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Discípulos em missão

J
osé Allamano, fundador dos Missionários e das
Missionárias da Consolata, cumpriu seu papel de
Pai e Mestre, sobretudo através das conferências
formativas que fazia cada domingo aos jovens e às
jovens que se preparavam para a missão.
Das conferências foram extraídos os temas princi-
pais da sua espiritualidade missionária, reunidos
em livro. O conteúdo é de extrema atualidade,
uma vez que mostra o essencial para quem se
empenha na evangelização dos povos: a santidade missionária.
Também para Allamano, “o verdadeiro missionário é o santo”.
Em se tratando de formulações elaboradas há quase um século,
foram aplicadas ao texto uma e outra adaptação lingüística, sem
contudo alterar-lhe a forma e o conteúdo.
Estas páginas não são reservadas aos filhos e filhas de Allamano.
Pelo fato de serem expressões da experiência espiritual de um
homem de Deus, de coração aberto às necessidades do mundo,
a meditação contida nesse livro serve de encorajamento também
aos leigos e leigas empenhados na missão, aos sacerdotes dio­
cesanos, aos consagrados e a quantos desejam partilhar um
genuíno espírito católico.

Preço: R$ 15,00
por DEPÓSITO BANCÁRIO:

Pedidos: Banco Bradesco, agência 0545 c/c 38163-2


(Instituto Missões Consolata), FAVOR ENVIAR COMPROVANTE DO DEPÓSITO

Tel/Fax.: (11) 2256.8820 COM NOME E ENDEREÇO PARA:


Rua Dom Domingos de Silos, 110 - 02526-030 - São Paulo - SP, ou via Fax.

Lançamentos das Pontifícias Obras Missionárias


Mensagens Pontifícias Mensagens, Conferências e
Dia Mundial das Missões Conclusões do CAM 3 – Comla 8
Este livro contém todas as Men- Este livro de 92 páginas traz a mensa-
sagens Pontifícias para o Dia gem do papa, homilia de abertura, as
Mundial das Missões, de Paulo principais conferências, a mensagem
VI a Bento XVI, inclusive a deste e a declaração finais e os delegados
ano (1963-2008). Os conteúdos do Brasil no CAM 3 – Comla 8. Um
continuam atuais e de grande subsídio importante para aprofundar
utilidade para a formação e os conteúdos deste Congresso Mis-
aprofundamento missionário. sionário, no qual foi lançada a Missão
Com 244 páginas, contém ex- Continental.
celente índice remissivo.
Preço: R$ 5,00
Preço: a consultar

Pedidos
Tel.: (61) 3340.4494
E-mail: material@pom.org.br
www.pom.org.br
EDITORIAL
A Vida se manifestou
SUMÁRIO
Dezembro 2008/10

O
mês de dezembro nos reserva momentos e celebrações
significativas. Com o Advento iniciamos na Igreja um
novo ano litúrgico, e com ele a preparação para o Natal
do Senhor. Entramos em ritmo de espera, em atitude
de vigilância e atenção, de alegre chegada e calorosa
acolhida. Vivenciamos mais uma crise mundial e, como
comunidade missionária que recebeu a incumbência de anunciar o
1 - Natal, festa da esperança
Reino de Deus, somos convocados a renovar a esperança para que para os excluídos.
a vinda do Senhor produza em nós bons frutos. E as melhores lições
aprendemos de Deus. O Natal está intimamente relacionado com a 2 - Nossa Senhora de Guadalupe.
Missão. Se Deus veio ao encontro da humanidade com a Encarna- Fotos: Divulgação
ção em todas as culturas, os discípulos missionários de Jesus não
deveriam ter medo de repetir o mesmo gesto e ir ao encontro do
outro. Está na hora de romper as barreiras do medo e do isolamento.
Deus mostra o caminho enviando o seu próprio Filho como Salvador  Mural-----------------------------------------------------04
e Redentor. Ele é amor e não tem preconceitos. Seu Espírito sopra Cartas
onde quer e abraça todas as culturas.  OPINIÃO--------------------------------------------------05
Nesse sentido, a Conferência de Aparecida segue nos iluminan- Natal: festa cristã ou pagã?
Cristina Ribeiro Silva
do. A Igreja, para ser toda ela missionária necessita desinstalar-se
de seu comodismo, estancamento e tibieza; converter-se em um  África----------------------------------------------------06
“poderoso centro de Quênia, terra fértil produz bons frutos
Pedro Facci

Michael Mutinda
irradiação da vida em
Cristo. Esperamos um  PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
novo Pentecostes que Eu tenho uma história
Rosa Clara Franzoi
nos livre do cansaço,
da desilusão e da aco-  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
Notícias do Mundo
modação” (DA 362). A Fides / ZENIT
chegada de Jesus marca
um momento decisivo  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
Uma palavra pouco feliz
na construção e na in- Luiz Balsan
terpretação da história
da humanidade. Vemos  TESTEMUNHO-------------------------------------------12
No remanso das águas
claramente um período Antônio José Araújo da Luz
antes de Cristo e um
 FÉ E POLÍTICA -------------------------------------------14
outro, completamente A vitória da “anomalia estatística”
diferente, depois dele. O mesmo Espírito que conduziu a vida de Humberto Dantas
Jesus, na Anunciação, Encarnação, no Batismo, no discernimento,
 FORMAÇÃO MISSIONÁRIA - CAM 3-Comla 8-----15
durante sua vida pública, hoje forma discípulos(as) missionários(as) Missão Ad Gentes hoje
na comunidade. Deixar-se “empurrar” por esse Espírito é tomar Antonio M. Pernia
consciência de que o discípulo(a) deve sair de seu mundo estreito  Juventude missionária ----------------------------19
e assumir a liberdade de amar em todas as direções como um novo Resgatando o Natal
chamado para a Igreja atual. Patrick Gomes Silva
Celebrar o Natal de Jesus é tomar parte ativa da história que  DESTAQUE DO MÊS -----------------------------------20
construímos entre todos os povos do mundo. No centro da missão O Evangelho de Guadalupe
de Jesus estão o amor e a misericórdia, atitudes que aproximam o Salvador Medina
ser humano do próprio Reino de Deus. O sentido da nossa presença  reflexão ------------------------------------------------23
no mundo, como cristãos, é dar continuidade à missão de Jesus. Sínodo dos Bispos
“Ao participar dessa missão, o discípulo caminha para a santidade. Mensagem Final
Vivê-la nos conduz ao coração do mundo. Por isso, a santidade não  infância missionária ------------------------------24
é fuga para o intimismo ou para o individualismo religioso, tampouco Tinha uma seringueira no meio do caminho
Roseane de Araújo Silva
abandono da realidade urgente dos grandes problemas econômicos,
sociais e políticos que afligem o nosso país, continente e mundo, e  ENTREVISTA ANTÓNIO COUTO----------------------26
muito menos fuga da realidade para uma situação exclusivamente Por uma Igreja mais missionária
Agência Ecclesia
espiritual” (DA 148). Ao contrário, a Encarnação de Deus na história
não teria sentido. No Natal do Senhor, guiada pelo Espírito e inter-  ATUALIDADE----------------------------------------------28
pelada pela realidade na qual está inserida, a Igreja escuta, aprende Em defesa dos ciganos, um povo invisível
Maria José de Deus
e anuncia o Reino de Deus para a humanidade. “Porque a Vida se
manifestou, nós a vimos, dela damos testemunho, e lhes anunciamos  volta ao brasil---------------------------------------30
Cimi / CNBB Sul 3 / Radioagência NP / revista Missões
a Vida Eterna” (1 Jo 1,2). 

- Dezembro 2008 3
Mural do Leitor
A Missão é contagiante espiritual sadia. O papa João Paulo II afir-
Ano XXXV - Nº 10 Dezembro 2008 Estou em Lichinga, capital do Niassa, mou que: “a eficácia do trabalho apostólico
uma província no norte de Moçambique, do fiel leigo está intimamente associada à
Diretor: Jaime Carlos Patias tratando de documentos. Apesar de ser sua base espiritual, à sua vida de oração
capital, aqui existem muitas necessidades pessoal e comunitária, à freqüência na
Editor: Maria Emerenciana Raia e tudo é muito caro. Somente na capital recepção dos Sacramentos, sobretudo
federal Maputo, se encontra de tudo, isto a Eucaristia e a Penitência e à sua reta
Equipe de Redação: Patrick Gomes porque está muito perto da África do Sul formação doutrinária”. O leigo que não
Silva, Rosa Clara Franzoi, Júlio César que é, sem dúvida, a maior potência da reza, não confessa, não comunga, não
Caldeira, Cristina Ribeiro Silva, Michael África. Não vejo a hora de chegar em lê e não medita a Palavra de Deus, não
Maúa, missão onde irei trabalhar. Já sei persevera na missão, e isso acontece com
Mutinda e Corrado Dalmonego
que lá não há muita tecnologia mas, em muitos sacerdotes também, que acabam
contrapartida há uma centena de comuni- se afastando dela. Além das reuniões
Colaboradores: José Tolfo, Vitor
dades para serem atendidas numa vasta mensais e atividades específicas, atua-
Hugo Gerhard, Lírio Girardi, Luiz
região. Maúa é terra do povo Macua que mos nas pastorais das comunidades nas
Balsan, Roseane de Araújo Silva, Hum-
fala a língua do mesmo nome. Esse será favelas do Rio, no Conselho Missionário
berto Dantas, Luiz Carlos Emer, Dirceu
meu próximo grande desafio: aprender a e na divulgação da revista Missões, que
Benincá e Cecília Soares de Paiva
língua, a fim de aproximar-me dessa rica aqui conta com 150 assinantes.
cultura. O povo é muito religioso, alegre
Agências: Adital, Adista, CIMI,
e hospitaleiro. Aline Carvalhido
CNBB, Fides, IPS, MISNA, Radioagência Dia 9 de novembro, celebrei na nossa Paróquia Nossa Senhora Consolata, Rio de Janeiro.
Notícias do Planalto e Vaticano paróquia em Lichinga, num bairro popular.
Pouco antes da missa faltou energia elé- Tarde Africana
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires trica e rezamos no salão, que é maior do Há seis anos a Pastoral Multirracial
que a igreja. A missa demorou três horas. de Curitiba, PR, comemora, no mês de
Jornalista responsável: Foi minha grande experiência de liturgia novembro o dia Nacional da Consciência
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) africana. É impressionante como vibram Negra, com o objetivo de manter viva a
e cantam, não só um grupo, mas todo o reflexão sobre a negritude, herança da
Administração: Luiz Andriolo povo. Pelos aplausos no final parece que cultura africana. Este ano, a partilha da
fui aprovado com minha maneira brasileira experiência missionária contou com a
Sociedade responsável: de celebrar. Eles preparam de tal modo presença do padre José Tolfo, gaúcho
Instituto Missões Consolata que a gente não vê o tempo passar. Não que trabalhou por 15 anos na República
(CNPJ 60.915.477/0001-29) vi ninguém olhando no relógio, também, Democrática do Congo (África Central).
poucos têm. Terminei a celebração conta- Com o título “Trocando Idéias”, o encontro
Impressão: Edições Loyola giado pelo ardor e entusiasmo. Aos poucos proporcionou um momento significativo,
Fone: (11) 2914.1922 vou percebendo o que Deus me reserva reaquecendo os corações e preparando
nesta parte do mundo. Vou entendendo para a celebração afro que encerrou o
Colaboração anual: R$ 45,00 o que significa “avançar para águas mais evento junto à comunidade. A missa foi
BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2 profundas”. Essas são algumas das tantas presidida pelos padres José Tolfo, imc, e
Instituto Missões Consolata gratificações, do sair, partir, romper a crosta Gustor Lucien da Pastoral dos Migrantes
(a publicação anual de Missões é de 10 números) dos apegos e do egoísmo que esvazia e de São Carlos, haitiano, missionário em
esfria a fé, o ardor dos instalados. Um Curitiba e animada com muitos cantos de
Missões é produzida pelos saudoso e afetuoso abraço a todos, unidos matriz africana, destacando a Mãe África,
Missionários e Missionárias da Consolata nas orações. com referência a Aparecida, Padroeira
Fone: (11) 2256.7599 - São Paulo/SP do Brasil e o líder negro, Zumbi dos
(11) 2231.0500 - São Paulo/SP Pe. Néo (Manoel Aparecido Monteiro) Palmares. Na celebração foi lembrada
(95) 3224.4109 - Boa Vista/RR Lichinga, Niassa, Moçambique. a importante contribuição da população
negra na formação do povo brasileiro,
Membro da PREMLA (Federação de Imprensa Leigos Missionários conforme orienta a lei 10.639/03 em
Missionária Latino-Americana) e da UCBC No dia 25 de outubro, nós, os Leigos apoio à luta pela inclusão de todos na
(União Cristã Brasileira de Comunicação Social) Missionários da Consolata – LMC, do Rio sociedade.
de Janeiro realizamos mais um encontro. A Pastoral Multirracial faz parte da
Redação Partilhamos várias coisas, falamos sobre
não desanimar diante das dificuldades, e
Paróquia São João Batista, comunidade
São Francisco de Assis, no Conjunto Atenas
Rua Dom Domingos de Silos, 110
02526-030 - São Paulo que cada leigo(a) deve repetir como São I em Campo Comprido, Curitiba, e surgiu
Fone/Fax: (11) 2256.8820 Paulo: “ai de mim se eu não evangelizar” para dar espaço à diversidade, trocar idéias
Site: www.revistamissoes.org.br (1Cor 9, 16). Para sermos firmes no cum- e despertar lideranças missionárias.
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br primento da nossa missão de batizados
e missionários, precisamos ter uma vida Maria José da Silva, Pastoral Multirracial, Curitiba, PR.

