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ROBINSON CRUSOE
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faz uso da bússola. Por muitos dias só tivemos bom tempo. O navio navegava firme, tudo parecia
indicar que a viagem seria das mais felizes.
O NAUFRÁGIO
Uma violenta tempestade veio de sudoeste. Nunca vi tempestade mais furiosa. Dias e dias
fomos arrestados para o mar afora, esperando a todo momento um fim terrível. A tempestade crescia
de violência. No décimo terceiro dia, pela manhã, um marinheiro gritou: Terra á vista Corri ao convés
para ver, mas justamente nesse momento, o navio bateu num banco de areia e ficou imóvel. Estava
encalhado.
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Meti-me pela água e fui a nado até o navio. Pareceu-me impossível, trepar por aquele liso casco. Vi
um pedaço de corda que pendia e agarrei-me a ela e em pouco achei-me dentro do navio.
O sol ainda estava alto e eu cansadíssimo. Esvaziei os caixões e com eles e as tábuas da
jangada mais os panos das velas, fiz uma tosca habitação onde me meti. Por meia hora ainda estive
de olhos abertos e por fim ferrei no sono. Li perto havia um morro alto onde eu pudesse ver longe.
Pus a espingarda no ombro, o facão na cinta e galguei o alto do morro. Que vista maravilhosa!
Verifiquei que a ilha era muito grande3. Não vi sinal de vida. A idéia de que estava sozinho numa ilha
desabitada, deixou-me triste. O sol já ia desaparecendo quando voltei para minha tosca habitação.
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prevenir-me contra esses perigos. Para tal, o bom seria construir um pequeno forte que me servisse
de morada. Procurei um lugar ideal na chapada de um monte. Primeiro risquei no chão um cercado.
Depois cotei madeira e fui fincando postes bem juntos para cercar. Depois trancei as estacas com as
cordas trazidas do navio. Não fiz portas, para entrar ou sair. Fiz uma pequena escada, que depois de
servir para subir, era mudada para o outro lado e servia para descer. Ali dentro, guardei os meus ricos
salvados.
RIMEIRA CAÇADA
EXPLORANDO A ILHA
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uvas ao sol e levei-as para o castelo Fui ajuntando comestíveis para o inverno. O frio ali era pouco,
em compensação era um chover que não tinha fim. Durante semanas fiquei sem poder botar o nariz
para fora. Minha provisão de alimentos começou a minguar e um dia apesar da chuva, tive que sair
para abater um cabrito. Fazia um ano que eu estava ali naquela solidão. Pus-me a pensar como
marcar o tempo que ali estaria. Plantei um alto poste no terreiro. No alto gravei em letras grandes
estas palavras : Aqui cheguei no dia 30 de setembro de 1.659. cada manhã, dava um corte na
madeira, partindo do alto para baixo. Os domingos marcava com um corte mais comprido, e os
meses, com um ainda mais longo. Meu calendário era aquilo Certa manhã, notei que já havia feito
365 cortes na madeira. Um ano justo. E dava graças a Deus de me ter conservado em boa segurança
no meio de tantos perigos, tendo já a experiência de que na ilha existiam só duas estações: estação
das águas e estação das secas.
Sempre tive idéia de conhecer a ilha toda. Um dia chegou a vez. Espingarda no ombro, facão
na cintura, um sortimento de passas e biscoitos na sacola. Andei bastante e vi ao longe terras, a
umas cinqüentas milhas de distancia Se era uma outra ilha ou terras do continente americano, não
podia saber. Achei aquele lado da ilha mais bonito que o outro. Campos abertos, cheios de flores.
Também cheios de florestas com lindas árvores. Vi um papagaio tagarelando no arvoredo e pensei de
pegar um para enfeite do castelo. Tive trabalho, mas apanhei um filhote para apreender a falar. Esse
papagaio custou um pouco a falar, por fim aprendeu a pronunciar o meu nome com perfeição. Havia
lá muitas aves, algumas que nunca tinha visto. Havia também coelhos. Nessa demorada excursão
viajei sem pressa ao redor da ilha. Nas praias passeavam muitas tartarugas e uma infinidade de aves
marinhas. As vezes, comia um pombo assado. Outras, um suculento naco de tartaruga ou uma perna
de cabrito. Pescava em cima das pedras com caniço improvisado que fabriquei. Frutos do mar, tais
como camarão, ostras e mariscos, tinha-os em quantidade e facilidade de os obter.
