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Apostila

Evolução da Economia Internacional

2009.1

S U M Á R I O

01 – EVOLUÇÃO DA ECONOMIA INTERNACIONAL


1.1 – Introdução

1.2 – Da antigüidade até 1929


Antigüidade. Idade Média (feudalismo). Era dos Descobrimentos.
Mercantilismo. Liberalismo. Século XIX até 1914. Crise de 1929.

1.3 – Da II Guerra Mundial até Bretton Woods


Segunda Guerra Mundial. Bretton Woods. O Sistema de Paridades
Fixas. Acordo Smithsoniano. Acordo Europeu de Flutuação Comum.
Crise de 1973. Direitos Especiais de Saques.

1.4 – Dos choques do petróleo à crise asiática


Primeira e segunda crises do petróleo. Crise mexicana. Crise asiática.

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01 – EVOLUÇÃO DA ECONOMIA INTERNACIONAL

1.1 – Introdução

Embora os múltiplos e complexos instrumentos de condução das economias nacional e


internacional tenham mudado substancialmente ao longo do tempo, o condutor desses
instrumentos – o homem – pouco mudou. De fato, as ambições, as frustrações, o desejo de
vencer, enfim, suas necessidades prosseguem ilimitáveis e os recursos para supri-las
permanecem escassos.

Vale notar que alguns instrumentos de política econômica utilizados no presente também o
foram na Antigüidade, diga-se de passagem, sem sucesso em ambos os períodos. Assim, o
tabelamento usado na economia brasileira dos anos 80 já havia sido utilizado por Hamurábi (1752
a. C.) e Deocleciano (301 a. C.).

Ocorre que a Economia é uma ciência social e as ciências sociais não são experimentais.
Experiências econômicas podem gerar efeitos desastrosos na vida social.

Encarado desta forma, o passado significa para o economista um laboratório de experiências


bem e mal sucedidas. Seu estudo poderá não levar à repetição de erros já cometidos.

1.2 – Da antigüidade até 1929

Na Antigüidade o comércio internacional praticamente não existia. Mesmo nas civilizações


mais antigas que se conhece, como a egípcia, por exemplo, exportações e importações eram
inexpressivas, limitando-se a artigos de luxo.

Posteriormente, já na civilização mesopotâmica, o comércio internacional ganhou algum


impulso, inclusive com o estabelecimento de postos comerciais no exterior.

A Grécia Antiga não tinha produção suficiente de alimentos. Isso a obrigava a comprar esses
produtos no exterior e a pagá-los com azeite e vinho.

Já o Império Romano desenvolveu bastante o comércio exterior, até porque Roma


praticamente dominava o mundo. Chegaram a negociar até mesmo com países muito distantes,
como China e Índia.

Na Idade Média, a Europa viveu sob o regime feudal. Politicamente, isso significava o
enfraquecimento do poder central (o do rei) e o fortalecimento do poder dos nobres (duques,
condes, etc.) Do ponto de vista econômico, estabelecia-se uma enorme dependência entre a
nobreza e o povo.

Nessa época, toda a economia era corporativista, isto é, predominavam as corporações, que
representavam as classes de trabalhadores. Essas corporações eram sobremaneira fechadas e
tinham grande influência.

É nesse período que vão ocorrer as Cruzadas. Elas estimularam o comércio com o Oriente,
introduzindo na Europa bens novos e exóticos. Os europeus tornaram-se grandes mercadores.

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Surgiram as primeiras grandes feiras internacionais, reunindo comerciantes de diversos
países europeus. Isso obrigou o aparecimento de trocadores de moedas que, com o tempo, se
transformaram nos primeiros banqueiros.

Não havia indústrias. A produção era toda artesanal.

O comércio internacional cresceu como conseqüência natural da expansão geográfica do


mundo. Com o surgimento da caravela e da bússola, o caminho para o Oriente passou a ser feito
por navios, ao invés de caravanas. Vivia-se a Era dos Descobrimentos.

A Europa passou a conhecer e a consumir produtos até então desconhecidos, como tabaco,
milho, batata e tomate. O comércio era muito lucrativo. Com viagens bem-sucedidas, os
comerciantes ficavam ricos, o que fez com que ganhassem importância social crescente. Nas
colônias descobertas a mão-de-obra era escassa, o que demandava a escravização para suprir
essa falta.

Ao contrário da Idade Média, os governos centrais tornaram-se mais fortes. Aumentou a


necessidade de dinheiro, o que fez surgir o mercantilismo.

O período mercantilista vai de 1500 a 1750. A Europa já vivia o fim do feudalismo e da Idade
Média. O regime corporativista perdia força e comerciante individual estava em ascensão.

Cerca de 90% da população européia trabalhava na agricultura. Os artesãos (alfaiates,


carpinteiros, ferreiros, etc.) representavam os industriais da época, portanto uma produção de
caráter doméstico.

Os governantes (o Estado) tinham no ouro e na prata a forma mais importante de riqueza,


portanto o principal fundamento do poder nacional. Os mercantilistas entendiam que a riqueza das
nações consistia no estoque de metais preciosos em poder do governo em vez de o povo ter
abundância de bens para o consumo. Identificavam a moeda com riqueza. Nessa época, definia-
se Economia (adjetivada pela expressão Política) com sendo e ciência que tratava da
administração do Estado, visando ao seu fortalecimento. Adam Smith achava que o mercantilismo
priorizava o poder e enriquecimento do Estado sobre o bem-estar do indivíduo.