4 Dezembro 2008 -
Natal

OPINIÃO
festa cristã ou pagã?
Nós escolhemos o Natal que desejamos celebrar.
de Cristina Ribeiro Silva

Jaime C. Patias
R
ecristianizar o Natal vem sendo veemente apelo de
muitos líderes de Igrejas cristãs e mesmo de bispos
católicos. Portanto, o colorido, os matizes do Natal
como festa pagã ou cristã está em nossas mãos. So-
bre a data correta do nascimento de Jesus sabemos
pouco. Ele teria nascido antes da morte de Herodes
Magno (Mt 2, 1; Lc 1, 5), que faleceu na primavera de 750 da
era romana, o que quer dizer: no ano 4 a.C. Conforme estudos,
o ano mais provável do nascimento de Jesus seria sete ou seis
antes da era cristã.
A Igreja escolheu o dia 25 de dezembro para celebrar o nas-
cimento de Jesus, a fim de cristianizar uma grande festa pagã
que se fazia em Roma neste dia: Dies Natalis Solis. Substituiu-se
a festa do deus sol pela comemoração do Natal do verdadeiro Decoração de Natal na Avenida Paulista, São Paulo.
Sol do mundo: Nosso Senhor Jesus Cristo.
Natal é a celebração do grande amor, o dia em que Deus a luz também é compreender o nobre e singelo nascimento do
nasceu no mundo trazendo paz, luz, esperança, uma nova Salvador prometido por Deus – que nascera de uma mulher.
aliança, uma nova vida. O Filho de Deus nasceu em Belém, Seu próprio e eterno Filho, pelo poder do Espírito Santo, sem
como uma criança humilde e marginalizada. Veio ao encontro intervenção do homem. Isto é luz! Assim Ele é, na verdade, o
de todos e todas nesse mundo oferecendo-lhes a presença e a Emanuel (Mt 1, 23). A alegria desse entendimento é a verdadeira
reconciliação de Deus. felicidade, não a alegria induzida pelo clima de Natal que a so-
Com a neo-paganização do mundo, o conseqüente esque- ciedade quer transmitir. Esta é a grande diferença. Jesus Cristo
cimento do verdadeiro Deus e a idolatria dos novos deuses da é o verdadeiro Deus! Somente esta compreensão, que depende
sociedade, como o prazer e o dinheiro, o contrário vai se verifi- tão somente da graça de Deus, poderá dar sentido às palavras
cando: a paganização do Natal, a substituição da festa cristã por tão rotineiras como paz, união, amor e prosperidade.
comemorações onde reinam o mercantilismo, a sensualidade, A figura do Papai Noel e todo clima comercial natalício en-
as bebedeiras e até o carnaval. cantam a todos, enquanto desprezam o Redentor Jesus Cristo
Neste período recebemos muitas mensagens de paz, amor, e seu nascimento real! A luz desse Natal anticristão é uma
prosperidade, muitos “fluídos” positivos. Há uma atmosfera felicidade artificial provocada por um alucinógeno mentiroso. O
fraterna e religiosa no ar. Nossa alma se enleva com melodias Natal do nascimento de Cristo é aquele onde aprendemos do
familiares, músicas que nos embalam desde criança. Luzes Divino Mestre Infante as sábias lições de humildade e simplici-
coloridas piscando, as ruas agitadas em busca de presentes dade de coração.
para pessoas amadas, os preparativos da ceia... Tudo isso nos De seu palácio real, a gruta-estrebaria, ele nos ensina
mostra uma participativa confraternização. O que importa é a que os bens deste mundo, o dinheiro e as riquezas não são a
atmosfera de festa, alegria, pois é Natal. Quem vai querer parar felicidade. Lição para os ricos e para os pobres: que os ricos
para refletir sobre o seu verdadeiro sentido? aprendam a partilha e o desapego desses bens passageiros; e
Assim, nos restam apenas ilusões de uma sociedade de os pobres aprendam a liberar o coração da inveja e da ambição.
consumo misturada ao sentimentalismo das boas ideologias Dali nos ensina a verdadeira fraternidade cristã. Ali não se prega
humanistas. O Salvador, neste clima natalino, fica em segundo a discriminação, a exclusão. Lá estão os pobres – os pastores; e
plano, em meio a tantos destaques e luzes. os ricos – os Reis Magos. Todos têm o seu lugar no coração do
Menino Jesus. Deus não quer nem a exploração nem a ganân-
Sentido cristão cia, nem a revolta, nem a inveja. Quer a harmonia, a justiça e a
Mas há ainda os que conseguem vislumbrar o verdadeiro caridade entre todos. “Sigamos as lições deste Mestre Menino e
sentido do Natal. Enxergar a luz é ouvir o Verbo, Cristo Jesus, o nosso Natal – nossa vida e nosso mundo – será mais feliz”. 
a Palavra, o “Logos”; as Escrituras, e não só ouvir, mas seguir,
pois o Verbo não só é Palavra, porém, igualmente é “ação”. Ver Cristina Ribeiro Silva, MC, é jornalista.

- Dezembro 2008 5
Quênia
Os quenianos são muito religiosos.
Cerca de 80% são cristãos, 10%
são muçulmanos e 10% seguem as
religiões tradicionais.

Terra fértil produz bons frutos.


com a expansão colonial das grandes
Michael Miriti

potências européias, o Quênia tornou-se


protetorado britânico. Em 1964, passa a
ser uma República, tendo Jomo Kenyatta
(1894–1978) como seu primeiro presi-
dente, por isso considerado o fundador
da nação queniana.

Economia
A agricultura é o principal setor da
economia. Os principais produtos são
chá, café e hortigranjeiros, em conjunto
responsáveis por 45% das receitas de
exportação.Aindústria queniana é a mais
desenvolvida da região oriental africana
e inclui o refino de petróleo, produtos
alimentícios, montagem de veículos,
têxteis e papel. A iniciativa privada (Jua
Kali) desempenha importante papel no
setor, que representa 13% do PIB. Com
relação ao setor de serviços, destaca-se
a indústria do turismo, principal fonte de
divisas externas.

A Missão primogênita
Depois da fundação do Instituto
Missões Consolata, em 29 de janeiro de
Ordenação sacerdotal de Daniel Mkado, em Kisoko, pelas mãos de dom Norman Wambua, bispo de Bungoma, Quênia. 1901, o Bem-aventurado José Allamano
envia ao Quênia os primeiros quatro
de Michael Mutinda missionários: dois padres e dois irmãos leigos. Era o dia 8 de
maio de 1902 quando a expedição deixou Turim, na Itália, rumo

A
à África. Os missionários chegam a Tuthu, região no centro do
República do Quênia situa-se na região leste do con- Quênia, e no dia 29 de julho de 1902, com a celebração da mis-
tinente africano, na fronteira com a Somália, Etiópia, sa, constituem a primeira missão. No dia 29 de janeiro de 1910,
Sudão, Uganda, Tanzânia e com o Oceano Índico. O Allamano funda o Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata
país ocupa posição geográfica central numa região onde que em dezembro de 1913 envia 15 irmãs para as missões do
têm ocorrido crises internas nos países vizinhos com país africano.
eventuais repercussões trans-fronteiriças. O Quênia Hoje, os missionários trabalham em 35 missões espalhadas
tem uma superfície de 569 mil km2 e passa de uma baixa planície pelo Quênia, que incluem casas de formação, animação missionária
litoral sobre o Oceano Índico a uma série de cristas montanhosas (através da revista - “The Seed” – A Semente), evangelização
e planaltos que está acima de 3.000 metros no centro do país. e promoção humana através de escolas, hospitais, produções
A população estimada é de 32 milhões; uma população muito agrícolas, casas de apoio e paróquias. No momento os missio-
diversificada que inclui três dos maiores sociolingüísticas da nários e missionárias da Consolata quenianos no mundo são
África: os Bantus (67%), os Nilóticos (30%) e os Cushítas (3%). 219, sendo 34 irmãs, nove irmãos, 92 padres, 61 estudantes
Os quenianos são profundamente religiosos. Cerca de 80% professos, 21 noviços e dois bispos, sem contar os leigos e
são cristãos, 10% são mulçumanos e 10% seguem as religiões leigas missionários. 
tradicionais. As línguas faladas no Quênia são 43, mas o idioma
oficial é o inglês e o nacional, o Swahili. O lema nacional é: “Ha- Michael Mutinda, seminarista imc, queniano, estudando teologia no ITESP,
rambee”, que significa “empurrar juntos”. No final do século XIX, Ipiranga, São Paulo.

6 Dezembro 2008 -
pró-vocações
Eu tenho uma história
Sou uma obra-prima

Elenice Buoro
do Criador.
de Rosa Clara Franzoi

“E
u sou o que faço da minha história”. É o título de
um dos livros do padre Deolino Baldissera dirigido,
sobretudo, aos jovens e às jovens. Nele o autor
demonstra a grande importância dessa afirmativa
na vida de cada pessoa. Sua reflexão é um convite
a parar de vez em quando e dar uma olhadela para
ver se a elaboração desta história prossegue no rumo e no ritmo
certo; porque às vezes ela vai sendo construída ‘aos trancos e
barrancos’ deixando rastros negativos na vida, especialmente
de quem se prepara a projetar o seu futuro.

Somos obra-prima do Criador quando não em último plano. Não que queiramos esquecer ou
Todos corremos pela vida; porém, não sozinhos. De um jeito fugir dela, de propósito; mas, às vezes até inconscientemente,
ou de outro, sempre exercemos alguma liderança e alguém deixamos que muitos outros interesses a suplantem. Só que
segue os nossos passos, seja para o bem ou para o mal. E é o tempo não pára, e a nossa história vai sendo construída por
mesmo por causa disso, que esse stop se torna necessário. nós; e quando olhamos para trás, o que percebemos? Uma
Observemos o que faz o pintor, o escultor a cada manhã, an- história sem expressão, medíocre, sem marcas e experiências
tes de avançar no seu trabalho. Olha para a sua obra, toma profundas, sem nada que a identifique com a história daqueles e
distância para ver melhor o todo. Se tudo estiver correto, ele daquelas que vão em frente com entusiasmo, arrastando outros
prossegue; mas, se perceber que algo não está de acordo com e outras atrás de si, convictos que aquele é o rumo certo; eles
o seu gosto, ele não hesita em refazer tudo. Por que faz isto? têm clareza e sabem onde querem chegar.
Obviamente, porque quer que a sua obra seja perfeita. Isto nos
faz lembrar uma outra realidade: nós seres humanos, somos O filme da nossa existência
uma obra; uma obra-prima saída das mãos do Criador que a A nossa história é comparada a um filme; um filme que
fez à sua imagem e semelhança; depois no-la entregou para é muito bom assistir de vez em quando. Não assistir só por
que fizéssemos os acabamentos. Precisamos ter consciência assistir; mas fazê-lo com atenção, observando-o, analisando-o
disso; afinal, somos os responsáveis diretos pelo bom ou pelo e tendo também a coragem de, se necessário, fazer alguns
mau êxito da nossa existência. cortes, anexos e ajustes. Estes são muito importantes. São
justamente eles que nos ajudarão a fazer com que a nossa
Uma história sem expressão história avance no tempo e na idade, respeitando os limites e
É o que acontece: ocupamo-nos com tantas outras coisas as regras do bem viver. Diante do nosso filme, podemos nos
e a nossa vida, que deveria estar em primeiro lugar nas nossas perguntar: eu teria a coragem de apresentá-lo todo inteiro, sem
atenções e preocupações, deixamos em segundo, terceiro, censura, às pessoas que eu amo: meus pais, meus amigos,
meus professores? Se sim, parabéns! Se não, sempre é tempo
para dar uma guinada e tomar outro rumo; aquele rumo que
Quer ser um missionário/a? nos garantirá um futuro bem resolvido e feliz. 

Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli Para refletir:


Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui Se quiser continuar a reflexão, leia o texto bíblico 1Cor 9, 24-27
02611-001 - São Paulo - SP e responda às questões:
Tel. (11) 2231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br 1. Conhecemos, nós, a nossa história? Ou prosseguimos na
vida sem nem saber bem o que queremos?
Centro Missionário “José Allamano” - padre Patrick Gomes Silva 2. Temos o hábito de parar de vez em quando para assistir ao
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
02636-030 - São Paulo - SP nosso filme? Temos a coragem de apresentá-lo a outros
Tel. (11) 2232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br sem constrangimentos?
3. “O mundo abre passagem a quem sabe para onde está
Missionários da Consolata - padre César Avellaneda indo” (Émerson). Pode ser este um programa de vida. Que
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 tal fazer a experiência?
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 3624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.

- Dezembro 2008 7
Hindu Parishad e Bajrang Dal. Por este motivo, os
comunistas pedem ao governo central que as proíba
e as declare fora da lei. Centenas de Bíblias foram
queimadas, destruídas ou danificadas na onda de
agressão contra os cristãos em Orissa e por isso, os
cristãos indianos lançaram uma campanha para re-
colher e distribuir aos fiéis do estado da Índia oriental,
mil novas Bíblias.

Zâmbia
O testemunho dos missionários
“Precisamos do testemunho deixado pelos mis-
sionários a fim de continuar a difundir o Evangelho
em comunhão com a Igreja Universal”, afirmou padre
Bernard Macadani Zulu, diretor nacional das Ponti-
fícias Obras Missionárias do Zâmbia, em relação à
situação do país e da Igreja. No Zâmbia se realizaram
recentemente eleições presidenciais antecipadas por

Divulgação
causa da morte do presidente Levy. A consulta foi
VOLTA AO MUNDO

vencida por Rupiah Banda. “Estamos satisfeitos com


a maneira com a qual foram realizadas as eleições,
um evento não previsto, que ocorreu por causa da
morte do presidente Mwanawasa. Numa tal situa-
ção, poderiam se verificar violências que, graças a
Deus, não aconteceram. A campanha eleitoral foi
até correta e as eleições se realizaram com calma.
É preciso considerar que numa democracia muito
jovem, o multipartidarismo e as eleições livres foram
instaurados somente em 1991 e o fato de que estas
eleições foram realizadas de maneira correta, é um
bom sinal. Estamos conscientes de que existe ainda
muito trabalho a ser feito em prol do aperfeiçoamento
Destruição em Orissa, Índia. do nosso sistema democrático. Devemos melhorar
a maneira de utilizar as reservas do país, fazendo
Índia com que elas sirvam para o bem de todos. Temos
Perseguição religiosa o problema da corrupção que o presidente falecido
As vítimas da onda de violência contra os cristãos começou a combater. Espero que este processo con-
que abalou o estado de Orissa são pelo menos 500, tinue”, afirmou padre Bernard. A Igreja no Zâmbia é
segundo afirmou um representante do governo local, fruto do trabalho dos missionários. Muitos morreram
confessando ter permitido cremar aproximadamente no país e são, até hoje inspiração para a continuidade
200 corpos. Esse representante, que pediu sigilo de da evangelização. As POM colaboram com os bispos
seu nome, revelou as cifras a um grupo do partido do Zâmbia nesta obra.
comunista da Índia marxista-leninista (Cpi-MI), que
realizou uma visita-pesquisa no distrito de Kandhamal. China
Segundo o governo, as vítimas oficiais da violência são IV Dia diocesano da Missão
apenas 31. Entre 15 e 16 de outubro, o Cpi-MI visitou “Penso, faço e evangelizo” foi o slogan e o tema do
as aldeias destruídas e os campos de refugiados, e IV Dia diocesano da Missão, realizado pelas dioceses
encontrou e entrevistou magistrados e policiais. O in- de Hen Shui, no domingo, 9 de novembro, com um
forme foi publicado no número de novembro da revista grande sucesso. Na realidade a celebração durou
Liberation, órgão oficial do partido comunista indiano. três dias, de 6 a 9 , com o encontro dos responsá-
Segundo o governo, nos 15 campos de refugiados veis de grupos missionários com os paroquianos e
– que acolhem 12.641 pessoas que escaparam das o Congresso de fiéis da diocese (de 6 a 8), a fim de
devastações – há alimentos em abundância, médi- iniciar o trabalho missionário avaliando o passado
cos, remédios e escolas para as crianças. Visitando e projetando o futuro. No “Dia da Missão”, domingo
alguns campos, ao contrário, o grupo notou comida dia 9, toda a comunidade se mobilizou logo cedo.
insuficiente, falta de medicamentos e nenhuma ajuda Cerca de 500 fiéis participaram da solene celebra-
para as mulheres grávidas, e descreve também “uma ção eucarística presidida por dom Feng Xin Mão e
atmosfera cheia de terror entre os cristãos, que temem concelebrada por oito sacerdotes diocesanos. Um
por sua vida se ousarem voltar para suas aldeias”. Os seminarista de Shang Hai, que chegou ali atravessando
fundamentalistas querem afastar as forças políticas várias províncias chinesas com a sua bicicleta para
enviadas pelo governo central e estão se organizando uma especial ‘peregrinação missionária’ destinada
em grupos armados, ameaçando aqueles que não se à sensibilização missionária, participou do Dia das
convertem ao hinduísmo. Uma investigação do Cpi- Missões sem descansar. 
MI denuncia que a ação contra os cristãos havia sido
pensada há muito tempo pelas organizações Vishwa Fonte: Fides, ZENIT.
8 Dezembro 2008 -
INTENÇÃO MISSIONÁRIA

