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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXIII

CURSO ANUAL
OPÇÃO 3
Direito Econômico e Financeiro
Direito Eleitoral
Direito Internacional
Direito Previdenciário
Direitos Humanos
Medicina Legal

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Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010
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DIREITO ADMINISTRATIVO
Desapropriação

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DIREITO ADMINISTRATIVO

DIREITO ADMINISTRATIVO

Desapropriação

1. FASES DA DESAPROPRIAÇÃO

1.1. Fase Declaratória


A fase declaratória da desapropriação consubstancia-se na indicação da necessidade,
da utilidade, do interesse público, ou do interesse social do bem a ser expropriado.

A titularidade para a declaração expropriatória pertence ao Poder Público. Porém,


também possuem legitimidade o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER)
(Dec.-lei n. 521/69), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) (Lei n. 9.074/95) e os
concessionários, desde que devidamente autorizados pela Administração (artigo 18, inciso
XII; artigo 29, inciso VIII; e artigo 31, inciso VI; todos da Lei n. 8.987/98).

O Poder Executivo e o Poder Legislativo possuem competência para a prática do ato


expropriatório que dá início ao processo de desapropriação e o fazem com instrumentos
diferentes:

• o chefe do Executivo: por intermédio de decreto;

• o chefe do Legislativo – artigo 8.º do Decreto-lei n. 3.365/41: por meio de lei


(posição majoritária). Há autores que afirmam ser por intermédio de decreto-lei
(minoritária).

1.1.1. Motivos para a decretação da desapropriação


São os seguintes os motivos para a decretação da desapropriação:

• utilidade pública: quando a transferência de bens de terceiros para a


Administração lhe é conveniente, embora não seja imprescindível (artigo 5.º do
Dec.-lei n. 3.365/41);

• necessidade pública: a Administração, diante de uma situação de emergência,


exige a transferência urgente de bens de terceiros para seu domínio e uso
imediato;

• interesse público: o fato que irá caracterizar a desapropriação é uma situação de


interesse público;

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• interesse social: quando a desapropriação tem lugar para a distribuição ou o


condicionamento da propriedade em benefício da coletividade ou de categorias
sociais.

1.1.2. Efeitos jurídicos da declaração de utilidade pública e interesse


social
Os efeitos jurídicos da declaração de utilidade pública e interesse social são três:

• Direito de as autoridades expropriantes penetrarem no imóvel (artigo 7.º do Dec.-


lei n. 3.365/41) – direito auto-executório. Se a Administração causar danos ao
imóvel, responderá pelos prejuízos causados.

• Fixação do estado do bem, incluindo as benfeitorias nele existentes, o que gera


efeitos no cálculo de indenização.

• Início da contagem do prazo de caducidade da declaração.

1.2. Fase Executória


A fase executória tem por finalidade a adoção das medidas necessárias para a
implementação da desapropriação.

Pode ser realizada pela União, pelos Estados, pelos Municípios, Distrito Federal e
Territórios, bem como, nos termos do artigo 3.º do Decreto-lei n. 3.365/41, pelos
concessionários de serviços públicos, estabelecimentos de caráter público ou que exerçam
funções delegadas de Poder Público, se autorizados por lei ou por contrato. A Companhia
do Metropolitano de São Paulo (Metrô), por exemplo, – concessionária de serviço público
, pode promover desapropriação.

A fase executória pode ser processada tanto por via extrajudicial como por via
judicial.

• extrajudicial: quando expropriante e expropriado chegam a um acordo sobre o


valor da desapropriação, basta que esse acordo seja reduzido a termo para que se
efetive a transferência do bem expropriado; se for imóvel, exige-se escritura no
registro imobiliário competente;

• judicial: o expropriante proporá a ação de desapropriação.

O objetivo da desapropriação judicial limita-se ao exame extrínseco e formal do ato


expropriatório, concedendo a imissão na posse quando for o caso, fixando a justa
indenização e adjudicando o bem ao expropriante.

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1.3. Indenização
A indenização constitui direito de ordem pública.

A indenização deve ser justa, prévia e em dinheiro (artigos 5.º, inciso XXIV, e 182,
§ 3.º, ambos da Constituição Federal), exceto para as hipóteses de imóveis rurais sujeitos à
Reforma Agrária (artigo 184 da Constituição Federal), quando, então, se admite
indenização em título da dívida agrária. Não haverá, contudo, indenização se a
desapropriação for de glebas em que se cultivem ilegalmente plantas psicotrópicas (artigo
243 da Constituição Federal) uma vez que, apesar de denominada pelo texto constitucional
como expropriação, tem natureza jurídica de confisco.

1.4. Imissão na Posse


Conforme estabelece o artigo 15 do Decreto-lei n. 3.365/41, “se o expropriante
alegar urgência e depositar quantia arbitrada de conformidade com o artigo 685 do Código
de Processo Civil, o juiz mandará imiti-lo provisoriamente na posse dos bens”.

O artigo 33 do mesmo diploma, em seu § 2.º, autoriza o desapropriado, ainda que


discorde do preço oferecido, a levantar 80% do depósito feito pelo expropriante, observado
o artigo 34.

1.5. Destinação do Bem Expropriado


Nem sempre a desapropriação é realizada para a formação de patrimônio
público. O bem pode ser transferido a terceiros, como ocorre na desapropriação por zona,
na desapropriação para urbanização ou para formação de distritos industriais e na
desapropriação confiscatória ou punitiva.

1.5.1. Desapropriação por zona ou extensiva


A desapropriação por zona, também denominada desapropriação extensiva, é
autorizada e disciplinada pelo artigo 4.º do Decreto-lei n. 3.365/41.

O Poder Público desapropria área maior do que necessita, e as zonas excedentes


podem ser vendidas a terceiros.

A desapropriação por zona pode ocorrer:

• quando a área desapropriada for contínua à necessária para realização de obra


pública;

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• quando as áreas próximas à área da desapropriação sofrem uma valorização


brutal em razão da obra pública.

A declaração de utilidade pública deverá indicar as obras ou os serviços que serão


realizados e qual a zona excedente que será abrangida pela desapropriação.

1.5.2. Desapropriação para industrialização ou urbanização


O artigo 5.º, “i”, do Decreto-lei n. 3.365/41 estabelece que se trata de hipóteses de
desapropriação por utilidade pública.

Os §§ 1.º e 2.º, do mesmo artigo, estabelecem exigências a serem cumpridas para


construção ou ampliação desses distritos industriais ou urbanos.

1.5.3. Desapropriação indireta


A desapropriação indireta equivale ao esbulho possessório. É a desapropriação
realizada sem o devido processo legal.

1.6. Retrocessão
O artigo 519 do Código Civil estabelece que “Se a coisa expropriada para fins de
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que se
desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado
direito de preferência, pelo preço atual da coisa”.

Retrocessão é a obrigação atribuída ao Poder Público de oferecer o bem de volta ao


antigo proprietário caso não ofereça a ele uma finalidade de interesse público.

Assim, podemos dizer que a retrocessão corresponde ao direito de preferência1 do


proprietário em readquirir o bem expropriado, na hipótese da coisa expropriada não ter
sido utilizada em outras obras ou serviços públicos ou em razão de o Poder Público não ter
dado ao imóvel o destino apontado para a desapropriação. O expropriado não faz jus a
nenhum direito por ter a Administração mudado a finalidade inicial, mas mantendo ainda
uma situação de interesse público.

P.: A retrocessão é um direito real ou pessoal?

R.: O Professor Hely Lopes Meirelles2 entende que “a retrocessão é, pois, uma
obrigação pessoal (não obstante, o STF entendeu que a retrocessão tem a natureza de
direito real) de devolver o bem ao expropriado, e não um instituto invalidatório da

1
“O direito de preferência não se pode ceder nem passa aos herdeiros” (artigo 520 do Código Civil).
2
Direito Administrativo Brasileiro. 26.ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 585.
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desapropriação, nem um direito real inerente ao bem. Daí o conseqüente entendimento de


que a retrocessão só é devida ao antigo proprietário, mas não a seus herdeiros, sucessores e
cessionários”.

1.7. Tredestinação
Tresdestinação (de acordo com a melhor gramática, segundo Hely Lopes Meirelles),
ou tredestinação, é o desvio de finalidade na desapropriação. O bem desapropriado é
empregado com outro fim que não a utilidade pública ou o interesse social.

O Professor Hely Lopes Meirelles3 entende que, “se o Poder Público ou seus
delegados não derem ao bem expropriado sua destinação legal, ficará o ato expropriatório
sujeito a anulação e a retrocessão”. Todavia, se a finalidade diversa da originalmente
estipulada permanecer de acordo com o interesse público, não haverá ilegalidade.

1.8. Desistência da Desapropriação


O Poder Público expropriante pode desistir da desapropriação, sendo para isso
necessário:

• que a desistência seja anterior ao término da desapropriação – ou seja, até a


incorporação do bem ao expropriante –, pois, após a transferência da
propriedade, o Poder Público passa a ser dono; daí por diante, o que pode haver é
retrocessão do bem;

• o pagamento de indenização;

• o ressarcimento das despesas.

Em princípio, o particular não pode opor-se à desistência, mas poderá exigir o


ressarcimento dos prejuízos sofridos.

Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida a reprodução


total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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Op. cit.. p. 584.

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DIREITO CIVIL

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DIREITO CIVIL

Prof. Vitor Frederico Kümpel

1. DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS

1.1. Introdução
Abre-se o processo de inventário para se cumprir o testamento.

Antes de se abrir o inventário, deve-se examinar a validade formal do testamento.

O Código de Processo Civil, em seu artigo 1.125 e seguintes, estabelece


fundamentos importantes acerca dos testamentos e codicilos:

Testamento público: conforme estabelece o artigo 1.128 do Código de Processo


Civil, “quando o testamento for público, qualquer interessado, exibindo-lhe o
traslado ou certidão, poderá requerer ao juiz que ordene o seu cumprimento”. O
órgão do Ministério Público será ouvido (artigo 1.126 do Código de Processo Civil).

Testamento cerrado: “ao receber o testamento cerrado, o juiz, após verificar se está intacto,
o abrirá e mandará que o escrivão o leia em presença de quem o entregou” (artigo 1.125 do
Código de Processo Civil).

Testamento particular: além do registro e da publicação há a necessidade da sua


confirmação pelas testemunhas (ao menos três) que participaram de sua feitura
testemunhas testamentárias (artigo 1.130 do Código de Processo Civil).

Testamento marítimo, militar e codicilo: artigo 1.134 do Código de Processo Civil.

1.2. Conteúdo das Disposições Testamentárias


O testador, por meio das disposições testamentárias, além de dar destino a seus bens,
pode encerrar outras determinações de caráter não-patrimonial, quais sejam:

• reconhecimento de filhos;

• nomeação de tutor;

• criação de fundação;

• deserdação;
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• perdoar o indigno;

• nomear herdeiro ou legatário;

• fazer restrições, entre outras disposições.

Nada obsta a que o testador recorra ao testamento apenas para disposições não-
patrimoniais.

1.3. Regras sobre as Disposições Testamentárias


Os artigos 1.899, 1.902, 1.904, 1.905, 1.906, 1.907 e 1.908, todos do Código Civil,
têm caráter eminentemente interpretativo. A interpretação das cláusulas testamentárias visa
suprir eventuais falhas do testador.

Entre todas as regras interpretativas, a mais importante está disposta no artigo 1.899
do Código Civil: “quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações
diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador.”

O Código Civil, em seus artigos 1.898 e 1.900, estabelece regras proibitivas.

As regras permissivas encontram-se nos artigos 1.897 e 1.911, ambos do Código


Civil.

2. LEGADOS

2.1. Conceito
Legado é uma coisa certa e determinada da herança deixada pelo testador a alguém,
ou seja, o legatário, em testamento ou codicilo. O legatário recebe a título singular.

Quando o bem (certo e determinado) é atribuído a herdeiro legítimo denomina-se


pré-legado ou legado precípuo.

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2.2. Espécies de Legado

2.2.1. Legado de coisa alheia


O artigo 1.912 do Código Civil estabelece que é nulo o legado de coisa alheia,
admitindo-se três exceções:

se, depois de feito o testamento, a coisa alheia vier a integrar o patrimônio do


testador (artigo 1.912 do Código Civil);

quando o testador determina que o herdeiro, ou o legatário entregue coisa de sua


propriedade a outrem, sob pena de se entender que renunciou à herança ou ao
legado (artigo 1.913 do Código Civil);

quando há legado de coisa móvel que se determine pelo gênero ou pela espécie
(artigo 1.915 do Código Civil).

2.2.2. Legado de crédito ou de quitação de dívida (artigo 1.918 do


Código Civil)
No legado de crédito, o devedor é terceiro, caracterizando-se verdadeira cessão de
crédito.

O legado será de quitação de dívida, se o devedor for o próprio legatário.

2.2.3. Legado de alimentos


O artigo 1.920 do Código Civil estabelece que “o legado de alimentos abrange o
sustento, a cura, o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele
for menor”.

Os alimentos testamentários não se confundem com os alimentos legais.

2.2.4. Legado de imóvel


No legado de imóvel, estabelece o artigo 1.922 do Código Civil que “se aquele que
legar um imóvel e ajuntar depois novas aquisições, estas, ainda que contíguas, não se
compreendem no legado, salvo expressa declaração em contrário do testador”.

A restrição é voltada para as ampliações ou os acréscimos externos ao imóvel não-


classificados como benfeitorias (parágrafo único).

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2.2.5. Legado de usufruto


Não fixando o tempo do legado de usufruto, entende-se que o testador o fez para
toda a vida do legatário – usufruto vitalício (artigo 1.920 do Código Civil).

Com a morte do legatário, consolida-se o domínio do nu-proprietário, que pode ser


um herdeiro ou terceiro.

2.3. Dos Efeitos dos Legados


O artigo 1.784 do Código Civil estabelece que “aberta a sucessão, a herança
transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”; o mesmo não ocorre a
respeito da posse e da propriedade do legado.

Quanto ao legado, o artigo 1.923 dispõe que “desde a abertura da sucessão, pertence
ao legatário a coisa certa, existente no acervo, salvo se o legado estiver sob condição
suspensiva”.

Conforme ensina o Professor Silvio Rodrigues, “para obter a coisa objeto do legado,
deve o legatário pedi-la ao herdeiro, sendo-lhe mesmo expressamente vedado entrar na
posse da mesma, por sua exclusiva autoridade” (Curso de Direito Civil, Vol. 6).

3. DIREITO DE ACRESCER
O direito de acrescer está disciplinado no Código Civil em seus artigos 1.941 a
1.946.

3.1. Conceito
O direito de acrescer é o direito pelo qual, havendo dois ou mais herdeiros ou
legatários conjuntos sobre o mesmo bem ou bens, e vindo a faltar um deles em razão de
morte (premoriência), renúncia, exclusão por indignidade ou incapacidade, não-verificação
da condição sob a qual foi instituído, a sua parte acresce a do(s) outro(s) herdeiro(s)
conjunto(s), salvo se houver substituto para o herdeiro que faltou, ou se o testador, ao fazer
a nomeação conjunta, tinha especificado o quinhão de cada um, sendo a quota vaga do
contemplado que vier a faltar devolvida aos herdeiros legítimos do testador, conforme
especifica o artigo 1.944 do Código Civil.

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3.2. Requisitos
Para que ocorra o direito de acrescer é necessário:

• nomeação de co-herdeiro, ou co-legatário, na mesma disposição testamentária;

• legado dos mesmos bens ou da mesma porção de bens;

• ausência de quotas hereditárias determinadas.

O direito de acrescer não é privativo do direito das sucessões, podendo ocorrer no


direito das coisas (artigo 1.411 do Código Civil) e no direito das obrigações (artigo 812 do
Código Civil).

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DIREITO COMERCIAL
Contratos Mercantis

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DIREITO COM ERCIAL

DIREITO COMERCIAL

Contratos Mercantis

1. CONTRATOS DE DISTRIBUIÇÃO

Os contratos chamados contratos de distribuição são aqueles que têm por objetivo o
escoamento de mercadorias. Na prática, os contratos de distribuição ocorrem quando
determinado comerciante, visando ampliar, manter ou criar um mercado para distribuição
(escoamento) de suas mercadorias, e não interessado ou estando impossibilitado de fazê-lo
diretamente, contrata terceiros para colaborar no escoamento dessas mercadorias. Os
principais exemplos de contratos de distribuição são:

• representação comercial;

• franquia;

• concessão mercantil.

1.1. Representação Comercial


Representação comercial é um contrato por meio do qual uma pessoa física, ou
jurídica – denominada representante comercial –, realiza atividade de mediação ou de
intermediação de negócios mercantis em nome da outra parte – que se denomina
representado –, e recebe comissão pelos pedidos solicitados e que efetivamente se
transformem em negócios a serem cumpridos pelo representado.

Esse tipo de contrato de distribuição é regulado pela Lei n. 4.886/65.

A essência da representação comercial é a intermediação de compra e venda


mercantil. A Lei n. 4.886/65 caracteriza a relação de representação comercial como
contrato mercantil e não como relação de emprego; portanto, entre representante e
representado não existe vínculo empregatício.

O contrato de representação comercial é um contrato típico mercantil, pois é


regulado por lei.

A lei apresenta regras que se assemelham às leis laborais; porém, três fatores
diferenciam a relação de representação comercial da relação de trabalho:

• possibilidade de o representante ter empregados;

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• arcar o representante com os custos do seu negócio, ficando clara a autonomia


entre representante e representado;

• poder o representante se fazer substituir por outrem no exercício de suas


atividades.

Trata-se de um contrato bilateral, oneroso, típico e consensual.

1.1.1. Registro dos representantes perante os conselhos regionais


Os conselhos regionais foram criados pela Lei n. 4.886/65 e funcionam como órgão
fiscalizador dos representantes comerciais. O objetivo dos conselhos regionais é dar
estabilidade ao mercado.

Os conselhos regionais poderão aplicar multas, determinar a suspensão ou até


mesmo o cancelamento do registro, nas hipóteses de falta mencionadas no artigo 19 da Lei
n. 4.886/65 como, por exemplo, negar prestação de contas ao representado.

O registro do representante no Conselho Regional é obrigatório (art. 2.º da citada


lei). A sanção para a falta de registro está prevista no seu artigo 5.º e consiste na perda do
direito à comissão sobre os negócios mediados.

P.: Mas é legal essa regra?

R.: A jurisprudência decidiu que não. O recebimento da remuneração pelo


representante independe de registro no Conselho.

A doutrina entende que a falta de registro não impede o recebimento da comissão;


porém, exclui o representante do exercício de certas prerrogativas previstas na Lei n.
4.886/65. Outros entendem que o registro é mera formalidade e que sua ausência não
retiraria qualquer prerrogativa do representante.

A tendência atual é a de não condicionar a remuneração ao registro, por entender


que esse condicionamento impediria o livre exercício profissional; é discutível, porém, a
questão da perda do direito às prerrogativas da Lei n. 4.886/65.

1.1.2. Principais cláusulas no contrato de representação


O contrato de representação, para a maioria da doutrina, deve ser escrito (art. 40 da
Lei n. 4.886/65). As principais cláusulas que nele devem constar são:

• A indicação dos produtos ou artigos objeto da representação.

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DIREITO COM ERCIAL

• A indicação do prazo de vigência do contrato, que pode ser determinado ou


indeterminado. Vale observar que, em caso de renovação, o contrato por prazo
determinado transformar-se-á em contrato por prazo indeterminado.

• A indicação da zona (ou região) em que será exercida a representação. O


contrato de representação pode ou não conceder exclusividade ao representante
em relação à região. Se prevista a exclusividade, o representante terá direito a
comissões por todas as vendas que se realizem no território, mesmo se forem
efetuadas diretamente pelo representado ou por terceiros. Há doutrina que
entende ser obrigatória a exclusividade; não estando, porém, prevista em lei, é
uma opção do representado conceder ou não a exclusividade (art. 40 da Lei n.
4.886/65).

• A indicação de exclusividade ou não da representação em favor do


representado. O representante ter liberdade de representação ou ter de
representar apenas os produtos do representado dependerá de cláusula expressa
no contrato. É importante, porém, observar que, mesmo o representante tendo
liberdade de representação, não poderá, ao menos por via de regra, representar
concorrentes do representado (vislumbra-se exceção em relação às corretoras de
seguro, quando representam várias companhia). Caso isso ocorra, dará ensejo à
rescisão motivada do contrato por parte do representado, e o representante não
terá direito à indenização.

Pode o contrato prever quaisquer outras cláusulas, desde que não defesas por lei.

1.1.3. Comissões pagas aos representantes


A remuneração do representante é a comissão, e ele só terá direito a ela após a
liquidação da fatura.

O representante comercial é mero intermediador. A compra e venda é realizada entre


o representado e o terceiro, e somente após o pagamento da fatura é que o representante
terá direito à comissão.

O representado poderá recusar o pedido de compra e venda obtido pelo


representante, não sendo, nesse caso, devida a comissão.

O prazo para recusa por parte do representado é de:

• 15 dias, se a venda foi realizada na mesma praça;

• 30 dias, se a venda foi realizada em outra praça, mas no mesmo Estado;

• 60 dias, se a venda foi realizada em outro Estado;

• 120 dias, se a venda foi realizada no Exterior.

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DIREITO COM ERCIAL

A comissão não será devida em caso de insolvência do comprador. Se, porém, o


contrato prever que sempre haverá o pagamento das comissões, ela será devida. Se for
omisso nesse ponto, a regra é de que não haverá pagamento.

1.1.4. Rescisão do contrato e indenização em favor do representante


Há duas hipóteses a considerar: rescisão sem justa causa ou rescisão com justa
causa.

a) Rescisão sem justa causa

A rescisão sem justa causa pode se dar tanto em relação a um contrato por prazo
determinado quanto a um contrato por prazo indeterminado. A indenização sempre será
devida, porém irá variar de acordo com o tipo de contrato celebrado:

• Se o contrato for por prazo determinado, a indenização será calculada a partir da


remuneração média mensal, recebida pelo representante até a data da efetiva
rescisão do contrato, multiplicada pela metade dos meses restantes para o seu
término.

Exemplo:

Média mensal: R$ 4.000,00

Prazo do contrato: 18 meses

A rescisão ocorreu no 10.º mês, portanto restavam oito meses para o término do
contrato; para o cálculo da indenização utiliza-se a metade deles, ou seja, quatro meses.

Valor da indenização: R$ 4.000,00 x 4 = R$ 16.000,00

• Se o contrato for por prazo indeterminado, a indenização equivalerá a 1/12 (um


doze avos) do total das comissões recebidas durante o período de vigência do
contrato.

Além do pagamento dessa indenização, na hipótese de rescisão sem justa causa ,da
decisão, deverá o representado notificar o representante com 30 dias de antecedência; caso
não o faça, deverá pagar mais uma indenização – equivalente a 1/3 (um terço) das
comissões pagas nos três meses anteriores.

b) Rescisão com justa causa

Na rescisão pelo representado, com justa causa, não caberá ao representante


qualquer indenização.

Hipóteses de rescisão por parte do representado:

desídia do representante no cumprimento de suas obrigações;


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DIREITO COM ERCIAL

prática, pelo representante, de atos que importem descrédito comercial do


representado;

descumprimento das obrigações contratuais pelo representante;

condenação definitiva do representante pelos crimes do artigo 4.º, “c”, da Lei n.


4.886/65 (crimes contra o patrimônio);

força maior – mas, nesse caso, o representado não pode alegar dificuldades
financeiras.

A falência não autoriza a rescisão com justa causa do contrato de representação. O


artigo 43 da Lei de Falências deixa claro que os contratos bilaterais não se rescindem com
a falência e podem ou não ser executados pelo síndico, se for interessante para a massa
falida. O mesmo artigo esclarece também que o contrato de representação comercial é um
típico contrato bilateral.

Hipóteses de rescisão por parte do representante:

• redução da sua esfera de atividade em desacordo com as cláusulas contratuais;

• quebra da exclusividade, se essa era prevista no contrato;

• fixação abusiva de preços, de forma a impossibilitar o desenvolvimento de suas


atividades;

• não pagamento da retribuição devida;

• força maior.

1.1.5. Sub-representação
Nos contratos de representação admite-se a chamada sub-representação, pela qual o
representante subcontrata outrem para a prestação dos serviços de mediação em favor do
representado. O contrato, porém, pode vedar a sub-representação. Se não constar nada a
respeito no contrato, ela é admitida.

O sub-representante tem direito ao recebimento de comissões, porém condicionado


ao recebimento dessas pelo representante.

Na sub-representação os prazos para comunicação sobre recusa de pedido são


prorrogados em dez dias, ou seja, de 15 dias passa para 25 dias, e assim por diante.

O sub-representante terá direito ao aviso prévio e à indenização em caso de rescisão


do contrato sem justa causa, aplicando-se aqui as mesmas regras; quanto à indenização,
porém, ele a receberá de forma proporcional.

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DIREITO COM ERCIAL

1.1.6. Cláusula del credere


A cláusula del credere consiste em transmitir poderes para que outrem aja por conta
do transmitente, mas não em seu nome, e também assuma os riscos do negócio.

Nos contratos de representação comercial é vedada a cláusula del credere. Assim


sendo, não pode o representante ser responsabilizado pelo inadimplemento do devedor.

No contrato de comissão mercantil temos a figura do comitente, do comissário e do


terceiro. O comissário age por conta do comitente, mas não em nome dele.

O comissário, como regra, não assume riscos. Nesse contrato, porém, é possível a
cláusula del credere e, nesse caso, o comissário age em nome próprio, mas assumindo
também os riscos do negócio.

Na representação, a relação existente é entre representado e terceiro, enquanto na


comissão mercantil o comissário age em nome próprio. Por conta do mandato mercantil
admite-se uma relação eventual, não ocorrendo o mesmo na representação.

1.2. Contrato de Franquia (Franchising)


Contrato de franquia é aquele em que uma das partes, chamada franqueador, licencia
o uso de sua marca a outro empresário que se denomina franqueado, prestando-lhe também
serviço de organização empresarial.

O contrato de franquia está previsto na Lei n. 8.955/94; porém, não é um contrato


típico. É típico o contrato em que as obrigações das partes atendem às determinações da
lei. A Lei n. 8.955/94 apenas estabelece regras aplicáveis a uma situação que antecede à
formação do vínculo contratual. Essa lei determina que, antes da assinatura de um contrato
de franquia, deverá o franqueador divulgar a chamada Circular de Oferta e Franquia
(COF), indicando as condições e obrigações relevantes do contrato.

A Circular de Oferta e Franquia deverá ser comprovadamente recebida pelo


franqueado com, no mínimo, dez dias de antecedência à assinatura do contrato, sob pena de
nulidade desse, facultando-se ao franqueado, nessa hipótese, exigir a devolução de todas as
quantias pagas ao franqueador, bem como a indenização.

Os dois principais elementos do contrato de franquia são a cessão do uso de uma


marca e a prestação de serviços de organização empresarial.

São serviços de organização empresarial:

• Serviços de engineering (de engenharia, estruturação): consistem na elaboração


e implementação do estabelecimento do franqueado. Estabelecimento, nesse
caso, significa o local em que a atividade será desenvolvida.

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DIREITO COM ERCIAL

• Serviços de management (de gerenciamento): envolvem treinamento do


franqueado e de seus funcionários, bem como a estruturação da administração
dos negócios a serem desenvolvidos pelo franqueado.

• Serviços de marketing: abrangem a promoção da venda dos produtos a serem


comercializados pelo franqueado, bem como prospecção de mercado, técnicas de
venda, entre outros.

1.2.1. Principais obrigações das partes


a) Obrigações do franqueado

• Pagar uma taxa de adesão e um percentual sobre o faturamento.

• Pagar pelos serviços de organização empresarial.

• Vender apenas os produtos fabricados ou autorizados pelo franqueador,


existindo, nesse caso, uma subordinação de caráter empresarial.

• Observar os preços e as condições de venda estabelecidos pelo franqueador. Pode


haver previsão no contrato quanto à liberdade para a fixação de preços.

b) Obrigações do franqueador

Permitir o uso de sua marca.

Distribuir os produtos a serem comercializados pelo franqueado.

Prestar os serviços de organização empresarial.

Se o franqueador descumprir, ou cumprir de forma defeituosa, as obrigações


assumidas no contrato, caberá indenização ao franqueado.

1.3. Concessão Mercantil


Concessão mercantil é um contrato de distribuição pelo qual um dos contratantes,
chamado concessionário, se obriga a comercializar, com ou sem cláusulas de exclusividade
e de territorialidade, produtos do outro contratante, chamado concedente.

Trata-se de contrato atípico, exceto no caso de concessão para a comercialização de


veículos automotores terrestres, que é regida pela Lei Ferrari.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXIII

DIREITO CONSTITUCIONAL
Os Princípios Constitucionais Tributários

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DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO CONSTITUCIONAL

Os Princípios Constitucionais Tributários

1. INTRODUÇÃO

Os princípios constitucionais tributários específicos estão estabelecidos nos artigos


145 a 152 da Constituição Federal.

O artigo 145 explicita a possibilidade de criação pela União, pelos Estados, pelo
Distrito Federal e pelos Municípios das três espécies de tributos reconhecidas pela doutrina
clássica: os impostos, as taxas e as contribuições de melhorias. Contudo, diante do exposto
nos artigos 148 e 149 (inseridos no capítulo do Sistema Tributário Nacional), inúmeros
autores sustentam que as contribuições sociais e os empréstimos compulsórios também são
espécies do gênero tributo.

A Emenda Constitucional 39/02 inseriu o artigo 149-A na Constituição Federal,


autorizando os Municípios e o Distrito Federal a instituir a Cosip (Contribuição para o
Custeio do Serviço de Iluminação Pública).

Os impostos foram atribuídos separadamente a cada um dos entes políticos (União,


Estados, Distrito Federal e Municípios), conforme consta dos artigos 147 e 153/156 da
Constituição Federal, embora parte da receita obtida com alguns impostos seja partilhada
para atender ao princípio do federalismo cooperativo (artigo 157 da Constituição Federal).
À União atribuiu-se, ainda, a competência para instituir impostos que não estão
expressamente previstos nos artigos 153 a 156 (competência residual), observadas as
regras do artigo 154, inciso I, todos da Constituição Federal.

Algumas questões tributárias foram reservadas a leis complementares (artigo 146 da


Constituição Federal) e por isso não podem ser disciplinadas por outra espécie normativa
(artigos 146, 148 e 154, inciso I, da Constituição Federal, entre outras hipóteses).

O poder de tributar, no entanto, não é ilimitado, estando as principais limitações


previstas nos artigos 150 e 151 da Constituição Federal (regras por alguns denominadas
estatuto dos contribuintes).

2. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (ARTIGO 150, INCISO I, DA


CONSTITUIÇÃO FEDERAL)

Nenhum tributo será instituído, nem aumentado, a não ser por lei. O Código
Tributário Nacional normalmente utiliza a palavra lei em seu sentido restrito, como sendo a
1
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DIREITO CONSTITUCIONAL

norma geral e abstrata editada pelo ente político competente, observado o processo exigido
na Constituição Federal. A expressão “legislação tributária”, por sua vez, compreende as
leis, os decretos e outros atos normativos (artigo 96 do Código Tributário Nacional).

Quanto aos decretos, o Código Tributário Nacional é explícito em só admitir


decretos regulamentares ou de execução (artigo 99), critério que, aliás, confirma o
enquadramento constitucional dos decretos (artigos 49, inciso V, e 84, inciso IV, ambos da
Constituição Federal).

O decreto, espécie mais comum dos atos normativos, costuma ser definido como o
ato administrativo de competência exclusiva do chefe do Poder Executivo (federal,
estadual ou municipal), destinado a dar eficácia a situações gerais ou especiais previstas de
forma explícita ou implícita na lei. Não tem força, portanto, para criar direitos ou extinguir
obrigações, ou seja: no que for além da lei, não obriga; no que for contra a lei, não
prevalece.

Alguns autores, no entanto, admitem o decreto denominado autônomo ou


independente, o decreto que visa suprir a omissão do legislador dispondo sobre matéria
ainda não especificada em lei e que não esteja sujeita ao princípio da reserva legal. Neste
sentido, Hely Lopes Meirelles4.

Excepcionalmente, a própria Constituição Federal admite que o Poder Executivo


(normalmente via decreto), nos limites da lei, altere as alíquotas do Imposto de Importação,
Imposto de Exportação, Imposto sobre Produtos Industrializados e Imposto sobre Operação
Financeira, dispensando inclusive a observância do princípio da anterioridade (artigos 150,
§ 1.º, e 153, § 1.º, ambos da Constituição Federal).

2.1. As Medidas Provisórias


Em casos de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar as
medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso
Nacional (artigo 62 da Constituição Federal).

Há precedentes do Supremo Tribunal Federal, dos anos de 1991 e 1993, relativos ao


artigo 27 da Constituição de Tocantins, que negaram liminar e validaram medida provisória
editada pelo Governador daquele Estado (ADINs ns. 425 e 812).

De acordo com a Emenda Constitucional n. 32/01, a medida provisória perde a


eficácia, desde a sua edição, se não for convertida em lei no prazo de 60 dias. Admite-se a
prorrogação automática do prazo, por mais 60 dias, uma única vez, caso os 60 dias
originários se esgotem sem a apreciação da medida provisória pelas duas Casas do
Congresso Nacional.

As medidas provisórias editadas em data anterior à publicação da Emenda


Constitucional n. 32 continuam em vigor, sem limitação de prazo, até que medida
4
Direito Administrativo Brasileiro. 17.ª ed. Malheiros. p. 162.
2
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DIREITO CONSTITUCIONAL

provisória ulterior (posterior) as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do


Congresso Nacional.

Caso o Congresso Nacional venha a rejeitar a medida provisória, em 60 dias deverá


disciplinar (por decreto legislativo) as relações jurídicas dela decorrentes, pois, do
contrário, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante a sua
vigência conservar-se-ão por ela regidos.

Editada a medida provisória, o Presidente da República deverá, de imediato, remetê-


la para a apreciação do Congresso Nacional.

O antigo decreto-lei (excluído de nosso ordenamento jurídico pela Constituição


Federal/88 e que era cabível somente para disciplinar as matérias expressamente previstas
na Constituição Federal), se não fosse votado em 60 dias, era considerado tacitamente
aprovado.

Expressamente é vedada a edição de medida provisória: I - sobre as matérias


relativas a: a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito
eleitoral; b) direito penal, processual penal e processual civil; c) organização do Poder
Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia dos seus membros; d) planos
plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares,
ressalvado o previsto no artigo 167, § 3.º (que trata de despesas imprevisíveis e urgentes);
II - que vise à detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou de qualquer outro
ativo financeiro; III - reservada a lei complementar; IV - já disciplinada em projeto de lei
aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da
República; V - relativa à competência exclusiva do Congresso Nacional e suas casas e; VI -
para a regulamentação da exploração de serviços locais de gás canalizado pelos Estados
(artigo 25, § 2.º, da Constituição Federal).

As medidas provisórias vinham sendo utilizadas para disciplinar matérias tributárias


não reservadas às leis complementares, com a anuência do Congresso Nacional e de muitos
tribunais, sendo que a Emenda Constitucional n. 32/01 não afasta essas interpretações.

De acordo com o § 2.º da redação atual do artigo 62 da Constituição Federal,


medida provisória que implique instituição ou majoração da espécie de tributo denominado
imposto só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em
lei até o último dia daquele mês em que foi editada. Somente poderão ser instituídos ou
majorados por medida provisória aqueles impostos que não dependam de lei complementar
ou desde que as exigências da alínea “a” do inciso III do artigo 146 da Constituição
Federal sejam satisfeitas por lei complementar anterior à medida provisória.

Quanto aos impostos previstos nos incisos I, II, IV e V do artigo 153 da


Constituição Federal (impostos de função extrafiscal), bem como em relação ao imposto
extraordinário (artigo 154, inciso II, da Constituição Federal), não se aplica o princípio da
anterioridade e assim a medida provisória poderá ter incidência imediata.

Ao menos até a edição da Emenda Constitucional n. 32/01, o Supremo Tribunal


Federal vinha admitindo a instituição de contribuição para a seguridade social sobre as
3
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DIREITO CONSTITUCIONAL

fontes já previstas no artigo 195 da Constituição Federal por simples lei ordinária e,
conseqüentemente, por medida provisória.

A lei que institui contribuição social com base no § 4.º do artigo 195 da Constituição
(sobre outras fontes que não as expressamente previstas na Constituição Federal) tem de
ser de natureza complementar, conforme consta da parte final do parágrafo (que remete ao
artigo 154, inciso I, da Constituição Federal) e já foi decidido na Ação Direta de
Inconstitucionalidade n. 1.103. Luciano Amaro5 e Paulo de Barros Carvalho6, com base no
artigo 146, inciso III, da Constituição, entendem exigível lei complementar para a
instituição de qualquer contribuição social.

De qualquer forma, deve ser observada a anterioridade nonagesimal prevista no § 6.º


do artigo 195 da Constituição Federal (contagem a partir da publicação da medida
provisória), circunstância que no caso concreto pode se mostrar incompatível com a
urgência inerente às medidas provisórias.

3. PRINCÍPIO DA IGUALDADE E DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA

Segundo o princípio da igualdade (artigo 150, inciso II, da Constituição Federal) é


vedado instituir tratamento desigual entre contribuintes de situação equivalente.

A base filosófica do princípio da igualdade é o princípio constitucional da isonomia,


segundo o qual todos são iguais perante a lei.

O princípio da igualdade tributária explicita que a uniformidade do tratamento deve


ser observada entre aqueles que têm situação equivalente, e que estejam em condições
iguais.

É vedada qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou da função


exercida pelo contribuinte.

O princípio da igualdade é complementado pelos princípios da personalização e da


capacidade contributiva, previstos no artigo 145, § 1.º, da Constituição Federal.

Pelo princípio da personalização e da capacidade contributiva, sempre que possível


os impostos devem ter caráter pessoal e ser graduados de acordo com a capacidade
econômica do contribuinte.

A fim de dar eficácia a este princípio, faculta-se à administração, respeitados os


direitos individuais e os termos da lei, identificar os rendimentos do contribuinte, seu
patrimônio e suas atividades econômicas. A Lei Complementar n. 105/01, que revogou o
artigo 38 da Lei dos Bancos (Lei n. 4.595/64), permite que as autoridades e agentes
tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, desde que haja
5
Direito Tributário Brasileiro. 2.ª ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 97.
6
Curso de Direito Tributário. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 36.
4
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DIREITO CONSTITUCIONAL

processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e a medida seja


indispensável, examinem documentos, livros e registros das instituições financeiras,
independentemente de autorização judicial.

As alíquotas diferenciadas do imposto de renda representam um exemplo de se


efetivar os princípios da igualdade e da capacidade contributiva, pois, quando bem
divididas, distribuem de forma proporcional os ônus de prover as necessidades da
coletividade.

A Emenda Constitucional n. 29/00 autoriza o Imposto sobre Propriedade Territorial


Urbana (IPTU) progressivo em razão do valor do imóvel e também faculta ao ente político
tributante fixar alíquotas progressivas com base na localização do imóvel ou sua
destinação.

4. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO TRIBUTO COM EFEITO DE CONFISCO


(TAMBÉM CHAMADO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
RAZOÁVEL, ARTIGO 150, INCISO IV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL)

Esse princípio impõe à União, aos Estados-membros, ao Distrito Federal e aos


Municípios a vedação de utilizar tributo com efeito de confisco, já que tal circunstância
nega vigência ao direito de propriedade garantida pelo artigo 5.º, inciso XXII, da
Constituição Federal.

O caráter confiscatório do tributo é analisado pelo Judiciário no caso concreto e


deve considerar a carga tributária decorrente da totalidade dos tributos.

Entende-se como confiscatório o tributo que absorve parte considerável do valor da


propriedade, aniquila a empresa ou impede o exercício da atividade lícita e socialmente
aceitável.

5. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE

De acordo com o princípio da anterioridade, a Constituição Federal veda a cobrança


de tributos no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu
ou os aumentou (artigo 150, inciso III, alínea “b”). Na Constituição Federal anterior, com
redação diversa, o artigo 153, § 29, explicitava o mesmo princípio.

5
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DIREITO CONSTITUCIONAL

Não se confunde o princípio da anterioridade com o princípio da anualidade, em que


pese a corrente utilização de tais denominações como sinônimas por autores do porte de
Ruy Barbosa Nogueira7 e pelo próprio Supremo Tribunal Federal.

