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Playboy entrevista Catherine Millet

A respeitada crítica de arte francesa escandaliza Paris com o


livro onde conta como transava com até 50 homens na mesma noite. Ela se
deitava numa mesa, nua, absolutamente cool, e dezenas de homens
vinham acariciá-la. Ou penetrá-la, de preferência por trás. Alguns se
regalavam apenas com a língua e as mãos miraculosas de Catherine Millet,
a crítica de arte que escandalizou Paris em abril com La Vie Sexuelle de
Catherine M. (Seuil), o inacreditável livro de confidências que já vendeu mais
de 300 mil exemplares, foi traduzido em 20 países e deverá ser lançado no
dia 15 deste mês no Brasil (A Vida Sexual de Catherine M., Ediouro, 190 págs.,
24,90 reais). A temperatura subiu ainda mais no meio intelectual da França
com o livro quase simultâneo de seu marido, o romancista Jacques Henric,
pela editora Denoël, exibindo Catherine nua na estação de trem, no
cemitério, na rua, no mato e em casa.
À mesa ou à cama onde se deitava Catherine nos clubes
privados de Paris, vinham degustá-la 20, 50 homens numa noite, não importa.
Um após outro. Ou vários ao mesmo tempo. Astros de cinema, executivos,
políticos, artistas plásticos, escritores. Eles jamais se esqueceriam daquela
jovem de aproximadamente 20 anos, ar angelical, traços clássicos, uma
princesa, aberta a todas as propostas e posições, infatigável no exercício da
pornografia. Não sairia de suas lembranças o ar passivo e vago de
Catherine. Que bunda!, exclamavam uns. Que boca!, diziam outros. Ela nem
via o rosto da maioria. Nos intervalos das séries de orgasmos nesses clubes
privados, ou nos apartamentos de Saint-Germain-des-Prés, na Rive Gauche
de Paris, Catherine tomava banhos e descansava, discutindo com seus
parceiros arte conceitual, o azul absoluto do pintor Yves Klein ou o erotismo
do escritor Georges Bataille.
Uma intelectual articulada, que, aliás, selecionou as obras
francesas na Bienal de São Paulo, em 1989. Que coquetel! Catherine sempre
se deixou levar por puro prazer, se entregando ao sexo "como uma religiosa
que faz votos monásticos". Sem droga alguma, porque passava mal. Nem
em troca de dinheiro: "Não foi por restrição moral... É que eu sempre senti
uma certa culpa lidando com dinheiro. Não conseguia cobrar, mesmo
precisando". O que não a impede de ser hoje uma executiva muito bem-
sucedida.
Catherine nunca se contentou apenas com as bacanais em
clubes convencionais. Sempre em companhia de um ou mais amigos, para
sentir-se protegida, ia para o Bois de Boulogne, transava nos bancos do
bosque, na grama, nos carros. O risco de ser flagrada só aumentava o
prazer. Certa noite, um policial pegou-a no fim do ato oral, perguntou ao
motorista se tinha pago algum dinheiro, a resposta foi negativa, os
documentos de todos foram verificados. Era uma fila imensa de carros
entretidos com sexo perto da Porte Dauphine. Catherine nunca foi elitista.
Uma de suas melhores lembranças é de uma noite de trepadas com dois
cozinheiros negros – "corpos e sexos magníficos", conta. Ela não lembra com
quantos homens transou na vida – só consegue identificar, em sua memória,
o rosto de 49 deles. E isso também não importa.
"Eu não sou uma colecionadora de homens. Sou discreta,
tímida até. Nunca houve nenhum dom-juanismo de minha parte." Além das
trepadas clássicas com o dentista, Catherine radicalizou. Deu para um
bando de homens no estádio de futebol. Transou com dois amigos numa
sala escondida do Museu de Arte Moderna de Paris, em meio a uma
exposição. Também não resistiram a Catherine alguns colegas de trabalho
no escritório da prestigiada revista ArtPress, que ela fundou em 1972 e que
dirige até hoje, com uma circulação mensal de 35 mil exemplares. Tudo
bem, o escritório estava deserto quando ela transou com o designer. Mas,
para ela, não há barreiras nem escrúpulos quando o tesão emerge. Muito
menos medo.
