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VOLUME I

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INDÍCE GERAL 542

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO 25
1 CONSIDERAÇÕES GERAIS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES 6
2 PRINCÍPIOS ORIENTADORES E DE CONTEXTO 4
3 ENQUADRAMENTO JURÍDICO GERAL 3
4 OBJECTO E ÂMBITO TERRITORIAL 6
5 OBJECTIVOS E LINHAS DE ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA 4
6 ARTICULAÇÃO E HARMONIZAÇÃO COM OS PBH 2

CAPITULO II – CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA


SITUAÇÃO ACTUAL DOS RECURSOS HÍDRICOS 517
1 CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SOCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO 27
2 QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE 66
3 RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS 24
4 USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA 58
5 RECURSOS HÍDRICOS 55
6 QUALIDADE E USOS DA ÁGUA 45
7 CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA 67
8 DOMINIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO 54
9 SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL 21
10 MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS 44
11 ECONOMIA DA ÁGUA 43
12 INFORMAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E CO-RESPONSABILIDADE 14

INDÍCE DETALHADO

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO............................................................................................................... 1
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES ................................................................... 1

2. PRINCÍPIOS ORIENTADORES E DE CONTEXTO .................................................................................. 7


2.1. Princípios Fundamentais e da Administração ................................................................................. 7
2.2. Princípios de Planeamento e Gestão ................................................................................................ 8
2.3. Princípios Ambientais ....................................................................................................................... 9
2.4. Princípios Sociais ............................................................................................................................. 9
2.5. Princípios Económico-Financeiros ................................................................................................... 10
2.6. Princípio da Informação e Participação ............................................................................................ 10

3. ENQUADRAMENTO JURÍDICO GERAL ............................................................................................... 11


3.1. Natureza e Posição Hierárquica do PNA com outros Instrumentos de Planeamento ...................... 11
3.2. Principais Envolventes Jurídicas/Normativas ................................................................................... 12
3.3. A eficácia nas Regiões Autónomas ................................................................................................ 12
3.4. As Implicações Transfronteiriças ..................................................................................................... 12

4. OBJECTO E ÂMBITO TERRITORIAL ........................................................................................................ 14


4.1. Objecto, Abrangência, Integração Territorial ................................................................................... 14
4.2. Unidades Territoriais de Planeamento de Gestão ............................................................................. 16
4.3. Limites Fronteiriços e Continuidade Hidrográfica ........................................................................... 18
4.4. As Relações entre as Águas Interiores, Estuarinas e Costeiras ....................................................... 18

5. OBJECTIVOS E LINHAS DE ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA ............................................................... 20


5.1. Os Imperativos Legais ...................................................................................................................... 20
5.2. Objectivos, Problemáticas e Linhas de Orientação Estratégicas ..................................................... 21
.
6. ARTICULAÇÃO E HARMONIZAÇÃO COM OS PBH ............................................................................ 24
6.1. As Relações entre os Diferentes Níveis de Instrumentos de Planeamento e Níveis de
Aplicação : Nacionais, Regionais, Autonómicos ............................................................................ 24

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CAPÍTULO II - CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ACTUAL DOS


RECURSOS HÍDRICOS .................................................................................................... 1
1. CARACTERISTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO ................. 1
1.1. Introdução ......................................................................................................................................... 1
1.2. Características Biofísicas de Referência ......................................................................................... 1
1.3. Principais Características Sócio-Económicas .................................................................................. 14

2. QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE ........................................... 1


2.1. Quadro Legal ................................................................................................................................... 1
2.2. Quadro Institucional ......................................................................................................................... 30
2.3. Diagonóstico ..................................................................................................................................... 54

3. RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS ............................................................................................................. 1


3.1. Introdução ......................................................................................................................................... 1
3.2. Principais Características das Bacias Hidrográficas e Aquíferos Luso-Espanhóis ......................... 1
3.3. Recursos Hídricos Naturais e Utilizações das Bacias e dos Aquíferos Internacionais .................... 2
3.4. Regime de Caudais Actuais e Qualidade da Água ........................................................................... 6
3.5. Planeamento dos Recursos Hídricos, Convénios e Acordos ............................................................ 10
3.6. Evolução das Relações Luso-Espanholas ......................................................................................... 18
3.7. Síntese do Diagnóstico das Relações Luso-Espanholas .................................................................. 21

4. USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA ................................................................................ 1


4.1. Introdução .......................................................................................................................................... 1
4.2. Condicionantes Ambientais ............................................................................................................... 2
4.3. Usos, Consumos, Necessidades e Retornos ...................................................................................... 3

5. RECURSOS HÍDRICOS .............................................................................................................................. 1


5.1. Introdução .......................................................................................................................................... 1
5.2. Recursos Hídricos de Superfície ...................................................................................................... 2
5.3. Recursos Hídricos Subterrâneos ........................................................................................................ 18
5.4. Balanço Hídrico ................................................................................................................................. 33
5.5. Situações Hidrológicas Extremas ..................................................................................................... 39
5.6. Alterações Climáticas ...................................................................................................................... 46
5.7. Regime de Caudais e Sedimentos .................................................................................................... 49

6. QUALIDADE E USOS DA ÁGUA ............................................................................................................... 1


6.1. Introdução ........................................................................................................................................ 1
6.2. Principais Disposições Legais de Enquadramento e Avaliação do Seu Cumprimento ................... 2
6.3. Impacto da Actividade Humana sobre o Estado dos Meios Hídricos ............................................. 6
6.4. Massas de Água Superficiais e Aquíferos com Usos Qualitativamente Exigentes ........................... 33
6.5. Estado da Qualidade das Massas de Água Superficiais e Subterrâneas para Usos
Qualitativamente Exigentes ............................................................................................................. 34
6.6. Situações de Eutrofização de Albufeiras, Rios e Lagoas ................................................................. 41
6.7. Zonas Sensíveis e Vulneráveis ........................................................................................................ 42
6.8. Programas de Acção e Gestão, Projectos e Medidas em curso ..................................................... 43
6.9. Síntese dos Principais Problemas de Qualidade e Usos da Água ..................................................... 44

7. CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA .......................... 1


7.1. Ecossistemas de Águas Interiores ...................................................................................................... 1
7.2. Ecossistemas Aquáticos - Estuários e Águas Costeiras ................................................................... 32
7.3. Caudais Ecológicos ............................................................................................................................ 61

8. DOMÍNIO HIDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO ................................................................. 1


8.1. Definição do Domínio Hídrico ........................................................................................................ 1
8.2. Utilizações do Domínio Hídrico ...................................................................................................... 14
8.3. Infra-Estruturas Hidráulicas .............................................................................................................. 20
8.4. Domínio Hídrico e Planos de Ordenamento ..................................................................................... 26

9. SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL ..................................................................................... 1


9.1. O Ciclo dos Desastres e a Protecção Civil ....................................................................................... 1
9.2. Riscos e Vulnerabilidades de Secas, Cheias e Acidentes de Poluição em
Portugal Continental na Óptica da Protecção ................................................................................... 3
9.3. Gestão de Emergências .................................................................................................................... 11
9.4. Segurança de Barragens ................................................................................................................... 16
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10. MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS ................... 1
10.1. Introdução ......................................................................................................................................... 1
10.2. Implementação de uma Nova Estrutura de Monitorização .............................................................. 1
10.3. Restruturação das Redes de Monitorização de Recursos Hídricos..................................................... 2
10.4. Monitorização Orla Costeira ............................................................................................................. 33
10.5. Monitorização de Usos da Água e das Ocupações do Domínio Hídrico ........................................ 37
10.6. Monitorização do estado das Águas no Âmbito da Directiva-Quadro da Água (DQA) .................. 39

11. ECONOMIA DA ÁGUA ............................................................................................................................... 1


11.1. Introdução ......................................................................................................................................... 1
11.2. Abordagem ao Valor Económico da Agua e Caracterização dos Sectores Utilizadores ................. 2
11.3. Quadro Legal e Institucional de Referência ..................................................................................... 10
11.4. Regime Económico-Financeiro ...................................................................................................... 14
11.5. Caracterização do Mercado da Água ................................................................................................ 19
11.6. Eficiência das Utilizações da Água .................................................................................................. 36
11.7. Política de Preços ............................................................................................................................ 37
11.8. Problemas decorrentes do Regime Económico - Financeiro Vigente ............................................ 41

12. INFORMAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E CO-RESPONSABILIDADE .......................................................... 1


12.1. Introdução ........................................................................................................................................ 1
12.2. Análise dos Valores de Participação, Informação e Responsabilização ........................................... 1
12.3. Análise das Oportunidades e Práticas de Participação, Informação e Responsabilização ............... 4
12.4. Lacunas de conhecimento ................................................................................................................ 13
CONSIDERAÇÕES GERAIS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES


O Decreto Lei nº 45/94 de 22 de Fevereiro, que regula o processo de planeamento de recursos hídricos e a
elaboração e aprovação dos planos de recursos hídricos, determina a elaboração e aprovação de 15 planos de
bacia hidrográfica (PBH) e do Plano Nacional da Água (PNA).
Para este efeito dividiu o território do Continente em 15 regiões coincidindo com as principais bacias
hidrográficas e as suas regiões costeiras adjacentes.
Nos termos daquele diploma, a elaboração do PNA e dos PBH dos rios Minho, Douro, Tejo e Guadiana é da
competência ao Instituto da Água (INAG), e a elaboração dos PBH dos restantes rios, compete às Direcções
Regionais de Ambiente e do Ordenamento do Território (DRAOT).
À excepção do PBH das Ribeiras do Oeste, que ainda se encontra em elaboração, todos os restantes Planos
encontram-se, à data de apresentação do PNA, concluídos e com a discussão pública encerrada.
Está assim concluído o processo de elaboração dos PBH, meta indispensável para a elaboração e conclusão
do PNA.
Em Outubro de 2000, foi também elaborada a “Síntese dos Planos de Bacia Hidrográfica dos Rios Luso-
Espanhóis”, que foi apresentado ao Conselho Nacional da Água e também às autoridades espanholas, às
quais foi entregue, dando cumprimento à obrigação de reciprocidade no que diz respeito à permuta de
informação, já que no início de Setembro do mesmo ano as autoridades espanholas fizeram a apresentação
do seu Plano Hidrológico Nacional de Espanha (PHNE) à Delegação Portuguesa à Comissão para a
Aplicação e o Desenvolvimento da Convenção (CADC).
Através de Protocolos específicos celebrados para o efeito com a instituições competentes das Regiões
Autónomas dos Açores e Madeira, e contando ainda com o apoio técnico do INAG, estão também em
elaboração os respectivos Planos Regionais da Água, que, por não por não poderem estar concluídos em
simultâneo com o PNA, e também por terem de ser objecto de discussão pública nas Regiões Autónomas,
virão, num futuro próximo, a ser parte integrante do PNA.
O PNA e os Planos de Bacia Hidrográfica constituem elementos enquadradores, estratégicos e programáticos
do desenvolvimento do processo de planeamento de recursos hídricos para o início do século XXI, têm ainda
como grandes objectivos contribuir, como factor potenciador, para a reestruturação do sistema normativo e
institucional de recursos hídricos e, como factor instrumental, para a consecução de uma política coerente,
eficaz e consequente de recursos hídricos.
O carácter pioneiro dos PBH manifesta-se sobretudo pela abordagem integrada das diversas matérias
relacionadas como os recursos hídricos, incluindo nomeadamente as questões de natureza ambiental, e da
observância do princípio da participação, envolvendo os diversos agentes interessados na gestão dos recursos
hídricos, que culminou com a sua discussão pública largamente aberta e desenvolvida em todo o país.
Conhecidos os conteúdos dos PBH ficamos cientes do estado de conhecimento que os mesmos
proporcionaram, bem como das lacunas de informação e de conhecimento que foi possível constatar.
Neste contexto, é importante referir que o PNA e os PBH deverão ser encarados como instrumentos de um
processo dinâmico, que será actualizado permanentemente, quer no que respeita à inventariação e
caracterização, quer ao nível da implementação das medidas e acções. São bons exemplos disso a
reestruturação das redes de monitorização e a recolha e tratamento de informação já em curso.
Os próprios PBH remetem para futuros programas de medidas e acções o aprofundamento do conhecimento
técnico e científico em determinadas áreas, já que seria impensável que os PBH pudessem, no espaço de
tempo da sua elaboração, vir a atingir esse desiderato.
O PNA apesar de ser sustentado, em grande medida, pelos elementos de base dos PBH não se limita à síntese
destes.

1/25 (1 - I)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSIDERAÇÕES GERAIS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Contempla, de acordo com o DL nº. 45/94, a convergência e articulação entre PBH e compreende um
conjunto de medidas e acções próprias, optimizadando as suas propostas numa perspectiva de conjunto.
Assim, o PNA não se limita a um repositório dos PBH, adquirindo personalidade própria a um nível que não
substitui a essência destes.
Recordam-se as grandes linhas de orientação que nortearam a elaboração dos PBH e que não poderão deixar
de pautar a estruturação deste PNA:
• Aumento da produtividade da água e promoção do seu uso racional, com o máximo respeito pela
integridade territorial das bacias hidrográficas
• Protecção, conservação e requalificação dos meios hídricos e dos ecossistemas associados
• Satisfação das necessidades das populações e do desenvolvimento económico e social do país
• Respeito pela legislação nacional e comunitária relevante e satisfação dos compromissos internacionais
assumidos pelo Estado português
• Acesso à informação e participação dos cidadãos na gestão dos recursos hídricos
Estamos pois perante o primeiro Plano Nacional da Água que se pretende que seja orientado por objectivos
de natureza sectorial e de incidência transversal perante políticas de outros sectores de actividades, razão
pela qual deverá centrar-se em questões cuja relevância e/ou disseminação territorial constituem prioridades
de resolução a médio prazo, por poderem vir a hipotecar o futuro das gerações vindouras.
Sendo um instrumento de política, com a validade máxima de uma década, devendo ser obrigatoriamente
revisto no prazo de oito anos, o seu conteúdo deverá prevalecer e resistir às eventuais erosões das
conjunturas de menor duração, face à dinâmica e evolução por vezes imprevisível do quadro de gestão dos
recursos hídricos
Apesar da sua natureza transversal, o PNA encontra-se subordinado e enquadrado, entre outros, pelos
seguintes instrumentos: i) a Constituição da República Portuguesa (CRP); ii) a Lei de Bases do Ambiente
(LBA) iii) o Plano Nacional de Política do Ambiente (PNPA); iv) o Plano Nacional de Desenvolvimento
Económico e Social (PNDES); v) o Decreto-Lei 45/94 (Regime de Planeamento); vi) o Tratado da União
1
Europeia (Tratado de Amsterdão); vii) a Directiva-Quadro da Água( ) (DQA); viii) a Convenção sobre
Cooperação para o Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas.
Tendo em conta que cerca de 64% do território continental de Portugal está integrado nas bacias
hidrográficas dos rios internacionais e que, por consequência, a nossa dependência em termos de recursos
hídricos potencialmente gerados na parte espanhola daquelas bacias fortemente condicionada em termos de
quantidade, qualidade e de condições ambientais, a problemática das relações luso espanholas e da gestão e
acompanhamento dos acordos existentes entre os dois países é matéria que merece especial atenção neste
PNA.
O planeamento e gestão dos recursos hídricos em Portugal não pode, pois, deixar de ser articulado com o
planeamento e gestão dos recursos hídricos da parte espanhola das bacias partilhadas, no quadro do direito
internacional (com destaque para a Convenção sobre a Protecção e a Utilização dos Cursos de Água
Transfronteiriços e Lagos Internacionais – Convenção de Helsínquia), comunitário (com destaque para a
Directiva Quadro da Água) e bilateral (Convénios de 1964 e 1968 e a “Convenção sobre Cooperação para o
Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas”, adiante designada por
Convenção de Albufeira)
Assim, a aplicação e implementação da Convenção de Albufeira, cuja Comissão para a Aplicação e o
Desenvolvimento da Convenção (CADC) já se encontra em funções e tem desenvolvido amplo e profícuo
trabalho, é matéria que, de constituir uma das prioridades deste PNA.
Não cabe ao PNA definir metas e objectivos para a implementação desta Convenção, já que a CADC
encontra-se plenamente mandatada para esse efeito e no essencial é esse o objecto e o motivo da sua
existência. Ao PNA compete, prever os mecanismos de acompanhamento e vigilância da sua aplicação, de
modo a poder fazer repercutir perante a CADC os objectivos que nos propomos atingir em território nacional

1
() Na medida do possível procurou ter-se em conta as indicações da DQA, embora assumindo a impossibilidade de lhe dar desde já real
cumprimento.

2/25 (1 - I) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


CONSIDERAÇÕES GERAIS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES

e os condicionamentos que possam advir para a política nacional de gestão dos recursos hídricos, na
decorrência de uma partilha de interesses com o Estado de montante.
A recente adopção da Directiva 2000/60/CE que estabelece um quadro de acção comunitária no domínio da
política da água, adiante designada por Directiva Quadro da Água (DQA), define objectivos de protecção e
de gestão dos usos da águas, de certo modo já estão integrados na Convenção de Albufeira.
O presente PNA propõe a definição das regiões hidrográficas, passo fundamental para que possam ser
atingidos os objectivos fundamentais da Convenção de Albufeira e da DQA, sobretudo se tivermos em conta
a sua inserção no contexto das bacias compartilhadas, e que a sua futura gestão seja, num futuro próximo,
realizada por regiões ou conjuntos de regiões hidrográficas
Em consequência, torna-se inevitável a efectivação da já anunciada intenção de reforma do actual quadro
institucional de gestão dos recursos hídricos, cuja proposta de novo modelo se encontra em elaboração na
sequência do Despacho nº 13799/2000 de 6 de Julho, do Senhor Ministro do Ambiente e do Ordenamento do
Território, que para o efeito constituiu um Grupo de Trabalho.
Assim, e de acordo com o calendário da DQA, Portugal irá assegurar, em conjunto com Espanha, a
elaboração de planos de gestão coordenados e dos consequentes programas de medidas para prevenir a
degradação e assegurar a protecção da qualidade das águas, acção que, obviamente, também deverá ser
estendida às bacias nacionais.
Por outro lado, a abordagem integrada às questões relacionadas com a prevenção e controlo da poluição com
origem em descargas tópicas e difusas amplamente consignada na Directiva IPPC (Directiva 96/61/CE),
transposta para o direito interno nacional pelo Decreto Lei nº 194/2000 de 21 de Agosto, não deixa de
constituir uma obrigação dos dois estados ibéricos, sendo indispensável o estabelecimento de uma actuação
coordenada.
Ainda no contexto da gestão dos rios internacionais, existem outras questões que assumem particular
relevância, das quais destacamos:
• Fixação de caudais ecológicos decorrentes da necessidade de se proceder à definição do regime de
caudais necessário para garantir o bom estado das águas, no sentido de minimizar os impactes sobre os
ecossistemas dulçaquícolas a jusante dos aproveitamentos hidráulicos que condicionam as secções de
fronteira nos rios internacionais, tendo em vista quantificar os caudais mínimos a manter nos cursos de
água, ao longo do ano, que permitam assegurar a conservação e manutenção dos ecossistemas aquáticos
naturais, a reprodução das espécies, assim como a conservação e manutenção dos ecossistemas ripícolas
e os aspectos estéticos da paisagem ou outros de interesse científico e cultural.
Os estudos a desenvolver deverão abranger toda a bacia hidrográfica e avaliar os impactes decorrentes da
sua artificialização.
Durante a elaboração dos PBH (quer nos rios nacionais, quer nos rios internacionais) não foi possível
proceder ao estabelecimento destes caudais, já que o estado de conhecimento e as perspectivas de
aquisição do mesmo não se coadunavam com os objectivos temporais da conclusão dos PBH, daí que a
“Síntese dos Planos de Bacia Hidrográfica dos Rios Luso-Espanhóis, tenha avançado com a fixação de
valores em cinco secções de fronteira nos cinco rios internacionais, muito embora com a noção de que
esta matéria requer ser aprofundada e, nos termos da Convenção de Albufeira, deverá ser conduzida
através da CADC.
• Estabelecimento de redes homogéneas de monitorização, que nos termos da permuta de informação
prevista na Convenção de Albufeira e nos objectivos da DQA, terão de ser estabelecidas e intercalibradas
pelos dois estados ibéricos.
• Articulação entre Portugal e Espanha para a preparação da implementação da DQA o que, obviamente,
deverá estar inserido na estratégia comum da União Europeia.
Portugal é um dos países que, no contexto europeu, apresenta responsabilidades significativas em matéria de
gestão de águas, sobretudo se tivermos em conta os objectivos de protecção e preservação das águas
marinhas.

3/25 (1 - I)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSIDERAÇÕES GERAIS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Com uma área terrestre de 92 600 km2, Portugal tem responsabilidades de gestão de recursos hídricos numa
área de 1.834.600 km2 se atendermos às áreas das Zonas Económicas Exclusivas, ou seja, uma área cerca de
20 vezes superior à sua área terrestre, como se pode observar na Figura 1.1.

Figura 1.1 – Espaços Hídricos e Territoriais de Gestão de Recursos sob a Responsabilidade de Portugal

As responsabilidades nacionais inserem-se num contexto global de gestão do ambiente onde a terra, a água e
o ar são os principais vértices. Segundo os dados da FAO, o quadro global onde os recursos hídricos se
insere é apresentado na Figura 1.2.
Embora a água cubra 75% do globo terrestre, a sua disponibilidade e a sua distribuição inspiram permanentes
cuidados a nível do planeamento e da racionalidade dos seus diversos usos.
Em Portugal, os três espaços territoriais, Continente, Açores e Madeira, com áreas de 89.290 km2, 2.490
km2 e 820 km2, respectivamente, têm associadas as zonas marítimas económicas exclusivas, de 314.000
km2, 973.000 km2 e 455.000 km2, respectivamente.
A quantidade de água doce que é gerada pela precipitação nestes espaços é cerca de 91 Km3 médios anuais.
Estes recursos evoluem para recursos hídricos superficiais e subterrâneos que atingem os valores médios
anuais totais cerca de 33 Km3, e 8 Km3, respectivamente com a repartição pelo Continente, Açores e
Madeira expressa no Quadro 1.1.

4/25 (1 - I) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


CONSIDERAÇÕES GERAIS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Calotes
Oceanos
Polares e
97,5%
Zonas
Geladas 79%

Água Doce Água


Água Doce Subterrânea
2,5% Superficial 20%
1%

Humidade do
Lagos 52% S olo 38%

Água nos Vapor na


Organismos Rios Atmosfera
Vivos 1% 1% 8%

Figura 1.2 - Água no Globo Terrestre

Quadro 1.1 - Espaços Nacionais de Gestão de Recursos Hídricos (Km2) e Recursos Médios Anuais (Km3)

Espaços Espaços Recursos Médios Anuais (Km3/ano)


Regiões Territoriais Marinhos Precipitação Escoamento Recargas Totais

(Km2) (Km2) (Km3/ano) Superficial Subterrâneas


Continente 89 290 314 000 85,7 30,7 6,0 36,7
Açores 2 490 973 000 4,5 1,6 1,5 3,1
Madeira 820 455 000 1,2 0,5 0,2 0,7
TOTAL 92 600 1 742 000 91,4 32,8 7,7 40,5

Para que este PNA tenha uma base comum a todos os leitores importa aqui reter algumas definições
fundamentais, tais como:
- Plano Nacional da Água: Documento que define orientações de âmbito nacional para a gestão integrada
dos recursos hídricos fundamentadas em diagnóstico actualizado da situação e na definição de
objectivos a alcançar através de medidas e acções, elaborado de acordo com o Decreto-Lei nº45/94 de
22 de Fevereiro.
- Plano de Bacia Hidrográfica: Definição idêntica à anterior com o âmbito territorial de uma bacia
hidrográfica ou da agregação de pequenas bacias hidrográficas de acordo com o despacho ministerial de
98.12.31 que recaiu sobre a informação nº 280/DSP/98.
- Recursos Hídricos Superficiais: Águas interiores que não sejam subterrâneas.
- Recursos Hídricos Subterrâneos: Águas que se encontram abaixo da superfície do solo na zona de
saturação e com contacto directo com as substâncias que constituem o solo ou o subsolo.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSIDERAÇÕES GERAIS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES

- Águas Interiores: Todas as águas lênticas ou correntes à superfície do solo e todas as águas subterrâneas
existentes até à linha de base a partir da qual são marcadas as águas territoriais.
- Bacia Hidrográfica: Superfície terrestre na qual todas as águas fluem, através de uma sequência de
ribeiros, rios e eventualmente lagos e lagoas para o mar, desembocando uma única foz, estuário ou delta
- Águas Transfronteiriças: Águas superficiais e subterrâneas que definem as fronteiras entre dois ou mais
Estados, que os atravessam ou se encontrem situados nestas fronteiras.

6/25 (1 - I) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


PRINCÍPIOS ORIENTADORES E DE CONTEXTO

2. PRINCÍPIOS ORIENTADORES E DE CONTEXTO

2.1. Princípios Fundamentais e da Administração


As decisões político-administrativas associadas ao planeamento de recursos hídricos podem ser enformadas
por princípios específicos da actividade de planeamento, mas também devem ser conformadas pelos
princípios fundamentais e gerais que tocam todos os modelos de decisão deste subsistema jurídico.
A Constituição da Republica Portuguesa (CRP) refere que Portugal abrange o território historicamente
definido no continente europeu e os arquipélagos dos Açores e da Madeira e que na lei própria é definida a
extensão e o limite das águas territoriais, a zona económica exclusiva e os direitos de Portugal aos fundos
marinhos contíguos (artigo 5º).
No que se refere aos recursos hídricos das bacias hidrográficas internacionais a CRP estabelece que nas
relações internacionais Portugal rege-se pelos princípios da independência nacional, da igualdade entre os
Estados e da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados e ainda que as normas e os princípios
de direito internacional geral ou comum fazem parte integrante do direito português.
Também as normas constantes de convenções internacionais regularmente ratificadas ou aprovadas, bem
como as normas emanadas dos órgãos competentes das organizações internacionais de que Portugal seja
parte vigoram na ordem interna, desde que tal se mostre estabelecido nos respectivos tratados constitutivos
(artigos 7º e 8º).
Das tarefas fundamentais do Estado constam a promoção do bem estar e a qualidade de vida do povo e a
igualdade real entre portugueses, defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar
um correcto ordenamento do território (artigo 9º).
Por força destes princípios fundamentais da CRP, no domínio do ambiente em geral encontram-se na Lei de
Bases do Ambiente (LBA, 11/87) definidos os princípios que apontam para que “todos os cidadãos têm
direito a um ambiente humano e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender” e que “a política de
ambiente tem por fim optimizar e garantir a continuidade de utilização dos recursos naturais, qualitativa e
quantitativamente como pressuposto básico de um desenvolvimento auto – sustentado”
A Comissão do Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas (UNCED) através da publicação do
“Relatório Brundtland” evidenciou que os problemas ambientais não podem ser separados dos assuntos
relativos ao bem-estar das populações e ao desenvolvimento económico em geral, sendo apresentadas formas
alternativas de desenvolvimento que promovam o uso sustentável dos recursos naturais.
A Conferência sobre o Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio em 1992 realçou a necessidade de
incluir o conceito de desenvolvimento sustentável no desenvolvimento das políticas ambiental e económica.
A dimensão humana da necessidade de se assegurar o desenvolvimento sustentado foi escolhida para o 1º
princípio da Declaração do Rio com a seguinte expressão: “Os seres humanos estão no centro das
preocupações do desenvolvimento sustentado. Têm direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia
com a natureza”. O 3º princípio vai no mesmo sentido com a forma: “O direito ao desenvolvimento deve ser
conseguido de modo equitativo preenchendo as necessidades de desenvolvimento e ambientais das gerações
presentes e futuras”.
Tendo em vista a definição de uma estratégia de desenvolvimento sustentável, e tendo em consideração os
Acordos internacionais que também preconizam este tipo de desenvolvimento, devem realçar-se os seguintes
aspectos:
- integração das questões ambientais e sociais em todas as actividades;
- dissociação do crescimento económico da degradação do ambiente;
- análise sistemática das causas dos problemas e dos impactes no ambiente;
- análise sistemática dos custos e efeitos das soluções desenvolvidas.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
PRINCÍPIOS ORIENTADORES E DE CONTEXTO

A par dos princípios gerais de direito do ambiente referidos são ainda relevantes os vectores que enformam a
organização da Administração do Ambiente. De entre estes são especialmente importantes os seguintes:
− Gestão integrada de regiões hidrográficas que, como princípio específico da gestão dos recursos
hídricos, condiciona a actividade administrativa. Embora se deva sublinhar que a região hidrográfica
enquanto unidade operativa de acção e planeamento pode não coincidir com o conceito de bacia
hidrográfica.
− Coordenação e da cooperação internacionais, no sentido de que o planeamento dos recursos hídricos
deve procurar, por um lado, articular e compatibilizar a protecção do recurso água com as demais
políticas sectoriais com incidência territorial, operando uma adequada ponderação dos diversos
interesses públicos e privados entre si e uns com os outros; e, por outro lado, não podendo esquecer as
situações de partilha do recurso com Espanha;
− Subsidiariedade ou do nível mais adequado de acção, no sentido de que deverá ser privilegiado o nível
decisório que, em função da natureza dos problemas e da consequência das decisões, seja o que se
encontre em melhores condições (técnicas, de proximidade com os destinatários etc) para o fazer.
Por seu lado, o Plano Nacional de Política do Ambiente refere como princípio que as intervenções não
podem limitar-se a encarar as linhas de água, as albufeiras e os aquíferos como meras fontes de captação ou
locais de rejeição. É necessário atender aos seus múltiplos valores ambientais e patrimoniais,
designadamente ao seu papel na conservação dos ecossistemas.
Nos termos do artigo 174 do tratado da União Europeia a Política Comunitária no âmbito do
ambiente deve basear-se nos princípios da precaução e da acção preventiva, da correcção, prioritariamente na
fonte dos danos causados ao ambiente, e do poluidor pagador.

2.2. Princípios de Planeamento e Gestão


A Directiva Quadro da Água encontra o seu fundamento no universo de princípios gerais, entre os quais
merece destaque o da cooperação e de acção coerente a todos os níveis suportados na informação, consulta e
participação do público.
O Decreto-Lei n.º 45/94, de 22 de Fevereiro estabelece no artigo 2º, sob a epígrafe “planeamento de recursos
hídricos” que a referida actividade planificadora tem por objectivos gerais: “(…) a valorização, a protecção,
e a gestão equilibrada dos recursos hídricos nacionais, assegurando a sua harmonização com o
desenvolvimento regional e sectorial através da economia do seu emprego e racionalização dos seus usos.”
Daqui se deduz, em primeiro lugar, que a citada actividade deve conter, desde logo, uma perspectiva
tripartida assente na valorização dos recursos; na protecção dos recursos e na gestão equilibrada dos mesmos.
Não perdendo de vista o objectivo geral acima enunciado, o diploma contém, ainda, o que qualifica como
“requisitos de planeamento” (artigo 2º, 2), ou seja, as linhas de actuação que se pretende que condicionem o
processo de planeamento.
Neste Decreto-Lei são identificados cinco princípios:
− Globalidade, para significar que o planeamento de recursos hídricos deve apostar numa apreciação
integrada de vários aspectos relacionados com os recursos em causa, designadamente nas vertentes
técnica, económica, ambiental e institucional;
− Racionalidade, para significar que, no processo de planeamento se deve procurar a optimização das
várias origens da água e a satisfação das várias necessidades, articulando a procura e a oferta e
salvaguardando a preservação quantitativa e qualitativa dos recursos hídricos, bem como uma aplicação
económica dos recursos financeiros;
− Integração, para significar que o planeamento de recursos hídricos não se deve alhear das outras
políticas de racionalização e optimização de recursos, designadamente do planeamento económico
sectorial e regional, do planeamento territorial e das políticas de conservação e protecção do ambiente;
− Participação no sentido, hoje largamente consensual, de que não pode haver planeamento sem que no
processo se encontrem envolvidos os agentes económicos e as populações;

8/25 (2 - I) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


PRINCÍPIOS ORIENTADORES E DE CONTEXTO

− Estratégia, no sentido de que deve ser privilegiado o nível decisório mais próximo da população.
Na abordagem estratégica da Comissão Europeia (Maio 1999) para a gestão sustentável dos recursos hídricos
avançam-se princípios de gestão e institucionais, sendo de realçar: i) o envolvimento de organizações de
utilizadores e do sector privado deve ser encorajado; ii) a formação de competência contínua é necessária nas
instituições e nos grupos participantes a todos os níveis e iii) os sistemas de gestão devem ser transparentes e
responsáveis e devem ser estabelecidos sistemas de informação de gestão apropriados, para a aplicação dos
quais este PNA deve contribuir.
A Directiva-Quadro da Água (2000/60/CE) (DQA) encontra o seu fundamento num conjunto de princípios
gerais, de que merece destaque o da cooperação e de acção coerente a todos os níveis suportados na
informação, consulta e participação do público. A DQA estabelece um sistema integrado de medidas com
vista à protecção das águas, de modo a prevenir a deterioração do seu “estado”, proteger e melhorar o estado
dos ecossistemas aquáticos e dos ecossistemas terrestres e zonas húmidas directamente dependentes, no que
respeita às necessidades de água. A DQA constitui o desenvolvimento da Política Comunitária para o
Ambiente que visa a prevenção, protecção e melhoria da qualidade do ambiente, a protecção da saúde
humana e a utilização racional e prudente dos recursos naturais, de acordo com o Artigo 174 do Tratado.
Esta Política assenta nos princípios da precaução e da acção preventiva, da correcção prioritariamente na
fonte dos danos causados ao ambiente e do poluidor-pagador.
Este PNA não poderá deixar de ter em conta as novas terminologias e definições constantes do Artº 2º da
DQA.

2.3. Princípios Ambientais


Uma consequência dogmática da inserção do direito da protecção da água no direito do ambiente é a
relevância dos princípios gerais de direito do ambiente nos modelos de decisão característicos do direito de
protecção da água. É, assim, claro que a generalidade dos princípios que condicionam as regras de protecção
da água (incluindo as opções de planeamento) são vectores gerais de direito do ambiente. De entre os
vectores que merecem uma formulação tendenciamente consensual na doutrina importa referir os seguintes:
− Prevenção, no sentido de que as acções político-administrativas devem ser orientadas para a prevenção
da ocorrência de danos e disfunções ambientais;
− Precaução, no sentido da acção, determinando que acções preventivas devem ter lugar logo que exista
um grau de risco desadequado para a qualidade da água, mesmo que não esteja demonstrada a existência
de um nexo causal entre a actividade potencialmente prejudicial e do dano,- e no sentido da abstenção -,
proibindo as actividades que representem um perigo ou um grau de risco desadequado para a qualidade
da água;
− Abordagem combinada, entre a fixação de valores limite de emissão e a fixação de objectivos de
qualidade para o meio receptor, bem como entre objectivos de qualidade e quantidade para as águas de
superfície e subterrâneas, tendo por base a melhor tecnologia disponível;
− Utilização da melhor tecnologia, a fase de desenvolvimento mais avançada e eficaz das actividades e
dos respectivos modos de exploração do domínio hídrico, que demonstre a aptidão prática de técnicas
específicas com vista a evitar e a reduzir, de um modo geral, as emissões e os impactes no meio hídrico
e no ambiente em geral.

2.4. Princípios Sociais


Com o mesmo alcance do 3º princípio da Declaração do Rio, o planeamento dos recursos hídricos orienta-se
por princípios tais como:
− Sustentabilidade e solidariedade intergeracional, devendo o planeamento procurar assegurar a
adequada resposta às necessidades da geração actual e, do mesmo modo, a transmissão às gerações
futuras de uma herança que deve ser protegida, defendida e tratada como tal;
− Solidariedade e coesão nacionais, no sentido de que as opções de planeamento devem procurar atenuar
e não agravar as assimetriais existentes.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
PRINCÍPIOS ORIENTADORES E DE CONTEXTO

2.5. Princípios Económico-Financeiros


− Água bem económico, reconhecendo que a água doce é um recurso finito, cuja disponibilização tem um
custo e para o qual deve ser estipulado um preço;
− Uso eficiente da água, visando maximizar a utilização de um dado volume de água, restringido
utilizações que não são essenciais, de menor valor, ou menos eficientes;
− Utilizador-pagador, reforçando a ideia de que todas as utilizações do recurso suportem o custo de
utilização do mesmo, no qual se incluem os custos ambientais e os custos associados à escassez do
recurso;
− Poluidor-pagador, que implica que os custos de prevenção, controle e redução da poluição do meio
hídrico sejam imputados ao poluidor.

2.6. Princípio da Informação e Participação


- Participação, aponta para o envolvimento dos utilizadores na tomada de decisões individualmente ou
através das organizações representativas e para a assunção pelos agentes das consequências, para
terceiros, da sua secção, directa ou indirecta, sobre os recursos hídricos.
− Responsabilidade, no sentido de que os agentes devem ser adequadamente responsabilizados pelos
actos danosos para o recurso em causa, designadamente através da internalização dos custos sociais
(princípio do poluidor pagador) da obrigação de reparação do dano e da utilização de penalizações
suficientemente eficazes, proporcionadas e dissuasivas.

10/25 (2 - I) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


ENQUADRAMENTO JURÍDICO GERAL

3. ENQUADRAMENTO JURÍDICO GERAL

3.1. Natureza e Posição Hierárquica do PNA com Outros Instrumentos de Planeamento


Podendo qualificar o PNA como um plano ambiental sectorial - ainda que em sentido impróprio, pois não se
confunde com o conceito de plano sectorial no âmbito dos instrumentos de gestão territorial - certo é também
que o mesmo não se insere claramente nalgumas das categorias de instrumentos de gestão territorial. Esta
conclusão tem relevantíssimas consequências, maxime ao nível da articulação hierárquica com os demais
planos existentes e da vinculação dos particulares. O PNA, enquanto plano ambiental, pode ser classificado
como plano ambiental sectorial, mas isso não preclude a sua eventual classificação como instrumento de
gestão territorial com as consequências daí advenientes.
Parece evidente que apesar de o PNA poder ter incidência territorial, não é isso que o caracteriza. Estamos,
com efeito, perante uma matéria que, por excelência, deve ser tratada ao nível supramunicipal.
Concretamente, a utilização da água levanta problemas relacionados, por exemplo, com o abastecimento de
água para consumo humano e para fins económicos ou com os impactos nos ecossistemas ou decorrentes dos
períodos de cheia e de seca.
O tratamento destas questões exige, entre outras coisas, um correcta gestão das bacias hidrográficas, a
monitorização do estado das águas superficiais e subterrâneas e o estabelecimento de medidas para atingir
esses objectivos. Se os vários Planos de Bacia Hidrográfica desempenham um papel importante na
prossecução destes objectivos, o PNA garante uma perspectiva global e integrada da gestão do domínio
hídrico. Funciona, assim, como pano de fundo dos demais instrumentos jurídicos que intervenham nesta
matéria.
Atendendo ao que dispõem a Lei nº 48/98, de 11 de Agosto (Bases da Política de Ordenamento do Território
e de Urbanismo (LBOT)) e o Decreto-Lei nº 380/99, de 22 de Setembro (regime jurídico dos instrumentos de
gestão territorial), o PNA será um instrumento de gestão territorial e, concretamente, um plano sectorial, com
as consequências inerentes. Entre essas consequências, sublinhe-se a vinculação das entidades públicas
competentes para a elaboração e aprovação de planos municipais relativamente aos quais tenha o PNA
incidência espacial. Por outras palavras, estando em face de um plano sectorial, tal significa que muitas das
suas prescrições ficarão dependentes da sua ulterior consagração por parte dos planos municipais. Retenha-se
que os planos sectoriais não vinculam os particulares. É inegável que o PNA - e concretamente as suas
prescrições -, vão ser aplicadas num espaço determinado. Mas o que interessa, para efeitos de aplicação do
regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial, é identificar nessa dimensão territorial uma
característica essencial do instrumento que se esteja a analisar. Ora, se pensarmos em aspectos do conteúdo
do PNA, como a definição de normas de qualidade da água, facilmente intuímos que a dimensão territorial,
que obriga à intervenção das estruturas locais, não releva.
Posto isto, parece ser de concluir que é possível uma perspectiva dual. Por uma lado, há determinadas
matérias que podem ser tratadas no PNA - pense-se nas zonas adjacentes, na previsão de uma barragem ou
de limitações de utilização do solo - cuja expressão territorial é inegável. Nestes casos justifica-se,
porventura, a ulterior intervenção dos planos municipais.
O PNA deve ser perspectivado no quadro da política ambiental. Com efeito, aquele instrumento jurídico não
pode ser entendido fora de um contexto mais amplo – a protecção do ambiente. Esta tem sido assumida e
prosseguida através de um vasto conjunto de soluções que passam pela regulamentação pormenorizada da
utilização de bens jurídico-ambientais e pela integração do ambiente em instrumentos de outros ramos do
direito – maxime do direito do ordenamento do território e do direito do urbanismo -, como seja o caso dos
planos do ordenamento do território.
Em termos genéricos, podemos falar em três modelos de planeamento ambiental: o planeamento ambiental
global, o planeamento ambiental sectorial, e o planeamento ambiental integrado. Qualquer plano,
independentemente do modelo em que se insira, é um acto (administrativo ou normativo) que visa definir
regras e condicionamentos a que ficam sujeitas determinadas áreas com vista à realização de fins pré-
estabelecidos.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
ENQUADRAMENTO JURÍDICO GERAL

3.2. Principais Envolventes Jurídicas/Normativas


A Constituição aponta para um modelo de “Estado Ambiental” fortemente alicerçado no planeamento. Veja-
se, a este propósito, o artigo 90º da Lei Fundamental, o qual estabelece, como um dos objectivos dos planos,
a preservação do equilíbrio ecológico, a defesa do ambiente e a qualidade de vida do povo português. Daqui
resulta claro que o plano é um instrumento privilegiado de prossecução das tarefas estaduais neste domínio e
de efectivação do direito fundamental ao ambiente e à qualidade de vida.
Com efeito, recorde-se que o artigo 9º da Constituição incumbe ao Estado a promoção do bem-estar e a
qualidade de vida do povo português, a efectivação dos direitos ambientais, a protecção e valorização do
património cultural do povo português, a defesa da natureza e do ambiente e a preservação dos recursos
naturais. Por seu turno, o artigo 66º- sede constitucional do direito fundamental ao ambiente e qualidade de
vida -, impõe ao Estado um vasto conjunto de tarefas, como seja a de ordenar e promover o ordenamento do
território, tendo em vista um correcta localização das actividades, um equilibrado desenvolvimento sócio-
económico e a valorização da paisagem.
No quadro da Lei de Bases do Ambiente são estabelecidos um conjunto de objectivos no seu artigo 4º, tais
como o desenvolvimento económico e social auto-sustentado, o equilíbrio biológico e a estabilidade
geológica, a garantia do mínimo impacto ambiental, a manutenção dos ecossistemas que suportam a vida, a
utilização racional dos recursos vivos, a adequada delimitação dos níveis de qualidade das componentes
ambientais, etc., que funcionam como envolventes dos recursos hídricos.
O teor do PNPA tem como desígnios para os recursos hídricos, entre outros, a elaboração do PNA e dos PBH
a fim de dar coerência geral a todas as intervenções neste domínio.
O Decreto-Lei 45/94 de 22 de Fevereiro é o instrumento jurídico que expressamente atribui a competência e,
portanto, a obrigação de elaboração do PNA, cuja aprovação se faz por Decreto-Lei, ao INAG (artigo 5º).
Também a DQA no seu artigo 13º estipula que os estados membros garantirão a elaboração de um plano de
gestão da bacia hidrográfica inteiramente situada no seu território e assegurarão a coordenação entre si com o
objectivo de realizar um plano de gestão de bacia hidrográfica para cada região hidrográfica internacional.

3.3. A Eficácia nas Regiões Autónomas


O Decreto-Lei 45/94 ignora as Regiões Autónomas em todos os aspectos materiais e orgânicos do regime
jurídico de planeamento de recursos hídricos, mas é explicito no seu artigo 4º quando estabelece que “o
Plano Nacional da Água (PNA), abrange todo o território nacional”.
Assim, se parece admissível a aplicação do PNA (e do próprio Decreto-Lei 45/94 às Regiões Autónomas
sem que isso contrarie, necessariamente, o princípio da autonomia regional (pelo menos, enquanto forem
respeitadas a iniciativa e os poderes legislativos próprios das Regiões), a verdade é que tal aplicação pode
deparar com a inoperatividade do citado Decreto-Lei, nos termos em que este diploma se encontra
actualmente redigido, para esse efeito. A aplicação do PNA às Regiões Autónomas terá sempre de defrontar
(e resolver) problemas como:
- A ausência de bacias hidrográficas de referência, sobretudo no âmbito do art. 4º/1, b) do Decreto-Lei
45/94;
- As limitações, em termos de competência territorial, da entidade responsável pela elaboração do PNA e
a articulação com os organismos próprios das Regiões;
- A ausência de representação das instituições regionais nos organismos consultivos e de gestão do PNA;
Assim, pode ser equacionada a alteração desta situação, pela adaptação da lei geral ao interesse específico
regional ou, mesmo , nalgumas alterações legislativas a nível nacional.

3.4. As Implicações Transfronteiriças


Portugal é subscritor das mais importantes Convenções multilaterais e, no aspecto bilateral, acordou
recentemente com Espanha normas com vista à preservação e partilha dos recursos hídricos das 5 bacias
hidrográficas internacionais, (Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana), através da assinatura e entrada em

12/25 (3 - I) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


ENQUADRAMENTO JURÍDICO GERAL

vigor no início do ano 2000 da “Convenção sobre Cooperação para a Protecção e o Aproveitamento
Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas”.
A entrada em vigor da DQA também não deixará de ter profundos reflexos nas relações Luso-Espanholas.
As Convenções internacionais com especificidades transfronteiriças: Convenção sobre o Direito dos Usos
não Navegacionais dos Cursos de Água Internacionais (97/03/21), a Convenção sobre Protecção e Utilização
dos Cursos de Águas Transfronteiriços e Lagos Internacionais (92/03/17), a Convenção sobre a Avaliação de
Impactes Ambientais num Contexto Transfronteiriço e a Convenção OSPAR trouxeram para o âmbito das
relações bilaterais a necessidade do estabelecimento de plataformas técnicas e científicas e diplomáticas que
impõem harmonização nacional em matéria de recursos hídricos, assumindo-se o PNA como uma das traves
mestras.
A DQA é explicita nesta última matéria, exigindo a articulação e a coordenação do planeamento das bacias
transfronteiriças para que as medidas e as acções a estabelecer conduzam ao cumprimento dos objectivos
nela previstos.

13/25 (3 - I)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
OBJECTO E ÂMBITO TERRITORIAL

4. OBJECTO E ÂMBITO TERRITORIAL

4.1. Objecto, Abrangência, Integração Territorial


O PNA é um plano de recursos hídricos. Todavia, a ideia de “recursos hídricos” deve ser entendida à luz do
conceito de “água”, enquanto componente ambiental, e do planeamento da água como um dos instrumentos
compreendidos no respectivo direito de protecção. Nomeadamente, através da definição e orientação da
política de gestão deste bem, tendo em vista as finalidades da sua protecção e utilização sustentada (art. 2º/2
do Decreto-Lei 45/4).
Assim, o objecto do PNA será, em princípio, correspondente ao do direito de protecção da água, dado que as
políticas expressas nas disposições dos planos terão de se reportar, necessariamente, às realidades que, por se
encontrarem relacionadas com a água, constituem o objecto do respectivo direito de protecção.
O objecto do planeamento dos recursos hídricos não se limita, apenas, à água, abrangendo o “domínio
hídrico” consagrado no art. 2º do Decreto-Lei 46/94 e no art. 10º/1 e 2, da Lei de Bases do Ambiente, o qual
envolve, para além das águas, os terrenos em estreita conexão com estas (fundos, leitos, margens e zonas
adjacentes).
Todavia, da multiplicidade das realidades abrangidas pelas disposições dos planos de recursos hídricos,
continua a poder identificar-se, como elemento essencial do objecto destes planos, a água (as águas), sendo
as restantes realidades tratadas acessoriamente e na perspectiva da protecção daquela. Assim, é ao nível da
água (ou seja, da determinação dos tipos de águas relevantes para efeitos de planeamento de recursos
hídricos) que se suscitam as questões mais relevantes a propósito da definição do objecto do PNA.
A primeira questão é, por isso, a de precisar quais os tipos de águas abrangidas pelo PNA. Trata-se,
nomeadamente, de determinar os conceitos e as relações entre os diversos tipos de águas marítimas e
interiores e saber, de seguida, quais os tipos de águas abrangidos.
Por outro lado, importa analisar, no âmbito do objecto do PNA, o estatuto jurídico das águas em presença, o
qual constitui a base do respectivo regime e, por isso, um pressuposto essencial para a definição da
respectiva política de planeamento e gestão.
Para determinar quais são, efectivamente, as águas que constituem o objecto do PNA, há que ter presente as
normas relativas à definição de água, como bem jurídico objecto do respectivo direito de protecção, bem
como as que procedem a classificações de águas, nos termos dos regimes mais relevantes nesta matéria,
assunto que é tratado no tema 2 do capítulo II.
Para efeitos de determinação do objecto do PNA, adoptando-se, como base de trabalho, a classificação feita
de acordo com as respectivas características hidro-geológicas, devidamente enquadrada nos termos da
classificação geral constante da Lei de Bases do Ambiente.
O art. 10º/1 da Lei de Bases do Ambiente compreende os seguintes tipos de águas:
• águas interiores de superfície
• águas interiores subterrâneas
• águas marítimas interiores
• águas marítimas territoriais
• águas marítimas da zona económica exclusiva
Estes tipos podem agrupar-se em dois grandes conjuntos – águas interiores e águas marítimas.
Identificados os tipos de águas relevantes para efeito de determinação do objecto do PNA, trata-se agora de
delimitar, no que respeita às águas, este objecto.
Para este efeito, o conceito de bacia hidrográfica apresenta-se como um elemento decisivo, dado que
constitui, juridicamente, a referência essencial do planeamento e gestão da água.

14/25 (4 - I) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


OBJECTO E ÂMBITO TERRITORIAL

Assumindo o conceito de bacia hidrográfica como elemento referenciador da actividade de planeamento e


gestão da água, pode concluir-se que estão sujeitos ao planeamento (e, nomeadamente, ao PNA) as águas
compreendidas nas bacias hidrográficas.
Embora o PNA possua um âmbito e conteúdo diferentes dos PBH, no que diz respeito ao objecto, não se
justificam quaisquer distinções. Pelo contrário: constituindo ambos os instrumentos figuras articuladas no
âmbito do mesmo sistema de planeamento de recursos hídricos, é forçoso que, embora em escalas diferentes,
se reportem à mesma realidade de base.
Quanto ao objecto do planeamento de recursos hídricos e, em particular, do PNA, pode apontar-se que este
se limita às águas dos seguintes tipos:
• Águas interiores (superficiais e subterrâneas);
• Águas estuarinas;
Esta é a delimitação que resulta do emprego do conceito de bacia hidrográfica, enquadrado nos termos do
regime jurídico do planeamento da água em função do facto de este regime assentar nessa unidade básica.
Tal não prejudica, portanto, a possibilidade de formulação de hipóteses mais abrangentes (nomeadamente, a
da correspondência integral com o objecto do direito de protecção da água) e o enquadramento, num único
sistema de planeamento, de toda a política de gestão da água. Todavia, apesar da relevância jurídica de
algumas águas não abrangidas pelas bacias hidrográficas (sobretudo, de águas costeiras) a verdade é que o
regime do planeamento da água não acolhe tal hipótese, ficando esta relegada para o campo do direito a
constituir.
Determinados os tipos de águas sujeitos ao planeamento, cabe agora analisar o seu estatuto jurídico. Este
estatuto assenta no regime de dominialidade, o qual constitui o pressuposto determinante do regime de uso, e
portanto, um elemento essencial para a gestão dos recursos.
O regime de dominialidade compreende, como realidade global, o conceito de domínio hídrico, nos termos
em que este vem definido no art.2º do DL 46/94, de 22 de Fevereiro, e compreende as seguintes categorias:
• Domínio público hídrico, composto pelas águas integradas no domínio público hídrico, nos termos do
disposto no Decreto n.º 5787-IIII, de 10 de Maio de 1919 (art. 2º/2 do DL 46/94) e pelos terrenos
integrados no domínio público hídrico, nos termos do disposto no Decreto-Lei n.º 468/71, de 5 de
Novembro (art. 2º/1 do DL 46/94).
• Domínio hídrico privado, nos termos dos art.s 1385º e seguintes do Código Civil (art. 2º/2 do DL 46/94).
A propósito da determinação do âmbito espacial do Plano Nacional da Água colocam-se as seguintes
questões fundamentais:
• Qual o sentido da aplicação do PNA a todo o território nacional;
• Qual a estrutura espacial do planeamento;
• Quais os limites fronteiriços.
Nos termos do disposto no art. 4º/1, alínea a), do DL 45/94, o PNA aplica-se a todo o território nacional.
Todavia, a aparente clareza do texto legal esconde problemas relevantes de interpretação e,
consequentemente, da determinação do âmbito espacial do PNA.
Essas dúvidas decorrem, nomeadamente, do confronto do âmbito territorial com o objecto dos planos (em
particular, como o conceito de bacia hidrográfica acima referido), com os limites territoriais implícitos no
Decreto-Lei n.º 45/94 e, sobretudo, com o princípio da autonomia regional, consagrado no art. 228, alínea f),
da Constituição.
Assim, podem apontar-se as seguintes (sub)questões:
a) O PNA cobre, efectivamente, a totalidade do território nacional ou apenas as parcelas de território
correspondentes às bacias hidrográficas?

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
OBJECTO E ÂMBITO TERRITORIAL

b) O PNA é susceptível de aplicação às regiões autónomas ou, nestas, cabe a aplicação de planos
regionais próprios, emitidos ao abrigo do interesse específico regional?
Quanto à primeira questão deve notar-se que o objecto do PNA é constituído pelas águas integradas nas
bacias hidrográficas. E estas são as águas interiores e as águas (marítimas interiores) estuarinas.
Assim, resulta claro que, em termos espaciais, nem todas as águas marítimas integradas no território nacional
(as águas do mar territorial, nos termos do art. 5º da Constituição) se incluem no objecto do PNA.
Deste modo, a ideia de que o PNA cobre a totalidade do território nacional tem de ser confrontada com esta
restrição à parte do território nacional abrangida por bacias hidrográficas.
Por outro lado, há que saber se essas bacias hidrográficas, tal como estão definidas no art. 4º/1, b) do DL
45/95, delimitam o âmbito espacial do PNA, em termos de excluir a sua aplicação às áreas não integradas em
nenhuma daquelas bacias.
Ora, não parece que tal suceda. Designadamente, nada parece obstar a que se delimitem as bacias
hidrográficas das Regiões Autónomas, o que viria reforçar a ideia da correspondência espacial entre o PNA e
a totalidade do território nacional, abrangido por bacias hidrográficas.
A segunda questão diz respeito ao confronto entre o âmbito espacial do PNA, como plano de nível estadual
(v. art.. 5º/3 do DL 45/94), com o princípio da autonomia regional.
Nos termos do disposto no art. 228º, alínea f) da Constituição, a gestão dos recursos hídricos é uma das
matérias de interesse específico regional, sujeita, no âmbito do exercício dos poderes legislativos, à
competência exclusiva das Assembleias Legislativas Regionais (art. 232º/1 da CRP).
Todavia, o que decorre do designado interesse específico é, essencialmente, a faculdade de exercício dos
poderes legislativo e regulamentar.
Nomeadamente, para, em função do interesse específico, emitir legislação originária, para desenvolver leis
de bases nacionais e regulamentar leis gerais da república (art. 227º/1, alíneas a.- c. e d., respectivamente, da
CRP). Assim, o facto de a matéria em causa ser de interesse específico para as Regiões Autónomas não
impede que uma lei geral da república, nessa matéria, vigore nas Regiões Autónomas. Apenas significa que
estas últimas possuem o poder de a adaptar ao seu interesse específico regional ou de emitir legislação
própria nessa matéria, desde que respeitados os princípios essenciais da lei em causa (art. 27º/1, a., da CRP).

4.2. Unidades Territoriais de Planeamento de Gestão


A situação actual em matéria de unidades territoriais de planeamento é a que decorre do quadro institucional
criado pelas disposições legais que criaram as Direcções Regionais de Ambiente e Recursos Naturais em
1993, hoje Direcções Regionais de Ambiente e Ordenamento do Território, e o Instituto da Água, atribuindo-
lhe âmbitos territoriais e competência de gestão não coincidentes com as áreas das bacias hidrográficas. Com
a publicação do D.L. 45/94 sobre as competências de planeamento ficaram definidas as áreas de intervenção
expressas nas figura 4.2.1.
No que se refere às unidades territoriais de planeamento e de gestão dos recursos hídricos, embora de uma
forma pouco precisa, o art. 12º da Lei de Bases do Ambiente define os critérios essenciais a ter em conta
nesta matéria:
«A bacia hidrográfica é a unidade de gestão dos recursos hídricos, a qual deverá ter em conta as
suas implicações sócio-económicas, culturais e internacionais.»
Com efeito, e como foi atrás foi referido, é difícil definir uma bacia hidrográfica por critérios que não sejam
os hidrológicos. E, à luz desse facto, torna-se efectivamente difícil de compreender a integração dos
“factores sócio-económicos, culturais e internacionais”.

16/25 (4 - I) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


OBJECTO E ÂMBITO TERRITORIAL

Figura 4.2.1 - Unidades Territoriais de Gestão e de Planeamento


Mas, para se extrair desta disposição legal um sentido útil, há que a interpretar tendo presente que a gestão de
recursos hídricos, embora tendo por base as bacias hidrográficas, não pode ser alheia aos factores sócio-
económicos que a envolvem e condicionam.
Assim, forçoso é concluir que, neste artigo 12º da Lei de Bases do Ambiente, estão presentes duas realidades
ou unidades distintas:
− A unidade básica – a bacia hidrográfica, enformada pelo parâmetro hidrológico;
− E a unidade operativa – as actuais unidades homogéneas de planeamento e gestão de recursos hídricos –
cuja definição resulta da integração das unidades hidrológicas com os referidos factores sócio-
económicos, de modo a serem obtidas regiões de gestão e planeamento mais adequadas aos
condicionalismos e aos fins específicos resultantes de uma abordagem integrada da gestão dos recursos
hídricos.
Pode, assim, concluir-se que o conceito de região hidrográfica referido na LBA enquanto unidade operativa
de planeamento, pode por um lado, incluir a agregação de uma ou mais bacias hidrográficas determinadas
em termos hidrológicos e, por outro, pode limitar-se a uma parte de uma dada bacia hidrográfica
internacional.
Neste PNA são consideradas como unidades base de planeamento as áreas hidrográficas no sentido mais
amplo que as bacias hidrográficas, e que são cobertas pelos Planos de Bacia Hidrográfica, e para as Regiões
Autónomas, as ilhas como unidades independentes. Assim, teremos no território do Continente 15 áreas
hidrográficas de planeamento, na Região Autónoma dos Açores 9 áreas hidrográficas e na Região Autónoma
da Madeira 4 áreas hidrográficas.
A Directiva Quadro da Água 2000/60/CE é muito objectiva em matéria de unidades territoriais de
planeamento e gestão embora deixe todos os graus de liberdade para ajustamentos às realidades regionais.
No seu artigo 13º estabelece que os Estados-membros garantirão a elaboração de um plano de bacia
hidrográfica para cada região hidrográfica inteiramente situada no seu território. No caso de uma região

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
OBJECTO E ÂMBITO TERRITORIAL

hidrográfica internacional inteiramente situada num território da Comunidade, os Estados-membros


assegurarão a coordenação entre si com o objectivo de realizar um único plano de gestão de bacia
hidrográfica internacional.

4.3. Limites Fronteiriços e Continuidade Hidrográfica


Quando refere a integração de factores “internacionais” na gestão dos recursos hídricos, o art. 12º da Lei de
Bases do Ambiente contempla este aspecto específico do âmbito espacial do PNA.
A continuidade hidrográfica transfronteiriça pressupõe, assim, a consideração das seguintes particularidades,
relativamente ao âmbito espacial do planeamento de recursos:
• A definição de unidades de planeamento em função deste factor;
• A definição de critérios, objectivos e estruturas de informação, articulação e gestão integrada, as quais
pressupõem a existência de alguma correspondência territorial e material entre as estruturas de gestão e
planeamento e os respectivos instrumentos, dos dois lados da fronteira.
Estes aspectos justificam disposições especiais por parte do PNA, de modo a promover uma boa articulação
com os planos hidrográficos espanhóis, tanto ao nível da bacia hidrográfica como ao nível nacional, em
reforço dos mecanismos de articulação estabelecidos no quadro das convenções bilaterais e multilaterais em
vigor.
As relações bilaterais entre Portugal e Espanha impõem-se pela forte componente hídrica, não apenas porque
cerca de 65% das fronteiras serem materializadas por linhas de água, mas porque há uma responsabilidade
conjunta na integralidade do sistema hidrográfico das bacias luso-espanholas, com situações particularmente
delicadas na foz dos respectivos rios, onde se localizam estuários de elevada importância ecológica e
ambiental.

4.4. As Relações entre as Águas Interiores, Estuarinas e Costeiras


A Lei de Bases do Ambiente estabelece dois grandes tipos de águas interiores:
• As águas superficiais
• As águas subterrâneas
A definição de águas superficiais e águas subterrâneas é a apresentada no início deste capítulo.
As águas costeiras e estuarinas encontram-se na confluência dos dois grandes grupos de águas previstos na
Lei de Bases do Ambiente (águas marítimas e águas interiores) e despertam igualmente problemas na
conjugação dos conceitos de “águas marítimas interiores” e “águas interiores de superfície”, previstos no art.
10º/1, nas alíneas a) e c), respectivamente, da Lei de Bases do Ambiente, questão que é merecedora de
tratamento mais detalhado no capítulo II tema 2.
Assim, as águas estuarinas são as águas marítimas (com maior ou menor concentração de água doce)
compreendidas entre o local até onde se fazem sentir as correntes de maré (a montante) e a foz.
Dada a definição de águas interiores que resulta do art. 10º/1, alínea a) da Lei de Bases do Ambiente
podemos concluir que águas costeiras e estuarinas são águas marítimas (águas salgadas de origem marítima
ou com maior ou menor diluição por água doce) e não águas interiores superficiais. Sendo estas últimas,
águas doces, limitadas, a jusante, nos cursos de água que contactam com o mar, pela zona a partir da qual se
fazem sentir os efeitos das marés, com o consequente aumento sensível de salinidade.
Assim, tendo presente o que ficou exposto, são de sublinhar as seguintes aspectos:
− As águas costeiras e as águas estuarinas são águas marítimas (ou salgadas) e, portanto, distintas das
águas interiores, que são doces;
− As águas estuarinas são as águas marítimas interiores existentes na zona dos estuários;
− As águas costeiras constituem uma faixa de águas marítimas territoriais, correspondendo à denominada
“faixa marítima de protecção”.

18/25 (4 - I) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


OBJECTO E ÂMBITO TERRITORIAL

Deste modo, partindo do interior para o mar, encontram-se os seguintes tipos jurídicos de águas:
Nos cursos de água:
− Até ao limite das águas doces, as águas são águas interiores (superficiais);
− A partir desse limite e até à foz, as águas são águas (marítimas interiores) estuarinas;
− Entre a foz e a batimétrica 30 (o que não sucede nas zonas em que os estuários tenham profundidade
superior a essa), as águas são águas (marítimas territoriais) costeiras (faixa marítima de protecção);
Na costa:
− Entre a linha da preia-mar e a linha de base (linha de base normal – linha da baixa-mar), as águas são
águas marítimas interiores;
− Entre a linha de base normal e a batimétrica 30 (nas zonas em que a profundidade na linha de base
normal já não seja igual ou superior a 30 m.), as águas são águas (marítimas territoriais) costeiras (faixa
marítima de protecção).
Em todos os casos, a partir da linha de base e até à distância de 12 milhas a contar desta em todos os pontos,
iniciam-se as águas marítimas territoriais.
Todavia, e como já referimos, este PNA não pode deixar de ter em conta as novas terminologias e definições
constantes do Artº 2º da DQA, nomeadamente no que se refere a águas de transição e águas costeiras.

19/25 (4 - I)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
OBJECTIVOS E LINHAS DE ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA

5. OBJECTIVOS E LINHAS DE ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA

5.1. Os Imperativos Legais


Como é sabido, a tutela do ambiente assenta essencialmente na ideia de prevenção, hoje apoiada num
princípio jurídico que vincula a actividade legislativa e administrativa do Estado. Ora, o planeamento, como
instrumento da protecção do ambiente, realiza por excelência aquele princípio estruturante do direito do
ambiente. E assim é, pois o planeamento caracteriza-se por um processo multifaseado que procura conformar
objectivos e interesses conflituais depois de efectuado um juízo de prognose sobre a evolução, ou sobre o
desenvolvimento, do quadro sobre o qual se está a actuar. Desta forma, numa perspectiva ampla, o
planeamento ambiental debruça-se, quer autonomamente sobre a complexidade dos problemas ambientais,
quer sobre o seu «convívio» instável com outros interesses. A planificação ambiental é, em suma, uma via
privilegiada de prossecução preventiva da tutela ambiental.
Tendo em consideração o referido em 3.2 sobre a CRP e a LBA, os objectivos e tarefas daí decorrentes
devem, em suma, ser reflectidos no sistema de planeamento constitucionalmente traçado, o qual pode ser
caracterizado, sem grandes desenvolvimentos, como um sistema flexível, englobando planos de diverso
âmbito espacial, sectorial e temporal.
As disposições comunitárias da Directiva-Quadro da Água reflectem-se necessariamente no planeamento das
bacias hidrográficas partilhadas por Portugal e Espanha, à luz do enquadramento propiciado pela Convenção
sobre Cooperação para a Protecção e Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-
Espanholas.
Reflectem-se sobretudo na necessidade de assegurar a coordenação entre ambos os países com o objectivo de
elaborar um único plano de gestão das bacias internacionais e da elaboração conjunta ou concertada dos
programas de medidas e acções que completem e traduzam a aplicação de cada um dos planos de bacia
hidrográfica dos rios luso-espanhóis, designadamente em aspectos específicos relevantes para os dois países
vizinhos, como sejam o estabelecimento do regime de caudais, a prevenção e actuação em situações de
cheias e de secas e a prevenção e controlo da poluição. No contexto específico da Directiva-Quadro da Água,
caso se verifique a impossibilidade de elaborar um único plano de gestão, cada país deve elaborar planos de
gestão de bacia hidrográfica para as partes da região hidrográfica internacional situadas nos respectivos
territórios.
Constitui um dever social do Estado Português assegurar o direito ao ambiente, no quadro de um
desenvolvimento sustentável, por meio de organismos próprios e com o envolvimento e a participação dos
cidadãos, incumbindo-lhe: i) prevenir e controlar a poluição e os seus efeitos e as fontes prejudiciais de
erosão; ii) o aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando a sua capacidade de renovação e
a estabilidade ecológica, com respeito pelo princípio de solidariedade entre gerações; iii) promover a
integração de objectivos ambientais nas várias políticas de âmbito sectorial; iv) promover a educação
ambiental e o respeito pelos valores do ambiente (artigo 66º da CRP).
Incumbe também ao Estado prioritariamente, no âmbito económico e social: i) promover o aumento do bem
estar social e económico e da qualidade de vida das pessoas, no quadro de uma estratégia de
desenvolvimento sustentável; ii) assegurar uma política científica e tecnológica favorável ao
desenvolvimento do país; iii) adoptar uma política nacional da água, com o planeamento, aproveitamento e
gestão racional dos recursos hídricos (artigo 81º da CRP)
No mesmo âmbito, a CRP estabelece que as águas territoriais com os seus leitos e os fundos marinhos
contíguos, bem como os lagos, lagoas e cursos de água navegáveis ou flutuáveis, com os respectivos leitos
pertencem ao domínio público (artigo 84º).
Os planos nacionais são elaborados de harmonia com as respectivas leis das grandes opções fundamentadas
em relatórios que as acompanham (artigo 91º da CRP).

20/25 (5 - I) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


OBJECTIVOS E LINHAS DE ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA

5.2. Objectivos, Problemáticas e Linhas de Orientação Estratégicas


A transversalidade da natureza dos recursos hídricos às políticas sectoriais, mormente às agrícola, industrial,
urbanística, turística e energética, e a necessidades de dotar o país de um documento de orientação e suporte
à integração nessas políticas dos objectivos definidos para a água, da qual dependem ou sobre a qual
exercem modificações prejudiciais às suas funções ambientais, também contribuem significativamente para
justificar a elaboração de um Plano Nacional da Água.
O ciclo dos recursos hídricos incorpora necessariamente a existência e interferência humanas o que é
reconhecido na já citada Declaração do Rio.
Portanto, a situação pristina a ter em consideração não é anterior à presença humana na Terra mas aquela em
que esta presença não alterou ainda as funções essenciais da água e do seu ciclo.
A racionalidade humana deve ser assim considerada um valor no contexto global que assegure o
funcionamento sustentável do ciclo da água como um dos ciclos do intrincado funcionamento da natureza.
O Plano Nacional da Água tem como objectivo contribuir para que no espaço territorial português e na sua
interacção com outros territórios as funções fundamentais da água sejam garantidas.
O processo que garante tais funções é suficientemente complexo para necessitar de instrumentos de
harmonização e referência a fim de garantir coerência global de actuação das entidades que devem assegurar
a gestão dos recursos hídricos.
Os agentes necessitam de percepcionar a coerência global do processo de gestão para que as políticas sejam
eficazes na prossecução dos objectivos.
Nas sociedades modernas, um Plano constitui mais uma explicitação dos grandes objectivos que se querem
alcançar e dos princípios que se querem fazer prevalecer, constituindo um guia para a acção, passível de ser
revisto e adaptado a novas realidades e de se ajustar em função dos resultados entretanto obtidos, do que uma
configuração determinista.
Sendo a água um elemento essencial à vida e, simultaneamente, um factor condicionante das actividades
produtivas, para mais ocorrendo com irregularidades espaciais e temporais, a sua utilização criteriosa e
sustentável e a protecção dos ecossistemas associados impõem um planeamento dos recursos hídricos, que
baseie uma política antecipativa e que modere e compatibilize os objectivos parcelares, por vezes
conflituantes. Mesmo numa economia de mercado, os recursos naturais devem ter uma posição chave na
formulação e hierarquização das medidas estruturais e não estruturais e na implementação de incentivos
económicos e financeiros que conduzam a um desenvolvimento sócio-económico solidário, precavido e
durável, cabendo ao planeamento dos recursos ajuizar sobre as implicações recíprocas dessas medidas e
incentivos.
Assim, é através do planeamento de recursos hídricos, instrumento fundamental da gestão da água, que se
podem articular, integrar e racionalizar os interesses dos vários intervenientes e determinar as acções a
desenvolver e os instrumentos a mobilizar para alcançar os objectivos demarcados, constituindo uma
actividade multidisciplinar, complexa, transversal, de feição essencialmente informadora e interligadora das
grandes opções económicas e do ordenamento do território.
Em súmula, são finalidades do planeamento a valorização, a protecção e a gestão equilibrada dos recursos
hídricos, assegurando a harmonização desses objectivos com o desenvolvimento regional e sectorial e com a
sustentabilidade ambiental, através do uso racional dos sistemas hídricos. Este planeamento destina-se a
assegurar uma gestão global e integrada dos recursos hídricos, permitindo adequar os perfis temporais de
disponibilidade e de procura, através da utilização criteriosa da água para diferentes finalidades, do controlo
da sua qualidade e da salvaguarda dos meios hídricos.
O planeamento está hoje centrado na protecção e na melhoria do estado das águas e dos ecossistemas,
abarcando as águas superficiais e subterrâneas, terrestres, estuarinas e costeiras, constituindo um
planeamento da procura assente na consideração dos custos de escassez (ou de oportunidade) e ambientais
(suas deseconomias externas), aliás obrigações de todos os Estados Membros da UE.
Se outras razões e objectivos mais específicos não houvesse, bastariam as de caracter genérico enunciadas
para justificarem a definição de políticas e de práticas reestruturadas e renovadas em matéria de recursos

21/25 (5 - I)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
OBJECTIVOS E LINHAS DE ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA

hídricos. Para além do insuficiente conhecimento sobre as características e usos actuais dos recursos hídricos
nacionais, a qual é condição liminar para fundamentar análises e decisões com rigor suficiente, são as
carências básicas e fragilidade de infra-estruturas de abastecimento de água às populações e às actividades
económicas e, sobretudo, as de recolha e tratamento de águas residuais, indissociáveis da qualidade da gestão
dos sistemas, que mais toca a atenção dos cidadãos em geral.
Porém, são as disfunções ambientais graves e as situações de risco que mais preocupações e responsabilidade
representam para as autoridades nacionais.
Também o 6º Programa comunitário de acção em matéria de ambiente 2001-2010 avança como objectivos
estratégicos:
- Maior progresso na implementação de legislação ambiental;
- Melhorar e aprofundar a integração do ambiente nas políticas económicas e sociais que exercem
pressões sobre o ambiente;
- Os interessados e os cidadãos tomarem em mãos a protecção do ambiente;
- Novo ímpeto às medidas destinadas a resolver vários problemas ambientais sérios e persistentes a uma
série de novas questões preocupantes;
- Novas formas de trabalho em mais estreita colaboração com o mercado, através das empresas e dos
consumidores .
e como objectivos específicos:
- Atacar o problema das alterações climáticas:
- Proteger e restabelecer o funcionamento dos sistemas naturais e pôr fim à perda da biodiversidade;
- Proteger os solos da erosão e da poluição;
- Atingir uma qualidade ambiental em que os resíduos de origem humana não produzam efeitos negativos
nem apresentem riscos para a saúde humana
- Garantir que o consumo dos recursos renováveis e não renováveis não ultrapasse a capacidade do
ambiente;
- Estabelecer políticas com base na participação e em conhecimentos científicos e avaliações económicas
sólidas e dados e informações fiáveis e actualizadas sobre o ambiente e nas fases de elaboração
implementação e avaliação.
O Plano Nacional da Água, como instrumento de acção, persegue objectivos que:
(i) Permitam estabelecer procedimentos regulares de articulação entre as diferentes actividades sócio-
económicas face às disponibilidades; (ii) contribuam para a definição de um regime económico e financeiro
baseado na internalização de todos os custos, incluindo os ambientais; (iii) possibilitem uma articulação com
outros planos, com vista à adequada integração dos recursos hídricos; (iv) possibilitem o estabelecimento de
um quadro jurídico e administrativo mais consentâneo com a utilização eficiente dos recursos e a redução na
fonte das cargas poluentes; (v) permitam identificar situações potenciais de risco (poluição, cheias etc) e
estabeleçam medidas de prevenção e de intervenção em situações de emergência; (vi) contribuam para uma
maior eficácia e transparência no processo de licenciamento; (vii) impliquem maior capacidade institucional
na gestão do domínio público hídrico e melhoria da interface com os utilizadores; (viii) assegurem a
coordenação intersectorial no planeamento e utilizações da água e no ordenamento e ocupação dos meios
hídricos; (ix) promovam a monitorização da água nas suas múltiplas vertentes, designadamente hidrológicas
e ecológicas; (x) adeqúem as acções de sistematização fluvial e de conservação da rede hidrográfica,
encaradas numa perspectiva simultaneamente hidráulica e ecossistémica; (xi) contribuam para o
ordenamento e a fiscalização das ocupações e dos usos do domínio hídrico; (xii) e assegurem a oportuna
disponibilização de informação associada à consulta e participação do público.
As problemáticas gerais a que o PNA procura dar resposta resultam obviamente do diagnóstico da situação
actual objecto do capítulo seguinte, no qual aparecem evidenciadas as que à partida são de maior vulto e bem
conhecidas, designadamente:

22/25 (5 - I) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


OBJECTIVOS E LINHAS DE ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA

- Superação de carências básicas de infra-estruturas;


- Cumprimento do quadro legal e normativo nacional e comunitário;
- Articulação com Espanha na gestão das bacias hidrográficas luso-espanholas;
- Aquisição de conhecimento, dados de base e competências de monitorização;
- Qualidade da água dos meios hídricos
- Licenciamento das Utilizações e Fiscalização;
- Ordenamento do domínio hídrico;
- Protecção dos recursos hídricos subterrâneos;
- Regime económico-financeiro;
- Conservação dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos;
- Riscos e protecção de pessoas e bens;
- Disponibilização de informação e participação das populações e organizações representativas;
- Formação e aquisição de competências.
e que constituem prioridades para efeitos de definição das linhas de orientação estratégicas que presidem à
sua elaboração.
Outras razões de natureza menos gerais e de cariz operacional vão no mesmo sentido, designadamente: i) A
continuidade inerente à rede hidrográfica e a multiplicidade e diversidade de usos da água dos rios e ribeiras
e aquíferos, que se traduzem em outros tantos direitos, geram interferência, interacções e interdependência
quer para jusante quer para montante, que impõem procedimentos de licenciamento cada vez mais exigentes,
abrangentes e integrados em que as decisões casuísticas apenas tenham lugar na ausência de planos e de
actividades de planeamento. Por outro lado, só um licenciamento fundamentado em análises, diagnósticos e
prospectivas é capaz de sustentar a acção de fiscalização e avaliação, os quais são as vertentes dinâmicas do
processo de ajustamento interactivo entre o uso sustentado dos recursos e a aquisição de novos
conhecimentos na perspectiva preventiva. É portanto a esta sequência, planeamento – licenciamento –
fiscalização/avaliação – planeamento, que se designa por “ciclo administrativo da água”, que os planos de
recursos hídricos, a um nível, e o Plano Nacional da Água, num nível superior, dão consistência e coerência.
O agrupamento das grandes questões em matéria de recursos constituem os seguintes eixos de orientação
estratégica:
- Conhecimento rigoroso numa base comum das características fundamentais, utilizações e riscos
associados aos recursos hídricos;
- Protecção eficaz e permanente das águas, gestão da procura e superação de carências básicas em infra-
estruturas, numa abordagem sectorializada dos problemas e necessidades e hierarquização e
programação territorial e sectorial integrada;
- Definição concreta do domínio hídrico e aplicação eficiente dos instrumentos para a sua protecção;
- Instalação efectiva do sistema de sustentabilidade económico-financeiro dos recursos hídricos;
- Concretização de uma dinâmica de informação e participação das populações para a decisão;
- Operacionalização dos instrumentos de cooperação para a gestão das bacias hidrográficas
internacionais.

23/25 (5 - I)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
ARTICULAÇÃO E HARMONIZAÇÃO COM OS PBH

6. ARTICULAÇÃO E HARMONIZAÇÃO COM OS PBH

6.1. As Relações entre os Diferentes Níveis de Instrumentos de Planeamento e Níveis de


Aplicação: Nacionais, Regionais, Autonómicos
Como já referido, o Plano Nacional da Água como instrumento de planeamento de recursos hídricos, foi
consagrado, pela primeira vez, no Decreto-Lei nº 45/94, de 22 de Fevereiro.
De acordo com o seu preâmbulo, visava-se, principalmente, apetrechar a administração pública com um
instrumento que, ao proceder a uma abordagem global do recurso em causa, lhe permitisse proceder a uma
gestão integrada em substituição da gestão casuística que até aí vinha sendo seguida.
Assim, nos termos do artigo 4º, nº 1, alínea a), o Plano Nacional da Água integra a tipologia mais vasta de
“plano de recursos hídricos”.
Ainda de acordo com o Decreto-Lei nº 45/94, de 22 de Fevereiro, o PNA é aprovado por Decreto-Lei (artigo
5º, 3). O seu conteúdo formal consiste: num diagnóstico; numa definição de objectivos; numa proposta de
medidas e de acções e, por último, na correlativa programação física, financeira e institucional (artigo 6º, 1 e
3).
Dispõe, ainda, o citado diploma que as acções e as medidas definidas no PNA devem ser previstas em todos
os instrumentos de planeamento que definam ou determinem a ocupação física do solo (artigo 13º).
Cumpre, então, analisar quais as relações jurídicas que se estabelecem entre o PNA e os outros instrumentos
de planeamento ambiental e de gestão territorial que podem, eventualmente, integrar e disciplinar interesses
conflituantes com os definidos no PNA.
O Decreto-Lei nº 45/94, de 22 de Fevereiro consagra, ainda, como instrumentos de planeamento de recursos
hídricos, os planos de bacia hidrográfica (PBH).
Estes planos que disciplinam o ordenamento dos recursos hídricos pela unidade territorial da bacia
hidrográfica, são aprovados por Decreto-Regulamentar (artigo 5º, 3).
Decorre, ainda, das normas do Decreto-Lei nº 45/94, de 22 de Fevereiro que a relação entre o PNA e os PBH
é uma relação regida pelo princípio da hierarquia, sendo o primeiro hierarquicamente superior aos últimos.
Esta modalidade de relação que se estabelece entre os dois tipos de instrumentos de planeamento significa
que as disposições dos PBH devem respeitar as determinações do PNA e, caso a vigência deste seja
posterior, devem ser alterados, por forma a tornar as suas disposições conformes com a disciplina
estabelecida por aquele (cfr. artigo 5º, 4 do Decreto-Lei nº 45/94, de 22 de Setembro).
O Plano Nacional de Política de Ambiente, aprovado pela Resolução de Conselho de Ministros n.º 38/95, de
21 de Abril define os grandes objectivos em matéria de ambiente e traça linhas de acção no sentido de
promover um desenvolvimento sustentável, tendo subjacente o princípio de que o ambiente deve ser
assumido como uma vertente essencial na formulação das políticas sectoriais.
A relação do PNA com aquele instrumento de planeamento é, necessariamente, uma relação de articulação,
significando esta que, apesar de, em termos materiais, não haver hierarquia entre os dois instrumentos de
planeamento, eles não devem conter disposições contraditórias, isto é, devem harmonizar-se entre si.
Nos termos da lei de política do ordenamento do território e do urbanismo visa-se definir e integrar as acções
promovidas pela administração pública, com vista a assegurar as adequadas organização e utilização do
território nacional, na perspectiva da sua valorização, e tendo por objectivo o desenvolvimento económico,
social e cultural integrado, harmonioso e sustentável do país, das diferentes regiões e dos aglomerados
urbanos.
O diploma em causa veio instituir um sistema de gestão territorial, assente em três níveis (nacional, regional
e local), que integra quatro tipos de instrumentos de gestão territorial: os instrumentos de desenvolvimento
territorial; os instrumentos de planeamento territorial, os instrumentos de política sectorial e os instrumentos
de natureza especial (artigo 8º).

24/25 (6 - I) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


ARTICULAÇÃO E HARMONIZAÇÃO COM OS PBH

De acordo com o referido normativo são instrumentos de desenvolvimento territorial, o programa nacional
da política do ordenamento do território (PNPOT); os planos regionais de ordenamento do território (PROT)
e os planos intermunicipais de ordenamento do território (PIMOT). Constituem instrumentos de planeamento
territorial, os planos municipais de ordenamento do território (planos directores municipais, planos de
urbanização e planos de pormenor). Integram a classificação de instrumentos de política sectorial, os planos
com incidência territorial da responsabilidade dos diversos sectores da administração central (planos
sectoriais). São instrumentos de natureza especial os planos especiais de ordenamento do território, a saber,
os planos de ordenamento das albufeiras classificadas, os planos de ordenamento das áreas protegidas e os
planos de ordenamento da orla costeira.
O regime jurídico de cada um dos instrumentos de gestão territorial veio, posteriormente, a ser desenvolvido
pelo Decreto-Lei nº. 380/99, de 22 de Setembro.
Constituindo o PNA um instrumento de planeamento ambiental e atenta a perspectiva dual da sua natureza
importa apurar, muito sumariamente, que relações se estabelecem entre ele e as diferentes espécies de
instrumentos de gestão do território.
Entre o PNA e o PNPOT, dado que são instrumentos de idêntica natureza - de carácter geral, programáticos,
que estabelecem as grandes linhas de orientação a serem integradas pelos instrumentos de desenvolvimento-
as suas relações devem reger-se pelo princípio da articulação. Isto significa que, embora não se encontrem
numa relação de hierarquia, não podem conter disposições contraditórias, devendo traduzir um compromisso
recíproco de integração e compatibilização das respectivas opções.
Entre o PNA e os PROT parece vigorar alguma hierarquia. Não só pelo carácter orientador do PNA em
matéria de recursos hídricos, mas também na medida em que o próprio normativo do Decreto-Lei nº. 45/94,
de 22 de Fevereiro assim o determina (artigo 13º). Assim, os PROT, instrumentos que estabelecem as
orientações para o ordenamento do território regional e definem as redes regionais de infra-estruturas e
transportes, devem integrar, se for caso disso, as medidas e acções constantes do PNA.
De igual modo, a relação que se estabelece entre o PNA e os outros planos sectoriais rege-se pelo princípio
da hierarquia, no que se refere à matéria dos recursos hídricos.
No que respeita aos planos especiais de ordenamento do território - planos de ordenamento da orla costeira;
planos de ordenamento de albufeiras classificadas e planos de ordenamento de áreas protegidas na estrita
matéria do planeamento de recursos hídricos, o PNA prevalece sobre os instrumentos especiais de gestão
territorial. Apenas não terá essa prerrogativa nas matérias em que a expressão territorial substancialmente
extravasa o mero planeamento do recurso.
Por último, quanto aos planos municipais de ordenamento do território é manifesto que a relação entre os
mesmos se rege pelo princípio da hierarquia, na medida em que estes instrumentos de planeamento devem
integrar e respeitar as medidas e acções relativas aos recursos hídricos propostas e previstas no PNA (artigo
13º do decreto-lei nº 45/94, de 22 de Fevereiro).

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

CAPÍTULO II - CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ACTUAL DOS


RECURSOS HÍDRICOS

1. CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

1.1. Introdução
Na primeira parte deste capítulo caracteriza-se sumariamente o território de Portugal Continental sob os
pontos de vista geomorfológico, climático, hidrológico e hidrogeológico, bem como a utilização agrícola e
florestal do solo de modo a obter-se uma visão globalizada das principais componentes que modelam a
ocorrência dos recursos hídricos no território nacional. Na segunda parte do texto caracterizam-se os
principais aspectos socio-económicos do território que condicionam a gestão dos recursos hídricos e que são
responsáveis pelas principais pressões que as actividades humanas exercem sobre os recursos hídricos.

1.2. Características Biofísicas de Referência

1.2.1. Climatologia e Edafologia


O clima em Portugal Continental é condicionado essencialmente pela posição geográfica do território em
relação ao Oceano Atlântico e pela forma e disposição dos principais conjuntos montanhosos. O território
português sofre a passagem de superfícies frontais, normalmente provenientes de oeste, assim como a
influência do anticiclone subtropical do hemisfério Norte (Anticiclone dos Açores) e de centros de baixa e
alta pressão de origem térmica que se formam, respectivamente, a partir de meados da Primavera com
prolongamento pelo Verão e Inverno. Além de estas condições gerais de circulação atmosférica, assumem
especial importância os sistemas montanhosos que atravessam o país sensivelmente na direcção NW - SE.
Para a generalidade do território do Continente, os meses de Abril e Outubro são meses de transição, em que
se regista um equilíbrio entre situações anticiclónicas e depressionárias.
De entre as situações de bloqueio destaca-se a ocorrência de gotas de ar frio, que se formam em altitude,
devido à advecção de ar frio de origem polar que são responsáveis por nebulosidade e descida da temperatura
do ar e, sobretudo, pelas intensas precipitações que originam. Estas precipitações são muito localizadas e
afectam particularmente o Sul de Portugal.
1.2.1.1. Precipitação
A precipitação é uma das componentes mais importantes do ciclo hidrológico e um factor fundamental na
definição das características hidrológicas de Portugal Continental.
Verifica-se que a variabilidade espacial é uma das particularidades mais marcantes da distribuição do regime
de precipitação no Continente, como bem expressa na Figura 1.2.1. A barreira morfológica constituída pelas
montanhas do Minho, Cordilheira Central e relevos que a prolongam para sudoeste, provocam precipitações
elevadas nas regiões entre os rios Lima e Cávado apresentando, principalmente na vertente atlântica, valores
elevados de precipitação anual média, na ordem dos 2200 mm, chegando em alguns locais da Serra do Gerês
a atingir valores próximos de 4000 mm. A leste dos alinhamentos montanhosos do noroeste, a precipitação
média desce para os 800 mm ano e atinge os cerca de 500 mm ano nos vales encaixados do rio Douro e seus
principais afluentes. A Cordilheira Central da serra da Estrela provoca efeito semelhante, variando a
precipitação entre os mais de 2000 mm/ano na vertente atlântica e os 800 mm/ano a leste destes
alinhamentos, descendo aos 600 mm/ano junto do vale do Tejo internacional.
A região do rio Guadiana apresenta um valor de precipitação anual média ponderada, na ordem dos 570 mm,
apresentando em algumas zonas valores de precipitação anual média inferior a 450 mm. Em conjunto com o
interior da bacia do rio Douro, esta é a região do Continente em que os valores de precipitação anual média
são mais baixos.
Outra das característica do regime de precipitação é a sua acentuada variabilidade mensal, verificando-se que
cerca de 70% da precipitação se concentra no semestre húmido, entre os meses de Outubro a Maio.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 1/27 (1 - II)


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

A ocorrência de precipitação sob a forma sólida é um fenómeno muito localizado em Portugal Continental.

Figura 1.2.1 - Distribuição Espacial da Precipitação Média Anual


No Capítulo 5.2.2.1 analisa-se mais pormenorizadamente o regime de precipitação em Portugal Continental e
quais as implicações que o regime de precipitação tem sobre a distribuição espacial e temporal do regime de
escoamento.
1.2.1.2. Temperatura
A temperatura anual média para o território do Continente é cerca de 14ºC.
A norte da bacia hidrográfica do rio Tejo a temperatura média anual varia entre os 10 ºC, na bacia
hidrográfica do rio Minho (estação de Lamas de Mouro), e os 15 ºC, na bacia hidrográfica do rio Douro
(estação de Pinhão) (Fig. 1.2.4). Em contraste, a sul da bacia hidrográfica do rio Tejo a temperatura varia
entre 15 ºC, na bacia hidrográfica do rio Guadiana (estação de Portalegre), e os 18 ºC nas bacias
hidrográficas das Ribeiras do Algarve (estação de Sagres). A temperatura média anual mais baixa do País,
cerca de 8 ºC, ocorre na Serra da Estrela, a noroeste da bacia hidrográfica do rio Tejo (estação de Penhas
Douradas).

2/27 (1 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

16
14
12
10
8
6
4
2

Rib. Algarve
Rib. Oeste

Continente
Guadiana
0

Mondego
Cßvado

Tejo
Minho

Mira
Douro

Lis
Vouga
Leþa
Lima

Sado
Ave

Max Min Média

Figura 1.2.2 - Temperatura Anual Média por Região Hidrográfica


Verifica-se que, em termos gerais, a temperatura anual média evolui em sentido contrário ao da precipitação,
aumentando de norte para sul e de oeste para este, destacando-se três grandes áreas: uma primeira área com
temperaturas entre os 13ºC e os 15ºC, que corresponde à área litoral entre a bacia hidrográfica do rio Minho
até ao rio Vouga, estendendo-se mais a sul para o interior da bacia hidrográfica do rio Tejo; uma segunda
área que corresponde ao interior das bacias hidrográficas do noroeste e interior da bacia hidrográfica do rio
Douro; e uma terceira área, com temperaturas acima dos 15 ºC, que corresponde às bacias hidrográficas a sul
do rio Tejo.

Figura 1.2.3 - Distribuição Espacial da Temperatura Anual Média em Portugal Continental no Período 1941/42
a 1990/91

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 3/27 (1 - II)


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

A variação sazonal da temperatura é também bastante acentuada.


1.2.1.3. Evapotranspiração Potencial
O valor anual médio da EVP (método de Penman – Monteith) em Portugal Continental é de cerca de 1100
mm e varia entre os 930 mm na bacia hidrográfica do rio Leça e os 1240 mm na bacia hidrográfica do rio
Guadiana (Figura 1.2.4). As bacias do Guadiana e das ribeiras do Algarve, em conjunto com o sudeste da
bacia do Tejo, destacam-se pelos valores elevados de EVP.

Figura 1.2.4 - Distribuição Espacial da Evapotranspiração Potencial Anual Média em Portugal Continental no
Período 1941/42 a 1990/91

1.2.1.4. Outras Variáveis Climáticas


Entre outras variáveis climáticas com interesse para a gestão dos recursos hídricos encontram-se a insolação,
a radiação solar, a humidade e o vento. Estas variáveis estão caracterizadas pelo recurso às Normais
climatológicas entre o período 1951 a 1980.
De um modo geral, o valor anual médio da insolação decresce de sul para norte e de leste para oeste. Os
menores valores anuais de insolação, da ordem de 1850 horas, verificam-se nas cabeceiras da bacia
hidrográfica dos rios Minho e Lima, como consequência da altitude e da maior frequência de nebulosidade.
Em contraste, os maiores valores ocorrem no litoral do Algarve onde se registam cerca de 3180 horas/ano
(estação climatológica de Tavira).
No que respeita ao regime de ventos pode constatar-se, resumidamente, que o vento predominante sobre o
território de Portugal Continental sopra de noroeste, com excepção do litoral do Algarve para leste da Praia

4/27 (1 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

da Rocha, onde predomina o vento de sudoeste, devido à persistência do regime de brisa do mar que ali se
faz sentir durante a tarde, principalmente nos meses de Abril a Outubro.
A distribuição espacial da humidade relativa do ar não apresenta tendências claras, apesar de se verificar que
os valores mais elevados ocorrem junto ao litoral. Os valores mais baixos da humidade relativa ocorrem em
Julho e Agosto e variam entre os 50% e 65% na bacia hidrográfica do rio Guadiana e os 80% na bacia
hidrográfica do rio Lima. Os valores mais elevados registam-se nos meses de Dezembro e Janeiro, variando
entre os 70% e 90% na bacia hidrográfica do rio Guadiana e 90% na área da bacia hidrográfica do rio Lima.
A nebulosidade, à semelhança das demais variáveis climáticas, apresenta uma relação estreita com a latitude
e com a exposição das vertentes. Em Portugal Continental a nebulosidade tende a diminuir da estação
húmida para a estação seca, apresentando os meses de Julho e Agosto céu limpo em cerca de 50% dos dias.
1.2.1.5. Classificação Climática
De acordo com o índice hídrico de Thornthwaite, que conjuga os índices de aridez e humidade, os quais por
sua vez relacionam a precipitação, a temperatura e a evapotranspiração, o clima em Portugal Continental
varia desde o super húmido (Ih≥100), na cabeceira do rio Lima e nos principais maciços montanhosos a
norte do Tejo, como é o caso da Serra da Estrela, até ao semi-árido (- 40 ≤ Ih <- 20), na faixa litoral do
Algarve. Em linhas gerais, o rio Tejo marca a fronteira entre o Portugal húmido e o Portugal seco.

Figura 1.2.5 - Relação entre Valores Anuais Médios da Precipitação e a Evapotranspiração Potencial
A relação entre a precipitação e a evapotranspiração potencial pode tendencialmente dar indicações de uma
repartição climática do país. Observando a Figura 1.2.5 destacam-se três grandes áreas. Uma primeira, que se
pode considerar húmida, em que a precipitação excede claramente a EVP, corresponde sensivelmente às
áreas situadas a norte do rio Tejo, excluindo a área do planalto mirandês. Uma segunda área, que se pode

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 5/27 (1 - II)


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

considerar sub-húmida, a que corresponde à quase totalidade do planalto mirandês, orla ocidental a sul do rio
Tejo e barrocal. Uma terceira área, que se pode considerar árida, em que a relação entre a precipitação e a
EVP é inferior a 0.5, que corresponde à quase a totalidade da bacia hidrográfica do rio Guadiana, este da
bacia hidrográfica do rio Sado, orla meridional e áreas localizadas na parte jusante do vale do rio Sabor.

1.2.2. Hidrografia e Aquíferos


Na rede hidrográfica do Continente assumem especial importância os rios internacionais que drenam na sua
foz as maiores bacias hidrográficas da Península Ibérica.
Observando a Figura 1.2.6. verifica-se que o troço final dos rios Tejo e Sado possuem relevo residuais e
declives bastante reduzidos dando origem a vales abertos com ausência de erosão. Em oposição os rios do
norte de País apresentam vales em V e numa fase de activa erosão vertical. Destaca-se o acentuado declive
ao longo do vale do rio Douro e nascentes dos afluentes da margem sul do rio Mondego.
No sul do Continente e onde abundam as rochas xistentas a rede hidrográfica é densa, dendrítica, e sem uma
nítida aparência de hierarquização.
Do ponto de vista hidrogeológico ocorrem em Portugal sistemas geológicos dos mais variados tipos (poroso,
fissurado e cársico) que condicionam o armazenamento e a transmissão da água subterrânea, interagindo
com outros meios aquáticos como sejam os rios, os estuários e os oceanos em diversos ambientes climáticos.
Portugal está dividido em 4 grandes unidades hidrogeológicas: o Maciço Antigo; a Orla Ocidental; a Orla
Meridional e a Bacia do Tejo e Sado (Figura 1.2.7).

Figura 1.2.6 - Altitude entre os 0m e os 50m e Áreas com Declive Superior a 10%

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CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

Figura 1.2.7 - Unidades Hidrogeológicas de Portugal Continental

1.2.3. Geologia
Podem considerar-se quatro grandes unidades geológicas bem marcadas: a parte ocidental do Maciço
Hespérico (também designado Maciço Antigo ou Meseta Ibérica), a Bordadura Ocidental, a Bordadura
Meridional e a Bacia Sedimentar do Tejo e Sado.
O Maciço Hespérico é uma grande unidade que ocupa a parte central e ocidental da Península Ibérica; tem
grosseiramente a forma de um triângulo cujos vértices se situam a noroeste da Galiza (Espanha), perto do
Cabo de São Vicente (no Algarve) e na parte oriental da Serra Morena (Espanha). No final do Paleozóico
este Maciço estendia-se mais para Ocidente, como testemunham os ilhéus das Berlengas e Farilhões.
Os seus limites, no território continental português, são: da foz do rio Minho até norte de Ovar, o Oceano;
daqui uma linha que passa por Estarreja e Coimbra e vai até Tomar, inflectindo depois para leste, deixando a
oeste a grande bacia sedimentar do Tejo e Sado; a sul deste rio e desde as proximidades de Santiago do
Cacém até perto do Cabo de São Vicente, contacta de novo com o Atlântico; no Sul do País a linha limítrofe
tem uma forma ondulada, passando por Silves, S. Bartolomeu de Messines, Alportel e Castro Marim.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 7/27 (1 - II)


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

O Maciço Hespérico é constituído por formações antigas - precâmbricas (1000 a 570 milhões de anos) e
paleozóicas (570 a 245 milhões de anos) - que foram afectadas por fenómenos de metamorfismo, associados
a diversas fases tectónicas da orogenia hercínica.
Morfologicamente, o Maciço Hespérico apresenta, a norte, um relevo acentuado, com vales encaixados,
contrastando com a sua parte sul onde ocorre uma superfície aplanada, interrompida, por vezes, por alguns
relevos pouco acentuados.
Na extensa fossa tectónica, que se prolonga de Espinho a Sines, depositou-se espessa série de sedimentos,
cuja espessura alcança os 3000 metros (dados confirmados por perfurações realizadas para pesquisas
petrolíferas).
As formações calcárias do Jurássico médio apresentam frequentemente intensa carsificação, constituindo
importantes aquíferos.
Na Bordadura Meridional, repetem-se as características assinaladas para a Orla Ocidental. Podem observar-
se igualmente grandes massas de rochas vulcânicas (em chaminés, escoadas, diques, etc.), constituídas por
basaltos doleríticos, tufos, brechas, etc., em afloramento quase contínuo, de um extremo ao outro do Algarve,
próximo do contacto com os terrenos do Carbónico. Também se encontram nesta região estruturas diapíricas.
Em Albufeira ocorrem afloramentos de gesso e sal-gema e Loulé constitui, hoje em dia, um importante
centro de exploração de sal-gema, em galerias subterrâneas. De forma análoga à Orla Ocidental, as
formações do Jurássico médio apresentam intensa carsificação, constituindo o aquífero mais importante da
bordadura meridional.
A Bacia de sedimentação dos rios Tejo e Sado constitui um conjunto de terrenos que vão do Paleogénico à
Actualidade e localiza-se na parte final das bacias hidrográficas dos rios referidos. As formações cenozóicas
são essencialmente constituídas por calcários, arenitos, siltitos, argilitos e margas, enquanto que os terrenos
mais recentes são predominantemente arenosos e areno-argilosos, de origem aluvionar.
As formações desta região estão praticamente horizontais tendo sofrido reduzida actividade tectónica. A
ocorrência de algumas falhas ao longo dos limites da Bacia sugere que a estrutura seja de tipo “graben”. Os
níveis detríticos apresentam relevante significado hidrogeológico, constituindo o aquífero mais importante
do País.

1.2.4. Orografia e Fisiografia


A altitude média do Continente é cerca de 320 m, mas este valor é pouco representativo do relevo em
Portugal Continental. Com efeito, as bacias hidrográficas do rio Minho ao rio Douro apresentam uma altitude
média superior à média do continente, apesar das maiores altitudes do continente se localizarem no topo da
serra da Estrela, na fronteira entre as bacias hidrográficas dos rios Mondego e Tejo.
No Minho, os relevos vigorosos correspondentes às serras da Peneda, Soajo, Amarela e Gerês surgem
separados por vales de fractura com orientação ENE-OSO, dando origem a rios encaixados, como é o caso
dos sectores de montante dos rios Minho, Lima, Cávado e Ave. O declive destes cursos de água é superior a
5%, e em alguns casos superior a 10%, mas à medida que se aproximam da foz atravessam planícies
aluvionares com declives inferiores a 5%.
A este desta área, na região Transmontana, destaca-se no sector de montante da bacia hidrográfica do rio Tua
e do Sabor, a serra de Montezinho, Nogueira e Bornes. Na zona oeste da bacia hidrográfica do rio Douro
destacam-se as serras de Alvão, Marvão e Montemuro.
A cordilheira central que divide as bacias hidrográficas do rio Douro e Tejo, prolonga-se em Portugal pela
serra da Estrela que, conjuntamente com as serra da Lousã e do Açor, formam o principal alinhamento
montanhoso em Portugal que constitui a referência hidrológica mais importante do País.
O território situado a sul do rio Tejo encontra-se a cotas próximas dos 200 m, sendo interrompido por
acidentes de relevo pontuais tais como a serra de Grândola e Cercal, junto ao litoral, e no interior, as serras
de S. Mamede, de Ossa e de Ficalho. Neste vasto território o declive é baixo, não superando em geral os 5%.
No Algarve distingue-se uma região interior, dominada pela serra do Caldeirão, e mais a oeste a serra de
Monchique, que separa esta área do baixo Alentejo, onde o declive assume alguma expressão e o litoral onde
a altitude não ultrapassa os 50 m e o declive não assume expressão.

8/27 (1 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

Figura 1.2.8 - Hipsometria


Da descrição efectuada fica bem marcada a dicotomia entre um Portugal setentrional, de cotas elevadas e
declive acentuado com perfil predominantemente montanhoso, e um Portugal meridional, aplanado em que
geralmente a altitude varia entre os 100 m e 300 m, e onde os relevo, à excepção das serras do Caldeirão e de
Monchique, são pontuais.

1.2.5. Uso do Solo


Em clima temperado, devido à forte acção dos agentes erosivos, essencialmente de origem hídrica,
combinada com as variadas acções humanas, são frequentes os processos de degradação do solo, agravados
sempre que a diferença entre a estação húmida e a estação seca é acentuada, como no caso das regiões
mediterrânicas.
Em 1988, cerca de 48% do solo do continente português estava coberto por formações florestais, 34%
mantinha actividade agrícola e o restante dividia-se entre área de inculto e área social, sendo esta menos de
2% da superfície do País.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 9/27 (1 - II)


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

Figura 1.2.9 - Exposição de Vertentes e Declives em Portugal Continental


A degradação do solo traduz-se, na prática, pelo seu esgotamento e pelo desaparecimento dos horizontes
superficiais (camada arável), por vezes até à situação de rocha nua, sendo causa directa de desertificação, ou
seja, da degeneração dos ecossistemas produtivos, e ainda do assoreamento de numerosos cursos de água.
Este processo, ainda que resulte maioritariamente da actividade do Homem, nomeadamente, da ocupação dos
solos e das práticas agrícolas inadequadas.
Quanto à utilização do solo destaca-se a agrícola com culturas arvenses que predominam de norte a sul do
País em larga faixa, quase contínua, ao longo da fronteira leste, desde a Terra Fria, no Nordeste
Transmontano, à Serra Algarvia, passando pela Beira Baixa, Alto e Baixo Alentejo, neste caso estendendo-se
desde a fronteira até ao mar. No litoral ganham maior expressão nas aluviões e troços inferiores dos vales
dos rios principais que desaguam na costa ocidental, mormente o Vouga, o Mondego e o Tejo.
Na vertente oeste-atlântica da zona serrana, estas culturas formam, com os povoamentos de resinosas, um
mosaico alveolado, muito recortado, desde o vale do rio Minho até à bacia do rio Zêzere.
Enquanto a norte do rio Tejo predominam os campos de milho, os ferragiais, as searas de centeio, os batatais
e as pastagens de montanha, incluindo os lameiros, a sul predominam as searas de aveia, de cevada e de trigo
e as pastagens em regime de sequeiro, sobretudo nas colinas, e as culturas de milho, arroz, luzerna e agro-
industriais (tomateiro, cártamo, girassol) em geral de regadio.
Junto dos aglomerados urbanos desenvolvem-se os hortejos para consumo local que se apresentam, pela sua
extensão, em escala industrial nas vizinhanças dos grandes centros.
Dentro das culturas arbustivas a vinha assume grande importância, e tem grande expressão na região do
Ribatejo-Oeste. Segue-se, em extensão, a região da Bairrada. Vem depois a região Duriense no vale médio
do rio Douro e de seus afluentes de entre os rios Tua e Corgo, diferenciada em duas zonas distintas, a valeira
e a planáltica sobrejacente. Segue-se a região do Dão, nas encostas do vale do rio Dão. Outras zonas
dispersas pelo País possuem, em menor extensão, os seus vinhedos, como sejam as de Boticas, Valpaços e
Mogadouro em Trás-os-Montes; as de Meda e Pinhel, na Beira Alta; as de Alcochete, Moita e Palmela, na
Estremadura; as de Redondo, Reguengos de Monsaraz e Vidigueira, no Alentejo; e as de Lagoa, Fuseta e
Cacela, no Algarve.

10/27 (1 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

As culturas arbóreas, apresentam a sua maior expansão no Algarve, especialmente no Barrocal e no litoral,
compreendendo as fruteiras de sequeiro e citrinos. No sector leste da Serra Algarvia, nas vertentes do rio
Guadiana, surgem manchas dispersas de olival, figueiral e amendoal, em plantação estreme. Segue-se uma
zona, também de grande expansão, na região do Ribatejo-Oeste, de Tomar a Santarém, a leste da serra dos
Candeeiros, em que se destacam os olivais, surgindo, na área de Torres Novas, além dos olivais, os
figueirais.
As culturas arbóreas estão representadas em Trás-os-Montes e Alto Douro, por olivais e amendoais,
especialmente nas encostas de Freixo de Espada à Cinta até Barca d'Alva. Na Beira Baixa - Fundão,
Penamacor, Idanha-a-Nova e Castelo Branco.
Numa larga faixa de Cantanhede a Coimbra, a norte, e Constância, a sul, as culturas arbóreas (olivais e
pomares) formam mosaico com povoamentos de folhosas (sobrais ou sobreirais) e povoamentos de resinosas
(pinhais).
Na Alto Alentejo, os olivais encontram-se dispersos formando mosaico com as culturas arvenses e arbóreo-
arvenses (montados de azinho) destacando-se as manchas de Nisa, Castelo de Vide, Portalegre, Campo
Maior e Elvas. As mais extensas aparecem entre Avis e Vila Viçosa, em faixa contínua a partir de Sousel e,
mais acentuadamente, em Estremoz e Borba. No Baixo Alentejo as maiores extensões de olival registam-se
nos concelhos de Moura e Serpa.
Os sobreirais são formações dominantes no litoral da Estremadura e no Ribatejo a sul do rio Tejo, bem como
no litoral do Alentejo em substrato silicioso. Surgem ainda no norte alguns núcleos nos vales dos tributários
fronteiriços do rio Lima (Laboreiro e Lindoso), na serra do Gerês e nas serranias de Trás-os-Montes (de
Valpaços a Carrazeda de Ansiães) e no sul, nas zonas serranas do Algarve (Monchique e Caldeirão).
Os azinhais distribuem-se, já muito retalhados, pela Beira Baixa, Alto e Baixo Alentejo, estando limitados, a
poente, "grosso modo", pelos vales dos rios Ponsul, Sorraia, Sado e Mira.
Os eucaliptais, em crescente expansão, distribuem-se mais pelo litoral oeste desde o Minho ao Algarve,
embora ocupem já vastas áreas em serranias do interior.
Os acaciais estão mais ligados às formações arenosas costeiras, para fixação das dunas, impedindo o avanço
das areias eólicas para as áreas contíguas, agricultadas ou habitadas: as manchas maiores encontram-se entre
Espinho e Mira.
Povoamentos de resinosas. Têm a sua maior expansão a norte do rio Tejo, quer ocupando as vertentes das
colinas cismontanas e as próprias faldas da zona montanha, formando mosaico alveolado, por vezes muito
retalhado, com as culturas arvenses e a vinha, quer ocupando a faixa sedimentar arenosa do litoral, em
formações estremes de grande extensão.
Entre os povoamentos de resinosas destacam-se, pela sua extensão, os pinhais bravos, dominantes na larga
faixa que se estende, nas vertentes da meseta, do rio Minho ao rio Tejo, formando o referido mosaico.
Também na orla sedimentar, saibrosa ou arenosa, sobretudo ao longo da costa desde Espinho à Nazaré, na
península de Setúbal e na costa da Galé, de Tróia a Sines, o pinhal bravo assume a sua maior expressão como
formação estreme contínua, de que é exemplo o pinhal de Leiria.
Seguem-se os pinhais mansos que ocupam principalmente substratos saibrosos e arenosos, mas também
calcários, da orla sedimentar, com maior extensão a sul do rio Tejo.
De entre outras utilizações cabe destacar os sapais que englobados na mesma mancha com as salinas, podem
ser igualmente considerados áreas não cultivadas, embora providos de recursos aproveitáveis, tal como os
baldios serranos.
Os sapais e as salinas estão representados com maior extensão nos estuários do Tejo e do Sado e nas rias de
Aveiro, Faro e Alvor. Os sapais surgem ainda, embora em áreas mais pequenas, nos estuários dos rios Lima,
Mondego, Mira, Aljezur, Arade e Guadiana (Castro Marim) e, ainda, em lagoas, como a de Óbidos.
A vegetação dos sapais contém uma elevada biomassa morta cuja decomposição regular produz
continuamente ácidos húmicos que desempenham um papel relevante na eliminação de certos iões metálicos
potencialmente tóxicos, o que lhe confere um efeito descontaminador bastante positivo e justifica desde logo
a sua protecção.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 11/27 (1 - II)


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

Os sapais apresentam ainda características de “maternidade” de múltiplas espécies existentes na costa


marítima e constituem por isso zonas sensíveis a preservar.

1.2.6. Meio Biótico


Cerca de um terço de Portugal Continental tem utilização agrícola e, uma área um pouco maior, florestal. A
exploração florestal, em que domina o pinheiro bravo, cerca de um terço da área florestal, o sobreiro e a
azinheira, sensivelmente com a mesma área mas com maior relevância no Sul, o eucalipto, abrangendo um
quinto daquela área e, com ocupação bem menor, os carvalhos e o castanheiro, e a produção agrícola, com
destaque para a cerealífera e a forrageira e, com cerca de metade da áreas destas, o olival, a vinha e os
pomares, desenham a paisagem portuguesa. E lembremos os quatro milhões de ovinos e caprinos, mais de
dois de suínos e mais de um de bovinos, em grande número pastoreando pelos nossos campos,
principalmente os primeiros, mas muitos em exploração pecuária intensiva, a que acresce a dos aviários.
Ou seja em bem mais de dois terços do país, o meio biótico é agro-florestal e agro-pecuário, integrando-se
nas múltiplas e ricas biocenoses, numerosas plantas espontâneas e animais selvagens que se adaptaram a este
meio modificado pelo homem. Neste, o mundo vegetal é constituído por um pouco menos de três milhares de
espécies de plantas vasculares, também vulgarmente conhecidas por plantas superiores.
A sua distribuição, especialmente das lenhosas e arbustivas, conjuntamente com as das espécies lenhosas
cultivadas, tem permitido zonagens biogeográficas. A última elaborada por Costa et al. (1998), representada
na figura 1.2.10, tendo como base, também, a classificação bioclimática de Rivaz-Martínez e a Carta
Fitogeográfica de Franco, recentemente reeditada (2000).
I - Subprovíncia Galaico-Asturiana (Província Cantabro-Atlântica), com os Subsectores
1a - Minhense - com os Superdistritos: 1a1 - Minhense Litoral 1a2 - Alvão-Marão; 1a3 - Beiraduriense
1b - Geresiano-Queixense
II - Província Carpetano-Ibérico-Leonesa, com os Sectores
2a - Orensano-Sanabriense - Subsector Margato-Sanabriense
2b - Salmantino
2c - Lusitano-Duriense - com os Superdistritos: 2c1 - Duriense; 2c2 - Terra Quente; 2c3 - Miranda-
Bornes-Ansiães;
2c4 - Altobeirense; 2c5 Ribacoa
2d - Estrelense
III - Província Luso-Extremadurense, com os Sectores
3a - Toledano-Tagano, com os Subsectores e respectivos Superdistritos: 3a1 - Hurano-Zezerense (3a11
Zezerense, 3a12 Cacerense); 3a2 Oretano
3b - Marianico-Monchiquense com Subsectores e respectivos Superdistritos: 3b1- Araceno-Pacence
(3b11 Aracenense, 3b12 Pacense, 3b13 Alto Alentejano); 3b2 - Baixo Alentejano-Monchiquense
(3b21 Serrano-Monchiquense, 3b22 Baixo Alentejano)
IV - Província Gaditano-Onubo-Algarviense, com os Sectores
4a - Divisório Português, com os Subsectores e respectivos Superdistritos: 4a1 - Beirense Litoral; 4a2 -
Oeste-Estremenho (4a21 Costeiro Português, 4a22 Berlenguense, 4a23 Estremenho, 4a24
Olissiponense, 4a25 Sintrano)
4b - Ribatagano-Sadense, com os Superdistritos: 4b1 - Ribatagano; 4b2 - Sadense; 4b3 - Arrabidense
4c - Algarviense, com os Superdistritos: 4c1 - Costeiro Vicentino; 4c2 - Promontório Vicentino; 4c3 -
Algárvico

12/27 (1 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

Figura 1.2.10. – Divisão Biogeográfica Proposta por Costa et. Al.


Como indicados por estes autores, o território continental português distribui-se por duas regiões
biogeográficas do Reino Holoártico.
Uma, a Região Eurosiberiana em que as formações climácicas mais representativas são os bosques
palnocaducifólios, estruturalmente dominados por árvores de folha brandas, planas, grandes e caducas no
Inverno, como sejam os carvalhos (Quercus, subgén. Quercus, p. ex. carvalho alvarinho ou roble – Q.
robur), as faias (Fagus spp.) e nas zonas húmidas, os vidoeiros (Betula celtiberica), os freixos (Fraxinus
angustifolia) e os bordos (Acer pseudoplatanus). Entre as comunidades arbóreas de alta montanha (como
Gerês e Estrela) surgem bosques de coníferas, como os zimbrais de Juniperus communis subsp. alpina. No
dizer de Orlando Ribeiro (1986) “Os reagentes mais seguros das condições atlânticas são o carvalho
alvarinho, algumas espécies de tojos e o pinheiro bravo”.
Outra, a Região Mediterrânica, com um clima em que escasseiam as chuvas de Verão, podendo no entanto
haver excesso de água nas outras estações, desde que o clima não seja excessivamente frio, devido à altitude,
ou seco, observam-se bosques e matagais de árvores e arbustos de folhas planas, pequenas, coriáceas e
persistentes, como sejam diferentes Quercus spp. dos subgéneros Sclerophyllodris e Cerris (azinheira –
Quercus rotundifolia -, carrasco –Quercus coccifera- e sobreiro –Quercus suber -), a aroeira (Pistacia
lentiscus), zambujeiro (Olea europeae var. sylvestris) e, nas linhas de água, o folhado (Viburnum tinus) e,
nas zonas mais quentes, algarvias, a alfarrobeira (Ceratonia siliqua) e a palmeira-das-vassouras
(Chamaerops humilis).
A maior frequência, no oeste alentejano, do sobreiro e, no leste, da azinheira, e a do carvalho negral
(Quercus pyrenaica) no centro e norte interior, marcam algumas subdivisões da região mediterrânica. E
como Ribeiro (1986) primorosamente escreve “Uma Quercus própria à Península e a Marrocos estabelece a
transição entre as espécies sempre verdes mediterrânicas e as de folha caduca de Europa média: o carvalho

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 13/27 (1 - II)


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

português ou cerquinho (… Quercus faginea) que perde as folhas tarde e as recupera cedo. Distribui-se nos
vales orientais do Douro e entre o Mondego e o Tejo, sendo especialmente abundante nos relevos da orla
atlântica, ligado como anda a moderado grau de humidade e a solos calcários.” Também outro Quercus,
geralmente arbustivo,o carrasco (Q. coccifera) está bastante associado aos solos calcários.
Nas zonas naturais e agricultadas do continente, cerca de duas dezenas de espécies de anfíbios e outras tantas
de répteis, quase três centenas de aves um pouco mais de meia centena de mamíferos foram identificados,
indicando-se em 7.1.3.3 as mais dependentes do meio aquático dulçaquícola.
Nas águas dulçaquícolas, vivem algumas dezenas de espécies vegetais, flutuantes, submersas ou enraízadas;
nas zonas húmidas ribeirinhas, além de espécies lenhosas, acima referidas (vidoeiro e bordo, no norte, e
folhado no sul) e outras, como os freixos e os amieiros (Alnus glutinosa) e várias espécies de salgueiros
(Salix spp.), que vegetam, por todo o país, encontram-se algumas centenas de espécies herbáceas (7.1.3.2).
Nestes habitats aquáticos e húmidos, associados à vegetação, um complexo sistema biótico estabelece-se,
com o seu fitoplâncton e zooplâncton e macroinvertebrados permitindo a sobrevivência de cerca de duas
dezenas de espécies de peixes (7.1.3.4) e numerosos animais tetrápodes associados ao meio aquático, um
pouco menos de uma vintena de espécies de anfíbios, de meia dezena de répteis, de quase uma centena de
aves e de mais de duas dezenas de mamíferos.
Na zona litoral, um conjunto de peixes e outros animais depende dos estuários, com as algas (macrófitas,
fitoplâncton e microfitobentos), o zooplâncton e os macroinvertebrados próprios, pertencentes a uma rica teia
trófica, e um grande número, em especial de aves, depende ainda das dunas e dos alcantilados.

1.3. Principais Características Sócio-Económicas

1.3.1. Introdução
A caracterização sócio-económica do território, no quadro do planeamento dos recursos hídricos, em especial
no caso concreto do Plano Nacional da Água, tem especialmente em consideração os efeitos consumptivos
ou de utilização actuais e potenciais, sejam eles positivos ou negativos, que a actual e previsível estrutura
sócio-económica é susceptível de gerar sobre o recurso água.
A caracterização sócio-económica neste contexto, procura ser objectiva e reflectir, de forma clara e
inequívoca, o que é relevante e estruturante para o planeamento e gestão do recurso água, incluindo a
componente de formação do seu preço, sendo certo que no quadro relativamente indeterminado de relações
de interdependência que caracterizam os processos produtivos, económicos e sociais.
No quadro da caracterização sócio-económica actual e tendo em conta as condicionantes decorrentes do
sistema estatístico nacional e regional, serão focados os seguintes aspectos, de forma interligada:
a) a evolução territorializada recente da população (residente e flutuante) e das famílias, enquanto
consumidores e utilizadores domésticos/urbanos, e a evolução dos factores que condicionaram essa
evolução, como base para a construção dos cenários de evolução demográfica;
b) povoamento e os estabelecimentos humanos (em dimensão e funcionalidade), como suporte da estrutura
territorial que no futuro irá comandar a evolução da população e o desenvolvimento das suas actividades
e como estrutura base dos cenários de desenvolvimento territorial;
c) a evolução da economia, dos seus sectores e sub-sectores de actividade e dos grandes agregados macro-
económicos como base para a construção dos cenários territorializados de evolução sócio-económica e
para o estabelecimento de princípios que irão reger o estabelecimento do preço da água;
d) a evolução territorializada das actividades económicas por sector de actividade, tendo em atenção os sub-
sectores e ramos de actividade que maiores impactes geram sobre a gestão do recurso água e como
complemento indispensável à caracterização da base para construção dos cenários de desenvolvimento
territorial.

14/27 (1 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

1.3.2. Demografia e Povoamento


1.3.2.1. Evolução da População Residente e Suas Condicionantes
A população residente do Continente era de 9 336 760 indivíduos em 1981 e de 9 362 095 em 1991,
ascendendo a de 9 733 226 pessoas em 2001 (INE – Censos de 2001).
A evolução da população entre os anos de 1981 e 1991 foi, média geral, de cerca de 5,7%, isto é 0,554% de
crescimento anual. Contudo esta evolução não é igual em todos os concelhos e, embora a média nacional seja
positiva, existem concelhos em que a taxa de crescimento neste período chega a atingir valores
significativamente negativos.
A evolução entre os anos de 1981 e 1991, (Censos do INE), caracteriza-se por um ritmo de crescimento
acelerado, com uma tendência crescente, enquanto que o crescimento entre os anos de 1991 e 1998 se
caracteriza por uma evolução para uma estabilização.

10000000

9800000

9600000

9400000

9200000
1980 1985 1990 1995 2000

Fonte: INE (CENSOS 1981 e 1991 – Anuários Estatísticos 1998)

Figura 1.3.1 - Evolução da População Residente em Portugal Continental


O crescimento populacional não se dá com a mesma amplitude em todas as regiões do país, com as regiões
Norte, Lisboa e Vale do Tejo, e Algarve a apresentarem no período um crescimento contínuo da sua
população enquanto que nas regiões Centro e Alentejo se observam taxas de crescimento da população
residente negativas, sendo as mais acentuadas entre os anos de 1981 e 1991.

4000000
3500000
3000000
2500000
2000000
1500000
1000000
500000
0
1980 1985 1990 1995 2000

Norte Centro Lisboa e Vale do Tejo Alentejo Algarve

Fonte: INE (CENSOS 1981 e 1991 – Anuários Estatísticos 1998)

Figura 1.3.2 - Evolução da População Residente por NUT II

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 15/27 (1 - II)


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

As Sub Regiões Entre Douro e Vouga, Cávado, Ave, Pinhal Litoral e a Península de Setubal são as que
apresentam maiores valores de taxas de crescimento e o Alentejo, Pinhal Interior (Sul e Norte), Beiras e Alto
Trás-os-Montes são as que se caracterizam por terem um maior decréscimo, nos períodos em análise, das
suas populações residentes.
A distribuição territorial da população residente e das taxas de crescimento populacional no período 81 – 91
evidenciam de forma clara uma litoralização, em geral, da população e um esvaziamento das Sub regiões do
interior do Continente, com especial relevância no Alentejo.
Relativamente ao período compreendido entre 1991 e 1998 verificou-se, em termos de evolução
populacional, um ritmo de crescimento menos acentuado, comparativamente com o do período 81-91 o que
configura uma tendência para a estagnação. Nesses sete anos a população cresceu a uma taxa média anual de
0,162%, o que significa um crescimento de apenas 1,14%, isto é, cerca de menos quatro pontos percentuais
que no período anterior.
A evolução da população ao longo deste período fundamenta a perspectiva de que se continuou a verificar a
deslocação da população do interior para o litoral.
Complementarmente verifica-se também que a zona periférica da área metropolitana do Porto se foi
progressivamente expandindo para as áreas dos distritos de Viana do Castelo e Braga, provocando um
crescimento da população residente nesta área em paralelo com movimento de migração do interior para o
litoral e ao “esvaziamento” populacional do concelho do Porto, que provoca o deslocamento da população
para os concelhos limítrofes.
A tendência de desertificação populacional observada no período anterior na região do Alentejo manteve-se
neste período de sete anos, com excepção para os concelhos de Sines e Castro Verde, que apresentam taxas
de crescimento positivas.
No litoral algarvio, o concelho de Tavira vê a sua população diminuir, o que não aconteceu na década
anterior e o concelho de Monchique é o que apresenta um maior decréscimo populacional, de cerca de –
18,32%.
A Península de Setúbal cresce neste período apenas 4% (contra os 9% da década anterior) e a Grande Lisboa
diminui o ritmo de perda ao mesmo tempo que o concelho de Lisboa vai perdendo a sua população para os
concelhos de periferia, explicando também o forte crescimento populacional do concelho de Sintra
A evolução populacional ao longo dos anos de 1981 e 1998 permite concluir:
Em termos gerais, o crescimento populacional português é cada vez mais lento e tende para um crescimento
ainda mais lento .
Em termos espaciais constata-se que a população está claramente a deslocar-se para o litoral, nomeadamente
para os concelhos periféricos das grandes áreas metropolitanas e dos concelhos correspondentes às cidades
médias do litoral, que se caracterizam por serem grandes pólos de emprego, como por exemplo Setúbal,
Entroncamento, Leiria, Aveiro, Viana do Castelo e Faro, acentuando continuamente o despovoamento de
todo o interior.

Por Bacia Hidrográfica


Em termos de bacias hidrográficas das 15 bacias objecto de plano de bacia (Minho; Lima; Cávado; Ave;
Leça; Douro; Vouga; Mondego; Lis; Tejo; Ribeiras do Oeste; Sado; Mira; Guadiana e Ribeiras do Algarve)
7 registam entre 1981 e 1991 um crescimento populacional, enquanto que as restantes 8, no mesmo período,
registaram decréscimos populacionais. A bacia do rio Mira foi a que registou o maior decréscimo
populacional ao longo dos dez anos, apresentando uma taxa de –10,33%. Por outro lado a bacia do rio Leça é
a que regista um maior crescimento populacional com uma taxa de crescimento de 12,22%. A bacia do rio
Sado e a bacia do rio Vouga foram as que registaram o menor decréscimo e o menor crescimento
populacional respectivamente.

16/27 (1 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

Quadro 1.3.1 – Evolução da População Residente por NUT II

Bacia Hidrográfica População residente Taxa de variação


1981 1991 1998 91/81 98/91
Minho 86 853 83 425 82 760 -3,9% -0,8%
Lima 169 961 166 634 167 740 -1,9% 0,6%
Cávado 402 589 423 519 450 890 5,2% 6,4%
Ave 496 202 524 509 551 550 5,7% 5,1%
Douro 1 965 470 1 931 009 1 932 700 -1,7% 0,1%
Leça 218 177 244 833 271 100 12,2% 10,7%
Vouga 646 691 672 343 702 260 3,9% 4,5%
Mondego 721 047 701 055 693 390 -2,7% -1,0%
Lis 162 089 171 688 180 060 5,9% 4,9%
Ribeiras do Oeste 679 170 730 213 803 970 7,5% 10,1%
Tejo 2 951 554 2 889 129 2 812 850 -2,1% -2,6%
Sado 303 101 302 348 292 960 -0,2% -3,1%
Mira 29 463 26 418 23 950 -10,3% -9,3%
Guadiana 209 765 193 157 182 580 -7,9% -5,4%
Ribeiras do Algarve 294 628 315 360 324 100 7,0% 2,7%

Entre os anos de 1991 e 1998 a maioria das bacias registou aumentos populacionais, sendo que apenas 6 do
total das 15 observaram um decréscimo populacional. Neste período são novamente as bacias do Leça e do
Mira as que se destacam por terem o maior crescimento populacional e o maior decréscimo populacional, se
bem que com taxas mais baixas. A bacia do Leça cresceu cerca de 10,73%, enquanto que a bacia do Mira
registou um decréscimo de –9,34%. As bacias do rio Lima e do rio Douro destacam-se por registarem
crescimentos populacionais neste período, quando no período anterior haviam registado decréscimos que
rondavam os 1,96% e 1,75%, respectivamente.
No que concerne à população por bacia hidrográficas, os valores observados permitem concluir:
Em termos gerais as Bacias hidrográficas cuja área se situa maioritariamente no litoral são as que
apresentam maiores taxas de crescimento populacional, com excepção das do Sado e do Mira que apesar de
serem bacias do litoral reflectem a dinâmica demográfica negativa do Alentejo.
A bacia hidrográfica do Guadiana apresenta no período 81 – 98 taxas significativas de crescimento negativo
da população residente claramente resultantes de a maioria da sua área territorial se situar no Alentejo
interior que em termos demográficos tem evidenciado das maiores taxas de crescimento negativo do País.
As bacias hidrográficas do Tejo e do Douro apesar de integrarem parte das Áreas Metropolitanas de Lisboa e
do Porto apresentam taxas de crescimento populacional negativas ou de crescimento reduzido (Douro –
91/81), devido ao facto de a grande maioria das áreas respectivas não se situar no litoral e consequentemente
reflectirem a dinâmica de evolução populacional negativa do interior que se verificou nas últimas duas
décadas.
A tendência natural da população nos últimos anos foi para um crescimento moderado, crescimento esse que
tem vindo progressivamente a diminuir. O envelhecimento da população e a diminuição da taxa de
natalidade, levam a prever um decréscimo populacional a prazo. Contudo o aumento do número de
imigrantes e diminuição de número de emigrantes podem vir a atenuar um pouco esta tendência.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 17/27 (1 - II)


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

1.3.2.2. Povoamento
Densidade Populacional
A densidade populacional (habitantes/km2) era de 108habitantes/km2, sendo de salientar que a média não
evidencia de forma clara a distribuição da população e da natureza do povoamento do território continental.
Com efeito se considerarmos que em termos de concelho uma densidade inferior a 200 habitantes/km2
permite classificar esse conselho como de baixa densidade e consequentemente como rural, então cerca de
80%de Portugal Continental caracteriza-se por ser um meio rural, isto é com uma muito baixa densidade
populacional concelhia.
Os casos de excepção a esta situação são os concelhos de Lisboa e Porto e os concelhos envolventes, bem
como outros concelhos no país e que se caracterizam por serem zonas de turismo, piscatórias, capitais de
Distrito ou concelhos localizados muito perto destas últimas.
Os concelhos de Lisboa, Porto e Amadora são os que apresentam uma maior densidade populacional,
enquadrando-se nas áreas urbanas de média densidade, sendo “seguidos” dos seus concelhos circundantes, os
quais se caracterizam por ser áreas urbanas e para-urbanas de média e baixa densidade.

Baixo Alentejo
Alto Alentejo
Lezíria do Tejo
Península de Setúbal
Oeste
Beira Interior Sul
Serra da Estrela
Dão Lafões
Pinhal Litoral
Baixo Vouga
Douro
Tâmega
Ave
Minho Lima
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

Fonte: INE – Anuários Estatísticos de 1999

Figura 1.3.3 - Densidade Populacional por NUT III


As zonas do litoral, principalmente as regiões da Grande Lisboa, Grande Porto, Península de Setúbal e Ave
são as que apresentam maiores densidades populacionais, contrapondo-se não só ao interior do país, mas
também à média nacional (gráfico --)
Por Bacias Hidrográficas
Em 1998 apenas quatro das quinze bacias apresentavam densidades populacionais superiores aos 200
hab/Km2, o que as permite considerar como bacias eminentemente de carácter urbano, sendo que das
restantes onze, quatro não atingiam os 100 hab/Km2. A bacia do rio Mira é a que regista neste ano a mais
baixa densidade populacional, apenas 14 hab/Km2, seguida da bacia do rio Guadiana com 16 hab/Km2.

1.3.3. Actividades Económicas


A evolução do PIB entre 1991 e 1997 foi continuamente crescente, indiciando um aumento de riqueza do
país. Contudo, este aumento tem sido cada vez menor, visto que entre 1991 e 1994 a taxa de crescimento
médio anual foi de 8,94%, enquanto que entre 1994 e 1997 a mesma taxa foi de apenas 6,94%.

18/27 (1 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

Quadro 1.3.2 – Densidade Populacional Por bacia Hidrográfica

Bacia População Área Densidade


Minho 82760 818 101
Lima 167740 1566 107
Cávado 450890 1699 265
Ave 551550 1459 378
Leça 271100 236 1151
Douro 1932700 18854 103
Vouga 702660 3706 190
Mondego 693390 6878 101
Lis 180060 1009 178
Ribeiras do Oeste 803970 2395 336
Tejo 2812850 25161 112
Sado 292960 8295 35
Mira 23950 1767 14
Guadiana 182580 11601 16
Ribeiras do Algarve 324100 3837 84

O emprego em Portugal diminuiu entre 1991 e 1995 cerca de -4,8%, sendo que o maior decréscimo se
registou no ano de 1993, com uma diminuição de -2,05%, facto que se deveu à crise económica mundial dos
anos 90, que afectou também o Continente.
Em termos de criação de valor acrescentado (VAB), este não parou de crescer entre 1990 e 1997, se bem que
nos últimos anos, 1995 a 1997, se cresceu cerca de menos dois pontos percentuais do que nos anos
anteriores. O crescimento foi superior nas bacias do Norte e Centro, onde se registaram crescimentos
superiores a 70%, do que no Sul.
A realidade do Continente aponta para a predominância da actividade económica na faixa litoral, a qual se
caracteriza por ter melhores acessibilidades e grandes centros urbanos; e para a existência de pouca
actividade económica no interior, sendo muito comum a predominância de uma agricultura de subsistência.
Para além da diferença interior-litoral, o facto é que o Norte e Centro do País são as regiões onde predomina
a actividade no sector secundário, enquanto, que nas regiões do Sul predomina o sector terciário e nas zonas
mais rurais a agricultura continua a ser uma forma de complemento de rendimentos.
Indústria
O sector secundário tem vindo ao longo dos anos a perder o seu peso relativo, quer em temos de VAB, quer
em termos de estabelecimentos, contudo, de uma forma geral tem vindo a aumentar o número de pessoal ao
serviço.
A indústria encontra-se fortemente enraizada no Norte e Centro do país, nomeadamente a indústria têxtil,
indústria extractiva e indústria alimentar. Tendo em consideração as indústrias que mais consumos de água
efectuam, pode-se concluir que a indústria têxtil, no que respeita ao branqueamento, tingimento e lavagem
dos tecidos, tem a sua localização nas bacias do Ave e do Douro. A bacia do Tejo é a que reúne uma maior
concentração de indústrias transformadoras que se caracterizam por grandes consumos de água e por serem
muito poluidoras, é o caso das indústrias químicas, das indústrias metalúrgicas e das fábricas de pasta e
papel.
Agricultura
A Agricultura, Silvicultura, Caça e Pecuária ao longo da última década registaram um decréscimo da sua
contribuição para a totalidade do VAB, bem como a actividade piscatória. O mesmo se passa em termos de
emprego. A Agricultura diminuiu a sua mão-de-obra agrícola, quer em termos de número de produtores, quer

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 19/27 (1 - II)


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

em termos de trabalhadores assalariados, e até em termos de tempo de trabalho. Registam-se aumentos de


prados e pastagens e diminuem-se as culturas, bem como a Superfície Agrícola Utilizada (SAU). Na Pesca,
diminuiu o número de pescadores, de embarcações, da tonelagem de arqueação bruta dessas mesmas
embarcações, a quantidade de pesca descarregada, mas o seu valor aumentou. A pecuária diminuiu o número
de explorações sendo que o número de cabeças por exploração aumentou. A suinicultura, actividade
fortemente poluente encontra-se distribuída por todo o país, embora com algumas concentrações importantes
nas bacias do rio Lis e Ribeiras do Oeste.
Turismo e Terciário
O sector terciário é o que apresentou um maior crescimento na última década e encontra-se espalhado por
todo o Continente. Os serviços encontram-se concentrados nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e nos
principais centros urbanos.
O Turismo é uma actividade em crescente em todo o Continente, em especial o turismo rural nas áreas do
interior do país. Contudo, são as zonas litorais que no turismo em geral, maiores crescimentos registam, quer
em termos de capacidade de alojamento, quer em termos do aumento do número de hóspedes.
Produção de Energia Eléctrica
A produção de energia eléctrica tem vindo a aumentar ao longo dos anos, sendo que no último ano a entrada
em funcionamento do Alto do Lindoso provocou um aumento de cerca de 261% da produção de energia nas
bacias do Minho e do Lima.
Ainda assim, embora desde 1995 o peso das energias renováveis no total da produção de energia tenha
registado aumentos progressivos, a realidade é que em 2000, a maioria da produção de energia eléctrica foi
de origem térmica (69,11%). Contudo a produção hidráulica tem apresentado um forte desenvolvimento
passando de 19,8% do total da produção de energia eléctrica em 1999 para 30,89% em 2000.

1.3.4. Portugal no Espaço Europeu


A União Europeia não é um conjunto de países uniforme, e embora a entrada para a União implique a
uniformização de muitas políticas nacionais, nomeadamente a do Ambiente, no que diz respeito a controle,
fiscalização da poluição, protecção dos recursos hídricos, etc., a verdade é que Portugal ainda se encontra
num estado de atraso estrutural face aos países mais desenvolvidos da UE.´
Estrutura Produtiva e Especialização Regional
A principal actividade empregadora em Portugal são os serviços, mas o seu peso percentual fica ainda muito
aquém do peso percentual médio verificado na Europa. É o segundo país da Europa com maior percentagem
de população activa no sector primário e o que detém a maior percentagem de população activa no sector
secundário, evidenciando uma especialização na indústria e um atraso na modernização da economia face ao
resto da Europa, situação que é gerada pelo facto de 96% das empresas portuguesas se caracterizarem por ser
muito pequenas e pequenas empresas, com frequência empresas de iniciativa familiar.
Portugal tem registado um esforço de convergência com a UE com vista a colmatar as diferenças existentes a
nível de desenvolvimento económico, o que se comprova com as suas taxas de crescimento do PIB e VAB
superiores à média europeia. Também em termos de Formação Bruta de Capital Fixo, Portugal destaca-se
por ser o país da UE com maior percentagem de FBCF em relação ao PIB. Contudo, no que diz respeito à
Balança de Bens & Serviços, Portugal apresenta em 1995 um déficit de –6.8% do PIB, enquanto que em
1998 o déficit era de -9.4% do PIB, o que evidencia um endividamento crescente face ao exterior. Também
em termos de investimento em Investigação e Desenvolvimento (I&D), Portugal encontra-se muito abaixo da
média de investimento realizado na União Europeia.
Tal como os vários países da UE, Portugal encontra-se especializado na indústria, sendo que, embora a sua
especialização varie de região para região, Portugal tenha uma vantagem comparativa face aos restantes
países da União no que diz respeito à indústria têxtil e à indústria do calçado, beneficiando do menor custo
da mão-de-obra.

20/27 (1 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

Emprego e Qualificação
Portugal é um dos países mais mal remunerados da Europa, um dos que detém as mais baixas qualificações
da sua população, um dos que tem a maior percentagem de população activa e embora se destaque pela sua
baixa taxa de desemprego, mais de 50% destes são desempregados de longa duração. É o país da Europa que
menos emprego detém em grandes empresas e nas actividades sem assalariados. Situa-se abaixo da média
europeia no que toca ao emprego nas médias empresas, e é o país que mais emprego gera nas muito
pequenas e pequenas empresas, situando-nos nestes casos muito acima da média europeia.

1.3.5. Rede Urbana e Ordenamento do Território


Estrutura Territorial e Rede Urbana
O aprofundamento do processo de integração europeia e a execução do primeiro e do segundo QCA tiveram
impactes muito fortes na estruturação do território do Continente. Todavia, não se registaram alterações
significativas em algumas componentes da matriz estrutural que caracteriza, há já algumas décadas, a
organização do território do Continente, designadamente a dicotomia entre o litoral e o interior. Pelo
contrário, esta diferenciação, em alguns aspectos, aprofundou-se mesmo, como se registou nos estudos da
caracterização sócio-económica, reforçando o duplo processo de litoralização em simultâneo com a
bipolarização da população e da actividade económica do país (Figura 1.3.1.).

Espaços Urbanos
Espaços Indústrais
Espaços Turísticos

Figura 1.3.1 - Áreas Urbanas e Urbanizáveis, Áreas Industriais e Turísticas


Fonte: “Georeferenciação de áreas urbanas, turísticas e industriais” - Direcção Geral do Ordenamento do Território e
Desenvolvimento Urbano (DGOTDU), 1998.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 21/27 (1 - II)


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

Esta evolução resultou, entre outros, dos efeitos conjugados seguintes e que tiveram um impacte muito forte
no processo de urbanização do território do Continente e na estruturação da sua rede urbana:
 execução dos projectos de infra-estruturas de transporte e comunicações, realizados segundo os
respectivos planos (PRN 1985 e 2000, e Plano de Modernização e Reconversão da CP, 1987);
 desconcentração e descentralização, efectuada no quadro de políticas sectoriais como a saúde, a
educação e formação profissional, a cultura, etc.;
 apoios e incentivos concedidos às actividades económicas, e à mobilização dos recursos locais e
regionais;
 oferta de espaços infra-estruturados e equipados, adequados à instalação de actividades produtivas,
tanto de transformação como de distribuição;
 alargamento do mercado interno e externo, quer pela via da integração territorial, quer pela expansão da
procura, tanto interna como externa, e pelo incremento da mobilidade em geral;
 aumento da especialização produtiva, seja com base em vantagens comparativas relacionadas com a
centralidade e a acessibilidade a infra-estruturas de transporte, na exploração de recursos naturais locais
ou regionais, em sistemas produtivos locais especializados e com “saber fazer”, em mão-de-obra
abundante e barata, etc..
A evolução da rede urbana e da hierarquia e especialização dos seus nós (Figura 1.3.2), não será apenas
determinada pelo nível de infra-estruturação, equipamentos e qualidade da paisagem e do ambiente, mas
também pela dinâmica económica dos espaços territoriais que polarizam. Neste sentido, o litoral do
Continente tem vindo a afirmar-se como claramente mais dinâmico.
A terceirização dos áreas urbanas centrais remete para a periferia o crescimento da habitação e conduz à
relocalização de actividades para as quais a acessibilidade regional e o menor valor do solo prevalecem como
critérios de localização face uma localização urbana e metropolitana mais central (indústria, armazenagem,
distribuição, logística, etc.). Mas também se assiste a um reforço em equipamentos, comércio e até
escritórios de serviços nas periferias urbanas, bem como da exploração das novas acessibilidades e de
amenidades regionais e locais, ou apenas acompanhando o crescimento da população na periferia (procura e
oferta do mercado de trabalho e procura de bens e serviços por via da expansão do consumo).
Do ponto de vista do uso e ocupação do solo, esta evolução traduz-se num aumento da pressão para a
expansão de áreas urbanizadas e na redução dos espaços agrícolas e florestais ou de regeneração natural, com
graves implicações do ponto de vista da gestão dos recursos hídricos, seja pelo impacte que gera através do
aumento dos consumos de água ( procura, em quantidade e qualidade, requerendo origens cada vez mais
distantes) e do aumento dos volumes de água rejeitada (mais caudais a requerer tratamento,
reaproveitamento ou simples lançamento nos cursos de água), seja ainda pela diminuição da capacidade de
recarga dos aquíferos subterrâneos por modelação e impermeabilização das áreas urbanizadas e das
implicações que daí decorrem, nomeadamente riscos ambientais.
Do ponto de vista funcional, é possível distinguir as seguintes situações: clusters territoriais multipolares que
assentam em eixos de transporte rodo e ferroviário e em centros urbanos de nível concelhio e supra-
concelhio ou sub-regional (Guarda-Covilhã-Fundão-Castelo Branco; Vila Real-Régua-Lamego e Viseu-
Mangualde); centros urbanos unipolares de nível intermédio com alguma dinâmica económica e importância
demográfica (Chaves, Mirandela, Bragança, Portalegre, Elvas, Évora e Beja), e; centros concelhios que, em
geral, coincidem com as sedes de concelho onde são oferecidas funções básicas de apoio às populações e as
actividades económicas. Existe ainda um grande número de aglomerados rurais, muitos dos quais sedes de
freguesia, quase todos em situação de regressão económica e populacional, salvo algumas excepções em que
a proximidade aos centros urbanos mais importantes permite ainda a fixação de população e de algumas
actividade económicas de apoio.
Em termos de uso e ocupação do solo, é importante referir que estes fenómenos de urbanização e de
concentração da população e das actividades acontece segundo modelos distintos:
 em espaços urbanos e urbanizáveis compactos, a que normalmente estão associadas zonas ou
loteamentos industriais, quando a situação é unipolar como Évora, Beja, Portalegre e Elvas;

22/27 (1 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

Bragança
Chaves
Viana do Castelo

Barcelos Braga
Mirandela
Guimarães Fafe
Famalicão Felgueiras
Santo Tirso Amarante Vila Real
Paredes
Penafiel Régua
AM Porto
Lamego

Stª Maria da Feira


Centros Urbanos relevantes S. João da Madeira
Ovar
Oliveira de Azeméis
Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto
Viseu
Aveiro
Zona de urbanização do litoral
Águeda Mangualde
Guarda
Nelas
Corredor urbano em zonas de despovoamento urbano
Anadia
Zona de despovoamento urbano
Covilhã
Aeroportos internacionais Coimbra
Fundão
Portos Figueira da Foz

Rede ferroviária Pombal


Castelo Branco
Vias - Itinerários principais Marinha Grande

Rodovias - Itinerários complementares Leiria


Nazaré Tomar
Limite das bacias hidrográficas Alcobaça
Torres Novas
Caldas da Rainha Entroncamento Abrantes
Peniche
Portalegre
Santarém

Torres Vedras
Campo Maior

Elvas
Estremoz

Vendas Novas
Montemor-o-Novo
AM Lisboa Évora
Setúbal

Santiago do Cacém Beja


Sines

Loulé
Lagos Portimão Albufeira Tavira
Olhão
Faro

Figura 1.3.2 - Esquema de Rede Urbana


 em extensão ao longo das principais vias de transporte, como na Beira Interior e no Douro, ou em
importantes conturbações como no caso Viseu-Mangualde.
 em algumas situações, a indústria ocupa ainda elevadas extensões quando relacionada com a exploração
de recursos naturais (Panasqueira, Guarda, Nisa/Portalegre, Borba/VilaViçosa/Estremoz, etc.) ou com a
proximidade de infra-estruturas de transporte (Guarda, Ourique, Sines, etc.).
De referir ainda, a proliferação de algumas iniciativas associadas às actividades turísticas, um pouco por todo
o território interior do Continente.
Os reflexos para a gestão do recurso água, deste triplo processo de concentração, rarefacção e dispersão das
actividades e das populações, são ambivalentes. O abandono dos campos poderá, de alguma forma,
intensificar os processos de regeneração natural e a consequente retenção de água e uma tributação mais
gradual aos cursos de água ao longo do ano, assim como facilitar a infiltração e a recarga dos aquíferos. Mas

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 23/27 (1 - II)


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

o abandono dos campos não compensado pela sua vigilância pode favorecer a ocorrência e a extensão dos
incêndios, e a reflorestação descuidada de vastas áreas aumenta a erosão dos solos, com consequências
negativas para os recursos hídricos. Por outro lado, o equilíbrio da paisagem – dependente de práticas,
atitudes, culturas, espécies, técnicas, etc.- ao romper-se, põe em causa a sustentabilidade dos sistemas de
produção que eram vantajosos para a gestão do recurso água, pelo tipo de actividades que lhe estavam
associadas (manutenção de sistemas de depuração natural, trabalho de solos, sementeiras, etc.).
Finalmente, a concentração de populações e actividades favorece a viabilidade e facilita a construção e a
manutenção de sistemas de abastecimento de água e de sistemas de recolha e tratamento de águas residuais e
de resíduos sólidos, que anteriormente interferiam na qualidade dos recursos hídricos subterrâneos e de
superfície. Pelo contrário, a rarefacção da população e das actividades e a existência de um número elevado
de aglomerados rurais, sem procura que viabilize a instalação e funcionamento daqueles sistemas, terá um
impacte negativo sobre os recursos hídricos, ao serem lançadas no solos e na rede de drenagem natural
águas e substâncias ou materiais rejeitadas pelo consumo urbano e pela actividade industrial, sejam eles
sólidos ou líquidos.
Ordenamento do Território
Uma política de protecção da água e uma boa gestão dos recursos hídricos, englobando as águas de
superfície e as águas subterrâneas, requer uma estreita articulação com as políticas de ordenamento do
território com vista à sua gestão integrada.
Merecem, ainda, especial destaque os espaços silvestres que ocupam dois terços da superfície de Portugal,
segundo dados do último inventário florestal nacional (DGF, 1997). Incluem-se nesta classe de espaços as
superfícies dedicadas à silvopastorícia, à produção de madeira e cortiça, à conservação da Natureza, ou ainda
terrenos simplesmente incultos, geralmente revestidos por vegetação arbustiva espontânea.
Numa perspectiva integrada de ordenamento do território e de gestão dos recursos hídricos em geral, será
fundamental a estabilização da estrutura do povoamento e a contenção das formas de povoamento dispersas,
que deverão ser objecto de medidas de ordenamento do território especificas para áreas para-urbanas.
A protecção dos recursos hídricos implica uma gestão equilibrada e eficiente dos espaços agrícolas e
florestais que ocupam, respectivamente, 47% e 43% do território de Portugal Continental, o que no total,
corresponde a 90% da sua superfície. Reconhece-se, no entanto, que a gestão destes espaços passa,
necessariamente, pela satisfação da oferta de áreas urbanas programadas de acordo com as necessidade das
diferentes actividades humanas e devidamente infra-estruturadas.
Refere-se, em particular, o papel determinante que os espaços florestais e os espaços silvestres, em geral, têm
na conservação e manutenção da qualidade dos solos e das águas. Enquanto espaços unicamente ocupados
por florestas, matos ou prados, os espaços silvestres estão livres de fontes emissoras de poluentes e de infra-
estruturas consumidoras de água, pelo que não afectam a qualidade dos recursos hídricos nacionais. No
entanto, a ausência de uma política de ordenamento florestal, associada a fenómenos de pressão urbanística
tem determinado o abandono e a degradação biofísica de extensas superfícies vocacionadas para este uso, o
que acaba por afectar negativamente a qualidade do recurso água.

1.3.6. Tendências Actuais de Desenvolvimento das Actividades Económicas


Uma análise à evolução da nossa economia nos últimos anos, dá a entender o esforço que o país tem
desenvolvido para atingir os níveis de crescimento dos principais países que compõem a União Europeia.
Contudo e como já foi dito anteriormente, o principal problema de Portugal é que se encontra numa situação
de atraso estrutural, que se manifesta essencialmente através da baixa produtividade; da falta de qualificação
da população; o peso reduzido do investimento em actividades de Investigação e Desenvolvimento e o
desequilíbrio da Balança de Bens & Serviços.
A população portuguesa tem-se vindo a fixar progressivamente no litoral, sobretudo nas áreas metropolitanas
de Lisboa e Porto, as quais ocupam os troços terminais de várias bacias hidrográficas, ainda que se centrem
sobre as mais importantes: o Tejo em Lisboa e o Douro no Porto. A procura de melhores condições de
habitação e do aumento da população, tem justificado um ritmo elevado de construção de novos fogos.
Contudo a tercearização das áreas urbanas centrais remete para a periferia o crescimento da habitação e

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CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

conduz à relocalização de actividades para as quais a acessibilidade regional e o menor valor do solo
prevalecem como critérios de localização. Contudo, os elevados níveis de construção, que se têm verificado
em todo o país, devem-se principalmente à procura de segundas residências e de melhores condições
habitacionais e têm uma maior incidência no litoral. O crescimento da procura de alojamento turístico, de
turismo rural e de turismo informal reforçam esta tendência de litoralização.
A importância do sector terciário na economia do país é dominante e continua a aumentar. Esta evolução
localiza-se predominantemente no litoral, em especial nas áreas metropolitanas, reforçando-se aí tanto a
concentração populacional como a produção de rendimentos. Os centros urbanos do interior têm uma
importância relativa reduzida face ao litoral, traduzindo a acentuação das assimetrias económicas e de
oportunidades entre estes dois espaços.
A indústria transformadora tem, em alguns sub-sectores, uma vantagem competitiva com os outros países da
União face ao uso intensivo de mão-de-obra barata. No entanto, terá inevitavelmente perdas importantes de
emprego nestes sub-sectores, na medida que se forem modernizando ou não tecnologicamente, como é o
caso dos têxteis e do calçado. Localizam-se nas zonas litorais, na periferia dos centros urbanos.
A expansão e dispersão das áreas urbanas e urbanizáveis para as zonas rurais tem levado à redução dos
espaços agrícolas e florestais ou de regeneração natural.
Também a modernização da Agricultura e as novas orientações da PAC para o incentivo da Agricultura
Biológica, retirando incentivos à Agricultura “industrial”, irá ter fortes impactes (positivos) no sector, bem
como nas indústrias agro-alimentares, que constituem a base de especialização da maioria das sub-regiões do
interior. Da conjugação das políticas de preços e de comercialização, seus apoios e gestão poderão resultar
cenários distintos.
Também na pesca, a redução global da frota e do volume das capturas tem-se vindo a traduzir numa redução
do emprego. No entanto, a progressiva modernização do sector e a opção por espécies mais valorizadas
permitirá a sua estabilização a prazo, ainda que condicionada pelas políticas de conservação dos stocks,
dentro e fora do espaço da União Europeia.
Tendo em conta que a tendência actual é que geograficamente as actividades se localizem no litoral pode-se
concluir que a tendência de desenvolvimento:
- Indústria - Perda de emprego nos sub-sectores de mão-de-obra intensiva que se modernizarem; uma
crescente diminuição dos estabelecimentos, quer por falências, quer por fusões e uma perda relativa de
importância no conjunto global da economia, exceptuando os sectores da nova economia e sociedade da
informação;
- Agricultura – Diminuição da superfície agrícola, modernização do sector, investimento na Agricultura
Biológica reduzindo a Agricultura “industrial”, e eventual perda de efectivos, quer em número, quer em
tempo de trabalho;
- Turismo - Aumento da capacidade hoteleira e do número de dormidas, nomeadamente nas regiões da
faixa litoral ocidental e da faixa litoral algarvia. Aposta crescente no Turismo em espaço rural;
- Energia - Aumento da produção de energia eléctrica com a substituição progressiva da energia térmica
por energias alternativas, mantendo a energia hidroeléctrica a sua importância, ainda que condicionada
pelas flutuações de produção entre anos muito secos e muito húmidos;
- Outras - A construção expande-se para a periferia dos centros urbanos e a predominância dos serviços é
cada vez mais acentuada nas zonas centrais desses mesmos centros.
Tendo em conta os três principais objectivos do PNDES, - colmatar o atraso estrutural, caminhar para uma
sociedade da informação e apostar numa estratégia de Ordenamento do Território interligada com o
Ambiente, - pode concluir-se que as tendências actuais de desenvolvimento não se irão modificar.
De facto, “colmatar o atraso estrutural apostando na qualificação das pessoas e descentralizando as
competências do Estado”, vai beneficiar os centros urbanos do litoral que se encontram mais bem infra-
estruturados para essas modificações.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 25/27 (1 - II)


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

Também é na faixa litoral do Continente que se encontram os principais “macro-


-clusters” em que se pretende apostar fortemente pois se encontram mais abertos à inovação, o Turismo-
Lazer e o sector de componentes automóveis e material de transporte. Também a aposta na modernização
dos sectores tradicionais, vem mais uma vez mostrar que a tendência actual para a diminuição de
estabelecimentos e de trabalhadores nos sectores industriais utilizadores de mão-de-obra intensiva, se irá
manter. E finalmente uma aposta numa estratégia de ordenamento com uma forte aposta em vias de ligação
intermodal com Espanha que passam essencialmente por uma ligação litoral da Galiza à Andaluzia, num
corredor da Estremadura que liga Lisboa-Madrid, numa auto-estrada que liga Porto a Chaves e num corredor
Portugal – Irun, passando pela Beira Alta; e que também passa por uma aposta na posição geográfica de
Portugal, aproveitando a “porta atlântica” para o resto do mundo; mesmo que combinada com uma estratégia
de desenvolvimento rural, vai continuar a privilegiar a faixa litoral, sendo de esperar, que nos próximos anos,
a tendência actual de movimentação para o litoral de toda a actividade humana e económica se continue a
verificar.

1.3.7. Pressões da Actividades Humanas Sobre os Recursos Hídricos


A análise sócio económica realizada nos pontos anteriores mostrou que o Continente se encontra dividido em
dois. A parte interior do país em que predominam os aglomerados rurais em situação de regressão económica
e populacional, e o litoral que se caracteriza por uma crescente concentração quer de população, quer das
actividades económicas. A agricultura que ainda hoje predomina mais nas zonas rurais, com a sua crescente
modernização tem tendência a deslocar-se para mais próximo dos centros com melhores acessibilidades e
devido ao seu grande consumo de água para os locais em que esta é mais abundante, de melhor qualidade e
melhor e mais fácil disponibilização.
Assim, pode-se concluir que a litoralização de toda a actividade humana e económica do país, provoca fortes
pressões sobre o recurso água junto à foz, o que implica reflexos na gestão deste recurso, com origens cada
vez mais distantes, sobretudo para águas com qualidade para consumo humano.
Segundo os dados constantes no tema 4 – Usos e Necessidades de Água, a Agricultura é o sector que maiores
3 3
consumos de água efectua ao longo do ano, cerca de 6550900 * 10 m , sendo consequentemente a actividade
que mais pressão sobre os recursos efectua. Regra geral, a localização desta actividade faz-se na periferia dos
centros urbanos do interior, junto de cursos e linhas de água. Exceptuando as culturas industriais,
nomeadamente do tomate, que se localizam nas periferias dos centros urbanos do litoral, perto dos principais
nós de ligação.
A seguir à Agricultura, a Produção de Energia é o sector que mais consumos de água efectua, sendo que a
sua localização principal corresponde às barragens ao longo dos rios Douro, Tejo e Sado, para além dos
aproveitamentos das bacias do Minho.
Seguidamente à Energia, a Indústria é o sector económico com maiores consumos de água, que
correspondem no entanto a apenas 4,4% do total dos consumos.
O Turismo, embora relevante, pois tal como a população exige uma grande qualidade da água que consome,
e uma boa gestão do seu abastecimento, tem um peso muito pouco relevante nos consumos de água.
A população é de todos, o terceiro sector que maiores consumos de água efectua, 6,42%, exerce uma pressão
forte sobre os recursos hídricos, pois requer uma grande qualidade na água que consome.
As outras duas actividades que se destacam são o abastecimento às populações e as actividades de
Turismo-Lazer. Estas destacam-se não tanto pelos seus elevados consumos, visto que no global
correspondem a apenas a 6,5% do total dos usos de água, mas sim porque exigem uma grande qualidade
deste recurso. A pressão é tanto mais forte, devido à sua localização espacial. As fontes que melhor
qualidade de água têm, localizam-se no interior, enquanto que as populações residente e flutuantes se
localizam com especial incidência no litoral, longe dessas mesmas fontes. Por outro lado as actividades
lúdicas, necessitam de locais de lazer de qualidade que muitas vezes não se encontram no litoral, como
espaços verdes, ou numa exemplificação mais drástica o facto de não se poder tomar banho no Estuário do
Tejo, devido à forte poluição que o caracteriza.
Assim, de uma forma geral a pressão das actividades sobre os recursos hídricos é tanto maior quanto é a
concentração destas longe das fontes de qualidade, e junto às zonas da foz.

26/27 (1 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


CARACTERÍSTICAS BIOFÍSICAS E SÓCIO-ECONÓMICAS GERAIS DO TERRITÓRIO

Este processo de concentração de populações e actividades no litoral, tem outra pressão sobre os recursos, é
que favorece a viabilidade e facilita a construção e a manutenção de sistemas de abastecimento de água e de
sistemas de recolha e tratamento de águas residuais e de resíduos sólidos, que anteriormente interferiam na
qualidade dos recursos hídricos subterrâneos e de superfície. Mas, por outro lado, a rarefacção da população
e das actividades no interior, conjuntamente com a existência de um úmero elevado de aglomerados rurais,
sem procura que viabilize a instalação e funcionamento daqueles sistemas, terá um impacte negativo sobre os
recursos hídricos, ao serem lançadas nos solos e na rede de drenagem natural, água e substâncias ou
materiais rejeitados pelo consumo urbano e pela actividade industrial, sejam eles sólidos ou líquidos. Por
outro lado a dispersão de actividades, como a habitação, turismo e industria, sem ligação à rede pública,
terão um impacte sempre negativo no recurso água.
A pressão das actividades humanas sobre os recursos hídricos, segundo a espacialização que hoje ocupam,
obriga a dois tipos de sistemas um para o litoral e outro para o interior, com a agravante de que actividades e
fontes de qualidade não se encontram no mesmo sítio.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 27/27 (1 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

2. QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

2.1. Quadro Legal

2.1.1. Introdução
Nesta introdução apresentam-se os aspectos de natureza geral e introdutória, delimitando-se os fins e o
objecto do direito de protecção da água e recorta-se o âmbito do Plano Nacional da Água. No mesmo
contexto, procura-se, por um lado, enquadrar o direito de protecção da água como parte integrante do direito
do ambiente, e por outro, distingui-lo de ramos do direito afins. Um segundo momento da introdução,
descreve sumariamente e hierarquiza as fontes (internas, internacionais e comunitárias) deste subsistema
jurídico do direito do ambiente. Um último ponto da introdução sintetiza as principais condicionantes
provenientes do direito internacional e do direito europeu.
Uma segunda parte agrupa os capítulos onde se realiza uma análise do direito da protecção da água por
forma a identificar as sua disfunções e patologias mais relevantes.
Por fim, um último capítulo proporá uma síntese dos problemas jurídicos identificados. Nesse momento
procurar-se-á sintetizar e sistematizar tais problemas jurídicos em torno de algumas ideias fundamentais que
revelem de algum modo as patologias que consideramos serem estruturais e que servem de ponto de partida
para a identificação de objectivos e medidas.
2.1.1.1. Aspectos Gerais
Os Fins do Direito de Protecção da Água
Pode caracterizar-se o direito de protecção da água como o conjunto de normas jurídicas que, no quadro do
direito do ambiente, disciplinam a actuação da Administração Pública e dos particulares com vista a
preservar e melhorar a qualidade da água e a garantir o seu uso sustentado.
O direito de protecção da água tem, assim, dois fins fundamentais. Visa, por um lado, proteger a água
contra a poluição por forma a assegurar as suas capacidade funcional ecológica e capacidade de uso
humano (cfr. alínea a) e b) do art. 10º da LBA e alínea a) do nº 2 do art 66º da CRP). Mas, também, está
funcionalmente orientado para promover, independentemente da sua contaminação, numa perspectiva de
equidade intergeracional, a sua utilização racional (cfr. alínea d) do art. 10º da LBA e alínea d) do nº 2 do
art 66º da CRP).
Em qualquer caso, trata-se de compatibilizar a capacidade de aproveitamento humano da água para os seus
múltiplos fins (consumo humano, industrial, recreativo, agrícola, piscícola, inter alia) com a necessária
preservação da sua capacidade funcional ecológica e com a existência de reservas suficientes para usos
futuros com respeito pelo princípio da solidariedade entre gerações .
Complementarmente o direito de protecção da água visa, ainda:
− Proteger a saúde pública;
− Contribuir para mitigar os efeitos das cheias e das inundações.
O Objecto do Direito de Protecção da Água
Nos termos do nº 1 do art. 10º da LBA a protecção jurídico-ambiental da água estende-se às águas interiores
(de superfície e subterrâneas) e às águas marítimas (interiores, territoriais e da zona económica exclusiva).
Tal protecção abrange, ainda, um conjunto de terrenos delimitados no nº 2 do art 10º da LBA e legislação
complementar (leitos e margens dos cursos de água de superfície, fundos e margens de lagoas, zonas de
infiltrações, à orla costeira, aos fundos marinhos). O conjunto das águas e dos terrenos conexos pode ser
designado como domínio hídrico.
As águas e os terrenos conexos, objecto do direito de protecção da água podem ser do domínio público –
incluindo, assim, o domínio público hídrico – ou ser propriedade privada.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 1/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

Note-se, por fim, que o objecto do direito de protecção da água não coincide com o objecto do PNA. Na
realidade, como se notou o PNA não abrange as águas marítimas territoriais e da ZEE.
2.1.1.2. Direito de Protecção da Água e Direito do Ambiente
A água é como se sabe um componente natural do ambiente (Cfr. art 7º da LBA). A sua protecção visa
directamente assegurar a sua qualidade e quantidade mas, indirectamente, assegurar a qualidade do
ambiente. Dir-se-á mesmo que, em grande parte, a razão da autonomização da água e da sua protecção
jurídica específica se deve, precisamente, à sua especial aptidão para potenciar um ambiente globalmente
adequado, ou, inversamente, na sua capacidade para, quando deteriorada, causar a perturbação global dos
sistemas ecológicos.
O direito de protecção da água é, assim, uma parte do direito do ambiente. Pode mesmo dizer-se que forma
parte do núcleo essencial do sistema jurídico-ambiental. A sua matriz axiológica é tipicamente jurídico-
ambiental e encontra suporte último na protecção constitucional do ambiente (cfr. art 9º alínea e) e art 66º da
CRP).
Este enquadramento dogmático tem uma clara expressão institucional na Lei Orgânica do Ministério do
Ambiente e do Ordenamento do Território (cfr. alínea c) do nº 2 do art. 1º do DL 120/2000, 8 de Novembro),
bem como na Lei Orgânica do INAG (cfr. art. 2º do DL 191/93, de 24 de Maio) onde indica ser atribuição
deste instituto «promover a conservação dos recursos hídricos nacionais do ponto de vista da quantidade e
da qualidade, nos seus aspectos físicos e ecológicos».
Note-se, também, que os planos de recursos hídricos são um instrumento de planeamento do direito do
ambiente. Isto significa que devem prosseguir fins jurídico-ambientais: a valorização, a protecção e a gestão
equilibrada dos recursos hídricos nacionais assegurando a sua harmonização com o desenvolvimento
regional e sectorial através da economia do seu emprego e racionalização dos seus usos (cfr. art. 2º do DL nº
45/94, de 22 de Fevereiro).
Uma última consequência dogmática da inclusão do direito da protecção da água no direito do direito do
ambiente é a relevância no primeiro dos princípios jurídicos gerais que enformam o segundo. O que, como é
óbvio, não prejudica a existência de vectores axiológicos sectoriais próprios do direito da protecção da água.
2.1.1.3. O Direito de Protecção da Água e Ramos do Direito Afins
Há um conjunto de normas jurídicas que têm por objecto o domínio hídrico e que não prosseguem fins
jurídico-ambientais. Trata-se, desde logo, da maior parte das regras de direito privado que regulamentam
direitos subjectivos de natureza real sobre a água (cfr. os arts. 1385º e ss. do Código Civil).
Há, por outro lado, um outro conjunto de normas de natureza jurídico-pública que definem o estatuto do
domínio público hídrico. De entre estas algumas normas prosseguem objectivos de natureza jurídico-
ambiental, como por exemplo, as que visam mitigar os efeitos das cheias e das inundações.
Mas há, também, algumas normas que não explicitam valores jus-ecolócicos. É o caso de algumas regras
que disciplinam o uso de terrenos do domínio hídrico, alguns aspectos associados à navegação e à flutuação
e que estabelecem determinadas servidões legais. É claro que tais regras não se incluem no direito de
protecção da água que, como vimos, é uma parte do direito do ambiente.
Há, ainda, um conjunto de normas de natureza jurídico-pública que regulamentam a prestação do serviço de
abastecimento de água para consumo público ou o serviço de recolha e tratamento de águas residuais ou a
produção e comercialização de energia eléctrica. Em tais normativos, também, é possível delimitar dois tipos
de regras. Uma zona normativa que – complementando o regime jurídico do aproveitamento do domínio
hídrico – regula o uso da água desde um ângulo jurídico-ambiental. E uma outra onde , desde a perspectiva
do direito público da economia, se visa, exclusivamente, assegurar a prestação de um serviço de modo
eficiente e adequado.
2.1.1.4. Fontes do Direito de Protecção da Água
A análise das fontes do direito de protecção da água visa identificar os vários tipos de actos normativos
relevantes neste domínio, de acordo com o âmbito de política a que correspondem (internacional,
comunitário, nacional, regional e autárquico) e com a sua natureza (convenções internacionais, actos de

2/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

direito comunitário originário e derivado, normas constitucionais, leis de valor reforçado, legislação
ordinária e actos normativos de natureza administrativa).
Não se pretende, porém, proceder a uma descrição exaustiva dos diplomas em causa, nem à análise do seu
conteúdo (matéria a propósito da qual se remete para a análise instrumental, procedimental e institucional),
trata-se de identificar os tipos de fontes específicas do direito de protecção da água, da sua relevância e das
suas relações.

2.1.2. Direito Internacional em Matéria de Águas


Para melhor enquadrar o regime jurídico emanado do Direito Internacional de protecção da água, importa
que se faça sumariamente alusão às fontes de direito mais importantes para a nossa ordem jurídica, bem
como à sua hierarquização relativamente ao nosso direito interno.
A Constituição da República Portuguesa de 1976, no seu Art.º8º, não estabelece uma hierarquia para o
Direito Internacional e para o Direito Comunitário, apenas regula a sua aplicabilidade na ordem jurídica
interna. Dispondo para o efeito da seguinte forma:
1. As normas e os princípios de direito internacional geral ou comum fazem parte integrante do direito
português.
2. As normas constantes de convenções internacionais regularmente ratificadas ou aprovadas vigoram na
ordem interna após a sua publicação oficial e enquanto vincularem internacionalmente o Estado
Português.
3. As normas emanadas dos órgãos competentes das organizações internacionais de que Portugal seja parte
vigoram directamente na ordem interna, desde que tal se encontre estabelecido nos respectivos tratados
constitutivos.
2.1.2.1. Normas e Princípios de Direito Internacional
Sob o nº1 do Artº8º, o Estado Português reconhece o primado do Direito Internacional, através de uma
cláusula geral de recepção automática plena, vigorando na ordem interna pela sua qualidade intrínseca de
norma internacional. Recebem este tipo de recepção na ordem interna, o costume internacional, os
princípios gerais de direito, e os tratados internacionais universais ou para-universais, que constituem
direito imperativo para o Estado Português, e ganham portanto um valor supraconstitucional.
O costume internacional, definido pelo Artº38º do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça, enquanto
prova de uma prática geral aceite como sendo de Direito constitui, se não a mais importante, pelo menos uma
das mais relevantes fontes de Direito Internacional das Águas. Contudo, pelo seu lento processo de formação
no tempo, e pela imprecisão do seu conteúdo, e por outro lado pela dificuldade de aceitação desta prática
como sendo de direito, a Assembleia Geral das Nações Unidas, na resolução 2669 (XXV) de 8 de Dezembro
de 1970, recomenda à Comissão de Direito Internacional em iniciar um estudo do direito relativo às
utilizações das águas extra-navegação, com vista ao desenvolvimento progressivo e codificação. Através
desta, as normas consuetudinárias são integradas em tratados, transformando-se em direito escrito. Este tipo
de tratados codificadores constitui uma excepção àquilo que foi dito anteriormente, na medida em que se
aplicam a todos os sujeitos de direito internacional, independentemente da sua adesão.
2.1.2.2. Convenções Internacionais, Tratados e Acordos
As convenções internacionais, tratados e acordos, vigoram na ordem jurídica interna através de uma cláusula
geral de recepção plena, embora mediante os seguintes pressupostos: de que sejam publicados oficialmente,
e regularmente ratificados ou aprovados. Até essa data o Estado Português não pode ser internacionalmente
responsável.
Embora não seja estabelecida a hierarquia destas fontes, a doutrina é mais ou menos unânime quanto ao facto
de que o Direito Internacional Convencional geral e comum, bem como o particular relativo aos Direitos do
Homem tem valor supraconstitucional, e que todo o restante Direito Convencional particular tem valor
infraconstitucional, mas supralegal. De referir ainda que, relativamente ao Direito Internacional das Águas,
as convenções internacionais, para além do costume internacional já mencionado, são também uma
importante fonte de direito. Por um lado, pelo seu papel codificador, e por outro, pela preferência que dão às

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medidas programáticas (ao contrário dos tratados clássicos que estabelecem normas vinculativas, baseadas
em relações de reciprocidade), pelas medidas de aplicação que devem ser tomadas pelas Partes, pela
instituição de mecanismos de controle, e pela criação de mecanismos de cooperação ou de utilização dos já
existentes.
Por último, quanto ao possível incumprimento dos tratados, ou é estabelecida a submissão de possíveis
litígios a um tribunal arbitral, mediante prévia aceitação das partes, ou é atribuída jurisdição obrigatória ao
Tribunal Internacional de Justiça.
Para enquadrar o regime jurídico das águas internacionais ao nível do Direito Internacional que obriga o
Estado Português, optou-se por analisar duas convenções-quadro multilaterais que poderão contribuir para
uma melhor compreensão daquilo que é considerado hoje, ao nível da comunidade internacional, o garante
mínimo da sua protecção e gestão.
A primeira convenção-quadro que suscitará a análise é a Convenção sobre a Protecção e a Utilização dos
Cursos de Água Transfronteiriços e dos Lagos Internacionais, adoptada a 17 de Março de 1992 em
Helsínquia, elaborada no quadro da Comissão Económica para a Europa das Nações Unidas, e que se
encontra em vigor desde 6 de Outubro de 1996 (D.R. nº219, Iª Série-A, de 22.09.98), tendo já sido ratificada
pelo Estado Português em 8 de Junho de 1994.
Esta Convenção tem por objectivo promover o reforço das medidas nacionais e internacionais relativas à
protecção ecológica e à gestão das águas superficiais e subterrâneas transfronteiriças, bem como melhorar a
aplicação efectiva dos tratados bilaterais e multilaterais concluídos entre os Estados ribeirinhos sobre essas
águas transfronteiriças. Esta convenção-quadro tem ainda a particularidade de ser o primeiro tratado
multilateral a regular as utilizações das águas internacionais desde a pouca conseguida Convenção de
Genebra de 1923, relativa ao desenvolvimento da energia hidroeléctrica afectando mais de um Estado. Por
último é de referir, o aditamento a esta convenção de um Protocolo sobre Água e Saúde, adoptado a 24 de
Março de 1999, que entrará em vigor após o depósito da décima sexta assinatura.
A segunda convenção-quadro multilateral - Convenção sobre o Direito dos Usos dos Cursos de Água
Internacionais para Fins Distintos dos da Navegação -, foi adoptada em Nova Iorque a 21 de Maio de 1997.
Os trabalhos desta convenção-quadro tiveram início há mais de vinte anos na Comissão de Direito
Internacional, tendo sido somente adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 24 de Maio de
1997. Esta Convenção tem como principal objectivo codificar as normas de direito consuetudinário pelas
quais os Estados se devem pautar nas negociações futuras sobre os cursos de água transfronteiriços. Assim,
retomando em grande parte as Regras de Helsínquia de 1966, e inspirada na teoria da soberania limitada
sobre os recursos em água transfronteiriços, vem regular nomeadamente sobre a unidade dos recursos, e
estipular como princípios gerais a obrigação de não causar danos significativos a outros Estados decorrentes
da utilização das águas transfronteiriças, a troca mútua de informação, o uso equitativo e razoável dos
recursos em água, entre outros. Porém, necessitando de trinta e cinco instrumentos de ratificação e não tendo
obtido mais do que dezasseis assinaturas e oito ratificações, à data de 13 de Setembro de 2000, não entrou
ainda em vigor. Assim, embora Portugal tenha assinado esta Convenção a 11 de Novembro de 1997, ela não
produz efeitos jurídicos de qualquer ordem. Não obstante, consideramos tratar-se de um elemento importante
para a análise daquilo que à escala europeia e mundial se entende relevante em matéria de gestão de águas
internacionais.
A necessidade de gerir de forma integrada os recursos em água, tendo em conta a sua unidade física, bem
como a necessidade de preservação dos ecossistemas, tem levado a que progressivamente os Estados
entendam as águas internacionais como um bem jurídico a partilhar, baseado em mecanismos de cooperação,
e já não como um curso de água internacional sobre o qual os Estados gozavam do direito de soberania
absoluta sobre os mesmos, numa perspectiva utilitarista e económica. A bacia hidrográfica como unidade de
gestão fundamental parece ser, por outro lado, a unidade mais viável de luta contra a poluição de forma
integrada, à qual se tende actualmente a agregar ainda parcelas cada vez mais importantes de águas costeiras
e marítimas.
Na Convenção de Helsínquia, segue aquilo que vem de se expor, adoptando-se a bacia hidrográfica ou parte
dela, enquanto unidade de gestão para fixar os objectivos de prevenção, controlo e redução do impacto
transfronteiriço, a protecção do ambiente das águas transfronteiriças, ou do ambiente no qual estas águas
exerçam influência, nomeadamente ao nível do ambiente marinho. Já na Convenção de Nova Iorque, a noção

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de bacia hidrográfica ou de gestão integrada é esquecida, fazendo-se antes referência aos cursos de água
internacionais.
Na Convenção de Helsínquia, os objectivos de qualidade são estabelecidos numa óptica de luta contra a
poluição de forma integrada, isto é, não isolando a protecção das águas transfronteiriças do resto das outras
massas de água e dos outros componentes ambientais, nomeadamente o solo, entendendo que para alcançar
este fim, será necessário ter em conta os níveis de eutrofização e acidificação das águas, assim como a
poluição de origem telúrica do meio marinho, principalmente das zonas costeiras. É respeitada portanto, a
inter-relação entre águas continentais, águas marinhas e costeiras. Alguns dos objectivos preconizados pela
Convenção são: a gestão racional e ecologicamente equilibrada; a conservação dos recursos hídricos e a
protecção ambiental; o reforço das medidas tomadas a nível nacional e internacional em matéria de
prevenção, controle e redução da quantidade de substâncias perigosas lançadas no meio aquático,
nomeadamente nos casos em que possam vir a ter um impacto transfronteiriço. Medidas essas que devem
ser efectuadas, de preferência, na fonte.
A Convenção fixa ainda algumas medidas que devem ser tomadas ao nível nacional com vista a consolidar
os objectivos acima citados:
- evitar, controlar e reduzir na fonte, a emissão de poluentes, através da aplicação de tecnologias pouco
poluentes ou limpas para reduzir as descargas de nutrientes provenientes de fontes industriais, urbanas,
e fontes difusas
- proteger as águas transfronteiriças contra a poluição proveniente de fontes pontuais através de um
sistema de licenciamento prévio das descargas de águas residuais da responsabilidade das autoridades
nacionais competentes, e que as descargas autorizadas sejam monitorizadas e controladas, e que sejam
postos em funcionamento planos de contingência;
- aplicar a avaliação de impacto ambiental e outros meios de avaliação.
Caberá ainda aos Estados Parte, baseando-se na melhor tecnologia possível, fixar limites de emissão para as
descargas de fontes pontuais em águas de superfície, aplicáveis em particular aos diferentes sectores
industriais, bem como proibirem total ou parcialmente a produção ou emprego de tais substâncias.
Na Convenção de Nova Iorque os objectivos estabelecidos em matéria de qualidade da água traduzem-se
num dever geral de, individual ou conjuntamente, prevenir, reduzir e controlar a poluição das águas
partilhadas, nomeadamente quando esta possa causar dano significativo a outros Estados ribeirinhos ou ao
seu ambiente, incluindo dano para a saúde pública ou segurança, ou para a utilização das águas para qualquer
fim benéfico, ou ainda para os recursos vivos do curso de água internacional. Nesse sentido, a convenção
estabelece um dever geral para os Estados Parte em harmonizar as suas políticas tendo em conta este fim,
prevendo, por mecanismo de consulta a pedido de uma das partes, o estabelecimento conjunto de objectivos
e critérios de qualidade da água, de técnicas e práticas para responder à poluição de origem pontual e difusa,
e listagem de substâncias cuja introdução nas águas seja proibida, limitada, investigada ou monitorizada.
No que diz respeito às utilizações preexistentes, as duas convenções em análise dispõem sobre o assunto de
forma diametralmente oposta. Enquanto que a Convenção de Helsínquia estabelece um dever de adaptação
dos acordos bilaterais ou multilaterais, ou outras disposições, aos princípios fundamentais da convenção, a
Convenção de Nova Iorque, em nada afecta os direitos e obrigações de um Estado ribeirinho que advenham
de acordos preexistentes à data em que este se torna parte desta convenção.
Na Convenção de Helsínquia, é estabelecido o dever de as partes fixarem, ao nível nacional, um sistema de
licenciamento prévio das descargas de águas residuais com vista a assegurarem a protecção das águas
transfronteiriças contra a poluição proveniente de fontes pontuais.
Quanto aos deveres de recolha e tratamento de informação sobre o estado das águas transfronteiriças, a
Convenção de Helsínquia estipula que os órgãos conjuntos criados no âmbito de acordos ou disposições,
devem ter entre as suas atribuições, nomeadamente: recolher, compilar e avaliar dados a fim de identificar as
fontes de poluição passíveis de causar um impacto transfronteiriço; estabelecer formas de alerta e de alarme;
fazer inventários e troca de informações sobre as fontes de poluição passíveis de causar um impacto
transfronteiriço; elaborar programas conjuntos de monitorização da água do ponto de vista qualitativo e
quantitativo; concretizar programas de acção concertados para redução das cargas de poluição, tanto a partir

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de fontes pontuais como de fontes difusas; definir objectivos e critérios conjuntos de qualidade das águas;
servir de enquadramento para o intercâmbio de informações sobre as utilizações das águas actuais e previstas
e das respectivas instalações, que ameacem ter um impacto transfronteiriço. Para estes efeitos, e a fim de
harmonizarem os limites de emissão de poluentes, devem as Partes ribeirinhas trocar informações sobre as
suas regulamentações nacionais. Ainda neste espírito de acesso à informação entre as Partes ribeirinhas,
sempre que uma parte solicitar à outra parte dados ou informações que não estejam disponíveis, deverá esta
esforçar-se nesse sentido, podendo, contudo, condicionar essa informação ao pagamento dos encargos
correspondentes à recolha, ou processamento da informação pretendida. Este dever de informação, sofre no
entanto algumas derrogações quando estejam em causa informações relacionadas com o segredo industrial e
comercial e também da propriedade intelectual ou da segurança de um Estado.
Decorrente da obrigação geral de cooperação, a Convenção de Nova Iorque estabelece um dever de troca de
informação regular de dados e informação sobre as condições do curso de água internacional, em particular
aquelas que dizem respeito à sua natureza hidrológica, meteorológica, hidrogeológica e ecológica, assim
como aquela relacionada com a qualidade da água. Tal como a Convenção de Helsínquia, também esta
convenção prevê que para a informação que não esteja disponível, o Estado deve fazer o seu melhor para
satisfazer o pedido, mas pode condicioná-lo ao pagamento dos encargos correspondentes à recolha, ou
processamento da informação pretendida. Este dever de informação regular sofre derrogação quando
estiverem em causa informações vitais para a defesa nacional ou segurança nacional.
A Convenção de Helsínquia de 1992, estabelece que as Partes ribeirinhas deverão assegurar que as
informações relativas às águas transfronteiriças, bem como as medidas tomadas ou previstas para prevenir,
controlar e reduzir o impacto transfronteiriço e a eficácia destas, sejam acessíveis ao público, em qualquer
momento oportuno, e que se possa tomar conhecimento delas gratuitamente.
Do regime das águas instituídos nos instrumentos convencionais em apreço, pode-se concluir que daí
resultam obrigações precisas para Portugal. Falamos naturalmente das obrigações decorrentes da Convenção
de Helsínquia em particular, pois da Convenção de Nova Iorque não resultam ainda quaisquer tipo de
obrigações para Portugal, uma vez que esta não se encontra ainda em vigor. Abandonadas as disposições
convencionais que reconheciam aos Estados o direito de soberania absoluta sobre as suas águas
internacionais, numa perspectiva sobretudo económica e utilitarista dos recursos (atinente aos usos da
navegação e da exploração hidroeléctrica das águas internacionais), os instrumentos convencionais mais
recentes analisados neste estudo, orientam-se para uma abordagem holística e integrada associadas à ideia de
desenvolvimento sustentável das águas internacionais, através da qual são estabelecidos novos deveres para
os Estados, nomeadamente no que diz respeito ao estabelecimento de critérios ecológicos para a qualidade
das águas e de preservação dos ecossistemas. Deveres que passam a ser enquadrados ao nível de políticas,
estratégias e programas de forma concertada, acarretando ao mesmo tempo a responsabilidade de assegurar
que as actividades desenvolvidas no espaço jurisdicional de cada Estado ribeirinho não causem dano
ambiental a outro Estado(s) ribeirinho(s), bem como a possíveis Estado(s) costeiro(s). Ora, todo este
conjunto de deveres que estes instrumentos internacionais consubstanciam, bem como as restrições neles
impostas, devem ser estabelecidos numa plataforma da cooperação, de forma a harmonizar utilizações
passíveis de causar dano ao ambiente com vista a uma gestão sustentável dos recursos. Esta, por sua vez,
deverá ser feita independentemente das fronteiras administrativas dos Estados, respeitando antes a unidade
física dos recursos em água, enquanto componente ambiental e, por outro lado, deverá integrar os efeitos
adversos da actividade humana com repercussões pontuais ou difusas sobre as águas costeiras e marítimas.
Esta visão holística ou integradora carece, não tanto de definições jurídicas precisas - pela própria evolução
científica e técnica destas matérias - mas sim da vontade política dos Estados (como se pode constatar das
negociações da Convenção de 1997) em assumir a bacia hidrográfica, como unidade fundamental de gestão e
de precaução, para um desenvolvimento sustentável dos seus recursos em água.
2.1.2.3. Evolução do Direito Internacional
A regulamentação das águas internacionais partilhadas ou transfronteiriças tem-se tornado cada vez mais
uma necessidade premente, sobretudo, e na medida em que os reservatórios em água a serem partilhados por
dois ou mais países, se têm vindo a caracterizar cada vez mais pela sua escassez e pela sua falta de qualidade.
Também os conflitos sobre as utilizações deste recurso, são por vezes difíceis de superar atendendo a que
metade das bacias hidrográficas são partilhadas. Mais especificamente, existem no mundo 240 bacias

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internacionais e um número indeterminado de cursos de água partilhados entre dois ou mais Estados
ribeirinhos.
É neste sentido que a procura de modalidades de partilha e de protecção do recurso entre Estados ribeirinhos
constitui um desafio para o direito internacional, que pretende responder a esta missão através de disposições
regulando a partilha do recurso, a regulamentação dos usos, a fiscalização e controle da qualidade das águas,
bem como a definição de princípios de gestão a serem aplicados conjuntamente pelas autoridades
competentes.
Até metade do séc. XX, o Direito Internacional dos recursos hídricos limitou-se a regular a partilha e
exploração dos rios para usos bastante específicos (a utilização para fins de navegação e a exploração
hidroeléctrica) e a tentar, embora com algumas dificuldades, a sua utilização com fins adversos à sua
preservação.
Foi sobretudo nos últimos 50 anos que outros usos das águas internacionais se começaram a desenvolver, em
particular para fins de irrigação e abastecimento de água; que levaram por sua vez à adopção de numerosos
tratados relativos às águas internacionais ou partilhadas, mas em que as questões de protecção e preservação
dos recursos hídricos (de superfície e subterrâneos) foram sido preteridas pelos Estados ribeirinhos, mais
atraídos pelo carácter utilitário destes recursos.
De facto, não obstante este processo de regulamentação dos usos das águas internacionais partilhadas, se ter
iniciado a partir do séc. XIX (tendo em conta a multiplicação de formação de Estados na época), dos 286
tratados actualmente em vigor, apenas 61 dizem respeito a bacias internacionais, exactamente pelas
dificuldades que acima enunciámos quanto às dificuldades de desenvolver modalidades de partilha e de
protecção dos recursos hídricos. Pelo que o número e o objecto destes tratados resta ainda limitado e tão
pouco é respeitado na íntegra pelos respectivos Estados signatários.
Apesar deste cenário um pouco nebuloso, foram desenvolvidos importantes princípios gerais de direito
internacional (a maior parte de origem consuetudinária) em matéria de utilização partilhada dos recursos
hídricos (utilização equitativa e razoável dos recursos partilhados; obrigação de não causar dano
significativo; obrigação de cooperar, entre outros).
Se as convenções acima referidas faziam jus à primazia de preocupações económicas sobre a protecção e
preservação dos recursos hídricos, as convenções de carácter mais geral, visam a protecção e a utilização das
águas doces na sua globalidade, nomeadamente através da definição de alguns princípios de integração
quanto à gestão dos recursos hídricos.
Essa gestão integrada deverá exprimir particularmente a ideia de que os recursos hídricos devem ser geridos
de um modo holístico, coordenando e integrando todos os aspectos e funções da extracção de água, controlo
de água e prestação de serviços relacionados com a água, de forma a trazer benefícios sustentáveis e
equitativos para todos os que dependem deste recurso.
Esta ideia tem de facto uma aplicação muito concreta ao nível das bacias hidrográficas internacionais, na
medida em que esta gestão integrada implica uma tentativa concertada de moderação das exigências
competitivas ou conflituosas entre utilizadores. Implicando um processo dinâmico e interactivo que envolva
uma consultoria em todos os sectores, um nível elevado de comunicação, e uma estruturação institucional,
legal e financeira apropriada.
Por sua vez, esta gestão integrada dos recursos hídricos, tem levado à promoção da bacia hidrográfica
internacional como unidade primordial de gestão.
Neste tipo de convenções a bacia hidrográfica internacional é entendida como a unidade mais viável de luta
contra a poluição de forma integrada, à qual se tende ainda a agregar parcelas cada vez mais importantes de
águas costeiras e marítimas.
A Convenção para Prevenção da Poluição Marítima Causada por Operações de Imersão Efectuadas por
Navios e Aeronaves, concluída em Oslo em 15 de Fevereiro de 1972 (D.L. 491/72 de 6/12), em vista de se
“(...) lutar contra a poluição dos mares por substâncias susceptíveis de colocar em perigo a saúde do
homem, de afectar os recursos biológicos, a fauna e a flora marinhas, de prejudicar as possibilidades de
recreio ou dificultar quaisquer outras utilizações legítimas do mar (...)” (artº 1º).

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 7/66 (2 - II)


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Com a Convenção de Oslo criou-se uma Comissão, composta por representantes de cada uma das Partes
Contratantes, tendo por atribuições a aplicação e o desenvolvimento das disposições acordadas. O Decreto
os
do Governo nº 20/87, de 13 de Maio, e os Decretos n 4/90, de 16 de Janeiro, e 13/92, de 20 de Fevereiro,
aprovaram, para ratificação, sucessivas emendas a essa Convenção.
O Decreto nº 1/78, de 7 de Janeiro, aprovou, para ratificação, a Convenção para a Prevenção da Poluição
Marinha de Origem Telúrica, concluída em Paris em 4 de Junho de 1974, tendo por objecto evitar-se a
poluição do mar “(...) o que significa a introdução pelo homem, directa ou indirectamente, de substâncias ou
de energia no meio marinho, nele se compreendendo os estuários, conduzindo a consequências tais a pôr em
perigo a saúde humana, a afectar os recursos biológicos e o ecossistema marinho, a prejudicar as
possibilidades de recreio ou dificultar quaisquer outros usos legítimos do mar (...)” (artº 1º).
Semelhantemente à Convenção de Oslo, também com esta se criou uma Comissão para efeitos da aplicação e
desenvolvimento das disposições nela contidas. O Decreto nº 25/88, de 2 de Setembro, aprovou, para
ratificação, emendas à Convenção de Paris.
Da fusão das duas Convenções celebrada em Paris em 22 de Setembro de 1992, resultou uma outra,
designada por Convenção para a Protecção do Meio Marinho do Atlântico Nordeste abreviadamente
Convenção OSPAR, que foi aprovada, para ratificação, pelo Decreto nº 59/97, de 31 de Outubro. A
Convenção OSPAR criou uma Comissão com atribuições da mesma natureza das atribuídas por aquelas
Convenções às respectivas Comissões.
Das Convenções celebradas relativamente à natureza (Ramsar, Washington, Berna e Bona), a que tem por
âmbito as Zonas Húmidas de Importância Internacional Especialmente como “Habitat” de Aves Aquáticas,
concluída em Ramsar, no Irão, em 2 de Fevereiro de 1971, será a que implica mais considerações
relativamente aos recursos hídricos. A Convenção Ramsar foi aprovada, para ratificação, pelo Decreto
nº 101/80, de 9 de Outubro, tendo sido igualmente aprovadas, para ratificação, várias emendas pelo Decreto
do Governo nº 33/84, de 10 de Julho, e pelo Decreto nº 34/91, de 30 de Abril. No nº 1 do seu artº 1º as zonas
húmidas são definidas como “(...) áreas de pântano, charco, turfa ou água, natural ou artificial, permanente
ou temporária, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo áreas de água
marítima com menos de seis metros de profundidade na maré baixa. (...)”. Nos termos do nº 1 do artº 8º “(...)
a União Internacional para a Conservação da Natureza e Recursos Naturais assegurará as funções do
bureau permanente ao abrigo desta Convenção, até que seja nomeada outra organização ou outro Governo
pela maioria de dois terços de todas as Partes Contratantes. (...)”. Segundo o nº 2 do artº 9º “(...) qualquer
membro das Nações Unidas ou de uma das suas instituições especializadas ou da Agência Internacional da
Energia Atómica ou partidário do estatuto do Tribunal Internacional de Justiça pode tornar-se membro
desta Convenção (...)”, sendo explicitados, em continuação, os modos de tal concretização.

2.1.3. Quadro Jurídico da União Europeia sobre Recursos Hídricos


Num quadro geográfico mais restrito - o espaço da União Europeia -, outro tipo de disposições foram
criadas, de valor idêntico, se não superior, ao das disposições constantes nas convenções internacionais sobre
recursos hídricos acima referidas. Desde já, pela particular importância que têm vindo a conceder às
questões relacionadas in(directamente) com a qualidade da água com vista às suas variadas utilizações, o que
não deixa de servir de exemplo, ou mesmo de modelo para as futuras convenções internacionais a serem
desenvolvidas. Pois até ao presente, apenas a Convenção sobre o Direito dos Usos dos Cursos de Água
Internacionais para Fins Distintos dos da Navegação de 1997, regulamentou de forma mais específica as
utilizações de todos os cursos de água, a qual, por mera falta de vontade política dos Estados, ainda não está
em vigor.
Nesta análise comentar-se-ão os princípios orientadores da União Europeia em matéria de ambiente, as
directivas mais relevantes no domínio das águas, e posteriormente à reforma com que essa mesma legislação
comunitária se debate, através da entrada em vigor da Directiva 60/2000/CE, que estabelece um quadro de
acção comunitária no domínio da política da água.
Se no plano internacional existe uma tendência geral para a codificação do direito das águas internacionais,
bem como para o desenvolvimento de outros instrumentos de regulação suficientemente capazes de darem
resposta às necessidades de protecção e de gestão sustentável, presentes e futuras, das águas internacionais,

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no plano comunitário, o mesmo sentimento tem envolvido os trabalhos da União Europeia, nomeadamente
pelas mãos das suas principais instituições: Parlamento Europeu, Comissão, e Conselho.
Se no Tratado de Roma não se faz menção às questões relacionadas com o ambiente, enquanto um dos
objectivos a desenvolver pelas Comunidade Económica Europeia, já na década de 70 a mesma questão
começa a ser enfatizada, cedo aparecendo as preocupações ligadas à protecção das águas. É no entanto com o
Acto Único Europeu de 1986 que a questão é relançada, sendo oficialmente inscrita nos Artigos 130 R e T
do Tratado, enquanto uma das acções a desenvolver pela UE. Na mesma senda dispõe o Tratado da União
Europeia (Tratado de Maastricht) no seu Artº130 R (Título XVI "Ambiente"), quando determina que a
política da Comunidade em matéria de ambiente se deve pautar pelos princípios abaixo enunciados.
2.1.3.1. Direito Comunitário Derivado
Quanto ao Direito Comunitário Derivado (constituído pelas normas e actos emanados dos órgãos
comunitários) o seu sistema de aplicação na ordem jurídica interna é o da aplicabilidade directa dos
regulamentos e o do efeito directo das directivas, embora a CRP seja omissa quanto às últimas.
Os regulamentos, enquanto fonte principal de Direito Comunitário, constituem normas vinculativas para os
Estados em todos os seus elementos, e são directamente aplicáveis na ordem jurídica interna. Não precisam
por isso de obedecer aos pressupostos de recepção no direito interno, tal como acontece relativamente às
convenções internacionais. Já as directivas obrigam o Estado quanto a um determinado resultado a alcançar,
mas deixam às autoridades nacionais a liberdade quanto à forma e quanto aos meios de acção para chegar a
esse resultado.
Para que este Direito Comunitário entre em vigor a nível nacional, é muitas vezes necessário que o Estado
adapte a legislação, as estruturas e procedimentos administrativos, a fim de serem conformes aos
regulamentos e directivas emanados da ordem jurídica internacional. Para assegurar o cumprimento destas
normas comunitárias, a Comissão da União Europeia supervisiona a sua execução pelos Estados, quer
através de meios mais informais quer através do recurso ao Tribunal de Justiça, o qual assegura em última
instância o cumprimento do Direito Comunitário.
Quanto à hierarquia na ordem jurídica interna deste direito, entende-se que o Direito Comunitário -
originário e derivado - prevalece sobre o direito interno, e portanto, é-lhe atribuído valor supraconstitucional.
2.1.3.2. Evolução do Direito Comunitário dos Recursos Hídricos
O normativo comunitário sobre os recursos hídricos, embora não seja tão extensível, quer ao nível espacial
quer ao nível temporal, como é o caso do Direito Internacional congénere, tem produzido desde a década de
70 um conjunto de disposições de importância substancial para a melhoria das águas "partilhadas" dentro das
fronteiras comunitárias.
Dentro deste acervo comunitário, é usual distinguirem-se três gerações, correspondentes aos vários estádios
de evolução do direito comunitário nesta matéria. Assim, vejamos:

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 9/66 (2 - II)


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Directivas de Primeira Geração


Dentro destas normas ditas de primeira geração, produzidas ao longo da década de 70, podem ainda
distinguir-se dois grupos de normas - normas de qualidade e normas de emissão ou "normas combinadas"-
caracterizadas sobretudo pela análise parcial dos aspectos ligados à água e à protecção dos ecossistemas em
que elas se inserem.
i) Normas de qualidade
Este primeiro grupo de normas, visa estabelecer objectivos de qualidade. Esses objectivos são quantificados
a partir dos poluentes admissíveis numa dada massa de água considerada, e deixam aos Estados a escolha
dos meios para atingir esses objectivos.
São o caso das seguintes directivas: Directiva 75/440/CEE do Conselho de 16 de Junho de 1975, sobre a
qualidade das águas superficiais destinadas à produção de água potável, a qual será revogada com efeitos
sete anos a contar da entrada em vigor da futura Directiva-Quadro da Água; Directiva 76/160/CEE do
Conselho de 8 de Dezembro de 1975, sobre a qualidade das águas balneares; Directiva 80/778/CEE do
Conselho de 15 de Junho de 1980, sobre a qualidade da água para consumo humano; Directiva 78/659/CEE
do Conselho de 18 de Julho de 1978, relativa à qualidade das águas doces que necessitam de ser protegidas
ou melhoradas a fim de estarem aptas para a vida dos peixes, a qual será revogada com efeitos treze anos a
contar da entrada em vigor da Directiva-Quadro da Água; e da Directiva 79/923/CEE do Conselho de 30 de
Outubro de 1979, sobre normas de qualidade das águas conquícolas, a qual será revogada com efeitos treze
anos a contar da entrada em vigor da Directiva-Quadro da Água;
Grosso modo, podemos encontrar os seguintes pontos em comum nas directivas que acabámos de assinalar: é
deixada à vontade dos Estados-membros a possibilidade de designar as águas sobre as quais as disposições
destas directivas irão recair; são determinados parâmetros, para os quais valores-guia são fixados;
estabelecem-se valores imperativos que a serem respeitados, constituem acima de tudo valores de orientação
para os Estados-membros; é fixada a elaboração e execução de programas de saneamento ao nível nacional,
com vista a alcançar os objectivos fixados pelas directivas referidas; os objectivos de qualidade preconizados
pelas directivas, devem ser respeitados quer ao nível nacional quer ao nível transfronteiriço; para os
objectivos de qualidade fixados, são previstas em cada uma das directivas, certas derrogações para os
Estados-membros, sem que contudo, possam as mesmas negligenciar os imperativos da saúde pública; os
Estados-membros deverão ainda adaptar ou criar novas disposições legislativas, regulamentares e
administrativas para dar cumprimento a cada uma destas directivas e aos seus respectivos anexos.
Apesar deste esforço normativo, assistiu-se a um fracasso na aplicação das directivas relativas à qualidade
das águas, devido não somente ao seu cumprimento pouco rigoroso pelos Estados-membros, mas também ao
conteúdo imperfeito das mesmas.
ii) Normas de emissão ou "normas combinadas"
Este segundo grupo de normas visa fixar, com vista à protecção dos meios aquáticos, valores-limite de
poluentes a rejeitar nas águas. Há ainda quem defenda que este grupo de normas - apesar de visar
primordialmente a fixação de valores-limite de emissão- adopta uma abordagem entre normas que
estabelecem valores-limite de emissão e normas que estabelecem objectivos de qualidade, designando-as
como tal, por "normas combinadas". É este o caso da Directiva 76/464 CEE, bem como das suas directivas
"filhas" sobre a rejeição de substâncias perigosas: Directiva 80/68/CEE do Conselho, de 17 de Dezembro de
1979, relativa à protecção das águas subterrâneas contra substâncias perigosas; Directiva 82/176/CEE do
Conselho, de 22 de Março de 1982, relativa às normas de qualidade para as descargas de mercúrio do sector
da electrólise dos cloretos alcalinos; Directiva 83/513/CEE do Conselho, de 26 de Setembro de 1983
relativa às descargas de cádmio; Directiva 84/156/CEE do Conselho, de 8 de Março de 1984 relativa às
descargas de mercúrio de sectores que não o da electrólise dos cloretos alcalinos; Directiva 84/491/CEE do
Conselho, de 12 de Junho de 1984 relativa às normas de qualidade para as descargas de
hexaclorociclohexano; Directiva 86/280/CEE do Conselho, de 12 de Junho de 1986 relativa aos valores-
limite e aos objectivos de qualidade para as descargas de certas substâncias perigosas incluídas na lista I do
Anexo da Directiva 76/464/CEE.

