Ocf 02

1 O Capitão Fracasso | Capítulo 2
WEBTV Destino apresenta
O Capitão Fracasso
Novela de
Evana Ribeiro
Livremente baseada em
Le Capitaine Fracasse, The Fortunes and Misfortunes of the Famous Moll Flanders
e Arlequim, il servitore di due patroni
Capítulo 2
CENA 01. ESTRADA. EXT. NOITE
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA FINAL DO CAPÍTULO ANTERIOR. ARTHUR

VAI CAMINHANDO EM DIREÇÃO AO SOLAR, E OSÉIAS O SEGUE.
ARTHUR - Eu não tenho tanta fé que um dia as

coisas vão ser como eram antes.
OSÉIAS - Claro que não. Mas elas podem ser muito
melhores! É só parar de olhar para trás.
ARTHUR PARA AO LADO DE UMA FONTE D'ÁGUA, QUE ESTÁ QUEBRADA. FICAM
POR UM INSTANTE EM SILÊNCIO.
ARTHUR - Você tem razão. Afinal, o pior que pode

acontecer é a morte, não é?
OSÉIAS - E ela está muito longe de chegar para o
senhor.
ELES CONTINUAM CAMINHANDO ATÉ CHEGAR À PORTA DO SOLAR, CUJOS

VITRAIS TAMBÉM ESTÃO QUEBRADOS. ARTHUR PARA SOBRE A SOLEIRA ROTA,
ERGUE A MÃO ESQUERDA E OLHA A ALIANÇA DOURADA QUE BRILHA SOB O
LUAR. ELE TIRA A ALIANÇA.
ARTHUR - Oséias, me faça um favor. [T] Amanhã bem

cedo, venda essa aliança e traga comida
pra casa.
OSÉIAS - Sim, senhor. Vai precisar de mais alguma
coisa?
ARTHUR - Não, obrigado. Vou me deitar.
OSÉIAS - A essa hora?
ARTHUR - Não estou com ânimo para continuar
andando. Se você quiser ir, ver
Esmeralda...
OSÉIAS - É, boa ideia! Até depois.
OSÉIAS PEGA A ALIANÇA E GUARDA EM SEU BOLSO, INDO EMBORA EM

SEGUIDA. SOZINHO, ARTHUR ENTRA NO SOLAR. SONOPLASTIA: Hole in my
soul.
CORTA PARA
CENA 02. SOLAR WHITFORD. SALÃO. INT. NOITE
ARTHUR ANDA PELA SALA, COM MÓVEIS JÁ GASTOS PELO TEMPO. AS PAREDES
ESTÃO DESCASCADAS, ALGUNS VIDROS QUEBRADOS. O BRASÃO DA FAMÍLIA
ESTÁ PARCIALMENTE DESTRUÍDO.
ARTHUR - Ele está certo, eu devia olhar para a

frente. Eu devia esquecer a menina, o
carrinho, minha esposa, meus filhos
mortos, essa casa e tudo o que há nela.
Arthur Whitford devia deixar de existir.
ELE PÁRA AO PÉ DA ESCADA E TOCA O CORRIMÃO DE MADEIRA PARCIALMENTE

DESTRUÍDO PELOS CUPINS. O CORRIMÃO CEDE AO TOQUE.
ARTHUR - Eu devia deixar de existir de vez, não

aos poucos como essa casa!
ELE CONTINUA ANDANDO EM VOLTAS PELO SALÃO.
CORTA PARA
CENA 03. ESTRADA. EXT. NOITE
OSÉIAS ESTÁ SE DIRIGINDO PARA A CIDADE. PÁRA NO MEIO DO CAMINHO E

OLHA PARA TRÁS. VÊ A SOMBRA DO SOLAR E FICA PENSATIVO. DEPOIS DE
UM INSTANTE, DÁ MEIA VOLTA E SEGUE NO CAMINHO OPOSTO.
CENA 04. SOLAR WHITFORD. SALÃO. INT. NOITE
ARTHUR AGORA ESTÁ DEITADO EM UM SOFÁ, OLHANDO PARA O TETO. SEUS

OLHOS ESTÃO MAREJADOS.
OSÉIAS ENTRA E SE APROXIMA DO AMIGO.
OSÉIAS - Vai dormir aí?
ARTHUR SE LEVANTA, ENXUGANDO AS LÁGRIMAS QUE AINDA NÃO CAÍRAM.
ARTHUR - E você não ia ver sua namorada?

OSÉIAS - Ah, Esmeralda não é minha namorada
ainda, mas... Fiquei preocupado com você,
meu amigo.
ARTHUR - Por que, se eu não fiz nada?
OSÉIAS - Mas podia fazer. Você anda triste
demais, calado demais e eu pensei que,
sozinho...
ARTHUR - Já sei. Pensou que eu poderia dar cabo
da minha vida. [ele sorri, melancólico]
Meu caro, esse é um fim muito inglório até
mesmo para um homem sem glória como eu. E
nem se eu quisesse... Vendi a coleção de
armas também, lembra?
OSÉIAS - Graças a Deus.
ARTHUR - E agradeço pela companhia, mas vou mesmo
dormir. Boa noite.
OSÉIAS - Boa noite.
ARTHUR SOBE A ESCADA. OS DEGRAUS FAZEM UM BARULHO AGONIANTE QUANDO

SÃO PISADOS. OSÉIAS FAZ O SINAL DA CRUZ.
OSÉIAS - Deus proteja meu amigo dos maus

espíritos que invadiram essa casa!
OSÉIAS SAI.
CENA 05. MILLSHIRE. EXT. NOITE/DIA
TAKES DE VÁRIOS LOCAIS DA CIDADE DURANTE A MADRUGADA E AO

