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Atoleiro

A adolescência é uma fase de descobertas, desde a primeira


namorada, o primeiro porre, e por que não o primeiro problema cuja
solução não vem através dos pais?
Pois bem, foi numa dessas viagens durante as férias de julho à praia,
que descobri uma destas soluções, talvez não muito imediata, porém
foi uma lição inestimável das severas aulas da professora vida.
Estávamos eu e mais um amigo aproveitando a última semana de
férias numa deserta praia do litoral do sul do Brasil, dispúnhamos do
carro de meu pai, um violão, pouca idade cronológica e
pouquíssimos neurônios, suficientes no máximo para comprar pão
na esquina e talvez conferir o troco.
Decidimos inteligentemente, que o "lance" seria, durante a
madrugada, durante o inocente sono de meu pai, pegar o carro para
arriscar algumas manobras diferentes das usuais na anecúmena areia
da praia.
Dito e feito, noite alta, e lá estávamos nós, arriscando a vida, e os
pneus do automóvel, rodopiando sem sentido à beira-do-mar; a
brincadeira logo perderia a graça, porém, outro fator nos obrigou a
desistir antecipadamente: uma verdadeira torrente que simplesmente
embaçou qualquer resquício de visão que nós poderíamos ter dentro
do veículo; esperamos sorridentemente, e ao mesmo tempo
estupidamente a chuva passar, se passou? Sim, passou. O único
inconveniente, é que o nosso ponto de referência para que
pudéssemos voltar à "civilização", um fio d'água que ligava a
estação de tratamento ao mar, havia aumentado tanto com a chuva
repentina que acabou por fundir-se ao mar.
Foram minutos de silêncio absoluto, as risadas patéticas e
escandalosas viram-se substituídas por suspiros profundos de quem
diz:
- O que nós vamos fazer agora?
Nenhuma luz provinha da cidade, praia pequena, pouquíssimas
casas, muita, muita areia, escuridão, um carro com pouco
combustível, motoristas inconseqüentes, e uma imensidão de água
capaz de fazer sumir pra sempre quantos "corajosos" quiserem se
aventurar fazendo manobras espetaculares de madrugada.
Resolvemos, brilhantemente, que a melhor solução seria procurar a
saída, rodamos na areia fofa durante alguns minutos, ainda mais
perdidos, acabamos por conhecer um dos grandes problemas dos
banhistas: um atoleiro.
-Tenta de novo!!
-Não vai, tá preso!
-Dá ré! Dá ré!
-Ih! Tá afundando mais!!!
O carro simplesmente não parava de afundar para nosso total
desespero, até que para alívio geral, encontrou o alento de um
estreito banco de areia, que o deixou suspenso, bambo e sem a
possibilidade de tocar as rodas em qualquer lugar firme.
Foram mais alguns segundos de total silêncio, quebrados apenas
pelos ruídos das ondas do mar e ora por uns muxoxos de
arrependimento e desespero.
- O carro, a areia, n-não sai!! Ai! O meu pai!!!
Então o nosso aguçadíssimo cérebro deu-nos a chave para
resolvermos o problema:
- Precisamos tirar o carro do atoleiro!
Sim, realmente precisávamos, e muito! Ao descermos do automóvel,
nos demos conta que realmente estávamos encrencados: a
visibilidade era nula, ou seja, precisávamos manter a luz do veículo
acesa, mas, isso implicaria no desgaste da bateria, impossibilitando-
nos futuramente de dar a partida, trocando em miúdos, não
poderíamos sair dali.
Mesmo assim, resolvemos arriscar, após uma minuciosa análise das
condições da areia, profundidade e etc. começamos a cavar ao redor
do Escort inicialmente limpo, no intuito de desobstruir as rodas da
areia, nessa altura desconhecíamos a existência do banco de areia.
- Tenta, vai!!!!
Foram inúmeras tentativas, escavações por debaixo do carro,
madeiras de sustentação, macaco: desespero.
-E agora?- Perguntávamos o tempo todo um ao outro, quem sabe
alguma idéia mirabolante tivesse surgido num daqueles cérebros
dotados de altíssima capacidade intelectual nos últimos dez
segundos antes da última vez perguntada.
-E agora?
Já meio conformados com a derrota, o provável guincho, a noite na
praia, o veto permanente do carro, sentamo-nos à beira do mar, antes
sequer da última tentativa de libertação de nosso pequeno grande
pesadelo juvenil.
Nenhuma palavra, já não mais precisava, só ouvíamos o som do mar,
