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On Denoting, p. 48-49
com que não possamos ter certeza sobre o que ele está se referindo em várias
ocasiões, já que as aspas poderiam variar entre dois campos ontológicos
distintos: o da linguagem e o do significado.
1
On Denoting, p. 49
Outro ponto em que Russell não é explicito é quanto suas críticas a
outras teorias, sendo esse o principal ponto desse artigo. Ele cita
nominalmente Meinong e Frege, mas é possível que suas críticas não se
restringissem a esses dois autores. Nas palavras de Gideon Making1:
1
MAKIN, Gideon. Making Sense of On Denoting
2
3
GEACH, P.T. Russell on Meaning and Denoting
em 1905, Russell sabia de dificuldades nessa teoria que, nos setenta anos
seguintes, raramente foram notadas”.
Russell conhecia essa teoria e foi por ela bastante influenciado. Tanto
que em seu livro The Principles of Mathematics, de 1903, ele adota uma
posição similar (apesar de discordar de alguns princípios fregeanos, questão
que abordaremos a seguir, no ataque aos PoM). Segundo Blackburn, há duas
diferenças básicas entre a teoria do Sentido e Referência e a dos Principles. A
primeira é basicamente terminológica: para Russell são conceitos que
denotam, de forma que o conceito denotativo, que é o significado de uma
descrição definida, que denota a denotação. Para Frege é a própria descrição
definida que denota a referência. Portanto, não podemos, como comummente
é tentado, simplificar a teoria dos PoM dizendo que “sentido=significado,
referência= denotação e referir = denotar.” A relação de denotar ocorre entre
dois planos ontológicos distintos nas duas teorias. Para Frege, a relação se dá
entre o plano lingüístico (a expressão) e o mundo (a referência). Para Russell,
essa relação ocorre entre o plano do significado (o conceito) e o mundo. Esse
ponto é, todavia, de pouca importância, de acordo com Blackburn. Uma vez
que temos uma relação entre palavras e o mundo, podemos inferir outra entre
o sentido e mundo, e vice-versa.
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AYER, A. J. Russell and Moore: The Analytical Heritage
2
Blackburn, pg. 70
Segundo Blackburn, o que ele quer demonstrar é que há uma dificuldade em
identificar um papel lógico a ser atribuído ao sentido. Desde o início do artigo,
Russell deixa claro que a relação de determinar não pode ser meramente
lingüística. Essa é, inclusive, uma das principais razões que o levam a escrever
o OD. Frege não determina, de fato, uma conexão lógica entre o sentido e a
referência, nem entre o sentido e a frase denotativa correspondente. Blackburn
cita um exemplo – exemplo que é na verdade utilizado por Russell e não por
Frege – para ilustrar: “George IV desejava saber se Scott era o autor de
Waverley” e “George IV desejava saber se Scott era Scott”. Essas duas
proposições devem ter valores de verdade diferentes, apesar de tratarem da
mesma referência. Mas na falta de uma definição teórica sobre os termos que
devem se referir aos sentidos, não podemos ter certeza sobre qual papel lógico
é desempenhado pelo sentido. E, ainda mais, Russell quer mostrar que
“simplesmente não há como especificar sentidos de forma a que eles
desempenhem o papel que Frege gostaria”.1
1
Blackburn, pg. 71
No primeiro par de frases, (1) e (2), a relação entre as denotações dos
nomes é meramente lingüística, um caso trivial de homônimos. Já no segundo
par, (3) e (4), talvez percebamos que deve haver uma relação muito mais
intima, lógica, como supunha Russell. O valor de verdade da sentença (4),
inclusive, depende diretamente do valor de verdade de (3). Desse modo,
Blackburn supõe que deveríamos poder dizer mais sobre essa conexão, caso
contrário a teoria fregeana ficaria ameaçada; nada ligaria as sentenças (3) e
(4), a não ser um nome em comum. O que garantiria que em (3) e (4) falamos
da mesma coisa, diferentemente de (1) e (2)? Ou seja, precisamos de uma
definição melhor do sentido e que como ele se liga à referência, para que seu
papel lógico seja cumprido; uma definição ou de “o sentido de ‘Sócrates’” ou de
alguma outra frase que se refira ao sentido de ‘Sócrates’. É provavelmente a
isso que Russell se referia em C, ao dizer que só poderíamos chegar ao
significado através de frases denotativas.
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On Denoting, p. 49
sobre a denotação; e se fizermos uma proposição na qual o sujeito é ‘o
significado de C’, então o sujeito é o significado (se algum), da denotação”.2
(A) ‘Sócrates’
(B) ‘O sentido de “Sócrates”’
(C) ‘O sentido de B’
1
Kremer chega à mesma conclusão, apesar de trabalhar com uma outra abordagem, como
veremos a seguir.
2
DUMMETT, Michael. Frege: Philosophy of Language.
3
KREMER, Michael. The argument of On Denoting.
A seguir, discute a estrutura do OD e o lugar que a GEA ocupa dentro dela. Ele
então apresenta a sua interpretação da GEA, contrastando-a com outras
interpretações. Finalmente, ele discute brevemente a teoria do OD à luz da
GEA. Pretendo aqui simplesmente fazer uma breve análise de seu argumento
principal, sem me demorar em explicar pontos que pressuponho de
conhecimento do leitor.
FREGE, Gottlob, On Sense and Reference, traduzido por Max Black In:
Translations from the philosophical writings of Gottlob Frege. Oxford:
Blackwell, 1952
GEACH, P.T. Russell on Meaning and Denoting, Analysis, v.19, 1959, p. 53-62