Arquivo
Para que os cristãos, especialmente nos países de missão, por meio de gestos concretos de fraternidade,
mostrem que o menino nascido na gruta de Belém é a luminosa esperança do mundo.
de Vitor Hugo Gerhard de Belém. A esperança da humanidade reside exatamente na
fragilidade daquela noite fria de dezembro, quando os pastores

O
receberam a grande notícia, vinda através do coro dos anjos.
nascimento de Jesus, mesmo com as muitas críticas Nosso Deus, assim como aprendemos e acreditamos, serviu-
do mau uso e da manipulação que o mercado de se da soma das fragilidades humanas para nos dizer que a
consumo faz dele, entrou definitivamente no imagi- força dos fortes é ilusória e que a lógica do Senhor dos Exér-
nário religioso, social e cultural da maioria dos povos, citos não está na lança, nos carros e cavaleiros, nas guerras
mesmo entre aqueles que somente agora passam ou nos lucros da orgia financeira. Os grandes do mundo são
a receber o primeiro anúncio. Não é mais possível pensar o capazes de gerar esperança, são incompetentes em construir
calendário civil sem ter presente o Natal e tudo o que ele traz caminhos seguros, sobretudo para os mais fracos. São fracos
consigo. Não é mais possível pensar na infância, seja ela rica na capacidade de gerar alegria e esperança. São fortes apenas
ou pobre, sem os mitos, as lendas, as imagens e os conteúdos no efêmero e passageiro, no emocional e superficial.
do universo dos valores que a data comporta e anuncia. Cabe a nós, como tarefa central na evangelização, reafirmar
O espantoso é que a grande mídia seja incapaz de mostrar que a Encarnação do Verbo continua sendo o decisivo para
a beleza e a força dos gestos de solidariedade que se concen- toda a criação, quer ela aceite ou não, quer admita ou não...
tram ao longo do mês de dezembro. Nas Igrejas, nos centros Negar isso é negar a própria possibilidade de realização neste
comunitários, em alguns setores dos governos municipais, mundo e no outro. 
são incentivadas e promovidas ações de solidariedade e de
caridade efetiva, seja entre as crianças, com os idosos, para Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.
os doentes, os moradores de rua e outros grupos humanos
alvos de nossa sensibilidade humana e cristã. Errata:
Talvez a dificuldade maior continue sendo mostrar, com A foto publicada neste espaço na edição Nº 09 Novembro
todas as letras e gestos, que não há outro caminho para a 2008, não é dos missionários na Mongólia, mas da delegação
humanidade, fora do caminho traçado por este frágil menino brasileira no CAM3 - Comla 8 em Quito, Equador.

- Dezembro 2008 9
Uma palavra
espiritualidade

pouco feliz Não é espiritual aquele que se distancia do mundo, mas, o que se insere nele.
de Luiz Balsan a um determinado momento, alguém convide corpo, alma e do Espírito Santo: a união
o grupo para um momento de espiritualidade da alma e da carne, recebendo o Espírito

A
e imediatamente comece a oração. de Deus, constitui o homem espiritual.
lguns anos atrás, dom Pedro Ele faz questão de dizer de forma bem
Casaldáliga, bispo emérito de Compreensão pé no chão explícita que o homem, e não parte dele,
São Felix do Araguaia, iniciou Os padres da Igreja são os cristãos é imagem e semelhança de Deus.
uma palestra no Curso de Verão, que nos primeiros séculos buscaram dar Nestas palavras aparece um conceito
dizendo que a palavra espiri­ razões da própria fé e elaborar uma dou- muito claro: tudo o que pertence ao ser
tualidade é um tanto infeliz, pois, trina para que também outros pudessem humano pertence também à sua espiri­
quando falamos de espiritualidade, a primei- compreendê-la com maior profundidade. tualidade, tanto o corpo como a alma, pois
ra idéia que vem à mente é fuga do mundo, Criou-se assim uma literatura imensa, ambos são criaturas de Deus e ambos
distância da realidade e da matéria. Espiritual que não apenas iluminou a Igreja nos são animados pela presença do Espírito
e material parecem duas realidades que primeiros séculos, mas continua a inspirar Santo em si. Então, para Santo Irineu, toda
se opõem. Por conseqüência, não raro, a os teólogos ainda hoje. Nestes homens, pessoa que crê em Deus e no seu Filho
pessoa é considerada tanto mais espiritual encontramos uma compreensão de espi- Jesus Cristo e abre espaço em seu coração
quanto mais se distancia do mundo, para ritualidade muito sólida, ou usando uma ao Espírito de Deus, merece ser chamada
viver no silêncio e na oração. expressão hoje muito comum, uma com- de pessoa espiritual. O autor diz que Deus
É por isso que, seguidamente, a palavra preensão pé no chão. criou o ser humano com as suas mãos, mas
espiritualidade é usada como sinônimo de Santo Irineu, certamente o maior para ele essas mãos são o Espírito Santo.
oração. É muito comum que nos encontros, ­teólogo do século II, diz que o homem Ora, o Espírito não se contradiz. Não teria
sejam eles de leigos, religiosos ou do clero, espiritual é aquele que é composto de sentido Ele criar o homem como um ser
Álvaro Pacheco

Celebração durante curso de formação, na Casa Lareira São José, que reuniu missionários atuando em dez países, bairro Tremembé, São Paulo.

10 Dezembro 2008 -
do qual participava na Igreja, mas dizia que
Zé Roberto Garcia

tomara tal decisão pelo fato que ao dizer


à dirigente do grupo que não poderia estar
sempre na Igreja porque tinha sua família
para cuidar, ouviu dela a resposta: então
você precisa escolher entre servir a Deus
ou servir sua família. É bem verdade que
este é um caso extremo, mas não um fato
isolado. Por muito tempo nas igrejas, ouvimos
pregadores convidando os fiéis a dedicar-se
às coisas espirituais, deixando de lado as
coisas materiais. Em um livro de bênçãos,
publicado no ano de 1998 pela Paulus, na
benção às famílias, reza-se para que seus
membros, desincumbindo-se dos encargos
do tempo presente, cheguem um dia à
mansão celeste para eles preparada. Estes
fatos mostram uma compreensão dualista
de espiritualidade, como se espiritual fosse
algo que se opõe ao mundo, à matéria e às
11º Intereclesial das CEBs, Ipatinga, MG. Participantes refletem sobre espiritualidade na diversidade.
diversas realidades da nossa vida.
material e espiritual e depois negar uma movimentos do Espírito são diferentes de
destas duas dimensões. A obra do Espírito, uma pessoa para outra. Se a todos ele Compreensão holística
ao invés, tem coerência e continuidade. move para o amor, não move a todos da Estamos hoje recuperando uma visão
Irineu diz que Ele é como que a alma de mesma forma e portanto este amor dará ampla de espiritualidade que integra o
nossa alma e se une ao nosso eu para frutos diferentes. É isto que São Cirilo de espírito e a matéria, o corpo e a alma, o
dar força a tudo o que é humano. Disto Jerusalém diz de forma muito interessante, humano e o divino. Teilhard de Chardin,
compreendemos que humano e divino, usando uma linguagem metafórica. Ele cientista e teólogo falecido em meados do
espírito e matéria não se opõem. A ação se pergunta: por que o Espírito Santo século XX, é um dos pioneiros na recupe-
do Espírito em nós vem para que a nossa seguidamente é relacionado com a água? ração de um conceito de espiritualidade
realidade humana alcance a sua melhor E ele mesmo responde: Da água nasce mais amplo. Ele diz que Deus e o mundo
expressão, a sua plenitude. tudo, a água nutre as ervas e os animais. não devem ser considerados em oposição,
Outro padre da Igreja, chamado Basílio Desce do céu como chuva. É uma só, tem como sagrado e profano, pois ‘em virtude
de Cesaréia (†379) diz que espiritual é a mesma natureza, mas quantos efeitos da Criação e mais ainda da Encarnação,
toda pessoa que é guiada pelo Espírito e diferentes produz! Uma nascente irriga nada é profano na Terra para quem sabe
conforma a sua vida aos seus movimen- um jardim inteiro; a mesma chuva cai do ver’. Dizendo de outra forma, o mundo não
tos. Completa sua colocação dizendo céu em todo o mundo. Essa, porém, no é estranho a Deus, pois, é obra sua e no
que o movimento principal do Espírito é lírio torna-se branca; na rosa vermelha... mistério da Encarnação Cristo assumiu
a caridade. Disto compreendemos que o Assim também o Espírito Santo, mesmo e santificou toda esta realidade. Por isso
Espírito não vem para tirar o ser humano sendo um e indiviso, distribui como quer ele propõe um novo caminho espiritual:
do mundo, mas pelo contrário, vem para a sua graça a cada um. ir a Deus através da terra, isto é, não
ser a alma de nossa alma, para animar distanciar-se das coisas, do mundo e da
tudo para o amor. Então não é espiritual Influência estranha matéria, mas fazer de tudo isto um caminho
aquele que se distancia do mundo e da Mas esta visão profunda e integral para o encontro com Deus.
matéria, mas aquele que vive todas as da espiritualidade se perdeu com o tem- Desta compreensão, decorre então,
suas relações – com o mundo, com o po, sobretudo pela influência da filosofia nas palavras de Teilhard, a verdadeira
outro, consigo mesmo e com Deus – platônica. Platão foi um filosofo grego que vocação dos cristãos: continuar no mun-
animado pelo Espírito, cujo movimento viveu cinco séculos antes de Cristo. Para do o mistério da Encarnação: processo
fundamental é o amor. É por isso que ele o homem seria um ser essencialmente ininterrupto através do qual Deus se torna
Santo Agostinho diz que se alguém quer espiritual. O corpo teria sido acrescentado plenamente homem e o homem-mundo
saber se é uma pessoa espiritual, deve à alma como que por uma espécie de se torna plenamente divinizado. O homem
interrogar as suas entranhas: se elas estão castigo, um acidente em sua história. A espiritual então não é aquele que foge do
cheias de amor é porque ela está cheia alma, porém, se sente estranha ao corpo e mundo, desincumbindo-se das suas res-
do Espírito Santo. como que numa prisão. Seu grande anseio ponsabilidades diárias, mas pelo contrário,
A ação do Espírito, porém, não é é poder libertar-se definitivamente dele é aquele que se insere no mundo para dar
igual em todas as pessoas. São João para então ser o que é. Neste sentido, o continuidade ao mistério da Encarnação.
fala desta liberdade do Espírito Santo homem que, na visão de Platão, é um ser O Deus que enviou seu Filho ao mundo
dizendo que Ele sopra onde quer e nin- puramente espiritual, volta à sua origem e quer que nós, cristãos, possamos dar
guém sabe nem de onde vem nem para à sua verdadeira realidade na medida em continuidade a este processo para que
onde vai (Jo 3, 8). Ele que como mãos que consegue tomar distância do seu corpo os valores do Evangelho possam permear
de Deus nos plasmou no momento da e do mundo material como um todo. todas as realidades humanas. 
nossa concepção, continua agora sua Esta concepção platônica acabou en-
obra respeitando a diversidade e origina- trando na Igreja e condicionou bastante a Luiz Balsan, imc, doutor em Teologia, é professor e coordenador
lidade de cada um. Usando a expressão espiritualidade cristã. Uns anos atrás uma do curso de pós-graduação em Espiritualidade da Faculdade
de São Basílio, poderíamos dizer que os pessoa lamentava ter deixado o movimento Vicentina de Curitiba, PR.

- Dezembro 2008 11
No remanso
testemunho

das águas
O verdadeiro sentido da vida

Fotos: Seminário IMC Manáus


em missão está na revelação
das coisas pequenas e
simples, que nos ensinam a
não ter medo dos obstáculos
em relação ao outro.
de Antônio José Araújo da Luz

A
os discípulos apavorados, pen-
sando que era um fantasma,
Jesus disse: “coragem! Sou eu.
Não tenham medo!” (Mt 14, 27).
A mesma afirmação é dirigida
hoje a todos os missionários e
missionárias. Precisamos nos encantar
com a beleza da missão que nos apresenta
o próprio rosto de Cristo no rosto alegre da
gente que acolhe e celebra a vida.

