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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
PROCESSO TC 2.133/06
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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
PROCESSO TC 2.133/06
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:ANA TERESA NÓBREGA
Procuradora Geral
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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
Os peritos da então Divisão de Contas do Governo do Estado II - DICOG II, com base nos
documentos insertos nos autos e em diligência in foco, emitiram relatório inicial, fls. 465/478/
constatando, sumariamente, que: a) a prestação de contas foi apresentada no prazo legal;
b) a Lei Estadual n.? 1.192/ de 02 de abril de 1955, criou a LOTEP, que foi constituída como
entidade de regime especial da administração direta descentralizada do Poder Executivo pela
Lei Estadual n.O 5.404/91; c) a LOTEP é dotada de autonomia administrativa e financeira e
está vinculada à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano, consoante Lei
Complementar Estadual n.o 67/2005; d) a estrutura organizacional básica da entidade,
composta por cargos de provimento em comissão, foi estabelecida pela Lei Estadual
n.o 6.306/96; e) a Lei Estadual n.o 7.416/ de 10 de outubro de 2003, disciplinava a
exploração de atividade lotérica no âmbito do Estado da Paraíba e instituiu outras
modalidades de concursos de prognósticos; e f) segundo o Decreto Estadual n.O 15.826/93/
a LOTEP tem como fontes de receita o resultado apurado na venda de bilhetes de loteria,
dotações orçamentárias consignadas em seu favor, recursos provenientes da celebração de
contratos, convênios e acordos, da alienação de bens móveis e imóveis desincorporados do
seu patrimônio e de outras rendas eventuais, inclusive resultantes de prestação de serviços.
Por sua vez, o gestor responsável pela entidade em 2005, Dr. Roberto Cláudio Rocha
Rabello, apresentou contestação, fls. 483/503, onde juntou documentos e alegou,*
resumidamente, que: a) a competência para editar decretos no âmbito estadual é exc usiva
do Governador do Estado; b) a Lei Estadual n.o 7.416/2003 foi declarada inconstitu ional ...
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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
pelo Supremo Tribunal Federal - STF, mediante a ADI n.o 3.277-1; c) a regulamentação do
quadro de pessoal da LOTEP é atribuição do Chefe do Poder Executivo Estadual; d) a LOTEP
possui um quadro de servidores diminuto e carente de preparo profissional, o que exige a
contratação de prestadores de serviços qualificados a fim de possibilitar o correto
funcionamento da entidade; e) o nível salarial e a baixa escolaridade desqualificam os fiscais
da LOTEP para labores mais complexos, razão pela qual o seu Coordenador Administrativo e
Financeiro realiza viagens periódicas para a cobrança de contribuições; f) o excesso no
consumo de combustíveis imputado é desprovido de fundamento, pois foi calculado com
base em critério hipotético e meramente empírico; g) a despesa com redes para brindes foi
realizada em favor da Secretaria de Trabalho e Ação Social, à qual a LOTEP está vinculada,
com o intuito de promover a cultura dos artesãos do Estado; h) a ajuda para a publicação do
livro O PRÍNCIPE TANINO E A PRINCESA BELINHA teve amparo na Lei Estadual
n.O 7.416/2003, não tendo o gestor qualquer vínculo com a autora da obra; i) para auferir
receitas a serem utilizadas em políticas públicas, é imprescindível utilizar meios publicitários
e de comunicação, pois a Loteria Estadual vende produtos que devem ter aceitação e
credibilidade no mercado consumidor; j) a empresa AM OFICINA DE PROPAGANDA E
MARKETING LTDA. venceu licitação realizada pelo Estado, objetivando a contratação de
agência publicitária para atender determinados órgãos, dentre eles a LOTEP; e k) as ajudas
financeiras concedidas estavam em conformidade com as normas pertinentes, foram
precedidas de requerimento formal e análise técnica, atendendo a uma das principais
finalidades da entidade que é a assistência social.
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do Chefe do Executivo Estadual; b) na sua gestão, foi feito um estudo que resultou em uma
minuta, delimitando a estrutura organizacional e funcional da LOTEP, enviada à Secretaria de
Administração do Estado em julho de 2005; e c) nesta oportunidade, foram juntadas cópias
dos processos administrativos para concessão de ajudas de custo ao SR. JOSÉ FREIRE DE
LIMA, que tinha 97 anos de idade na época e já faleceu.
Requerido novo pronunciamento do Ministério Público Especial, este emitiu parecer, fI. 593,
mantendo os termos do seu entendimento anterior.
É o relatório.
