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Sábado, 4 de abril de 2009, 08h09

Ricos, os males do mundo

Francisco Viana
De São Paulo

No momento em que a política se perde no labirinto da falta de alternativas para um


sistema decadente, o capitalismo neoliberal, o presidente Lula desponta como uma voz
lúcida e realista. Ele analisa: os países ricos são os culpados pelos males da
humanidade; crítica a elite de Wall Street, fala sem meias palavras. Enfim, coloca o
dedo na ferida: o neoliberalismo fracassou. Foi um dos maiores engodos da história da
humanidade.

É verdade. Não há intolerância nas palavras do presidente. Elas soam como


cristalina realidade. Tanto que Obama foi o primeiro a dizer sobre Lula: "Esse é o cara".
A informalidade tem duplo significado: reconhece Lula como um igual; valoriza o
discurso do presidente brasileiro. O neoliberalismo criou um mundo de aparências, que
ilude com o discurso da liberdade. Mas, na prática, a liberdade existe apenas para o
capital, que dita as regras, concentra a renda e condena a ética ao ostracismo. É a
racionalização da irracionalidade. A frase é de Marcuse e foi dita ainda na década de 60
quando a sociedade unidimensional - carente do elemento crítico - começou a ser
modelada.

Lula tem lançado luzes sobre esse dramático ambiente. Estilhaça o monocórdio
discurso institucional. Jamais - e essa é a realidade histórica - o Brasil foi protagonista
da cena política internacional. Sempre foi coadjuvante. Agora é o presidente americano
quem reconhece: Lula, "o cara", é o político mais popular do mundo. Não há racismo
algum na sua fala ao lembrar que a crise é de responsabilidade da elite branca de Wall
Street. Longe de acender a fogueira dos preconceitos, quis dizer apenas que não foram
os excluídos que acenderam o estopim do drama, mas, sim, os seus próprios artífices -
os países ricos.

A novidade protagonizada por Lula é que ele transmite o seu discurso falando direto
com a sociedade. A mídia reclama, gasta rios de tinta para ridicularizá-lo, mas se perde
na própria inconsistência. Lula simboliza a razão dos fatos, não os fatos da razão. Parte
da mídia tenta, sem êxito, fazer a sociedade acreditar que seu discurso é preconceituoso
porque existem negros em meio aos brancos de Wall Street. Parece brincadeira. Soaria
bem em seções de humor.

Por razão dos fatos entenda-se a realidade concreta. Por fatos da razão, a realidade
construída artificialmente pela manipulação da realidade. Quando fala, Lula está
tecendo o fio mais nobre da política: o exercício da palavra como elemento de
transformação da realidade.
Foi o que fizeram os humanistas na transição da Idade Média para o Renascimento,
entre os séculos XIV e XV, quando o homem (humanidade) e a sua capacidade de
construir a vida foram trazidas para o centro do espaço público. Deixou-se para trás o
carcomido. Enviabilizado discurso religioso que via no homem um ser decaído, carente
de salvação, para vê-lo, como ele realmente é, sujeito da sociedade política. Não um
objeto, um joguete nas mãos das elites ultrapassadas.

A Idade Média dos dias atuais é a sujeição das multidões aos interesses de uma
minoria predatória que exerce seu domínio pela ideologia do capital, acondicionado no
éter do consumo, no medo do desemprego e do terrorismo e numa estrutura política que
aprisiona a palavra, se esta se erguer em favor de mudanças estruturais.

A fala do presidente Lula, nesse contexto, é renovadora. Aponta no rumo de um


novo renascimento, da recriação do humanismo cívico. Os brasileiros precisam ver Lula
para além dos resultados da economia. Com ele, a política tende a ganhar nova
dimensão. Se Obama vier a ter a lucidez de Lula, os ricos, países ou indivíduos, poderão
ser a redenção e não a praga do mundo.

Na transição da Idade Média para o Renascimento foi assim. Foi quando o


liberalismo tradicional, aquele que precisa ser resgatado nas suas raízes mais profundas,
começou a nascer junto com o republicanismo e as ideias socialistas. Foi a época em
que o poder deixou de ser exercido por "direito" divino. Foi a época em que a sociedade
despertou para a realidade da construção política da economia e começou a questionar o
porquê da existência de ricos e pobres.

Hoje, o que está ruindo é o poder exercido em nome do deus dinheiro. É a máquina
que faz da sociedade contemporânea livre para consumir, mas prisioneira de um modelo
de vida e um sistema econômico que só colhe o que semeia: crises e mais crises. Repito:
o Brasil precisa entender melhor o que o presidente Lula está dizendo.

Francisco Viana é jornalista, consultor de empresas e autor do livro Hermes, a


divina arte da comunicação. É diretor da Consultoria Hermes Comunicação
estratégica (e-mail: hermescomunicacao@mac.com)

Fonte: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3680106-EI6783,00-
Ricos+os+males+do+mundo.html

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