Almirante Cristo Missa na comunidade Nossa Senhora de Nazaré, às margens do rio Urupadí, AM.
Em julho passado, depois de várias
horas de viagem numa lancha que saiu de conta disso um dos colegas observou: A Virgem de Nazaré
Itacoatiara, a 180 quilômetros de Manaus, “as pessoas podem pensar que somos Os jovens que todos os dias surgiam
no Amazonas, chegamos ao município de botos, pois de repente aparecemos na do rio levantavam âncora, ou melhor,
Maués pelas águas do rio Maués-açú, cidade saindo do rio”. É verdade que não desamarravam as cordas do “Almirante
quatro horas mais tarde. A bordo comigo era para seduzir nenhuma jovem, mas Cristo” e iam à comunidade onde reside
os colegas seminaristas Gilberto Rodrigues deixamos o barco do “Cristo” para nos a família do nosso colega Oziel. Depois
da Silva, Izaias Melo Nascimento, Janison encontrar com os jovens e as pessoas de horas de viagem, comecei a sentir um
Andrade de Araújo, João Batista de Souza daquela bonita cidade. perfume suave que exalava das árvores.
Quintela e Oziel Cristo de Oliveira, junta- Celebramos com a comunidade o Vinha das flores das copas que estavam
mente com o padre Juan Bautista, imc. A dom da vida, nos encontramos com os na cabeceira do rio e que sinalizavam
alegria era o próprio “Cristo”, aquele que jovens, fizemos amizades, foi como se já a morada de algo celeste. Sim, era a
nos carregou sobre as águas dos rios os conhecêssemos. Visitamos os padres rainha da Amazônia, Nossa Senhora de
da região, nos acolheu para o repouso, e também as Irmãs do Imaculado, na casa Nazaré, que protege e abençoa a “família
a diversão, as refeições e a oração de dos jovens indígenas Sateré Maué. Per- Cristo” e a todos os que por ali passam.
agradecimento ao Pai. “Almirante Cristo” cebemos nelas a dedicação missionária, Era impossível não perceber a presença
era o nome do barco que nos serviu nos preocupadas com a formação do futuro de da Mãe num lugar tão belo, convidando
dias de Missão. E Cristo é o sobrenome moças e rapazes. Tivemos também nosso a nos aproximar de Deus. O abraço aper-
da família que nos acolheu. dia de lazer do outro lado do rio, momento tado e o sorriso no rosto fez com que me
Dos mitos da região, fala-se muito do de descanso em preparação para a nossa sentisse em casa, acolhido pela família
boto, que se transforma num belo homem despedida da cidade, quando fomos rio de Oziel, que espontaneamente nos tra-
e sai do rio para seduzir as jovens. Por adentro, conduzidos por Cristo. tou com todo carinho e atenção. Posso

12 Dezembro 2008 -
não lembrar do nome de todos, mas de que chegamos e fomos recepcionados
suas atitudes humildes e singelas não irei com fogos na comunidade de São Se-
esquecer jamais. bastião. Confirmam-se as palavras do
Quando se dizia que não tinha co- Bem-aventurado José Allamano: “para ser
mida, na hora da refeição, tornava-se apóstolos é preciso arder! O indiferente
nossa esperança o que Jesus realizou (nem frio nem quente) jamais conseguirá
na multiplicação dos pães e dos peixes coisa alguma. Quem não arde deste fogo
que alimentou milhares e ainda sobrou divino nunca será missionário”. O que
(Mt 14, 13-21). Além do alimento estava sentimos no encontro com aqueles povos
ali o amor, pois na família Cristo nunca foi um ardor apostólico de intensidade se-
faltará o alimento essencial, uma vez que melhante ao dos discípulos que sentiram
a Mãe cuida de seus filhos. o coração batendo forte no encontro com
Que dias de alegria foram aqueles! Cristo pelo caminho de Emaús.
Nos divertimos e celebramos com as As maiores lições do encontro com
bênçãos de Cristo, que não cessou de aquelas pessoas não vieram das palavras
confirmar sua palavra: “coragem! Sou e sim dos gestos fraternos na acolhida que
eu”, (Mt 14, 27) “vem!” (Mt 14, 29) para tivemos. Isso nos faz recordar novamente
continuar a conhecer as maravilhas que os ensinamentos do Allamano, fundador
ainda encontraremos na eternidade. dos missionários e missionárias da Con-
solata: “coragem! Sempre para frente!
Os Sateré Maués Avante no Senhor!” Conforme nos ensina
Na visita às comunidades indígenas Jesus, o primeiro missionário que deu sua
Sateré Maués, o que me chamou a atenção vida em favor da humanidade, a semente
é a altura onde estão as casas da comuni- está lançada. Uma semente pequena, que
dade. Ao subir as escadas feitas de barro a seu tempo crescerá e produzirá frutos,
Antônio José Araújo da Luz.
sempre encontrávamos as crianças que
vinham para nos ver. Ao saudá-las, abriam semos todos assim, como as primeiras
um belo sorriso. Algumas pareciam des- comunidades! Poderia classificar nossa
confiadas, mas depois de ouvirem o som visita como Evangelho do sorriso e da
do violão e os cânticos, se aproximavam humildade. Pois não foram as palavras
e arriscavam uma dança conosco. A que e discursos que transmitiram Cristo, mas
mais marcou foi a da amizade. Enquanto sim a humildade e a alegria estampadas
visitávamos as comunidades, arriscávamos no rosto daquela gente.
algumas palavras em Sateré.
Que beleza o encontro com pessoas Lançadas as sementes
que vivem em plena harmonia com a Em tudo o que olhávamos havia sinais
natureza e que, inseridas nela, cultivam de vida. Nas águas dos rios e igarapés
uma fé profunda conforme o desígnio que são a maior fonte de vida das famí-
do Pai. Já em nosso meio, infelizmente, lias da região, fomos conduzidos com
poucos têm sabedoria para contemplar segurança, pois, estávamos com Cristo
e preservar a Criação. Quem dera vivês- e Nossa Mãe Nazaré. Foi pelas águas
Visita na casa de Oziel Cristo de Oliveira.

numa árvore que até oferece segurança


às aves do céu. O barco que nos conduz é
Cristo, o Almirante seguro. Nele podemos
confiar sem medo da missão.
Como vim parar aqui? Nasci em Olho
D`água das Cunhas, Maranhão, em maio
de 1985, filho de Maria Lúcia Nascimento
Araújo e Pedro Roberto da Luz Neto.
Quando eu tinha 7 anos, fomos morar em
Manaus e três anos depois em Boa Vista,
Roraima. Lá conheci os missionários da
Consolata e senti minha vocação. Em
2006, junto com outros jovens entrei no
seminário em Manaus. Atualmente curso
Filosofia e moro em Santa Luzia, com três
colegas e os padres José Maria Marçal e
Gianni Basso. Na pastoral, acompanha-
mos os grupos de Infância Missionária
e Animação Vocacional. Estou feliz por
fazer parte desta família. 

Antonio José Araújo da Luz é seminarista imc, cursando Filosofia


Vista da cidade de Maués, AM. Ao fundo a igreja de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade. em Manaus, AM.

- Dezembro 2008 13
A vitória da
fé e política

“anomalia estatística”
Vitória de Barack Obama nos Estados Unidos significa
amadurecimento do eleitorado.
dar como resultado final nem cara e nem coroa, podemos afirmar
Divulgação

que a moeda caiu em pé.


A teoria do comportamento eleitoral afirma que o cidadão
pauta suas escolhas de acordo com três grandes questões. Na
verdade existem três grandes teorias autônomas que têm lógicas
bastante aceitas. A primeira é sociológica, e representa dizer que
eleitores com características diferentes tendem a votar de forma
distinta. Tais dessemelhanças se fundem e ocorrem por gênero,
idade, escolaridade, região onde se vive, renda etc. A segunda é
a teoria partidária e ideológica, que muitos fundem com questões
psicológicas, e nesse caso nos deparamos com variáveis ligadas
às crenças, conceitos, preconceitos, aspectos culturais e demais
questões ligadas ao comportamento e à sensação em relação
aos partidos. A terceira e última é racional, e nesse caso o eleitor
precisa estar informado e capacitado a realizar uma série de
cálculos estratégicos para a escolha de seus preferidos.

Governo desastroso
No caso norte-americano, em termos racionais, o desastroso
governo Bush ofertou aos cidadãos a certeza de que não desejavam
um novo mandato republicano – que as campanhas democratas
faziam questão de associar ao mal sucedido governante atual.
Do outro lado, no entanto, duas questões psicológicas pareciam
difíceis de serem aceitas por um eleitorado conservador: um
negro ou uma mulher eram os favoritos entre os democratas.
Por mais que as pesquisas mostrassem que Obama, que ven-
cera Hilary Clinton nas prévias de seu partido, era favorito, uma
coisa precisava ser apontada: pesquisas não costumam captar
Barack Obama, presidente eleito dos Estados Unidos. comportamentos preconceituosos. Assim, entre afirmar o voto no
candidato negro e efetivamente votar existia uma distância que
de Humberto Dantas preocupava os analistas.
A despeito de todas essas considerações as urnas consagra-

“S
ram Barack Obama. Será o senador um bom presidente? Isso
ou uma anomalia estatística. Uma garota negra, cria- já é exercício de futurologia, que a ciência política não costuma
da no sul de Chicago. Jamais imaginei que chegaria oferecer. Sobretudo diante de uma crise global nascida no quintal
até aqui”. Com essas palavras, Michelle Obama, americano e de um sério problema relacionado à Guerra no Iraque.
esposa do presidente eleito dos Estados Unidos Mas algo precisa ser afirmado: demos um passo significativo no
Barack Obama, expressou seus sentimentos após caminho da democracia, da tolerância e da diminuição dos pre-
o discurso do marido comemorando a vitória nas conceitos. Esperamos, no entanto, pelo dia em que ser mulher,
eleições do início de novembro. De fato, a chegada de Barack negro, pobre, humilde, pouco escolarizado ou coisas do tipo não
Obama ao poder do maior país do mundo tem um significado rendam manchetes de espanto. Daqui alguns anos, espero ver
absolutamente importante. É um sinal de que o eleitor é capaz um representante do que chamam de “minorias” assumindo o
de amadurecer, sobretudo no que diz respeito aos preconceitos poder como algo natural. Teremos esse dia? Quem sabe? Mas
que infelizmente ainda rondam parcelas expressivas do mundo. nesse caso certamente teremos compreendido o significado da
Não que a eleição tenha se dado entre a causa negra e a causa palavra democracia e, sobretudo, pautado nossos votos em aná-
branca. Os temas eleitorais são mais complexos que isso, mas lises racionais e consistentes, e não em motivações psicológicas
existia uma máxima na política norte-americana que afirmava: pautadas em preconceitos e visões distorcidas da realidade. 
mulheres, negros e homossexuais nunca governariam o país. E
dessa forma, se a chance de um negro governar os Estado Unidos Humberto Dantas é doutor em Ciência Política, professor universitário e apresentador do programa
era equivalente à probabilidade de uma moeda arremessada não Despertar da Cidadania, na Rede Canção Nova de Rádio. E-mail: hdantas@usp.br

14 Dezembro 2008 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

CAM 3 - Comla 8

Missão Ad Gentes

hoje
Arquivo SVD

Padre Antonio M. Pernia com Bento XVI, em Roma.

Conferência proferida no Fórum sobre a “Missão Ad


de Antonio M. Pernia

P
ediram-me para falar sobre
a “comunidade discípula de
Gentes” durante o 3º Congresso Americano Missionário
Jesus”. Gostaria de come-
çar com o Pentecostes, a
(CAM 3 - Comla 8), em Quito, Equador, agosto de 2008.
descida do Espírito Santo,
que assinala o nascimento faz sentir. Os primeiros a experimentar uma valente comunidade de apóstolos.
da Igreja, a comunidade discípula de esta novidade foram os discípulos de O movimento se dá desde o Ad Intra até
Jesus. Notemos que, desde o seu início, Jesus reunidos no cenáculo. Estavam o Ad Extra (de dentro para fora).
a Igreja é missionária. Na descrição do fechados com medo de se expor à
evento, no livro dos Atos dos Apóstolos, multidão. Além do medo, sentiam-se As nações da terra
há três elementos que se sobressaem: confundidos e desalentados pela morte O texto continua dizendo: “Quando
um vento impetuoso, as nações da terra de seu mestre e o fracasso de suas ouviram o barulho, todos se reuniram e
e as línguas de fogo. esperanças e sonhos. E então chegou ficaram confusos (...) judeus devotos de
o vento. Línguas de fogo desceram todas as nações do mundo (...) partos,
Um vento impetuoso sobre cada um deles e os encheram do medas, elamitas, estrangeiros de Roma,
O texto diz: “de repente, veio do Espírito Santo. Foi como se os tivessem judeus e prosélitos, cretenses e árabes”
céu um barulho como o sopro de um sacudido até perderem o medo, a de- (At 2, 5-11) etc. É como se o mundo inteiro
vento impetuoso” (At 2, 2a). Isto nos faz silusão e a confusão. Como resultado, estivesse presente em Jerusalém no dia
pensar: é como se o universo tivesse sentiram-se fortalecidos para sair, para de Pentecostes. Isto engloba a missão
sido sacudido até o mais profundo de dar testemunho de seu mestre e anunciar universal da Igreja. A Igreja nascida em
seu ser, a criação inteira fosse purificada a Boa Nova. Da sala superior ao exterior, Pentecostes está destinada a proclamar a
e feita nova. O que sucede é algo com- do cenáculo ao areópago, de um grupo Boa Notícia de Jesus a todas as nações:
pletamente novo. O Espírito de Deus se temeroso de discípulos desanimados a Ad Gentes omnes.

- Dezembro 2008 15
Jaime C. Patias indiferença, nossa falta de compromisso
para com a missão Ad Gentes. O que
significa hoje a missão Ad Gentes para
nós na América Latina?

Mudança na Missão
Desde os tempos da Igreja primitiva
houve uma clara diferença e delimitação
entre Gentes e o Populus Dei. Ou seja,
a distinção entre o povo eleito de Deus
e as nações, entre judeus e gentios, en-
tre circuncidados e não-circuncidados,
entre crentes e pagãos. De fato, esta
distinção se tornou a base da separação
de tarefas entre Pedro e Paulo. Assim
disse Paulo na sua Carta aos Gálatas:
“O Pentecostes” do artista plástico Cláudio Pastro, Basílica de Nossa Senhora Aparecida, SP. “... a mim fora confiada a evangelização
dos não-circuncidados, assim como a
Línguas de fogo Igreja. Assim como queimar é a na- Pedro fora confiada a evangelização
“Apareceram então umas como tureza do fogo, a natureza da Igreja dos circuncidados. De fato, aquele que
línguas de fogo, que se espalharam é ser missionária, como expressa o tinha agido em Pedro para o apostolado
e foram pousar sobre cada um deles. documento do Vaticano II, Ad Gentes: entre os circuncidados, também tinha
Todos ficaram repletos do Espírito Santo, “a Igreja peregrina é, por sua natureza, agido em mim a favor dos pagãos”
e começaram a falar em outras línguas, missionária” (AG 2). Isto é verdade (Gl 2, 7-8).
conforme o Espírito lhes concedia que não só para a Igreja universal, mas Junto a esta distinção existia aquela
falassem” (At 2, 3-4). Aqui, as línguas também para cada Igreja local; ainda outra, entre o centro da fé e a periferia
de fogo simbolizam o Espírito descendo que seja sobre a Igreja no ângulo mais da incredulidade (“descrença”), ou a
sobre os apóstolos. Há dois elementos isolado do mundo. Cada um na Igreja distinção entre “dentro” e “fora”. Na
neste simbolismo: o dom do Espírito é o é missionário. Se nós, os discípulos e Igreja primitiva, o centro da fé era
dom de línguas. Isto nos permite dizer discípulas de Jesus hoje quisermos ser Jerusalém e as nações circundantes
que o dom do Espírito é a capacidade fiéis a esta Igreja nascida em Pente- eram a periferia da incredulidade. Na
de dialogar, de entrar em conversação costes, temos que estar dispostos a história da Igreja, a Europa cristã era
com todas as pessoas, especialmente ser sacudidos pelo Espírito de Deus, o centro da fé e o resto do mundo era
com as que são diferentes de nós. Em para que percamos nosso medo, nossa a periferia da incredulidade. No con-
palavras dos Atos: pardos, medos, texto desta dupla distinção, “missio Ad
elamitas, forasteiros de Roma, judeus Gentes” era necessariamente “missio
Jaime C. Patias

e prosélitos, cretenses e árabes. O Es- Ad Extra”. Missão era “sair” para as


pírito é o que faz possível o diálogo. O “nações pagãs”. Missão era um mo-
Espírito é o que nos faz ouvir sua voz vimento unidirecional desde a Europa
nas tradições culturais e religiosas de cristã em direção ao mundo pagão.
outros povos. O dom do Espírito é o dom Dessa concepção nascem expressões
não só de línguas, mas de línguas de como “países que enviam missionários”
fogo. Isto nos permite dizer que o dom (ou “enviadores de missionários”) e
do Espírito é o dom não só do diálogo, “países que recebem missionários”
mas do “diálogo profético”. Em outras (ou “receptores de missionários”), ou
palavras, é com a Palavra de Deus expressões como “Igreja missionária”
que dialogamos com os demais. E a e “Igrejas de missão”.
Palavra de Deus pode ser como um
fogo que limpa e purifica. Como diz a Mudanças
Carta aos Hebreus: “A Palavra de Deus Dois fenômenos recentes mudaram
é viva, eficaz e mais penetrante do que esta situação radicalmente: um na Igreja
qualquer espada de dois gumes: ela e outro no mundo.
penetra desde o ponto onde a alma e O primeiro fenômeno é a aparição
o espírito se encontram e até onde as de missionários que tem sua origem no
juntas e medulas se tocam; ela sonda sul do hemisfério. A Europa já não é a
os sentimentos e pensamentos mais única, e nem sequer a principal fonte
íntimos” (Hb 4, 12). de missionários. Isto tem a ver com
A Igreja nascida em Pentecostes é a drástica diminuição das vocações
uma Igreja missionária. O nascimento religiosas e sacerdotais na Europa (e
da Igreja foi ao mesmo tempo o nasci- nos Estados Unidos). Desta maneira,
mento de uma comunidade em missão. agora somos testemunhas do fenômeno
A missão é a verdadeira natureza da Padre Lourenço Elísio Tala, moçambicano na Coréia. de missionários originários do sul do

