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Da Tutela, da curatela e da ausência

Capítulo II
Da Curatela
Seção II
Dos Pródigos
Art. 459 - A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, de emprestar,
transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar,
em geral, atos que não sejam de mera administração. - Art. 1.782, Exercício da
Curatela - Curatela - Tutela e Curatela - Direito de Família - Código Civil - CC -
L-010.406-2002
obs.dji: Art. 8º, CPC; Art. 446, III; Art. 1.185, CPC; Nulidade da Doação

Art. 460 - O pródigo só incorrerá em interdição, havendo cônjuge, ou tendo


ascendentes ou descendentes legítimos, que a promovam.
obs.dji: Art. 461, Art. 461, parágrafo único; Art. 1.185, CPC

Art. 461 - Levantar-se-á a interdição, cessando a incapacidade, que a determinou,


ou não existindo mais os parentes designados no artigo anterior.
obs.dji: Art. 446, III; Art. 1.184, CPC; Art. 1.185, CPC
Parágrafo único - Só o mesmo pródigo e as pessoas designadas no Art. 460 poderão
argüir a nulidade dos atos do interdito durante a interdição.
< anterior 0459 a 0461 posterior >
Código Civil Antigo - L-003.071-1916
(Revogado pelo Código Civil - L-010.406-2002)

A palavra curatela, provém de "Cura", mais o sufixo do verbo curare, que significa
cuidar, olhar, velar. O Dicionário Jurídico fala de curadoria. A pessoa que é
submetida à curatela é conhecida como Curatelada ou Interdita.
Conceito de curatela na visão de diversos doutrinadores:
Segundo Pontes de Miranda: "curatela ou Curadoria é o cargo conferido por lei a
alguém, para reger a pessoa e os bens, ou somente os bens, de pessoas menores
ou maiores, que por si não podem fazer, devido a perturbações mentais, surdo-
mudez, prodigalidade, ausência, ou por ainda não terem nascido";
Maria Helena Diniz a curatela é definida como "o encargo público, cometido, por lei,
a alguém para reger é defender a pessoa e administrar os bens de maiores, que for
se sós, não estão em condições de fazê-lo, em razão de enfermidade ou deficiência
mental";
Segundo o doutor professor, Clóvis Belviláqua é adotado o conceito
de curatela como "o encargo público, conferido, por lei, a alguém, para dirigir a
pessoa e administrar os bens de maiores, que por si não possam fazê-lo";
Na visão do Professor Damásio de Jesus curatela é definida como "um encargo
deferido judicialmente a uma pessoa capaz para representação legal de incapaz,
visando cuidar da sua pessoa e eventualmente de seus bens";
Para Orlando Gomes: "destina-se a regência de pessoas incapazes, mas se organiza
para a defesa e proteção daquilo cuja incapacidade não resulta da idade";
Maria Berenice trata do tema em sua obra, como: "a curatela é instituto protetivo
dos maiores de idade, mas incapazes, isto é, sem condições de zelar por seus
próprios interesses, reger sua vida e administrar seu patrimônio".

Curatelado
Definições para "Curatelado"
Curatelado - Pessoa submetida à curatela.
saberjuridico.com.br
Curatela - Instituto pelo qual uma pessoa é designada para praticar atos jurídicos no
interesse e em nome de um incapaz. A pessoa que exerce a curatela é o curador. Causa
especial de aumento da pena se o agente é curador da vítima, nos crimes de abandono
de incapaz, apropriação indébita e contra os costumes.
saberjuridico.com.br
Curatela especial - É um representante especial que o juiz dá, em determinados casos
de incapacidade ou revelia, à parte para atuar em seu nome no correr do processo.
Assim, o juiz dará curador especial ao incapaz, se não tiver representante legal, ou se os
interesses deste colidirem com os daquele e ao réu preso, bem como ao revel citado por
edital ou com hora certa. Se existir nas comarcas representante judicial de incapazes ou
de ausentes, a este competirá a função de curador especial. Veja art. 9º do Código de
Processo Civil.
"Curatelado" em Legislação
CÓDIGO CIVIL DE 1916 - LEI Nº 3.071, DE 1º DE JANEIRO DE 1916.
, na constância do matrimônio; ii - entre ascendentes e descendentes, durante o pátrio
poder; iii - entre tutelados oucuratelados e seus tutores e curadores, durante a tutela
ou curatela; iv - em favor do credor pignoratício, do mandatário, e, em geral, das pessoas
que lhe são equiparadas...; ii - a ação do pai, tutor, ou curador para anular o casamento
do filho, pupilo, ou curatelado, contraído sem o consentimento daqueles