Catherine já chegou ao orgasmo com um inesperado beijo na
boca no hall de um hotel Intercontinental, ou simplesmente vendo, em
companhia de um amigo de cama, uma exposição de Picasso no Centro
Georges-Pompidou, vestindo um colante que roçava sua vulva. Algumas
fantasias nunca foram realizadas: com animais, por exemplo. Ou no sujo
metrô parisiense.
Quem lê tudo isso pode ter uma idéia equivocada de
Catherine. Para seus amigos e amantes, ela era "um amigo-mulher", uma
camarada. Nunca dizia não. "Nós te víamos como um fenômeno", disse um
deles a ela. Ou, como um amante a definiu em seu diário: "Catherine,
aquela cuja tranqüilidade e disponibilidade em todas as circunstâncias são
dignas dos maiores elogios do mundo". Para ela, são declarações de amor.
Que também não a abalam. O sexo para Catherine sempre foi uma forma
natural e direta de conhecer a intimidade dos amigos e dos desconhecidos.
"Trepar, para mim, era um estilo de vida." Ela se identificava com a heroína
de História de O, "sodomizada com freqüência". "Eu adoraria viver aquela
vida reclusa numa casa isolada do mundo."
Sua especialidade é, sem dúvida, a felação, cuja técnica
descreve em detalhes: "Nunca faço rápido demais no início, prefiro cobrir
todo o comprimento do membro, mantenho o ritmo moderado. Tenho um
sentimento inefável de controle: é incrível como uma minúscula vibração da
língua pode despertar uma resposta desmedida". Quando conheceu
Jacques Henric, há 30 anos, ele perguntou: com quem você transa? "Com
muita gente", respondeu. Jacques se orgulha de viver há 20 anos com "uma
mulher livre". O casal fez das trepadas ao ar livre um de seus rituais mais
queridos. "O oxigênio", diz Catherine, "age sobre mim como um afrodisíaco".
No casamento há algumas regras. O leito conjugal é, por
exemplo, interditado a outras aventuras. O ciúme, mútuo, precisa ser
administrado. Hoje, ela tem 53 anos, aparenta muito menos. Ele tem 61.
Continuam apaixonados, livres e cúmplices. Vivem numa casa que,
antigamente, era uma marmoraria, no fundo de um prédio, com um jardim e
um grande portão vermelho. A jornalista Ruth de Aquino conversou
longamente com a escritora, em sua casa no 12e (arrondissement), um
bairro de classe média em Paris, um dia depois de Catherine M. chegar da
Feira Internacional de Livros de Frankfurt, onde lançou a edição alemã de
sua obra. Ruth ficou totalmente surpresa com a mulher que encontrou:
"Quem lê um livro desabusado, sem freios nem pudores, como La Vie
Sexuelle de Catherine M., supõe que a autora seja uma personagem
provocante, que te olhe diretamente no olho, mesmo que ela negue ser
uma sedutora. Não que eu esperasse encontrá-la de cinta-liga ou com um
decote vulgar. Afinal, Catherine Millet é uma diretora de redação séria, que
escreveu livros como A Arte Contemporânea na França; Do objeto à obra,
os espaços utópicos da Arte; A Crítica da Arte se expõe.
É uma mulher independente, bem resolvida. Mas os excessos
de sua última obra não me permitiam imaginar que Catherine M. fosse
realmente tímida, que ruborizasse e abaixasse o rosto nas perguntas mais
cruas. Foi desconcertante perceber que ela é realmente contra
encenações. E, por isso, vestia uma camiseta de algodão rosa pálido
cobrindo os largos quadris, calças de brim, nenhuma maquiagem. E um
cordão com crucifixo que tinha mania de ficar pegando, embora tenha
deixado de acreditar em Deus aos 18 anos, quando perdeu a virgindade.
Nenhuma arrogância, nenhum gênero, tão comuns às estrelas
da imprensa ou da arte. A casa também é despojada. Em três andares, tem
as paredes tomadas por livros e obras de arte. Logo à entrada, uma enorme
escultura do francês César. Entre muitas obras minimalistas, uma pintura do
húngaro Simon Hantaï. As fotos de Catherine nua são onipresentes. Para eu
não esquecer que a personagem devassa é mesmo, na vida real, aquela
mulher simpática, calma e inteligente, de altura mediana, sapatos baixos e
um sorriso encantador".

