com que sejam factores que orientam significativamente o ordenamento do
território, concretamente em áreas do domínio hídrico.
Se a perspectiva que é dada no âmbito dos recursos e valores naturais, aponta essencialmente para os
recursos (hídricos) na óptica da sua protecção, conservação, fruição, salvaguarda e valorização, já a estrutura
ecológica, ainda que só enquadrável a nível dos PROT, Planos Sectoriais e PMOT, encerra uma noção
territorial através da delimitação de áreas que garantam os objectivos de protecção e valorização ambiental.
27/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
Assim e de acordo com uma perspectiva de análise da organização do espaço, esta legislação traz uma visão
de alguma forma inovadora face ao enquadramento legal em vigor até à data. Com efeito perspectiva-se uma
abordagem onde os recursos naturais podem vir a assumir um papel valorizador do território, constituindo
um importante elo de ligação entre o espaço rural e o espaço urbano.
Esta nova abordagem, permite na realidade uma perspectiva de integração dos recursos (hídricos) nos
diferentes níveis de planeamento. De facto, actualmente as bases da política de ordenamento do território
assenta em três âmbitos de gestão territorial:
- NACIONAL (Plano Nacional da Política de Ordenamento do Território, Planos Sectoriais com
incidência territorial, Planos Especiais de Ordenamento do Território)
- REGIONAL (Planos Regionais de Ordenamento do Território)
- MUNICIPAL (Planos Municipais de Ordenamento do Território)
Neste contexto poderá ser importante considerar o nível do vínculo jurídico de cada plano, onde os Planos
Municipais e os Planos Especiais de Ordenamento do Território vinculam directa e imediatamente, para além
das entidades públicas, os particulares. Este aspecto é do maior interesse no que se refere aos recursos
hídricos, considerarmos que os Planos Especiais de Ordenamento prevalecem sobre os planos
intermunicipais e municipais de ordenamento do território.
Os demais planos, nomeadamente os Regionais e Sectoriais, onde se insere o Plano Nacional da Água, só
vinculam entidades públicas. No entanto os Planos Municipais devem acautelar a programação e a
concretização das políticas de desenvolvimento económico e social e de ambiente, com incidência espacial,
promovidas pela administração central.
Considera-se, assim, que está reunido um quadro global que permite uma integração da problemática dos
recursos hídricos, nas suas diferentes componentes, nos diversos níveis de planeamento. Associadas a linhas
estratégicas de actuação concretas e bem orientadas, poder-se-á obter uma coerência de planeamento, desde
o âmbito nacional até ao municipal, com efeitos até junto até junto dos particulares.
PLANOS REGIONAIS DE
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO 8. PLANOS
PLURIMUNICIPAIS
Áreas homogéneas
Económicos
Ecológicos
Concretizar a política de Outros
Ordenamento do Território
Definir as opções e estabelecer
critérios de organização e uso do
espaço tendo em conta as
OBJECTIVOS
potencialidades e aptidões
Estabelecer normas de ocupação Referência para a
e utilização que permitam elaboração dos
fundamentar um correcto Planos Directores
zonamento, utilização e gestão do Municipais
território, considerando a
salvaguarda de valores naturais e
culturais
Os PROT são constituídos pelos componentes abaixo indicados, devendo estes planos na sua elaboração
considerar os elementos indicados:
REGULAMENTO
PROT
RELATÓRIO
ELEMENTOS A CONSIDERAR
RAN
REN
Recursos Naturais, designadamente o DPH
Protecção de Valores de Interesse Recreativo e turístico
Estratégia Nacional de Conservação da Natureza
Traçado de Infra-estruturas
Hierarquização e Vocação de Centros Urbanos
Outros
Considerando o universo dos PROT aprovados, concluídos ou em elaboração (o que perfaz um conjunto de
nove planos), procedeu-se à sua análise na tentativa de identificar as principais preocupações que estiveram
na origem da decisão da sua elaboração bem como a abordagem que está preconizada para cada um, tendo
presente a temática dos recursos hídricos:
29/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
PRINCIPAIS
31/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
Na perspectiva da
preservação dos recursos
hídricos quer quanto à Definição de zonas “non-aedificandi” associadas às
qualidade, quer quanto à linhas de água, lagoas, albufeiras e zona reservada
quantidade. e cabeceiras de linhas de água
O quadro de contra-ordenações definido no âmbito deste plano prevê a punição das acções que contrariem
as disposições do plano, nomeadamente as que tem repercussões sobre os recursos hídricos e na óptica acima
resumida.
O quadro de contra-ordenações definido no âmbito deste plano prevê a punição das acções que contrariem
as disposições do plano, nomeadamente as que causem a deterioração do meio ambiente com reflexos na
qualidade e quantidade dos recursos hídricos, com especial ênfase para a protecção dos sistemas aquíferos.
O quadro de contra-ordenações definidos no âmbito deste plano prevê a punição das acções que contrariem
as disposições do plano, nomeadamente as que se referem à utilização das albufeiras.
Desta análise ainda que sumária, é perceptível que a abordagem não é uniforme, independentemente dos
objectivos e dos domínios sectoriais a atingir por cada um dos planos. Há situações em que os recursos
hídricos são encarados numa óptica predominantemente conservacionista e que são abordados
essencialmente como um condicionante ao uso do solo (ex. o PROTALI) e outros em que é feita uma
abordagem mais integrada, numa perspectiva em que os recursos hídricos são mais do que um condicionante
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
ao uso do solo, sendo integrados como elementos de valorização de determinadas áreas, como é o caso das
áreas urbanas (ex. PROTAL).
Os outros dois planos que se encontram igualmente em vigor e que pela sua especificidade, uma vez que
ambos tem albufeiras de águas públicas como elementos aglutinadores de um conjunto de interesses,
privilegiam uma abordagem em que há uma grande incidência na utilização dos recursos hídricos (leia-se
planos de água) de uma forma muito direccionada para as actividades de recreio e lazer, em complemento do
uso turístico. No entanto qualquer destes usos não são equacionados enquanto usos consumptivos dos
recursos, o que na realidade acaba por não se verificar, essencialmente no que respeita aos turismo.
Actualmente o país encontra-se praticamente coberto por Planos Directores Municipais eficazes
desenvolvidos nesse quadro legal e cuja relevância para o planeamento e gestão dos recursos hídricos deveria
ser determinante. No entanto, e considerando os 308 planos existentes (só cinco municípios ainda não detêm
de PDM eficaz), verifica-se muitas vezes que a abordagem é feita essencialmente na perspectiva de
condicionar os usos do solo, sem regulamentar medidas eficazes que permitam a valorização da rede
hidrográfica e, numa visão mais alargada, dos próprios recursos hídricos.
Contudo, analisando o conteúdo formal dos PDM, os recursos hídricos só são referidos como condicionante
ao uso do solo, não sendo dada qualquer orientação para a definição de um modelo territorial onde estes
recursos sejam entendidos como um componente de valorização, a par com a inevitável protecção decorrente
da sensibilidade dos ecossistemas que lhe estão associados. De uma análise sumária ressalta o seguinte:
PLANTA DE ORDENAMENTO
classes de espaço em função do uso dominante
PLANO D IRECTOR
PLANTA DE CONDICIONANTES
RAN
REN
domínio hídrico
áreas protegidas
regime florestal
outros
Com a revisão dos Planos Directores denominados da “1ª Geração”, os princípios aqui equacionados poderão
ser revertidos para o modelo territorial a definir, permitindo de alguma forma uma abordagem integrada dos
recursos hídricos que vá além da mera imposição resultante dos condicionantes de ordem legal e que permita
a valorização deste recurso como parte de um ciclo, onde as águas subterrâneas tenham um peso tão
importante como as águas superficiais.
A situação relativa aos planos directores municipais não ratificados é apresentada no Quadro 8.4.1. A
situação para a totalidade dos municípios é apresentada na Figura 8.4.2.
Para além destes planos, existem ainda 60 outros que se encontram ratificados, mas em revisão.
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DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
Zona de protecção
Protecção aos
orgãos da barragem
Plano de água
Zona de respeito
da barragem
Quadro 8.4.2 – Critérios Observados nos Planos de Ordenamento de Albufeiras de Águas Públicas
No entanto, um aspecto que sido alvo de discussão prende-se com a dimensão da zona de protecção das
albufeiras. De facto, a zona de protecção não corresponde, na realidade, a uma unidade biofísica, paisagística
ou fisiográfica, obedecendo apenas a critérios meramente legais. Esta situação é particularmente importante
se pretendermos realizar uma caracterização mais alargada, nomeadamente quanto aos aspectos da qualidade
da água. Na realidade, este limite tem-se mostrado manifestamente insuficiente quando se pretende
estabelecer regras para uma protecção eficaz dos recursos hídricos, sobretudo se estão em causa utilizações
como o abastecimento público.
Numa altura em que o abastecimento público de parte significativa da população portuguesa é feito ou
perspectiva-se que venha a ser feito a partir de albufeiras de águas públicas, é impensável que qualquer
aspecto relacionado com a sua integridade possa ser posto em causa por uma qualquer utilização denominada
de secundária.
O ponto de situação actual, relativo à elaboração destes planos, encontra-se representado na Figura 8.4.4.
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DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
Os Planos de Ordenamento da Orla Costeira abrangem uma faixa ao longo do litoral, a qual se designa por
zona terrestre de protecção, cuja largura máxima é de 500m, contados a partir do limite da margem das
águas do mar, ajustável sempre que se justifique, e uma faixa marítima de protecção que tem com limite
inferior a batimétrica 30.
Com os objectivos de:
• Ordenar os diferentes usos e actividades específicas da orla costeira;
• Classificar as praias e regulamentar o uso balnear;
• Valorizar e qualificar as praias consideradas estratégicas por motivos ambientais e turísticos;
• Enquadra o desenvolvimento das actividades específicas da orla costeira;
• Assegurar a defesa e conservação da natureza;
os POOC preocupam-se, especialmente com a protecção e integridade biofísica do espaço, com a valorização
dos recursos existentes e a conservação dos valores ambientais e paisagísticos.
No quadro das acções com incidência nos recursos hídricos, são consideradas, no plano de intervenções de
cada POOC as seguintes acções:
PLANOS DE ORDENAMENTO DA
ACÇÕES PREVISTAS
ORLA COSTEIRA
Execução dos Sistemas de Saneamento Básico.
Caminha-Espinho Construção de um sistema de drenagem de águas residuais.
(INAG) Monitorização - Programa de monitorização na envolvente dos emissários
submarinos.
Monitorização do controlo de efluentes de ETARs.
Melhoria da qualidade das linhas de água localizadas junto aos aglomerados da
costa de Lavos e Leirosa.
Melhoria dos níveis de qualidade da água da Barrinha de Esmoriz.
Ovar-Marinha Melhoria da qualidade de água da Barrinha de Mira e dos canais afluentes.
(INAG) Melhoria da qualidade da água do rio Mondego.
Melhoria da qualidade da água do rio Lis.
Carta de sensibilidade ecológica à contaminação por hidrocarbonetos.
Reforço da monitorização do emissário da Celbi/Soporcel.
Alcobaça-Mafra Valorização dos troços terminais das linhas de água
(INAG) Execução dos Sistemas de Saneamento Básico no âmbito da requalificação de
aglomerados urbanos de génese clandestina.
Sintra-Sado (ICN) Em curso
Acabar com os efluentes domésticos clandestinos que drenam directamente
Cidadela-São Julião da Barra (INAG) para o domínio hídrico;
Assegurar a ligação de todos os efluentes e equipamentos de praia à rede
pública.
Valorização dos sistemas lagunares
Sado-Sines Acabar com os efluentes domésticos clandestinos na sequência da demolição
(INAG) de construções clandestinas em domínio hídrico.
Conservação e valorização das linhas de água;
Sines-Burgau (ICN) Condicionantes à instalação de aquiculturas face aos impactes na qualidade da
água;
Burgau-Vilamoura Condicionantes à realização de acções que interfiram negativamente no regime
(INAG) de drenagem superficial;
Vilamoura-Vila Real de Stº António Em curso
(ICN)
O ponto de situação actual, relativo à elaboração destes planos, encontra-se representado na figura 8.4.5.
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Quadro 8.4.3 - Situação Actual dos Planos de Ordenamento das Áreas Protegidas
Áreas Protegidas
Parque Nacional
Peneda – Gerês RCM 134/95, de 11 de Novembro
Parques Naturais
Ria Formosa Dec. Reg. 2/91 de 24 de Janeiro
Serra da Estrela Port. 583/90 de 25 de Julho
Serras de Aires e Candeeiros Por. 21/88 de 12 de Janeiro
Sintra-Cascais Dec. Reg. 9/94 de 11 de Março
Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina Dec. Reg. 33/95 de 11 de Dezembro
Nas restantes 18 áreas protegidas ou estão em fase de elaboração ou em procedimentos para a sua
elaboração.
Na Figura 8.4.6 identificam-se as áreas protegidas dando indicação do ponto de situação da execução do
respectivo plano de ordenamento.
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DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
Quadro 8.4.5 – Aspectos Relevantes para os Recursos Hídricos Contemplados nos Planos de Ordenamento Florestal
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DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
Praias
Dunas Litorais
Arribas ou Falésias
ZONAS
Faixa ao longo da costa entre a LMPMAVE e a batimétrica 30
COSTEIRAS Estuários, lagunas, lagoas costeiras e zonas húmidas adjacentes
Ilhas, ilhéus e rochedos emersos no mar
Sapais
Restingas
Tombolos
Teria sido desejável que a demarcação integrasse aquelas áreas que tivessem um efectivo valor ecológico e
que tivessem importância à escala nacional. Verificou-se no entanto que não foi esse o procedimento
adoptado e que as desafectações já mencionadas foram avaliadas e aceites numa perspectiva
predominantemente concelhia, perdendo-se mais uma vez a escala nacional.
Pese embora todas estas vicissitudes, às quais não é estranho o modo como foram elaborados os PDM, é
certo que a REN constitui um importante instrumento de salvaguarda de áreas essenciais para a protecção
dos recursos hídricos. Com efeito estes recursos podem ser assumidos como o esqueleto da estrutura
biofísica que deve ser a REN, na medida em que abrangem várias áreas da bacia hidrográfica de montante a
jusante, respectivamente as cabeceiras e os estuários, bem como as águas superficiais e as águas
subterrâneas.
Verifica-se que as áreas do Domínio Hídrico, à excepção das margens das linhas de água, encontram-se na
sua totalidade incluídas na REN, que por sua vez integra outras áreas que não tendo as condicionantes
decorrentes do Domínio Hídrico, estão de uma forma mais ou menos directa, ligadas aos recursos hídricos e
tem repercussões no funcionamento dos cursos de água nas suas diferente componentes ( hidráulica,
biofísica e paisagística).
repercussões no funcionamento
Se é verdade que os condicionantes ao uso do solo introduzidos por via do regime da REN, permitem uma
maior preservação dos recursos hídricos, também é um facto que o próprio regime funciona por vezes como
agente inibidor do desenvolvimento integrado dessas mesmas zonas.
Recorde-se ainda a propósito da situação actual da REN face ao enquadramento legal vigente, uma opinião
expressa pelo Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável e que refere “verifica-se
que a legislação existente não facilita a equilibrada exploração dos recursos e a utilização do território
(“sensus lato”) com salvaguarda de funções e potencialidades, das quais dependem o equilíbrio ecológico e
a estrutura biofísica das regiões, com respeito pelos princípios do desenvolvimento sustentável, bem como a
sustentabilidade de muitos dos seus valores económicos, sociais e culturais, permitindo, porém, por decisão
discricionária, a desafectação sem as adequadas salvaguardas”.
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DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
Considera-se assim que a figura da REN pode vir a funcionar como um instrumento estrangulador de um
modelo de desenvolvimento sustentável do território, onde os recursos naturais e nomeadamente os recursos
hídricos não estão a ser assumidos como verdadeiros elementos de valorização do território, predominando
uma visão essencialmente conservacionista decorrente das restrições impostas ao uso do solo.
relativos à protecção das zonas especiais de protecção (ZPE) e das zonas especiais de conservação (ZEC),
que integrarão a Rede Natura.
Cada Estado-membro indicará as medidas necessárias de conservação, que poderão passar por planos de
gestão adequados, específicos ou integrados noutros planos já existentes que satisfaçam os objectivos a que
se propõem estes locais.
Sempre que as áreas pertencentes à rede Natura 2000 coincidam com áreas da rede de Nacional de Áreas
Protegidas, ficam sujeitas aos seus planos de ordenamento. Se os sítios da LNS coincidirem com as ZPE,
ficam sujeitos aos instrumentos de planeamento e gestão das ZPE. Caso não estejam definidos diplomas para
estas áreas, os instrumentos de planeamento e outros de natureza especial serão integrados nos Planos
Directores Municipais, na primeira revisão a que estiverem sujeitos. Para os sítios da rede Natura 2000 está
prevista a elaboração de um plano sectorial.
A fiscalização do cumprimento deste decreto e legislação complementar cabe ao ICN, ao Instituto da Água,
às autarquias locais, às direcções regionais do ambiente, Direcção-Geral das Florestas, às direcções regionais
da agricultura e às autoridades policiais.
Muitas das zonas classificadas como ZPE têm uma grande dependência do meio hídrico. São exemplo disso
o Paul de Arzila, o paul do Boquilobo, a Lagoa da Sancha e a Lagoa de Santo André. Pertencendo algumas
ao domínio publico hídrico.
Na LNS temos os sítios: estuário do Sado, rio Minho, barrinha de Esmoriz e ria de Alvor. Verifica-se desta
forma quer é essencial que o Plano Nacional da Água tenha em conta as áreas pertencentes à rede Natura
2000, bem como as da Rede Nacional de Áreas Protegidas visto estarem sujeitas a um planeamento
adequado aos seus objectivos.
A rede nacional das áreas protegidas, a lista nacional de sítios e as zonas de protecção especial ocupam
21,5% do território.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
U B - Zonas Inundáveis
S
O
S
Elevada pressão para ocupação edificada
E Impermeabilização dos leitos de cheia
A Existência de infra-estruturas mal dimensionadas (pontes, estradas, etc.) que influenciam as dimensões e
C consequência das cheias.
Ç
Õ Falta de sensibilidade das Autarquias em geral para o problema de ocupação das zonas inundadas e
E inobservância das disposições legais em vigor.
S
Plano de Água
U
Elevada procura para navegação a motor
S Procura para actividades balneares em áreas não infra-estruturadas para o efeito e sem as necessárias
O
S
condições de segurança e qualidade de água
Pesca desportiva e concessões de pesca desportiva
E
Utilização de engodos para pesca e degradação da qualidade de água
A
C Aquicultura (Estabelecimentos Flutuantes)
Ç
Õ
Rejeição não controlada de efluentes
E Extracção de inertes realizada a montante e repercussões na Albufeira
S
Despejo de “monos” e lixos
Abeberamento de gado
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
Assim, constata-se que a maioria das delimitações existentes são feitas para pequenas bacias da região de
Lisboa (Jamor, Colares, Vinhas, Laje) que registam grandes índices de ocupação edificada e onde
inevitavelmente se registaram elevados prejuízos. Encontram-se ainda publicadas zonas adjacentes em troços
do rio Tâmega, em Chaves, e do rio Zêzere.
Se era esperado que estas áreas se mantivessem com estatuto “non-aedificandi”, integrando a carta de
condicionantes dos PMOT, constata-se, que na área metropolitana de Lisboa, continua a haver ocupação
edificada nas mesmas, pondo em causa quer o equilíbrio do sistema fluvial nas suas mais diversas
componentes, quer a segurança de pessoas e bens. Desta forma agrava-se a situação de risco decorrente de
ocupações indevidas do território, não permitindo tirar partido do potencial destas áreas, como zonas de
recreio e lazer, quando inseridas em perímetro urbano.
Esta situação foi alterada com a publicação do Decreto-Lei 364/98, de 21 de Novembro, que estabelece a
obrigatoriedade de elaboração da carta de zonas inundáveis nos municípios com aglomerados urbanos
atingidos por cheias, delimitação que será feita em função da maior cheia conhecida.
Por outro lado, se é verdade que as áreas ameaçadas pelas cheias estão genericamente sujeitas ao regime da
Reserva Ecológica Nacional, também é verdade que essa delimitação não obedeceu a critérios técnicos
objectivos.
A tendência deverá ser para caminhar no sentido de proceder à demarcação de todas as zonas ameaçadas por
cheias, dando prioridade àquelas que coincidem com usos urbanos, nomeadamente nos termos do previsto no
Decreto-Lei 364/98, 21 de Novembro. A oportunidade para proceder a tal demarcação poderá ser encontrada
na revisão dos Planos Directores Municipais. Para o efeito a Administração dos recursos hídricos poderá
disponibilizar informação que permita aos municípios elaborar a referida cartografia (cotas de cheia com
referenciação ao local, cartografia/levantamento dos leitos de cheia, etc.).
100
80
60
Urbano
40
Agrícola
Florestal
20
0
PBMinho
PBLima
PBCávado
PBAve
PBDouro
PBLeça
PBVouga
PBMondego
PBLis
PBTejo
PBRibOeste
PBSado
PBGuadiana
PBMira
PBAlgarve
• Tem-se verificado um aumento da área florestal com recurso a espécies de rápido crescimento;
• O regime de exploração das áreas florestais encontra-se sobretudo sujeito a regimes de produção
intensivos;
• O aumento verificado na extensão de áreas ardidas e o seu lento processo de regeneração, aumenta o
caudal sólido afluente à rede hidrográfica.
Urbano
Agrícola
Florestal
Outros
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DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
IMPACTOS NOS
RECURSOS HÍDRICOS
• Alteração da dinâmica e das funções dos cursos de água (destruição das linhas de
água devido à sua artificialização e destruição das margens por ocupações
indevidas com arranque da galeria ripícola, aumento das áreas sujeitas a
inundações)
• Aumento da erosão e do caudal sólido
• Alteração das condições de infiltração com repercussões nos aquíferos subterrâneos
(quantitativamente e qualitativamente)
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL
GESTÃO DE DESASTRES
Figura 9.1.1 - Ciclo dos Desastres: Medidas Gerais de Mitigação do Risco (Adaptado de Mitigating Natural
Disasters. Phenomena, Effects and Optins. United Nations, 1991)
acidentes involuntários de poluição originados pelo derrame de um veículo transportando matérias perigosas.
Também nem sempre a génese dos acidentes graves ou catástrofes é involuntária, como sejam as descargas
para os cursos de água de efluentes de unidades industriais tóxicas, ou a ruptura de uma barragem provocada
por um acto de terrorismo.
Importa, portanto, desenvolver mecanismos com vista a uma eficaz gestão dos recursos hídricos nacionais,
através de medidas estruturais e não estruturais, de modo a reduzir os riscos de:
• Cheia, e consequentes inundações com morte e/ou evacuação e desalojamento de pessoas, danificação
da propriedade pública ou privada, de infra-estruturas e de equipamentos, afectação das actividades
socio-económicas e alterações do normal funcionamento da sociedade, como por exemplo cortes de
estradas, isolamento de povoações e interrupção do fornecimento de alguns serviços básicos;
• Seca, privando as populações do normal abastecimento doméstico e industrial, e;
• Acidentes de poluição, e consequentes impactos no abastecimento público e na saúde pública.
A redução destes risco, desde a sua génese à preparação da sociedade para os seus efeitos (redução das
vulnerabilidades), facilita à protecção civil a resposta em situações de emergência e, consequentemente, a
minimização dos danos e perdas de vida.
As funções dos novos espaços urbanos foram determinadas essencialmente por lógicas de interesses nem
sempre sustentáveis.
Esta “evolução” do ordenamento do território teve como consequência que os efeitos produzidos pelas
situações e fenómenos meteorológicos extremos se alteraram e modificaram o conhecimento dos riscos e
vulnerabilidades existentes. A dependência da água aumentou muito e distribuiu-se diferentemente pelo
território. Culturas agrícolas, pecuária e, sobretudo, o abastecimento público de água em quantidade e
qualidade ficam extremamente vulneráveis.
3/21 (9 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL
O conceito de catástrofe natural teve/tem assim de ser ajustado ao modo novo de povoar, habitar, produzir e
consumir.
Os valores apurados pelos últimos censos ilustram uma repartição desigual da população pelo território
nacional, centrando-se a maior parte, no Continente, nas regiões a Norte do rio Tejo, com particular
incidência para as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. No Sul do país e nas ilhas as densidades
populacionais encontram-se bastante rarefeitas. Verifica-se também uma maior concentração demográfica no
litoral do país relativamente ao interior.
Do entrelaçamento dos factores físicos, designadamente das características dos solos e do clima, em
conjugação com a presença e intervenção do homem no ecossistema ao longo dos séculos, resultam as
vulnerabilidades que interessam analisar neste capítulo, relativas aos riscos de cheia, seca e acidentes de
poluição.
