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SANITÁRIOS
Tire chips – a gravel substitute in sanitary landfills
GOMES, ANA
Mestranda em Eng. Sanitária, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Monte da Caparica,
amvgomes@gmail.com
SILVEIRA, ANA
Docente do Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente e Orientadora da Dissertação de Mestrado, Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Monte da Caparica, ais@fct.unl.pt
CABEÇAS, ARTUR
Docente Auxiliar Convidado do Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente e CoOrientador da Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Monte da Caparica, a.cabecas@adp.pt
Resumo
Pneus usados podem ser transformados em material para ser utilizado em aplicações de
engenharia civil ou geotécnica, tais como aterros sanitários (e.g. cobertura diária alternativa,
camada de drenagem, recolha de biogás). No entanto, é importante que se investigue a
compatibilidade física deste material aplicado num aterro sanitário e se este não causa nenhum
dano ambiental. Esta investigação focase na possibilidade dos chips de pneus poderem constituir
um substituto da brita nas camadas de drenagem do sistema de selagem de um aterro sanitário.
As propriedades químicas dos chips de pneus foram estudadas através da determinação da
lixiviação de metais em água a pH distintos. Al, Fe, Mn e Zn foram os metais que lixiviaram em
concentrações maiores. As propriedades físicas estudadas foram a compressibilidade e a
permeabilidade, bem como a possível relação entre estes parâmetros.
Palavraschave: Pneus Usados, Valorização, Chips de Pneus, Aterros Sanitários
Abstract
Tire waste can turn into material to use in civil and geotechnic applications, such as sanitary landfill
(e.g. alternative daily cover, drainage layer, biogas collection). However it is important to
investigate the physical compatibility of this material on landfill and verify that it doesn't cause
environmental damage. This research focuses on tire chips as a gravel substitute on drainage layer
of a sanitary landfill cover system. Tire chips chemical properties were studied through the
determination of metals leachability by water at distinct pH. Al, Fe, Mn and Zn were the metals that
leached in high concentrations. Physical properties of tire chips studied were compressibility and
permeability, and the possible relationship between these parameters.
Keywords: Tire Waste, Valorisation, Tire Chips, Sanitary Landfills
1 INTRODUÇÃO
Prémio Inovação Valorpneu – Chips de Pneu – Substituto de Brita Calcária em Aterros Sanitários 1
resultantes da valorização destes resíduos em projectos de construção surge cada vez
mais como uma alternativa à eliminação dos pneus usados.
Uma das alternativas da valorização destes resíduos é a reciclagem física, obtendose
daí chips de pneus. Antes da formação do granulado de borracha (quer por processo
criogénico quer por processo mecânico) , os pneus passam por uma etapa de corte, em
que se obtém este material reciclado, constituído por pequenos pedaços de forma
irregular e de tamanho variável.
Em termos de aplicações, um dos possíveis destinos deste material é a sua colocação
em camadas de drenagem das coberturas de selagem de aterros sanitários, em
substituição de um agregado natural, a brita calcária.
1.1 Pneus usados
No que se refere a utilizações especificamente em aterros sanitários, podem ser referidas
as seguintes aplicações: cobertura diária alternativa (havendo ou não mistura de chips de
pneus com terra de cobertura), camada de drenagem da cobertura final, camada
colectora de recolha do biogás, camada de drenagem de lixiviado, e operações de
protecção das camadas (GeoSyntec Consultants, Inc., 1998).
Prémio Inovação Valorpneu – Chips de Pneu – Substituto de Brita Calcária em Aterros Sanitários 2
1.2 Objectivos
O presente projecto tem como principal objectivo verificar a viabilidade da aplicação de
chips de pneus em aterros sanitários, como substituto de um agregado natural utilizado
neste tipo de infraestruturas, a brita calcária.
Para tal, pretende demonstrarse através de um estudo à escala laboratorial, que este
tipo de material apresenta propriedades físicas e químicas, que cumprem os requisitos
dispostos no DecretoLei nº 183/2009, de 10 de Agosto, onde estão descritos os
requisitos técnicos que um aterro sanitário deve apresentar, bem como os requisitos
dispostos no DecretoLei nº 236/98, de 1 de Agosto e no DecretoLei nº 243/2001, de 5
de Setembro, de forma a que se verifique se os chips em contacto com água influenciam
a sua qualidade, no que concerne à presença de metais.