Pelo princípio da anualidade, que não mais existe no Direito brasileiro, a cobrança
dos tributos depende de autorização orçamentária anual do Poder Legislativo.

O artigo 141, § 34, segunda parte, da Constituição Federal de 1946, consignava que
nenhum tributo “será cobrado em cada exercício financeiro sem prévia autorização
orçamentária, ressalvada, porém, a tarifa aduaneira e o imposto lançado por motivo de
guerra”. A previsão orçamentária era renovável anualmente.

Alguns tributos não precisam, necessariamente, obedecer ao princípio da


anterioridade. São eles: os previstos no § 1.º do artigo 150 da Constituição Federal
(Imposto de Importação sobre Produtos Estrangeiros; Imposto sobre a Exportação, para o
exterior, de Produtos Nacionais ou Nacionalizados; Imposto sobre Produtos
Industrializados; Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, os relativos a
títulos e valores mobiliários); Imposto Extraordinário lançado por Motivo de Guerra
Externa - artigo 154, inciso II, da Constituição Federal; empréstimos compulsórios na
hipótese do artigo 148, inciso I, da Constituição Federal; e as contribuições sociais que
financiam a seguridade social artigo 195, incisos I, II e III, da Constituição Federal.

As contribuições sociais relativas à seguridade social, porém, só podem ser exigidas


após 90 dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado (artigo
195, § 6.º, da Constituição Federal). É o princípio da anterioridade nonagesimal ou
noventária.

As exceções ao princípio da anterioridade só podem ser previstas por norma


constitucional, não se admitindo lei complementar para tanto (a Constituição Federal 67,
pela Emenda n. 8, de 1977, autorizava o alargamento das exceções previstas na
Constituição Federal por lei complementar. A Constituição Federal/88 não autoriza o
alargamento por norma infraconstitucional).

O Supremo Tribunal Federal tem decidido que a revogação da isenção tem eficácia
imediata, vale dizer, verificada a revogação da isenção, o tributo pode ser cobrado no curso
do mesmo exercício financeiro, sem ofensa ao princípio da anterioridade (RTJ 107/430 e
Súmula 615/STF), ressalvadas a hipótese do inciso III do artigo 104 do Código Tributário
Nacional (Imposto sobre o Patrimônio e a Renda) e do artigo 178 do Código Tributário
Nacional (isenção com prazo certo ou sob condição onerosa).

7
Curso de Direito Tributário. 14.ª ed. São Paulo: Saraiva. p. 125.
6
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DIREITO CONSTITUCIONAL

6. PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DOS TRIBUTOS (ARTIGO 150,


INCISO III, “a”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL)

Os fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que houver instituído
ou aumentado os tributos (estabelecida a hipótese de incidência) não acarretam obrigações.
A lei nova não se aplica aos fatos geradores já consumados (artigo 105 do Código
Tributário Nacional).

Pode ocorrer, no entanto, que o fato gerador tenha se iniciado, mas não esteja
consumado, se aceita a teoria do fato gerador complexivo, continuado.

Conforme ensina o tributarista Hugo de Brito Machado, “isto se dá especialmente


em se tratando de tributo com fato gerador continuado. O imposto de renda é exemplo
típico, já que, em regra, só no fim do ano-base se considera consumado o fato gerador de
imposto de renda. Assim, se antes disto surge uma lei nova, ela se aplica imediatamente”.8

Embora renomados tributaristas sustentem que o Imposto de Renda (IR) deve ser
regulado por lei em vigor e publicada antes do início do ano-base, fundado na Constituição
Federal de 1967, o Supremo Tribunal Federal sumulou entendimento contrário. Para a
Corte, o fato gerador do imposto de renda se completa em 31/12, e, assim, a lei publicada
até tal data aplica-se a todo o período. O entendimento é prejudicial ao princípio da
segurança de relações jurídicas (artigo 116, inciso II, do Código Tributário Nacional).

Súmula n. 584 do Supremo Tribunal Federal:

“Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei


vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração” (não há
desrespeito ao princípio da anterioridade, pois a lei pode ser publicada em 31 de dezembro
e terá vigência a partir de 1.º de janeiro, exercício em que será apresentada a declaração).

Pela Súmula n. 584, o fato gerador é complexivo, porque “só se considera


consumado o fato gerador no fim do ano-base”.

Os atos normativos, expedidos pelas autoridades administrativas, devem


observância à lei da qual decorrem, mas salvo disposição em contrário entram em vigor na
data da sua publicação (artigo 103, inciso I, do Código Tributário Nacional).

Quanto ao lançamento, deve ser observada a legislação aplicável na data da


ocorrência do fato gerador, ainda que posteriormente revogada ou modificada (artigo 144
do Código Tributário Nacional).

O princípio da irretroatividade é uma limitação à cobrança de tributos. Portanto, as


leis interpretativas, as leis que deixem de definir um fato como infração, aquelas que
diminuem a penalidade prevista por ocasião da infração e, sobretudo, as que concedem

8
Curso de Direito Tributário.10a ed. São Paulo: Malheiros.
7
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DIREITO CONSTITUCIONAL

remissão (perdão total ou parcial de uma dívida), podem ser retroativas (artigo 106 do
Código Tributário Nacional).

7. PRINCíPIO DA LIBERDADE DO TRÁFEGO DE PESSOAS OU BENS


(ARTIGO 150, INCISO V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E ARTIGO 9.º,
INCISO III, DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL)

O princípio não impede a cobrança de impostos sobre a circulação de mercadorias


em operações interestaduais ou intermunicipais, expressamente prevista na própria
Constituição Federal, nem afasta a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas
pelo Poder Público (exigência autorizada pelo próprio inciso V do artigo 150 da
Constituição Federal).

O que se quer vedar é o tributo que tenha como hipótese de incidência o tráfego
intermunicipal ou interestadual de pessoas ou bens, o ir e vir dentro de território nacional.

8. PRINCÍPIO DA IMUNIDADE RECÍPROCA (ARTIGO 150, INCISO VI,


“a”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, E ARTIGOS 9.º, 11 E SEGUINTES
DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL)

A imunidade é uma hipótese de não-incidência constitucionalmente qualificada.


Vale dizer: a Constituição impede que a lei de tributação inclua certos fatos na hipótese de
incidência de impostos. Só há imunidade, em regra, quanto aos impostos.
Excepcionalmente, porém, no artigo 5.º, inciso XXXIV, da Constituição Federal, está
prevista a imunidade de taxas em relação ao direito de petição. E no § 7.º do artigo 195, da
Constituição Federal, está prevista a imunidade (indevidamente chamada isenção) em
relação à contribuição para a seguridade social de entidades beneficentes que atendam aos
requisitos previstos em lei.

Na isenção, ao contrário, é a lei infraconstitucional que retira algumas ocorrências


da hipótese de incidência (por exemplo, estabelecendo que determinados produtos não
pagam imposto de importação, quando a regra geral prevê o imposto de importação sobre
produtos que entram no território nacional). A isenção é denominada hipótese de não-
incidência legalmente qualificada.

Pelo princípio da imunidade recíproca, a primeira das imunidades previstas na


Constituição Federal (artigo 150, inciso VI, alínea “a”, da Constituição Federal), é vedado
à União, aos Estados-membros, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos
sobre patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros, bem como sobre as autarquias e
fundações mantidas pelo Poder Público (são as chamadas pessoas jurídicas de direito
8
_______________________________________________________________________ MÓDULO XXIII
DIREITO CONSTITUCIONAL

público e a extensão quanto às autarquias e fundações, naquilo que está vinculado às suas
atividades essenciais, está prevista no § 2.º do artigo 150 da Constituição Federal).

A imunidade não se aplica ao patrimônio, à renda e aos serviços relacionados com a


exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis aos
empreendimentos privados. Tal imunidade seria contrária ao princípio da liberdade de
iniciativa (artigo 150, § 3.º).

Não estão imunes as atividades prestadas pela pessoa jurídica de direito público em
que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário. Em regra, basta
haver a exigência da contraprestação para que a atividade seja considerada de natureza
econômica e exclua a imunidade.

As empresas públicas e as sociedades de economia mista que exploram atividade


econômica sujeitam-se ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto
às obrigações trabalhistas e tributárias. Por isso, não podem gozar de privilégios fiscais não
extensivos ao setor privado (artigo 173, § 2.º, da Constituição Federal).

9. IMUNIDADE DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO (ARTIGO 150,


INCISO VI, ALÍNEA “b”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL)

A imunidade envolve o patrimônio, a renda e os serviços, desde que relacionados


com as finalidades essenciais do templo. Assim, não pode incidir imposto sobre o imóvel
que sirva de instrumento para a realização de atividade religiosa, como a igreja, a casa
paroquial, o convento etc.

A 1.a Turma do Supremo Tribunal Federal já deliberou que a renda dos imóveis
locados, desde que utilizada para a realização das atividades essenciais da entidade
religiosa, também desfruta da imunidade (RE n. 144.900, j. de 22.4.1997).

A imunidade não se aplica em relação ao imposto de importação, imposto de


exportação, imposto sobre produtos industrializados, operações de crédito, seguro, câmbio
e valores mobiliários (IOF), bem como não se aplica ao imposto extraordinário decorrente
de guerra externa (artigo 150, § 1.º, da Constituição Federal).

10. IMUNIDADE DOS PARTIDOS POLÍTICOS, ENTIDADES SINDICAIS


DE TRABALHADORES E INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO E
ASSISTÊNCIA SOCIAL

A norma é de eficácia contida, dependendo o benefício da observância das regras


prescritas em lei (artigo 150, inciso VI, alínea “c”, da Constituição Federal). Conforme
9
_______________________________________________________________________ MÓDULO XXIII
DIREITO CONSTITUCIONAL

leciona Paulo de Barros Carvalho, a lei que prevê tais requisitos é de natureza
complementar (artigo 146, inciso II, da Constituição Federal).

A imunidade protege o patrimônio, a renda e os serviços, desde que relacionados


com as finalidades essenciais dos entes explicitados; mas, como já mencionado, não é
absoluta.

Quanto às entidades educacionais e assistenciais, há que se esclarecer que não ter


finalidades lucrativas não significa que a entrada de recursos deve ser limitada aos custos,
pois as entidades podem e devem obter recursos destinados ao seu desenvolvimento. O que
não pode ocorrer é a distribuição do patrimônio ou dos eventuais lucros, cujo destino é o
investimento na própria instituição (Lei Complementar n. 104/01).

O artigo 14 do Código Tributário Nacional traça linhas básicas do conceito, “não ter
finalidade lucrativa”, e demonstra que a regra constitucional é de eficácia contida
(restringível). Assim, é possível a exigência de requerimento do interessado à autoridade
administrativa, que reconhecerá ou não a imunidade (julgamento objetivo e que admite
discussão judicial).

11. IMUNIDADE DOS LIVROS, JORNAIS, PERIÓDICOS E PAPEL


DESTINADO À SUA IMPRESSÃO

A imunidade, embora atinja somente os impostos, deve ser compreendida em seu


sentido finalístico, abrangendo inclusive os meios indispensáveis à produção dos objetos
imunes, tal como os equipamentos destinados à sua produção (a imunidade inclui o
imposto de importação, o imposto sobre circulação de mercadorias e serviços e o imposto
sobre produtos industrializados). Há entendimentos contrários, limitando a imunidade.

A imunidade é objetiva e por isso não inclui a empresa jornalística, a empresa


editorial, o autor, o livreiro etc., que, em razão dos princípios da igualdade e da capacidade
contributiva, deverão pagar impostos sobre o rendimento que obtiverem com o livro, com o
jornal etc. A imunidade visa baratear a produção das obras e não enriquecer seus
produtores.

O Supremo Tribunal Federal já decidiu que a imunidade alcança tanto os periódicos


que apenas fornecem informações genéricas de utilidade pública como aqueles que sem
caráter noticioso ou filosófico veiculam publicidade paga (a exemplo das listas telefônicas)
- RE n. 101.441-5-RS.

Desde que não se descaracterizem e sirvam apenas de veículos para a entrega de


mercadorias, os livros, jornais e periódicos gozam de imunidade independente do seu
conteúdo.

10
_______________________________________________________________________ MÓDULO XXIII
DIREITO CONSTITUCIONAL

Há quem defenda, com razão, que a imunidade deve abranger outros veículos de
idéia que não o papel, como os disquetes, os compact discs (cds) e as fitas de vídeo de
conteúdo didático (Embargos Infringentes n. 28.579-5, 8.ª Câmara de Direito Público do
Tribunal de Justiça de São Paulo, rel. Paulo Travain, j. de 1.9.1999, Juis Saraiva). A
questão, porém, ainda não foi pacificada e muitos entendem que a imunidade só protege o
livro impresso.

A imunidade quanto aos impostos não exclui obrigações acessórias (§ 1.º do artigo
9.º do Código Tributário Nacional), como prestar informações ao Fisco, descontar como
fonte os impostos devidos por terceiros e repassá-los aos cofres públicos.

12. PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE TRIBUTÁRIA GEOGRÁFICA


(ARTIGO 151 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL)

É vedado à União instituir tributo que não seja uniforme em todo território nacional
ou que implique distinção ou preferência em relação ao Estado, ao Distrito Federal ou aos
Municípios, em detrimento de outro.

Admite-se, porém, inclusive em relação aos tributos federais, a concessão de


incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico
entre as diversas regiões do País. A lei sobre o tema deve ser de natureza complementar,
nos termos dos artigos 43, § 1.º, e artigo 146, ambos da Constituição Federal.

O inciso III do artigo 151 impede que a União institua isenções de tributos da
competência dos Estados-membros, do Distrito Federal ou dos Municípios, explicitando o
princípio de que o poder de isentar é decorrente do poder de tributar. Na Constituição
Federal anterior havia regra expressa autorizando a União, mediante lei complementar, de
isentar os contribuintes estaduais e municipais. A regra, porém, não impede que a União
conceda moratória (prorrogação, parcelada ou não) quanto aos tributos de competência dos
Estados-membros, do Distrito Federal e dos Municípios, desde que simultaneamente
também conceda moratória em relação aos tributos de competência federal e às obrigações
de direito privado (artigo 152, inciso I, alínea “b”, do Código Tributário Nacional).
Observe-se, ainda, a exceção prevista no artigo 155, § 2.º, inciso XII, alínea “e”, da
Constituição Federal, que prevê a possibilidade de lei complementar federal conceder
isenção de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para produtos
destinados à exportação (Lei Complementar n. 87/96 - Lei Kandir).

O artigo 152 da Constituição Federal e o artigo 11 do Código Tributário Nacional


vedam aos Estados-membros, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferenças
tributárias entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou
destino. José Afonso da Silva chama a regra de princípio da não-diferença tributária.

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_______________________________________________________________________ MÓDULO XXIII
DIREITO CONSTITUCIONAL

13. A SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA

O sujeito passivo da obrigação tributária, a pessoa natural ou jurídica obrigada ao


cumprimento da imposição, pode ser o contribuinte ou o responsável (artigo 121 do
Código Tributário Nacional).

O contribuinte tem relação pessoal e direta com o fato gerador. O contribuinte do


Imposto de Renda, por exemplo, é o titular da disponibilidade periódica da renda ou do
patrimônio (artigo 45 do Código Tributário Nacional).

O responsável, por sua vez, sem ter relação direta com o fato gerador, por imposição
de lei, tem o dever de pagar o tributo. A entidade pagadora dos salários ou produtos é
obrigada a reter na fonte o Imposto de Renda incidente sobre os valores pagos.

O conceito de responsável é amplo e engloba o substituto tributário, previsto no


artigo 150, § 7.º, da Constituição Federal. Caso não se realize o fato gerador presumido, é
assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga.

Na hipótese do § 7.º do artigo 150 da Constituição Federal, o fato gerador ainda não
ocorreu e ainda assim há a responsabilidade do sujeito passivo pelo recolhimento do
imposto ou contribuição. Por isso, a denominação fato gerador presumido, a exemplo do
que se verifica na comercialização de combustíveis (a refinaria desde logo recolhe o ICMS
devido por todos os envolvidos na cadeia de consumo, inclusive o posto que atende ao
consumidor final).

V. Direito Tributário, Saraiva, Coleção Sinopses Jurídicas.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXIII

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO


TRABALHO
Execução – Liquidação

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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Execução – Liquidação

1. ATOS DE ACERTAMENTO

Os atos de acertamento são aqueles que objetivam a liquidação do processo. A


liquidação do processo pode ocorrer de três maneiras liquidação por cálculo, liquidação por
arbitramento e liquidação por artigos.

2. LIQUIDAÇÃO POR CÁLCULO

A liquidação por cálculo ocorre quando a condenação, para ser transformada em


valores, depender de simples cálculo aritmético.

Em tese são esses os seguintes passos:

• a parte requer;

• o juiz defere a remessa dos autos ao contador;

• após feitos os cálculos as partes terão dez dias para a manifestação;

• o juiz profere a sentença de liquidação;

• cita-se o devedor para o pagamento.

Outra pode ser a forma do procedimento:

• as partes apresentam cálculos;

• o juiz opta pelos cálculos que achar corretos, sem necessidade de vista à parte
adversa;

• o juiz homologa os cálculos.

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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

3. LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO

A liquidação por arbitramento ocorre quando determinado pela sentença ou


convencionado pelas partes, ou, ainda, quando o exigir a natureza do objeto da liquidação.

Essa forma de acertamento assim se desenvolve:

• o juiz nomeia perito e fixa o prazo para a entrega do laudo;

• apresentado o laudo, as partes sobre ele se manifestam no prazo de dez dias;

• o juiz profere a sentença ou designa audiência de instrução e julgamento.

4. LIQUIDAÇÂO POR ARTIGOS

Essa forma de acertamento acontece quando para determinar o valor houver


necessidade de alegar e provar fato novo. O procedimento adotado é o seguinte:

• o exeqüente peticiona, observados os requisitos para as petições iniciais, pedindo


a fixação do quantum debeatur;

• aponta o exeqüente as provas que pretende deduzir;

• o executado terá o prazo de dez dias para a impugnação;

• impugnados os artigos, conclusos os autos, o juiz decidirá de plano, se tiver


elementos necessários para embasar sua convicção. Caso contrário, prosseguirá
na instrução do feito;

• dada a sentença, a execução prosseguirá com a citação do devedor para pagar.

5. CITAÇÃO

O juiz expedirá o mandato de citação ao executado, a fim de que cumpra a decisão


ou o acordo ou, em se tratando de pagamento em dinheiro, para que pague em 48 horas, ou
garanta a execução, sob pena de penhora.

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_______________________________________________________________________ MÓDULO XXIII
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

5.1. Hipóteses Posteriores à Citação


• O executado efetua o pagamento e, assim, termina a execução.

• O executado não paga, mas garante a execução e demonstra o seu inconformismo


através do remédio processual adequado.

• O executado não paga nem garante a execução. Segue-se a penhora dos bens,
tantos quantos bastem para cobrir a condenação, acrescida de juros e correção
monetária, custas, emolumentos, honorários e demais despesas.

6. PENHORA

A penhora é um meio coercitivo do Estado para vencer a resistência do devedor.

Ao devedor incumbe o ato de nomear bens à penhora, mas o rol não vincula o juiz,
que poderá substituir o bem.

Caso o devedor não nomeie bens, o juiz determinará ao oficial de justiça que os
penhore.

7. EMBARGOS

Garantida a execução ou penhorados os bens (art. 884 da CLT), o executado terá


cinco dias para apresentar seus embargos e o exeqüente igual prazo para a impugnação dos
cálculos.

Na mesma sentença o juiz julgará os embargos e a impugnação dos cálculos.

O conteúdo dos embargos à execução encontra seu respaldo legal no art. 884, § 1.º,
da Consolidação das Leis do Trabalho. Entendemos aplicável ao processo do trabalho o art.
741, inc. I, do Código de Processo Civil.

Da decisão dos embargos à execução e da impugnação dos cálculos (que pode ser
feita tanto pelo exeqüente quanto pelo executado) cabe agravo de petição.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XII

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO


Lei Antitruste – Lei n. 8.884, de 11.6.1994

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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

Lei Antitruste – Lei n. 8.884, de 11.6.1994

1. FUNDAMENTOS

O estudo da Lei Antitruste, do direito da concorrência, não pode ter início sem a
apresentação da livre iniciativa como fundamento da República Federativa do Brasil e da
Ordem Econômica.

A livre iniciativa comporta restrições (como ocorreu desde a sua criação) de


natureza pública ao exercício da liberdade empresarial, dado que tem por objetivo
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social (art. 170 da CF).

Entretanto, como a livre concorrência é um princípio da ordem econômica (inciso


IV), o que na verdade vem consagrada na Constituição Federal é a livre iniciativa
concorrencial, caracterizada pela livre ação dos agentes econômicos, o livre acesso aos
mercados e a livre escolha dos consumidores e utilizadores. O conceito é diferente da livre
iniciativa, mas não o incompatibiliza.

A proteção à concorrência é instrumental, uma vez que não tem um fim em si


mesma, pois tem o objetivo primordial de “assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social."

Assim, a livre concorrência se apresenta como um elemento desejável, ou mesmo


necessário, para possibilitar a presunção de que a livre iniciativa promove a realização do
bem comum.

Muitos podem ser os motivos da concentração empresarial ou outras condutas que


falseiam a concorrência. Tal fenômeno pode trazer benefícios (exemplos: economia de
escala, competitividade, investimentos tecnológicos etc.) e malefícios (exemplos: restrição
à concorrência, aumento de preços etc.).

Porém, o mercado concorrencial colaciona também diversos benefícios, quer aos


consumidores ou utilizadores, quer às empresas (benefícios atuais e potenciais), quer ao
País, que, com a concorrência, gozará de um parque industrial moderno.

Justamente nessa encruzilhada de interesses é que se estabelece o direito da


concorrência.

Essas normas podem ser de meio ou de resultado. No primeiro caso, considera-se o


meio utilizado para a concentração (uma fusão, uma joint venture etc.) e pode ser
observada no exemplo norte-americano; no segundo caso, verifica-se o resultado da
operação, modalidade essa adotada pela legislação brasileira, como demonstra o caput do
artigo 54 da Lei n. 8.884/94, ratificado pelo seu § 3.°.
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_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

2. HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO
A história e o desenvolvimento da legislação da defesa da concorrência no Brasil é
revelado pela história das constituições econômicas brasileiras, donde extraem-se três
fases:

• 1.ª fase: marcada pelas constituições de 1824 e 1891, com a teoria econômica do
liberalismo, na qual se observa a plenitude do direito de propriedade e, como
conseqüência, o princípio da plena liberdade de iniciativa e de mercado, sendo
que, nesse período, não surgiu nenhuma legislação de regulação do mercado e de
defesa da concorrência.

• 2.ª fase: marcada pelas constituições de 1934 e 1937, das quais se extrai a
definição de que a ordem econômica deve ser organizada pelo Estado. Trata-se
do período em que surgiu o primeiro texto legal antitruste – Decreto-lei n. 869,
de 1938 , que acabou não sendo utilizado. Nesse período surgiu também o
segundo texto, Decreto-lei n. 7.666/45, conhecido como Lei Malaia, que vigorou
por apenas três meses, mas que, na verdade, teve a habilidade de semear muitos
dos dispositivos atualmente vigentes.

• 3.ª fase: marcada pela Constituição Federal de 1946, vem até os dias atuais;
nela foram condensados os pensamentos da Lei Malaia. Trata-se do período no
qual apareceram a Lei n. 4.137/62 e inúmeros outros textos legislativos
contraditórios entre si, até, enfim, surgir a vigente Lei n. 8.884/94.

3. CARACTERÍSTICAS

As características principais da Lei n. 8.884/94 são:

• Trata-se de um microssistema, pois atende apenas determinada situação jurídica


com visão de conjunto de todo o fenômeno, livrando-se da contaminação de
regras de outros ramos do Direito, estranhas àquelas relações, não obstante
apresentar pontes com outras legislações, tais como o Código de Defesa do
Consumidor e o Código da Propriedade Industrial.

• Tem como base o critério da concorrência-meio, também chamada


concorrência-instrumento, uma vez que a concorrência é dada como um bem
entre outros e não um bem em si mesmo, podendo ser sacrificada em favor de
outros bens, também protegidos pela legislação. Na legislação brasileira, a
concorrência é um valor apenas orientador, informador, que pode ser ferido,
sacrificado, com vistas à consecução de outras iniciativas, para dar uma vida
mais digna ao cidadão brasileiro, iniciativas essas que podem ser incompatíveis
com o direito da concorrência. O artigo 54 é claro nesse sentido, o mesmo
ocorrendo no direito comunitário europeu. Já a concorrência-fim, também
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_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

chamada concorrência-condição, estabelece uma proibição genérica, a priori, de


todos os acordos e práticas susceptíveis de atingirem a estrutura concorrencial do
mercado. O exemplo clássico é o dos Estados Unidos da América, que, no
entanto, a jurisprudência já abrandou, com a utilização da regra da razão.

• Possui uma função preventiva e outra repressiva. No primeiro caso, demonstrada


pelo artigos 54 e seguintes, com caráter nitidamente preventivo, regula a
observação dos atos de concentração, visando prevenir aqueles que importem
uma não-razoável limitação à concorrência. No segundo caso, prevista no artigos
15 e seguintes, cuida das infrações à ordem econômica.

• A coletividade é a titular do bem jurídico protegido pela Lei Antitruste, tratando-


se de um direito difuso, uma vez que atinge um número indeterminado de
pessoas e uma indivisibilidade do bem jurídico.

• Além da amplitude subjetiva adotada, a Lei n. 8.884/94 previu a possibilidade de


decretação da desconsideração da personalidade jurídica (art. 18); entretanto,
pela cópia que fez do Código de Defesa do Consumidor, nesse tópico, e devido à
imperfeição do texto legal na utilização do instituto, confundindo-o, tem sido
bastante criticada.

• Encontra-se na Lei também a possibilidade de intervenção judicial na empresa


(art. 69), quando necessária para permitir a execução específica das decisões do
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Trata-se de dispositivo
consoante com as normas societárias comuns, no sentido de que o controlador
deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e
cumprir com a sua função social.

• Constam na Lei inúmeros parâmetros fluidos que colacionam conceitos abertos,


vagos, imprecisos, norteadores do julgamento pelo Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (exemplos: mercado relevante, bem-estar social etc.). Essa
fluidez, por um lado, é importante para a eficácia da legislação, devido à
dinâmica da atividade econômica, mas, por outro lado, pode trazer insegurança
ao agente econômico.

• A Lei concedeu ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica natureza


autárquica, integrando o Poder Executivo (Ministério da Justiça). Concedeu-lhe,
ainda, função judicante com jurisdição em todo o território nacional.

• À Secretaria de Direito Econômico foi concedida a função de acompanhamento


do mercado, tudo para dar eficácia à importante função preventiva da lei.

• Resta evidente na Lei (já que ela abraçou o sistema de concorrência-meio ou


concorrência-instrumento) a admissibilidade de atos de concentração, desde que
esses propiciem eficiências, ou sejam necessários por motivos da economia
nacional. Não há, portanto, ilícitos per se, devendo, caso a caso, ser verificada a
conduta do agente econômico.

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_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

• O artigo 35-B autoriza que a União, por intermédio da Secretaria de Direito


Econômico, celebre acordo de leniência, com a extinção da ação punitiva da
Administração Pública ou a redução de um a dois terços da penalidade aplicável,
com as pessoas que forem autoras de infração à ordem econômica, desde que
colaborem efetivamente com as investigações.

4. INTEGRAÇÃO

Muitos são os elementos constantes nos artigos 20, 21 e 54 da Lei n. 8.884/94 que
devem ser analisados para o julgamento do ato infracional, ou para a verificação da
possível autorização, ou não, pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica, do ato
de concentração.

O que mais interessa ao direito da concorrência é a integração, pois esta altera a


estrutura do mercado; mas não qualquer integração, e sim aquela que integra poder
econômico (trata-se do critério dos resultados e não do critério dos meios).

A integração pode se dar:

• Verticalmente: ocorre entre empresas que operam em diferentes níveis ou


estágios da mesma indústria. A preocupação com as concentrações verticais
decorre dos seus efeitos mediatos (exemplos: discriminação de preços entre
diversos concorrentes; situação de vantagem na distribuição, desencorajando a
entrada de novos produtores etc.), ao contrário do que ocorre nas concentrações
horizontais, onde, inevitavelmente, estará ocorrendo a eliminação de um
concorrente no mercado.

• Horizontalmente: ocorre entre empresas que concorrem entre si, num mesmo
estágio ou nível de produção.

(Obs.: essas integrações podem se dar pela incorporação ou pela fusão.)

• Pela formação de um conglomerado: atividades diversas são conduzidas sob o


comando de um único centro decisório.

• Pela joint venture: uniões parciais e temporárias, não apresentando estabilidade


e permanência, mas, em geral, visando objetivos específicos limitados.

Da integração de empresas pode decorrer a concentração do mercado, mas não


necessariamente.

Interessam à legislação concorrencial os atos de integração que concentrem poder


econômico. Atos de integração que não concentrem poder econômico não interessam ao
Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Nesse sentido, é importante salientar que a

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_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

concentração do poder econômico (ou poder de mercado) pode ser alcançada pelo
crescimento interno da empresa, e isso é legítimo, nos termos do artigo 20, § 1.º, da Lei.

Como conclusão, pode-se afirmar que, especificamente para a concentração de


empresas, quando o ato não é aprovado, não significa a ocorrência de abuso do poder
econômico, mas sim que, da maneira como pactuado, a experiência demonstra que
tamanha soma de poder centralizado nas mãos de apenas um agente certamente resultará
em abuso do poder econômico.

Assim, somente devem ser levados ao Conselho Administrativo de Defesa


Econômica, atos de concentração de empresas que concentrem poder econômico e
preencham os requisitos do artigo 54, ou seja, “possam limitar ou de qualquer forma
prejudicar a livre concorrência, ou resultar na dominação de mercados relevantes de bens e
serviços”, ou seja, atos que afetem a estrutura de um mercado relevante.

Em face, porém, do gigantismo da operação, o § 3.º do artigo 54 impõe como


obrigatório que sejam submetidos à apreciação do Conselho Administrativo de Defesa
Econômica quaisquer atos que visem à concentração econômica e que impliquem
participação, de empresa ou grupo de empresas, resultante em 20% de um mercado
relevante, ou em que qualquer dos participantes tenha registrado faturamento bruto
equivalente a R$ 400.000.000,00.

Para a verificação do nível de concentração do mercado, podem ser analisados os


índices CR3 e CR4 (que demonstram o nível de participação das três ou quatro maiores
empresas no faturamento total de determinada indústria) e o Herfindahl Hirschmann Index
(HHI) – que é calculado somando-se os quadrados dos percentuais de cada participante de
determinado mercado, variando de um número próximo do zero, no caso de um mercado
atomístico, a 10 mil, para um caso de monopólio –, que têm origem nas Guidelines
Americanas, do Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América e do Federal
Trade Commission (FTC), que consideram um Herfindahl Hirschmann Index de até 1.000
como representativo de um mercado desconcentrado; de 1.000 até 1.800, um mercado
moderadamente concentrado; e acima de 1.800, um mercado altamente concentrado.

Após a concentração, o Federal Trade Commission tem considerado:

• se o índice for inferior a 1.000 pontos, somente em casos excepcionais a


transação é considerada anticoncorrencial;

• se o Herfindahl Hirschmann Index fica entre 1.000 e 1.800, somente as


integrações que provocarem um aumento igual ou superior a 100 pontos podem
causar efeitos anticoncorrenciais;

• se o índice for superior a 1.800, com aumento acima de 50 pontos, a transação


pode ser anticoncorrencial; se aumentar mais de 100 pontos, presume-se
anticoncorrencial, mas essa presunção pode ser afastada.

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_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

Ocorre que a utilização desses índices, para a verificação do nível de concentração


do mercado, por um lado, pode subestimar ou superestimar o significado competitivo
futuro de uma empresa ou empresas e de seus impactos em uma fusão, motivo pelo qual as
agências devem usá-los com parcimônia, verificando mudanças recentes ou em curso nesse
respectivo mercado.

Por outro lado, os parâmetros das Guidelines não podem ser simplesmente
transpostos para a economia brasileira, em virtude do diferencial entre a economia
americana e a economia brasileira.

Analisando as escolas econômicas no tocante às conseqüências da concentração,


podemos, entretanto, observar que o índice de concentração do mercado é simplesmente o
ponto de partida de uma investigação que pretenda verificar se determinado mercado é, ou
não, concorrencial, dado que é possível notar mercados concentrados, altamente
competitivos, colacionando benefícios ao consumidor. Segundo a Escola Estruturalista, os
mercados concentrados propiciam a adoção de condutas anticompetitivas, que afetam o
desempenho da economia sem o estresse da competição: os agentes do mercado aumentam
preços, limitam a produção a seu talante, alocando de forma ineficiente os recursos. No
entanto, segundo a Escola de Chicago, a concentração econômica não deve ser vista como
uma presunção de ilegalidade, e sim de eficiência.

Os fundamentos econômicos da análise antitruste ajudam a fornecer parâmetros


objetivos para distinguir as restrições aceitáveis e as ilegais à concorrência.

Inicialmente, no final dos anos 30, em Harvard, utilizou-se a literatura em


organização industrial que introduziu o paradigma estrutura-conduta-desempenho, com
relação unívoca, ou seja, as condições básicas da oferta e demanda afetam a estrutura do
mercado, caracterizado pelo número e tamanho das empresas. Dessa estrutura depende a
conduta dos agentes econômicos e dessa conduta resulta o desempenho no mercado e, via
de conseqüência, o grau de eficiência com que opera. A utilização dessa teoria levou a
julgamentos e determinações radicais.

A partir dos anos 70 ecoaram críticas à Teoria Estruturalista, destacando-se, nesse


sentido, a Escola de Chicago (Robert Bork), com dois pontos básicos:

• o primeiro consistiu em severas críticas à idéia que se tinha das barreiras de


entrada, dado que ela deveria ser entendida de forma mais restrita, representando
apenas aqueles custos em que incorreram os agentes econômicos entrantes, mas,
em nenhum momento, os agentes já instalados;

• o segundo destacou a inversão da relação de determinação entre estrutura-


conduta-desempenho, dado que as empresas mais eficientes tendem a se
expandir, resultando em uma concentração no mercado e demonstrando a
possibilidade de se verificar mercados concentrados resultantes de maior
eficiência.

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_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

As conclusões da Escola de Chicago podem ser resumidas nos seguintes tópicos:

• a dominação de mercado resulta da superioridade em termos de eficiência, com o


que é revertida a causalidade estrutura-desempenho da abordagem estruturalista;

• a única forma preocupante de poder de mercado, portanto, é a derivada da


colusão entre competidores oligopolistas;

• as firmas que perseguem poder de mercado em lugar de eficiência não obtêm, de


fato, lucros de monopólio, porque dependem muito – ao longo do processo – de
atividades de busca de renda;

• individualmente, as firmas não podem obter ou elevar seu poder de mercado por
meio de ação unilateral, a menos que prefiram substituir lucros por posição de
mercado, o que não é crível, ao menos, racionalmente.

Outra escola desenvolvida nos anos 70 foi a da Economia dos Custos de Transação,
a qual defende que o fato de muitos dos arranjos institucionais, que a teoria econômica não
pode explicar como modelo de concorrência perfeita, na verdade, podem traduzir o esforço
para realizar economias de custos de transação. Essa linha de análise revela as eficiências
envolvidas nos atos de concentração.

No final dos anos 70 e início dos anos 80, surgiu a Teoria dos Mercados
Contestáveis, a qual prega que qualquer configuração de mercados contestáveis é capaz de
apresentar os resultados eficientes da concorrência perfeita.

A mais recente discussão teórica é a que se tem chamado Nova Economia Industrial,
de acordo com a qual a estrutura industrial não é necessariamente um determinante
exógeno da conduta e do desempenho, e pode ser manipulada estrategicamente pela
empresa. Assim, defende-se que as condutas adotadas pelas empresas podem gerar
alterações na estrutura do mercado, ou seja, nessa análise são usados modelos da Teoria
dos Jogos (que mostram interações, estratégias entre empresas em mercados oligopolistas).

A tônica da análise dos atos de concentração empresarial aqui no Brasil, como nos
Estados Unidos e na Europa, parte da abordagem estrutura-conduta-desempenho,
incorporando as principais contribuições fornecidas pelas outras escolas (eficiência, da
Escola de Chicago; características transacionais, da Escola dos Custos de Transação;
concorrência potencial, da Teoria dos Mercados Contestáveis; e natureza estratégica das
decisões empresariais, sugerida pela Nova Economia Industrial).

O termo “eficiências” é utilizado pela Lei n. 8.884/94 por reiteradas vezes, porque
as leis de defesa da concorrência partem do princípio de que ela tende a maximizar o
desempenho econômico do mercado, tornando-o mais eficiente, com a produção, a preços
reduzidos, de grandes quantidades e variedades de mercadorias, aptas para suprir a
demanda dos consumidores, possibilitando ainda, a eles, a livre escolha.

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_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

Assim, entre os diversos objetivos do direito concorrencial, está o da promoção da


eficiência econômica, que resulte na maximização da satisfação dos consumidores, tendo
em contrapartida a maximização dos lucros dos produtores.

Em razão disso, a Lei brasileira não constitui, em geral, obstáculo para a maioria das
integrações – mesmo que elas falseiem a concorrência –, já que adota o sistema da
concorrência-meio, mas desde que os agentes demonstrem de forma clara e convincente
que, mediante a integração, poderão alcançar a eficiência.

As eficiências, reconhecidas pela Lei brasileira, mas não limitadas a essas, incluem:

• o aumento da produtividade;

• a melhoria da qualidade de bens e serviços;

• o desenvolvimento tecnológico; tudo nos termos do artigo 54, § 1.º, inciso I.

É importante frisar, entretanto, que, ao avaliar as eficiências, a autoridade da


concorrência deverá efetuar um balanço relativo à apropriação das mesmas, já que a Lei
determina que deverá haver uma distribuição eqüitativa entre os participantes do ato, de
um lado, e os consumidores, de outro.

Mas não há eficiência que supere o malefício da eliminação da concorrência de


parte substancial do mercado relevante. Nesse caso, o ato de concentração de poder
econômico somente poderá ser aprovado quando necessário, por motivo preponderante da
economia nacional e do bem comum, e desde que não implique prejuízo ao consumidor ou
usuário final.

Assim, como conclusão, é possível afirmar que as noções de eficiência e de


concorrência não podem, por isso, ser conflitantes. Ao contrário, é a própria concorrência
que induz à eficiência.

A submissão do ato de concentração à agência da concorrência poderá, entre nós, se


dar prévia ou posteriormente à realização do ato, não obstante as severas críticas de que
somos alvo dos juristas estrangeiros, devido aos prejuízos que o controle posterior pode
ocasionar.

Ao verificar a avaliação do poder de mercado, para controle de concentração


empresarial, é importante salientar que a posição dominante de uma empresa não se mede
somente em função de sua participação relativa no mercado, e que outros critérios devem
ser relevados, tais como:

• as barreiras à entrada;

• a facilidade de acesso ao capital;

• a diferenciação de produtos etc.

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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

Para a avaliação do ato de concentração, a legislação brasileira atual não arrolou


todos os atos que conduzem a tal, nem, tampouco, trouxe ao seu aplicador, subsídios para
determinar quais os atos que possam conduzir à concentração econômica em prejuízo da
concorrência. E isso é muito bom, porque a linguagem aberta da lei e o princípio da
interpretação sistemática autorizam valer-se o intérprete das diferentes práticas e transações
comerciais, acordadas expressa ou implicitamente pelos agentes econômicos.

Assim, na análise de um caso de concentração, devem ser utilizados os seguintes


critérios:

• critério da participação relativa: se, no caso do § 3.° do artigo 54 da Lei n.


8.884/94, decorre da transação uma participação relativa de 20%, ou se, pelo
menos, qualquer dos participantes tenha registrado faturamento bruto anual, no
último balanço, equivalente a R$ 400.000.000,00;

• critério do poder de mercado: se, em decorrência de qualquer ato, aumenta o


poder de mercado de alguma empresa ou grupo de empresas, em prejuízo da
concorrência;

• critério dos efeitos: se a integração, em razão do índice de concentração do


mercado, pode, potencialmente, causar efeitos adversos à concorrência;

• critério da entrada: se existe a possibilidade de entrada de outros concorrentes


no mercado, em prazo e condições que possibilitem as necessárias reações aos
efeitos adversos, que eventualmente possam ocorrer;

• critério da eficiência do agente: se a eficiência alegada pode ser alcançada por


outros meios que não a integração;

• critério da permanência: se os bens de produção, detidos pelas empresas


integradas, continuarão no mercado ainda que a fusão não seja autorizada;

• critério da eficiência social: se as alegadas eficiências resultarão no bem-estar


do consumidor.