Interessa ainda ter presente que os danos ou prejuízos decorrentes de qualquer situação de risco podem ser
directos, isto é resultado imediato do impacto do desastre, que são os mais visíveis e facilmente
contabilizados, e indirectos, menos imediatamente tangíveis, mas que podem ter um maior e mais longo
impacto económico-social do que os directos, imediatamente visíveis.
9.2.2. Secas
9.2.2.1. Conceito de Seca e Protecção Civil
As secas são fenómenos naturais extremos e temporários com propriedades bem características e distintas
dos restantes tipos de catástrofes. De uma maneira geral uma seca é entendida como uma condição física
transitória caracterizada pela escassez de água, associada a períodos extremos de reduzida precipitação mais
ou menos longos, com repercussões significativas nos ecossistemas e nas actividades socio-económicas.
Distingue-se das restantes catástrofes por o seu desencadeamento se processar da forma mais imperceptível,
a sua progressão verificar-se de forma mais lenta, a ocorrência arrastar-se por um maior período de tempo,
poder atingir extensões superficiais de muito maiores proporções e a sua recuperação processar-se de um
modo mais lento.
O conceito de seca não possui uma definição rigorosa e universal. É interpretado de modo diferente em
regiões com características distintas, dependendo a sua definição da inter-relação entre os sistemas naturais,
sujeitos a flutuações climáticas, e os sistemas construídos pelo homem, com exigências e vulnerabilidades
próprias, traduzidas nos seus efeitos.
Embora este tipo de desastre natural não coloque em perigo, geralmente, vidas humanas, o facto é que ele
acarreta, muitas vezes, impactes sócio-económicos significativos, nomeadamente na agricultura e na agro-
pecuária, no abastecimento público, na indústria, e ainda na produção de energia.
A seca acarreta dois tipos de consequências, directas e indirectas:
Efeitos directos
• deficiente fornecimento de água para abastecimento urbano;
• prejuízos na agricultura, na indústria e na produção de energia hidroeléctrica;
• restrições à navegação nos rios e à pesca em águas interiores.
Efeitos indirectos
• favorecimento de condições que levem à ocorrência e propagação de incêndios florestais;
• problemas fitossanitários;
• degradação da qualidade da água;
• erosão do solo e,
• a longo prazo, desertificação, nas regiões de climas áridos e semi-áridos.
As secas iniciam-se sem que nenhum fenómeno climático ou hidrológico específico as anuncie, e só se
tornam perceptíveis quando estão efectivamente instaladas, ou seja, quando as suas consequências são já
visíveis pela escassez dos recursos hídricos disponíveis. Esta característica das secas é relevante traduzindo-
se na forma distinta como se processa o seu acompanhamento relativamente a todos os outros riscos, que são
geralmente mais súbitos, independentemente de serem previsíveis ou não.
As situações de seca são frequentes em Portugal continental. A sua incidência ocorre geralmente de forma
mais significativa nas regiões do Interior Norte e Centro e no Sul do País. Contudo, em termos de
abastecimento doméstico, as principais vulnerabilidades centram-se essencialmente no sul do país sobretudo
no Alentejo.
9.2.2.2. Vulnerabilidade às Secas
Como já anteriormente referido, fundamentalmente interessa salvaguardar o abastecimento doméstico às
populações pelo que são estas as vulnerabilidades essenciais a analisar.
Torna-se indispensável identificar as fontes de abastecimento de água a cada população, cujas
disponibilidades futuras determinarão as vulnerabilidades às secas, função da sua intensidade.
Origem do Abastecimento de Água às Populações
Situações de seca passadas permitem identificar que as principais vulnerabilidades em termos de
abastecimento público doméstico se centram no sul do país, essencialmente no Alentejo, e nas regiões de
interior Centro
Em 1999 viveu-se novamente uma situação de seca, embora não tão grave como a de 1995. Para maior grau
de detalhe das vulnerabilidades existentes em 1999 procedeu-se nesse ano, a um levantamento nacional das
zonas com problemas de abastecimento público, cuja síntese se apresenta de seguida e que serve de
referência a situações futuras no planeamento de acções a desenvolver em situações de seca.
Região Norte
A região Norte (distritos de Viana do Castelo, Braga, Bragança, Vila Real e Porto) é abastecida por reservas
subterrâneas, captações superficiais nos rios e por albufeiras existentes na bacia hidrográfica do Douro
(Figura 4). Em situações anteriores de secas generalizadas a região Norte não registou problemas
significativos no abastecimento público.
Região Centro
Esta região também não apresenta geralmente problemas significativos relativos ao abastecimento doméstico
em situação de seca. Contudo, os distritos do interior, Guarda e Castelo Branco, são os primeiros a sentir
dificuldades localizadas de abastecimento de água para o gado.
Região de Lisboa e Vale do Tejo
Esta região, apesar de situada mais a sul, não é crítica na sua generalidade contudo, em situações de seca
verificam-se algumas dificuldades de abastecimento doméstico pouco graves no distrito de Santarém, em
localidades dos concelhos de Coruche (Cabecinhas, Freguesia da Lamarosa) e de Mação (Penhascoso,
Freguesia de Penhascoso; Chão de Codes e Louriceira, Freguesia de Aboboreira). Nesta região existem
alguns problemas estruturais de abastecimento de água (ex: região da costa do Estoril e Sintra) que não
devem ser confundidos com situações de seca.
Região do Alentejo
Além das reservas hídricas subterrâneas a região do Alentejo é maioritariamente abastecida por albufeiras
localizadas nas bacias do Sado e do Guadiana.
Em 1999 o distrito de Portalegre não registou deficiências no abastecimento de água às populações. Nos
distritos de Évora e Beja existiram alguns problemas de abastecimento, relacionados sobretudo com a
agricultura e com o gado, mas também com o abastecimento de água a algumas freguesias, embora muitos
dos problemas se tenham relacionado com montes isolados.
A rega é o maior utilizador de água na região, pelo que as restrições impostas à prática da rega em situações
de seca, se efectivamente cumpridas, suavizam largamente o problema relativo ao abastecimento doméstico
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL
O concelho de Portel, em Évora, é o principal caso com problemas de abastecimento de água, mas trata-se de
uma situação sistemática, que se relaciona mais com as infra-estruturas de abastecimento do que com as
ocasiões de seca, situações que por vezes se confundem.
Região do Algarve
As reservas hídricas superficiais das albufeiras do Funcho e da Bravura abastecem a região do Barlavento
algarvio e as de Odeleite e de Beliche constituem a principal fonte de abastecimento da região de Sotavento
do Algarve, à excepção de Alcoutim, Aljezur e Monchique que são abastecidas por reservas hídricas
subterrâneas (minas e furos).
Anteriormente à construção destas barragens todo o litoral algarvio era castigado pela dificuldade no
abastecimento doméstico, sobretudo no Verão, quando a concentração demográfica é elevadíssima devido ao
turismo.
Desde a construção das barragens que o Algarve não sofre problemas significativas de secas para
abastecimento público, exceptuando-se algumas situações particulares como a Freguesia de S. Marcos da
Serra no concelho de Silves.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL
Rio Leça – O troço final deste rio, na zona da Maia, é o mais vulnerável a inundações, normalmente com
picos elevados mas curta duração.
Rio Douro – É um rio que origina, nalguns troços, grandes cheias cíclicas, com grande impacte no tecido
socio-económico das populações ribeirinhas. Localidades como Porto, Vila Nova de Gaia e Peso da Régua,
no rio Douro, e Chaves e Amarante, no Tâmega, são frequentemente assoladas por cheias impetuosas. A
sucessiva construção de barragens na bacia, principalmente no território espanhol, não veio introduzir
alterações significativas no regime das cheias, pois as suas albufeiras possuem uma capacidade de encaixe
reduzida, impedindo-as de exercer o necessário efeito amortecedor.
Rio Vouga – As condições estuarinas do troço final do rio Vouga são susceptíveis de agravar alguns
problemas de escoamento de águas, nomeadamente em situações de elevada agitação marítima em que o
escoamento dos caudais do rio para o mar surge dificultada. Merece também realce nesta bacia, os problemas
críticos de algumas sub-bacias como são os casos das bacias do rio Águeda (influenciada por precipitação na
zona do Caramulo), que afecta a cidade de Águeda e do rio Cáster, afectando Ovar.
Rio Mondego – Os principais problemas nesta bacia surgem nos campos agrícolas do Baixo Mondego e
devem-se geralmente não só ao próprio Mondego como também aos seus principais afluentes (Dão, Alva e
Arunca). A regularização feita na barragem da Aguieira permite atenuar os principais problemas de cheias,
através da laminação de caudais.
Rio Lis – Sem grandes problemas de cheias ao nível de consequências humanas, as zonas mais afectadas
localizam-se em terrenos agrícolas.
Rio Tejo – Tratando-se de uma bacia internacional, a capacidade de armazenamento hídrico em Espanha e a
forma como a gestão dos recursos hídricos é aí efectuada determina também a frequência e a intensidade das
cheias em Portugal. No entanto, importará lembrar que o conjunto dos aproveitamentos hidroeléctricos
construídos na parte portuguesa da bacia não são suficientes para impedir a ocorrência de inundações.
As cheias na bacia do Tejo originam no distrito de Santarém situações de cortes de diversas estradas
nacionais e municipais, interrupção da circulação ferroviária, alagamento de campos agrícolas e isolamento
de populações (Reguengo do Alviela, Caneiras, Valada, Valada do Ribatejo, Azinhaga e Palhota). Os
concelhos de Santarém, Cartaxo, Golegã, Almeirim e Alpiarça (rio Tejo), Tomar (rio Nabão) e Coruche (rio
Sorraia) são alguns dos mais vulneráveis.
Ocorrem também inundações repentinas, como consequência de precipitações intensas de curta duração,
fundamentalmente nas zonas muito impermeabilizadas de grande desenvolvimento urbano. E o caso da Área
Metropolitana de Lisboa, na margem direita do rio Tejo, entre os concelhos de Cascais e Azambuja.
Rio Sado – A bacia hidrográfica do rio Sado situa-se numa área essencialmente plana em que só são
expectáveis inundações em casos especiais. As barragens implantadas na bacia hidrográfica do rio Sado têm
fundamentalmente fins agrícolas mas asseguram a regularização de uma parte significativa dos caudais. No
concelho de Alcácer do Sal, no entanto, localizam-se algumas povoações com risco de isolamento, quando a
capacidade de armazenamento das barragens não é suficiente.
Ocorrência de inundações repentinas no concelho de Setúbal.
Rio Mira – Sem grandes problemas de cheias ao nível de consequências humanas, as zonas mais afectadas
localizam-se em terrenos agrícolas.
Rio Guadiana – Vulnerável à descarga de alguns aproveitamentos hidroagrícolas tanto do lado português
como do lado espanhol, tem nas zonas a jusante das albufeiras do Caia (distrito de Portalegre) e sobretudo
mais a jusante nas zonas ribeirinhas de Mértola e de Alcoutim (ambas a jusante do Chança, afluente da
margem esquerda) as áreas mais vulneráveis. Esta situação será naturalmente modificada com a entrada em
funcionamento da barragem do Alqueva.
Ribeiras do Oeste, Alentejo e Algarve – A reduzida extensão destas bacias favorece o rápido escoamento dos
caudais, pelo que não expectáveis cheias de grande duração. Todavia, zonas como Lourinhã, Alcobaça
(ribeiras do oeste), Silves e Tavira (ribeiras do Algarve) evidenciaram no passado algumas vulnerabilidades a
inundações.
9/21 (9 - II)
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SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL
abrangidos pela Directiva IPPC; lixeiras municipais não seladas (activas ou não); aglomerados populacionais
com mais de 5 000 hab. residentes sem qualquer instalação de tratamento de águas residuais; e, grandes
instalações de tratamento de águas residuais urbanas (> 10 000 habitantes residentes).
Das situações associadas a riscos móveis destacam-se os atravessamentos rodoviários e ferroviários sobre as
principais linhas de água, que em caso de acidente com veículos de transporte de substâncias poluentes se
tornam pontos privilegiados de “contaminação” directa das referidas linhas de água.
9.2.4.1. Estabelecimentos Industriais
Qualquer estabelecimento industrial, face aos produtos utilizados ou ao processo de fabrico, é indutor de
riscos de menor ou maior dimensão, que se circunscrevem às suas instalações e afectam apenas os seus
trabalhadores, considerados no âmbito da higiene e segurança no trabalho, ou que pela sua dimensão podem
atingir o tecido sócio-económico envolvente, podendo originar acidentes graves de âmbito nacional.
A repartição geográfica das unidades industriais evidencia notórias assimetrias regionais, com predomínio
para a localização nas regiões do litoral e nomeadamente nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, e
nos complexos industriais de Estarreja, do Barreiro e de Sines.
Nestes estabelecimentos industriais podem ocorrer descargas acidentais de poluentes para linhas de água ou
derrames de matérias perigosas que poderão, por escorrência ou infiltração, contaminar as linhas de água,
tanto superficiais como subterrâneas.
9.2.4.2. Transporte de Mercadorias Perigosas
O transporte rodoviário ou ferroviário de mercadorias perigosas constitui também um factor de risco.
Salienta-se o transporte de combustíveis provenientes dos parques de armazenagem de combustíveis e
destinado aos postos de abastecimento disseminados por todo o país, bem como o transporte de matérias-
primas para os estabelecimentos industriais e de produtos deles provenientes. Em situações acidentais podem
ocorrer derrames com eventuais consequências de contaminação de linhas de água, tanto superficiais como
subterrâneas.
9.2.4.3. Oleoduto Sines-Aveiras
O oleoduto multiprodutos Sines-Aveiras, que abastece o Parque de armazenagem de combustíveis da CLC
com combustíveis líquidos e gasosos provenientes da Refinaria de Sines, atravessa cursos de água, como
sejam a Lagoa de Sto. André, o rio Sado e o rio Tejo.
No oleoduto são transportados gasolinas, gasóleo, Jet A1, propano e butano, podendo em caso de acidente
ocorrer contaminação dos cursos de água com hidrocarbonetos.
9.2.4.4. Gasoduto
O gasoduto de alta pressão da TRANSGÁS de transporte de gás natural atravessa ao longo do país muitos
cursos de água, sendo os mais significativos mos rios Cávado, Lima, Vouga, Mondego , Tejo em 3 locais) e
Zêzere.
Os efeitos de um acidente no gasoduto são incêndio, explosão e poluição atmosférica com os gases da
combustão, nomeadamente CO, não havendo a considerar o risco de poluição dos cursos de água.
9.2.4.5. Poluição Radiológica
Em Portugal não existem centrais nucleares para produção de energia eléctrica, pelo que não existe o risco de
ocorrer um acidente nuclear com graves consequências. Mas, em caso de acidente nuclear na Central Nuclear
de Almaraz, em Espanha, o rio Tejo pode sofrer contaminação radiológica. Este tipo de contaminação é
também possível por exemplo em caso de acidente numa unidade naval de propulsão nuclear (submarinos ou
porta-aviões), no estuário do Tejo.
11/21 (9 - II)
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SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL
medidas com a devida precaução, de modo a nunca pôr em causa a segurança das populações ou dos agentes
e meios de socorro.
Os serviços de protecção civil não podem nem devem substituir-se às demais instituições, da administração
ou não, de carácter administrativo, técnico ou científico, que, por atribuições próprias ou por competência
comprovada, participam nas mais variadas actividades de protecção civil, como sejam, para além dos agentes
(SNB, Forças de Segurança, Forças Armadas, Autoridades Aeronáutica e Marítima, INEM e CVP), o
Instituto de Meteorologia (IM), o Instituto da Água (INAG), a Direcção-Geral de Florestas (DGF), o
Instituto da Conservação da Natureza (ICN), a Direcção-Geral do Ambiente (DGA) e Universidades ou
Laboratórios de Investigação, entre outros. Antes têm que obter a participação dos agentes e instituições mais
convenientes por área temática, ou seja, por risco. Estas instituições têm o dever de comunicar os riscos e as
vulnerabilidades conhecidos ou detectados no decurso das suas actividades.
A responsabilização é outro dos princípios fundamentais da protecção civil. As autoridades de protecção
civil são o presidente da câmara municipal, ao nível local, o governador civil, ao nível distrital, e o primeiro
ministro, ao nível nacional. Segundo a lei de bases de protecção civil, compete-lhes, em situação de
emergência, assumir a direcção e coordenação das operações. Contudo, ao nível das várias actividades que se
desenvolvem, as responsabilidades devem ser sempre assumidas pelas entidades adequadas.
No âmbito das relações internacionais, o SNPC é o órgão executivo do Governo com atribuições de solicitar
a concessão de Auxílio Externo, em caso de acidente grave, catástrofe ou calamidade, junto da União
Europeia (UE), Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN), ou de países com os quais mantemos relações especiais de cooperação no âmbito da protecção
civil.
9.3.1.3. Centros de Operações de Emergência
De acordo com o princípio da subsidariedade, em situações de emergência, cada nível de resposta do sistema
de protecção civil activa o seu Centro de Operações de Emergência. O SNPC garante o funcionamento do
Centro Nacional de Operações de Emergência de Protecção Civil (CNOEPC). O SNPC apoia ainda o
funcionamento dos Centros Operacionais de Emergência a nível distrital e municipal.
9.3.1.4. Planos de Emergência
Os planos de emergência são documentos simples, flexíveis, dinâmicos, adequados e precisos que contêm
um conjunto de missões, medidas, normas e regras de procedimentos, destinados a fazer face a situações de
emergência e a minimizar as suas consequências.
Os planos de emergência classificam-se, quanto à sua abrangência geográfica, em planos nacionais,
regionais, distritais ou municipais, e quanto à especificidade, em planos gerais ou especiais.
Os planos gerais, tal como o seu nome indica, abrangem todos os tipos de risco num determinado espaço
geográfico. Os planos especiais dirigem-se para um determinado tipo de risco, ou instalação, como por
exemplo, os planos especiais para cheias ou para a ruptura de barragens.
Para a Portugal Continental existem, ou estão em aprovação os seguintes planos de emergência que cobrem
situações de cheias, de secas e de acidentes de poluição:
Planos de Emergência do Sistema de Protecção Civil
Plano Nacional de Emergência
Planos Distritais de Emergência (18, um por distrito)
Plano Municipais de Emergência (≅ 95% da totalidade dos municípios)
Plano Operações Aluvião
Plano Especial Operações Cheias - Nacional
Plano Especial Operações Cheias - Coimbra
Plano Especial Distrital Cheias - Évora
Plano Especial Cheias – Viana do Castelo
Plano Cheias Douro
13/21 (9 - II)
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SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL
um acompanhamento permanente para avaliar alterações da situação e tomar as medidas de protecção civil
apropriadas.
Este acompanhamento contínuo das situação de cheia é realizado a partir do mês de Outubro, altura em que
se inicia o ano hidrológico, estendendo-se até à Primavera.
Qualquer que seja a situação de cheia é fundamental promover o acompanhamento dos efeitos causados ao
longo do tempo (níveis de água atingidos em pontos importantes, diques galgados, estradas cortadas,
estragos provocados, etc.), no sentido de posteriormente se estabelecerem as relações com os parâmetros
hidrometeorológicos e hidráulicos que estiveram na sua origem, sem as quais se torna extremamente difícil
aferir os métodos de previsão e de aviso às populações. Só deste modo é possível melhorar progressivamente
o grau de protecção das populações.
A possibilidade de ocorrência de secas começa a ser analisada a partir dos meses de Fevereiro ou Março, e o
planeamento das operações de apoio às populações, caso seja necessário, abrange todos os meses de
estiagem até ao final do mês de Setembro, altura em que, geralmente se inicia o período húmido em Portugal.
9.3.2.1. Articulação com o Instituto da Água
O Serviço Nacional de Protecção Civil e o Instituto da Água firmaram no dia 1 de Março de 1999 um
Protocolo de Colaboração com o objectivo estabelecer as regras da estreita colaboração entre as duas
instituições e detalhar as áreas de trabalho e actividades a desenvolver, tendo em vista a protecção das
populações, meio ambiente e património, em caso de cheias (incluindo as provocadas por rotura de
barragens), secas e acidentes de poluição no meio hídrico.
No âmbito deste Protocolo o Instituto da Água disponibiliza-se, relativamente às questões de planeamento e
operacionais, a:
• proceder à manutenção de todos os componentes do Sistema de Vigilância e Alerta de Recursos
Hídricos (instrumentais ou informáticos) e disponibilizar este sistema ao Serviço Nacional de Protecção
Civil;
• disponibilizar técnicos para a participação em briefings no SNPC para análise do ponto de situação;
• colaborar na elaboração dos Planos de Emergência Específicos de Cheias, incluindo os Planos
Emergência Específicos de Cheias provocados por rotura de barragens, no domínio dos recursos
hídricos; e,
• realizar e disponibilizar estudos de caracterização de situações hidrológicas, hidráulicas e de qualidade
da água que provocam cheias, secas e acidentes de poluição no meio hídrico.
Preconiza-se ainda no Protocolo que, em situações de emergência de cheias, a colaboração do Instituto da
Água se concretize através da deslocação e permanência de um técnico para o Centro de Situação de
Protecção Civil do SNPC, com vista ao acompanhamento permanente da situação, optimizando assim a
colaboração no que toca à modelação hidrológica e hidráulica e à operacionalidade do Sistema de Vigilância
e Alerta de Recursos Hídricos (SVARH).
15/21 (9 - II)
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SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL
regulamentos e normas. Para que esse papel possa ser exercido de forma eficaz é fundamental que existam,
para além do mais, a consciencialização dos problemas e das suas implicações; os meios humanos para gerir
os aproveitamentos, com uma qualificação adequada de técnicos superiores e restante pessoal ligado a cada
empreendimento; e os indispensáveis meios financeiros para suportar, de uma forma sustentada, programada
e contínua os custos da segurança, que não podem ser ignorados, com recurso a receitas de exploração e, em
casos e programas específicos, também a eventuais incentivos.
9.4.1.1. Normativos em Vigor
Indicam-se os regulamentos e normas específicos de Segurança de Barragens, em vigor:
REGULAMENTO DE SEGURANÇA DE BARRAGENS (RSB)
Dec. Lei 11/90 de 06.01.1990
NORMAS DE PROJECTO DE BARRAGENS
Portaria 846/93 de 10.09.1993
NORMAS DE OBSERVAÇÃO E INSPECÇÃO DE BARRAGENS
Portaria 847/93 de 10.09.1993
NORMAS DE CONSTRUÇÃO
Portaria 246/98 de 21.04.1998
REGULAMENTO DE PEQUENAS BARRAGENS
Dec. Lei 409/93 de 14.12.1993
Com implicações na segurança e interligação com aspectos da regulamentação acima referida, está em vigôr:
COMISSÃO DE GESTÃO DE ALBUFEIRAS (Dec. Lei 21/98 de 3.02.1998)
9.4.1.2. Classificação de Barragens
Adopta-se em geral a designação de Grande Barragem para as barragens que obedecem à seguinte definição
da Comissão Internacional de Grandes Barragens (ICOLD), utilizada no seu registo mundial de barragens:
- barragens com mais de 15 m de altura total;
- barragens com altura compreendida entre 10 e 15 m, desde que apresentem uma ou mais das seguintes
características:
- capacidade da albufeira superior a 1 milhão de m3 (1 hm3);
- desenvolvimento do coroamento maior do que 500 m;
- serem projectada para descarregar caudais superiores a 2000 m3/s;
- características pouco habituais (concepção, fundação).
- barragens com altura compreendida entre 5 e 15 m e com capacidade de armazenamento superior a 5
hm3
Ainda no que respeita às dimensões, as diversas regulamentações sobre barragens adoptam divisões em
classes de aplicação. É o caso dos regulamentos portugueses.
O Regulamento de Segurança de Barragens (RSB), em particular, aplica-se às “grandes” barragens, no
sentido anteriormente descrito, e a barragens de dimensão intermédia. Aplica-se a:
a) A todas as barragens de altura superior a 15 m, medida desde a parte mais baixa da superfície geral das
fundações até ao coroamento;
b) Às barragens de altura inferior a 15 m cuja albufeira tenha uma capacidade superior a 100.000 m3.
Poderão ainda ser sujeitas às disposições do RSB outras barragens, desde que, no acto de aprovação de
projectos de aproveitamento de águas públicas ou particulares, a entidade competente verifique a existência
de risco potencial elevado ou significativo.
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O Regulamento de Pequenas Barragens aplica-se às barragens de dimensão inferior, que não caem no âmbito
do RSB.
19/21 (9 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
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os aspectos mais específicos da segurança de barragens pouco foram assumidos, revela-se hoje difícil
aumentar a taxa de conservação e exploração para integrar despesas resultantes da aplicação do RSB.
