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ANO I - EDIÇÃO IV

O DIA EM QUE FUMEI COM LYGIA Por Gorete Bittencourt


aconteceram naquela hora. Enfim comecei a fumar,
pertinho da mesa de Lygia. E nossas fumaças se

E la era linda. Magnífica.


encontraram no ar, interpenetrando-se, como se minhas
pernas e as penas de minha musa enfim se envolvessem,
sem que soubéssemos quem éramos, porque desejava que
Admirável. Lygia era uma mulher fôssemos, naquele instante, uma só.
formidável e eu gostava de contemplá-la: a sua beleza, a Embora ela nem tivesse me notado ainda, eu me
sua inteligência, o seu bom humor. Acho que no fundo eu comportava como se estivesse ao seu lado, fumando com
queria ser ela. Ou estar perto dela. Não sei bem ao certo. ela, compartilhando com ela os meus mais íntimos desejos.
Há coisas que apenas sentimos. É complexo definir. Enfim, lá eu estava, fumando com a Lygia. Era só isso que
Mas ela era ocupada demais, importante demais me importava. Não queria saber de verdades ou mentiras.
para estar ao meu lado. Não. Não estou me inferiorizando, Nada mais.
me subestimando. Ela realmente era inatingível. Lygia era muito sensível. Tenho certeza que ouviu os
Então o que fazer para desfrutar da sua companhia, meus silêncios. Ela me olhou, enfim me notou. Meu
sentir, talvez, o seu cheiro? Sonhei com um momento só coração não se conteve nesta hora. Percebi que passamos
nosso, íntimo, um olhar quem sabe. E, de tanto sonhar, realmente a fumar juntas. Agora só faltava juntar nossas
meu desejo se tornou, digamos, um pouco em realidade. bocas e...
Naquela época eu ainda não fumava. Lygia estava no Mas Lygia levantou-se e foi embora. Mais uma vez
espaço reservado para fumantes daquele restaurante. Era fiquei apenas com meus pensamentos. Comecei a pensar
aquele o momento!! Mas como me aproximar, se ela mal quando aconteceria um emocionante e verdadeiro
me conhecia, não demonstrava o menor interesse por encontro. Ela, de longe, apenas sorriu, não sei se sentiu
mim... pena, alguma atração, indiferença.
Eu a olhava e ela apenas estava compenetrada em Mais uma vez levava comigo a imagem daquela
seu ato, contemplava a fumaça do seu cigarro como se mulher tentadora... e inatingível.
fosse o infinito... quanto prazer ela parecia sentir. Uma coisa eu posso afirmar: o dia em que fumei com
Então eu percebi que aquela seria minha grande Lygia não sairá de minha memória e continuarei fumando,
chance. Eu precisava fumar também. Assim eu fiz, tomei todos os dias, para que, um dia, nossas fumaças voltem a
coragem e decidi comprar alguns cigarros. Comprei-os e fui se encontrar. E quem sabe, depois da fumaça, aconteça o
para aquele espaço, confiante, como quem sai em busca de encontro dos nossos corpos...
um sonho.
Sentei. Gelei. Não sei mais quantos eis me

