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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

LUCIANA MARIA BARBOSA DE MELO

_______________________________________________________________

Assistência Humanizada a Mulheres em Estado Gravídico e


Puerperal

______________________________________________

RECIFE

2009.

1
LUCIANA MARIA BARBOSA DE MELO

Assistência Humanizada a Mulheres em Estado Gravídico e


Puerperal

Monografia do Estágio Supervisionado Obrigatório – ESO, realizado na área de


Desenvolvimento Humano do Departamento de Ciências Domésticas para obtenção do título de
Bacharel em Economia Doméstica.na Universidade Federal Rural de Pernambuco

Orientadora: Prof.: Laura Susana Duque-Arrazola

RECIFE

2009.

2
LUCIANA MARIA BARBOSA DE MELO

Assistência Humanizada a Mulheres em Estado Gravídico e


Puerperal

Monografia apresentada como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em


Economia Doméstica da Universidade Federal Rural de Pernambuco, submetida à
aprovação da banca examinadora composta pelos seguintes membros:

__________________________________________________________________
Drª Laura Susana Duque-Arrazola (Orientadora)

Profª do Departamento de Ciências Domésticas

__________________________________________________________________
Ms. Fabiane Alves Regino

Profª do Departamento de Ciências Domésticas

__________________________________________________________________
Prof Ana Paula

Recife, 23 de Outubro de 2009

3
Em memória de minha avó Nair

À meus pais Ana e José Carlos

Irmãos Zé e Vanessa

Meu filho Samuel

Meu marido Enio

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus e seus anjos de luz que me iluminaram os caminhos


percorridos e me proporcionaram inspiração.

À meu filho Samuel que me proporciona e inigualável experiência e felicidade de ser


mãe.

À Enio meu marido, namorado, melhor amigo,confidente e parceiro de tantas noites mal
dormidas em claro, que com seu amor e suas palavras de conforto e encorajamento diante de
tantos momentos difíceis me impediu de desistir de continuar.

À minha família, minha mãe, meu pai e irmãos, sempre comigo em todos os momentos
da minha vida.

Às minhas amigas Ana Mariêta, Silvana, Analice, Isabel, Nilvana (inspiração),Vivi,


Idenir (mamusca), Patrícia pelo apoio constante e cuidado, assim como as demais da turma
SD1.

À minha orientadora Laura S. Duque-Arrazola, que com toda compreensão do meu


estado disponibilizava de seu tempo para me orientar com paciência, e que além de explicações
e suporte pedagógico oferecia colo ao choro de Samuel durante suas orientações.

Agradeço também às demais professoras do departamento que me acompanharam


durante a gestação e me encorajaram com simples palavras e gestos que tiveram repercussão
imensurável.

À Soninha e todo seu carinho e dedicação e seu Enoque pela suas palavras de
experiência e conversas descontraídas.

A Magda mãe de Marina que pacientemente disponibilizou de seu tempo para me contar
e recontar suas enriquecedoras experiências e momentos difíceis superados.

E às mulheres que ficaram internadas comigo no mesmo alojamento, por dividir


comigo momentos delicados e confidências, além da alegria após penosos dias de internação até
o feliz dia em que recebemos alta.

5
“Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
Voe pois você possui apenas uma vida
e nela só tem uma chance de fazer aquilo que se quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades bastante para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram, para aqueles que se machucam, para
aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.
O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar por que um belo dia se morre”.

Clarice Lispector

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RESUMO

O presente trabalho tem como campo de estudo a implementação da proposta do


Ministério da Saúde de humanização do atendimento pré- natal, parto e pós parto às
gestantes e puérperas de hospitais escola de referência na região Metropolitana do
Recife. O interesse pela temática de estudo surgiu mediante minha posição de paciente
e pesquisadora do NUPEM (Núcleo de Pesquisa e Estudos Sobre a Mulher), na qual
pude vivenciar o cotidiano da assistência ao parto juntamente com mulheres de todo o
Estado e fazer os devidos levantamentos e questionamentos necessários à produção do
trabalho de conclusão de curso. Tendo como objetivo geral saber de que forma se dá e
como é percebida a dita humanização, tal qual se dispõe no Programa de Assistência
Integral à Saúde da Mulher desde sua implantação até os dias atuais, no atendimento às
gestantes e puérperas. Os objetivos específicos são: captar as percepções/ perspectivas
das gestantes atendidas pelo programa; identificar o modo do atendimento dos/as
profissionais às gestantes; observar as estruturas físicas e funcionais dos recursos
disponíveis e sua utilização pela instituição; analisar a proposta de humanização do
atendimento pré-natal e sua implementação; observar a repercussão do programa às
mulheres em suas relações sociais desde o atendimento pré natal. Para tal foi aplicado
questionário semi-estruturado às mulheres grávidas e puérperas e funcionárias de um
hospital de referência da Região Metropolitana do Recife. Vale salientar que foram
entrevistadas também mulheres que tiveram seu pré-natal e parto assistidos em outras
instituições para fins referenciais e de comparação. De acordo com as entrevistas feitas
até o momento percebe-se que: a proposta de atendimento humanizado tal como se
apresenta na instituição pesquisada não é percebida pelas gestantes uma vez que os
profissionais ainda não incorporaram às suas práticas o que propõe o programa
instituído pelo Ministério da Saúde. Seja por uma postura ainda arraigada à medicina
assistencial do século passado, seja pela falta de incentivo do estado através de políticas
públicas e sociais educativas de saúde voltadas às mulheres e profissionais.

Palavras chave: Mulher, pré-natal e humanização

SIGLAS

7
ESO – Estágio Supervisionado Obirgatório
MS – Ministério da Saúde
NUPEM – Núcleo de Pesquisa e Estudo sobre a Mulher
PAISM – Programa de Assistência Integral da Saúde da Mulher
PHPN – Política de humanização pré-natal e nascimento
PSF – Programa de Saúde da Família
RMR – Região Metropolitana do Recife
SUS – Sistema Único de Saude
UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

8
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

CAPITULO I: RELAÇÕES DE GENERO E AS MULHERES.


1. 1 - Gênero, Maternidade e [a constituição do ser social feminino]
representação social das mulheres
1. 2 - As Mulheres do Programa Público do Pré-Natal
CAPÍTULO II – O ESTADO E O DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
PARA AS MULHERES
2.1- O Estado e as políticas sociais – política de saúde
2.2 - A política de saúde da mulher
2.2.1 O Programa de Saúde Integral a Mulher – PAISM
2.2.2 O SUS e o atendimento à saúde da mulher
CAPÍTULO III - A HUMANIZAÇÃO DO PRÉ-NATAL, PARTO E PUERPÉRIO
O pré-natal
O atendimento humanizado às mulheres em estado gravídico e puerperal
PHPN
RESULTADO E DISCUSSÃO
CAPÍTULO IV – A ATENÇÃO HUMANIZADA PRESTADA ÀS GESTANTES E
PUÉRPERAS
As gestantes e a conceitualização/ conscientização da humanização
A estruturação física voltada para a humanização do atendimento
Recursos Humanos Desumanos: O Profissional de saúde e a humanização do
atendimento
Tecnicismo e a medicalização excessiva do parto
O Capitalismo e o tempo no contexto do atendimento médico

CONSIDERAÇÕES FINAIS
PROPOSTAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PARTE I – O ESTÁGIO

10
INTRODUÇÃO

Este trabalho, uma das atividades realizadas durante o Estagio Supervisionado


Obrigatório-ESO, é resultado do estudo e pesquisa a cerca do atendimento humanizado
às mulheres gestantes e puérperas em um hospital de referência da RMR. Diante da
triste realidade brasileira de números assustadores de mortes de mulheres em estado
gravídico e puerperal e seus bebês, foram desenvolvidas várias estratégias para
diminuição deste quadro.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera como aceitável uma Razão de
Mortalidade Materna (RMM) entre 6 e 20 óbitos por 100 mil nascidos vivos. Em 2001,
ocorreram nas capitais brasileiras 74,5 mortes por causas maternas para cada 100 mil
nascidos vivos, segundo dados oficiais, estimando-se que cerca de 98% das mortes
poderiam ter sido evitáveis, segundo Valéria C. Passos de Carvalho e Thália V. Barreto
de Araújo (2007) .
Entende-se por morte materna é a morte de uma mulher durante a gestação ou até 42
dias após o término da gestação, independentemente da duração ou da localização da
gravidez. É causada por qualquer fator relacionado ou agravado pela gravidez ou por
medidas tomadas em relação a ela. Não é considerada morte materna a que é provocada
por fatores acidentais ou incidentais (Brasil, 2007).
Diante desses dados nos perguntamos, o que justifica essas mortes e complicações
no pré-parto, parto e puerpério, apesar de tantos avanços tecnológicos e após tantas
reformas administrativas do setor público de saúde? Quantas organizações,
governamentais e não governamentais, se ocupam nos dias atuais dos deveres do
Estado, tais como educação, assistência e apoio às gestantes e puérperas?
A humanização é um termo recente que surgiu como uma proposta do Ministério da
Saúde no ano de 2000 a cerca do atendimento às/os usuárias/os do sistema público de
saúde o SUS (Sistema Único de Saúde) quem visam a melhoria da qualidade do
atendimento à suas necessidades como pacientes. Humanizar o atendimento pré-natal,
parto e pós parto, significa garantir um atendimento completo de acordo com as
necessidades das mulheres, previsto pelo Programa de Atenção Integral a Saúde da
Mulher - PAISM, adequando os recursos do SUS, materiais e humanos, para melhor
assistir as gestantes e puérperas na concessão de seus/suas filhos/as, diminuindo ao
mínimo o risco de morte às mulheres e seus/suas filhos/as, minimizando intervenções
ditas invasivas e prejudiciais às/os mesmas/os.
11
Contudo, em tempos como os de hoje em que a tecnologia está mais avançada ao
ponto de proporcionar maior e melhor assistência aos eventuais problemas que possam
ocorrer durante o pré-natal, parto e pós-parto; tempo em que a informação está mais
difundida e os direitos reprodutivos mais divulgados e cobrados pelas próprias
mulheres, é contraditório se ter um índice tão elevado de mortalidade materna e infantil,
causadas por complicações no parto. Muitas destas complicações resultaram de um pré-
natal deficiente, o que poderia ter sido evitado.
Durante a pesquisa de campo, por sua vez uma iniciação durante o ESO do
aprendizado e prática da observação participante1, enquanto estudante grávida, fiz o pré-
natal no serviço público de saúde e pude observar e vivenciar diversas problemáticas
resultantes de falhas e limitações no atendimento e administração do programa Pré-
Natal que ocasionavam diversos graus de desconforto e inquietação à muitas das
grávidas atendidas pelo programa. O que foi me inquietando e instigando compreender
até transforma-las na problemática da minha monografia.
Pude captar, também o grau de instrução da maioria das mulheres atendidas pelo
hospital o que foi me revelando um fator comum no perfil delas: a falta de informação
a respeito dos direitos e deveres sexuais e reprodutivos além do relativo sentimento de
impotência mediante o atendimento das/dos profissionais e residentes pelos quais eram
atendidas
Visando a qualidade de vida das gestantes, sujeito das políticas sociais públicas e
seus programas de assistência à saúde da mulher, sobretudo as mulheres das camadas
pobres das classes subalternas, é que me interessei pela temática; enquanto gestante,
pesquisadora e estudante do curso de Economia Doméstica.
Pelo exposto, a questão que me desafiou sobre o programa de assistência pré-
natal consiste foi saber de que forma a política de assistência humanizada ao pré natal
está sendo aplicada às gestantes de hospitais escola de referencia. Tendo em vista que
estas mulheres de posse de (tendo acesso/ têm acesso) informação estão aptas a
procurarem seus direitos (reprodutivos) conferindo-lhes, assim, dignidade e cidadania
além de incidir diretamente sobre a diminuição dos índices de mortalidade materno-

1
Na pesquisa empírica a observação é uma das técnicas que contribuem para a
coleta de dados, sobretudo a observação participante, para o caso da pesquisa
qualitativa. A observação participante é uma técnica da pesquisa social, originada
na Antropologia no estudo das “sociedades primitivas”, em que a inserção direta
do/da pesquisador/a na situação em estudo, é um dos componentes necessário à
apreensão dos dados da pesquisa, como explica Antonio Carlos Gil, (1999)
12
infantil pela melhoria das condições de atenção e desenvolvimento da criança bem
como dela enquanto mulher e mãe.