16 Dezembro 2008 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Jaime C. Patias
O nascimento da Igreja
foi ao mesmo tempo
o nascimento de uma
comunidade em missão.
A missão é a verdadeira
natureza da Igreja.
mundo, especialmente da Ásia e África,
mas também da América Latina. Isto tem
a ver com o crescimento e a maturação
das que antes chamávamos “Igrejas
de missão”, ou as Igrejas dos países
“receptores de missionários” (“países
de missão”). E não se trata somente
do que costumamos chamar “missão
inversa”, isto é, de missionários dos
antigos territórios missionários que
vão como missionários para a Europa.
Participantes no fórum sobre a Missão Ad Gentes durante o CAM 3 - Comla 8, Quito, Equador.
Porque também há missionários do
sul que vão como missionários para a temos uns 600 missionários asiáticos O outro fenômeno é a crescente
Ásia, África e América Latina. Por isso que trabalham fora de seus próprios multiculturalidade de muitas das cidades
hoje falamos também de “missão de países (na Europa, Estados Unidos, e países do mundo. Graças ao fenômeno
sul a sul”, em contraste com a situação América Latina, África e em outras par- da “mobilidade” das pessoas (seja por
anterior que era principalmente um tes da Ásia). Igualmente, ainda que em causa das migrações internacionais,
fenômeno “de norte a sul”. escala menor, temos uns 50 missionários seja a situação dos refugiados), as
Não tenho estatísticas e cifras africanos que trabalham fora da África, sociedades estão se tornando cada
concretas a respeito. Mas se nossa e também uns 50 missionários verbitas vez mais multiculturais. No momento
congregação (Missionários do Verbo latino-americanos que trabalham fora da mudança de milênio, estimava-se
Divino) servir como indicador, agora da América Latina. que no mundo havia uns 150 milhões
de migrantes internacionais (isto é, uma
de cada 50 pessoas). Do mesmo modo,
Missionárias SSpS

estimava-se que havia 50 milhões de


refugiados ou migrantes forçados (isto
é, uma de cada 120 pessoas).
Ainda que esta mobilidade seja
um fenômeno muito antigo, a natureza
global das migrações de nossa era é o
que hoje dá uma proeminência especial
ao fenômeno. Cada vez mais pessoas
que nunca exercem seus direitos civis,
se vêem obrigadas a migrar. E viajam a
um número cada vez maior de países.
Os migrantes internacionais vêm de
todas as partes do mundo e viajam
a todas as partes do mundo. Como
resultado, hoje não somente há pes-
soas de diferentes culturas que estão
muito mais em contato com outras:
muitas vezes se vêem forçadas a viver
junto às outras. Muitas das cidades do
mundo de hoje estão habitadas por
grupos culturais sumamente diferen-
tes. E muitas vezes, a diversidade de
culturas significa também diversidade
Irmã Kavita, missionária indiana na clínica da Missão Werago, Etiópia. de religiões. Este movimento massivo

- Dezembro 2008 17
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
Jaime C. Patias sociedades diferentes.
Uma Igreja que alimente a autêntica
interculturalidade para dentro e que
promova o diálogo intercultural para
fora será um sinal crível da abertura
do Reino de Deus às pessoas de todas
as culturas e nações, será testemunha
da universalidade e da abertura à di-
versidade do Reino. Nesta época de
globalização, um testemunho assim
é especialmente necessário, já que
a globalização tende, por um lado, a
excluir e marginalizar os pobres e os
débeis, e, por outro, a criar uma uni-
formidade que erradica as diferenças.
Uma Igreja multicultural será um sinal
de que o Reino inclui a todos e não
exclui ninguém, e de que nele não
há nem estrangeiros nem forasteiros,
só irmãos e irmãs. Será a imagem da
convocação de todos os povos a que
aludiu o profeta Isaías: Assim diz o
Senhor: “Eu virei para reunir todos os
povos e línguas. Eles virão para admirar
I Jornada Missionária de Seminaristas no Centro Cultural Conforti dos Xaverianos, Curitiba, PR.
a minha glória” (Is 66, 18).

de pessoas está mudando radicalmente mento das outras culturas (isto é, que Conclusão
o rosto de nossas cidades. admite, por exemplo, que a cultura Ainda que a missão Inter Gentes
dos imigrantes seja também visível na seja uma clara possibilidade em nos-
Missão Inter Gentes comunidade), uma Igreja que promove sos próprios países, isto não elimina a
Do que vimos, se segue que hoje o respeito pela diversidade cultural necessidade da missão Ad Gentes Ad
a missão Ad Gentes já não pode ser (isto é, se opõe a qualquer intenção de Extra (fora do seu país). Mais ainda,
considerada somente como missão submeter as minorias culturais à cultura os “territórios de missão” tradicionais
Ad Extra (fora do seu país). Porque dominante), e uma Igreja que promove seguem necessitando do testemunho
as “gentes” já não são somente as que uma saudável relação de interação intercultural e do serviço do diálogo
estão lá fora. As “gentes” também estão entre as culturas (isto é, que trata de profético. De fato, a missão Ad Extra
aqui entre nós e ao nosso redor. Pode criar um clima no qual todas as culturas é essencial se queremos que a missão
ser a família da porta ao lado, a pessoa tenham a possibilidade de enriquecer- Inter Gentes em casa se converta num
junto a nós no ônibus, o jovem que vem se mutuamente). Uma comunidade que compromisso sério. Em primeiro lugar,
arrumar o televisor, a mulher do mercado se distingue por estes traços resultaria a missão Ad Extra brinda ao missioná-
onde compramos verduras. atraente para pessoas de diversas rio a experiência de ser parte de uma
Hoje precisamos entender cada procedências, que poderiam sentir-se minoria num país estrangeiro. Isto
vez mais a missão Ad Gentes também realmente integradas nela. geralmente permite ao missionário
como missão Inter Gentes (missão entre Uma Igreja realmente multicultural, ver como a missão deve ser diálogo
povos, entre igrejas locais, de diocese no entanto, não pode limitar-se a cuidar Inter Gentes e não só proclamação
para diocese, de pobres para pobres). daqueles que pertencem à comunidade, Ad Gentes. Esta também fará com
E, à luz do que vimos, esta missão Inter isto é, dos imigrantes, estrangeiros ou que o missionário entenda porque a
Gentes implica, entre outras coisas, a forasteiros que são católicos ou cristãos. humildade, a impotência, o respeito
tarefa de construir ou promover uma Uma Igreja autenticamente multicultural e a solidariedade são exigên­­cias da
Igreja autenticamente multicultural, isto tem que olhar além de si mesma e dirigir- mis­­são. Em segundo lugar, a missão Ad
é, uma Igreja que seja lar de pessoas se aos emigrantes não-cristãos, aos Extra também permite ao missionário
de diferentes culturas, um instrumento refugiados e desprezados, constituindo expor-se às culturas e religiões originais
de diálogo intercultural, e um sinal da um instrumento de diálogo intercultural dos migrantes que vêm a nossos países.
inclusividade do Reinado de Deus. na sociedade. Faz falta trabalhar para Isto dará ao missionário a oportunidade
Aos olhos de estrangeiros e fo- criar na grande comunidade humana as de estudar e compreender realmente
rasteiros, uma Igreja multicultural não condições que permitiam fazer reais os as culturas e religiões dessas pes­soas.
aparece só como uma comunidade mais elementos assinalados anteriormente: o Uma experiência tal acabará, sem
tolerante, mas como uma comunidade reconhecimento das culturas, o respeito dúvida, por beneficiar a missão Inter
muito mais acolhedora. São três, so- à diversidade e a existência de uma Gentes em casa. 
bretudo, os elementos essenciais para saudável relação entre as culturas.
que se dê essa condição acolhedora: Isto supõe a promoção permanente de Antonio M. Pernia, SVD, filipino, doutor em teologia é
uma Igreja que respalda o reconheci- um diálogo autêntico entre pessoas de Superior Geral dos Missionários do Verbo Divino.

18 Dezembro 2008 -
Resgatando o
Roteiro de Encontro
Tema do mês: Resgatando o Natal
a) Acolhida
b) Invocação do Espírito Santo
c) Dinâmica
d) Apresentação do tema,

o Natal
questionamentos e debate
e) Compromisso mensal
f ) Oração conclusiva

de Patrick Gomes Silva

O
ano de 2008 passou rápido e está agora na sua reta
final; fica cada vez mais a sensação de que o tempo
voa. A velocidade em que vive a nossa sociedade
é alucinante, por vezes temos a sensação de que
seriam necessárias mais umas horas para terminar
tudo aquilo que se tinha pensado para o dia. Gos-
taríamos que ele tivesse mais horas, quem sabe passar de 24
para 28 ou mesmo 30... O que é certo é que nos aproximamos
a largos passos da conclusão de mais um ano. 2008 vai passar
a ser história e 2009 já bate à porta.
O final deste ano está sendo dominado pela crise econômica.
Fica cada vez mais claro que o mundo é mesmo uma “aldeia
global”, os problemas de um país passam a ser de todos. No
Brasil a crise tem merecido destaque na mídia e mesmo que o
governo resista em admitir, o povo já começa a perceber seus
efeitos. Mas não é propriamente sobre a turbulência econômica
que gostaria de refletir.

Natal e Ano Novo


A reta final do ano é marcada por dois eventos: um cristão
e outro mais mundano, isto é, o Natal e a passagem de ano. mais comercial. As crianças (e nós também) quando pensam no
No fundo, são dois nascimentos – o nascimento do Salvador Natal, pensam apenas nos presentes, enfatizando as “coisas”,
e o nascimento de um novo ano. Nascer é sempre sinal de esquecendo-se do espírito. Uma segunda proposta seria: em
vida, ou seja, sinal de esperança. Assim, temos pela frente dois vez de gastar tanto dinheiro na compra de presentes, vamos
acontecimentos que querem renovar a nossa vida e a nossa dar presentes feitos por nós. Vamos usar a nossa criatividade
esperança. Para nós, cristãos, o Natal é uma das maiores festas e imaginação, pois, o importante não é a “coisa” que se dá,
da nossa fé e em nosso imaginário é talvez a mais aguardada mas sim o fato de saber que alguém pensou em nós. Estou
e desejada. Recordamos a vinda de Deus até nós. Um Deus convencido de que estes pequenos gestos podem servir para
que aceita se encarnar para ser como cada um de nós. No resgatar o verdadeiro sentido do nosso Natal.
entanto, é fato que o Natal está perdendo cada vez mais o Não poderíamos esquecer também a passagem de ano.
seu sentido cristão. Melhor, nos “roubaram” o Natal! Tornou- Um momento marcante na nossa sociedade, as festas se mul-
se numa grande época comercial, em que o que interessa é tiplicam, às vezes, as loucuras também se multiplicam e neste
vender e comprar, fazer disparar os indicadores comerciais. clima de propostas radicais, aqui vai uma outra. Anos atrás tive
Os nossos shoppings em outubro já estavam “revestidos” de a oportunidade de participar de uma passagem de ano muito
produtos natalinos. O presépio quase não aparece mais, algu- diferente. Um grupo de jovens se reuniu, não para as habituais
mas igrejas até se adaptaram à árvore de Natal. É necessário, festas, mas para rezar. A celebração teve três momentos, o pri-
urgentemente, resgatar o Natal. Precisamos voltar às nossas meiro foi pedir perdão pelas falhas e erros cometidos ao longo
raízes cristãs. Gostaria de propor algumas coisas concretas do ano; o segundo foi agradecer por tudo o que de bom tinha
para ajudar neste resgate. A primeira proposta é construir o acontecido durante o período; o terceiro foi pedir a proteção de
nosso presépio. Este ano, em vez da árvore de Natal, vamos Deus para o novo ano. Uma forma diferente de celebrar a vida
nos atrever a fazer um presépio e dizer qual o verdadeiro sen- nova que Deus nos oferece. Votos de um Santo e Feliz Natal e
tido do Natal. O presépio é um pequeno sinal que nos recorda um ótimo 2009! 
o nascimento de Jesus e não a vinda de um senhor de barba
branca. Natal é também tempo de trocar presentes. Também Patrick Gomes Silva, imc, membro da equipe de formação do
aqui a tradição foi sendo deturpada para que se tornasse ainda Centro Missionário José Allamano, SP.

Para refletir:
1. Qual o significado do Natal para a sua família?
Proposta:
2. Quais são os gestos escolhidos para recordar o Natal? Resgatar o sentido do Natal.
3. O que você achou das propostas aqui apresentadas?

- Dezembro 2008 19
O Evangelho
Destaque do mês

de Guadalupe

des
Antonio Ferna
No Advento de 2008, o Instituto Missões Consolata abriu
Missão no México.
Jaime C. Patias

Santuário de Gu
adalupe no Méxic
o.