UM AMOR DE BAR

Em dias como este


Em que a chuva cai aqui dentro
E o vazio vira mar, eu te amo assim
Lanço-me ao quarto escuro como um jardineiro
Afim de não recair em contos de morte, que chega num monte de ervas daninhas,
Nem versar sobre velhas sortes obscuras. flores silvestres
aquele monte
Durmo em meio ao tempo que passa, e cuida, cuida
Aguardando o renascer de meu sol faz sobreviver tudo
Quando sairei a lavar a alma
Nas fantásticas águas da poesia.
Manoel - Durrel Leandro Bulhões
O Quadro Por Leandro Bulhões
O barco era nosso, lembro que o todos nós, o barco sempre é aquela parte
A quele rio no quadro fizemos com trato. Foram horas de
brincadeiras aquelas de quando
guardada da conveniência construída, as
velas são as formas materializadas do
transborda. Ainda que enjaulado em construíamos algo que nos levassem para tempo a correr, e este mastro, serve
molduras, a essência semântica e os grandes mares, começamos banhando- senão para enganarmo-nos quanto à
imagética daquele azul em movimentos nos também, foi assim que iniciou a ilusão do domínio dos rumos...
nos fez divagar. Foi quando por segundos nossa ousadia. Mas queríamos mais, as
tornou-se possível seguir um curso calmo, intempéries dos mares ignotos, as Por isso,passamos a flutuar,
o dos rios mansos que seguem. correntezas incertas do além, as doces proponho. Não posso querer-te a levar-
águas do atlântico e o limbo especial de nos com pés presos nestas madeiras que
Alguém parecia banhar-se naquela setembro quando as geleiras do sul se apodrecerão. - Joguemos a âncora,
massa absurda e presenciar aquele revigoram ao se permitirem derreter sugere. Poderíamos nem relutar,
deleite invejou-me que me deu a mão. pouco. Éramos assim. concordo. Seguramos a corda com o peso
Segurei forte, mas quase despercebido. e descemos juntos cada qual a seu lado,
Senti ali naquele instante uma simbiose Mas naquele convés, naquele forma e prazer, a deslizar por entre águas
confusa das sensações novas, sentimento barco que não sei como tomou uma profundas, proeminentes e sem
estranho como das vezes em que forma desconhecida, eu relutava para promessas.
emocionamo-nos com olhar de compreender a cena. Aquela imagem
transeunte anônimo. Lá do convés duraria por não sei por quanto tempo, Às vezes, penso que não
pudemos vislumbrar lugar palpável. Ele eternidades talvez, eu ali envolto numa saberíamos o que fazer se encontrarmos
apontava-me ainda algo a boiar, havia companhia paradoxal. um porto seguro, aqueles das águas
prazer ali e ele queria. Eu parecia pelágicas. Mas não nos preocuparíamos
contente contemplando tal paisagem, Havia uma ponte, recordo. com isso, nesse lugar que estamos agora
“inebriado numa agonia amalgamada em as águas transbordam, perfuraremos e
doses de ignorância soberba” - alguém O bom das composições artísticas escorreremos desta obra que vai estar
diria se mais alguém houvesse. é essa liberdade em interpretar, mas eu sempre no topo. O seguir que um dia já
não estava só naquilo, além do mais, o se entendeu horizontal apresentar-se-ia
Aperfeiçoaria o quadro. Porque projeto se configurou em horas de trato dança sinuosa e só seria mais uma vez o
não outro? - Mas o quadro para sê-lo, o é como uma rede de malha tecida por incansável devir de ser. E assim, levianos
assim. Dizia ele. Não pude deixar de viúvas nordestinas. estéticos dos quadros alheios,
naquele instante, ainda mãos dadas penetraríamos nas molduras dos quadros
(esquecemo-nos), pensar no que me O tempo era o mesmo, como todo do mundo e ficaríamos conhecidos como
fizera ser assim e no que o fizera estar ali. tempo de quadro. Naquela paralisia, aqueles marcados por não conter desejos
Ele falava, falava. Lembro-me que meu avançávamos a passos lentos, havia um fulgurantes que brincam nosso olhar nas
olhar vagava, fixava nada e parecia estar vento contrário que às vezes fazia-nos obras, transbordando vida na dinâmica
ali uma cena de filme banalizada pela estranhar seguir um rumo e nossas vestes paisagística das representações através
paixão do público de um cinema mudo do ser balançadas para outro. Enchíamos o de olhos envelhecidos e saltos pueris.
início do século XX que se repetia, tempo, compúnhamos o quadro até não
repetia. O bom que havia poucas cores o sei quando nem por que. Há diversão em ter uma mesma
quadro. Como não pensar nas paisagem um quadro.
intencionalidades de uma obra de arte? Ele sempre me pareceu ter doses
Não sei como, por que, nem onde generosas de extravagância. Aguardava
aquele rio, mas lá estávamos nós, aquele momento. Não sabia se devia eu
misturados irresponsavelmente nos por hora, não mais a mercê da força e da
traços indefiníveis de alguém que se dinâmica dos ventos, ser guiado. Mas o
expressou em paisagem. Se ele queria bom marinheiro é dotado de paciência,
transformar aquilo num recorte neo- perspicácia, e éramos um barco pirata
realista da pintura contemporânea, assim por excelência. Gostávamos de acreditar
poderia o ser. Comprazia ali não sei que íamos de encontro a um conjunto de
direito e começou a rir. Não sei de mim, proibições que concordávamos tão
não sei de nós, da situação ou daquele escorregadias quanto um punhado de
objeto que continuava a banhar-se. Da água nas mãos. Não posso saber ter o
distância que estávamos mal sabíamos se trato necessário, não pode estar comigo
lutava contra submersão. Ria, mas era essa competência.
requintado demasiadamente para
debochar de eu ter aceitado. O mar é sempre mais velho que
Menino-Mar naufrago...
Viagem ultramar... caio, padeço na areia, cristais de odorres
Submergida na beleza oculta do oceano, o mar desagua em meus seios,
Encantada, todos os orificios,
enrosco-me nos cachos, caracóis explosão de fogos de artifício
como que no canto de Netuno, em pleno reveillon,
atraída pela salgada doçura do menino-mar Pés esperançosos
Aventuro-me hermeticamente Pedidos e sonhos futuros,
na busca de estrelas ermas Ah presente meu,
cavalos marinhos da madrugada que se perdeu das águas salgadas...
cavalgada sob mil léguas-submarinas Purifica-me,
Adentra-me palpitante Espasmos...
como que um Moisés surfista separando as águas. Caimbra de Nó...
Navega-me Mortifica minhas mãos trêmulas,
virulenta maré... Torna-me insaciável saciando-me,
Afoga-me no teu sorriso; Exaspera-me com alucinógeno líquido de teu sal....
Extravia-me em teus olhos castanhos Ressucita-me,
refletores do azul da eternidade... Porta-me nestes teus braços oh filho de Yemanjá,
Deixa-me tonta, zonza largos, fortes e consistentes....
como que com labirintite Arrasta-me ao sonho mais doce
Louca de vertigem Sempre bom acordar contigo,
Perna bamba de tanto nadar. Novamente afogar-me em teu sorriso
No vai-vém das ondas, e, ofegante sentir este teu cheiro de mar....
tu és o senhor do meu barco,
Acorrenta-me ao mastro, CUCA
Água-viva a queimar-me por inteiro,

