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Biblioteca Informa
nº 2037
MP 449/08 – O Regime
Tributário de Transição e a
convergência para os padrões
internacionais contábeis
29 de novembro – 7 de dezembro, 2008
Neutralidade Fiscal
A MP 449/08 criou o Regime Tributário de Transição (“RTT”) cuja aplicação será opcional
para os anos de 2008 e 2009. A opção pelo RTT é aplicável às pessoas jurídicas sujeitas ao
Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (“IRPJ”) de acordo com a sistemática de lucro real ou
de lucro presumido. O contribuinte deverá manifestar sua opção pela adoção do RTT na
Declaração de Informações Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica, sendo este regime
opcional para 2008 e 2009. A partir de 2010, adoção do RTT passará a ser obrigatória, até a
entrada em vigor de lei que discipline os efeitos tributários dos novos métodos e critérios
contábeis.
Compilado para uso exclusivo dos integrantes do escritório. Cópias dos atos noticiados neste boletim podem
ser solicitadas à Biblioteca. Orientação legal será dada exclusivamente pelos advogados — © 2008. Direitos
autorais reservados a Pinheiro Neto Advogados.
MP 449/08 – O Regime Tributário de Transição
e a convergência para os padrões internacionais
contábeis
Para as empresas que adotarem o RTT, foi estabelecido que as alterações introduzidas pela
Lei 11.638/07, com as modificações introduzidas pela MP 449/08 que modifiquem o critério
de reconhecimento de receitas, custos e despesas computadas na apuração do lucro líquido
do exercício não terão efeitos para fins de apuração do lucro real da pessoa jurídica, devendo
ser considerados, para fins fiscais, os métodos e critérios contábeis vigentes em 31 de
dezembro de 2007.
Isso quer dizer que, na vigência do RTT, para fins de apuração da base de cálculo do IRPJ,
CSL, PIS e da COFINS, deverão ser aplicados os métodos e critérios contábeis vigentes em 31
de dezembro de 2007, sem considerar as alterações nas práticas contábeis introduzidas pela
Lei 11.638/07 e pelos artigos 36 e 37 da MP 449/08. Além disso, o parágrafo único do artigo
16 da MP 449/08 deixa claro que as normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários
(“CVM”) e pelos demais órgãos reguladores que visem alinhar a legislação específica com os
padrões internacionais contábeis também não poderão alterar a base de cálculo do IRPJ,
CSL, PIS e COFINS.
Para alcançar esse fim, o artigo 17 da MP 449/08 estabelece que as pessoas jurídicas deverão
primeiro apurar o resultado do exercício de acordo com as disposições da Lei 6.404/76, com
as modificações introduzidas pela Lei 11.638/07. As companhias abertas e outras que optem
pela sua observância deverão ainda aplicar as normas emitidas pela CVM.
Em seguida, as pessoas jurídicas que optarem pela adoção do RTT deverão realizar ajustes
específicos ao lucro líquido do período no Livro de Apuração do Lucro Real (“LALUR”), de
modo a reverter o efeito da utilização de métodos e critérios contábeis diferentes daqueles
vigentes em 31 de dezembro de 2007. Posteriormente, são realizados os demais ajustes no
LALUR para a adição, exclusão e compensação dos valores prescritos ou autorizados pela
legislação tributária, para apuração da base de cálculo do imposto.
Em outras palavras, para as empresas que adotarem o RTT, fica restabelecida a aplicação da
sistemática atual de determinação da base de cálculo do IRPJ e da CSL, através da qual deve
se apurar o lucro líquido do exercício de acordo com as normas contábeis em vigor para,
posteriormente, realizar no LALUR os ajustes necessários para definir a base de cálculo
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tributável. Dentre os ajustes previstos na MP 449/08 está a exclusão dos efeitos das
alterações na regra contábil introduzida pela Lei 11.638/07 e nos artigos 36 e 37 da própria
medida provisória.
O artigo 18 da MP 449/08 estabelece que para fins de aplicação do RTT, as subvenções para
investimento, inclusive mediante isenção ou redução de impostos, concedidas como estímulo
à implantação ou expansão de empreendimentos econômicos, e às doações, feitas pelo Poder
Público, deverão ser registradas em conta do resultado pelo regime de competência.
Posteriormente, esses valores poderão ser excluídos no LALUR para fins de apuração do
lucro real e da base de cálculo do PIS e da COFINS, desde que as subvenções para
investimentos e as doações recebidas pelo Poder Público sejam mantidos na conta de reserva
de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei 6.404/76.
Este dispositivo decorre da lógica necessidade de não se onerar benefícios fiscais dados pelo
próprio Poder Público. De fato, não faria sentido o Estado dar com uma mão e tirar com a
outra. A nova regra garante a não tributação das subvenções para investimentos enquanto
mantidas em reservas e não disponibilizadas aos sócios.
O valor das subvenções para investimento e doações recebidas do Poder Público serão
tributadas caso seja dada destinação diversa da descrita acima, inclusive na hipótese de: (i)
capitalização do valor e posterior restituição de capital aos sócios ou ao titular, mediante
redução do capital social, hipótese em que a base para a incidência será o valor restituído,
limitado ao valor total das exclusões decorrentes de doações ou subvenções governamentais
para investimentos; (ii) restituição de capital aos sócios ou ao titular, mediante redução do
capital social, nos 5 (cinco) anos anteriores á data de doação ou subvenção, com posterior
capitalização do valor da doação ou subvenção, hipótese em que a base para a incidência será
o valor restituído, limitado ao valor total das exclusões decorrentes de doações ou
subvenções governamentais para investimentos; ou (iii) integração à base de cálculo dos
dividendos obrigatórios.