ilho legal, para nomear a filha curadora da mãe. Confira, abaixo, o muito bem
fundamentado acórdão prolatadAs inovações do instituto da curatela no novo
código civil
ISABELA RIBEIRO DE FIGUEIREDO e MIRIAM TRIDICO FANAN
A prática da curatela é mais comum do que imaginamos. Trata-se de um
instituto
importantíssimo dentro do direito, e a nova legislação civil codificada
preocupou-se em
organizar um sistema de proteção e amparo àqueles que não podem, seja
por imaturidade,
enfermidade, deficiência mental, embriaguez habitual, dentre outras
situações previstas no
art. 1.767, praticar os atos da vida civil. Trouxe várias alterações, inclusive
do ponto de vista
lógico-sistemático.
É justamente pela sua relevância e prática forense cotidiana que faremos
alguns apontamentos
face as modificações trazidas pelo novo Código Civil.
1 - BREVE NOÇÃO HISTÓRICA. CONCEITO.
O instituto da curatela no direito civil romano tinha como objetivo colocar
sob a sua égide as
pessoas loucas, pródigas e menores de 25 anos. Suas espécies eram as
seguintes:
Cura furiosi: curatela das pessoas loucas. Consistia na administração de
seus bens. A curatela
cabia aos parentes mais próximos. Na falta desses, o pretor nomeava um
curador.
Cura pródigi: curatela das pessoas pródigas. Provém da Lei das XII
Tábuas. Em virtude dessa
lei, o pretor poderia privar o indivíduo que esbanjasse seu patrimônio da
administração de
seus bens. Assim, o pródigo possuía capacidade limitada, necessitando
sempre da autorização
de seu curador para assumir obrigações. O curador era nomeado conforme
as regras pelas
quais se procedia a dos loucos.
Cura minoram: era uma curatela eventual, na qual os púberes menores de
25 anos solicitavam
um curador por exigência das pessoas que receavam contratar com eles.
Assim, a capacidade
de fato também se tornava limitada.
A palavra curatela provém de “cura”, mais o sufixo do verbo curare que
significa cuidar, olhar,
velar.[1]
Pontes de Miranda em sua obra Tratado de Direito de Família define, de
forma genérica, o
instituto da curatela como: “curatela ou curadoria é o cargo conferido por
lei a alguém, para
reger a pessoa e os bens, ou somente os bens, de pessoas menores ou
maiores, que por si
não podem fazer, devido a perturbações mentais, surdo-mudez,
prodigalidade, ausência, ou
por ainda não terem nascido.” (Campinas, Bookseller, 2001, v. 3, p. 285).
Observa-se que o
renomado autor procura abarcar na definição acima as diversas espécies
de curatela previstas
no ordenamento jurídico.
Não há necessidade em delongar as noções históricas e conceitos sobre o
tema, e passaremos,
desde logo, a tratar diretamente do objeto deste estudo que é a curatela
ante o novo Código
Civil.
2 - A CURATELA, A INTERDIÇÃO E O NOVO CÓDIGO CIVIL.
Gerando euforia e expectativas, entrou em vigor no dia 12 de janeiro de
2003, o tão esperado
novo Código Civil. Esse que já foi alvo de inúmeras críticas e também
elogios por todos nós
operadores do direito. Para uns, o Código já nasceu velho deixando de
regulamentar questões
atuais, como por exemplo, a clonagem humana e os negócios eletrônicos.
Os otimistas dizem
que esse foi mais um passo adiante na evolução do direito brasileiro. O
presente artigo não
possui como objetivo fazer críticas ou elogios ao novo ordenamento
codificado, mas sim,
singelos apontamentos no tocante às mudanças que ocorreram no instituto
da curatela.
Pois bem. A curatela é tratada pelo novo Código Civil em seu livro IV, título
IV, capítulo II, e
está sistematicamente mais organizada.
A lei prevê três espécies de curatela: a curatela obrigatória, curatela
legítima e curatela dativa.
A primeira encontra-se prevista no caput do art. 1.775 do novo Código
Civil, a segunda está contida
nos parágrafos 1º e 2º do referido artigo, e a última encontra previsão no
parágrafo 3º do art. supracitado.
O artigo 1.767 do novo Código arrola os que estão sujeitos a curatela, que
são:
I – aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o
necessário
discernimento para os atos da vida civil;
II – aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua
vontade;
III – os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;
IV – os excepcionais sem completo desenvolvimento mental;
V – os pródigos.
Referido artigo corresponde ao art. 446 do Código Civil de 1916.
A primeira inovação em relação ao tema está na inclusão desse artigo
“daqueles que, por uma
causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade”, dos “ébrios
habituais” e dos “viciados
em tóxicos” como sujeitos à curatela.
A curatela será declarada quando o indivíduo enquadrar-se no rol do art.
1.767, e somente
esses serão interditos. Ressalta-se que a curatela somente poderá ser
instituída mediante a tramitação e
conclusão de processo judicial.
O curador será nomeado após a decisão no processo de interdição, na qual
o juiz fixará os
limites da curatela, que poderá ser parcial ou total, de acordo com a
incapacidade do interdito.
Outra mudança ocorrida no instituto da curatela refere-se a expressão
“loucos de todo o
gênero” contida no artigo 446 do Código Civil de 1916, que sempre foi alvo
de críticas,
principalmente porque causava certo desconforto a quem lia. A expressão
também era
imprecisa tecnicamente, e por seu caráter genérico dava margem a todo e
qualquer tipo de
interpretação, gerando infindáveis diferenças e distinções. Assim,
preocupou-se o legislador
em exterminá-la, adotando a expressão “enfermidade ou deficiência
mental” que além de
proporcionar melhor entendimento, é mais suave, não causando impacto
negativo ao leitor.
Nesse aspecto, necessário se faz atentarmos para uma peculiaridade que
talvez façam surgir
dúvidas na redação do artigo 1.767, inciso I que menciona “enfermidade
ou deficiência
mental”, e do inciso III que fala em “deficientes mentais”. Através das
expressões utilizadas
pelo legislador poder-se-ia concluir que: “a nova lei civil tenha pretendido,
por exemplo, no
inciso I do artigo 1.767 referir-se às hipóteses de retardo mental severo e
profundo e, no
inciso III do mesmo artigo, às de retardo mental leve e moderado.”[2]
Como exemplo do inciso III,
poder-se –ia citar as patologias temporárias e intermitentes.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, na 10ª edição de
classificação internacional
de doenças, o termo adequado e que deve ser utilizado é “deficiência
mental”.
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Tratamentos Mentais (DSM-IV) da
American Psychiatric
Association, arrola mais de 200 doenças mentais e insere como sendo a
primeira de sua lista o
retardo mental, que recebe a seguinte descrição: “Retardo Mental:
Funcionamento intelectual
anormal; início durante o período de desenvolvimento; associado com
prejuízo no
amadurecimento e na aprendizagem e ao desajuste social; classificado de
acordo com o
quociente de inteligência (Q.I.) como leve (50-55 e 70), moderado (35-40
a 50-55), severo
(20-25 a 35-40) ou profundo (abaixo de 20-25).”
No tocante ao inciso II do referido artigo, entendemos que foi inserido com
acerto, pois podese
dizer que os processos de interdição são mais comuns, atualmente, para
indivíduos que