Do armário de casa ao paneleiro da república... Por Catarina Taquary


Estava tudo no lugar, quando de repente você passa algo banal (vai ver até é, não é mesmo?), até desiludir-se e
no vestibular da Uneb, lá vai saindo da sua cidadezinha perceber que se você está procurando algo que não existe,
(acreditem cidadezinha mesmo) e vindo para Santo Antonio a tampa para uma frigideira, sim porque se você for uma
de Jesus. Na mala não trazia apenas seus pertences, como panela certamente será uma frigideira, onde o óleo
roupas, sapatos, CDs e livros, trazia também sonhos, esquenta, o calor é sufocante e as coisas fritam de prazer,
sonhos de um futuro promissor, de um sucesso acadêmico mas não há tampa para uma frigideira, ela estará sempre
e porque não o sonho de encontrar um amor, já que nas acompanhada dos mais variados sabores, mas voltará
cidades pequenas isso é quase impossível. sozinha para o armário. No entanto se você acha isso ruim
Na chegada a universidade, um rótulo de “gatinha”, e espere até conhecer as utilidades de uma frigideira, e quem
aí você vira o ultimo pedaço de lasanha do domingo, todo falou que é preciso voltar ao armário? Pense no lado bom,
mundo quer comer, rs. você tem o melhor formato entre as panelas, se encaixa em
Aí você se joga, afinal de contas não faz mal, o que é qualquer lugar (Já parou para pensar em uma panela de
que tem aproveita? Começa então a perigosa trajetória do pressão? não cabe em todos os lugares) e nem você nem
envolvimento, um carinha lindo, um carinha charmoso, o precisa carregar o peso de uma tampa que com o tempo e
atencioso, o gente boa pra caramba e aí você se os tombos nem tampa direito, nem se adapta.
apaixona!Pensa: encontrei o que procurava a tampa da Os sonhos da cidadezinha eram pequenos demais
minha panela, ilude-se, põe-se a fazer planos, mas como para tudo o que se vive agora, percebe-se então que já não
num passe de mágica o carinha pára de ligar, some, se trata de ilusão ou não, tudo é possibilidade... Onde
desaparece... Você fica arrasada, chora, mas continua na alguns vêem uma panela destampada, eu vejo uma panela
caça ao tesouro, é até divertido, pensa. onde todas as tampas gostariam e poderiam estar e é por
E então vão seguindo-se os meses, e os mais variados isso que ela não tem a sua tampa, seria muito pouco, ela
nomes surgindo, rolos, paqueras, transas e você se tem todas as tampas nela.
apaixona e desapaixona o tempo todo, como se isso fosse
O Poder Negro nos EUA versus A “Obamamania” em Salvador