1.3 Estrutura do Artigo
O presente artigo encontrase organizado da seguinte forma: na secção 2 são descritos
resumidamente a problemática e o enquadramento da aplicação de chips de pneus em
aterros sanitários, na secção 3 são descritos os materiais e métodos que permitem
verificar a viabilidade da utilização de chips de pneus em camadas de drenagem destas
infraestruturas, na secção 4 são apresentados e discutidos os resultados, e por último a
secção 5 engloba as considerações finais deste artigo.
2 CHIPS DE PNEUS NA APLICAÇÃO DE COBERTURAS DE SELAGEM EM
ATERROS SANITÁRIOS
Prémio Inovação Valorpneu – Chips de Pneu – Substituto de Brita Calcária em Aterros Sanitários 3
drenante de biogás, por um sistema de impermeabilização artificial, por uma camada
drenante natural (inertes, e.g. brita calcária) ou artificial, e por último, por uma camada de
recobrimento (solos seleccionados e terra vegetal).
No caso da camada drenante, segundo Cabeças e Dores (2008) são, em regra,
utilizados materiais minerais naturais (inertes) para permitir o escoamento e percolação
em grande das águas pluviais precipitadas para o sistema de drenagem pluvial
implantado.
Devido às vantagens que os chips de pneus apresentam, constituindo um material leve,
com baixa condutividade térmica (Humphrey e Katz, 2001), resistente, flexível e
virtualmente não biodegradável (GeoSyntec Consultants, Inc., 1998), este material
apresentase como um substituto adequado na execução da camada drenante de aterros
sanitários.
Segundo Humphrey e Katz (2000), este material tem efeitos negligenciáveis em termos
de influência na qualidade da água, aquando o contacto com água com pH próximo do
neutro, podendo ser utilizado em muitas aplicações de engenharia civil.
Os impactes ambientais a longo prazo são ainda desconhecidos, resultantes da aplicação
deste material em diversas infraestruturas de construção civil (Engstrom e Lamb, 1994).
2.1 Características químicas
Prémio Inovação Valorpneu – Chips de Pneu – Substituto de Brita Calcária em Aterros Sanitários 4
2.2 Características Físicas
Vários têm sido os autores que se se têm debruçado no estudo das características físicas
dos chips de pneus, quer em contexto de laboratório quer em contexto real da aplicação
deste material.
Segundo os resultados da investigação laboratorial de Aydilek et al. (2006), em testes de
compressão intensa, os chips de pneus apresentam valores de permeabilidade
superiores 1 x 105 m/s.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
De acordo com Edeskär (2004), testes de lixiviação realizados em laboratório para a
determinação da concentração de metais poderão fornecer informações úteis em termos
de avaliação de riscos ambientais. Não obstante, importa referir que se tratam de estudos
que geralmente retratam casos no “pior cenário possível” e/ou são efectuados mediante
Prémio Inovação Valorpneu – Chips de Pneu – Substituto de Brita Calcária em Aterros Sanitários 5
determinadas condições, devidamente definidas e controladas, que poderão não ser
extrapolados para situações reais. Os resultados laboratoriais poderão servir de
indicadores de quais serão os componentes expectáveis e aqueles que se espera que
sejam lixiviados em maior concentração.
No que se refere às amostras utilizadas nos ensaios, importa fazer uma breve
caracterização dos chips de pneus e da brita calcária. Os chips de pneus resultam do
processo mecânico de corte, apresentando dimensões variáveis e formas irregulares.
Para o presente estudo foram seleccionados pelo fornecedor da amostra, os pedaços
que apresentavam menores dimensões de forma a não constituírem uma dificuldade
aquando a colocação nos frascos com abertura de diâmetro de 60 mm. Em termos
médios, os chips apresentavam as seguintes dimensões 15 mm x 20 mm. O critério da
dimensão também foi utilizado no caso da brita calcária, pelas razões apresentadas,
sendo que em termos médios as dimensões da brita eram de 25 mm x 20 mm. Importa
referir que na aplicação destes materiais em contexto real num aterro sanitário ou noutro
tipo de infraestruturas, estes materiais apresentam geralmente maiores dimensões.