sofrem de Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou qualquer outro quadro
neurológico, enfarte do
miocárdio, ou até mesmo para os indivíduos que estejam em estado de
coma. Hodiernamente,
são comuns as inspeções judiciais em processos de interdição
provenientes de quadros
cerebrais e cardíacos, com o deslocamento do magistrado até os hospitais
clínicos, pois os
interditos estão totalmente impossibilitados de locomoção. Com a inserção
desse inciso, ficará
sem dúvida, mais prático e menos doloroso para os familiares promoverem
a interdição de
uma pessoa com problemas neurológicos, cardíacos, ou mesmo por
qualquer outra causa
duradoura não puderem exprimir a sua vontade.
Os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos,
mencionados no inciso III,
além dos excepcionais sem completo desenvolvimento mental contido no
inciso IV, estarão
submetidos à curatela relativa, de acordo com os artigos 1.772[3] e
1.782[4] do novo Código Civil.
Por fim, temos o inciso V que trata da interdição do pródigo.
“Pródigo é o indivíduo que desordenadamente desbarata sua fortuna, com
risco de reduzir-se à
miséria.”[5]
Para os romanos, “pródigo é a pessoa sui juris que dilapidava, em prejuízo
dos filhos, o
patrimônio recebido por sucessão legítima dos parentes paternos.”[6]
Quanto ao esbanjamento de seus bens, o pródigo era como o mentecapto,
ou seja, desprovido
do uso da razão. Apenas em questões relativas à administração de seus
bens, o pródigo não
podia celebrar atos jurídicos. O novo Código Civil visa a proteção do
perdulário contra seus
próprios atos, protegendo também sua família e terceiros. Pode-se dizer
então, que seja este o
caráter social do instituto.
A interdição por prodigalidade exige uma minuciosa apreciação dos
interesses envolvidos, para
que a finalidade do instituto não seja desvirtuada. Isso porque muitos dos
pedidos de
interdição fundados na prodigalidade apresentam-se sob falsas aparências,
muitas vezes com
intuitos egoísticos e ambiciosos.
Desta forma, o juiz por meio do interrogatório do suposto interdito, terá
condições de avaliar o
discernimento e a consciência de seus atos, verificando assim, se a ação
proposta possui o
caráter social de proteção ao interdito ou se possui somente o caráter
patrimonial movido pela
ganância e ambição.
Pelo novo Código Civil, a interdição por prodigalidade tem seus limites
previstos no artigo
1.780, in fine, ...“dar-se-lhe-á curador para cuidar de todos ou alguns de
seus negócios ou
bens.”
Mais uma inovação ocorreu com a inserção das expressões “companheiro”
e “separação de fato”
na redação do art. 1.775. A mudança consolidou as decisões proferidas
pelos tribunais em relação a essas
situações fáticas não previstas em lei, possibilitando o companheiro a
exercer a curatela, bem como
coibindo o separado de fato de realizar tal função.
O novo ordenamento civil estendeu a medida protetiva da curatela aos
portadores de
deficiência física e os enfermos que são capazes de exprimirem sua
vontade, porém,
fisicamente são incapazes de gerirem a própria vida. Esses, entretanto,
estarão sujeitos à
curatela, mas não serão interditados. É o que reza o artigo 1.780: “A
requerimento do enfermo
ou portador de deficiência física, ou na impossibilidade de fazê-lo, de
qualquer das pessoas a
que se refere o artigo 1.768, dar-se-lhe-á curador para cuidar de todos ou
alguns de seus
negócios ou bens”. É chamada curatela administrativa especial. Observa-se
que não se trata de
uma interdição, mas de outorga de poderes, semelhante a um mandato em
que o curador
administrará total ou parcialmente o patrimônio do enfermo ou portador
de deficiência física.
Ao instituto da curatela será aplicada as disposições pertinentes à tutela.
3 - CONCLUSÃO.
O instituto da curatela tratado pelo novo Código Civil está
sistematicamente mais organizado.
Já no primeiro artigo verifica-se a inclusão no rol dos sujeitos à curatela
das “pessoas que por
uma causa duradoura não puderem exprimir a sua vontade” como é o caso
dos portadores de
AVC - Acidente Vascular Cerebral, ou de outro quadro neurológico grave,
enfarte do miocárdio,
estado de coma, etc. Arrola ainda, os “ébrios habituais” e os “viciados em
tóxicos” situação
frequente de nossa sociedade contemporânea.
Foi banida a expressão “loucos de todo o gênero”, reconhecendo o
legislador que a mesma não
era apropriada, causava impacto negativo a quem lia, e gerava inúmeras
interpretações.
Houve aprimoramento na redação dos textos, com linguagem mais técnica
e atualizada. O
caráter genérico que predominava foi excluído dando-se melhor conotação
ao texto da lei.
As novas espécies de curatela instituídas, de forma mais abrangente, tem
como objetivo a
proteção do interesse das pessoas e bens do curatelado e de sua família.
Muitos irão dizer que o nosso tão esperado Código Civil já tenha nascido
obsoleto por deixar de
incluir questões jurídicas hodiernas, porém, ao analisarmos sob esse foco
devemos nos
reportar a lição de Voltaire que disse sabiamente: “o melhor é inimigo do
bom”. Realmente o
novo Código deixou de regular questões atuais, mas temos que, antes de
atingirmos o melhor,
tentarmos atingirmos o bom.
Ora, a perfeição somente poderá ser alcançada após o longo processo de
burilamento dos
erros, das imperfeições, das falhas e omissões.
Assim, a excelência das normas somente será atingida após o necessário e
inevitável processo
de aperfeiçoamento, que caberá ser exercido, pacientemente, por todos
nós operadores e
pensadores do direito.
4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CRETELLA JÚNIOR, J. Curso de direito romano. 21. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1999. 485 p.
_________. Direito romano moderno: 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.
306 p.
DANTAS, R. N. de A.; DANTAS NETO, A. T. Curatela. Fortaleza: Public, 2001.
257 p.
GHIARONI, R. (Coordenadora-geral) LEITE, H. M. D. O novo código civil: do
direito de família.
Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2002. 565 p.
MONTEIRO, W. B. Curso de direito civil: direito de família. 29. ed. Rio de
Janeiro: Saraiva,
1992. 339 p.
Notas:
_ftnref11 CRETELLA JÚNIOR, J. Curso de direito romano. 21. ed. Rio de
Janeiro: Forense,
1999. p. 143.
[2] GHIARONI, R. (Coordenadora-geral) LEITE, H. M. D. O novo código
civil: do direito de
família. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2002. p. 539.
[3] Art. 1.772: Pronunciada a interdição das pessoas a que se referem os
incisos III e IV do
art. 1.767, o juiz, assinará, segundo o estado ou o desenvolvimento mental
do interdito, os
limites da curatela, que poderão circunscrever-se às restrições constantes
do art. 1782.
[4] Art. 1.782: A interdição do pródigo só o privará de, sem curador,
emprestar, transigir, dar
quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em
geral, os atos que não
sejam de mera administração.
[5] MONTEIRO, W. B. Curso de direito civil: direito de família. 29. ed. Rio
de Janeiro: Saraiva,
1992. p. 322.
[6] CRETELLA JÚNIOR, J. Direito romano moderno: 7. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1998. p.
90.o pela Primeira Câmara Civil do TJSC, trazendo à baila as lições de Maria Helena
