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Terceira Igreja Batista do Plano Piloto // EBD: Visão certa, mundo incerto // 20 setembro 2009 1

Visão certa, mundo incerto


Aula 05: A responsabilidade cristã: Trabalho e Ecologia

“Deus está interessado na criação. Ele não a menospreza. Não há nenhuma razão, por
menor que seja, e isso é absolutamente falso em termos bíblicos, para que o cristão tenha
uma visão platônica sobre a natureza. O que Deus fez, eu, que também sou uma criatura,
não devo menosprezar.” (Francis Schaeffer)

A citação acima cita um termo interessante - platônico. O que o autor quis dizer é que muitos crentes carregam uma
visão não-bíblica da Criação. Isto é, eles imaginam que as coisas criadas por Deus são meramente espaços descartáveis,
que o Criador rejeita por não serem “espirituais” e que serão destruídas no fim dos tempos.

No entanto, isso não é o que a Bíblia ensina sobre as coisas criadas. Como vimos em aulas anteriores, mesmo com
a Queda do homem, a criação é boa e agradável a Deus. Além disso, o chamado do Senhor a Adão e Eva para que
dominassem a terra (mandato cultural) continua em vigor. Esses conceitos nos serão úteis para estruturarmos uma
perspectiva cristã da ecologia e do trabalho.

Novos céus e nova terra


Existe uma idéia comum na igreja de que após o retorno de Cristo o mundo será destruído e os crentes passarão a viver numa
realidade imaterial, que não tem qualquer ligação com a terra em que vivemos. Porém, se observarmos bem o que a Bíblia
nos ensina a respeito dos corpos ressuscitados e dos últimos tempos, veremos que ela propõe algo totalmente diferente.

“Vejam as minhas mãos e os meus pés. Sou eu mesmo! Toquem-me e vejam; um


espírito não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho”. Tendo dito
[ Lucas 24.39-43 ] isso, mostrou-lhes as mãos e os pés. E por não crerem ainda, tão cheios estavam
de alegria e de espanto, ele lhes perguntou: “Vocês têm aqui algo para comer?”
Deram-lhe um pedaço de peixe assado, e ele o comeu na presença deles.

A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus


sejam revelados. Pois ela foi submetida à inutilidade, não pela sua própria
[ Romanos 8.19-23 ] escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que
a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que
se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.

Então vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham
[ Apocalipse 21.1,2 ] passado; e o mar já não existia. Vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia dos
céus, da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu marido.
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Vemos, portanto, que Deus tem o desejo de restaurar sua Criação. Ela não é algo descartável ou simplesmente um objeto
para a salvação dos homens. Pelo contrário, através da salvação trazida por Jesus, a própria Criação será redimida. Jesus
cumpre aquilo que Adão e Eva não foram capazes, e isto inclui a remoção da maldição que caiu sobre o mundo.

Por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto
[ Colossenses 1.20 ] as que estão nos céus, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz.

Reinando sobre a Criação


O simples fato de Deus reconhecer sua Criação como algo bom e importante já nos deve motivar a cuidar do mundo. Ao
contrário do pensamento ecologista que vemos na mídia, não temos apenas razões pragmáticas para cuidar da natureza.
Muitas vezes as campanhas de ecologia usam o argumento de “que terra deixaremos para nossos filhos?”, mas para o cristão
a base do cuidado com a Terra se encontra na ordem que Deus dá a Adão e Eva.

Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa


semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre
[ Gênesis 1.26 ] os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se
movem rente ao chão”.

A idéia de domínio não implica em abuso, mas em serviço. Da mesma maneira que um marido amoroso tem autoridade


sobre sua esposa, mas não a oprime, o ser humano deve desfrutar da Criação, porém sem o direito de abusar dela.

Nós devemos amar nosso próximo como a nós mesmos. Nós temos direito a ter prazer também.
Mas o de que não temos direito é esquecer que a mulher é uma pessoa, não um animal, ou uma
planta, ou uma máquina. Nós temos o direito de ter nosso prazer em uma relação sexual, mas


não temos nenhum direito absolutamente de explorar um parceiro (ou parceira) como um objeto
sexual. (Francis Schaeffer)

Essa é a base da ecologia segundo a Bíblia – cuidar, proteger, desfrutar e servir. Com base no relato de Gênesis, o escritor
Alister McGrath nos apresentam quatro princípios ecológicos na narrativa da Criação.

