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FORMAÇÃO ESPECIAL

Aberta a temporada de dança no Teatro Alfa


Divulgação

Curso mostra que Uma promissora programação, antenada com grandes produções do cenário

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nobreza dos palhaços da dança contemporânea. É o que promete a “Temporada de Dança” do
Teatro Alfa para este ano, que começou em grande estilo, ao apresentar duas
vai muito além do riso obras do Grupo Corpo: “Bach” e “Ímã”.
Pág. 15 Pág. 19

Espetáculo “Ímã”,

A arte
Uma publicação da Aver Editora - 16 a 31 de Agosto de 2009 - Ano I Nº 9 R$ 5,00 do Grupo Corpo
Maurilio Cheli / Divulgação

ganha as ruas

Disposta a comprovar o poder que o teatro de rua


ganhou nas últimas décadas, no Brasil e no mundo, o
Prêmio Funarte Artes Cênicas na Rua 2009 viabiliza
projetos de grupos, companhias, trupes e artistas indepen-
dentes que busquem, em apresentações de rua, um novo
VLJQL¿FDGRSDUDRHVSDoRS~EOLFR6HVVHQWDSURMHWRVVHUmR
Apresentações em áreas abertas
contemplados, com valores de R$ 20 mil, R$ 40 mil ou
promovem maior interação entre 5PLO
público e artista Págs. 12, 13 e 14

DANÇA SINDICAIS
Carlo Bavagnoli

VIDA E OBRA
Dança contemporânea, Cooperativa Paulista
com nome e sobrenome de Teatro: 30 anos
Peter Weiss: talento
Pág. 10
de incentivo e apoio para transformar o
ENTREVISTA jurídico ao artista drama em arte
Roberto Lage e o teatro Pág. 11 O alemão Peter Ulrich Weiss,
como poder transformador pintor, diretor de cinema e, prin-
TÉCNICA cipalmente, dramaturgo, con-
da sociedade seguiu, como poucos, traduzir
Pág. 8 Maquinista: profissional
sua dramaturgia com a densi-
MARKETING CULTURAL que rouba a cena e dade que relatava eventos trági-

O apoio das empresas conduz espetáculo com cos da história, transformando-


os em um documento artístico.
aéreas aos espetáculos amor e dedicação à arte
Pág. 21
Pág. 7 Pág. 6
2 16 a 31 de Agosto de 2009 Jornal de Teatro
Jornal de Teatro 16 a 31 de Agosto de 2009
3
Editorial
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Reportagem

Que palco é esse?


Eventos e editais
demonstram que as
apresentações em praça
pública são cada vez mais
frequentes e fortes no País
Págs.: 12 a 14 Em São Paulo já é lei e tudo indica que outras cidades brasileiras
também vão adotar a medida. A área de fumantes de restaurantes
não existe mais e os bares não permitem sequer mais um cigarro.
Adeus à boemia de fumaça, “bitucas” no chão e copos de gim.
Poetas, compositores e artistas não podem mais colorir a página
de suas obras com cinza. Independentemente da questão médica
envolvida na lei, os artistas se preocuparam com os tópicos que
proibiam fumar também durante as apresentações no palco. Seria
o fim das cigarrilhas em espetáculos de época, dos charutos de
mafiosos, ou do “paiero” tão brasileiro? Como refletir no palco as
situações da vida real? Protestos como o do ator Antônio Fagun-
Índice des, que disse que iria “peitar a lei” por entender que a proibição
do fumo feria a liberdade da arte, levaram o governo de São Paulo
a recuar e liberar o fumo em cenas de teatro.
ENTREVISTA.....................................................8 e 9 O Jornal de Teatro tem outra sugestão para os que não concor-
Roberto Lage, fundador do Ágora dam com a lei: bota o povo na rua! Nossa reportagem descobriu
que em cada canto do país há um grupo ocupando praças, esquinas
Diretor fala sobre pesquisa e formação teatrais, diversidade e coretos com adaptações feitas especialmente para: todos!
de gêneros e o atual panorama das artes cênicas É curioso que em um tempo de discussões sobre leis de incen-
tivo, um grupo cada vez maior investe nessa proposta. Já são festi-
DANÇA....................................................................10 vais de teatro de rua, organizações, grupos de discussão e – como
Claudia de Souza comemora 30 anos de carreira só poderia ser, a qualidade das montagens tem aumentado na mes-
ma proporção. Outro traço bem particular que pudemos perceber
Artista é responsável por unir dança moderna com técnicas como nas entrevistas é que a interferência regional é sempre marcante
a capoeira e tem no currículo inúmeras apresentações no exterior nas obras, mas isso não limita o espetáculo, só garante identidade.
Aliás, não é maior o desafio de conquistar um público que não
saiu de casa para conferir seu espetáculo? São novos olhares, im-
FESTIVAIS....................................................
16 e 17 pressões e o esforço que o ofício do teatro exige: sensibilizar. Aca-
Cena Contemporânea chega à sua 10ª edição bada a apresentação, desmonta o estandarte e passa o chapéu na
Festival movimenta a capital federal e São Paulo até gostosa incerteza de outra plateia, outro bom espetáculo e novos
setembro com atrações nacionais e internacionais palcos.
Aqui na redação, também comemoramos novos palcos, ou
melhor, novos sets. A revista SET passa a ser editada pela Aver
ESPECIAL.................................................................19 Editora e celebramos a presença dos colegas das telas assim tão
Grupo Corpo abre “Temporada de Dança” do Teatro Alfa próximos. Como na vida real, vamos trocar impressões sobre as
mídias e quem sai ganhando – além de todos os novos e antigos
Evento ocupa privilegiado espaço na agenda dos apaixonados pelas
profissionais da Aver – é você leitor (ou público).
artes do corpo e conta com programação promissora esse ano

VIDA E OBRA.......................................................... 21 Rodrigoh Bueno


Peter Weiss: um documento para a eternidade Editor do Jornal de Teatro
Pintor, diretor de cinema e dramaturgo marcou por abordar
com densidade eventos trágicos da história

Email Redação: Redação Rio de Janeiro: Rua General


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4 16 a 31 de Agosto de 2009 Jornal de Teatro

Bastidores
TUDO PRONTO PARA A NONA EDIÇÃO DO FESTIVAL ESTUDANTIL DE TEATRO
O foco do Festival Es-
Daniel Protzner

tudantil de Teatro (Feto) é


o fortalecimento da prática
teatral estudantil e, para a
edição 2009, a organização
promete inovar ainda mais,
ampliando a comunicação
com o público através das
mídias sociais. O resultado
dos espetáculos seleciona-
dos será divulgado até o dia
1º de setembro, no site do
festival (www.fetobh.art.br).
O Feto acontece no pe-
ríodo de 18 de outubro a 1
de novembro de 2009, com
palestras, ocinas e apresen-
tações dos espetáculos se-
lecionados nos espaços do Os estudantes podem mostrar talento para o teatro durante o Feto
Galpão Cine Horto e Teatro
Izabela Hendrix, além de de interação, visando estreitar o de edições anteriores. Esses
praças e parque da cidade. O diálogo entre estudantes de dife- canais serão alimentados com Brincadeiras e canções folclóricas estão em A Ciranda da Villa
festival chega a nona edição rentes estados do País. entrevistas, depoimentos, en-
com um novo objetivo: es- Além do novo site, que ago- quetes, promoções e repor- “A CIRANDA DO VILLA” REESTREIA
tabelecer uma ampla rede de ra abriga um blog e amplia seus tagens ao longo de todas as
relações entre grupos estu- canais de relacionamento com etapas do festival. A intenção O musical infantil “A Ciranda do Villa” reestreia no
dantis de todo o Brasil. Para o usuário, o Feto está conecta- é que os próprios participan- dia 22 de agosto, às 16 horas, na Funarte São Paulo. O es-
isso, o festival utiliza ferra- do a redes sociais como Twitter, tes e interessados no evento petáculo apresenta, além de uma parte impetuosa da vida
mentas disponíveis na inter- Orkut, Flickr e You Tube, nas também produzam conteúdo do compositor Heitor Villa-Lobos, brincadeiras e can-
net para criar um ambiente quais disponibiliza vídeos e fotos de maneira colaborativa. ções folclóricas regionais brasileiras. A temporada segue
até 20 de setembro. O texto é de Evil Rebouças, direção
de Gira de Oliveira e elenco composto por Camila Faria,
Cristiane Guerreiro, Débora Corrêa, Ellen Silvestre, Gi-
VIDA DE AMY WINEHOUSE PODE VIRAR MUSICAL zele Panza, Vanessa Menezes e Vera Carnevali.
Reprodução
O talento e as polêmicas celebrar a volta de Amy à vida
que envolvem a vida de Amy saudável.
Winehouse podem se encon- O musical mostraria a in- Divulgação
trar em um espetáculo musi- fância e ascendência da canto-
cal. Segundo o jornal inglês ra, incluindo a batalha contra
“The Sun”, o irmão da canto- a bebida e as drogas, além do
ra, Alex Winehouse, disse que casamento com Blake Fielder-
o musical é uma maneira de Civil, que acabou em divórcio. Winehouse: volta à vida normal

FESTIVAL NACIONAL
DE TEATRO DE GUAÇUÍ
Divulgação

Arnaldo Pereira

COMEMORA 10ª EDIÇÃO

Com montagens do Rio de


Janeiro, de São Paulo e do Es-
pírito Santo, a décima edição
do Festival Nacional de Teatro
de Guaçuí, no Espírito Santo, O teatro receberá palestras e espetáculos, cuja renda irá para uma ONG
reuniu, entre os dias 10 e 14
de agosto, 15 peças na mostra THEATRO SÃO PEDRO
competitiva e duas convidadas. PREPARA PROGRAMAÇÃO INFANTIL
A premiação aconteceu nas ca- As oficinas de teatro in- clusão do projeto, dia 12 de
tegorias Melhor Sonoplastia, fantil que já começaram no novembro, às 20h.
Melhor Maquiagem, Melhor Fi- Theatro São Pedro, em Por- Os espetáculos convida-
gurino, Melhor Iluminação, Me- to Alegre, são o passo inicial dos serão apresentados em
lhor Cenograa, Melhor Texto, para toda uma programação outubro, contando com atra-
Melhor Atriz, Melhor Ator, Me- O cineasta Domingos de Oliveira O diretor Antônio Araújo especial planejada pela orga- ções nacionais e locais. São
lhor Direção, Melhor Espetácu- nização para as crianças. O eles: “O Hipnotizador de
lo pelo Júri Popular, com um júri DOMINGOS DE OLIVEIRA E ANTONIO ARAÚJO próximo passo será a realiza- Jacarés”, do Circo Girassol
formado por cinco especialistas DISCUTEM O MITO NO TEATRO EM BRASÍLIA ção de palestras e espetácu- (Porto Alegre/RS), dias 1 e
em artes cênicas. No dia 26 de agosto, na bilheteria do CCBB, com los, cuja renda será repassada 2 (16h); “Mania de Explica-
O alcance do evento che- acontece no Centro Cultural uma hora de antecedência. à ONG Casas de Acolhida. ção”, dirigida por Rodolfo
gou a Cachoeiro de Itapemirim, Banco do Brasil, em Brasí- Durante o encontro do Crianças de família com bai- Vaz (Belo Horizonte/MG),
Iúna, Divino São Lourenço, Es- lia, mais um debate do ciclo dia 26, Domingos Oliveira e xa renda poderão garantir dias 2 e 3 (16h); “Bonequinha
pera Feliz (MG) e Varre-Sai (RJ), “Arte / Inconsciente”, com Antonio Araújo discutem a sua participação, através da de Pano”, de Ziraldo (Rio de
além dos municípios do entorno a presença do cineasta e dra- importância do mito e dos ar- reserva de ingressos para Janeiro/RJ), dias 7 e 8 (16h);
do Caparaó. Uma marca do Fes- maturgo Domingos de Oli- quétipos para o teatro e para instituições. O lançamento “Sabrina, 40 Fantasmas, Mais
tival foi mantida: depois de cada veira e do diretor do Teatro o processo criativo que, se- ocorrerá dia 25 de setembro, uns Amigos e Outras Histó-
apresentação, o público tem a da Vertigem, Antonio Araú- gundo Jung, é um poderoso às 19h, no TSP, com perfor- rias” do Cuidado que Mancha
oportunidade de discutir sobre jo. Sob o tema O Mito no catalisador dos mecanismos mances dos grupos Tholl e (Porto Alegre/RS), dias 13
o que viu, apresentar opiniões Teatro, o debate tem entrada inconscientes. A mediação Circo Girassol. (16h) e 14 (10h) e “Tuike”, da
e sugestões, e debater sobre o gratuita e as senhas para o do debate será do jornalista e O resultado das oficinas Obragem Teatro e Cia. (Curi-
universo das artes cênicas com a evento devem ser retiradas escritor Daniel Pisa. será mostrado no palco do tiba/PR), dias 31 de outubro
produção e o elenco. Theatro São Pedro, na con- e 1 de novembro.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Agosto de 2009
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Bastidores

Fotos: Divulgação
MUSICAL
“O REI E EU” ESTREIA
EM FEVEREIRO DE 2010
Por Felipe Sil

O musical “O Rei e Eu”, baseado


no romance “Anna e o Rei Sião”, de
Margaret Landon, com música de Ri-
chard Rodgers e letras de Oscar Ham-
Teatro Gaúcho ganha incentivo até 2013 merstein II, terá nova montagem bra-
sileira. O espetáculo tem o incentivo
EMENDAS AO “Virgens , mas da Lei Rouanet e a direção ca a cargo
PLANO PLURIANUAL nem tanto”
tem temporada de Jorge Takla. O grande sucesso da
GARANTEM R$ 1,9 MILHÃO prorrogada Broadway terá no elenco 60 artistas
À CULTURA GAÚCHA em cena, sendo 15 crianças, e deve en-
O Plenário da Câmara Municipal VIRGENS, MAS NEM TANTO trar em cartaz em fevereiro de 2010.
de Porto Alegre aprovou, no dia 12 de Assuntos do cotidiano feminino são domingos, no Bar Beverly Hills, em São A peça estreou nos Estados Uni-
agosto, quatro emendas ao projeto do abordados no show de humor “Virgens, Paulo. Em formato de mesa-redonda, a dos em 1951, no Teatro St. James, e a
Executivo que estabelece o Plano Plu- mas nem tanto”, que prorrogou a tempo- comédia reúne as atrizes Andréa Barretto, primeira montagem na Europa acon-
rianual 2010/2013. O maior volume rada até dia 27 de setembro, sempre aos Micheli Machado e Wanessa Morgado. teceu em 1953, no Teatro Royal, Drury
de recursos destinado pelas emendas Lane, em Londres. Após essas encena-
foi para o setor cultural: R$ 1,9 mi- ções, o espetáculo percorreu países do
lhão. Foi destinado R$ 1,6 milhão ao MARCADA A mundo inteiro. É um dos musicais de
fomento do trabalho continuado em ESTREIA DO TEATRO maior sucesso no cinema, tendo sido
artes cênicas dentro do Programa Por- BRADESCO, EM SP vencedor de diversos prêmios, e cou
to da Inclusão. O autor é o vereador Idealizado pelo Banco muitos anos em cartaz na Broadway.
Haroldo de Souza (PMDB). A emen- Bradesco, Grupo Záffari e As letras da versão brasileira são assi-
da 51 também destina verbas para o Opus Promoções, o Tea- nadas por Cláudio Botelho, as coreo-
setor de cultura no valor de R$ 300 tro Bradesco promete ser graas por Tânia Nardini, os gurinos
mil, que serão destinados a viabilizar o mais completo espaço são criados por Fábio Namatame e os
a Escola de Teatro Popular do “Ói cultural da cidade. A estreia cenários por Duda Arruk. O respon-
nóis aqui traveiz”, cuja construção ocial está marcada para o sável pelo visagismo e as caracteriza-
será ecologicamente sustentável. Esta dia 9 de setembro. Situa- ções é Duda Molinos. Já a orquestra
proposta é de autoria dos vereadores do no interior do Bourbon será regida por Vânia Pajares.
Pedro Ruas (PSOL), Beto Moesch Shopping São Paulo, o tea- A Takla Produções chegou a re-
(PP), Toni Proença (PPS), Ervino tro possui área total de mais ceber 2.500 currículos de artistas in-
Besson (PDT), Fernanda Melchionna de 7.000m2 e capacidade teressados em fazer parte do musical.
(PSOL) e Soa Cavedon (PT). para 1.457 espectadores. T á importante
Teatro será i l l de
centro cultural d São
Sã Paulo
P l Desses, 600 foram pré-selecionados
(400 mulheres e 200 homens). No
VENDA DE INGRESSOS DO PORTO ALEGRE EM CENA mês de julho aconteceram os testes
e seleção para adultos e adolescentes.
Dica para anotar na agenda: a ven- dirigida por Bob Wilson, com a atriz Já as crianças serão selecionadas em
da de ingressos para o festival de teatro Isabelle Hupert, vencedora do prêmio setembro e outubro. A escolha do
Porto Alegre em Cena terá início no de melhor atriz nos festivais de cine- elenco mirim será com crianças par-
dia 30 de agosto, no Centro de Even- ma de Berlim (2002), Cannes (1978 e ticipantes de ONGs que trabalham
tos BarraShoppingSul, ao preço único 2001) e Veneza (1988 e 1995). Os es- com cultura. Elas devem receber
de R$ 20, com desconto de 50%. As petáculos nacionais virão de sete esta- workshops de teatro, canto e dança.
reservas podem ser feitas pela internet, dos: Bahia, Goiás, Minas Gerais, Per- Somente após essa etapa serão sele-
no site www.poaemcena.com.br. De 8 nambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande cionadas, nalmente, as 45 crianças
a 25 de setembro, o festival apresen- do Norte e São Paulo. Já o teatro do que serão integrantes do elenco.
tará, em Porto Alegre, 58 espetáculos, Rio Grande do Sul vem representado
21 deles internacionais, 22 nacionais e com espetáculos que concorrem ao
15 produções do Rio Grande do Sul. Prêmio Braskem em Cena. Dentre as
Entre as atrações estrangeiras guram atividades formativas estão ocinas
produções de nove países: Uruguai e mesas redondas abertas ao público
(seis), Argentina (três), Canadá (três), com renomados atores, diretores, pro-
Chile (duas), França (três), Itália, Israel, fessores, gurinistas, cenógrafos e ilu-
Novo trabalho da Cia estreia dia 27 Portugal e Colômbia. minadores. Essa troca de experiências
“MARIA MADALENA SOB O Um dos destaques da programação e aprendizado promove a interação
VÉU DA VERDADE” é a peça Quartett (de Heiner Müller), entre público, cena local e convidados.
Estreia, dia 27 de agosto, às 21h30,
no Teatro Gazeta, em São Paulo, o novo DANÇATUBE PROMOVE CONCURSO ONLINE Clássico tem produção de Cintia Abravanel
trabalho da Cia de Baile Flamenco Juça- Projeto que une dança e internet, o em 2009. Com o apoio da empresa Só PINÓQUIO
ra Corrêa. “Maria Madalena sob o véu DanceTube engloba todos os tipos de Dança, os vencedores serão anuncia-
da verdade” é um espetáculo de teatro dança e agora promove um concurso dos no portal www.dancabrasil.com. Com produção de Cintia Abravanel e
e dança amenca escrito e coreografado para eleger os preferidos do público. br, onde também é possível fazer a direção de Alexandra Golik e Carla Can-
por Juçara Corrêa e dirigido por Jarbas Para participar, é só postar, até o dia inscrição, e na edição de setembro da diotto (da Cia Le Plat du Jour), estreia
Homem de Mello. 25 de agosto, um vídeo de dança feito revista Dança Brasil. dia 23 de agosto, no Teatro Imprensa,
em São Paulo, o espetáculo Pinóquio.
6 16 a 31 de Agosto de 2009 Jornal de Teatro