10/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

Para cada uma das substâncias perigosas, que as directivas acima citadas visam regulamentar, apontam-se as
seguintes características comuns: definição de cada uma dessas substâncias; valores-limite para as normas de
emissão; objectivos de qualidade para o meio aquático: enumerados no Anexo III de cada uma das directivas,
e devendo ser respeitados na região afectada pelas descargas das substâncias que visam regulamentar;
estabelecimento pelos Estados-membros de programas específicos para as descargas de algumas destas
substâncias, tendo como objectivo comum evitar ou eliminar a poluição, nomeadamente através de medidas
e técnicas mais apropriadas para assegurar a substituição, a retenção e a reciclagem desse tipo de substâncias;
prazos para o cumprimento das condições previstas pelas autorizações concedidas pelas autoridades
competentes dos Estados-membros, para as descargas existentes; métodos padrão de medição que permitam
determinar o teor para cada uma das substâncias em causa nas descargas e no meio aquático; colaboração
entre os Estados-membros, no caso de as descargas afectarem as águas de diversos Estados-membros; os
Estados-membros devem ainda comunicar à Comissão o texto das disposições de direito nacional adoptadas
no domínio das presentes directivas.
No que se refere às normas de emissão ou normas combinadas, também elas receberam uma fraca aceitação
pelos Estados-membros. De facto, o volume de programas enviados à Comissão foi escasso, e muitos dos
objectivos de qualidade para essas substâncias não foram estabelecidos. Acrescem, ainda, a este quadro,
dificuldades quanto à fixação de valores-limite, de compatibilidade entre as normas de emissão com os
objectivos de qualidade, de controlo sobre o cumprimento das disposições estabelecidas e das autorizações
acordadas, bem como quanto aos métodos de medição fixados pelos Estados-membros.
Directivas de Segunda Geração
As directivas que passamos a analisar, são consideradas normas de segunda geração pelo acréscimo de
sensibilidade ambiental que apresentam relativamente às normas de qualidade, e pela abordagem mais
imparcial dos conteúdos que visam legislar, no sentido de não se tratar separadamente problemas
relacionados com o ecossistema no seu todo.
Verifica-se também, uma maior consolidação dos princípios orientadores da política comunitária em matéria
de água. São elas: a Directiva 91/271/CEE do Conselho de 21 de Maio de 1991, relativa ao tratamento de
águas residuais urbanas, pela qual cabe aos Estados-membros estabelecer uma lista das zonas sensíveis e das
zonas menos sensíveis que recebem águas tratadas); a Directiva 91/676/CEE do Conselho de 12 de
Setembro de 1991, sobre a protecção das águas contra a poluição causada por nitratos de origem agrícola,
particularmente importante pela criação de programas de acção para as zonas vulneráveis, entendidas como
as que drenam para águas poluídas ou susceptíveis de serem poluídas; e a Directiva 96/61/CE do Conselho
de 24 de Setembro de 1996, relativa à prevenção e controlo integrados da poluição , que prevê medidas
destinadas a evitar e/ou reduzir as emissões dessas actividades para o ar, a água e o solo, incluindo medidas
relativas aos resíduos, de modo a alcançar-se um nível elevado de protecção do ambiente considerado no seu
todo.
Para além de disposições relativas a certas zonas especiais de protecção para determinados meios aquáticos,
de sistemas de regulamentação e/ou de autorização prévia, de um controlo acrescido da Comissão (quer ao
nível substancial, quer quanto à periodicidade das informações) sobre a aplicação destas directivas pelos
Estados-membros, e de uma maior concertação quanto ao cumprimento dos objectivos preconizados ao nível
transfronteiriço, e do acesso ao público a determinadas informações pertinentes quanto à aplicação efectiva
dessas disposições (Directiva 96/61/CE ), não existem outros pontos relevantes a salientar.
Quanto à aplicação destas directivas pelos Estados-membros, também aqui surgiram dificuldades. É o caso
da Directiva 91/676/CEE e da Directiva 91/271/CEE, cujos disposições por elas fixadas, ficaram bastante
aquém da aplicação pelos Estados-membros, devido à estipulação de objectivos e medidas, e prazos
demasiadamente ambiciosos e financeiramente difíceis de concretizar.
Relativamente à Directiva 96/61/CE, ela teve o mérito de introduzir ao nível comunitário uma abordagem
integrada da poluição de origem industrial.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 11/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

Reforma da Política Comunitária dos Recursos Hídricos e a Directiva-Quadro da Água


Depois de duas tentativas de abordagem mais ou menos falhadas- uma na década de 70, e outra no início dos
anos 90 - o que se deve imputar não só responsabilidades aos Estados-membros pela falta de cumprimento
mas, também, a deficiências substanciais do normativo comunitário e ao escasso controle da Comissão - é de
salientar o apelo lançado em 1995 pelo Conselho e pelo Parlamento Europeu em favor de um novo exame da
política comunitária da água. A Comissão responde a este apelo em Fevereiro de 1996 (COM(96)56 Final)
sobre a necessidade de elaborar uma directiva quadro, que reformasse e eliminasse algumas incongruências e
insuficiências do quadro comunitário sobre os recursos hídricos.
Uma proposta de directiva com vista a instituir um quadro de acção comunitário no domínio da água,
apresentada pela Comissão em 26 de Fevereiro de 1997, vem dar início a este processo. Processo que, pelas
dificuldades de harmonizar os vários (des)interesses dos Estados-membros, levou a múltiplas alterações da
proposta inicial.
É sobre a Directiva que estabelece um quadro de acção comunitária no domínio da política da água que se
encerra esta breve abordagem ao Direito Comunitário dos recursos hídricos. Para isso, atende-se às
inovações por ela introduzidas, em contraponto com o que foi analisado precedentemente.
Desde já, a Directiva-Quadro da Água tem o mérito de acrescentar ao normativo comunitário sobre recursos
hídricos, um princípio fundamental para a sua gestão global: o da bacia hidrográfica ou bacia versante, como
unidade de gestão, com vista a integrar os vários tipos de massas de águas acima referidos, bem como os
ecossistemas que lhes estão associados e que deles dependem. Trata-se de um aspecto fundamental para uma
regulamentação eficaz de luta contra a poluição, e que as anteriores directivas comunitárias não tinham
apontado como princípio orientador de gestão.
Para a prossecução deste objectivo, a directiva estipula que os Estados-membros, devem identificar as bacias
hidrográficas que se encontram no seu território, e inclui-las em regiões hidrográficas. Enquanto que para as
bacias hidrográficas internacionais, os Estados-membros devem designar uma região hidrográfica
internacional.
Os Estados-membros devem ainda garantir a elaboração de um Plano de Gestão de bacia hidrográfica, para
cada região hidrográfica inteiramente situada no seu território.
Essa gestão integrada ao nível da bacia hidrográfica, passa pela protecção global das diversas massas de
águas, onde se incluem as águas interiores, de superfície e subterrâneas, os estuários e as águas costeiras da
União Europeia, e ainda as águas marinhas. Esta visão integrada das águas, e das interacções entre as águas
interiores e marítimas, constitui um ponto importante desta directiva, já que o mesmo tinha sido esquecido na
legislação comunitária anterior.
Esta protecção global dos recursos é também assegurada por uma “abordagem combinada” entre a fixação
de valores limite de emissão para as substâncias poluentes e a fixação de objectivos de qualidade; bem como
uma abordagem combinada entre objectivos de qualidade e objectivos de quantidade para as águas de
superfície e subterrâneas.
Só uma “abordagem combinada”, que tenha em consideração as águas de superfície e as águas subterrâneas
pode respeitar a sua interacção natural, quer ao nível qualitativo, quer ao nível quantitativo. Esta “abordagem
combinada” passa ainda pela associação entre objectivos ambientais de qualidade da água e de redução da
poluição na fonte. Para o efeito são utilizados meios específicos de controlo, designadamente: programas de
monitorização das águas de superfície, subterrâneas e zonas protegidas, por forma a garantir uma análise
coerente e exaustiva do estado das águas em cada uma das regiões hidrográficas, com base em parâmetros
ecológicos e químicos, quantitativos e qualitativos; informação acrescida do público, nomeadamente quanto
à implementação dos planos de bacia hidrográfica; e dever de informação à Comissão, que impõe aos
Estados-membros o envio de cópias dos planos de gestão das bacias hidrográficas (e também o envio a
qualquer outro Estado-membro directamente interessado), bem como de todas as actualizações posteriores.
É também instituído o princípio poluidor-pagador. Para o efeito prevê-se que todas as utilizações da água
sejam objecto de uma análise económica, em que se tenha em linha de conta a amortização dos custos dos
serviços hídricos; e que as políticas de estabelecimento de preços de água forneçam incentivos adequados

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para que os consumidores utilizem eficazmente a água, e assim contribuam para os objectivos ambientais
desta directiva.
Finalmente, a Directiva-Quadro da Água, ao proceder a uma avaliação da legislação comunitária
preexistente, e ao introduzir este programa ambicioso, mas esperado, de medidas adequadas a uma
verdadeira política de gestão global dos recursos hídricos, conduz a uma revisão das directivas analisadas,
em especial as de primeira geração, primando pela revogação de umas, e pela subsistência de outras.

2.1.4. Contexto Jurídico das Relações Bilaterais


À parte do Convénio entre Portugal e Espanha para Regular o Aproveitamento Hidroeléctrico do Troço
Internacional do Rio Douro de 1927, os principais acordos relativos aos recursos hídricos luso-espanhóis
datam da década de 70: Convénio Luso-Espanhol para Regular o Aproveitamento Hidroeléctrico dos Troços
Internacionais do Rio Douro e seus Afluentes e Protocolo Adicional, ambos de 1964 - que revoga o
Convénio de 1927 tal como figura no seu Artº25º - ; e Convénio entre Portugal e Espanha, para entre
Portugal e Espanha, para Regular o Uso e o Aproveitamento Hidráulico dos Troços Internacionais dos Rios
Minho, Lima, Tejo, Guadiana, Chança e seus Afluentes e Protocolo Adicional, ambos de 1968. Estes dois
convénios dizem respeito unicamente aos troços fronteiriços dos rios com vista à sua utilização para efeitos
de produção hidroeléctrica, explicitando para cada um dos rios, quais os trechos fronteiriços a serem
aproveitados respectivamente por Portugal e por Espanha. Tem por objectivo assegurar uma distribuição em
partes equivalentes do potencial hidroeléctrico dos troços fronteiriços, sem que sejam muito visíveis
considerações de ordem ambiental, e atendendo a uma lógica economicista dos recursos, pois o que prima
nesta abordagem é a satisfação dos interesse dos Estados ribeirinhos.
A abordagem dos recursos, de forma mais ampla, em que se contemple todas as massas de águas de uma
bacia hidrográfica, e um conjunto de utilizações mais alargado dentro dessa unidade de gestão, essa, foi
esquecida até muito recentemente.
A utilização para fins hidroeléctricos regulada pelos convénios, obedeceu a certos princípios de Direito
Internacional da Água, já referenciados anteriormente. Sendo de destacar, o princípio do uso razoável e
equitativo dos recursos, pela sua aptidão para melhor satisfazer os interesses dos Estados ribeirinhos. É neste
contexto que surge passado mais de 30 anos de longa espera, a Convenção sobre Cooperação para a
Protecção e o Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas, assinada
em Albufeira em 30 de Novembro de 1998.
Não obstante a continuação em vigor dos Convénios de 1964 e 1968, a Convenção enquanto instrumento
bilateral de cooperação entre Portugal e Espanha, para a protecção das águas superficiais e subterrâneas e dos
ecossistemas aquáticos e terrestres deles directamente dependentes, apresenta-se como um instrumento de
grande valia, pela sua maior sensibilidade às questões ambientais que implicam um "aproveitamento
sustentável" dos recursos. Para o efeito, a Convenção adopta e desenvolve os princípios e as normas de
direito internacional e comunitário mais relevantes nesta matéria, que obrigam ambos os Estados.
Assim, relativamente ao quadro de direito internacional, ele é-nos oferecido pela Convenção sobre a
Protecção e o Uso dos Rios Transfronteiriços de 1992, já analisada; e pela Convenção sobre a Avaliação de
Impacto Ambiental num Contexto Transfronteiriço (Convenção de Espoo) de 1991. A primeira delas,
ratificada por Portugal, mas não pela Espanha; e a segunda, ratificada pela Espanha, mas não por Portugal.
Quanto ao Direito Comunitário, a Convenção segue de perto os objectivos da então Proposta de Directiva-
Quadro da Água.
Para análise do enquadramento internacional e comunitário da Convenção Luso-Espanhola de 1998, far-se-á
alusão aos textos internacionais e comunitários em que ela se insere.
2.1.4.1. Convenção Bilateral Luso-Espanhola de 1998 à luz do mais Recente Regime
Jurídico Internacional dos Recursos Hídricos
Quanto às relações bilaterais entre Portugal e Espanha em matéria de partilha das águas internacionais,
também elas se enquadram dentro dos esforços que se têm vindo a empreender no âmbito da cena
internacional. Há a referir que até muito recentemente os principais acordos relativos aos recursos hídricos
luso-espanhóis tinham por objecto assegurar uma distribuição em partes equivalentes do potencial
hidroeléctrico dos troços fronteiriços, sem que fossem muito visíveis considerações de ordem ambiental, e

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atendendo-se sempre a uma lógica economicista e egoísta dos recursos, pois o que primava nesta abordagem
era a satisfação dos interesses dos Estados ribeirinhos.
É neste contexto que surge a Convenção sobre Cooperação para a Protecção e o Aproveitamento
Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas, assinada em Albufeira em 30 de
Novembro de 1998.
Não obstante a continuação em vigor dos Convénios de 1964 e 1968, a Convenção enquanto instrumento
bilateral de cooperação entre Portugal e Espanha, constitui um inestimável avanço em relação aos anteriores
convénios, pela sua maior sensibilidade às questões ambientais e por um "aproveitamento sustentável" dos
recursos hídricos. Neste sentido, são desenvolvidas na Convenção de 1998, as disposições constantes quer no
direito internacional mais recente - Convenção sobre a Protecção e o Uso dos Rios Transfronteiriços e a
Convenção sobre a Avaliação de Impacto Ambiental num Contexto Transfronteiriço - quer no direito
comunitário - em que são seguidos de perto os objectivos da Directiva-Quadro da Água.
É neste espírito que a convenção estende o seu objecto, quer quanto às massas de água a serem protegidas,
quer quanto às utilizações a regulamentar. Para o efeito, são previstos mecanismos específicos de
cooperação, que abrangem as águas superficiais e subterrâneas, bem como os ecossistemas aquáticos e
terrestres que deles directamente dependem, assim como todas as actividades de aproveitamento dos recursos
hídricos, em curso ou projectadas, em especial aquelas que sejam susceptíveis de causar “impactos
transfronteiriços”.
Esta protecção das águas internacionais partilhadas luso-espanholas é desenvolvida por um lado, com base
no respeito pelos mais modernos princípios do Direito Internacional dos recursos hídricos, nomeadamente
através da adopção do princípio do aproveitamento sustentável dos recursos hídricos, do princípio da
precaução e do princípio da prevenção; e por outro por uma "abordagem combinada" dos aspectos
qualitativos e quantitativos dos recursos ao nível das bacias hidrográficas luso-espanholas.
Em suma, já não se trata de dividir em termos equitativos e quantitativos os troços fronteiriços de forma
contemplar a sua exploração para a produção hidroeléctrica por Portugal e Espanha, mas de preservar os
mesmos - através de uma abordagem combinada entre componente qualitativa e quantitativa.
Quanto aos aspectos qualitativos, tem-se em conta, sobretudo, critérios ecológicos de qualidade das águas
(de superfície e subterrâneas), bem como a coordenação de procedimentos para a prevenção e controlo da
poluição produzida pelas descargas tópicas e difusas nas águas transfronteiriças, e quando pertinente, a
extensão desta medidas à poluição de origem terrestre dos estuários e águas territoriais e marinhas. De
realçar ainda que a fixação destes objectivos de qualidade é combinada com a fixação de valores limite de
emissão.
Quanto aos aspectos quantitativos, a Convenção trata de definir o regime de caudais necessário para garantir
os níveis de qualidade requeridos, com vista a garantir os usos actuais e previsíveis, continuando-se a aplicar
na matéria, o regime fixado nos Convénios de 1964 e 1968. As Partes devem ainda assegurar que no seu
território, a gestão das infra-estruturas hidráulicas seja feita de modo a garantir o cumprimento dos caudais
fixados. Também em situações excepcionais - incidentes de poluição acidental, cheias, secas e escassez de
recursos- são fixadas medidas para prevenir e mitigar os efeitos dessas situações.
Estas medidas são asseguradas através de obrigações concretas ao nível procedimental, nomeadamente
através da permuta de informação, consulta sobre impactos transfronteiriços, e avaliação de impactos
transfronteiriços.
2.1.4.2. Carácter mais amplo do Objecto da Convenção de 1998
Tal como era desejável, a Convenção de 1998 reveste-se de um carácter mais alargado, quer ao nível das
massas de águas protegidas, quer ao nível das utilizações que regulam. O quadro de cooperação por ela
instituído, abrange as águas superficiais e subterrâneas, bem como os ecossistemas aquáticos e terrestres
deles directamente dependentes, bem como todas as actividades de aproveitamento dos recursos hídricos,
em curso ou projectadas, em especial aquelas que sejam susceptíveis de causar “impactos transfronteiriços”.
Esta preocupação com o impacto transfronteriço de determinadas actividades, é idêntico ao previsto na
Convenção de Espoo e na Convenção de Helsínquia. Este estudo dos impactos transfronteiriços das
actividades transfronteiriças luso-espanholas, é de extrema importância para Portugal.

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2.1.4.3. Princípio do Aproveitamento Sustentável, Princípio da Precaução e Princípio da


Prevenção
A Convenção faz jus aos princípios mais modernos do Direito Internacional das Águas, sobretudo àqueles
constantes na Convenção de Espoo e na Convenção de Helsínquia. É nestes princípios que se fundam os
mecanismos de cooperação entres os Estados ribeirinhos luso-espanhóis. A este nível prevê-se o
“aproveitamento sustentável” dos recursos hídricos de forma a que permita satisfazer as necessidades das
gerações actuais sem comprometer a capacidade das gerações vindouras a satisfazerem as suas próprias
necessidades.
O princípio da precaução é assegurado através de consultas e avaliação de impactos transfronteiriços .
Dessas consultas decorre que, no caso de haver um impacto transfronteiriço, as Partes devem suspender,
total ou parcialmente, durante um período a definir conjuntamente, a execução do projecto. E, tratando-se de
actividades em curso, as Partes abstêm-se de executar as medidas que impliquem um agravamento da
situação. Enquanto da avaliação dos impactos transfronteiriços, as Partes, no seio da Comissão, determinam
quais os projectos e as actividades que, sendo susceptíveis de provocar impactos transfronteiriços, e em
função da sua natureza, dimensão e localização, devem ser sujeitos a monitorização dos seus efeitos.
Já o princípio de prevenção, é assegurado por medidas técnicas, jurídicas, administrativas (ou outras) com
vista a: alcançar o bom estado das águas; prevenir a degradação das águas e controlar a poluição; prevenir,
eliminar, mitigar ou controlar os impactos transfronteiriços; assegurar que o aproveitamento dos recursos
hídricos das bacias hidrográficas luso-espanholas seja sustentável; prevenir, eliminar, mitigar ou controlar os
efeitos das situações excepcionais de seca e de cheia, e os incidentes de poluição acidental; entre outros.
Em suma, já não se trata de dividir em termos equitativos e quantitativos os troços fronteiriços de forma
contemplar a sua exploração para a produção hidroeléctrica por Portugal e Espanha, mas de preservar os
mesmos - através de uma abordagem combinada entre componente qualitativa e quantitativa - para um
aproveitamento sustentável dos recursos hídricos luso-espanhóis. O que passa também, por uma remodelação
do princípio da utilização razoável e equitativa dos recursos, em que o mesmo passa a ser norteado por
preocupações de índole ambiental, e respeitando uma visão ecossistémica dos mesmos.
2.1.4.4. "Abordagem Combinada" dos Aspectos Qualitativos e Quantitativos dos Recursos
ao Nível da Bacia Hidrográfica
Na senda do adoptado pela Convenção de Helsínquia e pela Directiva-Quadro da Água, esta protecção dos
ecossistemas de forma equilibrada e duradoura passa pela adopção da bacia hidrográfica como unidade
fundamental de gestão. É a este nível- o da bacia hidrográfica internacional - que a Convenção preconiza
através da coordenação de planos de gestão e de programas de medida, a protecção e aproveitamento
sustentável dos recursos, acolhendo sobretudo para o efeito as disposições e prazos estabelecidos na
Directiva-Quadro da Água.
Ao nível qualitativo são fixadas nomeadamente: medidas de qualidade das águas com vista a alcançar o seu
bom estado ou no caso das águas com regimes hidrológicos modificados pela actividade humana ou
artificiais, um bom potencial ecológico; prevenção da degradação das águas subterrâneas e melhorar a sua
qualidade com vista a alcançar o seu bom estado; assegurar o cumprimento de todas as normas e objectivos
de qualidade das águas classificadas, segundo o direito comunitário; coordenação de procedimentos para a
prevenção e controlo da poluição produzida pelas descargas tópicas e difusas nas águas transfronteiriças, e
quando pertinente, a extensão desta medidas à poluição de origem terrestre dos estuários e águas territoriais e
marinhas adjacentes. De realçar ainda que a fixação destes objectivos de qualidade é combinada com a
fixação de valores limite de emissão.
Ao nível dos aspectos quantitativos das águas, a Convenção trata de definir o regime de caudais necessário
para garantir os níveis de qualidade acima identificados, com vista a garantir os usos actuais e previsíveis,
continuando-se a aplicar na matéria, o regime fixado nos Convénios de 1964 e 1968. As Partes devem ainda
assegurar que no seu território, a gestão das infra-estruturas hidráulicas seja feita de modo a garantir o
cumprimento dos caudais fixados. Também em situações excepcionais - incidentes de poluição acidental,
cheias, secas e escassez de recursos- são fixadas medidas para prevenir e mitigar os efeitos dessas situações.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 15/66 (2 - II)


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2.1.4.5. Controlo da Aplicação Efectiva da Convenção


A cooperação entre as Partes é feita através de obrigações concretas ao nível procedimental, nomeadamente
através:
- Permuta de informação disponível sobre as matérias da Convenção e dos dados e registos a ela
relativos, designadamente ao nível das actividades susceptíveis de causar impactos transfronteiriços nas
mesmas;
- Consulta sobre impactos transfronteiriços, que impõe às Partes deveres precisos nesta matéria, os quais
não sendo cumpridos, se lhes aplica as formas de responsabilidade de acordo com o direito internacional
e comunitário aplicáveis;
- E finalmente, a avaliação de impactos transfronteiriços, que deverá ter em conta as disposições das
directivas comunitárias relativas à avaliação de impacto ambiental, em particular as Directivas
85/337/CEE e 97/11/CE, e suas alterações, bem como as normas de direito internacional vigente entre
as Partes. Para o efeito, devem as Partes identificar os projectos e actividades que, em função da sua
natureza, dimensões e localização, devem ser sujeitas a avaliação de impacto transfronteiriço.
Por último, ao nível institucional, são criadas - enquanto órgãos de cooperação para a aplicação efectiva
desta convenção - a Conferência das Partes e a Comissão para a Aplicação e o Desenvolvimento da
Convenção. Esta sucede nas atribuições e competências da Comissão dos Rios Internacionais, e é o órgão
privilegiado de resolução das questões relativas à interpretação e aplicação da Convenção.

2.1.5. Quadro Legal Nacional


O quadro legal de âmbito nacional sistematiza-se, segunda a sua natureza, nas três áreas seguintes:
− Do conjunto de instrumentos jurídicos utilizados no direito da protecção da água para prosseguir os seus
fins;
− Dos principais procedimentos administrativos conducentes a decisões relevantes em matéria de recursos
hídricos;
− Das várias entidades administrativas competentes em matéria de planeamento e gestão de recursos
hídricos, assim como as suas atribuições, competências e ligações orgânicas e funcionais.
que se intrusam visando a gestão integrada dos recursos hídricos e cuja análise se apresenta nos pontos que
se seguem.
2.1.5.1. Instrumentos Jurídicos
A protecção da qualidade da água - e, consequentemente, da qualidade global do ambiente – assim como a
prossecução dos restantes objectivos do sistema jurídico de gestão dos recurso hídricos, faz-se actualmente
por duas vias complementares: a regulamentação directa e a regulamentação indirecta de condutas. A
primeira possibilidade representa uma solução público-ingerente em que a qualidade do ambiente é definida
através de uma política de «comando e controlo» . Tal tarefa é essencialmente levada a cabo por normas
jurídico-públicas que restringem, condicionam ou proíbem determinadas actividades humanas
ambientalmente relevantes. De acordo com este modelo instrumental - que caracteriza o essencial do actual
direito do ambiente português - o sistema jurídico, por um lado, fixa um determinado padrão de qualidade
dos recursos hídricos, recorrendo, por outro lado, a instrumentos de tutela preventiva e repressiva para
garantir a efectividade de tais regras.
Note-se, todavia, que os actuais sistemas de controlo da qualidade da água tendem a basear-se em modelos
instrumentais complexos, recorrendo também a mecanismos de regulamentação indirecta. Nesta última via, o
legislador, em vez de impor determinadas condutas, limita-se conceder incentivos aos utilizadores do
ambiente para que as adoptem.
O objectivo, essencial, do presente estudo é o de procurar caracterizar os traços estruturantes do actual
modelo instrumental do sistema jurídico de gestão de recursos hídricos português, identificando,
concomitantemente, as suas principais patologias e disfunções.

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QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

Os Instrumentos Directos de Regulação


a) As principais normas de qualidade do sistema de gestão de recursos hídricos português
aa) Normas de qualidade gerais: o regime jurídico previsto no DL n.º 236/98, de 1 de Agosto.
No actual sistema jurídico-ambiental português as normas de qualidade da água constam, essencialmente, do
DL n.º 236/98, de 1 Agosto. Tal diploma aplica-se a todas as águas sob jurisdição portuguesa com excepção
daquelas que são objecto de um regime especial.
A qualidade da água é fixada em função de vários usos identificados e exprime uma compatibilização entre
interesses de aproveitamento humano e os interesse na preservação da capacidade funcional ecológica.
No actual regime jurídico são identificados os seguintes usos (art. 2º DL n.º 236/98, de 1 Agosto):
− Águas para consumo humano:
− Águas doces superficiais destinas à produção de água para consumo humano;
− Águas subterrâneas destinadas à produção de água para consumo humano;
− Águas de abastecimento para consumo humano;
− Águas para suporte da vida aquícola:
− Águas doces superficiais para fins aquícolas – águas piscícolas;
− Águas do litoral e salobras para fins aquícolas águas conquícolas
− Águas do litoral e salobras para fins aquícolas - águas piscícolas;
− Águas balneares;
− Águas de rega.
Contudo, quando o uso de determinados recursos hídricos não pode ser sujeito a prévio licenciamento –
como, por exemplo, no que respeita às águas para suporte da vida aquícola e às aguas balneares (cfr. arts.
33º, 41º e 51º do DL n.º 236/98, de 1 de Agosto) - a articulação entre a classificação e o licenciamento deixa
de ser possível. Em tais casos, a função preventiva da classificação reforça-se porque a utilização do meio
hídrico não é (re)avaliada no procedimento de licenciamento.
Note-se, também, que as entidades competentes e o procedimento de classificação respectivo variam em
função do uso. Assim, a dispersão das entidades públicas com responsabilidade neste ponto do sistema pode
acarretar problemas significativos de articulação, coordenação e priorização dos vários usos.
ab) Normas de qualidade especiais para determinadas substâncias perigosas
Para além da definição da qualidade em função do uso do recurso, o sistema jurídico determina parâmetros
de qualidade especiais para determinadas substâncias perigosas independentemente do uso do meio hídrico
afectado. Trata-se, designadamente, das regras previstas no art. 66º do DL n.º 236/98 (anexo XIX lista I ),
mas que ainda não estão em vigor porque ainda não foram enunciadas em diploma específico.
É, também, o caso das normas previstas no DL n.º 506/99, de 20 de Novembro - do anexo XIX lista II e
também das normas de qualidade especiais fixadas nos DL n.º 52/99 de 20 de Fevereiro (Valores limite e
objectivos de qualidade para as descargas de mercúrio de sectores que não o de electrólise dos cloretos
alcalinos), DL n.º 53/99 de 20 de Fevereiro (Valores limite e objectivos de qualidade para as descargas de
cádmio), DL n.º 54/99 de 20 de Fevereiro (Valores limite e objectivos de qualidade para as descargas de
hexaclorociclo-hexano)DL n.º 55/99 de 20 de Fevereiro 56/99 de 26 de Fevereiro (Valores limite e
objectivos de qualidade para as descargas de certas substâncias perigosas), alterado pelo DL n.º 390/99 de 30
de Setembro e DL n.º 431/99 de 22 de Outubro (Valores limite e objectivos de qualidade para as descargas
de mercúrio do sector da electrólise dos cloretos alcalinos).
ac) Regras gerais
As regras gerais constam do Capítulo VI do DL n.º 236/98, de 1 de Agosto e aplicam-se a todas as descargas
de águas residuais em:

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 17/66 (2 - II)


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− Águas superficiais e do litoral;


− Águas territoriais;
− Águas subterrâneas;
− Solo;
− Colectores (art. 63º do DL n.º 236/98, de 1 de Agosto).
Caso não exista PBH permite-se à DRAOT competente fixar normas de descarga mais exigentes do que as
que resultariam da aplicação do disposto no n.º 1 do art. 64º, entendendo-se que tal restrição é justificada,
nomeadamente, quando o meio receptor está classificado como zona sensível nos termos do DL n.º 152/97,
de 19 de Julho, ou como zona vulnerável nos termos do DL n.º 235/97, de 3 de Setembro, ou como Reserva
Agrícola Nacional, ou quando o meio receptor estiver situado em área designada para protecção de habitats
ou, enfim, quando a poluição originada possa ter efeitos a longa distância ou transfronteiriços (n.º 4,5, e 6 do
art. 64º).
ad) Normas de descarga especiais
O DL n.º 152/97, de 19 de Junho, versão do DL n.º 348/98, de 9 de Novembro, transpôs para o direito
interno as Directivas 91/271/CEE do Conselho de 21 de Maio e n.º 98/15/CE da Comissão, de 9 de
Novembro, prevendo um regime jurídico especial no que respeita às descargas de águas residuais urbanas.
Tal regime, traduz-se na fixação de normas de descarga especiais previstas no diploma e fundamentalmente
na imposição de formas tratamento específicas (art.º 5º). Quer as normas de descarga quer as obrigações de
tratamento variam em função da sensibilidade da área de descarga, a qual está delimitada no próprio diploma
(Anexo II).
Tendo presente que a gestão e exploração de sistema de drenagem de águas residuais urbanas é uma
atribuição municipal – prosseguida pela administração directa ou indirecta – o diploma consagra um
conjunto de normas tarefa impondo um calendário para sua execução.
Esclarece-se, contudo, que a aplicação das regras constantes do presente diploma não pode prejudicar a
qualidade determinada pelo DL n.º 236/98 (art1º) /2) Isto significa que no acto de licenciamento devem ser
fixadas normas de descarga que não só cumpram as regras especiais do DL n.º 152/97, de 19 de Junho, mas
que também assegurem o cumprimentos de todos os parâmetros gerais de qualidade das águas.
Um outro conjunto de regras onde se prevêem normas de descarga especiais consta do DL n.º 235/97, de 3
de Setembro e legislação complementar sobre poluição causada por nitratos de origem agrícola utilizados
normalmente na agricultura intensiva. Tal regime transpõe a Directiva n.º 91/676/ do Conselho, de 12 de
Dezembro, estatuindo, por um lado, um conjunto de normas tarefa para a Administração Pública, e
aprovando, por outro lado, um conjunto de orientações não vinculativas dirigidas aos particulares (Código de
Boas Práticas Agrícolas).
De entre as normas destinadas à Administração Pública são especialmente importantes: a obrigação de
identificação mediante Portaria das zonas poluídas por nitratos e susceptíveis de serem poluídas, bem como
de zonas vulneráveis (art. 4º) e a obrigação de realização de programas de acção (aprovados por portaria)
para aplicação às zonas vulneráveis, onde constem, inter alia, as normas do Código de Boas Práticas
Agrícolas que se tornam obrigatórias.
Deste modo, as normas de descarga imperativas que visam debelar este tipo de poluição hídrica originada
por fontes difusas só vêm a constar dos diplomas regulamentares, o que pode afectar a eficácia do regime
jurídico.
Os DL n.º 52/99, de 20 de Fevereiro, n.º 53/99, de 20 de Fevereiro, n.º 54/99 de 20 de Fevereiro, n.º 55/99,
de 20 de Fevereiro, n.º 56/99, de 26 de Fevereiro (alterado pelo DL n.º 390/99 de 30 de Setembro) e n.º
431/99, de 22 de Outubro prevêem normas de descargas especiais para alguns tipos de elementos tóxicos.
Tais regras são muito semelhantes impondo normas de descarga específicas previstas no diploma. Todavia
tais regras constituem um padrão mínimo a aplicar imediatamente às instalações existentes visto que o
diploma impõe que quanto às novas instalações estas recorram às melhores técnicas disponíveis. Assim, a

18/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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determinação das normas de descarga aplicável deve ser feita pela Administração através da identificação da
tecnologia mais eficaz e eficiente utilizada no mesmo sector económico.
Este recurso ao conceito de «melhores técnicas disponíveis» traduz uma relativa inovação no direito da água
português e representa, de alguma forma, o afloramento de uma tendência que depois se veio a consolidar
com a publicação do DL n.º 194/2000, de 21 de Agosto, sobre prevenção e controlo integrado de poluição
Todavia, o conceito previsto é demasiado vago e impreciso visto que não há qualquer densificação da
cláusula geral. Actualmente, parece que a norma em causa deve ser concretizada tendo em conta o disposto
no DL n.º 194/2000, de 21 de Agosto.
ae) Normas de descarga sectoriais previstas em contratos de promoção ou de adaptação ambiental
O actual sistema de gestão de recursos hídricos português permite que as normas de descarga gerais sejam
derrogadas mediante a celebração de contratos entre a Administração e Associações representativas de um
determinado sector de actividade económica. Tais contratos podem ter por objecto a definição de normas de
descarga mais exigentes ou de normas de descarga menos exigentes. No primeiro caso denominam-se
contratos de promoção ambiental (art. 68º do DL n.º 236/98, de 1 de Agosto), no segundo de adaptação
ambiental (art. 78º do DL n.º 236/98, de 1 de Agosto).
Tais normas são aprovadas por Portaria conjunta do Ministro do Ambiente e Ordenamento do Território e do
ministro responsável pelo sector de actividade económica em causa.
Até hoje não se recorreu à figura do contrato de promoção ambiental. A utilização dos contratos de
adaptação ambiental tem, pelo contrário, caracterizado o direito da protecção da água, abrangendo um
número muito significativo de sectores económicos.
Contudo, como não se prevêem sanções efectivas para o incumprimento do contrato mais graves do que
aquelas que são aplicáveis para as infracções não enquadradas pelo contrato, tais instrumentos têm servido
na prática como forma de concessão de uma moratória, de eficácia e justificação axiológica questionáveis
que acarreta uma forte erosão do princípio da legalidade.
b) Normas de qualidade e de descarga (definição dos estado de qualidade) previstas em instrumentos
normativos de planeamento.
A definição do estado de qualidade da água pode resultar complementarmente da aplicação de um conjunto
de normas de qualidade e de descarga cujo âmbito de aplicação é circunscrito a uma determinada zona
espacial. Tais regras visam normalmente fixar parâmetros de qualidade da água mais exigentes do que os
que resultam da aplicação do sistema geral, em função das características específicas de um bem jurídico
especialmente delimitado.
Trata-se por exemplo das regras que podem estar contidas nos regulamentos de áreas protegidas relativas à
fixação da qualidade da água e à delimitação de parâmetros de descarga (cfr. DL n.º 19/93, de 22 de
Setembro na versão do DL 227/98, de 17 de Agosto).
Note-se, por fim, que os PBH podem prever normas de qualidade e de descarga, embora o seu âmbito
temporal e a sua forma (Decreto Regulamentar) possam fazer suscitar algumas dúvidas sobre tal função.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 19/66 (2 - II)


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Os Instrumentos de Tutela
Como vimos nos pontos anteriores o sistema de protecção e gestão de recursos hídricos recorre, para
assegurar o seu objectivo fundamental, a um conjunto de normas cuja função é, precisamente, a de delimitar
qual o estado de qualidade adequado da água enquanto bem jurídico-ambiental. Tais regras - ao precisar os
contornos de um bem jurídico já esboçado no texto constitucional - conferem positividade a um determinado
desígnio axiológico-ambiental e impõem adopção de determinadas condutas conformes com esse estado,
mas não asseguram, só por si a sua efectividade.
É, assim, necessário que tais comandos normativos sejam complementados com um outro conjunto de
normas funcionalmente dirigidas a assegurar a sua efectividade. Essas normas configuram meios de tutela
jurídico-pública e podem talvez ser designados como meios ou instrumentos de tutela. Uma possível
classificação tende a distinguir:
− Instrumentos de tutela preventivos, funcionalmente concebidos para evitar a ocorrência de disfunções
ambientais;
− Instrumentos de tutela repressivos, que actuam depois de se verificar a ocorrência de uma infracção de
modo a punir o responsável, a indemnizar o dano e fazer cessar a actividade ilícita;
− Instrumentos de recolha e tratamento de informação sobre a gestão de recursos hídricos.
Nos instrumentos de tutela preventivos incluem-se:
a) Licenciamento de usos de recursos hídricos
O meio de tutela preventiva mais comum do direito do ambiente e consequentemente do sub-sistema de
gestão dos recurso hídricos é o licenciamento de actividades que convoquem um risco de perturbação do
estado de qualidade da água.
No actual sistema, são sujeitos a licenciamento os usos do domínio hídrico elencados no art. 3º do DL n.º
46/94, de 22 de Fevereiro e legislação complementar. Trata-se, assim, de uma metodologia ancorada no
licenciamento do uso e não da actividade económica que lhe está subjacente.
b) Avaliação de impacto ambiental e prevenção e controlo integrado da poluição
No que respeita a algumas actividades económicas que podem exigir a utilização de recursos hídricos, a
avaliação preventiva dos efeitos ambientais é realizada através de um sub-procedimento de avaliação de
impacto ambiental – nos termos previstos no DL n.º 69/2000, de 3 de Maio - ou do sub-procedimento de
prevenção e controlo integrado de poluição – de acordo com o disposto no DL n.º 194/2000, de 21 de
Agosto - que se insere no procedimento administrativo de licenciamento dessa mesma actividade .
c) Normas injuntivas
O conjunto de meios de tutela preventivos é complementado com normas jurídicas que impõem directamente
determinadas condutas aos particulares com vista a assegurar a qualidade dos recursos hídricos.
Tais regras podem ter um âmbito de aplicação geral ou ser circunscritas a um determinado local no espaço
(trata-se por exemplo das restrições e condicionamentos previstos nos planos de bacia hidrográfica (PBH)
planos de ordenamento da áreas protegidas (POAP), planos de ordenamento das albufeiras de águas públicas
(POAAP), planos de ordenamento da orla costeira (POOC), entre outros).
ca) Normas proibitivas
Uma primeira categoria de regras deste tipo proíbe aos utilizadores da água determinados actos ou
actividades que perturbem ou criem um risco desrazoável de perturbação de um estado de qualidade jurídico-
ambiental.
Trata-se, por exemplo, da norma prevista no art. 67º do DL nº 236/98 que proíbe a introdução nas águas
subterrâneas e no solo de determinadas substâncias perigosas, ou do art. 10º n.º 2 do DL n.º 152/97, de 19 de
Julho que impede a descarga de lamas em águas de superfície.
Ou de um conjunto muito diversificado de regras que constam dos planos de ordenamento das albufeiras
classificadas (proibições e restrições de pesca, navegação e outros usos do domínio hídrico- cfr. DDR n.º

20/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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2/88, de 20 de Janeiro) ou dos planos de ordenamento da orla costeira (cfr. DL n.º 309/93, de 2 de
Setembro).
Devem, por outro lado, referir-se as servidões administrativas que condicionam o uso do solo no domínio
público hídrico proibindo determinado tipo de construções e condicionando outras (cfr. Decreto-Lei n.º
468/71, de 5 de Novembro). Trata-se, todavia, de um dos pontos do sistema que revela maior grau de
desadequação aos objectivos do direito de protecção da água, sendo evidentes problemas de desarticulação
com o regime jurídico da Reserva Ecológica Nacional, problemas institucionais e problemas procedimentais
(ex: a dificuldade de delimitação da propriedade dos terrenos do domínio hídrico) que têm impossibilitado
uma gestão correcta de tais zonas.
Note-se, também, que o recurso a normas proibitivas é necessário quando as actividades em causa não
podem ser objecto de licenciamento de modo eficiente e eficaz. É justamente o que sucede, em grande
medida, com a poluição proveniente de algumas fontes difusas (ex: nitratos utilizados nas explorações
agrícolas).
cb) Normas preceptivas
A par das normas que impõem uma conduta negativa, integram o sistema jurídico normas que determinam a
prática de uma conduta positiva: normas preceptivas. Tal tipo de regra está normalmente associado ao
procedimento de licenciamento de utilizações do domínio hídrico, impondo a obrigação de recorrer a
determinados meios técnicos (utilização da melhor tecnologia disponível, por exemplo) como forma de
controlo adequado da poluição.
Também são comuns, no actual sistema jurídico, normas que impõem determinadas condutas às autoridades
jurídico-públicas com competência na gestão de recursos hídricos, configurando assim normas tarefa para a
Administração. Em regra tais comandos constam de instrumentos de planeamento, mas também integram
comandos normativos incluídos em instrumentos não programáticos, como por exemplo o DL n.º 152/97, de
19 de Julho onde se prevê a obrigação de garantir o pleno funcionamento do sistema de drenagem de águas
residuais urbanas num determinado calendário (art. 4º).
Instrumentos de Tutela Repressivos
a) Responsabilidade administrativa
O Estado é, como se notou, por meio de organismos próprios e com o envolvimento e a participação dos
cidadãos, responsável pela defesa e prossecução do interesse público ambiental (arts. 9º alíneas d) e e) e 66º
n.º 1 da CRP). Para realizar tal tarefa, a Administração pública dispõe, não só instrumentos jurídicos de
natureza essencialmente preventiva mas também instrumentos jurídicos de natureza repressiva.
Deste modo, a Administração pública tem o poder/dever de praticar determinados actos administrativos de
natureza sancionatória que visam solucionar uma situação jurídico ambiental de natureza patológica,
provocada pela inobservância ou violação de normas ambientais.
No que respeita à protecção e gestão de recursos hídricos, são relevantes, as sanções administrativas gerais
do direito do ambiente, embora algumas mereçam por parte do legislador uma configuração especial.
Assumem particular importância as seguintes:
− A redução ou suspensão da laboração das actividades geradoras de poluição (alínea i) do n.º 1 do art.
27º e n.º 1 do art. 35º da LBA);
− A transferência de estabelecimentos (art. 36º da LBA);
− A declaração de zonas críticas e situações de emergência (art. 34º da LBA);
− A indemnização administrativa de danos ao ambiente (art. 48º da LBA);
− As contra-ordenações ambientais (art. 47º da LBA).

b) Responsabilidade contra-ordenacional

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 21/66 (2 - II)


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Deve, contudo, notar-se que o ilícito de mera ordenação social é o instrumento sancionatório de natureza
repressiva com maior expressão prática no actual sistema de gestão dos recurso hídricos.
Poderá mesmo afirmar-se que é actualmente o único meio sancionatório com uma aplicação significativa no
que respeita à tutela de bens ambientais públicos e colectivos, visto que os casos de responsabilidade civil e
penal são ainda pouco expressivos. Sucede, todavia, que as contra-ordenações ambientais ainda revelam
algumas disfunções que afectam claramente a sua eficácia sancionatória. Referimo-nos, em especial,:
− À desadequação do montante de algumas coimas, que em muitos casos são inferiores ao benefício
económico resultante da infracção;
− A dificuldades em matéria de prova causadas pelas características do meio receptor;
− À não utilização e à desadequação das sanções acessórias,
− À violação do princípio da legalidade por parte das entidades competentes que não aplicam as sanções a
que estão obrigadas;
− A disfunções institucionais resultantes de competências sancionatórias concorrentes.
c) Responsabilidade civil
O princípio geral de que os danos ecológicos e os danos ambientais são reparáveis tem no direito português
dignidade constitucional. Na realidade, o artigo 52º, nº3, da Constituição consagra, no âmbito do direito de
acção popular, o direito de requerer para o lesado ou lesados a indemnização dos danos ao ambiente. A
norma constitucional encontra-se hoje concretizada na legislação ordinária, desde logo no regime jurídico
da participação procedimental e da acção popular aprovado pela Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto (LAP),
enquanto prevê, nos artigos 22º e 23º, situações de responsabilidade por danos ao ambiente.
Sucede, todavia, que, no caso português, a estrutura de imputação indicada - apesar de ser das mais
completas do nosso direito do ambiente - não soluciona alguns problemas fundamentais como:
− A prova do nexo de causalidade,;
− O concurso de imputações;
− A delimitação da eficácia espacial e temporal das normas,
− O acesso à informação sobre as circunstâncias do dano pelos lesados;
− O concurso entre pretensões indemnizatórias, entre outros,
não dando assim uma resposta adequada aos problemas fundamentais da responsabilidade por danos à
qualidade da água.
Acresce que se não define um círculo de responsáveis adequado e se vem a basear a responsabilidade na
culpa, contrariando de modo injustificado o princípio geral da responsabilidade pelo risco em matéria de
danos ecológicos, previsto no art. 41º da LBA e na generalidade dos textos internacionais.
d) Responsabilidade penal
A revisão de 1995 do Código Penal veio criar o crime de danos contra a natureza (art. 278º do Código
Penal) e o crime de poluição (art. 279º do Código Penal), os quais constituem verdadeiros crimes ecológicos
por protegerem a qualidade do ambiente de forma directa.
Assim, ao contrário do que sucedia até então, o ambiente é agora tutelado em si mesmo, independentemente
da existência de qualquer perigo ou lesão para bens pessoais ou patrimoniais do homem. Em ambos os tipos
de crime, o legislador exige que o dano ou o risco da sua verificação ocorra em consequência da violação de
normas ambientais que integram os conceitos indeterminados previstos no tipo.
De entre os dois tipos de crime o de poluição é inquestionavelmente aquele que oferece maior interesse em
matéria de protecção de recursos hídricos, visto que possibilita a determinação pela administração de
determinadas condutas sob cominação de responsabilidade penal.
Instrumentos de Recolha e Tratamento de Informação

22/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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a) Obrigações de auto-controlo
Como se sabe, o instrumento paradigmático utilizado para tal fim no direito do ambiente traduz-se em
obrigar o próprio utilizador a se auto-controlar, de acordo com determinada metodologia imposta pela lei,
impondo depois o envio da informação para a Administração. É justamente este o instrumento mais
utilizado no direito português (cfr. art. 22º, 69º do DL nº 236/98, de 1 de Agosto e art. 12º do DL nº 152/97
de 19 de Junho).
b) Direitos e deveres de inspecção, controlo e monitorização da Administração
Complementarmente, prevêem-se direitos e deveres de inspecção e controlo pela Administração (artº 8º, 16º
do DL n.º 236/98 sobre o modo e frequência da amostragem de águas doces superficiais destinadas à
produção de água para consumo humano) .
c) Deveres de informação dos utilizadores
Um outro exemplo de norma cuja função é permitir a recolha de informação consta do art. 11º do DL n.º
47/94, de 22 de Fevereiro
d) Obrigação de tratamento, sistematização e comunicação interna da informação pela
Administração Pública
Normalmente as regras sobre o tratamento da informação estão associadas a normas sobre a publicitação de
relatórios não existindo um coerente de princípios sobre esta matéria.
As regras sobre circulação da informação entre instituições da Administração Pública são relativamente
escassas no direito de protecção da água português. Um exemplo consiste na obrigação de comunicação
pelas DRAOT ao INAG das licenças de descarga de águas residuais (cfr. n.º 9 do art. 65º do DL n.º 236/98,
de 1 de Agosto)
e) Obrigações de publicitação da informação pela Administração Pública
A lei prevê determinadas normas que obrigam a Administração a sistematizar e publicitar a informação
recolhida, como por exemplo, a obrigação de realizar os Relatórios sobre a aplicação do DL n.º 236/98, de 1
de Agosto previstos nos arts. 11º, 19º, 37º, 46º e 56º do mesmo diploma. Ou a obrigação da entidade
gestora do sistema de publicitar os resultados obtidos com as análises da água para consumo humano através
de editais e publicação na imprensa regional (art. 22º, n.º 6 do DL n.º 236/98).
Instrumentos Indirectos de Regulamentação
a) Instrumentos financeiros e fiscais
De entre os instrumentos indirectos assumem particular relevância os financeiros e fiscais, como as taxas
ambientais e os impostos ambientais (v. alínea r) do n.º 2 do art. 27º da LBA), os subsídios (v. alínea j) do
n.º 2 do art.. 27º da LBA), os benefícios fiscais, os empréstimos a fundo perdido e os empréstimos com taxas
bonificadas.
No actual sistema de gestão dos recursos hídricos pode notar-se um recurso a mecanismos financeiros (os
empréstimos a fundo perdido e os empréstimos com taxas bonificadas) muitas vezes difícil de compatibilizar
com o princípio do poluidor pagador, a par de uma muito escassa utilização de mecanismos de natureza
fiscal (como as taxas e os impostos).
Na verdade, ao contrário do que sucede em vários países europeus não está implementado (apesar estar de
nominalmente previsto no DL n.º 47/94, de 22 de Fevereiro qualquer sistema funcionalmente dirigido à
internalização dos custos da utilização e da protecção dos recursos, incluindo os custos de oportunidade
gerados pela escassez.
Acresce que alguns pontos do sistema desenhado na lei são objecto de críticas pertinentes. Trata-se por
exemplo da:
− Falta de clarificação da função da taxa de rejeição e da sua articulação com as normas de qualidade e de
descarga;
− Definição do domínio público hídrico e não do domínio hídrico como objecto do regime jurídico;

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 23/66 (2 - II)


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− Complexidade e impraticabilidade actual do método utilizado para calcular a taxa de rejeição de cargas
poluentes, resultante da determinação de todas as taxas em função da melhor tecnologia disponível, o
que pode não ser possível em alguns sectores;
− Falta de previsão de isenções para pequenos utilizadores quando o custo da determinação da taxa seja
superior ao ganho de eficiência do sistema;
− Limitação do objecto da taxa de regularização aos benefícios resultantes de obras hidráulicas do
Estado, excluindo assim as obras privadas;
− Desarticulação entre a determinação da taxa de rejeição e o processo de auto-controlo de descargas,
entre outras.
b) Mercados de transação de quotas de poluição hídrica
A criação de mercados de transacção de direitos de emissão de poluentes hídricos tem sido objecto de análise
doutrinal desde há cerca duas décadas, existindo algumas experiências com sucesso relativo nos Estados
Unidos da América . Trata-se todavia de uma metodologia que não é utilizada no actual direito português.
c) Certificação ambiental e organização empresarial
No actual direito português assumem maior relevância instrumentos de economia de mercado, como, por
exemplo, a certificação ambiental de empresas ou produtos (cfr. o Decreto Lei n.º 259/92, de 20 de
Novembro) que exigem uma abordagem integrada do controlo da poluição.
d) Os instrumentos de planeamento
No direito de protecção da água são relevantes um conjunto muito significativo de instrumentos de
planeamento. Entre os quais podemos identificar como mais importantes:
− Os instrumentos de planeamento ambiental de carácter geral – como o Plano Nacional da Política do
Ambiente e a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza (Cfr. art. 27º da LBA).
− Os instrumentos de planeamento ambiental de recorte sectorial, como os Planos de Bacia Hidrográfica
e o Plano Nacional da Água regulamentados pelo DL n.º 45/94, de 22 de Fevereiro;
− Os instrumentos de planeamento dos recursos hídricos especiais para uma determinada zona do sistema
de protecção dos recursos hídricos, como por exemplo:
− O plano de acção para redução da poluição das águas piscícolas previsto no art. 36º do DL n.º
236/98 de 1 de Agosto;
− O programa de acção para redução da poluição as águas do litoral e salobras para fins aquícolas,
previsto no art. 44º do DL n.º 236/98 , de 1 de Agosto;
− O programa de acção para melhoria das qualidade das águas balneares, previsto no art. 44º do
DL n.º 236/98 de 1 de Agosto;
− Os planos de acção em matéria de águas de rega, previstos no art. 62º do DL n.º 236/98 de 1 de
Agosto,
− Os programas de redução de substâncias perigosas, previstos no art. 66º, n.º 4 do DL n.º 236/98,
de 1 de Agosto e no
− Os Programas de redução de substâncias perigosas, previstos nos DL n.º 52/99, 53/99, e 54/99
todos de 20 de Fevereiro e DL n.º 56/99, de 22 de Fevereiro;
− Os programas de controlo da concentração de nitratos e programas de acção, previstos nos arts.
5º e 7º do DL n.º 235/97, de 3 de Setembro.
Há, por fim, que referir a necessidade de articulação dos instrumentos de planeamento dos recursos hídricos
com outros instrumentos de planeamento, (como, por exemplo, os instrumentos de planeamento territorial).

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QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

2.1.5.2. Quadro Jurídico dos Procedimentos Administrativos


A matéria relativa à gestão dos recursos hídricos caracteriza-se, desde logo, pela sua complexidade. Como
ficará claro na análise subsequente, a utilização do domínio hídrico obedece a um regime geral que importa
caracterizar, mas, as utilizações concretas que carecem de título de utilização conhecem regras especiais em
razão das especificidades que cada uma delas acarreta. Algumas dessas utilizações - relevando em especial a
utilização do domínio hídrico para aproveitamento hidroeléctrico -, sujeitam-se mesmo a legislação
específica.
Tendo em conta o exposto, interessa reter as regras gerais aplicáveis aos procedimentos administrativos
relevantes em matéria de gestão de recursos hídricos, ainda que não perdendo de vista as diversas
especialidades a que se aludiu. Não sendo possível, nesta sede, tratar exaustivamente de todas essas
particularidades, faremos alusão a algumas delas, tendo em conta a especial importância dos aproveitamentos
do domínio hídrico a que respeitem.
Mas, não obstante a alusão às referidas utilizações específicas, interessa extrair da legislação que a gestão
dos recursos hídricos chama à colação os principais aspectos que, no seu conjunto, concorrem para uma
caracterização sistemática daqueles procedimentos.
Licenciamento do Uso de Recursos Hídricos
O Decreto-Lei n.º 46/94, de 22 de Fevereiro, procedeu à unificação do regime jurídico da utilização do
domínio hídrico, o qual se encontra sob a jurisdição do Instituto da Água.
Neste diploma, definem-se quais as utilizações do domínio hídrico que, independentemente da natureza e
personalidade jurídica do utilizador, carecem de título de utilização, isto é, de licença ou de contrato de
concessão.
Em termos gerais, e de acordo com o disposto na Secção I do Capítulo II do Decreto-Lei n.º 46/94, a licença
de utilização do domínio hídrico - atribuída, de acordo com o n.º 2 do artigo 5º, pela Direcção Regional do
Ambiente e Recursos Naturais (DRARN) territorialmente competente - é, nos termos do artigo 6º do
Decreto-Lei n.º 46/94, “conferida a título precário, podendo ser outorgada pelos prazos máximos de 10 ou 35
anos, consoante os usos licenciados, estando sujeita a inquérito público a licença atribuída por prazo superior
a 10 anos”. Por seu turno, “a utilização do domínio hídrico pode - segundo o artigo 9º - ser atribuída
mediante contrato de concessão a celebrar entre a Administração e o interessado, pelo prazo máximo de 75
anos”. A celebração do contrato de concessão carece de autorização do Ministro do Ambiente e do
Ordenamento do Território (n.º 2 do artigo 5º), o qual pode, porém, delegar tal competência no presidente do
INAG (n.º 2 do artigo 9º).
O legislador não se limita a indicar o diferente alcance da licença e do contrato de concessão. O Decreto-Lei
n.º 46/94, ao longo do seu articulado, e a propósito dos diferentes tipos de utilizações do domínio hídrico,
tem o cuidado de delimitar expressamente o campo de aplicação de uma e de outro.
O legislador não deixa assim na disponibilidade dos particulares interessados, ou da própria Administração, a
opção entre o recurso à licença ou a utilização do contrato de concessão. São ponderações de interesse
público, efectuadas directamente pelo próprio Decreto-Lei n.º 46/94, que estão subjacentes à delimitação do
diferente campo de aplicação do acto administrativo e do contrato. Por isso, e atendendo à precariedade das
licenças e aos prazos relativamente curtos por que podem ser outorgadas (10 ou 35 anos), por contraposição
com o prazo de vigência dos contratos de concessão (75 anos), o Decreto-Lei n.º 46/94 opta,
compreensivelmente, em muitos casos, por sujeitar a utilização do domínio hídrico a licenciamento e não a
contrato de concessão.
Ainda em sede de regime comum aos dois títulos de utilização do domínio hídrico previstos, não pode deixar
de ser notada a preocupação que o legislador teve em assegurar um uso racional do domínio hídrico. É que,
como é sabido, a água é um bem escasso. E, nos nossos dias, com o avanço assustador da desertificação e a
sucessão vertiginosa de anos de seca, ninguém ignora que esse bem escasso é, além disso, um bem precioso.
Compete, por isso, ao Estado garantir que a utilização da água seja, em cada situação, a mais adequada aos
usos e às necessidades existentes ou previsíveis. Isso pressupõe, naturalmente, uma hierarquização das
utilizações de água.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 25/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

Essa hierarquização é, antes de mais, necessária para resolver os conflitos entre pedidos de utilização de
água para fins diversos ou com níveis de aproveitamento diferenciados. O artigo 18º do Decreto-Lei n.º
46/94 determina que, caso se verifiquem “pedidos de utilização do domínio hídrico conflituosos, deve
considerar-se que a prioridade de utilização de água é, sempre que possível, a seguinte: 1º) consumo
humano; 2º) agricultura; 3º) indústria; 4º) produção de energia; 5º) turismo; 6º) outros”.
As regras de hierarquização entre pedidos de utilização de água para fins diversos acabadas de enunciar não
pressupõem, necessariamente, a existência de um conflito actual entre pretensões de utilização do domínio
hídrico incompatíveis. Nos termos do artigo 20º do Decreto-Lei n.º 46/94, qualquer que seja a finalidade da
captação de água, a admissibilidade de utilização da água depende das disponibilidades hídricas e da
inexistência de incompatibilidades com outras utilizações prioritárias, quer estas já estejam licenciadas ou
em vias de licenciamento, quer se encontrem apenas previstas em instrumentos de planeamento.
Integram também o regime comum aos dois títulos de utilização do domínio hídrico legalmente previstos as
disposições do Decreto-Lei n.º 46/94 que se referem à revogação e revisão dos títulos de utilização, bem
como aquelas que respeitam à sua transmissibilidade e caducidade.
Refira-se ainda que apesar do regime geral do licenciamento constar do Decreto-Lei n.º 46/94, o Decreto-Lei
n.º 194/2000, de 21 de Agosto, que transpôs para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 96/61/CE, do
Conselho, de 24 de Setembro, relativa à prevenção e controlo integrados da poluição, no seu artigo 32.º,
dispõe que o procedimento para a emissão de licença de utilização do domínio hídrico, regulado pelo
Decreto-Lei n.º 46/94, e a que estão sujeitas as actividades constantes do anexo I, para efeitos da captação de
águas ou de rejeição de águas residuais, é integrado no procedimento de licença ambiental previsto neste
diploma. Assim, impõe-se uma articulação dos dois regimes jurídicos referidos.
Esta solução merece alguma crítica na medida em que estamos perante uma matéria de grande
complexidade, desde logo no que concerne à compreensão do regime jurídico aplicável. Melhor seria, depois
de transposta a directiva comunitária, proceder a uma revisão global da legislação com ela conexa, evitando
assim o carácter fragmentário do normativo aplicável, que é precisamente uma das críticas recorrentemente
apontadas à produção legislativa em matéria ambiental.
Conforme anunciámos supra, não sendo possível tratar exaustivamente de todas as especificidades que
podemos encontrar relativamente a cada aproveitamento do domínio hídrico, optou-se por dar conta, num
pequeno apontamento, de alguns aspectos do regime jurídico da utilização do domínio hídrico para
aproveitamento hidroeléctrico. Já sabemos que uma das utilizações do domínio hídrico que, nos termos do
Decreto-Lei nº 46/94, carece de título de utilização é a captação de águas. De entre as finalidades que essa
captação pode assumir, destaca-se a produção de energia hidroeléctrica. A complexa legislação específica
que se lhe aplica mostra bem a relevância desta utilização do domínio hídrico.
Começando pelo normativo que releva nesta matéria, o Decreto-Lei n.º 182/95, embora estabeleça as bases
da organização do Sistema Eléctrico Nacional e os princípios que enquadram o exercício das actividades de
produção, transporte e distribuição de energia eléctrica, não se aplica a todas as actividades de produção de
energia eléctrica. O n.º 2 do artigo 1º exclui expressamente do seu âmbito de aplicação o exercício da
actividade de produção de energia eléctrica, seja a partir de energias renováveis em geral ou em instalações
de cogeração, seja em aproveitamentos hidroeléctricos até 10 MVA de potência aparente instalada.
Em conformidade, também os diplomas que, complementando as bases fixadas no Decreto-Lei 182/95,
disciplinam o exercício da actividade de produção e distribuição de energia eléctrica só se aplicam no
âmbito do Sistema Eléctrico de Serviço Público e, quanto ao Sistema Eléctrico Independente, no domínio do
Subsistema Eléctrico não Vinculado (Decretos-Leis n.º 183/95 e 184/95, ambos publicados no dia 27 de
Julho e alterados pelo já citado Decreto-Lei n.º 56/97).
A regulação da actividade de produção de energia eléctrica, no âmbito do Sistema Eléctrico Independente,
em aproveitamentos hidroeléctricos até 10 MVA de potência aparente instalada consta, essencialmente, do
Decreto-Lei n.º 189/88, de 27 de Maio. Este diploma foi, entretanto, objecto de diversas alterações (Decreto-
Lei n.º 46/94, de 22 de Fevereiro, Decreto-Lei n.º 313/95, de 24 de Novembro, Decreto-Lei n.º 56/97, de 14
de Março e Decreto-Lei n.º 168/99, de 18 de Maio). Não basta, portanto, atender ao disposto no Decreto-Lei
n.º 46/94, de 22 de Fevereiro. É certo que neste último diploma se estabelece, entre outras coisas, que a
actividade de captação de águas para produção de energia hidroeléctrica e o estabelecimento de infra-

26/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

estruturas hidráulicas estão sujeitas a título de utilização. Só que não pode deixar de se atender ao regime
especial que consta do citado Decreto-Lei n.º 189/88. Acresce que o regime específico dos procedimentos
administrativos em vista à obtenção de autorização de utilização de água para aproveitamento hidroeléctrico
consta da Portaria n.º 445/88, de 8 de Julho, alterada pela Portaria n.º 958/89, de 28 de Outubro, a qual
estabelece ainda as regras e os critérios a observar em caso de coexistência de mais de um pretendente à
utilização de um mesmo local.
Naturalmente, embora o n.º 2 do artigo 91º do Decreto-Lei n.º 46/94 mantenha em vigor a Portaria n.º
445/88, este preceito só admite a sua aplicação na medida em que ela não seja contrária ao disposto no
referido diploma.
No que toca ao título a que se sujeita a utilização do domínio hídrico para aproveitamento hidroeléctrico,
mais concretamente à captação de água para produção de energia hidroeléctrica, vimos que o n.º 1 do artigo
31º do Decreto-Lei n.º 46/94 sujeita a licença os aproveitamentos em que a potência instalada seja até 10
MVA, só admitindo o contrato de concessão nos casos em que a potência instalada exceda esse limite.
Depois de traçar, em termos gerais, qual a prioridade de utilização de água em caso de pedidos de utilização
do domínio hídrico conflituosos (artigo 18º do Decreto-Lei n.º 46/94), o legislador, no que concerne a esta
utilização do domínio hídrico, determina, no n.º 7.5. da Portaria n.º 445/88, alterada pela Portaria n.º 958/89,
que “em todos os casos, a prioridade concedida aos fins de abastecimento de água às populações ou de rega e
uso agrícola limita-se à utilização das quantidades de água estritamente necessárias para a realização
destes fins”.
A liberalização da produção de energia eléctrica em aproveitamentos hidroeléctricos pode, também, conduzir
a um afluxo de pedidos de utilização de água para o mesmo fim e com níveis próximos de rentabilidade. A
Portaria n.º 445/88, alterada pela Portaria n.º 958/89, vem, justamente, estabelecer as regras e os critérios a
observar em caso de coexistência de mais de um pretendente à utilização de um mesmo local.
O Decreto-Lei n.º 90/90, de 16 de Março, estabeleceu o regime jurídico das actividades de prospecção,
pesquisa e exploração dos recursos geológicos, integrados ou não no domínio público.
Este diploma, no seu artigo 51º, remete para regulamentação própria cada uma das categorias de recursos
geológicos. Assim, os Decretos-Lei nºs. 84/90, 85/90, 86/90, 87/90, 88/90 e 89/90, todos de 16 de Março,
regulamentam, respectivamente, os aproveitamentos de águas de nascente, das águas mineroindustriais, de
águas minerais naturais, de recursos geotérmicos, de depósitos minerais naturais e das massas naturais.
Naturalmente, interessam-nos em particular os três primeiros aproveitamentos.
Nos termos do artigo 10º do Decreto-Lei n.º 90/90, a exploração dos recursos que não se integram no
domínio público do Estado depende da prévia obtenção de licença de estabelecimento, a qual só pode ser
concedida ao proprietário do prédio ou a terceiro, se tiver celebrado contrato de exploração com o
proprietário. O diploma citado não desenvolve o regime de atribuição daquele licença, dedicando, com
efeito, quase todas as suas disposições aos direitos sobre recursos do domínio público. Assim, quanto ao
licenciamento da exploração de recursos que não se integrem no domínio público, há que observar aquilo
que dispõe a regulamentação específica que se lhes aplica.
Concretamente, o Decreto-Lei n.º 84/90, de 16 de Março, aplica-se ao aproveitamento de águas de nascente,
precisamente um dos recursos geológicos que, nos termos do n.º 3 do artigo 1º do Decreto-Lei n.º 90/90, não
se integra no domínio público do Estado.
Nos termos do Decreto-lei n.º 84/90 a qualificação de um água como água de nascente compete à Direcção-
Geral de Geologia e Minas, a qual verifica a conformidade das características do recurso com a definição
constante do artigo 6º do Decreto-Lei n.º 90/90, após emissão de parecer da Direcção-Geral dos Cuidados de
Saúde Primários.
Procedimento de Delimitação do Domínio Privado dentro do Domínio Hídrico
O Decreto-Lei n.º 468/71, de 5 de Novembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 89/87, de 26 de Fevereiro,
consagra o regime jurídico dos terrenos do domínio público hídrico, no qual se incluem os leitos, as margens
e as zonas adjacentes das águas do mar, correntes de água, lagos e lagoas. Ou seja, este diploma não se dirige
às águas integradas no domínio público, mas sim aos terrenos públicos conexos com essas águas.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 27/66 (2 - II)


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O artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 468/71 trata da “condição jurídica dos leitos, margens e zonas adjacentes”. De
acordo com este preceito, consideram-se do domínio público do Estado os leitos e margens das águas do mar
e de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis, “sempre que tais leitos e margens lhe pertençam, e bem assim
os leitos e margens das águas não navegáveis nem flutuáveis que atravessem terrenos públicos do Estado”.
Como se repara, estamos perante uma redacção complexa, definindo-se o domínio público do Estado de
forma tautológica.
Os leitos e margens das águas não navegáveis nem flutuáveis que atravessem terrenos particulares, bem
como as parcelas dos leitos e margens das águas do mar e de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis que
forem objecto de desafectação ou reconhecidas como privadas consideram-se objecto de propriedade
privada, o mesmo se verificando relativamente às zonas adjacentes, estando estas sujeitas a restrições de
utilidade pública.
No que toca ao necessário reconhecimento da propriedade privada sobre parcelas de leitos ou margens
públicos, o artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 468/71 sujeita os particulares interessados nesse reconhecimento a
um complexo procedimento probatório, de que é sintomático a exigência de apresentação de documentos que
demonstrem que os terrenos em causa eram, por título legítimo, objecto de propriedade particular ou comum
antes de 31 de Dezembro de 1864, ou, tratando-se de arribas alcantiladas, antes de 22 de Março de 1868. Na
falta destes documentos, os terrenos em relação aos quais se prove que, naquelas datas, estavam na posse, em
nome próprio de particulares ou na fruição conjunta de indivíduos compreendidos em certa circunscrição
administrativa presumem-se particulares.
Finalmente, também a delimitação dos leitos e margens dominiais confinantes com terrenos de outra
natureza se apresenta bastante complexa. Com efeito, essa delimitação implica a constituição de comissões,
que integram representantes dos proprietários dos terrenos confinantes com os leitos ou margens a delimitar.
A delimitação é feita pelo Estado, oficiosamente ou a requerimento dos interessados. Mas note-se que a
delimitação por via administrativa não preclude a competência dos tribunais comuns para decidir da
propriedade ou da posse dos leitos e margens, ou das suas parcelas.
Inexistência de uma Lei de Águas
O Decreto nº 5 787-4I, de 10 de Maio de 1919, dito “Lei de Águas” foi, à época, promulgado para valer
como lei na sequência dos seguintes considerandos expressos no seu curto preâmbulo redigido com
linguagem de grande elegância:
“(...) Sendo as águas das correntes, dos lagos e lagoas, bem como as pluviais e subterrâneas, um dos mais
importantes factores da riqueza nacional, cujo desenvolvimento ao Governo cumpre auxiliar e fomentar;
Atendendo a que a legislação reguladora do uso das mesmas águas se encontra dispersa por vários
diplomas, alguns dos quais, baseados em princípios que os progressos da ciência moderna condenam,
carecem de ser reformados, e outros mais recentes incluem disposições cujos inconvenientes, revelados pela
prática, importa prover de eficaz remédio;
O Decreto nº 5 787-4I foi sendo completado ou alterado, conforme os casos:
- pelo Decreto nº 13 112, de 24 de Janeiro de 1927, que regulamentou os requerimentos de pedidos de
aproveitamento das águas públicas previstos no artigo 38º do Decreto nº 5 787-4I;
- pelo Decreto nº 15 193, de 13 de Março de 1928, [derrogado pelo Decreto-Lei nº 23 925, de 29 de
Maio de 1934, e revogado pelo Decreto-Lei nº 33 236, de 16 de Novembro de 1943], que alterou o § 2º
do artº 17º da “Lei de Águas” revogando a legislação em contrário;
- pelo Decreto nº 18 163, de 28 de Março de 1930, que continha disposições acerca de concessões de
utilidade pública para aproveitamento da energia das águas requeridas por um município ou municípios
federados, na sequência do Decreto nº 5 787-4I, revogando a legislação em contrário;
- pelo Decreto-Lei nº 23 925, de 29 de Maio de 1934, [alterado pelo Decreto-Lei nº 468/71, de 5 de
Novembro e derrogado pelo Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro], que prorrogou, até à revisão da
“Lei de Águas”, o prazo de 10 anos estabelecido no § 1º do seu artº 17º, revogando o Decreto nº 15
193, de 13 de Março de 1928, na parte aplicável, e o artº 27º do Decreto 5 787-4I;

28/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

- pelo Decreto-Lei nº 24 859, de 7 de Janeiro de 1935, que regulou a expropriação de águas e terrenos
particulares destinados ao abastecimento de povoações, e bem assim a utilização de águas públicas
para o mesmo fim, revogando disposições do Decreto nº 5 787-4I e do respectivo regulamento que ao
assunto se referem;
- pelo Decreto-Lei nº 33 236, de 16 de Novembro de 1943, [derrogado pelo Decreto-Lei nº 46/94, de 22
de Fevereiro], que reviu o regime de utilização de águas públicas, quer mediante licença, quer
mediante concessão, revogando o § 2º do artº 17º do Decreto nº 5 787-4I e o Decreto nº 15 193;
- pelo Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro, [alterado pelo Decreto-Lei nº 234/98, de 22 de Julho],
que estabelece o regime de licenciamento da utilização do domínio hídrico, sob jurisdição do Instituto
da Água, o qual mantém da “Lei de Águas” apenas o seu artº 1.
Não é possível assegurar que os sete diplomas que ficaram referidos tenham sido os únicos que completaram
ou alteraram o Decreto nº 5 787-4I, isto é, a “Lei de Águas” de 1919, o que significa que, em rigor, é difícil
ter-se a certeza de quais as suas disposições que ainda possam ter, indubitavelmente, força de lei.
Esta dificuldade resulta, de modo especial, do emprego, em vários diplomas, de fórmulas evasivas de
derrogação e mesmo de revogação, dos tipos “fica revogada a legislação em contrário” ou “fica revogado na
parte aplicável”, e que deve ter sido, seguramente, sentida pelo legislador do Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de
Fevereiro, quando adopta, no artº 91º (Norma derrogatória), a seguinte fórmula introdutória “(...) Não se
aplicam na matéria respeitante ao presente diploma: (...)”. Quer então dizer, por exemplo, que as
disposições do Decreto nº 5 787-4I, de 10 de Maio de 1919, com excepção do seu artº 1º cujas disposições
não são das que não se aplicam na matéria respeitante ao Decreto-Lei nº 46/94, serão ainda válidas para
outras matérias que não respeitem ao mesmo diploma.
Em meados dos anos 70, cerca de 60 anos decorridos da promulgação da “Lei de Águas”, a legislação
vigente sobre a posse, uso e regime das águas continuava a assentar, fundamentalmente, no Decreto nº 5 787-
4I, completado e actualizado por diplomas, entre os quais:
- o Decreto-Lei nº 48 483, de 11 de Julho de 1968, onde se esboça a aplicação dos princípios do
utilizador-pagador e poluidor-pagador;
- o Decreto-Lei nº 468/71, de 5 de Novembro, que unificou o regime jurídico dos terrenos do domínio
público hídrico;
- o Decreto-Lei nº 605/72, de 30 de Dezembro, que estabeleceu o princípio de que “a luta contra a
poluição deve inserir-se na própria política dos recursos hídricos, a qual, para ser eficaz, tem de ser
unificada e exercer-se no quadro natural das bacias hidrográficas”;
- o Decreto-Lei nº 117-D/76, de 10 de Fevereiro, que criou na Secretaria de Estado dos Recursos Hídricos
e do Saneamento Básico, o Conselho Nacional da Água e as Direcções-Gerais dos Recursos e
Aproveitamentos Hidráulicos e do Saneamento Básico;
- o Decreto-Lei nº 383/77, de 10 de Setembro, que aprovou a Lei Orgânica da Direcção-Geral dos
Recursos e Aproveitamentos Hidráulicos;
- o Decreto-Lei nº 376/77, de 5 de Setembro, que sujeitou a licenciamento prévio a abertura de poços e
furos para captação e extracção de águas subterrâneas em alguns concelhos dos distritos de Coimbra,
Leiria e Setúbal, mantendo as águas subterrâneas, em regra, privadas mas submetendo a sua captação e
a sua utilização a determinadas regras de interesse público.
Àparte tais actuações, a “Lei de Águas” de 1919 nunca foi objecto de uma revisão e actualização global, não
obstante ter havido uma iniciativa governamental de revisão da legislação da água.
Chegados aos finais do século, um pouco mais de 80 anos decorridos sobre a promulgação da “Lei de
Águas” de então, a legislação sobre a posse, uso e regime das águas continua contida numa enorme dispersão
de diplomas, e do Decreto 5 787-4I parecerá subsistir apenas o artº 1º, expressamente validado, como já
referido, pelo Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 29/66 (2 - II)


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2.2. Quadro Institucional


A presente análise compreende um enquadramento genérico sobre a estrutura administrativa responsável
pelo sector para, numa segunda parte, em função do normativo específico da gestão e classificação das
águas, se proceder à identificação das entidades administrativas competentes no âmbito da gestão de recursos
hídricos.
Os princípios constitucionais em matéria de organização administrativa, constam essencialmente no artigo
266º da Lei Fundamental, que para a presente situação importa destacar o da racionalidade organizativa e de
uma eficaz descentralização e desconcentração.
Por outro lado, no que se refere às relações Administração/Cidadãos, convém não perder de vista as
orientações do artigo 268º da Constituição, pelo qual se estabelece o comando normativo da Administração
aberta, transparente e participada, ou seja numa palavra uma Administração compatível com o Estado de
Direito e consequentemente democrática.
A Lei n.º 11/87, de 7 de Abril (LBA) ao densificar o conteúdo normativo-constitucional ambiental (artºs 9º e
66º), impõe igualmente um conjunto de princípios específicos de política ambiental, aos quais obviamente a
estrutura administrativa deve dar resposta e consequentemente ter em conta na sua unidade organizativa.
Deste modo a estrutura e actuação administrativa deve ter em conta, essencialmente, o preceituado no artigo
3º da L.B.A., pelo que:
a) Actuação tendencialmente preventiva – A Administração Pública Ambiental deve desenvolver tal
preocupação e deste modo preparar os respectivos recursos humanos técnicos nessa óptica;
b) Actuação integrativa – reconhecendo-se a horizontalidade da política ambiental, importa obviamente
preparar as estruturas administrativas nesse sentido;
c) Subsidariedade – a alínea f) deste preceito da L.B.A., embora com a designação de “nível mais
adequado de acção”, consagra efectivamente uma política de acção subsidiária, a qual naturalmente
impõe níveis muito concretos de descentralização e desconcentração administrativa;
d) Cooperação internacional – tendo presente a génese da política ambiental, a designada
“solidariedade espacial” é um vector importante da actuação deste sector, razão porque as estruturas
administrativas ambientais devem dedicar particular atenção a esta matéria;
e) Participação – Não obstante a consagração constitucional da perspectiva de uma actuação
administrativa aberta, transparente e participada pelos cidadãos, a alínea c) deste preceito estipula
claramente tal orientação, sendo de facto fundamental a designada “responsabilidade partilhada” na
área ambiental, razão porque as instituições administrativas devem possuir especial
preparação/vocação na matéria;
f) Unidade de gestão e acção – Em complementaridade e articulação com os objectivos supra
mencionados, designadamente subsidariedade e participação, deve existir uma coordenação nacional
da política de ambiente e ordenamento do território, no que de algum modo tem hoje consagração
com a criação do Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território (MAOT).

2.2.1. Instituições e Organizações Internacionais e Competências em Recursos


Hídricos
No contexto da Organização das Nações Unidas, várias das suas agências especializadas, alguns dos seus
programas e fundos, todas as comissões regionais e diversas convenções e décadas, realizam actividades
relacionadas com a problemática da água e dos recursos hídricos integradas, em particular, no Programa
Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos (WWAP - World Water Assessment Programme) lançado pela
Sub-comissão de Coordenação das Nações Unidas sobre os Recursos de Água na sequência do Plano de
Acção do Mar del Plata adoptado pela Conferência das Nações Unidas sobre a água em 1977, a Conferência
de Dublin sobre a água e o ambiente em 1992, a Cimeira do Planeta Terra, realizada no Rio de Janeiro no
mesmo ano e o relevante documento nela produzido, Acção 21, e dando satisfação à recomendação expressa
pela Comissão do desenvolvimento sustentável e com o apoio sem reservas da Conferência Ministerial de
Haia de Março de 2000. Com mais directas implicações com o nosso País citam-se: das agências

30/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

especializadas, a FAO - Organização da Agricultura e da Alimentação, a UNESCO - Organização das


Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, designadamente com o Programa Hidrológico
Internacional (IHP), o OMS - Organização Mundial da Saúde, a OMM - Organização Meteorológica
Internacional, em particular com os Programas de Hidrologia e Recursos Hídricos (HWR) e de Clima
Mundial (WCP); das comissões regionais, a Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa, que
assegura a aplicação e o desenvolvimento da Convenção de Helsínquia; das convenções e décadas, a
Convenção para a Luta contra a Desertificação e a Convenção para as Mudanças Climáticas.
Na sua recente Declaração do Milénio, a ONU apelou a todos os países para “(...) reduzirem a metade até
2015 a proporção (...) das pessoas que não têm acesso à água potável ou que dispõem de meios para a obter
(...)” e a “(...) pôr fim à exploração irracional dos recursos hídricos, formulando estratégias de gestão da
água aos níveis regional, nacional e local, permitindo, nomeadamente, assegurara um acesso equitativo e
um aprovisionamento adequado (...)”. Levando em conta os apelos da Declaração, o objecto do Programa
Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos atrás referido é o de realizar progressivamente a avaliação da
situação mundial dos recursos disponíveis, publicando, em particular, um Relatório Bienal sobre a
valorização da água no Mundo (WWDR - World Water Development Report).
No âmbito das direcções-gerais e serviços da Comissão Europeia da UE, a Direcção-Geral do Ambiente é o
departamento cujas atribuições mais directamente tem em conta matérias relativas aos recursos hídricos.
De referir que o INAG é membro do Conselho Mundial da Água (WWC - World Water Council),
organização internacional apoiada por governos, outras organizações internacionais, instituições financeiras
internacionais, entidades nacionais e internacionais de gestão da água e empresas privadas, empenhados na
melhoria da gestão dos recursos hídricos mundiais. Levou a efeito, em 1997, em Marraqueche, o Primeiro
Fórum Mundial da Água, em 2000, em Haia, o segundo, e estando programados os dois seguintes para
Kioto, em 2003, e para Montreal, em 2006.

2.2.2. Administração Pública e Estadual


O Decreto-Lei n.º 474-A/99, de 8 de Novembro, ao aprovar a lei orgânica do XIV Governo Constitucional,
instituiu no artigo 25º o Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território, constituído pelos serviços
e organismos pertencentes ao Ministério do Ambiente, no quadro do XIII Governo Constitucional, bem
como pela transferência de três serviços e organismos do ministério do Equipamento, do Planeamento e da
Administração do Território, a saber, Centro Nacional de Informação Geográfica; Direcção-Geral do
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano e Instituto Português de Cartografia e Cadastro.
O Decreto-Lei n.º 120/2000, de 4 de Julho, que aprovou a orgânica do Ministério do Ambiente e do
Ordenamento do Território (M.A.O.T.), veio obviamente concretizar a opção traçada pela orgânica do
Governo, pelo que trata-se de um diploma fundamental na apreciação da estrutura administrativa do sector,
de que importa destacar:
A articulação entre o Ambiente e o Ordenamento do Território é uma opção inovadora, Tal articulação
constava já como princípio da Lei de Bases do Ambiente, o qual conhece agora a sua concretização;
Cabe ao M.A.O.T. “a definição, coordenação e execução da política do ambiente e do ordenamento do
território” – n.º 1 do artº 1º - e designadamente, para a matéria em apreço, “gerir de forma global e integrada
os recursos hídricos nacionais, permitindo adequar os perfis temporais de disponibilidade e procura,
nomeadamente através da definição de níveis apropriados para os serviços de abastecimento de água e de
drenagem de águas residuais, da utilização criteriosa da água para outras finalidades, do controlo da poluição
e da salvaguarda dos meios hídricos” – alínea c) do nº 2 do art.º 1º;
“Assegurar a gestão do litoral de forma integrada e sustentada e promover a implementação de acções e
medidas indispensáveis à sua requalificação e ordenamento, tendo em vista a salvaguarda e preservação dos
valores ambientais;” – alínea j) do n.º 2 do art.º 1º.
As disposições legais em vigor pertinentes às atribuições do MAOT, da IGA, da DGA, do GRI, das DRAOT,
do INAG e do CNA em matérias de recursos hídricos constam dos seguintes artigos dos diplomas indicados,
dos quais se reproduzem, nas caixas das páginas seguintes, as passagens mais significativas quanto a
atribuições, directas ou indirectas, expressas ou implícitas:

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 31/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

Artigos sobre atribuições em matéria de recursos hídricos


os
Decretos-Lei n MAOT IGA DGA GRI DRAOT INAG CNA
189/93, de 24 de Maio 2º
2º, 7º,
191/93, de 24 de Maio
8º e 9º
166/97, de 2 de Julho 4º
37/98, de 24 de Fevereiro 2º
549/99, de 14 de Dezembro 4º e 5º
120/2000, de 4 de Julho 1º 7º 9º 11º 12º 14º 21º
127/2001, de 17 de Abril 2º

Um quadro apresentado em seguida está organizado de tal modo a poderem-se sublinhar as atribuições e
competências concretas de serviços e organismos do MAOT relativamente às descargas de águas residuais e
à qualidade da água, estando contemplados nesse quadro os seguintes diplomas:
− Portaria nº 809/90, de 10 de Setembro (matadouros e unidades de processamento de carnes);
− Portaria nº 810/90, de 10 de Setembro (suinicultura);
− Portaria nº 505/92, de 19 de Junho (pasta de papel e papel kraft liner);
− Portaria nº 512/92, de 22 de Junho (curtumes);
− Portaria nº 1 030/93, de 14 de Outubro (tratamentos de superfície);
− Portaria nº 1 033/93, de 15 de Outubro (mercúrio na electrólise dos cloretos alcalinos);
− Portaria nº 1 049/93, de 19 de Outubro (amianto);
− Portaria nº 895/94, de 3 de Outubro (EDC, TRI, PER e TCB);
− Portaria nº 1 147/94, de 26 de Dezembro (dióxido de titânio);
− Decreto-Lei nº 52/99, de 20 de Fevereiro (mercúrio que não o da electrólise dos cloretos alcalinos);
− Decreto-Lei nº 53/99, de 20 de Fevereiro (cádmio);
− Decreto-Lei nº 54/99, de 20 de Fevereiro (HCH);
− Decreto-Lei nº 56/99, de 26 de Fevereiro (tetracloreto de carbono, DDT, PCF, drinas, HCB, HCBD e
CHCl3).

32/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

Atribuições e competências específicas de serviços e organismos do MAOT, relativamente a descargas


de águas residuais e à qualidade da água, com excepção das previstas nos
os
Decretos-Lei n 152/97, de 19 de Junho, e 236/98, de 1 de Agosto

P 1 030/93

P 1 033/93

P 1 049/93

P 1 147/94

DL 52/99

DL 53/99

DL 54/99

DL 56/99
P 809/90

P 810/90

P 505/92

P 512/92

P 895/94
Serviços /
Actuações
/ Organismos

Licenciamento /
Requisitos do DRAOT            
licenciamento

Normas de descarga / INAG


Aplicação dos valores      
limite DRAOT

Sistema de controlo / INAG


Autocontrolo e
fiscalização / DGA             
Verificação de
conformidade DRAOT

Prevenção de descargas INAG


acidentais / Situações de      
risco DRAOT

INAG
Inventário e relatórios /
     
Relatórios anuais
DRAOT

INAG
Programas de redução
  
de poluição
DRAOT

Derrogações INAG 

Regiões Autónomas INAG    

INAG
Comunicação à
   
Comissão Europeia
GRI

Os diplomas seguintes contemplam a atribuições e as competências específicas de serviços e organismos do


MAOT relativamente a descargas de águas residuais e à qualidade da água contempladas:
− no Decreto-Lei nº 152/97, de 19 de Junho, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 348/98,
de 9 de Novembro (águas residuais urbanas);
− no Decreto-Lei nº 236/98, de 1 de Agosto (qualidade das águas);
e relativamente ao planeamento e utilização do domínio público hídrico e correspondente regime económico
e financeiro:
− do Decreto-Lei nº 45/94, de 22 de Fevereiro (processo de planeamento de recursos hídricos e elaboração
e aprovação dos planos de recursos hídricos);

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 33/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

− do Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro (regime de utilização do domínio hídrico, sob jurisdição do


INAG);
− do Decreto-Lei nº 47/94, de 22 de Fevereiro (regime económico e financeiro da utilização do domínio
público hídrico, sob jurisdição do INAG).
No que concerne atribuições e competências específicas de serviços e organismos do MAOT atrás indicados
há que assinalar, ainda, as pertinentes à legislação sobre:
− poluição por nitratos de origem agrícola;
− impactes ambientais.
Quanto à legislação sobre poluição por nitratos de origem agrícola sobressai a contida no Decreto-Lei nº
235/97, de 3 de Setembro, alterado pelo Decreto-Lei nº 68/99, de 11 de Março, em que:
a) no nº 2 do artº 4º, na redacção do Decreto-Lei nº 68/99, se estabelece que a lista considerada no número
precedente (das águas poluídas e susceptíveis de serem poluídas, bem como das “zonas vulneráveis”,
entretanto constante da Portaria nº 1 037/97, de 1 de Outubro, e cuja identificação resultou de proposta
do INAG segundo o mesmo número) “(...) deverá ser analisada e, se necessário, revista ou aumentada
em tempo oportuno e, pelo menos, de quatro em quatro anos (...)”;
b) no artº 5º, na redacção do Decreto-Lei nº 68/99, se atribui às DRA (de facto, agora às DRAOT), sob a
coordenação do INAG, e em concertação com as direcções regionais da agricultura, a competência para
se realizar “(...) um programa de controlo da concentração de nitratos nas águas doces durante um ano
(...)” que “(...) deverá ser repetido pelo menos de quatro em quatro anos, excepto (...) nestes casos (...)
só necessita de ser aplicado de oito em oito anos (...)”, e para “(...) a avaliação do estado de
eutrofização das águas doces superficiais, dos estuários e das águas costeiras, de quatro em quatro
anos (...)”;

Atribuições e competências específicas de serviços e organismos do MAOT


relativamente a descargas de águas residuais e à qualidade da água previstas nos
os
Decretos-Lei n 152/97, de 19 de Junho, e 236/98, de 1 de Agosto

Serviços /
Artigos do DL 152/97 Artigos do DL 236/98
/ Organismos

6º, 7º, 9º, 10º, 11º, 12º , 14º, 15º, 17º, 18º, 19º, 33º, 35º, 36º,
INAG 3º, 7º, 12º e 15º 37º, 38º, 39º, 41º, 42º, 44º, 45º, 46º, 47º, 48º, 50º, 51º, 54º,
55º, 56º, 57º, 62º, 65º, 66º, 68º, 71º, 72º, 78º e 81º

6º, 7º, 8º, 9º, 10º, 11º, 12º, 14º, 15º, 16º, 17º, 18º, 19º, 21º,
4º, 5º, 6º, 7º, 8º, 12º, 23º, 24º, 28º, 29º, 33º, 34º, 35º, 36º, 37º, 38º, 41º, 42º, 43º,
DRAOT
13º e 17º 44º, 45º, 46º, 47º, 50º, 51º, 52º, 53º, 54º, 55º, 56º, 58º, 59º,
60º, 61º, 62º, 64º, 65º, 66º, 67º, 69º, 70º, 71º, 77º e 78º

11º, 19º, 20º, 21º, 22º, 25º, 29º, 30º, 31º,


DGA
56º, 66º, 71º, 75º, 78º e 81º

IGA 13º 24º, 70º, 71º e 77º

ICN 33º, 34º, 36º, 38º e 41º

IM 10º, 29º, 37º, 45º, 52º e 55º

Comissão de
16º
acompanhamento

GRI 12º, 31º, 39º, 47º, 57º e 72º

34/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

Atribuições e competências específicas de serviços e organismos do MAOT


relativamente ao planeamento e utilização do domínio público hídrico
e correspondente regime económico e financeiro

Serviços /
Artigos do DL 45/94 Artigos do DL 46/94 Artigos do DL 47/94
/ Organismos

37º, 43º, 51º, 13º, 14º, 15º, 16º,


INAG 5º
85º e 90º 17º e 21º

5º, 7º, 13º, 15º, 16º, 19º,


21º, 22º, 23º, 24º, 37º, 38º, 11º, 13º, 14º, 15º,
DRAOT 5º
39º, 43º, 48º, 51º, 52º, 58º, 20º e 21º
78º, 81º, 85º, 88º, 89º e 90º

CNA 10º

c) o nº 1 do artº 6º prevê a aprovação, pelos Ministros da Agricultura e do Ambiente, de um Código de


Boas Práticas Agrícolas;
d) o nº 3 do mesmo artigo atribui competência aos serviços dependentes dos Ministérios da Agricultura e
do Ambiente para se “(...) desenvolver, concertadamente, programas de formação e informação aos
agricultores, visando promover a aplicação do Código de Boas Práticas Agrícolas (...)”;
e) o nº 1 do artº 7º, na redacção do Decreto-Lei nº 68/99, estabelece a aprovação, por portaria do Ministro
da Agricultura, de “(...) programas de acção a aplicar às zonas identificadas como vulneráveis (...)”,
que “(...) deverão estar executados no prazo de quatro anos a contar da respectiva aprovação (...)”
devendo tal portaria ter entrado em vigor, dois anos contados da data de publicação do Decreto-Lei nº
235/97, isto é, até 3 de Setembro de 1999;
f) no nº 1 do artº 8º prevê-se a elaboração “(...) de quatro em quatro anos (...) de (...) um relatório de
situação (...) contendo as informações mencionadas no anexo V (...)”;
g) o artº 9º cria “(...) uma comissão técnica destinada a acompanhar a execução do presente diploma, cuja
composição e funcionamento serão definidos por despacho dos Ministros da Agricultura (...) do
Ambiente e da Saúde (...)”.
A legislação que importa realçar sobre impactes ambientais é o Decreto-Lei nº 69/2000, de 3 de Maio, o qual
atribui à DGA:
− em certos casos, o estatuto de Autoridade de AIA (alínea a) do nº 1 do artº 7º);
− as funções de coordenação geral e de apoio técnico do procedimento de AIA (nº 1 do artº 10º);
− competência para dar notícia à IGA de conhecimento de situações que indiciem a prática de uma contra-
-ordenação (nº 2 do artº 36º);
− o encargo de receber de serviços e organismos das administrações regionais autónomas informação
necessária ao cumprimento da obrigação de notificação à Comissão Europeia (nº 2 do artº 44º);
à IGA:
− competência para fiscalizar o cumprimento das disposições previstas no diploma, ou dele resultantes, e
para proceder ao respectivo sancionamento (nº 1 do artº 36º);
− o direito a receber 30% do produto das coimas (artº 42º);

às DRAOT:

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 35/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

− em certos casos, o estatuto de Autoridades de AIA (alínea b) do nº 1 do artº 7º);


− fazerem-se representar, em certas circunstâncias, nas comissões de avaliação dos procedimentos de AIA
(alínea e) do nº 1 do artº 9º).
No tocante a planos de ordenamento as disposições legais em vigor pertinentes aos POAAP - planos de
ordenamento de albufeiras de águas públicas (Decreto-Lei nº 502/71, de 19 de Novembro, e Decreto
os
Regulamentar nº 2/88, de 20 de Janeiro, com as alterações dos Decretos Regulamentares n 37/91, de 23 de
Julho, e 33/92, de 2 de Dezembro, e do Decreto-Lei nº 151/95, de 24 de Junho) e aos POOC -
- planos de ordenamento da orla costeira (Decreto-Lei nº 309/93, de 2 de Setembro, com as alterações dos
os
Decretos-Lei n 218/94, de 20 de Agosto, e 151/95, de 24 de Junho) atribuem competências ao INAG.
A legislação em vigor sobre a REN - Reserva Ecológica Nacional (Decreto-Lei nº 93/90, de 19 de Março,
os
com as alterações dos Decretos-Lei n 316/90, de 13 de Outubro, 213/92, de 12 de Outubro, e 79/95, de 20
de Abril), atribui também competências ao INAG e às DRAOT e de referir a importante intervenção do
Instituto da Conservação da Natureza na criação como áreas protegidas de águas interiores onde os valores
conservacionistas o justifiquem (n.º 2 do artigo 1º do Decreto-Lei n.º 19/93, de 23 de Janeiro), com a
consequente intervenção autorizativo-sancionadora do I.C.N., prevista nas alíneas b), d), f) e j) do n.º 1 do
artigo 22º do mesmo Decreto-Lei.
Invocando-se o cumprimento do disposto no nº 4 do artº 21º do Decreto-Lei nº 451/91, de 4 de Dezembro,
que aprovou a Lei Orgânica do XII Governo Constitucional, (“(...) as competências e o pessoal da Divisão
do Domínio Público e Concessões que sejam necessários à prossecução da política de valorização e defesa
do litoral transitam do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações para o Ministério do
Ambiente e Recursos Naturais (...)”), o Decreto-Lei nº 201/92, de 29 de Setembro, procedeu à definição das
áreas de jurisdição da Direcção-Geral de Portos e da Direcção-Geral dos Recursos Naturais (antecessora do
actual INAG), tendo a daquela já sido objecto de uma primeira definição com o Decreto-Lei nº 379/89, de 27
de Outubro, e à transferência de competências suas para esta.
O Decreto-Lei nº 468/71, de 5 de Novembro, referido nesta transcrição, alterado e completado pelo Decreto-
Lei nº 89/87, de 26 de Fevereiro, e com derrogações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de
Fevereiro, constitui o diploma com o qual o Governo pretendeu rever, actualizar e unificar o regime jurídico
dos terrenos incluídos no que se convencionou chamar domínio público hídrico, merecendo ser referido,
também, o Decreto-Lei nº 364/98, de 21 de Novembro, de elaboração obrigatória, por certos municípios, de
cartas de zonas inundáveis.
O Decreto-Lei nº 348/86, de 16 de Outubro, que definiu o sistema portuário nacional e os organismos
portuários criou o INPCM - Instituto Nacional de Portos e Costas Marítimas e estabeleceu as Bases Gerais
dos Estatutos Orgânicos das Administrações dos Portos, prevendo a extinção da Direcção-Geral de Portos e a
transformação das administrações dos portos em institutos públicos dotados de personalidade jurídica e de
autonomia administrativa, financeira e patrimonial. Com o decorrer dos anos, as Administrações do Porto de
Sines (APS), dos Portos do Douro e Leixões (APDL), do Porto de Lisboa (APL) e dos Portos de Setúbal e
Sesimbra (APSS), bem como a Junta Autónoma do Porto de Aveiro, criadas, respectivamente, pelos
os
Decretos-Lei n 305/87, de 5 de Agosto, 308/87 e 309/87, ambos de 7 de Agosto, 376/89, de 25 de Outubro,
e 40 172, de 26 de Maio de 1955, foram transformadas em sociedades anónimas de capitais exclusivamente
públicos, passando a denominar-se, abreviadamente, APS, S.A., APDL, S.A., APL, S.A., APSS, S.A. e APA,
os
S.A., respectivamente, com os Decretos-Lei n 337/98, 335/98, 336/98, 338/98 e 339/98 todos de 3 de
os
Novembro, com competências, nas respectivas áreas de jurisdição, relativas, em particular, a (n 2 dos
os
respectivos art 3º):
“(...)
− atribuição de usos privativos e definição do respectivo interesse público para efeitos de concessão,
relativamente aos bens do domínio público que lhe está afecto, bem como à prática de todos os actos
respeitantes à execução, modificação e extinção da licença ou concessão;
(...)

36/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

− expropriação por utilidade pública, ocupação de terrenos, implantação de traçados e exercício de


servidões administrativas necessárias à expansão ou desenvolvimento portuários, nos termos legais;
(...)”
Os mesmo diplomas estabelecem nos seus artos 7º o seguinte nas respectivas áreas de jurisdição:
“(...) As atribuições referentes à gestão de água, incluindo a supervisão da sua qualidade dentro da área de
jurisdição da [APS, APDL, APL, APSS ou APA], S.A., competem ao Instituto da Água e à Direcção
Regional do Ambiente [Alentejo, Norte, Lisboa e Vale do Tejo, ou Centro].”
Entretanto a Direcção-Geral dos Portos havia sido extinta pelo Decreto-Lei nº 154/92, de 25 de Julho, que
criou a Direcção-Geral de Portos, Navegação e dos Transportes Marítimos, por sua vez extinta pelo Decreto-
Lei nº 331/98, de 3 de Novembro, que criou o actual Instituto Marítimo Portuário.
Regulação
Instituto Regulador de Águas e Resíduos (IRAR), criado pelo Decreto-Lei n.º 362/98, de 18 de Novembro e
mantido pelo D.L. 120/2000, é definido pelo n.º 1 do art.º 19º deste último diploma, como sendo “...a
entidade encarregada de exercer funções reguladoras no sector da água de abastecimento público, das águas
residuais comunitárias e dos resíduos sólidos urbanos.”, o que se traduz em termos mais concretos por:
- regulamentar, orientar e fiscalizar a concepção, execução, gestão e exploração dos sistemas
multimunicipais e municipais concessionados, bem como a actividade das respectivas entidades
gestoras;
- assegurar a regulação dos respectivos sectores e o equilíbrio entre a sustentabilidade económica e a
qualidade dos serviços prestados, de modo a salvaguardar os interesses e direitos dos cidadãos no
fornecimento de bens e serviços essenciais;
- Fomentar a normalização técnica no domínio das tarefas que lhe estão confiadas;
- Assegurar o apoio à entidade concedente da exploração e gestão dos sistemas multimunicipais de
captação, tratamento e abastecimento de água para consumo público, recolha, tratamento e rejeição de
efluentes e tratamento de resíduos sólidos urbanos na apreciação de questões e soluções técnicas, bem
como de situações que relevam da gestão dos respectivos contratos.
Importa não perder de vista que esta entidade veio substituir o Observatório Nacional de Ambiente, criado no
quadro do Decreto-Lei n.º 147/95, de 21 de Junho e por isso já teve um antecedente em matéria de regulação
na área das águas, semelhante ao que vigora no sector eléctrico e no sector das telecomunicações, sendo
comum a tais entidades o enquadramento jurídico do n.º 3 do artigo 267º da Constituição.
Outros Ministérios com Intervenção na Área Ambiental
A Lei nº 113/91, de 29 de Agosto, relativa à protecção civil, refere-se ao INAG em termos de vinculação
para cooperar.
A lei orgânica do Ministério da Saúde, Decreto-Lei nº 10/93, de 15 de Janeiro, e o Estatuto do Serviço
Nacional de Saúde, aprovado pelo Decreto-Lei nº 11/93, da mesma data, atribuem, a este departamento
governamental, bem como às ARS - administrações regionais de saúde, competências em áreas tais que se
revelam evidentes das implicações em matérias dos recursos hídricos na saúde das populações.
As áreas dependentes do Ministério da Economia (ME) com óbvias ligações com os recursos hídricos são as
da indústria, da energia e do turismo.
A sua lei orgânica consta do Decreto-Lei nº 222/96, de 25 de Novembro, com as alterações do Decreto-
-Lei nº 107/99, de 31 de Março, ela se consignando-se as atribuições do ME, no seu artº 2º.
Às Direcções-Gerais da Indústria, da Energia e do Turismo, serviços centrais de coordenação, de apoio e
operacionais, são também atribuídas competências em matéria de recursos hídricos.
O ME compreende serviços regionais assegurados por delegações regionais, às quais compete, entre outras
funções, as “(...) de natureza executiva em matéria de administração industrial e energética (...) e turismo
(...)” (artº 22º).

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 37/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

Constituem-se como organismos de tutela as regiões de turismo, às quais compete “(...) a valorização
turística das respectivas áreas de intervenção no quadro da política do turismo (...)”.
No Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas (MADRP) as atribuições relativas aos
sectores agrícola, das pescas e aquicultura põem em evidência, em parte delas, implicações com os recursos
hídricos.
Os serviços do MADRP envolvidos, de forma mais relevante, nessas implicações são os seguintes (Decreto-
Lei nº 74/96, de 18 de Junho, que publicou a respectiva lei orgânica, com as alterações introduzidas pelo
Decreto-Lei nº 128/97, de 24 de Maio):
− a Direcção-Geral de Hidráulica, Engenharia Rural e Ambiente, entretanto transformada em instituto,
IHERA, cuja lei orgânica consta do Decreto-Lei nº 136/97, de 31 de Maio;
− a Direcção-Geral das Florestas, de que o Decreto Regulamentar nº 11/97, de 30 de Abril, contempla a
sua lei orgânica;
− as direcções regionais de agricultura (DRA), cuja lei quadro consta do Decreto-Lei nº 75/96, de 18 de
Junho.
Ressaltam, quanto ao IHERA, na sua lei orgânica, as seguintes competências (no artº 2º):
“(...)
− desenvolver sistemas de informação sobre as necessidades e utilização actual dos recursos hídricos na
agricultura;
(...)
− assegurar a participação e garantir a articulação, como representante do MADRP, no planeamento
nacional dos recursos hídricos efectuado pela Instituto da Água (INAG) e apoiar as direcções regionais
de agricultura (DRA) em idêntica missão a nível do planeamento integrado das bacias hidrográficas.
(...)”.
A Direcção-Geral de Floresta tem a seu cargo a coordenação e o apoio da execução da política florestal, nos
domínios, entre outros, dos recursos aquícolas das águas interiores, dispondo de uma Divisão de Pesca nas
Águas Interiores, numa Direcção de Serviços de Caça e Pesca nas Águas Interiores, a quem competem
actuações de ordenamento e gestão dos recursos aquícolas, em particular “(...) proceder à execução e apoiar
a implementação de planos de gestão dos recursos aquícolas nas bacias hidrográficas e garantir a sua
integração e articulação com os planos de bacia hidrográfica e com o plano nacional da água (...)” (artº 23º
do Decreto Regulamentar nº 11/97, de 30 de Abril).
As DRA dispõem de serviços operativos que asseguram a execução nas respectivas regiões da política
nacional nos domínios em que se exercem as atribuições do MADRP e, em particular, naqueles com
implicações nos recursos hídricos.
Levando em conta, da lista constante do nº 1 do artº 3º do Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro, as
utilizações do domínio hídrico pertinentes a:
− captação de água;
− rejeição de águas residuais;
− infraestruturas hidráulicas;
para além das câmaras municipais, enquanto gestoras de sistemas de abastecimento de água e de saneamento
de águas residuais, das concessionárias dos mesmos tipos de sistemas e dos referidos utilizadores autónomos,
há ainda que fazer referência às utilizações associadas à rega, à produção de energia e à navegação.
Com o Decreto-Lei nº 269/82, de 10 de Julho, completado pelo Decreto-Lei nº 69/92, de 27 de Abril, foi
revista a legislação sobre política de fomento agrícola e, em consequência, normalizada a vida das
associações de regantes e beneficiários, com o Decreto Regulamentar nº 84/82, de 4 de Novembro, que
estabeleceu o Regulamento das Associações de Beneficiários, e regulamentada novas associações de
agricultores, com o Decreto Regulamentar nº 86/82, de 12 de Novembro, que definiu o Regulamento das
Juntas de Agricultores, estas entendidas como “(...) entidades encarregadas de assegurar a administração, a

38/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

exploração e conservação das obras do grupo III [obras de interesse local, com impacte colectivo, conforme
classificação constante do artº 6º do decreto-lei atrás referido] em representação de todos os seus
beneficiários (...)”.
Ultrapassando 110 000 ha de área beneficiada, as associações de beneficiários existentes, distribuídas por
bacias hidrográficas, respectivas áreas e número de beneficiários, constam de quadro apresentado na página
seguinte.
Na utilização da água para a produção de energia destacam-se os aproveitamentos hidroeléctricos do SEP -
Sistema Eléctrico de Serviço Público, a cargo da EDP - Electricidade de Portugal, S.A. (Holding), do sistema
eléctrico não-vinculado e do SEI - sistema eléctrico independente (mini-hídricas) de que se apresentam
listagens dos existentes em quadros próprios adiante apresentados
Quanto às Juntas de Agricultores, até final de 1998 as que se encontravam constituídas, distribuídas por
direcções regionais de agricultura (DRA), respectivas áreas beneficiadas e número de beneficiários, constam
do quadro seguinte:

Juntas de Agricultores Área beneficiada Beneficiários


DRA
(número) (ha) (número)
Entre Douro e Minho 1 046 30 832 35 967
Trás-os-Montes 289 11 663 12 022
Beira Litoral 490 11 568 26 745
Beira Interior 225 6 885 15 690
Ribatejo e Oeste 23 7 532 3 002
Alentejo 18 5 397 677
Algarve 13 1 227 1 139
Total 2 122 75 104 95 242

Na utilização de água na produção de energia é de destacar, ainda, a que respeita a circuitos de refrigeração
de centrais termoeléctricas (águas interiores), como são os casos das seguintes do SEP:

Ano de Linha de água Potência Caudal de


Bacia Designação do
entrada Combustível solicitada instalada Refrigeração
hidrográfica aproveitamento 3
em serviço para refrigeração (MW) (m /s)
Tapada do entre 1959 e
Douro carvão Douro 150 6,9
Outeiro 1967
entre 1965 e
Carregado fuelóleo Tejo (estuário) 750 38,6
Tejo 1976
Barreiro 1979 fuelóleo Tejo (estuário) 64,5 1,6
entre 1979 e
Sado Setúbal fuelóleo Sado (estuário) 1000 34
1982

a que acresce, do sistema eléctrico não-vinculado, a Central Termoeléctrica do Pego, em que o Tejo é a linha
3
de água solicitada para refrigeração, com 2,2 m /s.
Na navegação é de salientar a criação, pelo Decreto-Lei nº 138-A/97, de 3 de Junho, do Instituto de
Navegabilidade do Douro, que sucedeu ao Gabinete de Navegabilidade do Douro, criado pelo Decreto-Lei nº
127/85, de 26 de Abril, e extinto pelo Decreto-Lei nº 45/94, de 22 de Fevereiro. Das competências que lhe
foram atribuídas são de sublinhar as seguintes com especiais implicações nos recursos hídricos (artº 6º):
“(...)
− decidir sobre todos os actos que por lei estão sujeitos a autorização ou licenciamento na área definida
como canal navegável e nas infra-estruturas de apoio que lhe estejam afectas (...);
(...)
− dar parecer sobre todos os actos que, incidindo na via navegável ou respectivas margens, possam
interferir com a navegabilidade, nomeadamente extracção de inertes, obras hidráulicas, colocação de
jangadas, construção de marinas e cais de acostagem (...);

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 39/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

(...)
− efectuar ou adjudicar as dragagens que se demonstrem necessárias à manutenção do canal navegável;
(...)
− assegurar o cumprimento do protocolo e subsequentes contratos a estabelecer com a CPPE -
Companhia Portuguesa de Produção de Electricidade, S. A., em matéria de funcionamento e
manutenção das eclusas; (...)”

Aproveitamentos Hidroeléctricos Aproveitamentos Hidroeléctricos


do Sistema Eléctrico de do Sistema Eléctrico
Bacia hidrográfica Serviço Público (SEP) Não Vinculado

Designação do Linha de água Designação do Linha de água


aproveitamento aproveitamento
Minho France Rio Coura
Lima Touvedo Rio Lima Lindoso Rio Lima
Alto Lindoso
Cávado Caniçada Rio Cávado Penide I e II Rio Cávado
Salamonde
Venda Nova Rio Rabagão
Alto Rabagão
Vilarinho das Furnas Rio Homem
Paradela Rio Cávado
Sistema do Rio Ave Guilhofrei Rio Ave
Ermal
Ponte da Esperança
Senhora do Porto
Douro Miranda Rio Douro Cefra Rio Ouro
Picote Varosa Rio Varosa
Bemposta Freigil Rio Cabrum
Pocinho Aregos
Valeira
Vilar - Tabuaço Rio Távora
Régua Rio Douro
Carrapatelo
Torrão Rio Tâmega
Crestuma - Lever Rio Douro
Vouga Drizes Rio Vouga
Ribafeita
Mondego Aguieira Rio Mondego Pateiro Rio Mondego
Raiva Figueiral Rio Carvalhinho
Caldeirão Rio Caldeirão Ermida Ribeira de S.João
Rei de Moinhos Rio Alva
Pisões Rio Dinha
Sabugueiro I Ribeira da Caniça
Sabugueiro II Ribeira do Covão do Urso
Mondego
Desterro I Rio Alva
(Sistema Serra da
Desterro II
Estrela)
Ponte de Jugais
Vila Cova
Tejo Castelo do Bode Rio Zêzere Belver Rio Tejo
Cabril Cadeirão Rio Almonda
Bouçã Santa Luzia Rio Unhais
Fratel Rio Tejo
Pracana Rio Ocreza
Tejo Póvoa Ribeira de Nisa
(Sistema da Ribeira Bruceira
de Nisa) Velada
Sado Vale do Gaio Rio Xarrama

2.2.3. Administração Regional Autónoma


As regiões autónomas são pessoas colectivas públicas autónomas do Estado, dotadas de uma função política,
legislativa e administrativa próprias, as quais se desenvolvem no âmbito das matérias de interesse específico,

40/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

tal como este se encontra definido no art. 228º da Constituição e nos respectivos Estatutos Político-
-Administrativos.
De entre as matérias de interesse específico definidas (a título exemplificativo) na Constituição, destacam-se,
em função da sua relevância para o direito de protecção da água: a defesa do ambiente e equilíbrio ecológico;
a protecção da natureza e dos recursos naturais, bem como da sanidade pública animal e vegetal; os recursos
hídricos, minerais e termais e energia de produção local; (alíneas c., d. e f., respectivamente, do art. 228º da
CRP).
No quadro destas matérias (e em especial, da água) a estrutura da organização administrativa das regiões
autónomas é a seguinte:
a) Região Autónoma dos Açores
aa) Administração directa da RAA
A estrutura da administração pública da Região Autónoma dos Açores (RAA), no domínio da água, assenta
na administração directa. Nomeadamente, na Secretaria Regional do Ambiente, criada pelo Decreto
Regulamentar Regional n.º 12/2000/A, de 18 de Abril.
A Secretaria Regional do Ambiente compreende duas Direcções Regionais, ambas dotadas de competências
no domínio da água:
A Direcção Regional do Ambiente (DRA), com competências na área da inspecção e controlo da qualidade
do ambiente desempenhadas pela Direcção de Serviços da Qualidade do Ambiente (DSQA) exercendo, na
Região, as competências da Direcção-Geral do Ambiente;
A Direcção Regional de Ordenamento do Território e dos Recursos Hídricos (DROTRH), à qual estão
conferidas as competências relativas às atribuições da DRA na área do ordenamento do território e da
política de gestão dos recursos hídricos, a qual, através da Direcção de serviços dos Recursos Hídricos
(DSRH), possui competências na área do planeamento e gestão da água (das quais se destacam as relativas
ao planeamento integrado dos recursos hídricos e da orla costeira, a utlização de todo o domínio hídrico e o
planeamento e execução de infraestruturas hidráulicas), exercendo, na Região, as competências do INAG e
as que foram transferidas para a Região no âmbito do domínio público marítimo.
ab) Administração indirecta da RAA
Uma vez que todas as competências relevantes no domínio da protecção da água se encontram concentradas
na SRA, não existem, ao nível da administração regional da RAA, entidades autónomas neste domínio.
b) Região Autónoma da Madeira
ba) Administração directa da RAM
Ao nível da administração directa regional destacam-se os seguintes organismos:
A Secretaria regional do Equipamento Social e do Ambiente (SRESA), que, nos termos da respectiva lei
orgânica (Decreto Regulamentar Regional n.º 4-A/93/M, de 2 de Fevereiro, é dotada de atribuições nos
domínios do ambiente, planeamento e das obras públicas. Na SRESA, destaca-se a Direcção Regional do
Ambiente (DRA), que exerce competências nos domínios da qualidade do ambiente e da definição da
respectiva política de protecção. Parte substancial atribuições e competências da SRESA relativas à definição
e implementação da política de gestão dos recursos hídricos, à utilização do domínio hídrico, às infra-
estruturas hidráulicas e à actividade de distribuição de água para consumo público e de recolha e tratamento
de águas residuais, foi objecto de transferência para o Instituto de Gestão da Água, ao nível da administração
regional indirecta (art. 4 do Decreto Legislativo Regional n.º 9/91/M, de 30 de Julho).
A Secretaria Regional da Agricultura, Florestas e Pescas (SRAFP), exerce competências na área das infra-
estruturas de rega (art. 2º/1, h., e 15º, do Decreto Regulamentar Regional n.º 7/94/M, de30 de Agosto). Este
domínio é da maior importância para a gestão dos recursos hídricos da RAM, uma vez que muitas dessas
infra-estruturas (as levadas) constituem um elemento fundamental do respectivo sistema de aproveitamento
hidráulico.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 41/66 (2 - II)


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A Secretaria Regional da Economia e Cooperação Externa exerce as atribuições relativas ao litoral e à


actividade marítimo-portuária.
As competências de planeamento da orla costeira e de licenciamento da utilização do domínio hídrico
(nomeadamente, do domínio público marítimo), estão actualmente consignadas num serviço específico, o
Gabinete de Gestão do Litoral, criado pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 5/99/M, de 1 de Março.
Parte substancial das competências relativas à actividade marítimo-portuária (e, para o que interessa em
matéria de protecção da água, as relativas à utilização do domínio público marítimo dentro das áreas de
jurisdição portuária) foram transferidas para um instituto público – a APRAM – Administração dos Portos da
Região Autónoma da Madeira, criada pelo Decreto Legislativo Regional n.º 13/96/M, de 11 de Julho,
entretanto transformada em sociedade anónima (APRAM – Administração dos Portos da Região Autónoma
da Madeira, S.A.) pelo Decreto Legislativo Regional n.º 19/99/M, de 1 de Julho .
Releva ainda a articulação com a Secretaria Regional do Plano e da Coordenação, nomeadamente, com a
Respectiva Direcção Regional de Planeamento, em matéria de planeamento sectorial (art. 2ºc., do Decreto
Regulamentar Regional n.º 14-A/97/M, de 29 de Julho).
bb) Administração indirecta da RAM
A administração indirecta da RAM compreende um instituto público e duas sociedades de capitais públicos.
Nomeadamente, o Instituto de Gestão da Água (IGA) , a “IGA – Investimentos e Gestão da Água, S.A.”
(IGA, S.A.) e a “APRAM – Administração dos Portos da Região Autónoma da Madeira, S.A.” (APRAM).
O Instituto de Gestão da 19/91/M, de 30 de Julho, foi dotado de atribuições no domínio da gestão dos
recursos hídricos, com competências que abrangem áreas como a utilização do domínio hídrico (excluindo o
domínio público marítimo), a definição da política de gestão dos recursos hídricos, o planeamento e
execução de obras hidráulicas, competências de fiscalização e sancionatórias (note-se, dentro destas, a
aplicação de contra-ordenações em matéria de poluição da água), dentro das quais foram desenvolvidas, pelo
Decreto Regulamentar Regional n.º 26/99/M, de 29 de Dezembro, competências no domínio do controlo da
qualidade da água.
As actividades de captação, produção e distribuição de água, a respectiva política de gestão e o planeamento
e a execução das infra-estruturas necessárias assentam, actualmente no designado Sistema Regional de
Gestão e Abastecimento de Água da RAM (Sistema). O Sistema pode ser gerido por administração directa
ou por concessão. O diploma de criação do Sistema (Decreto Legislativo Regional n.º 28-B/99, de 23 de
Dezembro) procedeu, simultaneamente à transformação do IGA na sociedade IGA, S.A. e à atribuição, a
esta sociedade, da concessão do Sistema.
A IGA, S.A., para além de suceder ao IGA na universalidade de direito constituída pelas situações jurídico-
-patrimoniais e noutros vínculos que eram da titularidade daquele instituto público, é dotada, na sua
qualidade de concessionária do Sistema, de um conjunto de poderes e prerrogativas de autoridade, de entre
os quais se destacam os relativos à definição da política de gestão dos recursos hídricos, à utilização do
domínio hídrico, ao estabelecimento de medidas restritivas do direito de propriedade necessárias para a
prossecução das respectivas atribuições e à fiscalização (no cap. IV deste diploma definem-se as
contra-ordenações, estabelecem-se normas relativas ao respectivo processo, e atribui-se à SRESA a
competência para a instauração deste e para a aplicação das coimas).
Embora, como foi exposto, a IGA, S.A. resulte da transformação do IGA e suceda na titularidade das
respectivas situações jurídicas, aquele instituto não foi ainda extinto (aliás, já depois da publicação do DLR
n.º 28-B/99/M, foi publicado um diploma que procedia à alteração da orgânica do IGA, desenvolvendo as
suas competências na área do controlo da qualidade – o DRR n.º 26/99/M, de 290 de Dezembro). Tal facto
apenas deverá ter lugar no fim de um processo de transição.
Por fim, a APRAM, S.A. resulta da transformação do Instituto público que possuía o mesmo nome (a
APRAM), por efeito do disposto no Decreto Legislativo Regional n.º 19/99/M, de 1 de Julho, sucede àquele
instituto nas competências relativas à utilização do domínio público marítimo nas áreas de jurisdição
portuária .

42/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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2.2.4. Administração Pública Estadual Autárquica


Dentro da administração autónoma do Estado, interessa-nos, em especial, analisar a administração de base
territorial e, dentro desta, a administração local, isto é, a que é constituída pelas autarquias locais.
O conceito de autarquia local é, nos termos da CRP, o seguinte: pessoas colectivas de base territorial,
dotadas de órgãos representativos, que visam a prossecução de interesses próprios das populações
respectivas (artigo 235º, 2).
Nos termos da CRP, são autarquias locais, no continente: o município, a freguesia e a região administrativa
(artigo 236º). Podem ser classificadas como autarquias locais outras formas de organização territorial que,
em determinadas áreas, designadamente nas grandes áreas urbanas, a lei entenda dever consagrar (artigo
236º, 3). É o caso da áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.
a) Quadro de atribuições e competências geral
De acordo com a CRP as atribuições das autarquias locais e a competências dos seus órgãos serão reguladas
por lei, de harmonia com o princípio da descentralização administrativa (artigo 237º,1).
Em 14 de Setembro de 1999 foi publicada a Lei n.º 159/99, a qual revogando legislação anterior
(designadamente o decreto-lei nº 77/84, de 8 de Março e o decreto-lei nº 100/84, de 29 de Março), veio
estabelecer o quadro de transferência de atribuições e competências para as autarquias locais, bem como
estabelecer critérios para a delimitação das intervenções da administração local e da administração central.
A lei vem referir que a descentralização administrativa se opera através da transferência de atribuições e
competências para as autarquias locais, reconhecendo que este é o melhor meio para concretizar o princípio
da subsidariedade (artigo 2º, 1 e 2). Do mesmo modo vem reconhecer que para a prossecução das suas
atribuições e competências carecem as autarquias locais que sejam conferidos aos seus órgãos poderes que
lhes permitam actuar em diversas matérias, quer consultivas, de planeamento, de gestão, de investimento, de
fiscalização, ou de licenciamento (artigo 2º, 5).
b) Atribuições e competências dos municípios e dos seus órgãos
Os municípios são, sem dúvida, a principal e a mais complexa entidade da administração local.
No domínio do anterior diploma que regulamentava as atribuições e competências das autarquias locais, a
Lei n.º 100/84, de 29 de Março, ao tratar das atribuições, o preceito legal (artigo 2º) continha uma cláusula
geral “ (..) o que diz respeito aos interesses próprios das populações respectivas (…)” à qual acrescia uma
enumeração exemplificativa, da qual importa destacar, por um lado as alíneas d) “salubridade (…)” e i)
“defesa e protecção do meio ambiente e da qualidade de vida do respectivo agregado populacional” e, por
outro lado, as alíneas c) “ao abastecimento público” e d) “(…) ao saneamento básico”.
A Lei n.º 159/99, de 14 de Setembro veio revogar o decreto-lei n.º 100/84, de 29 de Setembro e abandonando
o sistema da cláusula geral, veio consagrar uma enumeração taxativa das atribuições dos municípios (artigo
13º). Assim, em matéria de recursos hídricos, estas pessoas colectivas públicas territoriais dispõem de
atribuições nos domínios do “ambiente e saneamento básico” (artigo 13º).
Da comparação desta delimitação com a efectuada pela anterior lei verifica-se que a “salubridade” deixa de
ser atribuição do município. Isto, por um lado. Por outro lado, é curioso verificar que o abastecimento
público, que deve ser entendido como abastecimento de água, não consta, pelo menos autonomizado, do
elenco taxativo das atribuições dos municípios. E integra, autonomizado, as atribuições da freguesia (artigo
14º, alínea b). O artigo 26º do mesmo diploma ao tratar das competências dos órgãos municipais refere que
estes têm poderes para o “planeamento, a gestão de equipamentos, e a realização de investimentos nos
domínios dos sistemas municipais de abastecimento de água e de drenagem e tratamento de águas residuais
urbanas nomeadamente compete igualmente aos órgãos municipais:
(...) h) Manter e reabilitar a rede hidrográfica dentro dos perímetros urbanos;
i) Licenciar e fiscalizar a pesquisa e captação de águas subterrâneas não localizadas em terrenos
integrados no domínio público hídrico;
j) Participar na gestão dos recursos hídricos;

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 43/66 (2 - II)


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l) Assegurar a gestão e garantir a limpeza e a boa manutenção das praias e das zonas balneares;
m) Licenciar e fiscalizar a extracção de materiais inertes.
Em matéria de competências dos órgãos municipais (assembleia municipal, câmara municipal e presidente
da câmara municipal) deve atender-se a dois regimes a saber, o fixado pela Lei n.º 169/99, de 18 de
Setembro, a qual estabelece o quadro de competências, assim como o regime jurídico de funcionamento dos
órgãos dos municípios e das freguesias, e o regime instituído pela Lei n.º 159/99, de 14 de Setembro, a qual
vem elencar os poderes dos órgãos municipais que serão transferidos progressivamente para os municípios
nos próximos quatro anos(artigo 4º, n.º 1). Por outro lado, verifica-se que diplomas avulsos vêm consagrar
novas competências municipais em matéria de recursos hídricos ou proceder à densificação e
desenvolvimento das já consagradas.
c) Atribuições e competências das freguesias e dos seus órgãos
No âmbito da matéria em análise foram conferidas às freguesias atribuições em matéria de abastecimento
público (artigo 14º, 1 alínea b) da lei nº 159/99, de 14 de Setembro) e de ambiente e salubridade (artigo 14º,
1 alínea h) do mesmo diploma).
No que respeita às competências, verifica-se que a lei trata de forma mais completa e exaustiva a
transferência de competências entre o município e a freguesia (artigo 15º do decreto-lei nº 159/99, de 14 de
Setembro e artigo 66º do decreto-lei nº 169/99, de 18 de Setembro). O enunciado das competências dos
órgãos paroquiais consta, por seu lado, dos artigos 17º e 34º do decreto-lei nº 169/99, de 18 de Setembro. Na
matéria que ora nos interessa são de sublinhar as seguintes competências:
− Deliberar sobre a administração das águas públicas que, por lei, estejam sob titularidade da freguesia
(assembleia de freguesia);
− Autorizar a freguesia a participar em empresas de capitais públicos de âmbito municipal, para
prossecução de actividades de interesse público ou de desenvolvimento local, cujo objecto se contenha
nas atribuições da freguesia (assembleia municipal);
− Conservar e promover a reparação de chafarizes e fontanários de acordo com o parecer prévio das
entidades competentes, quando exigido por lei (junta de freguesia);
− Praticar os actos necessários à participação da freguesia em empresas de capitais públicos de âmbito
municipal, na sequência de autorização da assembleia de freguesia.
d) Sistemas multimunicipais de captação, tratamento e distribuição de água
Trata-se, inevitavelmente, de uma área de estratégia futura, pois pela mesma passará o designado mercado da
água, ou seja a lógica de dinâmica empresarial, ainda que condicionada à prossecução do serviço público,
mas obviamente a introdução de um novo conceito na gestão da água.
No fundo, trata-se de um vector, por excelência, para a experimentação do conceito de "responsabilidade
partilhada", tão do agrado das instâncias comunitárias, lançado aliás pelo 5º Programa de Política e Acção
Comunitária em Matéria de Ambiente, que obviamente tem tido dificuldade em conseguir a adesão do
2ºgrupo, ou seja dos agentes económicos,
A Lei n.º 46/77, de 8 de Julho, foi alterada pelo Decreto-Lei n.º 372/93, de 29 de Outubro, no sentido de
permitir tal alteração de quadro de gestão, cabendo posteriormente ao Decreto-Lei n.º 379/93, de 5 de
Novembro, desenvolver tal regime e clarificando desde logo os conceitos de sistemas multimunicipais e de
sistemas municipais.
Ficou igualmente claro, tanto para os sistemas multimunicipais como para os municipais, há um conjunto de
princípios a observar e respeitar e que são:
- Princípio da prossecução do interesse público;
- Principio do carácter integrado dos sistemas;
- Princípio da eficiência;
- Princípio da prevalência da gestão empresarial.

44/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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Coube ao Decreto-Lei n.º 319/94, de 24 de Dezembro, estabelecer o regime jurídico da construção,


exploração e gestão dos sistemas multimunicipais de captação e tratamento de água para consumo público,
quando atribuídos por concessão, e aprova as respectivas bases.
Anexo ao Decreto-lei n.º 319/94 surgem as bases do contrato de concessão, aliás típicas desta nova fase de
concessões de serviço público e apresentando mesmo significativas semelhanças com as bases de concessão
da actividade de distribuição de gás natural.
Regressando ainda ao D.L n.º .379/93 verifica-se que o mesmo cria desde logo cinco sistemas
multimunicipais de captação, tratamento e abastecimento de água para consumo dos municípios,
naturalmente que sem prejuízo de novas áreas a definir por Decreto-Lei, mas cujas áreas originais são:
Sotavento Algarvio, Barlavento Algarvio, Área da Grande Lisboa, Norte da área do Grande Porto e Sul da
área do Grande Porto.
A partir de 1993, após a alteração da lei de delimitação dos sectores (Lei nº 46/77, de 8 de Julho, que veio a
ser revogada pela Lei nº 88-A/97, de 25 de Julho) contemplada no Decreto-Lei nº 372/93, de 29 de Outubro,
(alterado pela Lei nº 176/99, de 29 de Outubro, e pelo Decreto-Lei nº 439-A/
/99, de 29 de Outubro), tendo passado a estar permitido, com o Decreto-Lei nº 379/93, de 5 de Novembro, o
acesso de capitais privados às actividades económicas de abastecimento de água e de saneamento de águas
residuais e sido estabelecida a abertura à empresarialização dos respectivos sectores foram sendo criados, no
continente, vários sistemas municipais e plurimunicipais, explorados e geridos em regime de concessão,
destacando-se destes, e respectivas entidades gestoras:
a) Abastecimento de água
− Sotavento Algarvio (Decreto-Lei nº 379/93) e Águas do Sotavento Algarvio, S.A. (Decreto-
-Lei nº 130/95, de 5 de Junho);
− Barlavento Algarvio (Decreto-Lei nº 379/93) e Águas do Barlavento Algarvio, S.A.(4) (Decreto-Lei nº
136/95, de 12 de Junho);
− Área da Grande Lisboa (Decreto-Lei nº 379/93) e EPAL - Empresa Portuguesa das Águas Livres, S.A.
os
(Decretos-Lei n 553-A/74, de 30 Outubro, 190/81, de 4 de Julho e 230/91, de 21 de Junho);
− Norte da Área do Grande Porto (Decreto-Lei nº 379/93) e Águas do Cávado, S.A. (Decreto-Lei nº
102/95, de 19 de Maio);
− Sul da Área do Grande Porto (Decreto-Lei nº 379/93) e Águas do Douro e Paiva, S.A. (Decreto-Lei nº
116/95, de 29 de Maio);
b) Saneamento de águas residuais
− Saneamento da Costa do Estoril e SANEST - Saneamento da Costa do Estoril, S.A. (Decreto-
-Lei nº 142/95, de 14 de Junho);
− Saneamento da Ria de Aveiro e SIMRIA - Saneamento Integrado dos Municípios da Ria, S.A.
os
(Decretos-Lei n 101/97, de 26 de Abril, e 329/2000, de 22 de Dezembro);
− Saneamento do Lis e SIMLIS - Saneamento Integrado dos Municípios do Lis, S.A. (Decreto-
-Lei nº 543/99, de 13 de Dezembro);
− Saneamento do Algarve (Decreto-Lei nº 167/2000, de 5 de Agosto);
− Saneamento do Baixo Cávado e Ave (Decreto-Lei nº 139/2000, de 13 de Julho);
− Saneamento do Grande Porto (Decreto-Lei nº 260/2000, de 17 de Outubro);
c) Abastecimento de água e saneamento de águas residuais
− Abastecimento de Água e Saneamento do Alto Zêzere e Côa e Águas do Zêzere e Côa, S.A. (Decretos-
os
Lei n 121/2000, de 4 de Julho, e 185/2000, de 10 de Agosto);
− Abastecimento de Água e Saneamento do Norte Alentejano (Decreto-Lei nº 128/2000, de 6 de Julho) e
Águas do Norte Alentejano, S.A. (Decreto-Lei nº 105/2001, de 31 de Março);

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− Abastecimento de Água e Saneamento do Minho-Lima e Águas do Minho-Lima, S.A. (Decreto-Lei nº


158/2000, de 25 de Julho);
e existindo os seguintes sistemas municipais e correspondentes entidades gestoras:
a) Abastecimento de água
− Fafe e Indáqua Fafe, S.A. (1996);
− Ourém e CGE Portugal, Delegação de Mafra (1996);
− Carvoeiro e Águas do Vouga, S.A.(1996);
− Batalha e Águas do Lena, S.A. (1997);
− Planalto Beirão e Águas do Planalto, S.A. (1997);
− Santo Tirso e Indáqua Santo Tirso, S.A. (1998);
b) Saneamento de águas residuais
− Vale do Ave e Tratave, S.A. (1998);
c) Abastecimento de água e saneamento de águas residuais
− Mafra e CGE Portugal, Delegação de Mafra (1995);
− Trancoso e Águas da Teja, S.A. (1997);
− Setúbal e Águas do Sado, S.A. (1997);
− Figueira da Foz e Águas da Figueira, S.A. (1999);
− Feira e Indáqua Feira, S.A. (1999);
− Cascais e Águas de Cascais, S.A. (2000).
A publicação da Lei nº 58/98, de 18 de Agosto, dita Lei das Empresas Municipais, Intermunicipais e
Regionais, que passou a regular as condições em que os municípios e suas associações, bem como as regiões
administrativas poderão criar empresas dotadas de capitais próprios, permitiu a criação da Águas de Gaia,
EPM, entidade gestora do abastecimento de água e do saneamento de águas residuais do respectivo concelho.
Antes, no entanto, no município de Lisboa, havia sido constituída a EMARLIS -
- Empresa Municipal de Águas Residuais de Lisboa, EPM, com o encargo de explorar e gerir, numa primeira
etapa, as ETAR da cidade.
Além das entidades gestoras em regime de concessão de sistemas municipais e plurimunicipais e das criadas
sob a forma de empresas públicas municipais, os serviços municipais e os serviços municipalizados de um
número ainda muito significativo de câmaras municipais continuam a assegurar as actividades de
abastecimento de água e de saneamento de águas residuais dos respectivos municípios, constituindo-se, tal
como aquelas entidades, como utilizadores dos recursos hídricos pela captação de água e pela rejeição de
efluentes.
À parte a cobertura do País não ser integral em termos de infraestruturas de abastecimento de água e de
saneamento de águas residuais existem, mesmo nas imediações de áreas urbanas adequadamente
infraestruturadas, estabelecimentos industriais, agro-industriais e agro-pecuários e empreendimentos
turísticos que gerem, de forma autónoma, as suas necessidades de água e a descarga dos seus efluentes.
d) A prossecução das atribuições municipais em matéria de abastecimento de água e saneamento por
entidades de natureza empresarial públicas ou privadas
O regime em vigor nesta matéria é o constante do decreto-lei nº 379/93, de 5 de Novembro. Decorre deste
regime que as entidades concessionárias podem ser entidades públicas ou privadas de natureza empresarial
ou associações de utilizadores (artigo 6º). O objecto do contrato de concessão é precisamente o exercício das
competências municipais em matéria de exploração e gestão dos sistemas de captação, tratamento e
distribuição de água e de recolha, tratamento e rejeição de efluentes, podendo abranger a construção,

46/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

extensão, reparação, renovação, manutenção de obras e equipamentos, bem como a respectiva melhoria
(artigo 9º, 1 e 2).
Com a celebração do contrato de concessão, a concessionária passa a deter, entre outros, os direitos a
explorar a concessão por sua conta e risco, fixar, liquidar e cobrar taxas aos utentes pela utilização do
serviço, estabelecer o regime da respectiva utilização.
Do mesmo modo lhe são atribuídas as competências que a lei confere às entidades gestoras dos sistemas
municipais, designadamente as competências para definir, para a recolha de águas residuais industriais, os
parâmetros de poluição suportáveis pelo sistema (artigo 4º, 3, alínea i) do decreto-lei nº 207/94, de 6 de
Agosto); para garantir que a água distribuída para consumo doméstico, em qualquer momento, possua as
características que a definam como água potável, tal como são fixadas na legislação aplicável (artigo 4º, 3,
alínea e) do decreto-lei nº 207/94, de 6 de Agosto; para promover a elaboração de um plano geral de
distribuição de água e de drenagem de águas residuais (artigo 4º, 3, alínea a) do decreto-lei nº 207/94, de 6 de
Agosto; para tomar as medidas necessárias para assegurar a melhoria contínua da qualidade da água que
fornece, etc.

2.2.5. Administração Pública Consultiva


O Conselho Nacional da Água, previsto no quadro do Decreto-Lei n.º 45/94, de 22 de Fevereiro, entretanto
regulamentado pelo Decreto-Lei n.º 166/97, de 2 de Julho e igualmente mantido pelo D.L. 120/2000, que o
considera no seu artigo 21º como o “...órgão consultivo de planeamento nacional no domínio da água ao qual
compete, genericamente, acompanhar e apreciar a elaboração de planos e projectos, com especial relevância
nos meios hídricos, propor medidas que permitam o melhor desenvolvimento e articulação das acções deles
decorrentes e formular ou apreciar opções estratégicas para a gestão sustentável dos recursos hídricos
nacionais.”.
A composição deste órgão consultivo, tal como surge no D.L. 166/97, compreende representantes de
organismos da Administração Central, integrados em sete Ministérios diferentes, bem como representantes
da Administração Local; das organizações não governamentais; da comunidade científica e ainda dos agentes
económicos com responsabilidades na gestão do recurso água.
Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, criado pelo Decreto-Lei n.º 221/97, de
20 de Agosto, surgiu na sequência da experiência da Comissão Consultiva do Ambiente, que entretanto é
revogada pelo presente diploma.
Pode-se colocar a dúvida se o Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável deve
pronunciar-se sobre questões de água quando existe um conselho específico para essa área. Ora
consideramos que sim, pois não obstante se poder argumentar que o Conselho Nacional da Água é um órgão
consultivo especial e o outro geral, o certo é que cabe a este uma apreciação genérica sobre a temática
ambiental e de desenvolvimento sustentável sem excepções, isto é não ficou excluído, quando é uma lei
posterior, de se pronunciar sobre qualquer componente ambiental, como de resto é a água.
Por outro lado e consideramos ser um argumento mais significativo, a composição dos dois conselhos é
manifestamente diferente. Com efeito, a do Conselho Nacional da Água reflecte maior peso da
Administração Pública, enquanto que a do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
apresenta maior interligação com a sociedade civil.
Merecem ainda referência, a Comissão de Gestão das Albufeiras criada pelo Decreto-Lei nº 21/98, de 3 de
Fevereiro, dependente directamente do Ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território, é de âmbito
nacional, presidida pelo Presidente do INAG, e tem como atribuições a coordenação do planeamento e da
exploração de albufeiras, competindo-lhe, em particular (alínea b) do artº 3º), “(...) estabelecer o regulamento
técnico que estipula as regras de elaboração dos programas de exploração e define os níveis máximos e
mínimos de armazenamento das albufeiras (...)”.

2.2.6. Organizações dos Agentes de Desenvolvimento


O Decreto-Lei nº 70/90, de 2 de Março, que não vingou politicamente, introduziu as figuras dos conselhos
regionais da água (“(…) órgãos consultivos do Governo no âmbito da gestão dos recursos hídricos a nível
regional (…)” (nº 4 do artº 4º)) e de associações de utilizadores (“(…) pessoas colectivas de direito privado,

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 47/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

constituídas por pessoas singulares ou colectivas, para efeitos de utilização do domínio público hídrico (…)”
(nº 5 do mesmo artigo) que “(…) gozam de preferência na outorga de licenças de utilização do domínio
público hídrico, bem como na celebração de contratos-programa para apoio técnico ou financeiro às acções
de fomento hidráulico (…)” (nº 3 do artº 18º )), à luz das quais se pretendia a participação de todos os
interessados na gestão da água e, ainda, dos utilizadores em particular na promoção e realização de acções de
fomento hidráulico.
O Decreto-Lei nº 45/94, de 22 de Fevereiro, considera como um dos requisitos a observar pelo planeamento
de recursos hídricos a “(…) participação, envolvendo agentes económicos e as populações directamente
interessadas e visando o alargamento de consensos (…)” (alínea d) do nº 3 do artº 2º) criou, como órgãos
consultivos de planeamento regional, os conselhos de bacia “(…) em que estão representados os organismos
do Estado relacionados com o uso da água e os utilizadores (…)” (nº 1 do artº 11º) competindo-lhes (nº 1 do
artº 12º):
“(…)
a) Acompanhar a elaboração do PBH e informar o projecto do PBH antes da sua aprovação e
suas posteriores revisões;
b) Estabelecer o montante da taxa de regularização;
c) Informar e formular propostas de interesse geral para a bacia;
d) Propor objectivos de qualidade da água na bacia hidrográfica de acordo com os diversos
usos actuais e futuros;
e) Propor a realização de estudos hidrológicos relevantes para a bacia;
f) Dar parecer sobre esquemas e obras de aproveitamentos hidráulicos;
g) Dar parecer sobre todas as questões relativas à repartição das águas e às mediadas a tomar
contra a poluição;
h) Elaborar e aprovar o seu orçamento e relatório de contas;
i)Elaborar o plano de actividades;
(…)”
e tendo como vogais, para além de representantes de Ministérios com tutela na agricultura, ambiente,
administração do território, indústria, energia, saúde, comércio e turismo (nº 5 do mesmo artigo):
“(…)
h) 16 representantes dos utilizadores que assegurem a representatividade dos distintos sectores
em relação aos interesses pelo uso da água, 8 dos quais nomeados pela Associação Nacional de Municípios
Portugueses;
i) 2 representantes de organizações não governamentais no domínio do ambiente.
(...)”
Em 16 de Maio de 1938, pelo Decreto-Lei nº 28 653, haviam sido criadas, com o fim de promover a
administração das grandes obras de fomento hidroagrícola executadas pelo Estado, as associações de
regantes e beneficiários integrando “(...) proprietários, usufrutuários, enfiteutas, fiduciários, arrendatários e
parceiros dos terrenos beneficiados pelos aproveitamentos hidro-agrícolas (...)” (artº 1º) constituindo-se
como “(...) associações agrícolas, dotadas de personalidade jurídica, com sede no lugar ou freguesia do
aproveitamento, de funcionamento e administração autónomos (...)” (artº 2º), devendo incluir “(...) dez
agricultores, pelo menos, podendo também formar-se com número inferior mediante autorização do
Ministro da Agricultura (...)” (artº 3º) e podendo denominar-se “(...) associações de regantes e beneficiários
do lugar ou freguesia do aproveitamento, ou só associações de regantes, com a denominação do referido
lugar ou freguesia (...)” (§ 1º do artº 3º).
O artº 6º do mesmo diploma fixou as competências destas associações, já na linha do que viria a ser
estabelecido no Regulamento do Decreto nº 47 153, de 18 de Agosto de 1966, com o qual foi promulgado o

48/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

Regulamento das Associações de Regantes e Beneficiários que ampliou as respectivas competências


consideradas naquele artigo, e constitui já uma antevisão do que viria a ser o Regulamento das Associações
de Beneficiários promulgado pelo Decreto Regulamentar nº 84/82, de 4 de Novembro, a que já atrás se fez
referência, em cujo preâmbulo se afirma que “(...) Tendo em vista a normalização da vida das associações
de regantes e beneficiários à luz do novo regime jurídico das obras de fomento hidroagrícola, torna-se
indispensável regulamentar a constituição e fins dos órgãos de gestão destas obras, que irão substituir as
actuais comissões administrativas, atribuindo-se aos agricultores interessados maior participação desde a
concepção das obras à sua gestão, exploração e conservação. (...)”, conferindo às associações atribuições
mais vastas no seguimento das anteriores no seu (artº 4º).
No mesmo ano de 1982, com o Decreto Regulamentar nº 86/82, de 12 de Novembro, também já atrás
referido, e invocando-se pretender-se, “(...) Dado o interesse de que se revestem os pequenos regadios, no
racional aproveitamento dos recursos hídricos nacionais e no seu enquadramento nas obras de fomento
hidroagrícola (...)”, que “(...) tal como para as obras dos grandes regadios, que se criem e regulamentem
instituições verdadeiramente autónomas, participadas, democráticas e livres, e que essas instituições, quer
se trate de cooperativas de rega, quer de juntas de agricultores, tenham sempre o apoio e colaboração dos
serviços oficiais. (...)” promulgou-se o Regulamento das Juntas de Agricultores, para o que se lhes fixou um
vasto leque de atribuições (artº 7º).
No que respeita à gestão das obras hidroagrícolas a experiência, de mais de 60 anos, de envolvimento dos
agricultores nas associações de regantes e beneficiários, constituirá, provavelmente, o exemplo mais frisante
de participação do equivalente de associações de utilizadores previstas no Decreto-Lei nº 70/90, de 2 de
Março.
A experiência acumulada dos conselhos de bacia, criados pelo Decreto-Lei nº45/94, é, ainda, diminuta,
restringida, no essencial, ao acompanhamento da elaboração dos PBH.

2.2.7. Intervenção das Organizações não Governamentais


As associações de defesa do ambiente tem os seus direitos de participação e de intervenção junto da
Administração do Estado consagrados e regulados pela Lei nº 10/87, de 4 de Abril, dita Lei das Associações
de Defesa do Ambiente.
Estas mesmas associações tem o estatuto de ONG - organizações não-governamentais, e integram as
designadas por ONGA - organizações não-governamentais do ambiente.
Das ONGA de âmbito nacional do nosso País são de destacar:
AMIGOS DO MAR - Associação Cívica para a Defesa do Mar (Viana do Castelo)
APEA - Associação Portuguesa de Engenheiros do Ambiente (Lisboa)
APRH - Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos (Lisboa)
Associação Eurocoast Portugal (Porto)
CPADA - Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente (Lisboa)
GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (Lisboa)
LPN - Liga da Protecção da Natureza (Lisboa)
QUERCUS - Associação Nacional de Conservação da Natureza (Lisboa)
Do Registo Nacional das ONGA e Equiparadas existente no IPAMB (que corresponde ao Instituto Nacional
do Ambiente referido na alínea b) do artº 3º da Lei nº 10/87) e actualizado em Junho de 2000, com 116
associações de âmbito nacional, regional e local, para além daquelas oito atrás referidas que, directamente ou
indirectamente, incluem os recursos hídricos como objectivo das suas intervenções, existem as seguintes seis
de âmbito regional:
ADABATA - Associação para a Defesa do Ambiente do Baixo Tâmega (Amarante)
ÁGUA TRIANGULAR - Associação dos Ambientalistas da Bacia Hidrográfica do Rio Vouga (Aveiro)
AMILEÇA - Associação dos Amigos do Rio Leça (S. Mamede de Infesta)
CLAPA - Comissão de Luta Anti-Poluição do Alviela - Associação Popular Ecológica (Pernes)
O RIO NEIVA - Associação de Defesa do Ambiente (Esposende)
ONGA-TEJO (Golegã)

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 49/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

e estas outras onze de âmbito local:


A MÓ - Associação do Vale do Neiva (Barroselas)
Associação Bandeira Azul da Europa (Lisboa)
Associação de Defesa da Praia da Madalena (Vila Nova de Gaia)
Associação de Defesa do Ambiente de S. Martinho do Porto (S. Martinho do Porto)
Associação dos Amigos da Ria de Alvor (Portimão)
LACAM - Liga dos Amigos dos Campos do Mondego (Montemor-o-Velho)
LAIA - Associação de Defesa da Ilha da Armona (Olhão)
Mar Azul - Liga Ambiental para a Educação Juvenil e Ciências do Mar (Linda-a-Velha)
MARÉS - Associação para a Defesa do Ambiente (Sines)
PATO - Associação de Defesa do Paúl de Tornada (Caldas da Rainha)
Real 21 - Associação de Defesa do Rio Real (Bombarral)
A intervenção das ONGA, enquanto grupos de pressão representativos da opinião pública na denúncia crítica
de situações negativas que afectam os vários domínios do ambiente e na busca de soluções para os problemas
ambientais que se deparam no País, tem-se revelado com algum impacto.

2.2.8. A Participação das Populações


Àparte a participação dos agricultores através das associações de regantes e beneficiários e dos
representantes dos interesses pelo uso da água com assento nos conselhos de bacia, bem como a intervenção
das ONGA, as populações, enquanto sociedade civil, não têm, de facto, qualquer modalidade formal de
participação relativamente a matérias dos recursos hídricos. A figura das associações de utilizadores prevista
no Decreto-Lei nº 70/90, de 2 de Março, não se traduziu, até hoje, em qualquer caso concreto. Aliás as
próprias associações de utilizadores daquele diploma foram concebidas em função “(...) de preferência na
outorga de licenças de utilização do domínio público hídrico (...)” e da “(...) celebração de
contratos-programa para apoio técnico ou financeiro às acções de fomento hidráulico (...)”, mesmo assim
com algumas reservas que no nº 3 do artº 17º se registam.

2.2.9. Procedimentos e Níveis de Decisão


1. Para se ter em conta os procedimentos e níveis de decisão tal como se encontram considerados na lei,
considerem-se, em primeiro lugar, as 13 utilizações do domínio hídrico que, no artº 3º do Decreto-Lei
nº 46/94, de 22 de Fevereiro, se estabelece como carecendo de título de utilização (licença de utilização ou
os
contrato de concessão, nos termos dos art 6º e 7º, e 9º e 10º): o diploma em questão define de forma
exaustiva quais os procedimentos para efeitos da obtenção de um título de utilização ou de uma captação de
águas, ou de uma extracção de inertes, ou de culturas biogenéticas, etc.; e refere quem (Ministro com tutela
do ambiente, ou INAG, ou direcções regionais do ambiente) detém os poderes de decisão para efeitos de
atribuição de tais títulos.
Considere-se, em seguida, o que sobre procedimentos e níveis de decisão se estabelece no Decreto-Lei
os
nº 47/94, de 22 de Fevereiro, relativo ao regime económico e financeiro do domínio público hídrico: os n 2
os os os os
dos art 6º, 7º, 8º, 9º e 10º, os n 2, 3, 4 e 5 do artº 5º, bem como os n 1 e 2 dos art 12º e 14º e o nº 4 do
artº 13º e o nº 5 do artº 15º (na redacção do Decreto-Lei nº 113/97, de 10 de Maio) esclarecem quais sejam os
procedimentos dos titulares de licenças ou concessões de 4 (tantas quantas o diploma contempla) daquelas 13
que carecem de título de utilização para efeitos de pagamento das taxas de utilização; e define claramente os
procedimentos que devem ser satisfeitos pelo Conselho de Ministros (nº 3 do artº 5º), pelo Ministro com
os
tutela do ambiente (nº 4 do artº 8º, nº 6 do artº 9º, n 4 e 7 do artº 10º, nº 3 do artº 11º, nº 3 do artº 12º, nº 4 do
os os
artº 13º, nº3 do artº 14º e nº 5 do artº 18º), pelo INAG (n 1, 2 e 3 do artº 13º, n 1 e 2 do artº 14º, nº 2 do
artº 15º, nº 1 do artº 16º e nº 2 do artº 17º) e pelas direcções regionais do ambiente (nº 4 do artº 11º, nº 2 do
os
artº 14º, n 1 e 3 do artº 15º e artº 20º).
Se se considerar todo o normativo em vigor relativo à qualidade da água e às descargas de águas residuais, os
vários diplomas estabelecem de forma clara quais os procedimentos a serem satisfeitos e os níveis de decisão
do INAG e das direcções regionais do ambiente.

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QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

O que de facto se regista é o insuficiente cumprimento na totalidade de procedimentos previstos na lei,


decorrentes da sua complexidade e da indeterminação do sistema jurídico.

2.2.10. Gestão por Bacias Hidrográficas


A Lei nº 11/87, de 7 de Abril, Lei de Bases do Ambiente, estipula, no seu artº 12º, que “(...) a bacia
hidrográfica é a unidade de gestão dos recursos hídricos, a qual deverá ter em conta as suas implicações
sócio-económicas, culturais e internacionais (...)”. Todavia, as bacias hidrográficas constituem, actualmente,
a base de qualquer organização administrativa do território nacional do nosso País. No entanto, ao longo de
quase 100 anos, as bacias hidrográficas foram sendo a base de uma específica organização administrativa
territorial em vista da gestão dos recursos hídricos.
Com efeito, a Lei de Março de 1884 aprovou o “(...) plano de organisação dos serviços hydrographicos no
continente de Portugal (...)”.
Art. 15º É o governo auctorisado a tornar extensivas a todas as bacias hydrographicas do paiz as
disposições d’esta lei e do decreto de 26 de dezembro de 1867, que lhes forem respectivamente applicaveis,
dividindo, para este fim, o continente do reino em circumscripções hydraulicas, cada uma das quaes terá
uma direcção especial.
§ único. Estas circumscripções serão em numero de quatro, abrangendo a primeira todas as bacias
hydrographicas ao norte do reino desde o rio Minho até ao rio Douro, inclusivamente; a segunda todas as
bacias hydrographicas desde o rio Douro até ao rio Liz, inclusivamente; a terceira todas as bacias
hydrographicas desde o rio Liz até ao rio Tejo, inclusivamente; a quarta todas as bacias hydrographicas
desde o rio Tejo até ao limite sul do reino.”
Anos após, o Decreto nº 8, de 1 de Dezembro de 1892, estabeleceu a organização dos serviços hidráulicos e
do respectivo pessoal e o Regulamento dos Serviços Hidráulicos, publicado no dia 22 do mesmo mês
daquele ano, destinou-se a executar aquele diploma. Quer da transcrição feita da Lei de 6 de Março de 1884e
do seu regulamento, torna-se claro que em épocas tão recuadas já havia entre nós a noção da bacia
hidrográfica constituir a unidade por excelência da gestão da água e dos serviços hidráulicos deverem ser
organizados em consequência:
Em 1920, com o Decreto nº 7 039, de 17 de Outubro, é criada, no Ministério do Comércio e Comunicações,
a Administração Geral dos Serviços Hidráulicos e aprovada a respectiva organização dado que “(...) os
serviços hidráulicos (...) não possuíam até agora organização apropriada para assegurar a conservação e
desenvolvimento das riquezas (...)” que “(...) se contam entre as maiores do património nacional (...)”, com
quatro divisões hidráulicas, do Douro, com sede no Porto, abrangendo as bacias hidrográficas desde o Minho
ao Douro, inclusivé, do Mondego, com sede em Coimbra, abrangendo as bacias hidrográficas desde o Douro
ao Lis, inclusivé, do Tejo, com sede em Lisboa, abrangendo as bacias hidrográficas desde o Lis até ao Sado,
inclusivé, e do Guadiana, com sede em Faro, abrangendo as bacias hidrográficas desde o Sado ao Guadiana.
O Decreto-Lei nº 26 117, de 23 de Novembro de 1935, criou, no então Ministério das Obras Públicas e
Comunicações, a Direcção Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos que foi dotada com serviços externos
(artº 5º), as Direcções de Hidráulica do Douro, Mondego, Tejo e Guadiana com áreas de actuação
coincidentes com o agrupamento de bacias hidrográficas e cobrindo todo o território do Continente.
O Decreto-Lei nº 36 315, de 31 de Maio de 1947, ao promulgar a reorganização da Direcção-Geral dos
Serviços Hidráulicos (que havia sido criada pelo Decreto-Lei nº 33 546, de 23 de Fevereiro de 1944, e que
retirou os serviços eléctricos da Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos), estabeleceu que ela
passaria a dispor de serviços técnicos e administrativos entre os quais os “(…) direcções externas do Douro,
do Mondego, do Tejo e do Guadiana, com sedes, respectivamente, no Porto, em Coimbra, em Lisboa e em
Faro (…)” (alínea 5) do artº 1º).
Ainda em 1972, com o Decreto-Lei nº 605/72, de 30 de Setembro, da reorganização da Direcção-Geral dos
Serviços de Urbanização, se considerava, expressamente, a existência dos seguintes serviços externos da
Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos (alínea f) do nº 1 do artº 6º):
Com o Decreto-Lei nº 494/79, de 21 de Dezembro, são criadas as CCR - comissões de coordenação regional,
como órgãos externos do então Ministério da Administração Interna (do Norte, do Centro, de Lisboa e Vale

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 51/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

do Tejo, do Alentejo e do Algarve), com o objectivo, claramente expresso no artº 3º daquele diploma, de
exercer a coordenação e compatibilização das acções de apoio técnico, financeiro e administrativo às
autarquias locais e de executar as medidas de interesse para o desenvolvimento da respectiva região, visando
a institucionalização de formas de cooperação e diálogo entre as autarquias locais e a administração central.
O Decreto-Lei nº 130/86, de 7 de Junho, que aprovou a orgânica do Ministério do Plano e da Administração
do Território, introduziu algumas alterações na estrutura das CCR, que se traduziram, essencialmente, na
atribuição de competências nos domínios do ordenamento do território e do ambiente e na consequente
criação das respectivas unidades orgânicas, as Direcções Regionais do Ordenamento do Território e do
Ambiente e Recursos Naturais, ao nível de direcções de serviços.
O Decreto-Lei nº 190/93, de 24 de Maio, estabeleceu a orgânica das cinco direcções regionais do ambiente e
recursos naturais (DRARN) na sequência da aprovação da Lei Orgânica do Ministério do Ambiente e
Recursos Naturais, e dispôs, em particular, sobre a respectiva natureza, a estrutura geral, a competências
relativas à gestão dos recursos hídricos e à sua condição de sucessoras das direcções regionais do ambiente e
recursos naturais das CCR.
Com o Decreto-Lei nº 70/90, de 2 de Março, tentou-se a criação de ARH - administrações de recursos
hídricos, como ficou estabelecido no artº 5º, em particular na alínea a) do seu nº 1 e no seu nº 3, e como é
referido na seguinte passagem do preâmbulo:
“Para promover o planeamento e a gestão dos recursos hídricos de uma forma racional optou-se por definir
como unidade de gestão a bacia hidrográfica, conjuntos de bacias hidrográficas ou zonas consideradas
afins numa óptica de utilização da água, criando para o efeito administrações de recursos hídricos
(ARHs).”;
e, de seguida, ainda no preambulo é dito:
“A articulação das ARHs e a responsabilidade de uma política nacional dos recursos hídricos,
nomeadamente de planeamento e gestão integrada, cabe ao Instituto Nacional da Água (INAG), que
superintende financeira e tecnicamente nas ARHs, razão que, aliada à necessidade da sua operacionalidade
e eficácia, levou à sua estruturação como instituto público.”
As ARH nunca foram concretizadas e o Decreto-Lei nº 70/90 acabou por vir a ser derrogado pelo
Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro.
Confrontando os limites territoriais de jurisdição das DRARN com os das bacias hidrográficas, conforme
figura da página seguinte, ressalta de forma patente o que, no “relatório vertical” de Portugal do projecto
EUROWATER, é apontado como constituindo o aspecto mais negativo do novo (ainda actual) sistema de
gestão da água: o abandono do modelo baseado nas autoridades de bacia hidrográfica.
A mesma figura revela os limites das sucessivas circumcripções hydrographicas, divisões hidráulicas,
direcções hidráulicas, direcções externas e, de novo, direcções hidráulicas da organização administrativa que
foi constituindo a base da gestão dos recursos hídricos de 1892 a 1986.

52/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

a) Inexistência de gestão integrada dos empreendimentos de fins múltiplos


A questão prende-se com a clarificação e articulação de responsabilidades das entidades gestoras dos
recursos hídricos, nomeadamente na gestão de empreendimentos de fins múltiplos, que não tem contornos
bem definidos.
O INAG concebeu e está a construir empreendimentos, que em alguns casos estão a ser entregues à
Agricultura, outros a ser geridas directamente, e outros numa situação mista, estas decorrentes de uma
divisão de responsabilidades no passado nas obras de Fomento Hidroagrícola.
Os vários sectores ( Agricultura, Energia, e Abastecimento Público ) da mesma forma vão construindo e
gerindo algumas destas infra-estruturas que têm componentes ambientais, de regularização e controle de
cheias, e de desenvolvimento, que extravasam claramente as necessidades específicas de cada um dos
empreendedores.
Um bom exemplo é o empreendimento do Baixo- Mondego, claramente de fins múltiplos, que tem no
essencial as infraestruturas executadas, não existindo condições institucionais e legais para a entrega da obra,
que como se sabe tem uma componente de controle de cheias, rega, abastecimento público e industrial. Não
se vislumbra uma entidade claramente vocacionada para a sua gestão e implementação estruturada do
tarifário a aplicar.
Uma outra abordagem, que é necessário equacionar , passa pela clarificação do regime de concessões,
independentemente do modelo que vier a ser criado, na medida em que neste momento subsistem um
conjunto de indefinições jurídicas e entendimentos contraditórios, designadamente em termos de
reconhecimento do “ direito à exploração “, e enquadramento administrativo na atribuição de novos
licenciamentos ou concessões, nomeadamente nos aproveitamentos hidroeléctricos e hidroagrícolas.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 53/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

Os aproveitamentos hidroeléctricos titulados por concessões, quer de utilidade pública, quer de interesse
privado, atribuídas ao abrigo da legislação vigente até meados da década de noventa, encontra-se
presentemente perante um quadro legal incompleto, quer do ponto de vista do sector eléctrico, quer do ponto
de vista do sector da água . Estas são claramente as conclusões de um G.T, que procedeu à análise global dos
empreendimentos hidroeléctricos, com o objectivo de clarificar as situações e propor soluções.
Apesar do Art.º 90 do Decreto- Lei 46/94 conter disposições transitórias para os utilizadores do domínio
hídrico, na prática este artigo nunca foi aplicado, sendo por isso para os empreendimentos existentes ser
necessário a conversão dos títulos existentes, por alvarás de licença de utilização da água. A questão é mais
complexa quando já ocorreu a caducidade dos alvarás, ou abandono, em que foram “cedidos”, a outras
entidades que presentemente os exploram, com contratos de fornecimento de energia à EDP, e “ legalizados
“ pela DGE ao abrigo da legislação dos produtores independentes ( DL. 189/88 ) sem título de utilização do
domínio hídrico válido. Sendo evidente a desarticulação legal e institucional , e mesmo havendo forma de
desencadear os procedimentos na atribuição de novo título de utilização do domínio hídrico, o processo
esbarra na forma como poderá ser autorizada a utilização de bens que são propriedade do Estado, bem como
à cobrança de eventuais rendas, e quais as entidades beneficiadas. No sector hidroagrícola , que atinge uma
cota de utilização da água na ordem dos 80%, (para não falar na ausência de consumos reais de água, de
planeamento, de eficiência de gestão, segurança estrutural , do regime económico – financeiro etc.) que tem
o seu enquadramento no DL 269/82, as disfunções são as mesmas, não se encontrando ajustamentos no
quadro legal duma autoridade da água, em concreto relativas a empreendimentos de fins múltiplos.
Quando se pretende proceder à “entrega da obra” que os conceitos jurídicos relativos a “ concessionária” do
46/94, de “dono da obra” do Regulamento de Segurança, e “ entidade responsável pela exploração “ do DL
21/98 de 3/2, fica claro que tem de haver no mínimo uma harmonização, do quadro legal que está
completamente desfasado das realidades actuais, para não referir outras obrigações de ordenamento,
ambientais ( caudais ecológicos, caudais reservados, medidas de minimização ambiental ) regime
económico-financeiro etc.

2.3. Diagnóstico

2.3.1. Disfunções e Problemas de Natureza Jurídica


Importa agora sistematizar tais problemas jurídicos em torno de algumas ideias fundamentais que revelam,
de algum modo, as patologias que consideramos serem estruturais e que podem servir desde já como ponto
de partida para a reflexão crítica a realizar em sede de identificação de objectivos e medidas.
a) O déficit de execução do direito da água
A principal patologia do sistema jurídico de protecção da água português é o seu enorme déficit de
execução. Na verdade, as normas jurídicas funcionalmente dirigidas à protecção dos recursos hídricos não
são, efectivas em muitos casos.
O déficit de execução do direito do ambiente resulta da interacção de um conjunto complexo de factores.
Alguns destes factores são de ordem geral – como, por exemplo, a tendência dos sistemas jurídicos romano-
germânicos para privilegiar, por razões histórico-culturais profundas, a formalização da solução “ideal” na
lei, esquecendo muitas vezes a definição do caminho para a alcançar - enquanto outros são próprios do
direito do ambiente ou, mesmo, do (sub) sistema de protecção da água. A sua compreensão crítica exigiria,
assim, a realização de uma análise multidisciplinar que está claramente fora do objecto do presente trabalho.
É, todavia, importante focar um conjunto de problemas que nos parecem contribuir decisivamente para a
patologia identificada, alguns dos quais são depois objecto de uma análise mais detalhada. Assim, parecem-
nos assumir especial importância:
− Disfunções sistémicas, como por exemplo, a complexidade do sistema, a falta de sistematização e de
consolidação dos comandos normativos, a incerteza quanto ao direito aplicável e quanto à efectividade
dos comandos e a existência de normas manifestamente desactualizadas;
− A indeterminação do sistema jurídico;
− A incapacidade comunicativa do sistema jurídico;

54/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

− A ausência de uma fundamentação clara e perceptível, pelos utilizadores/aplicadores, de muitas das


normas do direito de protecção da água;
− Deficiente tratamento e gestão da informação relevante;
− Défice acentuado de concretização do princípio da responsabilização;
− Escasso recurso a mecanismos de regulamentação indirecta;
− A reduzida capacidade de participação efectiva e de correcção de disfunções pelos cidadãos .
b) A indeterminação do sistema jurídico
Um outro problema que julgamos estrutural do sistema jurídico de protecção dos recursos hídricos é o seu
elevado grau de indeterminação.
Isto significa que os utilizadores do ambiente não sabem, ex ante, quais são «as regras do jogo», não
podendo incorporar tal informação nos seus processos de decisão.
Tal insuficiência, respeita como é óbvio não só às normas imperativas como às sanções decorrentes do seu
incumprimento.
Acresce que a indeterminação do sistema jurídico-ambiental potencia a sua «determinação» efectiva por
interesses associados aos usos económicos dos recursos naturais- quer no licenciamento quer quanto à
apreciação de infracções - o que prejudica a prossecução dos seus fins essenciais.
Note-se, por fim, que esta disfunção resulta não só de disfunções sistémicas, mas também:
− Da excessiva complexidade dos modelos de decisão associados à definição do estado de qualidade
adequado da água;
− Da falta de regulamentação precisa das normas legais;
− De deficiências institucionais (como, por exemplo, a existência de vários órgãos com competências
concorrentes e descoordenadas);
− Do déficit de comunicabilidade do sistema jurídico de protecção da água.
c) A incapacidade comunicativa do direito de protecção da água
As normas jurídicas têm, essencialmente, uma dupla função: orientar a conduta dos seus destinatários
(regulae agendi) e dirimir conflitos de interesse (regulae decidendi). A prossecução da primeira função
exige um sistema externo que permita assegurar a sua comunicação.
Os cidadãos devem, assim, poder conhecer, com um custo razoável, a solução determinada pelo sistema
jurídico para um determinado caso concreto. Numa palavra, devem poder conhecer com precisão quais os
seus direitos e obrigações.
Podemos, também, afirmar que é uma tarefa do Estado assegurar a existência de um grau adequado de
comunicabilidade do sistema jurídico . Tal tarefa pode ser cumprida através da sistematização e da
consolidação do sistema - por meio da publicação de compilações oficiais sistematizadas ou de códigos – e
da garantia do acesso ao direito.
Todavia, no que respeita ao direito de protecção da água os utilizadores do ambiente não dispõem
objectivamente de condições para, em muitos casos, orientarem previamente a sua conduta pelo sistema
jurídico.
Esta disfunção - que provoca forte erosão dos princípios da segurança e da confiança jurídica - é uma das
causas determinantes do défice de execução do sistema e deve-se, também, a um conjunto complexo de
factores. Merecem especial relevo os seguintes:
− Disfunções sistémicas, como por exemplo a complexidade, a falta de sistematização e de consolidação
dos comandos normativos;
− A indeterminação do sistema jurídico;

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 55/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

− Divulgação desadequada de normas jurídicas (ex: publicação de actos normativos da II Série do Diário
da Répública);
− A falta de acções pedagógicas de informação dos agentes (ex: guias práticos de actuação dirigidos à
Administração e aos particulares).
d) Fundamento para as normas de definição do estado de qualidade da água
Um momento essencial do actual sistema jurídico de protecção dos recursos hídricos consiste na
determinação do estado de qualidade adequado da água.
Sabe-se, também, que tal delimitação visa, essencialmente, compatibilizar a capacidade de aproveitamento
humano do recurso com a protecção da sua capacidade funcional ecológica, concretizando, desse modo, um
paradigma de desenvolvimento sustentado.
É claro, por outro lado, que essa protecção jurídico-ambiental exige, normalmente, o sacrifício ou a restrição
mútua dos bens jurídicos em confronto. Tal delimitação/compatibilização deve, assim, ser baseada numa
ponderação proporcional e justificada dos bens e interesses em presença (cfr. art. 7º da LBA), e ancorada
num único critério valorativo ou num conjunto integrado de critérios coerentes.
Sucede, contudo, que no actual sistema português o fundamento das normas que definem o estado de
qualidade da água não é claro. Na verdade, parecem (co)existir, de modo, vários tipos de fundamentação –
como, por exemplo, a análise custo/benefício, a análise quantitativa de risco e a melhor tecnologia
disponível - sem que o âmbito e a justificação da adopção de cada uma seja adequada.
Esta disfunção - que poderá vir a ser ultrapassada em grande medida com a transposição da Directiva Quadro
- é particularmente notória na deficiente articulação funcional entre normas de qualidade e as normas de
descarga.
É, por outro lado, fundamental que a ponderação seja, não só justificada, mas também transparente para
todos os agentes - públicos e privados - que intervêm no sistema. Na verdade, é com base em tal
determinação que a Administração actua de forma preventiva e repressiva. Assim, a legitimidade e a
potencialidade comunicativa do sistema jurídico dependem, em grande medida, da capacidade deste em
tornar inteligível o fundamento das normas de definição do estado de qualidade da água.
Sucede todavia que tal fundamento não é acessível para grande parte dos agentes públicos e privados.
e) Uma compatibilização deficiente da dimensão garantística do direito com a necessária dimensão
público-ingerente característica do direito do ambiente
O direito do ambiente é um direito de “reacção:” é uma “resposta da ordem jurídica a várias problemáticas
ambientais e ecológicas geradas pela civilização tecno-industrial dos tempos modernos.”. Tal resposta é
ditada por um conjunto de regras de carácter predominantemente jurídico-público que restringem,
condicionam e orientam a actividade da Administração e dos utilizadores do património natural e que vêm a
redesenhar modelos de decisão pré-existentes, convocando assim dificuldades dogmáticas.
Trata-se, como se sabe, de encontrar uma forma constitucionalmente adequada de acomodar a tensão entre
uma dimensão garantística – que se exprime, por exemplo, na necessidade de protecção da confiança – e a
necessária dimensão público-ingerente característica do direito do ambiente.
Este problema coloca-se a vários níveis, sendo de referir, brevemente, os seguintes:
− A delimitação das consequências que a protecção jurídico ambiental acarreta para os direitos de uso dos
recursos hídricos (incluindo os direitos reais como o direito de propriedade) atribuídos antes do
aparecimento da nova axiologia ambiental;
− A delimitação da esfera de eficácia temporal das novas normas jurídico-ambientais que definem o
estado de qualidade dos recursos hídricos;
− A delimitação do perfil funcional dos direitos de uso dos recursos que tenham sido concedidos ao
abrigo do sistema jurídico ambiental.

56/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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f) A escassa utilização de instrumentos indirectos e as falhas de auto-reflexividade do sistema


jurídico
Actualmente parece consensual que o direito do ambiente não se reduz a um tipo único de instrumentos
jurídicos. Por um lado, não se limita ao modelo inicial, heterónomo e exclusivamente publicista de
«comando e controlo». Mas, por outro lado, também não se confunde com as propostas mais radicais que
preconizaram uma privatização absoluta de todos os bens jurídico-ambientais com a consequente regulação
da sua qualidade através do mercado. Na realidade, a pluralidade metodológica é hoje uma característica
estruturante do direito do ambiente e consequentemente do direito de protecção dos recursos hídricos. Ou
seja, o sistema combina a utilização de instrumentos directos (normas de definição de qualidade e respectivo
sistema de tutela) com instrumentos indirectos (fiscais, financeiros, de mercado e relativos à organização das
empresas).
A equação metodológica fundamental consiste, pois, em delimitar o espaço adequado de cada uma das
metodologias em presença e em desenhar modelos metodológico-instrumentais que sejam plurais mas
também axiologicamente coerentes. Dito de outro modo, trata-se de fixar os limites dos sistemas
heterónomos de regulamentação.
Sucede, todavia, que, no actual direito de gestão dos recursos hídricos português, este tipo de problemas não
tem merecido uma resposta conveniente.
Na realidade, resulta da análise efectuada que o recurso efectivo a instrumentos indirectos no domínio da
água se tem limitado, na essência, aos incentivos de natureza financeira e aos contratos de adaptação
ambiental (art. 78º do DL nº 236/98, de Agosto).
É certo que o DL nº 47/94, de 22 de Fevereiro veio instituir um regime económico-financeiro da utilização
do domínio hídrico, mas também é verdade que tal sistema se manteve até hoje absolutamente virtual. Em
consequência, o sistema revela um reduzido grau de eficiência, de eficácia e de concretização dos princípio
do utilizador-pagador e do poluidor- pagador.
g) A gestão deficiente da informação e do conhecimento
Como se notou a gestão da informação e do conhecimento é um aspecto absolutamente fundamental da
organização e do funcionamento dos sistemas jurídicos, particularmente no que respeita à sua vertente
institucional.
Ora, o sistema jurídico de protecção da água evidencia uma gestão desadequada da informação a todos os
níveis:
− Não há, desde logo, regras e princípios gerais que explicitem os vectores fundamentais a observar pela
Administração e pelos utilizadores;
− As regras funcionalmente dirigidas a obter informação dos utilizadores (ex: a obrigação de auto-
controlo) não são, em muitos casos, cumpridas ou são-no de modo deficiente;
− Não há, por outro lado, regras claras e adequadas sobre a sistematização e gestão da informação
recolhida pela Administração Pública: não há por exemplo um cadastro ou ficheiro único informatizado
dos utilizadores do ambiente comum a todas as entidades competentes onde esteja registada toda a
informação relevante;
− A organização institucional não garante uma correcta gestão da informação (interna) do sistema, nem
tão pouco para actualização de tal informação por recurso a fontes externas;
− Não há uma gestão integrada da informação com obrigações claras de comunicação e tratamento por
parte de todas as instituições envolvidas;
− Não há em regra, planeamento, da gestão da informação.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 57/66 (2 - II)


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h) O déficit de concretização do princípio da responsabilização


Uma última disfunção estrutural é a reduzida concretização do princípio da responsabilização.
Na verdade, verificámos ao longo da análise dos vários tipos de instrumentos utilizados que estes não estão
desenhados por forma a assegurar uma efectiva responsabilização dos vários agentes envolvidos no sistema
de gestão dos recurso hídricos.
Desde logo, a “ideia” de responsabilidade é concretizada quase exclusivamente através do direito
administrativo de mera ordenação social, que assim se assume como o instrumento sancionatório por
excelência do direito do ambiente português.
Ou seja, o modelo sancionatório dirige-se predominantemente para a punição do agente, deixando quase na
sombra a função reparadora, o que tem consequências prejudiciais ao nível da concretização do princípio
do poluidor pagador. Isto significa, em síntese, que não há uma actuação tendente à reparação dos danos
ecológicos (ex: limpeza de solos e de aquíferos contaminados, demolição de construções e reposição da
situação anterior, inter alia). Tal situação deve-se, nomeadamente:
− À deficiente organização institucional;
− À desadequação das sanções administrativas (ex: falta de regulamentação do art 48º da LBA);
− A actual “inoperacionalidade” da responsabilidade civil .
Acresce que, o próprio modelo de responsabilidade punitiva sofre de deficiências estruturais profundas que
afectam claramente a sua eficácia. Trata-se nomeadamente:
− Da incoerência, complexidade e desadequação aos valores jus-ambientais do quadro sancionatório
(onde se nota a falta de um regime quadro das infracções ambientais sugerido pelo art 47º da LBA);
− Do reduzido montante das coimas;
− Da desadequação das sanções acessórias;
− Da desadequação de regras processuais, as quais permitem o recurso com efeitos meramente dilatórios;
− Do recurso sistemático, pela Administração, a critérios de oportunidade e não ao princípio da
legalidade.
Do ângulo dos agentes envolvidos, deve-se sublinhar que as carências de responsabilização abrangem não
só os utilizadores do ambiente mas também a própria administração.
Esta impunidade resulta em parte da inexistência de meios inspectivos eficazes da administração pública do
ambiente.
Note-se, por fim, que a utilização de meios de tutela pelos cidadãos e pelo Ministério Público tem sido
ineficiente e em grande medida ineficaz. No que respeita à actuação de cidadania, porque, apesar dos meios
formalmente previstos no direito português (como por exemplo o direito de acção popular) subsistem
entraves à concretização do direito fundamental à tutela jurisdicional plena e efectiva. Já no que toca ao
Ministério Público – apesar da actuação fundamental num conjunto de casos e do trabalho desenvolvido pelo
Centro de Estudos Ambientais do CEJ – é evidente uma incapacidade efectiva de cumprimento da função
atribuída pelo nº 3 do art. 45º da LBA.
i) Inexistência de uma Lei da Água
Por despacho nº13799/2000 de 6 de Julho do Sr. MAOT foi já constituído um Grupo de Trabalho mandatado
para proceder à revisão do actual quadro legal, nomeadamente a concretização de uma Lei da Água.
A “Lei de Águas” de 1919 nunca foi objecto de uma revisão e actualização global, não obstante ter havido
uma iniciativa governamental de revisão da legislação da água.
Chegados aos finais do século, um pouco mais de 80 anos decorridos sobre a promulgação da “Lei de
Águas” de então, a legislação sobre a posse, uso e regime das águas continua contida numa enorme dispersão
de diplomas, e do Decreto 5 787-4I parecerá subsistir apenas o artº 1º, expressamente validado, como já
referido, pelo Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro.

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2.3.2. Lacunas e Conflitualidades de Competências do Quadro Institucional


a) Introdução
Os contributos dos vários planos de bacia e a reflexão feita no âmbito do Plano Nacional da Água (PNA),
levam a concluir como mais relevantes à escala nacional as seguintes questões decorrentes da análise do
quadro institucional:
- inexistência de uma autoridade da água;
- inexistência de gestão por bacias hidrográficas;
- incipiente participação da sociedade civil;
- limitação das acções de polícia e fiscalização;
- insuficiências em meios humanos;
A abordagem de cada uma destas questões revelará que as respectivas causas e consequências levam a
concluir que nenhuma delas se poderá considerar inteiramente autonomizada em relação às restantes, o que
vale dizer que a resolução dos problemas levantados por cada uma delas implica a resolução dos problemas
levantados por todas.
Resultantes da avaliação global do sistema institucional relativo ao planeamento e à gestão da água apontam-
se, quanto aos méritos, os que potencialmente poderão resultar da publicação da legislação de finais de 1993
e princípios de 1994 (Decretos-Lei nos 379/93, de 5 de Novembro, e 45/94, 46/94 e 47/94, todos de 22 de
Fevereiro) (Cf. págs. 529 e 530 do volume 1 do Projecto Eurowater):
− a promoção de uma ampla e intensiva actividade no planeamento dos recursos hídricos concretizado
mediante um Plano Nacional da Água e 15 planos de bacia hidrográfica, os quais constituirão uma base
sólida para a gestão da água e um bom conhecimento dos problemas em todo o País bem como dos
fronteiriços;
− a definição alargada de domínio público hídrico e a clarificação e o reforço dos poderes de outorga de
títulos de utilização;
− a implementação dos princípios do utilizador-pagador e poluidor-pagador através de uma nova
estratégia económica para as questões da água, que constituirá o suporte de uma gestão sustentável da
água para além da disponibilização de fundos para investimentos;
− a promoção de um novo modelo de resolução dos problemas de abastecimento de água e de saneamento
de águas residuais em áreas densamente povoadas através de sistemas multimunicipais geridos por
concessionárias com a participação dos municípios envolvidos;
− a promoção de um sistema realista e gradual de intervenção do sector privado nos serviços de água,
reforçando-se a indústria da água;
e, no que concerne às falhas e aos conflitos, apontam-se os seguintes decorrentes da mesma legislação (Cf.
págs. 530 e 531 da mesma fonte):
− toda a experiência da gestão por bacias não é tida em conta e o conceito de autoridade de bacia
hidrográfica é negligenciado, pelo que as instituições que existiam e que tinham por objecto a gestão das
bacias hidrográficas, apesar das fracas capacidades de intervenção, foram desmanteladas e integradas
em entidades de mais largo espectro de intervenção que não estarão capazes de assegurar as acções
próprias de gestão antes de decorrido um apreciável lapso de tempo, o que provocará dificuldades na
gestão diária;
− não existe, ainda, uma clara definição de como implementar os planos de bacia hidrográfica no contexto
das direcções-regionais (DRA) quando se concluir a sua elaboração, já que a pertinente legislação
(Decreto-Lei nº 45/94) é vaga quanto aos respectivos conteúdos e opções básicas, com poucas
referências ao acompanhamento (monitorização) dos planos e à gestão diária;
− existem inúmeras sobreposições de responsabilidades das instâncias de nível central e regional que têm
a seu cargo o planeamento e a gestão dos recursos hídricos, o que podendo ser aceitável num período de

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 59/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

transição se arrisca a permanecer por longo tempo já que não se detecta qualquer esforço no sentido da
descentralização;
− a aplicação prática da actual legislação é bastante difícil e exigente em termos da administração pública,
o que se revela particularmente preocupante pela fraqueza estrutural da administração pública em
Portugal, já que os novos sistemas de licenciamento, de colecta de taxas e de implementação dos
Conselhos de Bacia e de preparação dos planos de bacia hidrográfica são algo pesados e complexos em
termos administrativos;
− a gradual intervenção do sector privado nos serviços de abastecimento de água e de saneamento de
águas residuais exige a preparação de normas para a regulação da construção e da operação dos sistemas
respectivos.
O abandono do sistema baseado nas autoridades de bacia hidrográfica não constitui o aspecto mais negativo
do novo sistema e que existem algumas questões fundamentais cuja evolução será determinante para o
planeamento e a gestão dos recursos hídricos na próxima década:
− a eliminação das autoridades de bacia hidrográfica não é uma opção irreversível A preparação dos
planos de bacia hidrográfica, a implementação do princípio do poluidor-pagador e do
utilizador-pagador, a criação de conselhos de bacia e a necessidade crescente de gestão das bacias
hidrográficas poderão levar a ajustamentos no futuro;
− o papel destinado ao sector público e ao sector privado nos domínios da água. Sendo desde sempre parte
integrante das actividades do sector público, ainda não está suficientemente perspectivado como, nesses
domínios, se poderão harmonizar os interesses público e privado;
− fragilidades nas estruturas existentes e até em certas funções-chave como, por exemplo, na colecta de
dados hidrológicos, estando a credibilidade das novas políticas dependente de se atingir uma etapa
essencial traduzida pela melhoria das capacidades e pelo desempenho qualificado das instâncias
responsáveis pela administração da água.
b) Inexistência de uma autoridade da água
Em cerca de 80 anos, desde a criação da Administração Geral dos Serviços Hidráulicos, das sucessivas
Direcções Gerais dos Serviços Hidráulicos e Eléctricos, dos Serviços Hidráulicos, dos Recursos e
Aproveitamentos Hidráulicos e dos Recursos Naturais e de um primeiro INAG que, de facto, acabou por
nunca existir, até ao actual INAG, Instituto da Água, com tutelas de ministérios tão distintos como os do
Comércio e Comunicações, da Economia, das Obras Públicas, do Equipamento Social, do Plano e da
Administração do Território e de todos os que se foram reclamando do Ambiente - foram várias as tentativas
no sentido de se dotar a Administração dos meios mais adequados para se assegurar a gestão dos recursos
hídricos.
Nas atribuições dos sucessivos ministérios com a tutela do ambiente a partir do Ministério do Ambiente e
dos Recursos Naturais a primeira vez que a água, enquanto recurso, é contemplada de forma expressa e
autónoma quanto a tais atribuições genéricas relativas ao ambiente, é com a criação do Ministério do
Ambiente (alínea e) do artº 2º do Decreto-Lei nº 230/97, de 30 de Agosto):
“(...) Definir e executar uma política nacional para a água nos seus aspectos de disponibilização do recurso,
em termos de qualidade e quantidade e de controlo da poluição, tendo em atenção o quadro institucional
vigente e os instrumentos adequados para a sua gestão integrada e sustentável (...)”.
Ao Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território estão cometidas atribuições equivalentes mas
definidas de modo mais amplo (alínea c) do nº 2 do artº 1º do Decreto-Lei nº 120/2000, de 4 de Julho):
“(...) Gerir de forma global e integrada os recursos hídricos nacionais, permitindo adequar os perfis
temporais de disponibilidade e procura, nomeadamente através da definição de níveis apropriados para os
serviços de abastecimento de água e de drenagem de águas residuais, da utilização criteriosa da água para
outras finalidades, do controlo da poluição e da salvaguarda dos meios hídricos (...)”.
O INAG e as DRA (direcções regionais do ambiente, agora DRAOT - direcções regionais do ambiente e do
ordenamento do território, com o Decreto-Lei nº 120/2000, de 4 de Julho), aquele enquanto organismo sob
tutela e estas enquanto serviços regionais do Ministério, partilhavam, em termos genéricos das disposições
legais, atribuições relativamente à água não obstante às do INAG se conotarem os recursos hídricos e o

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saneamento básico (Cf. nº 1 do artº 2º do Decreto-Lei nº 191/93, de 24 de Maio) e às das DRA, de forma
ampla, o ambiente e os recursos naturais (Cf. alínea a) do artº 2º do Decreto-Lei nº 190/93, de 24 de Maio).
Nenhum relacionamento transversal entre o INAG e as DRA foi previsto na Lei Orgânica daquele
Ministério, nem transparece do referido organograma; mas desde que o INAG foi criado, com o Decreto-Lei
nº 70/90, de 2 de Março, pré-existindo as DRARN desde 1986, que, na prática, quase todos os diplomas que
respeitam ao “sector água” fazem intervir um e outras.
os
Naturalmente que se poderão invocar passagens dos Decretos-Lei n 190/93 e 191/93, já atrás referidos, para
se afirmar que as leis orgânicas das DRA e do INAG contemplaram, expressamente, articulações entre os
serviços desconcentrados a nível regional e o Instituto da Água, e vice-versa; e, seguidamente, acrescentar
que não é tanto a inexistência de uma autoridade da água que deve ser posta em causa mas a não
concretização, na prática, das referidas articulações. A ser assim, a responsabilidade de tal não concretização
recairia directa, e integralmente, nas competências consagradas nas alíneas a), e) e f) do nº 3 do artº 4º do
Decreto-Lei nº 190/93.
Parecendo que o INAG disporia de um estatuto de cúpula em algumas das atribuições das DRA, o certo é
que a não definição de qualquer relacionamento transversal entre ele e as DRA tornava, na prática,
impossível concluir pela existência de uma autoridade da água que, naturalmente sob tutela do Ministro,
exercesse, de facto, as atribuições do INAG enquanto “(…) instituto responsável pela prossecução das
políticas nacionais do domínio dos recursos hídricos (…)” (Cf. nº 1 do artº 2º do Decreto-Lei nº 191/93, de
24 de Maio).
A impossibilidade que fica referida de se poder concluir pela existência de uma autoridade da água quando
se confrontam as atribuições dos órgãos, organismos e serviços do próprio Ministério com a tutela dos
recursos hídricos não diminui, antes acresce, quando se passam em revista competências de outros
ministérios com incidências directas, ou indirectas, nos recursos hídricos.
Quanto ao Ministério com a tutela da agricultura e das pescas, no Decreto-Lei nº 269/82, de 10 de Julho, com
o qual se procedeu, para além da revisão da legislação sobre política de fomento agrícola a que se já fez
referência atrás, à transferência de atribuições, relativas à execução da referida política, do Ministério com
tutela das obras públicas para o Ministério com tutela na agricultura, a então Direcção-Geral dos Recursos e
Aproveitamentos Hidráulicos passou a intervir apenas nas competências de elaboração dos estudos de
viabilidade dos projectos das obras e da construção das obras dos Grupos I (obras de interesse nacional) e II
os
(obras de interesse regional) (Cf. art 6º, 11º e 28º): isto é, na mera perspectiva da obra pública. No Decreto
Regulamentar nº 84/82, de 4 de Novembro, com o qual se fez publicar o Regulamento das Associações de
Beneficiários, aquela Direcção-Geral não é sequer citada.
No Decreto Regulamentar nº 11/97, de 30 de Abril, da lei orgânica da Direcção-Geral das Florestas (DGF), é
ao nível de uma divisão, de uma Direcção de Serviços de Caça e Pesca das Águas Interiores, que recaem as
competências da DGF na interface com os recursos hídricos.
Com o Decreto-Lei nº 136/97, de 31 de Maio, da lei orgânica do IHERA - Instituto de Hidráulica,
Engenharia Rural e Ambiente apesar do reconhecimento das competências que sobre o “(…) planeamento
nacional dos recursos hídricos (…)” recaem sobre o INAG, o mesmo diploma remete para o nível de divisão
os
as únicas referências expressas de ligação com o INAG, nos seus art 23º e 25º. E, ainda: o mesmo IHERA
elaborou o Plano Nacional de Regadios 2000-2006 e apresentou-o no CNA sem conhecimento prévio do
INAG.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 61/66 (2 - II)


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Organograma
Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território

Conselho Nacional
do Ambiente e do
Ministro do Ambiente e do Conselho
Ordenamento do Território Nacional
Desenvolvimento da Água
Sustentável MAOT CNA
CNADS

Secretaria de Estado
Secretaria de Estado
do Ordenamento do Território e
do Ambiente
Instituto Conservação da Natureza
SEA Regulador de SEOTCN
Águas e Resíduos
IRAR

Direcção Geral do
Instituto de Ordenamento do Gabinete de Instituto da Centro Nacional Instituto Português
Secretaria- Direcção-Geral Inspecção-
Promoção Território Relações Gabinete Conservação de Informação de Cartografia e
-Geral do Ambiente -Geral do Ambiente
Ambiental e Desenvolvimento Internacionais Júridico da Natureza Geográfica Cadastro
SG DGA IGA
IPAMB Urbano GRI GJ INC CNIG IPPC
DGOTDU

Instituto Instituto
da dos
Água Resíduos
INAG INR

Direcção Regional do
Direcção Regional do Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento Direcção Regional do Direcção Regional do
Ambiente e Ordenamento Ambiente e Ordenamento do Território - Lisboa e Ambiente e Ordenamento Ambiente e Ordenamento
do Território - Norte do Território - Centro Vale do Tejo do Território - Alentejo do Território - Algarve
DRAOT-N DRAOT-C DRAOT-LVT DRAOT-ALT DRAOT-ALG

Na lei orgânica do Ministério da Economia (Decreto-Lei nº 222/96, de 25 de Novembro), procurando-se, no


texto, as referências mais marcantes quanto à importância dos recursos hídricos nas actividades sob tutela do
mesmo Ministério encontram-se, apenas, as que decorrem da consideração de passagens que ficaram
transcritas anteriormente. E, ainda: o Plano Energético que é desenvolvido sem articulação com o INAG.
A Lei nº 159/99, de 14 de Setembro, que estabeleceu o quadro de transferência de atribuições e competências
para as autarquias locais, ao dispor, no nº 2 do artº 26º, o que já atrás se transcreveu no Nº 2.2.3, confere às
autarquias locais poderes que se presumiam estarem já inequivocamente atribuídos no Decreto-Lei nº 45/94,
de 22 de Fevereiro, além de não ficar claro sob que forma, e com quem, deverá ter lugar a competência
expressa na alínea j) atrás transcrita.
O conceito de ambiente, por demasiado amplo, tem vindo a impedir que certas das suas componentes
ganhem, na respectiva consideração e desenvolvimento, a autonomia necessária.
Importa sobremaneira tornar patente a importância dos recursos hídricos pela efectiva aquisição da
necessidade da existência de uma autoridade da água que execute, na prática, no Ministério com a tutela do
ambiente, e transversalmente em todos os ministérios implicados, a política nacional da água que venha a ser
definida pelo Ministro e assumida pelo Governo como um todo. Repartir atribuições relativamente à água
entre o INAG e as DRA como até recentemente se encontrava consagrado (princípio, por enquanto, ainda
não expressamente revogado) conduziu, como já referido, a um apagamento da relevância dos recursos
hídricos.
Se se tiver, adicionalmente, em conta que as bacias hidrográficas constituem não mais do que a referência
territorial para a elaboração dos planos de bacia hidrográfica, sem qualquer repercussão actual na gestão da
água, com as DRA com jurisdição em áreas definidas por limites administrativos - então não causará
surpresa que não exista, de facto, uma autoridade da água.
c) Inexistência de gestão por bacias hidrográficas

62/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

Há mais de 100 anos, a Lei de 6 de Março de 1884 e o Decreto nº 8, de 1 de Dezembro de 1892, e o


respectivo Regulamento dos Serviços Hidráulicos, publicado no dia 22 do mesmo mês daquele ano, revelam
que em épocas tão recuadas já havia entre nós a noção da bacia hidrográfica constituir a unidade por
excelência da gestão da água e dos serviços hidráulicos deverem ser organizados em consequência.
O Decreto-Lei nº 190/93, de 24 de Maio, estabeleceu a orgânica das direcções regionais do ambiente e
recursos naturais (DRARN) na sequência da aprovação da Lei Orgânica do Ministério do Ambiente e
Recursos Naturais, e dispôs, em particular, “(...) O âmbito territorial em que as DRARN desenvolvem a sua
actividade coincide com o das comissões de coordenação regional, definido no Decreto-Lei n° 494/79, de 21
de Dezembro.(…)”. Ou seja: reiterou-se no abandono do sistema baseado nas autoridades de bacia
hidrográfica, abandono, esse, assumido, pela primeira vez, no Decreto-Lei nº 130/86, de 7 de Junho, que
havia criado as direcções regionais do ambiente e dos recursos naturais nas CCR.
Entretanto, a nova Directiva-Quadro da Água (que estabelece um quadro de acção comunitária no domínio
da política da água), na sua versão final mantém, no artº 3º (coordenação das disposições administrativas a
aplicar nas regiões hidrográficas), os seguintes objectivos a seguir apresentados por via de extractos do
mesmo artigo:
“(…)
1. Os Estados-membros identificarão as bacias hidrográficas que se encontram no seu território e,
para efeitos da presente directiva, incluirão cada uma delas numa região hidrográfica. As bacias
hidrográficas de pequena dimensão podem ser combinadas com bacias de maior dimensão ou, quando
aplicável, associadas a outras bacias de pequena dimensão para formar uma única região hidrográfica. Nos
casos em que uma massa de águas subterrâneas não corresponda rigorosamente a uma determinada bacia
hidrográfica, essas águas subterrâneas serão identificadas e incluídas na região hidrográfica mais próxima
ou mais indicada. As águas costeiras serão identificadas e incluídas na região ou regiões hidrográficas mais
próximas ou mais indicadas.
2. Os Estados-membros tomarão as disposições administrativas adequadas, incluindo a designação
das autoridades competentes adequadas, para a aplicação das regras da presente directiva em cada região
hidrográfica existente no seu território.
3. Os Estados-membros garantirão que uma bacia hidrográfica que abranja o território de mais de um
Estado-membro seja incluída numa região hidrográfica internacional. (…)
4. Os Estados-membros assegurarão que os requisitos previstos na presente directiva para a
realização dos objectivos ambientais fixados no artigo 4º, e em especial todos os programas de medidas,
sejam coordenados para a totalidade da região hidrográfica. (…)”
a região hidrográfica sendo definida do seguinte modo no nº 15 do artº 2º (definições):
“(...) «Região hidrográfica», a área de terra e de mar constituída por uma ou mais bacias hidrográficas
vizinhas e pelas águas subterrâneas e costeiras que lhes estão associadas, definidas nos termos do nº 1 do
artigo 3º como a principal unidade para a gestão das bacias hidrográficas; (...)”.
Assinala-se a ironia da “obrigatoriedade” imposta por uma directiva comunitária de termos de definir regiões
hidrográficas e, com elas, as autoridades competentes adequadas, nós que, desde 1884, já havíamos
reconhecido a bacia hidrográfica como unidade de gestão, utilizado mesmo a expressão “região hidrográfica”
(Cf. § 1º do artº 1º do Regulamento dos Serviços Hidráulicos de 22 de Dezembro de 1892) e até considerado
que “(…) os serviços hidráulicos do continente do reino (…)” incluíam “(…) estudos, projectos e execução
de obras para o melhoramento e conservação das costas, estuários e portos marítimos (…)” (Cf. artº 28º do
Decreto nº 8, de 1 de Dezembro de 1892).
A circunstância da nova Directiva-Quadro da Água prever a inclusão de “(...) águas costeiras (...)” nas
regiões hidrográficas já que estas presumem uma “(...) área de terra e de mar (...)”, leva a investigar como
tal matéria se encontra legislada entre nós.
Ora, do que ficou referido conclui-se que o domínio público marítimo sob jurisdição do INAG não constitui
uma faixa contínua da orla costeira, e que os estuários, que são áreas das de maior valor ambiental, estão fora
da jurisdição do INAG. As entidades portuárias podem ser apenas concessionárias da utilização de parcelas
do domínio público marítimo, sem poderes de intervenção que as possam colocar numa dificilmente

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 63/66 (2 - II)


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

legitimável posição face a declarações do tipo “(...) Toda e qualquer intervenção no litoral deve enquadrar-
se numa política de protecção e valorização do ambiente, assente em princípios adequados de ordenamento
do território (...)” constantes do preâmbulo do Decreto-Lei nº 201/92, de 29 de Setembro. A extensão das
atribuições do INAG de “(...) requalificação e conservação da orla costeira (...)” com a alínea c) do nº 2 do
artº 14º do Decreto-Lei nº 120/2000, de 4 de Julho, tem necessariamente que conduzir a uma reformulação
das competências de âmbito portuário e daquelas assumidas pelo INAG para que, num contexto de coerência
e de abordagem integral, se possam vir a criar as regiões hidrográficas conforme previsto na nova Directiva-
Quadro da Água.
d) Inexistência de gestão integrada dos empreendimentos de fins múltiplos
A questão prende-se com a clarificação e articulação de responsabilidades das entidades gestoras dos
recursos hídricos, nomeadamente na gestão de empreendimentos de fins múltiplos.
Do ponto de vista legal e institucional a gestão dos empreendimentos de fins múltiplos estão completamente
omissos, sendo necessário equacionar a clarificação do regime de concessões.
e) Incipiente participação da sociedade civil
Do que ficou referido haverá de se concluir que a participação da sociedade civil é, ainda, muito incipiente,
podendo vir a revelar-se intempestiva se não se conceberem formas institucionalmente apropriadas, aliás na
sequência do que se encontra previsto na Lei das Associações de Defesa do Ambiente, Lei nº 10/87, de 4 de
Abril, já atrás referida, em que o tema água ganhe o relevo merecido no contexto do conceito amalgamante
de ambiente.
f) Limitação das acções de polícia e fiscalização
O Decreto nº 8, de 1 de Dezembro de 1892, da organização dos serviços hidráulicos e do respectivo pessoal,
ao tratar da organização dos serviços (Titulo III), estipulou, as disposições e atribuições operacionais sobre
(14)
recursos hídricos.
O Regulamento dos Serviços Hidráulicos, de 22 de Dezembro de 1892, dedica numerosos artigos ao pessoal
e, em particular, aos mestres e guardas nos termos dos quais se dá conta de que eles prestavam juramento
perante o juiz de direito da comarca onde estivessem situados os lanços ou cantões onde devessem servir, e
como tal eram, também, guardas campestres e de polícia, com o carácter de força pública, podendo andar
armados e prender em flagrante delito.
Em 1935, com a publicação do Decreto-Lei nº 26 117, em 23 de Novembro, que organizou os serviços do
Ministério das Obras Públicas e Comunicações, é introduzida a designação de guarda-
-rios (e, também, de mestres de valas) na sequência das sucessivas designações a que os mestres e os guardas
de 1892 foram sendo sujeitos.
À categoria de mestres de valas passou a corresponder a de chefe de lanço com o Decreto-Lei nº 36 315, de
31 de Maio de 1947, que reviu a orgânica interna da Direcção Geral dos Serviços Hidráulicos definida
naquele diploma de 1935.
A criação da Direcção-Geral dos Recursos e Aproveitamentos Hidráulicos pelo Decreto-Lei nº 117-D/76, de
10 de Fevereiro, em substituição da Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, que é extinta pelo mesmo
diploma, a sua integração no Ministério da Habitação, Obras Públicas e Transportes e, em seguida, pelo
Decreto-Lei nº 344-A/83, de 25 de Julho, (Lei Orgânica do IX Governo Constitucional) no Ministério do
Equipamento Social e, pelo Decreto-Lei nº 497/85, de 17 de Dezembro, (Lei Orgânica do X Governo
Constitucional) no Ministério do Planeamento e Administração do Território; a criação da Direcção-Geral
dos Recursos Naturais pelo Decreto-Lei nº 130/86, de 7 de Junho, a sua extinção no prazo máximo de um
ano contado da publicação do mesmo diploma, (Lei Orgânica do Ministério do Planeamento e Administração
do Território), a sua efectiva extinção pelo Decreto-Lei nº 246/87, de 17 de Junho e a criação do INAG pelo
Decreto-Lei nº 70/90, de 2 de março - constituiu um processo assaz complexo ao longo do qual as
referências às acções de polícia se foram desvanecendo e hoje se encontram completamente eliminadas.
Em grande número dos diplomas que respeitam ao “sector água”, em particular aqueles que estabelecem
valores limite para normas de emissão e objectivos de qualidade dos meios receptores. bem como o regime
de utilização do domínio hídrico e o respectivo regime económico e financeiro, contemplam-se acções de
fiscalização cuja execução recai, como regra, sobre o INAG e as, agora, DRAOT.

