Pioneiros de peso
máquina
do tempo
variedades@oparana.com.br
C8 - O Paraná Domingo, 19/7/2009
HISTÓRIA
Ney Braga, marco de uma era
Projetado na vida pública por um acidente, Ney não seguiu as orientações de Bento, seu mentor
Cascavel - Para o sogro, Ben-
to Munhoz da Rocha, ele foi um
traidor. Para os ditadores linha
dura, era um frouxo civilista. Na
democracia ou na ditadura, no
entanto, ele soube construir uma
carreira de sucesso. Quando Ney
Braga nasceu, em 25 de julho de
1917, estava em preparação a re-
volução russa, que mudou a face
do mundo e no Brasil os aconte-
cimentos desse ano também iri-
am mudar a face do País.
Com o nascimento de Braga,
estavam também em preparo
fatos que iriam mudar a face
do Paraná. Ney Aminthas de
Barros Braga nasceu na Lapa,
filho de Antônio Lacerda Bra-
ga e Semiramis Barros Braga.
Iniciando sua carreira militar,
concluiu o curso superior na
Ney Braga, ainda antes de iniciar
sua trajetória político-administrativa
Histórias do Paraná (61)
Isto não significa que os colo-
nos legitimamente proprietários de
terras, por havê-las comprado, es-
tivessem livres de problemas. Em
1942, por exemplo, a ditadura do
Estado Novo getulista baixaria o
decreto 4.166, confiscando todos
os bens da Companhia Espéria,
que possuía áreas no Oeste para-
naense e as vendia a colonos, ale-
gando que ela pertencia a italia-
nos – no caso, ao Instituto Nacio-
nale di Credito per il Lavoro Italia-
no All’Estero. Tendo seu projeto co-
lonizador condenado ao fracasso,
a Espéria desativou o setor de co-
lonização e passou a atuar apenas
na extração da madeira.
Por essa época, o interior do
atual município de Cascavel come-
çava a definir seu futuro perfil. Na
sede, estabeleciam-se as famílias
de José Gaervil, João Ferreira,
Calendário
19 de julho de 1951
Fundada a Associação Comercial e In-
dustrial de Foz do Iguaçu (Acifi).
20 de julho de 1981
Fortes geadas abalam a economia do
Paraná.
22 de julho de 1967
Fundada a Associação dos Advogados
de Cascavel.
23 de julho de 2001
Agricultores apoiados pelo prefeito Edgar
Bueno, de Cascavel, reabrem a estrada
Escola Militar do Realengo, no
Rio de Janeiro, de onde saiu as-
pirante de Oficial da Arma da
Artilharia, em 1937. Serviu nos
Estados do Rio Grande do Sul,
São Paulo e Paraná.
Foi chefe de Polícia (equivalen-
te hoje a secretário de Estado da
Segurança Pública) entre 1952
e 1954 durante o governo Mu-
nhoz da Rocha. Também respal-
dado por Bento, conquistou a
Prefeitura de Curitiba, em 1954.
Candidatou-se, a seguir, à Câma-
ra dos Deputados, obtendo a
maior votação individual da épo-
ca (1958). Conquistou 33% dos
votos da capital, fato inédito até
hoje numa eleição proporcional.
Era só um trampolim. Mes-
mo no pouco tempo em que es-
teve na Câmara, alertou para
o problema da terra no Para-
ná, mas seu objetivo era con-
correr ao governo do Estado,
sempre na trilha de Bento. Es-
tamos em 1960. Como Jânio
Quadros era praticamente um
paranaense, tendo aqui vivido
sua infância e juventude, em-
bora nascido no Mato Grosso,
sua candidatura dobrou com
o líder populista emergente e
não com o marechal Lott.
Vencendo a eleição, viu que
em Curitiba tudo estava sob
Manoel Pires, Pedro Carlos Neppel,
Paulo Maceno, Gustavo Fante, Fa-
cundo Oviedo, Domingos Coutinho,
o farmacêutico Arlindo Garcia e o
policial José Silvestre, que se so-
mavam às famílias pioneiras.
No interior, como lideranças
mais destacadas de cada local,
já se haviam estabelecido as fa-
mílias de Felipe Stocker (Colônia
São Pedro), José Ladaniski (Colô-
nia São João), Décio Rocha (Cen-
tral Santa Cruz), Rodrigo Caetano
e Adão Lonheski (Rio das Antas),
família Krulikoski (Centralito), An-
tônio José Jusekoviski (Cascavel
Velho), Artêmio da Cruz, Felipe Fer-
nandes, Clemente Delgado e An-
tônio Fernandes (Cruz Grande).