As exportações deveriam superar as importações, para haver benefícios com o comércio


exterior. Assim, estimulavam-se as primeiras e desestimulavam-se as segundas, mesmo quando
isso significasse prejuízos para o povo.

O Estado precisava ser forte, com controle político e econômico. Os países europeus
precisavam de colônias que os sustentassem. Os gastos militares tornaram-se muito elevados, o
que levou as metrópoles a criar o monopólio do comércio com as colônias, o que explica a
abertura dos portos brasileiros às nações amigas apenas quando D. João VI e sua comitiva
vieram para cá. Os monopólios, eliminando a concorrência, castigavam os consumidores posto
que os preços poderiam se tornar abusivos.

O crescimento econômico da época gerou o aparecimento dos primeiros grandes bancos.

Na segunda metade do século XVIII, a Europa passou por enormes transformações. Foi o
período ao qual se convencionou chamar de I Revolução Industrial. As indústrias passaram a
utilizar máquinas, que aumentaram sobremodo a produtividade. O crescimento da produção
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industrial estimulou a migração dos camponeses para as cidades, gerando o surgimento de uma
nova classe social denominada de burguesia. Também a agricultura experimentou progresso
técnico, o que dispensou trabalhadores rurais. Os empresários passaram a ter mais força política.

Essa nova conjuntura política ficou conhecida como liberalismo, cujos traços marcantes
foram os seguintes: mercado livre, iniciativa individual e desregulamentação, o que não havia
no mercantilismo. Portanto, era um regime completamente contrário à intervenção do Estado no
processo econômico. Ao Estado caberia preocupar-se tão somente com: preservação da justiça,
defesa nacional e realização de empreendimentos para os quais não havia interesse da
iniciativa particular.

O objetivo primordial do agente econômico (comerciante, industrial ou agricultor) era o lucro.

O liberalismo teve Adam Smith como seu grande expoente. Suas idéias foram expostas no
livro Riqueza das Nações. Para ele, o homem, movido pelo desejo de lucro, passaria a produzir
mais, o que também traria benefícios para a comunidade, daí haver afirmado que “ao procurar o
seu próprio interesse, o indivíduo promove o interesse da sociedade mais do que se realmente
procurasse promovê-lo”.

No período do século XIX até 1918, ocorreram diversos eventos políticos com grandes efeitos
na vida econômica, como as Guerras Napoleônicas e a I Guerra Mundial.

Por sua posição geográfica privilegiada (ilha), a Inglaterra ficou longe dos campos de batalha,
o que lhe possibilitou uma vida tranqüila que o restante da Europa não teve. Isso permitiu um
crescimento econômico maior que o dos outros países, tornando-a, na época, a nação de maior
projeção do mundo.

Nessa época, ocorreram novos inventos. O vapor proporcionou facilidades que


desenvolveram o comércio interno e externo. Nasce a indústria automobilística. Novas máquinas
foram introduzidas nas fábricas. Henry Ford criou um novo sistema de trabalho – a linha de
montagem.

O artesão, com sua produção doméstica, foi substituído pela fábrica. Com isso, mudou toda a
estrutura social. Surgiram o sindicalismo e as lideranças empresariais. A economia internacional
modificou-se bastante, o que veio a constituir a chamada II Revolução Industrial.

O sistema monetário vigente até 1914 era o Gold Exchange (padrão-ouro): as moedas tinham
lastro em ouro e eram conversíveis em ouro. Os Bancos Centrais de cada país trocavam moeda
por ouro. Estavam, portanto, livre da intervenção do Estado. A exportação e a importação de ouro
eram livres.

A paridade da moeda de um país em relação à de outro era feita de acordo com a quantidade
de ouro que elas representavam. Desta forma, as flutuações monetárias eram insignificantes. Os
déficits dos balanços de pagamentos eram pagos com ouro. Após a I Guerra Mundial (1914 a
1918), as nações foram abandonando o padrão-ouro.

A I Guerra Mundial praticamente destruiu o parque industrial europeu. Conseqüentemente, os


países aliados procuraram abastecer-se nos Estados Unidos, o que provocou o crescimento
acentuado da economia daquele país. Até 1929, a produtividade americana crescia em torno de
7% ao ano. Os salários reais vinham-se elevando rapidamente.
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Ocorre que, a partir de 1927, Inglaterra e Canadá mergulharam em recessão econômica. Isso
afetou as indústrias dos Estados Unidos, que tiveram sensíveis quedas em suas vendas, o que
gerou a formação de estoques, redução da produção e desemprego.

Paradoxalmente, enquanto as empresas americanas sofriam os efeitos dessa recessão, a


Bolsa de Nova York continuava firme. O preço das ações mantinha-se em nível elevado. Essa
situação era artificialmente sustentada pelos especuladores. Diante disso, o Federal Reserve
(Banco Central dos Estados Unidos) adotou algumas medidas para refrear a especulação.

Pouco a pouco, o tempo foi desmanchando a situação irreal das Bolsas. As quedas
começaram a surgir, até que em 28 de outubro de 1929 houve o grande desastre, que viria a ser
denominado de A Grande Depressão. O valor das ações despencaram: as da Standard Oil
(Grupo Rockfeller) passaram de US$ 83,00 em setembro de 1929 para US$ 3,00 no final de 1930.
A renda agrícola dos Estados Unidos caiu de US$ 9,76 bilhões em 1929 para US$ 4,66 bilhões
em 1933, uma queda de 48%. Impérios econômicos desmoronaram.