Técnica
Quadrado, redondo, de perto ou de longe...
Por Adriana Machado principalmente o italiano e o drado ou o hexagonal, por

Rodrigoh Bueno / JT
arena, adaptam-se às condições exemplo), onde o público se
A dissociação é impossí- e limites do espetáculo, depen- senta em arquibancadas ou ca-
vel: o palco é fruto do teatro. dendo apenas da ideia inicial”, deiras e de todos os lados, numa
Todos seguem convenções, diz ele. relação mais estreita. Ou seja, os
alguns exemplos ressurgem e No primeiro, mais co- espectadores cam próximos o
outros se adaptam aos tempos. mum no Brasil, os especta- suciente para ver as nuanças
Isto sem falar nos espaços al- dores assistem a apresentação das expressões e dos gestos fei-
ternativos, seja uma sala de um frontalmente. O formato é tos pelos atores. A cenograa é
velho casarão, os corredores retangular, provido de mol- mais simples, simplicada, e o
de um hospital ou a praça da dura (boca-de-cena) e, geral- espetáculo, mais realista.
esquina de casa. Com suas van- mente, de bastidores laterais O palco semi-arena é bem
tagens e desvantagens, hoje em e bambolinas, além de um parecido com o palco de are-
dia, existem os três tipos mais espaço à frente da boca de na mas, em geral, é constituído
comuns: o palco italiano, palco cena, chamado de proscênio. de uma plataforma que avança
de arena e o semi-arena. “Nos mais clássicos, o palco pela plateia, aproximando o
Com uma longa carreira tea- é separado da plateia pela or- espectador do ator. O cenário
tral nos palcos brasileiros, e em questra”, informa o cenógrafo Em São Paulo, o teatro Tucarena permite a proximidade com o público deve conter menos elementos
especial nos gaúchos, o ator e gaúcho Rodrigo Lopes. o de arena. “A frontabilidade nário. Perfeito para o ilusionis- e não há cortinas. O público
diretor Luiz Paulo Vasconcellos O espaço tem uma cortina remete ao renascentismo ita- mo”, acrescenta Luiz Paulo. ca disposto em três lados,
arma que o tipo de espaço es- (ou pano-de-boca) que é fe- liano, época em que foi des- sendo que um deles servirá de
colhido vai depender especial- chada para mudança de cená- coberta a perspectiva, o olhar OUTROS FORMATOS fundo de palco. “Isto facilita
mente da proposta, da relação rio, tempo ou nal da apresen- para um ponto xo”, explica. O palco de arena, por sua a cenograa e a utilização da
cção e realidade, além de per- tação. Normalmente, o espaço “O palco italiano oportuniza vez, pode ser um círculo (ou ilusão e trucagem no espetá-
sonagem e público. “Todos eles, entre a platéia é maior do que a fantasia, a criação do imagi- outros formatos como o qua- culo”, naliza Rodrigo.

Maquinistas: o teatro nos trilhos do sucesso


Você não vê, mas, por trás dos palcos, esse profissional rouba a cena e conduz o espetáculo com amor e dedicação à arte brasileira
Por Douglas de Barros esse tipo de função e aqueles a fundamental é fazer as trocas de
Studio Prime / Divulgação

ela ligada são criados nos basti- Douglas de Barros / JT cenário com o máximo de pre-
Teatro lotado e expectativa dores e aprendem no dia-a-dia cisão e sincronismo com o espe-
de mais um grande espetáculo. dos palcos. táculo. Com o tempo, o roteiro
Em suas poltronas, homens e Seu Jorge explica que não se xa em nossa memória”,
mulheres, todos bem vestidos, escolheu a prossão, mas foi explica. “Não posso deixar de
esperam para ver mais uma abraçado pelo ofício que ama acrescentar dois mestres com
produção. Nesse momento, as fazer. “Já trabalhava com ma- os quais aprendi muito, João
cortinas estão fechadas, os mú- deira quando, em 1978, o The- Grandão e Vagnão. Ambos são
sicos preparados com seus ins- atro Municipal estava requisi- maquinistas do Theatro Muni-
trumentos e eis que surge um tando pessoas para trabalhar cipal há décadas”, completa.
foco de luz sobre o cenário que com os cenários. Na época, Gilmar, que é ator, também
acaba de se erguer. eu trabalhava com um grande não escolheu ser maquinis-
Ao mesmo tempo, atrás do amigo, que me ensinou quase ta, mas foi a curiosidade que
palco, uma grande quantidade tudo que eu sei. Ele deixou um o fez entrar neste ramo. “É,
de trabalhadores ca atenta recado na minha casa falando realmente fui abraçado pela
aos comandos da coordena- sobre essa oportunidade no te- função, quando percebi já era
ção do espetáculo. Ouvem-se atro. Fiz o teste, tive a felicida- maquinista. Isso tudo se deve
as ordens: “atenção varanda, de de ser recrutado e estou aqui a minha enorme vontade de
sobe o painel da suíte 6”, “vai até hoje. Na época, uma equipe observar tudo que acontece
subir a 53”, “desce a vara 49”. da Argentina nos ensinou. O ao meu redor minunciosamen-
Enquanto isso, com a música chefe da carpintaria ‘gostou da te. Na verdade, a minha vinda
já ao fundo, a plateia observa minha fachada’ e disse que eu a trabalhar atrás do palco foi
o cenário montado à sua fren- estava com eles. Então peguei Gilmar Garcêz e Jorge Dias: mestres nos bastidores do teatro carioca
uma grande fuga, para con-
te com toda a movimentação trabalho, fui aprendendo, fo- seguir me manter, e entender
de painéis e luzes diante dos ram me explicando e eu abra- exemplo. De cima você olhava ção. Eles adoraram e me con- cada dia mais o ofício”, arma.
seus olhos. cei essa oportunidade”, conta e parecíamos formigas. A Ópe- trataram. Pude realizar o sonho Garcêz não se intimida
É com riqueza de detalhes Dias, que revela, ainda, que ra ‘Aída’, com colunas imensas, de conhecer o Projac”, diz. com o tamanho da produção,
que Jorge Dias conta como começou trabalhando na CTP balé e coro. Fizemos também mas arma que cada peça é
realiza o seu trabalho há mais (Central Técnica de Produção), ‘La Bohemia’ e ‘Carmem’, entre DO PALCO PARA um desao diferente. “Não
de 30 anos. Ele é o encarre- em Inhaúma, subúrbio cario- outras”, relembra. OS BASTIDORES dá para dizer essa, ou aquela,
gado-chefe dos maquinistas ca. Uma espécie de ocina, na Tanto conhecimento o le- Da nova geração, Gilmar mas as grandes produções de
do Theatro Municipal do Rio qual os cenários são montados vou para além dos bastidores. Garcês é maquinista no Tea- musicais têm nos exigido mui-
de Janeiro. O maquinista é o antes de serem levados para o Seu Jorge lembra com carinho tro Oi Casagrande, no Leblon ta precisão nos movimentos.
prossional responsável pela local da peça. das vezes que foi convidado (Zona Sul do Rio). Ele come- Posso ressaltar a peça ‘Hairs-
montagem do cenário aéreo, Conhecido por todos den- pela Rede Globo para operar çou no mundo das artes no pray’, por exemplo.”
além de sua operação durante tro do Municipal, o maquinista uma chuva de papel picado em palco, quando integrou o gru- Ao nal do espetáculo,
a apresentação do espetácu- participou de todas as grandes duas produções. Uma durante po Nós do Morro e fez escola fecham-se as cortinas e os
lo. Ao lado desse prossional produções do teatro nos últimos uma novela e a outra no progra- de cinema com Cacá Diegues. reetores iluminam plateia e
trabalham o contrarregra, que 30 anos. Ele acredita que as ópe- ma Domingão do Faustão. “Na Gilmar pode controlar a troca elenco. Lá atrás, o maquinista,
movimenta os móveis e obje- ras são os espetáculos que dão ocasião, a produção da Globo de cenários de até 500 quilos. mesmo sem ser visto, assume
tos dentro do palco, eletricis- mais trabalho. Porém, produzem me perguntou como é que eu “Temos um roteiro especico, para si os aplausos e honrarias
tas, iluminadores, cenógrafos e as maiores recompensas.“Teve fazia o efeito da chuva de papel que revisamos no início de cada daquele que é a razão de ser de
uma série de prossionais. São espetáculo que trabalhei com picado, para o ‘Quebra Nozes’. apresentação, e recebemos uma cada trabalhador que vive do
poucos os cursos que ensinam 60 homens. ‘La Traviatta’, por Chegando lá, z a demonstra- deixa para as montagens, mas o teatro, o público.
Jornal de Teatro 16 a 31 de Agosto de 2009
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Marketing Cultural

Empresas aéreas dão asas aos espetáculos


Fotos: Divulgação
Por Dominique Belbenoit formações concedidas pela
assessoria de imprensa da 1
Se o patrocínio é funda- TAM, entende-se que o pa-
mental para a realização de trocínio é a associação direta
um espetáculo, é igualmente da marca ao projeto patroci-
importante como ferramenta nado. Para selecionar os que
de comunicação nas grandes vão receber patrocínio, a em-
empresas. No caso das com- presa leva em consideração as
panhias aéreas, uma marca praças em que os espetáculos
apresentada em palcos de dife- serão exibidos, os atores que
rentes regiões pode ser grande participam da montagem, a
diferencial conceitual – prin- qualidade do texto e o valor
cipalmente quando aliado a do investimento, entre outros
bons espetáculos. Dois ótimos fatores, como a possibilida-
exemplos de empresas que de de ações especiais para os
acreditam nesta ideia são as clientes da TAM Fidelidade.
companhias aéreas Gol e Tam. No momento, dois patro-
O diretor de Marketing e cínios estão sendo realizados
Cartões da Gol, Murilo Bar- pela instituição: “Vergonha
bosa, diz que a instituição dos Pés”, que está atualmente
possui uma política de marke- em turnê no Rio de Janeiro, e
ting voltada para seleção de o projeto Teatro é um Show,
atividades a serem patrocina- em Maceió, de apoio a qua-
das. “Com essa política, que tro espetáculos. O primeiro,
considero a base para realizar intitulado “Curtas”, estrelado
as seleções, fazemos um ter- pela atriz Samantha Schmutz,
mo de patrocínio para o ano foi encenado no período de 2
todo. Com isso, temos uma 22 a 24 de maio. Os próximos
cota especial para peças tea- são “Os Difamantes”, com
trais, musicais, cinema, dança, Maria Clara Gueiros e Emílio
ou seja, cultura em geral para Occiolo Neto, nos dias 22 e
o ano inteiro, fora outros seg- 23 de agosto; “Nós na Fita”,
mentos apoiados pela Gol, com Leandro Hassun e Mar-
como esporte”, arma. cius Melhen, nos dias 18, 19
Segundo o diretor, uma e 20 de setembro; e “Advoca-
agencia especializada na área cia segundo os Irmãos Marx”,
trabalha em conjunto com com Heloísa Perissé, nos dias
a Gol. “Essa empresa conta 6, 7 e 8 de novembro.
com conhecedores da área ar- Como jogada de marketing
tística, que realizam as triagens mais abrangente, a TAM não
de forma mais criteriosa. Isso se contém apenas em patroci-
garante uma seleção mais téc- nar peças nacionais. Há, tam-
nica do princípio até o m”, bém, o apoio a um complexo
diz. A triagem é feita por meio teatral em Buenos Aires, ten-
de uma rodada de avaliações do como suporte o Passeo la
dos projetos apresentados à Plaza, cujas peças são: “Gor-
agência, depois, os seleciona- da”, “El Joven Frankens-
dos vão para uma análise nal tein”, “Baraka”, “Los Quie-
dos prossionais. “Isso acon- ro Muchisimo”, “Comicos
tece de três em três meses, o Stand Up 4”, “La Plaza de los “Os Difamantes” (1), “Advocacia
que garante uma agenda para Chicos”,”Rey Lear” e “Hairs- segundo os Irmãos Marx” (2) e 3
os dois semestres. Quanto aos pray — El Musical”. “Curtas” (3) são alguns dos espe-
táculos patrocinados pela TAM
projetos não selecionados, Para o diretor da GA Pro- que investe, também, em eventos
agradecemos a participação duções e Eventos, Gustavo internacionais, como em um com-
para que não percam as espe- Alcântara, todo patrocinador plexo teatral em Buenos Aires
ranças”, completa. é visto como um investidor.
Outra empresa aérea inse- “Temos que criar bons pro-
rida nesse fomento à cultura é dutos para que tenhamos em-
a TAM, cujas diretrizes de pa- presas interessadas em aliar Sul e Sudeste, pois a quanti-
trocínio também são denidas sua marca. Quem investe dade de empresas que inves-
anualmente e prevêem ajuda sempre quer retorno e essa é a tem nesse segmento é muito
de custo tanto a peças teatrais nossa preocupação com nos- menor. Por isso, há diculda-
quanto a teatros. Esse tipo de sos parceiros, fazer com que des maiores de realização de
iniciativa faz parte do apoio à eles tenham bons retornos em grandes projetos no Nordeste.
cultura que, segundo a asses- seus investimentos a nossos Sua produtora teve algumas de
soria de imprensa, é, ao lado produtos”, informa o especia- suas peças patrocinadas pela
do esporte, um dos pilares da lista em produções teatrais em TAM, e, segundo o diretor, é
estratégia de marketing. Maceió (AL). possível que um patrocinador
Ao contrário da Gol, a Ele explica que, como em não seja suciente. “Depen-
própria equipe do marketing qualquer segmento, uma pro- dendo do valor do projeto é
avalia as propostas com base dutora cria um produto e tenta necessário mais de um patro- possível diminuir o preço dos companhias de teatro em um
no branding da companhia, captar o máximo possível para cínio e alguns apoiadores cul- ingressos e assim atrair um país continental como nosso.
conjunto de diretrizes para a viabilização e execução des- turais”, conrma. público maior aos espetácu- Trazer bons espetáculos ao
a gestão da marca da empre- se projeto. Segundo ele, se tra- Para um produtor, a im- los. “É necessário contar com Nordeste é muito caro, e, sem
sa que visam ao aumento e tando do Nordeste do Brasil, portância de um bom patrocí- iniciativas como essa da TAM os apoios, certamente não
à perenidade de seu valor ao essa captação é muito inferior nio reside no custo benefício, para promover a cultura, pois poderíamos fomentar a cultu-
longo do tempo. Segundo in- ao que se consegue captar no que, com bons apoiadores, é é quase impossível viajar com ra”, completa.
8 16 a 31 de Agosto de 2009 Jornal de Teatro

Entrevista

Roberto Lage
Roberto Lage e o teatro:

João Caldas / Divulgação


considera o seu
trabalho muito
mais como ator
do que como Por Daniel Pinton
encenador.
Para o diretor, Uma das denições de
é importante a
possibilidade teatro diz que ele “é uma
de interação arte que objetiva despertar
sentimentos no público”.
Pode-se dizer, então, que o
entrevistado desta edição do
Jornal de Teatro foi além. O
premiado diretor Roberto
Lage, com 47 anos dedica-
dos ao teatro e um dos fun-
dadores do Ágora – Centro
para Desenvolvimento Tea-
tral, bateu um papo com a
nossa reportagem sobre pes-
quisa e formação teatrais,
diversidade de gêneros, o
atual panorama das artes
cênicas, novas linguagens,
universo feminino, trabalho
com jovens atores, projetos
futuros e, principalmente, o
teatro como poder transfor-
mador da sociedade.