Participantes do CAM 3 - Comla 8, Quito, Equador, homenageando Nossa Senhora de Guadalupe.

de Salvador Medina escritos: o mesmo Tepeyac (nariz do identidade e alteridade, palavra e diálogo,

S
monte) dos nossos cerros e montanhas para viver com harmonia e dignidade.
ou um cidadão mestiço desta das cordilheiras continentais; a mesma Envolvido na fumaça e cheiro do incen-
América pobre que, um dia, me Tonantzin, “morenita”, Guadalupe e de so, entre flores e cantos, danças e bailes,
surpreendi envolvido, como romei- tantos nomes mais, com indígenas, negros, orações e conversações, risos e choros,
ro, numa gigantesca peregrinação, mestiços e brancos das nossas periferias gritos e silêncios, fui escutando a voz da
na Cidade do México, caminhan- sociais, econômicas e eclesiais, embora mensageira do céu, conforme documento
do em direção ao Santuário de “dignos de todo o respeito”; outros bispos que narra a aparição de Guadalupe: “Saiba
Nossa Senhora de Guadalupe. Fiz parte João Zumarraga(s), mas a mesma Igreja; e entenda, você é o mais humilde dos
de uma das delegações de missionários outros conquistadores e colonizadores, meus filhos. Eu, a Sempre Virgem Maria,
da Consolata que estudou a abertura de porém, mais sofisticados e espertos. Mãe do Deus Vivo por quem nós vivemos,
uma missão no país. Numa manhã de Como missionário, senti-me parte que do Criador de todas as coisas, Senhor do
Advento, em 2007, da história do Povo buscava, com outros colegas, um espaço céu e da terra. (...) Eu poderei mostrar
de Deus nesta Ameríndia-Afro-Latina onde partilhar a verdadeira Consolação, todo o meu amor, compaixão, socorro e
percebi, intimamente, a diferença entre Jesus Cristo, entre uma massa peregrina proteção. Eu sou vossa piedosa Mãe e
o misterioso acontecimento da fé, atua- e migratória de romeiros procurando como de todos os habitantes desta terra e de
lizado pessoalmente e o acontecimento órfãos num novo exílio ou desterro, mãe todos os outros que me amam, invocam
histórico registrado em documentos ou e casa, colo e solo, economia e ecologia, e confiam em mim. Ouço todos os seus

20 Dezembro 2008 -
lamentos e remedio todas as suas misé-

Antonio Fernades
rias, aflições e dores” (Nican Mopohua,
23). A multidão passava lentamente frente
à sagrada capa de Nossa Senhora. Eu,
embevecido, contemplava os rostos deste
novo “povo do sol” marcados por mais de
500 anos de cruéis aflições e heróicas
“resistências”, enquanto escutava o leve
sussurro saído dos lábios da terna Mãe
mestiça, nem espanhola nem índia: “Que te
está acontecendo, meu filho menor? Para
onde vais, para onde te diriges? Escuta
e guarda-o no teu coração, meu filho, o
menor, que o que te assusta e te aflige
é nada. Não se perturbe o teu rosto nem
o teu coração, (...). Não estou eu aqui,
Eu que sou a tua Mãe? Não estás sob a
minha sombra e resguardo? Não sou Eu
a fonte de tua alegria? Não estás debaixo
do meu manto e em meus braços? Por Monumento retrata a aparição de Nossa Senhora de Guadalupe a Juan Diego.
acaso tens necessidade de alguma outra
coisa? Nada te aflija ou te perturbe”. Yestlaquenqui, nomes diversos do deus sol. América, abriram uma nova missão no
Concluindo os rituais litúrgicos do me- Ele aparece simbolizado no centro-ventre da México, num esforço conjugado entre
morial eucarístico no aconchego humano da jovem Virgem do Tepeyac com o sinal ollin as seis províncias do continente. Inicial-
imensa basílica, registrei no meu coração um (origem da vida do universo), uma pequena mente eles conhecerão duas realidades
refrão saído da experiência octogenária de flor de quatro pétalas, como um jasmim, distintas: Tuxtla Gutierrez em Chiapas, no
uma mulher mexicana que dizia “A mulher que indicam os quatro rumos do mundo. sul e Guadalajara em Jalisco, no centro.
é a chave da casa”, enquanto explicava Podemos assim cantar com São Lucas Além da interculturalidade, a nova mis-
que a “caçulinha de minhas filhas, minha “O Sol Nascente nos veio visitar lá do alto são tem outra novidade: a presença de
Menina”, como a chamava João Diego, como luz resplandecente” (Lc 1, 78). leigos na comunidade composta por nove
era essa chave para entrar no mistério das Casa do solo e do cultivo: uma casa missionários: quatro sacerdotes (Antonio
aparições, do santo indígena, deste santuário comum, entendida como solo, terra firme e Noé Romero, de El Salvador, Alessandro
tão concorrido e de tudo o que o bom Deus moradia que garanta a seguridade pessoal, Conti, da Itália, Ronildo de França Pin-
queria nos dizer neste momento. a pertença social e uma economia estável to, do Brasil e Gabriel Abischu Morke,
e sustentável. Casa comum, verdadeiro da Etiópia), a senhora leiga missionária
Na casa-santuário cosmos, desenhada harmoniosamente no Maria Elsia Chavarria Espinosa, 65, co-
Saindo da basílica rondei a peque- “código indígena” escolhido pela mensa- lombiana e a família venezuelana Wilmar
na colina do Tepeyac entre o canto dos geira do céu para comunicar seu Evan- José Hernandes, 34, advogado e Ginette
pássaros e a aroma generoso das flores, gelho, adaptando-se assim à mentalidade Josefina, 35, professora com seus filhos,
refletindo na vontade da Senhora do céu: e à cultura asteca, onde a comunicação Francisco Javier, 8, e Andrés Miguel, 6.
“E para que se realize o que pretende o misturava os hieróglifos gráficos e os Eles foram como peregrinos missionários
meu compassivo olhar misericordioso, irás fonéticos com as cores, os símbolos dos na “casa” do “outro” e, ao mesmo tempo,
ao palácio do bispo do México, e lhe dirás deuses, cidades e reis, e as cifras nume- comum (de todos) para partilhar o carisma
que Eu te envio, e lhe mostrarás que Eu rais para situar o relato no tempo. Outra da Consolata, a verdadeira Consolação,
desejo muito que aqui me providencie uma coisa não significam as estrelas do manto Jesus Cristo, tão semelhante ao “evangelho
casa, que erga na planície o meu templo azul, as rochas e montanhas do vestido guadalupano”. Em tempos de escassez
(...)” (Nican Mopohua 26). Casa do colo e avermelhado que se entrelaçam com as de vocações sacerdotais e religiosas a
do coração: a casa da Mãe, onde Ela pode flores e os vegetais, a energia do sol que participação de leigos e leigas na missão
“cuidar” dos seus filhos e filhas. Uma casa se expande ao infinito com os seus raios além-fronteiras torna-se fundamental e
como âmbito do colo que se torna consolo, e a lua que oferece apoio-chão à amável abre novos caminhos.
lugar da reparação para toda reconstrução. Virgem Mãe, que aparece com o filho no A interação e o intercâmbio do colo
A casa como ambiente íntimo que favorece ventre e não nos braços, prestes a nascer, afetivo, do culto religioso e do cultivo do
o aconchego e o descanso, a acolhida e a o “anjo sob a Virgem como portador de solo (economia e ecologia) dos missionários
hospitalidade, espaço da reciprocidade. A um novo período cósmico, de um novo da Consolata na “casa mexicana”, poderá
casa da paternidade e da fraternidade, da sol, o “Sol da justiça”, Cristo, depois do favorecer a maturidade de uma Igreja sem-
afetividade na gratuidade, da comunhão na “5º sol” – era que os astecas estavam pre mais católica e missionária, um Instituto
participação, da paz como fruto da justiça vivendo. Imagem da mulher do Apocalipse da Consolata mais aberto, encarnado e
nas relações sociais e a convivência res- 12, 1-4, vestida de sol e a ponto de dar à enriquecido neste chão ameríndio. A vida
ponsável com a Criação. luz, inaugurando assim uma nova era: a mesma, em todas as suas manifestações,
Casa do culto e da comunidade: lugar era da fé e da graça” (Clodovis Boff). receberá uma boa injeção de promoção
privilegiado, não único, para se encontrar integral, de consolação e liberação através
com o Deus dos antepassados e de todos A Consolata no México da vida-missão dos sacerdotes e leigos
os povos atuais, representando na túnica No dia 1 de dezembro, no Advento missionários. 
“rosada ou avermelhada” que evoca a aurora cristão de 2008, os missionários da Con-
ou o entardecer com a cor de Tonatiuh e de solata que já atuam em sete países da Salvador Medina, imc, é Superior Provincial na Colômbia.

- Dezembro 2008 21
Promover
a Vida

Elisangela Aparecida Rodrigues


O
Instituto Missões Consolata,
Projetos Sociais - IMC

fundado em 1901, pelo Bem-


aventurado José Allamano, em
Turim, Itália, tem por finalidade
a Evangelização e promoção
humana através de projetos
sociais. Padres, irmãos e leigos missionários
trabalham em 22 países de quatro continentes,
privilegiando situações humanas menos favore-
cidas. No Brasil, desenvolvem projetos com a
colaboração de amigos e benfeitores nos estados
de São Paulo, Paraná, Bahia, Amazonas, Roraima Crianças da creche Padre Bernardo Gora.
e Distrito Federal.

Arquivo
Creche Padre Bernardo Gora
Obra social do Instituto Missões Consolata,
localizada no bairro Jardim Peri, Zona Norte de
São Paulo atende 100 crianças de 3 a 5 anos. A
Paróquia Nossa Senhora da Penha administrada
pelos missionários, no mesmo bairro, mantém
outras três creches que atendem juntas cerca de
350 crianças, contribuindo para a sua educação
e formação.

Água para o semi-árido


do Nordeste
Os projetos de captação, canalização e distri-
buição da água para as populações do semi-árido
na Bahia realizam o sonho de milhares de famílias,
nos municípios de Jaguarari e Monte Santo. O
objetivo é solucionar o histórico problema da
falta de água na região através de poços, cons- Cisterna em Bonsucesso, Monte Santo, BA.

Patrick Silva
trução de reservatórios, cisternas e canalização
da água até as casas. Três mil famílias já foram
beneficiadas, porém, outras dez mil ainda não
foram atendidas.

Casas de Apoio
aos portadores do vírus HIV
Quando o vírus HIV começou a se difundir
entre os brasileiros, em 1990 surgiu em São
Paulo o Lar Betania, uma das primeiras casas de
apoio para as pessoas portadoras. Hoje as Obras
Sociais Padre Costanzo Dalbesio da Paróquia
Nossa Senhora de Fátima, no bairro do Imirim,
São Paulo, conta com outras três casas abrigando
20 pessoas entre crianças, adolescentes e jovens.
Cada unidade tem a capacidade para acolher 12
pessoas. Essa obra é uma contribuição para re-
inserir os moradores, com todos os seus direitos
e deveres, na sociedade.  Lar Betania.

22 Dezembro 2008 -
XII Assembléia Geral
Ordinária do Sínodo dos Bispos
Síntese da mensagem da reunião magna que aconteceu em Roma, de 5 a 26 de outubro e
versou sobre a Palavra de Deus na fé, na vida e na missão da Igreja.
que é alimentada: pela “oração”, com “salmos, hinos e cânticos
Arquivo

espirituais” (Col 3,16); pela Liturgia das Horas, pela Lectio Divina,
e, por fim, a “comunhão fraterna”, escutar a palavra de Deus, e
colocá-la em prática no amor operoso (Lc 8,21).
A última imagem do mapa espiritual é a estrada sobre a qual
caminha a palavra de Deus: “Ide e fazei discípulos todos os povos,
ensinando-os a observar o que vos mandei. (Mt 28, 19-20; 10, 27).
A palavra de Deus deve correr pelas estadas do mundo pelas vias
da comunicação da informática, televisiva e virtual. Deve também
ser levada às famílias, a fim de que os pais e os filhos a leiam,
rezem com ela e seja para eles uma lâmpada para os passos no
caminho da existência (cf. Sl 119, 105). Devem entrar também
nas escolas e nos ambientes culturais da arte, da literatura, da
música, do pensamento e da própria ética comum.
A Bíblia também nos apresenta o gemido de dor que sai da
terra, vai ao encontro do grito dos oprimidos e ao lamento dos
Entronização da Palavra de Deus em encontro de CEBs, São José dos Campos, SP. infelizes, dos nossos irmãos e irmãs de outras Igrejas e comuni-
dades cristãs e, nos homens e mulheres de outras religiões que

C
escutam e praticam fielmente os ensinamentos de seus livros
aros irmãos e irmãs, “que em cada lugar invocais o sagrados e que conosco podem construir um mundo de paz e de
nome de nosso Senhor Jesus Cristo, graça e paz da luz, porque Deus quer que “todos os seres humanos sejam salvos
parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo!” e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tim 2, 4).
(1Cor 1,2-3). É com a saudação do Apóstolo Paulo – Caros irmãos e irmãs, guardai a Bíblia em vossas casas, lede,
neste ano a ele dedicado – que nós, padres sinodais, aprofundai, transformai-a em prece e testemunho de vida, ouvi-a
reunidos em Roma para a XII Assembléia Geral do com amor e fé na liturgia. Criai silêncio para escutar com eficácia
Sínodo dos Bispos, com o santo padre Bento XVI, vos dirigimos a Palavra do Senhor, conservai o silêncio depois de ouvi-la para
uma mensagem a vós pastores e aos muitos e generosos cate- que ela continue a habitar, a viver e a falar convosco. Fazei-a
quistas e a todos aqueles que vos guiam na escuta e na leitura ressoar no início do dia para que Deus tenha a primeira palavra,
amorosa da Bíblia. Para vós agora queremos traçar a alma e a e deixai-a ecoar em vós ao cair da tarde para que a última palavra
substância daquele texto para que cresça e se aprofunde o co- seja de Deus.
nhecimento e o amor à Palavra de Deus. Quatro são os pontos “Nós vos confiamos a Deus e à palavra de sua graça” (At 20,
cardeais do horizonte que queremos convidar-vos a conhecer e 32). Com a mesmo expressão de São Paulo, nós, padres sinodais,
que exprimiremos através das seguintes imagens: confiamos os fiéis das comunidades espalhadas sobre a face da
Em primeiro lugar a voz de Deus que ressoa nas origens da terra à Palavra Divina que também é juízo, mas, sobretudo graça,
criação, quebrando o silêncio do nada e dando origem às maravilhas que é cortante como uma espada, mas doce como um favo de
do universo. É a voz que penetra na história, ferida pelo pecado mel. Ela é potente e gloriosa e nos guia na estrada da história
humano e revirada pela dor e pela morte oferecendo-lhe sua graça, com a mão de Jesus “com amor incorruptível” (Ef 6, 24).
aliança e salvação. Ela, “a Palavra se fez carne” (Jo 1,14), como
escreveu São João. Eis que agora aparece a face. É Jesus Cristo, Participantes do Sínodo 2008
que é o Filho de Deus eterno e infinito, vive a existência penosa Cerca de 400 representantes da Igreja Católica nos cinco con-
da humanidade até à morte, mas ressurge glorioso e vive para tinentes; 253 padres sinodais representando 13 Igrejas orientais
sempre. É ele que torna perfeito nosso encontro com a Palavra católicas sui iuris, 113 Conferências Episcopais, 25 dicastérios
de Deus. Ele é o centro das Escrituras, revelador do Pai. da Cúria Romana e das Uniões dos Superiores Gerais (Institutos
É o próprio Espírito de Deus que nos conduz ao terceiro ponto, Religiosos masculinos e femininos), 51 delegados da África, 62
a casa da palavra divina, isto é a Igreja que, como sugere São da América, 41 da Ásia, 90 da Europa e 9 da Oceania. 173 foram
Lucas (At 2,42), é sustentada por quatro colunas ideais: o “ensi- eleitos pelas Conferências Episcopais às quais pertencem; 38
namento”, que consiste na leitura e compreensão da Bíblia pelo participaram em virtude do cargo que ocupam; 32 foram nomeados
anúncio feito a todos na catequese, na homilia, por meio de uma por Bento XVI e 10 foram eleitos pelas Uniões dos Superiores
proclamação que envolva a mente e o coração. A “fração do pão”, Gerais. 41 peritos, provenientes de 21 países e 37 auditores, de
isto é, a Eucaristia, fonte e cume da vida e da missão da Igreja 26 países, homens e mulheres. 