Os efeitos da crise de 1929 perduraram por quase uma década. Nos primeiros três anos
(1929 a 1932) os Estados Unidos perderam um terço de seu PIB. Os salários perderam 42% de
seu poder aquisitivo. Houve enorme onda de falências. Cerca de 9.000 bancos quebraram.
Fazendeiros endividados perderam suas terras. O desemprego atingiu níveis insuportáveis: em
cada quatro trabalhadores, um estava desempregado (25%).

Os Estados Unidos importaram, em 1929, US$ 4,4 bilhões. Em 1932, apenas 1,3 bilhões.
Esse desempenho teve efeitos desastrosos para outros países, particularmente para o Brasil. O
comércio mundial caiu, em termos de volume físico, 25% entre 1929 e 1932. Somente em 1955 o
mercado americano alcançou o nível anterior ao da crise de 1929.

O café representava 71% das exportações brasileiras e os grandes compradores eram os


Estados Unidos. Outros produtos que compunham nossa pauta de exportação eram o cacau e a
banana. O Brasil, portanto, foi duplamente afetado: pela natureza de seus produtos e pelas
dificuldades de seu maior comprador. Nossas receitas cambiais despencaram: em 1929 foram
de US$ 445 milhões; em 1930, apenas US$ 180 milhões. O preço do café desabou, pela falta de
compradores: em setembro de 1929, US$ 22,5 por libra; em setembro de 1931, US$ 8,0 por libra.

O governo brasileiro foi forçado pelos cafeicultores a comprar e armazenar o café não
exportado. Ocorre que os estoques constituíam motivo para baixa de preços e, para elevá-los, o
governo passou a queimar café. Essa medida sofreu pesadas críticas de alguns setores da
economia brasileira, gerando grande descontentamento, que provocou convulsões sociais.
Ocorreram as revoluções de 1930 e de 1932.

Nessa época, destacou-se o economista inglês John Maynard Keynes, com suas idéias. Os
princípios básicos de sua teoria eram: poupança maior que investimentos faz a economia
declinar; e investimentos maiores que poupança fazem a economia crescer. Portanto, era
imprescindível uma política de juros baixos, o que estimularia um fluxo de poupança para
investimentos. Propunha também que os governos implementassem um programa de obras
públicas. Tudo isso geraria empregos e a economia voltaria a crescer. Segundo alguns
pensadores, foram as idéias de Keynes que permitiram ao capitalismo, como sistema, sobreviver
à Grande Depressão.

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1.3 – Da II Guerra Mundial até Bretton Woods

Quando, em 1918, terminou a I Guerra Mundial, os países europeus estavam com suas
economias nacionais bastante debilitadas. Os sistemas de produção estavam destruídos e as
dívidas, decorrentes do esforço militar, muito elevadas. Vários países abandonaram o padrão-
ouro, a inflação se generalizou e as taxas de câmbio ficaram instáveis. Voltaram os controles
governamentais e, para se tornarem mais competitivas na exportação, muitas nações
desvalorizaram suas moedas.

Ao final da II Guerra Mundial, os Estados Unidos, malgrado o desastre da Grande Depressão,


tornaram-se a maior potência econômica mundial. Novamente os meios de produção da Europa
estavam destruídos, o comércio estagnado e a inflação era um fenômeno recorrente e
generalizado.

Todavia, antes mesmo de terminar o conflito mundial, os Aliados já sabiam que a guerra
estava ganha, do ponto de vista militar. Entretanto isso não bastava: era necessário ganhar a paz.

A confusão e a miséria dominavam a Europa ao término da II Guerra Mundial. Com o objetivo


de minorar essa situação, os Estados Unidos formalizaram um plano de auxílio, denominado ERP
– European Recovery Program. Esse programa, entretanto, ficou conhecido como Plano Marshall.

Para não deixar parecer que seria um plano contra a União Soviética, já envolvida no que se
convencionou chamar de Guerra Fria, o Plano Marshall seria estendido a todos os países
europeus, inclusive a Rússia e seus satélites. Entretanto, a União Soviética não só a rejeitou,
como impediu que os países sob sua influência aceitassem a oferta norte-americana. Dessa
forma, o recursos ficaram restritos aos países da Europa Ocidental e Turquia. Os maiores
beneficiados foram a Grã-Bretanha (26%) e França (20,8%). Entre 1946 e 1952, a Europa recebeu
US$ 13 bilhões, que, em valores atuais, corresponderiam a aproximadamente US$ 100 bilhões. O
problema básico enfrentado pelo plano foi o da divisão dos recursos entre os diversos países.
Assim, foi adotado como critério de divisão o provável déficit do balanço de pagamentos
decorrente das importações necessárias.

O Plano Marshall teve conseqüências econômicas, políticas e militares:

Conseqüências econômicas: a produção foi restabelecida. Na década de 50, a Europa


ultrapassou os níveis econômicos anteriores à guerra. Foi um grande gerador de empregos.
Grande parte das importações da Europa procediam dos Estados Unidos, o que impulsionou
ainda mais a economia norte-americana.