PRIMEIRA COLHEITA
Foi grande o meu prazer de regressar ao castelo. Bastante cansado, fiquei sem sair durante
uma semana. Enquanto descansava, construía a gaiola do papagaio que batizei com o nome de Pol.
Ficou mansinho e muito meu camarada. A plantação de trigo ia indo muito bem. Assim que as espigas
começaram a granar vieram os pássaros. Matei 3 a tiro. Foi um santo remédio porque
desapareceram. Quando o trigo amadureceu, surgiu o problema de como colhe-lo. Lembrei-me da
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velha espada do capitão. Amolei-a e serviu muito bem. colhi as espigas e debulhei. Vocês já
pensaram em quanta coisa é preciso para se fazer o pão? Eu pensei e sei o que é semear o grão,
depois colher, debulhar, moer, peneirar, amassar e assar. Para a fabricação do pão, fez-me pensar
que o castelo andava muito pobre de vasilhas. Lembrei-me da argila. Encontrei uma boa jazida de
argila. Toca a extrair argila e amassa-la. Era preciso dar forma ao barro. Fiz isso com as mãos.
Ficaram horrendas, as minhas vasilhas. Quebravam-se atoa Fiz algumas, amontoe-as e cobri com
uma grande pilha de lenha. Pus fogo e deixei-a até ficar reduzida a cinzas. O resultado, foi excelente.
Obtive vasilhas tão boas, como as melhores da Inglaterra. Embora feias, minhas vasilhas e panelas
não racharam ao fogo e resistiam a ação da água. No dia dessa grande vitória, jantei uma deliciosa
sopa de tartaruga.
VIRO PADEIRO
Queria escapar daquela solidão, queria ver gente, estava cheio de saudades de minha terra
natal e de meus amigos. Eu era um rei naquela ilha. Tinha todas as comodidades. Abundância de
alimentos, água pura, ar saudável..... O resultado dessas cogitações foi o de construir uma canoa
resistente ao alto mar. Na floresta encontrei madeira apropriada. Um tronco de cedro. Era um madeiro
de oito palmos de diâmetro. Duas semanas levei, derrubando esse pau. Depois comecei a escava-lo.
Durante três meses, não fiz outra coisa. Quando terminei o serviço, senti-me orgulhoso. Tudo foi
muito bem até ali. As dificuldades apareceram depois. Como levar a canoa ao mar! Tentei todos os
meios, sem conseguir mover de um dedo a canoa. Que estúpido havia sido! Quem tem juízo, primeiro
olha a largura do valo antes de pular. Errei, e pagava o meu erro.
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fixo, sempre aberto. Trabalhei nele como quem se diverte em fazer um brinquedo. Foi de grande
proveito, permitindo-me sair do castelo com qualquer tempo. Cinco anos já se haviam passado.
Durante todo esse tempo, nunca estive ocioso. Procurava sempre me ocupar de qualquer coisa.
Único meio de enganar a solidão. De manhã, lia passagens da Bíblia, depois cuidava do almoço e,
embora falhasse a primeira tentativa, continuava dentro de minha cabeça, mais viva do que nunca, a
idéia da construção da canoa.
Meu primeiro movimento ao pisar em terra firme, foi render graças a Deus. Depois deitei-me na
relva para descansar. Estava tão fatigado que dormi imediatamente só acordando no dia seguinte. O
mar havia me deixado doente. Assim de guarda sol aberto lá me fui na direção do meu castelo.
Cheguei já noite e deitei-me para dormir. De repente ouvi dentro da escuridão uma voz dizer
claramente: Robnson Crusoe! Robnson Crusoe! Será sonho? Pensei arregalando os olhos. Não era.
Ouvi novamente, bem claro. Pus-me de pé num salto. Mas vi logo o que era. Vi o vulto do meu
papagaio, num pau rente ao meu ombro. Fi-lo pousar no meu dedo, como era seu costume e
aproximei-o de mim. Deu-me bicadas amigas na mão sempre repetindo o meu nome. Fiquei
convencido de que o papagaio, tinha amor por mim.