Quatro princípios ecológicos


1. O princípio da conservação da terra: Assim como o Criador cuida da humanidade e
a mantém, a humanidade, por sua vez, deve cuidar da Criação do Criador e mantê-la;

2. O princípio frutífero: A fecundidade da Criação deve ser aproveitada e não


destruída;

3. O princípio da realização e dos limites: A humanidade precisa conhecer seus


limites na relação com a Criação e respeitá-los;

4. O princípio do sábado: Deve-se permitir que a Criação goze de períodos de


recuperação em relação ao uso humano de seus recursos.
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Vemos, portanto, que temos responsabilidade com a Criação. Vivemos numa sociedade de alto consumo de bens e
produtos, e muitas vezes não pensamos em como gastamos os recursos da natureza. O princípio do sábado nos mostra
que tanto a Criação quanto o homem devem dar uma pausa, a fim de que o mundo não seja sobrecarregado apenas para
satisfazer os desejos da humanidade.

Então a terra desfrutará os seus anos sabáticos enquanto estiver desolada e


[ Levítico 26.34 ] enquanto vocês estiverem na terra dos seus inimigos; e a terra descansará e
desfrutará os seus sábados.

Trabalhando para Deus


Existe uma idéia difundida no meio cristão de que o trabalho surge apenas em Gênesis 3, como parte da maldição de
Deus a Adão e Eva. No entanto, o homem recebeu a ordem divina de cuidar da Terra antes do pecado. Isso significa
que já era vocação do ser humano trabalhar antes de sua Queda.

O SENHOR Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e


[ Gênesis 2.15 ] cultivá-lo.

Além disso, existe também o costume, herdado da Igreja Católica, de menosprezar aqueles trabalhos que não são
nitidamente religiosos. No entanto, como vimos no texto, o próprio Senhor é o responsável por nos chamar à atividade
“não-religiosa” de dominar o mundo. Não devemos menosprezar os dias úteis em detrimento do domingo, como se a
obra na igreja fosse a única que agradasse a Deus.

“ Veja, se você é um sacerdote – não apenas no domingo, mas toda a semana, e não apenas na


igreja, mas no trabalho e em casa – o que você faz durante a semana não é um emprego, mas um
chamado. (Michael Horton)

Existe, sim, um elemento de sofrimento no trabalho, mas ele surge após o pecado (Gn 3.17-19), o que significa que
um emprego em uma padaria ou no MPU não é um mal em si mesmo. Podemos até pecar ou sofrer nesse serviço, mas
a idéia de trabalho surge com o Criador e deve ser levada a sério.

A Bíblia nos propõe uma ética do trabalho que é baseada no serviço a Cristo. Veja o que Paulo diz a respeito de servos
e senhores.

Escravos, obedeçam em tudo a seus senhores terrenos, não somente para agradá-
los quando eles estão observando, mas com sinceridade de coração, pelo fato de
[ Colossenses 3.22-24 ] vocês temerem o Senhor. Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para
o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa
da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo.

[ Efésios 4.28 ] O que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo algo de útil com as mãos,
para que tenha o que repartir com quem estiver em necessidade.
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Todos os que estão sob o jugo da escravidão devem considerar seus senhores como
dignos de todo o respeito, para que o nome de Deus e o nosso ensino não sejam
[ 1 Timóteo 6.1,2 ] blasfemados. Os que têm senhores crentes não devem ter por eles menos respeito,
pelo fato de serem irmãos; ao contrário, devem servi-los ainda melhor, porque os
que se beneficiam do seu serviço são fiéis e amados.

Irmãos, em nome do nosso Senhor Jesus Cristo nós lhes ordenamos que se
afastem de todo irmão que vive ociosamente e não conforme a tradição que vocês
receberam de nós. Pois vocês mesmos sabem como devem seguir o nosso exemplo,
porque não vivemos ociosamente quando estivemos entre vocês, nem comemos
coisa alguma à custa de ninguém. Ao contrário, trabalhamos arduamente e
com fadiga, dia e noite, para não sermos pesados a nenhum de vocês, não por
[ 2 Tessalonicenses 3.6-12 ] que não tivéssemos tal direito, mas para que nos tornássemos um modelo para
ser imitado por vocês. Quando ainda estávamos com vocês, nós lhes ordenamos
isto: Se alguém não quiser trabalhar, também não coma. Pois ouvimos que
alguns de vocês estão ociosos; não trabalham, mas andam se intrometendo na
vida alheia. A tais pessoas ordenamos e exortamos no Senhor Jesus Cristo que
trabalhem tranqüilamente e comam o seu próprio pão

A Bíblia proíbe expressamente que o cristão seja preguiçoso ou descuidado em seu emprego. Além de ser desobediência
ao mandato cultural, o mau trabalhador desonra o nome de Cristo, vive às custas dos outros e é incapaz de ajudar o
necessitado.