Jornal de Teatro – Você fez


sucesso com vários gêneros
teatrais diferentes. Qual de-
les, atualmente, te dá mais
satisfação em encenar?
Roberto Lage – Minha pai-
xão está na pertinência de um
texto com o momento em que
estamos vivendo, de que forma
podemos fazer o diálogo entre
as questões da época e o texto.
Outro aspecto é a possibilidade
para um trabalho de interpreta-
ção. Considero o meu trabalho
muito mais como ator do que
como encenador. Sempre gos-
tei muito de investigar, de pas-
sear por vários gêneros, desde
o circense, a dança, até textos
clássicos, musicais.

JT – Há algum tipo de pre-


paração diferenciada para
cada gênero?
RL – Sem dúvida. Cada pro-
posta de trabalho exige deter-
minada metodologia. Gosto
mesmo é de diversicação, da
possibilidade de perceber a
maneira de abordar um texto.

JT – Você se dedicou muito


à pesquisa teatral. Você con-
sidera que esse trabalho foi
adiante, rendeu frutos?
RL – Fui, durante dez anos,
coordenador do Ágora, um
centro de estudos teatrais, um
centro de investigações tea-
trais. Sempre transitei entre o
teatro investigativo e os mais
comerciais. Sempre gostei des-
sas duas pontas. Sempre en-
tendi o teatro mais como uma
ferramenta de transformação.
Abrimos o Ágora com intenção
de promover atividades que de-
senvolvam obrigações do poder
Jornal de Teatro 16 a 31 de Agosto de 2009
9
Entrevista

da investigação ao poder transformador


público. Convidamos autores JT – Então essas inovações

Divulgação
para responder questões so- seriam uma estratégia para Lage: “sou um
ciais levantadas pela gente, por uma renovação das plateias? workaholic,
exemplo. O Ágora deu frutos RL – O teatro não tem condi- gosto muito
de trabalhar
e fez coisas muito interessantes ções de competir com cinema mas não abro
como, por exemplo, a monta- e com a televisão. Sua função mão da minha
gem de “Ricardo III”. primeira é divertir e promover vida pessoal”
a reexão. No caso de “Uma
JT – Você chegou a fazer te- Coisa muito Louca”, a ideia foi
atro com presidiários. Como trazer para o teatro um público
foi essa experiência? que não o frequenta. Não acho
RL – O trabalho com a popu- que usei tecnologia inovadora.
lação carcerária tinha como ob- Usei a linguagem do vídeo, que
jetivo trazer para esse indivíduo me pareceu a forma mais ade-
o entendimento do seu papel quada. Não acredito que seja
na sociedade. Tinha o desejo de uma renovação, mas uma es-
ressocializar esse indivíduo, dar timulação. O novo não existe.
a ele uma consciência. O teatro sempre vive da alqui-
mia dos elementos que sempre
JT – O teatro realmente é ca- existiram. Acredito, sim, na sua
paz de ressocializar qualquer reorganização.
indivíduo, por mais desenca-
minhado que ele esteja? JT – Você trabalha e já traba-
RL – A resposta que eu tive me lhou tanto com jovens atores
dá segurança para dizer que sim. quanto com atores experien-
O homem se transforma quan- tes. Como você vê a nova ge-


do ele consegue se ver e ver o ração de atores?
outro através do jogo teatral. RL – Acabo de sair de uma ex-
Inclusive um dos problemas periência muito feliz. Fiz um es-
que tivemos era porque conse- petáculo em homenagem a Fla-

O novo não existe. O tea-


tro sempre vive da alquimia


dos elementos que sempre
existiram. Acredito, sim, na
sua reorganização

guíamos acabar com as inimi- vio de Carvalho, com um núcleo


zades entre gangues, familia- de teatro experimental, e a entre-
res... O sistema penitenciário ga deles para o trabalho, o desejo
funciona à base de castigo. de realização e o estudo foram
Quando eles percebiam uma algo muito bom, maravilhoso. JT – Você, há pouco tempo, montagem “Blasfêmeas”. passou, passou. Posso des-
unidade maior entre os pre- Essa paixão pelo fazer desses dirigiu “Uma Coisa muito Sendo homem, você sen- tacar os dez anos de Ágora,
sos, meu trabalho passava a atores jovens tem sido muito Louca”, “Dois Irmãos” e tiu alguma dificuldade em que foram muito gratifican-
ser mal visto. interessante. Mas, de maneira ge- novos atores no Sesi, simul- tratar de um universo que tes, com “Dores de Amo-
ral, a formação desses atores está taneamente. Você sente ne- não é seu? res”, “Tamara”, “Meu Tio, o
JT – Em “Uma Coisa muito cada vez mais deciente. Isso é cessidade de estar sempre RL – Não tive nenhuma di- Iauaretê”. Mas, como eu dis-
Louca” você utilizou recur- uma herança do Ensino Médio. produzindo? Consegue ge- culdade. Gosto muito do uni- se, vivo o hoje. Agora estou
sos novos como HQ e man- É um quadro social. renciar bem seu tempo entre verso feminino, tudo o que dirigindo o espetáculo “Tea-
gá. Você acredita que o tea- trabalho e vida pessoal? aprendi foi com as mulheres, tro para Pássaros”, pelo qual
tro deve se adequar às novas JT – Para você é mais fácil RL – Sou um workaholic, gosto da mulher, sempre tive estou apaixonado.
tendências ou deve manter dirigir atores jovens ou mais gosto de trabalhar. Feliz- muito prazer em trabalhar com
seu formato tradicional e experientes? mente, desde que faço teatro, o universo feminino. JT – E para o futuro? Quais
“formar” as plateias? RL – Cada caso é um caso. Já sempre fui muito solicitado, são os seus planos?
RL – Eu acho que não exis- trabalhei com atores experien- recebo muitos convites. Mas, JT – Nesses mais de 45 anos RL – Tenho alguns projetos
te regra geral quanto a isso. tes onde a troca foi muito boa, paralelamente, não abro mão de carreira teatral, qual para frente que dependem
Cada desejo dos criadores mas, outras vezes, nem tanto. da minha vida pessoal, gosto momento você destacaria de mais recursos nanceiros.
deve ser respeitado. O teatro Há projetos teatrais que exigem de namorar etc. como o mais graticante, o Gostaria ainda de montar “A
de hoje tende a voltar para as atores experientes, de peso, com mais especial? Dança Final”, de Plínio Mar-
suas raízes. Não é à toa que o maior preparo. É uma habilida- JT – Você com recorrência RL – São muitos, mas sou cos, e tenho também projeto
teatro narrativo tem sido tão de do diretor saber a metodo- trata do universo feminino uma pessoa que vivo muito de montagem de “Medéia”, em
utilizado atualmente. logia para escolher seus atores. em suas peças, como na o momento presente, o que uma adaptação.
10 16 a 31 de Agosto de 2009 Jornal de Teatro

Dança Fotos: Divulgação

A identidade da
dança
contemporânea
brasileira
Por Ive Andrade

O sobrenome Souza é icônico na história da dança brasileira. Se Penha de Souza,


precursora ao trazer as técnicas de Martha Gaham ao País, prossionalizou e marcou
Responsável
a modalidade no Brasil, a história de sua lha, Claudia de Souza, não ca atrás em
termos de importância e revolução na arte. Ao completar 30 anos de carreira em 2009,
por unir dança
Claudia traz em sua bagagem inúmeras apresentações no exterior, formação com di-
versas personalidades da dança contemporânea e renomados trabalhos como coreó- moderna com
grafa e bailarina. Entretanto, ela vê as últimas três décadas de trabalho com a mesma
tranqüilidade de quem ainda está começando e tem muito caminho a percorrer.
“Eu não tinha me tocado que estava fazendo 30 anos de carreira este ano. Aí, saiu
técnicas como
na Veja ‘Claudia de Souza este ano completa 30 anos de carreira’. Eu até levei um
choque: Como assim? Quem falou?”, arma, displicentemente, a diretora, bailarina e a capoeira,
coreógrafa da Companhia Danças (Cia. Danças), que começou cedo – aos 14 anos já
dava aulas e, ao atingir a maioridade, conquistou seu primeiro edital com um trabalho
coreografado por ela.
Claudia de Souza
Em 1996, o processo da Cia. Danças começou e deu identidade à dança contemporâ-
nea brasileira, com a inserção da capoeira nos espetáculos. Desde então, a companhia comemora 30
já foi contemplada por três vezes pela Lei de Incentivo – Fomento à Dança, fornecido
pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, o terceiro fomento terá início nesse
segundo semestre. A multifacetada artista que criou a Danças falou exclusivamente ao
anos de carreira
Jornal de Teatro sobre sua carreira e sobre seus trabalhos dentro e fora da companhia.
Jornal de Teatro – Falando cesse mais a mim, que não fosse anos de carreira?
sobre o início de sua carrei- exportada. Hoje em dia a capo- CS – Comemoramos os 12 anos
ra, dança foi sempre algo que eira está em outro momento na da companhia, remontamos
você quis fazer? companhia, ela já esteve muito todo nosso repertório e zemos
Claudia de Souza – Acho que, mais em destaque porque não uma exposição na Galeria Olido
fazendo uma retrospectiva, eu tinha ainda penetrado no traba- que foi super bacana. A compa-
sempre quis trabalhar com dan- lho. Essa transição do corpo que nhia inteira trabalhou nisso, não
ça, nunca duvidei disso. Mesmo dança contemporânea, mas é um só dançando, mas pesquisando
quando a gente tem momentos corpo brasileiro. Enm, ainda é também. Catalogamos todas
mais difíceis, sem contrato, você uma coisa em processo. as matérias de jornais, zemos
ca “e agora?”. Mas a natureza DVDs de todos os espetáculos
do nosso trabalho é um pouco JT – E por que você decidiu da companhia, cou uma coisa
essa e isso sempre esteve muito trabalhar com a capoeira? bem interessante. A gente fez
presente para mim. Eu sempre CS – Para buscar a minha identi- uma doação deste acervo para
quis, na verdade, ser coreógra- dade e não para fazer um folclore. a Galeria Olido e, também, para
fa, era uma coisa que eu já tinha ou bailarina?”. Na verdade, uma JT – Como funciona seu pro- Aliás, isso não é necessário, pois Escola Livre de Dança em Santo
desde pequena. coisa completa a outra e dançar, cesso de criação na hora de capoeiristas dão de dez em mim, André e para Escola de Bailados.
para mim, é uma conseqüência montar um espetáculo? eles não precisam de mim nem
JT – Você começou com a sua da minha criação, a minha criação CS – Eu não tenho uma receita dos meus bailarinos para mostrar JT – Vocês planejam algum
mãe? é uma conseqüência do dançar e para isso. Já aconteceu de várias o que é a capoeira. A gente que trabalho novo este ano?
CS – Eu sempre fui aquela aluna vice-versa. Passei por esse drama formas durante esses anos de precisou deles para se alimentar CS – Não. Vamos continuar
super focada e minha mãe tinha porque a gente acha que tem que carreira. Tenho a minha com- um pouco e ver se nos contami- com a circulação do repertório,
uma companhia prossional, ser uma coisa ou outra. Antes panhia há 12 anos, isso tem sido návamos por essa história. a vigência do segundo fomento
que eu sempre ia assistir. Com 16 eu achava que tinha que ser uma um exercício muito interessante, terminou no primeiro semestre e
anos, comecei a participar, mas coisa só, mas, hoje, isso tudo está porque uma criação leva a outra, JT – Como é o trabalho da agora vamos iniciar a vigência do
quando eu tinha essa idade já gos- bem resolvido. Eu sou todas es- tem um o condutor, não que a Companhia? terceiro fomento. No segundo -
tava de coreografar. Com 14 anos sas coisas porque eu danço. gente fale da mesma coisa, mas CS – A gente trabalha há 12 anos zemos, além do repertório, a cria-
comecei a dar aula para adultos. eu acho que em uma criação ininterruptamente de várias for- ção de um espetáculo. O último
Com 18 anos teve inauguração JT – Entre dirigir a compa- você acaba se inspirando por ou- mas. A gente trabalha com aulas se chama “Adeus corpo gentil,
do Centro Cultural São Paulo e nhia, ser coreógrafa e bailari- tro tema que vem vindo. e ensaios três vezes por semana, morada do meu desejo” (2008).
chegou até mim a história de que na, tem alguma função com a oito horas por dia. Eu gosto de
eles estavam querendo jovens qual você se identica mais? JT – Como foi colocar a capo- fazer várias coisas ao mesmo
coreógrafos para a inauguração. CS – Acho que o que eu faço na eira dentro da dança contem- tempo. Tenho esse trabalho da Os paulistanos terão a
Mandei um ‘projetinho’ e passei. dança, desde dar aula até dirigir porânea? companhia, carro chefe do meu oportunidade de conferir
Nessa época eu dançava na com- a companhia e ser bailarina, faço CS – A capoeira entrou nesse dia a dia, sou coordenadora pe- o trabalho que Claudia de
panhia da minha mãe e dirigia um porque sou coreógrafa. Isso, tempo atrás pela convivência dagógica do Dança Vocacional Souza considera o “mais
grupo amador de 12 pessoas. sim, cou claro para mim. Core- que eu tinha com os capoeiris- (projeto da Prefeitura que envol- pop” de sua companhia.
ografar não é só fazer passos bo- tas da escola que eu dirigia, eu ve teatro, dança e música), que é O espetáculo “Pares” está
JT – Como aconteceu a tran- nitos e organizar cenicamente os via concordâncias em termos um trabalho que mexe com esse em cartaz no Teatro União
sição de bailarina para coreó- meu gostar de ensinar, e dou au-
Cultural, todas as quintas-
bailarinos, é você ter uma ideia e de movimento corporal, o que feiras, às 21h. Para mais
grafa? desenvolvê-la para ela fazer par- mais me interessava era o jogo las também. informações: (11) 2148-
CS – Hoje em dia eu não dife- te de toda sua vida artística. Eu e o estado de atenção do capo- 2905 ou acesse o blog da
rencio mais isso, antigamente não gostaria de me eleger a uma eirista. Me ajudou a trazer uma JT – O que foi preparado para companhia: http://www.
eu mesma tinha uma cobrança: coisa só, mas eu atuo em todas identidade brasileira, que eu ti- esse ano de comemorações ciadasdancas.blogspot.com
“O que eu vou ser? Coreógrafa essas áreas por ser coreógrafa. vesse alguma coisa que perten- da Cia. Danças e dos seus 30
Jornal de Teatro 16 a 31 de Agosto de 2009
11
Sindicais
Cooperativa Paulista de Teatro:
30 anos de apoio ao artista
Entidade dá suporte jurídico aos profissionais de teatro e incentiva o setor há três décadas
Por Pablo Ribera