- Dezembro 2008 23
Tinha uma seringueira
Infância
Missionária no meio do caminho!
de Roseane de Araújo Silva
“Lutar e crer, vencer a dor, louvar ao Criador,

N
este mês completa-se 20 anos do tombamento de
uma valorosa árvore em solo amazônico. Mas que Justiça e paz hão de reinar!” (Zé Vicente)
árvore era essa? Será que era um jequitibá ou uma

Antônio Araújo da Luz


aroeira? Sim, era uma árvore grandiosa realmente, e
ao cair seu barulho ecoou nos quatro cantos do pla-
neta. Chamava-se Francisco Alves Mendes Filho, ou
Chico Mendes. Parafraseando Drummond, tinha uma
seringueira no meio do caminho. Esta seringueira era uma árvore
frondosa e grandiosa porque abraçou e deu a vida por uma causa:
a defesa da floresta amazônica e dos povos que lá vivem. Para
aqueles que atualmente defendem o meio ambiente no campo ou
na cidade, que buscam uma vida melhor para as comunidades

Sugestão para o grupo


Acolhida (destacar nesse mês a América, com os símbolos
missionários, as cores dos continentes; Bíblia; levar também Rio Maués-Açu, Vera Cruz, Amazônia.
fotos de crianças do campo).
Motivação: no mês do Advento refletiremos a respeito da Vida da floresta, o nome de Chico Mendes será sempre lembrado. O
como dom de Deus. Cuidemos do planeta. que mudou nesses 20 anos após a sua morte? Pouco ou quase
Oração espontânea pelas crianças e adolescentes do nosso nada. O desmatamento e as queimadas persistem e ainda é
continente. possível encontrar fazendas com trabalhadores escravos. Outras
Partilha dos compromissos semanais lideranças também tombaram como ele. De qualquer maneira,
Leitura da Palavra de Deus (sugestões para os quatro en-
contros):
nossos povos resistem na defesa da floresta, sua fauna e sua
Realidade Missionária: Mateus 10, 5-11. Jesus nos lembra o flora. E nós aqui? Será que estamos tão longe dessa realidade?
nosso chamado como missionários para levar a Boa Notícia O que será que tudo isso tem a ver com a nossa vida?
onde quer que estejamos. Jesus nos convoca a valorizar a A terra dom de Deus, doada a todos nós, corre grandes
vida das pessoas, a ter compaixão e perceber a realidade da riscos. Destaco ainda o desaparecimento das matas ciliares nos
missão, mas ainda somos poucos para a colheita. Refletir em principais rios do Brasil. Sem as árvores nós também somos
grupo a realidade vivida por Chico Mendes há 20 anos. Em atingidos, porque precisamos da sua sombra, dos seus frutos e
que é diferente da que vivemos hoje?
Espiritualidade Missionária: João 12, 24-26. Jesus vem nos
do oxigênio que produzem. Sem as matas ciliares, as margens
mostrar a sua verdadeira missão: doar sua vida por todos invadem o leito dos rios, deixando-os mais largos e mais rasos.
nós e anunciar o Reino do Pai. O exemplo de Jesus inspirou Mas o que podemos fazer de concreto? Em Cornélio Procópio,
muitos dos seus seguidores, que também entregaram sua vida Paraná, cerca de 300 crianças e adolescentes plantaram 5.000
a favor do Reino. O que significa em nossa vida ser chamado mudas de árvores nativas como parte de um programa que
para ser amigo de Jesus? preserva a mata ciliar. Nesse tempo de Advento, de espera
Compromisso Missionário: João 10, 7-10. O nosso com-
pelo Deus-Menino, somos desafiados a refletir sobre o futuro
promisso com Jesus nos ajuda a perceber a realidade, as-
sumindo todos os riscos para defender a vida. A exemplo de
do nosso planeta. Deus Pai envia seu Filho, como expressão
Jesus também viveu Chico Mendes, defendendo os povos da máxima do seu amor e esperança em uma nova reconciliação
floresta com a própria vida. Como gesto concreto no próximo com a humanidade. Assim, cada criança que nasce é a espe-
encontro, providenciar mudas de árvores nativas para plantar rança renovada. Somos parte do meio ambiente tão ameaçado
com as crianças. e sofrido, mas fortalecidos pela nossa fé, que “é como árvore
Vida de Grupo: Mateus 5, 13-16. Todos os que seguem a plantada junto d’água corrente: dá fruto no tempo devido, e suas
Jesus são fortalecidos na união, solidariedade e esperança
folhas nunca murcham” (Sl 1, 3a). Lembrar que a luta de Chico
onde estiverem. Devemos ser como sal para dar o sabor e
luz para brilhar para todos que estão na casa, assim seremos Mendes não foi em vão por parecer tão pequenina, mas o seu
nós missionários testemunhando o amor de Deus através das nome e a sua luta pertence a todos os que insistem em tornar o
nossas obras (motivar a atividade externa do plantio de mudas mundo mais humano e fraterno. Contribuir nessa construção é
em local apropriado). também o nosso compromisso como missionárias e missionários.
Momento de agradecimento (fazer preces espontâneas ins- De todas as crianças do mundo – sempre amigas! 
piradas no Evangelho).
Canto e despedida.
Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.

24 Dezembro 2008 -
- Dezembro 2008 25
Por uma Igreja
Entrevista

mais missionária
Anunciar o Evangelho por quê e para quê? Num mundo cada vez mais plural, são muitas as novas
fronteiras da Missão, que desafiam modelos tradicionais de pensamento e ação da Igreja.
de Agência Ecclesia Diálogo e anúncio são caminhos entrar pela via do diálogo. Encontramos,
diversos na relação com os não-cristãos por vezes, belas surpresas. Refiro-me ao

D
ou podem estar em sintonia? caso do velho missionário americano Bob
om António Couto, da Socieda- É claro que estão em sintonia, se com- McCahill, dos padres de Maryknoll. Trabalha
de Missionária da Boa Nova, pletando mutuamente. Bastará ler com em Bangladesh há mais de 30 anos, e,
bispo auxiliar de Braga, Portu- atenção a Instrução “Diálogo e anúncio: como ele mesmo confessa nunca anunciou
gal, defende a necessidade de reflexões e referências sobre o anúncio do publicamente o Evangelho. Bangladesh é
um maior compromisso missio- Evangelho e o diálogo inter-religioso”, de 19 um país de extrema pobreza e com uma
nário, olhando para além do de maio de 1991, do Pontifício Conselho para população majoritariamente muçulmana.
trabalho pastoral na infância e adolescência. o Diálogo Inter-Religioso e da Congregação Bob McCahill faz a sua oração da manhã e
Dom António é presidente da Comissão para a Evangelização dos Povos. O diálogo celebra a Eucaristia sozinho na sua barraca.
Episcopal das Missões em Portugal, e é um caminho que se deve cultivar sempre. Depois pega a bicicleta e vai ao encontro
afirma que há necessidade de um maior Aproxima as pessoas, cria laços de amizade, das pessoas: fala com todos, mas presta
compromisso missionário de todos os ca- faz-nos ver que todos temos coisas belas particular atenção aos doentes. Muda de
tólicos e mudanças na forma de encarar a e ricas a transmitir e a receber. Também terra de três em três anos. No primeiro
ação pastoral das comunidades. o amor aos irmãos nos fará muitas vezes ano, as pessoas olham este americano
Fotos: Fátima Missionária

Congresso Missionário Nacional, Centro Paulo VI, Fátima, Portugal que contou com 800 participantes.

26 Dezembro 2008 -
com alguma desconfiança. No segundo terceiro é requentado: não empenha quem
ano, já o olham com simpatia. No terceiro o faz nem quem o recebe!
ano, o clima é amistoso e lhe perguntam
a razão de querer viver no meio deles. É Como classifica a situação missio-
então que ele fala de Jesus Cristo. nária da Igreja em Portugal?
É inegável que os Institutos Missioná-
Faz sentido quantificar/qualificar o rios continuam a escrever páginas seletas
trabalho missionário pelo número de de vigor missionário, arrastando atrás de si
conversões? muitos jovens e cooperadores. No que diz
Faz sentido ver o trabalho missionário respeito às nossas dioceses e paróquias,
pela intensidade da nossa dedicação e a situação parece-me bastante sossegada,
testemunho. De resto, diz o Evangelho, no mau sentido, como quem diz que isso
desmentindo a estatística, que se deve não é conosco. É imperioso e absoluta-
procurar e encontrar com afinco a ovelha mente urgente que a Igreja portuguesa se
perdida. É uma só, mas conta tanto como empenhe, no seu todo, numa vastíssima
milhões. A estatística, todavia, pode servir campanha de verdadeira formação de
para saber melhor os terrenos em que evangelizadores, para que se possa, logo
pisamos. Em 1965, o Concílio calculava em que possível, mas de forma sistemática,
2.000.000.000 o número de não-cristãos levar o Evangelho a todas as camadas da
(AG, n.º 10). 25 anos depois, em 1990, população portuguesa (crianças, jovens,
João Paulo II afirmava que este número Dom António Couto. adultos e idosos) e pelo mundo fora. Não
quase duplicou (RM, n.º 3). É sempre útil podemos mais ficar tranquilamente dentro
consultar os números referidos no “Interna- é “light”, não é missão. Compreendo que das igrejas, sacristias e salões paroquiais,
tional Bulletin of Missionary Research”, que a pergunta tenha a ver com os jovens que, de braços cruzados, à espera que as
calculava para o ano de 1990, 3.449.084.000 generosamente, querem dedicar algum pessoas venham ter conosco. Somos nós
não-cristãos, e para o ano 2000 o número tempo da sua vida a serviço dos seus que devemos ir ao encontro das pessoas.
de 4.069.672.000 não-cristãos. Em 2006 irmãos diferentes e mais pobres. Quem o E o paradigma é o anúncio Ad Gentes, e
esse número subia para 4.373.076.000 não- faz por amor, um dia que seja, terá encon- não uma pastoral de manutenção. Rasgar
cristãos. As estimativas apontam para 2025 trado a alegria do Reino de Deus. Basta horizontes significa não ficar olhando
uma população mundial de 7.851.455.000, um simples copo de água com amor, diz apenas para o umbigo, mas abrir-se ao
com 2.630.559.000 cristãos (1.334.338.000 bem o Evangelho. É óbvio que o mundo diferente. Aprender outra vez a viver e a
católicos), e 5.220.896.000 não-cristãos. está mudando e a missão também. Haverá anunciar o Evangelho. Sei lá, vejo que as
Isto, sim, deve deixar-nos intrigados e levar- sempre missionários ad vitam (para toda nossas paróquias assentam quase todas
nos a tomar consciência do testemunho a vida). A missão temporária é do nosso as baterias nas crianças, para as quais se
cristão que damos. tempo e vai aumentar. Lembremo-nos orienta uma parte substancial dos esforços
que há um século atrás só os homens pastorais. A comparação pode ajudar. É
Que lugar tem o anúncio da Verda- (padres e religiosos) iam para a missão. como se, em Portugal, 90% dos médicos
de num mundo cada vez mais plural e Ho­­je, ­80 % são mulheres! A medida será fossem pediatras. Restavam 10 % para a
multifacetado? sempre a medida do amor! Seja muita ou população adulta! Vê-se bem que temos
A velha questão de Pilatos – “O que é a pouca gente, muito ou pouco tempo! de mudar muitas coisas.
verdade?” - é mesmo uma questão velha,
mal formulada e ultrapassada. Por isso, É preciso investir mais no anúncio O que se pode esperar do Congres-
Jesus não respondeu. Nós não pergun- aos que já ouviram falar de Jesus e não so Missionário recentemente realizado
tamos “O que é a verdade?”, mas “Quem o acharam relevante? (setembro) em Portugal?
é a verdade?” A verdade não é uma coisa É preciso investir sempre tudo para Esperar? Por quem ou por quê? É
ou uma idéia, mas uma pessoa que ama todos. Para os que ouviram e para os que claro que são precisas diretrizes. Vamos
até o fim. Esta verdade pessoal é óbvio não ouviram. Os que ouviram, se não o prepará-las. Mas eu acredito e sei que a
que devemos cultivá-la e testemunhá-la acharam relevante, é porque não ouviram. aragem do Espírito anda por aí. O assunto
sempre, sejam quais forem as coordenadas Ou talvez porque nós não soubemos diz respeito a todos os batizados, que não
geográficas, religiosas ou culturais em que transmitir. Os judeus piedosos ainda hoje precisam pedir licenças para evangelizar.
vivamos. Seja o mundo plural ou singular. dizem: “se amanhã os meus filhos não Sobretudo os fiéis leigos, cuja ação pode e
Amar o outro, diferente de mim, até o fim, seguirem a nossa religião, a culpa não é vai chegar a todos os recantos onde nasce
é a verdade. E é verdadeiramente esta deles; a culpa é nossa, porque não sou- e cresce a vida: na família, no bairro, na
a atitude que conta. Não se trata, vê-se bemos transmitir-lhes toda a beleza do escola, na fábrica, no hospital… É impor-
bem, de querer impor qualquer coisa, judaísmo”. O mesmo podemos dizer do tante sensibilizar os sacerdotes. Mas eu
seja a quem for. cristianismo. O mal não está sempre nos concordo com dom Francesco Lambiasi,
outros. Também está em nós. É, portanto, bispo de Rimini, na Itália, que disse (eu
As novas formas de Missão são uma necessário amar este mundo e as pessoas ouvi) e escreveu (eu li): “A evangelização,
forma “light” do compromisso para toda e anunciar-lhes ou testemunhar-lhes Cristo, ou a fazem os leigos ou não se faz”. Eles
a vida de outros tempos? que não é uma idéia ou uma causa morta, estão e chegam melhor ao coração do
Pode fazer-se turismo toda a vida ou mas uma pessoa viva no meio de nós. Não mundo. Antevejo uma grande seara em
apenas algum tempo. A Missão é dedicação há primeiro anúncio e segundo ou terceiro movimento. 
total, com toda a intensidade, seja por toda anúncio. O anúncio, para ser verdadeiro e
a vida ou apenas por um dia. A Missão se é verdadeiro, é sempre primeiro! Começa Agência Ecclesia, organismo de informação
verdadeiramente vivida nunca é “light”; se por fazer estragos em nós! O segundo ou da Igreja em Portugal.

- Dezembro 2008 27
Em defesa dos ciganos,
Atualidade

um povo invisível

Padre Jorge Rocha Pierozan em dia de batizados entre os calon de Suzano, SP.

