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Loucuras de um escritor

U.m.a s.a.l.a.da d.e c.on.to.s p.o.e.m.a.s


r.e.p.o.r.t.a.g.e.n.s a.r.t.i.g.o.s

Rodrigo Capella
Loucura, loucura!

Publiquei o meu primeiro livro com apenas 16


anos, o romance policial “Enigmas e Passaportes”.
De lá pra cá, foram várias loucuras, lancei diversas
obras, dos mais variados gêneros, com destaque
para “Transroca, o navio proibido”, que está sendo
adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo
Zimmer.

Sempre gostei, portanto, de escrever histórias. Mas,


aos poucos, um outro sentimento me despertou: o
de escrever artigos, poemas, contos e reportagens
para a imprensa. Ao todo, confeccionei mais de 500
textos para jornais e revistas de todos os Estados
brasileiros.

Textos de temas diversos: cachorros, viagens,


mistérios e amor. Prepare-se, então, para nas
próximas páginas descobrir um pouco mais sobre a
minha literatura e constatar que ela é louca e não
tem limites.

Rodrigo Capella
ARTIGOS
Chicotada nos jornalistas, já!

Antes mesmo de assistirem a “Indiana Jones e o


Reino da Caveira de Cristal”, os críticos, muitos
deles jornalistas, já teciam comentários favoráveis
à nova película, protagonizada por Harrison Ford.
Houve quem comentasse, inclusive, que esse filme
é tão importante para 2008 quanto “2001: Uma
Odisséia no Espaço” marcou o lendário 1968.
Como se não bastasse essa bobagem, li também
que a atuação de Ford é tão intensa que nos remete
a uma reflexão racial e social. E mais: compararam
“Indiana Jones....” a marcas de carro e perfume,
como se o cinema, mesmo de estrelas, fosse tão
desejado quanto um CK One ou um Paco Rabane.

Tais comentários assustadores e lamentáveis foram


escritos, em jornais de circulação nacional, antes da
realização da tradicional cabine de imprensa de
“Indiana Jones..” – na qual profissionais de
imprensa assistem ao filme antes do grande
público. Ou seja, o jornalista-crítico deixou-se levar
pelos bons filmes da série e, em muitos casos,
apontou essa como a melhor história de Indiana.

Puro erro! O longa diverte o público, tem bons


momentos de aventura, mas não pode ser
considerado uma película exemplar. O roteiro é o
mais fraco dos Indianas e, acredite se puder, tem
falhas de sincronismo. Longe, portanto, de ser
comparado ao clássico “2001...” e aos perfumes
CK One e Paco Rabane, que mantém a mesma
essência do começo ao fim do frasco.

A melhor leitura que pode ser feita dessa aventura é


um pouco árdua para a mídia, talvez por isso ainda
não tenha sido publicada. O personagem, na
verdade, representa a “ética” e com sua arma, o
chicote envenenado de raiva, tenta a todo custo
combater os desvios e interpretações equivocadas
da imprensa. Os inimigos que Indiana enfrenta são
os “rusos” porque essa foi, aparentemente, a forma
encontrada para mostrar que os jornalistas, ao
errarem, contrariam a lei da moral e dos bons
costumes, prejudicando toda uma sociedade.

Quem não se lembra, por exemplo, do Caso Escola


de Base, na qual educadores foram erroneamente
acusados de assediar crianças? Resultado: a escola
foi depredada, os educadores quase foram presos e
a mídia recebeu apenas alguns processos isolados.
Casos como esse, infelizmente, são comuns e
enquanto eu estava escrevendo esse artigo, mais um
ocorreu: a mídia divulgou que um avião da empresa
Pantanal havia caído em São Paulo. Mentira! Na
verdade, uma loja que vende colchão havia
explodido.

Percebeu a disparidade? Pois é, a empresa aérea foi


prejudicada sem ter qualquer culpa e a sociedade
entrou em estado de alerta, sem ter necessidade. Só
quem, realmente, estava em São Paulo soube o que
ocorreu: desespero, tumulto e muita gente ansiosa,
buscando informações sobre os passageiros do
acidente mentiroso.

Uma barriga (notícia mentirosa) como essa teria


sido, facilmente, combatida com o chicote de
Indiana, ferramenta necessária contra o lead
(primeiro parágrafo de um texto) mentiroso.
Necessária também para evitar que, na redação, a
emoção supere a razão e para não permitir que
filmes medianos sejam transformados em
verdadeiros clássicos, antes mesmo de serem
vistos. Chicotadas nos jornalistas, já!
Avante: cuidado com os cavalos

Eu, sinceramente, pensei em parar de escrever.


Afinal, quem estaria interessado em ler as minhas
aventuras européias? Pensei errado! Recebi,
durante a semana, vários e-mails elogiando o meu
artigo sobre a macieira do Newton, publicado aqui
no Diário. É lógico que fiquei contente, pois não
esperava que um artigo polêmico fosse tão bem
aceito. Redobrei, então, as minhas energias para
escrever as linhas desse domingo.

E lá fui eu, rumo a York... Ir para York é como ir


para qualquer outra cidade do interior da Inglaterra.
Aliás, é como ir para qualquer cidade do interior de
qualquer país. Vou citar uma: Ardmore, uma
cidade americana, escondida no Estado de
Oklahoma, onde morei por seis meses. Foram os
mais longos da minha vida: na cidade não acontecia
nada, ninguém morria, ninguém nascia. Era uma
cidade parada no meio de um país de atmosfera
agitada.

Quando estive em Ardmore, vivenciei casos


hilários. Era muito comum eu ir ao supermercado e
alguém gritar: “olha o brasileiro, é o Rodrigo lá’.
Caramba, eu me sentia uma verdadeira celebridade.
Cheguei até a dar alguns autógrafos. O xerife vinha
falar comigo, perguntava coisas sobre o Brasil e
dizia: “Como vai o Rio de Janeiro, a capital do seu
País?”. Eu achava graça.
Bom, voltando a cidade de York, posso dizer que
ela é muito melhor do que Ardmore. Em York, por
exemplo, há pontos turísticos; em Ardmore havia
apenas um campo de futebol americano. Fundada
pelos romanos, a cidade de York preserva muito de
seu passado e dos povos que por ela passaram.
Eram, principalmente, Anglo-saxões e Vikings. É
por isso que, na cidade, há muralhas, lembranças
“vivas” da antiguidade. Mesmo de longe, pode-se
ver torres e o portão Micklegate, a principal porta
de entrada da cidade no período Romano e
passagem obrigatória para quem vinha de Londres.
Estudiosos dizem que nesse portão eram exibidas
as cabeças dos traidores e que o rei Henrique VIII,
certa vez, se recusou a passar pelo Micklegate,
optando por um outro portão.

Em York, há também o rio Ouse, que banha a


cidade e que abrigou, durante muitos séculos, um
dos portos mais movimentados de toda a Inglaterra.
Na Idade Média, passavam por aí as principais
riquezas do país. Hoje, o local encanta os turistas.
Se você adora água, pode-se fazer um passeio pelo
rio e conhecer algumas partes obscuras e pouco
comentadas pelo guias turísticos. Ou pode-se
também andar a pé pela cidade e visitar, por
exemplo, o Yorkshire Museum, que oferece ao
visitante a chance de viver na época romana e
medieval. Ou pode-se ainda percorrer pelas ruas
medievais e estreitas, chamadas pelo povo local de
shambles. Quem caminhar por elas pode comprar
produtos bem interessantes e saborear a comida
local.

Quando eu viajo, gosto sempre de andar a pé pela


cidade, sem pressa e com um olhar bem atento.
Essa é a melhor forma de se conhecer os hábitos e
os costumes locais. Em York, não foi diferente. Eu,
felizmente, dei uma bela volta pela cidade e
registrei tudo em um caderninho para poder contar
a você, caro leitor. Registrei principalmente o
ponto turístico mais importante: a York Minster,
considerada a maior e uma das mais importantes
catedrais da Inglaterra. Ela teve várias construções
e hoje está localizada, talvez por acaso, no local
mais brilhante e tranquilo da cidade. A construção
lembra um verdadeiro castelo de areia, com pingos
nas extremidades dando um realce na estrutura
rígida.

Os vitrais são belíssimos e transmitem harmonia e


história, tudo ao mesmo tempo, no mesmo ritmo de
um coral bem treinado. Reis, rainhas, cavaleiros.
Quando se caminha pela York Minster, é possível
se sentir na época medieval e transitar pelo passado
em um passe de mágica. Só tome cuidado com os
cavalos: eles estão em toda parte, dos mais variados
tamanhos e portes.

À procura de algo tão medieval quanto York, optei,


então, por ir a Escócia, deixando Liverpool e
Londres para o caminho de volta. Na Escócia, eu
poderia tomar um bom uísque, conhecer mais
alguns castelos e ver hábitos estranhos. Se eu vou
usar saia? Não sei!
Fumei um cachimbo com Sherlock
Holmes

E fui sorrindo, andando e sorrindo.... Minhas


aventuras em Londres estavam apenas começando.
Depois de passar a mão na bunda da Jennifer
Lopez, eu queria conhecer o famoso detetive. Não,
não ia passar a mão na bunda dele. Eu só queria
fumar um cachimbo e ouvir boas histórias de
crimes e assassinatos.

Todos os habitantes daquela cidade sabiam onde


ficava a 221B Baker Street e, portanto, não foi
difícil encontrar a pequena casa de Holmes.
Lembro-me muito bem de “Um Estudo em
Vermelho”, que foi o seu primeiro desafio como
detetive profissional. Depois, vieram também “O
Signo dos Quatro” e “O Cão dos Baskervilles”,
considerado por muitos especialistas como o
melhor caso de Holmes ao narrar a morte de Hugo
Baskerville por um suposto cão diabólico.

Mal encostei a mão na maçaneta da porta e ela se


abriu. Do outro lado, havia um mordomo que
apontou para o andar de cima. Tirei o meu chapéu e
o casado e pendurei atrás da porto. Subi pela escada
estreita e encontrei um quarto bem apertado e uma
larga sala de jantar, com móveis antigos e lareira.
Entrei na sala e encontrei uma carta em cima da
mesa principal:
“Querido Rodrigo, tive que fazer uma viagem de
última hora para solucionar mais um mistério, que
precisa de minha ajuda e considerações. Amanhã,
pela manhã, pegarei o trem de volta para Londres a
fim de colocarmos o papo em dia. Permita-me
oferecer os meus aposentos para que você descanse
até nos encontrarmos. Se precisar de algo peça ao
João, o meu mordomo. Abraços cordiais, Sherlock
Holmes”.

Essa carta era muito estranha! Afinal, eu não


conhecia Sherlock e ele aparentemente não me
conhecia. Por que ele teria escrito uma carta para
mim? Qual mistério ele estaria desvendando? E
porque ele queria que eu dormisse na casa dele?
Sem resposta para qualquer uma dessas perguntas,
resolvi aceitar a oferta de Holmes e passei a noite
por lá.

“João, venha aqui, por favor,”, disse, de forma


involuntária. “Pois, não, o que o senhor deseja”.
“Eu estou curioso com toda essa história. Você
sabe por que o senhor Holmes me escreveu essa
carta?”. “Sinceramente, não sei. Só vi que o Sr.
Holmes recebeu a visita de uma senhora, de meia
idade, e decidiu sair rapidamente de casa. Ele foi
viajar com essa senhora e com o Watson. Mas, não
me disse para onde ia. Aliás, ele nunca fala”.

Agradeci a informação e continuei intrigado.


Afinal, o que estava acontecendo? Por que tanto
mistério? Holmes havia viajado e eu ia dormir
numa casa estranha, numa cama estranha, sem
entender nada. Dormir profundamente, apesar da
curiosidade. Quando acordei, vi Holmes Watson e
uma senhora. Os três estavam me olhando e o
famoso detetive pronunciou: “dormiu bem?”. “Sim,
por quê? O que está acontecendo? Por que você
pediu para eu dormir aqui?”. Holmes deu risada e
disse: “Calma, meu rapaz. Não fique curioso. Você
logo saberá de toda a história”. “Estou curioso,
afinal, o que aconteceu?”. Holmes riu e disparou:
“está vendo essa senhora? Ela me contratou para
solucionar mais um mistério, simples, mas que
requer cuidados. Meu jovem, vou lhe fazer uma
pergunta. Quero que responda com sinceridade”.
“Tá, pode fazer”. “Quantas caipirinhas um homem
consegue beber sem ficar bêbado?” “Quatro, no
máximo cinco”, disse, sem entender mais nada.

“Pronto, solucionei o mistério. Agora, vou contar o


que houve, desde o início: eu estava na sala com o
meu amigo Watson, quando essa senhora trouxe-
nos um mistério: seu marido havia desaparecido
após um churrasco e até agora não havia retornado.
Logicamente, suspeitamos que ele havia sido
raptado. Mas, essa senhora disse que ele bebeu seis
caipirinhas. Como você, Rodrigo, é brasileiro e
essa bebida é uma tradição em sua terra, eu lhe
perguntei com quantas caipirinhas um homem fica
bêbado. Você disse cinco no máximo. Portanto, eu
concluo que o marido dessa senhora bebeu demais,
desapareceu e, em cinco minutos, vai aparecer aqui
nessa casa para levar a senhora para casa”.
Holmes, Watson e eu acendemos um cachimbo,
colocamos a conversa em dia, apesar de nunca
termos nos vistos, e a campainha tocou. “Holmes,
você me conhece?”, eu disse. “Claro, mais do que
você sabe, um dia você saberá. Mas, pode tentar
descobrir se quiser”.
Fiz uma loucura: mijei na macieira
do Newton

O frio na cidade parisiense era realmente intenso. O


relógio batia sete da noite e eu não aguentava mais
usar luvas, cachecol, blusa de lã. Eu sabia que em
Paris se fazia frio, mas não esperava tanto.
Comportei-me, sem ter escolha, como um Homem
de Aço para andar tranquilamente. Quem olhava
pra mim, achava que eu era um maluco: estava
morrendo de frio, mas sorria e meus dentes
brilhavam.

