Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Francisco Viana
De São Paulo
Lula tem lançado luzes sobre esse dramático ambiente. Estilhaça o monocórdio
discurso institucional. Jamais - e essa é a realidade histórica - o Brasil foi protagonista
da cena política internacional. Sempre foi coadjuvante. Agora é o presidente americano
quem reconhece: Lula, "o cara", é o político mais popular do mundo. Não há racismo
algum na sua fala ao lembrar que a crise é de responsabilidade da elite branca de Wall
Street. Longe de acender a fogueira dos preconceitos, quis dizer apenas que não foram
os excluídos que acenderam o estopim do drama, mas, sim, os seus próprios artífices -
os países ricos.
A novidade protagonizada por Lula é que ele transmite o seu discurso falando direto
com a sociedade. A mídia reclama, gasta rios de tinta para ridicularizá-lo, mas se perde
na própria inconsistência. Lula simboliza a razão dos fatos, não os fatos da razão. Parte
da mídia tenta, sem êxito, fazer a sociedade acreditar que seu discurso é preconceituoso
porque existem negros em meio aos brancos de Wall Street. Parece brincadeira. Soaria
bem em seções de humor.
Por razão dos fatos entenda-se a realidade concreta. Por fatos da razão, a realidade
construída artificialmente pela manipulação da realidade. Quando fala, Lula está
tecendo o fio mais nobre da política: o exercício da palavra como elemento de
transformação da realidade.
Foi o que fizeram os humanistas na transição da Idade Média para o Renascimento,
entre os séculos XIV e XV, quando o homem (humanidade) e a sua capacidade de
construir a vida foram trazidas para o centro do espaço público. Deixou-se para trás o
carcomido. Enviabilizado discurso religioso que via no homem um ser decaído, carente
de salvação, para vê-lo, como ele realmente é, sujeito da sociedade política. Não um
objeto, um joguete nas mãos das elites ultrapassadas.
A Idade Média dos dias atuais é a sujeição das multidões aos interesses de uma
minoria predatória que exerce seu domínio pela ideologia do capital, acondicionado no
éter do consumo, no medo do desemprego e do terrorismo e numa estrutura política que
aprisiona a palavra, se esta se erguer em favor de mudanças estruturais.
Hoje, o que está ruindo é o poder exercido em nome do deus dinheiro. É a máquina
que faz da sociedade contemporânea livre para consumir, mas prisioneira de um modelo
de vida e um sistema econômico que só colhe o que semeia: crises e mais crises. Repito:
o Brasil precisa entender melhor o que o presidente Lula está dizendo.
Fonte: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3680106-EI6783,00-
Ricos+os+males+do+mundo.html