Figura 3 – Pormenor de chip de pneu para aplicação
Figura 4 – Chips de pneus para serem aplicados
numa camada drenante em Aterro Sanitário
como camada drenante em Aterro Sanitário
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Foram produzidos eluatos resultantes do contacto entre chips de pneus e de brita calcária
com diferentes meios (água com pH neutro, água com pH 4,5 e água com pH 9,0), de
acordo com a Norma Europeia EN 12457/4, nas seguintes condições: os frascos da
mistura entre o meio e a amostra foram colocados num agitador mecânico a 10 rpm
durante 24 horas; a temperatura da sala encontravase a 16 ºC. Em termos de meio de
contacto pretendese verificar que a lixiviação de metais é diferente consoante os valores
de pH do meio.
Findo o período de tempo estabelecido, efectuouse a filtração do sobrenadante, tendo
sido retiradas amostras. Os parâmetros analisados foram o pH e a condutividade
(µS/cm), bem como a análise dos seguintes metais Al, As, Cd, Cr, Cu, Fe, K, Mn, Ni, Pb e
Zn. A determinação da concentração de metais foi efectuada através do método de
espectroscopia de emissão atómica, de acordo com a Norma ENV 12506. No que
respeita ao normativo legal (DecretoLei nº 236/98, de 1 de Agosto), estes metais fazem
parte constituinte da lista de parâmetros físicoquímicos do Anexo VI. Importa destacar
que o Cr, Ni e Pb fazem parte dos parâmetros relativos a substâncias tóxicas. Da lista
dos parâmetros relativos a substâncias indesejáveis constam o Cu, Fe, Mn e Zn.
No que se refere às propriedades físicas dos chips de pneus, pretendese analisar os
parâmetros de compressibilidade, através do qual se pode verificar qual o
comportamento deste material mediante a aplicação de forças. Além disso, pretendese
averiguar se este parâmetro poderá ou não condicionar o parâmetro da permeabilidade.
Tanto a compressibilidade como a permeabilidade do material são propriedades
essenciais que indicam se os chips de pneus poderão ter algum impacte na performance
do sistema de selagem de um aterro sanitário (GeoSyntec Consultants, Inc., 1998).
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 Parâmetros químicos analisados
Apresentamse no Quadro 1 os resultados dos parâmetros químicos analisados. Deste
modo, como teste 1 entendese a mistura de água com pH neutro e chips de pneus,
como teste 2 a mistura entre água com pH neutro e brita, como teste 3 a mistura de água
com pH 4.5 e chips de pneus, como teste 4 a mistura de água com pH 4.5 e brita, como
teste 5 a mistura de água com pH 9.0 e chips de pneus, e por último, como teste 6 a
mistura de água com pH 9.0 e brita.
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Quadro 1 – Testes de lixiviação – resultados dos parâmetros químicos analisados
Teste 1 Teste 2 Teste 3 Teste 4 Teste 5 Teste 6
No Quadro 2 constam valores do Anexo VI do DecretoLei nº 236/98, de 1 de Agosto que
estabelecem os valores máximo recomendados (VMR) e/ou os valores máximos
admisssíveis (VMA), bem como os valores dispostos no DecretoLei nº 243/2001, de 5 de
Setembro e os valores indicativos pela Organização Mundial de Saúde, para os
parâmetros analisados para água de consumo humano.
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Quadro 2 – VMR e VMA para água para consumo humano segundo o Anexo VI do
DecretoLei nº 236/98, de 1 de Agosto, segundo o DecretoLei nº 243/2001, de 5 de
Setembro e segundo os valores indicativos da OMS
Condutividade (µS/cm) 400
As (µg/l) 50 10 50
Cd (mg/l) 5 5 5
Cr (µg/l) 50 50 50
Fe (µg/l) 50 200
K (mg/l) 10 12
Mn (µg/l) 20 50
Ni(mg/l) 10 12 20
Pb (µg/l) 50 5.0
No que se refere aos parâmetros analisados As e Cd, em todas as amostras não foi
detectada a presença destes metais, permitindo concluir que as concentrações eram
inferiores ao limite de detecção (valor limite de detecção: As – 10 µg/l e Cd 1 µg/l) ou
nulas. Importa salientar que o valor limite de detecção, do equipamento de
espectroscopia de emissão atómica, para ambos os parâmetros é inferior ao VMA
constante nos referidos diplomas legais.