Entre os milhões de fatos biografia, uma indomável vocação de tão importante e genuína quanto à dos
ocorridos no planeta durante o ano de poder, e acrescemos a ela, o importante norte-americanos.
2008, sem dúvida, a eleição do primeiro caráter simbólico da sua vitória (o
afro-americano à Presidência dos EUA, primeiro afro-americano a comandar a Ainda sôfregos em enxergar além
apresentou-se como o acontecimento de maior potência mundial), encontramos das questões étnicas, tais “militantes”,
maior relevância no cenário mundial, assim, os elementos essenciais para criar limitaram a majestosa vitória de Obama e
superando inclusive a crise financeira que em torno da personalidade de Obama, de toda a sua equipe, a tão somente
abala as estruturas do sistema capitalista uma infalível e poderosa áurea mes- questão racial, deixando constumei-
global. siânica, esta que em abundância foi ramente longe das discussões, elementos
disseminada pela imprensa mundial. O tão precípuos e agregadores, quanto a
Logo que oficializou-se a vitória do messianismo incongruente sobre a figura cor do novo Presidente do país. (Se
44º Presidente dos EUA, as agências empática de Obama girou o mundo, houver qualquer dúvida quanto a isto,
internacionais de jornalismo eviden- chegando abaixo da linha do Equador, verifique o contexto político-econômico
ciaram à exaustão, comemorações sob o genial rótulo de “Obama mania”. do EUA para compreender o que estou
oriundas dos mais distintos e recônditos Vejamos o efeito desse “frisson” na comentando).
pontos do planeta, numa rara e jamais Capital da Alegria.
testemunhada manifestação à favor da Para os norte-americanos, mais do
nação mais belicosa e antipatizada do A cidade que segundo o IBGE, que para qualquer outra população do
mundo. Quase que literalmente, todo o possui aproximadamente 70% da sua continente, a questão racial destacou-se
planeta estava em festa, celebrando com população constituída por afro- como temática de extrema importância,
ardor o fim da nefasta e esquecível “Era descendentes, vestiu-se, em parte, com isto devido, as profundas cicatrizes e
Bush”, e exaltando jubilosamente, o as cores norte-americanas, reproduzindo prejuízos atrozes causados pelo modo de
renascimento da “Esperança”, que desta com satisfação e notória ingenuidade, a produção escravocrata durante o século
vez, ressurgiu simbolizada sobre a imagem de Obama, juntamente com o XVI, e posteriormente, já no século XX,
retumbante figura de Barack Hussein slogan de sua campanha, que com sagaz pela institucionalização do racismo no
Obama; o mais carismático, o mais maestria, foi abundantemente entoada país. Tais fatos durante a história da
eloqüente e mais “sexy” messias do como “mantra” por aqui. nação anglo-saxônica, forneceram a
mundo capitalista. maturidade e consciência política, a força
Curiosamente, não mais que e a coesão necessária para que hoje, em
Considerado por muitos como a curiosamente, muitos desses multi- pleno século XXI, fosse possível eleger de
concretização do sonho de Martin Luther plicadores de imagens e “cancioneiros” maneira inconteste, o primeiro afro-
King, que vislumbrou uma América livre de slogans, apresentavam-se como inte- americano ao cargo mais importante do
do ódio racial; a vitória de Obama grantes dos mais distintos e país.
apresentou a mundo, uma nova e desarmônicos “movimentos negros”
emocionante página da nação norte- existentes na cidade de Salvador. Ali, Enquanto nos EUA, a coesão dos
americana, em busca de um país naquela manifestação de contentamento movimentos políticos e sociais demons-
genuinamente democrático. Simbo- com a conquista alheia, muitos tram em práticas e atitudes éticas, o
lizando, definitivamente, a ascensão do ostentavam tais representações gráficas, comprometimento vivaz de seus
afro-americano ao Poder. por evidente e genuíno modismo; nada colaboradores e líderes, aqui no Brasil, o
absurdo tratando-se de uma população que se vê, é um conflito silencioso e uma
Possuidor de uma biografia parcamente educada, e por conse- guerra sórdida entre os tantos e ilustres
invejável, Obama quando jovem, obteve qüência, absurdamente mal informada. movimentos, particularmente, entre os
uma criação familiar oriunda das mais movimentos defensores dos direitos dos
distintas raízes étnicas que compõem a O assalto de júbilos foi tão intenso afrodescententes. Sequiosos e ávidos
sua árvore genealógica (pai queniano, que muitos “obama-maníacos” baianos, pelo “pote de ouro” do poder, muitos dos
mãe americana, padrasto indonésio), amarraram com uma imensurável seus hombriosos líderes e representantes
sendo por conta de tantas influências, orgulho, nas suas respectivas cabeças, são tão paradoxais em suas práticas
educado como um autêntico cosmo- bandanas iconograficamente represen- políticas e condutas pessoais, que aos
polita. Esta vantagem, forneceu a sua tadas pela bandeira americana. Tal ouvidos mais apurados, seus eloqüentes
personalidade a distinção natural e o atitude, além de evidenciar perante o e estruturados discursos, soam apenas
ânimo resoluto presente unicamente meu olhar aturdido, a cândida devoção como refúgio de uma retórica agressiva e
naqueles que vieram ao mundo para submissa do afrodescendente baiano, rancorosa, fomentadora da discriminação
liderar e jamais serem liderados. pertencente a estes movimentos, revelou para com àqueles que não se enquadram
igualmente, quão carentes e necessitados aos seus padrões estéticos e influências
Juntemos a sua indefectível estamos nós brasileiros de uma conquista culturais-ideológicas.
aliar-se diretamente aos respectivos líderes deste segmento
Lembro-me como ontem do primeiro Encontro de religioso. Mas, por qual motivo, não aliar-se? Digo a vocês, por
Estudantes Negros da Bahia, evento promovida pela UNEB em um único e exclusivo: a crucial dificuldade de encontrar neste
2006 e realizado no Campus I desta instituição. Este, que buscou venerável e respeitável seguimento religioso, a concretização da
agregar estudantes de todo o Estado, terminou de forma brusca idéia de unidade e coesão representativa dos seus seguidores,
e violenta, após a invasão de “militantes negros”, oriundos dos muitos deles, na sua vasta maioria, vinculados aos “movimentos
núcleos de Estudos Afro-brasiliero, idealizado pela própria UNEB. negros” que aqui direciono a minha reflexão.
Recordo-me igualmente da participação de repre-sentantes do
Núcleo Afro/Uneb existente no Campus V, em Santo Antônio de Estes aspectos por mim suscitados, são apenas algumas
Jesus nesse injurioso ato, expulsando a todos que por eles não “quizilas”, no processo de formação identitária desses militantes.
eram considerados “negros”, agredindo física e verbalmente O doutrinamento racial aliado às limitações perceptivas das
inúmeros estudantes, professores e debatedores. Os não-negros próprias questões sociais-políticas-economicas e culturais,
segundo a ótica deturpada desses doutrinados seguidores, eram contradizem abruptamente os atos práticos, de parte, da
como disse anteriormente, aqueles que não se enquadravam militância negra baiana. As ingênuas e insólitas celebrações, por
aos seus perfis estéticos exuberantes. (De fato, recordar é eles exaltadas, se enxergadas com um olhar mais crítico,
viver...) apresentaram-se univocamente como pérfidas e extremamente
descontextualizadas com os problemas e dilemas encontrados
Em um espetáculo dantesco de puro e incompreensível por aqui, na eterna “Capital da Alegria”.
ódio racial, muitos “sugestionaram” inclusive, a minha saída do
referido evento, pois o meu “perfil” não era de um “negro”. Pergunto: É possível encontrar na Bahia, o “poder negro”
Realmente, de fato não, afinal, eu não possuía cabelo traçando e tão intensamente assimilado e exaltado nas manifestações de
em minha camisa básica branca, não estava ostentando imagens tais militantes? Será possível identificar com facilidade um
de líderes negros radicais. discurso unificador e contundente, enfático no que tange a
coesão política-ideológica de representantes, e aglutinador
Exaltando como títeres o enfrentamento físico direto a quando é destacando palavras como: aceitação, tolerância e
tudo que seja questionador às suas oposições virulentas, respeito ao que é diverso, plural e diferente? Será possível
repetem como cobaias ideologicamente manipuladas, a ampliar os horizontes desses militantes, convertendo o
opressão e a violência dos antigos algozes, outrora, senhores da revanchismo e o ódio racial inútil, incutidos em seus “DNA´s”,
Casa Grande. Esses títeres, fornecem aos descendentes destes desvinculando-os de tal horizonte, das questões de cor, da raça
ignóbeis senhores, alimento e força motriz para a graciosa e sutil ou da etnia?
crueldade tão típicas em seus atos racistas e intolerantes. Hoje,
os antigos “senhores de engenho”, divertem-se em seus oásis de Indubitavelmente que não. Afinal, enquanto os grilhões
paz e tranqüilidade constatando que os antigos e enferrujados da escravidão mental, tilintarem em suas turvas e enegrecidas
grilhões físicos, que tanto sujeitaram milhões de africanos e seus mentes, eles continuaram celebrando como suas, as vitórias e
descendentes durantes séculos, não são mais encontrados êxitos alheios, com um sorriso amarelo e o olhar absorto,
acorrentando pés e mãos. Encontram-se atualmente localizados incertos quanto a futuros de suas vidas, na realidade desolada
no local mais perigoso de todos, fornecendo aos neo-escravos, do país em que vivem. Introjetando às suas confusas existências,
uma suave demência lúcida. Os grilhões do passado estão a identidade de nações e povos, que há muitos anos deixaram
contemporaneamente nas mentes amorfas de confusos de possuir qualquer semelhança com os nossos dilemas e
militantes. questões mal-resolvidas.