As pequenas barragens apresentam também, na maioria dos casos, problemas de difícil resolução.
O Instituto da Água iniciou em 1998 um programa de avaliação de segurança pormenorizada de grandes
barragens portuguesas, com o apoio especializado do LNEC, através da contratação, por concurso, de
gabinetes de consultores.
Estão actualmente em fase de conclusão 11 estudos respeitantes a 38 barragens.
As avaliações obtidas permitirão que se prossiga na linha anteriormente descrita, de negociações e definições
de responsabilidades na aplicação dos preceitos de segurança de barragens e execução das intervenções
preconizadas.
Estão em fase de preparação novos concursos, concebidos nos mesmos moldes.
Paralelamente, sentida que foi, face às cheias verificadas no inverno de 2000/2001, a necessidade de acelerar
o conhecimento das situações de risco, foi lançado um programa de inspecção mais rápido a 556 barragens,
entretanto identificadas com o apoio da base de dados existente e dos trabalhos de inventariação levados a
cabo nos Planos de Bacias. Este programa será conduzido por equipes de consultores e deverá estar
concluído no prazo de um ano.
A actual base de dados em uso sobre segurança de barragens (Bardata) contém dados sobre as barragens que
nos últimos anos têm sido objecto de intervenção no âmbito da aplicação de regulamentos de segurança, nas
fases de planeamento, projecto, construção e exploração.
No que se refere à formação o INAG lançou em 1999 um “Curso de Exploração e Segurança de Barragens”,
com a duração de duas semanas, dirigido à formação de técnicos que exercem funções ligadas à gestão,
exploração e segurança de barragens. Trata-se de um curso organizado com o apoio do Laboratório Nacional
de Engenharia Civil, Companhia Portuguesa de Produção de Electricidade (CPPE) e Instituto Superior
Técnico (IST). Para apoio ao curso, aberto em cada edição a cerca de 30 participantes, foi editado um livro
de textos de apoio. Foram realizados três cursos em anos seguidos, prevendo-se a continuação em anos
seguintes. A contribuição na formação de técnicos alertados para as questões de segurança é já patente.
Paralelamente, poderá utilizar-se esta base para a realização de cursos de formação de outro pessoal ligado à
exploração.
EDP, para as suas, estão completados cerca de 50 estudos de mapeamento de zonas de inundação, em poder
do SNPC.
Não existem ainda Planos de Emergência de barragens completados. Contudo, na sequência de diversas
reuniões havidas entre o INAG, SNPC e LNEC, definiram-se linhas de rumo sobre a metodologia deste
planos.
Os Planos de Emergência de barragens subdividem-se em Planos de Emergência Internos (PEI) e Externos
(PEE), competindo a sua elaboração, respectivamente, aos Donos das Obras e ao SNPC, em colaboração
com os demais intervenientes.
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS
10.1. Introdução
De acordo com o Decreto-Lei nº 191/93 (Orgânica do Ministério):
1 - É uma das atribuições do INAG, descrita no nº2 do art.º 2º, o desenvolvimento de sistemas de
informação sobre as disponibilidades e as necessidades de recursos hídricos a nível nacional;
2 - O art.º 7º especifica atribuições de recolha e estudo de informação sobre o ciclo hidrológico para uma
melhor compreensão dos parâmetros, variáveis e processos que o constituem, e para uma caracterização
dos regimes hidrológicos, nos seus aspectos de quantidade e qualidade, de forma a apoiar o planeamento
e a gestão integrada de recursos hídricos;
3 - Ainda segundo o art.º 7º compete ao INAG a definição de normas referentes à Rede Nacional de
Observação de Dados Climatológicos, Hidrológicos, Sedimentológicos e de Qualidade, assegurando a
homogeneidade e o controlo de qualidade da produção de dados.
Está, assim, balizado o universo de desenvolvimento da monitorização de recursos hídricos no território
continental e definido o próprio conceito de monitorização − entendida num contexto moderno como o
conjunto de procedimentos de recolha, manipulação, processamento, simulação e disponibilização de
informação harmonizada, para apoio à gestão.
Estes trabalhos de batimetria iniciaram-se em 1999, nas albufeiras da Vigia e do Roxo, para determinação da
sedimentação e actualização das curvas de capacidade, pretendendo-se agora seguir um plano de trabalhos
sistemáticos para execução destes levantamentos nas albufeiras.
As soluções de restruturação em curso para o território continental de acordo com o tipo de rede de
monitorização, apresentam-se nos pontos seguintes.
localização das estações de medição de precipitação reproduz perfeitamente as variações de altitude das
várias bacias hidrográficas. Maior representatividade é associada às áreas com altitudes até 400 m. A maior
expressão da concentração de estações em altitudes menos elevadas é reflexo da maior concentração
populacional junto ao litoral e da necessidade de caracterizar as implicações urbanas dos fenómenos
hidrológicos.
No entanto, como se pode observar na Figura 10.3.3, a maior parte das estações desta rede corresponde a
estações de registo não contínuo, sem autonomia (estações udométricas), estações que, para além de
fornecerem apenas valores diários de precipitação, de difícil verificação posterior, não possibilitam o estudo
da pluviosidade em períodos de tempo mais curtos. Esta constituía a principal limitação a ser ultrapassada.
25000 200
180
20000 160
140
Nº Estações
Área (km 2)
15000 120
100
10000 80
60
5000 40
20
0 0
800-1000
1000-2000
50-100
100-200
200-400
400-600
600-800
0-50
Figura 10.3.2 - Distribuição das Estações de Precipitação por Classes de Altitude e Comparação com a
Distribuição Área/Altitude de Portugal Continental
Figura 10.3. 3 - Distribuição dos Diversos Tipos de Estações em Funcionamento por Direcção Regional
O número de registos de precipitação anual completos disponíveis estão representados na Figura 10.3.4.
Dispõe-se, actualmente, de cerca de 53% do total de séries com mais de 30 anos de dados completos.
Outro aspecto considerado na restruturação da rede meteorológica foi o da análise expedita de redundância
de informação, onde o objectivo era apenas eliminar a informação redundante mais flagrante. Analisaram-se
as precipitações anuais das estações quando a sua localização estivesse a uma distância inferior a 5 km,
estudando-se, no caso de correlação elevada, a desactivação das estações com menor número de anos de
registo ou onde se dispunha de informação meteorológica menos diversificada e de menor qualidade. Na
Figura 10.3.5 apresenta-se a localização das estações seleccionadas nesta última análise.
Figura 10.3.8 - Disponibilidade de Dados de Escoamento Anual até 1989/90 (Número de Anos Completos)
Na Figura 10.3.10 apresenta-se a distribuição das estações de medição em cursos de água por classes de área
das respectivas bacias hidrográficas. Apenas se consideram bacias com áreas de drenagem inferiores a
2
5 000 km (o que exclui bacias internacionais). Da análise da figura verifica-se que a maioria das estações
2 2
apresenta áreas de drenagem inferiores a 300 km , representando as bacias com áreas até 150 km cerca de
37% da rede hidrométrica actual.
25000 200
180
20000 160
140
Nº Estações
Área (km 2)
15000 120
100
10000 80
60
5000 40
20
0 0
1000-2000
50-100
100-200
200-400
400-600
600-800
800-1000
0-50
Figura 10.3.9 - Distribuição das Estações Hidrométricas em Rios por Classes de Altitude e Comparação com a
Distribuição Área/Altitude de Portugal Continental
A localização das estações da rede proposta (Figura 10.3.11), contempla essencialmente a autonomia, a
representatividade espacial e o apoio às necessidades da rede de qualidade da água. O envio de dados por
telemetria foi considerado importante para o controlo de caudais fronteiriços e para o acompanhamento de
recursos hídricos e da qualidade da água em locais onde se revela necessário o desencadeamento de alertas.
30%
25% 24%
19%
Nº Estações (%)
20%
18%
14%
15% 13%
11%
10%
5%
0%
< 50 ] 50-150] ] 150-300] ] 300-500] ] 500-1000] ] 1000-5000]
Figura 10.3.10 - Distribuição das Estações Localizadas nos Cursos de Água com Áreas de Drenagem Inferiores a
5000 km2, por Classes de Área de Drenagem
A automatização da rede hidrométrica vem, deste modo, contribuir para a independência da actualização da
base de dados (SNIRH) da disponibilidade das entidades gestoras dos aproveitamentos para a organização e
cedência de dados.
A recolha sistemática de informação sobre a qualidade dos recursos hídricos superficiais vai permitir
caracterizar as diferentes situações críticas e de referência, tanto no espaço como no tempo, com o objectivo
último de permitir:
− avaliar a evolução da qualidade da água;
− identificar acidentes de poluição;
− disponibilizar informação de base para aplicação de modelos e respectiva calibração.
10.3.3.1. Breve Evolução Histórica
À excepção de algumas medições de salinidade efectuadas no início da década de 30 para suporte das bases
do contrato com a Companhia de Águas de Lisboa, só nas últimas duas décadas é que as redes de qualidade
da água se têm vindo a expandir. Numa primeira fase foram mais direccionadas para o controle da poluição
dos rios e albufeiras, passando depois para a protecção dos sistemas de abastecimento de água, encontrando-
se presentemente a ser apetrechadas para uma verdadeira caracterização da qualidade da água com
preocupações de preservação dos ecossistemas.
Em 1978 é estabelecida uma Rede Nacional de Qualidade da Água (RENQA) com 122 estações apoiada
numa, também recém criada, rede laboratorial ligada às cinco Direcções de Serviços Regionais de Hidráulica
(Douro, Mondego, Tejo, Sul e Algarve) e suas respectivas Secções de Controlo da Poluição.
Com a extinção, em 1987, da Direcção Geral dos Recursos e Aproveitamentos Hidráulicos (DGRAH) e sua
substituição pela Direcção de Recursos Naturais (DGRN), foi criada a nova Rede de Qualidade da Água
(RQA) que veio substituir e dar seguimento à RENQA. A RQA era coordenada pelo Núcleo de Qualidade da
Água da DGRN e operada pelas Direcções dos Serviços Regionais de Hidráulica.
Em 1988/89 a RQA era constituída por 55 estações de amostragem (21 coincidentes com a rede
hidrométrica) implantadas em áreas onde as actividades humanas potenciavam mais e maiores problemas de
poluição.
Com a restruturação, em 24 de Maio de 1993, do Ministério do Ambiente e Recursos Naturais, teve início
um vasto processo de alteração do quadro institucional e legal no domínio da água com grandes repercussões
no desenvolvimento dos projectos de monitorização. A DGRN é extinta e, em sua substituição, é criado o
Instituto da Água (INAG, Decreto-Lei 191/93) que deixa de ter serviços descentralizados, os quais passam a
estar integrados nas novas Direcções Regionais do Ambiente e Recursos Naturais (DRARN) – Norte,
Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve (Decreto-Lei 190/93).
Esta alteração orgânica fez do INAG o organismo central com funções essencialmente normativas e das
DRARN as organizações que, no terreno, passaram a ser responsáveis pela gestão dos meios operacionais
Quadro 10.3. 1 - Distribuição das Estações de Qualidade da Água pelas Várias Bacias Hidrográficas
TOTAL 87 376 118 1.4 264 3.0 295 3.4 275 3.1
Figura 10.3.12 – Evolução do Número de Estações da RQA para as Duas Últimas Décadas
P iscíco la
Fro nteira + P C T I + P iscíco la
Fro nteira + P C T I
Fro nteira
F luxo + P C T I + P is cíco la
F luxo + P C T I
F luxo + P iscíco la
F luxo
Im pa cto + P C T I + P iscíco la
Im pa c to + P isc íco la
Im pa cto
C aptaç ão + P C T I + P iscíco la
C aptaç ão + P C TI
0 10 20 30 40 50 60
N.º Estaçõ es
Figura 10.3.14 - Distribuição pelos Objectivos de Monitorização das Estações de Qualidade Exploradas em 2000
Figura 10.3.15 - Rede de Qualidade da Água em Exploração – Classificação por Objectivo de Monitorização
Em termos de distribuição por unidade regional de exploração da rede (DRAOT) apresenta-se na Figura
10.3.16 o número de estações totais e ainda o número coincidente com captações para abastecimento
humano. Na Figura 10.3.17 apresenta-se a respectiva densidade por DRAOT.
DRAOT
5
Algarve 18
18
Alentejo 33
8
LVT 74
16
Centro 47
49
Norte 109
Captações Nº Estações
Figura 10.3.16 - Número de Estações Exploradas por DRAOT e Respectiva Coincidência com Captações para
Abastecimento Humano
1.2
2.0
6.3
A distribuição das estações existentes e propostas contemplam origens de água, zonas fronteiriças, troços de
verificação do cumprimento de directivas comunitárias, zonas críticas de afluência de carga poluente
significativa e zonas não sujeitas a intervenções antropogénicas que sirvam de referência. Assim, definiram-
se as seguintes categorias de estações consoante o objectivo:
− Captação, Captação (futura), Captação_reserva - estações em que se pretende classificar a qualidade das
origens de água para abastecimento, quanto à sua aptidão para este uso;
− Fronteira - estações situadas em rios fronteiriços, com o objectivo de quantificar a carga poluente que
aflui aos recursos hídricos nacionais;
− Fluxo - estações que permitem avaliar a evolução espacial da qualidade da água num curso de água;
− Impacto - estações situadas em zonas com forte pressão antropogénica e ainda, em zonas que
influenciam áreas consideradas sensíveis, com o objectivo de quantificar as alterações sofridas;
− Referência - estações para a avaliação de características naturais básicas, informação prévia à influência
antropogénica;
− PCTI - estações para o Procedimento Comum de Troca de Informações (Decisão 77/797/CEE, alterada
pela Decisão 86/574/CEE).
− Ciprínideo, Salmonídeo – estações em que se pretende classificar a qualidade da água dos troços
designados como ciprinídeos ou salmonídeos, no âmbito da Directiva 78/659/CEE (transposta para o
direito nacional pelo D.L. 236/98, 1 de Agosto);
− Piscícola – estações em que se pretende avaliar a aptidão de um troço de linha de água para futura
designação como ciprinídeo ou salmonídeo, no âmbito da Directiva 78/659/CEE (transposta para o
direito nacional pelo D.L. 236/98, 1 de Agosto).
Para uma maior eficácia da rede de monitorização, dotaram-se algumas estações estratégicas de sensores e
data loggers, de modo a permitirem uma monitorização contínua da qualidade da água. Dentro destas,
seleccionaram-se aquelas onde era vital ter acesso em tempo real aos valores medidos. Para tal foram
munidas de teletransmissão tornando possível uma intervenção mais rápida e eficaz na resolução de
acidentes de poluição, que afectam não só as actividades sócio-económicas mas também, o equilíbrio dos
ecossistemas. Foram, assim, definidos vários tipos de estações:
− Convencional - amostragens periódicas;
− Automática + Convencional - alguns parâmetros são amostrados de forma contínua e outros
periodicamente;
− Automática + Telemetria + Convencional - alguns parâmetros são amostrados de forma contínua, com
telemetria e envio de alarme sempre que limites estabelecidos sejam ultrapassados, e outros
periodicamente.
Para cada um dos objectivos das estações definiu-se a frequência de amostragem e a grelha de parâmetros a
analisar. Saliente-se ainda, que no caso de albufeiras preconiza-se a realização de perfis de temperatura e
oxigénio dissolvido, bem como a determinação da transparência para o estudo da dinâmica destes sistemas.
Rede Proposta
A análise das principais fontes de poluição tópica, da ocupação do solo e da inventariação das origens de
água para abastecimento humano, zonas sensíveis e piscícolas da região em estudo permitiram avaliar as
zonas de maior pressão antropogénica e aquelas que estão, ainda, num estado natural (ou quase natural). A
localização das estações propostas contemplou todas estas situações, obtendo-se uma densificação da rede,
distribuída espacialmente de forma homogénea de acordo com as características dos vários sistemas
envolvidos. Toda esta análise e desenho da rede foi realizada bacia a bacia.
Na rede proposta, o número total de estações passa de 281 a 400, gerando-se uma densidade com cerca de
2 2
4.6 estações/1 000 km , (218 km /estação) (Figura 10.3.18). Destas estações, 294 são coincidentes com
estações hidrométricas, o que corresponde a uma maior integração das redes de quantidade e qualidade.
A cada uma das estações da rede actual e proposta foram atribuídos um ou mais objectivos de monitorização,
de acordo com a metodologia apresentada anteriormente (Figura 10.3.19). No Quadro 10.3.2 assinala-se de
forma resumida o número de estações em cada um dos tipos de objectivos considerados.
Figura 10.3.19 - Rede de Qualidade da Água Superficial Proposta - Classificação por Objectivos de
Monitorização
Referência 2 11
Referência + Piscícola 3 6
Captação 59 90
Captação + Piscícola 32 39
Captação + PCTI 4 4
Captação + PCTI + Piscícola 1 1
Impacto 55 95
Impacto + Piscícola 30 40
Impacto + PCTI + Piscícola 1 0
Fluxo 36 33
Fluxo + Piscícola 11 13
Fluxo + PCTI 1 1
Fluxo + PCTI + Piscícola 2 3
Fronteira 2 25
Fronteira + PCTI 3 3
Fronteira + PCTI + Piscícola 1 1
Piscícola 32 35
TOTAL 275 400
A monitorização das origens de água está contemplada de uma forma mais efectiva na rede proposta, visto
que este número aumentou consideravelmente. São criadas mais estações de Fronteira devido à preocupação
de caracterizar a qualidade da água nos rios fronteiriços, para verificação da Convenção luso-espanhola e
demais normativos nacional ou internacional. São propostas mais estações de Impacto, de modo a controlar
os locais com descarga de águas residuais e prevenir problemas graves de poluição. Também é de salientar a
preocupação subjacente à restruturação em criar estações de Referência, o que permitirá caracterizar melhor
as condições naturais do meio hídrico, detectar eventuais problemas que venham a surgir nessas linhas de
água e servir como referência ou padrão para a determinação da influência antropogénica nos recursos
hídricos. De modo a dar uma resposta mais eficaz e completa à Directiva 78/659/CEE, duplicou-se o número
de estações com objectivo piscícolas (salmonídeos e ciprinídeos), podendo-se assim classificar a qualidade
da água nos troços designados e avaliar a potencialidade de novos troços para este uso. No Quadro 10.3.3
apresenta-se a distribuição das estações por objectivo e por DRAOT.
Em termos de distribuição por DRAOT apresenta-se na Figura 10.3.20 o número de estações totais e ainda o
número coincidente com captações para abastecimento humano.
Na rede proposta, 106 estações irão ser automatizadas através da implantação de sensores de qualidade e
data loggers, sendo que 60 terão adicionalmente capacidades de teletransmissão (Figura 10.3.21).
DRAOT
5
Algarve 21
20
Alentejo 67
8
LVT 70
30
Centro 87
71
Norte 155
Captações Nº Estações
Figura 10.3.20 - Número de Estações Exploradas por DRAOT e Respectiva Coincidência com Captações para
Abastecimento Humano
A qualidade das águas balneares é, em termos do direito comunitário, regido pela Directiva 76/160/CEE de 8
Dezembro de 1975, que foi inicialmente transposta para o direito nacional em 1990 pelo Decreto-Lei 74/90
de 7 de Março, posteriormente revogado pelo Decreto-Lei 236/98 de 1 de Agosto. O período de amostragem
decorre entre 15 de Maio e 30 de Setembro e inclui parâmetros bacteriológicos – coliformes totais e
coliformes fecais - e os parâmetros físico-químicos – óleos minerais, substâncias tensioactivas e fenóis.
Rede Específica
Águas balneares
Todos os anos são integradas no programa de monitorização zonas com potencialidade para o uso balnear,
para avaliação da qualidade da água e futura classificação ou proibição para este uso, de acordo com os
resultados obtidos.
10.3.4.2. Substâncias Perigosas
De acordo com o normativo nacional e comunitário é necessário controlar a poluição causada por certas
substâncias perigosas lançadas no meio aquático, tanto águas continentais como costeiras. Para isso é
necessário identificar, caracterizar e controlar as emissões destas substâncias nas fontes de poluição, pontuais
e difusas, de acordo com os limites estabelecidos por forma a garantir que as normas de qualidade seja
cumpridas.
Para efeitos de controlo são consideradas duas categorias de famílias e grupos de substâncias perigosas que
são identificadas em duas listas:
− Lista I, com 17 substâncias ou grupos de substâncias cujo objectivo é eliminar a poluição e os objectivos
de qualidade são definidos pela Comissão Europeia;
− Lista II com 132 substâncias ou grupos de substâncias cujo objectivo é reduzir a poluição e os objectivos
de qualidade são definidos pelos Estados membros.
No âmbito da Directiva 76/464/CEE, transposta para o direito nacional pelo D.L. 236/98, 1 de Agosto, foi
definida uma rede básica de monitorização das substâncias constantes das Listas I e II da referida directiva,
tanto a nível da água, como do biota e sedimentos. Esta rede constituída por 58 estações, distribuídas pelas
águas interiores, estuários e águas costeiras foi explorada entre Abril de 1999 a Maio de 2000, com uma
frequência mensal a nível da água (interiores e estuarinas), trianual para as águas costeiras e anual para os
sedimentos e biota.
Posteriormente e, após avaliação dos resultados obtidos, procedeu-se à optimização da rede o que implicou a
extinção de algumas estações por produção de informação redundante e a inclusão de outras. Também o
número de parâmetros da Lista II a monitorizar foi reduzido, excluindo todos aqueles que durante catorze
meses consecutivos de determinações nunca foram detectados. A frequência que irá ser implementada
também foi alterada.
Paralelamente impõe-se desde já um conhecimento da contaminação do meio aquático pelas substâncias
consideradas prioritárias na Directiva Quadro (60/2000/CE) e ainda não contempladas a nível da Directiva
76/464/CEE.
Assim, a rede que actualmente está em exploração tem 49 estações distribuídas pelas águas interiores,
estuários e águas costeiras. A frequência e distribuição pelos vários tipos de ecossistemas monitorizados
encontram-se no Quadro 10.3.4 e Figura 10.3.24.
Quadro 10.3.4 - Frequência de Amostragem para a Rede de Monitorização das Substâncias Perigosas
Da lista I vão continuar a ser monitorizadas as 17 substâncias ou grupos de substâncias, apesar de 7 delas
nunca terem sido detectadas durante a primeira campanha. Da lista II serão monitorizadas: 73 substâncias ou
grupo de substâncias que foram pelos menos detectadas uma vez na campanha anterior; 10 substâncias ou
grupos de substâncias da Lista II que não foram determinadas na primeira campanha. Serão ainda
consideradas 12 substâncias ou grupos de substâncias prioritárias da Directiva Quadro não presentes nas
listagens anteriores.
Rede específica
Zonas sensíveis
Figura 10.3.26 - Estações onde se Efectuaram Medições de Transporte Sólido até 1993/94
Como foi referido, a rede sedimentológica funcionou durante a década de 80 e princípio dos anos 90. Não
obstante a sua importância em termos de poluição e degradação ambiental, e sendo o INAG (e as Direcções
Gerais que o antecederam), a entidade responsável pela definição de normas nesta área, as medições de
caudal sólido nunca tiveram desenvolvimentos profundos, no âmbito de uma adequada gestão de recursos
hídricos.
Dessa rede existe informação relativa a caudal sólido em suspensão em 109 estações hidrométricas. Em
alguns locais fizeram-se amostragens apenas durante um ou dois anos. Por outro lado, estas recolhas não
foram efectuadas de modo regular, pelo que os elementos disponíveis são, muitas vezes, em número muito
reduzido. Em 28 pontos de amostragem, para além de dados de transporte de sedimentos em suspensão,
existe uma informação mais completa relativa às amostras de material de fundo para a caracterização das
distribuições granulométricas e nas três estações da bacia do rio Lima apenas se recolheram amostras de
fundo. As campanhas efectuadas durante os anos 60 e 70, para estudos específicos de apoio a obras
hidráulicas, incluíram a recolha de dados em 3 diferentes locais das estações e num troço do rio Douro –
entre a Tapada do Outeiro e a Foz do rio Sousa. Adicionalmente, estas campanhas incluíram a medição de
caudal sólido por arrastamento.
No Quadro 10.3.5 apresenta-se o número de estações com dados de caudal sólido e granulometrias de fundo
para cada bacia hidrográfica onde se fizeram medições. Estes dados incluem as estações da rede da então
DGRAH e os locais de amostragem que constam dos diversos relatórios publicados pelo LNEC.