AMANHECER.
CENA 06. ALBERGUE. RECEPÇÃO. INT. DIA
HORÁCIO LÊ O JORNAL. OSÉIAS ENTRA E SE ENCOSTA NO BALCÃO. HORÁCIO

NÃO O VÊ.
OSÉIAS - Senhor Horácio... Senhor Horácio!
HORÁCIO LARGA O JORNAL POR UM INSTANTE.
HORÁCIO - Bom dia pra você também, Oséias. O que

vai vender hoje?
OSÉIAS - Essa belezura aqui.
OSÉIAS TIRA DO BOLSO DO CASACO A ALIANÇA DE ARTHUR. HORÁCIO PEGA A

JÓIA E OBSERVA CUIDADOSAMENTE.
HORÁCIO - Nunca pensei que Arthur fosse se

desfazer da aliança de casamento.
OSÉIAS - Se a mulher se desfez dele primeiro, não
tinha mais motivo pra ficar com a aliança.
[T] E eu gostaria de pedir duas
coisinhas...
HORÁCIO - Peça.
OSÉIAS - Por favor, pague um bom preço por essa
aliança... Não sobrou mais nada para
vender.
HORÁCIO - Vou pagar o preço justo. E o outro
favor?
OSÉIAS - Diga a Esmeralda que eu a acho uma
belezura.
HORÁCIO - [com certa hostilidade] Está certo...
Espere um minuto.
HORÁCIO SAI COM A ALIANÇA.
CENA 07. MILLSHIRE. EXT. DIA
TAKE DA FACHADA DA FÁBRICA DE CHOCOLATES LEÃO. Sonoplastia: Na

dúvida.
CENA 08. FÁBRICA LEÃO. COZINHA. INT. DIA
CLARICE E ESMERALDA PREPARAM DOCES. ESMERALDA OLHA PELA JANELA

ENQUANTO MEXE COM AS PANELAS. CONVERSA JÁ INICIADA.
ESMERALDA - Eu sinto tanta pena...

CLARICE - Pena do quê?
ESMERALDA - Pena do Arthur. É Arthur o nome dele,
não é?
CLARICE - É. Eu o vi poucas vezes, e ele me
pareceu tão arrogante, orgulhoso...
ESMERALDA - Pra mim ele tá só se acostumando a ser
pobre. Pobre não, miserável, porque olha
lá o estado que ficou a casa dele. Parece
a casa mal assombrada!
CLARICE - Papai disse que ele podia trabalhar aqui
na fábrica, mas ele não quis.
ESMERALDA - Com certeza ele sabe que trabalhar para
o seu pai é escravidão. E ia continuar
miserável do mesmo jeito que eu continuo
órfã e encalhada.
ELAS CONTINUAM CONVERSANDO, SEM ÁUDIO.
CORTA PARA
CENA 09. ESTRADA. EXT. DIA
IMEDIAÇÕES DA FÁBRICA. UM CARRO VAI PASSANDO NA FRENTE DA FÁBRICA

DE CHOCOLATES. SÍLVIO, ESTÁ SOZINHO NELE E PÁRA NO ACOSTAMENTO,
DESCENDO DO VEÍCULO. APROXIMA-SE COMO SE ESTIVESSE FAREJANDO O AR
E GOSTANDO DO QUE SENTE.
SÍLVIO - Chocolate! Isso me deu fome.
OLHANDO EM VOLTA, ELE VÊ A PLACA DA FÁBRICA DE CHOCOLATES E A

PORTA ABERTA. ENTRA.
CORTA PARA
CENA 10. FÁBRICA LEÃO. COZINHA. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 08. ESMERALDA AGORA NÃO ESTÁ MAIS PERTO DAS
PANELAS, MAS ESTÁ COMENDO UM DOCE.
CLARICE - Esmeralda, a porta está fechada?

ESMERALDA - Está. [T] Eu acho.
CLARICE - E se um ladrão entrar aqui? Desce e
fecha aquele portão!
ESMERALDA - Eu? Não quero morrer, obrigada.
CLARICE - Vai!
ESMERALDA - Não vou coisa nenhuma.
SÍLVIO ENTRA E AS DUAS GRITAM. CLARICE, QUE ESTAVA COM UMA COLHER
DE PAU NA MÃO, SE AGITA DEMAIS, ESPALHANDO GOTAS DE CHOCOLATE PELO
ROSTO E COLO. SÍLVIO SORRI.
SÍLVIO - Calma, senhoras...

ESMERALDA - Senhoritas!
SÍLVIO - Desculpem a invasão, mas a porta estava
aberta.
CLARICE - E por acaso estava escrito...
ELA PÁRA DE FALAR, OLHA BEM PARA O ROSTO DELE E ESBOÇA UM SORRISO.
CLARICE - … Entre?
SÍLVIO - Em verdade...
ELE PÁRA DE FALAR E SORRI PARA CLARICE.
SÍLVIO - Não. Mas o cheiro que vinha daqui era

tão convidativo que foi como se me
dissesse: “Entre, Sílvio... Entre!”
SÍLVIO SE APROXIMA DE CLARICE E TOCA DELICADAMENTE SEU ROSTO,

LIMPANDO AS GOTAS DE CHOCOLATE QUE ESTÃO NELE. AO LIMPAR, LAMBE OS
DEDOS LENTAMENTE.
SÍLVIO - Foi você quem fez?