SINAIS NA AREIA
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Quando fazia bom tempo eu costumava ir ao outro
lado da ilha de canoa contornando pela praia. Tais
excursões para mim, constituíam um real prazer. Numa
destas vezes distraído imaginem o que encontrei a olhar
para o chão quando.... A marca de um pé humano,
impressa na areia da praia. Esfriei: parecia que o sangue
se houvesse gelado em minhas veias. E ali fiquei
paralisado, como quem dá com fantasma. Voltei a examinar
o rasto novamente. O rasto lá estava- a marca do
calcanhar, da sola, e dos dedos de um pé humano. Tão
amedrontado fiquei que desisti do passeio de canoa e voltei
ao castelo a toda pressa. Precisava me preparar para a
defesa. Não pude dormir nessa noite. Por fim decidi comigo
mesmo que aquele rasto só poderia ser de algum índio que houvesse desembarcado na ilha. Mas
onde estaria ele? Tamanho foi o meu medo que passei três dias sem sair do castelo. Cheguei a
passar fome. Pouco, a pouco, entretanto fiu sossegando e criei coragem. Fui escondendo-me até o
cercado das cabras, para conseguir um pouco de leite. Ao pobres animais, ficaram tão contentes de
me ver, Tudo isso porque havia enxergado na areia a marca de um ser da minha espécie.
SELVAGENS
Certa manhã, sai de casa muito cedo para ceifar o meu trigo.
Fazia tanto calor nessa estação que eu só trabalhava pelas
manhãs. Em meio do trajeto parei, surpreso. Havia visto ao longe a
luz de uma fogueira. Quem teria acendido o fogo? Só poderia ter
sido os selvagens. Fiquei imóvel a olhar. Trepei ao topo, levando
comigo os óculos de alcance, que tinha desde o naufrágio. Lá de
cima deitei-me e pus-me a sondar ao longe através da luneta.
Vários selvagens nus estavam sentados em redor de um pequeno
fogo. Contei cinco. Aquele fogo não seria para se aquecerem visto
não estar fazendo frio. Logo estavam assando qualquer coisa,
talvez carne humana, já que eram canibais. Assim que se foram,
corri a outro ponto mais alto, para ver a direção que levava a canoa
deles. Acompanhei as canoas, até perde-las de vista. Depois fui ter
ao lugar do banquete. Horrendo quadro chocou meus olhos. A areia
estava coberta de sangue e ossos, Não havia dúvida que tinham
matado algum prisioneiro e devorado sua carne. Desde essa época não mais me senti seguro na ilha.
Deixei de caçar com espingarda e de fazer fogo. Também encurtei muito os meus passeios. De dia só
pensava em um meio de escapar aos selvagens e de noite sonhava horríveis sonhos, cheios de
cenas de canibalismo.
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anoitecer. Mas não os vi mais. Com certeza, eram de outra ilha e só ali estiveram, para o macabro
churrasco.
SEXTA FEIRA
Está claro que o pobre, não entendeu a linguagem e meus gestos. Mas não havia tempo a
perder. Os índios que o perseguiam desistirão de atravessar a nado o rio que nessa época, estava
muito cheio devido as fortes chuvas. Livre dos índios, ali estava o fugitivo, olhando-me com os olhos
esbugalhados. Chamei por ele:- Venha cá, amigo. Não farei mal algum a você. Como não
entendesse, traduzi essas palavras em gestos. Ele caminhou alguns passos em mina direção e parou
indeciso. Fiz outro sinal, e ele caminhou mais uns passos e parou. Tremia como geleia. Receava que
o matasse. Mas meus gestos foram convencendo-o que não estava diante de um inimigo. E por fim
chegou-se. Ajoelho-se aos meus pés, curvando a cabeça até encosta-la no chão. Era uma maneira
de jurar-me submissão para sempre. Falei-lhe mansamente, com tom amigo. Estava enfim livre de
minha solidão de 25 anos.
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pelo fato de o ter salvo numa sexta feira. As primeiras palavras aprendidas foram "Master" e sim e
não. A noite dei-lhe una tigela de leite e um pedaço de pão. Meu primeiro cuidado foi ver se os índios
tinham deixado a ilha. Espiei pelos óculos. Não estavam mais lá. No dia seguinte, armei a tenda para
o meu novo companheiro. E como não tivesse roupa, comecei a fazer-lhe um terno de peles. Dei-lhe
uma calça de brim que achei na canastra do naufrágio. Fiz-lhe uma jaqueta e um gorro de peles de
coelho.