É importante também não descuidar do conceito de mercado relevante, dado que a


delimitação desse mercado é crucial para a análise dos efeitos competitivos potenciais, de
operações que impliquem concentração de mercado (art. 54), ou mesmo para a análise do
ato supostamente infrativo da ordem econômica (arts. 20 e 21), uma vez que é nesse locus,
devidamente delimitado, que se dá, efetiva ou potencialmente, tal exercício.

O mercado relevante é constituído de um grupo de produtos em uma área


geográfica, tendo como principal característica a substitutibilidade, considerando-se a
resposta da demanda de cada grupo de compradores e a resposta dos concorrentes. É
clássica essa bipartição do conceito de mercado relevante, sob o prisma geográfico e em
termos do produto ou serviço negociado. Assim é que o Conselho Administrativo da
Defesa Econômica definiu, em um dos seus julgamentos que “o mercado relevante é o
espaço da concorrência. Diz respeito aos diversos produtos ou serviços, que concorrem

9
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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

entre si, em determinada área, em razão da sua substitutibilidade naquela área. Sua
definição se faz necessária, in casu, tanto em termos geográficos quanto em relação ao
serviço.”

Quanto ao mercado do produto, as respostas dos clientes e dos outros agentes


econômicos podem, efetivamente, influenciar sua caracterização. Quanto à demanda,
relevam-se as características do produto, seu uso e seu preço.

No tocante ao mercado geográfico, o problema dos entrantes potenciais é


importante, dado que devem ser relevados, observando-se, entretanto, aqueles chamados
não-comprometidos (que não se submetem a sunk costs) e os comprometidos (submetidos
a sunk costs). Os primeiros já devem ser incluídos no mercado relevante antes do ato de
concentração.

Para a configuração correta do mercado relevante, devem ainda ser relevadas


inúmeras outras barreiras à entrada de novos concorrentes, como as diferenças
tecnológicas, a presença de direitos intelectuais, o lock in, a fidelidade à marca, as barreiras
tarifárias etc.

Definido o mercado relevante, necessário se faz determinar os seus participantes,


entre os quais as empresas que normalmente nele produzem e vendem, assim como os
concorrentes potenciais que nele possam entrar em um tempo relativamente curto, sem
incorrer em altos custos. Desse modo, para a eficácia da norma, é necessário que os
agentes econômicos, partes da transação, identifiquem as pessoas naturais ou jurídicas que
detenham ações com direito de voto ou que exerçam qualquer forma de controle
majoritário sobre a empresa ou grupo, alcançando, não somente as empresas adquirentes e
adquiridas, como também a controladora e as demais empresas por ela controladas.

Assim, será possível determinar a participação dessas empresas ou grupo no


mercado (que poderá ser medida em valores expressos em moeda corrente ou em
quantidades produzidas, incluindo também a capacidade de produção) e o nível de
concentração nele existente.

O processo de avaliação, com vistas à autorização do ato de concentração, é


complexo e requer a obtenção de inúmeras informações, sendo que as Guidelines
Americanas nos fornecem um bom roteiro, flexível e que permite a articulação das diversas
escolas econômicas estudadas.

Esse roteiro compreende:

• definição de mercado relevante;

• identificação dos participantes do mercado;

• cálculo e interpretação das participações de mercado e do grau de concentração;

• análise dos possíveis efeitos anticompetitivos provocados pela operação;

• análise das possibilidades de entrada;


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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

• exame das eficiências.

Após a análise, pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica, do ato de


concentração, sua decisão deve refletir uma das seguintes possibilidades:

• atos de concentração econômica, que não elevem significativamente o poder de


mercado, devem ser aprovados independentemente de outras considerações;

• atos que elevem o poder de mercado, mas que são mais do que compensados por
outros ganhos, devem ser aprovados;

• atos que aumentem significativamente o poder de mercado e não proporcionam


ganhos generalizados compensatórios para a sociedade podem: a) ser
imediatamente negados; b) ser aprovados, mediante uma série de compromissos
de desempenho assumidos pelas empresas.

5. COMPROMISSO DE DESEMPENHO E COMPROMISSO DE


CESSAÇÃO

A Lei n. 8.884/94 traz também duas novas figuras ao mundo jurídico, quais sejam: o
compromisso de desempenho e o compromisso de cessação.

O compromisso de desempenho encontra-se regulado pelo artigo 58 da Lei n.


8.884/94, onde está previsto que o plenário do Conselho Administrativo de Defesa
Econômica definirá compromissos de desempenho, que deverão ser cumpridos pelos
agentes econômicos que levem à sua apreciação atos de concentração empresarial,
assegurando a obtenção, em um curto, médio ou longo espaço de tempo, das eficiências
especificadas. A inspiração desse instituto situa-se no caráter impositivo e compensatório
dessas eficiências.

O compromisso de desempenho será composto, portanto, de metas a serem


cumpridas pelas empresas, configurando uma garantia, para o mercado, do cumprimento
das condições necessárias para a autorização do ato de concentração com grau potencial ou
efetivo de nocividade às relações concorrenciais.

Mas o compromisso de desempenho não pode ser visto como um substituto para a
desaprovação do ato de concentração. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica,
ao observar que o ato de concentração, não deve ser aprovado, já que não apresenta
aspectos de eficiência para compensar o prejuízo colacionado ao mercado concorrencial,
não pode impor uma série de metas a serem perseguidas pelas empresas. Se assim agisse,
estaria atribuindo ao Estado a possibilidade de planejar a atividade econômica privada,
esbarrando em sérios óbices constitucionais.

O compromisso de desempenho deve ser utilizado quando o Conselho


Administrativo de Defesa Econômica puder observar que as eficiências, alegadas pelos
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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

interessados, compensam o prejuízo à concorrência e poderão se efetivar, especificando-as


então em um instrumento que facilite a fiscalização do seu cumprimento.

O compromisso de desempenho é, pois, um instrumento formal do qual se vale a


Administração Pública quando autoriza uma transação sob seu exame, para assegurar-se do
cumprimento dos requisitos condicionais que viabilizam aquela autorização.

Nas legislações européias e norte-americanas, verifica-se, ao contrário do que prevê


a nossa legislação, a possibilidade de a autoridade antitruste impor condições tão amplas
para a aprovação do ato de concentração que, algumas vezes, ultrapassam os limites do
próprio negócio em exame.

Para nós, entretanto, uma vez que o objetivo do compromisso de desempenho é


assegurar o cumprimento das eficiências que permitiram a aprovação da operação, seu
conteúdo deve, conseqüentemente, estar em harmonia com seus objetivos. Deve, portanto,
o compromisso de desempenho trazer todos os elementos da eficiência prometida pelos
agentes econômicos – elementos estruturais e elementos de conduta –, devendo conter
metas qualitativas ou quantitativas em prazos pré-definidos, tudo estreitamente relacionado
com as condições de aprovação, ou seja, as eficiências prometidas e dadas como razoáveis
pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica.

Nesse contexto, causa perplexidade o § 1.º do artigo 58 que determina dever ser
levado em conta, na definição do compromisso de desempenho, o grau de exposição do
setor à competição internacional e às alterações do nível de emprego pois, muitas vezes, a
verificação das alterações do nível de emprego (ou seja, o balanço social do ato de
concentração) pode ser incompatível com a diminuição de custos e com o aumento da
produtividade e do desenvolvimento tecnológico, eficiências essas expressamente previstas
na Lei Antitruste como motivadoras da aprovação do ato de concentração de empresas.

O compromisso de cessação, regulado pelo artigo 53, como forma de resolver o


problema dos atos infracionais, em qualquer fase do processo administrativo, poderá ser
celebrado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica ou pela Secretaria de
Direito Econômico ad referendum do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, não
importando confissão quanto à matéria de fato, nem reconhecimento de ilicitude da
conduta analisada.

Referido documento conterá, necessariamente, as seguintes cláusulas:

• obrigações do representado, no sentido de fazer cessar a prática investigada, pelo


prazo estabelecido;

• valor da multa diária a ser imposta no caso de descumprimento desse


compromisso de cessação de prática de ato;

• obrigação de apresentar relatórios periódicos sobre a sua atuação no mercado,


mantendo as autoridades informadas sobre eventuais mudanças em sua estrutura
societária, controle, atividades e localização.

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_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

Celebrado o compromisso de cessação, o processo administrativo fica suspenso


enquanto as obrigações estão sendo cumpridas, sendo extinto e arquivado ao término do
prazo fixado.

As obrigações constantes nesse compromisso poderão ser alteradas pelo Conselho


Administrativo de Defesa Econômica, caso seja verificada sua excessiva onerosidade e
desde que não represente prejuízo para terceiros ou para a coletividade, e a nova situação
não configure infração da ordem econômica.

O compromisso de cessação constitui título executivo extrajudicial, ajuizando-se


imediatamente sua execução em caso de descumprimento ou de colocação de obstáculos à
sua fiscalização.

Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida a reprodução


total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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MÓDULO XII

DIREITO ELEITORAL
O Processo Penal Eleitoral

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DIREITO ELEITORAL

DIREITO ELEITORAL

O Processo Penal Eleitoral

1. A POLÍTICA ELEITORAL

A Polícia Judiciária das eleições é a Polícia Federal, mas admite-se a atuação


conjunta da Polícia Civil por solicitação da Polícia Federal, requisição da Justiça Eleitoral
ou até mesmo de ofício (Dec.-lei n. 1.064/69, Decreto Federal n. 73.332/73 e Resolução
TSE n. 11.494/82 ).

Qualquer cidadão que tiver conhecimento de infração penal eleitoral deverá


comunicá-la ao juiz eleitoral da zona onde a mesma se verificou, e esse remeterá a notícia
ao Ministério Público (artigo 356 do Constituição Estadual).

Deferido o pedido de arquivamento do inquérito policial, não cabe recurso, nos


termos da Súmula n. 524 do Supremo Tribunal Federal. Caso discorde do pedido de
arquivamento, o juiz eleitoral deverá remeter as peças ao Procurador Regional Eleitoral (e
não ao Procurador-Geral de Justiça), que poderá insistir no pedido de arquivamento (caso
em que o juiz deverá arquivar o expediente), oferecer denúncia ou designar outro promotor
para oferecê-la (artigo 357 do Código Eleitoral).

No entanto, possuindo desde logo elementos suficientes para ofertar a denúncia, o


Ministério Público poderá dispensar o inquérito policial. O Ministério Público não está
obrigado a informar a fonte de suas informações.

2. A AÇÃO PENAL PÚBLICA

Conforme observamos anteriormente, os crimes eleitorais são julgados mediante


ação penal pública incondicionada (artigo 355 do Código Eleitoral), já que o Estado é o
principal sujeito passivo dos delitos de tal natureza. O prazo para o oferecimento da
denúncia é de dez dias (esteja o acusado preso ou solto) e, em regra, a competência para o
seu julgamento é do juiz eleitoral.

A denúncia ofertada pelo Ministério Público desde logo deve especificar as


testemunhas, em número de cinco (crimes punidos com pena de multa e/ou detenção) ou
oito (crimes punidos com pena de reclusão).

1
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DIREITO ELEITORAL

2.1. A Ação Penal Privada Subsidiária da Pública


Bem leciona Fávila Ribeiro9, que a regra do artigo 355 do Código Eleitoral não mais
prevalece em termos absolutos, diante do que vem estipulado no artigo 5.º, inciso LIX, da
Constituição Federal, que admite ação privada nos crimes eleitorais caso a ação pública
não seja intentada no prazo legal.

De acordo com o inciso LIX do artigo 5.º da Constituição Federal, será admitida
ação penal privada nos crimes de ação penal pública, se esta não for intentada no prazo
legal.

A ação penal, em regra, é pública incondicionada. Prevalece o interesse do Estado e


o Ministério Público oferece a denúncia, independentemente do interesse da vítima.

Conforme estabelece o artigo 129, inciso I, da Constituição Federal, compete


privativamente ao Ministério Público promover a ação penal pública, na forma da lei. No
entanto, o inciso LIX do artigo 5.º da Constituição Federal e a lei infraconstitucional
(artigo 29 do CPP e artigo 100, § 3.º, do CP) admitem a ação penal privada nos crimes de
ação pública, se esta não for intentada pelo Ministério Público no prazo legal.

O prazo do Ministério Público para o oferecimento de denúncia ou promoção de


arquivamento é de 5 dias se o acusado estiver preso ou de 15 dias se estiver solto (artigo 46
do CPP), excetuado o processo por crime eleitoral, ora analisado, que prevê o prazo único
de 10 dias.

No caso de réu solto, no prazo da denúncia o Ministério Público pode requerer


novas diligências ou requerer o arquivamento.

Prevalece o entendimento segundo o qual só cabe a ação penal privada subsidiária


da pública, a queixa subsidiária ofertada pelo ofendido por seu advogado, e que deve
conter os mesmos elementos de uma denúncia, nos casos de inércia do Ministério Público,
ou seja, se o Ministério Público, no prazo que lhe é concedido, não oferecer denúncia, não
requerer diligências e não pedir o arquivamento das peças de representação ou do inquérito
policial.

O Supremo Tribunal Federal já decidiu que cabe a ação penal privada subsidiária da
pública caso o Ministério Público só se pronuncie pelo arquivamento após o prazo legal
(RT 575/478 e 647/345).

O prazo para apresentação da queixa subsidiária, salvo expressa disposição em


contrário, é de seis meses, contados do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento
da denúncia, sob pena de decadência (causa de extinção da punibilidade), nos termos do
artigos 103 do Código Penal e 38 do Código de Processo Penal. Como o Ministério
Público deve acompanhar todos os termos do processo e retomá-lo caso o querelante seja
negligente, não há que falar em perempção (perda do direito de demandar em face da
inércia do querelante nas ações exclusivamente privadas – artigo 60 do CPP) nas ações
decorrentes de queixa subsidiária.
9
RIBEIRO, Fávila. Direito Eleitoral. 5.ª ed.. Forense. p. 704
2
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DIREITO ELEITORAL

3. ATOS PROCESSUAIS APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA OU DA


QUEIXA SUBSIDIÁRIA POR CRIME ELEITORAL

Recebida a denúncia, o acusado é citado para contestar em dez dias, seguindo-se


com a colheita dos depoimentos das testemunhas e as alegações finais com prazo de cinco
dias para cada uma das partes (arts. 355/364 do Código Eleitoral). Não há previsão de
interrogatório, o qual poderá ser facultado pelo Juiz Eleitoral ao acusado.

Em alguns crimes eleitorais admite-se a assistência do particular especialmente


prejudicado, a exemplo dos crimes contra a honra praticados em propaganda eleitoral.

Havendo conexão entre crime comum e crime eleitoral a competência para o


julgamento de ambos será da Justiça Eleitoral (Reclamação 69/89, TSE).

A sentença deverá ser prolatada em dez dias.

Não havendo pena expressamente prevista, aplicam-se os prazos mínimos previstos no


artigo 284 do Código Eleitoral (15 dias para os crimes punidos com detenção e 1 ano
para os crimes punidos com reclusão).

4. O FORO COMPETENTE

Em regra a denúncia ou a queixa subsidiária pertinente a crime eleitoral deverá ser


apresentada ao juiz eleitoral do lugar do crime, observadas as regras do artigo 6.º do
Código Penal.

Caso o autor do delito desfrute de prerrogativas funcionais, o processo e o


julgamento será deslocado do Juiz Eleitoral para o Tribunal Regional Eleitoral (a exemplo
do crime eleitoral praticado por um Juiz Eleitoral, um promotor eleitoral ou um prefeito),
para o Superior Tribunal Judiciário (a exemplo do crime eleitoral praticado por um
governador) ou para o Supremo Tribunal Federal (a exemplo do crime eleitoral praticado
pelo Presidente da República, Deputado Federal ou Senador). O rito do processo nos
tribunais, segundo prevalece na jurisprudência, é o da Lei n. 8.038/90 (por força da Lei n.
8.658/93).

De acordo com o artigo 53 da Constituição Federal, na redação da Emenda


Constitucional n. 35, de 20.12.2001, os Deputados Federais e os Senadores são invioláveis,
civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões palavras e votos (inviolabilidade
denominada imunidade material ou real).

3
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DIREITO ELEITORAL

O § 3.º do artigo 53 da Constituição Federal, por sua vez, alterou as regras da


imunidade processual (formal) e passou a estabelecer uma espécie de moratória processual.
Com isso, dispensou a prévia autorização da casa legislativa para o recebimento de
denúncia contra deputado (federal ou estadual) ou senador.

Pelas novas regras, ao receber a denúncia contra deputado ou senador, por crime
ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal (ou o Tribunal de Justiça no caso
de deputado estadual) dará ciência à casa legislativa a que pertence o parlamentar, que, por
iniciativa de partido político nela representado (não necessariamente o partido do
parlamentar) e pelo voto (ostensivo e não mais secreto) da maioria absoluta dos seus
membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.

Ao Tribunal Regional Eleitoral foi atribuída competência originária para julgar habeas
corpus, matéria eleitoral, impetrado contra ato de juiz ou promotor eleitoral.

No processo e julgamento dos crimes eleitorais e dos crimes comuns que lhe forem
conexos, assim como nos recursos e na execução, que lhes digam respeito, aplicar-se-á,
como lei subsidiária ou supletiva, o Código de Processo Penal (artigo 364 do
Constituição Estadual).

Durante os efeitos da condenação o sentenciado fica com seus direitos políticos


suspensos (artigo 15, inciso III, da Constituição Federal).

Quanto aos direitos políticos passivos (elegibilidade), há que se observar que os


condenados criminalmente, com sentença transitada em julgado, pela prática de crimes
contra a economia popular, a fé pública, a administração pública, o patrimônio público, o
mercado financeiro, por crimes eleitorais e por tráfico de entorpecentes, permanecerão
inelegíveis por três anos após o cumprimento da pena (alínea “e”, inciso I, do artigo 1.º da
Lei Complementar n. 64/90).

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total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
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em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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MÓDULO XII

DIREITO INTERNACIONAL
Jurisdição no Mercosul - Competência da Justiça
Brasileira/Cooperação Judiciária Internacional -
Provas - Outras Figuras Jurídicas

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DIREITO INTERNACIONAL

Jurisdição no Mercosul - Competência da Justiça Brasileira/


Cooperação Judiciária Internacional - Provas -

Outras Figuras Jurídicas

Prof. Carlos Husek

1. JURISDIÇÃO NO MERCOSUL (Mercado Comum do Sul)

O Mercosul é uma integração regional. Visa transformar-se em mercado comum e se


encontra hoje sob a forma de união aduaneira. Essa definição é importante porque, não
sendo supranacional, como é o caso da União Européia, os Estados-partes do Mercosul
optaram pela cooperação e harmonização de normas em todos os campos, incluindo o
campo processual.

Até o presente, temos os seguintes protocolos (protocolo é uma espécie de tratado


de natureza complementar; no caso, os protocolos, no âmbito do Mercosul, complementam
o Tratado de Assunção, que é o tratado principal):

• Protocolo de Buenos Aires sobre Jurisdição Internacional em Matéria


Contratual, de 5.8.1994;

• Protocolo de San Luis sobre Matéria de Responsabilidade Civil Emergente de


Acidente de Trânsito entre os Estados-partes do Mercosul, de 25.6.1996;

• Protocolo de Santa Maria sobre Jurisdição nas Relações de Consumo.

O primeiro – Protocolo de Buenos Aires – é relativo aos contratos internacionais de


natureza civil ou comercial celebrados entre particulares, pessoas físicas ou jurídicas. Com
relação à jurisdição pessoal, o Protocolo de Buenos Aires exige que haja um acordo de
eleição de foro em favor de um juiz de um Estado-parte para as pessoas que tenham
domicílio ou sede social em diferentes Estados-partes ou, no caso de somente uma das
partes do contrato ter sede ou domicílio em um dos Estados, também exige que exista uma
conexão razoável, segundo as normas desse tratado.

O Protocolo de Buenos Aires adota o princípio da autonomia da vontade das partes,


reconhecendo, também, a jurisdição prorrogada, como, por exemplo, o demandado admitir
voluntariamente e de forma positiva a ação interposta. Quando não houver jurisdição
voluntária, nem jurisdição prorrogada, o Protocolo aplica vários critérios para fixar a
1
_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITO INTERNACIONAL

jurisdição internacional chamada, nesse caso, jurisdição subsidiária: 1) o local de


cumprimento do contrato; 2) o domicílio do demandado; e 3) o domicílio ou sede social,
quando ficar demonstrada que cumpriu a sua prestação. Conforme o princípio do actor
sequitur forum executionis reconhece-se a jurisdição internacional do país do cumprimento
da obrigação.

O segundo – Protocolo de San Luis –, reconhecendo o elevado número de acidentes


de trânsito, com a intensificação das relações entre os quatro países, buscou determinar a
jurisdição internacional e a lei aplicável nos casos de responsabilidade civil emergente de
acidentes de trânsito ocorridos em território de um Estado-parte, com relação a pessoas
domiciliadas em outro Estado-parte. Esse protocolo adota os critérios tradicionais do local
do acidente, do domicílio do demandado e do domicílio do demandante. Ainda não está em
vigor.

O terceiro – Protocolo de Santa Maria –, referente às relações de consumo,


adota o critério do domicílio para a determinação do âmbito espacial e o conceito de
residência habitual para a qualificação deste. Com relação à determinação da jurisdição
internacional, o Protocolo de Santa Maria adota o critério do domicílio do consumidor,
visando à conveniência deste.

O pedido de homologação, para o reconhecimento ou para a execução de sentença, é


feito por meio de carta rogatória e da autoridade central.

2. COMPETÊNCIA RELATIVA

O Poder Judiciário brasileiro tem competência relativa no que tange aos litígios
internacionais, ou seja, admite ser a autoridade judiciária de outro país igualmente
competente (artigo 12 da Lei Introdução ao Código Civil e artigo 88 do Código de
Processo Civil).

São critérios de determinação da competência:

• Domicílio (Lei Introdução ao Código Civil, Código de Processo Civil e Código


Civil): na falta deste, a residência habitual; na falta de residência habitual, a
residência simples; e, esta inexistindo, o lugar onde a pessoa física se encontre.

• Local do cumprimento da obrigação: quando o Brasil é o local do cumprimento


da obrigação, o tribunal brasileiro é competente para o litígio internacional,
como no caso dos litígios referentes à execução dos contratos. Trata-se de
critério alternativo quando o réu, apesar de sua ligação com o Brasil, aqui não
possui domicílio.

2
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DIREITO INTERNACIONAL

• Local do ato ilegal: é o critério para o estabelecimento da competência


concorrente O Judiciário brasileiro exerce a sua competência caso o ilícito tenha
sido praticado no Brasil.

3. COMPETÊNCIA EXCLUSIVA

As hipóteses de competência exclusiva estão dispostas no artigo 89 do Código de


Processo Civil. Tal competência impede a eficácia de qualquer decisão de um tribunal
estrangeiro. Existem duas situações básicas em que podem ocorrer:

• Local dos bens imóveis: a situação do imóvel determina a competência


internacional. É a chamada soberania territorial (lex rei sitae).

• Inventário e partilha de bens situados no Brasil: mais uma vez, é o critério da


localização dos bens. Refere-se apenas à sucessão causa mortis, e não inclui a
partilha de bens do casal por ocasião de uma separação (divórcio).

4. COOPERAÇÃO JUDICIÁRIA INTERNACIONAL E PROVAS

A necessidade de cooperação na colheita de provas, e aqui não estamos falando


apenas no âmbito do Mercosul, mas sim de todos os Estados da comunidade internacional,
é um imperativo, sem o qual, no mundo moderno de relações globalizadas, a justiça estaria
impedida de atuar plenamente.

Nessa questão, o Brasil deixou de aprovar diversas convenções internacionais, não


demonstrando uma cooperação muito grande com os demais países. De qualquer modo,
para servir no processo, a coleta de provas deve observar tanto a lei nacional como a lei
estrangeira, porque seria uma ofensa à soberania de outro Estado coletar a prova em seu
território sem a obediência de suas leis.

Normalmente a coleta de prova testemunhal, ou mesmo a de prova documental, é


feita com a colaboração voluntária daqueles que podem testemunhar e daqueles que
possuem os documentos para a prova. Caso não exista essa colaboração, torna-se
necessária a assistência das autoridades estrangeiras e o método tradicional para tanto é a
carta rogatória. Há um enorme número de tratados bilaterais para facilitar o trâmite da
rogatória, cada qual com objetivos específicos, quais sejam:

• Convenção de Haia sobre a Colheita de Prova no Estrangeiro em Matérias de


Direito Civil e Comercial – 1970: o tribunal envia uma carta de requerimento à
autoridade central do país requerido.

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DIREITO INTERNACIONAL

• Convenção Interamericana sobre Obtenção de Provas no Exterior – 1975: a


autoridade judiciária de um dos Estados-partes da convenção poderá mandar
diretamente carta rogatória para obter a prova necessária.

• Protocolo de “Las Lenas” sobre Cooperação e Assistência Jurisdicional em


Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa – 1992: o Estado
requerido deve obrigatoriamente cumprir as cartas rogatórias, só podendo
denegar cumprimento quando a solicitação contrariar a sua ordem pública. Os
documentos públicos terão força probante entre os Estados-partes.

• Tratados Bilaterais de Assistência Legal Mútua:

− Convenção de Cooperação Judiciária em Matéria Civil, Comercial,


Trabalhista e Administrativa com a França – 1981.

− Convênio de Cooperação Judiciária em Matéria Civil com a Espanha –


1989.

− Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e


Administrativa com a Argentina – 1991.

− Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e


Administrativa com o Uruguai – 1992.

− Tratado Relativo à Cooperação Judiciária e ao Reconhecimento e Execução


de Sentenças em Matéria Civil com a Itália – 1989.

− Convenção de Viena sobre Relações Consulares – 1963: para a validade de


documentos, uma vez que define as funções consulares que, entre outras, se
tipifica pela ação do cônsul na qualidade de notário e de oficial de registro
civil.

Além desses tratados existem muitos outros, tornando o mundo judiciário bem mais
complexo, o que concretiza a idéia de que, em matéria de Direito Internacional, o mundo é,
na verdade, um extenso e intrincado território.

5. OUTRAS FIGURAS JURÍDICAS

Cabe aqui recordar e citar três figuras importantes para o Direito Internacional
Privado, quais sejam: imunidade de jurisdição do Estado, imunidade diplomática e
imunidade consular. Essas figuras, por certo, influenciam na condução de eventuais
processos.

4
_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITO INTERNACIONAL

Apenas um resumido exame:

• Imunidade de jurisdição do Estado: refere-se à isenção da jurisdição judiciária e


executória pelo Estado, no seu território, sobre o Estado estrangeiro e sua
propriedade, com base na igualdade de soberania. O esforço atual é para
restringir as imunidades possíveis, cabendo a atuação dos acordos multilaterais,
regionais e bilaterais sobre a matéria, incluindo-se tanto a imunidade judiciária
como a imunidade de execução. Os tribunais nacionais não podem exercer seu
poder jurisdicional sobre um Estado estrangeiro sem o consentimento deste. Isto
apenas é possível por meio da renúncia à imunidade, que pode ser celebrada por
acordo (tratado) ou no início do processo pelo agente habilitado para falar em
nome do Estado.

• Imunidade diplomática: encontramos sua base internacional na Convenção de


Viena aprovada pelo Decreto Legislativo 103/64. Caracteriza-se pelo exercício
de função estatal de um Estado no território de outro, com a permissão deste.
Para tanto, será necessário que o Estado que recebe o diplomata conceda alguns
privilégios e imunidades, todos em torno da função do diplomata.

Podemos conceituar imunidade diplomática como uma prerrogativa10 de


responder pelo crime no seu país de origem, assim, se o embaixador americano
cometer crime no Brasil, responderá nos Estados Unidos. O diplomata (pessoa
física) tem imunidade, quer dizer, possui inviolabilidade do corpo.
Excepcionalmente, como, por exemplo, se o diplomata for encontrado no local
de um crime, a polícia poderá prendê-lo temporariamente, mas o mesmo não
poderá ser forçado a acompanhar a polícia, o sujeito está fora da jurisdição
brasileira. A polícia federal colhe as provas e envia para o país competente. A
sua residência particular goza da mesma inviolabilidade e proteção, assim como
os seus documentos, suas correspondências e seus bens.

Goza o diplomata de imunidade de jurisdição, que é absoluta com relação à


jurisdição penal, existindo exceções quanto às jurisdições civil e administrativa.
No caso da jurisdição civil as exceções se referem à ação real sobre imóvel, à
ação sucessória e à ação desligada das funções oficiais. A interpretação, no
entanto, é restritiva.

O agente diplomático não é obrigado a prestar depoimento como testemunha e


goza de isenção de impostos e tributos, taxas pessoais, reais, nacionais,
regionais ou municipais.

O Estado pode renunciar à imunidade diplomática, à imunidade de jurisdição e à


imunidade de execução (ambas). A renúncia da imunidade de jurisdição não
abrange a renúncia à imunidade de execução.

10
Quem desfruta da imunidade diplomática (desta prerrogativa) é o Chefe de Governo Estrangeiro (ou
Chefe de Estado), sua família e membros de sua comitiva; Embaixador e sua família; funcionários
estrangeiros do corpo diplomático e sua família; funcionários das organizações internacionais (ONU, OEA
etc.) quando em serviço. Atenção: a imunidade diplomática do Cônsul dependerá dos termos do Tratado.
5
_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITO INTERNACIONAL

• Imunidade consular: o principal documento de imunidade consular é a


Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963. No geral, o estatuto
dos cônsules está equiparado ao dos diplomatas. No exercício das funções
consulares, os cônsules têm inviolabilidade e imunidade; porém, não gozam de
imunidade no caso de ação civil resultante de contrato não-realizado ou que
resulte de acidente de veículo, navio ou aeronave. Podem os cônsules ser
chamados a depor como testemunhas em qualquer processo judiciário ou
administrativo.

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total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
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em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXIII

DIREITO PENAL

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DIREITO PENAL

DIREITO PENAL

1. RESISTÊNCIA – ARTIGO 329 DO CÓDIGO PENAL

“Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário


competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos."

1.1. Objetividade Jurídica


A autoridade, o prestígio da Administração Pública.

1.2. Sujeito Ativo


O sujeito ativo é qualquer pessoa, até mesmo funcionário público, pois, no momento
em que resiste, ele deixa de ser funcionário público, uma vez que nenhuma função é
exercida com violência ou grave ameaça.

P.: Um policial prende alguém, e um amigo deste investe contra o policial para
tentar impedir a prisão. Esse terceiro pratica crime de resistência?

R.: Sim, pois o tipo não exige que aquele que vai sofrer o ato é que pratique a
resistência.

1.3. Sujeito Passivo


O Estado é o sujeito passivo primário e o funcionário competente ou quem lhe esteja
prestando auxílio é o sujeito passivo secundário.

O funcionário tem de ser competente, ou seja, ter entre suas atribuições a atribuição
de praticar o ato.

P.: Se dois policiais vão prender alguém e são recebidos a tiro, quantos crimes de
resistência foram praticados?

R.: Apenas um crime, pois a oposição à execução do ato é um crime só, não
importando o número de funcionários.
1
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DIREITO PENAL

1.4. Elementos Objetivos do Tipo


Conduta: opor-se, servir de oposição, de obstáculo.

A oposição tem de ser com violência ou com ameaça.

O tipo não exige grave ameaça; basta a ameaça, ou seja, a promessa de mal.

Resistência passiva não é crime de resistência, porque não há violência e nem grave
ameaça. Exemplos: deitar-se no chão para não ser preso, segurar-se em um poste, fugir
correndo.

A resistência deve servir para impedir o ato. Se o mesmo já foi praticado, não se
pode falar em resistência, podendo esta ocorrer, no máximo, contemporânea ao ato.

Ato legal: o ato a ser cumprido deve ser legal quanto ao conteúdo e à forma. Se o ato
for ilegal não se pode falar em crime de resistência.

P.: Se o ato for injusto, há resistência?

R.: Sim. Não é possível discutir se é justo ou injusto; apenas é preciso observar se o
ato é legal ou não.

1.5. Elemento Subjetivo do Tipo


Dolo, intenção de opor-se à execução do ato, com violência ou ameaça. Além do
dolo, deve haver a intenção de impedir o ato – finalidade especial.

P.: A embriaguez afasta o crime de resistência?

R.: A embriaguez não afasta o dolo. Alguns autores sustentam que a embriaguez
afasta a intenção de impedir o ato, porque o bêbado não tem noção dessa finalidade
especial.

1.6. Consumação
O crime de resistência consuma-se no momento em que a pessoa opõe-se, com
violência ou ameaça. Trata-se, portanto, de crime formal – caput.

Se o agente consegue impedir o ato, ocorre exaurimento, que no crime em questão


configura uma qualificadora, constante do § 1.º (como o § 1.º exige o resultado, nesse caso,
o crime é material.).

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DIREITO PENAL

1.7. Concurso de Crimes


A lei determina o concurso da resistência com a violência (art. 329, § 2.º, do CP).
Não há concurso com a ameaça, pois esta fica absorvida.

O concurso é material.

No caso de resistência e desacato, a resistência absorve o desacato.

No caso de resistência e desobediência, a resistência absorve a desobediência.

É pacífico que a resistência absorve as vias de fato.

2. DESOBEDIÊNCIA – ARTIGO 330 DO CÓDIGO PENAL

“Desobedecer a ordem legal de funcionário público.

Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, e multa.”

2.1. Objetividade Jurídica


A Administração Pública, seu prestígio, sua autoridade.

2.2. Sujeito Ativo


Qualquer pessoa.

P.: Funcionário público, no exercício da função, pratica desobediência?

R.: Há duas posições:

• A majoritária afirma que o funcionário público no exercício da função pratica


prevaricação e não desobediência, pois, nesse caso, há crime próprio. Ex.: juiz
dá ordem ao escrivão e este não a cumpre pratica o crime de prevaricação.

• A minoritária sustenta que o funcionário público, no exercício da função, pratica


o crime de desobediência ao não atender a ordem de outro funcionário público.

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DIREITO PENAL

2.3. Sujeito Passivo


O Estado e, de forma secundária, o funcionário público que emitiu a ordem
desobedecida.

2.4. Elementos Objetivos do Tipo


Desobedecer: não cumprir, não atender.

P.: O crime é comissivo ou omissivo?

R.: O crime de desobediência pode ser praticado na forma omissiva ou comissiva,


dependendo da ordem dada.

Ordem legal: ordem é um mandamento, uma determinação, e não um pedido ou


uma solicitação. Deve ser legal - material e formalmente (pode até não ser justa).

Funcionário público: deve ser competente para proferir a ordem.

Para que o crime se configure, é necessário que o destinatário tenha o dever jurídico
de cumprir a ordem. Obs.: não há crime se a recusa ocorre por motivo de força maior.

2.5. Consumação
O crime de desobediência consuma-se com a realização da conduta, que pode ser
omissiva ou comissiva.

2.6. Tentativa
Em regra, a tentativa é admitida apenas quando a conduta é comissiva.

A jurisprudência tem entendido que quando um fato que poderia caracterizar crime
de desobediência tem sanção civil ou administrativa – e essa não estabelece cumulação
com pena criminal – ele não é considerado crime.

Obs.: recusar-se ao teste do bafômetro não configura crime.

3. DESACATO – ARTIGO 331 DO CÓDIGO PENAL

“Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:


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DIREITO PENAL

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.”

3.1. Objetividade Jurídica


Resguardar a Administração Pública, sua autoridade, seu prestígio.

3.2. Sujeito Ativo


Qualquer pessoa.

P.: O funcionário público, no exercício da função, pode praticar desacato? Como,


por exemplo, juiz ofender escrivão.

R.: Segundo a doutrina dominante sim, pois nenhuma função pública autoriza
ofender; a ofensa não faz parte do exercício funcional. Quando o funcionário público
ofende, não age como funcionário público, mas sim como um particular.

P.: O advogado, no exercício funcional, pode praticar o crime de desacato?

R.: Sim. A Constituição Federal confere imunidade ao advogado nos crimes contra a
honra (art. 133 da CF). O Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil ampliou essa
imunidade incluindo o desacato, que é um crime contra a Administração Pública; mas o
Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional essa ampliação.

3.3. Sujeito Passivo


O sujeito passivo é o Estado e, secundariamente, o funcionário público ofendido.

Se três funcionários forem desacatados no mesmo contexto há apenas um crime


(segundo a doutrina majoritária, tratando-se de crime contra a honra, seriam três crimes).

3.4. Elementos Objetivos do Tipo


Desacatar: ofender, humilhar, desprestigiar.

O desacato pode ser praticado de qualquer forma (palavras, gestos), exceto por
carta, pois é exigida a presença do funcionário. O crime deve atingir a função que ele
exerce e não sua pessoa.

Estar presente não significa estar cara a cara, mas sim que o funcionário tem de
perceber a conduta.

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DIREITO PENAL

A carta pressupõe ausência. Por carta pode existir crime contra a honra.

Diferença entre desacato e injúria qualificada:

• funcionário presente: desacato;

• funcionário ausente: injúria qualificada.

Se o funcionário não se sentir ofendido, ainda assim haverá crime. O sujeito passivo
é a Administração.

P.: O funcionário pode ser desacatado estando de férias? Ou no fim de semana?

R.: Sim. O tipo refere-se a funcionário público no exercício funcional ou em razão


da função.

Obs.: dizer que todo funcionário público é vagabundo não é desacato por ser uma
afirmação genérica.

O desacato precisa de testemunha, não bastando a palavra do funcionário público.

3.5. Consumação
O crime consuma-se no momento da ofensa, da conduta.

3.6. Tentativa
Não é possível, pois para que o delito se configure é necessária a presença da vítima.

3.7. Elemento Subjetivo do Tipo


Intenção de ofender, atingir a função.

A jurisprudência majoritária exige o ânimo calmo e refletido para que ocorra o


desacato.

4. CORRUPÇÃO ATIVA – ARTIGO 333 DO CÓDIGO PENAL

“Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo


a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:

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DIREITO PENAL

Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa".

Esse crime configura um caso de exceção à teoria monista, segundo a qual todos os
que contribuírem para um crime responderão por esse mesmo crime.

Se o funcionário público solicita vantagem indevida e o particular não a entrega,


configura-se o crime de corrupção passiva. Ainda que o particular entregue o que foi
solicitado pelo funcionário público, não haverá o crime em estudo, pois o tipo do artigo
333 refere-se apenas a oferecer ou prometer vantagem indevida.

Nos casos de “o particular oferecer e o funcionário receber” ou “o particular


prometer e o funcionário aceitar promessa”, há corrupção ativa e corrupção passiva.

Se o particular oferecer vantagem indevida e o funcionário não aceitar, só há crime


de corrupção ativa.

No crime de corrupção ativa o particular tem a iniciativa de corromper o funcionário


público.

4.1. Objetividade Jurídica


Proteger o prestígio da Administração Pública.

4.2. Sujeito Ativo


Qualquer pessoa. Um funcionário público pode corromper outro funcionário
público.

4.3. Sujeito Passivo


O sujeito passivo é o Estado, é a Administração Pública.

4.4. Elementos Objetivos do Tipo


Oferecer ou prometer:

Oferecer: é apresentar, propor alguma coisa para ser aceita.

Prometer: é obrigar-se a fazer ou não fazer alguma coisa.

As condutas podem ser praticadas por qualquer modo (palavra, gesto, escrito,
intermediário).
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DIREITO PENAL

P.: Pedir para o funcionário “dar um jeitinho” configura o crime em questão?

R.: Não, pois não há oferecimento nem promessa de vantagem indevida.

Vantagem indevida:

Se a vantagem for devida, haverá outro crime.

Vantagem: pode ser qualquer uma, econômica, sexual etc.

A oferta deve ser feita a pessoa determinada ou pessoas determinadas (mais de um


funcionário). Oferta genérica não constitui crime.

Ato de ofício:

Alguém pode oferecer dinheiro para que o funcionário realize suas funções; mesmo
assim, haverá crime.

A conduta do agente deve ser anterior à conduta do funcionário. Se o funcionário já


praticou o ato, a pessoa não sabe e oferece dinheiro, não há o crime.