As surubas das quais já participou


"Não havia a menor diferença, para mim, entre transar com um amigo e,
depois, transar com o amigo desse amigo."
PLAYBOY – E com quantos homens você fez amor? Tem alguma idéia? No
livro, você diz que pode identificar 49. Mas, ao todo, você pode fazer uma
estimativa se foram centenas? Ou milhares?
CATHERINE – Milhares já é demais. Mas também nunca me interessei em
contar, porque fazia parte de meu prazer exatamente não contar nunca,
não fazer distinção entre o corpo de um e de outro, não perceber nem
mesmo o rosto. Jamais fui uma colecionadora de homens. Não sou uma
Dom Juan. Na verdade, nunca transaria com um homem para me vangloriar
depois. Sou muito discreta.
PLAYBOY – Perguntei se eram milhares porque, no livro, você cita transas em
grupo com até 150 pessoas...
CATHERINE – Em algumas bacanais havia realmente um número enorme de
pessoas, mas nem todas transavam entre si. Havia também cerimônias mais
íntimas, de grupos de amigos, com um número mais restrito de parceiros.
PLAYBOY – Por que você decidiu participar dessas surubas? Houve um
motivo particular ou simples curiosidade?
CATHERINE – Eu não buscava nada. Era simplesmente, para mim, uma forma
mais natural de encontrar as pessoas, sem necessidade de conquista nem
mise-en-scène. Não havia a menor diferença, para mim, entre transar com
um amigo e, depois, transar com o amigo desse amigo.
PLAYBOY – Que tipo de mulher participava desses encontros em Paris? Você
acha que era diferente das outras?
CATHERINE – A gente sempre gosta de pensar que é diferente. Mas, na
verdade, eu encontrava todo tipo de mulher nessas transas em grupo.
Jovens como eu, que começavam a trabalhar no meio artístico, por
exemplo, mas também burguesas sem trabalho algum. Mesmo assim, não
saberia dizer exatamente porque sempre me misturei mais aos homens do
que às mulheres.
PLAYBOY – Em seu livro, a primeira vez que você menciona orgasmo é na
página 82.
CATHERINE – Mas é que eu só comecei a gozar mesmo depois dos 30 anos.
PLAYBOY – Então, todas essas transas em grupo antes disso eram muito mais
uma forma de dar prazer aos outros do que a você mesma...
CATHERINE – Não. Porque dá para sentir um prazer muito intenso com
algumas carícias, mesmo sem chegar ao clímax. E isso é incrível porque, às
vezes, mais tarde, eu transava com alguém, chegava sempre ao orgasmo,
mas continuava sentindo falta de um tipo especial de carícia, de carinho.
Era uma carência forte que nada tinha a ver com gozo.
PLAYBOY – Como é essa história que você conta, de ter gozado no hall de
um hotel Intercontinental simplesmente porque um homem te abraçou e te
beijou na boca repentinamente?
CATHERINE – Durante longo tempo, o prazer mais violento que eu podia
encontrar era num ato imediato e súbito, ser apanhada de surpresa. Eu
podia chegar ao orgasmo rapidamente se um homem me pegasse
repentinamente e me beijasse na boca. E não conseguia um prazer tão
intenso se tivesse uma transa convencional com ele. Houve uma época na
minha vida até que me preocupei com isso. Achava meio estranho.
PLAYBOY – Você já teve orgasmos múltiplos, em série?
CATHERINE – Ah, acontece... Este é um de nossos privilégios, como mulheres
[risos].
PLAYBOY – Você descreve vários tipos de sexos masculinos em seu livro, mais
grossos, mais longos. O tamanho do pau faz ou não diferença para a
mulher?
CATHERINE – Acho complicado para os homens que têm o pau muito
pequeno. Mas há os que transformam essa desvantagem numa vantagem,
compensando com carícias e com o sexo oral.
PLAYBOY – Você teve sorte de viver a juventude numa época em que não
havia Aids. Hoje, você acha que teria participado das mesmas aventuras,
mesmo com a ameaça da Aids? A obrigação de usar camisinha não reduziu
a diversidade ou mesmo o prazer?
CATHERINE – Certamente. Por exemplo, toda a parte do livro que dedico à
felação... Eu jamais teria ido, hoje em dia, tão longe, nem teria conseguido
tanto prazer com o sexo oral, em contato direto com os paus de meus
parceiros. A camisinha, hoje obrigatória, torna essa experiência impossível. A
Aids certamente modificou os hábitos das pessoas acostumadas a sexo
grupal.
PLAYBOY – Mas as surubas ainda existem em Paris?
CATHERINE – O sexo grupal voltou à moda em Paris. Existe uma espécie de
ressurgimento das transas entre várias pessoas ao mesmo tempo e,
especialmente, a multiplicação de clubes para troca de casais. Acho que é
exatamente uma forma de tentar fazer com que o exercício da sexualidade
sobreviva à Aids.