Conseqüências políticas: a miséria e a desorganização econômica decorrentes da guerra


foram vistas como grandes facilidades para o avanço do comunismo. Assim, O Plano Marshall
seria um dique de contenção da temida onda bolchevista.

Conseqüências militares: o crescimento econômico da Europa determinou a criação de um


esquema de segurança contra um eventual ataque da União Soviética. Foi, então, criada a OTAN
– Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Em 1944, os países aliados reuniram-se em Bretton Woods para discutir medidas
econômicas, fundamentais para a paz. Foram então apresentadas duas teses: a de John Keynes
e a de Harry White.

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O ponto fundamental da tese de Keynes era criar um sistema para assegurar a liquidez
internacional. Para alcançar esse objetivo, seria necessário:

a) criar uma espécie de banco central internacional.

b) que as reservas dos países-membros fossem depositadas nesse órgão.

c) que o órgão emitisse uma nova moeda, para a qual seriam compulsoriamente convertidas
as reservas lá depositadas.

Com o aumento da liquidez internacional, os países recém-saídos da guerra poderiam


importar mais, o que auxiliaria sua reconstrução.

A tese aprovada foi a de White, que, em resumo, consistia em:

a) auxiliar a reconstrução das economias devastadas pela guerra.

b) voltar ao padrão-ouro.

c) estabelecer paridades monetárias estáveis.

d) eliminar os controles cambiais.

Para o atingimento desses objetivos, idealizou-se a criação de dois órgãos: o FMI – Fundo
Monetário Internacional e o BIRD – Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento.

Dentre as medidas acertadas em Bretton Woods, destaca-se o Sistema de Paridades Fixas.


Para que as paridades monetárias não sofressem grandes flutuações, era necessário que
praticamente se voltasse ao padrão-ouro. Esse retorno se fez indiretamente, através do dólar
norte-americano, que era conversível em ouro e que gozava de grande confiança no mercado
internacional.

Desta forma, as moedas dos países participantes do acordo ficaram com cotações estáveis
em relação ao dólar. Entretanto, era permitida uma flutuação de até 2%; isto é, 1% para cima ou
1% para baixo.

Quando a moeda de um país ultrapassasse esses limites, o Banco Central dessa nação
deveria:

a) comprar sua moeda, caso ela estivesse abaixo de 1%. Por força da lei da oferta e da
procura, o valor da moeda subiria e seria restabelecida sua paridade oficial.
b) vender sua moeda, caso ela estivesse acima de 1%. Com essa intervenção a moeda
nacional voltaria à paridade estabelecida oficialmente.

Qualquer medida de desvalorização monetária dependeria de aprovação do FMI. Isso com o


intuito de evitar que um país depreciasse sua moeda para conseguir, de forma predatória, uma
fatia de mercados externos à custa do sacrifício de seu próprio povo. Portanto, ficaria extinta a
guerra comercial decorrente de desvalorizações de moedas. O mercado seria disputado com
mercadorias e não com manobras monetárias.

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O sistema de paridades fixas arquitetado em Bretton Woods enfrentou duas grandes crises,
que levaram ao seu fim: a de 1971 e a de 1973.

Antes de 1971, o dólar vinha sofrendo um processo de perda de confiança em decorrência de:

a) sucessivos déficits apresentados pelo balanço de pagamentos dos Estados Unidos, desde
a década de 50.

b) a guerra do Vietnã, que solapava a economia americana.

c) em 1970, as taxas de juros na Europa eram superiores às do mercado americano, o que


provocou fuga de capitais dos Estados Unidos, com destino ao mercado europeu.

Diante disso, os mercados mundiais acreditaram que seria iminente a desvalorização do


dólar. Assim, os portadores de dólares procuravam os bancos centrais da Europa para trocá-los
por divisas européias, particularmente marcos alemães e francos suíços. Ocorre que, por força
das normas estabelecidas em Bretton Woods, os bancos centrais eram obrigados a sustentar as
paridades fixas. Conseqüentemente, eles efetuavam essas trocas para manter a estabilidade do
dólar.

Os Estados Unidos pleitearam a valorização das moedas européias, para salvar o dólar, mas
não conseguiram. Finalmente, em agosto de 1971, tomaram as seguintes decisões:

a) o dólar não mais seria conversível em ouro.

b) criação de uma sobretaxa de 10% sobre as importações, com a finalidade de diminuir o


déficit de seu balanço de pagamentos.

Em dezembro de 1971, os países industrializados celebraram um novo acordo, no


Smithsonian Institute de Washington (o chamado Acordo Smithsoniano). Foi uma tentativa de
ressuscitar as normas de Bretton Woods e consistia, resumidamente, no seguinte:

a) reintrodução das taxas fixas, com novas paridades.

b) margem de flutuação mais ampla, pulando de 2% em Bretton Woods para 4,5% (2,25%
para cima ou 2,25% para baixo).

c) valorização de algumas moedas (iene, franco suíço, xelim austríaco, marco alemão, franco
belga e florim holandês).

d) desvalorização do dólar e de algumas moedas (lira italiana e coroa sueca).

Todavia, esse acordo não logrou atingir seus objetivos. Assim, em 1973 os mercados
internacionais estavam mergulhados em nova crise monetária.