CLARICE - Ainda não está pronto.
SÍLVIO - Já está delicioso. Posso saber o nome da
cozinheira?
CLARICE - Clarice.
SÍLVIO BEIJA A MÃO DE CLARICE, SEM TIRAR OS OLHOS DO COLO DELA,

COM GOTAS DE CHOCOLATE. ELA SORRI E DEPOIS RETIRA A MÃO, TÍMIDA.
VAI PARA PERTO DE ESMERALDA.
CLARICE - E esta é Esmeralda.
ESMERALDA FAZ UMA MESURA PARA SÍLVIO.
ESMERALDA - Uma sua criada. E dela também.
SÍLVIO TAMBÉM BEIJA A MÃO DE ESMERALDA.
SÍLVIO - Mas voltando ao doce, posso levar um

pote para casa?
CLARICE - Isso é recheio dos biscoitos, mas ainda
não está pronto.
SÍLVIO - Eu posso esperar. Cheguei agora há pouco
na cidade e estava mesmo com muita fome.
ESMERALDA - E porque não vai para casa e almoça?
SÍLVIO PARECE NÃO PRESTAR ATENÇÃO À PERGUNTA, POIS ALTERNA SEUS

OLHARES ENTRE O ROSTO E O COLO DE CLARICE.
CLARICE - Pode ficar. Mas não aqui.

SÍLVIO - Agradeço a deferência, senhoritas.
SÍLVIO VAI SAINDO, OLHANDO CONSTANTEMENTE PARA TRÁS E SORRI,

GALANTEADOR. CLARICE VOLTA AO FOGÃO E ESMERALDA A ACOMPANHA. AS
DUAS FICAM EM SILÊNCIO POR ALGUNS INSTANTES. SONOPLASTIA: Love
story.
ESMERALDA – Que silêncio!
CLARICE NÃO RESPONDE.
ESMERALDA - Bonitinho o rapaz.

CLARICE - É.
ESMERALDA - Eu sabia!
CLARICE - Sabia do quê?
ESMERALDA - Eu sabia que se eu falasse do senhor
Sílvio, você ia falar.
CLARICE - Ele é um homem encantador... E parece
ser inteligente também... De onde será/
PANTALEÃO - [V.O.] Bom dia, rosas do meu jardim!
CLARICE, ESPANTADA, PÁRA DE FALAR. ELA E ESMERALDA SE VIRAM E VEEM

PANTALEÃO, QUE ACABA DE CHEGAR. ELE BEIJA CLARICE E TOCA
CARINHOSAMENTE A CABEÇA DE ESMERALDA.
CLARICE - Como está, papai?

PANTALEÃO - Ainda enxergando o suficiente para vir
sozinho. E para ver que há um forasteiro
aqui. Quem é?
CLARICE - O nome dele é Sílvio e está esperando os
biscoitos de chocolate ficarem pronto.
PANTALEÃO - De onde veio?
ESMERALDA - Não perguntamos, senhor Pantaleão! Não
somos tão malcriadas assim.
PANTALEÃO - “Não somos” é muita gente.
ESMERALDA - E se está tão interessado na vida do
forasteiro, por que não vai o senhor mesmo
perguntar?
PANTALEÃO - Olha que te dou uns cascudos, menina!
PANTALEÃO ERGUE A MÃO, AMEAÇANDO BATER. ESMERALDA CORRE PARA TRÁS

DE CLARICE.
CLARICE - Papai!
PANTALEÃO - Se não fosse por você, minha filha, e
por Horácio, eu já tinha dado um corretivo
nessa Esmeralda.
CLARICE - Papai, por que o senhor não vai fazer
companhia ao forasteiro? O doce vai
demorar a ficar pronto.
PANTALEÃO - Boa ideia. Assim eu descubro quem é e de
onde veio esse sujeito...
PANTALEÃO VAI SAINDO. AS MOÇAS CONTINUAM MEXENDO NAS PANELAS.
CORTA PARA
CENA 11. FÁBRICA LEÃO. RECEPÇÃO. INT. DIA
ALGUM TEMPO DEPOIS, PANTALEÃO E SÍLVIO CONVERSAM COM ANIMAÇÃO.

CLARICE E ESMERALDA CHEGAM COM UMA CAIXA CHEIA DE BISCOITOS
RECHEADOS.
CLARICE - Está pronto!
SÍLVIO LEVANTA E VAI ATÉ CLARICE. RECEBE A CAIXA E APROVEITA PARA

TOCAR DE LEVE SUAS MÃOS.
PANTALEÃO - Filhinha, sabe quem é este rapaz?

CLARICE - Não...
PANTALEÃO - Sílvio Lombardi! Filho do Doutor
Lombardi, nosso vizinho.
CLARICE ABRE UM LARGO SORRISO.
CLARICE - Puxa, mas eu... Nem sabia que Doutor

Lombardi tinha filhos...
SÍLVIO - Sou filho único. Morei durante toda a
minha vida em Londres e agora que me
formei, vim para o seio da família.
ELES CONTINUAM FALANDO, SEM ÁUDIO. SONOPLASTIA: Love story
CORTA PARA
CENA 12. SOLAR. EXT. DIA
OSÉIAS ENTRA, TRAZENDO VÁRIOS MANTIMENTOS. ARTHUR O VÊ CHEGAR E SE

APROXIMA, AJUDANDO O CRIADO.
ARTHUR - Sobrou alguma coisa?