Suas posições sexuais favoritas


"Acho que eu sempre gostei muito de manusear meus parceiros com a
boca, as mãos... Como a mulher, ao chupar seu parceiro, tem controle total
sobre sua performance e suas habilidades, esta é, para mim, uma das
atividades mais agradáveis na transa sexual."
PLAYBOY – Você diz achar estranho que algumas mulheres gritem muito alto
enquanto transam. No livro, você conta uma história em que, um dia, seus
gritos acordaram o bebê dos vizinhos e eles começaram a bater na parede.
E seu amigo disse ter consultado um médico, que falou que isso era um sinal
de histeria. O que você acha disso?
CATHERINE – Acho que meu amigo tinha razão. Eu sei que os gritos das
mulheres quando estão trepando às vezes são espontâneos, não só para
satisfazer o parceiro, mas para estimular seu próprio tesão até chegar ao
clímax. Mas há umas mulheres particularmente escandalosas e que vivem
gritando. Devo dizer que concordo com meu amigo. Gritaria na transa é,
sim, um sinal de histeria.
PLAYBOY – Nas suas descrições de experiências com substitutos de paus –
pepinos, salsichões, garrafas de Perrier, cassetetes luminosos da polícia –,
você não deixa claro se eram prazerosos, se havia favoritos...
CATHERINE – Ou charutos [risos de Catherine, mostrando que Jacques, seu
marido, está fumando um charuto]... Você vai mesmo publicar tudo isso?
[Abaixa a cabeça.] Bem, para falar sério, o nível de prazer depende da
superfície desses ‘clones’.
PLAYBOY – Você menciona a "torre Eiffel" como uma de suas posições
preferidas na transa. Existem outras?
CATHERINE – Quando a mulher está sentada sobre o homem, sua silhueta
lembra mesmo a torre Eiffel. O corpo projetado para cima, a bunda aberta,
como uma base mesmo. Nessa posição, todas nós sabemos que o controle
e o ritmo do prazer são muito mais ditados por nós, e é excelente também
para que o homem nos faça gozar com a língua. Há também uma posição
ótima, na minha opinião, e bem preguiçosa, que chamamos de ‘pequena
colher’, com os corpos encaixados. Com a idade, o gosto também muda.
PLAYBOY – Em muitas páginas você descreve como é bom praticar felação,
detalha a técnica. Você diz sentir orgulho sempre que seus parceiros te
chamam, citando literalmente do livro, "a melhor chupadora de paus" que
eles já encontraram. Era um dom natural ou foi resultado da experiência em
grupo?
CATHERINE – Acho que eu sempre gostei muito de manusear meus parceiros
com a boca, as mãos, eu me dediquei com prazer a isso e, assim, é natural
que a técnica vá se aperfeiçoando, por não ser nada forçado, ao contrário.
Posso dizer que nunca tive nenhum professor. Nunca encontrei nenhum
homem que estivesse em condições de me ensinar alguma coisa nesse
domínio e também nunca conheci mulheres mais peritas do que eu nisso,
que pudessem me passar algum conhecimento. Como a mulher, ao chupar
seu parceiro, tem controle total sobre sua performance e suas habilidades,
esta é, para mim, uma das atividades mais agradáveis na transa sexual. De
qualquer maneira, acho que as preferências dependem muito do parceiro.
O tipo de relação desenvolvida por dois adultos vai aos poucos moldando
ou mesmo modificando as posições e gestos preferidos por um ou outro. É
um diálogo que se estabelece.