Salvador é um exemplo clássico dos efeitos nocivos desta Aos “Obamamaníacos” baianos uma aviso: Para um povo
“neo-escravidão”. Na cidade mais negra do país, nunca em sua que sequer possui a ínfima idéia de Brasil como nação, possuir a
história, um representante negro (afrodescendente) foi eleito imagem de Obama como estandarte e deificá-la como a de um
através do voto direto para ocupar o cargo de Prefeito. Por que “Salvador do Mundo” é a maneira mais inteligente e formidável
será leitor? Outro fato, curiosamente interessante. Vocês de não encarar as inúmeras e incômodas mazelas que nos
sabiam que na atual eleição, de todos os partidos com atolam até o pescoço. Mas isso, como já é notoriamente
representantes disputando o cargo de gestor da cidade, conhecido, é típico do caráter festivo e pouco questionador de
nenhuma coligação, fez sequer menção de evidenciar ao lado de muitos conterrâneos por aqui.
seus respectivos prefeituráveis, líderes afrodescendentes ligados
às religiões de matriz africana? Até a próxima, e comemorem com moderação.

Para um bom entendedor meia palavra basta para


compreender este fato, que é tão imperceptível aos “olhos” e as
mentes trancafiadas dos “militantes” soteropolitanos. Na Por Acton Lobo.
interpretação dos caciques políticos baianos, o voto dos
seguidores do candomblé, ou como é comumente designado “
Povo de Santo”, é uma voto inexpressivo e estéril,
extremamente pouco significativo, sendo desnecessário e inútil,
Às vezes
Às vezes fico divagando acerca da realidade que me acerca, daí me pego
sempre pensando nos homens. Dedutível? Talvez... Sou mulher, penso, transo e
tento me divertir nessa província. Gostaria de compartilhar convosco minhas
inquietações femininas, partindo do princípio que nós mulheres andamos sofrendo
com o DOCE dos homens!

É isso aí, os homens andam fazendo muito doce, esses aí não são parecidos
com o equivalente feminino quantificado e qualificados em revistas de
comportamento, são metidos a intelectualóides, resignados na sua arrogância, Desvelados
irresistivelmente charmosos e/ou autênticos.
Querer o peito encouraçado
A priori nem tudo que discuto para os homens aqui, vale pra conceituar uma
Passar a vida a breves gozos
identidade masculina construída historicamente, também... Estou tão somente
contestando uma realidade vivenciada atualmente, num contexto próprio e Ser um cético ou um lunático,
individual e a partir do que observo nas relações constituídas ao meu redor. O que vai pelo mundo solto...