O princípio do sábado
A idéia do sábado é o conceito que liga a visão cristã de ecologia e de trabalho. Deus reservou o sábado para descanso da
natureza e também do homem. O crente que menospreza o dia de descanso cai no extremo oposto ao do crente ocioso e
relapso, pois coloca seu sustento acima do cuidado com a Criação e do relacionamento com Deus. Vemos, por exemplo,
em Êxodo que esta é uma atitude que demonstra ganância ou falta de confiança na providência divina.

“Durante seis dias vocês podem recolhê-lo, mas, no sétimo dia, o sábado, nada
acharão.” Apesar disso, alguns deles saíram no sétimo dia para recolhê-lo, mas
não encontraram nada. Então o SENHOR disse a Moisés: “Até quando vocês
[ Êxodo 16.26-30 ] se recusarão a obedecer aos meus mandamentos e às minhas instruções? Vejam
que o SENHOR lhes deu o sábado; e por isso, no sexto dia, ele lhes dá pão para
dois dias. No sétimo dia, fiquem todos onde estiverem; ninguém deve sair”.
Então o povo descansou no sétimo dia.

Ainda que os cristãos não devam seguir o mandamento do dia de descanso de maneira legalista como faziam os fariseus e
algumas seitas fazem hoje, vemos que muitas vezes os crentes menosprezam a ordem para consagrar esse dia somente ao
Senhor. Somos levados a usar o domingo para resolver pendências pessoais ou apenas se entreter, ignorando as reuniões
do povo de Deus e nosso relacionamento com ele.

O descanso de Deus no sétimo dia, relatado em Gênesis, tem a ver com a contemplação do Criador com a coisa criada e
essa contemplação é mútua, pois também o homem deve contemplar o Criador. Por trás do sábado não está simplesmente
uma lei sobre um dia da semana, mas está o princípio de que a Criação deve se relacionar especialmente o Criador.
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Ecologia Bíblica por Timóteo Carriker


Leitura complementar

Apesar de mudanças significantes no cenário político mundial, as ameaças à sobrevivência do planeta Terra ainda são
múltiplas e assustadoras – a falta de estabilidade política nos países da Europa Oriental e na Comunidade de Estados
Independentes (a ex-União Soviética); a indefinição sobre o controle e maior desenvolvimento de armas nucleares; a
poluição industrial da terra, da atmosfera e das águas; o crescimento demográfico explosivo; a desertificação; e a perda
de solo, florestas e minerais – não eram ameaças no período bíblico. Não há nenhuma referência bíblica específica e
direta dessas questões. Entretanto, a Bíblia nos oferece perspectivas, atitudes e valores que não são passageiros e que
dizem respeito à relação entre a humanidade e todo o mundo criado. Mais especificamente, nos oferecem uma base
para avaliar a retórica ecológica dos meios de comunicação cada vez mais destacáveis devido a Rio-92. Desta forma é
possível desenvolver uma perspectiva bíblica do meio-ambiente e do ser humano dentro deste contexto, em todas as suas
dimensões – a sua relação e dependência da criação; e sua relação e dependência de Deus.