Detalhes do livro sobre suas aventuras sexuais


"Não só tudo é verdade, mas, na medida do possível, tudo foi verificado. Eu
voltei a alguns lugares, a alguns endereços, umas casas, para conferir se
minha descrição correspondia à realidade."
PLAYBOY – Tudo o que você contou em seu livro é verdade? As orgias, as
trepadas no bosque [Bois de Boulogne], no estádio, no museu, nos carros e
nos apartamentos de Saint-Germain-des-Prés, na Rive Gauche de Paris?
CATHERINE – Claro que sim. Eu não sou uma romancista, sou uma crítica de
arte, alguém que precisa se apoiar sobre o real para poder escrever. Eu seria
totalmente incapaz de inventar todas essas histórias. Não só tudo é verdade,
mas, na medida do possível, tudo foi verificado. Eu voltei a alguns lugares, a
alguns endereços, umas casas, para conferir se minha descrição
correspondia à realidade. Para escrever o livro trabalhei como se fosse uma
crítica, uma pesquisadora. Revi alguns de meus ex-parceiros sexuais para
discutir com eles alguns acontecimentos da época e verificar a veracidade
de algumas de minhas lembranças e memórias. Perguntava a eles: você se
lembra se foi assim mesmo? Todos me ajudaram. Afinal, todos nós nos
divertimos muito naquela época.
PLAYBOY – E por que você decidiu revelar tudo sobre sua vida sexual e suas
fantasias? Quando surgiu esse desejo pela primeira vez?
CATHERINE – Foi há 10 anos mais ou menos, eu já tinha passado dos 40, uma
idade complicada para a mulher. Foi um momento em que senti de maneira
forte, viva, o desejo de contar como eu e meus amigos tínhamos vivido
nossas experiências sexuais, como tínhamos construído uma espécie de
ideologia de liberdade sexual. De certa maneira, eu já participava
profissionalmente da difusão dessa ideologia, através da ArtPress, por
exemplo. Nós abordamos na revista, freqüentemente, questões de
sexualidade. Nós sempre nos interessamos por autores como Georges Bataille
(1897-1962), Marquês de Sade (1740-1814), e pela psicanálise. Mas nem
todas as reflexões ou essa bagagem teórica eram suficientes para explicar
nossas experiências pessoais e individuais. Eu jamais aderi à reflexão feminista
sobre a sexualidade – porque as teorias feministas nos anos 70 sempre
remetiam a uma guerra de sexos, de hostilidade com o mundo masculino. As
feministas também prestavam atenção demais nos órgãos da mulher. E eu
acho que nós nascemos homem ou mulher muito mais pelo que a gente
pensa ou sente do que por causa do corpo.
PLAYBOY – Seu marido diz que você tem uma aura sexual. Você acha que
tem, acha que isso existe?
CATHERINE – É difícil dizer se eu mesma tenho, mas quando observo homens
e mulheres, claro que posso distinguir que alguns têm essa aura e outros não.
E não são exatamente, como você bem sabe, os que têm o corpo mais
perfeito, os traços mais bonitos. O que brilha nessa aura vem de uma
liberdade que você exercita. É como se ficasse claro que você está
disponível para uma trepada a qualquer momento, em qualquer lugar.
PLAYBOY – Os nomes em seu livro são todos fictícios?
CATHERINE – Todos, menos o de Jacques.
PLAYBOY – Sabe-se que o conhecido galerista Daniel Templon foi seu marido
durante vários anos. Ele é "Claude"?
CATHERINE – [Risos e rubor.] Eu me recuso a responder essa pergunta... Mas é
bom ficar claro que todos os homens com quem tive contato foram
consultados e aceitaram que eu contasse tudo. As reações deles ao livro
variaram de acordo com a personalidade, mas nenhum reagiu mal, e foram
bastante discretos de maneira geral. Além disso, para diluir as pistas e por
puro estilo literário, eu fragmentei os personagens reais em várias histórias.
Eles perceberam isso.
PLAYBOY – Você mistura bastante sua vida profissional e sexual. No livro,
conta transas no escritório da ArtPress com o designer. Também conta
transas com colaboradores numa sala de um museu, em que você praticou
sexo oral com dois deles, e depois retomou a visita à exposição. Não tinha
receio de prejudicar a relação de trabalho com seus colaboradores?
CATHERINE – Nada disso jamais afetou minhas relações profissionais. Sempre
houve respeito profissional mútuo. E nunca tive medo de nada em relação a
minha reputação, porque nunca tive culpa nem achava que estava
fazendo nada de errado, que precisasse esconder, disfarçar. Se achasse,
não teria publicado esse livro.
PLAYBOY – E nunca teve medo de ser flagrada no escritório?
CATHERINE – Ah, mas isso faz parte do prazer, o medo de ser flagrada
trepando no escritório da revista. E é engraçado porque, depois que saiu o
livro, alguns de meus colaboradores chegaram para mim e confessaram ter
feito a mesma coisa: "Catherine, você diz que fez amor no escritório, você
sabe, comigo também aconteceu de trepar depois que todo mundo tinha
saído". Nós rimos muito de tudo isso. É claro que eu esperava que o escritório
ficasse deserto. Acho que o trabalho, a proximidade, favorecem muito uma
transa. Às vezes, é um toque de pernas, ou a altura das coxas e do sexo,
direto no raio de visão de seu colega de trabalho.