Pablo Ribera / JT
Em maio de 1978, foi apro-
vada a Lei 6.533, que, enm,
regularizou as prossões de
artista e técnico em espetácu-
los teatrais. Assim, os pros-
sionais do teatro passaram a
ter seus direitos de trabalhador COMO SER MEMBRO DA CPT
garantidos. Alguns artistas que
trabalhavam com produções 1) Assistir à reunião de integralização realizada às quartas-feiras às 14h.
coletivas, porém, sentiram que (aproximadamente com duas horas de duração);
era necessária uma organização 2) Entregar documentos no cadastro. O candidato, caso queira, pode entre-
para representá-los juridica- gá-los ao término da Reunião da Integralização;
mente. Foi assim que, em agos- 3) A cooperativa tem prazo de dois a cinco dias úteis para análise dos do-
to de 1979, nasceu a CPT (Co- cumentos;
operativa Paulista de Teatro). 4) Sendo o seu pedido de ingresso aprovado, o candidato será comunicado
Fundada conforme os ter- por e-mail ou por telefone;
mos da Lei 5.764/71, que de- 5) Efetuada esta comunicação, o candidato deverá comparecer ao setor
ne o cooperativismo no Brasil, de cadastro para o pagamento de taxas e assinatura do livro de matrícula.
a entidade surgiu para ajudar os
prossionais a regularizarem INGRESSO INDIVIDUAL
seus trabalhos junto àqueles
Maysa Lepique e Cenne Gots dirigem entidade modelo para o setor Documentos necessários:
que os contratam. “Nós traba-
lhamos com diversas atividades serviços como seguro de vida, A cooperativa é presidida
• Pedido de ingresso devidamente preenchido (no site)
para o mesmo m. Atores, au- estrutura jurídica nos contra- por Ney Piacentini, que conta
• Carta de indicação de um cooperado que esteja em situação regular (no site)
tores, cenógrafos, técnicos de tos, direito de imagens, aulas com o apoio de Cenne Gots, • Cópia do CCM (Cadastro de Contribuinte Municipal) – Inscrição na Prefei-
iluminação, camareiras, todas gratuitas de canto, voz, corpo, Maysa Lepique, Marcos Pava- tura onde você reside
essas prossões são abrangi- inglês e espanhol, ocinas de nelli, entre outros membros • Cópia da folha da carteira de trabalho contendo o número do DRT
das pela cooperativa”, explicou direção, arte social, fóruns e da atual diretoria. O mandato • Cópia do título de eleitor
a vice-presidente da entidade, uma biblioteca com diversas dura dois anos, com possibili- • Cópia do NIT (Número de Inscrição do Trabalhador) - INSS ou PIS/PASEP
Cenne Gots. “Aqui, os pros- publicações”, disse a vice-pre- dade de reeleição. – Inscrição na Previdência Social. A inscrição pode ser feita via internet:
sionais são autônomos. Nós sidente. Todos os cooperados http://www.dataprev.gov.br/servicos/cadint/cadint.html
apenas facilitamos a contrata- tem seus direitos garantidos. CPT 30 ANOS • Cópia do RG, CPF e Comprovante de residência
ção conforme as leis”. Além disso, o pagamento do Este mês, a CPT comemora • Breve currículo
A Cooperativa Paulista de associado é legalizado, tem sua 30 anos e, para festejar o ani- • 2 Fotos 3 x 4
Teatro tem como principais ob- inscrição como autônomo na versário, eventos foram realiza-
jetivos reunir artistas e técnicos, prefeitura, recolhe INSS e paga dos pela própria entidade. Em Taxas para ingresso individual
criando condições para o exercí- imposto de renda, tudo feito fevereiro ocorreu a cerimônia
cio de suas atividades – produzir, através da CPT. do Prêmio Cooperativa Paulis- • Capital Social (quota-parte): R$ 20
criar condições de distribuição, Para se associar, basta assis- ta de Teatro 2008. Em maio, • Matrícula: R$ 35
estabelecer contratos, convênios, tir à reunião de integralização, a 4ª Mostra Latino America- • FAD (Fundo Antecipado de Despesas): R$ 15 mensais.
representar os seus associados que acontece às quartas-feiras, na de Teatro de Grupo. Além
(individual ou coletivamente) às 14h, entregar documentos disso, durante este ano, está Obs.: Necessária quitação das FAD’s até o final do semestre.
e promover cursos, debates e necessários no cadastro (ver em desenvolvimento o Proje-
seminários para qualicar os box) e pedir para ser integra- to Teatro nos Parques, ampla
prossionais. “Nós oferecemos do à CPT. Caso o pedido seja temporada que pretende des- INGRESSO EM GRUPO JÁ CADASTRADO NA CPT
aulas, ocinas e workshops para aprovado, o candidato deverá centralizar o acesso à cultura
Documentos necessários:
que os associados tenham no- comparecer ao setor de cadas- na cidade de São Paulo e levar
vos conhecimentos ou se atua- tro para o pagamento de taxas aos parques públicos da capital • Pedido de ingresso devidamente preenchido (no site)
lizem”, disse Cenne. “Nós sem- e assinatura do livro de matrí- paulista apresentações teatrais • Carta de indicação de um cooperado que esteja em situação regular (no site)
pre visamos o aperfeiçoamento cula. “Nossa exigência é que gratuitas. Com a abrangên- • Autorização do representante para ingresso no grupo (no site)
dos prossionais”, explica. aquele que deseja ser coopera- cia de 32 parques municipais, • Cópia do CCM (Cadastro de Contribuinte Municipal) – Inscrição na Prefei-
Atualmente, são cerca de do por nós tenha o DRT. Tem somando 128 apresentações, tura onde você reside
3,1 mil associados ativos, sendo que ser prossional regulamen- espera-se atingir um público de • Cópia da folha da Carteira de Trabalho contendo o número do DRT
que a CPT é dividida em mais tado da área”, disse Cenne. mais de dez mil espectadores. • Cópia do título de eleitor
de 800 núcleos de produção. “É A CPT responde por gran- Será debatido ainda, nas • Cópia do NIT (Número de Inscrição do Trabalhador) - INSS ou PIS/PASEP
uma empresa igualitária, na qual de parte da produção artística comissões especícas do Con- – Inscrição na Previdência Social. A inscrição pode ser feita via internet:
todos os sócios têm os mesmos teatral do Estado de São Paulo gresso Nacional, outro projeto http://www.dataprev.gov.br/servicos/cadint/cadint.html
direitos e acesso aos mesmos e conta com amplo reconhe- da CPT, que visa a formação • Cópia do RG, CPF e Comprovante de residência
serviços prestados”, disse Cen- cimento de sua qualidade cul- de plateia para o teatro nas uni- • Breve currículo
ne. “Os núcleos são bem exí- tural. Já participou de impor- versidades federais brasileiras. • 2 Fotos 3 x 4
veis. O cooperado pode fazer tantes movimentos teatrais de Paralelamente, será lançado um
parte de um núcleo direcionado São Paulo, e, hoje, é referência livro, escrito em conjunto pelo Caso o interessado não tenha cadastro no CCM e INSS e não possua
ao público infantil e também de em todo o Brasil pelo trabalho jornalista Kil Abreu e pelo ex- DRT ou OMB, seu pedido de ingresso será negado.
um de palhaço, sem qualquer cooperativado na área artística. presidente da agremiação, Luiz
problema”, garante. “Nosso modelo é seguido por Amorim, sobre a trajetória dos Taxas para ingresso em grupo já cadastrado na CPT
Além disso, os artistas coo- muitas associações, como as artistas, técnicos e grupos asso-
perados têm à disposição uma Cooperativas de Música, Dan- ciados nesses 30 anos de vida. • Capital Social (quota-parte): R$ 20
• FAD (Fundo antecipado de despesas): R$ 15 mensais.
empresa estruturada, regular e ça e Culturas Populares”, disse Será dividido em três etapas,
legítima, que dá todo o supor- Maysa Lepique, secretária da cada uma relacionada a uma Obs.: Necessária quitação das FAD’s até o final do semestre.
te necessário. “Oferecemos diretoria do CPT. década da CPT.
12 16 a 31 de Agosto de 2009 Jornal de Teatro

Reportagem

TEATRO
PÚBLICO e sem
LIMITES
Eventos e editais
demonstram que
o teatro de rua está
cada vez mais forte
no Brasil

Por Felipe Sil de manifestações populares


Jr. Panela

como o maracatu, sobretudo


da região de Pernambuco. A
Teatro de rua: uma arte en- ausência do palco, por outro
cantadora e em crescimento. A lado, aproxima os lados. As in-
Funarte (Fundação Nacional tervenções constantes também
de Artes), em parceria com o são uma característica forte do
Instituto Cultural Sérgio Mag- teatro de rua.
nani, mantém abertas até o “O teatro de rua está em
dia 17 de agosto as inscrições crescimento em todo o Brasil e
para o edital do Prêmio Funar- não nos surpreendeu a intensa
te Artes Cênicas na Rua 2009. demanda pelo nosso edital. Sa-
O objetivo do novo edital é bíamos que ia ser assim. É uma
viabilizar projetos de grupos, arte que chega diretamente ao
companhias, trupes e artistas público e tem a importância de
independentes que busquem, democratizar a cultura. Particu-
em apresentações de rua, um larmente, fui diretor do grupo
novo signicado para o espaço Teatro Andante, em Belo Ho-
público. Ao todo, são 60 proje- rizonte, e sei da importância
tos contemplados, com valores do teatro de rua e como ele
de R$ 20 mil, R$ 40 mil ou R$ funciona. É um tipo de arte
50 mil. A iniciativa pode ser que consegue chegar a vários
encarada como uma amostra lugares com uma linguagem
real do poder que o teatro de simples e direta. Sinto uma
rua ganhou nas últimas déca- evolução muito grande desse
das não só no Brasil, mas em tipo de teatro. Surgiu há pouco
todo o mundo. tempo, por exemplo, essa Rede
Puderam ser inscritos pro- Brasileira de Teatro de Rua,
jetos de montagem ou circu- que tem uma pauta bem clara
lação de espetáculos, perfor- de reivindicações e consegue
mances cênicas e intervenções reunir a classe”, diz Bones.
urbanas. Grupos e artistas com A rede citada pelo diretor
mais de dez anos de atuação na O grupo “Teatro que Roda” utiliza qualquer instrumento do cenário urbano para enriquecer seus espetáculos é formada por movimentos de
rua também tiveram a possibi- teatro de todo Brasil. Em mar-
lidade de concorrer com pro- diversidade da produção das inscrição a utilização do espaço nar, esse estilo de encenar não ço de 2008, os articuladores dos
postas voltadas para o registro artes cênicas brasileiras. público como local de encon- é menos teatro por parecer não Estados da Bahia, de Pernam-
e a preservação memorialística O diretor do Centro de Ar- tro. Queremos premiar a arte ter um planejamento especí- buco, do Maranhão, do Ceará,
de suas atividades. Os selecio- tes Cênicas da Funarte, Mar- que promove a ressignicação co. De fato, são séculos e sécu- do Rio Grande do Norte, de
nados, no entanto, deverão, celo Bones, diz que o espaço do espaço público”, comenta. los de tradição nessa que é uma Rondônia, de Minas Gerais, de
obrigatoriamente, executar as público é fundamental na de- O teatro de rua é uma di- das mais antigas manifestações São Paulo e do Rio de Janeiro
ações propostas até dia 30 de mocratização da cultura. “É versão. A plateia pode comer populares. instituíram a rede, um espaço
abril de 2010, em pelo menos um espaço muito importante e beber durante o espetáculo, Os papeis de público e ato- físico e virtual de organização
uma cidade brasileira. A aná- para ser valorizado no Brasil contracenar com os atores e até res sofreram mudanças no tea- horizontal, sem hierarquia, de-
lise das propostas cabe a uma e que nunca encontra espaço sair no meio da peça. Por ser tro de rua em relação ao ence- mocrático e inclusivo. O objeti-
comissão composta por cinco adequado para sua acolhida. realizado em lugares públicos, o nado no edifício teatral. Entre vo é que todos os artistas e gru-
especialistas em artes cênicas, Esse é um edital diferente dos teatro de rua permite improvi- as inuências na estética desse pos pertencentes a ela possam
que consideram a excelência outros editais porque apresen- sos e está sujeito a intempéries tipo de encenação, nota-se a ser seus articuladores para am-
artística e a viabilidade prática ta uma proposta para o prêmio. de todos os tipos imagináveis. forte presença da exuberância pliar suas ações e pensamentos.
do projeto, a qualicação dos Quer dizer, colocamos como Aí, talvez, esteja sua beleza. Ao visual do circo tradicional e a “O teatro de rua precisava
prossionais envolvidos e a condição fundamental para a contrário do que se pode imagi- habilidade de comunicação se fortalecer politicamente e,
Jornal de Teatro 16 a 31 de Agosto de 2009
13
Reportagem
Raquel Aguilera

André Garcia Alvez, articulador da Rede Brasileira de Teatro de Rua e ator da Companhia “Será o Benedito?!”, conhece bem quais as vantagens de realizar peças em praça pública

então, tivemos essa ideia. Os está de parabéns por estar com Foi um gosto trabalhar nesse Hood de atingir um outro tipo a peça. “Utilizamos carros,
grupos já se conheciam, mas esse edital”, comenta. espetáculo”, comentou. de público menos ligado, talvez, ônibus, árvores, equipamentos
não havia esse contato mais O teatro de rua é forma- Um dos grupos de Teatro ao teatro que nos fez assumir o de obra... tudo serve quando
profundo entre os artistas. Co- do por artistas independentes de Rua mais expressivos do desao. Hoje, pelo menos para se faz teatro de rua. A rua não
meçamos, então, a catalogar to- e militantes da cultura, que Rio é o Grupo Teatral de Qua- mim, essa forma de fazer teatro tem limites como o palco e
dos as companhias. É notável acrescentam ao público não tro no Ato, que teve sua forma- é bem libertadora”, diz. isso é justamente o que desejá-
o crescimento do teatro de rua só quantidade, mas também ção em julho de 1994 com ato- Já o ator e coordenador do vamos quando, em 2003, deci-
em todo o Brasil. Na última conteúdo, com o objetivo de res formados em conceituados grupo de Goiânia Teatro que dimos formar esta companhia.
contagem que zemos, só no fortalecer uma cultura mais de- cursos e vindos de importantes Roda, Dionísio Bombinha, o Achávamos que as paredes li-
Rio de Janeiro contabilizamos mocrática no País. Os eventos montagens. “Somos muito fo- legal do estilo é poder utilizar mitavam a nossa arte”, explica.
96 grupos. Os atores têm per- se espalham nacionalmente e cados para a cultura popular e qualquer instrumento do ce- Nas ruas, estão todos livres – e
cebido que é vantajoso traba- festivais podem ser vistos em procuramos levar para as pes- nário urbano para enriquecer sem limites – para criar.
lhar nas ruas. Há muito espaço proliferação em todos os Esta- soas que estão na rua esse con-
para apresentações e o público dos. Nos lugares menos espe- teúdo tão pouco conhecido. Na O TEATRO NAS RUAS LATINO-AMERICANAS
costuma ser bem generoso. A rados alguém pode se deparar rua, além de você ter a oportu-
plateia não é obrigada a pagar com um grupo de teatro de rua nidade de levar a arte ao povo, Na América Latina, pode-se notar, nas ruas das cidades, uma grande
e o meio passa a ser um grande em ação. Durante a Flip (Festa sempre se espera a participação diversidade de práticas teatrais que se expressam em um movimento
espaço de divulgação de traba- Literária Internacional de Para- da plateia. Tem muito mais im- dinâmico e variado. Muito dessa multiplicidade de espetáculos, princi-
lho. Eu mesmo, desde 2002, ty), no Rio, no meio deste ano, proviso porque a qualquer mo- palmente no Brasil, deve-se aos processos de criação cujas raízes se
atuo na companhia Será o Be- o público se deparou com o mento algo pode acontecer. Só relacionam com o período final do regime ditatorial, na chamada etapa
nidito?!, que atua pelas ruas do consagrado ator Paulo Betti em que é esse improviso que ajuda de transição democrática dos anos 80. O teatro de rua ainda é visto
Rio de Janeiro, e conheço bem cena com o espetáculo “Sonho a manter o público”, conta o como uma prática artística que se contrapõe aos discursos autoritários.
as vantagens culturais e nan- de uma Noite de São João”, ba- ator Filippe Neri. A ligação desse tipo de arte com manifestações de caráter político e
ceiras deste tipo de arte”, de- seado em Shakespeare. Em en- Diretor da Companhia sem social, aliás, é antiga. No século 20, grupos de artistas revolucionários
russos, com a “missão” de divulgar suas ideias sociopolíticas. saíram às
clara André Garcia Alvez, ator trevista ao Jornal de Teatro, Máscaras, de São José dos
ruas após a vitória bolchevique de 1917.
e articulador da Rede Brasileira ele falou sobre a importância Campos, Valter Vanir Coelho No Brasil, em 1961, um movimento similar, organizado por um gru-
de Teatro de Rua. de se atuar no asfalto. “É o acredita que há preconceito por po de artistas e intelectuais do porte de Ariano Suassuna, Hermilo Bor-
Sobre o edital da Funarte, espaço mais livre e mais difí- parte de alguns críticos quanto ba Filho e Paulo Freire, entre outros, criaram, em Pernambuco, o MCP
o artista faz elogios, mas pede cil de se trabalhar. A pessoa ao estilo. “Alguns não apreciam (Movimento de Cultura Popular). No mesmo ano surgiria o CPC (Centro
uma amplitude maior do pro- assiste em pé. Quando enche o gênero por não quererem - Popular de Cultura), da UNE (União Nacional dos Estudantes), no Rio de
jeto. “Achei a ideia fantástica e o saco vai embora, toma uma car no sol ou ter de sentar no Janeiro, capitaneado por Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha.
eu, inclusive, já mandei alguns cerveja, fala com o amigo... Eu chão. Nossa última peça, “Do O primeiro registro de teatro de rua contemporâneo no Brasil data
projetos meus para a fundação. tenho verdadeira admiração e Alto do seu Encanto”, inclusi- de 1946, uma iniciativa que envolveu nomes como Hermilo Borba Filho
Só que, na minha opinião, acre- respeito pelos artistas que tra- ve, fala de vários preconceitos e Ariano Suassuna. Nos anos 1970 também há uma efervescência de
dito que a proposta seria bem balham na rua. Em Paraty, pa- da sociedade. Quando optamos, criações do estilo. Aparece, por exemplo, o Grupo Tá na Rua, de Amir
mais interessante se abranges- recia que estávamos num au- há sete anos, por sairmos do Haddad; e do Ventoforte, de Ilo Krugli, em 1974, também no Rio. O gru-
se não só o teatro de rua, mas têntico teatro elizabethano. A palco e irmos para as ruas, sabí- po de Ilo Krugli se mudaria, em 1981, para São Paulo. Em 1976, surge
todo tipo de manifestação de Igreja de Santa Rita e o casario amos das diculdades técnicas o Grupo de Teatro Mambembe, numa iniciativa do Sesc São Paulo, por
arte em público como música, de Paraty ecoavam uma acús- que teríamos, mas era justamen- meio da unidade Consolação, com direção de Carlos Alberto Soffredini.
pintura etc... Só que a Funarte tica perfeita para a nossa peça. te a nossa vontade meio Robin
14 16 a 31 de Agosto de 2009 Jornal de Teatro