Diniz e Eduardo Sócrates Castanheira Sarmento, mais inúmeros precedentes
jurisprudenciais aplicáveis ao caso submetido a julgamento.
As inovações do instituto da curatela
no novo código civil
ISABELA RIBEIRO DE FIGUEIREDO e MIRIAM TRIDICO FANAN
A prática da curatela é mais comum do que imaginamos. Trata-se de um
instituto
importantíssimo dentro do direito, e a nova legislação civil codificada
preocupou-se em
organizar um sistema de proteção e amparo àqueles que não podem, seja
por imaturidade,
enfermidade, deficiência mental, embriaguez habitual, dentre outras
situações previstas no
art. 1.767, praticar os atos da vida civil. Trouxe várias alterações, inclusive
do ponto de vista
lógico-sistemático.
É justamente pela sua relevância e prática forense cotidiana que faremos
alguns apontamentos
face as modificações trazidas pelo novo Código Civil.
1 - BREVE NOÇÃO HISTÓRICA. CONCEITO.
O instituto da curatela no direito civil romano tinha como objetivo colocar
sob a sua égide as
pessoas loucas, pródigas e menores de 25 anos. Suas espécies eram as
seguintes:
Cura furiosi: curatela das pessoas loucas. Consistia na administração de
seus bens. A curatela
cabia aos parentes mais próximos. Na falta desses, o pretor nomeava um
curador.
Cura pródigi: curatela das pessoas pródigas. Provém da Lei das XII
Tábuas. Em virtude dessa
lei, o pretor poderia privar o indivíduo que esbanjasse seu patrimônio da
administração de
seus bens. Assim, o pródigo possuía capacidade limitada, necessitando
sempre da autorização
de seu curador para assumir obrigações. O curador era nomeado conforme
as regras pelas
quais se procedia a dos loucos.
Cura minoram: era uma curatela eventual, na qual os púberes menores de
25 anos solicitavam
um curador por exigência das pessoas que receavam contratar com eles.
Assim, a capacidade
de fato também se tornava limitada.
A palavra curatela provém de “cura”, mais o sufixo do verbo curare que
significa cuidar, olhar,
velar.[1]
Pontes de Miranda em sua obra Tratado de Direito de Família define, de
forma genérica, o
instituto da curatela como: “curatela ou curadoria é o cargo conferido por
lei a alguém, para
reger a pessoa e os bens, ou somente os bens, de pessoas menores ou
maiores, que por si
não podem fazer, devido a perturbações mentais, surdo-mudez,
prodigalidade, ausência, ou
por ainda não terem nascido.” (Campinas, Bookseller, 2001, v. 3, p. 285).
Observa-se que o
renomado autor procura abarcar na definição acima as diversas espécies
de curatela previstas
no ordenamento jurídico.
Não há necessidade em delongar as noções históricas e conceitos sobre o
tema, e passaremos,
desde logo, a tratar diretamente do objeto deste estudo que é a curatela
ante o novo Código
Civil.
2 - A CURATELA, A INTERDIÇÃO E O NOVO CÓDIGO CIVIL.
Gerando euforia e expectativas, entrou em vigor no dia 12 de janeiro de
2003, o tão esperado
novo Código Civil. Esse que já foi alvo de inúmeras críticas e também
elogios por todos nós
operadores do direito. Para uns, o Código já nasceu velho deixando de
regulamentar questões
atuais, como por exemplo, a clonagem humana e os negócios eletrônicos.
Os otimistas dizem
que esse foi mais um passo adiante na evolução do direito brasileiro. O
presente artigo não
possui como objetivo fazer críticas ou elogios ao novo ordenamento
codificado, mas sim,
singelos apontamentos no tocante às mudanças que ocorreram no instituto
da curatela.
Pois bem. A curatela é tratada pelo novo Código Civil em seu livro IV, título
IV, capítulo II, e
está sistematicamente mais organizada.
A lei prevê três espécies de curatela: a curatela obrigatória, curatela
legítima e curatela dativa.
A primeira encontra-se prevista no caput do art. 1.775 do novo Código
Civil, a segunda está contida
nos parágrafos 1º e 2º do referido artigo, e a última encontra previsão no
parágrafo 3º do art. supracitado.
O artigo 1.767 do novo Código arrola os que estão sujeitos a curatela, que
são:
I – aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o
necessário
discernimento para os atos da vida civil;
II – aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua
vontade;
III – os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;
IV – os excepcionais sem completo desenvolvimento mental;
V – os pródigos.
Referido artigo corresponde ao art. 446 do Código Civil de 1916.
A primeira inovação em relação ao tema está na inclusão desse artigo
“daqueles que, por uma
causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade”, dos “ébrios
habituais” e dos “viciados
em tóxicos” como sujeitos à curatela.
A curatela será declarada quando o indivíduo enquadrar-se no rol do art.
1.767, e somente
esses serão interditos. Ressalta-se que a curatela somente poderá ser
instituída mediante a tramitação e
conclusão de processo judicial.
O curador será nomeado após a decisão no processo de interdição, na qual
o juiz fixará os
limites da curatela, que poderá ser parcial ou total, de acordo com a
incapacidade do interdito.
Outra mudança ocorrida no instituto da curatela refere-se a expressão
“loucos de todo o
gênero” contida no artigo 446 do Código Civil de 1916, que sempre foi alvo
de críticas,
principalmente porque causava certo desconforto a quem lia. A expressão
também era
imprecisa tecnicamente, e por seu caráter genérico dava margem a todo e
qualquer tipo de
interpretação, gerando infindáveis diferenças e distinções. Assim,
preocupou-se o legislador
em exterminá-la, adotando a expressão “enfermidade ou deficiência
mental” que além de
proporcionar melhor entendimento, é mais suave, não causando impacto
negativo ao leitor.
Nesse aspecto, necessário se faz atentarmos para uma peculiaridade que
talvez façam surgir
dúvidas na redação do artigo 1.767, inciso I que menciona “enfermidade
ou deficiência
mental”, e do inciso III que fala em “deficientes mentais”. Através das
expressões utilizadas
pelo legislador poder-se-ia concluir que: “a nova lei civil tenha pretendido,
por exemplo, no
inciso I do artigo 1.767 referir-se às hipóteses de retardo mental severo e
profundo e, no
inciso III do mesmo artigo, às de retardo mental leve e moderado.”[2]
Como exemplo do inciso III,
poder-se –ia citar as patologias temporárias e intermitentes.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, na 10ª edição de
classificação internacional
de doenças, o termo adequado e que deve ser utilizado é “deficiência
mental”.
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Tratamentos Mentais (DSM-IV) da
American Psychiatric
Association, arrola mais de 200 doenças mentais e insere como sendo a
primeira de sua lista o
retardo mental, que recebe a seguinte descrição: “Retardo Mental:
Funcionamento intelectual
anormal; início durante o período de desenvolvimento; associado com
prejuízo no
amadurecimento e na aprendizagem e ao desajuste social; classificado de
acordo com o
quociente de inteligência (Q.I.) como leve (50-55 e 70), moderado (35-40
a 50-55), severo
(20-25 a 35-40) ou profundo (abaixo de 20-25).”
No tocante ao inciso II do referido artigo, entendemos que foi inserido com
acerto, pois podese
dizer que os processos de interdição são mais comuns, atualmente, para