OSÉIAS - Sobrou! Senhor Horácio deu um bom
dinheiro pela aliança. Achei que ele fosse
dar menos, porque me olhou com uma cara...
ARTHUR - Ótimo.
ELES COMEÇAM A GUARDAR OS MANTIMENTOS.
OSÉIAS - E o que vai fazer com o dinheiro que

sobrou?
ARTHUR - Não sei ainda... Talvez eu compre alguma
roupa nova para substituir esses trapos
que ando usando. Ou talvez eu faça um novo
investimento...
OSÉIAS - Se me permite uma opinião, por que não
ir morar em outro lugar?
ARTHUR - Já pensei nisso. Mas/
OSÉIAS - Não me diga que não sai desse mausoléu
achando que a qualquer momento as coisas
podem voltar a ser como eram!
ARTHUR - Não, não acredito em tais milagres. [T]
Já pensei em ir morar em outro lugar, mas
este solar é perfeito. É distante o
suficiente dos olhares alheios e combina
com a minha personalidade desgraçadamente
soturna.
ARTHUR SE ENCOSTA À PAREDE E SORRI MELANCOLICAMENTE PARA OSÉIAS.
CORTA PARA
CENA 13. TURIM. EXT. DIA
TAKES DAS RUAS DA CIDADE. SONOPLASTIA: King of the dogs.
CORTA PARA
CENA 14. HOTEL. RESTAURANTE. INT. DIA
A COMPANHIA DE TEATRO VENCIDOS DA VIDA ESTÁ REUNIDA EM TORNO DE

UMA GRANDE MESA. TODOS ALEGRES, CELEBRANDO.
ALICE - Acho que Matamouros quer dizer algumas

palavras ao grupo. Não é, querido?
MATAMOUROS - Eu só digo que estou muito cansado e
tenho muita vontade de me aposentar. Só
não o fiz porque não encontrei homem a
minha altura para seguir com o legado de
Matamouros e Os Vencidos da Vida.
LEONARDO - Não sei porque reclama tanto de falta de
homem tendo a mim no grupo.
MATAMOUROS - Meu caro Narciso, um homem a minha
altura há de ser desgraçadamente feio,
desgraçadamente azarado, desgraçadamente
triste, desgraçadamente miserável, ou tudo
isso junto; e mesmo sendo tão defeituoso,
ainda vai ter a fortuna de uma bela e fiel
companheira a seu lado. [abraça e beija
Alice] E você, meu caro, é muito bonitinho
e solitário para me substituir.
TODOS, À EXCEÇÃO DE LEONARDO, RIEM.
LEONARDO - E a princesa finalmente riu!

ISABELLE - Desculpe, Leonardo... Mas isso foi muito
engraçado.
LEONARDO - Não há por que pedir perdão por um
sorriso tão belo.
LEONARDO VAI FAZER UM CARINHO NO ROSTO DE ISABELLE, QUE SEGURA SUA

MÃO E A AFASTA. SARAH OLHA PARA A MOÇA COM DESDÉM.
SARAH - Fingida.
ALICE - Disse alguma coisa, Sarah?
SARAH - Eu? Não disse nada.
O GRUPO CONTINUA A CONVERSA.
CORTA PARA
CENA 15. CASA DE GUILHERME. SALA. INT. DIA
BEATRIZ ESTÁ COM ROUPA DE MONTARIA, OLHANDO PELA JANELA. GUILHERME

DESCE A ESCADA, VINDO DO QUARTO.
GUILHERME - Indo montar?

BEATRIZ - Já voltei, meu irmão. Você é que acordou
tarde demais.
GUILHERME - Pois é, foi o teatro. Foi uma comédia
excelente, você devia ter visto.
BEATRIZ - Fica para uma próxima vez.
GUILHERME - Beatriz, você acha que Clarice gosta de
teatro?
BEATRIZ - Ah, faz tantos anos que não nos
vemos!
GUILHERME - Bom, ela deve gostar, como uma moça bem
educada, refinada...
BEATRIZ - Por que a pergunta?
GUILHERME - Estive pensando em oferecer a ela uma
peça de teatro da companhia que vi ontem.
Uma sessão só para ela.
BEATRIZ - Para quê?
GUILHERME - Ora, Beatriz, para alegrá-la! E para
anunciar minha chegada também. Está
chegando o momento de nos casarmos.
BEATRIZ - Ah, é. Aquela sua ideia estúpida de
casar sem amor.
GUILHERME - E você ainda insiste nesse assunto!
BEATRIZ - Pensei que você fosse casar com Daniela.
GUILHERME - A conheci o suficiente para não querer
isso.
BEATRIZ - Achei que depois de tantos encontros,
você a amasse.
GUILHERME - Amor... Amor é uma besteira, Beatriz! Eu
devia ter te arranjado logo um noivo pra
ver se você parava de falar nisso.
BEATRIZ - Já disse a você que nem ouse fazer isso
comigo!
GUILHERME - Sou seu irmão mais velho, tenho
direitos.
BEATRIZ - E eu já tenho um noivo.
GUILHERME NÃO RESPONDE NADA, FICA APENAS OLHANDO PARA A IRMÃ,

ESPANTADO, POR ALGUNS INSTANTES.
GUILHERME - Que história de noivo é essa?