Reportagem

Arte de
RUA
Festival Amazônia Encena nasceu com o objetivo de levar as artes cênicas aonde o povo se encontra
Fotos: Divulgação
Por Paloma Jacobina O espetáculo de mamulengo, encena-
do a partir do desejo do ator/boneco
O II Festival Amazônia Encena Severo se casar e que faz de tudo para
transformou Porto Velho na capital conseguir atingir seu objetivo, foi
do teatro de rua brasileiro. Em ple- muito aplaudido pelo público. Ou-
no Rio Madeira, a bordo do barco tros destaques ficaram com as apre-
Nossa Senhora Aparecida, grupos do sentações das montagens “De Olho
Acre, do Amazonas, de Roraima, do na Coisa” e “Velho Justino e suas Po-
Rio de Janeiro e de Rondônia fize- esias Matutas”, com o comediante e
ram a região, considerada o pulmão contador de causos Tancredo Silva.
do mundo, respirar arte, através de Tancredo é o artista acreano que mais
espetáculos, entre os dias 22 e 26 de shows faz pelo Brasil.
julho, que fizeram a alegria daqueles “Fui fazer apenas uma apresen-
que dificilmente entrariam em uma tação no Projeto do Sesc “Balaio
sala de teatro. Cultural”, em São Paulo, e terminei
Criado com o objetivo de pro- passando quase seis meses no estado
porcionar a interação dos inúmeros paulista, apresentando-me em várias
grupos que desenvolvem o teatro de cidades”, conta o artista, que se or-
rua no Brasil, o festival, em 2009, re- gulha de viver exclusivamente de suas
cebeu 10.400 espectadores, um ano apresentações artísticas.
depois de registrar público de apro-
ximadamente de 8.500 pessoas. Adul-
tos e crianças se divertiram durante
DEBATES: OUTRAS ATRAÇÕES
as apresentações diárias, que levaram
ao palco temas alegres, mas, também,
Além da promoção de espetácu-
discussões sobre cultura popular, mi-
los teatrais para o grande público,
tologia e causas sociais.
o Amazônia Encena se destaca por
A ideia, segundo o organizador
discutir o universo do teatro e, em
do festival Chicão Santos, é levar arte
especial, o teatro na rua. Foram nos “Filha da Mata” encantou o público do Festival Amazônia Encena
para locais de difícil acesso e ofere-
debates e mesas redondas com pro-
cer a possibilidade que isto aconteça
fissionais da área que os atores de
onde os expectadores se sintam livres
rua tiveram a oportunidade de trocar
e integrados. “Esse é o grande dife-
informações sobre experiências de
rencial do teatro de rua. Não temos
sucesso e alternativas para os pro-
portas e não impedimos ninguém de
blemas enfrentados pela classe.
entrar ou de sair”, explicou Chicão,
A capacitação também foi uma
acrescentando que o Amazônia En-
preocupação dos realizadores do en-
cena nasceu com o objetivo de vencer
contro, que ofereceram oficinas gratui-
qualquer barreira que impeça o públi-
tas durante a programação. Este ano,
co de assistir a um espetáculo teatral.
três oficinas foram oferecidas e resul-
“Na realidade, o Amazônia Ence-
taram em uma apresentação coletiva,
na na Rua faz parte de uma pesquisa
realizada no dia do encerramento do
que os dirigentes de O Imaginário
evento. Chicão faz um balanço positivo
estão realizando, há algum tempo, so-
do festival e promete ainda mais novi-
bre a melhor maneira de levar as artes
dades para o próximo ano.
cênicas aonde o povo se encontra”,
“Ficamos surpresos com o públi-
explicou o ator, diretor e produtor
co. Nem parecia teatro na rua, pois
cultural, líder do grupo rondoniense
a população compareceu em grande
O Imaginário – que assina a produ-
número, como se fosse mesmo em
ção do festival, patrocinado pela Cai-
uma sala de espetáculo ou em um
xa Econômica Federal com apoio da
teatro fechado”, disse Chico. “Esse
prefeitura municipal de Porto Velho,
fascínio que o teatro de rua trás,
através da Fundação Iaripuna, e do
com esses elementos dos espetácu-
governo estadual, através da Secel.
los que por aqui passaram, é imenso.
Um dos destaques da edição de
Estou muito satisfeito, pois o projeto
2009 foi a produção do grupo do
atingiu todos os seus objetivos”.
Acre “O Homem que Vendeu a alma
ao Diabo e Quase Perdeu seu Amor”. O objetivo do festival é levar arte para locais de difícil acesso e integrar expectadores
Jornal de Teatro 16 a 31 de Agosto de 2009
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Formação
Movimen Profissão palhaço
João Caldas / Divulgação

Peça “Amor de Improviso”

to Mário Libar ensina lições que vão além do picadeiro


Por Douglas de Barros
Nomes consagrados da dra-
maturgia brasileira – Gracindo
Júnior, Stênio Garcia, Luana
Piovani, Reynaldo Gianecchini,
Taís Araújo e José Mayer, entre
outros – participaram e reco-
mendam. Anal, mais do que
na verdade, que um palhaço só
faz graça quando é verdadeiro
consigo, com seus medos, com
suas vergonhas. Quando ele as-
sume tudo, quando consegue rir
de si mesmo, quando consegue
fazer os outros rirem, aí, sim, se
torna um palhaço com direito a
nariz vermelho e tudo”.
a qualidade da ocina “A No- Mas nem todos se adaptam
bre Arte do Palhaço”, o talento à metodologia e aos ideais da
de seu criador, Márcio Libar, é ocina. Renata revela que, no
conhecido, reconhecido e fre- seu grupo, duas pessoas desisti-
quentemente elogiado. Artista ram no meio da ocina por não
de dedicação à arte palhacesca, suportarem o confronto com
Libar participou do Teatro de elas mesmas. “No último dia,
Anônimo, foi coordenador do o Libar chega até nós e, ao pé
projeto Mundo ao Contrário e do ouvido, fala coisas que pro-
colaborador no Anjos do Pi- vavelmente a gente nunca tinha
cadeiro. Há 18 anos no teatro, se dado conta. Pelo menos foi
atualmente administra o Teatro assim comigo. Caí em prantos,

a partir do seu movimento Gláucio Gil, em Copacabana.


Trabalhou, ainda, na Comédia
Popular e estudou com vários
mas um pranto bom, liber-
tador. Saí de lá com a cabeça
efervescendo, com milhões de
mestres da palhaçaria no Brasil. pensamentos sobre minha vida,
Técnica “Campo de Visão” estimula a percepção de si mesmo a partir do outro A eciência de todo esse sobre minhas reações, sobre
currículo pôde ser observada minhas culpas. Pude analisar o
nos dias 20 e 21 de julho, quan- que queria mudar em mim ou
Por Ive Andrade aulas, desenvolvi a técnica sob da, a mesma coisa com a músi- do o artista ministrou mais uma manter. Foi muito válido e já re-
meu olhar”, explica, acrescen- ca: eu tinha cerca de 80 CDs a edição de sua famosa ocina comendei a ocina para vários
Um jogo que tem apenas tando: “O ‘Campo de Visão’ minha disposição e os ia colo- voltada para a formação de pa- amigos”, diz. É um processo
uma regra: o participante só é uma técnica que tem apenas cando aleatoriamente, fazendo lhaços – e uma das mais con- divertido e, ao mesmo tempo,
pode se movimentar quando o uma única regra, na qual você com que os atores reagissem a corridas do País em sua área de doloroso “, compara.
outro, o “líder”, o zer. E so- só pode se movimentar quan- partir deles”. atuação. “Trabalhamos em cima Ao todo, mais de duas mil
mente a partir dele. “Campo do o outro se movimenta. Esse Cada apresentação do es- do arquétipo do palhaço, e, a pessoas já acompanharam a o-
de Visão” é uma técnica que outro pode ser uma música, petáculo era única, impossível partir dele, fazemos o indivíduo cina, ao longo dos dez anos de
se apoia completamente na um objeto, um personagem... de ser repetida por duas noites, se conhecer melhor. O palhaço existência do projeto. Sucesso
improvisação e no comprome- Eu vou jogando elementos e graças ao “Campo de Visão”, é todo carisma, e o carisma re- que rendeu um livro de mesmo
timento de seus participantes, os participantes reagem.” que agia entre os atores e todos presenta quem você é, indepen- nome e que pode ser encontra-
dando-lhes, em troca, maior Por trabalhar com o con- os envolvidos no desenvolvi- dentemente das máscaras que do no blog do ator (www.libar-
percepção do outro, desenvol- ceito de improvisação, são mento da peça. O público tan- você usa para tentar ser aceito”, marcio.blogspot.com). Além de
vimento da visão periférica e inúmeras as variáveis dentro to não acreditava na improvi- revela Libar, acrescentando que “A nobre Arte do Palhaço”, Libar
noção de espaço. Marcelo La- da técnica, que permitem a am- sação que o diretor conta que, “A Nobre Arte do Palhaço”, na ministra outras duas ocinas no
zzaratto é diretor artístico da pliação da visão periférica do em uma das apresentações, verdade, é mais do que um cur- teatro Gláucio Gil. Voltada para
Companhia Elevador de Te- ator dentro de um ensaio, de faltou luz no teatro e ninguém so de formação de palhaços. a formação técnica e com dura-
atro Panorâmico desde 2000, um texto, ou dentro dele pró- percebeu. “Os atores continu- “Noventa e nove por cento ção de três meses, o “Atellier do
e, lá, o ator e diretor trabalha prio e dos outros ao seu redor. aram atuando normalmente. das pessoas dizem que a vida Riso”, começou dia 27 de julho.
com a técnica de diversas for- “Posso desenvolver visando o Quando a luz voltou, todos delas, antes da ocina, é uma, “O que faz rir”, será ministrada
mas, seja no desenvolvimento objetivo que quiser, mas desco- acharam que aquilo, de fato, fa- e, depois, outra. Por isso, ela é todas as terças-feiras de outubro,
de suas peças, nos cursos ad- brimos que ‘Campo de Visão’ zia parte do espetáculo, mas, na mais cara (custa R$ 400), pois também em Copacabana, das
ministrados pela companhia ou se estabelece como linguagem verdade, não.” não só ensina a ser palhaço, 11h às 14h, e é gratuita.
em seu mestrado na Unicamp. própria”, arma Lazzaratto, Apesar de mais procurado mas, também, muda a vida das Para quem cou na vontade
“Campo de Visão” está na vida referindo-se à peça “Amor de por atores, a técnica é acessí- pessoas, através do autoconhe- e quer trazer à tona o palhaço
prossional de Lazzaratto há Improviso”, da Companhia vel para todos, graças a sim- cimento”, frisa. que existe dentro de cada um,
mais de 20 anos. Elevador de Teatro Panorâmi- plicidade de sua abordagem, Há dois anos e meio, a jor- basta acessar o blog de Libar
Sem autoria denida, se- co, que cou em cartaz durante que exige que os interessados nalista Renata Victal, por indica- ou ainda entrar em contato com
gundo o próprio Lazzaratto, a quatro anos. “estejam, apenas, disponíveis a ção de uma amiga, participou da Giuliana Libar pelo e-mail: giu-
técnica é um exercício coletivo “A peça nunca era ensaiada. participar, sejam atores ou não, ocina. Não se arrepende, mas liana.libar@gmail.com ou pelo
de improvisação, que foi de Com ela, provamos a potência experientes e com técnica ou avisa: “Quem for para a oci- telefone (21) 9254-2933. O Te-
encontro a sua carreira, no m do ‘Campo de Visão’ como não”, comenta Lazzaratto, que na achando que sairá formado atro Gláucio Gil ca na praça
dos anos 1980, quando ainda linguagem cênica. As pessoas explica que o espaço da com- como palhaço, dando cambalho- Cardeal Arcoverde, em Copaca-
cursava artes cênicas na Es- que assistiam à peça não acre- panhia permite aulas de até 25 tas e fazendo truques divertidos, bana – Zona Sul. Informações
cola de Comunicação e Artes ditavam que era improvisação. pessoas e com um mínimo de está enganado. O curso ensina, pelo telefone (21) 2299-5580.
(ECA) da Universidade de São O espectador sempre acredita oito. “As pessoas saem dilata-
Paulo. “O diretor Marco Auré- que o que está vendo é a versão das dessa experiência, mais vi-
Divulgação

lio me apresentou a proposta e denitiva, mas realmente uma vas. A técnica instiga a pessoa
eu, como ator, me senti moti- apresentação nunca era igual a a ser criativa e a deixar que o
vado. Quando comecei a dar outra. Até a luz era improvisa- outro te alimente.”

INFORMAÇÕES
A Companhia Elevador de Teatro Panorâ- em São Paulo, ministra cursos e realiza apre-
mico está próxima de completar uma déca- sentações com seu grupo de atores dirigidos
da de existência e já tem sete peças em seu por Marcelo Lazzaratto. Para saber mais:
currículo. Com sede na Rua Treze de Maio, http://www.elevadorpanoramico.com.br Márcio Libar é o criador de “A Nobre Arte do Palhaço”
16 16 a 31 de Agosto de 2009 Jornal de Teatro

Festivais

Guilherme Luig / Divulgação

Divulgação
O grupo pernambucano Magiluth estará em ação no festival A “Ópera dos Três Vinténs”, de Hugo Rodas, é uma das atrações locais no Cena Comtemporânea

Festival em Brasília chega à sua décima edição


Com atrações nacionais e internacionais, o Cena Contemporânea movimenta a capital federal e também a cidade de São Paulo até setembro

Por Ive Andrade com Richard Galliano, im- cena Senhora D”, de Catarina miado trabalho da compa- exceto pelas apresentações
portante figura do jazz fran- Accioly, “Admirável Só Para nhia Armazém, “Inveja dos no Teatro do CCBB, onde o
O Cena Contemporânea cês, em conjunto com o bra- Selvagens”, de Miriam Virna, Anjos”, assim como o elo- preço é R$ 15. Assim como
– Festival Internacional de sileiro Hamilton de Holanda. “A Ópera dos Três Vinténs”, giado “Rainha[(s)]”, de Cibe- no ano anterior, o festival
Teatro de Brasília chega à Ainda no universo musical, de Hugo Rodas, “O Marajá le Forjaz, “Admirável Só Para terá o Ponto de Encontro na
sua décima edição já consa- Angelique Kidjo, diva da mú- Sonhador”, de Eliana Car- Selvagens”, de Miriam Virna praça do Museu Nacional da
grado como o maior festival sica africana, encerra as apre- neiro, “A Casa”, de Adriano e e “Mercadorias e Futuro”, República, onde acontecerão
de teatro da região Centro- sentações. Fernando Guimarães e “Alma incursão teatral do músico shows e atividades de forma-
Oeste e, em 2009, traz uma A dramaturgia francesa é de Peixe”, de José Regino, te- Lirinha, do Cordel do Fogo ção. Além disso, os partici-
novidade: o evento terá uma exaltada na programação in- atro especial para bebês. Encantando, são alguns dos pantes podem participar de
extensão no Sudeste, mais ternacional, que conta com Espetáculos de grupos destaques. oficinas, palestras e encon-
especificamente São Paulo, dois espetáculos: “La Pis- espalhados pelo Brasil tam- Os ingressos custam R$ tros. Para mais informações
no Centro Cultural Banco te Là”, renomado por ser bém trazem suas obras para 16, com meia entrada para e detalhes: www.cenacon-
do Brasil. Entre os dias 2 e uma peça de “puro circo”, o palco brasiliense. O pre- estudantes e aposentados, temporanea.com.br
13 de setembro, serão mais “Appris par ())Corps”, apre-
de 20 espetáculos nacionais sentação que une dança e
e internacionais de teatro e acrobacia. Além desses no-
dança apresentados em 12 mes internacionais, merecem PROGRAMAÇÃO DOS ESPETÁCULOS
teatros da capital brasileira. destaque o canadense “Kiss
A versão paulistana será Bill”, que propõe uma versão Quarta, 2 de setembro par corps - Cie. Un Loup par l’homme 20h - Teatro Newton Rossi -
realizada um pouco antes, no feminina da violência con- 19h - Teatro Garagem SESC - (França) SESC Ceilândia – Admirável
dia 27 de agosto, mas segue tida nos filmes do cineasta Rainhas[(s)] - Cibele Forjaz (SP) 20h - Teatro Paulo Autran - SESC Só Para Selvagens – Miriam
até o dia 20 de setembro com Quentin Tarantino; “La No- 19h30 – Teatro Funarte Plínio Taguatinga - Cru – Alexandre Ri- Virna (DF)
quatro espetáculos da grade che Canta suas Canciones”, Marcos – Ato – Grupo Magi- bondi (DF) 20h - Pavilhão de Vidro do CCBB
geral do festival. A estreia dirigido pelo argentino Da- luth (PE) 20h - Teatro Newton Rossi - SESC - Inveja dos Anjos - Armazém
acontece com “The Hobo niel Veronese, com texto do 20h - Pavilhão de Vidro do CCBB Ceilândia – A Obscena Senhora D – Companhia de Teatro (RJ)
Grunt Cycle (Part 1)”, de- norueguês Jon Fosse; “Delí- - Inveja dos Anjos - Armazém Catarina Accioly (DF) 20h - Teatro da Caixa - Appris par
pois com “Tercer Cuerpo”, rios de Grandeza”, solo do Companhia de Teatro (RJ) 21h - Sala Martins Penna - Kiss Bill - corps - Cie. Un Loup par l’homme
“El País de las Maravilhas” e artista espanhol David Es- Pigeons International (Canadá) (França)
“Dinossauros”, o única peça pinosa; “Duets”, que reúne Quinta, 3 de setembro 21h - Teatro do CCBB - The Hobo 21h - Sala Martins Penna -
nacional da Mostra São Paulo, seis bailarinos israelenses e 19h - Teatro Garagem SESC - Grunt Cycle, Part 1 - Lone Wolf Tri- Kiss Bill - Pigeons International
que encerra as apresentações. “Ausländer”, produção de Rainhas[(s)] - Cibele Forjaz (SP) be (USA) (Canadá)
Dos 23 espetáculos pre- dança contemporânea entre 19h30 - Teatro Funarte Plínio 21h - Teatro do CCBB - The Hobo
sentes na grade em Brasília, Uruguai e Alemanha. Marcos - Ato – Grupo Magi- Sexta, 4 de setembro Grunt Cycle, Part 1 - Lone Wolf
nove são internacionais, sete Entre as atrações locais, luth (PE) 19h - Teatro Garagem SESC - Tribe (USA)
nacionais e sete locais. A 20h - Pavilhão de Vidro do CCBB Rainhas[(s)] - Cibele Forjaz (SP)
sete grupos de Brasília foram
França terá destaque especial - Inveja dos Anjos - Armazém 20h - Teatro Paulo Autran - SESC Ta- Sábado, 5 de setembro
selecionados entre 40 inscri- Companhia de Teatro (RJ) guatinga - A Obscena Senhora D – 16h – Teatro da Caixa – O Marajá
como parte das comemora- tos para se apresentar. Os
ções de seu ano no Brasil: se- 20h - Teatro da Caixa - Appris Catarina Accioly (DF) Sonhador – Eliana Carneiro (DF)
vencedores foram: “Cru”, de
rão quatro shows ao ar livre Alexandre Ribondi, “A Obs-
Jornal de Teatro 16 a 31 de Agosto de 2009
17
Festivais
Lili Barbon