Homens, denominados de “grandes homens”, têm privilégios que se Não sentir o êxtase sincopado,
exercem em detrimento das mulheres, mas também em detrimento de outros Abster a alma quando ausente,
homens. Se pensarmos tanto no mundo hetero como gay, facilmente perceber-se Nem o céu de sonhos revoados,
o individualismo e o machismo. A figura determinada do homem, da mulher, do Sucumbir ao abismo lentamente...
passivo, do ativo... Penso que se um belo dia pudermos romper com essa visão de
mundo androcêntrica e heterossexuada, avançaremos nas discussões de gênero e Não portar a chaga incurável
assim vivenciaremos melhor nossas opções sexuais e sociais. Não discuto os ISMOS
De tanto gozo e tanta dor
(machismo e feminismo), que para mim são meras definições para rotular, mais
Ignorar um prazer inefável
uma construção social, além de soar um convite à discriminação. A classificação por
si é um ato discriminatório e impositivo e a auto classificação ainda mais A que jamais nada se comparou...
condenável. “Somos o que somos, inclassificáveis.” Arnaldo Antunes.
Por que se aflora tragédia?
Voltando ao comportamento masculino, muitas vezes os homens E a beleza é logo desfolhada?
demonstram por um lado uma forte dose de exibicionismo sem propósito E tudo dela que nos resta:
implícito; e por outro, a presença da ambigüidade imposta pelo desejo sexual. Só lembranças, e mais nada.
Penso que estas eram, até recentemente, características atribuídas às mulheres.
Percebo os homens envoltos numa “capa de mestre”, trazendo consigo um Àqueles que tiveram a vida
insuportável comportamento de negação ao sexo e as relações afetivas, por Longínquos dos dias comuns
conseguinte.
Conhecem a iminente ferida
Contudo, a minha indignação é enorme no que tange ao trabalho que dá
Que não se vê em lugar nenhum...
levar um homem pra cama, sofá, carro, beco... enfim, além de toda nossa
produção: roupa, perfume, cremes...desperdiçada, desprezada. Sem falar na dança Não se conhece alas de céus
do acasalamento, que é uma praxi feminina, ao contrário do mundo animal. Sem ter quinhão por pagar
Eis o dia que cai o véu,
Os homens que têm muito medo de se expor algo inimaginável, além do E toda sentença é sangrar.
medo de compromisso, têm, principalmente, medo de intimidade. Reservam-se
como pérolas se formando nas ostras. E para adquirir uma jóia dessas, você tem E tripudiam dores infernais
que insistir e persistir muito. Desses famintos por ambrosia,
Que como homens sentiram mais...
Sê mais que deuses pelos dias...
Assistindo “Árido Movie”, a personagem se Guilia Gam, uma mulher
interessantíssima e que eu comeria certamente, precisa lançar mão de inúmeras
estratégias de conquista já que o cara que ela fica no filme faz o MAIOR DOCE. Um Consolação nesse exílio não há
chato desses supracitados. Gostaria realmente de saber o que passa na cabeça de Ao crepúsculo que se avizinha
um homem desses nessa hora. Certamente não é mera timidez e indecisão. No eterno jogo de conformar
Pela penumbra que finda os dias...
Neste ponto, vale uma pergunta: que homem é esse que se revela ou que
se afirma? Franco Souza.
Manoela Mercês Santos de Souza
Ensaio sobre a rotina Nº 138
Num desses espaços edificados melhores pecados. desnecessidade das coisas, de todas as
pela arquitetura financeira, onde ficamos Um ser que se vai e um mundo coisas. Eu olho para Roger bem no
acomodados aos bocados dentro de que rapidamente se refaz, empurrando momento em que silenciosamente ele
moldes de concreto, geralmente com um amontoado de contas vencidas pergunta a Deus acerca do sentido de sua
parede envidraçada a servir de fronteira espalhadas pelo chão para debaixo do vida, e juntamente com ele me angustio
entre dois mundos, o de fora, cheio de tapete mais próximo. pela demora na resposta. Estou ansioso,
calor humano e vitamina D; e o de Tudo volta ao normal e eu torno à meus pés encharcados pelo suor da
dentro, com suas frias relações imagem do velho no centro do salão. inquietude, as mãos deles se esfregam
interpessoais montadas numa paisagem Tenho quase certeza de que seu nome durante certo tempo, talvez esteja
de agência bancária... Pois bem, antes seja Roger, seu olhar é indescritível. Seus lembrando-se de mais algumas mazelas.
que eu me perca, num desses espaços dentes são amarelados pelo tempo, pelos Ele franze a testa ao pensar em
criados para cultuar o aborrecimento da vícios, pelos escorregos a uns poucos efemeridades, pinta os primeiros traços
espécie humana, um fato singular atrai a momentos de felicidade. Há bolsas sob os na tentativa de esboçar um sorriso e
atenção. seus olhos, de dinheiro, de dissimulação, desiste no meio do caminho. Percebe que
Um senhor até então muito bolsas que contam a história de uma vida pela primeira vez está parado no centro
distinto, endinheirado e confiável, num e falam comigo como se fossem minhas do palco de sua vida, momento em que
repente, como que cansado de ostentar amigas. Dizem-me que não agüentam eu quase consigo deter a plena certeza
determinado estereótipo ou simples- mais, que estão a ponto de explodir, de que ele está envergonhado por não
mente quebrando uma rotina para fins rasgando em mil pedaços aquela face ter memorizado o seu papel. O velho
de experimentos científicos, localizado açucarada por convenções pacíficas e senhor acaba de perder a deixa, de
bem no meio de uma fila a qual todos juridicamente aconselháveis. Bolsas que esquecer as palavras, busca o auxílio do
desconhecem a natureza dos serviços silenciosamente narram, sem que seja seu diretor, mas até mesmo o seu
que lhes serão prestados, este senhor necessário que alguém lhes pergunte, gerente está muito ocupado e não pode
agita o corpo em completa desarmonia qualquer coisa. Também há sucos em seu lhe atender. Roger vira as costas para a
com o comportamento que lhe é rosto, cuja profundidade deve chegar ao platéia e sai de cena, quase se
esperado e, gritando, fundo de sua alma. Fico esquecendo do marca-passo e de sua
lança ao chão com toda a curioso em saber por que incompatibilidade com portas que giram.
força um envelope de “Roger precisa aquelas feridas abertas Ele sai e seu filme termina para um
papel reciclado, que ao
ser estatelado alforria
morrer, já está não jorram seu sangue
nas camisas sociais alvas e
público que, com poucas exceções,
assiste a tudo atento. “Roger não vai
uma infinidade de na idade. Se não bem passadas que o ganhar o Oscar”, digo baixinho. Sua
documentos, debêntures, rodeiam. participação em nossas vidas encontra-se
alienações fiduciárias e morrer, algo em Roger está inacabada. Penso que sua história não
outras transações. Papéis sua vida precisa cansado, eu percebo. Sua possui final e concluo que ele não merece
que se odeiam e ao passo presença também me algo desse tipo. Não o Roger. O ideal seria
em que se encontram mudar.” cansa. De acordo com o um atropelamento a poucos metros da
livres, tentam a todo cronômetro que organiza fronteira de vidro, com morte
custo voar para o mais longe possível uns o tempo dos atos de nossas vidas, este é instantânea, pessoas ao redor e créditos
dos outros. o momento em que ele se atira sobre subindo. Mas quem o fará, se eu, nesse
Um senhor que se enfurece, grita, alguém e tenta realizar o antigo sonho de momento em que trajo as vestes de
enche o chão de papéis, desenvolve cometer um homicídio ou da as costas e Deus, mergulho no mar do tédio e da
respiração ofegante, caminha até o vai embora, transformando um ato indiferença e não me disponho a escrever
centro do cômodo e ali se estabelece a fracassado no maior de seus atos. Em tal capítulo?
observar os rostos que lhe fitam suma, vence o prazo, ele está atrasado, Roger precisa morrer, já está na
espantados. Em seguida dá as costas a precisa fazer alguma coisa. Continua idade. Se não morrer, algo em sua vida
um mundo construído não se sabe por parado no meio do salão. precisa mudar. O que fazer? Ele sai de
quem, o qual lhe fora desde cedo Continuo olhando para ele e cena, minha deixa é dada, acho que
empurrado goela abaixo. Um velho percebo que seu casamento não vai bem. começo a me atrasar. Deixo a próxima
senhor, certamente portador de um É pai de um casal de filhos, mas não página em branco, avanço rapidamente
marca-passo, que ao resolver ir embora consegue gostar de nenhum dos dois. No para o capítulo III e encerro sua história
pede ao segurança que lhe liberte, que fundo, suspeita que o garoto não seja nas entrelinhas de um texto que sequer
gire aquela chave na fechadura dos seus realmente seu filho. O sexo de suas será escrito.
sonhos mortos, que abra a sua boceta de amantes já não lhe atrai.
pandora e liberte àquele mundo os seus Constantemente pensa no fim e na Por Manoel - Durrel.
ELEGIA AO SALMO 21