Década de 60 Década de 70
Década de 80 Década de 90
Figura 10.3.27 – Estações com Medição de Caudal Sólido em Funcionamento nas Décadas de 60 a 90
Quadro 10.3.5 - Número de Estações da Rede Sedimentológica em Funcionamento até 1993/94 por Bacia
Hidrográfica
Bacia Tipo de Informação
Hidrográfica Caudal sólido Caudal sólido Granulometria
por arrastamento em suspensão de fundo
Âncora 0 1 1
Lima 0 0 3
Douro 1 12 6
Vouga 0 12 0
Mondego 3 24 1
Tejo 3 32 6
Lis 0 2 0
Sado 0 8 3
Guadiana 0 18 12
Ribª. Aljezur 0 1 0
Gilão 0 1 1
Ribª. Quarteira 0 1 0
Portugal 7 112 33
Na Figura 10.3.28 apresenta-se a localização das estações da rede sedimentológica em funcionamento até ao
ano hidrológico de 1993/94, classificadas pelo tipo de informação recolhida e número de anos de dados de
funcionamento da estação.
Quadro 10.3.6 – Principais Características das Albufeiras que Integram a Nova Rede Sedimentológica
* Dados da estação de Cerca dos Pomares na Ribª. de Aljezur a poucos metros para montante
Em complemento ao referido em 5.7, tendo em conta que as alterações dos regimes de transporte sólido, leva
obviamente a uma modificação da dinâmica natural dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos, por vezes
bastante profunda, a monitorização sedimentológica incluiu não só a determinação dos volumes de
sedimentos transportados e depositados e a caracterização granulométrica, química e biológica dos
sedimentos, como também a caracterização ecológica destes ecossistemas. Com efeito, esta preocupação de
monitorização física, química e biológica do leito dos meios lóticos e lênticos, para caracterização dos
ecossistemas, vem contemplada na recente Directiva Quadro da Água, concretamente no Anexo V com o
objectivo de fornecer dados da geometria, estrutura e substrato dos fundos, que permitam classificar os
estados ecológicos e fixar normas de protecção das comunidades bióticas aquáticas nos sedimentos.
Na rede de qualidade foram integradas preferencialmente captações de abastecimento público com o intuito
de se controlar a qualidade das origens de água de abastecimento às populações. Quanto à periodicidade da
rede de qualidade, e atendendo à estabilidade química que normalmente se verifica nestas águas, as
campanhas de amostragem realizam-se semestralmente, com uma amostragem na estação de águas altas e a
outra na estação de águas baixas.
Presentemente, as redes de monitorização de águas subterrâneas de referência cobrem os diversos sistemas
aquíferos e em termos qualitativos já se estendem às formações fracturadas do interior do país. Não obstante
a fraca aptidão aquífera que as formações fracturadas do interior do país apresentam do ponto de vista
hidrogeológico, estes tipos litológicos têm-se revelado importantes localmente para o abastecimento a
pequenos aglomerados populacionais. Numa primeira fase de implementação das redes nestas formações,
procurou-se avançar com a rede de qualidade possibilitando o controlo das origens de abastecimento público
às populações. Posteriormente, com os estudos que se estão a desenvolver para definição, nestas rochas, de
zonas de potencial hidrogeológico, ir-se-á implementar, preferencialmente, nestas zonas a rede piezométrica.
As redes de monitorização de qualidade e de piezometria de águas subterrâneas compreendem, actualmente e
na sua totalidade, respectivamente, 717 pontos de amostragem e 770 pontos de observação, distribuídos pelas
diferentes unidades hidrogeológicas conforme o Quadro 10.3.8.
O desenho das redes de monitorização de águas subterrâneas, nas componentes quantitativa e qualitativa, e
que se encontram presentemente definidas, estão representadas na Figura 10.3.31.
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Nitratos - visa proteger as águas subterrâneas da Meio cársico - tem como principal objectivo a
poluição causado por nitratos de origem agrícola, caracterização, quantitativa, dos recursos
dando cumprimento ao Decreto-Lei nº 235/97 de hídricos do Maciço Calcário Estremenho que é
3 de Setembro. Presentemente encontram-se um dos mais importantes sistemas aquíferos
designadas, em Portugal, através da Portaria nº cársicos do país e constitui uma das origens de
1037/97 de 1 de Outubro, três zonas vulneráveis água do sistema de abastecimento da região de
aos nitratos. Lisboa (EPAL).
N # LIS
Reguengo Fetal
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Fungalvaz1
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# Fungalvaz2
LENA
Alcaria
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CHIQUEDA Fórnea
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ALMONDA
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Vila Moreira
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ALCOBERTAS
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Alqueidão Mato #
# # # ALVIELA
Mata do Rei Mte Fidalga
Bocas
#
• Abordar de uma forma integrada toda a zona costeira, incluindo águas de transição (águas de interface
entre as zonas terrestre e marinha, ou águas costeiras isoladas do mar por barreiras terrestres: estuários,
rias e lagoas costeiras).
• Concebida para ajudar a responder a perguntas que poderão ser formuladas por entidades de gestão.
• Ter flexibilidade interna para acomodar novas metodologias que possam ser aplicáveis durante a sua
existência.
• Ser organizada por níveis hierárquicos, que permitam optimizar os custos em função dos requisitos de
informação.
A c t u a liz a ç ã o e S ín t e s e
d e C o n h e c im e n to s
8 A g e n te s d a D in â m ic a L it o r a l
8 T r a n s p o r t e e B a la n ç o S e d i m e n t a r e s
8 G e o m o rf o lo g ia O c u p a ç ã o e U s o s d o S o lo
8 O b r a s M a r ít i m a s
8 C a r t o g r a f i a d a O r la C o s t e i r a
V U L N E R A B IL ID A D E e R IS C O
T e n d ê n c ia s d e E v o lu ç ã o d a C o s t a
C A E A C T E R IZ A Ç Ã O e C LA S S IF IC A Ç Ã O
d a O rla C o s te ira A d m in is tra ç ã o
Í n d ic e s M o r f o d in â m ic o s e O rd e n a m e n to
C é l u la s L i t o r a i s S e d im e n t a r e s d o T e r r it ó r io
M o r f o ló g ic a s
U n id a d e s d e G e s tã o C o s te ira
U N ID A D ES d e M O N IT O R IZ A Ç Ã O C O S TEIR A
R E D E N A C IO N A L
de M O N ITO R IZA Ç Ã O
REDE GEODÉSICA
do
LITORAL
Estações de Medição
Elementos Físico-Químicos
Elemento Periodicidade de análise
mínima
Transparência 3 meses
Condições térmicas 3 meses
Oxigenação 3 meses
1
Salinidade 3 meses
Nutrientes 3 meses
Poluição por substâncias prioritárias 1 mês
Poluição por substâncias descarregadas em grande quantidade 3 meses
1
- apenas águas de transição
Monitorização relativa a Problemas de Gestão Detectados
Acesso à Informação
O Plano criará estruturas que permitam o acesso à informação obtida, tendo por princípio a existência de dois
públicos-alvo: os organismos de gestão e de estudos técnicos e científicos e o público em geral.
O objectivo é a criação de um Sistema Nacional de Informação sobre a Orla Costeira, a integrar no Sistema
Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH).
Por último, e tendo em vista o desenvolvimento do interesse dos cidadãos pela condição da orla costeira, o
plano irá prever forma de os integrar na recolha de informação.
As utilizações dos recursos e domínio hídricos tem custos associados, uns directos e outros indirectos, cuja
avaliação só é possível quando haja dados para responder aos quanto? onde? quando? par quê? quem?
como? e, por vezes, porquê?.
Portanto, é incontornável que uma fundamentação segura das decisões carece de boas “estatísticas da água” e
de uma boa “contabilidade da água”, o que ainda não se dispõe na actualidade. Esta fragilidade estruturante
no planeamento e gestão dos recursos hídricos é, sobretudo, notória quando se pretende dar respostas aos
múltiplos inquéritos e pedidos de informação nacionais e internacionais, designadamente do Eurostat,
OCDE, Nações Unidas, Banco Mundial, Comissões Internacionais de Rega e Drenagem e das Grandes
Barragens, International Water Association, entre muitas outras.
As maiores lacunas de informação técnica detalhada verificam-se sobretudo nas áreas de abastecimento de
água às populações, indústrias, rega e população flutuante e respectivas águas residuais, não só no que se
refere a volumes, mas em especial no que se refere a equipamentos, sua localização, características. Razões
de natureza e de conceitos, níveis de desagregação distintos das unidades hidrográficas naturais de avaliação
e periodicidade são outros aspectos que limitam a utilização dos dados dos poucos levantamento sistemáticos
que se efectuam no país.
A par de uma boa cobertura de alguns dos valores de variáveis climáticas, hidrológicas e hidrométricas
assegurados pelo Instituto da Água, Instituto de Meteorologia, Direcções Regionais de Ambiente e
Ordenamento do Território e algumas empresas utilizadoras, caso do Grupo EDP, Associações de Regantes
ou Câmaras Municipais, Associação Portuguesa de Drenagem e Distribuidores de Águas (APDDA),
constata-se que as poucas estatísticas sobre a água existentes não estão orientadas para a actividade de
planeamento e gestão de recursos hídricos, muito especialmente as promovidas pelo Instituto Nacional de
Estatística (INE).
Para o conhecimento adequado da realidade sobre os recursos hídricos, para além do que as redes de
monitorização em exploração disponibiliza, são necessários dados e informações que este tipo de redes não
permitem obter, sendo preferível os inventários e os cadastros. Na área de abastecimento de água o INAG
tem promovido alguns levantamentos onde se destacam o Inventário Nacional de Saneamento Básico e o
Cadastro Nacional de Infraestruturas Hidráulicas, ambos incompletos por não abrangerem as Regiões
Autónomas dos Açores e da Madeira.
Os dados sobre a Agricultura, cuja importância advém do facto representar mais de 80% das utilizações
consumptivas da água, tem limitações para aplicação nas actividades de planeamento em gestão de recursos
hídricos dado que não estão referenciadas geograficamente as áreas de regadio, os tipos de culturas e de
método de rega praticados, os tipos de solos onde se praticam estes, as origens de água utilizadas, os tipos de
transporte e distribuição de água, etc.
Os dados sobre as actividades industriais e agro-pecuárias e respectiva utilização de água e do domínio
hídrico como meio receptor são elementos que não foram encontrados disponíveis em todo o processo de
planeamento em curso.
O maior fosso encontrado entre os elementos disponíveis e necessários nesta fase de planeamento foi o
relativo aos dados sobre os aspectos económicos e financeiros dos recursos hídricos, designadamente sobre
custos de investimentos, exploração e manutenção e também sobre ecossistemas aquáticos associados aos
recursos hídricos. Não só os dados são escassos como não tem as desagregações sectorial, espacial e
temporal necessárias.
Finalmente, e pela natureza sintética deste documento, apenas se destacam ainda as limitações dos dados e
informações sobre as infraestruturas e actividades susceptíveis de provocarem e sofrerem danos decorrentes
de situações de risco associadas a poluição acidental, cheias e rupturas de equipamentos, apesar do esforço
que recentemente o Serviço Nacional de Protecção Civil vem realizando nesse sentido, por um lado, e o
INAG por outro. Neste campo a avaliação das situações requer análises de risco associadas aos valores das
vidas humanas, saúde pública e valores económicos e patrimoniais, exigindo por isso inventariação de todos
os elementos que concorrem para essa avaliação.
Tão importante como o conhecimento das situações de estado, importa compreender a evolução passada dos
valores em jogo, pelo que as actividades de recolha e tratamento de dados e informação são actividades
dinâmicas e em constante evolução, obrigando por isso a serem consideradas como actividades correntes
inerentes à administração dos recursos hídricos.
Tendo presente as funções promotoras do desenvolvimento associadas ao conhecimento, qualquer actividade
produtora de dados e informações só alcança os seus verdadeiros objectivos quando garante a
disponibilização ampla e atempada desses elementos a quem quer que deles careça ou neles possa ter algum
interesse, o que pode ser conseguido através dos actuais meios informáticas. Esta via tem na Educação e na
Formação os melhores veículos de difusão e aplicação
Para a classificação do estado químico das águas devem ser monitorizados os poluentes incluídos na lista de
substâncias prioritárias que são descarregados na bacia hidrográfica, bem como os outros poluentes para os
quais existam normas de qualidade a nível Comunitário.
Quadro 10.6.2 - Frequências de Amostragem dos Elementos de Qualidade para os Programas de Monitorização
de Vigilância nas Diferentes Categorias de Meios Hídricos
FREQUÊNCIA (A – ANO ; M – MÊS)
ELEMENTO DE QUALIDADE RIOS LAGOS ÁGUAS DE ÁGUAS
TRANSIÇÃO COSTEIRAS
(1)
BIOLÓGICA
Fitoplancton 6M 6M 6M 6M
Outra flora aquática 3A 3A 3A 3A
Macroinvertebrados 3A 3A 3A 3A
Peixes 3A 3A 3A -
(2)
HIDROMORFOLÓGICA
Continuidade 6A - - -
Hidrologia contínuo 1M - -
Morfologia 6A 6A 6A 6A
(2)
FÍSICO-QUÍMICA
Temperatura 3M 3M 3M 3M
Balanço de oxigénio 3M 3M 3M 3M
Salinidade 3M 3M 3M -
Nutrientes 3M 3M 3M 3M
Estado de acidificação 3M 3M - -
Outros poluentes 3M 3M 3M 3M
Substâncias prioritárias 1M 1M 1M 1M
(1) A frequência pode ser reduzida com base no conhecimento técnico e na análise pericial.
(2) Para o período de vigência do Plano de Gestão de Bacia Hidrográfica o elemento de qualidade deve ser monitorizado pelo menos uma vez.
Nos casos em que não exista legislação aplicável, a selecção dos locais de monitorização deve ser feita com
base no tipo de pressões a que os meios hídricos estão sujeitos. Assim, para os meios hídricos identificados
devem ser consideradas as seguintes situações:
- no caso de poluição pontual significativa deve ser proposto para cada meio hídrico um número
suficiente de locais de monitorização para avaliar a magnitude e impacte das fontes de poluição; no caso
de poluição por múltiplas fontes pontuais deve ser proposto um número suficiente de locais de
monitorização para avaliar a magnitude e impacte global das fontes de poluição;
- no caso de poluição difusa significativa deve ser proposto para um conjunto de meios hídricos
representativos um número suficiente de locais de monitorização para avaliar a magnitude e impacte das
fontes de poluição; a selecção dos meios hídricos é feita com base no risco relativo de ocorrência de
poluição difusa e de não cumprimento dos objectivos ambientais;
- no caso de pressões hidromorfológicas significativas deve ser proposto para um conjunto de meios
hídricos representativos um número suficiente de locais de monitorização para avaliar a magnitude e
impacte das pressões; os meios hídricos seleccionados devem indicar o impacte global das pressões
hidromorfológicas.
Como se pode observar, a monitorização é feita nos meios hídricos sujeitos a pressões significativas,
devendo ser monitorizados os parâmetros indicativos dos elementos de qualidade mais sensíveis às pressões.
No programa de monitorização operacional a frequência de amostragem dos parâmetros é estabelecida pelo
Estado-membro.
10.6.1.3. Monitorização de Investigação
A monitorização de investigação visa complementar as duas monitorizações anteriores, sendo aplicável nos
casos de falta de conhecimento sobre as causas responsáveis pelo não cumprimento de objectivos ambientais
e nos casos de avaliação da extensão e impacte da poluição acidental.
10.6.1.4. Monitorização das Zonas Protegidas
No âmbito da DQA as zonas designadas como protegidas são as seguintes:
− zonas designadas para captação de águas para a produção de água para consumo humano para mais do
3
que 50 habitantes ou 10 m /dia, de acordo com a Directiva 98/83/CE (água potável);
− zonas designadas para a protecção de espécies aquáticas com interesse económico significativo;
− águas designadas como águas de recreio, incluindo as águas designadas de acordo com a Directiva
76/160/CEE (águas balneares);
− zonas vulneráveis, designadas de acordo com a Directiva 91/676/CEE (poluição das águas por nitratos
de origem agrícola);
− zonas sensíveis, designadas de acordo com a Directiva 91/271/CEE (tratamento de águas residuais
urbanas);
− zonas designadas para a protecção de habitats ou de espécies em que o estado das águas seja um factor
importante de protecção, incluindo os sítios relevantes da rede Natura 2000, designados de acordo com
as Directivas 92/43/CEE (Habitats) e 79/409/CEE (Aves).
Para as zonas protegidas é necessário estabelecer monitorização complementar aos programas de
monitorização de vigilância, operacional e investigação. O Estado-membro deverá conciliar as obrigações de
monitorização estabelecidas nas directivas responsáveis pela classificação de cada uma das zonas protegidas
e na DQA.
As medidas complementares de monitorização para as zonas protegidas previstas na DQA são as seguintes:
Locais de Captação de Água para a Produção de Água Potável
Para os meios hídricos designados para a captação de água para a produção de água destinada ao consumo
3
humano que fornecem mais de 100 m por dia, em média, devem ser estabelecidos programas de
monitorização. Nesses meios hídricos devem ser monitorizadas todas as substâncias da lista de substâncias
prioritárias descarregadas nas águas em questão, bem como todas as outras substâncias descarregadas em
quantidades significativas que possam afectar o estado dessas águas e que são sujeitas a controlo de acordo
com a Directiva 98/83/CE (água potável). As frequências de monitorização dos parâmetros de qualidade são
apresentadas no Quadro 10.6.3.
Quadro 10.6.3 - Frequências de Amostragem das Águas
Destinadas à Produção de Água Potável
− em aquíferos transfronteiriços a densidade de estações de monitorização deve ser suficiente para estimar
os fluxos de águas subterrâneas, em termos de direcção e intensidade, através da fronteira do
Estado-membro.
10.6.2.2. Monitorização do Estado Químico
A rede de monitorização deve ser estabelecida para obter a informação necessária para uma caracterização
abrangente do estado químico das águas subterrâneas e para detectar tendências crescentes de poluição das
águas subterrâneas.
Com base na caracterização das massas de água subterrâneas e na avaliação do impacte ambiental das
actividades humanas, é estabelecido um programa de monitorização de vigilância para cada período de
vigência do Plano de Gestão de Bacia Hidrográfica. A partir dos resultados obtidos deve ser estabelecido um
programa de monitorização operacional aplicável às massas de água subterrâneas identificadas como
susceptíveis de não cumprirem os objectivos ambientais ou em que se detecte uma tendência crescente de
poluição das águas subterrâneas.
Programas de Monitorização de Vigilância
Os programas de monitorização de vigilância devem ser desenvolvidos com os seguintes objectivos:
− complementar e validar a avaliação de impacte ambiental das pressões das actividades humanas;
− disponibilizar a informação necessária para a avaliação das tendências de longo prazo nas variações dos
parâmetros de caracterização do estado químico resultantes das alterações das condições naturais e das
actividades humanas.
A rede de monitorização deve ser composta por um número suficiente de estações de amostragem
localizadas nas massas de água subterrâneas identificadas como susceptíveis de não cumprirem os objectivos
ambientais e nas massas de água subterrâneas transfronteiriças.
Os parâmetros a incluir na monitorização são os seguintes: oxigénio dissolvido, pH, condutividade, nitratos e
amónia. Para as massas de água subterrâneas identificadas como susceptíveis de não cumprirem os
objectivos ambientais devem também ser monitorizados os parâmetros indicadores das pressões das
actividades humanas a que as águas estejam sujeitas. Nas águas dos aquíferos transfronteiriços são também
monitorizados os parâmetros relevantes para justificar as medidas de protecção das águas necessárias para
assegurar os usos das mesmas.
Programas de Monitorização Operacional
Os programas de monitorização operacional são estabelecidos para complementar os programas de
monitorização de vigilância e têm os seguintes objectivos:
− determinar o estado químico de todas as massas de água subterrâneas ou grupos de massas de água
susceptíveis de não cumprirem os objectivos ambientais;
− detectar a eventual tendência de aumento da concentração de qualquer poluente a longo prazo provocada
pela actividade humana.
Os programas de monitorização operacional devem ser estabelecidos para todas as massas de água
subterrâneas ou grupos de massas de água identificados, através da avaliação dos impactes das actividades
humanas sobre as águas e dos programas de monitorização de vigilância, como susceptíveis de não
cumprirem os objectivos ambientais. A selecção dos locais de monitorização deve também reflectir uma
avaliação do grau de representatividade dos dados de qualidade de determinado local em relação à qualidade
global do aquífero ou grupo de aquíferos.
Os programas de monitorização operacional devem ser realizados nos períodos intercalares dos programas de
vigilância. A frequência de amostragem deve ser suficiente para detectar os impactes das pressões das
actividades humanas relevantes, mas no mínimo uma vez por ano.
11.1. Introdução
O água é um recurso natural, renovável, escasso e imprescindível à vida humana, cuja disponibilidade, quer
em quantidade, quer em qualidade, exige a aplicação de elevados investimentos em infra-estruturas, quer
para satisfazer a procura de água no espaço e no tempo, quer para manter o meio hídrico em adequadas
condições de equilíbrio ambiental.
O aumento de consumo generalizado, a crescente urbanização e a degradação da qualidade das origens de
água, têm provocado a ocorrência de situações de escassez e uma consequente e progressiva valorização
económica do “Recurso Água”. Esta situação levou a ter-se começado a integrar as utilizações e os usos de
água no contexto de um Mercado da Água, pois a utilização da água e a sua disponibilização tem-se
mostrado capaz de gerar receitas suficientes para suportar a maioria dos custos, com destaque para os custos
dos serviços e dentro destes para os custos de exploração, manutenção e gestão.
Como recurso natural renovável, a água encerra algumas especificidades. Ao contrário de outros bens
ambientais, que por serem de propriedade comum, não permitem a exclusão dos seus utilizadores, nem a
existência de um mercado, a água tem, no entanto, uma valorização concreta, e obviamente uma valência
sócio-económica, mesmo que nem sempre de fácil quantificação.
Geralmente, a receptividade dos utilizadores à fixação de preços reais é baixa, função de uma tradição
histórica, em que a água é encarada como bem tendencialmente gratuito. Por isso, ainda existem preços
subsidiados (muitas vezes justificados por razões de competitividade das actividades económicas ou por
restrições orçamentais das famílias) ou preços em que apenas se recupera parte dos respectivos custos, como
é o caso de alguns tarifários, aplicados a sistemas que foram remodelados com apoio de comparticipações a
fundo perdido.
Para um melhor entendimento do mercado da água é necessário caracterizar os utilizadores, qual o uso que
fazem deste bem ambiental, bem como as entidades que intervêm no sector, quer sejam produtores directos,
quer assumam outras competências. É pois necessário entender a procura para além do abastecimento
público, como factor de produção em diversas actividades económicas. Por outro lado, interessa
esquematizar as relações entre os diversos agentes do mercado, em particular as competências e as funções
das entidades intervenientes.
As entidades produtoras envolvidas neste mercado têm um determinado enquadramento legal e institucional,
devendo estas entidades serem analisadas à luz das possibilidades de organização e de propriedade dos
sistemas existentes. Neste âmbito, é de referir a crescente intervenção de entidades privadas no negócio da
água, embora com reduzida relevância em termos globais e sem permitir verdadeiramente a figura da
privatização. É de referir igualmente o vazio legal existente, no que respeita à gestão de sistemas de fins
múltiplos, que são os sistemas predominantes no momento actual.
Para lá do regime económico e financeiro vigente, nomeadamente quanto ao grau de cobertura dos
investimentos e dos restantes custos, e de uma abordagem sócio-económica e ambiental mais lata, interessa
saber da eficiência da utilização da água, nomeadamente do nível de perdas, da qualidade do serviço, medida
em termos de cobertura das redes e qualidade da própria água.
Uma actividade fundamental dos estudos é a avaliação dos custos dos serviços de utilização da água, o que
conduz à aplicação de metodologias que, face à inexistência de um registo histórico sistemático dos custos
reais das infra-estruturas, consigam responder às questões de valorização económica da água e de
recuperação dos custos. No entanto, dificuldade maior será a avaliação dos custos ambientais e de escassez,
que requerendo metodologias de avaliação económica de recursos naturais, que apesar de se apresentarem
um corpo teórico bem definido, tem uma aplicação bastante subjectiva, podendo ser obtidos custos com alto
grau de variabilidade.
Neste sentido, dentro do âmbito dos estudos a realizar neste capítulo, destaca-se pela sua complexidade e
volume de trabalho, a caracterização do Mercado da Água, envolvendo todos os usos e utilizações da água,
consumptivos ou não consumptivos, existentes no País, agrupados pelos sector utilizadores: População (rede
urbana); Indústria; Agricultura; Produção Eléctrica; Turismo e Outros.
A avaliação de custos será feita por sector utilizador, em termos dos valores anuais ou anualizados,
procurando estimar a totalidade dos custos de utilização da água, designadamente: custos dos serviços de
utilização de água (investimento, exploração, manutenção e administrativos); custos ambientais e custos de
recurso/escassez.
A avaliação de receitas será efectuada tendo em conta as taxas e tarifas em vigor e os volumes de água
facturada.