BEATRIZ - É, estou comprometida há um bom tempo e
já que você vai casar com Clarice muito em
breve, acho que chegou a hora de eu
anunciar meu compromisso.
GUILHERME - Quem é esse tal noivo?
BEATRIZ - Fernando Aretusi, natural de Verona,
caixeiro viajante.
GUILHERME - Caixeiro viajante? Beatriz, você está
bêbada?
BEATRIZ - Olha só quem pergunta...
GUILHERME - [colérico] Beatriz, me respeite! [tempo,
ele respira fundo e se acalma] Eu quero
saber tudo sobre esse rapaz. Ele está em
Turim?
BEATRIZ - Vai chegar amanhã.
GUILHERME - Diga a esse seu... noivo que amanhã,
depois do almoço, ele tem uma reunião com
Guilherme Rasponi.
BEATRIZ - E o que você vai dizer a ele?
GUILHERME - Calma, só quero conhecê-lo e saber quais
são as suas intenções com a minha única e
querida irmã, que eu não vou entregar de
mão beijada a um desconhecido.
BEATRIZ - Está bem, eu digo.
GUILHERME - Agora vou sair, resolver algumas coisas
para a viagem a Millshire.
GUILHERME SE DESPEDE DA IRMÃ COM UM BEIJO NA TESTA E SAI. ELA VAI

ATÉ A JANELA E OLHA O MOVIMENTO DA RUA, COM AR PREOCUPADO.
SONOPLASTIA: Ascendente em câncer.
BEATRIZ - Meu Deus... Eu não devia ter falado

daquele jeito. Pelo menos não agora...
Conhecendo Guilherme como eu conheço, algo
vai dar errado.
BEATRIZ CONTINUA OLHANDO A RUA, COM AR TRISTE.
CORTA PARA
CENA 16. TURIM. EXT. DIA
MAIS TAKES DO COMÉRCIO, DAS RUAS RESIDENCIAIS E DOS HABITANTES DA

CIDADE.
CORTA PARA
CENA 17. HOTEL. RESTAURANTE. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 14. O GRUPO DA COMPANHIA DE TEATRO JÁ ESTÁ

MEIO DISPERSO – SOBRARAM APENAS SIMONE, ALICE, ISABELLE E
MATAMOUROS. GUILHERME ENTRA NO RESTAURANTE E VAI SE APROXIMANDO DA
MESA DELES. SIMONE VÊ E SORRI.
SIMONE - Estou reconhecendo aquele senhor.

GUILHERME - Desculpe incomodá-los, mas gostaria de
trocar uma palavra com o senhor e as
senhoritas.
MATAMOUROS - Pois não... Sente-se.
GUILHERME - Eu sou Guilherme Rasponi e estive na
apresentação de sua companhia ontem. Meus
parabéns a todos.
SIMONE SE INCLINA PARA GUILHERME, OFERECIDA.
SIMONE - Obrigada!
ALICE DÁ UM LEVE APERTO NO BRAÇO DE SIMONE.

ALICE - [baixinho] Se endireite, menina!
GUILHERME - Gostaria de saber dos senhores se seria
possível haver uma apresentação especial
daquela mesma peça; ou de outra a sua
escolha. Gostaria de presentear minha
noiva com ela.
SIMONE, ATÉ ENTÃO SORRIDENTE, FICA SÉRIA.
GUILHERME - Caso aceitem, terão de viajar a

Millshire, que é onde minha noiva Clarice
vive.
ISABELLE REAGE ARREGALANDO OS OLHOS, MAS NENHUM DOS PRESENTES À

CENA PERCEBE.
ALICE - Seria uma viagem longa, dispendiosa...

GUILHERME - Quanto a isto, não há problema. Eu vou
pagar todas as despesas que vocês possam
ter com essa viagem. E vou mandar meu
criado, Pascoal, com vocês. Aceitam?
ALICE E MATAMOUROS SE ENTREOLHAM, DEPOIS OLHAM PARA SIMONE E

ISABELLE, QUE NÃO ESBOÇAM REAÇÃO ALGUMA.
MATAMOUROS - Negócio fechado.
MATAMOUROS E GUILHERME TROCAM UM CALOROSO APERTO DE MÃO.
CORTA PARA
CENA 18. HOTEL. QUARTO. INT. DIA
ISABELLE E SIMONE ENTRAM NO QUARTO. SENTAM EM SUAS CAMAS E

CONVERSAM.
SIMONE - Tão belo... E já tem noiva! Por que não

tenho sorte?
ISABELLE - Não existe sorte, minha amiga. Existe
saber escolher.
SIMONE - Por que eu não sei escolher, então?
ISABELLE LEVANTA DA CAMA E VAI ATÉ A JANELA.
ISABELLE - Não consigo parar de pensar em mamãe

desde aquele convite do senhor Rasponi.
SIMONE - Foi lá em Millshire que você nasceu, não
é?
ISABELLE - Foi sim. Mas eu não lembro de nada, de
como era a cidade. É como se não
existisse nada além de estrada.
SIMONE - Será que você tem algum parente lá?
ISABELLE - Não lembro de mamãe falar de ninguém.
[T] Só lembro do meu pai, mas nem dele ela
falava. Mas com ou sem família, eu sinto
que essa viagem vai ser muito importante.
SIMONE - Tomara! E que eu encontre o meu príncipe
lá. Um lord inglês lindo, com os olhos da
cor do céu...
SIMONE CONTINUA FALANDO, TRANSMITINDO MUITA EMPOLGAÇÃO NO OLHAR.