Pela análise dos Quadros 1 e 2 é possível constatar que os parâmetros Cu, K, Ni e Pb
apresentam valores muito inferiores aos estabelecidos pelos respectivos VMR e no caso
do Ni, muito inferiores ao respectivo VMA, estabelecido nos referidos diplomas legais.
Importa destacar que no caso do Cu, os valores mais elevados correspondem ao dos
testes 1, 3 e 5 (amostras de chips de pneus). Destes testes e por ordem decrescente dos
valores das concentrações dos elementos, referese o teste 1 (meio neutro), teste 3 (meio
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ácido) e teste 5 (meio básico). No caso do K, os valores mais elevados são os referentes
ao teste 3 (meio ácido e amostra de chips de pneus). Este parâmetro não consta na lista
dos parâmetros a monitorizar constantes no DecretoLei nº 243/2001, de 5 de Setembro.
Apenas foi possível constatar este facto no caso dos valores de K. Nos restantes testes
realizados não se verificou esta ocorrência, sendo as concentrações mais elevadas de
metais as respeitantes aos testes de lixiviação efectuados em meio neutro do que os
efectuados em meio ácido.
No que se refere ao Zn, este metal faz geralmente parte dos agentes activadores de cura
no fabrico de pneus (óxido de zinco). No caso dos ensaios efectuados a este metal, este
apenas foi detectado nos testes onde as amostras eram chips de pneus. Novamente os
valores mais elevados correspondem às condições onde o meio é neutro, seguidas do
meio ácido e por último do meio básico. No caso do meio básico o VMR não é excedido.
Em suma, os parâmetros que apresentam concentrações com valores mais elevados
estão elencados como substâncias indesejáveis do ponto de vista estético no diploma
legal em referência, exceptuando o Al. Presumese que apesar dos valores elevados,
estes não sejam susceptíveis de causar danos ao ambiente e/ou à saúde humana.
Porém importa salientar que os ensaios realizados não permitem inferir resultados em
situações reais nem quais os possíveis efeitos a médio e/ou a longo prazo, aquando a
aplicação deste material.
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4.2 Parâmetros físicos analisados
Até à data da elaboração deste artigo não foi possível obter resultados destes
parâmetros, estando previsto que estes ensaios sejam realizados até Outubro de 2009.
Prevêse que se obtenham resultados semelhantes aos da literatura consultada dada a
similaridade dos mesmos, podendo verificar que os chips de pneus constituem um
material bastante compressível e com valores adequados para a permeabilidade
aquando a aplicação em camadas drenantes.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No âmbito deste artigo referese que dos parâmetros químicos analisados, as
concentrações de metais tenderam a ser mais elevadas em meio neutro do que em meio
ácido, contrariamente ao relatado na literatura. Em termos de lixiviação de metais, e
tendo em conta a constituição dos pneus, os elementos químicos que se destacam pelas
concentrações mais elevadas são o Al, o Fe, o Mn e Zn, resultados similares aos
relatados pela literatura consultada. Estes parâmetros não estão directamente ligados a
aspectos sanitários, tratandose de elementos indesejáveis, assim designados por não
terem efeitos tóxicos, mas por provocarem efeitos visíveis e não desejáveis. As doses
tóxicas para esses elementos são muito mais elevadas que as doses recomendadas e
aceitáveis para consumo humano (Mendes e Oliveira, 2004).
No caso dos parâmetros físicos, conforme referido anteriormente não foi possível obter
resultados destes parâmetros, estando previsto que estes ensaios sejam realizados até
Outubro de 2009.
Importa que sejam efectuados mais estudos na lixiviação de metais, bem como na
possível lixiviação de outro tipo de elementos constituintes de pneus (e.g. compostos
orgânicos), à escala laboratorial. Devem ainda ser promovidos e monitorizados projectos
com aplicações em situações reais, de forma a que se possa verificar que os chips de
pneus são uma alternativa viável e fiável, que não é susceptível de provocar danos à
saúde humana e/ou ao ambiente, a médio e/ou a longo prazo.
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AGRADECIMENTOS
Agradecese ao Dr.º António Pedreiro e ao Eng. Vasco Pampulim da Recipneu, bem
como ao Eng. Luís Santos da Amarsul, pela disponibilidade e apoio prestados ao longo
deste trabalho.
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