64/66 (2 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUADRO LEGAL E ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIEDADE

A desconformidade dos resultados obtidos com as disposições legais aplicáveis aos valores limite de normas
de emissão e objectivos de qualidade dos meios receptores, e a não generalização, se não mesmo as
excepções que constituem os casos de aplicação, dos procedimentos de autocontrole, por um lado, e o
número restrito de títulos de utilização atribuídos em conformidade com as pertinentes disposições do
Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro, e a não aplicação do respectivo regime económico e financeiro,
por outro, constituem factos que põem em evidência as limitações das acções de fiscalização.
Os quadros de pessoal ainda em vigor do INAG e das DRAOT, constantes, respectivamente, do Decreto-Lei
nº 383/77, de 10 de Setembro (quadro de pessoal da extinta Direcção-Geral dos Recursos e Aproveitamentos
Hidráulicos que se manteve, sem alterações, para a extinta Direcção-Geral dos Recursos Naturais e, por sua
vez, também sem alterações, para o INAG) e da Portaria nº 1031/95, de 23 de Agosto (quadros de pessoal
das extintas Direcções Regionais do Ambiente e Recursos Naturais que se mantiveram, sem alterações, para
as extintas Direcções Regionais do Ambiente) prevêem os seguintes números de lugares:
- para o INAG (isto é, para a extinta DGRAH e, também, para a extinta DGRN) 67 chefes de lanço (o
diploma que anteriormente havia fixado o quadro de pessoal da Direcção-Geral dos Serviços
Hidráulicos, Decreto-Lei nº 605/72, de 30 de Dezembro, extinta pelo Decreto-Lei nº 117-D/76, de 10 de
Fevereiro, contemplava 60 chefes de lanço);
- para as DRA (isto é, para as extintas DRARN), consideradas no seu conjunto, na área funcional de
fiscalização e vigilância nos domínios do ambiente, recursos naturais e património natural:
• vigilantes da natureza................................... 83
• guardas da natureza ...................................... 334
destes últimos sendo 270 expressamente a extinguir quando vagarem.
Fica patente uma opção que foi adoptada, em 1977, de não se reforçarem as capacidades de fiscalização e de
polícia no contexto dos serviços hidráulicos e, em 1995, de se reduzirem drasticamente os lugares de quadro
das direcções regionais do ambiente com funções de fiscalização.
g) Insuficiências em meios humanos
As atribuições e competências específicas de alguns serviços e organismos do Ministério com tutela do
ambiente, muito em particular das DRAOT e do INAG são vastíssimas e multi-facetadas, conforme se
referiu. A sua concretização eficiente e a tempo implicariam meios humanos e materiais mais poderosos dos
que têm vindo a dispor tais serviços e organismos desde há anos (provavelmente desde as respectivas
criações).
Àparte a dimensão de tais meios seria necessário que a própria concepção de alguns diplomas fosse menos
complicada no que respeita à articulação entre as atribuições conferidas aos mesmos serviços e organismos
do ministério e até de outros ministérios.
Em conformidade com o Anuário 98 do Ministério do Ambiente os recursos humanos do INAG e das
direcções regionais do ambiente mais de 50% de todo o pessoal não tinha mais do que o 9º ano, ou
equivalente, de habilitações escolares e apenas cerca de 1/4 tinha habilitações iguais ou superiores a bacharel.
Confrontando os efectivos com os lugares previstos nos quadros de pessoal das mesmas entidades, revela-se
que estão preenchidos apenas em parte: não mais do que, no total, 45%, sendo a situação mais gravosa a da
DRA Algarve com apenas 39%.
O que fica referido não constitui mais do que um conjunto de indicadores, importando, sobremaneira, apurar
o seu significado, da insuficiência dos recursos humanos.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 65/66 (2 - II)


RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

3. RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

3.1. Introdução
Tomemos as palavras que iniciam o capítulo do Libro Blanco del Agua1 de Espanha (LBAE) sobre a
cooperação com Portugal e que expressam “... de fundamental importância para Espanha são as relações
com Portugal em matéria de recursos hídricos, relações que se vêm desenvolvendo num contexto de
coordenação e colaboração mútua, compatível com a defesa dos legítimos interesses respectivos.
O desenvolvimento destas relações está condicionado, obviamente, pelo quadro geográfico, as
características hidrológicas das bacias fluviais partilhadas – bacias hidrográficas dos rios Minho, Lima,
Douro, Tejo e Guadiana –, do direito comunitário e internacional vigente entre as partes, e os acordos
bilaterais específicos”.
Subscrevendo estas palavras, neste capítulo concluímos que só através da cooperação luso-espanhola é
possível obter eficácia das medidas que o processo de planeamento de que este Plano Nacional da Água é
parte integrante, venha a propôr.
As relações formais entre Portugal e Espanha sobre matérias relativas aos recursos hídricos são suportadas
por diversos documentos de inquestionável mérito que percorrem os dois últimos séculos. O conteúdo e
alcance destes documentos correspondem a problemáticas de distinta natureza e reflectem com muita
aproximação o tipo de preocupações bilaterais em cada época.
Podem, assim, ser identificados três períodos em torno das datas dos documentos de referenciação e que são:
o Tratado dos Limites de 1864; os Convénios de 1927, 1964 e 1968 e a Convenção de 98.
Para além da análise do conteúdo, alcance e concretização dos desígnios destes documentos, serão ainda
diagnosticados os problemas remanescentes, as dificuldades da sua aplicação, bem como os desafios que
ainda colocam, procurando relacionar os problemas identificados com as respectivas causas.
Todavia, as relações luso-espanholas não se esgotam nos eventos formais ao abrigo das Convenções e
Tratados, elas têm evoluído em trocas e interlocuções mais ou menos informais protagonizadas pelos
organismos homólogos de ambos os países e pela participação em iniciativas técnico-científicas e projectos
promovidos de ambos os lados da fronteira, muitas vezes patrocinados pelos mecanismos financeiros da
União Europeia e ao que se fará referência na medida do conhecimento das problemáticas dos recursos
hídricos que potenciam.

3.2. Principais Características das Bacias Hidrográficas e Aquíferos Luso-Espanhóis


São partilhadas por Portugal e Espanha as bacias hidrográficas dos rios Minho, Lima, Douro, Tejo e
Guadiana.
Não estão ainda identificados quaisquer aquíferos de extensão transfronteiriça que justifiquem essa
designação.
2 2
As bacias hidrográficas luso-espanholas ocupam no seu conjunto 264.560 km dos 581.000 km da Península
Ibérica, ou seja, cerca de 45% deste território. Este espaço equivale a 2,5% de área da Europa e cerca de 18%
2
do território da União Europeia. Daquela área total das bacias hidrográficas, 56.930 km localizam-se em
2
Portugal e 207.630 km em Espanha, o que representa 22% e 78%, respectivamente, do espaço ibérico
continental. As bacias hidrográficas dos rios Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana detêm, respectivamente,
2 2 2 2
as áreas de 17.080 km , 2.480 km , 97.600 km , 80.600 km e 66.800 km2. Por sua vez, a repartição destas
2 2 2
áreas por Portugal e Espanha é, pela mesma ordem, de 850 km (5%) e 16.230 km (95%); 1.180 km (48%) e
2 2 2 2 2
1.300 km (52%); 18.600 km (19%) e 79.000 km (81%); 24.800 km (31%) e 55.800 km (69%); 11.500
2 2
km (17%) e 55.300 km (83%), de acordo com a figura 3.2.1 e o quadro 3.2.1.

1
Libro Blanco del Agua em España, Ministerio de Medio Ambiente. Dezembro de 1998.

1/24 (3 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

Figura 3.2.1 - Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas


Quadro 3.2.1 - Repartição das Áreas das Bacias Luso-Espanholas

Bacia Área Total Portugal Espanha


Hidrográfica (km2) Área (km2) % Área (km2) %
Minho 17.080 850 5 16.230 95
Lima 2.480 1.180 48 1.300 52
Douro 97.600 18.600 19 79.000 81
Tejo 80.600 24.800 31 55.800 69
Guadiana 66.800 11.500 17 55.300 83
TOTAL 264.560 56.930 22 207.630 78

Em termos relativos, as superfícies das bacias hidrográficas luso-espanholas representam 64% e 42% dos
territórios peninsulares de cada um dos países, considerando para estes as áreas de 89.000 km2 e 492.000
km2. Estas percentagens assumem todo o seu significado se tivermos em conta que bastantes actuações
significativas no território destas bacias hidrográficas tem implicações nos recursos hídricos e que estes
pertencem a bacias hidrográficas internacionais cuja disciplina de gestão não se confina apenas às políticas
de recursos hídricos internas de cada país, estando, por isso, disciplinadas por Convenções internacionais,
europeias e bilaterais.

3.3. Recursos Hídricos Naturais e Utilizações das Bacias e dos Aquíferos Internacionais
A água tem tido ao longo dos tempos um papel determinante na dinâmica de povoamento da Península
Ibérica, não fosse ela um recurso essencial à vida e às actividades humanas. Por isso, a disponibilidade de
recursos naturais em abundância está desde sempre associada à presença humana e, no caso especial da água,

2/24 (3 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

à sua utilização para diversos fins. A medida da abundância ou escassez determinam a necessidade de
apropriação e disciplina do acesso ao recurso, quer se trate de populações próximas quer distantes. É a
necessidade de disciplina no processo concorrencial de apropriação e acesso aos recursos hídricos, no
passado e presente e de precaução em relação ao futuro, que justificam a existência das Administrações dos
recursos hídricos que, para o exercício da sua acção, devem avaliar as disponibilidades e as utilizações
compatíveis com a natureza renovável e funções dos recursos hídricos.
No âmbito das relações luso-espanholas faria sentido caracterizar e analisar apenas o que acontece nas bacias
hidrográficas partilhadas se e só os fluxos hídricos nelas se confinassem. Porém, tanto em Espanha como em
Portugal estes fluxos extravasam os limites das bacias hidrográficas, tornando-se, por isso, necessário
perceber o que se passa nas bacias hidrográficas conexas com as bacias partilhadas e que justificam estas
relações.
No que se refere aos recursos em regime natural, dada a natureza do presente documento, interessa
sobretudo, conhecer os seus valores em termos médios anuais e as características dos episódios extremos que
têm implicações nas comunidades que com eles interactuam.
Os recursos hídricos superficiais, em valor médio anual, gerados nas bacias hidrográficas luso-espanholas
ascendem a 63.100 hm3 e representam cerca de 45% dos recursos hídricos superficiais gerados na Península
Ibérica e que atingem os 140.500 hm3, conforme Quadro 3.3.1.
Tendo presente os valores da precipitação média anual em Portugal e Espanha, que atingem valores de
77.500 hm3 e 341.400 hm3, respectivamente, num total de 418.900 hm3, facilmente se conclui que apenas
33%, ou seja um terço, da água com origem nas chuvas se escoa pelas linhas de água dos dois países,
conduzindo as relações escoamento/precipitação a valores de 39% e 32% em Portugal e Espanha,
respectivamente. A quantidade restante incorpora-se nas disponibilidades subterrâneas ou no ciclo da
evapotranspiração das plantas ou é evaporada pelas massas de água superficiais, quer armazenada, quer em
circulação.
No conjunto das cinco bacias luso-espanholas os valores da precipitação média anual atingem os 192.900
hm3, dos quais 52.000 hm3 em Portugal e 140.900 hm3 em Espanha. As relações entre os escoamentos e as
precipitações médias anuais conduzem a valores de 33% no conjunto das cinco bacias luso-espanholas,
sendo de 39% na parte portuguesa e 30% na parte espanhola.
Quadro 3.3.1 - Recursos Hídricos Superficiais e Subterrâneos Gerados nas Bacias Hidrográficas
Luso-Espanholas e Totais Nacionais (Valores médios anuais)
Bacia Totais (hm3)
Portugal (hm3) Espanha (hm3)
Hidrográfica Portugal + Espanha
Subterrâneas Superficiais Subterrâneas Total Total
Luso-Espanholas Superficiais (1)
(2) Total (3) (4)
Superficiais Subterrâneas

Minho 1.000 200 1.200 11.100 12.100


2.800 15.500 3.100 18.800
Lima 2.000 100 2.100 1.600 3.600
Douro 9.200 800 10.000 13.700 3.000 16.700 22.900 3.800 26.700
Tejo 6.200 2.700 8.900 10.900 2.400 13.300 17.100 5.100 22.200
Guadiana 1.900 400 2.300 5.500 800 6.300 7.400 1.200 8.600
Total 20.300 4.200 24.500 42.800 9.000 51.800 63.100 13.200 76.300

Portugal – B. Hidrog.
10.100 1.800 11.900 - - - - - 11.900
Internas
Espanha – B. Hidrog.
- - - 67.300 19.700 87.000 - - 87.000
Internas
TOTAL Península 30.400 6.000 36.400 110.100 28.700 138.800 140.500 34.700 175.200
(1) Avaliação de base mensal para o período de 1940/41 a 1990/91.
(2) Valores da Síntese dos PBH Internacionais – Outubro 2000.
(3) Valores do Livro Branco da Água de Espanha. Avaliação de base mensal para o período de 1940/41 a 1995/96.

Os recursos hídricos subterrâneos nas bacias luso-espanholas atingem, em média anual, os 13.200 hm3, não
existindo sistemas aquíferos significativos repartidos pelos dois países. As disponibilidades naturais nos
aquíferos portugueses e espanhóis, que de algum modo se consideram afectos às bacias hidrográficas

3/24 (3 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

luso-espanholas, atingem valores médios anuais de 4.200 hm3 e 9.000 hm3, respectivamente. Adicionados
estes valores aos dos recursos superficiais atingem-se os valores totais no conjunto das áreas das bacias
hidrográficas luso-espanholas de 76.300 hm3.
Os valores médios anuais das disponibilidades dos recursos hídricos naturais, no conjunto de águas
superficiais e subterrâneas, em Portugal e Espanha na totalidade das respectivas áreas territoriais, atingem os
36.400 hm3 e 138.800 hm3, num total de 175.200 hm3.
Resumidamente, as utilizações mais penalizantes do regime natural dos sistemas hidrográficos e aquíferos
podem considerar-se as que se destinam à agricultura, indústria, produção de energia e abastecimento às
populações, quer em termos de consumo, quer em termos de alterações do regime de caudais.
Para estas quatro utilizações apresentam-se no Quadro 3.3.2 os valores correspondentes aos consumos
médios anuais, em que à designação por “Outras” correspondem utilizações associadas às transferências,
uma vez que estas são em muitos casos de fins múltiplos.
Na Figura 3.3.1 apresentam-se de forma agregada as disponibilidades em regime natural e utilizações em
cada uma das partes das bacias hidrográficas luso-espanholas em valores médios anuais.
Quadro 3.3.2 - Utilizações de Água Médias Anuais Actuais nas Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas e Totais
Nacionais (m3)

Utilizações
Bacias Total 1 Total 2
Produção (3) Abastecimento Outras (5) Incluindo Excluindo
Hidrográficas Regadio (1) Indústria (2)
Urbano (4)
Energia Eléctrica Perdas/Ganhos Produção Produção
Hidroeléctrica Hidroeléctrica
Portugal 80 0 (0,1) (190)-0 4 (a) 0 274 84
Minho Espanha 430 30 (?)-30 80 0 (?) 570
Total 560 30 (?)-30 84 0 (?) 1.460
Portugal 160 10 (2.555)-0 7 (b) 0 367 177
Lima Espanha 50 (?) (?) -0 (?) 0 (?) (?)
Total 160 10 (?)-0 (?) 0 (?) (?)
Portugal 1.370 40 (65.640)-90 100 (c) - 90/+0 4.110 1.690
Douro Espanha 3.600 10 (?) –30 210 -10/+0 (?) 3.860
Total 4.970 50 (?)-120 310 -100/+0 (?) 5.550
Portugal 2.020 140 (8.470)-480 190 (d) -40/+100 3.270 2.810
Tejo Espanha 1.880 30 (?)-1.400 770 -320/+0 (?) 4.400
Total 3.900 170 (?)-1880 960 -360/+100 (?) 7.210
Portugal 400 0 (3,2) (0)-0 12 (e) -30/+2 415 440
(6)
Guadiana Espanha 2.280 50 (?)-5 120 -230 /+20 (?) 2.685
Total 2.680 50 (?)-5 130 -280/+22 (?) 3.120
Portugal 4.030 190 (76.855)-570 310 -160/+102 8.430 5.200
TOTAL Espanha 8.240 120 (?)-1.470 1.180 -560/+20 (?) 11.570
Total 12.270 310 (?)-2.040 1.490 -720/+122 (?) 16.770

Portugal - Península 6.600 370 (85.860)-1.200 680 -230/+230 14.850 8.850


Espanha - Península 23.640 1.630 (?) - 4.900 4.420 -926/+926 (?) 34.590
TOTAL - Península 30.240 2.000 (?)- 6.100 5.100 -1.156/+1.156 (?) 43.440
(1) Valores calculados para as áreas efectivamente regadas.
(2) Valores extraídos dos PBH e calculados para as Ribeiras do Oeste e Algarve
(3) Valores correspondentes aos volumes turbinados. O mesmo volume foi considerado nos vários aproveitamentos em cascata. Não inclui os
pequenos sistemas produtores. Os valores entre parêntesis correspondem aos volumes de hidrogeração e os outros de refrigeração.
(4) Valores extraídos do PBH e calculados para as Ribeiras do Oeste.
a) Valores dos PBH obtidos a partir das necessidades e população servida.
b) c) d) e) Valores dos PBH obtidos a partir de consumos.
(5) Considera-se actual a transferência do Sabugal para a Meimoa.
(6) PHNE 2.000 pág. 73 volume – Analisis de Antecedentes y Transferências Planteades.

4/24 (3 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

Da análise conjugada dos valores globais e nacionais dos quadros 3.2 e 3.3 concluir-se-á que as utilizações
3 3
actuais (excluindo a produção de energia hidroeléctrica) em valores médios anuais de 43.440 hm , 8.850 hm
3
e 34.590 hm , respectivamente, do conjunto dos dois países ibéricos, de Portugal e de Espanha, representam
cerca de 25%, 24% e 25% dos recursos superficiais e subterrâneas totais não regularizados.
Todavia, esta situação, aparentemente confortável, deve ser observada com prudência uma vez que as
maiores utilizações em Portugal se concentram nas bacias hidrográfica internacionais, representando no
Douro 16%, no Tejo 32% e no Guadiana 20% das respectivas disponibilidades médias anuais.

Figura 3.2 - Recursos Naturais e Utilizações Médias Anuais (hm3)


Note-se que a situação no Guadiana sofrerá muito em breve grande incremento nas utilizações (e na
regularização) com o início da entrada em exploração de Alqueva. Conclui-se, pois, que Portugal tem já na
actualidade uma situação de forte dependência dos recursos hídricos dos rios internacionais.
Idêntica análise ao nível de cada uma das cinco bacias hidrográficas permite concluir que as relações entre as
utilizações e as disponibilidades médias anuais totais não regularizadas representam respectivamente,
Minho/Lima - 8%, Douro - 16%, Tejo - 32% e Guadiana - 20% em Portugal, e em Espanha:
Minho/Lima - 4%, Douro - 23%, Tejo - 33% e Guadiana - 43%.
A taxa média de utilização de recursos hídricos não regularizada em valores médios anuais no conjunto das
cinco bacias hidrográficas luso-espanholas é na actualidade de 22% (16.770 hm3/76.300 hm3).
Desta análise resulta evidente que as pressões de utilização assumem particular relevância nas bacias
hidrográficas dos rios Guadiana, Tejo e Douro.
A taxa de utilização dos recursos hídricos disponíveis em regime natural e em valores médios anuais em cada
país, no conjunto das cinco bacias hidrográficas, situa-se nos 21% (5.100 hm3/24.500 hm3) em Portugal e
22% (11.570 hm3/51.800 hm3) em Espanha.

5/24 (3 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

3.4. Regime de Caudais Actuais e Qualidade da Água


A situação confortável que os valores apresentados no ponto anterior parecem revelar não o é de facto, tanto
mais que os valores médios anuais, não só não reflectem o que se passa na realidade, como podem distorcê-
la na medida que não reflectem as variações dos valores dos recursos ao longo do ano.
Como os países ibéricos foram contemplados pela natureza com um clima de fortes assimetrias temporais e
espaciais, as disponibilidades na natureza não acompanham as necessidades, quer no tempo, quer no espaço.
Analisando esta realidade com o detalhe que o Quadro 3.4.1 nos permite, verifica-se que 73% da
precipitação total em Portugal se concentra no semestre húmido e que apenas 27% ocorre nos meses do
semestre seco. Esta assimetria temporal é amplificada para os valores médios dos escoamentos que se
traduzem na ocorrência de 79% e 21% das disponibilidades nos semestres húmido e seco.
Quadro 3.4.1 - Repartição Semestral da Precipitação e Escoamentos nas Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas
e Totais Nacionais (hm3)

Bacias PORTUGAL ESPANHA TOTAL


Hidrográficas Precipitação Escoamento Precipitação (1) Escoamento (2) Precipitação Escoamento
Luso- Semestre Semestre Semestre Semestre Semestre Semestre
-Espanholas Seco Húmido Seco Húmido Seco Húmido Seco Húmido Seco Húmido Seco Húmido
Minho 440 1.200 180 880 2.900 5.900 2.500 (4) 7.300 (4) 3.340 7.100 2.680 8.180
Lima 870 2.400 480 1500 780 2.200 780 2.200 1.650 4.600 1.260 3.700
Douro 5.400 13.500 1.800 7.400 12.600 36.700 4.100 (5) 6.800 (5) 18.000 50.200 8.600 11.500
Tejo 5.500 16.200 1.600 4.600 12.670 23.890 3.300 9.100 18.170 40.090 4.900 13.700
Guadiana 2.000 4.700 450 1.450 9.600 (3) 22.800 (3) 850 (6) 3.000 (5) 11.600 27.500 1.300 4.450
Total 14.210 38.000 4.510 15.830 38.550 91.490 11.530 28.400 52.760 129.490 48.740 41.530

Portugal - B.H.
6.490 18.800 1.990 8.070 - - - - - - - -
Internas
Espanha - B.H.
- - - - (?) (?) (?) (?) - - - -
Internas
TOTAL
20.700 56.800 6.500 23.900 (?) (?) (?) (?) (?) (?) (?) (?)
PENINSULAR
(1) LBAE; (2) PHNE 1993; (3), (6) Secção do rio Caia; (4) Secção de Frieira; (5) Secção Pt. Pino.

Idêntica análise poder-se-ia efectuar para a parte espanhola e para a totalidade das bacias hidrográficas se
estivessem disponíveis idênticos valores para esses âmbitos territoriais.
A irregularidade temporal das disponibilidades de recursos hídricas, tem motivado em ambos os lados da
fronteira o recurso à solução de construir barragens que permitam armazenar águas na época de chuvas e nos
anos húmidos para utilizar nas épocas estivais e para suprir os déficites da sucessão de anos secos.
É por isso que, para responder às necessidades decorrentes do modelo de desenvolvimento e povoamento das
últimas décadas, se tem assistido ao crescimento exponencial na construção de barragens e consequente
subida da capacidade de armazenamento, implicando a consequente modificação do regime natural dos rios
das bacias luso-espanholas, como é bem expressivo na Figura 3.4.1.
O número de barragens e respectivas albufeiras aumentou de 25 para 147, ou seja cerca de 6 vezes, em
Portugal e de 270 para 1.130, ou seja cerca de 4,2 vezes, em Espanha nos últimos 50 anos, no que se refere a
barragens de dimensão e capacidade de armazenamento significativas.
Em termos de capacidade de armazenamento a evolução homologa foi de 370 hm3 para 7.710 hm3 em
Portugal (≈ 20,8 vezes) e de 6.600 hm3 para 56.060 hm3 (≈ 9,3 vezes).
Além dos efeitos das albufeiras deve-se ter em atenção a amplificação que as transferências de água
introduzem no regime de caudais, entre outros aspectos. As transferências de água entre unidades territoriais
naturais diferentes, não sendo novidade em ambos os países, assumem já uma significativa expressão,
conforme o Quadro 3.3.2 e a Figura 3.4.2.

6/24 (3 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

Portugal Espan ha
9000 160
60000 1200

8000 Cap acid ad e 140


C ap acid ad e
7000
Número 50000 1000
120 Número
6000 40000 800
100
5000
80 30000 600
4000
60
3000 20000 400

40
2000
10000 200
1000 20

0 0 0 0
1 90 0 1910 1 92 0 1930 1 94 0 1950 1 96 0 1970 1 98 0 1 9 90 20 0 0 1 9 00 19 1 0 1 9 20 19 3 0 1 9 40 19 5 0 1 9 60 19 7 0 1 9 80 1990

Figura 3.4.1 - Evolução Acumulada do Números de Barragens Construídas e da Capacidade de Armazenamento


Gerada nos Últimos 100 anos em Portugal e Espanha

Figura 3.4.2 - Principais Transferências de Água nas Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas

A regularização que a capacidade de armazenamento instalada nas bacias hidrográficas luso-espanholas


permite expressa-se no Quadro 3.4.2 e Figura 3.4.3 e atinge os 35.770 hm3 nestas bacias com 4.690 hm3 em
Portugal e 31.080 hm3 em Espanha.

7/24 (3 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

Quadro 3.4.2 – Número de Albufeiras e Capacidade de Armazenamento Instalada nas Bacias Hidrográficas
Luso-Espanholas (hm3)

Bacias Hidrográficas Número de Albufeiras Capacidade de Armazenamento (hm3)


Luso-Espanholas Portugal Espanha Total Portugal Espanha Total
Minho 2 51 53 0,20 2.880 2880
Lima 2 2 4 400 170 570
Douro 39 67 106 1.080 7.670 8.750
Tejo 34 198 232 2.750 11.140 13.890
Guadiana 20 96 116 460 9.220 9.680
Total 97 414 511 4.690 31.080 35.770

Portugal 147 - 147 7.710 - 7.710


Espanha - 1.130 1.130 - 56.060 56.060
TOTAL Península 147 1.130 1.277 7.710 56.060 63.770

Estes valores revelam uma realidade que, para além dos efeitos sócio-económicos, tem repercussões
ambientais significativas ainda por quantificar. Os benefícios que a grande capacidade de armazenamento
pode trazer, quando localizada a montante de grandes utilizações e de valores ambientais importantes, como
é o caso do rio Tejo, em que a gestão coordenada das albufeiras espanholas e portuguesas realizada durante a
ocorrência de cheias em Portugal em Dezembro de 1995 e Janeiro de 1996, é um bom exemplo, reduzindo
significativamente os fluxos das inundações e os respectivos danos que poderiam ter ocorrido em Portugal
em circunstâncias naturais, podem estar longe de compensar o agravamento do número de anos sucessivos
de seca e da sua severidade, como aconteceu no rio Guadiana na primeira metade da década de 90.
60000

50000
Capacidade de Armazenamento (hm )
3

40000 P ortugal
Espa nha
30000

20000

10000

0
M in ho Lim a D o ur o T e jo G ua d ia n a B a c ia s Lu s o - To t al
E s p a nho la s N a c io n a l

B aci as Lu s o-Espan h ol as

Figura 3.4.3 - Capacidade de Armazenamento nas Albufeiras das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas e
Totais Nacionais (hm3)
O aumento da regulação dos fluxos naturais dos rios luso-espanhóis, nos quais se integram algumas das
maiores transferências de água entre bacias hidrográficas, tem como consequências: i) redução global dos
caudais dos rios; ii) modificação do regime natural dos rios; iii) aumento da severidade e frequência de anos
de seca e de duração da sucessão de anos de seca; iv) alteração da qualidade natural das águas; v) retenção de
sedimentos e redução da distribuição de sedimentos.

8/24 (3 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

A realidade está bem patente na Figura 3.4.4 e no Quadro 3.4.3, e demonstram que a frequência da sucessão
de anos secos tem vindo a aumentar no caso do Guadiana, a que não é alheio o facto da taxa de regularização
instalada em Espanha ser a mais elevada das cinco bacias hidrográficas Luso-Espanholas.

Quadro 3.4.3 - Recursos Hídricos Superficiais Médios Anuais e Capacidade de Armazenamento em Albufeiras
Instaladas nas Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas e Totais Nacionais (hm3)

Capacidade de Armazenamento
Escoamentos Médios Anuais
Bacias Hidrográficas em Albufeiras
(hm3)
Luso-Espanholas (hm3)
Portugal Espanha Total Portugal Espanha Total
Minho 1.000 11.100 12.100 0,20 2.880 2.880
Lima 2.000 1.600 3.600 400 170 570
Douro 9.200 13.700 22.900 1.080 7.670 8.750
Tejo 6.200 10.900 17.100 2.750 11.140 13.890
Guadiana 1.900 5.500 7.200 460 9.220 9.680
Total 20.300 42.800 62.900 4.690 31.080 35.770

Portugal 10.100 - - 7.710 - 7.71


Espanha - 67.300 - - 56.060 56.060
Total Península 30.400 110.100 140.500 7.710 56.060 63.770

0.3 0.4

0.35
0.25
0.3
0.2
0.25
Frequência Frequência
0.15 0.2

0.15
0.1
0.1
0.05
0.05

0 0
600 1800 3000 4200 5400 600 1800 3000 4200 5400

Escoamento (hm^3) Escoamento (hm^3)

Secção do Caia - Regime Natural Secção do Caia - Regime Actual

Figura 3.4.4 - Regime Modificado dos Caudais Médios Anuais no Rio Guadiana à entrada em Portugal
Estes dados permitem concluir que existe uma capacidade específica de armazenamento no conjunto dos
dois países de 0,11 hm3/km2, em Portugal de 0,09 hm3/km2 e em Espanha de 0.11 hm3/km2. Nas bacias
hidrográficas luso-espanholas essa capacidade é de 0,14 hm3/km2, com 0,08 hm3/km2 na parte portuguesa e
0,15 hm3/km2 na parte espanhola, com destaque para o rio Guadiana com 0,17 hm3/km2 na parte espanhola da
bacia hidrográfica.
No que se refere à qualidade das águas nas bacias hidrográficas luso-espanholas, a avaliação das cargas
poluentes que afluem às águas superficiais e subterrâneas, encontra-se ainda muito incompleta. Na parte
portuguesa das bacias hidrográficas luso-espanholas os dados disponíveis permitem-nos preencher apenas
parte do Quadro 3.4.4, referente a um conjunto de parâmetros significativos. Na parte espanhola das bacias

9/24 (3 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

os documentos actuais disponíveis (PHNE 1993, Planos de Cuenca, Plan Nacional de Depuration 1996,
Libro Blanco del Agua 1998, PHNE 2000) não apresentam os correspondentes valores. Os dados obtidos nas
estações de fronteira da Rede de Qualidade da Água apresentados não são comparáveis aos das cargas
geradas e afluentes na totalidade das bacias hidrográficas dado que resultam de processos de depuração
natural dos meios hídricos.
Quadro 3.4.4 - Cargas Geradas e Afluentes Médias Anuais nas
Bacias Hidrográficas Luso-espanholas e Totais Nacionais (ton/ano)

Cargas Geradas Cargas Geradas


Bacias

Hidrográficas Portugal Espanha Portugal Espanha*


Luso-
CBO5

CBO5

CBO5
SST

SST

SST
N

N
P

P
CBO5 SST N P
-Espanholas

Minho 1930 2790 280 80 1420 2030 280 80 8910 55660 5320 880

Lima 8200 8340 740 5750 7630 6640 730 220

Douro 54560 84460 6720 2020 44250 63810 6710 2010 19340 44670 270 980

Tejo 120560 166300 11160 3350 60560 58750 11160 3350 11350 567700 1820 730

Guadiana 13600 18140 760 230 5220 7340 750 220 14900 45410 2820 740

Total 198850 280030 19660 11430 119080 138570 19630 5880

* valores obtidos nas estações de fronteira da Rede de Qualidade da Água.

Estas cargas são responsáveis pelo estado actual da qualidade das massas de água das bacias luso-espanholas
que, sendo preocupante, constitui um problema que urge resolver. As causas deste estado de qualidade têm
três grandes origens de natureza pontual: águas residuais urbanas; águas residuais industriais e águas
residuais agro-pecuárias. Além disso, a poluição de origem difusa constitui outra causa não menos
importante, mais difícil de controlar e exigindo outro tipo de medidas.

3.5. Planeamento dos Recursos Hídricos, Convénios e Acordos

3.5.1. Planeamento de Recursos Hídricos nas Bacias Hidrográficas Luso-


-Espanholas
A actividade de planeamento, que deve estar subjacente a tomada de decisões, tem evoluído ao longo dos
tempos muito em paralelo com a natureza e magnitude da conflitualidade gerada pela crescente apropriação e
acesso aos recursos hídricos, sobretudo para o exercício de actividades económicas. Também as
configurações das instituições da Administração se têm vindo a adaptar à crescente preocupação com o
planeamento e o ordenamento do território.
Em Portugal, a administração dos recursos hídricos aparece pela primeira vez de forma explicita na
organização do Estado nos finais do século dezanove com a publicação em 1882 do Regulamento dos
Serviços Hidráulicos. Estes Serviços foram evoluindo incorporando e libertando domínios de actuação e
competências ao longo dos tempos de cujo processo resultou o actual Instituto da Água, considerado
comummente como a autoridade nacional em matéria de recursos hídricos. Porém as Regiões Autónomas
dos Açores e da Madeira tem administrações e competências próprias. Só em finais da década de 70 a
configuração institucional incorpora um departamento dedicado expressamente ao planeamento dos recursos
hídricos.
Não quer isto significar que o exercício da actividade de planeamento não tenha existido até esse tempo,
muito pelo contrário, pois é nas décadas antecessoras que foram levados a cabo ou se iniciaram os maiores
estudos de planeamento em Portugal, de que merecem menção o Plano de Rega do Alentejo, o Plano de
Regularização do Vale do Tejo, o Plano de Avaliação dos Recursos Hídricos do Rio Douro, o Plano de

10/24 (3 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

Recursos Hídricos do Algarve e do Baixo Mondego, aos quais se deve juntar o planeamento hidroeléctrico
levado a cabo pela Electricidade de Portugal.
Contudo, a natureza do planeamento destes estudos foi muito marcada pela necessidade do fomento e por
uma perspectiva de desenvolvimento sócio-económico de base territorial assente nos recursos naturais
disponíveis.
As preocupações de planeamento de natureza integrada emergem com maior destaque no final da década dos
anos 80, início da década de 90, acompanhadas de alterações institucionais profundas que ainda hoje marcam
o funcionamento da administração dos recursos hídricos em Portugal. Emergem desta nova situação a
elaboração de Planos de Recursos Hídricos dos Rios Vouga e Lima e a inclusão no quadro jurídico nacional
do conceito de bacia hidrográfica como unidade de gestão dos recursos hídricos por excelência, abrangendo
todas as suas vertentes sócio-económicas, culturais e internacionais, e a obrigatoriedade de elaboração de
Planos de Bacia Hidrográfica e de um Plano Nacional da Água.
O actual quadro legal de elaboração e aprovação dos Planos de Bacia Hidrográfica (PBH) e do Plano
Nacional da Água (PNA) está definido no DL 45/94 de 22 de Fevereiro no qual é estabelecido que compete
ao Instituto da Água a elaboração dos PBH dos rios Minho, Douro, Tejo e Guadiana e do PNA e às DRAOT
a elaboração dos restantes PBH. Nos termos deste diploma competirá ao Governo a aprovação dos PBH e
PNA depois de apreciados nos Conselhos de Bacia e no Conselho Nacional da Água.
Em Espanha a actividade de planeamento há muito que faz parte das práticas da administração dos recursos
hídricos. Embora o Plano Nacional de Obras Hidráulicas de 1902 possa ser classificado, por alguns, como
um mero rol de obras hidráulicas no qual o conceito de integração não é preocupação, já o mesmo não se
poderá referir a propósito do Plano de 1933, ao qual está associado o nome de Lorenzo Pardo, onde é patente
uma visão global de todo o território espanhol e dos seus desequilíbrios naturais em termos de recursos
hídrico
Em termos jurídicos o enquadramento da actividade de planeamento nos moldes actuais tem os seus
primeiros avanços no RD 3029/1979 de 7 de Dezembro e mais recentemente na Lei de Águas de 1985. Nela
é fixado o actual quadro legal de elaboração e aprovação dos planos de bacia elaborados pelas
Confederações Hidrográficas e aprovados pelo Governo e do Plano Hidrológico Nacional elaborado pela
Direcção Geral de Obras Hidráulicas e Qualidade das Águas e aprovado pelas Cortes depois de ouvido o
Conselho Nacional da Água de Espanha.
Apesar das diferenças entre os percursos que os dois países ibéricos tem seguido quanto à estrutura
administrativa de planeamento e gestão dos recursos hídricos, os avanços técnicos e científicos de tratamento
das matérias sobre os recursos hídricos tem caminhado em grande sintonia. Contudo, e pese embora a grande
diferença de extensão territorial dos dois países, em ambos quase coincide o número de espaços territoriais
de planeamento de recursos hídricos, 17 em Portugal (15 no Continente, Açores e Madeira) e 16 em Espanha
(14 no Continente, Baleares e Canárias). A maior diversidade do espaço português e o maior número de
bacias hidrográficas de média dimensão parece ter estado na opção por um número tão elevado de unidades
de planeamento mas o que de facto pesou nessa opção foi o desígnio de acentuar a necessidade do respeito
pelos limites de bacia hidrográfica como o espaço a que, por princípio, deveria estar sujeito o planeamento
de recursos hídricos.
Assim, o DL 45/94 de 22 de Fevereiro estabelece a elaboração de 15 Planos de Bacia Hidrográfica (PBH) e
do Plano Nacional da Água (PNA).
Como as competências em matérias de assuntos internacionais relativos aos recursos hídricos estão
atribuídos ao Instituto da Água (INAG) foi-lhe cometida a tarefa de elaboração dos PBH das bacias
hidrográficas internacionais e do PNA. No caso do rio Lima, essa incumbência foi cometida à DRAOT.
Na Figura 3.5.1 pode observar-se como os limites das unidades de planeamento se afastam bastante dos
limites das áreas territoriais de intervenção da DRAOT.
Nos termos do DL 45/94 o PNA conterá uma proposta de medidas e acções que incluirá entre outras, "as
medidas necessárias à articulação com Espanha do planeamento e gestão dos cursos de água
internacionais".

11/24 (3 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

No que a Espanha se refere o processo de planeamento é uma actividade permanente desde há muitos anos,
como atrás se apresentou, e é exercida na produção dos Planos de Bacia em duas etapas: primeiro são
elaborados e aprovadas Directrizes dos Planos e só depois são elaborados e aprovados os Planos de Bacia
seguindo os preceitos estabelecidos na primeira etapa.
Os Planos de Bacia espanhóis apesar de iniciados nos finais dos anos 80 apenas ficaram concluídos em 1997
com a apresentação pelo meio do Plano Hidrológico Nacional de Espanha (PHNE) em 1993 que suscitou
duras reacções, não apenas da parte de Portugal, como internamente em Espanha.
Na sequência das alterações políticas em Espanha ocorridas em 1996 a proposta de 1993 do PHNE foi
abandonada tendo sido decidido elaborar um Livro Branco da Água de Espanha de modo a recolocar
algumas questões centrais que não tinham sido suficientemente aprofundadas até então, designadamente as
questões relativas aos regadios, às águas subterrâneas, aos aspectos económicos, ambientais e à
disponibilização de informações e dados de base ao público em geral.
A etapa mais recente de planeamento, para além da conclusão e divulgação do Livro Branco da Água, foi a
apresentação de novo PHNE quase exclusivamente dedicado às transferências de água entre bacias
hidrográficas e seus impactes económicos e ambientais. Para além das transferências é dada uma atenção
muito particular aos sistemas aquíferos e seus recursos.
Pelo exposto se compreende que as propostas emergentes do exercício do planeamento devem reflectir os
resultados do processo de participação e de auscultação da opinião pública e das populações sobre as quais,
em última instância, para o bem e para o mal, incidirão as medidas programadas.

Figura 3.5.1 - Espaços Territoriais de Planeamento e de Intervenção das DRAOT

Como a maior parte do território nacional português (64%) está abrangido por bacias hidrográficas
luso-espanholas é evidente a necessidade de coordenação das propostas de ambos os lados da fronteira, tendo
em consideração os termos da Convenção de 98 e dos Convénios de 1964 e 1968 e o Tratado de Limites de

12/24 (3 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

1864 cujo anexo versa exclusivamente sobre matérias de recursos hídricos, os quais se passam analisar nos
capítulos seguintes.

3.5.2. O Tratado de Limites de 1864 e implicações em matéria de recursos


hídricos
O Tratado de Limites celebrado entre Portugal e Espanha em 28 de Setembro de 1864 tinha inevitavelmente
que abordar matérias relativas aos recursos hídricos não fossem estes limites materializados em 61% da sua
extensão por linhas de água.
É, assim, que, concretizando o convencionado nos artigos 28º e 26º do Tratado, surgem dois anos depois, em
4 de Novembro de 1866, os seus anexos que o complementam. O Anexo I trata matérias de disciplina do uso
das águas e das margens sob a forma de um Regulamento e o Anexo II a descrição da linha de fronteira.
As motivações deste Regulamento são bem claras na sua introdução e articulado referindo "que as águas,
cujo curso determina a linha internacional em vários lanços de fronteira, sejam de uso comum para os
povos dos dois reinos e outrosim; cumprindo satisfazer ao que no artigo 26º se dispõe acerca de um
regulamento, que d'ora avante ponha cobro aos abusos respectivos à construção de obras nas orlas dos
rios, especialmente nas do Minho e de suas ilhas ..." "... para impedir o desvio artificial do curso dos rios,
como para tornar realizável o uso comum dos mesmos ... tendo presentes os necessários documentos e
planos do dito rio na secção delle mais susceptível de excitar contendas; é depois de terem sido devidamente
apreciadas as reclamações a tal respeito apresentadas nos últimos annos por vários proprietários de ambos
as margens ...".
Mais adiante estipula que "... não será licito construir nos ditos rios, nem suas margens, ou nas de suas
ilhas, obras de nenhum género, que prejudiquem a navegação ou alterem o curso das águas, ou por
qualquer modo modifiquem as condições d'esses rios para o uso comum e público. Fica portanto em regra
geral prohibida a construção de todo o género de obras tais como ..." mas sendo "... exequíveis sem menos
danno para o uso e aproveitamento comum de um e outro país, poderão as respectivas autoridades conceder
para isso licença especial, ..." "... dirigindo-se por meio de requerimento ao chefe superior da circunscrição
administrativa (actualmente governador civil ...) ... " " ... o governador civil, depois de consultar por
informação o administrador do Concelho (ou alcaide) ...".
O que se extrai deste documento revela que ao tempo eram as intervenções locais de ambos os lados da
fronteira motivo de contendas permanentes e que a acção da administração era dirimir esses conflitos.
Apesar de poucas décadas mais tarde, em 1892, terem sido criadas em Portugal as autoridades
administrativas para os recursos hídricos, os problemas nestes domínios e rios internacionais mantiveram-se
sob a tutela dos Governadores Civis e Presidentes de Câmaras Municipais raianas, tendo-se mesmo criado
para o Minho uma Comissão Internacional Permanente presidida pelos Governadores Civis dos territórios de
ambas as margens.
A par destas estruturas de administração e decisão paralelas às autoridades nacionais com competências
atribuídas por lei para as questões internacionais, têm sido criados com alguma frequência órgãos regionais
bilaterais para tratar assuntos de diversa natureza onde as matérias de recursos hídricos são abrangidas.
Estes arranjos, associados ao facto de haver no território espanhol uma organização político administrativa
diferente da portuguesa em que muitas das competências estão regionalizadas, têm levado à condução de
assuntos de interesse bilateral em distintas instâncias com diferentes orientações, não pouco vezes
contraditórias e conflituantes.
O Tratado de Limites foi ampliado em 2 de Setembro de 1912 por troca de notas diplomáticas que
aprovaram regras para o aproveitamento industrial das águas dos rios limítrofes dos dois países e que foram
consideradas anexas ao Tratado e convertidos em pacto internacional.
Nelas se estabelecem que “As duas nações terão nos lanços fronteiriços os mesmos direitos e, por
consequência, poderão dispor, respectivamente de metade do caudal de água nas diversas épocas do ano”.
Estavam lançadas assim as condições que iriam regular o aproveitamento hidroeléctrico dos rios
internacionais nos seus troços fronteiriços, o que veio a concretizar-se nos Convénios de 1927 e 1964.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

Porém, a simplicidade desta extensão do Tratado não foi seguida nos Convénios posteriores que
abandonaram o principio da repartição de caudais e passaram para a repartição de desníveis com as
consequências que daí advieram quando se instalaram os sistemas hidráulicos reversíveis.

3.5.3. Os Convénios de 1927, 1964 e 1968


O Convénio de 1927, ratificado por Portugal em 11 de Agosto, fora apresentado pela Comissão Internacional
de Limites “ ...fixando para o troço internacional do Rio Douro regras complementares do Acordo de 1912
relativo à utilização industrial dos rios limítrofes entre os dois Estados ...” “... todos os demais direitos de
cada Estado limítrofe sobre o referido troço internacional, definidos no Tratado de Limites de 1864 e no seu
anexo nº 1, ratificado em 26 de Novembro de 1866, ficam subsistindo em tudo que não contrarie a aplicação
das regras estabelecidas no presente Convénio”.
Com este Convénio foi concretizado o maior conjunto de barragens em apenas um troço de 115 Km,
Miranda, Picote e Bemposta para Portugal, Aldeadávila e Saucelhe, com bombagens para Almendra, para
Espanha e, ainda, Castro e Ricobayo já totalmente em território espanhol.
O Convénio de 1927, apesar da sua especificidade, contem aspectos curiosos que importa dele serem
extraídos. Define como objecto apenas: “A energia que o troço internacional do Douro é susceptível de
produzir será distribuída entre Portugal e a Espanha pela forma ...”, distribuindo por ambos os países os
desníveis com a particularidade de “Cada Estado terá o direito de utilizar para produção de energia
eléctrica todo o caudal que corra pela zona do aproveitamento que lhe é atribuída ..., salvo o que possa ser
necessário para usos comuns.” Acontece que a definição deste termo “usos comuns” revelou a necessidade
de criação de um Grupo de Trabalho para o devido esclarecimento que não alcançou esse objectivo.
Também ficou convencionado que “Ambos os Estados garantem reciprocamente que não se diminuirá o
caudal que deve chegar à origem de cada zona de aproveitamento do Douro Internacional ou Douro
português, por derivações feitas com o fim de obter energia hidroeléctrica mediante tomadas de água que
fiquem situadas abaixo do nível superior da albufeira reguladora do Esla em Ricobayo e do Douro em
Villardiegua”.
Esta parece ser uma medida de natureza concorrencial em matéria de produção de energia eléctrica e não
qualquer tipo de restrição aos usos a montante. O seu alcance também não tendo ficado esclarecido veio a
tornar controversa a questão dos desvios de água a montante.
Um aspecto a destacar é ter sido estabelecido que “se os dois Governos julgarem conveniente,..., organizar a
navegação escalonada nos troços do rio utilizáveis ou mediante os caudais industriais, concertaram ... a
forma de realizar as obras e de efectuar os transportes harmonizando-a com as explorações
hidroeléctricas”.
No seu artigo 8º é estipulado que “Na zona do aproveitamento do troço internacional não poderão ser
distraídas águas das utilizadas por virtude deste Convénio, a não ser por motivo de saúde pública ou para
fins análogos de especial interesse e sempre mediante prévio acordo dos dois Estados.” Esta determinação
também não ficou esclarecida em nenhum documento tendo suscitado diversas interpretações não
coincidentes em ambas as partes.
Neste Convénio é prevista a criação de uma Comissão Internacional para ser ouvida pelos Governos antes da
resolução sobre as mais diversas matérias relativas à sua execução, sendo curioso o que se refere a
“Autorizações para execução de obras destinadas a serviços públicos ou particulares ... estejam situadas a
menos de 100 m de distância horizontal das respectivas obras ou albufeiras.”
Impelidos pelo ambiente geral de construção de aproveitamentos hidroeléctricos vivido na época, os dois
governos promoveram a celebração de novo Convénio em 1968 revogando o de 1927 no sentido de suprimir
alguns aspectos menos adequados deste e suprir algumas das suas insuficiências, alargando o seu âmbito e
objecto a alguns afluentes do rio Douro, designadamente o rio Águeda e cabeceiras dos rios Tuela e Rabaçal.
Clarifica também as condições de realização das derivações de água com o fim de obter energia
hidroeléctrica, estabelecendo que as condições de derivação no troço fronteiriço do rio Douro vigorarão
durante um período de 50 anos, ou seja, esta condição terminará no ano 2014.

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RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

A questão mais controversa deste Convénio é precisamente a relativa às derivações previstas na alínea m) do
artigo 2º no que se refere ao troço internacional do rio Douro, nela se estipulando as limitações prevista no
Convénio de 1927 acrescida da condição “...salvo quando essas derivações sejam praticadas por um dos
Estados na zona que lhe está atribuída e respeitem os caudais disponíveis,..., com restituição na própria
zona em que a derivação se leva a efeito, ou quando aquelas derivações respeitem os caudais, sobrantes...”.
A alínea b) do Protocolo Adicional procura definir o que são caudais disponíveis e caudais sobrantes e
regime temporal das derivações e restituições.
No final da alínea m) do artigo 2º ficou convencionado que “Não haverá lugar a compensação alguma para
Portugal pelos caudais que se retirem à bacia do Tua por derivação que a Espanha efectue dentro do seu
território”. Sabemos hoje que o projecto espanhol pretende desviar por meio de túnel as águas das cabeceiras
dos rios Tuela e Rabaçal para a albufeira de Las Portas existente nas cabeceiras do rio Minho.
Os mecanismos de avaliação e troca de informação foi uma matéria que ficou em aberta e que tornou
controversa a avaliação dos incumprimentos, sobretudo em períodos longos de caudais reduzidos. Note-se
que no leito principal do rio Douro em território português se encontra instalada o maior parque
hidroeléctrico português.
Neste Convénio são reforçados e consolidados os âmbitos de actuação da Comissão Internacional que se
passou a designar por Comissão Internacional Luso-Espanhola para Regular o Aproveitamento
Hidroeléctrico dos Troços e corrige a questão dos limites de jurisdição nas áreas das albufeiras que o
Convénio de 1927 tinha estabelecido como equidistante das margens contrariando o princípio do artigo 18º
do Tratado de 1864. Esta comissão também adquiriu poderes para propor a revisão do Convénio.
Porque os restantes troços fronteiriços dos afluentes do Douro não apresentavam na altura interesse
hidroeléctrico ficou o seu uso por disciplinar, designadamente as cabeceiras dos troços fronteiriços dos rios
Tâmega, Maçãs, Sabor e Angueira, tendo, contudo, os problemas relativos aos recursos hídricos vindo a ser
tratadas pela mesma Comissão, embora suscitando algumas dúvidas quanto à sua competência sobre
assuntos referentes a troços não expressamente convencionados.
O direito de Portugal utilizar um desnível de 50 m do rio Arzoá a partir da sua foz no troço internacional do
rio Mente, que era válido por 15 anos e que fora prorrogado por outros 15 em 1987 em sede de Comissão,
caducou em 1994.
O interesse no alargamento do aproveitamento mútuo dos troços fronteiriços de rios luso-espanhóis veio a
regularizar-se em 1968 com a assinatura do novo Convénio em que mais uma vez são repartidos os
potenciais hidroeléctricos com excepção do troço do rio Guadiana atribuído a Portugal e do rio Chança
atribuído a Espanha. Neste é estabelecido que “para a execução de planos oficiais de regadios ou de
abastecimento de água a povoações, cada Estado terá direito a desviar os caudais que corram pelos troços
cujo o aproveitamento lhe é atribuído...”.
São apenas contemplados alguns dos troços dos rios Tejo, Lima, Minho e Guadiana que englobam não só os
troços fronteiriços mas também os troços nacionais dos afluentes necessários à instalação das albufeiras
criadas pelas barragens a construir nos leitos fronteiriços ou em território de cada país (caso de Alqueva).
Neste Convénio o potencial hidroeléctrico do rio Minho foi utilizado para o fecho equilibrado da repartição.
O maior problema deste Convénio é gerado pelo facto das avaliações técnicas do potencial hidroeléctrico não
fazerem parte integrante do seu texto e não terem sido repartidos os potenciais hidroeléctricos troço a troço o
que vincularia o aproveitamento de cada troço aos dois países e assim ficariam sujeitos às mesmas vantagens
e inconvenientes das alterações de caudais que a montante se viessem a realizar.
Outro problema é o facto da repartição se basear em series de caudais anuais registados num período
relativamente curto e não ter sido estabelecido a obrigatoriedade de avaliação periódica desses valores e os
limites dos volume das utilizações a montante não terem ficado fixados.
Deste Convénio ainda não foram concluídos os aproveitamentos de Alqueva, no rio Guadiana, e de Sela, no
rio Minho. Este aproveitamento foi sujeito a processo de Avaliação de Impacto Ambiental que ainda está
pendente de decisão bilateral, mas tudo indica que o troço fronteiriço do rio Minho se mantém como reserva
integral, o que de natural ainda lhe resta para fins ambientais e ecológicos.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

No Convénio de 1968 mantêm-se na generalidade as disposições do Convénio de 1964 com a particularidade


de referir que “o aproveitamento de todos os troços que são objecto deste Convénio deverá fazer-se sem
prejuízo dos caudais mínimos naturais de estiagem e dos necessários aos usos comuns”
Mais uma vez, tal como nos anteriores, não foram definidos os significados e alcances destes termos o que
veio a ser polémico quando se procurou fazer a sua interpretação nos últimos anos em situações de seca
prolongada.
Para aplicação do Convénio é criado então a Comissão Luso-Espanhola para Regular o Uso e
Aproveitamento dos Rios Internacionais nas suas Zonas Fronteiriças que substitui a anterior Comissão
Internacional criada pelo Convénio de 1964 e que alarga os 100 m em torno das albufeiras com capacidade
de intervenção para 500 m.
A repartição do equilíbrio hidroeléctrico veio a ser alterado por protocolo adicional e decisão da Comissão
elevando a percentagem de que Portugal já dispunha no aproveitamento de Sela por “modificação dos
caudais do troço internacional do rio Águeda que foi atribuído...” a Portugal no Convénio de 1964 e porque
o Governo Espanhol veio a propor um novo esquema de utilização do troço inferior do rio Águeda antes de
por ambos os Governos haver sido aprovada a realização do aproveitamento do rio Minho.
Com este mecanismo Portugal perdeu direitos no rio Águeda que adquiriu no rio Minho onde provavelmente
não vai poder usufruir.
Apesar deste novo Convénio alargar os fins de utilização das águas dos rios luso-espanhóis o seu âmbito
geográfico é mantido estritamente nos troços fronteiriços ou nos afluentes inundados pelas albufeiras neles a
instalar, mantendo-se todos outros troços fronteiriços, designadamente os rios Trancoso, Castro Laboreiro,
Maçãs, Angueira, Alto Sabor, Erges, Sever, Xévora, Ardila e Baixo Guadiana, a descoberto de qualquer
acordo ou disciplina bilateral e indefinida a capacidade de intervenção em matéria de recursos hídricos para
além da que o Tratado de Limites estabeleceu. Com a celebração da Convenção de 1998 esta questão ficou
resolvida no plano jurídico.
3.5.4. Convenção sobre Cooperação para a Protecção e Aproveitamento
Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas
A Convenção sobre a cooperação assinada em Novembro de 1998 é o culminar de um processo de crescente
cooperação a que os Convénios anteriores não davam o suporte suficiente porque lhes faltava âmbito de
intervenção.
A nova Convenção traduz, no plano normativo, uma perspectiva ambientalista e holística do tratamento do
problema das relações entre Portugal e Espanha a propósito dos seus rios internacionais. Daí que a
problemática da qualidade das águas apareça conjugada com a questão do aproveitamento dessas águas, e
que o objecto da Convenção sejam agora as bacias hidrográficas na sua integralidade, únicas soluções
coerentes com os princípios do desenvolvimento sustentável, da acção preventiva e da precaução, o que se
traduz no seguinte conjunto de disposições substantivas:
i) O âmbito geográfico da Convenção são agora as bacias hidrográficas (artigo 3º nº1) e o seu
objectivo abarca as suas águas superficiais e subterrâneas e os ecossistemas aquáticos e
terrestres delas directamente dependentes (artigo 2º nº1);
ii) O âmbito material da Convenção abarca agora já não apenas as actividades relativas ao
aproveitamento das águas mas também a descarga de efluentes e outras actividades susceptíveis
de contribuir para a alteração do estado de qualidade das águas, incluindo as transferências de
água;
iii) Passam a ser objectivo da cooperação entre as partes a minimização dos efeitos das cheias e a
mitigação das secas;
iv) A troca de informação e a consulta sobre as actividades susceptíveis de provocar impactes
transfronteiriços passam a integrar formas de cooperação para a prossecução dos seus
objectivos.

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RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

Ao mesmo tempo a Convenção fixa um quadro de referência com o qual são confrontados os projectos de
novas utilizações de toda a natureza situadas a montante das secções especificadas, com vantagens para
ambas as Partes, deixando no entanto às Administrações Hidráulicas grande latitude para o exercício
independente das suas competências. Esse regime parece de fácil verificação, o que se considera essencial
para a boa gestão futura do Direito convencionado, sem no entanto desvalorizar:
i) A necessidade de coordenação entre as duas Partes contratantes a nível do planeamento de
recursos hídricos para as bacias compartilhadas, na linha do proposto na directiva que
estabelece um quadro de acção comunitária no domínio da política da água;
ii) A necessidade de consulta prévia entre as Partes para os projectos de alguma envergadura a
realizar nas bacias compartilhadas;
iii) A necessidade de avaliação das incidências ambientais dos grandes projectos com possíveis
impactes transfronteiriços.
Relativamente a outras matérias, como sejam as da coordenação das actuações em situações hidrológicas
extremas e em caso de incidentes de poluição ambiental, do instituto da consulta e da informação, criou-se
um quadro operacional que, sem ficar aquém do mais moderno Direito internacional nesta matéria, incorpora
a experiência mais recente da colaboração bilateral já referida.
A Convenção prevê uma solução institucional diferente para as questões de natureza política e diplomática e
para as questões de natureza técnica (jurídicas e de engenharia) que se colocam na cooperação entre as duas
Partes. Neste sentido, a Convenção prevê, para as primeiras, a figura de Conferência das Partes e, para as
segundas, a figura da Comissão Internacional, que sucede nas competências à Comissão dos Rios
Internacionais.
A Convenção de 98 veio extinguir a anterior Comissão e criar a nova Comissão para a Aplicação e o
Desenvolvimento da Convenção (CADC), mas não substitui os anteriores Convénios de 1964 e 1968 na
medida em que estes não colidam com a aplicação da nova Convenção.
A vigência desta Convenção é de sete anos e prorrogável automaticamente por períodos de três anos. No seu
Anexo I são estabelecidas as matérias sobre as quais, devem ser permutados registos, bases de dados e
estudos, que num prazo de cinco anos devem ser homogéneos e comparáveis, e identificados as substâncias
poluentes prioritárias.
No seu anexo II são definidas as condições que determinam a necessidade de avaliação de impacte
transfronteiriço e as acções consequentes.
O nº 5 do artigo 16º da Convenção define o carácter provisório do regime de caudais a que ficam sujeitos os
rios Minho, Douro, Tejo e Guadiana remetendo para o seu Protocolo Adicional a determinação deste regime
e o seu anexo remete para revisão destes regimes: no caso do Douro quando estejam esclarecidas as
discrepâncias observadas nos registos de caudais nas secções de Miranda, Sernancelhe e Pocinho; no
Guadiana quadro estejam disponíveis os estudos sobre a situação ambiental do estuário do Guadiana e para
todos os restantes rios internacionais antes da aprovação de qualquer novo projecto de aproveitamento dos
seus troços fronteiriços, ou troços fronteiriços dos seus afluentes. Neste anexo é dada prioridade ao estudo do
troço internacional dos rios Guadiana a jusante da secção do Pomarão e do rio Erges. Nos termos do artigo
28º da Convenção é definido um prazo de dois anos prorrogável para realizar os estudos necessários ao
aproveitamento sustentável dos recursos hídricos dos troços fronteiriços não contemplados nos Convénios de
1964 e 1968.
Também os valores médios considerados, que se referem ao período de registos compreendidos entre
1945/46 e 1996/97, serão actualizados cada cinco anos.
A cooperação visada pela Convenção de 98 é assegurada pelos seguintes orgãos:
Conferência das Partes – Composta por representantes indicados pelos Governos
– Presidida por Ministro de cada Estado ou substituto
– Competência para resolver questões de desacordo na Comissão
Comissão – Composição – Delegações composta por nº de delegados a decidir
– Competências - As previstas na Convenção

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

- Interpretação e aplicação da Convenção


– Funcionamento - Pelo menos uma vez por ano
- Decide por acordo e são eficazes 2 meses depois
- Rege-se por regulamentos a elaborar por ela própria e
aprovados pelas Partes

3.6. Evolução das Relações Luso-Espanholas


As relações luso-espanholas em matéria de recursos hídricos tem sido pautadas ao longo dos tempos por
elevados padrões de objectividade e formalidade visando, não apenas a resolução de problemas concretos e
mensuráveis, mas também, numa atitude pró-activa, o aproveitamento dos recursos hídricos para o
desenvolvimento sócio-económico de ambos os países.
A conflitualidade potencial que o acesso das populações aos recursos gera é, por natureza, óbvia, sobretudo
quando a fronteira entre os dois países, com a extensão de 1.314 km é materializada em 803 km por linhas de
água, representando cerca de 61% dessa fronteira. Embora esta explicação seja válida para as utilizações que
as populações ribeirinhas concretizam, as maiores preocupações resultam das alterações, quer da qualidade
da água, quer do regime de caudais provocados pela elevada utilização que se realiza a montante em toda a
extensão das bacias hidrográficas e que se repercute muito para além dos locais onde são praticadas as
utilizações. Atente-se que as áreas das bacias hidrográficas luso-espanholas representam cerca de 64% do
território peninsular português e cerca de 42% do território espanhol.
Tendo em mente que é no interface rio-mar que se representem as perturbações introduzidas no regime
natural das bacias hidrográficas, incluindo nelas não apenas as que se praticam na própria rede hidrográfica
mas também as acções que fora delas são exercidas e nela se reflectem, as actuações que geram impactes
acumulados adquirem, por isso, importância e dimensão nacional e internacional na medida em que a
responsabilidade de cuidar das águas costeiras, dos estuários e das massas de água e leitos dos troços de
jusante e dos ecossistemas deles dependentes não está confinada apenas às populações ribeirinhas mas sim
aos Estados.
A utilização dos recursos hídricos das bacias hidrográficas internacionais, embora possa ser efectuada na
medida do estritamente necessário para o bem estar das populações, não deve, como é óbvio, pôr em causa o
equilíbrio dos ecossistemas delas dependentes, o que exige um modelo de desenvolvimento e de ocupação do
território consentâneo com a capacidade de ajustamento da natureza que essa utilização possa impôr.
Embora o conceito de Estado exija que em determinadas regiões se utilizem com maior intensidade os
recursos para que a riqueza produzida possa ser distribuída pelas populações de outras regiões menos
favorecidas, não podem ser postas em causa as funções naturais dos recursos hídricos sem que se
equacionem outras medidas que possam realizar os mesmos objectivos.
Os acordos estabelecidos em tempos mais remotos foram quase sempre a tradução para o papel das regras
praticadas de utilização dos recursos ou do meio hídrico cuja conflitualidade carecia ser regulada, como é o
caso da navegabilidade e dos regadios tradicionais. Outros casos houve em que a disponibilização de
tecnologias permitiram evidenciar a existência de potencialidades dos recursos que poderiam ser
aproveitadas em benefício dos países ribeirinhos tais como os aproveitamentos hidroeléctricos.
A estes acordos estão subjacentes apenas preocupações e interesses centrados em torno de locais específicos
e apoiam-se em critérios essencialmente geográficos e políticos. É nestes princípios que são fundamentados
os primeiros convénios entre Portugal e Espanha dos quais o Tratado de Limites, datado de 1864, é o
primeiro.
A difusão do conceito do rio internacional com as suas especificidades próprias e abrangendo
simultaneamente os seus afluentes encontra-se associada ao incremento das relações internacionais a partir
do século passado com recurso à navegação fluvial. Este conceito foi consagrado no Estatuto de Barcelona
de 1921.
Mais recentemente, assistiu-se ao alargamento do conceito considerando que o rio internacional abrange toda
a bacia hidrográfica integrando aspectos económicos e critérios de partilha, sendo esse o espírito das regas

18/24 (3 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

de Helsínquia. É assim que se evolui para modelos conceptuais integrando a noção de que as regiões de
jusante são mais vulneráveis que as de montante dentro de uma mesma bacia hidrográfica.
No quadro seguinte apresentam-se os acordos bilaterais celebrados entre Portugal e Espanha em matéria de
recursos hídricos onde é patente a evolução dos conceitos e fundamentos em que foram baseados.

Designação Data Âmbito Territorial Síntese

Tratado de Limites 1864 Fronteira internacional Define a fronteira entre Portugal e Espanha desde a foz do
rio Minho até à confluência do rio Caia com o Guadiana.
Regulamento relativo aos rios 1866 Rios que fazem Estabelece que os rios servem de fronteira pertencem a
fronteiriços (Anexo I do fronteira entre Portugal ambas as Nações pela metade das respectivas correntes. As
Tratado de Limites) e Espanha obras a realizar nesses rios estão sujeitas a licença de ambos
os países.
Notas trocadas entre os 1912 Aproveitamento Estabelece que Portugal e Espanha têm os mesmos direitos
Governos de Espanha e industrial das águas dos nos lanços dos rios fronteiriços e, em consequência,
Portugal rios limítrofes poderem dispor de metade do caudal de água nas diversas
épocas do ano.
Convénio dos Limites 1926 Fronteira internacional Define a fronteira entre Portugal e Espanha, desde a
confluência da ribeira de Cuncos com o rio Guadiana e a foz
do Guadiana.
Convénio para regular o 1927 Aproveitamento Define o aproveitamento hidroeléctrico do troço
aproveitamento hidroeléctrico hidroeléctrico do troço internacional do rio Douro em benefício das suas nações
do troço internacional do internacional do rio fronteiriças em harmonia com o Acordo de 1912. Estabelece
Douro Douro a repartição do troço fronteiriço em dois lanços, com
desníveis aproximadamente iguais, respectivamente a
montante e a jusante da confluência do rio Tormes.
Decreto-Lei nº 39252 1953 Troço internacional do Aprova o Estatuto de funcionamento da Comissão
rio Douro Luso-Espanhola para o aproveitamento do troço
internacional do rio Douro.
Convénio entre Portugal e 1964 Troços internacionais Substitui o Convénio de 1927, referindo-se também apenas
Espanha para regular o do rio Douro e dos ao objectivo restrito da produção de energia, mas alargando
aproveitamento hidroeléctrico afluentes Águeda, o âmbito geográfico do anterior Convénio, incluindo além
dos troços internacionais do Tourões e Mente dos troços internacionais do rio Douro, os troços
rio Douro e dos seus afluentes internacionais dos afluentes Águeda, Tourões e Mente.
Convénio entre Portugal e 1968 Troços internacionais Define a repartição dos troços internacionais dos rios Minho,
Espanha para regular o uso e dos rios Minho, Lima, Lima, Tejo e Guadiana e Chança e de troços nacionais
aproveitamento hidráulico dos Tejo, Guadiana e adjacentes, segundo a energia produtível anual média em
troços internacionais dos rios Chança, respectivos cada troço, calculada considerando os caudais afluentes a
Minho, Lima, Tejo, Guadiana afluentes e de troços montante dos troços internacionais, descontando os desvios
e Chança nacionais adjacentes de água para outras utilizações a montante. Além dos
desvios de caudais a realizar em Espanha, prevê também o
desvio dos caudais do Guadiana, em Portugal, para executar
o Plano de Rega do Alentejo.
Convenção sobre Cooperação 1998 Territórios das Bacias Define o quadro de cooperação destinada à promoção e
para a Protecção e o Hidrográficas Luso- protecção do bom estado das águas superficiais e
Aproveitamento Sustentável -Espanholas subterrâneas de bacias hidrográficas Luso-Espanholas e o
das Águas das Bacias aproveitamento sustentável dessas águas e a mitigação dos
Hidrográficas Luso- efeitos das cheias e das situações de seca e escassez.
-Espanholas

Por seu lado, a União Europeia tem vindo a desempenhar um relevante e pioneiro papel na evolução do
direito internacional do ambiente. Em Outubro de 1972 foi decidido na Cimeira de Chefes de Estado que o
ambiente passou a ser assunto de discussão na Comunidade Europeia tendo-se chegado à conclusão que”... é
conveniente impedir que actividades desenvolvidas por um país possam causar prejuízos ambientais noutro”,
consequência do espírito que presidiu à Conferência de Estocolmo sobre ambiente em Junho de 1972.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

Em Julho de 1977 o Conselho Europeu rectificou a Convenção de Bona de 1976 para a protecção do Reno
contra a poluição química e, igualmente em Agosto de 1980, o Conselho autorizou a Comissão a envolver-se
nas questões do Danúbio que conduz à aprovação em 1997 da Convenção sobre Cooperação para a
Protecção e Utilização Sustentável do Danúbio.
A protecção do Mar do Norte contra a poluição transportada pelos rios é objecto da Declaração de Bremen
em Novembro de 1984 assinada pela Comissão Europeia.
A Directiva 85/337/CEE prevê explicitamente o caso de impactes transfronteiriços causados por
aproveitamentos hidráulicos tornando obrigatório o estudo de impacte ambiental nos vários países afectados.
O Acto Único Europeu, assinado em 1987, refere-se explicitamente nos seus artigos 100A e 130R ao
ambiente e à gestão dos recursos hídricos com áreas relevantes quanto à jurisdição da Comunidade e defende
alguns princípios avançados como o da utilização prudente e racional dos recursos e o princípio do poluidor
pagador.
A adesão de Portugal e da Espanha em 1985, bem como da Grécia anteriormente, como países do sul
Europeu trouxeram para primeiro plano os problemas quantitativos que até então quase não eram
considerados no espaço comunitário, e veio contribuir para pôr em evidência a necessidade de uma gestão
integrada e de uma visão estratégica em matéria de recursos hídricos.
O Tratado de Maastrich ou Tratado da União Europeia, assinado em 1992, para além de reforçar os
princípios já consagrados no Acto Único, introduziu os princípios da precaução e do desenvolvimento
sustentado como princípios fundamentais a que as políticas comunitárias devem obedecer. Este tratado
estabelece, ainda, que a generalidade das decisões sobre ambiente são adoptadas por maioria qualificada,
excepção feita às decisões sobre recursos hídricos que, por proposta de Espanha, requerem a unanimidade.
Finalmente a Directiva-Quadro veio fortalecer a política comunitária sobre gestão da água.
Apesar deste contexto jurídico político, em Espanha foi desenvolvido um Plano Hidrológico Nacional,
tornado público em 1993, e Planos de Bacia que não tiveram em consideração a especificidade das bacias
internacionais partilhadas com Portugal e onde os interesses do país de jusante, dos estuários e da orla
costeira foram completamente omitidos. Em matéria de caudais ambientais, nos termos referenciados
anteriormente, estes planos não satisfazem os requisitos mínimos exigidos nos tempos que correm.
O processo negocial desencadeado desde então tem permitido constatar haver de parte da Espanha uma total
transparência de objectivos em matéria de recursos hídricos e uma grande consistência das posições
espanholas ao longo do tempo, sendo de realçar o elevado espírito de colaboração entre as administrações de
ambos os países.
As crescentes dificuldades das negociações entre Portugal e Espanha em relação a anteriores negociações
que conduziram a um importante conjunto de convénios em vigor advêm do facto da agudizarão dos
problemas em matéria de recursos hídricos tornar mais difícil negociar numa base justa e equitativa.
É por isso que a matéria tem sido debatida ao mais alto nível político entre os dois países em Cimeiras
Luso-Espanholas de Chefes de Governo, que no final da realizada no Porto deu lugar a uma Declaração
Comum reconhecendo a necessidade de coordenação em matéria de planeamento e de gestão dos recursos
hídricos das bacias hidrográficas internacionais partilhadas numa perspectiva da sua utilização sustentada
por ambos os estados.
Com a assinatura em 30 de Novembro de 1998 da Comissão sobre Cooperação para a Protecção e
Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas parece ter sido dado o
maior salto na história das relações luso-espanholas em matéria de recursos hídricos.
A este facto não é alheia a situação adversa que se tem vivido na península ibérica e a crescente procura de
água nos últimos anos, que em Espanha motivaram a elaboração do Plano Hidrológico Espanhol datado de
1993, o Livro Branco da Água em 1998 e o novo PHNE em 2000 e em Portugal a inclusão no quadro legal a
obrigatoriedade de elaboração dos Planos de Bacia Hidrográfica e do Plano Nacional da Água.
Em matéria de recursos hídricos, as relações Luso-Espanholas tem sido marcados por uma aproximação
sucessiva e progressivamente densificada que se tem traduzido por:

20/24 (3 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

- Troca intensa e regular de informação sobre caudais, qualidade das águas, situação das albufeiras
e sobre os planos e projectos de novos aproveitamentos hidráulicos nas bacias compartilhadas;
- Coordenação dos actos de gestão nas situações hidrológicas extremas, de cheias e de secas, com
especial incidência na bacia do Tejo, no que concerne às primeiras, e do Guadiana para as
segundas;
- Elaboração de estudos conjuntos, de que são exemplos os Estudos sobre a situação Ambiental do
Estuário do rio Guadiana, os Estudos para a salvaguarda das condições Ambientais do Troço
Internacional do Rio Minho e o Programa para a Melhoria e Controlo da Qualidade das Águas da
bacia do Guadiana, todos em curso;
- Avaliação dos impactes transfronteiriços dos novos projectos nas bacias compartilhadas
precedendo a sua aprovação, de que são exemplo os projectos do Alqueva, do Xévora, de Cela e
dos transvases nas cabeceiras do Tua;
- Participação conjunta em programas e projectos comunitários de interesse comum (Centro Focal
da Água, da Agência Europeia do Ambiente, projecto SEMIDE no âmbito da Conferência Euro
– Mediterrânica, ASTIMWR, Avaliação Hidrológica Portugal/Espanha - DGXVI-UE;
Disponibilidades de Água em Situações Extremas na Península Ibérica - DGXVI-UE, etc.).
Não são apenas os valores ambientais dos rios e dos estuários as razões para o fortalecimento das relações
luso-espanholas. Também os interesses sócio-económicos importantes instalados nos leitos principais dos
rios luso-espanhóis, designadamente:
- No rio Tejo dependem dos seus recursos aglomerados urbanos de grande importância onde se
inclui a área metropolitana de Lisboa e uma vasta área agrícola de regadio que é o vale do Tejo
onde se inclui a Lezíria Grande de Vila Franca de Xira;
- No rio Douro está instalado o maior parque nacional de produção de energia hidroeléctrica e
dependem directamente das águas do leito principal importantes aglomerados urbanos onde se
inclui o Porto, Gaia, Régua, etc e de uma expressiva actividades turística e comercial fluviais;
- No rio Guadiana muito em breve entrará em exploração o empreendimento de Alqueva de
importância estratégica para o sul de Portugal;
- No rio Lima está instalada uma grande capacidade de produção hidroeléctrica nos
aproveitamentos do Alto Lindoso e Touvedo e directamente dependente das águas do rio
aglomerados urbanos de inegável importância, Viana do Castelo, Ponte de Lima e Ponte da
Barca, bem como uma actividade agrícola de regadio de relevo regional e diversas indústrias;
- No Minho dispõe-se de um valioso património natural dependente das águas do rio bem como de
actividades de pesca e abastecimento a populações de importância regional;
exigem o permanente reforço dessas relações.
O mais recente documento espanhol sobre o aproveitamento de recursos hídricos, o Plano Hidrológico
Nacional de Espanha (PHNE), formalmente apresentado à parte portuguesa em Setembro de 2000, foi
objecto de apreciação interna, cujo relatório datado de Janeiro de 2001 vai no sentido de considerar esta
versão distante positivamente da versão de 1993, pois faz uma análise económica e dos impactes ambientais
das várias soluções e adopta uma estratégia de gestão da procura.

3.7. Síntese do Diagnóstico das Relações Luso-Espanholas


No quadro da análise efectuada nos capítulos precedentes, a síntese de diagnóstico que é possível fazer no
âmbito deste Plano Nacional da Água relativa às relações Luso-Espanholas, com a qual se pretende elencar
os principais problemas que suscitam, é a seguinte:
 As bacias hidrográficas luso-espanholas ocupam em Portugal e Espanha cerca de 64% e 42% das
áreas dos respectivos territórios e a fronteira é materializada em 61% da sua extensão por linhas de
água. Portanto, respeitando a integridade do funcionamento ambiental da bacia hidrográfica e
tendo presente que muitos dos impactes são cumulativos de montante para jusante, qualquer
intervenção de relevo no território destas bacias hidrográficas pode ter repercussões
transfronteiriças significativas.

21/24 (3 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

 Quanto às disponibilidades naturais de recursos hídricos das bacias hidrográficas luso-espanholas,


embora suficientes para as necessidades actuais, são naturalmente irregulares no espaço e no
tempo, sendo que as maiores utilizações são efectuadas nos períodos de menores disponibilidades
naturais e as irregularidades assumem maior expressão em períodos de seca e de cheia. Se forem
consideradas as disponibilidades totais médias anuais de água geradas nos dois países ibéricos,
3
verifica-se que a natureza disponibiliza na rede hidrográfica cerca de 3.200 m /hab.ano em
3
Portugal peninsular e 3.000 m /hab.ano em Espanha peninsular, valores estes que estão muito
acima dos valores de referência para os limiares de stress hídrico e de escassez hídrica
3 3
internacionalmente referidos, 1.700 m /ano e 1.000 m /ano, respectivamente. As populações que
exercem pressões sobre os recursos hídricos dos territórios peninsulares rondarão os 9,4 milhões
em Portugal e 36,8 milhões em Espanha.
Se aos valores das disponibilidades superficiais se adicionarem os recursos subterrâneos a situação
3
é ainda mais favorável no contexto internacional, subindo aqueles valores para 3.900 m /hab.ano e
3
3.800 m /hab.ano, respectivamente para Portugal e Espanha.
Um dos maiores problemas relacionados com as disponibilidades médias de recursos hídricos são
os correspondentes à ocorrência de situações de seca prolongada por anos sucessivos, cuja mais
recente se registou na primeira metade dos anos 90.
Numa perspectiva futura as disponibilidades características da situação actual poderão vir a sofrer
algumas alterações em consequência das mudanças climáticas.
 A taxa de utilização dos recursos hídricos em regime natural, superficiais e subterrâneas, em
valores médios anuais na totalidade dos territórios em ambos os lados da fronteira no conjunto das
cinco bacias hidrográficas é de 21% em Portugal e 22% em Espanha. Estes valores coincidem com
a taxa geral de utilização - 22%, considerando no seu conjunto as cinco bacias independentemente
da nacionalidade das suas partes.
Aquelas percentagens estão ligeiramente abaixo das taxas nacionais dos dois países para a
totalidade do seu território peninsular, 24% para Portugal e 25% para Espanha.
Embora estas percentagens revelem algum equilíbrio global na utilização dos recursos hídricos a
realidade é bem mais preocupante uma vez que a análise revela que essas utilizações se acentuam
nas bacias hidrográficas dos rios Guadiana, Tejo e Douro com valor de 20%, 32% e 16%,
respectivamente, em Portugal e 43%, 33% e 23%, respectivamente, em Espanha, ao que acresce
um aumento da irregularidade temporal dos recursos hídricos.
 Os problemas de maiores impactes no território nacional e nos troços fronteiriços dos rios
internacionais derivam das modificações do regime natural de caudais, consequência das
utilizações instaladas e que estão na origem da deterioração da qualidade da água.
Ao facto adverso de apenas 20% dos recursos superficiais naturais serem gerados no semestre seco
junta-se a elevada capacidade de modificação do regime natural dos rios instalada em território
espanhol com recurso a grandes albufeiras de regularização interanual cujo balanço entre os
benefícios em período de cheias e o acréscimo de severidade que introduzem na sucessão de anos
secos ainda está por avaliar.
Nas bacias hidrográficas Luso-Espanholas, Espanha dispõe de uma capacidade de armazenamento
3 3
de 31.080 hm e Portugal apenas de 4.690 hm , valores estes que representam taxas de
armazenamento em relação aos recursos hídricos médios anuais superficiais destas bacias
hidrográficas em regime natural de 23% em Portugal e 73% em Espanha para o conjunto das cinco
bacias luso-espanholas. Nos espaços peninsulares de ambos os países estas percentagens tomam os
valores de 25% e de 50%, respectivamente para Portugal e Espanha.
 É inquestionável que nos últimos anos a administração portuguesa tem vindo a ter acesso a cada
vez mais informação técnica sobre a parte espanhola das bacias hidrográficas luso-espanholas.
Contudo, ainda não é possível dispor, com facilidade e sem formalismos, de bastante informação
que é produzida em Espanha. Esta questão, que é central na nova Convenção, carece de um forte
impulso para que seja eficaz a permuta permanente de informação homogeneizada e comparável
em ambas as partes das bacias hidrográficas.

22/24 (3 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

 A má qualidade da água e os efeitos sobre os ecossistemas aquáticos e ribeirinhos dos rios e


estuários nacionais e luso-espanhóis encontram-se ainda deficientemente caracterizados,
dificultando o planeamento e a definição de medidas em ambas as partes das bacias hidrográficas
luso-espanholas.
Os dados disponíveis em Portugal para os valores de cargas afluentes à rede hidrográfica,
aquíferos e solo atingem no conjunto das bacias luso-espanholas: CBO5 - 119.080 ton/ano; SST -
138.570 ton/ano; N - 19.630 ton/ano; P - 5.880 ton/ano, desconhecendo-se, no entanto, os
correspondentes valores em Espanha.
 As áreas territoriais de planeamento são, em extensão, muito diferentes nos dois países, sendo que
em Espanha com um território cerca de cinco vezes e meio maior que Portugal tem praticamente o
mesmo número de unidades de planeamento.
A articulação das matérias relativas ao planeamento das bacias hidrográficas luso-espanholas
requer ainda bastante trabalho de homogeneização, de produção e de sistematização de dados para
serem comparáveis. Também a agregação dos dados das bacias do Minho e Lima em Norte I e do
Chanza e Baixo Guadiana, Piedras, Odiel e Tinto em Guadiana II, que em Espanha se faz para
efeitos de planeamento, não facilita a comparação entre dados portugueses e espanhóis.
Em matéria de planeamento a experiência em ambos os países ibéricos é bem distinta. Enquanto
que em Espanha é uma prática juridicamente com quase um século de história, em Portugal só em
1994 se introduziu no quadro jurídico nacional esse requisito.
 Apesar das boas relações entre as autoridades luso-espanholas em matéria de recursos hídricos,
sempre que alguma circunstância adversa surge tem sido o quadro do Tratado de Limites e dos
Convénios de 1964 e 1968 que são invocados para o avanço no tratamento dos assuntos, o que
dadas as suas reconhecidas especificidades e restrição de âmbitos geográficos não tem permitido
resolver questões que os extravasam.
O Tratado de Limite de 1864, e em particular o seu Anexo I, constituem ainda hoje o quadro
jurídico específico para a resolução dos problemas ribeirinhos dos troços fronteiriços cujas
matérias não foram convencionados.
Este quadro atribui aos governadores civis respectivos a capacidade para decidir e assegurar o
diálogo luso-espanhol em detrimento da acção integrada que as matérias de recursos hídricos
exigem e da competência que posteriormente ao Tratado foram atribuídas a outras entidades. Esta
situação tem criado alguns embaraços nas relações luso-espanholas o que, embora a Convenção de
98 possa superar, carece de clarificação em termos de quadro jurídico luso-espanhol bem como a
inserção de outros aspectos relativos à actuação de outras administrações, que não as de recursos
hídricos, que concorrem para a correcta gestão cooperada dos recursos hídricos luso-espanhóis
 É com a ampliação do Tratado de Limites de 1864 pela Troca de Notas Diplomáticas de 2 de
Setembro de 1912, que aprovam as regras para o aproveitamento industrial da água dos lanços
fronteiriços dos rios luso-espanhóis, que é aberto o caminho à celebração do Convénio de 1927
sobre o aproveitamento hidroeléctrico troço fronteiriço do rio Douro, que mais tarde veio a ser
substituído pelo Convénio de 1964. A celebração do Convénio de 1968 alarga o âmbito geográfico
de intervenção aos rios Tejo, Guadiana, Lima e Minho e alguns afluentes, com o qual é possível
retirar águas para outros fins que não hidroeléctricos, apenas nos rios Guadiana e Chança.
 Os Convénios de 1964 e 1968 por falta de definição do alcance de algumas matérias ainda seriam
motivo de polémica se não tivesse sido celebrada a Convenção de 98 e aprovada a Directiva
Quadro da Água da União Europeia. Ficaram também em aberto nestes Convénios os mecanismos
de verificação e troca de informação regular o que tem trazido algumas dificuldades de cooperação
Luso-Espanhola, facto que está bem patente no articulado do Protocolo Adicional à nova
Convenção de 98.
Mantêm-se ainda por executar no âmbito destes Convénios apenas o aproveitamento hidráulico de
Cela e a conclusão de Alqueva.

23/24 (3 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RELAÇÕES LUSO-ESPANHOLAS

O ordenamento do espaço líquido e terrestre associado às albufeiras internacionais é ainda uma


matéria em aberto e em que a nova Convenção de 98 não é explicita, apesar da relevância que a
matéria continua a assumir de forma crescente.
A base dos Convénios de 1927, 1964 e 1968 é a repartição das potencialidades hidroeléctricas dos
troços fronteiriços. Mas, pelo facto de não ter sido realizada troço a troço, conduziu a que fosse
procurado o equilíbrio de contas num aproveitamento, Cela no rio Minho, onde Portugal adquiriu
algum peso à custa da cedência do potencial no rio Águeda. Como este aproveitamento reúne
muitas condições para não vir ser realizado pelos seus impactos ambientais, o que implica que o
fecho de contas previsto naqueles Convénios se mantém em aberto. Por outro lado, estes
Convénios partiram de séries de registos médios anuais de caudais e de previsões de utilização
para avaliar os potenciais hidroeléctricas que os conhecimentos actuais põem em dúvida. Mas,
como esses Convénios não previram a reavaliação destes valores o equilíbrio que se procurou pode
não ser real.
 A nova Convenção de 98, pela sua natureza avançada em termos de direito internacional e o seu
cariz técnico, e estando em sintonia com a nova Directiva Quadro da Água 2000/60 da União
Europeia, disponibiliza o quadro jurídico e técnico necessário e suficiente para a superação das
questões anteriormente suscitadas, mantendo contudo válidos os Convénios anteriores que são
instrumentos de enorme valia para a gestão dos equipamentos instalados ao seu abrigo.
Esta Convenção coloca às administrações de recursos hídricos de ambos os países os maiores
desafios de sempre dado que é necessário produzir, compilar e sistematizar em bases de dados, a
maior parte delas inexistentes, os dados e a informação para permuta permanente, fundamentais
para promover a cooperação permanente, aberta e participada pelas populações e seus
representantes nos processos de decisão sobre recursos hídricos luso-espanhóis.
 As relações luso-espanholas em matéria de recursos hídricos tem decorrido a um nível que
internacionalmente podem ser classificadas de excelentes, apesar dos altos e baixos que ao longo
dos tempos se tem verificado, o que também é natural neste tipo de matérias. Porém, tem havido
leituras distintas das vantagens e inconvenientes relativos aos efeitos das utilizações decorrentes do
posicionamento de montante e de jusante que os países ibéricos detêm.
Parece agora, com o novo quadro de relacionamento permitido pela nova Convenção e Directiva
Quadro, estarem reunidas as condições para uma leitura coordenada e compatível dos desafios que
a água coloca aos dois países.

24/24 (3 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

4. USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

4.1. Introdução
A importância e o aprofundamento do conhecimento sobre os usos, consumos e necessidades de água é
proporcional ao rigor com que se pretendam definir as políticas de utilização dos recursos hídricos,
designadamente nas vertentes da garantia de volumes de água, da qualidade da água, do ordenamento do
domínio hídrico, da economia da água e da segurança de pessoas e bens.
Para os fins que este Plano Nacional da Água pretende alcançar procuram-se caracterizar neste capítulo as
mais importantes utilizações da água, designadamente, urbana, industrial, regadio, turismo, produção de
energia eléctrica, aquaculturas, e outras, nestas englobando a extracção de inertes e a navegação comercial e
recreativa.
Os usos e consumos de água existentes são direitos titulados, em princípio, por alvará de licença ou
concessão de utilização do domínio hídrico.
A caracterização dos usos, consumos e necessidades de água é fundamental para a determinação das
situações de escassez, através do balanço hídrico, para a análise económica das utilizações da água, para a
determinação das causas do estado da qualidade da água e da adequação desta aos usos actuais, para a análise
do ordenamento do território no que se refere à protecção dos recursos hídricos e à segurança de pessoas e
bens em relação às situações hidrológicas extremas e aos acidentes de poluição, entre outros.
Tal como o título do capítulo sugere, no tratamento desta matéria assume-se uma distinção entre Usos,
Consumos e Necessidades.
Aqui, o termo Usos é considerado como o termo mais genérico onde se incorporam a utilização de
superfícies e de volumes de água, a alteração das características das águas e dos regimes naturais dos seus
fluxos e de produtos gerados pelos recursos hídricos.
Os Consumos a que nos referiremos são os volumes efectivamente retirados dos meios hídricos e que,
embora gerando retornos, são os utilizados nas actividades humanas, tais como consumo doméstico e
industrial, regadio, refrigeração, incluindo neles as perdas (fugas e consumos não contabilizados) associados
aos sistemas de captação, tratamento, transporte, armazenamento e distribuição.
As Necessidades de água actuais são entendidas como sendo os volumes que deveriam estar disponíveis
quando e onde necessários para satisfazer a procura actual e certa, os quais também podem assumir a
natureza de factor de produção com restituição integral aos meios hídricos. São, portanto, iguais à soma dos
Consumos e da procura, traduzindo-se esta pelos valores dos consumos que se registariam se a água estivesse
disponível em condições idênticas à que hoje é consumida.
As quantidades disponíveis de recursos hídricos superficiais são hoje relativamente bem determinadas e
conhecidas graças a uma razoável rede de monitorização pluviométrica e hidrométrica. Já o mesmo não é tão
seguro quanto às águas subterrâneas por falta de uma rede com o mesmo desenvolvimento. Em relação à
qualidade da água, para além da situação ser também de insuficiência, acresce o facto de exigir meios e
procedimentos mais complexos e dispendiosos que tem conduzido a que o estado da qualidade da água não
seja tão conhecido quanto é desejável e necessário.
Se a situação não é óptima no campo da avaliação das disponibilidades, então no domínio da avaliação dos
usos, consumos e necessidades de água a situação é muito deficiente. Para além de não existirem medidores
de caudal na maioria das origens, a verdade é que os métodos e os procedimentos utilizados pelas entidades
que promovem a recolha de dados tem caracter esporádico ou visam outros fins que não propriamente o
planeamento de recursos hídricos.
Esta questão é abordada com maior detalhe no ponto 4.3.5 para cuja leitura prévia à análise de cada um dos
pontos seguintes se remete.
A Directiva-Quadro da Água (2000/60/CE) estabelece um sistema integrado de medidas com vista à protecção
das águas de modo a prevenir a deterioração do seu “estado”, proteger e melhorar o estado dos ecossistemas

1/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

aquáticos e dos ecossistemas terrestres e zonas húmidas directamente dependentes. No que respeita às
necessidades de água, esta directiva estabelece uma gestão ao nível da região hidrográfica com o objectivo de
alcançar a condição de "bom estado" para todas as águas de superfície e subterrâneas até ao ano 2015.
Nesse sentido, a gestão integrada dos recursos hídricos não passa apenas pelo controlo das descargas de
águas residuais nos meios hídricos e pela satisfação dos múltiplos usos, havendo também que considerar
aspectos de quantidade e de qualidade da água necessários para a manutenção da estrutura e funcionamento
dos ecossistemas.

4.2. Condicionantes Ambientais

4.2.1. Ecossistemas a Proteger


A nova abordagem ecossistémica de gestão dos recursos hídricos procura integrar a utilização sustentável da
água e a conservação da biodiversidade, através da manutenção duma "integridade ecológica", tendo em
conta as paisagens naturais e modificadas, os processos ecológicos, as componentes físicas e biológicas e as
actividades humanas.
Os sistemas lóticos colocam problemas específicos, exigindo a consideração de ambientes aquáticos,
ribeirinhos e terrestres associados, cujas características se interrelacionam com o curso de água.
Torna-se fundamental identificar, caracterizar e estudar os ecossistemas e as espécies a proteger,
nomeadamente as zonas naturais e os processos ecológicos que apresentem uma maior probabilidade de
requerer medidas de gestão mais activas e urgentes para prevenir e/ou recuperar situações de degradação dos
recursos.
Ainda neste contexto, é importante ter presente o caso dos espaços protegidos não classificados definidos no
âmbito da Reserva Ecológica Nacional (REN), que abrange zonas costeiras e ribeirinhas, águas interiores,
áreas de infiltração máxima e zonas declivosas.
Na análise quantitativa de usos, consumos e necessidades de água, torna-se assim fundamental considerar as
condicionantes ambientais comprometidas com as áreas atrás referidas, enquadrando-as num contexto
espacial e temporal e tendo também em conta o potencial ecológico da área em causa e a quantidade de água
que a sustenta.

4.2.2. Caudais Ecológicos e Ambientais


No passado, as estratégias de gestão da bacia hidrográfica eram essencialmente direccionadas para a
satisfação dos usos, consumos e necessidades de água instalados, complementada com a prevenção de cheias
e controle da erosão. Actualmente está generalizada a consciência de que as necessidades humanas afectam
as necessidades hídricas dos ecossistemas fluviais. A modificação do regime hídrico é uma das mais
importantes alterações antropogénicas no ambiente, com consequências importantes ao nível do ecossistemas
lóticos, dado que o caudal constitui um factor determinante na estrutura e diversidade das comunidades
bióticas.
No sentido de minimizar os impactes sobre os ecossistemas dulçaquícolas a jusante de aproveitamentos
hidráulicos, têm sido desenvolvidos esforços para caracterizar o regime de caudais ecológicos, isto é, caudais
mínimos a manter no curso de água, que permitam assegurar a conservação e manutenção dos ecossistemas
aquáticos naturais, a produção das espécies com interesse desportivo ou comercial, assim como a
conservação e manutenção dos ecossistemas ripícolas e os aspectos estéticos da paisagem ou outros de
interesse científico ou cultural.
Refira-se ainda, que para além destes caudais, são também frequentemente considerados caudais de limpeza
para a remoção de materiais finos depositados, caudais para a manutenção da estrutura do leito e da sua
capacidade de transporte, caudais para manutenção da zona ripária, leito de cheia e características do vale,
manutenção do nível freático, assim como para manutenção dos ecossistemas associados aos curso água, tais
como zonas húmidas e estuários. O conjunto destes caudais, incluindo também o caudal ecológico, é
usualmente designado por caudal ambiental.

2/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

A legislação existente permite, desde 1989, incluir no licenciamento de novos aproveitamentos hidráulicos a
obrigação de manter um caudal mínimo no curso de água a jusante das barragens para a minimização dos
impactes negativos nos ecossistemas aquáticos. O valor deste caudal é independente do caudal reservado,
que tem de ser sempre garantido a jusante dos aproveitamentos hidráulicos, para a manutenção de usos já
existentes como sejam a rega e o abastecimento público e outros usos.
A definição de caudais ecológicos em Portugal tem merecido, até ao presente, diferentes abordagens em
resultado das diferenças existentes ao nível dos sistemas hídricos localizados a Sul e a Norte do rio Tejo, e
em função do tipo de aproveitamentos hidráulicos.
Devendo o PNA traduzir princípios e práticas coerentes com os valores das sociedades modernas, os caudais
ecológicos deverão ser assumidos como água que pertence à Natureza, que corresponde às necessidades dos
ecossistemas aquáticos e dos agrupamentos bióticos que neles se inserem, e relativamente aos quais não
deverá haver pretensões de uso, exceptuando situações críticas em que possa estar em causa o abastecimento
às populações.

4.3. Usos, Consumos, Necessidades e Retornos

4.3.1. Consumos e Necessidades de Água Urbanas


Os usos, consumos e necessidades de água urbanas englobam populações, comércio, serviços e municípios.
Nos usos municipais estão incluídos a lavagem de arruamentos, a rega de jardins e outros não contabilizados
ou facturados por razões de ordem social (bombeiros, hospitais, escolas, etc).
Em todos os usos urbanos estão incorporadas as perdas e nestas se incluindo as fugas e os volumes não
contabilizados ou contabilizados mas não facturados.
4.3.1.1. Captação de Água para Abastecimento Urbano
Gestão de Sistemas de Abastecimento Urbano
A captação de água para fins de abastecimento urbano é realizada por um conjunto diversificado de
entidades. Todavia, ainda é significativo o número de utilizadores individuais que recorrem quase
exclusivamente a captações de águas subterrâneas nas suas propriedades.
As entidades que asseguram os Sistemas de Abastecimento às Populações são, de acordo com o
levantamento editado pela Associação Portuguesa de Drenagem e Distribuidores de Água (APDDA) em
1999, Câmaras Municipais, com ou sem Serviços Municipalizados, Empresas Privadas de Capital
Maioritariamente Público com concessões atribuídas pelo Estado, Empresas Privadas com concessão
municipal, intermunicipal ou de Associações de Municípios, Empresas Municipais ou Intermunicipais.
A distribuição espacial e caracterização destas entidades está representada na Figura 4.3.1.
Existem em Portugal 297 entidades gestoras, 267 no Continente, 19 na Região Autónoma dos Açores e
11 da Região Autónoma da Madeira para gerir os sistemas “em baixa”. A gestão dos sistemas “em alta”
está sob a responsabilidade de 225 entidades gestoras, das quais 202 no espaço continental, 19 no
território dos Açores e 4 no espaço territorial madeirense.
Analisando a dimensão destas entidades gestoras verifica-se que na gestão “em baixa” são as Câmaras
Municipais e os Serviços Municipalizados que mais população servem, 6,9 milhões de habitantes. Na gestão
dos sistemas “em alta” são as Empresas de Capital Maioritariamente Público que asseguram o abastecimento
a mais habitantes. As Câmaras Municipais e Serviços Municipalizados servem 3,4 milhões, contra os 4,3
milhões servidos por aquelas empresas.
As modalidades de gestão de sistemas de abastecimento urbano têm estado sujeitas a grandes
transformações, sobretudo na chamada área do “saneamento básico” tradicionalmente dentro das
competências das Autarquias Locais, excepção feita ao caso da zona de Lisboa com a empresa EPAL.

3/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Y
# Bragança Y
# Bragança

Y
# Viana do Castelo Y
# Viana do Castelo

Y
# Braga Y
# Braga

Y
# Vila Real Y
# Vila Real

Y
# Porto Y
# Porto

Y
# Aveiro
Y
# Viseu
Y
# Aveiro
Y
# Viseu

Y
# Guarda Y
# Guarda

Y
# Coimbra Y
# Coimbra

Y
# Castelo Branco Y
# Castelo Branco
Y
# Leiria Y
# Leiria

Y
# Portalegre Y
# Portalegre
Y
# Santarém Y
# Santarém

Y
# Lisboa Y
# Lisboa

Y
# Évora Y
# Évora
Y
# Setúbal Y
# Setúbal

Y
# Beja Y
# Beja

Y
# Faro Y
# Faro

Serviço em Baixa Serviço em Alta


Y
# Capital de Distrito Empresa Privada com Empresa Privada de Capital
Limites de Plano de Bacia Concessão Municipal Maioritáriamente Público com
Abastecimento de Água - Entidade Gestora Empresa Privada com Concessão Municipal
Câmara Municipal Concessão Intermunicipal Empresa Intermunicipal
Empresa Municipal Empresa Privada de Capital Outro
Serviço Municipalizado Maioritáriamente Público

Figura 4.3.1 - Tipo de Entidades Gestoras dos Sistemas de Abastecimento de Água


Urbano “em Baixa” e “em Alta”

Nesta matéria os modelos de gestão dos sistemas artificiais e/ou construídos que se aplicam aos serviços de
águas das zonas urbanas podem resumir-se a:
- Gestão Municipal
- Gestão Municipalizada
- Gestão Empresarial - Empresas Concessionárias (Gestão Delegada)
Concessão do Estado - Grupo IPE - Águas de Portugal
Sistemas multimunicipais
Concessão dos Municípios ou suas Associações
Sistemas municipais
Sistemas intermunicipais
Empresas Municipais ou Intermunicipais

4/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Apesar do baixo valor relativo do volume de água utilizada no abastecimento urbano, este serviço é um dos
paradigmas da qualidade de vida das populações e fundamental à saúde pública, à alimentação, à higiene e a
algumas actividades económicas. Por isso, além de ser uma preocupação e obrigação, é um desafio para as
autoridades da administração conseguir uma elevada taxa de cobertura e um elevado nível de serviço em
qualidade, pressão, permanência e atendimento.
População Residente e Flutuante Servidas, Capitações e Perdas
Um dos indicadores de qualidade de vida das populações, usado internacionalmente, é o correspondente à
taxa de população servida por sistemas e serviços públicos domiciliários de abastecimento de água.
Entende-se por população servida a que dispõe de um sistema colectivo público de serviço domiciliário cuja
responsabilidade de exploração e conservação está determinada por lei e que, desse modo, atribui direitos e
obrigações a quem dele se serve e a quem dele deve cuidar em termos de condições normais de
funcionamento. Quanto à qualidade da água para consumo humano e respectivo controlo, a matéria está
regulada no DL 236/98, de 1 de Agosto, que transpõe as directivas comunitárias correspondentes. Quanto à
quantidade, pressão, permanência e qualidade do serviço prestado, as referências são estabelecidas no D.L.
nº 207/94, de 6 de Agosto, e pelo Regulamento Geral dos Sistemas Públicos Prediais de Distribuição de
Água e Drenagem de Águas Residuais, aprovado pelo D.R. nº 23/95, de 23 de Agosto.
A população servida por sistema público de abastecimento de água compõe-se de população residente e
população flutuante. Entende-se por população residente a definida pelo INE. A população flutuante é
composta por duas parcelas: a população turística e não turística. Como esta última, para efeito de balanço
hídrico e de pressão sobre os recursos, é contabilizada no local de residência, considera-se, no âmbito do
PNA, integrada na população residente, sendo apenas a turística considerada como população flutuante.
Da análise do Quadro 4.3.1 conclui-se que em Portugal Continental dispõem de sistema público de
abastecimento de água ao domicílio cerca de 8,1 milhões de habitantes, ou seja, 85 % da população residente
e as instalações hoteleiras para cerca de 27 milhões dormidas (1998), o que exige a disponibilização média
anual nos sistemas hídricos de 560×106 m3 para a população residente e 10×106 m3 para a população
turística.

Quadro 4.3.1 - População Residente e Turística Servida por Sistema Público,


Consumos e Capitações

Capitação
População População Consumo População Consumo
População População
Bacia Residente Residente População Turística População Perdas
Residente Residente
Hidrográfica Servida Servida Residente Servida Turística
Servida
(hab.) (hab.) (%) (×103 m3 /ano) (dormidas) (×103 m3 /ano) (l/dia.hab.) (%)
Minho 75 400 67 480 90 3 880 88 370 20 157 29
Lima 203 330 135 750 67 7 140 168 720 60 144 33
Cávado 321 670 222 830 69 12 980 365 310 110 160 30
Ave 661 440 368 580 56 20 100 361 810 120 149 33
Leça 396 250 383 920 97 25 560 367 600 100 182 23
Douro 1 841 100 1 451 720 79 87 270 1 500 990 530 165 30
Vouga 663 240 491 750 74 32 130 516 380 160 179 35
Mondego 679 200 581 810 86 35 910 826 510 240 169 30
Lis 173 780 153 820 89 8 970 269 740 80 160 20
Rib. Oeste 572 680 541 900 95 45 510 1 828 760 820 230 35
Tejo 3 058 190 2 978 400 97 220 750 6 223 600 2 190 203 37
Sado 274 190 258 530 97 24 340 718 140 210 258 32
Mira 21 040 12 190 58 880 33 040 10 197 30
Guadiana 206 380 173 910 84 14 480 720 480 530 228 35
Rib. Algarve 326 430 267 650 82 21 840 13 081 450 5 090 224 35
Total 9 474 320 8 090 240 85 561 740 27 070 900 10 370 190 33

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Y
# Bragança Y
# Bragança

Y
# Viana do Castelo Y
# Viana do Castelo

Y
# Braga Y
# Braga

Y
# Vila Real Y
# Vila Real

Y
# Porto Y
# Porto

Y
# Aveiro
Y
# Viseu Y
# Aveiro
Y
# Viseu

Y
# Guarda Y
# Guarda

Y
# Coimbra Y
# Coimbra

Y
# Castelo Branco Y
# Castelo Branco
Y
# Leiria Y
# Leiria

Y
# Portalegre Y
# Portalegre
Y
# Santarém Y
# Santarém

Y
# Lisboa Y
# Lisboa

Y
# Évora Y
# Évora
Y
# Setúbal Y
# Setúbal

Y
# Beja Y
# Beja

Y
# Capital de Distrito Y
# Capital de Distrito
Limites de Plano de Bacia Limites de Plano de Bacia
Índice de Atendimento (%) Capitação Doméstica (l/hab*dia)
0 - 44 0 - 75
45 - 59 76 - 125
60 - 74 126 - 200
75 - 84 201 - 250
85 - 89 251 - 300
90 - 94 301 - 350
95 - 100 > 350
Y
# Faro Y
# Faro

Figura 4.3.2 - População Residente com Serviço Domiciliário Público de Abastecimento de


Água e Capitações na Origem

Da análise dos valores das capitações, obtidas pela desagregação espacial de base concelhia, conclui-se que
os valores extremos se situam nos 530 l/dia.hab. e 130 l/dia.hab. correspondentes às bacias hidrográficas das
ribeiras do Algarve e do rio Lis (Figura 4.3.2).
No que se refere a perdas nos sistemas de abastecimento de água, não se dispõe de dados com a fiabilidade
suficiente para a sua avaliação rigorosa, devido à frequente falta de medição sistemática dos valores captados
no domínio hídrico, no início e no fim dos sistemas adutores gravíticos e elevatórios, nas saídas dos
reservatórios principais e secundários, na generalidade dos sistemas simples ou complexos.
Com os dados disponíveis estima-se que o valor médio nacional dos volumes que se perdem entre a captação
e o consumidor final rondará os 35%. Nesta taxa poderão estar incluídos, nalguns casos, volumes que,
embora medidos, não são facturados por razões de diversa natureza.
Origens, Captações e Sistemas de Abastecimento Urbano
Na perspectiva da administração dos recursos hídricos qualquer sistema de abastecimento de água tem o
seu início numa captação no domínio hídrico público ou privado e termina nos consumidores finais,
passando ou não por reservatórios, a montante dos quais podem existir sistemas adutores gravíticos ou
elevatórios e a jusante redes de distribuição.
Entrou em uso nesta área a divisão dos sistemas em duas partes: i) Desde a captação até aos
reservatórios de distribuição passou a designar-se esta parte dos sistemas “em alta” e ii) a jusante destes
“em baixa” correspondente à rede de distribuição, incluindo nuns casos os reservatórios noutros não.
À administração dos recursos hídricos compete, em consequência do licenciamento de captação de água
no domínio hídrico, garantir a quantidade e qualidade da água associadas ao título de licença. Se bem

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

que não se verificando esta condição, a responsabilidade não deixa de existir, reforçada pelas obrigações
do Estado em relação ao recurso água e pelas disposições legais que disciplinam estas utilizações -
Decreto-Lei 46/94, Decreto-Lei 236/98.
Portanto, à administração dos recursos hídricos compete assegurar o bom desempenho das captações e
origens de água para abastecimento urbano sem prejuízo das obrigações de outras entidades. Para esse
exercício é indispensável um conhecimento rigoroso das características das utilizações e da procura de
água pelos sistemas de abastecimento e se os recursos são utilizados de forma eficiente de maneira que
não sejam transferidos para o domínio hídrico as ineficiências que são da responsabilidade das
entidades gestoras dos sistemas.
Retemos como definição de Captação o local onde é tomada a água por meio de sucção, impulsão ou
derivação. Por origem consideramos os aquíferos e as massas de água superficiais onde podem estar
instaladas várias captações, o que nos aquíferos é muito frequente e nas albufeiras de maior dimensão
bastante vulgar.

3500
3000

2500
Nº Captações

2000
1500
1000

500
0
Subterrânea Superficial Não Classificada

Figura 4.3.3 - Captações para Consumo Humano por Tipo de Recurso

Quadro 4.3.2 - Número de Captações para Abastecimento Urbano

Águas Superficiais Águas Subterrâneas


Bacia População Servida População Servida Não
Total
Hidrográfica ≥ 10000 < 10000 ≥ 10000 < 10000 Classificadas
Total Total
hab. hab. hab. hab.
Minho 2 7 9 0 138 138 0 147
Lima 5 1 6 2 85 87 2 95
Cávado 2 4 6 0 174 174 13 193
Ave 3 4 7 0 81 81 16 104
Leça 0 0 0 0 0 0 0 0
Douro 22 80 102 3 114 117 17 236
Vouga 2 2 4 6 136 142 72 218
Mondego 7 36 43 7 327 334 372 749
Lis 2 1 3 6 29 35 24 62
Ribeiras do Oeste 0 0 0 8 68 76 39 115
Tejo 8 55 63 24 1427 1451 18 1532
Sado 2 3 5 3 296 299 36 340
Mira 1 5 6 0 26 26 23 55
Guadiana 6 7 13 1 372 373 14 400
Ribeiras do Algarve 0 0 0 21 39 60 78 138
Continente 62 205 267 81 3 312 3393 724 4384

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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

População Servida Água Consumida

Subterrânea Subterrânea
37% 40%

Superficial Superficial
63% 60%

Figura 4.3.4 – População Servida e Consumos, por Tipo de Origem de Água

Com base nos PBH foram identificadas 4.384 captações no Continente, 267 das quais em águas
superficiais e 3.394 em águas subterrâneas. Para as restantes 724 captações não foi possível caracterizar
o tipo de origem.
Refira-se que o número de captações de água subterrânea não traduz a importância desta origem de água
nos sistemas de abastecimento públicos. Em Portugal Continental, as águas subterrâneas servem 37% da
população e fornecem cerca de 40% da água consumida pelos Sistemas Públicos de Abastecimento de
Água. Este facto traduz as fragilidades da maioria dos sistemas baseados neste tipo de origem.
O que de maior relevância importa destacar é o facto de não se dispor de uma base de dados nacional de
licenciamento onde constem todas as captações que abastecem as populações públicas e privadas.
A situação actual no que respeita a captações para abastecimento urbano, para além do evidente significado
dos números apresentados no Quadro 4.3.2, quanto à dificuldade de controlo permanente da qualidade da
água exigida pelo Decreto-Lei 236/98 e Decreto-Lei 152/97, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei
348/98, leva-nos a questionar o estado de aplicação e eficácia dos instrumentos de protecção das captações
superficiais (albufeiras, cursos de águas e lagoas) e subterrâneas. Também a protecção perseguida pelos
Planos de Ordenamento das Albufeiras de Águas Públicas (POAAP), objecto dos Decreto-Lei 502/71 e
Decretos Regulamentar 2/88, 37/91 e 33/92, sendo limitado às margens das albufeiras, quando as causas
podem encontra-se em áreas de muitos km2 fora destes perímetros ou a longa distância das albufeiras, não
garantem a segurança plena em relação à protecção de origens e captações.
Tanto o controlo das origens e captações como dos sistemas exige capacidade técnica e científica
apropriados. A multiplicidade destas dificulta a sua sustentabilidade económica-financeira.
Se o panorama, no que respeita às origens e captações, exige profunda reflexão, o mesmo se passa em
relação ao número de sistemas tendo em conta que mais de 65% dos sistemas de abastecimento servem
menos de 500 habitantes num universo de 3.324 sistemas inventariados no Relatório sobre o Controlo da
Qualidade das Águas de Abastecimento para Consumo Humano em 1998 (Figura 4.3.5).
Nestas condições, é económica e financeiramente insustentável garantir a fiabilidade de origens e captações e
de gestão de sistemas com elevados padrões de qualidade de serviço.
No sentido de resolver esta questão têm sido desenvolvidos nos últimos anos políticas para dar dimensão física e
territorial aos sistemas que garantam a sustentabilidade referida. Incluindo o sistema da EPAL, tem sido apoiada a
execução e integração de diversos sistemas de média e grande dimensão à escala nacional, designadamente os
sistemas do Carvoeiro, Alvito, Sotavento Algarvio e Barlavento Algarvio, Cávado, Douro - Paiva, Planalto
Beirão, Portalegre - Castelo de Vide - Marvão, interligação das levadas da Madeira, e de origens multimunicipais
tais como Foz Côa - S. João da Pesqueira - Meda, Viseu - Mangualde - Nelas, Reguengos - Redondo, Figueira da
Foz - Montemor-o-Velho, etc..
No mesmo sentido está em pleno desenvolvimento o Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de
Saneamento de Águas Residuais (2000-2006) — PEASAR, de iniciativa do MAOT.

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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

1600

1431
1400

1200

1000
número de sistemas

800

600
520
443

400
284
233
200 162

57 45 45 38
34
0 9 10 12
0
0-20

20-50

50-100

100-500

500-1000

1000-2500

2500-5000

5000-7500

7500-10000

10000-15000

15000-20000

20000-25000

25000-50000

50000-100000

Mais de 100000
População servida

Figura 4.3.5 - Sistemas de Abastecimento de Água (Portugal Continental 1998)

Consumos e Necessidades por Tipo de Recurso Utilizado


Como atrás se apresentou o consumo actual de água pelo abastecimento às populações é de 560×106 m3/ano
e a população não abastecida por sistema público em Portugal atinge os 15%, ou seja, cerca de 1,5 milhões
de habitantes.
Aplicando a esses potenciais consumidores a taxa de atendimento de 95% e as capitações concelhias
actualmente avaliadas chega-se à conclusão que ainda é necessária produzir 63×106 m3 de água por ano com
qualidade exigida na lei.
A este volume de água deverão somar-se as necessidades da evolução do turismo e da indústria na malha
urbana cujos valores são avaliados nos capítulos 4.3.2.3 e 4.3.2.1.
A situação actual no que se refere ao abastecimento de água urbano apresenta alguns problemas de âmbito
nacional que importa sintetizar:
• Elevado número de entidades gestoras para um elevado número de sistemas que dificultam a
sustentabilidade económico-financeira da exploração e a garantia de fiabilidade técnica e de qualidade
de serviço às populações, face à pequena dimensão e ao número reduzido de consumidores por
entidade gestora;
• Impossibilidade de associar com rigor os consumos aos sectores económicos e a afectação das perdas
dos sistemas por falta de dados desagregados por tipo de utilizador, sendo as perdas de manifesto
desconhecimento da generalidade das entidades gestoras, estimando-se que se situem nos 35%;
• Não se dispõe de uma base de dados nacional de licenciamento onde constem as captações para
abastecimento às populações sendo que os milhares de captações de águas subterrâneas servem em
média um número de habitantes que não ultrapassa as poucas centenas;
• A protecção das captações subterrâneas para abastecimento urbano é um meio que necessita ser
completado com a protecção das origens que exigem instrumentos de maior amplitude com expressão
territorial nos instrumentos de ordenamento do território cuja eficácia exige a intervenção directa
nesses instrumentos da administração dos recursos hídricos;
• Uma esmagadora percentagem de sistemas de abastecimento de água serve menos de 500 habitantes
aos quais estão associadas captações de águas independentes.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

4.3.1.2. Rejeição de Águas Residuais Urbanas


A rejeição de águas residuais urbanas é parte do ciclo urbano da utilização da água para consumo humano.
A drenagem e tratamento de águas residuais tem tido, tradicionalmente, uma prioridade inferior ao
abastecimento de água às populações, por se ter considerado este serviço essencial e que o meio receptor
tinha capacidade autodepuradora suficiente que permitia relegar para segunda prioridade a questão do
tratamento.

Gestão de Sistemas de Drenagem e Tratamento de Águas Residuais Urbanas


Tendo por base o levantamento editado pela Associação Portuguesa de Drenagem e Distribuidores de Água
(APDDA) em 1999 verifica-se que em Portugal existem 305 entidades gestoras, 275 no Continente, 19 na
Região Autónoma dos Açores e 11 na Região Autónoma da Madeira para gerir os sistemas “em baixa”. A
gestão dos sistemas “em alta” está sob a responsabilidade de 261 entidades gestoras, das quais 231 no
Continente, 19 na Região Autónoma dos Açores e 11 na Região Autónoma da Madeira (Figura 4.3.6).
Dentro dos inúmeros sistemas de drenagem, com ou sem tratamento adequado, assumem destaque, no que se
refere à sua integração sectorial e física, os sistemas do Vale do Ave (AMAVE), da Ria de Aveiro
(SIMRIA), do rio Lis (SIMLIS), da Costa do Estoril (SANEST), do rio Trancão e do rio Alviela, onde a
componente de águas residuais industriais tem elevado peso relativo.

Drenagem e Tratamento de Águas Residuais Urbanas


A Directiva n.º 91/271/CEE, do Conselho, de 21 de Maio de 1991, relativa ao tratamento das águas residuais
urbanas, transposta para o direito interno pelo Decreto-Lei n.º 152/97, de 19 de Junho, com as alterações que
lhe foram introduzidas pelos Decretos-Lei 348/98, de 9 de Novembro, e 261/99, de 7 de Julho, estabelece um
calendário rigoroso para a construção das infra-estruturas de tratamento de águas residuais urbanas, o qual se
apresenta no Quadro 4.3.3.

Quadro 4.3.3 - Níveis de Tratamento e Prazos (Directiva 91/271/CEE, Decreto-Lei 152/97, de 19 de Junho)

MEIOS RECEPTORES DIMENSÃO DAS AGLOMERAÇÕES ( E.P.)


menos de 2 000 2 000 a 10 000 10 000 a 15 000 15 000 a 150 000 mais de 150 000
Zonas normais Tratamento secundário Tratamento secundário
ÁGUAS Trat. apropriado (31.12.2005) (31.12.2000)
DOCES (31.12.2005)
Zonas sensíveis Trat. secundário Tratamento mais rigoroso que o secundário
(31.12.2005) (31.12.1998)
Zonas menos Trat. secundário (1) Trat. secundário Tratamento secundário
sensíveis (31.12.2005) (31.12.2005) (31.12.2000)
ESTUÁRIOS Trat. apropriado Tratamento secundário Tratamento secundário
Zonas normais
(31.12.2005) (31.12.2005) (31.12.2000)
Zonas sensíveis Trat. secundário Tratamento mais rigoroso que o secundário
(31.12.2005) (31.12.1998)
Zonas menos Trat. secundário (1) Tratamento secundário (1)
sensíveis (31.12.2005) (31.12.2000)
ÁGUAS Tratamento apropriado
COSTEIRAS Zonas normais Trat. secundário Tratamento secundário
(31.12.2005) (31.12.2005) (31.12.2000)
Zonas sensíveis Tratamento mais rigoroso que o secundário
(31.12.1998)
(1) As descargas destas aglomerações poderão ser objecto de um processo de derrogação (tratamento menos rigoroso que o secundário).
Fonte: Silva V.M. e Nunes M.N.; 2000.

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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Y
# Bragança Y
# Bragança

Y
# Viana do Castelo Y
# Viana do Castelo

Y
# Braga Y
# Braga

Y
# Vila Real Y
# Vila Real

Y
# Porto Y
# Porto

Y
# Aveiro
Y
# Viseu
Y
# Aveiro
Y
# Viseu

Y
# Guarda Y
# Guarda

Y
# Coimbra Y
# Coimbra

Y
# Castelo Branco Y
# Castelo Branco
Y
# Leiria Y
# Leiria

Y
# Portalegre Y
# Portalegre
Y
# Santarém Y
# Santarém

Y
# Lisboa Y
# Lisboa

Y
# Évora Y
# Évora
Y
# Setúbal Y
# Setúbal

Y
# Beja Y
# Beja

Y
# Faro Y
# Faro

Serviço em Baixa Serviço em Alta


Y
# Capital de Distrito Empresa Privada com Empresa Privada de Capital
Limites de Plano de Bacia Concessão Municipal Maioritáriamente Público com
Abastecimento de Água - Entidade Gestora Empresa Privada com Concessão Municipal
Câmara Municipal Concessão Intermunicipal Empresa Intermunicipal
Empresa Municipal Empresa Privada de Capital Outro
Serviço Municipalizado Maioritáriamente Público

Figura 4.3.6 - Tipo de Entidades Gestoras dos Sistemas de Drenagem “em Baixa” e “em Alta”

A primeira dificuldade na aplicação da Directiva, reside, desde logo na interpretação do conceito de


"Aglomeração": qualquer área em que a população e/ou as actividades económicas se encontrem
suficientemente concentradas para que se proceda à recolha das águas residuais urbanas e à sua
condução para uma estação de tratamento de águas residuais ou um ponto de descarga final.
Daqui resulta de imediato, que o conceito de "Aglomeração" não é sobreponível com o de "Aglomerado
Urbano" tradicionalmente utilizado nas estatísticas demográficas. Note-se que o Decreto-Lei n.º 152/97,
ao contrário da Directiva, em vez do termo Aglomeração utiliza o termo Aglomerado, embora,
naturalmente com a mesma definição, o que poderá dar origem a alguma ambiguidade na aplicação
correcta do conceito.
Na Figura 4.3.7 procura-se, esquematicamente, esclarecer o conceito de aglomeração da Directiva
91/271/CEE e do Decreto-Lei 152/97 (V.M. Silva e M. N. Nunes, 2000).
O conceito de “aglomeração” aplicado à realidade portuguesa e reportado a 31 de Dezembro de 1998,
conduziu à definição de 385 aglomerações com mais de 2.000 e.p., perfazendo uma carga total de mais
de 10 milhões de equivalentes de população, distribuída pelas classes constantes dos Quadros 4.3.4 e
4.3.5. A distribuição espacial apresenta-se na Figura 4.3.8.

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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Aglomeração •1 Aglomeração •2 Sistemas •2 ETAR


10 500 e.p. 39 500 e.p. 5 500 e.p.
500 e.p. 10 000 e.p.

9 000 hab 20 000 e.p.

3 500 e.p.
Sistema
colector •1 aglomeração ETAR ETAR

ETAR •1 sistema
•1 ETAR

•1 Aglomeração •2 Sistemas •2 ETAR •2 Aglomerações •2 Sistemas •2 ETAR


12 000 e.p. 4 000 e.p. 12 000 e.p.
8 000 e.p.

Sistema Sistema Sistema Sistema


colector colector colector colector

ETA ETA ETA ETA


R R R R

Meio tipo A Meio tipo B

Fonte: Silva, V.M. e Nunes, M.N., 2000

Figura 4.3.7 - Esquematização da Aplicação do Conceito de Aglomeração


Quadro 4.3.4 - Número de Aglomerações por Classes de Dimensão Populacional
Nº. de Aglomerações
PBH Inferior a 2 000 a 10 000 a 15 000 a Superior a
Total
2 000 hab. 10 000 hab. 15 000 hab. 150 000 hab. 150 000 hab.
Minho n.d. 5 1 0 0 6
Lima n.d. 4 0 3 0 7
Cávado n.d. 6 1 3 0 10
Ave n.d. 4 0 5 0 9
Leça n.d. 0 0 3 1 4
Douro n.d. 49 13 13 2 77
Vouga n.d. 16 2 4 1 23
Mondego n.d. 36 0 4 0 40
Lis n.d. 6 0 4 0 10
Ribeiras do Oeste n.d. 14 5 10 0 29
Tejo n.d. 52 7 25 7 91
Guadiana n.d. 17 0 3 0 20
Sado n.d. 15 4 1 1 21
Mira n.d. 2 1 1 0 4
Ribeiras do Algarve n.d. 17 4 11 2 34
Continente n.d. 243 38 90 14 385
n.d. – Dados não disponíveis

12/58 (4 - II)
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Figura 4.3.8 - Distribuição Espacial das Aglomerações por Classes de Dimensão Populacional
Quadro 4.3.5 – Aglomerações – Situação referida a 31.12.1998

ZONAS DE DESCARGA

ZONAS ZONA ZONAS MENOS TOTAL


CLASSES DE NORMAIS SENSÍVEIS SENSÍVEIS TODAS
AGLOMERAÇÕES AS ZONAS
Águas doces Águas Águas doces Águas
e estuários costeiras e estuários costeiras

Nº EP Nº EP Nº EP Nº EP Nº EP

2 000 ≤ EP < 10 000 169 695 500 0 0 74 354 450 0 0 243 1 049 950
10 000 ≤ EP < 15 000 30 349 728 1 13 000 6 77 500 1 13 000 38 453 228
15 000 ≤ EP < 150 000 60 2 822 686 3 179 000 19 861 017 8 361 662 90 4 224 365
EP > 10 000 8 2 773 521 0 0 2 394 767 4 1 522 000 14 4 690 288

TOTAL 267 6 641 435 4 192 000 101 1 687 734 13 1 896 662 385 10 417 831

Da interpretação da mesma Directiva resulta que, para além das Zonas Sensíveis aprovadas pelo Decreto-
Lei n.º 152/97, devem também ser consideradas as respectivas bacias hidrográficas, ficando as descargas
de águas residuais urbanas provenientes de aglomerações com um e.p. superior a 10 000 nelas efectuadas
sujeitas aos mesmos condicionalismos das descargas directas em Zonas Sensíveis. Daí que se possa falar
no conceito de “bacia sensível”. Neste sentido foram identificadas as bacias drenantes das zonas sensíveis
no Continente que se apresentam na Figura 4.3.9.

13/58 (4 - II)
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Figura 4.3.9 - Zonas Sensíveis e Respectivas Bacias Hidrográficas

Na óptica do Decreto-Lei 152/97 a dimensão da aglomeração e o meio receptor das águas residuais
tratadas é condição para o estabelecimento do grau de tratamento. Na Figura 4.3.10 apresenta-se a
distribuição das aglomerações por tipo de tratamento a que se refere o Quadro 4.3.6.

14/58 (4 - II)
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Figura 4.3.10 - Aglomerações com mais de 2000 e.p. e Tipo de Tratamento de Águas Residuais Urbanas

Drenagem e Tratamento de Águas Residuais Domésticas


Para efeitos de aplicação de D.L. 152/97, entende-se por: Águas Residuais Urbanas as águas residuais domésticas
ou a mistura destas com águas residuais industriais e/ou com águas pluviais (tratadas no ponto anterior) e por
Águas Residuais Domésticas as águas residuais de serviços e de instalações residenciais, essencialmente
provenientes do metabolismo humano e de actividades domésticas.
Sintetiza-se no Quadro 4.3.6. a informação recolhida dos PBH e do INSB/94 sobre os sistemas públicos de
recolha e tratamento de águas residuais domésticas, referente a Dezembro de 1998. A realidade no Continente
traduz-se por uma percentagem de população servida com sistemas de drenagem de 64% e com algum tipo de
tratamento de águas residuais, superior a preliminar, de 42%.
Na Figura 4.3.11 apresentam-se o nível de atendimento com tratamento superior a preliminar e a taxa de remoção
da matéria orgânica biodegradável, expressa em carência bioquímica de oxigénio – CBO5.
A análise do Quadro 4.3.6 e da Figura 4.3.11 permite concluir que as bacias hidrográficas mais carênciadas neste
tipo de infraestruturas são as dos rios Lima e Douro.

15/58 (4 - II)
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Quadro 4.3.6 - Serviço de Drenagem e Tratamento de Águas Residuais Domésticas

População População Servida com Tratamento de Águas Residuais


População Servida com
Plano de Bacia Residente Sistema Público
Hidrográfica Fossa Séptica Primário Secundário Mais Avançado
de Drenagem
(hab.) (hab.) (%) (hab.) (%) (hab.) (%) (hab.) (%) (hab.) (%)
Minho 75 400 23 250 31 890 1 0 0 11 000 15 9 070 12
Lima 203 330 68 320 34 2 420 1 0 0 15 300 8 70 0
Cávado 321 670 128 290 40 20 610 6 926 0 68 410 21 700 0
Ave 661 440 176 470 27 5 720 1 0 0 139 110 21 0 0
Leça 396 250 318 460 80 0 0 166 850 42 95 510 24 0 0
Douro 1 841 100 879 230 48 190 140 10 5 600 0 284 160 15 39 450 2
Vouga 663 240 304 920 46 80 0 71 600 11 186 900 28 13 160 2
Mondego 679 200 436 170 64 110 890 16 1 450 0 274 880 40 1 700 0
Lis 173 780 74 350 43 0 0 770 0 68 540 39 0 0
Rib. Oeste 572 680 396 320 70 14 730 3 12 140 2 102 480 18 25 630 4
Tejo 3 058 190 2 625 430 86 71 870 2 547 640 18 836 310 27 16 760 1
Sado 274 190 236 990 87 9 760 4 110 0 137 800 50 4 190 2
Mira 21 040 15 220 72 270 1 2 670 13 8 150 38 0 0
Guadiana 206 380 171 860 83 14 970 7 6 310 3 70 540 34 47 940 23
Rib. Algarve 326 430 239 890 73 10 0 18 520 6 10 440 49 56 750 17
Total 9 474 320 6 095 170 64 442 360 5 834 586 9 2 309 530 26 215 420 2

a) b)

Figura 4.3.11 - Indicadores Concelhios do Tratamento de Águas Residuais Domésticas


a) Nível de Atendimento com Tratamento Superior a Preliminar
b) Taxa de Remoção de CBO5.

16/58 (4 - II)
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Quadro 4.3.7 – Indicadores de Drenagem e Tratamento de Águas Residuais Domésticas
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
17/58 (4 - II)
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

No Quadro 4.3.7 apresentam-se alguns indicadores sobre o serviço de drenagem e tratamento de águas
residuais domésticas com destaque para os 42% de taxa de atendimento por sistemas de tratamento superior
a preliminar, para além dos já mencionados 64% de população drenada associada ou não a qualquer forma de
tratamento. Separou-se os 9% da população atendida com exutores submarinos para distinguir entre sistemas
de tratamento e rejeição em meios com elevada capacidade de auto-depuração. Como expressão da eficiência
dos sistemas de tratamento destaca-se a taxa de 30% de remoção de carga em CBO5 (ton/ano) separada dos
11% de carga rejeitada nas águas costeiras.
Volumes Rejeitados
Interessa conhecer os volumes rejeitados de águas residuais para avaliar as potencialidades de reutilização e
para introduzir no balanço hídrico o rigor necessário.
Assim, importa avaliar os volumes de águas residuais domésticos produzidos e respectivo grau de
tratamento. No Quadro 4.3.8 apresentam-se estes volumes por tipo de tratamento.

Quadro 4.3.8 - Volumes de Águas Residuais Domésticos Produzidos e Grau de Tratamento


Retorno c/
Retorno c/ Retorno c/ Retorno c/
Plano de População Consumo Retorno s/ Tratamento
Fossa Tratamento Tratamento Retorno Total
Bacia Residente de Água Tratamento mais
séptica Primário Secundário
Hidrográfica Avançado
(hab.) (103m3/ano) (103m3/ano) (103m3/ano) (103m3/ano) (103m3/ano) (103m3/ano) (103m3/ano)
Minho 75 400 3 878 5 124 47 635 306 6 113
Lima 203 330 7 139 7 494 175 5 706 113 8 492
Cávado 321 670 12 348 11 439 828 36 1 963 11 14 277
Ave 661 440 20 924 21 845 222 159 7 199 29 425
Leça 396 250 25 360 9 585 7 733 3 462 20 780
Douro 1 841 100 87 268 58 326 7 457 254 14 339 1 347 81 724
Vouga 663 240 32 129 17 843 241 3 898 8 437 1 145 31 565
Mondego 679 200 35 898 14 416 4 702 158 13 861 141 33 279
Lis 173 780 8 972 4 840 11 53 3 176 8 080
Rib. Oeste 572 680 45 509 31 304 619 611 4 481 1 157 38 171
Tejo 3 058 190 220 768 87 369 3 443 42 190 46 620 962 180 584
Sado 274 190 24 345 10 243 532 34 10 257 496 21 562
Mira 21 040 873 621 48 118 420 1 1 208
Guadiana 206 380 14 465 4 077 886 448 5 558 2 869 13 839
Rib. Algarve 326 430 21 844 6 226 4 882 11 310 3 310 21 733
Total 9 474 320 561 719 290 754 19 214 56 579 132 427 11 859 510 833

O ciclo urbano de água apenas se completa com a rejeição de águas residuais tratadas nos meios receptores e
com a remoção, tratamento e deposição das lamas resultantes do tratamento de águas residuais domésticas.
Estima-se que os volumes e massa dessas lamas atinjam os 6.600 m3/ano e 132.000 ton/ano, respectivamente
(Quadro 4.3.9).
A análise da situação actual sobre a drenagem e tratamento de águas residuais urbanas conduz ao destaque
dos seguintes aspectos:
• São inúmeros os sistemas de drenagem de águas residuais urbanas de pequena dimensão com soluções
de tratamento, não estando, na totalidade, identificados nem caracterizados quanto ao tipo e eficiência
de tratamento das respectivas águas residuais drenadas;
• As soluções integradas, por sectores utilizadores e por soluções físicas, são em reduzido número,
sendo predominantemente as Câmaras Municipais e os Serviços Municipalizados as entidades gestoras
para os sistemas “em baixa” e “em alta”;
• Não existe, de forma sistemática, o controlo e a fiscalização da eficiência dos sistemas de tratamento
com relação às exigências dos meios receptores;

18/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

• Os indicadores que se publicam regularmente sobre o serviço público de atendimento em águas


residuais, com a desagregação concelhia, não exprimem correctamente o estado de cobertura do país,
dado que não reflectem o efeito sobre a qualidade da água dos meios receptores;
• Ainda é significativamente reduzida a taxa de atendimento com serviço de drenagem e tratamento de
águas residuais, sobretudo se esta questão for analisada em termos de remoção de cargas.

Quadro 4.3.9 - Estimativa da Produção de Lamas resultantes do Tratamento de Águas Residuais Domésticas

Carga
LAMAS
Plano de Bacia Hidrográfica VOLUME DE LAMAS (1) específica
Conteúdo em Sólidos
(mm)

Secundárias

Secundárias
(103 m3/ano)

(103 m3/ano)

(103 m3/ano)
População

Vol./ Área
Primárias

Primárias
(ton/ano)

(ton/ano)

(ton/ano)
residente

do PBH
Globais
Global
(1998)
(km2)
Área

Nome

Minho 815 75 500 550 190 740 28 10 37 0.05


Lima 1 568 203 300 470 160 630 23 8 31 0.02
Cávado 1 689 321 700 2 400 820 3 200 120 41 160 0.09
Ave 1 441 661 200 3 800 1 300 5 150 190 65 260 0.18
Leça 220 397 300 6 900 870 7 750 350 44 390 1.77
Douro 18 715 1 840 400 13 600 4 700 18 300 680 230 920 0.05
Vouga 3 524 662 900 7 150 1 850 8 950 360 90 450 0.13
Mondego 6 882 678 700 10 200 3 550 13 800 510 180 690 0.1
Lis 1 046 174 300 1 800 630 2 450 90 31 120 0.11
Ribeiras do Oeste 2 429 572 400 4 050 1 300 5 400 200 65 270 0.11
Tejo 24 742 3 058 500 38 700 8 450 47 100 1 950 420 2 350 0.09
Sado 8 093 274 200 4 000 1 400 5 400 200 70 270 0.03
Mira 1 750 21 200 290 75 370 15 4 18 0.01
Guadiana 11 662 206 100 3 650 1 200 4 900 180 60 250 0.02
Ribeiras do Algarve 3 753 326 500 6 200 2 000 8 200 310 100 410 0.11
Portugal Continental 88 328 9 474 100 103 900 28 400 132 300 5 200 1 400 6 600 0.07

(1) admitindo teor líquido 98%

4.3.2. Usos, Consumos e Necessidades das Actividades Económicas e Sociais


4.3.2.1. Indústria Transformadora
O conhecimento real dos consumos e necessidades de água da indústria é um dos mais difíceis de obter
devido não apenas à complexidade dos processos industriais de utilização de água mas, sobretudo, por não
existir qualquer forma de estatística autónoma que permita este conhecimento.
As principais limitações do conhecimento dos usos, consumos e necessidades de água da indústria centram-
se em: i) falta de dados estatísticos sistemáticos; ii) formas diversas de abastecimento relacionadas com a
localização territorial das indústrias - dispersão nos aglomerados urbanos, agrupados em parques industriais
e isolados nas periferias urbanas ou em espaços rurais; iii) incertezas quanto às tecnologias e processos
industriais, iv); desconhecimento das matérias e substâncias utilizadas.
Para a referenciação dos sectores industriais considerados na análise dos consumos de água, foi mantida, sempre
que possível, a designação dos sectores da CAE (Classificação das Actividades Económicas). Está vigente a sua
segunda revisão (Rev2), conforme definição do D.L. nº 182/93, de 14 de Maio, pretendendo-se evitar assim outras
interpretações.

19/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Captação de Água para Abastecimento à Indústria


Com o objectivo de estimar as quantidades de água utilizada e consumida na indústria, e na falta de informação
precisa fornecida pelo sector industrial (facto que no processo de elaboração dos Planos de Bacia Hidrográfica foi
constatado por todos os Consórcios), recorreu-se a distintos métodos indirectos para avaliação das necessidades e
consumos de água, nomeadamente, em função da área ocupada; do número de trabalhadores, ou da unidade de
matéria prima ou produto.
Principais Sectores Utilizadores e Dotações
Os sectores de actividade industrial que maior pressão exercem sobre os recursos hídricos são os que englobam as
indústrias mais consumptivas ou que rejeitam maior quantidade de carga poluente, ou, ainda, que rejeitam
substâncias perigosas – efluentes tóxicos, perigosos e bio-acumuláveis.
Pela análise dos consumos de água na indústria e das cargas rejeitadas resulta com evidência que os sectores de
actividade económica que maior pressão exercem sobre os recursos hídricos são:
• Indústrias alimentares e das bebidas (CAE 15)
• Fabricação de têxteis (CAE 17)
• Indústrias de madeiras e da cortiça (CAE 20)
• Fabricação de pasta de papel e cartão (CAE 21)
• Fabricação de produtos químicos (CAE 24)
• Indústrias metalúrgicas de base (CAE 27 )
A Figura 4.3.12, produzida a partir dos volumes anuais dos consumos de água por sectores de actividade
económica, reflecte esta conclusão.
160 000

140 000

120 000

100 000
hm3

80 000

60 000

40 000

20 000

CAE 15 CAE 17 CAE 19 CAE 21 CAE 23 CAE 24 CAE 26 CAE 27 CAE 28 CAE 29 CAE 31 Outros
Indústrias Fabricação de Curtimenta e Fabricação de pasta, Fabricação do Fabricação de Fabricação de Indústrias Fabricação de Fabricação de Fabricação de
alimentares e das têxteis acabamento de peles de papele cartão coque, pro dutos produto s químicos outros produtos metalúrgicas de produtos metálicos máquinas e máquinas e
bebidas sem pêlo (...) (...) petrolífero s (...) minerais não base (...) equipamentos aparelhos (...)
metálicos

Figura 4.3.12 - Principais Sectores de Actividade Industrial Consumidoras de Águas (hm3 médios anuais)

Os valores médios anuais dos consumos estão dependentes do nº de dias de laboração: onde se utilizam as
dotações diárias foram considerados 250 dias de laboração anual para todas as unidades industriais de todos os
sectores da CAE, com excepção de três: produção de azeite e indústria do vinho, 60 dias e fabricação de pasta de
papel e cartão, excepto canelado, 350 dias.
Os coeficientes utilizados como dotações para cada sector industrial da CAE encontram-se em Anexo.

20/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Consumos e Necessidades de Água


Como atrás se justificou, considera-se neste capítulo que os consumos e as necessidades de água da Indústria
assumem os mesmos valores.
Obtiveram-se os valores dos consumos de água para a indústria que se apresentam no Quadro 4.3.10
desagregados por bacia hidrográfica e que atingem os 385 hm3 médios anuais.
As necessidades das industrias são satisfeitos a partir de três soluções típicas:
• Captações próprias
• Abastecimento a partir das redes públicas
• Captações próprias e rede pública.

Quadro 4.3.10 - Consumos Médios Anuais de Água da Indústria (dam3)


Actividade Industrial R.
Total Minho Lima Cávado Ave Leça Douro Vouga Mondego Lis R. Oeste Tejo Guadiana Sado Mira
CAE Designação Algarve

13 Extracção e preparação de minérios metálicos 1 800 1 800


14 Outras indústrias extractivas
15 Indústrias alimentares e das bebidas 78 370 80 410 1 080 400 3 470 5 080 1 850 1 020 140 2 880 36 270 860 24 030 70 730
17 Fabricação de têxteis 15 420 4 970 5 860 1 000 1 390 100 40 6 050 2 4
18 Indústria do vestuário; preparação (...) 680 2 40 20 620 2
19 Curtimenta e acabamento de peles sem pêlo (...) 7 320 1 2 3 420 360 50 1 3 490
20 Indústria da madeira e da cortiça (..) 1 030 3 9 10 470 20 10 490 20
21 Fabricação de pasta, de papele cartão (...) 150 800 9 730 4 1 1 300 25 620 69 810 5 19 540 600 24 190
22 Edição, impressão e reprodução (...) 2 010 90 140 100 1 180 6 70 340 80
23 Fabricação do coque, produtos petrolíferos (...) 10 390 5 840 70 4 470 10
24 Fabricação de produtos químicos 37 770 9 50 140 4 360 130 60 10 540 28 370 4 060 40
25 Fabricação de art. de borracha e de mat. plásticas 440 8 1 140 100 50 140 1
26 Fabricação de outros prod. minerais não metálicos 8 140 5 5 30 80 30 5 350 180 50 110 90 1 210 1 000
27 Indústrias metalúrgicas de base 43 360 1 320 150 1 290 840 20 7 40 720 9
28 Fabricação de produtos metálicos (...) 9 780 2 130 170 760 490 3 980 130 1 1 20 3 910 10 180
29 Fabricação de máquinas e equipamentos 4 530 40 360 120 2 640 100 210 880 180
31 Fabricação de máquinas e aparelhos (...) 5 610 30 50 140 4 310 20 20 1 030 10
33 Fabricação aparelhos instrumentos médicos (...)
34 Fabricação de veículos automóveis, reboques (...) 20 18
35 Fabricação de outro material de transporte (...) 4 030 3 50 10 2 640 50 1 210 60 10
36 Fabricação de mobiliário; outras indústrias (...) 2 930 50 6 220 8 1 600 970 80
37 Reciclagem 30 1 4 20 1 2
40 Produção e distribuição de electricidade (...) 190 1 50 140 3
45 Construção 710 710 1
50 Comércio, manutenção e reparação (...) 1 1
Total 385 360 120 10 280 2 740 7 960 16 070 34 440 28 400 71 040 410 3 850 146 580 3 260 57 820 70 2 360

160

140
Consumos Industriais (hm3/ano)

120

100

80

60

40

20

0
Douro
Minho

Cávado

Vouga

Mondego

Sado

Mira

Rib. Algarve

Madeira
Açores
Ave

Leça

Tejo

Guadiana
Lis
Lima

Rib. Oeste

Figura 4.3.13 - Distribuição Espacial dos Consumos Médios Anuais de Água da Indústria

21/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

No Quadro 4.3.11 apresentam-se os valores estimados para os consumos do sector industrial por tipo de origem
de abastecimento. Verifica-se que dos 385 hm3 médios anuais consumidos pela indústria cerca de 323 hm3
provêem de origens próprias e apenas 62 hm3 da rede pública e que há uma repartição em partes quase iguais
entre águas de origem superficial e subterrânea.
A distribuição espacial das necessidades de água para a indústria é apresentada nas figuras 4.3.14 e 4.3.15.

Quadro 4.3.11 - Consumos de Água da Indústria por Tipo de Origem de Abastecimento


Origens Próprias Rede Pública
Total
Total 1 Superficiais Subterrâneas Total 2 Superficiais Subterrâneas
Minho 124 47 5 42 77 33 44
Lima 10 277 9 329 9 037 292 947 190 758
Cávado 2 726 1 072 107 965 1 654 1 595 59
Ave 7 957 4 957 496 4 462 3 000 2 874 126
Leça 16 078 5 933 593 5 340 10 145 10 145
Douro 34 427 25 197 2 520 22 677 9 230 5 547 3 683
Vouga 28 385 26 565 23 262 3 302 1 820 1 052 768
Mondego 71 039 70 101 65 770 4 331 937 369 569
Lis 410 261 26 235 149 25 124
Rib. Oeste 3 841 2 859 286 2 573 982 589 393
Tejo 146 565 119 498 30 020 89 478 27 067 15 382 11 685
Guadiana 3 263 3 117 2 266 851 146 69 77
Sado 57 816 53 122 33 091 20 031 4 694 736 3 958
Mira 66 66 30 36
Rib. Algarve 2 356 1 213 121 1 092 1 143 181 962
Totais 385 332 323 272 167 600 155 672 62 060 38 817 23 243

Necessidades de Água (dam3)


0 - 100
101 - 200
201 - 500
501 - 1000
1001 - 2000
2001 - 5000
5001 - 10000
10001 - 20000
20001 - 30000
30001 - 70000

Figura 4.3.14 - Distribuição Espacial dos Consumos Médios Anuais da Indústria por Concelho

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Da análise dos elementos disponíveis concluiu-se que, em termos nacionais, o sector de actividade mais
consumidor de água é a produção de pasta de papel e cartão com 150 hm3 médios anuais e que apenas quatro
sectores de actividade industrial consomem 80% do valor total, que 8 atingem os 90% e que 11 deles, com
um consumo total de 370 hm3, atingem os 96% do consumo total nacional.
Estes consumos localizam-se sobretudo nas bacias hidrográficas dos rios Tejo, Mondego, Sado, Douro,
Vouga e Leça, dos quais se destacam o Tejo com 147 hm3 e o Mondego com 71 hm3 médios anuais.
Rejeição de Águas Residuais Industriais
Drenagem de Águas Residuais Industriais
Os sistemas de drenagem de águas residuais industriais consideram-se divididos em três tipos:
• Sistema Próprio - Unidades industriais que possuem sistemas de tratamento próprio e
descarregam os efluentes nas linhas de água, solo ou mar.
• Sistema Público - Unidades industriais sem tratamento próprio e que estão ligadas a colectores
municipais e ETAR municipais e unidades industriais com sistema de tratamento próprio mas
que descarrega o efluente final em colectores e/ou ETAR municipal.
• Descarga Livre - Unidades industriais que não possuem sistemas de tratamento de efluentes
próprio e que descarregam os efluentes nas linhas de água, terrenos próprios, mar, etc., e as
unidades industriais sem qualquer tipo de informação quanto ao sistema de drenagem utilizado.
No Quadro 4.3.12 apresenta-se o número de empresas por tipo de sistemas de drenagem, por Bacia
Hidrográfica e por CAE.

Público
1,680

2,760
300

Livre

Próprio

Figura 4.3.15 - Unidades Industriais e Tipo de Sistema de Drenagem

Realça-se o facto, expresso na Figura 4.3.15, de disporem de sistema próprio cerca de 300 unidades
industriais contrastando com as cerca de 2.800 unidades com descarga livre num universo de 4.740
unidades identificadas. Os sistemas públicos são utilizados por 1.680 unidades industriais.
A distribuição espacial observável na Figura 4.3.16 revela que é nas bacias hidrográficas dos rios Ave e
Leça onde se registam maior número de casos em que as unidades industriais descarregam livremente
para os meios hídricos ou para os solos. Nas bacias hidrográficas dos rios Vouga, Lis e Sado verifica-se
uma maior utilização dos sistemas públicos para a drenagem das águas residuais industriais.
Com base nos mesmos dados, estão identificados, por bacia hidrográfica e por tipo de sistema de
drenagem, as Classes de Actividade Económica que são responsáveis pela maior carga poluente gerada e
afluente às linhas de água. Naqueles quadros estão consideradas as unidades industriais que totalizam
80% da carga gerada e afluente às linhas de água em função dos parâmetros CBO5, CQO e SST.
A metodologia de cálculo para as cargas geradas e afluentes às linhas de água é apresentada ponto
6.3.1. Cargas Geradas e Afluentes aos Meios Hídricos, sendo que para a maior parte das indústrias o
cálculo das cargas foi feito em função da CAE e do número de trabalhadores.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
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PLANO NACIONAL DA ÁGUA

USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA


a) b) c)

Figura 4.3.16.- Número de Unidades Industriais e Tipo de Sistema de Drenagem por Concelho
a) Sistema Próprio, b) Sistema Público, c) Descarga Livre
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Quadro 4.3.12 – Número de Unidades Industriais por Tipo de Sistema de Drenagem e CAE
Bacia Hidrográfica
CAE R. Total
Minho Lima Cávado Ave Leça Douro Vouga Mondego Lis R Oeste Tejo Sado Mira Guadiana
Algarve
15 18 3 3 2 18 42 56 7 149
17 9 2 2 2 15
18 0
19 0
20 1 1 2 1 5
21 2 6 8
22 0
Sistema Próprio

24 5 4 8 17
25 0
26 2 1 4 47 11 65
27 2 10 12
28 4 1 3 1 9
29 3 1 2 6
31 5 5
34 2 1 2 5
35 1 1
36 0
Sub total 0 22 12 14 14 30 0 0 0 0 83 0 0 103 19 297
15 4 2 3 2 23 79 30 142 27 84 1 31 15 443
17 2 5 2 5 5 4 1 24
18 1 1
19 1 5 1 1 8
20 6 11 1 18 4 9 49
21 16 1 2 1 2 0 22
22 5 1 2 5 3 57 13 15 101
Sistema Público

24 2 3 2 39 12 1 18 11 1 89
25 0
26 7 126 38 178 1 26 2 12 6 396
27 2 14 2 5 5 28
28 13 1 3 4 68 1 37 5 146 7 43 2 330
29 1 2 1 1 28 4 31 22 1 91
31 2 1 10 3 14 3 33
34 1 16 4 14 4 39
35 1 13 6 20
36 2 1 1 2 6
Sub total 34 2 6 12 14 44 419 88 360 0 74 422 12 145 48 1 680
15 10 29 38 46 28 146 51 63 7 80 86 19 108 52 763
17 1 35 93 39 2 1 13 1 13 1 3 202
18 1 0 1
19 4 4 2 1 0 11
20 15 2 13 8 38
21 4 2 10 3 1 3 1 1 0 25
22 3 1 19 43 65 3 25 159
Descarga Livre

24 6 2 3 19 16 6 11 33 23 9 7 7 142
25 2 4 1 0 7
26 13 3 56 12 12 11 15 65 60 10 14 10 4 32 317
27 1 2 1 10 10 2 2 2 2 32
28 26 12 33 132 117 4 44 10 99 6 52 7 6 48 596
29 3 37 102 95 11 6 3 14 2 27 300
31 2 2 12 24 1 1 4 1 12 59
34 2 2 2 19 19 2 5 4 5 7 2 69
35 1 2 4 3 3 1 2 16 32
36 6 1 0 7
Sub total 68 58 231 500 435 211 133 189 195 0 137 207 39 123 234 2 760
Total 102 82 249 526 463 285 552 277 555 0 294 629 51 371 301 4 737

Volumes de Águas Residuais Industriais


Embora faça todo o sentido que os sistemas de drenagem e tratamento tenham a maior integração física e
sectorial, por razões de racionalidade e gestão económico-financeira e em muitos casos de processo de
tratamento, o facto é que tais atribuições não se encontram explicitamente expressas na legislação. Também
não está criado o quadro legal que implique esta racionalidade mesmo para as unidades industriais localizadas
foras da malha urbana.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Limites PBH’s
Indústria - Efluente
Gerado (dam3/ano)
30 - 1 150

1 150 - 3 880

3 880 - 11 200

11 200 - 23 700

23 700 - 55 800

Figura 4.3.17 - Distribuição Espacial dos Volumes Médios Anuais de Águas Residuais Industriais

As águas residuais das suiniculturas e dos lagares de azeite são dois casos bem paradigmáticos desta questão.
A distribuição espacial de base concelhia apresenta-se na Figura 4.3.17 assumindo maior expressão os valores das
manchas industriais do Vale do Tejo e nas zonas litorais, designadamente entre Viana do Castelo e Aveiro.
A análise foi efectuada para os parâmetros CBO5, CQO e SST e encontra-se apresentada com desagregação por
bacia hidrográfica em relatórios de base de apoio ao PNA.
Tendo em vista o balanço hídrico, no Quadro 4.3.13 apresentam-se os volumes de águas residuais rejeitados pelas
unidades industriais por bacia hidrográfica com base nos volumes utilizados.
Em resumo, a análise da situação actual a nível nacional dos usos, consumos e necessidades de água do sector
industrial, conduz-nos a destacar o seguinte:
• A actividade industrial utiliza recursos hídricos como origem e destino final para suprir as suas
necessidades incorporando ou não parte desses recursos nos seus produtos;
• A esmagadora maioria das unidades industriais, ao localizar-se na malha urbana, utiliza água da rede
pública com a qualidade correspondente à do consumo humano, que exige elevados padrões de qualidade,
garantia de quantidade e protecção de origens que as utilizações industriais não carecem. Contudo, são
apenas 11 os sectores de actividade industrial que consomem 96% da totalidade da água utilizada pela
indústria, destacando-se as indústrias de fabricação de pasta de papel e cartão e as unidades alimentares e
das bebidas.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

• A localização das actividades industriais, grandes consumidoras de água, tem um ajustamento problemático
em relação à garantia de água para a sua laboração e à capacidade do meio receptor para a rejeição de águas
residuais, com destaque para locais na região do Vale do Tejo e no litoral Norte, neste caso os rios Ave e
Leça;
• São em número elevado, ainda, as unidades industriais identificadas com descarga livre para os meios
hídricos e solos com relevância para as bacias hidrográficas dos rios Ave e Leça;
• Tanto a avaliação das causas da qualidade da água e da análise económica das utilizações da água como a
determinação das garantias das origens de água, através do balanço hídrico, tornam-se pouco precisas, na
medida em que se desconhece, de forma sistemática e rigorosa, a sazonalidade dos consumos e
necessidades de água da indústria bem como das substâncias que rejeitam nos meios receptores, ou, ainda,
dos custos de investimentos, exploração e manutenção relativos aos recursos hídricos na actividade
industrial.

Quadro 4.3.13 - Volumes Médios Anuais de Águas Residuais Industriais (dam3)


Actividade Industrial R.
Total Minho Lima Cávado Ave Leça Douro Vouga Mondego Lis R. Oeste Tejo Guadiana Sado Mira
CAE Designação Algarve

13 Extracção e preparação de minérios (...) 1 533 1 533


14 Outras indústrias extractivas 0 0 0
15 Indústrias alimentares e das bebidas 66 315 67 350 915 337 2 953 4 317 1 483 819 115 2 303 30 829 729 20 422 57 619
17 Fabricação de têxteis 13 848 3 0 870 5 274 896 1 247 76 31 5 445 2 4
18 Indústria do vestuário; preparação (...) 615 2 35 16 561 1
19 Curtimenta e acabamento de peles sem pêlo (...) 5 863 1 1 2 739 291 42 0 0 0 2 789
20 Indústria da madeira e da cortiça (..) 730 2 6 9 330 16 11 343 13
21 Fabricação de pasta, de papele cartão (...) 126 181 0 8 758 0 3 1 1 166 20 499 55 850 4 0 17 588 540 21 772 0 0
22 Edição, impressão e reprodução (...) 1 795 0 80 127 94 1 063 4 54 305 68
23 Fabricação do coque, produtos petrolíferos (...) 9 347 5 254 64 4 020 9
24 Fabricação de produtos químicos 28 353 7 40 103 3 269 100 45 9 427 21 274 3 046 33
25 Fabricação de artigos de borracha e de (...) 367 7 1 123 82 38 115 1
26 Fabricação de outros produtos minerais (...) 7 275 4 5 27 75 29 4 812 146 36 85 74 1 085 0 897
27 Indústrias metalúrgicas de base 39 011 0 283 132 1 165 754 13 6 36 650 8
28 Fabricação de produtos metálicos (...) 8 789 2 115 153 687 437 3 583 100 1 1 17 3 520 12 161
29 Fabricação de máquinas e equipamentos 4 034 0 37 324 104 2 373 76 167 789 0 164
31 Fabricação de máquinas e aparelhos (...) 5 331 26 50 136 4 093 16 18 982 10
33 Fabricação de aparelhos e instrumentos (...) 0 0
34 Fabricação de veiículos automóveis (...) 17 17
35 Fabricação de outro material de transporte (...) 3 822 2 45 12 2 506 37 1 147 60 13
36 Fabricação de mobiliário; outras indústrias (...) 2 786 45 5 213 7 1 517 922 77
37 Reciclagem 27 1 3 21 1 1
40 Produção e distribuição de electricidade (...) 171 1 45 123 2
45 Construção 640 640 0
50 Comércio, manutenção e reparação (...) 1 0 1

Total 326 851 98 9 228 2 397 7 142 13 940 30 305 22 707 56 831 329 3 073 125 587 2 803 50 275 57 2 079

4.3.2.2. Rega
Dado não existir um controlo sistemático da água utilizada pelos diferentes sectores, a estimativa das
necessidades e consumos de água para rega só pode ser efectuada a partir de métodos indirectos: balanços
hidrológicos do solo relativos às culturas a beneficiar. Para realizar esta avaliação é necessário um
levantamento, à escala nacional, das áreas de regadio existentes, dos tipos de culturas nelas praticados, dos
sistemas de rega existentes e respectivas eficiências e das origens da água utilizada.
Numa perspectiva de enquadramento geral, apresenta-se no Quadro 4.3.14 uma síntese da ocupação do solo
no território continental português.
A partir dos dados de base fornecidos pelas entidades produtoras: Instituto Nacional de Estatística (INE),
para os dados referentes ao Recenseamento Geral da Agricultura – 1989, e Instituto de Hidráulica,
Engenharia Rural e Ambiente (IHERA) para os outros dados relativos à agricultura em Portugal.
Os dados do INE estão discretizados por concelho e os do IHERA são apresentados por concelho ou por
“Regiões Agrárias”.

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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Quadro 4.3.14 - Ocupação do Solo do Continente


ÁREA
CULTURAS
(ha)
Cereais 1 032 000
Culturas Hortícolas, horto-industriais e florícolas 334 700
temporárias
Industriais 61 800
1 484 000 Sementes 7 500
Forragens 48 000
Área Cultivada
Produtiva Pomares de fruta fresca 90 900
5 802 700 232 600
de frutos secos 141 700
7 152 700 Culturas Arbórea e arbustivas
permanentes 914 800 Vinha 381 900
Olival 300 000
4 318 700
Viveiros 300
Matas e florestas 3 403 900
Pousios, prados, pastagens naturais e outras utilizações 1 350 000
Área Área social 340 000
Improdutiva
1 740 000 Incultos 1 400 000

TOTAL 8 892 700

Fonte: Raposo, 1994.

Figura 4.3.18 - Regiões Agrárias e Zonas Agro-Ecológicas


(Adaptado de LEAL, 1995)

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Superfícies com Aptidão para Rega e Equipadas


A quantificação da área com Aptidão ao Regadio é apresentada em Gonçalo Leal (1995) com uma
desagregação a nível de concelho.
A metodologia de cálculo das superfícies com aptidão para o regadio vem descrita no trabalho anteriormente
referido e teve por base a cartografia de solos, à escala 1/25000, elaborada pelo ex-SROA. Uma síntese
destes valores é apresentada no Quadro 4.3.15.

Quadro 4.3.15 - Áreas com Aptidão para Regadio e Áreas Equipadas por Região Agrária

ÁREAS EQUIPADAS
ÁREAS
REGIÃO AGRÁRIA COM QCA II: QCA II:
APTIDÃO QCA II: Novos
RGA 89 PEDAP (89/94) Pequenos Beneficiação TOTAL
Reg. Colectivos
Regadios Reg. Trad.
Entre Douro e Minho 315 020 225 510 940 0 1 240 3 020 230 720
Trás-os-Montes 208 570 87 750 4 950 2 820 2 040 1 010 98 570
Beira Interior 216 250 112 730 5 940 350 2 800 540 122 360
Beira Litoral 385 980 155 930 350 3 020 2 350 1 040 162 690
Ribatejo e Oeste 555 590 144 700 5 160 110 14 610 210 164 790
Alentejo 995 760 110 750 4 980 400 45 620 20 161 770
Algarve 128 860 34 220 1 140 8 160 3 010 10 46 540
Total do Continente 2 806 030 871 590 23 460 14 860 71 670 5 850 987 440

As estimativas das áreas equipadas para o regadio foram feitas na unidade geográfica do concelho, pois é a
esse nível que a quase totalidade dos dados se encontra disponível. Para a sua determinação, considerou-se
que a situação actual corresponde à soma das áreas regadas, por concelho, constantes nos dados fornecidos
pelo Recenseamento Geral Agrícola de 1989 (RGA/89), às quais se acrescentaram as áreas equipadas no
Programa Específico de Desenvolvimento Agrícola de Portugal (PEDAP) no período 89-94, e as áreas
equipadas no 2º Quadro Comunitário de Apoio, decorrente entre 1994 e 1999.
Definiu-se “área irrigável” com a área para a qual: a) existem infraestruturas de rega, b) o terreno está
convenientemente adaptado ao regadio, c) existe água suficiente (LEAL, G., 1995). Para evitar possíveis
confusões entre as designações “área irrigável” e “área regada”, optou-se no presente documento pela
designação “área equipada”.
A análise destes valores globais mostra que actualmente estão equipados e susceptíveis de serem regados
cerca de 988.000 ha, ou seja, menos de 35% dos áreas com aptidão para o regadio. Quando se analisam os
valores a nível de região agrária torna-se evidente que esta percentagem decresce de Norte para Sul.
O regadio em Portugal é essencialmente de natureza privada tendo presente que dos 988.000 ha identificados
apenas 124.000 ha são perímetros de rega cuja beneficiação foi promovida pelo Estado e, por isso, também
considerados por perímetros públicos ou do Estado, embora os proprietários das terras sejam quase
exclusivamente privados.
No Quadro 4.3.16, apresentam-se estes mesmos valores, agregados por bacias hidrográficas, onde se
evidencia um maior aproveitamento dos solos com aptidão ao regadio nas zonas do país onde ocorre uma
maior abundância de recursos hídricos. As bacias hidrográficas onde se registe menor aproveitamento dos
solos com aptidão ao regadio são as dos rios Guadiana, Sado e ribeiras do Oeste.
Após a realização da estimativa irrigáveis, foram tornados públicos pelo Instituto Nacional de Estatística, em
Junho de 2001, os dados referentes ao Recenseamento Geral Agrícola de 1999 e disponibilizados pelo
MADRP novos valores de necessidades de água para rega que são inferiores aos apresentados. Dado que
todo o trabalho do Capítulo - II Caracterização e Diagnóstico da Situação actual dos Recursos Hídricos já se
encontrava concluído, optou-se por manter inalterada esta avaliação e proceder a ajustamento no Tema 5 –
Recursos Hídricos ao nível dos balanços por bacia hidrográfica e usado a informação mais actualizada no
Capítulo III - Cenários de Evolução Sócio-Económica e Principais Pressões sobre os Recursos Hídricos.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Quadro 4.3.16 - Áreas com Aptidão para Regadio e Áreas Equipadas, por Bacia Hidrográfica

Área com Aptidão para Área


Bacia Hidrográfica Percentagem
Regadio Equipada
Minho 20 310 16 180 80%
Lima 38 660 32 070 83%
Cávado 56 820 41 680 73%
Ave 81 400 54 770 67%
Leça 14 830 5 790 39%
Douro 395 840 216 920 55%
Vouga 142 190 58 440 41%
Mondego 226 940 102 700 45%
Lis 22 200 6 520 29%
Ribeiras do Oeste 132 410 19 740 15%
Tejo 798 090 276 110 35%
Sado 350 270 56 350 16%
Mira 21 400 12 030 56%
Ribeiras do Algarve 117 140 37 180 32%
Guadiana 387 520 50 980 13%
Continente 2 806 020 987 460 35%

Ocupação Cultural Tipo


A análise das características climatológicas do País permite verificar que, na maior parte do território
continental de Portugal, os valores da evapotranspiração potencial anual média excedem os valores
precipitação anual média (Fig. 4.3.19).

a) b)
Figura 4.3.19 - Zonas Agro-Ecológicas Consideradas para o Cálculo das Necessidades Reais de Água para Rega.
a) Relação Precipitação/Evapotranspiração; b) Regiões Analisadas
(Adaptado de LEAL, 1995)

30/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

A norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela, com excepção da região Nordeste de Trás-os-Montes,


verifica-se a ocorrência de valores médios de precipitação superiores ao da evapotranspiração potencial; no
restante território verificam-se valores deficitários.
Para calcular as necessidades de água para rega, LEAL. G. considerou o país dividido “em dez regiões
que apresentam características agro-ecológicas suficientemente próximas de forma a poderem ser
tratadas como homogéneas, tanto do ponto de vista climático como agrícola, fazendo coincidir os
respectivos limites com os da divisão administrativa dos concelhos.” As dez regiões escolhidas podem
ser observadas na Figura 4.3.19.
No Quadro 4.3.17 podem observar-se a área ocupada por cada cultura regada, expressa em percentagem
da área regada total de cada região agro-ecológica.

Quadro 4.3.17 - Ocupação Cultural da Área Regada por Região Agro-Ecológica (%)

CULTURAS

FORRAGEM

CULTURAS
POMAR DE
REGIÃO

POMARES
CITRINOS
BATATA

OUTROS

OUTRAS
TOTAL

OLIVAL
PRADO
MILHO

AGRO-ECOLÓGICA

1 Noroeste 39 8 16 11 26 100
2 Terra Fria 14 21 8 52 1 5 100
3 Alto Douro 20 25 11 12 13 4 16 100
4 Beira Alta 30 21 15 13 6 15 100
5 Beira Litoral 40 15 13 3 3 27 100
6 Beira Interior 29 9 27 7 14 14 100
7 Ribatejo 27 2 10 6 14 41 100
8 Oeste 22 4 7 5 28 36 100
9 Alentejo 20 12 6 11 2 49 100
10 Algarve 8 60 10 23 100

Fonte: Leal G., 1995

Tipos de Rega, Dotações e Eficiências de Rega


Ao nível de planeamento, conhecidas as áreas de regadio, os tipos de rega e as culturas praticadas
representativas dessas áreas, estabelecem-se as dotações e a eficiência da rega para obter os consumos e
necessidades de água para rega.
São as dotações e as eficiências de rega que maiores incertezas introduzem no cálculo das necessidades
de água para regadio.
Por um lado, as dotações necessárias ao desenvolvimento óptimo das plantas são dependentes dos
métodos de aplicação da água nas plantas, do tipo de solo, de cultura e das variáveis climáticas. Por
outro, as dotações que importa considerar na gestão dos recursos hídricos devem ser reportadas às
captações no meio hídrico e nelas incluir-se as perdas totais nos sistemas de transporte, distribuição e
aplicação da água. Estas perdas traduzem-se pela eficiência global de rega.
As eficiências globais de rega, apresentadas no Quadro 4.3.18, foram estabelecidas com o acordo do
Instituto de Hidráulica, Engenharia Rural e Ambiente, mas não sendo ainda possível conhecer
actualmente, com o detalhe necessário o tipo de rega, transporte e distribuição nas diferentes regiões,
adoptaram-se nos cálculos efectuados as eficiências de rega apresentadas no Quadro 4.3.19.

31/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Quadro 4.3.18 – Eficiências Globais de Rega por Tipo de Rega e Transporte e Distribuição

Transporte e Transporte em Canal e Transporte e Transporte em


Distribuição Distribuição em Distribuição em Conduta e
em Canal Conduta Conduta Distribuição em Canal
Aplicação por Gravidade
Regadio de grande dimensão
Regadio de média dimensão 0,40 0,45 0,50 0,50
Regadio de pequena dimensão 0,40 0,50 0,50 0,40
Regadio de muito pequena dimensão 0,55 0,55 0,55 0,55
Aplicação por Aspersão
Regadio de grande dimensão
Regadio de média dimensão 0,50 0,55 0,55 0,60
Regadio de pequena dimensão 0,50 0,65 0,65 0,50
Regadio de muito pequena dimensão 0,70 0,70 0,70 0,70
Aplicação Localizada
Regadio de grande dimensão
Regadio de média dimensão 0,60 0,65 0,75 0,70
Regadio de pequena dimensão 0,55 0,75 0,75 0,55
Regadio de muito pequena dimensão 0,85 0,80 0,80 0,80

Quadro 4.3.19 - Tipo de Eficiências de Rega

Região Eficiência Global


Norte do rio Tejo 60%
Sul do rio Tejo 65%
Algarve 75%

Necessidades de Água para Regadio


Dada a impossibilidade de obter por métodos directos a quantidade de água utilizada no regadio, optou-se
por calcular este valor multiplicando a área equipada (expressa em hectares) pelas necessidades reais de água
para rega (m3/ha.ano) relativas às culturas agrícolas mais comuns para as diferentes regiões do país e
afectando o valor obtido das eficiências globais de regadio.
A metodologia de cálculo da área de regadio equipada foi descrita no número anterior e para a espacialização
por concelho recorreu-se a metodologias apresentadas em Anexo.

Quadro 4.3.20 - Áreas Equipadas e Áreas Regadas, em 1989, por Região Agrária

Área Área
Região Agrária Percentagem
Equipada Regada
Entre Douro e Minho 225 510 178 440 79%
Trás-os-Montes 87 750 59 610 68%
Beira Interior 112 730 70 720 63%
Beira Litoral 155 930 125 770 81%
Ribatejo e Oeste 143 480 103 450 72%
Alentejo 111 980 63 500 57%
Algarve 34 220 24 500 72%
Continente 871 600 625 990 72%
Fonte: RGA/89.

32/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Os únicos dados encontrados relativos a esta análise são os que constam do RGA/89. No Quadro 4.3.20 são
apresentadas os valores relativos a 1989 das áreas equipadas e efectivamente regadas, agrupados por Regiões
Agrárias. Não dispondo de valores mais actualizados, para efeitos de planeamento optou-se por considerar
que, são regadas 75% das áreas equipadas. Este valor foi utilizado para calcular os consumos de água na
agricultura para o ano em análise (1999).
Numa tentativa de definir a distribuição espacial das áreas regadas elaborou-se, a partir de cartas de
ocupação do solo, o mapa das áreas regadas que se apresenta na Figura 4.3.20.

Figura 4.3.20 - Carta da Áreas Regadas

Leal. G (1995) calculou as necessidades úteis de água de rega (“quantitativos de água a aplicar no somatório
de todas as regas durante o período vegetativo, destinados a compensar apenas as perdas por
evapotranspiração”). Os resultados encontram-se sumariados no Quadro 4.3.21.

33/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Quadro 4.3.21 - Necessidades Úteis de Água das Culturas em Ano Médio (m3/ha.ano)

CULTURAS

FORRAGEM

CULTURAS
REGIÃO

POMAR DE

POMARES
CITRINOS
TOTAL

BATATA

OUTROS

OUTRAS
OLIVAL
PRADO
MILHO
AGRO-ECOLÓGICA

1 Noroeste 3915 3520 4040 4680 3915 3990


2 Terra Fria 6050 6000 4410 7600 7545 7600 6800
3 Alto Douro 5460 3540 3950 5630 5675 2490 5460 4755
4 Beira Alta 4420 4600 3765 5630 5670 4420 4585
5 Beira Litoral 5420 3665 5310 7815 7930 5420 5290
6 Beira Interior 6020 5040 4300 6500 7480 6020 5695
7 Ribatejo 6310 5600 5450 8800 4875 6310 6145
8 Oeste 5605 6050 4825 8565 6570 6570 6320
9 Alentejo 6450 5960 10635 8710 3600 6450 6815
10 Algarve 6570 8260 9750 8260 8280

Fonte: Leal, 1995


Quadro 4.3.22 - Consumos, Necessidades e Retornos
Áreas de Eficiência
Bacia Hidrográfica Dotação Necessidades Consumos Retornos
Regadio Global
3 3 3
(ha) (m /ha) (%) (hm /ano) (hm /ano) (hm3/ano)
Minho 16 175 3 990 60% 105 80 15
Lima 32 070 4 010 60% 215 160 30
Cávado 41 680 4 550 60% 315 235 50
Ave 54 770 3 990 60% 365 275 55
Leça 5 785 3 990 60% 40 30 5
Douro 216 920 4 960 60% 1 795 1 345 270
Vouga 58 440 4 870 60% 475 355 70
Mondego 102 700 4 870 60% 830 625 125
Lis 6 520 6 310 60% 70 50 10
Rib. do Oeste 19 740 6 300 60% 205 155 30
Tejo 276 105 6 010 62% 2 655 1 990 400
Sado 56 345 6 790 65% 590 440 90
Mira 12 030 6 820 65% 125 95 20
Guadiana 50 980 7 050 67% 535 400 80
Rib. do Algarve 37 175 8 240 75% 410 305 60
TOTAL 987 435 5 510 62% 8 730 6 540 1 310

Áreas de Eficiência
Região Agrária Dotação Necessidades Consumos Retornos
Regadio Global
3 3 3
(ha) (m /ha) (%) (hm /ano) (hm /ano) (hm3/ano)
Entre Douro e Minho 230 720 4 120 60% 1 585 1 190 240
Trás-os-Montes 98 570 5 775 60% 950 710 145
Beira Litoral 162 685 4 990 60% 1 355 1 015 205
Beira Interior 122 355 5 100 60% 1 040 780 155
Ribatejo e Oeste 164 790 6 160 63% 1 625 1 220 245
Alentejo 161 770 6 725 65% 1 675 1 255 250
Algarve 46 540 8 210 75% 510 380 75
TOTAL 987 430 5 510 62% 8 740 6 550 1 315

34/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

No cálculo das necessidades de água para rega considerou-se que toda a área equipada é regada com as
dotações e eficiências actuais, anteriormente definidas. Na avaliação dos consumos, assumiu-se que somente
75% da área equipada é efectivamente regada.
Os resultados estão resumidos, por bacia hidrográfica e por região agrária, no Quadro 4.3.22.
Os valores referentes ao sector agricultura não reflectem os resultados mais actuais decorrentes do RGA 99
por estes terem sido disponibilizados pelo MADRP depois de concluídos os trabalhos de avaliação deste
tema embora tenham sido tidos em conta nos balanços apresentados no tema 5 - Recursos Hídricos.
Áreas de Regadio por Tipo de Origem
Para avaliar a situação actual quanto à garantia de origens de água para regadio estimaram-se as áreas
regadas por águas superficiais e subterrâneas, sendo os volumes respectivos os que se apresentam no Quadro
4.3.23 e que permitem proceder à sua inclusão no balanço hídrico.
Na Figura 4.3.21 apresentam-se as origens de água reais e agregadas para regadio utilizadas para fins de
balanço hídrico.
Quadro 4.3.23 - Áreas de Regadio por Tipo de Recurso Utilizado

Áreas de Tipo de Recurso Transferências (a)


Bacia Consumos Retornos
Regadio Superficiais Subterrâneos Importadas Exportadas
Hidrográfica
(ha) (hm3/ha) (hm3/ha) (hm3/ha) (hm3/ha) (hm3/ha) (hm3/ha)
Minho 16 175 80 30 50 0 0 15
Lima 32 070 160 60 100 0 0 30
Cávado 41 680 235 75 160 0 0 50
Ave 54 770 275 65 210 0 0 55
Leça 5 785 30 5 25 0 0 5
Douro 216 920 1 345 405 940 0 0 270
Vouga 58 440 355 75 280 0 0 70
Mondego 102 700 625 160 465 0 0 125
Lis 6 520 50 25 30 0 0 10
Rib. do Oeste 19 740 155 45 110 0 0 30
Tejo 276 105 1 990 715 1 280 0 0 400
Sado 56 345 440 280 145 20 5 90
Mira 12 030 95 110 20 5 35 20
Guadiana 50 980 400 245 175 0 20 80
Rib. do Algarve 37 175 305 45 225 35 0 60
TOTAL 987 435 6 540 2 340 4 215 60 60 1 310

NOTA: Apenas foram considerados os recursos superficiais captados em albufeiras.

A rega é a actividade de maior consumo de água em Portugal e que maior extensão de território ocupa.
De um modo geral, a actividade agrícola de regadio transfere para a gestão dos recursos hídricos pressões e
problemas de diversa natureza dos quais se destacam:
• Cerca de 88% da área de regadio em Portugal é de natureza privada, sendo o conhecimento da
utilização da água nessas áreas obtido com periodicidade de 10 anos através do Recenseamento Geral
da Agricultura;
• Indeterminação generalizada da relação entre os consumos da rega, as respectivas origens de água e a
variabilidade temporal;
• Contabilização muito reduzida dos consumos e sua relação com a eficiência da rega e produtividade
das culturas;

35/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

• Actividade de regadio intensivo com forte adubação sobre zonas de elevada vulnerabilidade de
aquíferos;
• Elevado desajustamento temporal natural entre necessidades de água para rega e as disponibilidades
nos sistemas hídricos;
• Exigência de infraestruturas de regularização interanual de vulto com reprodutividade económica
directa limitada;
• Reduzido conhecimento das correctas dotações e das eficiências globais dos sistemas de regadio.

Figura 4.3.21 - Localização das Origens de Água para Regadio e Balanço Hídrico

4.3.2.3. Turismo
Neste capítulo trata-se a vertente do Turismo associada aos usos e consumos de água com base em dois grandes
indicadores: o número de dormidas registadas na actividade hoteleira e respectivas necessidades de água e as
infraestruturas associadas à prática do golfe, actividade que se destaca pelos consumos necessários à manutenção
dos respectivos campos.
Principais Zonas e Actividades Turísticas
A actividade turística pode desenvolver-se segundo as mais diversificadas vertentes. Para cada concelho
identificaram-se os tipos de turismo predominante agrupados nos seguintes tipos:
• Praia: Desenvolvido em exclusividade no litoral, relacionado com a actividade balnear, sol,
navegação, vela, etc.;
• Cultural: Turismo relacionado com a admiração do panorama arquitectónico, grandes eventos
culturais, mostras de arte, etc.;

36/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

• Religioso: Ligado a grandes manifestações de índole religiosa;


• Natureza: Paisagem, campo, recreio em albufeiras, neve;
• Actividades Económicas: Grandes feiras, congressos, seminários, etc.;
• Desportivo: Relacionado com grandes acontecimentos desportivos;
• Saúde: Termas;
• Outros.
Minho

Minho
o
Lim
a vad
Y Bragança
#
Y
#
Lima Ca Y Bragança
#

Y Viana do Castelo
# Y Viana do Castelo Cávado
# Y
#

Y Braga
# Y Braga
#
A ve
Ave Douro
Y
#
ça
Le

uro
Y Vila Real
# Y Vila Real
#
Leça Y
#

Do
ro
Y Porto
# Y Porto
#
Dou
Y
#
Y
#

go
nde
Y Viseu
# Y Viseu
#
Y Aveiro
# Y Aveiro
# Vouga
Mo
Y
#

Vouga
Y Guarda
# Y Guarda
#

Mondego

Y Coimbra
# Y Coimbra
#

Y Castelo Branco
# Y Castelo Branco
#
Y Leiria
# Lis
Y
# Leiria
Tejo

o
Tej
Y
#
Y
#
Y
# Y
#
Y Portalegre
# Tejo Y Portalegre
#
Y Santarém
#
Ribeiras do Oeste Y Santarém
#
Y
#
Ca
ia
Sorraia

jo
Te
Y
#
Y
# ##
YY
Y Lisboa
# Y#
# Y Y Lisboa
#

Y Évora
# Y
# Y
# Y Évora
#
Y Setúbal
# ##
YY Setúbal
Y
#
Sado

Guadiana
Y
# Capital de Distrito Sado
Limites de Plano de Bacia Y Beja
#
Y Beja
#
Tipo de Actividade Turística Predominante Y
# Campos de Golfe
Praia Y
# Capital de Distrito
Natureza Rede Hidrográfica
Actividades Económicas Limites de Plano de Bacia Rio Guadian
Cultural Mira
Mi

Desportivo
ra

Religioso
a

Saúde Ribeiras do Algarve


Outros Y
# Y
#
Y#
# Y Y
# ##
YY#Y#
Y Faro
# Sem actividade hoteleira registada Y
Y Faro
#

b)
a)
Figura 4.3.22 - Turismo
a) Actividade Turística Predominante por Concelho
b) Localização dos Campos de Golfe em Portugal Continental
A figura 4.3.22 reflecte a distribuição por concelho, do tipo de actividade turística predominante e a
localização, por bacia, dos respectivos campos em Portugal Continental.
População Turística e Dotações para Turismo
A análise e o cálculo dos consumos e necessidades de água para a população turística relacionada com a
actividade hoteleira é feita com base no número de dormidas nos diferentes tipos de estabelecimento
fornecidas pela Direcção Geral do Turismo.
Tendo em conta estes factores, no Quadro 4.3.24 apresentam-se as dotações médias anuais, em litros por
dia, adoptadas e aplicadas a cada tipo de estabelecimento hoteleiro. As capitações em zona de praia
apenas se aplicam aos meses de Junho, Julho e Agosto, adoptando-se os valores da coluna (2) para os
restantes meses.

37/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Quadro 4.3.24 - Dotações Médias Anuais Para Actividade Turística (l/dia.turista)

Zona de Cidade de média Outras


Tipo de
Praia e grande dimensão localizações
Estabelecimento
[1] [2] [3]
1000 600 400

 700 400 300
Hotéis  400 250 200

 300 200 150
250 150 100
 700 400 300
Hotéis  500 350 250
Apartamentos 
400 300 200
Luxo
1ª 800 400 300
Apartamentos 2ª 500 300 250
400 250 200
Luxo
1000 600 400
Apartamentos 1ª
2ª 700 400 300
Turísticos
500 300 200
Pousadas 700 400 250
 800 500 350
Estalagens  600 400 300


600 300 250
 400 250 200
Pensões 

300 200 150
250 150 100

No Quadro 4.3.25 registaram-se as dormidas agregadas por bacia hidrográfica.


Para o ano de 1998, a Figura 4.3.23 evidencia o número de dormidas por concelho.

Quadro 4.3.25 - Dormidas Registadas na Actividade Hoteleira de 1993 a 1998 (em milhares)

Bacia Dormidas na Hotelaria Global em Portugal Continental


Hidrográfica
1998 1997 1996 1995 1994 1993
Minho 88 68 64 63 58 57
Lima 169 177 166 159 155 151
Cávado 365 358 349 324 335 268
Ave 362 295 282 244 245 225
Leça 368 339 320 292 307 294
Douro 1 511 1 327 1 310 1 219 1 235 1 211
Vouga 516 489 457 459 451 437
Mondego 827 756 676 596 600 556
Lis 270 248 236 231 252 243
Ribeiras do Oeste 1 829 1 471 1 412 1 283 1 242 1 214
Tejo 6 224 5 005 4 788 4 633 4 619 3 992
Sado 718 584 573 513 545 517
Mira 33 30 21 19 19 18
Guadiana 721 708 724 740 659 534
Ribeiras do Algarve 13 082 12 557 11 974 12 500 11 407 10 271
Total 27 083 24 412 23 352 23 275 22 129 19 988

38/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Y Bragança
#

Y Viana do Castelo
#

Y Braga
#

Y Vila Real
#

Y Porto
#

Y Viseu
#
Y Aveiro
#
Y Guarda
#

Y Coimbra
#

Y Castelo Branco
#
Y Leiria
#

Y Portalegre
#
Y Santarém
#

Y Lisboa
#

Y Évora
#
Y Setúbal
#

Y
# Capital de Distrito
Limites de Plano de Bacia
Y Beja
#
Dormidas na hotelaria em 1998
Sem actividade registada em 1998
1 - 1000
1001 - 10000
10001 - 50000
50001 - 100000
100001 - 500000
500001 - 1000000
1000001 - 2000000
Y Faro
# > 2000000

Figura 4.3.23 - Dormidas Registadas na Actividade Hoteleira em 1998

Nos últimos seis anos verificou-se um aumento gradual da actividade turística sob a forma da ocupação
hoteleira. Sendo a bacia das Ribeiras do Algarve a zona por excelência mais procurada, registou no entanto
uma quebra da procura em 1996, tendo a tendência de crescimento sido retomada no ano seguinte.
Origens de Água das Actividades Turísticas
Salvo os campos de golfe e outras raras excepções, as actividades turísticas têm os consumos assegurados pela
rede urbana onde os equipamentos se localizam, utilizando, por isso, as mesmas origens de água que os sistemas
urbanos, matéria que foi abordada no capítulo 4.3.1.1. No que se refere aos campos de golfe, a regra geral é a
utilização de águas subterrâneas, quando localizados sobre aquíferos, e de águas superficiais nos outros casos,
existindo algumas situações mistas por razões das características intrínsecas destas práticas desportivas.
Consumos, Necessidades de Água e Retornos das Actividades Turísticas
Para o cálculo dos consumos de água para a actividade hoteleira, utilizaram-se as capitações constantes no
Quadro 4.3.26, com o seguinte procedimento:
i) Para as dormidas nos concelhos situados em zona de praia, para os meses de Junho, Julho e Agosto,
aplica-se a capitação [1].
ii) Para os restantes meses aplicam-se as capitações [2] ou [3], conforme o estabelecimento esteja ou
não, situado em cidade de média e grande dimensão.
iii) Para as dormidas em concelhos não situados em zona de praia, aplica-se apenas o ponto ii).
Os consumos de água para os campos de golfe são dados da Federação Portuguesa de Golfe.

39/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

No Quadro 4.3.26 e Figura 4.3.24 apresentam-se e expressam-se os consumos de água por bacia e por
concelho para as diferentes actividades turísticas.

Quadro 4.3.26 - Consumos de Água para as Actividades Turísticas em 1998


Consumos de Água
Bacia (dam3)
Hidrográfica Hotelaria Campos de
Total
Global Golf
Minho 22 22
Lima 62 64 126
Cávado 128 70 198
Ave 110 43 153
Leça 145 21 166
Douro 576 232 808
Vouga 156 24 180
Mondego 240 40 279
Lis 81 81
Ribeiras do Oeste 816 1 030 1 845
Tejo 2 181 742 2 923
Sado 248 348 597
Mira 11 11
Guadiana 241 1 132 1 372
Ribeiras do Algarve 5 350 5 593 10 943
Total 10 367 9 339 19 704

Y Bragança
#
Y
#
Y Viana do Castelo
# Y
#

Y Braga
#

Y
#
Y Vila Real
#
Y
#
Y Porto
#

#
Y

Y Viseu
#
Y Aveiro
#
Y
#
Y Guarda
#

Y Coimbra
#

Y Castelo Branco
#
Y Leiria
#

Y
#
Y
#
Y
# Y
#
Y Portalegre
#
Y Santarém
#
Y
#

Y
# #
Y
##
YY Y Lisboa
#

Y
# Y
# Y Évora
#
##
YY Setúbal
Y
#

Y
# Capital de Distrito
Y
# Campos de Golfe
Y Beja
# Limites de Plano de Bacia
Consumos de Água na Actividade Hoteleira [m3]
Sem actividade registada em 1998
1 - 1000
1001 - 5000
5001 - 10000
10001 - 50000
50001 - 100000
100001 - 500000
500001 - 1000000
Y
# Y
#
Y#
# Y Y
# ##
YY#
1000001 - 2000000
Y
Y
#
Y Faro
# > 2000000

Figura 4.3.24 - Consumos de Água para as Actividades Turísticas em 1998

40/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Quadro 4.3.27 - Evolução dos Consumos de Água para o Turismo (103 m3)

Retorno
Bacia Consumo de Água na Actividade Hoteleira Consumo Retorno
Act. Hot.
Hidrográfica Golf Golf
1998 1998 1997 1996 1995 1994 1993
Minho 20 22 14 13 13 14 12 0 0
Lima 55 62 62 56 51 52 45 64 51
Cávado 115 128 124 121 109 112 85 70 56
Ave 99 110 88 86 75 76 69 43 35
Leça 131 145 133 124 115 112 108 21 17
Douro 518 576 488 480 445 430 410 232 185
Vouga 141 156 143 139 137 142 132 24 19
Mondego 216 240 218 193 165 170 157 40 32
Lis 73 81 75 70 73 77 84 0 0
Rib. do Oeste 734 816 667 637 566 550 493 1 030 824
Tejo 1 963 2 181 1 712 1 634 1 579 1 561 1 336 742 593
Sado 224 248 202 206 174 191 186 348 279
Mira 10 11 10 6 6 6 6 0 0
Guadiana 216 241 249 236 249 223 176 1 132 905
Rib. do Algarve 4 815 5 350 5 192 4 978 5 215 4 707 4 147 5 593 4 475
Total 9 330 10 367 9 377 8 979 8 972 8 423 7 446 9 339 7 471

A actividade turística, por se concentrar em poucos meses do ano em períodos muito limitados, introduz
exigências extremas de dimensionamento dos equipamentos de transporte, armazenamento e
regularização. Em alguns aglomerados urbanos a procura, nos meses de Verão ou em ocasiões de
eventos festivos, desportivos ou religiosos, exige o sobredimensionamento de todos os sistemas e cria
necessidades que coincidem com os períodos de menores recursos hídricos em regime natural. O
turismo é uma actividade económica muito sensível e exigente em relação à escassez ou falhas nos
abastecimentos de água exigindo, por isso, uma grande fiabilidade dos sistemas.
Em relação à evolução dos consumos de água de 1993 a 1998, consideraram-se constantes os valores
respeitantes aos campos de golfe, apenas variando os consumos da actividade hoteleira, sendo de notar
para esta última, um acréscimo de 40% de 1993 para 1998, como expressam os valores do Quadro
4.3.27.
Para efeitos de balanço hídrico calcularam-se os retornos das utilizações de água na hotelaria
considerando ser 90% dos consumos e nos campos de golfe idênticos à actividade agrícola, isto é, 80%
dos consumos.
Em resumo, dos principais aspectos a realçar sobre a pressão da actividade turística sobre os recursos
hídricos destaca-se:
• Os consumos da actividade turística têm pouca expressão volumétrica, mas podem ser o principal
condicionamento do dimensionamento dos sistemas de abastecimento e da capacidade de
regularização por se concentrarem em poucos meses do ano;
• Aos sistemas de abastecimento de água para actividades turísticas é exigida grande fiabilidade quanto
à permanência de serviço e qualidade da água;
• Por não se dispor de registos sistemáticos sobre os consumos e custos de investimentos, exploração e
manutenção desta actividade, a avaliação económica das utilizações de água no turismo só é possível
ser efectuada de forma indirecta.

41/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

4.3.2.4. Produção de Energia Eléctrica


A produção de energia eléctrica é uma das utilizações que maiores volumes de água utiliza. Os 87.100 hm3
médios anuais utilizados para produção de energia eléctrica não incluem os pequenos aproveitamentos
hidroeléctricos, também conhecidos por mini-hídricas, quer estejam integrados em aproveitamentos
hidroagrícolas ou isolados.
Estes volumes devem ser analisados com atenção já que neles se incluem volumes de água que são utilizados
repetidas vezes para produção de energia, quer nos casos de aproveitamentos hidroeléctricos em cascata,
quer quando haja lugar à bombagem para montante, como é o caso dos aproveitamentos equipados com
sistemas reversíveis.
Principais Centros Produtores e Tipo de Produção
A capacidade útil de armazenamento para fins hidroeléctricos em Portugal é de 4.000 hm3 em albufeiras de
média e grande dimensão.
Esta capacidade encontra-se sobretudo localizada no Centro e Norte do País como bem demostram o Quadro
4.3.28 e a Figura 4.3.25.

Quadro 4.3.28 - Numero de Aproveitamentos Hidroeléctricos de Média e Grande dimensão, Capacidade de


Armazenamento, Potência Instalada (MW) e Produtibilidade Anual Média (GWh)
Capacidade Útil Potência Produtibilidade
Bacia Aproveitamentos
de Armazenamento Instalada Anual Média
Hidrográfica Hidroeléctricos
(hm3) (GW) (GWh)

Minho 1 0(0,1) 7 24,7

Lima 3 350 680 1 043

Cávado 7 1 120 451,8 1 562,4

Ave 4 70 24 55,7

Leça 0 0 0 0

Douro 16 300 1 268,6 6 860,5

Vouga 2 0(0,1) 1 5,8

Mondego 13 280 381,6 523,8

Lis 0 0 0 0

Ribeiras do Oeste 0 0 0 0

Tejo 15 1 720 563,1 1 977

Sado 2 160 3 5

Mira 0 0 0 0

Guadiana 1 - - -

Ribeiras do Algarve 0 0 0 0

Total 64 4 000 3 740 11 758

Fonte: CPPE.

42/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Minho
$
Z
Z
$
Z
$
o
vad
Y
#
a #Y Y #
# Y
Lim
Z
$
Ca #Y
Z
$ Y$
# ZBragança

Y Viana do Castelo
# Y #
# Y #Y Z
$ Z
$
Y
# Z
$ $
Z
Z$
$ Z Y#
Y#
# Y Z
$
Y #
# Y Braga#Y Z
$ Z
$
e
A$Z$Z$Zv $Z
Y
# Y
#
Z
$
Z $
Z$ Z$Z Y
#
Z$
Z$
$ Z$
Z$Z$
a

Z #Y
$

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Y Vila Real
# Y
#
L $Z $$
ZZ

Do
ro
Dou #Y#Y
Y Porto
# Y
# Z
$
Z
$ Y
# Y
#
Y$Z #Y#Y
Z#Y
$ ê Y
#

Z
$
#
Z
$

$$
ZZ Z
$
Z
$
Z
$ Z
$ Z
$
Z
$ Y$
#Z #Y
go
Z
$ Z
$
nde
Z
$ Y Viseu
# Y
#
Y Aveiro
#
Mo
Z
$

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V oug
Y #
# Y Y#
Y#
# Y Guarda

Y#
##
Y Y#
Y Z$
$Z
Y
#
Y
# Z$
Z$
$
Z
Y
#
Y Coimbra
#
Z
$
Y
# Y
#
Z
$
Z
$
Z
$
Y
#
Y
#
Y Castelo Branco
#
Y Leiria
#
Tejo
Y
#
##
Y
jo
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Z #Y
$ Y Y
#
Z
$ Y
# Y
#

Y Portalegre
#
Y Santarém
#
Ca
Z
$
ia
ê Sorraia Z
$ Z
$
jo

Z
$
Te

ê #Y Lisboa
ê
Y Évora
#
ê
Y Setúbal
#
Sado Y
#

Y
#

Y Beja
#
ê
Y
# Centrais Hidroeléctricas - Grupo EDP
Z
$ Centrais Hidroeléctricas - Outras
Rio Guadian

ê Centrais Termoeléctricas
Capital de Distrito
Mi

Y
#
ra

Limites de Plano de Bacia


Rede Hidrográfica
a

Z
$
Z
$
ê
Y Faro
#

Figura 4.3.25 - Localização dos Principais Centros Produtores Hidroeléctricos e Termoeléctricos

Consumos, Necessidades de Água e Retornos


A água que é utilizada na produção hidroeléctrica é restituída para jusante em quantidade muito próxima dos
valores naturais que foram armazenados nas albufeiras subtraídos das perdas de evaporação adicional por
aumento da superfície dos planos de água. Todavia, o maior inconveniente deste uso é a modificação dos regimes
de caudais, a alteração da qualidade da água e a diminuição de sedimentos para jusante. Esta utilização é
designada por “não consumptiva”.
Quadro 4.3.29 - Volumes Médios Anuais Turbinados e de Arrefecimento Utilizados na Produção de
Energia Eléctrica
Volumes Médios Volumes Médios
Total
Bacia Hidrográfica Anuais Turbinados Anuais de Arrefecimento
3 3
(hm ) (hm ) (hm3)
Minho 185 - 185
Lima 2 555 - 2 555
Cávado 4 300 - 4 300
Ave 750 - 750
Leça 0 - 0
Douro 65 640 90 65 730
Vouga 95 - 95
Mondego 3 865 - 3 865
Lis 0 - 0
Ribeiras do Oeste - - 0
Tejo 8 470 480 8 950
Sado - 675 675
Mira 0 - 0
Guadiana - - 0
Ribeiras do Algarve 0 - 0
Total 85 860 1 245 87 105
Fonte: CPPE – Direcção de Produção Hidráulica; CPPE – Direcção de Produção Térmica; HDN – Hidrocenel; EDP - Energia.

43/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Na produção termoeléctrica os volumes captados com ou sem estruturas de armazenamento nos leitos dos rios,
estuários ou zonas costeiras, são restituídos aos meios hídricos diminuídos dos volumes evaporados e com
aumento de temperatura da água.

$
Z
Z
$
Z
$
Y
#
Z
$ Y #
# Y
Y
# Z
$ Y$
# ZBragança
Y
#
Y Viana do Castelo
# Y #
# Y #Y Z
$ Z
$
Y
# $
Z Z
$
Z$
$ Z
Y#
Y#
# Y Z
$
Y #
# Y Braga#Y Z
$ Z
$
Y
# Y
#
Z
$
Z$
$ Z
$ $
Z
Z Z$Z
Z$
Z$
$ Z$
Z$ Z $
Z$
Z$
Y
#
Z #Y
$ Y
#
Y Vila Real
#
$$
ZZ
Z
$
Y Porto
# Y
# Z
$
Z
$ Y#
# Y Y
#
Y
#
Y$Z #Y#Y
Z
$
Y
#
ê Y
#

Z
$
#
Z
$

$$
ZZ $$
ZZ
Z
$ Z
$ Z
$
Z
$ #$
YZ #Y
Z
$
Y Aveiro
#
Z
$ Y Viseu$
# Z Y
#
Z
$
Y
#
Y
# ##
YY Y Guarda
#

Y#
##
Y Y#
Y $$
ZZ
Y
#
Y
# Z
$
Y
# $$
ZZ
Y Coimbra
#
Z
$
Y
# Y
#
Z
$
Z
$
Z
$
Y
#
Y
#
Y Castelo Branco
#
Y Leiria
#

Y
#
##
YY
Z
$ Y
# Y
#
Z
$
ê Y
# Y
#

Y Portalegre
#
Y Santarém
#

Z
$
ê Z
$
Z
$ Z
$

ê #Y Lisboa
ê Centrais Hidroeléctricas - Grupo EDP
Y
#
Y Évora
#
ê
Y Setúbal
# Z
$Centrais Hidroeléctricas - Outras
Y
#
ê Centrais Termoeléctricas
Y
#
Y
# Capital de Distrito
Limites de Plano de Bacia
Volumes Médios Anuais Utilizados *
Y Beja
#
Desconhecido
ê 0
1 - 500
501 - 1000
1001 - 3000
3001 - 5000
5001 - 10000
Z
$ 10001 - 17000
Z
$
ê (*) Não inclui os volumes médios anuais
Y Faro
# das centrais hidroeléctricas - outras
por serem desconhecidos

Figura 4.3.26 - Distribuição Espacial por Sub-Bacia das Utilizações Médias Anuais Hidroeléctricas e
Termoeléctricas

A utilização de água na produção hidroeléctrica também deve ser encarada em duas ópticas distintas: como
matéria prima ou como acessória. A primeira condição verifica-se nos aproveitamentos hidroeléctricos e a
segunda nos termoeléctricos em que a água é usada como condutor de calor no arrefecimento. Nos primeiros são
utilizados 5.970 hm3 médios anuais e nos segundos 1.250 hm3 (Quadro 4.3.29).
A avaliação dos volumes e regime de utilização dos recursos hídricos na produção de energia é
importante do ponto de vista do balanço hídrico e da análise económica das utilizações de água, cuja
distribuição espacial se apresenta na Figura 4.3.26.
De entre as maiores pressões que os aproveitamentos hidroeléctricos exercem sobre os recursos hídricos e
que constituem de algum modo problema em relação à sua função natural e à sua gestão, poder-se-ão
apontar:
• Elevada perturbação no funcionamento natural dos sistemas hídricos em resultado da sua grande
capacidade de regularização inter-estacional e inter-anual ou pelo elevado número de infra-estruturas
localizadas em linhas de água de valor ambiental e paisagístico elevado;
• Forte perturbação no transporte de sedimentos e na alteração morfológica dos leitos dos rios e do
acesso de areias à zona costeira;

44/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

• Estando os maiores centros hidroeléctricos produtores localizados no leito principal de rios


internacionais, a produção destes centros exige uma permanente vigilância sobre o respeito pelas
convenções com Espanha.

4.3.3. Origens de água, Transferências e Retornos


4.3.3.1. Origens de Água
O sector da produção de energia (que inclui a produção de energia hidroeléctrica e termoeléctrica) é responsável
pela maior mobilização de água de todos os sectores, representando 85830 hm3/ano ou cerca de 87% das
necessidades de água, no entanto apresenta consumos bastante inferiores.
No que concerne às centrais hidroeléctricas, importa fazer uma diferenciação em aproveitamentos mini-hídricos e
aproveitamentos de potência instalada superior a 10 Mw/ano (grandes centrais hidroeléctricas). Para efeitos da
avaliação das necessidades de água não foram consideradas as centrais mini-hídricas.
Existem em Portugal continental sete centrais térmicas: Tunes, Sines, Setúbal, Barreiro, Carregado, Alto de Mira,
Tapada do Outeiro e Pêgo. As suas necessidades de água são integralmente supridas a partir de origens de água
superficiais, geralmente localizadas na proximidade das instalações electroprodutoras. Com excepção da central
de Sines, abastecida desde a albufeira de Morgavel, todas as outras captam directamente em cursos de água.
Quadro 4.3.30 – Consumos porTipo de Origem de Água vs. Sectores Utilizadores
Origens Superficiais Origens Subterrâneas
(hm3) (hm3)
Urbano 212 349
Industrial 206 179
Turismo 11 9
Agricultura 2341 4210
Energia 1237 -

Total 4007 4747

Relativamente aos sectores consumidores de água (excluindo portanto a produção de energia), a rega é o sector
dominante, sendo responsável por cerca de 75% dos consumos de água. Tais consumos de água associam-se
maioritariamente a origens subterrâneas 64% (4210 hm3). Tal conclusão decorre de um facto poucas vezes
mencionado e relativo à importância do regadio privado no cômputo da área total equipada com infra-estruturas
de rega no país. Na verdade, apenas 12% da área equipada com regadio está afecta a perímetros públicos, esses
sim, maioritariamente supridos com origens superficiais de água (albufeiras, frequentemente de fins-múltiplos).
No que concerne às origens de água para abastecimento de água à indústria, a repartição dos consumos de água
em origens subterrâneas e superficiais faz-se de forma sensivelmente equitativa. Das origens superficiais de
água, importa salientar pela sua representatividade em volume, as que se associam ao sector 21 da CAE
(produção de pasta de papel), responsáveis por cerca de 39% das necessidades de água para a indústria. Estão
em causa origens maioritariamente superficiais, captando directamente nas linhas de água (casos do Tejo, em
Vila Velha de Rodão e em Constância, no Mondego em Açude da Ponte de Coimbra, no Lima a jusante de
Ponte de Lima, etc).
Cerca de 62% dos consumos de água para o sector urbano são de origem subterrâneo.