ISABELLE SORRI. SONOPLASTIA: Meu homem.
CORTA PARA
CENA 18. HOTEL. QUARTO DE DANIELA. INT. DIA
DANIELA ESTÁ DEITADA NA CAMA, LENDO UM LIVRO. GUILHERME ENTRA NO

QUARTO SEM QUE ELA VEJA, E SENTA AO LADO DA CAMA.
GUILHERME - Olá!
ELA LARGA O LIVRO QUE ESTAVA LENDO, SORRI E SE LANÇA NOS BRAÇOS
DELE. BEIJAM-SE.
DANIELA - Não sabia que você tinha a chave do meu

quarto.
GUILHERME - E eu não tinha. [T] Mas nada que alguns
ducados não resolvam.
DANIELA - Muito bom você ter aparecido agora,
porque eu precisava mesmo falar...
GUILHERME - Sobre?
DANIELA - Como eu tinha dito logo que nos
conhecemos... Sou uma mulher separada, e
tenho filhos que estão em outro país, com
minha mãe e o meu... Irmão. Eles são muito
pequenos e minha mãe está muito velha,
pode morrer a qualquer momento.
GUILHERME - Já entendi. Você quer que eu lhe dê
dinheiro para ir buscar seus filhos; farei
isso com o maior prazer.
DANIELA - Não é só isso. [T] Meu... Quer dizer,
bem, nunca me deixariam criar meus filhos
sem estar devidamente casada. Você sabe
como é essa sociedade. Então eu pensei,
como temos um relacionamento que
poderíamos chamar de marital/
GUILHERME - Não vou me casar com você.
DANIELA FICA MUDA POR UM INSTANTE. OLHA PARA GUILHERME, COMO SE

NÃO ENTENDESSE O QUE ELE ACABA DE DIZER.
DANIELA - Não vai?
GUILHERME - Não. E não sei de onde você tirou essa
história de 'relacionamento marital'.
DANIELA - [rude] Tirei essa historinha das noites
que você passou longe de sua casa, nesta
caminha aqui. [bate no colchão]
GUILHERME - [rindo] Já vi que você é igualzinha à
minha irmã! Escuta, Daniela, eu estou
ligado a você como estou ligado a todas as
mulheres de taverna com quem me deitei,
entendeu? A diferença é que em vez do meu
dinheiro, você tem minha mais profunda
amizade e consideração.
DANIELA - Tá bom... Você usa meu corpo com a mais
profunda “amizade e consideração” e quando
eu preciso de um marido, você me dá as
costas!
GUILHERME SE APROXIMA DE DANIELA, TOCA SEU ROSTO COM TERNURA.
GUILHERME - Entenda/
DANIELA - Sai de perto de mim!
GUILHERME - Escute, você é uma mulher bonita, muito
bonita. É culta, a esposa ideal para
qualquer homem. Desde que esse homem não
tenha uma noiva, como é meu caso. [T] É um
compromisso de muitos anos e eu não posso
desmanchar por um caso de meses.
DANIELA - [chorosa] Isso é a amizade e
consideração de um homem?
GUILHERME - Você já foi casada mais de uma vez, por
que ainda se apega a essas besteiras
românticas?
DANIELA - Acredite, não é por eu ser mulher. [T]
Mas eu vi o amor de perto e ainda acredito
nele.
DANIELA SENTA NA CAMA. TENTA SEGURAR O CHORO. GUILHERME SENTA AO

LADO DELA.
GUILHERME - Eu gosto muito de você.

DANIELA - [voz embargada] Eu sei. Tanto quanto o
primeiro homem que se deitou comigo e
depois me jogou nos braços de outro.
GUILHERME - Bem... Eu tinha vindo para me despedir.
Estou indo para Millshire em alguns dias.
DANIELA - [sem olhar para ele] Está certo. Adeus.
GUILHERME SE LEVANTA DA CAMA E AJOELHA DIANTE DE DANIELA. TOMA

SUAS MÃOS E A BEIJA DUAS VEZES. DEPOIS PUXA A CABEÇA DELA CONTRA
SI E BEIJA SEUS LÁBIOS. SONOPLASTIA: Medo de amar.
GUILHERME - Se você viu mesmo o amor e foi feliz com

ele, espero que o veja de novo. Boa sorte.
ELE SE ERGUE DO CHÃO E SAI DO QUARTO. SOZINHA, DANIELA LEVANTA E

VAI ATÉ A PENTEADEIRA. PEGA UM VIDRO DE PERFUME E O ARREMESSA
CONTRA O ESPELHO. OLHA FIXAMENTE PARA SEU ROSTO REFLETIDO NOS
CACOS E COMEÇA A CHORAR.
CORTA PARA
CENA 19. CONFEITARIA. INT. DIA
PASCOAL ENTRA NO LOCAL, OLHANDO PARA OS LADOS, MEIO DESCONFIADO.

SENTA-SE À UMA MESA PERTO DA SAÍDA. ESPERA. FERNANDO CHEGA E SENTA
NA MESMA MESA.
FERNANDO - Carta da Beatriz?
PASCOAL - Não. É coisa pior.
FERNANDO OLHA PARA PASCOAL, ASSUSTADO.
FERNANDO - O que aconteceu com ela?

PASCOAL - Com ela nada. Mas o senhor Guilherme
quer conversar com o senhor.
FERNANDO - O que eu temia... Como foi que ele
descobriu?
PASCOAL – Isso eu não sei.
FERNANDO - Ele vai querer arrancar a minha pele!
PASCOAL - Ou não. Como o senhor Guilherme vai se
casar...
FERNANDO - Quer dizer que ele está noivo.
PASCOAL - É.
FERNANDO - Então não é tão mal quanto eu imaginei.
Estando noivo, ele deve estar procurando
um marido para Beatriz e ela contou do
nosso romance para não casar com outro.
PASCOAL - Foi mais ou menos assim que eu entendi,
mas/
FERNANDO - [interrompe Pascoal] Obrigado por
avisar, Pascoal. Tome isso aqui pra você e
diga a Beatriz e Guilherme que estarei lá.
FERNANDO DÁ UM PEQUENO SACO CHEIO DE MOEDAS A PASCOAL E SAI.