indivíduos que
sofrem de Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou qualquer outro quadro
neurológico, enfarte do
miocárdio, ou até mesmo para os indivíduos que estejam em estado de
coma. Hodiernamente,
são comuns as inspeções judiciais em processos de interdição
provenientes de quadros
cerebrais e cardíacos, com o deslocamento do magistrado até os hospitais
clínicos, pois os
interditos estão totalmente impossibilitados de locomoção. Com a inserção
desse inciso, ficará
sem dúvida, mais prático e menos doloroso para os familiares promoverem
a interdição de
uma pessoa com problemas neurológicos, cardíacos, ou mesmo por
qualquer outra causa
duradoura não puderem exprimir a sua vontade.
Os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos,
mencionados no inciso III,
além dos excepcionais sem completo desenvolvimento mental contido no
inciso IV, estarão
submetidos à curatela relativa, de acordo com os artigos 1.772[3] e
1.782[4] do novo Código Civil.
Por fim, temos o inciso V que trata da interdição do pródigo.
“Pródigo é o indivíduo que desordenadamente desbarata sua fortuna, com
risco de reduzir-se à
miséria.”[5]
Para os romanos, “pródigo é a pessoa sui juris que dilapidava, em prejuízo
dos filhos, o
patrimônio recebido por sucessão legítima dos parentes paternos.”[6]
Quanto ao esbanjamento de seus bens, o pródigo era como o mentecapto,
ou seja, desprovido
do uso da razão. Apenas em questões relativas à administração de seus
bens, o pródigo não
podia celebrar atos jurídicos. O novo Código Civil visa a proteção do
perdulário contra seus
próprios atos, protegendo também sua família e terceiros. Pode-se dizer
então, que seja este o
caráter social do instituto.
A interdição por prodigalidade exige uma minuciosa apreciação dos
interesses envolvidos, para
que a finalidade do instituto não seja desvirtuada. Isso porque muitos dos
pedidos de
interdição fundados na prodigalidade apresentam-se sob falsas aparências,
muitas vezes com
intuitos egoísticos e ambiciosos.
Desta forma, o juiz por meio do interrogatório do suposto interdito, terá
condições de avaliar o
discernimento e a consciência de seus atos, verificando assim, se a ação
proposta possui o
caráter social de proteção ao interdito ou se possui somente o caráter
patrimonial movido pela
ganância e ambição.
Pelo novo Código Civil, a interdição por prodigalidade tem seus limites
previstos no artigo
1.780, in fine, ...“dar-se-lhe-á curador para cuidar de todos ou alguns de
seus negócios ou
bens.”
Mais uma inovação ocorreu com a inserção das expressões “companheiro”
e “separação de fato”
na redação do art. 1.775. A mudança consolidou as decisões proferidas
pelos tribunais em relação a essas
situações fáticas não previstas em lei, possibilitando o companheiro a
exercer a curatela, bem como
coibindo o separado de fato de realizar tal função.
O novo ordenamento civil estendeu a medida protetiva da curatela aos
portadores de
deficiência física e os enfermos que são capazes de exprimirem sua
vontade, porém,
fisicamente são incapazes de gerirem a própria vida. Esses, entretanto,
estarão sujeitos à
curatela, mas não serão interditados. É o que reza o artigo 1.780: “A
requerimento do enfermo
ou portador de deficiência física, ou na impossibilidade de fazê-lo, de
qualquer das pessoas a
que se refere o artigo 1.768, dar-se-lhe-á curador para cuidar de todos ou
alguns de seus
negócios ou bens”. É chamada curatela administrativa especial. Observa-se
que não se trata de
uma interdição, mas de outorga de poderes, semelhante a um mandato em
que o curador
administrará total ou parcialmente o patrimônio do enfermo ou portador
de deficiência física.
Ao instituto da curatela será aplicada as disposições pertinentes à tutela.
3 - CONCLUSÃO.
O instituto da curatela tratado pelo novo Código Civil está
sistematicamente mais organizado.
Já no primeiro artigo verifica-se a inclusão no rol dos sujeitos à curatela
das “pessoas que por
uma causa duradoura não puderem exprimir a sua vontade” como é o caso
dos portadores de
AVC - Acidente Vascular Cerebral, ou de outro quadro neurológico grave,
enfarte do miocárdio,
estado de coma, etc. Arrola ainda, os “ébrios habituais” e os “viciados em
tóxicos” situação
frequente de nossa sociedade contemporânea.
Foi banida a expressão “loucos de todo o gênero”, reconhecendo o
legislador que a mesma não
era apropriada, causava impacto negativo a quem lia, e gerava inúmeras
interpretações.
Houve aprimoramento na redação dos textos, com linguagem mais técnica
e atualizada. O
caráter genérico que predominava foi excluído dando-se melhor conotação
ao texto da lei.
As novas espécies de curatela instituídas, de forma mais abrangente, tem
como objetivo a
proteção do interesse das pessoas e bens do curatelado e de sua família.
Muitos irão dizer que o nosso tão esperado Código Civil já tenha nascido
obsoleto por deixar de
incluir questões jurídicas hodiernas, porém, ao analisarmos sob esse foco
devemos nos
reportar a lição de Voltaire que disse sabiamente: “o melhor é inimigo do
bom”. Realmente o
novo Código deixou de regular questões atuais, mas temos que, antes de
atingirmos o melhor,
tentarmos atingirmos o bom.
Ora, a perfeição somente poderá ser alcançada após o longo processo de
burilamento dos
erros, das imperfeições, das falhas e omissões.
Assim, a excelência das normas somente será atingida após o necessário e
inevitável processo
de aperfeiçoamento, que caberá ser exercido, pacientemente, por todos
nós operadores e
pensadores do direito.
4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CRETELLA JÚNIOR, J. Curso de direito romano. 21. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1999. 485 p.
_________. Direito romano moderno: 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.
306 p.
DANTAS, R. N. de A.; DANTAS NETO, A. T. Curatela. Fortaleza: Public, 2001.
257 p.
GHIARONI, R. (Coordenadora-geral) LEITE, H. M. D. O novo código civil: do
direito de família.
Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2002. 565 p.
MONTEIRO, W. B. Curso de direito civil: direito de família. 29. ed. Rio de
Janeiro: Saraiva,
1992. 339 p.
Notas:
_ftnref11 CRETELLA JÚNIOR, J. Curso de direito romano. 21. ed. Rio de
Janeiro: Forense,
1999. p. 143.
[2] GHIARONI, R. (Coordenadora-geral) LEITE, H. M. D. O novo código
civil: do direito de
família. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2002. p. 539.
[3] Art. 1.772: Pronunciada a interdição das pessoas a que se referem os
incisos III e IV do
art. 1.767, o juiz, assinará, segundo o estado ou o desenvolvimento mental
do interdito, os
limites da curatela, que poderão circunscrever-se às restrições constantes
do art. 1782.
[4] Art. 1.782: A interdição do pródigo só o privará de, sem curador,
emprestar, transigir, dar
quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em
geral, os atos que não
sejam de mera administração.
[5] MONTEIRO, W. B. Curso de direito civil: direito de família. 29. ed. Rio
de Janeiro: Saraiva,
1992. p. 322.
[6] CRETELLA JÚNIOR, J. Direito romano moderno: 7. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1998. p.
90.