Diferente do Brasil, na França os estabelecimentos


fecham cedo. Então, não hesitei em jantar. Pedi um
croque madame, uma espécie de misto quente com
fritas, salada e um ovo partido em cima do pão.
Uma delícia! Para beber, pedi uma orangina, uma
Fanta local. Muito saborosa. E depois dizem que os
franceses comem e bebem mal. Isso é lenda. Em
Paris, pelo menos, se alimenta muito bem. Eles têm
o costume de pedir o menu, que vem uma entrada,
um prato principal e uma sobremesa, ao custo de 10
euros, o equivalente a atuais 27 reais.

Depois, caminhei pelas ruas a fim de identificar


personagens e possíveis cenários de minhas futuras
obras. Uma de minhas principais missões como
escritor é a de captar novas atmosferas e na cidade
da Torre Eifell eu faria muito isso. Afinal, Paris é
um luxo e eu estava vendo isso de perto.
Mas, os pontos turísticos, como o Arco do Triunfo,
o Museu Louvre e a famosa Torre ficariam para
depois, para o final da minha excursão européia.
Agora, quer dizer, amanhã de manhã, eu iria para
Cambridge, uma famosa cidade inglesa.

Quando o relógio me acordou eram oito da manhã.


Entrei em um carro francês alugado, um Citroen
azul – a minha cor preferida -, e fui em direção a
Calil, a cidade francesa por onde passa o Canal da
Mancha, que liga a França a Inglaterra. Do outro
lado do Canal, está Dover. Alguns quilômetros de
boa estrada, chega-se a Cambridge, que estava na
minha mira.

A travessia, que levou quase duas horas, foi feita


em um grande ferry boat, uma espécie de navio que
armazena carros na parte de baixo e tem cassino,
restaurante, sofás e até uma loja chique para vender
lembrancinhas. Não resisti e comprei algumas! Ao
sair do ferry boat, já estranhei: os ingleses dirigem
no banco direito do carro e na pista contrária a
nossa. É um horror! E mais: a pista rápida é a da
direita, ao contrário do que ocorre no Brasil. Pirei!

Já em Cambridge, que tem pouco mais de cem mil


habitantes, várias pessoas olhavam para um
pequeno rio. Pela quantidade de gente que se
debruçava na grade, achei que tinha um cadáver lá
dentro ou algo mórbido a la sexta-feira 13 e Zé do
Caixão. Aproximei-me e quase não acreditei: as
pessoas estavam olhando para o pato! Não, não era
o jogador do Milan. Era um pato nadando no rio. É,
isso é fácil de explicar. Como eu disse, a cidade
tem poucos habitantes e se configura como uma
cidade de interior. A aparição de um pato é,
portanto, notícia para ser contada por várias
gerações. É compreensível!

Cambridge, situada a 80 quilômetros de Londres, é


uma cidade universitária com alguns atrativos
turísticos, principalmente, a macieira do Newton e
a Universidade, que leva o nome da cidade. Ao
som de Beatles, a melhor banda de todos os
tempos, e com o termômetro marcando cinco graus
nas ruas, percorri lugares interessantes e conheci a
história da cidade, que se enriqueceu no século XIII
graças á exportação de tecidos e produtos agrícolas
e, mais tarde, tornou-se centro universitário.

A primeira faculdade, chamda Peterhouse, foi


fundada em 1284. Mas, aos poucos, a cidade foi
ganhando outras, totalizando 19 faculdades para
homens e duas para mulheres. Deles, destacam-se o
Trinity College, onde estudaram Francis Bacon e o
Newton.

Depois de percorrer quase todas as faculdades, fiz


um passeio de canoa, em grande estilo – como se
faz em Veneza -, e conheci a Mathematical Bridge,
construída inicialmente sem um único parafuso.
Diz a lenda que um estudante se encantou com a
ponte e resolveu desmontá-la com o intuido de
examinar as peças e montá-as novamente. Mas,
lógico que não conseguiu e a ponte teve que ser
parafusada.

Conheci também a ponte do suspiro, inspirada em


Veneza. Na cidade italiana, ela tem esse nome
porque os prisioneiros ficavam pressos de um lado
da ponte e eram executados do outro lado. Na
ponte, davam o último suspiro de vida. Já a ponte
de Cambridge liga o local onde os estudantes
estudam ao local onde fazem as provas. Na ponte,
alguns dão o último suspiro antes de serem
reprovados.

Ao final do passeio, parei em um tradicional pub


inglês e experimentei cinco tipos de cerveja. Por
motivos óbvios, não consigo me recordar os nomes.
Apertado e quase mijando nas calças, andei pelas
rua de Cambridge e avistei a macieira do Newton –
aquela em que o físico descobriu a famosa Lei da
Gravidade. Despejei tudo: eu mijei, com prazer, na
macieira do Newton! E o melhor: ninguém me
atrapalhou, nem mesmo o guarda, que estava lá
perto. Ah! Que alívio!

Depois disso, entrei no carro e segui par aYork,


uma outra cidade inglesa. Mas, antes de cair na
estrada, parei para abastecer. Na Inglaterra, assim
como nos Estados Unidos, não há frentista. É você
quem tem que colocar o combustível no carro. Fiz
essa tarefa sem problemas. Pronto: já tinha uma
nova profissão! E fui seguindo, rumo a York....
O submundo da Escócia: uísque e
saia

E lá fui eu, rumo a Edimburgo, cidade mais


importante da Escócia. Essa cidade, aparentemente
estranha, me proporcionou várias aventuras. Mas,
antes de contá-las, vou lhe apresentar o território
escocês: localizado no noroeste da Europa, ele tem
mais de 700 ilhas e foi fundado, segundo os
historiadores, em 843 quando Kenneth I se tornou
rei. Trata-se, portanto, de uma civilização bem
antiga, com costumes e hábitos bem diferentes do
Brasil.

A começar pelo kilt, uma saia estranha, usada pelos


homens. Ela tem uma estampa cheia de quadrados,
de cores variadas, dependendo da família. Não foi
difícil encontrar um rapaz, vestindo kilt e tocando
gaita. Aliás, esse era o meu primeiro objetivo. Não
se pode ir a Salvador, no Brasil, sem encontrar uma
baiana fazendo acarajé; e também não se pode ir a
Escócia sem... Bom, você agora já sabe.

Em Edimburgo, o que mais me chamou atenção, foi


o Castelo. Construído sob rocha de origem
vulcânica, ele é encantador e, realmente, inspira.
Logo quando entrei, imaginei-me na Idade Média,
lutando contra cavaleiros, montando em cavalo,
disparando tiros de canhão, gritando alto.
Lá dentro é possível ver as jóias da Coroa
Escocesa, a quase singela Capela de Santa
Margareth, um antigo canhão e, principalmente, a
prisão de guerra, que chegou a me dar medo. Nesse
local, estiveram detidos marinheiros de várias
nações, inclusive dos Estados Unidos. Antes de
entrar na prisão, é possível ver uma porta, toda
desenhada pelos prisioneiros. É possível ver barcos
e navios, de vários tipos e tamanhos. Ou os
prisioneiros estavam lembrando-se de suas
embarcações; ou estavam construindo uma outra
para fugirem da Escócia.

O quarto, apertado e mal iluminado, dá arrepios e


nos remete à Antiguidade. É como se sentir um
prisioneiro, dormir na rede, rabiscar na porta.
Sensação como essa eu só tive em San Francisco,
nos Estados Unidos, quando visitei a famosa
Alcatraz. Lá, eu realmente pirei e achei que não ia
sobreviver. Celas automáticas, ar sombrio e
atmosfera triste. Na Escócia, como nos Estados
Unidos, eu fiquei deprimido e jurei que nunca mais
iria visitar uma prisão.

Essa loucura toda, me deu vontade de tomar uma


típica cerveja escocesa. Pensei logo na Dragonhead
Stout, muito apreciada por lá e também pelos
brasileiros que lá visitam. A caminho do pub
encontrei um tour do uisque. Isso mesmo: lá, era
possível conhecer, passo-a-passo, como essa
fabulosa bebida foi desenvolvida e como ela é
fabricada. Não hesitei e entrei no tour. Logo de
cara, foi servida uma tose de uisque, quase morri de
tosse.

Depois, fomos conduzidos a uma outra sala, na


qual foi passado um vídeo. Soube que o uisque
teria sido criado em 1494, por um tal frei John.
Teria uma semelhança com o nome John Walker?
Ou o John Walker seria uma homenagem para o
John?

Fiquei sabendo também, pela primeira vez, que


existem vários tipos de uísque, como, por exemplo,
o puro malte, com 100% com cereais maltados; e o
Blended, que é uma verdadeira mistura de
destilações. Saí do tour do uisque quase bêbado,
mas com diversos conhecimentos sobre a bebida.

Caminhando pelas ruas, não encontrei mais homens


de saia. Ou eles tinham desaparecido ou eu estava
tão bêbado que não fui capaz de reconhecê-los.
Retornei, sem pensar duas vezes, ao hotel para
tomar um banho, dar uma descansada e sair, rumo a
uma típica festa escocesa. Reparei em lindas
garotas, aparentemente prostituas, entrando em um
beco e depois em uma casa, com um som alto. Fui
atrás e, em me dar conta, já estava dentro da casa.
O som alto, mesas de sinuca espalhadas, sofás
diversos e vários ambientes. Mas, algo me
incomodava: a maioria das pessoas era homem e
isso me dava alergia. Rapidamente, saí de lá, rumo
a outro bar ou outra festa.
Entrei em outro bar e também: lá a maioria era
homem; fui em outro e: a mesma coisa. Voltei para
o hotel com saudades do Brasil e com tristeza:
faltam mulheres na Escócia. Será que é por isso que
os homens usam saias?
Passei a mão na bunda...

Fiquei pouco tempo em Liverpool. A cidade é


pequena, os bares fecham cedo e as mulheres não
caíram na minha conversa. Sem atrativo algum, me
mandei para a capital inglesa. Londres, em alguns
aspectos, me lembrou as grandes cidades
brasileiras: trânsito, mendigos, fumaça pra todo
lado e muitos imigrantes. É lógico que não foi
difícil encontrar brasileiros. E das maneiras mais
engraçadas.

Caminhando pelas calçadas de mapa na mão,


observava as construções típicas e antes que eu
chegasse ao grande Big Ben, um sujeito disse assim
mesmo, em português: “precisa de ajuda?”. “Não,
obrigado. Como você sabe que eu sou brasileiro?”.
Ele respondeu: “pela sua roupa, aqui nem está tão
frio e você está com três casados”. Aproveitei: “o
que tem de bom pra fazer aqui?”. “Há, tem a
Jennifer Lopez”. “Onde?”. “No Madame
Tussauds”, respondeu o brasileiro, que rapidamente
sumiu, como se tivesse entrado no bueiro do
Mestre Splinter.

Levei um susto, é claro, embora os meus amigos


tivessem me alertado sobre Londres. Falaram que
eu ia encontrar de tudo: loucos, estátuas, pilantras,
viajantes e ladrões. Passei a mão na calça. Ufa! A
carteira estava lá. Prossegui rumo ao Big Ben e me
decepcionei. O nome do grande e famoso relógio
inglês, que pesa 13 toneladas e foi instalado no
Palácio de Westminster, chama-se Tower Clock.
Durante 27 anos, achei que seu nome era Big Ben
e, durante poucos segundos, percebi que estava
errado. Mas, não só eu: 90% dos turistas de
Londres estavam enganados também. Alívio!

Continuei a minha caminhada. Queria a todo custo


conhecer Jennifer Lopez e de quebra passar a mão
na bunda dela. Sonhava com isso há 20 anos e
parecia ter chegado a hora. Atriz, cantora,
dançarina, compositora, linda e sensual. Essa é
Jennifer, que, ao lado de Julia Roberts, é uma das
atrizes mais bem pagas de Hollywood. Sua fortuna?
Algo em torno de $ 100 milhões.

Corri até o Madame Tussauds e encontrei uma


longa fila. Se eu não tivesse pré-determinado a ver
a minha querida Jennifer, certamente teria
desistido. Entre uma conversa e outra, a fila andou
e soube que outras celebridades também estavam
lá: Johnny Depp, George Bush, Pelé, Michael
Schumacher e Paul McCartney.

Avistei Johnny Depp e fui falar com ele em inglês:


“oi, sou brasileiro, gostei muito do Piratas do
Caribe. Sua atuação foi muito divertida, dei várias
risadas. Johnny, quando vai ser seu próximo filme,
você já sabe?”. Johnny não respondeu. Tentei
novamente: “Vi o seu primeiro filmes, chamado A
Hora do Pesadelo. Foi meio assustador, é verdade,
mas gostei. Você estava bem”. Ele não me
respondeu.

Caminhei pelo Madame Tussauds em busca de


outra celebridade. Pessoas, de várias partes do
mundo, tiravam fotos com atores e atrizes, os mais
famosos do mundo. Fiquei, por um instante, cara a
cara com o George Bush. Não hesitei: “e ai, Bush,
tudo bem? Como andam as eleições americanas?”.
Ele não respondeu! Que gringo mal educado. Eu
odeio o Johnny Depp e o Bush.

Estava chateado, mas não desisti. Olhei para o lado


e vi Pelé. “Ah! Esse é brasileiro e vai falar
comigo”, pensei. Mas, estava enganado. Falei com
ele sobre a Copa do Mundo de 1958 e o astro me
ignorou. Conservei sobre Ronaldo, Ronaldinho e
Alexandre Pato. Mas, Pelé não me respondeu e
nem comentou. Caramba, por que estavam todos
me ignorando? O que estava acontecendo?