PASCOAL VAI ATRÁS, TENTA ALCANÇÁ-LO.
PASCOAL - Espera aí, tem mais!
MAS PASCOAL NÃO ALCANÇA FERNANDO. PÁRA NA PORTA DA CONFEITARIA E

COMEÇA A CONTAR AS MOEDAS NO SACO.
PASCOAL - Com mil diabinhos, esses apaixonados
parece que vivem correndo e não querem
ouvir ninguém! Se ele não quer saber, tudo
bem. Eu vou comprar um doce e voltar pra
casa.
ELE VOLTA A ENTRAR NA CONFEITARIA. SONOPLASTIA: Ascendente em

câncer.
CORTA PARA
CENA 20. TURIM. EXT. DIA/NOITE/DIA
TAKES DA CIDADE À DURANTE O DIA. ANOITECE. TORNA A AMANHECER.
CORTA PARA
CENA 21. TURIM. HOTEL. QUARTO DE FERNANDO. INT. DIA
FERNANDO ABRE SEU BAÚ E TIRA DELE ALGUMAS PEÇAS DE ROUPA, QUE
COLOCA NA CAMA. FECHA O BAÚ, OLHA TODAS AS PEÇAS DISPOSTAS SOBRE O
MÓVEL COM CERTO DESAPONTAMENTO.
FERNANDO - Não posso chegar até Guilherme Rasponi e

pedir a mão de Beatriz usando essas
roupas. Estão mais velhas que a fome...
ELE ABRE OUTRA VEZ O BAÚ E TIRA MAIS ALGUMAS ROUPAS. TODAS NO
MESMO ESTADO – MEIO VELHAS, BUFENTAS, ESTRAGADAS. DEMORA-SE UM
INTANTE OLHANDO PARA ELAS, APANHA UMA CAMISA E DEPOIS ELA A LANÇA
SOBRE A CAMA OUTRA VEZ, COM RAIVA.
FERNANDO - E por que eu estou tão preocupado com

esse homem? Beatriz me ama desse jeito e é
minha mulher, não vai ter irmão que
impeça.
FERNANDO PEGA UMA CALÇA, UMA CAMISA E UM COLETE E SEPARA DO RESTO

DAS PEÇAS. EM SEGUIDA, JOGA TODAS AS OUTRAS DENTRO DO BAÚ.
CORTA PARA
CENA 22. CASA DE GUILHERME. QUARTO DE BEATRIZ. INT. DIA
BEATRIZ ESTÁ SENTADA À SUA PENTEADEIRA. ARRUMA-SE DIANTE DO

ESPELHO, MAS TEM UMA EXPRESSÃO PREOCUPADA NO ROSTO. PASCOAL
APARECE À PORTA E DÁ TRÊS BATIDINHAS.
BEATRIZ - Pode entrar.
PASCOAL DÁ ALGUNS PASSOS PARA DENTRO DO CÔMODO, MAS AINDA MANTÉM

CERTA DISTÂNCIA DA PATROA.
PASCOAL - Só vim avisar que estou de saída, dona

Beatriz.
BEATRIZ - De saída? Mas... De saída para onde?
PASCOAL - Millshire. Cumprir ordens do senhor
Guilherme.
BEATRIZ - Logo agora que eu estava precisando...
GUILHERME - [V.O.] Pascoal! Está atrasado!
PASCOAL - Tenho que ir, senão ele me péla.
PASCOAL VAI SAINDO. BEATRIZ SE PRECIPITA E SEGURA O BRAÇO DO

CRIADO.
BEATRIZ - Espere! Se puder, me faça só mais um

favor. [T] Tente encontrar Fernando e diga
para ele que tome muito cuidado. Diga que
sonhei com ele esta noite e o sonho não
era nada bom.
PASCOAL - Vou dizer. [T] Vou tentar.
BEATRIZ - E faça boa viagem, Pascoal. Espero vê-lo
de novo em breve.
PASCOAL - Obrigado, dona Beatriz.
ELES SE ABRAÇAM.
GUILHERME - [V.O] Pascoal!
PASCOAL SE SOLTA DO ABRAÇO.
PASCOAL - Agora preciso ir mesmo. Até breve, Dona

Beatriz!
PASCOAL SAI DO QUARTO. BEATRIZ ACENA UM ADEUS PARA ELE COM A MÃO.
CORTA PARA
CENA 23. TURIM. RUA. EXT. DIA
TAKE DA FACHADA DO HOTEL. UM CARRO PARA NA FRENTE DO PRÉDIO.

SONOPLASTIA: King of the dogs.
CORTA PARA
CENA 24. HOTEL. RECEPÇÃO. INT. DIA
TODOS OS INTEGRANTES DA COMPANHIA ESTÃO SAINDO E INDO AO CARRO QUE

ACABA DE ESTACIONAR. PASCOAL E GUILHERME ESTÃO ENTRE ELES.
GUILHERME - Este aqui é Pascoal, meu criado. Ele vai

acompanhar vocês e me representar.
MATAMOUROS - Prazer em conhecê-lo, senhor Pascoal.
PASCOAL - [faz uma referência] Um seu criado.
MATAMOUROS - Tá bom, mas sem esses salamaleques.
Vamos subir?
PASCOAL AJUDA MATAMOUROS E LEONARDO A CARREGAR O RESTO DA BAGAGEM,

ENQUANTO AS MULHERES JÁ SE ACOMODAM DENTRO DO CARRO. SIMONE AINDA
LANÇA UM OLHAR LASCIVO NA DIREÇÃO DE GUILHERME, QUE NÃO PRESTA
ATENÇÃO. SARAH A CUTUCA.
SARAH - E depois sou eu a rameira.