A água tem características especiais que a diferenciam dos outros recursos naturais e que poderão explicar a
forma como a sua existência é vista pelo ser humano. Pelo facto de:
• existir na natureza em condições tais que permitem o seu consumo imediato;
• sem ela a vida não ser possível;
• o estado em que habitualmente se encontra na natureza (líquido) permitir o seu fácil manuseio e controle;
• se inserir num ciclo que permite a sua renovação e que se inicia, para o ser humano, no céu através da
precipitação, levou a que em muitas civilizações, a água tenha sido considerada como uma dádiva divina.
Independente disto ser ou não ser assumido, o facto é que a água sempre foi um recurso facilmente acessível
e absolutamente necessário a todos.
O crescimento populacional e a concentração urbana, alterou um quadro de livre acesso ao bem água, pois o
aumento do consumo implicou a necessidade de realizar avultados investimentos na captação, transporte,
tratamento e armazenamento de modo a satisfazer as necessidades dos diversos utilizadores em quantidade e
em qualidade, a que se associaram os investimentos de reposição do bom estado ecológico da água. Assim, a
água transforma-se num bem escasso, muitas das vezes com utilizações em competição. O Estado foi tendo
um papel bastante interventivo, quer aumentando a oferta pela construção de obras hidráulicas de grande
dimensão, quer controlando a procura com restrições legais ou económicas ao uso da água.
Uma gestão eficiente dos recursos hídricos passa pela garantia da produção e pela distribuição equilibrada
entre diversos utilizadores (actuais ou futuros). A produção pode ser aumentada através de investimento em
conhecimento e infra-estruturas, mas tal implica sempre a racionalidade do seu uso.
Por outro lado, existe um conjunto de problemas associados à gestão da água que encontram explicação na
teoria económica. As entidades responsáveis pela gestão da água têm concentrado a sua acção na gestão da
oferta e menos na gestão da procura.
Esta situação vem na sequência do incentivo à utilização da água e à melhoria da qualidade de vida, sem
grande controle sobre uma utilização racional e eficiente do recurso água. Por outro lado, grande parte dos
investimentos têm sido suportados pelo Estado (recuperados pelos impostos em desfavor das tarifas) ou
recebendo apoios a fundo perdido (enviesando os preços). Pese embora a introdução de novas entidades
gestoras com métodos empresariais, num contexto de implementação dos princípios do utilizador-pagador ou
poluidor-pagador, as tarifas são ainda inferiores aos custos. Esta tese é confirmada pelos estudos da
economia da água do PNA.
Para finalizar, de notar que para além de uma concepção de mercado da água em sentido estrito, constituído
pelos fornecedores de serviços de água e pelos utilizadores, e que constituem o centro de gravidade do
sector, existe um mercado mais lato, onde gravitam, entre outras, as seguintes actividades:
• Investigação (fundamentalmente universidades e institutos);
• Formação/ensino;
• Concepção (estudos e projectos);
• Planeamento;
• Coordenação;
• Informação de base;
• Regulamentação e regulação;
• Fiscalização e controlo;
• Construção e reabilitação de infra-estruturas;
• Fornecimento (nomeadamente equipamentos);
• Gestão e exploração (por delegação);
• Outras.
Estas actividades são desenvolvidas, entre outras, pelas seguintes entidades:
• Administração pública;
• Empresas consultoras;
• Empresas de construção;
• Empresas fornecedoras;
• Universidades e institutos de investigação;
• Outras.
Devido à grande variabilidade temporal da sua ocorrência, a água está associada também a situações de
calamidade, como são os casos de cheias e secas, situações que obrigam à realização de importantes medidas
estruturais e não estruturais na sua prevenção e controle.
11.2.3.1. Introdução
O recurso natural água e o ambiente em geral sempre estiveram presentes nas preocupações dos economistas
e de outros investigadores. A dotação de água de cada país, foi utilizada durante muitos anos, como
condicionante do processo de desenvolvimento (países com mais água seriam potencialmente mais ricos),
mas numa perspectiva tradicional de recurso sem especificidade. No entanto, a água tem características
particulares por se tratar de um bem público e por haver externalidades na sua produção ou consumo.
Por outro lado, ao contrario da perspectiva da economia tradicional, existe uma interacção entre o sistema
económico e o sistema natural, pelo que se torna necessário conhecer os aspectos técnicos da sua produção
pela natureza e da sua captação ou extracção pelo Homem. Tal como entendida nos nossos dias, a economia
da água deriva fundamentalmente da economia neoclássica e das teorias da gestão ambiental.
Embora seja possível aumentar a quantidade de água a disponibilizar para as diversas utilizações através de
obras de engenharia, existem limitações físicas e de sustentabilidade do meio hídrico, que levam a que se
aposte mais numa gestão da procura (utilização) e menos na gestão da oferta (disponibilidade de água).
Existe um conjunto de agentes que obtém benefícios com a água (traduzíveis monetariamente ou não) na
maioria dos casos a custo nulo, mas que tem um determinado valor para a sociedade (superior ao custo
suportado por quem beneficia). Este valor designa-se por “preço-sombra”. A quantificação deste valor
constitui um objectivo da maior importância, através da utilização de metodologias de avaliação económica
que serão abordadas no presente PNA.
A consequência é a existência de uma divergência entre o benefício ou custo marginal privado e social,
levando a que o equilíbrio encontrado não seja óptimo, isto é, não existe uma alocação eficiente da água.
Embora a economia seja uma ciência cada vez mais formalizada e matematizada, deve ter-se em conta que
esta se baseia nos comportamentos dos agentes. Cada um destes, mesmo que reconheça o interesse de uma
utilização racional e da conservação da qualidade da água, convencido que os restantes não adoptam este tipo
de medidas, não se sente incentivado a uma utilização racional (“dilema do prisioneiro” - o silêncio seria a
melhor solução para todos mas há sempre um que denuncia os outros por pensar que estes farão o mesmo).
Este utilizará os recursos hídricos de qualquer forma e sem restrições, pois sente que os outros também o
farão.
O consumo de água para uso doméstico/urbano é talvez o sector utilizador onde, apesar de algumas
distorções no preço, existe uma menor diferença entre o custo social e o custo privado.
11.2.3.3. Uma Abordagem Económica
A água como recurso renovável apresenta uma capacidade de reposição a taxas significativas quando
comparadas com a taxa de utilização.
Em termos grosseiros pode afirmar-se que a reposição da água não depende da quantidade disponível, ou
seja, é independente da sua utilização. A quantidade de água num dado momento será, em termos gerais, a
água disponível no momento anterior, adicionando a produção absoluta e deduzindo a que é retirada do
meio, nomeadamente para as utilizações em análise. Existe uma quantidade ambiental mínima de água
necessária, bem como uma quantidade máxima, limitada pelas condições físicas existentes. Um princípio,
imediatamente evidente, é que a utilização máxima sustentada seria aquela que permite manter
indefinidamente um nível constante e suficiente de água disponível.
A água permite a obtenção de benefícios por parte dos seus utilizadores, que em particular nas empresas tem
reflexo nos lucros. Desde que haja hipóteses de obtenção desse excedente, existirão novas empresas
interessadas em desenvolver determinada actividade, aumentando a procura da água. Como a empresa não
suporta os custos totais, o mercado não leva a uma situação de equilíbrio, o que seria normal em qualquer
outro bem. Numa óptica de desenvolvimento económico e social tem-se procurado responder pelo lado da
oferta, mas esta não é certamente infinita. Neste entendimento, o Estado deve utilizar os meios que tem ao
seu alcance para evitar o desperdício, embora satisfazendo a procura.
Em termos analíticos, prova-se que o ponto óptimo é atingido quando o benefício marginal actualizado de
3
utilizar um m adicional de água iguala o preço-sombra actualizado do recurso (custo de oportunidade para a
sociedade de conservar essa água). A diferença entre o custo privado e o preço-sombra pode ser anulado total
ou parcialmente através de um imposto que recaia sobre os utilizadores, preferencialmente em função da
quantidade utilizada.
A este respeito deverá ser referido que um dos problemas do estabelecimento de preços com internalização
de custos e benefícios externos tem a ver precisamente com algumas restrições ao óptimo enunciado. Em
primeiro lugar, existem limitações relativas ao peso dos custos de utilização da água nas despesas globais a
que os utilizadores têm de fazer face. Em segundo lugar existe a questão do grau de receptividade dos
utilizadores e das suas consequências políticas. Finalmente, sendo um bem essencial à vida humana, não
seria racional ir mais longe do que outros bens (com ou sem preço de mercado) que não incorporam todas as
externalidades provocadas pela sua produção ou utilização.
Por vezes, a própria racionalidade financeira também pode apresentar algumas contradições, pois em
situações particulares conduz a uma utilização sem limites, permitindo obter elevados ganhos presentes, que
investidos a taxas elevadas vão permitir ter mais dinheiro no futuro do que o valor económico de ter
conservado a água naquele período (tudo depende da taxa de actualização).
O que fazer para influenciar os agentes para uma melhor utilização? Para tal existem os métodos directos
(métodos tradicionais de medidas técnicas de conservação - regulamentos) que limitam de alguma forma a
utilização (p.e. consumir apenas em determinadas situações particulares ou alturas do ano) e os métodos
indirectos (ou económicos), onde se incluem os desincentivos ou incentivos financeiros (impostos ou
subsídios), licenças, ou o estabelecimento de mercados de quotas de poluição hídrica (com um preço e
transaccionáveis). Os métodos económicos ou indirectos introduzem mecanismos que conduzem a uma
melhor utilização, dando um “sinal” comportamental aos agentes. Eventualmente pode afastar algumas
actividades económicas pouco eficientes.
O preço-sombra, que é um preço limite a que teoricamente a água poderia estar no mercado (para cada
utilização), apresenta algumas dificuldades de medição. A esta desvantagem acresce que esta internalização
deveria também incluir os custos de implementação e dos estudos. Os mais críticos referem ainda que estes
impostos, ao reverterem a favor do Estado, podem ser investidos em qualquer outro sector que não o da água,
introduzindo uma distorção do mesmo tipo da que se pretende evitar, e que sucede quando toda a
comunidade financia algo que beneficia apenas um determinado sector utilizador.
11.2.3.4. Critérios para Avaliação Económica do Recurso Água
Os estudos da economia da água avaliam o recurso água segundo duas vertentes:
• Financeira (ou económico-financeira) - a água é encarada numa perspectiva de sustentabilidade das
entidades com responsabilidades na oferta de água, nomeadamente dos fornecedores de serviços de
utilização de água. Neste caso, faz-se uma análise do equilíbrio económico-financeiro entre as
receitas captadas, fundamentalmente taxas e tarifas cobradas aos utilizadores, e os custos de
investimento, manutenção, exploração e administrativos. São tratadas questões como as fontes de
financiamento, nomeadamente a fundo perdido, dos preços e da capacidade orçamental da procura, e
dos custos administrativos suportados pelas entidades do Estado com intervenção total ou parcial no
sector da água;
• Económica (ou sócio-económica e ambiental) - a água é encarada como um bem económico cuja
valorização não se esgota na recuperação dos custos incorridos para permitir um determinado dado
nível de oferta, pois o seu valor para os utilizadores é bastante superior, nem nos intervenientes
directos no mercado, pois os benefícios induzidos para outros sectores e actividades económicas,
nem no valor de uso, dado que a água encerra igualmente um valor de opção e de existência. São
abordadas questões como as externalidades (custos ambientais e de escassez) e a sua internalização
total ou parcial nas taxas e tarifas (preço-sombra do recurso água) no sentido da sua utilização
racional.
Se relativamente à componente económico-financeira, e apesar da existência de utilizações a custo zero, tem-
se assistido gradualmente a uma tentativa de equilibrar custos e proveitos - nomeadamente nos sistemas
novos ou remodelados de abastecimento e tratamento de água às populações, ou cuja exploração é da
responsabilidade de entidades com orientação empresarial (empresas concessionárias, p.e.) - na componente
sócio-económica e ambiental há ainda um longo caminho a percorrer, não só pela inexistência de estudos
adequados e credíveis, mas porque a quebra filosófica com o passado exige vontade política e
consciencialização da procura. O uso progressivo da terminologia “mercado da água” encerra em si mesmo
algum significado de mudança, embora em termos formais, e à semelhança de outros bens ambientais, não
corresponda à definição de mercado da microeconomia.
Há pois algum caminho a percorrer até que exista receptividade dos utilizadores em suportar preços reais -
por oposição a preços subsidiados, muitas vezes justificados por razões de competitividade das actividades
económicas ou de restrição orçamental das famílias - e ainda mais preços-sombra (revertíveis para a
comunidade, por se ver privada de um bem com valor económico ou por sofrer danos resultantes das
utilizações da água). A implementação destes instrumentos económicos na gestão da água terá
necessariamente de ser gradual e prudente, quer pela insuficiência de estudos e grau de variabilidade dos
resultados inerentes aos próprios métodos de valorização económica, quer pelas implicações sociais,
económicas, ambientais, e até políticas.
A água e os recursos hídricos têm uma multiplicidade de usos e utilizações, que segundo o estabelecido no
âmbito dos estudos do Plano Nacional da Água, foram agrupados nos seguintes sectores:
• População (rede urbana);
• Indústria;
• Agricultura;
• Produção de energia eléctrica;
• Turismo;
• Outros sectores.
Estes sectores incluem os sistemas de infra-estruturas desde a captação de água no meio hídrico natural,
incluindo as infra-estruturas de armazenamento e regularização até ao consumidor final (edifício, unidade
fabril, estabelecimento comercial ou parcela agrícola) no que se refere ao abastecimento de água. Na
drenagem e tratamento de águas residuais incluem todas as infra-estruturas desde o consumidor final até ao
retorno ao meio hídrico natural.
A estimativa dos volumes captados no meio hídrico é feita no Capítulo 4. Neste capítulo é feita a estimativa
dos volumes facturados pelo consumidor final ou primário.
A população (rede urbana), que também se pode designar por sector doméstico, é o sector utilizador de água
que integrado nas redes urbanas, incluem os sub-sectores de abastecimento de água e de drenagem e
tratamento de águas residuais, que satisfazem as necessidades das famílias (população). As redes urbanas ou
redes públicas drenam e abastecem igualmente outros sectores utilizadores, com destaque para os sectores
associados às actividades económicas: industria, comércio, serviços públicos, sector hoteleiro.
A exploração e gestão destes sub-sectores são da responsabilidade das autarquias locais no que se refere às
redes de distribuição (sistema em baixa), podendo ser geridos directamente, através de serviços
municipalizados, empresas municipais, ou geridos por empresas privadas através de concessões. Para
sistemas em alta, a exploração pode ser da responsabilidade directa dos municípios, de associações de
municípios, de entidades públicas (ou de capital público) - como são as empresas do grupo AdP - Águas de
Portugal, ou até de concessões ao sector privado.
O sector população inclui, para além da satisfação das necessidades da população, outros sectores ligados à
rede pública que não foram individualizados no âmbito do PNA, como são os estabelecimentos comerciais e
os serviços públicos.
Para se ter uma noção do tipo de entidades gestoras e da população servida pelas mesmas, apresentam-se os
Quadros 11.2.1 e 11.2.2.
Quadro 11.2.2 - Entidades Gestoras na Drenagem e Tratamento de Águas Residuais da População (Rede Urbana)
11.2.4.3. Indústria
O sector indústria integra os sub-sectores: abastecimento de água e drenagem e tratamento de águas
residuais, envolvendo os sistemas integrados ou não na rede urbana. Nos sistemas em análise deverão ser
incluídas todas as infra-estruturas de abastecimento de água desde a captação até à entrada na unidade fabril
e as infra-estruturas de drenagem e tratamento de águas residuais, desde a unidade fabril até à drenagem,
tratamento e devolução ao meio hídrico do efluente tratado.
Este sector foi analisado, incluindo para além dos dois sub-sectores atrás indicados, a sua desagregação em
rede urbana e rede própria. É de referir que foram excluídas as redes internas das instalações fabris.
11.2.4.4. Agricultura
O sector utilizador associado à agricultura inclui a actividade de rega e a drenagem agrícola. O
abastecimento de água e a drenagem agrícola foram analisados por tipo de regadio (regadios públicos
(colectivos e tradicionais) e regadios privados e por tipo de rega (gravidade, aspersão e localizada).
A estimativa das áreas de regadio, bem como dos volumes de água utilizados são os apresentados no
Capítulo 4. Serão tidas em atenção as áreas beneficiadas/infra-estruturadas (para obter os custos de
investimento e de manutenção) e as áreas regadas (para os custos de exploração).
Volumes
Tipo de regadios Entidades gestoras Utilizados
(hm3)
Regadios públicos colectivos Associações de beneficiários 512
Regadios públicos tradicionais Junta de agricultores 535
Regadios privados Individual 4275
A utilização de água nas centrais de produção termoeléctrica representa uma parcela importante em termos
de volume de água utilizada (circuitos abertos de refrigeração) e/ou de investimentos (circuitos abertos e/ou
fechados). Embora este sub-sector pudesse ser incluído no sector industrial pelas características de utilização
que ele assume, considerou-se mais adequado a sua integração na produção eléctrica.
Quadro 11.2.5 - Produção de Energia
Volumes
Tipo de produção Entidades gestoras Turbinados
(hm3)
Grandes e médios aproveitamentos hidroelectricos Privadas (Grupo EDP) 82,560
Médios e pequenos aproveitamentos hidroelectricos Privadas (Grupos independentes) 3,000
Aproveitamentos termoelectricos Privadas (Grupo EDP) 1,360
11.2.4.6. Turismo
O Turismo é uma actividade económica com grande importância em Portugal, pelo que se decidiu destacar e
individualizar este sector, tendo em vista as actividades turísticas associadas à água. Neste sentido foram
avaliados economicamente os sub-sectores da hotelaria e das actividades de lazer e recreio, como são os
casos da pesca desportiva, golfe, navegação fluvial, praias fluviais, desportos radicais, etc..
A partir dos dados de caracterização das redes urbanas de abastecimento de água e de águas residuais, foi
avaliado o peso do sector hoteleiro, tendo por base a informação da ocupação hoteleira. No Capítulo 4 foram
estimados os volumes captados e neste capítulo os volumes facturados.
Para lá desta vertente, o turismo utiliza as potencialidades dos recursos hídricos, permitindo oferecer a quem
nos visita, uma vasta diversidade de actividades de lazer e recreio, como são os casos da pesca desportiva,
golfe, navegação fluvial, desportos radicais, pelo que se procurou valorizar economicamente estas
actividades.
11.2.4.7. Outros Sectores Utilizadores
Para além dos sectores utilizadores de água atrás referidos, existe um importante conjunto de outras
utilizações ou condicionantes à utilização do meio hídrico, que se podem agrupar nos seguintes sub-sectores:
• Controlo hídrico (cheias, secas e drenagem urbana);
• Pesca profissional e aquacultura;
• Conservação da natureza;
• Outras
O controlo hídrico é dividido nas seguintes áreas:
• Correcção torrencial e controle da erosão;
• Regularização fluvial e defesa e controle de cheias;
• Mitigação de situação de seca;
• Drenagem urbana.
Relativamente a muitos destes sub-sectores utilizadores não existem elementos estatísticos que permitam
avaliar a respectiva dimensão, pelo que a sua quantificação apresenta grandes dificuldades. Em qualquer
caso, tal não implica que não se possa realização uma análise qualitativa da sua dimensão.
11.3. Quadro Legal e Institucional de Referência
11.3.1. Considerações Gerais
A relevância do quadro legal e institucional de referência para a economia da água reside em primeiro lugar,
ao nível dos aspectos jurídicos essenciais, pela forte ligação entre os aspectos económicos e financeiros na
gestão da água e os princípios de direito do ambiente, de administração do ambiente, e de planeamento de
recursos hídricos.
Em segundo lugar, ao nível da protecção da água, porque define os respectivos instrumentos directos
(regulamentos) e indirectos (económicos) de salvaguarda.
Em terceiro lugar, ao nível do modelo institucional, pela questão da articulação, atribuições e competências
das entidades da Administração Pública Estadual, Administração Pública Estadual Autárquica, e
Administração Regional Autónoma.
Finalmente, ainda no âmbito institucional, pelas formas de propriedade e gestão dos sistemas numa óptica
empresarial (por entidades públicas, privadas e mistas). Embora virada para o abastecimento de água e o
tratamento de águas residuais (populações), a legislação existente cumpre, nesta área, com os princípios
essenciais estabelecidos para a generalidade das utilizações.
O D.L. nº 412/89 de 29 de Novembro vem regulamentar as Associações de Municípios, que vêm permitir o
traçar de estratégias regionais globais. As Associações de Municípios foram aliás responsáveis por muitos
projectos de construção ou remodelação de sistemas candidatos a fundos comunitários, fazendo-se ouvir
mais facilmente perante as instituições nacionais e comunitárias.
O grande passo para o surgimento de entidades especializadas surge em 1993. O D.L. nº 372/93 de 29
Outubro vem definir claramente o conceito de Sistema Municipal e Multimunicipal e permitir o acesso de
capitais privados através de concessão. O D.L. nº 379/93 de 5 de Novembro define o regime legal de gestão
e exploração destes sistemas.
Os Sistemas Multimunicipais são entendidos como sistemas com elevado interesse nacional ou regional,
abrangendo pelo menos dois municípios, devendo por isso ser concessionadas a entidades públicas ou a
sociedades de capital maioritariamente público. Os restantes são classificados como Municipais (engloba os
Intermunicipais), podendo ser concessionados a empresas privadas ou maioritariamente privadas.
A partir do momento em que existem organizações específicas com métodos de gestão empresarial mais se
acentua a necessidade dos sistemas captarem as suas próprias receitas, evitando que os municípios suportem
o défice de exploração resultante de tarifas insuficientes (numa perspectiva de cobrirem os custos de
fornecimento dos serviços).
O D.L. nº 319/94 de 24 de Setembro vem estabelecer o regime jurídico e bases do contrato de concessão dos
Sistemas Municipais, e o D.L. nº 162/96 de 4 Setembro vem estabelecer o regime jurídico e bases do
contrato de concessão dos sistemas Multimunicipais. As disposições neles constantes são de grande
importância por estabelecerem as bases contratuais entre as partes, de forma a salvaguardar simultaneamente
a viabilidade económico-financeira da empresa, sem o qual não é possível garantir a qualidade do serviço, e
salvaguardar a capacidade do poder central ou local de fiscalização, e em último caso de rescisão unilateral
sem indemnização por incumprimento de deveres legais, contratuais, ou técnicos (deficiências graves no
serviço prestado).
Assim, a única forma de participação privada maioritária apenas existe na concessão, sendo que mesmo neste
caso não se pode falar em privatização, dado que são bens públicos. Embora a concessionária detenha os
bens durante o período da concessão, eles revertem para o estado ou para os respectivos municípios no seu
termo.
Finalmente, a Lei nº 58/98 de 18 de Agosto, Lei das Empresas Municipais, Intermunicipais e Regionais,
permite a criação de empresas públicas de âmbito municipal.
Em relação aos aproveitamentos hidroagrícolas destaca-se a importância do D.L. nº 47/94, embora não tenha
ainda sido aplicada, pelo que nos regadios colectivos públicos, concretamente no que se refere aos
aproveitamentos hidroagrícolas classificados como Obras do Grupo II, o regime económico e financeiro
vigente é o que resulta do D.L. nº 269/82, de 10 de Julho, relativo às obras de fomento hidroagrícola,
nomeadamente dos seus Artigos 57º a 69º. De acordo com este regulamento, o regime financeiro destes
aproveitamentos rege-se pela aplicação de uma "taxa de beneficiação" e de uma "taxa de exploração e
conservação".
A taxa de beneficiação é suportada pelos beneficiários, sendo liquidada pelas suas associações, e destina-se a
reembolsar o Estado na percentagem das despesas de investimento que não tiver sido considerada como
investimento a fundo perdido. Note-se que entre os beneficiários se incluem não só os proprietários de
prédios rústicos situados na zona beneficiada como também os utilizadores industriais directos da obra e as
autarquias locais consumidoras de água fornecida pelo aproveitamento (Art. 61.º). Aqui reside um dos
problemas jurídicos na gestão da água: a inexistência de legislação específica para aproveitamentos de fins
múltiplos.
pretendidos (conjugação entre prazos de empréstimos e vida útil dos investimentos, conjugação entre
tarifários eventualmente mais elevados e benefícios fiscais, conjugação entre taxas a pagar a custos
associados, etc.).
11.4.4. Financiamento
Apesar das taxas e tarifas representarem uma fonte de financiamento do sector não são contudo suficientes,
em muitos casos, sequer para assegurar os custos de gestão, operação e manutenção.