Cláudio Etges

“ Om Co Tô? Quem Co Sô? Prom Co Vô?” é sucesso no Floripa Teatro Peça Infantil “Encantadores de Histórias” promete animar a garotada que também deve estar presente no evento

Intercâmbio cultural no 16º Floripa Teatro


Trinta grupos teatrais, de sete estados brasileiros, ministrarão oficinas durante o evento, já considerado um dos maiores de Santa Catarina

Por Adoniran Peres RECORDE R$ 1.000. “Entre os inscritos, mais espaços culturais alterna- desaos para a consolidação e
DE ESPETÁCULOS escolhemos os melhores do tivos, apresentações ao ar livre reconhecimento dessa arte são
Levar as artes cênicas para Este ano, o Floripa Teatro País, independentemente do em praças da cidade e em lonas assuntos em pauta na palestra
vários pontos culturais e alter- selecionou 30 espetáculos, de Estado”, destaca Sulanger. instaladas em algumas comuni- “Panorama do Teatro Brasileiro
nativos de Florianópolis, além sete estados brasileiros, que fa- dades na Ilha e na região con- Contemporâneo”, que será mi-
de fazer da cidade um espaço rão 138 apresentações durante HISTÓRIA DE SUCESSO tinental. Todas as peças de rua nistrada pelo ator Ney Piacenti-
de intercâmbio entre os gru- 13 dias. O evento recebeu 242 Desde sua criação, em 1993, apresentadas durante o Floripa ni. O evento, aberto ao público,
pos teatrais brasileiros. Estas inscrições de diversas regiões o Floripa Teatro escreve uma Teatro são gratuitas e abertas ao será realizado no Teatro Álvaro
são as metas do 16º Floripa do Brasil – um recorde em trajetória de sucesso. Sulan- público. As peças infantis tam- de Carvalho, dia 22 , véspera do
Teatro (Festival Isnard Aze- relação às edições anteriores. ger Bavaresco, após se formar bém têm entrada franca, com encerramento do festival.
vedo), no qual companhias Além desses, duas companhias no curso de artes cênicas, pela distribuição de ingressos a gru- Entre outras atrações do Flo-
de teatro de todo o Brasil, teatrais foram convidadas para UDESC (Universidade do Es- pos de alunos de escolas públi- ripa Teatro, haverá o lançamento
selecionadas para apresentar fazer a abertura e encerramento tado de Santa Catarina), apre- cas previamente agendadas. do “Almanaque Off-Sina”. A
os espetáculos, ministrarão do festival: a Cia. Leões de Cir- sentou o projeto do evento para Já nas peças de conteúdo publicação reúne o pensamento,
30 ocinas gratuitas pelo se- co Pequenos, do Rio de Janeiro, os órgãos públicos do Estado e adulto, as entradas variam entre as ações e os projetos do Gru-
gundo ano consecutivo. No com “A Descoberta das Améri- do Município. “Tudo foi elabo- R$ 5 (inteira) e R$ 2,50 (meia) po Off-Sina em 21 anos de ati-
evento, que teve início dia 11 cas”; e a Companhia do Latão rado de forma despretensiosa, para estudantes e idosos aci- vidade teatral. O material inclui
e segue até dia 23 de agosto, em São Paulo, com a peça “Co- mas, já na primeira edição, foi ma de 60 anos. De acordo com a síntese e a concepção dos es-
cerca de 300 alunos terão a média do Trabalho”. um grande sucesso. Enviamos a organização do evento, essa petáculos produzidos pela trupe,
oportunidade de contemplar O evento conta com 13 os convites para as prefeituras ampliação da infraestrutura e da criada em 1987, além de ações e
vários pontos de interesse na peças para o público adulto, de várias cidades brasileiras e grade de programação, incluin- projetos, entre eles ocinas, me-
formação de atores, técnicos, seis para o infantil e 13 de rua logo recebemos várias inscri- do mais espetáculos gratuitos todologia e textos sobre teatro
produtores e diretores. e circo-teatro, procedentes dos ções. Naquela época, o sucesso em diferentes regiões da cidade, de rua e circo-teatro.
“Mais que contribuir para Estados de São Paulo (20), do foi tão grande – tanto de ins- faz parte da política da FCFFC O material, que será distribu-
o aperfeiçoamento dos pros- Rio de Janeiro (cinco), de San- critos quanto de público –, que (Fundação Cultural de Florianó- ído gratuitamente aos participan-
sionais da área, os participan- ta Catarina (dois), do Paraná a mídia chegou a batizar o fes- polis Franklin Cascaes) de inves- tes do festival, aborda a natureza
tes terão a oportunidade de (dois), de Goiás (um), de Minas tival como o maior evento de tir na democratização do acesso sensível do teatro, como arte que
desvendar aspectos, técnicas e Gerais (um) e do Rio Grande Santa Catarina, comparando o da população aos bens culturais. transita entre o lúdico, o poético e
processos de tarefas de grupos do Sul (um). Ao todo, 193 artis- Floripa Teatro com a Oktober- o político. Ainda durante o even-
que trabalham com diferentes tas participarão do evento, em fest, um grande evento conhe- VASTA PROGRAMAÇÃO to, a capital catarinense sediará o
linguagens”, explica Sulanger Florianópolis, e contribuirão cido nacionalmente”, conta a Durante os 13 dias do 16º 2º Encontro de Articuladores de
Bavaresco, coordenadora do para fazer a maior grade de pro- idealizadora do evento. Floripa Teatro, além dos es- Teatro de Rua da Região Sul, no
Floripa Teatro, acrescentan- gramação da história do festival. petáculos haverá uma agenda dia 19 de agosto. O evento tem
do que só o fato de as oci- Além de hospedagem e DEMOCRATIZAÇÃO paralela de eventos, com o- como objetivo o fortalecimento
nas serem ministradas pelos alimentação, todos os grupos DA CULTURA cinas gratuitas ministradas pe- das ações da RBTR (Rede Brasi-
próprios grupos já se consti- recebem ajuda de custo. Os Entre as novidades em 2009, los participantes, lançamento leira de Teatro de Rua) no Sul e
tui em um valioso momento que se apresentam pela primei- o festival ampliou o número de de revista, encontro de teatro a discussão de propostas a serem
de intercâmbio entre eles e as ra vez no festival recebem R$ espaços para a apresentação de rua e palestras, entre outras levadas ao encontro nacional da
pessoas que pertencem à área 2.000, enquanto os que estão dos espetáculos. Além dos tea- atividades. As diculdades e organização, que acontecerá em
teatral da cidade. pela segunda vez cam com tros, passam a integrar o evento avanços do teatro brasileiro e os novembro, no Acre.
18 16 a 31 de Agosto de 2009 Jornal de Teatro

Política Cultural

O teatro no Tribunal
Por Pablo Ribera de teatro não tem um histórico JT – Os advogados espe-

Fábio Moreira Salles / Casadaphoto


muito signicativo de litígios, cializados em cultura estão
Longe das salas de espe- até porque a formatação das preparados para atuarem
táculo, os diretores, produto- produções facilita um pouco em casos como esses?
res e atores podem encontrar a vida de todos. No teatro, o MB – O primeiro ponto
questões mais complexas que envolvimento de quem produz é que esta especialização não
a interpretação. Há diversos com o elenco, com o diretor e pode ser chamada de “cultura”.
processos e brigas judiciais com a captação dos recursos, Combato muito esta expressão
que acontecem por divergên- como a logística e as tournées, “produtor cultural”, “advoga-
cias entre os contratantes e os é mais direto e, portanto, cria do cultural”, “evento cultural”.
contratados. Problemas que uma pessoalidade que ainda Ela traz, em si, um viés muito
envolvem direitos autorais, permite uma razoável zona de especíco e sob certo aspecto
por exemplo, pedem a interfe- conforto. elitista. Os setores de entrete-
rência de advogados especiali- nimento, comunicação e lazer
zados no assunto. O advogado JT – Quais são os assun- podem ser geradores de ex-
Marcos Alberto Sant’Anna tos mais recorrentes? pressões que serão reconheci-
Bitelli é mestre e doutorando MB – Os que dizem res- das como “cultura” enquanto
em Direito pela PUC-SP (Pon- peito à regulação da relação do movimento, mas “cultura” não
tifícia Universidade Católica trabalho do artista de forma é uma coisa que se produz, mas
de São Paulo), coordenador e autônoma ou subordinada, os que se reconhece com o pas-
professor do curso de pós-gra- contratos com os talentos, a sar do tempo. Assim, o direito
duação “Comunicação e Direi- obtenção dos direitos de adap- relacionado à cultura é aquele
to” do IICS (Instituto Inter- tação das obras para peças te- que se liga à preservação dos
nacional de Ciências Sociais) atrais, quando obras derivadas, valores culturais já estabeleci-
e ministra cursos de especia- os ajustes com diretores, cenó- dos na sociedade brasileira e, aí
lização em Direito para en- grafos, gurinistas e criação de sim, pode-se falar em especia-
tretenimento, lazer e cultura. luz. O mais importante é que lização. O que venho tentando
Especialista no assunto, Bitelli existem também temas que nos últimos anos, através de
explica quais são e os motivos não sejam da porta para den- cursos e palestras, é trazer para
que acarretam em processo e tro do teatro, mas igualmente os prossionais dos diversos
qual a situação dos advogados relevantes, como os contratos setores relacionados ao entre-
nessa área. com os proprietários das casas tenimento e ao lazer um co-
de espetáculos, com as empre- nhecimento especíco de todas
Jornal de Teatro – Quais sas que vendem ingressos e as as incidências legais e práticas
os principais processos ju- brigas com a questão da meia- jurídicas de cada atividade, bem
diciais que acontecem na entrada absurdamente conce- como seu inter-relacionamento
área teatral? dida por várias leis e que cons- com as demais especialidades,
Marcos Bitelli – O direito piram para a sustentabilidade como direitos do consumidor,
do entretenimento é um seg- do teatro como negócio, como da infância e adolescência, con-
mento que cuida de todos os empreendimento. Além disso, tratos, direito de autor e re-
aspectos contratuais relaciona- surge sempre a complexa rela- gulação, tratadas pela Ancine,
dos ao negócio. Envolve, tam- ção com a indústria da música, Anatel e Ministério das Comu-
bém, a solução de litígios. As desde os direitos com compo- nicações, entre outros. Hoje há
principais disputas estão, via de sitores e gravadoras, até o tra- a necessidade de um conheci-
regra, relacionadas a direitos dicional embate com o Ecad na mento de convergência das
autorais, de imagem, de distri- cobrança dos direitos autorais mídias, inclusive as tradicionais
buição e de produção. O setor da comunicação pública. com as digitais. Marcos: “ Há a necessidade de um conhecimento de convergência das mídias”

Editais
Inscrições para Prêmio de Teatro Myriam Muniz
e Prêmio de Dança Klauss Vianna estão abertas MinC lança Programa de Promoção
da Cultura Brasileira no Exterior
Serão 86 projetos de teatro e 47 de dança viabilizados pela Funarte.
O Ministério da Cultura, através da Diretoria de Relações In-
Estão abertas as inscrições distribuídos por todas as regiões Centro do Rio de Janeiro. Os no- ternacionais, lança um novo programa de Promoção da Cultura
para a quarta edição do Prêmio brasileiras. Dessa forma, a Fu- mes dos prêmios homenageiam a Brasileira no Exterior para dar apoio a artistas com experiência no
de Teatro Myriam Muniz e para narte (Fundação Nacional de Ar- atriz Myriam Muniz (1931-2004), território nacional mas ainda desconhecidos no exterior. O objetivo
o Prêmio de Dança Klauss Vian- tes) dá continuidade à proposta que fez parte da geração precur- do projeto é fomentar e desenvolver atividades voltadas para o
na, que viabilizará a realização de descentralizar seus recursos. sora do Teatro de Arena; e o bai- processo de criação, produção e divulgação do produto cultural
brasileiro nas áreas de música, artes cênicas, artes visuais, artes
de 86 projetos da área teatral e O investimento total da ins- larino, coreógrafo, ator, diretor,
integradas e literatura. O Ministério da Cultura apoiará projetos
47 projetos de dança, voltados tituição no programa é de R$ 10 professor e crítico de teatro e que possam contribuir para a valorização da cultura do Brasil no
para montagem e circulação de milhões, sendo R$ 7 milhões para de dança Klauss Vianna (1928- exterior e aumentar o acesso da produção nacional no circuito
espetáculos ou outras atividades o teatro e R$ 3 milhões para dan- 1992), que criou um método pre- internacional.
especícas dos setores. Podem ça. Os candidatos devem enviar, cursor de preparação corporal O novo programa será disponibilizado no Siconv (Portal de
concorrer grupos e artistas inde- via correio, suas propostas de tra- para artistas cênicos. Convênios) do Governo Federal, no link Sistema de Gestão de
pendentes, inscrevendo-se como balho e documentação completa As inscrições gratuitas serão Convênios e Contrato de Repasses ou no programa de código
pessoa física. Os prêmios, que (disponível no site da fundação) encerradas no dia 3 de setembro. 4200020090078. O programa atenderá projetos mediante proces-
variam entre R$ 40 mil e R$ 150 para a Coordenação de Teatro da A cha de inscrição e o edital so seletivo. As inscrições vão até 11 de setembro.
mil para o teatro e R$ 30 mil à Funarte ou para a Coordenação completo podem ser acessados no
R$ 100 mil para a dança, estarão de Dança da instituição, ambas no site da Funarte, www.funarte.gov.br
Jornal de Teatro 16 a 31 de Agosto de 2009
19
Especial
Grupo Corpo abre com pé direito a
“Temporada de Dança” do Teatro Alfa, em São Paulo
Fotos: Divulgação