45/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Quadro 4.3.31 – Origens de Água por Bacia Hidrográfica


Consumos de Água
(hm3)
Origem Origem % %
Superficial Subterrânea Superficial Subterrânea
Minho 33 52 0.38 0.62
Lima 70 108 0.39 0.61
Cávado 88 165 0.35 0.65
Ave 84 218 0.28 0.72
Leça 42 29 0.59 0.41
Douro 477 991 0.32 0.68
Vouga 112 304 0.27 0.73
Mondego 246 486 0.34 0.66
Lis 25 36 0.41 0.59
Rib. Oeste 83 124 0.40 0.60
Tejo 899 1462 0.38 0.62
Guadiana 288 165 0.64 0.36
Sado 142 42 0.77 0.23
Mira 256 183 0.58 0.42
Rib. Algarve 61 245 0.20 0.80
TOTAL 2908 4610 0.39 0.61
NOTA: Não está incluido o sector da producção de energia

Figura 4.3.28 - Distribuição Geográfica das Principais Origens de Água no Continente


que Abastecem mais de 10000 hab.

46/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

O sector do turismo diz respeito às necessidades de água que decorrem da ocupação dos equipamentos
hoteleiros e da manutenção de campos de golfe, sendo responsável por um consumo de 19 706 dam3/ano no
continente.
Ha bita nte s
S e rvido s

3 000 000 Origens Superficiais


Origens Superficiais
2 500 000
34 3
2 000 000 53 22 2
8
1 500 000
5 2
1 000 000 1
0
500 000
M ilha re s
10 - 25 25 - 50 50 - 100 100 - 200 > 200 de Ha bita nte s

Figura 4.3.29 – Dimensão das Principais Origens de Água no Continente


Para além das origens superficiais e subterrâneas, já sumariamente caracterizadas, importa referir ainda que em
Portugal também se faz uso de origens não convencionais, nomeadamente na ilha de Porto Santo onde existe uma
central dessalinizadora que abastece a população da ilha. Outra origem de água não convencional é a utilização de
águas residuais tratadas em ETAR urbanas para a rega de campos de golfe e que funcionam como complemento
de outras origens de água (quase sempre subterrâneas). Esta gestão integrada de recursos sucede nos campos de
Miramar (concelho do Porto), na Penha Longa, Quinta da Beloura e Quinta da Marinha (Concelhos de Sintra e
Cascais) e campo de golfe de Salgados (concelho de Albufeira).
Relativamente ao abastecimento urbano, importará distinguir três tipos de realidade em termos de origens de água
(que por sua vez estão associados a sistemas plurimunicipais ou sistemas municipais, concessionados ou com
gestão pública autárquica):
• origens subterrâneas: o clássico são captações do tipo furo vertical, captando na camada de alteração da
rocha, em rochas inconsolidadas do tipo aluvionar (por vezes no leito de linhas de água ou nas imediações),
outras rochas sedimentares (cársicas, areníticas, etc), ou mesmo, aquíferos do tipo fissural (falhas,
diaclases, contactos de formações de naturezas diferentes, etc).
• origens superficiais: duas soluções surgem como mais correntes em Portugal, a captação directa em linhas
de água (por vezes com sobrelevação da superfície livre promovida pela construção de açudes) e a captação
em albufeiras.
No continente português foram identificadas 130 origens de água que servem sistemas que abastecem mais do que
10 000 habitantes. Dessas, 66 origens são superficiais e suprem as necessidades de água de 4 458 500 hab. (77%),
sendo que, as restantes 64 origens são relativas a águas subterrâneas e abastecem 1 358 300 hab. (23%). A sua
distribuição por classes de dimensão das origens (relativamente à população abastecida), faz-se:
 > 200 000 hab. ⇒ 5 origens (2 subterrâneas)
 > 100 000 hab. ⇒ 7 origens (2 subterrâneas)
 > 50 000 hab. ⇒ 13 origens (3 subterrâneas)
 > 25 000 hab. ⇒ 40 origens (9 subterrâneas)
 > 10 000 hab. ⇒ 130 origens (64 subterrâneas)
Como é possível averiguar pelos Quadros 4.3.30 e 4.3.31, as necessidades de água para abastecimento urbano são
em média cerca de 622 560 dam3, repartido 57% para origens superficiais e 43% por origens subterrâneas.
A maior densidade de captações subterrâneas que suprem as necessidades de água de maior número de habitantes
situa-se nas duas orlas sedimentares mesocenozoicas ocidental e meridional(1), tratando-se justamente das zonas
mais produtivas do ponto de vista aquífero em todo o continente português (Figura 4.3.30). Obviamente que
ocorrem ainda aquíferos importantes noutro pontos do país, designadamente no Alentejo Norte(2), na bacia
terciária do Tejo e Sado(3), Veiga de Chaves e Granitos do Porto.

(1) Na orla ocidental as formações cretássicas são as mais produtivas (até 50 l/s). Na orla Meridional as produtividades médias são aproximadamente
20 l/s, ocorrendo caudais de até 50 l/s em calcários dolomíticos jurássicos.
(2) Nos aquíferos carbonatados do Alto Alentejo já foram medidos caudais instantâneos de 80 l/s.
(3) As formações miocénicas atingem produtividades instantâneas de até 80 l/s e as formações pliocénicas de até 20 l/s.

47/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Figura 4.3.30 – Dimensão das Principais Origens de Água

Actualmente as origens subterrâneas continuam a desempenhar uma função determinante no abastecimento


urbano designadamente na supressão de necessidades locais através de pequenos sistemas de abastecimento
(com alguns problemas de controlo de qualidade da água e de gestão dos próprios sistemas, designadamente
no que concerne à fiabilidade do serviço) e que não teriam justificação económica alternativa (a adução a
aglomerados urbanos dispersos implicaria redes de adução muito dispendiosas).
4.3.3.2. Transferências de Água e Uso Integrado das Águas Superficiais e Subterrâneas
Considerando as bacias dos principais cursos de água verifica-se que existem cerca de uma dezena de
transferências, em que se destacam as transferências do Douro e Mondego para o Tejo, do Tejo para as
ribeiras do Oeste, do Douro para as bacias do Noroeste e do Guadiana para as ribeiras do Algarve
(Quadro 4.3.32).
Quanto às transferências entre as bacias hidrográficas do rio Cávado, Ave e Leça, tais transferências ficam a
dever-se ao sistema multimunicipal concessionado à Águas do Cávado, S.A., com origem na bacia
hidrográfica com a mesma designação. Relativamente às transferências que ocorrem desde a área
correspondente ao PBH do Douro para a do PBH do Leça, ficam a dever-se ao sistema multimunicipal
concessionado à Águas do Douro e Paiva, S.A.. As transferências Douro/Tejo têm origem nas infra-
estruturas do aproveitamento hidroagrícola Sabugal-Meimoa e, a transferência Mondego Tejo, nas infra-
estruturas que ligam as albufeiras de Alto-Ceira e de Santa Luzia.
O sistema de abastecimento multimunicipal da EPAL, S.A., como é sabido abastece concelhos na área
correspondente ao PBH das ribeiras do Oeste. Por sua vez, as albufeiras das barragens do Roxo, Alvito e
Odivelas, todas elas na bacia hidrográfica do rio Sado, são origens de água para diversos concelhos
localizados na bacia hidrográfica do rio Guadiana. Entretanto, a albufeira de Morgavel, localizada na área
correspondente ao PBH do rio Sado, numa ribeira de costa, recebe água captada no curso do rio Sado,
promovendo por sua vez a sua adução até ao polo industrial, na mesma área do PBH mas noutra bacia das
ribeiras de costa.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Finalmente, a ligação entre as albufeiras de Odeleite (bacia hidrográfica do rio Guadiana) e de Beliche (zona
relativa ao PBH das ribeiras do Algarve), promovem o contacto de duas entidades hidrográficas que são
diferentes, materializando por isso uma transferência interbacias hidrográficas.
A uma escala mais detalhada, ao nível dos concelhos, já se podem identificar um conjunto maior de
transferências, ilustradas na Figura 4.3.31. A Figura 4.3.32. representa os principais sistemas
multimunicipais de abastecimento urbano de água, alguns já referenciados anteriormente

Quadro 4.3.32 – Transferências de Água entre as Áreas Correspondentes aos PBH no Continente Português
Bacia Hidrográfica Bacia Hidrográfica Volume transferido
Uso de água
de Origem de Destino (hm3)
Cávado Ave 2 Abast. Urbano
Cávado Leça 8 Abast. Urbano
Douro Leça 40 Abast. Urbano
Douro Tejo 50 Abast. Rega
Mondego Tejo 50 Abast. Rega
Tejo Rib. Oeste 40 Abast. Urbano
Sado Guadiana 2 Abast. Urbano
Sado Rib. Costa Alentejo 10 Abast. Industrial
Guadiana Rib. Algarve 30 Múltiplo

Figura 4.3.31 – Transferências de Água

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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Figura 4.3.32 - Principais Sistemas Multimunicipais de Abastecimento Urbano de Água Existentes no


Continente Português

4.3.3.3. Retornos
Uma parte do volume de água captado volta o meio hídrico sobre a forma de retorno. Na ausência de
avaliações sistemáticas e fidedignas dessa percentagem de retorno, utilizaram-se para efeitos de cálculo os
valores padrão: 80% do consumo urbano, 20% do consumo para rega e percentagens variáveis de emissão de
efluentes para cada actividade industrial segundo o sector da CAE em que laboram e que são muitas vezes
superiores a 80% (os sectores mais consumptivos são também dos que possuem taxas de emissão mais
elevadas).
Quadro 4.3.33 – Retorno dos Sectores Utilizadores de Água do Continente (dam3/ano)
Retorno dos Sectores Utilizadores de Água
Urbano Industrial Turismo Rega Energia
Minho 6 110 100 20 16 200
Lima 8 490 9 230 110 32 200
Cávado 14 280 2 400 170 47 500
Ave 29 430 7 140 130 54 700
Leça 20 780 13 940 150 5 800
Douro 81 720 30 310 700 269 000 56 960
Vouga 31 570 22 710 160 71 200
Mondego 33 280 56 830 250 124 900
Lis 8 080 330 70 10 300
Rib. Oeste 38 170 3 070 1 560 31 100
Tejo 180 580 125 590 2 560 398 300 310 040
Sado 21 560 50 280 500 88 200 437 030
Mira 1 210 60 10 18 900
Guadiana 13 840 2 800 1 120 80 400
Rib. Algarve 21 730 2 080 9 290 61 500
TOTAL 510 830 326 870 16 800 1 310 200 804 030

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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

4.3.3.4. Capacidade de Regularização Instalada


A capacidade de armazenamento de recursos superficiais em Portugal ascende a cerca de 7400 hm3,
sendo proporcionada por cerca de 230 albufeiras com capacidade de armazenamento superior a 1 hm3
(Quadros 4.3.34 e 4.3.35, Figura 4.3.33). Entre estas destacam-se 21 albufeiras com mais de 100 hm3 de
capacidade de armazenamento, localizadas predominantemente na bacia hidrográfica do rio Cávado,
Douro e Tejo.
Quadro 4.3.34 – Capacidade de Armazenamento das Albufeiras (segundo o tipo de uso)
Numero de albufeiras Capacidade de
Uso 3
1 hm <Cap armazenamento total
Cap<500 hm3 Cap<1000 hm3 Cap>1000 hm3 (hm3)
<100 hm3
Abastecimento urbano 27 27 27 0 60
Rega 30 30 30 0 350
Energia 96 107 108 0 3210
Uso Múltiplo 54 62 63 1 4210

A Figura 4.3.34 apresenta a relação aproximada entre o escoamento anual garantido e o escoamento anual
afluente, assumindo que este último segue uma distribuição log-normal. Observa-se que, se o escoamento
anual apresentar um coeficiente de variação entre 0,5 e 1,5, é necessário uma capacidade de armazenamento
da ordem do dobro do escoamento anual afluente para garantir em 70% dos anos cerca de 90% do
escoamento anual médio. Também se constata que sem capacidade de armazenamento a parcela das
afluências anuais que é garantida em 70% dos anos varia entre os 40% e os 70%.
As necessidades de capacidade de armazenamento sobem com o incremento da variabilidade das afluências,
do valor de escoamento garantido ou ainda com o aumento da fiabilidade (ou garantia de escoamento)
(Figura 4.3.35).
Da análise destas relações ressalta a necessidade significativas de armazenamento para fazer face à
variabilidade do escoamento em Portugal, que apresenta valores de CV entre 0,4 e 1,0. Às necessidades de
armazenamento para regularizar as variações interanuais do escoamento, é necessário adicionar as
necessidades para regularizar as variações sazonais do escoamento.

Quadro 4.3.35 – Capacidade de Armazenamento por Bacias Hidrográficas


Numero de albufeiras Capacidade de
Bacia
3
1 hm <Cap armazenamento total
Hidrográfica Cap<500 hm3 Cap<1000 hm3 Cap>1000 hm3
<100 hm3 (hm3)

Minho 2 2 2 0 0.2
Lima 1 2 2 0 400
Cávado 4 7 8 0 1180
Ave 12 12 12 0 100
Leça 0 0 0 0 0
Douro 53 58 58 0 1078
Vouga 17 17 17 0 1
Mondego 25 26 26 0 540
Lis 0 0 0 0 0
Rib. Oeste 2 2 2 0 1
Tejo 40 44 45 1 2750
Sado 20 22 22 0 771
Mira 2 3 3 0 486
Guadiana 24 26 26 0 460
Rib. Algarve 5 5 5 0 63
Continente 207 226 228 1 7830.2

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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

Figura 4.3.33 – Localização das Albufeiras

12 0
Esc. anual regularizado (Fiab.=70%)
(% Esc. anual em regime natural)

10 0

80

60

40

20

0
0 50 100 150 200 250 3 00 3 50
C ap acid ade útil da a lbuf eira
(% Es c an ual em regim e n atural )

C V=4.2 CV=3.4 CV=2.3 CV=1.5 CV=0.5

Figura 4.3.34 – Regularização do Escoamento Anual em Regime Natural (Fiab.=70%)

52/58 (4 - II)
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USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

100

(% Esc. anual em regime natural)


80
Esc anual regularizado
60
Fia b=70 %
40 Fia b=80 %
Fia b=90 %
Fia b=10 0%
20

0
0 50 10 0 15 0 200 250 30 0
C apac ida de út il d a albufeira
(% Esc. a nual em reg im e natura l)

Figura 4.3.35 – Relação Fiabilidade vs Capacidade de Armazenamento para um Escoamento


Anual Afluente com CV=0.5

4.3.4. Conflitos de Usos


A necessidade de planeamento e de planos é directamente proporcional à conflitualidade gerada na
concorrência de acesso aos recursos hídricos, sendo objectivo desta actividade e dos instrumentos por ela
produzidos encontrar soluções para os problemas actuais e evitar a sua ocorrência futura.
A conflitualidade assume dois níveis, os conflitos directos e os conflitos indirectos ou deslocados.
Existem órgãos próprios onde as situações conflituantes se procuram resolver, nomeadamente, os Conselhos
de Bacia, o Conselho Nacional da Água, a Comissão de Gestão de Albufeiras e a Comissão do Domínio
Público Marítimo, entre outros. Contudo, são os tribunais a sede de recurso onde as questões de justiça,
quanto à utilização dos recursos hídricos, se devem colocar sem prejuízo de que os órgãos anteriores e a
Administração Pública em geral possam conciliar os interesses litigantes.
Os processos de avaliação de impacte ambiental (AIA) regulados pelos Decreto-Lei nº 69/2000, de 3 de
Maio, rectificado pela declaração nº 7-D/2000, de 30 de Junho, são os mecanismos mais vocacionados para a
acção preventiva de conflitos para algumas das intenções de utilização dos recursos hídricos.
Onde as situações de conflitos de uso mais se fazem notar é na utilização de albufeiras de fins múltiplos por
notória falta de disciplina legislativa específica para estes equipamentos.
Também a sobreposição de competências ou a falta de explicitação de outras, entre as entidades que interferem na
administração dos recursos hídricos, conduz a abusos nas utilizações que potenciam a conflitualidade.
As ocupações do domínio hídrico sem licenciamento, ou com licenciamento deficiente, é outra das causas para a
conflitualidade de interesses que mais se fazem sentir em períodos de escassez ou seca.

4.3.5. Inventários, Sistemas de Avaliação e Informação


A recuperação do equilíbrio ambiental perdido ou a manutenção de um equilíbrio ambiental adequado, passa
pela existência e respeito por instrumentos orientadores que poderão constituir um plano nacional ou
simplesmente um guia de referenciação das políticas dos diversos sectores que interferem com esse
equilíbrio.
O êxito de qualquer instrumento de política na área do ambiente depende essencialmente da forma como é
feita a avaliação do “estado da arte” em termos ambientais.

53/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

A caracterização de um estado de referência, ou situação de partida, exige a existência de um vasto conjunto


de dados cujo valor e utilidade está intimamente ligado com o rigor, as técnicas e os métodos aplicados na
sua produção e, ainda, com a desagregação temporal e longevidade das séries desses dados.
No caso de um projecto específico em que se mobilizam recursos hídricos, regra geral, é necessário dispor de
dados meteorológicos, hidrométricos, sedimentológicos, níveis piezométricos, de qualidade das águas, etc.. É
também necessário dispor de informação sobre a quantidade, qualidade e localização das infraestruturas
hidráulicas existentes, descargas de efluentes, extracções de inertes, níveis de atendimento em saneamento
básico, disposições técnicas e legais a aplicar, segurança das infraestruturas existentes, etc..
Será sobre este tipo de dados e informações que se poderão aplicar métodos e técnicas devidamente
creditados, cuja aplicação depende do rigor dos dados e da dimensão da amostra. Estes procedimentos
conduzirão às soluções e às medidas mais adequadas e mais económicas que resolverão os problemas com os
níveis de segurança desejados.
Por tudo isto, investir e manter um sistema de produção de dados de base é o melhor investimento para
assegurar o futuro de qualquer sociedade.
Em planeamento de recursos hídricos, o conhecimento e avaliação dos usos, consumos e necessidades de
água é necessário para determinar o nível de pressão das actividades humanas a que os recursos hídricos
estão sujeitos e que determinam o estado da qualidade funcional dos sistemas naturais deles dependentes e os
níveis de garantia actuais dos direitos instalados por licenciamento ou outro preceito jurídico válido.
A generalidade dos dados apresentam-se na forma de valores totais anuais o que raramente tem utilidade
objectiva e prática para fins de planeamento, dada a irregularidade espacial e temporal que as
disponibilidades e os usos tem ao longo do ano.
São de particular relevância para a avaliação integrada dos recursos hídricos os dados e informações relativos a:
– Precipitações com durações e intensidades diversas que podem ser registos contínuos ou
intermitentes com possibilidade de integração para caracterização climática e de necessidades das
actividades económicas e das funções ambientais naturais;
– Caudais com as mesmas características dos registos das precipitações, para avaliação das
disponibilidades de águas superficiais, das situações hidrológicas extremas e do comportamento
hidrológico das bacias hidrográficas, etc.;
– Volumes armazenados em albufeiras e suas utilizações e respectivas variações temporais;
– Níveis, extracções de água e saídas naturais dos aquíferos, respectivas localizações e variabilidade
temporal, para avaliação de disponibilidades de recursos subterrâneos;
– Consumos e retornos, respectivas localizações e variabilidade temporal, por sector de actividade
económica e por aglomerado populacional, que incluam os valores captados nos meios hídricos e os
que chegam aos destinatários e as perdas e fugas dos sistemas;
– Valores de carga poluente e volumes das águas rejeitadas nos meios hídricos e solos, com
localização e variabilidade temporal;
– Características das comunidades biológicas dependentes dos recursos hídricos;
– Ocupações e respectivas características dos leitos e margens das linhas de água e dos aquíferos quer
por infraestruturas permanentes quer temporárias;
– Valores das quantidades de água utilizados que não sejam consumos e respectiva variação temporal;
– Extracção de inertes e evolução da morfologia dos leitos de linhas de água, albufeiras e lagoas;
– Quantidades de resíduos produzidos pela utilização dos recursos hídricos e seu destino final;
– Custos de investimento, exploração e manutenção relacionados com as utilizações dos recursos
hídricos e respectiva administração, etc..

54/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

A esta lista deveria ainda ser acrescentado outro tipo de informação relativa à ocupação e utilização do solo,
à temperatura, ventos, insolação, actividades potenciadoras de riscos e conflitos, etc., mas que não cabe aqui
ilustrar.
Como se tem apontado nos capítulos anteriores, a caracterização e diagnóstico deste Plano Nacional da Água
está bastante penalizada por falta de um conhecimento rigoroso da evolução de algumas das principais
variáveis que entram na avaliação da situação actual, porque os dados existentes não estão acessíveis ou
mesmo não existem.
É notória a falta de uma base de dados nacional de licenciamento onde constem as características das
utilizações e direitos instalados que usam os recursos hídricos para qualquer fim.
Nos últimos anos o Instituto da Água tem realizado investimentos significativos no desenvolvimento do
Sistema Nacional de Recursos Hídricos – SNIRH que pode ser acedido no endereço www.inag.pt onde
constam muitos dados e informações sobre recursos hídricos.
A correcta gestão dos recursos hídricos exige um planeamento rigoroso, um licenciamento nele apoiado
e uma fiscalização confiante. Todas estas actividades estão dependentes de dados e informações de fácil
acesso e actualizados que permitem, em cada momento, a avaliação integrada e tão abrangente quanto
necessária dos problemas e, em compensação, de soluções alternativas e de apoio à decisão. Para isso, e
para além das modernas ferramentas informáticas, é indispensável dados que só a monitorização permite
fornecer e que é a base do sucesso de qualquer administração e da protecção eficaz dos recursos
hídricos.
No ponto 10 encontra-se tratado o tema da monitorização e onde se retoma esta matéria.
Onde mais se faz sentir a falta de dados e informações para o planeamento de recursos hídricos é nos
domínios dos usos e consumos instalados e sua variabilidade temporal, nas vertentes quantitativa e
qualitativa (onde?, quanto?, quando?, para quê?, porquê?, quem?, desde quando?, até quando?), das
rejeições de água residuais nos meios hídricos e solos e suas características espaciais, temporais e
composição, das características das comunidades biológicas dependentes dos recursos hídricos e dos
custos de investimento, exploração e manutenção dos sistemas de utilização e gestão, entre outros.

4.3.6. Síntese dos Consumos, Necessidades de Água e Retornos


No quadro 4.3.36 apresenta-se a síntese dos consumos, necessidades de água e retornos que agrega os
resultados expressos nos capítulos anteriores.
Os valores apresentados nesta síntese e os que lhe estão subjacentes devem ser considerados com a
especificidade que os caracteriza, ou seja, são valores de planeamento resultantes de agregações de base de
trabalho menor, ou como mínimo, as áreas dos concelhos, e nalguns casos resultaram de transformações para
este nível a partir de outras agregações de maior nível por não haver dados disponíveis e acessíveis.
Os resultados apresentados pretendem traduzir as pressões que as diversas actividades humanas exercem
sobre os recursos hídricos e que importa conhecer às entidades que os gerem, isto é, os valores obtidos
reportam-se aos locais de captação no domínio hídrico e, como tal, procuram incluir todas as perdas e
ineficiências na sua utilização dado que tais volumes dos consumos e necessidades totais traduzem a procura
na rede hidrográfica e aquíferos visando assegurar o normal desempenho das actividades humanas.
Os valores que se apresentam referente ao sector agricultura incorporam a melhor informação disponível
obtida com a cooperação dos serviços do MADRP. No entanto, no momento da edição deste documento
foram disponibilizados pelo mesmos serviços os novos dados das áreas e necessidades de água de rega
correspondentes ao RGA 99 e valores inferiores aos apresentados. Não sendo possível neste tema introduzir
as alterações correspondentes apenas foram consideradas as implicações ao nível dos balanços hídricos,
objecto de avaliação no tema 5 - Recursos Hídricos.
A distribuição espacial dos consumos, necessidades e retornos de água, apresenta de forma agregada nas
Figuras 4.3.36 e 4.3.37, revela, como seria de esperar, que os maiores valores dos consumos se localizam nas
bacias hidrográficas de maiores áreas, Tejo e Douro, embora a bacia do Guadiana não respeite esta regra

55/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

ficando-se nos 420 hm3/ano em contraste com a bacia do rio Sado que, tendo menos 1/3 da área da bacia do
Guadiana, tem cerca de 3 vezes mais consumos. Esta diferença resulta do elevado volume de água
mobilizado na bacia do Sado para produção termoeléctrica.
A análise por sectores utilizadores conduz-nos ao evidente destaque da agricultura de regadio como a
actividade responsável pelos maiores volumes de água de consumos e necessidades, como bem demonstra a
Figura 4.3.37.
Os maiores consumos e necessidades da agricultura em ano médio localizam-se sobretudo nas bacias
hidrográficas dos rios Tejo e Douro com 1.990 hm3/ano e 1.350 hm3/ano, seguidos do Mondego, Sado e
Guadiana. Onde se verifica maior procura potencial de água anual média é nas bacias hidrográficas do Tejo e
Douro com cerca de 670 hm3/ano e 460 hm3/ano, sendo a agricultura o sector responsável por cerca de
660 hm3/ano no Tejo e 450 hm3/ano no Douro. As actividades agrícolas de regadio nas bacias dos rios
Mondego, Sado e Guadiana são potenciais utilizadoras em mais 210 hm3/ano, 150 hm3/ano e 130 hm3/ano
em relação aos consumos actuais que se situa nos 630 hm3/ano, 440 hm3/ano e 400 hm3/ano,
respectivamente.

Minho

Lima
ado Y Bragança
#
Cav

Y Viana do Castelo
#

A ve
Y Braga
#

ça
Y Vila Real
#
Le
uro
Y Porto
# Do
ur o
Do

Paiv
a
V oug a

Y Aveiro
# Y Viseu
#
o
n deg
Mo
Y Guarda
#
C ôa

Y Coimbra
# ere
Zêz

Lis

Y Castelo Branco
#
Y Leiria
#
Tejo

Te jo

[ x103 m3 ]
Y Portalegre
# 4000000
Y Santarém
#

Ca
ia

Sorraia
3000000
jo
Te

Y Lisboa
# 2000000

Y Évora
#
Y Setúbal
#
Sado
1000000

0
Y Beja
#
Y
# Capital de Distrito
Rede Hidrográfica
Limites de Plano de Bacia
3 3
Consumos [ x 10 m ]
Mira Necessidades [ x 103 m3 ]
3 3
Rio Gua diana

Retornos [ x 10 m ]

20 0 20 Km
Y Faro
#

Figura 4.3.36 - Distribuição Espacial dos Consumos, Necessidades de Água e Retornos

56/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA
Quadro 4.3.36 - Consumos, Necessidades de Água e Retornos - Quadro Síntese (x103m3)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
57/58 (4 - II)

Nota: Os valores referentes ao sector agricultura não reflectem os resultados mais actuais decorrentes do RGA 99 por estes terem sido disponibilizados pelo MADRP depois de concluídos os
trabalhos de avaliação deste tema embora tenham sido tidos em conta nos balanços apresentados no tema 5 - Recursos Hídricos.
USOS, CONSUMOS E NECESSIDADES DE ÁGUA

9.000.000
Consumos
8.000.000 Necessidades
7.000.000 Retornos

[ x10 3 m 3 ] 6.000.000

5.000.000

4.000.000

3.000.000

2.000.000

1.000.000

Populações Indústria Agricultura T urismo Energia

Figura 4.3.37 - Distribuição Sectorial dos Consumos, Necessidades de Água e Retornos

A análise dos valores dos volumes anuais médios dos consumos permite as seguintes conclusões:
– Os consumos médios totais actuais atingem os 8.750 hm3/ano e as necessidades actuais são de
11.000 hm3/ano no Continente e de 8.820 hm3/ano e 11.100 hm3/ano, respectivamente, em todo o
território nacional;
– Dos consumos retornam em média aos meios hídricos actualmente 2.970 hm3/ano no Continente e
no âmbito nacional 3.020 hm3/ano;
– O consumo do sector agrícola de 6.560 hm3/ano na rega representa 74% do consumo total nacional
do qual retorna aos meios hídricos 1.320 hm3/ano ou seja- 44% do retorno nacional;
– O consumo do abastecimento às populações não chega aos 7% do consumo nacional embora o
retorno signifique cerca de 18% do retorno total nacional;
– A indústria mobiliza cerca de 4% do consumo médio nacional em ano médio embora os seus
retornos atinjam os 11% do total dos retornos;
– O consumo do sector do turismo não tem expressão percentual no compute geral, mas é muito
exigente em termos de garantia e qualidade de serviço a par de ser altamente penalizador no
dimensionamento das diversas componentes dos sistemas de abastecimento e na taxa de
regularização das origens.

58/58 (4 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RECURSOS HÍDRICOS

5. RECURSOS HÍDRICOS

5.1. Introdução
Qualquer política de gestão de recursos hídricos deve assentar no conhecimento da distribuição espacial
e temporal do recurso água. A descrição quantitativa deste recurso é essencial para responder a questões
sobre a quantidade de água disponível e qual o seu padrão de distribuição espacial e temporal. Só com
base nessa informação é que é possível identificar as regiões onde a escassez de água é um fenómeno
crónico, caracterizar as manifestações dessas situações e conceber os meios para a sua solução. Por
outro lado, as questões relativas à qualidade da água não podem ficar dissociadas do aspecto da
quantidade, pois só a integração destas duas valências permite responder a questões associadas às
variações de concentrações de substâncias e traduzem a segurança em relação à potabilidade e
compatibilidade com os usos.
Este tema encontra-se dividido em 5 grandes áreas. Na área 5.2 caracterizam-se as disponibilidades
hídricas do continente e, em particular os recursos hídricos de superfície. Os recursos hídricos
subterrâneos são analisados na área 5.3 e na área 5.4 apresenta-se o balanço disponibilidades versus
necessidades e identificam-se as situações de sobre-exploração de aquíferos. A área 5.5 analisa as
situações hidrológicas extremas. Finalmente a área 5.6 aborda a questão das alterações climáticas.
A área dos recursos hídricos de superfície caracteriza as principais variáveis meteorológicas que
condicionam o escoamento, fornecendo uma descrição dos contrastes anuais e sazonais da precipitação e
evapotranspiração potencial. No ponto 5.2.2.3. é caracterizada a variabilidade anual e sazonal do regime
de escoamento superficial em regime natural tendo por base um modelo matemático. No ponto 5.2.2.4.
analisam-se as séries de recarga obtidas através do modelo e justifica-se porque é que não podem ser
utilizadas na caracterização da recarga de aquíferos. No último ponto são abordados os problemas
identificados ao longo do processo de execução da avaliação dos recursos hídricos superficiais.
A área dos recursos hídricos subterrâneos tem como objectivo caracterizar a hidrodinâmica dos sistemas
aquíferos aquíferos, avaliar as disponibilidades hídricas subterrâneas e analisar as situações de
sobre-exploração a que os aquíferos estão sujeitos.
No ponto 5.3.1.1 são caracterizados os principais mecanismos que regem o funcionamento hidráulico
dos sistemas, com especial realce para os fenómenos de drenância quer natural, quer induzida. Neste
mesmo capítulo é realçada a importância que a heterogeneidade tem na análise da variabilidade espacial
das produtividades sendo esta caracterizada para cada aquífero com base em valores de transmissividade
e de caudal específico.
No ponto 5.3.1.2 são avaliadas por sistema aquífero ou formação hidrogeológica indiferenciada as taxas
de recarga médias.
No ponto 5.3.1.3 é apresentada simulação por modelo numérico, do escoamento da água subterrânea
num sistema aquífero com o objectivo de mostrar a importância que este tipo de ferramenta possui na
análise detalhada do funcionamento hidráulico ou na previsão de cenários de exploração desse sistema.
No ponto 5.3.1.4 são avaliadas para Portugal as disponibilidades hídricas subterrâneas.
Finalmente no ponto 5.3.2 são referidos os problemas identificados ao longo do processo de avaliação
dos recursos hídricos subterrâneos.
Na área 5.4 apresenta o balanço entre disponibilidades e necessidades e identifica as situações de
sobre-exploração de aquíferos.
A área 5.5 analisa as situações hidrológicas extremas, a área 5.6 aborda o tema das alterações climáticas
e a área 5.7 sintetiza os conhecimentos em termos da sedimentologia e erosão.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 1/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

5.2. Recursos Hídricos de Superfície

5.2.1. Enquadramento e Metodologia


A avaliação dos recursos hídricos superficiais, apresentada nesta área, tem como principal objectivo estimar
as séries de valores de escoamento em secções da rede hidrográfica que foram seleccionados pelo seu
interesse para a gestão dos recursos hídricos. Essas séries de valores são necessárias para a quantificação da
capacidade de satisfação das necessidades de água actuais, para a análise de qualidade da água e para a
avaliação do estado de preservação de ecossistemas aquáticos ou ribeirinhos.
Nesta análise é fundamental proceder a uma reconstituição do regime natural do escoamento por forma a
identificar a situação pristina, não alterada pelas actividades antropogénicas, que constitui o ponto de partida para
a avaliação do regime de escoamento na situação actual e para vários cenários de evolução das necessidades de
água.
Para estimar as séries de escoamento em regime natural é necessário extrair das séries de observações de
escoamento os efeitos da utilização da água. Com efeito, a utilização do recurso água faz com que os valores
observados de escoamento correspondam a um regime transitório não estacionário que não podem ser utilizados
para caracterizar a situação prístina. A melhor metodologia para estimar as séries de escoamento em regime
natural, e simultaneamente completar as observações disponíveis, é a modelação matemática. O recurso à
modelação tem a grande vantagem de extrair o máximo de informação dos dados disponíveis, permitindo estimar
o escoamento em locais onde não existem registos hidrométricos ou existem lacunas nas séries de medições.
Essa foi a opção tomada, tendo-se recorrido a um modelo hidrológico que calcula as séries de escoamento mensal
em regime natural a partir de séries de precipitação e de evapotranspiração potencial mensais. Para além das séries
de escoamento, o modelo apresenta ainda estimativas das séries de evapotranspiração real e de recarga dos
recursos subterrâneos.
As séries de escoamento em regime natural correspondem aos recursos superficiais potencialmente utilizáveis
numa bacia. A utilização da água tem, no entanto de estar associada a uma certa garantia de disponibilidade, sem a
qual o valor económico dessa utilização se torna diminuto. A elevada variabilidade do escoamento em Portugal
Continental implica que os valores de escoamento associados a níveis de garantia elevados são bastante inferiores
aos valores médios da séries em regime natural, pelo que os recursos realmente disponíveis são francamente
inferiores aos valores médios dessas séries. A variabilidades do escoamento e a falta de sincronização entre as
disponibilidades e as necessidades faz com que seja necessário recorrer a albufeiras para regularizar as afluências
naturais e adequar a sua variabilidade à evolução das necessidades abastecidas por origens superficiais. A
avaliação do regime de escoamento resultante da operação das albufeiras e a utilização da água para vários usos
exige a realização de um balanço hídrico que considere a capacidade de armazenamento existente na bacia e
compare o escoamento com as necessidades de água, de modo a estimar os volume de água efectivamente
consumidos e a percentagem da água utilizada que volta aos cursos de água sob a forma de retorno. Esse exercício
foi parcialmente realizado no capitulo 5.4
Os resultados apresentados neste Plano têm por base os resultados da 1ª Fase dos PBH. No âmbito da realização
do PNA tentou-se dar consistência e homogeneidade aos resultados obtidos pelos vários PBH completando
sempre que necessário e possível as conclusões aí apresentadas. A compatibilização e completamento dos
resultados exigiu a avaliação das opções tomadas na realização de cada um dos PBH, de modo a verificar os seus
impactes na homogeneidade do resultado final. Em alguns casos foi necessário refazer parte do trabalho de modo
a completar análises ou obter resultados intermédios.
As opções tomadas para ultrapassar as dificuldades encontradas foram condicionadas pelo tempo disponível, pelo
que alguns dos valores deste estudo podem merecer reservas ou comentários. Por essa razão procurou-se
explicitar com clareza a metodologia utilizada e as opções tomadas de modo a permitir ao leitor uma análise
crítica deste trabalho.
A avaliação dos recursos hídricos superficiais não termina com este trabalho. O Capítulo 5.2.4. aponta os passos
que é necessário realizar para o aprofundamento de um conjunto de questões que ainda se encontram por
responder.

2/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

5.2.2. Disponibilidades em Regime Natural

5.2.2.1. Regime de Precipitações


A caracterização do regime de precipitação recorreu aos valores medidos nos postos da rede de monitorização,
depois de avaliada a homogeneidade e consistência dos seus registos. As séries de dados observados foram
completadas de modo a obter o registo completo no período entre os anos hidrológicos de 1941/42 a 1990/91.
Para colmatar a ausência de informação pluviométrica em zonas de altitude foram definidos postos virtuais,
localizados principalmente em cumeadas de encostas com desníveis de altitude superiores a 300-400 m e sem
postos de observação. Os valores anuais nesses postos virtuais foram obtidos por extrapolação dos valores da
precipitação anual observados em postos da região próxima do posto virtual, em que a altitude foi a variável
independente. Os valores mensais foram posteriormente calculados por desagregação da série anual.
Dos 775 postos utilizados nos PBH para a caracterização espacial e temporal da precipitação 211 são postos
virtuais, estando estes últimos localizados na sua grande maioria a norte do rio Tejo, onde o relevo é mais
irregular (Figura 5.2.1).
A precipitação anual média em Portugal Continental é cerca de 960 mm, o que corresponde um volume anual
3
médio cerca de 85,7 km . De um modo geral, verifica-se que as regiões situadas a norte do rio Tejo têm
precipitações anuais médias superiores à média do País, enquanto que as regiões a sul do referido rio apresentam
valores inferiores à média (Figura 1.2.1.. e Figura 5.2.2.). As características mais marcantes da distribuição
espacial da precipitação foram apresentadas no ponto 1.2.1.1..

Figura 5.2.1 - Identificação dos Postos de Precipitação

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 3/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS
Precipitação anual (mm)

Regiões hidrográficas

Figura 5.2.2 - Precipitação Anual Média por Região Hidrográfica


Precipitação (mm)

Meses

Figura 5.2.3 - Gráfico Box-Whiskers Para a Precipitação Média Mensal em Portugal Continental

Os valores elevados de precipitação obtidos para a bacia do rio Lima (que pontualmente chegam a
ultrapassar os 4000 mm) chamam à atenção para a influência que a utilização de postos virtuais tem na
estimativa das superfícies de precipitação. A utilização de postos virtuais para colmatar as falhas de
monitorização em regiões de maior altitude é uma medida que visa obter uma melhor descrição da
variabilidade espacial e altimétrica da precipitação. É natural que as estimativas obtidas com inclusão de
postos virtuais sejam mais elevadas que os valores estimados sem esses postos. No entanto, a diferença entre
as estimativas obtidas, com e sem postos virtuais, é em certos locais da região noroeste muito significativa,
pelo que se justificam algumas reservas aos valores apresentados.
À irregularidade da distribuição espacial junta-se também uma elevada irregularidade sazonal. De acordo
com a Figura 5.2.3 e Quadro 5.2.1. os máximos de precipitação observam-se entre os meses de Dezembro e
Janeiro, concentrando-se no mês de Fevereiro a maior dispersão de valores. Por outro lado, os valores

4/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

mínimos verificam-se entre os meses de Julho e Agosto e cerca de 70% da precipitação concentra-se durante
o semestre húmido. Esta sazonalidade tende a ser mais acentuada a sul da bacia do rio Tejo onde cerca de
80% da precipitação se concentra nos meses do semestre húmido (Outubro a Março), contra os 73% nas
bacias hidrográficas situados a norte dessa bacia.
Quadro 5.2.1 - Distribuição da Precipitação Mensal Média por Região Hidrográfica

Região Precipitação (mm)


Hidrográfica
Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Ano
Minho 185 232 275 265 248 206 145 141 77 31 46 103 1954
Lima 205 257 316 318 278 241 153 152 84 34 50 120 2208
Cávado 200 255 309 306 277 244 156 151 88 33 46 107 2172
Ave 170 205 258 252 227 198 137 134 81 36 44 88 1830
Leça 134 166 192 189 159 145 101 95 51 17 24 61 1334
Douro 96 122 140 131 129 108 82 76 47 17 17 51 1016
Vouga 142 186 220 216 204 170 119 109 58 18 25 66 1533
Mondego 131 153 153 145 128 99 86 56 21 16 43 93 1124
Lis 97 122 141 136 124 109 79 67 31 7 11 40 964
Tejo 88 116 125 120 112 101 74 61 31 8 8 40 884
Rib. Oeste 84 114 119 113 101 90 71 55 26 5 8 35 821
Sado 64 82 93 85 81 75 56 38 17 4 3 24 622
Mira 73 98 108 94 88 85 59 40 15 2 3 24 689
Guadiana 60 75 83 73 70 70 53 36 19 3 3 23 568
Rib. Algarve 85 122 138 120 111 102 70 44 17 2 4 25 840
Continente 94 121 136 129 122 108 79 67 37 11 13 44 962

1600
1400
Precipitação (mm)

1200
1000
800
600
400
200
0
1941

1944

1947

1950

1953

1956

1959

1962

1965

1968

1971

1974

1977

1980

1983

1986

1989

Anos

Prec. Anual média Média móvel de 5 anos

Figura 5.2.4 - Série de Precipitação Anual Média em Portugal Continental no Período 1941/42 a 1990/91

A irregularidade temporal da precipitação é outro dos traços marcantes do clima em Portugal Continental.
Verifica-se que a precipitação anual média para o período dos anos hidrológicos de 1941/42 a 1990/91
variou entre os 564 mm (1944/45) e os 1466 mm (1965/66). A década de 40 foi particularmente seca,
contrastando com a década de 60 que correspondeu a um período mais húmido (Figura 5.2.4).
Apesar da precipitação média no Continente ser de 960 mm, cerca de 25% dos anos tem precipitação abaixo
dos 800 mm ou acima dos 1100 mm. A variabilidade da precipitação aumenta de Norte para Sul como
mostra a razão G10/G90 apresentada no Quadro 5.2.2, em que G90 e G10 são os valores de precipitação
correspondentes aos percentis de 90 e 10%, respectivamente.

Quadro 5.2.2 - Quantis da Precipitação Anual Média por Região Hidrográfica

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 5/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

Precipitação (mm)
Região Hidrográfica Garantia G90/G10
5% 10% 20% 50% 80% 90%
Minho 2825 2392 2048 1695 1496 1311 1.9
Lima 3185 2931 2300 1851 1727 1577 1.8
Cávado 2963 2642 2029 1677 1532 1416 1.9
Ave 2602 2209 1758 1467 1323 1264 2.0
Leça 1946 1603 1298 1045 880 865 2.2
Douro 1476 1261 998 783 674 641 2.2
Vouga 2231 1889 1475 1203 922 889 2.4
Mondego 1597 1302 1105 874 731 703 2.2
Lis 1320 1214 915 723 674 630 2.0
Tejo 1077 991 788 647 564 531 1.9
Rib. Oeste 1181 1034 822 650 607 569 1.9
Sado 831 786 589 483 406 341 2.0
Mira 926 849 663 518 419 354 2.2
Guadiana 767 717 541 419 383 304 2.0
Rib. Algarve 1190 1053 815 651 497 461 2.4
Continente 1368 1181 925 729 674 651 2.0

5.2.2.2. Evapotranspiração Potencial


A evapotranspiração potencial (EVP) não é medida de forma sistemática na rede climatológica nacional, pelo
que é necessário estimá-la a partir de outras variáveis climáticas. Entre as várias metodologias disponíveis, o
método de Penman-Monteith é aquele que tem vindo a fornecer resultados mais precisos. Este método estima
a evapotranspiração potencial em função de valores observados de temperatura, insolação, humidade do ar e
velocidade do vento.

Figura 5.2.5 - Estações Climatológicas

6/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

A caracterização do regime de evapotranspiração potencial aqui apresentada foi determinada de acordo com
o valor mensal de temperatura média diária, insolação, velocidade do vento e humidade registados em 66
estações climatológicas (Figura 5.2.5).
As séries de observações foram completadas e avaliadas pelo recurso a técnicas estatísticas de modo a obter
registos completos no período entre os anos hidrológicos de 1941/42 a 1990/91.
As características gerais espaciais desta variável climática foi apresentada no ponto 1.2.1.3. Observando a
Figura 5.2.6. destacam-se de um modo geral três grandes regiões com configuração diferente da observada
na precipitação. Um primeira região corresponde às áreas situadas a sul da bacia hidrográfica do rio Sorraia e
ribeiras de costa entre Setúbal e Óbidos com valores da EVP superiores a 1100 mm. A segunda região
corresponde às áreas litorais da bacia dos rios Sado e Mira com valores de EVP semelhantes ao da terceira
região, que corresponde à área a norte da bacia hidrográfica do rio Tejo, onde o valor anual médio da EVP é
inferior a 1000 mm.

Figura 5.2.6 - Gráfico Box-Whiskers Para a Evapotranspiração Potencial por Região Hidrográfica

Quadro 5.2.3 - Distribuição da Evapotranspiração Potencial Mensal Média por Região Hidrográfica
Evapotranspiração potencial (mm)
Região hidrográfica
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Ano
Minho 70 40 29 30 40 65 92 129 150 172 159 105 1081
Lima 68 40 29 30 40 66 93 124 144 164 150 102 1050
Cávado 62 35 25 25 35 61 86 113 135 156 141 97 971
Ave 62 36 26 26 35 62 87 111 131 149 134 95 954
Leça 62 37 29 29 37 62 86 107 125 140 127 91 932
Douro 64 35 24 24 34 62 88 117 144 172 156 105 1025
Vouga 71 42 31 31 44 66 89 116 139 162 150 106 1047
Mondego 75 46 34 33 45 63 84 111 135 162 154 110 1052
Lis 109 80 58 48 95 49 65 83 115 144 153 130 1129
Tejo 80 48 34 33 43 65 88 120 146 181 167 119 1124
Rib Oeste 104 73 53 45 52 54 71 94 125 163 161 131 1126
Sado 74 40 29 31 42 71 98 133 158 184 168 117 1145
Mira 76 44 33 35 44 72 97 129 151 177 159 117 1134
Guadiana 80 43 29 32 42 74 103 142 174 206 187 130 1242
Rib Algarve 85 51 40 40 49 79 104 137 158 186 174 126 1229
Continente 72 40 29 30 40 69 94 126 151 177 162 112 1102

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 7/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

Tal como a precipitação, a evapotranspiração potencial é também caracterizada por uma acentuada
variabilidade sazonal. Verifica-se que o valor da evapotranspiração potencial é mínimo nos meses de
Dezembro a Janeiro e é máximo entre os meses de Julho a Agosto (Quadro 5.2.3).
De acordo com a Figura 5.2.7., verifica-se que a variabilidade interanual da evapotranspiração potencial é
menor que a da precipitação. A razão G10 e G90 ronda 1.1, valor francamente inferior ao valor obtido para a
precipitação (2.0). No período de referência a década de 40 foi aquela que apresentou um maior valor de
evapotranspiração potencial, contrastando com as décadas de 70 e 80 que apresentaram valores
sistematicamente inferiores à média.

1250
Evapotranspiração potencial anual

1200
1150
1100
(mm)

1050
1000
950
900
1941

1944

1947

1950

1953

1956

1959

1962

1965

1968

1971

1974

1977

1980

1983

1986

1989
Anos

Evapotranspiração anual média Média móvel de 5 anos

Figura 5.2.7 - Série de Evapotranspiração Potencial Anual Média em Portugal Continental


no Período 1941/42 a 1990/91
Quadro 5.2.4 - Quantis da Evapotranspiração Potencial Anual Média por Região Hidrográfica
Evapotranspiração potencial (mm)
Região Hidrográfica Garantia G10/G90
5% 10% 20% 50% 80% 90%
Minho 1092 1073 1046 1028 1009 1004 1.08
Lima 1099 1079 1069 1057 1047 1039 1.05
Cávado 1124 1102 1075 1055 1031 1010 1.09
Ave 1132 1123 1093 1065 1041 1032 1.09
Leça 1073 1059 1035 1002 970 966 1.11
Douro 1080 1042 993 937 929 914 1.16
Vouga 1190 1159 1129 1095 1065 1052 1.12
Mondego 1206 1185 1144 1103 1083 1063 1.11
Lis 1145 1126 1095 1041 1031 1021 1.11
Tejo 1223 1213 1182 1141 1119 1094 1.09
Rib Oeste 1134 1123 1103 1099 1059 1035 1.07
Sado 1226 1206 1172 1127 1107 1083 1.11
Mira 1169 1140 1114 1063 1045 1032 1.12
Guadiana 1226 1211 1173 1139 1110 1089 1.10
Rib Algarve 1279 1236 1206 1178 1161 1152 1.10
Continente 1138 1122 1102 1078 1054 1036 1.08

5.2.2.3. Regime de Escoamento


O regime de escoamento natural foi caracterizado a partir das séries de escoamento mensal calculadas para 196
secções de avaliação distribuídas pelo território continental seleccionadas entre as mais de 500 secções de

8/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

avaliação definidas no âmbito dos trabalhos dos PBH. As áreas das bacias hidrográficas próprias1 dessas secções
2 2
de avaliação variam entre os 2 km (albufeira da Estevinha) e os 2280 km (albufeira de Cabril). Procedeu-se à
agregação dos resultados da simulação determinados para as 500 secções de avaliação dos PBH para estimar
séries de escoamento em 196 secções de avaliação de recursos hídricos (Figura 5.2.8). Os critérios de selecção das
196 secções de avaliação foram os seguintes:
• Confluência de linhas de água importantes;
• Existência de albufeiras construídas que constituem reservas estratégicas de água;
• Secções de monitorização previstas no âmbito da Convenção Luso-Espanhola, assinada em Albufeira em
Novembro de 1998;
• Locais importantes sobre o ponto de vista da aplicação do Decreto Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto que
estabelece normas, critérios e objectivos de qualidade com a finalidade de proteger o meio aquático e
melhorar a qualidade das águas em função dos principais usos.
O modelo hidrológico utilizado é designado por modelo de Temez, um modelo conceptual e espacialmente
agregado, pelo que apenas necessita de séries de tempo de valores médios sobre toda a bacia hidrográfica a
simular. A escala temporal adoptada é o mês.
O modelo de Temez possui 4 parâmetros cujos valores é necessário obter por um processo de calibração e os
resultados do modelo são ajustados aos valores observados de escoamento. No conjunto dos 15 PBH procedeu-se
à calibração de 119 bacias hidrográficas a partir das quais foi possível estimar os parâmetros do modelo para as
secções de avaliação.

Figura 5.2.8 - Localização das Secções de Avaliação dos Recursos Hídricos Superficiais do PNA

( 1) Define-se bacia hidrográfica própria de uma secção de avaliação aquela que contendo outras secções de avaliação
a montante exclui a área drenada apenas por essas secções.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 9/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

O regime de escoamento é fortemente influenciado pela variabilidade espacial e temporal das principais variáveis
climáticas, sobretudo da precipitação, que conduz necessariamente a um regime de escoamento com elevada
irregularidade, muito característica do sul da Europa. Em termos gerais no território continental, o litoral norte
húmido contrasta com o interior sul mais seco, concentrando-se o escoamento nos meses de Inverno a que se
seguem longos períodos de caudal mais reduzido. A variabilidade interanual é também muito acentuada.
3
O escoamento anual médio em Portugal Continental é de 385 mm/ano, equivalente a um volume de 30.7 km . De
acordo com a Figura 5.2.9 verifica-se que os 962 mm/ano de precipitação que ocorrem sobre Portugal continental
dividem-se em 577 mm/ano de evapotranspiração real e 385 mm/ano de escoamento.

E v a p o tr a n s p ir a ç ã o
P r e c ip ita ç ã o (577 m m )
(9 6 2 m m )

E s c o a m e n to
385 m m

Figura 5.2.9 - Balanço Hidrológico em Portugal Continental

A Figura 5.2.10 mostra a variação média ao longo do ano das várias componentes do balanço hidrológico. É
interessante verificar que o máximo da precipitação ocorre em Dezembro e que o máximo do escoamento ocorre
em Fevereiro. No início do ano hidrológico o baixo teor de humidade dos solos faz com que as primeiras chuvas
do ano contribuam substancialmente para a recarga. Com a saturação dos solos a precipitação tende a provocar
um maior escoamento superficial, em detrimento da recarga, dando origem ao desfasamento de picos observados.
É também possível constatar que a evapotranspiração real tem o seu máximo em Maio, dois meses antes do
máximo da evapotranspiração potencial. Apesar das condições climatéricas de Julho conduzirem a valores
elevados de evapotranspiração potencial, a ausência de água no solo faz com que essa capacidade
evaporativa não seja aproveitada.

200

150
(mm)

100

50

0
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Meses

PRE EVP EVR ESC

Figura 5.2.10 - Síntese do Balanço Hídrico à Escala Mensal para Portugal Continental

O Quadro 5.2.5 resume os resultados obtidos na modelação matemática dos processos hidrológicos que
ocorrem em cada bacia hidrográfica. De um modo geral as bacias hidrográficas que apresentam valores
extremos são as bacias hidrográficas do rio Lima com altos valores de precipitação e de escoamento anual
médio e a bacia hidrográfica do rio Guadiana com baixos valores de precipitação e de escoamento anual médio.
Em consequência do efeito da variabilidade climática, o escoamento segue de um modo geral um
comportamento semelhante ao da precipitação, mas com uma variabilidade regional mais acentuada.

Quadro 5.2.5 - Resumo dos Resultados da Simulação

10/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

Área agregada Precipitação Evapotranspiração real Escoamento Escoamento


Bacia Hidrográfica
(km2) (mm) (mm) (mm) (hm3)
Minho 814 1 954 652 1 301 1 059
Lima 1 172 2 208 819 1 390 1 629
Cávado 1 593 2 172 852 1 318 2 099
Ave 1 335 1 830 907 920 1 228
Leça 185 1 334 772 562 104
Douro 18 570 1 016 521 495 9 192
Vouga 2 344 1 532 718 814 1 908
Mondego 6 658 1 181 665 515 3 430
Lis 837 964 654 310 260
Ribeiras do Oeste 1 655 884 639 181 300
Tejo 24 460 821 632 252 6 164
Sado 6 271 622 467 155 972
Mira 1 025 689 496 191 196
Guadiana 11 300 568 401 167 1 887
Ribeiras do Algarve 1 683 840 630 207 348
Continente 79 902 962 577 385 30 779

Figura 5.2.11 - Distribuição Espacial do Escoamento Anual Médio em Portugal Continental


no Período de 1941/42 a 1990/91(2)

( 2) As áreas não abrangidas pela avaliação correspondem a áreas que drenam directamente para estuários ou áreas de
pequenas ribeiras de costa, que por falta de registos não é possível a calibração do modelo de cálculo.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 11/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

Da Figura 5.2.11 destaca-se o contraste dos rios do norte em relação aos rios do sul, apresentando os rios a
norte da bacia hidrográfica do rio Tejo disponibilidades anuais médias superiores à média do Continente. Na
bacia hidrográfica do rio Tejo é claro o contraste entre a margem norte, com mais disponibilidade de
recursos hídricos em regime natural, e a margem sul, mais pobre em recursos hídricos. Também é assinalável
a escassez de recursos no interior da bacia hidrográfica do rio Douro.
A bacia hidrográfica que dispõe mais recursos superficiais anuais médios por unidade de área é a bacia
hidrográfica do rio Lima, com cerca de 1400 mm, enquanto que a bacia hidrográfica do rio Douro é a que
apresenta o maior valor de escoamento na sua foz em termos de volume (Quadro 5.2.6). A bacia hidrográfica
do rio Sado, com cerca de 150 mm, é que dispõe menos recursos superficiais anuais médios por unidade de
área.
O escoamento total dos rios internacionais tem forte dependência dos escoamentos provenientes de Espanha,
o que é também visível no Quadro 5.2.6. Com efeito o escoamento em regime natural dos rios Douro, Tejo e
Guadiana nas secções de fronteira é cerca de 68% do seu escoamento na foz. Esta percentagem não engloba
os escoamentos afluentes através dos outros dois rios internacionais, o Lima e o Minho, e de um conjunto de
afluentes importantes provenientes de Espanha como o Águeda, no Douro, o Erges e o Sever no Tejo, o
Chança e o Ardila, no Guadiana. O escoamento médio produzido em Espanha por unidade de área nas bacias
hidrográficas internacionais é, no entanto, inferior ao escoamento produzido em território português.

Quadro 5.2.6 - Escoamento Anual Médio por Bacia Hidrográfica

Escoamento anual médio (mm) Escoamento anual médio (km3)


Bacia
Portugal Espanha3 Total Portugal Espanha2 Total
Minho 1301 681 711 1.1 11.05 12.15
Lima 1390 1213 1400 1.5 1.9 3.5
Cávado 1318 - 1318 2.1 - 2.1
Ave 920 - 920 1.2 - 1.2
Leça 562 - 562 0.1 - 0.1
Douro 495 173 289 9.2 13.66 22.86
Vouga 814 - 814 1.9 - 1.9
Mondego 515 - 515 3.4 - 3.4
Lis 310 - 310 0.3 - 0.3
Rib. Oeste 181 - 181 0.3 - 0.3
Tejo 252 195 212 6.2 10.88 17.08
Sado 155 - 155 1.0 - 1.0
Mira 191 - 191 0.3 - 0.3
Guadiana 167 91 110 1.9 5.47 7.37
Rib. Algarve 207 - 207 0.3 - 0.3
Continente 385 223 304 30.7 110.11 140.8

O escoamento em Portugal Continental é caracterizado por uma acentuada sazonalidade, com cerca de 60%
do escoamento anual médio a concentrar-se no semestre húmido (Quadro 5.2.7). Este valor é ligeiramente
mais baixo que a percentagem da precipitação anual que ocorre no mesmo período, o que pode ser explicado
pelo efeito atenuador das descargas dos aquíferos que garantem o escoamento superficial durante os meses
de Verão.
A irregularidade temporal da precipitação exerce uma clara influência sobre a evolução temporal do
escoamento, exibindo ambas as variáveis um comportamento temporal semelhante. Durante o período de
1941/42 a 1990/91, 25% dos anos têm escoamento anual superior a 550 mm ou inferior a 250 mm (Figura
5.2.12). O ano mais seco ocorreu em 1975/76, com cerca de 77 mm, e o ano mais húmido em 1965/66, com
cerca de 882 mm.

(3) De acordo com o “Libro Blanco del Agua en España”

12/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

Quadro 5.2.7 - Distribuição Mensal do Escoamento por Bacia Hidrográfica

Região Escoamento (mm)


Hidrográfica Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Ano
Minho 103 160 222 228 210 158 84 66 21 3 8 39 1301
Lima 69 124 200 240 233 197 125 94 50 21 12 26 1390
Cávado 61 112 181 219 221 195 125 94 53 23 12 21 1318
Ave 31 59 113 149 159 145 102 75 45 21 11 10 920
Leça 19 39 71 95 99 91 62 44 24 10 4 4 562
Douro 20 43 76 89 94 73 43 29 14 6 3 4 495
Vouga 31 65 124 151 154 118 67 48 26 14 8 7 814
Mondego 16 36 72 93 99 79 49 33 19 10 5 4 515
Lis 8 17 42 61 69 54 31 17 6 3 1 1 310
Rib. Oeste 10 20 26 28 28 26 19 13 6 2 1 2 181
Tejo 6 14 30 42 49 46 29 19 10 5 2 2 252
Sado 3 9 29 36 39 29 7 2 0 0 0 0 155
Mira 5 14 39 43 43 36 9 3 0 0 0 0 191
Guadiana 6 15 35 36 35 26 8 3 1 0 0 0 167
Rb Algarve 6 16 39 39 41 35 18 8 3 1 0 0 207
Continente 14 30 57 69 73 60 35 23 12 5 3 4 385

A Figura 5.2.13 apresenta a curva de distribuição empírica do escoamento anual em regime natural definido
para Portugal Continental.
Verifica-se que embora a variabilidade do escoamento anual nas bacias hidrográficas a norte do rio Tejo seja
maior que a das bacias hidrográfica situadas a sul do referido rio (Figura 5.2.14), em termos relativos a
irregularidade do escoamento anual aumenta de norte para sul (Quadro 5.2.8). As bacias do Sado, Mira e das
ribeiras do Algarve têm os valores de G10/G90 mais elevados, existindo anos em que o escoamento
apresenta valores próximos de zero.

Quadro 5.2.8 - Probabilidade Associada ao Escoamento Anual por Bacia Hidrográfica

Escoamento em regime natural (mm)


Região
Hidrográfica Garantia
G10/G90
95% 90% 80% 50% 20% 10%
Minho 634 779 979 1271 1635 2041 2.6
Lima 643 758 967 1285 1813 2217 2.9
Cávado 566 684 899 1188 1799 2149 3.1
Ave 364 409 541 848 1271 1636 4.0
Leça 179 202 303 510 841 1093 5.4
Douro 147 169 273 453 742 851 5.0
Vouga 253 288 466 750 1203 1435 5.0
Mondego 116 137 325 519 739 948 6.9
Lis 41 59 111 271 511 695 11.8
Tejo 39 42 97 227 400 513 12.2
Rib. Oeste 39 42 97 222 400 513 12.2
Sado 1 3 29 131 297 342 114.0
Mira 0 0 39 174 322 431 -
Guadiana 49 61 87 172 304 364 6.0
Rib. Algarve 15 15 62 177 338 428 28.5
Continente 110 130 230 334 567 685 5.3

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 13/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

1000
Escoamento (mm)

800
600
400
200
0
1941

1944

1947

1950

1953

1956

1959

1962

1965

1968

1971

1974

1977

1980

1983

1986

1989
Anos

Esc. Anual médio Média móvel de 5 anos

Figura 5.2.12 - Série de Escoamento Anual Médio em Portugal Continental no Período 1941/42 a 1990/91

1
Probabilidade de não excendência

0.9
0.8
0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
Escoamento anual (mm)

Figura 5.2.13 - Curva Empírica de Escoamento Anual

Figura 5.2.14 - Gráfico Box-Whiskers Para o Escoamento Anual Médio em Portugal Continental

14/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

5.2.2.4. Recarga de Aquíferos


A modelação matemática dos fenómenos hidrológicos produziu séries de recarga que em princípio poderiam
ser utilizadas na caracterização da distribuição espacial e a variabilidade temporal da recarga dos aquíferos.
Esses valores não foram, no entanto, confrontados com valores observados pelo que a sua utilização não é
aconselhável.
Durante o processo de calibração do modelo procurou-se ajustar as séries de escoamento estimado pelo
modelo às séries observadas, mas a impossibilidade de monitorização directa da recarga impede que estas
séries também sejam utilizadas na estimativa dos parâmetros do modelo. A recarga funciona assim como
uma fuga que pode atenuar os erros de dados e as aproximações resultantes da formulação do modelo.
Uma análise mais aprofundada da formulação do modelo permite constatar que um dos seus parâmetros
determina o valor da recarga sem afectar o valor do escoamento. Com efeito, o parâmetro Imax determina a
divisão entre o escoamento superficial imediato à precipitação e a recarga, as duas componentes do
escoamento total. Tal significa que é possível escolher o valor de Imax sem prejudicar a qualidade do
ajustamento do hidrograma simulado ao hidrograma calculado. Na impossibilidade de confrontar os valores
de recarga calculados com valores observados, Imax pode assumir qualquer valor e os valores das séries de
recarga resultantes da aplicação do modelo não tem significado.
Para ultrapassar este problema propõe-se estimar Imax a partir das características hidrogeológicas da bacia
em análise, fixar o parâmetro no valor escolhido e excluí-lo do processo de calibração. Adoptando esta
solução será possível recorrer às series de recarga estimadas pelo modelo para caracterizar a variabilidade
temporal desta variável.
5.2.3. Disponibilidades Hídricas de Superfície
O Quadro 5.2.11 apresenta um resumo do escoamento em regime natural na foz dos principais cursos de
água, tendo em atenção o escoamento gerado na área da bacia hidrográfica em território nacional.
Considerando o escoamento gerado na parte espanhola da bacia hidrográfica dos rios internacionais, o
escoamento em regime natural na foz é o definido no Quadro 5.2.12.
Quadro 5.2.11 - Disponibilidade Hídricas Anuais em Regime Natural por Bacia em Portugal Continental
Escoamento anual em regime natural (hm3)
Capacidade de
Bacia Hidrográfica armazenamento em albufeiras Garantia
Portuguesas (hm3)
95% 90% 80% 50% 20% 10%
Minho 0.20 516 634 797 1034 1331 1661
Lima 400 754 888 1133 1506 2125 2598
Cávado 1180 901 1089 1432 1892 2865 3422
Ave 100 486 546 722 1132 1697 2184
Leça 0 33 37 56 94 156 202
Douro 1078 2730 3138 5070 8412 13779 15803
Vouga 1 593 675 1092 1758 2820 3364
Mondego 540 774 911 2166 3454 4921 6314
Lis 0 34 49 93 227 427 581
Ribeiras do Oeste 1 96 113 154 267 425 551
Tejo 2750 954 1027 2373 5430 9784 12548
Sado 771 6 19 182 822 1862 2145
Mira 486 0 0 60 266 492 659
Guadiana 460 554 689 983 1944 3435 4113
Ribeiras do Algarve 63 25 25 104 298 569 720
Continente 7830 8776 10364 18402 26694 45281 54786

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 15/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

Quadro 5.2.12 - Disponibilidade Hídricas Acumuladas em Regime Natural


nas Bacias Hidrográficas dos Rios Internacionais

Escoamento anual em regime natural (hm3)


Capacidade de armazenamento
Bacia Hidrográfica das albufeiras Garantia
(hm3)
95% 90% 80% 50% 20% 10%
Minho 2810 5749 5938 7276 9997 14411 17411
Lima 550 1037 1605 1947 2730 4048 4614
Douro 8750 9888 12471 16278 22573 33963 37102
Tejo 13890 6833 10004 11845 16695 25438 28503
Guadiana 9680 497 1051 1744 5652 12880 14547
Total 35680 24004 31069 39090 57647 90740 102177

Quadro 5.2.13 – Disponibilidades em Regime Regularizado

Capacidade de Escoamento anual


Escoamento anual
armazenamento das (Regime natural nas BH nacionais e regime
(Regime regularizado)
Região bacias hidrográficas actual nas BH Internacionais)
(hm3)
hidrográfica em território (hm3)
nacional
(hm3) Garantia Garantia Garantia Garantia Garantia Garantia
90% 80% 50% 90% 80% 50%
Minho 0.2 5821 6594 8416 5931 6693 8465
Lima 400 1605 1947 2730 2110 2462 3065
Cávado 1180 1089 1432 1892 1769 1960 2099
Ave 100 546 722 1132 612 794 1048
Leça 0 37 56 94 38 60 94
Douro 1078 8790 11806 17291 9112 11920 17841
Vouga 1 675 1092 1758 721 1108 1732
Mondego 540 911 2166 3454 1452 2324 3430
Lis 0 49 93 227 63 121 225
Rib. Oeste 1 113 154 267 131 163 267
Tejo 2750 1027 2373 5430 6398 8878 14021
Sado 771 19 182 822 612 716 918
Mira 486 0 60 266 268 289 291
Guadiana 460 660 1001 2944 962 1476 3156
Rib. Algarve 63 25 104 298 105 160 327
Continente 7830,2 21367 29782 47021 30284 39124 56979

Para avaliar as disponibilidades hídricas regularizadas de cada bacia apresenta-se no Quadro 5.2.13
estimativas do seu valor na foz de cada bacia, assumindo que a capacidade de armazenamento da bacia se
concentra num único ponto localizado foz da bacia hidrográfica. A determinação do escoamento em regime
regularizado nas bacias hidrográficas dos rios internacionais teve em linha de conta as afluências geradas em
regime modificado nas secções de fronteira, de acordo com os dados dos planos de bacia hidrográfica
espanhóis. Os valores apresentados constituem, portanto, aproximações dos reais valores regularizados.
5.2.4. Problemas de Conhecimento dos Recursos Hídricos de Superfície e
Necessidade de Investigação
A apresentação de resultados sob a forma de quadros, esquemas ou gráficos pode, também, dar a sensação
que não existem erros associados aos valores obtidos e que confiamos inteiramente nas estimativas
apresentadas.

16/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

Ambas estas ideias estão longe de estarem correctas. Existem lacunas de conhecimento e incerteza associada
aos valores apresentados que, embora não impeçam a definição de uma política de gestão dos recursos
hídricos, convém que sejam melhoradas de modo a fundamentar com mais rigor as opções de planeamento.
A falta de dados ou a existência de erros são sempre apontadas como obstáculos a uma correcta avaliação
dos recursos hídricos. Embora estes problemas sejam, por vezes, abusivamente utilizados para justificar
trabalhos menos aprofundados, também é verdade que eles existem e que não podem ser ignorados. O tema
10 faz um diagnóstico dos problemas de monitorização existentes em Portugal e apresenta os programas em
curso ou previstos para ultrapassar a presente situação. Em particular, é importante ultrapassar as lacunas de
informação pluviométrica em zonas de altitude, principalmente no Noroeste onde a consideração de postos
virtuais tornou evidente a escassez de dados de altitude.
A determinação da evapotranspiração potencial tem associada duas causas que lhe conferem um elevado
grau de incerteza. Estas causas são a baixa densidade de estações climatológicas existente em Portugal e a
ausência de medição da radiação solar.
No que respeita a dados hidrométricos é fundamental retomar o esforço de obtenção de medições de caudal
que permitam manter curvas de vazão rigorosas e actualizadas. A situação geográfica de Portugal aconselha
também um especial cuidado na monitorização das afluências provenientes de Espanha.
A monitorização não pode ser dissociada da disponibilização dos dados. A existência de dados em locais de
difícil acesso ou em forma de papel desencoraja a sua utilização pela comunidade técnico-científica. O
esforço que o INAG tem realizado no campo da digitalização e disponibilização de dados, sendo assinalável,
não está concluído.
O PNA apoiou-se nos relatórios dos PBH de modo a garantir a compatibilização entre os resultados de
ambos os Planos. Embora a metodologia geral seguida nos vários PBH tenha sida a mesma, estes estudos
divergem em algumas hipóteses assumidas ou nas opções tomadas, o que eventualmente pode conduzir a
resultados inconsistentes. Tendo presente que não seria possível refazer grande parte dos trabalhos de modo
a obter a consistência pretendida, com a análise realizada tentou-se averiguar se as diferenças detectadas
conduzem a resultados significativamente diferentes. A esmagadora maioria dos resultados foram aceites
como consistentes tendo em conta os objectivos pretendidos. Foram, no entanto, detectados alguns
problemas que devem ser destacados para que possam ser corrigidos quando para tal houver condições.
É importante realizar um esforço de modelação padronizado a nível nacional que permita sugerir
metodologias e modelos e indicar valores padrão de possam ser utilizados em estudos expeditos ou em
situações de faltas de dados. O esforço de modelação hidrológica deve incidir sobre os seguintes vectores
fundamentais:
• Regionalização prévia do parâmetro Imax com base nas características hidrogeológicas das bacias em
análise;
• Incorporar dados relativos a anos hidrológicos recentes, que permita a validação da calibração
efectuada, dando maior consistência matemática ao processo de calibração do modelo;
• Utilização de várias escalas temporais, nomeadamente a escala diária;
• Integração das componentes superficiais e subterrâneas do ciclo hidrológico, dando uma maior
consistência física ao complexo processo de transformação da precipitação em escoamento,
incorporando no processo de calibração do modelo a variabilidade hidrogeológica;
• Modelação da totalidade da área das bacias hidrográficas partilhadas com Espanha, permitindo uma
base de entendimento comum sobre as disponibilidade existentes em regime natural nas secções de
fronteiras e foz dos rios internacionais.
No tratamento desta matéria deparou-se com algumas dificuldades na caracterização da variabilidade
espacial das variáveis climáticas que no futuro podem vir a ser superadas com a utilização de técnicas de
detecção remota, nomeadamente radares meteorológicos e de satélites. Estas técnicas permitem obter a
custos razoáveis boas descrições da variabilidade espacial da precipitação ou da humidade no solo,
permitindo a implementação de modelos apoiados em sistemas de informação geográfica.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 17/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

5.3. Recursos Hídricos Subterrâneos

5.3.1. Disponibilidades em Regime Natural


5.3.1.1. Caracterização Hidrodinâmica dos Sistemas Aquíferos ou Formações
Hidrogeológicas
No Quadro 5.3.1 estão descritos os tipos litológicos dos sistemas aquíferos identificados. Em termos de
extensão geográfica a Figura 5.3.1 mostra que os aquíferos porosos são os que ocupam uma maior parcela
(60%) da área coberta pela totalidade dos sistemas (cerca de 18.000 km2).
Quadro 5.3.1 - Tipos Litológicos em Cada Sistema Aquífero

CÓD. SISTEMA AQUÍFERO TIPO


CÓD. SISTEMA AQUÍFERO TIPO
ORLA OCIDENTAL
ORLA MERIDIONAL O19 Alpedriz Poroso
O6 Aluviões do Mondego Poroso
M6 Albufeira - Ribeira de Quarteira poroso-cársico O4 Ançã – Cantanhede Cársico
O24 Cesareda Cársico
M2 Almádena – Odeáxere Cársico
O7 Figueira da Foz – Gesteira Poroso
M9 Almansil – Medronhal Cársico O27 Lagoa de Óbidos Poroso
M12 Campina de Faro poroso-cársico O10 Leirosa - Monte Real Poroso
M11 Chão de Cevada - Quinta João de Ourém Cársico O3 Liásico a Norte do Mondego Cársico-fissurado
O9 Liásico Penela – Tomar Cársico-fissurado
M1 Covões Cársico
O18 Maceira Cársico
M4 Ferragudo – Albufeira Poroso-cársico O20 Maciço Calcário Estremenho Cársico
M15 Luz – Tavira Poroso-cársico O17 Nazaré Poroso
O26 Ota – Alenquer Cársico
M14 Malhão Cársico
O15 Ourém Poroso
M3 Mexilhoeira Grande – Portimão Poroso-cársico O23 Paços Poroso
M17 Monte Gordo Poroso O16 Pataias Cársico
M13 Peral – Moncarapacho Cársico O28 Pisões – Atrozela Cársico
O14 Pousos – Caranguejeira Poroso-cársico
M7 Quarteira Poroso-cársico
O11 Sicó – Alvaiázere Cársico
M5 Querença – Silves Cársico O2 Subsistema Cretácico de Aveiro Poroso-cársico
M16 São Bartolomeu Cársico O1 Subsistema Quaternário de Aveiro Poroso
O5 Tentúgal Poroso
M8 São Brás de Alportel Cársico
O25 Torres Vedras Poroso
M10 São João da Venda – Quelfes Poroso-cársico O27 Vale de Lobos Poroso
BACIA DO TEJO - SADO O21 Vale Tifónico das Caldas da Rainha Poroso
O8 Verride Cársico
T4 Aluviões de Abrantes Poroso O12 Vieira de Leiria - Marinha Grande Poroso
T5 Aluviões de Constância Poroso O29 Condeixa-Alfarelos Poroso-cársico
O30 Viso-Queridas Poroso
T2 Aluviões do Tejo Poroso
O13 Louriçal Poroso
T1 Bacia do Tejo-Sado / Margem Direita Poroso-cársico
MACIÇO ANTIGO
T2 Bacia do Tejo-Sado / Margem Esquerda Poroso A8 Bacia de Alvalade Poroso-cársico
A5 Elvas - Vila Boim Cársico
A2 Escusa Cársico
A4 Estremoz – Cano Cársico
A9 Gabros de Beja Poroso-fissurado
A3 Monforte Cársico-fissurado
A10 Moura – Ficalho Cársico-fissurado
A7 Sines Poroso-cársico
A1 Veiga de Chaves Poroso
A6 Viana do Alentejo – Alvito Cársico-fissurado

18/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

No Maciço Antigo predominam as rochas ígneas e metamórficas onde estão delimitados e caracterizados 10
sistemas aquíferos dos quais 9 se situam no Alentejo. Deve aqui referir-se que no âmbito do Estudo dos
Recursos Hídricos Subterrâneos do Alentejo (ERHSA) e fruto de uma campanha de inventariação, recolha e
análise de dados hidrogeológicos foi possível identificar na região alentejana do Maciço Antigo novas
formações aquíferas em áreas constituídas por rochas metamórficas e ígneas que modificaram
significativamente a paisagem hidrogeológica desta área. Deve referir-se que o aquífero A8 Bacia de
Alvalade foi integrado no sistema da bacia do Tejo-Sado/Margem Esquerda após estudos hidrogeológicos
mais aprofundados no âmbito do ERHSA.

Figura 5.3.1 – Sistemas Aquíferos em Portugal Continental

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 19/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

Na Orla Ocidental existe uma grande variedade de formações que constituem o suporte de 30 sistemas
aquíferos: unidades detríticas de idade terciária e quaternária; arenitos e calcários do Cretácico e calcários do
Jurássico. Estas circunstâncias tornam a Orla Ocidental uma paisagem hidrogeológica única no País.
Por sua vez a Orla Meridional é constituída por formações detríticas e carbonatadas de um modo geral muito
produtivas na qual foram delimitados 17 sistemas aquíferos de características cársicas ou parcialmente
cársicas.
Finalmente, a Bacia do Tejo e Sado é constituída por formações detríticas de idade terciária e quaternária. É
aqui que se situa o mais extenso sistema aquífero da Península Ibérica: o sistema da bacia do Tejo e do
Sado-Margem Esquerda. Para além deste foram identificados mais 4 sistemas aquíferos todos eles de
características porosas, contribuindo pela sua extensão, espessura e produtividade para tornar a Bacia do
Tejo e Sado a mais importante unidade hidrogeológica do País.
Como foi referido, a diversidade hidrogeológica do País representada na variedade das formações litológicas
onde ocorrem os aquíferos é seguramente responsável pela existência de vários tipos de funcionamento
hidráulico, pela multiplicidade de conexões hidráulicas com outros subsistemas, pela variabilidade das
produtividades observadas e pela variedade dos sentidos de fluxo.
Da totalidade dos sistemas aquíferos, cerca de metade funcionam como aquíferos mono-camada em regime
livre ou confinado enquanto que os restantes são sistemas multicamada apresentando muito deles
importantes conexões hidráulicas entre as unidades aquíferas que os compõem (Quadro 5.3.2).
Como é óbvio os mecanismos de drenância desempenham um papel fulcral no escoamento da água
subterrânea sendo por esse motivo uma componente de modo nenhum negligenciável nos balanços hídricos
desses sistemas. Apesar de em muitos casos ser difícil a estimação dos valores desses caudais é possível
identificar os casos onde aquele fenómeno natural é relevante (Quadro 5.3.2). Nesse contexto deve-se
enfatizar o papel que a drenância tem no funcionamento hidráulico quer em regime natural quer induzida por
exploração intensiva, em aquíferos como o sistema da Bacia do Tejo-Sado (Margem Esquerda) ou o
subsistema Cretácico do Aveiro.
As unidades aquíferas com carácter confinante ou semi-confinante apresentavam por vezes artesianismo
repuxante em períodos que antecederam o início de da sua exploração como é o caso dos sistemas O23, T4,
M15, M7, O12, O5, O10 e O2 (ver Quadro 5.3.2). Alguns desses aquíferos apresentam presentemente esse
fenómeno como é o caso do sistema O15, o que pode ser indicador de sub-exploração desses sistemas.
Pela sua importância no funcionamento hidráulico há a referir alguns aspectos hidrodinâmicos relativamente
aos sistemas cársicos e aluvionares.
No primeiro caso há que enfatizar o papel relevante das nascentes no funcionamento hidráulico daqueles
sistemas. Esses pontos de descarga naturais debitam em geral caudais apreciáveis desempenhando um papel
crucial no balanço hídrico do sistema hidrogeológico.
É na unidade hidrogeológica da Orla Ocidental que ocorrem as exsurgências mais importantes, associadas
aos sistemas cársicos do Liásico a Norte do Mondego (O3) de Ançã-Cantanhede (O4), do Liásico Penela-
Tomar (O9), de Sicó-Alvaiázere (O11) e do Maciço Calcário Estremenho (O20).
De uma ordem de magnitude menor estão as nascentes do sistema Querença-Silves (M5) da Orla Meridional.
Na figura 5.3.1 está representado um gráfico que pretende dar conta da importância relativa, em termos de
caudal, das mais importantes nascentes de sistemas cársicos em 3 unidades hidrogeológicas. A nascente do
sistema O20 é a de Alviela que debita um caudal médio de 3800 l/s.
Quanto aos sistemas aluvionares há a referir a importante dependência destes com os cursos de água com os
quais estão conectados, revelando características efluentes ou influentes tendo em conta o funcionamento
hidráulico sazonal daqueles sistemas hidrológicos. No Quadro 5.3.1 estão identificados os casos mais
relevantes. De entre estes salientam-se o sistema O6 em dependência directa com o rio Mondego e os
sistemas T2, T4 e T5 com o rio Tejo.

20/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

Quadro 5.3.2 – Principais Componentes do Balanço Hídrico dos Sistemas Aquíferos


RECARGA DESCARGA
Drenância
Cursos de Cursos de Artesianismo
CÓD. SISTEMA AQUÍFERO Fluxo Inter- entre
Precipitação Água Água Nascentes Repuxante
Aquíferos Camadas
Influentes Efluentes
M6 Albufeira - Ribeira de Quarteira x x x X
M2 Almádena - Odeáxere x x x X
M9 Almansil - Medronhal x
M12 Campina de Faro x x x x x
M11 Chão de Cevada - Quinta João de Ourém x
M1 Covões x x
M4 Ferragudo - Albufeira x
M15 Luz - Tavira x x x x
M14 Malhão x
M3 Mexilhoeira Grande - Portimão x x X
M17 Monte Gordo x
M13 Peral - Moncarapacho x
M7 Quarteira x x x
M5 Querença - Silves x X
M16 São Bartolomeu x
M8 São Brás de Alportel x x
M10 São João da Venda - Quelfes x
O19 Alpedriz x x
O6 Aluviões do Mondego x x x X x
O4 Ançã - Cantanhede x x x X
O24 Cesareda x X
O7 Figueira da Foz - Gesteira x x x x x
O27 Lagoa de Óbidos x x
O10 Leirosa - Monte Real x X x
O3 Liásico a Norte do Mondego x x X x
O9 Liásico Penela - Tomar x x x
O18 Maceira x
O20 Maciço Calcário Estremenho x x x X
O17 Nazaré x
O26 Ota - Alenquer x X
O15 Ourém x x x x
O23 Paços x x
O16 Pataias x
O28 Pisões - Atrozela x
O14 Pousos - Caranguejeira x x X x
O11 Sicó - Alvaiázere x X
O2 Subsistema Cretácico de Aveiro x x x X
O1 Subsistema Quaternário de Aveiro x X
O5 Tentúgal x x x X X x
O25 Torres Vedras x x
O27 Vale de Lobos x
O21 Vale Tifónico das Caldas da Rainha x
O13 Louriçal x x x x X
O8 Verride x x
O12 Vieira de Leiria - Marinha Grande x x X x
O29 Condeixa-Alfarelos x x X
O30 Viso-Queridasl x X x
T4 Aluviões de Abrantes x X x
T5 Aluviões de Constância x X X
T2 Aluviões do Tejo x X x x
T1 Bacia do Tejo-Sado / Margem Direita x X X x x
T2 Bacia do Tejo-Sado / Margem Esquerda x x X X x x
A8 Bacia de Alvalade x X x x x x
A5 Elvas - Vila Boim x x x x
A2 Escusa x x X
A4 Estremoz - Cano x x x
A9 Gabros de Beja x x
A3 Monforte x
A10 Moura - Ficalho x X x x
A7 Sines x X x x
A1 Veiga de Chaves x X x
A6 Viana do Alentejo - Alvito x

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 21/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

Porque os sistemas aquíferos são geologicamente dependentes, a heterogeneidade é a propriedade mais


importante em hidrogeologia. Ela condiciona os fluxos locais com reflexos inevitáveis na circulação de
poluentes nos meios aquíferos e na distribuição espacial dos valores de produtividade.

nascentes

4000

3000
litros / seg

2000 caudal

1000

O20

O11
A10

O4

O3

O9

M5
A2

sistemas aquiferos

Figura 5.3.2 – Caudais de Nascentes em 8 Sistemas Aquíferos Localizados em 3 Unidades Hidrogeológicas

Quadro 5.3.3 – Intervalo de Transmissividades Observados Para Cada Sistema Aquífero


Intervalo de transmissividades
2
Cod SISTEMA AQUÍFERO (m /dia)
Min Max
Orla Meridional
M6 Albufeira - Ribeira de Quarteira 84 a 3080
M2 Almádena – Odeáxere 25 a 2100
M9 Almansil – Medronhal 130 a 2100
M12 Campina de Faro 300
M11 Chão de Cevada – Quinta João de Ourém 500 a 600
M1 Covões 500 a 600
M4 Ferragudo - Albufeira 30 a 750
M15 Luz - Tavira 25 a 1938
M14 Malhão s/ dados
M3 Mexilhoeira Grande - Portimão 80 a 6500
M17 Monte Gordo 30 a 80
M13 Peral – Moncarapacho s/ dados
M7 Quarteira 180 a 3160
M5 Querença – Silves 1200 a 30000
M16 São Bartolomeu 100 a 3500
M8 São Brás de Alportel s/ dados
M10 São João da Venda – Quelfes s/ dados
Orla Ocidental
O19 Alpedriz 3 a 169
O6 Aluviões do Mondego 11 a 5750
O4 Ançã – Cantanhede 6 a 1200
O24 Cesareda 41 a 520
O7 Figueira da Foz – Gesteira 66 a 130
O27 Lagoa de Óbidos 30 a 70
O10 Leirosa - Monte Real 20 a 2300
O3 Liásico a Norte do Mondego 15 a 600
O9 Liásico Penela – Tomar 15 a 168
O18 Maceira 74 a 358
O20 Maciço Calcário Estremenho 1 a 4800
O17 Nazaré 8 a 570

22/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

Intervalo de transmissividades
2
Cod SISTEMA AQUÍFERO (m /dia)
Min Max
O26 Ota – Alenquer 1000 a 14700
O15 Ourém 3 a 527
O23 Paços 22 a 1250
O16 Pataias 8 a 3000
O28 Pisões – Atrozela s/ dados
O14 Pousos – Caranguejeira 84 a 3080
O11 Sicó – Alvaiázere 4 a 570
O2 Subsistema Cretácico de Aveiro 6 a 800
O1 Subsistema Quaternário de Aveiro 2 a 1200
O5 Tentúgal 1 a 1200
O25 Torres Vedras 2.5 a 400
O27 Vale de Lobos 8.25
O21 Vale Tifónico das Caldas da Rainha 30 a 450
O8 Verride s/ dados
O12 Vieira de Leiria - Marinha Grande 38 a 1000
O13 Louriçal (ex- Vermoíl) 8 a 40
O29 Condeixa-Alfarelos 2 a 347
O30 Viso_Queridas 11 a 241
Bacia do Tejo – Sado
T4 Aluviões de Abrantes 14 a 3430
T5 Aluviões de Constância 1925 a 4762
T2 Aluviões do Tejo 6 a 5794
T1 Bacia do Tejo-Sado / Margem Direita 0.1 a 4100
T2 Bacia do Tejo-Sado / Margem Esquerda 19 a 4100
Maciço Antigo
A8 Bacia de Alvalade 1 a 200
A5 Elvas - Vila Boim 1 a 171
A2 Escusa 6 a 776
A4 Estremoz – Cano 600 a 800
A9 Gabros de Beja 5 a 450
A3 Monforte 65 a 540
A10 Moura – Ficalho 617 a 3514
A7 Sines 1 a 7407
A1 Veiga de Chaves 1 a 3000
A6 Viana do Alentejo – Alvito 2.5 a 30300

Parâmetros como a transmissividade ou o coeficiente de armazenamento são indicadores importantes para


avaliar o valor económico de um aquífero.
O estudo da sua variabilidade espacial permitirá identificar as zonas mais produtivas de um aquífero. Na base
deste estudo está o facto incontornável de esses parâmetros exibirem em geral uma correlação espacial
importante que não se deve desvalorizar. As águas subterrâneas ocorrem em meios aquíferos com graus de
heterogeneidade diversos e estes devem tanto quanto possível ser quantificados.
Para tal utilizou-se sempre que possível o variograma, como ferramenta de análise estrutural geoestatística,
para medir não só, o grau de aleatoridade presente em cada unidade aquífera como também, o grau de
dependência espacial das variáveis hidrogeológicas. No final é possível comparar os sistemas aquíferos pelo
seu grau de heterogeneidade.
O êxito da aplicação desta tecnologia está obviamente condicionado à escolha de uma variável
hidrogeológica, que pela quantidade de valores disponíveis num número significativo de sistemas aquíferos
permita um exercício de comparação minimamente representativo da realidade hidrogeológica do País. Por
esse motivo for seleccionado o caudal específico como parâmetro indicador da maior ou menor capacidade
que as formações aquíferas possuem para transmitir a água que armazenam. Estes valores obtidos a partir de

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 23/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

caudais de ensaio foram escolhidos em detrimento da transmissividade de mais difícil estimação. A realidade
crua do conhecimento hidrogeológico em Portugal mostra que infelizmente, valores de transmissividade
estão ausentes em muitos sistemas aquíferos o que inviabiliza uma comparação em termos de avaliação da
sua variabilidade espacial.
Não obstante apresenta-se no Quadro 5.3.3 o intervalo de valores de transmissividade encontrado para os
sistemas aquíferos onde foram realizados ensaios de caudal ou de bombagem. De notar a grande
variabilidade de valores em alguns sistemas reflexo da heterogeneidade existente. Deve por exemplo
enfatizar-se o grande intervalo de valores encontrado para os sistemas M5:Querença-Silves, O26:Ota-
Alenquer e A10:Moura-Ficalho típico de sistemas altamente heterogéneos como são os sistemas cársicos.
Por insuficiência de dados não foi possível apresentar uma tabela semelhante com valores de coeficiente de
armazenamento.
Por sua vez a análise variográfica do caudal específico em alguns sistemas aquíferos mostra igualmente
funções exibindo padrões de estrutura espacial bastante diversos, reflectindo uma grande variedade de graus
de heterogeneidade presente naqueles sistemas, entre exemplos de grande continuidade espacial como é o
caso do sistema O15 (Figura 5.3.3) e casos de aleatoridade pura como aquele que caracteriza o sistema M6
(Figura 5.3.4).

Figura 5.3.3 – Variograma do Caudal Específico (Valores em l/s/m) do Sistema Aquífero O15: Ourém

Figura 5.3.4 – Variograma do Caudal Específico (Valores em m3/s/m) do Sistema


Aquífero M6: Albufeira-Quarteira

24/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

Para uma caracterização estatística das produtividades dos sistemas aquíferos foram utilizados caudais de
exploração quer obtidos directamente quer estimados a partir de outras variáveis (rebaixamentos, posição de
ralos,…).
Nas figuras 5.3.5 a 5.3.9 apresentam-se por unidade hidrogeológica, gráficos onde se pode observar a
mediana e o grau de dispersão (a partir dos respectivos quartis 25% e 75%) dos valores de produtividade. Por
insuficiência de dados só é possível apresentar em alguns sistemas a mediana desses valores.
Deve referir-se que os sistemas T1 e T3 foram divididos respectivamente em 2 e 3 grupos de forma a
considerar os diferentes níveis produtivos correspondentes a unidades litológicas diferenciadas. Os
subsistemas são: T1a – Calcários de Almoster ; T1b – Grés da Ota; T3a – Pliocénico; T3b – Grés da Ota e
T3c – Miocénico.

35

30

25

q75
20
q25
15 med

10

0
M10
M11
M12
M13
M14
M15
M16
M17
M1
M2
M3
M4
M5
M6
M7
M8
M9

Figura 5.3.5 – Valores Estatísticos das Produtividades (em l/s ) dos Sistemas Aquíferos da Orla Meridional

25

20

15 q75
q25

10 med

0
A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 A10

Figura 5.3.6 – Valores Estatísticos das Produtividades (em l/s) dos Sistemas Aquíferos do Maciço Antigo

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 25/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

80

70

60

50 q75
q25
40
med
30

20

10

0
O1 O2 O3 O4 O5 O6 O7 O8 O9 O10 O11 O12 O13 O14

Figura 5.3.7- Valores Estatísticos das Produtividades (em l/s) dos Sistemas Aquíferos da Orla Ocidental (I)

20

15
q75
q25
10
med

0
O15 O16 O17 O18 O19 O20 O21 O22 O23 O24 O25 O28 O29 O30

Figura 5.3.8 – Valores Estatísticos das Produtividades (em l/s) dos Sistemas Aquíferos da Orla Ocidental (II)

60

50

40
q75
30 q25
med
20

10

0
T1a T1b T2 T3a T3b T3c T4 T5

Figura 5.3.9 – Valores Estatísticos das Produtividades (em l/s) dos Sistemas Aquíferos da Bacia Tejo-Sado

26/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

Os aspectos mais relevantes que decorrem da leitura destas figuras são:


• No Maciço Antigo o sistema A7 é aquele que apresenta a maior dispersão de valores sendo o sistema
A10 aquele que tem a mediana maior
• Na Orla Meridional a maior dispersão encontra-se nos sistemas M1 e M14 que se caracterizam
igualmente por ter os maiores valores de mediana.
• Na Orla Ocidental a maior dispersão encontra-se nos sistemas O6 e O21. O primeiro sistema
caracteriza-se igualmente por ter a maior mediana.
• Na bacia do Tejo-Sado a maior dispersão encontra-se no sistema T3c. Os maiores valores de mediana
ocorrem nos sistemas T3c e T5.
A figura 5.3.10 mostra a mediana dos valores de produtividade dos sistemas aquíferos agrupados por tipos
litológicos. Ela mostra claramente que os sistemas de características porosas são em média os mais
produtivos com um valor de mediana de 13,3 l/s. Seguem-se os sistemas mistos carsico-porosos com um
valor de 7,15 l/s e os cársicos com 6,7 l/s. Nesta figura não está representada a mediana dos valores de
produtividade dos sistemas fissurados que formam a maior parte das formações hidrogeológicas
indiferenciadas e que se estima em 1 l/s.

sistemas aquiferos

14
12
10
8
6
4
2 caudal
0
CAFI

POFI

PORO
CARS

POCA

litologias

Figura 5.3.10 - Mediana dos Valores de Produtividade (em l/s) dos Sistemas
Aquíferos Agrupados por Tipos Litológicos
5.3.1.2. Recarga Efectiva dos Sistemas Aquíferos ou Formações Hidrogeológicas
A estimação da recarga revela-se regra geral de grande dificuldade já que não existe uma metodologia segura
para a sua correcta avaliação.
A recarga pode-se definir como a água infiltrada que escoando verticalmente vai atingir a superfície freática.
Trata-se da parcela de água infiltrada que resta depois de deduzida a quantidade evapotranspirada.
Identificam-se em geral as seguintes fontes de recarga num sistema hidrogeológico:
a) precipitação
b) cursos de água e lagos
c) fluxos inter-aquíferos incluindo fenómenos de drenância
d) retornos por regas
e) urbanas
Em virtude da escassez de dados e de informação disponível só é possível estimar valores médios de recarga
efectiva por precipitação. Para esse efeito foram utilizadas valores que foram calculados utilizando
metodologias muito díspares tais como o de balanços hídricos a nível do solo, o de balanços geoquímicos
como o de cloretos, o de decomposição de hidrogramas e ainda métodos expeditos baseados em critérios
puramente litológicos.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 27/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

Figura 5.3.11 - Taxas de Recarga Média Anual em Portugal Continental


No que diz respeito às outras componentes de recarga a sua estimação reveste-se de maior dificuldade sendo
só possível identificar os sistemas aquíferos onde ocorrem recargas do tipo b) e c) (Quadro 5.3.2).
Na figura 5.3.11 estão representadas as taxas de recarga média anual estimadas para os sistemas aquíferos e
formações hidrogeológicas indiferenciadas. Os valores estimados oscilam entre os 5% para os xistos até
valores superiores a 50% para as formações cársicas.
5.3.1.3. Importância da Avaliação Detalhada de Sistemas Aquíferos Através da Modelação
Numérica
O objectivo geral da modelação numérica de um sistema aquífero é compreender o seu funcionamento
hidráulico de modo a prever o seu comportamento face a cenários de exploração.
Para modelar de modo adequado o aquífero é necessário uma boa caracterização geológica e hidrogeológica
daquele em termos de conhecimento da sua geometria (forma, limites), das suas propriedades físicas
(condutividade hidráulica ou transmissividade, porosidade eficaz ou coeficiente de armazenamento, factores
de drenância) e das grandezas que podem variar no tempo como é a piezometria.
O conhecimento da variabilidade espacial destas variáveis é pois crucial, fundamentalmente no que diz
respeito à avaliação da heterogeneidade do aquífero, já que na fase de modelação é sempre necessário
proceder a um exercício de discretização.
É igualmente importante conhecermos os factores hidrológicos e climáticos que agem com o sistema
(precipitação, caudais de rio, etc..) assim como factores antropogénicos (caudais de exploração).

28/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

É portanto necessário um conjunto muito completo de dados hidrológicos e hidrogeológicos que na maioria
dos casos não se encontra disponível para efeitos de modelação de um sistema aquífero.
Como ferramenta privilegiada na simulação do escoamento subterrâneo a 2D ou a 3D os modelos
apresentam uma flexibilidade para analisar sistemas aquíferos com fronteiras complexas, heterogeneidades e
taxas de bombagem e de recarga altamente variáveis. A simulação numérica utiliza não só representações
equi-prováveis da realidade desconhecida como igualmente cenários plausíveis de situações de exploração
do sistema.
Uma das etapas incontornáveis neste processo é o estabelecimento do modelo conceptual da situação
hidrogeológica a simular que inclui todo o nosso conhecimento do aquífero, os principais mecanismos de
funcionamento hidráulico (leis físicas), as principais opções de simulação sugeridas nesta etapa pré-
modelação.
No decurso da elaboração do PNA foi desenvolvida modelação numérica de escoamento em 3 sistemas
aquíferos de Portugal: O sistema multiaquífero Cretácico de Aveiro, o sistema multiaquífero da Bacia do
Tejo-Sado e o sistema aquífero de Escusa, cujos recursos hídricos subterrâneos desempenham um papel
fundamental no balanço hídrico das bacias hidrográficas a que pertencem sendo os 2 últimos importantes
origens de água subterrânea para abastecimento público. Estes sistemas representam muito bem a
diversidade hidrogeológica existente no País, quer do ponto de vista litológico ( poroso, cársico), quer dos
tipos de funcionamento hidráulico (sistemas mono e multicamada), quer nas características de interacção
com outros subsistemas ( rio, mar, estuário). Em seguida apresentam-se sinteticamente as principais etapas
em que se desenvolveu a modelação do Sistema Multiaquífero do Cretácico de Aveiro
A modelação numérica do sistema multiaquífero do Cretácico de Aveiro foi realizada por Maria Teresa
Condesso de Melo no âmbito da sua tese de doutoramento.
Na figura 5.3.12 está representado o modelo conceptual adoptado para o sistema multiaquífero do Cretácico
de Aveiro sugerido pelo conhecimento geológico e a hidrodinâmica do sistema.
Da definição das unidades hidroestratigráficas do aquífero Cretácico de Aveiro resultou um modelo
conceptual formado por oito camadas, das quais cinco correspondem a níveis aquíferos, duas a aquitardos e
uma, que devido à sua reduzida permeabilidade, se pode considerar como tendo um comportamento
confinante. Aquelas unidades hidroestratigráficas são entendidas aqui como unidades estratigráficas com
propriedades hidrogeológicas semelhantes.

Oceano
Atlântico Camada 1
Camada 2
Camada 3+4
Camada 5
Camada 6
Camada 7+8

Limite inferior do aquífero


Interface água doce-água
salgada inferida

Figura 5.3.12 - Modelo Conceptual do Sistema Multiaquífero Cretácico de Aveiro

Para a definição da geometria dos sistema e da disposição tridimensional destas camadas na área de estudo
recorreu-se à informação contida em logs litológicos de 183 furos que exploram o aquífero Cretácico de
Aveiro, e sempre que disponíveis, às correspondentes diagrafias (potencial espontâneo, resistividade e
radiação gamma natural). Para cada um dos logs procedeu-se à definição da cota da base de cada uma das
camadas que constituem o sistema aquífero (Figura 5.3.13).

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 29/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

Figura 5.3.13 - Secção Transversal W-E do Modelo do Sistema Multiaquífero Cretácico de Aveiro

Na etapa de desenho do modelo começou por se definir a malha e as zonas inactivas da área a modelar, zonas
essas onde o fluxo de água subterrânea não é simulado. A malha definida é uma malha quadrada de 75
colunas x 158 linhas e onde cada célula tem uma área de 500 m x 500 m (Figura 5.3.14).
Z

0.1

Figura 5.3.14 - Malha Definida Para o Modelo de Fluxo


Após a definição das condições iniciais e de fronteira atribuíram-se valores das propriedades hidráulicas a
cada uma das malhas em que está discretizado o sistema. Este modelo uma vez calibrado com dados
piezométricos disponíveis no espaço e no tempo permitiu simular 2 cenários: um, em regime natural,
permanente e anterior ao início da exploração do aquífero; outro em regime transitório com período de
simulação de 45 anos até Setembro de 2000. Nas figuras 5.3.15 e 5.3.16 estão representadas os fluxos
subterrâneos resultantes desses 2 cenários.
As principais conclusões destas 2 simulações são as seguintes:
1 - Em regime natural o aquífero Cretácico de Aveiro alimentaria o aquífero superficial não confinado em
metade da zona considerada e a Ocidente o aquífero descarregaria para o mar.
2 - Em regime transitório e para um período de simulação de 45 anos verifica-se que na zona Norte da área
de estudo há uma clara inversão do fluxo natural, com entrada de água através da interface água doce -
água salgada. Há a formação de um cone de depressão que atinge níveis piezométricos de –20 m na
zona a norte de Aveiro. Os fluxos verticais através da camada confinante são muito mais significativos.

30/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

Figura 5.3.15 - Resultados da Simulação do Fluxo Subterrâneo em Regime Estacionário (t= 14 Dias, Ano
1955, Anterior ao Início da Exploração do Aquífero) no Principal Nível Aquífero (C3) Com
Indicação da Direcção de Fluxo (Sobreelevação: 30x).

Figura 5.3.16 - Resultados da Simulação do Fluxo Subterrâneo em Regime Transitório (t= 17155 Dias, Ano
2000) no Principal Nível Aquífero (C3) Com Indicação da Direcção de Fluxo
(Sobreelevação: 30x). Os Círculos a Vermelho Representam os Furos de Bombagem
Considerados, Enquanto os Círculos a Verde Correspondem aos Piezómetros de Observação
de Níveis Piezométricos

Os resultados da modelação confirmam a necessidade de uma redução significativa dos caudais de


exploração do aquífero Cretácico de Aveiro e demonstra o risco que a actual gestão dos seus recursos
representa para a qualidade das suas águas.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 31/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

5.3.1.4. Disponibilidades Hídricas Subterrâneas


Entende-se aqui Disponibilidade Hídrica Subterrânea (DHS) como aquele volume de água subterrânea que o
aquífero ou formação hidrogeológica pode fornecer em condições naturais, parcela que está associada à
recarga por infiltração da chuva.
Na sua avaliação não foram deste modo contemplados os volumes provenientes de fenómenos de recarga
induzida ao longo de cursos de água, lagos, aquitardos, etc..
Esta componente está associada ao caudal de segurança, isto é, a extracção de água que não excede a recarga
média.

Figura 5.3.17 - Disponibilidades Hídricas Subterrâneas de Portugal


Na avaliação das DHS reveste-se de particular importância a estimação da recarga média. Esta etapa revela-
se, regra geral, de grande dificuldade já que não existe uma metodologia segura para a sua correcta avaliação
agravado ainda pelo facto de que, na maioria de casos, não existir informação suficiente para esse fim.
No presente estudo foram utilizadas estimativas resultantes da aplicação de métodos como o de balanços
hídricos a nível do solo, o de balanços geoquímicos como o de cloretos, o de decomposição de hidrogramas e
ainda métodos expeditos baseados em critérios puramente litológicos.
3 2
Os valores de DHS apresentam-se em hm /ano/km , tendo-se utilizado para o efeito um valor de recarga
média anual e a área de afloramento do aquífero ou formação hidrogeológica. Note-se que esta área pode por
razões óbvias, ser diferente da área preferencial de recarga.
A Figura 5.3.17 mostra que os maiores valores de DHS estão associados a aquíferos cársicos (Ota-Alenquer,
Sicó, Maciço Calcário Estremenho) e os menores às formações cristalinas (Maciço Antigo das Bacias
Hidrográficas).

32/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

5.3.2. Problemas de Conhecimento dos Recursos Hídricos Subterrâneos e


Necessidade de Investigação
A avaliação dos recursos hídricos subterrâneos de Portugal Continental revelou evidentes lacunas de
conhecimento das águas subterrâneas que estão associadas na sua grande maioria à escassez de dados
resultantes da quase ausência de planos de monitorização e do reduzido número de estudos hidrogeológicos
regionais efectuados.
De modo a colmatar estas lacunas deve proceder-se á:
a) Implementação de redes de monitorização de referência e específicas que permitam recolher dados
piezométricos, caudais de nascente e caudais de exploração de forma sistemática com representatividade
espaço-temporal adequada aos diversos objectivos, o que já se encontra em curso.
b) Avaliação da recarga efectiva por precipitação, quer espacial, quer temporal, utilizando técnicas indirectas tais
como: balanços hídricos a nível do solo, balanços geoquímicos, modelos numéricos baseados na equação de
Darcy.
c) Aplicação de metodologias específicas para estimar os valores do caudal rio-aquífero, os volumes de fluxos
inter-aquíferos e os caudais de drenância entre camadas aquíferas.
d) Execução de ensaios de caudal nos aquíferos onde existe ausência de informação de forma a colmatar as
lacunas de conhecimento no que diz respeito a características hidráulicas.
e) Realização de vários estudos de prospecção geofísica com o intuito de melhor caracterizar a geometria 3D
dos sistemas aquíferos.
f) Realização de estudos hidrogeológicos regionais à escala local ou regional, que incluam:
I - Inventário e cartografia hidrogeológica;
II - Aplicação de abordagens metodológicas de natureza multi-disciplinar com vista a melhor caracterizar a
heterogeneidade dos sistemas aquíferos.
III - Implementação e aplicação de modelos de simulação do escoamento subterrâneo nos principais sistemas
aquíferos.
5.4. Balanço Hídrico
5.4.1. Situações de Escassez de Água
A aparente riqueza hídrica do nosso país, onde as disponibilidades anuais médias excedem várias vezes as
necessidades de água, esconde situações de escassez hídrica de caracter localizado que ocorrem ciclicamente
durante períodos secos. Com efeito, e como foi demonstrado no Capítulo 5.2, a variabilidade das
disponibilidade de água em Portugal continental é extremamente elevada, quer em termos anuais quer em
termos sazonais, o que dá origem a períodos mais ou menos prolongados em que a precipitação é
significativamente inferior à média. Nessas situações a capacidade de armazenamento disponibilizada pelas
albufeiras e pelos aquíferos explorados não é suficiente para garantir a manutenção de abastecimento a todas
as utilizações de água.
No sentido de identificar e caracterizar as situações de escassez hídrica, em que as disponibilidades de água
não são suficientes para suprir as necessidades, realizaram-se balanços hídricos à escala anual, tendo-se
comparado os valores associados a vários percentis de disponibilidades hídricas com os valores de
necessidades de água.
Entende-se por disponibilidade hídrica a diferença entre a precipitação e a evapotranspiração real, que
constitui o volume disponível para escoamento superficial imediato à precipitação e para recarga de
aquíferos. À escala anual a disponibilidade hídrica é sensivelmente igual ao escoamento pois, de um modo
geral, a maioria dos aquíferos não têm capacidade de regularização interanual do escoamento, isto é, toda a
recarga de um dado ano hidrológico contribui para escoamento fluvial nesse mesmo ano.
A realização do balanço com base nas disponibilidades hídricas anuais permite analisar de forma integrada as
necessidades de água supridas por origens subterrâneas e por origens superficiais e identificar as situações
graves de escassez de água que só podem ser resolvidas através de um incremento significativo da
capacidade de armazenamento que proporcione uma regularização interanual. Em contrapartida, esta análise

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 33/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

ignora as situações de escassez hídricas derivadas da variabilidade sazonal dos recursos hídricos ou da
desadequação dos sistemas de abastecimento às disponibilidades e necessidades de água. As bacias que aqui
forem identificadas como deficitárias ou quase deficitárias deverão ser objecto de estudos mais
pormenorizados com um enfoque especial nestes aspectos.
O balanço aqui apresentado tem por base os valores de necessidades a satisfazer por águas de superfície
apresentados no tema 4 – Usos, Consumos e Necessidades de Água e os das disponibilidades apresentadas
no início do tema 5 – Recursos Hídricos. No entanto, tal como se referiu os valores referentes à utilização da
água no sector agrícola foram corrigidos de modo a reflectir as necessidades para o sector agrícola estimados
pelo IHERA.
A inventariação das necessidades de água foi realizada ao nível do concelho, pelo que a afectação das
necessidades para os vários sectores utilizadores de recursos hídricos a cada uma das bacias de avaliação de
recursos hídricos foi determinada de acordo com os seguintes critérios apresentados.
Agricultura – Através de metodologias de SIG, cruzou-se a informação referente às necessidades de água
para o sector agrícola à escala do concelho, e as bacias de avaliação de recursos hídricos superficiais,
obtendo-se a distribuição das necessidades de água por bacia de avaliação para o sector agrícola. As
transferências de água entre as sub-bacias de avaliação para abastecer a agricultura foram determinadas a
partir do inventário das origens de água para abastecimento da agricultura e do inventário das áreas.
Considerou-se que os retornos gerados pela agricultura constituem 20% das necessidades de água, sendo
devolvidos na secção de avaliação de recursos hídricos.
Urbano, Indústria e Turismo - Considerou-se que as necessidades para estes sectores utilizadores estão
concentradas nas sedes de freguesia. Assim, tendo por base os valores à escala do concelho das necessidades
de água para os diferentes sectores utilizadores, procedeu-se à afectação dessas necessidades às sedes de
freguesia multiplicando as necessidades do concelho pelo ratio entre a população da freguesia e a população
do concelho. A determinação das transferências de água para consumo urbano, turismo e indústria, baseou-se
na análise das origens de água que abastecem mais de 10000 habitantes de acordo com o Inventário Nacional
de Saneamento Básico de 1994, que define os concelhos abastecidos por cada origem. Assumiu-se que os
retornos gerados pelas necessidades urbanas, do turismo e da indústria constituem 80% das necessidades de
avaliação.
Numa primeira análise comparou-se os valores de escoamento gerados em cada bacia de avaliação com os
valores de necessidades. A fim de simular o efeito regularizador das albufeiras estimaram-se os valores de
escoamento anual garantido, assumindo que a capacidade de armazenamento das albufeiras se concentrava
na foz da bacia hidrográfica (quadro 5.4.1). O incremento de volume garantido é maior nos níveis mais
elevados de garantia que estão associados aos valores mais reduzidos de disponibilidades. É nesta gama de
valores que a existência de capacidade de armazenamento permite atenuar assimetrias e elevar o valor de
disponibilidades dos anos mais secos. Esse efeito é particularmente evidente nas bacias hidrográficas dos rios
Sado, Mira e Ribeiras do Algarve onde o coeficiente de regularização das albufeiras é maior. O Quadro 5.4.1
compara as necessidades de água nas diferentes bacias com vários quantis de disponibilidades em regime
regularizado. Os valores do ratio disponibilidades/necessidades inferiores à unidade sugerem situações em
que os recursos disponíveis anualmente não são suficientes para garantir a satisfação da totalidade das
necessidades. A bacia das ribeiras do Algarve está nessa situação em 10% dos anos. Existe, no entanto, um
conjunto de outras bacias que apresenta valores próximos da unidade, o que sugere que, embora não haja
situações de escassez à escala anual, poderá haver situações de escassez de água devido à variabilidade
sazonal das disponibilidades. As bacias dos rios Leça, Sado, Mira e Guadiana e das ribeiras do Oeste estão
nessa situação. Na determinação das necessidades tomou-se em linha de conta as transferências actualmente
existentes e excluiu-se as necessidades para o sector da energia, por se considerar que é um sector
predominantemente não consumptivo.
O balanço à escala anual e à escala da bacia hidrográfica confirma que as bacias sujeitas a maior stress
hídrico são as bacia do Leça, Lis, Ribeiras do Oeste e Ribeiras do Algarve (Quadro 5.4.2).

Quadro 5.4.1 – Quadro Comparativo Disponibilidades Versus Necessidades


Bacia Disponibilidades anuais em regime regularizado Necessidades
Ratio Disponibilidades / Necessidades
Hidrográfica (hm3) Totais

34/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

Garantia 90% Garantia 80% Garantia 50% (hm3) Percentil 10 Percentil 20 Percentil 50
Minho 5931 6693 8465 89 66.63 75.19 95.10
Lima 2110 2462 3065 228 9.28 10.82 13.47
Cávado 1769 1960 2099 310 5.70 6.32 6.77
Ave 612 794 1048 370 1.65 2.15 2.83
Leça 38 60 94 31 1.25 1.96 3.08
Douro 9112 11920 17841 1 224 7.44 9.74 14.57
Vouga 721 1108 1732 447 1.61 2.48 3.87
Mondego 1452 2324 3430 869 1.67 2.67 3.95
Lis 63 121 225 73 0.85 1.65 3.07
Rib. Oeste 131 163 267 193 0.68 0.85 1.38
Tejo 6398 8878 14021 2 096 3.05 4.24 6.69
Sado 612 716 918 655 0.79 0.94 1.40
Mira 268 289 291 90 2.99 3.21 3.23
Guadiana 962 1476 3156 358 2.69 4.18 8.81
Rib. Algarve 105 160 327 256 0.40 0.67 1.28

Quadro 5.4.2 – Balanço Hídrico por Bacia - Águas de Superfície

Bacia Balanço mensal dos recursos hídricos superficiais


Hidrográfica Garantia mensal Garantia anual
Minho 1.00 1.00
Lima 1.00 1.00
Cávado 1.00 1.00
Ave 0.92 0.58
Leça 0.74 0.04
Douro 1.00 1.00
Vouga 0.94 0.58
Mondego 1.00 1.00
Lis 0.64 0.00
Rib. Oeste 0.71 0.00
Tejo 1.00 1.00
Sado 0.88 0.56
Mira 1.00 1.00
Guadiana 1.00 1.00
Rib. Algarve 0.96 0.80

A Figura 5.4.1 apresenta os resultados obtidos em termos de percentil abaixo dos qual o ratio disponibilidade
versus necessidades é inferior a 1. Apesar de não considerar a variação sazonal das disponibilidades nem a
capacidade de regularização interanual proporcionada por algumas albufeiras, é interessante analisar a Figura
5.4.1 para avaliar a distribuição espacial das situações de escassez hídrica.
As zonas a norte do Tejo apresentam valores inferiores a 5%, o que significa que apenas em anos
extremamente secos (com períodos de retorno superiores a 20 anos) é que podem vir a ocorrer situações de
escassez de água. Exceptua-se a zona a cabeceira da bacia do Mondego, que reflecte o efeito do
abastecimento a partir da albufeira da Aguieira. Contudo, parece subsistirem algumas dúvidas, que não ´s
possível ainda esclarecer sobre o resultado a que se chegou nesta zona.
A sul do Tejo, a situação é bastante diferente, com vastas áreas indicando situações de escassez de água para
percentis entre os 10 e os 20%, o que corresponde a períodos retorno da ordem dos 5 a 10 anos. Algumas
áreas das cabeceiras do Sado, Mira, Caia e ribeiras do Algarve apresentam valores que sugerem situações de
escassez de água com períodos de retorno da ordem entre os 2 e os 5 anos. A maioria das situações de
escassez de água identificadas na Figura 5.4.1 resultam da necessidade de satisfazer consumos agrícolas
significativos em relação à dimensão das respectivas.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 35/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

Figura 5.4.1 - Situações de Escassez Hídrica - Águas de Superfície


As análises aqui apresentadas permitiram identificar as bacias mais sujeitas a stress hídrico e permitiram
caracterizar sumariamente as condições em que tais situações ocorrem. Para aprofundar os estudos já
realizados e melhor quantificar as conclusões já obtidas é necessário realizar balanços à escala mensal e à
escala de cada bacia, que considerem os principais cursos de água de cada bacia e as suas principais infra-
estruturas.

5.4.2. Situações de Sobre-Exploração de Aquíferos


5.4.2.1. Considerações Gerais
De modo geral, podemos dizer que existe sobre-exploração quando os recursos hídricos subterrâneos são
explorados de forma contínua acima dos recursos médios renováveis ou quando dessa exploração resultam
consequências indesejáveis, sejam económicas, ecológicas, legais, ou outras. Isto significa que o diagnóstico
de uma situação de sobre-exploração ou é feito quando, em resultado das extracções, são ultrapassadas
determinadas imposições de gestão, por exemplo a drenagem de uma zona húmida, a diminuição do
escoamento de base além de dado limiar, etc., ou encontra-se intimamente ligado ao conceito de recursos
subterrâneos renováveis. Dada a dificuldade em estimar estes últimos, a sobre-exploração pode ser
diagnosticada através de certos indicadores como sejam a evolução dos níveis piezométricos, a evolução dos
caudais de nascentes e do escoamento de base, mudanças no comportamento de zonas húmidas, mudanças na
qualidade induzidas pelo abaixamento dos níveis, avanço da interface salina em aquíferos costeiros, etc.
No entanto, esse diagnóstico é complexo devendo ser tidos em conta variadíssimos factores que o podem
falsear.

36/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

Por exemplo, a diminuição dos caudais das nascentes ou do escoamento de base podem não ser indicadores
de sobre-exploração, já que a exploração dos recursos hídricos subterrâneos desses sistemas particulares
implica uma diminuição da descarga natural podendo em última análise implicar a cessação total daquela.
A manutenção das descargas naturais constitui uma opção de gestão devendo ser condicionada por
constrangimentos de ordem ambiental (manutenção de caudais ecológicos, manutenção de zonas húmidas),
económica, legal, etc. Assim, o aproveitamento total, ou parcial, dessas descargas naturais, através da
captação de águas subterrâneas, deverá estar sujeito aos referidos constrangimentos, não sendo a diminuição
do caudal, até aos valores impostos, uma indicação de sobre-exploração.
A evolução dos níveis piezométricos constitui porventura o melhor indicador de sobre-exploração, contudo
na análise da sua evolução devem ser considerados alguns aspectos.
Em primeiro lugar deve ser tido em conta que se existir um aumento das extracções haverá
concomitantemente uma diminuição dos níveis, como resposta dinâmica do sistema, sem que tal implique
necessariamente uma situação de sobre-exploração. Esta pode ser indicada por uma descida geral dos níveis,
em termos médios, sem ser acompanhada de aumento das extracções. Não deverão ser confundidas variações
de período curto, por exemplo numa situação de seca, com uma verdadeira tendência generalizada. Esta só
poderá ser detectada dispondo-se de uma série suficientemente longa de observações. No entanto, deve-se ter
em conta que aquíferos muito extensos, poderão ser caracterizados por uma inércia elevada, pelo que a
adaptação a mudanças no padrão de exploração faz-se através de um período de regime transitório, que
poderá ser muito longo, dependendo da distância dos pólos de extracção às zonas de recarga, da
condutividade hidráulica, etc. Esse período, em que se verificam descidas dos níveis piezométricos, pode ter
uma duração de dezenas ou mesmo centenas de anos, mesmo numa situação em que as extracções não
ultrapassem os recursos renováveis.
Isto não significa que não se verifiquem carências de abastecimento a partir das águas subterrâneas em
alguns sistemas. Essas carências são no entanto devidas na maioria dos casos à fraca capacidade de alguns
dos reservatórios subterrâneos nomeadamente os que têm por suporte rochas cristalinas não carbonatadas
(rochas ácidas, básicas e metassedimentares). Nestes casos, dá-se o que se pode considerar como uma sobre-
-exploração temporária, nalguns casos de tipo sazonal.
5.4.2.2. Análise das Tendências de Evolução dos Níveis Piezométricos
De modo a analisar de forma adequada a evolução das séries piezométricas de alguns aquíferos das 4
unidades hidrogeológicas foi utilizado um teste estatístico não paramétrico de Mann-Kendall que possui a
capacidade de medir o grau de significância da tendência detectada, com correcção de sazonalidade, com
base num conjunto de valores representativo.
Tendo em conta a disponibilidade de séries piezométricas nos sistemas aquíferos de Portugal, só foi possível
analisar a evolução temporal da piezometria em 16 sistemas da Orla Meridional e 10 da Orla Ocidental.
Refira-se que as séries analisadas correspondem a períodos de monitorização distintos. Em alguns casos
essas estações pelo seu número reduzido e pela sua distribuição espacial, podem não ser representativas do
estado piezométrico do sistema.
Regra geral o período estende-se desde os meados da década de 70 até meados do ano 2000.
Nas Figuras 5.4.2 e 5.4.3 encontram-se expressos os resultados finais deste estudo e a sua repartição espacial
pelas duas unidades hidrogeológicas.
Orla Meridional
Registaram-se no período em análise tendências significativas de descida de níveis piezométricos na maior
parte dos pontos dos sistemas aquíferos Almádena – Odeáxere, Mexilhoeira Grande – Portimão, Ferragudo-
Albufeira, Albufeira-Ribeira da Quarteira, Quarteira, Campina de Faro, São Bartolomeu e Monte Gordo.
Tendo em conta a localização destas estações de monitorização, perto da costa associado aos problemas de
salinização causados pela intrusão marinha detectados aí, leva-nos a concluir que aqueles sistemas se
encontravam numa situação de sobre-exploração no período em análise resultado da utilização intensiva dos
seus recursos hídricos.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 37/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

Pelo contrário, em outros sistemas, como no aquífero de Querença-Silves e considerando as características


específicas de seu funcionamento cársico, que é diferenciado por sectores, registaram-se tendências diversas
de comportamento reveladoras de que o sistema se encontra em equilíbrio entre entradas e saídas,
considerando os fenómenos climáticos extremos (períodos de seca) e as solicitações externas (bombagens).
Numa situação análoga está o aquífero da Luz de Tavira (maioria de subidas nas tendências detectadas), e o
sistema de Almansil-Medronhal (nenhuma tendência significativa detectada).

Figura 5.4.2 - Tendências dos Níveis Piezométricos nos Sistemas Aquíferos da Orla Meridional

Orla Ocidental
É reduzido o número de sistemas aquíferos estudados para os quais existe informação piezométrica com
representatividade espaço-temporal relevante.
O sistema aquífero Cretácico de Aveiro é o único onde se registou um número significativo de tendências de
sinal negativo (90%) para o período que decorreu entre Janeiro de 1981 e Dezembro de 1998. Nesse período
as descidas do nível piezométrico oscilaram entre os 0.5 cm/mês e os 7.2 cm/mês, fruto das bombagens
intensivas que ocorreram nesse tempo. Esta situação associada ao facto de haver indícios de intrusão salina
localizada leva-nos a concluir que o aquífero se encontrava em situação de sobre-exploração, facto que já
tinha sido detectado no processo de modelação numérica (ver ponto 5.3.1.3). Uma situação idêntica foi
detectada no mesmo período para o sistema aquífero do Liásico a Norte do Mondego (50% de tendências
negativas).
Nos outros sistemas analisados observou-se em geral uma subida generalizada de níveis como é o caso do
sistema Leirosa-Monte Real (67% de tendências de sinal positivo).

38/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

Figura 5.4.3 - Tendências dos Níveis Piezométricos nos Sistemas Aquíferos da Orla Ocidental

O Subsistema Quaternário de Aveiro revelou por sua vez no período em análise, tendências diferentes
conforme os sectores monitorizados, com o predomínio de uma situação de equilíbrio (cerca de 50% das
séries piezométricas não revelaram tendência).

5.5. Situações Hidrológicas Extremas

5.5.1. Secas
As secas são um fenómeno natural, ciclicamente sentido em muitas regiões do Globo, que, infelizmente, se
têm tornado mais frequentes devido ao aumento das necessidades de água resultantes do crescimento da
população e da sua qualidade de vida. O conceito de seca tem uma definição lata que designa situações de
escassez de água de longa duração que abrangem áreas extensas e tem repercussões negativas nas actividades
sócio-económicas e nos ecossistemas. As consequências sociais e económicas dos períodos de escassez de
água são enormes, o que justifica a sua caracterização com o objectivo de obter dados que permitam adoptar
medidas de redução dos seus efeitos negativos.
A variabilidade climatérica do nosso país induz com alguma frequência situações de seca. No período de
1940/41 a 1994/95 destaca-se a seca de 1943/44-1944/45, a que está associado um período de retorno de 50

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 39/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

anos no norte do país e de 400 anos no sul (Santos 1998). Outros períodos de seca incluem 1974/75-1975/76
e o final da década de 80 e início da década de 90. Em Portugal existe uma tradição já com 20 anos de
estudos de secas que incluem Santos (1981), Cunha (1982), Santos et al. (1983), Correia et al. (1988),
Rodrigues et al. (1993), Vaz (1993), Santos (1996, 1998) e Pimenta e Cristo (1998). Os PBH vieram
aumentar este conhecimento com estudos regionais que fazem utilização de metodologias comuns. No tema
9 - Situações de Risco e Protecção Civil retoma-se o tratamento desta matéria.

5.5.2. Cheias
5.5.2.1. Enquadramento
A irregularidade climatérica em Portugal provoca situações de pluviosidade intensa que dão origem a
problemas de cheias e de inundações quando a capacidade de escoamento dos leitos menores dos cursos de
água é insuficiente para drenar o volume de água afluente, forçando ao seu extravasamento para áreas
ribeirinhas, infelizmente ocupadas por actividades humanas. Os problemas de cheias e de inundação estão,
portanto, associados a fenómenos climatéricos extremos que ocorrem de forma natural, a uma deficiente
capacidade de vazão dos cursos de água, por vezes originada por construções junto a linhas de água, e
também à ocupação das zonas de inundação natural dos cursos de água.
Dependendo da dimensão da bacia, as situações de cheia desenrolam-se no espaço de algumas horas ou de
vários dias ou semanas. Uma chuvada intensa concentrada sobre uma bacia de pequena dimensão pode
provocar um aumento repentino de caudal, conduzindo a situações de inundação em uma ou duas horas.
Dada a dimensão destas bacias, os valores de caudal específico são extremamente elevados. A título de
3 2 3 2
exemplo refira-se os valores associados a cheias centenárias de 9 m /s/km e 4 m /s/km , para bacias
2 2
hidrográficas da região de Lisboa com 10 km e 100 km , respectivamente (INAG, Síntese do Planos
Internacionais).
Em contrapartida, as cheias do vale do Tejo e do Douro são gerados por períodos mais longos de
precipitação abrangendo áreas mais vastas. A sucessão de episódios de precipitação que ocorrem no Inverno
provoca um aumento do teor de água no solo, a que se associa uma diminuição da sua capacidade de
infiltração e um incremento do volume armazenado nas albufeiras existentes, com redução da sua capacidade
de regularização do escoamento. Quando este tipo de situação perdura por várias semanas, o caudal aumenta
lentamente para valores próximos da capacidade de vazão dos cursos de água, e, neste estádio, um evento
pluvioso mais intenso dá origem ao transbordamento do leito dos cursos de água. Pela dimensão das bacias
3
em causa os valores de caudal máximo de cheia são bastantes elevados, podendo ultrapassar os 15000 m /s
3
na foz do Douro e do Tejo e os 10000 m /s Guadiana, na foz do Guadiana (INAG, Síntese do Planos
Internacionais). Os valores de caudal específico são, todavia, bem menores.
Para além da precipitação e da área da bacia, outros factores condicionam a ocorrência de cheias. A origem
dos eventos pluviosos, que pode ser a passagem de sistemas frontais pelo território nacional ou a ocorrência
de fenómenos convectivos, é um desses factores. As características destes fenómenos meteorológicos são
bem diversas assim como a capacidade de previsão da sua ocorrência. A altitude é um outro factor que
condiciona a distribuição da precipitação.
As características fisiográficas da bacia, como a forma, relevo e densidade de drenagem, determinam a forma
do hidrograma de cheia, e as características físicas, como a geologia, solo e coberto vegetal, condicionam os
processos de retenção de água na bacia, e sobretudo no solo. Finalmente, as características geométricas e
físicas da secção transversal dos cursos de água, o transporte sólido e a proximidade de zonas com influência
de maré determinam a velocidade de escoamento e o nível da água.
A ocorrência de cheias é assim um processo complexo, condicionado por diversos factores, muitos deles com
características locais. A sua caracterização para todo o território nacional não pode, portanto, deixar de ter
uma caracter genérico e de enquadramento. É fundamental completar e actualizar os estudos existentes a
uma escala maior, tendo por objectivo a estimativa de valores de caudal de cheia e a delimitação das zonas
de inundação. Com base nesses resultados será possível actuar no campo da prevenção e mitigação das
consequências das cheias.

40/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

5.5.2.2. Análise das Precipitações Intensas e Caudais Máximos de Cheia


De acordo com o exposto anteriormente, os períodos que interessam para a caracterização de eventos
climatéricos indutores de situações de cheia variam entre a meia hora e o mês. A análise estatística dos dados
provenientes das redes de monitorização tem permitido a vários autores caracterizar a duração, frequência e
intensidade da precipitação, uma tarefa em constante actualização à medida que se obtém novos dados ou se
prossegue com a leitura e análise dos arquivos nacionais.
Brandão e Rodrigues (1998) propõem os mapas das Figuras 5.5.1 e 5.5.2 apresentados de seguida para os
valores de precipitação máxima para uma duração de 30 minutos e período de retorno de 100 anos e para os
valores de precipitação diária e período de retorno de 100 anos. Verifica-se que os valores mais elevados de
precipitação ocorrem nas serras Algarvias e nas cabeceiras das bacias do Noroeste. Os valores da
precipitação máxima para uma duração de 30 minutos e período de retorno de 100 anos variam entre os 26
mm e os 66 mm, enquanto que os valores da precipitação máxima diária variam entre 70 e 310 mm.
A estimativa dos valores de caudal de cheia, consequência dos fenómenos de precipitação intensa já
caracterizados, exige a análise estatística das séries de valores observados ou a modelação matemática do
processo de transformação da precipitação em escoamento. O dimensionamento de infra-estruturas
hidráulicas, nomeadamente descarregadores, e os projectos de controlo de cheias têm produzido numerosos
estudos que propõem valores de caudal de cheia para diversos períodos de retorno. A maioria destes
trabalhos tem um caracter localizado, sendo raros os estudos de âmbito nacional que apresentem uma
abordagem completa, coerente e consistente.

Figura 5.5.1 - Precipitação Máxima em 30 Minutos para um Período de Retorno de 100 anos

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 41/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

Figura 5.5.2 - Precipitação Máxima Diária Para um Período de Retorno de 100 anos

Figura 5.5.3 - Caudal de Cheia Específico Para um Período de Retorno de 100 anos

42/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

Os trabalhos dos PBH avançaram com um conjunto de estimativas de caudal de ponta para cerca de 130
pontos, espalhados pelo território continental (Figura 5.5.3). Embora não seja possível garantir a consistência
dos valores apresentados, a sua análise permite caracterizar a ordem de grandeza dos fenómenos de cheia. Os
valores de caudal de cheia específicos associados a um período de retorno de 10 anos variam entre 0,1
3 2 3 2
m /s/km e os 4 m /s/km , valores que correspondem a cerca de 0,4 mm/hora e os 16 mm/hora. Já os valores
3 2
de caudal de cheia específicos associados a um período de retorno de 100 anos variam entre 0,1 m /s/km e
3 2
os 10 m /s/km , valores que correspondem a cerca de 0,4 mm/hora e os 40 mm/hora.
O caudal específico depende de forma significativa da dimensão da bacia. A Figura 5.5.4 mostra que os
3 2 2
valores acima de 2 m /s/km só ocorrem em bacias com áreas inferiores a 2000 km . É também evidente a
enorme dispersão das estimativas resultantes da variabilidade de outros factores que não são realçados pela
figura. A localização geográfica é um desses factores, mas é interessante verificar que na Figura 5.5.4 apenas
se destacam as estimativas das bacias do Noroeste.

10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000

Área da bacia (km2)

Figura 5.5.4-A – Caudais Máximos de Cheia por Unidade de Área (T=10 Anos)

4 Noroeste
Douro
3 Guadiana
Lis
Minho
2
Sado+Mira
Mondego+Vouga
1 Tejo

0
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Área da bacia (km2)

Figura 5.5.4.B – Caudais Máximos de Cheia por Unidade de Área (T=10 Anos)

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 43/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000
Área da bacia (km2)

Figura 5.5.5.A - Caudais Máximos de Cheia por Unidade de Área (T=100 Anos)

6 Noroeste
para T=100 anos (m3/s/km2)
Caudal específico de cheia

Douro
5
Guadiana
4 Lis
Minho
3
Sado+Mira
2 Mondego+Vouga
Tejo
1

0
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Área da bacia (km2)

Figura 5.5.5.B - Caudais Máximos de Cheia por Unidade de Área (T=100 Anos)

5.5.2.3. Zonas de Ocorrência de Cheia


No âmbito do PNA, e com a colaboração Serviço Nacional de Protecção Civil e das suas delegações
distritais, foi realizado uma compilação dos locais onde ocorreram cheia (Figura 5.5.6). A caracterização
destes locais no que diz respeito à frequência, magnitude e consequências de cada situação inventariada
ainda está incompleta, mas já é possível avaliar a distribuição espacial deste problema.
Não existe uma estimativa fidedigna dos custos anuais das consequências das cheias em Portugal. Os efeitos
mais correntes são o corte de vias de comunicação, a inundação de campos agrícolas, de habitações e de
estabelecimentos comerciais e industrias e, infelizmente, por vezes a perda de vidas humanas. A gravidade
destas situações não decorre directamente da magnitude das cheias, dependendo também da rapidez do
incremento do nível da água, do estado de preparação das populações e do seu grau educação cívica.

44/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

Figura 5.5.6 – Zonas de Ocorrência de Cheia

5.5.2.4. Lacunas de Conhecimento das Cheias e Problemas Associados


Embora a comunidade técnico-científica portuguesa tenha ao longo dos anos produzido vários trabalhos,
quer de natureza teórica, testando e propondo metodologias, quer de natureza mais prática, avançando com
estimativas para casos específicos, existem ainda lacunas de conhecimento nesta temática que urge colmatar.
Duas áreas devem merecer particular atenção:
- A proposta de metodologias expeditas para o cálculo de valores de caudal máximo de cheia em
numerosas situações de dimensionamento de infra-estruturas que não justificam um estudo mais
aprofundado. Existem vários estudos que constituem componentes importantes desse trabalho, mas é
necessário reuni-los, validá-los e completá-los num único documento que sirva de referência a todos os
técnicos nacionais.
- A identificação e caracterização das áreas sujeitas a cheias, incluindo a definição de zonas inundáveis
para diversos períodos de retorno. Este trabalho é fundamental para o fortalecimento de esquemas de
seguros que penalizem a construção em zonas de cheia e, dessa forma, promovam um melhor
ordenamento do território.
Para completar os trabalhos propostos é necessário prosseguir com o esforço em curso de recolha e análise
de um vasto conjunto de dados que inclui séries de máximos de precipitação, de nível hidrométrico e de
caudal, hietogramas de eventos pluviosos intensos, medições de caudal, características geológicas e
pedológicas das bacias e topografia das zonas de inundação. Os trabalhos exigem a análise estatística de
séries de valores máximos, a monitorização e tratamento de dados de precipitação associados a períodos

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 45/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

curtos, a definição de hietogramas de projecto, a análise das medições existentes de caudal, a definição de
curvas de vazão, o levantamento topográfico das zonas de cheia e a modelação hidrológica e hidráulica.
Merece uma referência particular a necessidade de prosseguir e de alargar o âmbito da monitorização de
valores elevados de caudal que suportem o estabelecimento de curvas de vazão, passíveis de ser utilizadas
em estudos de cheia. Em simultâneo, será necessário continuar o esforço de digitalização das medições
existentes de caudal e de re-análise das curvas de vazão em utilização.

5.6. Alterações Climáticas

5.6.1. Introdução
As alterações climáticas constituem um dos maiores desafios científicos da época actual; a comprová-lo
estão os grandes programas e projectos de investigação internacionais promovidos e patrocinados pela
organização meteorológica mundial e o conselho internacional das uniões científicas, como o programa
sobre variabilidade e predictabilidade do clima (clivar), e outros instrumentos como a convenção quadro para
as alterações climáticas das nações unidas (unfccc) e o painel intergovernamental para as alterações
climáticas (ipcc), cujos relatórios periódicos, apoiados na investigação da comunidade científica, constituem
o estado da arte da ciência das alterações climáticas, e servem de base às negociações de escala global para a
protecção do ambiente à escala global.
A ciência das alterações climáticas, não sendo embora uma ciência exacta, assenta em conceitos e métodos
que importa conhecer com rigor e que se baseiam na física, química e matemática. alguns daqueles conceitos
e métodos são apresentados, de forma breve, nas próximas secções.
5.6.1.1. Conceitos de Sistema Climático e de Clima
O sistema climático, que compreende a atmosfera, a hidrosfera, a criosfera, a litosfera e a biosfera, é
demasiado complexo para poder ser descrito em pormenor, i.e. através da caracterização temporal dos
estados instantâneos dos seus cinco componentes; há, assim, que caracterizá-lo por diferentes estatísticas
(e.g. Valores médios, desvios padrão, momentos de ordem mais elevada, valores extremos) relativas a
determinado período temporal, as quais, em conjunto, definem o clima desse período.
O sistema climático não é isolado e interactua com o universo exterior por meio de transferências radiativas,
sendo a radiação solar a principal fonte de energia para o sistema.
O conceito de clima como conjunto de estatísticas do sistema climático é, no entanto, desnecessariamente
amplo e pouco prático, ainda mais porque os subsistemas do sistema climático são caracterizados por escalas
temporais muito diferentes (e.g. Dias para os movimentos de larga escala da atmosfera e centenas de
milhares de anos para a litosfera). Nestas condições, e tendo em conta que o meio ambiente directo da
espécie humana é a atmosfera, pode considerar-se o clima como definido por um conjunto de estatísticas da
atmosfera global ou limitada a determinada região, calculadas sobre a colectividade de estados instantâneos
(estado de tempo) ocorridos num determinado período (com duração de cerca de 30 anos), sobre a região
considerada; assim, por exemplo, pode falar-se do clima da Europa no período 1931-60 ou no triénio 1961-
90. No período considerado, os estado de tempo constituem anomalias de maior ou menor amplitude, as
quais se vão reflectir não nos valores médios mas sim na variância (e outros momentos) e nos valores
extremos; por exemplo, o fenómeno enso (“el-niño-southern oscillation”), que provoca anomalias
significativas de tempo em várias regiões do globo, faz parte do clima, embora se reflicta nas medidas de
variabilidade interna da atmosfera no período considerado.
Nesta concepção mais restrita de clima diz-se que os restantes componentes do sistema climático exercem
sobre a atmosfera um efeito forçador, resultante de processos de interacção mútua que têm lugar nas
fronteiras comuns com a atmosfera; por ex: o oceano pode forçar a atmosfera através de fluxos de calor
(fluxos de calor sensível ou de entalpia) e da evaporação de água (fluxos de calor latente).
Outros mecanismos forçadores do clima podem estar associados a alterações de parâmetros orbitais da terra
ou a variações da actividade solar.

46/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

5.6.1.2. Variabilidade Climática. Alteração Climática


Se os climas relativos a períodos de tempo diferentes forem significativamente distintos do ponto de vista
estatístico (i.e. para um nível de confiança previamente fixado), diz-se que teve lugar uma mudança ou
variação climática.
Se as causas de uma variação do clima forem independentes da actividade humana (causas naturais) a
mudança climática designa-se por variabilidade climática. Se a variação observada do clima for
consequência da actividade humana, modificadora da composição da atmosfera à escala global, a mudança
climática designa-se por alteração climática. A variabilidade climática diz-se forçada se for devida a
alterações dos mecanismos forçadores do sistema (e.g. alteração da actividade solar) e diz-se livre se resultar
da dinâmica interna do sistema, de natureza irregular, instável ou caótica; uma variação natural do clima
pode no entanto ser consequência de ambos os mecanismos. O ENSO constitui uma anomalia climática
natural, relativamente a um clima de referência definido num período que não contenha aquele em que
ocorreu o fenómeno; assim, o ENSO de 1997-98, constituiu uma anomalia climática relativamente ao clima
de referência no período 1961-90.
Uma mudança de clima pode resultar da acção conjunta de causas naturais e da actividade humana, factores
que não são necessariamente independentes. Se, à mudança observada, se subtrair a componente devida
apenas a causas naturais (“ruído climático”), obter-se-à a alteração climática, de origem antropogénica
(“sinal climático”).
5.6.1.3. Actividade Humana e Alterações Climáticas
A actividade humana – principalmente a crescente utilização de combustíveis fósseis e a deflorestação tem
contribuído para um rápido e substancial aumento das concentrações atmosféricas de dióxido de carbono e
de outras substâncias absorventes da radiação infravermelha, i.e. de gases com efeito atmosférico de estufa
(e.g. metano, óxido nitroso, hexafluoreto de enxofre, substâncias depletoras da camada de ozono).
O desequilíbrio radiativo, resultante da alteração da composição da atmosfera de origem antropogénica,
manifesta-se por um decréscimo de radiação infravermelha enviada para o espaço na tropopausa, i.e. por um
forçamento radiativo da atmosfera e da superfície do globo (reforço do efeito natural de estufa), que vai
implicar um aumento da temperatura média global (aquecimento global provocado pela actividade humana).
Se, por exemplo, a quantidade de dióxido de carbono presente na atmosfera passasse bruscamente para o
-2
dobro (sem que nada mais se alterasse) o forçamento radiativo seria da ordem de 4 Wm implicando uma
subida da temperatura média da troposfera da ordem de 1.2º C; no entanto, tendo em conta que com o
referido forçamento radiativo outras alterações se verificariam, incluindo a acção de mecanismos de
realimentação, o aumento estimado da temperatura média da troposfera seria de 2.5º C.
Este cenário de alteração climática, como aliás qualquer outro cenário, depende do cenário de emissão de
gases com efeito de estufa adoptado, o qual condiciona o forçamento radiativo. No entanto, o aumento da
quantidade de dióxido de carbono ( e de outros gases com efeito de estufa) presente na atmosfera, bem como
a rapidez com que se tem processado, leva a considerar como bastante realista a estimativa anterior, de
considerável magnitude, e que certamente será acompanhada de anomalias climáticas de grande amplitude à
escala global.

5.6.2. Modelos Globais de Clima


Os modelos globais acoplados atmosfera-oceano (AOGCMs), descritos pelas equações da
termohidrodinâmica, constituem, apesar das suas limitações por vezes severas, a única ferramenta
presentemente disponível para não só reproduzir de forma realista o clima actual como também para
quantificar a resposta do sistema climático a forçamentos radiativos decorrentes da actividade humana, i.e.
para construir cenários ou projecções válidas do clima futuro.
Com efeito, apenas os AOGCMs têm potencialidade para simular, ainda que imperfeitamente e de forma por
vezes rudimentar, os complexos processos não lineares, físicos e dinâmicos, e os mecanismos de
realimentação (“feedback”) que têm lugar no sistema climático; esta circunstância decorre do facto de apenas
aqueles modelos terem por base os princípios fundamentais da física, que regem o sistema climático,
traduzidos por equações matemáticas, susceptíveis de serem resolvidas numericamente, contrariamente ao
que acontece com modelos estatísticos ou modelos empíricos.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 47/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

Os AOGCMs têm uma resolução horizontal típica de poucas centenas de quilómetros, uma resolução vertical
da ordem de um quilómetro e possuem representações mais ou menos elaboradas de processos físicos como
sejam, por exemplo, os associados à radiação (solar e terrestre), à física das nuvens, à convecção e à
turbulência na camada limite planetária.
As simulações do clima actual produzidas por AOGCMs são razoavelmente aceitáveis, no que respeita a
algumas variáveis termohidrodinâmicas características do movimento e de processos de larga-escala. No que
respeita a fenómenos de pequena escala e a certos elementos de clima, por ex: à precipitação, já a capacidade
de representação da realidade observada é mais reduzida.
Outro aspecto de importância crucial é o que decorre do facto de a ciência das alterações climáticas não ser
uma ciência exacta; nestas condições, nas representações do clima actual e nas projecções do clima futuro
provenientes de diferentes modelos globais há incertezas, por vezes ainda inaceitavelmente grandes. Um
esforço considerável de investigação está presentemente em curso no sentido de reduzir incertezas, sabendo-
se no entanto que não será possível reduzi-las a zero, uma vez que nos processos que condicionam o clima
existe sempre um elemento de aleatoridade (estocástico).

5.6.3. Regionalização das Alterações Climáticas


Uma eventual alteração climática à escala global assume características regionais muito variáveis de região
para região; por exemplo, um aquecimento global da ordem de 2.5º C não se vai manifestar por um aumento
de temperatura da mesma ordem de grandeza em todas as regiões do globo; como o indicam os AOGCMs ,
as diferenças regionais podem ser significativamente elevadas. Assim, cenários globais do clima futuro
fornecidos por AOGCMs (os quais, por sua vez, decorrem de cenários de emissões de gases com efeito
atmosférico de estufa) têm de ser convertidos em cenários regionais, com recurso a técnica apropriadas.
A regionalização das alterações climáticas é um prerequisito para o estudo de impactes em diferentes
domínios, desde o hidrológico até ao sócio-económico e ao da saúde.
Por exemplo, no caso da Europa, antecipam-se impactes muito relevantes da eventual alteração climática em
curso, principalmente no que se refere a variações nas frequências de ocorrência de fenómenos extremos e na
precipitação, com significativas consequências nos recursos hídricos; especificamente, esperam-se mais
cheias no norte e mais secas em algumas regiões do sul da Europa, situações que vão afectar a procura e o
fornecimento de água e, exigir novas legislações internas e novos acordos entre governos.
As técnicas de regionalização do clima, dividem-se essencialmente em duas categorias: estatísticas e
dinâmicas. Na primeira, estabelecem-se relações de natureza estatística, entre elementos do clima regional e
parâmetros de larga-escala, característicos da circulação atmosférica e do forçamento oceânico, com base nas
quais cenários de alteração climática global são desagregados para a escala regional. Na segunda, o clima
regional é deduzido da colectividade de estados gerados por modelos dinâmicos de alta resolução, possuindo
representações elaboradas de processos físicos de escala regional/local, operando com condições fronteira
fornecidas por modelos globais de larga-escala.

5.6.4. Tendência Observada nos Climas da Península Ibérica e de Portugal


A temperatura média anual em Portugal continental varia entre 7º C nas regiões montanhosas do interior e
18º C na costa sul; o ciclo anual revela uma variação progressiva e regular, com um mínimo em Janeiro e um
máximo em Agosto.
Durante o último século, sobre a Península Ibérica, a temperatura média anual aumentou cerca de 1.6ºC,
tendo os anos mais quentes sido os de 1989, 1995 e 1997.
O referido aumento da temperatura média distribuiu-se desigualmente pelas estações invernal e estival, às
quais corresponderam variações médias de aproximadamente 2ºC e 1.4ºC.
Todos estes valores são relativos ao clima de referência no período 1961-90, caracterizado por uma
temperatura média sobre a Península Ibérica da ordem de 13.1ºC.
A precipitação média anual em Portugal continental é da ordem de 960 mm; a variabilidade espacial é
grande, com valores extremos da ordem de 3000 mm no Minho e de 500 mm no Alentejo; o Inverno é a

48/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

estação chuvosa; num ano, o número médio de dias com precipitação superior ou igual a 10 mm varia de
entre 15-25 nas regiões costeiras a 50-65 nas regiões montanhosas.
No que respeita à evolução da precipitação de Inverno (Dezembro a Fevereiro) no último século, verifica-se
a existência de uma tendência negativa sobre a Península Ibérica, em particular a partir de 1980; secas de
inverno, relativamente rigorosas, observaram-se em 1988/89, 1991/92 e 1992/93; a referida tendência
negativa observa-se também nas restantes estações do ano.
Em Portugal continental, é notável o decréscimo pronunciado da precipitação, no mês de Março, o qual está
associado a uma redução acentuada da frequência de ocorrência, em Março, de sistemas de tempo com
precipitação; esta redução está, por sua vez, muito bem anticorrelacionada com o índice da Oscilação do
Atlântico Norte (NAO), sendo o coeficiente de correlação de -0.6 ao nível de confiança de 99%.
Deve acentuar-se que as tendências observadas não podem ainda considerar-se como sendo consequência
exclusiva da actividade humana; por outras palavras, as anomalias referidas podem ser parcialmente devidas
à variabilidade natural do clima da Península Ibérica.
Às variações observadas da temperatura e precipitação estão associadas alterações no ciclo hidrológico, quer
na Península Ibérica como um todo, quer em Portugal em particular; aquelas alterações resultam de
anomalias verificadas no ciclo anual da precipitação (manifestadas na forma como os totais anuais se
distribuem pelos doze meses do ano, nas quantidades de precipitação mensal, nos números de dias com
precipitação em cada mês e na intensidade da precipitação), e de anomalias térmicas condicionantes da
evaporação e, consequentemente da humidade do solo; estas variações vão, por seu turno, reflectir-se no
escoamento superficial e na recarga dos aquíferos subterrâneos.

5.7. Regime de Caudais e Sedimentos

5.7.1. Introdução
Os sedimentos constituem uma fonte valiosa de informação ecológica sobre um sistema aquático, permitindo
a detecção de fontes poluidoras esporádicas e uma maior exactidão na análise de poluentes metálicos, cujos
teores nos sedimentos são muito superiores aos da água. Permitem ainda uma caracterização cronológica da
poluição hídrica pela análise comparativa da concentração de poluentes nas diferentes camadas dos
sedimentos recolhidos em tubo (Gonçalves, 1987).
Como substrato dos ecossistemas aquáticos, as características dos sedimentos podem condicionar o
desaparecimento ou aparecimento e crescimento de determinadas espécies vegetais e animais, pelo que há,
neste domínio, uma ponte com a monitorização ecológica e a utilização de indicadores biológicos. Se por um
lado, os volumes e qualidade da água e sedimentos afluentes a uma albufeira fazem variar o seu ecossistema,
a acumulação de sedimentos nas albufeiras, principalmente naquelas com capacidade de retenção anual ou
interanual, provoca erosões a jusante das barragens por libertação de água mais limpa e com maior
capacidade de transporte. Esta alteração dos regimes de transporte sólido, leva obviamente a uma
modificação da dinâmica natural destes ecossistemas aquáticos e ribeirinhos, por vezes bastante profunda.
Para o conhecimento destes processos a monitorização sedimentológica terá que incluir não só a
determinação dos volumes de sedimentos transportados e depositados e a caracterização granulométrica,
química e biológica dos sedimentos, como deve também ser acompanhada de uma caracterização ecológica
dos ecossistemas.
Com efeito, esta preocupação de monitorização física, química e biológica do leito dos meios lóticos e
lênticos, para caracterização dos ecossistemas  que vem contemplada na recente Directiva Quadro da
Água, concretamente no Anexo V com o objectivo de fornecer dados da geometria, estrutura e substrato dos
fundos, que permitam classificar os estados ecológicos e fixar normas de protecção das comunidades bióticas
aquáticas nos sedimentos  está presente na restruturação das redes de monitorização de recursos hídricos
que o Instituto da Água vem a empreender desde 1996. A revitalização da rede sedimentológica nela
proposta incidiu primeiro a Sul do rio Tejo (1998), região mais seca e vulnerável à erosão, e foi
complementada em 2000 com a região a Norte do Douro. Para dar resposta à crescente necessidade de
informação batimétrica de albufeiras e cursos de água, bem como de dados de transporte sólido e das
características físicas, químicas e biológicas do leito dos ecossistemas de água interiores, a rede

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 49/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

sedimentológica em implementação compreende estações hidrométricas em cursos de água, onde serão


efectuadas amostragens de caudal sólido e de material de fundo, bem como albufeiras, onde são realizados
levantamentos batimétricos e recolhas de material de fundo.

5.7.2. Medir Para Conhecer


A necessidade de informação de caudais sólidos transportados, bem como das características e dinâmica do
leito dos rios Douro, Mondego e Tejo, principalmente como suporte a grandes obras hidráulicas, esteve na
base do início das campanhas de medição de transporte sólido solicitadas pela então Direcção-Geral dos
Serviços Hidráulicos (DGSH) ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), no final da década de
60 e década de 70.
Na sequência destes trabalhos, e à luz da experiência e conhecimentos adquiridos durante as campanhas de
medição efectuadas nos anos 70, foi criada, em 1980, a rede sedimentológica por disposições legais
decorrentes das actividades da Divisão de Hidrologia Fluvial da então Direcção-Geral dos Recursos e
Aproveitamentos Hidráulicos (DGRAH). Em 1990 deixaram de se recolher amostras de fundo, e em 1993
acabaram definitivamente as medições de caudal sólido em suspensão nas 10 estações que ainda se
encontravam em funcionamento.

5.7.3. Da Informação ao Conhecimento


Como foi referido, a rede sedimentológica da DGRAH funcionou durante a década de 80 e princípio dos
anos 90. Dessa rede existe informação relativa a caudal sólido em suspensão em 109 estações hidrométricas.
Em 28 pontos de amostragem, para além de dados de transporte de sedimentos em suspensão, existem dados
de granulometria do material de fundo. Em alguns locais fizeram-se amostragens apenas durante um ou dois
anos. Por outro lado, estas recolhas não foram efectuadas de modo regular, pelo que os elementos
disponíveis são, muitas vezes, em número muito reduzido. No entanto, em alguns locais de amostragem, o
elevado número de dados constitui uma base preciosa para caracterização temporal dessas secções e para a
monitorização da rede sedimentológica a implementar. Com base nos dados de caudal sólido em suspensão é
possível determinar as Curvas de Caudal Sólido em Suspensão (relação Caudal Líquido – Caudal Sólido em
Suspensão) para cada uma das estações. A existência de um número significativo de dados de granulometria
de fundo permite uma caracterização física do material de fundo. A partir da relação Caudal Líquido –
Caudal Sólido em Suspensão e da série de caudais líquidos para cada secção, são calculados os caudais
sólidos em suspensão que passam nessa secção. A inexistência de recolhas simultâneas de material de fundo
e de caudal sólido em suspensão e a impossibilidade de recolha de amostras em situações de cheia faz com
que, em grande parte dos casos, os dados destas campanhas não sejam representativos de toda a série de
caudais, e não permitam a generalização das curvas obtidas, conforme se pode observar na Figura 5.7.1 para
a estação de Ómnias no rio Tejo (ÁLVARES, 1997). Embora os dias de recolha de dados de caudal sólido
acompanhe, na sua maioria, os momentos de aumento e decréscimo dos caudais de toda a série, não atinge os
maiores picos de caudal registados.
Nas Figuras 5.7.2 e 5.7.3 apresentam-se as Curvas de Caudal Sólido em Suspensão, estabelecidos por
ÁLVARES (1997), para as estações das bacias do rio Tejo e Guadiana onde existem os melhores conjuntos
de dados de transporte sólido da rede em funcionamento até 1993/94.
Estas expressões permitem estimar a ordem de grandeza dos volumes de sedimentos transportados por
reconstituição das séries de caudais sólidos ao longo do rio principal.
Com base nos dados de granulometria do material de fundo é possível construir as curvas granulométricas
para cada amostra e calcular outros indicadores importantes para cada uma das estações: os diâmetros
característicos (Figuras 5.7.4 e 5.7.5 e Quadros 5.7.1 e 5.7.2 - ÁLVARES, 1997).

50/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

3 500
3 000
2 500
Caudal (m3/s)

2 000
1 500
1 000
500
0
01-10-87
20-11-87
09-01-88
28-02-88
18-04-88
07-06-88
27-07-88
15-09-88
04-11-88
24-12-88

12-02-89
03-04-89
23-05-89
12-07-89
31-08-89
20-10-89
09-12-89
28-01-90
19-03-90
08-05-90
27-06-90
16-08-90
Q.méd.diário Q.liq.inst. Qmdd médio Ql inst. médio Dias

Figura 5.7.1 - Representatividade da Amostra - Estação de Ómnias no Rio Tejo

100000
Caudal sólido em suspensão

10000
Qss = 0,0188Q1,0543
1000 R2 = 0,799
100
10
(kg/s)

1 Qss = 0,0352Q0,9362
0.1 R2 = 0,7582
0.01
0.001 Qss = 0,0052Q1,4434
0.0001 R2 = 0,7838
0.00001
1 10 100 1000 10000 100000

Tramagal A lmo uro l Ómnias Caudal líquido (m 3/s)

Figura 5.7.2 - Curvas de Caudal Sólido em Suspensão - Estações do Rio Tejo

100000
Caudal sólido em suspensão

10000 Qss = 0.0603Q1.0536


1000 R2 = 0.783
100
1.3688
10 Qss = 0.0218Q
(kg/s)

2
1 R = 0.9643
0.1
0.01
0.001 Qss = 0.1745Q1.3319
0.0001 R2 = 0.8721
0.00001
0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000 10000

P te M o urão P ulo Lo bo M te A rrego ta Caudal líquido (m 3/s)

Figura 5.7.3 - Curvas de Caudal Sólido em Suspensão - Estações da Bacia do Rio Guadiana

Como se pode observar, o material aluvionar das secções de medição da bacia do rio Guadiana é bastante
mais grosseiro, apresentando também uma maior variabilidade de valores dos diâmetros característicos, o que
se explica pela maior torrencialidade dos regimes de escoamento nos cursos de água desta bacia.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 51/55 (5 - II)


RECURSOS HÍDRICOS

100 100
90 90
80 80
Tramagal

% de material que p
% de Material que p

70 70
(17-11-1988)
60 60
50 50
40 Almourol 40 Pt.Mourão
(18-11-1988) (12-11-1980)
30 30
20 Pulo Lobo
20
(17-11-1981)
10 Ómnias 10
(02-12-1988) Mt.Arregota
0 0 (03-04-1984)
0.0 0.1 1.0 10.0 100.0 0.0 0.1 1.0 10.0 100.0
DiâmetroEquivalente dasPartículas(mm) DiâmetroEquivalente dasPartículas(mm)

Figura 5.7.4 - Curvas Granulométricas Figura 5.7.5 - Curvas Granulométricas


Características Para as Estações do Rio Tejo Características Para as Estações
da Bacia do Rio Guadiana
Quadro 5.7.1 – Diâmetros Característicos do Material de Fundo nas Estações do Rio Tejo

Diâmetro das partículas (mm)


Estação Período de Média Desvio Padrão
recolha D5 D20 D50 D90 D5 D20 D50 D90
Tramagal 1984/1990 0.44 0.66 1.34 5.22 0.08 0.11 0.52 3.29
Almourol 1984/1989 0.38 0.64 1.55 6.15 0.07 0.10 0.51 3.39
Ómnias 1984/1990 0.28 0.42 0.69 2.11 0.05 0.10 0.19 1.40

Quadro 5.7.2 - Diâmetros Característicos do Material de Fundo nas Estações da Bacia do Rio Guadiana

Diâmetro das partículas (mm)


Estação Período de Média Desvio Padrão
recolha D5 D20 D50 D90 D5 D20 D50 D90
Mte. Arregota 1983/1990 0.56 2.18 7.05 27.26 0.66 3.58 10.82 16.95
Pte. Mourão 1979/1985 3.74 10.50 24.08 50.65 4.34 8.59 13.53 19.10
Pulo do Lobo 1980/1985 1.21 4.11 10.86 31.70 1.76 6.17 11.51 20.00

Com base na manipulação em SIG da informação de base relevante para o fenómeno erosivo (precipitações
extremas com intensidades em 30 minutos associadas a um período de retorno centenário, tipo pedológico,
coberto vegetal e declividade do relevo  Fig. 5.7.6) foi possível mapear a classificar a vulnerabilidade à
erosão, onde sobressai o sul do País e, neste, a bacia do Guadiana (Fig. 5.7.7).
A inexistência de recolha de amostras de transporte sólido por arrastamento e, muitas vezes, dos parâmetros
hidráulicos necessários ao cálculo desta forma de transporte ou para determinação do transporte total introduz
erros significativos no cálculo dos volumes de sedimentos transportados pelo que é imperativo que uma rede
de monitorização sedimentológica.
Os relatórios publicados pelo LNEC nos anos 70 e 80 incluem também perfis transversais efectuados na
década de 70 no troço do rio Douro: entre a Central Térmica da Tapada do Outeiro e a Foz do rio Sousa
(LNEC, 1984); nas secções das estações do rio Tejo: Tramagal, Almourol e Ómnias (LNEC, 1982), e em
várias secções da bacia do rio Mondego: de algumas estações de medição de caudal sólido (LNEC, 1975), e
do troço entre os açudes da Raiva e de Coimbra (LNEC, 1985). Mais recentemente, em 1998, foram
efectuados alguns perfis transversais no rio Tejo para avaliação das alterações na morfologia do leito do rio.

52/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

Figura 5.7.6 – Informação de Base para Cálculo do Índice de Susceptibilidade à Erosão: Erosividade da Precipitação; Erodibilidade dos Solos; Coberto Vegetal
e Declives (PIMENTA et al, 1997)

53/55 (5 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
RECURSOS HÍDRICOS

Relativamente à vertente de batimetria em albufeiras foram efectuados até 1998 levantamentos batimétricos
em apenas 10 albufeiras. Em algumas destas albufeiras existem dados de batimetria para vários anos. Os
relatórios elaborados após a realização destes levantamentos incluem o cálculo dos volumes de sedimentos
depositados na albufeira desde o levantamento anterior, que para alguns casos é o levantamento topográfico
anterior à construção da barragem. Os trabalhos efectuados não foram acompanhados de recolhas de
amostras de fundo, não existindo por isso dados de granulometria dos sedimentos depositados nas albufeiras.

Figura 5.7.7 – Índice de Perda de Solo para Portugal Continental


(PIMENTA et al, 1997)

5.7.4. Problemas de Conhecimento e Necessidades de Monitorização e


Investigação
A análise dos dados existentes, quer sejam de batimetria como de transporte sólido e características do
material de fundo, é muitas vezes difícil e inconclusiva, não permitindo uma caracterização válida dos

54/55 ( 5 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


RECURSOS HÍDRICOS

regimes de transporte sólido e dos processos de sedimentação uma vez que grande parte dos dados existentes
apresentam bastantes deficiências relativamente à frequência das recolhas e qualidade da informação.
No domínio das redes específicas para águas interiores, nomeadamente, em acções de apoio à segurança de
estruturas hidráulicas e para monitorização e fiscalização de extracções de inertes, é necessário serem
efectuadas medições de caudal sólido e recolha de amostras de fundo, bem como a execução simultânea de
levantamentos batimétricos.
A compreensão e caracterização dos processos de transporte em águas interiores e a dinâmica costeira passa
pelo cruzamento e análise de toda a informação recolhida, sendo que a influência dos volumes de sedimentos
provenientes das grandes bacias internacionais é a mais condicionante.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 55/55 (5 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

6. QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

6.1. Introdução
A problemática da qualidade da água é em geral abordada sob duas vertentes principais. A primeira prende-
se com a qualidade da água no meio natural, ou seja, nas diferentes massas de água superficiais e
subterrâneas, sejam interiores, de transição ou costeiras. A segunda vertente de análise diz respeito às várias
utilizações que se fazem dos recursos hídricos, e à avaliação da adequação da qualidade da água para essas
mesmas utilizações.
Um elemento fundamental para a avaliação dos recursos hídricos do ponto de vista qualitativo, passa
necessariamente pelo conhecimento das cargas poluentes que são geradas nas bacias hidrográficas, e que
traduzem as pressões que se exercem sobre as massas de água em resultado das diferentes actividades sócio-
económicas que existem no território. A par das condições naturais existentes nas bacias, são estas pressões
que determinam o estado da qualidade das massas de água, e do consequente impacto que esse estado pode
causar, como por exemplo na saúde pública ou nos ecossistemas.
A definição de um conjunto adequado de programas e de medidas para compatibilizar a qualidade da água
com os diferentes usos terá de passar ainda pelo entendimento das relações entre causas e efeitos, por forma
a que se possam conhecer as respostas do meio a alterações das pressões sobre o mesmo. É para este
conhecimento que é fundamental o recurso a certos instrumentos como os modelos matemáticos, cujo
desempenho será tanto mais positivo quanto melhor for a informação sobre as cargas poluentes e o estado da
qualidade da água.
A contaminação das águas superficiais pode ter várias origens. Tomando como referência o tipo de
substâncias poluentes, os riscos de contaminação nas águas superficiais podem genericamente ser divididos
nas seguintes categorias:
• Nutrientes provenientes de fontes tópicas e difusas
• Metais pesados e outras substâncias perigosas
• Micropoluentes orgânicos
• Radioactividade
• Salinização
A concentração de nutrientes provenientes de fontes tópicas e difusas teve um forte crescimento durante as
décadas de acentuado crescimento económico na Europa do pós-guerra. Desde o final dos anos setenta a
concentração de matéria orgânica diminuiu em muitos rios e lagos europeus, principalmente devido à
intensificação da construção de estações de tratamento de águas residuais.
A melhoria observada nas concentrações de fósforo e azoto foi mais acentuada nos rios da Europa ocidental,
apesar de ser menos evidente nos países mediterrâneos. Pelo contrário, os níveis de fósforo aumentaram em
muitos países do leste europeu nas últimas décadas.
Com a aplicação da Directiva 91/271/EEC relativa ao Tratamento de Águas Residuais Urbanas, espera-se
que a situação venha a melhorar significativamente, pelo menos com a entrada em funcionamento da
exploração de sistemas de tratamento em todas as áreas urbanas com mais de 15000 equivalentes de
população, até 31.12.2000
Em contraste com a melhoria verificada nas concentrações de azoto e fósforo provenientes de fontes tópicas,
a concentração de nutrientes com origem em fontes difusas aumentou em geral nos últimos 10 ou 15 anos,
em parte devido ao uso crescente de fertilizantes e à intensificação do tráfego rodoviário.
Embora a protecção das águas contra a poluição causada por nitratos de origem agrícola tenha sido
contemplada na Directiva 91/676/EEC, há ainda um grande caminho a percorrer para que os efeitos positivos
da sua aplicação possam ser sentidos. Assim na Europa, se se atender a que os níveis de fertilizantes
utilizados no Leste e no Sul estão abaixo dos níveis dos outros países do Centro e Norte, receia-se que se
possa verificar naquelas regiões um aumento de fertilizantes por questões de concorrência na produção
agrícola, embora as condições geoclimáticas possam determinar situações bem diferenciadas. Em Portugal

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 1/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

foi publicado o Código de Boas Práticas Agrícolas, foram designadas algumas zonas vulneráveis e foram
publicados os respectivos programas.
O problema da acidificação é especialmente grave quando existe uma forte deposição ácida e os solos da
bacia hidrográfica são relativamente pobres em calcário ou outros minerais facilmente alteráveis e que
protegem contra a chuva ácida. Embora haja vastas regiões mais sensíveis à acidificação das águas
superficiais, as zonas mais afectadas situam-se nos países nórdicos, tais como a Finlândia, a Suécia ou a
Noruega, sendo pouco conhecido o seu eventual efeito em território nacional.
A concentração de metais pesados nas águas superficiais atingiu níveis máximos no espaço europeu durante
os anos setenta. Tendo em vista a redução de metais pesados na fonte foi publicada diversa regulamentação,
destacando-se a Directiva 76/464/EEC relativa a substâncias perigosas, e as respectivas directivas
subsequentes, conhecidas por directivas-filhas, que conduziu à redução dos níveis de substâncias perigosas
em muitos rios europeus. Em Portugal, a aplicação destas directivas não atingiu ainda um número
significativo de fontes poluentes, sendo necessário um esforço na revisão das condições de licenciamento de
um grande número dessas fontes.
Alguns micropoluentes orgânicos, como por exemplo os pesticidas, o DDT e os PCB, são bem conhecidos,
incluindo o seu impacto no ambiente. No entanto, o risco destas substâncias é extremamente difícil de
quantificar pois os efeitos biológicos da maioria deles são ainda mal conhecidos e a sua presença ocorre em
geral a níveis tão baixos que torna difícil a sua determinação analítica. Para além disso, o seu comportamento
no meio aquático em termos de adsorsão, degradação e bio-acumulação é também mal conhecido.
Muitos dos micropoluentes orgânicos foram sujeitos a restrições ou mesmo banidos em muitos países
europeus nos últimos vinte ou trinta anos. É o caso do DDT que foi banido em Portugal como na maioria dos
países, e do PCBs em alguns países. Embora os efeitos da sua aplicação possam ainda estar presentes, o facto
é que os níveis de concentração destas substâncias diminuíram substancialmente nas águas superficiais.
A salinização constitui um sério problema em vários rios europeus, em particular devido à intensidade da
actividade mineira, o que não sucede em Portugal. A salinização pode em alguns casos ser agravada pelo
crescente uso de água para rega.

6.2. Principais Disposições Legais de Enquadramento e Avaliação do Seu Cumprimento

6.2.1. Disposições Legais Nacionais e Comunitárias


O presente capítulo encontra-se enquadrado, fundamentalmente, no Decreto-Lei nº 236/98, de 1 de Agosto -
que revogou o Decreto-Lei nº 74/90, de 7 de Março
O DL 236/98 transpõe para o direito interno as directivas comunitárias relativas à qualidade da água e à
protecção das águas superficiais e subterrâneas contra a poluição provocada por certas substâncias perigosas,
estabelecendo normas, critérios e objectivos de qualidade da água em função dos seus principais usos e
define as normas de descarga das águas residuais no domínio hídrico, com a finalidade de proteger os meios
aquáticos e a saúde pública.
Em termos de poluição urbana, o DL 236/98 remete para o DL 152/97, de 19 de Junho, os valores limite de
emissão (VLE) e as condições de descarga a fixar, apenas ressalvando as condições de descarga de
substâncias perigosas em colectores municipais que obedecerão a diploma legal específico a publicar pelo
Instituto da Água.
O Decreto-Lei nº 152/97, com as alterações que lhe foram introduzidas pelo DL nº 348/98, de 9 de
Novembro (transpõe a Directiva nº 98/15/CE, de 27 de Fevereiro) e pelo DLº261/99, de 7 de Julho (estende a
aplicação às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira), cujo objectivo se prende com a protecção das
águas superficiais dos efeitos das descargas das águas residuais urbanas, identificando as "zonas sensíveis" e
as "zonas menos sensíveis", revoga a Portaria n.º 624/90, de 4 de Agosto, e transpõe para o direito nacional a
Directiva n.º 91/271/CEE, de 21 de Maio, relativa ao tratamento de águas residuais urbanas.

2/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

No essencial, aquele diploma legal estabelece níveis mínimos de rendimento admissíveis (ou concentrações
1
máximas nos efluentes( ) para as descargas precedidas de tratamento primário ou secundário, bem como para
as descargas precedidas de tratamento terciário para redução de nutrientes, quando efectuadas em "zonas
sensíveis" sujeitas a eutrofização, definindo prazos para a operacionalidade dos sistemas de drenagem e das
estações de tratamento de águas residuais urbanas.
Foram, também, tidos em consideração nesta análise os seguintes diplomas legais:
- Decreto-Lei n.º 46/94, de 22 de Fevereiro, que estabelece o regime de licenciamento do domínio hídrico,
sob jurisdição do Instituto da Água;
- Decreto-Lei n.º 235/97, de 3 de Setembro, com as alterações que lhe foram introduzidas pelo Decreto-
Lei n.º 68/99, de 11 de Março, que transpõe a Directiva n.º 91/676/CEE do Conselho, de 12 de
Dezembro, e cujos objectivos são a redução da poluição das águas causada ou induzida por nitratos de
origem agrícola, bem como impedir a propagação desta poluição, através da aplicação de um Código de
Boas Práticas Agrícolas;
- Portaria n.º 1037/97, de 1 de Outubro, que aprova a lista e a carta que identificam as águas poluídas por
nitratos e as áreas designadas por "zonas vulneráveis";
- Decreto-Lei n.º 56/99, de 26 de Fevereiro, que transpõe para o direito interno a Directiva n.º
86/280/CEE, do Conselho, de 12 de Junho, relativa aos valores limite e aos objectivos de qualidade para
a descarga de certas substâncias perigosas;
- Decreto-Lei n.º 382/99, de 22 de Setembro, que estabelece perímetros de protecção para captações de
águas subterrâneas destinadas ao abastecimento público;
- Portaria n.º 462/2000, de 25 de Março, que aprova o Plano Nacional Orgânico para a melhoria das
Origens Superficiais de Água destinadas à produção de Água Potável;
- Decreto-Lei n.º 194/2000, de 21 de Agosto que transpõe a Directiva n.º 96/61/CE, relativa à prevenção e
controlo integrados da poluição, conhecida por Directiva IPPC..
O DL 194/2000, para além de introduzir o princípio da "abordagem integrada", instituindo um novo quadro
procedimental - a licença ambiental - decisão escrita que estabelece as medidas destinadas a evitar, ou se tal
não for possível, a reduzir as emissões para o ar, a água e o solo, a produção de resíduos e a poluição sonora,
visando garantir a prevenção e o controlo integrados da poluição proveniente de determinadas instalações
industriais, institui, também, o conceito de "melhores técnicas disponíveis" (MTDS) - técnicas mais eficazes,
desenvolvidas a uma escala que possibilite a sua aplicação em condições económicas e tecnicamente viáveis,
para alcançar um nível geral elevado de protecção do ambiente no seu todo.
A todas estas disposições legais nacionais e comunitárias acresce a recente aprovação da Directiva
2000/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho que estabelece um Quadro de Acção Comunitária no
Domínio da Política da Água, conhecida por Directiva-Quadro, cujo objectivo é estabelecer um
enquadramento para a protecção das águas de superfície, de transição, costeiras e subterrâneas que evite a
continuação da degradação e proteja e melhore o estado dos ecossistemas aquáticos e terrestres associados,
promova um consumo de água sustentável, reforce a protecção do ambiente aquático, nomeadamente através
da redução gradual das descargas, das emissões e perdas de substâncias prioritárias e contribua para mitigar
os efeitos das inundações e secas.

6.2.2. Avaliação do Cumprimento das Disposições Legais Nacionais e


Comunitárias
Com o objectivo de avaliar o cumprimento das mencionadas disposições legais, nacionais e comunitárias, em
vigor, consultaram-se os Planos de Bacia Hidrográfica e consideraram-se os usos da água contemplados no
DL 236/98.

(1) As concentrações máximas nos efluentes a descarregar constantes deste diploma têm precedência legal sobre os valores-limite especificados
nas normas gerais de descarga (vd. Anexo XVIII do Decreto- Lei n.º 236/98) para os mesmos parâmetros - CBO5, CQO, SST e também azoto
total e fósforo total)

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 3/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

A análise do quadro legal em vigor conduziu à identificação de diversos problemas dos quais os principais
podem sistematizar-se da seguinte forma:
- insuficiências no cumprimento do Decreto-Lei n.º 46/94, de 22 de Fevereiro - ausência de licenças de
utilização do domínio hídrico para grande número quer de captações (superficiais e subterrâneas) de
água para consumo humano quer de rejeição de águas residuais urbanas e industriais, sobretudo no caso
de utilizações anteriores à aplicação dos fundos comunitários. Este facto resulta não só da insuficiência
de meios da Administração para o efeito como também duma ausência de estratégia por parte das
2
DRAOT para fazer cumprir o Artigo 90º( ) daquele decreto- lei;
- atrasos no cumprimento de algumas exigências do Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto,
nomeadamente quanto ao inventário e classificação de alguns usos - origens de águas superficiais e
subterrâneas, destinadas à produção de água para consumo humano, águas conquícolas e águas de rega;
- insuficiências no cumprimento relativamente às exigências de tratamento de águas superficiais e
subterrâneas utilizadas para produção de água para consumo humano face à qualidade da água bruta;
- inexistência, inadequação ou insuficiência de programas de monitorização no contexto da avaliação
da aptidão para usos qualitativamente exigentes, facto que poderá ser a curto prazo debelado face ao
Programa de Reestruturação das Redes de Monitorização de Recursos Hídricos, em curso;
- necessidade de concretizar o pedido de derrogação do parâmetro temperatura previsto no DL
236/98, sobretudo para a região a sul do Tejo;
- atrasos no cumprimento do Decreto-Lei n.º 382/99, de 22 de Setembro - não tendo sido, ainda,
delimitados os perímetros de protecção de captações de águas subterrâneas destinadas ao abastecimento
público;
- atrasos no cumprimento do Decreto-Lei n.º 152/97, de 19 de Junho - ausência de sistemas de
tratamento de águas residuais urbanas e existência de ETAR com níveis de tratamento não adequados ao
meio receptor, em aglomerações com população equivalente superior a 10 000 habitantes, drenando para
"zonas sensíveis", de acordo com a classificação em vigor; segundo o documento "Directiva 91/271/CEE
- Tratamento de Águas Residuais Urbanas - INAG, Janeiro de 2000", à data de 31 de Dezembro de
1998, das 27 aglomerações identificadas nesta situação, apenas 5 cumpriam com o estipulado naquela
directiva e no DL 152/97 que a transpõe);
- insuficiências no cumprimento do Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto e restantes diplomas legais
posteriores que o revogam e alteram, no que respeita à descarga de águas residuais industriais e
substâncias perigosas;
- ausência generalizada de sistemas de auto-controlo por parte das entidades responsáveis pelos
sistemas de tratamento de águas residuais urbanas e industriais;
- insuficiências a nível de acções de fiscalização e de inspecção, no sentido da verificação quer da
existência de sistemas de tratamento quer do cumprimento das normas de descarga impostas nas
respectivas licenças;
- dificuldades de avaliação do nível de cumprimento das normas de descarga de águas residuais
urbanas e industriais, impostas nas respectivas licenças de descarga, devido às insuficiências verificadas
quer em termos de auto-controlo quer em termos de fiscalização e de inspecção.

6.2.3. Principais Razões Associadas às Situações de Incumprimento


As situações de insuficiência de cumprimento identificadas prendem-se, em primeiro lugar, com algumas
disfunções identificadas a nível do próprio quadro legal e institucional, em particular:
- Falta de meios humanos e materiais, em particular, nas Direcções Regionais do Ambiente e do
Ordenamento do Território (DRAOT);
- Falta de uniformidade na interpretação e aplicação dos diplomas legais pelas várias instâncias a que
dizem respeito;
- Falta de coordenação entre as várias instâncias relativamente a questões cuja abordagem e resolução
deveriam presumir articulação entre elas;

2
( ) Obrigava os utilizadores não titulados a obterem o alvará de licença e os titulares de licença, à data da entrada em vigor do DL
46/94 e no prazo de seis meses, a actualizarem a mesma, de forma a cumprirem com a legislação aplicável.

4/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

- Inexistência de documentos de fundamentação e de justificação sobre o teor dos diplomas que vão sendo
publicados com vista ao seu integral entendimento e uniforme interpretação pelas várias instâncias a que
dizem respeito.
Quanto aos atrasos no cumprimento do DL 152/97, resultam, sobretudo, do facto de não terem sido
estabelecidos critérios de prioridade na atribuição de fundos comunitários, que privilegiassem o apoio
financeiro à construção e reabilitação dos sistemas de drenagem e tratamento de águas residuais urbanas em
incumprimento, em detrimento de outros financiamentos, considerando que, nos últimos anos, a grande
maioria dos sistemas têm sido construídos com aqueles apoios.
Idênticas razões se podem aplicar aos incumprimentos relativos às exigências de tratamento de águas
superficiais e subterrâneas destinadas à produção de água para consumo humano, já que também a
construção e reabilitação das instalações de tratamento de água para consumo humano deveriam estar
incluídas num quadro de prioridades dos sucessivos quadros comunitários de apoio.
A ausência destas medidas associada a uma deficiente fiscalização e inspecção representam as principais
causas inerentes a tão diminuto grau de cumprimento, não obstante as verbas que têm vindo a ser
disponibilizadas, não só pela União Europeia (UE) mas também pela Administração Central, através da
celebração de Contratos Programa.
Relativamente aos incumprimentos identificados no âmbito das descargas de águas residuais industriais e
substâncias perigosas, para além do conjunto de causas já identificadas, verifica-se que houve alguma
dificuldade no cumprimento dos prazos preconizados nos Contratos de Adaptação Ambiental, por razões que
se prendem com a entrega dos documentos por parte das empresas numa primeira fase e, numa segunda fase
com o atraso na sua avaliação, por parte das comissões de acompanhamento respectivas.

6.2.4. Disposições Legais Internacionais


As principais convenções internacionais relevantes em matéria de qualidade da água são as seguintes:
- Convenção sobre a Protecção e a Utilização dos Cursos de Água Transfronteiriços e dos Lagos
Internacionais, também conhecida por Convenção de Helsínquia, adoptada a 17 de Março de 1992, em
Helsínquia, elaborada no quadro da Comissão Económica para a Europa das Nações Unidas, aprovada
pela Decisão do Conselho n.º 95/308/CE;
- Convenção sobre Impacte Ambiental num Contexto Transfronteiriço, aprovada em 1991, conhecida por
Convenção de Espoo, que trata de impactes ambientais em geral, referindo as utilizações dos recursos
hídricos e as grandes barragens e reservatórios como actividades às quais os Estados se comprometem a
elaborar estudos de impacte ambiental que tenham em conta os interesses de outros países afectados;
- Convenção para a Protecção do meio Marinho do Atlântico Nordeste, assinada em Paris em 1992,
também conhecida por Convenção OSPAR, aprovada pela Decisão de Conselho n.º 98/249/CE e
ratificada em Portugal em 23 de Fevereiro de 1998, tendo entrado em vigor em 25 de Março do mesmo
ano;
- Law of Non-Navigational Uses of International Water Courses, apresentada pela International Law
Association em 1994, a pedido das Nações Unidas e aprovada em 1997, que reflecte o espírito da
Conferência do Rio de Janeiro e em que o conceito de desenvolvimento sustentado tem um papel central,
os direitos dos países de jusante são melhor salvaguardados, introduzindo o princípio da precaução que
obriga a um planeamento prudente e contraria uma utilização insustentável por parte dos países de
montante
- Convenção Sobre a Cooperação para a Protecção e o Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias
Luso-Espanholas, assinada em Albufeira em Novembro de 1998, também designada por Convenção de
Albufeira.
A Convenção de Helsínquia encontra-se em vigor desde 6 de Outubro de 1996 e foi aprovada, para
ratificação, pelo Decreto- Lei n.º22/94 e publicada no Diário da República n.º 171/94 Série I - A, de 26 de
Julho. Esta Convenção não transcende o quadro da Convenção de Albufeira e não cria obrigações adicionais
ao Estado português.
Por sua vez, a Convenção de Albufeira, em vigor desde o início do ano 2000, define o quadro de cooperação
entre as Partes para a protecção das águas superficiais e subterrâneas e dos ecossistemas aquáticos e

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 5/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

terrestres delas directamente dependentes e para o aproveitamento sustentável das águas, determinando um
vasto programa de cooperação entre as autoridades dos dois Estados para a gestão coordenada dos recursos
hídricos das bacias hidrográficas compartilhadas.
Quanto à Convenção OSPAR, a coordenação da aplicação em Portugal é da responsabilidade da Direcção
Geral do Ambiente, com a colaboração de vários organismos oficiais, nomeadamente o INAG e o Instituto
de Investigação das Pescas e do Mar (IPIMAR). Esta Convenção foi tida em consideração apenas no âmbito
dos estudos relativos aos estuários dos principais rios, já que as águas costeiras não foram integradas nos
planos de bacia hidrográfica.

6.3. Impacto da Actividade Humana Sobre o Estado dos Meios Hídricos

6.3.1. Cargas Poluentes Geradas e Afluentes aos Meios Hídricos


6.3.1.1. Cargas Poluentes Geradas e Afluentes aos Meios Hídricos de Origem Doméstica
Este capítulo tem por objecto a avaliação da magnitude e distribuição espacial da poluição com origem na
utilização doméstica da água.
A análise aqui incluída refere-se apenas ao território de Portugal Continental, excluindo as Regiões
Autónomas da Madeira e dos Açores.
A caracterização quantitativa que se apresenta é a avaliação das cargas resultantes da utilização doméstica da
água pela população residente em 1998.
Foram calculadas as cargas geradas pela população residente, utilizando capitações médias expressas em
Carência Bioquímica de Oxigénio (CBO5), em Carência Química de Oxigénio (CQO), em Sólidos Suspensos
Totais (SST), em Fósforo Total (Ptotal) e em Azoto Total (Ntotal).
Os valores de carga afluente apresentados correspondem à capacidade teórica de tratamento dos
equipamentos instalados e não ao tratamento real efectuado, dado que não se dispõe de informação suficiente
para fazer a avaliação do funcionamento real a nível nacional; por outro lado, não foram contabilizadas na
carga afluente as lamas das ETAR, o que corresponde a considerar que em todos os casos elas têm o
tratamento e destino adequados.
Nos Quadros 6.3.1. e 6.3..2 apresentam-se as cargas geradas, as cargas removidas por tratamento e as
afluentes ao meio hídrico, agregadas por área de Plano de Bacia Hidrográfica, assim como os valores globais
para Portugal Continental.
Da análise dos quadros pode realçar-se o seguinte:
a) Verifica-se que 91% das águas residuais domésticas e 89% da poluição em termos de CBO5 referentes à
população residente incide nas águas interiores, sendo o restante drenado para as águas costeiras.
b) São tratadas 42% das águas residuais domésticas, com taxas de remoção teórica em CBO5 e SST de 30%
e 35%, respectivamente. As taxas de remoção mais baixas referem-se ao Lima (7% em CBO5), ao Douro
(19%) ao Cávado (21%) e às Ribeiras do Oeste (22%); destas bacias, é muito significativa a rejeição nas
águas costeiras no Lima (24%) e nas Ribeiras do Oeste (32%). As taxas de remoção em CBO5 mais altas
referem-se às Ribeiras do Algarve (62%), ao Guadiana (56%), e ao Sado (48%).
c) Os valores apresentados para a remoção de fósforo e azoto são apenas indicativos, já que não se
descriminaram os diversos tipos de tratamento terciário, considerando apenas para estes parâmetros as
taxas de remoção do tratamento secundário. Mas, dado que à data de referência existiam muito poucas
ETAR com tratamentos especiais de remoção de nutrientes, o panorama geral não se deverá afastar
muito do apresentado que se traduz numa taxa média de remoção, a nível do Continente, de 2% para o
fósforo e de 4% para o azoto. Estas baixas taxas de remoção de nutrientes, permitindo as tecnologias
actualmente disponíveis taxas de remoção superiores a 80%, são sintomáticas de uma necessidade de
maior atenção a este tipo de poluição, tanto mais que são correntes os problemas de eutrofização das
massas de água, designadamente origens para abastecimento público.

6/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Quadro 6.3.1 - Cargas Poluentes de Origem Doméstica Geradas, Removidas por Tratamento e Afluentes ao
Meio Hídrico, por Plano de Bacia Hidrográfica (CBO, CQO e SST)

Quadro 6.3.2 - Cargas Poluentes de Origem Doméstica Geradas, Removidas por Tratamento e Afluentes ao Meio
Hídrico, por Plano de Bacia Hidrográfica (Azoto, Fósforo e Coliformes Totais)

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 7/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Densidade de P Densidade de
Plano de Bacia Hidrográfica
Cargas em Fósforo Total - P P total Cargas em Azoto Total - N - N total COLIFORMES
total N total
(ton/ano) (%) (ton/ano) (%) TOTAIS
(ton/ano/km2) (ton/ano/km2)

Carga descarregada nas

Carga descarregada nas

Carga descarregada nas

Carga descarregada nas


Carga afluente às águas

Carga afluente às águas

Carga afluente às águas

Carga afluente às águas


Carga rejeitada (após

Carga rejeitada (após

Carga rejeitada (após

Carga rejeitada (após

Densidade ( nº/km2)
Carga removida (%)

Carga removida (%)


águas costeiras (%)

águas costeiras (%)

Carga gerada (nº)


N total (ton/ano)
P total (ton/ano)

águas costeiras

águas costeiras
Carga Gerada

Carga Gerada

Carga Gerada

Carga Gerada
tratamento)

tratamento)

tratamento)

tratamento)
interiores

interiores

interiores

interiores
Minho 85 81 80 0 80 2,0% 0% 0,10 0,10 0,10 280 260 0 264 260 4% 0% 0,3 0,3 0,3 5,E+16 6,E+13

Lima 220 221 220 55 170 0,6% 25% 0,14 0,14 0,11 740 730 180 552 550 1% 25% 0,5 0,5 0,4 1,E+17 9,E+13

Cávado 350 347 350 0 310 1,6% 10% 0,21 0,21 0,19 1200 1150 110 1022 1000 3% 10% 0,7 0,7 0,6 2,E+17 1,E+14

Ave 720 713 710 0 680 1,6% 4% 0,50 0,49 0,47 2400 2350 95 2242 2250 3% 4% 1,7 1,6 1,6 4,E+17 3,E+14

Leça 440 427 430 180 250 1,8% 43% 1,9 1,9 1,1 1450 1400 610 789 790 4% 44% 6 6 3 3,E+17 1,E+15

Douro 2000 1989 2000 0 1950 1,3% 2,1% 0,11 0,11 0,10 6700 6550 130 6414 6400 3% 1,9% 0,4 0,3 0,3 1,E+18 6,E+13

Vouga 730 709 710 0 710 2,3% 0% 0,20 0,20 0,20 2400 2300 0 2310 2300 5% 0% 0,7 0,6 0,6 4,E+17 1,E+14

Mondego 740 721 720 0 720 3,1% 0% 0,11 0,10 0,10 2500 2350 0 2326 2350 6% 0% 0,4 0,3 0,3 4,E+17 6,E+13

Lis 190 185 190 0 190 2,9% 0% 0,18 0,18 0,18 640 600 0 599 600 6% 0% 0,6 0,6 0,6 1,E+17 1,E+14

Ribeiras do
630 616 620 190 420 1,7% 32% 0,26 0,25 0,17 2100 2000 640 1379 1400 3% 32% 0,9 0,8 0,6 4,E+17 2,E+14
Oeste

Tejo 3350 3279 3300 380 2900 2,1% 12% 0,14 0,13 0,12 11200 10700 1250 9427 9450 4% 12% 0,5 0,4 0,4 2,E+18 8,E+13

Sado 300 289 290 <50 280 3,9% 4,4% 0,04 0,04 0,03 1000 920 0 885 890 8% 4,2% 0,1 0,1 0,1 2,E+17 2,E+13

Mira <50 23 <50 0 <50 2,9% 12% 0,01 0,01 0,01 75 75 0 64 65 6% 12% 0,0 0,0 0,0 1,E+16 8,E+12

Guadiana 230 216 220 0 220 4,3% 0% 0,02 0,02 0,02 750 690 0 687 690 9% 0% 0,1 0,1 0,1 1,E+17 1,E+13

Ribeiras do
360 340 340 0 320 5,0% 5% 0,09 0,09 0,09 1200 1050 55 1016 1000 10% 5% 0,3 0,3 0,3 2,E+17 6,E+13
Algarve

Portugal
10400 10154 10200 950 9200 2,1% 9% 0,12 0,11 0,10 34600 33100 3150 29977 30000 4% 9% 0,4 0,4 0,3 6,E+18 7,E+13
Continental

d) Uma redução significativa dos volumes totais de poluição só é possível garantindo tratamentos com
taxas de remoção elevadas às zonas de mais alta densidade populacional; sob o ponto de vista da
protecção dos recursos hídricos, as metas a estabelecer e sistemas de indicadores deverão privilegiar o
balanço entre quantidade de carga removida e capacidade de suporte do meio receptor, ao invés de
"níveis de atendimento", que tendem a camuflar a assimetria dos problemas ambientais com esta origem
(compare-se, por exemplo, a bacia do rio Lima com a do rio Leça).
e) As águas costeiras são actualmente o meio receptor de cerca de 9% da descarga de águas residuais do
Continente e 11% da matéria orgânica biodegradável, tendendo esta percentagem a aumentar com
empreendimentos em curso. Dada a concentração no litoral não só das zonas mais densamente povoadas
como da pressão turística, este tipo de solução tem vindo a ter crescente atractivo como alternativa de
meio receptor. Haverá que ter em conta, não só os impactes na qualidade destas águas e das praias, mas
também a inviabilização de reutilização dos volumes rejeitados e os seus efeitos no balanço hídrico das
águas interiores, sobretudo na estação seca.
f) O tratamento e destino final das lamas constitui uma incógnita relevante na avaliação da poluição com
origem nas águas residuais domésticas. Este problema, assim como o das lamas das ETA, são
componentes indissociáveis do ciclo urbano da água que tendem a ser descuradas nas análises do sector.

8/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

A espacialização da informação associada à população é, tradicionalmente, representada por unidade


administrativa. Optou-se pela representação por unidade hidrográfica, visto que implica uma transformação
de informação colectada por concelho, porque esta representação facilita a orientação da análise para a
pressão sobre o meio receptor, que é o objecto deste capítulo.
A leitura dos Quadros 6.3.1.e 6.3.2. e das Figuras 6.3.1. a 6.3.4, permite diferenciar graus de pressão sobre
meios receptores e associar zonas territoriais a essa pressão.

Figura 6.3.1. - Carga Doméstica Gerada Figura 6.3.2 - Carga Doméstica Removida

Nas Figuras 6.3.1. a 6.3.3. apresenta-se a distribuição espacial respectivamente da carga específica gerada, e
da carga removida nos tratamentos e da carga específica afluente às águas. O parâmetro representado é a
matéria orgânica biodegradável, expressa pela carência bioquímica de oxigénio aos 5 dias (CBO5), em
2
toneladas de oxigénio por ano e por km . Apresenta-se ainda a Figura 6.3.4.que representa as taxas teóricas
de remoção de matéria orgânica biodegradável correspondentes aos sistemas de tratamento instalados, em
percentagem da carga afluente.
Esta discretização espacial realça as zonas de maior pressão que, naturalmente, têm o padrão das densidades
populacionais. É evidente o agravamento do interior para o litoral, evidenciando a pressão poluente das
fortes concentrações populacionais, sobretudo das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, incidindo nos
estuários do Tejo e do Douro, o Trancão, o médio e baixo Leça e as ribeiras costeiras adjacentes. Estas zonas
constituem, com a zona litoral do PBH do Cávado, as de mais alta intensidade de geração de poluição, com
2
valores acima de 15 ton de CBO5 por ano e por km .

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 9/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Figura 6.3.3. - Carga Doméstica Afluente Figura 6.3.4. - Taxa de Remoção da Carga Doméstica
A área de pressão mais intensa, na Região do Norte, abrange a bacia do Douro, sobretudo a jusante de
Crestuma, toda a bacia do Leça, a bacia do Ave a jusante de Guilhofrei, a bacia do Cávado a jusante da foz
do Homem, atenuando-se, em extensão e intensidade, nas bacias do Lima, Âncora e Neiva.
Uma larga faixa litoral, entre as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto é também sujeita a forte pressão
antropogénica, destacando-se a Ria de Aveiro, o baixo Mondego e a bacia do Brada, a bacia hidrográfica do
Liz e as Ribeiras do Oeste.
Sublinha-se que esta representação dá uma imagem muito atenuada de todas as zonas em que é relevante a
componente de população flutuante, especialmente todo o litoral, com realce para o litoral algarvio.
6.3.1.2. Cargas Poluentes Geradas e Afluentes aos Meios Hídricos com Origem na
Indústria Transformadora e Suiniculturas
A avaliação da poluição de origem industrial em Portugal Continental foi feita tendo em conta a
determinação das cargas poluentes geradas e das respectivas cargas afluentes às linhas de água. Os resultados
obtidos são agrupados tanto pelas principais bacias hidrográficas, como pelos principais sectores de
actividade económica, de acordo com as Classes de Actividade Económica (CAE).
Foi feita uma distinção entre as instalações que descarregam directamente os seus efluentes para o meio
receptor (com ou sem tratamento prévio) das que são servidas por sistemas colectivos de recolha e
tratamento de efluentes.
Pertencem ao primeiro grupo todas as unidades que não podendo ou não pretendendo recorrer a sistemas
colectivos, descarregam directamente os seus efluentes no meio receptor, estando, neste caso, sujeitas a um
licenciamento específico, nos termos do Decreto-Lei nº 46/94, de 22 de Fevereiro, sendo a emissão da
respectiva licença responsabilidade da Direcção Regional do Ambiente e do Ordenamento do Território
respectiva.

10/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

No segundo grupo inserem-se as actividades situadas nas malhas urbanas ou parques industriais e que
podendo recorrer a infra-estruturas colectivas existentes, não afectam directamente o meio receptor, mas sim
por intermédio dos sistemas colectivos que utilizam.
Para o cálculo das cargas poluentes gerada e afluente foi efectuada a análise para as principais Classes de
Actividade Económica (CAE), abrangendo a indústria pecuária e os sectores da indústria transformadora
potencialmente com maior importância em termos de efluentes líquidos. Através desta análise caracterizou-
se globalmente as fontes de poluição industrial, podendo assim, identificar qual a região que gera a maior
carga poluente industrial.
É de salientar que os valores correspondem a estimativas. O que se pretende ressalvar é que os valores das
cargas afluentes às linhas de água representem apenas a poluição afluente directamente às linhas de água,
não considerando infiltrações no solo e utilizações para rega. É também preciso ter em conta que parte destes
valores correspondem à carga estimada bruta, o que apesar de tudo não se deve traduzir num erro
significativo, uma vez que em muitas das situações identificadas não existem sistemas de tratamento de
efluentes e que, quando existentes, nem sempre são os mais adequados.
O universo industrial estudado teve em consideração as orientações constantes nas seguintes disposições:
• Classificação das actividades económicas para fins de licenciamento industrial, de acordo com a Portaria
n.º 744-B/93, que regulamenta as actividades industriais, tendo em conta o grau de risco para o homem e
para o ambiente inerente ao seu exercício. As actividades industriais são classificadas como classes A, B,
C ou D, por grau decrescente de risco.
• Directiva 96/61/CE do Conselho relativa à Prevenção e Controlo Integrado da Poluição (IPPC).
Para a caracterização por sector industrial (CAE) foram seleccionadas, as actividades industriais com
maiores consumos de água e os sectores industriais comuns a todas as bacias hidrográficas. Desta maneira
identifica-se qual a actividade económica capaz de gerar a maior carga poluente em cada bacia e estimar qual
a carga afluente às linhas de água.
Na indústria pecuária tratou-se exclusivamente os dados relativos a suínos, uma vez que as explorações
avícolas não têm efluentes líquidos, conforme o demonstrado nos inquéritos efectuados pelos planos de
bacia. Os efectivos pecuários de outras espécies, por não estarem normalmente estabulados, são considerados
no âmbito da poluição difusa.
Os Quadros 6.3.3. e 6.3.4. mostram as cargas poluentes geradas e afluentes às linhas de água por actividade
económica em cada bacia Hidrográfica. A partir da análise efectuada, obteve-se uma caracterização de
Portugal Continental, que é apresentada nas Figuras 6.3.5. a 6.3.8. sendo possível observar as regiões do país
com maior carga poluente gerada e afluente às linhas de água em Portugal Continental.
6.3.1.3. Cargas poluentes de Origem Difusa
A contaminação proveniente de fontes não pontuais ou difusas caracteriza-se, por um lado, pelo elevado
número de pontos de descarga no terreno e, por outro, pela dificuldade de localização precisa das zonas onde
se produzem essas mesmas descargas. As medidas de controlo associadas a estas fontes apresentam maiores
dificuldades.
A contaminação difusa das águas superficiais e subterrâneas tende a adquirir uma importância crescente, já
que quanto maior for o grau de depuração e de limitação das descargas tópicas ou pontuais, maior será o
peso relativo das descargas de carácter difuso.
As principais fontes de contaminação difusa estão relacionadas com uma série de actividades,
fundamentalmente agro-pecuárias, que se desenvolvem sobre grandes extensões do território e que provocam
a contaminação das águas através dos escoamentos que escoam à superfície e que arrastam e dissolvem as
substâncias que foram depositadas no solo. As escorrências superficiais provenientes da rede rodoviária e das
zonas urbanas constitui também uma importante fonte de contaminação, em particular no que respeita a
certas substâncias perigosas.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 11/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Figura 6.3.5 - Carga Industrial Gerada (SST) Figura 6.3.6 - Carga Industrial Afluente (SST)

Figura 6.3.7 - Carga Industrial Gerada (CQO) Figura 6.3.8 - Carga Industrial Afluente (CQO)

12/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Quadro 6.3.3. - Carga Poluente Industrial Gerada em Portugal Continental

Azeite Vinho Suinos CAE 15(excepto CAE 17 CAE 18 CAE 19 CAE 20 CAE 21 CAE 22
Azeite e Vinho)
PBH
SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO

Minho 2 3 5 3 8 16 158 95 237 18 54 92 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0


Lima 2 26 64 50 130 244 679 407 1018 76 638 975 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 893 2366 7933 0 0 0
Cávado 0 4 11 7 53 89 548 329 821 125 296 517 2088 4059 11950 0 0 0 743 430 1234 2 3
Ave 0 2 6 15 108 180 307 184 461 991 1400 5181 1455 3225 7954 0 0 0 112 75 186 0 0 0 503 163 487 0 5 7
Leça 0 0 0 1 9 15 95 57 142 3783 7920 16432 135 259 480 1143 73 294
Douro 28 1124 3383 182 1217 1990 2935 1761 4404 1476 3863 6399 678 509 963 7450 478 1914
Vouga 44 88 132 44 133 266 657 394 985 878 2156 4072 21 34 58 0 0 0 14 9 24 11 3 28 2665 473 1892 0 2 3
Mondego 2 4 6 7 21 42 1970 1182 2956 687 1378 2494 20 32 54 0 0 0 33 22 54 0 0 0 15312 983 3933 0 0 0
Lis 0 0 0 0 16 35 80419 48251 120628 162 288 545 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2955 190 759 0 0 0
Rib. do Oeste 3216 4317 8263 57 17 43 16 19
Tejo 11 424 1272 4 27 45 13177 7906 19766 5066 12678 22266 319 1416 5973 608 532 1441 0 0 0 253 391 862 5778 2995 15599 0 345 1117
Sado 41 1653 4900 9 65 108 18577 11146 27865 951 1219 2271 0 0 0 0 0 0 7 5 11 13 8 39 15734 1010 4042 0 4 4
Mira 6 229 687 0 0 0 1423 854 2134 1 2 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Guadiana 98 3954 11849 0 0 0 9080 5448 13620 103 260 445 1 1 2 623 1245 2442
Rib do Algarve 5 185 602 0 0 1 6276 3883 8612 772 595 2067 2 3 5 0 0 0 0 0 0 13 20 79 0 0 0 0 4 12
Total 238 7697 22918 321 1788 3030 136301 81898 203651 18306 37063 72021 4717 9540 27440 608 532 1441 222 127 319 290 422 1007 53798 10408 40529 0 379 1166

CAE 24 CAE 25 CAE 26 CAE 27 CAE 28 CAE 29 CAE 31 CAE 34 CAE 35


PBH
SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO

Minho 48 35 105 0 0 0 4 0 48 1 1 1 0 0 5 0 0 0 0 0 0 0 13 16 0 0 0
Lima 9 46 93 0 0 0 12 0 30 0 0 0 0 0 5 0 25 30 0 98 115 0 0 0 0 18 21
Cávado 6 21 25 0 1 1
Ave 982 534 1361 1 2 8 24 0 259 46 35 88 88 221 258 12 14 46 81 237 267 687
Leça 1185 412 1251 0 14 16
Douro 1471 706 2223 19 22
Vouga 806 572 2103 0 0 0 231 0 541 31 39 30 15 0 94 0 392 457 0 26 30 205 239 0 0 0 0
Mondego 185 248 645 0 0 0 54 0 165 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Lis 117 110 375 0 0 0 140 0 754 0 0 0 0 0 25 0 0 0 0 0 0 0 3 3 0 0 0
Rib. do Oeste 789 2439 5257 337 86 11 14 17 63 505 589 22 26 9 10 20 23
Tejo 15008 18133 48192 0 0 0 418 0 484 10796 128 54619 0 0 480 0 583 681 128 469 636 4 517 728 0 0 0
Sado 606 684 2067 0 0 0 14 0 40 8 9 11 0 0 52 0 62 73 0 1 2 0 171 199 0 18 21
Mira 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0
Guadiana 1 2 2 0 1 1
Rib do Algarve 5 14 26 0 0 0 19 0 48 1 1 1 0 0 1081 0 0 5 0 0 1 0 0 0 0 5 6
Total 21217 23956 63725 1 2 8 916 337 2457 10894 228 54767 15 0 1894 0 1789 2093 128 628 823 209 998 1037 237 362 798

Quadro 6.3.4. - Carga Poluente Industrial Afluente às Linhas de Água em Portugal Continental

Azeite Vinho Suinos CAE 15(excepto CAE 17 CAE 18 CAE 19 CAE 20 CAE 21 CAE 22
Azeite e Vinho)
PBH
SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO

Minho 2 3 5 3 8 16 94 56 141 10 40 67 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Lima 1 12 22 48 123 233 167 140 350 14 34 72 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 621 1221 3473 0 0 0
Cávado 0 2 5 7 53 89 274 230 575 84 222 393 1106 2739 9785 0 0 0 0 0 0 0 0 0 743 429 1231 0 2 3
Ave 0 2 6 15 108 180 46 39 97 951 1316 5065 1342 2802 6906 0 0 0 112 75 186 0 0 0 503 164 487 0 5 7
Leça 0 0 0 1 9 15 90 52 142 1651 1844 4419 111 232 441 73 49 123 184 128 362 0 0 0 1143 73 294 0 12 14
Douro 23 938 2825 177 1142 1936 1587 1139 2849 1227 2881 4880 637 464 913 0 0 0 670 446 1116 281 225 790 7450 478 1914 0 25 29
Vouga 44 88 132 42 127 254 552 331 828 385 1022 1950 2 8 12 0 0 0 0 0 0 0 1 6 41 152 295 0 0 0
Mondego 2 4 6 7 21 42 1863 1118 2795 600 1225 2250 14 25 42 0 0 0 33 22 54 0 0 0 15272 982 3927 0 0 0
Lis 0 0 0 0 8 17 17449 10469 26173 38 140 253 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2955 190 759 0 0 0
Rib. do Oeste
Tejo 3 141 418 4 27 45 5887 3755 9221 1906 6401 11088 317 1411 5967 608 532 1441 0 0 0 252 384 777 4022 1408 7495 0 1 1
Sado 35 1508 4456 8 63 105 5604 3363 7258 799 1015 1897 0 0 0 0 0 0 2 2 5 8 7 29 12637 878 3484 0 2 2
Mira 6 229 687 0 0 0 1416 850 2124 1 2 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Guadiana 81 3351 9983 0 0 0 3899 3289 8224 71 191 315 1 1 2 16 13 32 0 0 0 1 0 2 0 0 0 0 1 2
Rib do Algarve 4 135 453 0 0 1 872 523 1308 590 255 1377 2 3 5 0 0 0 0 0 0 10 15 54 0 0 0 0 4 12
Total 201 6413 18999 312 1690 2932 98615 60643 150306 8327 16588 34029 3531 7684 24073 697 594 1596 999 673 1724 552 632 1658 45387 5973 23358 0 53 71

CAE 24 CAE 25 CAE 26 CAE 27 CAE 28 CAE 29 CAE 31 CAE 34 CAE 35


PBH
SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO SST CBO5 CQO

Minho 33 21 78 0 0 0 107 0 11 1 1 1 0 0 4 0 0 0 0 0 0 0 11 13 0 0 0
Lima 9 46 93 0 0 0 12 0 30 0 0 0 0 0 5 0 25 30 0 98 115 0 0 0 0 18 21
Cávado 6 21 25 0 0 0 57 0 157 5 7 9 0 0 12 0 52 62 0 0 0 0 10 11 0 1 1
Ave 976 514 1339 0 0 0 24 0 259 33 35 64 0 0 75 60 224 180 0 12 14 25 50 52 237 267 687
Leça 2437 682 3220 1 1 3 11 0 53 55 41 112 0 0 63 0 84 274 0 19 36 0 52 61 0 14 16
Douro 1405 694 2128 1 3 12 76 0 300 46 59 70 0 0 306 0 270 332 0 99 114 0 73 84 0 13 15
Vouga 162 154 619 0 0 0 25 0 97 1 3 3 0 0 28 0 186 212 0 16 19 0 55 63 0 0 0
Mondego 160 184 529 0 0 0 31 0 91 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Lis 117 90 336 0 0 0 41 0 372 0 0 0 0 0 21 0 0 0 0 0 0 0 3 3 0 0 0
Rib. do Algarve
Tejo 11165 16510 31072 0 0 0 299 0 494 4343 111 32818 0 0 129 0 584 684 134 301 409 0 0 0 0 0 0
Sado 603 659 2017 0 0 0 5 0 22 6 8 9 0 0 43 0 54 62 0 1 1 0 138 159 0 14 16
Mira 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Guadiana 0 1 1 0 0 0 1 0 4 0 1 1 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1
Rib do Oeste 1 5 10 0 0 0 12 0 30 0 0 0 0 0 1081 0 0 5 0 0 1 0 0 0 0 6 7
Total 17073 19583 41467 2 4 15 700 0 1921 4490 266 33087 0 0 1768 60 1481 1841 134 547 709 25 391 447 237 333 764

As substâncias mais comuns que se encontram nas água associadas com a contaminação difusa pertencem ao
grupo dos fertilizantes e dos pesticidas empregues na agricultura, à matéria orgânica e substâncias tóxicas
ligadas tanto às actividades pecuárias como aos efluentes urbanos ou a determinadas actividades industriais.
A utilização excessiva dos fertilizantes provoca a contaminação das águas por nitratos. Os pesticidas são
quase sempre consideradas substâncias tóxicas e perigosas, e como tal necessitam de uma monitorização
cuidada e sistemática.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 13/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

A sua estimativa foi feita para alguns dos planos de bacia hidrográfica recorrendo a abordagens que
contemplam a utilização de taxas de exportação de nutrientes. Estas taxas são retiradas da bibliografia
especializada, para casos tão semelhantes quanto possível com as bacias em estudo.
Noutros casos, a estimativa foi feita com base em modelos conceptualmente bem suportados que
incorporam, entre outras, as características dos solos, as características das culturas, as quantidades de
aplicação de fertilizantes, as capacidades de retenção de fertilizantes pelas culturas e as características
climáticas.
Para a avaliação das cargas provenientes da poluição difusa foram seleccionados o azoto total e o fósforo
total, como substâncias mais representativas da contribuição deste tipo de contaminação para a qualidade das
águas superficiais.