Caminhei, isolado e triste, por alguns minutos,


quando me deparei com a minha Jennifer. Sem
dificuldades, fui atrás dela, levantei sua saia e
passei levemente a mão na bunda dela. Ah! Foi
maravilhoso. Jennifer deu um sorrisinho como se
estivesse gostando e quase chamei ela para danças,
mas havia muita gente querendo conversar com a
atriz.

Todo sorridente, andei até encontrar uma sala,


repleta de rostos inacabados e com uma grande
placa sobre Madame Tussauds. Descobri, então,
que se tratava de um museu de cera e que todas as
celebridades que estavam lá não eram reais, e sim
bonecos. Foi por isso que Johnny Depp, Pelé e
Bush me ignoraram. Foi por isso que eu passei
tranquilamente a mão na bunda da minha querida.

Triste e ao mesmo tempo feliz, caminhei pelo


Museu, vi outras celebridades, tirei algumas fotos e
abracei algumas modelos. Ah! Isso foi realmente
bom. E já estava quase me esquecendo do
verdadeiro motivo que me levou a visitar Londres:
Sherlock Holmes. Ele morava nessa cidade e eu
estava disposto a conhecê-lo o mais rápido
possível. Quer saber como termina essa história?
Então, não perca o texto do próximo domingo.
Elementar, meu caro..
Pelo fim das Olimpíadas, já!

Nem começou direito e eu não agüento mais. É


Ronaldo pra cá, Dunga pra lá e o Galvão falando
“bem amigos da Rede Globo”. Como se não
bastasse ainda tem: trânsito nas avenidas,
ambulantes chatos vendendo camisetas “meia
boca” da seleção brasileira e vinte e dois homens
pisando em cima de uma grama até então bem
conservada.

O circo da Olimpíada é entediante e me incomoda


mais do que três elefantes gordos e barulhentos. A
única coisa que presta, nessa época de jogos, são os
livros que tocam, levemente ou profundamente, em
alguma linha das Olimpíadas. Conteúdo
interessante, bem escrito e até certo ponto
envolvente.

Não que esse tipo de assunto me agrade, mas irrita


menos do que assistir a um jogo de futebol,
basquete etc, por melhor que ele seja.

Acho que peguei o vírus anti-futebol, anti-


Olimpíada, anti-jogos que escondem as
desigualdades sociais. Gostaria que essa maldita
competição tivesse um fim imediato. Justificando:
a Olimpíada não vai mudar o país, não vai melhorar
a nossa qualidade de vida.

Ah! Que vida. Que tédio. Vou fechar as janelas,


desligar a TV, ler um livro. Página a página,
descubro-me um E.T, isolado num mundo que
poucos conhecem: o da leitura.

Digo e repito: precisamos mudar essa realidade. E


isso só vai ocorrer com um programa baseado no
conceito de letramento. Justificando: a pessoa toma
gosto pela leitura somente quando entende o que
está lendo e constrói mentalmente os cenários
descritos, envolvendo-se com cada uma das
páginas, letra a letra.

Esse contexto, embora óbvio e essencial, está


presente em menos de 10% das escolas e
universidades brasileiras, segundo dados que obtive
junto a profissionais dessa área. A explicação: na
maioria das instituições, crianças e adolescentes
são submetidos a tarefas desgastantes,
principalmente a de ler livros difíceis e,
posteriormente, realizar uma prova sobre a história,
conflitos e personagens apresentados.

Atividades como essa contribuem e muito para que,


infelizmente, leitores traumatizados e angustiados
se afastem definitivamente dos livros, por melhor
que esses sejam. Fica claro, então, que a leitura,
seja ela em âmbito escolar ou familiar, não deve ser
obrigatória, e sim estimulada a todo instante.

Uma alternativa é deixarmos de lado as normas


existentes e desenvolvermos atividades associadas
ao letramento, apresentado anteriormente. O
método: professores e pais criam tarefas
educacionais, como por exemplo, a encenação de
um trecho do livro, e mostram, para as crianças e
adolescentes, que a leitura é importante para
despertar a criatividade, enriquecer o vocabulário,
se escrever corretamente e até mesmo construir
novas amizades.

Com essa postura, formamos leitores interessados


em ultrapassar as fronteiras do conhecimento, em
traçar metas ousadas e em devorar Machado de
Assis, Sir. Athur Conan Doyle e as mais
complicadas obras de Gabriel García Márquez. E o
melhor: quem se apega aos livros, dificilmente
consegue viver sem eles.

Boa Olimpíada a todos.


Sobra sexo no teatro

Sempre me perguntei sobre a relação entre teatro e


cinema. Recentemente, descobri que ela está no
sexo. Tanto o filme quanto as peças apoiam-se em
fantasias. O filme francês Ils (“Eles”), por exemplo,
é assustador e delirante. Uma verdadeira pancada
no cérebro e mensagens subliminares percorrendo
todas as cenas como se o prazer de assistir fosse o
prazer sexual. Uma história despretensiosa que tira
qualquer um do sério e faz qualquer um ficar sério.

Na mesma linha de temática e proposta, com uma


dose extra de sexo, é claro, a peça “Herótica -
Cartilha Feminina para Homens Machos”
enlouquece e nos faz refletir minuto a minuto sobre
as mulheres. Afinal, quem elas realmente são? Pra
que elas servem? O que elas querem?

Esse mundo feminino, obscuro, árido e conflitante,


é cena a cena esclarecido, como se o público lesse
um verdadeiro manual a la Kama Sutra. O melhor é
que as atrizes se interagem com o público e todos
parecem participar de uma verdadeira orgia teatral.

A peça, em cartaz na cidade de São Paulo, é bem


conduzida por Darson Ribeiro, embora ele ás vezes
exagere na marcação de cena. Uma maior fluidez
dos atores renderia certamente cenas mais
engraçadas e dinâmicas, provocando mais risadas
da platéia.
Indicada para jovens, adultos e idosos,
“Herótica...”, com Darson Ribeiro, Márcia
Manfredini e minha amiga Karina Barum no palco
do Teatro Augusta, é um bom programa para o seu
próximo final de semana. Não perca e tente decifre
as mulheres! Embora, eu ache que elas são cada
vez mais complicadas.
Tomando todas em Paris

Minha ida a Paris sempre foi planejada e em grande


estilo: Torre Eiffel, Louvre e Galeria Lafayete.
Estava ansioso, mas me continha. Afinal, tinha
deixada a melhor parte da viagem para o final. O
motivo: lá, eu poderia gastar todos os euros que
haviam sobrado e poderia também conhecer a noite
parisiense.

É, e eu estava precisando. Depois de uma viagem


totalmente cultural pela Europa, vendo castelos,
igrejas e museus, estava na hora de beber até cair. E
fui rumo a essa missão, andando por ruas famosas e
passando pelo Arco do Triunfo. Parei em um
restaurante e solicitei uma cerveja, a minha
primeira em Paris. Tomei rapidamente, saboreando
cada gole e recusando os petiscos oferecidos. Eu
queria encher a cara e nada me fazia mudar de
idéia.

Solicitei mais uma cerveja e fui ao banheiro.


Pronto: eu estava preparado para ir a uma balada
parisiense. Mas pra onde? Andando sem destino e
quase cansado, encostei-me em um ponto de
ônibus. Observei que um rapaz, mais jovem do que
eu, estava cambaleando, com um bafo de vodka.
Rapidamente, pensei: “esse é o cara. Ele vai me
ajudar. Os bêbados conhecem as melhores
baladas”.
Logo me aproximei dele e perguntei, em inglês, é
claro: “amigo, tem alguma balada boa em Paris?”.
Ele respondeu prontamente: “Paris, é uma merda!
Mas, as baladas são muito boas. Siga reto, nessa
direção. Você não vai se arrepender. Mas, me diga,
da onde você é?”. “Brasil, sou brasileiro”. “Ah!
Ronaldo, Pelé, Zico, Garrincha... Eu adoro o
futebol brasileiro, sempre vejo na TV”.

Nessa hora, ele foi interrompido por um homem


que segurava um grande cartaz. Esse homem, sem
disser nem boa noite, afastou o rapaz com quem eu
estava conversando e substituiu a propaganda de
um relógio fixada no ponto de ônibus por uma
propaganda de um filme da Jennifer Lopez. O
rapaz ficou louco e começou a berrar: “eu amo a
Jennifer, eu a amo”. Dei muita risada e quase
contei a ele que havia passado a mão na bunda da
Jennifer, mas mudei de idéia.

Agradeci a informação do rapaz e quando me virei


ele disse: “calma, não vai beijar a Jennifer?”.
“Como?”. “Olhe! E aprenda”. Ele rapidamente deu
um beijo de língua na propaganda e eu saí
correndo. Segui a direção que ele havia apontado e
caminhei bastante até avistar uma muvuca de lindas
e estranhas francesas, que estavam conversando em
frente a uma estação de metrô, onde outras pessoas
haviam entrado.

Fiquei curioso e optei por entrar. No Brasil, não há


baladas no Metrô. Então, eu iria a uma festa
totalmente diferente. E, lá fui eu. O ambiente, logo
de cara, se mostrou sensacional e fascinante. Duas
pistas, tocando som diferente, bebidas caras, mas
deliciosas, e francesas, doidas por sexo e orgia.

Nessa balada, não deixei, é claro, de conversar com


as garotas francesas, mesmo não falando francês.
Tentava manter um diálogo, mas não conseguia.
Decidi então me aproximar das mulheres só para
olhar os seios, pequenas peras, perto dos mamões
brasileiros. Mas, de belos sorrisos, frente a algumas
desdentadas brasileiras. Entre uma bebida e outra,
observava e fazia comparações: as francesas são
frias; as brasileiras quentes.

Bebi sem parar: vodka, cerveja, conhaque e uísque.


Misturei tudo e quase tombei. Pra quê? Tentar falar
francês e me dar bem. Eta! Que língua difícil. Nem
bêbado eu conquistei uma mulher francesa. Mercy
Bocu!
Tomei chá com a rainha e virei Sir.

Depois de encontrar Sherlock Holmes e Jennifer


Lopez, segui minha trajetória londrina rumo ao
Palácio de Buckingham para tomar um chá com a
rainha Elizabeth 2ª. Tinha agendado horário com
ela em uma conversa que tivemos pelo MSN e,
portanto, estava calmo e tranquilo. Em minha
mochila, levei um chá que eu adorava: o de
camomila. Não sei se havia em Londres, mas eu
não podia chegar ao Palácio de mão vazia.

Construído em 1703, pelo Duque de Buckingham,


o Palácio virou casa oficial dos reis em 1837, com
a ascensão da Rainha Vitória ao poder. Nele, já
haviam morado Eduardo VII, Jorge IV, Isabel II e
muitos outros. O Palácio escapou ileso aos
bombardeios da Primeira Guerra Mundial, mas não
teve a mesma sorte na Segunda, quando foi
bombardeado sete vezes pelos alemães.

Logo que cheguei ao Palácio, um soldado usando


trage estranho, roupa vermelha e de arma em punho
se dirigiu a mim e perguntou: “Sir. Rodrigo
Capella?”. “Sim, sou eu”. “Por favor, me
acompanhe, a rainha está lhe esperando”. Nossa, eu
mal tinha chegado ao Castelo e tinha recebido o
título de Sir. Somente pessoas ilustres, como Paul
McCartney, Tom Jones e Mick Jagger, mereceram
tal honraria. Tudo bem, eu já havia escrito alguns
livros e um deles está sendo adaptado para o
cinema, mas, mesmo assim, eu achei que não
merecia ser chamado de Sir. Quase retruquei, mas,
por educação, preferi ficar calado.

Caminhei pelo Palácio, passando por salas, quartos


e cozinhas. Os jardins eram imensos e lembravam-
me os grandes parques brasileiros. Por um instante,
o guarda parou e disse: “espere aqui, a rainha logo
virá”. Aguardei com ansiedade, sentando no sofá e
olhando as minhas anotações. Tinha muito a
conversar com ela, colocar a conversa em dia e
refleti sobre os problemas mundiais.

Ouvi passos lentos, mas precisos. Era ela: Elizabeth


2ª. A rainha havia tomado posse há muito tempo,
mas estava mais jovial do que nunca. Simpática e
alegre, ela logo lançou uma pergunta: “Como está
Pelé?”. “Está bem, ele é um atacante de primeira”.
“Continha marcando muitos gols?”. “Não, ele
parou há muito tempo, mas ás vezes participa de
uns jogos beneficentes”. “E você, Rodrigo, alguma
novidade?”. “Muitas, estou realizando muitos
trabalhos artísticos. Depois, gostaria que a senhora
lesse”. “Claro, farei com prazer”.

Contei sobre as minhas novidades, falamos sobre o


Brasil, o sapo barbudo que comanda a nação
tupiniquim, a Inglaterra e o Palácio de
Buckingham. Em certo momento, a rainha pediu
licença e se levantou. Recostei no sofá e, por
longos minutos cai no sono. Fui acordado por meu
amigo Sherlock Holmes e seu fiel seguidor
Watson: “Rodrigo, acorda, acorda, a rainha sumiu”.
“Como? Ela estava logo aqui. Apenas, deu uma
saída, ela ia voltar logo”. “Mas, não voltou, os
guardas estão caídos no chão, alguém entrou aqui e
levou a nossa rainha”. “Não acredito!”.