P.: O funcionário vai praticar um ato ilegal contra a pessoa e esta, para não sofrer
o ato, oferece dinheiro para o funcionário. Ela pratica crime?

R.: Não há crime. A pessoa está se defendendo da ilegalidade; ela não teve
iniciativa, apenas se defendeu.

4.5. Elemento Subjetivo do Tipo


Dolo genérico: é a intenção de corromper, oferecer, prometer.

Dolo específico: determinar o funcionário público a praticar, omitir ou retardar o ato


de ofício.

4.6. Consumação
Ocorre no momento do oferecimento, da promessa. Não importa se o funcionário irá
fazer ou não. O crime é formal, não precisa do resultado para consumar-se.

Caso o funcionário efetivamente pratique o ato, é mero exaurimento; mas, nesse


caso, o exaurimento aumenta a pena em um terço ( parágrafo único do art. 333 do CP).

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DIREITO PENAL

4.7. Tentativa
A tentativa é possível apenas na forma escrita (ex.: carta que se extravia antes de
chegar ao conhecimento do funcionário).

5. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA – ARTIGO 339 DO CÓDIGO PENAL

“Dar causa à instrução de investigação policial, de processo judicial, instauração de


investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra
alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente:

Pena – reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa."

Esse crime foi modificado pela Lei n. 10.028, de 19.10.2000.

5.1. Objetividade Jurídica


A administração da justiça.

5.2. Sujeito Ativo


Qualquer pessoa, inclusive delegado, promotor, juiz etc.

Se o crime for de ação penal privada ou de ação penal condicionada à representação,


quem pode dar causa à instauração é a vítima ou seu representante legal.

5.3. Sujeito Passivo


O Estado. O sujeito passivo secundário é aquele a quem se atribuiu falsamente a
prática do delito.

5.4 Elementos Objetivos do Tipo


Dar causa: originar, causar, provocar.

Pode ser praticado por qualquer meio, pois é um crime de forma livre.

A denunciação caluniosa pode ser direta ou indireta.


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Direta: quando o próprio agente dá causa (de forma verbal ou escrita).

Indireta: quando o agente faz com que a notícia chegue à autoridade por qualquer
meio (telefonema anônimo, carta anônima, encenação por exemplo, colocar um
objeto na bolsa de alguém).

A pena aumenta em um sexto se o autor servir-se de anonimato ou nome falso (art.


339, § 1.º, do CP).

P.: Instauração de investigação policial precisa de inquérito?

R.: Não. É possível que a polícia inicie uma investigação antes mesmo de instaurar
um inquérito policial.

Processo judicial: abrange o processo penal e o processo civil.

Dar causa à investigação administrativa, sindicância ou procedimento


administrativo, é crime.

Obs.: inquérito civil é investigação administrativa, e ação de improbidade é ação


civil, mas o legislador quis ser expresso.

Contra alguém: o crime de denunciação caluniosa exige que a imputação seja feita
contra alguém, ou seja, contra pessoa determinada.

Comunicação falsa de crime: a pessoa inventa um crime, mas não faz imputação a
ninguém. Ex.: homem que cortou o próprio braço para receber o seguro e disse que foi
vítima de roubo.

A denunciação caluniosa pode ocorrer de duas formas:

• O crime realmente aconteceu, mas o denunciado não participou.

• O agente inventa um crime e o atribui à determinada pessoa.

Há, também, denunciação caluniosa com imputação falsa de contravenção está


previsto no § 2.º do artigo 339 do Código Penal.

O fato deve ser certo, determinado.

O mesmo fato pode ser objeto de inquérito civil e inquérito policial.

P.: Se o fato imputado for crime já prescrito?

R.: Não há crime de denunciação caluniosa.

Se o fato tiver uma excludente, não há denunciação caluniosa.

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DIREITO PENAL

P.: Se uma pessoa fizer a imputação pensando que “fulano” é inocente e depois se
descobre que ele é culpado, há o crime de denunciação caluniosa?

R.: Segundo a doutrina, o crime tem de ser subjetiva e objetivamente falso. No


exemplo da pergunta a imputação foi subjetivamente falsa, ou seja, na concepção do agente
o denunciado era inocente. Objetivamente, a imputação era verdadeira porque este cometeu
mesmo o crime. Nessa circunstância não há crime de denunciação caluniosa. A imputação
não é falsa, e sim verdadeira.

P.: Se a denunciação caluniosa for praticada no interrogatório policial ou judicial, há


crime?

R.: Prevalece o entendimento de que não há crime porque essa conduta estaria
dentro da autodefesa.

5.5. Elemento Subjetivo do Tipo


Dolo direto (“sabe”).

O dolo eventual está excluído. Se o denunciante não tem certeza quanto à


responsabilidade do denunciado, não há crime – mesmo se, posteriormente, ficar
comprovado que o denunciado não havia cometido o delito.

5.6. Consumação
Consuma-se o delito quando iniciada a investigação ou o processo. Não basta a
notícia.

5.7. Tentativa
É possível. Ex.: “A” narra o fato, mas, por circunstâncias alheias à sua vontade, o
processo não é instaurado.

P.: Há arrependimento eficaz na denunciação caluniosa?

R.: Sim. Ex.: indivíduo noticiou o delito, o Boletim de Ocorrência foi lavrado, mas,
depois, arrependeu-se e contou a verdade antes que a investigação fosse iniciada – é
arrependimento eficaz.

5.8. Diferença Entre Denunciação Caluniosa e Calúnia


Calúnia (art. 138 do CP) é a imputação falsa de um crime.
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DIREITO PENAL

Denunciação caluniosa é a imputação de um crime ou de uma contravenção, que


deve dar causa à instauração de investigação ou processo.

Na calúnia a intenção do agente é ofender a honra. Na denunciação caluniosa a


intenção do agente é instaurar o procedimento.

Os dois crimes não irão existir conjuntamente: ou ocorrerá calúnia ou denunciação


caluniosa, dependendo da intenção do agente.

6. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU CONTRAVENÇÃO – ARTIGO


340 DO CÓDIGO PENAL

“Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de


contravenção que sabe não se ter verificado:

Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa."

A diferença entre denunciação caluniosa e comunicação falsa de crime está em que


na denunciação caluniosa há imputação de crime a alguém, e na comunicação falsa não há
imputação a alguém, pois apenas se comunica um fato.

Exemplo de comunicação falsa: “fui furtado”.

Exemplo de denunciação caluniosa: “João me furtou”.

6.1. Objetividade Jurídica


Resguardar a Administração Pública, a administração da justiça.

6.2. Sujeito Ativo


Qualquer pessoa.

6.3. Sujeito Passivo


O Estado, visto como Administração Pública.

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DIREITO PENAL

6.4. Elementos Objetivos do Tipo


Provocar: dar causa, originar, ocasionar.

Ação da autoridade: investigação. Não basta a lavratura do Boletim de Ocorrência,


devendo ser iniciada uma investigação.

Autoridade: delegado, juiz, promotor, policial etc. o conceito é bem amplo.

O crime é de forma livre, podendo ser cometido por escrito, verbalmente, por
interposta pessoa etc.

6.5. Elemento Subjetivo do Tipo


Dolo direto, pois a lei exclui o dolo eventual ao usar o termo que sabe.

6.6. Consumação
Com o início da investigação.

Se apenas for lavrado o Boletim de Ocorrência, o crime foi tentado.

6.7. Tentativa
É possível. Pode não ocorrer a atuação da autoridade por circunstâncias alheias à
vontade do agente.

6.8. Arrependimento Eficaz


É possível. Nesse caso, o fato será atípico.

P.: Se uma pessoa narra falsamente um crime para esconder um crime que praticou
por qual crime responde?

R.: Pelos dois. Ex.: apropriação indébita e falsa comunicação.

P.: Se a pessoa comunica falsamente um crime para conseguir realizar outro crime,
por exemplo, falsa comunicação e estelionato, pelo que responde?

R.: Há várias posições:

o estelionato prevalece, pois o crime-fim absorve o crime-meio;

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DIREITO PENAL

concurso formal de delitos;

concurso material.

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total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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MÓDULO XII

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Crimes Previdenciários

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Crimes Previdenciários

Luiz Fernando Vaggione

1. INTRODUÇÃO

Os crimes previdenciários estavam previstos no artigo 95 da Lei n. 8.212/91. A Lei


n. 9.983, de 17.7. 2000, entretanto, por meio de seu artigo 3.º, revogou o caput e todas as
alíneas (de “a” a “j”) do supracitado dispositivo e introduziu novos delitos no Código
Penal. Desse modo, a partir de 15.10. 2000, data da entrada em vigor da Lei n. 9.983/2000,
podemos afirmar que são crimes previdenciários os previstos nos artigos 168-A
(apropriação indébita previdenciária); 171, § 3.º (estelionato contra entidade autárquica);
297, §§ 3.º e 4.º (falsificação de documento público previdenciário) e 337-A (sonegação de
contribuição previdenciária), todos do Código Penal. Há, ainda, a infração introduzida nos
artigos 313-A e 313-B (crimes informáticos), cuja proteção penal estende-se a toda
Administração Pública.

Código Penal

Artigo Infração
168-A Apropriação indébita

171, § 3.º Estelionato

297, §§ 3.º e 4.º Falsificação de documento público

337-A Sonegação de contribuição


previdenciária

313-A Crimes informáticos


313-B

2. APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO

Com a vigência da Lei n. 9.983/2000 teria havido abolitio criminis em relação aos
comportamentos cometidos na vigência da Lei n. 8.212/91? Entendemos que não. A nova
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_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

lei reproduziu, praticamente, os comportamentos descritos na Lei n. 8.212/91, de modo que


não houve descriminação das condutas anteriormente praticadas. Lembramos que do artigo
95 da Lei n. 8.212/91 só eram aplicáveis as alíneas “d”, “e” e “f”, pois somente a elas havia
previsão de sanção penal: dois a seis anos de reclusão e multa (art. 95, § 1.º, da Lei n.
8.212/9111, combinado com o art. 5.º da Lei n. 7.492/86 – define os crimes contra o
Sistema Financeiro Nacional). As demais, como enfatizou Luiz Flávio Gomes, eram vistas
apenas como uma regra moral12.

Quadro comparativo

Lei n. 8.212/91 Lei n. 9.983/2000

Artigo 95, “d” – “Deixar de recolher,


na época própria, contribuição ou Artigo 168-A, § 1.º, inciso I, do Código
outra importância devida à Seguridade Penal
Social e arrecadada dos segurados ou
do público”.

Artigo 95, “e” – “Deixar de recolher


contribuições devidas à Seguridade Artigo 168-A, § 1.º, inciso II, do
Social que tenham integrado custos ou Código Penal
despesas contábeis relativos a produtos
ou serviços vendidos”.

Art. 95, “f” – “Deixar de pagar


salário-família,salário-maternidade, Artigo 168-A, § 1.º, inciso III, do
auxílio-natalidade ou outro benefício Código Penal
devido ao segurado, Quando as
respectivas quotas e valores já tiverem
sido reembolsados à empresa”.

Aos fatos praticados na vigência da Lei n. 8.212/91 devem retroagir,


exclusivamente, à nova sanção prevista no artigo 168-A, mais benéfica que a anterior: dois
a cinco anos de reclusão e multa.

Luiz Flávio Gomes, em obra já mencionada, enfatiza que as primeiras decisões


sobre a ocorrência ou não da abolitio criminis destoam do posicionamento acima exposto.
A propósito, precedentes do Tribunal Regional Federal da 5.ª Região sustentam a extinção
da punibilidade em decorrência de abolitio criminis. Nesse sentido: Apelação Criminal n.
002351/CE (2000.05.00.005018-2), rel. Castro Meira, j. em 9.11.2000; Recurso Criminal
n. 000297/CE (99.05.24130-2), rel. Castro Meira, j. em 16.11.2000.

11
“No caso dos crimes caracterizados nas alíneas 'd', 'e', e 'f' deste artigo, a pena será aquela estabelecida no art. 5.º da
Lei n. 7.492, de 16 de junho de 1986, aplicando-se à espécie as disposições constantes dos arts. 26, 27, 30, 31 e 33 do
citado diploma legal”.
12
GOMES, Luiz Flávio. Crimes Previdenciários. São Paulo: RT, 2001. p. 18.
2
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3. FIGURAS PENAIS

3.1. Apropriação Indébita Previdenciária


Artigo 168-A do Código Penal: “Deixar de repassar à Previdência Social as
contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

§ 1.º Nas mesmas penas incorre quem deixar de:

I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à


Previdência Social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a
terceiros, ou arrecadada do público;

II – recolher contribuições devidas à Previdência Social que tenham integrado


despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;

III – pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já


tiverem sido reembolsados à empresa pela Previdência Social.

§ 2.º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e


efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações
devidas à Previdência Social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da
ação fiscal.

§ 3.º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o


agente for primário e de bons antecedentes, desde que:

I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o


pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou

II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior


àquele estabelecido pela Previdência Social, administrativamente, como sendo o mínimo
para o ajuizamento de suas execuções fiscais.”

Apropriar-se é fazer sua coisa alheia. No caso da apropriação indébita


previdenciária, tutela-se a função arrecadadora da Previdência Social, ou, por outras
palavras, os seus interesses patrimoniais. Vê-se, portanto, que o bem jurídico é coletivo.

Segundo Luiz Flávio Gomes, o crime ora estudado é material, pois se consuma
quando resulta efetivamente afetada a função arrecadadora da Previdência Social, isto é, a
consumação ocorre quando expira o prazo legal para recolher ou repassar a contribuição
devida, ciente o agente de que poderia fazê-lo (animus rem sibi habendi). O que se quer
deixar claro é que a apropriação indébita previdenciária não se configura com o mero não-
pagamento. É preciso demonstrar que o sujeito ativo agiu em desacordo com a norma legal
ou convencional, quando lhe era perfeitamente possível observá-las.
3
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

É oportuna a lição de Nélson Hungria: “Notadamente quando a coisa continua em


poder do agente, ou não tenha sido por ele alienada ou consumida, cumpre ter em atenção
que a simples negativa de restituição ou omissão de emprego ao fim determinado não
significa, ainda que contra jus, necessária e irremissivelmente, apropriação indébita: para
que esta se apresente, é indispensável que a negativa ou a omissão seja precedida ou
acompanhada de circunstâncias que inequivocamente revelem o arbitrário animus rem sibi
habendi, ou que não haja, de todo, qualquer fundamento legal ou motivo razoável para a
recusa ou a omissão. A simples mora em restituir ou a simples desídia no omitir, não é
apropriação ...”.13

a) Sujeito ativo

Segundo Damásio de Jesus, o crime é próprio, ou seja, trata-se de pessoa que tem o
dever legal de repassar à Previdência Social a contribuição recolhida dos contribuintes.

b) Sujeito passivo

O sujeito passivo imediato ou principal é a Previdência Social. O sujeito passivo


mediato ou secundário é o segurado da Previdência Social.

c) Qualificação doutrinária

Trata-se de crime material, de conduta e resultado. Assim, para que o crime em


questão atinja a consumação exige-se que, escoado o prazo legal ou o prazo convencional,
o sujeito ativo tenha deixado de repassar as contribuições recolhidas, de recolher
contribuição ou outra importância destinada à Previdência Social ou, ainda, de pagar
benefício devido a segurado, com a ciência de que poderia fazê-lo.

Para Damásio de Jesus, a tentativa é impossível. Para Luiz Flávio Gomes, no


entanto, é viável “sempre que a apropriação encerra um iter, isto é, quando a decisão de se
apropriar do que é devido à previdência é perceptível exteriormente e não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente”14.

Os crimes previstos no artigo 168-A do Código Penal são delitos comissivos de


conduta mista, pois há uma ação positiva inicial (recolher, descontar ou inserir), seguida de
outra negativa (deixar de repassar, recolher ou de pagar).

O crime é doloso.

d) Penas

Reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa.

13
HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. 1.ª ed. Rio de Janeiro: Revista Forense, 1955. vol. VII, p. 131.
14
GOMES, Luiz Flávio. Op. cit. p. 31.
4
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e) Suspensão condicional do processo

Consoante dispõe o artigo 89 da Lei n. 9.099/95, a suspensão condicional do


processo só é possível quando a pena mínima cominada em abstrato ao delito não supere
um ano. Como na “apropriação indébita previdenciária” a pena mínima é de dois anos, a
aplicação do instituto enfocado é, a princípio, inviável. No entanto, caso o agente efetue o
pagamento das contribuições e seus acessórios após o início da ação fiscal e antes do
recebimento da denúncia, incidirá o artigo 16 do Código Penal, arrependimento posterior,
cuja conseqüência é a redução da pena de um a dois terços. Tomado o redutor máximo, a
pena mínima abstrata passa a ser de oito meses, compatível com o artigo 89 da Lei dos
Juizados Especiais Criminais.

f) Extinção da punibilidade

Extingue-se a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua


o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à
Previdência Social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal,
nos termos do § 2.º do artigo 168-A do Código Penal.

O novo dispositivo afastou a aplicação do artigo 34 da Lei n. 9.249/95 que


estabelecia a extinção da punibilidade para os crimes contra a ordem tributária previstos na
Lei n. 8.137/90 (STF, HC n. 73.418/RS, rel. Min. Carlos Velloso).

Observa-se que o § 2.º do artigo 168-A é mais severo que o art.igo 34 da Lei n.
9.249/95. Nos termos do novo dispositivo, para que haja extinção da punibilidade é
necessário que o pagamento do que é devido à Previdência Social aconteça até o início da
ação fiscal, o que ocorre normalmente antes do recebimento da denúncia. Logo, o § 2.º do
artigo 168-A antecipa o momento para o pagamento. Sendo norma mais severa, não
retroage para atingir os comportamentos praticados até 14.10. 2000.

Frisa-se que o “início da ação fiscal” ocorre, segundo entendimento majoritário,


com a notificação do lançamento do tributo e não com a simples formalização do Termo de
Início da Ação Fiscal (TIAF).

Data do fato Termo final Diploma legal Efeito

Até 14.10.2000 Antes do Artigo 34 da Lei n. Extinção da


recebimento da 9.249/95 punibilidade
denúncia

A partir de Antes do início da § 2.º do artigo 168- Extinção da


15.10.2000 (Lei n. ação fiscal A do Código Penal punibilidade
9.983/2000)

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g) Perdão judicial ou aplicação exclusiva de multa

Nos termos do § 3.º do artigo 168-A, é facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
aplicar somente a pena de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que
tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento
da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou o valor das contribuições
devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela Previdência
Social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções
fiscais.

Os pressupostos para a aplicação do perdão judicial ou exclusivamente da pena


pecuniária pressupõem ser o agente primário e de bons antecedentes. Sem essas condições
é, desde logo, inaplicável o § 3.º do artigo 168-A do Código Penal.

Satisfeitos os pressupostos, um dos requisitos previstos nos incisos I e II do § 3.º do


artigo 168-A devem estar presentes. O primeiro deles (inciso I) consiste no pagamento da
contribuição social previdenciária e seus acessórios antes do oferecimento da denúncia.
Lembramos que o Pleno do Supremo Tribunal Federal entendeu que o simples
parcelamento da dívida celebrado com a Previdência Social, sem a quitação de todas as
parcelas antes do recebimento da denúncia, não equivale a pagamento (Inq. n. 1.028/RS,
rel. Moreira Alves; HC n. 74.133-9/DF, rel. Celso de Mello). O outro requisito, inserido no
inciso II, refere-se ao valor mínimo estatuído pela Previdência Social para o ajuizamento
de suas execuções fiscais que, segundo o Memo n. INSS/PG/36/98, é de R$ 5.000,00
(cinco mil reais).

A análise do caso concreto levará o juiz a decidir se aplica o perdão judicial ou,
exclusivamente, a multa. O benefício do perdão é evidentemente mais benéfico, porquanto
a sentença que o concede é meramente declaratória (Súmula n. 18 do STJ), não gerando,
inclusive, os efeitos da reincidência (art. 120 do CP). A imposição da pena pecuniária
pressupõe a prolação de uma sentença condenatória e que gerará a reincidência (art. 63 do
CP).

Frisa-se que a Medida Provisória n. 2.176/79, de 23.8.2001, que dispõe sobre o


Cadastro Informativo (Cadin) dos créditos não quitados de órgãos e entidades federais, no
seu artigo 20, dispõe que “serão arquivados, sem baixa na distribuição, os autos das
execuções fiscais de débitos inscritos como Dívida Ativa da União pela Procuradoria-Geral
da Fazenda Nacional ou por ela cobrados, de valor consolidado igual ou inferior a R$
2.500,00 (dois mil e quinhentos reais)”. Não ocorrerá o arquivamento, entretanto, se a
execução fiscal referir-se a contribuições devidas ao Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS) (§ 3.º do art. 20). Sustenta-se que, na hipótese do artigo 20 da Medida
Provisória n. 2.176/79, poder-se-ia aplicar o princípio da insignificância, excludente da
tipicidade.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Veja o quadro abaixo:

Débitos até R$ 2.500,001 Débitos acima de R$ 2.500,00 e que


não superem R$ 5.000,002

Exclusão da tipicidade, ante a aplicação Perdão judicial ou multa (art. 168, § 3.º,
do princípio da insignificância inc. II)
(1) Medida Provisória n. 2.176/79, artigo 20.
(2) Memo n. INSS/PG/36/98: valor mínimo para ajuizamento de execuções fiscais.

h) Pagamento efetuado após o oferecimento da denúncia, mas antes de seu


recebimento

A hipótese configura o arrependimento posterior, como já aludimos anteriormente,


permitindo ao juiz a redução da pena de um a dois terços (art. 16 do CP).

i) Pagamento após o recebimento da denúncia

Aplica-se o artigo 65, inciso III, "b", do Código Penal, isto é, o pagamento das
contribuições, inclusive acessórios, à Previdência Social,viabiliza, exclusivamente, uma
atenuação de pena.

j) Penas alternativas

Inexiste vedação à aplicação das penas alternativas às condenações impostas com


fundamento no artigo 168-A do Código Penal, desde que presentes os requisitos legais.
Entre eles lembramos que a pena imposta não poderá superar quatro anos. Frisamos,
também, que o juiz deverá analisar se a pena alternativa será suficiente para a reprovação
da apropriação indébita previdenciária (art. 44, inc. III, do CP).

l) Suspensão condicional da pena

Desde que não seja possível substituir a pena privativa de liberdade e, não sendo a
sanção superior a dois anos, presentes os demais requisitos legais (art. 77, incs. I e II, do
CP), fará jus o condenado ao sursis.

Quadro geral dos efeitos do pagamento

Momento do pagamento Efeito jurídico Fundamento legal

Antes do início da ação Extinção da punibilidade Artigo 168, § 2.º, do


fiscal Código Penal

Após o início da ação Perdão judicial ou Artigo 168, § 3.º, inciso I,


fiscal e antes do aplicação exclusiva de do Código Penal
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oferecimento da denúncia multa

Após o oferecimento da Redução de um a dois Artigo 16 do Código


denúncia e antes do seu terços Penal
recebimento

Após o recebimento da Circunstância atenuante Artigo 65, inciso III, "b",


denúncia e antes do genérica do Código Penal
julgamento

3.2. Estelionato
Artigo 171 do Código Penal: “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em
prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou
qualquer outro meio fraudulento:

(...)

§ 3.º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de


entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou
beneficência.”

Comete estelionato quem emprega meio fraudulento visando vantagem patrimonial


ilícita.

Trata-se de crime comum, porquanto pode ser praticado por qualquer pessoa.
Quanto ao sujeito passivo, exige-se que seja determinado. No estudo ora realizado, a
vítima é a Previdência Social.

O elemento subjetivo do tipo é o dolo, distinguindo-se o estelionato da apropriação


indébita por meio do momento em que surge tal elemento subjetivo. No estelionato o dolo
surge ab initio; na apropriação indébita o dolo é subseqüente.

Os meios executórios estão presentes no preceito primário do artigo 171 do Código


Penal: artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento. Artifício é a encenação, ou como
ensina Damásio de Jesus é o engodo praticado por intermédio de aparato material. O ardil,
por sua vez, é o engano proporcionado pela astúcia, pela artimanha. Como “qualquer outro
meio fraudulento”, fórmula genérica que suscita o emprego de interpretação analógica,
podemos indicar a mentira, o silêncio, o emprego de documentos falsos, enfim todos os
demais meios idôneos para enganar a vítima.

O delito consuma-se com a obtenção da vantagem patrimonial ilícita, em prejuízo


alheio. Tratando-se de “vantagem parcelada”, o estelionato consuma-se com a primeira
parcela.

No que diz respeito à causa de aumento prevista no § 3.º do artigo 171 do Código
Penal, lembramos que são entidades de direito público, além da União, dos Estados, dos
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Municípios e do Distrito Federal, também as autarquias e as entidades paraestatais. O


aumento de um terço justifica-se pelo fato de o sujeito passivo representar o interesse
coletivo. Veja, a propósito, a Súmula n. 24 do Superior Tribunal de Justiça: “Aplica-se ao
crime de estelionato, em que figure como vítima entidade autárquica da Previdência Social,
a qualificadora do § 3.º do art. 171 do Código Penal”.

É possível a aplicação do artigo 16 do Código Penal (arrependimento posterior).


Caso a reparação do dano ocorra após o recebimento da denúncia, tal circunstância poderá
ser aproveitada como agravante genérica (art. 65, inc. III, "b", do CP). Finalmente,
ressaltamos que a figura do estelionato privilegiado não incide sobre a forma agravada
definida pelo § 3.º do artigo 171.

3.3. Falsificação de Documento Público Previdenciário


Artigo 297 do Código Penal: “Falsificar, no todo ou em parte, documento público,
ou alterar documento público verdadeiro:

Pena – reclusão, de 2 (dois) anos a 6 (seis) anos, e multa.

(...)

§ 3.º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:

I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a


fazer prova perante a Previdência Social, pessoa que não possua a qualidade de segurado
obrigatório;

II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento


que deva produzir efeito perante a Previdência Social, declaração falsa ou diversa da que
deveria ter sido escrita;

III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as


obrigações da empresa perante a Previdência Social, declaração falsa ou diversa da que
deveria ter constado.

§ 4.º Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3.º,
nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho
ou de prestação de serviços.”

Damásio de Jesus ensina que a falsificação de documento público previdenciário


distingue-se do artigo 337-A, também do Código Penal, porque neste há a finalidade
específica de sonegação de contribuições previdenciárias.

O delito é formal, sendo suas condutas comissivas. Basta a inserção dos dados falsos
(§ 3.º), sem que se exija qualquer resultado ulterior. A tentativa é possível nas hipóteses do
§ 3.º. No § 4.º, no entanto, tratando-se de crime omissivo próprio, a tentativa é
inadmissível.
9
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

A falsificação deve ser apta a iludir, caso contrário tratar-se-á de crime impossível
por ineficácia absoluta do meio (art. 17 do CP).

3.4. Sonegação de Contribuição Previdenciária


Está definida no artigo 337-A do Código Penal:

Artigo 337-A do Código Penal: “Suprimir ou reduzir contribuição social


previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:

I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações


previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador
avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços;

II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa


as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de
serviços;

III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas


ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

§ 1.º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa as


contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à Previdência
Social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.

§ 2.º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o


agente for primário e de bons antecedentes, desde que:

I – vetado;

II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior


àquele estabelecido pela Previdência Social, administrativamente, como sendo o mínimo
para o ajuizamento de suas execuções fiscais.

§ 3.º Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não
ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de
um terço até a metade ou aplicar apenas a de multa.

§ 4.º O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas mesmas datas e
nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da Previdência Social.”

Protege-se o Estado, notadamente, como enfatiza Damásio de Jesus, a Seguridade


Social “a fim de permitir que esta, recebendo as contribuições de que é credora, pelo INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social), possa alcançar a finalidade de assegurar o direito
concernente à saúde, à previdência e à assistência social”.
10
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

O artigo 337-A é norma especial em relação aos crimes contra a ordem tributária
definidos na Lei n. 8.137/90, devendo, portanto, sobre estes prevalecer.

Os comportamentos descritos no artigo em estudo exigem uma especial qualificação


do sujeito ativo: será o particular que tem a obrigação legal de cumprir os comportamentos
exigidos pela norma penal. No pólo passivo da infração penal figura, como já se adiantou,
o Estado.

Tendo a Lei n. 9.983/2000 repetido, praticamente, a redação do artigo 1.º da Lei n.


8.137/90, concluímos que os crimes definidos no artigo 337-A do Código Penal são
materiais, ou seja, de conduta e resultado. Assim, só teremos a consumação quando houver
efetiva supressão ou redução de contribuição previdenciária e qualquer acessório.

A tentativa, segundo Damásio de Jesus e Luiz Flávio Gomes, é admissível.


Discorrendo sobre o tema, Luiz Flávio Gomes sustenta que os crimes são de conduta mista,
mais precisamente comissivos de conduta mista.

Exige-se o dolo. Não há figura culposa prevista no artigo 337-A do Código Penal.

a) Causa extintiva de punibilidade

Conforme dispõe o § 1.º do artigo 337-A do Código Penal, é extinta a punibilidade


se o agente, espontaneamente, declara e confessa as contribuições, importâncias ou valores
e presta as informações devidas à Previdência Social, na forma definida em lei ou
regulamento, antes do início da ação fiscal. Observa-se, portanto, que a extinção da
punibilidade do agente exige a coexistência de vários requisitos, a saber: 1.º) declaração e
confissão espontâneas; 2.º) prestação de informações à Previdência Social; 3.º) ações
praticadas antes do início da ação fiscal, isto é, antes da notificação do lançamento do
tributo ao contribuinte.

A leitura atenta do artigo 337-A do Código Penal e a sua comparação com a causa
extintiva de punibilidade prevista no § 2.º do artigo 168 do Código Penal (apropriação
indébita previdenciária) leva-nos a afirmar que, para que se aplique o § 1.º do artigo 337-A
do Código Penal, não é exigível o pagamento das contribuições e seus acessórios.

Artigo 337-A, § 1.º: “É extinta a Artigo 168-A, § 2.º: “É extinta a punibilidade


punibilidade se o agente, se o agente, espontaneamente, declara,
espontaneamente, declara e confessa as confessa e efetua o pagamento das
contribuições ...”. contribuições ...”.

b) Perdão judicial ou aplicação exclusiva de multa

À semelhança do que ocorreu com a apropriação indébita previdenciária, previu o


legislador a aplicação do perdão judicial ou da pena pecuniária ao agente que seja primário
e de bons antecedentes, desde que o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios,
11
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

seja igual ou inferior àquele estabelecido pela Previdência Social, administrativamente,


como sendo o mínimo para o ajuizamento de duas execuções fiscais (§ 2.º e seu inciso do
art. 337-A do CP).

Débitos até R$ 2.500,001 Débitos acima de R$ 2.500,00 e que


não superem R$ 5.000,002

Exclusão da tipicidade, ante a aplicação Perdão judicial ou multa (art. 168, § 3.º,
do princípio da insignificância inc. II)
(1) Medida Provisória n. 2.176/79, artigo 20.
(2) Memo n. INSS/PG/36/98: valor mínimo para ajuizamento de execuções fiscais.

c) Redução da pena

Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não


ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de
um terço até a metade ou aplicar apenas a sanção pecuniária, conforme dispõe o § 3.º do
artigo 337-A do Código Penal. O valor acima aludido será reajustado nas mesmas datas e
nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da Previdência Social.

d) Pagamento das contribuições e seus acessórios

Como o artigo 337-A do Código Penal não trata do assunto, devemos aplicar a norma geral
prevista no artigo 34 da Lei n. 9.249/95. Assim, se o agente não se utilizou do previsto no §
1.º do artigo 337-A, ou seja, se antes do início da ação fiscal não declarou e não confessou
as contribuições devidas à Previdência Social, poderá pagá-las antes do recebimento da
denúncia: “Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei n. 8.137, de 27 de
dezembro de 1990, e na Lei n. 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente promover o
pagamento do tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da
denúncia”.

Ressaltamos, mais uma vez, que o Supremo Tribunal Federal, por seu Plenário,
exige o pagamento integral do tributo antes do recebimento da denúncia. Aliás, a
orientação do Supremo Tribunal Federal está em consonância com o disposto na Lei n.
9.964/2000, que dispõe sobre o Programa de Recuperação Fiscal (Refis). Pois bem,
preceitua o § 3.º do artigo 15 da Lei n. 9.964/2000: “Extingue-se a punibilidade dos crimes
referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o
pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive
acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento antes do recebimento da
denúncia criminal” (o grifo é nosso). Como se vê, só o cumprimento integral do acordo
viabiliza a extinção da punibilidade. O Superior Tribunal de Justiça, ao contrário, tem
precedentes admitindo o parcelamento como forma de “promoção” do pagamento. A
posição do Superior Tribunal de Justiça, com a devida vênia, é um estímulo à fraude.

12
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3.5. Crimes Informáticos

3.5.1. Inserção de dados falsos em sistema de informações


Artigo 313-A do Código Penal: “Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a
inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas
informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem
indevida para si ou para outrem ou para causar dano:

Pena – reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.”

Cuida-se de nova figura típica, inserida no Código Penal pela Lei n. 9.983/2000,
tendo entrado em vigor em 15.10.2000 (vacatio legis de 90 dias, contados da data de
publicação: 17.7. 2000).

O artigo 313-A do Código Penal protege a Administração Pública em geral. O crime


é próprio, porquanto só pode ser praticado por funcionário público autorizado ao
tratamento das informações armazenadas em banco de dados ou sistemas informatizados.
O sujeito passivo é o Estado.

Exige-se o dolo e uma ulterior finalidade, isto é, a vontade de obter vantagem


indevida para si ou para outrem ou de causar dano.

O delito é formal. Não se exige, pois, qualquer resultado naturalístico para a


consumação do crime. Com o comportamento típico e a prova de um dos fins previstos no
tipo estará a infração caracterizada. A forma tentada é perfeitamente possível.

3.5.2. Modificação ou alteração não-autorizada de sistema de


informações
Artigo 313-B do Código Penal: “Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de
informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade
competente:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da


modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o
administrado.”

Trata-se de outro delito introduzido no Código Penal pela Lei n. 9.983/2000. Tendo
entrado em vigor em 15.10.2000, é inaplicável a fatos cometidos anteriormente.

13
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

A objetividade jurídica, ou seja, o interesse juridicamente tutelado é a preservação


dos sistemas de informações e de programas de informática.

O crime também é próprio, pois só pode ser praticado por funcionário público no
exercício de suas funções. Cuida-se, tal como no caso do artigo 313-A, de delito funcional
típico. Quanto ao sujeito passivo, figura o Estado.

O elemento subjetivo é o dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de praticar os


comportamentos previstos na figura penal em estudo. A conduta, para ser típica, pressupõe
que o funcionário público o faça “sem autorização ou solicitação de autoridade
competente”.

O crime é de mera conduta. Consuma-se, assim, com a simples prática do


comportamento típico. A tentativa é tecnicamente viável. Se resultar dano (exaurimento do
crime) para a Administração Pública aplica-se o aumento de pena previsto no parágrafo
único do artigo 313-B do Código Penal: um terço até a metade.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXIII

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Procedimentos Especiais

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Procedimentos Especiais

Prof. Vitor Frederico Kümpel

1. AÇÃO MONITÓRIA

Ação monitória é o instrumento processual colocado à disposição do credor de


quantia certa, de coisa fungível ou de bem móvel, que esteja munido de documento escrito
sem força executiva, e que queira receber o que lhe é devido.

A ação monitória é ação de conhecimento, tipificada nos procedimentos especiais,


de acordo com a maioria da doutrina, notadamente na obra e José Rogério Cruz de Tucci.

A ação monitória é opção do credor, ou seja, o credor pode valer-se das ações
tradicionais, pelo procedimento comum.

A vantagem da ação monitória é que, se o réu não opuser resistência, chega-se mais
rapidamente à formação do título executivo.

É necessário documento escrito comprovando a dívida.

Quando a petição inicial não estiver em termos, o juiz determinará oportunidade


para o autor emendar a petição inicial em dez dias, sob pena de indeferimento.

Se a petição inicial estiver devidamente instruída, o juiz deve proferir a decisão


inicial, deferindo de plano a expedição do mandado de pagamento ou de entrega da coisa,
no prazo de 15 dias (art. 1.102b do Código de Processo Civil).

O réu pode:

pagar ou entregar a coisa: o juiz profere sentença extinguindo a monitória, com


julgamento de mérito;

defender-se: o artigo 1.102c faculta ao réu, no prazo de 15 dias, oferecer embargos,


suspendendo a eficácia do mandado inicial;

omitir-se: o réu, permanecendo inerte, constituir-se-á de pleno direito o título


executivo judicial, convertendo-se o mandado inicial em mandado executivo.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Portanto:

O réu pagando no prazo de 15 dias, espontaneamente, fica dispensado de pagar as


custas e os honorários advocatícios.

Em o réu se omitindo, aquilo que era ação monitória, converte-se de plano em


execução.

Se decorrer in albis o prazo de 15 dias, a decisão inicial ganha força de sentença.


Logo, o juiz deve expedir mandado para citar o réu para pagar ou nomear bens à
penhora.

O réu é citado para se defender por meio de embargos. Porém, há uma dúvida quanto
à natureza desses embargos. Existe uma discussão para se saber se os embargos têm
natureza de ação autônoma ou de contestação.

Para o Prof. Marcus Vinícius Rios Gonçalves15: “Parece-nos, no entanto, que não há
razão para considerar os embargos como ação autônoma. Na verdade, eles constituem mera
defesa do devedor, de natureza jurídica idêntica a uma verdadeira contestação”.

O procedimento torna-se ordinário, não vislumbrando impedimentos a que o devedor


apresente reconvenção.

Apresentada a defesa, a decisão inicial não ganha eficácia de sentença, valendo


como interlocutória.

1.1. Citação Art. 213 do Código de Processo Civil


A citação é o ato pelo qual se dá ciência ao réu ou ao interessado, da existência do
processo, abrindo-se oportunidade para apresentação de defesa.

Embora a lei não diga, ao determinar a expedição do mandado, o juiz deve também
mandar citar o réu.

2. ALIENAÇÕES JUDICIAIS

2.1. Introdução e Natureza Jurídica


Trata-se de procedimento especial de jurisdição voluntária previsto nos artigos 1.113
a 1.119 do Código de Processo Civil.

15
GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Procedimentos Especiais. São Paulo: Saraiva,1999. p.163.
(Sinopses Jurídicas):
2
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

O artigo 1.113 do Código de Processo Civil estabelece que “nos casos expressos em
lei e sempre que os bens depositados judicialmente forem de fácil deterioração, estiverem
avariados ou exigirem grandes despesas para a sua guarda, o juiz, de ofício ou a
requerimento do depositário ou de qualquer das partes, mandará aliená-los em leilão.”

Quando a alienação for requerida por uma das partes, o juiz ouvirá sempre a outra
antes de decidir.

2.2. Meio Adequado


A alienação deve ocorrer por meio de um leilão. Caso todos os interessados tenham
plena capacidade civil e concordem expressamente, é possível a alienação
independentemente de leilão. O juiz deve sempre, antes de autorizar, ouvir todos os
interessados.

A necessidade de se manifestarem todos os interessados existe, já que pode ocorrer


de qualquer deles se comprometer a satisfazer ou garantir as despesas de conservação do
bem depositado, ocasião em que não haverá mais alienação.

2.3. Avaliação
O juiz deverá nomear um perito para proceder à avaliação dos bens a serem
alienados, salvo se os bens já tiverem sido avaliados antes e não sofreram alteração em seu
preço.

O artigo 1.115 do Código de Processo Civil deixa claro que o bem será vendido pelo
preço alcançado, ainda que seja inferior ao valor da avaliação.

O escopo da avaliação é possibilitar que o interessado não perca o objeto por preço
vil.

Como qualquer leilão, deverá haver publicidade precedente à alienação. Devem ser
expedidos, portanto, editais de forma similar aos editais de execução.

2.4. Efeitos da Alienação


Não é possível o imediato levantamento de numerário referente à alienação por
credores ou titulares da coisa, já que existe uma sub-rogação do preço alcançado nos ônus
ou responsabilidades a que estão sujeitos os bens. O valor deve remanescer depositado até
serem deduzidas as despesas com alienação e somente após o desconto das despesas é que
deve haver o levantamento.