Enquanto estudante e pesquisadora do grupo de estudos sobre questões de gênero do


NUPEM – UFRPE/DCD pude fazer parte de discussões e estudo da política do trabalho
participando de um levantamento exploratório sobre mulheres cobradoras de ônibus,
participando do subgrupo de trabalho e gênero. Após minha gravidez, mudei para o
subgrupo que estuda políticas públicas de saúde devido ao meu contato direto com as
políticas de saúde da mulher que serviram de inspiração para a formulação da
monografia e ESO – Estágio Supervisionado Obrigatório.
Sobre a temática, acredito ser de fundamental importância, para uma formanda em
Economia Doméstica posto que esta profissão multidisciplinar e multiplicadora de
conhecimentos, preocupada também com a produção de conhecimento mediante a
pesquisa, neste caso sobre o atendimento humanização do pré-natal às mulheres em
estado gravídico e puerperal, permite contribuir com um um ponto de vista mais
sociológico e qualitativo da questão, e não simplesmente técnico, como a maioria das
pesquisas encontradas no levantamento bibliográfico, desenvolvidas sobretudo desde
um ponto de vista quantitativo.
As/os profissionais de Economia Doméstica se estruturam sob um currículo
multidisciplinar que favorece uma formação desde uma visão global e sistêmica a cerca
da sociedade e suas problemáticas. Pude contemplar em algumas disciplinas ministradas
na área de saúde pública e desenvolvimento humano formas de bem atender às
necessidades das mulheres enquanto indivíduo em ascensão social, de maneira à
garantir / proporcionar- lhes uma melhor qualidade de vida.
Neste trabalho serão destacadas as mulheres em um período singular que é o
gestacional. Período este em que o corpo feminino está sofrendo profundas
transformações, tanto que merecem no campo das políticas públicas destaque no
desenvolvimento de programas que atendam às necessidades peculiares e distintas que
garantam dignidade e favoreçam o exercício da cidadania das mulheres. As mulheres,
gestantes ou não, representam a base da sociedade, posto que, além de participar e
contribuir com a história desta, são a garantia de manutenção da família. Como afirma
Betânia Ávila (2002, p.129), a consciência da importância do papel feminino na
sociedade enquanto cidadã melhora sua qualidade de vida.

13
Considero de grande importância a realização desta pesquisa pelas contribuições
que trará à Área de Desenvolvimento Humano, Alimentação e Saúde do Curso de
Economia Doméstica, abstraída a problemática observada na sistematização do
funcionamento do hospital, sob a perspectiva de uma estudante e gestante sujeita à
assistência de profissionais e do atendimento humanizado. Além de ter a possibilidade
de sugerir o desenvolvimento de um posterior trabalho de extensão baseado na referida
temática.
FIQUEI AQUI RETOMAR O QUE SEGUE
Relevante, também, pois para uma formação mais completa e enriquecedora é
necessário a experiência enquanto pesquisadora, de forma a estimular e exercitar nossa
visão indagatória e problematizadora como profissionais promovendo a iniciação
científica e, posteriormente a docência. Igualmente é importante este estudo porque
permitirá compreender a forma como se dão as relações de poder no campo das políticas
públicas voltadas para as mulheres nos dias atuais.

Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar a


implementação da proposta do Ministério da Saúde da assistência humanizada do pré
natal ao puerpério – ou momento posterior ao parto, prestado às mulheres de hospitais
escola da RMR. E como objetivos específicos: estudar o Programa de Assistência ao
Pré-Natal como programa da política de saúde da mulher; identificar o modo do
atendimento das/dos profissionais do Pré-Natal às gestantes; observar as estruturas
físicas e funcionais dos recursos disponíveis e sua utilização pelos profissionais locais, e
conhecer a visão sobre o Pré-Natal humanizado por parte dos profissionais e das
gestantes atendidas pelo programa.

O principal objeto de estudo é a humanização do atendimento ao pré-natal, parto


e pós-parto, tal qual se apresenta instituída pelo Sistema Único de Saúde representado
na proposta Programa de Atenção Integral da Saúde da Mulher e na Política de
Humanização do pré-natal e nascimento do ponto de vista das gestantes atendidas pelo
programa. Sendo a humanização posta em destaque como proposta implementada pelos
programas desenvolvidos pelo governo de saúde da mulher, visando minimizar os danos
causados às mulheres e seus bebês.

O procedimento metodológico utilizado na presente pesquisa exploratória e


descritiva de caráter qualitativo foi constituída principalmente pela observação

14
participante enquanto gestante assistida pelo programa de pré-natal, elaboração de um
roteiro de observação e de entrevista semi-estruturada, além da pesquisa e revisão
bibliográfica e documenta. A modalidade de pesquisa qualitativa é adequada para
estudar situações sociais que vem a complexidade das expressões humanas, verbais e
não verbais, tendo como foco,em especial , conhecer e compreender os seus
significados e processos de construção, contando com a participação direta desses atores
(Minayo, 2000; Bogdan & Biklen, 1994; Patrício,1995 in REIS e PATRICIO, 2005).

As entrevistas foram feitas com gestantes do referido hospital e de


hospitais particulares como base referencial; e, por fim foi elaborada a presente
monografia. Conforme indicamos, a entrevista foi feita em uma (01) instituição
vinculada ao SUS com gestantes e profissionais de diversas idades e cargos. O número
de entrevistadas/os totalizaram 20 mulheres, sendo: 16 pacientes das quais 12 eram puérperas
e quatro gestantes; e quatro profissionais - duas (02) enfermeiras, uma (01) auxiliar e uma (01)
médica.

Vale ressaltar que a análise das respostas, obtidas na entrevista foi baseada na
avaliação dos dados sob parâmetro qualitativo.

15
PARTEII – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

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CAPITULO I - RELAÇÕES DE GENERO E AS MULHERES.

1. 1 - Gênero, Maternidade e representação social das mulheres

1. 2 - As Mulheres do Programa Público do Pré-Natal

Gênero, Maternidade e Representação Social das Mulheres

A história da representação social feminina é marcada por muita luta e


resistência contra o poder dos homens em detrimento das mulheres, geralmente
subjugadas política e socialmente. Por muito tempo as mulheres foram representadas a
partir de sua condição biológica de ser mãe, associando-se a esta a responsabilidade do

17
cuidado da família: pai, marido e filhos e filhas. A falta de engajamento político por
parte das mulheres parte também do pressuposto de que há a assimilação por parte das
próprias mulheres da figura frágil, singela, submissa, construída e reproduzida pela
sociedade. Conseqüentemente sua representação repercutiu de forma desigual na
sociedade com relação a dos homens.

Edir Nei Teixeira Mandu2 define três grandes fases da trajetória da atenção a
saúde da mulher:

a da maternidade e sexualidade como constituintes do projeto


higienista/eugenista, do final do século XIX a meados do século XX; a da
reprodução como constituinte do projeto médico, do final da fase anterior à
década de 70; a da saúde, sexualidade e reprodução, como constituintes dos
direitos sociais, abrangendo, particularmente, as décadas de 80 e 90.

A conquista do direito a cidadania pelo movimento de mulheres foi bastante


significativo para seu posicionamento no espaço público do trabalho, assim como para o
exercício saudável da maternidade. Antes da constituição de 88 não restava outra opção
às mulheres trabalhadoras e grávidas, se afastarem de seus empregos e dedicarem-se
exclusivamente aos cuidados dos filhos/as e do lar que era provido pelos homens,
maridos e pais. Com a institucionalização da licença maternidade de 120 dias foi
possibilitada às mães trabalhadoras ficarem com seus bebês no período bastante
importante para o desenvolvimento saudável além de lhes garantir o emprego após o
período estabelecido.

Maria Betânia Ávila (2003), defende que “na visão feminista, a construção do
sujeito político se realiza na dialética entre a ruptura, a heteronímia no espaço doméstico
da vida familiar e a entrada nos espaços onde se age para a transformação do mundo [ou
seja, a esfera pública].”

2
MANDU, Edir N.T. Trajetória assistencial no âmbito da saúde reprodutiva e
sexual - Brasil, século XX. Revista Latno Americana de Enfermagem vol.10
n.3 Ribeirão Preto: MAI/JUN, 2002

18
Como afirma Lucila Scavone (2001)3 em seus estudos é necessário destacar a
inserção das mulheres no mercado de trabalho, sua presença no espaço público e os
impactos que estes fatos trouxeram à tona junto a instituição familiar e do estado.

Antigamente as mulheres tinham seu “prestígio” mediante sua capacidade de


gerar filhos (principalmente com o advento das grandes guerras e conflitos civis) e, por
isso, eram tidas como responsáveis pela manutenção da sociedade. Embora seu poder de
atuação na própria sociedade como direito de voto, emprego, etc., fossem limitados,
quando não reconhecidos, ainda assim eram consideradas seres passivos e educadas
para sempre servirem seus maridos, filhos e familiares. (MATOS e SOIHET, 2003)

Maria Teresa Citeli4 destaca em seus estudos que a idéia inicial de que sexo se
referia à anatomia e fisiologia dos corpos, deixava o caminho aberto para interpretações
de que as diferenças entre mulheres e homens no domínio cognitivo e comportamental,
bem como as desigualdades sociais, poderiam decorrer de diferenças sexuais localizadas
no cérebro, nos genes ou provocadas por hormônios etc.

Como afirma Andreia Segalin e Marisete Camini5, as relações de gênero sofrem


significações deste processo desigual de socialização e as peculiaridades constitutivas
do feminino e masculino são apropriadas pela sociedade conservadora e transformadas
em desigualdades, sendo a diferença biológica natural entre homens e mulheres
utilizada para justificar ambigüidades entre os sexos.

Ou seja, por muitos anos a capacidade de gerar filhos/as, associado às


peculiaridades que constituem o ser social feminino, foram fatores discriminantes no
processo de posicionamento da mulher e sua representação social com relação aos
homens caracterizando as relações sociais marcadas pelas relações de poder, no qual o
homem sempre se sobressaía em detrimento da mulher.

3
SCAVONE , L . Motherhood : transformation in the family and in gender relations.
Interface _Comunic, Saúde, Educ,v.5, n.8, p.47-60,2001.
4
CITELI, M. Teresa. Fazendo diferenças: teorias sobre gênero, corpo e
comportamento. In. "Cultura sexual e reprodução na agenda da mídia brasileira"
(mimeo). Apresentado no XXI Congresso Internacional da LASA, Latin American
Studies Association, Chicago, 1998.
5
SEGALIN, Andreia; CAMINI, Marisete. A Violência Contra a Mulher Problematizada
nas Relações de Gênero: Quando a Caricatura do Príncipe Revela o Tirano nas
Relações Conjugais.
19
O atual posicionamento das mulheres no espaço público deu-se graças às
grandes conquistas iniciadas com o surgimento do movimento feminista já no século
XVIII através da constante luta e busca pela igualdade, liberdade e direitos, como os
direitos civis e políticos, o direito ao trabalho e a luta pela cidadania.

Segundo Eleni Varikas (1996), a força desse movimento reside, principalmente,


na sua insistência sobre o caráter estrutural da dominação masculina sobre as mulheres a
que se manifesta nas relações da vida cotidiana. E trata de mostrar que a dominação é
controlada de forma oculta e reproduzida pelas diversas instituições sociais, tais como
família, na separação sexuada entre o público e privado, pela heterossexualidade
institucionalizada, pela divisão e pela estrutura sexuada do trabalho e do emprego.