É verdade, a rainha havia sumido. E todos estavam


loucos. Afinal como uma das autoridades mais
poderosas da Inglaterra poderia sumir de uma hora
para a outra? Que mistério! E eu era um dos
protagonistas. Afinal, conversei com a rainha no
dia em que ela desapareceu. Contei a Holmes a
conversa que havia tido com a rainha, disse a ela
tudo nos mínimos detalhes. Meu amigo suspirou,
todo sorridente: “Hum.. que interessante. Ela já nos
deu uma pista. Só não consigo entender porque os
guardas estão caídos no chão. Hum..”.

Iniciamos a busca pelo Palácio e nenhum sinal da


rainha. Afinal, onde ela estava? Procuramos pelo
entorno e também nada. Andamos bastante até que
Holmes esclamou: “Calma, não vamos nos
desesperar. Já sei o que aconteceu. A rainha nunca
saiu do Palácio. Ela esteve lá o tempo todo”. “Mas,
e os guardas? Por que eles estavam caídos, o que
ocorreu com eles”. “A rainha mandou eles cairem
no chão. Tudo não passou de uma brincadeira.
Rodrigo, ela quiz bricar com você e conseguiu.
Você caiu direitinho”. Holmes, deu risada. Watson
também.
Quando voltamos ao Palácio, a rainha estava lá,
tomando chá de camomila. Aproximamos e ela nos
ofereceu a bebida. “Rodrigo, espero que não fique
chatiado”. “Não, sem problemas. Mas, por que a
senhora fez isso? Ficamos preocupados!”. “Eu quis
brincar, a vida nesse Palácio, ás vezes é meio
chata”.

Demos risadas. Se a vida no Palácio era chata,


imagina a vida dos mendigos na rua. Imagina a
vida de quem precisa lutar por comida e que sonha
com dias melhores. Imagina a vida de quem sonha
em ser rainha, então?
Para quem (realmente) gosta de
Beatles

A minha ida a Liverpool não estava prevista, mas,


quando soube que essa cidade é um verdadeiro
santuário dos Beatles, não pensei duas vezes e
mudei minha trajetória. Afinal, como qualquer
beatlemaniaco que se preze, eu precisava conhecer
Strawberry Field, The Cavern Club, Mathew Street,
Beatles Story, Abbey Road e a casa de Paul, Ringo,
John e George.

À primeira vista, Liverpool é apenas mais uma


pequena cidade do interior da Inglaterra, com
muitos pubs, cerveja e repleta de pessoas com mais
de cinquenta anos. Pode-se concluir, então, que ela
nada tem de diferente de York, onde visitei há
poucos dias. Errado! Liverpool é uma cidade
mágica, vibrante e repleta de melodia.

Meu senso de direção é horrível, por isso paguei o


que foi necessário para pegar o primeiro Beatles
tour e conhecer histórias hilariantes sobre o
verdadeiro quarteto fantástico. A primeira diz
respeito ao Paul. Habitando uma pequena casa de
um bairro afastado de Liverpool, o músico se
deparou com um rapaz que disse: “ei, eu te levo até
a casa do Paul, são apenas 10 libras”. Paul caiu em
gargalhada e percebeu, nesse momento, que os
Beatles estavam populares e que até os
adolescentes estavam ganhando dinheiro com a
banda.

A origem dos Beatles se deu com a dupla Lennon


MacCartney. Paul e John se conheceram quando
tinham 15 anos. Nessa época, Lennon tinha uma
banda chamada Quarry Men e Paul pediu para fazer
uma apresentação de guitarra ao jovem amigo. John
adorou a apresentação e convidou Paul para fazer
parte da banda. Depois, Paul trouxe George, um
então garoto de apenas 14 anos, e o pintor Stuart
Sutcliffe, que tocaria baixo.

A banda iniciou uma série de shows na Escócia,


graças ao empresário Andy Williams, que
conseguiu também levar os jovens até a Alemanha,
onde fizeram uma séria de apresentações no clube
Kaiserkeller. Stuart se apaixonou por uma garota da
Alemanha e saiu dos Beatles. Provavelmente, se
arrependeu bastante!

Anos depois, os Beatles trocaram de empresários e


o quarteto passou a ser dirigido por Brian Epstein,
que era gerente da famosa loja de discos North End
Music Stores. Pete foi, então, despedido e os
Beatles trouxeram Ringo Star, alterando pela
última vez a formação da banda. Um ano depois, os
Beatles lançaram seu primeiro disco, chamado
Love Me Do, que foi um tremendo sucesso e
vendeu mais de cem mil exemplares. Depois,
gravaram Please Please Me, que superou o
primeiro disco e atingiu a marca de mais de
quinhentos mil exemplares vendidos. Algo
sensacional!

Pouco tempo depois, os Beatles embarcaram em


turnê, marcaram épocas e deu-se início a
Beatlhemania, que existe até hoje. Essa é apenas
uma pequena sinopse da história da banda. Mas, o
tour me traria também outras curiosidades para
entender, principalmente, o processo de criação dos
Beatles. Strawberry Fields (Let me take you down /
´Cause I´m going to Strawberry Fields/ Nothing is
real / And nothing to get hung about / Strawberry
Fields forever) foi composta em homenagem a um
jardim Escondido, trancado por portões, repleto de
mato, onde John e Paul subiam as árvores para se
divertir, compor e viajar mundo a fora. É lógico,
tirei foto na porta do portão.

O tour, ao som de Beatles, é claro, terminou no The


Cavern Club, localizado na Mathew Street. Lá, o
quarteto iniciou oficialmente a sua carreira e fez
quase 300 apresentações, entre 1961 e 1963. A
última, ocorrida em 03 de agosto, foi emocionante.
No Beatles Story, museu da banda, ouvi
depoimentos e sentei em uma das cadeiras do
antigo The Cavern Club. Foi como se eu tivesse
participado da história dos Beatles. No Beatles
Story, há também um submarino gigante, em
homenagem à canção Yellow Submarine, non
sense, mas repleta de harmonia e alegria: In the
town where I was born / Lived a man who sailed to
sea / And he told us of his life / In the land of
submarines.

Ao conhecer todas essas histórias e vivenciar esses


momentos, eu estava contente e queria, para
completar essa alegria, conhecer apenas a Abbey
Road, rua que ficou famosa após os Beatles tirarem
uma foto na faixa de pedestre. Eu queria fazer o
mesmo, então fui á procura da Abbey Road. Mas,
para minha tristeza, descobri que a rua ficava em
Londres e não em Liverpool, onde eu estava. Ops!
É por isso que sempre falam: quanto mais
conhecemos algo, mais descobrimos que sabemos
pouco sobre esse algo.
Jornalistas no cinema: ação!

“Onde Andará Dulce Veiga?” é o novo filme do


cineasta Guilherme de Almeida Prado, e também o
melhor deles. O longa, focado a princípio na tara
sexual, nos remete aos antecessores “A Dama do
Cine Shangai” e “Flor do Desejo”, mas, no decorrer
das cenas, o trabalho ganha em qualidade por se
mostrar mais ousado e conflitante.

O diretor, que teve forte atuação no período da


Retomada, rejeita o estereotipo de jornalista que
toma café a cada cinco minutos e traz um
profissional de comunicação que aprecia pó e
maconha. E mais: é tímido, não gosta de se
expressar, tem conflitos internos e anda como se
fosse um rato atrás do queijo humano.

É possível, claro, encontrar semelhanças como


outros filmes, o que poderia diminuir de primeiro
impacto a grandiosidade da película. Entretanto,
ocorre o inverso. Guilherme soube, meio que
inconsciente, buscar elementos ocultos em obras-
primas, como “A montanha dos sete abutres”, filme
também protagonizado por um jornalista.
Desempregado devido a sua conduta questionável,
o personagem vai ao estado do Novo México atrás
de uma grande matéria. Em “Onde Andará Dulce
Veiga”, o jornalista Caio também está a procura,
mas de alguém e não de algo. Afinal, a musa que
dá nome ao filme está desaparecida há vinte anos.
Se encontrar Dulce Veiga, o jornalista terá um furo
de reportagem, o maior de sua carreira.

O furo de reportagem é, aliás, o que motiva o


jornalista. Sem novidades, o profissional se
acomoda e não aprecia o próprio trabalho. Foi o
que aconteceu, por exemplo, com Locke, o
protagonista do filme ítalo-francês “Profissão:
Repórter”. A história narra a rotina de um homem
aventureiro, mas angustiado; cansado por registrar
as mesmas coisas e sem perceptivas de mudanças.

Quando Caio completa a sua grande façanha –


encontrar Dulce-, ele fica frente a frente com a
Diva sem saber o que fazer – praticamente imóvel e
angustiado. E quando pronuncia algo, já é tarde:
Dulce não quer dar respostas, ela quer apenas fazer
perguntas.
O cavalo de Agatha Christie

A morte de um sacerdote poderia ser um crime


comum, mas nas mãos de Agatha Christie esse
episódio se transforma no alicerce necessário para
fazer de “O cavalo amarelo” um ótimo suspense.
Atualmente, leio esse livro sempre acompanhado
de um bloco de anotações para não perder os
detalhes e as muitas referências feitas a
Shakespeare.

Três mulheres estranhas, que se julgam a


reencarnação das bruxas de Macbeth, um papel
escondido no sapato do morto e pessoas que
desaparecem por telepatia. Esses são alguns dos
elementos oferecidos pela Rainha do Crime ao
longo desse saboroso romance.

Para tristeza dos fãs de Hercule Poirot, Agatha


Christie recorre ao inspetor Lejeune para solucionar
tal mistério. E acerta na escolha. Lejeune é o
personagem ideal para procurar pistas em um
cenário composto por métodos particulares, magia
negra e tortura psicológica. Tudo isso é bem
distribuído pela autora, sem deixar com que a obra
tenha um caráter sobrenatural.
CONTOS
Loucuras de um escritor

Entre um cachimbo e outro, Jonas escrevia


pequenas frases em seu diário úmido e manchado
por patas de cachorro. Desiludido com o mundo da
literatura e com as mãos fixas na caneta, o autor,
que chegou a estar na lista dos mais vendidos,
procurava se ocupar com pequenas histórias, umas
mais absurdas do que as outras. Faltava-lhe
imaginação, faltava-lhe elementos para se construir
uma boa narração.

Largava o diário, caminhava pelo pequeno


corredor, voltava a apanhar o caderno, largava-o
poucos minutos depois. Jonas realmente estava
deprimido e, em um ato fora do comum, abriu a
porta e ganhou a rua, talvez em busca de
curiosidades, talvez atrás se sonhos antigos ou
simplesmente para respirar um pouco.

Já era tarde. O relógio, apertando o pulso esquerdo


e deixando marcas, sinalizava onze e meia da noite.
Jonas caminhava freneticamente. Passava por
parques, ruas pequenas, campos de futebol. O autor
ia em direção á ponte, só podia estar indo naquela
direção. O vento forte e o chuvisco atrapalhavam a
caminhada, mas Jonas enfrentava os obstáculos e
os superava.

Cansado e tremulo, Jonas chegou ao destino,


debruçou-se na ponte iluminada e antiga, ganhou
força extra e saiu correndo até a outra extremidade
da construção. Fez isso durante alguns minutos e
horas, circulando por quase toda a pequena e
singular cidade. Voltou pra casa, tomou um suco de
acerola com menta, deitou-se na poltrona rasgada e
lá dormiu desconfortavelmente durante horas,
chegou até a sonhar com os tempos de sucesso
literário.

Acordou com uma pomba debatendo-se na janela,


como se quisesse entrar na casa do autor. Jonas
pensou e acabou cedendo. A pomba branca e
extremamente agitada sentiu-se á vontade, como se
tivesse a companhia de outras. Pegava o diário do
autor, percorrida os corredores e rapidamente
largava o caderno. Jonas, em mais um ato fora do
comum, abriu uma gaveta, pegou sua 38 e disparou
um tiro contra a pobre pomba.

Paredes manchadas, animal morto pelo chão e


cheiro impregnando a casa. Jonas observou tudo
isso e refletiu por alguns segundos. Pegou a arma e
a segurou com uma firmeza singular. Mirou em
direção a sua cabeça e sentou na cadeira. Lá,
dormiu durante horas, dias e anos.
Cupim de Natal

A árvore piscava com tal fervura, bolas brancas e


vermelhas davam o realce, enfeites de laços e
cavalos carregavam ternura, no olhar da criança.

Piscava num ritmo prolixo, fixamente olhava o


enfeite mais alto, era um Papai Noel no topo da
árvore, despertando nuança no olhar meigo.

A criança, enfeitiçada estava, a admirar o falso real,


a crer que Papai Noel iria, descer da árvore e dá-
lhe, um beijo no rosto.

Observava a árvore diariamente, como se buscasse


um algo mais, percorria ao redor dos galhos, sentia
o perfume vago.

Fixava os olhos atrás da árvore, abria e fechava a


porta do armário, passava a mão num furo, feito
por cupim.

Observava a árvore, canto por canto, estava quase


aos prantos, queria ver se o furo, ia contaminar os
enfeites, derrubar os galhos, estragar Papai Noel e
paralisar os cavalos.
Deus, obrigado por ter criado as
mulheres

Corria pelas estreitas calçadas de São Paulo rumo


ao Parque do Ibirapuera. O calor era intenso e a
camiseta vermelha fazia-me transpirar mais ainda,
como se eu estivesse dentro de um caldeirão. Opa!
Bem que podiam cozinhar uma loira junto comigo,
de preferência sorridente, gostosa e acompanhada
por uma latinha de cerveja.

Exibia o meu corpo atlético, conquistado após


quinze anos de terapia ocupacional e seis meses de
academia. Pela primeira vez, sentia-me confiante,
um verdadeiro Deus Grego. Mulheres de vários
tipos olhavam pra mim, porém só as feias, que
pareciam ter saído do Largo da Batata, é que
mexiam comigo. Que maldição! Não devia ter
malhado tanto.