SIMONE - Ah, obrigada por me lembrar que estou
fazendo o seu papel.
SARAH ABRE A BOCA PARA COMEÇAR A DISCUSSÃO, MAS ALICE OLHA PARA AS
DUAS COM AR REPREENSIVO E ELAS PARAM. O CARRO VAI SAINDO.
DA RUA, GUILHERME VÊ O CARRO SE AFASTAR E ACENA.
GUILHERME - Pronto. Agora que o presente de Clarice

já está a caminho, é hora de cuidar desse
tal caixeiro viajante que anda se metendo
com minha irmã. Vamos ver...
EM GUILHERME, SÉRIO.
[Fim do capítulo]

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1 O Capitão Fracasso | Capítulo 2

WEBTV Destino apresenta

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA FINAL DO CAPÍTULO ANTERIOR. ARTHUR

ARTHUR - Eu não tenho tanta fé que um dia as

ARTHUR - Você tem razão. Afinal, o pior que pode

ELES CONTINUAM CAMINHANDO ATÉ CHEGAR À PORTA DO SOLAR, CUJOS

ARTHUR - Oséias, me faça um favor. [T] Amanhã bem

OSÉIAS PEGA A ALIANÇA E GUARDA EM SEU BOLSO, INDO EMBORA EM

CENA 02. SOLAR WHITFORD. SALÃO. INT. NOITE

ARTHUR - Ele está certo, eu devia olhar para a

ELE PÁRA AO PÉ DA ESCADA E TOCA O CORRIMÃO DE MADEIRA PARCIALMENTE

ARTHUR - Eu devia deixar de existir de vez, não

ELE CONTINUA ANDANDO EM VOLTAS PELO SALÃO.

CENA 03. ESTRADA. EXT. NOITE

OSÉIAS ESTÁ SE DIRIGINDO PARA A CIDADE. PÁRA NO MEIO DO CAMINHO E

CENA 04. SOLAR WHITFORD. SALÃO. INT. NOITE

ARTHUR AGORA ESTÁ DEITADO EM UM SOFÁ, OLHANDO PARA O TETO. SEUS

OSÉIAS - Vai dormir aí?

ARTHUR SE LEVANTA, ENXUGANDO AS LÁGRIMAS QUE AINDA NÃO CAÍRAM.

ARTHUR - E você não ia ver sua namorada?

ARTHUR SOBE A ESCADA. OS DEGRAUS FAZEM UM BARULHO AGONIANTE QUANDO

OSÉIAS - Deus proteja meu amigo dos maus

CENA 05. MILLSHIRE. EXT. NOITE/DIA

TAKES DE VÁRIOS LOCAIS DA CIDADE DURANTE A MADRUGADA E AO

CENA 06. ALBERGUE. RECEPÇÃO. INT. DIA

HORÁCIO LÊ O JORNAL. OSÉIAS ENTRA E SE ENCOSTA NO BALCÃO. HORÁCIO

OSÉIAS - Senhor Horácio... Senhor Horácio!

HORÁCIO LARGA O JORNAL POR UM INSTANTE.

HORÁCIO - Bom dia pra você também, Oséias. O que

OSÉIAS TIRA DO BOLSO DO CASACO A ALIANÇA DE ARTHUR. HORÁCIO PEGA A

HORÁCIO - Nunca pensei que Arthur fosse se

HORÁCIO SAI COM A ALIANÇA.

CENA 07. MILLSHIRE. EXT. DIA

TAKE DA FACHADA DA FÁBRICA DE CHOCOLATES LEÃO. Sonoplastia: Na

CENA 08. FÁBRICA LEÃO. COZINHA. INT. DIA

CLARICE E ESMERALDA PREPARAM DOCES. ESMERALDA OLHA PELA JANELA

ESMERALDA - Eu sinto tanta pena...

ELAS CONTINUAM CONVERSANDO, SEM ÁUDIO.

CENA 09. ESTRADA. EXT. DIA

IMEDIAÇÕES DA FÁBRICA. UM CARRO VAI PASSANDO NA FRENTE DA FÁBRICA

SÍLVIO - Chocolate! Isso me deu fome.

OLHANDO EM VOLTA, ELE VÊ A PLACA DA FÁBRICA DE CHOCOLATES E A

CENA 10. FÁBRICA LEÃO. COZINHA. INT. DIA

CLARICE - Esmeralda, a porta está fechada?

SÍLVIO - Calma, senhoras...

ELE PÁRA DE FALAR E SORRI PARA CLARICE.

SÍLVIO - Não. Mas o cheiro que vinha daqui era

SÍLVIO SE APROXIMA DE CLARICE E TOCA DELICADAMENTE SEU ROSTO,

SÍLVIO - Foi você quem fez?

SÍLVIO BEIJA A MÃO DE CLARICE, SEM TIRAR OS OLHOS DO COLO DELA,

CLARICE - E esta é Esmeralda.

ESMERALDA FAZ UMA MESURA PARA SÍLVIO.

ESMERALDA - Uma sua criada. E dela também.

SÍLVIO TAMBÉM BEIJA A MÃO DE ESMERALDA.

SÍLVIO - Mas voltando ao doce, posso levar um

SÍLVIO PARECE NÃO PRESTAR ATENÇÃO À PERGUNTA, POIS ALTERNA SEUS

CLARICE - Pode ficar. Mas não aqui.

SÍLVIO VAI SAINDO, OLHANDO CONSTANTEMENTE PARA TRÁS E SORRI,

ESMERALDA – Que silêncio!

CLARICE NÃO RESPONDE.

ESMERALDA - Bonitinho o rapaz.

CLARICE, ESPANTADA, PÁRA DE FALAR. ELA E ESMERALDA SE VIRAM E VEEM

CLARICE - Como está, papai?