N N
Y Bragança
# Y Bragança
#

Y Viana do Castelo
# Y Viana do Castelo
#

Y Braga
# Y Braga
#

Y Vila Real
# Y Vila Real
#

Y Porto
# Y Porto
#

Y Aveiro
# Y Viseu
# Y Viseu
#
Y Aveiro
#
Y Guarda
# Y Guarda
#

Y Coimbra
# Y Coimbra
#

Y Castelo Branco
# Y Castelo Branco
#
Y Leiria
# Y Leiria
#

Y Portalegre
# Y Portalegre
#
Y Santarém
# Y Santarém
#

Y Lisboa
# Y Lisboa
#

Y Évora
# Y Évora
#
Y Setúbal
# Y Setúbal
#
Y
# Capital de Distrito Y
# Capital de Distrito
Limites de Plano de Bacia Limites de Plano de Bacia
Azoto [Kg/ano/ha] Fósforo [Kg/ano/ha]
Sem valores Sem valores
Y Beja
# 0 - 1.0 Y Beja
# 0 - 0.3
1.0 - 2.0 0.3 - 0.6
2.0 - 3.5 0.6 - 1.0
3.5 - 5.0 1.0 - 1.5
5.0 - 10.0 1.5 - 2.0
>10.0 > 2.0
0 20 40 60 Km 0 20 40 60 Km

Y Faro
# Y Faro
#

Figura 6.3.9 – Carga Poluente de Origem Difusa (Azoto) Figura 6.3.10 - Carga Poluente Origem Difusa (Fósforo)
Na avaliação da poluição difusa foram consideradas as actividades agrícola, pecuária e florestal. Para além
disso, avaliaram-se ainda as cargas poluentes de natureza difusa provenientes do grande número de
suiniculturas dispersas.
Na avaliação das cargas difusas teve-se em conta o trabalho desenvolvido nos planos de bacia hidrográfica,
mas também a aplicação de taxas de exportação de nutrientes, que foram aplicadas, para cada concelho, e
para cada bacia, às áreas agrícolas e florestais.
Em Portugal, à semelhança dos países mediterrânicos, a utilização da água na agricultura tem uma expressão
de grande importância, comparada com outros usos sectoriais.
Em alguns casos, recorreu-se ainda aos dados que foram utilizados nos modelos de simulação da qualidade
da água dos principais rios, no âmbito dos PBH, e que possibilitaram uma avaliação da grandeza da poluição
difusa afluente aos mesmos.
No Quadro 6.3.5. apresentam-se os valores de cargas de poluição difusa estimadas para as quinze bacias
hidrográficas e para a totalidade do território de Portugal Continental. Nas Figuras 6.3.9. e 6.3.10. apresenta-
se a distribuição espacial da poluição difusa em Portugal Continental.

14/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Quadro 6.3.5 - Carga Poluente Difusa Estimada em Portugal Continental

Agro-florestal Suiniculturas Total Total por hectare


Área
Bacia Ntotal Ptotal Ntotal Ptotal Ntotal Ptotal Ntotal Ptotal
(km2)
(ton/ano) (ton/ano) (ton/ano) (ton/ano) (ton/ano) (ton/ano) (kg/ano/ha) (kg/ano/ha)
Minho 851 677 55 6 2 683 57 8,02 0,67
Lima 1401 556 94 22 7 578 101 4,12 0,72
Cávado 1833 456 82 0 0 456 82 2,49 0,45
Ave 1414 460 104 5 2 465 105 3,29 0,75
Leça 216 2 1 0 0 2 1 0,10 0,04
Douro 18874 81 42 14 5 95 47 0,05 0,02
Vouga 3701 1795 143 16 5 1811 148 4,89 0,40
Mondego 6900 2254 158 10 3 2264 161 3,28 0,23
Lis 987 156 12 28 9 184 21 1,86 0,21
Rib. Do Oeste 2465 0 0 0 0 0,00 0,00
Tejo 24635 400 147 400 147 0,16 0,06
Sado 8327 1397 167 952 317 2349 484 2,82 0,58
Mira 1769 290 40 1 0 291 40 1,64 0,23
Guadiana 11726 5128 992 253 84 5381 1076 4,59 0,92
Rib. do Algarve 3836 694 93 78 26 772 119 2,01 0,31
Totais: 88935 14346 2130 1383 461 15729 2591 1,77 0,29

Na Figura 6.3.11 apresenta-se a distribuição do total das cargas poluentes estimadas (doméstica, industrial e
difusa) afluentes aos meios hídricos, por área de Plano de Bacia Hidrográfica, em termos de CBO5, CQO,
SST, Ptotal e Ntotal.
6.3.1.4. Outras Origens de Poluição
Indústria Extractiva (Minas)
Para a identificação da indústria extractiva procedeu-se à consulta dos planos de bacia, ao contacto directo
com o Instituto Geológico e Mineiro e com a empresa responsável pela aplicação do programa ambiental de
áreas mineiras abandonadas. A informação disponibilizada permitiu geo-referenciar as explorações mineiras
activas e suspensas nas áreas dos planos de bacia hidrográfica que se apresenta na Figura 6.3.12..
As explorações mineiras exigem um acompanhamento técnico, uma actualização tecnológica constante e um
desenvolvimento controlado, de modo a mitigar os possíveis perigos para o meio envolvente. Um dos
principais perigos é a existência de concentrações elevadas de elementos químicos de reconhecida
agressividade e perigosidade em termos ambientais, que revelam a necessidade de uma investigação mais
aprofundada para uma monitorização e tomada de medidas mitigadoras.
O modo de exploração e as características dos detritos rejeitados do tratamento do minérios constituem, em
princípio, um factor de agressividade para o ambiente.
Portanto, é importante que a exploração das minas seja feita de forma controlada, respeitando as diversas
componentes ambientais potencialmente afectáveis, de modo a garantir um minimização dos potenciais
impactes negativos dessas actividade produtiva.
Resíduos Sólidos Urbanos
A deposição desordenada de resíduos, constitui actualmente, um problema ambiental grave, dado ser uma
fonte importante de contaminação de solos, linhas de água e reservas aquíferas importantes. Esta realidade,
conjuntamente com a alteração dos hábitos das populações e com a consciencialização por parte do governo
da situação deu origem a uma estratégia nacional para os resíduos.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 15/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Minho

L ima
ad o Y Bragança
#
C av

Y Viana do Castelo
#
ve
Y Braga
# A

Vila Real #
Y
ça
Le
uro
Y Porto
# o Do
D our

Paiva

V ouga
Y Aveiro
# Y Viseu
#
o
n deg
Mo
Y Guarda
#

C ôa
Y Coimbra
# Zêze
re

Lis

Y Castelo Branco
#
Y Leiria
#
Ton / Ano
Tejo
180 000
Te jo
160 000

Y Portalegre
#
140 000
Y Santarém
#
120 000
Ca
ia

Sorraia 100 000


jo
Te

80 000
Y Lisboa
#
60 000
Y Évora
#
Y Setúbal
#
Sado 40 000

20 000

0
Y Beja
#
Y
# Capital de Distrito
Rede Hidrográfica
Limites de Plano de Bacia
SST
Mira
CBO5
CQO
Rio Gua diana

N
P
20 0 20 Km
Y Faro
#

Figura 6.3.11 – Cargas Poluentes Afluentes aos Meios Hídricos


Tendo por base a informação recolhida junto do Instituto de Resíduos e dos Planos de Bacia Hidrográfica,
foi realizado o levantamento dos locais de deposição, tratamento e destino final dos resíduos urbanos -
lixeiras e aterros sanitários existentes ou estações de compostagem e incineração, tendo como objectivo
identificar potenciais fontes poluidoras dos meios hídricos.
Com a informação recolhida, procedeu-se à respectiva geo-referenciação, apresentando-se na figura 6.3.13. a
localização das instalações de tratamento e deposição de resíduos sólidos urbanos.

6.3.2. Substâncias Perigosas


A preocupação pela poluição da água por determinadas substâncias consideradas perigosas, que, no início
dos anos 70 levou à celebração de diversas convenções internacionais relativas à poluição marinha , veio a
ser prosseguida pela Comunidade Económica Europeia relativamente aos meios hídricos em geral.
As substâncias consideradas perigosas são definidas em duas listas (lista I e lista II) de substâncias ou grupos
de substâncias anexas à Directiva 76/464/CEE, de 4 de Maio de 1976, transposta para o direito nacional pelo
Decreto-Lei nº 236/98, de 1 de Agosto. Esta directiva tem por objectivo proteger o meio aquático da
poluição causada por certas substâncias persistentes, tóxicas e bioacumuláveis, genericamente designadas
por substâncias perigosas.
Para dar cumprimento a esta directiva e às directivas-filhas, transpostas para o direito nacional pelos
Decretos-Lei nº 52/99, 53/99, 54/99 e 56/99, a Direcção Geral do Ambiente iniciou, em 2000, um programa
de monitorização das substâncias perigosas. Esta monitorização está a ser efectuada com os seguintes
objectivos:

16/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Figura 6.3.12 - Concessões de Explorações de Depósitos Minerais

• Avaliar os níveis existentes de contaminação aquática, tendo em conta a concentração dos contaminantes
em mexilhões, sedimentos e água (interiores, estuarinas e costeiras);
• Avaliar a eficiência das medidas que possam a vir a ser tomadas com vista à redução da contaminação
aquática.
tendo já sido produzido um Relatório da situação actual.
A maioria das substâncias perigosas encontradas na zona costeira devem-se à actividade antrópica e são
transportadas através dos rios para os estuários e lagunas costeiras, ou aí lançadas directamente.
Dado que a concentração destes contaminantes no meio marinho depende de vários factores relacionados
com as suas propriedades físico-químicas, os processos de transporte e as características do ecossistema, a
estratégia de amostragem inclui os seguintes aspectos:
i. Caracterizar a qualidade da água em frente às embocaduras dos estuários e lagunas costeiras durante a
vazante, quando o transporte de contaminantes para as zonas adjacentes é maior;
ii. Caracterizar os níveis de contaminantes acumulados no plâncton destas zonas, avaliando o papel destes
organismos na transferência destas substâncias através das cadeias tróficas;
iii. Determinar, sempre que possível, os níveis de contaminantes em sedimentos lodosos depositados à
saída dos estuários, que correspondem ao material particulado exportado que incorpora maior
quantidade de contaminantes orgânicos e inorgânicos;
iv. Comparar os valores obtidos com os de zonas afastadas das embocaduras e consideradas de referência.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 17/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

O Quadro 6.3.6. apresenta 24 dos 74 compostos orgânicos semivoláteis detectados, níveis de concentração e
número de amostras. Salienta-se que o irgarol, a desetilatrazina (produto de transformação da atrazina) e a
terbutilazina, apesar de não constarem da directiva, foram incluídos no programa de monitorização e
detectados em alguns pontos.

Figura 6.3.13 - Locais de Tratamento e Destino Final de RSU


Em síntese, as áreas mais contaminadas em compostos orgânicos semi voláteis na água são: a zona industrial
perto do ponto de amostragem de Portos localizada a Norte (no período de Abril a Setembro) e as zonas
agrícolas na parte Centro-Sul, Esteiro Moita, Monte da Vinha e Alvalade do Sado, especialmente na
Primavera e princípio do Verão (de Abril a Junho).
A presença de um número elevado de herbicidas em amostras colhidas na bacia do rio Guadiana deve-se à
grande actividade agrícola existente nessa área, e também à contribuição do lado espanhol da bacia. Como
exemplo, na estação de Monte da Vinha próxima da fronteira, registaram-se sempre valores quantificáveis
para muitos destes compostos.
Dos compostos orgânicos semivoláteis analisados em sedimentos os PAHs e o lindano foram os mais
detectados. Os locais de amostragem onde o lindano, em sedimentos, foi detectado, correspondem a zonas
agrícolas onde existem culturas de arroz, trigo ou vinha. Os locais onde a contribuição dos PAHs, em
sedimentos, representam uma concentração superior a 100 ng/g são Sagres costa e Sines costa.
Na monitorização de sedimentos, o local mais contaminado corresponde ao Esteiro de Coina, com valores de
vários PAHs compreendidos entre 500 e 1000 ng/g, tendo sido encontrada nesta estação a concentração total
de compostos orgânicos semivoláteis de 6079 ng/g, que também incluem vestígios de heptacloro e PCBs,
valor que denota uma grande actividade industrial. Na generalidade, os mexilhões não continham vestígios
de compostos orgânicos semivoláteis.

18/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Quanto aos compostos orgânicos voláteis (VOC), o composto mais frequentemente detectado foi o
clorofórmio. Os níveis de VOC encontrados estão sempre abaixo dos valores máximos admissíveis
estabelecidos pela União Europeia (10 `g/l).
Os compostos organoestanosos não foram detectados nas amostras de águas interiores. Os compostos
organometálicos (TBT + DBT) em água, foram apenas detectados com teores acima do limite de detecção
nas estações da costa do Tejo e do Sado.
Os teores em metais nas águas superficiais são, de um modo geral, pouco significativos, com excepção de
alguns casos que podem ser explicados pela localização das diferentes áreas de actividade
agrícola/industrial/urbana. As concentrações de metais em água cumprem os objectivos de qualidade
referidos na legislação.
Apenas nas estações influenciadas por actividades industriais foram encontrados valores significativos de
fósforo e cianetos (Ponte de Aranha). Os nitritos foram sistematicamente detectados, embora dos valores
quantificáveis apenas 38% sejam superiores a 0,1 mg.

Quadro 6.3.6 - Número de Amostras com Resultados Quantificáveis Detectadas de Abril de 1999 até Janeiro de
2000

Compostos <0.10µg/l 0.1<0.3µg/l 0.3<1.0µg/l > 1.0µg/l nd Total V. Quantificáveis % V.


Quantificáveis

Atrazina 120 ( 67%) 48 10 2 76 256 180 70


Simazina 84 45 15 1 115 256 145 57
Irgarol 63(29%) 6 1 0 143 214 70 33
Terbutilazina 45 3 3 2 161 214 53 25
Metolacloro 86 8 0 0 119 214 94 44
Aloclaro 32 11 2 0 169 214 45 21
Tributilfosfato 137(72%) 43 6 3 14 214 189 88
2,4, 6 - Triclorofenol 31 49 7 9 117 214 96 45
Pentaclorofenol 0 16 25 0 173 214 41 19
Propanil 3 4 14 0 193 214 21 10
Maltião 4 0 0 0 210 214 4 2
Dimetoato 0 3 10 0 201 214 13 6
Lindano 23 4 0 0 229 256 27 11
Linurão 0 10 0 0 247 256 10 4
Desetilatrazina 0 8 9 0 80 87 17 20
2- Clorofenol 0 13 0 0 201 214 13 6
3 - Clorofenol 0 51 1 0 164 214 52 24
Molinato 4 2 6 2 242 256 14 5
Bentazona 0 9 8 3 244 264 20 8
2,4 D 0 22 11 17 213 263 50 19
MCPA 0 22 18 15 213 268 55 21
Dicloroprope 0 10 12 3 241 266 25 9
2,4,5 T 0 9 5 1 243 258 15 6
Mecoprope 0 7 5 3 252 267 15 6

6.3.3. Sistemas de Tratamento de Efluentes e Eficiência


A instalação de sistemas de tratamento de águas residuais urbanas tem vindo a ser objecto de crescentes
investimentos, sobretudo na última década, com o apoio de fundos comunitários. As Figuras apresentadas no
subcapítulo 6.3.1.1. - Cargas poluentes geradas e afluentes aos meios hídricos de origem doméstica - dão
uma imagem dos resultados dessa actuação, no que respeita à remoção de matéria orgânica biodegradável.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 19/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

A "carga removida" ilustra a redução bruta de poluição, enquanto que a "taxa de remoção" - que combina os
níveis de atendimento com o grau de tratamento instalado - mostra a redução percentual obtida.
Na classe dos mais altas massas removidas, destacam-se duas zonas críticas, em termos de carga poluente
gerada: a bacia do Trancão, com uma taxa de remoção relativamente elevada (62%) para uma densidade de
2 2
carga removida de 27 ton / ano/km , e a zona jusante da bacia do Leça, onde são removidas 30,6 ton/ano/km
com uma taxa de remoção de 48%. Note-se, no entanto, que outros factores levam a que estas situações não
sejam equivalentes – a bacia do Trancão "importa", de facto, águas residuais de outras unidades
hidrográficas, o que não é contabilizado nesta análise e sobrecarrega o meio receptor, apesar das elevadas
taxas de remoção instaladas. Pelo contrário, a bacia do Leça "exporta" para as águas costeiras uma parte
significativa das águas residuais, o que lhe atenua a pressão como meio receptor.
As mais altas taxas de remoção encontram-se nas pequenas bacias do Bufo (91%) e do Ardila (87%), cujas
albufeiras são origem de água para consumo humano, correspondendo-lhes quantidades relativamente baixas
2
de matéria removida – inferiores a 300 kg/ano/km . Infelizmente, a qualidade da água destas albufeiras
continua a apresentar problemas, que serão devidos essencialmente à poluição transfronteiriça.
As bacias do Alentejo, sobretudo na faixa central, destacam-se pelas taxas mais altas de remoção; as massas
removidas não têm, no entanto, praticamente expressão à escala nacional representada.
Em contraponto, e com as duas excepções já mencionadas, as taxas de remoção instaladas nas zonas mais
críticas de pressão são, em geral, francamente baixas face a um máximo teórico de viabilidade técnica da
ordem dos 90%.
A análise comparativa da "carga gerada", da "carga removida" e das "taxas de remoção" evidencia que não
há qualquer correspondência entre o grau de poluição gerado e os sistemas de águas residuais instalados.
3
A informação analisada com mais pormenor, se bem que insuficiente para proporcionar uma avaliação
quantitativa, de diversos factores relevantes à caracterização deste tema, permite uma descrição qualitativa
desses factores. As análises apresentadas no âmbito de alguns PBH demonstram que as concentrações à
entrada dos órgãos de tratamento de águas residuais urbanas apresentam grandes variações, não só de
sistema para sistema, como entre amostras colhidas ao longo do tempo no mesmo sistema.
Obtiveram-se, em muitos casos, resultados de concentrações no esgoto bruto incompatíveis com a escala de
variação natural de composição de esgotos domésticos. Estas concentrações só são explicáveis pela mistura
com águas residuais de outras proveniências, cuja quantidade e composição determina a composição final do
efluente bruto; verificando-se casos de extrema diluição em paralelo com outros de concentrações muito
altas. O Quadro 6.3.7. referente ao conjunto de análises de efluentes brutos à entrada de 115 ETAR na bacia
hidrográfica do Tejo, ilustra esta variação.
Nota-se também que os valores centrais (os 50% mais próximos da mediana) têm, em geral, concentrações
significativamente inferiores aos valores padrão, que se referem a uma composição teórica considerada
normal para esgoto doméstico.
O conceito de "nível de atendimento" aqui utilizado, e que serviu de suporte ao cálculo das taxas de remoção,
baseia-se na "população residente total em 1998", incluindo os "isolados" e excluindo a população flutuante
e todas as outras fontes poluidoras eventualmente englobadas no conceito de "habitantes equivalentes".
A grande variabilidade da composição das águas brutas atrás referida indicia que bastante mais de metade
das ETAR observadas estarão a funcionar "fora dos limites de projecto", isto é, são alimentadas com águas
residuais cuja composição é muito diversa daquela para que foram dimensionadas; embora a predominância
do desvio da norma seja na zona das concentrações baixas, o que parecerá favorável, é de ter em conta que
quase todos os tratamentos instalados são biológicos, sendo, por isso, muito vulneráveis a alterações de
composição do seu meio ambiente, ou a ambientes significativamente diferentes do "ambiente de projecto".

3
() Essencialmente os resultados dos trabalhos "Avaliação de funcionamento de ETA e ETAR" (PBH Tejo e Douro) e
"Avaliação preliminar do funcionamento de ETA e ETAR" (PBH Guadiana)

20/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Quadro 6.3.7 - Concentrações das Águas Residuais Brutas (Plano de Bacia do Tejo)

CONCENTRAÇÕES EM Nº DE VALORES VALORES MÉDIA Coef MÍN. 1º Quartil 2º Quartil 3º Quartil MÁX.
ÁGUAS RESIDUAIS ANÁLISES PADRÃO CENTRAIS Var.
BRUTAS (Plano de Bacia (capitação vol. da amostra 1º
do Tejo) de 100 a 200 - 3º Quartis
(em 115 l/hab/dia) (%)
ETAR)

CBO5 (mg/l) 309 300-600 125-485 349 92% 10,0 125 285 485 2200

CQO(mg/l) 351 600-1200 355-934 777 105% 35,0 355 639 934 10957

SST (mg/l) 350 450-900 121-335 331 230% 8,0 121 214 335 9893

Ntotal (mg/l) 78 50-100 47-109 81 55% 8,0 47 82 109 218

Ptotal (mg/l) 170 15-30 7-20 15 63% 0,2 7 13 20 60

pH 264 6,5-7,5 7-7,8 7 8% 4,6 7,0 7,4 7,8 9,1

Um segundo aspecto relevante num diagnóstico, são as ETAR com parte ou a totalidade dos órgãos de
tratamento fora de funcionamento, a maior parte das quais, por óbvia desactivação, não foram objecto de
controlo analítico.
Realça-se ainda que, exceptuando os casos de órgãos desactivados, não existe qualquer tipo de relação entre
a classificação qualitativa sobre o funcionamento obtida através de inquéritos, e as taxas de remoção
calculadas através de resultados analíticos referentes às mesmas ETAR. Há indícios que a generalidade das
classificações qualitativas se baseiam numa expectativa da entidade gestora, que é subjectiva e extremamente
variável, incidindo essencialmente nos parâmetros organoléticos, com destaque para o cheiro.
Exceptuam-se os casos de afluentes brutos anómalos, que têm uma incidência significativa, e os casos de
avaria de equipamentos. Um estudo aprofundado incidindo na correcção destes dois tipos de causas poderá
ter um impacto muito relevante na eficácia dos empreendimentos.
Num contexto técnico e legislativo muito orientado para a optimização das taxas de remoção da matéria
orgânica, do fósforo e do azoto e, já em muitos casos, para a desinfecção, há que realçar a importância dos
parâmetros organoléticos, sobretudo o cheiro, e ainda da selecção da localização - não só pela sua
importância ambiental, mas também porque constituem factores fundamentais à aceitação e viabilidade da
exploração adequada dos sistemas de águas residuais.

6.3.4. Qualidade dos Aquíferos e das Formações Hidrogeológicas


6.3.4.1. Qualidade da Água Subterrânea para Consumo Humano
Introdução
A classificação seguiu o estipulado no decreto-lei nº236/98 de 1 Agosto que estabelece normas, critérios e
objectivos de qualidade com a finalidade de proteger o meio aquático e melhorar a qualidade das águas em
função dos seus principais usos (artº 1), segundo o que ficou consignado no nº 2 do artº 14 do referido
diploma: Considerar-se-ão aptas para poderem ser utilizadas como origem da água para consumo humano
as águas subterrâneas que apresentam qualidade superior ou igual à da categoria A1 das águas doces
superficiais destinadas à produção de água para consumo humano.
A classificação em conforme (A1) ou não conforme (A2 ou A3) baseou-se nos VMA e VMR dos principais
parâmetros físico-químicos e alguns parâmetros relativos a substâncias indesejáveis especificados no Anexo
VI do respectivo diploma. A verificação da conformidade segue os critérios estabelecidos no artº 16 do
diploma.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 21/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

A quase inexistência de redes de monitorização implementadas (com a excepção da Unidade Hidrogeológica


da Orla Meridional) impede uma adequada avaliação espaço-temporal da qualidade da água subterrânea em
muitos dos sistemas aquíferos e das formações hidrogeológicas indiferenciadas.
Deste modo os parâmetros analisados foram o pH, condutividade, cloretos, sulfatos, dureza, sódio, cálcio,
magnésio, potássio e nitratos. Não estão disponíveis dados relativos a parâmetros relativos a substâncias
tóxicas e raros parâmetros microbiológicos com representatividade espaço-temporal.
Em geral a classificação de não conforme diz respeito a casos onde existe violações de VMA de nitratos e
cloretos devido em parte a processos naturais, relacionados com a interacção água/rocha e com a lixiviação
de sais inclusos nos sedimentos ou a actividades antropogénicas como as práticas agrícolas, que são
responsáveis pelo aumento da concentração de nitratos, sulfatos e outros iões, devido à utilização de
fertilizantes e ao regadio, o qual provoca um aumento generalizado dos sais devido à sua reciclagem ao nível
do solo.
Avaliação Segundo o Decreto-Lei nº 236/98
Quer devido à sua importância como origem de água subterrânea quer devido à representatividade das redes
de monitorização respectivas foram unicamente avaliados os sistemas aquíferos que constituem as grandes
origens de água subterrâneas para consumo humano e que ocorrem nas 4 grandes unidades hidrogeológicas.
Deste modo ficam de fora as formações hidrogeológicas indiferenciadas.
Na Figura 6.3.14. estão os resultados da classificação da qualidade da água subterrânea para consumo
humano segundo o normativo legislativo em vigor com a indicação dos casos onde houve violações quer nos
VMRs quer nos VMAs para os parâmetros analisados.
Os principais problemas de qualidade da água para consumo humano na Orla Meridional dizem respeito aos
descritores NO3 e Cl. Nos aquíferos alentejanos do Maciço Antigo as principais violações dizem respeito ao
ião nitrato. O mesmo parâmetro é responsável por situações de não conformidade nos sistemas aluvionares
da Bacia do Tejo e do Sado. Finalmente na Orla Ocidental os sistemas aquíferos possuem em geral água
conforme as normas legais com excepção de alguns casos pontuais como é o caso de certas zonas do sistema
quaternário de Aveiro, derivada da forte poluição industrial aí existente.
6.3.4.2. Qualidade da Água Subterrânea Destinada à Rega
A classificação seguiu o estipulado no decreto-lei nº236/98 de 1 Agosto que estabelece normas, critérios e
objectivos de qualidade com a finalidade de proteger o meio aquático e melhorar a qualidade das águas em
função dos seus principais usos (artº 1), que visam proteger a saúde pública, a qualidade das águas
subterrâneas, as culturas que podem ser afectadas pela má qualidade das águas de rega e os solos cuja
aptidão para a agricultura pode ser degradada pelo uso sistemático de águas de rega de má qualidade (artº
58).
A classificação adoptada de conforme ou não conforme baseia-se nos VMR dos parâmetros indicados no
Anexo XVI do respectivo diploma.
Tendo em conta a disponibilidade dos dados dos parâmetros de controlo foram seleccionados unicamente os
seguintes: cloretos, nitratos, sulfatos e principalmente o índice SAR.
O índice SAR, a relação de adsorção do Sódio, traduz o efeito da concentração relativa de catiões na
acumulação de sódio no solo e é calculado pela seguinte fórmula:

Na
SAR =
Ca + Mg
2
sendo as concentrações expressas em miliequivalentes por litro (meq/L).

22/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Figura 6.3.14 - Avaliação da Qualidade das Águas Subterrâneas para Consumo Humano

Com este índice é possível quantificar os perigos de alcalinização do solo.


Na Figura 6.3.15. estão os resultados da classificação da qualidade da água subterrânea destinada à rega
segundo o normativo legislativo em vigor.
Estes resultados mostram que na maioria dos aquíferos na Orla Meridional ocorrem violações do normativo
legislativo o que torna essas águas em certos locais daqueles sistemas inapta para rega. Essa deficiência
encontra-se igualmente em alguns aquíferos alentejanos do Maciço Antigo.
Os sistemas da Bacia do Tejo – Sado, com a excepção de em certas localizações do aquífero dos aluviões de
Abrantes, possuem regra geral água classificada como conforme segundo o referido DL.
Finalmente na Orla Ocidental só os sistemas aquíferos Condeixa-Alfarelos e Paços possuem localmente água
não conforme às normas legais para uso agrícola.

6.3.5. Protecção de Recursos Hídricos Subterrâneos


6.3.5.1. Zonas Vulneráveis
A poluição do meio hídrico subterrâneo em Portugal por nitratos de origem agrícola está quase sempre
associada à agricultura intensiva, pela utilização excessiva de fertilizantes.
O conceito de Zona Vulnerável com vista a proteger as águas contra a poluição difusa causada por nitratos
de origem agrícola, foi definido na Directiva 91/676/CEE, publicada no Jornal Oficial das Comunidades de
31 de Dezembro de 1997, a qual foi transposta para a origem jurídica interna pelo Dec. Lei 235/97 de 3 de
Setembro.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 23/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Figura 6.3.15 - Avaliação da Qualidade das Águas Subterrâneas para Rega


Os objectivos deste diploma são: a redução da poluição das águas contra a poluição causada por nitratos
de origem agrícola, bem como impedir a propagação desta poluição (artº 2).
Entende-se aqui zonas vulneráveis como aquelas áreas que drenam para as águas poluídas e as águas
susceptíveis de serem poluídas (artº 4).
Os critérios de identificação das águas subterrâneas poluídas por nitratos são os referidos no anexo I desse
diploma:
Águas subterrâneas que contenham ou apresentem risco de conter uma concentração de nitratos superior a
50 mg/l
A metodologia seguida para a delimitação das zonas vulneráveis foi a seguinte:
a) identificação das águas poluídas por NO3 com VMR > 25mg/l e VMA > 50mg/l, com recolha de
dados a partir das redes de monitorização existentes, exploradas por várias entidades, estudos
e/ou projectos desenvolvidos ou em desenvolvimento nas universidades.
b) Identificação e delimitação das áreas drenantes em conjugação com as características
hidrogeológicas dos aquíferos.
c) Identificação e caracterização das fontes pontuais e estimativa da sua contribuição para a área
drenante.
d) Classificação e natureza do solo, ocupação e usos (área agrícola, culturas agrícolas, irrigação,
etc..)
e) Identificação e caracterização das fontes difusas, em particular agrícolas
f) Delimitação das Zonas Vulneráveis
g) Elaboração da proposta de Portaria

24/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

A Portaria nº 1037/97 de 1 de Outubro define 3 zonas vulneráveis:


1 - o Aquífero livre entre Esposende e Vila de Conde,
2 - o Aquífero quaternário de Aveiro
3 - o Aquífero Miocénico e Jurássico da Campina de Faro.
Os respectivos programas de acção para a redução da poluição agrícola, encontram-se descritos nos seguintes
diplomas: Portaria nº 546/98 de 18 de Agosto para a Zona Vulnerável nº1, Portaria nº 622/98 de 28 de
Agosto para a Zona Vulnerável nº2 e Portaria nº 683/98 de 1 de Setembro para a Zona Vulnerável nº3.
6.3.5.2. Perímetros de Protecção das Captações
Um dos instrumentos preventivos para assegurar a protecção das águas subterrâneas é o estabelecimento de
perímetros de protecção das captações de águas subterrâneas destinadas ao abastecimento público.
Para esse efeito o Decreto-Lei nº 382/99 de 22 de Setembro estabelece as normas e os critérios para a sua
delimitação.
O diploma é aplicado para captações que abastecem aglomerados populacionais com mais de 500 habitantes
ou cujo caudal de exploração seja superior a 100 m3/ dia (artº 1).
Essa delimitação é realizada recorrendo a métodos hidrogeológicos apropriados que têm em conta os caudais
de exploração, as condições da captação e as características do sistema aquífero explorado.
Segundo este diploma o perímetro de captação engloba 3 zonas: imediata, intermédia, alargada cujos
critérios para a sua definição se encontram especificados no artº 3. Para além destas ficam igualmente
definidos para certos casos específicos a delimitação de zonas especiais. Tais casos englobam zonas de
conexão hidráulica directa e zonas costeiras onde exista ou possa existir intrusão marinha.
Fica também consignado neste Decreto-Lei a necessidade de se realizar prioritariamente estudos
hidrogeológicos nas áreas ou na impossibilidade destes, a aplicação do método do raio ou outro método mais
adequado.

6.3.6. Vulnerabilidade dos Aquíferos


De uma forma geral não existe nenhuma forma satisfatória de representar a vulnerabilidade dos aquíferos.
De facto, não é possível representar num único mapa, sobretudo se se tratar de uma mapa a pequena escala,
todas as situações geológicas, hidrogeológicas, hidroquímicas, etc., que exercem algum controlo sobre o
comportamento dos contaminantes, sem ter em conta as características destes e os cenários de contaminação.
Cada grupo de contaminantes, é afectado por variadíssimos factores que incluem o tipo e espessura de solo,
características e espessura da zona não saturada, taxa de recarga, características do aquífero, etc.
Na elaboração do mapa de vulnerabilidade de Portugal utilizou-se uma metodologia expedita baseada no
carácter litológico dos aquíferos ou das formações hidrogeológicas indiferenciadas. Esta divisão em classes
de vulnerabilidade, sugerida aliás pelo guia metodológico para a elaboração dos planos de bacia, possui
vantagens relativamente à aplicação de índices de vulnerabilidade do tipo DRASTIC. De entre as principais
críticas apontadas ao uso desses índices há a enfatizar as seguintes:
1- Na maioria dos casos a estimação dos parâmetros é realizada a partir de informação hidrológica ou
hidrogeológica escassa ou nula, gerando sempre níveis de incerteza elevados.
2- A estimação de alguns parâmetros basearem-se em conceitos especulativos (por exemplo: efeito da
topografia nos valores de infiltração).
3- Existe regra geral redundância no cálculo já que há variáveis relacionadas entre si que figuram como se
fossem independentes. É o caso por exemplo do tipo de aquífero e da condutividade hidráulica no índice
DRASTIC.
4- O sistema de ponderação dos parâmetros é arbitrário baseado num consenso de um painel Delphi e
resulta de uma realidade que tem pouco a ver com o caso de aplicação.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 25/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

5- Os mapas de vulnerabilidade produzidos são regra geral ‘’vulneráveis’’ ao tipo de poluentes que
caracterizam os diversos casos de contaminação.
6- O modelo DRASTIC não estima todos os factores determinantes para a susceptibilidade de uma região à
contaminação das águas subterrâneas, tais como a proporção e a persistência do contaminante.
Optou-se então por utilizar uma abordagem de divisão em classes de vulnerabilidade que fizesse
corresponder estas, a classes de permeabilidade dos aquíferos ou das formações hidrogeológicas de maneira
a reflectir a maior ou menor potencialidade daqueles em atenuar uma possível contaminação.
Pretendeu-se de igual modo que esta tivesse um carácter abrangente tendo em conta os diferentes tipos de
abordagem utilizados pelas equipas técnicas que elaboraram os planos de bacia. Desta forma só uma divisão
baseada num critério litológico poderá ser o denominador comum.
No Quadro 6.3.8. estão descritas as classes de vulnerabilidade utilizadas e na Figura 6.3.16. o mapa de
vulnerabilidade de Portugal construído segundo esse critério.

Quadro 6.3.8 - Classes de Vulnerabilidade

classe Tipo de aquífero Risco


V1 Aquíferos em rochas carbonatadas de elevada carsificação Alto
V2 Aquíferos em rochas carbonatadas de carsificação média a alta Médio a Alto
V3 Aquíferos em sedimentos não consolidados com ligação hidráulica com a Alto
água superficial
V4 Aquíferos em sedimentos não consolidados sem ligação hidráulica com a Médio
água superficial
V5 Aquíferos em rochas carbonatadas Médio a baixo
V6 Aquíferos em rochas fissuradas Baixo e variável
V7 Aquíferos em sedimentos consolidados Baixo
V8 Inexistência de aquíferos Muito baixo

6.3.6.1. Fácies Hidroquímica


A composição físico-química da água subterrânea é influenciada fortemente por processos de interacção
água-rocha cuja magnitude depende da natureza da matriz dos sistemas aquíferos. Pode-se dizer que cada
água tem uma qualidade natural que depende do meio aquífero onde se move e se armazena e onde se
desenrolam reacções mais ou menos complexas.
Em geral a mineralização da água subterrânea é adquirida pelo contacto da água com a rocha ou no solo
aquando do processo de infiltração. Os valores baixos ou altos de pH estão relacionados por exemplo pela
abundância ou escassez de minerais reactivos no meio aquífero.
Os valores baixos de pH permitem por outro lado que algumas espécies químicas, pouco solúveis noutras
condições, atinjam concentrações indesejáveis, como é o caso do Fe, cujas violações relativamente ao VMA
e ao VMR são em muitos casos um facto corrente. Por outro lado a dissolução das rochas carbonatadas nos
aquíferos cársicos confere à água uma dureza muito elevada sendo este processo controlado pela quantidade
de CO2 presente no solo.
Outro aspecto que influencia a qualidade da água subterrânea é o factor climático: de facto a forte
evapotranspiração produz uma concentração de sais a nível do solo fazendo com que as águas subterrâneas
adquiram uma mineralização mais elevada do que noutras regiões para os mesmos contextos litológicos.
A qualidade natural da água subterrânea, isto é sem influências de natureza antropogénica, é regra geral
definida a partir da fácies hidroquímica da formação hidrogeológica onde ela ocorre, isto se não se
verificarem processos físico-químicos naturais propiciadores do aparecimento de elementos que pela sua
concentração podem condicionar a classificação do tipo de água. É o caso do Fe descrito anteriormente.

26/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Figura 6.3.16 - Mapa da Vulnerabilidade

As fácies hidroquímicas são distintas zonas que contem uma concentração de aniões e catiões principais
descritíveis dentro de grupos de composição definidos. Os descritores são o sódio, o potássio, o cloreto, o
magnésio, o cálcio, o sulfato, o bicarbonato cuja maior ou menor ocorrência no aquífero vai determinar o
tipo de água subterrânea naquele meio.
A caracterização da fácies hidrogeoquímica em cada aquífero ou formação hidrogeológica indiferenciada foi
realizada, sempre que os dados assim o permitiram, com base em diagramas hidroquímicos de Piper e Stiff.
Em síntese podemos dizer que no universo de 62 aquíferos analisados (Figura 6.3.17.), 44% possui fácies
bicarbonatada cálcica , 12% cloretada sódica e 16% bicarbonatada calco-magnesiana. De notar que cerca de
10% de aquíferos não tem dados suficientes para a determinação da sua fácies (verFigura 6.3.18.).

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 27/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Fácies

Sem Dados
Bicarbonatada Calco- 10%
Cloretada Sódica
magnesiana
12%
16%

Bicarbonatada Cálcica
Cloretada-Bicarbonatada 44%
Sódica
3%

Bicarbonatada Mista
7%
Mista
Cloretada Cálcica 7%
1%

Figura 6.3.17 – Repartição dos Tipos de Fácies Hidroquímica nos Sistemas Aquíferos

Figura 6.3.18 - Fáceis Hodroquímicas dos Sistemas Aquíferos

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QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

6.3.6.2. Riscos de Poluição das Águas Subterrâneas


Apesar de se encontrarem melhor protegidas contra a contaminação do que as águas superficiais, e não
obstante o poder filtrante e as características autodepuradoras revelados pelos sistemas aquíferos, uma vez
poluídas, as águas subterrâneas podem gerar processos praticamente irreversíveis sendo posteriormente a sua
descontaminação muito difícil.
Entre as potenciais ameaças de poluição à água subterrânea estão o uso intensivo de adubos, fertilizantes e
pesticidas em actividades agrícolas e não agrícolas; a deposição de resíduos industriais sólidos e líquidos ou
de produtos que podem ser dissolvidos e arrastados por águas de infiltração em terrenos muito vulneráveis, a
deposição de dejectos animais resultantes de actividades agro-pecuárias; a construção incorrecta de fossas
sépticas; a utilização de herbicidas e fungicidas, a sobre-exploração dos aquíferos em zonas sensíveis de que
resultam a degradação dos ecossistemas, a intrusão marinha e a subsidência dos solos.
Para além da contaminação, dita antropogénica, ocorre em Portugal outro tipo de contaminação dita natural,
não desprezável, e que resulta de processos unicamente orogénicos. É o caso da poluição associada à
lixiviação de materiais de natureza evaporítica muito solúveis, em áreas diapíricas e que ocasionam águas
com fácies fortemente cloretada ou sulfatada, de mineralização muito elevada o que as torna impróprias para
o consumo humano. Estes fenómenos ocorrem por exemplo em alguns sistemas aquíferos da Orla
Meridional.
Não obstante as ameaças a que as águas subterrâneas estão sujeitas por parte das mais variadas actividades
de natureza antropogénica (agrícolas, pecuárias, industriais, etc.) só é possível nesta fase de caracterização e
diagnóstico identificar aquelas situações de poluição, quer pontual, quer difusa, para as quais existe uma
monitorização com representatividade espaço-temporal de descritores.
De facto as limitações que resultam da quase ausência de redes de monitorização do estado da poluição das
águas subterrâneas inviabiliza desde logo, uma caracterização sumária por exemplo da poluição por
pesticidas resultante de actividades agrícolas ou da poluição por metais pesados resultante de actividades
industriais. Não obstante casos pontuais de redes de controlo de pesticidas implementadas na zona do
Ribatejo e na zona Oeste, de metais pesados na zona de Alcanena que constituem infelizmente mais a
excepção do que a regra.
No que diz respeito aos pesticidas deve referir-se no entanto que a poluição nas águas subterrâneas não
atinge a gravidade que se observa nas massas de água superficiais. Tal deve-se ao facto de aqueles
compostos tenderem a ser adsorvidos ao nível do solo e, em consequência, o seu movimento ser afectado de
um retardamento, que pode ser considerável. Durante o tempo de permanência no solo grande parte dos
compostos deste tipo sofrem processos de degradação, que nalguns casos são suficientemente eficientes para
levar à sua total eliminação. Daqui se pode concluir que a vulnerabilidade de um aquífero à contaminação
difusa por pesticidas, será muito influenciada pela espessura e tipo de solo, nomeadamente a seu conteúdo
em matéria orgânica e espessura da zona não saturada.
Considerando este estado de coisas só é possível caracterizar de uma forma mais completa o risco de
poluição por nitratos e por intrusão salina tendo em conta os graus de vulnerabilidade dos sistemas aquíferos.
6.3.6.3. Riscos de Poluição por Nitratos
Considerações Gerais
O acréscimo de concentração em nitratos nas águas subterrâneas é consequência na maioria dos casos de
fontes difusas ligadas à utilização intensiva e não raro irracional de fertilizantes nas actividades agrícolas.
Em alguns casos os ambientes físico-químicos são catalisadores dessas situações como são as condições de
potencial redox em aquíferos carbonatados.
Deve referir-se que outras consequências da aplicação de fertilizantes são os aumentos de iões, como sejam
cloretos, sulfatos, cálcio e magnésio. O aumento dos catiões pode resultar directamente da aplicação de
fertilizantes, por fazerem parte da sua composição, ou indirectamente devido a processos de troca iónica, a
nível do solo, com o ião amónio. Geralmente, não se verificam contaminações com fosfatos e potássio, dada
a fraca mobilidade destas espécies. O potássio tende a ser adsorvido de forma mais ou menos irreversível e o
fosfato forma compostos altamente insolúveis, por exemplo com o cálcio, precipitando.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 29/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

A aplicação de estrumes contribui igualmente para o aumento de nitratos, devido à nitrificação do amónio
resultante da fermentação de compostos orgânicos azotados, e outros compostos inorgânicos, além de
provocar contaminação microbiológica.
Também propiciadoras do aumento dos nitratos, embora obviamente em menor grau, são as práticas
resultantes da má construção, conservação ou implementação em locais pouco adequados de fossas. O tipo
de poluição resultante é sobretudo microbiológica, mas também se traduz por aumento de nitratos e de outros
compostos.
Identificação das Áreas Sensíveis aos Nitratos de Origem Agrícola
De modo a identificar os sistemas aquíferos mais susceptíveis à contaminação por nitratos de origem agrícola
utilizou-se uma metodologia expedita cujos principais passos foram os seguintes:
1) Identificação das áreas regadas
2) Identificação da área do aquífero com regadio
3) Identificação das áreas mais vulneráveis do aquífero que contém regadio
4) Identificação das zonas de risco à poluição por nitratos
Assim com base na área regada e tendo em conta a delimitação dos sistemas aquíferos que compõem as 4
unidades hidrogeológicas é possível calcular a percentagem de cada aquífero com área regada. Utilizando
agora o mapa de vulnerabilidade é possível identificar as áreas de aquífero de vulnerabilidade alta (classes
V1, V2 e V3) e que contêm regadio.
Essas áreas serão aquelas com maior susceptibilidade de as águas subterrâneas virem a ser contaminadas por
nitratos de origem agrícola, isto se praticarem aí utilizações intensivas de fertilizantes ou de outro tipo de
produtos (ver Figura 6.3.19.).
A Figura 6.3.20. é um gráfico de barras que indica os sistemas aquíferos com maior percentagem de área
susceptível à poluição por nitratos.
Esta figura mostra que 14 dos 17 sistemas aquíferos da Orla Meridional possuem risco de poluição por
nitratos se ocorrerem nas áreas agrícolas utilizações intensivas de fertilizantes ou práticas irracionais de
irrigação. O mesmo sucede nos sistemas aluvionares da bacia do Tejo-Sado (Tejo, Abrantes e Constância),
no sistema Quaternário de Aveiro, nos aluviões do Mondego e no sistema do Vale Tifónico das Caldas da
Rainha situados na Orla Ocidental e nos aquíferos de Escusa e de Elvas-Campo Maior.
Finalmente com base nos dados observados de teor em nitratos na rede de monitorização do Algarve é
possível identificar numa 1ª análise aqueles aquíferos onde essa poluição difusa originada por actividades
agrícolas é já uma realidade.
Estão nessa situação os seguintes sistemas:
Na Orla Meridional:
M12 – Campina de Faro; M15– Luz de Tavira; M10 – S. João da Venda – Quelfes; M5 – Querença-Silves;
M6 – Albufeira-Quarteira
Na Bacia do Tejo e do Sado;
T2 –Aluviões do Tejo; T5 – Aluviões de Constância; T4 – Aluviões de Abrantes T3– Bacia do Tejo–
Margem Esquerda
Na Orla Ocidental:
O6 – Aluviões do Mondego; O10 – Leirosa Monte Real; O1 – Quaternário de Aveiro

30/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Figura 6.3.19 - Áreas com Risco de Contaminação Agrícola

80

70

60

50

40

30

20

10

0
M2
M3
M4
M5
M6
M7
M8
M9
A2

M10
M11
M12
M13
M15
M16
A11

O1
O6
O21
T2
T4
T5

Figura 6.3.20 – Sistemas Aquíferos com Maior Risco de Poluição por Actividades Agrícolas

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 31/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

No Maciço Antigo:
A5 – Elvas VilaBoim; A4 – Estremoz-Cano; A2 – Escusa; A9 – Gabros de Beja
A análise das únicas séries de evolução temporal do teor de nitratos existentes e localizadas em alguns
sistemas aquíferos da Orla Meridional vêm confirmar o que atrás se disse.
Com efeito têm sido detectadas aumentos significativos do teor em NO3 nas águas subterrâneas nos seguintes
aquíferos:
Querença-Silves - 2.5 mg/ l / ano desde 1992.
Albufeira-Ribeira da Quarteira -7.5 mg/l/ ano desde 1996
Campina de Faro – 7 mg/l/ ano desde 1991 atingindo valores actuais que podem ultrapassar os 500 mg/l.
Luz de Tavira – A partir de 1995 um aumento brusco de 30 para 40 mg/l atingindo actualmente valores da
ordem dos 100 mg/l.
Chão de Cevada-Quinta de S.João de Ourém: 2mg/l/ano a partir dos anos 80.
6.3.6.4. Riscos de Intrusão Salina
A intensa exploração de água subterrânea em aquíferos costeiros pode induzir fenómenos de intrusão da água
do mar quer locais quer regionais reflectindo-se no aumento do teor em cloretos, inviabilizando desta forma
a sua utilização para consumo humano.
Em condições naturais de não perturbação, o aquífero costeiro mantém um estado de equilíbrio, com uma
interface estacionária, havendo sobre esta um fluxo de água doce em direcção ao mar. A exploração de um
aquífero costeiro, na proximidade da costa, provoca um rebaixamento da cota da água (ou da superfície
piezométrica num aquífero confinado).
A exploração intensa dos aquíferos provoca uma descida do nível piezométrico relativamente ao nível
inicial, caso não haja uma compensação desse rebaixamento, por recarga natural ou artificial do aquífero,
podendo desenvolver-se um fenómeno de intrusão marinha.
A inexistência de uma rede de controlo da movimentação da interface água doce/água salgada com um
mínimo de representatividade espaço-temporal inviabiliza uma análise mais detalhada deste fenómeno sendo
unicamente possível identificar alguns casos pontuais onde aquele fenómeno parece evidente, principalmente
quando se correlaciona este facto com os caudais de exploração efectuados.
O fenómeno de contaminação salina por intrusão marinha ocorre com maior ou menor magnitude na maior
parte dos aquíferos costeiros da Orla Meridional onde por vezes o avanço da cunha salina se efectua a partir
de cursos de água preferenciais (caso da rio Arade ou da ribeira do Farelo no sistema Mexilhoeira Grande-
Portimão) e no aquífero Quaternário de Aveiro: nas zonas próximas da ria, em zonas localizadas entre Ovar e
Torreira e entre a Barra e a Costa Nova.
Os valores observados na rede de monitorização de cloretos em alguns sistemas aquíferos costeiros da Orla
Meridional vêm testemunhar esse facto: Nos aquíferos da Mexilhoeira Grande – Portimão e Ferragudo
Albufeira, os cloretos apresentam valores da ordem dos 500 mg/l, isto é muito acima do VMA o que
confirma a ocorrência ainda que por vezes sazonal de um fenómeno de intrusão salina.
Por sua vez a simulação por modelo numérico de escoamento realizada em alguns aquíferos costeiros com
base em cenários de exploração mostrou claramente o avanço da interface água doce - água salgada em
situações de sobre-exploração: É o caso dos sistemas Ferragudo-Albufeira, Mexilhoeira Grande– Portimão e
do sistema Cretácico de No caso do sistema aquífero da Bacia do Tejo-Sado/Margem Esquerda a intrusão
salina pode advir através da drenância entre camadas induzida pela bombagem excessiva do aquífero
confinado em áreas perto da costa ou do estuário. O mesmo fenómeno foi detectado na simulação do modelo
numérico do Cretácico de Aveiro: a contaminação salina proveniente da mistura com águas de outras
camadas aquíferas, umas mais profundas, outras mais superficiais, mas com elevado grau de mineralização e
que actualmente apresentam potenciais hidráulicos superiores às principais camadas aquíferas exploradas.

32/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Figura 6.3.21 – Mapa das Estruturas Diapíricas na Orla Meridional


Finalmente, como já foi referido para além de intrusão marinha, a existência de estruturas diapíricas salíferas
paralelas à linha de costa e/ou evaporitos dispersos, principalmente na Orla Meridional (ver Figura 6.3.21.)
podem ser outros possíveis focos de poluição salina das águas subterrâneas resultante de processos naturais
de lixiviação dessas massas de sal-gema.

6.4. Massas de Água Superficiais e Aquíferos com Usos Qualitativamente Exigentes

6.4.1. Introdução
No presente capítulo identificam-se e localizam-se as massas de água classificadas para usos
qualitativamente exigentes, tendo presente a terminologia da Directiva - Quadro, nomeadamente no que se
refere a algumas definições, de forma a que, no âmbito do PNA, o tema "Qualidade da Água" apresenta uma
aproximação aos conceitos daquela directiva, tendo, no entanto, em consideração que este capítulo se
encontra, enquadrado, sobretudo, pelo Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto.
Para além das massas de água classificadas para usos qualitativamente exigentes foram, ainda, consideradas
as "zonas sensíveis" (cf. DL 152/97, de 19 de Junho), as "zonas vulneráveis" (cf. DL 235/97, de 3 de
Setembro e Portaria 1037/97, de 1 de Outubro).

6.4.2. Usos da Água Qualitativamente Exigentes


Os usos da água, qualitativamente exigentes e que interessam neste capítulo, estão contemplados no DL
236/98 e são:
- Produção de água para consumo humano em águas doces superficiais (águas interiores de superfície)
e em águas subterrâneas;
- Suporte da vida aquícola - águas piscícolas e águas conquícolas, respectivamente em águas doces
superficiais (águas interiores de superfície) e águas do litoral (costeiras) e salobras (de transição);
- Uso balnear em águas interiores de superfície e em águas costeiras;
- Rega a partir de águas interiores de superfície e subterrâneas.

6.4.3. Massas de Água Classificadas


Em Portugal não se encontram ainda classificadas as massas de águas subterrâneas - aquíferos -, apenas se
encontrando classificadas, no Continente, as seguintes massas de águas de superfície:
- Águas interiores de superfície destinadas à produção de água para consumo humano (Origens) que
servem mais de 10 000 habitantes - Portaria n.º 462/2000, II Série, de 25 de Março;
- Águas interiores de superfície classificadas como águas piscícolas - águas de salmonídeos e águas de
ciprinídeos - Aviso n.º 12677/2000, publicado no Diário da República n.º 194, II Série, de 23 de Agosto;
- Águas interiores de superfície classificadas como águas balneares;
- Águas costeiras classificadas como águas balneares.
No que se refere às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira apenas se encontram classificadas as águas
balneares em águas costeiras.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 33/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

6.4.4. Massas de Água não Classificadas


Para a elaboração deste subcapítulo consultaram-se os Planos de Bacia Hidrográfica (PBH), tendo-se
identificado algumas massas de água com usos qualitativamente exigentes que ainda não se encontram
classificadas, nomeadamente:
Águas interiores de superfície destinadas à produção de água para consumo humano (Origens) que servem
entre 1 000 e 10 000 habitantes;
Águas subterrâneas destinadas à produção de água para consumo humano (Origens) que servem mais de
1 000 habitantes;
Águas de transição e águas costeiras para suporte da vida aquícola - águas conquícolas;
Águas interiores de superfície destinadas à rega.

6.5. Estado da Qualidade das Massas de Água Superficiais e Subterrâneas para Usos
Qualitativamente Exigentes

6.5.1. Massas de Água Destinadas à Produção de Água para Consumo Humano


6.5.1.1. Origens de Água para Produção de Água para Consumo Humano
As origens de água para produção de água para consumo humano que servem 10000 ou mais habitantes
foram objecto de uma classificação, em 1999, quando foi apresentado o Plano Nacional Orgânico para
melhoria das origens superficiais de água destinadas à produção de água potável. Na Figura 11 apresenta-se a
localização das origens abrangidas pelo plano, referenciadas segundo o número de habitantes servidos:
• Entre 10000 e 30000 habitantes
• Entre 30000 e 100000 habitantes
• Superior a 100000 habitantes
As sessenta e seis origens identificadas servem, no seu conjunto, um total de cerca de 6,1 milhões de
habitantes equivalentes (ver Figura 6.5.1.).
6.5.1.2. Conformidade com as Normas de Qualidade
A classificação das 66 origens de água que servem 10 000 ou mais habitantes foi feita de acordo com a
Directiva nº 75/440/CEE, tendo para esse efeito sido utilizados os valores imperativos do Anexo II da
directiva, ou seja, os valores máximos admissíveis (VMA) que constam no Decreto-Lei nº 236/98.
A classificação realizada, que reporta ao ano de 1998, mostra que 34 das 66 origens são da categoria A1, 30
são da categoria A2 e somente 2 são da categoria A3 (albufeiras de São Domingos e da Vigia). A Figura
6.5.2. ilustra a distribuição do número de origens segundo esta classificação.
Utilizando a mesma classificação, mas relativamente ao ano de 1996, havia 3 origens com a classificação de
A3 (albufeiras do Roxo, Caia e Vigia), e para o ano de 1997 eram 5 as origens com esta classificação
(albufeiras de Monte Novo, Santa Clara, Roxo, Caia e Vigia).
6.5.1.3. Sistemas de Tratamento de Água e Eficiência
A informação colhida nos planos de bacia hidrográfica não permite uma visão global da situação existente no
país, no que se refere aos sistemas de tratamento associados às origens de água superficiais para produção de
água potável. Em particular, é importante analisar a adequação dos sistemas de tratamento instalados nas
estações de tratamento de água (ETA) à qualidade da água das respectivas origens. Trata-se de um trabalho
que, embora tenha sido desenvolvido em alguns dos planos de bacia, deverá ser alargado e aprofundado. De
novo, e de acordo com a informação disponível, são as origens de água que servem mais habitantes as que,
de um modo geral, mais bem adaptadas estão, em termos de ETA, à qualidade da água captada.

34/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Qualidade das Águas Superficiais Destinadas à Produção


de Água para Consumo Humano - 1998 *
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X
(
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X
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# Castelo Branco
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Sado

Qualidade Relativa aos VMA


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Y
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(X X ( 10 000 - 30 000 hab
Rio Guadiana

( 30 000 - 100 000 hab


X
(X > 100 000 hab
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Albufeiras
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Troços da Rede Hidrográfica


(X Principal não Classificados
Rio Guadiana

Y
# Capital de Distrito
(X Limite de Plano de Bacia
(X (
X
(X Limite de País
(*) Relatório (Nov. 1999) relativo à
Faro Directiva 75/440/CEE
Y
#

Figura 6.5.1 – Localização de Origens de Água Superficial >10 000 Habitantes

Classificação das Origens de Água Superficial acima de 10.000


hab. ( segundo a Directiva 75/40/CEE) - Valor Imperativo

35
30
25
20 A1
15 A2
10
A3
5
0
A1 A2 A3
Classificação das Origens

Figura 6.5.2. – Classificação das Origens de Água Superficial

6.5.1.4. Protecção de Origens e Captações


Tendo em vista a protecção das origens foi apresentado em 1999 o Plano Nacional Orgânico para a
melhoria das Origens Superficiais de Água Potável, sendo publicado através da Portaria n.º 462/2000 (II
série), de 25 de Março. Este plano teve como objectivo melhorar sistematicamente a qualidade das águas

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 35/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

superficiais destinadas à produção de água para consumo humano que servem mais de 10 000 habitantes e
cumprir com exigências da Directiva 75/440/CEE. Este plano sucedeu a um programa de protecção das
origens de água para abastecimento que havia sido iniciado em 1996.
Mais recentemente, foi apresentado o Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de Saneamento de
Águas Residuais (2000-2006)" que define as orientações políticas do Ministério do Ambiente e do
Ordenamento do Território (MAOT) relativamente às intervenções indispensáveis para completar e melhorar
a cobertura do País (excluindo as Regiões Autónomas) em abastecimento de água e saneamento de águas
residuais urbanas, e para proporcionar aos diferentes responsáveis políticos um conjunto fundamentado de
sugestões que os possam apoiar na tomada de decisões mais correctas para se atingir, com qualidade, níveis
de atendimento da população de 95% em água ao domicílio e de 90% em drenagem e tratamento de águas
residuais.
6.5.1.5. Lacunas de Conhecimento
Existem ainda no país algumas origens de água superficiais para produção de água potável que não têm
monitorização regular que permita a sua classificação. Esta situação tem especial incidência nas captações
destinadas a populações de reduzida dimensão. No entanto, está em curso uma alteração das redes de
monitorização que vai permitir modificar esta situação, que não poderá continuar a verificar-se face às
exigências legais em vigor.

6.5.2. Massas de Água para Fins Balneares


6.5.2.1. Identificação, Localização e Classificação de Massas de Água
A Directiva 76/160/CEE obriga à identificação de águas balneares costeiras e interiores, estando incluídas
nas primeiras o mar e os estuários e nas segundas os rios, os lagos e as albufeiras. A Figura 6.5.3. representa
a distribuição das águas balneares.
Existem 311 zonas designadas como zonas balneares. Destas, 37 (11,9%) são zonas balneares fluviais e 274
(88,1%) são zonas balneares marítimas. Nestas zonas balneares procede-se regularmente à respectiva
classificação, sendo publicados os respectivos relatórios anuais .
A vigilância das águas balneares é feita de acordo com as exigências da directiva comunitária 76/160/CEE,
transposta para o direito nacional pelo DL 74/90, recentemente revogado pelo DL 236/98. Esta directiva
entrou em vigor em Portugal em 1993. A qualidade das águas balneares representa assim, não só um factor
de saúde, como também um importante indicador de qualidade ambiental e desenvolvimento turístico.
Os requisitos necessários para garantir em segurança a utilização das zonas balneares designadas passam,
não só pelos acessos, infraestruturas e segurança das praias, mas cada vez mais pela qualidade da água que
nela se observa.
De referir que, desde 1 de Agosto de 1998, passou a ser responsabilidade das Direcções Regionais de
Ambiente e do Ordenamento do Território o controlo analítico das águas balneares até então a cargo da
Direcção Geral de Saúde. No entanto por motivos técnicos, o controlo das águas balneares interiores é feita
pelas DRA`s sendo as águas balneares costeiras da responsabilidade dos laboratórios da Direcção Geral da
Saúde.
6.5.2.2. Conformidade com as Normas de Qualidade
O controlo analítico abrange um vasto conjunto de parâmetros físicos, químicos, microbiológicos e
biológicos e têm por base, para a maior parte, uma periodicidade quinzenal durante a época balnear. Os
parâmetros analisados são: resíduos de alcatrão, pH, transparência, fenoís, substâncias tensioactivas, óleos
minerais, coliformes totais, coliformes fecais, estreptococos fecais, salmonelas e cor. De acordo com os
resultados as águas balneares podem ser classificadas em Boa, Aceitável e Má. No ano 2000, das 311 zonas
balneares que foram monitorizadas, verificou-se que 231 apresentavam uma classificação de Boa, 51
encontravam-se num estado Aceitável e 29 tinham uma classificação de Má (ver Figura 6.5.4.).

36/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Figura 6.5.3 – Distribuição das Massas de Água

Qualidade da Água em Zonas Balneares - 2000


Minho
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# Troços da Rede Hidrográfica Principal
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# Limite de País
# #######
## Limite de Plano de Bacia
## # ####### # #### ##
# ## ### ################ ##
##### #### Faro # #
#### ## ## #
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##
##

Figura 6.5.4. -Classificação das Águas Balneares

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 37/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

6.5.2.3. Lacunas de Conhecimento


A principal lacuna de conhecimento prende-se com o facto de não terem sido efectuadas determinações do
parâmetro enterovírus cujo valor máximo admissível (VMA) é zero, por razões que se prendem com a
dificuldades inerentes ao método analítico de referência.

6.5.3. Massas de Água Doce para Fins Aquícolas


Aplica-se o regime constante do DL 236/98, de 1 de Agosto, definido especificamente no seu Capítulo III -
Secção I e Anexos X, XI e XII, que, no essencial, estabelece que as águas piscícolas serão divididas em:
- águas de salmonídeos, com condições para a vida de espécies particularmente exigentes como o salmão e
a truta;
- águas de ciprinídeos, com condições para a vida de espécies como o escalo, a boga e o barbo, e, de uma
forma geral, de espécies que não sejam salmonídeos.
Para estas águas são definidos VMA e VMR para 14 parâmetros físicos, químicos e biológicos (mais
exigentes no caso dos salmonídeos para o oxigénio dissolvido, o CBO5, os nitritos, o azoto amoniacal e o
zinco total), a respeitar por determinada percentagem mínima do número anual de amostras, bem como a
frequência mínima de amostragem (mensal, para a quase totalidade dos parâmetros) e os métodos analíticos
a adoptar. São admitidas derrogações, relativamente a alguns parâmetros, em circunstâncias excepcionais -
meteorológicas, geográficas e outras.

Qualidade das Águas de Salmonídeos - 1998 *


Minho
N

o
a vad Y Bragança
#
W E Lim Ca
Viana do Castelo
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#
S

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Y Aveiro
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#
Lis

Y Castelo Branco
#
Y Leiria
#
Tejo

Tejo

Y Portalegre
#
Y Santarém
#
jo
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#
Rio Guadian

Y Évora
#
Y Setúbal
#
Sado

Y Beja
#
Trocos de Salmonídeos - Qualidade
Rio Guadiana

Boa - Cumpre os VMA e VMR


Aceitável - Cumpre apenas os VMA
Má - Não cumpre os VMA
Mir

Sem Informação
a

Y
# Capital de Distrito
Rio Guadiana

Troços da Rede Hidrográfica Principal


não Classificados
Limite de País
Limite de Plano de Bacia
(*) De acordo com o Relatório Trianual
Faro referente à Directiva 78/659/CEE
Y
#

Figura 6.5.5 - Classificação da Qualidadedas Águas de Salmonídeos

38/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Em Portugal continental encontram-se já classificados alguns meios hídricos superficiais, quer como águas
de salmonídeos quer como águas de ciprinídeos - Aviso n.º 12677/2000, publicado no Diário da República
n.º 194, II Série, de 23 de Agosto tendo, em sequência, as DRAOT iniciado em Janeiro de 2000 o processo
de determinação da qualidade destas águas, aumentando, para o efeito, o número de locais de colheita de
amostras de água para análise.
Nas Figuras 6.5.5. e 6.5.6., encontram-se assinalados os meios hídricos classificados - águas de salmonídeos
e de ciprinídeos, respectivamente. Os novos troços encontram-se impressos a cinzento por não haver
informação referente a 1998.
A classificação da água quanto ao estado de qualidade em Boa (troços a verde), Aceitável (troços a amarelo)
ou Má (troços a vermelho) foi feita com base na avaliação de conformidade constante no Relatório Trianual
Referente à Directiva 78/659/CEE, - Período 1996-1998. A água é Boa quando cumpre os VMR (valores
máximos recomendados) para todos os parâmetros analisados, Aceitável, quando cumpre os VMA para todos
esses parâmetros e não cumpre os VMR para pelo menos um deles, e Má quando não cumpre os VMA para
pelo menos um.

Qualidade das Águas de Ciprinídeos - 1998 *


Minho
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o
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#
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Viana do Castelo
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#
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#
Y Leiria
#
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Tejo

Y Portalegre
#
Y Santarém
#
jo
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Y Lisboa
#
Rio Guadian

Y Évora
#
Y Setúbal
#
Sado

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#
Trocos de Ciprinídeos - Qualidade
Rio Guadiana

Boa - Cumpre os VMA e VMR


Aceitável - Cumpre apenas os VMA
Má - Não cumpre os VMA
Mir

Sem Informação
a

Y
# Capital de Distrito
Rio Guadia

Troços da Rede Hidrográfica Principal


não Classificados
Limite de País
na

Limite de Plano de Bacia


(*) De acordo com o Relatório Trianual
Faro referente à Directiva 78/659/CEE
Y
#

Figura 6.5.6 - Classificação da Qualidade das Águas de Ciprinídeos

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 39/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

6.5.4. Massas de Água do Litoral e Salobras para Fins Aquícolas


6.5.4.1. Águas Piscícolas
Aplicam-se as disposições legais constantes do Decreto- Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto, mais
especificamente as que se apresentam no seu Capítulo III – Secção III.
Segundo este diploma legal, compete ao IPIMAR, em colaboração com o INAG elaborar as normas de
qualidade destas águas, tendo por finalidade proteger e melhorar a sua qualidade com vista a permitir a vida
e o crescimento dos peixes, contribuindo para a boa qualidade dos produtos piscícolas passíveis de consumo
pelo homem(estas normas constarão de portaria dos Ministros da Agricultura, do Desenvolvimento e das
Pescas, da Saúde e do Ambiente e Ordenamento do Território).
Sobre esta matéria se verifica que ainda não foi dado cumprimento ao estabelecido.
6.5.4.2. Águas Conquícolas
Aplicam-se as disposições legais constantes do Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto, mais
especificamente as que se apresentam no seu Capítulo III – Secção II e nos Anexos XIII e XIV, que visam
proteger e melhorar a qualidade das águas do litoral e salobras a fim de permitir a vida e o crescimento de
moluscos (bivalves e gastrópodes) equinodermes, tunicados e crustáceos, contribuindo para a boa qualidade
dos produtos conquícolas passíveis de consumo pelo homem.
O diploma em questão estabelece normas de qualidade mínima para esta utilização, a respeitar em águas
classificadas para o efeito, em termos de VMR e VMA para um conjunto de 12 parâmetros – sendo um deles
um conjunto de 9 metais, outro um conjunto de biotoxinas, outro os coliformes fecais, além de 9 outros
parâmetros físico-químicos – a respeitar por determinada percentagem do número anual de amostras, sendo
também definida a frequência mínima de amostragem (muito variável consoante o parâmetro em questão) e
os métodos analíticos de referência.
Quanto à avaliação do cumprimento das normas e atribuições relativas a esta matéria, constata-se que ainda
não se procedeu à classificação das águas conquícolas de acordo com os critérios constantes no DL 236/98,
pelo que todas as outras atribuições não foram cumpridas.
Embora as águas conquícolas não estejam classificadas de acordo com os critérios do DL 236/98 (parâmetros
físico-químicos e bacteriológicos), as zonas de apanha/cultivo de moluscos bivalves estão classificadas, com
base em parâmetros bacteriológicos, tendo em conta os critérios constantes da Portaria n.º 552/95, de 8 de
Junho (entretanto revogada pelo Decreto- Lei n.º 293/98, de 18 de Setembro) e de acordo com o Decreto- Lei
n.º 112/95, de 23 de Maio (alterado pelo Decreto- Lei n.º 293/98, de 18 de Setembro) que transpõe para o
direito interno a Directiva n.º 91/492/CEE, do Conselho, de 15 de Julho, que adopta as normas sanitárias
relativas à produção e à colocação no mercado de moluscos bivalves vivos, e a Decisão n.º 92/92/CEE, da
Comissão, de 9 de Janeiro, que fixa as exigências relativas aos equipamentos e estruturas dos centros de
expedição e de depuração de moluscos bivalves vivos, que podem ser objecto de derrogações e a Directiva
n.º 97/61/CE, de 20 de Outubro, cujo artigo 1º alterou o anexo daquela Directiva.
Esta classificação foi estabelecida tendo em vista apoiar todos os agentes que interferem na produção e
comercialização dos moluscos bivalves vivos e foi publicada, por despacho do Presidente do IPIMAR, no
Diário da República n.º 54, II Série, de 4 de Março de 2000.

6.5.5. Massas de Água Destinadas à Rega


Aplica-se às águas de rega o disposto no Decreto- lei n.º 236/98, de 1 de Agosto, especificamente
no Capítulo V e nos Anexos XVI e XVII que estabelece as normas de qualidade a respeitar,
expressas em VMR e VMA, para um conjunto de 30 parâmetros relevantes, químicos e biológicos,
determinados por métodos analíticos especificados e respeitando uma frequência anual mínima.
São também definidos os critérios e normas de qualidade da água, visando proteger a saúde pública, a
qualidade das águas superficiais e subterrâneas, as culturas que podem ser afectadas pela má qualidade das
águas de rega e os solos cuja aptidão para a agricultura pode ser degradada pelo uso sistemático de águas de
rega de má qualidade.

40/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

O inventário e a classificação das águas de rega deverão encontrar-se concluídos no prazo de três anos a
contar da data de publicação do DL 236/98, ou seja até 1 de Agosto de 2001.

6.6. Situações de Eutrofização de Albufeiras, Rios e Lagoas


Seleccionaram-se o fósforo total na coluna de água (Ptotal, em mg/m3), na generalidade dos casos doseado
apenas à superfície, enquanto elemento determinante do estado trófico, e a biomassa clorofilina (clorofila a,
3
em mg/m ), enquanto elemento indicador da resposta do ecossistema, para dado nível trófico. Estes são os
parâmetros mais ubíquos em termos de determinações (no tempo, no espaço e para os laboratórios onde se
realizam as análises), além da sua metodologia estar normativamente estabelecida.
A transparência da coluna de água, ou profundidade do disco de Secchi (a média e sobretudo a máxima), não
foi seleccionada porque uma grande parte da turvação, em albufeiras, resulta de sólidos suspensos
inorgânicos. A densidade fitoplanctónica (provavelmente o indicador mais fiável do estado trófico), foi
determinada apenas para um número pequeno de casos e geralmente por períodos curtos.
A maior parte das amostragens não determina o oxigénio dissolvido hipolimnético. Outros valores
seleccionáveis, como a clorofila a máxima, pressupõem períodos grande de amostragens, como boas
colheitas de Verão, frequentemente não existentes. Evitou-se o uso de índices tróficos, nomeadamente o de
Carlson, porque nunca foram efectivamente validados para as condições mediterrânicas e nomeadamente
para águas portuguesas, e portanto achou-se preferível utilizar indicadores quantitativos directos. Tentou-se
igualmente garantir que os valores a partir dos quais foi determinado o grau trófico reflectissem
homogeneidade na amostragem e no método, ou seja, uma certa uniformização na fonte e no período de
dados.
Os dados primários obtidos para a determinação do estado trófico foram recolhidos no SNIRH, a partir de
informações das DRAOT, para o período de 1997-2000 e constituem a base das determinações efectuadas,
ao todo 49 albufeiras. Seguidamente, foram recolhidos os dados para os parâmetros considerados
provenientes dos PBH, quando a sua origem foi considerada fidedigna (ou seja, nem pontual nem antiga):
mais do que uma amostragem e no período entre 1997 e 2000, ao todo 26 albufeiras
Quando existiam para as mesmas massas de água e o mesmo período de amostragem, os dados dos PBH
foram incorporados nas médias finais. Finalmente, foi consultado de novo o SNIRH para obter para os
mesmos parâmetros, os dados oriundos da Direcção Geral do Ambiente (DGA), para o período de 1989-
1993, num total de 8 albufeiras suplementares. Nos poucos casos de incongruências entre os resultados
oriundos da DGA e das DRAOT e PBH, optou-se por estes últimos (ainda que eventualmente em menor
número) porque se admitiu que reflectissem melhor a situação presente, enquanto os dados da DGA têm
quase uma década.
Calculou-se a média para os dados assim obtidos, para cada albufeira. Ao todo, foi possível obter valores
para 83 (52%) albufeiras do conjunto original de 162 albufeiras consideradas, embora nem sempre para
ambos os parâmetros considerados.
Para a atribuição do estado trófico, foram utilizados os limiares indicados no Quadro 9. Estes limiares são
baseados nos da OCDE, mas foram modificados, uma vez que se verificaram dissonâncias entre as
classificações tróficas obtidas nos PBH e o conhecimento das situações de campo. De facto, os limiares da
OCDE tem um carácter genérico indicativo, primeiro porque se trata de valores cujos critérios de origem
radicam essencialmente em lagos naturais e albufeiras temperadas mais a norte, não tendo em conta a
especificidade de massas de água ibéricas, de características limnológicas muito particulares, e segundo
porque não ocorreram ainda os estudos necessários à revisão e ajustamento destes valores para albufeiras
portuguesas.
Das 96 albufeiras para as quais foi avaliado o estado trófico, 7 são classificadas como oligotróficas (7,3 %), 1
como oligo-mesotrófica (1,0 %), 26 como mesotróficas (27,1 %), 9 como meso-eutróficas (9,4 %) e 53 como
eutróficas (55,2 %). No entanto, em termos do volume das massas de água que representam, as albufeiras
classificadas como oligotróficas representam 5,5% do volume total, as oligo-mesotróficas 0,2%, as
mesotróficas 49,6%, as meso-eutróficas 6,0% e as eutróficas 38,9% (Quadro 6.6.1).
Quadro 6.6.1 - Limiares estabelecidos para os três estados tróficos considerados

PARÂMETRO OLIGOTROFIA MESOTROFIA EUTROFIA


Fósforo total mg/m3 <10.0 10.0 – 50.0 >50.0

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 41/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Biomassa clorofilina
<2.5 2.5 – 15.0 >15.0
média mg/m3

6.7. Zonas Sensíveis e Vulneráveis

6.7.1. Zonas Sensíveis


O Decreto-Lei nº 152/97, com as alterações que lhe foram introduzidas pelo Decreto-Lei n.º348/98, de 9 de
Novembro (transpõe a Directiva n.º 98/15/CE, de 27 de Fevereiro) e pelo Decreto-Lei n.º 261/99, de 7 de
Julho (estende a aplicação às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira), tem como objectivo a protecção
das águas superficiais dos efeitos das descargas das águas residuais urbanas, identificando as "zonas
sensíveis" e as "zonas menos sensíveis". Este decreto revoga a Portaria n.º 624/90, de 4 de Agosto, e transpõe
para o direito nacional a Directiva n.º 91/271/CEE, de 21 de Maio, relativa ao tratamento de águas residuais
urbanas. Na aplicação desta disposição legislativa, procedeu-se à designação das zonas sensíveis, que se
apresentam na Figura 4.3.9.

6.7.2. Zonas Vulneráveis


A poluição do meio hídrico subterrâneo em Portugal por nitratos de origem agrícola está quase sempre
associada à agricultura intensiva, pela utilização excessiva de fertilizantes.
O conceito de Zona Vulnerável com vista a proteger as águas contra a poluição difusa causada por nitratos
de origem agrícola, foi definido na Directiva 91/676/CEE, publicada no Jornal Oficial das Comunidades de
31 de Dezembro de 1997, a qual foi transposta para a origem jurídica interna pelo Dec. Lei 235/97 de 3 de
Setembro.
Os objectivos deste diploma são: a redução da poluição das águas contra a poluição causada por nitratos
de origem agrícola, bem como impedir a propagação desta poluição (artº 2).
Entende-se aqui zonas vulneráveis como aquelas áreas que drenam para as águas poluídas e as águas
susceptíveis de serem poluídas (Artº 4).
Os critérios de identificação das águas subterrâneas poluídas por nitratos são os referidos no Anexo I desse
diploma:
Águas subterrâneas que contenham ou apresentem risco de conter uma concentração de nitratos superior a
50 mg/l
A metodologia seguida para a delimitação das zonas vulneráveis foi a seguinte:
a) identificação das águas poluídas por NO3 com VMR > 25mg/l e VMA > 50mg/l, com recolha de
dados a partir das redes de monitorização existentes, exploradas por várias entidades, estudos
e/ou projectos desenvolvidos ou em desenvolvimento nas universidades;
b) Identificação e delimitação das áreas drenantes em conjugação com as características
hidrogeológicas dos aquíferos;
c) Identificação e caracterização das fontes pontuais e estimativa da sua contribuição para a área
drenante;
d) Classificação e natureza do solo, ocupação e usos (e.g. área agrícola, culturas agrícolas, rega);
e) Identificação e caracterização das fontes difusas, em particular agrícolas;
f) Delimitação das Zonas Vulneráveis;
g) Elaboração da proposta de Portaria.
A Portaria nº 1037/97 de 1 de Outubro define 3 zonas vulneráveis:
1 - o Aquífero livre entre Esposende e Vila de Conde,
2 - o Aquífero quaternário de Aveiro, e
3 - o Aquífero Miocénico e Jurássico da Campina de Faro.

42/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

Os respectivos programas de acção para a redução da poluição agrícola, os quais se encontram descritos nos
seguintes diplomas: Portaria nº 546/98 de 18 de Agosto para a Zona Vulnerável nº1, Portaria nº 622/98 de 28
de Agosto para a Zona Vulnerável nº2 e Portaria nº 683/98 de 1 de Setembro para a Zona Vulnerável nº3.

6.8. Programas de Acção e Gestão, Projectos e Medidas em Curso


No sentido de dar cumprimento às obrigações do Estado português perante a UE, no âmbito do estipulado
nas directivas comunitárias e na legislação nacional com implicações na qualidade da água, foram elaborados
os seguintes relatórios de situação, planos e programas estratégicos e de acção:
- "Programa de Acção para a Zona Vulnerável de Esposende/Vila do Conde" - Portaria n.º 546/98 de 18
de Agosto -, cujo objectivo é a redução da poluição das águas causada ou induzida por nitratos de origem
agrícola naquele aquífero;
- "Programa de Acção para a Zona Vulnerável de Aveiro" - Portaria n.º 622/98 de 28 de Agosto -, cujo
objectivo é a redução da poluição das águas causada ou induzida por nitratos de origem agrícola naquele
aquífero;
- "Programa de Acção para a Zona Vulnerável da Campina de Faro" - Portaria n.º 683/98 de 1 de
Setembro -, cujo objectivo é a redução da poluição das águas causada ou induzida por nitratos de origem
agrícola naquele aquífero;
- "Programa de Actividades para Proteger e Melhorar a Qualidade das Águas Balneares em Portugal -
INAG, Novembro de 1999", exigido pela Directiva n.º 76/160/CEE e destinado a promover a melhoria da
qualidade das águas superficiais interiores e do litoral que são utilizadas para fins balneares;
- "Directiva 91/271/CEE - Tratamento de Águas Residuais Urbanas - INAG, Janeiro de 2000" - trabalho
realizado para apoiar a elaboração do Relatório de Situação sobre a aplicação da Directiva 91/271/CEE,
no qual estão identificadas as aglomerações com mais de 2000 habitantes equivalentes, respectivos
sistemas de drenagem e tratamento de águas residuais urbanas, tipo de tratamento e classificação do
meio receptor, existentes à data de 31 de Dezembro de 1998;
- "Plano Nacional Orgânico para a melhoria das Origens Superficiais de Água Potável" - Portaria n.º
462/2000 (II série), de 25 de Março -, cujo objectivo é melhorar sistematicamente a qualidade das águas
superficiais destinadas à produção de água para consumo humano que servem mais de 10 000 habitantes
e cumprir com exigências da Directiva 75/440/CEE; este plano contempla os programas de acção para o
saneamento das águas superficiais para produção de água potável em 66 origens que servem cerca de 6,1
milhões de habitantes equivalentes; no diagnóstico então efectuado constatou-se que havia uma
influência das descargas de águas residuais sem adequado tratamento na qualidade da água das origens, e
foram definidos objectivos a atingir no horizonte temporal do plano (2005); tendo em atenção os valores
máximos admissíveis (VMA) do Decreto Lei nº236/98, foram incluídas na categoria A1 34 das 66
origens de água (51,5 %), na categoria A2 30 origens (45,4 %) e na categoria A3 somente 2 origens (3,0
%).
- "Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de Saneamento de Águas Residuais (2000-2006)" que
define as orientações políticas do Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território (MAOT)
relativamente às intervenções indispensáveis para completar e melhorar a cobertura do País (excluindo as
Regiões Autónomas) em abastecimento de água e saneamento de águas residuais urbanas, e para
proporcionar aos diferentes responsáveis políticos um conjunto fundamentado de sugestões que os
possam apoiar na tomada de decisões mais correctas para se atingir, com qualidade, níveis de
atendimento da população de 95% em água ao domicílio e de 90% em drenagem e tratamento de águas
residuais, conforme referido no Plano de Desenvolvimento Regional 2000-2006;
- "Relatório sobre a Poluição provocada por Nitratos de Origem Agrícola - Dezembro de 2000", que dá
cumprimento ao estabelecido no artigo 10º da Directiva n.º 91/676/CEE, apresentando as medidas
preventivas e os programas de acção tomados no sentido de assegurar um nível geral de protecção de
todas as águas contra a poluição causada ou induzida por nitratos.
Para além dos Contratos de Adaptação Ambiental, o Ministério do Ambiente e do Ordenamento do
Território, através da Direcção Geral do Ambiente, tem vindo a estabelecer outros instrumentos de política
ambiental que certamente contribuirão para minimizar os impactes das descargas de águas residuais
industriais nos meios hídricos, nomeadamente:

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 43/45 (6 - II)


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

- O Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria - EMAS, instituído pelo Regulamento CEE 1836/93,
do Conselho de 29 de Junho e a norma internacional EN ISO 14001, são dois exemplos de instrumentos
voluntários que possibilitam a uma organização evidenciar, perante terceiros e de acordo com os
respectivos referenciais, a credibilidade do seu sistema de gestão ambiental e do seu desempenho
ambiental;
- O Sistema Comunitário de Atribuição do Rótulo, instituído pelo Regulamento CEE n.º 880/92 de 23 de
Março, é outro instrumento de gestão ambiental, neste caso dirigido ao produto e tendo por objectivo
reduzir ou minimizar o impacte do consumo sobre o ambiente, promovendo métodos de produção e de
consumo sustentáveis, bem como orientar o cidadão comum, através de informação consistente, para a
aquisição de produtos menos nocivos sob o ponto de vista ambiental;
- Os Contratos de Melhoria Contínua do Desempenho Ambiental, que têm por base o estabelecimento de
medidas específicas ou metas sectoriais a assumir pelos sectores económicos aderentes, visam o
desenvolvimento de esforços no sentido da redução do impacte ambiental das actividades poluidoras
para além do mero cumprimento das disposições legais em matéria de ambiente.

6.9. Síntese dos Principais Problemas de Qualidade e Usos da Água


Em termos globais, é possível constatar que existe ainda uma deficiente capacidade de tratamento da carga
poluente que é produzida pelos diferentes sectores utilizadores, nomeadamente o sector doméstico e o sector
industrial. Tendo estes dois sectores valores globais de consumo de água com ordens de grandeza
3 3
semelhantes (351 hm de água facturada no sector doméstico e 330 hm de abastecimento industrial),
verifica-se que a carga poluente do sector industrial, em termos de CBO5 rejeitado para a rede hidrográfica, é
cerca de 12% superior à do sector doméstico. Tal relação é aproximadamente igual (16%) quanto aos sólidos
suspensos totais (SST).
Atendendo à cobertura ainda existente no país quanto a estações de tratamento de águas residuais, e ao grau
de eficiência médio existente nas ETAR, obtém-se de facto uma taxa média global de remoção de matéria
orgânica que ronda os 35%. Este valor, sendo relativamente modesto, traduz na realidade um dos maiores
problemas actuais de qualidade da água no país.
Por outro lado, as taxas de remoção de nutrientes como o azoto e o fósforo nas águas residuais domésticas
são bastante reduzidas. Em termos comparativos com o sector agrícola, constata-se que este sector, apesar de
3
utilizar uma quantidade de água muito superior à dos outros sectores (cerca de 3980 hm anuais, ou seja, 85%
do consumo total em ano médio), a sua carga poluente não traduz o mesmo peso percentual. De facto, em
termos de azoto a carga poluente proveniente do sector agrícola é de cerca de um terço do total (16 100
ton/ano num total de 50 500 ton/ano), e em termos de fósforo é de cerca de 21% (2 700 ton/ano num total de
13 000 ton/ano).
Quanto à análise das disposições legais aplicáveis à qualidade e usos da água, foi possível diagnosticar um
conjunto de problemas e respectivas causas, dos quais se destacam:
- atrasos e insuficiências no cumprimento das disposições dos diplomas legais que têm como
objectivo principal promover a melhoria contínua da qualidade da água, por razões que se prendem,
principalmente, com o facto de não ter sido previamente avaliada a capacidade da Administração para
cumprir e fazer cumprir as disposições dos sucessivos diplomas que foram publicados, tendo-se revelado
insuficiente e desajustada;
- carência ou ineficiência de sistemas de tratamento de águas residuais domésticas e industriais,
devido, principalmente, à ausência duma estratégia que, nomeadamente, tivesse privilegiado a atribuição
de fundos comunitários às situações de incumprimento;
- ausência generalizada de sistemas de auto-controlo por parte das entidades responsáveis pelos
sistemas de tratamento de águas residuais domésticas e industriais porque, apesar de exigência expressa
nas licenças de descarga, não têm vindo a ser penalizadas pelo não cumprimento;
- insuficiências a nível de acções de fiscalização e de inspecção, no sentido da verificação do
cumprimento das normas de descarga de águas residuais domésticas e industriais no domínio hídrico,
que resultam da falta de meios humanos, materiais e, sobretudo, laboratoriais, em particular nas DRAOT,
entidades que se destacam com maior número de atribuições nesta matéria.;

44/45 (6 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


QUALIDADE E USOS DA ÁGUA

- insuficiências a nível da monitorização da qualidade da água, pelas razões expostas no ponto


anterior; assim, não obstante o Programa de Monitorização de Recursos Hídricos em curso, merece
especial atenção a necessidade de avaliar a capacidade das DRAOT para o implementar.
Prevalecem significativas dificuldades de informação, quer por inexistência, quer por falta de sistematização,
que não permitem produzir uma avaliação consistente do cumprimento das directivas, ou da correspondente
legislação nacional, bem como quantificar meios necessários à sua implementação.
Para a correcta, e necessária, aplicação das directivas detecta-se uma inadequada organização e articulação
inter-departamental, uma deficiente rede de infra-estruturas, e uma flagrante carência de meios humanos e
financeiros que condiciona a capacidade de resposta e as possibilidades de alteração da prática corrente para
abordagens mais consentâneas com a protecção do Ambiente, amplamente inseridas no espírito das
directivas.
O papel da I&D não tem sido devidamente considerado, em particular para o estabelecimento de programas
de recuperação e protecção dos meios hídricos.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 45/45 (6 - II)


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

7. CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

7.1. Ecossistemas de Águas Interiores

7.1.1. Introdução
A caracterização e diagnóstico da situação biológica e ecológica das águas interiores superficiais, entendidas
como o conjunto de águas lênticas e lóticas à superfície do solo, que se encontram até à linha de base a partir
da qual são marcadas as águas territoriais, constituem o primeiro passo para a elaboração das estratégias e
programas de acções referentes a ecossistemas dulçaquícolas, a integrar no planeamento e gestão da água a
nível nacional.
A conservação de ecossistemas aquáticos, salientados em quase todos os documentos legais e
administrativos da última década, elaborados no âmbito do planeamento e gestão dos recursos hídricos,
apresenta como características uma larga variabilidade na profundidade de conhecimentos das várias áreas
temáticas que engloba, e a necessidade de uma abordagem holística integrada para os ecossistemas e
respectivas bacias de drenagem.
Os objectivos gerais da conservação e gestão de sistemas dulçaquícolas incluem a manutenção dos processos
ecológicos essenciais, a preservação da qualidade e diversidades genética, biológica e ecológica, e a
utilização sustentável de espécies e de ecossistemas aquáticos. De facto, os ecossistemas aquáticos
constituem importantes recursos biológicos geradores de bens e serviços, cuja gestão deve ser realizada de
forma concertada e em função dos seus utilizadores, tendo por base fundamental a sustentabilidade ecológica
e a conservação dos ecossistemas. Conservação, recuperação e utilização dos recursos naturais aquáticos
podem ser encarados como componentes de uma equação mais alargada de gestão.
Os sistemas aquáticos formam unidades indissociáveis das suas bacias hidrográficas, de que dependem e a
partir das quais resultam muitas das alterações ecológicas em curso. Muito embora a caracterização, o
planeamento e a gestão de sistemas ecológicos de águas interiores deva ter em conta o ambiente terrestre
envolvente e associado, considerou-se que estas acções deveriam ser centradas no corredor e canal fluvial.
Por outro lado, as formas e os objectivos da gestão de recursos biológicos podem referir-se a diferentes
escalas espaciais – habitat, troço, segmento fluvial e bacia hidrográfica (Frissel et al., 1996)1. A componente
ecológica do PNA deve reportar-se ao nível espacial de grandes áreas de bacias ou conjuntos de bacias, mas
cuja caracterização depende da qualidade de informação a nível do troço e do segmento fluvial.
Em muitas bacias hidrográficas portuguesas, o conhecimento das comunidades biológicas é ainda incipiente,
nomeadamente sobre as espécies aí existentes, a sua distribuição geográfica e a evolução das suas
populações nos últimos anos. Várias áreas de conhecimento e gestão dulçaquícolas nunca foram iniciadas ou
desenvolvidas, nem implementada uma monitorização de rotina da qualidade biológica da água de sistemas
fluviais ou um rastreio alargado do estado trófico das albufeiras portuguesas. A caracterização e diagnóstico
a nível nacional baseou-se, assim, nas informações de campo, mas também em grande parte nas informações
bibliográficas recolhidas no âmbito dos PBH, e ainda no conhecimento pericial ou de campo da própria
equipa de consultores do PNA. Estas informações revelam no seu conjunto grandes assimetrias para os
diferentes grupos taxonómicos, áreas geográficas e áreas temáticas. Apesar disto procurou-se uma visão
integrada, embora necessariamente aproximativa, do estado de conservação dos ecossistemas dulçaquícolas.
No âmbito da componente ecológica do PNA, elaboraram-se sete documentos de caracterização, análise e
diagnóstico das águas interiores superficiais (Enquadramento Temático, Flora e Vegetação, Fauna Associada
ao Meio Aquático, Ictiofauna e Recursos Haliêuticos, Biologia e Ecologia de Albufeiras, Biologia e
Qualidade Biológica Fluvial, Estado de Conservação de Sistemas Fluviais), bases do presente texto.

(1) Frissell, C.A., W.J. Liss, C.E. Warren & M.D. Hurley, 1986. A hierarchical framework for stream classification: viewing streams in a watershed
context. Environmental Management, 10:199-214

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 1/67 (7 - II)


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

7.1.2. Áreas Protegidas e de Valor Conservacionista


Nos finais dos anos setenta, as elevadas taxas documentadas de extinção de espécies, e a dificuldade em
garantir áreas naturais livres da acção humana, levaram a uma vertente estratégica dirigida para a
salvaguarda das populações das espécies diversidade genética das espécies mais ameaçadas. Esta vertente
fundamenta-se na definição de espécies prioritárias para planos de conservação e na determinação dos
cenários de gestão ou recuperação das suas populações, assim como na criação de áreas protegidas. Ao longo
deste texto, serão progressivamente assinaladas as espécies aquáticas ou associadas ao meio aquático com
maior interesse conservacionista e muitas das áreas prioritárias onde se encontram.
O Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável propôs que as linhas estratégicas a ter
em conta no Plano Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (PNDES), se organizassem em torno
da gestão dos recursos naturais, gestão da mobilidade e gestão da ocupação do espaço, acompanhadas por
medidas (ou estratégias) específicas nas áreas da investigação interdisciplinar e do conhecimento, da
ecoeficiência e da formação, educação e informação, e da compatibilização das dimensões social, ambiental
e económica da sustentabilidade (Leitão & Ferreira, 2000)2.
Até ao momento, ao nível da conservação da natureza, tem sido usual actuar ao nível das comunidades, dos
ecossistemas e da diversidade da paisagem, para protecção de todo o sistema ecológico, através da criação de
áreas legalmente protegidas, onde os usos e actividades humanas são condicionados. A nível nacional, a
Rede Nacional de Áreas Protegidas, inclui em Portugal Continental: 1 Parque Nacional, 12 Parques Naturais,
9 Reservas Naturais, 10 Sítios Classificados, 5 Monumentos Nacionais, e ainda 7 Áreas de Paisagem
Protegida, num total de 690 536 ha, ou seja, 7.9% do território continental (Figura 7.1.1).
A nível comunitário, a Directiva Aves exige o estabelecimento de Zonas de Protecção Especial (ZPE)
destinadas a garantir a conservação dos habitats das espécies de aves, e inclui uma lista com as espécies que
requerem medidas rigorosas de conservação. Impõe a protecção de áreas suficientemente vastas de cada um
dos diferentes habitats utilizados pelas diferentes espécies, restringe e regulamenta o comércio de aves
selvagens, limita a actividade da caça a um conjunto de espécies e proíbe certos métodos de captura e abate.
Portugal declarou 29 áreas de ZPE para o continente, num total de 822 011 ha, ou seja, 8.4 % do território
continental. Existe ainda um inventário de áreas com interesse para a conservação das aves, embora sem
estatuto legal, designadas como Important Bird Areas (IBA), produzido pela Bird Life International, que
identificou para Portugal um total de 34 áreas, sendo parte delas coincidentes com as ZPE (Figura 7.1.1).
A Directiva Habitats, do início dos anos noventa, teve como principal objectivo contribuir para assegurar a
biodiversidade da Europa comunitária através da conservação dos seus habitats naturais e das espécies da
flora e fauna selvagens considerados ameaçados. Cada Estado membro foi solicitado a propor uma lista
nacional de sítios a ser apresentada à Comissão com base em critérios específicos. A partir da lista nacional
de sítios (1ª e 2ª fases), serão seleccionados os Sítios de Importância Comunitária (SIC) por região
biogeográfica. Até 2004, cada Estado-membro deve designar estes sítios como Zonas Especiais de
Conservação ZEC que, conjuntamente com as ZPE, constituirão a REDE NATURA 2000.

O Decreto-Lei 140/99 de 24 de Abril reviu a transposição da Directiva Habitats para a ordem jurídica
interna. a proposta portuguesa inclui uma lista total de 60 sítios (31 na 1ª fase e 29 na 2ª). Uma parte das
áreas propostas como sítios pertenciam já a zonas designadas, propostas ou legalmente protegidas, embora os
seus limites tenham sofrido ajustamentos, devido aos estudos entretanto realizados. Ao todo, foram propostas
1 572 899 ha de sítios em território continental, ou seja, 17.7% deste (Figura 7.1.1).
Destacam-se ainda outras áreas protegidas: oito Reservas Biogenéticas, criadas com o objectivo de preservar
exemplos representativos da flora, fauna e zonas naturais europeias, caracterizadas pela existência de um ou
mais habitats, biocenoses ou ecossistemas típicos, únicos, raros ou em perigo; o Paul do Boquilobo, Reserva
da Biosfera do Programa “Homem e Biosfera” da UNESCO (Figura 7.1.2).

(2) Leitão, A. & C. Ferreira (coordenadores), 2000. Pareceres e reflexões. Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável. Série
Estudos, Pareceres e Reflexões. 148 p.

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Figura 7.1.1 - Áreas Protegidas, ZPE, IBA e Sítios Propostos


Relativamente às zonas húmidas, existem 15 locais designados para a Convenção de Ramsar (Convenção
sobre as Zonas Húmidas de Importância Internacional), um acordo formal entre países que estabelece as
bases para a cooperação internacional em prol da conservação e uso racional das zonas húmidas, e o
Inventário e Caracterização das Zonas Húmidas realizado pelo MedWet/ICN (Figura 2).

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 3/67 (7 - II)


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Figura 7.1.2 - Reservas Biogénicas e Reservas da Biosfera, Sítios RAMSAR, Inventário de Zonas Húmidas e
Áreas com Interesse Potencial para a Conservação
Com base na compilação de elementos oriundos dos PBH e bibliográficos, foi ainda elaborada uma lista de
áreas mencionadas como sendo de interesse potencial para a conservação de espécies e comunidades,
florísticas e/ou faunísticas, incluindo rios, ribeiras ou partes de sistemas fluviais, lagoas, covões, pateiras,

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

pauis, açudes, alvercas e poldjes. O valor efectivo destas zonas húmidas para a conservação encontra-se por
avaliar, através dos indicadores biológicos e ecológicos adequados.

7.1.3. Caracterização dos Ecossistemas de Águas Interiores e da Sua Qualidade


Biológica
7.1.3.1. Enquadramento Geral
Por zona húmida entende-se qualquer ecossistema onde a presença (com frequência ou abundância) de água
constitui o elemento condicionante, levando ao aparecimento de uma componente biológica específica. No
termo zona húmida, incluem-se os ecossistemas aquáticos propriamente ditos, mas também outros
ecossistemas onde a componente aquática de carácter permanente ou temporário é determinante, como sejam
paúis, cervunais, lameiros ou charcas.
As zonas húmidas incluem o meio aquático propriamente dito e a zona ribeirinha de transição entre o meio
terrestre e o aquático, que pode ser mais ou menos desenvolvida. As zonas ribeirinhas e aquáticas, e assim
como as zonas hiporreicas, constituem um sistema de funcionamento integrado em termos ecológicos, pelo
que importa garantir a sua conectividade.
As águas superficiais interiores podem dividir-se em dois tipos ecológicos fundamentais, um que apresenta
um fluxo unidireccional temporário ou permanente de água e de materiais orgânicos e inorgânicos, suspensos
ou dissolvidos (rios, valas e canais), correspondente às águas lóticas, e outro que não apresenta movimentos
unidireccionais significativos (lagoas, lagoachos, pântanos e albufeiras), correspondente às águas lênticas.
Estes dois grupos apresentam características ecológicas distintas e a sua gestão ecológica necessita do
conhecimento do seu funcionamento.
7.1.3.2. Flora e Vegetação Aquática e Ribeirinha
Enquadramento Biogeográfico
A elaboração de classificações biogeográficas, na parte continental do país, é baseada fundamentalmente na
flora terrestre, não reflectindo a dependência significativa das comunidades dulçaquícolas e ribeirinhas em
relação à disponibilidade hídrica. Embora as zonagens biogeográficas existentes, muito especialmente a de
Costa et al. (1998)3, tenham facilitado a recolha de informações biológicas no âmbito dos PBH, há indícios
de que nem esta nem as outras classificações fitogeográficas, sejam suficientes ou seguras para a definição
regional da vegetação aquática e ribeirinha. De facto, o cruzamento da zonagem biogeográfica de Costa et al.
(1998) com a derivada exclusivamente da flora fluvial, para a bacia do Tejo, mostrou que a primeira é
espacialmente mais complexa e de limites não coincidentes.
O delineamento de uma carta fitogeográfica especificamente vocacionada para as comunidades aquáticas e
ribeirinhas teria elevado interesse, pois o reconhecimento de zonas homogéneas para este tipo de vegetação
permitia fundamentar melhor o planeamento e gestão dos sistemas dulçaquícolas.
Flora Autóctone
As espécies autóctones da flora portuguesa adaptadas ao meio aquático ou ribeirinho foram listadas e
classificadas em função das preferências ecológicas relativamente ao meio hídrico: hidrófitos, helófitos,
higrófitos e sub-higrófitos. O número de espécies autóctones presentes nos meios aquáticos e húmidos
portugueses é relativamente elevado. Com efeito, das cerca de 3 000 espécies vasculares que compõem a
flora portuguesa, foram identificadas 86 que se podem comportar como hidrófitos, estritamente dependentes
da água, 66 como helófitos e 589 ocorrem em solos encharcados ou húmidos (higrófitos e sub-higrófitos).
Destas últimas, um pouco menos de metade (281) são dadas como menos exigentes em água (sub-higrófitos).
De entre a flora autóctone salientam-se 16 espécies endémicas.
Apesar de existir um conhecimento razoável de quais as espécies aquáticas e ribeirinhas, a delimitação da
sua área de distribuição é em muitos casos incipiente, uma vez que resulta de inventários dispersos e de

(3) Costa, J.C., C. Aguiar, J. Capelo, M. Lousã & C. Neto, 1998. Biogeografia de Portugal Continental. Quercetea 0:5-56.

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

registos constantes nos vários herbários do país. Tão pouco é possível indicar, para a generalidade dos casos,
as condições abióticas específicas em que dada espécie ocorre.
Não existe diferenciação muito marcada entre a flora das zonas lênticas, lóticas ou das paludosas. De facto,
as espécies distribuem-se de acordo com gradientes de humectação e com as características específicas de
cada massa de água (maior ou menor desenvolvimento da margem, tempo de permanência da água e
velocidade da corrente).
Infestantes e Invasoras
As principais espécies infestantes são (aquáticas) macroalgas, jacinto-aquático, pinheirinha-de-água e azola,
(emergentes) canas e, em certas situações, caniço e tabúas e (ribeirinhas) acácias. Com base numa consulta
por inquérito, a nível nacional, dos organismos implicados ou com interesses na gestão de recursos hídricos
(incluindo Câmaras Municipais), foi possível traçar um quadro geral de infestações e prejuízos.
A maior parte das infestações concentram-se em zonas intensamente agricultadas, nos vales dos cursos
fluviais médios e finais. Prejudicam o uso dos sistemas hídricos para rega e drenagem, suscitam problemas
de segurança pública, de utilização da água para pesca e lazer e podem provocar desequilíbrios ambientais,
com alteração da composição florística e da estrutura da vegetação natural. Algumas das áreas consideradas
como apresentando elevado valor conservacionista estão profundamente infestadas por espécies exóticas ou
invadidas por autóctones, como por exemplo, os Pauis de Boquilobo, Agolada, Tornada e Madriz, e
bastantes lagoas, como Braças, Esmoriz e Pateira de Fermentelos. As zonas lênticas e as valas de terra são os
sistemas mais infestados, mas também ocorrem infestações em canais, albufeiras e sistemas fluviais. Entre as
causas principais apontadas para as infestações, encontram-se a modificação do regime natural de caudais, a
poluição por efluentes domésticos e industriais e o aumento da carga de nutrientes oriunda de fontes difusas.
Nas galerias ribeirinhas, para além do seu estado de degradação que resulta da forma desadequada como são
muitas vezes realizadas as limpezas, desmatações e outras actividades humanas de intervenção no corredor
fluvial, verificam-se plantações e crescimentos subespontâneos de espécies exóticas em extensões
apreciáveis, nomeadamente de acácias, ailantos, plátanos, choupos e eucaliptos, como, referenciado pelos
PBH, nos corredores fluviais das bacias do Minho, Vouga, Mondego, Lis e Guadiana,.
Flora e Vegetação de Interesse para a Conservação
As espécies autóctones com interesse para a conservação têm sido classificadas em termos de categorias de
ameaça, com base em parâmetros pré-estabelecidos e definidos pela IUCN, International Union for
Conservation of Nature e que serão utilizados no “Livro Vermelho da Flora Portuguesa”, cuja elaboração
está em curso no ICN. Entretanto, as espécies consideradas de interesse têm sido englobadas num grupo
designado por RELAPE (Raras, Endémicas, Localizadas, Ameaçadas, ou em Perigo de Extinção). Também
nos PBH e noutras fontes bibliográficas há indicação de espécies florísticas consideradas com particular
interesse para a conservação. Após pesquisa aturada de todas estas fontes, foi elaborada uma lista de espécies
aquáticas e ribeirinhas com valor para a conservação, num total de 156 espécies (com referência à legislação
aplicável e um esboço de distribuição por bacias). Contudo para a sua conservação é necessário um
conhecimento adequado da sua distribuição, bioecologia e factores de ameaça. Salienta-se, com base na
bibliografia disponível, não ser possível verificar a distribuição de briófitos aquáticos raros em ecossistemas
de águas interiores, apesar da sua importância.
Foi ainda realizada uma tentativa de sistematização dos habitats mencionados na Directiva Habitats
92/43/CEE, e respectivas associações fitossociológicas, com um esboço de distribuição por bacia
hidrográfica, tendo-se verificado que em Portugal, existem 31 habitats aquáticos e ribeirinhos com estatuto
de protecção. Contudo, é necessária uma análise mais aprofundada do enquadramento de algumas
comunidades vegetais nos habitats contemplados pela Directiva, nomeadamente algumas ribeirinhas raras,
como os azeredos, buxais, vidoais e comunidades de zonas calcárias, para complemento deste inventário.

Comunidades Vegetais

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Com base na dominância relativa dos estratos arbóreo, arbustivo e herbáceo, e respectivas espécies,
identificaram-se 13 tipos de vegetação evoluídos associadas ao meio aquático: (a) dominadas por elementos
arbóreos - olmedos, freixiais, choupais, amiais e salgueirais (as mais frequentes), carvalhais de carvalho-
cerquinho, azeredos, buxais e vidoais (mais raras) -; (b) dominadas por espécies arbustivas - loendrais,
tamargais, tamujais e urzais -.
Foi realizada a compilação sistemática das associações fitossociológicas de zonas ribeirinhas, tanto de
sistemas fluviais como lacustres, agrupadas por tipo estrutural de vegetação - arbóreas e arbustivas (num
total de 32), herbáceas (num total de 84) e pseudo-lenhosas (três) - bem como a compilação bibliográfica das
suas preferências ecológicas, para os parâmetros edafo-climáticos mais comuns. As informações sobre as
preferências ecológicas evidenciam muitas lacunas, cujo preenchimento futuro, traria vantagens para o
delineamento das devidas medidas de conservação e recuperação e, talvez, indicações sobre as necessidades
desta vegetação em termos de caudais de manutenção ecológica, sobretudo para o centro e sul do país.
No meio aquático propriamente dito, a diversidade estrutural é menor, já que as comunidades são dominadas
por espécies herbáceas, embora de diversos tipos (submersas, flutuantes, emersas). Identificaram-se 20
associações fitossociológicas e recolheu-se informação bibliográfica sobre as suas preferências ecológicas.
Esta listagem de comunidades aquáticas e sua ecologia encontra-se particularmente incompleta (bastante
mais que as de associações ribeirinhas), uma vez que os estudos nestes habitats, para além de pouco
numerosos, não incluem muitas vezes o enquadramento fitossociológico das comunidades presentes e muito
menos os elementos edafo-climáticos necessários para a sua caracterização.
O conhecimento da componente vegetal dos sistemas lagunares e paludosos do país é particularmente
reduzido, com algumas excepções de trabalhos pontuais, por exemplo, sobre o Açude da Murta, alguns pauis
naturais (Boquilobo e Arzila), os amiais paludosos ribatejanos e os cervunais e lameiros de zonas
montanhosas. O ICN realiza presentemente um levantamento sistemático destas zonas, e sua caracterização
relativamente à fauna e à vegetação, com uma previsão de conclusão a médio/longo prazo.

Figura 7.1.3 - Distribuição Aproximada das Geosséries Ripícolas Mediterrânicas, com Base em Aguiar et al.
4
(1995) e J.C. Costa (Comunicação Pessoal)

Geosséries Ripícolas

(4) Aguiar, C, J. Capelo, J.C. Costa, M.D. Espírito Santo & M. Lousã, 1995. Tipologia das geoséries ripícolas mediterrânicas de Portugal continental.
Congresso Nacional de Conservação da Natureza, Lisboa. p. 25-32.

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Foram sistematizadas as geosséries ripícolas portuguesas existentes, que evidenciam enormes lacunas de
conhecimento, nomeadamente a nível da escala espacial, tendo sido proposta uma primeira zonagem para o
país, com exclusão do noroeste, de maior influência atlântica, (Figura 7.1.3): 1 - supramediterrânicas de
meios lóticos de caudal regular com estiagem pouco acentuada, silicícolas, lusitano-durienses e orensano-
sanabrienses; 2 - mesomediterrânicas de meios lóticos com estiagem pouco acentuada, silicícolas, lusitano-
durienses; 3 - meso-supramediterrânicas de meios lóticos com estiagem pouco acentuada, silicícolas
beirense-litorais e estrelenses; 4 - meso-eutróficas de meios lênticos com estiagem pouco acentuada, termo-
mesomediterrânicas, silicícolas, da bacia do Tejo; 5 - termo-mesomediterrânicas de meios lóticos com
estiagem pouco acentuada, silicícolas, luso-estremadurenses e gaditano-onudo-algarvienses; 6 - termo-
mesomediterrânicas de meios lóticos com estiagem muito acentuada, silicícolas, luso- estremadurenses; 7 -
sobre calcários.
Estado das Galerias Ribeirinhas
O estado de conservação das galerias ribeirinhas, pelo menos dos cursos principais dos sistemas fluviais, foi
verificado através da observação de fotografia aérea ou ortofotomapas, com base em 5 classes de
continuidade e integridade da galeria ribeirinha, desde ausência total de galeria (classe 1 - mau estado de
conservação) a galeria bem desenvolvida em ambas as margens (classe 5), conforme Saraiva et al., (1996)5.
Esta classificação do estado de conservação assume que a galeria ribeirinha, quando não alterada por
actividades humanas, tende a ser contínua em ambas as margens. Contudo, em muitas situações, como por
exemplo na maior parte das cabeceiras fluviais, em rios temporários, em vales muito encaixados ou em zonas
muito rochosas, mesmo em situações de bom estado de conservação da vegetação natural, não haverá lugar
para o desenvolvimento deste tipo de galeria. Esta classificação apresenta também limitações derivadas da
impossibilidade de distinção de espécies exóticas, como acácias ou eucaliptos, que podem ocupar grandes
extensões fluviais. Em termos metodológicos, depende igualmente da data das fotografias aéreas em análise,
que pode ser desajustada em relação à situação actual.
Apesar destas limitações, os resultados fornecem uma primeira imagem da integridade da galeria ribeirinha
(em grande parte associada a bom estado de conservação) numa grande parte dos rios principais (Figura
7.1.4, de escala simplificada em 3 níveis). É notória a aparente degradação da maioria das ribeiras do
Algarve e do Oeste, de grandes zonas do rio Tejo e afluentes, contrastando em valores médios com o melhor
estado de conservação das galerias das bacias do Douro e Minho, embora também com extensões apreciáveis
em mau estado, apresentando o Vouga e Mondego um estado de conservação intermédio.
Qualidade da Vegetação
No âmbito dos PBH, foram propostos e aplicados outros índices de valor ou estado de conservação das
comunidades vegetais ribeirinhas com base nos inventários efectuados, embora não tenha havido uma
uniformização destes índices entre bacias. O Índice de Valor Paisagístico (ribeiras do Algarve) baseou-se na
vegetação ribeirinha potencial da aproximação fitossociológica; o Estado da Comunidade Vegetal (Minho,
Vouga, Mondego e Lis) e o Índice de Valor Macrofítico (Tejo, Douro e Sado), baseados na composição,
riqueza e cobertura florísticas das várias categorias da vegetação ribeirinha, procurando uma avaliação global
do equilíbrio da vegetação; finalmente, o QBR (“Índice de Bosque de Ribera”) (Lima, Cávado e Ave)
avaliando a integridade na composição e cobertura da galeria ribeirinha, com inclusão das características das
margens e habitats fluviais. Estes índices merecem estudos que permitam avaliar a sua aplicabilidade e
fiabilidade. Os resultados da aplicação destes índices apontam para uma degradação mais acentuada das
comunidades das bacias hidrográficas do centro e sul do país - Tejo, Sado e ribeiras do Algarve (Figura 5).
Com as devidas reservas, as bacias melhor conservadas parecem ser as do Minho, Douro e Mondego. No
entanto, assinalam-se em todas as bacias troços com elevada degradação das comunidades.
Para a avaliação de estado ecológico da componente vegetal dos ecossistemas aquáticos e das zonas
adjacentes, foi apresentada uma proposta metodológica, aplicada à bacia do Guadiana. É necessário verificar

(5) Saraiva, M.G., I. Moreira & I. Ramos, 1996. Bandas Ripícolas no Ordenamento do Espaço Rural e da Paisagem. In: 2º Congresso Nacional de
Economistas Agrícolas - Évora

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se esta proposta metodológica pode ser extrapolada em termos nacionais, e compatível com a avaliação do
estado ecológico efectuado a partir das outras comunidades, nomeadamente animais.

7.1.3.3. Fauna Associada ao Meio Aquático


As bacias hidrográficas e respectivos ecossistemas aquáticos e húmidos, podem constituir unidades ideais de
conservação para muitas espécies de anfíbios, répteis e mamíferos, ao representarem unidades espaciais com
características próprias, originando habitats específicos e, por vezes, únicos. No entanto, para muitas
espécies, nomeadamente para a avifauna, a análise por bacia hidrográfica pode não ser suficiente, sendo
conveniente informação de nível nacional.

Figura 7.1.4 - Continuidade e Estado da Galeria Ribeirinha em Corredores Fluviais Portugueses

As várias espécies da fauna não piscícola têm diferentes graus de dependência das massas de água e da faixa
ripária envolvente, como fonte de alimento, local de descanso temporário (espécies migrantes) ou
permanente (espécies residentes), local de reprodução ou de protecção contra predadores.
Para alguns taxa ou grupos mais ameaçados (por exemplo, quirópteros cavernícolas, toupeira-de-água, lobo,
lince-ibérico, lontra, salamandra-lusitânica, cágados), foram recentemente realizados ou estão a decorrer
estudos sobre a sua biologia numa óptica de conservação. Contudo, para a maioria das outras espécies é
evidente a escassez de informação de base, o que cria problemas na avaliação e selecção de espécies e áreas
com interesse para a conservação.
Espécies Associadas a Meios Aquáticos, Ribeirinhos e Húmidos (Espécies Alvo)
No âmbito do PNA, foram identificadas as espécies de vertebrados associados aos sistemas hídricos.
Utilizou-se como base de trabalho todas as espécies de herpetofauna, avifauna e mamofauna terrestres
associadas a zonas húmidas dulçaquícolas que se sabe ocorrerem regularmente. A inventariação da fauna
ICN. Foram depois seleccionadas todas as espécies que se considerou estarem dependentes da estrutura feita
pelos PBH foi completada com dados mais recentes entretanto publicados ou gentilmente cedidos pelo
aquática/ripícola, por motivos biológicos e ecológicos, e aquelas que, embora não dependendo desta,
apresentassem uma preferência por zonas húmidas (por exemplo, lince ibérico e alguns morcegos).

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 9/67 (7 - II)


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Para se determinar o nível de dependência da água das espécies consideradas na lista inicial, procedeu-se a
uma avaliação de cada espécie tendo em conta o habitat, alimento e reprodução, tendo-se seleccionado as
espécies de grande dependência, dependência média e preferência, em relação ao meio hídrico, excluindo-se
as de ocorrência acidental.

Estado da comunidade Índice de "bosque de Índice de valor Valor paisagístico Estado ecológico
vegetal ribera" macrofítico florístico

Minho Lima Douro Ribeiras do Oeste


Guadiana
100 100 100 100 100
80 80 80 80 80
60 60 60 60 60
40 40 40 40 40
20 20 20 20 20
0 0 0 0 0
1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5

Vouga Cávado Tejo Rib. do Algarve


100 100 100
80 80 100
80 80
60 60 60 60
40 40 40 40
20 20 20 20
0 0 0 0
1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5

Mondego Ave Sado


100 100 100
80 80 80
60 60 60
40 40 40
20 20 20
0 0 0
1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5

Lis
100
80
60
40
20 Figura 7.1.5 - Classes de Qualidade da Vegetação (Ordem Crescente de
0
1 2 3 4 5
Qualidade) Obtidas com os Vários Indices Utilizados nos PBH. Para a
Bacia do Mira não foi indicada informação

As espécies de vertebrados portugueses que apresentaram algum tipo de dependência em relação à água, e
que se encontram ameaçadas, constituíram a lista de espécies alvo. A Figura 7.1.6 mostra a relação entre o
número de espécies alvo muito dependentes e as dependentes/preferenciais, constatando-se que o número das
primeiras é superior às dependentes/preferenciais nos anfíbios, répteis e aves enquanto que nos mamíferos é
inferior. Tendo em conta o número total de espécies existentes em Portugal Continental para cada grupo, a
percentagem de espécies alvo é a seguinte: Anfíbios (65%), Aves (19%), Répteis e Mamíferos (ambos 7%).
Relativamente a critérios de conservação, classificou-se ainda cada espécie associada à água com base nas
seguintes Convenções ou Directivas: CITES, Bona, Berna, Directiva Habitats, Directiva Aves, Livro
Vermelho dos Vertebrados de Portugal, Livro Vermelho dos Vertebrados de Espanha, Lista de Espécies
Ameaçadas da IUCN, 1990 e Lista de Espécies Ameaçadas da IUCN, 2000. Nesta análise, foram ainda
incluídos, sempre que possível, dados sobre a abundância conhecida de cada espécie, a evolução das suas
populações em Portugal e a sua distribuição tendo em conta unicamente a Europa e Norte de África.
Relativamente à avifauna, contudo, não se apresentou a sua distribuição indicando-se antes a fenologia de
cada espécie.

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

30

Nº de espécies
20
Muito dependente
10
Dependente/preferencial
0
Anfíb. Répt. Aves Mamíf.

Figura 7.1.6 - Grau de Dependência das Espécies Alvo Identificadas em Relação à Água
Todas as espécies de anfíbios inventariadas em Portugal continental (17) são muito dependentes da água,
uma vez que aí decorre o seu desenvolvimento larvar. Destas espécies, 11 (65%) têm estatuto de ameaça
segundo a Directiva Habitats e o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Relativamente aos répteis
foram inventariadas 26 espécies alvo, sendo 4 muito dependentes e dependente/preferencial; destas espécies
alvo de répteis, três têm estatuto de ameaça. Foram inventariadas 270 espécies de aves das quais 83 (31%)
foram consideradas como estando de alguma forma associadas ao meio aquático (55 muito dependentes e 28
dependentes/preferenciais) e estando 40 (48%) abrangidas por estatuto de ameaça. Quanto à mamofauna
foram inventariadas 58 espécies, estando 26 (45%) mais ou menos associadas ao meio aquático (5 muito
dependentes da água e 21 menos dependentes/preferenciais) e 16 (28%) com estatuto de ameaça.
Espécies e Sistemas Aquáticos e Ribeirinhos Prioritários
As espécies alvo foram avaliadas em relação a um conjunto de parâmetros de forma a se poderem calcular
índices que permitissem a identificação de um subconjunto de espécies prioritárias.
Os índices aplicados resultam da adaptação para o território continental das metodologias descritas e
aplicadas por Palmeirim et al (1994)6. Esta metodologia permitiu definir vários tipos de índices: SB – índice
de sensibilidade biológica (calculado a partir de variáveis biológicas relacionadas com a vulnerabilidade das
populações); R – índice de relevância (reflectindo a importância das populações no contexto nacional e
internacional); IPC – índice de prioridade de conservação (resultante da média aritmética do SB e R, e que dá
uma ideia das características intrínsecas de uma espécie reflectindo quer a fragilidade biológica das espécies
quer a importância relativa que têm as populações de uma determinada área); IEA – estatuto actual de
ameaça (com base no estatuto atribuído às espécies nos livros vermelho português, espanhol e internacional);
IRP – índice de responsabilidade política (calculado com base no estatuto das espécies em convenções
internacionais – Convenção de Berna e Directivas Aves e Habitats).
Cada índice exprime-se em função de vários parâmetros, divididos em categorias, cujo valor final
correspondente a uma pontuação entre 0 e 10. Estes indicadores/índices foram conjugados num Índice
Global de Prioridade de Conservação - IGPC. Consideram-se como espécies prioritárias aquelas que, sendo
espécies alvo, tinham um IGPC igual ou superior a 5.0 (Quadro 7.1.1).
A definição e distribuição das espécies prioritárias permitiram a determinação de áreas com prioridade de
conservação elevada, utilizando como base quadrículas UTM de 100x100 km, para o território do continente,
em função da riqueza específica e número total de espécies prioritárias. Deve sublinhar-se que a metodologia
seguida se refere a espécies associadas ao meio aquático e portanto, por áreas de prioridade identificadas
entende-se especificamente os corredores fluviais, áreas lênticas e pantanosas e zonas terrestres adjacentes.
Verificou-se que as áreas mais importantes incluem já áreas protegidas classificadas ou propostas para
classificação. Contudo, desconhece-se em muitos casos a qualidade da água e dos troços fluviais das redes

6
Palmeirim, J.M., F. Moreira & P. Beja, 1994. Estabelecimento de prioridades de conservação de vertebrados terrestres a nível regional: o
caso da costa sudoeste portuguesa. Museu Nacional de História Natural e Museu e Laboratório Zoológico e Antropológico (Museu Bocage),
Lisboa, pp.167-199.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 11/67 (7 - II)


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

hidrográficas e massas de água destas áreas prioritárias, embora em muitas os PBH tenham identificado
evidentes sinais de maior ou menor degradação.

Quadro 7.1.1 - Lista das Espécies Prioritárias Ordenadas por Ordem Decrescente do IGPC

ANFÍBIOS (6) RÉPTEIS (3) AVES (18) MAMÍFEROS (10)


Chioglossa lusitanica Emys orbicularis Botaurus stellaris Galemys pyrenaicus
Triturus helveticus Mauremys leprosa Nycticorax nycticorax Rhinolophus mehelyi
Alytes cisternasii Lacerta schreiberi Ardeola ralloides Myotis mystacinus
Discoglosso galganoi Ardea purpurea Myotis emarginatus
Hyla meridionalis Ciconia nigra Barbastella barbastellus
Rana iberica Plegadis falcinellus Microtus cabrerae
Platalea leucorodia Mustela erminea
Netta rufina Lutra lutra
Circus aeruginosus Felis silvestris
Porphyrio porphyrio Lynx pardina
Fulica cristata
Grus grus
Recurvirostra avosetta
Glareola pratincola
Gelochelidon nilotica
Chlidonias hybridus
Anthus spinoletta
Locustella luscinioides

Espécies Indicadoras
Com base em pesquisa bibliográfica, foi possível identificar algumas espécies associadas ao meio aquático,
com características de potenciais bioindicadoras de qualidade da água e da integridade estrutural dos troços
fluviais e classificadas como importantes do ponto de vista da conservação. Estas espécies são a salamandra-
lusitânica, o cágado-de-carapaça-estriada, o melro-d’água e a toupeira-de-água. No PBH do Douro, por
exemplo, foi utilizada a distribuição da toupeira-de-água como parâmetro classificativo do estado de
conservação dos corredores fluviais desta bacia.
Até ao momento, os descritores de mais-valia para a conservação utilizados para as espécies aquáticas ou
associadas ao meio aquático salientam sobretudo a sua presença mas raramente a sua abundância, com
excepção dos trabalhos desenvolvidos para a toupeira-de-água. Nas áreas de distribuição destas espécies de
elevado valor, ocorrem frequentemente zonas muito degradadas, em termos ambientais, desconhecendo-se
na maior parte dos casos o estado de conservação das populações biológicas. A degradação dos ecossistemas
aquáticos, em maior ou menor grau, foi detectada nos PBH em muitas áreas consideradas de elevado
valor,como por exemplo, no troço principal do rio Lima, nos Paúis do Boquilobo, de Arzila e da Madriz, no
Douro e Tejo internacionais, ou no Caia e Guadiana (Juromenha).

7.1.3.4. Ictiofauna e Recursos Haliêuticos


Espécies Ictíicas e sua Distribuição
No Continente, foram inventariadas 44 espécies ictíicas nas principais redes hidrográficas continentais, das
quais 13 são consideradas periféricas e 31 estritamente dulçaquícolas. A família com o maior número de
representantes é a Cyprinidae (21 espécies). Foram identificados 19 endemismos ibéricos, quatro dos quais
exclusivos do território nacional - boga-portuguesa (Chondrostoma lusitanicum), escalo-do-Arade
(Leuciscus aradensis), escalo-do-Mira (Leuciscus torgalensis) e ruivaco (Rutilus macrolepidotus) - e 11
espécies exóticas introduzidas nas bacias hidrográficas ibéricas pela acção do Homem (Figura 7).
Observa-se um aumento da riqueza específica para sul, associado a um incremento do número de espécies
exóticas, cuja presença é responsável pela descaracterização das respectivas comunidades ictíicas. As bacias
hidrográficas a sul do Ave, e em particular o Douro, Sado e Guadiana apresentam uma maior proporção de
espécies exóticas (Figura 7.1.7). É igualmente notória a fraca representatividade das espécies diádromas nas

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

bacias hidrográficas a sul do Tejo, exceptuando o caso do Guadiana. De uma forma geral, todas as bacias
hidrográficas apresentam uma importante componente de espécies periféricas, excepção feita ao Ave, Lis e
ribeiras do Oeste e do Algarve (Fig. 7.1.7).

16 40

14 35

P ro po rção de exó ticas (% )


12 30

10 25
N.º Esp écies

8 20

6 15

4 10

2 5

0 0
Lim a

V ouga

Lis

Mira

Guadiana
Minho

Cáv ado

Douro

M onde go

Te jo

Sado
Av e

Rib. Oe ste

Rib. Algarv e
A u tó c to n e s n ã o d iá d r o m a s D iá d r o m a s
E x ó tic a s P r o p o r ç ã o d e e x ó tic a s

Figura 7.1.7 – Estrutura da Comunidade Ictíica Presente nas Principais Bacias Hidrográficas Nacionais e Grau
de Incidência de Espécies Exóticas

Espécies Ictíicas: Valor Conservacionista


O ciprinídeo endémico da bacia hidrográfica do Guadiana Anaecypris hispanica, vulgarmente designado por
saramugo, e o salmão Salmo salar, são as duas espécies mais ameaçadas em Portugal, sendo por esse motivo
classificadas como “Em Perigo”, no Livro Vermelho dos Vertebrados.
Sem esgotar os casos que merecem atenção, referem-se ainda as espécies que, para além de estarem incluídas
no Anexo III da Convenção de Berna, estão classificadas como “Raras”, casos da lampreia-de-rio (Lampetra
fluviatilis, da lampreia-de-riacho (Lampetra planeri), da cumba (Barbus comiza), do barbo-de-cabeça-
pequena (Barbus microcephalus), do barbo do Sul (Barbus sclater)i, do barbo de Steindachner (Barbus
steindachneri), da boga-de-boca-arqueada (Chondrostoma lemmingii), da boga-portuguesa (Chondrostoma
lusitanicum) e da boga do Guadiana (Chondrostoma willkommii). Refira-se ainda a lampreia-marinha
(Petromyzon marinus), o sável (Alosa alosa), a savelha (Alosa fallax) e o caboz-de-água-doce (Salaria
fluviatilis), todos taxa considerados “Vulneráveis”.
Integridade das Comunidades Piscícolas
A avaliação da integridade das comunidades piscícolas das principais bacias hidrográficas nacionais foi
efectuada utilizando o Índice de Qualidade Ictíica (IQI), adaptado do Índice de Integridade Piscícola (IIP). O
IQI pondera não só a importância das diferentes espécies piscícolas de acordo com o estatuto de conservação
que lhe foi atribuído no Livro Vermelho dos Vertebrados, mas também a taxa de incidência de espécies
exóticas. De acordo com os valores de IQI as principais bacias hidrográficas foram incluídas numa das
seguintes três classes: Classe A: IQI ≥ 0.5; Classe B: 0.25 ≤ IQI < 0.5; Classe C: IQI ≤ 0.25
Assim, o grupo correspondente às bacias hidrográficas cujas comunidades piscícolas se destacam do ponto
de vista da conservação inclui o Minho, o Cávado, o Lima e o Guadiana. Numa posição intermédia surgem o
Douro, o Vouga, o Mondego e o Tejo. As restantes bacias integram uma terceira categoria, correspondente
às comunidades ictíicas menos interessantes em termos de conservação (Fig. 7.1.8).

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0.8

0.7 Classe A
0.6 Cávado
Minho
Guadiana
0.5
Lima Tejo
IQI
0.4
Classe B Vouga Mondego

0.3 Douro

0.2 Ave Sado Mira

Classe C Lis
0.1 Rib. Algarve
Rib. Oeste
Leça
0

Figura 7.1.8 - Índice de Qualidade Ictíica (IQI) Obtido nas Principais Bacias Hidrográficas Nacionais

Exploração de Recursos Haliêuticos


No que diz respeito à exploração de recursos haliêuticos, verificou-se que do conjunto de espécies
inventariadas, destacam-se pelo seu valor económico, um grupo de oito espécies constituído por seis espécies
diádromas - lampreia-marinha (Petromyzon marinus), enguia (Anguilla anguilla), sável (Alosa alosa),
savelha (Alosa fallax), salmão (Salmo salar) e truta (Salmo trutta) - e duas espécies exóticas - truta-arco-íris
(Oncorhynchus mykiss) e achigã (Micropterus salmoides) -.
Ficou ainda patente que as bacias hidrográficas a norte do Mondego apresentam uma maior proporção de
espécies ictíicas com um valor económico mais elevado, sendo por isso aquelas onde o rendimento da pesca
profissional exercida em águas interiores contribui significativamente para a economia dos núcleos
piscatórios daquela região do país (Figura 7.1.9). A esta constatação não será alheio o facto de serem aquelas
as bacias hidrográficas onde ocorrem as populações mais importantes de peixes anádromos, em particular a
lampreia-marinha, o sável e a savelha.
90
N=9
Espécies com v alor com ercial (%)

80

70
N = 14

N = 13

N = 14
N = 18
N = 29

N = 25
N = 24

60
N = 24
N = 13

N = 22
N=9
N = 21

N = 19

50

40

30

20

10

0
Guadiana
Minho

Lim a

Cáv ado

Av e

Vouga

Rib. Algarv e
Douro

Mondego

Lis

Rib. Oeste

Tejo

Sado

Mira

Reduzido / Nulo M édio Eleva do

Figura 7.1.9 - Proporção de Espécies Ictíicas com Diferente Valor Comercial Presentes nas Principais Bacias
Hidrográficas Nacionais. N – Número Total de Espécies

Actualmente são concedidas anualmente mais de 270 000 licenças de pesca, das quais menos de 2000 são
licenças profissionais. Por outro lado, as licenças desportivas predominantes são cada vez mais do tipo
nacional, indicando um crescendo de mobilidade e de pescadores oriundos de centros urbanos.

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Com o objectivo de ordenar a pesca nas águas interiores a Direcção-Geral das Florestas definiu um conjunto
de zonas sujeitas a uma regulamentação especial. Presentemente estão classificadas 46 zonas de abrigo, 14
zonas de desova, 34 zonas de pesca reservada, 77 concessões de pesca desportiva e 10 zonas de pesca
profissional.
Ainda no capítulo da exploração de recursos haliêuticos, as informações obtidas revelam a existência de 27
aquiculturas de águas doces em funcionamento, responsáveis pela produção de mais de 1 500 toneladas
anuais de peixe, na sua maioria truta arco-íris.
7.1.3.5. Qualidade Biológica de Sistemas Fluviais
Há cerca de cem anos, começou a reconhecer-se que as actividades humanas degradavam os sistemas
aquáticos, tendo, em consequência, surgido uma primeira tentativa de monitorização biológica. Contudo, esta
linha inicial de carácter biológico manteve-se marginal e a avaliação da qualidade da água tornou-se, ao
longo do século XX, essencialmente numa avaliação de contaminantes químicos e orgânicos, oriundos de
fontes pontuais ou difusas, presumindo-se que estes se relacionavam directamente com a qualidade biológica
dos ecossistemas.
Nem o fluxo do ciclo da água era visto como limitante da quantidade das reservas de água, nem o biota
existente era tido em conta nas acções de planeamento. Nas duas últimas décadas deste século, contudo,
recuperou-se a noção da vida como cerne do planeamento hídrico, e a monitorização biológica regressou aos
instrumentos de trabalho dos gestores de recursos hídricos.
O biota é o elemento integrador de todas as alterações que ocorrem nos ecossistemas e suas bacias de
drenagem, incluindo as físico-químicas, mas também as estruturais, por exemplo, alterações do regime de
caudais, da geomorfologia do canal e dos usos da bacia, de tal forma que adoptar critérios exclusivamente
físico-químicos para avaliar a qualidade da água não apresenta qualquer relação consistente com a qualidade
biológica e do ecossistema.
As modernas definições de qualidade da água e de poluição já contemplam a conservação do biota e do seu
bom ‘estado’, baseando-se estruturalmente: a) na ideia da entrada de substâncias ou energia no sistema
aquático; b) na garantia da saúde humana; c) na garantia da sustentabilidade dos usos futuros da água.
Presentemente, existem cinco tipos correntemente utilizados de sistemas de bioavaliação da qualidade da
água e dos ecossistemas aquáticos, nomeadamente fluviais (bioavaliação da qualidade da água por
indicadores e índices biológicos; bioavaliação físico-ecológica; bioavaliação do estatuto de conservação;
bioavaliação por métodos multivariados; bioavaliação por índices multimétricos), havendo outros em estudo.
Existem alguns casos de aplicação de índices biológicos para avaliar a qualidade das águas portuguesas,
sendo os mais relevantes a aplicação do sistema de sapróbios (indicadores: microalgas e
microinvertebrados), pela DGRAH entre 1978 e 1984, e o de índices bióticos utilizados em estudos
ambientais e mais recentemente nos PBH, especialmente o BMWP’ (indicadores: macroinvertebrados). A
aplicação de outros índices e indicadores biológicos utilizando microalgas, microcrustáceos, macrófitos e
ictiofauna e ainda de outros tipos de bioavaliação, nomeadamente físico-ecológica, multivariada e
multimétrica, tem sido realizada apenas em estudos universitários.
A imagem da qualidade biológica da água de sistemas fluviais, obtida com a aplicação do índice biótico de
macroinvertebrados BMWP´, encontra-se na Figura 7.1.10. Trata-se de um conjunto de 326 troços fluviais,
com resultados obtidos no âmbito dos PBH, mas acrescidos de dados de outros estudos, embora respeitantes,
normalmente, a uma só colheita. Salvo algumas assimetrias, como a maior densidade de locais nas ribeiras
do Oeste e bacia do Lima e apenas dois pontos de cabeceira do Mira, é possível uma primeira imagem geral
da qualidade biológica da água de sistemas fluviais. Verifica-se, a nível nacional que 56% dos locais
amostrados apresentaram sinais de pouco ou nenhuma contaminação orgânica (Classes I e II), 8%
encontram-se contaminados (classe III), 17% muito contaminados (IV) e 18% fortemente contaminados (V).
A distribuição espacial destas classes de qualidade da água não é homogénea por todo o continente (Figura
7.1.10). O maior número de locais não contaminados situam-se a Norte da margem direita do Tejo, o que
pode decorrer duma maior disponibilidade hídrica e consequente mais elevada capacidade de autodepuração,
tornando os cursos de água dessas regiões menos vulneráveis à contaminação. Verifica-se que os rios do
Norte, à excepção do Cávado apresentam sempre pelo menos um quarto dos locais não contaminados,

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situação que é inversa nos rios do Sul onde, excluindo as ribeiras do Algarve (cabeceiras do Seixe e do
Aljezur) não se encontram locais não contaminados. Esta dicotomia poderá reflectir também, a necessidade
de ajustar o índice utilizado, de origem inglesa embora adaptado por investigadores espanhóis em 1989, a
situações fluviais naturais em que ocorre maior stress hídrico natural.

Figura 7.1.10 - Classes BMWP’ de Qualidade da Água Baseadas em Macroinvertebrados Bênticos

No âmbito dos PBH do Guadiana e das ribeiras do Algarve foram realizados estudos de campo sobre as
comunidades de algas unicelulares de sistemas fluviais (nomeadamente fitoplâncton e perifiton), existindo,
também, estudos anteriores mais localizados, nas bacias do Lima, Cávado, Ave, Vouga, Tejo, e Guadiana.
Analisando os resultados referentes ao Guadiana, verifica-se que o caudal é um factor determinante na
composição das comunidades de algas unicelulares, e que situações de baixo caudal resultam na proliferação
de cianofíceas, algumas delas potenciais produtoras de toxinas, cujos efeitos foram já reportados, sobretudo
na região de Mértola. Tornam-se, por isso, preocupantes os valores bastante elevados de cianofíceas para
alguns locais amostrados no âmbito do PBH do Guadiana, sendo provável que existam outras situações deste
tipo não recenseadas nesta e outras bacias.
No PBH das ribeiras do Algarve evidenciou-se que as situações mais eutróficas ocorrem fundamentalmente
nas regiões litorais, não se verificando no entanto uma acentuada predominância de cianobactérias. Em
ambos os casos, as diatomáceas tendem a dominar quer as comunidades de fitoplâncton quer as de perifiton.
O uso de índices bióticos baseados em diatomáceas ou perifiton, para avaliar a qualidade da água, é muito
frequente na Europa e nos E.U.A., havendo vantagens em melhor conhecer estas comunidades no país e
utilizá-las na determinação da qualidade biológica da água
Contudo, em Portugal, ainda não se encontra implementado um sistema de avaliação da qualidade biológica
da água complementar da físico-química, ao contrário do que acontece na generalidade dos países europeus,
onde um ou mais dos vários tipos de sistemas de bioavaliação acima descritos, são utilizados em rotina,
nalguns casos desde o início do século XX. Demonstrada a necessidade de utilizar indicadores biológicos

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para complementar os indicadores físico-químicos e microbiológicos na avaliação da qualidade da água,


considera-se urgente a utilização de índices biológicos em rotina nas redes de monitorização em
funcionamento, pelo menos em sistemas fluviais. Os índices disponíveis e sua fiabilidade (nomeadamente o
BMWP’) tornam a sua utilização uma mera aplicação técnica, fácil em termos de implementação.
Tão pouco existe uma bioavaliação do estatuto de conservação especificamente vocacionada para corredores
fluviais.
7.1.3.6. Albufeiras
Portugal apresenta uma área superficial reduzida de massas de água lênticas naturais. Contudo, as albufeiras
são massas de água lênticas artificiais já consideradas como parte integrante da paisagem ibérica. Constituem
também ecossistemas onde espécies e comunidades se estabelecem, com um funcionamento ecológico muito
próprio e diferente do de lagos naturais, particularmente dependente das suas utilizações efectivas.
Para a caracterização e diagnóstico efectuada no âmbito do PNA, foi considerado um universo de 162
albufeiras, incluindo todas as albufeiras públicas ou de utilização pública consideradas representativas em
termos de massas de água.
Comunidades Planctónicas
Foi possível identificar 57 albufeiras possuindo estudos de fitoplâncton, regra geral, rastreios realizados por
instituições universitárias ou de investigação e sem um carácter sistemático. Devido à data da sua colheita,
grande parte destes trabalhos servem apenas de referência histórica. Por exemplo, na bacia do Tejo, verifica-
se existirem estudos publicados sobre fitoplâncton para um total de 13 albufeiras. Uma grande parte destas
foi estudada nos anos setenta ou mesmo antes, sendo Castelo de Bode a única albufeira em que se conhece o
fitoplâncton de uma forma continuada desde os anos 50.
As classes mais fortemente representadas são as clorofíceas, as bacilariofíceas e as cianofíceas.
Quando o estado trófico das águas progride, as cianofíceas tendem a expandir-se em biomassa e período de
dominância, podendo verificar-se crescimentos intensos (florescências ou bloom), frequentemente de estirpes
biológicas produtoras de toxinas, com colorações intensas e espumas na zona superficial da massa de água.
No âmbito do PBH da bacia do Tejo pesquisou-se sistematicamente o registo de episódios deste tipo,
encontrando-os para seguintes albufeiras: Stª Águeda, Divor, Maranhão, Magos e Montargil, o que
evidentemente não significa que não ocorram igualmente bloom não registados noutras albufeiras da bacia
do Tejo. O caso mais documentado é o da albufeira do Divor, em que se identificaram 13 casos de bloom
entre 1974 e 1986, dos quais seis levaram a grande mortalidade de peixes.
Para além dos casos já mencionados para a bacia do Tejo, encontrou-se evidência de outros: na bacia do
Douro - albufeira de Peneireiro, Stª Maria Aguiar (e rio Côa); bacia do Mondego - albufeiras de Fagilde e da
Aguieira; bacia do Guadiana - albufeiras do Caia, Monte Novo, Bufo (Barrancos) e da Vigia (e rio
Guadiana); bacia do Sado - albufeiras do Roxo e de Odivelas. Contudo, não existe um registo coerente e
sistemático destes episódios, com a sua localização exacta, duração, extensão do problema e consequências,
por forma a uma visão geral, actualizada e temporalmente acompanhada das zonas mais afectadas.
O zooplâncton foi estudado em 49 albufeiras, tendo-se elaborada uma inventariação exaustiva destes
trabalhos, grande parte data dos anos setenta e oitenta e apenas alguns mais recentes. À semelhança do
fitoplâncton, tratam-se de trabalhos de projectos de investigação universitários, não existindo uma recolha
sistemática e continuada de zooplâncton em nenhuma albufeira. Anota-se, apenas que foram encontradas
cerca de centena e meia de espécies de zooplâncton, sendo os protozoários o grupo de invertebrados menos
conhecido. Os rotíferos apresentam biomassas em geral baixas e taxocenoses pouco consistentes, embora
possam ser bastante resilientes. Os crustáceos apresentam menos de uma trintena de espécies.
Comunidades Bênticas
O número de estudos sobre macrófitos de albufeiras é muito pequeno, referindo-se às de Castelo de Bode,
Fratel, Montargil (Tejo), Vale do Gaio (Sado), Bravura (Algarve), Mula e S. Domingos (Ribeiras do Oeste).

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Os poucos estudos disponíveis indicam que as comunidades de plantas das margens de albufeiras podem
apresentar alguma riqueza e importância, muito embora dependentes do tipo da albufeira. Apesar de
genericamente esparsas, desempenham um papel ecológico crucial como zonas de abrigo e desova para as
populações piscícolas e no estabelecimento das populações de macroinvertebrados de que estas se
alimentam. Só um rastreio geral destas comunidades permitiria obter uma imagem adequada da sua
composição, ecologia e variantes tipológicas, extremamente útil para as actividades de gestão das zonas
marginais de albufeiras.
Não existem estudos sobre o perifiton de albufeiras portuguesas.
O macrobentos de albufeiras ibéricas apresenta pouca complexidade e densidade baixa, sendo constituído
por um conjunto de menos de uma centena de organismos conhecidos, de taxonomia complicada, em
especial bivalves, anelídeos oligoquetas e dípteros quironomídeos. Não existem praticamente estudos sobre a
composição e ecologia dos macroinvertebrados de albufeiras portuguesas.
Ictiofauna
A larga maioria das espécies piscícolas nativas fluviais não encontra condições de reprodução ou
sobrevivência nas albufeiras, onde não existem zonas de pouca profundidade, com velocidade da corrente
moderada e com habitats diversificados, com abundância de detritos vegetais e animais, perifiton e
macroinvertebrados de que se alimentam. O efeito barreira provocado pelas albufeiras (entre outras causas)
impede a maior parte das espécies diádromas de aí existirem.
Foram encontradas até ao momento 28 espécies piscícolas, pertencentes a 10 famílias, das quais nove são
exóticas. As espécies nativas mais típicas e abundante – barbos e bogas - realizam migrações reprodutoras
para os afluentes, utilizando as albufeiras sobretudo para se alimentarem durante os períodos não
reprodutivos. Três das cinco espécies mais frequentes são exóticas - a carpa, o achigã e a perca-sol - bem
adaptadas a sistemas lacustres nos seus países de origem. Estas espécies dominam frequentemente as
populações piscícolas, quer em número quer em biomassa.
Numa análise à escala nacional, baseada na composição piscícola de um conjunto de 35 albufeiras para as
quais existia informação recente, publicada ou inédita, detectaram-se quatro tipos de associações
estatisticamente distintos. Cada um destes tipos apresenta variáveis ambientais significativamente
associadas. O modelo de ocupação ictíica assim criado permite prever as associações piscícolas
potencialmente dominantes em albufeiras de composição específica desconhecida (Figura 7.1.11).
Verifica-se um predomínio de albufeiras do tipo C (grandes, situadas nos cursos médios, geralmente
hidroeléctricas, tendencialmente oligo-mesotróficas, com associações piscícolas complexas dominadas por
boga, bordalo e barbo) no Norte do país e de albufeiras do tipo B (grandes, igualmente situadas nos cursos
médios, geralmente de rega, tendencialmente meso-eutróficas, com associações piscícolas complexas
dominadas por carpa, achigã e perca sol) no Centro e Sul. Existe ainda o grupo D (pequenas, de altitude,
perto da nascente, com associações piscícolas simples de bordalo e truta, tendencialmente oligotróficas) e o
grupo A (pequenas, de rega, de baixa altitude, perto da nascente, com associações piscícolas simples de
carpa e perca-sol, tendencialmente eutróficas). Dentro de cada grupo ocorrem variações que potenciam a
existência de desvios ecológicos associados a diferentes graus de degradação, nomeadamente progressão
trófica.
As populações piscícolas de albufeiras constituem um recurso importante e, no centro e sul do país, a pesca
desportiva de competição é centrada nessas massas de água, com as actividades de lazer e de comércio
associadas. Os problemas de eutrofização que afectam as albufeiras e o regime de utilização a que estas estão
sujeitas, penaliza fortemente as populações piscícolas, nomeadamente criando situações de forte
desoxigenação em partes da massa de água e um ambiente quimicamente inadequado, pondo a seco os leitos
de desova ou impedindo as migrações reprodutoras durante a Primavera.
Por outro lado, ao representarem uma barreira à livre movimentação das espécies e materiais que
naturalmente se deslocam ou são deslocados ao longo do sistema fluvial, entre as cabeceiras e a foz, as
barragens constituem importantes factores de alteração, e frequentemente de degradação, tendo o
desaparecimento, de espécies piscícolas de grande interesse económico (por exemplo a lampreia, o esturjão,

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o salmão e o sável), suscitado o interesse pela construção de dispositivos de transposição para peixes, em
barragens.
Nos cursos de água principais, existem presentemente 10 passagens para peixes instaladas, e pertencentes a
três tipos: um ascensor em Touvedo (Lima), passagens por bacias sucessivas em Penide (Cávado), Coimbra
(Mondego) e Grela (Vouga) e eclusas de Borland em Crestuma-Lever, Carrapatelo, Régua, Valeira, Pocinho
(Douro) e Belver (Tejo). Contudo, o conhecimento incipiente em relação à ecologia e movimentos de muitas
espécies e sobretudo à sua relação eco-hidráulica com o sistema de passagem escolhido, deu origem à
instalação de dispositivos de eficácia desconhecida ou comprovadamente ineficazes. Citam-se, a título de
exemplo, os casos estudados das eclusas de Crestuma-Lever e Belver, e do ascensor de Touvedo,
respectivamente nos rios Douro, Tejo e Lima.

Figura 7.1.11 - Tipos de Associações Piscícolas para as Albufeiras do País


Existem 24 pequenos aproveitamentos hidroeléctricos equipados com passagens para peixes (PPP), todos
com bacias sucessivas. Com base nas características hidráulicas e de atractividade das PPP, na presença de
obstruções a jusante e no estado de conservação, assoreamento e colmatação das suas bacias, 20% das PPP
actuais foram classificadas como apresentando boas condições de passagem, 25% condições aceitáveis,
enquanto as restantes são inoperacionais ou apresentam condições de funcionamento inaceitáveis.

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EstadoTtrófico
No âmbito dos PBH o estado trófico foi determinado com base: a) em diferentes indicadores, desde a
variação de oxigénio dissolvido em profundidade até à biomassa clorofilina; b) em diferentes critérios
qualitativos ou quantitativos (abundâncias planctónicas, limiares considerados internacionalmente, índices
tróficos, informações bibliográficas); c) em fontes de informação provenientes de períodos e instituições
diferentes, com métodos de colheita e análises diferentes. As classes tróficas referidas nos PBH não são
coincidentes nas divisões efectuadas. Não existe uma metodologia normalizada e comum para determinação
do estado trófico ou sequer uma amostragem directamente vocacionada para a sua determinação.
Face às limitações enunciadas, para a determinação do estado trófico de albufeiras, no âmbito do PNA,
seleccionaram-se como indicadores do estado trófico, o fósforo total na coluna de água (Pt, em mg/m3), na
generalidade dos casos doseado apenas à superfície, enquanto elemento determinante do estado trófico, e a
biomassa clorofilina (clorofila a, em mg/m3), enquanto elemento indicador da resposta do ecossistema, para
dado nível trófico. Estes são os parâmetros mais ubíquos, em termos de determinações no tempo, no espaço e
para os laboratórios onde se realizam as análises, além da sua metodologia corresponder a normas
estabelecidas.
Os dados obtidos para a determinação do estado trófico foram recolhidos no SNIRH, a partir de informações
das DRAOT, para o ano 1997 e seguintes e da DGA para o período 1989-1993, e nos PBH. Ao todo, foi
possível obter valores para 83 (52%) albufeiras do universo original de 162 albufeiras consideradas, embora
nem sempre para ambos os parâmetros.
O potencial predito obtido na regressão entre o fósforo total médio encontrado nas albufeiras (em mg/m3) e a
biomassa clorofilina (mg/m3 de clorofila a) confirma que o fósforo é o elemento determinante da
eutrofização de albufeiras portuguesas e que a regressão do estado trófico passará sobretudo e
necessariamente pelo controle das cargas afluentes deste elemento.
Para a atribuição do estado trófico, foram utilizados os limiares da OCDE, mas ajustados no limite entre a
mesotrofia e eutrofia, em função de conhecimento bibliográfico e pericial da equipa. Considerou-se que
aqueles tinham apenas um carácter indicativo, porque se tratam de valores cujos critérios de origem radicam
essencialmente em lagos naturais e albufeiras temperadas do norte, não tendo em conta a especificidade de
massas de água ibéricas, de características limnológicas muito particulares. Foram considerados apenas três
níveis tróficos, na classificação final, devendo ser entendidos como provisórios.
Verificou-se que existem informações para apenas 55% das albufeiras de maiores dimensões. Das albufeiras
com estado trófico conhecido, apenas 4% se revelaram oligotróficas, enquanto 28% são mesotróficas e 23%
eutróficas. Refira-se que em qualquer das duas últimas classes se considera existirem variações substanciais
inter-anuais, que devem ser rapidamente estudadas, nomeadamente para avaliar a progressão trófica em
curso e para actuar atempadamente sobre esta. Por outro lado, é possível que os resultados estejam de certo
modo enviesados na direcção das albufeiras eutróficas, uma vez que será nessas que ocorrem os maiores
problemas de saúde pública, relacionados com a qualidade da água de abastecimento e com o seu uso
múltiplo, e por conseguinte nessas se concentram as análises da qualidade da água das DRAOT.
Encontraram-se albufeiras oligotróficas nas bacias do Douro, Minho, Lima, Cávado, Ave, Vouga, Mondego,
Tejo e Oeste, mas não nas do Guadiana, Sado, Mira e Algarve (Figura 7.1.12).
A imagem obtida é condicionada pela insuficiência de conhecimento, nomeadamente de massas de água
potencialmente oligotróficas; por exemplo, quase não existem dados para as albufeiras da zona da Serra da
Estrela.

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%

tro
ro
a
o

te

e
an
d

st
es

ou
Oligotrófico

en
Sa

oe
di

C
ua

or
le

e
Mesotrófico

N
G
Su

jo
Te
Eutrófico

Figura 7.1.12 - Proporção das Classes Tróficas para as Albufeiras do Continente com Estado Trófico Conhecido
(n=83), por Bacias Hidrográficas ou Conjuntos destas

7.1.4. Estado de Conservação de Ecossistemas de Águas Interiores


Enquadramento
Nos anos oitenta, ganha relevância (incluindo nalgumas definições de qualidade da água), a expressão
‘estado ecológico’ do sistema fluvial. O estado ecológico é a expressão da qualidade estrutural e funcional
dos ecossistemas aquáticos associados às águas superficiais. A sua avaliação é realizada pela medida do
desvio do sistema aquático em relação às respectivas condições ecológicas de referência, com base em
elementos biológicos, hidromorfológicos e físico-químicos.
O conceito de estado ecológico está profundamente associado a outros, especialmente os de integridade
biótica, integridade ecológica, saúde do ecossistema e de qualidade ecológica. A integridade biótica
corresponde à capacidade do ecossistema suportar e manter uma comunidade de organismos equilibrada,
íntegra e bem adaptada, com uma composição e proporção de espécies e organização funcional semelhante e
comparável à dos sistemas fluviais naturais da região.
Por outro lado, surgiu no final dos anos oitenta o termo estatuto ecológico ou estatuto de conservação, e mais
tarde também o valor de conservação ou ainda o potencial de conservação. Originalmente, o estatuto e o
estado foram definidos em conjunto como a medida de importância relativa do rio para a conservação e a
extensão da sua perturbação face ao estado original natural. Os dois conceitos têm sido confundidos por
ambos assentarem no material biológico e ecológico e nalguns critérios comuns como a diversidade e a
raridade de espécies ou grupos de espécies. Contudo, um sistema aquático pode estar muito degradado e no
entanto ter um estatuto de conservação elevado devido à sobrevivência de espécies de elevado valor
conservacionista (por exemplo, áreas apreciáveis da bacia do Guadiana ou das ribeiras do Oeste), enquanto a
diversidade e raridade biológicas podem ser pequenas num troço fluvial de cabeceira de elevada naturalidade
e bom estado de conservação e ter um estatuto de conservação baixo.
A ideia de estatuto ecológico está associada à conservação baseada em espécies alvo a preservar e seus
habitats, e em áreas geográficas específicas de elevado valor conservacionista, que devem ser protegidas ou
recuperadas, através do seu isolamento e/ou controle dos usos humanos. No caso de sistemas fluviais,
encontra-se generalizada a aplicação do conceito de segmentos e troços de interesse especial para a
conservação, sobre os quais deve ser exercida protecção e condicionamento dos usos humanos, para garantir
a presença de espécies ou valores biológicos, habitacionais e estruturais detectados como importantes.
A avaliação do estado ecológico baseia-se numa concepção da saúde geral do ecossistema fluvial e das
comunidades que nele habitam. Nesta perspectiva, garantir a saúde ecossistémica e as condições ecológicas o
mais próximo possível das originais significa garantir a capacidade de persistência e de resiliência do
ecossistema a alterações humanas, o que implicaria por sua vez a manutenção das espécies raras ou de
elevado valor aí existentes. A definição de estado ecológico está estruturalmente associada à manutenção,
conservação e recuperação global do ecossistema fluvial e da sua bacia hidrográfica, ou seja, à sua gestão
integrada, incluindo as parte afectadas e não afectadas, muito ou pouco, por actividades humanas, e a
conciliação dos respectivos usos. É precisamente este conceito de estado ecológico que agora se aplica.

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Metodologia
O sistema fluvial forma com a sua bacia hidrográfica uma unidade indissociável, de tal forma que o
processamento de materiais físicos, químicos e biológicos em curso nesta, nomeadamente resultantes de
actividades humanas, se reflecte no corredor fluvial. As formas de perturbação do meio aquático por
actividades humanas podem ser indirectas, ocorrendo na bacia hidrográfica e no vale de cheia, ou directas,
afectando o corredor fluvial ou o meio líquido. A sua magnitude espacial é também muito variável, podendo
afectar a bacia, sub-bacia, segmento, troço, habitats ou micro-habitats fluviais. Quando decresce a magnitude
e localização espacial das intervenções e perturbações (e.g. a criação de uma praia fluvial), passa-se a níveis
mais direccionados e localizados de acções de gestão, com maior necessidade de um conhecimento biológico
e ecológico de pormenor.
O troço fluvial pode ser considerado a unidade base do sistema fluvial, apresentando características
hidromórficas e geoquímicas próprias. Os troços fluviais podem ser agrupados em tipos (ou conjuntos de
troços de características semelhantes), aos quais correspondem comunidades ou tipos biológicos afins. A
definição de uma tipologia para os troços fluviais da rede hidrográfica portuguesa, permite-nos obter uma
visão holística de carácter bioecológico dos sistemas fluviais, estruturada e hierarquizada a diferentes escalas
espaciais, com possibilidade de planeamento e actuação igualmente nas diferentes escalas.
Uma vez obtida esta tipologia, os troços fluviais (e respectivos tipos identificados), podem ser classificados
em termos do seu estado de conservação. O estado de conservação de um troço fluvial é a medida da sua
integridade biológica, face às alterações provocadas por actividades humanas. Assim, a medida do estado de
conservação de um troço integra dois conjuntos de componentes, o primeiro constituído pelos indicadores
das várias facetas da qualidade biológica, o segundo constituído pelas várias facetas da intervenção humana
(entenda-se degradação) dos ecossistemas aquáticos.
Tal como foi evidenciado, a informação existente sobre as espécies e os ecossistemas aquáticos fluviais é
fragmentária em termos espaciais e taxonómicos e espacialmente heterogénea.
A metodologia agora apresentada foi proposta e desenvolvida nos PBH do Douro e Tejo. No âmbito do
PNA, houve um aprofundamento na definição dos sectores tipológicos e uma redefinição de variáveis (ex:
indicadores biológicos), por forma a estender a caracterização de modo uniforme a todo o território nacional.
O resultado final é uma tipologia ecológica de cursos de água à escala nacional e respectiva classificação do
estado de conservação.
Com efeito, podemos estabelecer relações e implicações evidentes entre as variáveis seleccionadas e as
características do meio aquático: hierarquização da rede de drenagem, geologia, declives e precipitação A
geologia influencia marcadamente as características físico-químicas em termos de concentração em
nutrientes, capacidade tamponizante e transporte sólido e, consequentemente, a produtividade primária e
secundária. Os declives estão directamente associados com a altitude e topografia, reflectem a forma do vale,
e contribuem para a definição da heterogeneidade do segmento e das características morfométricas do troço.
A heterogeneidade do habitat desempenha um papel evidente no incremento da biodiversidade. A
hierarquização da rede fluvial é função da distância à nascente, relacionando-se com o padrão hidrológico ao
longo da bacia. Em termos biológicos liga-se com a sucessão longitudinal das comunidades. A precipitação
determina as condições hidrológicas e as categorias de caudal, influenciando especificamente a biotipologia.
Os agrupamentos tipológicos de troços obtidos pelo cruzamento destas 4 variáveis foram designados por
Unidades Fisiográficas Homogéneas (UFH). As UFH pretendem realizar um zonagem dos ecossistemas
lóticos tendo em conta os factores ambientais dominantes na definição da composição e estrutura das
comunidades aquáticas. Após eliminação de unidades de comprimento inferior a 2 km, obteve-se, numa
primeira aproximação, um total de 227 UFH (Figura 7.1.13). O resultado final evidencia uma
heterogeneidade ambiental superior no Norte e Centro interior, ligada à orografia, o que vai ter reflexos, para
além da densidade de drenagem e declives, também a nível de variabilidade de precipitação, muito embora a
heterogeneidade geológica no Alto Alentejo contribua aqui para uma fragmentação destas unidades.
Para a classificação do estado de perturbação das UFH, foram seleccionadas variáveis relacionadas com
caracterização do meio ambiente, e integrando-se em dois grupos: o conjunto das variáveis que contribuem
para a definição da integridade biótica dos troços, incluindo: a avaliação biológica da água; a estrutura da

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vegetação ripária; o número de espécies piscícolas exóticas; e o número de espécies piscícolas autóctones, e
o conjunto das variáveis que contribuem para a quantificação da magnitude do stress ambiental incidente no
meio aquático, incluindo a qualidade físico-química da água; a carga urbana afluente ao meio hídrico; e a
carga industrial afluente ao meio hídrico.
Para a qualidade biológica da água, utilizou-se o índice biótico BMWP’ como indicador do grau de
perturbação antropogénica nos sistemas aquáticos. No que respeita a espécies piscícolas exóticas, os dados
existentes (informação discreta por estação de amostragem a partir da fauna aquática) reflectem a sua
presença com maior frequência nos troços inferiores dos cursos de água e a tendência a apresentarem
quantitativos mais elevados relativamente às populações autóctones em águas contaminadas e/ou sujeitas a
alterações mais ou menos acentuadas do meio físico. No que concerne às espécies piscícolas endémicas não
diádromas, a sua utilização baseia-se no princípio de que um aumento da biodiversidade piscícola em
espécies anfíbias é o resultado do aumento da heterogeneidade física do habitat sem perda de qualidade da
água. A classificação do estado de conservação das galerias ribeirinhas permite não só avaliar a situação
actual dos corredores fluviais da bacia como definir os troços das linhas de água com diferentes estágios de
artificialização.
Por sua vez, no que se refere aos parâmetros inseridos no segundo conjunto, foram incluídas as variáveis
cargas poluentes de origem urbana, cargas poluentes de origem industrial e qualidade físico-química da água.
No que se refere ás cargas poluentes, os dados dizem respeito a estimativas realizadas a partir das densidades
populacionais (dados demográficos de 1998) e de actividades agro-industriais estimadas com base nas
características de cada empresa (ex: nº de animais/exploração). Estas cargas geradas foram afectadas por
coeficientes relativos ao nível de atendimento e tipo de tratamento das águas residuais, pelo que os valores
efectivamente utilizados dizem respeito a cargas afluentes. Dado que as informações sobre poluição difusa
foram muito parcelares, não foram incluídas.
As variáveis relacionadas com a caracterização do meio ambiente assumem então valores distintos em cada
situação; a definição da classificação final procura quantificar o estado de conservação de cada UFH,
designado por KT.
O resultado final da aplicação dos critérios enunciados torna nítida a percepção relativa à degradação dos
cursos de água do interior para o litoral, estendo-se a perturbação ao longo duma extensão considerável dos
rios de maiores dimensões. Este panorama coaduna-se naturalmente com a situação esperada, o que permite
sustentar a metodologia envolvida (Figura 7.1.14). No entanto, verificam-se situações de relativamente
elevada magnitude de perturbação em algumas áreas do interior. É o caso dos sectores médios e inferiores
das Bacias do Tâmega, Corgo e trechos superiores das Bacias dos rios Alva e Zêzere. Por sua vez o rio Sado
e alguns dos seus afluentes reflectem também um baixo valor de KT (classe I), o que é um indicador de
profunda degradação ambiental.
No que se refere aos rios internacionais (excepto o Minho), encontra-se genericamente ao longo de todo o
comprimento um estado de degradação que oscila entre o moderado a elevado (KT nas classes I e II). A
situação é aparentemente mais grave nos rios Lima, Douro e Tejo, quando comparados com o Guadiana. Em
parte tal explica-se pela qualidade da água, mas principalmente pela superior alteração nos corredores
ribeirinhos devido á regularização.
Não obstante, estes resultados necessitam de ser analisados com alguma precaução e comparados com a
informação respeitante a cada variável. Com efeito, no caso dos rios Tâmega e Corgo verifica-se existir uma
consonância entre várias variáveis que simultaneamente indicam a existência de factores de degradação (ex:
qualidade da água, comunidades piscícolas...), e em muitos casos um déficit de informação que conduz a um
valor de KT excessivamente dependente da estimativa de cargas urbanas e industriais, havendo assim
ausência sobre as suas consequências a nível do biota.
O preenchimento das lacunas nas variáveis utilizadas, poderá permitir um aperfeiçoamento progressivo na
eficácia de avaliação obtida pelo KT. Verifica-se que esta técnica é claramente transbacias, permitindo uma
comparação em todo o território nacional ao nível do estado de conservação dos ecossistemas, e a inserção
de novas variáveis descritoras das condições ambientais.

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Figura 7.1.13 - Mapa das UFH de Sistemas Fluviais Portugueses (A Cada Uma das 227 Unidades Foi Atribuída
Aleatoriamente Uma Cor)
Saliente-se a capacidade desta metodologia em ser um instrumento em acções de planeamento e gestão a
nível nacional como é o caso actual, a nível da bacia hidrográfica ou no planeamento de acções de
intervenção e recuperação de troços fluviais a uma escala inferior.
Os resultados apresentados neste primeiro exercício são preliminares, e necessitam de um investimento na
construção do resultado final deste sistema classificativo, com uma maior resolução nos limites exactos dos
troços classificados, e melhoria de informações oriundas das variáveis integradas no modelo.

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Interessará agora analisar a melhoria de classificação final do estado de conservação das UFH tendo em
conta outras variáveis, por exemplo, relacionadas com a alteração do regime de caudais e com as alterações
da estrutura física do canal fluvial.
A validação e aferição deste sistema metodológico consiste simplesmente na amostragem dos vários
parâmetros em utilização e de outros potencialmente interessantes, comparação dos valores obtidos in situ do
estado de conservação com os valores esperados em termos do modelo proposto, e finalmente reajustamento
do modelo.

Figura 7.1.14 - KT para cada UFH: Estado de Conservação dos Sistemas Fluviais Portugueses Classes de KT:
I- Segmento Fluvial Muito Degradado; II- Degradado; III- Com Alterações Moderadas; IV- Pouco ou
Nada Alterado

7.1.5. Qualidade Ecológica


Introdução
A avaliação da qualidade da água tenderá cada vez mais a ser centrada nos efeitos sobre o biota, e não nas
causas da sua degradação, porque estas são múltiplas e actuam de forma cumulativa, muito para além da
simples contaminação química ou orgânica, resultando numa resposta integrada do ecossistema, cuja
garantia de qualidade ecológica deve ser o objectivo principal da actividade de avaliação.

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Em paralelo com a escala integrativa da bioavaliação, que evoluiu para uma eco-avaliação (espécies ⇒
comunidades ⇒ ecossistemas), é reconhecida a necessidade de estabelecer compartimentos regionais por se
ter verificado que: a) os tipos e características dos ecossistemas variam regionalmente; b) as espécies,
comunidades e funções e processos ecossistémicos variam em conformidade e c) é necessário que a
avaliação tenha em conta esta variação. Ou seja, não é possível aplicar o mesmo referencial de qualidade
ecológica num rio de cabeceiras e num de planície, ou num rio alentejano e num transmontano.
No quadro do conceito de ecorregião (grandes áreas consideradas ecologicamente homogéneas do ponto de
vista das condições climáticas, geomorfológicas e frequentemente das formações vegetais e animais) vem
sendo demonstrado, na Europa e nos EUA, que as ecorregiões terrestres não coincidem frequentemente com
as aquáticas, e que o uso de ecorregiões terrestres na selecção dos locais de referência enviesa os resultados
da qualidade ecológica dos ecossistemas aquáticos regionais.
A tipologia de distribuição das comunidades aquáticas oriunda da maior parte dos tratamentos multivariados,
nomeadamente os realizados em Portugal, indica que não existe necessariamente uma afiliação geográfica,
mas antes ecotipológica, isto é, as comunidades estão associadas a um dado conjunto de características
geomorfológicas e climáticas, que podem ocorrer de uma forma espacialmente descontínua, por exemplo, o
conjunto de todos os pequenos rios intermitentes portugueses, ou mesmo ibéricos. Quando este conjunto de
características ocorre (ecótopo), as comunidades são semelhantes no tipo e estrutura, e os ecossistemas nos
respectivos processos e funções (ecótipo).
Orientações da Directiva-Quadro da Água para a Definição do Estado Ecológico
O objectivo da Directiva 2000/60/CE (DQA), que estabelece um quadro de acção comunitário no domínio da
política da água é “estabelecer um enquadramento para a protecção das águas de superfície interiores, das
águas de transição, das águas costeiras e das águas subterrâneas” que, entre outros (Artº 1º) “evite a
continuação da degradação, e proteja e melhore o estado dos ecossistemas aquáticos e também dos
ecossistemas terrestres e zonas húmidas directamente dependentes dos ecossistemas aquáticos”. Dada a
actualidade do tema, e bem assim a importância estratégica e conservacionista da DQA, realiza-se, para o
PNA, a análise da situação actual e de uma possível metodologia de implementação.
Os objectivos ambientais da DQA (Artº 4º) para as águas de superfície, obrigam os Estados-membros a
aplicar as medidas necessárias para evitar a deterioração do estado de todas as massas de água de superfície;
e ainda a proteger, melhorar e recuperar todas as massas de água de superfície com o objectivo de alcançar
um bom estado ecológico e químico, bem como as massas de água artificiais ou fortemente modificadas a
fim de alcançar um bom potencial ecológico e bom estado químico.
O Anexo II da DQA apresenta a caracterização dos tipos de massas de água de superfície dentro de
categorias (como base de trabalho, dá-se aqui particular atenção à categoria de rios). Dentro de cada
categoria, as massas de água fluviais serão diferenciadas por tipos, de acordo com um de dois sistemas:
a) Sistema A. Neste caso são definidas ecorregiões no Anexo XI, verificando-se que Portugal se
encontra incluído totalmente na ecorregião Ibérico-Macaronésia. Os tipos de massas de água são
definidos com base em classes pré-estabelecidas de altitude, dimensão e geologia.
b) Sistema B. Os tipos são diferenciados utilizando os valores de factores físico-químicos obrigatórios
(altitude, latitude, longitude, geologia e dimensão) e outros facultativos.
Os Estados-membros devem desenvolver uma rede de referência incluindo vários locais com condições
biológicas de referência específica para cada tipo de massa de água, nos quais se incluam um número
suficiente de locais de estado excelente, por forma a facultar um nível de confiança adequado aos resultados,
dada a variabilidade intrínseca dos valores dos elementos biológicos de qualidade.
Quando não for possível estabelecer com fiabilidade as condições de referência específicas para dado
elemento de qualidade, devido à variabilidade natural desse elemento e não simplesmente a variações
sazonais, esse elemento poderá ser excluído da avaliação do estado ecológico.
Implementação da Componente Ecológica da DQA

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Como se pode constatar, a bioavaliação proposta na DQA utiliza um modelo ecocêntrico e muito actual,
baseado na saúde ecossistémica e na gestão integrada de bacias hidrográficas, considerando o biota como o
elemento chave da qualidade ecológica, coadjuvado pelo cenário morfogeoquímico e hidrológico.
Representa, portanto, um avanço extraordinário da bioavaliação da qualidade da água em termos legislativos,
administrativos e enquanto instrumento para a conservação.
Repare-se que o estado de referência de dado tipo de massa de água não é um conceito subjectivo, ao
contrário da escolha do método para o caracterizar. De facto, a DQA permite praticamente todas as opções e
modelos conhecidos, para a determinação dos tipos de massas de água, das condições de referência e do
sistema de monitorização.
Contudo, a implementação da DQA é um processo manifestamente complexo em termos de metodologia
ecológica (ou mais exactamente limnológica), mesmo considerando a experiência acumulada nos dois
sistemas de bioavaliação mais sofisticados actualmente utilizados – o multimétrico e o multivariado, sendo
que os princípios de ambos se enquadram nos da DQA.
O processo inicia-se com a definição de tipos de massas de água, uma abordagem da linhagem multimétrica.
A DQA sugere duas formas de efectuar esta definição, uma delas aparentemente mais simples, considerando
as ecorregiões aquáticas de Illiés (1967)7 no Anexo XI, que remetem a Península Ibérica para uma única
região homogénea. Considerar uma única ecorregião na Península Ibérica parece manifestamente simplista
face à sua diversidade limnológica8. Acresce que as regiões aquáticas de Illiés são baseadas na fauna, só
secundariamente nas características geomorfológicas e não incluem a flora.
Os tipos de massas de água e dos locais de referência podem ser obtidos a partir de classes pré-definidas de
factores físico-químicos (inseridos no sistema de ecorregiões), ou por utilização dos valores reais dos
mesmos factores físico-químicos, acrescidos de outros. O sistema A parece ser neste momento pouco
defensável para as condições ecológicas portuguesas, porque há poucos elementos sobre a distribuição das
comunidades biológicas que permitam confirmar se as divisões pré-estabelecidas são ecologicamente
correctas, ou mesmo se os factores físico-químicos considerados neste sistema são os determinantes. As
zonagens evidenciadas nos PBH por várias comunidades aquáticas fluviais (por exemplo no Tejo, Douro,
Vouga, Mondego, Lis, Guadiana e Sado), indicam não existir coincidência destas com a zonagem obtida a
partir das classes de factores pré-estabelecidas no sistema A. O sistema A é hierárquico e univariado, o que
lhe confere como vantagem uma grande solidez no caso dos factores e classes considerados serem
ecologicamente correctos, mas como desvantagem uma grande rigidez face a uma situação ecologicamente
diferente da de zonas temperadas e com poucos elementos biológicos conhecidos.
As comunidades biológicas apresentam diferentes expressões a diferentes níveis espaciais, nomeadamente
em termos de distribuição e na forma de reagir à perturbação humana. O facto da DQA considerar cinco
comunidades biológicas, dificulta de imediato a adopção da aproximação multivariada como base de
trabalho, porque conduz inevitavelmente a cinco zonagens biológicas diferentes. Por outro lado, no texto da
DQA não parece estar excluída a possibilidade da utilização de índices multimétricos (até agora utilizados
sobretudo nos EUA), para obter uma única imagem global do ecossistema.
Para além disso, a degradação das comunidades de cada ecótopo expressa-se naturalmente em termos
biológicos de formas diferentes. Segue-se que, para a definição do EQR (Ecological Quality Ratio) de locais
que não sejam de referência, é também necessário ter uma boa representatividade de informação da variação
biológica entre o estado excelente e o estado mau, representando um contínuo de degradação dentro de cada
tipo de massa de água.
Assim, para a implementação imediata da parte ecológica da DQA, será necessário um conhecimento
razoável dos elementos biológicos dos ecossistemas aquáticos portugueses (e respectivas características
hidrométricas e físico-químicas), que permita, desde já, a análise e validação dos tipos de massas de água
obtidos em função dos factores físico-químicos, e a selecção de locais de referência em cada um dos tipos,
com base nos elementos biológicos.

7
Illiés, J., 1967. Limnofauna Europea. Gustav Fisher. Verlag. Stuttgart, 474 p
8
c.f. Limnology in Spain, nº 8 da revista Limnetica, 1992, editada pela Associação Espanhola de Limnologia

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Presentemente, o conhecimento das comunidades biológicas encontra-se localizado em dadas áreas ou sub-
bacias, sendo o conhecimento generalizado muito escasso e pouco recente. Nunca foi feito qualquer
exercício de biotipologia aquática a nível nacional, existindo apenas exemplos a nível da bacia ou sub-bacia,
e para uma ou outra comunidade, pelo que a validação dos tipos de massas de água portugueses é
particularmente difícil. De facto, o conhecimento das comunidades biológicas e sua variação temporal
(incluindo amostragem e tratamento laboratorial e estatístico), numa rede alargada de locais de amostragem,
representa um elevado esforço de técnicos especializados, de tempo, com repercussões financeiras.
No âmbito do PNA, foram reunidos inventários de dados biológicos compatíveis com a DQA por junção de
informações dos PBH e de outras fontes que se espera poderem ser utilizados como auxiliares numa primeira
separação dos diferentes tipos existentes de massas de água. Para albufeiras, pode-se dizer que não existe
praticamente informação actualizada, em termos biológicos.
A DQA coloca, de facto, três questões metodológicas que devem ser resolvidas sequencialmente: a definição
dos tipos de massas de água; a definição dos locais de referência para cada tipo de massa de água; a
definição dos EQR.
Preconiza-se ainda que a implementação da DQA obedeça aos três seguintes pressupostos essenciais:
A - Os locais de referência de cada tipo de massa de água não teriam obrigatoriamente que ser
geograficamente mas sim ecologicamente próximos, ou seja, o tipo de rios de cabeceira de zonas
montanhosas e graníticas poderá eventualmente incluir as cabeceiras dos rios Mondego, Vouga, Zêzere
e Côa, e se for esse o caso, um local de referência do Mondego sê-lo-á também do Vouga ou Douro.
B - A tipologia de massas de água (ou agrupamento de locais ecologicamente homogéneos) definida a partir
dos parâmetros físico-químicos ou outros, têm de coincidir com a tipologia obtida a partir dos elementos
biológicos.
C - Os locais de referência de cada ecótopo têm que o ser para todos os elementos biológicos, embora não
necessariamente com a mesma magnitude de EQR para cada um destes.
Com base na caracterização e diagnóstico efectuada no âmbito do PNA, preconiza-se que a implementação
da DQA em Portugal conjugue os dois sistemas de bioavaliação referidos, ou seja, um modelo
multicomunitário e multimétrico envolvendo várias escalas (espécies, comunidades, ecossistemas),
estruturado e validado por métodos estatísticos univariados e multivariados.

7.1.6. Síntese e Diagnóstico: Problemas, Causas e Relevância


Em Portugal continental, encontram-se ainda áreas apreciáveis em que os ecossistemas de águas interiores
estão em boas condições ecológicas, sendo fundamental garantir a sua manutenção. Contudo, para gerir é
necessário igualmente conhecer, e as lacunas de conhecimento foram sendo sucessivamente identificadas ao
longo deste texto de caracterização e diagnóstico e adiante (7.1.7) sintetizadas. Identificaram-se igualmente
disfunções ecológicas, que urge minorar ou resolver. Neste subcapítulo, é efectuada a síntese dos 10
principais problemas diagnosticados, bem como as suas causas, espacialização, quantificação e relevância.
I - O Estado de Conservação de Muitas Comunidades Biológicas e Ecossistemas de Águas Interiores
Apresentam Sinais Evidentes de Degradação
Causas – A gestão corrente dos recursos hídricos tem posto mais relevância na garantia do uso da água e da
estrutura física do sistema para actividades e necessidades humanas, do que na necessidade de garantir um
bom estado de conservação dos ecossistemas; os represamentos causam sucessivas rupturas no contínuo
fluvial entre a cabeceira e a foz, com introdução de alterações radicais nos habitats a jusante e a montante de
cada barragem; ocorre uma alteração sistemática do regime natural de caudais líquido e sólido; ocorrem
alterações locais generalizadas das características dos habitats provocadas por actividades humanas, como
instalação de zonas de lazer, limpezas fluviais desequilibradas e extracção de inertes; ocorre degradação da
qualidade da água devido a fontes de poluição pontuais e difusas, biodegradáveis ou não;
Espacialização e Quantificação - mais dum terço do país apresenta troços fluviais nas classes I e II de
estado de conservação (muito a fortemente alterados); um total de 44% de troços fluviais estudados por todo
o país apresenta qualidade biológica da água com indicações de média a elevada contaminação orgânica.

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Relevância - A implementação da Directiva 2000/60/CE exige que os Estados-membros apliquem as


medidas necessárias para evitar a deterioração de todas as massas de água de superfície, e ainda de as
proteger, melhorar e recuperar, com o objectivo de alcançar o seu bom estado ecológico e químico.
II - Muitas Espécies e Ecossistemas de Águas Interiores de Elevado Valor para a Conservação
encontram-se ameaçados
Causas – Intervenções humanas, tal como referido para o problema anterior.
Espacialização - Situações de ameaça foram detectadas em todo o território continental.
Quantificação - Foram identificadas mais de 20 espécies de ictiofauna com estatuto de raras, em perigo,
vulneráveis ou comercialmente ameaçadas; foram identificadas como prioritárias para a conservação 37
espécies de vertebrados terrestres, dependentes do meio aquático; mais de centena e meia de espécies da
flora aquática e ribeirinhas apresentam valor para a conservação, das quais 26 possuem estatuto legal de
protecção; 18% do território nacional (1 572 899 ha) foram propostos como Sítios de Interesse Comunitário
para a conservação, dos quais uma parte significativa corresponde a zonas húmidas.
Relevância – Os ecossistemas dulçaquícolas apresentam um valor intrínseco na óptica da conservação da
natureza, aliás com correspondência em várias obrigações e directivas comunitárias e internacionais; muitas
espécies de elevado valor poderão desaparecer sem as necessárias medidas de conservação e gestão; risco de
diminuição da biodiversidade com o eventual desaparecimento de espécies raras ou endémicas, de flora e
fauna aquática e ribeirinha.
III - Desequilíbrios nas Comunidades Biológicas Autóctones em muitos Ecossistemas de Águas
Interiores em que ocorrem Espécies Exóticas
Causas - Introdução indevida ou inadvertida de espécies exóticas, animais ou vegetais; falta de acções de
gestão e controle adequadas e continuadas das espécies exóticas, quer vegetais quer animais; alterações das
condições originais dos habitats dos sistemas aquáticos, nomeadamente degradação da qualidade da água,
rectificações dos perfis fluviais transversais e longitudinais, represamentos e modificações do regime natural
de caudais.
Espacialização - Um pouco por todo o território, mas no caso da flora sobretudo no litoral e sul do país e no
caso das espécies piscícolas, mais incidente a sul do Douro.
Quantificação - Existem cerca de uma dezena de espécies piscícolas exóticas (tendo duas carácter invasor),
5 espécies de invertebrados (uma classificada como invasora) e cerca de 130 espécies vegetais exóticas
naturalizadas, das quais uma dezena já com carácter invasor.
Relevância – A introdução e expansão de espécies exóticas na natureza pode originar situações de predação
ou competição com espécies nativas, a transmissão de agentes patogénicos ou de parasitas, e afectar
seriamente a diversidade biológica, as actividades económicas ou a saúde pública, com prejuízos
irreversíveis e de difícil contabilização, como é alertado no Decreto-Lei 565/99. Esta legislação prevê um
Plano Nacional com vista ao controle ou erradicação das espécies não indígenas classificadas como
invasoras e já introduzidas na Natureza.
IV - A Galeria Ribeirinha encontra-se frequentemente degradada
Causas - A gestão dos bosques ribeirinhos é realizada de forma ecologicamente inadequada; frequentemente
realizam-se cortes desordenados ou rasos da vegetação arbórea-arbustiva e ocorrem plantações de espécies
exóticas.
Espacialização e Quantificação - De acordo com metodologia utilizada nos PBH, cerca de 40% das galerias
ribeirinhas de rios portugueses é muito esparsa ou inexistente (classes I e II de uma escala de 5 níveis).
Relevância - Diminuição ou perda dos seguintes efeitos benéficos ou características da galeria ribeirinha:
filtração de poluentes, fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos, retenção de sedimentos; abrandamento do
efeito das cheias; diversidade de habitats e biológica, produtividade biológica, corredores de dispersão e
migração de espécies; contribuição em matéria orgânica como fonte alimentar; qualidade visual e cénica.
V - Desaparecimento ou Declínio das Populações de Peixes Migradores Diádromos

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Causas – Construção de barragens e açudes que submergem os leitos de desova e constituem uma barreira às
migrações devido à inexistência de passagens para peixes ou à sua inoperância, ineficiência ou falta de
manutenção; sobre-exploração, de adultos ou de juvenis migradores (p.ex meixão), quer nas águas interiores,
quer nos estuários e zonas costeiras; utilização de artes de pesca ilegais tanto nas águas interiores como
estuarinas ou costeiras; poluição da água e destruição dos habitats de migração, de desova e dos juvenis.
Espacialização – Existem 162 grandes albufeiras de uso público e milhares de pequenas represas e açudes,
constituindo uma malha generalizada de obstáculos interferindo nas principais rotas migratórias nos rios e
afluentes principais. As rotas migratórias estão reduzidas a menos de um terço da sua extensão original nos
rios portugueses.
Quantificação – Não existe uma quantificação efectiva, adequada ou eficaz da redução das capturas de
peixes migradores diádromos, quer nas águas interiores quer nos estuários e zonas costeiras.
Relevância – Algumas espécies apresentam já os efectivos muito diminuídos ou praticamente inexistentes,
caso do esturjão, truta marisca e salmão; outras espécies evidenciam um declínio generalizado das suas
populações, em especial o sável, a savelha e a lampreia.
VI - Muitas Associações ou Populações Piscícolas de Águas Interiores apresentam sinais evidentes de
stresse ambiental, desequilíbrios e má condição biológica
Causas – Represamentos, causando rupturas sucessivas no contínuo fluvial e introduzindo alterações radicais
dos habitats a jusante e a montante das barragens ou açudes; alteração do regime natural de caudais líquido e
sólido; o regime de caudais ecológicos praticado em Portugal é ainda deficiente, apenas garantindo
percentagens mínimas de caudais modulares, muitos deles sem registo que permita a fiscalização; alterações
dos habitats devidas a artificialização das margens e dos leitos, canalizações, reperfilamentos, dragagens,
cortes excessivos de vegetação nos leitos e nos taludes; alterações locais das características dos habitats no
âmbito de actividades humanas como a instalação de zonas de lazer, limpezas fluviais e extracção de inertes;
degradação da qualidade da água por fontes de poluição pontuais e difusas, biodegradáveis ou não;
introdução acidental ou deliberada de espécies exóticas; interrupção das deslocações de muitas espécies de
águas interiores para fins reprodutivos ou outros; desconhece-se o sucesso das acções de repovoamentos
piscícolas correntemente efectuados e possíveis problemas associados; inexistência, inoperacionalidade,
ineficácia ou falta de manutenção das passagens para peixes.
Espacialização – Mais de um terço do país apresenta troços fluviais classificados como I e II de estado de
conservação (ou seja, muito a fortemente alterados).
Quantificação – Nos dois índices de integridade biótica (senso qualidade piscícola) desenvolvidos até ao
momento para associações ictíicas portuguesas (bacias do Tejo e Guadiana), mais de 50% dos locais
amostrados apresentavam valores correspondendo a integridade biótica média a muito baixa. Muito poucas
barragens possuem passagens para peixes e nas grandes barragens, praticamente todas são inoperacionais ou
de baixa eficácia. Das 24 passagens para peixes instaladas em pequenos aproveitamentos hidroeléctricos,
apenas cerca de um terço são adequadas e se encontram em boas condições de funcionamento.
Relevância – Perda da integridade biótica das populações e espécies piscícolas. Problemas do foro sanitário e
de qualidade de produtos de pesca. Regressão de espécies de interesse económico ou conservacionista.
VII - Ocorrem com frequência infestações de Plantas Aquáticas e Ribeirinhas
Causas – Eutrofização por fontes pontuais e difusas; introdução indevida ou acidental de espécies exóticas;
alteração do regime natural de caudais; falta de acções de gestão e de controlo adequado e continuado das
populações de plantas infestantes.
Espacialização – Generalidade dos cursos médios e inferiores de sistemas fluviais e associados (albufeiras,
valas de terra, pegos e pauis) e dos perímetros de rega, com ênfase para as bacias do Mondego, Tejo e Sado.
Quantificação – 25% de prejuízos graves para o regime hidráulico, 40% para actividades recreativas e 40%
de natureza conservacionista, de acordo com estimativa de prejuízos para os casos de infestações
identificados por entidades gestoras municipais, agrícolas e florestais de recursos hídricos e ambientais, num
inquérito a nível nacional.

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Relevância – Os crescimentos exacerbados de plantas aquáticas e ribeirinhas prejudicam o uso da água e


causam desequilíbrios nas comunidades biológicas, inclusivamente o desaparecimento de fauna e flora
autóctones; ocorre uma degradação acentuada dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos, incluindo perda de
qualidade da água e desoxigenações; as infestações causam problemas de segurança e saúde pública –
afogamentos, doenças, odores – e impedem o uso recreativo e a navegação; apresentam frequentemente
graves implicações na utilização da água para rega, com aumento de encargos na manutenção dos sistemas
de regadio e drenagem e na limpeza e manutenção de aparelhagem de rega.
VIII - Decorre uma Destruição e Degradação Progressivas das Zonas Lacustres e Paludosas
Causas – Dragagens e drenagem de zonas lacustres e paludosas; eutrofização acelerada da maior parte destas
massas de água; poluição e acumulação de lixos e detritos.
Espacialização – Por todo o território, mas com ênfase nas zonas litorais.
Quantificação – Desconhecida.
Relevância – Trata-se de ecossistemas complexos, caracterizados por propriedades hidrológicas, biológicas e
ecológicas próprias, proporcionando uma diversidade biológica relevante; a área natural de zonas lagunares,
lacustres e paludosas do país é já muito reduzida, devendo ser conservada a todo o custo.
IX - Muitas Albufeiras apresentam sinais evidentes de Eutrofia e Progressão Trófica
Causas: Degradação da qualidade da água devido a fontes de poluição pontuais e difusas, biodegradáveis ou
não, mas sobretudo entrada e acumulação de nutrientes no sistema ecológico (a aplicação de técnicas de
regressão trófica é incipiente); não existe a possibilidade de descargas a várias profundidades para a maioria
das albufeiras.
Espacialização: Em todo o território nacional, mas com ênfase no centro e sul.
Quantificação: De acordo com a informação disponível, 42% das albufeiras portuguesas são eutróficas e
muitas outras apresentam evidente progressão trófica.
Relevância: Ocorrência em muitas albufeiras de situações de ruptura ecológica, incluindo espumas e limos
na superfície e na massa de água; “bloom” de algas produtoras de toxinas e mortalidades extensivas de
peixes; problemas de saúde pública; efeitos nefastos da eutrofização na potabilidade da água; prejuízos nas
actividades náuticas, de lazer e desportivas; diminuição do valor piscatório das albufeiras.
X- Grande parte das Comunidades Biológicas das Albufeiras Portuguesas encontram-se sujeitas a
constante Stress Ambiental
Causas: Não existe uma conciliação do regime de uso da água das albufeiras com o ciclo de vida das
comunidades biológicas aí existentes; ocorre progressão trófica em muitas albufeiras; a qualidade da água
encontra-se muitas vezes degradada devido a fontes de poluição pontuais e difusas, biodegradáveis ou não.
Espacialização: Em todo o território nacional, mas com ênfase no centro e sul.
Quantificação: Decréscimo generalizado das capturas e/ou tamanhos apetecíveis de espécies piscícolas para
a pesca desportiva, sobretudo nas albufeiras do centro e sul; diminuição do interesse sócio-económico
associado a actividades de lazer.
Relevância: As albufeiras são massas de água lênticas permanentes que, embora artificiais, fazem parte
integrante da paisagem ibérica. Embora se trate de massas de água cuja criação se relaciona com objectivos
de uso humano da água – abastecimento, rega, hidroenergia, outros - , constituem, todavia, ecossistemas
onde espécies e comunidades se estabelecem, com uma dinâmica própria. Algumas das comunidades nelas
existentes, como a ictiofauna, são utilizadas pelas populações humanas em actividades de lazer e recurso
piscatório, constituindo um polo importante de desenvolvimento regional.

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7.1.7. Lacunas do Conhecimento


Não existe um conhecimento e uma monitorização da qualidade biológica da água, complementar da
fisico-química, nem do estado ecológico de sistemas fluviais necessários para a condução das acções de
conservação e recuperação.
Efectivamente, para muitas espécies dulçaquícolas existe ainda um desconhecimento da sua distribuição, dos
seus habitats e do estado de conservação das populações.
Verifica-se especialmente um desconhecimento generalizado dos valores naturais associados a zonas
lacustres e paludosas.
A metodologia mais adequada para a determinação do estado ecológico dos sistemas fluviais e das albufeiras
encontra-se ainda em discussão.

7.2. Ecossistemas Aquáticos - Estuários e Águas Costeiras

7.2.1. Introdução
O Valor dos Estuários
Os estuários são ecossistemas complexos e insuficientemente conhecidos que se tem vindo a compreender
desempenharem um papel fundamental no equilíbrio global da Biosfera.
Na transição entre as águas interiores e o Mar asseguram a reciclagem biogeoquímica de solutos e compostos
e, também, equílibrios mais delicados, como os relacionados com a produção de gases controladores do
clima. Além do mais, são importantes zonas de depuração, fornecendo os seus sapais "tratamento"
alternativo e gratuito de muitas substâncias indesejáveis.
São também sistemas altamente produtivos que, em muitos casos, exportam essa produtividade (outwelling)
e proporcionam condições óptimas de reprodução e viveiro a cerca de 70% dos stocks de espécies piscícolas
marinhas, contribuindo decisivamente para o repovoamento das zonas costeiras. A importância biológica dos
estuários reflecte-se ainda nas imensas populações de aves de invernada ou nidificantes, e na função que
desempenham para inúmeras espécies com valor comercial.
As excelentes condições que oferecem, no entanto, levam à concentração de populações humanas e de
actividades económicas nas suas margens, agravando as pressões que se exercem sobre os seus ecossistemas.
Modelo Adoptado
Uma dificuldade inicial que decorre da malha do mosaico geomorfológico e biogeográfico que constitui o
território nacional é o número e variedade dos sistemas estuarinos e a desproporção entre a importância dos
problemas a considerar e a necessidade do seu aprofundamento que resultaria de uma aproximação
exaustiva, que eventualmente se adoptasse, num âmbito do PNA.
Assim, o essencial do esforço produzido incidiu apenas nos estuários de maior relevância nomeadamente o
Minho, o Douro, a Ria de Aveiro, o Tejo, o Sado, a Ria Formosa e o Guadiana, apresentando-se no Quadro
7.2.1 de um modo sintético, uma comparação entre este conjunto de sistemas estuarinos tratados com maior
profundidade, e o conjunto dos restantes.
Considera-se, com efeito, que os estuários do Minho e do Douro são em grande medida representativos dos
outros estuários do Norte (Lima, Cávado e Ave), sendo além disso, pelas bacias internacionais que drenam e
pelos recursos naturais que suportam, certamente os mais importantes.
O mesmo se passa com o Guadiana que será em grande medida representativo dos estuários do Sul (Mira,
Ribeira de Seixe, Odeáxere e Arade) sendo também, pela bacia internacional que drena e pelos recursos
naturais que suporta, indiscutivelmente o sistema mais importante.
Por outro lado a Ria de Aveiro e a Ria Formosa são as formações lagunares mais importantes da costa
portuguesa.

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Quadro 7.2.1- Comparação dos Sete Principais Estuários Portugueses com o Conjunto dos Restantes

Sistema/ Rec. Hídricos Área Tot. do Área Tot. da Área Classif. Popul. Bacia/ e Outros Critérios
Critério Sup. (hm3) Sistema (ha) Bacia (km2) (ha) Marginal*
Principais Estuários
e Lagoas Costeiras
Minho 14 458 2 500 17 081 4 017 1 000 000/ 130 000 Bacia Internacional
Douro 22 635 980 97 682 --- 4 123 300/700 000 Bacia Internacional
Ria de Aveiro 2 500 11 300 3 635 30 000 680 000/400 000
Tejo 16 678 32 000 80 500 45 071 9 030 000/2 500 000 Bacia Internacional
Maior estuár. europeu
Sado 1 320 23 560 7 672 30 200 270 000/ 660 000 Maior bacia hid. port.
Ria Formosa 79 11 - 14 800 4 048 18 400 85 – 330 000
Guadiana 7 295 2 200 66 800 48+2 089 1 900 000/60 000 Bacia Internacional
Sub-total 64 645 8 340 277 418 129 825 /4 780 000
Outros Estuários e
Lagoas Costeiras
Lima 3 349 100 2 480 1 600 80 000 Bacia Internacional
Cávado 2 124 < 100 1589 30 000
Ave 1 295 < 100 63 000
Esmoriz 90 74 210
Mondego 2 678 6 644 760 61 000 Maior rio português
Lis 259
S. Martinho do Porto 90
Lagoa de Óbidos 600 440 2 600 55 000
Lagoa de Albufeira 160 106
Mira 328 26 000 Estuário dito pristino
Odeáxere 32/0,9
Ria do Alvor 400 250 66 000
Arade 110/1,1
St. André 230 140
Melides 40 56

Fonte:PNHE, 1994; Coba, 1995

O Estuário do Tejo, considerado o melhor porto natural da Europa, é um dos maiores estuários europeus e,
neste conjunto, um caso único que deverá sempre ser incluído na análise de qualquer PNA. Associado ao
Tejo, quer em termos de história geológica e ecologia quer em termos de gestão e planeamento, está
naturalmente o Sado, o único estuário português que tem directamente associada uma reserva natural
submarina.
A população na envolvente dos sete sistemas considerados é actualmente de 4 780 000, ou seja, cerca de
50% da população do Continente. Os recursos hídricos superficiais que os alimentam perfazem por outro
lado de cerca de 64 645 hm3 ou seja 89% dos recursos superficiais do Continente. Finalmente as áreas
classificadas, com estatuto de conservação especial, que os integram representam 129 825 ha num total de
690 536 ha em Portugal continental, ou seja 19%.
Critérios que, pela importância dos investimentos que implicam e pela extensão das áreas de intervenção,
necessariamente consideradas nas futuras soluções de Planeamento, parecem razoáveis para justificar a
selecção adoptada.