- Nossa, que lindo - dizia uma delas.


- Queria um desse lá em casa - disparava a outra.

Ajeitava o cabelo, tirava o suor da testa e dava um


sorriso. Que raiva, eu estava gostando daquele
chamego. Mas, um solteiro como eu precisava de
um bom partido. Continuei correndo! Pensava em
muitas coisas: o pneu do carro furado, minha mãe
rolando pelas escadas de incêndio, meu irmão
passando mal após comer uma coxinha de
calabresa.... Pensava em tudo, queria distância
daquelas feiosas. “Saiam, saiam, antes que eu
chame a carrocinha”, disse alto, como se tivesse um
megafone nas mãos.

Por falar em cachorro, não poderia esquecer-me de


Brutus. Orelhudo e pulguento, o miserável miava
em vez de latir. Miauuu-AU!! Ele chegou em casa
com dois meses. Não, Brutus não veio sozinho, tive
que buscá-lo no pet shop. Aos poucos, o pequeno
animal foi adquirindo outras formas. Pica-pau
roedor de móveis, rato comedor de queijo, lesma
preguiçosa....

Um cão com crise de identidade? Era só o que


faltava. Já bastava o dono. Tomei uma decisão
drástica, uma das mais difíceis de minha vida. Por
que não mimar o meu cachorro? Minha mãe fez
isso comigo, por que não ia funcionar com o
Brutus?

A primeira ação foi a de criar um site para ele.


Optei pelo www.cachorrorebelde.au Afinal, ele
precisava se acalmar um pouco e eu tinha que me
ocupar. Qual o solteiro que não gosta de passar
horas e horas na frente de um computador?

Aos poucos, Brutus se transformou. Os pêlos


ficaram mais brilhantes, parecendo a peruca da
Elke Maravilha. Seu rabo ganhou vida própria,
achando que era um helicóptero. Brutus mostrou-se
mais calmo, sorria várias vezes ao dia e até dava
cambalhotas. Nossa, eu estava conseguindo mimar
o cachorro.

Ainda rumo ao Parque Ibirapuera, eu corria, corria


e as vozes das feiosas continuavam a me perseguir,
aterrorizando os meus pensamentos:

- Nossa, que lindo - dizia uma delas.


- Queria um desse lá em casa - disparava a outra.

Fingia que não era comigo e continuava correndo,


sonhando, lembrando de quando mimava o Brutus.
Depois de criar o site, comecei a assistir televisão
com ele, mas Brutus não gostava de novelas
brasileiras. Mudamos de canal, ele detestou as
mexicanas e preferimos alugar alguns filmes.
Depois de ver Os 101 Dálmatas, Brutus latia sem
parar, levantava as patinhas e se mexia de um lado
para o outro, mostrando-se um verdadeiro ator. Ele
queria estar em Hollywood.

Mas, o danado continuava a comer o meu chinelo e


achei que ele precisava de um pouco de música,
talvez clássica. Optei pela quinta sinfonia de
Beethoven. O cachorro se acalmava por alguns
minutos, mas logo começava a roer tudo
novamente. Eu devia ter dado a maçã da Branca de
Neve pra ele.

- Nossa, que lindo - dizia uma das feiosas.


- Queria um desse lá em casa - disparava a outra.
Olhei para o lado e as mulheres estavam me
seguindo. Nossa, que coisa maluca! Olhei para o
chão e vi o Brutus. As feiosas estavam apontando
para ele. Ufa! Fiquei bastante contente. Aqueles
elogios eram para o Brutus e não pra mim. Deus,
obrigado por ter criado os cachorros.
Fastio e pejo de escriba

É bem provável que você esteja lendo meus últimos


respiros literários. Não que eu queira rumar uma
vida melhor – acho que aqui não se cabe tal
capricho. O que almejo é vida sem fastio, sem pejo.
E, portanto, sem registro. Malditas anotações
atemporais de tirar o sono, dar insônia e excesso de
saliva na boca.

Dizem – os mais afortunados – que escrever é uma


dádiva. Se tal façanha for concreta, deixei de reinar
quando os abandonei – lápis e borracha. O barulho
das teclas nunca me fascinou. Aliás, acho eu, que
essa tecnologia atrasa as palavras. Era, portanto, no
toque do papel que criava personagens – uns
príncipes; outros candangos. Quando transformei
todos em seres simples, veio-me o fastio.
Personagem tem áurea magnânima, mas os meus já
não a despertavam há anos (era como se todos
tivessem a mesma alma, ao mesmo instante. Um
tédio!). O pejo veio na sequência: sem bons
personagens não se tem ritmo. Comenta – o
estudioso mais crítico – que o leitor precisa se
sentir só para degustar. E que o caviar só é ingerido
com um certo toque de sabor. Sem sabor e caviar,
perde-se o ritmo, encontra-se o pejo.

Em busca de cenários autênticos, já percorri o


Brasil todo. Não encontrei atração literária, apenas
novo lar: mais calmo, nem por isso com mais
elementos. Florianópolis é onde, portanto, o melhor
da narrativa começa. E – contrariando a
meteorologia daquele dia – o sol não veio de
manhã. Foi substituído por um ruído e um pacote.
O ruído eu ouvi as sete da manhã, junto ao cantar
do agitado curió a fazer ninho. A escada do hotel
rangia e em passos simétricos alguém –
ligeiramente apressado – depositou algo em frente
ao quarto 314. Quando abri a porta, o mancar
levou-me a um embrulho pardo e úmido e preso a
cordões e apertado e curioso.

Relutei – como faço sempre – em desenrolar os


cordões. Poderia eu encontrar algo diferente desses
meus trinta anos de poesia? Pronunciei o “algo”,
com intensidade, como fiz nos dias anteriores. A
tesoura guiou minha mão esquerda aos cordões e
um corte certeiro desfez o que poderia ser
considerado uma arte de empacotar. Juntei esse
quarto embrulho aos demais: o primeiro intocado; o
seguinte com um leve rasgo; o terceiro com um
furo e um cordão cortado. E este com um buraco e
sem dois cordões paralelos. A curiosidade – é
lógico – aumentava dia-a-dia. O primeiro ignorei; o
segundo quase abri; o terceiro contive-me; o quarto
aos prantos... Eu queria conhecer o conteúdo deste
e dos demais. Sabia, entretanto, que não poderia.

Os fãs nos enviam itens com a boa intenção que


destrói casamentos. E depois questionam: você
deixou de ser escriba? É a demagogia que se funde
à ironia e irrita meus ouvidos. Palavras tornam-se
obsoletas e bilhetes e pacotes e mensagens sem
remetente viram – ou pelo menos deveriam –
invisíveis.

Alívio se faz quando se recebe algo esperado, com


conteúdo e formas previamente calculados. No
mundo virtual, ter contato com algo presente, sem
conhecê-lo é quase um atentado mental. Imagina-se
de tudo, se programa uma resposta, fica confuso,
como se enforcasse nos cordões dos embrulhos.

Poderiam eles não terem sido enviados por fãs?


Embrulhos caprichosos, da irritação no ouvido,
demagogia de interesses, alegoria profana.. Quem
ou o quê poderia sucumbir-me tal irritação? Se
bomba fosse, já – e até faço gosto – assistiria
desgraças ao lado de Demo. Se vírus fosse,
derreteria minha escrita sem direito a testemunho
posterior. Se comida fosse, o cheiro a denunciaria.
Se macumba fosse, ....

Se, Se, Se. A dúvida castiga, corrói e pergunta


sorrindo: por que você não me guia? Ela quer paz,
mas provoca. Parece muito com as mulheres: não
sabem a hora de nos deixar a pensar sobre elas,
sobre mundo, overmundo! E elas permanecem
tímidas, mas sempre aí. Então, quem os poderia ter
enviado? Antiga namorada? Duvido, não teria tal
capricho. Um familiar? Muito menos. Só lembram-
se de mim em datas festivas ou quando preciso
comprar presentes. Então, quem? O que? Putz.
Pausa. A matemática precisa, nessas horas, é amiga
de se descobrir. Talvez pontuar o que e como as
coisas nos norteiam de modo a complicar as ações
e contribuir para a dúvida.

Ah! Nunca fui um esperto em antecipação. No


entanto, gosto de fazê-la, aos poucos,
preferencialmente no ranger noturno dos dentes.
Cochilei no sofá, abraçado a Tico – urso barrigudo
de minha filha. Olhos de chamego, pêlos pardos,
mãos na cintura... Despertei depois de horas, com o
curió do ninho. Guiou-me ao quinto, colocado
debaixo da porta do 314. Olhei aos demais e o
mancar fez-me apanhar o novo. Coloquei-o na
mesa, bem próximo aos outros. A tesoura já estava
próxima, ao lado do quarto. Libertei-o dos cordões,
fiz um furo maior e identifiquei. Remetente era
“D.J”. Recorri – obviamente – à agenda. De nada
acrescentou: lá não havia sobrenome, apenas
apelido e pronome. Nunca encontrei motivos –
agora os tenho – de preenchê-la corretamente.

Caminhei pelos corredores apertados, quase me


debruçando nas paredes. A resposta estava sempre
à frente. Parecia ter se preparado anos antes. Como
alcançá-la sem ter a fórmula correta da
perseguição? Sempre assisti a filmes, li muito
livros – todos de mistério e pistas. Mas, quando se
é personagem, a complicação alia-se ao desespero
aparente. Há alguma saída ou a mais fácil terei que
usar?
Relutei, busquei ar puro na varanda, com binóculo.
Precisava encontrar algo longe, nem que fosse por
um instante. Um algo perdido atrás do monte, que
se fizesse importante e momentos de dúvidas.
Cochilei, à tarde, no sofá, e, sem curió, manquei até
a porta para encontrar o segundo embrulho do dia.
A frequência parecia aumentar demasiadamente,
sem necessidade aparente. O dente rangia e a cada
quarto de hora novo embrulho eu recebia. O fastio
e o pejo pintavam gravura, a qualquer hora do dia.
Pudera eu descobrir o remetente sem desembrulhá-
los? Quisera o remetente tocar a campainha para
encontrá-lo?

Mais um quarto, um outro embrulho. E assim se foi


ao longo do dia. Totalizaram-se várias dezenas
deles. Mesma cor e papel e cordões e cheiro.
Mesmo tudo! Cheiro azedo, de quase desmaiar,
pronunciar palavras esquisitas. Cheiro de dormir,
durante horas, acordar ao som dos curiós para o
mancar nada encontrar debaixo da porta do 314. Os
embrulhos haviam parado e a curiosidade
aumentava.

O que que havia dentro dos embrulhos? O que que


eu poderia encontrar diferente dos meus trinta anos
de poesia? Cortei e rasguei um a um. Libertei-os
dos cordões e papéis pardos, como se abrisse a
gaiola das loucas. Deparei-me com caixas azuis –
lindas caixas azuis com desenhos gregos e
mensagens positivas: “cubra-me de beijos, rápido”;
“você eu quero”; “cubra-me”.
Caixa esquisita e picante, mas conteúdo similar à
maioria das caixas: cartas, cartas amassadas, cartas
amassadas e sujas. Manuscritas em letras redondas
e legíveis à primeira passada de olhos. Alguns
recortes de jornais – fotos e gravuras – colados
entre cada linha do texto, como se fizessem parte
de toda história. Cartas que lembram o passado e
despertam lágrimas: “na juventude, o simples sinal
de brincar provoca desejos”; que desafiam o futuro:
“nada que fosse, justificava tal postura. O além a
ninguém se pertence. O depois, nunca visto
aquém”; e o hoje: “mudar o que de vitória seguida,
ainda que você me alia”.

Mensagens que denotam certo sacrifício de escrita.


É, por isso, que as cartas são símbolos fortes que
atravessam gerações, buscam companhia em
garrafas, gavetas e embrulhos pardos. Cheiro
azedo, de quase desmaiar, pronunciar palavras
esquisitas. Cheiro de dormir, acordar e ficar a
pensar. Quando a pergunta é solucionada, domina-
se o medo e vem outra. O que que essas caixas
estavam fazendo debaixo de minha porta? E mais
uma: por que que nunca as joguei fora?

Talvez, porque, cartas de ler a tarde toda, sem


problema de ritmo ou tempo. Para se deliciar com
um café e mancar confuso pelos corredores em
busca dela, sem ter norte ou aptidão para desenhar.
Cartas podem voar em direção oposta ao dom para
se contestar que atrelado a isso se tem a vivência.
Cartas! E principalmente cartas endereçadas a
alguém – o vizinho do 315.
Meu cachorro é tarado por petisco
Uísque seria um cãozinho normal, se não fosse o
seu incrível desejo de experimentar novos petiscos.
Queijo, presunto, salame, mortadela. Não importa o
sabor. Uísque é tarado por salgados e fica bravo
quando Juliana, sua dona, passa muitos dias sem
oferecer esses alimentos deliciosos.

O vício é tanto que o cãozinho não economiza seus


truques a la Harry Potter para chamar a atenção de
Juliana e ganhar o grande prêmio, um petisco. Ele
faz de tudo. Destrói as meias, lambe o sofá e, de
quebra, morde a bunda do carteiro, deixando
marcas. Juliana fica envergonhada, pede desculpas,
mas o carteiro não responde; sabe que isso ainda
vai acontecer muitas vezes.

No fim do dia, um pouco antes do jantar, a pequena


menina sempre acaba perdoando o cachorro e leva
o pulguento para passear numa praça bem
arborizada. Lá, observa um rapaz, atlético e sem
camisa, que acena com uma das mãos. É Marcelo,
um antigo namorado de Juliana. Terminaram há
dois meses e a atração entre eles é muito grande.