(A seguir: A corrente italiana)
Na internet:
http://dihitt.com.br/Cascavel
E-mail: naroda@ig.com.br
de São João do Oeste à BR-277 fechada
pela empresa Rodovia das Cataratas.
24 de julho de 1968
Criado o 6° Batalhão Policial-Militar de
Cascavel, com a lei 5.797.
25 de julho de 1960
Criados os municípios de Marechal Cân-
dido Rondon (parte de Foz do Iguaçu e
parte de Toledo), Matelândia, Medianei-
ra, Palotina (parte de Guaíra e parte de
Toledo), Umuarama (de Cruzeiro do Oes-
te) e Catanduvas (desmembrando-se de
Guaraniaçu), com a lei 4.245.
Carlos Neppel, Francisco
Stocker, Jacob Munhak e Julio
Muller, lideranças destacadas
que se estabeleceram no interior
do Município de Cascavel.
Como conduzir, nessas circuns- gas, de Araucária. O Estado ga-
O coronel tâncias, um vigoroso processo nhou o Codepar (mais tarde,
João Lapa foi de industrialização?
A Rodovia do Café foi eleita
Badep), Café do Paraná, Cele-
par, Sanepar, Fundepar etc. O
enviado ao para fazer a integração entre o prestígio de Ney como adminis-
Oeste para Sul e Norte. O coronel João
Lapa foi enviado ao Oeste para
trador e líder político sucessor
do sogro Bento lhe garantiu,
combater os combater os conflitos de terra. em 1965, o cargo de ministro
conflitos de terra A questão do Sudoeste, já eli-
minados os jagunços, foi solu-
da Agricultura no governo Cas-
tello Branco, antes do recru-
cionada através do diálogo e da descimento da ditadura. Ao se
controle, mas o interior era um Justiça. A telefonia teve um eleger em 1966 para o Senado
caos. Luta pela terra, febre da salto, com o sistema de teleco- pela Arena, o primeiro partido
monocultura cafeeira, escassez municação por microondas. A oficial, Ney já era um nome na-
energia elétrica, rodovias esbu- economia paranaense cresceu cional. Não era mais um rebo-
racadas – a infraestrutura do 153% nesse período. que favorecido pela mística de
Paraná em geral precaríssima. Veio a refinaria Getúlio Var- seu sogro e mentor.
Coronel Lapa (L) foi nomeado delegado especial com um contingente reforçado
Características democráticas
Divulgação
Ney Braga, considerado vacilante por
ocasião do golpe que depôs o presi-
dente constitucional, João Goular t,
também se recusou a apoiar a edição
do Ato Institucional nº 5, que levaria a
ditadura ao seu período mais sombrio
e sangrento. Pagou o preço por isso,
ficando no ostracismo durante o gover-
no do general Emílio Médici.
Mas em 1974 o jogo virou. Menos
radical, o presidente Ernesto Geisel
chamou Ney para o Ministério da Edu-
cação e Cultura. Ali, instituiu o Crédito
Educativo, o Programa Nacional de Pós-
Graduação e a Funar te. Voltou ao go-
verno do Paraná em 1978, em “elei-
ção” indireta. Novamente, seu eixo cen-
tral foi a interiorização e a infraestrutu-
ra, com a criação do Pró-rural e a reati-
vação do por to de Antonina. Enquanto
a política econômica da ditadura fra-
cassava, o Paraná crescia.
Nas eleições presidenciais de 1985,
nos últimos ester tores do regime dita-
torial, Ney foi um dos articuladores do
chamado “Acordo de Minas”, que via-
bilizou as candidaturas de Tancredo Ne-
ves e José Sarney, tendo para isso rom-
pido com o PDS ditatorial.
Com a redemocratização do País,
Tancredo Neves convidou Ney para as-
sumir a presidência da Itaipu. Após a
morte de Tancredo, foi confirmado no
cargo pelo presidente José Sarney, as-
sim encerrando sua vida pública. Mor-
reu em 16 de outubro de 2000. Ney em Cascavel, confabulando com o então prefeito Octacílio Mion