Líder do movimento que conseguiu significativos sucessos na conquista de


direitos para as mulheres, Bertha Lutz, tinha como proposta principal:

uma sociedade de brasileiras que compreendessem que a mulher não deve


viver parasitariamente de seu sexo, aproveitando os instintos animais dos
homens, mas que deve ser útil, instruir-se e a seus filhos e tornar-se capaz de
cumprir os deveres políticos que o futuro não pode deixar de repartir com
elas. (SOIHET, 2000)

Antes disso as mulheres eram vistas às sombras de seus maridos. Repreendidas


ao estudar, tinham que ser instruídas apenas para a criação de filhos/as e manutenção do
lar. Os médicos com seu domínio científico afirmavam que a mulher foi formada para
sentir, assim como o homem foi criado para pensar. Doenças, comportamento aberrante,
esterilidade, eram alguns dos perigos decorrentes da inversão deste princípio, inclusive
porque, do desenvolvimento do cérebro feminino, resultava a atrofia do útero
(LOMBROSO e FERRERO, 1896 apud. SOIHET, 2000, p.98).

Desde então as mulheres conquistaram um melhor status no espaço público, ao


conseguirem firmar melhor seus direitos enquanto cidadãs ao ponto de serem
amplamente visadas no processo de elaboração de programas e planos de ações públicas
voltadas para elas como por exemplo o (PAISM – Programa de Atenção Integral a
Saúde da Mulher). Sobretudo quando legalmente existiu um reconhecimento dos
direitos sexuais e reprodutivos, materializados através das políticas públicas de saúde.
Desse modo, favorecendo para que o “papel” sexual e reprodutor da mulher não se

20
transformasse em empecilho à ocupação de novos espaços e oportunidades econômicas
(CEARA, 1997).

Contudo, o fato da presença das mulheres não ser tão efetiva na sociedade se
deve também ao desconhecimento destas ou o não exercício de seus direitos e deveres
(inclusive os sexuais e reprodutivos), deixando, assim, de atuar enquanto cidadãs. E
isto, segundo Gabriela Bonachi e Ângela Groppi (1995), se deve a construção social
feminina em que as relações “privadas” são contrapostas às “públicas”,
responsabilizando as mulheres pela unidade familiar, pelo casamento e pela geração de
filhos. Ou seja, a “incapacidade” das mulheres de serem cidadãs, as tornam mais
dependentes do marido e a distanciam do seu real papel social e político tendo, assim,
menos representação.

O que se agrava no meio rural, construído pela cultura paternalista e machista


por excelência, no qual a “maternagem” é amplamente incentivada e exercida pelas
próprias mulheres desde sua infância.

A maternização está intrínseca na formação do ser social feminino, uma vez que
estas se estabelecem nas relações de gênero entre as mulheres e as diversas instituições
sociais, como a própria família que diferenciam logo cedo os papéis a serem
representados mais tarde de homem/ mulher, pai/ mãe. Tudo isto é internalizado pelas
mulheres e reproduzidos socialmente nas relações sociais e configura o perfil
generalizado das mulheres: sujeitos frágeis e sensíveis, o que lhes garante o “dom” e a
naturalização de serem responsáveis pela manutenção da família e pelo cuidado da prole
(HEILBORN, 1991 p. 29) .

As Mulheres do Programa Público do Pré-Natal

Com a possibilidade de trabalhar e ser mãe as mulheres agora ocupam mais os


espaços antes dominados apenas por homens, adquirem maior visibilidade social e
política. Porém, como foi visto a permanência e ascensão profissional feminina ainda é

21
cercada por uma realidade que não favorece seu êxito: a “maternização” das mulheres,
influenciada pelo atual modelo de produção capitalista.
Para Nancy Chodorow (1990), a reestruturação da sociedade em um modelo
capitalista, favoreceu grandes mudanças na dinâmica da família, conferindo
posteriormente, às mulheres, o papel fundamental de administradora do lar, e mãe
educadora.
O ponto de partida para tal ascensão aconteceu após a constituição de 1988, na
qual as mulheres foram reconhecidas enquanto cidadãs e, desde então, são
contempladas pelo sistema público de saúde e recebem assistência especial à sua saúde
sexual e de seus filhos/as. Contudo, o ano de 1990 foi marcado pela degradação dos
serviços públicos de saúde, incluindo os acreditados no SUS e houve a expansão das
demandas à assistência médica de planos de saúde (BRASIL, 2002).

O impacto social notifica-se na divergência dos serviços de atenção a saúde que


se manifestaram em dois tipos: os serviços prestados por empresas (clínicas e hospitais)
credenciadas a algum plano de saúde privado e as instituições públicas vinculadas ao
SUS. Conseqüentemente as mulheres que tinham condições de arcar com um plano de
saúde recebiam um tipo de serviço, geralmente de mais qualidade, enquanto que as que
não tinham condições (a maioria da população feminina brasileira) tinham que enfrentar
situações determinadas pela precariedade dos recursos humanos ou não e corriam mais
risco. E é assim até os dias atuais.

O capitalismo vem intensificar essa divergência no atendimento à saúde da


população, notificado entre a qualidade da prestação de serviço à população de baixa
renda usuária do SUS e a população que dispõe de uma assistência particular.
Assim, as mulheres que disponibilizam de capital, raramente utilizam os serviços de
pré-natal oferecido pelo sistema público de saúde oferecidos pelo governo. Enquanto
que as mulheres que não disponibilizam não têm a que recorrerem se não utilizarem os
serviços públicos de saúde.
Estudos indicam que nos usuários do SUS há predomínio de mulheres, crianças,
pretos e pardos, baixa escolaridade e renda. Há associação entre estado de saúde
regular/ruim e utilização dos serviços do SUS, entre o atendimento pelo SUS e usuários
de baixa escolaridade e renda6.

6
RIBEIRO, Manoel; BARATA, Rita; ALMEIDA, Márcia; SILVA, Zilda. Perfil
sociodemográfico e padrão de utilização de serviços de saúde para
22
Em uma sociedade desigual – e contraditória – como a nossa, a saúde e a doença
também se distribuem desigualmente, entre homens e mulheres, brancos e negros,
pobres e ricos, seja pelas diferentes situações sociais e vulnerabilidades, seja pela
desigualdade no acesso às ações e serviços de saúde e à qualidade de vida. Aliado a isto
a mercantilização da saúde, que como afirma Ana Maria Costa e Maria do Carmo Lessa
Guimarães(2002) dizem que:
Situações que antes eram vivenciadas fora de hospitais e sem exames ou
remédios, agoram passam a depender de intervenções médicas cada vez mais
especializadas. Isso contribuiu com o crescimento e o fortalecimento do setor
privado da saúde onde está concentrado maior volume de tecnologia médica.

Assim as práticas de prevenção e atenção a saúde que não geram lucros ficaram
como de responsabilidade do Estado, tendo como maior público usuários de classe
popular, estando aí inclusas as mulheres e, principalmente as de raça negra e parda.
Estão inclusas nesta classe, mulheres destituídas de estudo e informações a cerca
do seu corpo, direitos e deveres enquanto mulheres, cidadãs e mães, o que as torna mais
vulneráveis e agrava sua situação. A falta de educação, por sua vez, confere a estas
usuárias mais insegurança do que as demais mulheres, o que justifica a postura destas,
muitas vezes tomada, diante dos profissionais que lhes passam informação.

As mulheres que vivem no meio rural também estão inclusas neste grupo. Vale
salientar a situação em que se encontram as mulheres do meio rural, onde informações
sobre a importância do pré-natal é dificultado pelos costumes arraigados a “tradição de
parteiras” e pela dificuldade de diálogo sobre sexualidade, direitos e deveres. Além de
que quando apresentam uma gravidez de alto risco se deslocam longas distancias para
serem atendidas nas capitais em centros de referencia onde são submetidas a longas filas
de espera e encaixes para se submeterem a exames que devido a especificidade não são
dispostos nos postos de seu município do PSF (Programa de Saúde da Família). Estas
também fazem parte das mulheres assistidas pelo sistema público de saúde.
A falta de informação de muitas mulheres sobre a utilidade do pré-natal e as
deficiências do atendimento de saúde pública no País acaba deixando muitas grávidas
na fila de espera até o quarto mês. É um problema sério, porque o pré-natal é muito
importante não só para diminuir as inquietações naturais do período - tanto da mãe
usuários e não-usuários do SUS - PNAD 2003. On-line:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232006000400022>
23
quanto do pai - como também para controlar riscos da gestação. Seu início tardio é uma
preocupação (GALLETA apud AZEVEDO, 2007)

24
CAPÍTULO II - O ESTADO E O DESENVOLVIMENTO DE
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES

2.1- O Estado e as políticas sociais – política de saúde

2.2 - A política de saúde da mulher

2.2.1 O Programa de Saúde Integral a Mulher – PAISM

2.2.2 O SUS e o atendimento à saúde da mulher

O Estado e as políticas sociais – política de saúde

A situação em que se encontra hoje a saúde brasileira é resultado de diversos


processos políticos e sociais, assim como da administração de recursos voltados à saúde
e dos gastos com a mesma. Primeiramente, antes de discutirmos a situação política e a
influência do Estado na elaboração das políticas sociais de saúde, faz-se necessário
destacar alguns conceitos como: Estado, Governo, Políticas públicas e sociais.
Segundo Eva Lakatos (1987) o Estado constitui um mecanismo de controle
social existente na sociedade humana. É uma organização que exerce autoridade sobre

25
seu povo, por meio de um governo supremo. Este último, mantém a ordem e estabelece
as normas relativas às relações entre os cidadãos.
É possível se considerar Estado como o conjunto de instituições permanentes
como órgãos legislativos, tribunais, exército e outras que não formam um bloco
monolítico necessariamente que possibilitam a ação do governo. Este, por sua vez é o
conjunto de programas e projetos que parte da sociedade (políticos, técnicos,
organismos da sociedade civil e outros) e propõe para a sociedade como um todo,
configurando-se a orientação política de um determinado governo que assume e
desempenha as funções de Estado por um determinado período. Já as Políticas públicas
correspondem ao Estado implantando um projeto de governo, através de programas, de
ações voltadas para setores específicos da sociedade (HOFLING, 2001).

Eloisa de Mattos Hofling (2001) diz que as políticas sociais têm suas raízes nos
movimentos populares do século XIX, voltados aos conflitos surgidos entre capital e
trabalho, no desenvolvimento das primeiras revoluções industriais. Estas se referem a
ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo Estado, voltadas,
em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando a diminuição das
desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico.

No Brasil, assim como em muitos países da América Latina, o Estado assumiu


diferentes papéis, na implementação de políticas sociais, de acordo com os modelos
econômicos e de produção vigentes. No modelo primário-exportador, em que o poder
centrava-se nas mãos da oligarquia, o Estado utiliza as políticas sociais como forma de
afirmar a identidade nacional e propiciar condições mínimas de trabalho para os
contingentes de imigrantes que compunha a sociedade brasileira na época da
colonização, que chegavam para viabilizar as empresas exportadoras de bens primários.
Com a estruturação sócio-economica e a instalação do modelo de substituição de
importação, o Estado assume uma forma industrialista e populista. As políticas sociais
nesta época passam a visar a cooptação de trabalhadores urbanos, para sustentar o
autoritarismo estatal e fortalecer a classe média burguesa e utilizou para isto um
discurso nacionalista (PINHEIRO, 1995 p. 67-72).
O que acontece a partir daí é um quadro de grande avanços, caracterizando um
Estado desenvolvimentista, no que se refere a estruturação de políticas sociais,
supervalorização de propostas voltadas para o benefício nacional nos diversos setores
como o trabalho, saúde, entre outros. Porém sem o devido planejamento fiscal que
26
ajustasse o orçamento federal ao financiamento destas novas demandas. O que
ocasionou pressão por gastos superiores à arrecadação de tributos, resultando num
quadro de inflação e crise econômica.
Nos capítulos constitucionais (em 1988) referentes ao regime de proteção
social, garantiu-se a universalidade, integralidade e eqüidade do atendimento
à saúde, além da universalização da previdência, prevendo fontes de receitas
específicas para o financiamento destas atividades, consolidadas no
Orçamento da Seguridade Social. (...) Entretanto, relegou-se para momento
posterior uma reforma fiscal que ajustasse o orçamento federal ao
financiamento destas novas demandas. Como resultado, registra-se a pressão
por gastos superiores à arrecadação tributária, obrigando o Tesouro Nacional
a incorrer em aumento do déficit público com impactos inflacionários.
(PINHEIRO, 1995)