7.2.2. Os Principais Estuários


7.2.2.1. Características Físicas e Hidrodinâmicas
Localização, Bacias Hidrográficas e Caudais Afluentes

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 33/67 (7 - II)


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

A localização aproximada dos sete principais sistemas estuarinos e lagunares portugueses apresenta-se na
Figura 7.2.1. As áreas das respectiva bacias e o conjunto dos caudais em regime natural, caudais de ponta,
caudais e recursos médios anuais actuais apresentam-se no Quadro 7.2.2.
Estes sistemas recebem o escoamento de bacias hidrográficas muito diferentes com áreas que vão de 3 635 a
97 582 km2 e das quais 4 são internacionais. Essas bacias internacionais juntamente com a do Lima
representam no seu conjunto 46 % da área total da Península Ibérica e 45% dos seus recursos hídricos de
superfície (INAG, 2001).
Por outro lado, os caudais médios afluentes variam actualmente de 2,5 m3s-1 na Ria Formosa a 541 m3s-1 no
Douro.
Os caudais de ponta podem ir de algumas dezenas de m3s-1 (Ria Formosa) até aos 18 000 m3s-1 no rio Douro
(Régua). O conjunto destes escoamentos apresenta irregularidade interanual significativa no conjunto da
bacia, que aumenta, naturalmente, para Sul, mas que, na bacia do Douro, é superior à do Vouga.

Quadro 7.2.2 - Bacias Hidrográficas e Caudais

Parâmetro / Sistema Minho Douro Ria de Tejo Sado Ria Guadiana


Aveiro Formosa
2
Área Bacia(km ) 17 081 97 682 3 635 80 700 7 672 4 048 66 800
3 -1
Caudal médio natural (m s ) 460 710 80 500 40 N.A. 200
3 -1
Caudal de Ponta (m s ) >6 100 >18 000 N.A. > 10 000 470 <100 > 8 127
3 1
Caudal médio actual (m s ) 339 541 64 400 7,7 2.5 131
3
Regime Natural (hm ) 14 458 22 400 2 500 16 336 1 320 79+x 7 295
Irregularidade (máx./mín.) 4 ,1-4,8 5,1-37,.7 4,4-9,6 10-104 14,8-180 16,1-100 16,2-179,7

Áreas, Volumes, Profundidades Médias, Prismas de Maré


As áreas, volumes, prismas de maré e profundidades médias dos sistemas estuarinos em consideração
apresentam-se no Quadro 7.2.3.
Não se conseguiram por exemplo apurar valores credíveis para a profundidade média do estuário do Minho.
Por outro lado, este estuário terá uma superfície de apenas 500 ha, numa extensão de 8,9 km. Segundo
outros, no entanto, a influência da água do mar faz-se sentir até uma distância de 35 km a montante da
embocadura, ou seja, até Valença, e a influência da maré irá até 42 km da barra. A sua área será assim
realmente de 2 000 a 3 000 ha.
Também para o Douro há vários valores publicados sobre o prisma de maré no estuário, associados a
diversas metodologias e hipóteses de caudais e coeficientes de maré (secção Cantareira – Cabedelo). A
morfologia da embocadura tem também influência sobre o prisma.
A Ria de Aveiro por outro lado integra-se numa área húmida de 43 km2 em baixa-mar, e 47 km2 em preia-
mar, ocupando a laguna propriamente dita, em preia-mar de águas vivas, uma área de apenas 11 300 ha.
Quanto à Ria Formosa, os valores expressos na bibliografia, para a área do sistema, variam entre 84 km2 e
160 km2, muito provavelmente devido ao conceito de área usado, que no primeiro caso diz respeito apenas à
área submersa, e no segundo caso a toda a área da laguna, ocupada pelos diferentes constituintes
morfológicos.

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Quadro 7.2.3 - Morfometria

Parâmetro Minho Douro Ria de Aveiro Tejo Sado Ria Guadiana


/Sistema Formosa
Área do Estuário (ha) 2-3 000 980 11 300 32 500 22 600 14 800 2 200
Volume médio (hm3) 90 59 1 900 500 78 142
3
Vol. Residente (hm ) 30 66 1 600 40
3
Prisma de maré (hm ) 60 10,5-26,5 80 600 290 115 30
Prof Média (m) 3,5 6,0 2,0 10,6 2,2 2,0 6,5

Amplitude, Correntes e Propagação da Maré


A onda de maré astronómica que força a circulação na embocadura dos sistemas costeiros portugueses tem
basicamente as mesmas características desenvolvendo regimes mesotidais, predominantemente semi-diurnos,
com amplitudes que variam entre 1,3 e 3,5 m. A sua propagação assume no entanto características muito
diversas no conjunto dos sistemas considerados.
No estuário do Minho a maré apresenta uma assimetria diurna pronunciada de cerca de 0,5 m. A velocidade
das correntes pode atingir 3 m s-1. No estuário do rio Douro a propagação da onda de maré gera também
correntes fortes (PBH,1999). Na Ria de Aveiro o comportamento da onda de maré mudou substancialmente
com a abertura e fixação da sua embocadura. Cerca de 20% do prisma de maré é desviado para o canal de
Mira enquanto os restantes 80% se distribuem equitativamente pelos canais de S. Jacinto a Ovar e da Ilha do
Monte a Farinha. Nas extremidades dos canais verifica-se um atraso e desaceleração na propagação da onda
de maré que atinge, no canal de Ovar, 5 horas.
No estuário do Tejo, os atrasos da propagação da maré podem atingir, cerca de 2 horas em relação a Paço de
Arcos. A amplitude da maré aumenta continuamente para montante até um máximo que se situa entre
Alcochete e Póvoa de Santa Iria, em águas vivas, e um pouco mais a montante, em águas mortas. A jusante,
as correntes de vazante apresentam velocidades superiores às de enchente, devido à enchente apresentar uma
duração superior à vazante. A excursão de maré varia entre 6 000 e 20 000 m.

Figura 7.2.1 - Localização dos Estuários e Lagoas Costeiras Considerados

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 35/67 (7 - II)


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

No estuário do Sado a circulação produzida sobretudo pela maré, é mais intensa no canal sul do que no canal
norte determinando, os bancos de areia que os separam, a forma dos perfis temporais de velocidade no canal
norte. A velocidade máxima (superior a 1 m s-1) foi medida na zona da Califórnia (canal sul).
As marés na costa da Ria Formosa propagam-se de Oeste para Leste, variando os níveis máximos de preia-
mar entre 3,66 e 3,87 m e os mínimos de baixa-mar entre 0,29 e 0,42 m. Em marés mortas a velocidade das
correntes é de 1,5 m s-1 na vazante e de 1 m s-1 na enchente, aumentando para 2,5 a 3 m s-1 na barra de
Faro-Olhão, em vazante de águas vivas.
No Guadiana o atraso médio da maré entre Vila Real de Santo António e o Pomarão é da ordem de 2 horas e
meia, excedendo as vazantes, no Pomarão, as enchentes, em quase 1 hora. As correntes máximas
(observações de 1989/1990) são da ordem de 1 – 1,5 m s-1, sendo superiores no Inverno.
A sistematização dos dados referidos encontra-se no Quadro 7.2.4.
Quadro 7.2.4 - Amplitudes, Correntes e Excursão de Maré

Parâmetro /Sistema Minho Douro Ria de Tejo Sado Ria Guadiana


Aveiro Formosa
Amplitude da maré (m) 1,5-4,0 1,2-2,8 1,2-3,5 0,8-4,0 2,7 2,1-3,0 1,3-3,5
(1,9) (2,0) (2,60)
-1
Velocidades da Corrente (m s ) 3,0 0,5-4,0 0,5-3,0 0,5-2,0 0,2-3,0 1,0-1,5
Excursão de maré (km) 6-22
Propagação da maré (km) 42 21 80 70 70

Salinidade e Estratificação
O Número de Estuário (Q/Tp, em que Q é o caudal durante um ciclo de maré e Tp o respectivo prisma de
maré), permite obter indicações sobre se o estuário será estratificado (Q/Tp >1), parcialmente misturado,
(Q/Tp ≅0,25-0,45), ou homogéneo, (Q/Tp <0,1) (Hansen & Ratray, 1966; Bowden, 1980).
Os resultados apresentam-se no Quadro 7.2.5.
A análise destes sistemas sugere que há três sistemas estratificados e claramente dominados pelo rio - Minho,
Douro e Guadiana- dois sistemas permanentemente misturados e claramente dominados pela maré - Sado e
Ria Formosa - e dois sistemas intermédios, Ria de Aveiro e Tejo, parcialmente estratificados, com influência
importante quer do rio quer da maré. Tratam-se naturalmente de condições médias o que significa que,
devido à irregularidade dos regimes hidrológicos portugueses, a informação empírica disponível pode,
contrariar estas previsões.
No Minho a influência da água do mar faz-se sentir até 35 km a montante da embocadura, ou seja, até
Valença. A estratificação, não muito acentuada em baixa-mar, será mais clara em preia-mar. Em marés
vivas, a maré domina, tendendo-se para um estuário do tipo C, ou verticalmente homogéneo. De Dezembro a
Março, o estuário será, em todo o caso, do tipo A ou em cunha salina, e, a maior parte do ano, parcialmente
estratificado com um gradiente horizontal importante.
No Douro a intrusão salina varia ao longo do ano, fortemente condicionada pelo caudal fluvial e pela
amplitude da maré. A extensão desta intrusão tem vindo a aumentar agravando-se a partir de 1981 e pondo
em causa as antigas captações de água de Zebreiros. Num ano com caudais da ordem de 438 ± 80 m s , é
3 -1

9
possível detectar água polialina (> 18 psu ) junto à barragem de Crestuma-Lever, durante o Verão. Em
situações de cheia o fluxo de água doce é dominante e forma-se uma nítida cunha salina. No entanto para
3 -1
caudais fluviais de > 3 000 m s , a intrusão salina no interior do estuário, em preia-mar, não progride para
além da envolvente à barra (700 m da barra).
O processo de mistura, no Douro, não é suficiente para eliminar a circulação tipicamente estuarina,
3 -1
mantendo-se a estratificação, durante a enchente. Mesmo para caudais do rio de 100 m s , verifica-se
estratificação, variando a salinidade entre < 0,5 psu à superfície e > 30 psu no fundo (PBH, 1999).

9
psu – “practical salinity units”

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Na Ria de Aveiro a salinidade próximo da barra varia entre 20 e 35 psu, enquanto nas regiões onde confluem
os afluentes, nomeadamente no rio Vouga e no rio Antuã, se registam valores médios entre 2,8 e 9 psu e
entre 9,7 e 34 psu, respectivamente. Como em outros sistemas costeiros portugueses, o efeito fluvial só se faz
sentir em períodos de cheia.
No estuário do Tejo a intrusão salina pode ultrapassar Vila Franca de Xira em estiagens prolongadas. É
parcialmente estratificado para a gama corrente de caudais fluviais, podendo no entanto exceder um pouco os
limites desta classificação e aproximar-se da situações de "verticalmente homogéneo" e "cunha salina" para
3 -1 3 -1
caudais inferiores a 100 m s e superiores a 1 000 m s respectivamente. Da análise de Hansen & Rattray
(1966), por outro lado, resulta um estuário preferencialmente "estratificado" em águas mortas (2b), e
"moderadamente estratificado" em águas vivas (2a), o que confirma a influência da força da maré no seu
comportamento hidrodinâmico.

Quadro 7.2.5 - Salinidade e Estratificação

Critério /Sistema Minho Douro R. Aveiro Tejo Sado Ria Guadiana


Formosa
N.º de Estuário (%) 11 57 2,65 1,49 0,12 0,05 13,4
Tipo C, Ag. 2 b, 2a
Análise da Vivas Hansen &
estratificação Tipo A, no Rattray
Inverno
Parcialmente Não há Bem
Outra informação Estratificado Estratificado estratificação Parcialmente misturado Bem Estratificado
em geral vertical a não estratificado excepto em misturado excepto em
ser em cheia em geral baixa-mar e estiagem
Estratificado cheia
no Inverno
Intrusão barras do Vouga montante de
salina máxima 32 km 21km e Antuã Vila Franca de 70 km Mértola
Xira

O estuário do Sado é praticamente homogéneo na vertical, a maior parte do tempo, à excepção do Canal de
Alcácer. Pode no entanto estratificar em baixa-mar, em situação de cheia. Pode também apresentar um
gradiente transversal de salinidade que vai até 2 psu.
No interior da Ria Formosa o clima local e balanço hídrico permitem, no Verão, a ocorrência de situações de
sobressalinidade. Lima & Vale, (1977) mediram, com efeito, em Julho de 1976, 38,3 psu "em zonas
interiores" e 37,6 psu na barra, nas estofas. Esta sobressalinidade baixa quando chove. Nos termos desta
análise não fará sentido em geral falar de estratificação da coluna de água. Contudo, para maiores caudais do
rio Gilão (Março/Abril de 1977) é referida uma influência detectável de água doce junto à sua foz, com
variações da salinidade entre 33 psu e 37,2 psu, na barra de Tavira.
No Guadiana, em condições médias, a salinidade à superfície vai desde 25,7 psu registados no baixo estuário
até 0,01 psu no limite da intrusão salina. Nos termos do Número de Estuário, o Guadiana deverá ser bem
misturado para Q ≅ 170 m3 s-1, parcialmente misturado (Q/Tp ≅ 0,2-0,45) para Q ≅ 400 m3 s-1; e estratificado,
excepto em marés vivas, para Q ≥1 000 m3 s-1. Este estuário deveria portanto comportar-se como bem
misturado (rf = 3,1) ou como parcialmente misturado a maior parte do tempo. A estratificação no entanto
será quase permanente e mais pronunciada a jusante; no baixo estuário verificam-se com efeito diferenças de
salinidade de 15 psu entre superfície e fundo na Primavera e Verão.
Tempo de Residência da Água Doce, Tr
Dispõe-se de estimativas rigorosas dos tempos de residência da água doce, Tr, para uma gama variada de
condições hidrográficas no Tejo e no Guadiana, o que não acontece no caso do Minho, Douro, Ria de
Aveiro, Sado e Ria Formosa.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 37/67 (7 - II)


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Pela importância das indicações que dá sobre o escoamento de poluentes e seston, apresentam-se estimativas
aproximadas para este parâmetro nestes cinco sistemas. Pode dizer-se que os Tr, extremamente variáveis,
variam de aproximadamente 1,1 dias no Douro a 112 dias no Sado e que, de um modo geral, aumentam
também para o Sul. O conjunto apresenta-se no Quadro 7.2.6.
Quadro 7.2.6 - Tempo de Residência da Água Doce

Parâmetro /Sistema Minho Douro Ria de Tejo Sado Ria Formosa Guadiana
Aveiro
2-60
Tempo de Residência 2,0 1,1 3,7 8-40 112 20 -75 (5.2)
(dias) 3 -1
(100 m s )

Caudais de Renovação, Dispersão, Rearejamento e Mortalidade Bacteriana


Calculam-se taxas ou caudais de renovação (Tp/Vo) para o conjunto de sistemas estuarinos considerados.
No Minho e nos dois sistemas lagunares costeiros (Aveiro e Ria Formosa) a taxa de renovação é superior a 1
indicando uma potencial renovação intensa da massa de água em cada ciclo de maré. Em particular na Ria
Formosa as trocas de água entre o interior da Ria e o Oceano serão muito intensas, renovando-se a totalidade
da massa de água da Ria pelo menos uma vez em cada ciclo de maré. Seguem-se-lhes o Sado, o Tejo o
Douro e o Guadiana, por ordem decrescente de taxa de renovação.
O conjunto apresenta-se no Quadro 7.2.7 juntamente com coeficientes de dispersão Kxx, medidos no estuário
do Tejo, coeficientes de difusibilidade k calculados para o Sado e de taxas de mortalidade bacteriana, T90, nas
águas do Tejo e costeiras adjacentes, taxas que serão, em grande parte, válidas para a costa portuguesa.
Apresentam-se ainda indicações qualitativas da capacidade de rearejamento dos sistemas.
Quadro 7.2.7 - Renovação, Dispersão, Rearejamento e Mortalidade Bacteriana

Parâmetro Minho Douro Ria de Aveiro Tejo Sado Ria Formosa Guadiana
/Sistema
Renovação
Tp/V0 2,0 0,30 1,5 0,38 0,58 1,0-3,7 0,21

Dispersão e 100-2000
Difusibilidade
2 -1
(m s ) 83

Rearejamento* xx x xxxx xxxx xxx xxxx x


T 90 (min) 30-120
* Maior (xxxx) a menor (x) capacidade de rearejamento

Dinâmica Sedimentar
O caudal sólido transportado pelo rio Minho, estimado em 806 000 m3 /ano (ou cerca de 2 100 000 ton/ano),
dos quais cerca de 15% são areias, contribuirá certamente para o assoreamento que se verifica nos troços
finais do estuário, com uma profundidade máxima de apenas -11 m Z.H.
O caudal sólido médio afluente ao estuário do Douro foi estimado, em condições de reduzida artificialização
da bacia, em 1-2 x106 m3 /ano. Este caudal (areias) foi reduzido acentuadamente nas últimas décadas pela
intercepção por aproveitamentos hidroeléctricos e pela extracção de sedimentos, podendo actualmente, ser
inexpressivo ou atingir valores da ordem de algumas centenas de milhar de m3.
O caudal sólido médio afluente à laguna de Aveiro foi estimado em 240 000 m3 /ano, sem que praticamente
as estruturas hidráulicas existentes interfiram com o seu transporte. O rio Vouga contribui com cerca de 75%
deste caudal. A análise comparativa de dois levantamentos hidrográficos gerais da Ria (1952-53 e 1987-88)
estimou, neste período, um aprofundamento médio de 0,4 m, em grande parte explicado pelas dragagens
efectuadas para a abertura e manutenção da barra.

38/67 (7 - II)
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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Do ponto de vista sedimentar o estuário do Tejo parece depender sobretudo de temporais e cheias, tendo
estas uma contribuição determinante, calculada em 1-77× 106 t /ano. As taxas médias de sedimentação
calculadas no período de 1983-1984, apontam para valores de 1,1 a 1,5 cm /ano. Entre 1928 e 1986, 65% do
material depositado terá permanecido no sistema sem ser remobilizado. Observa-se intenso assoreamento na
zona montante do estuário, devido à perda de competência do sistema fluvial, e por constituir uma área
preferencial de retenção de sedimentos.
No estuário do Sado o processo sedimentar é complexo registando-se numerosas instâncias de erosão da
frente do sapal, mas também de acreção, função do coberto vegetal, da acção da fauna e das características
sedimentológicas do sapal. Estima-se uma entrada de 15 000 t de sólidos suspensos por ano (SPM). O
processo de recessão das frentes do sapal é máximo nas zonas expostas à nortada, mas tem um valor médio
geral (1978-1983) de 17/ano. No entanto, em muitos pontos o balanço sedimentar é favorável à acreção,
atingindo valores de 1,0 m/ano de progradação na Mitrena e Monte do Pinheiro, e valores de 0,8-3,3 mm
ano-1 de acreção vertical nos sapais, em resultado de contribuições sedimentares variadas, incluindo a fluvial.
Na Ria Formosa a dinâmica das partes laterais do sistema, sobretudo a Península do Ancão, será dominada
por processos relacionados com a ondulação. Nas ilhas, compridas e estreitas, de cordão dunar único, os
galgamentos oceânicos são frequentes. As ilhas da parte central do sistema (parte E da Ilha da Barreta e
Ilhas da Culatra, Armona e Tavira) são muito largas, constituídas por vários cordões dunares, sendo os
galgamentos oceânicos menos frequentes e a morfologia profundamente influenciada por uma complexa rede
de esteiros. Os processos relacionados com as marés dominam o comportamento sedimentar. O corpo
lagunar definido por este sistema de ilhas barreira, encontra-se preenchido, em grande parte, por sedimentos
finos, constituindo designadamente sapais e planícies intertidais. O assoreamento da laguna continua
actualmente.
No Guadiana as taxas de exportação de material sólido de 1,3 – 2,6x106 t/ano estimadas para Alqueva.
convergem com um transporte sólido estimado a jusante, de 0,01 – 2,9x106 t/ano, em ano médio de 1x106 t
ano-1 e com medições recentes em Sanlúcar de Guadiana de 7,2x105 t/ano. A sua embocadura caracteriza-se
pela transposição da barra por areias em ambos os sentidos, não constituindo os molhes Este e Oeste,
actualmente, barragens efectivas ao transporte aluvionar litoral (INAG, 1998).
No quadro 7.2.8 estão sintetizados os dados referidos.
Quadro 7.2.8 - Dinâmica Sedimentar

Parâmetro Minho Douro Ria de Tejo Sado Ria Guadiana


/Sistema Aveiro Formosa

Input de SST 2 100 000 630 000 8 000 000 15 000 N.A. 1 000 000
Input de areias 300 000 2 300 000- 1 200 000
-1
( t ano ) 4 700 000
Zonas de acreção* xxxx xx xxx x xxx
taxa de sedimentação N.A. N.A
-1
(cm ano ) +1,7 0,8 –1,5 0,08-10,6
Zonas de Erosão* x xxxx xxxx x xxx xxxx
-1
taxa de erosão -3,7 -17 cm ano
-1
(cm ano ) (recessão)
* Maior (xxxx) para menor (x) número de zonas

Características Geomorfológicas e Hidrodinamismo


Nalguns destes sistemas as características geomorfológicas específicas têm incidência directa no seu
hidrodinamismo. É o caso do Douro, do Tejo e dos dois sistemas lagunares principais.
A morfologia da barra do Douro é, com efeito, altamente variável e influencia a hidrodinâmica em todo o
estuário. É condicionada fundamentalmente pelo regime de caudais e pela acção da agitação. O sistema
hidrodinâmico configura o Cabedelo de forma a procurar respostas à acção simultânea das marés, agitação e
correntes fluviais. Para pequenos caudais fluviais, a extremidade do Cabedelo tende a projectar-se para Este

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 39/67 (7 - II)


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

(montante) por acção da agitação. Para caudais de cheia a tendência verifica-se no sentido Oeste (jusante).
Cessando o período de cheia essa protuberância tende a ser progressivamente erodida pela agitação.
O comportamento da onda de maré no interior da Ria de Aveiro mudou, como referido, substancialmente
com a abertura e fixação da sua embocadura em 1808. O prisma de maré varia entre 22×106 m3 e 92×106 m3,
com caudais de fluxo e refluxo que atingem 1 700 m3s-1 e 6 000 m3 s-1, respectivamente.
Na barra do Tejo, entre 1939 e 1985, o banco do Bugio ou Cachopo Sul avançou cerca de 700 m para norte
sofrendo uma erosão generalizada e o Cachopo Norte ou Bico do Pato evoluiu cerca de 800 m para sudeste.
Na Ria Formosa 70% das trocas de água entre a laguna e o mar dão-se através das barras de Faro-Olhão e
Armona. Parece haver um encaminhamento do escoamento da barra de Armona para a de Faro-Olhão, que se
traduz em volumes diferenciados de enchente e de vazante nas duas barras. O fluxo resultante, em maré
viva, atinge um volume de 17x106 m3, gerando-se intensas velocidades residuais em sentido Leste-Oeste no
canal que liga as duas barras.
Interacções com as Águas Costeiras Adjacentes
Na zona de influência da pluma do Minho na plataforma costeira, existe um importante depósito sedimentar.
A taxa de sedimentação medida é no entanto baixa, variando entre 0,1 cm/ano e 0,23 cm/ano.
No estuário do rio Douro, a configuração em vale encaixado, a topografia muito irregular do leito e o caudal
muito significativo do rio, favorecem o escoamento da água estuarina para fora dos limites do estuário, quer
durante a vazante, quer durante a enchente, se o fluxo de montante for elevado. Em regime natural, e antes da
construção das barragens em 1930, o transporte litoral total de areias na costa portuguesa a norte da 41EN
era da ordem de 2x 106 m3 /ano, com o rio Douro a assegurar sozinho cerca de 90% deste total.
Na zona de influência da pluma deste estuário na plataforma costeira, existe um importante depósito
sedimentar cuja espessura da camada superficial varia de 2 a 5 m. A composição dos sedimentos é
fundamentalmente de origem terrígena. A taxa de sedimentação varia de 0,17 a mais de 0,4 cm/ano.
O Estuário do Tejo, que recebe de 1-77 x 106 t/ano de sedimentos da bacia, descarregará no mar, em anos
relativamente secos, 0,4-1 x 106 t de SPM. Corresponde esta descarga ao mais importante depósito
sedimentar fluvial na plataforma ocidental portuguesa, com 25 m de espessura e uma extenção de 560 km2.
No Sado os teores de SPM na barra são 4 vezes inferiores aos do Tejo, o que traduz a proporção relativa das
duas contribuições.
A carga média de sedimento em suspensão, transportada anualmente para o mar pelo Guadiana, será da
ordem de 106 toneladas, ordem de grandeza que é atingida em regime de cheia, numa semana. As cheias são
consequentemente um factor dominante no transporte sedimentar do Guadiana (PBH Guadiana,1998)
Estudos sobre o padrão de distribuição de matéria particulada em suspensão na plataforma continental
adjacente ao rio Guadiana, apontam para que o valor mais elevado ocorrerá na sua embocadura, o que
confirma a importância deste rio para o fornecimento de sedimentos para a costa adjacente.
7.2.2.2. Comportamento Biogeoquímico
Oxigénio Dissolvido
As gamas de concentração de oxigénio dissolvido (OD) observadas nos estuários e lagoas costeiras em
apreço é, em geral, elevada (Quadro 7.2.9).
Observam-se, porém, pontualmente, concentrações que revelam situações de hipóxia. É o que se verifica no
estuário do Minho, na região da confluência do rio Louro, (mediana de 40% saturação de OD), e no estuário
do Douro, em que na camada mais profunda a concentração em oxigénio pode descer para valores da ordem
de 20-30% de saturação. Na Ria de Aveiro foram observadas concentrações de oxigénio próximas da anoxia
(9,4%). No Tejo, a influência das cargas poluentes pode ser localmente significativa, nomeadamente em
frente à cidade de Lisboa, na Cala do Norte junto à foz do Trancão, e na cala do Montijo. Para o estuário do
Sado foram também referidas situações de deplecção de oxigénio em regiões localizadas (SAPEC).

40/67 (7 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Observam-se teores de sobresaturação de oxigénio na Ria de Aveiro (172%), no Tejo e no Sado, podendo,
nestes dois últimos sistemas, esses teores estarem relacionados com produções primárias elevadas.
As observações disponíveis para a Ria Formosa revelam que as concentrações de oxigénio têm uma
variabilidade sazonal marcada, com máximas no Inverno e mínimas no Verão, sendo estes mínimos mais
acentuados nas regiões interiores daquele sistema lagunar. A variabilidade com a maré é também relatada,
sendo os mínimos coincidentes, em geral, com a baixa-mar. No estuário do Guadiana os níveis de OD são,
em geral, de 60-120 %.
Nutrientes, Clorofila a e Produtividade Primária
As gamas dos valores disponíveis apresentam-se no Quadro 7.2.9.
O nutrientes (compostos inorgânicos de azoto, fósforo e sílica) no estuário do Minho variam com a maré, em
sobreposição do ciclo sazonal típico. Os teores em baixa-mar das forma de azoto inorgânico dissolvido são,
em geral, os mais elevados, sendo observável o acréscimo de ortofosfato nas observações de Outono.
No estuário do Douro, observam-se, em correlação com carga urbanas, concentrações de nitrato e nitrito da
ordem de 120 µmol l-1 NO3 e 2,8 µmol l-1 NO2. No entanto, os valores de fosfato não são elevados (0,7 a 2,7
µmol l-1 PO4).
Na Ria de Aveiro observam-se máximos de nitrato e de fosfato (da ordem de 104 µmol l-1 e de 5,6 µmol l-1
PO4), nas zonas a jusante dos afluentes, nomeadamente no Laranjo, Anjeja, Boco (Vista Alegre) e no Largo
da Coroa. As concentrações no corpo central da Ria não excedem 14 µmol l-1 NO3 e 1,29 µmol l-1 PO4.
No Tejo o nitrato e o silicato apresentam uma variação linear com a salinidade, embora sejam evidentes as
contribuições marginais (e.g. da cidade de Lisboa e de fontes industriais). Apresentam mínimos no Verão e
máximos no Inverno e Primavera. Os mínimos podem correlacionar, a montante, com sobressaturação de
oxigénio (125-149%), pH altos (8,5-9,4) e biomassa fitoplanctónica elevada (75mg m-3 clorofila a).
A concentração de fosfato é quase constante ao longo do estuário, o que sugere a presença de um mecanismo
regulador.
Os valores máximos observados no estuário do Sado e a correspondente gama de variação são semelhantes
aos observados nos sistemas anteriormente referidos (110 µmol l-1 NO3, 7,5 µmol l-1 PO4).
A Ria Formosa e o estuário do Guadiana são, os sistemas que apresentam os menores máximos de nitrato e
de fosfato (da ordem de 10 µmol l-1 para NO3 e 3 µmol l-1 para o PO4). Na Ria Formosa observa-se
variabilidade sazonal, com máximos no Inverno e mínimos no Verão, e espacial, com gradientes no sentido
das menores concentrações dos canais mais interiores da Ria para as barras. No estuário do Guadiana o
acréscimo das concentrações de fosfato (e também de amónia) no Verão, a jusante, será proveniente das
águas residuais urbanas de Vila Real de Santo António e Ayamonte.
As razões N/P (razão de Redfield), apresentadas no Quadro 7.2.7 sugerem que apenas no estuário do Douro e
em situações específicas, como será o caso da situação de Inverno no estuário do Minho, haverá uma
limitação potencial pelo P, sendo no entanto de um modo geral o N o limitante potencial nos outros sistemas.
Com a eventual excepção dos estuário do Sul (Ria Formosa e Guadiana), a informação obtida sugere que a
limitação da produção primária por nutrientes, sendo certamente mais dependente de processos de
sedimentação, diluição, grazing e redução da transparência da coluna de água.
Os valores os valores clorofila a, máximos, são uma ordem de grandeza superior nos estuários do Tejo,
Guadiana, Sado e Ria de Aveiro (Quadro 7.2.9). Identificam-se ainda máximos em geral na Baixa mar, e
variabilidade espaciais marcadas, por exemplo no Minho, no Sado e no Tejo, com picos de clorofila a no
limite de intrusão salina. Observam-se também picos na Primavera e no Outono.
A produtividade primária fitoplanctónica parece ser semelhante no Douro e Tejo e ter valores inferiores
(cerca de metade) na Ria Formosa (Quadro 7.2.9). No Douro a produtividade do microfitobentos intertidal
(600 g C m-2 /ano) demonstra a sua importância num estuário praticamente desprovido de vegetação
superior. No Tejo a produção primária do fitoplâncton é dominante (39 360 t C/ano), seguindo-se-lhe o sapal
(8 895 t C/ ano), as macroalgas (5 000 t C/ano) e o microfitobentos (4 265 t C/ano).

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 41/67 (7 - II)


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Quadro 7.2.9- Oxigénio Dissolvido, Nutrientes, Clorofila a, Produtividade

Critério Ria de Ria


Minho Douro Tejo Sado Guadiana
/Sistema Aveiro Formosa
Salinidade média (psu) 15 8-20 15 26 30 35 15
OD 75-130 >85 9-172 >80 50 -123 77-110 60-120
(% saturação)
DIN 5-32 3,8-81 38-117 4,5-120 0,2 - 10 0,02-92,2
µmol l
-1

PO4 0,35-3,3 2,2-3,9 0,25-1,7 3-11 0,6-7,5 0,05-11 0,16-11,4


µmol l
-1

Razão N/P 3-600 155-158 26 7,7-12,6 0,2-11 0,9-60


(NO3/PO4)
Nutriente limitante
PeN P N N (P, Si) N N NeP
potencial
Clorofila a max 5,0 5,0 40 88 40 3 46
-1
ug l
Clorofila a média 1,3 3 10 7,9 3 3 10
-1
ug l
PP Fitoplâncton e 146 144 71,8
Microfitobentos 600 25
-2 -1
(g C.m .ano )
PP global 1 431 57 520 6 034
-1
(ton C.ano )
Alóctone/ Alóctone Autóctone Autóctone Autóctone Autóctone
Autóctone dominante dominante dominante dominante dominante
Cadeia Trófica Microfito detrítica Fitoplâncton
Dominante bentos
Inwelling/ Outwelling outwellig outwelling outwelling outwelling outwelling outwelling outwelling

Águas Costeiras
Nas estações na zona costeira de Portugal, entre a foz dos rios Minho e Lima, (e em transeptos na região do
Douro, do Tejo e do Algarve) as concentrações de oxigénio dissolvidos são sempre próximas da saturação.
As concentrações de nitrato variam numa gama de <0,02 µmol l-1 a cerca de 20 µmol l-1, enquanto o fosfato
varia de 0,02 µmol l-1 a cerca de 2 µmol l-1, com clara variação sazonal e máximos no Inverno.
Os valores máximos de clorofila a, (6,5 mg m-3) foram observados em Agosto, na região da costa
Portuguesa entre o Minho e o Lima, sendo que nas restantes observações os valores mais elevados não
ultrapassam, em geral, os 3 mg m-3. Os valores mínimos no Inverno, são geralmente inferiores a 0,3 mg m-3.
Inwelling/Outwelling
As plumas fluviais podem fornecer volumes consideráveis de água doce e nutrientes e estimular a
produtividade primária nas águas costeiras. Na nossa costa só o Minho e o Douro formarão plumas mais ou
menos permanentes que dão lugar a camadas de água de salinidade inferior, ricas em fitoplâncton.
O estuário do Minho descarrega nas águas costeiras adjacentes, em ano médio, cerca de 9 700 t de N-NO3 e 1
700 t de P-PO4 , o estuário do Douro 22 300 t N-NO3 e 5 300 t P-PO4 e o Estuário do Tejo cerca de 17 700
ton de N-NO3 e 1 700 ton de P-PO4. Este outwelling será da maior importância em termos de produção
secundária, uma vez que se demonstra uma forte correlação entre as capturas nas águas costeiras e o caudal
dulçaquícola.
Também os ciclos anuais do zooplâncton e do microzooplâncton na Ria de Aveiro, respondem ao ciclo de
maré e parecem associados às variações sazonais de clorofila a, cuja biomassa fitoplanctónica desempenhará
assim um papel fundamental para as espécies marinhas que se vêm alimentar no interior da Ria.
A produção de amónia, ureia e silicatos na Ria Formosa é superior ao consumo, e exportada para a zona
costeira ao longo de todo o ano; os nitratos são importados do mar nos meses de Inverno/Primavera, e
exportados no Outono; os fosfatos são exportados da Ria para a zona costeira nos meses de Inverno/Outono.

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

O estuário do Guadiana exporta nutrientes para as águas adjacentes, fazendo-se sentir a influência máxima
desta descarga numa área de cerca de 90 km2, onde se observam concentrações de amónia, silicatos e
fosfatos semelhantes, e cujos máximos coincidem com mínimos de salinidade.
7.2.2.3. Ecologia e Biodiversidade
Biodiversidade e Espécies Dominantes
Os sapais ocupam uma área particularmente importante nos estuários do Tejo, Sado e Guadiana e nas rias
Formosa e de Aveiro, variando as espécies que os constituem em termos geográficos, e com as
características e história do substrato. Em Castro Marim, no Guadiana, destaca-se a ocorrência de uma das
poucas formações europeias da exótica sul-americana Spartina densiflora. Os campos de plantas vasculares
submersas, como Zostera marina e Zostera noltii, são especialmente importantes nas rias Formosa e de
Aveiro e no estuário do Sado.
Nos estuários do Douro e do Tejo e nas rias de Aveiro e Formosa, as macroalgas dominantes pertencem aos
géneros Ulva, Enteromorpha e Fucus. Na Ria de Aveiro destacam-se ainda os representantes dos géneros
Chara, e as espécies que fazem parte integrante do moliço.
As comunidades zooplânctónicas dos estuários para os quais existe informação são normalmente dominadas
pelos copépodes. No Tejo os cladóceros são também muito abundantes, enquanto que no Guadiana, as larvas
de crustáceos decápodes constituem o grupo mais abundante junto à foz.
A meiofauna bentónica no estuário do Tejo é constituída sobretudo por nemátodes, copépodes e tardígrados.
Conhecem-se cerca de 50 espécies e cerca de 129 taxa diferentes de macroinvertebrados bentónicos no
estuário do Minho, e Ria de Aveiro, respectivamente. No Tejo e no Sado os poliquetas são o grupo mais
representativo. A fauna bentónica da Ria Formosa conta 318 espécies inventariadas.
No Minho apenas 18 em 26 taxa piscícolas têm afinidades marinhas, sendo os restantes migradores
diádromos ou peixes dulçaquícolas. Na parte superior do estuário do Douro abundam espécies como o barbo
e a boga (Chondrostoma polylepis), enquanto na zona inferior pontificam peixes como os mugilídeos,
Pomatoschistus spp., Trigla lucerna, Platichthys flesus e Dicentrarchus labrax. Ocorrem ainda a lampreia-
de-mar, o sável, a savelha, o salmão (Salmo salar) , a truta marisca (Salmo trutta trutta) e a enguia. Na Ria
de Aveiro, estão assinaladas 57 espécies ictíicas, sendo 70% da abundância deste grupo devida apenas a
Atherina boyeri, Atherina presbyter, Liza aurata, Liza ramada, Dicentrarchus labrax e Anguilla anguilla.
Há mais de 100 espécies piscícolas assinaladas no estuário do Tejo, fundamentalmente singnatídeos e
gobídeos. Ocorrem ainda a Lampetra fluviatilis, a lampreia-de-mar, o sável e a savelha. Actualmente, apenas
o robalo-legítimo, o Solea solea e o Solea senegalensis utilizam este estuário como área de viveiro
preferencial. O biqueirão (Engraulis encrasicolus), é a espécie mais abundante no estuário do Sado. Entre as
espécies residentes destacam-se os signatídeos, gobídeos, blenídeos e o xarroco, e das espécies marinhas
migradoras a Solea solea e Solea senegalensis, a solha-das-pedras, o robalo-legítimo, Diplodus sargus e
Diplodus vulgaris, que usam este sistema como viveiro. A Ria Formosa será relevante para quinze espécies
com interesse comercial, dez sparídeos e três mugilídeos, e ainda Mullus surmuletus e Sardina pilchardus.
No estuário do Guadiana, para além do xarroco, particularmente abundante, ocorrem muitas espécies
marinhas que utilizam o sistema como viveiro. É importante para lampreia-de-mar, sável, savelha e enguia,
ocorrendo ainda aqui, esporadicamente, exemplares de esturjão (Acipenser sturio)
No estuário do Minho existe um total de 184 espécies de aves, muitas das quais, nesta região, ocorrem
exclusivamente neste local e que incluem Anas platyrhyncos, Anas crecca e Aythya fuligula, e concentrações
bastante elevadas de Calidris alpina, Calidris canutus e Numenius arquata. No sector médio e inferior do
estuário do Douro surgem comunidades de aves aquáticas relativamente importantes, como Charadrius spp.,
Calidris alpina, Sterna albifrons e Ardea cinerea. Estão inventariadas 173 espécies de aves na Ria de
Aveiro, entre as quais 19 espécies de patos e 31 espécies de limícolas. Destacam-se migrações outonais de
passeriformes trans-saharianos e a reprodução de espécies ameaçadas (e.g. Ardea purpurea e Himantopus
himantopus). Suporta ainda mais de 1% dos efectivos populacionais europeus de Recurvirostra avosetta e
Charadrius hiaticula.

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

O estuário do Tejo alberga regularmente mais de 75 000 exemplares de Avifauna, sobretudo Ardeidae,
Anatidae, Laridae, Recurvirostridae (e.g. Himantopus himantopus e Recurvirostra avosetta), Charadriidae e
Scolopacidae. Larus ridibundus e Limosa limosa, têm ambas populações superiores a 35 000 indivíduos. Na
Ria Formosa ocorrem de 20 000 a 30 000 limícolas, destacando-se os patos, com mais de 4 000 indivíduos, e
Porphyrio porphyrio, uma das mais raras aves da Europa. No Guadiana, a Reserva Natural de Castro
Marim, um dos sapais mais importantes do país, destaca-se como local de reprodução para Charadius
alexandrinus, Sterna albifrons e Caladrella leucorodia, local de alimentação em período pós-reprodutor para
a Platalea leucorodia e Phoenicopterus ruber, local de passagem (Sterna caspia, Gelochelidon nilotica e C.
niger) e local de invernada.
No que concerne à mamofauna assinala-se a presença frequente no Sado de Tursiops truncatus.
Áreas de Desova, Viveiro e Migração
O estuário do Minho, pouco importante como viveiro de ictiofauna, é o sistema português mais importante
para migradores, com 5 anádromos e 2 catádromos, e o único onde ainda penetram o Salmo salar e Salmo
trutta trutta. É também o local mais importante do norte de Portugal para aves aquáticas.
O Douro, apenas será importante para reprodução do género Pomatoschistus. São também raras as espécies
que o usam como viveiro. Outrora abundantes, ocorrem aqui ainda a savelha, a enguia e a lampreia.
A Ria de Aveiro, é importante para reprodução de Atherina boyeri e Atherina presbyter e suporta uma
importante fracção da ictiofauna marinha que a usa como viveiro. Os migradores são os mesmas que no
Douro, mas mais numerosos. É a terceira mais importante zona húmida portuguesa para limícolas.
O Tejo é uma importante área de reprodução para Engraulis encrasicolus, Syngnathus abaster e
Pomatoschistus minutus, e o corpo salobro mais importante de Portugal como viveiro de ictiofauna marinha.
Ocorrem aqui apenas 4 espécies de migradores anádromas (e.g.Lamretra fluviatilis) e duas catádromas. É um
dos mais importantes estuários para a avifauna que usa a "rota migratória do Atlântico Leste".
No estuário do Sado, os ovos e larvas de Engraulius encrasicolus representam cerca de 90% do total das
capturas efectuadas. São inúmeras as espécies ictíicas que o usam como viveiro. A sua importância relativa
para migradores anádromos é, no entanto, reduzida.
A Ria Formosa, juntamente com o Tejo, o Sado e a Ria de Aveiro é um dos mais importantes viveiros para
as comunidades piscícolas marinhas. É, no entanto, pouco relevante para migradores anádromos. É a
segunda área de invernada mais importante do País, com mais de 20 a 30 000 limícolas.
O estuário do Guadiana será particularmente importante para a reprodução e crescimento de Pomatoschistus
spp. e Engraulis encrasicolus. Será menos importante do que a Ria Formosa para as migrações de aves.
O xarroco é muito abundante e residente nos estuários do Tejo, Sado, Guadiana e Ria Formosa, sendo as
referidas áreas igualmente importantes para a sua reprodução. Merece ainda destaque o facto de Sepia
officinalis se reproduzir nos estuários do Tejo e do Sado e nas rias Formosa e de Aveiro.
Limites Biogeográficos
Entre o Minho e o Tejo um grupo coerente de cerca de 40 espécies macrofitobentos apresenta afinidades
florísticas com as formações das costas centro-europeias e têm o seu limite europeu sul em Portugal.
O Tejo assume um papel particularmente importante como limite biogeográfico, situado numa zona de
transição biogeográfica, onde se misturam floras e faunas de climas mais quentes (Mediterrâneo e Atlântico
sub-tropical) com outras de zonas relativamente frias (Atlântico norte). Apresenta, por isso, naturalmente,
uma elevada diversidade biológica.
Estatuto Conservacionista
O estuário do Minho é importante para a conservação da avifauna aquática e dos peixes diádromos. Para a
primeira é particularmente importante a ilha de Ínsua e o sapal do Coura, para os segundos as regiões
superiores do estuário e as porções inferiores dos seus afluentes. Está parcialmente incluído na ZPE dos
“Estuários dos rios Minho e Coura”, integrando também a 1ª fase da Lista Nacional de Sítios da futura Rede
Natura 2000.

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

A Ria de Aveiro é um sistema salobro muito importante sob o ponto de vista ecológico encerrando a ZPE
“Ria de Aveiro”, e existindo nas suas imediações outros locais com estatuto de protecção especial.
O estuário do Tejo é a zona húmida mais extensa de Portugal e uma das mais importantes da Europa. A
grande área intertidal desempenha funções essenciais para a manutenção dos ecossistemas estuarinos e do
litoral adjacente. Inclui igualmente as maiores extensões contínuas e significativas de sapal no nosso País. É,
aliás, o único corpo salobro português que consegue desempenhar um papel determinante como corredor de
passagem ou zona de crescimento para importantes populações de peixes diádromos e, em simultâneo, ser
fundamental como área de viveiro para um número apreciável de espécies marinhas. Constitui em Portugal a
principal área de invernada, recebendo cerca de 38% do total das aves aquáticas. Inclui a Reserva Natural do
Estuário do Tejo, ZPE do “Estuário do Tejo”, Lista Nacional de Sítios - 1ª Fase “Estuário do Tejo”, e Sítio
Ramsar nº 211 “Estuário do Tejo”.
O Sado constitui, juntamente com o estuário do Tejo e as Rias de Aveiro e Formosa, um dos mais
importantes sistemas salobros da costa portuguesa, para as comunidades aquáticas. Alberga uma comunidade
de aves aquáticas bastante numerosa, que engloba 16 espécies incluídas no Anexo I da Directiva das Aves.
Notável ainda, a presença de uma população residente de roaz-corvineiro neste local, sendo o único estuário
do País onde os mamíferos cetáceos ocorrem de modo regular.
Inclui a Reserva Natural do Estuário do Sado, ZPE “Estuário do Sado”, ZPE “Açude da Murta”, Lista
Nacional de Sítios – 1ª fase “Estuário do Sado” e Sítio Ramsar nº 826 “Estuário do Sado”.
A Ria Formosa de entre os mais importantes viveiros de espécies piscícolas marinhas de Portugal, é o que
apresenta maiores afinidades mediterrânicas. É também o segundo mais importante sistema salobro do país
para as aves aquáticas. Integra o Parque Natural da Ria Formosa, a ZPE “Ria Formosa”, a Lista Nacional de
Sítios 1ª fase “Ria Formosa-Castro Marim”, e o Sítio Ramsar nº 212 “Ria Formosa”.
O estuário do Guadiana é particularmente importante para espécies diádromas e anádromas. É também
relevante para a avifauna aquática, sendo a Reserva de Castro Marim classificada como Important Bird Area
in Europe. Integra ainda o Parque Natural do Vale do Guadiana, a ZPE “Vale do Guadiana”, a ZPE “Sapais
de Castro Marim”, a Lista Nacional de Sítios 1ª fase “Guadiana”, a Lista Nacional de Sítios 1ª fase “Ria
Formosa-Castro Marim”, e o Sítio Ramsar nº 829 “Sapais de Castro Marim”.
7.2.2.4. Usos e Ocupação Humana
Nos Quadros 7.2.10 e 7.2.11 apresentam-se a população humana residente das bacias e na envolvente
marginal dos sete sistemas estuarinos aqui considerados e sistematizam-se os principais usos que lhe são
dados por essas populações. Faz-se notar que constituem uso comum, a um nível de intensidade idêntico,
apenas a utilização dos estuários como meio receptor de efluentes, a pesca e o turismo.

Quadro 7.2.10 - Ocupação Humana

População Minho Douro Ria de Tejo Sado Ria Guadiana


Aveiro
/Sistema Formosa
População na 1 000 000 4 123 300 700 000 9 030 000 270 000 330 000 1 900 000
Bacia
População 130 000 700 000 400 000 2 500 000 660 000 300 000 60 000
marginal
(PHNE,1994:COBA,1995)

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Quadro 7.2.11 - Principais Usos

Usos Minho Douro Ria de Tejo Sado Ria Guadiana


Aveiro
/Sistema Formosa
Receptor de Cargas
Poluentes

Urbanas xx xxx xxx xxxx xxx xx xx


Industriais x xxx xxxx xxxx xxxx
Difusas xx xxxx xx xxxx xx xx xxxx
Navegação x xxxx xx xxxxx xxxxx xx xx
Explor. de Inertes xx xxxx xxxx xxxx xx xx
Construção Naval xxxx xxxx
Aproveitamento da xxx
Vegetação
Turismo e Recreio xxxx xxxx xx xxxx xxx xxxxxxx xxxx
Pesca xx x xxxx xxxxxx xxxx xxxxxxx xxx

Aquicultura x xxxxxx
xx xx
Salinicultura xxxxx xx xxx xxxxx xxxx

De (x) menor incidência a (xxxxxxx) maior incidência

7.2.3. Análise de Situações Comuns e Generalizadas a todos os Sistemas


7.2.3.1. Artificialização da Bacia e Ciclo Hidrológico
A construção de barragens altera o regime de afluência da água doce e intersecta os caudais sólidos que
deveriam chegar aos estuários. No Minho as alterações de caudal sólido e líquido diminuem o habitat
disponível para os peixes diádromos e interrompe as suas rotas migratórias, impedindo aos anádromos o
acesso às zonas que exibiam melhores condições para a sua reprodução.
A alteração do regime dos rios e a diminuição do transporte sólido contribuem também para a erosão costeira
e para a alteração das comunidades vegetais e animais dos cursos de água doce, estuários e zonas costeiras
adjacentes. É certamente o caso do Douro.
Este tipo de alterações têm ainda outras implicações. Encontrou-se, com efeito, para três estuários - o Douro,
o Tejo e o Guadiana - uma forte correlação entre a produção das comunidades biológicas estuarinas e
costeiras, e da actividade piscatória que delas depende, e o caudal fluvial, pelo que a sua redução terá
provavelmente fortes implicações a nível ecológico e económico.
Constata-se também que as cheias têm, para além de outras, uma função geral de descontaminação dos
sistemas, nomeadamente no que se refere a metais pesados e que a regularização de caudais encoraja o
parasitismo e a predação de origem marinha .
Na bacia drenante da Ria de Aveiro as estruturas hidráulicas existentes não parecem interferir com o
transporte sólido. Por maioria de razão não deverão interferir significativamente com o caudal líquido. As
recentes cheias de 2000 sugerem no entanto ou uma alteração do comportamento do escoamento na bacia ou
a manifestação precoce de alterações climáticas de origem global.
A variabilidade do regime de caudais do Tejo, por outro lado, terá passado de 28,1 em 1943-62 para 15 em
1971-77, ou seja, cerca de metade.

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A alteração do regime do rio traduz-se na alteração do seu regime de transporte de caudal sólido, quer por
arrastamento quer em suspensão. Não se dispõe de números rigorosos para o transporte sólido em suspensão,
mas a sua dimensão - em Ómnias, 8 016 060 ton/ano - e as indicações obtidas sobre as alterações do padrão
sedimentar da pluma do Tejo na plataforma, sugerem que elas sejam importantes
Por outro lado a avaliação do transporte sólido por arrastamento e da sua alteração em função da
regularização, sugerem uma passagem de 1 200 000 m3/ano para 350 000 m3/ano no ano 2000. No estuário
do Sado as descargas controladas das barragens, causam cheias artificiais, importantes pela quantidade de
material sólido que transportam.
Na Ria Formosa a artificialização da bacia e do regime hidrológico - impermeabilização das áreas
circundantes, com aumento da escorrência superficial e transporte de materiais "urbanos", tem um papel
aparentemente significativo no progressivo assoreamento da Ria.
Sistematiza-se esta informação no Quadro 7.2.13.
Quadro 7.2.13 - Artificialização da Bacia e do Ciclo Hidrológico. Alterações Hidrodinâmicas

Critério Minho Douro Ria de Tejo Sado Ria Guadiana


Aveiro Formosa
/Sistema
Perda hidrológica 27% 24% 0 29% 70% N.D. 40%
Regularização N.D. N.D. N.D. 28 -> 14 N.D. N.D. N.D.
Impermeabilização N.D. N.D. N.D. N.D. N.D. xx N.D.
e assoreamento
Cheias artificiais N.D. N.D N:D. N.D. xx N.D. N.D.
Subida do NMM xx xx xx xx xx xx xx

N.D. – informação não disponível

7.2.3.2. Alterações Sedimentares e Morfológicas. Dragagens


O assoreamento no troço final do estuário do Minho é atribuído à redução da frequência e intensidade das
cheias, com menor capacidade de expulsão das areias da embocadura e/ou devida à predominância das
correntes de enchente e da agitação marítima, face às correntes de vazante. Este assoreamento justificará as
recentes dragagens entre Caminha e Camposancos. Em Maio de 1997, só 10 das 469 embarcações,
matriculadas na Capitania do Porto de Caminha se atreviam a trabalhar no mar. No entanto essas dragagens,
sobretudo as realizadas no canal de navegação de Caminha, poderão estar na origem de erosões em praias da
zona estuarina (Camposancos e Molino) e na zona costeira a Sul da embocadura.
No Douro o transporte de sedimentos arenosos em direcção à embocadura depende da ocorrência de caudais
(velocidades) muito elevados e da disponibilidade de fontes sedimentares a montante. Esse transporte é
actualmente muito reduzido e irregular ao longo do ano e dos anos, em consequência da existência de uma
cascata de aproveitamentos hidráulicos, da extracção de areias ao longo do rio e, a uma escala temporal mais
alargada, à subida do nível médio do mar.
Há pouca informação fiável sobre os volumes retirados nestas dragagens. Pode no entanto referir-se que só
na parte jusante do rio Douro (que era um dos principais abastecedores sedimentares do litoral a Sul de
Espinho), o volume de sedimentos dragados entre 1982 e 1986 foi de 3x106m3, isto é, um quantitativo pouco
inferior ao estimado para o volume de sedimentos interessados na deriva litoral. A extracção de areias e
cascalhos, só no troço inferior do rio Douro, incluindo o estuário, atingia também no início desta década
valores da ordem de 1,5x106m3/ano. As consequências são patentes no desaparecimento de um grande banco
submerso exterior, no progressivo agravamento das acções erosivas nas praias a sul da embocadura,
(Concelhos de Gaia, Espinho e Ovar), e, em anos recentes, na mobilidade da restinga, com migração para o
interior do estuário. Os galgamentos, rupturas, emagrecimento e movimento para montante da restinga, têm
também reduzido a área de sapal e alterado a dinâmica e a sedimentologia local.

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Na Ria de Aveiro para além do aprofundamento médio de 0.4 m em grande parte explicado pelas dragagens
efectuadas, as obras realizadas na década de 50 na construção do Molhe Sul e prolongamento do Molhe
Norte, terão originado uma erosão generalizada que se cifra em 6,5 × 106 m3 entre 1952 e 1960; 4,9 × 106 m3
entre 1961 e 1970 e 2,3 × 106 m3 entre 1971 e 1977.
Observações recentes confirmam no estuário do Tejo um forte assoreamento dos esteiros a montante,
sobretudo no triângulo de Pancas e também dos bancos de lama associados. Apesar da crescente colmatação
do sapal alto, aparentemente decorrente da ausência de pisoteio na Reserva Integral, e da progressão das
formações vegetais em zonas em assoreamento, verifica-se também no Tejo a erosão das frentes do sapal.
Durante a construção da Ponte Vasco da Gama dragaram-se no Tejo cerca de 2,5 x 106 t, parte das quais
constituída por material contaminado. Entre Alverca e Vila Franca de Xira, o volume de inertes extraído será
de cerca de 2 x 106 m3/ano nos últimos dois anos.
No estuário do Sado as cheias artificiais acima referidas, resultantes das descargas controladas das albufeiras,
contribuem significativamente para o presente balanço sedimentar no estuário. Os ecótonos marginais
encontram-se profundamente artificializados restando apenas, no corpo principal do estuário, o contacto com
a restinga de Tróia e alguns pequenos troços em Arrábidas-Pinheiro. O processo de recessão das frentes do
sapal é acelerado nalguns pontos pela destruição antropogénica do coberto, como é o caso da zona do porto
de pesca da Carrasqueira. A exploração desregulada dos recursos bentónicos do Estuário (e.g. Marphysea
sanginea), provoca ainda perturbação física do sedimento, com aumento da turbidez na coluna de água.
Na Ria Formosa verifica-se que, nas últimas décadas, os canais foram sendo progressivamente assoreados.
As causas deste assoreamento são em parte causas naturais ou antropo-globais (p.ex.: elevação do nível do
mar). Todavia, a maior parte é devida a causas antrópicas locais. Os episódios de galgamento oceânico
constituem, também, factor de assoreamento de grande importância.
A crescente pressão antrópica exercida sobre o sistema, designadamente para fins lúdicos e balneares, com
intenso pisoteio dos corpos dunares, tem conduzido ao aparecimento de cortes eólicos cujo número tem
aumentado exponencialmente, e conduzindo, frequentemente, em períodos de agitação marítima mais
energética, à ocorrência de galgamentos oceânicos. Acresce que, na frente oceânica, a deriva litoral sofreu os
impactes negativos da construção dos molhes da marina de Vilamoura e do campo de esporões de Quarteira,
e da fixação artificial das barras de Tavira e de Faro-Olhão.
Procurou compensar-se estes fenómenos com o Projecto de Requalificação do Sistema Lagunar, 1999/2000,
que repulsou para a barreira da Ria Formosa cerca de 2 650 000 m3 de dragados. As dragagens efectuadas no
leito da ria têm também efeitos nefastos nas comunidades aquáticas, sobretudo quando ocorrem em
povoamentos de fanerogâmicas submersas.
No Guadiana uma consequência da redução de caudais, induzida pela perda hidrológica e regularização
decorrente do enorme armazenamento instalado (70,4% da bacia dominada em 1990), é a diminuição do
fornecimento sedimentar, também às zonas costeiras adjacentes, com todas as suas consequências.

7.2.3.3. Carga Orgânica e Contaminação Bacteriana


No Minho, em ambas as situações de maré, os teores de CBO5 são baixos e relativamente idênticos. Por
outro lado, no estuário médio a concentração de CBO5 é sempre menor no fundo do que à superfície o que
sugere, dada a estratificação observada, a origem terrestre desta matéria orgânica, transportada
essencialmente na camada de água à superfície.
A contaminação fecal, o azoto amoniacal e o oxigénio dissolvido, são problemas com alguma gravidade na
bacia hidrográfica, sobretudo na confluência do rio Louro, efeitos indissociáveis de uma importante carga
orgânica afluente.
A contaminação por coliformes totais atinge na maré baixa valores muito mais altos que os relativos à preia-
mar, ultrapassando o valor máximo recomendável (VMR) para águas destinadas a recreio com contacto
directo. Detecta-se também Salmonella spp. no sector inferior do estuário.
No estuário do Douro, em ano médio, calcularam-se afluências de 39 660 t N/ano e 8 756 t P/ano. Esta carga
de nutrientes, embora em parte proveniente de fontes difusas, fundamentalmente agrícolas, é também

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necessariamente acompanhada de uma carga orgânica e fecal muito significativa quanto mais não seja dos
4 000 000 de habitantes residentes na bacia e dos 700 000 residentes na envolvente marginal do estuário.
O estuário do Tejo serve como meio receptor de pelo menos 400 - 500 000 m3 de águas residuais domésticas,
equivalentes a cerca de 24 000 t/ano de CBO5, 77 276 t/ano de CQO, 31 484 t/ano de SST, 3 000 t/ano de N
e 908 t/ano de P. O rio Tejo constitui também uma origem significativa de cargas poluentes estimadas em
100 000 t /ano de CBO5 e 8 000 000 t/ano de SST. Estas cargas podem ser localmente significativas,
nomeadamente junto à margem direita (Trancão 3 916 t/ano de CBO), em frente à cidade de Lisboa, na Cala
do Norte, e na Cala do Montijo. No entanto o estuário parece não acusar significativamente o esforço de
autodepuração.
A inexistência de soluções tratamento/disposição final adequadas às águas residuais urbanas de Lisboa faz
com que águas do estuário continuem a apresentar índices de contaminação bacteriana superiores a 100 000
CF/100 ml. Os valores mínimos, da ordem das centenas, observam-se nas estações da secção da Barra e na
zona média do estuário. Esta situação traduz-se também na contaminação de bivalves para consumo humano
como Scrobicularia plana (lambujinha).
O estuário do Sado recebe cargas poluentes de origem industrial (fábricas de tomate, lagares de azeite) e
poluição térmica (Central, Fábrica de Celulose) originária sobretudo da zona industrial de Setúbal e ainda a
carga orgânica correspondente á entrada calculado de 2 000 ton de N e 330-400 t de P por ano.
Estudos efectuados revelam níveis elevados de poluição microbiológica no canal do Norte, em locais
próximos das descargas dos efluentes industriais da PROPLAN e ainda das descargas de águas residuais de
origem urbana.
Estimaram-se para a Ria Formosa cargas tópicas e difusas de 456 t/ano e 607 t/ano de N, respectivamente, e
também de cargas tópicas e difusas de 61 t/ano e 81 t/ano de P, respectivamente. A Ria revela alguma
contaminação orgânica, associada aos aglomerados urbanos da sua orla costeira nomeadamente Faro, Olhão,
Fuzeta e Tavira que embora possuam ETAR, estas apresentam um funcionamento deficiente ou
simplesmente não estão dimensionadas para os caudais dos meses de Verão. Este problema é com efeito
consideravelmente agravado por uma população que adiciona aos 85 000 hab. residentes cerca de 260 000
hab. na época estival.
Estima-se que o Estuário do Guadiana recebe cerca de 20 000 ton/ano de CBO5 em ano médio. Quanto à
contaminação fecal, devido sobretudo à descarga dos esgotos não tratados, é significativa.
No Quadro 7.2.14 apresentam-se as cargas totais anuais que se estimaram ou compilaram da literatura para N
e P, como afluentes aos sete sistemas considerados.
Quadro 7.2.14 - Cargas Poluentes

Parâmetro Minho Douro Ria de Tejo Sado Ria Guadiana


Formosa
/Sistema Aveiro
SST (t.ano) 60.000 7.284 100.000
CBO " 20.000 6.335 100.000 20.000
N " 10.700 40.000 1400-3.200 30.000 2000 1060 10.000
P " 1.830 8.800 330-780 8.000 330-400 140 2.000
Metais " 21 Cu 1-3/metal 1-1000/metal

7.2.3.4. Eutrofização e Blooms de Algas Tóxicas


O estuário do Minho é classificado como meso-eutrófico. Situações de eutrofização tem ocorrido sobretudo
no curso do rio em Melgaço, desde 1996, entre os meses de Março e Junho. O nutriente limitante no Verão
será o N, sobretudo perto do limite montante, onde se verificam as maiores concentrações de P devido às
contribuições dos rios Coura e Mouro e à descarga da ETAR de Formariz. Verifica-se também, a presença de
cianobactérias cuja abundância máxima, registada em 1991, foi de 27 480 células ml-1 .

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 49/67 (7 - II)


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

No estuário do Douro a carga de P parece ser excessiva para um estuário normal. No caso vertente a razão
N/P poderá, em todo o caso, ser contrariada pela turbidez e pelo curtíssimo tempo de residência da água
doce. Ocorrem em todo o caso blooms de dinoflagelados cuja abundância depende do caudal do rio no
período estival, assim como da existência de florescência na zona costeira. Algumas destas espécies são
tóxicas e, com frequência, é interdita a apanha de bivalves no estuário e zona envolvente. Ocorrem também
cianobactérias (e.g. Microcystis) na albufeira de Crestuma-Lever, que acabam por ser transportadas para o
estuário. Ocasionalmente desenvolvem hepatoxinas, perigosas do ponto de vista da saúde pública.
Os braços mais remotos da ria de Aveiro, na confluência com os seus tributários, apresentam sinais de
avançada eutrofização. Admite-se no entanto que essa eutrofização pode ser devida também à progressiva
acumulação natural de nutrientes pelo sistema lagunar.
Não há sintomas claros de eutrofização do sistema estuarino do Tejo embora se registem blooms de
fitoplâncton quer a montante quer a jusante da zona mais túrbida.
Também o estuário do Sado não parece constituir problema nesta matéria. Na zona superior do estuário, a
turbidez parece funcionar como limitante da produtividade primária, não tendo sido detectados blooms de
algas. Está classificado como estuário mesotrófico para a amónia e oligotrófico para os restantes parâmetros.
Os estuários do Tejo e do Sado estão no entanto sujeitos, esporadicamente, a biotoxinas produzidas por
algumas espécies fitoplânctónicas como Dinophysis spp. e Prorocentrum lima que provocam DSP
(Diarrhetic Shellfish Poisoning) e como Gymnodinum catenatum ou Alexandrium spp., que provocam PSP
(Paralytic Shellfish Poisoning). Essas toxinas podem atingir valores muito altos nos bivalves tendo a
conquilha da zona da Caparica chegado a atingir 8 000 µg 100 g-1, em 1993.
No Guadiana, registam-se no alto estuário (Mértola) blooms de Cianofíceas e também do simbionte Azolla
spp..

Marés Vermelhas na Costa


Observaram-se marés vermelhas na costa norte todos os anos de 1985 a 1993. Merece especial referência a
maré vermelha que se iniciou em 1986 frente ao Cabo Carvoeiro e que provocou a contaminação, com PSP,
do marisco de toda a costa até Moledo. A situação na costa sul e algarvia é análoga.

7.2.3.5. Contaminação por Metais Pesados e Xenobióticos


Retiveram-se, na presente análise, os resultados existentes para metais pesados e micropoluentes orgânicos
em sedimentos e no biota, tendo sido excluídos os dados referentes à coluna de água. Procedeu-se uma
triagem e síntese da informação existente sobre a contaminação de sedimentos e biota por metais pesados
(e.g. mercúrio e chumbo) e micropoluentes orgânicos (e.g. DDTs e PCBs), sendo comparados os valores
seleccionados de forma a contribuir para uma seriação dos sete sistemas estuarinos.
A classificação absoluta baseia-se, como referido anteriormente, em metodologias que especificam Níveis de
Efeito Provável (PEL – Probable Effect Levels), Níveis de Preocupação (LOC – Levels of Concern), e
Níveis de Acção (AL – Action Levels). A tabela 19 mostra os valores de PEL para estas substâncias, bem
como valores de LOC/AL utilizados para o biota.
Valores positivos são superiores aos limites, e valores negativos não causam preocupação. Os valores que se
encontram acima do PEL, LOC ou AL, estão assinalados a vermelho. Com base neste conjunto de valores,
pode ser efectuada uma seriação indicativa dos sete sistemas, efectuada através de uma média ponderada dos
valores do sedimento (1/3) e biota (2/3). Atribuiu-se um peso maior ao biota dado que implica uma maior
mobilidade dos xenobióticos no ecossistema e, tratando-se de espécies consumidas por seres humanos,
deverá pesar mais em termos de gestão dos sistemas.

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Quadro 7.2.15 - Valores de Níveis de Efeito Provável (PEL) em Sedimentos Marinhos, Concentrações de
Referência em Peixes e Bivalves, e Níveis de Preocupação (LOC), e Níveis de Acção (AL) em Peixes e Bivalves
(Adaptado de Ferreira, 2000)

*1
PEL Concentração de
-1 Concentração de *4
Metais em mg kg , *2 referência em AL ou LOC
Parâmetro referência em moluscos *3 -1
organoclorados em `g -1 peixes (mg kg )
-1 (mg kg ) -1
kg (mg kg )
*5
Arsénio 41,6 1,5 (ostras) 3,34 86
*5
Cádmio 4,2 0,067 (amêijoas) 0,01 4
*5
Chumbo 112 0,09 (ostras) 0,01 1,7
*6
Mercúrio 0,70 0,02 (berbigão, mexilhão 0,06 1
& vieiras)
*6
DDT 4,77 0.002 0,01 5
(não-especificado)
*7
PCBs 189 0,02 0,02 2
(não-especificado)
*1
- Environment Canada 1995;27 MacDonald et al. 1996.13
*2
- USFDA 1984;30 USFDA 1993a;31 USFDA 1993b;32 USFDA 1993c;33 MAFF 1997;34 MAFF 1998.35
*3
– Metais: mediana de 110 amostras de bacalhau, arenque, cavala, patruça, redfish e outros. MAFF 1998.35 Compostos organoclorados: mediana de
16 amostras peixes de água profunda MAFF 1997.34
*4
- USFDA 1984;30 USFDA 1993a;31 USFDA 1993b;32 USFDA 1993c;33 USFDA 1998.36
*5
- LOC
*6
– AL
*7
– Tolerância

Foram considerados dois compartimentos:


(i) Sedimentos
Os níveis de contaminação constituem um conjunto de valores-guia da qualidade sedimentar
para a protecção da vida aquática. Os critérios de contaminação baseiam-se em PEL, que
correspondem a concentrações acima das quais os efeitos são observados com maior frequência.
Escolheram-se o arsénio, cádmio, chumbo e mercúrio como indicadores de contaminação por
metais, e DDT e PCBs como micropoluentes orgânicos representativos.
(ii) Biota
A biodisponibilidade de xenobióticos é difícil de determinar a partir da contaminação
sedimentar, porque é condicionada por transformações no sedimento, interface sedimento-água e
na coluna de água, que podem ser mediadas biologicamente. Testes laboratoriais de toxicidade
podem ser utilizados, ou dados de campo relativos à composição das comunidades ou
bioacumulação. Contudo, existe alguma dificuldade em relacionar poluentes persistentes com a
composição da comunidade, particularmente em estuários onde o gradiente temporal de
salinidade influencia fortemente a composição da fauna de fundo (bentos). Por esse motivo, os
sistemas em discussão são comparados, do ponto de vista da contaminação do biota, com base
na bioacumulação em espécies-chave bentónicas. As substâncias escolhidas são idênticas às
utilizadas para a análise de sedimentos, i.e. As, Cd, Pb, Hg, DDT and PCBs. Os critérios e
limites são baseados em AL/LOC. Nos casos em que concentrações de referência existem para
mais do que uma espécie de bivalve ou peixe, é indicado o valor mais baixo.
No Quadro 7.2.16 é efectuada a síntese da informação existente, sendo indicadas sempre que possível gamas
de concentração.
Com base nos dados dos Quadros 7.2.15 e 7.2.16, foi construída a tabela 7.2.17, que efectua a seriação dos
sete sistemas. Foi aplicado o princípio da precaução, utilizando os máximos das gamas de valores medidos.
Existem diversos problemas metodológicos nesta comparação, que precisam de análise e melhoramento

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Quadro 7.2.16 – Concentração de Metais e Micropoluentes Orgânicos nos Sete Estuários

Sistema Meio Parâmetro Valor Comentários


(unidades)
-1
Estuário do Sedimentos Pb (mg kg ) 60 Valor único
Minho PCB (ug kg )
-1
<0.6 Na foz
Não foi encontrado qualquer valor
no biota
-1
Estuário do Sedimentos Cd (mg kg ) 0.7-20 Valores máximos
Douro -1
Hg (mg kg ) 0.7-2.8 Não foram encontrados valores para
-1
Pb (mg kg ) 19-292 micropoluentes orgânicos em
sedimentos ou biota
-1
Lambejinha Pb (mg kg ) 0.08-82 Scrobicularia plana
-1
Ria de Sedimentos Cd (mg kg ) <0.40-4.66 Só existem valores de PCBs totais
Aveiro Hg (mg kg )
-1
2-40 na água
-1
Pb (mg kg ) 11.5-103
-1
Mexilhão PCB (ug kg ) 2-4 Dados de 1972
-1
Estuário do Sedimentos As (mg kg ) - 3505 Barreiro
Tejo Cd (mg kg )
-1
0.2-5.4 Gama (todo o estuário)
-1
Hg (mg kg ) 5-9.4 Gama (todo o estuário)
-1
Pb (mg kg ) 32-9482 Gama (todo o estuário)
-1
PCB (ug kg ) 0.17-46.96 Gama (todo o estuário)
-1
Ostras As (mg kg ) 0.06 Todas as amostras de 1970-1980 de
Cd (mg kg )
-1
3.7 C. angulata
-1
Hg (mg kg ) 0.1
-1
Pb (mg kg ) 10
-1
PCB (ug kg ) 190-210
-1
Estuário do Cd (mg kg ) <0.62-0.65 PCBs em sedimento: Vale &
Sado Hg (mg kg )
-1
0.120-0.274 Ferreira, pers. com
-1
Pb (mg kg ) 30.8-45
-1
PCB (ug kg ) 1-200
-1
Ostras Cd (mg kg ) 4.6-29.5 (Vale & Ferreira, pers. com)
-1
Pb (mg kg ) 0.8-2.1
-1
PCB (ug kg ) 5-40
-1
Peixes Cd (ug kg ) 1-5 Linguado, tainha e enguia (Vale &
-1
Pb (mg kg ) 0.25-0.5 Ferreira, pers. com)
-1
PCB (ug kg ) 10-25
-1
Ria Formosa Sedimentos Pb (mg kg ) 60
-1
PCB (ug kg ) <0. 8
-1
Bivalves Hg (mg kg ) Muito baixo
-1
Estuário do Sedimentos As (mg kg ) 24.2-40.8 Dados do CEDEX (Espanha)
Guadiana Cd (mg kg )
-1
0.50-0.53
-1
Hg (mg kg ) 0.33-0.53
-1
Pb (mg kg ) 35.63-47.16
-1
PCB (ug kg ) 2.3-4.8
-1
Mexilhão Cd (mg kg ) 0.5-1.3

Os sete sistemas podem portanto ser seriados em termos relativos, de mais contaminado para menos
contaminado, na ordem: Estuários do Douro, Tejo, Sado, Ria de Aveiro, estuário do Guadiana, estuário do
Minho e Ria Formosa. Em termos absolutos, só os valores máximos agregados no Douro e no Tejo excedem
os Níveis de Efeito Provável em sedimentos e os Níveis de Preocupação ou Níveis de Acção no biota.

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Quadro 7.2.17 - Classificação e Seriação dos Sete Sistemas com Base no Grau de Contaminação Relativo e Grau
de Contaminação Absoluto. São Utilizados os Valores Máximos Observados em cada Sistema

Sistema Seriação Grau de contaminação relativo Grau de contaminação absoluto


final*1
Sedimentos Biota Sedimentos Biota
(PEL) (LOC/AL)
Estuário do 6 (-0,6) 5 - -0,6 -
Minho*2
Estuário do Douro 1 (1,3) 2 1 0,6 1,7
Ria de Aveiro 4 (0,0) 1 5 1,3 -2,7
Estuário do Tejo 2 (0,9) 1 3 1,6 0,5
Estuário do Sado 3 (0,1) 3 2 -0,3 0,3
Ria Formosa 7 (-2,2) 4 6 -0,5 -3,0
Estuário do 5 (-0,4) 3 4 -0,3 -0,5
Guadiana
1
* – As classificações são de 1 (pior) a 7 (melhor). O valor apresentado entre parênteses é a média ponderada do Grau de
contaminação absoluto nos sedimentos(1/3) e biota (2/3).
2
* – Não foi possível obter dados para o biota do Estuário do Minho, o que significa que a sua classificação é no mínimo ambígua.

7.2.3.6. Afectação e Perda de Recursos Naturais


No Minho os efectivos de salmão terão regredido de forma acentuada na década de 50, após a implantação
da barragem de Peares, enquanto a população de sável se reduziu drasticamente no início dos anos 60, em
função da instalação da barragem de Belesar. As operações de dragagem destruindo os campos de postura, e
alterando as rotas migratórias têm também contribuído para o declínio dos peixes migradores na bacia. A
sobrepesca e a pesca ilegal, ajudam a explicar a acentuada regressão das populações das espécies diádromas.
A pesca do meixão com a arte de tela, provoca também mortalidades acrescidas das espécies piscícolas que
usam o estuário como viveiro.
No Douro a extracção de sedimentos do leito do estuário associada a outros factores como o não
funcionamento das eclusas, terão impactes significativos sobre ovos e larvas dos migradores anádromos.
Nota-se o quase desaparecimento de Petromyzon marinus e Alosa alosa, outrora muito abundantes em toda a
bacia. O “stock” de berbigão diminuiu também de forma acentuada a partir de 1990, coincidindo com a
intensificação das dragagens no estuário inferior. Com o fim destas dragagens, em 1995, deu-se a
recolonização da área por populações de garça-real, aparentemente uma resposta positiva à redução do
respectivo impacto.
A intensa pressão piscatória que se exerce na Ria de Aveiro sobre as espécies mais apreciadas em termos
gastronómicos constitui também um factor adicional de afectação dos recursos haliêuticos. A abundância do
caranguejo-verde tem vindo a diminuir nos últimos anos, carecendo a actividade de regulamentação mais
eficaz. Os constrangimentos provocados pela poluição acabam por ter efeitos a nível do rendimento
piscatório e aquícola da região, até por afectarem a cadeia alimentar.
A poluição poderá constituir igualmente um factor de constrição para as actividades aquícolas no estuário do
Tejo. Por questões de saúde pública, os bancos de bivalves existentes na zona da Trafaria não podem ser
actualmente explorados. Apesar de ainda hoje a pesca e o marisqueio serem uma actividade importante, é
indiscutível que a intensa exploração dos seus recursos conduziu a uma diminuição do rendimento piscatório.
Para além da poluição, redução dos caudais dulçaquícolas, e sobrepesca de alguns recursos, o elevado
número de falsos pescadores desportivos que operam à margem do sistema de controlo e a utilização de artes
de pesca ilegais, como o tapa-esteiros, o botirão e a tela (os dois últimos dirigidos fundamentalmente à
captura de meixão), contribuem decisivamente para esta situação. A permissão de utilização de arrasto de
vara nas principais zonas de viveiro do estuário é também um factor de constrangimento adicional para as
espécies que aí ocorrem.
Evidentemente que a intensa exploração dos recursos vivos existentes no estuário do Sado acaba por ter
efeitos negativos nas populações alvo de captura, bem como, de forma indirecta, em outras componentes do

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 53/67 (7 - II)


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

ecossistema. A sobrepesca e a pesca ilegal são, assim, factores importantes que têm contribuído para a
quebra dos rendimentos piscatórios da região.
Não tem havido um cumprimento das áreas licenciadas para a exploração de ganso, assim como dos
instrumentos admitidos para a recolha destes poliquetas. Este processo conduz a um conjunto de graves
consequências para o ecossistema estuarino.
A degradação da qualidade da água na Ria Formosa, põe em perigo as suas explorações aquícolas e recursos
haliêuticos naturais. Por outro lado, os viveiros de bivalves e as pisciculturas são, eles próprios, factores de
poluição adicional do meio hídrico. A pesca com artes ilegais e a sobrepesca são outros problemas
igualmente a ter em conta neste sistema, assim como as dragagens efectuadas no leito da ria, sobretudo
quando ocorrem em povoamentos de fanerogâmicas submersas.
Pressões Marginais
No Minho as dragagens, a reconversão de práticas agrícolas tradicionais, a abertura de estradas, a construção
de paredões e o aterro de zonas palustres (e.g. sapal do Coura) são problemas significativos. No Douro
verifica-se uma quase contínua ocupação urbana das margens do baixo e médio estuário, (freguesias de
Oliveira do Douro, Mafamude, e Santa Marinha, na margem esquerda, e Campanhã, Ribeira, Miragaia e
Lordelo, na margem direita) e uma intensa pressão no sentido da expansão dessa urbanização em direcção ao
plano de água e zonas ainda não edificadas. Verifica-se um intenso tráfego e procura de estacionamento nas
vias rodoviárias marginais.
A artificialização e destruição das zonas ribeirinhas é outra disfunção ambiental a ter em conta, estando as
áreas de sapal reduzidas a apenas cinco manchas. O sapal de Avintes terá sido bastante danificado por
terraplanagem no verão de 1998, (praia fluvial); e o sapal do Areinho nunca foi recuperado após ter sido
utilizado como estaleiro durante a construção da ponte do Freixo.
A área global dos sapais da Ria de Aveiro tem sofrido reduções significativas, em resultado de aterros para
fins agrícolas, construção de acessos e edificação de infraestruturas portuárias, nomeadamente na margem
poente do canal de Ovar, na zona da Murtosa, em ambas as margens dos canais de Mira e de Ílhavo e no
canal de navegação. Algumas das grandes manchas de caniço existentes na Ria de Aveiro, tal como os
sapais, estão também ameaçadas por projectos de conversão agrícola e de construção de infra-estruturas. O
aumento da pressão turística e o crescimento dos núcleos populacionais existentes e a construção de novas
redes viárias ocupando áreas da Ria (Dique Aveiro - Murtosa) são também significativos, neste contexto.
A expansão urbanística, com proliferação de empreendimentos nas margens do estuário do Tejo, e o
crescimento da rede viária, inclusivamente sobre o próprio sistema, conduzem a uma crescente destruição de
habitats naturais e à introdução de novos contaminantes no meio hídrico. São particularmente evidentes as
pressões actualmente exercidas sobre a Margem Sul, nomeadamente junto ao Samouco, pelo surto de
construção habitacional que se seguiu à entrada em funcionamento da Ponte Vaco da Gama.
Outros factores de perturbação do sistema são também a queima de caniço, a realização de drenagens na
lezíria e canais interiores e o aumento da extensão de culturas de regadio.
No Sado verificam-se grandes projectos de desenvolvimento industrial (Setúbal) e turístico (Troia);
construção clandestina em algumas áreas e alteração das margens. A superfície dos sapais tem com efeito
vindo a decrescer devido a progressiva "reclamação dos salgados" e desenvolvimento nas margens com
destruição daquelas formações vegetais (Esteiro do Carvão). Verifica-se também a conversão das Salinas em
aquaculturas o que pode ter impactes previsíveis, sobre a Avifauna aquática ou imprevisíveis como os
relacionados com o uso concentrado de antibióticos.
7.2.3.7. Afectação de Valores Conservacionistas e Recreativos
Tendo em conta que os migradores anádromos são espécies com um estatuto de conservação muito elevado,
a sua afectação pelos motivos referidos anteriormente constitui um constrangimento de singular relevância
na bacia do Minho.

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

A destruição da generalidade das manchas de sapal que existiam no estuário do Douro e a regressão dos
efectivos populacionais das espécies migradoras diádromas são os principais constrangimentos deste
ecossistema em termos conservacionistas.
Nas últimas décadas a área global dos sapais da Ria de Aveiro tem sofrido reduções significativas,
nomeadamente na margem poente do canal de Ovar, na zona da Murtosa, em ambas as margens dos canais
de Mira e de Ílhavo e no canal de navegação. Na margem nascente do canal de Ovar verifica-se ainda uma
progressiva degradação do sapal por causas indirectas, degradação que se manifesta através de
descontinuidades na comunidade de junco, que, para além disso, apresenta um crescimento atrofiado e
sintomas de apodrecimento. Estes factos não podem deixar de afectar a capacidade do sapal funcionar como
habitat para a avifauna migradora e residente.
A caça ilegal e o abate de espécies protegidas continua a ocorrer na região mais a montante do estuário do
Tejo, mormente no interior de áreas que gozam de estatuto de protecção. As acções de protecção e
conservação levadas a cabo nos últimos anos no Tejo, nomeadamente a constituição da sua Reserva Natural
e zonas de protecção associadas, compensam, no entanto, largamente esta situação.
A reconversão de salinas para tanques de cultivo de espécies piscícolas é igualmente um aspecto que afecta a
avifauna aquática, já que, na sua forma original, têm um valor muito maior para este grupo animal. As
dificuldades que se colocam à migração das espécies piscícolas diádromas para os troços mais a montante do
curso de água, constituem um dos principais factores de afectação dos valores conservacionistas do Tejo, já
que são globalmente peixes com elevado estatuto de ameaça.
A utilização balnear das praias interiores do estuário e da região estuarina inferior, para a prática de
actividades náuticas, como o remo e a vela, é evidentemente afectada pela má qualidade da água
nomeadamente em termos de contaminação fecal.
A afectação dos valores conservacionistas no estuário do Sado ainda não é particularmente elevada,
sobretudo em comparação com outros sistemas salobros.
Tendo em conta que as espécies mais importantes sob o ponto de vista da conservação da natureza na Ria
Formosa são as aves aquáticas, os aspectos que afectam directamente este grupo são os de maior gravidade.
A poluição e as alterações provocadas nas margens e nas zonas intertidais, muitas das quais determinadas
pela proliferação de estabelecimentos aquícolas, são factores fundamentais de afectação destas populações.
A destruição dos campos de Zostera é também muito gravosa, não só pela afectação desta componente
vegetal, mas também pelo impacto provocado nas comunidades animais que dela dependem.

7.2.4. Síntese e Diagnóstico: Problemas, Causas e Relevância


I- Perda de Valores Conservacionistas – Destruição de Habitats Naturais (Sapais)
Causa – Aumento da pressão turística e urbana; construção de infraestruturas portuárias com destruição de
salgados; construção de aterros e terraplanagens; artificialização das margens, construção de estradas e
diques; tráfego viário; alteração das práticas agrícolas.
Espacialização – Estas situações ocorrem um pouco por todo o lado, mas com especial incidência nos
estuários do Minho, Douro, Tejo e Ria Formosa.
Relevância – Tratam-se de ecossistemas complexos, com características ecológicas próprias e que
contribuem para dos estuários. A manutenção dessas áreas é da maior importância.
II - Perda de Valores Conservacionistas – Destruição de Habitats Naturais (Campos de Zoostera)
Causas – Realização de dragagens e arrastos.
Espacialização – Ocorre sobretudo nas Rias de Aveiro e Formosa e nos estuários do Tejo e Sado.
Relevância – Os campos de Zoostera (gramíneas marinhas) constituem habitats de uma enorme riqueza
biológica.

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III – Perda de Valores Conservacionistas – Migradores Anádromos


Causas – Construção de barragens, tendo como consequência a intersecção e a alteração das rotas
migratórias; utilização de artes de pesca ilegais; sobre-exploração dos recursos; poluição da água.
Espacialização – O problema ocorre nos estuários do Minho, Tejo, Sado e Guadiana.
Relevância – Algumas espécies apresentam já uma redução muito significativa dos efectivos, estando em
alguns casos ameaçadas de extinção.
IV – Perda de Valores Conservacionistas – Afectação dos Campos de Postura
Causas – Ocorrência de dragagens em períodos coincidentes com as épocas de reprodução.
Espacialização – Em todos os sistemas, mas com especial incidência no Minho e Douro.
Relevância – Redução do número de efectivos de várias espécies, algumas com elevado valor
conservacionista; diminuição dos recursos haliêuticos, não só nos estuários, mas também nas zonas costeiras.
V – Perda de Valores Conservacionistas – Aves Aquáticas
Causas – Reconversão de salinas para aquacultura; degradação das áreas de sapal; ocorrência de dragagens.
Espacialização – Ocorre nos estuários do Douro, Tejo e nas Rias de Aveiro e Formosa.
Relevância – Os estuários são abrigo de populações numerosas de aves, muitas delas migradoras; a
obrigação de manter essas populações em bom estado de conservação decorre de diversas figuras legais,
nacionais e internacionais.
VI – Degradação da Qualidade da Água em Geral
Causas – Rejeição de cargas poluentes de origem industrial e urbana, com ausência de tratamento ou com
tratamento insuficiente; cargas poluentes de origem agrícola (poluição difusa).
Espacialização – Ocorre com maior ou menor incidência, em todos os sistemas.
Relevância – Cumprimento de legislação quer nacional, quer internacional; ocorrência pontual de fenómenos
de eutrofização e de Blooms de algas tóxicas; afectação da cadeia alimentar humana; afectação do
rendimento da pesca e problemas do foro sanitário.
VII – Erosão das Barras e das Praias. Instabilidade das Restingas. Alteração da Deriva Litoral
Causas – Dragagens; redução do caudal sólido dos rios, decorrente dos barramentos a montante; trabalhos
portuários; outras acções de origem antrópica.
Espacialização – Ocorrem problemas no Minho, Douro, Tejo e rias de Aveiro e Formosa.
Relevância – A alteração das barras e das praias e a erosão costeira colocam questões relativas à segurança
de pessoas e bens, exigindo muitas vezes a execução de trabalhos com custos financeiros e ambientais
elevados.

7.2.5. Problemas Específicos Considerados Relevantes


Identificaram-se problemas específicos de apenas alguns dos estuários considerados, mas que pela sua
relevância poderão requerer uma intervenção urgente:
Alterações Induzidas no Comportamento Hidrodinâmico
No Douro, para além da interferência no regime hidrológico, o estuário foi sujeito a uma amputação directa
da suas dimensões naturais pela construção da Barragem de Crestuma-Lever. O rebaixamento do leito para
assegurar a navegabilidade terá também facilitado a progressão da água salobra na enchente. Há que referir
também o aumento do hidrodinamismo em consequência das obras do Porto de Aveiro, com aumento da
amplitude e correntes de maré, erosão e alteração do padrão e frequência de inundação das zonas intertidais e
suas consequências. Finalmente é conhecido o aumento de competência do Guadiana em função da fixação
da sua barra com molhes em 1974.

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Alterações na Estrutura da Comunidade


No estuário do Douro, factores como a redução do caudal dulçaquícola e a intrusão salina, terão induzido
alterações significativas na estrutura fitoplanctónica. O desaparecimento de espécies com estatuto de
protecção reconhecido, como a lampreia marítima e o sável, implica por outro lado a redução da
biodiversidade. Também no estuário do Tejo na função de viveiro, apenas o robalo-legítimo e duas espécies
de linguado o utilizam ainda como viveiro. É muito natural que um olhar mais atento ao funcionamento
ecológico dos restantes estuários permita detectar alterações semelhantes ou equivalentes.
Quebra da Produção de Moliço
Na faixa agrícola litoral de Aveiro, as necessidades de adubação foram sempre satisfeitas pela utilização do
moliço e do junco. A colheita de moliço cifrava-se ainda em 200 mil toneladas, em 1961. Caiu no entanto em
meados da década de 80 abruptamente para as 10 mil toneladas anuais, situação que se mantém.
A sua distribuição parece estar actualmente muito condicionada pelo hidrodinamismo decorrente das obras
portuárias, encontrando-se limitado a alguns locais, ao contrário do início do século, em que cobria
abundantemente os fundos de toda a laguna.
O Problema das Ostreiras
Até aos anos 70, Portugal era um dos mais importantes produtores de ostras na Europa com base numa
espécie endémica, a Crassostea angulata Lmk, ou "ostra portuguesa". Nos estuários do Tejo e Sado e a sua
produção, à época, equivalerá hoje a 2 milhões de contos ano-1. A partir sobretudo de 1973 estas populações
sofreram mortalidades maciças, iniciadas com características anomalias de calcificação, desde logo
associadas à presença de TBT (tributil estanho), nas tintas da Lisnave e da Setenave.
Pressões Marginais Específicas
Na Ria Formosa verifica-se, como referido, elevação do NMM e resposta do sistema migrando em direcção
ao continente. A migração das barras (e consequente encerramento/abertura natural de outras barras), é
dificilmente compatibilizável com a navegação e com a ocupação permanente da zona da barreira.
Verificam-se também galgamentos oceânicos (de indução natural e imprescindíveis para o
funcionamento/evolução do sistema) que entram em conflito com os mariscadores e com alguma navegação.
Um factor amplificador deste risco são as cerca de 2000 construções clandestinas existentes nas ilhas
barreira, frequentemente edificadas no cordão dunar frontal e, por vezes, mesmo em zonas de muito elevada
vulnerabilidade ao galgamento.
Intrusão Salina
A intrusão salina no freático de Estarreja será uma das principais ameaças à prática agrícola nos terrenos
marginais à Ria de Aveiro. O deficiente estado de conservação das motas que defendiam os campos, a sua
permeabilidade e a reduzida cota de coroamento não permitem, também, assegurar, uma protecção eficaz
contra a invasão das águas salgadas, designadamente durante a preia-mar de marés vivas.

7.2.6. Lacunas de Informação


As lacunas de informação identificadas devem sobretudo articular-se com a definição de objectivos e
medidas no âmbito do PNA, de modo a que o levantamento das indeterminações que representam possa vir a
contribuir para uma gestão dos sistemas estuarinos portugueses suportada em bases científicas e técnicas.
Assim tem-se:
Sistemas Mal Conhecidos
Alguns dos sistemas incluídos neste estudo nomeadamente o Minho, o Guadiana e o Douro, devem
considerar-se, apesar de esforços recentes e meritórios, como mal conhecidos no seu conjunto.
Falta de Elementos Base
Não se dispõe de planos hidrográficos actualizados para partes substanciais da maioria dos sistemas em
consideração, sobretudo nas zonas de montante, não interessadas na actividade portuária corrente. No Minho

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 57/67 (7 - II)


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por exemplo não se obteve informação aceitável sobre a profundidade média do estuário. Subsistem as
dúvidas que se referiram em termos de áreas e volumes. Verifica-se também que a distribuição da salinidade
é mal conhecida, no Minho, Douro, Ria de Aveiro e Ria Formosa.
Tratam-se, em todo o caso, de aspectos básicos que não são conhecidos com o detalhe essencial à
interpretação do seu comportamento e à compreensão do funcionamento dos sistemas.
Hidrodinâmica
Não se dispõe também de análises suficientemente detalhadas do comportamento da onda de maré no interior
de vários destes sistemas. Aliás a falta de informação no que diz respeito à sua hidrodinâmica não permite
analisar com rigor parâmetros que permitiriam uma melhor compreensão do funcionamento do sistema.
Sedimentologia
Permanecem lacunas de informação relativas quer a elementos básicos (e.g. dragados) quer a elementos
mais elaborados da sedimentologia estuarina e costeira, essenciais à compreensão da reciclagem de metais
pesados e xenobióticos. Referimo-nos à sedimentologia de siltes, argilas e colóides.
Conhecimento Básico das Biocenoses
No estuário do Minho a informação disponível, não permite avaliar até onde a influência marinha condiciona
a actividade biológica, nem definir os limites do estuário. Não se dispõe de estudos acerca do fitoplâncton,
zooplâncton e ictioplâncton. Nem sobre o fitobentos ou sobre a composição florística e faunística dos seus
sapais. Também no Douro e Guadiana a informação disponível é insuficiente.
Funcionamento Ecológico
A compreensão das ligações funcionais dos ecossistemas estuarinos são questões determinantes da sua
gestão cientificamente suportada. Assim a compreensão ciclo do Carbono, os níveis da produtividade
primária dos diferentes grupos produtores e a identificação da cadeia trófica dominante são questões
fundamentais.
Nos estuários do Douro e do Tejo por exemplo a produção do microfitobentos pode representar uma fracção
muito significativa da produção global, e, na Ria de Aveiro, a cadeia detrítica poderá ser dominante.
Subsistem grandes dúvidas sobre o carácter importador ou exportador (inwelling/outwelling) dos sapais e
formações similares dos estuários portugueses em relação ao seu corpo central e águas adjacentes.
Dada a importância das interacções e das entradas de água, nutrientes e sedimentos dos estuários do Minho,
Douro, Tejo e Guadiana para a plataforma continental e águas costeiras associadas, a artificialização das
respectivas bacias e regularização do correspondente ciclo hidrológico tem muito provavelmente um impacte
significativo sobre o efeito de outwelling nas águas costeiras adjacentes. Esta questão, requer uma
investigação específica articulada com a definição de caudais ecológicos para os estuários portugueses.
Impactes das Alterações Climáticas
As presentes e futuras Alterações Climáticas de origem global implicam o forçamento do ciclo hídrico e
afectam directamente o regime dos recursos hídricos, pelo que parece essencial adoptar metodologias de
previsão relativas ao comportamento de estuários e lagoas costeiras.
Neste contexto as alterações dos padrões hidrodinâmicos que resultem da alteração da propagação da maré
ou do regime de agitação em função da verificada subida do NMM, estimada em 10 a 20 cm nos últimos 100
anos e que se prevê aumentar entre 13 a 94 cm no decurso deste século, afectarão necessariamente todos os
estuários e zonas costeiras portugueses.
Portugal e o Tejo em particular, funcionam como limite biogeográfico entre espécies típicas de regiões mais
quentes e outras de regiões mais frias e o aumento da temperatura global estará a alterar já estes limites. Por
exemplo a espécie Sphoeroides spengleri referida em 1973 só para o sul de Espanha e Cabo Verde é agora
frequentemente detectada na costa portuguesa. É urgente esclarecer estes factos e as suas causas.

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Fontes Difusas
Não se obteve, uma distinção precisa entre a componente tópica e a componente difusa das cargas totais de
poluentes afluentes aos principais estuários portugueses. Questão que, no entanto, é essencial esclarecer, em
termos de gestão pela administração pública portuguesa e em termos de relações internacionais, para N e P, e
também para os xenobióticos correntemente usados na agricultura de regadio como Simazina e Atrazina.
Fontes Ocultas e Desconhecidos
A contaminação de estuários como o do Guadiana e a Ria de Aveiro por metais pesados a partir de fontes
ocultas, por exemplo a partir de obras de arte e tráfego urbano, tráfego naval e/ou de escorrências de minas
abandonadas, pode ser particularmente relevante.
Sabe-se também pouco sobre a metalóides e orgânicos persistentes (POPs) nomeadamente sobre compostos
que estão no centro das preocupações actuais, como Dioxinas e Furanos ou Xenoestrogénios que ocorrem
frequentemente nos efluentes das ETAR.
Enteropatogénios
A análise corrente da qualidade das águas estuarinas em termos de contaminação fecal procede à contagem
de indicadores bacterianos (Coliformes Totais, Coliformes Fecais e Estreptococus fecais) e à identificação de
alguns agentes de maior potencial patogénico (e.g. Salmonella). Parece essencial, no entanto, pela
importância que tem na etiologia das doenças de origem hídrica e pelas crescentes preocupações que suscita,
adquirir capacidade para detectar directamente vírus entéricos em águas naturais.

7.2.7. Conclusões
Seriação/Hierarquização dos Sistemas
Procedeu-se, em qualquer caso, à seriação dos principais estuários e sistemas costeiros portugueses, com
base na quantidade de informação existente e em critérios que decorrem da análise que se produziu, como a
população humana e no valor dos seus recursos, nas pressões sobre eles exercidas, na perda de recursos ou
evidente disfunção do sistema, no estatuto conservacionista e sua importância no contexto das relações Luso-
Espanholas.
Cada um destes critérios agrega por sua vez os resultado da avaliação mais detalhada a que se procedeu nos
capítulos precedentes com base em toda a informação que se compilou e analisou. A utilização conjugada
destes factores permite estabelecer um “ranking” nacional dos sistemas estuarinos e costeiros a integrar no
PNA, quer em termos de importância, quer em termos de gravidade dos problemas que os afectam.
Adoptam-se os pesos indicados na 2ª coluna do Quadros 26 e 27.
Hierarquia dos Estuários em Termos de Importância
Os resultados da análise relativa à hierarquia da importância dos sistemas estuarinos e costeiros apresenta-se
no Quadro 26.
Resulta desta análise que, em função dos critérios adoptados, os principais sistemas estuarinos e costeiros
portugueses se hierarquizam como segue:
Tejo > Douro > Minho> Sado = Ria Formosa = Guadiana > Ria de Aveiro
Hierarquia dos Estuários em termos da Gravidade dos Problemas
Da análise precedente retira-se também uma hierarquia do estado dos sistemas e dos seus problemas, ranking
esse que pode ser considerado agregado no seu conjunto ou desagregado para efeitos de análise sectorial.
Apresenta-se no Quadro 7.2.18.

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Quadro 7.2.18 - Seriação/Hierarquização da Importância dos Sistemas

Critério Peso Minho Douro Ria de Tejo Sado Ria Guadiana


/Sistema Aveiro Formosa
Recursos Hídricos 50 3 1 5 2 6 7 4
afluentes
Capacidade 100 1 1 3 6 7 5 3
Autodepuradora
Área e Demografia 100 6 3 4 1 2 5 7
Área 5 7 4 1 2 3 6
Demografia 6 2 4 1 3 5 7
% pop residente 6 2 4 1 3 5 7
Valor dos Recursos 100 7 6 4 1 3 2 5
Navegação 6 3 4 1 2 7 5
Pesca e outros 6 7 3 2 4 1 5
Aquicultura 6 7 2 4 3 1 5
Turismo e lazer 5 4 7 2 3 1 6
Interacção c/ Águas 50 3 2 7 1 5 6 4
Costeiras
Sedimentar 3 2 6 1 5 7 4
Outwelling N e P 3 1 7 2 6 5 4
Biodiversidade e 100 5 7 6 1 3 2 4
Estatuto Conserv.
Importância 50 2 3 6 3 6 6 1
Internacional
Ranking Final 2300 2000 2600 1200 2350 2350 2350
Importância
Quadro 7.2.18 - Seriação/Hierarquização dos Problemas

Critério Peso Minho Douro Ria de Tejo Sado Ria Guadiana


/Sistema Aveiro Formosa
Artificialização da
bacia e ciclo 50 3 4 1 5 7 2 6
hídrico
Impactes 100
Geomorfológico e 4 7 5 3 2 6 1
Sedimentológico
Perda deRecursos 100 5 2 6 7 4 3 1
Navegação 7 3 5 4 2 6 1
Pesca 4 5 3 7 6 2 1
P Específicos 4 3 2 1
Perda de Funções 100 4 6 5 7 3 2 1
Zonas de Viveiro 1 2 6 7 4 5 3
Rotas Migratórias 6 7 4 5 2 1 3
P Específicos 2 4
Metais pesados e 100 2 7 4 6 5 1 3
Xenobióticos
Contam. Fecal 50 3 6 4 7 5 1 2
Grau de
Eutrofização 50 5 6 7 4 2 1 3
Blooms de
Cianofíceas 50 6 7 3 3 3 1 5
e Dinoflagelados
Pressão Humana 100 4 7 6 5 2 1 3
Press. Marginais 2 7 6 5 3 4 1
População/área 3 7 6 5 4 2 1
Carga de N 6 7 4 5 1 2 3
Carga de P 5 7 4 3 2 1 6
Ranking Final 2750 4050 3350 3750 2450 1550 1700
Problemas

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Em qualquer caso, considerado agregado, o estado dos principais estuários portugueses será por ordem
decrescente de qualidade:
Ria Formosa > Guadiana > Sado> Minho >Ria de Aveiro > Tejo> Douro
ou em temos de urgência de intervenção:
Douro > Tejo > Ria de Aveiro >Minho> Sado >Guadiana > Ria Formosa

7.3. Caudais Ecológicos

7.3.1. Usos da Água e Afectação dos Sistemas Hídricos


Em Portugal Continental, o crescimento da população e o desenvolvimento económico estão associados ao
aumento dos consumos de água e à diversificação das utilizações, que tem conduzido, por sua vez, ao
aumento do número de aproveitamentos hidráulicos, para produção de energia, abastecimento público e rega,
usos aos quais estão frequentemente associados as actividades de recreio e lazer.
Os aproveitamentos hidráulicos alteram, genericamente, em maior ou menor grau, o regime hidrológico dos
cursos de água a jusante, devido ao efeito de regularização de caudais, captação e derivação de água e às
perdas por evaporação. A modificação do regime hidrológico é uma das mais importantes alterações
antropogénicas no ambiente, com consequências importantes ao nível dos ecossistemas lóticos, dado que o
caudal constitui um factor determinante na estrutura e diversidade das comunidades bióticas.
A jusante de um aproveitamento hidráulico verifica-se a redução do caudal médio, a diminuição da variação
sazonal do caudal, a alteração da época de ocorrência dos caudais extremos, com a redução da magnitude das
cheias e/ou a ocorrência de descargas não naturais. A modificação do regime hidrológico conduz à alteração
da velocidade e da profundidade do escoamento, do regime de transporte sólido e da morfologia do leito, da
temperatura e da qualidade da água.
O habitat das espécies dulciaquícolas é consequentemente afectado, perdendo complexidade e induzindo
impactes nas comunidades bióticas, nomeadamente na composição específica, estrutura dos agrupamentos e
relações inter e intraespecíficas. Assim, verifica-se um abaixamento da diversidade biótica, com tendência
para a dominância de espécies de afinidades lênticas e/ou de espécies exóticas, e, por consequência, redução
do grau de integridade ecológica e do estado de conservação dos ecossistemas.
Quanto à vegetação ripária as transformações processam-se em articulação com as da geomorfologia do
curso. As alterações na estrutura do canal e na natureza dos materiais do leito são acompanhadas do avanço
da vegetação colonizando as margens e o leito (encroachment), vegetação esta em que tendem a predominar
espécies exóticas. Este processo é particularmente notório nos casos em que as albufeiras a montante tem
uma grande capacidade de armazenamento relativamente ao escoamento da bacia drenante, i.e. tem uma
grande capacidade de regularização não se verificando episódios de cheia a jusante.
Na Figura 7.3.1 estão representados os troços dos cursos de água cujo regime hidrológico tem sido mais
fortemente afectado, alguns dos quais desde inícios do século XX, devido à construção e exploração de
aproveitamentos hidráulicos. A alteração do regime hidrológico, tem sido tanto ou mais profunda em função
das características dos aproveitamentos, nomeadamente capacidade de regularização da albufeira, uso a que
se destina (produção de energia eléctrica, rega ou abastecimento público) e regime de exploração.
Com base nos troços considerados como mais afectados (Figura 7.3.1), e considerando a totalidade da rede
hídrica, 15,8% dos cursos de Portugal continental encontram-se alterados. Mas, se limitarmos a análise
unicamente às 11 maiores bacias hidrográficas (com áreas superior a 1000 km2), o grau de afectação dos
cursos principais ultrapassa 90%.
Salienta-se o caso dos rios internacionais (Minho, Lima. Douro, Tejo e Guadiana) cujas bacias hidrográficas
são partilhadas com Espanha, que têm vindo a sofrer nas últimas décadas profundas alterações do seu regime
hidrológico, sensíveis nas secções de fronteira, devido à construção de inúmeros aproveitamentos hidráulicos
na parte espanhola das suas bacias hidrográficas. Refira-se, a título de exemplo, o caso do rio Guadiana na
secção de Badajoz que apresenta uma redução actual do escoamento em regime natural de 50%.

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Importa mencionar que, além das grandes barragens, existem numerosos pequenos aproveitamentos de
interesse particular no Alentejo sobretudo destinados a rega, nomeadamente e a título de exemplo só na bacia
portuguesa do Guadiana foram inventariados no âmbito do Plano de Bacia do Guadiana (2000) cerca de
1800 pequenos aproveitamentos hidráulicos. Por outro lado, no Norte do país existem antigas mini-hídricas e
pequenos açudes associados a levadas que também não estão identificados na Figura 7.3.1. Tal permite
afirmar que a extensão de cursos de água cujo regime hidrológico foi alterado está subavaliada.

Figura 7.3.1 - Troços dos Cursos com Regimes mais Fortemente Alterados devido a Barragens com Capacidade
de Armazenamento Superior a 0,1 hm3, já Existentes ou em Construção, e Mini-Hídricas Construídas desde 1989

7.3.2. Os Caudais Ecológicos como Resolução do Problema


No sentido de minorar os impactes sobre os ecossistemas dulciaquícolas a jusante de aproveitamentos
hidráulicos, têm sido desenvolvidos esforços no sentido de definir para cada aproveitamento hidráulico um
regime de caudais ecológicos, isto é, um regime de caudais mínimos a manter no curso de água, que
permitam assegurar a conservação e manutenção dos ecossistemas aquáticos naturais, a produção das
espécies com interesse desportivo ou comercial, assim como a conservação e manutenção dos ecossistemas
ripícolas, dos aspectos estéticos da paisagem ou outros de interesse científico ou cultural.

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

O estabelecimento de um regime de caudais ecológicos apenas com base nas necessidade das espécie
piscícolas ou outras pode resultar na degradação do leito, alteração dos processos geomorfológicos, redução
ou alteração da vegetação ripícola e alteração das funções da planície aluvial. Assim, a recomendação de um
regime de caudais ecológicos deve envolver também caudais de limpeza (flushing flows, na terminologia
anglo-saxónica) para remoção de materiais finos depositados e prevenção do crescimento da vegetação,
caudais para a manutenção da estrutura do leito e da capacidade de transporte, caudais para manutenção da
zona ripária, leito de cheia, características do vale e manutenção do nível freático, assim como caudais de
manutenção dos ecossistemas associados aos cursos de água, tais como zonas húmidas e estuários.
O regime de caudais ecológicos é constituído por valores de caudal que variam ao longo do ano para atender
às necessidades das espécies (agrupamentos ou comunidades), e é flexível em função das condições
hidrológicas naturais que se verificam Esta legislação constitui a base legal que tem permitido desde 1989
incluir no licenciamento de novos aproveitamentos hidráulicos, a obrigação de manter um caudal mínimo no
curso de água a jusante da barragem para a minimização dos impactes negativos nos ecossistemas aquáticos.
O valor deste caudal é independente do caudal reservado, que tem de ser sempre garantido a jusante dos
aproveitamentos hidráulicos, para a manutenção de usos já existentes, como sejam a rega e o abastecimento
público ou outros usos. Para a generalidade dos aproveitamentos licenciados antes desta data, 91 à data do
Decreto Regulamentar n.º 2/88 de 20 de Janeiro, não existe a obrigação de manter o caudal ecológico, apenas
se verificando para alguns aproveitamentos a obrigação de manter o caudal reservado.em cada ano, em
particular em anos secos.

7.3.3. Enquadramento Legislativo do Caudal Ecológico


A obrigatoriedade de manter um caudal que permita a conservação e manutenção dos ecossistemas aquáticos
está incluída no articulado da Lei de Bases do Ambiente (Lei n.º 11/87 de 7 de Abril) e no Decreto Lei n.º
70/92 de 2 de Março, ao ser referida a necessidade de tomar em consideração a protecção e conservação do
ambiente no processo de planeamento, administração e utilização do domínio hídrico.
Mais recentemente o Decreto-Lei n.º 46/94 de 22 de Fevereiro, que estabelece o regime de licenciamento da
utilização do domínio público, refere no “Conteúdo dos títulos de captação da água para produção de
energia hidroeléctrica”, a necessidade de estabelecer os caudais ecológicos e reservado, e no “Conteúdo da
licença para a construção de obras hidráulicas” a obrigatoriedade de instalação dos dispositivos necessários
para deixar passar os caudais ecológico e reservado, no sentido de salvaguardar o interesse público e
legítimos interesses de terceiros.
Por outro lado, o Decreto-Lei n.º 45/94 de 22 de Fevereiro, que regula o processo de planeamento de
recursos hídricos e a elaboração e aprovação dos planos de recursos hídricos, estabelece como um dos
objectivos do Plano Nacional da Água a conservação e recuperação dos ecossistemas aquáticos através da
manutenção de um regime de caudais ecológicos. Ou seja, pela primeira vez, a atribuição da água para os
valores ambientais é levada em conta no contexto da planificação e gestão de recursos hídricos.
O Decreto-Lei n.º 69/2000, de 3 de Maio, que aprova o regime jurídico da Avaliação de Impacte Ambiental,
transpondo para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 85/337/CEE, com as alterações introduzidas pela
Directiva n.º 97/11/CE, do Conselho, de 3 de Março, e que revoga legislação anterior sobre este assunto
datada de 1990, tem permitido estabelecer no âmbito do Processo de Avaliação de Impacte Ambiental de
aproveitamentos hidráulicos caudais ecológicos para a minimização dos impactes ambientais gerados.
No caso dos rios internacionais, a “Convenção sobre Cooperação para a Protecção e o Aproveitamento
Sustentável das águas das bacias Luso Espanholas” estabelece, com base nos seus artigos 10º, 13º e 16º “a
manutenção de um regime de caudais necessário para garantir o bom estado das águas, os usos actuais e
previsíveis e o respeito do regime vigente dos Convénios de 1964 e 1968”, que deverá ser proposto pela
“Comissão para a aplicação e o Desenvolvimento da Convenção” e aprovado pela “Conferência das Partes”
(Artigo 20º). Até à definição deste regime de caudais, aplica-se o regime provisório constante do Protocolo
Adicional a esta Convenção.

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Actualmente a necessidade de garantir determinados regimes de caudais face a objectivos de recuperação ou


manutenção de estados de boa ou elevada qualidade ecológica é implicitamente reconhecida pela Directiva
2000/60/CE, de 23 de Outubro de 2000, que estabelece um quadro de acção comunitária no domínio da
política da água. Com efeito, esta Directiva, considera no respectivo Anexo V o regime hidrológico, incluído
nos elementos hidromorfológicos de suporte dos elementos biológicos, como um dos elementos de qualidade
para a classificação do estado ecológico dos curso de água.
Face ao exposto, a conservação dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos no processo de planeamento, gestão
e utilização dos recursos hídricos está consignada no direito português. No entanto, é essencial a manutenção
de regimes de caudais ecológicos que estão expressos de forma implícita, e por vezes explícita, na legislação
existente. Não são, contudo, definidos valores ou métodos para a sua determinação, excepto no caso dos rios
internacionais cujos regime provisórios estão estabelecidos no Protocolo Adicional à “Convenção sobre
Cooperação para a Protecção e o Aproveitamento Sustentável das águas das bacias Luso Espanholas”.

7.3.4. Situação Actual dos Caudais Ecológicos em Portugal Continental


A determinação do caudal ecológico em Portugal Continental baseia-se, actualmente, no regime hidrológico
natural assumindo-se que uma dada percentagem do módulo anual, garantirá o pretendido grau de
integridade ecológica. O método utilizado pertence ao grupo dos métodos baseados em registos de caudais.
No entanto, mais recentemente e para os grandes aproveitamentos hidráulicos como os Empreendimentos de
Alqueva (1994), Enxoé (1998) ou Alto Lindoso e Touvedo ou, ainda, para os sectores internacionais dos rios
Minho, Lima, Tejo, Douro e Guadiana, outra abordagem tem sido adoptada privilegiando metodologias que
têm em conta o regime hidrológico natural e as características dos ecossistemas.
Em Portugal Continental, e desde 1989, os caudais ecológicos têm sido estabelecido do seguinte modo:
 Aproveitamentos mini-hídricos e outros aproveitamentos a Norte do rio Tejo: valor não inferior a 2,5 a
5% do caudal modular do curso de água, a manter todo o ano, sempre que o caudal instantâneo que
ocorre em regime natural o permita.

 Aproveitamentos Hidroagrícolas a Sul do rio Tejo: valor igual ou superior a 5% do módulo, em ano
médio, sempre e só se esse valor for inferior ou igual ao caudal médio mensal, caso contrário deverá
manter-se o caudal médio nesse mês, podendo o caudal ser nulo nos meses de estiagem.

 Grandes Aproveitamentos Hidráulicos:


- Aproveitamento de Fins Múltiplos de Alqueva: o regime de caudal ecológico foi definido
segundo a Metodologia Incremental no âmbito do 2º Estudo de Impacte Ambiental (1994),
recorrendo a informação base produzida no 1º Estudo de Impacte Ambiental (1986) (Quadro 7.3.1).
Adicionalmente, deve ser considerado um caudal de limpeza, ou seja um caudal instantâneo
superior a 300 m3/s, antecedido e seguido de caudais superiores a 25 m3/s. Neste momento está em
curso um estudo no sentido de definir o regime de caudais necessário para a conservação do
estuário do Guadiana, que poderá ter repercussões no regime estabelecido no 2º Estudo de Impacte
Ambiental

Quadro 7.3.1 - Regime de Caudal Ecológico no Rio Guadiana, Troço Pedrogão - Pulo do Lobo, em Ano Médio,
Proposto no 2º Estudo de Impacte Ambiental do Aproveitamento de Fins Múltiplos de Alqueva

Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set

Caudal ((m3/s) 4.0 19.0- 25.0 19.0 - 25.0 19.0 19.0 11.0 13.0 13.0 6.3 - 13.0 3.0 - 4.0 2.6 - 4.0 3.8 - 4.0

Afluência ((hm3) 11.0 49.0 - 65.0 51.0 - 67.0 49.0 46.0 30.0 34.0 35.0 16.0 - 34.0 8.0 - 11.0 8.0 - 11.0 10.0

- Aproveitamento Hidráulico do Enxoé (1998), o regime de caudal ecológico definido teve em


conta a hidrologia, a hidrogeologia e as características do ecossistema fluvial, nomeadamente da

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CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

comunidade piscícola. Foi, também, proposto um Programa de Monitorização para avaliar da


eficácia do regime de caudal ecológico estabelecido, que ainda não chegou a ser implementado.

- Aproveitamento Hidroeléctrico do Alto Lindoso e Touvedo: tem sido mantido um regime


provisório até à conclusão do Estudo Experimental para a Definição do Caudal Ecológico do rio
Lima, prevista para 2001. Tem sido estabelecido o seguinte regime de caudal ecológico: 0,5 m3/s de
Junho a Setembro, inclusive, e 2 m3/s de Outubro a Maio, inclusive. No caso do Aproveitamento
Hidráulico do Touvedo tem sido assegurada a descarga de um caudal de 4 m3/s, valor proposto no
Estudo de Impacte Ambiental, desconhecendo-se os critérios que levaram à sua definição.

 Planos de Bacia Hidrográfica dos Rios Internacionais: foram incluídas na Síntese dos Planos das Bacias
Hidrográficas dos rios Luso-Espanhóis, de Outubro de 2000, propostas de regimes de caudais
ecológicos para as secções internacionais dos rios Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana, calculados
com base em métodos baseados em registos de caudais, adequados ao planeamento de recursos hídricos
à escala da bacia hidrográfica, tendo-se em conta algumas das principais características ecológicas
destes rios, como por exemplo a época de reprodução das espécies piscícolas (Quadro 7.3.2). No
entanto, segundo a “Convenção sobre Cooperação para a Protecção e o Aproveitamento Sustentável das
águas das bacias Luso Espanholas”, estes regimes deverão ser submetidos à “Comissão para a aplicação
e o Desenvolvimento da Convenção” e aprovado pela “Conferência das Partes”. Até à definição de um
regime definitivo de caudais, aplica-se o regime provisório constante do Protocolo Adicional a esta
Convenção.
Quadro 7.3.22 - Propostas de Regimes de Caudais Ecológicos para as Secções Internacionais dos Rios Minho,
Lima, Douro, Tejo e Guadiana, Propostas na Síntese dos Planos das Bacias Hidrográficas dos Rios Luso-Espanhóis

Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Ano
Minho Caudal (m3/s) 5,6 19,3 42,2 55,6 324,5 243,4 178,2 124,7 12,7 6 3,7 3,1 83,3
Afluência (hm3) 15,0 50,0 113,0 149,0 785,0 652,0 462,0 334.0 33,0 16,0 10,0 8,0 2627
Lima Caudal (m3/s) 3,0 4,0 8,0 10,0 45,0 44,0 32,0 25,0 15,0 3,0 3,0 3,0 16
Afluência (hm3) 8,0 10,4 21,4 26,8 108,9 117,8 82,9 67,0 38,9 8,0 8,0 7,8 506
Douro Caudal (m3/s) 23,9 52,5 84,4 103 298,4 244,9 185,6 133,7 35,1 14,2 5,2 7,3 97,7
Afluência (hm3) 64,0 136,0 226,0 276,0 722,0 656,0 481,0 358,0 91,0 38,0 14,0 19,0 3081
Tejo Caudal (m3/s) 11,6 27,4 41,8 50,8 324,5 261,4 232,6 146,7 63,3 5,2 3,7 5 96,1
Afluência (hm3) 31,0 71,0 112,0 136,0 785,0 700,0 603,0 393,0 164,0 14,0 10,0 13,0 3032
Guadiana Caudal (m3/s) 10,1 23,1 104,2 104,2 104,2 104,2 104,2 66,8 15,8 16,1 10,1 10 56
Afluência (hm3) 10,1 60,0 279,0 279,0 252,0 279,0 270,0 179,0 41,0 43,0 27,0 26,0 1766

Na Figura 2 estão representados os troços das linhas de água a jusante de grandes barragens com capacidade
de armazenamento superior a 0,1 hm3 licenciadas antes de 1989 e para os quais não está estabelecido nenhum
regime de caudal ecológico, de aproveitamentos mini-hídricos e aproveitamentos hidroagrícolas licenciados
em data posterior a 1989 e com regimes de caudais ecológicos provisórios, e de grandes barragens para as
quais foram ou serão brevemente estabelecidos regimes de caudais ecológicos (Enxoé, Alto Lindoso e
Touvedo).
A extensão de cursos de água para que estão, ou estarão em breve, definidos regimes de caudais ecológicos
representa unicamente 7,0% da extensão total considerada como afectada devido aos aproveitamentos
hidráulicos..

7.3.5. Diagnóstico
A actual situação em Portugal Continental caracteriza-se pela existência de um número elevado de
aproveitamentos hidráulicos (cerca de 150 grandes barragens) que continuará a aumentar no futuro, por um
número muito elevado e sempre crescente de pequenas barragens para rega em particular no Sul do país e,
em menor escala, por um número crescente de aproveitamentos mini-hídricos, em especial no Norte do País.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 65/67 (7 - II)


CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

Ao mesmo tempo, constata-se que algumas das grandes barragens estão situadas em áreas da Rede NATURA
2000, como sejam o Parque Natural da Serra da Estrela e o Parque Natural de Montezinho, ou que estão em
análise novos aproveitamentos hidráulicos para essas mesmas áreas, como por exemplo para o Sítio da Rede
Natura 2000 “Rio Sabor e Maçãs” ou para o Sítio da Rede Natura 2000 “Alto Côa”. As consequências
significativas no grau de integridade e no estado de conservação dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos.
A percentagem da extensão afectada relativamente à totalidade da rede hídrica é de 15,8%. Considerando
unicamente os cursos principais das bacias hidrográficas com área superior a 1000 km2 o grau de afectação
ultrapassa 90% o que, por si só traduz a dimensão das alterações provocadas nos maiores cursos.
Os impactos efectivos dos aproveitamentos hidráulicos nos ecossistemas lóticos e ribeirinhos são, no entanto,
difíceis de caracterizar e quantificar, não só porque não têm sido feitos esforços concertados nesse sentido,
mas porque, apesar de algum trabalho desenvolvido nas 2 últimas décadas, há ainda lacunas evidentes de
conhecimento sobre os sistemas ecológicos em território nacional em geral, e, em particular, sobre a
compreensão dos processos relevantes a eles associados (cf. Lacunas de conhecimento).
A protecção e a conservação dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos no processo de planeamento,
administração e utilização dos recursos hídricos está consignada no direito português. No entanto, para
atingir este objectivo é essencial a manutenção de regimes de caudais ecológicos. Na legislação existente não
estão, no entanto, definidos valores ou métodos para a sua determinação, como seria desejável.
Contudo, a legislação existente tem garantido que seja incluído na licença dos aproveitamentos mini-
-hídricos, desde 1989, e dos novos aproveitamentos hidráulicos sujeitos ao Processo de Avaliação de
Impacte Ambiental, desde 1990, a exigência de manter um regime de caudais ecológicos.
Na generalidade dos casos, e com excepção dos Aproveitamentos de Alqueva, do Enxoé, e do Alto Lindoso
e Touvedo, os regimes de caudais ecológicos têm sido estabelecidos com base em registos históricos de
caudais, que garantem, em princípio, um certo grau de integridade dos ecossistema lóticos e ribeirinhos.
Contudo, persiste a inexistência de monitorização, motivada pela ausência de definição de Programas de
Monitorização, frequentemente propostos no âmbito dos processos de Avaliação de Impacte Ambiental, ou
pela impossibilidade de concretização por ausência de financiamento, como no caso do Aproveitamento
Hidráulico do Enxoé. Este teria contribuído para compreender as relações entre caudais e variáveis bióticas,
esclarecendo processos de natureza complexa, e ainda teria permitido avaliar a eficácia do regime de caudais
ecológicos implementados, e consequentemente possibilitado o seu posterior ajustamento.
Por outro lado, a falta de fiscalização por parte das entidades competentes, as actuais Direcções Regionais de
Ambiente e Ordenamento do Território, leva a um desconhecimento sobre o actual grau de cumprimento da
condição de licenciamento que constitui a manutenção de caudais ecológicos.
Tendo em conta a situação descrita há, pois, que salientar os seguintes aspectos:
1) A actual inexistência de métodos e critérios para o estabelecimento de regimes de caudais ecológicos que
permitam cumprir o estabelecido no direito português relativamente a conservação dos ecossistemas;
marinhas no estuário e zona costeira adjacente
2) A resolução da questão do ponto anterior passa, inevitavelmente, por:
a) Conhecimento dos sistemas aquáticos e ribeirinhos em território nacional e compreender os
processos relevantes a eles associados,
b) Definição de objectivos precisos quanto à conservação dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos,
c) Inserção no novo quadro institucional e normativo nacional dos métodos e critérios a utilizar, tendo
em conta a especificidade dos ecossistemas e os diferentes tipos de aproveitamentos hidráulicos;
3) Os programas de monitorização constituem um instrumento fundamental para aumentar o conhecimento
relativamente aos processos naturais dependentes do caudal e aferir e melhorar os métodos estabelecidos,
devendo ser contemplados no novo quadro institucional e normativo nacional;
4) O novo quadro institucional e normativo nacional no que se refere aos regimes de caudais ecológicos
deverá considerar quatro tipos de situações: aproveitamentos anteriores a 1989/90, aproveitamentos

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ECOSSISTEMAS E QUALIDADE BIOLÓGICA

licenciados em data posterior para os quais foram definidos caudais ecológicos de forma expedita e
agora considerada provisória, aproveitamentos licenciados em data posterior a este Plano e caudais
ecológicos dos rios internacionais, Lima, Minho, Douro, Tejo e Guadiana, que segundo a “Convenção
sobre Cooperação para a Protecção e o Aproveitamento Sustentável das águas das bacias Luso
Espanholas deverão ser propostos à “Comissão para a aplicação e o Desenvolvimento da Convenção” e
aprovados pela “Conferência das Partes”. Para cada uma destas situações serão estabelecidas estratégias
de implementação de regimes de caudais ecológicos;
5) Os aproveitamentos de Alqueva, e do Alto Lindoso e Touvedo, e outros a considerar, poderão ser
seleccionados como projectos piloto para aferição e validação dos métodos estabelecidos neste Plano;
6) A necessidade de implementar regimes de caudais ecológicos em aproveitamentos hidráulicos já
construídos obriga a que sejam estudadas soluções técnicas viáveis que permitam a descarga controlada
destes caudais, o que deverá ser alvo de estudo específico.

7.3.6. Lacunas de Informação


É genericamente reconhecido que a alteração do regime hidrológico dos cursos de água provocada pelos
aproveitamentos hidráulicos tem consequências significativas e negativas no grau de integridade ecológicas
dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos no sector a jusante. No entanto, a caracterização dessas alterações é
problemática, já que não se dispõe de informação suficiente sobre as necessidades de regime hidrológico de
diversos componentes bióticos e as consequências da modificação de caudais sobre a estrutura das
comunidades em geral. O esforço desenvolvido no país ao longo das 2 últimas décadas por diversas
instituições e pela comunidade científica em geral (que durante décadas dependeu exclusivamente ou quase
da investigação universitária, realizando-se ao sabor dos gostos individuais, das estratégias curriculares e dos
irregulares financiamentos de que dependem ou dependiam os universitários) é ainda insuficiente.
Não se afigura possível a resolução destes problemas a curto prazo e de outro modo que não seja com o
desenvolvimento de programas de monitorização. Estes deverão permitir avanços significativos na
compreensão de processos actualmente ainda mal esclarecidos, designadamente quanto às implicações do
regime hidrológico em (i) manutenção da geomorfologia do canal fluvial, (ii) grau de integridade das
comunidades aquáticas, (iii) estrutura dos agrupamentos piscícolas, (iv) conservação de espécies piscícolas
endémicas, (v) abundância de espécies piscícolas exóticas, (vi) conservação dos corredores ripários com
maior integridade e valor de conservação, (vii) dinâmica sedimentar nas zonas estuarinas, (viii) entrada e
reprodução de peixes migradores diádromos, (ix) valor do estuário como viveiro (nursery), e (x) abundância
de espécies piscícolas

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 67/67 (7 - II)


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

8. DOMÍNIO HIDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

8.1. Definição do Domínio Hídrico

8.1.1. Aspectos Gerais. Legislação


O domínio hídrico é um conjunto de bens que, pela sua natureza, a lei submete a um regime de carácter especial.
Integram este conjunto de bens as águas, doces ou salgadas e superficiais ou subterrâneas, e os terrenos que
constituem os leitos das águas do mar e das correntes de água, dos lagos e lagoas, bem como as respectivas
margens e zonas adjacentes, sujeitos, respectivamente, ao disposto nos seguintes diplomas legais:
- Decreto n.º 5787 – 4I, de 10 de Maio de 1919 (Lei das Águas) – que regulou o uso das águas.
- Decreto-Lei n.º 468/71, de 5 de Novembro (Lei dos Terrenos do Domínio Hídrico) e legislação
complementar – que procedeu à revisão, actualização e unificação do regime jurídico dos terrenos do
domínio hídrico (em tudo quanto não seja regulado por leis especiais ou convenções internacionais).
Em função da natureza jurídica que está subjacente aos bens que o compõem, o domínio hídrico subdivide-se
em:
 Domínio público hídrico, é o que diz respeito às águas públicas. Por se encontrar integrado no domínio
público do Estado, os bens, naturais ou artificiais, que o constituem estão, nos termos da lei, submetidos
a um regime especial de protecção em ordem a garantir que desempenhem o fim de utilidade pública a
que se destinam, regime que os subtrai à disciplina jurídica dos bens do domínio privado tornando-os
“inalienáveis, impenhoráveis e imprescritíveis”. É habitual subdividi-lo em:
• Domínio marítimo, no qual se integram:
a) As águas territoriais, com os seus leitos e a plataforma continental (Constituição de 1933, art.
49º n.º 2);
b) As águas do mar interiores, com os seus leitos e margens (Dec. N.º 5787-4 I, art. 1º n.º 1 e
Decreto-Lei n.º 468/71, art. 1º, 2º, 3º e 5º);
c) As demais águas sujeitas a influência das marés nos rios, lagos e lagoas, com os seus leitos e
margens, até aos limites interiores fixados no quadro n.º 1 do Decreto-Lei n.º 265/72 –
Regulamento Geral das Capitanias (Dec. n.º 5787-4 I, art. 2º, 3º e 5º).
• Domínio fluvial, no qual se integram:
a) Os cursos de água navegáveis ou flutuáveis, com seus leitos e margens, para montante
dos limites interiores fixados pelo quadro n.º 1 do Decreto-Lei n.º 265/72 (Dec. n.º
5787-4 I, art. 2º, 3º e 5º);
b) Os cursos de água não navegáveis nem flutuáveis que, por decreto especial, forem reconhecidos
de utilidade pública como aproveitáveis para a produção de energia eléctrica, nacional ou
regional, ou para irrigação (Constituição de 1933, art. 49º n.º 3);
c) Os leitos e margens dos cursos de água não navegáveis nem flutuáveis nos troços em que
atravessarem terrenos públicos (Dec. n.º 5787-4 I, art. 1º n.º 3 e Dec.-Lei n.º 468/71, art. 5º).
• Domínio lacustre, no qual se integram:
a) Os lagos e lagoas navegáveis ou flutuáveis que não se situem dentro de um prédio particular,
com seus leitos e margens (Dec. n.º 5787-4 I, art. 1º n.º 4);
b) Os lagos e lagoas navegáveis que situando-se dentro de um prédio particular sejam alimentados
por corrente pública, com seus leitos e margens (Dec. n.º 5787-4 I, art. 2º n.º 2 a contrario);
c) Os lagos e lagoas não navegáveis nem flutuáveis que, por decreto especial, forem reconhecidos
de utilidade pública como aproveitáveis para a produção de energia eléctrica nacional ou
regional, ou para irrigação (Constituição de 1933, art. 49º n.º 3);

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

d) Os lagos e lagoas não navegáveis nem flutuáveis formados pela natureza em terrenos públicos
(Dec. n.º 5787-4 I, art. 1º n.º 4);
e) Os lagos e lagoas não navegáveis nem flutuáveis circundados por diversos prédios particulares
(Dec. n.º 5787-4 I, art. 1º n.º 4).
• Outros bens:
a) Os canais e valas navegáveis ou flutuáveis, com os respectivos leitos e margens (Dec. n.º 5787-
4 I, art. 1º, n.º 2);
b) As valas abertas pelo Estado com os respectivos leitos e margens (Constituição de 1933, art. 49º
n.º 4 e Dec.-Lei n.º 468/71);
c) Os pântanos formados pela natureza em terrenos públicos (Dec. n.º 5787-4 I, art. 10º n.º 4);
d) Os pântanos circundados por diversos prédios particulares (ibidem);
e) As águas nativas que brotarem em terrenos públicos, municipais ou de freguesia (Dec. n.º
5787-4 I, art. 10º n.º 5);
f) As águas pluviais que caírem em terrenos públicos, municipais ou de freguesia (ibidem);
g) As águas que correrem pelos terrenos públicos, municipais ou de freguesia (ibidem);
h) As águas subterrâneas que existam em terrenos públicos, municipais ou de freguesia (ibidem);
i) As águas de fontes públicas (Dec. n.º 5787-4 I, art. 1º n.º 6);
j) As águas dos poços e reservatórios construídos à custa dos concelhos e das freguesias (ibidem);
l) As águas que tenham início em qualquer prédio particular, do Estado ou dos corpos
administrativos, logo que umas e outras transpuserem abandonadas os limites dos respectivos
prédios ou forem lançar-se em outras águas públicas ou no mar (Dec. n.º 5787-4 I, art. 1º n.º 6).
 Domínio hídrico pertença de particulares, é o que se encontra definido nos artigos 1385º e seguintes do Código
Civil, nomeadamente:
• artigo n.º 1386º n.º 1 - são particulares:
a) As águas que nasceram em prédio particular e as pluviais que nele caírem, enquanto não
transpuserem, abandonadas, os limites do mesmo prédio ou daquele para onde o dono dele as
tiver conduzido e, ainda, as que, ultrapassando esses limites e correndo por prédios particulares,
forem consumidas antes de se lançarem em outra água pública ou no mar;
b) As águas subterrâneas existentes em prédios particulares;
c) Os lagos e lagoas existentes dentro de prédios particulares, quando não sejam alimentados por
corrente pública;
d) As águas originariamente públicas que tenham entrado no domínio privado até 21 de Março de
1868, por preocupação, doação ou concessão;
e) As águas públicas concedidas perpetuamente para regas ou melhoramentos agrícolas;
f) As águas subterrâneas existentes em terrenos públicos, municipais ou de freguesia, explorados
mediante licença e destinadas a regas ou melhoramentos agrícolas.
• artigo n.º 1387º - são ainda particulares:
a) Os poços, galerias, canais, levadas, aquedutos, reservatórios, albufeiras e demais obras
destinadas à captação, derivação ou armazenamento de águas públicas ou particulares;
b) O leito das correntes não navegáveis que atravessem terrenos particulares (idem, para as
respectivas margens)

2/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

O domínio hídrico quer na sua componente pública, quer na que pertence aos particulares, nos termos da lei,
está sempre sob jurisdição de uma entidade pública, vulgarmente designada por entidade administrante do
domínio hídrico.
Em razão das funções que lhes estão cometidas, tais entidades são:
- As entidades portuárias, que exercem a sua jurisdição nas zonas com interesse portuário. Actualmente
abrangem cinco administrações portuárias que, recentemente, passaram a constituir sociedade anónimas
de capitais exclusivamente públicos e três institutos portuários, institutos públicos dotados de
personalidade jurídica, autonomia administrativa e financeira e património próprio, dependentes do
Ministério do Equipamento Social,.
- O Instituto de Navegabilidade do Douro (IND), pessoa colectiva pública, com personalidade jurídica,
dotado de autonomia administrativa e financeira e património próprio, dependente do Ministério do
Equipamento Social, que exerce jurisdição sobre o canal navegável e via navegável do rio Douro
definidos nos Decretos-Lei nºs 138-A/97 e 344-A/98, respectivamente de 3 de Junho e 6 de Novembro,
no troço nacional deste rio a montante da área sob jurisdição da APDL-AS.
- O Instituto da Água (INAG), pessoa colectiva pública dotada de autonomia administrativa, organismo
do Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território, que detém jurisdição no restante domínio
hídrico, isto é e genericamente, no domínio marítimo sem interesse portuário e em todo o domínio
fluvial e lacustre com excepção do que se encontra afecto à jurisdição restrita do IND. Neste mesmo
espaço, às Direcções Regionais do Ambiente e do Ordenamento do Território, serviços desconcentrados
do Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território, dotados de autonomia administrativa, estão
cometidas, entre outras, atribuições na área da fiscalização e do licenciamento de usos privativos do
domínio hídrico, com a excepção prevista no n.º 5 do artigo 1º do Decreto-Lei n.º 201/92, de 29 de
Setembro, a qual estipula que, nas áreas do domínio (público) marítimo transferidas por este diploma
para a jurisdição do INAG e que se encontrem classificadas como áreas protegidas, as competências do
INAG são exercidas pelo Instituto da Conservação da Natureza (ICN), pessoa colectiva pública dotada
de autonomia administrativa e financeira, organismo do Ministério do Ambiente e do Ordenamento do
Território.
O INAG é a entidade que detém jurisdição sobre a mais vasta área do domínio hídrico, nomeadamente a nível do
domínio público marítimo. O conjunto de bens sob sua jurisdição encontra-se definido no artigo 2º do Decreto-Lei
n.º 46/94, de 22 de Fevereiro (que estabeleceu o regime de utilização do domínio hídrico sob jurisdição deste
Instituto). As áreas de intervenção das DRAOT estão estabelecidas no Decreto-Lei nº127/2001, de 17 de Abril.
Em razão do lugar, as entidades administrantes do domínio hídrico distribuem-se da seguinte forma:
- Na faixa costeira, os troços com interesse portuário estão submetidos à jurisdição das entidades
portuárias e os restantes estão sob jurisdição do INAG; uns e outros, e respectivas entidades de tutela,
encontram-se definidos no Decreto-Lei n.º 201/92, de 29 de Setembro, em articulação com o Decreto-
Lei n.º 379/89, de 27 de Outubro.
- Nos cursos de água, os troços com interesse portuário estão sob jurisdição da respectiva entidade
portuária e estendem-se, por via de regra, até ao limite interior da área de jurisdição da correspondente
capitania de porto, limite que está estabelecido no Decreto-Lei n.º 265/72, de 31 de Julho –
Regulamento Geral das Capitanias (mas há excepções como é o caso, por exemplo, dos rios Douro,
Sado e Guadiana); a montante destes limites o domínio hídrico está sob jurisdição do INAG, com a
excepção da especificidade do rio Douro atribuída ao IND.
Independentemente de se tratar de entidade portuária ou do INAG, a jurisdição sobre o domínio hídrico que está
atribuída a estas entidades resulta não só do facto do Estado ser titular de uma parte dos bens (os bens que
compõem o domínio público hídrico) que o integram, mas também do facto do Estado deter um conjunto de
poderes sobre os bens do domínio hídrico pertença de particulares. Assim:

- O Estado é titular dos bens que compõem o domínio público hídrico pelo que sobre eles detém plenos
poderes, sendo, por isso, usual designá-los por bens dominiais. Pode o Estado permitir, através da
respectiva entidade administrante, que determinadas parcelas do domínio público hídrico possam ser

3/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

cedidas ao uso privativo de particulares, mediante outorga de um título, licença ou concessão, em


função da natureza do uso em questão.
- Sobre os bens do domínio hídrico pertença de particulares, a lei atribui ao Estado um conjunto de
poderes (poderes jurisdicionais) que lhe conferem capacidade de intervir nestas áreas mediante
licenciamento e/ou emissão de parecer vinculativo referentes às utilizações que sobre ele recaírem,
estando, deste modo, ao seu alcance condicionar ou mesmo proibir determinados usos.
Existem, porém, numerosas outras entidades às quais estão, também, atribuídas competências no âmbito do
domínio hídrico, com particular relevância para o Instituto Marítimo-Portuário, com competências ao nível
da navegação e da actividade portuária, e para as entidades que compõem o Sistema da Autoridade Marítima
(Direcção-Geral de Marinha, Capitanias dos Portos e Comissão do Domínio Público Marítimo), as quais são
responsáveis nas áreas da segurança marítima, preservação do meio marinho e preservação e protecção dos
recursos do leito do mar e do subsolo marinho e do património cultural subaquático, englobando o
desempenho de funções ao nível da segurança, fiscalização, manutenção da ordem e defesa do domínio
público marítimo, e, ainda:
- As autoridades aduaneiras;
- As autoridades policiais e a Guarda Nacional Republicana;
- Outras entidades às quais estão atribuídas competências aos mais diversos níveis: protecção e
conservação de recursos naturais (fauna, flora, etc.), protecção e conservação de património (natural,
arqueológico, etc.), licenciamento do exercício de um vasto número de actividades quer económicas,
quer de recreio e lazer (pesca e aquicultura, salicultura, agricultura, turismo, etc.).

8.1.2. Conceitos e Normas


Se da mencionada enumeração de bens que constituem o domínio hídrico resulta razoavelmente evidente quais as
águas que são públicas e quais as que são particulares (pese embora alguma discussão que a terminologia utilizada
possa suscitar), já para uma perfeita compreensão da extensão dos bens que integram a componente dos terrenos do
domínio hídrico se torna necessário especificar alguns conceitos (conceito de corrente navegável, flutuável e não
navegável nem flutuável, corrente de água natural, corrente de água artificial, noção de leito, de margem e de zona
adjacente, seus limites e/ou largura legalmente estabelecidos) e conhecer as regras que definem a sua condição
jurídica (parcelas públicas ou parcelas particulares).
8.1.2.1. Classificação das Correntes de Água
Considera-se corrente navegável a que for acomodada à navegação, com fins comerciais, de embarcações de
qualquer forma, construção e dimensões.
Considera-se corrente flutuável aquela por onde estiver efectivamente em costume fazer derivar objectos
flutuantes, com fins comerciais, ou a que for declarada como tal.
Por não navegáveis nem flutuáveis entendem-se as demais correntes de água que não reúnem os requisitos
indicados para as correntes navegáveis ou para as flutuáveis.
Integram o conjunto das correntes naturais os rios, ribeiras, torrentes e barrancos (correntes caudalosas
resultantes de chuvas abundantes e cujo leito, acentuadamente declivoso, não permite uma utilização da água
para fins de navegação ou flutuação) e os córregos de caudal descontínuo (sulcos relativamente estreitos e
profundos onde as águas correm por forma intermitente conforme as condições de pluviosidade).
Integram o conjunto de águas artificiais os canais (correntes de água resultantes de obras de derivação e
regularização do leito e margens e adequadas à navegação ou à flutuação) e as valas (correntes de água
conduzidas através de sulcos abertos no terreno para os locais onde devam ser utilizadas ou, em certos casos,
para permitirem a navegação ou a flutuação).
8.1.2.2. Conceito de Leito e seus Limites
Entende-se por leito o terreno coberto pelas águas, quando não influenciadas por cheias extraordinárias,
inundações ou tempestades. No leito compreendem-se os mouchões (ilhas cultiváveis formadas nos rios),

4/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

lodeiros (acumulação de lodos que emergem dos rios) e areais (acumulação de areias que emergem dos rios)
nele formados por deposição aluvial.
O leito das águas do mar, bem como das demais águas sujeitas à influência das marés, é limitado pela linha
da máxima preia-mar de águas vivas equinociais, habitualmente designada por LMPAVE. Esta linha é
definida, para cada local, em função do espraiamento das vagas, em condições médias de agitação do mar,
no primeiro caso, e em condições de cheias médias, no segundo.
O leito das restantes águas é limitado pela linha que corresponder à estrema dos terrenos que as águas
cobrem em condições de cheias médias, sem transbordar para o solo natural, habitualmente enxuto. Esta
linha é definida, conforme os casos, pela aresta ou crista superior do talude marginal ou pelo alinhamento da
aresta ou crista do talude molhado das motas, cômoros, valados, tapadas ou muros marginais
8.1.2.3. Conceito de Margem e sua Largura
Entende-se por margem uma faixa de terreno contígua ao leito ou sobranceira à linha que limita o leito das
águas. A margem das águas do mar, bem como a das águas navegáveis ou flutuáveis sujeita à jurisdição das
autoridades marítimas ou portuárias, tem a largura de 50 metros; a margem das restantes águas navegáveis
ou flutuáveis tem a largura de 30 metros; a margem das águas não navegáveis nem flutuáveis,
nomeadamente torrentes, barrancos e córregos de caudal descontínuo, tem a largura de 10 metros.

ESQUEMA INDICATIVO DA LARGURA DAS MARGENS

ÁGUAS NAVEGÁVEIS OU FLUTUÁVEIS ÁGUAS NÃO NAVEGÁVEIS


NEM FLUTUÁVEIS
L
TE RR IT IR IA

MAR TERRITORIAL

I NT E R I O R

CORRENTE DA ÁGUA
MAR

MAR

ÁGUAS SUJEITAS À INFLUÊNCIA DAS MARÉS ÁGUAS NÃO SUJEITAS À INFLUÊNCIA DAS MARÉS
(ÁGUAS DOCES)

LM BM AV

LM PM AV

L M B M A V - Linha da máxima baixa-mar de águas vivas


L M P M A V - Linha da máxima preia-mar de águas vivas

Figura 8.1.1 - Esquema Indicativo da Largura das Margens

5/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

MARGENS COM ARRIBAS ALCANTILADAS

(PERFIL INDICANDO A FORMA DA MARGEM)

1ª HIPÓTESE - A LINHA LIMITE DO LEITO ATINGE O ALCANTIL

50 m

2 3

IL
ANT
ALC
1 - LINHA LIMITE DO LEITO

1 2 - LINHA SITUADA NA CRISTA DO ALCANTIL, ONDE


COMEÇA A CONTAGEM DOS 50 M DA MARGEM
ÁGUAS
3 - LINHA ONDE TERMINA A MARGEM

2ª HIPÓTESE - A LINHA LIMITE DO LEITO NÃO ATINGE O ALCANTIL

50 m
3

2
IL
ANT
ALC

1 - LINHA LIMITE DO LEITO

2 - VERTICAL DA LINHA LIMITE DO LEITO


ÁGUAS 1
3 - LINHA ONDE TERMINA A MARGEM
ÁGUAS

Figura 8.1.2 - Margens com Arribas Alcantiladas


Nos casos em que exista natureza de praia e esta se estenda por uma faixa de largura superior à estabelecida
para cada caso, a margem estende-se até onde o terreno apresentar tal natureza (por praia entende-se a faixa
de terreno contígua ao mar ou aos rios, constituídas por areais ou pedregais, com superfície quase plana e
com vegetação nula ou escassa e característica).
A largura da margem conta-se a partir da linha limite do leito. Porém, no caso de arribas alcantiladas (por
alcantil entende-se o espaço, de inclinação muitíssimo acentuada, que medeia entre a base e a crista da
arriba) se esta linha atingir a base dessas arribas a largura da margem conta-se a partir da crista do alcantil,
situando-se a margem integralmente sobre a arriba (margem elevada; nesta situação o alcantil integra o leito
das águas do mar); se a mesma linha não atingir a base das arribas mas se localizar a menos de 50m destas,
apenas parte da margem se situa sobre a arriba (nesta situação o alcantil integra a margem).

6/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

8.1.2.4. Conceito de Zona Adjacente e sua Largura


Entende-se por zona adjacente toda a área contígua à margem que como tal seja classificada por diploma
legal, por se encontrar ameaçada pelo mar ou pelas cheias; as zonas adjacentes estendem-se desde o limite
(exterior) da margem até uma linha convencional definida, para cada caso, no diploma de classificação.
8.1.2.5. Condição Jurídica dos Leitos, Margens e Zonas Adjacentes
A condição jurídica dos leitos e margens depende, à partida, da classificação quanto à navegabilidade e/ou
flutuabilidade das águas a que estão associados; as zonas adjacentes integram, por via de regra, propriedade
privada. Assim:
• Consideram-se do domínio público do Estado os leitos e margens das águas do mar e de quaisquer
águas navegáveis ou flutuáveis, sempre que tais leitos e margens lhe pertençam, e bem assim os leitos e
margens das águas não navegáveis nem flutuáveis que atravessem terrenos públicos do Estado;
• Consideram-se objecto de propriedade privada, sujeitos a servidões administrativas, os leitos e margens
das águas não navegáveis nem flutuáveis que atravessem terrenos particulares, bem como as parcelas
dos leitos e margens das águas do mar e de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis que, nos termos da
lei, forem objecto de desafectação ou reconhecidas como privadas.
Todas estas parcelas estão sujeitas às servidões estabelecidas por lei e, nomeadamente, a uma servidão de
uso público (encargo imposto por disposição legal sobre certo prédio em proveito da utilidade pública de
uma coisa) no interesse geral do acesso às águas e da passagem ao longo destas, da pesca, da navegação ou
flutuação, quando se trate de águas navegáveis ou flutuáveis, e ainda da fiscalização e polícia das águas pelas
autoridades competentes; nestas parcelas, bem como no respectivo subsolo e espaço aéreo correspondente,
não é permitida a execução de quaisquer obras, permanentes ou temporárias, sem licença da respectiva
entidade administrante do domínio hídrico, estando, ainda, os seus proprietários sujeitos a todas as
obrigações que a lei estabelece no que respeita à execução de obras hidráulicas, nomeadamente de correcção,
regularização, conservação, desobstrução e limpeza.
• Consideram-se objecto de propriedade privada, sujeitas a restrições de utilidade pública (limitações
permanentemente impostas ao exercício do direito de propriedade ou poderes conferidos à
Administração para serem utilizados eventualmente na realização dos seus fins e visando interesses
públicos abstractos), as zonas adjacentes e, bem assim, as zonas atingidas pelas cheias. A figura da zona
adjacente foi introduzida pelo Decreto-Lei n.º 468/71, de 5 de Novembro, tendo por fim possibilitar uma
intervenção eficaz, por parte das entidades com jurisdição na respectiva área, na prevenção de graves
acidentes que o avanço das águas pode provocar.
Quando se preveja tecnicamente o avanço das águas do mar sobre terrenos particulares situados além da
margem, pode o Estado classificar a área em causa como zona ameaçada pelo mar, sendo essa classificação
feita por portaria, ouvidas as autoridades marítimas, em relação aos trechos sujeitos à sua jurisdição; além de
ser delimitada a área assim classificada, dentro desta são demarcadas as áreas classificadas como de
ocupação edificada proibida e as áreas classificadas como de ocupação edificada condicionada. Uma vez
classificada certa área como zona ameaçada pelo mar, os terrenos nela abrangidos ficam sujeitos ao regime
das zonas adjacentes estabelecido no artigo 15º do Decreto-Lei n.º 468/71, na redacção dada pelo Decreto-
Lei n.º 89/87, de 26 de Fevereiro, sendo nulos e de nenhum efeito todos os actos ou licenciamentos que o
desrespeitem.
Podem ser classificadas como zonas ameaçadas pelas cheias as áreas contíguas às margens dos cursos de
água que se estendem até à linha alcançada pela maior cheia com a probabilidade de ocorrência no período
de um século (cheia dos 100 anos); a iniciativa para a classificação de uma área ameaçada pelas cheias como
zona adjacente poderá pertencer ao Estado, através da respectiva entidade administrante do domínio hídrico,
ouvida a câmara municipal da área respectiva, ou decorrer de proposta desta última e será também feita por
portaria. Uma vez classificada certa área ameaçada pelas cheias como zona adjacente, os terrenos nela
abrangidos ficam sujeitos ao regime já acima indicado.
Relativamente às áreas contíguas a cursos de água e atingidas pelas cheias que não estejam ainda
classificadas como zonas adjacentes, a aprovação de planos ou anteplanos de urbanização e de contratos de
urbanização, bem como o licenciamento de operações de loteamento urbano ou de quaisquer obras ou

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

edificações carecem de parecer vinculativo do INAG, quando estejam dentro daquele limite ou numa faixa
de 100 metros para cada lado da linha de margem do curso de água, quando se desconheça aquele limite.
• Consideram-se, ainda, objecto de propriedade privada na Madeira e nos Açores, os terrenos
tradicionalmente ocupados junto à crista das arribas alcantiladas das respectivas ilhas (excepção que se
explica pela situação tradicionalmente admitida e existente desde tempos imemoriais e que está
associada à exígua disponibilidade de terras em muitas ilhas).
Ainda quanto à condição jurídica dos terrenos do domínio hídrico, há que ter em atenção as implicações
decorrentes do recuo ou do avanço das águas, natural ou artificial, aspecto particularmente importante para a
componente marítima (da ocorrência de qualquer uma destas situações, como claramente a lei refere, não
beneficiam os particulares). Assim:
• Recuo das águas - os leitos dominiais que forem abandonados pelas águas, ou lhes forem conquistados,
não acrescem às parcelas privadas da margem que porventura lhes sejam contíguas, continuando
integrados no domínio público se não excederem as larguras fixadas para as margens que integram o
domínio público hídrico, e entrando automaticamente no domínio privado do Estado, no caso contrário;
• Avanço das águas - quando haja parcelas privadas contíguas a leitos dominiais, as porções de terreno
corroídas lenta e sucessivamente pelas águas consideram-se automaticamente integradas no domínio
público, sem que por isso haja lugar a qualquer indemnização; se as parcelas privadas contíguas a leitos
dominiais forem invadidas pelas águas que nelas permaneçam sem que haja corrosão dos terrenos, os
respectivos proprietários conservam o seu direito de propriedade, mas o Estado pode expropriar essas
parcelas.
Relativamente às parcelas de terreno que constituem o domínio público hídrico (genericamente, os leitos e margens
das águas do mar e de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis), a lei dá aos particulares a possibilidade de
poderem afastar, através de prova documental, a presunção dessa dominialidade sobre determinadas áreas (prédios)
o que, uma vez cumpridas as formalidades legais para o efeito exigidas, faz ingressar esses prédios na propriedade
de particulares, sem, contudo, os retirar do domínio hídrico (tão só passam a constituir parcelas privadas do
domínio hídrico). Para tanto, torna-se necessário que os particulares que se arrogam proprietários desses prédios
requeiram, junto da competente entidade administrante, a delimitação do domínio público hídrico na confrontação
com esses prédios, instruindo o respectivo pedido nos precisos termos do artigo 8º do Decreto-Lei n.º 468/71, de 5
de Novembro, cabendo salientar o registo de elevada incidência deste procedimento sobre o domínio público
marítimo.
Especificando, as pessoas que pretendam obter o reconhecimento da sua propriedade sobre parcelas de leitos ou
margens das águas do mar ou de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis devem provar documentalmente que tais
terrenos eram, por título legítimo, objecto de propriedade particular ou comum antes de 31 de Dezembro de 1864
(data da publicação do Decreto que declarou (art.º 2º) “do domínio público imprescritível, os portos de mar e
praias e rios navegáveis e flutuáveis, com as suas margens, os canais e valas …”) ou, se se tratar de arribas
alcantiladas, antes de 22 de Março de 1868 (data da entrada em vigor do Código Civil de 1867 que declarou
dominiais as arribas alcantiladas).
Face às exigências da lei, os processos de delimitação do domínio público hídrico da iniciativa dos
particulares são, por via de regra, complexos, pela antiguidade dos documentos que os integram, e extensos,
face ao longo período que abrangem, pelo que a sua apreciação requer da Administração um enorme treino
na leitura, interpretação e interligação dos numerosos documentos que os compõem e, consequentemente,
uma grande disponibilidade de tempo.
A delimitação do domínio público hídrico pode, também, competir ao Estado que a ela procederá
oficiosamente, quando necessário.
Em cada processo de delimitação é constituída uma “Comissão de Delimitação” na qual os proprietários dos
terrenos confinantes com os leitos ou margens dominiais a delimitar se farão sempre representar.
Sobre as parcelas de leitos ou margens das águas do mar ou de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis que
tenham sido reconhecidas como propriedade de particulares, para além da já citada servidão administrativa a
que estão sujeitas, a lei impõe, também, outras limitações as quais têm por objectivo facilitar, se tal se
mostrar necessário, o seu retorno ao domínio público do Estado. Assim:

8/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

• Em caso de alienação, voluntária ou forçada, por acto entre vivos, de quaisquer destas parcelas privadas
de leitos ou margens, o Estado goza do direito de preferência, podendo a preferência exercer-se, sendo
caso disso, apenas sobre a fracção do prédio que se integre no leito ou na margem;
• O Estado pode proceder, nos termos da lei geral, a expropriação por utilidade pública de quaisquer
destas parcelas privadas de leitos ou margens sempre que isso se mostre necessário para submeter ao
regime da dominialidade pública todas as parcelas privadas existentes numa certa zona;
• Os terrenos adquiridos pelo Estado nos termos que antecedem ficam automaticamente integrados no seu
domínio público.
À desafectação de terrenos do domínio público hídrico aplicam-se os seguintes diplomas legais: Decreto n.º
48784, de 21 de Dezembro de 1968, para as áreas sob jurisdição do INAG, e Decreto-Lei n.º 450/83, de 26
de Dezembro, para as áreas sob jurisdição das administrações portuárias.
Os terrenos do domínio público hídrico (marítimo, fluvial ou lacustre) estão, como já referido, fora do
comércio, não podendo ser objecto de actos e contratos de direito privado daqui resultando que a alienação
de quaisquer parcelas nesta situação só será possível se precedida da sua desafectação daquela categoria de
bens.
Dada a estreita interligação entre a desafectação e a alienação do património desafectado, a opção pela
desafectação só deverá verificar-se quando aconselhada por fortes razões de interesse geral (interesse
público) que devam prevalecer sobre os fins justificativos da integração desses terrenos no domínio público.
Tratando-se de terrenos do domínio público marítimo, a desafectação depende de parecer favorável da
Comissão do Domínio Público Marítimo.

8.1.3. Conservação e Reabilitação da Rede Hidrográfica


De acordo com o quadro legal vigente, e como norma geral, compete aos titulares do direito de propriedade
das parcelas do leito e/ou margens mantê-las em bom estado de conservação procedendo à sua regular
limpeza e desobstrução; nos troços urbanos dos cursos de água, esta responsabilidade cabe ao respectivo
município. Contudo, e sempre que este tipo de intervenções seja levado a cabo por particulares, ou mesmo
pelas Câmara Municipais, exige-se o seu prévio licenciamento pela respectiva Direcção Regional de
Ambiente e Ordenamento do Território, nos termos dos artigos 45 a 48 do Decreto-Lei n.º 46/94 de 22 de
Fevereiro.
No entanto e na prática, estas disposições levantam algumas questões:
• Quanto à extensão das acções de limpeza e desobstrução - As propriedades, sobretudo no Norte do país,
são de pequenas dimensões. Assim, verifica-se que a extensão de margem limpa por um proprietário
confinante é, frequentemente, de escassos metros. Em contrapartida, no Sul do país as grandes
propriedades colocam problemas de outra ordem tal como desinteresse do proprietário em efectuar tais
intervenções ou ausência de controlo por parte das entidades fiscalizadoras no procedimento, sendo
vulgar a alteração do traçado do curso de água, por anulação do mesmo. A esta situação não serão
indiferentes as condições naturais de escoamento nesta zona do país;
• Quanto ao carácter pontual das diversas intervenções num curso de água – Proceder a uma acção de
limpeza num dado local, por iniciativa isolada, poderá provocar alterações ao escoamento a montante ou
jusante. Não havendo um planeamento prévio e integrado, esta situação é frequentemente
complementada por notificação dos demais proprietários para procedimento idêntico o qual, no entanto,
se tem mostrado pouco eficaz quer por razões temporais, quer pelas alterações que entretanto se podem
verificar no próprio escoamento das águas.
A título indicativo, referem-se algumas condições para limpeza e desmatação, que são impostas quando se
está perante intervenções a realizar por autarquias:
- Quando se tratem de terrenos particulares deverá ser obtido o consentimento prévio dos proprietários;
- Deverão ser preservados todos os sistemas de utilização de água, nomeadamente açudes, levadas
existentes;

9/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

- As acções deverão ser desenvolvidas de jusante para montante, actuando em troços limitados e
faseados, executando os trabalhos alternadamente numa margem e noutra;
- Evitar retirar a vegetação que fixa as margens, exceptuando as infestantes exóticas;
- O corte de arvores e arbustos só deverá ser completo, se tal se justificar pela afectação negativa do
escoamento. Na maioria dos casos o corte parcial de ramos é suficiente;
- Deverá ser efectuada a remoção de material depositado no leito menor – ramos, troncos, vegetação
infestante e lixo – que provoquem a obstrução à circulação de água. Esses materiais deverão ser
transportados e depositados em locais adequados, consoante a sua natureza.
Numa perspectiva global e integrada, os cursos de água têm um papel fundamental no território, constituindo
ecossistemas complexos, diversificados e dinâmicos. Do ponto de vista hidráulico a rede hidrográfica tem
como função conduzir as águas da respectiva bacia hidrográfica, através de processos de drenagem, para as
zonas costeiras. Contudo, sendo os cursos de água meios naturais, para além desta “função hidráulica”,
enquanto colectores das águas da bacia hidrográfica, estes desempenham também uma “função ecológica”,
enquanto suporte das biocenoses aquáticas, uma “função biofísica”, em que é determinante o papel da
vegetação na estabilização das margens, uma “função paisagística”, como elemento estruturante e de
valorização da paisagem, para além da “função económica”, representada pela utilização dos seus recursos
pelos diversos agentes.
A necessidade de assegurar a perenidade e diversidade de situações e características que lhe são próprias,
exige que as intervenções ao nível da conservação e da reabilitação da rede hidrográfica tenham em
consideração a coexistência e interactividade entre todas estas funções.
Numa perspectiva duma utilização sustentável das zonas fluviais e em particular da rede hidrográfica, o
conceito de conservação e reabilitação das linhas de água deverá ser complementada com a noção de
valorização através da identificação de um conjunto de actividades compatíveis com as características destas
áreas. A ligação desejada e necessária entre as zonas de cabeceira da bacia hidrográfica e os ecossistemas
litorais, que se justifica pelas suas interdependências e inter-relações, poderá ser alcançada através da rede
hidrográfica, entendida nas suas múltiplas funções, constituindo esta rede o suporte para a definição de uma
estrutura ecológica do território, esquematicamente apresentada na figura 8.1.3.
Corredor ecológico
litoral

Corredor verde fluvial

Linhas de água

Linha de costa

Áreas urbanas

Figura 8.1.3 - Esquema de uma Estrutura Ecológica para o Território

8.1.4. Transporte Sólido para a Orla Costeira e Influência na Morfologia Costeira


O principal processo de fornecimento de partículas para o litoral encontra-se associado aos rios e ribeiras e
respectivos estuários.

10/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

A eficiência deste processo é condicionada pelas mudanças de sentido e da velocidade de variação do nível
relativo do mar. A longo prazo, a resultante actual de tais variações é no sentido de elevação do nível do
mar. Este é, provavelmente, um dos factores que inibe o fornecimento actual de partículas grosseiras.
A maior parte do material debitado por via fluvial é transferido durante os períodos de cheia, que, por via de
regra, coincidem com o inverno. No entanto, mesmo em condições menos propícias, a transferência de
materiais finos é elevada, como é comprovado, por exemplo, pela turbidez das águas na adjacência das
embocaduras dos rios mais importantes.
Os presumíveis valores, estimados pelo método de Langbein & Schumm (1958) e expressos em 10³ m³/ano,
da totalidade do material transportado (Sed. T.), junto ao fundo (T.F.) e em suspensão (T.S.), constam do
quadro 8.1.1, evidenciando a existência de um acentuado contraste na magnitude da carga sedimentar
transportada pelos rios de Portugal Continental.

Quadro 8.1.1– Estimativas do Material Presumivelmente Transportado na Totalidade (Sed. T.), Junto ao Fundo
(T.F.) e em Suspensão (T.S.) pelos Principais Rios de Portugal Continental, em Regime Natural. (Adaptado de
Magalhães, 1999)

Rios Sed. T. T.F. T.S.


(x103 m3/ano) (x103 m3/ano) (x103 m3/ano)
Minho 1 734,4 185,2 1 549,2
Lima 126,8 13,0 113,8
Cávado 163,7 16,8 146,9
Ave 169,8 16,6 153,2
Douro 11 243,8 1 646,2 9 597,6
Vouga 374,5 42,2 332,3
Mondego 1 396,4 230,8 1 165,6
Tejo 12 345,5 1 310,1 11 035,4
Sado 1 383,7 146,8 1 236,9
Mira 284,5 30,2 254,3
Guadiana 7 196,1 763,7 6 432,4
Ribeiras do Algarve 1 036,2 110,0 926,2

O forte abastecimento da região setentrional encontra-se relacionado, entre outros factores, com a grande
área das bacias para aí drenantes (superior a 120 000 km²), com a elevada pluviosidade média (superior a 1
000 mm/ano e ultrapassando 2 000 mm/ano nalgumas bacias hidrográficas), com o perfil relativamente
jovem da maior parte dos rios que aí afluem e com as litologias dominantes nessas bacias (em que avultam
rochas granitóides e formações xisto-grauváquicas). Estas características contrastam fortemente com as do
Alentejo e Algarve, cujas áreas drenantes são significativamente inferiores, em que a pluviosidade média é
bastante inferior a 1 000 mm/ano, o pendor médio dos pequenos rios existentes é muito moderado, e as
litologias dominantes são essencialmente constituídas por rochas carbonatadas e xisto-grauváquicas.
A precipitação que ocorre na área cuja drenagem se efectua para a plataforma provoca aumento dos caudais
dos rios e da sua competência transportadora, o que induz grande transporte de carga sedimentar. No entanto,
actualmente, devido à existência de numerosas barragens, o caudal destes rios encontra-se mais regularizado,
sendo menos frequentes as grandes cheias, menores os caudais médios de Inverno e maiores os de Verão, o
que, certamente, tem repercussões profundas ao nível do transporte sedimentar. Por outro lado, o efeito de
retenção dos sedimentos pelas barragens repercute-se ainda nos quantitativos sedimentares debitados pelos
rios para a plataforma.
A construção de barragens induz a diminuição drástica da área das bacias hidrográficas que efectuam a
drenagem directamente para a plataforma. Como estes aproveitamentos são, em geral, construídos no sector
superior dos rios, em que o respectivo perfil se encontra ainda muito afastado do de equilíbrio, as suas
albufeiras acabam por se converter em áreas de deposição correspondentes aos troços dos rios com maior
capacidade erosiva e transportadora. Contudo, da sua construção não resulta a imediata redução da carga

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sólida que aflui ao litoral, uma vez que a concomitante alteração do regime hidráulico tende a remobilizar os
sedimentos fluviais acumulados a jusante da obra, retardando o déficit sedimentar na foz.
As estimativas da quantidade de material transportado por via fluvial após a construção da maior parte das
barragens existentes nas bacias hidrográficas que drenam para os rios portugueses constam do Quadro 8.1.2.

Quadro 8.1.2. – Estimativa do Material Presumivelmente Transportado na Totalidade (Sed. T.), Junto ao Fundo
(T.F.) e em Suspensão (T.S.) pelos Principais Rios de Portugal Continental, após a Construção de Barragens.
(Adaptado de Magalhães, 1999)

Rios Sed. T. T.F. T.S.


(x103 m3/ano) (x103 m3/ano) (x103 m3/ano)
Minho 284,6 30,4 254,2
Lima 119,5 12,3 107,2
Cávado 81,9 8,4 73,5
Ave 140,9 12,6 128,3
Douro 2 248,7 329,2 1 919,5
Vouga 351,4 39,6 311,8
Mondego 483,3 79,9 403,4
Tejo 2 187,9 300,1 1 887,8
Sado 576,3 100,1 476,2
Mira 155,1 16,5 138,6
Guadiana 2 074,6 220,2 1 854,4
Ribeiras do Algarve 394,8 41,9 352,9

Na transição do séc. XIX para o séc. XX o comportamento regressivo do litoral foi subitamente
interrompido, quando o nível tecnológico humano se revelou capaz de intervir em grande escala,
modificando as características ambientais. O incremento do efeito de estufa (e consequente subida do nível
relativo do mar), a construção de grandes barragens e de portos com grandes molhes de protecção, as
explorações de inertes fluviais, as dragagens intensivas nas zonas portuárias e respectivos canais de acesso,
entre outras acções, induzem presentemente no litoral um comportamento transgressivo. Indícios vários
parecem apontar para o facto de os estuários actuais funcionarem mais como zonas colectoras de sedimentos
do que como exportadoras de materiais arenosos para a plataforma.
A deficiência sedimentar assim criada é, em parte, compensada pela erosão do litoral. Algumas das
estruturas implantadas no litoral desde os anos 50 favorecem um desvio dos trânsitos sedimentares do litoral
para o largo, o que terá provocado um aumento muito significativo dos sedimentos depositados na
plataforma.
A importância da erosão das arribas como processo de fornecimento de partículas encontra-se relacionada
com a maior ou menor extensão relativa que apresentam e com o estado de consolidação e/ou fracturação
das rochas em que normalmente se encontram talhadas. Como seria lógico pressupor, este processo, que se
encontra relacionado com o nível atingido pelo mar na base das arribas e com os mecanismos de erosão
subaérea, é bastante importante no caso de arribas talhadas em formação fracamente consolidadas,
apresentando reduzida importância no caso contrário.
Por razões de natureza científica, continua também a ser muito limitada a capacidade de previsão da
evolução a médio e longo prazo das praias, dunas e ilhas – barreira. É internacionalmente reconhecida a
importância das dunas, em particular do cordão primário, como uma das mais importantes fontes
aluvionares, pelo efeito de barreira adaptativa que proporcionam aos espraiamentos e galgamentos do mar.
Contudo, face à dimensão do desequilíbrio hidromorfológico que se verifica na faixa costeira portuguesa e à
elevada energia presente, as acções de conservação, reconstrução e estabilização dunar, por si só, não
introduzirão uma estabilização ou mesmo uma inversão da situação de erosão. Constituirão, apesar de tudo,

12/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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um contributo importante não só em termos de retardar o avanço do mar como em termos de outros valores
naturais a proteger.
Em termos globais, e tal como estão publicados por diversas fontes, existem dados demonstrativos de que na
orla costeira se verifica um recuo generalizado da “linha de costa”.
É hoje uma certeza de que se perderam muitos anos de caracterizações hidromorfológicas essenciais à
quantificação, compreensão e previsão dos fenómenos sedimentares na orla costeira. O Plano Geral de
Monitorização da Fisiografia Costeira, em fase de elaboração, ao permitir definir uma estratégia de
monitorização da costa a longo prazo e o enquadramento e elementos técnicos necessários ao planeamento e
execução das actividades de monitorização da evolução global da fisiografia a curto e médio prazo, deverá
vir a constituir um marco importante no fornecimento de informação que facilite a implementação de uma
estratégia integrada para a gestão da zona costeira.

8.1.5. Áreas de Protecção de Aquíferos, de Captações de Água e Máxima


Infiltração
Nos últimos anos, em Portugal, tem havido um esforço no sentido de desenvolver um conjunto de
acções/actividades conducentes a uma adequada protecção e gestão das águas subterrâneas e que, de certa
forma, têm ido ao encontro das preocupações da União Europeia (EU).
Como uma das medidas tendentes à protecção das águas subterrâneas surge o Decreto-Lei nº 382/99 de 22 de
Setembro que estabelece as normas e os critérios para a delimitação dos perímetros de protecção para
captações de águas subterrâneas destinadas ao abastecimento público, com a finalidade de proteger a
qualidade das águas dessas captações. Este diploma postula a obrigatoriedade na definição das três áreas de
protecção consagradas no decreto, para as captações destinadas ao abastecimento público de água para
consumo humano que abastecem aglomerados populacionais superiores a 500 habitantes, ou cujo caudal de
exploração seja superior a 100 m3/dia, abrangendo todas as captações destinadas ao abastecimento público
no que diz respeito à delimitação da zona de protecção imediata. Nesta ferramenta legislativa, são igualmente
definidas as servidões administrativas e restrições de utilidade pública estabelecidas para cada uma das
zonas de protecção:
- Zona de protecção imediata – interdita a qualquer actividade com excepção das que têm por finalidade a
conservação, manutenção e melhor exploração da captação;
- Zona de protecção intermédia – interdita ou condicionada a todas as actividades susceptíveis de
poluírem o recurso, quer por infiltração de poluentes, quer por poderem modificar o fluxo da captação
ou favorecer a infiltração na zona próxima da captação;
- Zona de protecção alargada – destinada a proteger as águas subterrâneas de poluentes persistentes; as
actividades ou instalações são interditas em função do risco de poluição que representam para o recurso;
- Zona de protecção especial – zona a definir sempre que as particularidades do meio hidrogeológico o
justifiquem e na qual sejam interditas quaisquer actividades ou instalações; justificam a definição deste
tipo de zonas, captações localizadas na costa onde exista ou possa existir intrusão marinha e áreas de
infiltração máxima que se constituam como áreas de recargas de aquíferos, nomeadamente cársicos,
dada a sua vulnerabilidade.
Este decreto contempla captações de águas subterrâneas já existentes e a executar, sendo em qualquer dos
casos apenas contempladas aquelas que se destinam ao abastecimento público. A aprovação da delimitação
dos perímetros de protecção e respectivas servidões é da competência do Governo, sob proposta da
respectiva Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território (DRAOT). A delimitação dos
perímetros de protecção obedece, sempre que possível, a critérios geológicos, hidrogeológicos e económicos
estabelecidos em função das características do aquífero.
Os perímetros de protecção visam, assim, prevenir, reduzir e controlar a poluição das águas subterrâneas por
infiltração de águas pluviais lixiviantes e de águas excedentes de rega e de lavagens e por descargas
acidentais de poluentes, potenciar os processos naturais de diluição e de auto depuração do recurso e
proporcionar a criação de sistemas de aviso e alerta para a protecção dos sistemas de abastecimento público
com origem em captações de águas subterrâneas em situação de poluição acidental.

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DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Esta ferramenta legislativa permite, deste modo, proteger as captações de abastecimento público, bem como
áreas dos sistemas aquíferos (zonas de recarga e aquíferos costeiros), da degradação da qualidade natural da
água, em resultado de actividades antrópicas.
No que se refere a albufeira, a sua protecção próxima é visada, entre outros objectivos, pelos Planos de
Ordenamento de Albufeiras de Águas Públicas (POAAP), disciplinando a ocupação e as actividades no seu
plano de água e na sua envolvente.
As origens de água superficiais, designadamente albufeiras e cursos de água, são alimentadas pelas águas
geradas em toda a bacia hidrográfica que poderão transportar substâncias susceptíveis de alterar a qualidade
e torná-la incompatível com os usos ou exigir o reforço do tratamento.
Por outro lado,, a alimentação dos aquíferos também se poderá realizar por águas infiltradas ou transferidas
entre aquíferos em zonas que podem localizar-se muito para além dos limites das zonas de protecção
alargada das captações.
Portanto, a protecção duradoura das captações e origens de água requer o contributo do ordenamento do
território como medida de maior eficácia.
8.2. Utilizações do Domínio Hídrico
No quadro das utilizações do domínio hídrico, para além das actividades consumptivas, existe um conjunto
de outras utilizações que ocorrem em áreas do domínio hídrico e que por conseguinte se encontram sujeitas a
licenciamento e demais regras gerais de utilização. Assim, neste contexto faz-se referência a actividades
como a navegação, recreio e lazer, pesca, culturas biogenéticas e extracção de inertes.
8.2.1. Navegação, Recreio, Lazer
A utilização do Domínio Hídrico por actividades de recreio e lazer tem vindo a sofrer uma crescente procura,
devido em grande parte às alterações de hábitos da sociedade actual, onde os períodos de ócio têm cada vez
maior expressão e importância.
Por excelência a zona litoral é suporte de diversas actividades desta natureza, apresentando um elevado
numero da zonas balneares e de recreio náutico ao longo de toda a costa.
Contudo, dada a grande pressão a que as zonas costeiras estão sujeitas, sobretudo na época balnear, tem-se
verificado um aumento na procura de locais alternativos, nomeadamente na envolvente dos cursos de água e
noutros planos de água, pelas condições de amenidade e o conforto climático que a presença de água
propicia, bem como pela riqueza paisagística e ambiental que normalmente lhes está associada.
É assim que na envolvência dos cursos de água surgem zonas a que se deu a denominação de “zonas de
recreio e lazer em zonas fluviais” independentemente de se estar ou não em presença de “zonas balneares” e
consequentemente de haver ou não o controle da qualidade da água. A denominação de “Praia Fluvial” só é
utilizada quando se entende que determinado local reúne as adequadas condições de segurança, se encontra
equipado e apresenta controlo da qualidade da água.
As albufeiras de águas públicas, a par de outras situações de represamento de águas através de açudes de
pequenas dimensões, são os locais mais procurados para a prática de actividades de recreio e lazer,
nomeadamente de banhos, natação, navegação e pesca.
Estas actividades tem vindo a ser ordenadas e disciplinadas quer por intervenções pontuais, quer por via de
acções articuladas consubstanciadas em planos de ordenamento.
Com base na legislação que suporta o ordenamento das albufeiras e dos estudos que estiveram na origem da
sua classificação para utilizações secundárias, poder-se-á concluir que terá sido no final da década de 60,
princípios da década de 70, que as albufeiras começaram a ser procuradas, com uma maior intensidade, para
fins recreativos.
As próprias actividades secundárias praticadas foram sendo cada vez mais diversificadas. Em 1973, nos
estudos realizados para classificação das albufeiras, são identificadas como actividades praticadas com maior
intensidade na totalidade das albufeiras, a pesca e os banhos.
Em 1989, quando da elaboração do plano de ordenamento da Albufeira do Caia, respeitando o estabelecido
na legislação relativamente às actividades secundárias das albufeiras (Decreto Regulamentar n.º 2/88, de 20
de Janeiro), teve lugar um levantamento exaustivo de todas as actividades na albufeira, assim como de outras

14/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

que potencialmente seriam susceptíveis de ocorrer. Foram então inventariadas 21 actividades consideradas
recreativas, distinguindo-se entre as que poderiam ocorrer no plano de água ou nas margens e ainda as que se
poderiam considerar incluídas em actividades de recreio activo ou passivo ou quando organizadas sob a
forma de competições desportivas.
Mais recentemente aparecem actividades como o Jet Ski e Hovercraft, o que perfaz um total de 23
actividades recreativas passíveis de serem praticadas nas albufeiras portuguesas.
Por outro lado os cursos de água e suas áreas envolventes para além da prática balnear são cada vez mais
procurados para outras utilizações tais como navegação, canoagem, remo e, quando as condições naturais do
curso de água o propiciam, rafting.
A navegação enquadra-se nos usos de ocupação de superfícies de água, podendo assumir o carácter
recreativo, comercial ou de segurança. Em Portugal, o rio Douro assume particular relevância em matéria da
navegação, sendo o único rio dotado de infra-estruturas de apoio à navegação com dimensão significativa,
nomeadamente barragens equipadas com eclusas que permitem a sua transposição por embarcações de
grande porte, um canal de navegação e um conjunto de cais e fluvinas de apoio à navegação. Nos restantes
cursos de água naturalmente navegáveis, aparecem pontualmente algumas infra-estruturas de apoio, sendo a
navegação de recreio e a associada à pesca as que têm maior expressão. Na Figura 8.2.1 apresentam-se os
locais e troços de maior significado em termos de navegação.
Minho

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Y
Y#
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#
Y Minho Minho
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#
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# Y Guarda
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Y Leiria
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Navegável
Rede Hidrográfica Flutuável
Limites de Plano de Bacia Rede Hidrográfica
Albufeiras
Limites de Plano de Bacia

Figura 8.2.1 - Locais e Troços de Navegação


A prática de actividades como a navegação e a pesca encontra-se enquadrada por legislação específica.
Por via de regra, nos troços navegáveis dos cursos de água aplicam-se as regras gerais impostas à navegação.
No caso particular das albufeiras de águas públicas, a navegação recreativa obedece a um regulamento
próprio que define as características das embarcações que podem circular nestes meios hídricos ao mesmo
tempo que estipula o período de navegação, as condições para a prática de desportos e de competições
desportivas, as características dos locais para fundeamento, os procedimentos a observar no abastecimento de

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DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

combustíveis ou com embarcações acidentadas, naufragadas ou abandonadas, estabelecendo também, zonas


diferenciadas para navegação (zonas de navegação interdita, restrita e livre) para as quais fixa as respectivas
condições de uso. Todavia, para as albufeiras que possuem planos de ordenamento eficazes, a navegação
recreativa fica sujeita ao estabelecido nesses planos.
A prática de recreio e lazer associada às zonas litorais, segue o estabelecido nos Planos de Ordenamento da
Orla Costeira. Para o efeito, as praias encontram-se classificadas, com base nas características da sua
envolvente, à procura de que são alvo, permitindo a definição das infra-estruturas de apoio necessárias à sua
utilização em condições de segurança.
Associadas a esta classificação são ainda avaliadas anualmente as condições relativas à qualidade da água e
demais parâmetros de segurança, podendo qualquer praia ser considerada “praia de uso suspenso” sempre
que temporariamente não deva estar sujeita a utilização balnear, devido à ocorrência de caso de força maior
ou de emergência grave que afecte a segurança, a saúde pública ou o equilíbrio biofísico.
A prática de recreio e lazer em zonas fluviais, não dispõe de regulamentação específica, para além da que se
prende com a qualidade das água balneares. Contudo, diversos locais, têm vindo a ser objecto de
ordenamento e valorização com vista à criação de zonas equipadas de apoio à sua utilização, dotando as
mesmas das necessárias condições de vigilância e segurança.
Na sequência do “Programa de Valorização de Praias Fluviais”, lançado pelo Instituto da Água em 1994, foi
financiada a criação de diversas áreas para recreio fluvial.
A distribuição desses locais por Direcções Regionais e em termos percentuais, encontra-se expressa no
gráfico seguinte, sendo possível verificar que para um universo de 108 locais, a maior percentagem,
corresponde à região centro do País com 47 locais, seguido da zona Norte com 39. Nas restantes áreas,
nomeadamente Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo foram identificados, respectivamente 12 e 10 locais. O
Algarve, como seria expectável, não apresenta nenhum.

9% 0% Norte
11%
36% Centro

LVT

Alentejo

44% Algarve

Figura 8.2.2 Distribuição das Áreas de Recreio Fluvial, por DRAOT


8.2.2. Culturas Biogenéticas
As actividades económicas e recreativas associadas às espécies piscícolas de águas interiores encontra-se
muito enraizada nas comunidades ribeirinhas de linhas de água importantes, albufeiras e lagoas. O exercício
destas actividades, que está sujeito a licenciamento nos termos dos artigos 68º e seguintes do Decreto-Lei nº
46/94 de 22 de Fevereiro, exerce pressões sobre as funções naturais dos recursos hídricos estando por isso
sujeito às seguintes condicionantes:
- não alteração do prisma de maré e da funcionalidade da respectiva corrente;
- não seja prejudicada a navegação ou outros usos licenciados;
- não sejam prejudicadas a flora e a fauna.
Nos termos deste diploma entende-se por culturas biogenéticas “todas as actividades que tenham por
finalidade a reprodução, o crescimento, a engorda, a manutenção ou o melhoramento de espécies aquícolas”,
A utilização do domínio hídrico associada a estabelecimentos de culturas biogenéticas pode envolver
ocupações de áreas do domínio hídrico (leito e/ou margens), captação de água ou utilização directa do meio
hídrico (ex: estruturas flutuantes) e rejeição de efluentes.

16/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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Em termos do licenciamento de actividade económica associada a estes estabelecimentos são competentes,


respectivamente, a Direcção Geral de Pescas e Aquicultura para os estabelecimentos de culturas marinhas e a
Direcção Geral das Florestas para os estabelecimentos dulçaquícolas, estando os respectivos regimes
legalmente estabelecidos.
Geograficamente, verifica-se uma procura mais acentuada das áreas estuarinas e de sapal para implantação
de estabelecimentos de culturas marinhas (douradas, robalos ou bivalves) e de cursos de águas com
características salmonídeas, para implantação de estabelecimentos dulçaquícolas. No que respeita à
utilização das massas hídricas das albufeiras, a implantação deste tipo de estabelecimento tem sido
ponderada no âmbito dos respectivos planos de ordenamento, verificando-se que, pelas significativas cargas
poluentes que originam e ao seu difícil controle, se tem vindo a concluir não ser de permitir este tipo de
estabelecimentos, apontando-se a remoção dos existentes e sua readaptação em estabelecimentos fixos a
localizar em terra e que permitam um tratamento e controlo adequado dos efluentes produzidos.
Na Figura 8.2.3 assinala-se a localização deste tipo de estabelecimentos.
Minho

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Figura 8.2.3 - Culturas Biogenéticas


8.2.3. Extracção de Inertes
A utilização do domínio hídrico para extracção de inertes está sujeita a licenciamento da entidade a quem
está cometida a administração dos troços do domínio hídrico abrangidos, regendo-se pelo Decreto-Lei nº
46/94, de 22 de Fevereiro, nas áreas sob jurisdição dos Instituto da Água, e pelo Decreto-Lei nº 468/71, de 5
de Novembro, nas áreas sob jurisdição das entidades portuárias – Administrações Portuárias SA ou Institutos
Portuários; no caso particular do rio Douro – troço nacional e no que respeita ao canal navegável, a entidade
licenciadora é o Instituto de Navegabilidade do Douro nos termos dos Decretos-Lei nºs 138A/97 e 134-A/98,
de 3 de Junho e de 6 de Novembro, respectivamente.
A extracção de materiais inertes nas zonas de escoamento e expansão das águas nos troços internacionais dos
rios obedece às normas estabelecidas entre as autoridades portuguesas e espanholas.

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DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

O Decreto-Lei nº 46/94 define extracção de inertes como a intervenção de desassoreamento das zonas de
escoamento e de expansão das águas de superfície, quer corrente, quer fechadas, bem como da faixa costeira,
da qual resulta a retirada de materiais tais como areia, areão, burgau, godo ou cascalho. Define ainda os
requisitos gerais a que a extracção de inertes deve obedecer, bem como as condições para atribuição da
respectiva licença, quer para a extracção em áreas do domínio público, quer para áreas do domínio privado.
Relativamente às demais áreas do domínio hídrico compete à respectiva entidade administrante definir as
condições de licenciamento caso a caso.
Quanto a requisitos gerais exige o Decreto-Lei nº 46/94 que a extracção de inertes só seja permitida quando
existam planos específicos que definem os locais potenciais de extracção e quanto não sejam afectados:
a) As condições de funcionamento das correntes, a navegação e flutuação, o escoamento e espraiamento
das cheias;
b) O equilíbrio das praias e da faixa litoral;
c) O equilíbrio dos ecossistemas lagunares;
d) Os lençóis subterrâneos;
e) As áreas agrícolas envolventes;
f) O uso das águas para diversos fins, incluindo obras de captação, represamento, derivação e bombagem;
g) A integridade dos leitos e margens;
h) A segurança de obras marginais ou de transposição dos leitos;
i) A fauna e a flora.
Na falta daqueles planos, a extracção de inertes só deve ser autorizada quando justificada por razões de
ordem técnica, ambiental e paisagística e em locais cujo desassoreamento seja imprescíndivel e possa
conduzir à existência de melhores condições de funcionalidade, quer das correntes, quer da orla costeira.
Em função da dimensão da extracção, é obrigatória a realização de um estudo de impacte ambiental ou de
incidência ambiental, confinando-se o prazo de validade da licença ao período estritamente necessário à
remoção dos materiais considerados em excesso e exigido-se a prestação de uma caução que,
nomeadamente, garanta a execução do projecto de extracção e a recuperação do local para além das demais
condições impostas na licença
Os dados dos vários Planos de Bacia Hidrográfica, complementados com informação posterior fornecida pelas
DRAOT, apresentam-se no Quadro .8.2.1 e na Figura 8.2.4.
Quadro 8.2. 1 - Extracção de Inertes
3
Nº Instalações e Volumes Médios Extraídos, por Classes de Volume Extraído (m /amo)
PBH < 500 500 – 50 000 50 000 – 100 000 > 100 000 Total
Nº Volume Nº Volume Nº Volume Nº Volume Nº Volume
3 3 3 3 3
Instalações (m /ano) Instalações (m /ano) Instalações (m /ano) Instalações (m /ano) Instalações (m /ano)
Douro 1 5 000 3 627 000 4 632 000
Vouga 2 < 500 7 61 500 9 62 500
Mondego 1 < 500 15 242 000 16 242 500
Tejo 2 528 13 169 070 8 584 810 5 612 927 28 1 367 335
Guadiana 1 300 8 73 400 13* 73 700
Sado 1 2 000 1 2 000
Rib. Algarve 6** 7 500
Continente 6 2 328 48 560 470 8 584 810 5 612 927 77*** 2 387 535
*quatro das quais sem informação
** – três das quais sem informação
*** – sete das quais sem informação

18/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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Figura 8.2.4 - Localização de Extracção de Inertes

Douro
26,5%

Mondego
10,2%
Guadiana
3,1%

Outros
6,1% Vouga
2,6%

Ribeiras do
Algarve
0,3%
Sado
Tejo 0,1%
57,3%

Figura 8.2.5 - Repartição dos Volumes Anuais de Extracção de Inertes


Destaca-se o valor expressivo do rio Tejo, seguido do rio Douro, que no conjunto representam mais de 80%
do volume total nacional desta actividade.

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8.3. Infra-Estruturas Hidráulicas


O presente subtema tem como objectivo caracterizar de uma forma sintética, os principais elementos das
infra-estruturas hidráulicas e de saneamento básico existentes em Portugal Continental, utilizando a
informação dos planos de Bacia Hidrográfica; uma descrição mais exaustiva das diferentes infra-estruturas
está contida no âmbito daqueles planos.
Quadro 8.3.1- Captações de Água Cadastradas em Portugal Continental

Nº Captações de Água Tipo de Adução


PBH
Superficiais Subterrâneas Desconhecido Gravítica Bombagem Artesianismo Desconhecido
Minho 1 153 0 95 57 0 2
Lima 2 87 0 53 35 0 1
Cávado 6 214 0 192 28 0 0
Ave 2 141 0 59 82 0 2
Leça 0 0 0 0 0 0 0
Douro 84 1539 107 982 667 24 57
Vouga 3 276 4 131 132 0 20
Mondego 53 546 74 307 334 13 19
Lis 2 50 0 0 0 0 52
Rib. Oeste 1 101 0 2 100 0 0
Tejo 61 1421 0 451 1011 0 20
Sado 164 349 1 7 506 0 1
Mira 5 53 0 0 58 0 0
Guadiana 12 364 5 37 332 0 12
Rib. Algarve 4 168 0 29 140 0 3
Total 400 5462 191 2345 3482 37 189

Figura 8.3.1 - Localização das Captações Superficiais e Subterrâneas em Portugal Continental

20/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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Observando o Quadro 8.3.1 verifica-se que das cerca de 6000 captações cadastradas 90% são captações
subterrâneas e cerca de 40% dessas captações se concentram a norte da bacia hidrográfica do rio Vouga. De um
modo geral não existe informação relativa ao volume da água captado, bem como elementos relativos às
características hidráulicas das captações, e nas bacias hidrográficas dos rios Vouga, Mondego e Lis a grande
maioria das captações não estão georeferenciadas. O tipo de adução mais utilizado é a bombagem.
No âmbito dos trabalhos dos Planos de Bacia Hidrográfica foram cadastradas em Portugal Continental 1840
Estações de Tratamento de Águas / Postos de Cloragem inseridas nos Sistemas de Abastecimento.
Comparativamente às infra-estruturas inventariadas pelo Inventário Nacional de Saneamento Básico de 1994,
regista-se um aumento de 57% (1170 em 1994).
Não foi possível identificar o tipo de infra-estrutura em 66 casos, e a respectiva localização em aproximadamente
30 casos, sendo que destes, 18 se registam no Plano de Bacia das Ribeiras do Oeste.

Quadro 8.3.2- Estações de Tratamento de Água Cadastradas em Portugal Continental

PBH Estações de Tratamento de Águas – Tipo de Infra-estruturas


ETA PC Desconhecido / Outro Total
Minho 17 9 0 26
Lima 6 9 4 19
Cávado 10 6 1 17
Ave 31 13 1 45
Leça 0 7 0 7
Douro 105 174 17 296
Vouga 17 4 0 21
Mondego 32 17 0 49
Lis 10 3 0 13
Rib. Oeste 15 28 10 53
Tejo 181 639 22 842
Sado 16 161 1 178
Mira 13 31 0 44
Guadiana 17 102 10 129
Rib. Algarve 9 92 0 101
Total 479 1295 66 1840
.

Quadro 8.3.3 - Reservatórios de Água Cadastrados em Portugal Continental


.

Nº de Reservatórios Densidade Volume de


PBH Enterrados ou (Nº Res./1000 hab.) armazenamento
Apoiados Elevados 3
semienterrados (dam )
Minho 40 80 20 1.85 19
Lima 36 50 14 0.49 22
Cávado 100 110 17 0.71 120
Ave 31 108 13 0.23 74
Leça 2 9 6 0.04 40
Douro 786 1121 50 1.06 1131
Vouga 63 156 62 0.42 76
Mondego 341 472 140 1.40 179
Lis 27 56 18 0.58 25
Rib. Oeste 15 148 23 0.33 56
Tejo 387 1020 248 0.54 1380
Sado 72 109 62 0.89 88
Mira 10 9 4 1.08 10
Guadiana 76 78 49 0.98 71
Rib. Algarve 31 110 41 0.56 206
Total 2002 3488 744 0.7 3497

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DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

A figura 8.3.2 reflecte a distribuição espacial das ETA/PC em Portugal Continental, exceptuando as
situações referidas em que não foi possível determinar a sua localização exacta.
O numero total de reservatórios cadastrados permite a obtenção de um volume de armazenamento na ordem
3
dos 3,5 hm e o número de reservatórios por cada 1000 hab. é superior à média na área do PBH do rio Minho
e inferior na área do PBH do rio Leça.

N Y
#
Y
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#
Y
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Y Y
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Y#Y#
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Figura 8.3.2 - Distribuição Espacial das ETA / PC

22/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Figura 8.3.3 - Localização dos Reservatórios em Portugal Continental


Foram caracterizadas as ETAR que tratam mais de 2 000 hab.eq. que constituem cerca de 20% do total de
infra-estruturas de tratamento de águas inseridas em sistemas colectivos em Portugal Continental.
Comparativamente aos valores registados em 1994 no INSB, regista-se um substancial acréscimo na ordem
de 87% (1290 infra-estruturas em 1994) em relação ao número total de infra-estruturas.
Destaca-se a Bacia hidrográfica do Douro com 39% do total de ETAR / Fossas Sépticas inventariadas.
Quadro 8.3.4 - Estações de Tratamento de Águas Residuais Cadastradas em Portugal Continental

Nº de ETAR que tratam mais de 2000 hab Eq Nº Total de


PBH Com Trat. Com Trat. Mais Total Ep Infra-estruturas
primário secundário avançado (ETAR e FS)
Minho 5 1 6 39000 7
Lima 0 7 2 9 108000 9
Cávado 1 9 0 10 206000 51
Ave 1 8 0 9 319950 13
Leça 1 4 0 5 437500 5
Douro 4 78 12 94 1394696 939
Vouga 0 26 6 32 791483 35
Mondego 0 44 5 49 459795 439
Lis 1 11 0 12 157500 17
Rib. Oeste 1 32 3 36 466235 120
Tejo 6 86 18 110 4544217 470
Sado 0 23 2 25 378402 150
Mira 1 3 0 4 55500 17
Guadiana 0 20 5 25 228300 64
Rib. Algarve 4 24 20 48 1341900 81
Total 20 380 74 474 10928478 2417

23/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

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Y#Y# # #
Y Y Y
#
Y
#
Y
#
20 0 20 40 Kilometers
Y
#
Y
# #
Y #YFaro

Figura 8.3.4 – Distribuição Espacial das Estações de Tratamento de Águas Residuais


Observando o Quadro 8.3.5 verifica-se que estão cadastradas cerca de 3600 estações elevatórias em Portugal
Continental.
Quadro 8.3.5 Estações Elevatórias Cadastradas em Portugal Continental

PBH Nº de infra-estruturas
Minho -
Lima 63
Cávado 72
Ave 139
Leça 9
Douro 1023
Vouga 91
Mondego 252
Lis 38
Rib. Oeste 182
Tejo 1367
Sado 80
Mira 6
Guadiana 54
Rib. Algarve 300
Total 3676
(-)- Informação não disponível

24/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Figura 8.3.5 - Localização das Estações Elevatórias em Portugal Continental


De acordo com o quadro 8.3.6. verifica-se que cerca de 50% dos sistemas de drenagem são separativos e por
outro lado existe um grande desconhecimento em relação ao tipo de material dominante do sistema

Quadro 8.3.6 – Sistemas de Drenagem Cadastrados em Portugal Continental

Numero de Tipo de material do sistema de drenagem Tipo de sistema de drenagem


PBH
infra-estruturas Grés PVC Betão Outro Misto Desconhecido Separativa Unitária Misto Desconhecido
Minho - - - - - - - - - - -
Lima 19 2 10 0 1 2 4 13 0 4 2
Cávado 66 3 25 0 0 7 31 54 1 2 9
Ave 21 0 2 0 0 3 16 13 3 2 3
Leça 7 0 0 0 0 0 7 3 0 0 4
Douro 934 97 298 1 0 29 509 291 227 20 396
Vouga 120 - - - - - - 120 0 0 0
Mondego - - - - - - - - - - -
Lis - - - - - - - - - - -
Rib. Oeste 365 1 14 25 10 28 287 234 82 36 13
Tejo 700 38 169 15 7 88 383 394 63 51 192
Sado 145 33 56 4 52 0 92 25 28 0
Mira 21 4 17 0 0 0 0 21 0 0 0
Guadiana 178 31 43 4 5 74 21 118 33 27 0
Rib. Algarve 129 7 17 0 2 17 86 107 1 9 12
Total 2340 215 637 20 19 272 1057 1226 353 143 618
(-)- Informação não disponível

25/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Na figura 8.3.7 localizam-se os principais valores patrimoniais e socioculturais identificados, que são
bastante numerosos e se distribuem por todo o país. A sua relevância e o facto de existir legislação de
protecção para estes locais, faz com que sejam factores que orientam significativamente o ordenamento do
território, concretamente em áreas do domínio hídrico.

Figura 8.3.7 - Localização de Valores Patrimoniais e Socioculturais

8.4. Domínio Hídrico e Planos de Ordenamento


Actualmente e com base no Decreto-Lei 380/99, de 22 de Setembro, que estabelece o regime jurídico dos
instrumentos de gestão territorial, os recursos hídricos, integrados na definição mais genérica de recursos
naturais, são considerados como informação de base necessária para a caracterização, e como elemento
condicionante para a definição de previsões, indicações e determinações, a estabelecer no âmbito dos
instrumentos de gestão territorial.
Cabe aos instrumentos de gestão territorial, entre outros, proceder à identificação dos recursos e valores
naturais e à estrutura ecológica do território (art.º 10 do Decreto-Lei 380/99, 22 de Setembro).
De uma forma sistemática e na perspectiva da abordagem dos recursos hídricos:

26/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Recursos e valores naturais identificação de recursos territoriais com relevância


estratégica para a sustentabilidade ambiental e a solidariedade intergeracional (artº12
DL380/99, 22 Setembro)

 Orla costeira e zonas ribeirinhas;


 Albufeiras de águas públicas;
 Rede Hidrográfica
 Outros recursos

Definem princípios e directrizes que concretizam as orientações


 PROT políticas relativas às protecções dos recursos e valores naturais
 PLANOS
SECTORIAIS

Definem os parâmetros de ocupação e de utilização do solo


adequados à salvaguarda e valorização dos recursos e valores
naturais
 PMOT

Estabelecem usos preferenciais, condicionados e interditos,


determinados por critérios de conservação da natureza e de
biodiversidade, por forma a compatibilizá-los com a fruição das
pessoas
 PEOT

Se a perspectiva que é dada no âmbito dos recursos e valores naturais, aponta essencialmente para os
recursos (hídricos) na óptica da sua protecção, conservação, fruição, salvaguarda e valorização, já a estrutura
ecológica, ainda que só enquadrável a nível dos PROT, Planos Sectoriais e PMOT, encerra uma noção
territorial através da delimitação de áreas que garantam os objectivos de protecção e valorização ambiental.

ESTRUTURA ECOLÓGICA identificação das áreas, valores e sistemas


fundamentais para a protecção e valorização ambiental dos espaços urbanos e
rurais, designadamente as áreas da reserva ecológica (artº14)

Definem princípios e directrizes e as medidas que


 PROT concretizam as orientações políticas relativas às áreas de
 PLANOS protecção e valorização ambiental que garantem a
SECTORIAIS salvaguarda dos ecossistemas e a intensificação dos
processos biofísicos

 PMOT Definem os parâmetros de ocupação e de utilização do


solo adequados assegurando a compatibilização das
funções de protecção, regulação e enquadramento
com os usos produtivos, recreio e o bem estar da
população

27/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Assim e de acordo com uma perspectiva de análise da organização do espaço, esta legislação traz uma visão
de alguma forma inovadora face ao enquadramento legal em vigor até à data. Com efeito perspectiva-se uma
abordagem onde os recursos naturais podem vir a assumir um papel valorizador do território, constituindo
um importante elo de ligação entre o espaço rural e o espaço urbano.
Esta nova abordagem, permite na realidade uma perspectiva de integração dos recursos (hídricos) nos
diferentes níveis de planeamento. De facto, actualmente as bases da política de ordenamento do território
assenta em três âmbitos de gestão territorial:
- NACIONAL (Plano Nacional da Política de Ordenamento do Território, Planos Sectoriais com
incidência territorial, Planos Especiais de Ordenamento do Território)
- REGIONAL (Planos Regionais de Ordenamento do Território)
- MUNICIPAL (Planos Municipais de Ordenamento do Território)
Neste contexto poderá ser importante considerar o nível do vínculo jurídico de cada plano, onde os Planos
Municipais e os Planos Especiais de Ordenamento do Território vinculam directa e imediatamente, para além
das entidades públicas, os particulares. Este aspecto é do maior interesse no que se refere aos recursos
hídricos, considerarmos que os Planos Especiais de Ordenamento prevalecem sobre os planos
intermunicipais e municipais de ordenamento do território.
Os demais planos, nomeadamente os Regionais e Sectoriais, onde se insere o Plano Nacional da Água, só
vinculam entidades públicas. No entanto os Planos Municipais devem acautelar a programação e a
concretização das políticas de desenvolvimento económico e social e de ambiente, com incidência espacial,
promovidas pela administração central.
Considera-se, assim, que está reunido um quadro global que permite uma integração da problemática dos
recursos hídricos, nas suas diferentes componentes, nos diversos níveis de planeamento. Associadas a linhas
estratégicas de actuação concretas e bem orientadas, poder-se-á obter uma coerência de planeamento, desde
o âmbito nacional até ao municipal, com efeitos até junto até junto dos particulares.

