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Tribunal+da+Rela
Segundo a decisão do TRL, hoje noticiada pelo "Diário Económico", o Governo carecia de uma autorização legislativa
da Assembleia da República (AR) para poder legislar sobre a matéria, o que no entender dos juízes que apreciaram a
questão não acontecia, tendo assim decidido pela inconstitucionalidade daquele diploma legal (Decreto-Lei nº
274/2007, de 30 de Julho), na parte em que atribui àquele organismo competências de órgão de polícia criminal.
A decisão, subscrita pelos desembargadores Maria de Fátima Mata-Mouros e João Abrunhosa, foi proferida no passado
dia 25 de Junho e refere-se a uma detenção efectuada por elementos da ASAE, num café da Trafaria, em Almada. A
arguida, estaria a explorar um jogo de fortuna ou azar, estilo raspadinha, e acabou por ser condenada pelo Tribunal de
Almada numa pena de 90 dias de prisão, substituída por uma multa de 840 euros. No recurso para o TRL, defendia-se
que a detenção fora ilegal, por exorbitar as competências dos elementos da ASAE, pelo que a arguida não poderia ter
sido submetida a julgamento nas condições em que o foi.
Nas suas alegações, o Ministério Público defendia que, apesar da atribuição de competências de órgão de polícia
criminal, em nenhuma parte do Decreto-Lei 274/2007 a ASAE é definida como força de segurança, ao contrário
daquilo que acontece com as leias orgânicas da PSP ou da GNR. Por isso, concluía o MP, apenas devem ser entendidas
como forças de segurança as entidades com a função de manutenção da segurança e odem públicas, o que não é o
caso da ASAE.
O decreto que alterou – e reforçou – as competências da ASAE surgiu “no quadro das orientações definidas pelo
Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE) e dos objectivos do programa do Governo
no tocante à modernização administrativa e à melhoria da qualidade dos serviços públicos com ganhos de eficiência”,
conforme se lê no seu preâmbulo. Foi aprovado em Conselho de Ministros em 11 de Janeiro de 2007 e promulgado
pelo Presidente da República em 29 de Junho do mesmo ano.
A decisão o TRL tem apenas efeitos para o caso concreto do julgamento de Almada, que foi declarado nulo. Dada a
matéria, tudo indica que haverá recurso do Ministério Público para o Tribunal Constitucional (TC), cuja eventual
decisão continuará a ter efeitos apenas para este caso. Para que as normas em questão sejam declaradas
definitivamente inconstitucionais será necessário que o TC se venha a decidir nesse sentido em três casos concreto.
Este é apenas o primeiro a ter uma decisão de inconstitucionalidade nos tribunais da relação, mas a questão foi já
levantada por várias vezes noutros processos cujo desfecho não é ainda conhecido
O acórdão da relação de Lisboa nota que assim foi com o DL 237/2005, que criou a ASAE, mas o que está em causa
são as alterações introduzidas pela Lei Orgânica (DL 274/2007). Entre estas está o artº 15º, que estabelece que
passa a ter “poderes de autoridade e é órgão de polícia criminal”, e o artº 3º, al. aa) que atribui competência para
“desenvolver acções de natureza preventiva e repressiva em matéria de jogo ilícito”. São estas duas normas que o
TRL considera estarem feridas de inconstitucionalidade orgânica.
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