Para as empresas que adotarem o RTT, o prêmio recebido com a emissão de debêntures
deverá ser reconhecido em conta do resultado pelo regime de competência e, para
companhias abertas e outras que optem por sua aplicação, de acordo com as determinações
constantes das normas expedidas pela CVM. Posteriormente, o valor do prêmio de emissão
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nas debêntures deverá ser excluído no LALUR para fins de determinação da base de cálculo
do IRPJ e da CSL e da base de cálculo do PIS e da COFINS, desde que esse valor seja mantido
em uma reserva de lucro específica.
O valor do prêmio na emissão de debêntures será tributado caso seja dada destinação diversa
da que está prevista acima, inclusive na hipótese de: (i) capitalização do valor e posterior
restituição de capital aos sócios ou ao titular, mediante redução do capital social, hipótese em
que a base para a incidência será o valor restituído, limitado ao valor total das exclusões
decorrentes de prêmios na emissão de debêntures; (ii) restituição de capital aos sócios ou ao
titular, mediante redução do capital social nos 5 (cinco) anos anteriores à data da emissão
das debêntures como prêmio, com posterior capitalização do valor do prêmio, hipótese em
que a base para a incidência será o valor restituído, limitado ao valor total das exclusões
decorrentes de prêmio na emissão de debêntures; ou (iii) integração à base dos dividendos
obrigatórios.
Para o ano-calendário de 2008 e 2009, a opção pelo RTT será aplicável também à apuração
do IRPJ pela sistemática do lucro presumido. Essa opção é aplicável a todos os trimestres de
2008. Nos trimestres já transcorridos de 2008, a eventual diferença entre o valor devido com
base na opção pelo RTT e o valor antes apurado e recolhido deverá ser recolhida até o último
dia útil do mês de janeiro de 2009, sem acréscimos, ou poderá ser utilizada para
compensação do imposto devido em trimestres posteriores.
Demonstrações Financeiras
O parágrafo 2º do artigo 177 da Lei n. 6.404/76 foi alterado de modo a excluir a possibilidade
introduzida pela Lei 11.638/07 no sentido de ser adotado um “balanço tributário” como a
base da escrituração, que posteriormente seria ajustado para fins de se apurar a escrituração
mercantil (“LALUC”).
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Foi ainda revogado o parágrafo 7º do artigo 177 da Lei 6.404/07, o qual estabelecia que os
lançamentos de ajuste efetuados exclusivamente para harmonização de normas contábeis e
as demonstrações e apurações com eles elaboradas não poderão ser base de incidência de
impostos e contribuições nem ter quaisquer outros efeitos tributários. Nos termos da
exposição de motivos da MP 449/08, esse dispositivo tornou-se inócuo, na medida em que o
RTT já garante expressamente a neutralidade fiscal da adaptação da regra contábil brasileira
aos padrões internacionais.
Nos termos do artigo 183, § 3º, a sociedade deverá analisar, periodicamente, a recuperação
dos valores registrados no ativo diferido, a fim de que sejam: (i) registradas as perdas de
valor do capital aplicado quando houver decisão de interromper os empreendimentos ou
atividades a que se destinavam ou quando comprovado que não poderão produzir resultados
suficientes para recuperação desse valor; ou (ii) revisados e ajustados os critérios utilizados
para determinação da vida útil econômica estimada e para cálculo da depreciação, exaustão e
amortização.
A MP 449/08 modificou o parágrafo 3º do artigo 226 e criou o artigo 184-A à Lei 6.404/76,
estabelecendo que a CVM estabelecerá normas especiais de avaliação e contabilização
aplicáveis à aquisição de controle, participações societárias ou segmentos de negócios, bem
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como às operações de fusão, incorporação e cisão que envolvam companhia aberta. O novo
parágrafo 4º do artigo 252 da Lei 6.404/76 ainda estende essa competência da CVM para a
contabilização de operações de incorporação de ações que envolvam companhias abertas.
Essa alteração foi importante, pois a antiga redação do parágrafo 3º do artigo 226 da Lei
6.404/76 criava apenas uma regra confusa e de limitada aplicação para a avaliação dos ativos
a valor de mercado em operações de incorporação de sociedades independentes e vinculadas
à transferência de controle. A nova redação desse dispositivo e a criação do artigo 184-A
darão maior flexibilidade para a CVM estabelecer o adequado tratamento contábil para essas
operações.
Com a nova redação do artigo 243 da Lei 6.404/76, considera-se coligada a sociedade na
qual a investidora tenha influência significativa sobre a administração da investida, sem
controlá-la. O parágrafo 4º do artigo 243 estabelece que há influência significativa quando a
investidora detém ou exerce o poder de participar nas decisões políticas financeira ou
operacional da investida, sem controlá-la. Essa influência será presumida quando a
investidora detiver 20% ou mais do capital votante da investida, sem controlá-la.
Conclusão
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