O motivo da separação é, aparentemente, banal,


mas pode ser facilmente compreendido. Após ir ao
cinema e assistir o Código Da Vinci, a pequena
menina convidou o namoradinho para entrar em
casa e, quando abriu a porta, encontrou tudo
destruído. Uma onda gigante parecia ter entrado na
casa. Juliana olhou para Uísque, que estava
escondido atrás da porta, louco por um petisco.
Marcelo, que não arruma nem o quarto dele, saiu
correndo, sem rumo, sem direção. Depois desse
episódio, eles nunca mais se viram.

Juliana e Uísque continuaram a andar pela praça.


Mendigos pediam dinheiro, pessoas andavam de
bicicleta e um rapaz vendia bolinho de queijo. O
cheiro rapidamente entrou nas narinas de Uísque. O
cãozinho soltou-se da coleira e correu em direção
ao carrinho, como se estivesse no cio atrás de uma
cadelinha. O que se viu a partir daí foi um
verdadeiro show de horror. Uísque lambeu o
vendedor, derrubou o carrinho e comeu quase toda
mercadoria. Juliana não tinha dinheiro para pagar o
prejuízo e teve que chamar os pais. A pequena
menina e o cãozinho acabaram trancados num canil
e, se não fosse a mãe dela ter remorso, dormiriam a
noite lá, ao relento, passando frio e fome.

Mas, essa não foi a situação mais absurda que


Juliana viveu. Ela se lembra de outras. Uísque, num
belo dia, decretou greve de fome. O motivo dessa
travessura: ele não recebeu petiscos durante quase
uma semana. Juliana indignou-se e não teve
dúvida: ignorou o cãozinho, que acabou triste e
doente. A menininha mostrou-se arrependida e
abraçou Uísque, como se ele fosse um ursinho de
pelúcia bem peludo. No dia seguinte, o cachorrinho
ganhou uma grande caixa de petiscos e abanou o
rabo durante três horas.
Juliana lembra-se de muitas histórias
protagonizadas por Uísques, algumas até estão
anotadas no diário da menininha, que dá muitas
risadas quando se lembra dos fatos. No último
Carnaval, a dupla dinâmica viajou para
Florianópolis, onde a tia de Juliana tem uma casa
enorme, com piscina, piano e bananeira.

Quando chegou ao jardim, Uísque, não titubeou, e


rapidamente comeu as rosas vermelhas, que
estavam lindas e cheirosas. A tia de Juliana berrou
longamente e Uísque correu para se esconder
debaixo da mesa. O motivo dessa travessura: ele
não recebeu petiscos durante quase uma semana.

Depois de todas essas esquisitices, Juliana


aprendeu a lição: o Uísque deve comer petisco
todos os dias, senão ele fica louco e comete
maluquices, inexplicáveis até mesmo para a ciência
canina. A pequena menina sabe também que todos
os cães, assim como os homens, têm defeitos e que
esses devem ser respeitados para que a convivência
fique cada vez mais harmoniosas e saborosas,
assim como os petiscos. Hum...
REPORTAGENS
Como tirar foto de seu cachorro

Rabinho pra cá, orelha pra lá. Tirar foto do


cachorro não é nada fácil. Exige agilidade,
paciência e, principalmente, muita tranqüilidade.
Para ajudar você na hora do click, conversamos
com fotógrafos especializados em registrar animais
de quatro patas. Pegue a máquina fotográfica,
coloque um filme e prepare-se para as dicas de
Lionel Falcon e João Carlos Duarte, o Johnny.

Sem Stress
Crie um clima de harmonia entre você e o cachorro,
utilizando uma música bem suave ou optando
apenas pelo silêncio. Seu companheiro canino vai
ficar relaxado, comportando-se muito bem na hora
das fotos.

Dentro de casa
Fotografar o cachorro dentro de casa pode ser uma
opção, mas você precisa de um ambiente muito
bem iluminado e de uma câmera digital que
permita elevar o ISO para pelo menos 800. Mesmo
assim, corre-se o risco da foto ficar granulada.

Janelas
Procure não colocar o animal na frente de janelas e
vitrôs. A câmera pode fazer uma leitura errada da
luz, danificando as fotos. Nesses casos, o uso do
flash não é recomendável, pois contribui para a
perda de profundidade.
Luz Ideal
Fotografar no sol é um pouco complicado, pois ele
é muito agressivo e atrapalha o processo. O ideal é
tirar fotos durante o amanhecer ou ao entardecer.
São os horários em que temos uma melhor
temperatura. Tente um dia nublado, que
proporciona naturalmente um equilíbrio de luz
natural.

Sol e Sombra
Se você está em busca de fotos mais bonitas,
escolha um lugar onde se possa mesclar sol e
sombra. Com esses dois extremos, a fotografia
ganha mais vida e o resultado será inesquecível.

Imite
Sente-se, ajoelhe-se, não importa. Fotografe seu
amiguinho como se ele fosse do seu tamanho. Viva
um dia de cão e você não vai se arrepender.

Convivência
Conviva com seu cão, teste ele em algumas
situações. Avalie as reações do animal e quando
você estiver entendendo como ele pensa é hora de
tentar fotografá-lo. Tente novos ângulos, procure
expressões inusitadas e fixe os olhos no seu animal
de estimação.
Dicas para você cuidar melhor de
seu cão

Não é preciso analisar pesquisas científicas para


saber que o homem recorre, cada vez mais, aos
animais de estimação, principalmente os cães, para
suprir a carência afetiva. Tal fato não se restringe
apenas aos solteiros. Homens casados, noivos e
namorando não desgrudam do seu cachorro. As
evidências estão dentro das casas, nas portas dos
pet shops e, é claro, nas áreas verdes.

O cozinheiro Gabriel Zuniga, por exemplo, sempre


leva Dunga, seu fiel companheiro canino, para dar
uma volta no parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Foi lá que eu conversei um pouco com ele. “Ás
vezes, estou chateado, preocupado com alguma
coisa, e o Dunga me distrai, querendo brincar com
suas bolas de plástico ou mostrando-se um atleta
nato, ao correr pela casa. Para retribuir essa
atenção, eu dou um grande abraço”, dispara
Gabriel, acariciando a cabeça do seu cachorro.

Para o veterinário Carlos Éverton Curti, do


Hospital SOS Animal, esse tipo de
companheirismo descrito acima é muito importante
tanto para o cão quanto para o homem, mas o
doutor alerta que é necessário certos cuidados. “Na
relação homem-cão, vale abraçar, passear e segurar
o cachorro no colo, mas nada de dar beijo na boca
ou de morder o animal”, orienta o veterinário.

O que mais podemos fazer pelos nossos cachorros?


Será que vale a pena bater um papo com nosso
companheiro peludo? O doutor Carlos acredita que
sim. “É perfeitamente normal as pessoas
conversarem com os cães, tem gente até que fala
com plantas, estátuas e diários”, exemplifica.
Mas, sobre quais assuntos devemos conversar com
nossos companheiros? No meu livro Como mimar
seu cão, lançado recentemente pela Editora Zouk,
eu recomendo que os diálogos durem no mínimo
duas horas por dia e abordem temas variados, desde
política, economia, mas passando pelos
lançamentos caninos, é claro.

O cão, digamos assim, consegue entender tudo o


que nós falamos durante uma conversa? De acordo
com o veterinário Fabiano Braz, da Pet Center
Marginal, eles não têm essa capacidade, mas sabem
diferenciar um elogio de uma bronca, por meio
tom, volume e intensidade da voz dos donos.

Será que um bate-papo é suficiente? Talvez, mas há


quem prefira ir além e até cantar uma música para
seu cão. É o caso de Homero Baroni, ex-
participante do programa Fama, da TV Globo. “O
Toby deita no chão, encosta a cabeça no tapete e
espera eu pronunciar as primeiras palavras. Ele fica
atento, olhando pra mim, como se estivesse
assistindo a um bom show. Quando a música
termina, meu amigo se levanta e sai circulando pela
casa, como se estivesse procurando algo. O Toby é
muito engraçado, divertido e inteligente”, alegra-se
Homero, que pensa em gravar uma música para seu
cão.

Cantorias a parte, uma outra preocupação que


devemos ter com nossos companheiros caninos é a
de escolher um bom alimento pra ele comer. Uma
rápida visita a um pet-shop encontramos estantes
cheias de rações, oferecendo alimentos com os
diversos tipos de nutrientes. Mas, como comprar a
ração mais apropriada?

De acordo com a veterinária Renata Vanzo Carron,


da Central de Distribuição Royal Canin, o dono
deve escolher o alimento em decorrência do porte,
idade, estado fisiológico, atividade e raça do
cachorro. “Os alimentos Super Premium são os
mais indicados, por serem perfeitamente
balanceados e terem uma ótima combinação de
nutrientes”, recomenda

Vamos a outra dica. Essa informação vai para os


donos fumantes: a Universidade de Brasília (Unb)
concluiu recentemente um estudo e observou que
os animais de quatro patas podem apresentar tosse
e bronquite se os donos fumam diariamente.
Portanto, anote um recado: quando você colocar
um cigarro na boca, tranque-se no quarto e contrate
um profissional para tomar conta do cão. Afinal, o
melhor amigo do homem também precisa se
divertir, correr atrás de bolinhas e morder o
tornozelo da vizinha.

Vale uma última recomendação: se você seguir


todas essas dicas e se apegar demais ao seu
companheiro canino, não fique preocupado. A
relação entre homens e cães normalmente só traz
benefícios, defende o veterinário Fabiano Braz, da
Pet Center Marginal. “É impossível encontrarmos
uma amizade tão sincera e fiel quanto à existente
entre o homem e o cachorro”.
Proteja seu cão, antes que seja tarde

Quando você for ao trabalho, não se esqueça de


fechar as janelas e trancar todas as portas. É nesse
momento, longe do dono, que o cão procura novas
aventuras. Basta alguns passos e uma pequena
força para ele se arremessar como se fosse um
pássaro bêbado. O resultado?

Guilherme Angelo não consegue esquecer-se do dia


em que Scobby, um beagle ciumento, se atirou da
varanda. “Ele caiu no concreto. Corri pela escada e
fui ao encontro de meu companheiro, mas ele
estava todo ensangüentado. Rapidamente, levei
Scobby ao Hospital Veterinário e vi, com tristeza,
ele passar vários dias internado. Foi um dos piores
momentos da minha vida”, relata o empresário,
segurando uma foto de seu amigo canino.

Hoje, o cachorro está bem. Mas, Guilherme sente-


se culpado e pede conselhos para evitar uma nova
queda de Scobby. A veterinária Angelina
Rodrigues, do Pet Shop AuAu Mania, orienta: “não
adianta trancar o animal num único lugar, pois ele
pode enfrentar sol ou frio. O ideal é colocar tela em
todo apartamento, inclusive nas varandas. Isso vai
resolver o problema”.

Assim como Scobby, o norwicht terrier Lelus, de


seis anos, já viveu algumas aventuras, longe e perto
de seu dono. “Ele é um cão muito assustado. Se o
vizinho usa a furadeira, o Lelus foge para debaixo
da cama. Agora, se eu ligo o rádio ou o secador que
ele abaixa a orelha, o cachorro encolhe o rabo e
foge para a cozinha, como se tivesse levado uma
bronca. É incrível. Lelus já é um adulto e se
comporta como se fosse uma criança”, desabafa o
auditor Ricardo Silva, que já teve mais de seis cães,
todos da raça norwicht terrier.

Angelina explica que esse tipo de atitude pode estar


relacionada aos primeiros contatos do cão com a
água e sugere: “se o dono quiser, por exemplo, ver
o primeiro banho do animal, ele deve ficar fora da
sala, olhando pelo vidro ou assistindo pela
televisão. Os cães não gostam de barulho e se
sentem incomodados. Felizmente, na relação
homem-cão, pode-se curar os traumas com bastante
carinho e uma certa dose de cuidado”.

No decorrer dos anos, alguns cães chegam até a se


acostumar com os ruídos. É o caso do labrador
Ingale, de seis anos, que sai correndo em direção á
porta toda vez que escuta a campainha tocar. “Ele
não leva sustos, espera eu abrir a porta e recepciona
a visita”, diz o radialista Benjamin Back, o Benja,
do programa Estádio 97, acrescentando que, ao
contrário de muitos cães, Ingale não sente medo
quando ouve o barulho de um secador ligado.

Se o seu cachorro se comporta como o animal de


estimação do Benja, você já tem um problema a
menos para se preocupar. Mas, não dê um sorriso
agora e preocupe-se em olhar todas as tomadas de
sua casa, aconselha o veterinário Leandro
Murakami. “Elas precisam de protetores, dessa
forma o cachorro não toma choque. Vá a uma loja
de artigos de R$ 1,99. Lá, você vai encontrá-los.

A veterinária Angelina, do Pet Shop AuAu Mania,


vai além e alerta que o cão pode ter queimaduras
graves ao morder um fio que transporta energia
elétrica. Portanto, vale uma dica: chame o
eletricista e faça uma check-up no seu apartamento.
Tenha certeza que todos os fios estão presos e
longe do focinho canino.

Pronto, agora você já está preparado para ir ao


trabalho e até mesmo tirar as férias, vencidas há
pelo menos dois anos. Só não se esqueça de trocar
a água do cachorro e de colocar mais ração no pote.
Ah! E se possível, peça para o vizinho não ligar a
furadeira. Veterinários alertam que o cachorro pode
se assustar e entrar numa profunda depressão.
Tire o seu cão de casa e leve...

Já se passou o tempo em que o cachorro passeava


somente no parque ou dentro de carroça, agora o
peludo pode circular em padaria, restaurante,
shopping e até mesmo em áreas verdes construídas
para atender aos desejos dos cães. Dá pra acreditar?