Por Michel Fernandes*,


especial para o Jornal
de Teatro
Com programação antena-
da com grandes e excelentes
produções do cenário da dança
contemporânea, a “Temporada
de Dança” do Teatro Alfa ocu-
pa privilegiado espaço no dese-
jo daqueles apaixonados pelas
artes do corpo. A promissora
programação deste ano – que
trará a Deborah Colker Cia. de
Dança, Tanztheater Wupperal,
Ballet Preljocaj e Quasar Cia. de
Dança, entre outros – estreou
com o pé direito ao apresen-
tar duas pérolas coreográcas
de Rodrigo Pederneiras para
o mineiro, de Belo Horizonte,
Grupo Corpo: “Bach”, criação
de 1996 e, segundo o próprio
Rodrigo Pederneiras, o “espe-
táculo, dentro do repertório da
companhia, que há mais tempo
não era apresentado em São
Paulo”, e “Ímã”, novo trabalho
do Corpo, com trilha original
do trio “+2”, formado por
Domenico Lancelotti, Kassin e
Moreno Veloso.
No ano em que perdemos
dois grandes nomes que re-
volucionaram a dança moder- Blanche Neige é um balé com linguagem contemporânea baseado em um conto de fadas. A música é de Mahler e o gurino de Jean Paul Gaultier
na e permaneceram criadores
relevantes para a dança con- tos – “a atração e a repulsão”, ça, que une artes plásticas à
temporânea, caso de Merce exemplicou o coreógrafo – e dança e que, segundo a própria
Cunningham e Pina Bausch, sua interdependência, buscan- Deborah, é conseqüência do
é graticante assistir “Ímã”, do desenvolver um estudo dos trabalho de investigação sobre
uma autêntica Ode ao prazer movimentos, sem a preocupa- movimento versus espaço, é a
de dançar, numa exposição do ção objetiva de buscar estados próxima atração.
jeito moleque e traquinas do de espírito. O novo trabalho No nal de setembro, a
brasileiro, do nosso despudor do Grupo Corpo começa com Tanztheater Wuppertal, de
corporal que nos possibilita a uma certa retomada da hori- Pina Bausch, trará dois espe-
exploração dos mais diversos zontalidade e escuridão de seu táculos que estão em seu re-
movimentos. trabalho anterior – “Breu”, de pertório desde os anos 1970,
Domenico Lancelloti ar- 2007, com trilha de Lenine – “Café Müller” (1978) e “A Sa-
mou a importância das “várias para alcançar a o oposição to- gração da Primavera” (1975),
texturas” musicais na composi- tal à mesma com movimentos programa apresentado em
ção de uma trilha para um balé leves, em desenvoltura tão im- 1980 em São Paulo e no Rio de
que, diferente das composições pressionante que camos na Janeiro. Apesar – e com enor-
que fazem para serem cantadas, dúvida de que os bailarinos te- me pesar de minha parte e de
“as imagens criadas pelos movi- nham ossos. Parece que exis- tantos apaixonados pela dança-
mentos fazem as vezes do can- tem, apenas, as musculaturas, teatro – da morte inesperada-
tor”. E o “+2” consegue uma bastante exíveis e expressi- mente repentina, a companhia
riqueza musical impressionan- vas. “Um trabalho é o oposto conrmou sua vinda. Pina
te. “O estúdio do Kassin, onde do outro. ‘Breu’ é mais pesado, provavelmente interpretaria a
gravamos a trilha, nos possibili- ‘Ímã’ é bastante pra cima. São Sonâmbula, sua personagem
tou a experimentação de instru- coreograas com concepções de “Café Müller”. Será substi-
mentos diversos, do mais étnico bem diferentes, portanto exi- tuída, mas a trupe promete re-
como o balafone ao violoncelo, gem técnicas muito especícas alizar uma homenagem à altura
porque o Kassin sempre traz no fazer”, contou Rodrigo. de Pina Bausch.
novos instrumentos de suas A cenograa de Paulo Pe- Para saber datas e mais in-
Todas as coreograas são baseadas nas ideias de atração e repulsão
viagens pelo mundo”, contou o derneiras, complementada formações sobre a “Tempo-
músico Moreno Veloso. pelas nuances da transforma- rada de Dança” 2009 acesse
“Ímã” é, também, um traba- ção da iluminação que utiliza sa Zechmeister que ora revelam VEM AÍ www.teatroalfa.com.br.
lho “mais próximo às técnicas a tecnologia inédita dos LEDS os corpos, ora se sobrepõem às “Ímã” é tão-somente a
obtidas em aulas”, arma Ro- a permitir fusões inimagináveis peles, se encaixam perfeitamen- primeira das exuberantes pas- *Michel Fernandes é jor-
drigo Pederneiras que utilizou de cores – iluminação, também, te à ideia de oposição e infor- sagens pelo palco do Teatro nalista cultural, crítico, pes-
como propulsão para a coreo- assinada por Paulo –, e os gu- malidade que pontuam os 40 Alfa, “4X4”, coreograa da quisador de teatro e editor do
graa as ideias dos polos opos- rinos leves e coloridos de Freu- minutos da coreograa. Deborah Colker Cia. de Dan- www.aplausobrasil.com.br
20 16 a 31 de Agosto de 2009 Jornal de Teatro

Opinião

Pensamentos insignificantes sobre ter um amante


Gerson Steves
www.gersonsteves.com.br

1. Outro dia jantei com amigos e começamos a falar de teatro. Perguntavam se vi tal peça, o 4. Outro dia, falei da Myriam Muniz e contei uma história sobre ela. A Myriam foi diretora, atriz
que penso de certo ator ou autor. Mais: o que achei de trabalhar com este ou aquele diretor. Já e empreendedora. Foi, sobretudo, foi uma grande mestra. Fala-se pouco dela. Foi homenageada
que me conhecem bem, os amigos de mesa e copo sabem de cara que podem esperar pela tão em uma obscura sala de espetáculos do Teatro Ruth Escobar, deu (ou dá) nome a um prêmio de
decantada sinceridade rude ou a honestidade cruel que, por vezes, me são peculiares. Sarcástica, incentivo, mas acho que não é citada em sala de aula. Aliás, penso que são poucos os nomes do
irônica ou avassaladora. Não importa o adjetivo que dêem a ela, minha opinião pertence exclusi- nosso teatro que são mencionados em sala de aula. Em boa parte delas, não se ensina história
vamente a mim, embora pareça interessar a uns e outros. Como se o que eu acho fizesse alguma do teatro ou estética e linguagem teatral; não se menciona seus pensadores; sequer são lidos
diferença àqueles que ainda se dedicam a pensar ou tentar entender o teatro que se faz em São textos de teatro.
Paulo de uns tempos para cá.
5. Da última vez em que trabalhei em uma escola, ouvi frases como: “Você pede para eles
2. O papo começou com o livro do Caetano, “Verdade Tropical”, e sobre o que ele diz de figurinhas lerem demais! Uma peça por semana! Assim eles vão embora!” Ou ainda: “Dirijam peças com
carimbadas do teatro brasileiro. Entre elas Vianinha e Zé Celso. A inquietação artística de ambos, no máximo uma hora de duração. Os convidados reclamam quando as peças são longas... por
a qualidade dramatúrgica do primeiro, a genialidade do segundo. E foi uma longa conversa. Lem- que insistem em Shakespeare e Nelson Rodrigues... seria melhor se adaptassem umas crônicas
bramos da montagem antológica de “Rasga Coração”, com Raul Cortez. Contei da minha emoção engraçadas.” E ainda por cima tem que ser comédia!
assistindo “Mistérios Gozosos” em pleno pátio do Colégio, em um remoto carnaval, ou um “Ham- Na maioria das atuais escolas, o importante é profissionalizar rapidinho o aspirante ao título
let” furioso de oito horas de duração, ambos sob a direção do Zé. Revivi os momentos em que dirigi de ator para que ele, também muito rapidinho, possa fazer um teste na Globo. E, em consequ-
“Mão na Luva”, do Vianinha, em duas montagens estudantis, ao mesmo tempo que recordava a ência, parar de fazer teatro bem rapidinho. Claro que para tudo há raras e honrosas exceções de
montagem histórica com Marco Nanini e Juliana Carneiro da Cunha. todos os lados – escolas, alunos e professores.

3. Reclamei do teatro. Ando queixoso dele. Passei a encará-lo como um amante fútil. Ele deseja Para acabar, voltemos à Myriam. Aprendi com ela que o teatro é, antes de tudo, uma grande
a sua juventude e o despreza quando ela se vai; ao invés de sustentar, alimenta sua vaidade com brincadeira, uma diversão que precisa ser levada a sério. Como qualquer amante. Gostoso,
migalhas de realização e sucesso. Por isso mesmo, atualmente é quase impossível manter com sedutor, criativo. E que dá uma trabalheira para gente conservar na nossa vida!
ele uma união estável. Como em qualquer relação com um amante tão sedutor, desprendem-se *Gerson Steves tem 25 anos de atividades teatrais
as lágrimas pelos rompimentos e reencontros sucessivos; o suor pela dedicação diária; o esforço na cidade de São Paulo, tendo atuado como diretor, dramaturgo,
de matar um leão por dia. ator, produtor e professor. Portanto, é um amante constante do teatro.

São Paulo
Polícia procura irregularidades em bares da classe artística
Por Rodrigoh Bueno Hugo Possolo, do Espaço disse.
Tuca Notarnicola

Parlapatões, os policiais ana- Um dos mais afetados


Com o início da Lei Anti- lisaram as leis do Psiu e Anti- pela fiscalização foi a festa
Fumo em locais fechados, Fumo, além de terem confe- Gambiarra, parceira do Jor-
que entrou em vigor dia 7 de rido a documentação de cada nal de Teatro. Segundo os
agosto, a fiscalização apro- estabelecimento. “Apesar de organizadores, houve trucu-
veitou para procurar irregu- não terem encontrado nada lência por parte dos fiscais, o
laridades em determinados de errado aqui, alguns bares que fica evidenciado no co-
bares. Entre os primeiro es- da Roosevelt foram punidos. municado enviado pela pro-
colhidos estiveram alguns A impressão que dava era de dução da festa à imprensa e
freqüentados pela classe ar- que estavam realmente pro- que publicamos abaixo na
curando irregularidades”, íntegra. A Polícia escolheu locais frequentados pela classe artística
tística na cidade. Segundo

GAMBIARRA INFORMA SOBRE OS FATOS OCORRIDOS NA NOITE DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2009:


A Gambiarra caiu na boca e passa as pistas é muito pequeno), Terminada a contagem exigi- ando todas as saídas, os policiais, nenhum momento se identifi-
no coração do povo. E, infeliz- ao Cidade Limpa (todos os banners da pelo fiscal e totalizadas qua- inconseqüentemente, abriram uma caram como fiscais da nova lei.
mente, nos olhos de ganância têm metragem muito menor do se 1.400 pessoas (o que estaria das portas da festa, sem autori- Independente do acontecido,
de invejosos. Por volta das 2h que o máximo permitido) e agora à dentro da normalidade, caso ele zação e controle dos proprietá- a Gambiarra continuará alegran-
da manhã, cerca de 10 viaturas Lei Anti-Fumo (no final de semana considerasse o alvará das três rios, permitindo a saída de várias do nossos domingos e desaban-
da Guarda Civil Metropolitana, anterior à entrada em vigor da lei casas utilizadas conjuntamente), pessoas ao mesmo tempo sem o do água, pra lavar o que tem que
lideradas por dois fiscais da o cigarro já foi proibido na casa e os fiscais da prefeitura deram a pagamento da comanda, causando limpar.
Subprefeitura da Sé, que não foi criada uma alternativa para as primeira e única satisfação para tumulto, gritaria e prejuízo à casa. “Nós lamentamos o fato
portavam identificação, cerca- pessoas entrarem e saírem da fes- os donos da festa: “Vocês não po- Com a casa já vazia, os fiscais ocorrido e pedimos a todos os
ram as três entradas da festa, ta para fumar). Além disso, a casa, dem juntar três casas diferentes abandonaram o local sem efetivar amigos e freqüentadores pre-
armados, e sem portar nenhum que conta com três pistas distin- numa só festa. Nós só aceitamos uma notificação do ocorrido – sentes na noite de ontem que
mandato ou coisa parecida tas, tem alvará de funcionamento um dos seus alvarás, com capa- ação esta que deve vir antes da entendam nossos esforços no
bloquearam todas as portas para cada uma delas. cidade para 510 pessoas. Vocês multa e muito antes de uma ex- sentido de adequar sempre a
da casa contra a vontade dos Dentro da casa, o dj da Pista precisam de um alvará coletivo pulsão arbitrária e ditatorial. festa às leis e ao conforto de
organizadores da festa. “Nin- 1 tentou resistir tocando algumas para as três casas”. Informação Alertamos a imprensa que tal nosso público”.
guém mais entra nem sai da músicas da época da Ditadura, já esta nunca notificada anterior- fiscalização não teve relação dire-
casa”, disse o policial a um dos com um volume bem baixo, emba- mente pela própria Prefeitura. ta com a Lei Anti-Fumo, conforme
organizadores. lado por um coro dos próprios fre- Neste momento, os presentes publicado em alguns veículos. Não
A Gambiarra obedece ao qüentadores, mas logo teve que à festa se encaminharam para os havia nenhuma pessoa fumando Grande abraço,
Psiu (o nível de som que ultra- ceder por ameaça policial. caixas. Não bastando, e bloque- dentro da festa e os agentes em Produção Gambiarra – A Festa
Jornal de Teatro 16 a 31 de Agosto de 2009
21
Vida & Obra

Peter Weiss:
Fotos: Carlo Bavagnoli

um documento para a eternidade


Por Daniel Pinton da intolerância. “Dentre os inú- HHFRQ{PLFR´'LVFXUVRVREUH
meros textos contemporâneos os Preâmbulos e o Desenvolvi-
“Uma agulha hipodérmica que abordam a tragédia humana mento da Interminável Guerra
mergulhada diretamente na veia ocorrida em decorrência da in- da Libertação Armada contra
emocional do espectador. Hip- tolerância, “O Interrogatório”, a Opressão e as Tentativas dos
notiza o olhar e fere a orelha. SDUDPLPpRPDLVVLJQLÀFDWLYR Estados Unidos da América de
'HVÀDRVQHUYRVGLVVHFDDSVL- e corajoso. Criou uma peça con- destruir os Alicerces da Revo-
que”. Foi assim que, certa vez, tundente sobre a opressão e o lução”, em 1968, sobre o papel
D UHYLVWD ´7LPHµ FODVVLÀFRX D direito à liberdade”, diz. GRV(VWDGRV8QLGRVQR9LHWQm
obra de Peter Weiss. E não hou- Como um seguidor intelec- “Como se ensinou o Senhor
ve excessos. O pintor, diretor tual de Bertold Brecht, Weiss Mockingpott a deixar de so-
de cinema e dramaturgo mar- buscou em seus trabalhos mos- frer”, também em 1968, que
cou por abordar com densidade trar os diversos lados de um conta a história de um mora-
eventos trágicos da história sem ideal e dos personagens. Pro- GRUGHUXDGHWLGRSHODSROtFLD
fazer deles um manifesto, mas, curou narrar os fatos tal como “Trotsky no Exílio”, em 1969,
sim, um documento artístico. eles ocorreram. Daí, a necessi- sobre o processo revolucioná-
Foi dessa forma também que o dade da presença do autor nos ULRGD5HYROXomR5XVVD´+|O-
alemão nascido em Berlim, em locais onde os eventos ocorre- derling”, em 1971, sobre um
1916, estreou na literatura com ram e da maior ligação íntima hipotético confronto do poeta
o microrromance “A Sombra do possível com os atores reais da HURPDQFLVWD)ULHGULFK+|OGHU-
Corpo do Cocheiro”, em 1960, e história. “Em cada testemu- lin com Friedrich Hegel, Frie-
deu alma a relativamente poucas nho, ao vê-los ou ouvi-los, você drich Schelling, Johann Fichte,
– porém marcantes – peças que pode sentir e emocionar-se re- Johann Von Goethe e Friedri-
escreveu durante a sua vida, com ÁHWLGDPHQWH VREUH DV RSo}HV FK 6FKLOOHU H ´(VWpWLFD GD 5H-
destaque para “Perseguição e As- que podemos assumir quando sistência”, em 1975, sobre um
sassinato de Jean-Paul Marat, re- nos calamos diante da injusti- grupo de trabalhadores de Ber-
presentado pelo Grupo Cênico ça, por exemplo. Essas eram as lim politicamente motivado,
do Hospício de Charenton sob TXHVW}HVSULQFLSDLVSDUD%UHFKW ansioso de conhecimento, em
a direção do Marquês de Sade”, e Peter Weiss”, avalia Eugênia. 1937. Nesta peça, Weiss levou
mais conhecida como “Marat/ o experimentalismo às últimas
Sade”, e para “O Interrogatório, MARAT/SADE consequências e demonstrou
Oratório em 11 Cantos”. Nes- MARCA ÉPOCA GH PDQHLUD GHÀQLWLYD DV FRQ-
ta última, o autor foi além: não Foi “Marat/Sade”, ime- YHQo}HV HVWUXWXUDLV H IRUPDLV
apenas estudou o assunto, mas diatamente reconhecida pelos do romance.
acompanhou o processo que críticos como uma das obras Além da fama internacio-
julgou os criminosos de guerra mais importantes do teatro nal, o reconhecimento à obra
Peter Weiss de Auschwitz, além de visitar o moderno, que, em 1964, deu a de Peter Weiss veio, também,
em seu escritório, campo de concentração nazista Peter Weiss fama e reconheci- através de prêmios. Foram
em 1966 com os membros do tribunal. mento internacionais. A peça, eles o Charles-Veillon Prize,
Não à toa, Weiss foi considerado encenada no Schiller Theater, HP  R /HVVLQJ 3UL]H HP
o novo Brecht. em Berlim, foi extraordinaria-  R +HLQULFK 0DQQ 3UL]H
“A característica essencial mente aclamada pela imprensa. HP  R &DUO $OEHUW $Q-