Por outro lado tendo em conta o atraso no desenvolvimento que se verificou neste sector durante décadas,
seria necessário um grande esforço financeiro para levar os principais indicadores a aproximarem-se dos
níveis europeus mais desenvolvidos.
Neste contexto, julga-se importante referir alguns acontecimentos que contribuíram e continuarão a
contribuir para esse objectivo.
1986 - A adesão de Portugal á União Europeia (então C.E.E.), pela troca de experiências que
possibilitou, pelo acesso aos fundos comunitários e ao Banco Europeu de Investimentos.
1987 - O apoio às Autarquias através dos contratos-programa.
1993 - A abertura do Sector à “empresarialização”
2000 - A adopção da Directiva Quadro da Água
Bastará observar o quadro seguinte para verificar o esforço que foi realizado ao nível do investimento em
abastecimento de água e recolha e tratamento de águas residuais e os resultados obtidos em termos de
progressão dos índices de atendimento.
De facto, verificou-se uma média de investimento de cerca de 50 milhões de contos por ano (julga-se que
será até um pouco superior), um crescimento do índice de abastecimento em 10 pontos percentuais e do
índice de tratamento e recolha de águas residuais de 34 pontos percentuais.
Convirá ainda referir que este salto só não é mais expressivo porquanto não expressa o aumento na qualidade
do serviço (menos falhas de abastecimento, maior controle de produto, etc).
Quadro 11.4.1 - Investimento (milhões de contos)
disponibilidades de água. Neste capítulo é feita a avaliação dos volumes facturados ou consumidos no
utilizador final ou primário.
A avaliação dos custos de utilização da água foi uma das componentes dos estudos de economia da água, que
concentrou grande parte da atenção da equipa de estudo. Estes custos incluem os custos necessários para
suportar a extracção, tratamento, transporte e armazenamento da água e para a “recuperação da água” com o
objectivo de a devolver ao meio receptor natural com qualidade adequada (Custos dos Serviços de Utilização
da Água), os custos associados à escassez do recurso (Custos de Recurso ou de Escassez) e os custos
associados ao ambiente (Custos Ambientais).
Os Custos dos Serviços de Utilização da Água representam o conjunto dos custos necessários para a criação
e exploração de um sistema, ou seja, todas as despesas suportadas e a incorrer para, face a determinado uso
pretendido, se disponibilizar água com as características qualitativas e quantitativas necessárias, incluindo os
custos directos da sua devolução para o meio ambiente. Estes custos podem, simplificadamente, agrupar-se
em custos de investimento, custos de exploração e operação, custos de manutenção e custos de gestão e
administração (custos administrativos).
Os Custos de Recurso/Escassez, ou “Custos de Utilização do Recurso Natural” (OCDE, 1987), reflectem os
custos da degradação quantitativa e qualitativa do recurso água, tendo em conta as suas utilizações futuras e
a relação entre os utilizadores de jusante e de montante. Incluem-se igualmente os custos associados à sobre-
exploração dos recursos.
Os Custos Ambientais, ou “Custos das Externalidades ambientais” (OCDE, 1987), traduzem os custos dos
efeitos externos negativos causados pela degradação quantitativa e qualitativa do recurso água, estando
associados aos custos necessários para repor o seu estado natural (em quantidade e qualidade), impondo no
meio hídrico uma boa qualidade ecológica.
Os Custos dos Serviços de Utilização da Água foram analisados de modo detalhado, apresentando-se para os
Custos de Recurso/Escassez e os Custos Ambientais apenas uma avaliação sumária, com base em dados
bibliográficos.
(1) A utilização do custo anual equivalente permite a comparação de investimentos que diferem entre si quanto aos respectivos montantes e
períodos de vida útil, transformando-os numa renda anual de valor actual financeiramente equivalente aos custos de investimento
actualizados. O seu cálculo recorre à multiplicação do valor actual dos investimentos pelo factor de reposição do capital (FRC), o qual é
dados pela expressão: FRC = i/(1-(1+i)-t), onde i representa a taxa de actualização considerada e t o *número de períodos em causa (no caso
presente, o número de anos de vida útil dos investimentos).
O valor anualizado do investimento é o montante anual constante recuperado ao longo da vida útil da infra-
estrutura, cujo somatório actualizado a uma determinada taxa de desconto iguala o valor inicial do
investimento. Num contexto de preços correntes, a taxa de actualização é nominal, ou seja, incorpora a
inflação e o custo do capital. Num contexto de preços constantes, a taxa de actualização é real, ou seja, não
incorpora a inflação.
Dado que os valores de investimento (tal como os restantes custos e proveitos) se encontram referidos a
2000, então pode dizer-se que, nesta data, estão simultaneamente a preços correntes e constantes. No entanto,
a utilização de uma taxa real ou nominal não é indiferente, produzindo valores anualizados distintos. Se for
utilizada uma taxa real, o valor anualizado fica referido ao ano base. Se for utilizada uma taxa nominal, o
valor anualizado fica referido ao ano em que há a entrada do fluxo financeiro.
Note-se que os mercados funcionam na prática a preços correntes, ou seja, um fluxo anual actualizado a
preços constantes cobrado daqui a 20 anos já sofreu a erosão da inflação, pelo que, adicionado aos restantes
fluxos anuais actualizados, será inferior ao investimento. Para igualar este montante, o valor daquele ano
teria de ser alvo de revisão de preço, utilizando para tal o índice de preços no consumidor com base 100 em
2000.
Assim, a taxa de 5% considerada contempla o custo do capital e a inflação. Na prática, dado que é uma taxa
relativamente baixa, estaria ainda num intervalo de razoabilidade para uma taxa real. Nos investimentos
privados esta taxa é escolhida pelo próprio investidor em função dos ganhos que pretende obter (caso
contrário não investe).
Ao falar em custo do capital não significa necessariamente que o investidor incorra em custos de obtenção de
capital (o Estado obtém o capital fundamentalmente por via de impostos), mas que existe sempre uma
penalização por investir, quer pela natural preferência pela liquidez no presente, quer pela possibilidade de
investimentos alternativos (custo de oportunidade). Pode-se ilustrar este conceito pelo facto de o dinheiro,
mesmo que não seja aplicado, é capaz de gerar juros numa aplicação passiva como um depósito bancário
(verba que é perdida quando se investe).
11.5.2.1. Custos de Serviços de Utilização da Água
Abastecimento de Água da Rede Urbana
A avaliação dos custos dos serviços de abastecimento de água foi efectuada para a totalidade da rede urbana,
conjugando custos unitários, índices e indicadores, com o cadastro das infra-estruturas que compõem os
sistemas de abastecimento de água. Esta opção coloca os custos de investimento no domínio dos valores de
construção, como se as obras fossem construídas hoje (mais precisamente foi considerado como ano base o
ano 2000).
As infra-estruturas dos sistemas de abastecimento de água utilizadas na avaliação de custos foram: captações,
adutoras, reservatórios, estações elevatórias, estações de tratamento, postos de tratamento e redes de
distribuição. Para além do número e tipologia das infra-estruturas constante do inventário, foram utilizados
dados dos volumes de água por utilizador, população, áreas, custos unitários, tarifários, entre outros. Foram
ainda estimados alguns indicadores para as grandezas onde se detectaram graves lacunas - caudais, alturas,
potências, etc..
Os custos de exploração e manutenção foram estimados a partir dos investimentos pelas aplicação de índices
e indicadores obtidos através de referências bibliográficas e da análise de casos específicos de estudo.
Os custos administrativos foram integrados nos custos, pois tomou-se consciência que os custos de
exploração e manutenção não incluem muitos dos custos de funcionamento das entidades gestoras, em
particular os custos da estrutura de administração e gestão e os custos de monitorização da rede. Neste
sentido, com base em casos reais e por contactos com responsáveis de gestão de entidades responsáveis pelo
abastecimento água, consideraram-se para o abastecimento urbano as percentagens sobre os custos de
exploração e manutenção que se apresentam no quadro seguinte.
Tipo de Concelho
Mais urbano (abrange 44 concelhos com 35% (+ 5%)
volumes captados acima de 4 milhões de
3
m /ano)
Mais rural (abrange 229 concelhos com 15% (+ 5%)
volumes captados abaixo de 4 milhões de
3
m /ano)
Os custos calculados para a totalidade da rede urbana foram redistribuídos pelos vários sectores utilizadores
da rede urbana (População, Indústria e Sector Hoteleiro) de acordo com os respectivos peso nos volumes de
água facturada.
Drenagem e Tratamento de Águas Residuais da Rede Urbana
A avaliação dos custos para a drenagem e tratamento de águas residuais da totalidade da rede urbana foi
realizada de modo idêntico ao efectuado para o abastecimento de água, conjugando custos unitários, índices
e indicadores, com o cadastro das infra-estruturas.
Relativamente aos custos de administração, dado ter menores custos de monitorização da rede, utilizaram-se
taxas inferiores em cinco pontos percentuais às utilizadas para o abastecimento, valor este que incide nos
custos anuais (excluindo os custos de investimento).
A redistribuição dos custos pelos vários sectores utilizadores da rede urbana, foi efectuada de modo idêntico
ao do abastecimento de água (segundo o peso dos volumes de água facturada por cada sector utilizador).
Abastecimento de Água à Industria
As unidades industriais são abastecidas por rede própria ou através da rede urbana, situações que
correspondem a metodologias de avaliação de custos completamente distintas.
Para as indústrias ligadas à rede urbana foram quantificados, por concelho, os volumes de água facturados
pela indústria. Os custos de água foram obtidos através dos custos dos serviços da rede urbana, ponderados
por um factor obtido em função da relação entre volumes facturados na indústria e na rede urbana.
Para as industrias com rede própria, face ao desconhecimento das características das captações utilizadas no
abastecimento de água e tendo em conta a avaliação de custos, decidiu-se considerar que as captações de
água seriam de origem subterrânea, sem significativos custos de transporte. Neste sentido, com base na
informação da localização e características dos sistemas aquíferos (Capítulo 5), foram estimadas para cada
sistema aquífero, as profundidades médias dos furos e as alturas médias de elevação, a partir dos quais e com
3
base na aplicação de critérios de custos e preços unitários foram estimados os custos unitários (por m ) para
investimento, exploração e manutenção.
Com base no volume de água obtido para satisfazer as necessidades da indústria por concelho e os custos
3
unitários de investimentos, exploração e manutenção (por m fornecido/drenado ou tratado) estimaram-se os
custos anuais.
Drenagem e Tratamento de Águas Residuais da Indústria
A avaliação de custos de serviços para a drenagem e tratamento de águas residuais da indústria, foi efectuada
separadamente para as indústrias ligadas à rede urbana e para as indústrias com rede própria. Para ambos os
casos a avaliação foi realizada conjugando custos unitários, índices e indicadores, com as cargas poluentes
produzidas pelas principais indústrias poluidoras e como se as infra-estruturas fossem construídas hoje (ou
seja no ano 2000).
No caso da indústrias ligadas à rede urbana, os custos avaliados para a totalidade da rede urbana foram
redistribuídos pelos diversos sectores utilizadores na proporção dos volumes facturados por cada sector. No
caso da indústrias com rede própria, os custos serão avaliados através de custos unitários e das cargas
poluentes produzidas pelas indústrias poluidoras. Integraram-se também neste sector os custos de tratamento
das suiniculturas.
Turismo
A avaliação de custos e receitas associados à utilização de água no sector do Turismo tem por objectivo
estimar a dimensão económica deste sector. O sector de Turismo foi dividido nos sub-sectores da hotelaria e
das diversas actividades de lazer e recreio, com destaque para os campos de golfe, a navegação fluvial e a
pesca desportiva em águas interiores.
Na análise da dimensão destes sub-sectores foram consideradas duas abordagens, uma baseada em custos
e/ou receitas obtidos a partir de volumes de água (sector hoteleiro e campos de golfe) e outra baseada em
volumes de negócio (pesca desportiva e navegação fluvial).
As receitas no sub-sector hoteleiro correspondem ao que é pago pela hotelaria pela água consumida na rede
urbana. Para quantificar a dimensão deste sub-sector da actividade turística considerou-se que todos os hotéis
se encontravam ligados à rede urbana. A estimativa destas receitas, em função do volume, teve por base as
taxas e tarifas em uso em cada concelho (sector comércio e indústria), os volumes de água facturados e o
número de consumidores do sector hoteleiro. Os volumes de água captados apresentam-se no Capítulo 4 e
foram obtidos através do número médio anual de dormidas.
A avaliação de custos para o abastecimento de água aos campos de golfe por rede própria teve por base
admitir que a maioria das captações de água era de origem subterrânea. Neste sentido, com base nos custos
médios de bombagem e de captação por aquífero, apresentados no sector indústria, e de acordo com os
consumos médios anuais de água por cada campo estimaram-se os custos de investimento, de manutenção e
de exploração dos sistemas de adução de água para rega dos principais campos de golfe existentes em
Portugal.
Relativamente ao sub-sector navegabilidade, foi feita uma análise mais detalhada da navegabilidade do rio
Douro e uma análise mais sumária para restantes troços navegáveis, nomeadamente nos rios Minho, Vouga,
Tejo, Sado, Guadiana e Arade.
Com base nos dados fornecidos pelo Instituto de Navegabilidade do Douro (IND), foram estimados para o
rio Douro os custos de investimento, de manutenção e de operação, e o volume de negocios. Para os restantes
rios estimou-se apenas o volume de negócios na actividade turística.
A nível da pesca desportiva em águas interiores, as receitas foram estimadas com base no custo unitário dos
vários tipos de licenças e do número de licenças anuais. A título meramente de exercício estimou-se outras
receitas associadas a esta actividade, nomeadamente custos relativos às deslocações, alimentação, material,
ou seja, o que cada pescador extra-licença disponibiliza por ano para esta actividade.
Outros Sectores
Nos outros sectores foram incluídos a pesca profissional em água interiores e a aquacultura, cuja análise é
baseada em volumes de negócio, e as actividades relacionadas com o controle do meio hídrico, destacando-
se a protecção contra as cheias e a regularização fluvial.
A nível da pesca profissional em águas interiores as receitas foram estimadas com base nas licenças anuais.
Na análise das receitas associadas a esta actividade seria fundamental analisar o volume de pescado por ano,
no entanto, nesta fase esses dados não se encontram disponíveis.
Relativamente à aquacultura o estudo visa a análise dos custos de investimento médio por aquacultura, os
custos associados à manutenção e exploração e por último as receitas provenientes do volume de peixe
produzido.
Na defesa e protecção contra cheias, foram identificadas as obras de controlo das cheias e quantificados os
custos de investimento para elaboração dos estudos e para a execução das obras e os custos de manutenção.
11.5.2.2. Custos do Recurso/Escassez e Custos Ambientais
A avaliação da totalidade dos custos pressupõe a avaliação, para além dos custos dos serviços de utilização
de água, dos custos de recurso/escassez e dos custos ambientais.
O cálculo destes custos deverá ser feito tendo por base dois objectivos fundamentais na gestão da água:
(milhões de contos)
Volumes Custo Receitas Relação
Água por m3 receita/
Sectores facturada/ custos
efluentes (esc/m3)
106 m3
TOTAL 97,41
Em face dos resultados apurados, quer nesta síntese quer nos dados mais detalhados, julgam-se pertinentes os
seguintes comentários por sector utilizador :
11.5.3.2. População
Dos 91 milhões de contos dos custos com o abastecimento, cerca de 60% corresponde a custos de
investimento (anualizados) e os restantes 40% correspondem a custos de operação, manutenção e gestão.
- O custo médio por m3 é de cerca de 213$00
As receitas obtidas no abastecimento rondam os 75 milhões de contos e distribuem-se por taxa de
disponibilidade/aluguer do contador (43%) e taxa de consumo (57%), o que permite verificar a elevada
taxa fixa da tarifa doméstica.
3
Estas receitas, face à água facturada, correspondem a cerca de 175$00/m representando um grau de
cobertura receita/custos de 82%.
- Dos 51 milhões de contos gastos na drenagem e tratamento de águas residuais, cerca de 55% refere-se
a custos com investimento e os restantes 45% com a exploração, manutenção e gestão.
- O custo médio por m3 é de cerca de 173$00.
Na drenagem e tratamento das águas residuais as receitas rondam os 10,3 milhões de contos o que
equivale a pagamento de 35$00/m3 e a um grau de cobertura receita/custos de 20%.
Valor em Valor em
Portugal Portugal
Continental Continental
213$00 175$00
Figura 11.5.1 - Abastecimento de Água à População Figura 11.5.2 - Abastecimento de Água à População
Custo Médio (escudos/m3) Preço Médio(escudos/m3)
11.5.3.3. Indústria
Dos cerca de 12,8 milhões de contos de custos com o abastecimento à indústria, cerca de 8,8 milhões de
contos correspondem à rede pública (69%) e 4,0 milhões á rede própria (31%).
Do valor total aplicado anualmente, os citados 12,8 milhões, cerca de 48% correspondem a custos de
investimento e os restantes 52% a custos de operação, manutenção e gestão.
O custo médio total por m3 situa-se em 39$00, sendo o custo por m3 da rede pública (213$00) bastante mais
elevado do que o da rede própria (14$00).
As receitas da água abastecida pela rede pública são de 8,6 milhões de contos. Como os custos são de 8,8
milhões há um grau de cobertura de : 0,97
Valor em Portugal
Continental
0,82
Valor em Portugal
Valor em Portugal Continental
Continental 35 esc./m3
173 esc./m3
Figura 11.5.4 - Drenagem e Tratamento de Águas Figura 11.5.5 - Drenagem e Tratamento de Águas Residuais
Residuais da População - Custo Médio (escudos/m3)da População - Preço Médio por m3 do Efluente (escudos/m3)
Valor
Valorem
em Portugal
Portugal
Continental
Continental
0,20
0,20
Figura 11.5.6 - Drenagem e Tratamento de Águas Residuais da População - Relação Receitas Custos
Dos cerca de 16,7 milhões de contos anuais aplicados na drenagem e tratamento de águas residuais da
indústria, cerca de 5,7 milhões de contos correspondem à rede pública (34,0%) e os restante à rede própria
(66,0%).
Do valor total aplicado (anualizado), 52% correspondem a custos de investimento e o restante (48%) a custos
de exploração, manutenção e gestão.
As receitas da rede pública são de 1,16 milhões de contos e o seu grau de cobertura dos custos não ultrapassa
os 20%.
11.5.3.4. Agricultura
Os custos totais apurados para o sector agrícola foram de 62,1 milhões de contos, para abastecimento (rega
e drenagem).
Deste valor cerca de 64% corresponde à componente investimento e os restantes 36% à componente de
funcionamento, ou seja, custos de operação, manutenção e gestão.
Em média, obteve-se um custo por m3 de água na parcela de 11$70 sendo este custo unitário mais elevado
nos regadios públicos colectivos (26$90) do que os regadios públicos tradicionais (6$60).
Valor em Portugal
Continental
0,97
Figura 11.5.7 - Abastecimento de Água à Indústria (Rede Pública) - Relação Receitas Custos
30 26.9
25
20
(e
sc.
/m 15
11.7
10.5
3)
10 6.6
0
Tradicionais Colectivos Individuais Médio
Tipo de regadio
Valor em Portugal
Continental
0,12
Figura 11.5.9 - Agricultura - Abastecimento de Água Regadios Públicos Colectivos - Relação Receitas Custos
O custo médio por m3 de água utilizado neste sector ronda os 5 centavos e meio ;
A produção média de energia anual é de 12000 Gwh no caso da EDP e 600 Gwh no caso das mini-hídricas.
Não foram apuradas receitas pelo que na avaliação do Negócio da Água, (ponto 11.5.4) foi admitida uma
receita de produção de energia equivalente à facturação que as mini-hídricas fariam se fossem estas a
produzir. Esse valor equivale a 157 milhões de contos.
Valor em Portugal
Continental
44,8 milhões de
contos
Custos Anuais
Figura 11.5.10 – Produção Hidroeléctrica (EDP) – Custos totais anuais da componente hidráulica
11.5.3.6. Turismo
Os custos do turismo referem-se essencialmente ao sector hoteleiro, campos de golfe, navegação fluvial e
pesca desportiva.
Os custos totais anuais atingem cerca de 6,4 milhões de contos, sendo cerca de 39% do sector hoteleiro, 3%
dos campos de golfe e 57% da navegação.
Os custos de abastecimento do sector hoteleiro são de 1,6 milhões de contos e os das águas residuais de 1,1
milhões de contos.
O custo médio do abastecimento ao sector hoteleiro é de cerca de 213$00 por m3, enquanto que na drenagem
e tratamento de águas residuais este indicador se cifra em 173$00 por m3.
As receitas do abastecimento ao sector hoteleiro são de 1,7 milhões de contos o que confere um grau de
cobertura receitas/custos de 1,06.
Quanto à drenagem e tratamento das águas residuais as receitas apontam para 0,22 milhões de contos e existe
um grau de cobertura receitas/custos de 0,20.
Quanto à navegação as receitas não ultrapassam 0,04 milhões de contos face a custos na ordem dos 3,5
milhões.
Valor em
Portugal
Continental
213 esc./m3
88%
86%
10%
5%
7%
0.03% 2% 2%
61% 200
12%
107
150
100
39
26%
50 12
0
População Industria Agricultura Turismo
(Hot.+Golfe)
1%
População Industria Agricultura Turismo População Industria Agricultura Turismo (Hot.+Golfe)
Dado que o volume de receitas não constitui ainda um bom indicador, visto que estarão longe de reflectir os
custos efectivos, optou-se por considerar o volume de negócios por via dos custos anuais totais, ou seja , o
custo anualizado dos investimentos e o seu custo de operação, manutenção e gestão.
Assim foi feito para o abastecimento de água e para a recolha e tratamento de águas residuais .
Por outro lado, quando não é viável a obtenção do custo real, procedeu-se ao cálculo de estimativas com base
nos elementos estatísticos disponíveis (é o caso da pesca desportiva).
Para os custos ambientais e de escassez, foram também consideradas estimativas, feitas por especialistas, já
que não existe ainda um método consensualizado, nem estatísticas vocacionadas para o efeito.
Poder-se-á argumentar que os custos ambientais e de escassez dificilmente farão parte do mercado da água.
Contudo, deverá ter-se em conta que estes custos existem e tenderão a ser internalizados pelas entidades
utilizadoras da água ou seja pelo consumidor do produto final, quando os preços reflectirem os custos totais .
Visto que este mercado não pode deixar de englobar a zona costeira do país, são também apontados valores
anuais que reflectem o custo da manutenção, conservação e revalorização desta área, embora sem considerar
a miríade de micro investimentos privados em estruturas de apoio directo ( bares, restaurantes, pequenos
pontos de apoio à pesca artesanal, ancoradouros para pequenas embarcações etc.)
No caso da produção de energia são apresentados valores de custos e volume de negócios, tendo-se optado
por este último uma vez que se trata de uma utilização com rentabilidade comprovada.
Poderá considerar-se esta opção um exagero. Contudo, se tivermos em conta a poupança em divisas na
importação da energia equivalente, ou o custo da produção a partir de termo eléctricas (sem falar já na
poluição) talvez se ache até subvalorizada.
Relativamente ao uso da água para fins turísticos, optou-se por considerar os estabelecimentos hoteleiros
como a parte essencial dessa utilização. Sabe-se que existe uma oferta de dormidas superior, sobretudo a
nível de casas particulares, mas estas já foram consideradas no abastecimento à população.
Sempre que os dados disponíveis não ofereciam um grau de confiança considerado aceitável, optou-se por
considerar valores mais conservadores. Estão neste caso os campos de golfe, a aquacultura e a navegação
fluvial. Relativamente a esta última apenas foi considerada a navegação no rio Douro que é, aliás, a mais
expressiva.
Assim sendo poder-se-á concluir o seguinte:
i) o volume de negócios que se realiza directamente com a água, ou em torno dela, será sempre superior ao
valor apurado e tenderá com o tempo a aumentar, quer por via da sua superior valorização, quer por via
do potencial aumento da conflitualidade de usos, quer ainda pelas progressivas restrições ambientais ao
seu uso.
ii) O volume de negócios anual apurado é de cerca de 450 milhões de contos, a preços de 1999,
conforme se observa no quadro seguinte:
iii) Como foi dito, este montante considera como valor de negócio alguns custos não cobrados pelo erário
público. Isto significa admitir que o negócio se fez da mesma forma, o pagador é que não foi o mais
indicado.
iv) Convirá dizer ainda que se trata sempre dum cálculo de risco, que mais não faz que tentar sistematizar e
restringir algumas actividades à luz do uso mais directo e intensivo da água. Com efeito, existe quem
faça outro raciocínio: se a vida é impossível sem água e se sem vida não há negócios, então tudo o que
se produz deriva da existência desse bem essencial.
v) Para se ter uma ideia do peso deste mercado em Portugal, poderemos compará-lo com o PIB, que é o
valor de todos os bens e serviços produzidos no país, e o emprego da população activa. O volume de
negócios da água representa cerca de 2% do Produto Interno Bruto e 1% do total da população
empregue.