3
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2.5. Observações
Quando a alienação for de coisa comum, será preferido, em igualdade de condições,
o condômino ao estranho; entre os condôminos, o que tiver benfeitorias de maior valor; e,
se não houver benfeitorias, o condômino proprietário do maior quinhão.

Dispõe o artigo 1.119 que “verificada a alienação de coisa comum sem observância
das preferências legais, o condômino prejudicado poderá requerer, antes da assinatura da
carta, o depósito do preço e adjudicação da coisa.”

3. SEPARAÇÃO CONSENSUAL

3.1. Introdução
A separação configura um dos meios de dissolução da sociedade conjugal. Apesar
de não romper o vínculo matrimonial, ela faz cessar o complexo de direitos e obrigações
inerente à vida comum dos cônjuges.

A ação de separação judicial é sempre pessoal e intransferível. Apenas os cônjuges


têm iniciativa para propô-la.

Os artigos 1.120 a 1.124 do Código de Processo Civil dispõem sobre o


procedimento da separação consensual. O artigo 34 da Lei n. 6.545/77 trouxe alguns
acréscimos ao tema.

3.2. Procedimento
O foro competente para apreciar o pedido é o do domicílio do casal. Compete ao
juiz apenas a homologação da manifestação de vontade dos interessados – administração
pública de interesses de privados.

A petição inicial será assinada por ambos os cônjuges na presença do juiz (art. 34, §
4.º, da LD), ou as assinaturas serão reconhecidas por tabelião. Caso algum deles não saiba
assinar, é lícito que outrem assine a rogo.

O primeiro documento fundamental que deve instruir a inicial é a certidão de


casamento, para que o juiz verifique se as partes estão casadas há pelo menos dois anos,
conforme exige o artigo 4.º da Lei do Divórcio. Também é indispensável o contrato pré-
nupcial – se houver –, certidão de nascimento dos filhos e documentos relativos aos bens a
partilhar (ver art. 1.121 do Código de Processo Civil).

Nada precisa estar mencionado sobre os motivos da separação, já que o juiz só está
preocupado com os efeitos desta.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

O cônjuge, que estiver usando o nome do outro, tem a opção de manter ou retirá-lo,
já que a separação é consensual e não se discute culpa, fator que poderia ensejar a perda do
nome.

O procedimento possui uma fase preliminar na qual o juiz ouve o casal


particularmente. Essa é uma audiência informal que não mantém um procedimento-padrão.
O juiz pode ouvir os dois na mesma sala, ou ouvir cada qual isoladamente, sem a presença
do escrivão, do advogado ou qualquer pessoa. A privacidade é muito importante para que o
juiz verifique a real vontade das partes. O juiz também se vale dessa audiência para
verificar a melhor proteção aos filhos.

Conforme determina o artigo 34, § 2.º, da Lei do Divórcio, o juiz não é obrigado a
homologar a separação se verificar que o acordo não atende a interesses de um dos
cônjuges ou da prole.

Quando o juiz verifica que a petição está em ordem e que a vontade dos cônjuges é
inequívoca, determina que se lavre o termo de separação consensual, podendo, ainda,
alterar algumas cláusulas com a anuência das partes.

Lavrado o termo, deve o Ministério Público ser ouvido, no prazo de cinco dias,
homologando o juiz, logo a seguir, a separação e determinando que se averbe no Registro
Civil e no Registro de Imóveis. Na prática, o órgão do Ministério Público se manifesta
antes de o juiz ouvir o casal, agilizando o procedimento.

Caso qualquer dos cônjuges não tenha certeza de que quer se separar, compete ao
juiz redesignar a audiência, dando de 15 a 30 dias para as partes refletirem. Caso não
ocorra a ratificação, o processo será arquivado.

4. TESTAMENTOS E CODICILOS

4.1. Introdução
O Código Civil ao regular os testamentos apresenta uma classificação trifásica. De
um lado, temos os testamentos ordinários, que são os testamentos públicos, particulares e
cerrados. Do outro lado, temos os testamentos especiais, que são os testamentos marítimo e
militar. Por fim, temos o codicilo que remanesce numa categoria autônoma.

4.2. Objeto
O grande objetivo desse procedimento de jurisdição voluntária é o exame das
solenidades exigíveis para a validade formal do testamento. O objeto não é a análise do
conteúdo do testamento, muito menos a interpretação das suas cláusulas.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

4.3. Testamento Cerrado


Testamento cerrado é aquele que o próprio testador, ou alguém por sua ordem,
redige, e que, após escrito, é apresentado e lacrado pelo tabelião na presença de cinco
testemunhas. Uma vez apresentado ao juiz, após a abertura da sucessão, compete ao
mesmo verificar se está intacto. Comprovada a ausência de vícios visíveis, o juiz abre o
testamento e manda que o escrivão o leia na presença de quem o entregou. É lavrado o auto
de abertura, contendo a data e o local em que testamento foi aberto. Deve conter, ainda,
dados do apresentante, a data e o lugar do falecimento do testador e qualquer circunstância
digna de nota, encontrada no invólucro ou no interior do testamento. O auto terá a rubrica
do juiz.

Após a lavratura do auto, manifesta-se o órgão do parquet e o juiz manda registrar,


publicar e cumprir o testamento. Só não haverá cumprimento do testamento se houver
violação do mesmo. O escrivão deverá, ainda, no prazo de oito dias, remeter cópia do
testamento à repartição fiscal.

O escrivão deverá, também, intimar o testamenteiro para, em cinco dias, formalizar


o seu compromisso da testamentária. Caso não haja testamenteiro nomeado, ou se por
qualquer motivo o encargo não seja assumido, lavrar-se-á certidão, competindo então ao
juiz nomear um testamenteiro dativo.

4.4. Testamento Público


Testamento público é aquele escrito por um tabelião em livro de notas, de acordo
com a vontade do testador, na presença de cinco testemunhas.

Qualquer interessado, mediante apresentação de certidão de testamento, poderá


requerer ao juiz que ordene o seu cumprimento. O procedimento, a partir daí, será o
mesmo do testamento cerrado.

4.5. Testamento Particular


Testamento particular é aquele inteiramente escrito e assinado pelo testador.

O testamento particular tem o procedimento mais completo, já que, por não ter tido
a participação do Estado, precisa, além da aferição de seus requisitos formais, de sua
confirmação. Deve ser elaborada uma petição inicial pelo herdeiro, pelo legatário ou pelo
testamenteiro, requerendo a publicação em juízo do testamento, inquirindo-se as
testemunhas que ouviram a leitura do mesmo e o assinaram. A petição deve estar instruída
com a cédula do testamento particular. Serão intimados para a inquirição aqueles a quem
caberia a sucessão legítima, o testamenteiro, os herdeiros e os legatários que não tiverem
requerido a publicação e o Ministério Público. O juiz deve, ainda, designar uma audiência,
devendo ouvir pelo menos três das referidas testemunhas. Estas devem confirmar que o

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

testador era capaz, que conheciam o teor do testamento e que todas as assinaturas eram
verdadeiras. O interessado pode argüir vício em cinco dias.

4.6. Testamentos Especiais e Codicilos


As disposições referentes à confirmação do testamento particular (arts. 1.130 a
1.133 do Código de Processo Civil) aplicam-se também aos testamentos especiais e
codicilos.

5. HERANÇA JACENTE

5.1. Introdução
Conforme menciona o artigo 1.819 do Código Civil: “Falecendo alguém sem deixar
testamento nem herdeiro legítimo notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de
arrecadados, ficarão sob a guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao
sucessor devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância”.

O objeto desse procedimento é a proteção de eventuais herdeiros, procurando evitar


que a herança seja transmitida automaticamente ao Município. Para esse fim, os bens
arrecadados deverão ficar sob a guarda, conservação e administração de um curador,
pessoa que representa a herança, cuidando dos bens como se fossem seus.

5.2. Procedimento
O procedimento tem início com a arrecadação. O juiz da Comarca em que o falecido
tinha domicílio, de ofício ou a pedido de qualquer interessado ou do Ministério Público,
determinará a arrecadação sem perda de tempo de todos os bens que componham a herança
jacente, nomeando o curador. O próprio juiz, acompanhado do escrivão e do curador,
deverá ir à residência do falecido. O juiz determinará ao escrivão que arrole os bens.
Deverá haver uma descrição minuciosa por meio de auto circunstanciado. Após, o juiz
nomeará um depositário para, mediante compromisso, permanecer com os bens
encontrados. O promotor de justiça e o representante da Fazenda Pública também
acompanharão o procedimento.

Caso não seja possível a arrecadação no mesmo dia, o juiz determinará que se
aponham selos nos bens, que serão levantados à medida que a arrecadação se proceda.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Documentos e papéis serão examinados reservadamente pelo juiz que mandará


empacotar e lacrar. Se a herança se tornar vacante, eles serão queimados (art. 1.147 do
Código de Processo Civil).

Caso o juiz não possa proceder à diligência, determinará que a autoridade policial
proceda à arrecadação e ao arrolamento dos bens, assistida por duas testemunhas. Caso
existam bens em outra comarca serão arrecadados por carta precatória.

Encerrada a arrecadação, o juiz mandará expedir edital, por três vezes, com
intervalo de 30 dias, para que os sucessores venham habilitar-se, no prazo de seis meses,
contados da primeira publicação. Caso se apresente algum sucessor, será convertida a
arrecadação em inventário.

Após um ano, contado da primeira publicação, se nenhum herdeiro tiver se


habilitado, a herança será declarada vacante.

Os bens serão entregues ao Município, após cinco anos da abertura da sucessão,


ocasião em que serão incorporados pelo ente.

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Recursos

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Recursos

Prof. Fernando Capez

1. RECURSOS

1.1. Introdução
Recurso é a providência legal imposta ao juiz ou concedida à parte interessada,
consistente em um meio de se obter nova apreciação da decisão ou situação processual,
com o fim de corrigi-la, modificá-la ou confirmá-la. Trata-se do meio pelo qual se obtém o
reexame de uma decisão.

1.2. Características
O recurso é meio voluntário; é extensão do direito de ação. O Poder Judiciário só
atua se provocado. Ao prolatar a sentença, o órgão jurisdicional entrega a prestação
tornando-se inerte. Logo, para que volte a apreciar a questão, deve ser provocado
novamente com a interposição de um recurso. A inércia da jurisdição é a garantia da
imparcialidade.

O princípio da voluntariedade do recurso é mitigado pelo recurso de ofício (recurso


obrigatório, recurso necessário), ou seja, o juiz deve interpor recurso da decisão.

A natureza jurídica do reexame necessário é uma condição de eficácia da decisão,


não transitando em julgado a sentença em que tiver sido omitido.

O artigo 574 do Código de Processo Penal estabelece: “Os recursos serão


voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos de ofício,
pelo juiz:

I – da sentença que conceder habeas corpus;

II – da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de


circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena, nos termos do artigo 411."

Há outras hipóteses de cabimento de recurso de ofício, além das mencionadas no


artigo 574 do Código de Processo Penal:

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• sentenças absolutórias referentes aos crimes contra a economia popular ou a


saúde pública (artigo 7.º da Lei n. 1.579/52);

• despachos que determinarem o arquivamento dos autos do inquérito policial


referentes a esses crimes (artigo 7.º da Lei n. 1.579/52);

• indeferimento in limine da revisão pelo relator que dará recurso para as câmaras
reunidas ou para o tribunal (artigo 625, § 3.º, do Código de Processo Penal);

• decisão que conceder a reabilitação (artigo 746 do Código de Processo Penal).

O recurso necessário não pode ser considerado recurso, pois o juiz, que tem o
dever de recorrer de ofício, não haveria de ficar inconformado com sua própria decisão,
mas, ao contrário, desejar o seu improvimento pelo tribunal. O recurso sempre resulta de
um inconformismo, caso contrário, não seria considerado recurso. Não há necessidade de
fundamentação.

Ressalte-se que tribunais do Rio Grande do Sul e Minas Gerais vêm entendendo
que o artigo 129, inciso I, da Constituição Federal revogou o recurso ex officio, pois se a
ação penal pública é privativa do Ministério Público, não cabe ao juiz praticar qualquer ato
de parte, sob pena de perder a imparcialidade e de quebrar o princípio da inércia
jurisdicional.

Entendemos que não houve revogação.

1.3. Classificação dos Recursos

1.3.1. Quanto ao conteúdo


• Total ou pleno: quando se questiona toda a decisão. O órgão ad quem
reexaminará toda a decisão.

• Parcial ou restrito: quando se questiona apenas parte da decisão. Será


reexaminada pelo tribunal apenas a parte impugnada.

1.3.2. Quanto às fontes informativas


• Constitucionais: previstos pela Constituição Federal com a finalidade de levar
aos tribunais superiores o conhecimento ou a defesa dos direitos fundamentais do
indivíduo.

• Legais: previstos no Código de Processo Penal e nas leis processuais especiais.

2
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• Regimentais: instituídos nos regimentos dos tribunais.

1.3.3. Quanto à motivação


• Ordinário: é o recurso que visa à defesa de um direito subjetivo. Baseia-se no
mero inconformismo.

• Extraordinário: é o recurso que possui requisitos próprios, como, por exemplo,


protesto por novo júri.

1.4. Pressupostos Recursais


Pressupostos recursais são os requisitos de admissibilidade que o recurso deve
possuir.

1.4.1. Pressupostos objetivos

a) Cabimento

O recurso deve estar previsto em lei.

b) Adequação

Não basta que o recurso esteja previsto em lei; é necessário que seja adequado à
decisão que se deseja impugnar. Esse pressuposto confere lógica ao sistema recursal.

Cada decisão, em regra, só comporta um recurso, em face da aplicação do princípio


da unirrecorribilidade das decisões. Esse princípio é mitigado por algumas exceções legais,
como, por exemplo, protesto por novo júri pelo crime doloso contra a vida e apelação pelo
crime conexo; interposição simultânea de recurso extraordinário ao Supremo Tribunal
Federal e de recurso especial ao Superior Tribunal de Justiça.

Pergunta: Qual a conseqüência para a parte que interpõe recurso incorreto?

Resposta: O recurso, ainda que inadequado, pode ser recebido e conhecido pelo
princípio da fungibilidade. É exceção ao princípio da adequação (artigo 579 do Código de
Processo Penal). Assim, a interposição equivocada de um recurso pelo outro não impede o

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

seu conhecimento, desde que oferecido dentro do prazo correto e contanto que não haja
má-fé do recorrente.

c) Regularidade formal

O Código de Processo Penal estabelece a forma segundo a qual o recurso deve ser
interposto (artigo 578 do Código de Processo Penal). São formalidades legais para o
recurso ser recebido. A apelação, o recurso em sentido estrito e o protesto por novo júri
podem ser interpostos por petição ou termos nos autos. Os demais recursos devem ser
interpostos por petição. Outra formalidade essencial é a motivação (razões), sem a qual se
opera nulidade. A acusação deve apresentar as razões em virtude do princípio da
indisponibilidade (artigo 576). Quanto à defesa, o não oferecimento de razões importaria
em prejuízo à ampla defesa. Por isso, a apresentação tardia das razões importa em mera
irregularidade. Essa regra tem uma exceção: o protesto por novo júri dispensa razões, ou
seja, basta a simples interposição.

*0

d) Tempestividade

O recurso deve ser interposto no prazo legal. Os prazos começam a correr a partir do
primeiro dia útil após a intimação, e, conforme prevê a Súmula n. 310 do Supremo
Tribunal Federal: “quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com
efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira
imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que
se seguir”.

De regra, no processo penal, o prazo para interposição dos recursos é de 5 dias.


Exceções:

· recurso em sentido estrito previsto no inciso XIV do artigo 581 – 20 dias;

· embargos infringentes ou de nulidade – 10 dias;

· embargos declaratórios – 2 dias;

· carta testemunhável – 48 horas;

· recurso extraordinário ou especial – 15 dias;

· apelação nos crimes de competência do Juizado Especial Criminal – 10 dias (já


acompanhada das razões).

O termo “a quo” dos recursos, de acordo com o artigo 798, § 5.º, é o primeiro dia
útil subseqüente à intimação pessoal do defensor dativo e do representante do Ministério

4
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Público. No caso dos defensores constituídos, o prazo flui a partir do primeiro dia útil
seguinte à sua intimação pelo Diário Oficial (artigo 370, § 2.º, do Código de Processo
Penal). Se a decisão tiver sido proferida na presença das partes, o prazo contar-se-á do
primeiro dia útil seguinte à audiência em que for proferida a decisão. No caso de carta
precatória, o prazo é contado a partir da juntada da carta aos autos do processo.

e) Ausência de fatos impeditivos do direito de recorrer

Fatos impeditivos são aqueles que impedem a interposição do recurso ou seu


recebimento, quais sejam:

• Renúncia: é ato de disposição, ou seja, abre-se mão do direito de recorrer. É


diferente de deixar escoar o prazo sem interpor recurso. Na renúncia há
manifestação expressa nesse sentido. O Ministério Público não pode renunciar. A
renúncia antecipa o trânsito em julgado.

Pergunta: Em sentença condenatória, o defensor e o réu têm de ser intimados da


sentença e ambos podem interpor recurso. Se houver divergência de vontades, um deles
quer renunciar e o outro não, qual prevalece?

Resposta: Na doutrina, prevalece entendimento de que a vontade do acusado deve


prevalecer sobre a do defensor. Na jurisprudência, sustenta-se que prevalece a vontade
técnica do defensor. Entendemos que deve prevalecer a vontade daquele que quer recorrer,
com base na garantia da ampla defesa.

• Não recolhimento à prisão nos casos previstos em lei (artigo 594 e artigo 408, §
2.º, ambos do Código de Processo Penal).

f) Ausência de fatos extintivos do direito de recorrer

Fatos extintivos são fatos supervenientes à interposição do recurso:

• Desistência: é ato de disposição, porém sempre posterior à interposição do


recurso. O Ministério Público não pode desistir dos recursos interpostos (artigo
576 do Código de Processo Penal). O defensor só pode fazê-lo se tiver poderes
especiais.

• Deserção: ato de abandonar o recurso. Equivale à desistência tácita ou


presumida. Pode ocorrer pelo não pagamento das custas processuais (artigo 806,
§ 2.º, do Código de Processo Penal); ou pela fuga do réu no caso de apelação,
sempre quando for negada a possibilidade de apelar em liberdade. A recaptura
5
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

não torna sem efeito a deserção. Lembramos, por fim, que no Estado de São
Paulo a Lei Estadual n. 4.952/85 aboliu a taxa judiciária nas causas criminais de
qualquer espécie.

1.4.2. Pressupostos subjetivos

a) Legitimidade

A legitimidade refere-se às partes legítimas para interposição do recurso: Ministério


Público, querelante, réu ou seu defensor (artigo 577 do Código de Processo Penal). Devem
ser intimados o réu e seu defensor, iniciando-se o prazo após a última intimação.

b) Interesse jurídico

O interesse deriva da sucumbência. A sucumbência ocorre sempre que a parte teve


frustrada alguma expectativa legítima. Estabelece o parágrafo único do artigo 577 do
Código de Processo Penal: “não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver
interesse na reforma ou modificação da decisão”.

Pergunta: O Ministério Público tem interesse em recorrer da sentença condenatória,


em favor do réu?

Resposta: Há divergência: José Frederico Marques entende que não, por falta de
sucumbência. O Supremo Tribunal Federal, entretanto, já decidiu diversas vezes que o
parquet pode recorrer da sentença condenatória, na qualidade de custos legis. Correta esta
posição, contudo, se o promotor pede a condenação e o juiz, acolhendo integralmente esse
pedido, condena o réu, faltaria sucumbência, e, por conseguinte, interesse para o recurso
em favor do condenado. Assim, o Ministério Público não pode recorrer se o seu pedido
formulado nas alegações finais – condenação ou absolvição – tiver sido integralmente
acolhido pelo juiz na sentença.

2. APELAÇÃO

2.1. Conceito
Apelação é o recurso interposto da sentença definitiva ou com força de definitiva,
para a segunda instância, com o fim de que se proceda ao reexame da matéria, com a
conseqüente modificação parcial ou total da decisão.

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2.2. Classificação

2.2.1. Quanto à extensão


• Ampla ou plena: devolve o conhecimento pleno de toda a matéria decidida.

• Restrita, limitada ou parcial: impugna tópicos da sentença; pede-se apenas o


reexame de parte da decisão.

O que fixa a extensão da apelação é o ato de interposição, ou seja, a extensão da


apelação se mede pela petição de sua interposição e não pelas razões de recurso, de modo
que a parte, se apela sem estabelecer restrições, não pode, posteriormente, nas razões,
restringir a apelação.

2.2.2. Quanto ao procedimento


• Ordinária: ocorre nos casos de apelação de crimes punidos com reclusão (artigo
613 do Código de Processo Penal).

• Sumária: ocorre nas contravenções e nos crimes punidos com detenção.

2.3. Hipóteses de Cabimento da Apelação

2.3.1. Decisões proferidas por juiz singular


São hipóteses em que cabe a apelação:

• decisões definitivas de condenação ou absolvição;

• decisões definitivas (terminativas de mérito), ou com força de definitivas


(interlocutórias mistas), proferidas por juiz singular nos casos não previstos no
artigo 581 do Código de Processo Penal, pois a apelação tem caráter subsidiário;

Pergunta: Todas as decisões condenatórias e absolutórias são apeláveis?

Resposta: Não. Todas as decisões condenatórias e absolutórias são recorríveis, mas


nem todas apeláveis. Há uma exceção. A decisão de absolvição sumária no júri é recorrível
mediante recurso em sentido estrito e não apelação (artigo 581, inciso VI, do Código de
Processo Penal).

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_______________________________________________________________________ MÓDULO XXIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL

A sentença que declara extinta a punibilidade é decisão definitiva (terminativa de


mérito). Contudo, dela cabe recurso em sentido estrito e não apelação (artigo 581, inciso
VIII, do Código de Processo Penal). Lembramos que a apelação tem natureza residual.

As decisões interlocutórias simples são irrecorríveis (recebimento de denúncia),


salvo previsão expressa de recurso em sentido estrito (decisão que concede liberdade
provisória – artigo 581, inciso V, in fine).

2.3.2. Decisões proferidas pelo júri (artigo 593, inciso III, §§ 1.º a 3.º, do
Código de Processo Penal)
Nas decisões proferidas pelo júri, a apelação é cabível se prevista em uma das
hipóteses do inciso III do artigo 593 do Código de Processo Penal:

• Nulidade posterior à pronúncia. A nulidade posterior, se relativa, o momento de


arguição é imediatamente depois de anunciado o julgamento e apregoada as
partes. Se o tribunal reconhecer a nulidade anula o ato e todos os demais dele
decorrente (artigo 571, inciso V, do Código de Processo Penal). Se a nulidade
relativa tiver ocorrido durante o julgamento, o protesto deve ser feito logo após a
sua ocorrência, sob pena de ser convalidada (artigo 571, inciso VIII, do Código
de Processo Penal).

• Sentença do juiz presidente contrária à letra expressa da lei ou à decisão dos


jurados. Cuidando-se de erro material ou hipótese do artigo 382, a sentença
poderá ser simplesmente retificada, não havendo necessidade de anular-se o júri.

• Quando houver erro ou injustiça na aplicação da pena ou medida de segurança.


Trata-se de violação ao critério trifásico ou aplicação da pena acima ou abaixo do
considerado justo. O tribunal, se lhe der provimento, retificará a aplicação da
pena ou da medida de segurança.

• Decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. Decisão


arbitrária. Essa apelação só é cabível uma vez, para qualquer das partes (§ 3.º).

2.4. Artigo 593, § 4.º, do Código de Processo Penal


Quando de parte da decisão for cabível apelação e de outra parte for cabível recurso
em sentido estrito, o único recurso cabível será a apelação, ainda que se recorra somente de
parte da decisão. A apelação absorve o recurso em sentido estrito.

2.5. Apelação na Lei n. 9.099/95


Hipóteses de cabimento:
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_______________________________________________________________________ MÓDULO XXIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL

• sentença definitiva de absolvição ou condenação;

• sentença homologatória da transação penal;

• sentença homologatória da suspensão condicional do processo;

• rejeição da denúncia ou da queixa.

O prazo dessa apelação é de 10 dias para a interposição e apresentação das razões de


apelação.

2.6. Efeitos da Apelação no Código de Processo Penal


Os efeitos da apelação no Código de Processo Penal são:

• Devolutivo (tantum devolutum quantum appellatum): o Judiciário irá reexaminar


a decisão; devolve-se o conhecimento da matéria à instância superior.

• Suspensivo: retarda a execução da sentença condenatória, nos casos de


primariedade e bons antecedentes.

• Regressivo: efeito que permite ao próprio órgão prolator da decisão reexaminá-lo.


Permite o juízo de retratação. A apelação do Código de Processo Penal não tem
efeito regressivo.

• Extensivo: todos os recursos nos processos penais têm esse efeito (artigo 580 do
Código de Processo Penal). A decisão proferida no recurso interposto por um co-
réu beneficia os demais que não recorreram, salvo se o recurso for fundado em
motivos de ordem pessoal.

2.7. “Reformatio in Pejus”


A reformatio in pejus é a situação na qual o réu tem a sua situação prejudicada em
razão de recurso exclusivo da defesa. A reformatio in pejus é proibida com base no
princípio do “tantum devolutum quantum appellatum”, segundo o qual só é devolvido ao
tribunal o pedido recursal. O tribunal só pode reexaminar o que foi pedido. Exemplo: a
defesa recorre pedindo a absolvição. O tribunal nega a absolvição e aumenta a pena.

O artigo 617 do Código de Processo Penal proíbe expressamente a reformatio in


pejus.

2.7.1. Reformatio in pejus indireta


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_______________________________________________________________________ MÓDULO XXIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Anulada sentença condenatória em recurso exclusivo da defesa, não pode ser


prolatada nova decisão mais gravosa do que a anulada. Por exemplo: réu condenado a um
ano de reclusão apela e obtém a nulidade da sentença; a nova decisão poderá impor-lhe, no
máximo, a pena de um ano, pois do contrário o réu estaria sendo prejudicado indiretamente
pelo seu recurso. Este é o entendimento pacífico do Supremo Tribunal Federal.

Observação: No caso de a sentença condenatória ter sido anulada em virtude de


recurso da defesa, mas, pelo vício da incompetência absoluta, a jurisprudência não tem
aceitado a regra da proibição da reformatio in pejus indireta.

2.7.2. “Reformatio in pejus” no júri


A lei que proíbe a reformatio in pejus (artigo 617 do Código de Processo Penal) não
pode prevalecer sobre o princípio constitucional da soberania dos veredictos.

Anulado o júri, em novo julgamento, os jurados poderão proferir qualquer decisão.

Exemplo: o réu foi pronunciado e condenado por homicídio simples. A defesa


interpõe apelação. O tribunal dá provimento e anula o primeiro julgamento. No segundo
julgamento o júri pode condenar por homicídio qualificado. No entanto, caso a votação do
primeiro julgamento seja repetida (caso os jurados condenem de novo o réu por homicídio
simples) o juiz presidente não pode impor pena maior do que a do primeiro júri, pois a ele
se aplica a vedação legal.

2.8. Reformatio in Mellius


A reformatio in mellius ocorre quando o tribunal melhora a situação do réu em
recurso exclusivo da acusação. Exemplo: promotor apela para aumentar a pena e o tribunal
absolve o réu.

Entendemos que não é possível em face do princípio “tantum devolutum quantum


appellatum”. No entanto, o entendimento contrário prevalece na jurisprudência.

2.9. Processamento da Apelação


O prazo para a interposição da apelação, segundo o Código de Processo Penal, como
regra é de cinco dias, salvo para o assistente de acusação não-habilitado, pois o Supremo
Tribunal Federal manteve posicionamento no sentido de que o prazo é de cinco dias, a
contar da intimação, para assistente habilitado, e 15 dias, após o vencimento do prazo para
o Ministério Público apelar, para o não-habilitado.

A apelação é interposta por termo ou petição, no juízo que proferiu a decisão. Ele
fará o exame do preenchimento dos pressupostos recursais. Se o juiz denegar a apelação ou
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_______________________________________________________________________ MÓDULO XXIII
DIREITO PROCESSUAL PENAL

a julgar deserta, caberá recurso em sentido estrito (artigo 581, inciso XV, do Código de
Processo Penal).

Interposta a apelação, o apelante e, depois dele, o apelado terão o prazo de oito dias
cada um para oferecer razões (exceto nos processos de contravenção em que o prazo será
de três dias).

Após a apresentação das razões ou contra-razões do Ministério Público, se houver


assistente, este arrazoará, no prazo de três dias.

Se a ação penal for movida pelo ofendido, o Ministério Público oferecerá suas
razões, em seguida, pelo prazo de três dias.

Com as razões ou contra-razões, podem ser juntados documentos novos.

O artigo 576 do Código de Processo Penal estabelece que: “O Ministério Público


não poderá desistir de recurso que haja interposto”.

Inexiste juízo de retratação na apelação.

É praticamente pacífico que a apresentação tardia das razões de apelação não


impede o conhecimento do recurso.

2.10. Artigo 600, § 4.º, do Código de Processo Penal


O § 4.º do artigo 600 do Código de Processo Penal estabelece que: “Se o apelante
declarar, na petição ou no termo, ao interpor a apelação, que deseja arrazoar na superior
instância serão os autos remetidos ao tribunal ad quem onde será aberta vista às partes,
observados os prazos legais, notificadas as partes pela publicação oficial”.

O apelante pode requerer a apresentação das razões no tribunal.

Essa faculdade não se estende ao assistente.

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A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXIII

DIREITO TRIBUTÁRIO
Impostos Estaduais e Distritais

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DIREITO TRIBUTÁRIO

Impostos Estaduais e Distritais

1. IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E DOAÇÃO, DE


QUAISQUER BENS OU DIREITOS

O Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou


Direitos está previsto no artigo 155, inciso I, da Constituição Federal, e nos artigos 35 a 42
do Código Tributário Nacional.

Atualmente, o referido imposto encontra-se regulado pela Lei n. 10.705, de


28.12.2000.

1.1. Competência
Compete aos Estados e ao Distrito Federal (artigo 155, inciso I, da Constituição
Federal) a instituição desses impostos.

1.2. Função
A função do imposto sobre heranças e doações é fiscal; tem como finalidade gerar
recursos financeiros para os Estados e para o Distrito Federal.

1.3. Incidência
O imposto incidirá sobre a transmissão de qualquer bem ou direito havido:

• por sucessão legítima ou testamentária, inclusive a sucessão provisória;

• por doação.

Ocorrerão tantos fatos geradores distintos quantos forem os herdeiros, legatários ou


donatários.

Também se sujeita ao imposto a transmissão de:

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DIREITO TRIBUTÁRIO

qualquer título ou direito representativo do patrimônio ou capital de sociedade e


companhia, tais como ação, quota, quinhão, participação civil ou comercial, nacional ou
estrangeira, bem como direito societário, debênture, dividendo e crédito de qualquer
natureza;

dinheiro, haver monetário em moeda nacional ou estrangeira e título que o represente,


depósito bancário e crédito em conta corrente, depósito em caderneta de poupança e a
prazo fixo, quotas ou participações em fundo mútuo de ações, de renda fixa, de curto
prazo, e qualquer outra aplicação financeira e de risco, seja qual for o prazo e a forma de
garantia;

bem incorpóreo em geral, inclusive título e crédito que o represente, qualquer direito ou
ação que tenha de ser exercido, e direitos autorais.

1.4. Base de Cálculo


A base de cálculo é o valor venal do bem ou direito transmitido, expresso em moeda
corrente nacional ou em Unidades Fiscais do Estado de São Paulo (Ufesps). Considera-se
valor venal o valor de mercado, do bem ou direito, na data da abertura da sucessão ou da
realização do ato ou contrato de doação.

A base de cálculo é equivalente a:

• 1/3 do valor do bem, na transmissão não onerosa do domínio útil;

• 2/3 do valor do bem, na transmissão não onerosa do domínio direto;

• 1/3 do valor do bem, na instituição do usufruto, por ato não oneroso;

• 2/3 do valor do bem, na transmissão não onerosa da propriedade nua.

No caso de bem móvel ou direito, a base de cálculo é o valor corrente de mercado


do bem, título, crédito ou direito, na data da transmissão ou do ato translativo.

1.5. Alíquota
O cálculo do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou
Direitos será efetuado mediante a aplicação dos percentuais sobre a correspondente parcela
do valor da base de cálculo convertida em Unidades Fiscais do Estado de São Paulo, na
seguinte progressão: até 12.000 (doze mil) Unidades Fiscais do Estado de São Paulo, 2,5%
; acima desse limite, 4%.

O imposto devido é resultante da soma total da quantidade apurada na respectiva


operação de aplicação dos percentuais sobre cada uma das parcelas em que vier a ser
decomposta a base de cálculo.
2
_______________________________________________________________________ MÓDULO XXIII
DIREITO TRIBUTÁRIO

1.6. Lançamento
O lançamento é feito, em princípio, por declaração, pois o contribuinte oferece ao
Fisco os elementos necessários ao respectivo cálculo, para, posteriormente à sua
homologação, efetuar o pagamento do respectivo tributo.

2. IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES RELATIVAS À CIRCULAÇÃO DE


MERCADORIAS E SOBRE PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS DE
TRANSPORTE INTERESTADUAL E INTERMUNICIPAL E DE
COMUNICAÇÃO, AINDA QUE AS OPERAÇÕES E AS PRESTAÇÕES SE
INICIEM NO EXTERIOR (ICMS)

2.1. Legislação
O imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestação
de serviços de transporte interestadual e intermunicipal, e de comunicação, ainda que as
operações e as prestações se iniciem no exterior (ICMS), está disciplinado:

• Na Constituição Federal, principalmente em seu artigo 155, inciso II, e §§ 2.º


(com seus 12 incisos) e 3.º. Relevante o entendimento das normas
constitucionais referentes ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS), porquanto todas as normas infraconstitucionais tributárias
devem ser interpretadas no sentido mais congruente possível com a
Constituição. Em relação ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços, segundo Roque Antônio Carraza, o constituinte foi minucioso ao
extremo, dedicando, especificamente a esse imposto, um grande número de
artigos, incisos, parágrafos etc.

• Na Lei Complementar n. 87/96, que estabelece normas gerais sobre o Imposto


sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, a serem observadas por todos os
Estados e pelo Distrito Federal.

2.2. Importância do ICMS


O ICMS representa o imposto economicamente mais importante, pois envolve
maiores quantias. Nesse sentido, possui função eminentemente fiscal, isto é, seu principal
objetivo é a arrecadação de recursos financeiros.

Apresenta, outrossim, função extrafiscal (quando seu objetivo é a interferência no


domínio econômico, estimulando ou não certa atividade econômica), na medida em que
poderá ser seletivo em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços (artigo
155, § 2.º, inciso III, da Constituição Federal).
3
_______________________________________________________________________ MÓDULO XXIII
DIREITO TRIBUTÁRIO

2.3. Competência
competência privativa dos Estados e do Distrito Federal (artigo 155, inciso II, da
Constituição Federal);

• competência extraordinária da União, “na iminência ou no caso de guerra


externa”, mediante lei complementar (artigo 154, inciso II, da Constituição
Federal);

• competência da União para instituir e cobrar, nos Territórios, impostos de


competência privativa dos Estados (artigo 147 da Constituição Federal), o que
inclui, é claro, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços;

• além dessas, há a competência do Senado para estabelecer alíquotas, mediante


resolução (artigo 155, § 2.º, incisos IV e V, da Constituição Federal).

2.4. Fatos Geradores

2.4.1. Imposto sobre Operações Mercantis (operações relativas à


circulação de mercadorias) – Artigo 155, inciso II, da Constituição
Federal
Algumas observações devem ser feitas a respeito do fato gerador desse imposto:

• a operação a que se refere a lei é mercantil, isto é, deve ser regida pelo Direito
Comercial, tendo por finalidade o lucro e por objeto uma mercadoria;

• a circulação deve ser jurídica, pressupõe a transferência de titularidade da


mercadoria, por força de um negócio jurídico;

• entende-se por mercadoria o bem móvel, que tenha por finalidade a venda ou
revenda, de modo que os bens destinados ao consumo ou ao ativo fixo não são
considerados mercadorias (exceção encontra-se no artigo 155, § 2.º, inciso IX,
alínea “a”, da Constituição Federal);

• a obrigação surge pela saída da mercadoria do estabelecimento comercial, tendo


como sujeito passivo qualquer pessoa (física, jurídica ou, até, sem
personificação de direito) envolvida em caráter de habitualidade, com a prática
de operações mercantis (que, de modo geral, são o produtor, o industrial e o
comerciante).

4
_______________________________________________________________________ MÓDULO XXIII
DIREITO TRIBUTÁRIO

2.4.2. Imposto sobre Serviços de Transporte Interestadual e


Intermunicipal – Artigo 155, inciso II, da Constituição Federal
O fato gerador desse imposto é a prestação, a terceiro, de um serviço de transporte
intermunicipal ou interestadual, com conteúdo econômico, sob regime de direito privado,
como o serviço de transporte de passageiros, de cargas, de valores, de mercadorias etc.
Ressalte-se que o serviço de transporte, realizado totalmente dentro do território de um
Município, apenas pode ser tributado por via de Imposto sobre Serviços (ISS), de
competência privativa municipal. O contribuinte é o prestador do serviço.

2.4.3. Imposto sobre Serviço de Comunicação – Artigo 155, inciso II, da


Constituição Federal
Entende-se por serviço de comunicação a atividade de, em caráter negocial, alguém
fornecer a terceiros condições materiais para que a comunicação ocorra, como a instalação
de microfones, caixas de som, telefones, radiotransmissores etc.

2.4.4. Imposto sobre Produção, Importação, Circulação, Distribuição


ou Consumo de Lubrificantes e Combustíveis Líquidos e Gasosos, e
de Energia Elétrica – Artigo 155, § 2.º, inciso X, “b”, e § 3.º, da
Constituição Federal
Destaque-se que os Estados e o Distrito Federal podem gravar com o Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços uma, algumas ou todas as operações acima
elencadas, desde que obedecido o princípio da não-cumulatividade.

2.4.5. Imposto sobre Extração, Circulação, Distribuição ou Consumo


de Minerais – Artigo 155, § 3.º, da Constituição Federal
Mesmo destaque feito ao imposto anterior.

2.5. Princípio da Não-Cumulatividade


A não-cumulatividade do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços está
prevista no artigo 155, § 2.º, incisos I e II, da Constituição Federal, de modo que em cada
operação ou prestação é assegurada ao contribuinte, de modo definitivo, uma dedução
(abatimento) correspondente aos montantes cobrados nas operações ou prestações
anteriores.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

Lembremos que o ICMS é imposto indireto. Pelo princípio da não-cumulatividade,


o Constituinte beneficiou o contribuinte (de direito) desse tributo e, ao mesmo tempo, o
consumidor final (contribuinte de fato), a quem convém preços mais reduzidos ou menos
onerados pela carga tributária.

2.6. Lançamento
O lançamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços realiza-se por
homologação, cada contribuinte registra suas operações, escritura seus livros de entradas e
de saídas e de apuração de impostos, recolhendo o montante respectivo em cada mês,
independentemente de exame de seus cálculos pela autoridade administrativa.

2.7. Imunidades
A Constituição Federal (artigo 155, § 2.º, inciso X) exclui a incidência de Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços em certos casos, como o de operações que
destinem ao exterior produtos industrializados, sobre o ouro etc. As situações nela
descritas, portanto, ficam fora do alcance da regra jurídica da tributação.

3. IMPOSTO SOBRE PROPRIEDADE DE VEÍCULOS AUTOMOTORES


(IPVA)

Imposto disciplinado pelo artigo 155, inciso III, da Constituição Federal.

3.1. Hipótese de Incidência


É a propriedade de veículo automotor (ciclomotor, motocicleta, automóvel, furgão,
ônibus ou caminhão etc.).

3.2. Sujeito Ativo


O sujeito ativo do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) é o
Estado onde o veículo estiver licenciado e registrado.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

3.3. Sujeitos Passivos


Segundo a Lei n. 4.955, de 27.12.1985, do Estado de São Paulo, o proprietário do
veículo, que é o contribuinte, e o titular do domínio útil e/ou o possuidor do veículo são,
solidariamente, responsáveis pelo imposto, juntamente com o proprietário, sem direito a
benefício de ordem.

É um imposto vinculado ao veículo, de tal sorte que, em caso de alienação, pago o


imposto pelo antigo proprietário, ainda que em outra unidade da Federação, não será
exigido novo pagamento do adquirente.