Em abril de 1972, os países que àquela época formavam o Mercado Comum Europeu
(Alemanha Ocidental, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Itália e França) firmaram o Acordo
Europeu de Flutuação Comum. Esse acordo estabelecia que as moedas desses países
flutuariam, entre si, no máximo, 2,25% (1,125% para cima ou 1,125% para baixo), o que ficou

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conhecido como “serpente dentro do túnel”. A serpente seria o limite de 2,25%, estabelecido
pelos países europeus, e o túnel, o limite de 4,5%, estabelecido pelo acordo smithsoniano.

Mas, o balanço de pagamentos dos Estados Unidos continuava apresentando desempenho


negativo. O mercado procurava desfazer-se dos dólares, trocando-os por outras moedas através
dos bancos centrais, que eram obrigados a adquiri-los para manter as paridades oficialmente
estabelecidas.

A confiança no dólar diminuía, até que, em fevereiro de 1973, o governo americano


desvalorizou novamente o dólar, o que provocou:

a) flutuação das seguintes moedas: iene, libra esterlina, dólar canadense e franco suíço.

b) decisão de Alemanha, França, Bélgica, Holanda e Dinamarca de:

1. intervir no mercado apenas quando uma de suas moedas estivessem em vias de


ultrapassar o limite estabelecido pelo Acordo Europeu de Flutuação Comum.

2. não mais comprar ou vender dólares como política de sustentação.

Desta forma, desapareceu o “túnel” (4,5%), porque não mais iriam intervir na flutuação do
dólar; mas permaneceu a “serpente” (2,25%).

Ocorre que essas medidas marcaram definitivamente o fim do sistema de Bretton Woods
(paridades fixas).

Em 1967, foram idealizados os chamados DES – Direitos Especiais de Saque, cuja criação só
foi formalizada em 1969, tendo a primeira distribuição ocorrido em 1970.

Nessa ocasião, o dólar, moeda de referência da economia mundial, passava por grande crise
de confiança. Chegou-se até mesmo a pensar em outra moeda que o substituísse. Em Bretton
Woods, Keynes já havia proposto uma moeda internacional (Bancor), que seria gerida por um
organismo internacional. O DES é muito semelhante a essa idéia. Seria uma moeda escritural,
estável com paridade fixa em relação ao ouro e gerida pelo FMI.

Na mesma ocasião, o dólar também tinha a mesma equivalência em ouro, de modo que 1
DES seria igual a US$ 1. Mas a moeda americana continuava dando claros sinais de deterioração,
em virtude de problemas na economia dos EUA. Como o governo acabou com a conversibilidade
do dólar em ouro, em 1971, e desvalorizou a moeda em dezembro de 1971 e em fevereiro de
1973, deixou de existir a equivalência de US$ 1 = 1 DES. Para solucionar o problema, o DES seria
equivalente a um coquetel de 16 moedas, conhecido como cesta de moedas, simplificada em
1981 para somente 5 moedas.

A composição da cesta seria revista a cada cinco anos, de modo a que nela permanecessem
as cinco moedas que apresentassem o melhor desempenho no comércio internacional, no
qüinquênio anterior. O FMI calcula diariamente o valor do DES. Os países-membros do FMI
receberam montantes de DES proporcionais a suas respectivas quotas no órgão. Houve emissões
de DES em 1972, 1979, 1980 e 1981.

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Na verdade, a idéia de uma moeda internacional estável e gerida por um organismo também
internacional deveria proporcionar à economia mundial uma segurança maior. Todavia, à medida
que o dólar foi readquirindo a confiança internacional, a importância do DES nos meios financeiros
foi decrescendo.

1.4 – Dos choques do petróleo à crise asiática

A primeira crise do petróleo (1973)

De fato, o ano de 1973 foi particularmente difícil para a economia mundial. Além da
instabilidade cambial, que culminou com a desvalorização do dólar, houve a brutal elevação dos
preços do petróleo. O preço do barril disparou de US$ 2,20 para astronômicos US$ 8,65, numa
elevação de 393%.

Para complicar ainda mais a já complicada economia mundial, em outubro de 1973 estourou a
chama Guerra do Yom Kippur (Israel contra Egito e Síria).

A elevação dos preços do petróleo trouxe as seguintes conseqüências principais:

a) déficits nos balanços de pagamentos dos principais países do Primeiro Mundo.

b) enormes superávits nos balanços de pagamentos dos países exportadores de petróleo.


Em 1974, esse superávit foi de US$ 72 bilhões, enquanto o total das exportações
brasileiras, no mesmo período, chegavam a apenas US$ 8 bilhões. Com isso, os países
árabes – principais exportadores de petróleo – acumularam elevado volume de divisa, os
chamados petrodólares.

c) onda generalizada de desemprego e inflação. Os principais países do mundo vivenciaram


o que se chamou de estagflação (uma combinação perversa de inflação com estagnação
econômica).

d) elevação das taxas de juros.

e) criação, pelo FMI, de um fundo chamado Oil Facility, com recursos dos países
exportadores de petróleo, para emprestar aos mais prejudicados. Com recursos
insuficientes, o fundo não teve o sucesso desejado.