“Hh!, se me deixassem falar, talvez eu falasse


ou talvez me perdesse numa poesia chamada liberdade...”
Eu sempre quis ser diferente de todo mundo!
alias, no fundo, talvez, eu ja sabia,
eu era diferente!
Eis a água do Espaço aos poucos eu fui descobrindo.
Eis a água no tempo No inicio era fantastico!
“Nao vou me adaptar!” gitava pra todos
Caçando os Dragões da (in)Finidade
e ate curtia
Enquanto Sisífo resiste, pois havia um pouco de ironia nisso tudo
Saturno toma Café & um olhava com um pouco de pena para toda essa gente normal
Centauro,com máscara egípcia,restaura suas idílicas e incitava os mais corajosos
quimeras... a darem passos mais altos.
[Vitral por Vitral]...Enquanto Shiva dança nelas. _ VAmos lá! Vamos lá! cada vez + alto!
São apenas estilhaçados guizos nas patas do Elefante-Sítar. Nao há limites!
Einstein não se importa com a(s) chance(s). Sem perceber, fui longe demais!
Estamos dentro do Templo quando me dei conta
Na fome e na guerra. cada vez menos arriscaram seguir
- Covardes! Fracos! eu gritava... e seguia...
A Serpente está no Altar,nos Alicerces,
eles so queriam experimentar!
Toda enrolada
aos poucos, foram cada um se acomodando onde lhes
E ao olhar para dentro da Boca D'ela convinham...
Notam-se Dentes...Cada um tem O Nome. uns ate voltaram atras.
Alguns rimam,outros...Ressoam Me vi so. e de repente estaquei.
E cada um é uma Lâmina/Engrenagem,em espirais,para Caminhos ainda existiam, mas valeria a pena seguir
dentro do Sol. se nao haveria ninguem com quem dividir a experiencia?
O Sol...A Serpente,... de que adianta seguir e escrever uma historia pessoal fantastica
A água...Fluindo... se nao há nuinguem para ler e esta se perderá?
Para sempre e sempre. medo, panico, angustia, inquietaçao, inconformismo...
enfim, nao ganharei a corrida cujas regras eu defini
nao por que nao possa ganha-la.
Mas, simplesmente porque nao há competidores
Raga Oceano muito menos vencedores.
Faz da Vida a Magia que Você É! Quem comemorará comigo?
Quem estará la para me abraçar se sigo só?
Parei. devo voltar e me render como os outros?
NAO! Nem seguir nem voltar! ESTACIONEI!
E nesta parada vou ficando velho.
perplexo, constato que estou tornando-me meu pai.
ainda nao estou tao velho
Mas ja ouço o dobre de finados!
OUÇA Eli, Eli, lama sabactani*...