Alguns dias depois, levei Sexta Feira, a caça e a pesca. Ao chegar em certo ponto, dei com
vários cabritos selvagens, descansando a sombra de uma árvore. Fiz sinal de alto, e tomando a
espingarda, apontei e.... púm... Matei um dos cabritos e meu índio quase morreu de susto. Assim que
Sexta Feira percebeu o que havia acontecido, foi correndo buscar a caça. Mais adiante dei com um
peru e púm... A ave caiu. Sexta Feira, olhava para a ave e tremia. Estava assombrado. Levou o
cabrito para o castelo e tirou-lhe a pele e esquartejou o animal. Fiz um ensopado para o jantar, que
para o índio só tinha um defeito, O sal. Sexta Feira nunca pode acostumar-se ao sal. Ensinei-lhe
como debulhar as espigas de trigo e como moer os grãos. Depois ensinei-lhe a fazer pão e a enfornar
a massa. Ficou tão perito, que tomou conta da padaria. Expliquei-lhe um dia, o manejo da espingarda,
como se carregava, como a pólvora, como a bala saia do cano. Contei dos grandes países do outro
lado do mar. E também contei toda a minha história. Disse que eu havia vindo de um desses navios o
qual, batendo em uma grande pedra, afundara. Contei-lhe de minha canoa. O índio quis vê-la. Levei-o
para o sitio onde estava a canoa grande que eu não pudera arrastar até o mar. Mas estava podre,
pois faziam já muitos anos que eu a fizera. Eram 25 anos que eu ali estava e mais 2 que havia
encontrado o índio. Esses dois anos, foram os mais felizes de minha estadia na ilha. Que me faltava?
Tinha até com quem conversar!
Porque então essa idéia de deixar a ilha? Saudades, saudades da família e do meu povo.
Apesar disso, continuei como sempre, a fazer as plantações a cuidar de tudo como se estivesse que
ficar na ilha o tempo todo, a vida inteira. Nisto chegou a estação das águas. Demos por findos os
trabalhos do campo e guardamos a canoa na praia do rio. Também a cobrimos com achas de
madeira, de modo que as águas da chuva não as enchessem. Passamos a estação das chuvas no
castelo. De manhã eu lia passagens da Bíblia procurando interessar Sexta Feira. Falei-lhe um dia do
Criador. Perguntei quem havia feito o mar, as estreles, os rios, as montanhas e as flores, tudo enfim.
Respondeu-me que foi o grande Ser, que vivia para além de tudo o que existe. Creio que ele não
poderia dar melhor resposta.
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Em seguida todos os marinheiros se espalharam
pela ilha. Muito bem, pensei comigo. A maré montante, leva
muitas horas para vir. Nesse intervalo, terei muito tempo
para saber o que querem aqui. Preparei as espingardas. E
pus-me a esperar a noite. Sexta Feira, vamos sair e ver o
que se passa. Não nos viram chegar. Plantei-me diante
deles e disse: Quem são vocês? Nunca vi maior surpresa
estampada em faces humanas. Pularam de pé. Tinham
perdido a voz de susto. Não se assustem. Sou amigo.
Venho trazer-lhes auxilio. Então - disse um deles- deve ter
caído do céu, porque só do céu nos poderia vir socorro
neste momento. Sou inglês- expliquei- e estou pronto a
auxiliar vocês. Tenho um servo índio, bem armado. Conte-
me depressa o que há.
ROUPAS NOVAS
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Assim, a 19 de dezembro de 1.687, partimos para a
Inglaterra, tendo eu estado na ilha, 28 anos, dois meses e 19
dias. Levei o gorro de pele de cabra, o famoso guarda sol. O
papagaio também. Um outro papagaio, pois o primeiro Pool,
havia morrido. Quanto a Sexta Feira, nada no mundo o faria
separar-se de mim. Foi também. Tivemos viagem demorada
e difícil, mas a 19 de junho alcançamos Londres. Estava em
casa. Estava finalmente em minha terra. Corri a Iorque. Meus
pais estavam mortos, havia longo tempo. Os amigos da
juventude, já não se recordavam de mim. Achei-me só no
mundo. Que iria fazer?
FIM
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