8.4.1. Planos Regionais de Ordenamento do Território


Os Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT) em vigor e em elaboração, foram desenvolvidos
de acordo com o quadro legal vigente até à publicação do Decreto-Lei 380/99, de 22 de Setembro. De acordo
com o Decreto-Lei 176-A/88, de 18 de Maio, com a redacção dada pelo Decreto-Lei 367/90, de 26 de
Novembro, Decreto-Lei 249/94, de 12 de Outubro e Decreto-Lei 309/95, de 20 de Novembro, os PROT eram
considerados “instrumentos de carácter programático e normativo visando o correcto ordenamento do
território através do desenvolvimento harmonioso das suas diferentes parcelas pela optimização das
implantações humanas e do uso do espaço e pelo aproveitamento racional dos seus recursos” (art.º 1 do
Decreto-Lei 176-A/88, de 18 de Maio).
De acordo com esta perspectiva era esperado que, embora sendo planos essencialmente orientadores e
agregando áreas homogéneas pertencendo a mais de um município, houvesse uma abordagem a nível dos
recursos naturais e em especial dos recursos hídricos que permitisse a sua valorização e o seu
aproveitamento, a par com a inevitável necessidade de protecção desses mesmos recursos.
O enquadramento e os objectivos desses planos, na perspectiva então vigente, encontram-se resumidos
seguidamente:

28/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

PLANOS REGIONAIS DE
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO 8. PLANOS
PLURIMUNICIPAIS
Áreas homogéneas
Económicos
Ecológicos
 Concretizar a política de Outros
Ordenamento do Território
 Definir as opções e estabelecer
critérios de organização e uso do
espaço tendo em conta as
OBJECTIVOS

potencialidades e aptidões
 Estabelecer normas de ocupação Referência para a
e utilização que permitam elaboração dos
fundamentar um correcto Planos Directores
zonamento, utilização e gestão do Municipais
território, considerando a
salvaguarda de valores naturais e
culturais

Os PROT são constituídos pelos componentes abaixo indicados, devendo estes planos na sua elaboração
considerar os elementos indicados:

 REGULAMENTO
PROT
 RELATÓRIO
ELEMENTOS A CONSIDERAR

 RAN
 REN
 Recursos Naturais, designadamente o DPH
 Protecção de Valores de Interesse Recreativo e turístico
 Estratégia Nacional de Conservação da Natureza
 Traçado de Infra-estruturas
 Hierarquização e Vocação de Centros Urbanos
 Outros

Considerando o universo dos PROT aprovados, concluídos ou em elaboração (o que perfaz um conjunto de
nove planos), procedeu-se à sua análise na tentativa de identificar as principais preocupações que estiveram
na origem da decisão da sua elaboração bem como a abordagem que está preconizada para cada um, tendo
presente a temática dos recursos hídricos:

29/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

1. PLANO REGIONAL DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO PARA O ALGARVE

Desequilíbrio da faixa Recursos


8.1. PROTAL
costeira naturais
RCM 33/88, 4 Agosto

 Reorganizar o espaço litoral garantindo o crescimento equilibrado que assegure


a durabilidade dos recursos e a qualidade ambiental
OBJECTIVOS

 Desenvolvimento sócio económico equilibrado


 Utilização racional do espaço
 Protecção e gestão racional dos recursos naturais e ambientais (neste ponto é
dado especial ênfase aos recursos hídricos como bem escasso , sendo as
zonas costeiras referidas como zonas de grande potencial)
 Melhoria do quadro de vida das populações (noção que inclui a melhoria da
qualidade ambiental)

8.1. PROZED Degradação Ambiental e Recursos


dos recursos naturais naturais
RCM 45/88, 10 Outubro
OBJECTIVOS

 Regulamentar padrões de uso, ocupação e transformação do solo


 Salvaguardar e valorizar os recursos endógenos e os valores da região.

PLANO REGIONAL DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO PARA A ÁREA


METROPOLITANA DE

Desequilíbrios com vastas Uso do


8.1. PROTAML
zonas de ocupação Solo
RCM 21/89, 15 Maio desordenada do território

 Reorganizar o espaço. por forma a garantir o crescimento equilibrado das


OBJECTIVOS

actividades humanas, melhorar as condições e a qualidade de vida das


populações e preservar os recursos naturais e qualidade do ambiente
 Salvaguardar e valorizar o património cultural, construído e paisagístico
 Utilizar racionalmente os recursos e reduzir substancialmente os factores
poluentes promovendo a protecção do ambiente
 Melhorar a situação do saneamento básico nomeadamente no tratamento das
águas residuais

30/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Acelerada alteração do território,


PROTLC no contexto social, económico e
nas formas de organização do Uso do
RCM 38/90, 14 Setembro
espaço Solo
PRINCIPAIS OBJECTIVOS

 Compatibilizar o crescimento económico e demográfico bem como a expansão


urbana, com o correcto aproveitamento das potencialidades naturais e
patrimoniais de modo a conseguir o desenvolvimento do território
 Promover a correcta ocupação e utilização do território, aproveitando e
potenciando os recursos
 Contribuir para a não destruição de potencialidades nomeadamente no que
respeita aos recursos hídricos e acessibilidades
 Valorizar o património natural e histórico
 Melhorar as condições objectivas de qualidade de vida
 Outros

Espaço com recurso e


PROTAM potencialidades que importa Recursos
RCM 49/93, 7 Junho valorizar e sobre o qual recaem Naturais
diversas pressões e desafios

 Garantir e consolidar a rentabilização sustentada dos recursos e potencialidades


OBJECTIVOS
PRINCIPAIS

existentes (turismo, floresta, património cultural)


 Salvaguardar e valorizar a diversidade dos valores e recursos naturais e
culturais
 Contribuir para definir modelos de ocupação e promoção mais ajustados
 Articular o planeamento e gestão de usos e actividades com incidência no troço
internacional do rio Minho

2. PLANO REGIONAL DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DA ZONA DOS


MÁRMORES

PROZOM Transformação da paisagem


agrícola, desequilíbrios na rede Recursos
RCM 86/94, 21 Setembro
hidrológica decorrente da Naturais
exploração dos recursos minerais
OBJECTIVOS


PRINCIPAIS

Garantir a exploração racional dos mármores


 Proteger e valorizar outros recursos naturais com especial relevância para os
recursos hídricos, solo agrícola e estrutura ecológica
 Definir usos e actividades alternativos mediante um adequado zonamento
 Fomentar a recuperação progressiva da zona afectada.

31/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Considerando apenas os PROT que já se encontram em vigor (PROTAL, PROZED, PROZEA e


PROTALI) foi feita uma análise sumária dos respectivos regulamentos para avaliar a abordagem da
temática dos recurso hídricos.

1. PROZED (Decreto Regulamentar 11/91, 21 Março)

 Utilização das albufeiras para fins de recreio e lazer


enquanto plano de água.
 Utilização condicionada nas zonas ameaçadas
pelas cheias, áreas de máxima infiltração,
cabeceiras e zonas de protecção às albufeiras.
Na perspectiva da utilização
 Uso turístico e recreativo
e valorização  Obrigação de estudos de AIA, sempre que
estiverem previstas alterações ao leito natural dos
curso de água, desvio de caudais e interrupção do
sistema

Na perspectiva da
preservação dos recursos
hídricos quer quanto à  Definição de zonas “non-aedificandi” associadas às
qualidade, quer quanto à linhas de água, lagoas, albufeiras e zona reservada
quantidade. e cabeceiras de linhas de água

O quadro de contra-ordenações definido no âmbito deste plano prevê a punição das acções que contrariem
as disposições do plano, nomeadamente as que tem repercussões sobre os recursos hídricos e na óptica acima
resumida.

2. PROTALI (RCM 8/90, 27 Fevereiro)

Na perspectiva da  Identificação das lagoas costeiras e algumas linhas de


Conservação da água como áreas com interesse para a Conservação
Natureza da Natureza.
 Faixa litoral

 Áreas turísticas na envolvente das albufeiras de


Morgavel e de Campilhas a definir no âmbito dos
Na perspectiva respectivos planos de ordenamento.
da utilização e  Áreas de ocupação na faixa do litoral definidas com
protecção fortes condicionantes e de acordo com os princípios de
ordenamento do litoral.

Na perspectiva  REN – sistemas costeiros e sistemas ribeirinhos


da preservação/
condicionante

32/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

3. PROTAL (RCM 33/88, 4 Agosto)

 Criação de espaços verdes em zonas urbanas,


Na perspectiva da
integrando preferencialmente os solos de baixa
utilização e protecção
aluvionar.

 Manutenção e valorização das linhas de água


nomeadamente leitos e margens, nas zonas
Na perspectiva da urbanas
preservação dos recursos  Definição de zonas imperativas de protecção aos
hídricos quer quanto à sistemas aquíferos
qualidade, quer quanto à  Interdita actos e actividades com incidência na
quantidade. ocupação e transformação do solo em áreas que
constituem a bacia hidrográfica de barragens
existentes ou previstas, não podendo pôr em
causa a qualidade e a quantidade

O quadro de contra-ordenações definido no âmbito deste plano prevê a punição das acções que contrariem
as disposições do plano, nomeadamente as que causem a deterioração do meio ambiente com reflexos na
qualidade e quantidade dos recursos hídricos, com especial ênfase para a protecção dos sistemas aquíferos.

4. PROZAG (RCM 34/89, 28 Setembro)

 Utilização das albufeiras para fins de recreio e


Na perspectiva da
lazer enquanto plano de água.
utilização e protecção
 Uso turístico e recreativo associado às albufeiras

 Condiciona a localização de estabelecimentos


Na perspectiva da
industriais
preservação dos recursos
 Interdita a extracção de inertes em áreas
hídricos quer quanto à
específicas (montante das barragens e junto às
qualidade, quer quanto à
captações)
quantidade.  Interdição de descarga de águas residuais,
resíduos sólidos e plantação de espécies
infestantes.

O quadro de contra-ordenações definidos no âmbito deste plano prevê a punição das acções que contrariem
as disposições do plano, nomeadamente as que se referem à utilização das albufeiras.
Desta análise ainda que sumária, é perceptível que a abordagem não é uniforme, independentemente dos
objectivos e dos domínios sectoriais a atingir por cada um dos planos. Há situações em que os recursos
hídricos são encarados numa óptica predominantemente conservacionista e que são abordados
essencialmente como um condicionante ao uso do solo (ex. o PROTALI) e outros em que é feita uma
abordagem mais integrada, numa perspectiva em que os recursos hídricos são mais do que um condicionante

33/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

ao uso do solo, sendo integrados como elementos de valorização de determinadas áreas, como é o caso das
áreas urbanas (ex. PROTAL).
Os outros dois planos que se encontram igualmente em vigor e que pela sua especificidade, uma vez que
ambos tem albufeiras de águas públicas como elementos aglutinadores de um conjunto de interesses,
privilegiam uma abordagem em que há uma grande incidência na utilização dos recursos hídricos (leia-se
planos de água) de uma forma muito direccionada para as actividades de recreio e lazer, em complemento do
uso turístico. No entanto qualquer destes usos não são equacionados enquanto usos consumptivos dos
recursos, o que na realidade acaba por não se verificar, essencialmente no que respeita aos turismo.

Figura 8.4.1 - Áreas Abrangidas por Planos Regionais de Ordenamento do Território

8.4.2. Planos Municipais de Ordenamento do Território


A elaboração, aprovação e ratificação dos planos municipais de ordenamento do território, encontra-se
enquadrada em diversos diplomas. Até à publicação do Decreto-Lei 380/99, de 22 de Setembro, o
enquadramento legal que presidiu à elaboração dos PMOT, foi o Decreto-Lei 69/90, de 2 de Março, com as
alterações introduzidas pelo Decreto-Lei 211/92, de 8 de Outubro e pelo Decreto-Lei 155/97, de 24 de
Junho.
Os PMOT são planos da iniciativa municipal e englobam os Planos Directores Municipais (PDM), os Planos
de Pormenor (PP) e os Planos de Urbanização (PU).
O PDM “estabelece uma estrutura espacial para o território do município, a classificação dos solos e os
índices urbanísticos, tendo em conta os objectivos do desenvolvimento, a distribuição racional das
actividades económicas, as carências habitacionais, os equipamentos, as redes de transporte e de
comunicação e as infra-estruturas” (n.º 2 do artigo 9º do Decreto-Lei 69/90, de 2 de Março).

34/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Actualmente o país encontra-se praticamente coberto por Planos Directores Municipais eficazes
desenvolvidos nesse quadro legal e cuja relevância para o planeamento e gestão dos recursos hídricos deveria
ser determinante. No entanto, e considerando os 308 planos existentes (só cinco municípios ainda não detêm
de PDM eficaz), verifica-se muitas vezes que a abordagem é feita essencialmente na perspectiva de
condicionar os usos do solo, sem regulamentar medidas eficazes que permitam a valorização da rede
hidrográfica e, numa visão mais alargada, dos próprios recursos hídricos.
Contudo, analisando o conteúdo formal dos PDM, os recursos hídricos só são referidos como condicionante
ao uso do solo, não sendo dada qualquer orientação para a definição de um modelo territorial onde estes
recursos sejam entendidos como um componente de valorização, a par com a inevitável protecção decorrente
da sensibilidade dos ecossistemas que lhe estão associados. De uma análise sumária ressalta o seguinte:

PLANTA DE ORDENAMENTO
classes de espaço em função do uso dominante
PLANO D IRECTOR

 Unidades Operativas de Planeamento e Gestão (UOPG)


MUNICIPAL

PLANTA DE CONDICIONANTES
 RAN
 REN
 domínio hídrico
 áreas protegidas
 regime florestal
 outros

Com a revisão dos Planos Directores denominados da “1ª Geração”, os princípios aqui equacionados poderão
ser revertidos para o modelo territorial a definir, permitindo de alguma forma uma abordagem integrada dos
recursos hídricos que vá além da mera imposição resultante dos condicionantes de ordem legal e que permita
a valorização deste recurso como parte de um ciclo, onde as águas subterrâneas tenham um peso tão
importante como as águas superficiais.
A situação relativa aos planos directores municipais não ratificados é apresentada no Quadro 8.4.1. A
situação para a totalidade dos municípios é apresentada na Figura 8.4.2.

Quadro 8.4.1 – Planos Directores Municipais não Ratificados

Plano Director Municipal Situação


Murtosa Em ratificação
Ourique Em ratificação
Caldas da Rainha Parecer das entidades ou parecer final
Góis Projecto final ou elaboração de propostas
Ourém Projecto final ou elaboração de propostas

Para além destes planos, existem ainda 60 outros que se encontram ratificados, mas em revisão.

35/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Figura 8.4.2 - Situação dos Planos Directores Municipais

8.4.3. Planos Especiais de Ordenamento do Território


O regime jurídico dos planos especiais de ordenamento do território encontrava-se consagrado no Decreto-
Lei 151/95, de 24 de Junho, ao abrigo do qual foram elaborados e aprovados a maioria dos Planos Especiais
de Ordenamento do Território (PEOT) actualmente em vigor. De acordo com este diploma, e com a alteração
introduzida pela Lei 5/96, de 29 de Fevereiro, os PEOT são os planos relativos às áreas protegidas, os planos
de albufeiras de águas públicas e os planos da orla costeira.
Actualmente são considerados PEOT, os Planos de Ordenamento das Áreas Protegidas, os Planos de
Ordenamento das Albufeiras e os Planos de Ordenamento da Orla Costeira. Pela sua abrangência e, no caso
concreto dos Planos de Ordenamento das Albufeiras de Águas Públicas e os Planos de Ordenamento da Orla
Costeira, fazem uma abordagem estratégia do território onde é dado um especial ênfase aos recursos
hídricos. Considerando o conteúdo material destes planos, conforme definido na artigo 44º do Decreto-Lei
380/99, de 22 de Setembro, ressalta imediatamente a componente conservacionista que este novo diploma
veio imprimir aos planos especiais. Com efeito, estão essencialmente vocacionadas para estabelecer regimes
de salvaguarda de recursos e valores naturais, fixando os usos e o regime de gestão compatíveis com a
utilização sustentável do território
No entanto e se houver uma visão mais detalhada sobre o conteúdo documental previsto, não há qualquer
evidência que permita concluir que está prevista uma abordagem diferenciada sobre a temática dos recursos
hídricos para lá daquela que vinha sendo adoptada em planos anteriores.
Nos termos do quadro legal em vigor, os Planos de Ordenamento da Orla Costeira e os Planos de
Ordenamento das Albufeira são planos de âmbito nacional, da iniciativa do Governo.

36/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

PLANOS ESPECIAIS DE Vinculam as entidades


ORDENAMENTO DO públicas e privadas
TERRITÓRIO

 Execução de uma política integrada de ordenamento do território, assegurando o


PRINCIPAIS OBJECTIVOS

desenvolvimento económico e social sustentável


 Definição de princípios e regras de ocupação uso e transformação do solo e utilização das
albufeiras
 Compatibilização com a protecção e valorização dos recursos naturais, das áreas
agrícolas e florestais e do património natural e construído e com a previsão de zonas
destinadas ao recreio e lazer
 Aplicação das disposições legais e regulamentares vigentes e dos princípios gerais do
ordenamento do território e salvaguarda e valorização do património natural e construído.
 Articulação com planos, programas e projectos de âmbito nacional, municipal e
supramunicipal

 Os PMOT devem incorporar e obedecer aos princípios e regras estabelecidas


pelos PEOT

 Os PMOT, programas ou projectos de carácter nacional, regional ou local


devem estar compatibilizados com os PEOT

8.4.3.1. Os Planos de Ordenamento das Albufeiras


Considerando o universo actual do conjunto de albufeiras classificadas, e dando cumprimento ao quadro
legal em vigor (Decreto-Lei 502/71, de 18 de Novembro, Decreto Regulamentar 2/88, de 20 de Janeiro,
Decreto Regulamentar 37/91, de 23 de Julho e Decreto-Lei 380/99 de 22 de Setembro) encontram-se
concluídos dezanove planos de ordenamento de albufeiras.
É contudo de referir que em termos de área líquida planeada, este número representa 20% da área total dos
planos de água existentes, o que significa que a estratégia que presidiu à elaboração dos referidos Planos,
considerou prioritárias as albufeiras de maiores dimensões e também as que desempenham um papel
estratégico no que se refere aos fins principais (abastecimento público, rega, produção de energia).
Encontram-se actualmente em curso vinte outros planos, a maioria dos quais na sua fase final. Com a
conclusão e aprovação destes planos, cerca de 80% da área total dos planos de água existentes ficará
abrangida por um instrumento disciplinador das várias actividades, para além de identificar os demais usos
compatíveis de acordo com o estatuto de salvaguarda dos recursos em presença.
Os Planos de Ordenamento das Albufeiras, compreendem uma área na qual se integra o plano de água e a
zona envolvente de protecção numa faixa de 500 ou 200 m, contados a partir do nível de pleno
armazenamento da albufeira.
Os planos de ordenamento de albufeiras são os únicos planos onde os objectivos de planeamento se orientam
sobretudo para o ordenamento do plano de água e, a partir daí se extrapolam as regras para uso, ocupação e
transformação do solo na sua envolvente.
Será, portanto, determinante que seja estabelecido um zonamento que respeite a capacidade de carga do meio
hídrico, quer em termos físicos quer em termos de qualidade.

37/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Zona de protecção

Protecção aos
orgãos da barragem

Plano de água

Zona de respeito
da barragem

Figura 8.4.3 - Áreas sujeitas a Plano de Ordenamento de Albufeira


Associado a este conceito, têm vindo a ser considerados outros factores inerentes às características físicas
das albufeiras que influenciam a sua capacidade para acolher as diversas utilizações, nomeadamente:
• características ambientais da área onde se insere a albufeira nomeadamente, Áreas Classificadas (zonas de
protecção especial, parque natural/nacional/área protegida);
• características da ocupação urbana na envolvente da albufeira e infra-estruturas turísticas existentes,
localização da albufeira em relação à população servida;
• usos múltiplos do plano de água , uma vez que o aumento de actividades potenciais, promove uma
diminuição na capacidade especifica para cada actividade. Importa assim acautelar as incompatibilidades
/compatibilidades e complementaridades entre as actividades recreativas;
• configuração das margens, uma vez que a uma maior irregularidade das margens corresponderá uma
menor capacidade de carga recreativa;
• dimensões do plano de água pela existência de áreas abertas e extensas no plano de água tornando-o
necessariamente mais seguro como suporte de actividades recreativas. A existência de extensas áreas
aumenta a capacidade do plano de água;
• decorrentes do regime de exploração, as albufeiras são frequentemente sujeitas a variações de nível do
plano de água. A esta situação acresce que a época do ano onde naturalmente se verifica maior procura,
coincide com a altura de maior carência de recursos hídricos, assim as dimensões do plano de água
encontram-se reduzidas;
• Em todas as albufeiras existem áreas que não podem ser utilizadas por questões de segurança e que por
essa razão, são incluídas nas áreas de protecção enquanto áreas criticas: áreas pouco profundas,
afloramentos rochosos ou pequenas elevações, baixios, pontes e outras construções submersas. Estas
áreas devem ser reduzidas à área total do plano de água e só o remanescente deve ser considerado como
potencialmente utilizável.
A integração destes diversos factores nas propostas de plano, associados a disposições que asseguram a
salvaguarda dos recursos presentes em especial da água, tem conduzido a zonamentos específicos para cada
albufeira e zona de protecção. No quadro seguinte apresentam-se algumas destas disposições.
Considerando o conteúdo dos planos existentes e face ao quadro legal em vigor, verifica-se que os Planos de
Ordenamento das Albufeiras contribuem de uma forma determinante para a salvaguarda e gestão dos
recursos hídricos.

Quadro 8.4.2 – Critérios Observados nos Planos de Ordenamento de Albufeiras de Águas Públicas

38/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

CRITÉRIOS TÉCNICOS E DISPOSIÇÕES GERAIS CONSIDERADOS NOS P.


O.A.. PARA A SALVAGUARDA DOS RECURSOS HÍDRICOS

Interditar as descargas de efluentes nas albufeiras


Obrigatoriedade de ligação à rede de saneamento ou quando não for possível a realização
de tratamento adequado
Obrigatoriedade no controlar dos efluentes pluviais numa faixa de 50m a partir do NPA da
POLUIÇÃO DAS ÁGUAS
albufeira
Interditar o parqueamento e acesso de veículos a menos de 50m do NPA da Albufeira
Interditar o uso de fertilizantes numa faixa de 100m do NPA da albufeira (REN) e
regulamentar o seu uso na restante zona de protecção
CONSUMOS ELEVADOS Estabelecer prioridades na utilização de água: 1ª prioridade – abastecimento; 2ª prioridade
DE ÁGUA – rega
Regulamentar a alteração do coberto vegetal
Não permitir mobilização do solo para construções em declives > a 30% (REN).
AFLUÊNCIA DE Interditar ocupação urbana (turística) ou novas construções ainda que isoladas na faixa de
SEDIMENTOS 100 do NPA (REN)
Interditar práticas agrícolas que necessitem de mobilizações elevadas do solo – promover
as mobilizações de solo segundo as curvas de nível
Interditar a introdução de espécies de crescimento rápido e desinseridas das
características do coberto vegetal natural
Interditar na zona envolvente da albufeira a exploração de inertes
Condicionar a prática de actividades recreativas em áreas e épocas do ano de reconhecida
importância para a vida selvagem
FAUNA
Definir zonas de abrigo para a fauna piscícola
Promover a adequada educação ambiental, divulgando as disposições do plano
Condicionar a destruição do coberto vegetal.
FLORA Condicionar a prática de actividades recreativas onde for identificada a existência de
espécies de flora importantes
Promover a adequada educação ambiental, divulgando as disposições do plano.
PAISAGEM Aplicar os parâmetros urbanísticos e tipologias de construção enquadradas nos valores e
características do local
Definir os acesso e locais preferenciais para a permanência dos diferentes utilizadores,
OUTROS sempre que possível fora dos 50m do NPA da albufeira
Contrariar ocupações desordenadas e incontroláveis
Promover a adequada educação ambiental, divulgando as disposições do plano

No entanto, um aspecto que sido alvo de discussão prende-se com a dimensão da zona de protecção das
albufeiras. De facto, a zona de protecção não corresponde, na realidade, a uma unidade biofísica, paisagística
ou fisiográfica, obedecendo apenas a critérios meramente legais. Esta situação é particularmente importante
se pretendermos realizar uma caracterização mais alargada, nomeadamente quanto aos aspectos da qualidade
da água. Na realidade, este limite tem-se mostrado manifestamente insuficiente quando se pretende
estabelecer regras para uma protecção eficaz dos recursos hídricos, sobretudo se estão em causa utilizações
como o abastecimento público.
Numa altura em que o abastecimento público de parte significativa da população portuguesa é feito ou
perspectiva-se que venha a ser feito a partir de albufeiras de águas públicas, é impensável que qualquer
aspecto relacionado com a sua integridade possa ser posto em causa por uma qualquer utilização denominada
de secundária.
O ponto de situação actual, relativo à elaboração destes planos, encontra-se representado na Figura 8.4.4.

39/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

8.4.4 - Situação de Elaboração dos Planos de Ordenamento de Albufeiras

8.4.3.2. Os Planos de Ordenamento da Orla Costeira


Os fenómenos responsáveis pelas condições presentes no litoral são de natureza diversa e com expressões
geográficas que ultrapassam os limites locais, regionais e mesmo nacionais. Neste contexto é possível
distinguir entre as que apresentam difícil controlo e aquelas que mediante um planeamento e gestão
integrados são passíveis de ser controladas.
Os Planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC), surgem como um instrumento enquadrador que as
pode conduzir a uma melhoria, valorização e gestão dos recursos presentes no litoral. O INAG, no âmbito
das suas competências, promoveu a elaboração dos 6 dos 9 POOC estabelecidos, correspondentes aos
seguintes troços: Caminha-Espinho, Ovar-Marinha Grande, Alcobaça-Mafra, Cidadela São Julião da Barra,
Sado-Sines e Burgau-Vilamoura. Para os restantes troços, Sintra-Sado, Sines-Burgau e Vila Moura-Vila Real
de Stº António, por corresponderem maioritariamente a áreas que integram a rede nacional de áreas
protegidas, ficou o Instituto da Conservação da Natureza incumbido de promover a sua realização.

40/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Os Planos de Ordenamento da Orla Costeira abrangem uma faixa ao longo do litoral, a qual se designa por
zona terrestre de protecção, cuja largura máxima é de 500m, contados a partir do limite da margem das
águas do mar, ajustável sempre que se justifique, e uma faixa marítima de protecção que tem com limite
inferior a batimétrica 30.
Com os objectivos de:
• Ordenar os diferentes usos e actividades específicas da orla costeira;
• Classificar as praias e regulamentar o uso balnear;
• Valorizar e qualificar as praias consideradas estratégicas por motivos ambientais e turísticos;
• Enquadra o desenvolvimento das actividades específicas da orla costeira;
• Assegurar a defesa e conservação da natureza;
os POOC preocupam-se, especialmente com a protecção e integridade biofísica do espaço, com a valorização
dos recursos existentes e a conservação dos valores ambientais e paisagísticos.
No quadro das acções com incidência nos recursos hídricos, são consideradas, no plano de intervenções de
cada POOC as seguintes acções:

PLANOS DE ORDENAMENTO DA
ACÇÕES PREVISTAS
ORLA COSTEIRA
Execução dos Sistemas de Saneamento Básico.
Caminha-Espinho Construção de um sistema de drenagem de águas residuais.
(INAG) Monitorização - Programa de monitorização na envolvente dos emissários
submarinos.
Monitorização do controlo de efluentes de ETARs.
Melhoria da qualidade das linhas de água localizadas junto aos aglomerados da
costa de Lavos e Leirosa.
Melhoria dos níveis de qualidade da água da Barrinha de Esmoriz.
Ovar-Marinha Melhoria da qualidade de água da Barrinha de Mira e dos canais afluentes.
(INAG) Melhoria da qualidade da água do rio Mondego.
Melhoria da qualidade da água do rio Lis.
Carta de sensibilidade ecológica à contaminação por hidrocarbonetos.
Reforço da monitorização do emissário da Celbi/Soporcel.
Alcobaça-Mafra Valorização dos troços terminais das linhas de água
(INAG) Execução dos Sistemas de Saneamento Básico no âmbito da requalificação de
aglomerados urbanos de génese clandestina.
Sintra-Sado (ICN) Em curso
Acabar com os efluentes domésticos clandestinos que drenam directamente
Cidadela-São Julião da Barra (INAG) para o domínio hídrico;
Assegurar a ligação de todos os efluentes e equipamentos de praia à rede
pública.
Valorização dos sistemas lagunares
Sado-Sines Acabar com os efluentes domésticos clandestinos na sequência da demolição
(INAG) de construções clandestinas em domínio hídrico.
Conservação e valorização das linhas de água;
Sines-Burgau (ICN) Condicionantes à instalação de aquiculturas face aos impactes na qualidade da
água;
Burgau-Vilamoura Condicionantes à realização de acções que interfiram negativamente no regime
(INAG) de drenagem superficial;
Vilamoura-Vila Real de Stº António Em curso
(ICN)

O ponto de situação actual, relativo à elaboração destes planos, encontra-se representado na figura 8.4.5.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Figura 8.4.5 - Situação de Elaboração dos POOC

8.4.3.3. Os Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas


A nível nacional as áreas com interesse para a conservação da natureza estão integradas na Rede Nacional de
Áreas Protegidas, regulamentada através do decreto-lei n.º 19/93, de 23 de Janeiro.
Esta rede visa a “conservação da Natureza, a protecção dos espaços naturais e das paisagens, a preservação
das espécies da fauna e da flora e dos seus habitats naturais a manutenção dos equilíbrios ecológicos e a
protecção dos recursos naturais contra todas as formas de degradação”.
As áreas classificadas segundo este decreto têm como objectivo, (artigo 3.º), a:
“a) A preservação das espécies animais e vegetais e dos habitats naturais que apresentem características
peculiares, quer pela sua raridade e valor científico, quer por se encontrarem em vias de extinção;
b) A reconstrução das populações animais e vegetais e a recuperação dos habitats naturais das respectivas
espécies;

42/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

c) A preservação de biótopos e formações geológicas, geomorfológicas ou espeleológicas notáveis;


d) A preservação ou recuperação dos habitats da fauna migratória;
e) A investigação científica indispensável ao desenvolvimento dos conhecimentos humanos e estudos e a
interpretação de valores naturais, fornecendo elementos para a melhor compreensão dos fenómenos da
biosfera;
f) A preservação dos sítios que apresentem um interesse especial e relevante para o estudo da evolução da
vida selvagem;
g) A protecção e a valorização das paisagens que, pela sua diversidade e harmonia, apresentem interesses
cénicos e estéticos dignos de protecção;
h) O estabelecimento de reservas genéticas, garantindo a perenidade de todo o potencial genético, animal e
vegetal;
i) A promoção do desenvolvimento sustentado da região valorizando a interacção entre as componentes
ambientais naturais e promovendo a qualidade de vida das populações;
j) A valorização de actividades culturais e económicas tradicionais, assente na protecção e gestão racional
do património natural.”.
A áreas protegidas dividem-se em áreas de interesse nacional, de interesse regional ou local. As primeiras
são geridas pelo Instituto de Conservação da Natureza (ICN) e as ultimas pelas respectivas autarquias.
Actualmente estão criadas 25 áreas protegidas (1 parque nacional, 12 parques naturais, 9 reservas naturais e
3 áreas protegidas) que ocupam 7,5% do território português.
Para a classificação de áreas protegidas é necessário, entre outros requisitos, determinar o prazo de
elaboração do plano de ordenamento e respectivo regulamento.
No quadro 8.4.3 estão referidas as áreas protegidas que já têm Plano de Ordenamento, bem como o
respectivo diploma de aprovação:

Quadro 8.4.3 - Situação Actual dos Planos de Ordenamento das Áreas Protegidas

Áreas Protegidas
Parque Nacional
Peneda – Gerês RCM 134/95, de 11 de Novembro
Parques Naturais
Ria Formosa Dec. Reg. 2/91 de 24 de Janeiro
Serra da Estrela Port. 583/90 de 25 de Julho
Serras de Aires e Candeeiros Por. 21/88 de 12 de Janeiro
Sintra-Cascais Dec. Reg. 9/94 de 11 de Março
Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina Dec. Reg. 33/95 de 11 de Dezembro

Nas restantes 18 áreas protegidas ou estão em fase de elaboração ou em procedimentos para a sua
elaboração.
Na Figura 8.4.6 identificam-se as áreas protegidas dando indicação do ponto de situação da execução do
respectivo plano de ordenamento.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Figura 8.4.6 - Planos de Ordenamento das Áreas Protegidas

8.4.4. Planos de Ordenamento Florestal


O Plano de Desenvolvimento Sustentável da Floresta Portuguesa foi adoptado pela RCM nº 27/99, de 8 de
Abril, como um quadro orientador da política para o sector florestal.
No âmbito da operacionalização do Plano, e de acordo com a Declaração de Ratificação nº 10-AA/99, de 30
de Abril, são definidos vários objectivos estratégicos, indicadores/metas e instrumentos de política para as
grandes orientações estratégicas:
a) Desenvolver e assegurar a competitividade do sector florestal
b) Conservar a Natureza e valorizar o ambiente nos espaços florestais
c) Articular a estratégia florestal com a do desenvolvimento industrial
d) Optimizar e racionalizar a gestão dos recursos cinegéticos
e) Optimizar e racionalizar a gestão dos recursos aquícolas
f) Promover o desenvolvimento económico e social sustentável
g) Modernizar a Administração
No quadro 8.4.4 são especificados para as alíneas b) e e) os objectivos, indicadores/metas e instrumentos de
política apresentados com relevância no âmbito dos recursos hídricos.
Os planos de gestão florestal (PGF), subordinados aos PROF da respectiva região, regulam “as intervenções
de natureza cultural e ou de exploração e visam a produção sustentada dos bens ou serviços originados em
espaços florestais, determinada por condições de natureza económica, social e ecológica”, conforme
estabelecido no Decreto-Lei nº 205/99, de 9 de Junho.

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DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Quadro 8.4.5 – Aspectos Relevantes para os Recursos Hídricos Contemplados nos Planos de Ordenamento Florestal

Conservar a Natureza e valorizar o ambiente nos espaços florestais


Objectivos estratégicos Objectivos operacionais Indicadores/Metas Instrumentos de política
Conservar os valores Criar um código de boas práticas florestais, que a) Conclusão, até 2001, do código de boas práticas Código de boas práticas florestais.
fundamentais solo e água e inclua, designadamente: florestais. Código de boas práticas de
regularizar o regime 1. Garantir o coberto em zonas susceptíveis à b) Cumprimento dos indicadores/metas decorrentes do mobilização do solo.
hidrológico erosão e proteger as linhas de água; Programa de Acção Nacional de Combate à Programa de Acção Nacional de Combate à
2. Regular as práticas silvícolas em zonas Desertificação. Desertificação.
susceptíveis à erosão e em ecossistemas c) Estabelecimento, até final de 1999, dos critérios e Indicadores de gestão florestal sustentável
sensíveis; indicadores do Programa Florestal de Correcção de ao nível operacional.
3. Regular as mobilizações de solo Regimes Hidrológicos.
Mecanismos de compensação no âmbito do
harmonizando os objectivos da produção d) Início, em 2000, e em 10 municípios de projectos de Fundo Financeiro.
com os da conservação do solo e da água; recuperação da galeria ripícola, realizados em
parcerias de entidades públicas e proprietários Majoração das ajudas nas condições de seca,
4. Conservar os sistemas dunares e o avanço para manutenção de maciços de espécies
das dunas. privados.
autóctones, para uso múltiplo e para silvo-
e) Em 2005, os projectos ou itens de projectos, cuja área pastorícia.
de acção contenha linhas de água regularizadas,
deverão ser valorizados caso estejam previstas acções
de meandrização dos cursos de água regularizados.
f) Conclusão, até 2001, da cartografia e regulamentação
da rede nacional de áreas sensíveis à erosão.

Conservar a Natureza e valorizar o ambiente nos espaços florestais


Objectivos estratégicos Indicadores/metas Instrumentos de política
Classificar e garantir a qualidade das águas. Lei da Pesca nas Águas Interiores.
Melhorar o ordenamento e a gestão dos recursos aquícolas. Sistema de incentivos específicos.
Melhorar a qualidade dos produtos e do exercício da pesca desportiva. Plano Nacional de Desenvolvimento da Aquicultura em Águas Interiores.
Prevenir e minimizar os impactes de obras hidráulicas e outras utilizações do
domínio hídrico.
Promover o desenvolvimento da aquicultura nas águas interiores.
Adoptar medidas de prevenção e controlo de práticas ilegais de pesca nas águas
interiores.
Promover o associativismo dos pescadores.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

8.4.5. Reserva Ecológica Nacional


Através do Decreto-Lei 321/83, de 5 de Junho, foi criada a figura da REN, que tinha como objectivo,
contribuir para a concretização de uma política de ordenamento do território, numa perspectiva nacional,
salvaguardando os recursos ecológicos básicos. Posteriormente veio a ser publicado o Decreto-Lei 93/90, de
19 de Março, que considera a REN como “uma estrutura biofísica básica e diversificada que, através do
condicionamento à utilização de áreas com características ecológicas específicas, garante a protecção de
ecossistemas e a permanência e intensificação dos processos biológicos indispensáveis ao enquadramento
equilibrado das actividades humanas” (art.º 1º do DL 93/90, 19 de Março) . O regime previsto no artigo 4º do
mesmo diploma com a redacção dada pelo Decreto-Lei 213/92 de 12 de Outubro, ao retirar a possibilidade
de realização de acções que pela sua natureza e dimensão sejam insusceptíveis de prejudicar o equilíbrio
ecológico das áreas integradas na REN, veio dar uma visão extremamente restritiva quanto ao tipo de
utilização das áreas sujeitas ao regime da REN.
A Reserva Ecológica Nacional (REN) encontra-se delimitada no âmbito de todos os Planos Directores
Municipais (PDM) e integra a respectiva carta de condicionantes. O processo de delimitação feito no âmbito
de um PMOT veio de alguma forma desvirtuar a perspectiva nacional que se pretendia alcançar. Por outro
lado a metodologia adoptada para a sua delimitação conduziu à integração no regime da REN, de áreas muito
extensas e que resultaram de um processo de desafectação das áreas pretendidas para a localização de um
conjunto de actividades apresentadas pelo município e supostamente equacionadas no âmbito da estratégia
de desenvolvimento para o concelho.
Para efeitos de integração na REN consideram-se as seguintes zonas:

ZONAS Leitos dos Cursos de Água e Zonas Ameaçadas pelas Cheias


RIBEIRINHAS, Lagoas, suas margens naturais e zonas húmidas adjacentes
ÁGUAS Albufeiras e uma faixa de protecção
INTERIORES E Cabeceiras das linhas de água sempre que a sua dimensão e
ÁREAS DE situação em relação à bacia hidrográfica tenha repercussões
INFILTRAÇÃO sensíveis no regime do curso de água e na erosão das
MÁXIMA OU DE cabeceiras ou áreas situadas a jusante
APANHAMENTO Áreas de Máxima Infiltração
Insuas

Praias
Dunas Litorais
Arribas ou Falésias
ZONAS
Faixa ao longo da costa entre a LMPMAVE e a batimétrica 30
COSTEIRAS Estuários, lagunas, lagoas costeiras e zonas húmidas adjacentes
Ilhas, ilhéus e rochedos emersos no mar
Sapais
Restingas
Tombolos

ZONAS Áreas com riscos de erosão


DECLIVOSAS Escarpas

Teria sido desejável que a demarcação integrasse aquelas áreas que tivessem um efectivo valor ecológico e
que tivessem importância à escala nacional. Verificou-se no entanto que não foi esse o procedimento
adoptado e que as desafectações já mencionadas foram avaliadas e aceites numa perspectiva
predominantemente concelhia, perdendo-se mais uma vez a escala nacional.

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DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Pese embora todas estas vicissitudes, às quais não é estranho o modo como foram elaborados os PDM, é
certo que a REN constitui um importante instrumento de salvaguarda de áreas essenciais para a protecção
dos recursos hídricos. Com efeito estes recursos podem ser assumidos como o esqueleto da estrutura
biofísica que deve ser a REN, na medida em que abrangem várias áreas da bacia hidrográfica de montante a
jusante, respectivamente as cabeceiras e os estuários, bem como as águas superficiais e as águas
subterrâneas.
Verifica-se que as áreas do Domínio Hídrico, à excepção das margens das linhas de água, encontram-se na
sua totalidade incluídas na REN, que por sua vez integra outras áreas que não tendo as condicionantes
decorrentes do Domínio Hídrico, estão de uma forma mais ou menos directa, ligadas aos recursos hídricos e
tem repercussões no funcionamento dos cursos de água nas suas diferente componentes ( hidráulica,
biofísica e paisagística).
repercussões no funcionamento

10. DOMÍNIO HÍDRICO 9.


RESERVA ECOLÓGICA NACIONAL
(DL 468/71, 5 Nov. e DL 46/94, 22 Fev.)  Cabeceiras
 Zonas Ameaçadas pelas
LINHAS DE ÁGUA Cheias
PRAIAS  Zonas Máxima Infiltração
FAIXA ENTRE A LMPMAVE E A BAT. 30  Zonas de Risco de Erosão
SAPAIS  Arribas e Falésias
 Margens das  Dunas
TOMBOLOS
linhas de água
LAGOAS
ALBUFEIRAS
ESTUÁRIOS

CONDICIONA O USO DO SOLO , CONDICIONA O USO DO SOLO , não


obrigando ao licenciamento das permitindo qualquer ocupação, mas
actividades compatíveis dentro do quadro admitindo desafectações de áreas ao
legal em vigor regime

Perspectiva predominantemente Perspectiva predominantemente


proteccionista
8.1. Hidráulica

Perspectiva integrada dos recursos hídricos


assegurando a sua protecção e valorização

Se é verdade que os condicionantes ao uso do solo introduzidos por via do regime da REN, permitem uma
maior preservação dos recursos hídricos, também é um facto que o próprio regime funciona por vezes como
agente inibidor do desenvolvimento integrado dessas mesmas zonas.
Recorde-se ainda a propósito da situação actual da REN face ao enquadramento legal vigente, uma opinião
expressa pelo Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável e que refere “verifica-se
que a legislação existente não facilita a equilibrada exploração dos recursos e a utilização do território
(“sensus lato”) com salvaguarda de funções e potencialidades, das quais dependem o equilíbrio ecológico e
a estrutura biofísica das regiões, com respeito pelos princípios do desenvolvimento sustentável, bem como a
sustentabilidade de muitos dos seus valores económicos, sociais e culturais, permitindo, porém, por decisão
discricionária, a desafectação sem as adequadas salvaguardas”.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Considera-se assim que a figura da REN pode vir a funcionar como um instrumento estrangulador de um
modelo de desenvolvimento sustentável do território, onde os recursos naturais e nomeadamente os recursos
hídricos não estão a ser assumidos como verdadeiros elementos de valorização do território, predominando
uma visão essencialmente conservacionista decorrente das restrições impostas ao uso do solo.

8.4.6. Reserva Agrícola Nacional


O Decreto-Lei nº 196/89, de 14 de Junho, com alterações introduzidas pelos Decretos-Lei nº 274/92, de 12
de Dezembro e nº 278/95, de 25 de Outubro, estabelece o regime da Reserva Agrícola Nacional (RAN), com
o objectivo de “defender e proteger as áreas de maior aptidão agrícola e garantir a sua afectação à agricultura
de forma a contribuir para o pleno desenvolvimento da agricultura portuguesa e para o correcto ordenamento
do território.”
Este regime jurídico pretende defender eficazmente as áreas mais vocacionadas para uma prática agrícola
moderna e racional, nomeadamente áreas constituídas por solos de maiores potencialidades agrícolas ou que
foram objecto de investimentos destinados a aumentar a sua capacidade produtiva, no quadro da inserção
portuguesa no espaço comunitário.
As áreas de RAN são constituídas por solos das classes A e B, solos de baixas aluvionares e coluviais e
outros tipos de solos cuja integração se mostre conveniente para a prossecução dos objectivos legalmente
previstos, podendo ainda ser integradas áreas e solos que assumam relevância em termos de economia local
ou regional.
Nos solos que integram a RAN são proibidas todas as acções que diminuam ou destruam as suas
potencialidades agrícolas (obras hidráulicas, despejo de volumes excessivos de lamas, entre outras) e
carecem de parecer favorável das comissões regionais da reserva agrícola todas as utilizações não agrícolas
que dependam de licença, concessão, aprovação ou autorização administrativa.

8.4.7. Rede Natura 2000


A nível comunitário criou-se a Rede Natura 2000 que integra os sítios classificados ao abrigo da directiva
das Aves e da directiva Habitats.
A comunidade europeia publicou a 2 de Abril de 1979 a Directiva 79/409/CEE, do Conselho, relativamente à
conservação das aves (directiva das Aves), e tem por objectivo a protecção, gestão e controlo das espécies de
aves que vivem no estado selvagem no território da União Europeia, regulamentando a sua exploração.
Esta directiva foi transposta através do decreto-lei n.º 75/91, de 14 de Fevereiro.
Para conservar, preservar e restabelecer os biótipos e habitats, segundo a directiva, foram criadas as Zonas de
Protecção Especial (ZPE), tendo sido publicadas no decreto-lei n.º 384-B/99, de 23 de Setembro. Existem
neste momento 29 ZPE que ocupam 8,4% do território.
Em 1993 foi publicada a directiva 92/43/CEE, do Conselho, de 21 de Maio, que visa a conservação dos
habitats naturais e da fauna e da flora selvagens. Este diploma tem como principal objectivo a manutenção
da biodiversidade, tendo em conta as exigências económicas, sociais, culturais e regionais. Referindo
também a importância de integrar nas políticas de ordenamento do território e de desenvolvimento, “a gestão
dos elementos de paisagem que se revistam de maior importância para a fauna e a flora selvagens.”
Cada zona designada, devem ser aplicadas as medidas necessárias para concretizar os objectivos de
conservação prosseguidos.
A transposição desta directiva fez-se através do decreto-lei n.º 226/97, de 27 de Agosto.
A lista nacional de sítios 1ª e 2ª fase foram aprovadas respectivamente pela resolução de Conselho de
Ministros n.º142/97, de 28 de Agosto e pela resolução de Conselho de Ministros n.º 76/2000, de 5 de Julho.
Na primeira fase foram aprovados 31 sítios e na segunda foram aprovados 29 sítios, o que equivale a 60
sítios da lista nacional, que ocupam 17.7% do território.
O decreto-lei n.º 140/99, de 24 de Abril, procede à revisão da transposição para direito interno as directivas
referidas, permitiu adequar e compatibilizar os princípios, as medidas de conservação e os procedimentos

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DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

relativos à protecção das zonas especiais de protecção (ZPE) e das zonas especiais de conservação (ZEC),
que integrarão a Rede Natura.
Cada Estado-membro indicará as medidas necessárias de conservação, que poderão passar por planos de
gestão adequados, específicos ou integrados noutros planos já existentes que satisfaçam os objectivos a que
se propõem estes locais.
Sempre que as áreas pertencentes à rede Natura 2000 coincidam com áreas da rede de Nacional de Áreas
Protegidas, ficam sujeitas aos seus planos de ordenamento. Se os sítios da LNS coincidirem com as ZPE,
ficam sujeitos aos instrumentos de planeamento e gestão das ZPE. Caso não estejam definidos diplomas para
estas áreas, os instrumentos de planeamento e outros de natureza especial serão integrados nos Planos
Directores Municipais, na primeira revisão a que estiverem sujeitos. Para os sítios da rede Natura 2000 está
prevista a elaboração de um plano sectorial.
A fiscalização do cumprimento deste decreto e legislação complementar cabe ao ICN, ao Instituto da Água,
às autarquias locais, às direcções regionais do ambiente, Direcção-Geral das Florestas, às direcções regionais
da agricultura e às autoridades policiais.
Muitas das zonas classificadas como ZPE têm uma grande dependência do meio hídrico. São exemplo disso
o Paul de Arzila, o paul do Boquilobo, a Lagoa da Sancha e a Lagoa de Santo André. Pertencendo algumas
ao domínio publico hídrico.
Na LNS temos os sítios: estuário do Sado, rio Minho, barrinha de Esmoriz e ria de Alvor. Verifica-se desta
forma quer é essencial que o Plano Nacional da Água tenha em conta as áreas pertencentes à rede Natura
2000, bem como as da Rede Nacional de Áreas Protegidas visto estarem sujeitas a um planeamento
adequado aos seus objectivos.
A rede nacional das áreas protegidas, a lista nacional de sítios e as zonas de protecção especial ocupam
21,5% do território.

8.4.8. Articulação do Ordenamento do Território e do Domínio Hídrico e Conflitos


de Uso
Com particular incidência nas últimas décadas, é enorme a procura do domínio hídrico para a pratica dos mais
diversos fins e actividades. Tão elevada procura tem vindo a revelar-se geradora de conflitos capazes de afectar
importante parcela do território e/ou da população, com prejuízos que não podem ser desprezados.
Considerando as diferentes áreas que integram o Domínio Hídrico e que estão sujeitas a servidões e restrições de
utilidade pública, foi possível identificar um conjunto de usos e acções, que pela sua natureza são susceptíveis de
prejudicar a sua integridade:

A - Linhas de Água - Seus Leitos e Margens

U Ocupação das margens por construções diversas


S
O Alteração de traçados dos cursos de água por mobilização do solo (aterros com vista à construção)
S
Extracção de inertes descoordenada e sem planificação
E Destruição de vegetação ribeirinha
A Regularização/Artificialização de traçado e cobertura de linhas de água, sobretudo em áreas urbanas
C
Ç Despejo de “monos”, entulhos e lixo em geral
Õ
E
Utilização de troços para recreio e lazer, não infra-estruturados para o efeito, sem as necessárias condições
S de segurança e de qualidade da água

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

U B - Zonas Inundáveis
S
O
S
Elevada pressão para ocupação edificada
E Impermeabilização dos leitos de cheia
A Existência de infra-estruturas mal dimensionadas (pontes, estradas, etc.) que influenciam as dimensões e
C consequência das cheias.
Ç
Õ Falta de sensibilidade das Autarquias em geral para o problema de ocupação das zonas inundadas e
E inobservância das disposições legais em vigor.
S

C - Albufeiras e Zona de Protecção

Plano de Água

U
Elevada procura para navegação a motor
S Procura para actividades balneares em áreas não infra-estruturadas para o efeito e sem as necessárias
O
S
condições de segurança e qualidade de água
Pesca desportiva e concessões de pesca desportiva
E
Utilização de engodos para pesca e degradação da qualidade de água
A
C Aquicultura (Estabelecimentos Flutuantes)
Ç
Õ
Rejeição não controlada de efluentes
E Extracção de inertes realizada a montante e repercussões na Albufeira
S
Despejo de “monos” e lixos
Abeberamento de gado

Zona de Protecção (500 metros a partir do NPA)


Ocupação edificada dispersa (novas construções)
U Procura para empreendimentos turísticos e complementos desportivos (Golf)
S
O Aglomerados urbanos inseridos na zona reservada e zona envolvente sem adequado sistema de
S tratamento de águas residuais
E Campismo selvagem

A Acessos desordenados ao Plano de Água


C Circulação de viaturas fora dos caminhos e trilhos
Ç
Õ Deficiências ao nível de recolha de resíduos
E
S Pastagem e abeberamento de gado

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DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Domínio Marítimo e Orla Costeira

U Intensa procura para ocupação edificada


S
O Existência de elevado número de aglomerados urbanos em zonas de risco de erosão Costeira.
S
Descarga de águas residuais não tratadas directamente para o mar
E Elevado número de construções em arribas e sistemas dunares
A Destruição de sistemas dunares (construções, circulação de veículos)
C
Ç Avanço das águas do mar
Õ
E Situações de instabilidade de arribas e falésias pondo em risco a segurança de pessoas e bens
S Acessos desordenados e circulação de viaturas de uma forma desordenada
Por regra, sobre o domínio hídrico é chamado a intervir um conjunto de entidades com competências nas mais
diversas áreas, passando, nomeadamente, pela administração/gestão do território, gestão de recursos naturais,
protecção e conservação da natureza, ordenamento do território, licenciamento de inúmeras utilizações privativas,
designadamente as económicas, e, evidentemente, fiscalização associada a cada uma delas.
Ora, conciliar as posições de um número tão elevado de entidades, revela-se tarefa complexa e que,
frequentemente, constitui obstáculo a uma oportuna tomada de decisão. Desta situação não beneficia, seguramente
o domínio hídrico, podendo mesmo afirmar-se que dela resultam, com assiduidade, prejuízos aos mais diversos
níveis, revelando-se, ainda, geradora de alguma desconfiança dos particulares relativamente à Administração que,
assim, muitas vezes optam por a ignorar.

8.4.9. Áreas Inundáveis, Zonas de Infiltração Máxima e Zonas de Erosão


De acordo com o legalmente estabelecido, as áreas inundáveis, as zonas de infiltração máxima e as zonas de
erosão, não são objecto de tratamento uniforme no quadro das restrições ou servidões de utilidade pública
aplicáveis ao domínio hídrico. De facto, enquanto às áreas inundáveis são aplicáveis restrições quanto à sua
ocupação e impermeabilização, obrigando a parecer vinculativo da entidade administrante do domínio
hídrico, as zonas de infiltração máxima e zonas de erosão não se encontram nesta situação, a sua salvaguarda
decorre unicamente da aplicação do regime da Reserva Ecológica Nacional.
As área inundáveis podem, nos termos legalmente estabelecidos, ser classificadas mediante portaria
passando a ser denominadas por Zonas Adjacentes. As áreas inundáveis estão sujeitas a restrições de
utilidade pública, e enquanto não ocorrer a publicação da Zona Adjacente a sua ocupação carece de parecer
vinculativo do Instituto da Água, nos termos do artº 14º do Decreto-Lei 89/87 de 26 de Fevereiro. Este
parecer incide na área compreendida entre a margem e o limite da maior cheia com probalidade de
ocorrência no período de um século, ou, no caso de se desconhecer este limite, numa faixa de 100 metros,
para cada lado da linha da margem do curso de água.
A sua utilização passa a ser restringida, mediante a definição de áreas de ocupação condicionada e ocupação
proibida. A demarcação das Zonas Adjacentes pode ser da iniciativa da Administração Central ouvida a
Câmara Municipal ou Câmaras Municipais da área respectiva, ou decorrer de proposta desta última.
No caso da publicação da Zona Adjacente a utilização destas áreas obedece ao regime previsto no artº 15º do
Decreto-Lei 89/87, podendo ser delimitadas áreas de ocupação condicionada e áreas de ocupação proibida.
Nas áreas de ocupação proibida é permitida a instalação de equipamentos de lazer, desde que não impliquem
a construção de edifícios, dependendo de parecer vinculativo da DGOTDU e do INAG; nas restantes áreas e
mediante parecer favorável do INAG, só são permitidas construções em situações de excepção, identificadas
no nº 4 e 5 do artº 15º do Decreto-Lei 89/87.
Embora a legislação seja dos anos setenta, apenas existem publicadas seis Zonas Adjacentes, devendo-se a
iniciativa da sua demarcação essencialmente às ocorrências desastrosas verificadas com as cheias de 1983.

51/54 (8 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Assim, constata-se que a maioria das delimitações existentes são feitas para pequenas bacias da região de
Lisboa (Jamor, Colares, Vinhas, Laje) que registam grandes índices de ocupação edificada e onde
inevitavelmente se registaram elevados prejuízos. Encontram-se ainda publicadas zonas adjacentes em troços
do rio Tâmega, em Chaves, e do rio Zêzere.
Se era esperado que estas áreas se mantivessem com estatuto “non-aedificandi”, integrando a carta de
condicionantes dos PMOT, constata-se, que na área metropolitana de Lisboa, continua a haver ocupação
edificada nas mesmas, pondo em causa quer o equilíbrio do sistema fluvial nas suas mais diversas
componentes, quer a segurança de pessoas e bens. Desta forma agrava-se a situação de risco decorrente de
ocupações indevidas do território, não permitindo tirar partido do potencial destas áreas, como zonas de
recreio e lazer, quando inseridas em perímetro urbano.
Esta situação foi alterada com a publicação do Decreto-Lei 364/98, de 21 de Novembro, que estabelece a
obrigatoriedade de elaboração da carta de zonas inundáveis nos municípios com aglomerados urbanos
atingidos por cheias, delimitação que será feita em função da maior cheia conhecida.
Por outro lado, se é verdade que as áreas ameaçadas pelas cheias estão genericamente sujeitas ao regime da
Reserva Ecológica Nacional, também é verdade que essa delimitação não obedeceu a critérios técnicos
objectivos.
A tendência deverá ser para caminhar no sentido de proceder à demarcação de todas as zonas ameaçadas por
cheias, dando prioridade àquelas que coincidem com usos urbanos, nomeadamente nos termos do previsto no
Decreto-Lei 364/98, 21 de Novembro. A oportunidade para proceder a tal demarcação poderá ser encontrada
na revisão dos Planos Directores Municipais. Para o efeito a Administração dos recursos hídricos poderá
disponibilizar informação que permita aos municípios elaborar a referida cartografia (cotas de cheia com
referenciação ao local, cartografia/levantamento dos leitos de cheia, etc.).

8.4.10. Uso Agrícola e Florestal do Solo e Assoreamento


A conservação do solo em termos globais é conseguida, essencialmente, pela existência de um coberto
vegetal adequado, submetido a um regime de exploração correcto, pressupondo ainda a adequação das
diversas práticas culturais às condições biofísicas (clima, características geológicas e pedológicas) do
território.
Uma análise global de todo o país evidencia que grande percentagem do mesmo se encontra sujeita a usos do
solo que se inserem nas classes de espaços agrícolas e florestais, com maior representatividade para esta
última nas bacias hidrográficas a Norte da do Tejo, sendo substituída a Sul pelos espaços agrícolas.

100

80

60
Urbano
40
Agrícola
Florestal
20

0
PBMinho

PBLima

PBCávado

PBAve

PBDouro

PBLeça

PBVouga

PBMondego

PBLis

PBTejo

PBRibOeste

PBSado

PBGuadiana

PBMira

PBAlgarve

Verificando-se, na generalidade, um processo gradual de assoreamento de toda a rede hidrográfica, constata-


se a necessidade de controlar e monitorizar a alteração de usos do solo e assegurar a implementação de
práticas culturais correctas. Esta situação que tem sido acautelada pelos diversos instrumentos de
planeamento e uso do solo, não tem tido, na prática, um resultado plenamente eficaz.
Da análise dos diversos instrumentos de planeamento é possível concluir que:
• A maior percentagem do território se encontra inserida na classe de espaços florestais;

52/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

• Tem-se verificado um aumento da área florestal com recurso a espécies de rápido crescimento;
• O regime de exploração das áreas florestais encontra-se sobretudo sujeito a regimes de produção
intensivos;
• O aumento verificado na extensão de áreas ardidas e o seu lento processo de regeneração, aumenta o
caudal sólido afluente à rede hidrográfica.

Urbano
Agrícola
Florestal
Outros

8.4.11. Incompatibilidades entre os Planos de Ordenamento do Território e o


Domínio Hídrico
Todos os instrumentos gestão e de ordenamento do território estabelecem condicionantes ao uso do solo
genericamente identificados na Planta de Condicionantes que faz parte integrante destes planos. O Domínio
Hídrico é assim identificado como uma condicionante ao uso do solo, permitindo, ainda que numa
perspectiva muito limitada, a protecção aos recursos hídricos. Os únicos planos que fazem uma abordagem
dos recursos hídricos de acordo com uma visão mais alargada, compatibilizando a sua protecção e
salvaguarda, com a sua valorização e utilização sustentável, são os Planos de Ordenamento das Albufeiras de
Águas Públicas, que pela sua natureza específica tem como objectivo definir regras de utilização do plano de
água e zona envolvente, por forma a salvaguardar a qualidade dos recursos naturais e em especial da água.
De entre os planos existentes e analisando na perspectiva de avaliar aqueles que tem repercussões mais
significativas no uso do solo, considera-se ser de referir os Planos Especiais de Ordenamento do Território e
Planos Municipais de Ordenamento do Território por serem aqueles que vinculam directamente os
particulares e ainda por apresentarem um conjunto de princípios e regulamento sobre o uso e transformação
do solo.
A percentagem de áreas urbanas e urbanizáveis, em todo o território, é de cerca de 6%. Estas áreas
encontram-se concentradas junto ao litoral em aglomerados de média a grande dimensão destacando-se as
Áreas Metropolitanas do Porto e de Lisboa. As restantes encontram-se disseminadas ao longo do território
merecendo especial referência a construção dispersa e a ocupação ao longo dos vales.
Em termos gerais teremos, relativamente à ocupação do solo do território por construções, o seguinte:

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
DOMÍNIO HÍDRICO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

SITUAÇÃO EXISTENTE EFEITOS ESPERADOS

• Destruição do recurso solo e


• Concentração de áreas impermeabilização de extensas
áreas.
urbanas
Desenvolvimento das • Pressão sobre áreas de grande
• Áreas Metropolitanas
sensibilidade ecológica e
fundamentais para o
junto à foz e aos funcionamento dos cursos de
água.
Estuários das
• Destruição do recurso solo,
principais linhas de
redução da infiltração, maior
água perigo de contaminação do solo
Construção dispersa de dos recursos hídricos .
• • Ocupação de áreas do Domínio
no território
Hídrico (Leitos e margens das
• Construção ao longo linhas de água) e das zonas
ameaçadas por cheias (zonas de
dos vales
risco).

• Destruição do recurso solo com


Conversão de áreas
redução da capacidade
• produtiva; diminuição da
infiltração.

IMPACTOS NOS
RECURSOS HÍDRICOS

• Alteração da dinâmica e das funções dos cursos de água (destruição das linhas de
água devido à sua artificialização e destruição das margens por ocupações
indevidas com arranque da galeria ripícola, aumento das áreas sujeitas a
inundações)
• Aumento da erosão e do caudal sólido
• Alteração das condições de infiltração com repercussões nos aquíferos subterrâneos
(quantitativamente e qualitativamente)

54/54 (8 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

9. SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

9.1. O Ciclo dos Desastres e a Protecção Civil


A situação geográfica, as características geológicas, as condições climáticas do País, as actividades sócio-
económicas, nomeadamente as ligadas à indústria, aos transportes e à exploração dos recursos naturais
podem gerar acidentes graves, catástrofes ou calamidades, susceptíveis de originar elevadas perdas de vidas
e de bens e causar alterações catastróficas para o ambiente e o património cultural.
Tais acidentes, sendo resultantes de fenómenos naturais ou tecnológicos/societais, determinam
consequências, mais ou menos gravosas, consoante a vulnerabilidade da zona onde se produzem, face à
magnitude do fenómeno específico e aos elementos em risco nela existentes, nomeadamente a população, as
construções, as actividades económicas, os serviços públicos e as infra-estruturas.
A Lei n.º 113/91, de 23 de Agosto, Lei de Bases de Protecção Civil, veio desenvolver e dar expressão
prática, na vertente específica da protecção civil, a princípios fundamentais consagrados na Constituição da
República, relativamente às atribuições indeclináveis do Estado para garantia dos direitos à vida, à
integridade física, à segurança, bem estar e saúde dos cidadãos, à defesa do património cultural, da natureza e
do ambiente e à preservação, em geral, dos bens da comunidade e dos indivíduos, mesmo nas circunstâncias
mais adversas como são as que acompanham e se seguem à ocorrência de Acidentes Graves, Catástrofes ou
Calamidades de origem natural ou tecnológica.
Refere aquela Lei que a política de protecção civil tem carácter permanente, multidisciplinar e plurisectorial,
cabendo a todos os órgãos e departamentos do Estado promover as condições indispensáveis à sua execução
de forma descentralizada, sem prejuízo do apoio mútuo entre entidades e organismos do mesmo nível ou
proveniente de níveis superiores.
Por isso, é indispensável que o Governo e todas as Entidades e Organismos com responsabilidades no
domínio da protecção civil, e os cidadãos em geral, desenvolvam acções com eficácia e oportunidade para
atenuar riscos e limitar os seus efeitos quando ocorram, e por outro lado socorrer e assistir as pessoas em
perigo em caso de acidente grave, catástrofe ou calamidade (Figura 1).
Para tal, o conhecimento dos riscos específicos, a identificação dos elementos em risco e a avaliação e
quantificação das suas vulnerabilidades (interacção entre o ecossistema e a sua ocupação sócio-económica),
são factores essenciais para um planeamento eficaz de prevenção e protecção.
Este processo requer um planeamento prévio, dinâmico, sequencial e contínuo de todos os sectores da
sociedade, de forma a minimizar e a facilitar a resposta em situação de desastre, minimizando a perda de
vidas humanas e os danos de bens privados e públicos e do ambiente.
Em sociedades ainda não totalmente estruturadas o ciclo dos desastres aparece invertido, surgindo o
planeamento não como etapa prévia determinante na mitigação dos acidentes ou calamidades, mas como
uma fase pós-desastre, como reforço da sociedade, numa tentativa de evitar a repetição das situações
catastróficas.
A preparação da sociedade, para a qual o Plano Nacional da Água pode contribuir significativamente, reduz
as vulnerabilidades (elementos em risco) e assim os impactos negativos, ou a gravidade das consequências
das catástrofes.
Os riscos relevantes para o Plano Nacional da Água relacionam-se com o excesso e com a escassez de água
para abastecimento público, e sua contaminação, e inerentes impactos na sociedade, ou seja, as cheias, secas
e acidentes de poluição, entendidos estes últimos como acidentes de contaminação dos recursos hídricos que
ponham em causa a vida de pessoas e do ecossistema, quer por ingestão directa ou por contaminação da
cadeia alimentar, quer por contacto directo com a água.
Por vezes as cheias, têm por vezes na sua génese em causas mais societais do que naturais, como é
o caso de uma cheia induzida pela ruptura de barragem. Societais são também, as causas dos

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

GESTÃO DE DESASTRES

MITIGAÇÃO DO DESASTRE RESPOSTA

PREVENÇÃO PREPARAÇÃO SOCORRO

máxima redução do redução óptima do salvamento, com assistência após o


risco, baseada em risco, baseada em prioridade atribuída desastre
critérios de restrições e à vida humana
segurança incentivos

Planeamento: Planeamento: Planeamento: Assistência:

ênfase em medidas ênfase em medidas ênfase nos sistemas - evacuação


técnicas: de planeamento, de alerta, aviso e - alimentação
legislação e políticas planeamento de
de seguros: emergência: - medicamentos
- resistência das - agasalhos
estruturas - zonamento - previsão e aviso
- reforço de sectores atempado - abrigo
- obras de protecção
(ex: diques); críticos da - exercícios - etc.
sociedade - inventariação de
- etc.
- critérios de meios e recursos
segurança - educação da
- etc. população
- etc.

Medidas estruturais Medidas não estruturais

Figura 9.1.1 - Ciclo dos Desastres: Medidas Gerais de Mitigação do Risco (Adaptado de Mitigating Natural
Disasters. Phenomena, Effects and Optins. United Nations, 1991)

2/21 (9 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

acidentes involuntários de poluição originados pelo derrame de um veículo transportando matérias perigosas.
Também nem sempre a génese dos acidentes graves ou catástrofes é involuntária, como sejam as descargas
para os cursos de água de efluentes de unidades industriais tóxicas, ou a ruptura de uma barragem provocada
por um acto de terrorismo.
Importa, portanto, desenvolver mecanismos com vista a uma eficaz gestão dos recursos hídricos nacionais,
através de medidas estruturais e não estruturais, de modo a reduzir os riscos de:
• Cheia, e consequentes inundações com morte e/ou evacuação e desalojamento de pessoas, danificação
da propriedade pública ou privada, de infra-estruturas e de equipamentos, afectação das actividades
socio-económicas e alterações do normal funcionamento da sociedade, como por exemplo cortes de
estradas, isolamento de povoações e interrupção do fornecimento de alguns serviços básicos;
• Seca, privando as populações do normal abastecimento doméstico e industrial, e;
• Acidentes de poluição, e consequentes impactos no abastecimento público e na saúde pública.
A redução destes risco, desde a sua génese à preparação da sociedade para os seus efeitos (redução das
vulnerabilidades), facilita à protecção civil a resposta em situações de emergência e, consequentemente, a
minimização dos danos e perdas de vida.

9.2. Riscos e Vulnerabilidades de Secas, Cheias e Acidentes de Poluição em Portugal


Continental na Óptica da Protecção

9.2.1. Dos Riscos às Vulnerabilidades


Pelo vigor que imprime à paisagem, a orografia surge-nos como um elemento fundamental na caracterização
da geografia física do País, permitindo a individualização de duas áreas de relevo de características
nitidamente diferenciadas, que apresentam uma orientação geral de Nordeste-Sudoeste e estão separadas
entre si pelo rio Tejo.
O clima do território continental português é tipicamente mediterrâneo, embora com algumas matizes
atlânticas que lhe são conferidas pelo carácter regulador que é exercido pelo oceano. Por isso, os Invernos
são geralmente temperados e chuvosos e os Verões bem marcados.
O regime hídrico do continente é fortemente condicionado pela acentuada variabilidade espaço-temporal da
pluviosidade, que decorre das características climáticas e da fisiografia territorial. Ao longo do ano, a
precipitação concentra-se, sobretudo, nos meses de Outubro a Março. Contudo, em anos excepcionais, a
distribuição da pluviosidade não é homogénea pelo período húmido, verificando-se a ocorrência, num único
mês, de valores de precipitação que ultrapassam 50% da precipitação total anual.
A mudança social ocorrida em Portugal nos últimos 30 anos originou um reordenamento muito rápido do
povoamento do território traduzido pela “morte” de aldeias, diminuição da vida rural e alteração das funções
do solo, das linhas de água e da floresta. Em consequência do êxodo rural verificou-se a concentração dos
excedentes populacionais do interior nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e faixas costeiras.
O crescimento destes pólos resultou de uma intervenção não planeada e expôs as populações e os
equipamentos urbanos e os ecossistemas litorais a efeitos extremamente adversos e de um novo tipo. Por seu
lado o crescimento das pequenas cidades do interior não obedeceu também, em geral, a planos directores,
nem equacionou as condicionantes sismológica, meteorológica e climatológica.

As funções dos novos espaços urbanos foram determinadas essencialmente por lógicas de interesses nem
sempre sustentáveis.
Esta “evolução” do ordenamento do território teve como consequência que os efeitos produzidos pelas
situações e fenómenos meteorológicos extremos se alteraram e modificaram o conhecimento dos riscos e
vulnerabilidades existentes. A dependência da água aumentou muito e distribuiu-se diferentemente pelo
território. Culturas agrícolas, pecuária e, sobretudo, o abastecimento público de água em quantidade e
qualidade ficam extremamente vulneráveis.

3/21 (9 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

O conceito de catástrofe natural teve/tem assim de ser ajustado ao modo novo de povoar, habitar, produzir e
consumir.
Os valores apurados pelos últimos censos ilustram uma repartição desigual da população pelo território
nacional, centrando-se a maior parte, no Continente, nas regiões a Norte do rio Tejo, com particular
incidência para as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. No Sul do país e nas ilhas as densidades
populacionais encontram-se bastante rarefeitas. Verifica-se também uma maior concentração demográfica no
litoral do país relativamente ao interior.
Do entrelaçamento dos factores físicos, designadamente das características dos solos e do clima, em
conjugação com a presença e intervenção do homem no ecossistema ao longo dos séculos, resultam as
vulnerabilidades que interessam analisar neste capítulo, relativas aos riscos de cheia, seca e acidentes de
poluição.
Interessa ainda ter presente que os danos ou prejuízos decorrentes de qualquer situação de risco podem ser
directos, isto é resultado imediato do impacto do desastre, que são os mais visíveis e facilmente
contabilizados, e indirectos, menos imediatamente tangíveis, mas que podem ter um maior e mais longo
impacto económico-social do que os directos, imediatamente visíveis.

9.2.2. Secas
9.2.2.1. Conceito de Seca e Protecção Civil
As secas são fenómenos naturais extremos e temporários com propriedades bem características e distintas
dos restantes tipos de catástrofes. De uma maneira geral uma seca é entendida como uma condição física
transitória caracterizada pela escassez de água, associada a períodos extremos de reduzida precipitação mais
ou menos longos, com repercussões significativas nos ecossistemas e nas actividades socio-económicas.
Distingue-se das restantes catástrofes por o seu desencadeamento se processar da forma mais imperceptível,
a sua progressão verificar-se de forma mais lenta, a ocorrência arrastar-se por um maior período de tempo,
poder atingir extensões superficiais de muito maiores proporções e a sua recuperação processar-se de um
modo mais lento.
O conceito de seca não possui uma definição rigorosa e universal. É interpretado de modo diferente em
regiões com características distintas, dependendo a sua definição da inter-relação entre os sistemas naturais,
sujeitos a flutuações climáticas, e os sistemas construídos pelo homem, com exigências e vulnerabilidades
próprias, traduzidas nos seus efeitos.
Embora este tipo de desastre natural não coloque em perigo, geralmente, vidas humanas, o facto é que ele
acarreta, muitas vezes, impactes sócio-económicos significativos, nomeadamente na agricultura e na agro-
pecuária, no abastecimento público, na indústria, e ainda na produção de energia.
A seca acarreta dois tipos de consequências, directas e indirectas:
Efeitos directos
• deficiente fornecimento de água para abastecimento urbano;
• prejuízos na agricultura, na indústria e na produção de energia hidroeléctrica;
• restrições à navegação nos rios e à pesca em águas interiores.
Efeitos indirectos
• favorecimento de condições que levem à ocorrência e propagação de incêndios florestais;
• problemas fitossanitários;
• degradação da qualidade da água;
• erosão do solo e,
• a longo prazo, desertificação, nas regiões de climas áridos e semi-áridos.

4/21 (9 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

As secas iniciam-se sem que nenhum fenómeno climático ou hidrológico específico as anuncie, e só se
tornam perceptíveis quando estão efectivamente instaladas, ou seja, quando as suas consequências são já
visíveis pela escassez dos recursos hídricos disponíveis. Esta característica das secas é relevante traduzindo-
se na forma distinta como se processa o seu acompanhamento relativamente a todos os outros riscos, que são
geralmente mais súbitos, independentemente de serem previsíveis ou não.
As situações de seca são frequentes em Portugal continental. A sua incidência ocorre geralmente de forma
mais significativa nas regiões do Interior Norte e Centro e no Sul do País. Contudo, em termos de
abastecimento doméstico, as principais vulnerabilidades centram-se essencialmente no sul do país sobretudo
no Alentejo.
9.2.2.2. Vulnerabilidade às Secas
Como já anteriormente referido, fundamentalmente interessa salvaguardar o abastecimento doméstico às
populações pelo que são estas as vulnerabilidades essenciais a analisar.
Torna-se indispensável identificar as fontes de abastecimento de água a cada população, cujas
disponibilidades futuras determinarão as vulnerabilidades às secas, função da sua intensidade.
Origem do Abastecimento de Água às Populações
Situações de seca passadas permitem identificar que as principais vulnerabilidades em termos de
abastecimento público doméstico se centram no sul do país, essencialmente no Alentejo, e nas regiões de
interior Centro
Em 1999 viveu-se novamente uma situação de seca, embora não tão grave como a de 1995. Para maior grau
de detalhe das vulnerabilidades existentes em 1999 procedeu-se nesse ano, a um levantamento nacional das
zonas com problemas de abastecimento público, cuja síntese se apresenta de seguida e que serve de
referência a situações futuras no planeamento de acções a desenvolver em situações de seca.
Região Norte
A região Norte (distritos de Viana do Castelo, Braga, Bragança, Vila Real e Porto) é abastecida por reservas
subterrâneas, captações superficiais nos rios e por albufeiras existentes na bacia hidrográfica do Douro
(Figura 4). Em situações anteriores de secas generalizadas a região Norte não registou problemas
significativos no abastecimento público.
Região Centro
Esta região também não apresenta geralmente problemas significativos relativos ao abastecimento doméstico
em situação de seca. Contudo, os distritos do interior, Guarda e Castelo Branco, são os primeiros a sentir
dificuldades localizadas de abastecimento de água para o gado.
Região de Lisboa e Vale do Tejo
Esta região, apesar de situada mais a sul, não é crítica na sua generalidade contudo, em situações de seca
verificam-se algumas dificuldades de abastecimento doméstico pouco graves no distrito de Santarém, em
localidades dos concelhos de Coruche (Cabecinhas, Freguesia da Lamarosa) e de Mação (Penhascoso,
Freguesia de Penhascoso; Chão de Codes e Louriceira, Freguesia de Aboboreira). Nesta região existem
alguns problemas estruturais de abastecimento de água (ex: região da costa do Estoril e Sintra) que não
devem ser confundidos com situações de seca.
Região do Alentejo
Além das reservas hídricas subterrâneas a região do Alentejo é maioritariamente abastecida por albufeiras
localizadas nas bacias do Sado e do Guadiana.
Em 1999 o distrito de Portalegre não registou deficiências no abastecimento de água às populações. Nos
distritos de Évora e Beja existiram alguns problemas de abastecimento, relacionados sobretudo com a
agricultura e com o gado, mas também com o abastecimento de água a algumas freguesias, embora muitos
dos problemas se tenham relacionado com montes isolados.
A rega é o maior utilizador de água na região, pelo que as restrições impostas à prática da rega em situações
de seca, se efectivamente cumpridas, suavizam largamente o problema relativo ao abastecimento doméstico

5/21 (9 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

O concelho de Portel, em Évora, é o principal caso com problemas de abastecimento de água, mas trata-se de
uma situação sistemática, que se relaciona mais com as infra-estruturas de abastecimento do que com as
ocasiões de seca, situações que por vezes se confundem.
Região do Algarve
As reservas hídricas superficiais das albufeiras do Funcho e da Bravura abastecem a região do Barlavento
algarvio e as de Odeleite e de Beliche constituem a principal fonte de abastecimento da região de Sotavento
do Algarve, à excepção de Alcoutim, Aljezur e Monchique que são abastecidas por reservas hídricas
subterrâneas (minas e furos).
Anteriormente à construção destas barragens todo o litoral algarvio era castigado pela dificuldade no
abastecimento doméstico, sobretudo no Verão, quando a concentração demográfica é elevadíssima devido ao
turismo.
Desde a construção das barragens que o Algarve não sofre problemas significativas de secas para
abastecimento público, exceptuando-se algumas situações particulares como a Freguesia de S. Marcos da
Serra no concelho de Silves.

9.2.3. Cheias e Inundações


9.2.3.1. Cheias, Inundações e Protecção Civil
As cheias são fenómenos naturais extremos e temporários, provocados por precipitações moderadas e
permanentes ou por precipitações repentinas e de elevada intensidade. Este excesso de precipitação faz
aumentar o caudal dos cursos de água, originando o extravase do leito normal e a inundação das margens e
áreas circunvizinhas.
Geralmente, a partir do Outono, o território é atravessado por superfícies frontais associadas a núcleos de
baixa pressão que têm a sua formação ou desenvolvimento no Oceano Atlântico. Esta passagem de sistemas
frontais origina períodos longos de precipitação, por vezes intensa, com a consequente saturação dos solos.
Geram-se assim escoamentos superficiais que não são passíveis de encaixe no leito normal dos rios e que
excedem por vezes a capacidade de armazenamento das albufeiras das barragens implantadas nos rios.
No caso das bacias dos rios internacionais existe também, naturalmente, uma afectação pela precipitação
ocorrida em Espanha. O atravessamento de sistemas frontais durante o período de Outono/Inverno faz-se
normalmente em direcção a Leste, pelo que as perturbações meteorológicas afectam boa parte do território
espanhol, registando-se, consequentemente, um acréscimo das afluências às secções fronteiriças, por vezes
significativas, quando os empreendimentos hídricos espanhóis esgotam a sua capacidade de armazenamento.
Outro tipo de fenómenos meteorológicos distintos dos anteriores, são os de origem convectiva, que
produzem precipitações muito intensas e confinadas a uma reduzida dimensão espaço-temporal. Estas
situações conduzem geralmente a pontas de cheia elevadas, sobretudo quando afectam as pequenas bacias,
principalmente, as localizadas em zonas de elevadas densidades urbana e demográfica, onde a
impermeabilização do solo e o confinamento de linhas de água contribuem para a modificação do regime
hídrico natural, não se encontrando a bacia de drenagem urbana artificial dimensionada para caudais
suficientemente elevados. Acresce que este tipo de fenómenos, pela sua reduzida dimensão espacial, é por
vezes de difícil previsão.
Factor essencial para o alerta das autoridades, aviso das populações e preparação das acções de socorro é o
tempo que medeia a previsão de uma inundação e a sua concretização.
O tempo necessário para a formação de uma cheia e a sua duração dependem das características da bacia
hidrográfica em questão. Bacias de pequena dimensão apresentam, geralmente, condições para que uma
cheia se forme e propague rapidamente, por vezes em escassas horas. Pelo contrário, em bacias de grandes
dimensões, a ponta de cheia, e as inerentes inundações, demoram mais tempo a instalar-se, permitindo um
aviso mais atempado às populações. O regime hidrológico anterior demora também mais tempo a ser
restabelecido, podendo levar mesmo vários dias. As inundações urbanas formam-se geralmente muito
rapidamente e, dificultando o aviso atempado às populações.

6/21 (9 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

Os prejuízos resultantes das cheias são frequentemente avultados, podendo conduzir a:


Efeitos directos
• perda de vidas humanas, evacuação e desalojamento de pessoas;
• isolamento de povoações;
• danificação da propriedade pública ou privada;
• submersão e/ou danificação de vias de comunicação e de outras infra-estruturas e equipamentos;
• destruição de explorações agrícolas e agro-pecuárias;
• interrupção do fornecimento de bens ou serviços básicos (água potável, electricidade, telefone,
combustível, etc.)
• perda de produção da actividade;
• custo das acções de Protecção Civil, incluindo o realojamento e tratamento de vítimas.
Efeitos indirectos
• afectação das actividades socio-económicas, por vezes por um período bastante prolongado.
As cheias podem ainda ser induzidas por rotura de barragens, associadas ou não a fenómenos meteorológicos
adversos. As ondas de cheias induzidas por estes acidentes são geralmente de propagação muito rápida e com
forte impacto no tecido social a jusante e no ambiente. Os aproveitamentos hidráulicos do país, construídos
para fins hidro-eléctricos, hidro-agrícolas, de abastecimento público e mistos ascendem a mais de um milhar.
Contudo aqueles que maior impacto têm no tecido socio-económico dos vales a jusante são naturalmente os
de média a grande dimensão.
9.2.3.2. Vulnerabilidade às Cheias
Para um correcto planeamento torna-se indispensável identificar quais as principais vulnerabilidades
existentes em cada bacia hidrográfica face ao risco de cheia. Efectuou-se recentemente um levantamento no
continente dessas vulnerabilidades com base nos efeitos de cheias anteriores, que incluem já as do ano
hidrológico de 2000/2001. Este levantamento destingue os diversos elementos em risco, desde as povoações
afectadas, por isolamento ou inundação, com indicação do tipo de edifícios afectados neste último caso
(habitações, estabelecimentos comerciais e industriais), às zonas agrícolas e agro-pecuárias, infra-estruturas e
equipamentos diversos.
Em traços genéricos, os elementos recolhidos para as principais bacias nacionais apontam para a existência
de situações críticas nas bacias do Tejo (distrito de Santarém), Douro (distritos do Porto e Vila Real) e
Vouga (distrito de Aveiro). Referem-se, de seguida, alguns dos principais pontos críticos das bacias
nacionais:
Rio Minho – As zonas mais afectadas pelas cheias, dispõem-se na área ribeirinha da margem nacional do
curso principal, destacando-se as localidades de Valença, vila Nova de Cerveira e Monção como as que
sofrem mais problemas. É de registar a forte dependência das vulnerabilidades à cheia face à precipitação
ocorrida na parte espanhola da bacia e das descargas das suas barragens.
Rio Lima – Ponte de Lima, Ponte da Barca e Arcos de Valdevez são as zonas urbanas mais afectadas pelas
cheias nesta bacia. O laminar de caudais nas barragens hidroeléctricas existentes permite atenuar os riscos de
inundação nas duas primeiras localidades, mas o efeito da orografia do terreno (serra da Peneda)suscita um
acréscimo de precipitação que se traduz na formação de elevados caudais de cheia, nem sempre passíveis de
serem armazenados nas albufeiras.
Rio Cávado – Esta bacia é fortemente influenciada pela precipitação ocorrida na região do Gerês, a qual
regista alguns dos valores mais elevados no país durante o período de Inverno. Braga, Barcelos, Guimarães,
Vieira do Minho, Terras do Bouro e Esposende são alguns dos municípios com núcleos urbanos mais
afectados.
Rio Ave – Tanto por influência do Ave, como do seu afluente Vizela, alguns concelhos da bacia são
afectados por cheias, normalmente de curta duração, dada a relativamente reduzida dimensão da bacia.

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SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

Rio Leça – O troço final deste rio, na zona da Maia, é o mais vulnerável a inundações, normalmente com
picos elevados mas curta duração.
Rio Douro – É um rio que origina, nalguns troços, grandes cheias cíclicas, com grande impacte no tecido
socio-económico das populações ribeirinhas. Localidades como Porto, Vila Nova de Gaia e Peso da Régua,
no rio Douro, e Chaves e Amarante, no Tâmega, são frequentemente assoladas por cheias impetuosas. A
sucessiva construção de barragens na bacia, principalmente no território espanhol, não veio introduzir
alterações significativas no regime das cheias, pois as suas albufeiras possuem uma capacidade de encaixe
reduzida, impedindo-as de exercer o necessário efeito amortecedor.
Rio Vouga – As condições estuarinas do troço final do rio Vouga são susceptíveis de agravar alguns
problemas de escoamento de águas, nomeadamente em situações de elevada agitação marítima em que o
escoamento dos caudais do rio para o mar surge dificultada. Merece também realce nesta bacia, os problemas
críticos de algumas sub-bacias como são os casos das bacias do rio Águeda (influenciada por precipitação na
zona do Caramulo), que afecta a cidade de Águeda e do rio Cáster, afectando Ovar.
Rio Mondego – Os principais problemas nesta bacia surgem nos campos agrícolas do Baixo Mondego e
devem-se geralmente não só ao próprio Mondego como também aos seus principais afluentes (Dão, Alva e
Arunca). A regularização feita na barragem da Aguieira permite atenuar os principais problemas de cheias,
através da laminação de caudais.
Rio Lis – Sem grandes problemas de cheias ao nível de consequências humanas, as zonas mais afectadas
localizam-se em terrenos agrícolas.
Rio Tejo – Tratando-se de uma bacia internacional, a capacidade de armazenamento hídrico em Espanha e a
forma como a gestão dos recursos hídricos é aí efectuada determina também a frequência e a intensidade das
cheias em Portugal. No entanto, importará lembrar que o conjunto dos aproveitamentos hidroeléctricos
construídos na parte portuguesa da bacia não são suficientes para impedir a ocorrência de inundações.
As cheias na bacia do Tejo originam no distrito de Santarém situações de cortes de diversas estradas
nacionais e municipais, interrupção da circulação ferroviária, alagamento de campos agrícolas e isolamento
de populações (Reguengo do Alviela, Caneiras, Valada, Valada do Ribatejo, Azinhaga e Palhota). Os
concelhos de Santarém, Cartaxo, Golegã, Almeirim e Alpiarça (rio Tejo), Tomar (rio Nabão) e Coruche (rio
Sorraia) são alguns dos mais vulneráveis.
Ocorrem também inundações repentinas, como consequência de precipitações intensas de curta duração,
fundamentalmente nas zonas muito impermeabilizadas de grande desenvolvimento urbano. E o caso da Área
Metropolitana de Lisboa, na margem direita do rio Tejo, entre os concelhos de Cascais e Azambuja.
Rio Sado – A bacia hidrográfica do rio Sado situa-se numa área essencialmente plana em que só são
expectáveis inundações em casos especiais. As barragens implantadas na bacia hidrográfica do rio Sado têm
fundamentalmente fins agrícolas mas asseguram a regularização de uma parte significativa dos caudais. No
concelho de Alcácer do Sal, no entanto, localizam-se algumas povoações com risco de isolamento, quando a
capacidade de armazenamento das barragens não é suficiente.
Ocorrência de inundações repentinas no concelho de Setúbal.
Rio Mira – Sem grandes problemas de cheias ao nível de consequências humanas, as zonas mais afectadas
localizam-se em terrenos agrícolas.
Rio Guadiana – Vulnerável à descarga de alguns aproveitamentos hidroagrícolas tanto do lado português
como do lado espanhol, tem nas zonas a jusante das albufeiras do Caia (distrito de Portalegre) e sobretudo
mais a jusante nas zonas ribeirinhas de Mértola e de Alcoutim (ambas a jusante do Chança, afluente da
margem esquerda) as áreas mais vulneráveis. Esta situação será naturalmente modificada com a entrada em
funcionamento da barragem do Alqueva.
Ribeiras do Oeste, Alentejo e Algarve – A reduzida extensão destas bacias favorece o rápido escoamento dos
caudais, pelo que não expectáveis cheias de grande duração. Todavia, zonas como Lourinhã, Alcobaça
(ribeiras do oeste), Silves e Tavira (ribeiras do Algarve) evidenciaram no passado algumas vulnerabilidades a
inundações.

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SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

9.2.3.3. Informação em Tempo Real


O Sistema de Vigilância e Alerta de Recursos Hídricos (SVARH), que o Instituto da Água (INAG) tem
vindo a desenvolver para apoio às acções de Protecção Civil, torna possível aceder, em tempo real, a toda a
informação pertinente para a gestão das situações previsíveis ou declaradas de cheia. Actualmente é possível
visualizar informação sobre precipitações ocorridas em curtas durações, níveis e caudais em rios, bem como
níveis, volumes armazenados e caudais afluentes e efluentes de albufeiras, nomeadamente de todas as
albufeiras hidroeléctricas da Companhia Portuguesa de Produção de Electricidade (CPPE), do grupo EDP.
Está em curso, inserida no projecto “Restruturação das Redes de Monitorização”, um adensamento muito
substancial das estações do SVARH.
A selecção das bacias onde se adensou a cobertura udométrica, nas zonas de cabeceira, e limnimétrica com
telemedida foi orientada pelos estudos do INAG de modelação hidrológica e hidráulica de cheias
combinados com a análise de precipitações extremas associadas. Estes estudos consubstanciaram, portanto, o
desenho final de um Sistema de Vigilância e Alerta orientado para uma melhor monitorização da evolução
dos episódios pluviosos bem como para a superação das fragilidades hidrológicas de gestão em situação de
cheia – aspectos testados no início do ano hidrológico de 1997/98 e que deram origem ao Decreto-Lei n.º
21/98 de, 3 de Fevereiro, onde se cria a Comissão de Gestão de Albufeiras e se adopta o SVARH como
sistema de acompanhamento.
9.2.3.4. Comissão de Gestão de Albufeiras
O Decreto-Lei n.º 21/98, de 3 de Fevereiro, que cria a Comissão de Gestão de Albufeiras, determina que em
situação de emergência de cheias a Comissão constitui-se em Comité Permanente, com as seguintes
competências:
• a gestão coordenada das descargas, em coordenação com as entidades responsáveis pela exploração,
incluindo, no caso das bacias internacionais, as autoridades espanholas, nos termos dos respectivos
instrumentos de cooperação;
• decidir e adoptar as medidas oportunas, incluindo as de encaixe e descarga extraordinária, que serão
imediatamente comunicadas aos serviços competentes dos Ministérios da Administração Interna e do
Ambiente;
• garantir o funcionamento permanente e actualizado do Sistema de Vigilância e Alerta de Cheias (actual
SVARH); e,
• informar os órgãos do Sistema de Protecção Civil envolvidos sobre o desenrolar da situação.

9.2.4. Acidentes de Poluição


Durante muitos séculos as catástrofes limitaram-se aos fenómenos de origem natural. Porém, a evolução
tecnológica, a criação de novos tipos de indústrias, a utilização de mais e maiores quantidades de substâncias
perigosas provocou o aparecimento de outro tipo de acontecimentos catastróficos – os acidentes
tecnológicos. Estes tipos de acidentes, derivados da actividade humana, são acontecimentos súbitos e não
planeados, causadores de danos graves no homem e no ambiente.
Acidentes em estabelecimentos industriais, no transporte rodoviário e ferroviário de mercadorias perigosas
ou no transporte de produtos químicos em conduta originam derrames de substâncias poluentes, que, por
escorrência ou infiltração, podem contaminar os recursos hídricos superficiais e/ou subterrâneos,
comprometendo a sua utilização por porem em risco a vida de pessoas e/ou ambiente.
Os Planos de Bacia Hidrográfica consideraram como riscos de poluição, dois grupos de situações distintas,
associadas a fontes fixas e móveis.
Quanto às fontes fixas salientam-se pela sua especial nocividade ambiental ou elevado risco envolvido as
seguintes: instalações que apresentam riscos industriais graves; instalações de armazenagem de
combustíveis; instalações industriais que descarregam comprovadamente substâncias perigosas da Lista I;
instalações industriais abrangidas pela Classe A de licenciamento ou abrangidas pelo Decreto–Lei
nº 194/2000, de 21 de Agosto, que transpõe a Directiva IPPC; depósitos de resíduos industriais; instalações
de tratamento de efluentes ou resíduos; instalações de tratamento de resíduos urbanos ou industriais

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abrangidos pela Directiva IPPC; lixeiras municipais não seladas (activas ou não); aglomerados populacionais
com mais de 5 000 hab. residentes sem qualquer instalação de tratamento de águas residuais; e, grandes
instalações de tratamento de águas residuais urbanas (> 10 000 habitantes residentes).
Das situações associadas a riscos móveis destacam-se os atravessamentos rodoviários e ferroviários sobre as
principais linhas de água, que em caso de acidente com veículos de transporte de substâncias poluentes se
tornam pontos privilegiados de “contaminação” directa das referidas linhas de água.
9.2.4.1. Estabelecimentos Industriais
Qualquer estabelecimento industrial, face aos produtos utilizados ou ao processo de fabrico, é indutor de
riscos de menor ou maior dimensão, que se circunscrevem às suas instalações e afectam apenas os seus
trabalhadores, considerados no âmbito da higiene e segurança no trabalho, ou que pela sua dimensão podem
atingir o tecido sócio-económico envolvente, podendo originar acidentes graves de âmbito nacional.
A repartição geográfica das unidades industriais evidencia notórias assimetrias regionais, com predomínio
para a localização nas regiões do litoral e nomeadamente nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, e
nos complexos industriais de Estarreja, do Barreiro e de Sines.
Nestes estabelecimentos industriais podem ocorrer descargas acidentais de poluentes para linhas de água ou
derrames de matérias perigosas que poderão, por escorrência ou infiltração, contaminar as linhas de água,
tanto superficiais como subterrâneas.
9.2.4.2. Transporte de Mercadorias Perigosas
O transporte rodoviário ou ferroviário de mercadorias perigosas constitui também um factor de risco.
Salienta-se o transporte de combustíveis provenientes dos parques de armazenagem de combustíveis e
destinado aos postos de abastecimento disseminados por todo o país, bem como o transporte de matérias-
primas para os estabelecimentos industriais e de produtos deles provenientes. Em situações acidentais podem
ocorrer derrames com eventuais consequências de contaminação de linhas de água, tanto superficiais como
subterrâneas.
9.2.4.3. Oleoduto Sines-Aveiras
O oleoduto multiprodutos Sines-Aveiras, que abastece o Parque de armazenagem de combustíveis da CLC
com combustíveis líquidos e gasosos provenientes da Refinaria de Sines, atravessa cursos de água, como
sejam a Lagoa de Sto. André, o rio Sado e o rio Tejo.
No oleoduto são transportados gasolinas, gasóleo, Jet A1, propano e butano, podendo em caso de acidente
ocorrer contaminação dos cursos de água com hidrocarbonetos.
9.2.4.4. Gasoduto
O gasoduto de alta pressão da TRANSGÁS de transporte de gás natural atravessa ao longo do país muitos
cursos de água, sendo os mais significativos mos rios Cávado, Lima, Vouga, Mondego , Tejo em 3 locais) e
Zêzere.
Os efeitos de um acidente no gasoduto são incêndio, explosão e poluição atmosférica com os gases da
combustão, nomeadamente CO, não havendo a considerar o risco de poluição dos cursos de água.
9.2.4.5. Poluição Radiológica
Em Portugal não existem centrais nucleares para produção de energia eléctrica, pelo que não existe o risco de
ocorrer um acidente nuclear com graves consequências. Mas, em caso de acidente nuclear na Central Nuclear
de Almaraz, em Espanha, o rio Tejo pode sofrer contaminação radiológica. Este tipo de contaminação é
também possível por exemplo em caso de acidente numa unidade naval de propulsão nuclear (submarinos ou
porta-aviões), no estuário do Tejo.

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SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

9.3. Gestão de Emergências

9.3.1. Sistema Nacional de Protecção Civil


A protecção civil é a actividade desenvolvida pelo estado e pelos cidadãos com a finalidade de prevenir
riscos colectivos inerentes a situações de acidente grave, catástrofe ou calamidade, de origem natural ou
tecnológica, e de atenuar os seus efeitos e socorrer as pessoas em perigo, quando aquelas situações ocorram.
O Sistema Nacional Protecção Civil encontra-se organizado em três níveis: Nacional - Regional/Distrital e
Municipal.
Em cada nível existe: i) um Responsável (Autoridade); ii) um Serviço de Protecção Civil; iii) um Centro de
Operações de Emergência; e, iv) Planos de Emergência.
9.3.1.1. Autoridade e Serviços de Protecção Civil
Os Serviços de Protecção Civil orientam e coordenam, aos diversos níveis (Nacional, Regional/Distrital e
Municipal), as actividades de protecção civil.
O Serviço Nacional de Protecção Civil (SNPC) integra 18 delegações distritais (os Serviços Regionais são
autónomos). Os Serviços Municipais de Protecção Civil são dependentes das Câmaras Municipais.
Para cada nível, a Autoridade competente é a que a seguir se descrimina:

NÍVEL SERVIÇO AUTORIDADE

Nacional Serviço Nacional de Protecção Civil Primeiro Ministro


Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros dos Açores
Regional Pres. do Gov. das Regiões Autónomas
Serviço Regional de Protecção Civil da Madeira
Distrital Delegação Distrital de Protecção Civil Governador Civil
Municipal Serviço Municipal de Protecção Civil Presidente da Câmara Municipal

9.3.1.2. Princípios de Actuação


Todas as actividades de protecção civil, nomeadamente o planeamento e as operações de emergência, devem
atender ao princípio da subsidariedade, ao princípio da prevenção, ao princípio da precaução, ao princípio da
participação e ao princípio da responsabilização.
Dada uma situação de emergência localizada num qualquer concelho do território, a estrutura de protecção
civil mais adequada para intervir será a de nível municipal, devido à proximidade dos meios de socorro, à
capacidade de rapidamente analisar a situação e ao conhecimento da realidade local. A estrutura distrital
deverá apenas intervir quando a situação de emergência extravasar os limites do município ou os meios
locais se mostrem insuficientes para a combater, sempre por solicitação da autoridade local de protecção
civil, o presidente da câmara municipal. A intervenção do nível nacional será activada seguindo uma lógica
semelhante. O princípio da subsidariedade aplica-se também à activação dos planos de emergência e a todas
as questões de segurança.
Outra das componentes essenciais da actividade da protecção civil deve ser a prevenção. Desde que possível,
a atitude face a uma emergência deve ser sempre pró-activa, em contraste com a atitude reactiva que, por
vezes, é mais usada do que seria desejável. A avaliação das situações deve sempre permitir uma previsão dos
riscos e as medidas que forem tomadas devem constituir uma antecipação aos problemas, quer sejam
relacionadas com a alteração do estado de prontidão dos meios de combate, da sua disposição no terreno ou
de reforço de meios, quer sejam medidas de preparação ou reforço dos meios de apoio logístico.
A importância do sector de avaliação em protecção civil deve estar sempre presente. A minoração dos
problemas pode pôr em causa vidas e bens e a sua majoração levar a um alarmismo e um excesso de
empenho de meios e recursos exagerados. De qualquer forma, se a avaliação de uma situação de emergência
prevista ou declarada não permitir conhecer em detalhe os problemas que se colocam devem-se tomar

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SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

medidas com a devida precaução, de modo a nunca pôr em causa a segurança das populações ou dos agentes
e meios de socorro.
Os serviços de protecção civil não podem nem devem substituir-se às demais instituições, da administração
ou não, de carácter administrativo, técnico ou científico, que, por atribuições próprias ou por competência
comprovada, participam nas mais variadas actividades de protecção civil, como sejam, para além dos agentes
(SNB, Forças de Segurança, Forças Armadas, Autoridades Aeronáutica e Marítima, INEM e CVP), o
Instituto de Meteorologia (IM), o Instituto da Água (INAG), a Direcção-Geral de Florestas (DGF), o
Instituto da Conservação da Natureza (ICN), a Direcção-Geral do Ambiente (DGA) e Universidades ou
Laboratórios de Investigação, entre outros. Antes têm que obter a participação dos agentes e instituições mais
convenientes por área temática, ou seja, por risco. Estas instituições têm o dever de comunicar os riscos e as
vulnerabilidades conhecidos ou detectados no decurso das suas actividades.
A responsabilização é outro dos princípios fundamentais da protecção civil. As autoridades de protecção
civil são o presidente da câmara municipal, ao nível local, o governador civil, ao nível distrital, e o primeiro
ministro, ao nível nacional. Segundo a lei de bases de protecção civil, compete-lhes, em situação de
emergência, assumir a direcção e coordenação das operações. Contudo, ao nível das várias actividades que se
desenvolvem, as responsabilidades devem ser sempre assumidas pelas entidades adequadas.
No âmbito das relações internacionais, o SNPC é o órgão executivo do Governo com atribuições de solicitar
a concessão de Auxílio Externo, em caso de acidente grave, catástrofe ou calamidade, junto da União
Europeia (UE), Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN), ou de países com os quais mantemos relações especiais de cooperação no âmbito da protecção
civil.
9.3.1.3. Centros de Operações de Emergência
De acordo com o princípio da subsidariedade, em situações de emergência, cada nível de resposta do sistema
de protecção civil activa o seu Centro de Operações de Emergência. O SNPC garante o funcionamento do
Centro Nacional de Operações de Emergência de Protecção Civil (CNOEPC). O SNPC apoia ainda o
funcionamento dos Centros Operacionais de Emergência a nível distrital e municipal.
9.3.1.4. Planos de Emergência
Os planos de emergência são documentos simples, flexíveis, dinâmicos, adequados e precisos que contêm
um conjunto de missões, medidas, normas e regras de procedimentos, destinados a fazer face a situações de
emergência e a minimizar as suas consequências.
Os planos de emergência classificam-se, quanto à sua abrangência geográfica, em planos nacionais,
regionais, distritais ou municipais, e quanto à especificidade, em planos gerais ou especiais.
Os planos gerais, tal como o seu nome indica, abrangem todos os tipos de risco num determinado espaço
geográfico. Os planos especiais dirigem-se para um determinado tipo de risco, ou instalação, como por
exemplo, os planos especiais para cheias ou para a ruptura de barragens.
Para a Portugal Continental existem, ou estão em aprovação os seguintes planos de emergência que cobrem
situações de cheias, de secas e de acidentes de poluição:
Planos de Emergência do Sistema de Protecção Civil
Plano Nacional de Emergência
Planos Distritais de Emergência (18, um por distrito)
Plano Municipais de Emergência (≅ 95% da totalidade dos municípios)
Plano Operações Aluvião
Plano Especial Operações Cheias - Nacional
Plano Especial Operações Cheias - Coimbra
Plano Especial Distrital Cheias - Évora
Plano Especial Cheias – Viana do Castelo
Plano Cheias Douro

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SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

Plano Especial Cheias da Bacia Hidrográfica do Sado - Setúbal


Plano Especial Operações Cheias da Bacia do Tejo – V. Franca de Xira
Plano Especial Operações Cheias Bacia do Rio Tejo - Santarém
Plano Específico Cheias na Bacia do rio Trancão
Plano Operações Tejo
Plano Coordenação Cheias no Tejo
Plano Especial Cheias e Inundações - Porto
Plano Emergência Cheias Régua
Planos Emergência Internos de Estabelecimentos Industriais
Planos Emergência Externos de Estabelecimentos Industriais
Plano Emergência da TRANSGÁS – Gasoduto de Gás Natural
Plano Emergência do Oleoduto Multiprodutos Sines–Aveiras
Plano Emergência Acidentes Nucleares em Navios no Estuário do Tejo

9.3.2. Acompanhamento das Situações de Emergência de Cheias e Secas


O acompanhamento das situações de cheias e secas baseiam-se nos seguintes princípios de actuação:
• Princípios gerais de protecção civil;
• Articulação com os Planos Especiais Distritais de Cheias;
• Acompanhamento permanente da situação;
• Articulação com o Instituto de Meteorologia;
• Articulação com o Instituto da Água;
• Articulação com os Agentes de Protecção Civil;
• Articulação com os Planos Especiais de Segurança de Barragens, e
• Articulação com as entidades exploradoras das barragens.
Em termos de protecção das populações o acompanhamento das cheias reveste-se de maior cuidado do que o
acompanhamento das secas, pelos impactos negativos imediatos que podem acarretar e que uma previsão
atempada pode reduzir significativamente.
O Plano Especial de Operações de Cheias (âmbito nacional) visa garantir o relacionamento entre as
instituições de nível nacional para assegurar a compilação e fluxo de toda a informação necessária ao
acompanhamento da situação, a coordenação das descargas das barragens em situação de emergência e a
direcção e coordenação nacional das operações de emergência.
Os Planos Especiais Distritais de Cheias visam assegurar o acompanhamento da situação e a gestão das
emergências nos respectivos distritos, articulando-se conceptual e formalmente com o Plano Nacional.
Na medida em que as cheias são passíveis de serem previsíveis assume particular importância promover um
acompanhamento permanente dos principais factores que as causam (precipitação- quantidade, intensidade e
distribuição na bacia - e caudal afluente de montante, inclusive de Espanha no caso das bacias internacionais)
e que as condicionam (nível de armazenamento de albufeiras, programas de gestão de albufeiras de
barragens e a sua coordenação e teor de humidade dos solos nas bacia, entre outros).
Só este acompanhamento permanente e vigilância detalhada em situação de pré-emergência e emergência
permite, por um lado, avisar as populações com elevado grau de certeza e, por outro, colocar em alerta as
forças de socorro para uma intervenção atempada e eficaz. Estes aspectos são particularmente importantes
nos caso de precipitações intensas muito localizadas e cheias em pequenas bacias e bacias urbanas, situações
em que o tempo para aviso às populações e para intervenção é extremamente curto, quando mesmo
impossível.
No caso das grandes bacias, com grandes áreas inundáveis, como é o caso da bacia do Tejo, os episódios de
cheia mantém-se por longos períodos de tempo nalgumas zonas. Também neste caso é imperioso promover

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

um acompanhamento permanente para avaliar alterações da situação e tomar as medidas de protecção civil
apropriadas.
Este acompanhamento contínuo das situação de cheia é realizado a partir do mês de Outubro, altura em que
se inicia o ano hidrológico, estendendo-se até à Primavera.
Qualquer que seja a situação de cheia é fundamental promover o acompanhamento dos efeitos causados ao
longo do tempo (níveis de água atingidos em pontos importantes, diques galgados, estradas cortadas,
estragos provocados, etc.), no sentido de posteriormente se estabelecerem as relações com os parâmetros
hidrometeorológicos e hidráulicos que estiveram na sua origem, sem as quais se torna extremamente difícil
aferir os métodos de previsão e de aviso às populações. Só deste modo é possível melhorar progressivamente
o grau de protecção das populações.
A possibilidade de ocorrência de secas começa a ser analisada a partir dos meses de Fevereiro ou Março, e o
planeamento das operações de apoio às populações, caso seja necessário, abrange todos os meses de
estiagem até ao final do mês de Setembro, altura em que, geralmente se inicia o período húmido em Portugal.
9.3.2.1. Articulação com o Instituto da Água
O Serviço Nacional de Protecção Civil e o Instituto da Água firmaram no dia 1 de Março de 1999 um
Protocolo de Colaboração com o objectivo estabelecer as regras da estreita colaboração entre as duas
instituições e detalhar as áreas de trabalho e actividades a desenvolver, tendo em vista a protecção das
populações, meio ambiente e património, em caso de cheias (incluindo as provocadas por rotura de
barragens), secas e acidentes de poluição no meio hídrico.
No âmbito deste Protocolo o Instituto da Água disponibiliza-se, relativamente às questões de planeamento e
operacionais, a:
• proceder à manutenção de todos os componentes do Sistema de Vigilância e Alerta de Recursos
Hídricos (instrumentais ou informáticos) e disponibilizar este sistema ao Serviço Nacional de Protecção
Civil;
• disponibilizar técnicos para a participação em briefings no SNPC para análise do ponto de situação;
• colaborar na elaboração dos Planos de Emergência Específicos de Cheias, incluindo os Planos
Emergência Específicos de Cheias provocados por rotura de barragens, no domínio dos recursos
hídricos; e,
• realizar e disponibilizar estudos de caracterização de situações hidrológicas, hidráulicas e de qualidade
da água que provocam cheias, secas e acidentes de poluição no meio hídrico.
Preconiza-se ainda no Protocolo que, em situações de emergência de cheias, a colaboração do Instituto da
Água se concretize através da deslocação e permanência de um técnico para o Centro de Situação de
Protecção Civil do SNPC, com vista ao acompanhamento permanente da situação, optimizando assim a
colaboração no que toca à modelação hidrológica e hidráulica e à operacionalidade do Sistema de Vigilância
e Alerta de Recursos Hídricos (SVARH).

9.3.3. Acompanhamento de Acidentes de Poluição


Em caso de acidentes de poluição com impacto nos recursos hídricos o Sistema de Protecção Civil alerta de
imediato os organismos do Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território (Instituto da Água e
Direcções Regionais do Ambiente e do Ordenamento do Território), passando garantir uma actuação
articulada.
No âmbito do projecto “Restruturação das Redes de Monitorização”, estão já a ser instaladas estações de
qualidade da água automáticas do Sistema de Vigilância e Alerta de Recursos Hídricos (SVARH). Um dos
objectivos deste projecto é o apoio às acções de Protecção Civil.
De seguida apresentam-se os mecanismos de prevenção e de actuação estabelecidos com vista ao
acompanhamento de acidentes de poluição.

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SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

9.3.3.1. Estabelecimentos Industriais


Os estabelecimentos industriais de alto risco, sujeitos às obrigações do Decreto-Lei n.º 204/93 (Directiva
Seveso), têm planos de emergência internos para fazer face à ocorrência de acidentes graves. Estes
estabelecimentos dispõem também de planos de emergência externos, elaborados pelas autoridades locais de
protecção civil.
Em caso de acidente que extravase o interior do estabelecimento, ou quando os meios de intervenção
internos são insuficientes, são alertadas as autoridades locais de protecção civil, que activam o plano de
emergência externo.
No entanto, estes estabelecimentos industriais de alto risco dispõem de um estudo de segurança aprofundado
e de uma política de prevenção de acidentes graves, garantindo um nível de segurança elevado.
Por outro lado, os estabelecimentos industriais de menores dimensões não estão sujeitos às obrigações do
Decreto-Lei n.º 204/93, não garantindo um nível de segurança tão elevado, nem dispondo de planeamento de
emergência especial. Estes estabelecimentos são tidos em consideração na elaboração dos planos municipais
de emergência.
9.3.3.2. Transporte de Mercadorias Perigosas
Sendo o transporte rodoviário de combustíveis cerca de 70 % do transporte rodoviário de mercadorias
perigosas, o SNPC dispõe de um protocolo de cooperação para o transporte de produtos derivados do
petróleo, com a APETRO - Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas. No âmbito deste protocolo
estão a ser definidas metodologias em caso de acidente rodoviário.
Relativamente ao transporte ferroviário, o SNPC dispõe de um protocolo de cooperação para o transporte de
mercadorias perigosas por caminho de ferro, com a CP – Caminhos de Ferro Portugueses. No âmbito deste
protocolo a CP informa o SNPC previamente do transporte regular e não regular de mercadorias perigosas,
sendo esta informação transmitida às Delegações Distritais de Protecção Civil, aos Serviços Municipais de
Protecção Civil e aos respectivos Corpos de Bombeiros.
9.3.3.3. Oleoduto Sines-Aveiras
A CLC, operadora do oleoduto multiprodutos Sines-Aveiras, elaborou um plano de emergência para o
oleoduto, sendo todas as trasfegas de combustíveis monitorizadas a partir de uma sala de controlo no Parque
de Aveiras. São ainda periodicamente realizadas inspecções a todo o oleoduto, bem como vigilância terrestre
e aérea.
Em caso de acidente, nomeadamente de derrame de combustíveis, a CLC activa o seu plano de emergência e
avisa as autoridades.
9.3.3.4. Gasoduto
A TRANSGÁS dispõe de um plano de emergência para fazer face a eventuais acidentes no gasoduto. A
exploração do gasoduto e ramais de alta pressão é feita a partir de um centro de despacho principal, em Vila
de Rei (Bucelas), de um centro de despacho redundante em Pombal, três centros regionais de manutenção,
em Vila de Rei, Pombal e Sandim, e de um centro de operação e manutenção, em Pombal. A sua
monitorização é feita por um sistema de aquisição de dados e supervisão SCADA, sendo também cumprido
um programa de inspecções e de vigilância terrestre e aérea.
Em caso de acidente a actuação no gasoduto é sempre da responsabilidade da TRANSGÁS, havendo em
caso de necessidade a intervenção de agentes de protecção civil, para por exemplo implementarem medidas
de protecção das populações ou restrições de circulação, podendo o SNPC coordenar a actuação dos agentes
de protecção civil envolvidos a partir do seu Centro de Situação.
9.3.3.5. Poluição Radiológica
È realizada a medição da radioactividade do rio Tejo ao longo do seu trajecto no território nacional, sendo
implementado em caso de acidente um programa específico de monitorização da água, espécies aquáticas e
sedimentos. Em caso de acidente na Central Nuclear de Almaraz, a DGA e o SNPC são alertados pelo
Sistema ECURIE, no âmbito da União Europeia e da Convenção sobre Notificação Rápida de um Acidente

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

Nuclear. Se necessário é reunido o Conselho para Acidentes Nucleares e Emergências Radiológicas


(CANER) para análise da situação e proposta de medidas de actuação.
Para fazer face a acidentes nucleares em unidades navais de propulsão nuclear no estuário do Tejo existe um
plano de emergência especial. A permanência destas unidades navais é sempre do conhecimento prévio das
autoridades nacionais.

9.4. Segurança de Barragens

9.4.1. Considerações Gerais


A segurança de barragens constitui uma preocupação relevante para as entidades responsáveis, públicas ou
privadas, e para o público em geral, face ao importante papel que estes equipamentos desempenham na
disponibilização da água para múltiplos fins e aos riscos potenciais envolvidos, na eventualidade da
ocorrência de acidentes ou rupturas, com os associados impactes sociais, económicos e ambientais.
As barragens são obras seguras, desde que na concepção, projecto, construção e exploração sejam
permanentemente tidos os devidos cuidados, que devem ser proporcionados ao tipo, dimensão, importância e
risco de cada uma dessas estruturas.
Em particular, na fase de exploração as exigências de segurança traduzem-se, designadamente, pelo
cumprimento de normas de exploração e segurança, gerais e específicas, e de regras de gestão das albufeiras,
pela realização de programas de operação, manutenção, conservação, observação e inspecção, pela gestão
apropriada em casos de emergência e pela análise continuada do comportamento.
As barragens estão ainda sujeitas a alterações das circunstâncias em que funcionam, ao longo da vida útil,
como sejam o seu envelhecimento e o aumento da ocupação nos vales a jusante, que devem determinar a
adaptação do seu acompanhamento e funcionamento.
A regulamentação portuguesa sobre segurança de barragens, que na configuração actual foi publicada a partir
de 1990, define, de modo bastante desenvolvido, as atribuições dos intervenientes e as formas de controlo
consideradas necessárias para se alcançar a segurança nas diferentes fases de vida destas obras. Trata-se de
uma legislação ambiciosa, envolvendo um conjunto de procedimentos mais elaborados do que os que vinham
da prática anterior. A sua aplicação contribui decisivamente para o bom comportamento das obras. Prevê-se
que a legislação seja revista periodicamente, para atender à evolução da realidade e da organização geral em
que se insere, tornando-se cada vez mais exequível.
Recordando apenas exemplos recentes, verificaram-se diversos problemas com barragens em ocasiões
distintas, designadamente no início de 1996, em finais de 1997 e no inverno de 2001, durante as quais se
registaram em Portugal Continental precipitações intensas, que deram origem a cheias. Foram inventariados
cerca de duas dezenas de incidentes ou acidentes em pequenas e médias barragens, com casos de quase
ruptura ou mesmo ruptura, sobretudo por galgamento, felizmente sem danos pessoais associados.
Pode dizer-se, de uma forma genérica, que na regulamentação portuguesa de barragens, e em particular no
Regulamento de Segurança de Barragens (RSB), se estabelece que os intervenientes envolvidos no controlo
de segurança são, por um lado, a Autoridade (Instituto da Água - INAG, Ministério do Ambiente), a quem
compete, em conjunto com outras entidades (Laboratório Nacional de Engenharia Civil - LNEC, Serviço
Nacional de Protecção Civil - SNPC, Comissão de Segurança de Barragens - CSB), nomeadamente
acompanhar e fiscalizar a aplicação dos regulamentos e elaborar, coordenar e aprovar estudos e acções
diversas; e, por outro lado, os “Donos de Obra”, segundo a designação dada no RSB, entidades responsáveis
pelas barragens perante a Autoridade, com a obrigação de manter, operar, vigiar, reparar, comunicar
ocorrências e suportar todos os encargos inerentes.
Em Portugal, os Donos de Obra são de índole diversa: Estado (Ministérios da Agricultura, do Ambiente),
EDP - Electricidade de Portugal, empresas públicas, autarquias, privados (empresas, associações,
individuais). A sua capacidade é contudo diferenciada, e existem grandes lacunas na actuação de muitos
deles.
Aos Donos de Obra, e aos responsáveis técnicos por si escolhidos, cabe assim, por lei, um papel fundamental
na segurança de barragens, através de uma prática correcta e contínua, alicerçada no cumprimento de
16/21 (9 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA
SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

regulamentos e normas. Para que esse papel possa ser exercido de forma eficaz é fundamental que existam,
para além do mais, a consciencialização dos problemas e das suas implicações; os meios humanos para gerir
os aproveitamentos, com uma qualificação adequada de técnicos superiores e restante pessoal ligado a cada
empreendimento; e os indispensáveis meios financeiros para suportar, de uma forma sustentada, programada
e contínua os custos da segurança, que não podem ser ignorados, com recurso a receitas de exploração e, em
casos e programas específicos, também a eventuais incentivos.
9.4.1.1. Normativos em Vigor
Indicam-se os regulamentos e normas específicos de Segurança de Barragens, em vigor:
REGULAMENTO DE SEGURANÇA DE BARRAGENS (RSB)
Dec. Lei 11/90 de 06.01.1990
NORMAS DE PROJECTO DE BARRAGENS
Portaria 846/93 de 10.09.1993
NORMAS DE OBSERVAÇÃO E INSPECÇÃO DE BARRAGENS
Portaria 847/93 de 10.09.1993
NORMAS DE CONSTRUÇÃO
Portaria 246/98 de 21.04.1998
REGULAMENTO DE PEQUENAS BARRAGENS
Dec. Lei 409/93 de 14.12.1993
Com implicações na segurança e interligação com aspectos da regulamentação acima referida, está em vigôr:
COMISSÃO DE GESTÃO DE ALBUFEIRAS (Dec. Lei 21/98 de 3.02.1998)
9.4.1.2. Classificação de Barragens
Adopta-se em geral a designação de Grande Barragem para as barragens que obedecem à seguinte definição
da Comissão Internacional de Grandes Barragens (ICOLD), utilizada no seu registo mundial de barragens:
- barragens com mais de 15 m de altura total;
- barragens com altura compreendida entre 10 e 15 m, desde que apresentem uma ou mais das seguintes
características:
- capacidade da albufeira superior a 1 milhão de m3 (1 hm3);
- desenvolvimento do coroamento maior do que 500 m;
- serem projectada para descarregar caudais superiores a 2000 m3/s;
- características pouco habituais (concepção, fundação).
- barragens com altura compreendida entre 5 e 15 m e com capacidade de armazenamento superior a 5
hm3
Ainda no que respeita às dimensões, as diversas regulamentações sobre barragens adoptam divisões em
classes de aplicação. É o caso dos regulamentos portugueses.
O Regulamento de Segurança de Barragens (RSB), em particular, aplica-se às “grandes” barragens, no
sentido anteriormente descrito, e a barragens de dimensão intermédia. Aplica-se a:
a) A todas as barragens de altura superior a 15 m, medida desde a parte mais baixa da superfície geral das
fundações até ao coroamento;
b) Às barragens de altura inferior a 15 m cuja albufeira tenha uma capacidade superior a 100.000 m3.
Poderão ainda ser sujeitas às disposições do RSB outras barragens, desde que, no acto de aprovação de
projectos de aproveitamento de águas públicas ou particulares, a entidade competente verifique a existência
de risco potencial elevado ou significativo.

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SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

O Regulamento de Pequenas Barragens aplica-se às barragens de dimensão inferior, que não caem no âmbito
do RSB.

9.4.2. Barragens em Portugal


Existem em Portugal identificadas 170 grandes barragens, na concepção acima descrita. O número de
barragens com altura superior a 30 m desce para cerca de 70. O armazenamento total nas albufeiras das
3
grandes barragens é de aproximadamente 7800 hm . No entanto, a capacidade de armazenamento útil é
3 3
significativamente inferior, rondando 6000 hm (sem contar com Alqueva, em construção, com 3200 hm de
capacidade útil, que aumentará em muito a capacidade de armazenamento existente).
Algumas destas barragens foram construídas a fim de criar armazenamentos capazes de garantir o
fornecimento de água para rega, e também para abastecimento público, sobretudo nas regiões de maior
irregularidade de recursos, em particular no Sul e no Interior. A rega é a principal utilização consumptiva de
água.
No Norte do país, onde os recursos são mais abundantes e regulares, construíram-se cerca de 40 barragens,
quer de regularização quer a fio-de-água, para a produção de energia.
Algumas das albufeiras de grandes barragens, em Portugal, são hoje de fins múltiplos, quer porque ganharam
novas utilizações, quer porque a evolução do conceito de planeamento integrado dos recursos hídricos tem
levado ao abandono gradual de grandes aproveitamentos monovalentes.
3
As barragens com armazenamentos inferiores a 1,0 hm , e menos de 15m de altura, são em número superior
às grandes barragens. Foram e são construídas para vários fins, como a produção de energia e,
principalmente, a rega. Nestas barragens para rega, que usualmente retêm água no inverno para uso na
estiagem, sobretudo no Sul e Interior, os cuidados de projecto, construtivos e de exploração têm sido, muitas
vezes, menos cuidados, nomeadamente por via das limitações de financiamento, a que acresce a falta de
fiscalização. Assim, os acidentes têm ocorrido também com maior frequência, em particular quando da
ocorrência de cheias. A regulamentação de segurança, contudo, é exigente para todas estas barragens, pelo
que se impõe uma cada vez maior consciencialização dos problemas que lhes estão associadas. O actual
aumento de eficiência no licenciamento, ligado à reestruturação de serviços, por vezes também à
obrigatoriedade da licença para a concessão de fundos, contribui já para uma melhoria da situação.

9.4.3. Intervenientes no Processo de Segurança


Intervêm no processo de segurança de barragens as seguintes entidades:
• Donos de Obra - RSB
• Autoridade – Instituto da Água (INAG) – RSB, Rpb
• Direcções Regionais de Ambiente e do Ordenamento do Território (DRAOT) – licenciamento,
impactes, segurança
• Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) – RSB
• Serviço Nacional de Protecção Civil (SNPC) – RSB
• Comissão de Segurança de Barragens (CSB) – RSB
• Comissão de Gestão de Albufeiras
• Comissão Nacional Portuguesa de Grandes Barragens (Cnpgb)
As atribuições de Donos de Obra e da Autoridade encontram-se definidas no RSB.

9.4.4. Situação Actual do Controlo da Segurança de Barragens


O Instituto da Água promove as acções correspondentes ao papel de Autoridade conferida pelo Regulamento
de Segurança de Barragens, com dificuldades que advêm da extensão e complexidade das acções
preconizadas nos normativos de segurança, e do deficite de recursos, sobretudo de recursos humanos, ligados
a esta actividade.

18/21 (9 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

Paralelamente desenvolve-se a actividade do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, cuja acção


institucional em apoio da Autoridade é definida no RSB, incrementa-se a colaboração com os Organismos
Regionais do Ministério do Ambiente, cuja acção no licenciamento e na fiscalização sustenta as acções
empreendidas, recorre-se de forma crescente, através da realização de consultas, a firmas de consultoria, e
apoia-se a actividade de investigação e de formação nesta área.
De futuro haverá que reforçar estas componentes. Em particular, é indispensável um reforço selectivo de
meios da Autoridade, de modo a ser possível estruturar-se uma acção de base mais programada.
As acções em curso desenvolvem-se em torno de actividades como:
• Análise e aprovação de projectos
• Aprovação de planos de observação, planos de 1ºenchimento e normas de segurança
• Inspecções:
o Programadas
o Obras em construção
o Solicitação de DRAOTS, Donos de Obra
o Situações excepcionais: cheias, sismos
• Programas específicos de avaliação de segurança
• Apoio técnico e financeiro a Donos de Obra
• Intervenção directa – reparações, emergências – em apoio ou substituição dos D.O.
• Fiscalização da aplicação do RSB – aspectos jurídicos
• Providenciar formação nesta área
• Apoio à investigação (Universidades, LNEC)
• Desenvolvimento e manutenção de bases de dados de segurança
• Conjugação de acções com as DRAOTs
• Promoção da intervenção do LNEC, nos termos do RSB
• Colaboração com SNPC, no respeitante a planos de emergência
No grupo EDP, quatro firmas gerem hoje 41 grandes barragens, que incluem a maioria das barragens de
betão portuguesas de maior dimensão. Como Donos de Obra, estas firmas dedicam, desde há muitos anos,
uma esforço significativo, em meios técnicos especializados e investimentos, na segurança de barragens,
englobando desde 1990 o cumprimento dos normativos. Este tipo de quadro, que não é distinto do de outros
países, radica na valia da produção de energia e na importância e responsabilidade das estruturas envolvidas.
As grandes barragens geridas por Associações de Beneficiários, por Autarquias, e em algum grau pelo
Estado, têm na generalidade carências de gestão, do ponto de vista da segurança, tendo-se verificado em
certos casos, durante anos, ausência de actuação. Verifica-se a falta de meios financeiros e técnicos, por
desviar para esta área, e mesmo uma deficiência de percepção dos problemas envolvidos.
A aplicação dos normativos de segurança conduziu a uma melhoria significativa no reconhecimento das
lacunas actuais e na actuação das entidades gestoras, mas há que proximamente incrementar acções para
sanear as questões ligadas à assumpção progressiva de responsabilidades por parte dos “Donos de Obra”.
As actividades de segurança envolvem despesas não negligenciáveis para os Donos de Obra – técnicos
responsáveis, pessoal, recurso a contratos de prestações de serviços, cumprimento dos normativos,
manutenção corrente, grandes reparações, emergências, etc - que devem ter contrapartida nas receitas das
actividades proporcionadas pelo uso da água.
Entre outros, um dos exemplos mais marcantes das dificuldades actuais respeita ao caso das Associações de
Beneficiários, que gerem obras executadas pelo Estado. De acordo com legislação específica do sector, a
gestão das obras de fomento hidroagrícola foi-lhes entregue, com participações a fundo perdido, e com a
obrigatoriedade de as explorarem e conservarem, cobrando para o efeito uma taxa aos associados. Dado que

19/21 (9 - II)
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SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

os aspectos mais específicos da segurança de barragens pouco foram assumidos, revela-se hoje difícil
aumentar a taxa de conservação e exploração para integrar despesas resultantes da aplicação do RSB.
As pequenas barragens apresentam também, na maioria dos casos, problemas de difícil resolução.
O Instituto da Água iniciou em 1998 um programa de avaliação de segurança pormenorizada de grandes
barragens portuguesas, com o apoio especializado do LNEC, através da contratação, por concurso, de
gabinetes de consultores.
Estão actualmente em fase de conclusão 11 estudos respeitantes a 38 barragens.
As avaliações obtidas permitirão que se prossiga na linha anteriormente descrita, de negociações e definições
de responsabilidades na aplicação dos preceitos de segurança de barragens e execução das intervenções
preconizadas.
Estão em fase de preparação novos concursos, concebidos nos mesmos moldes.
Paralelamente, sentida que foi, face às cheias verificadas no inverno de 2000/2001, a necessidade de acelerar
o conhecimento das situações de risco, foi lançado um programa de inspecção mais rápido a 556 barragens,
entretanto identificadas com o apoio da base de dados existente e dos trabalhos de inventariação levados a
cabo nos Planos de Bacias. Este programa será conduzido por equipes de consultores e deverá estar
concluído no prazo de um ano.
A actual base de dados em uso sobre segurança de barragens (Bardata) contém dados sobre as barragens que
nos últimos anos têm sido objecto de intervenção no âmbito da aplicação de regulamentos de segurança, nas
fases de planeamento, projecto, construção e exploração.
No que se refere à formação o INAG lançou em 1999 um “Curso de Exploração e Segurança de Barragens”,
com a duração de duas semanas, dirigido à formação de técnicos que exercem funções ligadas à gestão,
exploração e segurança de barragens. Trata-se de um curso organizado com o apoio do Laboratório Nacional
de Engenharia Civil, Companhia Portuguesa de Produção de Electricidade (CPPE) e Instituto Superior
Técnico (IST). Para apoio ao curso, aberto em cada edição a cerca de 30 participantes, foi editado um livro
de textos de apoio. Foram realizados três cursos em anos seguidos, prevendo-se a continuação em anos
seguintes. A contribuição na formação de técnicos alertados para as questões de segurança é já patente.
Paralelamente, poderá utilizar-se esta base para a realização de cursos de formação de outro pessoal ligado à
exploração.

9.4.5. Planos de Emergência para Barragens


O RSB estabelece a obrigatoriedade de se adoptarem adequadas medidas de protecção civil para as
barragens, para protecção de pessoas e bens em caso de acidentes resultantes, nomeadamente, de catástrofes
ou de outras circunstâncias susceptíveis de afectarem a segurança. Em particular, deverá existir para cada
obra um estudo de ondas de inundação, constituindo o mapeamento das zonas abrangidas uma carta de
riscos, que servirá de base à definição de estratégias de protecção. Ainda segundo o RSB deverá ser
elaborado um plano de emergência, com intervenção dos Serviços de Protecção Civil, e deverá ser instalado
um sistema de aviso e alerta.
As entidades directamente envolvidas nesta matéria, no que respeita a barragens, de acordo com o RSB, são
o Dono da Obra, o Serviço Nacional de Protecção Civil, o Instituto da Água (INAG - Autoridade para a
segurança) e a Comissão de Segurança de Barragens (CSB), para além de outros intervenientes chamados ao
processo (caso do LNEC, em apoio da Autoridade).
Um primeiro passo no estudo dos planos de emergência relativos a barragens foi empreendido nos últimos
anos com a realização do projecto “Dam break flood risk management in Portugal”, financiado pela NATO e
conduzido pelo Centro de Estudos de Hidrossistemas do IST (CEHIDRO) e Laboratório Nacional de
Engenharia Civil (LNEC) , também com apoio do INAG e CPPE. Este projecto incluía a elaboração do
primeiro plano de emergência em Portugal, relativos às barragens do Funcho e do Arade.
No conjunto dos estudos relativos às maiores barragens portuguesas, quer a cargo do INAG, através de
consultores contratados, nos programas respeitantes à generalidade das barragens, quer das firmas do Grupo

20/21 (9 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


SITUAÇÕES DE RISCO E PROTECÇÃO CIVIL

EDP, para as suas, estão completados cerca de 50 estudos de mapeamento de zonas de inundação, em poder
do SNPC.
Não existem ainda Planos de Emergência de barragens completados. Contudo, na sequência de diversas
reuniões havidas entre o INAG, SNPC e LNEC, definiram-se linhas de rumo sobre a metodologia deste
planos.
Os Planos de Emergência de barragens subdividem-se em Planos de Emergência Internos (PEI) e Externos
(PEE), competindo a sua elaboração, respectivamente, aos Donos das Obras e ao SNPC, em colaboração
com os demais intervenientes.

21/21 (9 - II)
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

10. MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

10.1. Introdução
De acordo com o Decreto-Lei nº 191/93 (Orgânica do Ministério):
1 - É uma das atribuições do INAG, descrita no nº2 do art.º 2º, o desenvolvimento de sistemas de
informação sobre as disponibilidades e as necessidades de recursos hídricos a nível nacional;
2 - O art.º 7º especifica atribuições de recolha e estudo de informação sobre o ciclo hidrológico para uma
melhor compreensão dos parâmetros, variáveis e processos que o constituem, e para uma caracterização
dos regimes hidrológicos, nos seus aspectos de quantidade e qualidade, de forma a apoiar o planeamento
e a gestão integrada de recursos hídricos;
3 - Ainda segundo o art.º 7º compete ao INAG a definição de normas referentes à Rede Nacional de
Observação de Dados Climatológicos, Hidrológicos, Sedimentológicos e de Qualidade, assegurando a
homogeneidade e o controlo de qualidade da produção de dados.
Está, assim, balizado o universo de desenvolvimento da monitorização de recursos hídricos no território
continental e definido o próprio conceito de monitorização − entendida num contexto moderno como o
conjunto de procedimentos de recolha, manipulação, processamento, simulação e disponibilização de
informação harmonizada, para apoio à gestão.

10.2. Implementação de Uma Nova Estrutura de Monitorização


Para além da incumbência de gizar um Sistema de Informação Nacional de Recursos Hídricos (SNIRH)
potente, versátil e actualizado − que adquiriu uma configuração estabilizada em cerca de três anos − compete
ainda ao INAG desenvolver normas referentes às redes de monitorização: superficiais e subterrâneas, e em
aspectos quantitativos ou de qualidade da água.
Impensável para uma conveniente definição de normas de desenho de redes de monitorização, seria não
recorrer à modelação e simulação hidrológica (determinística e estocástica), com integração nos Sistemas de
Informação Geográfica, explorando as capacidades de análise espacial.
Instaladas estas novas capacidades foram também capitalizadas na tarefa de controlo da qualidade dos dados
que entretanto se armazenavam no SNIRH. Sem conseguir ainda triar exaustivamente os arquivos históricos,
um número significativo de dados de qualidade da água, de precipitações e de caudais foram já validados.
Neste último caso esta validação correspondeu a verdadeiras correcções da transformação de níveis em
caudais anteriormente adoptadas.
Enquanto procedia ao inventário da monitorização existente e à análise de dados, o INAG participava em
dois projectos europeus relacionados com as redes de monitorização, liderando algumas das actividades
técnicas:
— o projecto INVENTORY OF METEOROLOGICAL DATA IN THE EUROPEAN UNION (incluído no
projecto Lot 20 da EUROSTAT: Estimation of Renewable Water Resources in the European Union), no
domínio da rede meteorológica;
— os projectos MW2 - INVENTORY OF WATER RESOURCES MONITORING NETWORKS e MW3 -
DESIGN OF FRESHWATER MONITORING NETWORK FOR THE EEA AREA (incluído no Centro
Temático da Água/Águas interiores para a Agência Européia do Ambiente), no domínio das redes
hidrométrica e de qualidade.
As preocupações com a optimização e harmonização de procedimentos de recolha e divulgação de
informação sobre recursos hídricos eram, em meados da década de 90, preocupações também dos
organismos europeus. Da experiência entretanto adquirida foi possível enriquecer a restruturação das redes
nacionais.

1/44 (10 - II)


PLANO NACIONAL DA ÁGUA
MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

10.3. Restruturação das Redes de Monitorização de Recursos Hídricos


O Projecto de Restruturação das Redes de Monitorização dos Recursos Hídricos iniciado em Outubro de
1996 comporta as seguintes actividades:
• elaboração, pelo INAG/DRA de um Diagnóstico da Situação, em termos de funcionalidade e
operacionalidade das redes, e dos estrangulamentos e limitações;
• elaboração de um Estudo de Instrumentação, com análise dos métodos e soluções instrumentais
presentemente disponíveis no mercado (sensores), bem como de todos os sistemas que complementam a
instrumentação, como as unidades de alimentação e loggers;
• elaboração de um Estudo do Subsistema de Comunicações para a Rede de Estações de Monitorização,
onde se definiram os requisitos para os diversos equipamentos e redes de telecomunicações se delinearam
as diversas arquitecturas tipo, tendo em conta os equipamentos e redes disponíveis, e se estabeleceram
recomendações em face dos equipamentos e redes de telecomunicações comercialmente disponíveis;
• elaboração, pelo INAG/DRA da primeira proposta de configuração das redes de monitorização de
recursos hídricos superficiais, com incidência na região a Sul do Tejo;
• elaboração, pelo INAG/DRA de um estudo dos Custos de Manutenção das Redes propostas, com
avaliação das necessidades financeiras e materiais das arquitecturas propostas desde a aquisição dos
dados no campo até à sua disponibilização na Internet;
• estabelecimento dos termos de referência dos processo de concurso público internacional com incidência
nas três regiões de implementação seleccionadas (Sul do Tejo, Entre Douro e Tejo, Norte do Douro).
Estes aspectos metodológicos dizem respeito não só às redes de referência, ou básicas, de recolha de
informação, como a algumas redes específicas que partilham o local de amostragem para diferentes
objectivos. Um dos grandes princípios de optimização das redes foi justamente atribuir objectivos aos pontos
de medição para em seguida optimizar as coberturas de rede. Onde este princípio forneceu, em primeiro
lugar, locais de exploração conjugada de estações com diferentes objectivos, foi no Sistema de Vigilância e
Alerta de Recursos Hídricos (SVARH).
Para além do interesse da teletransmissão na rede de vigilância e alerta de recursos hídricos (quantidade e
qualidade), ela é útil para manter o INAG permanentemente actualizado em pontos cruciais da rede
hidrográfica e do território em geral para dar resposta a compromissos comunitários — como no
procedimento comum de troca de informações relativas às águas doces superficiais (Directiva 77/795/CEE).
O SVARH é também útil a nível do papel do INAG na centralização e harmonização da informação sobre
recursos hídricos de outras instituições produtoras de dados, face à necessidade de se incluir no sistema de
vigilância de cheias do INAG a informação horária da operação dos aproveitamentos hidroeléctricos. Este
constituiu o primeiro exemplo de sucesso da partilha de informação de recursos hídricos em tempo real com
instituições externas ao Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território, através da solução de
acesso directo ao servidor informático da CPPE. Este esquema adicional de recolha de dados veio enriquecer
o Sistema de Vigilância e Alerta de Recursos Hídricos com informação sobre caudais afluentes e lançados ao
longo dos principais rios portugueses regularizados.
A nível das águas subterrâneas, após a definição, caracterização e cartografia dos sistemas aquíferos de
Portugal continental, o INAG apresentou, em Fevereiro de 1999, o Plano Nacional de Monitorização de
Águas Subterrâneas.
Assim, no Projecto de Restruturação, enquanto que na sua componente de Águas Superficiais foram
adoptadas três fases de implementação − ditadas pelo desfasamento das intervenções (e investimentos) em
três zonas delimitadas pelos grandes rios luso-espanhóis, Guadiana, Tejo, Douro e Minho – no caso das
águas subterrâneas foram escolhidas as DRAOT como áreas de intervenção.
A existência de poucos estudos de avaliação da sedimentação em albufeiras, no que respeita a quantidade e
distribuição dos sedimentos, bem como a sua qualidade, tornava necessário dispor de dados de batimetria e
de amostras de sedimentos efectuados periodicamente.

2/44 (10 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

Estes trabalhos de batimetria iniciaram-se em 1999, nas albufeiras da Vigia e do Roxo, para determinação da
sedimentação e actualização das curvas de capacidade, pretendendo-se agora seguir um plano de trabalhos
sistemáticos para execução destes levantamentos nas albufeiras.
As soluções de restruturação em curso para o território continental de acordo com o tipo de rede de
monitorização, apresentam-se nos pontos seguintes.

10.3.1. Rede Meteorológica


A rede meteorológica tem a função de fornecer informação de base fidedigna que permita:
 Caracterizar a variabilidade espaço-temporal dos diferentes hidrometeoros, inclusive ao detalhe do
microclima;
 Avaliar as disponibilidades hídricas nacionais através de balanços hidrológicos;
 Estabelecer relações entre os diferentes dados meteorológicos, permitindo, nas duas estações de
longa duração, controlo de alterações e tendências;
 Modelar os fenómenos hidrológicos.
A rede meteorológica compreende actualmente dois tipos de estações: um, mais simples, onde se mede
apenas o hidrometeoro precipitação e estações mais equipadas onde, para além da precipitação, se medem
também outras variáveis como a temperatura e humidade do ar, a velocidade do vento, a insolação e a
evaporação, variáveis importantes para a elaboração de balanços hídricos. A rede de medição de precipitação
é, assim, uma particularização da rede meteorológica onde as estações de medição mais completas (estações
meteorológicas) são consideradas apenas ao nível pluviométrico.
A evolução da rede de medição de precipitação ao longo do tempo é apresentada na Figura 10.3.1. A
2
densidade de estações passou de 1,28 em 1930 para 6,23 estações/1000 km . Em termos globais, a
distribuição espacial actual das estações de medição de precipitação é bastante regular, considerando-se
2
razoável no nosso clima dispor-se de 8 estações/1000 km . A densidade de estações em 1990 teve já uma
2
ligeira redução (de 8,96 para 8,32 estações/1000 km ).

Figura 10.3.1 - Evolução da Rede de Medição de Precipitação ao Longo do Tempo


A Figura 10.3.2 apresenta a distribuição das estações da rede meteorológica actual por classes de altitude em
comparação com a distribuição das áreas da bacia hidrográfica pelas mesmas classes de altitude. A

3/44 (10 - II)


PLANO NACIONAL DA ÁGUA
MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

localização das estações de medição de precipitação reproduz perfeitamente as variações de altitude das
várias bacias hidrográficas. Maior representatividade é associada às áreas com altitudes até 400 m. A maior
expressão da concentração de estações em altitudes menos elevadas é reflexo da maior concentração
populacional junto ao litoral e da necessidade de caracterizar as implicações urbanas dos fenómenos
hidrológicos.
No entanto, como se pode observar na Figura 10.3.3, a maior parte das estações desta rede corresponde a
estações de registo não contínuo, sem autonomia (estações udométricas), estações que, para além de
fornecerem apenas valores diários de precipitação, de difícil verificação posterior, não possibilitam o estudo
da pluviosidade em períodos de tempo mais curtos. Esta constituía a principal limitação a ser ultrapassada.

25000 200
180
20000 160
140

Nº Estações
Área (km 2)

15000 120
100
10000 80
60
5000 40
20
0 0
800-1000

1000-2000
50-100

100-200

200-400

400-600

600-800
0-50

Classes de Altitude (m)

Distribuição área-altitude de Portugal continental Nºestações

Figura 10.3.2 - Distribuição das Estações de Precipitação por Classes de Altitude e Comparação com a
Distribuição Área/Altitude de Portugal Continental

Figura 10.3. 3 - Distribuição dos Diversos Tipos de Estações em Funcionamento por Direcção Regional
O número de registos de precipitação anual completos disponíveis estão representados na Figura 10.3.4.
Dispõe-se, actualmente, de cerca de 53% do total de séries com mais de 30 anos de dados completos.

4/44 (10 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

Outro aspecto considerado na restruturação da rede meteorológica foi o da análise expedita de redundância
de informação, onde o objectivo era apenas eliminar a informação redundante mais flagrante. Analisaram-se
as precipitações anuais das estações quando a sua localização estivesse a uma distância inferior a 5 km,
estudando-se, no caso de correlação elevada, a desactivação das estações com menor número de anos de
registo ou onde se dispunha de informação meteorológica menos diversificada e de menor qualidade. Na
Figura 10.3.5 apresenta-se a localização das estações seleccionadas nesta última análise.

Figura 10.3.4 - Disponibilidade de Dados de Precipitação Anual (Número de Anos Completos)

Em resumo, as alterações à rede meteorológica actual em curso envolvem os seguintes aspectos:


a) Automatização das estações da rede meteorológica com o objectivo se alcançar maior autonomia nas
medições, dispensando as medições diárias efectuadas actualmente pelos observadores e permitindo
armazenar a informação em formato digital e em intervalos de tempo adequados aos objectivos das
medições, facilitando assim utilização da informação sem necessidade de efectuar trabalhos intermédios
morosos (como a digitalização dos udogramas, anemogramas, higrogramas, etc.) nem obrigar à
permanência humana nas cercanias da estação;

5/44 (10 - II)


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MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

Figura 10.3.5 - Identificação de Séries de Precipitação Anual Similares


b) Incorporação da medição da velocidade e direcção do vento em todas as estações de precipitação (e não
apenas nas estações meteorológicas) que servirá de factor correctivo da captura da precipitação;
c) Implementação de estações em zonas não abrangidas pela rede actual em que a análise espacial do
conteúdo informativo da rede revelou a necessidade de quantificação da precipitação para a
caracterização climática das bacias hidrográficas ou o desenvolvimento e propagação de fenómenos
convectivos;
d) Desactivação de estações com dados de fraca qualidade ou de informação supérflua face àquela recolhida
noutras muito próximas por vezes com número de registos alargado;
e) Implementação de estações meteorológicas em corpos de água considerados de importância estratégica
para a gestão dos recursos hídricos, para o efectivo conhecimento dos processos hidrológicos nestas
zonas;
f) Consideração da teletransmissão no funcionamento de estações onde o objectivo principal é o apoio às
previsões de cheia em tempo real e/ou avaliação de secas, que se constituem na componente
meteorológica do Sistema de Vigilância e Alerta de Recursos Hídricos (SVARH).
Na Figura 10.3.6 apresenta-se a localização das estações da rede meteorológica proposta.

6/44 (10 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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Figura 10.3.6 - Localização das Estações da Rede Meteorológica Proposta

10.3.2. Rede Hidrométrica


A rede hidrométrica inclui estações que, através da medição do nível em cursos de água e albufeiras,
permitem quantificar outras variáveis necessárias à gestão e planeamento, como caudais, áreas inundadas,
volumes armazenados e dimensões de exposição das superfícies de água ao poder evaporante da atmosfera.
Esta informação permite avaliar a disponibilidade dos recursos hídricos de superfície, a sua distribuição
espacial e variação temporal. Deste modo, as estações da rede hidrométrica recolhem informação de base que
possibilita a execução de estudos hidrológicos, nomeadamente avaliar caudais extremos, modelar ou simular
balanços hídricos, avaliar a propagação de caudais, apoiar a rede de qualidade da água e a rede
sedimentológica e definir caudais ambientais.
A evolução da rede hidrométrica ao longo do tempo é apresentada na Figura 10.3.7. A densidade de estações
2
passou de 0,5 em 1930 para 2,4 estações/1000 km . A densidade de estações em 1980 era de 4
2
estações/1000 km , passando para 4,7 em 1990.

7/44 (10 - II)


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MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

Figura 10.3.7 - Evolução da Distribuição Espacial da Rede Hidrométrica


O número de registos de escoamento anual completos disponíveis estão representados na Figura 10.3.8.
A reestruturação da rede hidrométrica, tem em consideração os seguintes objectivos:
a) Automatização das estações para uma maior autonomia das medições e facilidade de armazenamento da
informação em intervalos de tempo adequados aos objectivos das medições e eliminação de trabalhos
intermédios morosos, como a digitalização dos limnigramas;
b) Apoio à rede de qualidade da água na suplementação de caudais para cálculo de cargas;
c) Quantificação de caudais em bacias hidrográficas de importância estratégica, zonas drenantes para
albufeiras e/ou condições pristinas, não contempladas na rede de monitorização actual;
d) Quantificação de caudais fronteiriços e verificação dos acordos ou convénios internacionais;
e) Reactivação de estações em zonas onde foi sentida a necessidade de informação adicional e as condições
locais possibilitem a sua inclusão;
f) Desactivação de estações situadas na mesma linha de água, a montante ou jusante, com informação de
fraca qualidade, redundante ou de difícil medição;
g) Apoio ao Sistema de Vigilância e Alerta de Recursos Hídricos (SVARH).
Na Figura 10.3.9 apresenta-se a distribuição das estações hidrométricas em funcionamento por classes de
altitude por comparação com a distribuição área/altitude do continente Português. Da sua análise verifica-se
que cerca de 47% das estações se localiza a altitudes inferiores a 50 m, as quais não são representativas da
área em análise. Nas áreas das bacias hidrográficas com altitude entre os 50 e 400 m, existem 164 estações,
que corresponde a 41% do total.
Saliente-se que apenas existem 18 estações acima dos 600 metros de altitude. A estação a uma altitude mais
elevada localiza-se a 890 metros.
O grande número de estações hidrométricas a baixa altitude justifica-se porque é aí que os processos de
balanço hidrológico são mais completos. No entanto, os fenómenos hidrológicos a baixas altitudes não são
directamente extrapoláveis para zonas de maior cota havendo, como tal, uma maior necessidade de
monitorização de zonas de altitude.

8/44 (10 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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Figura 10.3.8 - Disponibilidade de Dados de Escoamento Anual até 1989/90 (Número de Anos Completos)
Na Figura 10.3.10 apresenta-se a distribuição das estações de medição em cursos de água por classes de área
das respectivas bacias hidrográficas. Apenas se consideram bacias com áreas de drenagem inferiores a
2
5 000 km (o que exclui bacias internacionais). Da análise da figura verifica-se que a maioria das estações
2 2
apresenta áreas de drenagem inferiores a 300 km , representando as bacias com áreas até 150 km cerca de
37% da rede hidrométrica actual.
25000 200
180
20000 160
140
Nº Estações
Área (km 2)

15000 120
100
10000 80
60
5000 40
20
0 0
1000-2000
50-100

100-200

200-400

400-600

600-800

800-1000
0-50

Classes de Altitude (m)


Distribuição área-altitude de Portugal continental Nºestações

Figura 10.3.9 - Distribuição das Estações Hidrométricas em Rios por Classes de Altitude e Comparação com a
Distribuição Área/Altitude de Portugal Continental

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MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

A localização das estações da rede proposta (Figura 10.3.11), contempla essencialmente a autonomia, a
representatividade espacial e o apoio às necessidades da rede de qualidade da água. O envio de dados por
telemetria foi considerado importante para o controlo de caudais fronteiriços e para o acompanhamento de
recursos hídricos e da qualidade da água em locais onde se revela necessário o desencadeamento de alertas.
30%

25% 24%

19%
Nº Estações (%)

20%
18%

14%
15% 13%
11%

10%

5%

0%
< 50 ] 50-150] ] 150-300] ] 300-500] ] 500-1000] ] 1000-5000]

Classes de Área (km2)

Figura 10.3.10 - Distribuição das Estações Localizadas nos Cursos de Água com Áreas de Drenagem Inferiores a
5000 km2, por Classes de Área de Drenagem
A automatização da rede hidrométrica vem, deste modo, contribuir para a independência da actualização da
base de dados (SNIRH) da disponibilidade das entidades gestoras dos aproveitamentos para a organização e
cedência de dados.

Figura 3.2-5- Localização das Estações da Rede Hidrométrica Proposta

10/44 (10 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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10.3.3. Rede de Qualidade da Água Superficial


A implementação de uma rede de referência de monitorização da qualidade da água superficial permite obter
informação sobre as propriedades físicas, químicas e biológicas da água relacionando-as tanto com as
condições naturais, como com as acções antropogénicas e usos existentes, da saúde publica e estabilidade
dos ecossistemas e, desta forma, apoiar a gestão da água no domínio da verificação das exigências em termos
de qualidade.
A definição e operação sistemática da rede de referência da qualidade da água tem em conta os seguintes
factores:
− objectivos de amostragem;
− locais de amostragem;
− frequência de amostragem;
− variáveis a amostrar;
− compatibilização com a rede hidrométrica.

A recolha sistemática de informação sobre a qualidade dos recursos hídricos superficiais vai permitir
caracterizar as diferentes situações críticas e de referência, tanto no espaço como no tempo, com o objectivo
último de permitir:
− avaliar a evolução da qualidade da água;
− identificar acidentes de poluição;
− disponibilizar informação de base para aplicação de modelos e respectiva calibração.
10.3.3.1. Breve Evolução Histórica
À excepção de algumas medições de salinidade efectuadas no início da década de 30 para suporte das bases
do contrato com a Companhia de Águas de Lisboa, só nas últimas duas décadas é que as redes de qualidade
da água se têm vindo a expandir. Numa primeira fase foram mais direccionadas para o controle da poluição
dos rios e albufeiras, passando depois para a protecção dos sistemas de abastecimento de água, encontrando-
se presentemente a ser apetrechadas para uma verdadeira caracterização da qualidade da água com
preocupações de preservação dos ecossistemas.
Em 1978 é estabelecida uma Rede Nacional de Qualidade da Água (RENQA) com 122 estações apoiada
numa, também recém criada, rede laboratorial ligada às cinco Direcções de Serviços Regionais de Hidráulica
(Douro, Mondego, Tejo, Sul e Algarve) e suas respectivas Secções de Controlo da Poluição.
Com a extinção, em 1987, da Direcção Geral dos Recursos e Aproveitamentos Hidráulicos (DGRAH) e sua
substituição pela Direcção de Recursos Naturais (DGRN), foi criada a nova Rede de Qualidade da Água
(RQA) que veio substituir e dar seguimento à RENQA. A RQA era coordenada pelo Núcleo de Qualidade da
Água da DGRN e operada pelas Direcções dos Serviços Regionais de Hidráulica.
Em 1988/89 a RQA era constituída por 55 estações de amostragem (21 coincidentes com a rede
hidrométrica) implantadas em áreas onde as actividades humanas potenciavam mais e maiores problemas de
poluição.
Com a restruturação, em 24 de Maio de 1993, do Ministério do Ambiente e Recursos Naturais, teve início
um vasto processo de alteração do quadro institucional e legal no domínio da água com grandes repercussões
no desenvolvimento dos projectos de monitorização. A DGRN é extinta e, em sua substituição, é criado o
Instituto da Água (INAG, Decreto-Lei 191/93) que deixa de ter serviços descentralizados, os quais passam a
estar integrados nas novas Direcções Regionais do Ambiente e Recursos Naturais (DRARN) – Norte,
Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve (Decreto-Lei 190/93).
Esta alteração orgânica fez do INAG o organismo central com funções essencialmente normativas e das
DRARN as organizações que, no terreno, passaram a ser responsáveis pela gestão dos meios operacionais

11/44 (10 - II)


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MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

incluindo os laboratórios regionais existentes, ou a criar em resposta às necessidades concretas de cada


região e de acordo com as competências próprias impostas pela nova orgânica.
A partir de 1993 a Rede de Qualidade da Água começou a incorporar as necessidades de monitorização para
dar resposta às directivas comunitárias, transpostas para o direito nacional através do Decreto-Lei 74/90, 7 de
Março, revogado pelo decreto-lei 236/98, 1 de Agosto.
A evolução do número de estações e distribuição espacial da RQA, apresentada no Quadro 10.3. 1 e Figura
10.3.2, ilustram uma primeira preocupação em caracterizar as zonas junto ao litoral, mais industrializadas e
onde os problemas de poluição começaram por ser mais acutilantes, para depois, e à medida que as
exigências legislativas nacionais e comunitárias foram alterando as orientações, se verificar um maior
número de estações para o interior, contemplando sobretudo origens de água, zonas sensíveis e águas
piscícolas.
Em termos de redes específicas está em exploração, desde 1993, uma rede referente à qualidade das águas
balneares e, a partir de 1999, uma rede básica de amostragem para as substâncias perigosas.

Quadro 10.3. 1 - Distribuição das Estações de Qualidade da Água pelas Várias Bacias Hidrográficas

1989 1995 1999 2000

BACIA ÁREA (km2) DENSIDADE DENSIDADE


DENSIDADE DENSIDADE
Nº (Nº Est./1 000 Nº (Nº Est./1 000 Nº Nº
(Nº Est./1 000 km2) (Nº Est./1 000 km2)
km2) km2)
Minho 811 5 6.2 9 11.1 13 16.0 8 9.9
Âncora 128 1 7.8 2 15.6 6 46.9 1 7.8
Lima 1 187 6 5.1 10 8.4 11 9.3 13 10.9
Neiva 289 1 3.5 2 6.9 3 10.4 2 6.9
Cávado 1 612 7 4.3 16 9.9 21 13.0 17 10.5
Ave 1 391 10 7.2 16 11.5 19 13.7 10 7.2
Leça 184 0 0.0 4 21.7 4 21.7 1 5.4
Douro 18 641 25 1.3 63 3.4 73 3.9 55 3.0
Vouga 3 580 7 2.0 7 2.0 10 2.8 11 3.1
Mondego 6 661 8 1.2 10 1.5 10 1.5 14 2.1
Lis 897 3 3.3 8 8.9 8 8.9 8 8.9
Ribª Oeste 2 522 6 2.4 23 9.1 18 7.1 19 7.5
Tejo 24 607 28 1.1 55 2.2 62 2.5 72 2.9
Rib. Costa Tejo-Sado 180 0 0.0 0 0.0 1 5.6 1 5.6
Guadiana 11 596 8 0.7 19 1.6 17 1.5 22 1.9
Sado 7 568 2 0.3 8 1.1 6 0.8 7 0.9
Mira 1 574 1 0.6 1 0.6 1 0.6 2 1.3
Barlavento 1 338 0 0.0 5 3.7 5 3.7 5 3.7
Arade 975 0 0.0 2 2.1 3 3.1 3 3.1
Sotavento 1 635 0 0.0 4 2.4 4 2.4 4 2.4

TOTAL 87 376 118 1.4 264 3.0 295 3.4 275 3.1

Figura 10.3.12 – Evolução do Número de Estações da RQA para as Duas Últimas Décadas

12/44 (10 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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10.3.3.2. Rede de Qualidade da Água em Exploração


A rede de qualidade da água – RQA -, explorada em 2000 pelas cinco Direcções Regionais de Ambiente e
Ordenamento do Território (DRAOT), é constituída por 275 estações (Figura 10.3.13), correspondendo a
uma densidade de 3.1 estações/1 000 km2 (318 km2/estação), das quais 113 são coincidentes com a rede
hidrométrica. A distribuição das estações por objectivo de monitorização está representada no gráfico da
Figura 10.3.14. Saliente-se que 96 das estações são coincidentes com origens de água superficial.

Figura 10.3.13 – Rede de Qualidade da Água em Exploração


Na Figura 10.3.15 apresenta-se a distribuição espacial das estações existentes classificadas pelos objectivos
de monitorização
R Q A _200 0
Ob jectiv os d e M onito riza ç ão

P iscíco la
Fro nteira + P C T I + P iscíco la
Fro nteira + P C T I

Fro nteira
F luxo + P C T I + P is cíco la
F luxo + P C T I
F luxo + P iscíco la
F luxo

Im pa cto + P C T I + P iscíco la
Im pa c to + P isc íco la
Im pa cto
C aptaç ão + P C T I + P iscíco la
C aptaç ão + P C TI

C aptaç ão + P isc íco la


C aptaç ão
R eferê nc ia + P iscíc o la
R eferê ncia

0 10 20 30 40 50 60
N.º Estaçõ es

Figura 10.3.14 - Distribuição pelos Objectivos de Monitorização das Estações de Qualidade Exploradas em 2000

13/44 (10 - II)


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MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

Figura 10.3.15 - Rede de Qualidade da Água em Exploração – Classificação por Objectivo de Monitorização

Em termos de distribuição por unidade regional de exploração da rede (DRAOT) apresenta-se na Figura
10.3.16 o número de estações totais e ainda o número coincidente com captações para abastecimento
humano. Na Figura 10.3.17 apresenta-se a respectiva densidade por DRAOT.
DRAOT
5
Algarve 18
18
Alentejo 33
8
LVT 74
16
Centro 47
49
Norte 109

0 50 100 150 200

Captações Nº Estações

Figura 10.3.16 - Número de Estações Exploradas por DRAOT e Respectiva Coincidência com Captações para
Abastecimento Humano

14/44 (10 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


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RQA explorada em 2000


DENSIDADE
2
(Nº Estações/1 000 km )
3.7 5.1

1.2

2.0
6.3

Norte Centro LVT Alentejo Algarve

Figura 10.3.17 - Densidades Observadas por DRAOT


As principais lacunas de monitorização que ainda se verificam são a nível da plena inclusão das origens
superficiais para abastecimento, que apesar de se ter manifestado sempre como uma das preocupações
principais das redes exploradas desde os anos oitenta existem ainda situações que falta contemplar para que
de uma forma exaustiva se dê cumprimento à directiva 75/440/CEE. Por outro lado algumas situações
sujeitas a cargas poluentes significativas não estão contempladas verificando-se noutras situações
redundância de informação. A adequação quer da frequência amostragem, quer do número de parâmetros
realizados e métodos de determinação utilizados é uma das preocupações da restruturação da RQA.
Existem ainda em funcionamento as redes específicas para águas balneares e substâncias perigosas.
10.3.3.3. Rede de Qualidade da Água Proposta
Metodologia
A restruturação da rede de qualidade da água tem como objectivo principal constituir um sistema de
monitorização que permita reunir o conjunto de elementos necessários a uma avaliação da qualidade dos
recursos hídricos nacionais. De um modo geral, podem enunciar-se os seguintes objectivos para a rede de
qualidade:
− classificação do meio hídrico em função dos usos;
− avaliação do estado de qualidade das águas doces superficiais;
− verificação do cumprimento do normativo nacional e comunitário;
− caracterização da qualidade da água nos rios transfronteiriços para verificação de acordos e convénios
internacionais;
− controlo de qualidade das origens de água para abastecimento público;
− controlo das fontes de poluição pontuais e difusas mais significativas;
− avaliação da eficácia dos programas de redução da poluição;
− identificação de episódios de poluição;
− avaliação da carga poluente total descarregada para o mar;
− informação de base para o estabelecimento de modelos de qualidade.
Uma das linhas orientadoras adoptada para a restruturação das redes de monitorização é a integração da
informação proveniente da rede hidrométrica, que caracteriza os recursos hídricos em termos de quantidade,
com aquela suplementada pela rede de qualidade da água, que permite avaliar estes recursos em termos de
equilíbrio dos ecossistemas e respectiva aptidão para os usos existente e previstos. Assim, a implementação
de novas estações de qualidade teve sempre em atenção a localização das estações hidrométricas existentes,
procurando as coincidentes. Por outro lado, nos locais onde a qualidade já é monitorizada sem a
quantificação dos fluxos passarão, na rede proposta, a conjugar as duas vertentes dos recursos hídricos, numa
optimização do conteúdo informativo das redes.

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MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

A distribuição das estações existentes e propostas contemplam origens de água, zonas fronteiriças, troços de
verificação do cumprimento de directivas comunitárias, zonas críticas de afluência de carga poluente
significativa e zonas não sujeitas a intervenções antropogénicas que sirvam de referência. Assim, definiram-
se as seguintes categorias de estações consoante o objectivo:
− Captação, Captação (futura), Captação_reserva - estações em que se pretende classificar a qualidade das
origens de água para abastecimento, quanto à sua aptidão para este uso;
− Fronteira - estações situadas em rios fronteiriços, com o objectivo de quantificar a carga poluente que
aflui aos recursos hídricos nacionais;
− Fluxo - estações que permitem avaliar a evolução espacial da qualidade da água num curso de água;
− Impacto - estações situadas em zonas com forte pressão antropogénica e ainda, em zonas que
influenciam áreas consideradas sensíveis, com o objectivo de quantificar as alterações sofridas;
− Referência - estações para a avaliação de características naturais básicas, informação prévia à influência
antropogénica;
− PCTI - estações para o Procedimento Comum de Troca de Informações (Decisão 77/797/CEE, alterada
pela Decisão 86/574/CEE).
− Ciprínideo, Salmonídeo – estações em que se pretende classificar a qualidade da água dos troços
designados como ciprinídeos ou salmonídeos, no âmbito da Directiva 78/659/CEE (transposta para o
direito nacional pelo D.L. 236/98, 1 de Agosto);
− Piscícola – estações em que se pretende avaliar a aptidão de um troço de linha de água para futura
designação como ciprinídeo ou salmonídeo, no âmbito da Directiva 78/659/CEE (transposta para o
direito nacional pelo D.L. 236/98, 1 de Agosto).
Para uma maior eficácia da rede de monitorização, dotaram-se algumas estações estratégicas de sensores e
data loggers, de modo a permitirem uma monitorização contínua da qualidade da água. Dentro destas,
seleccionaram-se aquelas onde era vital ter acesso em tempo real aos valores medidos. Para tal foram
munidas de teletransmissão tornando possível uma intervenção mais rápida e eficaz na resolução de
acidentes de poluição, que afectam não só as actividades sócio-económicas mas também, o equilíbrio dos
ecossistemas. Foram, assim, definidos vários tipos de estações:
− Convencional - amostragens periódicas;
− Automática + Convencional - alguns parâmetros são amostrados de forma contínua e outros
periodicamente;
− Automática + Telemetria + Convencional - alguns parâmetros são amostrados de forma contínua, com
telemetria e envio de alarme sempre que limites estabelecidos sejam ultrapassados, e outros
periodicamente.
Para cada um dos objectivos das estações definiu-se a frequência de amostragem e a grelha de parâmetros a
analisar. Saliente-se ainda, que no caso de albufeiras preconiza-se a realização de perfis de temperatura e
oxigénio dissolvido, bem como a determinação da transparência para o estudo da dinâmica destes sistemas.
Rede Proposta
A análise das principais fontes de poluição tópica, da ocupação do solo e da inventariação das origens de
água para abastecimento humano, zonas sensíveis e piscícolas da região em estudo permitiram avaliar as
zonas de maior pressão antropogénica e aquelas que estão, ainda, num estado natural (ou quase natural). A
localização das estações propostas contemplou todas estas situações, obtendo-se uma densificação da rede,
distribuída espacialmente de forma homogénea de acordo com as características dos vários sistemas
envolvidos. Toda esta análise e desenho da rede foi realizada bacia a bacia.
Na rede proposta, o número total de estações passa de 281 a 400, gerando-se uma densidade com cerca de
2 2
4.6 estações/1 000 km , (218 km /estação) (Figura 10.3.18). Destas estações, 294 são coincidentes com
estações hidrométricas, o que corresponde a uma maior integração das redes de quantidade e qualidade.

16/44 (10 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

A cada uma das estações da rede actual e proposta foram atribuídos um ou mais objectivos de monitorização,
de acordo com a metodologia apresentada anteriormente (Figura 10.3.19). No Quadro 10.3.2 assinala-se de
forma resumida o número de estações em cada um dos tipos de objectivos considerados.

Figura 10.3.18 - Rede de Qualidade da Água Superficial Proposta

17/44 (10 - II)


PLANO NACIONAL DA ÁGUA
MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

Figura 10.3.19 - Rede de Qualidade da Água Superficial Proposta - Classificação por Objectivos de
Monitorização

Quadro 10.3.2 - Distribuição das Estações Existentes e Propostas por Objectivo

Objectivo de Monitorização RQA actual RQA proposta

Referência 2 11
Referência + Piscícola 3 6
Captação 59 90
Captação + Piscícola 32 39
Captação + PCTI 4 4
Captação + PCTI + Piscícola 1 1
Impacto 55 95
Impacto + Piscícola 30 40
Impacto + PCTI + Piscícola 1 0
Fluxo 36 33
Fluxo + Piscícola 11 13
Fluxo + PCTI 1 1
Fluxo + PCTI + Piscícola 2 3
Fronteira 2 25
Fronteira + PCTI 3 3
Fronteira + PCTI + Piscícola 1 1
Piscícola 32 35
TOTAL 275 400

A monitorização das origens de água está contemplada de uma forma mais efectiva na rede proposta, visto
que este número aumentou consideravelmente. São criadas mais estações de Fronteira devido à preocupação
de caracterizar a qualidade da água nos rios fronteiriços, para verificação da Convenção luso-espanhola e

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demais normativos nacional ou internacional. São propostas mais estações de Impacto, de modo a controlar
os locais com descarga de águas residuais e prevenir problemas graves de poluição. Também é de salientar a
preocupação subjacente à restruturação em criar estações de Referência, o que permitirá caracterizar melhor
as condições naturais do meio hídrico, detectar eventuais problemas que venham a surgir nessas linhas de
água e servir como referência ou padrão para a determinação da influência antropogénica nos recursos
hídricos. De modo a dar uma resposta mais eficaz e completa à Directiva 78/659/CEE, duplicou-se o número
de estações com objectivo piscícolas (salmonídeos e ciprinídeos), podendo-se assim classificar a qualidade
da água nos troços designados e avaliar a potencialidade de novos troços para este uso. No Quadro 10.3.3
apresenta-se a distribuição das estações por objectivo e por DRAOT.

Quadro 10.3.3 - Distribuição do Número de Estações Existentes por Objectivo e DRA


DRAOT/Norte DRAOT/Centro DRAOT/LVT DRAOT/Alentejo DRAOT/Algarve
Objectivos das estações
Actual Proposta Actual Proposta Actual Proposta Actual Proposta Actual Proposta
Referência 0 2 0 2 1 1 0 5 1 1
Referência + Piscícola 1 2 0 2 0 0 1 1 1 1
Captação 27 46 14 24 7 7 6 8 5 5
Captação + Piscícola 18 21 2 6 0 0 12 12 0 0
Captação + PCTI 4 4 0 0 0 0 0 0 0 0
Captação + PCTI + Piscícola 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0
Impacto 1 13 8 15 38 42 0 14 8 11
Impacto + Piscícola 13 20 6 8 2 2 7 9 2 2
Impacto + PCTI + Piscícola 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0
Fluxo 4 7 7 6 24 16 1 4 0 0
Fluxo + Piscícola 5 7 4 3 0 0 2 2 0 0
Fluxo + PCTI 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0
Fluxo + PCTI + Piscícola 0 0 1 2 0 0 1 1 0 0
Fronteira 0 13 1 3 0 0 0 8 1 1
Fronteira + PCTI 2 2 1 1 0 0 0 0 0 0
Fronteira + PCTI + Piscícola 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0
Piscícola 28 18 2 15 0 0 2 2 0 0
TOTAL 103 155 47 87 74 70 33 67 18 21
2 21 281 23 417 11 815 26 843 4 890
Área da DRA (km )
2
Densidade (nº estações/1 000 km ) 4.8 7.3 2.0 3.7 6.3 5.9 1.2 2.5 3.7 4.3

Em termos de distribuição por DRAOT apresenta-se na Figura 10.3.20 o número de estações totais e ainda o
número coincidente com captações para abastecimento humano.
Na rede proposta, 106 estações irão ser automatizadas através da implantação de sensores de qualidade e
data loggers, sendo que 60 terão adicionalmente capacidades de teletransmissão (Figura 10.3.21).

DRAOT
5
Algarve 21
20
Alentejo 67
8
LVT 70
30
Centro 87
71
Norte 155

0 50 100 150 200 250

Captações Nº Estações

Figura 10.3.20 - Número de Estações Exploradas por DRAOT e Respectiva Coincidência com Captações para
Abastecimento Humano

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Figura 10.3.21 - Rede de Qualidade da Água Proposta – Tipo de Estação

10.3.4. Redes Específicas


10.3.4.1. Águas Balneares
Portugal ao longo da sua linha de costa apresenta belos e extensos areais de enorme potencialidade turística,
comummente designadas como praias. Os requisitos necessário para garantir em segurança a utilização das
zonas balneares designadas passam, não só pelos acessos, infra-estruturas e segurança das praias, mas
sobretudo pela qualidade das águas. O mesmo acontece nas zonas balneares interiores.
Existem, actualmente, em Portugal Continental 320 zonas balneares designadas, em que 278 são costeiras e
42 são interiores. A evolução das zonas balneares, que têm vindo a ser classificadas como tal, está
apresentada na Figura 10.3.22.

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Figura 10.3.22 - Evolução do Número de Zonas Balneares Designadas

A qualidade das águas balneares é, em termos do direito comunitário, regido pela Directiva 76/160/CEE de 8
Dezembro de 1975, que foi inicialmente transposta para o direito nacional em 1990 pelo Decreto-Lei 74/90
de 7 de Março, posteriormente revogado pelo Decreto-Lei 236/98 de 1 de Agosto. O período de amostragem
decorre entre 15 de Maio e 30 de Setembro e inclui parâmetros bacteriológicos – coliformes totais e
coliformes fecais - e os parâmetros físico-químicos – óleos minerais, substâncias tensioactivas e fenóis.

Rede Específica
Águas balneares

Zonas balneares costeiras


Zonas balneares interiores
Limite de bacia
DRAOT
Norte
Centro
Lisboa e Vale do Tejo
Alentejo
Algarve

Figura 10.3.23 - Rede de Monitorização das Zonas Balneares

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Todos os anos são integradas no programa de monitorização zonas com potencialidade para o uso balnear,
para avaliação da qualidade da água e futura classificação ou proibição para este uso, de acordo com os
resultados obtidos.
10.3.4.2. Substâncias Perigosas
De acordo com o normativo nacional e comunitário é necessário controlar a poluição causada por certas
substâncias perigosas lançadas no meio aquático, tanto águas continentais como costeiras. Para isso é
necessário identificar, caracterizar e controlar as emissões destas substâncias nas fontes de poluição, pontuais
e difusas, de acordo com os limites estabelecidos por forma a garantir que as normas de qualidade seja
cumpridas.
Para efeitos de controlo são consideradas duas categorias de famílias e grupos de substâncias perigosas que
são identificadas em duas listas:
− Lista I, com 17 substâncias ou grupos de substâncias cujo objectivo é eliminar a poluição e os objectivos
de qualidade são definidos pela Comissão Europeia;
− Lista II com 132 substâncias ou grupos de substâncias cujo objectivo é reduzir a poluição e os objectivos
de qualidade são definidos pelos Estados membros.
No âmbito da Directiva 76/464/CEE, transposta para o direito nacional pelo D.L. 236/98, 1 de Agosto, foi
definida uma rede básica de monitorização das substâncias constantes das Listas I e II da referida directiva,
tanto a nível da água, como do biota e sedimentos. Esta rede constituída por 58 estações, distribuídas pelas
águas interiores, estuários e águas costeiras foi explorada entre Abril de 1999 a Maio de 2000, com uma
frequência mensal a nível da água (interiores e estuarinas), trianual para as águas costeiras e anual para os
sedimentos e biota.
Posteriormente e, após avaliação dos resultados obtidos, procedeu-se à optimização da rede o que implicou a
extinção de algumas estações por produção de informação redundante e a inclusão de outras. Também o
número de parâmetros da Lista II a monitorizar foi reduzido, excluindo todos aqueles que durante catorze
meses consecutivos de determinações nunca foram detectados. A frequência que irá ser implementada
também foi alterada.
Paralelamente impõe-se desde já um conhecimento da contaminação do meio aquático pelas substâncias
consideradas prioritárias na Directiva Quadro (60/2000/CE) e ainda não contempladas a nível da Directiva
76/464/CEE.
Assim, a rede que actualmente está em exploração tem 49 estações distribuídas pelas águas interiores,
estuários e águas costeiras. A frequência e distribuição pelos vários tipos de ecossistemas monitorizados
encontram-se no Quadro 10.3.4 e Figura 10.3.24.

Quadro 10.3.4 - Frequência de Amostragem para a Rede de Monitorização das Substâncias Perigosas

Águas Interiores e estuarinas Águas Costeiras


Directiva 76/464/CEE
Água Sedimentos Biota Água Sedimentos Biota
N.º Estações 40 40 40 9 9 9
Frequência 6X ano 1X ano 1X ano 3X ano 1X ano 1X ano

Da lista I vão continuar a ser monitorizadas as 17 substâncias ou grupos de substâncias, apesar de 7 delas
nunca terem sido detectadas durante a primeira campanha. Da lista II serão monitorizadas: 73 substâncias ou
grupo de substâncias que foram pelos menos detectadas uma vez na campanha anterior; 10 substâncias ou
grupos de substâncias da Lista II que não foram determinadas na primeira campanha. Serão ainda
consideradas 12 substâncias ou grupos de substâncias prioritárias da Directiva Quadro não presentes nas
listagens anteriores.

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Figura 10.3.24 - Rede de Monitorização das Substâncias Perigosas

10.3.4.3. Zonas Sensíveis


Com a transposição da Directiva 91/271/CEE, relativa ao tratamento de águas residuais urbanas, para o
direito nacional através do Decreto Lei 152/97 de 15 de Julho, foi necessário definir e identificar as zonas
sensíveis. Nestas zonas os sistemas de tratamento de águas residuais de aglomerações de determinada
dimensão são mais rigorosos do que simplesmente secundários. Uma determinada extensão de água será
identificada como zona sensível se pertencer a uma das seguintes categorias:
− lagos e outras extensões de água doce, estuários e águas costeiras que se revelem eutróficos ou
susceptíveis de se tornarem eutróficos num futuro próximo;
− águas doces de superfície destinadas à captação de água potável cujo teor em nitratos possa exceder a
concentração estabelecida na directiva 75/440/CEE, relativa à qualidade das águas superficiais
destinadas à produção de água potável).
De acordo com estes critérios foram identificadas 41 zonas sensíveis de acordo com os critérios definidos no
Anexo II do referido decreto-lei.
Assim, a definição da rede específica teve em conta:
− as 41 zonas já classificadas como sensíveis (Anexo II Decreto-lei 152/97) para avaliação da eficiência
dos planos de medidas, o que implica a implementação de 54 estações, das quais 29 vão ter
determinações a 2 ou 3 profundidades ;
− as zonas que em estudos anteriores foram classificadas como meso-eutróficas ou eutróficas, para
avaliação de futura classificação como zona sensível, o que implica a implementação de 31 estações com
determinações a 2 ou 3 profundidades ;
− as zonas que são utilizadas para produção de água para abastecimento para avaliação tanto do estado
trófico como do seu enriquecimento em nitratos, o que implica a implementação de 32 estações com
determinações a 2 ou 3 profundidades.

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Rede específica
Zonas sensíveis

Estação Qualidade - Zona sensível


Estação Qualidade - Zona em estudo
com problemas de eutrofização
Estação Qualidade - Zona em estudo
origens de água para
abastecimento
Limite de
DRAOTbacia
Norte
Centro
Lisboa e Vale do Tejo
Alentejo
Algarve

Figura 10.3.25 - Rede de Monitorização das Zonas Sensíveis


Para um total de 117 estações (Figura 11.3.25), propõe-se uma periodicidade de 4 em 4 anos e são
amostrados parâmetros físico-químicos e biológicos, relacionados com a produtividade primária dos sistemas
lênticos e lóticos.

10.3.5. Rede Sedimentológica


10.3.5.1. Breve Historial
A necessidade de informação de caudais sólidos transportados, bem como das características e dinâmica do
leito dos rios Douro, Mondego e Tejo, principalmente como suporte a grandes obras hidráulicas, esteve na
base do início das campanhas de medição de transporte sólido no final da década de 60 e década de 70. Os
primeiros estudos, incidiam essencialmente nos aspectos de planeamento, análise e interpretação dos
resultados, e incluíam também uma análise da morfologia das secções de estudo.
Na Figura 10.3.26 apresenta-se a localização das estações que constavam da rede sedimentológica criada em
1980 distinguindo-se as principais (1) e secundárias (2) – e as estações onde se efectuaram medições mas que
não tinham sido contempladas inicialmente.
Tal como referido no ponto 5.7, em 1990 deixaram de se recolher amostras de fundo, e em 1993 acabaram
definitivamente as medições de caudal sólido em suspensão nas 10 estações que ainda se encontravam em
funcionamento. Na Figura 10.3.28 apresenta-se a evolução temporal das estações com medição de caudal
sólido em funcionamento até 1993/94.
Uma recolha da dados tão exigente como esta, à semelhança das demais redes de monitorização de recursos
hídricos, só se justifica se estiver a ser mobilizada para a prática de gestão da Administração ou mesmo pela
comunidade técnica e científica.

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Figura 10.3.26 - Estações onde se Efectuaram Medições de Transporte Sólido até 1993/94

Como foi referido, a rede sedimentológica funcionou durante a década de 80 e princípio dos anos 90. Não
obstante a sua importância em termos de poluição e degradação ambiental, e sendo o INAG (e as Direcções
Gerais que o antecederam), a entidade responsável pela definição de normas nesta área, as medições de
caudal sólido nunca tiveram desenvolvimentos profundos, no âmbito de uma adequada gestão de recursos
hídricos.
Dessa rede existe informação relativa a caudal sólido em suspensão em 109 estações hidrométricas. Em
alguns locais fizeram-se amostragens apenas durante um ou dois anos. Por outro lado, estas recolhas não
foram efectuadas de modo regular, pelo que os elementos disponíveis são, muitas vezes, em número muito
reduzido. Em 28 pontos de amostragem, para além de dados de transporte de sedimentos em suspensão,
existe uma informação mais completa relativa às amostras de material de fundo para a caracterização das
distribuições granulométricas e nas três estações da bacia do rio Lima apenas se recolheram amostras de
fundo. As campanhas efectuadas durante os anos 60 e 70, para estudos específicos de apoio a obras
hidráulicas, incluíram a recolha de dados em 3 diferentes locais das estações e num troço do rio Douro –
entre a Tapada do Outeiro e a Foz do rio Sousa. Adicionalmente, estas campanhas incluíram a medição de
caudal sólido por arrastamento.
No Quadro 10.3.5 apresenta-se o número de estações com dados de caudal sólido e granulometrias de fundo
para cada bacia hidrográfica onde se fizeram medições. Estes dados incluem as estações da rede da então
DGRAH e os locais de amostragem que constam dos diversos relatórios publicados pelo LNEC.

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Década de 60 Década de 70
Década de 80 Década de 90

Figura 10.3.27 – Estações com Medição de Caudal Sólido em Funcionamento nas Décadas de 60 a 90

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Quadro 10.3.5 - Número de Estações da Rede Sedimentológica em Funcionamento até 1993/94 por Bacia
Hidrográfica
Bacia Tipo de Informação
Hidrográfica Caudal sólido Caudal sólido Granulometria
por arrastamento em suspensão de fundo
Âncora 0 1 1
Lima 0 0 3
Douro 1 12 6
Vouga 0 12 0
Mondego 3 24 1
Tejo 3 32 6
Lis 0 2 0
Sado 0 8 3
Guadiana 0 18 12
Ribª. Aljezur 0 1 0
Gilão 0 1 1
Ribª. Quarteira 0 1 0
Portugal 7 112 33

Na Figura 10.3.28 apresenta-se a localização das estações da rede sedimentológica em funcionamento até ao
ano hidrológico de 1993/94, classificadas pelo tipo de informação recolhida e número de anos de dados de
funcionamento da estação.

Figura 10.3.28 - Conteúdo Informativo da Rede Sedimentológica em Funcionamento até 1993/94

10.3.5.2. Rede Sedimentológica Proposta


Tem-se como objectivos principais da rede sedimentológica:
 determinação de caudais sólidos transportados e volumes depositados;
 estabelecimento de relações caudal líquido/caudal sólido;
 caracterização granulométrica dos cursos de água;
 caracterização química dos sedimentos;

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 avaliação das alterações funcionais de obras e estruturas hidráulicas;


 garantir a existência de um conjunto de dados para calibração e validação de modelos matemáticos.
As mesmas preocupações que se fizeram sentir no início das campanhas de medição de transporte sólido e
sedimentação em albufeiras, tomam agora proporções muito maiores e mais determinantes, uma vez que se
transita de uma concepção de rede de suporte a grandes obras hidráulicas para uma rede onde a componente
de qualidade ambiental é a sua base estruturante. No entanto, não foram descuradas as acções de apoio à
segurança de estruturas hidráulicas, entrando estas no domínio das redes específicas.
Também ainda no domínio das redes específicas, foram contempladas acções de monitorização e fiscalização
das extracções de inertes, onde deverão ser efectuados levantamentos batimétricos e medições de caudal
sólido e recolha de amostras de fundo, a montante e jusante dos locais de extracção de areias.
Um dos principais objectivos da nova rede sedimentológica, no seu papel de rede de referência, é a
determinação da deposição de sedimentos em albufeiras e identificação de mecanismos de erosão/deposição
em cursos de água (a partir de levantamentos batimétricos) e a caracterização do transporte sólido em cursos
de água. Na Figura 10.3.29 apresenta-se a localização das estações da rede sedimentológica a implementar
classificadas por tipo de estação: em albufeiras e em cursos de água.

Figura 10.3.29 - Localização das Estações da Rede Sedimentológica em Implementação


No Quadro 10.3.6 apresentam-se as principais características das albufeiras que fazem parte da nova rede
sedimentológica e as datas dos levantamentos batimétricos efectuados até 1998. Para cada albufeira é
apresentado o valor de um índice de prioridade para execução dos levantamentos batimétricos onde se
ponderam factores como: existência de levantamentos batimétricos anteriores; urgência de serviço; índice de
erosão potencial da bacia própria de cada albufeira; número de anos de funcionamento; incidência da
sazonalidade no armazenamento e, estado trófico da albufeira nos meses preferenciais para o levantamento.

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Quadro 10.3.6 – Principais Características das Albufeiras que Integram a Nova Rede Sedimentológica

BACIA DADOS EXISTENTES FREQUÊNCIA DE


NOME CURSO ÁGUA M P PERÍODO DE FUNCIONAMENTO REGIÃO
HIDROGRÁFICA Qsa Qss Gr AMOSTRAGEM

Bouças Minho 167 468 566 758 Minho - Mensal Norte


Casais Minho 194 291 575 253 Minho - Mensal Norte
Cavada Coura 145 850 546 875 Minho - X Trimestral Norte
Pte. Lima/S.João Lima 162 325 533 731 Lima 1989/90 Mensal Norte
Barcelos/Pte.Nova Barcelos Cávado 159 105 506 506 Cávado - Mensal Norte
Pte. Junqueira Este 153 606 491 236 Ave - Trimestral Norte
Pte. Ave Ave 154 183 487 067 Ave - Mensal Norte
Pte. Cavez Tâmega 220 178 504 660 Douro - Trimestral Norte
Pte. Remondes Sabor 311 027 492 557 Douro - Trimestral Norte
Pte. Pedra Tuela 282 160 521 794 Douro 1980/81 a 1984/85 X X Trimestral Norte
Castanheiro Tua 262 155 474 787 Douro - Trimestral Norte
Q.das Laranjeiras Sabor 290 053 471 283 Douro - Trimestral Norte
Foz do Sousa Sousa 169 057 458 514 Douro - Trimestral Norte
Pte.Vale Telhas Rabaçal 273 933 518 464 Douro 1980/81 a 1983/84 X X Trimestral Norte
Pte. Bateira Paiva 191 501 452 314 Douro - Trimestral Centro
Sarzedinho Torto 252 324 465 485 Douro 1980/81 a 1987/88 X X Trimestral Centro
Q.Castelo Borges (Pt.Sta.Leucádia) Tedo 241 420 464 027 Douro 1980/81 a 1987/88 X X Trimestral Centro
Cidadelhe Côa 286 990 438 664 Douro - Trimestral Centro
Pte. Minhoteira Antuã 168 206 423 472 Vouga 1980/81 X Trimestral Centro
Pte. Vale Maior Caima 172 086 413 770 Vouga 1980/81 X Trimestral Centro
Ribeirada Vouga 183 415 419 012 Vouga 1980/81 a 1983/84 X Mensal Centro
Vouguinha Vouga 227 480 423 149 Vouga - Mensal Centro
Pte. Águeda Águeda 173 353 400 285 Vouga - Trimestral Centro
Nelas Mondego 226 282 392 388 Mondego - Mensal Centro
Pte. Faia Mondego 269 538 400 316 Mondego 1980/81 a 1982/83 X Mensal Centro
Sobral Dão 207 355 387 286 Mondego - Trimestral Centro
Pte. Conraria Ceira 177 857 356 099 Mondego - Trimestral Centro
Pte. Mucela Alva 194 355 364 675 Mondego 1984/85 X Trimestral Centro
Pte. Casal Rola Pranto 149 660 339 300 Mondego 1972/73; 1978/79 a 1984/85 X X X Trimestral Centro
Pte. Casével Ega 164 039 351 001 Mondego 1972/73; 1978/79 a 1983/84 X X X Trimestral Centro
Pte. Mocate Arunca 156 884 346 072 Mondego 1972/73; 1978/79 a 1983/84 X X X Trimestral Centro
Pte. Mestras Lena 140 624 308 705 Lis 1978/79 a 1981/82 X Trimestral Centro
Aç. do Arrabalde Lis 141 984 309 095 Lis 1978/79 a 1981/82 X Mensal Centro
Tornada Tornada 115 226 276 956 Oeste - Trimestral Centro
A-dos-Cunhados Alcabrichel 98 955 243 448 Oeste - Trimestral Centro
Colares Ribª Colares 85 916 204 748 Oeste - Trimestral Centro
Pte. Munheca Ponsul 268 473 321 519 Tejo - Trimestral Centro
Almourão Ocreza 232 962 307 159 Tejo - Trimestral Centro
Fábrica da Matrena Nabão 178 773 284 664 Tejo 1978/79 a 1981/82 X Trimestral Centro
Pernes-Pte.Ribeira Alviela 154 632 269 223 Tejo 1978/79 a 1981/82 X Trimestral Centro
Pte. Himalaia Almonda 165 175 269 875 Tejo - Trimestral Centro
Almourol Tejo 179 158 276 768 Tejo 1972/73 a 1993/94 X X X Mensal Centro
Tramagal Tejo 192 210 275 726 Tejo 1972/73 a 1993/94 X X X Mensal Centro
Ómnias Tejo 152 990 250 944 Tejo 1970/71 a 1992/93 X X X Mensal Centro
Pte.da Ota Ribª de Ota 126 385 237 979 Tejo 1978/79 a 1981/82 X Trimestral Centro
Pte.Couraça Grande da Pipa 127 252 227 763 Tejo 1980/81 a 1981/82 X Trimestral Centro
Moinho Novo Sôr 209 072 250 901 Tejo 1980/81 a 1986/87 X X Trimestral Sul
Pte.Vila Formosa Ribª de Seda 230 065 249 566 Tejo 1980/81 a 1986/87 X Trimestral Sul
Figueira e Barros Ribª de Avis 234 056 231 017 Tejo 1985/86 a 1986/87 X Trimestral Sul
Pte. Pomar Ribª Marateca 168 756 179 135 Sado 1980/81 a 1991/92 X X Trimestral Sul
Alcáçovas-Valverde Ribª Alcáçovas 203 379 164 836 Sado - Trimestral Sul
Moinho da Gamitinha Sado 176 212 121 356 Sado 1980/81 a 1981/82 X X Mensal Sul
Pte. S. Domingos Ribª S. Domingos 164 059 107 494 Sado 1980/81 a 1991/92 X X Trimestral Sul
Badoca Ribª Badoca 143 180 123 197 Costa Alentejana - Trimestral Sul
Monte Pisão Caia 274 199 238 294 Guadiana 1980/81 a 1986/87 X Trimestral Sul
Monte da Vinha Guadiana 291 036 207 690 Guadiana 1980/81 X Mensal Sul
Vendinha Degebe 239 599 165 728 Guadiana 1980/81 a 1986/87 X X Trimestral Sul
Ardila Ardila 263 202 133 315 Guadiana 1979/80 a 1980/81 X Trimestral Sul
Monte Arregota Lapa 227 434 98 766 Guadiana 1980/81 a 1989/90 X X Trimestral Sul
Monte da Pte. Cobres 224 925 96 014 Guadiana 1980/81 a 1989/90 X X Trimestral Sul
Pulo do Lobo Guadiana 244 040 93 011 Guadiana 1980/81 a 1984/85 X X Mensal Sul
Oeiras Ribª Oeiras 237 163 77 284 Guadiana 1981/82 a 1989/90 X X Trimestral Sul
Vascão Ribª Vascão 249 095 61 560 Guadiana 1979/80 a 1989/90 X X Trimestral Sul
Pte.Pereiro Ribª Aljezur 142 373 38 803 Algarve 1979/80 * X Trimestral Sul
Pte. Rodoviária Quarteira 196 378 17 206 Algarve 1979/80 X Trimestral Sul
Bodega Ribª de Alportel 238 350 21 640 Algarve 1979/80 a 1990/91 X X Trimestral Sul

* Dados da estação de Cerca dos Pomares na Ribª. de Aljezur a poucos metros para montante

Em complemento ao referido em 5.7, tendo em conta que as alterações dos regimes de transporte sólido, leva
obviamente a uma modificação da dinâmica natural dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos, por vezes
bastante profunda, a monitorização sedimentológica incluiu não só a determinação dos volumes de
sedimentos transportados e depositados e a caracterização granulométrica, química e biológica dos
sedimentos, como também a caracterização ecológica destes ecossistemas. Com efeito, esta preocupação de
monitorização física, química e biológica do leito dos meios lóticos e lênticos, para caracterização dos
ecossistemas, vem contemplada na recente Directiva Quadro da Água, concretamente no Anexo V com o
objectivo de fornecer dados da geometria, estrutura e substrato dos fundos, que permitam classificar os
estados ecológicos e fixar normas de protecção das comunidades bióticas aquáticas nos sedimentos.

29/44 (10 - II)


PLANO NACIONAL DA ÁGUA
MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

10.3.6. Redes de Águas Subterrâneas


A prioridade que tem sido dada aos sistemas aquíferos - em termos de estudos e acompanhamento da
evolução espaço-temporal dos recursos hídricos subterrâneos - deve-se, fundamentalmente, à incidência
progressiva, nestes sistemas, de grandes pressões antropogénicas, com elevados consumos de água e intensa
actividade industrial e agrícola, susceptíveis de contribuir para a degradação da qualidade da água dos
mesmos.
Neste contexto, as redes de monitorização de águas subterrâneas, incidindo preferencialmente no controlo
dos níveis de água subterrânea, iniciaram-se sensivelmente na década de 70 e desenvolveram-se
fundamentalmente no litoral designadamente nas Orlas Ocidental e Meridional bem como na Bacia do Tejo-
-Sado, mas sem abrangerem todos os sistemas aquíferos destas unidades hidrogeológicas.
As redes de monitorização de qualidade da água subterrânea, são bastante mais incipientes, uma vez que
poucos sistemas são controlados periodicamente a nível qualitativo e com algumas deficiências a nível de
parâmetros e frequências de amostragem. Estas redes começaram a ser implementadas em Portugal na
década de 80, desenvolvendo-se fundamentalmente na Bacia do Tejo-Sado. Na Orla Meridional o controlo
períodico e sistemático da qualidade da água subterrânea nos diversos sistemas aquíferos iniciaram-se em
1995.
O desenho das redes de monitorização que estavam a operar em 1999, nas componentes quantitativa e
qualitativa encontram-se representadas na Figura 10.3.30.
Face à inexistência de redes de monitorização a nível nacional e à necessidade de se dar cumprimento às
exigências da legislação nacional e aos normativos comunitários, definiram-se os critérios que possibilitavam
às DRAOT implementação de redes expeditas.

REDE DE QUANTIDADE REDE DE QUALIDADE

Figura 10.3.30 - Redes de Monitorização de Águas Subterrâneas em 1999


A abordagem metodológica efectuada consistiu em atribuir uma densidade à rede piezométrica e à rede de
qualidade em três meios hidrogeológicos distintos - meios poroso, cársico e fracturado. Esta metodologia
expedita foi aferida pelas redes de monitorização em exploração pela DRAOT Algarve.

30/44 (10 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

As densidades consideradas adequadas para os objectivos traçados, segundo as características


hidrogeológicas do país, são as apresentadas no Quadro 10.3.7.

Quadro 10.3.7 - Densidades Estimadas para os Diferentes Meios Hidrogeológicos

Rede piezométrica Rede de qualidade


(Km2/piezómetro) (Km2/estação)
Meio poroso 20 40
Meio cársico 10 25
Meio fracturado 30 60
Meio indiferenciado 50 100
Maciço Antigo indiferenciado 80 150

Na rede de qualidade foram integradas preferencialmente captações de abastecimento público com o intuito
de se controlar a qualidade das origens de água de abastecimento às populações. Quanto à periodicidade da
rede de qualidade, e atendendo à estabilidade química que normalmente se verifica nestas águas, as
campanhas de amostragem realizam-se semestralmente, com uma amostragem na estação de águas altas e a
outra na estação de águas baixas.
Presentemente, as redes de monitorização de águas subterrâneas de referência cobrem os diversos sistemas
aquíferos e em termos qualitativos já se estendem às formações fracturadas do interior do país. Não obstante
a fraca aptidão aquífera que as formações fracturadas do interior do país apresentam do ponto de vista
hidrogeológico, estes tipos litológicos têm-se revelado importantes localmente para o abastecimento a
pequenos aglomerados populacionais. Numa primeira fase de implementação das redes nestas formações,
procurou-se avançar com a rede de qualidade possibilitando o controlo das origens de abastecimento público
às populações. Posteriormente, com os estudos que se estão a desenvolver para definição, nestas rochas, de
zonas de potencial hidrogeológico, ir-se-á implementar, preferencialmente, nestas zonas a rede piezométrica.
As redes de monitorização de qualidade e de piezometria de águas subterrâneas compreendem, actualmente e
na sua totalidade, respectivamente, 717 pontos de amostragem e 770 pontos de observação, distribuídos pelas
diferentes unidades hidrogeológicas conforme o Quadro 10.3.8.

Quadro 10.3.8 - Número de Pontos a Monitorizar por Unidade Hidrogeológica

UNIDADE HIDROGEOLÓGICA REDE DE QUANTIDADE REDE DE QUALIDADE


Bacia do Tejo-Sado 112 122
Orla Ocidental 199 111
Orla Meridional 139 76
Maciço Antigo 320 408
TOTAL 770 717

O desenho das redes de monitorização de águas subterrâneas, nas componentes quantitativa e qualitativa, e
que se encontram presentemente definidas, estão representadas na Figura 10.3.31.

31/44 (10 - II)


PLANO NACIONAL DA ÁGUA
MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

REDE DE QUANTIDADE REDE DE QUALIDADE

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Figura 10.3.31 - Redes de Águas Subterrâneas em 2000


Encontram-se também em exploração cinco redes específicas:

Reserva estratégica - visa a


preservação dos recursos
subterrâneos na zona de
influência do aproveitamento
hidráulico do Enxoé, que se
revelam de importância estraté-
gica para o abastecimento de
águas às populações locais.

Aterro sanitário - pretende


controlar a qualidade dos
Perímetro de rega - visa o controlo recursos hídricos subterrâneos
dos efeitos do perímetro de rega do da região de Alcanena através
aproveitamento hidroagrícola da da detecção atempada de
Apartadura sobre os recursos possíveis fugas de lixiviados
subterrâneos, nomeadamente, sobre passíveis de degradar a
o sistema aquífero de Escusa. mesma.

32/44 (10 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

Nitratos - visa proteger as águas subterrâneas da Meio cársico - tem como principal objectivo a
poluição causado por nitratos de origem agrícola, caracterização, quantitativa, dos recursos
dando cumprimento ao Decreto-Lei nº 235/97 de hídricos do Maciço Calcário Estremenho que é
3 de Setembro. Presentemente encontram-se um dos mais importantes sistemas aquíferos
designadas, em Portugal, através da Portaria nº cársicos do país e constitui uma das origens de
1037/97 de 1 de Outubro, três zonas vulneráveis água do sistema de abastecimento da região de
aos nitratos. Lisboa (EPAL).

N # LIS

Reguengo Fetal
#
Fungalvaz1
ALCAIDE ##
#
# Fungalvaz2
LENA
Alcaria
# #
CHIQUEDA Fórnea
#

ALMONDA
#
Vila Moreira
#
ALCOBERTAS
#
Alqueidão Mato #
# # # ALVIELA
Mata do Rei Mte Fidalga

Bocas
#

10.4. Monitorização da Orla Costeira


A gestão integrada da orla costeira portuguesa constitui um dos objectivos prioritários da política ambiental
do Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território, reflectindo não só a relevância que o uso
sustentado desta parte do território nacional tem em termos sócio-económicos, mas também o valor
ambiental intrínseco da faixa litoral.
A experiência e conhecimento actual mostram que o comportamento morfológico e ecológico da faixa litoral
em geral e dos sistemas naturais semi-encaixados que nela se encontram, apresenta uma grande sensibilidade
a perturbações, quer naturais quer induzidas por acções antrópicas. Estas perturbações são frequentemente de
carácter local, mas também podem ter origem afastada da costa, em resultado por exemplo de alterações no
regime fluvial de rios principais. Os seus efeitos ao longo da faixa litoral podem ser observados a grande
distância da sua origem, e por outro lado os impactes ambientais gerados, mesmo que reversíveis, podem
fazer sentir-se por dezenas ou mesmo centenas de anos
Assim sendo, constitui factor determinante e ponto de partida para uma efectiva gestão da orla costeira o
conhecimento da dinâmica dos seus processos litorais, sejam eles físicos, químicos ou biológicos, e da sua
distribuição e interacção no espaço e no tempo.
Considerando ainda a existência de efeitos acumulados anteriores, a crescente pressão humana a que está
sujeita a orla costeira e os sistemas naturais, e a influência da possível alteração significativa de factores
naturais de larga escala, como sejam a subida do nível médio do mar, a faixa litoral da costa portuguesa
apresenta já extensas zonas de elevada vulnerabilidade e risco, tornando-se portanto imperativo dar início à
sua monitorização, assumida como um processo contínuo e a longo prazo, de medições/observações,
modelação, análise e síntese para obtenção de informação e de conhecimento que permitam a caracterização
e previsão da evolução de factores ambientais e de infraestruturas, com vista à sua disponibilização efectiva e
à sua utilização no âmbito de projectos, programas e planos, bem como a gestão de potenciais conflitos entre
objectivos de desenvolvimento e de conservação ambiental.
O INAG está a definir e instalar uma rede de monitorização da orla costeira de Portugal Continental das
componentes Fisiografia Costeira e Qualidade da Água e Ecologia, cujos objectivos gerais são:

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MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

• Abordar de uma forma integrada toda a zona costeira, incluindo águas de transição (águas de interface
entre as zonas terrestre e marinha, ou águas costeiras isoladas do mar por barreiras terrestres: estuários,
rias e lagoas costeiras).
• Concebida para ajudar a responder a perguntas que poderão ser formuladas por entidades de gestão.
• Ter flexibilidade interna para acomodar novas metodologias que possam ser aplicáveis durante a sua
existência.
• Ser organizada por níveis hierárquicos, que permitam optimizar os custos em função dos requisitos de
informação.

