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Resumo
Este texto apresenta uma breve análise sobre o entendimento do amor na obra Fedro, de
Platão. Destaca uma diferença primordial entre aquele que ama no sentido filosófico e
por isso divino, daquele que ama no sentido estrito do prazer e por isso com a sabedoria
mortal.
Sócrates, repudiando o discurso de Lísias, que dizia que “se deve prestar
favor a quem não ama do que a um apaixonado3”, propõe primeiro que se defina o que é
o amor, sua natureza e seus defeitos, para averiguar se este traz vantagens ou prejuízos.
Sócrates define o amor como desejo4. O desejo faz parte de dois princípios
que nos conduzem: o desejo inato do prazer e o outro a opinião que pretende chegar ao
que seria melhor. Quando nos deixamos guiar pelo prazer, sem deliberação, chamamos
de intemperança. Quando nos utilizamos da opinião do que seria melhor, baseada na
razão, temos a temperança. Pode-se entender que:
1
Trabalho feito para a Semana Acadêmica do Curso de Filosofia da Universidade de Passo Fundo, em
maio de 2007.
2
Formado em Filosofia – Licenciatura Plena pela UPF e Bacharelando no mesmo Curso pela mesma
Universidade.
3
Fedro, 227d.
4
Idem, 237e.
[...] Quando o desejo, que não é dirigido pela razão, esmaga em nossa alma
o desejo do bem e se dirige exclusivamente para o prazer que a beleza
promete, e quando ele se lança com toda força que os desejos intemperantes
possuem, o seu poder é irresistível. Esta força toda-poderosa, irresistível,
chama-se Eros ou Amor.[...] (238 d).
2
[...] A alma pode ser comparada com uma força natural e ativa, constituída
de um carro puxado dor uma parelha alada e conduzido por um cocheiro. Os
cavalos e os cocheiros das almas divinas são bons e de boa raça, mas os dos
outros seres são mestiços. O cocheiro que nos governa rege uma parelha na
qual um dos cavalos é belo e bom, de boa raça, enquanto o outro é de raça
ruim e de natureza arrevesada. Assim, conduzir nosso carro é difícil e
penoso. [...] (246a).
3
dificuldade em conduzir a carruagem. A imagem da alma tripartida ressalta esta relação
entre os homens e os deuses.
No mito da parelha alada também encontramos uma referência às
dificuldades de contemplar as Formas. No entanto, o único caminho para tal é o amor
filosófico que se inicia com o amor de uma beleza individual. Esse amor que reconhece
a sombra da Forma da beleza através do olho do corpo, mas que o faz lembrar da
verdadeira Forma da Beleza em si, pelo olho da alma.
O corcel indócil do amante diz inúmeras coisas para o cocheiro e este pede
um instante de prazer. O corcel do amado nada diz, tomando, sem saber por que, o
amante nos braços e cobrindo-o de beijos. Ele não tem ânimo para abdicar o que o
amigo lhe pede, mas o bom corcel e o bom cocheiro resistem, utilizando da razão e da
compostura e:
[...] Se a melhor parte da alma sair vitoriosa e os conduzir a uma vida bem
ordenada e filosófica, eles passarão o resto de sua vida felizes e em
harmonia, sob o comando da honestidade, reprimindo a parte da alma que é
viciosa e libertando a outra que é virtuosa. E ao morrer recebem asas e ficam
leves, pois venceram um dos três combates verdadeiramente olímpicos5, o
maior bem que a sabedoria humana ou a loucura divina podem proporcionar
a um homem. Mas se se entregam a uma vida em comum sem filosofia, e,
contudo honesta, poderá suceder que os dois corcéis rebeldes assumam o
domínio num momento de embriaguez ou de descuido. Os cavalos
indomáveis dos dois amantes, dominando suas almas pela surpresa, os
conduzirão ao mesmo fim. Eles se entregarão ao tipo de vida mais invejável
aos olhos de vulgo, e se atirarão aos prazeres. Satisfeitos, gozarão ainda
estes mesmos prazeres, mas raramente, porque esses mesmos prazeres não
terão aprovação da alma. Terão uma afeição que os ligará, mas que será
sempre menos forte do que aquela que liga os que verdadeiramente amam.
[...]. (256d-e).
5
Nos jogos olímpicos, o vencedor recebia o prêmio após a terceira vitória.
4
uma jornada juntos caiam na escuridão subterrânea, pois esses passam uma vida feliz
numa eterna união. E em virtude do amor que os uniu, recebem juntos as suas asas.
O amor que só possui a sabedoria mortal e se apega às coisas do mundo, só
saberá querer o amado como um escravo. Aquele que ama com sabedoria divina faz
ambos, amante e amado, crescerem na razão, juntos. É este amor divino em que se
alicerça o amor daquele que ama com paixão. Não uma beleza no sentido de uma
contemplação da natureza, mas a beleza de uma pessoa:
Bibliografia
Anexo7
6
O sentido originário pode-se conferir em: [...] porque las alturas de la filosofia sólo las puedem escalar
dos que van juntos, enamorados que han sublimado su deseo em la ocupación común de la dialética
(conversación o discusión). La Belleza se sitúa al mismo nivel de la sabiduría (la verdad) y el bien como
Formas supremas, o, más bien, como aspectos de una Forma suprema única. Pero, en cuanto Belezza, ella
proporciona un vínculo con el mundo sensible que faltaba en el escenario más austero del Fedón. El
Banquete y el Fedro presentan otro aspecto del impulso ascendente, no la curiosidad meramente
intelectual, sino el éros – una pasión, incluso una locura, pero indudablemente divina-. […]. (GUTHRIE,
W. K. C. p. 409).
7
Este anexo é baseado no fornecido pelo modelo que consta na pg. 412 do livro Historia de la filosofia
griega V de GUTHRIE, W. K. C.
5
Ilustração do Primeiro Discurso (237b-241d)
Desejo
Loucura