A segunda crise do petróleo

Em 1979, o mundo foi confrontado com a segunda crise do petróleo, decorrência da guerra
entre Irã e Iraque. Os efeitos principais dessa crise foram:

a) como resultante da crise no abastecimento, aumento no preço do barril de petróleo, que


saltou de US$ 12,00 para US$ 32,00, em média.

b) desequilíbrio acentuado das balanças comerciais. Vejamos os dados da tabela abaixo (em
US$ milhões):

Blocos e países 1978 1979 1980


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OPEP 46.804 107.000 163.313
CEE - 703 - 26.874 - 63.071
Japão 18.435 - 7.532 - 13.452
Estados Unidos - 39.430 - 37.125 - 32.292
Brasil - 2.395 - 4.560 - 4.870

c) inflação. O aumento dos preços do petróleo aumentou os custos de produção e


desorganizou os orçamentos governamentais. Isso provocou inflação generalizada em
todo o mundo. Vejamos o quadro abaixo:

Países 1979 (%) 1980 (%)


Itália 14,8 21,2
Estados Unidos 11,3 13,5
Japão 3,6 8,1
Alemanha Ocidental 4,1 5,5
Brasil 76,0 86,3

d) alta das taxas de juros. Nos mercados internacionais, a taxa de juros é dada pela soma de
dois componentes: a remuneração do capital e a correção monetária. Como a inflação foi
alta no período, as taxas de juros subiram: em 1978, 12,31%; em 1979, 14,47% e em
1980, 19,90%. Vale ressaltar que a essas taxas de empréstimo é acrescentado um
percentual chamado spread, que representa o risco comercial e político da operação.

e) desemprego. Todos os fatores apontados conduziram a quedas do PNB e,


conseqüentemente, ao desemprego. Estima-se que em 1979 havia 17 milhões de
trabalhadores desempregados. O quadro abaixo dá bem uma idéia do crescimento (%) das
principais economias mundiais:

Países 1978 1979 1980


Reino Unido 3,5 1,5 - 2,2
Estados Unidos 4,4 2,3 - 0,7
Canadá 3,4 2,8 - 0,5
Alemanha Ocidental 3,5 4,5 1,7
Japão 6,0 5,9 5,0
Brasil (PIB) 3,5 3,9 5,4

A crise mexicana

A partir de 1986, a situação cambial do México foi se complicando, pelos seguintes motivos:

a) déficits no item Transações Correntes do balanço de pagamentos. O México liberou as


importações, que cresceram mais que as exportações: enquanto estas passaram de US$
20 para US$ 32 bilhões, as importações saltaram de US$ 19 para US$ 55 bilhões. Assim,
os saldos em transações correntes do período 1991 a 1994 foram amplamente deficitários.
O governo mexicano acreditava que sua adesão ao NAFTA resolveria o problema, o que
não aconteceu, obrigando o país a cobrir parcialmente os déficits com hot money.
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b) cobertura parcial de déficits com o chamado hot money. Os aparentes sucessos do
presidente Carlos Salina de Gortari canalizaram para o México grande soma de recursos,
que foram aplicados na bolsa mexicana.

Calcula-se que o país tenha recebido US$ 75 bilhões de hot money. Entretanto, como se
costuma dizer, esse tipo de investimento parece ser movido pelo susto. Quando a situação
econômica começou a ficar preocupante, eles fugiram do México. Em 1994, saíram cerca
de US$ 23 bilhões.

c) sobrevalorização do peso mexicano. A desvalorização do peso mexicano não acompanhou


a inflação. O governo mexicano tinha por meta desvalorizar o peso em 4% ao ano, o que
vinha sendo feito desde 1990. Desta forma, a moeda nacional ficou altamente valorizada, o
que facilitava a importação e dificultava a exportação.

d) aumento da taxa de juros nos Estados Unidos. Durante o ano de 1994, o Federal Reserve
(O Banco Central americano) elevou as taxas de juros nada menos que seis vezes,
passando de 3,25 para 5,5% ao ano. Essa elevação das taxas de juros trouxe dois
problemas para o México:

1. aumento do déficit do balanço de pagamentos, mediante o crescimento dos juros


incidentes sobre a dívida externa.

2. fuga do hot money. Os recursos foram para o México porque o rendimento nos Estados
Unidos era baixo. Com a melhora naquele país, voltaram a sua origem.

e) agravamento da situação política. Com o agravamento da situação econômica, agravou-se


também a situação política. Os investidores perderam a confiança no país, a partir do clima
de insegurança política. Além disso, o país precisava saldar, em 1995, compromissos
externos no valor de US$ 43 bilhões, quantia muito elevada em relação às reservas.

Diante disso, o governo tomou as seguintes providências:

1. desvalorizou o peso em 15%.

2. congelou os preços por 60 dias.

3. restringiu os aumentos salariais também por 60 dias.

Todavia, os preços não respeitaram o congelamento e subiram. Foi liberada a cotação do


peso em relação ao dólar, o que o fez cair vertiginosamente. A crise afetou dramaticamente o
valor das reservas cambiais mexicanas: no final de 1993 eram de US$ 24,5 bilhões; em dezembro
de 1994 ficaram em US$ 6,2 bilhões; e em janeiro de 1995 eram de apenas US$ 3,5 bilhões.

Estimou-se que, em uma semana, os investidores americanos haviam perdido entre 8 e 10


bilhões de dólares nas bolsas mexicanas. Para reter capitais e acalmar as bolsas, as taxas de
juros praticamente dobraram, chegando, em fins de 1994, a 31% ao ano.

O FMI, respondendo a críticas sobre seu comportamento na crise mexicana, declarou haver
alertado repetidamente as autoridades mexicanas, durante dois anos, para o perigo da
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sobrevalorização do peso. Essas advertências foram ignoradas. Outro êrro cometido pelo México
foi o de financiar déficits externos com recursos de curto prazo, em dólares.