POPULAÇÃO
Abastecimento de água 55,000 36,100 91,100 91,100
Recolha e tratamento de Águas Residuais 27,000 24,000 51,000 51,000
INDÚSTRIA
Abastecimento de água 6,100 6,700 12,800 12,800
Recolha e tratamento de Águas Residuais 8,700 8,000 16,700 16,700
AGRICULTURA
Água para rega 40,000 22,100 62,100 * 62,100
TURISMO (hóteis)
Abastecimento de água 0,900 0,700 1,600 1,600
Recolha e tratamento de Águas Residuais 0,500 0,600 1,100 1,100
PRODUÇÃO ENERGIA
Hidroelectrica
. EDP 41,000 3,800 44,800 (1) 157,000 (2)
. Outros 2,000 2,000 7,300
Termoelétrica 0,800 0,800 0,800
11.6.1. Generalidades
A eficiência das utilizações da água procura caracterizar os desperdícios e a má utilização da água desde a
sua captação no meio hídrico até ao seu uso final (inclusive). Esta eficiência aumenta com a crescente
valorização económica da água, pois quando não é dado o adequado valor ao recurso água geram-se
situações de ineficiente utilização.
A análise da eficiência da utilização da água pode ser medida através de duas grandes áreas:
• Eficiência no transporte e distribuição
• Eficiência na aplicação.
Qualquer destes aspectos será sumariamente analisado para as principais utilizações de água, como são a
rede urbana de abastecimento de água e a rega na agricultura. A rede urbana incluiu os sectores da
População, Indústria e Sector Hoteleiro.
11.6.3. Agricultura
De modo idêntico aos restantes sectores utilizadores, a eficiência da utilização de água na agricultura pode
ser analisada à luz da eficiência no transporte e distribuição e na eficiência de aplicação, apresentando
valores bem diferentes conforme o tipo de regadio em causa (colectivo tradicional, colectivo público ou
privado) ou os métodos de rega (gravidade, aspersão e localizada).
A eficiência no transporte e distribuição a aplicação da água varia com o tipo de regulação do sistema e com
a qualidade e tipo das redes de transporte e distribuição.
- Regadios Públicos Colectivos
A maioria dos sistemas públicos colectivos são regulados por montante, acarretando perdas de água
significativas, se não houver uma muito boa gestão da água. A água tem de ser lançada no sistema
antecipadamente em função das previsões de uso. Se essas previsões não forem verificadas, a água é
desperdiçada gerando perdas por regulação. O transporte e adução pode ser por conduta ou por canal levando
a perdas bem distintas. Neste tipo de regadios estima-se actualmente uma eficiência média no transporte e
distribuição se for em canal de 75%, e se for em conduta de 90%.
A eficiência na aplicação é na ordem de 60% na rega por gravidade, 70% por aspersão e 90% na rega
localizada.
A eficiência global varia por isso entre 40 a 60% na rega por gravidade, 50 a 75% na rega por aspersão e
entre 60 e 85% na rega localizada.
- Regadios Públicos Tradicionais
Os regadios tradicionais existem maioritariamente nas áreas húmidas apresentando por isso eficiência
globais bastantes baixa, podendo-se admitir uma eficiência na ordem de 50%.
- Regadios privados
Os regadios privados tem uma reduzida extensão de rede de transporte e distribuição, utilizando
normalmente rede em conduta e não rega por gravidade. A eficiência global é em média de 70% na rega por
aspersão e de 85% na rega localizada.
11.7.1. Generalidades
Relativamente aos preços colocam-se duas questões complementares: o nível das receitas - que deve permitir
a recuperação dos custos dos serviços de utilização da água, dos custos de escassez, e dos custos ambientais;
e os esquemas tarifários, que devem, por um lado, discriminar os preços por tipo de utilização, e por outro
sinalizar comportamentos correctos em termos de uma utilização racional e equitativa do recurso água.
Relativamente à discriminação de preços, e de acordo com os princípios do utilizador-pagador e do poluidor-
pagador, cada tipo de utilizador deve suportar os custos totais da utilização do recurso água em função dos
volumes utilizados ou da quantidade e tipo de poluição que produz. A aplicação concreta não poderá deixar
de considerar outros factores como o rendimento das famílias, a competitividade dos sectores económicos, e
o papel do Estado como investidor ou financiador do sector.
De facto, é necessário algum bom senso e uma decisão política no sentido de saber se a sociedade deve ou
não, para uma dada utilização, suportar o diferencial entre o custo total e o preço que o utilizador pode
suportar. De igual forma, é necessário decidir se determinados utilizadores, com capacidade para pagar um
preço muito superior ao custo respectivo, devem ou não pagar mais.
Relativamente a esquemas tarifários que possibilitem uma utilização racional e sustentável da água, podem
existir algumas contradições, não meramente teóricas, entre o princípio enunciado e os interesses da entidade
responsável pelos fornecimento dos serviços de utilização, quer esta esteja na esfera pública ou privada.
No que diz respeito à recuperação dos custos totais, actualmente são cobradas apenas tarifas dos serviços de
utilização de água aos sectores ligados às redes urbanas, e aos agricultores em perímetros de rega. Uma das
conclusões do PNA é precisamente que as receitas não cobrem totalmente os custos totais dos serviços de
utilização de água.
Uma das causas é o estabelecimento de tarifários que, sendo a expressão unitária da receita total (decorrente
de projecções no tempo de volumes, capitações, população, etc.), vão permitir recuperar apenas uma parte ou
a totalidade dos capitais próprios investidos nos sistemas.
A aplicação do regime económico-financeiro da utilização do domínio público hídrico, embora possa ter
limitações, permitiria uma boa aproximação dos montantes efectivamente cobrados ao preço-sombra do
recurso para a comunidade, que traduz um benefício que ultrapassa o valor económico da água.
Para tal seria necessário fomentar estudos de avaliação de externalidades (económicas e ambientais). Pese
embora a possibilidade de realizar estimativas baseadas em indicadores utilizados noutros países,
nomeadamente da União Europeia, com vantagens obvias em tempo e custo, naturalmente que poderá haver
uma menor adequação às características próprias de Portugal, bem como falta de controlo sobre as
metodologias aplicadas.
Na pratica, sucede que grande parte dos serviços de utilização de água das redes urbanas de abastecimento de
água e de drenagem e tratamento de águas residuais funcionam em conjunto. Na maior parte dos casos a
entidade de gere ambos os sistemas é a mesma, pelo que a comparação entre os custos e as receitas deve ser
feita conjuntamente.
De facto, é mais consistente retirar uma conclusão relativamente à cobertura global dos custos das redes
urbanas do que fazê-lo separadamente. Compreende-se assim que o défice detectado isoladamente para o
tratamento de águas residuais seja muito superior ao detectado no abastecimento de água.
A política de preços praticada nas redes urbanas abrange os seguintes sectores utilizadores: Doméstico
(Populações), Indústria, Comércio, Turismo, Serviços Públicos, e outras utilizações residuais.
A industria com captações próprias não é geradora de receitas, suportando os seus próprios custos de
investimento e exploração (em sentido lato). Dado que as industrias funcionam em grandes escalas de
produção, estes investimentos são rapidamente amortizados, tendo em geral um peso muito reduzido na
respectiva estrutura de custos. Aliás, o regime económico-financeiro do domínio público hídrico não incide
as águas superficiais e subterrâneas privadas (industria, agricultura, turismo, e outros). De notar que no caso
dos agricultores existem mecanismos de subsídios (directos ou indirectos) e outros apoios sectoriais que
permitem cobrir parte dos investimentos próprios.
Os agricultores integrados em perímetros de rega, suportam uma pequena parte dos custos respectivos,
através do pagamento de uma taxa de exploração e conservação. Contudo não tem sido aplicada a taxa de
beneficiação prevista no mesmo diploma legal.
A taxa de beneficiação, destinar-se-ia a reembolsar o Estado pelos investimentos que realizou. Embora parte
da taxa se destine ao IHERA, nunca foi efectivamente cobrada. A imputação pelos beneficiários prevê não só
as dotações e consumos de água mas também as áreas e o interesse das culturas.
A taxa de exploração e conservação destina-se a suportar a totalidade das despesas de operação e de
manutenção inerentes a cada aproveitamento hidroagrícola, ficando totalmente a cargo dos seus
beneficiários. Uma parte é destinada ao IHERA, constituindo a única verba captada pelo Estado. Ainda
assim, esta verba destina-se a ser reaplicada nos próprios aproveitamentos.
O valor a pagar pelos beneficiários depende de aproveitamento para aproveitamento, podendo ser uma taxa
fixa por hectare, uma taxa com uma componente fixa (por área, diferenciada ou não por tipo de solo, classe
3
de aptidão agrícola, e tipo de cultura) e uma componente variável por m de água consumida.
Por outro lado, as associações recebem verbas relativas a água fornecida para abastecimento público (numa
lógica de serem considerados como beneficiários dos aproveitamentos hidroagrícolas).
Quanto às taxas de utilização previstas no regime económico-financeiro do domínio público hídrico
(DL47/94), não têm sido aplicadas.
Apesar da escassez de estudos relativos ao cálculo de elasticidades para Portugal, dado o aumento que se tem
verificado nos últimos anos no preço dos serviços de utilização da água, principalmente na componente de
abastecimento - rede urbana, acompanhado pelo aumento dos volumes consumidos, então pode concluir-se
que, por um lado, a procura é bastante rígida - característica do próprio bem - e que, por outro lado, o nível
de preços actual é bastante baixo para fazer actuar os mecanismos que permitam influenciar a procura e
permitir uma gestão sustentável da água.
Estudos sobre as tarifas do regadio na Bacia do Sado (Pais, C. e Santos, P., 2000) referem elasticidades
muito reduzidas ao longo de quase toda a curva da procura (entre -0,01 e -0,05), com excepção para os níveis
de preço muito baixos (por afectarem particularmente a rentabilidade da cultura do arroz) e dos preços acima
de 143$00/m3 (elasticidade procura-preço de -1,95).
Apresentam-se seguidamente alguns valores respeitantes a outros países, que se referem fundamentalmente
ao consumo doméstico. Estudos sobre a realidade espanhola (que com as devidas distâncias poderá ter
alguma similaridade com a portuguesa) indicam que para níveis tarificação até cerca de 120 esc./m3 (preços
de 1994, o que corresponde a cerca de 142 esc./m3 a preços de 2000) o consumo é praticamente inelástico.
Para níveis superiores foi estimada uma elasticidade procura-preço da água em cerca de –0.57, ou seja, a
duplicação do preço da água provoca um decréscimo em 57% na quantidade procurada.
11.7.4. Conclusões
A construção das tarifas, independentemente da utilização, depende dos custos totais que deve cobrir, mas
também das características da procura, nomeadamente das elasticidades procura-preço e procura-rendimento.
Conhecendo o comportamento dos agentes utilizadores face às decisões de preço é possível gerir melhor a
procura e o recurso.
Dado que o aumento verificado nos últimos anos no preço dos serviços de utilização da água (abastecimento
e tratamento - rede urbana) tem sido acompanhado pelo aumento dos volumes consumidos, então pode
concluir-se que, por um lado, a procura é bastante rígida - característica do próprio bem - e que, por outro
lado, o nível de preços actual é bastante baixo para fazer actuar os mecanismos no sentido da racionalidade
da utilização e da gestão sustentável da água
Considerando que o Estado mostra preocupações sociais (impactos nas famílias mais desfavorecidas),
económicas (impacto nas empresas agrícolas, industriais e de serviços) e ambientais, conclui-se que o
problema fundamental não está tanto na formulação teórica das estruturas tarifárias, antes no baixo nível dos
preços, que não consegue cobrir totalmente os custos dos serviços de utilização, muito menos os custos de
escassez e ambientais.
Terá de haver um equilíbrio entre os custos totais e os benefícios líquidos por utilização, evitando a
manutenção de preços políticos, mas regulando economicamente para que não haja abusos de posição
dominante.
campos, passando pelo cadastro das infraestruturas, inventário das utilizações da água, contabilização
analítica dos custos, fundamentação económica das taxas e tarifas, etc.
Este aspecto é mais notório a nível dos organismos públicos.
É importante notar que esta vertente é essencial ao acompanhamento e aplicação da Directiva Quadro da
Água, e à elaboração dos estudos que Portugal terá de executar para fixação dos preços da água.
ii) Inadequação da actual estrutura das organizações da Administração Central e descentralizada do
Estado
Será necessário reestruturar estas organizações, conferindo-lhes uma estrutura técnica, orgânica e
financeira mais ágil e mais vocacionada para os desafios do futuro, que serão certamente cada mais de
âmbito estratégico, normativo, de promoção e fiscalização do que executor, tendo em conta também aqui
os compromissos decorrentes da recente Directiva Quadro da Água.
iii) Inadequação da forma das instituições autárquicas ligadas à água e ambiente
Será necessário repensar a forma das instituições autárquicas que tratam das questões da água e do
ambiente. Nalguns casos não há serviços municipalizados e quando há estes não têm personalidade
jurídica própria. A criação de empresas municipais é uma via, embora o PEAASAR pareça oferecer
soluções mais integradas e com maiores economias de escala.
iv) Inadequação das tarifas e taxas dos serviços da água
Genericamente as tarifas existentes não são suficientes para cobrir os custos do respectivo serviço, sendo
que em alguns casos não chegam sequer a cobrir os custos de exploração e manutenção.
Julga-se importante que o poder autárquico reveja a utilidade que pretende conferir aos tarifários e às
taxas relacionadas com a água. A utilização sistemática de tarifas de água abaixo dos custos a suportar já
não é admissível; cobrar taxas de saneamento com base no valor do imóvel é também destituído de
qualquer sentido económico, equitativo ou de promoção de um uso racional; o mesmo se passa com
algumas estruturas tarifárias cuja parte fixa é extremamente alta: de que serve poupar no consumo, se o
valor final a pagar quase não se altera?
Seria importante o estabelecimento de algumas regras – guia que ajudassem a uma harmonização dos
métodos de cálculo das tarifas.
Por outro lado enquanto o nível dos tarifários for muito baixo (independentemente da estrutura) a
procura não reage a pequenos aumentos de preço, ou seja, é ineslática.
Estas preocupações são igualmente válidas para os regadios públicos colectivos.
v) Falta de integração dos instrumentos fiscais relativos à política da água
Apesar da existência de alguns incentivos fiscais nesta área, eles têm surgido de uma forma casuística e
por vezes apenas simbólica.
Na medida em que o princípio do utilizador-pagador venha a ser aplicado (aproximando os preços dos
custos) deverá ser dada especial atenção aos eventuais benefícios a conceder ao consumidor, ou a outros
mecanismos a estudar, sempre no sentido do incentivo à utilização racional da água e dos restantes
recursos.
vi) Falta de aplicação das taxas de utilização (Decreto-Lei nº47/94)
Com uma excepção (taxa de terrenos e planos de água), as taxas de utilização previstas para a captação
de água, rejeição de águas residuais e extracção de materiais inertes não têm sido aplicadas.
Julga-se que estas taxas seriam aquelas que, duma forma mais pedagógica, poderiam transferir para o
utilizador os custos da gestão do recurso, os custos ambientais e os custos de escassez, uma vez que os
custos dos serviços seriam cobertos por tarifários.
A sua importância não deriva tanto do seu montante unitário, mas da percepção transmitida ao utilizador
acerca do valor da água.
Dada a situação actual de falta de aplicação, parece sensato proceder à revisão do diploma que as institui,
por diversas razões:
- porque o diploma contém várias imprecisões, lacunas e outras falhas
- porque o diploma se aplica às utilizações licenciadas e não existe ainda uma base de dados do
licenciamento, devidamente sistematizada e harmonizada,;
- porque seria importante clarificar o destino das taxas e a sua forma de utilização futura;
- porque os sectores com maior utilização da água são exactamente aqueles que estão isentos, ainda
que temporariamente, como é caso da agricultura, ou tem hipótese de ficar isentos, como é o caso da
produção de energia eléctrica;
- porque seria conveniente proceder previamente à avaliação económica da sua aplicação.
vii) Falta de aplicação da taxa de regularização e da taxa de beneficiação
Também não há cobrança destas taxas. Embora com características semelhantes (reembolso ao Estado
dos investimentos feitos em infraestruturas relacionadas com a água) foram instituídas por diplomas
diferentes (D.L.47/94 e 269/82, respectivamente) destinando-se a primeira aos utilizadores em geral e a
segunda aos beneficiários dos perímetros hidroagrícolas.
Julga-se que se trata de um tipo de taxa próximo de uma tarifa e que merecia uma análise conjunta, em
sede de revisão do D.L 47/94 de 22 de Fevereiro, dadas as suas semelhanças.
viii) Inadequação de algumas formas de financiamento
Verifica-se que alguns tipos de financiamento não são os mais adequados, porque :
- os prazos dos empréstimos bancários (com excepção do BEI) são normalmente bastante inferiores à
vida útil esperada das infraestruras o que, caso não houvesse outros apoios, seria bastante restritivo
visto que, ou os tarifários disparavam para valores incomportáveis ou não se fariam as obras
necessárias.
- a capacidade dos SMAS (por exemplo) de contrair empréstimos não está ligada à sua rentabilidade
própria, mas à capacidade de endividamento da autarquia respectiva.
- os apoios do Estado, via contratos-programa são sempre concedidos a fundo perdido, o que não
incentiva o crescimento gradual dos tarifários nem a escolha das soluções técnicas mais económicas.
Julga-se que será necessária a procura de tipos de financiamento mais equilibrados, incentivando uma
maior permanência dos capitais ao serviço dos projectos, mas também um reembolso das entidades
financiadoras, incluindo o próprio Estado.
ix) Falta de parcerias entre capitais públicos e privados
O investimento realizado é quase exclusivamente público, apesar de muitas entidades terem já forma
empresarial
Julga-se que seria salutar um maior envolvimento dos capitais privados no sector, quer ao nível das
instituições financeiras, quer ao nível dos privados não financeiros, no sentido de aliviar o esforço do
Estado e aproveitar as poupanças disponíveis.
A existência de um organismo regulador (IRAR) foi em parte justificado por esta opção.
12.1. Introdução
O objecto central deste capítulo é a apresentação sumária do sistema de participação nas decisões no âmbito
da água em Portugal, abordando-se os sistemas de informação essencialmente dessa perspectiva e
acrescentando apenas uma curta nota sobre a co-responsabilização na gestão dos recursos hídricos.
A participação na gestão da água, que aparece no capítulo anterior integrada no enquadramento "formal" da
gestão dos recursos hídricos, transcende muito, no sistema português, as fronteiras desse sistema. São
principalmente os aspectos funcionais e que transcendem as ligações formais estritas da orgânica de gestão
da água que se abordam neste capítulo.
As questões ambientais em geral e as da água em particular têm sido objecto de uma intensa actividade
legislativa, em que a importância da participação, informação e co-responsabilização das populações e
agentes económicos na gestão ambiental tem sido reafirmada sucessivamente. Essas oportunidades não
tem correspondido às oportunidades e, menos ainda, ás práticas de participação.
A participação, a informação e a responsabilização são conceitos que não existem no abstracto, mas
referem-se a sujeitos e a objectos. Isto é, para analisarmos a participação temos de referir necessariamente
quem participa (o sujeito ou agente) e em que participa (o objecto ou domínio). O mesmo se passa para a
responsabilização e a informação.
A caracterização da situação actual faz-se em três níveis:
• Em termos dos valores expressos na legislação portuguesa de enquadramento geral e de aplicação ao
domínio do ambiente, bem como em algumas fontes do direito internacional e comunitário que
estabelecem grandes directivas no domínio ambiental e hídrico;
• Em termos das oportunidades de participação, informação e responsabilização abertas pela legislação
portuguesa especificamente no domínio hídrico;
• em termos das práticas de participação, informação e responsabilização verificadas.
Neste âmbito, a análise da legislação portuguesa de enquadramento das questões ambientais repete valores
e especifica os mecanismos gerais de participação, informação e responsabilização. A Lei de Bases do
Ambiente acentua como princípios:
• Participação dos cidadãos na elaboração e execução das políticas ambientais como um direito e um
dever
• A responsabilidade por impedir a degradação ambiental e por promover a qualidade do ambiente,
salientando a importância dos princípios da prevenção, da correcção e do poluidor pagador
Deste modo, são reiterados para o domínio ambiental os princípios anteriores, apesar de ser dada menor
importância no texto à informação. No entanto, parece claro que a participação e a responsabilização só se
podem fazer seriamente num clima de informação. É nesse sentido que outras leis mais específicas, ao
definirem os mecanismos de participação e de responsabilização, salientam a importância da informação.
São assim definidos:
• Mecanismos específicos de participação nas tomadas de decisão com incidência ambiental
• Órgãos responsáveis pela promoção da participação e da informação dos cidadãos
• Órgãos responsáveis pela responsabilização dos infractores às normas de qualidade ambiental
Deste modo, a participação e a responsabilização deixam de ser conceitos abstractos, para estarem regulados
de forma mais específica. No caso da Avaliação dos Impactos Ambientais, que, no curto espaço de 10 anos
foi modificada, verificou-se um empenhamento do legislador em tornar mais precisa, mais densa, a
regulamentação sobre a participação pública, o que pode facilitar a sua operacionalização e efectividade.
Neste caso particular da legislação sobre ambiente, os agentes referidos são já mais específicos do que nas
leis de enquadramento geral, uma vez que o tema está também mais delimitado.
• Participação, entendida como contribuição dos cidadãos (enquanto diferentes grupos sociais, entidades
colectivas ou individuais, públicas ou privadas) tanto na formulação como na execução das políticas
ambientais, e ainda na valorização do ambiente; a Convenção de Aarhus e a Directiva Quadro da Água
são também muito claras quando indicam que os processos de participação devem ter lugar nas etapas
iniciais dos processos de tomada de decisão, de modo a que os contributos dos cidadãos possam ser
integrados nos projectos ambientais ou de recursos hídricos;
• Responsabilização, através da definição dos deveres dos cidadãos, dos agentes responsáveis, das
populações e dos utilizadores (dever de não poluir ou causar danos à natureza, deveres de cumprir as
normas de descargas) e da existência de mecanismos de punição e controlo dos danos ao ambiente; os
deveres são considerados tanto pela positiva (dever de contribuir para a promoção da qualidade do
ambiente) como pela negativa (não causar dano ao ambiente); de salientar igualmente o direito de
acesso à justiça em questões de ambiente, como direito fundamental dos cidadãos, mas que alarga
também o seu domínio de responsabilidade;
• Informação, entendida como a existência de “fluxos contínuos entre os órgãos centrais e os cidadãos”,
isto é, salientando a necessidade de os órgãos competentes informarem os cidadãos e de estes
contribuírem para a melhoria dos serviços prestados, através de um mecanismo de feedback..
A informação é o menos acentuado dos valores expressos nas nossas leis gerais, que salientam claramente a
participação e a responsabilização, enquanto que na legislação internacional e comunitária está mais ausente
a questão da responsabilização dos cidadãos e mais explícitos e detalhados os temas da participação e da
informação. Mas, evidentemente, a responsabilização e a participação só fazem sentido se houver acesso
dos cidadãos à informação e atenção das entidades competentes às sugestões e reclamações dos cidadãos.
Deste modo, os valores expressos nas nossas leis assumem uma posição de grande abertura face à
participação e à responsabilização, e parecem indicar uma grande vontade de ouvir e atender os cidadãos.
Vejamos agora como é que estes valores gerais são operacionalizados nas leis mais específicas.
12.3.2. Participação
12.3.2.1. Participação em Consultas Públicas
Analisam-se neste âmbito os processos de AIA, com base nos estudos da OBSERVA e do IPAMB.
O enquadramento legal da AIA mudou, e, na análise da participação nestes processos, comparam-se as
consulta antes e depois da vigência da nova lei, consideram-se neste contexto os casos relativos a recursos
hídricos (estudos de impacto ambiental referentes a barragens, portos e marinas e ETARs).
A participação dos diversos agentes nas AIA foi considerada repetidamente um exemplo de sucesso dos
mecanismos de participação ambiental. Jesus (1996) salienta como principais aspectos positivos a aquisição
de conhecimento local, a possibilidade de entrar em consideração com as reacções locais (por vezes
contraditórias) e a familiarização com o projecto reduzindo a resistência à mudança.
A comparação dos indicadores de participação antes e depois da vigência da nova lei de AIA é feita
comparando os dados relativos ao período 1990-1997 disponibilizados pelo OBSERVA (Garcia et al, 1997)
com os dados referentes a 2000, disponibilizados pelo IPAMB.