JURISPRUDENCIA

30/03/2007
Curatela. Cônjuge. Impossibilidade da filha ser nomeada curadora da mãe. Quebra
da ordem de preferência. Art. 1.775 CC/2002. O Novo Código Civil, no art. 1.775 e
seus respectivos parágrafos, estabelece uma ordem de preferência para a
nomeação de curador de cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente,
quando interdito. O cônjuge é o natural curador do outro. Inexiste, daí,
possibilidade de quebrar-se a ordem de preferência estabelecida no retro
enumerado testilho legal, para nomear a filha curadora da mãe. Confira, abaixo, o
muito bem fundamentado acórdão prolatado pela Primeira Câmara Civil do TJSC,
trazendo à baila as lições de Maria Helena Diniz e Eduardo Sócrates Castanheira
Sarmento, mais inúmeros precedentes jurisprudenciais aplicáveis ao caso
submetido a julgamento.
Acórdão: Apelação Cível n. 2004.030494-8, de Lages.
Relator: Des. Maria do Rocio Luz Santa Ritta.
Data da decisão: 04.04.2006.

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INTERDIÇÃO. AUSÊNCIA DE INQUIRIÇÃO DE


TESTEMUNHAS. JULGAMENTO COM BASE NO ESTUDO SOCIAL. POSSIBILIDADE.
INTELIGÊNCIA DO ART. 130 DO CPC C/C PRINCÍPIO DA PERSUASÃO RACIONAL.
PRETENSÃO DA FILHA DE SER NOMEADA CURADORA DA MÃE. IMPOSSIBILIDADE,
NA HIPÓTESE, DE QUEBRA DA ORDEM DE PREFERÊNCIA ESTABELECIDA NO ART.
1.775 DO CÓDIGO CIVIL. NÃO EVIDENCIADA A AMEAÇA AOS INTERESSES DA
INTERDITANDA. ESTUDO SOCIAL QUE DEMONSTRA SER O MARIDO A PESSOA
INDICADA A ASSUMIR A FUNÇÃO. RECURSO DESPROVIDO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível n. 2004.030494-8, de


Lages, em que é apelante Lili Aparecida da Silva Rodrigues e apelado Miguel Tadeu
Xavier:

ACORDAM, em Primeira Câmara de Direito Civil, à unanimidade, negar provimento


ao recurso.
Custas da lei.

I - RELATÓRIO:
Lili Aparecida da Silva Rodrigues requereu a interdição e a curatela de sua mãe
Dorvalina da Silva Xavier. Alegou que esta sofre das faculdades mentais e em razão
disto não é capaz de reger a própria vida, assim como de administrar seus bens.
Asseverou que é a requerente quem presta toda a assistência à mãe, destacando
que o marido não é pessoa indicada a exercer a curatela, eis que não se dedica à
esposa, estando apenas interessado nos bens que possuem.
Despachando (fl. 10v), o magistrado a quo determinou a intimação do Sr. Miguel
Tadeu Xavier, marido da interditanda, para que se manifestasse acerca de seu
interesse na curatela, o que fez às fls. 15-17.
Nessa oportunidade foi dito por este que desde a época em que a interditanda foi
acometida pela doença que lhe deixou seqüelas vem dispensando à esposa todos os
cuidados necessários a sua recuperação. Informou, ainda, que o tratamento a ela
dispensado possui custo elevado e, tudo indica, será necessária a venda de algum
bem do casal. Ressaltou que aí reside a preocupação da requerente, ou seja, com a
futura herança e não com o cuidado e zelo pela mãe, acrescentando que a filha fica
mais de trinta dias sem visitá-la. Terminou requerendo sua nomeação à função de
curador, eis que é a pessoa mais indicada para desempenhá-la.
À fl. 21v foi determinado pelo togado singular a realização de estudo social, o qual,
ultimado e acostado às fls. 22-26, concluiu ser o Sr. Miguel "a pessoa adequada a
assumir a curatela da interditanda [...]".
O Representante do Ministério Público opinou pela improcedência do pedido.
Sobreveio sentença que deu pela improcedência do pedido e, provisoriamente,
nomeou o Sr. Miguel Tadeu Xavier como curador da Sra. Dorvalina Silva Xavier.
Irresignada a requerente interpôs recurso de apelação aduzindo que o marido da
interditanda, ora apelado, não está dispensando à esposa os cuidados necessários
ao seu bem estar, estando muito mais interessado nos bens que esta já possuía
quando se casaram. Sustenta ser a apelante a pessoa mais indicada para assumir
os cuidados com a mãe, podendo proporcionar-lhe amor e carinho. Ressalta não ter
interesse nos bens da interditanda, mormente porque o apelado já se desfez de
parte destes e, também, porque possuiu patrimônio superior ao da mãe. Por outro
lado, diz estar preocupada em zelar pelo patrimônio da genitora, eis que o marido
dela está vendendo as terras que possuem e usando o dinheiro em benefício
próprio e de filhos que possui fora do casamento. Acrescentou, por fim, que as
testemunhas não foram ouvidas, sendo a decisão singular baseada apenas no
estudo social. Clamou, assim, pela reforma da sentença para que seja julgado
procedente o pedido nos termos da inicial.
Contra-arrazoado o recurso, ascenderam os autos a esta Corte.
A douta Procuradoria-Geral de Justiça, por seu representante, Dr. Jobél Braga de
Araújo, manifestou-se pelo conhecimento e desprovimento do recurso.