Exibicionismo, perversidade e violência sexual


"Acho que sempre me vi, no sexo, não exatamente como submissa, mas
como uma mulher passiva e aberta a todas as proposições. Se eu me sentia
cansada no meio de uma transa em grupo, eu me retirava."
PLAYBOY – Sobre o exibicionismo. É uma coisa que te dá um prazer especial,
ficar nua na estação de trem, no cemitério, em espaços públicos...
CATHERINE – Acho que a gente não pode falar exatamente de
exibicionismo, porque nessas sessões de fotos com Jacques, por exemplo,
nós assumimos um risco, mas é um risco muito bem calculado, para que eu
não me exponha aos olhos de uma multidão. O prazer está no suspense da
situação. Eu não saio por aí nua, nem pretendo ficar provocando ninguém.
Sou na verdade tímida. Pode parecer um paradoxo. Mas o fato de eu
revelar tantas intimidades minhas nesse livro ou de aceitar que Jacques
publique fotos minhas totalmente nua é uma forma, ao mesmo tempo, de
me expor e de me proteger.
PLAYBOY – E a perversidade e a violência? Como suas transas eram muitas
vezes com desconhecidos, não havia sempre um risco de ser forçada a uma
situação constrangedora, sadomasoquista?
CATHERINE – Jamais fui forçada a nada e não gosto de violência. Quando ia
ao Bois de Boulogne, por exemplo, estava sempre acompanhada de um
amigo, que me protegeria caso isso acontecesse. Mas jamais aconteceu.
Nunca entrei em nenhuma experiência sadomasoquista. Não tem nada a
ver comigo.
PLAYBOY – Numa de suas experiências, você é levada por seu amigo para
transar com dois homens negros, que trabalhavam como cozinheiros em
Paris... E você os chamou de "os gêmeos"...
CATHERINE – Ah, eles tinham corpos magníficos, e sexos magníficos também.
Tenho lembranças maravilhosas desse encontro. Pareciam gêmeos porque
eram altos, longilíneos, musculosos, muito parecidos.
PLAYBOY – Você se vê como uma mulher submissa ao sexo?
CATHERINE – Acho que sempre me vi, no sexo, não exatamente como
submissa, mas como uma mulher passiva e aberta a todas as proposições. Se
eu me sentia cansada no meio de uma transa em grupo, eu me retirava. E,
profissionalmente, é na verdade praticamente o contrário, já que estou há
décadas no comando de uma revista.
PLAYBOY – Você não acha que tem obsessão por sexo, tendo transado às
vezes até com 20 ou 50 homens ao mesmo tempo?
CATHERINE – Não, de forma alguma. [Risos.]
PLAYBOY – O que é ser uma ninfomaníaca, na sua opinião?
CATHERINE – São essas mulheres que buscam constantemente o sexo. A
demanda e a insatisfação são permanentes. Nunca foi esse o meu caso.
PLAYBOY – Você escreveu que, até os 35 anos, não havia pensado que seu
próprio prazer pudesse ser a finalidade de uma transa sexual. O que significa
isso? Que o prazer dos outros era mais importante do que o seu?
CATHERINE – Não exatamente. É que o orgasmo nunca foi uma obsessão.
Gozando ou não, eu adorava as relações sexuais com homens em geral.
Para mim, transar era simplesmente a continuação de minhas relações de
amizade com eles. A finalidade do sexo era um prazer mais difuso. Quando
eu passei, mais tarde, a buscar o orgasmo como um objetivo concreto, aí
tive alguns problemas e frustrações.

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