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Dom Quixote e o processo criativo contemporâneo

Esses dias fui assistir a mais uma montagem de “Dom Quixote” para teatro, foi
incrível, como em todas as outras vezes que tive acesso às interpretações da obra. Se
deparar com o sentimento da obra de Cervantes é sempre transformador porque trás
consigo possibilidades de releituras do cotidiano e de reavaliação de propostas íntimas
de vida.
A partir dessa última abordagem que tive da obra, resolvi traçar um liame entre as
reflexões que o cavaleiro andante nos dá e o exercício da arte contemporânea no olhar
do artista.
Em primeiro lugar, os chamados “delírios” de Dom Quixote, são enfrentados, em
qualquer análise corriqueira da obra, como loucura ou até mesmo como sonhos que
vão em confronto com a realidade fática. Sempre busquei trazer o intuito da obra e
formatá-lo aos olhos de um artista. Um artista fotógrafo, cineasta, plástico, aprende
desde o início que o exercício do olhar atento e sensível à realidade deve ser
prerrogativa de suas criações. A contemplação cuidadosa e a interiorização da
realidade deve ser exercida afim de transformá-la em matéria prima para a sua leitura
criativa da vida, o que constitui em sua essência, uma oportunidade de inovar as
maneiras que temos de evoluir cognitivamente em nosso cotidiano, logo, o ofício de
um artista é algo de suma responsabilidade enquanto ferramenta de construção e de
reformulação da realidade sensível que nos é dada e da qual buscamos sentidos.
É nesse ponto que invoco o sentimento que “Dom Quixote” me trás à cada momento
de sua odisséia determinada. Quixote interpreta a realidade de acordo com as
representações que possui dela, sonha com aquilo que julga possível, age de acordo
com o que a sua mente concebe como o seu ideal íntimo e pessoal, enfim, Quixote
cria e com isso, desenvolve sua própria leitura da imaginação criativa, fato este que
inspira a todos nós quando tomamos consciência dessa genial obra. Não é atoa que
“Dom Quixote” é considerado por muitos ,o maior romance de todos os tempos.
Cervantes foi além de uma divertida crítica aos romances de cavalaria de sua época,
ele deu à nós um importante fundamento para o exercício da arte, ele criou com a sua
obra, a própria e genuína concepção do processo criativo na mente humana e
demonstrou liricamente que o ser humano precisa enxergar além das imagens que lhes
são dadas através de representações estáticas da rotina. Ele dispôs simplesmente que a
imaginação constrói o círculo da realidade que está em todos nós e que nos move ao
novo.
Saí do teatro refletindo fortemente sobre esse fundamento. Penso que o olhar humano
anda demasiadamente voltado a um “ir além” que só tende a alguns fetiches pré-
estabelecidos, como o passado, releituras exaustivas, cópias travestidas por exemplo.
O espírito presente em Quixote nos dá a possibilidade de que a criação genuína volte
às mentes do artista prestando-o à novas concepções, ousadias e independência
criativa, ou seja, é um elemento que inspira à coragem em função de olhares mais
próprios, originais que, em consequência, se tornem mais criadores e elaboradores de
novas realidades.
Com isso, gostaria de deixar essa modesta provocação, para que nós artistas e leitores
do cotidiano, voltemo-nos à enxergar nossas próprias concepções, ideais e sonhos
para construirmos novos valores artísticos condizentes com a nossa realidade e
desprovidos de moldes e concepções batidas e rebatidas, para que a nossa pequena
angular se volte na pintura da grande angular e que o inverso seja apenas feito de boas
respostas e incitações.
Paulo Augusto Franco

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