II - VOTO:
O recurso não merece ser provido.
Registre-se, primeiramente, que nada impede seja proferida decisão com base
exclusivamente no estudo social realizado, sem que tenha havido a inquirição de
testemunhas.
Com efeito, nos termos da Lex Instrumentalis, ao juiz incumbe a direção do
processo. E, sendo ele o destinatário da prova, escorreito afirmar-se que a
necessidade de dilação probatória se lhe subsuma ao livre convencimento.
Nesse sentido:
"A dilação probatória subordina-se ao princípio da persuasão racional, sendo
razoável poder o magistrado indeferir a prova à vista da nenhuma ou pouca
utilidade dela para o deslinde da causa" (Ap. Cív. n. 96.012135-8, de São José do
Cedro, rel. Des. Pedro Manoel Abreu) - grifo nosso.
Ainda:
"É evidente que não está o juiz adstrito às provas protestadas pelo réu, não sendo
obrigado a deferi-las. Convencido de sua inutilidade, para o julgamento da causa,
poderá o juiz indeferir a prova, aliás, de ambas as partes, abreviando, assim, a
entrega da prestação jurisdicional. (SOUZA, Sylvio Capanema de. Da ação de
despejo. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p. 60).
No caso dos autos, não tendo o magistrado proporcionado a oitiva de eventuais
testemunhas, certamente assim procedeu porquanto reputou despicienda sua
realização para a elucidação da questão.
A propósito, o art. 130 do CPC dispõe que "caberá ao juiz, de ofício ou a
requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo,
indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias".
Dito isto, passa-se a análise da questão de fundo.
Cumpre asseverar, ab initio, que o art. 1.775 do Código Civil de 2002,
correspondente ao art. 454 do Código Civil de 1916, dispõe que "o cônjuge ou
companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é, de direito, curador do outro
quando interdito."
Para a hipótese de falta deste, prevê o §1º do aludido dispositivo que será "curador
legítimo o pai ou a mãe; na falta destes, o descendente que se demonstrar mais
apto."
Vê-se, portanto, que o Código estabelece uma ordem de preferência para a
nomeação de curador.
Sobre o assunto colhe-se do escólio de Maria Helena Diniz:
"Ordem de preferência na nomeação do curador. Se o magistrado vier a decretar a
interdição, deverá nomear um curador ao interdito, observado a seguinte ordem
legal: a) o consorte não separado judicialmente ou de fato ou divorciado (RT,
419:138 e 439:227; RF, 91:485) caso em que, pela proibição de escusa, a curatela é
obrigatória); na sua falta, o pai, ou a mãe, e, não havendo estes, o descendente
maior, ou melhor, mais apto, sendo que dentre os descendentes o mais próximo
precede o mais remoto, configurando-se, nessa hipótese, a curatela legítima.
Faltando as pessoas acima mencionadas, competirá ao juiz a escolha do curador
dativo, levando em conta sua idoneidade e capacidade para exercer o cargo." (in
Código Civil Anotado. 9. ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 1.220) - grifo original
Ademais, leciona Eduardo Sócrates Castanheira Sarmento:
"O cônjuge é o natural curador do outro, explica Clóvis, 'pela amizade e comunhão
de interesses que entre ambos devem existir'. Somente quando separados
judicialmente a lei o afasta, porque desaparecem aqueles motivos de preferência.
Ajunte-se que a prioridade da nomeação vigora para qualquer regime de
casamento." (in, A interdição no direito brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1981, p.
105)
Todavia, mais adiante esclarece o autor:
"Observa Odilon de Andrade que 'se o cônjuge tem mau procedimento, não
cumprindo os deveres que a lei lhe impõe, não possuindo capacidade moral, não
prestando ao outro a assistência necessária durante a enfermidade, procurando
tirar proveito de sua situação de incapacidade, fazendo-o assinar
inconscientemente procurações ou contratos, tem o juiz direito de, apreciando
estes fatos, negar-lhe a curadoria, deferindo-a a outro parente, e, na falta, a um
curador dativo.'" (op. cit. p. 105-106)
Acerca da questão, acentua Maria Helena Diniz:
"Não-obrigatoriedade dessa ordem legal de nomeação de curador. A ordem
estabelecida legalmente, contudo, não tem caráter absoluto, uma vez que não se
deve submeter o interdito à curatela de pessoa que não lhe inspirava confiança ao
tempo em que estava no pleno gozo de seu discernimento (RT, 527:80). O artigo
sub examine, ao ser aplicado pelo órgão judicante, deverá ceder aos interesses da
pessoa protegida (RT, 529:109)." (op. cit. p. 1.220) - grifo original
Este, aliás, é o entendimento predominante na jurisprudência:
"[...] Não é absoluta a ordem de preferência para a nomeação de curador ao
interditando - Questões de fato envolvendo a falta de condições pessoais e de
capacidade financeira para o exercício do munus passíveis de averiguação no curso
da instrução -Encargo provisório mantido - Recurso desprovido." (TJSC, AI n.
8.596, de Chapecó, rel. Des. Alcides Aguiar)
"CURATELA. Destituição de curador provisório. A ordem estabelecida no art. 454 do
Código Civil não tem caráter absoluto. Ao Juiz cumpre atender aos interesses da