Bom ou mau? Uma postura positiva

Quando a Bíblia trata da relação entre os três atores do cenário mencionado acima – Deus, o ser humano, e a criação
– pinta um quadro inicial, última e essencialmente positivo. Quanto ao ser humano, cabe-lhe uma atitude de profunda
gratidão pela criação. “Pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graça, nada é recusável, porque pela palavra de
Deus, e pela oração, é santificado”(1 Tm 4.4-5). Isso não significa que o pecado não atingiu o mundo e que o jeito que o
encontramos é imexível. O romanticismo do século 17 via o mundo dessa forma e, embora amplamente rejeitado pela
comunidade científica, ainda surte grande influência nos meios populares de comunicação. A perspectiva bíblica não vê o
mundo nem como mau, nem como bom, mas como essencialmente bom. Significa que toda a criação de Deus, apesar de
haver sofrido as conseqüências do pecado, é redimível, e portanto é motivo de gratidão humana a Deus. Isso nos leva a
um segundo ator no cenário – Deus. Se a relação do ser humano com a criação é de gratidão, a relação de Deus para com
ela é de profunda satisfação. Ao criar os componentes fundamentais do planeta, Deus viu isso como bom (Gn 1.12, 21,
25). No final, observou tudo que havia feito e viu que era, de fato, muito bom (Gn 1.31). Tal qualidade, essencialmente
benéfica da criação, fornece uma base para a proclamação da soberania de Deus por todo o mundo, inclusive para todos
os povos. Nada do mundo e nenhum povo é “mau” segundo o intento original de Deus, como se não merecessem nada ou
merecessem menos a sua plena realização pelo evangelho. A tarefa missionária implica em reivindicar como “bom”, pela
graça de Deus, todo aspecto da criação e todos os povos deste mundo, todo neste mundo que Deus criou e que o pecado
manchou, isto é, tudo. Finalmente, o terceiro ator neste drama – a própria criação – também tem um papel positivo. Ela
se alegra e canta louvores àquele que a criou (Sl 65.9-13; 144.12-15; 145.15-16). Essa é a sua verdadeira sorte, mesmo
que aguarde a sua redenção com angústias e gemidos (Rm 8.22-23).

Dependência ou independência? A interligação

A Bíblia registra vários relatos sobre a criação. Cada um com seu devido enfoque. Além dos relatos de Gênesis 1 e 2, há
relatos de outros lugares nos Salmos, em Isaías, João, Efésios e Colossenses. Em Gênesis 1, por exemplo, o homem se
encontra como o ápice da criação, enquanto Gênesis 2 ele é o seu centro. Em ambos, ocupa uma posição de destaque.
Qual é, exatamente, a relação entre o ser humano, a criação e Deus na Bíblia? Em primeiro lugar, a criação toda, inclusive
a humanidade, encontra seu propósito em dar glória a Deus. Deus expressa a sua soberania sobre a criação através de
dois atos: o ato de criar e o ato de designar o lugar (função) e o nome (propósito) de cada elemento. Por exemplo, em
Gênesis 1.10, à porção seca chamou Deus “Terra”, e ao ajuntamento das águas, “Mares”. Tal observação sustena a posição
dos ecologistas e de boa parte da comunidade científica de que não há elementos fortuitos e dispensáveis no planeta. Por
conseqüência, a fim de melhor administrar a criação, a humanidade precisa entender o devido propósito das suas partes.
É por isso que, do ponto de vista cristão, existem a pesquisa e a universidade. Porém, a criação não deve ser divinizada.
Contra aqueles que acriticamente glorificam a criação, os panteístas funcionais de hoje, afirmamos que ela é distinta de
Deus. Não é Deus. Deus a vê (Gn 1.4, 10, 12, 18, 21 e 25) e declara simplesmente “isso é bom”. O “bom” no hebraico
denota mais um sentido ético. Inclui também uma conotação estética, a idéia de beleza, adorno e alegria ( Jó 38.4-9; Sl
148.3-14). O caráter material e orgânico da criação não é barreira à glória de Deus. Pelo contrário, é um veículo necessário
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para a expressão de tal glória. O mundo não foi criado apenas por causa do ser humano, mas também porque Deus se
alegra nele e cuida de todas as suas criaturas. Toda criatura serve e glorifica a Deus, até mesmo a vida não-humana (Sl
19.1-5; Is 40.22-31). Deus se alegra e cuida da criação “independentemente” da sua importância para os seres humanos
( Jó 38.33-41; Sl 104.10ss)! Uma preocupação pelo meio-ambiente por causa do bem-estar futuro da humanidade não é a
razão suficiente, e sim, aquém da perspectiva bíblica que procura na ecologia não apenas a sobrevivência da humanidade,
mas o louvor e a glória devidos a Deus. O mundo pertence “apenas” a Deus. Nenhuma substância material poderá existir
independentemente da vontade criativa de Deus. Segundo a Bíblia, o mundo pertence a Deus, não à humanidade que cria
os elementos básicos da natureza. Quando o homem molda o mundo para satisfazer os seus próprios interesses, e não os
interesses de Deus para a criação toda (não só o ser humano), então o mundo se deprecia!