Após minuciosa análise do conjunto probatório encartado aos autos, constata-se que as
contas apresentadas pelo ex-Superintendente da Loteria do Estado da Paraíba - LOTEP,
Dr. Roberto Cláudio Rocha Rabello, relativas ao exercício financeiro de 2005, revelam
diversas e graves irregularidades remanescentes. Entrementes, em que pese o
posicionamento dos técnicos deste Sinédrio de Contas, as despesas com diárias concedidas
ao então Coordenador de Administração e Finanças da LOTEP, SR. INÁCIO PEDROSA FILHO,
embora concedidas periodicamente e em valor fixo CR$760,00 mensais), estão devidamente
comprovadas mediante notas de empenhos, requisições do interessado, constando o
objetivo e a duração da viagem, bem como recibos assinados pelo beneficiado, fls. 311/318,
323/328 e 339/340, inexistindo óbice para o acolhimento das alegações da defesa.
I -(...
)
b) ( ... )
Não obstante as alegações do então gestor da entidade, Dr. Roberto Cláudio Rocha Rabello,
acerca da falta de preparo profissional do pessoal lotado na LOTEP, exigindo a contratação
de prestadores de serviços qualificados, fls. 485/486/ os cargos nos quais estes foram
empregados remetem a atividades típicas e rotineiras da pública administração, sendo
exigido para tanto certame público. Neste sentido, cabe destacar que a ausência de certame
público para seleção de servidores afronta os princípios constitucionais da impessoalidade,
da moralidade administrativa e da necessidade de concurso público, devidamente
estabelecidos na cabeça e no inciso Il, do art. 37, da Constituição Federal, verbatim:
I -(omissis)
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
Com efeito, a Carta Magna só admite contratações sem concurso público para atender à
necessidade temporária de excepcional interesse público, conforme dispõe o seu art. 37,
inciso IX, verbo ad verbum:
Ressalte-se que o ingresso de servidor com inobservância das normas legais pertinentes dá
margem à ação popular, nos termos do artigo 4°, inciso I, da Lei n.o 4.717, de 29 de junho
de 1965 e que as referidas contratações podem ensejar ato de improbidade administrativa,
conforme estabelece o art. 11, inciso I, da lei que dispõe sobre as sanções aplicáveis aos
agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo,
emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional - Lei Nacional
n.o 8.429, de 02 de junho de 1992 -, ipsis /itteris.
Em seguida, os analistas desta Corte de Contas verificaram que a Loteria Estadual adquiriu,
em 2005, 45 (quarenta e cinco) redes ao preço unitários de R$ 55,00, totalizando
R$ 2.475,00, com a finalidade de presentear os participantes dos Fóruns Nacionais de
Secretários do Trabalho (690 FONSET) e de Assistência Social (350 FONSEAS), fls. 365/369.
De acordo com as alegações do ex-Superintendente da LOTEP, Dr. Roberto Cláudio Rocha
Rabello, fls. 488/489, as doações das peças artesanais tiveram o intuito de promover a
cultura e os artesãos do Estado, divulgando produtos típicos locais. Segundo ele, o ato
estaria em consonância com um dos objetivos da entidade previstos no art. 30, da Lei
Estadual n.O 7.416/2003, que é o fomento à cultura.
devendo o valor despendido, R$ 2.475,00, ser devolvido aos cofres da entidade pelo
ordenador da despesa. Além disso, os inspetores deste Sinédrio de Contas verificaram que o
TERMO DE DOAÇÃO, relativo à transferência dos itens adquiridos, foi expedido somente em
13 de junho de 2005, fI. 368, 03 (três) dias após a realização do evento em que seriam
entregues.
I- (omissis)
...
( )
IV - concurso;
( ...)
Nesse caso, a escolha deve ser feita por uma comissão especial com conhecimento sobre o
objeto em análise, baseada em regulamento prévio, que indique a qualificação necessária
aos interessados, o modo de apresentação do projeto, bem como os prêmios a serem
outorgados aos vencedores, consoante determinam o art. 51, § 50, e o art. 52, cap
§§ 1° e 2°, da Lei de Licitações e Contratos Administrativos, senão vejamos:
I
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Art. 52. O concurso a que se refere o § 4° do art. 22 desta Lei deve ser
precedido de regulamento próprio, a ser obtido pelos interessados no local
indicado no edital.
Sendo assim, a quantia de R$ 1.400,00 gasta sem amparo legal, em desacordo com o
princípio constitucional da impessoalidade e não condizente com a finalidade da Loteria do
Estado da Paraíba - LOTEP também deve retornar ao conjunto de haveres da entidade.