pessoa protegida." (AI n. 9.921, da Capital, rel. Des. Nestor Silveira)
"INTERDIÇÃO. NOMEAÇÃO DE CURADOR. ART. 454. C.CIVIL DE 1916. CURATELA.
DISPUTA ENTRE IRMÃOS. PREVALÊNCIA DO INTERESSE DO INTERDITO.
Disputando o irmão-médico, com uma irmã, a curatela da genitora, se as
circunstâncias no caso concreto favorecem ao primeiro, é correta a decisão que o
preferiu, porque a ordem constante do art. 454 do Código Civil e seus parágrafos
não tem caráter absoluto. No instituto da curatela não se deve aplicar o critério da
legalidade estrita, devendo-se adotar em cada caso a solução que for mais
conveniente ao interdito." (TJ-RJ; AC 2744/1991; Oitava Câmara Cível; Rel. Des.
Geraldo Batista; Julg. 12/11/1991) - grifo nosso
No entanto, importante salientar que para ser possível a quebra da ordem
estabelecida pelo Código Civil, necessário que reste demonstrado que os interesses
do interditando estarão ameaçados acaso nomeado como curador aquele que
possui a preferência.
Neste sentido:
"AGRAVO DE INSTRUMENTO. CURATELA PROVISÓRIA. ORDEM LEGAL (ARTIGO 454,
DO CÓDIGO CIVIL). RELATIVIDADE. Quebra admitida, todavia apenas
excepcionalmente, no interesse do submetido à curatela. Não demonstração, na
espécie, de tal Excepcionalidade. Caso em que o cônjuge será, então, o curador
preferencial, ex VI legis. Recurso provido, com observação." (TJ-SP; AI 37.425-4;
Taubaté; Décima Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Quaglia Barbosa; Julg.
08/04/1997) - grifo nosso
Mutatis mutandis:
"APELAÇÃO CÍVEL. REMOÇÃO DE CURADOR. NECESSIDADE DE PROVA ROBUSTA.
ORDEM DE NOMEAÇÃO NÃO TEM CARÁTER ABSOLUTO. 1 - Para a remoção do cargo
de curador, e necessário prova robusta de que ele esteja causando prejuízos
materiais ao curatelado. Mister se faz comprovar nos autos o descumprimento por
parte da curadora dos deveres inerentes ao exercício da curatela, elencados nos
art. 422 a 431 do Código Civil/1916, bem como as circunstâncias previstas no art.
445 do mesmo diploma. 2 - A ordem de nomeação prevista no artigo 454 do Código
Civil/1916, não é absoluta, haja vista que deve prevalecer o interesse do incapaz.
Apelação conhecida e improvida." (TJ-GO; AC 69546-7/188; Proc.200300608130;
Petrolina de Goiás; Segunda Câmara Cível; Rel. Des. Gilberto Marques Filho; Julg.
14/10/2003; DJGO 04/11/2003) - grifo nosso.
Na hipótese vertente, conforme se verifica do estudo social acostado às fls. 22-26
dos autos, não sobejou evidenciada qualquer conduta por parte do marido da
interditanda que o desabonasse ou que o tornasse inabilitado para exercer a função
de curador. Pelo contrário, restou consignado no estudo social a constatação de
que para atender a esposa, vítima de derrame cerebral com graves seqüelas, o
apelado contratou três atendentes de enfermagem que se revezam em turnos.
Alem disto, verificou-se que o marido acompanha de perto a evolução do
tratamento da esposa.
Assim, concluiu o estudo social ser o apelado a pessoa mais indicada para assumir
a curatela, fazendo constar, ainda, especificamente em relação à apelante, o que
segue:
"[...] a ora requerente sequer reside nesta cidade e mesmo que aqui venha,
eventualmente, para atender a mãe, não tem permanecido constantemente com
esta, pelo que, com a devida vênia, entendemos inexistir razão para que administre
o patrimônio da mãe, já que existe o marido como pessoa bastante presente e
participante, conforme constatamos."
Por fim, conforme bem observou o ilustre Procurador de Justiça, Dr. Jobél Braga de
Araújo, relativamente à "venda de parte do patrimônio da interditanda, além de
ter-se mostrado necessária, em razão dos custos exigidos pelo tratamento, foi
efetuada de acordo com a legislação, mediante autorização judicial (fl. 52-53).
Neste sentido já julgou o egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina:
'INTERDIÇÃO - CURATELA - ALVARÁ JUDICIAL - PRETENSÃO DA CURADORA E
BENEFICIÁRIA DE SEGURO POR INVALIDEZ SUBSCRITO PELO CURATELADO DE
OBTER O VALOR DA INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA - PLEITO INDEFERIDO PELO
JUÍZO A QUO - REPARO QUE SE FAZ NECESSÁRIO PARA POSSIBILITAR O ONEROSO
EXERCÍCIO DA CURATELA - AMPLA DEMONSTRAÇÃO DAS DESPESAS DECORRENTES
DO MISTER - ONEROSIDADE COMPROVADA - DEVER DO ESTADO DE NÃO CRIAR
ÓBICES E FACILITAR O DESEMPENHO DA NOBRE MISSÃO - AMPARO FINANCEIRO
INDISPENSÁVEL AO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO - DIREITO À EXPEDIÇÃO DO ALVARÁ
EVIDENCIADO - SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA - RECURSO PROVIDO' (Ap.
Cív. n. 2004.007083-7. Rel. Des. Marcus Tulio Sartorato. J. em 6.8.2004)."
Destarte, não há razão para pretender a apelada sua nomeação como curadora da
mãe, devendo, por conseguinte, permanecer incólume a sentença objurgada.

III - DECISÃO:
Ante o exposto é que a Câmara decide, à unanimidade, negar provimento ao
recurso.
Participaram do julgamento os Exmos. Srs. Des. Carlos Prudêncio e Joel Figueira
Junior.

Florianópolis, 04 de abril de 2006.

Carlos Prudêncio
Presidente

Maria do Rocio Luz Santa Ritta


Relatora

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