O dócil golden retriver Argos, por exemplo, gosta


de passar o fim-de-semana num sítio, uma espécie
de hotel fazenda para cachorros que oferece
estrutura de hotel cinco estrelas, com moradias
individuais e alimentação balanceada. “Lá, ele se
diverte o tempo todo, aprende brincadeiras
diferentes e faz novos amigos. Sinto saudades, mas
sei que Argos é bem tratado e gosta de ir ao sítio”,
justifica Marcos Nogueira, que convive com o
peludo há mais de seis anos.

Esse mercado está super aquecido! Cada vez mais,


os donos vêm procurando os hotéis fazendas para o
cão se distrair e relaxar. Apostando na segmentação
desse nicho, o veterinário Aldo Macellaro Junior
fez inovações no seu Clube de Cãompo,
implantando atendimento diferenciado para cães de
pequeno porte, que contam com veterinários e
podem circular livremente pelos 60.000 metros
quadrados do hotel. “Além do carinho do dono, o
cão precisa de atividades físicas, uma boa ração,
água fresca e cuidados veterinários, incluindo
vacinas e vermífugos”, esclarece Aldo, que
inaugurou o Clube de Cãompo em 1996.

Rafael Pattoli já pensou em levar o yorkshire


Brutus a um hotel fazenda, mas mudou
rapidamente de idéia. “Eu quero ficar sempre ao
lado dele, dando amor e carinho. Mas, sei que meu
companheiro gosta de conhecer lugares inusitados
e, ás vezes, levo-o para almoçar num lugar
diferente e aconchegante”, diz Rafael, referindo-se
ao Via Café, um restaurante que está sempre cheio
de cães, das mais variadas raças, tamanhos e cores.
“Uma vez, Brutus fugiu da coleira e foi em direção
à mesa do lado, onde havia um chow-chow
aparentemente feroz. Os dois, um cão pequeno e o
outro grande, latiram durante alguns minutos. Foi
engraçado. O Brutus estava muito á vontade, agia
como se estivesse em casa. Acho que ele está
preparado para freqüentar qualquer tipo de lugar”.

Pode ser, Rafael, mas a veterinária Fernanda


Cioffetti, da Pet Society, alerta que alguns cães
estranham os locais desconhecidos. “Podemos
evitar tais transtornos condicionando e treinando
estes animais desde pequenos a freqüentarem
ambientes diferentes e também a conviverem como
outras pessoas e animais”, explica Fernanda,
lembrando que os cachorros devem usar sempre a
placa de identificação com o número do registro
animal. “Se o cão for bravo ou apresentar um
comportamento hostil, recomendo ainda a
instalação da focinheira. Este procedimento deve
ser considerado ato de amor, pois preserva a saúde
e segurança dos nossos melhores amigos”.

Se não quiser levar o cão a restaurante e clube de


campo, o dono tem a opção de passear com ele em
shoppings, tais como o Frei Caneca, localizado na
cidade de São Paulo. Pode-se passear por todas as
dependências, exceto a praça de alimentação e
áreas fechadas, como cinema e teatro.

Mas, tantas novidades assim não parecem empolgar


alguns donos de cães. O professor de dança David
Gomes, por exemplo, mostra-se perdido e ainda
pensa na possibilidade de levar o peludo a um lugar
diferente. “Quando vamos ao pet shop comprar
ração e um brinquedo novo, a Thita vai junto. Mas,
ela não freqüenta restaurantes e shopping. Se algum
dia ela pedir, nós vamos conversar e tomar uma
decisão em família, como sempre fizemos”.

David, é bom você se apressar. Os empresários do


segmento canino não param de ousar.
Recentemente, eles inauguraram um motel
especializado para cães, o Pet Love Motel, que
surpreendeu conceituados veterinários e agradou os
cachorros que sonhavam com uma noite de núpcias
mais confortável.

Agora, é só esperar. Logo, logo teremos um planeta


canino, uma piscina especialmente construída para
os peludo e, é claro, uma casa na árvore para eles
brincarem nas horas vagas. Quer apostar?
Já existe....
uma rádio online que conversa com o público
canino. Anote o endereço:
www.dogcatradio.com.br;

aparelho dentário para os peludos terem um sorriso


perfeito e uma mordida pronta para devorar os
ossinhos;

uma profissional, especializada em tomar conta dos


cães. O nome dela? Baby Dog. Não deixe de
consultar os anúncios;

táxi adaptado para transportar os orelhudos. Preço:


aproximadamente R$ 1,50 por quilometro rodado.

mais pet shop do que farmácias, na cidade de São


Paulo. Agora, você vai encontrar um veterinário
perto de sua casa.
Transforme seu animal de
estimação em um manequim

Calma, leitor, não se espante com o título desta


matéria. Uma nova moda vem, aos poucos,
ganhando força nas vitrines dos pet shops de todo
Brasil. É a utilização de manequins que seguem
fielmente as características caninas e deixam os
donos de cães realmente curiosos. Não é pra
menos. Focinho, rabo, orelha, olhos e patas. Tudo
em tamanho e expressões originais. O cachorro só
falta latir!

Conversamos com Fábio Gubeissi, proprietário da


Dog Models, empresa que vem investindo nesse
mercado. O empresário revelou os segredos que são
utilizados durante a fabricação dos tais manequins
e, a partir de agora, você vai poder eternizar o seu
companheiro de estimação.

Primeiro, faça uma escultura, utilizando uma massa


italiana e um esqueleto metálico. Depois, para dar
mais riqueza aos detalhes, confeccione um molde
em fibra de vidro e silicone. Desse molde, tire as
cópias em fibra de vidro. Num último passo, pinte
o manequim com um revólver de tinta e o maquiei
com aerógrafos.
Se você não conseguir fazer em casa, não se
desespere. A Dog Models confecciona manequim
de labrador, pit bull, poodle e dauchshound, que
custam de R$ 400 a R$ 660, com pronta entrega.
Ainda há a opção de se fazer, digamos assim,
encomendas especiais. Nesse caso, o valor do
investimento canino chega a respeitáveis R$ 5.000.

Gostou da sugestão? Então, vá em frente. Fábio


Gubeissi explica que todas as raças podem virar
manequins, independente do tamanho e da
quantidade de pêlo do cachorro. Essa idéia deu tão
certo que o empresário estendeu o procedimento a
outras espécies. É o caso de gatos e pássaros, que
também podem ser eternizados. Mas, a lista não
pára por ai. Gubeissi confessa que já recebeu
alguns pedidos inusitados. “Certa vez, um cliente
quis fazer um manequim de um preá, mais
conhecido como porquinho da índia”.

Achou essa idéia um pouco estranha? Aqui vai


mais uma sugestão: que tal o seu pet seguir a
carreira de modelo? Isso mesmo, o cachorro vai
brilhar nas passarelas e conquistar o mundo da
fama. A Pet Center Marginal, por exemplo, realiza
desfiles com os mais diversos tipos de raças. Em
um primeiro passo, os cães são inscritos pela
Internet e participam de uma prova de roupa, na
qual os pets são escolhidos. “No dia do evento,
cada participante deve chegar com
aproximadamente 30 minutos de antecedência para
trocar seu animal e se preparar para entrar na
passarela, de acordo com a ordem definida no
roteiro”, detalha Eugênia Fonseca, gerente de
marketing da loja.
Mas, há uma técnica especifica para se desfilar?
Eugênia garante que não. “O ideal é que o animal
fique em cima da passarela e o dono no chão
apenas conduzindo o pet”, aconselha. Os desfiles
caninos são realizados, normalmente, quando
ocorrem as trocas de coleção de roupas, na
passagem da primavera para o verão e do outono
para o inverno. Então, anote na agenda e prepare-
se. Seu cão ainda vai virar uma celebridade!
Você consegue entender o seu
cão?
O cachorro não late apenas para espantar baratas ou
para intimidar um outro companheiro peludo. O
som de um animal de quatro patas pode dizer
muitas coisas, surpreendendo até mesmo os
especialistas no assunto. Calma! Não fique nervoso
e deixe a carteira em cima da mesa. O pulguento
não está interessado em dinheiro, mas sim em
comida, brincadeiras e, é claro, muitos abraços.

As irmãs Debby e Diana, muito bem cuidadas por


Thomas Büttcher, deitam-se no chão, esticam as
patas dianteiras e disparam um forte latido sempre
que o guitarrista da banda Bastardz faz alguma
apresentação barulhenta em seu quarto. “Olho para
elas e tenho a sensação de que não estão gostando
do som. É uma pena, pois eu as adoro muito, trato
como se fossem minhas filhas”.

Calma, Thomas, não é bem assim. Debby e Diana


podem estar pedindo um pouco mais de carinho,
esclarece a veterinária Carolina Dias Gimenez, da
Pet Center Marginal. "O cão é capaz de chamar a
atenção do dono sempre que necessário. Mas
somente tendo uma boa convivência com o
cachorro, é que o proprietário aprende a linguagem
de seu animal de estimação e a comunicação flui
naturalmente”.
Mas, vamos adiante. Afinal, a comunicação canina
não fica apenas nos ruídos, garantem os estudiosos.
É bastante comum os quadrúpedes usarem uma
parte do corpo, por menor que ela seja, para pedir
algo. A bichon bolonhês Brida, por exemplo,
encosta o focinho na perna do cineasta Carlos
Reichenbach para dizer que está com vontade de
passear. “Se eu não atendo aos cutucões de minha
pequena e inteligente amiga, ela chora
desesperadamente. Meus três filhos já passaram
dos vinte e cinco anos e ela com certeza se tornou a
criança da casa”, relata o diretor, que se mostra um
grande defensor da raça canina. A prova disso são
os números: ele já dividiu o lar com mais de trinta
cães, das diversas raças e tamanhos.

Já a maltês Preta, de três anos, usa os dentes


afiados e lasca uma mordida no ator Marcelo
Médici na tentativa de impedir a ida dele ao
trabalho. “Ela segura o meu calcanhar com força,
mostrando a sua insatisfação. É uma verdadeira
guerra que enfrento dia-a-dia. Mas, quando percebe
que vai junto, Preta se transforma e abana o rabinho
para dizer que está feliz”, dispara o ator, um dos
destaques da novela Belíssima, da TV Globo.

Marco Antonio Gioso, professor de veterinária da


Universidade de São Paulo (USP), observa que há
exceções. “Alguns animais abanam o rabo também
quando estão estressados ou para revelar uma
irritação. Não há uma regra para esse tipo de
comportamento canino. É preciso estudar caso a
caso”.

Tentar identificar o que o pulguento quer dizer ao


abanar o rabo é tão difícil para o dono de cachorro
quanto acertar a mensagem que o peludo passa ao
mexer as orelhas. Tal complexidade motivou o
desenvolvimento de estudos e mais: vem
encucando veterinários, que buscam explicar a
comunicação canina. “Cães não são gente, por isso
se comunicam também com as orelhas, levantando-
as para prestar atenção em alguma conversa e
abaixando-as para mostrar submissão ao dono ou a
outro cachorro”, exemplifica Marco, destacando
que os quadrúpedes também se comunicam através
dos olhos.

O guitarrista Thomas e o ator Marcelo sabem muito


bem disso. “Debby e Diana lançam olhar de tristeza
quando querem um abraço. Elas são corajosas,
pacientes, observadoras, amorosas e mansas, apesar
de pertencerem á raça pastor alemão. Com grande
freqüência, eu faço uns agrados para retribuir a
dedicação de minhas companheiras”, diz o
integrante dos Bastardz.

Marcelo também cede aos encantos de Preta.


“Quando eu chego das gravações da novela, os
olhos de jabuticaba de minha amiga mostram que
ela quer brincar. Preta vai até a caixa de
brinquedos, escolhe uma bolinha e vem correndo
em minha direção. Tiro o objeto da boca dela e
arremesso longe. Preta trás a bolinha de volta e a
brincadeira recomeça. Ela é um ótimo cão de
companhia, mostrando-se, na maioria das vezes,
muito dócil e carinhosa”, elogia o ator, que é
membro da Suipa, uma entidade que protege os
peludos.

Depois de saber que os cães se comunicam pelo


latido, mordida, orelha e rabo, você deve estar se
perguntado: os cães não dão risadas? Os
veterinários consultados foram unânimes: não, os
peludos não exibem um sorriso, apesar de abrirem
a boca e de colocarem a língua para fora.

Bom, deixamos os sorrisos de lado e, agora que


você aprendeu mais sobre a linguagem canina, não
descuide: o seu companheiro pode reservar
algumas surpresas não muito agradáveis, alerta o
veterinário Marco Antonio Gioso. “Se não forem
compreendidos, os cães podem rasgar todo o papel
higiênico do banheiro, destruir o portão da casa,
fazer as necessidades em local não habitual e
quebrar algumas coisas”.
Cães ajudam bombeiros

Na animação “As Bicicletas de Belleville”, Bruno


ajuda Madame Souza a encontrar um garoto que
desapareceu durante a Volta da França, uma
importante competição ciclística. Se fosse um dos
cachorros da Unidade de Cães do Primeiro
Grupamento de Bombeiros de São Paulo, Bruno
teria que fazer muito mais. A começar pela
participação num rigoroso treinamento.

O pastor belga Thor e os labradores Agatha,


Samantha e Thabata receberam instruções durante
dois anos e só depois participaram da primeira
busca. “Inicialmente, ensinamos o cão a gostar de
um determinado brinquedo. Mais tarde, aplicamos
uma dose de odor no objeto e o escondemos no
meio de escombros ou debaixo da terra. O
cachorro, então, sente o cheiro, que pode ser
composto por sangue, adrenalina, decomposição ou
suor, e vai farejando até encontrar o que foi
escondido. Fazemos isso várias vezes, até o cão se
acostumar”, explica o sargento Marcelo Garcia
Dias, informando que, em breve, a Unidade vai
utilizar um produto importado dos Estados Unidos.
Trata-se de um odor sintético e específico para o
treinamento de cachorros.