Dentre o elenco das despesas censuradas pelos peritos desta Corte, encontram-se, ainda,
os dispêndios com publicidade, R$ 22.000,00, e com assessoria de comunicação feita pelo
jornalista SONIDELANDI SANTOS DE LACERDA, R$ 2.000,00, no total de R$ 24.000,00,
todas em favor da empresa AM OFICINA DE PROPAGANDA E MARKETING LTDA., que atuava
como intermediária, fls. 374/425. Foram destacados pagamentos efetuados ao Programa
Fogo Cruzado da Rádio Sanhauá, Paulo Santos - pson/ine.com, Ponto R Comunicação Web e
Jornal da Praia, enquanto a divulgação do sorteio diário da Loteria Estadual já era realizada
pela RÁDIO TABAJARA (empresa do Governo do Estado) e por TELEFONE/FAX da própria
LOTEP. Ademais, comungando com a observação do Parquet especializado, fI. 529, não
constam nos autos provas dos serviços efetivamente prestados, estando insuficientemente
comprovada, também, a finalidade da despesa.
O artigo 70/ parágrafo único, da Carta Constitucional Federal, dispõe que a obrigação de
prestar contas abrange toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize,
arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a
União, os Estados ou os Municípios respondam, ou que, em nome destes entes, assuma
obrigações de natureza pecuniária.
Importa notar que imperativa é não só a prestação de contas, mas também a sua completa
e regular prestação, já que a ausência ou a imprecisão de documentos que inviabilizem ou
tornem embaraçoso o seu exame é tão grave quanto a omissão do próprio dever de
prestá-Ias, sendo de bom alvitre destacar que a simples indicação, em extratos, notas de
empenho, notas fiscais ou recibos, do fim a que se destina o dispêndio não é suficiente para
comprová-lo, regularizá-lo ou legitimá-lo.
Nesse contexto, merece transcrição o disposto no artigo 113/ do Estatuto das Licitações e
dos Contratos Administrativos - Lei Nacional n.O 8.666/93 -/ que estabelece a necessidade
de o administrador público comprovar a legalidade, a regularidade e a execução da despesa,
verbum pro verbo:
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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
No entanto, restou patente que a Loteria Estadual não possui critérios objetivos
preestabelecidos para a distribuição de recursos assistenciais, nem procedimentos de
verificação se tais critérios teriam sido preenchidos pelos beneficiários no ato da concessão.
Cabe mencionar que não consta nos autos cópia de lei que autorize as subvenções
concedidas a pessoas físicas pela LOTEP, que atingiram em 2005 a soma de R$ 37.717,00,
fls. 426/428.
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PROCESSOTC N.o 02133/06
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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
art. 56, incisos H e IH, da Lei Orgânica do TCE/PB - Lei Complementar Estadual n.o 18, de
13 de julho de 1993, verbis:
I - (omissis)
1) Com fundamento no art. 71, inciso H, da Constituição do Estado da Paraíba, bem como
no art. 1°, inciso I, da Lei Complementar Estadual n.O 18/93, JULGUE IRREGULARES as
contas de gestão do ex-Ordenador de Despesas da Loteria do Estado da Paraíba - LOTEP,
relativas ao exercício financeiro de 2005, Dr. Roberto Cláudio Rocha Rabello.
3) FIXE o prazo de 60 (sessenta) dias para recolhimento voluntário aos cofres públicos
estaduais do débito imputado, cabendo à Procuradoria Geral do Estado da Paraíba, no
interstício máximo de 30 (trinta) dias após o término daquele período, zelar pelo seu integral
cumprimento, sob pena de responsabilidade e intervenção do Ministério Público Estadual, na
hipótese de omissão, tal como previsto no art. 71, § 4°, da Constituição do Estado da
Paraíba, e na Súmula n.o 40, do colendo Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba - TJ/PB.
Geral do Estado da Paraíba, no interstício máximo de 30 (trinta) dias após o término daquele
período, velar pelo seu integral cumprimento, sob pena de intervenção do Ministério Público
Estadual, na hipótese de omissão, tal como previsto no art. 71, § 4°, da Constituição do
Estado da Paraíba, e na Súmula n.o 40, do ego Tribunal de Justiça do Estado da
Paraíba - TJ/PB.
8) Com fulcro no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, caput, da Constituição Federal, REMETA
cópia das peças técnicas, fls. 465/478, 506/524 e 588/591, dos pareceres do Ministério
Público Especial, fls. 526/530 e 593, e desta decisão à augusta Procuradoria Geral de Justiça
do Estado para as providências cabíveis.
É a proposta.
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