Os gastos públicos com saúde no período 1980-1990 alcançaram o nível


máximo em 1989 de 3,3% do PIB, mas reduziram-se drasticamente no governo Collor,
voltando a 2,7%, somente em 1995 (BRASIL, 1998). A participação das despesas de
saúde nos gastos federais, segundo dados do Ministério da Saúde, caiu de uma média
anual por habitante de US$ 63,46 no governo Sarney, para US$ 54,70 no governo
Collor, subindo pouco no governo Itamar, para US$ 55,75. De US$ 10,90 bilhões em
1989, os gastos federais em saúde reduziram-se para US$ 6,60 bilhões em 1992 (COHN
& ELIAS, 1996).
Assim, ao viés autoritário somou-se o viés neoliberal, com a redução dos gastos
em saúde, embora essa combinação não arrefecesse a mobilização social pelos
direitos à saúde.
Mônica Franch, Carla Batista e Silvia Camurça (2003) dizem que este modelo de
política (o neoliberal) define o papel do Estado para com a sociedade com relações
impessoais, substituindo as políticas de abrangência universal pelas políticas
compensatórias, que atingem apenas alguns setores da população, não chegando a
constituir direitos de todas as pessoas. Ou seja, tornando-se menos presente no processo
de manutenção da sociedade seja suprindo suas necessidades básicas, como é o caso da
saúde e educação, seja atendendo as demandas com aumento de oferta de serviços
qualificados.
O projeto “Brasil Novo”, de Collor, traz no bojo do neoliberalismo uma proposta
de privatização, de corte dos gastos públicos, de desmonte do Estado,consubstanciada

27
numa detalhada reforma econômica e administrativa promulgada através de Medidas
Provisórias já no segundo dia do governo. O mesmo autor assinala que a crise de
credibilidade do Estado, das instituições, dos políticos, impedia que a agregação de
interesses funcionasse de forma mais abrangente (BRASIL, 2006 p.115). “Para os
neoliberais, a assistência social não é tarefa do governo. É um problema que deve ser
resolvido pelo livre jogo de forças de mercado”.7
Algumas características do neoliberalismo são amplamente conhecidas, como
predomínio do mercado, política repressiva, privatização e corte dos gastos públicos
para fins econômicos. Tais cortes ocorrem nos gastos estatais de base, ou seja, nos
programas do Estado que viabilizam a manutenção da cidadania, tais como educação,
saúde, moradia, etc.
O resultado disto é a redução das políticas sociais, diminuindo
consubstancialmente os investimentos em programas de assistência e promovendo
novas políticas sociais paliativas que apenas amenizam os graves problemas existentes.
(VIANA, 2007 p. 28)
Benjamim Lago (1995) diz que ao desmoralizar o Estado, o neoliberalismo
enfraquece a vontade política do país e derruba aqueles que são, geralmente, os únicos
grandes investidores nacional numa economia frágil: a população.
As críticas centram-se principalmente no impacto negativo dessas medidas no
cotidiano das pessoas pobres, que são usuárias mais numerosas dos serviços públicos de
educação e saúde (FRANCH, BATISTA e CAMURÇA, 2003).
Como afirma Eloisa de Mattos Hofling (2001), o Estado não pode ser reduzido à
burocracia pública, aos organismos estatais que conceberiam e implementariam as
políticas públicas. Especialmente quando se focaliza as políticas sociais (usualmente
entendidas como as de educação, saúde, previdência, habitação, saneamento etc.) os
fatores envolvidos para a aferição de seu "sucesso" ou "fracasso" são complexos,
variados, e exigem grande esforço de análise.
Em se tratando da implementação de políticas sociais de saúde no Brasil a
dificuldade se estende sob vários aspectos, sobretudo, como afirma Renilson Souza
(2002) em seus estudos, pela estrutura federalista do país.
Esse tipo de sistema impõe certa complexidade à implementação de políticas
sociais de abrangência nacional, particularmente nos casos em que a situação

7
Adaptado de Gloriaa Regonini. Verbete “Estado do bem estar”. In N. Bobbio,
N.Mateucci e G. Pasquino. Dicionário de Política, UnB, 1997. v. 1, p. 416 -9
28
de diversidade diz respeito à existência de marcantes desigualdades e
exclusão social. Nesses casos, acentua-se a importância do papel das políticas
sociais de redistribuição, redução das desigualdades/iniqüidades no território
nacional e inclusão social.

Na organização política brasileira, em vários momentos de sua história, as


autonomias estaduais e locais (competências descentralizadas) serviram ao poder de
grupos oligárquicos e coronelísticos e não à democratização de suas respectivas
comunidades. Propostas de descentralização, juntamente com o acesso universalizado
foram implementados na assistência aos usuários do sistema público de saúde (SUS)
como alternativa de expansão e qualificação do serviço prestado à comunidade.

A Política de Saúde da Mulher

O Programa de Atenção a Saúde Integral da Mulher - PAISM

Hoje em dia é evidente que as condições estão mais favoráveis às mulheres: a


constituição de 1988 as reconheceu enquanto cidadãs e merecedoras de atenção na
formulação de políticas sociais, entre elas as voltadas para a saúde, após constantes
reivindicações das feministas em conferências de repercussão internacional como, por
exemplo, a Conferência sobre os Direitos Humanos em Viena em 1993, as Conferências
de População – Cairo (1993), e sobre a mulher, Beijing (1995), nas quais foram
discutidas questões relevantes à saúde da mulher e dos seus direitos sexuais e
reprodutivos, provocaram um impacto positivo sobre a representação social feminina. A
partir dessas mudanças na perspectiva de melhores condições à situação das mulheres é
que o Ministério da Saúde elaborou o Programa de Atenção Integral a Saúde da Mulher
(PAISM). Para uma melhor abordagem é importante que se faça entender o contexto
que caracterizava momento histórico.

Na década de 80 podemos destacar os avanços na organização da assistência


perinatal e neonatal com o processo de reorganização do sistema de saúde e a
consolidação dos direitos da mulher e da criança. As discussões sobre os direitos
reprodutivos também surgiram por volta dos anos 80 como estratégia discursiva das

29
feministas com o objetivo de reivindicar garantias de igualdade, liberdade e justiça
social e dignidade no exercício da sexualidade e da função reprodutiva.

Em 1984, foi implantado, no Brasil, o Programa de Assistência Integral à Saúde


da Criança e o Programa de Assistência Integral a Mulher, dentro de um enfoque
epidemiológico e de risco com ações básicas para a redução da morbi-mortalidade em
crianças menores de cinco anos8.

A publicação do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM)


pelo Ministério da Saúde marcou uma ruptura conceitual com os princípios até então
norteadores da política de saúde das mulheres e critérios para eleição de prioridades
neste campo. O PAISM (Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (1984)),
introduzia um plano de assistência integral à mulher em todas as fases de sua vida,
levantando questões ligadas ao exercício da sexualidade e da autonomia reprodutiva
feminina. (VENTURA, 2003).

Como pode se observar, a década de 80 foi decisiva para as mulheres no âmbito


da atenção a sua saúde. Esta, agora abordada enquanto direito, como referencia Paulo
Marchiore Buss (2003) para quem “a saúde é um estado de completo bem estar físico,
mental e social”. Nesse sentido amplo e contemporâneo, saúde é, sobretudo, uma
questão de cidadania, e de justiça social, e não apenas um estado biológico.
(VENTURA, 2003)

Como afirma Marta Suplicy (2004)9, a ampliação da cidadania das mulheres


resultou, dentre outras conquistas, numa pauta que redimensiona a responsabilidade do
poder público em identificar as situações reais de discriminação e desigualdade que
atingem as mulheres e na criação de condições de exercício de cidadania em todos os
espaços públicos. Em específico, condições relativas à saúde pública feminina.

8
Christoffel MC, Silva LR, Souza KV, Penna LG, A percepção das puérperas em
relação ao atendimento institucional no trabalho de parto e nascimento. Anais do
11º Congresso Panamericano de Professionales de Enfermería, 55º Congresso
Brasileiro de Enfermagem; 2003 Nov 10 -15; Rio de Janeiro, Brasil. Rio de Janeiro:
ABEn- Seção RJ; 2003. p.33-4
9
In SÃO PAULO. Prefeitura Municipal. Cordenadoria Especal da Mulher; Secretaria do
Governo Municipal. Políticas públicas e igualdade de gênero/ Tatau Godinho (org.)
Maria Lúcia da Silveira (org. – São Paulo: Cordenadoria Especial da Mulher, 2004.
30
Hoje as mulheres são vistas como seres de importante representação social
merecendo por isto, ser mais contempladas pelas políticas (sociais) públicas. Sobretudo
quando legalmente existe um reconhecimento dos direitos sexuais e reprodutivos,
materializados através das políticas públicas de saúde (CEARA, 1997). Desse modo
favorecendo para que o “papel” sexual e reprodutor da mulher não se transformem em
empecilho à ocupação de novos espaços e oportunidades econômicas.

Contudo, como afirma Marta Ferreira Santos Farah (2004)10 as mulheres são
focalizadas pelas políticas públicas sob dois aspectos: um referente a sua
funcionalidade, vista como um “instrumento” do desenvolvimento, como
“potencializadora” de políticas públicas, pelo seu papel desempenhado na família, e
outro enfatizando enquanto cidadãs, seus direitos e sua constituição enquanto sujeitas.
Evidenciando uma tensão na abordagem da agenda de reforma do Estado no processo
de elaboração de políticas públicas e sociais voltadas para as mulheres.

Como afirma Marta Ferreira dos Santos Farah (2004):

A incorporação da mulher como mãe, neste tipo de programa e em outros de


tipo materno-infantil, não apenas indica a focalização de um grupo de risco
mas também assinala a incorporação da mulher a partir de sua “função” na
família.

Ou seja, a maternidade do século XIX que era tida como uma necessidade exclusiva
de manutenção da espécie (determinante histórico-cultural e machista por excelência),
repercutiu na qualidade da assistência oferecida à mulher11.
Embora a saúde seja um direito de todos/todas, como diz a Constituição Federal,
muitas vezes esse direito é desrespeitado e o acesso ao atendimento é dificultado. Ainda
são constantes as noticias de desvios de verbas ao mesmo tempo em que se alega a falta
de recursos para o atendimento básico da saúde da população masculina e feminina, das
crianças, adolescentes, adultos/as, idosos/as. Em se tratando de mulheres em estado
10
FARAH, Marta F. Políticas públicas e gênero. In. São Paulo. Prefeitura Municipal.
Coordenadoria Especial da Mulher; Secretaria do Governo Municipal. Políticas
Públicas e igualdade de gênero/ Tatau Godinho (org.). Maria Lúcia da Silveira (org.).
– São Paulo: Coordenadoria Especial da Mulher, 2004. 188 p (Cadernos da
coordenadoria Especial da Mulher, 8)
11
FORTE, E. G. S.; VALENCIA, O. E. J.; MACHADO, E. G.; CAO, I. M.; NUNES, R. T.;
SOUSA, L. S. A.; BARBOSA, M. A. - Satisfação quanto à consulta pré-natal após a
implantação do programa de interiorização do trabalho em saúde. Revista da UFG,
Vol. 6, No. Especial, dez 2004 on line (www.proec.ufg.br)
31
gravídico-puerperal não é diferente. Neste período a mulher necessita de atenção e
acompanhamento especializado que lhe proporcione segurança e evite maiores
complicações no parto por falta de assistência ou informação.

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher adotou os princípios


da humanização e da qualidade da atenção em saúde como condições essenciais para
que as ações de saúde se traduzissem na resolução dos problemas identificados; na
satisfação das usuárias; no fortalecimento da capacidade das mulheres frente à
identificação de suas demandas; no reconhecimento e respeito aos seus direitos e na
promoção do auto cuidado (BRASIL/SEPM 2004).

