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Faculdade Frassinetti do Recife

Especialização em Literatura Brasileira


Disciplina: O conto brasileiro
SOLANO FERRAZ

O conto “Quero que tudo vá pro inferno” de Rodrigo Pinto chama a atenção por
ser um bom exemplo do conto moderno. Nele observamos com clareza uma história
visível e outras tantas histórias secretas. Isso nos conduz para o além do dito e nos faz
pensar naquilo que não foi dito.
O texto é iniciado com o trapezista Ferdinando galanteando a „Dama Negra‟.
Quando criança, fora alimentado com o “leite do destemor”. Ele não considera a morte
como uma ameaça. Talvez sua valentia seja alimentada pelo amor de Rosinha Mendes,
uma professora de português que se vê na responsabilidade de escrever uma carta
gramaticalmente correta para rejeitar um admirador.
Romualdo Beltrão, criador de gado, grosseirão, apaixonado por Rosinha,
acredita não ser correspondido por não ter modos “doces”. Registro importante é o fato
de Romualdo ser diabético. Os doces são proibidos aos diabéticos e, segundo o
dicionário de símbolos, o doce simboliza a riqueza e as delicias do amor. Por
conseguinte, a felicidade é interditada a Romualdo.
Lisandro Mendes é poeta e irmão de Rosinha. O poeta habita o imaginário
popular como alguém que tem uma sensibilidade bem desenvolvida. Seu desejo é
compor versos para sua nova amada: Mariângela Caminha. Ela é viciada em telenovelas
e foi abandonada pelo marido. Note que telenovelas é uma fuga momentânea da
existência. Mariângela não suporta o peso da realidade.
Amaro Caminha, figura sem ambição, ex-companheiro de Mariângela, fugiu de
casa dizendo que iria comprar cigarros (ele, entretanto, não fuma). Tornou-se o
pipoqueiro do circo onde Ferdinando se apresenta. Vale comentar que a pipoca significa
a transformação da matéria em algo maior e melhor. Acredito que a convivência com
Mariângela o tornara medíocre e para simbolizar „alguma melhora‟, ele tenha se tornado
pipoqueiro. Talvez, aos olhos dele, a antiga ocupação fosse mais ordinária.
O mosaico acima traçado representa a rede de relações estabelecida no conto.
Não necessariamente as personagens se conhecem, tampouco interagem. Apenas revela
a realidade quotidiana. O narrador-observador comporta-se como uma câmera. Ele não
participa da narrativa, sua função é „flagrar‟ o instante. Ele não tem a ciência do que se
passa nas mentes das personagens, mas conhece tudo sobre o enredo e sobre quaisquer
outras informações que não sejam intimas da psique.
O enredo privilegia o relato de fatos vividos pelas personagens. São observados
dois núcleos de atividade: três personagens em cada núcleo. No primeiro, Rosinha
renuncia a Romualdo para ficar com Ferdinando e no segundo Amaro abandona
Mariângela que engrena um namoro com Lisandro.
O que se pode dizer sobre o espaço narrativo é que todos os homens da narrativa
encontram-se no Grand Circo Speranza, Rosinha está no seu quarto e é provável que
Mariângela esteja diante da televisão assistindo novelas. De acordo com o dicionário de
símbolos, o circo significa confusão, o quarto significa paixão e a televisão significa
ausência de atividade intelectual. Toda essa desordem, amor e apatia culminam com a
morte do destemido trapezista.
Essa atmosfera em retalhos serve para ilustrar o conto contemporâneo pois
imprime a visão fragmentada própria do nosso século. Uma história se constrói ao lado
da outra. As duas histórias têm pontos de cruzamento que vão dando corpo a ambas,
embora o que pareça supérfluo numa seja elemento imprescindível na armação da
outra.
Referência Bibliográfica

PINTO, Rodrigo. Quero que tudo vá pro inferno. Revista Continente Multicultural.
Recife, p. 42-43, maio. 2007.

AZIZA, Claude, Dictionnaire des symboles et des thèmes littéraires, Paris:


Dictionnaires littéraires Nathan. 1978.

CHEVALIER, Jean, Gheerbrant Alain, Dictionnaire des symbols. Paris: Robert


Lanffont. 2004.

MOISES, Massaud. A criação literária. São Paulo: Cultrix. 2003.

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