Obras
dos textos de Peter Weiss, tanto A trama, dividida por Weiss em GHUVRQ3UL]HHPR7KR-
‘Marat/Sade’ quanto ‘O Inter- três esferas temporais, se passa PDV 'HKOHU 3UL]H HP  R
rogatório’, como eu os leio, é em 1808, em um manicômio Cologne Literature Prize, em
aquela própria de um drama- de Charenton, ao sudeste de  H R %FKQHU 3UL]H R
turgo talentoso que, ao abordar Paris (França), onde o Mar- Bremen Literature Prize, o De
um tema dramático, trágico, não TXrVGH6DGHFRPS}HHSURGX] Nios Prize e o Swedish Theatre
1975 - “Estética da Resistência” faz dele um manifesto, uma es- uma peça sobre o assassinato Critics Prize, todos em 1982.
SpFLH GH SDQÁHWR SROtWLFR PDV de Marat, ocorrido em 1793, e A partir de 1970, a produti-
1971 - “Hölderling” apropria-se da historia e da for- WUDWDGRFRQÁLWRLQGLYLGXDOLGD- vidade do autor diminuiu por
1969 - “Trotsky no Exílio” ma poética, já que é arte, e toca de x necessidade de revolução. conta de um ataque cardíaco até
o coração do homem para que 1DSULPHLUDYHUVmR:HLVVÀQD- praticamente parar, em 1973. Pe-
1968 ele não se desumanize”, expli- lizou a peça com um impasse, ter Weiss morreu em Estocolmo
“Como se ensinou o Senhor Mockingpott a dei- ca a diretora Eugênia Thereza mas, posteriormente, sua verve (Suécia), em 1982, aos 65 anos.
xar de sofrer” de Andrade que, por sinal, foi inundada pelo contra-senso fa- 1DGD VLJQLÀFDWLYR R EDVWDQ-
a responsável pela escolha de lou mais alto e o autor concluiu te para apagar aquilo que ele já
“Discurso sobre os Preâmbulos e o Desenvol- “O Interrogatório” para o pro- em favor da revolução. havia deixado para a posterida-
vimento da Interminável Guerra da Libertação de. “O mais marcante em Peter
jeto 7 Autores, 7 Diretores, 7 Após sucesso retumbante, o
Armada contra a Opressão e as Tentativas dos
Encontros – Intolerância, que escritor alemão ainda escreveu Weiss é sua capacidade de nos
Estados Unidos da América de destruir os Ali-
cerces da Revolução” ela coordena no Sesc Consola- para o teatro o musical político mostrar os fatos. Muitos dizem
ção, em São Paulo. A proposta “A Balada do Fantoche Lusita- que seu teatro era documental e
1967 - “A Balada do Fantoche Lusitano” é apresentar sete obras de di- no”, em 1967, que tratou das os documentos são eternos”, re-
ferentes autores sob a temática formas de colonialismo racial sume o produtor André Moretti.
1965 - “O Interrogatório, Oratório em 11 Cantos”
1964 - “Perseguição e Assassinato de Jean-Paul Marat
representado pelo Grupo Teatral do Hospício de Charenton
sob a Direção do Marquês de Sade”

1963 - “A Conversação dos Três Caminhantes”

1962 - “Ponto e Fuga”


1961 - “Adeus aos Pais” Weiss e sua mulher, Ginella
Palmistierna, examinam
1960 - “A Sombra do Corpo do Cocheiro” maquete de espetáculo
22 16 a 31 de Agosto de 2009 Jornal de Teatro

História
Molière, as pancadas e as histórias do teatro
Por Adoniran Peres de toda a Europa. Após o surgimento muito respeitado por Luiz XIV”, destaca.

Reprodução
dos teatros com iluminação elétrica, O professor da PUC-SP explica ain-
Dez minutos antes de começar o es- os momentos anteriores ao espetáculo da que, contrariando as formalidades
petáculo toca o primeiro sinal. Cinco mi- eram marcados com uma campainha das formas criadas por Aristóteles na
nutos depois, toca o segundo. Quando (sinais para as pessoas seguirem para execução de uma peça, Molière trouxe
toca o terceiro, aí, sim, as luzes se apa- os camarotes e frisas) e com o escureci- novas características para as encenações,
gam, abrem-se as cortinas e o silêncio, mento da sala. Pablo Moreira acrescenta na qual não se respeitava o tempo nem
assim sugerido, dá espaço à viagem, na que, naquela época, era comum fazer a estrutura de uma peça. Ele fazia co-
qual tudo é possível: o público mostra- as refeições nos teatros. “Além de ser o médias para o povo e retratava o povo
se visivelmente preparado para embar- ponto de encontro da população, o que com temas da vida cotidiana, em que os
car, a história é contada, a mensagem é causava uma grande bagunça”, diz. contrários se confrontam.
lançada e os artistas, consequentemen- “Parecia que tinha um pé onde es-
te, já estão concentrados para encarnar PANCADAS tavam os menos favorecidos nancei-
os personagens. Por mais estranho que Hoje, na maioria dos textos sobre te- ramente, que é da onde veio, e outro
possa parecer, tudo tem uma origem e atro disponíveis em sites e blogs na inter- na aristocracia. Molière sabia lidar com
esses sinais têm uma história. net, é possível se constatar que a palavra essas questões e ainda conseguia ser res-
No teatro vicentino, os sinais eram campainha é trocada pela antiga “Panca- peitado. Ele inventou de forma inteli-
manifestados através de gritos. Já no das de Molière”. Um grupo de teatro cha- gente uma nova maneira de fazer teatro
século XVII, na França, criado por mava a atenção pelo nome – As Pancadas e conseguia fazer isso contrariando o
Molière, foi batizado de “as pancadas”. de Molière não dói (sic), uma mistura do poder, sem ser censurado”.
Naquela época, a plateia francesa era funk carioca “Um Tapinha não Dói” – Segundo Moreira, Molière usava
barulhenta e agitada, as peças tinham com as históricas pancadas. Atualmente, muito da improvisação, elaborava cenas
uma cena inicial para acalmar o público o grupo usa o nome Pancadas. Segundo de aproximação dos artistas com a pla-
e impor o silêncio. Com o mesmo obje- Moreira, a palavra, quando trocada, pode teia, permitia uma fala mais coloquial,
tivo, Molière criou as suas três pancadas, ser usada e soar como ironia, dependen- fazia uma comunicação crítica com
usadas até hoje para avisar à plateia que do do tom e da circunstância que o autor brincadeiras, contextualizando as ques-
o espetáculo vai começar. utiliza. “No próprio espetáculo, hoje po- tões sociais e, às vezes, até criticava os
Segundo Pablo Moreira, coordena- demos interpretar as campainhas como próprios atores durante a peça. Além de
dor do curso de artes cênicas da PUC-SP uma metáfora. O barulho da campainha tudo isso, ele ainda inovou, ao colocar
(Pontifícia Universidade Católica de São ainda faz a aproximação entre os artistas mulheres para encenar, algo que até en- Molière pintado por Pierre Mignard
Paulo), o número das pancadas de Moliè- e a plateia. Quer dizer: atenção! Pode ser tão não acontecia”, naliza.
re eram várias e não existia uma forma- entendida como uma maneira de que é a
lidade na quantidade, como hoje, com as hora abrir a cabeça para o início da apre-
campainhas. “Primeiro ele tentava acal- sentação ou qualquer questão que possa
mar o público com várias pancadas com
as batutas ou um pedaço de madeira no
chão. Depois, quando a plateia já estava
imaginar”, explica Moreira.

MOLIÈRE E O TEATRO
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calma, vinham as três pancadas em uma NA FRANÇA
mesma sequência”, revela. O primeiro teatro público francês
Segundo Edélcio Mostaço, professor surgiu em 1548, mas apenas no século
de História da Arte, da Udesc (Universi- XVII surgiram os mais célebres autores
dade do Estado de Santa Catarina), en- franceses dos tempos modernos: Cor-
tre as pancadas e o sinal há uma longa neille e Racine, que escreveram tragédias,
evolução da prática no teatro. Todavia, e Molière, que foi o criador de adoráveis
o objetivo é o mesmo: avisar que a peça comédias. Molière, com as pancadas, es-
irá começar. “Se alguém vai ao banhei- creveu uma parte da história do teatro,
ro ou comprar balas, por exemplo, sabe mas o capítulo mais importante de sua
que tem um tempo determinado para biograa cou por conta da Comédie
voltar. Considere que esses sinais surgi- Française, primeira companhia pública
ram em uma época na qual os teatros ocial de teatro do mundo, fundada por
eram imensos e antigos, a plateia cava ele, em 1680, e abençoada – ou patroci-
circulando pelos corredores antes do nada – por Luiz XIV, no século XVII.
início da peça e ir de um lugar a outro “Essa sede está em funcionamento até
era longe. Por outro lado, os espetáculos hoje, ao lado do Palácio Real. As peças
reuniam dezenas de artistas, que cavam dos grandes autores franceses, como de
dispersos nos camarins. Os sinais eram Corneille, Racine e Molière ainda são
operados pelo contrarregra, como con- encenadas”, explica o professor da PUC-
venção para a reunião geral de artistas SP. Entre as obras de Molière estão “As
(no palco) e público (sentados na pla- Preciosas Ridículas”, representada em
teia) para abrir o pano”, explica Edélcio. 1659, “O Burguês Fidalgo”, de 1670, e
O professor da Udesc acrescenta, “O doente Imaginário”, de 1673.
ainda, que as famosas “pancadas de
Molière” surgiram em função das espe- DO POVO
cicidades do fazer teatral no período. Segundo Moreira, Molière escreveu
As apresentações eram realizadas no Pa- uma nova forma de fazer teatro e, mes-
lácio de Versalhes, residência do rei Luiz mo criando temas dentro da peça que
XIV e sua corte, em um ambiente no contrariavam o governo da majestade da
qual não havia divisão rígida entre pal- França, ainda assim conseguiu o respei-
co e plateia. Era apenas um amplo salão to de Luiz XIV. “Molière era um grande
do palácio, não uma sala de espetáculos. autor de comédia popular. Além de levar
Como a corte era ruidosa e não havia as suas peças para a população, se apre-
iluminação elétrica naquela época, o sentava também com exclusividade para
modo encontrado de marcar o início do
espetáculo foi através de ruídos – pan-
o rei em seu palácio. Quando a peça era
apresentada aberta para população, Luís
Todo o universo do teatro em um só jornal
cadas no chão – para fazer silêncio. XIV chegava a subir até ao palco para
Segundo o professor da Udesc, esse participar. “Ele fazia também duras crí-
hábito se disseminou nas demais cortes ticas à aristocracia e, mesmo assim, era
Jornal de Teatro 16 a 31 de Agosto de 2009
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Internacional
Uma breve nostalgia parece ter tomado conta de nossos colunistas internacionais. Seria a saudade do Brasil? Direto
de Los Angeles, Luciana Chama resgata um momento de paixão intensa com o teatro, um encontro que aconteceu
quando viu o espetáculo “Rent”, no Brasil. A experiência de já ter sido fã pode se transformar em negócio. Saiba como!
Já Adriano Fanti aumenta o volume da cena londrina com brilhantina e muito rock´n roll. Em suas memórias
estão os espetáculos que já abordaram o tema, com destaque para as coreografias, figurinos e todo o visual
que marca os espetáculos. Let´s go!

The fan experience Brilhantina,


americana os investimentos estão to-
dos voltados para o “fan experience”. Hairspray e
O artista convida os fãs a viverem a
fantasia de fazer parte do seu mun-
do, empenhando-se em proporcionar
muito Rock’n’Roll
experiências de vida. No último show
do Coldplay em Los Angeles, por Adriano Fanti ght Sweetheart.
Luciana Chama exemplo, os integrantes da banda, Londres Segundo minhas pesquisas e opini-
Los Angeles
literalmente, pularam do palco, atra- ões de conhecidos que também já foram
vessaram todo o estádio pelo meio da conferir, a plateia claramente adorou a
multidão e tocaram quatro musicas receita de números de clássicos do rock,
junto aos fãs que não puderam pagar que misturaram de forma homogênea
Sempre soube que as artes cênicas muito caro pelos ingressos. Assim como no Brasil, desde “Gre- com o enredo leve no qual Laura, uma
teriam papel ativo na minha vida de Em linguagem teatral, como ase, o Musical” (2003/04), e agora a es- brilhante compositora, mas meio “nerd”
uma forma ou de outra. Minhas ten- trazer para a realidade do teatro os treia de “Hairspray”, no Rio de Janeiro no departamento visual, nalmente
tativas como atriz nunca alçaram voo benefícios do avanço da tecnologia (com a talentosíssima Simone Gutier- consegue o homem dela. Hum, soa fa-
e eu acabei por me matricular em uma traduzidos em número de vendas de rez como Tracy Turnblad e super elen- miliar? O elenco é fantástico. Muitos dos
faculdade de Direito. Mas foi enquan- ingressos? Começando por facilitar co), o West End tem respirado muito atores, assim como em “Dorian Gray”
to eu aplaudia de pé, emocionada, ao a compra e o acesso com um servi- hairspray. “Grease” (que teve sua pri- (mencionado em minha última coluna),
elenco de “Rent”, no Brasil, que voltei ço rápido, cômodo e mais em conta, meira montagem Londrina em 1973) também tocam instrumentos ao longo
a encarar o dilema. A música, aquela além de agregar valor e qualidade volta ao West End após turnê (da qual do espetáculo. A energia transmitida por
energia e entrega do elenco causaram à experiência. Envolver o público z parte por seis meses, em 2005) e, eles é altamente contagiante e o único
um impacto muito grande em mim. não apenas como mero espectador, com muito “ramalamalama”, no Pica- pequeno desapontamento é a falta de
Foi amor a primeira vista. Logo com- mas, sim, como parte da brincadeira. dilly Theatre, ao lado da estação de me- coreograas de impacto.
prei o CD da trilha original e decorei Fazer o fã se sentir especial e parte trô de mesmo nome. Desta vez, tendo “Feel-good musicals” (nome dado a
todas as canções: cantava-as, no carro, integrante de uma aventura especial. como Zanny Zuko, o ex-candidato do musicais sem muito conteúdo que, no
como se o mundo fosse acabar ama- Adorei a ideia da equipe do mu- X Factor, Ray Quinn (blah!!) entanto, animam a plateia), por serem
nhã. Descobri, ainda, o site do espe- sical “Wicked”, que criou o Behind “Hairspray”, após uma temporada altamente comerciais junto ao público
táculo, com detalhes do elenco, da the Emerald Curtain, um exclusivo de muito sucesso, tendo em destaque leigo, encontram domínio no setor te-
produção e mensagens dos próprios passeio pelas coxias do teatro, con- Michael Ball (Guildford School of atral do West End também. Apesar de
atores para os fãs – foi a glória! O duzido pelos próprios atores do es- Acting) como Edna Turnblad, tem o melhor apreciar os musicas de maior
que eu mais queria na vida era uma petáculo. O evento proporciona aos elenco principal renovado com a adi- conteúdo, reconheço a importância dos
camiseta daquele espetáculo – qual- participantes conhecer os detalhes ção de Brian Conley como Edna, Liam “feel-good musicals” pois, para mim, a
quer coisa que me zesse sentir parte e as complexidades que envolvem Tamme como Link e minha amiga de beleza do teatro está em o espectador
daquele mundo incrível. “Rent”, lite- uma produção teatral, desvendando faculdade, Chloe Hart, como a irreve- deixar o teatro tocado de alguma for-
ralmente, mudou minha vida. A von- o processo criativo de um show da rente Tracy Turnblad. A camada de ma. Seja moralmente, politicamente ou
tade de fazer parte do mundo daquele Broadway desde o seu nascimento ozônio não para de sofrer por aí com porque, durante aqueles minutos, ele (a)
espetáculo fez renascer o desejo de à estreia. Há espaço, também, para tanto laquê: o smash hit “Shout”, que esqueceu dos pesares da vida e se rea-
viver da arte e me fez buscar minha perguntas e respostas, além da chan- homenageia hits de Os Beatles e ou- basteceu de energia boa. Por que não?
verdadeira vocação. ce de adquirir merchandising único, tros ícones dos anos 1960 – Rolling Contanto, porém, que musicais de en-
Nada substitui a emoção da expe- vendido apenas no espaço da tour. Stones, Beach Boys, Righteous Bro- redos enfáticos coexistam!! Hehe.
riência do fã. Não existe arte sem o O importante é a qualidade das ini- thers, Chubby Checker, Dusty Sprin-
Salena Semmers

seu fascínio, dedicação e dinheiro. A ciativas. Mesmo quando a publicida- geld, The Drifters, Sonny and Cher,
internet e o avanço da tecnologia tem de é negativa, o fã dedicado nunca The Supremes, Roy Orbison, Everly
elevado a experiência do fã a níveis pula do barco. Amor de fã, esse sim Brothers, The Monkees, Neil Sedaka e
sem limites. No mercado da música dura para sempre. outros – acaba de ter uma temporada
de sucesso no West End.
Bill Sellat

Além de “Shout”, um musical juke-


box (musicais de canções preexistentes
com enredo de pano de fundo, opção fá-
cil no momento), “Dreamboats and Pet-
titcoats” é a mais nova estreia no gênero
dos anos 1960. Trata-se de um musical
inspirado no álbum (de coletâneas da dé-
cada) que, aparentemente, foi o de maior
venda no ano passado. O enredo, apesar
do previsível mocinho conhece moci-
nha, é localizado em Essex, na Inglater-
ra, ao invés da até então, sempre presente
nestes musicais América dos anos 1960 e
possui também um script sólido dos vete-
ranos de TV Lawrence Marks e Maurice
Gran, cujos créditos incluem Birds of a
“ Rent “ marcou época com sua energia ea sua música contagiantes Feather, The New Statesman e Goodni- “Grease” volta ao West End, em Londres
24 16 a 31 de Agosto de 2009 Jornal de Teatro

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