Entretanto, mesmo nos serviços em que as atividades são realizadas como


preconizadas pelo PAISM, existem questionamentos sobre a qualidade da assistência
prestada e o impacto nos indicadores de resultados. Apesar da assistência pré-natal ter
estado sempre presente no escopo das ações praticadas pelos serviços de saúde, até o
momento permanecem questões que, entre outras, devem ser discutidas, como o acesso
em algumas regiões e áreas do país, a qualidade da atenção prestada, o vínculo entre o
pré-natal e o parto, a humanização da atenção e inaceitáveis taxas de mortalidade
materna e perinatal (BRASIL, 2000a; BRASIL, 2000b In SERRUYA, 2003)
A mortalidade por causas perinatais, atualmente, é responsável por mais de 50%
dos óbitos no primeiro ano de vida. O Programa, lançado pelo Ministério da Saúde em
junho de 2000, tinha como principal estratégia assegurar a melhoria do acesso, da cobertura e da
qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto e puerpério às gestantes e ao/à
recém-nascido/a, na perspectiva dos direitos de cidadania (SERRUYA, 2003).
Desta forma embora os programas de Saúde da Família assinalem uma importante
inflexão nas políticas de saúde no país, ainda parece ser incipiente a incorporação da
“filosofia” implantada pelo PAISM, de atenção integral à saúde da mulher.

O SUS no atendimento à saúde da mulher

O que se pretende neste capítulo é resgatar um pouco do histórico do Sistema


Único de Saúde (SUS) de forma a avaliar a atual assistência prestada pelo sistema
público de saúde às mulheres.

32
A representatividade feminina na sociedade, no exercício da cidadania, como
vimos é relevante, no processo de atenção e formulação de políticas sociais de saúde
que atendam as suas necessidades. As desigualdades de gênero reproduzidas nas
relações de gênero e o advento do Estado neoliberal capitalista dificultam a assistência a
esse público específico, denominado de risco. O que resulta nos números absurdos de
morte materna e infantil por causas evitáves.

Como se sabe, o Sistema Único de Saúde constituiu-se ainda em um período de


transição sócio-economica, após várias (re) formulações até sua forma atual, tendo a
crise de 1980 como pano de fundo. Nessa época o Estado autoritário-militarista enfrenta
a crise de suas políticas setoriais, entre as quais a da previdência e da saúde, como
resultado da recessão, desemprego, aumento da dívida pública e queda da
arrecadação.(BRASIL, 2006 p. 42)

Os acontecimentos datados desta época justificam ainda hoje as condições em


que se encontram o serviço público de saúde brasileira. A criação do Sistema Unificado
e Descentralizado de Saúde (SUDS), ainda comandada pelo Instituto Nacional de
Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), no período imediatamente
anterior à promulgação da Constituição (1988), intensificou as iniciativas de
descentralização e universalização e preparou a introdução do Sistema Único de Saúde
(BRASIL, 2002b).

A assistência à saúde desenvolvida pelo INAMPS beneficiava apenas os


trabalhadores/as da economia formal, com “carteira assinada”, e seus dependentes, ou
seja, não tinha o caráter universal. O INAMPS aplicava nos estados, através de suas
Superintendências Regionais, recursos para a assistência à saúde de modo mais ou
menos proporcional ao volume de recursos arrecadados e de beneficiários existente. Ou
seja, quanto melhor a condição de trabalho local, mais benefícios voltados a
manutenção da saúde recebia-se. (RENILSON, 2002)

Essa condição já era desfavorável às mulheres uma vez que estas tinham acesso
restrito ao mercado de trabalho além de também não contemplar as mulheres e homens
trabalhadores em geral do meio rural.

A descentralização, posta como proposta do novo modelo de assistência a saúde


aos contribuintes, compreende diferentes instâncias de poder: federal, estadual e

33
municipal. Por exemplo, dentro da concepção estrutural do Sistema Único de Saúde,
que abrange Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde e Secretaria Municipal
de Saúde, cada uma dessas instâncias, com atribuições diferenciadas, atende às
especificidades da estrutura de poder das diferentes partes do território nacional, bem
como dos interesses de grupos sociais nelas localizados. A política de descentralização
não é um mero programa de transferência de recursos do governo federal para as outras
instâncias. É antes um processo que envolve também a transferência de decisões e
responsabilidades quanto às políticas de saúde pública no país.

Antes da criação do Sistema Único de Saúde - SUS, o Ministério da Saúde


(MS), com o apoio dos estados e municípios, desenvolvia quase que exclusivamente
ações de promoção da saúde e prevenção de doenças, com destaque para as campanhas
de vacinação e controle de endemias.

A elaboração da Constituição Federal de 1988 consolidou o marco legal do


SUS como um sistema de direito universal, descentralizado e participativo, voltado para
as ações preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais. A Constituição também
marcou o processo de redemocratização do país, instituindo e consolidando importantes
avanços na ampliação dos direitos das mulheres entre eles os sexuais e reprodutivos.

As mulheres, agora contempladas pelo sistema público de saúde, recebiam


assistência especial à sua saúde sexual e de seus filhos/as. Porém pode-se verificar que o
início dos anos 1990 tinha como uma de suas marcas a degradação dos serviços
públicos de saúde, incluindo os acreditados no SUS e a expansão das demandas à
assistência médica de planos de saúde (BRASIL, 2002).

O impacto social notifica-se na divergência dos serviços de atenção a saúde que


se manifestaram em dois tipos: os serviços prestados por empresas (clínicas e hospitais)
credenciadas a algum plano de saúde privado e as instituições públicas vinculadas ao
SUS. Conseqüentemente as mulheres que tinham condições de arcar com um plano de
saúde recebiam um tipo de serviço, geralmente de mais qualidade, enquanto que as que
não tinham condições (a maioria da população feminina brasileira) tinham que enfrentar
situações determinadas pela precariedade dos recursos humanos ou não e corriam mais
risco. E é assim até os dias atuais.

34
Entre os diversos problemas que se apresentam aos/às envolvidos/as com o setor saúde,
deve-se dar ênfase ao prosseguimento da luta pela redução dos coeficientes de
mortalidade infantil. Uma luta árdua, permanente, que exige recursos consideráveis para
saneamento e assistência à saúde e grande determinação, logo não pode ser postergada
(BRASIL//MS/SES,2001a.; BRASIL/MS/SE/SIS 2001b).
Na rede SUS (Sistema Único de Saúde) a atenção obstétrica inclui assistência
pré-natal, puerpério – pós parto e infantil, de forma a garantir maior segurança e menos
riscos à saúde da mulher e da criança. Contudo, a saúde das mulheres em “ciclo
gravídico e puerperal” ainda é tratada sob a perspectiva de um alto índice de
mortalidade. Ou seja, mesmo com tantos artifícios e avanços técnico-científico, ainda é
eminente a morbi- mortalidade materna e perinatal, ou seja, a morte da mulher durante o
parto, fato que se pensava ter sido deixado no passado.

Com o propósito de melhorar a qualidade da atenção perinatal, o Ministério da


Saúde vem aplicando na melhoria da qualidade e do aumento da cobertura do pré-natal,
e ao relevar o parto e o nascimento, reduz-se os índices de cesarianas e se cria os
Centros de Parto Normal (BRASIL, 2002).

Obstáculos e problemas há e sempre haverão. O balanço da situação do SUS


indica progresso. O que pode ser dito, com certeza, é que nessa década o sistema
público de saúde está em melhores condições de executar suas políticas e gerar bons
resultados que nos anos 1990. (BRASIL//MS/SES,2001a.; BRASIL/MS/SE/SIS 2001b)

A implantação do SUS esbarra na falta de vontade política de muitos


governantes e na falta de organização da sociedade, especialmente aqueles mais pobres
e marginalizados, que têm dificuldades de mobilização para pressionar as autoridades.
(IDEC, 2003, p.20-21)

“O SUS Deve ser eficaz e eficiente: deve prestar serviços de qualidade e


apresentar soluções quando as pessoas o procuram ou quando há um problema de saúde
coletiva. Deve usar da racionalidade, utilizar as técnicas mais adequadas, de acordo com
a realidade local e a disponibilidade de recursos, eliminando o desperdício e fazendo
com que os recursos públicos sejam aplicados da melhor maneira possível.”(IDEC,
2003)

35
Os técnicos em saúde pública há muito detectaram o ponto fraco do sistema: o
baixo orçamento nacional à saúde. O financiamento do SUS é marcadamente
insuficiente, a ponto de impedir não somente a implementação
progressiva/incremental do sistema, como e principalmente de avançar na
reestruturação do modelo e procedimentos de gestão em função do
cumprimento dos princípios Constitucionais (SANTOS, 200[?] p.3).12

A desigualdade entre o atendimento por instituições privadas e públicas é


mediada pela diferença do tipo e investimento que é feita. O SUS recebe recursos de
forma descentralizada, ou seja, de acordo com o faturamento local (o que garante,
hipoteticamente, às clinicas e postos locais recurso proporcional à demanda) porém
“desfocalizado” das reais necessidades locais. Enquanto que as clinicas e hospitais
particulares são administradas e têm os recursos direcionados para sua utilização de
modo a fornecerem um serviço de qualidade e seguro (IDEC, 2003).

A saúde da população não depende somente do SUS, mas também de


investimento de recursos, de políticas econômicas e sociais. A garantia de emprego,
salário, casa, comida, educação, lazer e transporte interfere nas condições de saúde e de
vida. Saúde não é só atendimento médico, mas também prevenção, educação,
recuperação e reabilitação (IDEC, 2003).

Entende-se que a incorporação da categoria de gênero nas ações governamentais


ainda se dá de forma confusa em função da falta de definição do conceito e pelas
dificuldades advindas das reformas e mudanças na dinâmica de gestão pública, ou seja,
do Estado em suas instituições políticas e ações. A incorporação da perspectiva de
gênero apresenta diversos graus de entendimento e negociação, conseguintemente, de
acertos e desacertos. p 26-27

12
SANTOS, Nelson R. Reforma sanitária e o SUS: tendências e desafios após 20
anos. Rev. Saúde em debate, n.81, v.33, 200[?]
36
CAPÍTULO III - A HUMANIZAÇÃO DO PRÉ-NATAL,
PARTO E PUERPÉRIO

O pré-natal
O atendimento humanizado às mulheres em estado gravídico e puerperal
PHPN

37
O Pré-Natal

O pré-natal como programa social de assistência à saúde da mulher e sua criança


visando o bem estar tanto da mãe como da sua criança, iniciou-se como programa no
século XX. Até 1901, causava receio à mulher ter seu filho em um hospital, assim como
internar-se antes do parto. Só a partir deste período histórico, viu-se que a morte da mãe
poderia ser evitada se acompanhada adequadamente antes do parto (GALLETTA,
2000).
As altas taxas de mortalidade materna e neonatal há muito persistem e, nos
últimos anos, vêm exigindo a elaboração e a implementação de políticas, especialmente
no âmbito da saúde, com vistas à melhoria e garantia da assistência oferecida às
mulheres e seus recém-nascidos. A grande maioria de mortes infantis ocorre durante o
primeiro mês de vida, período durante o qual o risco de mortalidade de que um recém-
nascido morra é 15 vezes maior que em qualquer outro momento durante seu primeiro
ano de vida. Dos 350.000 recém-nascidos que nascem a cada dia no mundo, 12.000
morrem durante o período neonatal.13

13
Bhutta ZB, Darmstadt GL, Ransom EI. Utilización de evidencia investigativa para salvarle la vida a
recién nacidos: perspectivas de políticas públicas sobre la salud neonatal. Washington(DC): Save the
Children Washington; 2003.

38
No que diz respeito à saúde, a mortalidade associada ao ciclo gravídico-
puerperal, incluindo o aborto, apesar de não serem doenças e de não aparecerem entre as
dez primeiras causas de óbito feminino, representam grave problema de saúde pública.
Por isso a importância fundamental da política publica de assistência pré-natal e
planejamento familiar para as mulheres. Além de proporcionar o direito básico ao
acompanhamento da mulher em todo o período gestacional, proporciona-lhe apoio no
âmbito fisiológico e uma assistência social conferindo uma melhor qualidade de vida às
mulheres gestantes sem discriminação de raça ou classe social. (BRASIL/SEPM 2004).