A idéia de se ter uma Unidade de Cães para o


Corpo de Bombeiro surgiu em 1996, após um
vazamento de gás explodir o Osasco Plaza
Shopping, matando mais de quarenta pessoas e
ferindo outras quatrocentas. Mas, somente em
1998, é que ela foi criada e o Brasil seguiu os
exemplos de outros países, como França, Bélgica e
Egito. A regularização oficial veio em 2001,
conferindo á Unidade o título de ser a primeira a
treinar cães no Brasil para buscas e salvamento. Em
Alagoas, o Corpo de Bombeiros já utilizava
cachorros adestrados, mas eles eram comprados na
França.
No início, a Unidade contava com uma viatura e
mais quatro cães; hoje são nove. Desses, pelo
menos quatro são acondicionados em caixas
especiais e colocados dentro do veículo toda vez
que o alarme do canil toca e a equipe do Corpo de
Bombeiros é chamada para uma nova busca.
“Chegando ao local, liberamos o teatro, afastando
os curiosos e o cão entra em ação, farejando tudo e
delimitando a área de busca. Ele nos diz onde está
sentindo odor, evitando que a equipe perca tempo e
aumentando as chances de um possível salvamento.
Nós retiramos esse cachorro e executamos esse
trabalho com um outro cão. Se ele apontar o
mesmo local, fazemos a marcação com uma
bandeirinha e a equipe de trabalho executa
exploração, retirando o escombro, cavando e
localizando a vítima”, relata Dias.

A eficácia do cão é muito grande. São raros os


casos em que ele não sinaliza exatamente onde a
vítima está escondida. O sargento se lembra de um
episódio: “a vítima estava num local oposto ao que
o cão indicava. Motivo: o cheiro do corpo entrava
num cano e saia pela outra extremidade. Mas, o
cachorro estava certo, ele mostrou onde havia a
maior incidência de odor. O cachorro é uma
ferramenta essencial para se delimitar áreas”.

As buscas, normalmente, são muito rápidas.


Enquanto uma equipe pode levar dias procurando
algum vestígio, os cães gastam poucos minutos
para descobrir corpos. Dara, uma mestiça de
lavrador e golden, levou três horas para ajudar o
Corpo de Bombeiros a encontrar nada menos do
que doze pessoas enterradas. A bravura rendeu á
cadela o título de “Cão Herói 2005”, um importante
prêmio disputado anualmente por cachorros que se
destacaram em suas atividades.

Até o momento, a unidade de cães do Corpo de


Bombeiro já participou de dezessete ocorrências
em diversas cidades, tais como São Paulo, Rio
Claro, Iguapé e Santos. No total, foram localizadas
vinte e três vitimas. Mas, tudo indica que esse
número vai aumentar em breve. Além de utilizar
cães para encontrar corpos enterrados ou presos em
escombros, a unidade quer contar com a ajuda dos
cachorros para salvar pessoas perdidas na mata ou
prestes a se afogar em rios. “Os treinamentos já
começaram, mas ainda não sabemos quando os
cães estarão prontos para executar nesse novo tipo
de trabalho. Talvez daqui a dois anos”, diz o
sargento Marcelo Garcia Dias, que aguarda ansioso
pela novidade e segue uma filosofia, estampada nas
paredes do Corpo de Bombeiros: “quem não vive
para servir, não serve para viver”.
“Infelizmente, as vítimas estavam
mortas”

O cabo Sidnei Sampaio, membro da Unidade de


Cães do Primeiro Grupamento de Bombeiros de
São Paulo, parece ter se acostumado com a morte.
As mãos em movimento e os olhos tranqüilos
demonstram que ele tem muitas histórias para
contar, histórias sem final feliz. Uma coçada no
queixo, o gravador do repórter sendo desligado e
uma longa pausa para relembrar dois
acontecimentos.

O primeiro ocorreu no início de 2005, na avenida


Washington Luiz, perto do Aeroporto de
Congonhas, em São Paulo. “Três operários estavam
trabalhando e um muro caiu, soterrando um deles.
A viatura chegou, e, em menos de um minuto, o
cachorro localizou o trabalhador, que infelizmente
já estava morto”.

O segundo caso foi um deslizamento de terra na


Vila Alpina, em São Paulo. “Uma pessoa caiu e
ficou soterrada até a cintura. Logo depois, houve
mais deslizamento e a vítima desapareceu. O local
era de difícil acesso, abrigando-nos a descer uma
escada com os cães no colo. A cadela Dara
procurou a vítima e rapidamente indicou o local
onde ela estava. Infelizmente, não podíamos usar
escavadeira para agilizar o trabalho e a pessoa
acabou falecendo”.
“Os cães estão apenas brincando”

O adestrador Alexandre Rossi, especialista em


comportamento canino e consultado diversas vezes
pelas polícias inglesa e irlandesa, contou, em
entrevista exclusiva, quais os tipos de cães que
podem ser utilizados para encontrar cadáveres e
revelou ainda detalhes sobre os treinamentos que
são realizados. Acompanhe os principais trechos:

A polícia sempre utiliza cães para vasculhar


escombros e encontrar pessoas mortas ou
desaparecidas. Há algum motivo específico?

O bulbo olfativo dos cães, parte do cérebro


dedicada à interpretação dos odores, é muito maior
do que o dos seres humanos, propiciando assim
habilidades incríveis para procurar pessoas e
objetos. Além disso, o focinho de um cachorro é
composto por células especializadas em
determinadas moléculas. A combinação delas dá
origem ao olfato e ativa uma rede neuronal para
processar uma informação no centro emocional.
Dessa forma, o cachorro sente primeiro a emoção e
só depois age, tirando alguém dos escombros ou da
água. Ele sabe que encontrou algo e que cumpriu o
que foi solicitado, mas não tem a noção de que está
salvando uma pessoa.

Há raças que podem ser utilizadas para esse tipo


de trabalho como as de focinho comprido?
O focinho comprido tem mais células em contato
com o ar e com as moléculas que serão analisadas.
Por isso, as raças que têm essa característica são
normalmente utilizadas, tais como o Pastor,
Labrador, Cocker e Beagle. Pode-se usar macho e
fêmea. É comum se castrar, mas não é necessário.
Vale frisar que a raça não é o mais importante. O
que conta bastante na hora de se selecionar os
animais é a anatomia do nariz e o temperamento do
cão.

Você pode definir melhor essa questão de


temperamento?

O cachorro tímido e calmo, como o Bloodhound,


não é recomendável, pois os corpos precisam ser
encontrados com rapidez e o cão não pode
demonstrar insegurança. O ideal é utilizar um
animal autoconfiante e não-dominante para
vasculhar lugares perigosos e acatar ordens,
examinando o local indicado pelos policiais. Ah! E
esses cães não podem ser agressivos, pois,
normalmente, são tratados como heróis e convivem
até mesmo com crianças. Outro elemento
importante: o cachorro precisa também ser um
persistente nato, alucinado por encontrar coisas e
não desistindo em hipótese alguma. É claro que
tem limites: se o policial percebe que não há
pessoas desaparecidas no meio do escombro, deve
imediatamente pedir a alguém para se esconder.
Caso contrário, se não encontrar uma pessoa, o cão
pode ficar frustrado e perder a motivação para
brincar. Tudo isso não passa de uma grande e
divertida brincadeira. O cachorro adora vasculhar
escombros e encontrar gente.

Como os cães são treinados? Existe uma técnica


determinada?

No caso de treinar um cão para encontrar


cadáveres, as lições são executadas com partes de
um corpo, que são muito bem escondidas. Pode-se
colocar um dedo dentro de uma bolinha, esconder e
orientar o cachorro a fazer uma busca. Depois, tira-
se a bolinha e esconde apenas o dedo. Se o
cachorro encontrar, ele ganha a bolinha. Já se o
objetivo é preparar o cão para salvar uma pessoa
viva, normalmente, escondemos um objeto com
cheiro de alguém. O cachorro encontra e, mais
tarde, esse objeto é substituído pela própria pessoa,
que se esconde até ser encontrada pelo cão. É muito
comum fazermos treinamento discriminativo:
colocamos uma pessoa viva e um corpo, lado a
lado. Se o cachorro recebe orientações para achar
um cadáver e vai ao encontro de uma pessoa viva,
ele não ganha a recompensa. Agora se cumpre a
missão, normalmente damos um brinquedo para
mostrar que o cachorro fez tudo direitinho.

Pode-se dizer então que esse tipo de treinamento é


baseado no conceito de Adestramento inteligente?
Com certeza, esse conceito é bastante utilizado no
decorrer dos trabalhos. O cachorro está brincando e
aprende as coisas quando recebe um presente ou
quando deixa de ganhá-lo. Ele aprende por conta
própria e, em nenhum momento, é forçado a
memorizar alguma coisa. Trata-se de uma completa
diversão.

Certo, mas o cachorro pode ter traumas após


realizar várias vezes o trabalho de farejar e
procurar pessoas?

Enquanto está trabalhando, ele é o cão mais feliz do


mundo. É claro que pode se machucar ao entrar em
buracos, mas o dano maior é deixar os cães em
canis pequenos ou guardados em ambientes
isolados. Os cachorros precisam da companhia de
outros cães e também de treinos constantes para
evitar desmotivação.
POEMAS
Melhor pra nós

É, se cantasse o hino,
Sob o sol a pino,
Anuncia camarada
A busca da namorada.

É, se vivesse sonhos
Sonhos de seu hino,
Hino de verão!

Verão escala serra,


Sobe curva,
Passa marcha,
Come terra.

Verão que evoca o grito.


Olha o grito
do verão.
Cuidado,
Camarada,
Já é sua namorada.

Verão que evoca o grito.


Olha o grito
do verão.
Cuidado,
Camarada,
Já é sua namorada.
Depois, vem o outono,
Da folha amarela,
Esse é nosso beijo
Que nunca esfarela.

Depois, vem o outono,


Da folha amarela,
Esse é nosso beijo
Que nunca esfarela.

Chega o inverno,
E vem frente fria,
Seus braços me livram
De uma certa agonia.

Chega o inverno,
E vem frente fria,
Seus braços me livram
De uma certa agonia.

É, se cantasse o hino,
Sob o sol a pino,
Anuncia camarada
A busca da namorada.

É, se vivesse sonhos
Sonhos de seu hino,
Hino de verão!

Amor de última cifra,


Quero desligar,
Abrir os livros,
simplesmente recitar.

Vou deixar assim,


Só na poesia.
Cheia de pronomes
É Mágica,
palavra,
abra-cadabra.

Vou deixar assim.


Só na poesia!
É o melhor,
pra tu,
Melhor pra nós,
Melhor pra mim.

Vou deixar assim,


Só na poesia.
É o melhor,
pra tu,
Melhor pra nós,
Melhor pra mim.
Pecado

Se você tivesse um pecado


Oh! Que lindo, mais belo, pecado
O pecado que me faz sonhar
Sonhar com o mais lindo e belo pecado.

Se você tivesse inveja


Oh! Que mágica, mais linda inveja
A inveja que me faz desejar
Desejar a linda, mais mágica inveja.

Se você tivesse ódio,


Oh! Que preciso, mais seleto ódio.
O ódio que me faz amar,
Amar o seleto, mais preciso ódio.

Se você tivesse um vício,


Oh! Que puro, mais raro indício,
O vício que me faz apaixonar,
Apaixonar o raro, mais puro indício.

Se você pedisse perdão,


Da minha parte, teria não,
Viver como alguém assim,
É necessário completar o gim.

Se você pedisse perdão,


Da minha parte, teria não,
Viver como alguém assim,
É necessário completar o gim.
O Sonhador

Da calçada,
Acenaram,
era um cálice de vinho,
sorriso nas hastes,
pedia amor.

Sonhador, como sou


Logo imaginei
Beijos no rosto, abraços
Me entreguei.

A bela imagem,
rápido, criou.
Pra deletei do poeta,
que nunca se apaixonou.

A bela imagem,
rápido, criou.
Pra deletei do poeta,
que nunca se apaixonou.

Aos lados, apertou


Com todo pudor.
Ah! Ele queria
Fugir da dor.

Aos lados, apertou


Com todo pudor.
Ah! Ele queria
Fugir da dor.
Queria ser mais feliz,
Olhar o horizonte,
Inquieto,
mais completo.

Queria ser mais feliz,


Olhar o horizonte,
Inquieto,
mais completo.

Sem perder a esperança,


acena para o cálice,
e ele se vai.

Admira-o com um simples olhar,


acho que o poeta,
acaba
de se apaixonar.
Sou Louco
Ah! De apagar,
o contorno dos lábios,
entorno da luz.

Ah! Decifrar,
Uma história tão bela,
Singela,
Me faz namorar.

Ah! Devorar,
Cada canto,
Sou louco,
Meu bem, vem pra cá.

Ah! Vou beijar,


Sou louco,
Meu bem, vem pra cá.

Ah! Vou beijar,


Sou louco,
Meu bem, vem pra cá.
Momentos como esse

Luzes de Lindos Lábios,


Raios Tênues e Cristais,
Momentos de Desejada Dor,
Fantasias e Mágicos Sonhos.

És tão bela e insensata,


Carícias sem abraços,
Dores de belas canções,
Beijo, sensações.

Venero-a como uma flor,


Puras luzes obscuras,
Tua rara beleza.

Desejos como esse,


jamais terei.
Pensar em você,
não morro por quê?
Retoque

Poema em branco,
garrancho,
ai, que me perdoar.

Sonhos, repletos,
vozes
você, calado,
e os gestos?

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