3.4. Base de Cálculo


A base de cálculo é o valor venal do veículo, fixado de conformidade com o seu
peso, potência, capacidade máxima de tração, ano de fabricação, cilindrada, número de
eixos, tipo de combustível utilizado e dimensões.

No Estado de São Paulo, os valores venais são anualmente reajustados no mês de


dezembro de cada ano, por decreto do Poder Executivo.

Do produto da arrecadação do imposto, 50% pertencem ao Município onde o


veículo estiver licenciado, aí incluídos os valores correspondentes à correção monetária e
aos acréscimos decorrentes do recolhimento fora dos prazos legais. Os restantes 50%
constituem receita do Estado.

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em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XII

DIREITOS HUMANOS
Lei n. 7.210/84 (Lei de Execução Penal):
Título II: Do Condenado e do Internado
Título IV: Dos Estabelecimentos Penais

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DIREITOS HUMANOS

DIREITOS HUMANOS

Lei n. 7.210/84 (Lei de Execução Penal):

Título II: Do Condenado e do Internado

Título III: Dos Estabelecimentos Penais

Profs.: Luiz Antônio de Souza

Vitor Frederico Kümpell

INTRODUÇÃO

Conforme deixamos estabelecido no módulo anterior, o Estado é o grande artífice da


construção, da implementação, da observância, da defesa e do respeito aos direitos
humanos fundamentais. A Carta Constitucional de 1988, em seu artigo 1.º, elege princípios
fundamentais a nortearem o Estado brasileiro, concebido como Estado Democrático de
Direito, entre eles, nos incisos II e III, a cidadania e a dignidade da pessoa humana. Tais
princípios são pilares fundamentais a orientar todo o sistema, somente atingíveis com a
observância e o respeito aos direitos humanos fundamentais.

A implementação, a observância e o respeito aos direitos humanos fundamentais é


mandamento constitucional e tarefa sobretudo do Estado, imprescindível e necessária para
a consolidação da cidadania e dignidade da pessoa humana.

Essa tarefa do Estado deve estar presente em todos os momentos, inclusive, e


especialmente, numa oportunidade muito singular, em que a proteção estatal se faz mais
exigível: quando o indivíduo estiver cumprindo a pena resultante de uma condenação ou
quando estiver preso provisoriamente. Os direitos fundamentais, essenciais, são conferidos
ao indivíduo tão-somente em razão da sua condição de pessoa humana, portanto, o fato de
encontrar-se preso não o afasta dessa gama de direitos, exceção feita aos direitos
incompatíveis com essa condição.

LEI DE EXECUÇÃO PENAL

Como já destacamos, a Lei de Execução Penal regula a execução das penas e das
medidas de segurança; todavia, tem duas finalidades essenciais, ou seja, as penas e
medidas de segurança visam realizar a proteção dos bens jurídicos e a reincorporação do
1
__________________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITOS HUMANOS

condenado à sociedade. Nesse sentido o artigo 1.º da Lei n. 7.210/84: “A execução penal
tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar
condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”.

Esse dispositivo está em inteira correspondência com os diplomas internacionais


existentes a respeito da matéria.

Apenas para lembrar, o artigo 10 - 3 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e


Políticos enuncia que “O regime penitenciário comportará tratamento dos reclusos cujo fim
essencial é a sua emenda e a sua recuperação social”. No mesmo sentido o artigo 5.º - 6 da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos /OEA: “As penas privativas da liberdade
devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenados”.

Na mesma linha, ainda, encontramos duas regras que integram as Regras Mínimas
da Organização das Nações Unidas (ONU) para Tratamento dos Reclusos:

“n. 57. A prisão e outras medidas que resultam na separação de um criminoso do


mundo exterior são dolorosas pelo próprio fato de retirarem do indivíduo o direito de
autodeterminação, por o destituírem da sua liberdade. Logo, o sistema prisional não
deverá, exceto pontualmente por razões justificáveis de segregação ou para a manutenção
da disciplina, agravar o sofrimento inerente a tal situação.

“n. 58. O fim e a justificação de uma pena de prisão ou de uma medida semelhante
que priva de liberdade é, em última instância, proteger a sociedade contra o crime. Esse
fim só pode ser atingido se o tempo de prisão for usado para assegurar, tanto quanto
possível, que, depois do seu regresso à sociedade, o criminoso não tem apenas a vontade,
mas está apto a seguir um modo de vida de acordo com a lei e a sustentar-se a si próprio”.

Nesse sentido, ainda, o princípio básico n. 4, articulado entre os Princípios Básicos


para o Tratamento dos Reclusos/Organização das Nações Unidas:

“n. 4. O pessoal encarregado dos cárceres cumprirá com suas obrigações quanto à
custódia dos reclusos e à proteção da sociedade contra o delito, de conformidade com os
demais objetivos sociais do Estado e com sua responsabilidade fundamental de promover o
bem-estar e o desenvolvimento de todos os membros da sociedade”.

Dessa maneira, o condenado e o internado mantêm todos os direitos compatíveis


com a sua condição de pessoa humana, exceção feita, apenas, aos direitos naturalmente
afastados em razão dessa situação específica. Nesse sentido o princípio básico n. 5
(Princípios Básicos para o Tratamento dos Reclusos/ONU):

2
__________________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITOS HUMANOS

“n. 5. Com exceção das limitações que sejam evidentemente necessárias pelo fato
do encarceramento, todos os reclusos gozam dos direitos humanos e das liberdades
fundamentais consagradas na Declaração Universal dos Direitos Humanos e, quando o
Estado de que se trate seja parte, no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais e no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e seu Protocolo Facultativo,
assim como dos demais direitos estipulados em outros instrumentos das Nações Unidas”.

Aliás, o artigo 38 do Código Penal é suficientemente claro a esse respeito: “O preso


conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as
autoridades o respeito à sua integridade física e moral”.

DO CONDENADO E DO INTERNADO

Feitas as considerações iniciais, passaremos a abordar o Título II da Lei n. 7.210/84


(Lei de Execução Penal), mas não pretendemos estudar o conteúdo da referida lei, a sua
aplicabilidade frente a situações específicas. Buscaremos, essencialmente, destacar as
disposições que guardam relação com o respeito ao preso, com a manutenção de seus
direitos e, também, com a finalidade última da pena – a reinserção social do condenado.

3.1. Da Classificação
A primeira providência para a correta execução penal, e que vem ao encontro das
finalidades da pena, é a classificação do condenado. Encontramos no artigo 5.º da Lei de
Execução Penal:

“Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade,


para orientar a individualização da execução penal".

Vê-se que a finalidade da classificação é orientar a individualização da execução


penal. Como assevera Cândido Furtado Maia Neto, “... a classificação é desdobramento
lógico do princípio da personalidade da pena, inserido entre os direitos e garantias
fundamentais”. O autor observa: “A exigência dogmática da proporcionalidade da pena
está igualmente atendida no processo de classificação, de modo que a cada sentenciado,
conhecida a sua personalidade e analisado o fato cometido, corresponda o tratamento
penitenciário adequado”. E acrescenta: “Reduzir-se-á a mera falácia o princípio da
individualização da pena, com todas as proclamações otimistas sobre a recuperação social,
se não for efetuado o exame de personalidade no início da execução, como fator
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DIREITOS HUMANOS

determinante do tipo de tratamento penal, e se não forem registradas as mutações de


comportamento ocorridas no itinerário da execução”.16

3.2. Da Assistência
O artigo 10 da Lei de Execução Penal dispõe:

“A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o


crime e orientar o retorno à convivência em sociedade”.

A redação do dispositivo não deixa dúvida de que a assistência ao preso é


concebida, pela lei, como um dos instrumentos mais valiosos na prevenção do crime e da
orientação do condenado para sua reinserção social. Julio Fabbrini Mirabete, citando
Carlos Garcia Valdes, refere que “O objetivo do tratamento é fazer do preso ou internado
uma pessoa com a intenção e a capacidade de viver respeitando a lei penal, procurando-se,
na medida do possível, desenvolver no ‘reeducando’ uma atitude de apreço por si mesmo e
de responsabilidade individual e social com respeito a sua família, ao próximo e à
sociedade em geral”.17

O parágrafo único do artigo 10, complementando o dispositivo, estende ao egresso a


assistência mencionada:

“Parágrafo único: A assistência estende-se ao egresso”.

Considera-se egresso, para efeito da Lei de Execução Penal, o liberado definitivo,


pelo prazo de um ano a contar da saída do estabelecimento, e o liberado condicional,
durante o período de prova (nesse sentido o artigo 26, incisos I e II, da Lei de Execução
Penal).

Definida que a assistência ao condenado e ao egresso configura instrumento valioso


para a reinserção social, o artigo 11 aponta as espécies de assistência:

“Art. 11. A assistência será:


16
Direitos Humanos do Preso. 1.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 39.
17
MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. 9.ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 59. Apud VALDES, Carlos Garcia. Comentarios a
la Legislación Penitenciaria. 2.ª ed. Madrid: Civitas, 1982. p. 193.
4
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DIREITOS HUMANOS

I - material;

II - à saúde;

III - jurídica;

IV - educacional;

V - social;

VI - religiosa”.

3.2.1. Assistência material


A assistência material vem disposta no artigo 12, que registra: “A assistência
material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de alimentação, vestuário e
instalação higiênica”. O artigo 13, na seqüência, complementa: “O estabelecimento disporá
de instalações e serviços que atendam aos presos nas suas necessidades pessoais ...”.

Essas regras têm raízes no artigo XXV da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, onde encontramos: “Toda pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para
lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação,
ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica ...”. Também tem correspondência com
algumas das Regras Mínimas da Organização das Nações Unidas para Tratamento dos
Reclusos:

“n. 19. A todos os presos, de acordo com padrões locais ou nacionais, será fornecido
um leito próprio e roupa de cama suficiente e própria, que estará limpa quando lhes for
entregue, mantida em bom estado de conservação, e mudada com freqüência suficiente que
garanta a sua limpeza”.

“n. 20-1. A administração fornecerá a cada preso, a horas determinadas, alimentação


de valor nutritivo, adequada à saúde e robustez física, de qualidade e bem preparada e
servida”.

Impende lembrar, neste ponto, que um dos direitos do preso, constante do artigo 41,
inciso I, da Lei de Execução Penal, é “alimentação suficiente e vestuário” e que, no inciso
VII do mesmo dispositivo consta também, como direito, a assistência material.

5
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DIREITOS HUMANOS

3.2.2. Assistência à saúde


Da assistência à saúde cuida o artigo 14 e seu § 2.º:

“Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado, em caráter preventivo e


curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico.

§ 2.º Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a


assistência médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da
direção do estabelecimento”.

A assistência à saúde é um direito do preso, reconhecido no artigo 41, inciso VII, da


Lei de Execução Penal, e tal direito está em perfeita consonância com um dos Princípios
Básicos para o Tratamento dos Reclusos/Organização das Nações Unidas:

“n. 9. Os reclusos terão acesso aos serviços de saúde de que disponha o país, sem
discriminação por sua condição jurídica”.

Dentre as regras mínimas existentes para esse tópico (em meio às inúmeras
existentes nas Regras Mínimas da ONU para Tratamento dos Reclusos), podemos destacar
três:

“n. 22.1. Cada estabelecimento prisional terá à sua disposição os serviços de pelo
menos um médico qualificado, que deverá ter alguns conhecimentos de psiquiatria. Os
serviços médicos deverão ser organizados em estreita ligação com a administração geral de
saúde da comunidade ou nação. Deverão incluir um serviço de psiquiatria para o
diagnóstico e, em casos específicos, o tratamento de estados de anomalia”.

“n. 22.2. Os presos doentes que necessitem de tratamento especializado deverão ser
transferidos para estabelecimentos especializados ou para hospitais civis. Quando existam
facilidades hospitalares num estabelecimento prisional, o respectivo equipamento, o
mobiliário e os produtos farmacêuticos serão adequados para o tratamento médico dos
presos doentes, e deverá haver pessoal devidamente qualificado”.

6
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DIREITOS HUMANOS

“n. 22.3. Cada preso poderá servir-se dos serviços de um dentista qualificado”.

Como se vê, além de assistência médica, o preso tem direito à assistência


farmacêutica – material, produtos, aparelhagem e pessoal qualificado – e à assistência
odontológica.

Cumpre lembrar, neste ponto, que a Lei de Execução Penal, no seu artigo 43, prevê
o direito de o preso ter médico particular, de sua confiança:

“Art. 43. É garantida a liberdade de contratar médico de confiança pessoal do


internado ou do submetido a tratamento ambulatorial, por seus familiares ou dependentes,
a fim de orientar e acompanhar o tratamento”.

3.2.3. Assistência jurídica


A assistência jurídica está contemplada nos artigos 15 e 16 da Lei de Execução
Penal:

“Art. 15. A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos
financeiros para constituir advogado.

Art. 16. As Unidades da Federação deverão ter serviços de assistência jurídica nos
estabelecimentos penais”.

A assistência jurídica é fundamental para o condenado. Como acentua Julio Fabbrini


Mirabete, “Nos casos em que há ação penal em andamento, o advogado poderá interferir
diretamente no andamento do processo e contribuir para uma sentença absolutória e, em
havendo sentença condenatória, poderá propor e encaminhar devidamente a apelação. Na
hipótese de condenação transitada em julgado, o advogado representa uma proteção
importante na fase de execução das penas privativas de liberdade”.18

O emérito Professor Manoel Pedro Pimentel, lembrado por Julio Fabbrini Mirabete,
escreveu que os três pilares básicos da disciplina em uma penitenciária são as visitas, a
alimentação e a assistência jurídica. Todavia, acrescenta: “Destas três exigências,
comumente encarecidas pelos sentenciados, a mais importante, parece-nos, é a assistência
judiciária. Nenhum preso se conforma com o fato de estar preso e, mesmo quando
18
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Apud VALDES, Carlos Garcia. Op. cit. p. 70.
7
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DIREITOS HUMANOS

conformado esteja, anseia pela liberdade. Por isso, a falta de perspectiva de liberdade ou a
sufocante sensação de indefinida duração da pena são motivos de inquietação, de
intranqüilidade, que sempre se refletem, de algum modo, na disciplina. É importante que o
preso sinta ao seu alcance a possibilidade de lançar mão das medidas judiciais capazes de
corrigir eventual excesso de pena, ou que possa abreviar os dias de prisão. Para isso, deve o
Estado – tendo em vista que a maior parte da população carcerária não dispõe de recursos
para contratar advogados – propiciar a defesa dos presos”.19

Portanto, a assistência jurídica ao condenado é de vital importância, configurando


salvaguarda de seus direitos, e tem previsão em vários instrumentos, inclusive, e
especialmente, na Constituição brasileira.

No artigo 14.3 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos consta que a
pessoa acusada de infração penal terá garantia “A estar presente no processo e a defender-
se a si própria ou a ter a assistência de um defensor de sua escolha; se não tiver defensor, a
ser informada do seu direito de ter um e, sempre que o interesse da justiça o exigir, a ser-
lhe atribuído um defensor oficioso, a título gratuito no caso de não ter meios para o
remunerar”.

No artigo 8.º.2 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos constam os


seguintes direitos proporcionados ao acusado:

"(...)

d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um


defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu defensor;

e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado,


remunerado ou não, segundo a legislação interna ...”.

Tal direito também consta das Regras Mínimas da Organização das Nações Unidas
para Tratamento dos Reclusos:

“n. 93. Para efeitos de defesa, o preso não julgado será autorizado a requerer
assistência legal grátis, onde tal assistência exista, e a receber visitas do seu conselheiro
jurídico com vista à sua defesa, bem como a preparar e entregar-lhe instruções
confidenciais. Para esses efeitos ser-lhe-á dado, se assim o desejar, material de escrita. As
conferências entre o preso e o seu conselheiro jurídico podem ser objeto de vigilância de
um polícia ou de um funcionário do estabelecimento, mas de tal modo que não sejam
ouvidas”.

19
Idem.Apud PIMENTEL, Manoel Pedro. Prisões Fechadas e Prisões Abertas. São Paulo, 1978. p. 188. (Série Estudos
Penitenciários).
8
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DIREITOS HUMANOS

Todas essas recomendações encontram eco no Texto Constitucional brasileiro,


especialmente em seu artigo 5.º, inciso LXXIV, que determina: “O Estado prestará
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.

Na esteira desse mandamento, a Constituição Federal, em seu artigo 134, estabelece


a criação da Defensoria Pública, incumbindo-a da orientação jurídica e defesa, em todos os
graus, dos necessitados; e a Lei Complementar n. 89, de 12.1.1994, que organiza a
Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e cria regras gerais para
a sua organização nos Estados, prescreve que é função institucional das defensorias, entre
outras, “atuar junto aos estabelecimentos policiais e penitenciários, visando assegurar à
pessoa, sob quaisquer circunstâncias, o exercício dos direitos e garantias individuais”
(artigo 4.º, inciso VIII).

3.2.4. Assistência educacional


A assistência educacional tem previsão em diversos dispositivos da Lei de Execução
Penal:

“Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação


profissional do preso e do internado.

Art. 18. O ensino de primeiro grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar
da unidade federativa.

Art. 19. O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de


aperfeiçoamento técnico.

Parágrafo único. A mulher condenada terá ensino profissional adequado à sua


condição.

Art. 20. As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com entidades
públicas ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados.

9
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DIREITOS HUMANOS

Art. 21. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de


uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos,
recreativos e didáticos.”

A assistência educacional ao preso é um elemento valioso para a sua recuperação. A


educação, consoante o artigo 205 da Constituição Federal, é “direito de todos e dever do
Estado e da família”, devendo “ser promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Portanto, a educação é um direito previsto para todas as pessoas, não podendo estar
excluído o preso, embora sua condição. Essa recomendação é retratada nos Princípios
Básicos para o Tratamento dos Reclusos, da Organização das Nações Unidas:

“n. 6. Todos os reclusos terão direito a participar em atividades culturais e


educativas encaminhadas a desenvolver plenamente a personalidade humana”.

A educação dos presos também consta das Regras Mínimas da Organização das
Nações Unidas para Tratamento dos Reclusos:

“n. 77.1 Serão tomadas medidas no sentido de melhorar a educação de todos os


presos que daí tirem proveito, incluindo instrução religiosa nos países em que tal for
possível. A educação de analfabetos e presos jovens será obrigatória, prestando-lhe a
administração especial atenção.

“n. 77.2 Tanto quanto for possível, a educação dos presos estará integrada no
sistema educacional do país, para que depois da sua libertação possam continuar, sem
dificuldades, a sua educação”.

3.2.5. Assistência social


Cuidam da assistência social os artigos 22 e 23 da Lei de Execução Penal:

“Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e
prepará-los para o retorno à liberdade.

10
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Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:

I - conhecer os resultados dos diagnósticos e exames;

II - relatar, por escrito, ao diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades


enfrentados pelo assistido;

III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias;

IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;

V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do


liberado, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade;

VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da previdência social e


do seguro por acidente no trabalho;

VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da


vítima”.

A assistência social, vê-se, é o canal de ligação entre o preso e a comunidade. Tem


por finalidade amparar e auxiliar o preso e sua família, preparando-o para o retorno à
liberdade, tudo com o fito de garantir, de possibilitar a sua reinserção social. Essa tarefa
também tem previsão nos Princípios Básicos para o Tratamento dos Reclusos da
Organização das Nações Unidas:

“n. 10 Com a participação e ajuda da comunidade e de instituições sociais, e com o


devido respeito aos interesses das vítimas, se criarão condições favoráveis para a
reincorporação do ex-recluso à sociedade nas melhores condições possíveis”.

A Lei de Execução Penal, como encontramos no artigo 23, confere ao Serviço


Social as maiores atribuições nesse mister. Como diz Julio Fabbrini Mirabete, “Dentro da
11
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DIREITOS HUMANOS

concepção penitenciária moderna, corresponde ao Serviço Social uma das tarefas mais
importantes dentro do processo de reinserção social do condenado ou internado, pois ao
assistente social compete acompanhar o delinqüente durante todo o período de
recolhimento, investigar sua vida com vistas na redação dos relatórios sobre os problemas
do preso, promover a orientação do assistido na fase final do cumprimento da pena etc.,
tudo para colaborar e consolidar os vínculos familiares e auxiliar na resolução dos
problemas que dificultam a reafirmação do liberado ou egresso em sua própria identidade.
Seu método básico consiste no estudo do indivíduo, do grupo ou da comunidade, em seus
elementos essenciais, bem como na interpretação e diagnóstico das necessidades e
potencialidades do assistido, para ajudá-lo a desenvolver o próprio senso de
responsabilidade e a ter condições pessoais para o ajustamento ou reajustamento social”.20

3.2.6. Assistência religiosa


Da assistência religiosa cuida o artigo 24 da Lei de Execução Penal:

“Art. 24. A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e
aos internados, permitindo-se-lhes a participação nos serviços organizados no
estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa.

§ 1.º No estabelecimento haverá local apropriado para os cultos religiosos.

§ 2.º Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade


religiosa”.

A assistência religiosa é um dos elementos utilizados na tarefa de reinserção social


do preso; todavia, como se verifica no dispositivo acima, a liberdade religiosa é a tônica,
havendo, nesse ponto, total conformidade com os diplomas internacionais e com a
Constituição Federal.

Apenas para constar, o artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o


artigo 18 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e os artigos 12.1 e 12.2 da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos estabelecem que toda pessoa tem direito à
liberdade de pensamento, de consciência e de religião, e esse direito fundamental é
garantido pela Constituição Federal brasileira que, no seu artigo 5.º, inciso VI, estabelece
ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício

20
Apud VALDES, Carlos Garcia. Op. cit. p. 78.
12
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DIREITOS HUMANOS

dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas
liturgias.

A liberdade religiosa é objeto dos Princípios Básicos para o Tratamento dos


Reclusos/Organização das Nações Unidas:

“n. 3. Sem prejuízo do que antecede, é necessário respeitar as crenças religiosas e os


preceitos culturais do grupo a que pertença os reclusos, sempre que assim o exijam as
condições de lugar.”

Esse direito também está estampado nas Regras Mínimas da Organização das
Nações Unidas para Tratamento dos Reclusos:

“n. 6.2 Por outro lado, é necessário respeitar as crenças religiosas e os preceitos
morais do grupo a que pertença o preso”.

Finalmente, quanto à assistência religiosa do preso, em si, a Carta Constitucional,


em seu artigo 5.º, inciso VII, assegura, “nos termos da lei, a prestação de assistência
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva” e, nessa esteira, o
Ministério da Justiça, nas Regras Mínimas do Preso no Brasil, assegura tanto a liberdade
religiosa como a assistência religiosa nos estabelecimentos prisionais.

“Art. 2.º. Impõe-se o respeito às crenças religiosas, aos cultos e aos preceitos morais
do preso.

(...)

Art. 43. A assistência religiosa, com liberdade de culto, será permitida ao preso, bem
como a participação nos serviços organizados no estabelecimento prisional.

Parágrafo único. Deverá ser facilitada, nos estabelecimentos prisionais, a presença


de representante religioso, com autorização para organizar serviços litúrgicos e fazer visita
pastoral a adeptos de sua religião.”

Por último, um destaque à assistência ao egresso.

Como já referimos, o artigo 26 da Lei de Execução Penal considera egresso:

13
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DIREITOS HUMANOS

“I - o liberado definitivo, pelo prazo de um ano a contar da saída do


estabelecimento;

II - o liberado condicional, durante o período de prova”.

Em relação ao egresso, a assistência a que tem direito está disposta no artigo 25:

“Art. 25. A assistência ao egresso consiste:

I - na orientação e apoio para integrá-lo à vida em liberdade;

II - na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em estabelecimento


adequado, pelo prazo de dois meses.

Parágrafo único. O prazo estabelecido no inciso II poderá ser prorrogado uma única
vez, comprovado, por declaração do assistente social, o empenho na obtenção do
emprego”.

As Regras Mínimas da Organização das Nações Unidas contemplam essa


orientação:

“n. 64. O dever da sociedade para com o condenado não termina ao ser ele posto em
liberdade. Portanto, seria preciso poder contar com órgãos oficiais ou privados capazes de
levar ao condenado que recupera a liberdade uma eficaz ajuda pós-penitenciária, que vise
diminuir os preconceitos contra ele e contribua para a sua reinserção na comunidade”.

“n. 79. Será prestada atenção especial à manutenção e melhoramento das relações
entre o preso e a sua família, que se mostrem de maior vantagem para ambos”.

Cabe aqui referir o disposto no artigo 27 da Lei de Execução Penal, que prescreve:
“O serviço de assistência social colaborará com o egresso para a obtenção de trabalho”.

Comentando o tema, Cândido Furtado Maia Neto menciona que: “O serviço de


assistência social que se refere o dispositivo legal, deve ser entendido de uma forma muito
14
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DIREITOS HUMANOS

mais abrangente, ou seja, não só aquele vinculado ao sistema penitenciário, mas toda a
estrutura de assistência social do Estado colocada à disposição da sociedade em geral”.
Complementa, considerando: “Trata-se de importante e significativo trabalho contra a
reincidência criminal, a atenção socioeducativa dispensada ao ex-preso e a sua família,
devendo ser efetuado convênio entre o Ministério do Trabalho e o sistema penitenciário,
através do SENAC, SENAI etc.”.21

O artigo 78 da Lei de Execução Penal dispõe que cabe aos patronatos públicos ou
particulares o serviço de assistência ao egresso. Nas Regras Mínimas da Organização das
Nações Unidas para o Tratamento dos Reclusos encontramos regramento a respeito:

“n. 81.1 Serviços ou organizações, governamentais ou não, que prestam assistência


a presos libertados a reestabelecerem-se na sociedade, assegurarão, na medida do possível
e do necessário, que sejam fornecidos aos presos libertados documentos de identificação
apropriados, casas adequadas e trabalho, que estejam conveniente e adequadamente
vestidos, tendo em conta o clima e a estação do ano e que tenham meios materiais
suficientes para chegar ao seu destino e para se manterem no período imediatamente
seguinte à sua libertação.

“n. 81.2 Os representantes oficiais dessas organizações terão todo o acesso


necessário ao estabelecimento prisional e aos presos, sendo consultados sobre o futuro do
preso desde o início do cumprimento da sua pena.

“n. 81.3 É recomendável que as atividades destas organizações estejam centralizadas


ou sejam coordenadas, tanto quanto possível, a fim de garantir a melhor utilização dos seus
esforços.”

3.3. Do Trabalho
Por último, e não menos importante, devemos destacar o trabalho do condenado –
outro elemento valioso em sua recuperação.

A esse respeito, o artigo 28 da Lei de Execução Penal dispõe:

“Art. 28. O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade


humana, terá finalidade educativa e produtiva.

21
Op. cit. p. 63.
15
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DIREITOS HUMANOS

§ 1.º. Aplicam-se à organização e aos métodos de trabalho as precauções relativas à


segurança e à higiene.

§ 2.º. O trabalho do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do
Trabalho”.

É recomendação da Organização das Nações Unidas, nas Regras Mínimas para


Tratamento dos Reclusos:

“n. 72.1 A organização e os métodos de trabalho penitenciário deverão assemelhar-


se o mais possível aos que se aplicam a um trabalho similar fora do estabelecimento, a fim
de preparar os reclusos para as condições normais do trabalho livre.”

Julio Fabbrini Mirabete, a respeito do tema, diz: “O trabalho prisional não constitui,
portanto, per si, uma agravação da pena, nem deve ser doloroso e mortificante, mas um
mecanismo de complemento do processo de reinserção social para prover a readaptação do
preso, prepará-lo para uma profissão, inculcar-lhe hábitos de trabalho e evitar a ociosidade.
Exalta-se seu papel de fator ressocializador, afirmando-se serem notórios os benefícios que
da atividade laborativa decorrem para a conservação da personalidade do delinqüente ...”.22

Encerrando esse tópico, a respeito do condenado, ênfase deve ser dada aos artigos
39 e 41 da Lei de Execução Penal. O primeiro dispositivo elenca os deveres do condenado
e o artigo 41 relaciona os direitos do preso, numerando-os, e nele se verifica que o preso
mantém todos os seus direitos, exceção feita, como já assinalamos, aos direitos afastados,
necessariamente, em razão da sua condição.

Com base em todas as considerações, portanto, a dignidade do preso deve ser


mantida sob todos os aspectos.

DOS ESTABELECIMENTOS PENAIS

Encerrando, faremos algumas considerações a respeito dos estabelecimentos penais.

Como se sabe, “Os estabelecimentos penais compreendem: 1.º – a Penitenciária,


destinada ao condenado à reclusão, a ser cumprida em regime fechado; 2.º – a Colônia
Agrícola, Industrial ou similar, reservada para a execução da pena de reclusão ou detenção
22
. Apud VALDES, Carlos Garcia. p. 87.
16
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DIREITOS HUMANOS

em regime semi-aberto; 3.º – a Casa do Albergado, prevista para acolher os condenados à


pena privativa de liberdade em regime aberto e à pena de limitação de fim de semana; 4.º –
o Centro de Observação, onde serão realizados os exames gerais e o criminológico; 5.º – o
Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, que se destina aos doentes mentais, aos
portadores de desenvolvimento mental incompleto ou retardado e aos que manifestam
perturbação das faculdades mentais; e 6.º – a Cadeia Pública, para onde devem ser
remetidos os presos provisórios (prisão em flagrante, prisão temporária, prisão preventiva
ou em razão da pronúncia e, finalmente, os condenados, enquanto não transitar em julgado
a sentença (art. 86 e seguintes)”.23

Algumas regras específicas encontram-se cunhadas na Lei de Execução Penal, tanto


com relação aos estabelecimentos como relativas ao cumprimento da pena pelos
condenados.

Em relação ao cumprimento da pena pelos condenados, e levando em conta as suas


condições pessoais, podemos destacar o artigo 82, § 2.º, que prevê: “A mulher e o maior
de sessenta anos, separadamente, serão recolhidos a estabelecimento próprio e adequado à
sua condição pessoal”; o artigo 83, § 2.º, onde está previsto que “Os estabelecimentos
penais destinados a mulheres serão dotados de berçário, onde as condenadas possam
amamentar seus filhos”; e o artigo 84 e seus parágrafos, que citam: “O preso provisório
ficará separado do condenado por sentença transitada em julgado”, “O preso primário
cumprirá pena em seção distinta daquela reservada para os reincidentes”, e “O preso que,
ao tempo do fato, era funcionário da Administração da Justiça Criminal, ficará em
dependência separada”.

Quanto aos estabelecimentos em si, destaque para o artigo 85, no qual está
recomendado que “O estabelecimento penal deverá ter lotação compatível com a sua
estrutura e finalidade”, e para o artigo 83, caput, onde encontramos: “O estabelecimento
penal, conforme a sua natureza, deverá contar em suas dependências com áreas e serviços
destinados a dar assistência, educação, trabalho, recreação e prática esportiva”.

Embora todos os direitos elencados e todos os diplomas internacionais, sabemos que


hoje a situação carcerária no país é grave. Como já afirmamos no módulo anterior, as
violações aos direitos humanos ocorrem em profusão, existindo uma profunda e triste
discrepância entre os ditames legais, os escritos doutrinários e a realidade.

Com efeito, a superpopulação carcerária, a falta de condições mínimas de higiene,


segurança e saúde, além de violações sexuais às quais estão os presos sujeitos, sem contar a
violência a que estão expostos, tanto por parte dos funcionários como de outros presos, é
uma realidade corrente no país, fazendo com que os indivíduos cumpram pena em
condições degradantes, indignas, desumanas, configurando uma das mais sérias violações
aos direitos humanos. É diante dessa triste realidade que cumpre às autoridades concretizar
aquilo que o texto constitucional, os diplomas internacionais e a Lei de Execução Penal
determinam, o que é um enorme desafio a ser vencido.

23
MAIA NETO, Cândido Furtado.Op. cit. p. 135.
17
__________________________________________________________________________ MÓDULO XII
DIREITOS HUMANOS

Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida a reprodução


total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

18
___________________________________________________________________

CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXIII

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Contravenção Penal – Decreto-lei n. 3.688/41

__________________________________________________________________
Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010
Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Contravenção Penal – Decreto-lei n. 3.688/41

Luiz Fernando Vaggione

1. CONTRAVENÇÃO PENAL – PARTE ESPECIAL

1.1. Vias de Fato


"Artigo 21. Praticar vias de fato contra alguém:

Pena – prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa, se o fato não
constituir crime."

Trata-se do emprego de violência real contra outrem, sem que da ação advenha lesão
corporal. A violência moral não configura a infração penal em destaque, podendo
caracterizar o delito de ameaça ou um crime contra a honra, por exemplo.

Como se nota, a qualificação das vias de fato como contravenção visa proteger a
incolumidade física da pessoa humana, sendo essa a objetividade jurídica do tipo penal ora
examinado.

Trata-se de uma contravenção comum, ou seja, pode ser praticada por qualquer
pessoa.

Exige-se o dolo como elemento subjetivo do tipo, consistente no simples desejo de


molestar alguém, sem a intenção de causar-lhe lesão corporal.

Se o sujeito ativo, ao empregar violência real, tencionar ultrajar, ou seja, ofender a


dignidade da vítima, haverá injúria real (art. 140, § 2.º, do CP). Caso a intenção seja a de
causar um dano anatômico, um ferimento na vítima, teremos uma tentativa de lesão
corporal, desde que a produção do resultado não sobrevenha por circunstâncias alheias à
vontade do agente.

A consumação da contravenção vias de fato ocorre com o mero comportamento


típico do agente, ao desferir pontapés, tapas, socos, sem a produção de lesão corporal na
vítima. A prova pericial é desnecessária para a configuração da contravenção.

A tentativa, nos termos do artigo 4.º da Lei das Contravenções Penais, é impunível.

Vias de fato é uma contravenção expressamente subsidiária: não se configura se o


fato constitui crime. É o que está disposto no preceito secundário da norma. Também será
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

absorvida quando for meio para a prática de crimes (estupro, atentado violento ao pudor,
roubo, extorsão etc.).

A ação penal para o processo e julgamento da contravenção ora examinada tornou-


se matéria controvertida com a vigência do artigo 88 da Lei n. 9.099/95 (Lei dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais). Como é sabido, o referido dispositivo passou a exigir a
representação da vítima no caso de lesões corporais dolosas leves e culposas. Ora, se a
condição de procedibilidade é exigida para a infração penal mais grave, como dispensá-la
no caso de uma mera contravenção penal. Esse é o fundamento do posicionamento do
Professor Damásio E. de Jesus, cujo resultado consiste na exigência de representação do
ofendido também no caso da contravenção, aplicando-se analogia in bonam partem. Para a
outra corrente de pensamento, a ação penal é pública incondicionada, nos termos do artigo
17 da Lei das Contravenções Penais. Nesse sentido, posicionou-se o Supremo Tribunal
Federal no julgamento do Habeas Corpus n. 80.617/MG, realizado em 20.3.2001, cujo
relator foi o Ministro Sepúlveda Pertence (v.u.). Eis a ementa do acórdão:

“A regra do art. 17 da Lei das Contravenções Penais – segundo a qual a persecução


das contravenções penais se faz mediante ação penal pública incondicionada – não foi
alterada, sequer em relação à de vias de fato, pelo art. 88 da Lei n. 9.099/95, que
condicionou à representação a ação penal por lesões corporais leves”.

1.2. Perturbação do Trabalho ou Sossego Alheios


"Art. 42. Perturbar alguém, o trabalho ou o sossego alheios:

I – com gritaria ou algazarra;

II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as


prescrições legais;

III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;

IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal


de que tem a guarda:

Prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa."

A objetividade jurídica da contravenção estudada consiste na manutenção da paz


pública.

A ação pode ser praticada por qualquer pessoa. Não se exige, pois, nenhuma
qualidade especial do sujeito ativo.

A contravenção é de forma vinculada, uma vez que o legislador restringiu o


comportamento típico às formas previstas nos quatro incisos da figura penal:

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Inciso I – Gritaria ou algazarra: o que se pune é o distúrbio prejudicial ao trabalho


ou ao repouso. Como já se mencionou, a perturbação poderá provir de um baile ou festa
familiar. Nesses casos não há cogitar de contravenção, pois o divertimento lícito afasta a
idéia de infração penal. As festas fazem parte da saúde e felicidade do cidadão, das famílias
e do povo.

A gritaria é o som oriundo da voz humana. A algazarra tem o mesmo sentido.


Porém, para diferenciar gritaria de algazarra, reservamos a última para representar o ruído
provocado de outra maneira. Podemos citar como exemplos as cantorias, o chute de
objetos, a quebra de garrafas etc.. A algazarra requer, também, o concurso de várias
pessoas. Poderíamos dizer, então, que a contravenção, na hipótese de algazarra, é de
concurso necessário ou plurissubjetiva. Não se concebe algazarra com uma só pessoa.

Inciso II – Exercício de profissão incômoda ou ruidosa: é norma penal em branco.


Necessita, pois, de complemento que se traduz nas normas municipais que regulam a
ocupação da cidade, que visam coibir abusos. Normalmente, é o regulamento local que
limita a hora de funcionamento de certos estabelecimentos, cautelas para a utilização de
determinadas máquinas, em suma, precauções que possam influir na redução do barulho ao
mínimo possível e tolerável. Essa regulamentação pelo Poder Público incidirá no exercício
de certas atividades ruidosas, como indústrias, padarias, tipografias, serralharias ou
marcenarias. A legislação local poderá restringir, em determinadas áreas da cidade, a
atividade comercial ou industrial. Poderá, também, estabelecer horário de funcionamento,
ou o limite de ruído permitido.

É necessária a existência de prescrição legal, ou seja, de normas, de atos


administrativos que disciplinem o exercício de profissão (elemento normativo do tipo). Na
inexistência delas não há contravenção.

O dolo é abrangente, pois deve alcançar a consciência de que se está violando as


prescrições legais.

Inciso III – Abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos: trata-se do uso


imoderado. A contravenção configurar-se-á, por exemplo, no abuso de aparelhagem de
som; no acionamento abusivo, imoderado, de buzinas de veículos automotores; na
reprodução de música executada em alto volume por casa de diversão, perturbando a
tranqüilidade coletiva. Exige-se a consciência de que o comportamento é abusivo.

Inciso IV – Provocando ou não procurando impedir barulho de animal de que tenha


a guarda: há dois comportamentos típicos, um comissivo e outro omissivo. Pune-se quem
tem a guarda do animal, podendo ser o proprietário ou não, um simples possuidor ou um
mero detentor.

O sujeito passivo, por sua vez, é a coletividade. Assim, considerando que a


classificação do comportamento como contravenção visa assegurar a paz coletiva, não se
configurará o artigo 42 se o incômodo atingir uma única pessoa, ou um grupo reduzido
delas. Se a conduta incomodar uma pessoa, poderá haver a configuração da contravenção
prevista no artigo 65 (perturbação da tranqüilidade), desde que o comportamento seja
animado pelos elementos subjetivos do tipo: acinte ou motivo reprovável.
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Só o dolo caracteriza a contravenção. Há jurisprudência no sentido de que a


manifestação de alegria que se verifica nas festas populares não configura a contravenção,
porquanto inexiste a intenção de atingir a paz coletiva.

A consumação ocorre com o ato de perturbar o trabalho ou o sossego alheios. Trata-


se, pois, de contravenção material de conduta e resultado.

1.3. Jogo do Bicho


O artigo 58 da Lei das Contravenções Penais foi revogado pelo Decreto-lei n.
6.259/44, que dispôs sobre as figuras contravencionais ligadas ao jogo do bicho e às
loterias clandestinas. A partir de então, enquadra-se o comportamento contravencional no
artigo 58 do supracitado Decreto-lei. Aliás, o Decreto-lei n. 6.259/44, que também revogou
os artigos 51 a 57 da Lei das Contravenções Penais, trata das mesmas condutas em seus
artigos 45 e seguintes.

O jogo do bicho consiste, segundo a redação do artigo 58, caput, do Decreto-lei n.


6.259/44, na realização de apostas mediante combinação de algarismos ou nome de
animais e no pagamento de prêmios em dinheiro.