No Brasil, o pré-natal ou assistência pré-natal é um programa compreendido na


política pública de saúde da mulher. Compreende um conjunto de ações médicas
voltadas à saúde da mulher que se encontra no período compreendido entre a decisão de
conceber uma vida – ou melhor, engravidar, e o ultimo mês de sua gestação. É um
período bastante importante no que se refere a manutenção da vida concebida e à vida
da mulher-mãe, que passa por grandes transformações no campo fisiológico e social.
Visa proporcionar um bom desenvolvimento e condições de saúde apropriadas tanto
para o feto quanto para a mãe, evitando a morte e o comprometimento físico de ambos.
Os primeiros serviços de atendimento pré-natal surgiram no Brasil por volta dos
anos 20-30 do século XX, estabelecendo-se no pós-guerra, mas só nos anos 50-60, com
a diminuição de morte materna é que começaram a se preocupar com o feto e sua saúde
ainda dentro do corpo da mãe. Foi um tempo de grande evolução onde aquele ser que
residia no útero da mulher foi gradativamente sendo descoberto (GALLETTA, 2000 In
AZEVEDO, 2004).
A assistência pré-natal é fundamental para o preparo da mulher para a
maternidade. Não deve ser encarada como simples assistência médica e sim, como
trabalho de prevenção de intercorrência clínico – obstétrica e assistência emocional. É,
portanto, um procedimento de vital importância para uma gestação saudável, trazendo
benefícios tanto para a mãe, quanto para o feto e as mulheres precisam ser
conscientizadas sobre a sua importância. O reconhecimento dos benefícios do pré-natal
geralmente conduz as gestantes a adotarem atitudes preventivas como não fumar, não
ingerir álcool, alimentar-se adequadamente e evitar infecções (HALPER, 1998 e
REZENDE, 1998).

Segundo a técnica da Coordenação da Saúde da Mulher do Ministério da Saúde,


Daphne Rattner, com o acompanhamento pré-natal, as gestantes se sentem mais seguras,
39
pois são informadas de que sua gestação segue bem. “Isso é muito importante para a
tranqüilidade da gestante sobre o que está acontecendo com seu corpo e com a saúde de
seu bebê“, reforça Daphne. No pré-natal, elas também recebem informações sobre
cuidados necessários para uma gravidez saudável, como a importância de manter uma
alimentação balanceada, de praticar exercícios físicos regulares e de evitar o alcoolismo
e o tabagismo.

Algumas atividades ligadas ao pré-natal são incentivadas pela rede do SUS, como a
participação das futuras mães em cursos de preparação para o parto e grupos de
gestantes. “As reuniões são montadas para que as mulheres possam discutir e
compartilhar as suas dúvidas e dificuldades. Elas podem perceber que alguns de seus
problemas também são enfrentados por suas companheiras de grupo”, afirma Daphne
Rattner.

Como a gravidez é um processo rico de transformações físicas e emocionais, o ideal


é que o atendimento pré-natal seja feito por equipes multidisciplinares. "Sentindo que
existe uma equipe médica, com psicólogos, nutricionistas e pediatras cuidando da saúde
da gestante e do bebê, a mulher tem maior tempo e tranquilidade psicológica para curtir
a gravidez e fazer planos para a chegada da criança", afirma o ginecologista e obstetra
Eliano Pellini, professor da Faculdade de Medicina do ABC, em São Paulo.

http://www.terra.com.br/istoe/biblioteca/saudemulher/ Acessado em 14/01/2009

Por isso a importância fundamental da política publica de assistência pré-natal e


planejamento familiar. Além de proporcionar o direito básico ao acompanhamento da
mulher em todo o período gestacional, proporciona-lhe apoio no âmbito fisiológico e
uma assistência social conferindo uma melhor qualidade de vida para as mulheres
gestantes sem discriminação de raça ou classe social. (BRASIL/SEPM 2004).

O Atendimento Humanizado às mulheres grávidas, no parto e


pós-parto

Antes do século XX no Brasil, as mulheres eram mal contempladas no que se refere


ao cuidado da saúde. Todo o cuidado voltado para as crianças e era de responsabilidade
de instituições filantrópicas e da igreja, baseada na caridade cristã. Só após o século

40
XX é que começaram a surgir instituições públicas que se voltavam ao cuidado das
mulheres e seus filhos/as. Enfermeiras instruíam as mulheres sobre a importância do
cuidado pré-natal, sobre o período de parto e pós-parto e sobre o cuidado com os/as
filhos/as.
Com o avanço da tecnologia, o melhoramento das práticas profissionais, o
surgimento das incubadoras e berçários, diminuiu a mortalidade infantil.

Os anos 40 trariam a institucionalização do parto, agora caracterizado como


evento médico e, vivido de maneira pública. As mulheres, principalmente as
moradoras das grandes metrópoles, deixaram de parir com a ajuda de outras
mulheres e passaram a ser assistidas em instituições de saúde, com a presença
de profissionais transformando e medicalizando o cenário do parto e
nascimento. 14Nesta perspectiva, testemunhamos a formação de uma teia que
encobriu o cenário da assistência ao parto e nascimento, cujo roteiro, guiado
pela medicalização, transformou a mulher e o recém-nascido em objeto da
ação dos profissionais. (SILVA, CHRISTOFFEL e SOUZA, 2005)

Para Darcy Ribeiro citada por Benjamin Lago (1995)15, “A aceleração evolutiva,
ocorrida nas sociedades que experimentam uma revolução tecnológica com base em sua
própria criatividade ou na adoção completa e autárquica de inovações tecnológicas
alcançadas por outras sociedades, ou ainda com base em ambas as fontes seria o
processo de desenvolvimento eficaz e apto a superar as contradições dos países
subdesenvolvidos. “o chamado progresso ou modernização seria, na realidade, nada
mais do que complexificação, freqüentemente gerador de mais problemas sociais.”
(LAGO, 1995 p.165
Por outro lado a partir dessas mudanças surgiram novas formas de atendimento
às mulheres e se aprimoraram ainda mais o atendimento as crianças. Na década de 50,
como afirmam Leila Rangel da Silva, Marialda Christoffel e Kleyde Souza (2005),
Madeleine Leininger propõe o resgate de um modelo mais humanizado na assistência
prestada pelas enfermeiras para o século XXI, resgatando o cuidado na sua forma mais
humanizada, com vistas à re-valorização do feminino, abrindo espaços para a autonomia
da mulher no processo de parturição.

14
Leininger M, McFarland M, Transcultural Nursing: concepts, theories, research e
practices. 3a ed. New York: McGraw Hill; 2002.
15
RIBEIRO, Darcy. O processo civilizatório. Petrópolis, vozes. 1992. In LAGO,
Benjamin M. Dinâmica Social: como as sociedades se transformam. Petrópolis:
Vozes, 1995 p.165
41
Desde então surgem novas visões sobre o atendimento prestado pelas
instituições públicas e privadas às mulheres grávidas no período do parto e pós-parto,
sempre valorizando sua autonomia e seu bem estar, denominando a humanização.

Com o propósito de melhorar a qualidade da atenção perinatal, o Ministério da


Saúde vem atuando na melhoria da qualidade e do aumento da cobertura do pré-natal,
relevando o parto e o nascimento. Assim, tem-se reduzido os índices de cesarianas e se
criado os Centros de Parto Normal.

Considera-se, assim que humanizar a assistência significa agregar, à eficiência


técnica e científica, valores éticos, além de respeito e solidariedade ao ser humano. O
planejamento da assistência deve sempre valorizar a vida humana e a cidadania,
considerando, assim, as circunstâncias sociais, étnicas, educacionais e psíquicas que
envolvem cada indivíduo. Deve ser pautada no contato humano, de forma acolhedora e
sem juízo de valores e contemplar a integralidade do ser humano16.

No âmbito da assistência pré-natal, o atendimento humanizado e organizado


viabiliza o atendimento das reais necessidades das gestantes assistidas nas unidades de
saúde e valoriza a individualidade ressaltando os princípios da integridade e equidade,
os quais o SUS preconiza. Porém, devido ao modelo assistencial vigente, é
desconhecido pelas mulheres o real sentido do “respeito a sua individualidade”,
satisfazendo-se esta, apenas em encontrar leito no momento de parir (RATTNER apud.
CASTRO e CLAPIS, 2005)17.

O PHPN

A Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde entende por


humanização a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção
de saúde e enfatiza a autonomia e o protagonismo desses sujeitos, a co-responsabilidade
entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários e a participação coletiva no processo
de gestão. Pressupõe mudanças no modelo de atenção e, portanto, no modelo de gestão.

16
Grupo de Trabalho de Humanização do Hospital São Paulo - UNIFESP. Disponível
em http://www.unifesp.br/spdm/hsp/humaniza/humani.htm
17
Castro JC, Clapis MJ. Parto humanizado na percepção das enfermeiras obstétricas
envolvidas com a assistência ao parto. Rev Latino-am Enfermagem 2005 novembro-
dezembro; 13(6):960-7.
42
Tem como principal estratégia assegurar a melhoria do acesso, da cobertura e da
qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto e puerpério às
gestantes e ao/à recém-nascido/a, na perspectiva dos direitos de cidadania.
Para Suzanne Jacob Serruya (2003), o programa fundamentou-se no direito à
humanização da assistência obstétrica e neonatal como condição primeira para
adequado acompanhamento, além de estabelecer, no conjunto da assistência, critérios
para qualificar as consultas e promover o vínculo entre a assistência ambulatorial e o
momento do parto, integrados e com intervenções que tenham fortes evidências de que
são efetivas.
A proposta de humanização do parto surge com o propósito de diminuir os
partos cesarianos, e assim diminuírem o risco de complicações pós parto e
conseqüentemente complicações e até a “morbimortalidade” infantil e materna.

A mortalidade por causas perinatais, atualmente, é responsável por mais de 50%


dos óbitos no primeiro ano de vida. Partindo da constatação de que a falta de percepção
dos direitos femininos e de aspectos fundamentais da humanização eram o pano de
fundo da má assistência, e tendo a compreensão de que era indispensável propor
mudanças no modelo assistencial, mesmo conhecendo as limitações de uma medida
vertical, o Ministério da Saúde tomou a decisão de lançar uma estratégia onde a questão
da humanização e dos direitos aparecesse como o princípio estruturador e instituiu em
junho de 2000 o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento – PHPN -
(BRASIL, 2000a).

Há que se destacar que a partir do século XX a institucionalização da assistência


ao parto fez com que predominasse o parto hospitalar e, assim, “os cuidados prestados
pelas parteiras enquanto mulheres conhecedoras dos ‘mistérios do parto’, e que
acumularam ao longo dos séculos um ‘saber empírico’ sobre a continuidade da vida,
passaram a ser de responsabilidade do profissional de saúde”.
Nascimento MGP, Santos OMB, Souza ML. Vivenciando o processo do
nascimento. Texto & Contexto Enfermagem 1997
janeiro/abril; 6(1):157-67.

O Programa, lançado pelo Ministério da Saúde em junho de 2000, tinha como


principal estratégia assegurar a melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do
acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto e puerpério às gestantes e ao recém-

43
nascido, na perspectiva dos direitos de cidadania. O Programa fundamentou-se no
direito à humanização da assistência obstétrica e neonatal como condição primeira para
adequado acompanhamento, além de estabelecer, no conjunto da assistência, critérios
para qualificar as consultas e promover o vínculo entre a assistência ambulatorial e o
momento do parto, integrados e com intervenções que tivessem fortes evidências de que
são efetivas.

Apesar da comparação dos indicadores de qualidade de assistência, definidos


pelo próprio sistema, mostrar crescimento de 2001 para 2002, os baixos percentuais
registrados ratificam a necessidade de permanentes avaliações com o objetivo de
melhorar a qualidade desta atenção, garantindo, além de melhores resultados maternos e
perinatais, o direito inalienável de cada mulher de gestar e parir em segurança e bem-
estar (SERRUYA, 2003).