Verificam-se mudanças na participação com a aplicação da nova lei:
• Número de pareceres por processo aumentou, quer no caso dos Processo do Anexo I (de 6,7 para 81,2)
quer nos do Anexo II (de 9,8 para 25,1). Em 2000, a participação dos cidadãos nestes pareceres é
predominante (88% dos pareceres do Anexo I e 70% dos do Anexo II).
• Percentagem de processos com eventos de esclarecimento aumentou no caso dos processos do Anexo I
(de 29 para 41%) e diminuiu no caso dos processos do Anexo II (de 10% para 0). Em qualquer dos
casos a percentagem de processos com audiências públicas baixou, tendo-se investido no caso dos
processos do Anexo I noutras formas de esclarecimento (exposições, sessões de esclarecimento).
• As reuniões com autarcas foram feitas apenas depois da nova lei e com maior frequência nos processos
do anexo I (2,4 por processo) do que nos do Anexo II (1,4)
• Os balcões de atendimento foram implementados com carácter sistemático nos Processos do Anexo I,
enquanto que são raros nos do Anexo II.
• Os projectos referentes a recursos hídricos seguem o mesmo padrão dos restantes projectos do Anexo
em que se enquadram.
No seu conjunto, as formas de estimular a participação nas AIA têm mudado:
• Tem-se investido mais no esclarecimento individual dos cidadãos (através do atendimento nos balcões),
o que é uma medida importante uma vez que é neste contexto mais privado que pessoas com menor
capital cultural podem esclarecer as suas dúvidas.
• Tem-se investido no contacto com representantes do poder local, o que é também uma medida
importante, uma vez que são agentes com capacidade de mobilização dos cidadãos e das organizações
locais no sentido da sua participação no processo.
• No entanto, tem-se verificado um menor investimento no debate público das ideias. Estes debates são
importantes, uma vez que os Estudos de Impacte Ambiental são estudos técnicos (e por isso mesmo
escritos numa linguagem particular e utilizando instrumentos de análise especializados), mas não estão
necessariamente correctos ou isentos de valores nas opções tomadas. O debate público com outros
técnicos permite às assembleias de leigos compreender as limitações destes estudos, alertando-as para
impactes não considerados ou minimizados nas análises efectuadas, e que, de outro modo, lhes
passariam despercebidos. Ajuda assim à elaboração de pareceres mais informados, uma vez que permite
o acesso dos cidadãos leigos a opiniões técnicas sobre os estudos realizados.
• resultado desta mudança de estratégia é o aumento significativo dos pareceres, que acabam por ser, na
maioria dos casos, a única forma que os cidadãos, as organizações profissionais e ambientais ou mesmo
os organismos locais têm de exprimir as suas posições face ao processo em curso.
12.3.2.2. A Participação em Conselhos com Funções Consultivas
Lima, et al. analisaram a participação nos Conselhos de Bacia, que representam instâncias de participação
relevantes para as decisões de âmbito regional.
São grupos grandes e heterogéneos de pessoas que pretendem representar os diversos interesses em jogo na
zona, e dos quais fazem parte representantes dos utilizadores. Porém, apesar da sua importância na
discussão dos problemas locais, existem diversos problemas associados a eles. Não é fácil ao público saber
quais as organizações representadas em cada um dos 15 Conselhos de Bacia, o que impede à partida o seu
contacto e contributo em termos de participação nas decisões dos Conselhos. Por outro lado, se 8 dos
representantes dos utilizadores representam Câmaras Municipais da Bacia Hidrográfica indicadas pela
Associação de Municípios, os restantes 8 utilizadores são escolhidos pelo Ministério do Ambiente e
Ordenamento do Território, sob proposta do INAG (para os rios internacionais) e das DRAOTs (para os rios
nacionais), sem critérios pré-estabelecidos .
A análise dos utilizadores representados nos 12 Conselhos de Bacia analisados mostra que eles são na sua
maioria Associações de Agricultores (23%) ou de Regantes (14%), seguidos das Associações Empresariais
ligadas à indústria ou ao comércio e indústria (25%) e das hidroeléctricas (16%), como se pode ver na
Figura 12.1. Esta distribuição não foi pacífica, verificando-se contestações aos pesos dados a diferentes
áreas, nomeadamente a agricultura reclamando mais lugares para si em alguns Conselhos, como por
exemplo o do Tejo.
Nota: Os dados não incluem os seguintes 3 concelhos de Bacia: Ribeiras do Algarve, Mira e Ribeiras do Oeste
Fonte: Actas dos Conselhos de Bacias.
A análise da assiduidade às reuniões dos Conselhos de Bacia também mostra uma tendência interessante:
são os representantes das ONGAs os que menos faltam às reuniões, apresentando os utilizadores, municipais
ou não, um nível mais elevado de ausências nas reuniões.
Os Conselhos de Bacia são órgãos importantes de gestão mais regionalizada das questões hídricas, mas que
apresentam muitas limitações no conhecimento da sua actividade e pareceres pelo público. Cabe aqui
igualmente uma reflexão sobre os critérios de selecção dos diversos representantes dos utilizadores.
12.3.2.3. A Participação das ONGAs
Desde 1987 temos assistido a um aumento do número de ONGAs e na sua actividade considerada em
termos de número de projectos e de montante de financiamento recebido do Estado. Assim, e de acordo com
os dados do IPAMB citados no Relatório do Estado do Ambiente 1999, entre 1987 e 1998 o número de
ONGAs em Portugal cresceu de 42 para 188. Está, no entanto, por fazer um levantamento sistemático da sua
intervenção no âmbito dos recursos hídricos. O seu contributo em termos das diversas Comissões e
Conselhos a que pertencem (nomeadamente os Conselhos de Bacia), embora seja considerada importante,
está muito aquém do que desejariam, uma vez que estas instâncias têm um carácter mais informativo e
consultivo do que decisivo.
Especificamente orientada para os recursos hídricos, refere-se a APRH (Associação Portuguesa dos
Recursos Hídricos).
12.3.2.4. A Participação Individual por Iniciativa dos Cidadãos
O levantamento neste âmbito foi feito reportando-se apenas a queixas e reclamações
A participação dos cidadãos individuais e dos organismos que os representam faz-se muitas vezes através do
alerta para situações de degradação ambiental. Este mecanismo de aviso deve ser considerado como uma
importante forma de contribuir para a melhoria da qualidade ambiental e está muitas vezes incluído nas
sugestões, nos alertas, nas reclamações ou queixas que chegam aos órgãos de administração.
Este número de reclamações é considerado um indicador importante de cidadania que permite a melhoria
dos serviços oferecidos aos cidadãos. Está bem inserido dentro dos mecanismos previstos e incentivados
pelo Decreto Lei 135/99, sobre a Modernização Administrativa. Nesse sentido, a análise das reclamações
permite-nos ter um indicador de envolvimento do público com as instituições, bem como da capacidade de
resposta das instituições aos cidadãos.
No caso da água, um estudo do Instituto do Consumidor (2001) analisou as reclamações apresentadas pelos
utilizadores de água. Dos inquiridos 21% afirmaram já ter apresentado queixas relativamente ao serviço de
água da rede pública. As 3 principais razões que levaram às reclamações foram os cortes de água ou a falta
de pressão (37% dos casos), a falta de qualidade da água (18% dos casos) e problemas de facturação (17%
dos casos). A maior percentagem de queixas relativas à qualidade da água vem de consumidores do Sul e do
Litoral Centro Sul do Continente.
Aos Serviços de Saúde Ambiental da Direcção Geral de Saúde chegam também frequentemente
reclamações relativas à água. Do levantamento efectuado das queixas neste domínio apresentadas em 1997 e
2000, verificou-se que na sua maioria são apresentadas por cidadãos individuais (56%) ou por Associações
de Moradores (24 do sistema de esgotos) e a águas destinadas ao consumo humano (presença de elementos
químicos na água ou falta de saneamento básico).
Sabe-se ainda que há reclamações e sugestões recolhidas em muitos outros locais. O GEOTA tem
sistematizado um processo de recolha de denúncias de situações de dano ambiental (Fichas de Participação
Ambiental) que depois envia para os serviços competentes, informando os seus autores dos resultados. No
entanto, não está feita uma análise sistemática destas denúncias. As queixas que chegam à Inspecção Geral
do Ambiente são também frequentemente do domínio hídrico (IGA, 2000), embora elas sejam
frequentemente apresentadas junto das DRAOTs, que são as entidades competentes para a resolução da
maior parte destas queixas. A análise das reclamações que chegam às DRAOTs sobre água é ainda um dos
12.3.3. Responsabilização
12.3.3.1. A Utilização dos Mecanismos Legais Criados para a Defesa do Ambiente
Identificaram-se anteriormente diversos mecanismos legais destinados a incrementar a participação e a
responsabilização dos cidadãos em questões ambientais, dos quais destacaríamos: a participação
procedimental e acção popular e a definição dos crimes de poluição e de danos contra a natureza. Procura-se
agora saber se estas duas figuras jurídicas são utilizadas, especificamente no domínio dos recursos hídricos.
As fontes desta informação foram o SIDDAMB (Direcção Geral do Ambiente), http://www.diramb.gov.pt/),
DGA), da Direcção-Geral dos Serviços de Informática do Ministério da Justiça (DGSI) e do Centro de
Estudos Judiciários (CEJ) através do Centro de Estudos Ambientais e de Defesa do Consumidor do
Ministério da Justiça (CEADCMJ).
A pesquisa na jurisprudência permitiu identificar 15 processos diferentes de acção popular, sendo 6
provenientes de Tribunais Administrativos, 5 de Tribunais da Relação, e os restantes do Tribunal dos
Conflitos e do Supremo Tribunal de Justiça. Destes 15 processos, 5 eram relativos a questões de recursos
hídricos e foram na sua maioria julgados em Tribunais Administrativos.
Relativamente a crimes de poluição foram encontrados 13 processos, julgados quase exclusivamente pelo
Tribunal Judicial, embora se encontrasse um caso relativo ao Tribunal da Relação. Destes 13 processos de
crime de poluição, 6 referem-se a questões de água.
Estão actualmente no Supremo Tribunal Administrativo 9 recursos referentes a acções populares. Destes, 4
foram requeridos por associações (Quercus e Associação Nacional de Farmácias), enquanto que os restantes
foram requeridos por cidadãos individuais. A grande maioria dos casos (8) visam serviços públicos.
Desta análise podemos concluir que os mecanismos criados funcionam, embora não com tanta frequência
como se poderia esperar, e que as questões hídricas têm um importante peso nestes processo,
correspondendo a cerca de 1/3 dos casos de acção popular e de metade dos casos de crime de poluição. Não
se conhece, no entanto, as taxas de condenação associados a estes processos, as sanções aplicadas em
termos de penalização do infractor e de reparação dos danos, nem as dificuldades sentidas pelos tribunais
para as porem em prática.
que permitam cumprir as normas ambientais em vigor;(b) o incumprimento das situações de licenciamento
só pode ser detectado com inspecção, uma vez que os dados de auto-controlo que as empresas apresentam
podem facilmente ser fraudulentos (IGA, 2000).
Deste modo, verificamos que se trata de um domínio onde a actuação no sentido do aumento de
responsabilização é muito complexa, quer porque inclui uma diversidade muito grande de situações, quer
porque há problemas de monitorização das descargas poluentes, quer porque há problemas de licenciamento
das descargas, quer porque existe uma grave escassez de recursos humanos no IGA para proceder a
fiscalizações, quer porque os mecanismos legais accionados não funcionam com a brevidade necessária. Por
outro lado, é um sistema que, em princípio, funciona com base na confiança de que as empresas industriais
realizam com seriedade o auto-controlo. Finalmente, é um sistema exclusivamente voltado para a punição, e
não para a valorização das práticas positivas em termos ambientais, o que cria, de facto, injustiças entre
empresas do mesmo ramo.
12.3.3.3. Informação e Responsabilização dos Agricultores: O Código de Boas Práticas
Agrícolas
O Decreto-Lei n.º 235/97 veio determinar a divulgação e a implementação do Código de Boas Práticas
Agrícolas (CBPA), com vista à responsabilização dos agricultores, à diminuição da poluição das águas e dos
solos com nitratos e à diminuição das perdas de água durante as regas.
Segundo o relatório dos três primeiros anos de divulgação do CBPA (Silva, Nunes e Nunes, 2000), as
acções desenvolvidas visaram essencialmente uma abordagem pedagógica e informativa do Código de Boas
Práticas Agrícolas junto dos agricultores. Foram desenvolvidas as seguintes acções ao longo dos 3 anos:
• realizaram-se três sessões de sensibilização para agricultores;
• divulgaram-se cópias de folhetos explicativos do código junto de agricultores;
• realizaram-se campos de ensaio e jornadas técnicas para divulgar projectos agrícolas;
• divulgou-se o CBPA em diversos eventos e por diversos meios;
• incluiu-se a problemática da poluição das águas no curriculum dos cursos de empresários agrícolas;
• foi publicado o manual básico “Conservação do solo e da água” que descreve de forma simples e
resumida algumas boas práticas agrícolas.
Apesar de não haver indicadores que permitam avaliar a eficácia destas medidas, provavelmente elas foram
extremamente limitadas. Mais recentemente, e após a consulta a diversas entidades estatais e a ONGAs, foi
apresentado pelo Ministério da Agricultura o RURIS - Plano de Desenvolvimento Rural 2000-2006. No
âmbito do RURIS, foi aberta a candidatura de agricultores a indemnizações compensatórias ou a medidas
agro-ambientais, na condição de os agricultores ficarem obrigados durante 5 anos a cumprir o código das
boas práticas agrícolas. Procura-se assim, através do controlo dos fundos comunitários, melhorar as práticas
agrícolas, continuando, no entanto, a divulgação através de sessões públicas de divulgação, de participação
em feiras e através de brochuras e de publicidade nos meios de comunicação social. Pretende-se ainda que
este programa seja avaliado, associado a um sistema de informação a ser desenvolvido, e acessível a todos
os interessados.
Um estudo recente, realizado no âmbito do OBSERVA (Valadas Lima, 1999) procurou estudar as
representações e atitudes dos agricultores candidatos ao grupo I das medidas agro-ambientais (programa de
apoio a medidas de agricultura menos agressivas para o ambiente) através de um estudo realizado por
inquérito a uma amostra de 142 agricultores da sub-região agrária do Oeste. O estudo mostra que todos os
agricultores candidatos a este programa são membros de associações de agricultores, 80% têm formação
profissional agrícola, e 56% já beneficiou de outros programas de UE. Estamos portanto perante um grupo
de agricultores especial, com redes de contacto bem estabelecidas. Mais de metade dos agricultores
inquiridos refere como principal motivação para a candidatura as razões económicas (especialmente os
agricultores mais novos), mas também as razões técnicas (especialmente os agricultores mais velhos que
esperam assim obter assistência técnica na sua produção agrícola). 69% considera que a agricultura tem
impactes negativos sobre o ambiente, mas de qualquer forma para eles a agricultura não é o que mais polui:
a indústria, para 79% de inquiridos, é a principal fonte de poluição do país e a pecuária a principal fonte de
poluição da região (38%, contra 18% que consideram a agricultura). Este estudo mostra que, para mudar as
práticas agrícolas dos agricultores é importante conhecer as suas representações. De facto, mesmo neste
grupo que é mais diferenciado que a maioria dos agricultores, e que está envolvido num programa de
incentivo a boas práticas agrícolas, as principais motivações para a adesão são económicas ou técnicas, e
não ambientais, porque consideram a agricultura como uma actividade muito menos poluente do que outras,
que produzem cheiro, fumo ou alteração das águas mais drásticas (pecuária e indústria).
12.3.4. Informação
De acordo com os dados obtidos nos Inquéritos Nacionais realizados pelo OBSERVA (Almeida, 2000;
OBSERVA, 2001), os portugueses consideram-se pouco informados sobre as questões ambientais. Em
1997, 63% dos inquiridos considerava-se pouco ou nada informado, e esta percentagem manteve-se nos
62% em 2000. E de facto, as questões que tentam avaliar os conhecimentos no domínio do ambiente têm
sistematicamente resultados fracos: apenas 13% dos inquiridos sabe as causas do efeito de estufa, apenas
34% sabe o destino do seu lixo doméstico, ou apenas 4% ouviu falar da Rede Natura.
A informação que têm é veiculada principalmente pelos meios de comunicação social (em 89% dos casos) e
pelas ONGAs (15% dos inquiridos), embora tenham mais confiança nesta última fonte de informação. A
internet é apenas considerada um meio de informação no domínio do ambiente para 11% dos inquiridos.
Estes dados referem-se às questões ambientais como um todo. No entanto, a análise das notícias sobre
ambiente veiculadas nos jornais diários entre 1995 e 1998 (Nave et al., 1999) mostra que a água é uma
matéria importante na agenda pública do ambiente, sendo a indústria normalmente indicada como principal
responsável pelos danos ambientais, e nomeadamente pela poluição dos rios. Por outro lado, apesar de as
pessoas se afirmarem e serem pouco conhecedoras de questões ambientais gerais (como o buraco do ozono
ou o efeito de estufa) detêm uma série de conhecimentos que normalmente não são valorizados e que eles
próprios não associam a conhecimentos ambientais, mas que no caso da água são particularmente
relevantes. Assim,
• Uma vez que as pessoas são consumidoras diárias de água, conhecem as alterações de cor e sabor das
águas que lhes são fornecidas para consumo;
• Uma vez que muitas vezes passam por rios e albufeiras na sua vida diária, notam alterações de cor e
cheiro das águas, a existência de animais ou plantas mortas, ou outros sinais de poluição;
• Uma vez que possuem ou fazem poços nos seus terrenos, dão-se conta das alterações na água que
retiram;
• Uma vez que frequentam praias, reconhecem indicadores de poluição na água ou na areia;
Isto é, detêm uma série de conhecimentos que não derivam de uma aprendizagem formal, mas da sua
experiência particular e que podem ser aproveitados para dinamizar a participação, constituindo-se como
alertas aos serviços competentes. Esta potencialidade integra-se no direito que os cidadãos têm de informar
as autoridades e no dever de promover a qualidade ambiental.
Relativamente aos conhecimentos de carácter mais técnico acerca dos recursos hídricos, não está estudado o
nível de informação dos cidadãos, apesar de haver razões para se supor que são reduzidos. Efectivamente,
os cidadãos de uma maneira geral desconhecem antecipadamente a qualidade da água que têm o direito de
exigir, como desconhecem os seus deveres e obrigações de protecção do ambiente e dos recursos hídricos
em particular.
Nos últimos anos tem sido feito um importante esforço de divulgação de informação no domínio hídrico,
correspondendo assim às exigências legais, nomeadamente sobre a qualidade das águas. Analisam-se em
seguida algumas dessas estruturas de informação existentes no que refere ao tema específico da qualidade
da água.
12.3.4.1. Site de Informação do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos
É a forma mais geral e actualizada de fornecimento de informação sobre os recursos hídricos existente no
nosso país.
No entanto, e apesar da constatação de que existe uma resposta do público a esta iniciativa (Marques et al.,
2001), podem-se salientar as seguintes deficiências nesta informação:
1. A informação que é fornecida nem sempre está adequada ao público que a procura. Assim, em alguns
casos, a informação é extremamente técnica e inacessível ao público em geral e, noutras,
demasiadamente simplificada sem permitir aos técnicos uma análise mais aprofundada;
2. De uma forma geral, a apresentação de informação é mais vezes técnica do que destinada ao público
em geral, o que coloca assim como principal público alvo os especialistas em recursos hídricos. E de
facto, a análise da proveniência dos contactos feitos ao site por email mostra que eles são efectuados
predominantemente por técnicos: 39% provêem de universidades, 4% de organizações de investigação
estrangeiras e cerca de 4% de organismos do Estado dedicados a investigação (LNEC e IGM). Assim,
pelo menos 47% das consultas são realizadas por especialistas, contra os 30% do público em geral que
utilizam por vezes este site para outros fins (“apresentar queixas respeitantes a processos que têm
pendentes na Administração Regional ou Autárquica” – Marques, 2001b, p. 28). Assim, apresenta-se
como um sistema de informação vocacionado para os técnicos, pelo que prescinde de ajudas essenciais
para os leigos, como sejam o mapa do site ou os motores de busca;
3. A disponibilização quase exclusiva da informação por meio da Internet reduz também amplamente o
acesso dos cidadãos à informação. De facto, de acordo com últimos dados disponibilizados pelo INE,
referentes ao ano de 1997, apenas 14,4% dos alojamentos em Portugal tinham computador (Barreto,
2000), o que corresponde a valores bem abaixo da média Europeia, segundo os dados da Comissão
Interministerial para a Sociedade da Informação (1999, 7 computadores por cada 100 habitantes contra
18 de média Europeia). Nesse ano, e de acordo com os dados do Instituto das Comunicações de
Portugal (ICP, 2001), havia pouco mais de 72 mil assinantes individuais de Internet, o que corresponde
à existência de Internet em apenas cerca de 16% dos alojamentos com computador. Nos últimos anos o
acesso à Internet cresceu muito. De acordo com o mesmo relatório do ICP, estimam-se em 1.9 milhões
o número de clientes individuais de serviços de Internet no último trimestre de 2000, mas estes valores
estão muito inflacionados, porque, com a oferta de acessos gratuitos à Internet desde 1999, é possível
um mesmo utilizador estar a ser contabilizado repetidamente. No entanto, os dados de sondagens
trimestrais realizadas pela Marktest (Bareme-Internet, http://www.marktest.pt) mostram que, no
primeiro trimestre de 2001 41,6% dos inquiridos tem computador em casa e 36,5% tem acesso à
Internet, ainda que apenas 20,4% em casa.
4. Apesar do Decreto Lei 135/99 determinar que os espaços de espera em organismos públicos tenham
computador ligado à Internet (artigo 7º), e uma vez que os serviços do estado não dispõem de momento
de postos de acesso à informação via Internet para os cidadãos, a disponibilização da informação via
internet continua a ser feita para um grupo restrito de utilizadores. Há, porém, alguma esperança de que
este grupo cresça, uma vez que, de acordo com as Estatísticas da Comissão Interministerial para a
sociedade da informação, citando dados da Comissão Europeia de Fevereiro de 2001, 42% das escolas
primárias e 100% das escolas secundárias têm acesso à Internet.
12.3.4.2. Informação sobre a Qualidade da Água para Consumo
A Direcção Geral do Ambiente (DGA) elabora um relatório anual sobre a qualidade da água para consumo,
no cumprimento do disposto no DL 236/98.
Actualmente, a divulgação dos relatórios é feita na íntegra, no site da DGA, e são elaborados resumos dos
dados por distrito e por concelho, onde é possível encontrar um historial dos níveis de qualidade da água. A
informação disponibilizada está agora muito mais completa, havendo a preocupação de atingir vários tipos
de público. No entanto, a utilização da Internet como forma privilegiada de acesso aos cidadãos merece
alguma apreensão.
De acordo com o estabelecido no n.º 6 do Artigo 22º do Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto, também as
entidades gestoras de serviços de abastecimento de água para consumo devem informar os consumidores da
área que servem dos resultados obtidos nas análises de demonstração de conformidade com as normas de
qualidade da água em vigor. Além da publicitação anual pela DGA, as formas de publicitação destes dados,
a mais curto prazo, são diversas, e nem sempre de fácil acesso aos cidadãos.
12.3.4.3. Informação sobre a Qualidade das Águas nas Zonas Balneares
Desde 1996 o INAG elabora folhetos de divulgação da qualidade da água nas diversas zonas balneares, onde
estão indicados os valores recomendados e admissíveis dos diversos parâmetros, os telefones das
autoridades de saúde distritais para obter mais informações sobre a qualidade da água, e um mapa de
Portugal com a classificação da água balnear das diversas praias feito de acordo com os dados recolhidos no
ano anterior. Esta informação também está disponível no Infocid (http://www.infocid.pt/aguas/), de uma
forma acessível ao público, possibilitando uma leitura por leigos e o aprofundamento da informação.
Desde 2001 que está disponibilizada a informação em tempo real relativa à monitorização de 445 zonas
balneares (semanal ou quinzenal) no site do SNIRH (http://www.inag.pt/snirh/dados_sintese/main_nav_fr.html).
Este site, ao contrário do site do Infocid é de difícil utilização (por exemplo, as zonas balneares não estão
identificadas com o nome).
Não é evidente para o utilizador comum a razão da desarticulação entre estes dois sites que referimos acima.
Porém, em nenhum deles, nem nas restantes formas de divulgação da informação aparece um dado
fundamental para os utilizadores das águas balneares: quais são as consequências do banho ou da ingestão
de água que apresenta valores inaceitáveis? Esta informação, aliás prevista nas disposições do direito
internacional neste domínio, exigiria a colaboração da Direcção Geral de Saúde, e permitiria aos cidadãos
equacionarem os seus riscos e decidirem em consciência da sua exposição a eles.