Devo dizer que este texto foi escrito numa das minhas primeiras idas a Barra da Tijuca desde meu retorno do trabalho que realizei na Amazônia. Foi escrito/ pensado/ passando durante o percurso que compreende a saída do bairro Fonseca em Niterói onde tenho residência, barcas, passando pelo centro do Rio de Janeiro, Copacabana, Avenida Niemayer etc. Não ha pretensão nenhuma aqui mais que relatar questionamentos e pensamentos sobre questões do dia, conversas com amigos e encontros durante este percurso. É nesta via que este artigo será conduzido. Perto de minha casa que bem verdade é numa avenida, faz uma perpendicular com a Alameda São Boa Ventura. Digamos, uma rua tradicional de uma dos primeiros bairros de minha cidade, Niterói. Pois bem, nesses dias (de que o errado é que está certo) a alameda esta recebendo mais um projeto/ progresso de nossa sociedade contemporânea: estão derrubando as arvores que antes eram à margem do rio ou córrego que por ali passava. Hoje em breve recebera terminais de ‘buses’ (foi uma maneira que achei de falar das conduções coletivas, ônibus, mas remete aqui também a idéia de bisness- negocio) ao modelo ‘paulista’, exemplo alias que mostra dia a dia não estar conseguindo resolver o problema. As artérias e as veias, ruas e avenidas das cidades encontram-se entupidas, e como um corpo com má circulação funcional de suas artérias e veias, esta fadada ao colapso. Por coisas feitas pelas metades, mal feitas ou não feitas. Veja o exemplo dos recordes de trafego em São Paulo em 2008. Penso que não nos damos conta da relação, relações no tempo, espaço, as dinâmicas são/estão entupidas por baboseiras. Queremos o carro, mas logo não teremos Rua para sair com eles, teremos os rodízios à moda paulista? Meios alternativos e viáveis estão a nossa frente, mas continuamos querendo não enxergar, bom planejamento e manejo dos transportes públicos, bicicletas e outras formas de circular. Claro que o respeito ao ser humano é o mais importante, sem ele os acidentes e o desrespeito a esses métodos (conscientes alternativos) tanto no discurso, quanto na pratica, fadaram ao fracasso, e pra você leitor, o que importa pra você? A alameda, hoje já quase depenada de suas sombras, suas arvores centenárias, extraídas de toda sua natureza para cada dia mais ser asfalto, progresso, o rio há anos é apenas esgoto e com este reestruturação, será coberto com concreto armado. Mal nos damos conta de que o que parece solução, bem na realidade será apenas mais um problema. Os carros continuaram aumentando e logo o alargamento da alameda de pouco adiantara, na realidade já agora quase nada vai adiantar as entradas ou saídas da alameda são, salvo engano, de uma pista. Faremos viadutos, e assim continuamos a tapar o problema com peneira (soluções paliativas), ou tapar o sol com muros (viadutos). O que quero ressaltar aqui são as vias de acesso (sejam alamedas, avenidas, rios, ruas, veias...) da ‘humanidade’ e natureza, o afastamento e problemas advindos do raciocínio da divisão entre nós, humanos e a natureza, vendo e sistematizando o mundo/ universo qual maquina, pretendendo dominar, domar as forças da natureza (hoje em dia há um discurso admitindo o quanto somos irracionais quando mantemos essa conduta!). Mesclando a essa idéia/conceito (vias de acesso) aqui com as falsas soluções que insistentemente mantemos para nossa maneira de emanar (nossos paradigmas, percepções) neste planeta, nessa confluência de idéias/conceitos que proponho olhar (ou a maneira que estou olhando) o que toda essa ‘humanidade’ produz e realiza em sua diversidade. Cultura. O rio (agora o de janeiro) é a imagem (ao menos de certo modo) de nós brasileiros para o mundo. Somos cotidianamente replicados em sinais de teve para todo o Brasil e boa parte do mundo. O que são as manifestações aculturais (ou multiculturais) desta nossa cidade? Reflexos dos reflexos de uma possível ‘cultura autentica’? Estamos multifacetados e nos autenticando, ou se identificando, em que? No samba (choro, afrosamba, partido alto, samba enredo) antes negado e marginalizado, ou é o Funk? Mas temos como toda ‘boa’ capital pós moderna contemporânea cibernética, mil possibilidades do mundo diante de nossa vista também: Have,Techno, punk, gótico, Marylyn Maison, Maracatu, forro PE de serra, reggae, naya Bing e o que mais dessa e outras misturas puder rolar. It’s only rock and roll, but i liked. Mas o que somos, afinal? Uma mistura de tudo isso? Quero tocar o leitor a tentar compreender, ou perceber a falta de compreensão que temos acerca de certos conceitos como, cultura, autenticidade, folclore, o tradicional, regional e étnico. O que planejamos pra gerações futuras? Como seguimos nos autenticando em ‘rótulos’ vazios, o que sabemos sobre a existência, o que somos afinal. Brasil, RJ, Niterói, America Latina, novo mundo, antiquados ideais. Aqui é uma tentativa de questionamento sobre o rumo de nosso paradigma, e todas essas categorias que estão relacionadas à cultura das humanidades estimulando a reflexão de nossos rastros, vestígios, soluções e apontamentos sobre a vida na Terra. Mas também temos a cultura cientifica que separa as áreas de conhecimento, possibilitando ao longo da história, descobertas, teorias, mas não sobre o destino humano, nem do futuro da ciência e do conhecimento. O que o tempo revela para o nosso futuro? O sociólogo Edgar Morin nos diz em seus textos: “o problema de nossa época é efetuar uma reforma do pensamento, que permita a ligação de duas culturas distintas, uma reforma paradigmática, não programática que diz respeito a nossa aptidão para organizar o conhecimento”. A disjunção entre o ser biológico e cultural nos da mostra atualmente da escassez de possibilidade de compreensão das complexidades da vida, da diversidade. Nos deparamos com uma infinidade de diversidades culturais, mas não sabemos o que são nem o que fazer com elas. Se é que temos que fazer alguma coisa. E que caminho escolhemos para nossa nau? Quem é o capitão afinal? Nesse mundo de ideologia do acumulo, bens de consumo, o lixo é o que temos de herança para as gerações futuras isso é certo, mas o que buscaremos de diferente. Quais alternativas nós criaremos, somos capazes ainda de sermos criativos, ou cada vez mais somos apenas replicantes? Qual o progresso de futuro que projetamos para nós nos dias atuais? De resto, aqui como disse, são apenas as minhas primeiras impressões do retorno ao meu estado, depois de ter permanecido pela Amazônia de 2007/2008. Um artista dividido entre etnografia, problemas sociais, o mundo da arte, o sofrimento do dia a dia, descobrir quem somos, sou? O auto sofrimento, e o sofrimento de outros. Ser artista, pesquisador o significado de tudo isso. A arte de escrever. Escrevo e entendo que a escrita é constantemente reelaborada no exercício da leitura. Atos e atividades modos de fazer, escrever criando sinais, não é isso? Mas nesse mundo onde a arte cada dia mais aproxima seu significado ao de celebridade, ao sucesso vazio, venho tentando construir diálogos no perceber/olhar as manifestações e realizações humanas e artísticas. Esse texto, por exemplo, é arte? Não um trabalho no pensar, apenas agir, ou fingir o ato. Ver e interagir no mundo com arte, da arte. Sigo num rio aparentemente sem direção, caminhos que conheço, mas que há muito não percorro. Quem vai por baixo não é só o tatu, metrô, superfícies e subsolo, trafico de carros, gente. A Lapa de travestis, floresta, praias, gloria... Ah na gloria. A lucidez da loucura. Reluzem nos meus olhos os porcos de lábios brancos da Amazônia e os porcos urbanos descendo os morros nas madrugadas, reveladores do lixo. Mudança de clima, selva, montanha, comunidade, favela, urbano, cidade e o campo. Mas as questões permanecem, tudo muda, nada se transforma. Política, não se trata apena disso, inserção, envolvimento, comprometimento, alternativas coesas são as peças fundamentais de mudanças de perspectivas. TV coletiva, no passado recente, nos índios de hoje... Hussein novo presidente estados unidense. Branco, preto, amarelo, mulato, vermelho, verde triste, burguesia alegre, cheirosa, medrosa, elite? Trazer definições, a arte das definições, ciência, filosofia, antropologia, teologia, a regularização do pensamento contemporâneo. Profano religioso, ritual, celebração, apenas mais uma apresentação? Show bissness?Publicidade? Meios de divulgação? Fatalidade, coincidência, estudos científicos, crendices, ditos populares, buchichos. No caminho de volta nas barcas, conversando com um amigo rastafari ele disse: ‘o petróleo são os amortecedores das placas tectônicas, é por isso que está rolando tanto terremoto’. Será essa a explicação? Verdade? Ficam aqui mais tantas outras interrogações, projeções. Seremos capazes de criar convergências de linguagens em meio a tanta ‘lucidez’. Ou todo esse discurso sobre o ambiente é apenas ‘chover no molhado’? O que se quer é um lugar seguro ao sol.
Rafael Pessôa São Paio
Graduado em Escultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1999) e
Mestrado em Ciências da Arte pela Universidade Federal Fluminense (2003). Atualmente, desenvolve pesquisa e trabalha com comunidades indígenas na area de educação, antropologia e saúde. Produziu ao longo de suas pesquisas, registro audiovisual - Museu Nacional/ Universidade Federal do Rio de Janeiro, Kodak e Universidade Federal Fluminense (2001-2006). Tendo experiência na área de Antropologia, etnologia, fotografia e arte.