Na perspectiva dos direitos de cidadania a humanização compreende, entre


outros, dois aspectos fundamentais. O primeiro, diz respeito à convicção de que é dever
das unidades de saúde receber com dignidade a mulher, seus familiares e o recém-
nascido adotando condutas hospitalares que rompam com o tradicional isolamento
imposto à mulher. O segundo, refere-se à adoção de medidas e procedimentos
sabidamente benéficos para o acompanhamento do parto e do nascimento, evitando
práticas intervencionistas desnecessárias (BRASIL, 2000a).

Não que a intervenção cirúrgica seja sempre ruim. Porém, defende-se o uso desta
de forma moderada, apenas em casos em que realmente se necessite desta. O que pode
acobertar também, a realidade da precariedade do SUS no atendimento pré-natal. Uma
vez que financiar partos cesáreos sai mais caro ao governo que incentivar partos
naturais, que demandam menos instrumentação cirúrgica e equipes médicas (apenas a/o
enfermeira/o e uma/um assistente técnica/o). Além do que implantar a humanização
baseando-se nos índices de mortalidade e complicações materno infantil é a reafirmação
de um sistema falho que põe a vida da mulher em risco quando direcionam ao parto dito
humanizado ou sem corte (parto normal ou transpelviano), sem direito de escolha, as
mulheres de alto e baixo risco gestacional,com o discurso de que submetê-las a esse
tipo de atendimento é mais seguro, quando por trás há o descaso governamental
mediante a precariedade dos centros médicos que disponibilizam de um numero

44
limitado de instrumentação cirúrgica e mão de obra capacitada para um atendimento de
qualidade às mães.

RESULTADO E DISCUSSÃO

45
CAPÍTULO IV – O ATENDIMENTO HUMANIZADO
ÀS GESTANTES E PUÉRPERAS

As gestantes e a conscientização da humanização


A estruturação física voltada para a humanização do atendimento
Recursos Humanos Desumanos: O Profissional de saúde e a humanização do
atendimento

46
As gestantes e a conscientização da humanização

As mulheres necessitam incorporar uma postura mais participativa socialmente e


politicamente, buscando mais informações a cerca de seus direitos sexuais e
reprodutivos e cobrando do poder público, mais políticas sociais educativas de saúde.
O que tem se observado é que a maioria das entrevistadas deixaram o emprego para
dedicar-se ao trabalho doméstico, como a tradicional donas de casa. Outras pararam de
estudar por conta própria, todas com a visão interiorizada da mulher dona do lar,
reafirmada com a gestação. Como percebe-se na fala a seguir: “tava trabalhando, agora
saí...só estou em casa; Estou parada no momento...desde que engravidei”(Maria,
gestante).
Algumas possuem outros filhos pequenos, o que também interfere na freqüência
destas e na conduta durante o pré-natal, uma vez que estas disponibilizam de menos
tempo para o cumprimento das consultas do pré-natal, exames e palestras, comparando-
as com as mulheres que não tem filhos: “Eu vim de ônibus bem cedo e peguei
ficha(...)cheguei no ônibus da prefeitura., aí eu contei a ele [o funcionário responsável
pela distribuição das fichas] minha história e ele me arrumou uma ficha, por que se não
eu tinha que vir de novo até conseguir e eu não posso deixar meu filho sozinho por
muito tempo né?”(Josefa, gestante).

47
O fato de as mulheres estarem propensas a engravidar faz com que as mulheres não
possam (ou devam) ocupar cargos que exijam delas mais disposição de tempo, uma vez
que dependem delas familiares, filhos e maridos. (PENA, 1981).
As políticas sociais de saúde voltadas para a saúde da mulher advindas desse
modelo em destaque (neoliberal capitalista) geralmente enfocam as mulheres baseando-
se nas relações de gênero destacando as mulheres sob um ponto de vista do poder
exercido dos homens sobre as mulheres. Não sendo raro encontrar nas políticas a
mulher figurada como mães reprodutora, submissa e restrita ao espaço doméstico
enquanto criadora da prole. Estas características são reforçadas no cotidiano através das
relações sociais na participação destas mulheres na esfera pública. Com isso a situação
das mulheres se agrava, aumentando ainda mais a desigualdade social baseado em
relações de gênero.
O resultado disto, aliado à postura tímida das mulheres na sociedade é a falta de
informação a respeito dos direitos e deveres sexuais por entre a população feminina.
Esta é uma bandeira levantada pelas feministas que vem lutando ao longo dos anos por
uma melhor posição feminina no que se refere a participação política na cobrança dos
direitos em serviços prestados à elas, em destaque os serviços referentes à saúde
reprodutiva.
É dever fundamental do Estado enquanto sujeito principal responsável pela
manutenção social proporcionar às mulheres políticas públicas de educação sexual que
as oriente sobre seus direitos e deveres reprodutivos além de oferecer um serviço de
atendimento à saúde de qualidade que atenda suas necessidades e de suas/seus filhas/os.
Diminuindo assim, os altos índices de mortalidade materno-infantil e precavendo a
morbi mortalidade entre as mães e seus bebês.

A idade é variável não determinando a predominância de nenhuma faixa etária


específica, assim como estado civil.

• A ocupação das entrevistadas determinou o predomínio de mulheres que ocupam o


espaço doméstico sejam preferencialmente ou não. Algumas deixaram o emprego por
causa da gestação, outras pararam de estudar por conta própria, todas com a visão
interiorizada da mulher dona do lar reafirmada com a gestação. Algumas possuem
outros filhos pequenos, o que interfere na freqüência destas e na conduta durante o pré-
natal, uma vez que estas disponibilizam de menos tempo para o cumprimento das

48
consultas do pré-natal, exames e palestras, comparando-as com as mulheres que não
tem filhos.

• O fato de muitas dessas mulheres morarem no interior do estado também influencia na


forma como se dá o pré-natal. A percepção que estas têm do serviço difere das mulheres
que moram na capital. Geralmente as primeiras apresentam uma visão mais positiva
(pois tem com referência um posto de saúde da família local) dos serviços embora haja
algumas queixas com relação ao tempo de espera, ao acesso inicial para marcação e à
compreensão das instruções dadas pelos profissionais.

A questão da falta de vínculo entre a assistência pré-natal e a do parto leva as


mulheres, em trabalho de parto, a uma peregrinação à procura de vagas nos hospitais,
ferindo um aspecto fundamental dos direitos de cidadania. (SERRUYA,2003)

O SUS É universal porque deve atender a todos, sem distinções, de acordo com
suas necessidades; e sem cobrar nada, sem levar em conta o poder aquisitivo ou se a
pessoa contribui ou não com a Previdência Social.” (caderno do IDEC,2.Ed. Brasília ,
2003, p.14-15)

A humanização vem modificar a forma de atendimento do antigo INAMPS, no


qual se estabeleciam relações verticalizadas que se baseava na deposição de
informações aos/às pacientes pelos profissionais de saúde. Com a proposta de
humanização propõe-se o estabelecimento de um diálogo entre profissionais de saúde e
pacientes, tendo-se em vista a ética, o respeito e a consideração às especificidades de
cada uma.

Informações sobre o seu estado de saúde, extensivas aos seus familiares e/ou
acompanhantes, de maneira clara, objetiva, respeitosa, compreensível e adaptada à
condição cultural, respeitados os limites éticos por parte da equipe de saúde sobre, entre
outras: diagnósticos confirmados; objetivos dos procedimentos diagnósticos, cirúrgicos,
preventivos ou terapêuticos; e) riscos, benefícios e inconvenientes das medidas
diagnósticas e terapêuticas propostas; no caso de procedimentos diagnósticos e
terapêuticos invasivos ou cirúrgicos, a necessidade ou não de anestesia e seu tipo e
duração, partes do corpo afetadas pelos procedimentos, instrumental a ser utilizado,
efeitos colaterais, riscos ou conseqüências indesejáveis, duração prevista dos
procedimentos e tempo de recuperação; h) finalidade dos materiais coletados para

49
exames; i) evolução provável do problema de saúde; Todos esses princípios foram
feridos no caso relatado à cima.

Os direitos reprodutivos surgiram por volta dos anos 80 como estratégia


discursiva das feministas com o objetivo de reinvidicar garantias de igualdade,
liberdade e justiça social e dignidade no exercício da sexualidade e da função
reprodutiva.

Há uma grande preocupação com o aleitamento materno e estão sempre incentivando


as mães a darem de mamar. No entanto as refeições são por vezes rejeitadas pela
maioria das mulheres que se queixam do sabor e do preparo, pois se trata de uma
comida preparada em grande quantidade de uma forma um tanto quanto descuidada.
Assim, não é difícil achar uma pedra no feijão, se deparar com uma papa “aguada”
fraca, um ovo cozido demasiadamente e impróprio ao consumo, um pão duro e velho. O
que demonstra um descaso com as mães que necessitam de nutrientes e de boa
alimentação tanto para fornecerem um bom leite aos seus filhos/as quanto para ter uma
melhor recuperação e terem alta mais rapidamente dando vaga a mais mulheres que
necessitarem do leito.

É muito gritante o número de mulheres que desconhecem seus direitos sexuais e


reprodutivos, assim como nunca ouviram falar no programa de humanização do parto e
puerpério instituído pelo Programa de Atenção Integral da Saúde da Mulher. As
palestras ministradas incentivam apenas o aleitamento e o planejamento familiar no pós-
parto. Não conferindo as mulheres informação ou instrução a cerca de seu papel político
e cidadão.

Isto reafirma o que era difundido no final do século XIX, no inicio das
reinvidicações feministas defendidas por Bertha Lutz, sobre a formação das mulheres
que dizia que a mulher foi formada para sentir assim como os homens foram criados
para pensar. (FERRERO e LOMBROSO, 1896 apud. CHRISTOFFEL, SILVA e
SOUZA, 2005). Uma idéia que é reproduzida ainda hoje de forma diferente, nas
relações sociais, que se apresenta na forma passiva como as mulheres se posicionam no
espaço público e político.

Existe a fragilidade da população que não cobra seus direitos, fortalecendo ainda mais
as atitudes das equipes de saúde e das instituições. Entende-se que os direitos e deveres no

50
processo de parturição precisam ser mais bem trabalhados neste contexto, posto que, ambos,
população e equipe, ainda necessitam de conhecimentos e compreensão acerca das diretrizes
que promovem o parto humanizado para que este se efetive. (REIS e PATRICIO, 2005, p.229).

Assim como observei o grau de instrução da maioria das mulheres atendidas pelo
hospital e pude traçar um fator comum no perfil delas que era característico:a falta de
informação a respeito dos direitos e deveres sexuais e reprodutivos além do relativo
sentimento de impotência mediante o atendimento dos profissionais e residentes pelos
quais eram atendidas. O que lhes conferia uma certa insegurança sobre as informações
passadas por eles/as, uma vez que estes/as estavam em período probatório obrigatório
de sua formação profissional (no caso dos /as residentes).
No período gestacional a mulher se encontra em um estado físico e mental bastante
delicado no qual ocorrem diversas alterações, sejam elas fisiológicas e psicossocial. Sua
imunidade fica baixa e seu estado emocional fica mais sensível. Assim, mais suscetível
a desequilíbrios orgânicos e, por que não, sociais. Também é comum a muitas mulheres
sentir-se desamparada durante a gestação por não possuir um bom plano de saúde para
acompanhar e garantir um melhor atendimento pré-natal e parto, por não terem
recursos.

Estrutura Física no atendimento humanizado

A humanização dentre diversos fatores se refere também a estrutura física onde serão
feitos os atendimentos às gestantes. Neste caso, apesar do referido hospital ser considerado
adequado no que se refere ao atendimento dos requisitos básicos para implementação do
programa de humanização, não proporciona segurança e conforto às gestantes e desqualifica o
serviço prestado pelo estabelecimento.