PUTUMAYO - CUBA *Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste!

O Selo Putumayo World Music foi Adriano Pereira


criado em 1993 com o fim de levar
ao conhecimento do público as
músicas produzidas pelas diversas PENSE BEBA
culturas do mundo e tem obtido
muito sucesso desde então. Na O que seu
Todas as capas dos discos são elaboradas pela artista plástica efemeridade da dinheiro puder
Nicola Heindl e se você não encontrar o disco 'Cuba', ouça vida. comprar.
qualquer um do selo e se prepare para uma viagem fantástica.
O câncer e o sexo, no campo das discussões
irreverentes

Já não agüento mais ouvir as pessoas pedirem para guardado, haja vista que já descansa na cova minha amada
que eu deixe de fumar, por conta dessa maldita política mãe, meu avô, avó e tia maternos e de quebra dois tios
correta de saúde. Dizem pra mim (e deve ser verdade) que avós. Isso na pior das hipóteses, pois amigos lhes confesso,
cigarro provoca câncer de pulmão e garganta. Vou informar sonho em ser cremada e ter minhas cinzas jogadas ao mar.
a todos mais uma vez, NÃO vou morrer de câncer de Veja que ainda me sobra humor para lembrar da
pulmão ou garganta, meu pulmão é ótimo e minha lindíssima interpretação de Chico Buarque no Poema de
garganta também, tenho convicção do que digo, inclusive, João Cabral de Melo Neto,(Funeral de Lavrador).
já escolhi até o meu tipo de câncer. Será câncer de
intestino. “...É uma cova grande pra teu defunto parco
Minha família inteira morre de câncer, claro que tem Porém mais que no mundo te sentirás largo
aqueles inconvenientes que querem ser a exceção só pra se É uma cova grande pra tua carne pouca
aparecer (um ou outro de depressão, falência de órgãos, Mas a terra dada, não se abre a boca...”
acidente e por ai vai), porem são poucos, o time maior
mesmo é CANCER. Como minha colaboração as farpas se destina a
Verdade seja dita, são dos mais variados: cérebro, culinária, não sugiro pra hoje carne, pois poderia ser
pulmão, próstata, útero,ossos, pele, entre outros. Contudo, sugestivo, levando em conta que canibalismo não é
o intestino dispara na frente, é o campeão. E eu, reles permitido socialmente. Então anote ai:
mortal que sou não fugirei a regra, nem tão pouco serei
infiel ao time. Couve-flor gratinada ao molho branco
Minhas convicções estão fundamentadas em 1 couve-flor
sintomas que não descreverei , por achar que o amigo 1 caixinha de creme de leite
leitor, deve se privar, de certos detalhes desnecessários, 1 tablete de caldo de galinha ou carne
mas confie no que digo. 2 colheres de manteiga
Peco-lhes, no entanto, que não se assustem ou se Queijo ralado
escandalizem, falar de câncer e sexo já não deveria mais ser 2 colheres de farinha de trigo
tabu. 1 litro de leite
O censo comum não nos permite certos prazeres e Cozinhe a couve-flor na água e sal, escorra e reserve
nos classificam como sádicos, exibicionistas ou coisa Prepare o molho brando colocando em uma panela a
parecida, mas na verdade tudo nos é permitido, deixando manteiga e a farinha de trigo e caldo de galinha, mexa até
de lado os preconceitos. Se avaliarmos o cotidiano dos que a mistura fique levemente dourada, vá adicionando o
homens perceberá que a linha tênue que separa conceito e leite aos poucos até que o molho fique na consistência de
preconceito, dor e o prazer, amor e ódio, vida e morte está um mingau grosso.
entre o abstrato e o abjeto, como diria meu admirado e Coloque em uma refratária ou assadeira a couve-flor
querido amigo Acton Lôbo. e despeje o molho braço, salpique queijo ralado ou cubra
E falando em opostos, não posso esquecer pobres e com queijo fatiado.
ricos, ai me vem outra história à cabeça, mas que não foge Por Rosângela Mercês.
ao assunto principal, a MORTE. Amigos, preciso contar-lhes
que tenho a mais absoluta certeza que serei rica nessa
cidade, a partir do momento em que meu corpinho
gracioso adentrar para sempre os muros do cemitério local,
ao qual minha pobre, mas tradicional família tem uma
lapide perpetua na avenida principal onde estão enterrados
os burgueses e famílias de tradição ilibada deste município.
A EQUIPE OUTRAS FARPAS AGRADECE A
PACIÊNCIA E CONTA CONTIGO NA
Regurgito-me com a possibilidade de deixar de ser PRÓXIMA EDIÇÃO
pobre definitivamente e passar a compor a magnânima e
seleta burguesia santoantoniense. Isto não é para qualquer CONTATO: outrasfarpas@gmail.com
um. Não terei pressa, pois meu lugar está devidamente

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