As conseqüências da crise mexicana sobre a economia brasileira ficaram conhecidas como


“efeito tequila”. O primeiro impacto foi sobre as Bolsas de Valores. O valor total do mercado de
títulos declinou de US$ 189 bilhões para US$ 147 bilhões (queda de US$ 42 bilhões).

A crise mexicana foi um sinal de alerta para o Brasil. Entretanto, vários fatores neutralizaram
os efeitos do efeito tequila:

a) o Brasil dispunha de reservas elevadas, em torno de US$ 40 bilhões, o que proporcionou


confortável segurança.

b) as exportações brasileiras eram bastante diversificadas e feitas por empresas privadas. No


México, pesava substancialmente a venda de petróleo, feita por uma estatal.

O governo americano ficou bastante preocupado com a crise mexicana, devido aos seguintes
motivos:

a) cerca de 87% das importações mexicanas são procedentes dos Estados Unidos. Isso
proporciona aproximadamente 700.000 empregos para americanos. Portanto, a crise
mexicana afetaria o mercado de trabalho nos EUA.

b) os investimentos americanos no México são muito elevados e a crise na economia


mexicana significaria perda para os americanos.

c) A crise mexicana poderia provocar o denominado “efeito dominó”, ou seja poderia


prejudicar outros países, especialmente na América Latina, grandes clientes dos EUA.

Em função dessas razões, o governo dos Estados Unidos abriu uma linha de crédito de US$
47,75 bilhões, sendo:

a) US$ 20 bilhões concedidos pelo governo americano, através do Fundo de Estabilização


Cambial do Tesouro Americano, que existe para resguardar o dólar de ataques
especulativos.

b) US$ 17,75 bilhões pelo FMI.

c) US$ 10 bilhões por Bancos Centrais de diversos países, através do BIS – Banco
Internacional de Pagamentos.

O empréstimo teve por finalidade trocar a dívida de curto prazo por outra, mais longa, de 3 a
10 anos.

Em 1997, a situação econômica do México já estava praticamente regularizada.

A crise asiática

Os antecedentes da crise asiática podem ser encontrados nos problemas enfrentados à


época pelo Japão e na forma como ocorreu o crescimento econômico dos países asiáticos.
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A partir de 1992, o crescimento econômico do Japão foi muito pequeno, em torno de 1% ao
ano. Isso fez com que crescesse o desemprego, mesmo sendo ainda um dos menores do mundo.
Para estimular o crescimento econômico, o governo japonês reduziu a taxa de juros. Ocorre que
divido ao elevado nível de poupança do país, os bancos japoneses cresceram muito. No final da
década de 80, dos dez maiores bancos do mundo, nove eram japoneses. Como dispunham de
grandes depósitos, precisavam aplicá-los em empréstimos. Como as taxas internas eram muito
baixas, passaram a aplicar no exterior, principalmente nos países que viriam a ser conhecidos
como os Tigres Asiáticos (Coréia do Sul, Hong Kong, Tailândia, Malásia, Indonésia, Filipinas,
Taiwan e Cingapura).

Para obter maior rentabilidade, os empréstimos eram feitos em dólares americanos,


geralmente com garantias imobiliárias. Acontece que o dólar se valorizou em relação ao iene e o
mercado imobiliário passou por forte crise. No Japão, os imóveis perderam 58% do valor no
período de 1990 a 1997.Nesse mesmo período o índice que mede as cotações da Bolsa de
Tóquio caiu 64%.

Os bancos japoneses ficaram em situação extremamente difícil, o que levou a uma grande
quebradeira. O governo japonês informou oficialmente que os bancos do país possuíam US$ 550
bilhões em créditos de liquidação duvidosa. O Federal Reserve americano, no entanto, estimou
esse mesmo número em US$ 1 trilhão.

O crescimento econômico dos Tigres Asiáticos foi devido a:

a) altas taxas de poupança interna.

b) incorporação de camponeses subempregados por setores industriais modernos.

c) universalização da educação.

Tal como já ocorrera no Japão na década de 80, essas fontes de crescimento deram claros
sinais de exaustão. Além disso, outros fatores juntaram-se a esses para interromper o crescimento
econômico desses países, tais como:

a) valorização do dólar no mercado internacional, o que prejudicou a exportação.

b) concorrência da China, o que também prejudicou as exportações.

c) crise bancária. Os bancos tinham muitos empréstimos podres, respaldados por garantias
imobiliárias e os imóveis perderam valor.

A crise asiática começou em maio de 1997, quando a moeda tailandesa foi objeto de ataque
de especuladores preocupados com o desempenho da economia do país.

A Tailândia era um país aparentemente muito próspero, com taxas de crescimento entre 8 e
10% ao ano, o que praticamente acabou com a pobreza absoluta no país. A moeda nacional era
vinculada ao dólar. Com isso, as exportações cresceram, particularmente entre 1986 e 1995,
época em que a moeda norte-americana sofreu grande queda no mercado internacional.

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Não obstante, alguns fatores dificultaram as exportações tailandesas, complicando a situação
cambial do país:

a) a partir de 1995, o dólar começou a se valorizar, o que tornou as exportações tailandesas


menos competitivas, haja vista que a moeda local estava vinculada à norte-americana.

b) o grande importador dos produtos era o Japão, que entrou em período fortemente
recessivo.

c) o crescimento das exportações chinesas.