Constatou-se unanimemente a insatisfação das mulheres com relação aos banheiros e a


superlotação da triagem - salas de espera em que as mulheres ficam aguardando vaga antes de ir
a sala de parto. “Os banheiros são todos sujos, não disponibilizam de pape, tem sangue por
todo lado e são impróprios como local de coleta de material para exames
laboratoriais.”(Jasmim, gestante); “Dormi lá sem condições nenhuma, não tem condições.”
(Maria, puérpera); “A triagem é um lugar muito pequeno porque não é pra ficar a li. É pra

51
ficar ali e subir. Mas o fato é que lá em cima [no PPP alojamento de Pré Parto, Parto e
Puerpério] não tem lugar.” (Isabel, enfermeira)

Starfield (2002) apud Azevedo (2004) aborda de forma clara e objetiva este assunto,
quando diz que a qualidade da atenção existe quando as necessidades de saúde existentes estão
sendo atendidas de forma otimizada pelos serviços de saúde, dado o conhecimento atual a
respeito da distribuição, reconhecimento, diagnóstico, e manejo dos problemas e preocupações
referentes à saúde.

Isto vem dificultar a efetiva implantação do programa de humanização pela


instituição. Esta, por ser de referência e, portanto, configura-se em uma instituição de
grande demanda, submete às gestantes situações e condições não adequadas ao seu
estado como, por exemplo, filas a perder de vista em horários desumanos (04h00) para
tentar conseguir ficha de encaminhamento para consulta. Isto, por sua vez força uma
prática ilegal, porém bastante banalizada hoje em dia, que são os apadrinhamentos e
consultas por indicação, como se vê nas falas a seguir: “Meu cunhado trabalha aqui, foi
ele quem conseguiu minha marcação” (Samanta, gestante); “Minha tia conhece uma
pediatra daqui que foi quem conseguiu pra mim a marcação” (Rosa, gestante); “Minha
mãe conhece um enfermeira que trabalha aqui. Ela foi quem arrumou marcação pra
mim”(Jasmim, gestante).
O Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento está estruturado nos
seguintes princípios: toda gestante tem direito ao acesso a atendimento digno e de
qualidade no decorrer da gestação, parto e puerpério (SERRUYA, 2003, p.119). Estes
princípios se estruturam no princípio de universalização do atendimento preconizado
pelo SUS disposto no Cap. II dos princípios e diretrizes da Lei 8.080 de 19 de Setembro
de 1990.
Durante o pré-natal pude observar e vivenciar diversas problemáticas resultantes de
falhas no atendimento e administração que ocasionaram desconforto e inquietação, que
pressupus, ocorrerem também em diversos graus à outras gestantes que estavam sendo
acompanhadas pelo referido hospital.
As dificuldades de financiamento do início da década, mencionadas
anteriormente, restringiam a capacidade de ação do setor público. Esse limite, agravado
pela universalidade da assistência, levou a um quadro generalizado de redução na
qualidade da assistência e o sucateamento da infra-estrutura.

A maioria das entrevistadas comentaram que os banheiros não têm estrutura


como local de recolhimento de amostra de material para exames e os leitos do pós parto
52
são cobertos por lençóis muitas vezes manchados e não têm batas suficientes para
distribuir entre as mulheres que estão no alojamento tardio esperando a alta dos seus
bebês.

Para padrões mais altos de complexidade, o processo de correção das


desigualdades é mais intricado, pois que depende da infra-estrutura instalada para o
atendimento em hospital. A ampliação de recursos precisa ser acompanhada de
investimentos, públicos ou particulares, que focalizem sua utilização. Investimentos
tanto na oferta de mais leitos como de maior densidade tecnológica. Na atenção básica,
o processo de aumento da oferta é mais simples e possível, mesmo para prefeituras
municipais de pequeno porte.

A escolha pelo atendimento do Sistema Único de Saúde ao invés do serviço


prestado por uma instituição privada é feita, muitas vezes por falta de opção. Visto que a
maioria das mulheres atendidas não possuem renda para custear um bom plano de saúde
que lhes ofereçam o serviço de pré-natal. O que justifica a fala: “Eu só estou aqui por
que sou pobre. Se eu pudesse, eu pagava um plano de saúde e não tinha meu filho
aqui”. O que transparece insegurança no serviço prestado pelo SUS. Este que obtém
recurso do pagamento de impostos.

Recursos Humanos Desumanos: O Profissional de saúde e a


humanização do atendimento
Sobre os profissionais, as mulheres do pós-parto se queixam mais de descaso com
relação a elas, da falta de informações e instruções, como observa-se a seguir: “Eu já estava
fazendo outro escândalo porque ninguém vinha auscultar Marina, ninguém vinha medir minha
pressão, ninguém vinha me falar nada, ninguém vinha me falar se eu ia ser operada ou não”;
(Isabele, puérpera); “ Na hora que entra pra cirurgia é um descaso tão grande que eu não sei
até hoje a médica que me operou. Porque ela não se apresenta, nada, não chega e diz nada”
(Maria, puérpera).

Na prática cotidiana dos serviços de saúde, o acolhimento e a humanização podem ser


percebidos por meio de atitudes e ações evidenciadas na relação diária estabelecida entre
profissionais e usuárias dos serviços, a exemplo da forma cordial do atendimento, com os
profissionais se apresentando, chamando pelo nome, informando sobre condutas e
procedimentos, escutando e valorizando o que é dito pelas pessoas. (Brasil, 2005, p.14).

No que diz respeito às/aos profissionais de saúde que se responsabilizam pela


assistência, pôr em prática os princípios do Sistema Único de Saúde e atender de forma
mais humanizada as mulheres em estado gravídico e puerperal, se encontram

53
insatisfeitos/as com seu trabalho exaustivo e mal remunerado, trabalhando de plantão
em plantão.

O que estes profissionais aprendem sobre o termo humanização, em cursos de


capacitação oferecidos pelo Ministério da Saúde, e de que forma o implementam nas
suas práticas com as gestantes garantindo-lhes um atendimento digno e uma melhor
qualidade de vida?

Os benefícios da experiência dos residentes em um hospital escola proporciona,


além da sedimentação do conhecimento cognitivo, o desenvolvimento das habilidades
técnicas e principalmente o aprendizado de atitudes que regem a conduta médica,
envolvendo aspectos afetivos e sociais. Porém, para isto o hospital rotulado como de
ensino é imprescindível que um boa assistência médica seja prestada. (p.228 –
229)Imip livro

Também na assistência pré-natal ocorre uma expropriação da autonomia


feminina e estão presentes todos os pilares do modelo tecnocrático: as mulheres são
vistas como um objeto, fora de qualquer contexto, onde a “máquina” é examinada e não
se estabelece nenhum vínculo entre profissional e mulher. As ações praticadas no pré-
natal são da autoridade e responsabilidade dos profissionais de saúde que
supervalorizam as atividades mais técnicas e mantêm, com intervenções determinadas, a
hierarquia e padronização das rotinas. Os profissionais de saúde devem informar e
dividir as decisões e responsabilidades com as mulheres, equilibrando a tecnologia e o
humanismo, abertos a outras práticas e com foco na prevenção (DAVIS-FLOYD, 2001).

“O tecnicismo distancia a formação dos profissionais do trabalho em saúde,


transformando a proposta de desenvolvimento de trabalho em quipe em retórica: um
discurso vazio de uma prática real.”

“O grande desenvolvimento tecnológico resultante da chamada terceira Revolução


Industrial vem, segundo o autor Ignacy Sach, contribuir com o subemprego e
desemprego de alguns profissionais. E em se tratando de atendimento às diversas
moléstias que abarcam a população, vem distinguir o atendimento à elite, que
disponibiliza-se em sua maioria, dos melhores métodos laboratoriais através dos seguros
pagos, enquanto que a população pobre carece de atendimento e são submetidos à
longas esperas e estão mais sujeitos a vir à óbito.” – O médico em novos tempos.
Cap.3 p. 49 Geraldo José Marques Pereira.

Como se sabe, são definidas pelo texto constitucional as principais


características do SUS: universalidade; gratuidade; integridade; organização
descentralizada com direção única em cada esfera de governo; prioridade das atividades
preventivas e sem prejuízo das atividades de assistência; participação da comunidade;

54
financiamento público das três esferas de governo e participação da iniciativa lucrativa e
filantrópica de modo auxiliar (Lucchese, 1996; Andrade, Pontes e Martins Júnior,
2000 e Andrade, 2001).

O que lhes conferia uma certa insegurança sobre as informações passadas por
eles/as, uma vez que estes/as estavam em período probatório obrigatório de sua
formação profissional (no caso dos /as residentes).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entre a proposta construída em bases cidadãs, justa e humanista e a prática desumana há


um vácuo em que se pode relacionar com a cultura capitalista, individualista e o modelo de
estado mínimo representado pelo neoliberalismo. Uma vez que os/as profissionais, responsáveis
pela implementação da política junto às gestantes e puérperas, apresentam comportamento
diferenciado mediante o local onde é aplicada sua mão de obra. Sendo assim, em hospitais
públicos credenciados ao SUS aplicam, preferencialmente, os princípios ditos humanizados, ou
seja, sem cortes e sem medidas intervencionistas desnecessárias. Enquanto que em hospitais
particulares agendam inúmeros partos cesáreos alegando melhor opção (mais cômodo e
‘indolor’) às futuras mães, que têm condições de arcar com planos particulares tendo, portanto,
melhor atendimento e serviços de qualidade a sua disposição.

Aliado a isto, mulheres, geralmente de baixa renda, pertencentes à classe popular,


desprovidas de educação, desconhecem seus direitos e deveres, sendo destituídas igualmente do
poder de reinvidicar por melhor tratamento médico, melhor atendimento hospitalar, de dialogar
com os/as profissionais responsáveis pela manutenção da sua saúde e qualidade de vida assim
como de seus filhos e de sua família.

Através da realidade observada na instituição e das entrevistas feitas até o momento,


vem se constatando que embora seja instituída a humanização, esta precisa ser melhor
incorporada pelos profissionais da área de saúde, no exercício de suas práticas diárias. Além de
que as discussões dos direitos sexuais e reprodutivos devem ser mais incentivados pelo poder
público através de políticas sociais educativas de saúde que posicionem as mulheres numa
melhor condição de diálogo entre elas e os profissionais de saúde, tendo-se em vista a ética, a
cidadania através do respeito e da consideração às especificidades de cada mulher atendida
desde o pré-natal ao pós parto. Desta forma estas se posicionarão socialmente e politicamente
melhorando sua qualidade de vida.

55
7. PROPOSTAS

A gravidez constitui um período do ciclo de vida, que na maioria das vezes


poderia transcorrer sem desvios da saúde, porém envolve em si uma crise adaptativa
caracterizada por complexas transformações fisiológicas, emocionais, interpessoais e
sócio-demográficas, as quais implicam em um potencial de risco eminente e por isso
demanda atenção caráter multidisciplinar de saúde. (PEREIRA e BACHION 2005) 18

Por isto é de grande importância a participação dos/das profissionais em Economia


Doméstica atuarem também com esta problemática uma vez que a humanização, proposta pelo
MS em 2001 remete-no à qualidade de vida da mulher e sua representação social enquanto
cidadã portadora de direitos e deveres.

Além do que pela incidência dos fatos, tais como: os altos índices de mortalidade
materna, o grande número de mulheres que desconhecem os direitos e deveres, a postura destas
mulheres gestantes e mães usuárias do SUS inseguras e submissas aos profissionais de saúde, e
abusos e descasos sofridos por estes ainda recorrentes, faz-se necessário mais estudos e maiores
intervenções na área.

Para minimizar este quadro foram elaboradas as seguintes intervenções sobre como nós
poderíamos atuar enquanto economistas domésticos/as:

• Elaborando atividades como palestras e debates a serem aplicadas às gestantes


em postos de saúde e hospitais, juntamente com agentes de saúde e profissionais
de saúde (enfermeira/o médica/o, etc);

• Auxiliando e monitorando o preparo dos alimentos feitos nas cozinhas dos


hospitais a serem servidos às puérperas;

• Discutir com grupos de mães e gestantes assuntos como direitos sexuais e


reprodutivos;

• Oferecer orientações a cerca de planejamento e orçamento familiar às mulheres


e familiares;

18
PEREIRA, Sandra V.; BACHION, Maria M. Diagnósticos de Enfermagem
identificados em gestantes durante o pré-natal. In Revista Brasileira de Enfermagem
version Print ISSN 0034-7167 Rev. bras. enfermagem. vol.58 no.6 Brasília Nov./Dec.
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