do vento, relativamente forte, de uma caminhonete à distância...
-Você ouviu isso?
-O quê?
-Escuta...
Sim, era um outro automóvel! Nossa salvação!! Ao longe já
podíamos ver os faróis brilhantes vindo rapidamente em nossa
direção, até que...
- Ué? Estacionaram?
Nossos gritos foram inúteis, nossos salvadores haviam parado
mesmo, o que estariam fazendo aquela hora, naquela praia deserta?
Bem, acredito que fariam a mesma pergunta a nós.
- Eu vou até lá! - Disse com voz esperançosa Emmanuel, meu
amigo, já em posição de corrida.
- Te espero aqui, preciso cuidar do carro, mas volte logo!
- Claro, claro! - respondeu apressadamente, assim como saiu.
A distância entre o nosso veículo e o dos nosso salvadores não
poderia ser precisamente calculada na situação em que eu me
encontrava, mas julguei que uns vinte minutos seria tempo suficiente
para que o socorro chegasse e nos libertasse daquela situação.
Mas, o tempo passava, o farol continuava aceso, Emmanuel não
voltava. Não posso precisar o tempo pois a escuridão era tamanha
que visualizar o marcador de meu relógio era uma tarefa tão difícil
quanto desatolar o carro. Mais tempo se passou. Nessas alturas, todo
tipo de pensamento vem à cabeça, desde um mero seqüestro até uma
seita demoníaca que executa seus trabalhos com jovens que atolam o
carro de seus pais na praia. Eu precisava salvá-lo!
Antes de fechar a porta com a chave, tive outro brilhante e raro
momento pensante: Se eu fechar o carro e apagar a luz,
provavelmente será muito difícil encontrá-lo depois sem
luminosidade, além do que a maré está subindo depressa, talvez eu
realmente não o encontre mais. Acendi a luz e fechei a porta,
respirei fundo, e armei-me de um porrete praticamente decomposto
que encontrei por ali mesmo, e como nos filmes de aventura, iniciei
uma aproximação do veículo dos monstros canibais de três metros e
meio de altura que haviam devorado meu amigo, no melhor estilo
"lagartixa", ou seja, me arrastando , para não ser identificado pelo
inimigo.
Porém, a distância que eu havia calculado, de aproximadamente uns
duzentos metros entre os veículos estava totalmente errada e durante
umas três aulas demoradas de matemática eu me arrastei na areia
atrás dos Ciclopes monstruosos, empunhando minha clava,
inicialmente leve, neste momento mais pesada que minha
consciência por ter feito esse programa de fim de noite.
Sentindo dores na coluna, e com uma das mãos nas ancas, como um
idoso reumático apoiado em sua bengala, ergui-me receosamente até
que ouvi um apelo de meu amigo Emmanuel:
- Me ajuda!!!
Quem diria, nossos salvadores, os monstros satânicos, os Ciclopes:
atolados.
Tentavam, como nós tentamos, de todas as formas libertar o veículo
do atoleiro, uma potente picape , com tração nas quatro rodas. Como
"atolados" três bonitas moças de uns vinte anos, e dois rapazes, um
pouco alterados pela bebida excessiva.
- Monstros, seqüestradores, bah...
- Oi?
- Hum, deixa pra lá.
Afinal das contas, resolvi voltar apagar a luz, e numa última e
desesperada tentativa , milagrosamente o carro saiu do atoleiro! Um
momento inesquecível! Ajudamos os "Ciclopes canibais ", que
também foram bem sucedidos, gratificando-nos " poupando nossas
vidas".
Chegamos em casa pouco antes do amanhecer, as primeiras réstias
de sol já cingiam os dois rostos pálidos, cansados e profundamente
aliviados.
Estacionamos cuidadosamente, com todo o zelo possível, tirei a
chave da ignição , suspirei, suspirei novamente ao ver o estado em
que nos encontrava-mos, eu, Emmanuel, e o pobre carro, com areia
em cada orifício de nosso ser.
Olhamo-nos e com a nossa genialidade característica sorrimos
adolescentemente, e limpamos a areia com um pano úmido,
catalogando no verniz do automóvel exatamente a quantidade de
grãos de areia que estiveram ali naquela noite.
Ao percebermos que a emenda havia sido pior que o soneto,
recolhemo-nos, e do jeito que estávamos deitamo-nos, na esperança
que tudo aquilo não tivesse passado de um sonho ruim, e que no
dia seguinte o carro amanhecesse limpo assim como nossas
plúmbeas consciências.

Oribes Neto

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