10.4.1. Monitorização da Fisiografia Costeira


O Plano Geral de Monitorização, em execução, considera os seguintes aspectos:
• Caracterização da faixa litoral da costa portuguesa, em particular dos agentes da dinâmica litoral e das
relações causa-efeito entre estes agentes e o transporte sedimentar;
• Classificação geomorfológica da faixa litoral da costa portuguesa, com vista à definição de unidades de
gestão e monitorização costeiras numa perspectiva de gestão racional e integrada da orla costeira
portuguesa;
• Previsão e acompanhamento da evolução geomorfológica da faixa litoral da costa portuguesa, quer em
condições naturais, quer no âmbito de estudo de alternativas de projectos a desenvolver;
• Acompanhamento do estado e comportamento de obras marítimas, de modo que seja possível o
planeamento e execução eficiente de intervenções de manutenção e reparação;
• Diagnóstico das causas de perturbações morfológicas, a nível local e regional e definição de estratégias
para a avaliação de tendências e controle da erosão a longo prazo;
• Medições e observações dos agentes determinantes do regime de transporte sedimentar litoral,
nomeadamente agitação marítima, marés e correntes de deriva litoral;
• Aquisição, processamento e integração nas bases de dados do Sistema de Suporte à Monitorização, dos
dados relevantes para a gestão da faixa litoral que sejam correntemente medidos por outras instituições
nacionais e estrangeiras, nomeadamente no que respeita a registos e dados de agitação marítima ao largo,
níveis de maré e variáveis meteorológicas ao longo da costa portuguesa.

Figura 10.4.1 - Definição de Unidades de Gestão e Monitorização Costeiras

A c t u a liz a ç ã o e S ín t e s e
d e C o n h e c im e n to s

8 A g e n te s d a D in â m ic a L it o r a l
8 T r a n s p o r t e e B a la n ç o S e d i m e n t a r e s
8 G e o m o rf o lo g ia O c u p a ç ã o e U s o s d o S o lo
8 O b r a s M a r ít i m a s
8 C a r t o g r a f i a d a O r la C o s t e i r a

V U L N E R A B IL ID A D E e R IS C O
T e n d ê n c ia s d e E v o lu ç ã o d a C o s t a

C A E A C T E R IZ A Ç Ã O e C LA S S IF IC A Ç Ã O
d a O rla C o s te ira A d m in is tra ç ã o
Í n d ic e s M o r f o d in â m ic o s e O rd e n a m e n to
C é l u la s L i t o r a i s S e d im e n t a r e s d o T e r r it ó r io
M o r f o ló g ic a s

U n id a d e s d e G e s tã o C o s te ira
U N ID A D ES d e M O N IT O R IZ A Ç Ã O C O S TEIR A

R E D E N A C IO N A L
de M O N ITO R IZA Ç Ã O

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MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

10.4.2. Nível Nacional


A Rede Nacional de Monitorização da Orla Costeira compreende:
• Rede Geodésica do Litoral, que será dimensionada para permitir a referenciação de qualquer estação de
medição e quaisquer trabalhos de observação em qualquer ponto ao longo da orla costeira de Portugal
Continental. Prevê-se a necessidade de utilizar um mínimo de 60 estações geodésicas de referência. Estas
estações terão carácter permanente;
• Rede Nacional de Estações de Medição, encaradas como permanentes e cumprindo as seguintes funções:
• Obter dados e informações que sejam estratégicos para referenciar e acompanhar os agentes e
processos litorais dominantes ao nível das células sedimentares;
• Obter dados com vista à caracterização estatística de regimes dos agentes e processos litorais
dominantes, nomeadamente para a caracterização completa do clima de agitação ao longo de toda a
orla costeira;
• Obter dados com vista ao acompanhamento e previsão das tendências de evolução geral da linha de
costa a muito longo prazo.

Figura 10.4.2 - Rede Nacional de Monitorização

REDE GEODÉSICA
do
LITORAL

Estações de Medição

Rede Nacional Estações Estações Estações


Estações Permanentes de Longo Prazo de Médio Prazo de Curto Prazo

CÉLULAS LITORAIS UNIDADES de MONITORIZAÇÃO AD HOC


Calibração Modelos

10.4.3. Monitorização da Qualidade da Água e Ecologia


A monitorização dos ecossistemas costeiros tem evoluído muito no tempo, sofrendo adaptações devido a
alterações de enquadramento legal, ao desenvolvimento de novas ferramentas de avaliação, e ao
aparecimento ou identificação de problemas novos.
A recente aprovação pela União Europeia da Directiva Quadro da Água (DQA) veio introduzir novos
conceitos e obrigações, designadamente quanto à monitorização do estado ecológico das águas de transição e
costeiras.
No sentido de dar cumprimento a esta Directiva, mas também na convicção de que é indispensável que o
País disponha de dados e de informação actualizada e acessível sobre o estado das suas águas costeiras, o
INAG deu início ao processo que irá culminar no estabelecimento de um Plano de monitorização dos
aspectos da qualidade físico-química e ecológica.

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MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

10.4.4. Caracterização Geral do Plano de Monitorização da Orla Costeira


O Plano de monitorização irá abordar de uma forma integrada toda a área costeira, incluindo a faixa de
plataforma continental até 30km da linha de costa, bem como as águas de transição. Esta área deve ser
dividida em corpos de água, de acordo com os seguintes princípios:
• Águas de transição - cada sistema individual consiste num corpo de água;
• Áreas costeiras - devem ser divididas por adjacência a bacias hidrográficas ou sistemas de bacias
hidrográficas, por forma a serem integrados nos Planos de Bacia Hidrográfica.
O Plano procederá à caracterização inicial dos corpos de água definidos, usando para tal a informação já
existente sobre os mesmos, sobre as pressões, o estado, e os impactes.
Os corpos de água serão hierarquizados em termos de importância, de forma a determinar quais os que
deverão merecer a atenção de uma caracterização e monitorização mais detalhada, tendo em conta os
seguintes critérios:
• Incidência e gravidade de problemas ambientais - impactes antropogénicos intensivos, episódios
catastróficos, grau de modificação do estado natural;
• Importância ecológica - áreas protegidas, presença de espécies-chave, regiões de berço para aves e
peixes;
• Importância económica - usos, dependência da população local;
• Importância política - incumprimento de legislação, sujeição a tratados internacionais, regiões de
fronteira;
• Quantidade e qualidade de informação existente.
10.4.4.1. Planeamento da Amostragem
Tendo como base a importância relativa de cada corpo de água e os problemas específicos que se colocam
em cada caso, o Plano de Monitorização da Orla Costeira identificará os descritores a ser analisados.
Determinará ainda a frequência de amostragem de cada descritor e desenhará uma rede de monitorização que
garanta a observação da variabilidade espacial e temporal no interior de cada sistema.
Para cada corpo de água existirão dois tipos de monitorização:
• Planos de monitorização de vigilância - Planos de monitorização inicial para cada corpo de água, com a
duração de um ano, observando todos os descritores identificados. A frequência de amostragem terá pelo
menos de cumprir os mínimos exigidos pela Directiva Quadro da Água, devendo escolher e justificar
essa frequência.
• Planos de monitorização operacional - Os corpos de água que revelem problemas de gestão ou qualidade
inferior à considerada de referência, para qualquer elemento, serão alvo de planos de monitorização
operacional contemplando os elementos problemáticos.
A monitorização incidirá sobre os seguintes descritores:
Elementos Biológicos
Elemento Periodicidade de análise
mínima
Composição, abundância e biomassa de fitoplâncton 3 meses
Composição e abundância de outra flora aquática 3 anos
Composição e abundância de fauna invertebrada bêntica 3 anos
1 1
Composição e abundância de ictiofauna 3 anos
1
- apenas águas de transição

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Elementos Físico-Químicos
Elemento Periodicidade de análise
mínima
Transparência 3 meses
Condições térmicas 3 meses
Oxigenação 3 meses
1
Salinidade 3 meses
Nutrientes 3 meses
Poluição por substâncias prioritárias 1 mês
Poluição por substâncias descarregadas em grande quantidade 3 meses
1
- apenas águas de transição
Monitorização relativa a Problemas de Gestão Detectados

Problema de gestão Elementos


Eutrofização - Composição, abundância e biomassa de fitoplâncton
- Condições térmicas
- Oxigenação
- Salinidade
- Nutrientes
1
Contaminantes - Poluição por substâncias prioritárias
Agentes patogénicos - Agentes patogénicos presentes
1
- a frequência de amostragem mínima destes elementos é sempre mensal

Acesso à Informação
O Plano criará estruturas que permitam o acesso à informação obtida, tendo por princípio a existência de dois
públicos-alvo: os organismos de gestão e de estudos técnicos e científicos e o público em geral.
O objectivo é a criação de um Sistema Nacional de Informação sobre a Orla Costeira, a integrar no Sistema
Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH).
Por último, e tendo em vista o desenvolvimento do interesse dos cidadãos pela condição da orla costeira, o
plano irá prever forma de os integrar na recolha de informação.

10.5. Monitorização de Usos da Água e das Ocupações do Domínio Hídrico


A actividade de planeamento, que em síntese converge em propostas de decisão sustentadas em ponderações
e balanços para distintos cenários e situações, carece de uma panóplia de dados essenciais para avaliar as
pressões, os riscos e os custos das actividades humanas e as respectivas evoluções passadas e tendências
actuais.
No essencial, para além dos dados e informações que as redes atrás caracterizadas potenciam, é fundamental
dispor de dados e informações sobre os usos da água e das ocupações do domínio hídrico desagregados no
espaço, no tempo, por sectores utilizadores e por tipo de sistema, de acordo com as análises que se necessita
efectuar.
Como se referiu na caracterização dos temas Usos, Consumos e Necessidades, Recursos Hídricos, Qualidade
e Usos da Água, Conservação da Natureza, Ordenamento do Território e do Domínio Hídrico, Situações de
Risco e Protecção Civil, Economia da Água, entre outros, a quantificação e a variação temporal e espacial
das respectivas variáveis são essenciais para a avaliação das situações de défice e stress hídricos, através de
balanços hídricos, avaliação das causas da qualidade da água, relacionando a presença de substâncias com as
suas origens e respectivos sistemas de drenagem e tratamento, avaliação dos valores ambientais a preservar,
avaliação de situações de risco relacionando a presença de instalações, actividades e infraestruturas de risco e
com actividades e utilizações dos recursos hídricos e as ocupações do domínio hídrico, etc, que de forma
agregada traduzem as pressões a que os recursos hídricos se encontram submetidos.

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MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

As utilizações dos recursos e domínio hídricos tem custos associados, uns directos e outros indirectos, cuja
avaliação só é possível quando haja dados para responder aos quanto? onde? quando? par quê? quem?
como? e, por vezes, porquê?.
Portanto, é incontornável que uma fundamentação segura das decisões carece de boas “estatísticas da água” e
de uma boa “contabilidade da água”, o que ainda não se dispõe na actualidade. Esta fragilidade estruturante
no planeamento e gestão dos recursos hídricos é, sobretudo, notória quando se pretende dar respostas aos
múltiplos inquéritos e pedidos de informação nacionais e internacionais, designadamente do Eurostat,
OCDE, Nações Unidas, Banco Mundial, Comissões Internacionais de Rega e Drenagem e das Grandes
Barragens, International Water Association, entre muitas outras.
As maiores lacunas de informação técnica detalhada verificam-se sobretudo nas áreas de abastecimento de
água às populações, indústrias, rega e população flutuante e respectivas águas residuais, não só no que se
refere a volumes, mas em especial no que se refere a equipamentos, sua localização, características. Razões
de natureza e de conceitos, níveis de desagregação distintos das unidades hidrográficas naturais de avaliação
e periodicidade são outros aspectos que limitam a utilização dos dados dos poucos levantamento sistemáticos
que se efectuam no país.
A par de uma boa cobertura de alguns dos valores de variáveis climáticas, hidrológicas e hidrométricas
assegurados pelo Instituto da Água, Instituto de Meteorologia, Direcções Regionais de Ambiente e
Ordenamento do Território e algumas empresas utilizadoras, caso do Grupo EDP, Associações de Regantes
ou Câmaras Municipais, Associação Portuguesa de Drenagem e Distribuidores de Águas (APDDA),
constata-se que as poucas estatísticas sobre a água existentes não estão orientadas para a actividade de
planeamento e gestão de recursos hídricos, muito especialmente as promovidas pelo Instituto Nacional de
Estatística (INE).
Para o conhecimento adequado da realidade sobre os recursos hídricos, para além do que as redes de
monitorização em exploração disponibiliza, são necessários dados e informações que este tipo de redes não
permitem obter, sendo preferível os inventários e os cadastros. Na área de abastecimento de água o INAG
tem promovido alguns levantamentos onde se destacam o Inventário Nacional de Saneamento Básico e o
Cadastro Nacional de Infraestruturas Hidráulicas, ambos incompletos por não abrangerem as Regiões
Autónomas dos Açores e da Madeira.
Os dados sobre a Agricultura, cuja importância advém do facto representar mais de 80% das utilizações
consumptivas da água, tem limitações para aplicação nas actividades de planeamento em gestão de recursos
hídricos dado que não estão referenciadas geograficamente as áreas de regadio, os tipos de culturas e de
método de rega praticados, os tipos de solos onde se praticam estes, as origens de água utilizadas, os tipos de
transporte e distribuição de água, etc.
Os dados sobre as actividades industriais e agro-pecuárias e respectiva utilização de água e do domínio
hídrico como meio receptor são elementos que não foram encontrados disponíveis em todo o processo de
planeamento em curso.
O maior fosso encontrado entre os elementos disponíveis e necessários nesta fase de planeamento foi o
relativo aos dados sobre os aspectos económicos e financeiros dos recursos hídricos, designadamente sobre
custos de investimentos, exploração e manutenção e também sobre ecossistemas aquáticos associados aos
recursos hídricos. Não só os dados são escassos como não tem as desagregações sectorial, espacial e
temporal necessárias.
Finalmente, e pela natureza sintética deste documento, apenas se destacam ainda as limitações dos dados e
informações sobre as infraestruturas e actividades susceptíveis de provocarem e sofrerem danos decorrentes
de situações de risco associadas a poluição acidental, cheias e rupturas de equipamentos, apesar do esforço
que recentemente o Serviço Nacional de Protecção Civil vem realizando nesse sentido, por um lado, e o
INAG por outro. Neste campo a avaliação das situações requer análises de risco associadas aos valores das
vidas humanas, saúde pública e valores económicos e patrimoniais, exigindo por isso inventariação de todos
os elementos que concorrem para essa avaliação.
Tão importante como o conhecimento das situações de estado, importa compreender a evolução passada dos
valores em jogo, pelo que as actividades de recolha e tratamento de dados e informação são actividades

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dinâmicas e em constante evolução, obrigando por isso a serem consideradas como actividades correntes
inerentes à administração dos recursos hídricos.
Tendo presente as funções promotoras do desenvolvimento associadas ao conhecimento, qualquer actividade
produtora de dados e informações só alcança os seus verdadeiros objectivos quando garante a
disponibilização ampla e atempada desses elementos a quem quer que deles careça ou neles possa ter algum
interesse, o que pode ser conseguido através dos actuais meios informáticas. Esta via tem na Educação e na
Formação os melhores veículos de difusão e aplicação

10.6. Monitorização do Estado das Águas no Âmbito da Directiva-Quadro da Água (DQA)


A monitorização a desenvolver no âmbito da Directiva Quadro da Água (DQA) tem essencialmente duas
finalidades: a avaliação do estado das águas (classificação e apresentação dos resultados) – monitorização de
vigilância – e o diagnóstico de problemas (desenvolvimento de soluções e acompanhamento da evolução
resultante dos programas de medidas aplicados) – monitorização operacional. Refira-se ainda que, em certos
casos, pode ser necessário estabelecer uma monitorização de investigação. No Artigo 8º e Anexo V são
apresentadas as especificações dos programas de monitorização das águas de superfície e subterrâneas e das
zonas protegidas.
Os programas de monitorização a estabelecer pelos Estados-membros devem proporcionar uma visão
abrangente e coerente do estado das águas nas regiões de bacia hidrográfica e estar operacionais seis anos
após a entrada em vigor da DQA. Estes programas devem incluir os seguintes elementos:
(i) para as águas de superfície:
- o volume e o nível de água ou caudal na medida em que seja relevante para a definição do estado
ecológico, estado químico e potencial ecológico;
- os parâmetros de caracterização do estado ecológico, estado químico e potencial ecológico
(ii) para as águas subterrâneas:
- os parâmetros de caracterização do estado químico e estado quantitativo
No caso das zonas protegidas os programas de monitorização devem ser complementados pelos requisitos
estabelecidos nas normas Comunitárias aplicáveis a estas zonas.

10.6.1. Monitorização das Águas de Superfície


Os programas de monitorização das águas de superfície deverão ser estabelecidos por forma a permitirem a
classificação do estado ecológico, ou quando aplicável do potencial ecológico, bem como do estado químico.
Com base na análise das regiões de bacia hidrográfica e avaliação de impactes das actividades humanas
sobre os meios hídricos, cada Estado-membro deverá estabelecer programas de monitorização de vigilância,
operacional e, em certos casos, de investigação.
Para todos os programas de monitorização as frequências de amostragem estabelecidas devem permitir a
obtenção de resultados com um nível aceitável de confiança e precisão. Assim, a monitorização deve ser
programada com o objectivo de fornecer os dados necessários para a análise de factores como a
variabilidade dos parâmetros em condições naturais ou alteradas e a variabilidade sazonal dos mesmos.
Pretende-se garantir que os resultados da monitorização reflectem as alterações provocadas pela actividade
humana.
10.6.1.1. Monitorização de Vigilância
A monitorização de vigilância visa fornecer uma avaliação do “estado das águas de superfície”, devendo ser
recolhida informação que permita a consecução dos seguintes objectivos:
- completar e validar a avaliação dos impactes das actividades humanas sobre os meios hídricos (Anexo II);
- avaliar as alterações de longo prazo das condições naturais dos meios hídricos;
- avaliar as alterações de longo prazo das pressões das actividades humanas distribuídas na bacia
hidrográfica;

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- desenvolver futuros programas de monitorização de forma eficiente e eficaz.


No âmbito da classificação do estado ecológico (Quadro 10.6.1), devem ser monitorizados os parâmetros
indicativos de todos os elementos de qualidade biológica, hidromorfológica e físico-química geral e os outros
poluentes com descargas significativas na bacia hidrográfica.
Quadro 10.6.1 - Elementos de Qualidade Utilizados na Definição do “Estado Ecológico”.

RIOS LAGOS ÁGUAS DE TRANSIÇÃO ÁGUAS COSTEIRAS


ELEMENTOS DE QUALIDADE BIOLÓGICA
Flora aquática Flora aquática Flora aquática Flora aquática
Invertebrados bentónicos Invertebrados bentónicos Invertebrados bentónicos Invertebrados bentónicos
Peixes Peixes Peixes -
ELEMENTOS DE QUALIDADE HIDROMORFOLÓGICA
Regime hidrológico Regime hidrológico Regime de marés Regime de marés
Condições morfológicas Condições morfológicas Condições morfológicas Condições morfológicas
Continuidade do rio
ELEMENTOS DE QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA
Condições gerais Condições gerais Condições gerais Condições gerais
Poluentes específicos Poluentes específicos Poluentes específicos Poluentes específicos

Para a classificação do estado químico das águas devem ser monitorizados os poluentes incluídos na lista de
substâncias prioritárias que são descarregados na bacia hidrográfica, bem como os outros poluentes para os
quais existam normas de qualidade a nível Comunitário.
Quadro 10.6.2 - Frequências de Amostragem dos Elementos de Qualidade para os Programas de Monitorização
de Vigilância nas Diferentes Categorias de Meios Hídricos
FREQUÊNCIA (A – ANO ; M – MÊS)
ELEMENTO DE QUALIDADE RIOS LAGOS ÁGUAS DE ÁGUAS
TRANSIÇÃO COSTEIRAS
(1)
BIOLÓGICA
Fitoplancton 6M 6M 6M 6M
Outra flora aquática 3A 3A 3A 3A
Macroinvertebrados 3A 3A 3A 3A
Peixes 3A 3A 3A -
(2)
HIDROMORFOLÓGICA
Continuidade 6A - - -
Hidrologia contínuo 1M - -
Morfologia 6A 6A 6A 6A
(2)
FÍSICO-QUÍMICA
Temperatura 3M 3M 3M 3M
Balanço de oxigénio 3M 3M 3M 3M
Salinidade 3M 3M 3M -
Nutrientes 3M 3M 3M 3M
Estado de acidificação 3M 3M - -
Outros poluentes 3M 3M 3M 3M
Substâncias prioritárias 1M 1M 1M 1M
(1) A frequência pode ser reduzida com base no conhecimento técnico e na análise pericial.
(2) Para o período de vigência do Plano de Gestão de Bacia Hidrográfica o elemento de qualidade deve ser monitorizado pelo menos uma vez.

10.6.1.2. Monitorização Operacional


A monitorização operacional visa determinar o estado de todos os meios hídricos identificados como
susceptíveis de não cumprirem os objectivos ambientais e a evolução do seu estado em resultado da
aplicação dos programas de medidas. Estes meios hídricos são identificados através dos programas de
monitorização de vigilância ou da avaliação dos impactes das actividades humanas estipulada no Anexo II.
Também estão incluídos nos programas de monitorização operacional os meios hídricos onde ocorram
descargas de substâncias da lista prioritária.

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MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

Nos casos em que não exista legislação aplicável, a selecção dos locais de monitorização deve ser feita com
base no tipo de pressões a que os meios hídricos estão sujeitos. Assim, para os meios hídricos identificados
devem ser consideradas as seguintes situações:
- no caso de poluição pontual significativa deve ser proposto para cada meio hídrico um número
suficiente de locais de monitorização para avaliar a magnitude e impacte das fontes de poluição; no caso
de poluição por múltiplas fontes pontuais deve ser proposto um número suficiente de locais de
monitorização para avaliar a magnitude e impacte global das fontes de poluição;
- no caso de poluição difusa significativa deve ser proposto para um conjunto de meios hídricos
representativos um número suficiente de locais de monitorização para avaliar a magnitude e impacte das
fontes de poluição; a selecção dos meios hídricos é feita com base no risco relativo de ocorrência de
poluição difusa e de não cumprimento dos objectivos ambientais;
- no caso de pressões hidromorfológicas significativas deve ser proposto para um conjunto de meios
hídricos representativos um número suficiente de locais de monitorização para avaliar a magnitude e
impacte das pressões; os meios hídricos seleccionados devem indicar o impacte global das pressões
hidromorfológicas.
Como se pode observar, a monitorização é feita nos meios hídricos sujeitos a pressões significativas,
devendo ser monitorizados os parâmetros indicativos dos elementos de qualidade mais sensíveis às pressões.
No programa de monitorização operacional a frequência de amostragem dos parâmetros é estabelecida pelo
Estado-membro.
10.6.1.3. Monitorização de Investigação
A monitorização de investigação visa complementar as duas monitorizações anteriores, sendo aplicável nos
casos de falta de conhecimento sobre as causas responsáveis pelo não cumprimento de objectivos ambientais
e nos casos de avaliação da extensão e impacte da poluição acidental.
10.6.1.4. Monitorização das Zonas Protegidas
No âmbito da DQA as zonas designadas como protegidas são as seguintes:
− zonas designadas para captação de águas para a produção de água para consumo humano para mais do
3
que 50 habitantes ou 10 m /dia, de acordo com a Directiva 98/83/CE (água potável);
− zonas designadas para a protecção de espécies aquáticas com interesse económico significativo;
− águas designadas como águas de recreio, incluindo as águas designadas de acordo com a Directiva
76/160/CEE (águas balneares);
− zonas vulneráveis, designadas de acordo com a Directiva 91/676/CEE (poluição das águas por nitratos
de origem agrícola);
− zonas sensíveis, designadas de acordo com a Directiva 91/271/CEE (tratamento de águas residuais
urbanas);
− zonas designadas para a protecção de habitats ou de espécies em que o estado das águas seja um factor
importante de protecção, incluindo os sítios relevantes da rede Natura 2000, designados de acordo com
as Directivas 92/43/CEE (Habitats) e 79/409/CEE (Aves).
Para as zonas protegidas é necessário estabelecer monitorização complementar aos programas de
monitorização de vigilância, operacional e investigação. O Estado-membro deverá conciliar as obrigações de
monitorização estabelecidas nas directivas responsáveis pela classificação de cada uma das zonas protegidas
e na DQA.
As medidas complementares de monitorização para as zonas protegidas previstas na DQA são as seguintes:
Locais de Captação de Água para a Produção de Água Potável
Para os meios hídricos designados para a captação de água para a produção de água destinada ao consumo
3
humano que fornecem mais de 100 m por dia, em média, devem ser estabelecidos programas de
monitorização. Nesses meios hídricos devem ser monitorizadas todas as substâncias da lista de substâncias

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MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

prioritárias descarregadas nas águas em questão, bem como todas as outras substâncias descarregadas em
quantidades significativas que possam afectar o estado dessas águas e que são sujeitas a controlo de acordo
com a Directiva 98/83/CE (água potável). As frequências de monitorização dos parâmetros de qualidade são
apresentadas no Quadro 10.6.3.
Quadro 10.6.3 - Frequências de Amostragem das Águas
Destinadas à Produção de Água Potável

População servida Frequência


(n.º/ano)
< 10 000 4
10 000 a 30 000 8
> 30 000 12

Zonas de Protecção de Habitats e de Espécies


Os meios hídricos abrangidos pelas áreas de protecção de habitats e de espécies, designadamente as “Zonas
de Protecção Especial” da Directiva 79/409/CEE e as “Zonas Especiais de Conservação” da Directiva
92/43/CEE, devem ser objecto de monitorização quando forem identificados como susceptíveis de não
cumprirem os objectivos ambientais estipulados no Artigo 4º da DQA. Os programas de monitorização
deverão prolongar-se até que o estado das águas das zonas de protecção cumpram os objectivos relativos à
água específicos da legislação ao abrigo da qual foram designadas, bem como os objectivos ambientais.

10.6.2. Monitorização das Águas Subterrâneas


Os programas de monitorização devem ser estabelecidos com o objectivo de determinar o estado quantitativo
e o estado químico de todas as massas de água subterrâneas ou grupos de massas de água subterrâneas. Para
as águas subterrâneas identificadas como susceptíveis de não cumprirem os objectivos ambientais, os
programas de monitorização devem fornecer a informação necessária para desenvolver os programas de
medidas para prevenir a poluição e melhorar o estado das águas. Para as massas de água subterrâneas
transfronteiriças, os programas de monitorização têm por objectivo fornecer a informação necessária para
quantificar os fluxos de águas subterrâneas através das fronteiras e o transporte de poluentes pelas águas
subterrâneas.
Para as águas subterrâneas está previsto o estabelecimento de programas de monitorização de vigilância e
programas de monitorização operacional. A monitorização de vigilância visa fornecer uma visão geral do
estado químico das águas subterrâneas, sendo os programas estabelecidos para o período de vigência dos
Planos de Gestão de Bacia Hidrográfica. A monitorização operacional funciona como complemento da
anterior e visa fornecer informação relevante sobre as águas subterrâneas em risco de não cumprirem os
objectivos ambientais e para fundamentar as medidas adicionais que têm de ser adoptadas para prevenir a
degradação das águas em causa.
10.6.2.1. Monitorização do Estado Quantitativo
A rede monitorização do estado quantitativo das águas subterrâneas é estabelecida para avaliar o estado
quantitativo de todos os aquíferos ou grupos de aquíferos, incluindo a avaliação dos recursos hídricos
subterrâneos disponíveis.
A densidade de estações de monitorização deve ser estabelecida por forma a incluir um número suficiente de
estações representativas para estimar os níveis piezométricos em cada aquífero ou grupo de aquíferos,
atendendo às variações de curto e de longo prazo da recarga dos mesmos. Em particular para os seguintes
casos:
− em aquíferos identificados como susceptíveis de não cumprirem os objectivos ambientais, a densidade de
estações de monitorização deve ser suficiente para avaliar com adequado nível de confiança o impacte
das captações de água e das descargas nos aquíferos e nos níveis piezométricos;

42/44 (10 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


MONITORIZAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS

− em aquíferos transfronteiriços a densidade de estações de monitorização deve ser suficiente para estimar
os fluxos de águas subterrâneas, em termos de direcção e intensidade, através da fronteira do
Estado-membro.
10.6.2.2. Monitorização do Estado Químico
A rede de monitorização deve ser estabelecida para obter a informação necessária para uma caracterização
abrangente do estado químico das águas subterrâneas e para detectar tendências crescentes de poluição das
águas subterrâneas.
Com base na caracterização das massas de água subterrâneas e na avaliação do impacte ambiental das
actividades humanas, é estabelecido um programa de monitorização de vigilância para cada período de
vigência do Plano de Gestão de Bacia Hidrográfica. A partir dos resultados obtidos deve ser estabelecido um
programa de monitorização operacional aplicável às massas de água subterrâneas identificadas como
susceptíveis de não cumprirem os objectivos ambientais ou em que se detecte uma tendência crescente de
poluição das águas subterrâneas.
Programas de Monitorização de Vigilância
Os programas de monitorização de vigilância devem ser desenvolvidos com os seguintes objectivos:
− complementar e validar a avaliação de impacte ambiental das pressões das actividades humanas;
− disponibilizar a informação necessária para a avaliação das tendências de longo prazo nas variações dos
parâmetros de caracterização do estado químico resultantes das alterações das condições naturais e das
actividades humanas.
A rede de monitorização deve ser composta por um número suficiente de estações de amostragem
localizadas nas massas de água subterrâneas identificadas como susceptíveis de não cumprirem os objectivos
ambientais e nas massas de água subterrâneas transfronteiriças.
Os parâmetros a incluir na monitorização são os seguintes: oxigénio dissolvido, pH, condutividade, nitratos e
amónia. Para as massas de água subterrâneas identificadas como susceptíveis de não cumprirem os
objectivos ambientais devem também ser monitorizados os parâmetros indicadores das pressões das
actividades humanas a que as águas estejam sujeitas. Nas águas dos aquíferos transfronteiriços são também
monitorizados os parâmetros relevantes para justificar as medidas de protecção das águas necessárias para
assegurar os usos das mesmas.
Programas de Monitorização Operacional
Os programas de monitorização operacional são estabelecidos para complementar os programas de
monitorização de vigilância e têm os seguintes objectivos:
− determinar o estado químico de todas as massas de água subterrâneas ou grupos de massas de água
susceptíveis de não cumprirem os objectivos ambientais;
− detectar a eventual tendência de aumento da concentração de qualquer poluente a longo prazo provocada
pela actividade humana.
Os programas de monitorização operacional devem ser estabelecidos para todas as massas de água
subterrâneas ou grupos de massas de água identificados, através da avaliação dos impactes das actividades
humanas sobre as águas e dos programas de monitorização de vigilância, como susceptíveis de não
cumprirem os objectivos ambientais. A selecção dos locais de monitorização deve também reflectir uma
avaliação do grau de representatividade dos dados de qualidade de determinado local em relação à qualidade
global do aquífero ou grupo de aquíferos.
Os programas de monitorização operacional devem ser realizados nos períodos intercalares dos programas de
vigilância. A frequência de amostragem deve ser suficiente para detectar os impactes das pressões das
actividades humanas relevantes, mas no mínimo uma vez por ano.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
ECONOMIA DA ÁGUA

11. ECONOMIA DA ÁGUA

11.1. Introdução
O água é um recurso natural, renovável, escasso e imprescindível à vida humana, cuja disponibilidade, quer
em quantidade, quer em qualidade, exige a aplicação de elevados investimentos em infra-estruturas, quer
para satisfazer a procura de água no espaço e no tempo, quer para manter o meio hídrico em adequadas
condições de equilíbrio ambiental.
O aumento de consumo generalizado, a crescente urbanização e a degradação da qualidade das origens de
água, têm provocado a ocorrência de situações de escassez e uma consequente e progressiva valorização
económica do “Recurso Água”. Esta situação levou a ter-se começado a integrar as utilizações e os usos de
água no contexto de um Mercado da Água, pois a utilização da água e a sua disponibilização tem-se
mostrado capaz de gerar receitas suficientes para suportar a maioria dos custos, com destaque para os custos
dos serviços e dentro destes para os custos de exploração, manutenção e gestão.
Como recurso natural renovável, a água encerra algumas especificidades. Ao contrário de outros bens
ambientais, que por serem de propriedade comum, não permitem a exclusão dos seus utilizadores, nem a
existência de um mercado, a água tem, no entanto, uma valorização concreta, e obviamente uma valência
sócio-económica, mesmo que nem sempre de fácil quantificação.
Geralmente, a receptividade dos utilizadores à fixação de preços reais é baixa, função de uma tradição
histórica, em que a água é encarada como bem tendencialmente gratuito. Por isso, ainda existem preços
subsidiados (muitas vezes justificados por razões de competitividade das actividades económicas ou por
restrições orçamentais das famílias) ou preços em que apenas se recupera parte dos respectivos custos, como
é o caso de alguns tarifários, aplicados a sistemas que foram remodelados com apoio de comparticipações a
fundo perdido.
Para um melhor entendimento do mercado da água é necessário caracterizar os utilizadores, qual o uso que
fazem deste bem ambiental, bem como as entidades que intervêm no sector, quer sejam produtores directos,
quer assumam outras competências. É pois necessário entender a procura para além do abastecimento
público, como factor de produção em diversas actividades económicas. Por outro lado, interessa
esquematizar as relações entre os diversos agentes do mercado, em particular as competências e as funções
das entidades intervenientes.
As entidades produtoras envolvidas neste mercado têm um determinado enquadramento legal e institucional,
devendo estas entidades serem analisadas à luz das possibilidades de organização e de propriedade dos
sistemas existentes. Neste âmbito, é de referir a crescente intervenção de entidades privadas no negócio da
água, embora com reduzida relevância em termos globais e sem permitir verdadeiramente a figura da
privatização. É de referir igualmente o vazio legal existente, no que respeita à gestão de sistemas de fins
múltiplos, que são os sistemas predominantes no momento actual.
Para lá do regime económico e financeiro vigente, nomeadamente quanto ao grau de cobertura dos
investimentos e dos restantes custos, e de uma abordagem sócio-económica e ambiental mais lata, interessa
saber da eficiência da utilização da água, nomeadamente do nível de perdas, da qualidade do serviço, medida
em termos de cobertura das redes e qualidade da própria água.
Uma actividade fundamental dos estudos é a avaliação dos custos dos serviços de utilização da água, o que
conduz à aplicação de metodologias que, face à inexistência de um registo histórico sistemático dos custos
reais das infra-estruturas, consigam responder às questões de valorização económica da água e de
recuperação dos custos. No entanto, dificuldade maior será a avaliação dos custos ambientais e de escassez,
que requerendo metodologias de avaliação económica de recursos naturais, que apesar de se apresentarem
um corpo teórico bem definido, tem uma aplicação bastante subjectiva, podendo ser obtidos custos com alto
grau de variabilidade.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 1/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

Neste sentido, dentro do âmbito dos estudos a realizar neste capítulo, destaca-se pela sua complexidade e
volume de trabalho, a caracterização do Mercado da Água, envolvendo todos os usos e utilizações da água,
consumptivos ou não consumptivos, existentes no País, agrupados pelos sector utilizadores: População (rede
urbana); Indústria; Agricultura; Produção Eléctrica; Turismo e Outros.
A avaliação de custos será feita por sector utilizador, em termos dos valores anuais ou anualizados,
procurando estimar a totalidade dos custos de utilização da água, designadamente: custos dos serviços de
utilização de água (investimento, exploração, manutenção e administrativos); custos ambientais e custos de
recurso/escassez.
A avaliação de receitas será efectuada tendo em conta as taxas e tarifas em vigor e os volumes de água
facturada.

11.2. Abordagem ao Valor Económico da Agua e Caracterização dos Sectores Utilizadores

11.2.1. Considerações Gerais

A água tem características especiais que a diferenciam dos outros recursos naturais e que poderão explicar a
forma como a sua existência é vista pelo ser humano. Pelo facto de:
• existir na natureza em condições tais que permitem o seu consumo imediato;
• sem ela a vida não ser possível;
• o estado em que habitualmente se encontra na natureza (líquido) permitir o seu fácil manuseio e controle;
• se inserir num ciclo que permite a sua renovação e que se inicia, para o ser humano, no céu através da
precipitação, levou a que em muitas civilizações, a água tenha sido considerada como uma dádiva divina.
Independente disto ser ou não ser assumido, o facto é que a água sempre foi um recurso facilmente acessível
e absolutamente necessário a todos.
O crescimento populacional e a concentração urbana, alterou um quadro de livre acesso ao bem água, pois o
aumento do consumo implicou a necessidade de realizar avultados investimentos na captação, transporte,
tratamento e armazenamento de modo a satisfazer as necessidades dos diversos utilizadores em quantidade e
em qualidade, a que se associaram os investimentos de reposição do bom estado ecológico da água. Assim, a
água transforma-se num bem escasso, muitas das vezes com utilizações em competição. O Estado foi tendo
um papel bastante interventivo, quer aumentando a oferta pela construção de obras hidráulicas de grande
dimensão, quer controlando a procura com restrições legais ou económicas ao uso da água.
Uma gestão eficiente dos recursos hídricos passa pela garantia da produção e pela distribuição equilibrada
entre diversos utilizadores (actuais ou futuros). A produção pode ser aumentada através de investimento em
conhecimento e infra-estruturas, mas tal implica sempre a racionalidade do seu uso.
Por outro lado, existe um conjunto de problemas associados à gestão da água que encontram explicação na
teoria económica. As entidades responsáveis pela gestão da água têm concentrado a sua acção na gestão da
oferta e menos na gestão da procura.
Esta situação vem na sequência do incentivo à utilização da água e à melhoria da qualidade de vida, sem
grande controle sobre uma utilização racional e eficiente do recurso água. Por outro lado, grande parte dos
investimentos têm sido suportados pelo Estado (recuperados pelos impostos em desfavor das tarifas) ou
recebendo apoios a fundo perdido (enviesando os preços). Pese embora a introdução de novas entidades
gestoras com métodos empresariais, num contexto de implementação dos princípios do utilizador-pagador ou
poluidor-pagador, as tarifas são ainda inferiores aos custos. Esta tese é confirmada pelos estudos da
economia da água do PNA.

2/43 (11 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


ECONOMIA DA ÁGUA

Para finalizar, de notar que para além de uma concepção de mercado da água em sentido estrito, constituído
pelos fornecedores de serviços de água e pelos utilizadores, e que constituem o centro de gravidade do
sector, existe um mercado mais lato, onde gravitam, entre outras, as seguintes actividades:
• Investigação (fundamentalmente universidades e institutos);
• Formação/ensino;
• Concepção (estudos e projectos);
• Planeamento;
• Coordenação;
• Informação de base;
• Regulamentação e regulação;
• Fiscalização e controlo;
• Construção e reabilitação de infra-estruturas;
• Fornecimento (nomeadamente equipamentos);
• Gestão e exploração (por delegação);
• Outras.
Estas actividades são desenvolvidas, entre outras, pelas seguintes entidades:
• Administração pública;
• Empresas consultoras;
• Empresas de construção;
• Empresas fornecedoras;
• Universidades e institutos de investigação;
• Outras.

11.2.2. Utilizações e Usos de Água


Como recurso natural, a água é utilizada pelo homem de modo mais ou menos intenso em quase todas as
suas actividades, as utilizações de água que implicam a realização de infra-estruturas, que são habitualmente
agrupadas em:
• Abastecimento doméstico e público;
• Abastecimento industrial;
• Abastecimento à agricultura (rega e pecuária);
• Produção de energia.
Para além destas utilizações, onde na maior parte, a água é usada como meio de produção, a água pode ainda
ser utilizada como meio de transporte de bens e pessoas (navegação fluvial) e como meio diluídor e de
transporte de cargas poluentes.
A água constitui também uma componente fundamental do meio ambiente, sendo a qualidade ecológica da
água a base da sustentabilidade dos ecossistemas em geral e dos ecossistemas fluviais em particular, com
destaque para a fauna terrestre e aquática e para e flora ribeirinha. Um bom equilíbrio ambiental no ambiente
ribeirinho cria condições paisagísticas e naturais para a realização de uma vasta variedade de actividades de
lazer e recreio, como são a: pesca desportiva, actividades desportivas radicais, actividades de lazer e recreio,
etc..

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 3/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

Devido à grande variabilidade temporal da sua ocorrência, a água está associada também a situações de
calamidade, como são os casos de cheias e secas, situações que obrigam à realização de importantes medidas
estruturais e não estruturais na sua prevenção e controle.

11.2.3. A Economia do Recurso Água

11.2.3.1. Introdução
O recurso natural água e o ambiente em geral sempre estiveram presentes nas preocupações dos economistas
e de outros investigadores. A dotação de água de cada país, foi utilizada durante muitos anos, como
condicionante do processo de desenvolvimento (países com mais água seriam potencialmente mais ricos),
mas numa perspectiva tradicional de recurso sem especificidade. No entanto, a água tem características
particulares por se tratar de um bem público e por haver externalidades na sua produção ou consumo.
Por outro lado, ao contrario da perspectiva da economia tradicional, existe uma interacção entre o sistema
económico e o sistema natural, pelo que se torna necessário conhecer os aspectos técnicos da sua produção
pela natureza e da sua captação ou extracção pelo Homem. Tal como entendida nos nossos dias, a economia
da água deriva fundamentalmente da economia neoclássica e das teorias da gestão ambiental.
Embora seja possível aumentar a quantidade de água a disponibilizar para as diversas utilizações através de
obras de engenharia, existem limitações físicas e de sustentabilidade do meio hídrico, que levam a que se
aposte mais numa gestão da procura (utilização) e menos na gestão da oferta (disponibilidade de água).

11.2.3.2. A Questão das Externalidades


A produção ou a utilização da água provoca externalidades positivas (existem agentes que recebem
benefícios sem pagar o justo valor – caso dos utilizadores e outros beneficiários) ou negativas (existem
agentes que são lesados sem receber o justo valor - caso dos efeitos da poluição da água). Estamos em
presença de externalidades sempre que a utilidade ou produção de um indivíduo inclui variáveis reais cujos
valores são escolhidos por outros (pessoas, empresas, Estado, etc.) sem particular atenção aos efeitos no seu
bem estar. O decisor cuja actividade afecta a utilidade de outros não recebe (ou paga) em compensação dessa
actividade um valor igual aos benefícios (ou custos) marginais que dela resultam.
Um exemplo típico de externalidade negativa (ou custo externo) é a poluição provocada por uma
determinada unidade produtiva numa linha de água. São causados danos aos utilizadores a jusante (que terão
de incorrer em custos suplementares de tratamento), sem que o causador pague por isso. Não é só a função
de produção de um ou mais agentes que é afectada mas também a qualidade da própria água disponível para
as futuras utilizações (ciclo da água). Em última análise, todos somos afectados, inclusivamente o causador
da poluição.
Existem duas grandes teorias de gestão ambiental. A mais conservadora analisa o problema das
externalidades e defende o papel do Estado nesta matéria. A mais liberal defende que o importante é
estabelecer os direitos de cada agente, deixando o sistema funcionar sem intervenção do Estado, através do
pagamento directo de compensações entre os agentes envolvidos.
A generalidade dos países, nomeadamente Portugal e os seus parceiros europeus, possui uma matriz cultural
adequada a uma perspectiva mais conservadora na gestão ambiental. Os princípios do utilizador-pagador e
do poluidor-pagador, que como se verá vão ao encontro dos métodos económicos ou indirectos para
influenciar os agentes económicos para uma utilização óptima, enquadram-se na perspectiva de actuação do
Estado no ambiente.
Algumas das externalidades, tanto positivas como negativas, são uma consequência lógica da concentração
(ou congestionamento) de utilizadores e poluidores na mesma área, como é o caso do abastecimento e
rejeição de água nas grandes cidades, da rega e rejeição de água em áreas de cultivo intensivo, etc..

4/43 (11 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


ECONOMIA DA ÁGUA

Existe um conjunto de agentes que obtém benefícios com a água (traduzíveis monetariamente ou não) na
maioria dos casos a custo nulo, mas que tem um determinado valor para a sociedade (superior ao custo
suportado por quem beneficia). Este valor designa-se por “preço-sombra”. A quantificação deste valor
constitui um objectivo da maior importância, através da utilização de metodologias de avaliação económica
que serão abordadas no presente PNA.
A consequência é a existência de uma divergência entre o benefício ou custo marginal privado e social,
levando a que o equilíbrio encontrado não seja óptimo, isto é, não existe uma alocação eficiente da água.
Embora a economia seja uma ciência cada vez mais formalizada e matematizada, deve ter-se em conta que
esta se baseia nos comportamentos dos agentes. Cada um destes, mesmo que reconheça o interesse de uma
utilização racional e da conservação da qualidade da água, convencido que os restantes não adoptam este tipo
de medidas, não se sente incentivado a uma utilização racional (“dilema do prisioneiro” - o silêncio seria a
melhor solução para todos mas há sempre um que denuncia os outros por pensar que estes farão o mesmo).
Este utilizará os recursos hídricos de qualquer forma e sem restrições, pois sente que os outros também o
farão.
O consumo de água para uso doméstico/urbano é talvez o sector utilizador onde, apesar de algumas
distorções no preço, existe uma menor diferença entre o custo social e o custo privado.
11.2.3.3. Uma Abordagem Económica
A água como recurso renovável apresenta uma capacidade de reposição a taxas significativas quando
comparadas com a taxa de utilização.
Em termos grosseiros pode afirmar-se que a reposição da água não depende da quantidade disponível, ou
seja, é independente da sua utilização. A quantidade de água num dado momento será, em termos gerais, a
água disponível no momento anterior, adicionando a produção absoluta e deduzindo a que é retirada do
meio, nomeadamente para as utilizações em análise. Existe uma quantidade ambiental mínima de água
necessária, bem como uma quantidade máxima, limitada pelas condições físicas existentes. Um princípio,
imediatamente evidente, é que a utilização máxima sustentada seria aquela que permite manter
indefinidamente um nível constante e suficiente de água disponível.
A água permite a obtenção de benefícios por parte dos seus utilizadores, que em particular nas empresas tem
reflexo nos lucros. Desde que haja hipóteses de obtenção desse excedente, existirão novas empresas
interessadas em desenvolver determinada actividade, aumentando a procura da água. Como a empresa não
suporta os custos totais, o mercado não leva a uma situação de equilíbrio, o que seria normal em qualquer
outro bem. Numa óptica de desenvolvimento económico e social tem-se procurado responder pelo lado da
oferta, mas esta não é certamente infinita. Neste entendimento, o Estado deve utilizar os meios que tem ao
seu alcance para evitar o desperdício, embora satisfazendo a procura.
Em termos analíticos, prova-se que o ponto óptimo é atingido quando o benefício marginal actualizado de
3
utilizar um m adicional de água iguala o preço-sombra actualizado do recurso (custo de oportunidade para a
sociedade de conservar essa água). A diferença entre o custo privado e o preço-sombra pode ser anulado total
ou parcialmente através de um imposto que recaia sobre os utilizadores, preferencialmente em função da
quantidade utilizada.
A este respeito deverá ser referido que um dos problemas do estabelecimento de preços com internalização
de custos e benefícios externos tem a ver precisamente com algumas restrições ao óptimo enunciado. Em
primeiro lugar, existem limitações relativas ao peso dos custos de utilização da água nas despesas globais a
que os utilizadores têm de fazer face. Em segundo lugar existe a questão do grau de receptividade dos
utilizadores e das suas consequências políticas. Finalmente, sendo um bem essencial à vida humana, não
seria racional ir mais longe do que outros bens (com ou sem preço de mercado) que não incorporam todas as
externalidades provocadas pela sua produção ou utilização.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 5/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

Por vezes, a própria racionalidade financeira também pode apresentar algumas contradições, pois em
situações particulares conduz a uma utilização sem limites, permitindo obter elevados ganhos presentes, que
investidos a taxas elevadas vão permitir ter mais dinheiro no futuro do que o valor económico de ter
conservado a água naquele período (tudo depende da taxa de actualização).
O que fazer para influenciar os agentes para uma melhor utilização? Para tal existem os métodos directos
(métodos tradicionais de medidas técnicas de conservação - regulamentos) que limitam de alguma forma a
utilização (p.e. consumir apenas em determinadas situações particulares ou alturas do ano) e os métodos
indirectos (ou económicos), onde se incluem os desincentivos ou incentivos financeiros (impostos ou
subsídios), licenças, ou o estabelecimento de mercados de quotas de poluição hídrica (com um preço e
transaccionáveis). Os métodos económicos ou indirectos introduzem mecanismos que conduzem a uma
melhor utilização, dando um “sinal” comportamental aos agentes. Eventualmente pode afastar algumas
actividades económicas pouco eficientes.
O preço-sombra, que é um preço limite a que teoricamente a água poderia estar no mercado (para cada
utilização), apresenta algumas dificuldades de medição. A esta desvantagem acresce que esta internalização
deveria também incluir os custos de implementação e dos estudos. Os mais críticos referem ainda que estes
impostos, ao reverterem a favor do Estado, podem ser investidos em qualquer outro sector que não o da água,
introduzindo uma distorção do mesmo tipo da que se pretende evitar, e que sucede quando toda a
comunidade financia algo que beneficia apenas um determinado sector utilizador.
11.2.3.4. Critérios para Avaliação Económica do Recurso Água
Os estudos da economia da água avaliam o recurso água segundo duas vertentes:
• Financeira (ou económico-financeira) - a água é encarada numa perspectiva de sustentabilidade das
entidades com responsabilidades na oferta de água, nomeadamente dos fornecedores de serviços de
utilização de água. Neste caso, faz-se uma análise do equilíbrio económico-financeiro entre as
receitas captadas, fundamentalmente taxas e tarifas cobradas aos utilizadores, e os custos de
investimento, manutenção, exploração e administrativos. São tratadas questões como as fontes de
financiamento, nomeadamente a fundo perdido, dos preços e da capacidade orçamental da procura, e
dos custos administrativos suportados pelas entidades do Estado com intervenção total ou parcial no
sector da água;
• Económica (ou sócio-económica e ambiental) - a água é encarada como um bem económico cuja
valorização não se esgota na recuperação dos custos incorridos para permitir um determinado dado
nível de oferta, pois o seu valor para os utilizadores é bastante superior, nem nos intervenientes
directos no mercado, pois os benefícios induzidos para outros sectores e actividades económicas,
nem no valor de uso, dado que a água encerra igualmente um valor de opção e de existência. São
abordadas questões como as externalidades (custos ambientais e de escassez) e a sua internalização
total ou parcial nas taxas e tarifas (preço-sombra do recurso água) no sentido da sua utilização
racional.
Se relativamente à componente económico-financeira, e apesar da existência de utilizações a custo zero, tem-
se assistido gradualmente a uma tentativa de equilibrar custos e proveitos - nomeadamente nos sistemas
novos ou remodelados de abastecimento e tratamento de água às populações, ou cuja exploração é da
responsabilidade de entidades com orientação empresarial (empresas concessionárias, p.e.) - na componente
sócio-económica e ambiental há ainda um longo caminho a percorrer, não só pela inexistência de estudos
adequados e credíveis, mas porque a quebra filosófica com o passado exige vontade política e
consciencialização da procura. O uso progressivo da terminologia “mercado da água” encerra em si mesmo
algum significado de mudança, embora em termos formais, e à semelhança de outros bens ambientais, não
corresponda à definição de mercado da microeconomia.
Há pois algum caminho a percorrer até que exista receptividade dos utilizadores em suportar preços reais -
por oposição a preços subsidiados, muitas vezes justificados por razões de competitividade das actividades
económicas ou de restrição orçamental das famílias - e ainda mais preços-sombra (revertíveis para a
comunidade, por se ver privada de um bem com valor económico ou por sofrer danos resultantes das
utilizações da água). A implementação destes instrumentos económicos na gestão da água terá

6/43 (11 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


ECONOMIA DA ÁGUA

necessariamente de ser gradual e prudente, quer pela insuficiência de estudos e grau de variabilidade dos
resultados inerentes aos próprios métodos de valorização económica, quer pelas implicações sociais,
económicas, ambientais, e até políticas.

11.2.4. Caracterização dos Sectores Utilizadores


11.2.4.1. Considerações Gerais

A água e os recursos hídricos têm uma multiplicidade de usos e utilizações, que segundo o estabelecido no
âmbito dos estudos do Plano Nacional da Água, foram agrupados nos seguintes sectores:
• População (rede urbana);
• Indústria;
• Agricultura;
• Produção de energia eléctrica;
• Turismo;
• Outros sectores.

Estes sectores incluem os sistemas de infra-estruturas desde a captação de água no meio hídrico natural,
incluindo as infra-estruturas de armazenamento e regularização até ao consumidor final (edifício, unidade
fabril, estabelecimento comercial ou parcela agrícola) no que se refere ao abastecimento de água. Na
drenagem e tratamento de águas residuais incluem todas as infra-estruturas desde o consumidor final até ao
retorno ao meio hídrico natural.

A estimativa dos volumes captados no meio hídrico é feita no Capítulo 4. Neste capítulo é feita a estimativa
dos volumes facturados pelo consumidor final ou primário.

11.2.4.2. População (Rede Urbana)

A população (rede urbana), que também se pode designar por sector doméstico, é o sector utilizador de água
que integrado nas redes urbanas, incluem os sub-sectores de abastecimento de água e de drenagem e
tratamento de águas residuais, que satisfazem as necessidades das famílias (população). As redes urbanas ou
redes públicas drenam e abastecem igualmente outros sectores utilizadores, com destaque para os sectores
associados às actividades económicas: industria, comércio, serviços públicos, sector hoteleiro.

A exploração e gestão destes sub-sectores são da responsabilidade das autarquias locais no que se refere às
redes de distribuição (sistema em baixa), podendo ser geridos directamente, através de serviços
municipalizados, empresas municipais, ou geridos por empresas privadas através de concessões. Para
sistemas em alta, a exploração pode ser da responsabilidade directa dos municípios, de associações de
municípios, de entidades públicas (ou de capital público) - como são as empresas do grupo AdP - Águas de
Portugal, ou até de concessões ao sector privado.

O sector população inclui, para além da satisfação das necessidades da população, outros sectores ligados à
rede pública que não foram individualizados no âmbito do PNA, como são os estabelecimentos comerciais e
os serviços públicos.

Para se ter uma noção do tipo de entidades gestoras e da população servida pelas mesmas, apresentam-se os
Quadros 11.2.1 e 11.2.2.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 7/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

Quadro 11.2.1 - Entidades Gestoras no Abastecimento de Água à População (Rede Urbana)

Rede domiciliária Sistemas em "alta"


Tipo de Entidades Gestoras Entidades Gestoras Volume População Servida Entidades Gestoras Volume População Servida
produzido produzido
número % número % número % número %
(hm3/ano) (hm3/ano)
Câmaras Municipais 214 77.5% 218 3 099 574 38.2% 168 83.6% 143 2 183 289 26.9%
Serviços Municipalizados 51 18.5% 302 3 704 855 45.7% 20 10.0% 75 1 010 010 12.5%
Empresas Privadas de Capital 2 0.7% 69 557 782 6.9% 7 3.5% 383 4 311 048 53.2%
Maioritariamente Público
Empresas Privadas com Concessão 7 2.5% 25 340 884 4.2% 3 1.5% 17 204 462 2.5%
Municipal ou Intermunicipal
Empresas Municipais ou 2 0.7% 31 405 460 5.0% 2 1.0% 22 336 220 4.1%
Intermunicipais
Outros 0 0.0% 0 0 0.0% 1 0.5% 5 63 526 0.8%
Total: 276 100.0% 645 8 108 554 100.0% 201 100.0% 645 8 108 554 100.0%

Quadro 11.2.2 - Entidades Gestoras na Drenagem e Tratamento de Águas Residuais da População (Rede Urbana)

Rede domiciliária Sistemas em "alta"


Tipo de Entidades Gestoras Entidades Gestoras Efluente População Servida Entidades Gestoras Efluente População Servida
anual anual
número % número % número % número %
(hm3/ano) (hm3/ano)
Câmaras Municipais 217 80.7% 96 2 134 919 34.4% 198 80.8% 88 1 955 099 31.5%
Serviços Municipalizados 45 16.7% 145 3 182 747 51.2% 35 14.3% 94 2 103 588 33.9%
Empresas Privadas de Capital 2 0.7% 6 115 475 1.9% 6 2.4% 55 1 213 863 19.5%
Maioritariamente Público
Empresas Privadas com Concessão 2 0.7% 2 41 951 0.7% 3 1.2% 13 202 542 3.3%
Municipal ou Intermunicipal
Empresas Municipais ou 3 1.1% 46 738 467 11.9% 3 1.2% 46 738 467 11.9%
Intermunicipais
Outros 0 0.0% 0 0 0.0% 0 0.0% 0 0 0.0%
Total: 269 100.0% 295 6 213 558 100.0% 245 100.0% 295 6 213 558 100.0%

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ECONOMIA DA ÁGUA

11.2.4.3. Indústria
O sector indústria integra os sub-sectores: abastecimento de água e drenagem e tratamento de águas
residuais, envolvendo os sistemas integrados ou não na rede urbana. Nos sistemas em análise deverão ser
incluídas todas as infra-estruturas de abastecimento de água desde a captação até à entrada na unidade fabril
e as infra-estruturas de drenagem e tratamento de águas residuais, desde a unidade fabril até à drenagem,
tratamento e devolução ao meio hídrico do efluente tratado.
Este sector foi analisado, incluindo para além dos dois sub-sectores atrás indicados, a sua desagregação em
rede urbana e rede própria. É de referir que foram excluídas as redes internas das instalações fabris.

Quadro 11.2.3 - Abastecimento de água à Indústria

Sistemas Entidades Volumes


Gestoras Utilizados
(hm3)
Rede urbana Várias 41,5
Rede própria Individual 284,8

11.2.4.4. Agricultura
O sector utilizador associado à agricultura inclui a actividade de rega e a drenagem agrícola. O
abastecimento de água e a drenagem agrícola foram analisados por tipo de regadio (regadios públicos
(colectivos e tradicionais) e regadios privados e por tipo de rega (gravidade, aspersão e localizada).
A estimativa das áreas de regadio, bem como dos volumes de água utilizados são os apresentados no
Capítulo 4. Serão tidas em atenção as áreas beneficiadas/infra-estruturadas (para obter os custos de
investimento e de manutenção) e as áreas regadas (para os custos de exploração).

Quadro 11.2.4 - Abastecimento de água à agricultura

Volumes
Tipo de regadios Entidades gestoras Utilizados
(hm3)
Regadios públicos colectivos Associações de beneficiários 512
Regadios públicos tradicionais Junta de agricultores 535
Regadios privados Individual 4275

11.2.4.5. Produção de Energia Eléctrica


A forma como a água é utilizada e a disponibilidade de informação leva a que a análise deste sector
utilizador seja efectuada segundo os seguintes três sub-sectores:
• Grandes e médios aproveitamentos hidroeléctricos (Grupo EDP);
• Pequenos e médios aproveitamentos (pequenos produtores -mini-hídricas);
• Utilização de água no processo de produção termoeléctrica (Grupo EDP).
Neste sector foram tidas em conta as infra-estruturas directamente associadas à utilização da água, não tendo
sido consideradas as infra-estruturas eléctricas ou predominantemente associadas à produção de energia
eléctrica.
O sistema de produção hidroeléctrica será analisado através dos sistemas produtivos baseados nos grandes e
médios aproveitamentos, geridos fundamentalmente pelo Grupo EDP e dos pequenos e médios
aproveitamentos, geridos normalmente por produtores independentes, a que se chama vulgarmente mini-
hídricas.

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A utilização de água nas centrais de produção termoeléctrica representa uma parcela importante em termos
de volume de água utilizada (circuitos abertos de refrigeração) e/ou de investimentos (circuitos abertos e/ou
fechados). Embora este sub-sector pudesse ser incluído no sector industrial pelas características de utilização
que ele assume, considerou-se mais adequado a sua integração na produção eléctrica.
Quadro 11.2.5 - Produção de Energia

Volumes
Tipo de produção Entidades gestoras Turbinados
(hm3)
Grandes e médios aproveitamentos hidroelectricos Privadas (Grupo EDP) 82,560
Médios e pequenos aproveitamentos hidroelectricos Privadas (Grupos independentes) 3,000
Aproveitamentos termoelectricos Privadas (Grupo EDP) 1,360

11.2.4.6. Turismo
O Turismo é uma actividade económica com grande importância em Portugal, pelo que se decidiu destacar e
individualizar este sector, tendo em vista as actividades turísticas associadas à água. Neste sentido foram
avaliados economicamente os sub-sectores da hotelaria e das actividades de lazer e recreio, como são os
casos da pesca desportiva, golfe, navegação fluvial, praias fluviais, desportos radicais, etc..
A partir dos dados de caracterização das redes urbanas de abastecimento de água e de águas residuais, foi
avaliado o peso do sector hoteleiro, tendo por base a informação da ocupação hoteleira. No Capítulo 4 foram
estimados os volumes captados e neste capítulo os volumes facturados.
Para lá desta vertente, o turismo utiliza as potencialidades dos recursos hídricos, permitindo oferecer a quem
nos visita, uma vasta diversidade de actividades de lazer e recreio, como são os casos da pesca desportiva,
golfe, navegação fluvial, desportos radicais, pelo que se procurou valorizar economicamente estas
actividades.
11.2.4.7. Outros Sectores Utilizadores
Para além dos sectores utilizadores de água atrás referidos, existe um importante conjunto de outras
utilizações ou condicionantes à utilização do meio hídrico, que se podem agrupar nos seguintes sub-sectores:
• Controlo hídrico (cheias, secas e drenagem urbana);
• Pesca profissional e aquacultura;
• Conservação da natureza;
• Outras
O controlo hídrico é dividido nas seguintes áreas:
• Correcção torrencial e controle da erosão;
• Regularização fluvial e defesa e controle de cheias;
• Mitigação de situação de seca;
• Drenagem urbana.
Relativamente a muitos destes sub-sectores utilizadores não existem elementos estatísticos que permitam
avaliar a respectiva dimensão, pelo que a sua quantificação apresenta grandes dificuldades. Em qualquer
caso, tal não implica que não se possa realização uma análise qualitativa da sua dimensão.
11.3. Quadro Legal e Institucional de Referência
11.3.1. Considerações Gerais
A relevância do quadro legal e institucional de referência para a economia da água reside em primeiro lugar,
ao nível dos aspectos jurídicos essenciais, pela forte ligação entre os aspectos económicos e financeiros na
gestão da água e os princípios de direito do ambiente, de administração do ambiente, e de planeamento de
recursos hídricos.

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Em segundo lugar, ao nível da protecção da água, porque define os respectivos instrumentos directos
(regulamentos) e indirectos (económicos) de salvaguarda.
Em terceiro lugar, ao nível do modelo institucional, pela questão da articulação, atribuições e competências
das entidades da Administração Pública Estadual, Administração Pública Estadual Autárquica, e
Administração Regional Autónoma.
Finalmente, ainda no âmbito institucional, pelas formas de propriedade e gestão dos sistemas numa óptica
empresarial (por entidades públicas, privadas e mistas). Embora virada para o abastecimento de água e o
tratamento de águas residuais (populações), a legislação existente cumpre, nesta área, com os princípios
essenciais estabelecidos para a generalidade das utilizações.

11.3.2. Enquadramento Jurídico


O conjunto de legislação publicada com relevância para a economia da água pode dividir-se em dois grandes
grupos, tendo o primeiro uma aplicação genérica em relação aos recursos hídricos, e o segundo visando
sectores em particular.
No primeiro grupo têm especial relevância os D.L. nº 45/94, D.L. nº 46/94 e D.L. nº 47/94, de 22 de
Fevereiro. O D.L.nº 45/94 regula o processo de planeamento de recursos hídricos e a elaboração e aprovação
dos planos de recursos hídricos, nomeadamente dos PBH e do PNA, estabelecendo um conjunto de requisitos
fundamentais no processo de planeamento. O D.L. nº 46/94 estabelece o regime de licenciamento da
utilização do domínio hídrico, definindo 13 utilizações que necessitam de ser tituladas por licença ou
contrato de concessão. O D.L. nº 47/94 estabelece o regime económico-financeiro da utilização do domínio
público hídrico, onde está prevista uma taxa de utilização, destinada à protecção e melhoria do domínio
hídrico, e uma taxa de regularização, destinada a compensar o Estado pelos custos de investimento,
exploração e manutenção de obras de regularização de águas superficiais ou subterrâneas, legislação que
nunca chegou a ser aplicada na prática.
Relativamente aos sistemas de abastecimento de água e tratamento de águas residuais, pode afirmar-se que
se tratam de actividades de elevado interesse económico, quer para o sector público, quer para o sector
privado, sendo suportado financeiramente pelo Estado e pelos consumidores dos bens e serviços.
A delimitação dos sectores de actividade económica – Lei n.º 46/77 de 8 julho e D.L. nº 339/91 de 10
Setembro – vedava o acesso de empresas privadas a actividades julgadas vitais, pelo que estas eram
asseguradas exclusivamente pelo Estado. O D.L. nº 77/84 de 8 de Março define a responsabilidade da
administração central e local nos investimentos públicos.
A gradual liberalização económica e o reconhecimento dos problemas que afectavam a gestão da água e de
outros bens ambientais permitiu que tenha sido entretanto publicado um conjunto de leis que permitiam, por
um lado a reorganização do sector público, e por outro uma intervenção mais activa do capital privado.
Os sistemas eram geridos pelos municípios, ou pelos seus serviços municipalizados (também conhecidos por
SMAS) – com autonomia administrativa e financeira, mas sem personalidade jurídica (os contratos, p.e., têm
de ser outorgados pelo município). Em termos de gestão, os SMAS constituem já uma melhoria no sentido
da autonomização das actividades de exploração.
Numa fase em que os sistemas são assegurados fundamentalmente pelos municípios ou pelos SMAS, a
participação de empresas privadas no “negócio da água” vem pela via dos contratos de prestação de serviços
(exemplo: realização de análises laboratoriais à qualidade da água) ou através de contratos de gestão, em que
uma entidade privada gere um determinado sistema a troco de uma remuneração.
A necessidade de recolha de meios que permitam cobrir os custos dos serviços está contemplada na Lei nº
1/87 de 6 de Janeiro - Lei das Finanças Locais – que estabelece como receitas municipais as tarifas cobradas
no âmbito das actividades em causa. Igualmente, nos termos do disposto no D.L. nº 100/84 de 29 de Março,
compete às Câmaras Municipais fixar as tarifas pela prestação de serviços públicos pelos serviços municipais
ou municipalizados.

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O D.L. nº 412/89 de 29 de Novembro vem regulamentar as Associações de Municípios, que vêm permitir o
traçar de estratégias regionais globais. As Associações de Municípios foram aliás responsáveis por muitos
projectos de construção ou remodelação de sistemas candidatos a fundos comunitários, fazendo-se ouvir
mais facilmente perante as instituições nacionais e comunitárias.
O grande passo para o surgimento de entidades especializadas surge em 1993. O D.L. nº 372/93 de 29
Outubro vem definir claramente o conceito de Sistema Municipal e Multimunicipal e permitir o acesso de
capitais privados através de concessão. O D.L. nº 379/93 de 5 de Novembro define o regime legal de gestão
e exploração destes sistemas.
Os Sistemas Multimunicipais são entendidos como sistemas com elevado interesse nacional ou regional,
abrangendo pelo menos dois municípios, devendo por isso ser concessionadas a entidades públicas ou a
sociedades de capital maioritariamente público. Os restantes são classificados como Municipais (engloba os
Intermunicipais), podendo ser concessionados a empresas privadas ou maioritariamente privadas.
A partir do momento em que existem organizações específicas com métodos de gestão empresarial mais se
acentua a necessidade dos sistemas captarem as suas próprias receitas, evitando que os municípios suportem
o défice de exploração resultante de tarifas insuficientes (numa perspectiva de cobrirem os custos de
fornecimento dos serviços).
O D.L. nº 319/94 de 24 de Setembro vem estabelecer o regime jurídico e bases do contrato de concessão dos
Sistemas Municipais, e o D.L. nº 162/96 de 4 Setembro vem estabelecer o regime jurídico e bases do
contrato de concessão dos sistemas Multimunicipais. As disposições neles constantes são de grande
importância por estabelecerem as bases contratuais entre as partes, de forma a salvaguardar simultaneamente
a viabilidade económico-financeira da empresa, sem o qual não é possível garantir a qualidade do serviço, e
salvaguardar a capacidade do poder central ou local de fiscalização, e em último caso de rescisão unilateral
sem indemnização por incumprimento de deveres legais, contratuais, ou técnicos (deficiências graves no
serviço prestado).
Assim, a única forma de participação privada maioritária apenas existe na concessão, sendo que mesmo neste
caso não se pode falar em privatização, dado que são bens públicos. Embora a concessionária detenha os
bens durante o período da concessão, eles revertem para o estado ou para os respectivos municípios no seu
termo.
Finalmente, a Lei nº 58/98 de 18 de Agosto, Lei das Empresas Municipais, Intermunicipais e Regionais,
permite a criação de empresas públicas de âmbito municipal.
Em relação aos aproveitamentos hidroagrícolas destaca-se a importância do D.L. nº 47/94, embora não tenha
ainda sido aplicada, pelo que nos regadios colectivos públicos, concretamente no que se refere aos
aproveitamentos hidroagrícolas classificados como Obras do Grupo II, o regime económico e financeiro
vigente é o que resulta do D.L. nº 269/82, de 10 de Julho, relativo às obras de fomento hidroagrícola,
nomeadamente dos seus Artigos 57º a 69º. De acordo com este regulamento, o regime financeiro destes
aproveitamentos rege-se pela aplicação de uma "taxa de beneficiação" e de uma "taxa de exploração e
conservação".
A taxa de beneficiação é suportada pelos beneficiários, sendo liquidada pelas suas associações, e destina-se a
reembolsar o Estado na percentagem das despesas de investimento que não tiver sido considerada como
investimento a fundo perdido. Note-se que entre os beneficiários se incluem não só os proprietários de
prédios rústicos situados na zona beneficiada como também os utilizadores industriais directos da obra e as
autarquias locais consumidoras de água fornecida pelo aproveitamento (Art. 61.º). Aqui reside um dos
problemas jurídicos na gestão da água: a inexistência de legislação específica para aproveitamentos de fins
múltiplos.

11.3.3. Directiva-Quadro da Água


Uma das medidas mais importantes da política da água nos últimos anos, em que Portugal teve um papel
relevante, foi a adopção pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da União Europeia, em Outubro do ano
2000, da Directiva Quadro da Água (Directiva 2000/60/CE).

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11.3.3.1. O Que Estabelece a Directiva


Como a própria designação indica esta norma estabelece um quadro de acção comunitária para a protecção
das águas de superfície interiores, das águas de transição, das águas costeiras e das águas subterrâneas.
Em termos sintéticos e tendo em conta a opinião de alguns especialistas envolvidos na negociação, a
Directiva estabelece 4 conjuntos de questões fundamentais, a saber :
1ª Os objectivos (artº 4º)
2ª Análise económica das utilizações da água (artº 5º)
3ª Programa de medidas para os atingir (artº 11º)
4ª Os preços da água ajustados à sua utilização eficiente (artº 9º)
Os objectivos, descritos no artº 4º da Directiva Quadro da Água apontam para, num prazo de 15 anos, atingir
um bom “estado” das águas superficiais e subterrâneas e para o cumprimento das normas nas áreas de
protecção.
Em casos especiais, devidamente justificados, serão admitidas derrogações (no máximo 2, de 6 anos cada).
Quanto à análise económica das utilizações é estabelecido um prazo mais curto : 4 anos após a entrada em
vigor da Directiva. É um dos desafios mais prioritários, tendo por isso sido criado um grupo de trabalho
constituído por especialistas de todos os países membros com vista à adopção de uma metodologia
harmonizada que permita estabelecer comparações entre países com vista a aferir do seu cumprimento.
Trata-se do WATECO GROUP, em que Portugal participa representado pelo INAG.
Quanto aos programas de medidas para atingir os objectivos, a DQA obriga ao seu estabelecimento, no
prazo de 9 anos, e à sua operacionalidade no prazo de 12 anos.
No que se refere aos preços da água, o que se pretende com a DQA é um incentivo à utilização eficiente da
água, qualquer que seja a sua utilização através da imputação dos seus custos aos utilizadores.
Sobre esta matéria, importará realçar alguns aspectos básicos que se julgam da maior importância :
- O facto de ser o Estado membro o responsável pelo cumprimento da Directiva.
- O argumento de que são as Autarquias Locais que fixam as tarifas e que os responsáveis Autárquicos são
eleitos por sufrágio directo, não é relevante.
- O facto de que (embora não apareça explícito na Directiva) a preocupação fundamental seja (no caso da
prestação de serviços de abastecimento de água ou de águas residuais) da imputação aos utilizadores da
totalidade dos custos de exploração, manutenção e gestão dos empreendimentos bem como dos custos
ambientais associados às actividades. Em princípio, parece haver maior flexibilidade quanto aos custos de
investimento, embora não devam ser esquecidos.
- O facto de ser necessário comprovar estes dados, ou seja, as entidades gestoras terão de fornecer dados
fiáveis que comprovem contabilísticamente a situação.
- O facto da internacionalização dos custos não considerar apenas a vertente das obras e da sua exploração,
mas também os custos ambientais.
11.3.3.2. Como Adequar os Preços da Água
Tendo em conta que a qualidade da água na origem e no meio receptor nem sempre é da responsabilidade
das entidades que fornecem o serviço da água (água para abastecimento, recolha e tratamento de águas
residuais), julga-se que a aproximação aos custos reais deveria ser feita a vários níveis conjugando
instrumentos económico-financeiros, jurídicos e políticos.
Efectivamente será necessário sensibilizar as Autarquias Locais para esta nova Directiva e suas
consequências para o País, procurar adequar os instrumentos jurídicos às novas realidades (concessões em
fins múltiplos, revisão da legislação sobre licenciamentos, contratos-programa, regime económico-financeiro
do Domínio Público Hídrico, fiscalidade “amiga” do ambiente, etc) e procurar ajustar os instrumentos
económico-financeiros para que, de forma integrada, possam contribuir para atingir os objectivos

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 13/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

pretendidos (conjugação entre prazos de empréstimos e vida útil dos investimentos, conjugação entre
tarifários eventualmente mais elevados e benefícios fiscais, conjugação entre taxas a pagar a custos
associados, etc.).

11.4. Regime Económico-Financeiro

11.4.1. Aspectos Gerais


Um Regime Económico-Financeiro vocacionado para esta área deverá ter em atenção duas linhas mestras
fundamentais : a necessidade de aplicação do Princípio do Utilizador-Pagador como garante da equidade na
repartição e suporte dos custos e o cumprimento dos objectivos estabelecidos na Directiva Quadro da Água,
assegurando, enquanto país membro da União Europeia, a sua quota parte de responsabilidade numa gestão
da água mais adequada e sustentável.
Tendo em conta, que o que se acaba de expor, visa em última análise, garantir o melhor equilíbrio entre a
necessidade de satisfação dos utilizadores e a sustentabilidade da renovação dos recursos utilizados, julga-se
que o regime económico-financeiro, para ser eficaz, necessita que se conjuguem as três vertentes seguintes :
i) Adequação jurídica, económica e organizativa das entidades gestoras e prestadoras de serviços relativos
à água, no sentido da garantia da melhor qualidade de serviço em sentido lato, isto é : todas as
instituições que participam na gestão da água (desde a Administração Central à Local, passando pelos
Serviços Municipalizados e pelas empresas) devem ter as suas competências claramente definidas e as
estruturas adequadas ao desempenho das mesmas.
ii) Reconhecimento da crescente necessidade de parcerias entre o Estado e os Privados e da necessária de
regulação dum mercado tendencialmente monopolista (existe já um Organismo Regulador e há um
Plano Estratégico – PEAASAR).
iii) Adequação e integração dos diversos instrumentos económico-financeiros, no sentido dum efectivo
incentivo à prossecução da política da água, dentro duma estratégia perceptível por todos os
intervenientes e passível de ser aplicada de forma simples e eficaz.
Aqui se inserem :
• as fontes e os tipos de financiamento e seus beneficiários
• os tarifários
• a fiscalidade
• as taxas de utilização e outros

11.4.2. Taxas e Tarifas (o Modelo Existente)


O Regime Económico-Financeiro existente em Portugal e aplicável ao domínio da água, tem características
específicas que se relacionam com o tipo de utilização, com o regime de propriedade, com a natureza do
prestador de serviços, etc.
Por outro lado, convirá ter em atenção que o regime vigente abrange três casos-tipo, a saber :
1º caso : sempre que não existindo prestação de serviços, há a utilização de bens públicos ;
2º caso : para além duma utilização de bens públicos, há também uma efectiva prestação de serviços
públicos ;
3º caso : existe ainda o caso em que o bem é privado, estando a sua utilização apenas sujeita a normas de
licenciamento público. A situação mais típica é a das águas subterrâneas existentes em
propriedades privadas. Ao contrário do que acontece noutros países (Espanha, por exemplo), estas
águas são privadas e por isso não sujeitas ao regime económico-financeiro instituído por lei.
Assim, poderemos resumir o regime vigente de acordo com os casos tipificados anteriormente, do seguinte
modo :

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11.4.2.1. Utilização de Bens Públicos Relacionados com a Água Incluindo a Própria


Água, seja para Fins Consumptivos ou Outros
Esta utilização está sujeita a um sistema de taxas consagrada no Decreto-lei nº 47/94 de 22 de Fevereiro.
Estão previstos quatro tipos de taxa de utilização :
Taxa de Captação de Água
Esta taxa incide sobre a captação de água do meio natural e é calculada com base em três factores distintos :
- valor base a fixar pelo Governo
- quantidade extraída em metros cúbicos
- ponderação por factores de disponibilidade, de intensidade e segundo o sector económico utilizador.
Sempre que não exista medição directa, será calculada a quantidade com base em coeficientes específicos de
captação e de acordo com a CAE respectiva. Poderá ainda ser ponderada pelo coeficiente de restituição.
Taxa de Rejeição de Águas Residuais
Incide sobre a rejeição de águas residuais no domínio público hídrico.
A sua formulação tem em conta 3 factores :
- a quantidade rejeitada
- o tipo de carga
- o custo de tratamento adequado dessa rejeição, com a melhor tecnologia disponível.
Sempre que não existam dados suficientes para determinar a quantidade e a carga rejeitada, serão aplicados
coeficientes específicos. Estes coeficientes são determinados tendo em conta as quantidades de produtos
fabricados, a carga poluente tipicamente resultante e a CAE onde se insere o utilizador.
Taxa de Extracção de Materiais Inertes
Incide sobre a quantidade de materiais inertes extraídos dos rios ou correntes naturais. É calculada em função
da quantidade extraída (em m3) e do valor mínimo fixado no edital.
Refira-se que esta taxa não corresponde a cobrança do valor efectivo de venda dos inertes (quantidade x
valor) mas apenas a 10% daquele produto. Representando uma cobrança adicional de 10%, talvez se devesse
designar por sobretaxa.
Taxa de Ocupação de Terrenos e Planos de Água
Incide sobre a utilização privativa de faixas de terreno e planos de água inseridos no domínio público
hídrico.
É calculada em função da área ocupada ou utilizada, do tempo de utilização e do valor atribuído tendo em
conta os prédios contíguos.
Ainda prevista no Decreto-Lei nº47/94 e inserido neste 1º caso de utilização de bens públicos, existe outra
taxa :
Taxa de Regularização
Esta taxa incide sobre os caudais regularizados por obras hidráulicas construídas total ou parcialmente pelo
Estado.
A sua forma de cálculo baseia-se na distribuição dos custos anuais das infraestruturas pelos beneficiários
dessas regularizações.
A forma de distribuição desses custos deverá ser executada pelo Conselho de Bacia respectivo, tendo em
conta os dados sobre os custos fornecidos pela entidade que procedem aos investimentos.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 15/43 (11 - II)


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11.4.2.2. Utilização Simultânea de Bens Públicos e da Prestação de Serviços


Complementares
A crescente concentração da população em cidades, a exigência de melhores condições de vida, a começar
pelos serviços básicos, e a degradação do meio hídrico provocada pelas actividades económicas, com
particular relevância para a industria, vieram colocar à sociedade a obrigatoriedade duma gestão dos recursos
hídricos compatível e a consequente realização de uma vasta gama de prestações de serviços.
Poderá talvez dizer-se que a água deixou de ser apenas um recurso em estado natural de utilização para se
tornar também num produto industrial, embora com uma forma de comercialização particular.
Neste contexto, este 2º caso trata do pagamento dos serviços prestados (produto para consumo), que não se
confunde com as taxas de utilização estabelecidas no Decreto-Lei 47/94, sendo as duas taxas cumulativas.
Assim temos :
Tarifa de Consumo de Água
Esta tarifa é cobrada pelos fornecedores do serviço de água.
Em Portugal este serviço é em 1º plano prestado pelas Autarquias Locais, directamente ou através de
Serviços Municipalizados, de uma empresa municipal ou de um concessionário.
De qualquer modo a tarifa é sempre fixada pela Assembleia Municipal.
Em 2º plano, devemos considerar o Estado, que através da criação de Empresas Multimunicipais, tem
chamado a si a resolução dos problemas de maior importância regional. Neste caso a tarifa é fixada pela
tutela que detém a maioria do capital, embora os Municípios tenham habitualmente uma participação na
composição do capital social.
Estas tarifas são compostas em geral por 3 parcelas : 1 parte fixa, 1 parte variável em função do consumo e
do IVA.
Por outro lado, são habitualmente repartidas em escalões diferentes segundo o tipo de cliente: doméstico,
comercial, industrial, etc.
Tarifa de Recolha e Tratamento de Águas Residuais
Quase tudo o que se disse para o abastecimento é válido para as águas residuais.
Em todo o caso a tarifa deste tipo de serviço não está tão difundida, aparecendo em grande parte dos
Municípios, ainda sobre a forma de taxa de conservação de esgotos. Noutros casos, acumulam-se as tarifas e
as taxas.
Convém contudo referir que esta taxa de conservação não é habitualmente calculada em função da rejeição,
mas sim do valor patrimonial do imóvel servido.
Taxas e Tarifas na Agricultura
Dado que Sector Agrícola não é servido de água pelos Municípios, nem habitualmente pelas empresas
multimunicipais (excepto em alguns casos de empreendimentos de fins múltiplos), o regime em vigor é
também diferente. Tal como nos outros casos também este sector está sujeito às taxas do Decreto-Lei 47/94,
embora esteja prevista uma isenção por 10 anos.
Quanto ao serviço de abastecimento propriamente dito, estão previstos segundo o Decreto-Lei 269/82 de 10
de Julho, dois tipos de taxas:
- Taxa de Beneficiação :
É uma taxa que se destina a repor ao Estado as despesas que este realizou com as obras para fornecimento
de água.
- Taxa de Exploração e Conservação :
Destina-se a suportar todas as despesas de operação e manutenção do empreendimento e é suportado
pelos beneficiários, sendo fixada pela entidade gestora do aproveitamento.

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11.4.3. Taxas e Tarifas (adequação e grau de aplicação)


Exposto o modelo existente, importará ter uma percepção do seu grau de aplicação efectiva e da sua
adequação aos fins em vista.
11.4.3.1. Taxas de Utilização Previstas no Decreto-Lei nº47/94
Com excepção de algumas taxas de ocupação, aplicadas basicamente nas praias do litoral, nenhuma outra
taxa revista neste DL é aplicada, ou seja, não foram aplicadas as taxas de captação de água, as taxas de
rejeição de águas residuais, a taxa de extracção de materiais inertes e, em grande parte do território, a taxa de
ocupação de terrenos e planos de água.
Quanto à sua adequação julga-se que, apesar de se manterem actuais a maioria dos pressupostos do Regime
Económico-Financeiro do domínio público hídrico, consagrados neste Dec.Lei, será de todo necessário
proceder à sua revisão pelas seguintes razões :
1ª - Transmitir aos utilizadores que, apesar das hesitações na sua aplicação, se pretende, de uma forma clara,
consistente e mais realista, valorizar a água nas suas diversas utilizações, atribuindo-lhe um valor
baseado em argumentos técnicos que terá de ser suportado pelos utilizadores, e que irá ao encontro do
cumprimento no estabelecido pela Directiva Quadro da Água.
2ª Proceder a uma prévia avaliação económica das utilizações da água com vista ao estabelecimento de
valores-base para as taxas. Esta avaliação terá de ser realizada até 4 anos após a aprovação da Directiva
Quadro da Água.
3ª Corrigir as lacunas, imprecisões e omissões constantes do Dec.Lei que impossibilitam muitas vezes uma
aplicação coerente.
4ª Clarificar situações que parecem menos coerentes em termos da estratégia que as suporta, nomeadamente
no que se refere às isenções (por exemplo : porque estarão isentos os utilizadores das obras de fomento
hidroagrícola e não os restantes agricultores ?), no que se refere à taxa de extracção de materiais inertes
(porque razão esta taxa não inclui também o valor dos inertes ?), etc.
11.4.3.2. Taxa de Regularização Prevista no Dec.Lei 47/94
Esta taxa também não foi aplicada. Visando reembolsar o Estudo dos investimentos feitos em obras de
regularização, parece fazer sentido que seja analisada conjuntamente com a taxa de beneficiação, prevista
para os perímetros hidroagrícolas (Dec.Lei 269/82), e igualmente ainda não aplicada.

11.4.3.3. Taxa de Beneficiação e Taxa de Exploração e Conservação Previstas no Dec.Lei


269/82
A taxa de beneficiação (também prevista para reembolsar o Estado pelos investimentos feitos em
infraestruturas hidroagrícolas) também não foi aplicada julgando-se útil a sua avaliação conjunta com a taxa
de regularização.
Quanto à taxa de exploração e conservação, apesar de se encontrar em aplicação, não consegue cobrar
valores para autosustentar a exploração e conservação dos empreendimentos.

11.4.3.4. Tarifas de Consumo de Água


Utilizada por todas as entidades gestoras em troca de fornecimento de água potável, apresenta geralmente
uma estrutura semelhante na forma, mas de conteúdos diversos. A parte fixa da tarifa é geralmente muito
elevada e os escalões (embora existentes) nem sempre são os mais adequados.
Pelos dados apurados, estima-se que consigam cobrar cerca de 80% dos custos totais anuais com o
abastecimento de água.
Contudo este dado não poderá, em rigor, ser lido assim uma vez que através desta tarifa são cobrados muitas
vezes, em simultâneo, os custos com a colecta e tratamento das águas residuais. Se assim for, em média ,
conseguir-se-ia cobrir apenas 60% dos custos anuais com as duas componentes (abastecimento + águas
residuais).

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 17/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

11.4.3.5. Tarifa de Recolha e Tratamento de Águas Residuais


Esta tarifa nem sempre é claramente cobrada. Umas vezes não existe, sendo cobrado o seu valor com a tarifa
de consumo de água, outras vezes não existe como tarifa sobre o consumo ou a rejeição mas sim como taxa
fixada em função do valor do imóvel do utilizador.
O seu grau de cobertura de custos não ultrapassa os 20% embora, por vezes, haja uma parte coberta pela taxa
da água atingindo, em conjunto, 60% dos custos, como já foi referido.
Em todo o caso, em nome da transparência e da necessidade de obtenção de dados estatísticos e de gestão
para cumprimento da Directiva Quadro da Água, será necessário que estas tarifas sejam indexadas aos custos
que visam cobrir e calculadas em função da utilização racional que se pretende obter.

11.4.4. Financiamento
Apesar das taxas e tarifas representarem uma fonte de financiamento do sector não são contudo suficientes,
em muitos casos, sequer para assegurar os custos de gestão, operação e manutenção.
Por outro lado tendo em conta o atraso no desenvolvimento que se verificou neste sector durante décadas,
seria necessário um grande esforço financeiro para levar os principais indicadores a aproximarem-se dos
níveis europeus mais desenvolvidos.
Neste contexto, julga-se importante referir alguns acontecimentos que contribuíram e continuarão a
contribuir para esse objectivo.
1986 - A adesão de Portugal á União Europeia (então C.E.E.), pela troca de experiências que
possibilitou, pelo acesso aos fundos comunitários e ao Banco Europeu de Investimentos.
1987 - O apoio às Autarquias através dos contratos-programa.
1993 - A abertura do Sector à “empresarialização”
2000 - A adopção da Directiva Quadro da Água
Bastará observar o quadro seguinte para verificar o esforço que foi realizado ao nível do investimento em
abastecimento de água e recolha e tratamento de águas residuais e os resultados obtidos em termos de
progressão dos índices de atendimento.

De facto, verificou-se uma média de investimento de cerca de 50 milhões de contos por ano (julga-se que
será até um pouco superior), um crescimento do índice de abastecimento em 10 pontos percentuais e do
índice de tratamento e recolha de águas residuais de 34 pontos percentuais.

Convirá ainda referir que este salto só não é mais expressivo porquanto não expressa o aumento na qualidade
do serviço (menos falhas de abastecimento, maior controle de produto, etc).
Quadro 11.4.1 - Investimento (milhões de contos)

Ano Abast. Água Águas Residuais Total


1990 10,1 11,9 22,0
1991 15 ,2 18,0 33,2
1992 25,4 30,0 55,4
1993 30 ,7 25,6 56,3
1994 22,0 18,6 40,6
1995 21,1 23,0 44,1
1996 26,4 25,1 51,5
1997 37,5 32,1 69,6
1998 36,0 38,0 74,0
1999 21,4 19,9 41,3
2000 9,9 12,8 22,7
Total 255,7 255,0 510,7

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ECONOMIA DA ÁGUA

Quadro 11.4.2 - Índice de Atendimento (% da População Servida)

Ano Abastecimento de Água Águas Residuais


c/ tratamento
1990 79,6 21,0
1994 84,0 40,0
1999 90,0 55,0
2006 * 95,0 85,0
* Estimativa

As principais fontes de financiamento do Sector Água são as seguintes :


- Orçamento do Estado
- Contratos-Programa de apoio da Administração Central à Administração Local
- Financiamento bancário comercial às Autarquias e Empresas
- Fundos Comunitários de apoio à Administração Central, Autarquias, Empresas concessionárias, Indústria
e Agricultura
- Financiamento do Banco Europeu de Investimentos, ao Estado, Empresas Concessionárias e Empresas
municipais
- Taxas e Tarifas

11.4.5. Tipos de Instrumentos Económico-Financeiros disponíveis


Poderemos afirmar que existem basicamente três tipos de financiamento disponíveis, tendo em conta as suas
características :
• Subsídios directos (ou subsídios a fundo perdido)
As principais fontes são o Orçamento de Estado, os Contratos-Programa e os Fundos Comunitários
• Empréstimos (da Banca Comercial ou do BEI)
A sua concessão depende do grau de autonomia e capacidade de endividamento de cada entidade.
Por norma os do Banco Europeu de Investimentos tem um prazo de pagamento mais dilatado.
• Taxas e Tarifas
A sua magnitude, estrutura e grau de cobrança são determinantes da sua maior ou menor capacidade de
financiamento e auto-sustentabilidade financeira da entidade que os lança.

11.5. Caracterização do Mercado da Água

11.5.1. Considerações Gerais


O mercado da água deverá ser caracterizado tendo em conta os três aspectos seguintes:
• A procura de água, onde se identificam as necessidades de água e/ou os volumes de água
consumidos/facturados nos vários sectores;
• A oferta de água, onde se faz uma breve descrição das disponibilidades hídricas afectadas aos vários
sectores utilizadores, com distinção entre origem superficial e origem subterrânea;
• Os custos de utilização de água, onde se faz a avaliação dos custos, com particular destaque para os
custos dos serviços de utilização da água. É igualmente feita a avaliação das receitas cobradas.
A caracterização da procura e da oferta de água pelos vários sectores utilizadores é feita nos Capítulos 4 e 5,
onde são quantificados os consumos e necessidades de água a partir do meio hídrico, bem como as

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 19/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

disponibilidades de água. Neste capítulo é feita a avaliação dos volumes facturados ou consumidos no
utilizador final ou primário.
A avaliação dos custos de utilização da água foi uma das componentes dos estudos de economia da água, que
concentrou grande parte da atenção da equipa de estudo. Estes custos incluem os custos necessários para
suportar a extracção, tratamento, transporte e armazenamento da água e para a “recuperação da água” com o
objectivo de a devolver ao meio receptor natural com qualidade adequada (Custos dos Serviços de Utilização
da Água), os custos associados à escassez do recurso (Custos de Recurso ou de Escassez) e os custos
associados ao ambiente (Custos Ambientais).
Os Custos dos Serviços de Utilização da Água representam o conjunto dos custos necessários para a criação
e exploração de um sistema, ou seja, todas as despesas suportadas e a incorrer para, face a determinado uso
pretendido, se disponibilizar água com as características qualitativas e quantitativas necessárias, incluindo os
custos directos da sua devolução para o meio ambiente. Estes custos podem, simplificadamente, agrupar-se
em custos de investimento, custos de exploração e operação, custos de manutenção e custos de gestão e
administração (custos administrativos).
Os Custos de Recurso/Escassez, ou “Custos de Utilização do Recurso Natural” (OCDE, 1987), reflectem os
custos da degradação quantitativa e qualitativa do recurso água, tendo em conta as suas utilizações futuras e
a relação entre os utilizadores de jusante e de montante. Incluem-se igualmente os custos associados à sobre-
exploração dos recursos.
Os Custos Ambientais, ou “Custos das Externalidades ambientais” (OCDE, 1987), traduzem os custos dos
efeitos externos negativos causados pela degradação quantitativa e qualitativa do recurso água, estando
associados aos custos necessários para repor o seu estado natural (em quantidade e qualidade), impondo no
meio hídrico uma boa qualidade ecológica.
Os Custos dos Serviços de Utilização da Água foram analisados de modo detalhado, apresentando-se para os
Custos de Recurso/Escassez e os Custos Ambientais apenas uma avaliação sumária, com base em dados
bibliográficos.

11.5.2. Metodologia Aplicada


A avaliação dos custos da utilização da água foi feita, tendo em conta todas as utilizações de água existentes
em Portugal Continental, procurando envolver todas as infra-estruturas hidráulicas existentes (inventariadas)
no Continente, relacionadas com a água.
A falta de uma informação adequada para o cálculo dos custos, veio reforçar a importância das metodologias
a utilizar. Assim, considerou-se fundamental aplicar uma metodologia facilmente actualizável, adaptada aos
“grandes números”, e usando diferentes processos de avaliação que permitam, cruzando os resultados
obtidos, torná-los mais seguros e consistentes.
Os custos de investimento foram obtidos pressupondo que as infra-estruturas eram construídas hoje. Estes
valores procuram representar os custos reais das infra-estruturas, independente de qualquer tipo de subsidio
ou de financiamento a fundo perdido. A avaliação dos custos foi feita a partir do cadastro das infra-estruturas
e da aplicação de preços unitários ou índices de custo.
Tendo em conta os objectivos principais a alcançar, em particular a análise da recuperação dos custos a partir
das receitas, houve que proceder à transformação dos encargos totais associados aos investimentos em infra-
estruturas e equipamentos de carácter plurianual num custo financeiro anualizado, recorrendo para isso ao
cálculo do respectivo custo anual equivalente, obtido através do factor de reposição do capital (FRC)1, tendo-
se utilizado uma taxa de actualização de 5%.

(1) A utilização do custo anual equivalente permite a comparação de investimentos que diferem entre si quanto aos respectivos montantes e
períodos de vida útil, transformando-os numa renda anual de valor actual financeiramente equivalente aos custos de investimento
actualizados. O seu cálculo recorre à multiplicação do valor actual dos investimentos pelo factor de reposição do capital (FRC), o qual é
dados pela expressão: FRC = i/(1-(1+i)-t), onde i representa a taxa de actualização considerada e t o *número de períodos em causa (no caso
presente, o número de anos de vida útil dos investimentos).

20/43 (11 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


ECONOMIA DA ÁGUA

O valor anualizado do investimento é o montante anual constante recuperado ao longo da vida útil da infra-
estrutura, cujo somatório actualizado a uma determinada taxa de desconto iguala o valor inicial do
investimento. Num contexto de preços correntes, a taxa de actualização é nominal, ou seja, incorpora a
inflação e o custo do capital. Num contexto de preços constantes, a taxa de actualização é real, ou seja, não
incorpora a inflação.
Dado que os valores de investimento (tal como os restantes custos e proveitos) se encontram referidos a
2000, então pode dizer-se que, nesta data, estão simultaneamente a preços correntes e constantes. No entanto,
a utilização de uma taxa real ou nominal não é indiferente, produzindo valores anualizados distintos. Se for
utilizada uma taxa real, o valor anualizado fica referido ao ano base. Se for utilizada uma taxa nominal, o
valor anualizado fica referido ao ano em que há a entrada do fluxo financeiro.
Note-se que os mercados funcionam na prática a preços correntes, ou seja, um fluxo anual actualizado a
preços constantes cobrado daqui a 20 anos já sofreu a erosão da inflação, pelo que, adicionado aos restantes
fluxos anuais actualizados, será inferior ao investimento. Para igualar este montante, o valor daquele ano
teria de ser alvo de revisão de preço, utilizando para tal o índice de preços no consumidor com base 100 em
2000.
Assim, a taxa de 5% considerada contempla o custo do capital e a inflação. Na prática, dado que é uma taxa
relativamente baixa, estaria ainda num intervalo de razoabilidade para uma taxa real. Nos investimentos
privados esta taxa é escolhida pelo próprio investidor em função dos ganhos que pretende obter (caso
contrário não investe).
Ao falar em custo do capital não significa necessariamente que o investidor incorra em custos de obtenção de
capital (o Estado obtém o capital fundamentalmente por via de impostos), mas que existe sempre uma
penalização por investir, quer pela natural preferência pela liquidez no presente, quer pela possibilidade de
investimentos alternativos (custo de oportunidade). Pode-se ilustrar este conceito pelo facto de o dinheiro,
mesmo que não seja aplicado, é capaz de gerar juros numa aplicação passiva como um depósito bancário
(verba que é perdida quando se investe).
11.5.2.1. Custos de Serviços de Utilização da Água
Abastecimento de Água da Rede Urbana
A avaliação dos custos dos serviços de abastecimento de água foi efectuada para a totalidade da rede urbana,
conjugando custos unitários, índices e indicadores, com o cadastro das infra-estruturas que compõem os
sistemas de abastecimento de água. Esta opção coloca os custos de investimento no domínio dos valores de
construção, como se as obras fossem construídas hoje (mais precisamente foi considerado como ano base o
ano 2000).
As infra-estruturas dos sistemas de abastecimento de água utilizadas na avaliação de custos foram: captações,
adutoras, reservatórios, estações elevatórias, estações de tratamento, postos de tratamento e redes de
distribuição. Para além do número e tipologia das infra-estruturas constante do inventário, foram utilizados
dados dos volumes de água por utilizador, população, áreas, custos unitários, tarifários, entre outros. Foram
ainda estimados alguns indicadores para as grandezas onde se detectaram graves lacunas - caudais, alturas,
potências, etc..
Os custos de exploração e manutenção foram estimados a partir dos investimentos pelas aplicação de índices
e indicadores obtidos através de referências bibliográficas e da análise de casos específicos de estudo.
Os custos administrativos foram integrados nos custos, pois tomou-se consciência que os custos de
exploração e manutenção não incluem muitos dos custos de funcionamento das entidades gestoras, em
particular os custos da estrutura de administração e gestão e os custos de monitorização da rede. Neste
sentido, com base em casos reais e por contactos com responsáveis de gestão de entidades responsáveis pelo
abastecimento água, consideraram-se para o abastecimento urbano as percentagens sobre os custos de
exploração e manutenção que se apresentam no quadro seguinte.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 21/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

Quadro 11.5.1 - Percentagens Consideradas

Tipo de Concelho
Mais urbano (abrange 44 concelhos com 35% (+ 5%)
volumes captados acima de 4 milhões de
3
m /ano)
Mais rural (abrange 229 concelhos com 15% (+ 5%)
volumes captados abaixo de 4 milhões de
3
m /ano)
Os custos calculados para a totalidade da rede urbana foram redistribuídos pelos vários sectores utilizadores
da rede urbana (População, Indústria e Sector Hoteleiro) de acordo com os respectivos peso nos volumes de
água facturada.
Drenagem e Tratamento de Águas Residuais da Rede Urbana
A avaliação dos custos para a drenagem e tratamento de águas residuais da totalidade da rede urbana foi
realizada de modo idêntico ao efectuado para o abastecimento de água, conjugando custos unitários, índices
e indicadores, com o cadastro das infra-estruturas.
Relativamente aos custos de administração, dado ter menores custos de monitorização da rede, utilizaram-se
taxas inferiores em cinco pontos percentuais às utilizadas para o abastecimento, valor este que incide nos
custos anuais (excluindo os custos de investimento).
A redistribuição dos custos pelos vários sectores utilizadores da rede urbana, foi efectuada de modo idêntico
ao do abastecimento de água (segundo o peso dos volumes de água facturada por cada sector utilizador).
Abastecimento de Água à Industria
As unidades industriais são abastecidas por rede própria ou através da rede urbana, situações que
correspondem a metodologias de avaliação de custos completamente distintas.
Para as indústrias ligadas à rede urbana foram quantificados, por concelho, os volumes de água facturados
pela indústria. Os custos de água foram obtidos através dos custos dos serviços da rede urbana, ponderados
por um factor obtido em função da relação entre volumes facturados na indústria e na rede urbana.
Para as industrias com rede própria, face ao desconhecimento das características das captações utilizadas no
abastecimento de água e tendo em conta a avaliação de custos, decidiu-se considerar que as captações de
água seriam de origem subterrânea, sem significativos custos de transporte. Neste sentido, com base na
informação da localização e características dos sistemas aquíferos (Capítulo 5), foram estimadas para cada
sistema aquífero, as profundidades médias dos furos e as alturas médias de elevação, a partir dos quais e com
3
base na aplicação de critérios de custos e preços unitários foram estimados os custos unitários (por m ) para
investimento, exploração e manutenção.
Com base no volume de água obtido para satisfazer as necessidades da indústria por concelho e os custos
3
unitários de investimentos, exploração e manutenção (por m fornecido/drenado ou tratado) estimaram-se os
custos anuais.
Drenagem e Tratamento de Águas Residuais da Indústria
A avaliação de custos de serviços para a drenagem e tratamento de águas residuais da indústria, foi efectuada
separadamente para as indústrias ligadas à rede urbana e para as indústrias com rede própria. Para ambos os
casos a avaliação foi realizada conjugando custos unitários, índices e indicadores, com as cargas poluentes
produzidas pelas principais indústrias poluidoras e como se as infra-estruturas fossem construídas hoje (ou
seja no ano 2000).
No caso da indústrias ligadas à rede urbana, os custos avaliados para a totalidade da rede urbana foram
redistribuídos pelos diversos sectores utilizadores na proporção dos volumes facturados por cada sector. No
caso da indústrias com rede própria, os custos serão avaliados através de custos unitários e das cargas
poluentes produzidas pelas indústrias poluidoras. Integraram-se também neste sector os custos de tratamento
das suiniculturas.

22/43 (11 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


ECONOMIA DA ÁGUA

Abastecimento de Água à Agricultura (Rega e Drenagem)


A metodologia para avaliação dos custos associados à utilização da água no regadio (rega e drenagem
agrícola), baseou-se numa abordagem que se resume nos seguintes pontos:
1. Definição de uma tipologia agregada dos aproveitamentos hidroagrícolas e métodos de rega mais
representativos na agricultura do Continente e estimativa da sua representatividade regional, por zonas
consideradas homogéneas quanto a estas características;
2. Determinação de um padrão de custos unitários associados a cada um desses tipos de aproveitamentos e
métodos de rega anteriormente definidos;
3. Estabelecimento da área regada, em hectares, por tipo de aproveitamento, com desagregação territorial
ao nível do concelho;
4. Agregação dos elementos obtidos nos pontos anteriores, com vista à obtenção de um valor do custo
unitário do regadio, por hectare;
5. Cruzamento da informação relativa aos custos por hectare com os dados dos consumos de água por
hectare, com vista à obtenção do custo de utilização do metro cúbico de água na rega, por concelho e por
tipo de aproveitamento e sistema de rega na parcela.
Relativamente à tipologia dos aproveitamentos hidroagrícolas existentes, serão distinguidos os regadios
individuais de iniciativa privada e os regadios colectivos públicos, destacando ainda dentro destes, os
regadios colectivos dos regadios tradicionais. Esta opção prende-se, por um lado, com o facto de se
considerar, que existe uma diferenciação dos custos para cada um destes tipos de regadios resultante do tipo
de investimento que geralmente está associado a cada um deles e, por outro lado, com a forma como se
encontra disponibilizada a informação de base, a qual não permite alcançar níveis de análise mais
desagregados.
Quanto aos investimentos realizados em infra-estruturas e equipamentos associados aos diferentes tipos e
métodos de rega, distinguiram-se os investimentos ao nível da parcela, dos investimentos em obras primárias
de rega realizados fora da parcela de rega (captação, armazenamento e adução). Os primeiros foram também
desagregados segundo os principais métodos de rega: rega por gravidade, localizada e por aspersão. Neste
último caso foram ainda distinguidos os diversos tipos de instalações de rega por aspersão.

Produção de Energia Eléctrica


A metodologia para avaliação dos custos associados à utilização da água na produção de energia eléctrica,
teve por base os sistemas de produção existentes, designadamente:
• Grandes e médios aproveitamentos hidroeléctricos (Grupo EDP);
• Pequenos e médios aproveitamentos (pequenos produtores - mini-hídricas);
• Utilização de água no processo de produção termoeléctrico (Grupo EDP).
Admitiu-se que os custos de investimentos neste sector incluíam apenas as infra-estruturas directamente
associadas à água, não sendo portanto, consideradas as infra-estruturas predominantemente eléctricas.
Para os empreendimentos hidroeléctricos sob exploração do grupo EDP, foram-nos fornecidos todos os
custos de investimento, como se os empreendimentos fossem construídos em 1990. Estes valores foram
actualizados a preços de 1999.
O cálculo dos custos da produção hidroeléctrica em mini-hídricas foi baseado em dados agregados
fornecidos pelas entidades responsáveis do sector, permitindo apenas obter valores globais e médios.
A utilização de água nas centrais de produção termoeléctrica representa uma parcela importante em termos
de volume de água utilizada (circuitos abertos de refrigeração) e/ou de investimentos (circuitos abertos e/ou
fechados). A avaliação de custos foi feita por inventariação dos investimentos nas infra-estruturas de
captação e rejeição de água.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 23/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

Turismo
A avaliação de custos e receitas associados à utilização de água no sector do Turismo tem por objectivo
estimar a dimensão económica deste sector. O sector de Turismo foi dividido nos sub-sectores da hotelaria e
das diversas actividades de lazer e recreio, com destaque para os campos de golfe, a navegação fluvial e a
pesca desportiva em águas interiores.
Na análise da dimensão destes sub-sectores foram consideradas duas abordagens, uma baseada em custos
e/ou receitas obtidos a partir de volumes de água (sector hoteleiro e campos de golfe) e outra baseada em
volumes de negócio (pesca desportiva e navegação fluvial).
As receitas no sub-sector hoteleiro correspondem ao que é pago pela hotelaria pela água consumida na rede
urbana. Para quantificar a dimensão deste sub-sector da actividade turística considerou-se que todos os hotéis
se encontravam ligados à rede urbana. A estimativa destas receitas, em função do volume, teve por base as
taxas e tarifas em uso em cada concelho (sector comércio e indústria), os volumes de água facturados e o
número de consumidores do sector hoteleiro. Os volumes de água captados apresentam-se no Capítulo 4 e
foram obtidos através do número médio anual de dormidas.
A avaliação de custos para o abastecimento de água aos campos de golfe por rede própria teve por base
admitir que a maioria das captações de água era de origem subterrânea. Neste sentido, com base nos custos
médios de bombagem e de captação por aquífero, apresentados no sector indústria, e de acordo com os
consumos médios anuais de água por cada campo estimaram-se os custos de investimento, de manutenção e
de exploração dos sistemas de adução de água para rega dos principais campos de golfe existentes em
Portugal.
Relativamente ao sub-sector navegabilidade, foi feita uma análise mais detalhada da navegabilidade do rio
Douro e uma análise mais sumária para restantes troços navegáveis, nomeadamente nos rios Minho, Vouga,
Tejo, Sado, Guadiana e Arade.
Com base nos dados fornecidos pelo Instituto de Navegabilidade do Douro (IND), foram estimados para o
rio Douro os custos de investimento, de manutenção e de operação, e o volume de negocios. Para os restantes
rios estimou-se apenas o volume de negócios na actividade turística.
A nível da pesca desportiva em águas interiores, as receitas foram estimadas com base no custo unitário dos
vários tipos de licenças e do número de licenças anuais. A título meramente de exercício estimou-se outras
receitas associadas a esta actividade, nomeadamente custos relativos às deslocações, alimentação, material,
ou seja, o que cada pescador extra-licença disponibiliza por ano para esta actividade.

Outros Sectores
Nos outros sectores foram incluídos a pesca profissional em água interiores e a aquacultura, cuja análise é
baseada em volumes de negócio, e as actividades relacionadas com o controle do meio hídrico, destacando-
se a protecção contra as cheias e a regularização fluvial.
A nível da pesca profissional em águas interiores as receitas foram estimadas com base nas licenças anuais.
Na análise das receitas associadas a esta actividade seria fundamental analisar o volume de pescado por ano,
no entanto, nesta fase esses dados não se encontram disponíveis.
Relativamente à aquacultura o estudo visa a análise dos custos de investimento médio por aquacultura, os
custos associados à manutenção e exploração e por último as receitas provenientes do volume de peixe
produzido.
Na defesa e protecção contra cheias, foram identificadas as obras de controlo das cheias e quantificados os
custos de investimento para elaboração dos estudos e para a execução das obras e os custos de manutenção.
11.5.2.2. Custos do Recurso/Escassez e Custos Ambientais
A avaliação da totalidade dos custos pressupõe a avaliação, para além dos custos dos serviços de utilização
de água, dos custos de recurso/escassez e dos custos ambientais.
O cálculo destes custos deverá ser feito tendo por base dois objectivos fundamentais na gestão da água:

24/43 (11 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


ECONOMIA DA ÁGUA

• determinar o preço-sombra numa perspectiva de internalização de custos e benefícios em instrumentos


económicos (nomeadamente impostos - taxas) que permitam uma gestão racional das utilizações de
água;
• fornecer uma prova de racionalidade económica para investimentos que, numa óptica meramente
financeira, poderão não ser viáveis. Após a quantificação no tempo e a respectiva actualização dos fluxos
económicos positivos e negativos, é possível calcular valores actuais e taxas de rentabilidade
económicas, bem como realizar análises do tipo custo-benefício.
A avaliação destes custos ou benefícios sócio-económicos e ambientais (externalidades positivas ou
negativas) deve utilizar bases teóricas aceites pela economia do ambiente e dos recursos naturais. Neste
estudo apenas é feita uma breve avaliação dos custos de escassez e custos ambientais através da recolha de
elementos bibliográficos.
Existem numerosos exemplos de aplicação das funções de produção nas análises custo-benefício de
candidaturas a fundos comunitários de sistemas de abastecimento de água e de drenagem e tratamento de
águas residuais.
As funções de produção têm no entanto a limitação de apenas aferirem o valor de uso da água, não
considerando o valor de opção (prémio de garantia para que a água esteja disponível para utilização futura) e
valor de existência (intrínseco ao bem ambiental água).
Uma avaliação de custos e benefícios de acordo com as teorias expostas, com magnitude necessária no
âmbito de um Plano Nacional da Água exigiria grandes meios humanos e materiais. Neste sentido, e dentro
do contexto da elaboração deste estudo, não foram aplicadas quaisquer das metodologias em uso para
calcular com alguma confiança os custos ambientais e de escassez.
Uma hipótese mais simplificada passa pela possibilidade de realizar estimativas baseadas em indicadores
utilizados noutros países, nomeadamente da União Europeia, embora possa haver uma menor adequação às
características próprias de Portugal, bem como falta de controlo sobre os passos metodológicos seguidos.
Esta metodologia foi aplicada por Henriques, A.G. e West, C.A., 2000, que estimaram encargos para todo o
País em protecção, recuperação e prevenção da deterioração das águas (incluindo custos com a
monitorização e a fiscalização das linhas de água) não contabilizáveis como serviços da água, da ordem dos
40 milhões de contos/ano.

11.5.3. Apuramento dos Custos e Receitas dos Serviços de Utilização da


Água
11.5.3.1. Apresentação de Resultados
Tendo em conta as metodologias aplicadas, que aqui se abreviaram para não tornarem o texto
excessivamente pesado, apresentam-se no quadro seguinte os principais resultados :
Quadro 11.5.2 - Síntese dos Resultados (Valores Anuais)

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 25/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

(milhões de contos)
Volumes Custo Receitas Relação
Água por m3 receita/
Sectores facturada/ custos
efluentes (esc/m3)
106 m3

 POPULAÇÃO 85,29 0,60


 Abastecimento de água 428 213 74,99 0,82
 Drenagem e tratamento de Águas Residuais 295 173 10,30 0,20
 INDÚSTRIA 9,72
 Abastecimento de água 326 39 8,57
Rede urbana 41 213 8,57 0,97
Rede própria 285 14
 Recolha e tratamento de Águas Residuais 33 1,16
Rede urbana 33 173 1,16 0,20
Rede própria indústria n.d.
Rede própria suiniculturas n.d.
 AGRICULTURA (abastecimento de água) 5,322 11,7
 Regadios públicos colectivos 0,512 26,9 1,65 0,12
 Regadios públicos tradicionais 0,535 6,6
 Regadios privados 4,275 10,5
 ENERGIA 86,920 0,55
 Hidroelectrica (EDP) 82,560 0,54 0 0
 Hidroeléctrica (mini-hidrica) 3,000 0,67 0 0
 Termoeléctrica 1,360 0,61 0 0
 TURISMO 2,12
 Sector hoteleiro 7,6 1,93 0,71
 Abastecimento de água 7,6 213 1,71 1,06
 Drenagem e Tratamento Águas Residuais 6,1 173 0,22 0,20
 Campos de golfe 9,3 16
 Navegação 0,04 0,01
 Pesca desportiva 0,15
 OUTROS 0,28 0,15
 Pesca profissioonal 0,24
 Aquacultura 0,04 0,40
 Cheias e regularizações

TOTAL 97,41

Em face dos resultados apurados, quer nesta síntese quer nos dados mais detalhados, julgam-se pertinentes os
seguintes comentários por sector utilizador :
11.5.3.2. População
Dos 91 milhões de contos dos custos com o abastecimento, cerca de 60% corresponde a custos de
investimento (anualizados) e os restantes 40% correspondem a custos de operação, manutenção e gestão.
- O custo médio por m3 é de cerca de 213$00
As receitas obtidas no abastecimento rondam os 75 milhões de contos e distribuem-se por taxa de
disponibilidade/aluguer do contador (43%) e taxa de consumo (57%), o que permite verificar a elevada
taxa fixa da tarifa doméstica.
3
Estas receitas, face à água facturada, correspondem a cerca de 175$00/m representando um grau de
cobertura receita/custos de 82%.

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ECONOMIA DA ÁGUA

- Dos 51 milhões de contos gastos na drenagem e tratamento de águas residuais, cerca de 55% refere-se
a custos com investimento e os restantes 45% com a exploração, manutenção e gestão.
- O custo médio por m3 é de cerca de 173$00.
Na drenagem e tratamento das águas residuais as receitas rondam os 10,3 milhões de contos o que
equivale a pagamento de 35$00/m3 e a um grau de cobertura receita/custos de 20%.

Valor em Valor em
Portugal Portugal
Continental Continental
213$00 175$00

Figura 11.5.1 - Abastecimento de Água à População Figura 11.5.2 - Abastecimento de Água à População
Custo Médio (escudos/m3) Preço Médio(escudos/m3)

11.5.3.3. Indústria
Dos cerca de 12,8 milhões de contos de custos com o abastecimento à indústria, cerca de 8,8 milhões de
contos correspondem à rede pública (69%) e 4,0 milhões á rede própria (31%).
Do valor total aplicado anualmente, os citados 12,8 milhões, cerca de 48% correspondem a custos de
investimento e os restantes 52% a custos de operação, manutenção e gestão.
O custo médio total por m3 situa-se em 39$00, sendo o custo por m3 da rede pública (213$00) bastante mais
elevado do que o da rede própria (14$00).
As receitas da água abastecida pela rede pública são de 8,6 milhões de contos. Como os custos são de 8,8
milhões há um grau de cobertura de : 0,97

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ECONOMIA DA ÁGUA

Valor em Portugal
Continental
0,82

Figura 11.5.3 - Abastecimento de Água à População - Relação Receitas Custos

Valor em Portugal
Valor em Portugal Continental
Continental 35 esc./m3
173 esc./m3

Figura 11.5.4 - Drenagem e Tratamento de Águas Figura 11.5.5 - Drenagem e Tratamento de Águas Residuais
Residuais da População - Custo Médio (escudos/m3)da População - Preço Médio por m3 do Efluente (escudos/m3)

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ECONOMIA DA ÁGUA

Valor
Valorem
em Portugal
Portugal
Continental
Continental
0,20
0,20

Figura 11.5.6 - Drenagem e Tratamento de Águas Residuais da População - Relação Receitas Custos
Dos cerca de 16,7 milhões de contos anuais aplicados na drenagem e tratamento de águas residuais da
indústria, cerca de 5,7 milhões de contos correspondem à rede pública (34,0%) e os restante à rede própria
(66,0%).
Do valor total aplicado (anualizado), 52% correspondem a custos de investimento e o restante (48%) a custos
de exploração, manutenção e gestão.
As receitas da rede pública são de 1,16 milhões de contos e o seu grau de cobertura dos custos não ultrapassa
os 20%.
11.5.3.4. Agricultura
Os custos totais apurados para o sector agrícola foram de 62,1 milhões de contos, para abastecimento (rega
e drenagem).
Deste valor cerca de 64% corresponde à componente investimento e os restantes 36% à componente de
funcionamento, ou seja, custos de operação, manutenção e gestão.
Em média, obteve-se um custo por m3 de água na parcela de 11$70 sendo este custo unitário mais elevado
nos regadios públicos colectivos (26$90) do que os regadios públicos tradicionais (6$60).

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 29/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

Valor em Portugal
Continental
0,97

Figura 11.5.7 - Abastecimento de Água à Indústria (Rede Pública) - Relação Receitas Custos

No caso de regadios privados obtém-se um valor intermédio de 10$50 por m3


As receitas nos regadios públicos colectivos são de 1,65 milhões de contos. Como os custos ascendem a
13,8 milhões de contos, o seu grau de cobertura não ultrapassa os 12%.
11.5.3.5. Produção de Energia Eléctrica
Os investimentos considerados neste sector apenas incluem as infraestruturas ligadas à água ;
Os custos anualizados foram calculados tendo em conta 2 tipos de produção, hidro e termoeléctrica, e dentro
da hidroenergia separou-se a EDP das mini-hídricas
Do total dos custos anuais apurados, 47,7 milhões de contos, cerca de 94% são custos da EDP, 4% das mini-
hídricas e 2% das termoeléctricas;

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ECONOMIA DA ÁGUA

30 26.9

25

20
(e
sc.
/m 15
11.7
10.5
3)

10 6.6

0
Tradicionais Colectivos Individuais Médio
Tipo de regadio

Figura 11.5.8 - Agricultura - Abastecimento de Água - Custo Médio (escudos/m3)

Valor em Portugal
Continental
0,12

Figura 11.5.9 - Agricultura - Abastecimento de Água Regadios Públicos Colectivos - Relação Receitas Custos

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 31/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

O custo médio por m3 de água utilizado neste sector ronda os 5 centavos e meio ;
A produção média de energia anual é de 12000 Gwh no caso da EDP e 600 Gwh no caso das mini-hídricas.
Não foram apuradas receitas pelo que na avaliação do Negócio da Água, (ponto 11.5.4) foi admitida uma
receita de produção de energia equivalente à facturação que as mini-hídricas fariam se fossem estas a
produzir. Esse valor equivale a 157 milhões de contos.

Valor em Portugal
Continental
44,8 milhões de
contos

Custos Anuais

Figura 11.5.10 – Produção Hidroeléctrica (EDP) – Custos totais anuais da componente hidráulica

11.5.3.6. Turismo
Os custos do turismo referem-se essencialmente ao sector hoteleiro, campos de golfe, navegação fluvial e
pesca desportiva.
Os custos totais anuais atingem cerca de 6,4 milhões de contos, sendo cerca de 39% do sector hoteleiro, 3%
dos campos de golfe e 57% da navegação.
Os custos de abastecimento do sector hoteleiro são de 1,6 milhões de contos e os das águas residuais de 1,1
milhões de contos.

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ECONOMIA DA ÁGUA

O custo médio do abastecimento ao sector hoteleiro é de cerca de 213$00 por m3, enquanto que na drenagem
e tratamento de águas residuais este indicador se cifra em 173$00 por m3.
As receitas do abastecimento ao sector hoteleiro são de 1,7 milhões de contos o que confere um grau de
cobertura receitas/custos de 1,06.
Quanto à drenagem e tratamento das águas residuais as receitas apontam para 0,22 milhões de contos e existe
um grau de cobertura receitas/custos de 0,20.
Quanto à navegação as receitas não ultrapassam 0,04 milhões de contos face a custos na ordem dos 3,5
milhões.

Valor em
Portugal
Continental
213 esc./m3

Figura 11.5.11 - Abastecimento de Água ao Sector Hoteleiro - Custo Médio por m3

11.5.3.7. Outros Sectores


Este ponto inclui a pesca profissional, a aquacultura, e as cheias e regularização fluvial.
Admitiu-se, face às estimativas produzidas, que este valor, em conjunto, se situa em cerca de 1,9 milhões de
contos correspondendo 1,8 milhões à regularização fluvial e protecção contra cheias e 0,1 à aquacultura.
As receitas identificadas equivalem a 0,28 milhões de contos, ou seja, cerca de 15% dos custos.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 33/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

11.5.3.8. Valores agrupados


Apresentam-se na Figura 11.5.12 alguns gráficos ilustrativos da repartição dos volumes, receitas e custos por
sectores.

VOLUMES FACTURADOS/CONSUMIDOS RECEITAS


Usos Consumptivos Usos Consumptivos
(hm3/ano) (milhões de contos)
6 078 hm3 99 milhões de contos

88%
86%

10%

5%

7%

0.03% 2% 2%

População Industria Agricultura Turismo População Industria Agricultura Turismo

CUSTOS DOS SERVIÇOS DE ABASTECIMENTO


CUSTOS DOS SERVIÇOS ANUAIS DE ÁGUA
Usos Consumptivos Usos Consumptivos
(milhões de contos) 236 milhões de contos (escudos/m3)
213
250

61% 200
12%
107
150

100
39
26%
50 12

0
População Industria Agricultura Turismo
(Hot.+Golfe)
1%
População Industria Agricultura Turismo População Industria Agricultura Turismo (Hot.+Golfe)

Figura 11.5.12 - Repartição dos Volumes, Receitas e Custos por Sectores

11.5.4. Custos ambientais e de escassez


São tratados no ponto 11.5.2.2, tendo sido estimados custos não contabilizados com serviço da água na
ordem dos 40,0 milhões de contos por ano.

11.5.5. Volume de Negócios da Água


Embora sem a pretensão de se obter um valor exacto dos recursos movimentados anualmente por este
mercado, é possível contudo apresentar alguns indicadores que ajudarão a perceber melhor a dimensão do
mercado.

34/43 (11 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


ECONOMIA DA ÁGUA

Dado que o volume de receitas não constitui ainda um bom indicador, visto que estarão longe de reflectir os
custos efectivos, optou-se por considerar o volume de negócios por via dos custos anuais totais, ou seja , o
custo anualizado dos investimentos e o seu custo de operação, manutenção e gestão.
Assim foi feito para o abastecimento de água e para a recolha e tratamento de águas residuais .
Por outro lado, quando não é viável a obtenção do custo real, procedeu-se ao cálculo de estimativas com base
nos elementos estatísticos disponíveis (é o caso da pesca desportiva).
Para os custos ambientais e de escassez, foram também consideradas estimativas, feitas por especialistas, já
que não existe ainda um método consensualizado, nem estatísticas vocacionadas para o efeito.
Poder-se-á argumentar que os custos ambientais e de escassez dificilmente farão parte do mercado da água.
Contudo, deverá ter-se em conta que estes custos existem e tenderão a ser internalizados pelas entidades
utilizadoras da água ou seja pelo consumidor do produto final, quando os preços reflectirem os custos totais .
Visto que este mercado não pode deixar de englobar a zona costeira do país, são também apontados valores
anuais que reflectem o custo da manutenção, conservação e revalorização desta área, embora sem considerar
a miríade de micro investimentos privados em estruturas de apoio directo ( bares, restaurantes, pequenos
pontos de apoio à pesca artesanal, ancoradouros para pequenas embarcações etc.)
No caso da produção de energia são apresentados valores de custos e volume de negócios, tendo-se optado
por este último uma vez que se trata de uma utilização com rentabilidade comprovada.
Poderá considerar-se esta opção um exagero. Contudo, se tivermos em conta a poupança em divisas na
importação da energia equivalente, ou o custo da produção a partir de termo eléctricas (sem falar já na
poluição) talvez se ache até subvalorizada.
Relativamente ao uso da água para fins turísticos, optou-se por considerar os estabelecimentos hoteleiros
como a parte essencial dessa utilização. Sabe-se que existe uma oferta de dormidas superior, sobretudo a
nível de casas particulares, mas estas já foram consideradas no abastecimento à população.
Sempre que os dados disponíveis não ofereciam um grau de confiança considerado aceitável, optou-se por
considerar valores mais conservadores. Estão neste caso os campos de golfe, a aquacultura e a navegação
fluvial. Relativamente a esta última apenas foi considerada a navegação no rio Douro que é, aliás, a mais
expressiva.
Assim sendo poder-se-á concluir o seguinte:
i) o volume de negócios que se realiza directamente com a água, ou em torno dela, será sempre superior ao
valor apurado e tenderá com o tempo a aumentar, quer por via da sua superior valorização, quer por via
do potencial aumento da conflitualidade de usos, quer ainda pelas progressivas restrições ambientais ao
seu uso.
ii) O volume de negócios anual apurado é de cerca de 450 milhões de contos, a preços de 1999,
conforme se observa no quadro seguinte:
iii) Como foi dito, este montante considera como valor de negócio alguns custos não cobrados pelo erário
público. Isto significa admitir que o negócio se fez da mesma forma, o pagador é que não foi o mais
indicado.
iv) Convirá dizer ainda que se trata sempre dum cálculo de risco, que mais não faz que tentar sistematizar e
restringir algumas actividades à luz do uso mais directo e intensivo da água. Com efeito, existe quem
faça outro raciocínio: se a vida é impossível sem água e se sem vida não há negócios, então tudo o que
se produz deriva da existência desse bem essencial.
v) Para se ter uma ideia do peso deste mercado em Portugal, poderemos compará-lo com o PIB, que é o
valor de todos os bens e serviços produzidos no país, e o emprego da população activa. O volume de
negócios da água representa cerca de 2% do Produto Interno Bruto e 1% do total da população
empregue.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 35/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

Quadro 11.5.3 - Valor Anual de Negócios do Mercado da Água em Portugal

Custos anuais (103 Contos)


Área de Intervenção VOLUME
Exploração DE
Investimentos Manutenção Total NEGÓCIOS
e gestão

 POPULAÇÃO
 Abastecimento de água 55,000 36,100 91,100 91,100
 Recolha e tratamento de Águas Residuais 27,000 24,000 51,000 51,000

 INDÚSTRIA
 Abastecimento de água 6,100 6,700 12,800 12,800
 Recolha e tratamento de Águas Residuais 8,700 8,000 16,700 16,700

 AGRICULTURA
 Água para rega 40,000 22,100 62,100 * 62,100

 TURISMO (hóteis)
 Abastecimento de água 0,900 0,700 1,600 1,600
 Recolha e tratamento de Águas Residuais 0,500 0,600 1,100 1,100

 CAMPOS DE GOLFE 0,200 0,005 0,205 0,205

 PESCA DESPORTIVA 0,150 0,150 2,500

 NAVEGAÇÃO FLUVIAL (Douro) 3,300 0,200 3,500 3,500

 REGULARIZAÇÃO FLUVIAL 1,500 0,300 1,800 1,800

 AQUACULTURA 0,100 0,010 0,110 0,700

 PROTECÇÃO CONTRA CHEIAS 0,400 0,300 0,700 0,700

 PRODUÇÃO ENERGIA
 Hidroelectrica
. EDP 41,000 3,800 44,800 (1) 157,000 (2)
. Outros 2,000 2,000 7,300
 Termoelétrica 0,800 0,800 0,800

 CUSTOS AMBIENTAIS E DE ESCASSEZ 40,000 40,000 40,000

 PROTECÇÃO E VAL. ORLA COSTEIRA 2,000 1,000 3,000 3,000

TOTAL 333,465 453,905

(1) Os custos apenas incluem as infraestruturas hidráulicas


(2) Volume de negócios admitindo os preços de venda como produção mini-hidrica
* Os valores apresentados foram obtidos a partir de custos a preços actuais e do pressuposto que todas as áreas de rega
seriam infraestruturadas hoje

11.6. Eficiência das Utilizações da Água

11.6.1. Generalidades
A eficiência das utilizações da água procura caracterizar os desperdícios e a má utilização da água desde a
sua captação no meio hídrico até ao seu uso final (inclusive). Esta eficiência aumenta com a crescente
valorização económica da água, pois quando não é dado o adequado valor ao recurso água geram-se
situações de ineficiente utilização.
A análise da eficiência da utilização da água pode ser medida através de duas grandes áreas:
• Eficiência no transporte e distribuição
• Eficiência na aplicação.
Qualquer destes aspectos será sumariamente analisado para as principais utilizações de água, como são a
rede urbana de abastecimento de água e a rega na agricultura. A rede urbana incluiu os sectores da
População, Indústria e Sector Hoteleiro.

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ECONOMIA DA ÁGUA

11.6.2. Rede Urbana de Abastecimento de Água


A eficiência de utilização de água na rede urbana foi analisada comparando os volumes de água captada e os
volumes de água facturada por concelho.
È de referir que a diferença entre os valores da água de água captada e facturada, que se podem admitir como
perdas, são na ordem de 33% em relação ao volume de água captada.

11.6.3. Agricultura
De modo idêntico aos restantes sectores utilizadores, a eficiência da utilização de água na agricultura pode
ser analisada à luz da eficiência no transporte e distribuição e na eficiência de aplicação, apresentando
valores bem diferentes conforme o tipo de regadio em causa (colectivo tradicional, colectivo público ou
privado) ou os métodos de rega (gravidade, aspersão e localizada).
A eficiência no transporte e distribuição a aplicação da água varia com o tipo de regulação do sistema e com
a qualidade e tipo das redes de transporte e distribuição.
- Regadios Públicos Colectivos
A maioria dos sistemas públicos colectivos são regulados por montante, acarretando perdas de água
significativas, se não houver uma muito boa gestão da água. A água tem de ser lançada no sistema
antecipadamente em função das previsões de uso. Se essas previsões não forem verificadas, a água é
desperdiçada gerando perdas por regulação. O transporte e adução pode ser por conduta ou por canal levando
a perdas bem distintas. Neste tipo de regadios estima-se actualmente uma eficiência média no transporte e
distribuição se for em canal de 75%, e se for em conduta de 90%.
A eficiência na aplicação é na ordem de 60% na rega por gravidade, 70% por aspersão e 90% na rega
localizada.
A eficiência global varia por isso entre 40 a 60% na rega por gravidade, 50 a 75% na rega por aspersão e
entre 60 e 85% na rega localizada.
- Regadios Públicos Tradicionais
Os regadios tradicionais existem maioritariamente nas áreas húmidas apresentando por isso eficiência
globais bastantes baixa, podendo-se admitir uma eficiência na ordem de 50%.
- Regadios privados
Os regadios privados tem uma reduzida extensão de rede de transporte e distribuição, utilizando
normalmente rede em conduta e não rega por gravidade. A eficiência global é em média de 70% na rega por
aspersão e de 85% na rega localizada.

11.7. Política de Preços

11.7.1. Generalidades
Relativamente aos preços colocam-se duas questões complementares: o nível das receitas - que deve permitir
a recuperação dos custos dos serviços de utilização da água, dos custos de escassez, e dos custos ambientais;
e os esquemas tarifários, que devem, por um lado, discriminar os preços por tipo de utilização, e por outro
sinalizar comportamentos correctos em termos de uma utilização racional e equitativa do recurso água.
Relativamente à discriminação de preços, e de acordo com os princípios do utilizador-pagador e do poluidor-
pagador, cada tipo de utilizador deve suportar os custos totais da utilização do recurso água em função dos
volumes utilizados ou da quantidade e tipo de poluição que produz. A aplicação concreta não poderá deixar
de considerar outros factores como o rendimento das famílias, a competitividade dos sectores económicos, e
o papel do Estado como investidor ou financiador do sector.
De facto, é necessário algum bom senso e uma decisão política no sentido de saber se a sociedade deve ou
não, para uma dada utilização, suportar o diferencial entre o custo total e o preço que o utilizador pode
suportar. De igual forma, é necessário decidir se determinados utilizadores, com capacidade para pagar um
preço muito superior ao custo respectivo, devem ou não pagar mais.

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 37/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

Relativamente a esquemas tarifários que possibilitem uma utilização racional e sustentável da água, podem
existir algumas contradições, não meramente teóricas, entre o princípio enunciado e os interesses da entidade
responsável pelos fornecimento dos serviços de utilização, quer esta esteja na esfera pública ou privada.
No que diz respeito à recuperação dos custos totais, actualmente são cobradas apenas tarifas dos serviços de
utilização de água aos sectores ligados às redes urbanas, e aos agricultores em perímetros de rega. Uma das
conclusões do PNA é precisamente que as receitas não cobrem totalmente os custos totais dos serviços de
utilização de água.
Uma das causas é o estabelecimento de tarifários que, sendo a expressão unitária da receita total (decorrente
de projecções no tempo de volumes, capitações, população, etc.), vão permitir recuperar apenas uma parte ou
a totalidade dos capitais próprios investidos nos sistemas.
A aplicação do regime económico-financeiro da utilização do domínio público hídrico, embora possa ter
limitações, permitiria uma boa aproximação dos montantes efectivamente cobrados ao preço-sombra do
recurso para a comunidade, que traduz um benefício que ultrapassa o valor económico da água.
Para tal seria necessário fomentar estudos de avaliação de externalidades (económicas e ambientais). Pese
embora a possibilidade de realizar estimativas baseadas em indicadores utilizados noutros países,
nomeadamente da União Europeia, com vantagens obvias em tempo e custo, naturalmente que poderá haver
uma menor adequação às características próprias de Portugal, bem como falta de controlo sobre as
metodologias aplicadas.

11.7.2. Tarifas e Taxas


As tarifas podem ser lineares, não lineares, ou mistas. Entre as tarifas não-lineares figuram as tarifas por
partes, que correspondem aproximadamente ao tipo de tarifa mais praticada nos serviços de utilização de
abastecimento de água na rede urbana.
Tipicamente existe uma parte fixa, que permite o acesso ao serviço, e uma parte variável, função da
intensidade da utilização. A parte variável é normalmente uma função linear das quantidades, embora por
troços (escalões). Em termos teóricos, este esquema permite uma boa forma de apropriação do excedente do
consumidor.
Embora seja comum associar a parte fixa da tarifa à recuperação dos custos fixos do serviço, quanto maior a
componente fixa, menos riscos corre a entidade fornecedora do serviço, o que apresenta uma contradição em
relação ao fomento da utilização racional.
Por outro lado, dado que o nível dos preços não cobre todos os custos dos serviços de utilização de água
(apesar da grande evolução registada nos últimos anos), há situações de baixos níveis de preço (típico de
sistemas de âmbito municipal com preocupações de bem-estar imediato dos seus munícipes), o que leva
geralmente a uma utilização sub-óptima.
Em relação à parte variável da tarifa, existem algumas variantes. Uma consiste em pagar toda a quantidade
utilizada ao escalão mais alto atingido, ou em alternativa pagar as quantidades correspondentes a cada
escalão atingido. Outra variante consiste em tabelar o custo para todas as quantidades discretas. Estas opções
não são inocentes no que respeita à obtenção de excedentes (lucros), obviamente reduzindo o excedente do
consumidor.
A opção de tarifar um preço fixo independente da utilização (função da área de construção, p.e.), tal como
acontece frequentemente na recolha e tratamento de águas residuais, dá um carácter de taxa ou imposto que
não respeita os princípios do utilizador-pagador e poluidor-pagador, nem fomenta uma utilização racional. É
indiferente utilizar muito ou pouco; não há um prémio pela utilização racional e pelo investimento em
equipamento mais eficiente, nem penalização por uma utilização excessiva.
A tarificação deste serviço em função dos volumes de água consumidos e por tipo de poluidor - doméstico,
comercial, industrial, etc. - tal como já acontece nalguns municípios portugueses, é desejável
economicamente, tecnicamente justificável (há uma relação quase directa dos volumes), e obviamente
praticável (existência de contadores).

38/43 (11 - II) PLANO NACIONAL DA ÁGUA


ECONOMIA DA ÁGUA

Na pratica, sucede que grande parte dos serviços de utilização de água das redes urbanas de abastecimento de
água e de drenagem e tratamento de águas residuais funcionam em conjunto. Na maior parte dos casos a
entidade de gere ambos os sistemas é a mesma, pelo que a comparação entre os custos e as receitas deve ser
feita conjuntamente.
De facto, é mais consistente retirar uma conclusão relativamente à cobertura global dos custos das redes
urbanas do que fazê-lo separadamente. Compreende-se assim que o défice detectado isoladamente para o
tratamento de águas residuais seja muito superior ao detectado no abastecimento de água.
A política de preços praticada nas redes urbanas abrange os seguintes sectores utilizadores: Doméstico
(Populações), Indústria, Comércio, Turismo, Serviços Públicos, e outras utilizações residuais.
A industria com captações próprias não é geradora de receitas, suportando os seus próprios custos de
investimento e exploração (em sentido lato). Dado que as industrias funcionam em grandes escalas de
produção, estes investimentos são rapidamente amortizados, tendo em geral um peso muito reduzido na
respectiva estrutura de custos. Aliás, o regime económico-financeiro do domínio público hídrico não incide
as águas superficiais e subterrâneas privadas (industria, agricultura, turismo, e outros). De notar que no caso
dos agricultores existem mecanismos de subsídios (directos ou indirectos) e outros apoios sectoriais que
permitem cobrir parte dos investimentos próprios.
Os agricultores integrados em perímetros de rega, suportam uma pequena parte dos custos respectivos,
através do pagamento de uma taxa de exploração e conservação. Contudo não tem sido aplicada a taxa de
beneficiação prevista no mesmo diploma legal.
A taxa de beneficiação, destinar-se-ia a reembolsar o Estado pelos investimentos que realizou. Embora parte
da taxa se destine ao IHERA, nunca foi efectivamente cobrada. A imputação pelos beneficiários prevê não só
as dotações e consumos de água mas também as áreas e o interesse das culturas.
A taxa de exploração e conservação destina-se a suportar a totalidade das despesas de operação e de
manutenção inerentes a cada aproveitamento hidroagrícola, ficando totalmente a cargo dos seus
beneficiários. Uma parte é destinada ao IHERA, constituindo a única verba captada pelo Estado. Ainda
assim, esta verba destina-se a ser reaplicada nos próprios aproveitamentos.
O valor a pagar pelos beneficiários depende de aproveitamento para aproveitamento, podendo ser uma taxa
fixa por hectare, uma taxa com uma componente fixa (por área, diferenciada ou não por tipo de solo, classe
3
de aptidão agrícola, e tipo de cultura) e uma componente variável por m de água consumida.
Por outro lado, as associações recebem verbas relativas a água fornecida para abastecimento público (numa
lógica de serem considerados como beneficiários dos aproveitamentos hidroagrícolas).
Quanto às taxas de utilização previstas no regime económico-financeiro do domínio público hídrico
(DL47/94), não têm sido aplicadas.

11.7.3. Elasticidade Procura - Preço


A construção de uma tarifa não depende só dos custos que pretende cobrir mas também das características da
procura, nomeadamente da elasticidade procura-preço (inclinação da curva da procura). De forma mais
indirecta, depende igualmente da elasticidade procura-rendimento, ligada à restrição orçamental e ao peso da
água nos custos totais suportados.
Se as tarifas forem baixas, uma alteração em 1% no preço ou do rendimento não provoca alteração
significativa na procura. Aliás, a importância da água como suporte de vida leva a que a procura só oscile
perante variações substanciais do preço ou dos rendimentos, o que garante alguma estabilidade num cenário
de implementação generalizadas de preços reais. No caso das tarifas por partes, mesmo num cenário de
preços elevados, uma componente fixa elevada pode provocar altos consumos por não haver um incentivo a
uma utilização racional.
Para outras utilizações (indústria e agricultura, p.e.) onde a água é um factor de produção de uma actividade
necessariamente rentável, coloca-se a questão do impacto do aumento dos preços na viabilidade das
empresas, quer em termos absolutos, quer relativos (rentabilidade esperada face a investimentos alternativos
– custo de oportunidade).

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ECONOMIA DA ÁGUA

Apesar da escassez de estudos relativos ao cálculo de elasticidades para Portugal, dado o aumento que se tem
verificado nos últimos anos no preço dos serviços de utilização da água, principalmente na componente de
abastecimento - rede urbana, acompanhado pelo aumento dos volumes consumidos, então pode concluir-se
que, por um lado, a procura é bastante rígida - característica do próprio bem - e que, por outro lado, o nível
de preços actual é bastante baixo para fazer actuar os mecanismos que permitam influenciar a procura e
permitir uma gestão sustentável da água.
Estudos sobre as tarifas do regadio na Bacia do Sado (Pais, C. e Santos, P., 2000) referem elasticidades
muito reduzidas ao longo de quase toda a curva da procura (entre -0,01 e -0,05), com excepção para os níveis
de preço muito baixos (por afectarem particularmente a rentabilidade da cultura do arroz) e dos preços acima
de 143$00/m3 (elasticidade procura-preço de -1,95).
Apresentam-se seguidamente alguns valores respeitantes a outros países, que se referem fundamentalmente
ao consumo doméstico. Estudos sobre a realidade espanhola (que com as devidas distâncias poderá ter
alguma similaridade com a portuguesa) indicam que para níveis tarificação até cerca de 120 esc./m3 (preços
de 1994, o que corresponde a cerca de 142 esc./m3 a preços de 2000) o consumo é praticamente inelástico.
Para níveis superiores foi estimada uma elasticidade procura-preço da água em cerca de –0.57, ou seja, a
duplicação do preço da água provoca um decréscimo em 57% na quantidade procurada.

Quadro 11.7.1 - Elasticidade Procura-Preço Noutros Países

País Utilização / Localização Elasticidade Estimada


Espanha Uso urbano -0.57
Inglaterra e País de Gales Procura industrial (Aproveitamento Severn Trent) -0.30
Estados Unidos (Oeste) Uso não-doméstico [ -0.70 , -0.90 ]
Australia Perth -0.18
Canadá Victoria -0.40

Fonte: Winpenny, 1994


Existe igualmente uma relação entre as tarifas e os rendimentos, apesar do preço da água não constituir
geralmente um encargo muito significativo no orçamento das empresas ou das famílias. Um factor que
influência decisivamente a procura é a distribuição do rendimento, sendo que as famílias mais desfavorecidas
terão elasticidades procura-rendimento mais baixas que as famílias com altos rendimentos.

11.7.4. Conclusões
A construção das tarifas, independentemente da utilização, depende dos custos totais que deve cobrir, mas
também das características da procura, nomeadamente das elasticidades procura-preço e procura-rendimento.
Conhecendo o comportamento dos agentes utilizadores face às decisões de preço é possível gerir melhor a
procura e o recurso.
Dado que o aumento verificado nos últimos anos no preço dos serviços de utilização da água (abastecimento
e tratamento - rede urbana) tem sido acompanhado pelo aumento dos volumes consumidos, então pode
concluir-se que, por um lado, a procura é bastante rígida - característica do próprio bem - e que, por outro
lado, o nível de preços actual é bastante baixo para fazer actuar os mecanismos no sentido da racionalidade
da utilização e da gestão sustentável da água
Considerando que o Estado mostra preocupações sociais (impactos nas famílias mais desfavorecidas),
económicas (impacto nas empresas agrícolas, industriais e de serviços) e ambientais, conclui-se que o
problema fundamental não está tanto na formulação teórica das estruturas tarifárias, antes no baixo nível dos
preços, que não consegue cobrir totalmente os custos dos serviços de utilização, muito menos os custos de
escassez e ambientais.
Terá de haver um equilíbrio entre os custos totais e os benefícios líquidos por utilização, evitando a
manutenção de preços políticos, mas regulando economicamente para que não haja abusos de posição
dominante.

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ECONOMIA DA ÁGUA

11.8. Problemas Decorrentes do Regime Económico - Financeiro Vigente


O Regime Económico Financeiro está directamente ou indirectamente relacionado com :
• o tipo e a forma das organizações ligadas à água
• o financiamento do sector, entendendo não só o seu tipo como as suas fontes
• o nível, a estrutura e os objectivos dos tarifários e das taxas ligadas à prestação de serviços
• a integração dos instrumentos fiscais na política da água
• as taxas de utilização, de regularização e conservação previstas no DL. 47/94 de 22 de Fevereiro e as
taxas de beneficiação previstas no DL 269/82 de 10 de Julho
• a regulação do mercado da água
Considera-se que existem vários passos positivos que já foram dados e que contribuem seguramente para que
o bem estar das populações, em termos de utilização dos recursos hídricos e ambientais, venha aumentando
de forma perceptível e tenha uma perspectiva futura optimista.
A título de exemplo, bastará referir alguns factos que ilustram esta ideia :
- a crescente “empresarialização” do Sector, conferindo mais agilidade às Organizações e mais rigor na
utilização dos meios envolvidos (humanos, técnicos, financeiros, etc.) ;
- a existência de um Plano Estratégico de Abastecimento de Água e Saneamento de Águas Residuais
(PEAASAR), a médio prazo (2000-2006), visando fomentar a optimização do balanço entre benefícios e
custos, induzir a adopção das melhores tecnologias e métodos construtivos e adequar os modelos de
gestão ;
- a constatação de que alguns instrumentos vêm sendo gradualmente mais utilizados e com maior
eficácia, como é caso da crescente utilização dos contratos-programa de colaboração técnica e financeira
entre a Administração Central e Local, conferindo por esta via maior integração à solução dos
problemas e opções mais racionalizadoras; é também o caso da crescente (embora ainda lenta)
utilização dos tarifários;
- a decisão de, nas negociações com a União Europeia, conferir uma parte substancial dos fundos
comunitários à vertente água e ambiente, sendo que estes meios têm um forte “poder de alavanca” em
todo o processo de financiamento ;
- a criação de um organismo regulador das águas e resíduos (IRAR) essencial para assegurar o equilíbrio
entre a qualidade do serviço prestado pelas entidades fornecedoras e o preço a pagar pela população e
restantes agentes económicos ;
Apesar destes aspectos constituírem já alicerces importantes para uma política da água ajustada aos desafios
do futuro, subsistem contudo alguns problemas, ligados directamente ou indirectamente ao regime
económico-financeiro, que necessitam de resolução para que Portugal passe a ter um conjunto de
instrumentos coerente e integrador, a este nível.
Será necessário promover e incentivar a sustentabilidade física e ambiental das várias utilizações e a
sustentabilidade financeira das organizações, garantindo simultaneamente um melhor bem estar à população
em geral em troca de um maior esforço no pagamento dos custos, tendo em conta uma distribuição mais
equitativa.
Assim, em resultado dos dados apurados nesta área do PNA, julga-se poder enumerar as seguintes questões :
i) Deficiente informação estatística
O conhecimento concreto, fiável e atempado da realidade é essencial para que a tomada de decisão seja
devidamente fundamentada e eficaz.
A informação estatística de apoio à análise económica das utilizações da água é muito pobre; a falta de
informação devidamente sistematizada, detalhada, actualizada e abrangente, coloca-se em vários

PLANO NACIONAL DA ÁGUA 41/43 (11 - II)


ECONOMIA DA ÁGUA

campos, passando pelo cadastro das infraestruturas, inventário das utilizações da água, contabilização
analítica dos custos, fundamentação económica das taxas e tarifas, etc.
Este aspecto é mais notório a nível dos organismos públicos.
É importante notar que esta vertente é essencial ao acompanhamento e aplicação da Directiva Quadro da
Água, e à elaboração dos estudos que Portugal terá de executar para fixação dos preços da água.
ii) Inadequação da actual estrutura das organizações da Administração Central e descentralizada do
Estado
Será necessário reestruturar estas organizações, conferindo-lhes uma estrutura técnica, orgânica e
financeira mais ágil e mais vocacionada para os desafios do futuro, que serão certamente cada mais de
âmbito estratégico, normativo, de promoção e fiscalização do que executor, tendo em conta também aqui
os compromissos decorrentes da recente Directiva Quadro da Água.
iii) Inadequação da forma das instituições autárquicas ligadas à água e ambiente
Será necessário repensar a forma das instituições autárquicas que tratam das questões da água e do
ambiente. Nalguns casos não há serviços municipalizados e quando há estes não têm personalidade
jurídica própria. A criação de empresas municipais é uma via, embora o PEAASAR pareça oferecer
soluções mais integradas e com maiores economias de escala.
iv) Inadequação das tarifas e taxas dos serviços da água
Genericamente as tarifas existentes não são suficientes para cobrir os custos do respectivo serviço, sendo
que em alguns casos não chegam sequer a cobrir os custos de exploração e manutenção.
Julga-se importante que o poder autárquico reveja a utilidade que pretende conferir aos tarifários e às
taxas relacionadas com a água. A utilização sistemática de tarifas de água abaixo dos custos a suportar já
não é admissível; cobrar taxas de saneamento com base no valor do imóvel é também destituído de
qualquer sentido económico, equitativo ou de promoção de um uso racional; o mesmo se passa com
algumas estruturas tarifárias cuja parte fixa é extremamente alta: de que serve poupar no consumo, se o
valor final a pagar quase não se altera?
Seria importante o estabelecimento de algumas regras – guia que ajudassem a uma harmonização dos
métodos de cálculo das tarifas.
Por outro lado enquanto o nível dos tarifários for muito baixo (independentemente da estrutura) a
procura não reage a pequenos aumentos de preço, ou seja, é ineslática.
Estas preocupações são igualmente válidas para os regadios públicos colectivos.
v) Falta de integração dos instrumentos fiscais relativos à política da água
Apesar da existência de alguns incentivos fiscais nesta área, eles têm surgido de uma forma casuística e
por vezes apenas simbólica.
Na medida em que o princípio do utilizador-pagador venha a ser aplicado (aproximando os preços dos
custos) deverá ser dada especial atenção aos eventuais benefícios a conceder ao consumidor, ou a outros
mecanismos a estudar, sempre no sentido do incentivo à utilização racional da água e dos restantes
recursos.
vi) Falta de aplicação das taxas de utilização (Decreto-Lei nº47/94)
Com uma excepção (taxa de terrenos e planos de água), as taxas de utilização previstas para a captação
de água, rejeição de águas residuais e extracção de materiais inertes não têm sido aplicadas.
Julga-se que estas taxas seriam aquelas que, duma forma mais pedagógica, poderiam transferir para o
utilizador os custos da gestão do recurso, os custos ambientais e os custos de escassez, uma vez que os
custos dos serviços seriam cobertos por tarifários.
A sua importância não deriva tanto do seu montante unitário, mas da percepção transmitida ao utilizador
acerca do valor da água.

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ECONOMIA DA ÁGUA

Dada a situação actual de falta de aplicação, parece sensato proceder à revisão do diploma que as institui,
por diversas razões:
- porque o diploma contém várias imprecisões, lacunas e outras falhas
- porque o diploma se aplica às utilizações licenciadas e não existe ainda uma base de dados do
licenciamento, devidamente sistematizada e harmonizada,;
- porque seria importante clarificar o destino das taxas e a sua forma de utilização futura;
- porque os sectores com maior utilização da água são exactamente aqueles que estão isentos, ainda
que temporariamente, como é caso da agricultura, ou tem hipótese de ficar isentos, como é o caso da
produção de energia eléctrica;
- porque seria conveniente proceder previamente à avaliação económica da sua aplicação.
vii) Falta de aplicação da taxa de regularização e da taxa de beneficiação
Também não há cobrança destas taxas. Embora com características semelhantes (reembolso ao Estado
dos investimentos feitos em infraestruturas relacionadas com a água) foram instituídas por diplomas
diferentes (D.L.47/94 e 269/82, respectivamente) destinando-se a primeira aos utilizadores em geral e a
segunda aos beneficiários dos perímetros hidroagrícolas.
Julga-se que se trata de um tipo de taxa próximo de uma tarifa e que merecia uma análise conjunta, em
sede de revisão do D.L 47/94 de 22 de Fevereiro, dadas as suas semelhanças.
viii) Inadequação de algumas formas de financiamento
Verifica-se que alguns tipos de financiamento não são os mais adequados, porque :
- os prazos dos empréstimos bancários (com excepção do BEI) são normalmente bastante inferiores à
vida útil esperada das infraestruras o que, caso não houvesse outros apoios, seria bastante restritivo
visto que, ou os tarifários disparavam para valores incomportáveis ou não se fariam as obras
necessárias.
- a capacidade dos SMAS (por exemplo) de contrair empréstimos não está ligada à sua rentabilidade
própria, mas à capacidade de endividamento da autarquia respectiva.
- os apoios do Estado, via contratos-programa são sempre concedidos a fundo perdido, o que não
incentiva o crescimento gradual dos tarifários nem a escolha das soluções técnicas mais económicas.
Julga-se que será necessária a procura de tipos de financiamento mais equilibrados, incentivando uma
maior permanência dos capitais ao serviço dos projectos, mas também um reembolso das entidades
financiadoras, incluindo o próprio Estado.
ix) Falta de parcerias entre capitais públicos e privados
O investimento realizado é quase exclusivamente público, apesar de muitas entidades terem já forma
empresarial
Julga-se que seria salutar um maior envolvimento dos capitais privados no sector, quer ao nível das
instituições financeiras, quer ao nível dos privados não financeiros, no sentido de aliviar o esforço do
Estado e aproveitar as poupanças disponíveis.
A existência de um organismo regulador (IRAR) foi em parte justificado por esta opção.

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INFORMAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E CO-RESPONSABILIDADE

12. INFORMAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E CO-RESPONSABILIDADE

12.1. Introdução
O objecto central deste capítulo é a apresentação sumária do sistema de participação nas decisões no âmbito
da água em Portugal, abordando-se os sistemas de informação essencialmente dessa perspectiva e
acrescentando apenas uma curta nota sobre a co-responsabilização na gestão dos recursos hídricos.
A participação na gestão da água, que aparece no capítulo anterior integrada no enquadramento "formal" da
gestão dos recursos hídricos, transcende muito, no sistema português, as fronteiras desse sistema. São
principalmente os aspectos funcionais e que transcendem as ligações formais estritas da orgânica de gestão
da água que se abordam neste capítulo.
As questões ambientais em geral e as da água em particular têm sido objecto de uma intensa actividade
legislativa, em que a importância da participação, informação e co-responsabilização das populações e
agentes económicos na gestão ambiental tem sido reafirmada sucessivamente. Essas oportunidades não
tem correspondido às oportunidades e, menos ainda, ás práticas de participação.
A participação, a informação e a responsabilização são conceitos que não existem no abstracto, mas
referem-se a sujeitos e a objectos. Isto é, para analisarmos a participação temos de referir necessariamente
quem participa (o sujeito ou agente) e em que participa (o objecto ou domínio). O mesmo se passa para a
responsabilização e a informação.
A caracterização da situação actual faz-se em três níveis:
• Em termos dos valores expressos na legislação portuguesa de enquadramento geral e de aplicação ao
domínio do ambiente, bem como em algumas fontes do direito internacional e comunitário que
estabelecem grandes directivas no domínio ambiental e hídrico;
• Em termos das oportunidades de participação, informação e responsabilização abertas pela legislação
portuguesa especificamente no domínio hídrico;
• em termos das práticas de participação, informação e responsabilização verificadas.

12.2. Análise dos Valores de Participação, Informação e Responsabilização


Neste primeiro nível analisam-se as referências à participação, informação e responsabilidade nas leis
portuguesas de enquadramento mais geral e de aplicação ao domínio do ambiente, bem como em algumas
fontes de direito internacional que estabelecem grandes directivas no domínio ambiental e mais
especificamente no domínio hídrico.

12.2.1. Legislação Portuguesa de Enquadramento Geral


A análise da legislação portuguesa de enquadramento geral das questões da participação, da informação e da
responsabilização acentua uma série de direitos fundamentais:
• Direito à participação dos cidadãos em questões ambientais (Constituição da República Portuguesa), nas
questões que lhes digam respeito (Código do Procedimento Administrativo) e ainda o direito de
apresentar sugestões e opiniões aos Serviços da Administração (DL 135/99)
• Direito à informação (Constituição da República), ao acesso à informação e aos documentos
administrativos (Lei de Acesso aos Documentos Administrativos), garantindo a qualidade, a confiança,
a eficácia e a transparência do atendimento aos cidadãos (DL 135/99)
• A responsabilização dos cidadãos cujas condutas provoquem danos ecológicos ou poluição, de acordo
com o princípio do poluidor-pagador e da correcção (Códigos Penal e Civil).

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
INFORMAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E CO-RESPONSABILIDADE

Na legislação portuguesa de enquadramento geral os direitos de participação e de informação não são


apenas referidos, mas salientados e reiterados como direitos fundamentais, salientando-se igualmente o
princípio da responsabilização no domínio ambiental.
Esta análise também permitiu concluir que, sendo de carácter generalista, esta legislação se refere sempre a
cidadãos e a serviços em geral, e que os mecanismos mais específicos de implementação dos princípios só
estão identificados para o caso da informação, sendo as questões da participação e da responsabilização
deixados em termos mais abstractos. Esta especificação ao nível da informação é feita salientando os
direitos dos cidadãos e as respostas que os serviços têm o dever de lhes dar, mas é omissa relativamente às
medidas internas aos serviços que impeçam a recorrência das situações inadequadas. Deste modo, as
orientações vão no sentido de reforçar a pro-actividade dos cidadãos e de estimular os serviços a
responderem aos cidadãos, mas não de os serviços aprenderem com os contributos dos seus utilizadores.

12.2.2. Fontes de Direito Internacional e Comunitário relativo aos Domínios


Ambiental e Hídrico
Importa igualmente analisar os valores de participação, informação e responsabilização dos cidadãos
expressos em algumas fontes de direito internacional e comunitário, relativo aos domínios ambiental e
hídrico, que assumem naturalmente grande relevo no ordenamento jurídico do nosso país, estabelecendo
obrigações claras em matérias destes domínios. Referem-se assim algumas das mais importantes
convenções internacionais de carácter geral, uma convenção regional sobre Cooperação para a Protecção e o
Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas, e ainda a Directiva
Quadro de Acção Comunitária no Domínio da Água.
Os direitos de participação e informação são claramente afirmados nas fontes de direito internacional e
comunitário relativo aos domínios ambiental e hídrico, como direitos fundamentais e como elementos
essenciais no sentido de assegurar o direito a um ambiente saudável e o dever de proteger e promover o
ambiente e o desenvolvimento sustentado. Contudo, pelo seu caracter geral, nestes instrumentos jurídicos
internacionais e comunitários, tal como na legislação portuguesa de enquadramento, os cidadão, o público,
as autoridades públicas, são sempre referidos em termos gerais, e os mecanismos específicos, os meios e
responsabilidades pela divulgação da informação e pela promoção da participação são geralmente omissos.
Por definir com clareza ficam muitas vezes questões como: o que é um “pedido razoável de informação”,
quais as instâncias e mecanismos de participação dos cidadãos a adoptar, qual o peso que esta terá na
decisão final, etc.
Excepção clara neste sentido é o caso da Convenção de Aarhus que visa concretamente os temas do acesso à
informação e da participação pública e que integra um conjunto extenso e denso de disposições e exemplos
sobre mecanismos de acesso à informação ambiental, à sua recolha e disseminação, e de promoção da
participação pública na tomada de decisões, na elaboração de planos, programas e políticas de ambiente e
ainda na preparação de regulamentos executivos ou outras regras legais de incidência ambiental.
Por último a questão da responsabilização dos cidadãos está relativamente ausente dos textos legais
analisados, os quais, pela sua natureza de convenção entre estados, incidem muito mais na responsabilização
das partes contratantes relativamente às obrigações estabelecidas do que na responsabilização dos cidadãos
ou dos seus representantes. A afirmação do direito de acesso à justiça e algumas referências mais explícitas
à sua implementação (designadamente na Convenção de Aarhus) dão-nos contudo conta de uma das
acepções da responsabilidade dos cidadãos no domínio ambiental.

12.2.3. Legislação Portuguesa no Domínio Ambiental


Após a análise da legislação portuguesa de enquadramento geral e das grandes directivas no domínio
ambiental e hídrico estabelecidas em alguns instrumentos jurídicos internacionais, preocupámo-nos em
compreender os princípios que orientam a participação, a informação e a responsabilização num âmbito
mais restrito, o domínio ambiental.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
INFORMAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E CO-RESPONSABILIDADE

Neste âmbito, a análise da legislação portuguesa de enquadramento das questões ambientais repete valores
e especifica os mecanismos gerais de participação, informação e responsabilização. A Lei de Bases do
Ambiente acentua como princípios:
• Participação dos cidadãos na elaboração e execução das políticas ambientais como um direito e um
dever
• A responsabilidade por impedir a degradação ambiental e por promover a qualidade do ambiente,
salientando a importância dos princípios da prevenção, da correcção e do poluidor pagador
Deste modo, são reiterados para o domínio ambiental os princípios anteriores, apesar de ser dada menor
importância no texto à informação. No entanto, parece claro que a participação e a responsabilização só se
podem fazer seriamente num clima de informação. É nesse sentido que outras leis mais específicas, ao
definirem os mecanismos de participação e de responsabilização, salientam a importância da informação.
São assim definidos:
• Mecanismos específicos de participação nas tomadas de decisão com incidência ambiental
• Órgãos responsáveis pela promoção da participação e da informação dos cidadãos
• Órgãos responsáveis pela responsabilização dos infractores às normas de qualidade ambiental
Deste modo, a participação e a responsabilização deixam de ser conceitos abstractos, para estarem regulados
de forma mais específica. No caso da Avaliação dos Impactos Ambientais, que, no curto espaço de 10 anos
foi modificada, verificou-se um empenhamento do legislador em tornar mais precisa, mais densa, a
regulamentação sobre a participação pública, o que pode facilitar a sua operacionalização e efectividade.
Neste caso particular da legislação sobre ambiente, os agentes referidos são já mais específicos do que nas
leis de enquadramento geral, uma vez que o tema está também mais delimitado.

12.2.4. Meios de Defesa dos Direitos, Liberdades, Garantias e Interesses dos


Cidadãos, Previstos no Direito Português
O ordenamento jurídico português estabelece, para além das garantias políticas, as garantias administrativas
e contenciosas, as quais constituem meios de defesa dos particulares perante a Administração Pública. As
garantias administrativas efectivam-se através dos órgãos da administração, das suas estruturas
administrativas e formas de controlo normalmente utilizadas; as garantias contenciosas, por seu lado,
efectivam-se através da intervenção dos tribunais administrativos.
Estão assim instituídos mecanismos de defesa dos direitos dos cidadãos, realçando-se:
• A Provedoria de Justiça como um defensor dos direitos, liberdades e garantias em geral dos cidadãos;
• A Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA), como um mecanismo de garantia do
direito à informação pelos organismos públicos;
• E o Direito de Participação Procedimental e de Acção Popular como um mecanismo de defesa do direito
a um ambiente saudável;
• A Comissão permanente da Assembleia da República para o Ambiente e as Autarquias Locais;
mas não existem serviços específicos para a defesa dos direitos dos cidadãos no domínio ambiental, aquilo
que poderia ser a figura de um Provedor do Ambiente. Há, no entanto, um protocolo de colaboração da
Provedoria da Justiça com o IPAMB para as questões ambientais.
Deste modo, as leis gerais, as que regem o ambiente em geral, a nível nacional, internacional e comunitário,
parecem muito abertas à participação, à informação e à responsabilização dos cidadãos.
Da análise da legislação geral, vemos que existe claramente uma opção por valores de:

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INFORMAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E CO-RESPONSABILIDADE

• Participação, entendida como contribuição dos cidadãos (enquanto diferentes grupos sociais, entidades
colectivas ou individuais, públicas ou privadas) tanto na formulação como na execução das políticas
ambientais, e ainda na valorização do ambiente; a Convenção de Aarhus e a Directiva Quadro da Água
são também muito claras quando indicam que os processos de participação devem ter lugar nas etapas
iniciais dos processos de tomada de decisão, de modo a que os contributos dos cidadãos possam ser
integrados nos projectos ambientais ou de recursos hídricos;
• Responsabilização, através da definição dos deveres dos cidadãos, dos agentes responsáveis, das
populações e dos utilizadores (dever de não poluir ou causar danos à natureza, deveres de cumprir as
normas de descargas) e da existência de mecanismos de punição e controlo dos danos ao ambiente; os
deveres são considerados tanto pela positiva (dever de contribuir para a promoção da qualidade do
ambiente) como pela negativa (não causar dano ao ambiente); de salientar igualmente o direito de
acesso à justiça em questões de ambiente, como direito fundamental dos cidadãos, mas que alarga
também o seu domínio de responsabilidade;
• Informação, entendida como a existência de “fluxos contínuos entre os órgãos centrais e os cidadãos”,
isto é, salientando a necessidade de os órgãos competentes informarem os cidadãos e de estes
contribuírem para a melhoria dos serviços prestados, através de um mecanismo de feedback..
A informação é o menos acentuado dos valores expressos nas nossas leis gerais, que salientam claramente a
participação e a responsabilização, enquanto que na legislação internacional e comunitária está mais ausente
a questão da responsabilização dos cidadãos e mais explícitos e detalhados os temas da participação e da
informação. Mas, evidentemente, a responsabilização e a participação só fazem sentido se houver acesso
dos cidadãos à informação e atenção das entidades competentes às sugestões e reclamações dos cidadãos.
Deste modo, os valores expressos nas nossas leis assumem uma posição de grande abertura face à
participação e à responsabilização, e parecem indicar uma grande vontade de ouvir e atender os cidadãos.
Vejamos agora como é que estes valores gerais são operacionalizados nas leis mais específicas.

12.3. Análise das Oportunidades e Práticas de Participação, Informação e Responsabilização

12.3.1. Órgãos e Processos Relevantes


Conselhos de Bacia
Conselho Nacional da Água (DL s45/94 e 166/97)
Comissão de Gestão de Albufeiras (DL 21/98)
Processos associados aos POCS e aos POA
Inquéritos Públicos associados à afectação do direito de uso da água( DL 46/94)
Informação sobre o estado da qualidade da água (Dl 236/98)
Não existe informação sistematizada sobre o funcionamento do sistema de participação, informação e co-
responsabilização no âmbito da água. Na inviabilidade de um estudo exaustivo, apenas se aprofundaram
alguns exemplos, que se consideraram representativos.

12.3.2. Participação
12.3.2.1. Participação em Consultas Públicas
Analisam-se neste âmbito os processos de AIA, com base nos estudos da OBSERVA e do IPAMB.
O enquadramento legal da AIA mudou, e, na análise da participação nestes processos, comparam-se as
consulta antes e depois da vigência da nova lei, consideram-se neste contexto os casos relativos a recursos
hídricos (estudos de impacto ambiental referentes a barragens, portos e marinas e ETARs).

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
INFORMAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E CO-RESPONSABILIDADE

A participação dos diversos agentes nas AIA foi considerada repetidamente um exemplo de sucesso dos
mecanismos de participação ambiental. Jesus (1996) salienta como principais aspectos positivos a aquisição
de conhecimento local, a possibilidade de entrar em consideração com as reacções locais (por vezes
contraditórias) e a familiarização com o projecto reduzindo a resistência à mudança.
A comparação dos indicadores de participação antes e depois da vigência da nova lei de AIA é feita
comparando os dados relativos ao período 1990-1997 disponibilizados pelo OBSERVA (Garcia et al, 1997)
com os dados referentes a 2000, disponibilizados pelo IPAMB.
Verificam-se mudanças na participação com a aplicação da nova lei:
• Número de pareceres por processo aumentou, quer no caso dos Processo do Anexo I (de 6,7 para 81,2)
quer nos do Anexo II (de 9,8 para 25,1). Em 2000, a participação dos cidadãos nestes pareceres é
predominante (88% dos pareceres do Anexo I e 70% dos do Anexo II).
• Percentagem de processos com eventos de esclarecimento aumentou no caso dos processos do Anexo I
(de 29 para 41%) e diminuiu no caso dos processos do Anexo II (de 10% para 0). Em qualquer dos
casos a percentagem de processos com audiências públicas baixou, tendo-se investido no caso dos
processos do Anexo I noutras formas de esclarecimento (exposições, sessões de esclarecimento).
• As reuniões com autarcas foram feitas apenas depois da nova lei e com maior frequência nos processos
do anexo I (2,4 por processo) do que nos do Anexo II (1,4)
• Os balcões de atendimento foram implementados com carácter sistemático nos Processos do Anexo I,
enquanto que são raros nos do Anexo II.
• Os projectos referentes a recursos hídricos seguem o mesmo padrão dos restantes projectos do Anexo
em que se enquadram.
No seu conjunto, as formas de estimular a participação nas AIA têm mudado:
• Tem-se investido mais no esclarecimento individual dos cidadãos (através do atendimento nos balcões),
o que é uma medida importante uma vez que é neste contexto mais privado que pessoas com menor
capital cultural podem esclarecer as suas dúvidas.
• Tem-se investido no contacto com representantes do poder local, o que é também uma medida
importante, uma vez que são agentes com capacidade de mobilização dos cidadãos e das organizações
locais no sentido da sua participação no processo.
• No entanto, tem-se verificado um menor investimento no debate público das ideias. Estes debates são
importantes, uma vez que os Estudos de Impacte Ambiental são estudos técnicos (e por isso mesmo
escritos numa linguagem particular e utilizando instrumentos de análise especializados), mas não estão
necessariamente correctos ou isentos de valores nas opções tomadas. O debate público com outros
técnicos permite às assembleias de leigos compreender as limitações destes estudos, alertando-as para
impactes não considerados ou minimizados nas análises efectuadas, e que, de outro modo, lhes
passariam despercebidos. Ajuda assim à elaboração de pareceres mais informados, uma vez que permite
o acesso dos cidadãos leigos a opiniões técnicas sobre os estudos realizados.
• resultado desta mudança de estratégia é o aumento significativo dos pareceres, que acabam por ser, na
maioria dos casos, a única forma que os cidadãos, as organizações profissionais e ambientais ou mesmo
os organismos locais têm de exprimir as suas posições face ao processo em curso.
12.3.2.2. A Participação em Conselhos com Funções Consultivas
Lima, et al. analisaram a participação nos Conselhos de Bacia, que representam instâncias de participação
relevantes para as decisões de âmbito regional.
São grupos grandes e heterogéneos de pessoas que pretendem representar os diversos interesses em jogo na
zona, e dos quais fazem parte representantes dos utilizadores. Porém, apesar da sua importância na
discussão dos problemas locais, existem diversos problemas associados a eles. Não é fácil ao público saber

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quais as organizações representadas em cada um dos 15 Conselhos de Bacia, o que impede à partida o seu
contacto e contributo em termos de participação nas decisões dos Conselhos. Por outro lado, se 8 dos
representantes dos utilizadores representam Câmaras Municipais da Bacia Hidrográfica indicadas pela
Associação de Municípios, os restantes 8 utilizadores são escolhidos pelo Ministério do Ambiente e
Ordenamento do Território, sob proposta do INAG (para os rios internacionais) e das DRAOTs (para os rios
nacionais), sem critérios pré-estabelecidos .
A análise dos utilizadores representados nos 12 Conselhos de Bacia analisados mostra que eles são na sua
maioria Associações de Agricultores (23%) ou de Regantes (14%), seguidos das Associações Empresariais
ligadas à indústria ou ao comércio e indústria (25%) e das hidroeléctricas (16%), como se pode ver na
Figura 12.1. Esta distribuição não foi pacífica, verificando-se contestações aos pesos dados a diferentes
áreas, nomeadamente a agricultura reclamando mais lugares para si em alguns Conselhos, como por
exemplo o do Tejo.

Figura 12.1- Origem dos representantes dos utilizadores


nos Conselhos de Bacia (%)
Produção
Hídroeléctric
Assoc. animal
Outras
Desportivas
Distribuição
de água
Agricultores e
Empresarias regantes
(comércio e
indústria)

Nota: Os dados não incluem os seguintes 3 concelhos de Bacia: Ribeiras do Algarve, Mira e Ribeiras do Oeste
Fonte: Actas dos Conselhos de Bacias.

Dentro de cada categoria, há algumas regularidades interessantes:


• Nas associações de agricultores destaca-se a Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP)
presente em 6 dos 12 Conselhos de Bacia analisados, enquanto que a Confederação Nacional da
Agricultura (CNA) está presente em apenas 1, sendo as restantes representações de Associações
Regionais de Agricultores;
• No caso das Associações de Regantes não há duplicação das suas presenças em diversos Conselhos, o
que faz sentido uma vez que as Associações de Regantes estão associadas a bacias hidrográficas
específicas;
• Nas associações empresariais só existe a representação de uma associação nacional (AIP) no caso do
Conselho do Tejo, sendo os restantes representantes Associações Regionais;
• Nas hidroeléctricas as representações estão divididas quase a meio por duas entidades: a EDP (7
representações) e a Associação Portuguesa de Mini-hídricas (8 representações);
• Os casos classificados como “outros” inclui duas representações de uma associação profissional a
APRH, Associação Portuguesa de Recursos Hídricos.
No caso das ONGAs representadas neste órgão, salienta-se a Quercus, com representantes em 7 dos 12
Conselhos analisados. As restantes associações de ambientalistas de âmbito nacional representadas integram
apenas 1 Conselho de Bacia (caso da Liga de Protecção da Natureza ou do GEOTA). Das ONGAs 7 são
regionais e nestas há duas mais vocacionadas para o património e quatro ligadas a um rio particular
(AMILEÇA, Associação “O Rio Neiva”, Associação dos Amigos do Rio Vouga e Liga dos Amigos dos
Campos do Mondego). De salientar ainda que a APRH - Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos
aparece nos Conselhos de Bacia ora como ONGA ora como representante dos utilizadores.
Deste modo, parece que uma clarificação dos critérios de inclusão e de selecção dos diversos representantes
dos utilizadores e das ONGAs aumentaria claramente a credibilidade destes órgãos.

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A análise da assiduidade às reuniões dos Conselhos de Bacia também mostra uma tendência interessante:
são os representantes das ONGAs os que menos faltam às reuniões, apresentando os utilizadores, municipais
ou não, um nível mais elevado de ausências nas reuniões.
Os Conselhos de Bacia são órgãos importantes de gestão mais regionalizada das questões hídricas, mas que
apresentam muitas limitações no conhecimento da sua actividade e pareceres pelo público. Cabe aqui
igualmente uma reflexão sobre os critérios de selecção dos diversos representantes dos utilizadores.
12.3.2.3. A Participação das ONGAs
Desde 1987 temos assistido a um aumento do número de ONGAs e na sua actividade considerada em
termos de número de projectos e de montante de financiamento recebido do Estado. Assim, e de acordo com
os dados do IPAMB citados no Relatório do Estado do Ambiente 1999, entre 1987 e 1998 o número de
ONGAs em Portugal cresceu de 42 para 188. Está, no entanto, por fazer um levantamento sistemático da sua
intervenção no âmbito dos recursos hídricos. O seu contributo em termos das diversas Comissões e
Conselhos a que pertencem (nomeadamente os Conselhos de Bacia), embora seja considerada importante,
está muito aquém do que desejariam, uma vez que estas instâncias têm um carácter mais informativo e
consultivo do que decisivo.
Especificamente orientada para os recursos hídricos, refere-se a APRH (Associação Portuguesa dos
Recursos Hídricos).
12.3.2.4. A Participação Individual por Iniciativa dos Cidadãos
O levantamento neste âmbito foi feito reportando-se apenas a queixas e reclamações
A participação dos cidadãos individuais e dos organismos que os representam faz-se muitas vezes através do
alerta para situações de degradação ambiental. Este mecanismo de aviso deve ser considerado como uma
importante forma de contribuir para a melhoria da qualidade ambiental e está muitas vezes incluído nas
sugestões, nos alertas, nas reclamações ou queixas que chegam aos órgãos de administração.
Este número de reclamações é considerado um indicador importante de cidadania que permite a melhoria
dos serviços oferecidos aos cidadãos. Está bem inserido dentro dos mecanismos previstos e incentivados
pelo Decreto Lei 135/99, sobre a Modernização Administrativa. Nesse sentido, a análise das reclamações
permite-nos ter um indicador de envolvimento do público com as instituições, bem como da capacidade de
resposta das instituições aos cidadãos.
No caso da água, um estudo do Instituto do Consumidor (2001) analisou as reclamações apresentadas pelos
utilizadores de água. Dos inquiridos 21% afirmaram já ter apresentado queixas relativamente ao serviço de
água da rede pública. As 3 principais razões que levaram às reclamações foram os cortes de água ou a falta
de pressão (37% dos casos), a falta de qualidade da água (18% dos casos) e problemas de facturação (17%
dos casos). A maior percentagem de queixas relativas à qualidade da água vem de consumidores do Sul e do
Litoral Centro Sul do Continente.
Aos Serviços de Saúde Ambiental da Direcção Geral de Saúde chegam também frequentemente
reclamações relativas à água. Do levantamento efectuado das queixas neste domínio apresentadas em 1997 e
2000, verificou-se que na sua maioria são apresentadas por cidadãos individuais (56%) ou por Associações
de Moradores (24 do sistema de esgotos) e a águas destinadas ao consumo humano (presença de elementos
químicos na água ou falta de saneamento básico).
Sabe-se ainda que há reclamações e sugestões recolhidas em muitos outros locais. O GEOTA tem
sistematizado um processo de recolha de denúncias de situações de dano ambiental (Fichas de Participação
Ambiental) que depois envia para os serviços competentes, informando os seus autores dos resultados. No
entanto, não está feita uma análise sistemática destas denúncias. As queixas que chegam à Inspecção Geral
do Ambiente são também frequentemente do domínio hídrico (IGA, 2000), embora elas sejam
frequentemente apresentadas junto das DRAOTs, que são as entidades competentes para a resolução da
maior parte destas queixas. A análise das reclamações que chegam às DRAOTs sobre água é ainda um dos

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indicadores propostos para avaliar o grau de sustentabilidade do desenvolvimento em Portugal (Direcção


Geral do Ambiente, 2000).
O levantamento feito de algumas destas intervenções, dispersas por organismos muito diferentes, mostra
várias aspectos importantes:
• Que, quando estes canais de comunicação e de participação estão abertos, os cidadãos utilizam-nos;
existe em todos os serviços analisados um número muito grande de utilizadores que recorrem a eles para
manifestar a sua posição sobre as questões ambientais;
• Qque, por ausência de um organismo centralizado de recolha das reclamações e alertas no domínio do
ambiente e da água e de um planeamento e gestão integrada da informação, estes processos se
espalham por uma multiplicidade de entidades (nem sempre as competentes para resolverem o
problema); existe assim um desaproveitamento das energias e uma fraca eficiência do sistema como um
todo;
• Que não é dada a importância devida à resposta a estas intervenções; isto é, que as interpelações dos
utilizadores não parecem ser usadas como uma forma de melhorar a qualidade ambiental, mas são mais
frequentemente vistas na perspectiva de dar andamento ao processo nos prazos legais, não estando
estipulados os mecanismos de mudança dentro do próprio sistema.

12.3.3. Responsabilização
12.3.3.1. A Utilização dos Mecanismos Legais Criados para a Defesa do Ambiente
Identificaram-se anteriormente diversos mecanismos legais destinados a incrementar a participação e a
responsabilização dos cidadãos em questões ambientais, dos quais destacaríamos: a participação
procedimental e acção popular e a definição dos crimes de poluição e de danos contra a natureza. Procura-se
agora saber se estas duas figuras jurídicas são utilizadas, especificamente no domínio dos recursos hídricos.
As fontes desta informação foram o SIDDAMB (Direcção Geral do Ambiente), http://www.diramb.gov.pt/),
DGA), da Direcção-Geral dos Serviços de Informática do Ministério da Justiça (DGSI) e do Centro de
Estudos Judiciários (CEJ) através do Centro de Estudos Ambientais e de Defesa do Consumidor do
Ministério da Justiça (CEADCMJ).
A pesquisa na jurisprudência permitiu identificar 15 processos diferentes de acção popular, sendo 6
provenientes de Tribunais Administrativos, 5 de Tribunais da Relação, e os restantes do Tribunal dos
Conflitos e do Supremo Tribunal de Justiça. Destes 15 processos, 5 eram relativos a questões de recursos
hídricos e foram na sua maioria julgados em Tribunais Administrativos.
Relativamente a crimes de poluição foram encontrados 13 processos, julgados quase exclusivamente pelo
Tribunal Judicial, embora se encontrasse um caso relativo ao Tribunal da Relação. Destes 13 processos de
crime de poluição, 6 referem-se a questões de água.
Estão actualmente no Supremo Tribunal Administrativo 9 recursos referentes a acções populares. Destes, 4
foram requeridos por associações (Quercus e Associação Nacional de Farmácias), enquanto que os restantes
foram requeridos por cidadãos individuais. A grande maioria dos casos (8) visam serviços públicos.
Desta análise podemos concluir que os mecanismos criados funcionam, embora não com tanta frequência
como se poderia esperar, e que as questões hídricas têm um importante peso nestes processo,
correspondendo a cerca de 1/3 dos casos de acção popular e de metade dos casos de crime de poluição. Não
se conhece, no entanto, as taxas de condenação associados a estes processos, as sanções aplicadas em
termos de penalização do infractor e de reparação dos danos, nem as dificuldades sentidas pelos tribunais
para as porem em prática.

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12.3.3.2. A Responsabilização das Actividades Económicas Utilizadoras do Domínio


Hídrico
Neste âmbito, a título de exemplo, analisaram-se os contratos de adaptação ambiental, as inspecções e os
autos levantados pela Inspecção Geral do Ambiente.
Um incentivo à indústria para promover a adequação ambiental foi a celebração de contratos de adaptação
ambiental (CAAs) que associavam incentivos económicos à prorrogação de prazos de cumprimento das
normas, mediante compromisso dos beneficiados de redução da poluição. Em 1997 foram assinados
contratos de adaptação ambiental com 26 associações de indústrias em 18 sectores. Nestes contratos, as
3699 empresas aderentes comprometeram-se a adaptarem-se à legislação ambiental vigente, até ao dia 31 de
Dezembro de 1999 (alterado depois até 31 de Julho de 2000 para o caso do sector de azeite), sendo para tal
apoiadas pela DGA e acompanhadas por uma comissão criada para o efeito que incluía membros das
associações que assinaram o contrato. No entanto, mais de 1 ano após o fim dos cronogramas, não está feito
um relatório da eficácia destes contratos ao nível do comportamento das indústrias.
As inspecções realizadas junto destas empresas no ano de 1999 (IGA, 2000) permitiu ter uma visão positiva
da adesão aos contractos. No entanto, “ao nível da implementação das medidas propostas, muita coisa ficou
por fazer”, uma vez que em “muitos casos a complexidade dos problemas dos sectores não cabe em
soluções individuais”, “se generalizou o uso dos contratos a situações onde eles eventualmente não tinham
capacidade de resposta” e “se uniformizaram situações com grande diversidade”. “Daí que a taxa de
inexecução seja mais significativa entre empresas de menor dimensão e menor capacidade económica”
(Inspecção Geral do Ambiente, 2000).
A análise das inspecções realizadas em 1999 a empresas envolvidas em CAAs e dos autos de notícia
levantados pela IGA mostram que:
• Houve sectores em que a inspecção recaiu com mais frequência do que outras, nomeadamente nas
indústrias de papel e cartão, lacticínios e químico, e houve outros sectores sub-amostrados em termos de
inspecção, nomeadamente o caso dos lagares de azeite, madeiras, calçado, gráficas e rochas
ornamentais; não é clara a razão desta incidência diferencial;
• Apesar de esta amostragem de empresas não corresponder às características do sector, podemos ver que
as inspecções identificaram alguns sectores como problemáticos em 1999; é o caso das indústrias do
calçado, do papel e cartão e naval.
Há no entanto, uma série de sectores não abrangidos por CAAs, e que a Inspecção Geral do Ambiente (IGA,
2000) organiza em 13 áreas. Estes sectores são particularmente visados pelos autos de notícia da IGA.
Assim, em 1999, nos sectores não abrangidos por CAAs, 38% das inspecções da IGA resultaram em autos
de notícia, enquanto que isso aconteceu apenas em 13% dos casos das inspecções nos sectores abrangidos
por estes contratos. As indústrias mais transgressoras foram as de transportes, adegas, curtumes e as
empresas envolvidas no Sistema Integrado de Despoluição do Vale do Ave, em que houve mais de 50% de
inspecções que resultaram em autos de notícia.
A falta de licenciamento do uso do domínio hídrico é a infracção mais frequente dos autos de notícia e dos
processos que chegam a tribunal. Trata-se de “falta de licenciamento de descargas, falta de cumprimento das
condições estabelecidas nas licenças e ausência de outros licenciamentos, nomeadamente, as captações de
água para o processo industrial” (IGA, 2000, p. 62).
No entanto, o processo de responsabilização das indústrias é pouco eficiente. Dos 422 processos de contra-
ordenação existentes em 1999 terminaram nesse ano 44% e das decisões tomadas a maioria apresentou
recurso. Esta estratégia é interpretada pelo IGA (2000) como resultado da “consciência de impunidade que
marcou o relacionamento do Estado com os responsáveis por actividades com incidências ambientais” e do
facto de as entidades envolvidas entenderem que “não têm nada a perder com o recurso e, em última
instância, adiam o pagamento das coimas” (p. 55). De algum modo, é um sistema perverso, uma vez que:
(a) é mais eficiente economicamente para as empresas pagarem as coimas, que eventualmente resultem de
um processo que se arrasta anos nos tribunais, do que estar licenciado ou introduzir as alterações ambientais

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que permitam cumprir as normas ambientais em vigor;(b) o incumprimento das situações de licenciamento
só pode ser detectado com inspecção, uma vez que os dados de auto-controlo que as empresas apresentam
podem facilmente ser fraudulentos (IGA, 2000).
Deste modo, verificamos que se trata de um domínio onde a actuação no sentido do aumento de
responsabilização é muito complexa, quer porque inclui uma diversidade muito grande de situações, quer
porque há problemas de monitorização das descargas poluentes, quer porque há problemas de licenciamento
das descargas, quer porque existe uma grave escassez de recursos humanos no IGA para proceder a
fiscalizações, quer porque os mecanismos legais accionados não funcionam com a brevidade necessária. Por
outro lado, é um sistema que, em princípio, funciona com base na confiança de que as empresas industriais
realizam com seriedade o auto-controlo. Finalmente, é um sistema exclusivamente voltado para a punição, e
não para a valorização das práticas positivas em termos ambientais, o que cria, de facto, injustiças entre
empresas do mesmo ramo.
12.3.3.3. Informação e Responsabilização dos Agricultores: O Código de Boas Práticas
Agrícolas
O Decreto-Lei n.º 235/97 veio determinar a divulgação e a implementação do Código de Boas Práticas
Agrícolas (CBPA), com vista à responsabilização dos agricultores, à diminuição da poluição das águas e dos
solos com nitratos e à diminuição das perdas de água durante as regas.
Segundo o relatório dos três primeiros anos de divulgação do CBPA (Silva, Nunes e Nunes, 2000), as
acções desenvolvidas visaram essencialmente uma abordagem pedagógica e informativa do Código de Boas
Práticas Agrícolas junto dos agricultores. Foram desenvolvidas as seguintes acções ao longo dos 3 anos:
• realizaram-se três sessões de sensibilização para agricultores;
• divulgaram-se cópias de folhetos explicativos do código junto de agricultores;
• realizaram-se campos de ensaio e jornadas técnicas para divulgar projectos agrícolas;
• divulgou-se o CBPA em diversos eventos e por diversos meios;
• incluiu-se a problemática da poluição das águas no curriculum dos cursos de empresários agrícolas;
• foi publicado o manual básico “Conservação do solo e da água” que descreve de forma simples e
resumida algumas boas práticas agrícolas.
Apesar de não haver indicadores que permitam avaliar a eficácia destas medidas, provavelmente elas foram
extremamente limitadas. Mais recentemente, e após a consulta a diversas entidades estatais e a ONGAs, foi
apresentado pelo Ministério da Agricultura o RURIS - Plano de Desenvolvimento Rural 2000-2006. No
âmbito do RURIS, foi aberta a candidatura de agricultores a indemnizações compensatórias ou a medidas
agro-ambientais, na condição de os agricultores ficarem obrigados durante 5 anos a cumprir o código das
boas práticas agrícolas. Procura-se assim, através do controlo dos fundos comunitários, melhorar as práticas
agrícolas, continuando, no entanto, a divulgação através de sessões públicas de divulgação, de participação
em feiras e através de brochuras e de publicidade nos meios de comunicação social. Pretende-se ainda que
este programa seja avaliado, associado a um sistema de informação a ser desenvolvido, e acessível a todos
os interessados.
Um estudo recente, realizado no âmbito do OBSERVA (Valadas Lima, 1999) procurou estudar as
representações e atitudes dos agricultores candidatos ao grupo I das medidas agro-ambientais (programa de
apoio a medidas de agricultura menos agressivas para o ambiente) através de um estudo realizado por
inquérito a uma amostra de 142 agricultores da sub-região agrária do Oeste. O estudo mostra que todos os
agricultores candidatos a este programa são membros de associações de agricultores, 80% têm formação
profissional agrícola, e 56% já beneficiou de outros programas de UE. Estamos portanto perante um grupo
de agricultores especial, com redes de contacto bem estabelecidas. Mais de metade dos agricultores
inquiridos refere como principal motivação para a candidatura as razões económicas (especialmente os
agricultores mais novos), mas também as razões técnicas (especialmente os agricultores mais velhos que

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esperam assim obter assistência técnica na sua produção agrícola). 69% considera que a agricultura tem
impactes negativos sobre o ambiente, mas de qualquer forma para eles a agricultura não é o que mais polui:
a indústria, para 79% de inquiridos, é a principal fonte de poluição do país e a pecuária a principal fonte de
poluição da região (38%, contra 18% que consideram a agricultura). Este estudo mostra que, para mudar as
práticas agrícolas dos agricultores é importante conhecer as suas representações. De facto, mesmo neste
grupo que é mais diferenciado que a maioria dos agricultores, e que está envolvido num programa de
incentivo a boas práticas agrícolas, as principais motivações para a adesão são económicas ou técnicas, e
não ambientais, porque consideram a agricultura como uma actividade muito menos poluente do que outras,
que produzem cheiro, fumo ou alteração das águas mais drásticas (pecuária e indústria).

12.3.4. Informação
De acordo com os dados obtidos nos Inquéritos Nacionais realizados pelo OBSERVA (Almeida, 2000;
OBSERVA, 2001), os portugueses consideram-se pouco informados sobre as questões ambientais. Em
1997, 63% dos inquiridos considerava-se pouco ou nada informado, e esta percentagem manteve-se nos
62% em 2000. E de facto, as questões que tentam avaliar os conhecimentos no domínio do ambiente têm
sistematicamente resultados fracos: apenas 13% dos inquiridos sabe as causas do efeito de estufa, apenas
34% sabe o destino do seu lixo doméstico, ou apenas 4% ouviu falar da Rede Natura.
A informação que têm é veiculada principalmente pelos meios de comunicação social (em 89% dos casos) e
pelas ONGAs (15% dos inquiridos), embora tenham mais confiança nesta última fonte de informação. A
internet é apenas considerada um meio de informação no domínio do ambiente para 11% dos inquiridos.
Estes dados referem-se às questões ambientais como um todo. No entanto, a análise das notícias sobre
ambiente veiculadas nos jornais diários entre 1995 e 1998 (Nave et al., 1999) mostra que a água é uma
matéria importante na agenda pública do ambiente, sendo a indústria normalmente indicada como principal
responsável pelos danos ambientais, e nomeadamente pela poluição dos rios. Por outro lado, apesar de as
pessoas se afirmarem e serem pouco conhecedoras de questões ambientais gerais (como o buraco do ozono
ou o efeito de estufa) detêm uma série de conhecimentos que normalmente não são valorizados e que eles
próprios não associam a conhecimentos ambientais, mas que no caso da água são particularmente
relevantes. Assim,
• Uma vez que as pessoas são consumidoras diárias de água, conhecem as alterações de cor e sabor das
águas que lhes são fornecidas para consumo;
• Uma vez que muitas vezes passam por rios e albufeiras na sua vida diária, notam alterações de cor e
cheiro das águas, a existência de animais ou plantas mortas, ou outros sinais de poluição;
• Uma vez que possuem ou fazem poços nos seus terrenos, dão-se conta das alterações na água que
retiram;
• Uma vez que frequentam praias, reconhecem indicadores de poluição na água ou na areia;
Isto é, detêm uma série de conhecimentos que não derivam de uma aprendizagem formal, mas da sua
experiência particular e que podem ser aproveitados para dinamizar a participação, constituindo-se como
alertas aos serviços competentes. Esta potencialidade integra-se no direito que os cidadãos têm de informar
as autoridades e no dever de promover a qualidade ambiental.
Relativamente aos conhecimentos de carácter mais técnico acerca dos recursos hídricos, não está estudado o
nível de informação dos cidadãos, apesar de haver razões para se supor que são reduzidos. Efectivamente,
os cidadãos de uma maneira geral desconhecem antecipadamente a qualidade da água que têm o direito de
exigir, como desconhecem os seus deveres e obrigações de protecção do ambiente e dos recursos hídricos
em particular.
Nos últimos anos tem sido feito um importante esforço de divulgação de informação no domínio hídrico,
correspondendo assim às exigências legais, nomeadamente sobre a qualidade das águas. Analisam-se em

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seguida algumas dessas estruturas de informação existentes no que refere ao tema específico da qualidade
da água.
12.3.4.1. Site de Informação do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos
É a forma mais geral e actualizada de fornecimento de informação sobre os recursos hídricos existente no
nosso país.
No entanto, e apesar da constatação de que existe uma resposta do público a esta iniciativa (Marques et al.,
2001), podem-se salientar as seguintes deficiências nesta informação:
1. A informação que é fornecida nem sempre está adequada ao público que a procura. Assim, em alguns
casos, a informação é extremamente técnica e inacessível ao público em geral e, noutras,
demasiadamente simplificada sem permitir aos técnicos uma análise mais aprofundada;
2. De uma forma geral, a apresentação de informação é mais vezes técnica do que destinada ao público
em geral, o que coloca assim como principal público alvo os especialistas em recursos hídricos. E de
facto, a análise da proveniência dos contactos feitos ao site por email mostra que eles são efectuados
predominantemente por técnicos: 39% provêem de universidades, 4% de organizações de investigação
estrangeiras e cerca de 4% de organismos do Estado dedicados a investigação (LNEC e IGM). Assim,
pelo menos 47% das consultas são realizadas por especialistas, contra os 30% do público em geral que
utilizam por vezes este site para outros fins (“apresentar queixas respeitantes a processos que têm
pendentes na Administração Regional ou Autárquica” – Marques, 2001b, p. 28). Assim, apresenta-se
como um sistema de informação vocacionado para os técnicos, pelo que prescinde de ajudas essenciais
para os leigos, como sejam o mapa do site ou os motores de busca;
3. A disponibilização quase exclusiva da informação por meio da Internet reduz também amplamente o
acesso dos cidadãos à informação. De facto, de acordo com últimos dados disponibilizados pelo INE,
referentes ao ano de 1997, apenas 14,4% dos alojamentos em Portugal tinham computador (Barreto,
2000), o que corresponde a valores bem abaixo da média Europeia, segundo os dados da Comissão
Interministerial para a Sociedade da Informação (1999, 7 computadores por cada 100 habitantes contra
18 de média Europeia). Nesse ano, e de acordo com os dados do Instituto das Comunicações de
Portugal (ICP, 2001), havia pouco mais de 72 mil assinantes individuais de Internet, o que corresponde
à existência de Internet em apenas cerca de 16% dos alojamentos com computador. Nos últimos anos o
acesso à Internet cresceu muito. De acordo com o mesmo relatório do ICP, estimam-se em 1.9 milhões
o número de clientes individuais de serviços de Internet no último trimestre de 2000, mas estes valores
estão muito inflacionados, porque, com a oferta de acessos gratuitos à Internet desde 1999, é possível
um mesmo utilizador estar a ser contabilizado repetidamente. No entanto, os dados de sondagens
trimestrais realizadas pela Marktest (Bareme-Internet, http://www.marktest.pt) mostram que, no
primeiro trimestre de 2001 41,6% dos inquiridos tem computador em casa e 36,5% tem acesso à
Internet, ainda que apenas 20,4% em casa.
4. Apesar do Decreto Lei 135/99 determinar que os espaços de espera em organismos públicos tenham
computador ligado à Internet (artigo 7º), e uma vez que os serviços do estado não dispõem de momento
de postos de acesso à informação via Internet para os cidadãos, a disponibilização da informação via
internet continua a ser feita para um grupo restrito de utilizadores. Há, porém, alguma esperança de que
este grupo cresça, uma vez que, de acordo com as Estatísticas da Comissão Interministerial para a
sociedade da informação, citando dados da Comissão Europeia de Fevereiro de 2001, 42% das escolas
primárias e 100% das escolas secundárias têm acesso à Internet.
12.3.4.2. Informação sobre a Qualidade da Água para Consumo
A Direcção Geral do Ambiente (DGA) elabora um relatório anual sobre a qualidade da água para consumo,
no cumprimento do disposto no DL 236/98.
Actualmente, a divulgação dos relatórios é feita na íntegra, no site da DGA, e são elaborados resumos dos
dados por distrito e por concelho, onde é possível encontrar um historial dos níveis de qualidade da água. A

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informação disponibilizada está agora muito mais completa, havendo a preocupação de atingir vários tipos
de público. No entanto, a utilização da Internet como forma privilegiada de acesso aos cidadãos merece
alguma apreensão.
De acordo com o estabelecido no n.º 6 do Artigo 22º do Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto, também as
entidades gestoras de serviços de abastecimento de água para consumo devem informar os consumidores da
área que servem dos resultados obtidos nas análises de demonstração de conformidade com as normas de
qualidade da água em vigor. Além da publicitação anual pela DGA, as formas de publicitação destes dados,
a mais curto prazo, são diversas, e nem sempre de fácil acesso aos cidadãos.
12.3.4.3. Informação sobre a Qualidade das Águas nas Zonas Balneares
Desde 1996 o INAG elabora folhetos de divulgação da qualidade da água nas diversas zonas balneares, onde
estão indicados os valores recomendados e admissíveis dos diversos parâmetros, os telefones das
autoridades de saúde distritais para obter mais informações sobre a qualidade da água, e um mapa de
Portugal com a classificação da água balnear das diversas praias feito de acordo com os dados recolhidos no
ano anterior. Esta informação também está disponível no Infocid (http://www.infocid.pt/aguas/), de uma
forma acessível ao público, possibilitando uma leitura por leigos e o aprofundamento da informação.
Desde 2001 que está disponibilizada a informação em tempo real relativa à monitorização de 445 zonas
balneares (semanal ou quinzenal) no site do SNIRH (http://www.inag.pt/snirh/dados_sintese/main_nav_fr.html).
Este site, ao contrário do site do Infocid é de difícil utilização (por exemplo, as zonas balneares não estão
identificadas com o nome).
Não é evidente para o utilizador comum a razão da desarticulação entre estes dois sites que referimos acima.
Porém, em nenhum deles, nem nas restantes formas de divulgação da informação aparece um dado
fundamental para os utilizadores das águas balneares: quais são as consequências do banho ou da ingestão
de água que apresenta valores inaceitáveis? Esta informação, aliás prevista nas disposições do direito
internacional neste domínio, exigiria a colaboração da Direcção Geral de Saúde, e permitiria aos cidadãos
equacionarem os seus riscos e decidirem em consciência da sua exposição a eles.

12.4. Lacunas de conhecimento


Se em todos os temas tratados ao longo dos capítulos anteriores do PNA o déficit e a dispersão da
informação, a falta de monitorização e a incipiência de conhecimento integrado sobre a realidade portuguesa
foram recorrentemente referidos como obstáculos à caracterização e diagnóstico e, em suma, ao
planeamento, em nenhum outro tema estes factores atingem a magnitude que atinge na matéria objecto deste
capítulo.
Sobre as lacunas de conhecimento dos sistemas de participação, informação e responsabilização no âmbito
da água destacam-se quatro questões:
• Primeiro, surge a dificuldade da identificação e caracterização da multiplicidade de "intervenientes" e
"interessados" e das suas formas de organização, do tipo de interesses e potenciais conflitos. A título de
exemplo, refere-se que foram identificados 23 grupos de actividades sócio-económicas com interesse
directo e geralmente geradoras de conflitos com as políticas da água; e que a cada uma destas
correspondem distintos grupos intervenientes, citando-se, só no caso da agricultura, a CNA, a CAP,
dezenas de Associações de Agricultores e Associações de Regantes de características e interesses muito
distintos, as Cooperativas, o Sindicato de Trabalhadores Agrícolas e ainda as Associações Profissionais
no âmbito da agronomia. Os grupos associados a "interesses difusos" ou efeitos indirectos (sujeitos a
riscos de inundação, afectados pela qualidade deficiente de uma origem de água, por degradações
ambientais ou de paisagem) e as suas formas de participação são ainda mais complexos e difíceis de
caracterizar. Esta complexidade é ainda agravada pela multiplicidade de organismos da administração
intervenientes, com critérios de actuação, vocações e áreas de jurisdição diversas.

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PLANO NACIONAL DA ÁGUA
INFORMAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E CO-RESPONSABILIDADE

• Segundo, o sistema é transversal e a participação processa-se através de uma multiplicidade de


entidades, estando extremamente dispersa, em geral pouco sistematizada e muito raramente diferenciada
de acordo com o tipo de processo e no seu relacionamento com a água. É extremamente difícil e
laboriosa a inventariação e análise dos processos cuja iniciativa formal é individual.
• Terceiro, não existe monitorização sistematizada dos múltiplos processos de participação, isto é, não se
conhece, na grande maioria dos casos, o "grau" de participação, que "resultado" foi obtido dessa
participação e qual foi a influência da vontade expressa na decisão final. Torna-se também difícil a
análise do tipo de informação "acessível" face às necessidades de participação e, sob o ponto de vista da
garantia dos direitos individuais, a equidade e proporcionalidade de "participação" de facto.
• Por último, decorrendo do referido anteriormente, e mais especificamente no âmbito da água, não
existe análise sistémica, integrada objectiva, científica e realista do funcionamento da participação nos
mecanismos de decisão por não se dispor de dados suficientes para ser representativa da complexidade e
amplitude do sistema.
A situação actual é de "conhecimento nubloso" do sistema como um todo, não só pela escassez de dados
sobre o seu funcionamento, como pela dispersão e dificuldade de acesso à informação. As dificuldades
encontradas em identificar as entidades e relações relevantes para compilar e organizar as listagens apontam
para a urgência de um trabalho aprofundado de recolha e organização de informação, análise sistémica e
monitorização.
A principal conclusão desta análise é a disparidade entre a riqueza das "oportunidades" do direito português
neste âmbito e o déficit da sua prática. Também a falta de prioridade para um tema desta importância
conduziu a uma ausência quase total de informação organizada e de estudos científicos que permitam
avaliar o seu funcionamento real como um todo.

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