A denominação provém de sua organização, em série de 25 bichos, começando com


a avestruz (grupo um) e terminando com a vaca (grupo 25). Cada grupo abrange quatro
dezenas. Vejamos o quadro demonstrativo inserido na seqüência:

GRUPO DEZENAS BICHOS

1.º 01 a 04 Avestruz

2.º 05 a 08 Águia

3.º 09 a 12 Burro

4.º 13 a 16 Borboleta

5.º 17 a 20 Cachorro

6.º 21 a 24 Cabra

7.º 25 a 28 Carneiro

8.º 29 a 32 Camelo

9.º 33 a 36 Cobra

10.º 37 a 40 Coelho
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11.º 41 a 44 Cavalo

12.º 45 a 48 Elefante

13.º 49 a 52 Galo

14.º 53 a 56 Gato

15.º 57 a 60 Jacaré

16.º 61 a 64 Leão

17.º 65 a 68 Macaco

18.º 69 a 72 Porco

19.º 73 a 76 Pavão

20.º 77 a 80 Peru

21.º 81 a 84 Touro

22.º 85 a 88 Tigre

23.º 89 a 92 Urso

24.º 93 a 96 Veado

25.º 97 a 00 Vaca

Os prêmios são regulados pelos banqueiros, variando conforme a aposta feita: no


grupo, na dezena, na centena ou na milhar. Confere-se o resultado pela extração da loteria
federal.

Participam do jogo o apostador, denominado na figura contravencional como


comprador ou ponto, o cambista (intermediário, arrecadador de apostas), o vendedor (o
banqueiro), além de outros indivíduos que colaboram na elaboração do jogo, realizando um
dos comportamentos típicos previstos nas alíneas “b”, “c”, “d” do § 1.º do artigo 58 do
Decreto-lei n. 6.259/44. Conseqüentemente, os sujeitos ativos da contravenção são as
pessoas mencionadas no caput e nas alíneas do § 1.º do artigo 58.

Frisamos, desde logo, que para se punir o cambista não é necessário identificar o
apostador ou o banqueiro. Nesses termos a Súmula n. 51 do Superior Tribunal de Justiça
(1992): “A punição do intermediador, no jogo do bicho, independe da identificação do
apostador ou do banqueiro”. Também não é imprescindível que ele seja surpreendido
colhendo apostas, bastando a apreensão de material do jogo em seu poder.

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Discute-se a viabilidade do reconhecimento do estado de necessidade em relação


aos cambistas. Entendemos que a alegação da descriminante, fundada na exigência de o
cambista dar sustento à família, não torna lícita a prática do jogo do bicho. Há corrente
minoritária sustentando o oposto.

No que diz respeito ao apostador, sendo ele surpreendido pelos agentes da


autoridade policial antes de concluir a aposta, seu comportamento é atípico, uma vez que
não se pune a tentativa de contravenção.

1.3.1. Resumo dos comportamentos típicos

Realizar o jogo do bicho (apostador e Art. 58, caput


banqueiro)

Servir de intermediário (cambista) Art. 58, § 1.º, “a”

Transportar, conduzir, possuir, ter


sob sua guarda ou poder, fabricar,
dar, ceder, trocar e guardar listas
com indicações do jogo, material
próprio da contravenção e qualquer
outra forma de contribuição para sua
confecção, utilização ou emprego. Art. 58, § 1.º, “b”

Apuração de listas ou organizações Art. 58, § 1.º, “c”


de mapas relativos ao movimento do
jogo.

Qualquer outro comportamento que Art. 58, § 1.º, “d”


vise promover ou facilitar a
realização do jogo.

O sujeito passivo da contravenção do jogo do bicho é o Estado. O fato de o Estado


explorar jogos de azar não enseja a atipicidade do comportamento dos contraventores, pois
os recursos arrecadados pelo Estado, diversamente do que ocorre com os banqueiros, estão
comprometidos exclusivamente com o interesse público.

Exige-se o dolo como elemento subjetivo do tipo. Não se exige a habitualidade para
a configuração da contravenção do jogo do bicho.

As penas de prisão simples previstas são diferenciadas, dependendo do


comportamento típico concretizado pelo sujeito ativo.

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Aplica-se à contravenção do jogo do bicho a Lei n. 9.099/95, não obstante haja a


previsão de rito específico para a sua apuração.

Quanto à prova exigida pela contravenção, preceitua o § 2.º do artigo 58:


“Consideram-se idôneos para a prova do ato contravencional quaisquer listas com
indicações claras ou disfarçadas, uma vez que a perícia revele se destinarem à perpetração
do jogo do bicho”. Acerca da exigibilidade da perícia há duas orientações. Para a primeira,
a perícia é indispensável. O jogo é, normalmente, feito por meio de símbolos e abreviaturas
só decifráveis por quem entende do jogo. Para a outra posição, a perícia só é indispensável
quando existe dúvida sobre o material apreendido. Realizada a perícia, não é necessário
que todo o material apreendido a acompanhe.

1.4. Importunação Ofensiva ao Pudor


"Artigo 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo
ofensivo ao pudor:

Pena – Multa."

Tutelam-se os bons costumes, o pudor individual. Caso o sujeito ativo ofenda o


pudor público responderá como incurso no artigo 233 do Código Penal (ato obsceno) ou
como incurso no artigo 234 do Código Penal (escrito ou objeto obsceno). Em ambas as
infrações, a lei visa à proteção da moralidade pública, sendo sujeito passivo a coletividade.

Quer o sujeito ativo, quer o passivo, podem ser qualquer pessoa. Frise-se que o
homem também pode ser vítima da contravenção.

A conduta consiste em importunar, quer dizer, molestar, incomodar, atingindo o


pudor da vítima. São exemplos as “cantadas” grosseiras, o toque lascivo, entre outros
comportamentos que não configurem o atentado violento ao pudor.

Lembramos que o assédio sexual, desde que o agente o cometa prevalecendo-se da


sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego,
cargo ou função, passou a constituir crime, nos termos do artigo 216-A do Código Penal. O
comportamento típico foi incluído no Código Penal pela Lei n. 10.224, de 15.5. 2001. A
pena prevista no preceito secundário do artigo 216-A é de um a dois anos de detenção.

A contravenção ora estudada deve ser cometida em local público (aquele que se
presta ao acesso livre do povo, sem distinção ou formalidade) ou acessível ao público. Em
local privado poderá caracterizar-se o artigo 65 da Lei das Contravenções Penais.

O pudor, elemento normativo do tipo, deve ser apreciado em relação à moral média.
É sinônimo de decência. Deve, pois, corresponder a um sentimento médio de
suscetibilidade ou moralidade, que são variáveis no tempo e no espaço. Pudor, segundo
Nélson Hungria, é o sentimento de timidez ou de vergonha de que se sente possuída a
pessoa normal diante de certos fatos ou atos que ferem a decência. Ensina Damásio E. de

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Jesusque a existência da ofensa ao pudor não está afeta à exclusiva apreciação subjetiva da
vítima, uma vez que a conduta atenta contra os bons costumes.

A consumação ocorre com a importunação. A tentativa é impunível (art. 4.º da


LCP).

A importunação ofensiva ao pudor distingue-se do ato obsceno (art. 233 do CP),


pois nesse o agente quer ou assume o risco de ser visto na prática de ato de caráter sexual
(andar nu ou masturbar-se na via pública, por exemplo) enquanto , na contravenção que ora
se examina, o agente não quer e também não assume o risco de ser visto por um número
indeterminado de pessoas.

A contravenção também se distingue do atentado violento ao pudor (art. 214 do CP).


O crime exige a prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal, mediante violência
ou grave ameaça. Na contravenção a conduta que visa satisfazer a libido não é cometida
com violência ou grave ameaça.

1.5. Perturbação da Tranqüilidade


"Artigo 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranqüilidade, por acinte ou por
motivo reprovável.

Pena – Prisão simples, de 15 dias a 2 meses, ou multa."

Almeja-se a preservação da tranqüilidade individual. Essa é a objetividade jurídica


da contravenção em estudo.

Não há restrição quanto aos sujeitos ativo e passivo da contravenção de perturbação


da tranqüilidade.

O comportamento típico consiste em molestar, isto é, incomodar alguém. Perturbar


significa interromper o sossego, a paz, a tranqüilidade de outrem. Trata-se de contravenção
de forma livre, uma vez que pode ser praticada por meio de palavras, gestos, por
correspondência etc.

Exige-se o dolo, acrescido de especial finalidade do agente: a) acinte: de caso


pensado, de forma premeditada, com o firme propósito de perturbar; b) motivo reprovável:
censurável, sem justificação, ilegítimo. Exemplos: passar trotes; atirar sujeira na casa de
alguém; fazer barulho para incomodar determinada pessoa.

Quadro comparativo

Temas/Infrações Art. 42 Art. 61 Art. 65


Perturbação do trabalho ou Importunação Perturbação da
do sossego alheios ofensiva ao pudor tranqüilidade

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Objetividade Paz pública Bons costumes Tranqüilidade


jurídica pessoal

Sujeito Ativo Qualquer pessoa Idem Idem

Sujeito Passivo É a coletividade. Não basta Qualquer pessoa, Qualquer pessoa.


uma pessoa ou um número homem ou mulher.
muito reduzido delas.

Elemento Dolo, acrescido do Dolo. O agente Dolo, acrescido do


Subjetivo conhecimento das visa à satisfação de acinte
prescrições legais (II) e do sua libido, não (comportamento
caráter abusivo do assumindo o risco grosseiro, maldoso)
comportamento (I e III). de ser visto por ou do motivo
várias pessoas. reprovável (contrário
aos sentimentos
morais ou sociais).

Elemento Qualquer local. Local público ou Qualquer local.


Espacial acessível ao
público.

Consumação Com o ato de perturbar o Com a Com o molestar.


trabalho ou o sossego importunação ao
alheios. pudor.

Elementos 1) Gritaria ou algazarra; Importunar, Molestar: irritar,


objetivos do tipo 2) Exercício de profissão atingindo o pudor incomodar, perturbar
incômoda ou ruidosa (II), em da vítima a tranqüilidade, o
desacordo com as prescrições (sentimento de sossego, a paz, por
legais; timidez ou acinte ou motivo
vergonha). reprovável.
3) Abuso no emprego de
instrumentos sonoros ou de
sinais acústicos (III);
4) Provocar ou não impedir
barulho de animal.

Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida a reprodução


total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XII

MEDICINA LEGAL
Medicina Forense Aplicada ao Código Civil

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Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010
Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br
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MEDICINA LEGAL

MEDICINA LEGAL

Medicina Forense Aplicada ao Código Civil

1. INTRODUÇÃO
O estudo da Medicina Forense, aplicada ao Código Civil, objetiva reiterar itens
importantes do conteúdo programático do curso normal, visando questões formuladas nas
provas de Direito Penal, Direito Civil e Direito Processual Penal, nos concursos do
Ministério Público, Magistratura e outros, que envolvem conceitos ou conhecimentos
médicos.

2. PONTOS RELEVANTES
Diferenciar e caracterizar os desvios de gênero, ou seja, transexualismo pessoas que
apresentam fenótipo sexual definido, mas psicologicamente pertencem a outro sexo, com
comportamento desse e rejeição ao primeiro, buscando obsessivamente a “correção”
morfológica (Maranhão) , de intersexualismo pessoas que apresentam alterações
genitais e/ou extra-genitais, de difícil diagnóstico, denominadas hermafroditas.

Conhecer, conceituar e diferenciar as impotências – estados conhecidos pela


incapacidade para a realização de conjunção carnal e/ou para a procriação. O termo é
válido tanto para homens como para mulheres. Nos homens são conhecidos dois tipos de
impotências: coeundi e generandi. O tipo coeundi caracteriza-se por comprometimento da
capacidade de realização de conjunção carnal. Pode ser classificado em instrumental, ou
seja, apresentar malformação e anomalias do pênis e do escroto; organofuncional,
relacionada à ereção, à idade e às enfermidades; e psicofuncional (psicológica). O tipo
generandi é caracterizado por alterações qualitativas e/ou quantitativas dos
espermatozóides (esterilidade ou infertilidade). Nas mulheres são descritos dois tipos:

• Coeundi: incapacidade para realização de conjunção carnal, podendo ser


instrumental (alterações e anomalias vulvovaginais), funcional (idade,
vaginismo, coitofobia) e orgânico (enfermidades).

• Concepiendi: relacionado à capacidade de procriação (esterilidade ou


infertilidade).

Muitas outras classificações são conhecidas. O aluno deve rever o módulo de


Sexologia, para complementação do assunto.

É importante conhecer as modificadoras da capacidade civil, que é a aptidão para a


regência pessoal dos atos e dos bens. Modificam essa aptidão a idade, o surdimutismo, o
alcoolismo e as alienações, bem como os hipodesenvolvimentos da personalidade.

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MEDICINA LEGAL

É necessário conceituar vida, morte e pessoa, e conhecer os limites (início e fim).


Não há definição de vida aceita por todos; para muitos é impossível tal tarefa e, assim,
conseguimos apenas diagnosticar o estado vital. O estado vital tem início com a
fecundação e tem fim com a morte. A morte é o estado de ausência de vida, tendo início
(ou diagnóstico) com os critérios apresentados no estudo da Tanatologia. A pessoa, para
muitos o equivalente à personalidade, tem início com o nascimento e fim com a morte.
Muitos dos conceitos e limites apresentados não são aceitos por todos. Decorrentes de tais
conceitos, surgem os direitos fundamentais do homem (direito à vida). Consideramos
prudente conhecer o significado de eutanásia = morte boa ou homicídio piedoso, morte
com a finalidade de abreviação de sofrimento ou agonia, e de ortotanásia = morte justa,
eutanásia passiva, caracterizada por atitude passiva, como o desligamento da
aparelhagem/instrumental de suporte de vida, por exemplo.

Para conceituar, conhecer e diferenciar os tipos de aborto, é necessário rever o


módulo de Sexologia.

Para conhecer e diferenciar identidade de semelhança, rever o módulo de


Antropologia.

Também é necessário conhecer os critérios diagnósticos e limites dos ciclos


menstrual e gestacional. Por exemplo, citamos os limites do ciclo gestacional, sem valor
atual, de 120 a 300 dias.

Igualmente é preciso conhecer os critérios de diagnósticos e limites do puerpério,


período de 42 dias após a gestação.

Outro ponto importante, que não deve ser esquecido, é conhecer as provas de vida-
uterina – um movimento respiratório, ou um batimento cardíaco ou umbilical, ou um
movimento muscular esquelético (critérios da Organização Mundial da Saúde). Entre os
critérios, o mais importante é o movimento respiratório, único que pode ser determinado
em perícia após a morte, pelas docimásias de Galeno e Breslau e pelas condições
histológicas. O aluno não deve deixar de rever as apostilas de Sexologia para
complementação.

Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida a reprodução


total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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PORTUGUÊS
Padronização
Má Formação ou Uso Impróprio

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Padronização

Má Formação ou Uso Impróprio

1. PADRONIZAÇÃO

a) FALHA: 12:30HRS / 12:30HS

CORREÇÃO: a forma oficial de indicar o horário é

• para as horas cheias: 12h, 13h

• para as horas com minutos: 12h30min, 13h20min

b) FALHA: Lei 8971

CORREÇÃO: usa-se, nos numerais, um ponto para separa o milhar da centena: Lei 8.971.
A única exceção é a data que indica os anos: 1987, 1988, 1999, 2000, etc.

c) FALHA: lei 8.071

CORREÇÃO: quando a lei é determinada, é normal vir com letra maiúscula: Lei 8.071.

d) FALHA: artigo 96, inciso III da CF

CORREÇÃO: a ligação lógica é entre o artigo e a Constituição; o que aparece entre eles
vem entre vírgulas:

artigo 96, inciso III, da CF.

Obs.: Em um texto formal (provas e documentos), são evitáveis abreviações que não
possuem domínio social. Torna-se mais adequado por extenso: Código Penal, Constituição
Federal.

e) FALHA: p/ c/ q.

CORREÇÃO: em um texto formal, não se devem usar formas não convencionadas de


abreviação.

f) FALHA: consequências

CORREÇÃO: o trema vigora normalmente: conseqüências.

g) FALHA: às zero horas, das zero horas às sete

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PORTUGUÊS

CORREÇÃO: O numeral “zero” exige a concordância singular: da zero hora às sete, das
duas à zero hora, zero grau.

h) FALHA: de Março a Abril

CORREÇÃO: Os meses grafam-se com letra minúscula: "de março a abril".

i) FALHA: todas as Sextas-feiras, de Terça a Sábado

CORREÇÃO: Os dias da semana grafam-se com letra minúscula: todas as sextas-feiras,


de terça a sábado.

1.1. Má formação ou uso impróprio


(extraídos de textos)

a) FALHA: a nível de

CORREÇÃO: evite essa expressão, pois ela tem recebido uma rejeição social, já que cria
um tom pomposo e vazio. Substitua por em âmbito, quanto a, em relação a, etc. Às vezes,
é tão dispensável que sua falta nem é sentida:

evite: O encontro a nível internacional foi frutífero.

use: O encontro internacional foi frutífero.

b) FALHA: isto posto

CORREÇÃO: nas orações reduzidas de particípio, é este que deve iniciá-las:

Colocado o problema, Refeito o cálculo, Posto o motivo, Posto isso...

c) FALHA: ...e o mesmo ainda disse que tinha razão...

CORREÇÃO: não use mesmo no lugar dos pronomes pessoais.

evite: Francisco Xavier viu o fato, porém o mesmo não quis testemunhar.

use: Francisco Xavier viu o fato, porém ele não quis testemunhar.

d) FALHA: primeiramente

CORREÇÃO: O sufixo mente só se une aos adjetivos. Primeiro é um numeral e, portanto,


não deve receber essa derivação. Use inicialmente, a princípio, primeiro.

e) FALHA: Não houve qualquer acordo.

CORREÇÃO: em orações de sentido negativo, não use qualquer. Substitua por nenhum
ou palavra de valor negativo equivalente.
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PORTUGUÊS

evite: Não houve qualquer falha no processo.

use: Não houve nenhuma falha no processo. (ou) Não houve falha alguma no processo.

f) FALHA: anti-jurídico, sobre-jornada

CORREÇÃO: o prefixo anti e sobre só recebem hífen diante de palavras iniciadas por H,
R e S. Dessa forma, devem ser grafadas sem traço as palavras antijurídico e sobrejornada.

g) FALHA: o que depreende-se / o qual manteve-se / o que determina-se

CORREÇÃO: havendo palavra atrativa, usa-se o pronome átono próximo a ela: o que se
depreende, o qual se manteve, o que se determina.

h) FALHA: a conduta visa um resultado

CORREÇÃO: o verbo visar, com o sentido de “objetivar, desejar, almejar”, é transitivo


indireto, exige preposição a. O correto é: conduta visa a um resultado.

i) FALHA: implica num comportamento positivo / o dolo eventual implica na assunção


dos riscos

CORREÇÃO: o verbo implicar, com o sentido de “acarretar, gerar, produzir”, é transitivo


direto, não exige

preposição. Dessa forma, a frase correta é:

implica um comportamento positivo / o dolo eventual implica a assunção dos riscos.

j) FALHA: o agente prefere correr o risco de produzir o resultado do que parar de


praticar a conduta.

CORREÇÃO: a regência do verbo preferir é preferir algo a outra coisa: O agente prefere
correr o risco de produzir o resultado a parar de praticar a conduta.

k) FALHA: "ele quis tão somente colaborar"

CORREÇÃO: sempre virá com hífen: tão-somente. Usa-se tal expressão para enfatizar o
advérbio somente.

l) FALHA: a conduta tem que ser voluntária

CORREÇÃO: a formação unânime para esta locução verbal é ter + de + infinitivo.


Assim: a conduta tem de ser voluntária.

m) FALHA: decorre do agente não prever o que era previsível

CORREÇÃO: decorre de o agente não prever o que era previsível

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_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
PORTUGUÊS

o núcleo do sujeito não vem casado com preposição. Em nossos códigos, há alguns
exemplos:

(Código de Processo Civil) art. 881 - “...e a proibição de o réu falar nos autos...”;

(Código de Processo Penal) art. 570 - “...desde que o interessado compareça, antes de o ato
consumar-se,...”.

Obs.: Não se deve, porém, criar uma situação homogênea, pois, se não existir a função de
sujeito, faz-se obrigatoriamente a combinação: “Todos sabem os seus direitos, apesar dos
deveres, apesar deles”.

n) FALHA: destaca-se, portanto, duas espécies de dolo

CORREÇÃO: falha de concordância verbal:

destacam-se, portanto, duas espécies de dolo (duas espécies de dolo são destacadas)

o) FALHA: exige-se menos requisitos

CORREÇÃO: falha de concordância verbal: exigem-se menos requisitos (menos


requisitos são exigidos)

p) FALHA: juri

CORREÇÃO: falha de acentuação, pois as paroxítonas terminadas em i recebem acento:


júri.

q) FALHA: definí-lo, atingí-lo

CORREÇÃO: falhas de acentuação, pois as oxítonas terminadas em i não são acentuadas:


defini-lo, atingi-lo

r) FALHA: a devida tipificação não influência

CORREÇÃO: falha-se por causa do acento (ela não influencia)

s) FALHA: face a / frente a

CORREÇÃO: as expressões “face a” e “frente a” são condenadas pelos gramáticos.Deve-


se usar ante, perante, diante, em face de, em frente a.

t) FALHA: no dolo eventual, onde o agente assume o risco

CORREÇÃO: a palavra onde só serve para se referir à idéia de lugar. Nesse caso, ficaria
melhor:

no dolo eventual, no qual o agente assume o risco

u) FALHA: Devido o erro, encerraram-se as atividades.

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_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
PORTUGUÊS

CORREÇÃO: a locução é devido a. Dessa forma: Devido ao erro...

v) FALHA: A princípio, sua idéia será aceita.

CORREÇÃO: a expressão “a principio” só deve ser usada com o sentido de “no início,
inicialmente, no princípio” . Com a idéia de hipótese, em tese, o correto é em princípio.

w) FALHA: "através de seu depoimento pessoal", "através de documentos"

CORREÇÃO: a expressão “através de” vem da palavra “atravessar” e significa


“transpassar, ultrapassar, no decorrer de. Evite, portanto, “através de” para introduzir a
idéia de meio, instrumento ou agente. Substitua por “mediante, por meio de, graças a, por
intermédio de”. Às vezes até preposições simples (por, com, de, etc.) fazem sozinhas a
substituição. É mais adequado: "por meio de seu depoimento pessoal" , "mediante
documentos".

x) FALHA: inobstante

CORREÇÃO: apesar do uso muito comum, é palavra discriminada por alguns gramáticos.
Para questões divergentes, adote a forma que não cabe correção: não obstante.

y) FALHA: o não cumprimento; o não pagamento

CORREÇÃO: a palavra “não” passa a prefixo (e sempre com hífen) quando acompanha
os nomes (adjetivos e substantivos) e tem o mesmo valor de negação que o prefixo “-in”: o
não-cumprimento; o não-pagamento. Isso deixa de ocorrer com os particípios: caso não
analisado, objeto não vendido.

z) FALHA: de maiores recursos médicos-hospitalares

CORREÇÃO: nos adjetivos compostos só varia o último elemento: recursos médico-


hospitalares

Na imprensa

Direito em Português simples é necessário

(Gazeta mercantil, São Paulo, 11/01/2001)

A leitura de um texto jurídico mal escrito pode ser tão entendiante para o
profissional do Direito quanto excitante é a leitura de um a obra de José Saramago para o
apreciador da Língua Portuguesa. Mais grave do que o tédio do leitor é a falta de
comunicação decorrente do Português ruim. Frase comum de se ouvir: “Advogado escreve
difícil”. Não faltam profissionais da advocacia que se orgulham disso. Estão enganados e,
pelo bem da profissão, talvez devessem repensar tal postura e envidar esforços para uma
comunicação eficaz em seus textos e petições – seja o destinatário final um cliente, um
desembargador, um ministro do supremo ou o público em geral.

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_______________________________________________________________________ MÓDULO XII
PORTUGUÊS

Não se fala aqui, em deixar de lado as questões complexas. Defende-se, isso sim, a
abordagem de quaisquer temas, complexos ou não, por meio de uma estrutura de texto e
redação simples, clara e de fácil entendimento. A palavra-chave é simplicidade e não
simplismo. Por sua natureza científica, o texto jurídico, não raro, envolve complexidades.
Porém, não há de se confundir complexidade com complicação. É natural que não se
espere de um advogado um estilo como o de Saramago. No outro extremo, todavia, não se
pode admitir um texto jurídico que imponha ao leitor malabarismos.

Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida a reprodução


total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XII

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E


COLETIVOS
Improbidade Administrativa

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TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

Improbidade Administrativa – Lei n. 8.429/92

1. NOÇÕES GERAIS

A LIA (Lei de Improbidade Administrativa) veio aperfeiçoar o controle


administrativo, na medida em que possibilita ao MP e à pessoa jurídica lesada a impetração
de ação civil referente à improbidade administrativa e à defesa do patrimônio público.
Também permite o aperfeiçoamento do controle interno, na medida em que possibilita a
qualquer cidadão o requerimento para instauração de procedimento administrativo que
apure improbidade (art. 14). Permite também que o MP requisite à autoridade
administrativa a instauração do procedimento administrativo.

O art. 37, § 4.º, da CF estabelece que os atos de improbidade administrativa


importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas na
lei.

A LIA regulamenta o art. 37, § 4.º, da CF.

Até 1988, o objeto tutelado era tão só o enriquecimento ilícito do agente público (as
Constituições de 1946 e 1967 só se preocupavam em reprimir o enriquecimento ilícito do
agente público). Depois de 1988, passou a ser a probidade administrativa.

O ato de improbidade quase sempre decorre de ato discricionário que pode ser
analisado pelo Poder Judiciário (art. 5.º, inc. XXXV, da CF).

1.1. Controle Administrativo (Tutela ou Autotutela)


É a possibilidade de invalidez pela própria Administração dos atos administrativos.
Súmula n. 473 do STF: “A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados
de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada,
em todos os casos, a apreciação judicial”. Anula-se o ato por ilegalidade. Revoga-se por
conveniência e oportunidade.

É o superior hierárquico quem revê o ato praticado pelo subordinado.

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______________________________________________________________________ MÓDULO XII
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

2. SUJEITO PASSIVO

Pode ser sujeito passivo qualquer pessoa jurídica da Administração Pública direta ou
indireta, ou de direito privado de que participe o Poder Público em seu patrimônio ou
receita anual.

Assim dispõe o art. 1.º da LIA – pessoas jurídicas que podem ser lesadas:

• órgãos da administração direta;

• órgãos da administração indireta ou fundacional;

• empresa incorporada ao patrimônio público;

• empresa ou entidade para cuja criação ou custeio o Estado concorreu ou


concorra com mais de 50% do patrimônio ou da receita anual;

• empresa ou entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo fiscal ou


creditício de órgão público;

• empresa ou entidade para cuja criação ou custeio o erário concorreu ou concorra


com menos de 50%. (O limite de indenização, neste caso, é o montante com que
concorre o erário público).

3. ATOS DE IMPROBIDADE

3.1. Enriquecimento Ilícito - Art. 9.º


Arrola doze hipóteses exemplificativas de ato de improbidade, sete importam o
enriquecimento ilícito.

Enriquecimento ilícito é a percepção de vantagem indireta para si ou para outrem,


em razão de cargo, emprego ou função pública.

As hipóteses de improbidade por enriquecimento ilícito consumam-se


independentemente de dano material, independem de prejuízo para a Administração
Pública.

Em síntese, tem-se a improbidade por enriquecimento ilícito em razão da obtenção


de vantagem patrimonial e desde que essa vantagem resulte de causa ilícita não autorizada
em lei e que haja um aumento ou acréscimo patrimonial do agente público ou de terceiros.

A jurisprudência já tem entendimento pacífico de que, se o agente recebe presentes


de valor insignificante, não caracteriza o enriquecimento ilícito – princípio da

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______________________________________________________________________ MÓDULO XII
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

razoabilidade (princípio do direito administrativo que vem sendo aplicado na


improbidade).

Os núcleos verbais do art. 9.º, I são:

I - receber;

II- perceber;

III- aceitar;

IV- utilizar;

V- usar;

VI- adquirir;

VII- incorporar

Alguns são bilaterais e outros não.

Todas as hipóteses também ensejam ação penal, ou seja, dão ensejo ao ilícito penal
(concussão, corrupção passiva, peculato e crime de responsabilidade fiscal, às vezes).

Hipóteses que causam enriquecimento ilícito:

• Receber comissão, gratificação ou presente de quem tenha interesse direto ou


indireto, possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das
atribuições do agente público. Basta a existência do interesse, prescinde do
atendimento do interesse.

• Perceber vantagem econômica, direta ou indireta para facilitar a aquisição,


permuta ou locação de bem móvel ou imóvel ou a contratação de serviços por
preços superiores ao valor de mercado. Nessa hipótese há enriquecimento ilícito
do particular, necessariamente, e dano ao erário.

• Perceber vantagem econômica para facilitar a alienação por preço inferior ao


valor de mercado.

• Utilizar bem da Administração ou trabalho de servidor público para fins pessoais.

• Adquirir bem de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do


patrimônio ou da renda do agente.

Existem duas correntes a respeito:

• 1.ª corrente: depende da possibilidade do ajuizamento da ação com a inversão do


ônus da prova, bastando que o MP ou a pessoa jurídica lesada demonstrem a
incompatibilidade da receita com os bens adquiridos. (Defendido por um grande

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______________________________________________________________________ MÓDULO XII
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

número de promotores: Antonio Augusto de Melo Camargo, Wallace Martins,


Fernando Capez);

• 2.ª corrente: defende a inexistência da inversão do ônus da prova, devendo o MP


ou a pessoa jurídica demonstrar a existência de nexo entre o auto indireto do
patrimônio e o exercício de cargo, emprego ou função.

O MP entende que não há inversão do ônus da prova devido ao caput dispor “em
razão do exercício do cargo, emprego ou função”.

3.2. Lesão ao Erário – Art. 10


A lei se refere ao erário e não ao patrimônio público. Erário – tem aspecto
econômico, está relacionado ao tesouro, ao fisco, cofres públicos. Patrimônio Público –
corresponde ao conjunto de bens de valor econômico, artístico, turístico, estético e
histórico de qualquer das entidades que compõem a Administração Pública.

A lei se refere ao erário quando deveria tratar do patrimônio público.

Chega-se ao conceito de patrimônio público pela junção do art. 1.º, § 1.º, da Lei n.
4.717/65 (Lei de Ação Popular) e ainda, art. 1.º, par. ún., da Lei n. 8.429/92.

A lesão ao erário, por si só, já é ato de improbidade. Não precisa, necessariamente,


que o agente obtenha vantagem (enriquecimento ilícito). Logo, pode haver lesão ao erário
sem enriquecimento ilícito.

Atos de improbidade que importam dano: decorrem de condutas ilegais do agente


público dolosas ou culposas, que tenham repercussão lesiva ao erário ou ao patrimônio
público; decorrem sempre de condutas ilegais sob o aspecto administrativo, que podem não
ensejar o cometimento do crime.

Na lesão culposa, temos que aplicar o princípio da razoabilidade. Ex.: motorista bate
carro oficial. Há lesão ao erário, mas não há ato de improbidade.

Os incs. do art. 10 são exemplificativos:

I – facilitar, concorrer para que um particular se aproprie do que é bem público;

II – permitir que um particular use bem público;

III – doação de bens públicos em desacordo com as formalidades legais (a doação é


possível, porém, deve atender às formalidades legais);

IV – subfaturamento;

V – superfaturamento;

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______________________________________________________________________ MÓDULO XII
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

VI – realizar operação financeira em desacordo com as normas legais e


regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;

VIII – frustrar a licitude do procedimento licitatório ou dispensá-lo indevidamente.


Respondem, nesse caso, o agente público (comissão de licitação) e o particular
contratado com a dispensa indevida.

Para a Administração Pública direta ou indireta, há o chamado dever de licitar. A Lei


n. 8.666/93 estabelece as normas gerais de licitude aos contratos da Administração,
aplicáveis aos Estados e Municípios. O art. 24 traz as hipóteses de dispensa que quase
sempre decorrem de situação de fato (pequeno valor, situação emergencial). As hipóteses
de inexigibilidade (art. 25) decorrem quase sempre de situação jurídica (inviabilidade de
licitação). As hipóteses de dispensa estão taxativamente previstas na lei. As hipóteses de
inexigibilidade estão exemplificativamente dispostas na lei.

Obs.: A Lei Municipal ou Estadual podem suprimir as hipóteses de dispensa, o que


não podem é ampliar o rol.

3.3. Atos Contrários aos Princípios – Art. 11


São os atos que contrariam os princípios da Administração Pública.

A violação dos deveres e dos princípios da Administração Pública leva à


caracterização da improbidade administrativa (dispositivo da reserva).

O art. 4.º da LIA estabelece a obrigatoriedade de observância, por qualquer agente


público, dos princípios da Administração Pública.

Os incs. do art. 11 são exemplificativos:

I – Praticar ato visando fim proibido em lei (desvio de finalidade). O ato em si não
é ilegal, a finalidade é. O princípio da razoabilidade deve ser sempre observado;

II – Retardar ou deixar de praticar indevidamente ato de ofício (prevaricação);

III – Quebra de sigilo profissional. Revelar fato ou circunstância que deva manter
em segredo. A pessoa deve ter sabido do fato em razão da função. A regra é a
publicidade, os atos são públicos. O sigilo é possível, mas é exceção. Obs.: A
promotoria é obrigada a fornecer certidões, quando não forem sigilosas;

IV – Negar publicidade aos atos oficiais;

V – Frustrar licitude de concurso público. Ocorre quando há contratação sem


concurso para o exercício de cargo, emprego ou função, com desobediência da
norma expressa no art. 37, inc. II, da CF. Ocorre também quando há fraude em
concurso, seja pela publicação de editais que estabeleça favoritismo, pela violação
do princípio da impessoalidade ou, ainda, pela revelação do conteúdo do exame;

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______________________________________________________________________ MÓDULO XII
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

VII – Revelar medidas de política econômica capaz de alterar preços de produtos e


serviços antes de divulgação oficial (informação privilegiada).

4. PERSECUÇÃO JUDICIAL E SANÇÕES

O art. 37, § 4.º, da CF trata das sanções aplicáveis aos agentes por ato de
improbidade:

• suspensão dos direitos políticos (natureza política);

• perda da função pública (natureza administrativa ou política);

• indisponibilidade dos bens (natureza civil);

• ressarcimento ao erário (natureza civil).

O art. 12 estabelece sanções aplicáveis de acordo com o ato praticado:

• perda dos bens;

• multa civil;

• proibição de contratar (interdição de direitos).

Qualquer ato enseja a suspensão dos direitos políticos, a perda da função, a multa
civil ou a proibição de contratar e receber benefícios

A sanção de ressarcimento é aplicável nas hipóteses do art. 10 e a perda de bens nas


hipóteses do art. 9.º, ambos da LIA. A suspensão dos direitos públicos e o valor da multa
variam de acordo com a gravidade do ato.

As sanções da LIA têm a natureza civil e decorrem de ação civil (não penal), mas
sem prejuízo da sanção penal cabível.

O STJ já decidiu que as sanções têm natureza penal (posição minoritária), mas há
várias decisões do STJ em sentido contrário.

Todos os agentes públicos e particulares que concorram para a prática do ato estão
sujeitos a essas sanções.

O Presidente da República, os Senadores e os Deputados têm um regime especial. O


Presidente da República não pode ser punido com suspensão dos direitos políticos e perda
da função pública (a cassação está prevista na CF nos arts. 85 e 86 e pode decorrer de
crime de responsabilidade e não da prática do ato de improbidade). Senadores e Deputados
não estão sujeitos à perda da função pública. A perda do mandato está regulada no art. 55
da CF e pode se determinar por força do art. 15, inc. V, da CF.

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TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

P.: As sanções são cumulativas ou alternativas?

R.: São alternativas (posição majoritária) e não cumulativas. O Juiz pode aplicar
uma em detrimento da outra. Na fixação de pena, o Juiz leva em conta a extensão do dano
e o proveito material do agente.

4.1. Suspensão dos Direitos Políticos


O prazo de suspensão dos direitos políticos varia:

• art. 9.º: de 8 a 10 anos;

• art. 10: de 5 a 8 anos;

• art. 11: de 3 a 5 anos.

4.2. Multa
O valor da multa variará:

• art. 9.º: até três vezes o valor do acréscimo patrimonial;

• art. 10: até duas vezes o valor do dano;

• art. 11: até cem vezes o valor da remuneração.

4.3. Interdição de Direitos (Proibição de Contratar)


O prazo de interdição poderá ser:

• art. 9.º : de até 10 anos;

• art. 10 : de até 05 anos;

• art. 11: de até 03 anos.

5. LEGITIMADOS

Art. 17 da LIA estabelece os legitimados para a ação:

• MP;

• pessoa jurídica lesada.


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TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

O art. 129, incs. II e III, da CF concede ao MP a legitimidade do IC e da ACP.

O patrimônio público é uma espécie de interesse difuso. O MP postula em juízo por


meio de ACP (Lei n. 7.347/85). A LIA tem natureza material e de direito processual.

Diz a lei que quando o ato causar lesão ou quando importar enriquecimento ilícito,
caberá à autoridade administrativa representar ao MP para decretação da indisponibilidade
dos bens (art. 7.º).

A indisponibilidade tem caráter de sanção, mas não é definitiva. A procedência da


ACP leva à incorporação em favor dos fundos do lesado (art. 13 da Lei n. 7.437/85).

O requerimento de indisponibilidade de bens é possível quando:

• ato que importar enriquecimento;

• ato que importar lesão.

O MP ou a pessoa jurídica lesada tem legitimidade para requerer seqüestro dos bens
do agente ou, ainda, o bloqueio e exame de contas.

O MP, ao tomar conhecimento do ato de improbidade, pode:

• instaurar o IC ou procedimento preparatório do IC;

• requisitar a instauração de IP quando a hipótese enseja crime;

• instauração de processo administrativo.

6. OBSERVAÇÕES

• A prescrição do ato de improbidade se opera em 5 anos contados do término do


mandato, ou no prazo da prescrição da infração disciplinar se ela for punida com
a demissão do servidor público.

• A obrigação de reparar o dano é imprescritível.

• Competência: local do dano, ou seja, a sede da pessoa jurídica.

• Nas ACPs e no IC não se admite a transação.

• A apresentação periódica da declaração de bens e rendimentos do servidor é


condição para a investidura e para o exercício (art. 13 da LIA). A recusa do
servidor na apresentação leva a demissão do serviço público.

• Em matéria de recursos, aplica-se o CPC e a Lei n. 7.347/85.


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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXIII

EXERCÍCIOS
CURSO ANUAL
OPÇÃO 3

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ADMINISTRATIVO

1. Assinale a alternativa correta:


A declaração de utilidade pública produz os seguintes efeitos:
Submete o bem à força expropriatória do Estado.
Impõe a transferência da propriedade.
Não confere ao Poder Público o direito de penetrar no imóvel.
Não dá início ao prazo de caducidade.

A desapropriação por direito de extensão:


a) É a desapropriação de bem imóvel declarado de utilidade pública.
b) É a desapropriação do remanescente de um bem que, em razão da desapropriação deste,
tornou-se inútil.
c) É a desapropriação de um imóvel urbano.
d) Nenhuma das alternativas está correta.

Acerca da desapropriação, marque a proposição incorreta:


A fase executória do procedimento expropriatório pode ser judicial ou extrajudicial.
Na desapropriação são devidos pelo Poder Público ao expropriado juros moratórios, em
virtude da demora no pagamento da indenização, contados a partir da perda efetiva da
posse.
Tanto o Poder Legislativo quanto o Poder Executivo são competentes para expedir
declaração de utilidade pública.
Bens públicos dos Estados e Municípios podem ser desapropriados pela União.

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________________________________________________________________________MÓDULO XXIII

Assinale a opção correta:


Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o valor da prévia e justa
indenização na desapropriação há de ser assegurado já por ocasião da imissão
provisória na posse.
Segundo a jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal, a retrocessão, no caso de
tredestinação, ou a destinação do bem expropriado, configura simples direito pessoal
que se resolve em perdas e danos.
A indenização da propriedade, no caso de desapropriação para fins de reforma agrária, não
há de ser necessariamente prévia, uma vez que o pagamento do imóvel há de se fazer
mediante entrega de títulos da dívida agrária.
Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as condições de uso, gozo e fruição
da propriedade material ou imaterial não podem ser objeto de alteração mediante
decisão legislativa superveniente.
A Constituição Federal autoriza a desapropriação pelo Município de terrenos urbanos não-
edificados, subutilizados ou não-utilizados, com pagamento mediante títulos da dívida
pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal.