Em segundo lugar, o ser humano faz parte da criação e é dependente dela. O ser humano vive dentro de um contexto de
interdependência com a criação. Desde o início, nossa sorte está ligada ao solo, e por sua vez, a sorte do solo está ligada a
nós. Podemos provocar a melhor ou a pior sorte. Embora Deus coloque o homem no Jardim para cultivá-lo (Gn 2.15),
ele promete um amplo galardão. Toda planta comestível lhe é dada (1.29-30; 2.16). Aqui reparamos o tema bíblico da
abundância da provisão de Deus. Não havia falta (2.8-9). Bastava o homem cultivar e guardar. Nascemos do solo e dele
recebemos o nosso sustento. Pertencemos a este mundo (a criação) por completo. O mundo fornece a base da existência
humana! A vida começa e se orienta ao interesse de Deus (Sl 104.24, 27-30). Hoje, invertemos isso, pensando que o
mundo é “objeto” para nossa exploração, em vez de “sujeito” para a glorificação de Deus. Em grande parte, ignoramos as
necessidades de outras formas de vida. Para a cosmovisão bíblica, uma atitude utilitária para com o mundo não-humano
seria pagã! Em terceiro lugar, o ser humano, enquanto faz parte da criação e depende dela, também é seu “mordomo”. O
ser humano, como o restante da criação, foi criado “conforme a sua espécie” (Gn 1.11, 12, 21, 24, 25), só que à imagem
e semelhança de Deus (1.26-27). A imagem de Deus é elaborada em termos do “domínio” que o homem teria sobre o
resto da criação. O homem foi criado à imagem de Deus, não pelo que o homem é intrinsicamente, mas pela postura
que assume diante da criação, uma postura de soberania (com “s” minúsculo) amorosa e cuidadosa, refletindo a Soberania
(“s” maiúsculo) de Deus (1.26-28). O homem não foi criado apenas para administrar os deuses – uma administração
“espiritual”, como nas várias mitologias antigas – mas foi criado para civilizar ou ordenar a criação – uma administração
“mundana” (Sl 8.5-6). Em teologia, há uma referência a essa administração humana sobre a criação como um mandato
cultural. Ser criado à imagem de Deus é ser responsável com a terra e toda a sua forma de vida! A soberania humana
implica em “responsabilidade” para preservar a ordem que Deus criou e promover a existência de todos os seus elementos.
Tal soberania não implica em liberdade autônoma e autocrática para dispor dos recursos do mundo para finalidades
auto-determinadas. Os seres humanos são mordomos de Deus, responsáveis a ele e cuja primeira tarefa é assegurar a
permanência e equilíbrio da criação. Não somos regentes independentes .

Espiritual ou material? Uma posição integrada

A preocupação divina coma salvação (o “espiritual”) não é alheia da sua preocupação pelo bem-estar da sua criação (o
“material”). A criação é o primeiro dos atos salvadores de Deus (Sl 74.12-17), isto é, não devemos conceber a participação
do homem no mundo como opcional ao seu papel evangelístico na salvação “de almas”. Desde o início, a criação fazia
parte do plano salvador de Deus, como primeiro passo! Aliás, a conversão de seres humanos não é o último dos atos
salvadores de Deus, mas o estabelecimento de novos céus e nova terra, ou seja, uma nova criação (Ap 21.1), a libertação
da própria criação em si (Rm 8.20-22).

Até o fim, a criação gozará do plano salvador de Deus, como último passo. A mesma graça de Deus que se manifestou
em Jesus Cristo, também se manifestou na criação ( Jo 1.1-14; Hb 1.2-3; Cl 1.15,16,20). E a graça de Deus manifesta
alcançará e restaurará o seu propósito inicial, todas as coisas criadas por ele (Cl 1.23; Mc 16.15; Ef 1.21-23; Fp 2.10-11;
1 Co 15.27-28).

Timóteo Carriker, 39 anos, casado, três filhos, é missiólogo e professor em diversas escolas de teologia e missões. Norte-americano,
no Brasil desde 1978, atualmente mora em Florianópolis, SC. É autor de O Caminho Missionário de Deus, Missões na Bíblia e
A Sedução da Igreja da Unificação. Revista Ultimato – jun/2005.

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