Apesar da situação cambial delicada, o governo não queria desvalorizar a moeda tailandesa
porque temia:

a) aumento da inflação.

b) provocar dificuldades para as empresas locais, endividadas em moedas estrangeiras, o


que aumentaria ainda mais a inadimplência.

Diante dessa situação, o governo manteve elevadas as taxas de juros internos, com a
finalidade de segurar o capital externo. Todavia, dois terços do déficit estavam sendo financiados
pelo hot money. O governo comprava divisas com recursos de venda de títulos públicos, fazendo
crescer as reservas em moedas estrangeiras. Isso, entretanto, ocasionou um problema de caixa:
os juros pagos por esses títulos eram maiores que os recebidos pela aplicação das divisas.

Durante nove meses que precederam o colapso, o governo tailandês queimou cerca de US$
10 bilhões de suas reservas para tentar estabilizar a cotação da moeda local.

Os problemas despertaram grande preocupação nos aplicadores estrangeiros,


particularmente os de hot money. Desta forma, o capital externo começou a sair, complicando de
vez a situação econômica do país, que continuou usando grande parte das reservas cambiais
para compensar a saída de capitais.

Em julho de 1997, veio o desastre. O governo deixou a moeda nacional flutuar. Entre julho e
agosto houve uma desvalorização de mais de 20% em relação ao dólar. As empresas endividadas
em moeda nacional não suportaram as altas das taxas de juros. As endividadas em moedas
estrangeiras viram seus passivos crescerem com a valorização do dólar. O sistema bancário foi
muito afetado pelas dificuldades enfrentadas pelas empresas: o governo teve de suspender a
atividade de 58 das 91 instituições financeiras existentes.

A crise da Tailândia espalhou suas conseqüências por todo o leste asiático, atingindo
particularmente Coréia do Sul, Malásia, Indonésia e Filipinas. Mesmos mercados mais sólidos,
como Cingapura e Hong Kong, também foram atingidos.

A Indonésia vinha apresentando crescimento econômico muito rápido até 1996. A pobreza
absoluta caiu de 64 para 11%. Com a crise, a moeda local desvalorizou-se em 58% entre janeiro e
outubro de 1997, prejudicando bastante as empresas endividadas em dólares. Os juros subiram,
transtornando a economia das empresas endividadas em moeda nacional. O governo fechou 16
bancos considerados vulneráveis. Em 1998, com a renúncia do ditador Suharto, o que resolveu a
crise política que se desenvolvia em paralelo à crise econômica, o governo assinou acordos com
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os bancos internacionais, possibilitando o pagamento das dívidas do setor privado e com o FMI, o
que representou auxílio financeiro ao país.

Em Hong Kong, a situação econômica era, igualmente, muito boa. As reservas cambiais
somavam US$ 88 bilhões e as exportações eram bastante elevadas.
No final de outubro de 1997, contudo, a bolsa caiu 10,4%, provocando quedas em cadeia em
todas as principais bolsas do mundo. Os investidores receberam moeda nacional e a trocaram por
dólares americanos, o que desestabilizou a moeda de Hong Kong. Para segurar o capital externo,
o governo elevou as taxas de juros. Essa providência ajudou a cessar a crise aguda.

Em relação à Coréia do Sul, as causas apontadas para a crise são as mesmas citadas para
os outros países asiáticos: recessão japonesa, concorrência da China, valorização do dólar e
dificuldades do sistema bancário. A competitividade das empresas diminuiu, devido ao
crescimento dos custos trabalhistas. Em junho de 1997, das 30 maiores corporações, 23 fecharam
o semestre com prejuízo e 6 requereram falência. Em dezembro de 1997, 9 bancos foram
liquidados. Os débitos externos vencidos em 1997 eram superiores às reservas nacionais. Foi
pedido auxílio financeiro de US$ 57 bilhões ao FMI, mal recebido pela oposição política, sob a
alegação de que condicionaria o crescimento econômico de 1998 a, no máximo, 3%. Contudo, em
janeiro de 1999, a situação econômica estava absolutamente normal: as reservas, que em 1998
estavam em US$ 3 bilhões, em 1999 batiam em US$ 47 bilhões; o governo vinha saldando os
créditos internacionais de emergência dentro dos prazos acordados; os juros internos estavam
abaixo das taxas vigentes antes da crise; e o balanço de pagamentos apresentava superávit em
conta corrente.

A situação econômica da Rússia vinha-se deteriorando em decorrência dos seguintes


problemas: queda nos preços do petróleo; exportações declinantes; desemprego crescente;
arrecadação tributária insuficiente e elevado nível de sonegação de impostos. Conseqüentemente,
o país não tinha condições de pagar o que devia e não tinha meios de conseguir novos créditos
internacionais. Diante disso, em agosto de 1998, o governo russo adotou as seguintes medidas:
decretou moratória de 90 dias; ampliou a faixa de flutuação cambial, desvalorizando
sensivelmente a moeda russa; reescalonou os débitos de curto prazo. As medidas adotadas
repercutiram negativamente em todos os principais países do mundo. A expectativa era a de que
a Rússia não tivesse condições de honrar seus compromissos mesmo depois da moratória, o que
prolongaria o problema. O FMI prometeu emprestar US$ 23 bilhões, mas só liberou US$ 4,8
bilhões. O restante dependeria do comportamento futuro do governo russo.

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