Fotos: Pastoral dos Nômades


Os nômades, principalmente da Igreja Católica, vinculado à Pastoral
dos Nômades. “Entende-se por Pastoral

os ciganos, são vítimas dos Nômades no Brasil aquela que vai


de encontro aos ciganos - nômades,

de preconceitos e semi-nômades e sedentários, bem como


dos profissionais de circos (circenses) e

discriminação. Vivem à dos parques de diversões (parquistas)”,


esclarece o frei Tadeu Luiz Fernandes
margem da sociedade, sem – IFE - Irmãozinhos Franciscanos de
Emaús, responsável pela Pastoral dos
Nômades é um organismo do Pontifício
Conselho da Pastoral para os Migrantes
os mínimos direitos. Nômades na diocese de Franca, SP e
pároco da Paróquia de Santo Antônio,
e os Itinerantes e da CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil).
em Aramina, também no interior paulista. Fundada no Brasil há mais de 20 anos,
de Maria José de Deus Estima-se que existam no Brasil mais de tem como principais objetivos: ser presença

E
800 mil ciganos de oito tribos diferentes. da Igreja entre os nômades por meio do
m uma manhã de domingo, de- Além disso, mais de 60 circos e parques anúncio, serviço, diálogo e testemunho
baixo de uma tenda na periferia de grandes dimensões, sem falar nos e buscar a promoção humana e social
da cidade de São Paulo, uma menores, que podem ultrapassar o nú- destas pessoas e seu relacionamento
família se reúne para o batiza- mero de 400. com os sedentários, mostrando o valor
do de uma criança. À primeira “A primeira tarefa entre os nômades, de sua vida e cultura.
vista pode parecer uma cena é dizer que Deus e a Igreja os amam, Assim, a ação da Igreja segue pela
corriqueira já que inúmeros batizados apesar de preconceitos e perseguições orientação pastoral e catequética, com
são realizados neste dia nas paróquias. que sofreram no decorrer dos tempos”, visita aos acampamentos ciganos; aos par-
Mas, neste caso, é diferente. Trata-se revela o padre Jorge Rocha Pierozan, ques de diversões e circos; administração
do batizado de uma criança cigana. Uma responsável pela Pastoral dos Ciganos na de sacramentos; formação de agentes de
iniciativa da Pastoral dos Ciganos, serviço Arquidiocese de São Paulo. A Pastoral dos pastoral e de lideranças ciganos.

28 Dezembro 2008 -
Pastoral dos Ciganos resistência à globalização e suscitar entre de 90% dos ciganos do Brasil se dizem
“Quando os ciganos se sentem ama- os paroquianos, um grupo disposto a ir até católicos. Os rom-horahané são muçul-
dos, cria-se um vínculo afetivo, de amizade, os ciganos, circenses e parquistas para manos. Os ciganos do Brasil chamam
de confiança, de respeito à cultura e eles orar com eles e desenvolver programas a Deus de Duvel, Del ou Duvel Barô. As
começam a pedir para celebrar um batizado, de alfabetização, assim como, estabelecer principais cerimônias e ritos religiosos são
um matrimônio, para que seja abençoada em cada diocese uma paróquia que se o nascimento, o casamento e a morte. Para
uma tenda, um trailer, uma gestante, que coloque também a serviço dos nômades, estes três momentos procuram a Igreja
se reze por uma criança que está doente em especial dos ciganos. Católica”, destaca o padre Jorge.
e que se proceda ao Rito das Exéquias”,
conta o padre Jorge. Origem e cultura Congresso na Alemanha
Conforme o documento Orientações Existem algumas controvérsias com De 1 a 4 de se-
para uma Pastoral dos Ciganos publicado relação à origem dos ciganos, mas, a tembro deste ano,
em 2005, deve-se preparar os próprios que mais se aceita é de que eles vieram realizou-se em Frei-
ciganos para as atividades pastorais em da Índia a cerca de mil anos. No Brasil, sing, Alemanha, o VI
meio a seu povo. “A Evangelização dos vivem os calon, originários da Península Congresso Mundial
ciganos é missão de toda a Igreja, dado Ibérica; os sinti, que vieram da França e da Pastoral para os
que nenhum cristão deveria ficar indiferente Itália em fins do século XIX; e os rom, do Ciganos, promovido
perante situações de marginalização ou Leste Europeu no final do século XIX e pelo Pontifício Conse-
de distanciamento da comunhão eclesial. início do XX. lho da Pastoral para
Apesar da Pastoral dos Ciganos ter uma A especialidade dos calon é negociar os Migrantes e os Itinerantes em parceria
especificidade própria e exigir dos seus cavalos. Também fabricam arreios e outros com a Conferência Episcopal Alemã. O
missionários uma formação cuidadosa e artefatos para a montaria. Quando os tema do Congresso foi “Os jovens ciganos
específica, uma atitude de acolhimento negócios não estão favoráveis para os na Igreja e na sociedade”.
deve, assim, manifestar-se em toda a cavalos comercializam automóveis. Já os Participaram do evento 150 delegados
comunidade católica”. rom e os sinti apresentam semelhanças entre arcebispos, bispos, sacerdotes,
Desde 1965, a Santa Sé mantém entre si. Preservam a língua cigana original diáconos, religiosos e religiosas, agentes
atenção pastoral especial aos ciganos. (o romaní ou romanês), derivada do hindi de pastoral leigos e representantes dos
Já realizou a Peregrinação Internacional e do sânscrito. Eles têm vários subgrupos. ciganos de 26 países da Europa, América
dos Ciganos a Roma. Em 4 de maio de Por exemplo, os rom-kalderash são cal- Latina e da Ásia.
1997, os ciganos assistiram à beatifica- deireiros; os rom-macvaia são ourives e Os pontos mais destacados no do-
ção do mártir espanhol Ceferino Jiménez douradores; os rom-boiash são os ciganos cumento final foram educação e trabalho
Malla, primeiro cigano elevado à honra que trabalham no circo; os rom-horahané para os jovens ciganos. “A educação é o
dos altares. consertam fogões, panelas, tachos. Os processo fundamental para a realização
Entre outras orientações, a Igreja pro- rom-lovara também são comerciantes potencial pessoal e é necessária para
põe ser necessário um esforço no sentido de cavalos. a integração da sociedade. Os jovens
de conhecer os valores de sua cultura e “O que identifica os ciganos são a devem superar as barreiras, geradas
sua religiosidade. É preciso compreender língua, o nomadismo, mesmo para os também pelas fragilidades do sistema
a mentalidade e o jeito cigano de ser, e que foram obrigados a fixar residência; a educativo, que dificultam o acesso ao
assim respeitar, por exemplo, os costumes observância da lei cigana, que se caracte- mundo trabalhista”.
de casamentos sempre dentro da própria riza pelo respeito a um chefe, e a honra à Ainda conforme o documento: “A ins-
tribo ou com alguém de origem cigana; a palavra empenhada. Sua crença principal trução é condição da participação na vida
língua romani; o nomadismo como sinal de é no Deus da Bíblia e do Alcorão. Mais política, social e econômica, em posição
de igualdade em relação aos outros. Ela
deve, ainda, encorajar o pensamento
crítico e a responsabilidade que, por sua
vez, são necessárias para edificar uma
sociedade cada vez mais humana ba­
seada nos princípios de justiça, igualdade
e fraternidade”.
Nesse sentido, os próprios jovens
participantes do Congresso sugerem:
“saber ouvi-los e dedicar tempo para
compreendê-los a fim de conhecê-los
melhor; agir para eles, mas principalmente
com eles”.
Outras orientações dizem respeito à
evangelização e participação dos ciganos
na Igreja. “Deus tem para cada um dos
jovens ciganos, como para os jovens
gadjé (não-ciganos), um projeto que é
necessário descobrir e ao qual é preciso
responder, não obstante as situações de
precariedade e de marginalização”. 

Delegações do Brasil e Portugal no Congresso Mundial da Pastoral para os Ciganos, em Freising, Alemanha. Maria José de Deus é jornalista.

- Dezembro 2008 29
de solidariedade, de comunhão, de amizade destas

Carlos Margato
pessoas que desde o primeiro momento se entregaram
de alma e coração na preparação e vivência de mais
uma festa missionária”, concluiu irmão Carlos.
No dia 19 de outubro, Dia Mundial das Missões,
na missa presidida pelo arcebispo de Cascavel, dom
Mauro Aparecido dos Santos, a paróquia São Paulo
enviou para a África do Sul o diácono queniano Josa-
phat Mwanzia, imc. Antes de chegar ao seu destino,
Josaphat, que cursou teologia em São Paulo e atuava
na paróquia há dois anos, foi ordenado sacerdote no
dia 21 de novembro, em sua terra natal, Quênia.

Brasília - DF
Projeto Nacional de Evangelização
A CNBB está mobilizando todas as paróquias e
comunidades para a implementação do Projeto Nacio-
Padres Mário, Ronildo, Durvalino e Tamrat durante celebração. nal de Evangelização – Brasil na Missão Continental.
O texto completo está disponível nas livrarias de todo
VOLTA AO BRASIL

Cascavel - PR o país na série Documentos da CNBB número 88. O


Festa missionária secretário-geral da Conferência, dom Dimas Lara Bar-
“Missão é Partilha” foi o tema que iluminou a tradi- bosa, disse que a iniciativa coloca a Igreja do Brasil em
cional festa no Seminário São Paulo em Cascavel, no sintonia e comunhão com todas as Igrejas Particulares
dia 9 de novembro. Segundo o irmão Carlos Margato, da América Latina e Caribe, empenhadas na Missão
imc, administrador da casa, “já na preparação, o evento Continental. “Esperamos que o projeto seja acolhido
revelou momentos belos de grande generosidade do por todos e inserido criativamente nas prioridades
povo”. Este ano o Seminário São Paulo abriga tem- e nos planos regionais e diocesanos”. Dom Dimas
porariamente apenas dois seminaristas quenianos acrescentou que a Igreja “pretende proporcionar a
Philip Njoroge e Sylvester Ogutu que se preparam para alegre experiência do discipulado no encontro com
cursar Teologia em São Paulo. Para o irmão Carlos, Cristo. A iniciativa vai oferecer informação, formação
a ausência de seminaristas locais na casa levantava e articulação nacional para despertar e estimular o
muitas dúvidas: “num seminário vazio, como justificar espírito missionário”.
uma festa em prol das vocações? Parecia não haver
motivação plausível, mas como missionários sabemos Anapu - PA
que a missão vai além das paredes da nossa casa. Foi Irmã Dorothy Stang
então que surgiu o México, como nova fronteira para As freiras Rebeca Spires e Julia Depweg apre-
o nosso Instituto missionário e alimentou a idéia de ir sentaram no dia 7 de novembro, à mídia nacional, um
além da nossa casa meia vazia”, explicou. Depois de documento que pode mudar os rumos da investigação
algumas reuniões, foi decidido que se faria uma coleta sobre a morte de Dorothy Stang. A missionária esta-
na paróquia São Paulo, para apoiar a nova missão dunidense foi morta em 2004, no município de Anapu,
dos missionários da Consolata no México. Com os localizado no Pará. Tudo indica que os fazendeiros da
responsáveis nomeados, as equipes começaram região armaram uma emboscada para matar a religiosa
logo a movimentar-se. Aos poucos foram chegando que defendia o direito de famílias sem-terra da região. O
as ofertas e a festa começou a ganhar corpo, sendo documento apresentado pelas freiras, que trabalharam
divulgada na mídia e nos transportes públicos. No dia durante três décadas com a missionária, mostra que o
9 o tempo ameaçava chuva. Uma senhora segredou fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, acusado de ser
ao irmão Carlos: “Não se preocupe que não vai chover, o principal mandante do crime, procurou o escritório do
esta manhã eu rezei um terço à Mãe Consolata e ela Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
não vai deixar”. A eucaristia, animada pelo grupo da (Incra), em Altamira (PA), no último dia 28 de outubro,
paróquia São Paulo foi presidida pelo padre Ronildo para doar parte do lote onde Dorothy foi morta. O
de França Pinto, enviado do Brasil para a missão no fazendeiro afirma no documento que a propriedade
México. Concelebraram os padres Durvalino Condicelli, não estava mais em seu nome, mas sim, que o lote
Mário Silva, que colaborou na preparação da festa e o pertence a Bida, pistoleiro que confessou ter assassinado
padre Tamrat Markos, recém-chegado da Etiópia, além Dorothy. Na época em que foi preso, Bida afirmou que
das irmãs Beneditinas da Divina Providência. o mandante do crime tinha sido Regivaldo Pereira. No
Padre Ronildo falou do seu trabalho missionário entre entanto, meses depois, quando já estava preso, Bida
os indígenas na Raposa Serra do Sol, em Roraima e mudou seu depoimento dizendo que tinha matado
nas favelas do Rio de Janeiro, onde esteve até o mês Dorothy por vontade própria, porque ele mantinha o
de julho deste ano. “A vida missionária exige uma en- controle de um lote que era ocupado por famílias da
trega incondicional e dedicada à causa do Evangelho”, região, ligadas à missionária Dorothy. O documento
afirmou. Com seu jeito simples cativou a atenção do indicaria que Regivaldo Pereira mantinha o controle
povo, deixando transparecer uma figura de missionário do lote e, portanto, teria motivos para encomendar o
alegre e pronto para abrir novos caminhos em terras assassinato da missionária. 
mexicanas. Um almoço com o tradicional churrasco,
jogos e música animaram a festa. “Ficou no ar o espírito Fontes: CIMI, CNBB Sul 3, Radioagência NP, revista Missões.
30 Dezembro 2008 -
Hoje, mais do que nunca precisamos comunicar para informar os cidadãos na
sua capacidade de refletir e entender a realidade.
Quando falamos de comunicação na Igreja não devemos pensar apenas nos
meios. Entendemos de maneira especial o processo de comunicação nos
espaços de reflexão para as comunidades, as pastorais, os grupos, os movi-
mentos, nas diversas iniciativas que criam interação entre pessoas movidas
pelos valores do Evangelho.
A revista MISSÕES, editada pelos missionários e missionárias da Consolata no
Brasil, é um meio de informação e formação que visa contribuir com a construção
de um mundo mais justo e solidário através de subsídios pastorais, espirituais,
sociais e culturais. Seu público alvo são as lideranças e os cidadãos em geral,
as famílias, os jovens e os agentes de pastoral das comunidades cristãs. Neste
sentido, MISSÕES apresenta matérias sobre:

• Atualidade da sociedade e movimentos sociais


• Espiritualidade e temas pastorais
• Articulação de projetos sociais e ambientais
• Estudos sobre os desafios para a missão da Igreja
• Subsídios para uma pastoral missionária
• Testemunhos de vida e de experiência
• Reflexões para a juventude
• Trabalhos didáticos para as crianças, e muito mais.

Com isso, a revista MISSÕES deseja ajudar os seus leitores a


olhar para fora do próprio mundo, além das próprias fronteiras
eclesiais, culturais e geográficas.
A solidariedade em vista do bem comum é fruto da participação
de todos. Faça parte desse projeto!


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2009
A equipe Missões deseja a todos um Feliz Natal
e um abençoado Ano Novo!

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