Assinale a alternativa correta em face do sistema constitucional e em matéria de


desapropriação:
Qualquer modalidade obriga a indenização prévia.
Todos os entes federados podem exercer o poder expropriatório sob qualquer modalidade.
Desapropriação em imóvel rural é privativo da União.
Admite-se a desapropriação confiscatória com ou sem indenização.

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________________________________________________________________________MÓDULO XXIII

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO CIVIL

1. O testamento cerrado será aberto:


a) pelo tabelião que o lavrou;
b) por um escrevente autorizado pelo tabelião;
c) pela viúva-meeira;
d) por um dos herdeiros;
e) pelo juiz.

2. O de cujus, além de deixar testamento, dispõe por carta dirigida à viúva-meeira


acerca de suas disposições para distribuição de esmolas de pouca monta a certas e
determinadas pessoas e também lega roupas ou móveis às mesmas pessoas. Pergunta-
se: Qual a denominação jurídica desse ato?
a) Aditamento testamentário.
b) Legado.
c) Ato de mera liberalidade.
d) Codicilo.
e) Ato de benemerência.

3. O Código Civil não admite, de forma expressa, o testamento:


a) Nuncupativo militar;
b) Marítimo;
c) Hológrafo;
d) Conjuntivo;
e) Militar.

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________________________________________________________________________MÓDULO XXIII

4. Assinale a alternativa correta:


I. O testamento particular somente adquire eficácia com a confirmação judicial das
três testemunhas instrumentárias.
II. É requisito essencial do testamento cerrado a autografia da cédula, isto é, a cédula
tem de ser totalmente escrita pelo próprio punho do testador e por ele assinada.
III. O testamento marítimo está sujeitos ao registro e à publicação (art. 1888, par. ún.).
a) V, F, V.
b) F, F, V.
c) V, V, F.
d) V, F, F.

5. No que se refere ao legado, não é possível afirmar:


a) Não é possível o legado de coisa alheia, porém, válido será se posteriormente integrar o
patrimônio do testador.
b) Se a coisa infungível se perder o legado será considerado desfeito.
c) No legado não se compreendem as dívidas relativas ao bem legado.
d) É possível o legado de alimentos.

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________________________________________________________________________MÓDULO XXIII

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO COMERCIAL

1. São contratos de distribuição:


I. Representação Comercial.
II. Concessão Comercial.
III. Leasing.
IV. Franquia.
Assinale a alternativa correta:
a) I, II e IV estão corretas.
b) II e IV estão corretas.
c) I e III estão corretas.
d) Todas as afirmações estão corretas.

2. Sobre a representação comercial é incorreto afirmar que:


a) sua essência é a intermediação da compra e venda mercantil;
b) entre representante e representado não existe vínculo empregatício;
c) o representante não pode ser substituído por outrem no exercício de suas atividades;
d) o representante deve arcar com os custos do seu negócio.

3. Assinale a alternativa correta:


a) A indicação dos produtos ou artigos objeto da representação é uma cláusula dispensável
no contrato de representação.
b) O prazo de vigência do contrato de representação pode ser determinado ou
indeterminado. O contrato por prazo determinado jamais se transformará em
indeterminado.
c) O representado poderá recusar o pedido de compra e venda obtido pelo representante.
Este prazo é de 30 dias se a venda for realizada em outro Estado.
1
________________________________________________________________________MÓDULO XXIII

d) Caso não haja cláusula no contrato prevendo que sempre haverá o pagamento das
comissões, esta não será devida em caso de insolvência do comprador.

4. Assinale a opção incorreta:


a) Na rescisão sem justa causa, se o contrato é por prazo determinado, a indenização será
calculada a partir da média mensal da remuneração recebida pelo representante até a
data da efetiva rescisão do contrato, multiplicado pela metade dos meses restantes para
o seu término.
b) Na rescisão com justa causa pelo representado não caberá ao representante qualquer
indenização.
c) A falência autoriza a rescisão com justa causa do contrato de representação.
d) A quebra de exclusividade, se prevista no contrato, é uma hipótese de rescisão por parte
do representante.

5. Assinale a alternativa incorreta:


a) O contrato de franquia é aquele segundo o qual uma das partes, denominada
franqueador, licencia o uso de sua marca a outro empresário que se denomina
franqueado, prestando-lhe também serviço de organização empresarial.
b) O contrato de franquia é um contrato típico.
c) Os dois principais elementos do contrato de franquia são a cessão do uso de uma marca
e a prestação de serviços de organização empresarial.
d) A concessão mercantil trata-se de um contrato de distribuição no qual um dos
contratantes, chamado concessionário, se obriga a comercializar, com ou sem cláusula
de exclusividade, com ou sem cláusula de territorialidade, produtos de outro
contratante, chamado concedente.

2
________________________________________________________________________MÓDULO XXIII

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO CONSTITUCIONAL

1. Sobre a medida provisória não podemos afirmar:


a) Pode ser editada, pelo Procurador da República, em caso de relevância e urgência.
b) Possui força de lei, devendo ser submetida ao Congresso Nacional de imediato.
c) Perde sua eficácia se não for convertida em lei no prazo de 60 dias.
d) Admite-se prorrogação automática do prazo, por 30 dias, uma única vez.

2. Assinale a alternativa correta:


a) O princípio da igualdade é complementado pelos princípios da personalização e da
capacidade contributiva.
b) Pelo princípio da anterioridade a cobrança dos tributos depende de autorização
orçamentária anual do Poder Legislativo.
c) Somente a União pode instituir tributos com efeito confiscatório.
d) Todos os tributos devem obedecer ao princípio da anterioridade.

3. Assinale a alternativa correta:


• Princípio da anterioridade
• Princípio da imunidade recíproca
• Princípio da irretroatividade dos tributos
I. Veda à União, aos Estados, aos Municípios e ao Distrito Federal instituir impostos
sobre patrimônio, renda ou serviço, uns dos outros.
II. A lei nova não se aplica aos fatos geradores já consumados.
III. É vedada a cobrança de tributos no mesmo exercício financeiro em que haja sido
publicada a lei que o instituiu ou aumentou.
a) III, I, II.
b) I, II, III.
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c) III, II, I.
d) II, III, I.

4. Quanto à imunidade tributária podemos afirmar, exceto que:


a) Os templos de qualquer culto são imunes, em seu patrimônio, renda e serviços.
b) Os partidos políticos e as instituições educacionais possuem imunidades.
c) A empresa jornalística e editorial possuem imunidades.
d) É vedado à União instituir impostos sobre livros, jornais, periódicos e papel destinado a
sua produção.

5. São princípios relacionados à tributação, exceto:


a) Irretroatividade dos tributos.
b) Legalidade.
c) Moralidade.
d) Anterioridade.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

1. A impugnação à sentença de liquidação, pelo executado, se dará:


a) 8 (oito) dias após o conhecimento da decisão;
b) concomitante com o pagamento das custas;
c) depois de efetuada a praça ou leilão;
d) 5 (cinco) dias após a realização da penhora, através de embargos.

2. Analisando o procedimento do artigo 879, § 2.º, da Consolidação das Leis do


Trabalho, assinale a alternativa incorreta:
a) Apresentado o cálculo pela parte interessada ou elaborado pelo juiz, ex officio, ou por
seu órgão auxiliar, será aberta vista às partes pelo prazo sucessivo de cinco dias.
b) Havendo impugnação genérica, o juiz indeferirá liminarmente, determinando a citação
do executado com o julgamento do cálculo.
c) Havendo impugnação circunstanciada, quanto aos fundamentos e valores do cálculo, o
juiz a apreciará e, de acordo com o seu convencimento, julgará, acolhendo-a ou não.
d) Salvo para efeito recursal, estará encerrada a fase de acertamento do título, passando a
ser inadmissível, a qualquer pretexto, impugnação na fase constritiva.

3. Assinale a alternativa que contém a afirmativa correta:


I. A competência funcional para proferir sentença, na liquidação por artigos, é
exclusiva do juiz-presidente.
II. As exceções de incompetência e suspeição podem ser argüidas e, sendo-o, estarão
submetidas ao rito dos artigos 799 a 802 da Consolidação das Leis do Trabalho, que
afastam o emprego subsidiário da legislação processual comum.
III. A citação feita na pessoa de preposto ou empregado do executado é nula, como
constantemente se dá, por absorção indevida do disposto no artigo 841 da
Consolidação das Leis do Trabalho, que disciplina a forma postal de citação.

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a) Apenas uma alternativa está correta.


b) Apenas duas alternativas estão corretas.
c) Todas as alternativas estão corretas.
d) Todas as alternativas estão incorretas.

4. O método liquidatório por arbitramento:


I. É admissível quando sua liquidez depender de comprovação de fatos ainda não
esclarecidos suficientemente, no processo de cognição, de modo a permitir
valoração imediata do título condenatório.
II. É admissível sempre que sua expressão pecuniária se revelar por meio de operações
aritméticas possíveis com os dados já encartados no processo de conhecimento.
III. É admissível pela convenção das partes.
IV. É admissível pela exclusão dos demais métodos de liquidação.

I. Todas as alternativas estão corretas.


II. As alternativas II e III estão corretas.
III. As alternativas III e IV estão corretas.
IV. As alternativas I e III estão corretas.

5. Assinale a alternativa incorreta:


a) A intimação da penhora que recair sobre bem imóvel deverá estender-se ao cônjuge do
executado, quando houver.
b) Não concordando o credor com a nomeação do próprio devedor para depositário, far-
se-á o depósito do bem penhorado pelo modo estabelecido no Código de Processo
Civil.
c) O bem penhorado poderá ser alienado antecipadamente, se sujeito à deterioração ou se
resultar da alienação manifesta vantagem.
d) A alienação antecipada pode ser feita a requerimento de qualquer das partes,
independente de audiência da outra.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

1. Dentre as principais características apresentadas na Lei n. 8.884/94, não podemos


afirmar que:
a) possui uma função preventiva e outra repressiva.
b) A lei não concedeu ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) natureza
autárquica; portanto, não integra o Poder Executivo. Concedeu, no entanto, função
judicante com jurisdição em todo o território nacional.
c) À Secretaria de Direito Econômico (SDE) foi concedida a função de acompanhamento
do mercado, tudo para dar eficácia à importante função preventiva da lei.
d) É possível a decretação da desconsideração da personalidade jurídica.

2. A integração, o que mais importa ao direito da concorrência, pode se dar:


I. Horizontalmente, quando as empresas concorrem entre si, num mesmo estágio ou nível
de produção.
II. Verticalmente, quando as empresas concorrem em diferentes níveis ou estágios da
mesma indústria.
III. Pela joint venture, atividades diversas que são conduzidas sob o comando de um único
centro decisório.
IV. Pela formação de conglomerado, uniões parciais e temporárias, não apresentando
estabilidade e permanência, mas visando, em geral, objetivos específicos limitados.
Em relação às afirmativas assinale a alternativa correta:
a) Apenas as alternativas I e II estão corretas.
b) Apenas as alternativas II e IV estão corretas.
c) Todas as alternativas estão corretas.
d) Apenas as alternativas III e IV estão corretas.

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3. Na análise de um caso de concentração, se a integração, em razão do índice de


concentração do mercado, pode, potencialmente, causar resultados adversos à
concorrência, deve ser utilizado o critério:
a) da participação relativa;
b) da eficiência do agente;
c) dos efeitos;
d) da permanência.

4. Após a análise do ato de concentração, a decisão do Conselho Administrativo de


Defesa Econômica (Cade) deve refletir uma de três possibilidades. Assinale a
possibilidade incorreta:
a) Atos que aumentem significativamente o poder de mercado e não proporcionem
ganhos generalizados compensatórios para a sociedade podem: ser imediatamente
negados; ser aprovados, mediante uma série de compromissos de desempenho
assumidos pelas empresas.
b) Atos que elevem o poder de mercado, mas que são mais do que compensados por
outros ganhos, devem ser aprovados.
c) Atos de concentração que aumentem o poder de mercado e proporcionem ganhos
compensatórios para a sociedade devem ser imediatamente aprovados.
d) Atos de concentração econômica que não elevem significativamente o poder de
mercado devem ser aprovados independentemente de outras considerações.

5. A Lei n. 8.884/94 traz ao mundo jurídico o compromisso de desempenho e o


compromisso de cessação. Dentre as afirmativas abaixo, assinale a alternativa
correta:
I. O compromisso de desempenho prevê que o plenário do Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade) definirá compromissos de desempenho que deverão ser
cumpridos pelos agentes econômicos que levem à sua apreciação atos de concentração
empresarial, assegurando a obtenção, em um curto, médio ou longo espaço de tempo,
das eficiências especificadas.
II. O compromisso de desempenho pode ser visto como um substituto para a
desaprovação do ato de concentração.
III. O compromisso de cessação poderá ser celebrado pelo Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade) ou pela Secretaria de Defesa Econômica (SDE), não
importando confissão quanto à matéria de fato, nem reconhecimento de ilicitude da
conduta analisada.
IV. O compromisso de cessação conterá, necessariamente, a obrigação de apresentar
relatórios periódicos sobre a sua atuação no mercado, mantendo as autoridades
informadas sobre eventuais mudanças em sua estrutura societária, controle, atividades
e localização.
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a) Todas as alternativas estão corretas.


b) As alternativas I, III e IV estão corretas.
c) As alternativas I, II e IV estão corretas.
d) As alternativas III e IV estão corretas.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ELEITORAL

1. Assinale a alternativa incorreta:


a) O cidadão que tiver conhecimento de infração penal eleitoral deverá comunicá-la ao
Ministério Público.
b) O Ministério Público pode dispensar o inquérito policial desde que possua elementos
suficientes para ofertar a denúncia em infração penal eleitoral.
c) Os crimes eleitorais são julgados mediante ação penal pública incondicionada e,
conforme determina a Constituição Federal, também admite ação privada nos crimes
eleitorais caso a ação pública não seja intentada no prazo legal.
d) Por solicitação da Polícia Federal a Polícia Civil poderá atuar como Polícia Judiciária
nas eleições.

2. Analise as afirmativas:
I. Não havendo pena expressamente prevista, aplicam-se os prazos mínimos previstos
no artigo 284 do Código Eleitoral.
II. Em crimes contra a honra, praticados em propaganda eleitoral, admite-se a
assistência do particular especialmente prejudicado.
III. Recebida a denúncia, o acusado é citado para contestar em dez dias.
a) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
b) As afirmativas I e III estão incorretas.
c) Todas as afirmativas estão corretas.
d) Somente a afirmativa III está incorreta.

3. É incorreto afirmar:
a) O prazo para oferecimento da denúncia por crimes eleitorais é de dez dias para réu
solto, e de cinco dias para réu preso.

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b) Admite-se ação penal privada nos crimes de ação penal pública, se esta não for
proposta no prazo legal.
c) O prazo para apresentação da queixa subsidiária é de seis meses, contados do término
para oferecimento da denúncia.
d) A denúncia ou queixa subsidiária referente a crime eleitoral será dirigida ao juiz
eleitoral do lugar do crime.

4. Assinale as alternativas corretas:


a) Para acusados que desfrutem de prerrogativas funcionais, o processo e o julgamento
serão perante o juiz eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral.
b) É correto afirmar que para o recebimento da denúncia contra Deputado Federal ou
Estadual dispensa-se a prévia autorização da casa legislativa.
c) Não cabe recurso contra o pedido de arquivamento deferido do inquérito policial.
d) Os crimes eleitorais são julgados por ação penal pública incondicionada, devido ao fato
de o Estado ter o dever de zelar pelo sujeito passivo dos delitos dessa natureza, qual
seja, o povo.

5. Assinale a alternativa correta:


a) A ação penal é pública incondicionada, pois há uma junção de interesses do Estado
(interesse público) e o interesse da vítima.
b) Se houver conexão entre crime comum e crime eleitoral a competência para o
julgamento de ambos será da justiça eleitoral.
c) O recebimento da denúncia contra Deputado ou Senador, por crime ocorrido após a
diplomação é feito pelo Tribunal Regional Eleitoral.
d) Na hipótese do juiz eleitoral discordar do arquivamento do inquérito policial, deverá
remeter as peças ao Procurador-Geral.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO INTERNACIONAL

1. Assinale a alternativa correta:


I. Protocolo é um tratado de natureza complementar.
II. O Protocolo de Buenos Aires adota o Princípio da Autonomia da Vontade das Partes.
III. O Protocolo de Santa Maria não está em vigor.
IV. O Protocolo de San Luis busca determinar a jurisdição internacional e a lei aplicável
nos casos de responsabilidade civil emergente de acidente de trânsito.
a) V, V, F, V.
b) V, F, V, V.
c) F, F, V, V.
d) F, V, V, F.

2. São critérios para a determinação da competência, exceto:


a) Local do cumprimento da obrigação.
b) Domicílio.
c) Local do ato legal.
d) Prevenção.

3. Assinale a alternativa correta:


• Imunidade do Estado
• Imunidade diplomática
• Imunidade consular
I. Caracteriza-se pelo exercício de função estatal de um Estado no território de outro,
com permissão deste.
II. O principal documento é a Convenção de Viena, de 1963.

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III. Refere-se à isenção da jurisdição judiciária e executória pelo Estado, no território,


sob o Estado estrangeiro e a sua propriedade, com base na igualdade de soberania.
a) I, II, III.
b) III, I, II.
c) II, I, III.
d) III, II, I.

4. O mercado comum almejado pelos Estados-partes não implica:


a) A livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países, através da
eliminação dos direitos alfandegários e de restrições não tarifárias à circulação de
mercado.
b) O estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de uma política comercial
comum em relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados.
c) A livre circulação de pessoas para trabalho em qualquer dos Países-membros, sem a
necessidade de prova de oferta de emprego.
d) A coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados-partes.

5. Sobre as regras da uniformização, podemos afirmar:


I. A integração econômica é irreversível.
II. As relações econômicas da integração exigem regras jurídicas precisas e claras, não
supríveis pelas regras do Direito Internacional Privado.
III. As regras de direito comum exigem um sistema único e central de interpretação,
através de órgão jurisdicional próprio.
a) Todas as proposições são verdadeiras.
b) Somente a proposição I é verdadeira.
c) As proposições II e III são verdadeiras.
d) As proposições I e III são verdadeiras.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PENAL

1. Assinale a alternativa não verdadeira:


a) O crime de resistência se distingue do crime de desacato porque o crime de resistência
pressupõe a utilização de violência ou grave ameaça para impedir o funcionário público
de executar um ato legal, enquanto no crime de desacato o agente simplesmente
desatende a ordem legal emanada do funcionário público, sem qualquer outro
propósito.
b) O crime de concussão se distingue do crime de corrupção passiva pois, no crime de
concussão, o funcionário público faz uma exigência indevida, enquanto no crime de
corrupção passiva, o agente solicita ou recebe uma vantagem indevida.
c) O crime de corrupção passiva se distingue do crime de prevaricação porque o crime de
corrupção passiva pressupõe um ajuste entre o corrupto e o corruptor, o que não ocorre
no crime de prevaricação.
d) O crime de denunciação caluniosa se distingue da infração penal de comunicação falsa
de crime, pois na comunicação falsa de crime não se faz à autoridade policial
imputação de prática de um crime a uma pessoa determinada que se sabe inocente.

2. A respeito do crime de desobediência é incorreto afirmar:


a) É admitida sua forma tentada em casos em que a conduta é da forma comissiva.
b) Sua consumação se dá no momento da prática da conduta.
c) O crime configura-se com a desobediência da ordem dada pelo funcionário público,
independentemente de sua competência.
d) O sujeito ativo deste delito é o Estado e o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.

3. Leia as afirmações que seguem:


I. Para configuração do crime de corrupção passiva, na modalidade solicitar vantagem
indevida, é necessário que a solicitação do funcionário público seja correspondida
pelo extraneus.

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II. No mesmo crime, na aceitação de promessa de vantagem pelo funcionário público,


é o particular promitente quem tem a iniciativa, e este comete o crime de corrupção
ativa.
Pode-se dizer que:
a) As duas afirmações se mostram irreais.
b) Ambas as afirmações se apresentam corretas.
c) Está incorreta somente a afirmação I.
d) Está incorreta somente a afirmação II.

4. Assinale a alternativa correta:


a) A calúnia é a imputação falsa de um crime e a denunciação caluniosa é a imputação de
um crime, mais a investigação ou o processo.
b) A tentativa deste crime não é admitida e sua consumação ocorre quando for iniciada a
investigação ou o processo, não bastando a notícia.
c) O delito de comunicação falsa de crime ou contravenção não admite a forma tentada e
se consuma com o início da investigação.
d) O crime de denunciação caluniosa pode ser tipificado no interrogatório policial ou
judicial, não se considerando a autodefesa nestes casos.

5. Analise as afirmativas:
I. O crime de desacato não necessita de testemunha, bastando a palavra do funcionário
público.
II. O crime tem de atingir a função que o funcionário público exerce, e não a sua
pessoa.
III. A tentativa é admissível na forma de carta.
Assinale a alternativa correta:
Apenas as alternativas I e II estão corretas.
Apenas a alternativa III está correta.
Todas as alternativas estão corretas.
Somente a alternativa II está correta.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Assinale a alternativa correta:


a Seguridade Social é financiada mediante recursos provenientes apenas da União.
as empresas, além de figurarem no pólo passivo da obrigação tributária, também retêm
contribuições das quais não são contribuintes, agindo como responsáveis tributárias.
as empresas em geral e as agroindústrias contribuem apenas com 20% sobre o total das
remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos
segurados empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes individuais.
mesmo reduzindo o grau de incidência de incapacidade laborativa de seus empregados, as
empresas não sofrerão redução da alíquota incidente.

Analise as afirmações abaixo:


As sociedades de crédito e de financiamento não são consideradas instituições financeiras.
As instituições financeiras contribuirão com um acréscimo de 1%, 2% ou 3%, que serão
utilizados para o financiamento de benefícios concedidos em razão do grau de
incidência laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho.
As instituições financeiras não estão obrigadas a reter e recolher aos cofres da Previdência
Social as contribuições dos trabalhadores avulsos a seu serviço.
As instituições financeiras estão obrigadas a contribuir com uma alíquota de 22,5%,
incidente sobre a folha de salários dos seus empregados, trabalhadores avulsos e
contribuintes individuais.
Assinale a alternativa correta:
a) as alternativas I e III estão corretas.
b) as alternativas II e IV estão corretas.
c) todas as alternativas estão corretas.
d) as alternativas I, III e IV estão corretas.

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Assinale a alternativa incorreta:


o produtor rural, pessoa física com empregado, contribui com uma alíquota de 2% sobre a
receita bruta proveniente da comercialização da produção rural.
o produtor rural, pessoa física com empregado, deve reter e recolher aos cofres da
Previdência Social, 15% do valor bruto do pagamento feito por serviços prestados por
trabalhadores autônomos.
o produtor rural, pessoa jurídica, contribuirá com 2% incidentes sobre a comercialização da
produção rural.
o produtor rural, pessoa jurídica, contribuirá com 0,1% para contribuições devidas a
terceiros, como o Serviço Social do Comércio (SESC), Serviço Social da Indústria
(SESI), Serviço Nacional do Comercial (SENAC).

Assinale a alternativa incorreta:


a contribuição da associação desportiva que mantém equipe de futebol profissional é de 5%
da receita bruta de espetáculo desportivo.
a associação desportiva que mantém equipe de futebol profissional contribuirá com 5% sob
qualquer forma de patrocínio.
a associação desportiva que mantém equipe de futebol tem o dever de reter e recolher aos
cofres da Previdência os serviços que contratar mediante cessão de mão-de-obra.
o clube tem de pagar à Previdência 10% sobre o valor que paga para a equipe de futebol
profissional.

Analise as afirmações abaixo:


As microempresas e as empresas de pequeno porte podem optar pelo Sistema Integrado do
Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de Pequeno
Porte (Simples).
O valor da isenção da contribuição deferida as entidades beneficentes é fixo e apenas
devido às entidades que não visam lucro.
As empresas podem deduzir de suas contribuições o que pagou a título de salário-família.
O empregador doméstico contribui com uma alíquota de 12% sobre o salário de
contribuição de seu empregado, respeitado o teto.
Assinale a alternativa correta:
a) as alternativas I, III e IV estão corretas.
b) as alternativas II e IV estão corretas.
c) as alternativas II e III estão incorretas.
d) todas as alternativas estão corretas.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1. No que concerne à ação monitória não podemos afirmar que:


a) É o instrumento processual colocado à disposição do credor, de quantia certa, coisa
fungível e bem móvel, que esteja munido de um documento escrito, sem força
executiva, e que queira receber o que lhe é devido.
b) É uma ação opcional, porém, possibilita um resultado mais célere do que a ação de rito
comum, se o réu não opuser resistência.
c) O réu é citado para defender-se por meio de embargos, que têm natureza de ação
autônoma, conforme entendimento do Prof. Nelson Nery Jr.
d) Iniciada a ação, em o réu se omitindo, a ação monitória converte-se em execução.

2. As alienações judiciais ocorrem:


a) Quando os bens afetados por qualquer constrição judicial ocasionarem fácil
deterioração ou exigirem grandes despesas para sua guarda.
b) Para resguardar interesses dos incapazes, sob o ponto de vista econômico.
c) Para resguardar direitos do cônjuge, sob o ponto de vista econômico.
d) Para viabilizar a extinção do condomínio em bens indivisíveis.

3. Na ação monitória o réu pode:


a) Omitir-se, o que acarretará uma execução de título judicial.
b) Defender-se, quando a decisão inicial tem natureza de decisão interlocutória.
c) Pagar, quando o juiz proferirá uma sentença extinguindo a monitória.
d) Todas as alternativas estão corretas.

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4. São documentos indispensáveis para a interposição da ação de separação


consensual, exceto:
a) o contrato pré-nupcial;
b) a certidão de nascimento dos filhos;
c) a escritura pública com manifestação da vontade dos cônjuges;
d) o documento relativo aos bens.

5. Assinale a alternativa incorreta no que se refere à ação de separação consensual:


a) Na separação consensual não se discute culpa.
b) O juiz deve ouvir o casal particularmente.
c) O juiz é obrigado a homologar a separação, mesmo que o acordo não atente aos
interesses de qualquer dos cônjuges.
d) Não havendo certeza de um dos cônjuges, na separação, compete ao juiz redesignar a
audiência.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. Da decisão que conceder progressão de regime de cumprimento de pena caberá:


a) apelação;
b) agravo com efeito suspensivo;
c) recurso de ofício;
d) recurso em sentido estrito;
e) agravo sem efeito suspensivo.

2. Caberá apelação da decisão:


a) condenatória ou absolutória, proferida em ação penal originária;
b) que absolver sumariamente o acusado;
c) que declarar extinta a punibilidade;
d) do Tribunal do Júri, que contrariar manifestamente a prova dos autos;
e) que, em juízo de retratação, em recurso stricto sensu, despronunciar o réu.

3. Assinale a alternativa correta:


a) O Ministério Público não pode desistir do recurso de apelação que interpôs.
b) Interposto o recurso de apelação pelo réu, o Ministério Público só pode oferecer suas
razões após o juízo de retratação.
c) Cabe recurso de apelação da decisão que conclui pela competência do juízo.
d) O recurso de apelação somente pode ser interposto por termo ou petição.
e) Somente cabem embargos declaratórios das decisões proferidas pelo segundo grau de
jurisdição.

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4. Não sendo unânime o julgado proferido em apelação, caberá:


a) Embargos de declaração e embargos infringentes.
b) Requerimento de dúvida.
c) Requerimento somente ao relator.
d) Não caberá qualquer recurso.

5. O recurso de apelação está sujeito a preparo:


a) Após o exercício do poder de retratação, se for o caso.
b) Previamente, quando de sua interposição.
c) Quando para tanto for intimada a parte.
d) Quando do recebimento das contra-razões.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS):


a) É não-cumulativo, significando que, em qualquer hipótese, deverá ser assegurado o
crédito para compensação com o montante devido nas operações ou prestações
seguintes.
b) Incide sobre o Imposto sobre Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e
Imposto sobre Serviços de Comunicação, assim como sobre o valor total da operação,
quando as mercadorias forem fornecidas com serviços não compreendidos na
competência impositiva municipal.
c) Sendo de competência tributária do Estado-membro, somente a legislação estadual
pode excluir da incidência do imposto, nas exportações para o exterior, serviços e
produtos determinados.
d) Tem as suas alíquotas estabelecidas pelo Senado Federal, aplicáveis às operações e
prestações internas interestaduais e de exportação.

2. O princípio da não-cumulatividade, em relação ao Imposto sobre Circulação de


Mercadorias e Serviços (ICMS), significa que o:
a) O contribuinte poderá descontar do valor devido em cada operação de circulação de
mercadorias, o montante do tributo cobrado em operações anteriores;
b) o Fisco não poderá exigir, cumulativamente com o Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços, qualquer outro tributo em tese incidente sobre a mesma
operação;
c) o contribuinte tem o direito à redução progressiva da alíquota do Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços, conforme o número de operações realizadas em
determinado espaço de tempo;
d) o Fisco deve excluir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto de
Seguridade Social (ISS) da base de cálculo do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços, sempre que qualquer um daqueles dois tributos for exigido
concomitantemente com este.

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3. Assinale a alternativa correta:


a) Compete à União Federal instituir Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS), dividindo a respectiva receita com os Estados e com o Distrito Federal.
b) Os Estados e o Distrito Federal poderão instituir, mediante lei complementar, impostos
não-cumulativos e que não tenham fato gerador ou base de cálculo próprio daqueles
discriminados na Constituição Federal.
c) Compete aos Municípios instituir Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação,
de Quaisquer Bens ou Direitos.
d) Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir Imposto sobre Transmissão Causa
Mortis e Doação, de Quaisquer Bens ou Direitos.

4. Assinale a alternativa falsa:


a) O sujeito ativo do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) é o
Estado onde o veículo estiver licenciado e registrado.
b) Do produto de arrecadação do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores
(IPVA), 50% pertence ao Município, onde o veículo estiver licenciado, e os restantes
50% constituem receita do Estado.
c) O Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores é um imposto não vinculado ao
veículo. Em caso de alienação, pago o imposto pelo antigo proprietário, ainda que em
outra unidade da Federação, será exigido novo pagamento do adquirente.
d) A base de cálculo do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores é o valor
venal do veículo, fixado de conformidade com o seu peso, potência, capacidade
máxima de tração, ano de fabricação, cilindradas, número de eixos, tipo de combustível
utilizado e dimensões.

5. Analise os itens abaixo, e assinale a alternativa correta:


I. A função do imposto sobre heranças e doações é fiscal, ou seja, tem como finalidade
gerar recursos financeiros para os Estados e o Distrito Federal.
II. Não sujeita-se ao Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação, de Quaisquer
Bens ou Direitos, a transmissão de bem incorpóreo em geral, inclusive título e
crédito que o represente, qualquer direito ou ação que tenha de ser exercido e
direitos autorais.
III. O imposto incidirá sobre a transmissão de qualquer bem ou direito havido por
doação.

a) Apenas os itens II e III estão corretos.


b) Apenas o item I está correto.
c) Apenas os itens I e III estão corretos
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d) Todos os itens estão corretos.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITOS HUMANOS

1. Assinale a alternativa que traz uma afirmativa incorreta:


a) A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão
criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e
do internado.
b) Com exceção das limitações inerentes ao encarceramento, os reclusos gozam dos
direitos humanos e das liberdades fundamentais consagradas na Declaração Universal
dos Direitos Humanos.
c) A primeira providência para a correta execução penal, e que vem de encontro às
finalidades da pena, é a classificação do condenado.
d) Os condenados são classificados segundo os seus antecedentes, sua personalidade, seu
grau de escolaridade e o tipo de delito praticado, isso para orientar a individualização
da execução penal.

2. Examine as afirmativas abaixo:


I. Os condenados são classificados segundo os seus antecedentes e sua personalidade,
isso para orientar a individualização da execução penal.
II. A classificação é desdobramento lógico do princípio da personalidade da pena,
inserido entre os direitos e as garantias fundamentais.
III. A exigência da proporcionalidade da pena está atendida com o processo de
classificação, de modo que a cada sentenciado, conhecida a sua personalidade e
analisado o fato cometido, corresponda o tratamento penitenciário adequado.
Responda qual a alternativa correta:
a) As três afirmativas estão corretas.
b) Apenas duas afirmativas estão corretas.
c) Há apenas uma afirmativa correta.
d) Nenhuma afirmativa está correta.

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3. Examine as afirmativas abaixo:


I. Além da classificação do preso, outro elemento valioso na execução penal é a
assistência ao condenado, que é dever do Estado, tendo como objetivo prevenir o
crime e orientar o retorno à convivência em sociedade.
II. Além do condenado, a Lei de Execução Penal estende a assistência ao egresso,
sendo considerado egresso o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar
da saída do estabelecimento, e o liberado condicional, durante o período de prova.
III. A assistência prevista ao condenado será material, à saúde, jurídica, educacional,
social e religiosa.
Assinale a alternativa incorreta:
As afirmativas I e II estão corretas.
Todas as afirmativas estão incorretas.
Todas as afirmativas estão corretas.
As afirmativas I e III estão corretas.

4. Examine as afirmativas abaixo:


I. A assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de
alimentação, vestuário e instalação higiênica.
II. A assistência à saúde do preso e do internado, em caráter preventivo e curativo,
compreende atendimento médico, farmacêutico e odontológico.
III. A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos
financeiros para constituir advogado.
IV. O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos, tarefa essa que é função institucional da Defensoria
Pública, que deve atuar junto aos estabelecimentos policiais e penitenciários,
visando assegurar à pessoa, sob quaisquer circunstâncias, o exercício dos direitos e
das garantias individuais.
Assinale a alternativa correta:
Há três afirmativas corretas.
Há duas afirmativas corretas.
Todas as afirmativas estão corretas.
Todas as afirmativas estão incorretas.

5. Assinale a alternativa que contêm afirmativa incorreta:


a) A assistência educacional compreende a instrução escolar e a formação profissional do
preso, sendo que o ensino de primeiro grau é obrigatório, integrando-se no sistema
escolar da unidade federativa.

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b) A orientação ao egresso consiste em orientação e apoio para integrá-lo à vida em


liberdade e na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em
estabelecimento adequado, pelo prazo de dois meses.
c) O prazo acima estabelecido, de dois meses, poderá ser prorrogado quantas vezes
necessário, comprovado, por declaração do assistente social, o empenho na obtenção do
emprego.
d) O estabelecimento penal, conforme a sua natureza, deverá contar em suas dependências
com áreas e serviços destinados a dar assistência, educação, trabalho, recreação e
prática esportiva.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1. A contravenção de vias de fato, prevista no artigo 21 da Lei das Contravenções


Penais:
a) Configura-se com a prática de violência moral.
b) Exige que a intenção do agente seja a de ofender a dignidade da vítima.
c) É expressamente subsidiária.
d) Foi tacitamente revogada na Reforma Penal de 1984.

2. Sobre a ação penal em relação à contravenção de vias de fato:


a) Aplica-se o procedimento judicialiforme, podendo a ação penal ser instaurada mediante
portaria da autoridade policial.
b) É pública. Todavia, o artigo 88 da Lei n. 9.099/95 suscitou controvérsia acerca da
exigibilidade ou não da representação do ofendido.
c) Segundo o Supremo Tribunal Federal, só se inicia por flagrante delito.
d) Nenhuma das anteriores.

3. A contravenção de perturbação do trabalho ou sossego alheios:


a) Visa tutelar a paz pública.
b) Configura-se mesmo que o incômodo atinja uma única pessoa.
c) Admite, excepcionalmente, a forma tentada.
d) Nenhuma das anteriores.

4. Para a punição do intermediador do jogo do bicho:


a) É necessário identificar o comprador e o vendedor.
b) Independe a identificação do apostador ou do banqueiro.
c) Exige-se a habitualidade.
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d) Só é possível na hipótese de flagrante.

5. Assinale as alternativas falsas:


a) O homem não pode ser vítima de importunação ofensiva ao pudor.
b) O assédio sexual sempre configurará a contravenção prevista no artigo 61 da Lei das
Contravenções Penais.
c) A contravenção de importunação ofensiva ao pudor deve ser cometida em local público
ou acessível ao público.
d) A contravenção prevista no artigo 65 da Lei das Contravenções Penais (perturbação da
tranqüilidade) visa preservar a tranqüilidade coletiva e exige que o sujeito ativo
pratique o comportamento típico por acinte ou motivo reprovável.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

MEDICINA LEGAL

1. Nos homens, a impotência coeundi, aquela em que há comprometimento da


capacidade de realização da conjunção carnal, poder ser, exceto:
a) instrumental;
b) organofuncional;
c) psicofuncional;
d) orgânica

2. As alterações qualitativas e/ou quantitativas dos espermatozóides caracterizam a


impotência:
a) coeundi organofuncional;
b) generandi
c) coeundi instrumental;
d) coeundi psicofuncional.

3. Assinale a alternativa correta:


I. A tanatologia é a parte da medicina legal que se ocupa da morte e dos problemas
médico-legais com ela relacionados.
II. A eutanásia é a prática, sem amparo legal, pela qual se busca abreviar, sem dor ou
sofrimento, a vida de um doente reconhecidamente incurável.
III. A ortotanásia consiste na morte injusta, caracterizada pelo desligamento da
aparelhagem que dá suporte à vida.
a) Todas as alternativas estão corretas.
b) As alternativas I e II estão corretas.
c) As alternativas II e III estão corretas.
d) As alternativas I e III estão corretas.
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4. Assinale a alternativa que contém a seqüência correta:


I. Aborto terapêutico
II. Aborto sentimental
III. Aborto eugênico
IV. Aborto social
V. Aborto por motivo de honra
a. visa a intervenção em fetos defeituosos ou com possibilidade de o serem.
b. visa evitar diversas conseqüências familiares e sociais.
c. interrompe a gravidez por motivos econômicos
d. aborto piedoso ou moral, indicado em casos de estupro.
e. realizado por médico para salvar a vida da gestante.

a) I – e; II – d; III – a; IV – c; V – b;
b) I – c; II – e; III – a; IV – d; V – b;
c) I – b; II – c; III – a; IV – d; V – e;
d) I – e; II – d; III – b; IV – c; V – a.

5. Assinale a alternativa correta:


a) A docimásia hidrostática de Galeno fundamenta-se na densidade do pulmão que
respirou e do que não respirou. É a prática mais utilizada em perícia médico-legal.
b) A docimásia histológica de Balthazard pode ser usada mesmo nos pulmões putrefeitos.
É considerada a mais perfeita em perícia médico-legal.
c) A docimásia gastrintentinal de Breslau consiste em tirar-se o aparelho gastrintestinal,
para verificar se o houve penetração de ar no tubo digestivo.
d) Todas as alternativas estão corretas.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

1. A prescrição do ato de improbidade se opera em:


a) 2 (dois) anos.
b) 5 (cinco) anos.
c) 1 (um) ano.
d) 3 (três) anos.

2. Das sanções abaixo elencadas, não se aplica para o autor do tipo previsto no artigo
9º - enriquecimento ilícito:
a) suspensão dos direitos políticos de 8 (oito) a 10 (dez) anos.
b) perda da função pública.
c) proibição de contratar com o Poder Público, ainda que por intermédio de pessoa jurídica
pelo prazo de 05 (cinco) anos.
d) perda dos bens acrescido ilicitamente.

3. Temos, respectivamente, como sujeito passivo mediato e sujeito passivo imediato:


a) sempre o Estado.
b) o Estado e a pessoa jurídica efetivamente afetada.
c) a pessoa jurídica efetivamente afetada e o Estado.
d) sempre a pessoa jurídica efetivamente afetada.

4. Quanto aos tipos previstos na Lei de Improbidade a responsabilidade será sempre:


a) subjetiva, dependendo da existência do dolo ou da culpa na ação do agente público.
b) objetiva, dependendo da existência do dolo ou da culpa na ação do agente público.
c) subjetiva, independendo da existência do dolo ou da culpa na ação do agente público.

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d) objetiva, independendo da existência do dolo ou da culpa na ação do agente público.

5. Entende-se que atos de Improbidade Administrativa são:


a) atos de natural penal, tipificados na lei, que não ferem os princípios da Administração
Pública.
b) atos de natural civil, tipificados na lei, que não ferem os princípios da Administração
Pública.
c) atos de natural civil, tipificados na lei, que ferem os princípios da Administração
Pública.
d) atos de natural penal, tipificados na lei, que ferem os princípios da Administração
Pública.

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